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Tema de Capawww.ihu.unisinos.bresgotado? Que tipo de “nova economia”poderia ser pensada paravislumbrar alternativas à crise dotrabalho/emprego?Lucas Henrique da Luz – Creioque o modelo que está esgotado nãoseja econômico apenas, mas sim ummodelo de sociedade. Esse esgotamentoolhado a partir do mundo dotrabalho revela-se em questões comoo adoecimento dos trabalhadores; afalta de tempo constante (é importantepara as pessoas poderem pronunciar,a cada momento, que estão commuitas coisas a fazer, para aprender,para buscar – já pensou alguém dizerhoje que está ocioso? – isso seria profanaro sistema, a lógica do modeloatual). A combinação das tecnologias,que aceleraram brutalmente o ritmode trabalho, com a financeirização dassuas relações, só poderia resultar emespaços de trabalho bastante instáveis,com falta de vínculo, de memória,de trajetória, superficiais, que nãopodem ser sustentáveis. Como bemescreveu Enéas Costa de Souza 5 , háuma “insustentável leveza do capitalfinanceiro” e é ela que está na basedas relações de trabalho hoje, no bojodo modelo econômico e social.Outra coisa que parece revelar oesgotamento do modelo via trabalhoé que, por mais que se tenha aumentadoa produção material e imaterial,não se alcançou um paradigma sustentávele de maior justiça social; pelocontrário, nosso modelo é ambientale socialmente insustentável. Destruímosa natureza e aumentamos diferençasentre os mais ricos e os maispobres – concentramos riqueza e,mesmo os trabalhadores com altasfaixas de renda, em sua maioria, revelam-senão felizes, não realizados,segundo pesquisas feitas com executivos,por exemplo.ContextoApontar possibilidades na complexidadedo contexto atual, de criseepocal, é algo sempre muito difícil.Podemos pensar na perspectiva deeconomia solidária, da economia de5 Confira a entrevista “A insustentávelleveza do capital financeiro”, concedidapor Enéas Costa de Souza e publicada nosítio do IHU em 10-04-2013 e disponívelem http://bit.ly/ZoyUyL (Nota da IHUOn-Line)comunhão, nos movimentos ligadosao slow – penso que são tentativas.Porém, alguma possibilidade de superaçãodesse esgotamento passaobrigatoriamente pela necessidadede reinventarmos usos para umasérie de coisas, como as tecnologiasda comunicação e informação, utilizando-aspara celebração, para ócio,para devolver ao centro da economiae do nosso modelo de sociedade avida em suas diferentes formas. Opapel da universidade como potencializadorade um pensamento quepensa e não somente de um pensamentoque calcula – como definiuZamagni – parece ser fundamentalpara que entendamos melhor as técnicasque governam, os espaços detrabalho e assim iluminar caminhos ealternativas.IHU On-Line – Em que sentido ocontexto cultural na pós-modernidade,na sociedade capitalista, contribuipara as metamorfoses no mundodo trabalho?Lucas Henrique da Luz – Aquiter-se-ia que discutir se o termo pós--modernidade é o mais adequado,pois também usam-se termos comohipermodernidade (Lipovetsky), modernidadelíquida (Bauman), modernidadetardia (Giddens), dentreoutros e se ela representa principalmentecontinuidade (Habermas) ousuperação (Lyotard, Levinas) em relaçãoà modernidade. Porém, para opropósito do questionamento, issonão é o essencial e tomarei o termopós-modernidade. Nela emergiu ouvem emergindo um contexto culturalque reforça os paradigmas atuais detrabalho e é reforçada por eles, nummovimento de retroalimentação. Reforçao individualismo, a perspectivade perceber o outro como objeto,assim como um hiperconsumo e apreocupação com o curto prazo. Elacoloca uma cultura de identidadesem curso, construídas em processostransitórios, fugazes, temporais, deconstante negociação (Santos, 2001),gerando uma certa descontextualizaçãoda (s) identidade (s). Assim,forja uma cultura que rompe com asnarrativas de espaço e tempo, forjandouma cultura do efêmero; quevaloriza talento numa perspectivade utilidade, onde a “vida útil” dequase tudo e todos tende a ser cadavez mais curta, onde a tecnologia ea ciência invalidam e criam/renovamcapacitações e competências a cadamomento; que incentiva e/ou pedea não vinculação, a superficialidadeonde o relevante é a experimentaçãoe a constante reformulação de“vínculos”. Então, como sintetizouSennett (2006), o contexto culturalpós-moderno é um contexto da efemeridade,fragilidade e superficialidadedos vínculos com tudo e todos,das transações e não relações, dafragmentação do político, do econômico,do social e do seguir em frentecomo premissa básica.Claro que tudo isso impacta nasrelações de trabalho, de forma a torná-lasinstáveis, com vínculos superficiais,com valorização da dimensãoimaterial fazendo com que as pessoas,os trabalhadores (que são hojecada vez mais múltiplos em identidades)precisem estar buscando “qualificação”(novos talentos e utilidades)constantemente, preocupados comsuas competências em potencial enão com o que fazem ou fizeram apenas.Eles precisam estar dispostos aabandonar trajetórias, partir paranovos desafios, descontextualizar-senovamente a qualquer momento.Pegando aspectos mais macro dasrelações de trabalho, podemos dizerque saímos de uma ideia de conhecimentosdo trabalhador, dele aplicarno trabalho conhecimentos e habilidadese ingressamos numa lógica decompetências que envolve capacidade,ou seja, além dos conhecimentose habilidades envolve comportamentos,ocupa-se do conjunto de experiênciasdas pessoas, da sua cultura,enfim, das subjetividades. Então, osreflexos da cultura pós-moderna sedão nessa instabilidade, incerteza, naconstante efemeridade e insegurançanas relações de trabalho, colocandoo trabalho imaterial como decisivo e,podem, ao mesmo tempo, ameaçar asaúde dos trabalhadores, colocá-losem relações cada vez mais individualizadas,como, quiçá, podem gerarrelações que permitam certa emancipação,seu desenvolvimento comosujeito, para que eu não seja tão pessimista.O certo é que isso modificamecanismos de controle, técnicas degoverno.36SÃO LEOPOLDO, 29 DE ABRIL DE 2013 | EDIÇÃO 416

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