fe rentes razões para a sua escolha, como sejam as experiências passadas e o custo associadoaos serviços, aspectos também sugeridos em estudos anteriores (Wolff et al., 2008).No contexto português, alguns dados indicam que os <strong>imigrantes</strong> resi<strong>de</strong>ntes no País po<strong>de</strong> -rão estar sub-representados entre os utentes dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e, em particular, nosser viços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>sexual</strong> e <strong>reprodutiva</strong> (Dias et al., 2004; Gar<strong>de</strong>te e Antunes, 1997; Gon -çalves et al., 2003; Machado et al., 2006). Os resultados obtidos parecem ir ao encontro<strong>de</strong>stes dados pois percebe-se a existência <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> reduzida utilização dos ser -vi ços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>sexual</strong> e <strong>reprodutiva</strong>. Por outro lado, esta utilização está maioritariamenteassociada à vigilância da gravi<strong>de</strong>z, à maternida<strong>de</strong> e/ou à saú<strong>de</strong> infantil. Alguns discursosdas participantes <strong>de</strong>monstram ainda a existência <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> fraca utilização dos ser -viços <strong>de</strong> cuidados pré-natais, reafirmando conclusões <strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong> Machado e colabo -radores (2006) que apontam no sentido <strong>de</strong> que o início da vigilância da gravi<strong>de</strong>z é maistardio nas <strong>mulheres</strong> <strong>imigrantes</strong> em comparação com as <strong>mulheres</strong> portuguesas.Uma questão relevante que sobressaiu nas discussões dos grupos focais foi a associaçãoentre as «más experiências» vividas pelas <strong>imigrantes</strong> no acesso ou utilização dos serviçose a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> não voltar a recorrer novamente aos serviços. No mesmo sentido, as par -ti cipantes brasileiras realçam que, muitas vezes, os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>sexual</strong> e <strong>reprodutiva</strong>não dão resposta às necessida<strong>de</strong>s sentidas. Na opinião <strong>de</strong>stas participantes, ao contráriodo que acontece no Brasil, a medicina preventiva em Portugal é pouco valorizada, o quepo<strong>de</strong>rá em parte justificar este facto. A informação disponível em outros países da Europaaponta no mesmo sentido, revelando que, por vezes, os serviços <strong>de</strong> planeamento familiarnestes países são pouco ajustados às necessida<strong>de</strong>s específicas das populações <strong>imigrantes</strong>(Janssens, Bosmans e Temmerman, 2005). As participantes brasileiras relatam que,neste contexto, em termos <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>sexual</strong> e <strong>reprodutiva</strong>, recorrem fre quen te -mente à medicina privada ou a serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> no país <strong>de</strong> origem (consultas ou aconselhamentoà distância).As percepções e atitu<strong>de</strong>s face aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e à qualida<strong>de</strong> dos cuidados pres ta -dos po<strong>de</strong>m, directa ou indirectamente, condicionar a sua utilização (Dixon et al., 2003;Fenton, 2001). Os resultados <strong>de</strong>ste estudo apontam para diferenças entre as <strong>mulheres</strong>Saú<strong>de</strong> Sexual e Reprodutiva <strong>de</strong> Mulheres Imigrantes Africanas e Brasileiras: um estudo qualitativo (135)
<strong>africanas</strong> e brasileiras relativamente a estas questões. Algumas participantes <strong>africanas</strong>re ve lam ter medo ou não gostar <strong>de</strong> utilizar os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, e alegam que é comumos imi grantes africanos não consi<strong>de</strong>rarem importante recorrer a estes serviços, dadocorro bo rado em outras investigações (Gonçalves et al., 2003). Constata-se no entantoque, em re la ção aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>sexual</strong> e <strong>reprodutiva</strong>, apesar <strong>de</strong> algumas par -ticipantes reconhe cerem que não recorrem frequentemente a tais serviços, nem realizamos exames <strong>de</strong> rotina com a periodicida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quada, uma minoria <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a importânciados mesmos.Por outro lado, as participantes brasileiras <strong>de</strong>monstram <strong>de</strong>sconfiança em relação aos ser -vi ços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e revelam a percepção <strong>de</strong> pouca qualida<strong>de</strong> no que respeita aos cuidadosprestados. Outros estudos têm referido que algumas populações <strong>imigrantes</strong> expressamfalta <strong>de</strong> confiança em relação a um sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que <strong>de</strong>sconhecem (Ingleby et al.,2005; Manfellotto, 2002). Estas evidências são relevantes pois, como vários estudos su -ge rem e os resultados <strong>de</strong>ste estudo corroboram, as crenças e as percepções face aos ser -vi ços e à prestação <strong>de</strong> cuidados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m funcionar como um obstáculo à suautilização. Embora os resultados do estudo não permitam aprofundar esta questão, épossível consi<strong>de</strong>rar que as razões para estas diferenças po<strong>de</strong>m estar relacionadas, entreoutros factores, com os diferentes níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento dos sistemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> nospaíses <strong>de</strong> origem. Neste sentido, <strong>imigrantes</strong> oriundos <strong>de</strong> países com lacunas ao nível dases truturas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m percepcionar os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> em Portugal como maiseficientes (Dias, Severo e Barros, 2008).A literatura aponta diferentes níveis <strong>de</strong> barreiras no acesso e utilização dos serviços <strong>de</strong>saú <strong>de</strong> por parte das populações <strong>imigrantes</strong>, tais como as barreiras legislativas, estru tu rais,organizativas, económicas, culturais e linguísticas (Dias e Gonçalves, 2007; Fen nelly,2004).Na opinião das participantes (sobretudo brasileiras), o estatuto legal é um factor <strong>de</strong>ter mi -nante do acesso aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pois, segundo <strong>de</strong>screvem, são frequentes as si tua -ções <strong>de</strong> impedimento <strong>de</strong> acesso aos serviços por não possuírem a documentação re que -rida. Vários estudos têm apontado a situação irregular dos <strong>imigrantes</strong> como a principal(136) Saú<strong>de</strong> Sexual e Reprodutiva <strong>de</strong> Mulheres Imigrantes Africanas e Brasileiras: um estudo qualitativo
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