tuações <strong>de</strong> sexo coercivo, exploração e violência (Carballo, 2007; Dias e Gonçalves,2007; Herrera e Campero, 2002; WHO, 2003b). Por outro lado, a mulher imigrante po<strong>de</strong>mui tas vezes estar exposta a violência doméstica por parte <strong>de</strong> um parceiro agressor, par -ti cularmente se for oriunda <strong>de</strong> um país on<strong>de</strong> a violência do homem contra a mulher étolerada e se se encontrar numa situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência económica (Cohen e Maclean,2004).No contexto laboral, a dupla marginalização como mulher e como imigrante coloca a mulherem situações <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> maior risco <strong>de</strong> exposição à violência e abuso(WHO, 2003b). A mulher imigrante encontra-se, muitas vezes, em maior risco <strong>de</strong> expo si -ção à violência no trabalho e à violência ou abuso <strong>sexual</strong>, especialmente se estiver em si -tuação irregular e trabalhar em sectores <strong>de</strong> activida<strong>de</strong> ilegais e <strong>de</strong>sreguladas (Pallitto eO’Campo, 2004; Valladares et al., 2005; Wolff et al., 2008).Tem sido dada cada vez mais ênfase às consequências da violência na saú<strong>de</strong> das <strong>mulheres</strong>a nivel físico e psicológico, e, em particular, no que respeita à saú<strong>de</strong> <strong>sexual</strong> e <strong>reprodutiva</strong>(Tower, 2007; WHO, 2006). Estudos apontam no sentido <strong>de</strong> que as <strong>mulheres</strong> quesofrem <strong>de</strong> violência ten<strong>de</strong>m a apresentar um estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mais <strong>de</strong>ficitário (Meadows,Thurston e Melton, 2001). Para além disso, o impacto da violência ten<strong>de</strong> a ser <strong>de</strong> longotermo e, em muitos casos, o seu efeito persiste, mesmo após o abuso ter terminado. Noque se refere à violência <strong>sexual</strong>, Hussain e Khan (2008) argumentam que esta resulta fre -quentemente em problemas ginecológicos, infecções <strong>sexual</strong>mente transmissíveis e gra -vi<strong>de</strong>z não <strong>de</strong>sejada. Vários autores têm sugerido cada vez mais uma associação entrecomportamentos sexuais <strong>de</strong> risco e violência física e <strong>sexual</strong> (El-Bassel et al., 2000; Vermae Collumbien, 2003; UNHCR/WHO/UNAIDS, 1995). Segundo Hussein e Khan (2008),a violência <strong>sexual</strong>, por vezes, persiste durante o período da gravi<strong>de</strong>z, <strong>de</strong>ixando sequelas,quer na mãe quer no bebé.Dada a associação entre violência e risco para a saú<strong>de</strong>, em especial para a saú<strong>de</strong> <strong>sexual</strong>e <strong>reprodutiva</strong>, tem vindo a ser reconhecida a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervir ao nível da prevençãoda violência e do abuso <strong>sexual</strong> das <strong>mulheres</strong>, incluindo <strong>imigrantes</strong> (WHO, 2006). Por outrolado, ao nível da prestação <strong>de</strong> cuidados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, tem vindo a ser reconhecida a ne -Saú<strong>de</strong> Sexual e Reprodutiva <strong>de</strong> Mulheres Imigrantes Africanas e Brasileiras: um estudo qualitativo (51)
ces sida<strong>de</strong> <strong>de</strong> capacitar os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para lidarem com estas situações (Leye,Githaiga e Temmerman, 1999). Estudos indicam que, <strong>de</strong>vido à ausência <strong>de</strong> formaçãoespecializada na área, em alguns casos o impacto da violência, associado à migração, nãoé compreendido pelos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (Walton-Moss e Campbell, 2002).2.5. Acesso e utilização dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>sexual</strong> e <strong>reprodutiva</strong>Segundo dados <strong>de</strong> investigações e <strong>de</strong> organizações internacionais, a associação positivaentre imigração e risco na saú<strong>de</strong> <strong>sexual</strong> e <strong>reprodutiva</strong> parece estar relacionada com oacesso aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do país acolhedor (Salama e Don<strong>de</strong>ro, 2001; Stronks,Ravelli e Rejineyveld, 2001). Apesar do acesso aos serviços <strong>de</strong> cuidados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ser vitalpara diminuir a vulnerabilida<strong>de</strong> e promover a saú<strong>de</strong> <strong>sexual</strong> e <strong>reprodutiva</strong> das comu ni da<strong>de</strong>s<strong>imigrantes</strong>, verifica-se que estas populações não são sistematicamente abrangidas pelossistemas existentes <strong>de</strong> informação, prevenção ou tratamento, e ten<strong>de</strong>m a recorrer aosserviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, em situações <strong>de</strong> urgência ou <strong>de</strong> estado avançado da doença (APF,2006; Mcmunn, Mwanje, Paine e Pozniak, 1998; Parlamento Europeu, 2003). No con -tex to português, apesar da evidência sobre as necessida<strong>de</strong>s em saú<strong>de</strong> das comunida<strong>de</strong>s<strong>imigrantes</strong> e da sua importância <strong>de</strong>mográfica, alguns dados dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> indicamque os <strong>imigrantes</strong> resi<strong>de</strong>ntes no país estão sub-representados entre os utentes dosserviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e, em particular, nos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>sexual</strong> e <strong>reprodutiva</strong> (Dias, Gon -çal ves, Luck e Fernan<strong>de</strong>s, 2004; Gar<strong>de</strong>te e Antunes, 1997; Gonçalves, Dias, Luck, Fer -nan <strong>de</strong>s e Cabral, 2003; Machado et al., 2006). As <strong>mulheres</strong> <strong>imigrantes</strong> encontram,muitas vezes, obstáculos no acesso aos serviços e cuidados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, nomeadamentebarreiras <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m estrutural, administrativa, socioeconómica e cultural (UN, 2004).O custo dos cuidados médicos apresenta-se, em algumas situações, como a principal barreirana procura dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Dados indicam que, em Genebra, cerca <strong>de</strong> 90%dos <strong>imigrantes</strong> indocumentados não apresentam seguro <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (Wolff et al., 2008).Fenton (2001) observa que, além da <strong>de</strong>svantagem económica e exclusão social <strong>de</strong> quesão alvo as comunida<strong>de</strong>s <strong>imigrantes</strong>, factores culturais contribuem para as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>sexis tentes ao nível do acesso aos sistemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> nestas populações, na medida emque estes factores influenciam as opções e <strong>de</strong>cisões em termos <strong>de</strong> cuidados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Por(52) Saú<strong>de</strong> Sexual e Reprodutiva <strong>de</strong> Mulheres Imigrantes Africanas e Brasileiras: um estudo qualitativo
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