11.07.2015 Views

E MAIS - Renast Online

E MAIS - Renast Online

E MAIS - Renast Online

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

cimento sobre o controle gerencialexercido pela unidade fabril fordista,de produção em massa, não são maissuficientes para explicar o que acontecehoje dentro de empresas dos diversossetores, tal como o de serviços,marcado pela flexibilização das relaçõesde trabalho, pelo crescimento doemprego precário e inseguro, e pelaausência de proteção da legislaçãotrabalhista. Além do fato de a elaboraçãoteórica a partir do trabalhadorformal não captar com a devida acuidadeas manifestações de trabalhoinformal, a domicílio, que se multiplicamnesse novo contexto.IHU On-Line – A reflexão acadêmicaacerca das mudanças no mundodo trabalho tem conseguido acompanharo que está acontecendo nomundo real ou há defasagens significativas?O que dizer das críticas àsociologia do trabalho por continuaranalisando o mundo do trabalho comas mesmas categorias da sociedadeindustrial? Qual é a sua visão?José Ricardo Ramalho – Emborajá seja possível identificar um conjuntoexpressivo de pesquisas voltadaspara a investigação das transformaçõesno mundo do trabalho e seusdesdobramentos sobre a vida dos trabalhadores,sobre a estrutura das empresase sobre as formas de empregoque emergem na sociedade contemporânea,creio que ainda há lacunasimportantes a ser preenchidas pelosestudos dedicados a essa temática.No caso do Brasil e da AméricaLatina, por exemplo, a referência bibliográficatradicionalmente utilizadase inspira em uma literatura produzidaa partir da realidade de sociedadesindustrializadas, no contexto de ummercado de trabalho formalizado. Oque se tem percebido, neste caso, é aincapacidade de, com esse corpo conceitual,explicar as particularidadesdo emprego, do mercado de trabalhocom a marca da informalidade, doprocesso de industrialização tardio e,em consequência, das característicasdiferenciadas assumidas pela organizaçãosindical. Trata-se, portanto, dodesafio que se coloca para a sociologiado trabalho: refazer ênfases e“A introduçãode relações detrabalho marcadaspela flexibilidadecolocou em xequeos empregos delonga duraçãoe disseminouocupações atípicase precárias”aprofundar pesquisas também sobreo que é o trabalho “não clássico”.Outras tradições além dasfábricasPor outro lado, pensar o trabalhoem outras dimensões além de suamanifestação dentro das fábricas temexigido uma abertura maior para dialogarcom outras tradições de análisesocial. A organização das empresas emrede, por exemplo, colocou relevâncianas localidades e regiões onde se estabelecemas atividades econômicase trouxe para o debate a dimensão daparticipação dos trabalhadores e sindicatosnas discussões públicas sobreprojetos de desenvolvimento e sobreatuação política. Importante tambémé atentar para a necessidade de revisitaras instituições de representaçãodos trabalhadores. Os sindicatos aindapassam por grandes dificuldadespara enfrentar as novas estratégiasdas empresas, e as práticas políticasanteriores não têm sido eficazes naresistência aos efeitos negativos paraos que vivem do trabalho. Novas pesquisasprecisam avaliar o modo comoa instituição sindical poderia retomarsua capacidade de contestação e regulaçãodas atividades no mercado detrabalho.IHU On-Line – Há novidades nosestudos sobre trabalho? Qual temsido a contribuição da sociologia dotrabalho brasileira nesse debate equais são as principais ausências?José Ricardo Ramalho – A ampliaçãodo escopo de estudos sobreo trabalho tem demonstrado novosinteresses de pesquisa e o despertarde outros tipos de curiosidade, muitasvezes a partir da revisita aos velhos temasdiscutidos em períodos históricosanteriores. Isso se aplica também àsociologia do trabalho brasileira. Algunsdesses temas tem sido objetode investigação continuada aqui e nospaíses industrializados, principalmenteno que se refere às mudanças nasformas de organização das empresase do trabalho. Assim, os estudos sobrea consolidação do padrão flexível têmgarantido debates acirrados sobre seucaráter positivo ou negativo e sobresuas consequências sociais. Por umlado, argumenta-se a favor da multifuncionalidadecomo algo que dáautonomia ao trabalhador; por outrolado, enfatiza-se a “precariedade” dosnovos laços de trabalho como formade tornar o trabalhador mais vulnerávelna relação com as empresas.Tempo de trabalhoNo Brasil e no exterior, uma discussãoque avançou se deve à alteraçãoda concepção de “tempo de trabalho”,tendo em vista que cada vezmais vem ocorrendo uma extensãoda jornada de trabalho à revelia daslegislações existentes. O “tempo detrabalho” se adequa às exigências doprocesso produtivo tornando menosclaras as fronteiras entre o espaço dotrabalho e o da vida da casa, da família.Ao mesmo tempo, algumas ausênciasno debate sobre o trabalho na sociedadeatual começam a ser objetode novos investimentos de pesquisa.Como mencionei acima, identifica-sea importância do aprofundamentode estudos sobre o chamado trabalhonão clássico marcado por atividadesnão assalariadas, ocupações atípicas,precárias e inseguras. Da mesma forma,é preciso avaliar a dimensão dochamado “trabalho imaterial” – aquelecujo produto não se evidencia deimediato como resultado do esforçohumano – e chegar à compreensãode outro tipo de trabalhador que seTema de Capa www.ihu.unisinos.brEDIÇÃO 416 | SÃO LEOPOLDO, 29 DE ABRIL DE 201323

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!