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qualidade de vida dos cidadãos, o aumentodo número de suicídios.Na Grécia, tudo isso atingiu proporçõesdramáticas, mas também noresto da Europa as coisas estão indonesta direção, especialmente no quediz respeito ao desemprego entre osjovens, por exemplo, que na Espanhaou na Itália atingiu proporções inacreditáveis​,de mais de 40%.Na Alemanha, que certamenteé o país economicamente mais forte,esta situação do mercado de trabalhoe do desemprego começou muito antesda crise, especialmente no iníciode 2000, com os planos de trabalhodo governo vermelho-verde, que optarampor um mercado de trabalhocada vez mais flexível e temporário(“pleno emprego do trabalho temporário”,dizia-se), também com baseno trabalho imigrante para reduzir ossalários.IHU On-Line – Com a crise naEuropa e os desafios impostos porela ao mundo do trabalho, quais asprincipais transformações recentesno que se refere à geração de rendae de consumo?Christian Marazzi – É difícil respondera essa pergunta, porque nãoestá claro qual é (se houver) o projetopor trás deste ataque frontal ao mundodo trabalho. Na verdade, o principalobjetivo do capital, perfeitamentecoerente com a política neoliberal, éo de minimizar o custo do trabalho,com o aumento do exército de desempregados,a redução das aposentadorias,o aumento na cobrança deimpostos e a destruição definitiva dossindicatos. O que não está claro é osignificado desta estratégia macroeconômica,uma vez que não é possívelsair da crise atual, na esperança deuma recuperação da competitividadede todas as economias europeias, aomesmo tempo, através da retomadadas exportações. Os países mais afetadospela crise da dívida soberanaestão se tornando um grande grupode força de trabalho pobre, prontos amigrar para os países do norte da Europa.Talvez esta seja a referência queemerge da estratégia da crise, criarum Sul de serviços (e emprego) paraos ricos do Norte. De toda forma háanos, quando algum novo emprego écriado, ele é certamente temporário“A austeridade,em vez de facilitara recuperaçãoda recessão, aocontrário, piora”e por tempo determinado. Acabou afase do trabalho seguro e por tempoindeterminado.IHU On-Line – Em que medida atransformação das finanças em “ferramenta”ativa para suportar a demandase relaciona com o desmantelamentodo Estado social e coma crescente privatização dos benspúblicos?Christian Marazzi – Na fase deexpansão do capitalismo financeiro,desde os anos 1980, tem havido umaprivatização dos mecanismos de criaçãoda demanda agregada de Keynes 1 .O endividamento das famílias e empresastem, gradualmente, tomado olugar da dívida pública dos países nasua função de criação da demandaadicional (a salarial) necessária paraobter lucros. Não que a dívida públicatenha diminuído. Pelo contrário, oseu aumento se deve principalmenteà redução da carga fiscal sobre o capi-1 John Maynard Keynes (1883-1946):economista e financista britânico. SuaTeoria geral do emprego, do juro e dodinheiro (1936) é uma das obras mais importantesda economia. Esse livro transformoua teoria e a política econômicas,e ainda hoje serve de base à políticaeconômica da maioria dos países não-comunistas.De Keynes, publicamos um artigoe uma entrevista na 139ª edição, de02-05-2005, disponível para download emhttp://migre.me/4b8NA e outra entrevistana 144ª edição, de 06-06-2005, disponívelpara download em http://migre.me/4b8NR. Confira, também, dois artigosna 145ª edição, de 13-06-2005, disponíveispara download em http://migre.me/4b8Ob e um artigo nos Cadernos IHUIdeias número 37, de 2005, intitulado Asconcepções teórico-analíticas e as proposiçõesde política econômica de Keynes,de autoria do Prof. Dr. Fernando FerrariFilho, disponível para download emhttp://migre.me/4b8Pq. Leia, também,a edição 276 da Revista IHU On-Line, de06-10-2008, intitulada A crise financeirainternacional. O retorno de Keynes, disponívelpara download em http://migre.me/4b8OK. (Nota da IHU On-Line)tal e rendimentos elevados, aumentode demandas geradas pelo envelhecimentoda população e ao aumentodos custos com a saúde. Com a criseda dívida privada, por meio da intervençãodos países para ajudar o sistemabancário à beira da falência, foinovamente transformada em dívidapública. Assistimos à socialização dadívida e a privatização dos lucros. Eeste aumento da dívida pública oportunizouo ataque aos gastos públicosdo welfare state e a privatização debens públicos.IHU On-Line – Na última entrevistaque nos concedeu 2 , o senhorafirmou que “é a cooperação, a trocade saberes e conhecimentos, ascompetências adquiridas no âmbitodo não trabalho que são recursosestratégicos para o desenvolvimentodo capital”. Como reflete sobre essaafirmação a partir da crise na UniãoEuropeia?Christian Marazzi – Posso apenasreiterar que, em lugar do uso capitalistado “comum”, justamente o trabalhode cooperação, do conhecimentoe da experiência, podemos e devemosagora responder com a luta por umarenda de cidadania, uma renda queseja uma forma de monetização detodo o trabalho gratuito que fazemospara (simplesmente) viver, mas quese insere na estratégia do capital decaptar a mais-valia absoluta, atravésde dispositivos de externalização daexploração do trabalho.IHU On-Line – Com a crise noemprego/trabalho, quais os impactosque as grandes empresas sofremem função da quebra do mecanismoda dívida (aqui pensando no cartãode crédito e nas hipotecas imobiliárias,por exemplo)?Christian Marazzi – A crise é sempreum momento de cortes de gastos,mesmo que apenas para reduzir as dívidasacumuladas em fase de expansão.E isso, para as empresas em geral,significa redução da demanda porbens de consumo e de investimento.Para as grandes empresas significa2 Confira: A sociedade: uma grande fábricade produção de valor. Publicadana revista IHU On-Line n. 327, de 03-05-2010, disponível em http://bit.ly/xnP2oq (Nota da IHU On-Line)Tema de Capa www.ihu.unisinos.brEDIÇÃO 416 | SÃO LEOPOLDO, 29 DE ABRIL DE 201329

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