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nizações internacionais reforçam. Assim,o Fundo Monetário Internacional– FMI e o Banco Mundial incentivamos governos dos países capitalistas periféricosa desenvolverem sua indústriado turismo e do entretenimentocomo alta fonte de divisas para o pagamentoda dívida contraída junto aessas organizações.IHU On-Line – Quais as característicasdos países onde as mulheressão traficadas e quais característicasdos países onde tais mulheres são exploradassexualmente?Richard Poulin – Primeiro, emtodos os países as mulheres e as meninasdas minorias étnicas e nacionaissão super-representadas, portantosuperexploradas na prostituição. É ocaso, principalmente, das minoriasétnicas no norte da Tailândia e noMianmar. As populações origináriasda minoria húngara na Romênia, daminoria russa nos países bálticos edas minorias ciganas por toda a parteno Leste Europeu estão “super-representadas”entre as pessoas prostituídasno seu próprio país, bem como naEuropa ocidental. Os autóctones doCanadá e indivíduos de muitos paíseslatino-americanos também estãosuper-representados entre as pessoasprostituídas em seus países respectivos.É igualmente o caso dos afro--americanos nos Estados Unidos. Emescala mundial, os agentes de prostituiçãodo Norte exploram mulheres ecrianças do Sul e do Leste, assim comomulheres e crianças pertencentes aminorias étnicas ou nacionais.GlobalizaçãoSegundo, a globalização capitalistaacentuou o desenvolvimentodesigual entre os países, produzindouma pressão significativa a favor dasmigrações internacionais, que se feminizaram.Paralelamente ao crescimentoda prostituição local ligada àsmigrações do campo para as cidades,milhões de jovens mulheres e meninassão transportadas, cada ano, paraos centros urbanos do Japão, da Europaocidental, da América do Nortee de vários países do Terceiro Mundo,como a Tailândia, para serem prostituídas.Nos lugares onde a indústriada prostituição é muito desenvolvida,inclusive nos países dependentes,criam-se circuitos mundiais detráfico, num espantoso vaivém. Essasrealidades definem as condições e aextensão da globalização capitalistaatual para as mulheres e as criançasque são vítimas da indústria sexual.Os indivíduos estrangeiros prostituídossituam-se no nível mais baixo dahierarquia prostitucional, são sociale culturalmente isolados e exercema prostituição nas piores condiçõespossíveis, sendo ao mesmo temposubmetidas a diferentes formas deviolência, tanto no cotidiano prostitucionalquanto no transporte de umpaís para o outro.IHU On-Line – A que tipos deviolência as mulheres em situação deprostituição estão sujeitas?Richard Poulin – O dinheiro é achave da relação prostitucional: eleliga e submete a pessoa prostituídaao prostituidor, tornando a relaçãoimpessoal, reificada e desequilibrada.O sistema prostitucional é uma manifestaçãoparticularmente significativada dominação dos homens pelo sexona sociedade mercantil. A mercadorianão é apenas uma “coisa”, emboraaparente ser; ela é essencialmenteuma relação social. A transformaçãode um ser humano em mercadoriaprostitucional significa não somentesua coisificação, mas também suainserção em relações de submissãosexista e de subordinação mercantil.Alguém se torna uma pessoa prostituídaem consequência de um itineráriocaótico, que fragiliza, vulnerabiliza edestrói. As brutalidades e outras violências,principalmente as violênciassexuais, mas também as violênciaspsicológicas, têm como consequênciao fato de instituir a sujeição e de fazercom que a resignação se sobreponhaa qualquer veleidade de contestaçãoou de revolta.Em qualquer um dos casos, égrande a violência física e sexual,qualquer que seja o regime jurídicoque enquadra a prostituição, sejam asmulheres prostitutas clandestinas ounão, estejam elas na calçada ou não,em bordéis registrados ou não. É umaquimera crer que a legislação seja umfator de segurança para as pessoasprostituídas, pois ela não questionaum dos fundamentos da violência inerenteà prostituição: o desequilíbriode poder fundamental entre o prostituidore a pessoa prostituída e entreo proxeneta e sua “propriedade”. Oíndice de mortalidade de mulheres emeninas aliciadas para a prostituição,no Canadá, é 40 vezes superior ao damédia nacional.IHU On-Line – Que paralelospodemos traçar na história entre operíodo escravagista e a atual exploraçãodo tráfico humano?Richard Poulin – Em três níveis.Primeiro, na Antiguidade era estreitaa relação entre o desenvolvimento daescravidão, o da prostituição de mulherese crianças (escravos destinadosà prostituição) e o status muito inferiordas mulheres “livres”. O homemgrego pode vender como escrava amulher livre adúltera. Demóstenesexpõe, em termos breves e precisos,o que é a vida sexual ideal dos homensde Atenas: “Casamo-nos com amulher para termos filhos legítimos euma fiel guardiã da casa. Temos companheirasde cama para nos servir edispensar os cuidados cotidianos; temosas hetairas para os prazeres doamor.” Segundo, certos bordéis legaisdos estados de Nevada e Novo Méxicosão protegidos por grades, cães,agentes de segurança, como se, naverdade, não passassem de um universocarcerário em que as pessoasprostituídas se encontram em situaçãode detenção ou escravidão. EmHamburgo, os acessos a certos bairrosreservados à prostituição são fechadospor chicanas. Em Istambul, a entradados “complexos de bordéis” évigiada. Em Calcutá, as prostitutas seoferecem atrás das grades. Na Tailândia,as crianças são tiradas de gaiolaspara serem entregues aos turistas sexuais.Terceiro, é impossível combatero tráfico sem combater a causa: aprostituição. A história da luta da abo-Destaques da Semana www.ihu.unisinos.brEDIÇÃO 416 | SÃO LEOPOLDO, 29 DE ABRIL DE 201341

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