11.07.2015 Views

E MAIS - Renast Online

E MAIS - Renast Online

E MAIS - Renast Online

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Tema de Capawww.ihu.unisinos.brcapitais e pressionando cada vez maisos direitos laborais e o valor do trabalho.Por outro lado, a ideologia da desindustrialização,da competitividadeindividual e do consumismo desenfreadoajudou a inebriar setores importantesdo funcionalismo e da classemédia, que aderiram cada vez maisao crédito (inicialmente fácil e barato)para comprarem a crédito, se endividarem(em especial na aquisição decasas e apartamentos próprios) comisso ajudando o setor bancário, dosseguros e a especulação financeira aenriquecerem enquanto ficavam cadavez mais dependentes. O ataque aosdireitos laborais na Europa está sendoconduzido pelos interesses do capitalismoselvagem e por uma doutrinahiperliberal, que nega a existênciade estruturas e desigualdades sociaiscomo fontes de atraso, e para quemos indivíduos / trabalhadores devemestar ao serviço da performance damacroeconomia, e não o contrário.IHU On-Line – A crise vem impondouma revisão das conquistasdo Estado de bem-estar social? Éirreversível?Elísio Estanque – A crise atual eas subsequentes políticas de austeridade(impostas pela Alemanha e paísesdo norte da Europa) orientam-separa uma retomada do mercantilismoe um destroçar do Estado de bem--estar e dos direitos trabalhistas. Nestecaminho, pretende-se desmantelare, se possível, pôr fim ao sindicalismomais combativo. Eu acredito que o Estadosocial não vai voltar ao que já foium dia, pelo menos enquanto a economiaeuropeia não voltar a crescersignificativamente.IHU On-Line – Caminha a Europapara a “inseguridade social”, comodizia Castel 1 ?Elísio Estanque – Creio que o Estadosocial do futuro passará por modelosde trabalho diferentes e formasde exercício democrático também distintas.Mas as sociedades europeias,em especial as da Europa do sul, nãoaguentam uma economia completamentemercantilizada e um trabalhoque volte aos padrões do que foi noséculo XIX. A cultura democrática e os1 Sociólogo francês recentemente falecido.Sobre ele, leia uma entrevista publicadanesta edição, com Liliana Segnini.(Nota da IHU On-Line)padrões de vida que sucessivas geraçõesde trabalhadores foram assimilandotornam a cidadania ativa umarealidade, mesmo no quotidiano davida. E esse sentido de liberdade, essaexpectativa de progresso, essa ambiçãode desenvolvimento e de justiçasocial (presentes no legado do Estadoe da social-democracia europeia) ajudarãoa mobilizar os cidadãos e a umaprofunda renovação dos sistemas políticosdemocráticos da Europa. Como projeto de integração em risco – emespecial perante a eventualidade dofim da moeda única –, a Europa vai serobrigada a reinventar-se. Mas estouconvencido de que não vai deixar delutar pelas ideias progressistas e emancipatóriasque (embora sob diferentesideologias) nela tiveram o seu berço.A Europa sairá desta crise modificadae será obrigada a alterar o seu posicionamentonas relações globais e com oscontinentes do hemisfério Sul.IHU On-Line – O movimento sindicaltem conseguido reagir?Elísio Estanque – O movimentosindical tem reagido. Porém, por continuaramarrado a modelos organizativose a práticas dos tempos do fordismo,revela enormes dificuldades emse aliar e em se aproximar dos novossetores descontentes e camadas daforça de trabalho precarizada. O sindicalismoeuropeu precisa se refundar,e isso deve acontecer em articulaçãocom os novos movimentos juvenis ede trabalhadores precários que emergiramrecentemente na Europa.IHU On-Line – O que ainda difereo mercado de trabalho europeu dobrasileiro?Elísio Estanque – Lá (na Europa) amemória dos direitos trabalhistas estábem presente e os governos neoliberaisainda não desmantelaram todosesses direitos. No Brasil os trabalhadores– pelo menos os segmentos maisfrágeis – não possuem um passado deconquistas, mas sim de miséria. Hoje,muitos se beneficiam de uma efetivamelhora salarial e de direitos. Umaparte deles está seduzida por esse fascínioencantatório que é o consumismo,estão inebriados pelo aparentefacilitismo do “ter”, mas isso não estásendo acompanhado por um sentidodo “ser”, por um reforço efetivo daconsciência dos direitos de cidadania.IHU On-Line – O senhor está noBrasil desde janeiro. Que relações jáconsegue estabelecer entre o mundodo trabalho aqui em relação à realidadeeuropeia?Elísio Estanque – O mercado detrabalho brasileiro continua muito flexível,com muita rotatividade, bastantejovem, e apenas está iniciando umciclo de conquista de direitos e de reconhecimento.Falta qualificação, queexiste mais na Europa, mais presençareguladora do Estado e capacidadede consolidação da esfera pública.Tal como nos países europeus, estáse acentuando um dualismo entrefuncionalismo (servidores públicos)e os trabalhadores do setor privado.Há uma economia pujante, mas umadificuldade na renovação, inovaçãotecnológica e modernização do tecidoprodutivo.IHU On-Line – Comparando asrealidades portuguesa e brasileira, oque o senhor pode dizer sobre a desigualdadesocial e as característicasda classe média, principalmente emrelação ao trabalho e ao emprego?Elísio Estanque – A concentraçãode renda é mais intensa no Brasil. Oscontrastes de classe, entre riquezae pobreza, são bem mais chocantesaqui. Os trabalhadores europeus queremcontinuar a ver a porta aberta daclasse média. Os trabalhadores brasileiros,ao verem fechar-se a porta damiséria, já se julgam parte da “nova”classe média (ou serão os interessesdo marketing que trabalham paracriar essa imagem?). Em ambos os casos,trata-se de classes trabalhadorasem intensa recomposição. Enquantona Europa a fragmentação reflete umrecuo social (e isso se ressente no pessimismoe no descontentamento daclasse média, dos trabalhadores e dosdesempregados), no Brasil as conquistassociais criam uma subjetividadepositiva e de alguma euforia quantoa melhorias de poder de compra e destatus social. O futuro é muito incertoem ambos os casos, mas é importanteque em cada um dos lados do Atlânticose saiba aprender com a experiênciahistórica (a recente e a mais antiga)do outro lado. Em qualquer doscasos, creio que a cooperação seráfundamental. E espero que Portugale Brasil possam ser protagonistas centraisnesse processo.32SÃO LEOPOLDO, 29 DE ABRIL DE 2013 | EDIÇÃO 416

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!