Tema de Capadirecionar as estratégias de vendaspara os países emergentes, criandonovamente a armadilha da dívidapara esses mesmos países. De fato,países como a China, e outros, estãoagora se confrontando com um aumentoacentuado da dívida dos seusbancos em direção aos países ocidentais.Uma coisa parece clara: não hánenhuma chance de sair da crise semque o capital retome a via do endividamento.O problema é que, mesmoque os bancos centrais estejam criandoliquidez, mais do que devem, essaliquidez não desemboca na economiareal, permanece nos circuitos financeirose, portanto, alimenta uma nova(e enorme) bolha financeira. Que estápor explodir nos próximos meses.“Há anos, quandoalgum novoemprego é criado,ele é certamentetemporárioe por tempodeterminado”IHU On-Line – Quais as peculiaridadesda crise europeia em relaçãoao mundo do trabalho se compararmoscom os impactos sofridos nosEUA, por exemplo, com a crise de2008/2009?Christian Marazzi – A principalpeculiaridade em relação aos EstadosUnidos e Europa diz respeito à naturezadas moedas criadas em seus respectivoscontinentes. O dólar é umamoeda soberana cuja criação e circulaçãodentro dos Estados Unidos permitemo crescimento econômico (e,consequentemente o emprego) emtodos os estados federados. Na Europa,o euro veicula um processo dedesenvolvimento divergente entre ospaíses do Norte e dos países do Sul.Isso acontece porque o euro é umamoeda sem um Estado, uma moedasem uma política fiscal e econômicacomum aos países membros da UniãoEuropeia. Isso significa que, dentro dazona do euro, o desenvolvimento deum país (como a Alemanha) é feito àcusta do subdesenvolvimento de outrospaíses (como a Grécia, a Espanhaou a própria Itália).Leia mais...>> Christian Marazzi já concedeuoutras entrevistas à IHU On-Line.Confira:• Política do comum: uma fonte diretade valor econômico. Publicada nasNotícias do Dia do sítio do IHU, em23-03-2009, disponível em http://bit.ly/d4AqGP;• A vida no centro do crescimentoeconômico. Publicada na revista IHUOn-Line n. 301, de 20-07-2009, disponívelem http://bit.ly/cmubdm;• A sociedade: uma grande fábricade produção de valor. Publicada narevista IHU On-Line n. 327, de 03-05-2010, disponível em http://bit.ly/xnP2oqAcompanhe o IHU no Blog no endereçowww.unisinos.br/blogs/ihuwww.ihu.unisinos.br30SÃO LEOPOLDO, 29 DE ABRIL DE 2013 | EDIÇÃO 416
O sindicalismo europeu precisase refundarPara o sociólogo português Elísio Estanque, as razões da crise do trabalho na Europapartiram de uma mudança no paradigma econômico, que começou há cerca de trêsdécadas com o advento do modelo neoliberal, estreitamente vinculado ao podercrescente do capitalismo financeiro sobre a economia realPor Graziela Wolfart e Cesar SansonIHU On-Line – Qual é o tamanhoda crise do trabalho na Europa (pensandoparticularmente na realidadede cada país)? Quais são os setoresmais atingidos?Elísio Estanque – A crise econômicaatinge, em primeiro lugar, os trabalhadores(incluindo os segmentos daclasse média). Para além das medidasde austeridade que se traduziram emcortes de salários muito violentos (variandoentre 20 a 30% conforme osníveis de renda), a crise atinge praticamentea todos. Mesmo os setoresmais pobres e que vivem de pensõesmínimas e da previdência social (cujosvalores nominais se mantêm) são atingidos,porque o aumento do impostosobre o consumo (IVA), que incidesobre produtos elementares e sobreo comércio em geral, e o aumento docusto da gasolina e dos transportes públicosatingem também esses setoresEDIÇÃO 416 | SÃO LEOPOLDO, 29 DE ABRIL DE 2013ataque aos direitos laborais naEuropa está sendo conduzido pe-“O los interesses do capitalismo selvageme por uma doutrina hiperliberal, quenega a existência de estruturas e desigualdadessociais como fontes de atraso, e paraquem os indivíduos / trabalhadores devemestar o serviço da performance da macroeconomia,e não o contrário”. A afirmação é doprofessor e sociólogo português Elísio Estanque,que concedeu a entrevista a seguir para aIHU On-Line por e-mail. Para ele, “a crise atuale as subsequentes políticas de austeridade(impostas pela Alemanha e países do norte daEuropa) orientam-se para uma retomada domercantilismo e um destroçar do Estado debem-estar e dos direitos trabalhistas”. Nesteexcluídos. Além de que o brutal aumentodo desemprego (em meia dúziade anos aumentou de 9% para 18%)atinge em especial as camadas de menoresrecursos. Depois as ditas classesmédias – que em Portugal incluem ostrabalhadores dos serviços e os funcionáriospúblicos com uma qualificaçãomediana, além dos quadros intermédiosdo setor público e privado – são asque maiores cortes salariais e maiorespenalizações sofreram na carga fiscal,porque se situam nos níveis intermediáriosdos escalões de renda.caminho, continua, “pretende-se desmantelare se possível pôr fim ao sindicalismo maiscombativo”. E conclui: “a Europa sairá destacrise modificada e será obrigada a alterar oseu posicionamento nas relações globais ecom os continentes do hemisfério Sul”.Elísio Estanque é professor da Faculdadede Economia da Universidade de Coimbra,em Portugal, onde também é pesquisador doCentro de Estudos Sociais. É professor visitantena Universidade Estadual de Campinas– Unicamp, onde se encontra desde janeirodeste ano. É licenciado em Sociologia peloInstituto Superior de Ciências do Trabalho eda Empresa, de Lisboa, e doutor em Sociologiapela Universidade de Coimbra.Confira a entrevista.IHU On-Line – Quais são as razõesde fundo da crise do trabalho naEuropa?Elísio Estanque – As razões defundo, em minha opinião, partiram deuma mudança no paradigma econômico,que começou há cerca de trêsdécadas com o advento do modelo neoliberal,estreitamente vinculado aopoder crescente do capitalismo financeirosobre a economia real. Desde aera Thatcher/Reagan que a pressãosobre as políticas sociais e o Estado--previdência não parou de aumentar,em favor de uma igualmente crescentesacralização dos mercados e do privado.Entretanto, perante a reduçãodo crescimento econômico, o envelhecimentoda população o aumentoda despesa pública (em especial nasáreas da saúde, educação e previdência)favoreceram as opções da maioriados governos europeus (incluindoos de filiação social-democrata) porpolíticas de restruturação do Estado,de privatização de diversos serviçospúblicos (ou partes deles), ao mesmotempo em que abriam mão do controlesobre os lucros e os fluxos financeiros,admitindo uma crescente desregulação,facilitando os movimentos deTema de Capa www.ihu.unisinos.br31