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Tema de Capawww.ihu.unisinos.bruma união fácil. O que mantinha unidospovos tão diversos, que há poucotempo se digladiavam, era o interesseeconômico e o Welfare State– Estado-previdência. Os países capitalistascentrais tentaram – e conseguiram– bolar um sistema na lógicakeynesiana de redistribuição, que é alógica da social-democracia. O projetokeyenesiano é um estado, dentrodo capitalismo, minimamente protetor.Isso, até certo ponto, manteve ascoisas a contento. Quando, a partirda década de 1980, esse projeto vaisendo paulatinamente substituídopelo projeto neoliberal, teremos oseguinte: o projeto neoliberal vaipregar, afinal de contas, outra lógica,que é a do “salve-se quem puder”, alógica do Estado mínimo. Não competeao Estado ficar pensando muitoem educação, saúde, segurança, mascompete ao indivíduo. Esse projetoneoliberal diz o seguinte: você é oprincipal responsável por você próprio.Esse negócio de sociedade é um“lero”. O neoliberalismo vai, pouco apouco, minando o Estado protetor,vai tornando esse Estado cada vezmenor, menos interventor, menospositivo. E o mercado vai fazendo avez do Estado.É claro que, quando se tem umaconcepção de Estado dessa forma,se acaba tendo outra concepção desociedade e de homem, que vai induziras pessoas a terem projetosvoltados a um pequeno grupo social:a si e a família. Essa nova lógica econômicarespinga nos países latino--americanos. Por que o Brasil foi umdos menos afetados? Porque ele foi,na América Latina, um dos poucospaíses que não aderiu ao projeto neoliberal.Ao contrário da Argentina eprincipalmente do Chile, onde a previdênciafoi privatizada. O respingoda financeirização no Brasil ocorreue ocorre até hoje. Temos uma inflaçãolatente, um medo latente; porém,apesar de tudo isso, por termosum Banco Central com políticas deintervenção, graças ao governo Lulae ao Bolsa Família, conseguimos incluircomo consumidores uma parcelasignificativa da população que“Não é a toaque ainda nestadécada, até 2020,segundo relatóriosinternacionais, asegunda causa deafastamento dotrabalho será otranstorno mental,sendo que a maisrecorrente será adepressão. Isso égravíssimo”estava totalmente à margem. É a políticainterna e as políticas públicas,as ações concretas do governo queamortecem os efeitos, ou, pelo contrário,exponenciam e os aumentam.Nunca tivemos Estado de bem-estarsocial no Brasil. O emprego formalaumentou recentemente. Tem maisgente com carteira assinada, masainda temos subemprego. Onde setem um capital financeiro muito forteem detrimento da produção, éclaro que isso trará consequênciaspara a questão do emprego. Há setoresque estão se automatizando cadavez mais. Há também a questão dosterceirizados, que será regulamentadaagora. Temos uma situação deuma classe média que perdeu muito,temos as chamadas classes C, D e Eque se mantiveram, mas permaneceno Brasil um percentual mínimo depessoas, da ordem de 2%, que detémuma quantidade de riqueza estonteante.Isso é justamente consequênciado processo de financeirização daeconomia.IHU On-Line – Quando se fala definanças e trabalho/emprego, o quepodemos identificar como crise reale como crise imaginária?Roberto Heloani – Ao contráriodo que as pessoas pensam, a lógicafinanceira trabalha muito com o imagináriosocial. Temos a especulação,que também usa e abusa dos medos,receios e ilusões das pessoas. Investirem ações pode ser até um ótimonegócio. Não sou contra a bolsa devalores. Só que para ganhar dinheironessa área ou a pessoa tem umasorte absurda – então é melhor jogarna loteria – ou ela entende muitode negócios, é um profissional. Amaior parte da população não temnem uma coisa nem outra. Temossituações surrealistas, não de medoexplícito, mas um receio, um temorlatente, que faz com que as pessoastenham atitudes que podem ser vistascomo irracionais.IHU On-Line – Como se configuramos processos de migração internacionalde trabalhadores e de deslocamentosde empresas? Quais suasimplicações no mundo do trabalho?Roberto Heloani – Essa é umaquestão complexa, que envolve aspectosfinanceiros, culturais e deviolência simbólica. A questão dosexpatriados, por exemplo. Há poucotempo, ser expatriado era um prêmiopara um executivo. As pessoas comemoravamcom champanhe e uísqueescocês quando iam ser expatriadas.Hoje a coisa não é bem assim. Issoacontece menos e alguns sabem que,sendo expatriados, estão correndoum risco muito grande, mesmo queseja apresentado como uma promoção.Isso porque o grau de exigênciasa curto prazo é muito forte. Se a pessoafor vista pelo grupo que está láà frente como alguém que veio roubaro cargo de outra ou obstaculizara promoção de alguém, ela pode seraté boicotada, colocada de lado. Éinteressante como essa lógica atingedesde o jovem até o executivo sênior.A expatriação, em consequência disso,é vista com outros olhos.10SÃO LEOPOLDO, 29 DE ABRIL DE 2013 | EDIÇÃO 416

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