saúde sexual e reprodutiva de mulheres imigrantes africanas e ...

Nos seus discursos, as participantes expressam também dificuldades no relacionamentocom os médicos, salientando que estes dispensam pouca atenção no atendimento. Váriosautores têm sugerido que uma possível justificação para a percepção deste tipo de di -ficuldades prende-se com o facto de que, se por um lado o imigrante espera ser atendidode acordo com o sistema de valores e padrões de referência do país de origem, por outrolado, o médico presta cuidados de saúde de acordo com os seus valores de referência(Eshiett e Parry, 2003).Na opinião das participantes, alguns profissionais de saúde são pouco sensíveis às es pe -cificidades subjacentes à condição de imigrante, situação que tem vindo a ser referida emalguns estudos que apontam para a necessidade de capacitar os profissionais para darrespostas ajustadas e adequadas a estas especificidades. Neste contexto, assiste-se a umadificuldade por parte de alguns técnicos de saúde em ter em conta os sistemas de crençasdas comunidades imigrantes, que envolvem os comportamentos sexuais e re pro -dutivos (Dawson e Gifford, 2001). Carrillo e colaboradores (1999) apontam a a u sên ciade sensibilidade dos profissionais de saúde sobre os hábitos e costumes das minoriasétnicas como factor influente na utilização dos serviços de saúde.Em alguns grupos focais foi também referido pelas participantes que, por vezes, os pro fis -s ionais de saúde possuem um conjunto de estereótipos relativamente às imigrantes, tendosido descritos episódios em que estas se sentiram discriminadas. Vários autores têmigualmente referido a existência de atitudes discriminatórias e de estereótipos por partedos profissionais de saúde em relação a populações imigrantes (Carde, 2007; Schepperset al., 2006). Os comportamentos discriminatórios dos profissionais de saúde face aos migrantespodem caracterizar-se pela falta de simpatia, pela utilização de linguagem discriminatóriaou mesmo por atitudes hostis para com os imigrantes (Eshiett e Parry, 2003;Scheppers et al., 2006). Estes factores têm sido apontados por alguns autores como obstáculosà utilização dos serviços, provocando um distanciamento entre os imigrantes e osserviços, o que pode comprometer a continuidade dos cuidados de saúde prestados(Eshiett e Parry, 2003; Ingleby et al., 2005; Manfellotto, 2002; Wolffers, Verghis, e Marin,2003; Maggi e Cattacin, 2003; Scheppers et al., 2006).(138) Saúde Sexual e Reprodutiva de Mulheres Imigrantes Africanas e Brasileiras: um estudo qualitativo