geralmente mais difíceis do que aquelas vividas no país <strong>de</strong> acolhimento, as brasileirasreferem que as dificulda<strong>de</strong>s são maiores em Portugal.Factores como o stress associado à gravi<strong>de</strong>z e as dificulda<strong>de</strong>s inerentes à situação <strong>de</strong> imigrantetêm sido apontados em vários estudos como <strong>de</strong>terminantes das dificulda<strong>de</strong>s que,muitas vezes, as <strong>mulheres</strong> <strong>imigrantes</strong> enfrentam nos países <strong>de</strong> acolhimento, durante operíodo <strong>de</strong> gestação (Janssens, Bosmans e Temmerman, 2005). Num estudo <strong>de</strong> Bollini ecolaboradores (2007) são apontados outros factores que afectam a gravi<strong>de</strong>z das mulhe -res migrantes, nomeadamente o stress associado a condições precárias <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> emprego,trabalhos pesados durante a gravi<strong>de</strong>z e vivência <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> racismo e discrimi -nação. Algumas <strong>mulheres</strong>, pelos motivos i<strong>de</strong>ntificados, po<strong>de</strong>m tornar-se particularmentevulneráveis durante o período da gravi<strong>de</strong>z e pós-parto, com implicações para a saú<strong>de</strong> damãe e do bebé (Bragg, 2008; Cervantes, Keith e Wyshak, 1999; Cuadrado et al., 2004;De la Torre et al., 2006; Essen et al., 2000; Ibáñez et al., 2006; Jones e Bond, 1999;Knuist, 1998; Machado et al., 2006; Schulpen, 1996; Van Enk et al., 1998; Zeitlin etal., 2004).No presente estudo, associado à questão da maternida<strong>de</strong> foi também referido o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>ter filhos que, muitas vezes, não é possível concretizar pelas dificulda<strong>de</strong>s vividas no país<strong>de</strong> acolhimento. As participantes, principalmente <strong>africanas</strong>, expressam o quanto gostariam<strong>de</strong> ter mais filhos e o quanto um número elevado <strong>de</strong> filhos é valorizado no contexto culturaldo país <strong>de</strong> origem.Nos grupos focais realizados com <strong>imigrantes</strong> brasileiras, a temática da gravi<strong>de</strong>z é asso -ciada à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter acesso a mais informação e prevenção nesta área. Nestecontexto, são realçadas as consequências negativas da falta <strong>de</strong> informação sobre osmétodos contraceptivos, como a gravi<strong>de</strong>z precoce, não planeada e não <strong>de</strong>sejada. Algunsestudos indicam que as <strong>mulheres</strong> que reportaram ter tido uma gravi<strong>de</strong>z não <strong>de</strong>sejadaten<strong>de</strong>m a revelar falta <strong>de</strong> conhecimento a<strong>de</strong>quado sobre os vários métodos <strong>de</strong> contracepçãoe afirmam não ter uti lizado qualquer método contraceptivo ou terem recorrido amétodos ineficazes ou ina <strong>de</strong>quados (Lindstrom e Hernán<strong>de</strong>z, 2006; Moreau, Bajos eTrussell, 2006; Wolff et al., 2008).Saú<strong>de</strong> Sexual e Reprodutiva <strong>de</strong> Mulheres Imigrantes Africanas e Brasileiras: um estudo qualitativo (129)
A ocorrência da gravi<strong>de</strong>z não <strong>de</strong>sejada é <strong>de</strong>scrita nos grupos focais como sendo frequente,o que vai ao encontro <strong>de</strong> alguns estudos que revelam uma elevada proporção <strong>de</strong> gra vi -<strong>de</strong>zes não <strong>de</strong>sejadas em grupos <strong>imigrantes</strong> <strong>de</strong> vários países europeus (Valli, 2003; Wolffet al., 2008).Um resultado interessante verificado no presente estudo foi o <strong>de</strong> que, para algumas participantes<strong>africanas</strong>, a gravi<strong>de</strong>z não é algo que esteja sob controlo, pois nos seus relatos agravi<strong>de</strong>z é <strong>de</strong>scrita como «apanhei o filho» ou «apanhei a gravi<strong>de</strong>z». No entanto, uma mi -noria <strong>de</strong> <strong>mulheres</strong> <strong>africanas</strong> consi<strong>de</strong>ra que actualmente existe informação suficiente paraque a gravi<strong>de</strong>z possa ser planeada.A falta <strong>de</strong> informação em saú<strong>de</strong> <strong>sexual</strong> e <strong>reprodutiva</strong> em Portugal foi uma temática es pon -ta neamente abordada pelas participantes brasileiras e muito presente nas discussõesrealizadas nos grupos focais com estas <strong>mulheres</strong>. Algumas participantes referem a dificul -da<strong>de</strong> <strong>de</strong> en con trar informação nos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong>screvem as estratégias que utili -zam para a obter, como seja o recurso à Internet ou aconselhamento com conhecidos oufamiliares. Tam bém outros estudos sugerem que as populações <strong>imigrantes</strong> ten<strong>de</strong>m a pro -curar infor mação sobre questões relacionadas com saú<strong>de</strong> <strong>sexual</strong> e <strong>reprodutiva</strong> (como oVIH/Sida) junto <strong>de</strong> amigos, Internet e meios <strong>de</strong> comunicação social (Lazarus, Himedan,Ostergaard e Liljestrand, 2006; Steffan, Kerschl e Sokolowski, 2005).Apesar <strong>de</strong> realçarem a falta <strong>de</strong> informação, a maioria das participantes brasileirasconsi<strong>de</strong>ra possuir informação suficiente para <strong>de</strong>cidir qual o melhor momento para engravidar.No que respeita à temática da interrupção voluntária da gravi<strong>de</strong>z constata-se a existência<strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sfavoráveis relativamente a esta prática na maioria das participantes dosgrupos focais. Várias participantes afirmam ser uma prática frequente em Portugal e r e -latam ter conhecimento <strong>de</strong> várias experiências <strong>de</strong> interrupção voluntária da gravi<strong>de</strong>z.Dados <strong>de</strong> outras investigações têm apontado para uma maior prevalência <strong>de</strong>sta situaçãona população imigrante (Carballo, 2006; Ackerhans, 2003; Janssens, Bosmans e Tem -mer man, 2005; Valli, 2003).(130) Saú<strong>de</strong> Sexual e Reprodutiva <strong>de</strong> Mulheres Imigrantes Africanas e Brasileiras: um estudo qualitativo
- Page 1 and 2:
OBSERVATÓRIO DA IMIGRAÇÃOSAÚDE
- Page 3 and 4:
Biblioteca Nacional de Portugal - C
- Page 5 and 6:
3. POLÍTICAS DE SAÚDE SEXUAL E RE
- Page 7 and 8:
LISTA DE TABELASTabela 1 - Distribu
- Page 9 and 10:
Importa cultural do recordar nosso
- Page 11 and 12:
O estudo em apreço é delicado.As
- Page 13 and 14:
AGRADECIMENTOSA equipa do estudo ag
- Page 15 and 16:
tiva implica uma perspectiva positi
- Page 17 and 18:
com portamentos na área da sexuali
- Page 19 and 20:
tituída por dois capítulos relati
- Page 21 and 22:
Em 1960, a população estrangeira
- Page 25 and 26:
Porém, têm vindo a ser desenvolvi
- Page 27 and 28:
seus direitos fundamentais. Neste c
- Page 29 and 30:
As mulheres imigrantes oriundas dos
- Page 31 and 32:
A sistematização e adopção de p
- Page 33 and 34:
assegurar a colaboração técnica
- Page 35 and 36:
e acessibilidade aos ser viços de
- Page 37 and 38:
et al., 2006). No contexto laboral,
- Page 39 and 40:
podem condicionar o acesso e utiliz
- Page 41 and 42:
ferência Internacional sobre Popul
- Page 43 and 44:
fantil apresentam-se mais elevadas
- Page 45 and 46:
pelos seus maridos ou outros elemen
- Page 47 and 48:
uma cultura e língua diferentes po
- Page 49 and 50:
dência económica verifica-se muit
- Page 51 and 52:
2.4. ViolênciaA violência contra
- Page 53 and 54:
ces sidade de capacitar os profissi
- Page 55 and 56:
A nível internacional, e com base
- Page 57 and 58:
Acor dos de Cooperação Internacio
- Page 59 and 60:
ção Internacional de Planeamento
- Page 61 and 62:
CPLP de combate ao VIH/Sida (Diári
- Page 63:
os participantes discutem sobre um
- Page 66 and 67:
facilitador do processo, mantendo a
- Page 68 and 69:
tras mulheres imigrantes que corres
- Page 70 and 71:
ca nas. Destas últimas, 9 provêm
- Page 72 and 73:
Em relação à situação profissi
- Page 74 and 75:
A Tabela 9 refere-se às 10 mulhere
- Page 76 and 77:
não fui entregar. Mas eu não faç
- Page 78 and 79:
Eu não gosto do aparelho, eu sempr
- Page 80 and 81: No mesmo sentido, salientam ainda a
- Page 82 and 83: Eu acho que os homens é que deviam
- Page 84 and 85: Por seu lado, as africanas descreve
- Page 86 and 87: comida, limpar a casa, não tinha m
- Page 88 and 89: No entanto, um grupo de participant
- Page 90 and 91: com medo de dizer aos pais. Então
- Page 92 and 93: • Práticas tradicionais/receitas
- Page 94 and 95: Eu acho que aqui tem menos divulga
- Page 96 and 97: (…) eu acho que tudo é important
- Page 98 and 99: Uma participante africana realça a
- Page 100 and 101: Processo de Migração3.12. Experi
- Page 102 and 103: chave para não fugir (…). Ela ar
- Page 104 and 105: drugada, para entrar no trabalho à
- Page 106 and 107: Eu fui fazer uns exames (…) e eu
- Page 108 and 109: pouca frequência a estes serviços
- Page 110 and 111: No posto médico, eu fui só em que
- Page 112 and 113: Na opinião das mulheres brasileira
- Page 114 and 115: (…) a médica lá no Brasil tinha
- Page 116 and 117: meses. (…) nós já temos o nosso
- Page 118 and 119: Em vários grupos focais, as atitud
- Page 120 and 121: Em alguns grupos focais é também
- Page 122 and 123: (…) não sei como são as questõ
- Page 124 and 125: No final dos grupos focais foi soli
- Page 126 and 127: Salientam ainda a importância de o
- Page 128 and 129: provocar cancro. Estas evidências
- Page 132 and 133: Nos discursos das participantes, as
- Page 134 and 135: Nas discussões dos grupos focais,
- Page 136 and 137: fe rentes razões para a sua escolh
- Page 138 and 139: ar reira no acesso aos serviços de
- Page 140 and 141: Nos grupos focais foi referido que
- Page 142 and 143: CONCLUSÕESOs resultados deste estu
- Page 144 and 145: ção devem promover a inclusão so
- Page 146 and 147: ter utilizado uma amostra intencion
- Page 148 and 149: BIBLIOGRAFIAABBOTT, M., WONG, S., W
- Page 150 and 151: BOYD, M. (2006), «Push Factors Res
- Page 152 and 153: COKER, R. (2003), Migration, Public
- Page 154 and 155: DINIZ, E. (2004), «A mulher brasil
- Page 156 and 157: FOWLER, N. (1998), «Providing prim
- Page 158 and 159: HYMAN, I. (2007), Immigration and H
- Page 160 and 161: KULLGREN, J. (2003), «Restrictions
- Page 162 and 163: MANUEL, H. (2007), Conhecimentos, A
- Page 164 and 165: ORMOND, M. (2004), Barriers to Immi
- Page 166 and 167: SALAMA, P., e DONDERO, T. (2001),
- Page 168 and 169: UN - United Nations (1994), Report
- Page 170 and 171: WHO - World Health Organization (19
- Page 172 and 173: ANEXO - GUIÃO UTILIZADOPARA A COND
- Page 174 and 175: Saúde Sexual e Reprodutiva de Mulh