26.11.2012 Views

supremo tribunal federal revista trimestral jurisprudencia

supremo tribunal federal revista trimestral jurisprudencia

supremo tribunal federal revista trimestral jurisprudencia

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL<br />

REVISTA<br />

TRIMESTRAL<br />

DE<br />

JURISPRUDENCIA<br />

ORGANIZADA PELO<br />

SERVICO DE DIVULGACAO<br />

Volume 94* (Paginas 1/470) Outubro de 1980


REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL<br />

PODER JUDICIARIO<br />

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL<br />

Ministro ANTONIO NEDER (28-4-71), Presidents<br />

Ministro Francisco Manoel XAVIER DE ALBUQUERQUE<br />

(19-4-72), Vice-Presidente<br />

Want DJACI Alves FALCAO (22-2-67)<br />

Ministro Carlos THOMPSON FLORES (14-3-68)<br />

Ministro Joao LEITAO DE ABREU (17-6-74)<br />

Ministro Job Baptista CORDEIRO GUERRA (26-9-74)<br />

Ministro Josè Carlos MOREIRA ALVES (20-6-75)<br />

Ministro Carlos Fulgenclo da CUNHA PEIXOTO (4-7-75)<br />

Ministro Pedro SOARES MUNOZ (8-8-77)<br />

Ministro DECIO Meirelles de MIRANDA (27-6-78)<br />

Ministro Luiz RAFAEL MAYER (15-1248)<br />

COMISSAO DE REGIMENTO<br />

Ministro DJACI FALCAO<br />

Ministro SOARES MUNOZ<br />

Ministro RAFAEL MAYER<br />

Ministro LEITAO DE ABREU (suplente)<br />

COMISSAO DE JURISPRUDENCIA<br />

Ministro THOMPSON FLORES<br />

Ministro XAVIER DE ALBUQUERQUE<br />

Ministro MOREIRA ALVES<br />

COMISSAO DE DOCUMENTACAO<br />

Ministro LEITAO DE ABREU<br />

Ministro MOREIRA ALVES<br />

Ministro CUNHA PEIXOTO<br />

COMISSAO DE COORDENACAO<br />

Ministro CORDEIRO GUERRA<br />

Ministro CUNHA PEIXOTO<br />

Ministro DECIO MIRANDA<br />

PROCURADOR-GERAL DA REPUBLICA<br />

Doutor FIRMINO FERREIRA PAZ


REVISTA<br />

TRIMESTRAL<br />

DE<br />

JURISPRUDENCIA


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL<br />

ACAO PENAL N? 253 — DF<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator para o acOrdão: 0 Sr. Ministro Cunha Peixoto.<br />

Autor: Mlnisterio Pnblico Federal — Rens: Jose JOlio Leal Fagundes,<br />

Jose Fernandes de Andrade, Juscelino Jose Ribeiro, Heladio Toledo Monteiro.<br />

Acäo Penal — Crime de Prevaricaeao —<br />

Rejeita-se a denuncla quando os fatos nela descritos, embora possam<br />

caracterizar falta discipliner, nflo demonstram o elemento sub-<br />

Jetivo tipificador do crime definido no art. 319 do Cedigo Penal.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em sessão<br />

plenária, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigraflcas<br />

por maioria de votos, em rejeitar<br />

a dentincia, vencido in totum, o<br />

Ministro Relator, e, em parte, o Ministro<br />

Soares Mutloz.<br />

Brasilia, 24 de maio de 1978. —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Cunha Peixoto, Relator p/o AcOrdão.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Mastro Cordeiro Guerra: —<br />

0 Exm? Sr. Dr. Procurador-Geral da<br />

Republica apresentou a este Egreglo<br />

Supremo Tribunal Federal a seguirl -te denfincia:<br />

Ministkrio Winne° Federal, por<br />

seu representante legal abaixo assinado,<br />

no use de suas atribuicOes legals,<br />

vem oferecer a V. Ex? denimcia<br />

contra os Drs. Josè JUllo Leal<br />

Fagundes, Jose Fernandes de Andrade,<br />

Juscelino Ribeiro e Helath°<br />

Toledo Monteiro, Desembargadores<br />

do Tribunal de Justiea do Distrito<br />

Federal e Territ6rios, todos domiciliados<br />

e residentes nesta Capital, pelos<br />

fatos delituosos que passa a narrar:<br />

Os Antecedentes<br />

2. Ha muito tempo, como a pilblico<br />

e notOrio, e a Imprensa tem se encarregado<br />

de divulgar, lavra grave<br />

crise no Tribunal de Justica local,<br />

que determinou, inclusive, a instauraeao<br />

de inquerito administrat1vo<br />

contra varios de seus integrantes, do<br />

qual resultou o oferecimento de denüncia<br />

contra o Desembargador Jo-


2<br />

R.T.J. — 94<br />

se Colombo de Souza, processo que<br />

la se acha em pauta para julgamento,<br />

tendo sido o acusado demitido,<br />

corn fundamento no Ato Instituclonal<br />

n? 5. Persistiu, porem, e se agravou a<br />

crise, provocando verdadeira divisdo<br />

no Tribunal, colocando, de urn lado,<br />

como verdadeira bancada, os quatro<br />

Desembargadores aqui denunciados.<br />

Vencidos na eleicão para a Presidëncia<br />

e Vice-Presidencia do Tribunal<br />

os ores primeiros deixaram de cornparecer<br />

a sessâo solene de posse dos<br />

eleitos, a 21 de abril de 1976, apesar<br />

de convidadas para a mesma, altas<br />

autoridades civis e militares.<br />

Seguiu-se a demissäo do Sr. Desembargador<br />

Candid° Colombo Cerqueira,<br />

e, ja para o provimento da<br />

vaga por este deixada, a ser provida<br />

pelo criterio de antigiiidade, novamente<br />

se iria patentear a posicAo<br />

facciosa do grupo formado pelos<br />

quatro denunciados, movidos, sem<br />

dUvida, pelo sentimento pessoal de<br />

desafeieäo ao Juiz de Direito Dr.<br />

Walclir Meuren, o mats antigo, que<br />

teve," precisamente, quatro votos<br />

contra sua indicacAo, feita por cinco<br />

a quatro, WA() havendo drivida quanto<br />

aos seus autores, em face de carta<br />

que aquele Juiz dirigiu o Desembargador<br />

Helládio Toledo Monteiro<br />

(Pasta VIII, doe. 54).<br />

Surgiu, depots, a notitia<br />

criminis trazida A este colendo Supremo<br />

Tribunal Federal pelo Dr.<br />

'raja Pimentel, Juiz de Direito da<br />

Vara das ExecucOes Criminals,<br />

acompanhada de farts documentacdo,<br />

atribuindo aos quatro acusados<br />

a prAtica, em co-autoria, do crime<br />

de prevaricacão (OM. Pen., art.<br />

319), atraves de ininneras awes e<br />

omissOes, contra expressas disposicOes<br />

legais, para satisfazer interesses<br />

ou sentimentos pessoais.<br />

Emerge claro, como se vera da<br />

descricâo dos fatos a seguir felta, o<br />

propOsito de beneficiar e proteger o<br />

serventuario Luiz David de Freitas,<br />

genro do segundo denunciado, desembargador<br />

Jose Fernandes de Andrade,<br />

bem como o de prejudicar<br />

moralmente o representante, Dr.<br />

IrajA Pimentel, simplesmente pmque<br />

este, no cumprimento de seu Bever,<br />

assim como outros magistrados<br />

de primeira instancia, contribuiram<br />

para a punicão disciplinar e criminal<br />

do referido Luiz David de Freitas.<br />

Utilizaram-se, inclusive, para tal<br />

fim, da atuacão do advogado Dr. Pedro<br />

Calmon Mendes. Procuraram,<br />

por todas as formas, prejudicar<br />

aquele Juiz, em face de decisOes criminals<br />

francamente moralizadoras<br />

que vinha proferindo, no sentido de<br />

tirar-lhes os eleitos.<br />

Assim, quase sempre em coautoria,<br />

como se vera a seguir, praticaram<br />

continuados atos que configuram,<br />

indiscutivelmente, o tipo penal<br />

definido no art. 319 do COdigo Penal.<br />

Os Fatos<br />

I — Desembargador Leal Fagundes<br />

Pode-se dizer que tiveram inicio<br />

os fatos com a comunicaeão feita pelos<br />

Juizes de Direito, Dr? Maria Carmen<br />

Henriques Ribeiro de Oliveira e<br />

Dr. Eduardo Andrade Ribeiro de Oliveira<br />

ao Juiz de Direito da 1? Vara<br />

Civel, relativamente a irregularidades<br />

que haviam constatado, por parte<br />

do serventuario Luiz David de<br />

Freitas, escriväo dessa Vara, e da<br />

qual se originou inquerito administrative<br />

presidido pelo primeiro denunciado,<br />

Desembargador Jose MI6<br />

Leal Fagundes.<br />

9. Conclulu este terem, efet ivamente,<br />

o Escriväo Luiz David e os<br />

Escreventes Waldemiro Mendes da<br />

Silva e Raimondo Bernardo de Lima<br />

exigido de diversos advogados e partes<br />

custas indevidas, e, per isso, a


todos puniu, corn penas de suspensäo<br />

e multa — noventa dias o primeiro;<br />

trinta dias os (Minos — mas, por<br />

conventhncia do servico, converteu<br />

as suspensOes em multa, dando-os<br />

como incursos nas sancees dos artigos<br />

16 e 18, ulinea a, do Decreto-lei<br />

n? 115, de 1997.<br />

Recorreram os serventuarios<br />

Luiz David e Waldemiro, e o Conselho<br />

de Justica, por tmanlmidade, deu<br />

provimento, ern parte ao recurs°,<br />

para reduzir a pena a multa de Cr;<br />

5,00 como incursos, tão somente, nas<br />

sancOes do art. 16 do Decreto-lei n?<br />

115/67, e, assim, abrangidos pela ResolucAo<br />

n? 32, de 20 de abril de 1972,<br />

que, alias, a eles nAo se aplicava.<br />

Acontece que o Exm? Sr. Ministro<br />

da Justica, Professor Alfredo Buzaid,<br />

tendo conhecimento dos fates<br />

atraves de representacAo que the havia<br />

sido feita por um advogado, determinou<br />

fosse instaurada acAo penal<br />

contra os Wes referidos serventuarios,<br />

por crime de concussão,<br />

pots sobre o Cedigo Penal nä° poderia<br />

prevalecer o Regiment° de Custas<br />

do Distrito Federal, que os considerava<br />

simples falta disciplinar, punida<br />

corn suspensão ate 90 dias, e,<br />

na reincidAncia, corn detencAo de 6<br />

meses a 2 anos.<br />

12. Fot, entao, oferecida a dentincia,<br />

vindo os reus Luiz David e Raimundo<br />

Bernardo da Silva a ser condenados<br />

as penas, respectivamente,<br />

de 2 anos, 6 meses e 10 dies de reclusào<br />

e 2 anos e 2 meses de recluslio,<br />

alem da multa, ambos como incursos<br />

nas sancees do artigo 316 do COdigo<br />

Penal. A sentenca, da lavra do<br />

Juiz de Direito Dr. Pingret de Carvalho,<br />

absolveu o terceiro co-reu,<br />

Waldemiro Mendes da Silva. Recorreram<br />

os do's reus condenados e o<br />

Ministerio Pablico, este em relacAo<br />

ao co-reu absolvido.<br />

R.T.J. — 94 3<br />

Apesar da apelacAo, foi requerido<br />

habeas corpus em favor de Luiz<br />

David, sob o fundament° de que a<br />

condenacão constituia verdadeiro bis<br />

in them, pots ja fora punido corn a<br />

pena de suspensào, somente sendo<br />

aplicavel sancdo penal na reincideneta,<br />

e, assim mesmo, a pena de detencão<br />

de 6 meses a 2 anos, p<strong>revista</strong><br />

no art. 18, althea b, do Decreto-lei n?<br />

115/67.<br />

Foi relator o Desembargador<br />

Helladio Monteiro, que votou pela<br />

concessdo do habeas corpus, para<br />

absolver Lutz David, send° acompanhado<br />

pelo Desembargador Leal Fagundes,<br />

votando vencido o Desembargador<br />

Jorge Duarte.<br />

15. Além da manifesta<br />

dade do acerdito, que não pode ser<br />

considerado mere erro in judicando,<br />

mas manifesto favoritismo em beneficto<br />

do Paclente, Henri) do denunciado<br />

desembargador Jose Fernandes<br />

Andrade, tanto que foi unanimemente<br />

cassado pelo colendo Supremo<br />

Tribunal, em sessao plenaria (RE n?<br />

84.683). Era manifesto o impedimento<br />

do denunciado desembargador<br />

Leal Fagundes, pots fora ele quern,<br />

como Corregedor, presidira o inquerito<br />

e punira o Paclente, como ele<br />

preprio proclamou, no !nick) de seu<br />

voto, ao dizer, verb's:<br />

«Bem conheco os pradromos deste<br />

caso, pots, quando Corregedor,<br />

presidi a inquérito e apenel o Paciente,<br />

tudo na esfera administrativa,<br />

sobre os mesmos fates, ora objeto<br />

da sentenca criminal condenathria,<br />

impugnada neste habeas<br />

corpus.»<br />

16. E, se nao bastasse o impedimenta<br />

dat decorrente, das palavras<br />

seguintes se ye, nitidamente, sua<br />

suspeicao:<br />

«Minha atuacAo administrativa<br />

no caso, foi alvo de escandaloso noticiario,<br />

corn que se pretendeu ins


4<br />

tigar o Govern° a utilizar-se da arma<br />

exceptional de que dispOe, para<br />

eliminar da vida pnblica quatro<br />

membros desta Corte.<br />

R.T.J. — 94<br />

Vitima das mais torpes caltmias,<br />

fui compelido a defender-me,<br />

inclusive quanto A minha aludida<br />

atuacAo administrativa, acusada<br />

de omissa, porque nAo mandei processar,<br />

criminalmente, o ora<br />

paciente.D (os grifos não sdo do<br />

original).<br />

Passou, a seguir, a sustentar a<br />

tese de que a conduta do Paciente<br />

somente poderia ser apreciada a luz<br />

do Decreto-lei n? 115/67, segundo o<br />

qual a exigencia de custas indevidas,<br />

somente na reincidencia seria<br />

passivel de sancees criminais, que<br />

configurariam o crime de excesso de<br />

exacAo, previsto na alinea b do art.<br />

18 do citado diploma legal.<br />

0 manifesto impedimento para<br />

participar do julgamento, a paixão<br />

que demonstrou em seu voto, multi)<br />

mais uma defesa de sua conduta, do<br />

que da que tivera o Paciente, e que o<br />

levou, como se viu, a falar no crime<br />

de «Excesso de exacäo», quando,<br />

neste, o dinheiro é recolhido aos cofres<br />

pnblicos e nAo ao bolso do agente,<br />

como no caso, configuram, induvidosamente,<br />

o crime definido no<br />

art. 319 do COdigo Penal, pois evidente<br />

o prop6sito de favorecer o Paciente,<br />

genro de seu colega de Turma,<br />

sendo seu voto decisivo, pots<br />

que, impedido o sogro, o terceiro desembargador,<br />

Jorge Duarte, votou<br />

pela denegacAo da ordem.<br />

Mas, não parou ai a conduta<br />

partial e facciosa do denunciado desembargador<br />

Leal Fagundes.<br />

Julgara o Dr. IrajA Pimentel<br />

acão de indenizacAo movida por Jose<br />

Garcia Ribeiro contra seu irmäo Edgard<br />

Garcia Ribeiro. Concluira pela<br />

procedencia da acao e, por entender<br />

que o Autor usara documento f also,<br />

determinou a remessa de pecas do<br />

processo ao Ministerio Pithlico, que<br />

ofereceu dentmcia, devidamente recebida.<br />

Foi, entdo, impetrado habeas<br />

corpus em favor do denunciado Jose<br />

Garcia Ribeiro, pelo advogado Pedro<br />

Calmon Mendes, corn duplo fundamento:<br />

trancamento da acdo penal<br />

por falta de justa causa, ou suspensào<br />

do curso da acAo penal ate o julgamento<br />

da apelacao que o Paciente<br />

interpusera, da sentenca que julgara<br />

improcedente a acAo de indenizacAo.<br />

Dlstribuido o habeas corpus A<br />

2? Turma, presidida pelo denunciado<br />

desembargador Leal Fagundes,<br />

dele foi Relator o acusado desembargador<br />

Juscelino Ribeiro, tomando<br />

parte o Presidente, corn voto, e o desembargador<br />

Helladio Monteiro.<br />

Determinou ou permitiu o Presidente,<br />

inusitadamente e de forma<br />

inedita, a gravacAo da sustentacão<br />

oral do pedido.<br />

Grande propaganda se fizera<br />

do julgamento, e, por isso, bastante<br />

concorrida foi a sessão.<br />

0 teor da sustentacao explicaria<br />

a razdo. 0 advogado Impetrante<br />

leu trabalho escrito, ofendendo, por<br />

todas as formas, a honra do Juiz que<br />

julgara a nä° de indenizacão, o Dr.<br />

Irajá Pimentel. Nenhum argument°<br />

Riddle°. SO e s6 acusacoes a esse<br />

Juiz, entre as quals a de parcialidade,<br />

por suas ligacties de amizade e<br />

assuntos de pecuaria corn uma das<br />

partes, a de autor de crime de agiotagem,<br />

de falsificacão de assinatura<br />

de sua esposa, e, ainda, a de qiie se<br />

apoderara dos autos e os retivera,<br />

para julgamento, por quase dois<br />

anos (Pasta I, doc. 17).<br />

Assim comecou o Relator, o desembargador<br />

Juscelino Ribeiro, seu<br />

voto, verbis:<br />

«Senhor Presidente, inicialmente<br />

devo acentuar que indefiro a juntada<br />

desta documentacao ora apresentada<br />

pelo advogado do Paciente<br />

ao processo de habeas corpus, des-


de que a mesma nAo me payee<br />

perlinente, nem necessAria ao julgamento<br />

da espécie.<br />

Todavia, requeiro a V. Ex? que<br />

determine sua juntada a traducão<br />

da fita de gravacAo desta asqPntada<br />

de julgamento, para que seja a<br />

mesma encaminhada ao Tribunal<br />

Pleno, a fim de que aquela Corte<br />

possa apreclar as gravissimas den(mcias<br />

feitas da Tribune contra o<br />

Juiz prolator da decisão a que se<br />

referiu o ilustre Advogado. Seth<br />

entAo, objeto de urn processo<br />

parte. Isto em defesa do pthprio<br />

Tribunal e do Juiz atingido. » (Os<br />

grifos nao sAo do original. Nre-se<br />

que foi apagada antes das palavras<br />

«do Juiz atingido» a expressão «do<br />

interessado», sem qualquer ressalva;<br />

fls. 150-151 do Apenso 6).<br />

0 Sr. Presidente, desembargador<br />

Leal Fagundes, nao sO admitiu<br />

que, sem qualquer pertinencia, o advogado<br />

ofendesse a honra do Juiz,<br />

Dr. IrajA Pimentel, como ainda concedeu<br />

prorrogacão para que o mesmo<br />

concluicse a sustentacAo oral.<br />

Tudo por evidente desafeicAo ao Juiz<br />

ofendido, incluido, certamente, pelo<br />

mesmo Desembargador, no «bando<br />

das trevas», quando assim se manifesta,<br />

no inicio de seu voto, no<br />

habeas corpus impetrado em favor<br />

de Luiz David, verbis:<br />

«Entretanto, o noticiArio emcovalhador,<br />

a servico do bando das trevas,<br />

capitaneado pela solercia<br />

anArquica, que fomenta Odios, Indiscipline<br />

e subversão, e deles se<br />

serve, emudeceu quanto a noticia<br />

de que o OrgAo mAximo de acusa-<br />

On do Pais nada encontrou para<br />

acusar, reconhecendo, assim, as<br />

falsidades caluniosas e a inocencia<br />

dos advogados» (Apenso 1, f. 41).<br />

ou, quando deferiu o pedido de<br />

habeas corpus, em favor do advogado<br />

Pedro Calmon Mendes, em cujo<br />

voto nao pode esconder o grau de<br />

sua desafeicão aos Juizes que se<br />

Jr<br />

R.T.J. — 94 5<br />

opOem aos atos que comprometem a<br />

dignidade do Tribunal de Justice, e,<br />

em especial, corn o Dr. IrajA Pimentel,<br />

declarando:<br />

«A dita solidariedade nAo teria<br />

sentido, se a classe fosse a da Magistrature,<br />

que nao tem acentuado<br />

espirito de classe e esta bem afeita<br />

ao auto-julgamento.<br />

Todavia, na Justica local, foi<br />

constituida uma subclasse, com a<br />

criacão de asssociacAo dos magistrados<br />

de primeira instAncia, da<br />

qual 6 presidente o MM. Dr. Juiz<br />

que representou contra o paciente.<br />

Sem dOvida que, como reconhece<br />

a irnpetracão, existem, nessa subclasse,<br />

vocacOes notaveis para a<br />

funcão de julgar, assim como existem<br />

outros, cWos temperamentos,<br />

atuacOes antecedentes e vinculagoes<br />

grupais, em verdade, nem a<br />

mim transmitem a seguranca de<br />

que nao tem espirito subclassista;<br />

e nao vai nisso qualquer desdouro,<br />

eis que a regra e a imperfectibilidade<br />

dos homens e 6 por isso que<br />

echo que esta ou aquela Justice<br />

humane seja melhor.» (Apenso n?<br />

11, f. 70).<br />

29. SO essa inimizade pode explicar,<br />

seu comportamento na presidencia<br />

da SessAo, permitindo que o<br />

advogado se limitasse a caluniar, difamar<br />

e injuriar o magistrado proletor<br />

da sentenca, fazendo letra morta<br />

do que dispee o Estatuto da Ordem<br />

dos Advogados, verbis:<br />

«Art. 15 — E defeso as partes e<br />

seus advogados empregar expressees<br />

injuriosas nos escritos apresentados<br />

no processo, cabendo ao<br />

juiz, de oficio ou a requerimento do<br />

ofendido, mender riscA-las<br />

ParAgrafo unico. Quando as expressbes<br />

injuriosas forem proferldas<br />

em defesa oral, o juIz adverbrA<br />

o advogado que nAo as use, sob<br />

pena de the ser cassada a<br />

palavra.»


6<br />

30. 0 denunciado Des Leal Fagundes<br />

ndo s6 advertiu o advogado, como<br />

ainda the prorrogou o tempo para<br />

a sustentacdo oral, permitindo<br />

que prosseguisse nas ofensas a lionra<br />

do magistrado prolator da sentenca.<br />

Tdo graves, que o Relator, o denunciado<br />

Desembargador Juscelino<br />

Ribeiro, entendeu que seu conhecimento<br />

deveria ser levado ao Tribunal<br />

Pleno, e tao impertinentes, que<br />

se recusou a junta-las aos autos.<br />

Mas, apesar disso, nenhuma providencia<br />

requereu ao Presidente, para<br />

que o advogado deixasse de ofender<br />

Juiz, demonstrando tambem sua<br />

parcialidade e sua desafeledo pelo<br />

magistrado agredido.<br />

31. Alias, seu voto, por sua total injuridicidade,<br />

bem as demonstram<br />

pois, numa interpretacdo, a contrario,<br />

sem qualquer lOglca, do que dispoe<br />

o art. 64 do C6d. de Proc. Penal<br />

— que faculta ao juiz a suspensdo da<br />

acão civet ate o julgamento da criminal<br />

— determinou a suspensdo do<br />

processo-crime ate o julgamento da<br />

apelacdo civet, esquecido de que tal<br />

se pode ocorrer, obrigatoriamente,<br />

quando se trata de questão prejudicial<br />

versando sobre o estado da pessoa<br />

(C. Proc. Penal, art. 92), e, facultativamente,<br />

quando de outra natureza,<br />

devendo o juiz, neste caso,<br />

marcar o prazo da suspensdo, findo<br />

qual fare. prosseguir o processo,<br />

retomando sua competencia para resolver,<br />

de fato e de direito, toda a<br />

materia da acusacdo ou da defesa<br />

(C. P. Pen., art. 93, § 1?), mas, assim<br />

mesmo, apes a inquiricdo das<br />

testemunhas e realizacdo da outra<br />

prove de natureza urgente (art. 93).<br />

32. Aqui, numa demonstracão do<br />

sentimento pessoal que o dominava,<br />

Relator suspendeu, de logo, sem 11mitacAo<br />

de tempo, a tramitacAo do<br />

processo-crime, suprimindo inclusive<br />

a primeira instancia, que sobre<br />

ela nao fol chamada a se manifestar,<br />

de cuja recusa nAo cabe qualquer<br />

recurso (C. P. Pen. art. 93, § 2?).<br />

R.T.J. — 94<br />

Não permitiu sequer o interrogaterio<br />

do reu, nem a ouvida das testemunhas.<br />

Corn o Relator, e sob as mesmas<br />

inspiracOes e motivacOes — satisfacAo<br />

e sentimentos pessoais —<br />

votaram os acusados Desembargadores<br />

liellAdio Monteiro e Leal Fagundes.<br />

E, tornando ainda mais patente<br />

tal motivacão, ern relacão ao Des.<br />

Leal Fagundes, constata-se que, jA<br />

sendo, a epoca, o Relator da ApelacAo<br />

Civet n? 3.805, e tratando-se de<br />

magistrado que mantem em dla o<br />

servico, ate hole, decorridos 2 anos e<br />

8 meses, ndo a levou a julgamento,<br />

impedindo deliberadamente o prosseguimento<br />

da acdo penal que, corn<br />

seu voto, teve sua tramitaedo suspensa.<br />

As razOes que, agora. apresentou,<br />

sdo de manifesta improcedencia,<br />

para justificar a ilegalidade<br />

e o facciosIsmo da sua conduta.<br />

35. Uma demonstracAo mais<br />

quivoca, ainda, desse sentimento<br />

pessoal que lnformou seu voto, bem<br />

como o do denunciado Des. Juscelino<br />

Ribeiro, caracterizador do crime definido<br />

no art. 319 do Cod. Penal, esta<br />

no fato de, posteriormente, pelas<br />

ofensas que, na sustentacAo, irrogara<br />

ao Juiz Iraja Pimentel, foi impetrado<br />

habeas corpus em favor do<br />

mesmo, sob a alegacdo de incompetencia<br />

da Justica comum, pots, nas<br />

suas palavras, se crime houvesse,<br />

seria contra a seguranca naclonal.<br />

E, por incrivel que pareca, votaram<br />

pela concessdo da ordem os desembargadores<br />

Leal Fagundes e Renadio<br />

Monteiro, corn os seguintes fundamentos,<br />

verbis:<br />

«Afrontar e contestar a hierarqula<br />

judiciaria, coin ou sem o fomento<br />

de superiores pervertidos,<br />

sem dfivida, pressdo antagdnica e<br />

subversiva, que afeta a seguranca<br />

intern do Pais.<br />

«Tenho a firme conviccdo de que<br />

os ataques caluniosos as autorida-


•<br />

des constituldas, como e o caso dos<br />

membros do Poder JudiciArio,<br />

qualquer clue seta o grau hierArquico<br />

desses membros do Poder<br />

desarmado, constituem processos<br />

de aluir as instituicOes ptiblicas, e,<br />

conseqtientemente, de afetar a seguranca<br />

interna do Estado» (Do<br />

voto do Des. Leal Fagundes, Apenso<br />

11, f. 72).<br />

oSenhor Presidente, dias Arts,<br />

Julgando urn processo em que demos<br />

pela competencia da Justica<br />

Militar, anulando sentenca absolutOria<br />

de 1? InstAncia da Justica local,<br />

sem que houvesse tamanho entusiasmo,<br />

por parte do M. Ptiblico<br />

em tomb da tese que acolhemos.<br />

Hole verificamos que a nossa<br />

Turma assume quase aspecto de<br />

Jilri Popular, em defesa da tese<br />

agora tao polémica.<br />

NAo veto razOes para tais entustasmos.<br />

A questa° 6, data yenta,<br />

simplesmente do direito e da let,<br />

jamais de paix6es. Vamos a ela.<br />

Sabe-se que, em Sessão desta<br />

Turma, o ora paciente, Dr. Pedro<br />

Calmon Mendes, defendendo<br />

habeas corpus de cliente seu, argiliu<br />

contra o Juiz Iraia Pimentel<br />

que, acentue-se, nenhuma relacAo<br />

dlreta tinha com a impetracAo, a<br />

autoria de fatos criminosos que o<br />

referido magistrado afirma e nos<br />

desejamos ardentemente que sejam,<br />

intetramente falsos. NAo se<br />

referlu ao cidadAo IrajA, mas sim,<br />

ao Juiz.<br />

NAo se trata, Sr. Presidente, na<br />

especle, de ofensa irrogada em<br />

Juizo, na discussAo da causa, pela<br />

parte ou por seu procurador, a que<br />

se refere o art. 142, item I, do C.<br />

Penal.<br />

A meu ver, o paciente<br />

aproveitou-se de uma oportunidade<br />

que the pareceu favorAvel para<br />

descarregar, contra o magistrado,<br />

as suas baterias, divulgando, da<br />

R.T.J. — 94 7<br />

Tribuna de Advogado, todas aquelas<br />

noticias a respeito de fatos que<br />

se afirmam inveridicos, com o ob-<br />

Jethro indiscutivel de indispor ou<br />

tentar indispor o povo contra aguela<br />

autoridade.<br />

Seu procedimento, atinge, de<br />

certa forma, toda a instituicAo, todo<br />

o organismo judiciArio de<br />

Brasilia, e repercutiu na imprensa<br />

falada, escrita e televisionada, produzindo,<br />

indiscutivelmente, aquelas<br />

pressOes antagonicas a que alude<br />

o § 1? do art. 3? da Lei de Seguranca<br />

Nacional.» (Do voto do<br />

Des. Juscelino Ribeiro: Apenso n?<br />

11, f. 78).<br />

Se a sustentacAo do advogado,<br />

tais as ofensas que dirigiu ao Juiz<br />

!raja. Pimentel, deveriam ser constderadas<br />

como atingindo o próprio<br />

Poder JudiciArto, capazes de (cabin*<br />

as instituicdes pUblicas» e afetar a<br />

seguranca Interna do Estado», nAo<br />

poderiam os dots Desembargadores<br />

— Leal Fagundes e Juscelino Ribeiro,<br />

respectivamente, Presidente e<br />

Relator — permitir que o advogado<br />

as proferlsse, sem a menor advertëncia,<br />

sob pena de se tornarem coniventes<br />

corn o crime contra a seguranca<br />

nacional.<br />

Mas, ao conceder o habeas<br />

corpus para remeter o processo A<br />

Justica Militar, mats uma vez davam<br />

provas esses Desembargadores<br />

e, tambem, o Desembargador José<br />

Fernandes, de estarem satisfazendo<br />

sentimentos pessoals de desafeicAo<br />

e, mesmo, de inimizade, contra o<br />

Juiz IrajA Pimentel, e de protecAo e<br />

favoritismo em relacão ao advogado<br />

Pedro Calmon Mendes, que o atacara<br />

(mats adiante se very a intimidade<br />

de suas relacdes), pots era evidente<br />

o propOsito de dificultar o andamento<br />

da acão penal contra este<br />

Ultimo, promovida mediante representacAo<br />

daquele magistrado, tAo<br />

despropositada era a invocacAo da<br />

se,guranca nacional. Tanto assim,<br />

que a Justica Militar nAo aceitou sua


8 R.T.J. — 94<br />

competencia, suscitou conflito de jurisdigAo<br />

e este colendo Supremo Tribunal<br />

Federal o julgou procedente<br />

(C. J. n? 5.996 — Apenso 2).<br />

Mais uma demonstracão ainda<br />

daria o denunciado Desembargador<br />

Leal Fagundes do sentimento pessoal<br />

que o dominava ao proferir todos<br />

esses votos. Foi quanto ao julgamento<br />

da apelacão do co-reu de Luiz<br />

David, o Escrevente Raimundo Bernardo<br />

de Lima.<br />

0 Desembargador Leal Fagundes,<br />

que suspendera a acáo penal<br />

contra Jose Garcia Ribeiro, para<br />

aguardar o julgamento da apelacAo<br />

na acdo civel da qual aquela se originara,<br />

aqui se °Os, acompanhando<br />

o Relator Des. HelAdio Monteiro, a<br />

que se aguardasse o julgamento do<br />

Recurso Extraordinario interposto<br />

da concessáo do habeas corpus em<br />

favor de Luiz David, quando, entao,<br />

nenhum prejuizo dai decorreria, por<br />

se tratar de processo jA julgado. Se o<br />

colendo Supremo Tribunal Federal<br />

confirmasse a decisAo recorrida,<br />

dando prevaltncia sobre o Cedigo<br />

Penal ao Regimento de Custas do<br />

Distrito Federal, tal entendimento se<br />

estenderia, logicamente, A situacao<br />

do co-reu Raimundo Bernardo de Lima,<br />

como materia prejudicial, pois,<br />

sendo primario e, como tal, so<br />

passivel de sancAo penal na reincidencia,<br />

desnecessaria seria qualquer<br />

outra indagacAo. Tal como no caso<br />

de Luiz David, näo haveria justa<br />

causa para o processo.<br />

40. Mas, havia o propesito de julgar,<br />

a qualquer preco, a apelacAo do<br />

co-rOu Raimundo, pois prepararia o<br />

terreno para o julgamento da de<br />

Luiz David, tal a certeza do provimento<br />

do recurso extraordinArio em<br />

relacão a este. Tanto, assim, que<br />

nä° ]he estenderam o habeas corpus,<br />

quando o fundamento era comum e<br />

nä° tinha carAter pessoal. Fizeram<br />

mais: homologaram a desistôncia do<br />

pedido de extensAo, para poderem<br />

julgar a apelacão. Desprezaram o<br />

parecer do Dr. Procurador-Geral da<br />

Justica e, no afa de absolver o coreu,<br />

levaram a apelacAo a julgamentor<br />

com a presenga do Subprocurador-Geral<br />

que jA se declarara impedido,<br />

sem intimar o primeiro, que vinha<br />

oficlando no processo, realizando<br />

urn julgamento absolutamente nulo,<br />

como veto a proclamar o Colendo<br />

Supremo Tribunal Federal, ao apreciar<br />

o competente recurso extraordinario.<br />

0 mais estranho e que o Des.<br />

Leal Fagundes, que presidira o inquerito<br />

e punira os rêus, reconhecendo<br />

expressamente terem eles exigido<br />

o pagamento de custas indevidas, o<br />

que nAo constituiria crime de concussAo,<br />

no seu entender, por estar<br />

previsto no Regimento de Custas, como<br />

simples ilicito administrativo,<br />

quando praticado pela primeira vez,<br />

tanto que !hes aplicou a pena de suspensAo<br />

por noventa dias, ao votar na<br />

apelacAo do co-reu Raimundo,<br />

manifestou-se pela insuficiencia de<br />

prova, nester termos, verbis:<br />

«A par dos fundamentos juridicos<br />

do meu precitado voto, aduzo<br />

que, apreciando, agora, a prova<br />

produzida, julgo-a insuficiente para<br />

a condenacão, quer pelo crime<br />

capitulado na deruincia, quer para<br />

qualquer outro que coubesse a desclassificacAo,<br />

porque, repito, as irregularidades<br />

apontadas nAo extravasam<br />

do ilicito puramente administrativo.»<br />

(Apenso 1, f. 123).<br />

Sem falar que, tal como no<br />

habeas corpus de Luiz David, estava<br />

impedido de julgar, eis que tambêm<br />

punira o co-reu, entdo apelante (Cod.<br />

Proc. Penal, art. 252, II), sendo os<br />

mesmos os fatos e identicas as teses<br />

de Direito.<br />

II — Desembargador Jose<br />

Fernandes<br />

43. 0 denunciado Des. Josè Fernandes<br />

de Andrade 6 causador direto<br />

e indireto de todos os acontecimen-


tos que deo origem a esta ace° penal.<br />

Tudo decorre, realmente, da<br />

protege° que, explicAvel, mas injustificadamente,<br />

dispensa ao seu genro,<br />

o Escriveo Luiz David de Freitas,<br />

tornando-se inimigo de quantos<br />

tenham constatado e apurado faltas<br />

e crimes por este praticados, e levando<br />

seus colegas, os demais Desembargadores<br />

denunciados a cornprometerem<br />

sua judicatura, no ale<br />

de, para !leo desagradA-lo, darem<br />

cobertura ou atenuarem a responsabilidade<br />

do citado EscrivAo, a ponto<br />

de incidirem nas sanceles do art. 319<br />

do C6digo Penal.<br />

Torna-se inimigo rancoroso de<br />

quantos se oponham ou facam restrigees<br />

A conduta funcional de seu<br />

apontado genro.<br />

46. Assim ocorreu corn os ilustres<br />

Juizes de Direito, Dr. Eduardo Andrade<br />

Ribeiro de Oliveira e Dra. Maria<br />

Carmen Henriques Ribeiro de<br />

Oliveira, que desencadearam o inquérito<br />

admInistrativo contra o Escrivao<br />

Luiz David, comunicando as<br />

irregularidades apuradas ao Juiz de<br />

Direito da 1! Vara Criminal. Foi o<br />

quanto bastou para que se tornasse<br />

inimigo de ambos, recorrendo<br />

ameaca e a intimaceo. Fol o que<br />

aconteceu, tambem, corn o Dr. IrajA<br />

Pimentel que, no cumprimento do<br />

dever, nao se prestou a chicanas dilatOrias,<br />

no andamento do processocrime<br />

movido contra Luiz David,<br />

acelerando-lhe a marcha e presidindo<br />

a audiencia de inquiricão das testemunhas.<br />

Foi, ainda, o que se deu<br />

corn o hoje Desembargador Waldir<br />

Meuren, ao obter de uma autoridade<br />

policial, cepla de urn depoimento de<br />

pessoa que fazia referenclas ofensivas<br />

A reputaceo desse magistrado,<br />

passando a dar-lhe insidiosa divulgacAo,<br />

o que motivou a carta que o<br />

Juiz atingido the diriglu e que consta<br />

dos autos.<br />

47. Dal, a explicacAo para a decise°<br />

do Conselho de Justica, provendo<br />

R.T.J. — 94<br />

ao recurso do Escrivdo Luiz David e<br />

reduzindo a punicAo a multa de Cr$<br />

5,00; para o habeas corpus que the<br />

foi concedido; para a reduce°, manifestamente<br />

'legal, da pena imposta<br />

ao oficial de Justica Jose Luiz da Silva<br />

Fllho, a fim de poupar-lhe a perda<br />

da funcAo pUblica; para conceder<br />

o habeas corpus em favor do advogado<br />

Pedro Calmon Mendes, reconhecendo<br />

a existencia de crime contra<br />

a seguranca national.; para que<br />

seu genro, apesar de punido administrativamente<br />

e condenado penalmente,<br />

continuasse, como continua,<br />

no exercicio do cargo, e, ainda, premiado<br />

corn uma designaceo para<br />

servir no Gabinete do Presidente do<br />

Tribunal de Justica; e para ter ho-<br />

mologados contratos de sua esposa e<br />

Mhos para seus ajudantes no Carte-<br />

Ho.<br />

E certo, assim, que foi Relator<br />

da Apelace° Criminal interposta pelo<br />

citado Oficial de Justica, condenado<br />

por sentenca do Dr. IrajA Pimentel,<br />

a pena de 3 anos e 9 meses<br />

de recluse°, pela prAtica de do's crimes<br />

de estelionato, em continuaceo,<br />

e a perda da funceo pablica.<br />

Como nib) era possivel ser sever°<br />

em relacdo a esse ServentuArio<br />

quando obtem de seus colegas da<br />

Turma todas as indulgencias para o<br />

Escrivao, seu genro, nä° podia manter<br />

a sentenca condenatöria, que implicava<br />

na perda da ftmeão de Oficial<br />

de Justica. Adiante se vai ver o<br />

estreito relacionamento entre os dots<br />

Serventuarlos.<br />

50. Seu voto, como Relator, esta eivado<br />

de inexatidOes, de erros e contradicOes,<br />

com o mal disfarcado propOsito<br />

de por em liberdade o Oficial<br />

de Justica, extremamente ligado ao<br />

seu genro Lutz David, na campanha<br />

difamat6ria contra o Dr. Iraja Pimentel,<br />

isso depois de votar contra a<br />

preliminar de Incompetència da<br />

Turma, por ja estar prevents a Jurisdicao<br />

da outra, por ter julgado<br />

habeas corpus em favor do Apelante.<br />

9


10<br />

Ft.T.J. — 94<br />

51. Disse que o Juiz deveria ter jul- pots, uma inverdade, ja que nao pogado<br />

proceciente, apenas em parte, a deria desconhec er o COdigo Penal,<br />

dem:I/Ida, mas que assim nao o fez, nem elementa r calculo aritmdico.<br />

entendendo se tratar de nova definicAo<br />

juridica, o que, a seu ver, nao<br />

ocorrera, pots que fora tamb6m denunciado<br />

pelo crime de estelionato.<br />

Nada macs (also, pots a denimcia<br />

descreveu dois fatos, capitulando<br />

urn no art. 171 e outro no art. 155 do<br />

Cedigo Penal. De acordo corn a prova,<br />

o Juiz desclassificou este Ultimo<br />

para o do art. 171, e, considerando os<br />

dois estelionatos como crimes continuados,<br />

aumentou de metade a penabase<br />

que fixara. Houve, portanto,<br />

desclassificacAo. Foi o Réu condenado<br />

por dots estelionatos . NA° tinha<br />

por que julgar, em parte, procedente<br />

a acAo penal.<br />

Mas, ainda inexatamente, disse<br />

o Relator, Des. JosC Fernandes,<br />

verbis:<br />

«Para a fixacAo da pena considerou<br />

o Magistrado que o condenado<br />

primario, revelando contudo, ma<br />

personalidade e grande intensidade<br />

dolosa Em face desse entendimento<br />

6 que fixou a pena base em dois<br />

anos e sets meses de recluao,<br />

grau médio da pena cominada ao<br />

crime de estelionato.<br />

«NAo poderia fazé-lo, pots<br />

somente em caso de reincidencia,<br />

art. 47 do C.P. e que a pena sera fixada<br />

acima da metade da soma do<br />

minimo corn o maxim°.<br />

«Mas, conforme ja salientei, o<br />

prOprio Julz considerou o condenado<br />

primario» (Apenso n? 10, f.<br />

os grifos nao säo do original).<br />

Ora, em primeiro lugar, a pena<br />

de 2 anos e 6 meses nao representava<br />

o grau médio, pots o estelionato<br />

punido corn pena de 1 a 5 anos de reclusao<br />

(CIA. Pen., art. 171), e, portanto,<br />

a metade da soma do minimo<br />

corn o mMdmo 6 de 3 anos.<br />

Consecjilentemente, a sentenca<br />

condenara o Apelante a pena inferior<br />

ao grau médio. Afirmou o Relator,<br />

Depots, o art. 47 do C. Penal<br />

nä° diz que somente ern caso de<br />

reincidAncia especifica a pena sera<br />

fixada acima da metade da soma do<br />

minimo com o maxim°. Diz, apenas,<br />

que a reincidOnc ia especifica<br />

importa na aplicacAo da pena acima<br />

da metade do minimo corn o maxima.<br />

Cometeu, assim, a segunda inverdade.<br />

Da mesma forma, nao e a torpeza,<br />

como afirmou a seguir o Relator,<br />

circunstAncia elementar do clime,<br />

pots pode alguCin cometer estelionato<br />

ate por motivo de relevante<br />

valor social, como, por exemplo, para<br />

obter recurso para prestar assisthncia<br />

medica a um filho doente.<br />

58. 0 Juiz analisara muito bem a<br />

personalidade do r6u e a intensidade<br />

do dolo, para fixar a pena-base em 2<br />

anos e 6 meses, dizendo, verb's:<br />

«Sopesando as circunstAncias judiciais<br />

do art. 42 do CP, tenho que<br />

o primeiro Acusado 6 primario, revelando<br />

personalidade ma, voltada<br />

para a delinaicia, embora<br />

ter diametralmente oposto the redame<br />

o exercicio da funcao de of icial<br />

da Justica do Distrito Federal;<br />

agiu com dolo intensissimo, em<br />

ambas as ocasiOes em que<br />

maxime quando nem urn motivo<br />

plauslvel conduzisse sua acAo<br />

para os crimes praticados; as circunstAncias<br />

favoreceram o cometimento<br />

dos delitos, seja a do acidente<br />

do Lesado, coin sua internacAo<br />

hospitalar, seja sua condicão de<br />

funcionario da Justica ensejadora<br />

de autoridade e de confianca; as<br />

conseq0Ancias nao foram das macs<br />

lastimaveis, ja que o Lesado certamente<br />

tern sido reembolsado dos<br />

prejuizos padecidos. Assim, fixo a<br />

pena base para o primeiro Acusado<br />

em dois anos e meio de reclusAo,<br />

atento aos Unites minimo e


mAximo da pena em abstrato (um<br />

e cinco anos).» (Apenso 10, f. 180).<br />

Näo ref utou o Relator essas circunstâncias,<br />

mas, assim mesmo, por<br />

entender que a torpeza era elementar<br />

do crime, reduziu a pena-base<br />

para 1 ano e 6 meses, e, pelo crime<br />

continuado, aumentou apenas urn<br />

sexto, para nä° ultrapassar os dois<br />

anos e, assim, poder excluir a pena<br />

acess6ria da perda da funcao, a<br />

mais necesmiria, em se tratando de<br />

urn Oficial de Justica que, estimulado<br />

pela impunidade, outros crimes<br />

voltaria a praticar, como efetivamente<br />

praticou.<br />

Ainda, por fim, esquecendo-se<br />

que a sentenca condenatOria interrompera<br />

a prescricão, decretou-a<br />

corn base na pena concretizada no<br />

ac6rdtio, e, assim, assegurou a impunidade<br />

do Oficial de Justica desonest°,<br />

mas extremamente vinculado<br />

ao seu genro.<br />

Contou para alcancar esse objetivo<br />

corn o voto do denunciado Des.<br />

Jucelino Ribeiro.<br />

Mas, demonstrando sua preocupactio<br />

de proteger o Escriváo Luiz<br />

David, o Des. Josè Fernandes tomou<br />

parte em dois julgamentos que diretamente<br />

beneficiavam seu genro.<br />

Era este, a 6poca, ocupante do<br />

Cartbrio da Fazenda Pfiblica, e, como<br />

tal, percebendo custas. A Sociedade<br />

de Economia Mista que explora<br />

o transporte de passageiros, nesta<br />

Capital, a T.C.B., entende que, em<br />

face da sua natureza juridica, esta<br />

isenta do pagamento de custas.<br />

Em dots julgamentos em que a<br />

matkria foi discutida e exatninada, o<br />

Desembargador Josê Fernandes ntio<br />

se deu por impedido, votando contra<br />

os interesses da T.C.B. e, conseq0entemente,<br />

a favor dos do Escrivtio,<br />

seu genro. TM ocorreu no julgamento<br />

do Agravo de Instrtunento n? 288,<br />

acerdEm de 9 de outubro de 1974, e no<br />

processo de Uniformizacão de Jurisprudëncia<br />

n° 1, ac6rdilo de 16 de de-<br />

R.T.J. — 94 11<br />

zembro de 1975, conforme documentos<br />

anexos. As causas, na realidade,<br />

eram entre o Escrivão Luiz David e<br />

a T.C.B.<br />

Esses fatos, corn os demais JO<br />

descritos, de que participou o Des.<br />

Josè Fernandes, bem configuram o<br />

crime definido no art. 319 do CAM.<br />

Penal.<br />

III — 0 Desembargador Juscelino<br />

Ribeiro<br />

Além de sua participacão nos<br />

julgamentos ja referidos, em que,<br />

como Relator ou Vogal, proferiu decistes<br />

contra expressa disposicAo de<br />

lei para satisfazer sentimento pessoal,<br />

pode ainda ser descrita outra<br />

conduta do Des. Juscelino Ribeiro,<br />

que bem caracteriza a figura definida<br />

no art. 319 do Cedigo Penal.<br />

67. A Renovadora de Pneus O.K.<br />

Ltda. moveu actio de cobranca contra<br />

o Advogado Antonio de Rezende<br />

Costa que, como seu Procurador, recebera<br />

determinadas importancias e<br />

delas não prestara contas.<br />

0 Dr. Iraja Pimentel julgou<br />

procedente a acAo e determinou a<br />

extracão de pecan do processo e sua<br />

remessa ao Ministkrio Ptlblico, que<br />

ofereceu dentmcia contra o referido<br />

advogado, como incurso nas sanc6es<br />

do art. 168 do COdigo Penal (Pasta<br />

V, doc 32, I).<br />

Acontece que, na Apelactio<br />

Civet interposta pelo Dr. Antonio Rezende<br />

Costa, o Desembargador Juscelino<br />

Ribeiro dera-se por imPwlido<br />

para julgit-la, escrevendo nos autos:<br />

«Afirmo tninha suspeiclto por motivo<br />

de natureza intima (art. 119, 1?, do<br />

C.P. Civil)». A cota tem a data de 11<br />

de dezembro de 1973 (Pasta V, doc<br />

32, III).<br />

70. No entanto, tendo sido impetrado<br />

habeas corpus visando ao trancamento<br />

da acilo penal instaurada<br />

contra o mesmo Antonio Rezende Costa,<br />

foi, como os demais, distribuido


12<br />

R.T.J. — 94<br />

2? Turma, sendo Relator o Desembargador<br />

Jose Fernandes, vindo a<br />

ordem a ser concedida por unanimidade.<br />

Tomou parte no julgamento nada<br />

menos do que o denunciado Des.<br />

Juscelino Ribeiro, que se declarara<br />

impedido, por suspeicAo, para julgar<br />

a acdo civel, onde entre as mesmas<br />

partes, se discutia a mesma tese: a<br />

existéncia, ou näo, de pagamento antes<br />

da sentenca, estando o acOrdão<br />

datado de 18 de junho de 1975 (Apenso<br />

7, f. 61).<br />

Votando em processo em que<br />

se achava impedido, para conceder<br />

a ordem de habeas corpus, mais<br />

uma vez praticou ato contra expressa<br />

disposicdo de lei, para satisfazer<br />

sentimento pessoal, qual o de beneficiar<br />

o Paciente, seu amigo. A 11 de<br />

setembro de 1973, não podia, por suspeicAo,<br />

julgar a apelacão, na acao<br />

civel, mas, em 18 de junho de 1975,<br />

nal se achou impedido para votar no<br />

pedido de habeas corpus, o que equivale<br />

a dizer: impedido e suspeito, no<br />

civel, mas desimpedido e insuspeito,<br />

no crime.<br />

E clUvida inexiste, pelos elementos<br />

constantes dos apensos, que<br />

a amizade do Desembargador Juscelino<br />

Ribeiro era, precisamente, corn<br />

o Paciente, o advogado Antonio Rezende<br />

Costa.<br />

Seus votos, neste, como em todos<br />

os casos ja citados, o tornam coautor<br />

do crime de prevaricacAo que<br />

os mesmos configuram<br />

75. Mas, ainda de outro foi tambem<br />

autor. Paulo Rezende era Escrevente<br />

contratado do 1? Carterio<br />

Civel, remunerado atraves de custas.<br />

Fora encarregado da Contabilidade<br />

do Carthrio, e, como tal, recebia<br />

as custas dos advogados e partes.<br />

A certa altura, constatou-se que<br />

se apropriara de C444.995,40, proveniente<br />

de custas. Apurado o fato, o<br />

Escrivão demitiu o Escrevente f altoso<br />

(Pasta 7, Doc. 57, II). 0 Juiz de<br />

Direito, Dr. Eduardo Andrade Ribei-<br />

ro de Oliveira, comunicou o fato a<br />

autoridade policial, para fins de inquerito<br />

(Doc. 57, III). Em conseqiiäncia,<br />

foi oferecida denfmcia contra<br />

Paulo Rezende. Seguiu-se o inevitAvel<br />

pedido de habeas corpus, inevitavelmente<br />

distribuido a 2? Turma,<br />

tendo como Relator o Desembargador<br />

Juscelino Ribeiro.<br />

Invocando precedente, relativo<br />

ao titular do CartOrio, a ordem foi<br />

concedida, sob o fundamento de que,<br />

de acordo corn o art. 18 do Decretolei<br />

n? 115/67, para que fosse restaurada<br />

a acão penal, necessario era<br />

que se instaurasse antes, o respectivo<br />

processo administrativo. Tal nä°<br />

ocorreu. Portanto a acão penal contra<br />

ele instaurada pecou pelo<br />

principio. E evidentemente eivada<br />

de nulidade, e, como tal, implica<br />

cerceamento de seu direito de defesa,<br />

e, por consecrilencia, a razoAvei<br />

que se reconheca a procedéncia do<br />

seu pedido de habeas corpus ora impetrado.»<br />

Alem de ja se ter demonstrado<br />

a improcedëncia do «Direito Penal<br />

dos Serventuarios de Justica do Distrito<br />

Federal», segundo o qual a exigéncia<br />

de custas indevidas se seria<br />

crime na reincidéncia, e, assim mesmo,<br />

punido corn pena de detencao,<br />

tese repelida unanimemente pelo Colendo<br />

Supremo Tribunal Federal ao<br />

cassar o habeas corpus concedido ao<br />

Escrivão Luiz David, no caso, era<br />

simplesmente impossivel o inquerito<br />

administrativo, pots se tratava de<br />

Escrevente contratado pelo EscrivAo<br />

que, apurado o fato, ja o demitira.<br />

78. NAo 1 avia, pots, como se condicionar<br />

a acão penal a urn inquerito<br />

administrativo impossivel, mesmo<br />

porque, para o primario, a pena p<strong>revista</strong><br />

era a de suspensão, inaplicAvel<br />

ao escrevente contratado, ja demitido.<br />

Em conseqiiencia, exigir para a<br />

acAo penal regular processo administrativo<br />

impossivel era proclamar<br />

a imnunidade.


IV — Desembargador He'Who<br />

Toledo Monteiro<br />

Sua atuacäo, que o f az incidir<br />

nas sancties do art. 319 do C6digo Penal,<br />

je foi descrita anteriormente, e<br />

consistiu em, como Relator ou simples<br />

Vogel, conduzir ou permitir que<br />

a 2! Turma do Tribunal de Justice<br />

concedesse ordens de habeas corpus<br />

ou proferisse decisdes em recursos<br />

ordinerios, corn o visivel e indiscutivel<br />

prop6sito de satisfazer sentimento<br />

pessoal, tudo conforme se ve<br />

dos itens 14, 15, 39 e 40 supra.<br />

Corroborando toda essa sua<br />

attack), fato recente praticado pelo<br />

Desembargador Helledio Monteiro,<br />

viria-caracterizar, por si s6, conduta<br />

incidente no art. 319 do C6digo Penal.<br />

Omftiu-se de indicar o nome do<br />

Dr. Waldir Meuren, o Juiz de Direito<br />

mais antigo, para vaga de Desembargador<br />

a ser provide pelo enteric'<br />

de antinidade. Permite, 6 certo, a<br />

Constituicao que o Tribunal recuse a<br />

indicacilo do Juiz ma's antigo. Mas,<br />

fazendo-o por sentimento pessoal,<br />

caracteriza o crime definido no art.<br />

319 do C6digo Penal.<br />

Embora sendo secrete o voto,<br />

fez questa° o Des. HeUMW Monteiro<br />

de tornar ptiblicas as razees pelas<br />

gnats nä° votaria no Dr. Waldir<br />

Marren, dando large divulgacao<br />

carte que a este dirigiu, em que expressava<br />

a motivacAo de sua conduta.<br />

Nela afirma que não votare em<br />

seu nome porque nAo concorda corn<br />

o seu critkrio no julgamento das<br />

acCes de acidente de trabalho, mas,<br />

precipuamente, porque a ele inhnigo<br />

dos Desembargadores Leal Fagundes,<br />

Jose Fernandes e Juscelino Ribeiro.<br />

E como estes näo iriam deixar<br />

o Tribtmal para que ele o integrasse,<br />

«voce 6 que &go poderit, no momento,<br />

ser promovido, por nä° convir<br />

instituicão. » A seguir, manifesta sua<br />

admirano pelos citados Desembargad0res,<br />

que KM° atacados porque<br />

R.T.J. — 94 13<br />

desejam as coisas direitas, como de-<br />

vem ser, e terão o meu apoio (dele,<br />

Des. Helledio) enquanto assim forem».<br />

83. Tornou-se pdblico e noterio<br />

que os quatro votos que recusaram a<br />

indicacäo do Dr. Waldir foram os<br />

dos Desembargadores Helledio ( declaradamente),<br />

Leal Fagundes, Jose<br />

Fernandes e Juscelino Ribeiro.<br />

Deu o Des. Helledio Monteiro,<br />

mais uma vez, corn seu voto,<br />

aliando-se aos dos tres citados Desembargadores,<br />

demonstracão cabal<br />

de que se orienta, em atos de oficio<br />

que deve praticar, por interesses e<br />

sentimentos pessoals, o que caracteriza<br />

o crime definido no art. 319 do<br />

C6digo Penal.<br />

Os laths, as pessoas e seu<br />

relacionamento<br />

Os fatos supra descritos, como<br />

se viu, devem ser apreciados em seu<br />

conjunto, pots realmente se interligam,<br />

fazendo ressaltar a prelim<br />

continuada, pelos denunciados, do<br />

crime definido no art. 319 do C6digo<br />

Penal, deles emergindo o dolo especifico,<br />

ou seja, a satisfacito de interesse<br />

ou sentimento pessoal.<br />

Ha, devidamente comprovado,<br />

urn estreito relacionamento entre os<br />

personagens dos fatos descritos: ser-<br />

ventuerios, advogados e partes, de<br />

um lado e os Desembargadores denunciados,<br />

de outro.<br />

Assim, o advogado Antonio Rezende<br />

Costa, que obteria o franca-<br />

mento da acäo penal contra ele moem<br />

desacordo corn a pacifica<br />

orient acao deste colendo Supremo<br />

Tribunal Federal no sentido de que a<br />

apropriacAo indebita n8o exlge prestacão<br />

de contas e ntio a Hide o pagamento<br />

do valor apropriado, tot quern<br />

mopes a acilo de Jose Garcia Ribeiro<br />

contra Edgard Garcia Ribeiro, e,<br />

tambem manifestou a Apelacao, que<br />

tomou o 3.805, conciusa ao Relator<br />

desde 19 de fevereiro de 1975, apesar


14<br />

de estar dependendo de seu julgamento<br />

o prosseguimento da ac ão penal<br />

contra o apelante, ilegalmente<br />

suspensa.<br />

0 bacharel Aloisio Barbosa de<br />

Souza, que foi advogado do Desembargador<br />

Leal Fagundes em<br />

interpelacão judicial que promoveu<br />

contra o Dr. José alio Guimarães<br />

Lima e outros, e, tambtm, designado<br />

para defender o advogado Pedro<br />

Calmon Mendes, quando processado<br />

pelas ofensas morals que dirigiu ao<br />

Juiz Raja Pimentel, por ocasiäo do<br />

Habeas Corpus impetrado em favor<br />

de Jost Garcia Ribeiro, ja fora advogado<br />

de Jost Garcia Ribeiro, em<br />

processo criminal anterior.<br />

Na acAo civel de reparacAo de<br />

danos morals movida pelo Juiz kola<br />

Pimentel contra o jornal Coneio do<br />

Planalto, a empresa arrolou as seguintes<br />

testemunhas: Desembargador<br />

Jost Fernandes de Andrade, Pedro<br />

Calmon Mendes, Raimundo de<br />

Lima, Jost Garcia Ribeiro e Aloisio<br />

Barbosa (Doc. n? 49), o que t bastante<br />

eloqiiente: o Desembargador<br />

sogro do Escrivdo Luiz David; o advogado<br />

que insultou o Juiz Irajà Pimentel,<br />

corn a complacéncia dos Desembargadores<br />

Leal Fagundes, Juscelino<br />

Ribeiro e Helládio Monteiro; o<br />

Escrevente condenado juntamente<br />

com Luiz David; o Paciente do<br />

habeas corpus; e o advogado deste<br />

em outras aceoes.<br />

As reportagens contra o Juiz<br />

Irajá. Pimentel eram precedidas de<br />

reunifies dos advogados Aloisio Barbosa<br />

de Souza, Pedro Calmon Mendes<br />

e Antonio Rezende Costa corn os<br />

Desembargadores Leal Fagundes,<br />

Juscelino Ribeiro e Jost Fernandes<br />

(pet. initial, fl. 14).<br />

A intimidade do Des. Josè Fernandes<br />

corn o advogado Pedro Calmon,<br />

em plena campanha deste contra<br />

o Juiz !raja Pimentel, Ode ser<br />

constatada pelos Juizes Drs. Eduardo<br />

Andrade Ribeiro de Oliveira, Romildo<br />

Bueno de Souza e Maria Car-<br />

R.T.J. — 94<br />

men Henriques Ribeiro de Oliveira,<br />

que viram o referido advogado, inclusive,<br />

no Gabinete do Desembargador<br />

Jost Fernandes, ditando urn<br />

trabalho para a Secretaria deste.<br />

Procuraram o Desembargador<br />

Presidente, Lficio Arantes, para dar<br />

conhecimento do fato. Nao o encontrando,<br />

pediram ao seu Assessor,<br />

Dr. OtAvio Augusto Vicente Barbosa<br />

para testemunhar a ocorrëncia<br />

Quando este se aproximou, ja o advogado<br />

e o Desembargador saiam de<br />

braco dado (dots. 23, b e c).<br />

A intimidade do mesmo advogado<br />

corn o Desembargador Juscelino<br />

Ribeiro tambtm se acha documentada<br />

por despacho do Juiz Dr.<br />

Romlldo Bueno de Souza, que assim<br />

narrou o fato, verbts:<br />

«5. E certo que, em fins de junho<br />

Ultimo, no Gabinete do Senhor<br />

Presidente do Tribunal Regional<br />

Eleitoral, de que tambtm<br />

sou Juiz, encontrei o Advogado<br />

Pedro C. Mendes em conversa<br />

com o Senhor Desembargador<br />

Juscelino Jost Ribeiro, näo sem<br />

certa surpresa. E como Sua Exceléncia<br />

fez mencâo de me apresentar<br />

o referido advogado, dispense!<br />

a apresentacão, na verdade<br />

desnecessaria, porquanto conheco<br />

o referido advogado «o suficiente”,<br />

como na ocasiäo declare!.<br />

Do fato, alias, na mesma data<br />

del conhecimento ao Senhor<br />

Desembargador Lucio Arantes,<br />

Presidente deste Tribunal, quando<br />

em seu Gabinete tambtm se<br />

encontrava o Senhor Desembargador<br />

Waldir Meuren.» (Doc. 23,<br />

d)<br />

94. Por sua vez, o Escrivão Luiz<br />

David e o Oficial de Justica Jost<br />

Luiz da Silva, conhecido por «Zt do<br />

Cheque> e Jose Garcia Ribeiro foram<br />

vistos, incitando menores jornaleiros,<br />

a apregoar, nas dependOncias<br />

do Tribunal, o jornal Correio do<br />

Planalto que publicava reportagens<br />

contra o Juiz Iraja Pimentel, pagas


pelo Advogado Pedro Calmon Mendes<br />

( docs. 23 e 23, b).<br />

Nä° se limitavam a incentivar<br />

os pequenos Jornaleiros. Faziam,<br />

entrada do Forum, verdadeiros<br />

comicios contra o Juiz Iraja Pimentel.<br />

Participavam, entre outros, Luiz<br />

David, sua esposa e filhos, todos funcionários<br />

da Justica; Jose Fernandes<br />

de Andrade Filho, Mho do Desembargador<br />

Jose Fernandes, funcionfi-<br />

rio do Tribunal de Justica; o Oficial<br />

de Justica Jose Lutz da Silva, o «Ze<br />

do Cheque», e o Advogado Pedro<br />

Calmon Mendes (Doc. 23, c).<br />

Fol visto, ainda, o EscrlvAo<br />

Luiz David a concitar o Jornaleiro a<br />

vender os jornais no interior do predio,<br />

como tambem urn neto do De-<br />

sembargador Josè Fernandes adqulrir<br />

quase todos os exemplares do<br />

«Correio do Planalto» que dispunha<br />

o jornaleiro e corn eles voltar para o<br />

interior do predio (Doc. 23, c).<br />

97. Ate nas sessiles administrativas,<br />

os Desembargadores Leal Fagundes,<br />

Jose Fernandes e Juscelino<br />

Ribelro funcionam como bancada,<br />

para prejudicar o andamento dos<br />

trabalhos e impedir sejam decididas<br />

as questiles em pauta. Assam, na<br />

SessAo de 11-5-76, o Desembargador<br />

Josè Fernandes, ao ser posta ern discussao<br />

determinada materia, soliditou<br />

que, por sua relevancia, se dei-<br />

xasse a deliberacão para quando todos<br />

os Desembargadores estivessem<br />

presentes. Na sec-silo seguinte, dia<br />

18-5-76, porem, nao compareceram<br />

nem ele, nem o Desembargador Juscelino<br />

Ribeiro. Ficou decidido que a<br />

materia seria apreciada na sessao<br />

seguinte, mesmo que nao estivessem<br />

todos presentes, desde que houvesse<br />

quoruM. Pois bem, no dia marcado<br />

— 25-5-76 — no instante em que seria<br />

apreciada a referida materia, o De-<br />

sembargador Josè Fernandes delxou<br />

a Sessào. Como ainda houvesse flamer°<br />

legal, foi dada a palavra ao<br />

Desembargador Milton Sebastiäo<br />

Barbosa. «Neste exato momento —<br />

R.T.J. — 94 15<br />

revela a Ata — retiraram-se da Sessho<br />

os Excelentissimos Senhores Desembargadores<br />

Jose Julio Leal Fagundes<br />

e Juscelino Jose Ribelro, o<br />

que ocasionou a suspensão da sessho,<br />

por falta de quorum, precisamente<br />

as 15,30 horas, ficando transferido<br />

o restante da pauta para a<br />

próxima reuniflo administrativa<br />

(Doc. 30 e DJ de 7-7-76).<br />

Bastou que o Juiz de Direito<br />

Luiz Claudio de Almeida Abreu defendesse<br />

sua competancia, ou melhor,<br />

da Justica comum, para julgar<br />

o processo-crime contra o advogado<br />

Pedro Calmon Mendes, no que o colendo<br />

Supremo Tribunal Federal the<br />

veto dar razäo (C.J. n? 5.996), para<br />

que, mais uma vez demonstrando<br />

seu facciosismo, contra ele invest'sse<br />

o Desembargador Jose Fernandes,<br />

verb's:<br />

«Causou-me ainda estranheza<br />

as informacOes do Dr. Juiz nas<br />

quaffs ele procura por todos os<br />

metre, em cinco laudas datilografadas,<br />

convencer que o crime<br />

atribuido ao paciente a da cornpetencia<br />

da Justica comum. E,<br />

por coincidancia, e o mesmo Juiz<br />

contra quem fol argaida a suspeicAo»<br />

(Doc. 29, fl. 10).<br />

Anote-se, ainda que quando 0<br />

Desembargador Jose Fernandes deu<br />

seu voto para reduzlr a pena imposta<br />

pelo Dr. 'raja Pimentei ao Oficial<br />

de Justica Josè Luiz da Silva, o «Ze<br />

do Chequen, de 2 anos e 6 meses para<br />

1 ano e 6 meses, este ja tinha praticado<br />

urn peculato, apropriando-se<br />

de Cr; 3.000,00 que recebera de um<br />

executado, tendo sido por isso suspenso<br />

de sua funcáo e, ainda, sofrido<br />

prisäo administrativa decretada pelo<br />

entao Corregedor, Desembargador<br />

Lacio Arantes, em data de 28 de<br />

agosto de 1974 (Doc. n? 33, VI). Ademats,<br />

sua expressiva folha penal se<br />

achava nos autos. E, por coincidencia,<br />

num verdadeiro «toma la, &I<br />

cá», a apelacho de «Ze do Cheque»,<br />

relatada pelo Desembargador Jose


16<br />

Fernandes, que injuridicamente the<br />

reduziu a pena, para evitar a perda<br />

da funcão, e decretou a prescricão,<br />

fol julgada na mesma sessäo de 23-4-<br />

75, em que a mesma 2? Turma concedeu<br />

o habeas corpus em favor de<br />

seu genro, o Escriváo Luiz David,<br />

proclamando a tese da prevalOncia<br />

do Regimento de Custas do Distrito<br />

Federal sobre o COdigo Penal, cuja<br />

heresia o Supremo Tribunal Federal<br />

veto a proclamar, cassando a ordem.<br />

Por sua vez, o eminente Desembargador<br />

Raimundo Macedo, assim<br />

tracou o perfil do Desembargador<br />

Leal Fagundes, confirmando tudo<br />

quanto nesta dernincia se ]he imputa,<br />

ao dizer, verbis:<br />

«0 escriba dessa subversão foi<br />

o arrogante, f accioso, insubordinado,<br />

arbitrario e perseguidor<br />

Corregedor-Geral da Justica, Desembargador<br />

Jose JUlio Leal Fagundes,<br />

que usa as suas decisoes<br />

para mimosear seus amigos, do<br />

mesmo modo que as usa para<br />

molestar e perseguir seus desafetos,<br />

como se passa a demonstrar<br />

e provar.» (Doc. 51, fl. 6).<br />

Esta ai, pois, uma serie de f atos<br />

e circunstancias, devidamente<br />

comprovados, que bem explicam as<br />

razOes e os motivos que levaram os<br />

denunciados, quase sempre em coautorla,<br />

a proferir decisOes, movidos<br />

por interesses e sentimentos pessoais<br />

contrarias a disposicees expressas<br />

de lei, configurando, de forma<br />

cabal, como ainda melhor se demonstrara<br />

no curso da KA° penal, o<br />

crime definido no art. 319 do °Argo<br />

Penal.<br />

102. E, para que se apure a responsabilidade<br />

dos denunciados, Desembargadores<br />

Leal Fagundes, Jose<br />

Fernandes, Juscelino Ribeiro e Hel-<br />

MI° Monteiro, oferece o Ministerio<br />

PUblico a presente dentmcia, que espera<br />

seja recebida e, afinal, julgada<br />

provada, para o fim de serem os<br />

mesmos condenados nas pens do<br />

R.T.J. — 94<br />

art. 319, combinado com o art. 68, I,<br />

ambos do C6digo Penal.<br />

Brasilia, 30 de novembro de 1977 —<br />

Henrique Fonseca de AraUjo,<br />

Procurador-Geral da RepUblica.»<br />

Ciente da mesma, na forma do art.<br />

226 e seus paragrafos, do RI, determines<br />

a notificacao dos acusados, fl.<br />

200, para oferecerem resposta escrita,<br />

no prazo de quinze dias, o que foi<br />

feito.<br />

0 primeiro a responder foi o 4? denunciado,<br />

Des. Heladio Toledo Monteiro,<br />

fl. 212/222, corn documentos de<br />

fl. 225/288 e em que sustenta inexistir<br />

crise no Tribunal, mas uma campanha<br />

insidiosa de maus juizes contra<br />

o judiciario, agasalhada por jornais<br />

enganados pelo jornalista Galba<br />

Menegale; que os co-denunciados sac)<br />

pessoas dignas do seu respeito e admiracao;<br />

pelo que os tern apoiado<br />

«para desespero dos maus juizes arrolados<br />

na denUncia como testemunhas».<br />

Aprecia a denüncia nestes termos:<br />

«A pea acusat6ria foi buscar<br />

em Maquiavel (sic) urn ensinamento<br />

de moralidade politica —<br />

minta, minta, minta, que alguma<br />

coisa Heart! fl. 45.<br />

Justifica o voto que deu contra o<br />

acesso do Juiz Waldir Meuren ao Tribunal<br />

de Justica como o exercicio<br />

regular de urn direito, art. 144, II,<br />

CP, extremado de sentimentos pessoais,<br />

näo sendo responsevel pela<br />

publicacdo da carta que the dirigiu.<br />

Contesta ter votado em qualquer<br />

questa() patrocinada ou do interesse<br />

do Dr. Rezende; e tendo feito, apenas,<br />

em um habeas corpus patrocinado<br />

pelo Dr. Calmon; e em dots recursos<br />

de interesse do Dr. Aloysio,<br />

sempre julgando corn imparcialidade.<br />

Finalmente, que os votos que deu<br />

em questoes de custas e preparos<br />

nao visavam atender aos interesses<br />

de Luiz de Freitas, genro do co-


denunciado, mas tho-somente ap11car<br />

a lei corn Menai<br />

DA aos acOrdãos do Supremo Tribunal<br />

Federal, mencionados na de-<br />

Murcia, interpretacão favoravel as<br />

testes que sustenta.<br />

As fls. 290/330 se encontra a defesa<br />

dos 1? e 2? denunciados, Desembargadores<br />

Jose Mill° Leal Fagundes e<br />

Jose Fernandes de Andrade.<br />

0 1?, ap6s historiar minuctosamente<br />

os fatos, sem contestá-los em sua<br />

essencia, sustenta que nee estava<br />

impedido de julgar Luiz de Freltas,<br />

genro do 2? denunciado, porque assim<br />

decidira o Tribunal Pleno, por<br />

iniciativa sua, fl. 297.<br />

Nessa conformidade, julgou o<br />

habeas corpus, desimpedido, salientando<br />

em seu voto o ineditismo de<br />

coudenachlo criminal, por excessive<br />

cobranca de custas, que reputou «fato<br />

sem similar, nos anals forenses de<br />

todo Pais» II. 296.<br />

Se impedido estivesse, por certo,<br />

teria anulado o julgamento o<br />

no RE 84.863, o que nrio ocorreu.<br />

Por igual, inexistia suspeiceo,<br />

alias, am argnida.<br />

Quarto ao merit*, justifica o voto<br />

a We do Decreto-lei 115/67, segtmdo o<br />

qual a cobranca de custas indevidas<br />

apenas na reincidencla seria<br />

passivel de sancOes criminals, f. 298.<br />

Analisa os votos increpados na dentmcia<br />

corno decorrentes de interesse<br />

ou sentiment° pessoal, de modo a<br />

persuadir que foram isentos desse<br />

element* moral do crime capitulado<br />

na dentmcia.<br />

Finalrnente, argil a denOncia de<br />

impreejsa — KnAo descrevendo o fa-<br />

to criminoso que pretende apontar,<br />

neln qualquer outro». — Nilo aponta<br />

qual o mandamento legal srojados<br />

njjo indica gals as normas legais<br />

violadas, dal ser inaceitavel a de-<br />

/Kuria, postulando, em conseqÜencia,<br />

a rejeicão da debriefs, que<br />

permite se exerca a defesa dos acusados,<br />

f. 329.<br />

R.T.J. - 94 17<br />

Em seu favor, o 2? denunciado,<br />

Desembargador Jose Fernandes de<br />

Andrade, reconhece que 6 seu genro<br />

o escrivão Luiz de Freites, Pored,<br />

tal dramstäncia neo ditou ou preponderou<br />

nos votos que prolatou,<br />

nem influencia alguma teve nos f atos<br />

narrados na dentincia, pots, todas<br />

as decisees foram tomadas conforme<br />

a lei, e mesmo pelo Conselho da Justice<br />

local de que !leo faze.m parte os<br />

denunciados, argumentando que<br />

seus votes tem apoio na junsPradancia,<br />

concluindo nos tennos da defesa<br />

do 1? denunciado.<br />

Por derradeiro, 0 3? denunciado,<br />

Desembargador Juscelino Joie RIbeiro,<br />

que se reconhece arn* de<br />

longs data do 2? denunciado, Des.<br />

Jose Fernandes de Andrade, afinna<br />

que jamals participou de julgamento<br />

de interesse do Sr. Lutz David de<br />

Freltas, genro do mesmo, f. 400/419.<br />

Quanto ao HC 1715, justifica a sua<br />

conduta, que tern por legithna e<br />

isenta de parte° ou Odlo — o mesmo<br />

quarto ao HC 1773, onde poderia ter<br />

ocorrido simples erro de Juligammita,<br />

f. 411.<br />

Em referenda a apelactio n? 2113,<br />

em que declarou suspelto por motivo<br />

de natureza inthna, sustenta que Who<br />

era tat ansPeino htlpedimento pare<br />

julgar o HC n? 1721, o mesmo ocorrendo<br />

nos demais processos<br />

dos na Uncial.<br />

Contesta que se tetra poste de<br />

acordo corn os demais denundados e<br />

advogados para veicular modeles pe-<br />

Ia irnprensa, f . 418. Concluindo a resposta,<br />

corn estas palavras, f. 419:<br />

«Fedi verfficar que mesmo adotando<br />

seu torn romanesco, seu caster<br />

de obra de flccAo, seu teor de<br />

novela bem urdida, não logra a dedescrever<br />

conduta do denunclado<br />

que possa ser enquaddrvel<br />

no art. 319 do CP.<br />

Espera-se, assim, sua raid-<br />

OM_


18<br />

As f. 387/396, o eminente Ministro<br />

Moreira Alves, então Procurador-<br />

Geral da RepUblica, aprecia o resultado<br />

da sindicancia aberta contra os<br />

dois primeiros denunciados, concluindo<br />

a f. 396.<br />

E o related°.<br />

VOTO<br />

Sr. Ministro Cordeiro Guerra<br />

(Relator): Etimologicamente, diz<br />

Nelson Hungria, praevaricator e o<br />

que anda obliquamente, desviado do<br />

caminho direito.<br />

A principio, designava-se, assim,<br />

aquele que, tomando a defesa de<br />

uma causa, favorecia a parte contraria,<br />

portm, corn o tempo, ampliou-se<br />

gradativamente a sua acepcao, e o<br />

vocabulo passou a denominar todo<br />

aquele que se torna infiel ao preprio<br />

cargo (Comentarios, ao C6digo<br />

Penal, IX — Forense, 1958, n? 147).<br />

Cedigo Penal vigente define o<br />

crime como:<br />

Art. 319 — «Retardar ou deixar<br />

de praticar, indevidamente, ato de<br />

oficio, ou pratica-lo contra disposicao<br />

expressa de lei, para satisfazer<br />

interesse ou sentimento pessoal».<br />

R.T.J. — 99<br />

crime pode ser praticado por<br />

omissao ou comissäo, e o elemento<br />

moral caracterizador do dolo especifico<br />

e o firn de satisfazer interesse<br />

ou sentimento pessoal. 0 interesse<br />

pessoal pode ser de natureza material<br />

(patrimonial) ou moral. «Por<br />

sentimento pessoal entende-se a afeicdo,<br />

a simpatia, a dedicacao, a benevolencia,<br />

a caridade, o 6dio, a parcialidade,<br />

o despeito, o desejo de yinganca,<br />

a paixao politica, o prazer da<br />

prepotencia ou do mandonismo, a<br />

subserviencia, o receio de molestar<br />

os poderosos, etc,», observa o mesmo<br />

Mestre — p. 376/377.<br />

Indiscutivel que 6 dever legal dos<br />

juizes o de ser impartial, pois, de<br />

julgar, sao, por lei expressa, afastados<br />

os suspeitos ou impedidos.<br />

Assim, se o magistrado suspeito ou<br />

impedido julga causas em que se deveria<br />

declarar-se suspeito ou impedido,<br />

viola dever legal de abstencao,<br />

afasta-se do caminho direito.<br />

Se, alem disso, o faz para<br />

satisfazer interesse ou sentimento<br />

pessoal, qualquer que sej a, afeicao,<br />

ou Odio, despeito ou desejo de yinganca,<br />

benevolencia, amizade, simpatia,<br />

prevarica, incide na sancao<br />

penal.<br />

A denUncia narra minuciosamente<br />

fatos, aches e omissOes, contrarias<br />

ao dever legal de imparcialidade da<br />

Magistratura, e di-los inspirados por<br />

sentimentos ou interesses pessoais<br />

que especifica em alguns fatos, e<br />

que, Implicitamente, atribui, em todos,<br />

a desaleicao ou a amizade pessoal<br />

dos denunciados, as partes, ou a<br />

parentes seus, corn infringencia do<br />

dever legal da imparcialidade.<br />

Creio que, em tese, se caracteriza<br />

a tipicidade dos fatos narrados na<br />

initial.<br />

Toda denUncia a uma proposta de<br />

demonstracao sujeita a comprovacao<br />

e contrariedade, de modo que,<br />

acredito, a atual <strong>jurisprudencia</strong> do<br />

Supremo Tribunal Federal se tern fixado<br />

em nao repeli-la, sena° quando<br />

o fato nela narrado nao constitui,<br />

evidentemente, crime.<br />

Em havendo dtivida sobre a criminalidade<br />

dos fatos, desde que<br />

possivel a tipicidade argiifda, nao ha<br />

como trancar-se o procedimento penal,<br />

suprimindo-se a oportunidade<br />

reservada ao Ministerio PUblico para<br />

a demonstracao do alegado, tanto<br />

mais que as omissbes da demincia e<br />

da queixa podem ser a qualquer<br />

tempo supridas, art. 569 do CPP.<br />

Assim, mesmo contestados os fatos,<br />

e a existencia do elemento moral<br />

do delito, nas defesas apresentadas,<br />

afigura-se-me nao ser licit° negar<br />

ao MinistOrio PUblico a oportunidade<br />

de demonstrar a sua intencao


— ja que a denfmcia, a meu ver,<br />

preenche os requisitos do art. 41 do<br />

CPP.<br />

De fato, rejeitar-se a denfmcia,<br />

formalmente correta, e que narra f atos<br />

delituosos, em tese, seria julgar<br />

marito da acusavao, sem ter havido,<br />

em sua plenitude, o contraditerio<br />

constitucional, o que tenho por inadmissive!.<br />

Por esses motivos, reecho a denimcia.<br />

QUESTAO DE ORDEM<br />

Sr. Ministro Thompson Mores:<br />

(Presidente) — Consulto o Tribunal<br />

se entende que a apreciacäo da de-<br />

*sada, pars o efeito de seu recebimento<br />

ou nao deve ser feito em Conselho.<br />

.<br />

VOTO S/QUESTA0<br />

DE ORDEM<br />

Sr. Ministro Cordeiro Guerra<br />

(Relator): — Sr. Presidente, em se<br />

tratando se de recebimento da denfmcia,<br />

abro mao do Conselho.<br />

VCYTO SOME QUESTAO<br />

DE ORDEM<br />

0 Sr. Ministro Leittio de Abreu, Sr.<br />

Presidente, proponho seja feito em<br />

Conselho o exame da denfmcia.<br />

QUESTAO DE ORDEM<br />

(Decistio)<br />

Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

(Presidente) — Ante a manifestacão.<br />

do eminente Ministro Leith° de<br />

Abreu, na forma regimental,o Tribunal<br />

passarit a funcionar em Conse-<br />

1ho.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

APn 253 — DF — Rel., Min. Cordeiro<br />

Guerra. Autor: Ministkrio public°<br />

Federal. !Mils: Josè alto Leal<br />

R.T.J. — 94 19<br />

Fagundes. (Adv.: Jose Bonifacio<br />

niz de Andrada); José Fernandes 41°1<br />

Andrade. (Adv.: Josè Bonifãcio Diniz,<br />

de Andrada); Juscelino Jose Ribeigt<br />

(Adv.: Fernando Neves da<br />

Heladio Toledo Monteiro. (Adv.: Cam:<br />

los Robichez Penna). 1/4'<br />

DecisAo: Pediu vista o Ministro.,<br />

Soares Munoz ap6s o voto do Relator)<br />

recebendo a denUncia. Falaram<br />

Ministario Federal, o Prof. Henriques<br />

Fonseca de Araftjo; pelo Rau Hel<br />

Toledo Monteiro o Dr. Luiz Car<br />

Pujol, pelos Ras José Julio Leal Ft,<br />

gundes e Jose Fernandes de AndraAj<br />

de o Dr. Jose Bonifacio Diniz de Ant,<br />

drada, e pelo Rau Juscelino José<br />

beiro o Dr. Fernando Neves da<br />

va. Impedido o Sr. Ministro Moreira<br />

n7"'<br />

Alves.<br />

.011<br />

Presidencia do Sr. MiniStrOP<br />

Thompson Flores. Presentes allset-n<br />

sae os Srs. Ministros Thad Faleatip<br />

Antonio Neder, Xavier de AlbuqtRINg<br />

que, Rodrigues Alckmin, !Jetta° deb<br />

Abreu, Cordeiro Guerra, Moreira<br />

ves, Cunha Peixoto e Soares MuilOion<br />

Procurador-Geral da Repablica Ion<br />

Prof. Henrique Fonseca de Aranjo. fin<br />

Brasilia, 5 de abril de 1978. »ft)<br />

Alberto Veronese Aguiar, Secretarlob<br />

f198<br />

yam (VISTA)<br />

lArt1<br />

0 Sr. Ministro Soares Munoz: 1 ,9<br />

A denancia que se alonga por 32.051r<br />

gins datilografadas, tecendo condderwOes<br />

em torn da atuakäo dose<br />

denunciados em vArios processnspb<br />

imputa-Ihes, quase sempre sem etsia<br />

pecificar datas, a prAtica de albs<br />

continuados de prevaricacAo, unit*<br />

tentes em terem, geraltnente emdat<br />

autoria, proferido decisOes co**<br />

Has a disposicOes expresso de ,leh<br />

corn o propOsito de beneficiar e pp;<br />

teger o serventuario Luiz David,*<br />

Freitas, genro do segundo denunqit<br />

do Desembargador Josè Fernandes<br />

de Andrade, bem comp o de Prehlia/<br />

car moralmente o representante, o


20 R.T.J. — 94<br />

Juiz de Direito Dr. IrajA Pimentel,<br />

simplesmente porque este, no cumprimento<br />

de seu dever, assim como<br />

outros magistrados de primeira instAncia,<br />

contribuiram para a punicão<br />

disciplinar e criminal do aludido<br />

Luiz David de Freitas.<br />

2 — 0 primeiro fato arrolado na<br />

denfmcia, como configurando o tipo<br />

criminal definido no art. 319 do C6digo<br />

Penal, e o de ter o denunciado,<br />

Desembargador Leal Fagundes, participado<br />

da decisào concessiva de<br />

habeas corpus a Luiz David, para<br />

cassar a sentenca de primeira instância<br />

que havia condenado o aludi-<br />

. do serventuario, como incurso no<br />

art. 316 do COdigo Penal, por ter exigido<br />

custas indevidas.<br />

Sustenta a dentIncia que, além da<br />

manifesta injuridicidade do acördAo,<br />

que nAo pode ser considerado mero<br />

erro in judicando, mas manifesto f avoritismo<br />

em beneficio do paciente,<br />

genro do denunciado Desembargador<br />

José Fernandes Andrade, tanto<br />

que esse aresto lot unanimemente<br />

cassado pelo colendo Supremo Tribunal<br />

Federal, era manifesto o impedimento<br />

do Desembargador Leal Fagundes,<br />

pots fora ele quem, na condicAo<br />

de Corregedor da Justica, presidira<br />

o inquêrito e punira o paciente,<br />

sendo ainda suspeito em razAo da<br />

amizade intima que mantinha (e<br />

mantem) com o sogro do paciente,<br />

Desembargador José Fernandes de<br />

Andrade.<br />

Em memorial, apresentado pelo<br />

Dr. Procurador da Fteptibllca, depots<br />

do meu pedido de vista, S. Exa. assim<br />

resume a imputacAo:<br />

«0 Desembargador Leal Fagundes<br />

participou do julgamento do<br />

habeas corpus requerido em favor<br />

de Luiz David Freitas, estando legalmente<br />

impedido, pois como Corregedor<br />

apurara os fatos e punira<br />

o ServentuArio com a pena disciplinar<br />

de 90 dias de suspensAo e, nessa<br />

decisAo, ja antecipara seu entendimento<br />

a respeito do funda-<br />

mento do habeas corpus: a Ines's-<br />

Veneta de infracäo penal, verificavel<br />

tAo sto na reinciancia e, accim<br />

mesmo, como crime de excesso de<br />

exacAo. Ademais, dos termos de<br />

seu voto, deixou claro sua parcialidade,<br />

pots constituiu muito mais<br />

na defesa de sua conduta no inqukrito<br />

administrativo e numa acusacAo<br />

aos juizes de primeira instAncia,<br />

que constituiriam uma subclasse,<br />

dal o «noticiario enxovalhador,<br />

a servico do bando das trevas»,<br />

capitaneado pela solërcia<br />

anarquica, que fomenta Odios, indisciplina<br />

e subversAo» do que na<br />

fundamentacAo de um ponto de<br />

vista.»<br />

Cumpre, desde logo, saltentar que<br />

a suspeicao, quando nAo declarada<br />

espontaneamente pelo Juiz, nem ar-<br />

Wilda pelas partes, nos prazos peremptörios<br />

estabelecidos nas leis<br />

processuais, torna-se superada e itmxistente,<br />

nAo podendo ap6s ser suscitada.<br />

No caso, as partes, inclusive o<br />

Ministkrio POblico, deixaram de argilir<br />

excecAo de suspetcAo no processo<br />

referente ao habeas corpus. Não<br />

viavel, depots, atraves de acAo penal,<br />

reavivar a pretendida excecão,<br />

como um dos elementos integrantes<br />

do crime de prevaricacAo.<br />

Quarto ao impedimento, näo o considero<br />

demonstrado, para os efeitos<br />

de legitimar, no ponto, o recebimento<br />

da denimcia. E que, entre os casos<br />

de impedimento, mencionados no<br />

art. 252 do C6digo de Processo Penal,<br />

nAo figura o de que o Juiz nAo<br />

podera exercer jurisdicão no processo<br />

resultante de humêrito administrativo<br />

que ele prOprio houver presidido.<br />

E sobe de monta essa consideracão<br />

em face da circunstancia de o<br />

impedimento näo ter sido argtildo no<br />

processo de habeas corpus.<br />

Resta da imputacAo o error in<br />

judicando, mas nem este, ainda que<br />

tivesse existido, pode constituir supedAneo,<br />

na hip6tese, do crime de<br />

prevaricacAo. A matéria concernen-


R.T.J. — 94<br />

to ao recebimento de custas indevi<br />

das estA disciplinada no Distrito Federal<br />

pelo Decreto-lei nt 115/67, que<br />

aprevou o Regiment° de Custas do<br />

Distrito Federal e TerritOrios, consoante<br />

o qual o recebimento de custas<br />

indevklas somente constftui crime<br />

se o funcionino for rehrcidente<br />

na lnfraccio. Bastarla a erdstAncia<br />

dessa norma, da mesma hierarquia<br />

formal do COdigo Penal, tarnb6m<br />

aprovado medlante Decreto-lei, para<br />

afastar do apontado error in<br />

judIcando o substrato para a configuracito<br />

do crime de<br />

Eidste urn conftito de le prevaricacrio.<br />

- ao Presidente do orgAo juigador, bais,<br />

da mesma<br />

hierarquia formal, que ao Jun canpre<br />

dirindr.<br />

Nitaencontro configured°, no primeim<br />

fate arrolado na dentincia, nenhum<br />

dos eiementos do crime previsto<br />

no art. 319 do Cfsdigo Penal.<br />

A segtmda imputacgo atribui ao<br />

denunciado Leal Pagundes o crime<br />

de prevaricaelio, por ter, na qualidade<br />

de Presidente da 2? Tenndo<br />

Tribunal de Justice do Distrito Federal,<br />

permitldo, Inusitadamente e de<br />

forma inklita, que o<br />

eadvogado Pedro Calmon Mendes<br />

injuriasse e caluniasse, da forma<br />

mats soez, o Jun IrajA Pimentel,<br />

que Protein' Mattes nos autos<br />

da Manna e debninara a extrace°<br />

de pecas para o oferecimento<br />

da denfircia contra o Paciente<br />

do habeas corpus, e, ainda<br />

concedeu-lhe prorrogane de tem_<br />

po. Assiut procedendo, debtou de<br />

praticar ate de oficio, determined°<br />

pelo art. 18 do Estatuto da Ordem<br />

dos Advogados.*<br />

Ora, tanto urna coin° outra dessas<br />

priticas longs de lnfiditas e inuslta-<br />

. E<br />

tot Precisamente a exletlincla da gravacito<br />

g e daS=sden taqUi nificas, envladas<br />

pelt* te da Turin* ao<br />

Presidents do Tribunal, que permitiu<br />

ao me Ind* Phnentel processar crimjnalmente<br />

o advogado Pedro Calmon<br />

Mendes. Nem sempre men,<br />

'Isar a sustentacao oral, de maneira<br />

a imPedir que a autoridade apontada<br />

comp coatora ou suspeita seja atacada.<br />

A prAtica macs consetanea e a de<br />

envier a quem de direito os terms<br />

dos ataques para que seja responseblitzed°<br />

o advogado se for o caso.<br />

Onde, pots, o crime de prevaricaclio<br />

neste epis6dio?<br />

Como dernonstrwäo macs<br />

quivoca do sentimento pessoal, caracterizador<br />

do crime definido no<br />

art. 319 do COdigo Penal, a de/lb/Ida<br />

apresenta o fato de os Desembargadores<br />

Leal Pagundes e Helfidio Montelro<br />

terem votado pela concessäo do<br />

habeas corpus bnpetrado, a seu favor,<br />

Oelo advogado Pedro Calmon<br />

Mendes, reconhecendo a incomPe-<br />

Nona da Justice comum e a canoe-<br />

Minna da Justice Minter pare pio<br />

cessar a ado penal instaurada contra<br />

o inmetrante, em razAo das ofen-<br />

SaS que dirigira ao Julz Irajá Pimentel,<br />

em sustentaclio oral.<br />

NAo percebo em que a acoliticla da<br />

decilnatecia, que importou no reconhecimento<br />

de crime man grave<br />

contra o advogado Pedro Calmon<br />

Mendes, Mies °tenses que dirigira<br />

ao Juiz Irak* Pimentel, posse eer Interpretada<br />

come decistio proferida,<br />

por sentiment* de desafeicAo ao aludido<br />

magistrado. PoderA ester errs-<br />

da, e assim a conslderou o EgrOgio<br />

Tribunal Superior Minter, porêm,<br />

erro in judIcando que, por si so, nä°<br />

configure o crime de prevaricacAo.<br />

Retomando ao habeas corpus con-<br />

°ern& a Lutz David sob o fundament°<br />

de que s6 na reincldencia 6 que se<br />

configura o crime definido no art. 18<br />

do Decreto-lei n. 15/87, o Desembargador<br />

Leal Fagundes, sustenta a de-<br />

/Karat, thtia o dever de estender a<br />

ordem ao co-r6u Raimundo Bernardo<br />

Lima, tarnbem acusado de ter<br />

exillido custas indevidas, e assim<br />

niio fez, korque havia interesse em<br />

Niger o merito da apelaflo desse<br />

serventuitrio, votando, depots, no Jul-<br />

21


22<br />

R.T.J. — 94<br />

gamento desse recurso, pela absolvi- justificar a ilegalidade e o facciosispor<br />

insuficiencia de provas. mo de sua conduta, sem esclarecer<br />

quaffs sejam essas rathes.<br />

Ndo atino qual tenha sido esse interesse,<br />

eis que o voto do Desembar- 0 Desembar gador Leal Fagundes<br />

gador Leal Fagundes concluiu pela em oficio dirigido ao eminente Miabsolvicão<br />

de Raimundo, por insufi- nistro Cordeiro Guerra, antes do ofeciencia<br />

de prova. Qual podera ser a recimento da denuncia, explica:<br />

repercussão desse pronunciamento «Cientificado dos termos das in-<br />

no julgamento final de Luiz David, formacees prestadas a Vossa Ex-<br />

ccmstitui ponto nao esclarecido na celencia pelo Exmo. Sr. Desembar-<br />

denuncia.<br />

gador Presidente desta Corte e Mc)<br />

Ademais, no pormenor, a dentincia tendo sua Excelencia se dignado<br />

intidiu em lamentavel equivoco. No propiciar-me esclarecimento s su-<br />

julgamento do habeas corpus conceplementares, a respeito de decisão<br />

dido a Luiz David de Freitas, o De- ou de processo pendente de julgasembargador<br />

Leal Fagundes finali- mento desta Turma, tenho a honra<br />

Zell o seu voto assim:<br />

de encaminhar-lhe tats suplementos,<br />

que me parecem relevantes,<br />

«Por todas essas rathes, concedo solicitando-lhe que me releve a in-<br />

a ordem ao paciente e a estendo ao tromissão, aconselhada pelos ou-<br />

outro reu Raimundo Bernardo de tros membros da Turma e que se<br />

Lima, a fim de ser trancado o pro- tem o propesito de melhor inforcesso,<br />

em que ambos foram, mar e para o case de interessar ao<br />

degitima e ilegalmente condena- estudo de Vossa Excelencia.<br />

dos, por crime inexistente.” (Apen-<br />

,so n? 1, f. 113).<br />

Quanto ao Agravo de Instrtunento<br />

n? 288, cumpre esclarecer que a<br />

A anima acusacdo formulada na materia nele contida foi objeto da<br />

denuncia contra o Desembargador Uniformizacao da Jurisprudencia<br />

Leal Fagundes e a de que<br />

n? 1, 'cujo Actirdao do Tribunal<br />

ovotou pelo trancamento da acdo Pleno, corn um se voto discrepan-<br />

penal intentada contra Jose Garcia te, segue, em apenso.<br />

Ribeiro, ate que fosse julgada a No que respeita a Apelacäo Civel<br />

apelacao deste na acao de falencia. n? 3.805, da qual sou o Relator, te-<br />

do se usurpou a competencia do nho a honra de remeter a Vossa<br />

juiz de primeira instancia, de cuja Excelencia, também em apenso, a<br />

deeiseo, se denegatoria, nao cabe reproducáo fiel de todas as pecas<br />

.duaiquer recurso, como nao fixou dos respectivos autos corn o escla-<br />

ptazo para a suspensdo. Decidiu, recimento (que ja fiz, verbalmen-<br />

pois, contra expressa disposicao de te, ao eminente Desembargador<br />

lei: COdigo de Processo Penal, art. Presidente do nosso Tribunal) de<br />

93, §§ 1? e 2?. E, macs grave ainda, que o respectivo julgamento ainda<br />

sendo Relator da Apelacâo Civel, nao foi levado a efeito, porque: a)<br />

de cujo julgamento fizera depender o Dr. Juiz prolator da sentenca foi<br />

o prosseguimento de acao penal, averbado de partial, em favor do<br />

nä° a levou a julgamento. A data reu da demanda, o qual ja teria su-<br />

da dentincia os autos the estavam bornado outro Juiz, demitido pelo<br />

conclusos ha 2 anos e 8 meses. E AI-5, bem como subornado teste-<br />

ate agora nao a passou ao Revimtuthas da mesma demanda; b)<br />

sor».<br />

tal averbacao feita por advogado,<br />

Adianta a denuncia que sac, de ma- alem de areada, na defesa oral do<br />

nifesta improcedenc ia as razbes, que habeas corpus n? 1.715, é objeto de<br />

esse denunciado apresentou, para excecao da verdade, levantada em


feito criminal pendente, como cornprovam<br />

as respectivas pecas, em<br />

anexo; C) diante de noticias tao<br />

graves, ache' de born alvitre<br />

aguardar a apuracao criminal dos<br />

fatos imputados ao Dr. Juiz e As<br />

testemunhas, ate porque a sentenca<br />

penal, se confirmaibria da exceciao<br />

da verdade, acarretaria a nulldade<br />

da sentenca civet d) a Apelace°<br />

Civet n? 3.805 estA suspensa,<br />

portanto, por esses relevantes fundamentos,<br />

e ate porque a mora nao<br />

prejudica as partes, que, como se<br />

ye dos autos reproduzidos, nenhuma<br />

reciamacao fizeram<br />

Reiterando escusas pela intromissao<br />

decorrente de lamentAvel<br />

conjunttwa e que rogo seja relevada,<br />

apresento a Vossa Excelencia<br />

meus protestos da ma's alta admirace°<br />

e do mats profundo respeito.»<br />

(fls. 361-362)<br />

A demora no julgamento da apelacao<br />

civel, da qual o denunciado e relator,<br />

foi por ele razoavelmente justificada,<br />

e essa justificativa assume<br />

malor grau de convencimento diante<br />

da ausencia de qualquer reclamacao<br />

das partes ou do Ministerlo PUblico,<br />

que poderiam, inclusive, argiiir excecao<br />

de suspeicao do magistrado ou<br />

interpor agravo regimental. Todavia,<br />

as explicacOes do denunciado<br />

omitiram fato relevante. E que a Se-<br />

gunda Turma, em julgamento por<br />

ele presidido e corn o seu voto, concedeu,<br />

a 11 de junto de 1975, o<br />

habeas corpus n? 1.715, impetrado<br />

pelo Bel. Pedro Calmon Mendes, eh<br />

favor de Jose Garcia Ribeiro, «para<br />

o sobrestamento da acao penal ate o<br />

julgamento do feito civel de que se<br />

originou» (f. 429). Em face desse<br />

precedente, o retardamento no julgamento<br />

da apelacao dye!, da qual o<br />

denunciado Leal Fagundes e relator,<br />

criou um impasse, que estA impossibilitando<br />

a tramitacao e julgamento<br />

do processo criminal. Improcedentes<br />

que sao, pelo visto, as rages apresentadas<br />

em sua resposta escrita,<br />

R.T.J. — 94 23<br />

desponta, como digna de consideracao,<br />

para os efeitos da denthcia,<br />

quanto a essa parte, a imputacao de<br />

que o acusado estA retardando o julgamento<br />

da Apelacao Civel n? 3.805,<br />

para satisfazer o sentimento pessoal,<br />

consistente no proposito de impedir o<br />

julgamento da ace° penal a que responde<br />

Jose Garcia Ribeiro.<br />

3 — 0 Desembargador Juscelino<br />

Ribeiro a acusado de se ter deixado<br />

«envolver na luta que deflagrou<br />

no Tribunal de Justica, tenth por<br />

pive o escrivao Luiz David, para<br />

emprestar sua solidariedade, pelo<br />

sentimento da amizade — aos Desembargadores<br />

Leal Fagundes e<br />

Jose Fernandes, passando assim a<br />

praticar, como autor ou co-autor,<br />

atos ou omissees, que o enquadram<br />

nas sancOes do art. 319 do COdigo<br />

Penal. Votou, como Relator, pela<br />

concessao da ordem de habeas<br />

corpus a Jose Garcia Ribeiro, suspendendo,<br />

sem fixacao de prazo e<br />

usurpando a competencia do Juiz<br />

do processo, a ace° penal movida<br />

contra o paciente, o que, como IA<br />

se demonstrou, desrespelta frontalmente<br />

o art. 93, e seus 11§ 1? e 2? do<br />

COdigo de Processo Penal, para satisfazer<br />

sentimento pessoal.<br />

Nesse mesmo julgamento,<br />

permitiu que o advogado Pedro<br />

Calmon Mendes ofendesse moralmente<br />

o Juiz prolator da sentenca<br />

que determinara a instauracao da<br />

acao penal, o Dr. IrajA Pimentel,<br />

caluniando-o, injuriando-o e<br />

difamando-o, contrariando, assim,<br />

expressamente o disposto no art.<br />

15 do Estatuto da Ordem dos Advogados,<br />

ainda para satisfazer sentiments<br />

pessoal: o interesse em atingir<br />

o Juiz que cometera o crime de<br />

acelerar julgamento do genro de<br />

seu colega de Turma, desencadeando<br />

as iras deste Ultimo.<br />

c) Tao despropositada fol sua<br />

conduta, permitindo as acusacees


24<br />

ao Juiz, que reconheceu a impertinencia<br />

da materia tratada pelo advogado,<br />

propondo a remessa de<br />

seu trabalho ao Presidente do Tribunal,<br />

o que mostra seu sentimento<br />

pessoal contra o Juiz. Mais tarde,<br />

no habeas corpus em favor do<br />

advogado, processado pelas of ensas<br />

que enteo irrogara ao Juiz, viria<br />

reconhecer que a conduta do<br />

advogado atentara contra a Seguranca<br />

Nacional.<br />

d) Ainda no julgamento da apelace°<br />

do co-réu de Luiz David, o<br />

Serventuario Raimundo Bernardo<br />

de Lima, deu mostras de sua parcialidade,<br />

deixando de praticar ato<br />

de oficio.<br />

Votando pela concessao do<br />

habeas corpus em favor de Luiz<br />

David porque, por ele punido corn<br />

a pena de suspensao, s6 na reincidencia<br />

se configuraria o crime definido<br />

no art. 18 do Decreto-lei n?<br />

115/67, era seu Bever, determined°<br />

expressamente em lei (C6digo de<br />

Processo Penal, art. 580) estender<br />

a ordem ao co-reu, por ele igualmente<br />

punido no mesmo processo<br />

administrativo, eis que o fundamento<br />

do habeas corpus neo era de<br />

natureza pessoal».<br />

Esses fatos je foram examinados<br />

no tapico atinente ao Desembargador<br />

Leal Fagundes, componente, assim<br />

como o Desembargador Juscelino<br />

Ribeiro, da Segunda Camara do<br />

Tribunal de Justice do Distrito Federal,<br />

e, nele, expus, as razaes pelas<br />

quaffs concha que nenhum dos ditos<br />

fatos configuram o crime de prevailcacao.<br />

A elas, destarte, me reporto, salientando<br />

que a concessao, em parte,<br />

do habeas corpus, impetrado a favor<br />

de Jose Garcia Ribeiro, para determiner<br />

a suspensao da ace° penal<br />

instaurada contra esse paciente, este<br />

justificada, no voto que, na qualidade<br />

de Relator, proferiu o Desembargador<br />

Juscelino Ribeiro:<br />

R.T.J, — 99<br />

«Assim quanto ao trancamento<br />

da ace° penal o meu voto a pela<br />

denegaceo da ordem.<br />

0 mesmo je não ocorre no que<br />

diz respeito ao sobrestamento do<br />

processo penal ate que seja decidida,<br />

em definitivo, a acão civel de<br />

que indiscutivelmente se originou.<br />

Quando o C6digo de Processo Penal,<br />

em seu art. 64, paragrafo Waco,<br />

lacuna ao Juiz do Civel a suspensao<br />

do curso da ace° ate o julgement°<br />

da ace° penal de que se<br />

originou, deixa entrever que a<br />

reciproca 6 verdadeira, isto e, que<br />

tambem o Juiz do Crime podere<br />

sobrestar o andamento do feito se<br />

este este intimamente vinculado a<br />

uma acao civel ainda nao decidida<br />

finalmente.<br />

Este entendimento encontra<br />

apoio tanto no bom senso como no<br />

que estatui o preprio C6digo Penal<br />

em seu art. 3?, ao admitir interpretacao<br />

extensive e aplicacao ana16gica<br />

bem como o suplemento dos<br />

principios gerais de direito.<br />

Restou absolutamente Ind'scutivel<br />

que a ace° penal intentada<br />

contra o paciente Jose Garcia Ribeiro<br />

6 oriunda da acao civel, ainda<br />

sub judice;podendo de seu julgement°<br />

final resultar conseqiiencies<br />

que prejudiquem o julgamento<br />

da primeira.<br />

Por assim entender, concedo a<br />

ordem unicamente para determiner<br />

o sobrestamento do processo<br />

criminal ate o julgamento definitivo<br />

Bas questaes civets a que este<br />

intimamente vinculada, no caso a<br />

Apelacao Civel n? 3.805». (f. 427).<br />

Poder-se-A divergir de tais fundamentos,<br />

portm, entre divergir e encontrar<br />

configured o crime de prevaricacao,<br />

nesse julgamento, vat<br />

uma enorme distencia. E não a exato<br />

que a suspensao do processo criminal<br />

haj a sido determinada sem a<br />

fixacao do prazo. Existisse, essa<br />

omissao no acOrdeo e o Ministkrio


26<br />

R.T.J. — 94<br />

quele advogado, visando a trancar<br />

a acão penal decorrente da acäo<br />

civel, o Desembargador Juscelino<br />

não se deu por impedido e votou<br />

pela concessäo do Habeas Corpus,<br />

sendo relator o Desembargador Jose<br />

Fernandes. E, como se demonstrou<br />

nos autos, o motivo de sua<br />

suspeicao na apelacão civel, era,<br />

precisamente, a amizade corn o<br />

advogado Rezende Costa.D<br />

Deixou de indicar na denfmcia em<br />

que fatos ou circunstencias se baseou<br />

para afirmar que o motivo da<br />

suspeicão na apelacäo civel era precisamente<br />

a amizade corn o advogado<br />

Rezende Costa, e essa explicitaceo<br />

se fazia necessária, visto que a<br />

suspetcdo foi manifestada imotivadamente,<br />

invocando a existencia de<br />

motivo de natureza intima.<br />

A resposta escrita do Desembargador<br />

Juscelino explica a ocorrencia:<br />

e0 denunciado nä() tinha, como<br />

salientou, um Orgeo disciplinar a<br />

quern pudesse, nos termos do art.<br />

119, § I?, do COdigo de Processo Civil,<br />

entäo vigente, comunicar quail<br />

motivos determinavam sua suspeicão<br />

para decidir o caso. Comunicaos,<br />

agora, ao eg. Supremo Tribunal<br />

Federal, em documento pUblico,<br />

premido pela denUncia maliciosa<br />

que pretende se intrometer, para<br />

exercitar o dom de advinhacão, no<br />

mais recendito daqueles contra os<br />

quaffs se dirige. 0 que determinou<br />

a suspeicen do denunciado para o<br />

julgamento da Apelack, Civel n?<br />

2.113 foi a sua amizade intima corn<br />

os proprietarios e prepostos da Renovadora<br />

de Pneus O.K. Ltda Este<br />

o motivo de haver afirmado a sua<br />

suspeicao pois, como disse, sendo<br />

human e imperfeito, sempre temeu<br />

que a amizade pudesse<br />

levy-lo a decidir injustamente, ainda<br />

que a injustica decorresse de<br />

conduta tie° consciente.<br />

Este, e não a relacão de cordialidade<br />

que mantem corn o advogado<br />

Antonio Rezende Costa, relacdo<br />

que, de resto, mantem corn urn nilmero<br />

muito grande de advogados<br />

ern Brasilia e que explica, inclusive,<br />

o fato, aludido na dentincia, de<br />

haver o Juiz Romildo Bueno de<br />

Souza encontrado, ern seu gabinete<br />

de Presidente do Tribunal Regional<br />

Eleitoral, o advogado Pedro<br />

Calmon Mendes. As portas de seus<br />

gabinetes — de Desembargador e<br />

de Presidente do Tribunal Regional<br />

Eleitoral — sal abertas, permanentemente.<br />

A tais gabinetes<br />

tern acesso todos os advogados que<br />

precisem f alar corn o denunciado<br />

e, dentre eles inclusive, o Dr. Arlindo<br />

Leoni de Sousa, mencionado<br />

na noticia criminal.<br />

As relacties de amizade do denunciado<br />

corn os proprietarios e<br />

prepostos da firma Renovadora<br />

Pneus O.K. Ltda., impediu-o de julgar<br />

a ApelacAo Civel n? 2.113, na<br />

qual dita firma figurava como apelada.<br />

Tal fato, contudo, nen o impediu<br />

de votar no habeas corpus<br />

impetrado em favor do advogado<br />

Antonio Rezende Costa. 8 que, como<br />

se colhe do voto do Desembargador<br />

Jose Fernandes de Andrade,<br />

o interesse da firma Pneus O.K.<br />

Ltda., na causa, era nenhum. Havendo<br />

recebido, anteriormente, corn°<br />

declarara, a importencia que<br />

reclamava na acao civel, natural<br />

seria seu descaso pelo resultado da<br />

KA° penal, esta que se (aria, entar),<br />

entre a Justica Pablica e o advogado<br />

Antonio Rezende Costa.<br />

Saliente-se, por Ultimo, que o voto<br />

do denunciado, n'do decidiu a<br />

concessâo io habeas corpus. 0 pedido<br />

foi deferido por unanimidade<br />

e, assim, ainda que o denunciado<br />

ou rap votasse — numa premonicão<br />

de que votando seria denunciado<br />

— ou votasse pela denegacão da<br />

ordem, essa seria concedida por<br />

maioria de votos. A constatacâo<br />

deste irrefutável dado da realidade,<br />

desconfigura a conduta do denunciado,<br />

afastando-a do tipo pre-


visto no art. 319 do 05digo Penal,<br />

ainda que, para s6 argumentar, se<br />

pudesse ter como veridica a afirmacAo<br />

da dentincia de que, agindo<br />

assim, satisfazia sentimento pessoal<br />

«... qual o de beneficiar o paciente,<br />

seu amigo». (fls. 413-414).<br />

E acrescente-se que a hipetese, se<br />

real a verstio da denüncia, nAo seria<br />

de impedimento (art. 252 do C6digo<br />

de Processo Civil) e, sim, de suspeicAo,<br />

superada e inexistente por falta<br />

de argticAo oportima.<br />

De igual natureza e a imputaelto<br />

derradeira, de que o Desembargador<br />

Juscelino tambem, para satisfazer<br />

sentimento pessoal, no caso a Lanni_<br />

zade corn o Juiz Waldir Meuren e a<br />

amizade corn o Desembargador Jose<br />

Fernandes, deixou de indicar o primetro,<br />

em vaga de antigOidade para<br />

o Tribunal de Justica, sendo o aludido<br />

Juiz o mais antigo.<br />

Trata-se de ato imotivado e secret°,<br />

sendo gratuita, sob o ponto de<br />

vista jtuldlco, a vinculagAo que the<br />

empresta a denüncia.<br />

4 — Contra o Desembargador HelAdio<br />

Toledo Monteiro sAo imputados<br />

crimes de prevaricacão, por ter participado,<br />

corn os Desembargadores<br />

Leal Fagundes e Juscelino Ribeiro,<br />

todos integrantes da Segunda Camara<br />

do Tribunal de Justica do Distrito<br />

Federal, do Julgamento do habeas<br />

corpus em favor do escrivAo Lutz<br />

David e, bem assim, do impetrado<br />

em prol de Jose Garcia Ribeiro, nos<br />

quaffs proferiu decisees corn o indiscutivel<br />

prop6sito de satisfazer sentimento<br />

pessoal.<br />

A esse denunciado se aplicam as<br />

consideracOes IA feitas sobre a ausencia<br />

de tipicidade em tais atos para<br />

a configuracAo do crime de prevaricacAo.<br />

HA, no entanto, tuna actisacAo que<br />

s6 diz respeito ao Desembargador<br />

HelAdio de Toledo Monteiro. Segundo<br />

ela, esse denunciado,<br />

R.T.J. — 94 27<br />

«por solidariedade aos seus colegas<br />

Desembargadores Leal Fagundes,<br />

Jost Fernandes e Juscelino<br />

Ribeiro, escreveu carta ao Juiz<br />

Waldir Meuren, dizendo-lhe que<br />

nAo o indicaria para vaga existente<br />

no Tribunal de Justica, a ser<br />

preenchida pelo criterio de antigthdade,<br />

por ser initnigo daqueles Desembargadores,<br />

o que importa em<br />

manifesta prevaricacAo, pots a<br />

permissào que a ConstituicAo preve<br />

para recusa do Juiz mais antigo,<br />

logicamente assenta em<br />

pasciveis defeitos e insuficiencias<br />

do magistrado a ser promovido,<br />

nunca, porem, no seu born ou mau<br />

relacionamento corn algum ou alguns<br />

membros do Tribunal.»<br />

Ainda nessa parte, a denfmcia se<br />

ressente de falta de tipicidade. A<br />

carta foi escrlta, como consta do seu<br />

texto, a pedido do Julz Waldir Meuren.<br />

A motivacAo nela exposta nä°<br />

tern outra explicacão do que o excessivo<br />

e despropositado escrUpulo do<br />

denunciado.<br />

0 Desembargador nAo deve dar<br />

explicacOes acerca dos votos sigflosos<br />

que profere nas sesshes secretas<br />

do Tribunal. Contudo, as constantes<br />

da carta demonstram que o missivista<br />

deircou de indicar a promocAo 0<br />

Julz Meuren atendendo ao que the<br />

parecla do interesse do Tribunal.<br />

Entendeu que a maneira como esse<br />

Juiz vinha decidindo as canns de<br />

acidente do trabalho e a inimizade<br />

que mantinha corn fres Desembargadores<br />

desaconselhavam seu ingresso<br />

na Corte. Certa ou errada essa motivacAo,<br />

inspirada nAo foi ela em sentimento<br />

pessoal. E manifesta, nesse<br />

ponto, a falta de arrimo juridico da<br />

dentincia.<br />

5 — Consoante a dentincia, o Desembargador<br />

Jose Fernandes de Andrade<br />

e o causador hidireto de todos<br />

os acontecimentos que dão origem A<br />

acAo penal. Sogro do EscrivAo Lutz<br />

David, tornou-se inimigo dos J1.11ZeS<br />

que desencadearam o inquérito con-


28<br />

tra seu genro, recorrendo inclusive,<br />

a ameacas contra a Juiza Dra. Maria<br />

Carmen, esposa do Juiz Dr.<br />

Eduardo Andrade Oliveira, usando<br />

ate as armas da calUnia. Da mesma<br />

forma, inimizou-se corn o Dr. IrajA<br />

Pimentel porque, funcionando no<br />

processo-crime contra Luiz David,<br />

cortou a chicana e contribulu para<br />

que a ac ão penal prosseguisse coin<br />

rapidez, chegando ao seu final.<br />

a) Participou, como Relator, do<br />

julgamento da apelacAo do Oficial de<br />

Justica Jose Luiz da Silva, recentemente<br />

demitido a bem do servico<br />

mas amigo inseparAvel de<br />

Luiz David, e que fora condenado<br />

precisamente pelo Dr. IrajA Pimentel<br />

pena de 3 anos e 9 meses de reclusào,<br />

como incurs° nas sancoes do<br />

art. 171, pela prittica de dots crimes<br />

de estelionato, praticados em continuacAo,<br />

achando-se a pena exaustivamente<br />

fundamentada.<br />

Acontece que na mesma sessAo,<br />

serla julgado o habeas corpus de seu<br />

genro, o escrivAo Lutz David. NAo<br />

era possivel premiar a este com a<br />

concessAo da ordem, e, ao mesmo<br />

tempo, manter a pena imposta a Jose<br />

Luiz, que importava na perda da<br />

funcAo Mblica, jA que ambos estavam<br />

irmanados e empenhados na<br />

companha difamateria contra o Juiz<br />

'raj* Pimentel.<br />

Dai o voto que, como Relator, proferiu<br />

o Desembargador Jose Fernandes,<br />

que nAo pode ser considerado<br />

como simples error in judicando.<br />

Afirmou que o Juiz fixara a penabase<br />

em 2 anos e 6 meses, tau<br />

mato de cominacAo p<strong>revista</strong> no C6digo<br />

Penal. Ora, sendo as penas de 1<br />

ano, no minimo, e 5 anos, no mAximo,<br />

o grau medio seria 3 anos. Afirmou,<br />

a seguir, que nao poderia fazelo<br />

«pois somente em caso de reincid6ncia,<br />

art. 47 do COdigo Penal 6 que<br />

a pena sera fixada acima da metade<br />

da soma do minimo corn o mAximo».<br />

Proclamou assim outra inverdade,<br />

que nAo pode ser considerada erro,<br />

R.T.J. — 94<br />

mesmo porque a pena-base fora fixada<br />

aquem do grau medio.<br />

Ainda com o propesito de diminuir<br />

a pena, para evitar a perda da funcAo<br />

Mblica, entendeu que a torpeza<br />

e elementar do crime de estelionato,<br />

o que tambem nao a verdade.<br />

«Assim, de reducão em reducAo,<br />

para satisfazer sentimento pessoal,<br />

qual o de favorecer o amigo de seu<br />

genro, chegou a pena-base de 1 am e<br />

6 meses, a qual acresceu de 1/6, para<br />

chegar ao total de 1 ano e 9 meses,<br />

e assim nAo perder a funcAo p0blica,<br />

e, ao mesmo tempo, permitir o<br />

reconhecimento da prescricAo, o que<br />

serla impossivel se a pena fosse superior<br />

a 2 anos.»<br />

Da maneira como a descrito o julgamento<br />

da apelacão interposta pelo<br />

Oficial de Justica Jose Luiz da Silva,<br />

talvez tenha havido, realmente,<br />

error in judicando. Entretanto, na<br />

imputacAo do crime de prevaricacAo,<br />

tres sào as arestas que apresenta,<br />

nesse particular, a dentinal: a)<br />

nAo consta que o erro tenha sido proclamado<br />

pelo Supremo Tribunal Federal,<br />

mediante a interposicAo de rearm<br />

extraordlnario pelo Ministkrio<br />

PUblico, de maneira que, achando-se<br />

a decisAo, sob o pAlio da coisa julgada,<br />

defeso a alegar-se que foi proferida<br />

contra expressa disposivAo de<br />

lei; b) a decisão nAo 6 da autoria singular<br />

do Desembargador Jose Fernandes,<br />

para que s6 ele possa ser<br />

acusado por ela; c) inexIste relacão<br />

de dependència, ou, pelo menos, a<br />

denUncia nao a demonstrou, entre o<br />

processo a que respondeu o EscrivAo<br />

Luiz David; genro do Desembargador<br />

Jose Fernandes, por crime de<br />

concussAo, e a acAo penal instaurada<br />

contra o Oficial de Justica Jose Luiz<br />

da Silva, por crime de estelionato.<br />

As mencionadas arestas demonstram<br />

que falta a imputacao a tipicidade<br />

do delito de prevaricacAo.<br />

Narra, também, a denUncia que o<br />

Desembargador Jose Fernandes


f2^


30 R.T.J. — 94<br />

do confronto da narrativa da dentincia<br />

corn a figura delituosa definida<br />

no art. 319 do C6digo Penal, para o<br />

que, tambem, level em conta as respostas<br />

escritas oferecidas pelos acusados,<br />

no prazo de 15 dias, que flies<br />

bpi concedido, ex vi do art. 226 do<br />

Regimento Intern°. Esse prazo proporciona<br />

um contraditOrio vestibular<br />

que autoriza, inclusive, a rejeicao da<br />

deraincia pelo reconhecimento da<br />

improcedencia da acusacão Nesse<br />

passo, nao vejo diferenca entre o<br />

procedimento estabelecido pelo Regimento<br />

Interno para os processoscrimes<br />

da competencia originaria do<br />

Supremo Tribunal Federal corn o referente<br />

aos processos da competencia<br />

originaria dos Tribunals de Justica,<br />

e regulados no C6digo de Processo<br />

Penal, o qual e expresso no art.<br />

559 de que “se a resposta ou defesa<br />

previa do acusado convencer da improcedencia<br />

da acusacao, o relator<br />

propora ao Tribunal o arquivamento<br />

do processo».<br />

Em votes anteriores, salientei que<br />

o julgamento da improcedencia da<br />

acusacão nao pode ultrapassar a verificacao<br />

das provas de natureza inequivoca.<br />

Na especie sub judice nao<br />

ultrapassei essa balisa. De regra,<br />

alias, nem a tangenciei, pots me limitei<br />

a proclamar a inexistencia de<br />

crime na quase totalidade das imputacOes.<br />

As raras incursees que empreendi,<br />

pelas alegacOes e as provas<br />

apresentadas nas respostas escritas,<br />

objetivaram desfazer meras suposicties<br />

levantadas na denancia e totalmente<br />

afastadas pela defesa.<br />

8 — Ante o exposto, recebo a denfincia<br />

tao somente quanto ao fato<br />

vinculado a paralizacao da ApeIna()<br />

Civel n? 3.805, imputacao essa feita<br />

unicamente ao Desembargador Leal<br />

Fagundes e nao recebo a denfincia<br />

em relacao as demais acusacOes e<br />

aos outros denunciados, corn a maxima<br />

venia do veto proferido pelo eminente<br />

Ministro Cordeiro Guerra.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cunha Peixoto: Sr.<br />

Presidente, o eminente Procurador-<br />

Geral da ReptibIlea denunciou os Desembargadores<br />

Leal Fagundes, Jose<br />

Fernandes, Juscelino Rlbeiro e Heladio<br />

Monteiro pelo crime do art. 319<br />

do C6digo Penal. Esse delito<br />

caracteriza-se pelo retardamento ou<br />

°missal) indevida de atos de oficio ou<br />

pela aplicacao desses mesmos atos<br />

contra disposicao expressa de le1<br />

Como assinala Eusebio Gomes, o<br />

elemento moral do crime de prevaricacao,<br />

principalmente corn relacdo<br />

ao juiz, encontra-se na intencao de<br />

contrariar a lei. Dal haver Rivarolle,<br />

citado per Bent° de Faria, proclamado<br />

que se a lei nao ordena ou<br />

proibe expressamente o que foi aplicado<br />

ou omitido, embora virtualmente<br />

esteja nela contido, nao se configure<br />

esse delito. Por seu turno, outro<br />

grande escritor argentino, Soler, ensina<br />

que nao constitui o crime de<br />

prevaricacão, quando o juiz simplesmente<br />

julga contra a lei ou aplica<br />

equivocamente o direito. E, na verdade,<br />

assim e, porque, do contrario,<br />

toda vez que o Supremo Tribunal conhecesse<br />

de recurso pela letra a do<br />

permissivo constitutional, teria' que<br />

haver prevaricacao, porque o juiz ou<br />

os Tribunais estariam negando a vigencia<br />

de uma lei <strong>federal</strong>.<br />

Firmados esses principios e baseado<br />

nessas premissas, passarei a examinar<br />

os fatos narrados na denimcia,<br />

para corn elan estabelecer minha<br />

conclusào E adotarei um sistema<br />

diferente do seguido pelo eminente<br />

Ministro Soares Munoz: procurarei<br />

examinar primeiro os fatos que<br />

sari comuns a todos os denunciados e<br />

entre eles se encontra o de nao terem<br />

esses desembargadores dado<br />

sua adesao a promocao do Juiz Dr.<br />

Waldir Meuren, levados por sentimentos<br />

pessoais.<br />

Neste caso como assinalou o Ministro<br />

Soares Munoz, todos sac' de-


nunciados pelo mesmo fato, apenas<br />

acrescentando que o Desembargador<br />

HelAdio Monteiro escreveu uma carte<br />

ao Juiz em questAo. Ora, como<br />

tambUm assinalou com propriedade<br />

o Ministro Soares Muftoz, trata-se de<br />

UM julgamento secreto, em que se<br />

leva muito macs em conta o conhecimento<br />

que se tern do juiz.<br />

Jos6 Duarte, no seu Comenterios<br />

conerituicAo Brasileira, ensina que o<br />

dispositivo segundo o qual o Tribunal<br />

pode rejeitar juiz, por antigilidade,<br />

para ascender ao Tribunal de Justi-<br />

Ca, adveio da Emenda Milton Cam-<br />

P00-<br />

0 eminente Deputado e Professor<br />

masagAo propunha, no anteprojeto<br />

da ConstituicAo de 1946, que a prirneira<br />

promoctlo de julz, 05 se fizesse<br />

por antiguidade; as intermedIA-<br />

rias aiternativamente, e, pare o Tribunal,<br />

apenas por merecimento. E<br />

justificava o eminente Professor<br />

We, mites vezes, urn juiz correto,<br />

mas sem capacidade intelectual, poderia<br />

ascender a urn Tribunal superior.<br />

Dal ter Milton Campos apresen_<br />

tado emenda em que a promoclio seta,<br />

em todos os casos, alternadamente,<br />

por merecimento e antigftidade,<br />

podendo, entretanto, o Tribunal,<br />

por maioria, recusar o mats antigo,<br />

a fim de evitar que elementos, embora<br />

corretos, cumpridores de sells<br />

deveres, mas sem capacidade tritelectual,<br />

tivessem assento no Tribunal<br />

de Justice.<br />

EntAo, quando um Desembargador<br />

vote para a recusa ou nAo de um<br />

juiz, ele leva em conta, inclusive, o<br />

clue sabe sobre os dotes intelectuais<br />

do candklato. Como acentuava Milton<br />

Campos, nAo havla nenhum desdoiro<br />

de ordem moral na recusa;<br />

apenas de ordem intelectual.<br />

Ora, alem disso, pela carte do Desembargador<br />

HelAdio Monteiro, que<br />

se vft no processo, ele declarou, expressamente,<br />

que dots foram os motivos<br />

que o levaram a recusar o Ariz<br />

(e fala com 0 preprio Julz): primei-<br />

R.T.J. — 94 31<br />

ro, o interesse do Tribunal, para<br />

que, como declare o eminente representante<br />

do Minisaio Pfiblico, ndo<br />

haja o acrescimo da bancada. E, segundo,<br />

principalmente no tocante a<br />

acidente do trabalho nAo comungava<br />

corn seu ponto de vista —e,<br />

portanto, ate que ele se convencesse<br />

de ester errado, nAo estaria em condivries<br />

de the dar o voto.<br />

NAo vejo, no caso, vontade de agir<br />

contra disposicfto expressa em let e,<br />

portanto, fica afastada a prevaricacão.<br />

No tocante ao julgamento do<br />

habeas corpus, em que e hiteressado,<br />

Jos6 David de Freitas, denunciado<br />

por crime de concussão pelo fato<br />

de ter recebido custas a maior, 6 de.<br />

se assinalar que penalistas de renome<br />

entendem que, no Cdcligo Penal<br />

atual, nAo se aplica ease dispositivo<br />

aos oficiais de caraio, aos escrlvAes.<br />

Nelson Hungria chega a afirmar<br />

no seu ihrni, vol. 9?, da edicAo da<br />

Revista Forense, que este 6 urn dos<br />

graves defeitos do Cedigo Penal da<br />

FtepUblica, que substitulu o paragrafo<br />

5? do art. 135, do Cedigo Penal do<br />

Impftr io , afastando, cliz Nelson HUngria,<br />

a concussAo do funcionerio da<br />

Justice.<br />

Encontrei, pelo menos, dots ac6rdAos<br />

que seguem essa orientacflo;<br />

urn do Tribunal de Minas Gerais e<br />

outro do Tribunal de Stio Paulo.<br />

Por outro lado, o art. 18, do Dec-lei<br />

n? 115, de 1967, declare que s6 a punido<br />

penalmente o escrlvAo, na reincidftncia.<br />

Ora, trata-se de um decreto-lei<br />

com a mesma force, como asslnala o<br />

eminente Ministro Soares Muftoz, do<br />

C6digo Penal.<br />

Era, pots, natural que assim se entendesse,<br />

e quem esti cumprindo<br />

tuna lei nAo prevaiica.<br />

Este argumento serve também pare<br />

o habeas corpus de Paulo Rezende.


32 R.T.J. — 94<br />

A outra alegacAo feita a dots dos<br />

denunciados, Leal Freitas e Juscelino<br />

Ribeiro, a que ambos assistiram,<br />

sem ter procured° reagir, a uma de-<br />

Mamie ao Julz de primeiro grau do<br />

advogado que defendia o habeas<br />

corpus requerido a favor de Jost<br />

Garcia. Primeiro, se havia uma pessoa<br />

responsAvel por esse fato, evidentemente,<br />

s6 poderia ser o Desembargador<br />

HelAdio. Mas ele mesmo<br />

tomou a providkncia razcavel: em<br />

vez de chamar a atencAo do advogado,<br />

no momento, incorrendo na suspeita<br />

de cerceamento de defesa, resolveu<br />

remeter &pia das palavras<br />

do advogado ao Tribunal e ao Julz, o<br />

que serviu de base a tuna queixacrime<br />

contra o advogado. Outro ato<br />

de prevaricacAo: ter o Tribunal concedido<br />

habeas corpus também a esse<br />

advogado, por ter entendido que se<br />

tratava de crime contra a Seguranca<br />

Nacional e nAo crime comum.<br />

Ora, todos n6s sabemos que as penes<br />

referentes a crimes contra a seguranca<br />

national &to multo mats<br />

graves que as dos crimes ordinArios.<br />

Nenhum amigo remeteria, pots, para<br />

Tribunal Milner, como sendo de<br />

seguranca national,- um crime que<br />

poderia near na Justfea comum.<br />

E nAo a possivel !Wert dal que des<br />

o fizeram por bondade ou por amizade<br />

ao advogado.<br />

Outro fato 6 a suspensAo do process°<br />

crime em que a deramcia dedare<br />

que se vlolou o art. 93 do COWgo<br />

Penal. Ora, tratava-se de um caso<br />

grave. Quando li a denüncia, tive<br />

a impressAo de haver um erro de datilografia.<br />

Sti hit ver que estava certo,<br />

porque verifiquet que a defesa<br />

tambem reproduzia o fato.<br />

Diz a denfmcia: «Julgara o dr. Irajá<br />

Pimentel KA° de indenizacAo movide<br />

por Jose Garcia Ribeiro contra<br />

seu Irma° Edgard Garcia Ribeiro.<br />

Coneluta pela procedéncia da acAo<br />

e, por entender que o Autor usara<br />

documento f also, determinou a re<br />

messa de pecas do processo ao M1<br />

nisthrio PUblico, que ofereceu denhncia,<br />

devidamente recebidam. (Fl.<br />

172).<br />

Acho que a acão aqui jA devia ter<br />

sido suspense, pots se ele prOprlo<br />

ache que o documento corn que firma<br />

a sentence a (also, como a que<br />

dA uma sentence sem antes mandar<br />

apurar essa falsidade?.<br />

Ent49, chegam;lo ao Tribunal, yetificaram<br />

nAo ser possivel continuer a<br />

acAo civet, sem que se julgasce pmmetro<br />

a acAo penal. NAo vejo prevaricacAo<br />

no fato, nem em tese Quanto<br />

a suspeicäo do Desembargador<br />

Juscelino Ribeiro, a defesa explica a<br />

razAo de seu procedimento. Declare<br />

ter ele relactes normals com o advogado.<br />

A sua suspeicAo, na acão,<br />

ocorreu porque eta amigo dos diretores<br />

da Empresa OK. NAo importava<br />

mesmo que, em duas awes, figurando<br />

as mesmas partes, o Juiz se de<br />

por suspeito em uma e nAo na outra.<br />

Quantas vezes, ou por leviandade ou<br />

por qualquer motivo, o julz manifests<br />

antecipadamente sua opinião?<br />

Neste caso deve julgar suspeicão,<br />

não o fazendo na segunda.<br />

Quanto aos demais fatos, concordo<br />

corn o eminente Ministro Soares Munoz,<br />

da inexisthncia do crime, exceto<br />

na parte relative ao Desembargador<br />

Leal Fagundes, em que S.Ext! recebe<br />

a dentmcia, por retardamento no Niger/lento<br />

do apelo. Delzei para o fim<br />

o exame desta matkria e, data verde<br />

de S.Exa., tambem aqui recuso a denüncia.<br />

Acho que a explicacAo dada<br />

pelo Juiz 6 razoAvel. Se nAo 6 urn<br />

modelo — e eu nAo apoio, podendo<br />

falar de cAtedra, porque, fellzmente,<br />

sempre mantive meu servico em<br />

dia, em todos os <strong>tribunal</strong>s em que já.<br />

estive — entretanto, ele explica o retardamento<br />

da maneira seguinte: a)<br />

o Dr. Juiz prolator da sentence foi<br />

averbado de partial, em favor do<br />

réu da demanda, o qual já teria suborned°<br />

um outro juiz demitido pelo<br />

41-5, bem como testemunhas da<br />

mesma demanda; b) tal averbacAo


feita pelos advogados, alem de argdida<br />

na defesa oral do HC 1.715, e<br />

objeto de excecao da verdade levantada<br />

em feito pendente, como provain<br />

as respectivas pecas em anexo•<br />

c) diante de noticia tao grave, achou<br />

de born alvitre aguardar a apuracao<br />

criminal dos fatos imputados ao Dr.<br />

Aft, ate 'porque a sentenca penal, se<br />

confirmathria da excecAo da verdade,<br />

acarretaria a nulidade da sentenca;<br />

d) a apelacäo 3.805 estã suspena<br />

portant°, por esses relevantes<br />

fundamentos.<br />

Sr. Presidente, por ease motivos, e<br />

principalmente pelos emitidos pelo<br />

eminente Ministro Soares Mtuloz,<br />

que fez uma anAlise rigorosa e detalhada<br />

de cada fato apontado como<br />

criminoso, eu tamb6m, data venla<br />

do eminente Ministro Relator, rejeito<br />

a denfmcia, mas totalmente, iito<br />

e, corn relacko a todos os denunclados.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Mastro Leith() de Abreu —<br />

Sr. Presidente, peso v6nia ao eminente<br />

Relator para rejeitar a dentineta<br />

quanto aos Desembargadores<br />

Juscelino Jose Ribeiro, Heladio Toledo<br />

Monteiro e Jose Fernandes de<br />

Andrade.<br />

Quanto ao denunciado Jose Jiilio<br />

Leal Fagundes, peso vista.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

ATM 253 — DF — Rel.: Min. Cordeiro<br />

Guerra. Autor: Ministkrio PObile°<br />

Federal. Ilkus: Jose Jfilio Leal<br />

Fagundes. (Adv: Josè Bonifficio Diniz<br />

de Andrada): Jose Fernandes de<br />

Andrade. (Adv: José Bonifãcio Diniz<br />

de Andrada); Ju, Mina Jose Ribeiro<br />

(Adv: Fernando Neves da Silva) e<br />

Helidio Toledo Monteiro. (Adv: Carlos<br />

Roblchez Penna).<br />

DecisAo: Pedlu vista o Ministro<br />

Leith() de Abreu, ap6s os votos dos<br />

Ministros Relator que recebe a de-<br />

R.T.J. — 94 33<br />

nimcia contra todos os acusados, do<br />

Ministro Soares Munoz que a recebe,<br />

em parte, apenas contra o acusado<br />

Jose Julio Leal Fagundes, e do Ministro<br />

Cunha Peixoto que a rejeitava<br />

por inteiro.<br />

, Presidéncia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores, Presentes A Sesos<br />

Srs. Ministros Djaci Falcao,<br />

Antonio Neder, Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Alcinnin, Leith° de<br />

Abreu, Cordeiro Guerra, Moreira Alves,<br />

Cunha Peixoto e Soares Mufloz.<br />

— Procurador-Geral da Reptiblica o<br />

Prof. Henrique Fonseca de AraCijo.<br />

Brasilia, 26 de abrll de 1978 —<br />

Alberto Veronese Agular, Secretiriot<br />

EXPLICACAO<br />

0 Sr. Mastro Cunha Peixoto: Sr.<br />

Presidente, desejo dar uma explicacao.<br />

Eu s6 näo afirmei que seria ou po-<br />

deria ser um equivoco, um erro de<br />

datilografia, porque a defesa reproduziu<br />

a proceancia. Entlio, achei<br />

que näo havia erro. Dal a irdnha<br />

afirmativa, porque semi° feria dito<br />

que era erro de datilografia, Pas, na<br />

verdade, nit° teria sentido a pronedéncia<br />

da acão.<br />

VOTO (VISTA)<br />

0 Sr. Ministro Lena° de Abreu —<br />

Por sentenca de 20 de maio de 1974,<br />

o Juiz 'raja Phnentel julgou improcedente-<br />

acko ordlnaria de indeinzacilo<br />

proposta por Jose Garcia Ribeiro<br />

contra Edgard Garcia !Metro. 0<br />

autor-sucumbente apelou e sua apelack°<br />

foi distribuida ao Desembargador<br />

José JOlio Leal Fagundes, em<br />

19.2.1975, corn o liftmen) 3.805.<br />

Ao julgar improcedente a acão ordinMia<br />

o juiz prolator da sentenca<br />

deterrninou a extracao de pecas e o<br />

seu envio ao Ministkrio Pablico, e este<br />

instaurou acão penal contra Josè<br />

Garcia Ribeiro e outro.


Ao Tribunal de Justice do Distrito<br />

Federal, o advogado Pedro Maurino<br />

Calmon Mendes pediu ordem de<br />

habeas corpus em favor de Jose<br />

Garcia Ribeiro, e a ordem foi concetilde<br />

para sobrestar a acao penal,<br />

ate o julgamento definitivo da acao<br />

ordineria de indenizacao, entao em<br />

grau de apelacao (Apelacdo n?<br />

3.805). Julgaram este pedido de<br />

habeas corpus, de nfimero 1 715, os<br />

Desembargadores Juscelino Ribeiro<br />

(Relator) Heladio Monteiro e Leal<br />

Fagundes.<br />

Na sessao de julgamento deste<br />

habeas corpus, o advogado Pedro<br />

Maurino Calmon Mendes fez sustentack)<br />

oral. Em face dos termos desta,<br />

o juiz Iraja Pimentel — prolator<br />

da sentence na acao ordineria de indenizacao<br />

— sentiu-se ofendido em<br />

sua honra Representou ao Ministerio<br />

Pfiblico, e este ofereceu denfincia<br />

contra o advogado, por crime de call:111M.<br />

1k-se desta denfincia:<br />

«Durante o julgamento desse<br />

habeas corpus, no dia 11 do corrente,<br />

perante os ilustrados Desembargadores,<br />

Representantes do Ministerio<br />

PUblico, advogados e demais<br />

circunstantes, o denunciado,<br />

em sues razOes orals, deixou de lado<br />

o exame dos fundamentos de fato<br />

e de direito da pretensäo do seu<br />

constituinte e, dolosamente, passou<br />

a investir contra a honra de diversas<br />

autoridades constituidas da<br />

Justice local, atacando, especialmente,<br />

o Dr. Iraje Pimentel, em<br />

raid() de suas funcdes, como Magistrado<br />

caluniando-o, por diversas<br />

vezes ao atribuir-lhe, falsamente,<br />

a prance do crime de prevaricacao.<br />

Assim, referindo-se ao julgamento<br />

da mencionada acao de indenizacao<br />

sustentou: "Posteriormente,<br />

assumiu o feito o Dr. Iraje<br />

Pimentel, na qualidade de Juiz<br />

Substituto.<br />

«Falava-se muito na derrota do<br />

paciente, face a amizade existente<br />

R.T.J. — 94<br />

entre aquele Juiz e Edgard Garcia<br />

Ribeiro, a ambos ligados a assuntos<br />

de fazenda, pecuaria e outros,<br />

no vizinho municipio de Luziania e<br />

na Capital da Reptiblica.<br />

«0 paciente, homem pobre, humilde<br />

e fad°, nä° dispondo de<br />

melos para movimentar qualquer<br />

processo ou incidente de suspeicao<br />

daquele Juiz, aguardou humildemente<br />

a sentence do feito (pag<br />

62).<br />

«Afirmando o denunciado que o<br />

ofendido nao se deu por suspeito,<br />

quando deveria faze-lo e, sabendo,<br />

ainda, inexistir a alegada amizade<br />

entre o Juiz e Edgard Garcia Ribeiro,<br />

atribuiu-lhe, falsamente,<br />

omissao de ato de oficio, fato este<br />

previsto como crime, nos termos<br />

do art. 319 do Codigo Penal Brasileiro.<br />

- «A respeito, deve ser ressaltado<br />

que o autor da referida demanda<br />

sempre foi assistido por advogado<br />

e este jamais excepcionou a suspeicao<br />

do ofendido.<br />

«Persistindo po concurso formal<br />

de delitos, alegando, falsamente, a<br />

parcialidade do ofendido, na conduck'<br />

da causa, o denunciado tambem<br />

o acusou de reter os autos indevidamente,<br />

nos seguintes termos.<br />

Mas, Senhores Desembargadores,<br />

o Dr. Iraje Pimentel se apoderou<br />

do processo por quase dois<br />

anos para proferir a sentence definitive.<br />

Durante este tempo, Edgard<br />

Garcia Ribeiro se desfazia dos<br />

seus bens, mOveis e imeveis, inclusive<br />

os de fundo de negócio:<br />

«transformou a razao social de<br />

sua firma e, temeroso de uma derrota,<br />

vendeu o supermercado 'Serve<br />

Bern' para o supermercado Pao<br />

de Acucar Jumbo (f. 62).<br />

Mais uma vez, o denunciado imputou,<br />

falsamente, ao ofendido a


prática do crime de prevaricacno"<br />

( fls. 364-365).<br />

0 advogado-denunciado opts excecao<br />

verdide. Arrolou testemunhas<br />

e pedlu a remes ta dos autos ao Tribunal<br />

de Justisa (C.P.P., artigo 85).<br />

Ao que me parece, a excesão nä°<br />

foi ainda apreciada pelo Orono JudiciArio<br />

competente pare tanto.<br />

Diante de tais circunstiincias, tenho<br />

por razoável a justificativa apresentada<br />

pelo Desembargador Leal Fagundes,<br />

que releio ao Tribunal.<br />

sNo que respeita a Apelactio<br />

Civet 3.805, da qual sou o Relator,<br />

tenho a honra de remeter a<br />

Vossa Exceltncia, também em<br />

yeas°, a reproducsno fiel de todas<br />

as pecas dos respectivos autos,<br />

corn o esclaracimento (clue<br />

ja fiz, verbalmente, ao eminente.<br />

Desembargador Presidente do<br />

nosso Tribunal) de que o respectivo<br />

julgamento ainda nno foi levado<br />

a efelto, porque: a) o Dr.<br />

Adz prolator da sentenca foi<br />

averbado de partial, em favor do<br />

rcsu da demanda, o qual ja teria<br />

subornado outro juiz, demitido<br />

pelo A.I.-5, bem como suborned°<br />

testemunhas da mesma demanda;<br />

b) tal averbacito fefta Vor advogado,<br />

atêm de arguida, na defesa<br />

oral do H.C. n? 1.715, S objeto<br />

de mown° da verdade, levantada<br />

em test criminal pendente,<br />

como comprovam as respectivos<br />

pecas, em anexo; c) climate de<br />

noticias tão graves, achei de bom<br />

alvitre aguardar a apuractto criminal<br />

dos fates Imputados ao Dr.<br />

Juiz e as testumenhas, ate porque<br />

a sentence penal, se confirmattes<br />

da excesilo da verdade,<br />

acarretaria a nulidade da sentence<br />

civet d) a Apelacito Civet n?<br />

3.805 est& suspensa, portanto, por<br />

esses relevantes tundamentos, e<br />

ate porque a mora n8o prejudica<br />

as partes, que, como se ve dos<br />

R.T.J. — 94 35<br />

autos reproduzidos, nenhuma reclamacão<br />

fizeram" (f. 362).<br />

Senhor Presidents, pelos fundamentos<br />

dos votos do eminente Ministro<br />

Soares Munoz, Relator, e do preclam<br />

Ministro Cunha Peixoto, já rejeftei<br />

a denturcia, na sessalo plemiria<br />

de 26 Ultimo, no tocante aos denunclados<br />

Desembargadores Juscelino<br />

Jost Ftibeiro, Heltylio Toledo Monteiro<br />

e Josè Fernandes de Andrade.<br />

Data yenta do eminente Relator, rejeito,<br />

agora, a dentmcia em relactio<br />

ao Desembargador Jost alto Leal<br />

Fagundes, acompanhando, nesta<br />

parte, o voto do Ministro Cunha Peixoto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

APn 253 — DF — Rel., Min.<br />

Cordeiro Guerra. Autor: Ministkrio<br />

Pterftco. Rtus: Josè JOlio Leal<br />

Fagundes. (Adv.: Jost BonifActo Diniz<br />

de Andrade); Jost Fernandes de<br />

Andrade. (Adv.: Jost Bonn:trio Diniz<br />

de Andrade); Juscelino Josè Metro<br />

(Adv.: Fernando Neves da Silva) e<br />

Heltidlo Toledo Monteiro. (Adv.: Carlos<br />

Roblchez Penns).<br />

Decisito: Pediu vista o Ministro<br />

Rodrigues Alckmin,aptis osvotos dos<br />

Ministros Relator que recebe a denUncla<br />

contra todos os acusados, do<br />

Ministro Soares Munoz que a recebe,<br />

em parte, apenas contra o acusado<br />

Jost Julio Leal Fagundes, e dos MInistros<br />

Cunha Peixoto e Lena° de<br />

Abreu que a rejettavam por inteiro.<br />

Presidencla do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes 8<br />

SessAo os Srs. Ministros Djaci FalcAo,<br />

Antonio Neder, Xavier de<br />

Albuquerque, Rodrigues Alckmin,<br />

Leittio de Abreu, Cordeiro Guerra,<br />

Morejra Alves, Cunha Peixoto e Soares<br />

Munoz. — Procurador-Geral da<br />

Reptlblica o Prof. Henrique Fonseca<br />

de Aradjo.<br />

Brasilia, 4 de mato de 1978 —<br />

Alberto Veronese Agular, Secretirio.


36 R.T.J. — 94<br />

VOTO (VISTA)<br />

O Sr. Ministro Rodrigues Alckmin:<br />

1. — A dentmcia atribui, a quatro desembargadores,<br />

crimes de prevaricacao.<br />

«em pratica continuada* (f.<br />

192), corn a observacao de que os fatos<br />

ha° le ser apreciados ern conjunto<br />

pots «se interliganm, «deles emergindo<br />

o dolo especifico, ou sej a, a satisfacao<br />

de interesse ou sentimento<br />

pessoalo.<br />

Pretende-se, em suma, que a propria<br />

reiteracao das condutas<br />

delitivas indicaria a existência de<br />

dolo especifico, a par das circunstancies<br />

que envolverd cada fat°. Estes<br />

circunstanclas, portanto, devem ser<br />

examinadas porque ao Supremo<br />

Tribunal Federal cabe, regimentalmente,<br />

quando do recebimento da<br />

denancia, macs ample margem de<br />

exame que aquela p<strong>revista</strong> no art. 43<br />

do COdigo de Processo Penal. NIAo<br />

fora assim, razao nä° haveria para<br />

abrir-se, antes de deliberacao sobre<br />

o recebimento da denfmcia, oportunidade<br />

de defesa.<br />

2. Ainda que, ern princfpio, nao se<br />

exclua a possibilidade da prance de<br />

crime de prevaricacao por parte de<br />

julz, desde logo 6 de considerar que<br />

se a fundada suspeita de parcialidade,<br />

deduzida de certos fatos<br />

(amizade intima, inimizade capital)<br />

permite afastar do processo 0<br />

magistrado (COdigo de Processo Civil,<br />

art 135; COdigo de Processo<br />

Penal, art. 254) 6 ela insuficiente, como<br />

simples suspeita, para compor o<br />

elemento subjetivo do crime de prevaricacao.<br />

Cabe observer, em segundo Lugar,<br />

que em cada acao que se pretenda<br />

criminosa cumpre ver a presence<br />

dos elementos do tipo: a conduta<br />

omissive ou comissiva «contra expressa<br />

disposicao de lelD, determinada<br />

pelo elemento subjetivo de<br />

satisfacao de sentimento pessoal explicitamente<br />

indicado em cada caso.<br />

Corn essas consideracdes, devo<br />

examiner as multas imputacdes<br />

constantes da dentincia.<br />

— A primeira acao que constituiria<br />

o delito do art. 319 seria o<br />

julgamento do Habeas Corpus,<br />

impetrado a favor de Lutz David de<br />

Freitas, genro de um desembargador.<br />

0 writ fol concedido. E<br />

haveria condutas contraries a disposicao<br />

expressa de lei, para satisfazer<br />

a sentimento de amizade.<br />

0 relator do acerdao tot o Des.<br />

Heladio Monteiro. 0 paciente fora<br />

condenado pelo crime de concussao,<br />

porque recebera custas em excesso.<br />

O relator, corn largo exame de doutrine<br />

e dos fatos, considerou que nao<br />

houve «exigencia» de custas. 0 simples<br />

recebimento delas em excesso<br />

nao seria ilicito penal. Invocou licao<br />

de Hungria. Invocou julgados. Ora,<br />

errenea que seja a concessão da ordem,<br />

qual a disposicao expressa de<br />

lei que tal concessao afrontara? A<br />

que define o crime de concussao? 0<br />

erro de direlto nao 6, soft por so,<br />

ofensa a expressa disposicao legal.<br />

Interpreter a lei, afirmando que onde<br />

ela diz exigir, nao se ref ere a<br />

peak ou receber, nao 6 contraria-la<br />

em sua literalidade. E se o habeas<br />

corpus nao comportava exame de fatos<br />

e proves, em profundidade, essa<br />

vedacao nao 6 estabelecida por expressos<br />

parametros legais. Quando 0<br />

magistrado entende nao provada a<br />

pratica de ato criminoso e absolve o<br />

reu, evidentemente nao decide «contra<br />

expressa disposicão de lei»,<br />

ainda que errOnea a decisao. hläo se<br />

configure, assim, nessa acusacáo<br />

constante da dentIncia, o delito do<br />

art. 319 do COdigo Penal.<br />

— Tomou parte nesse mesmo<br />

julgamento o Des. Leal Fagundes. A<br />

ele se atribui prevaricacäo porque,<br />

além do teor do voto, estaria impedido<br />

de JuIgen Como corregedor, je se<br />

manifestara sobre estar o serventuarlo<br />

somente a punicao<br />

discipliner. NA° dlz a denuncia qual


a expressa disposicAo de lei que estabeleceria<br />

em tal caso impedimento.<br />

Nao hA. A manifestactio funcional<br />

do corregedor, em sede discipliner,<br />

at° constitute impedimento de participar<br />

do julgamento criminal. Os impedimentos<br />

sac) de direito estrito. A<br />

conduta descrita na denUncia nAo configure<br />

crime de prevaricacão.<br />

5. — Passo ao exame de denUncia<br />

no tocante a crimes de prevaricacão<br />

que terlam ocorrido no julgamento<br />

de habeas corpus impetrado a favor<br />

de Jost Garcia Rlbeiro.<br />

Numa demanda entre este e o Irma°,<br />

a sentence, que a Julgou improcedente,<br />

determinou remessa de c6pia<br />

a Juiz de Vara Criminal para<br />

que se impulsionasse contra o demandante<br />

processo por denunciaclio<br />

calunlosa. Mats, teve que o autor deveria<br />

responder pelo crime de falsidade.<br />

Proferida a decisAo a 20 de maio<br />

jit na mesma data se enviava cepia<br />

dela ao Juiz . da 3! Vara Criminal,<br />

devendo dar-se (dizia o Juiz do<br />

Civet) «vista ao douto representante<br />

do Ministerio POblico pare o fim nela<br />

declarado». E tambem era remetida<br />

cOpia ao Procurador-Geral<br />

da Justice. Houve apelacão da sentence<br />

civet (Apel. n? 3.805).<br />

Contra acAo penal que assim se<br />

iniciou fol impetrado o Habeas<br />

Corpus n? 1.715.<br />

Fol relator dele o Des. Juscelino<br />

Ribeiro.<br />

E ai, visto que o procedimento penal<br />

se originara de determinacilo de<br />

setenca civil pendente de exame em<br />

apelacAo no habeas corpus se determinou<br />

que esse procedimento<br />

aguardasse o julgamento da aludida<br />

apelacAo. Pots se a sentence civil<br />

concluiu pela existencia de proves<br />

ou indicios de crimes por parte de<br />

um dos litigantes; e se houve apelaclio<br />

contra essa sentence, nä° he<br />

texto legal contrariado com essa<br />

R.T.J. — 94 37<br />

determinacAo. Atende, digo A consideracão<br />

de que sentence sujelta a<br />

recurso pode ser reformada na segunda<br />

instAncla. NAo tern valor<br />

atual.<br />

A conclusào de que um dos litigantes<br />

cometera crime 6 apreciacito<br />

submetida ao crivo da instAncia de<br />

recurso. Somente depois disso a que<br />

o efeito da sentence deveria<br />

manifestar-se. Iniciada desde logo<br />

evil° penal corn apolo em apreciacAo<br />

feita em acAo civil ainda nAo definitivamente<br />

decidida, a sustacAo da<br />

acAo penal se conforta na consideracAo<br />

de que a sentence civil apelada<br />

6 ato sem Okada juridica porque<br />

sujelto ao Implement° de conclicAo<br />

suspensive: a confirmacão.<br />

A decisAo desse habeas corpus,<br />

que apareceu tAo estranha A dentmcia,<br />

nAo desatendeu portanto a qualquer<br />

expresso mandamento legal. Antes,<br />

ao que me parece, considerou acodada<br />

a medida tomada pelo JulZ do<br />

Civet, que nao aguardara a aprecicAo<br />

da sentence apelada, no segundo<br />

grau de jurisdicAo, para as providen.<br />

cies que tomou. NAo vejo, pots, como<br />

qualificar essa decisAo do acerdAo<br />

do Habeas Corpus, n? 1.715, pelo seu<br />

teor como crime de prevaricacAo.<br />

Nem se indicam fatos demonstrativos<br />

de qualquer sentimento pessoal<br />

que motivasse a decisAo tomada.<br />

6. — No julgamento desse habeas<br />

corpus (julgamento presto:lido pelo<br />

Des. Leal Fagundes) se pretende<br />

existente crime de prevaricacAo porque<br />

ao advogado Calmon se permitiu<br />

sem cassar-the a palavra, ofensa A<br />

honra do Juiz Irajit Pimentel,<br />

gravando-se a sustentacAo e<br />

prorrogando-se o prazo dela.<br />

Quals as °tenses irrogadas ao<br />

Juiz? AcusacAo de parcialidade, de<br />

agiotagem, de falsificacAo de documentos,<br />

de retardamento em Alger<br />

o processo. Ora, nem hA texto legal<br />

que proiba graver sustentacees,<br />

ou que se tome improrrogAveis por<br />

minutos, ate que se completem os


38 R.T.J. — 94<br />

argumentos, o que é de prAtica geral<br />

nas assentadas de julgamento: nem<br />

o fato de o advogado tachar o juiz de<br />

parcial para retirar o valor probante<br />

ou a eficacia de afirmacOes por ele<br />

feitas em sentenca, apontando fatos<br />

indicativos de parcialidade, induziria<br />

crime de prevaricacdo por parte do<br />

presidente da Turma que admitiu tal<br />

sustentacAo. 0 Julz de Direito, em<br />

sentenca civil, assim se referiu ao<br />

paciente Josè Garcia Ribeiro: 0W-se<br />

então, a mais disso, que o autor<br />

useiro e vezeiro em desaparecer corn<br />

os meios de prova capazes de<br />

contrariar-lhe os interesses, alèm de<br />

ser urn contumaz falsificador de documentos,<br />

cuja perigosidade criminal<br />

haverA de motivar acentuadamente<br />

as autoridades policials e<br />

judiciais ern surpreender os seus crimes,<br />

pois tais expedientes jA estAo a<br />

afrontar grosseiramente o prestiglo<br />

da Justica» (sentenca na Apel. Civ.<br />

n? 3.805).<br />

0 advogado da parte assim acusada<br />

acoimou, por sua vez, o juiz de<br />

ser parcial ou de praticar atos desnbonadores.<br />

Ouvir tais acusacees e<br />

mandA-las encaminhadas ao<br />

competente para apreciA-las; infundadas<br />

que o sej am, nap levam a<br />

configurar crime de prevaricacAo<br />

por parte da Turma julgadora. NAo<br />

se trata, ai, de injarias proferidas<br />

contra magistrado, mas de acusacdes<br />

de faltas funcionais ou de faltas<br />

morals e de parcialidade no julgamento<br />

de causa. E nAo hA confundir<br />

estas acusactres, que podem<br />

interessar A defesa como elementos<br />

dela, corn as injfirias ou doestos, que<br />

em nada a auxiliam, e que devem<br />

ser prontamente reprimidas. Destas,<br />

nenhuma reproduz a denOncia.<br />

Inadmissivel, assim, ver nessa<br />

conduta dos julgadores como descrito<br />

na denfmcia, o crime de prevaricacAo.<br />

7. — Diz-se que, ao julgar habeas<br />

corpus impetrado pelo advogado Pedro<br />

Calmon Mendes, relativo a acão<br />

penal que the moveu o jut IrajA P1mentel<br />

diante das acusacees que o<br />

mesmo advogado assacou contra o<br />

juiz, cometeram crime de prevaricacão<br />

os desembargadores Juscelino<br />

Ribeiro, HelAdio Monteiro e Leal<br />

Fagundes. 0 crime de prevaricacAo<br />

estaria em que esses Juizes reconheceram<br />

erroneamente a competëncia<br />

da Justica Militar para processar e<br />

julgar a espêcie. Ora, parece evidente<br />

que o erro ern qUalificar o delito<br />

em nada encerraria o elemento subjetivo<br />

(o sentimento pessoal de favorecer<br />

ao paciente, por amizade),<br />

pois corn a admissAo da existencia<br />

de crime contra a seguranca national,<br />

o paciente nAo seria beneficlad°<br />

corn o reconhecimento da incompet8ncia<br />

da justica comum.<br />

Antes, se quisessem agir para favorecer<br />

ao paciente ou para prejudicar<br />

ao ofendido, não teriam razAo<br />

para recursar a prepria competëncia,<br />

reconhecendo a de outra Justica,<br />

cuja imparcialidade em nada<br />

favoreceria a tais designios. E o<br />

habeas corpus visou a obter Julgamento<br />

impartial ern primeiro<br />

grau, sendo evidente que tal finalidade<br />

nAo se ajusta A da prevaricacao.<br />

8. — Alega-se existente crime de<br />

prevaricacão no julgamento de<br />

apelaclio de Raimundo Bernardo de<br />

Lima. E que desejosos de absolver a<br />

este co-it/ de Luiz David, se procedeu<br />

o julgamento nulo, corn a presenca<br />

do Subprocurador-Geral impedido,<br />

homologou-se pedido de desisténcia<br />

de extensAo de ordem de<br />

habeas corpus e nAo se aguardou julgamento<br />

de extraordinArlo interpose<br />

to de decisào concessiva do writ a<br />

Luiz David. Ainda aqui nAo se<br />

aponta texto algum de lei que impusesse<br />

conduta comlssiva contrAria<br />

aos julgadores. A omissão de intimacAo<br />

da data do julgamento o Subprocurador<br />

desempedido nAo corre<br />

A conta dos Juizes. E neste Supremo<br />

Tribunal, dots eminentes Ministros


consideraram regular o julgamento,<br />

ausente embora o representante do<br />

Ministerio Pitblico. Impossivel pretender<br />

que o entendimento contrariava<br />

a prepria lei.<br />

E ainda nAo cabe a estranheza<br />

quando a ter urn dos julgadores, que<br />

puniria administrativamente o apelante,<br />

considered° insuficiente as<br />

proves para a condenacAo criminal,<br />

quando expressamente ponderou que<br />

as irregularidades nAo extravasam<br />

no 'licit° puramente administrativo»<br />

quando pelas proves colt/Ides na<br />

ado penal 6 que o reu havia de ser<br />

Julgado. Nilo, pelas que, produzldas<br />

no Ambito administrativo, bastaram<br />

a outra punlcAo.<br />

9. — Atribuiu-se ao Des. José Fernandes<br />

prevaricaerio no julgamento<br />

de apelacAo criminal do oficial de<br />

Justice Jose Lutz da Silva Fllho. Teria<br />

erroneamente fixed° a pena e teria<br />

erroneamente reconhecidb a<br />

prescriello. Trater-se-ia, pela sentence,<br />

de crime de estelionato continued°.<br />

0 Juiz fixou a pena ao crimthoso<br />

prbnario, guardando-a "sopesando<br />

as circimstlinclas judicials»<br />

em dois anos e sets mews de reclusAo.<br />

Admitiu existente a agravante<br />

da torpeza (sem dizer em que consistiria),<br />

que compensou corn a<br />

atenuante da reparacAo do dano.<br />

Isto, a firraeAo da pena- base, que<br />

acabou majorada, pela continuacAo<br />

para trey arms e nove meses de reclusAo.<br />

Dots pedidos de habeas corpus foram<br />

apresentados a favor do reu.<br />

Ambos foram denegados, unanimemente,<br />

sendo relator do primeiro<br />

Des. Leal Fagundes e votando, no<br />

segundo, o Des. Fernandes. Mas o<br />

Supremo Tribunal deu provimento<br />

ao recurso ordinArio interposto no<br />

segundo habeas corpus. Repenu o<br />

Juiz a sentence condenateria e, em<br />

apelacAo, a pena se reduziu a 1 anos<br />

6 meses de reclusAo, acrescida de<br />

um sexto. Pode-se acaso ver prevailcacao<br />

em Macao de pena dentro de<br />

R.T.J. — 94 39<br />

limites legais? A resposta negative<br />

se impire, A evidencia. E a prescricAo<br />

ocorreu, pots a sentence con- •<br />

denateria, a que se teria referido a<br />

dentincia como interruptive da preserica°,<br />

tot anulada pelo Supremo<br />

Tribunal Federal, não constitul prevaricacAo<br />

o tato constante da de-<br />

!Kumla.<br />

— Alega-se que o Des. Fernandes<br />

prevaricou, ao participar de julgement°<br />

de lnteresse do escrivAo<br />

seu genro. Votou contra a pretensAo<br />

de sociedade de economia mista, que<br />

se queria isenta de custas, em 1974 e<br />

em 1975. NAo era parte no processo 0<br />

genro do Juiz. Nenhum texto legal<br />

imptmhe ao desembargador afastarse<br />

dos julgamentos. Poderia fazt-lo<br />

por motivo do foro intim°. NAo, por<br />

determinacAo legal. NAo houve, pots;<br />

conduta contra expressa disposlcilo<br />

de lei. Nilo descreve, a derdincia ,<br />

prevaricacilo.<br />

— Alega-se que o Des. Juscelino<br />

Ribeiro cometeu crime de prevaricaeAo<br />

porque, em acAo civet, se<br />

deu como suspelto para Julgar apela-<br />

NI° interposta pelo advogado Re-<br />

zende Costa. Mas, como o Juiz IrajA<br />

Plmentel, que Julgara essa Lica°<br />

dye!, fizera extrair pelas dos autos<br />

para que fosse processado o mesmo<br />

advogado, participou do julgamento<br />

do habeas corpus visando ao<br />

cement° dessa acAo penal. ExplicacAo<br />

do imputado: declarou-se suspeito<br />

na acAo civil porque amigo<br />

intimo dos proprietArios e prepostos<br />

da gRenovadora de Pneus», parte na<br />

demanda. NAo era suspelto no<br />

habeas corpus porque nAo tinha relacdes<br />

de Intima amizade cam o reu,<br />

advogado Rezende Costa.<br />

Evidente a inexistencta de crime<br />

de prevaricacAo, no ponto. NAo<br />

aponta, a dentmcia, fato algum demonstrativo<br />

de amizade intima entre<br />

Juiz e paciente. Nem tern cabimento<br />

admitir que, depots do Julgamento, a<br />

simples alegacito de amizade entre


40<br />

julgador e parte justifique se instaure<br />

processo por prevaricacão.<br />

— Pretende-se que o Des. Juscelino<br />

foi autor de crime de prevaricacão,<br />

ao conceder habeas corpus ao<br />

escrevente Paulo Rezende, que se<br />

apropriara de custas. Concedeu-se a<br />

ordem porque teria havido cerceamento<br />

de defesa por falta de processo<br />

administrativo (Pasta 7). E impossivel<br />

era o processo, porque o escrivão<br />

ja demitira o escrevente Mas<br />

a concessão da ordem se fundou em<br />

que igual medida se adotara, com<br />

relagão ao «titular Luiz Roberto Passant»<br />

(f. 417) e em que a lei (DI.<br />

115/67) assim o exigia. ErrOnea que<br />

seja a decisào, omitiu a demincia esclarecer<br />

qual o sentimento pessoal a<br />

que visaria a concessAo dessa ordem,<br />

apontando demonstracties de<br />

amizade Wilma que pudessem determinar<br />

deliberada parcialidade no<br />

julgamento a favor do paciente.<br />

R.T.J. — 94<br />

— Ao Des. HelAdio Monteiro se<br />

atribui prevaricacAo ao nAo ter indicado<br />

juiz a promocAo. Ora, a indicacAo<br />

a promocAo ou o veto ao juiz<br />

mais antigo 6 urn julgamento de<br />

consciencia. IslAo e motivado. 0 juiz<br />

recusado pediu ao desembargador<br />

que expusesse as razOes da recusa.<br />

E o desembargador o fez, dizendo<br />

que nAo concordava com o criterio<br />

adotado pelo juiz no julgamento de<br />

determinadas news (apontava, pots,<br />

o que the parecia falha funcional do<br />

magistrado) e porque o juiz (este, o<br />

principal motivo) confessava ter intmizade<br />

corn tres dos desembargadores<br />

do Tribunal, inimizade que seria<br />

prejudicial a pr6pria instituicao. A<br />

declaracdo, em panto algum, revela<br />

motivo outro que o de zelar pela instituicao,<br />

na recusa ao sufrAgio do nome<br />

do juiz. E acertado ou nä° que<br />

fosse o motivo, nä° corresponde,<br />

evidencia, a ideia de satisfazer a<br />

sentimento de amizade ou de Adio.<br />

Impossivel lobrigar, em tal atitude,<br />

o crime de prevaricacAo, vistos os<br />

termos da pr6pria dentmcia.<br />

14. — Chego ao f ato que se atribui,<br />

como prevaricacão, o Des. Leal Fagundes;<br />

ter mantido sem julgamento,<br />

ate o presente, a Apelacao Civel<br />

n? 3.805, de cuja apreciacão dependerA<br />

o prosseguimento da acAo penal<br />

sustada pelo Habeas Corpus n? 1.715.<br />

Trata-se de acAo cuja sentenca,<br />

proferida apes ano de estudo, vai de<br />

pls. 175 As fls. 219 (apenso 3). Esclareceu<br />

o relator que ainda nä° levou<br />

o caso a julgamento porque:<br />

«a) — 0 Dr. Juiz prolator da sentenca<br />

foi averbado de parcial, em<br />

favor do rel.' da demanda, o qual<br />

teria subornado outro Juiz, demitido<br />

pelo AI-5, bem como subornado<br />

testemunhas da mesma demanda,<br />

b) — tal averbacAo feita por advogado,<br />

alem de argtiida, na defesa<br />

oral do Habeas Corpus n?<br />

1.715, e objeto de excecAo da verdade,<br />

levantada em feito criminal<br />

pendente, como comprovam as<br />

respectivas pecas, em anexo; c) —<br />

diarite de noticias tao graves, achei<br />

de born alvitre aguardar a apuracAo<br />

criminal dos fatos imputados<br />

ao Dr. Juiz e as testemunhas, ate<br />

porque a sentenca penal, se confirmateria<br />

da excecAo da verdade,<br />

acarretaria a nulidade da sentenca<br />

dvel; d) — a Apelacão Civel n?<br />

3.805 estA suspensa, portanto, por<br />

esses relevantes fundamentos, e<br />

ate porque a mora nao prejudica<br />

as partes, que, como se ye dos autos<br />

reproduzidos, nenhuma rectamacAo<br />

fizeram».<br />

A isto se °pee que a excecAo de<br />

verdade somente foi oferecida mais<br />

de um ano e meio depots de conclusos<br />

os autos ao relator. Mas a<br />

acão penal em que se argtiia de caluniosa<br />

a imputacâo feita pelo advogado<br />

se iniciara em 1975.<br />

E duas observacOes merecem ser<br />

feitas quanto A pretendida configuracão<br />

em hipatese, de crime de pre-•


varicacAo no retardamento. A pHmetre,<br />

a de que nem os interessados,<br />

nem o Ministerio Pfiblico solicitaram<br />

qualquer medida no tocante ao andement°<br />

do feito (C6digo de Processo<br />

Civil, arts. 198 e 199).<br />

A segunda, a de que esse mesmo<br />

fato afasta a !dela de ser, o retardamento,<br />

determinado por sentimento<br />

pessoal. NAo se ye em que uma generica<br />

afirmativa de inimizade<br />

quanto ao prolator de sentence motivaria<br />

retardamento em julgar<br />

apelacAo ou em retardar marcha de<br />

acAo penal, como se nAo ve qualquer<br />

indicacAo de fates demonstrativos de<br />

amizade Intima para corn um dos litigantes,<br />

amizade que sequer o 11tigante<br />

adverso menciona.<br />

15. — Observo, finalmente, que tenho<br />

como Inadmissivel que se pretenda<br />

responsabilizar criminalmente<br />

um joiz pela interpretacilo que de A<br />

lei. Boa ou mA, a interpretacAo a tarefa<br />

que a lei the 'mete, no exerckio<br />

do cargo. Tenho tambem como<br />

inadmIssIvel que, depots de proferida<br />

a decislio, certa ou errOnea, se<br />

suscitem suspeitas sobre a imparcia-<br />

Made do Adz para, corn fundamento<br />

nelas, trazer o julgador A barn dos<br />

<strong>tribunal</strong>s, corn a alegacão de que terla<br />

Apontem-se fates<br />

inclicativos de interesse ou sentimento<br />

pessoal, pela propria natureza deles,<br />

no descumprimento de lei expressa.<br />

NAo veto explicitada na denfmcia<br />

apesar de feito por mestre — uma<br />

aclio sequer, definida em seus contornos,<br />

contrAria A expressa disposicAo<br />

legal e ligada, por sftuactes de<br />

fate igualmente indicadas na dentincia,<br />

a finalidade de satisfazer a determinado<br />

e declarado sentiment°<br />

pessoal.<br />

Dal, a pretensAo a que se unam todas<br />

as aches ditas penalmente relevantes,<br />

pare que alegada relacilo de<br />

amizade corn o sogro de urn dos revs<br />

ou de desapreco a um Lutz bastem<br />

R.T.J. — 94 41<br />

pare preencher o elemento subjetivo<br />

de todas as condutas, ainda As que,<br />

especificamente, a tais pessoas nAo<br />

atinjam. NAo considero isso possivel.<br />

NAo he crime que deva ser necessariamente<br />

apreciado na multiplicidade<br />

de aches tierces independentes. E<br />

sequer aquelas circunstAncias, Isoladamente,<br />

configuram prevaricacão.<br />

LastimAvel que seta a situacão<br />

que os autos noticiam, não veto como<br />

dar-lhe solucAo na sede,penal proposte.<br />

Outra poderA ser, de futuro,<br />

eventualmente, a solucão.<br />

Rejeito, data yenta, a denfincia.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Mari FalcAo: Sr.<br />

Presidente, tambtm peso venia ao<br />

eminente Relator para rejeitar integralmente<br />

a denfmcia, consoante a<br />

motivactio, agora, trazida pelo<br />

eminente Ministro Rodrigues Alckmin.<br />

A materia, a meu entender, envolve<br />

sobretudo tema de ordem discipliner<br />

e lamentavelmente, ate hoje,<br />

ainda nä° temos, no Brasil, a Lei<br />

OrgAnica do Poder JudiciArio.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

APn 253 — DF — Rel., Min. Cordeiro<br />

Guerra. Autor: Ministerio Ptblico<br />

Federal. Rens: Jest Julio Leal<br />

Fagundes. (Adv. Jose Bonifãcio Diniz<br />

de Andrade); Jose Fernandes de<br />

Andrade. (Adv. Jose BonifAcio Diniz<br />

de Andrade); Juscelino Jose Ribeiro<br />

(Adv. Fernando Neves da Silva) e<br />

lielAdlo Toledo Monteiro. (Adv. Carlos<br />

Robichez Penna).<br />

Rejeltaram a denfmcia,<br />

vencido in totem` o Ministro Relator,<br />

e em parte o Ministro Soares<br />

Mutoz.<br />

Presidencia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes A Ses-


42 R.T.J. — 94<br />

sào os Senhores Ministros DJaci Fated°,<br />

Antonio Neder, Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Alckmin, Leitdo<br />

de Abreu, Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves, Cunha Peixoto e Soares<br />

Munoz. Procurador-Geral da RepUblica,<br />

o Prof. Henrique Fonseca<br />

de Ara.<br />

Brasilia, 24 de maio de 1978. —<br />

Alberto Veronese Aguiar, Secretario.<br />

EXTRADICAD N? 362 — FtEPOBLICA FEDERAL DA ALEMANHA<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Moreira Alves.<br />

Recorrente: Governo da Repfiblica Federal da Alemanha — Extraditando:<br />

Erich Wolf.<br />

ExtradicAo.<br />

Requerimento de conversflo do julgamento em diligencia indeferido,<br />

tuna vez que nAo cabe ao STF, ao examinar o pedido de extradicAo,<br />

apreciar questhes de distribuicAo interna de compettncia de Tribunals<br />

do pals requerente.<br />

NAo ocorrencia de qualquer circunstAncia impeditiva da extradicAo.<br />

Pedido deferido, coin a condicAo, porèm, da estrita observiincia<br />

do disposto no artigo 98, II, do Decreto-lei 941/69.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Sessao Plenaria,<br />

na conformidade da ata do Julgamento,<br />

e das notas taquigraficas,<br />

por unanimidade de votos, deferir o<br />

pedido.<br />

Brasilia, 23 de maio de 1979. —<br />

Antonio Neder, Presidente - —<br />

Moreira Alves, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves: Em<br />

28 de setembro de 1978, o Exmo. Sr.<br />

Ministro da Justica encaminhou a<br />

esta Corte pedido do Governo da Republica<br />

Federal da Alemanha para a<br />

extradicdo de Erich Wolf, contra o<br />

qual ha mandado de prisdo preventiva<br />

expedido, em 30 de setembro de<br />

1977, pelo Tribunal da Comarca de<br />

Reinbek.<br />

Por se achar o extraditando preso<br />

na cidade de Belo Horizonte, de-<br />

leguei o procedimento do interrogat6rio<br />

a Juiz da Vara da Justica<br />

Federal naquela localidade.<br />

A 17 de novembro de 1978, foi o extraditando<br />

interrogado (fls. 55 a 56<br />

verso).<br />

A fls. 60 a 79, encontram-se as razOes<br />

de defesa do extraditando.<br />

Restituidos os autos a esta Corte,<br />

foi ouvida a Procuradoria-Geral da<br />

RepUblica, que, em parecer do Dr.<br />

Antonio de Padua Ribeiro, assim se<br />

manifestou a f. 182:<br />

«Em sua defesa, alega o extraditando<br />

a incompeténcia do Tribunal<br />

de Reinbek para decretar a sua<br />

prisdo (f. 72) e faz referéncia ao<br />

HC 4.426, que feria sido requerido<br />

perante o Egregio Tribunal Federal<br />

de Recursos (f. 81).<br />

A Him de completar a instrucdo<br />

do feito, requer esta Procuradoria-<br />

Geral as seguintes diligéncias<br />

(Decreto-lei n? 941, de 13-10-69, art.<br />

95, § 4?):


ao Estado requerente para<br />

que, a vista da sua legislacAo, demonstra<br />

ter sido a prisào do extraditando<br />

determinada por juizo<br />

competente;<br />

ao Egrégio Tribunal Federal<br />

de Recursos, a fim de que preste<br />

informactles sobre o deslinde do<br />

habeas corpus supra-aludido.»<br />

A f. 187, exarel nos autos o seguinte<br />

despacho:<br />

sAtendido o segundo item do<br />

requerimento a f . 182, retornem<br />

os autos a Procuradoria-Geral da<br />

Republica, para que esta emita<br />

parecer sobre os demais aspectos<br />

da extradicilo, tuna vez que,<br />

quando de seu julgamento, submeterei<br />

ao PlenArio da Corte e a<br />

solicftecAo de diligencia junto a<br />

Repttblica Federal da Alemanha<br />

no tocante A questão da competencia<br />

do juizo que determinou<br />

a prisAo do extraditando.<br />

Brasilia — DF., 8 de marco de<br />

1979. — Min. Moreira Alves, Relator.»<br />

A tls. 189/192, voltou a manifestarse<br />

a Procuradoria-Geral da Fteptiblica,<br />

em parecer do Dr. AntOnio de<br />

Padua Ribeiro, nestes termos:<br />

«Com garantia expressa de reciprocidade<br />

(its. 4 e 7). o Govern<br />

da Republica Federal da Alemanha<br />

solicits a extradicAo de Erich<br />

Wolf, com prisAo preventive decretada<br />

pelo Tribunal de Reinbek<br />

(Rs. 9-15), onde responde pelos delitos<br />

previstos nos parAgrafos 263,<br />

267 e 52 do COdigo Penal alientgena.<br />

Interrogado (fls. 55-56v), o extraditando,<br />

através de advogado<br />

regularMente constituido (f. 46),<br />

produziu longa defesa a fls. 60-79.<br />

A fim de completer a instrucAo<br />

do feito, requereu esta<br />

procuradoria-Geral diligencias (f.<br />

182):<br />

R.T.J. — 94 43<br />

ao Estado requerente para<br />

que, a vista da sua legislacão, demonstre<br />

ter sido a prisAo do extraditando<br />

determinada por Juizo<br />

competente;<br />

ao Egregio Tribunal Federal<br />

de Recursos, a fim de que preste<br />

informacees sobre o deslinde do<br />

HC 4.426, referido na defesa a. 81).<br />

As referidas diligencias foram,<br />

em parte, atendidas. A f. 186,<br />

encontra-se certificado que o aludido<br />

habeas corpus foi encaminhado<br />

a essa Excelsa Corte, onde tomou<br />

o n? 56.751 e, na sessilo de 6-12-78,<br />

foi julgado prejudicado. Quanto a<br />

outra ficou o eminente Relator de<br />

submeté-la a consideracao do<br />

Egregio Tribunal Pleno.<br />

Passando ao exame das alegacties<br />

produzidas na defesa, res-<br />

Salvada a questAo relative A incompetencia<br />

do juiz decretante da<br />

prisAo do • extraditando, sera de<br />

concluir-se que as mesmas nAo<br />

procedem.<br />

Sustenta-se, inicialmente, a<br />

llegalidade da prislo do extracttando,<br />

vez que o SecretArio-Geral<br />

do Ministerio da Justice nAo teria<br />

competencia para decrete-la. Na<br />

especie, segundo se ve a f. 87, a<br />

prisAo foi determinada pelo citado<br />

funcionArk no uso da competencia<br />

que the foi delegada pela Portaria<br />

Ministerial n? 444, de 1-6-77. A possibilidade<br />

de tal delegactlo de competencia<br />

esta p<strong>revista</strong> nos arts. 12<br />

e 23, 4 1?, do Decreto-lei n? 200, de<br />

25-2-67, regulamentado o primer°<br />

pelo Decreto n? 62.460, de 25-3-68.<br />

Ademais, esse Colendo Tribunal,<br />

em casos anteriores de extradicAo,<br />

vem implicitamente admitindo coma<br />

legal a prisAo decretada por<br />

aquela autoridade, no uso de competencia<br />

delegada.<br />

Argtri-se que a Interpol/alemA<br />

nAo serla autoridade competente,<br />

vista do Decreto-lei n? 941/69, pare<br />

dlrlgir-se ao govern brasileiro.


44 R.T.J. — 94<br />

de ver-se, porem, pela leitura do<br />

radiograma de f. 59, pela que a autoridade<br />

que determinou a prisAo<br />

foi o Tribunal de Reinbek,<br />

erigindo-se a Interpol/alemA em<br />

mero velculo de cumprinjento da<br />

ordem emanada de autoridade judiciAria<br />

daquele Pais. Alias, essa<br />

tem sido 'a rotina observada nos<br />

casos de prisAo preventiva para<br />

fins de extradicAo.<br />

Alega-se que o prazo de noventa<br />

(90) dias, para a formalizacAo do<br />

pedido de extradicAo, haveria de<br />

ser contado do radiograma de 27-<br />

10-77, originArlo da Interpol/ Roma<br />

e nä() do radiograma de 15-8-78,<br />

oriundo da Interpol/alemd, o que<br />

implicaria em ter ocorrido, no caso,<br />

ofensa ao art. 93, § 3?, do<br />

Decreto-let n? 941/69, o qua] nAo<br />

admite prisão, para fins de extradicAo,<br />

por mats de noventa dias,<br />

nem novo pedido de prisAo corn tai<br />

finalidade, corn base no mesmo fato,<br />

sem que aquela tenha sido formalizada.<br />

Tal censura não procede,<br />

pots, consoante se verifica a<br />

f. 89, cingiu-se a Interpol/Roma<br />

em solicitar a sua congOnere brasileira<br />

informacAo sobre ingresso<br />

no Pais do cidadão alemAo Erich<br />

Wolf. Localizado o paradeiro deste,<br />

sim, a Interpol/alemA, em cumprimento<br />

de ordem judiciaria, diligenciou<br />

a sua prisào, para fins de<br />

extradicAo. NAo ocorre, pois, duplo<br />

pedido de prisAo para aquele fim<br />

corn base no mesmo fato. Tarnpouco<br />

transcorreu o prazo de noyenta<br />

dias, pois a prisAo se efetivou<br />

em 17-8-78 (f. 90) e o pedido de<br />

extradicAo foi formalizado em 15-9-<br />

78 (f. 6).<br />

Nessas condicees, entende esta<br />

Procuradoria-Geral que, superada<br />

a preliminar de incompetencia do<br />

juizo decretante da prisào do extraditando<br />

(f. 72), é de ser deferido<br />

o pedido, vez que o mesmo se encontra<br />

acompanhado de mandado<br />

de prisAo preventiva, do qua] cons-<br />

tam indicacees precisas sobre o local,<br />

data, natureza e circunstAncias<br />

do fato criminoso, identidade<br />

do extraditando e ainda c6pia dos<br />

textos legais sobre o crime e a pena<br />

e a sua prescricAo, inocorrendo<br />

quaisquer das circunstAncias impeditivas<br />

catalogadas nos arts. 88 e<br />

89 do Estatuto dos Estrangeiros.<br />

E, deferida, deve ser a entrega<br />

do extraditando condicionada ao<br />

cumprimento do art. 98, item II, do<br />

Decreto-lei n? 941/69, configurandose<br />

insuficiente, a seu ver, para<br />

atender Aguela exlgencia legal, a<br />

simples declaracão de propOsito<br />

contida na letra "d" da nota verbal<br />

encaminhada ao Governo brasileiro<br />

pela Embaixada da Republica<br />

Federal da Alemanha (f.<br />

8).»<br />

E o relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Morelra Alves (Relator):<br />

1. Indefiro o pedido de diligencia<br />

formulado pela<br />

Procuradoria-Gera] da Repdblica, no<br />

sentido de que o Estado requerente<br />

«demonstre ter sido a prisAo do extraditando<br />

determinada por juizo<br />

competente».<br />

Essa diligencla foi requerida corn<br />

base na alegacAo, que se encontra<br />

nas rages de defesa do extraditando,<br />

a fls. 72/73, onde se le:<br />

«A) — No Livro n? III, fls. 26 a<br />

29, inclusive, perante o NotArlo<br />

Mathias Biermann — Ratjin de<br />

Hamburgo 13, Mittelweg 30, compareceu,<br />

en 20 do corrente mes,<br />

de novembro, o Advogado Hans<br />

Dietrich Michell afirmou, em DeclaracAo<br />

sob juramento, para ser<br />

apresentada as Autoridades competentes<br />

da RepUblica Federativa<br />

do Brasil, que:<br />

«Urn inquerito judicial, dentro<br />

do Ambito do processo principal,<br />

pressupee a formalizacAo de uma


acusacAo por parte da Promotoria<br />

POblica e uma decisAo judicial<br />

sobre a abertura do processo<br />

principal. Esta decisAo judicial<br />

deve ser proferida pelo<br />

Tribunal competente pelo processo<br />

principal. Ate o momento,<br />

a Promotoria PUblica nAo formalIzou<br />

acusadio alguma sobre<br />

contra o Senhor Economista Dipl.<br />

Erich Wolf. Por isso nAo pode<br />

ser aberto um inquerito judicial.<br />

0 Tribunal competente pela<br />

aclio principal nAo chegou a<br />

tomar uma decisSo quanto A<br />

abertura do processo principal.<br />

ConseqÜentemene, nAo ha processo<br />

principal bm pendencia. 0<br />

mandado de prisAo expedido pelo<br />

Tribunal de comarca Reinbek em<br />

30-9-77 fol requerido pela Promotoriailea,<br />

no quadro das<br />

investigacees para formacAo de<br />

culpa. 0 mandado de prisAo nAo<br />

veiculava a decretacAo de uma<br />

sentenca judicial. A julgar pelas<br />

imputacties levantadas, presumese<br />

que a acusacA6 deve ser formalizada<br />

pelo competente Tribunal<br />

Estadual. 0 Tribunal competente<br />

e o Tribunal Estadual de<br />

Lvebeck, Etc, etc" (Doc. anexo<br />

de n? 7, original e traducAo pablica).<br />

Ora, a declaracAo do Advogado,<br />

prestada sob juramento, Cum fide<br />

publica do Not/Arlo, afirma a Incompetencia<br />

do Juiz decretante da<br />

prisao pars processar o<br />

extraditando.<br />

E, afirma ainda que, ate 20 de<br />

novembro corrente, nAo existia<br />

qualquer acusacAo formal contra o<br />

mesmo.<br />

Donde, Data yenta, inexiste urn<br />

processo ou uma decretacAo de<br />

prisAo por parte de Jut competente,<br />

inexistindo pois, legalidade no<br />

pedido de extradicAo.»<br />

Trata-se, como se ye, de questa()<br />

processual relativa a distribute/10 111.<br />

R.T.J. — 94 45<br />

terna da competencia, para determinar-se,<br />

dentro da Alemanha,<br />

qual seria o Tribunal competente para<br />

processar o extraditando. AlegacAo<br />

analoga a essa jA tem sido<br />

apreciada por esta Corte, e repelida,<br />

como se ve no Pedido de Extradicão<br />

n? 315, em que a requerente fol<br />

tambem a Republica Federal da<br />

Alemanha, e em que fol acolhido 0<br />

parecer da Procuradoria-Geral da<br />

Reptiblica, verbis:<br />

«Numa segunda ordem de ideias,<br />

reclama a defesa contra a falta de<br />

referenda, nos autos, aos preceltos<br />

da legislacão alemA determinantes<br />

da competencia do Tribunal da Comarca<br />

de Munique para expedir o<br />

mandado de captura. Nenhuma h<br />

norma, todavia, no Decreto-lei n?<br />

941/65 ou em seu regulamento,<br />

exige tal referenda. A condicão<br />

fundamental do reconhecimento da<br />

competencia do Estado requerente,<br />

qual seja a territorialidade do crime,<br />

nAo fez objeto de davida.<br />

Questoes inerentes A distribuicAo<br />

Intern da competencia, visando,<br />

vertd nth, a saber se o Tribunal<br />

prOprio era o de Munique, ou o de<br />

Hamburgo, ou o de ColOnia, perecem<br />

ante a legItima presuncAo<br />

de que a Corte processando age<br />

nos termos da lei local. Nem seria<br />

exigivel que tivesse o Supremo Tribunal<br />

brasileiro elementos para<br />

constatar o eventual yid° da fi-<br />

'cacao da competencia, quando despercebido<br />

no preprio Estado de origem».<br />

2. Ultrapassada essa preliminar,<br />

acolho a fundamentacAo do parecer<br />

da Procuradoria-Geral da Reptiblica,<br />

que corretamente refutou as<br />

questOes referentes A ilegalidade da<br />

prisAo do extraditando no Brasil e ao<br />

prazo de formalizacAo do pedido de<br />

extradictlo, bem como acentuou,<br />

acertadamente, que «6 de ser deferido<br />

o pedido, vez que o mesmo se encontra<br />

acompanhado de mandado de<br />

pita° preventiva, dip qual constam


46<br />

indicacees precisas sobre o local, data,<br />

natureza e circunstAncias do fato<br />

criminoso, identidade do extraditando<br />

e ainda cOpia dos textos legais<br />

sobre o crime e a pena e sua prescricAo,<br />

inocorrendo quaisquer das<br />

circunstAncias impeditivas catalogadas<br />

nos arts. 88 e 89 do Estatuto<br />

dos Estrangeiros» (fls. 191/192).<br />

Com efeito, o extraditando 6<br />

acusado da prAtica de crimes, que,<br />

no Brasil, correspondem aos de falsidade<br />

ideolegica e de estelionato; e<br />

tendo eles, segundo o mandado de<br />

prisAo preventiva (de 30-9-1977, e que<br />

fator de interrupflo da prescricAo,<br />

no direito penal germAnico), ocorrido<br />

entre 1972 e agosto de 1976 rift se<br />

verificou a prescricão, quer em face<br />

de nosso direito, quer em face do direito<br />

alemão (onde o prazo de preserica°,<br />

para crime a que se comma,<br />

em abstrato, pena ate cinco anos —<br />

como sucede corn os de cuj a pratica<br />

acusado o extraditando de<br />

cinco anos).<br />

3. Em face do exposto, defiro o pedido<br />

de extradicAo, condicionando,<br />

porém a entrega do extraditando A<br />

R.T.J. — 94<br />

ACAO RESCISORIA N? 742 — PR<br />

(Tribunal Pleno)<br />

estrita observAncia do disposto no<br />

artigo 98, II, do Decreto-lei n? 941/69.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

EXTR. 362 —RepUblica Federal da<br />

Alemanha — Rel. Min. Moreira Alves.<br />

Reqte: Governo da Repfiblica<br />

Federal da Alemanha. Extrdo: Erich<br />

Wolf (Advs. Drs. Sidney Safe Silveira,<br />

Menelick de Carvalho Filho)<br />

DecisAo: Deferiu-se o pedido de extradicAo<br />

em votagAo uniforme. Falou<br />

pelo Extdo. o Dr. Sidney F. Safe<br />

Silveira.<br />

PresiOncia do Senhor Ministro<br />

Antonio Neder. Presentes A SessAo<br />

os Senhores Ministros Djaci FalcAo,<br />

Thompson Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves, Cunha Peixoto, Soares<br />

Mufloz, Decio Miranda e Rafael Mayer.<br />

Ausente, justificadamente, o Senhor<br />

Ministro LeitAo de Abreu.<br />

Procuradoria-Gcral da Republica,<br />

Dr. Firmino Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 23 de maio de 1979. —<br />

Alberto Veronese Aguiar, SecretArio.<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Soares Mufioz.<br />

Autores: Silvestre da Cunha Castro e s/mulher — R6us: Maurilio Roque<br />

Menechelli, s/mulher e outros.<br />

AcAo Rescisorla fundada em otensa ft coisa julgada. QuestAo nAo<br />

apreciada no acOrdlio do Supremo Tribunal Federal, que /go conheceu<br />

do recurso extraordinArio.<br />

ACORDAO<br />

Vistos.<br />

Acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em SessAo PlenAria,<br />

A unanimidade de votos e na<br />

conformidade das notas taquigrAficas,<br />

não conhecer da acAo.<br />

Brasilia, 29 de marco de 1979 —<br />

Xavier de Albuquerque, Presidente<br />

— Soares Muth's, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Soares Muftoz:<br />

Adoto a parte expositiva do parecer<br />

elaborado pela Procuradoria-Geral<br />

da Repfiblica:<br />

«Sob o fundamento de haver sido<br />

proferido contra coisa julgada,<br />

pretendem os Autores rescindir o<br />

V. aresto desse Egrêgio Supremo


Tribunal Federal que nAo conheceu<br />

do recurso contra decisgo•que os<br />

julgou carecedores de actio para<br />

anular promessa de compra e yenda,<br />

felta corn limltes certos, antes<br />

de procedida a divisAo de lmOvel<br />

em condominio divisive]. Acentuou<br />

o Preterio Excelso que embora<br />

&ads nAo reallzada a divistio, a<br />

venda felts corn individuaclio da<br />

parte, nAo a invalidava, sendo<br />

considerada condicional. Sua integral<br />

validade ficava dependendo<br />

de ser atribuida ao coati/5min° yendedor<br />

aquela parte, quando da divisa°.<br />

Apontam os Autores como<br />

acerdAo em que antes ocorrera<br />

coin julgada, agora desrespeitada,<br />

aquele proferido pelo<br />

Egrggio Tribunal de Justica de SAo<br />

Paulo que, em processo de dgvida,<br />

suscitada pelo Registro de ImCovets<br />

contra os promitentes vendedor e<br />

comprador, negou inscricgo a mesma<br />

promessa por divergir da<br />

trauscricgo anterior. Nesta, constava<br />

serem titulares de partes<br />

Ideals do bnOvel em comtuthAo, ao<br />

passo que vendiam parte certa e<br />

determinada.<br />

Suscitam os Rgus preliminar de<br />

incompetencia dense Egrggio Tribunal<br />

para conhecer da presente<br />

rescisOria, porque somente<br />

podendo pronunciar-se, na medida<br />

em que assim for chamado pelo recurso<br />

extraordlnario, deste<br />

constava a questAo referente a colsa<br />

julgada, pelo pie nAo se prontmciou<br />

a respelto dela. Logo nAo<br />

pode conhecer, tamb6m, da resciséria.<br />

No mgrito, afirmam a luststends<br />

de res judicata: a) por<br />

serem diversas as poles nos dots<br />

processor; b) o 'processo de dgvida<br />

6 de natureza administrativa; c)<br />

apreclaram especies diversas"<br />

(fin. 89-70).<br />

R.T.J. — 94 47<br />

Esse mesmo parecer opinou pela<br />

improcedgncia da acAo rescisOzia,<br />

aduzindo os seguintes ftmdamentos:<br />

“Quanto a IncompetOncia, data<br />

yenta, improtede. E certo que o<br />

Colendo Pretgrio somente se manifests<br />

nos termos que the forem<br />

postos pelo recurso extraordingrio,<br />

pelo que, em principlo, somente<br />

the 6 dado rescind& as dectsges<br />

que naquele ]!mite houver tornado,<br />

tal principio nAo 6 absoluto. V.g.,<br />

cabe-lhe conhecer de resciseria<br />

quando as nulidades por ele diretamente<br />

cometidas, embora, e por<br />

lase mesmo, nAo alegadas no<br />

recurso extraordintirio. Asslm<br />

tarabgm nos ataques porventura,<br />

pot ele cometiclos a coisa julgada,<br />

cabe-lhe conhecer da rescisgria. •<br />

NAo bastasse, 6 de acentuar que<br />

o Egrggio Preb5rio, a despelto de<br />

ago conhecer do recurso, a verdade<br />

6 que solidarizou-se com a v.<br />

decislio recorrida, adotando os<br />

mesmos ftmdamentos desta: 6<br />

como se a decislio fosse proferida<br />

por ele prOprio. Portatto, se as entende<br />

que aqueta desre.speitou a<br />

colsa tilgada, o mesmo se tern<br />

deste dizer. Assim, pouco imports<br />

que a colsa julgada nAo fosse<br />

°Wet° de recurso, pots se a v. decisgo<br />

estadual a desrespeftou, o<br />

mesmo fez o Oltimo Tribunal que a<br />

encampou. No merlin, data yenta,<br />

improcede tambem. Embora em<br />

principlo tenha-se chegado a cu-<br />

Masa situacilo — urn acOrdAo<br />

reconheceu validade a venda e o<br />

outro entendeu que alio podia ser<br />

registrada — a verdade 6 que nAo<br />

count.= por terem apreciado aspectos<br />

diversos da controvgrsia,<br />

pelo que, sendo diversa a causa<br />

petendi ago hA que falar em coisa<br />

julgada capaz de ser oposta, validamente,<br />

so Preterio Excelso.<br />

Realmente, na acAo anulateria<br />

da promessa de compra e venda os


48<br />

Autores foram julgados carecedores<br />

de acao porque, tratando-se<br />

de Unitive! indivisivel, e estando a<br />

parte ventricle em poder dos vendedores<br />

ha muitos anos corn 11mites<br />

certos, rat) havia porqUe<br />

impedi-los de aliens-la. No processo<br />

de clavicle nao se negou a<br />

possibilidade daquela venda.<br />

Apenas, e muito acertadamente,<br />

negou-se o reglstro porque, vigindo<br />

entre nos o sistema da cadela cronolegica,<br />

nä° era possivel transcrever<br />

parte dividida quando all<br />

constava urn todo indiviso. Isto, poram,<br />

repita-se, nao significa que<br />

houvesse decidido pela nulidade da<br />

venda.<br />

Nem poderla te-lo decidido visto<br />

que, nao tendo nele tornado parte o<br />

comprador, tratava-se de processo<br />

nimiamente administrativo, incapaz<br />

de fazer coisa julgada e de<br />

ser oposto ao outro feito, este sim,<br />

de natureza contenciosa» (fls. 70-<br />

72).<br />

A revisal) do eminente Ministro<br />

Rafael Mayer, por estar impedido 0<br />

eminente Ministro DecAo Miranda<br />

(fls. 61).<br />

Oportunamente, extraiam-se cepias<br />

deste relaterio para serem enviadas<br />

aos eminentes Ministros.<br />

Brasilia, 6 de fevereiro de 1979. —<br />

Ministro Soares Munoz, Relator.<br />

•<br />

VOTO<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Ministro. Soares Munoz (Relator):<br />

— 0 fundamento da agão rescisOria<br />

este formulado na peticao<br />

initial assim:<br />

«que, data venia, inegevel e lncontestavelmente,<br />

o venerando<br />

acerdeo datado de 4-9-1964 — quatro<br />

de ,setembro de mil novecentos<br />

e sessenta e quatro, prolatado pela<br />

colenda Segunda Turma deste<br />

Egreglo Supremo Tribunal Federal,<br />

nos autos de recurso extraordinerto<br />

n? 55.507 — Sao Paulo,<br />

no 1 figuram como recorrentes<br />

os ott Autores e recorridos Carlos<br />

da Cunha Castro e outros e — nulo,<br />

porque prolatado corn °tense a coisa<br />

julgada, constitufda pela sentence<br />

de 25 de marco de 1962 do<br />

MM. Juiz de Piratininga, e pelo venerando<br />

acordeo de 4 (quatro) de<br />

julho de 1963, do Egragio Conselho<br />

da Magistrature de Sao Paulo, conforme<br />

prove o documento n?3» (f.<br />

3v).<br />

A ementa do act:wrier) rescindendo,<br />

proferido no RE 55.507, de Sao Paulo,<br />

a a seguinte:<br />

EMENTA: s«A. venda, corn divisas<br />

determiziadas, de qulnhao<br />

hereditarlo, objeto de partilha<br />

definitive, mesmo quando efetuada<br />

sem audlencia do meelro ou<br />

de outros herdeiros, net) a anulavet,<br />

devendo ser considerada<br />

conditional (C. C., art. 623, III, e<br />

um)» (f. 20).<br />

0 voto que nesse julgado proferiu<br />

o eminente Ministro Vic* Nunes,<br />

Relator, adotado pela Segunda Turma,<br />

apreciou o recurso extraordinano,<br />

verb's:<br />

«Conheceria do recurso, pelo<br />

dissidlo jurisprudential, mas nao<br />

fol alegado. Por violaclio da lel, dele<br />

nao conheco. Tenho por mars<br />

acertada e condizente com a realidade<br />

dos neg6cios a doutrina ja<br />

sustentada pelo Supremo Tribunal,<br />

como este exemplificado em conhecido<br />

acerdtio do eminente Ministro<br />

Orosimbo Nonato:<br />

RE 10.113, A, J, 80/350. Disse ele<br />

nesse julgado: "... o art. 633 nao<br />

proibe a venda da parte indivisa,<br />

expressamente permitida no art.<br />

623, III, do mesmo Cedigo...dir-se-a<br />

que o recorrido deu as Brides da<br />

parte em comum. Mas, em recurso<br />

de Minas Gerais, procure!, desenvolvidamente,<br />

mostrar que essa<br />

circunstencia nao anula a venda,<br />

dando-lhe, apenas, carater condicional.<br />

As cares tracadas


manterrse-Ao, se confirmadas, na<br />

comuni clividum... 6 certo que o n? 3<br />

do art. 623 fez remissAo ao art.<br />

1.139, mas a h1p6tese neste p<strong>revista</strong>,<br />

expressa e claramente, 6 a<br />

de colsa indivisivel. Quando nAo<br />

ocorre essa circunstAncia, em que<br />

a preferência se justifica pela tendancia<br />

de reduzir a pluralidade A<br />

unidade, a que elude SA Pereira, o<br />

his disponendi se exercita normalmenteD.<br />

JA aludi a esse Julgado<br />

em outro case, no qual, entretanto,<br />

a nossa decisão foi tomada por outro<br />

fundamento. Refiro-me ao RE<br />

52.899, de 10-9-63, DJ 21-11-63, p.<br />

1.196. Eis porque nao conheco do<br />

recurso (lls. 119 a 19 v).<br />

Verifica-se, pots, que a questAo<br />

atinente a colsa julgada, suscitada<br />

come fundamento (mice do pedido<br />

rescisbrio, nAo foi versada no<br />

acOrdAo rescindendo do Supremo<br />

Tribunal Federal.<br />

Ora, consoante a Samula 515,<br />

((a competencia para a acAo<br />

reselsOria nAo 6 do Supremo Tribunal<br />

Federal, quando a questAo<br />

<strong>federal</strong>, apreclada no recurso extraordinitrio<br />

ou no agravo de instrumento,<br />

seja diversa da que foi<br />

suscitada no pedido resciserio».<br />

Ante o exposto, nAo conheco da<br />

acAo rescisöria e determino a remessa<br />

dos autos ao Egr6gio Tribunal<br />

de Justica do Estado de SAo Paulo.<br />

R.T.J. — 94 49<br />

ACAO RESCISORIA N? 878 — SP<br />

(Tribunal Pleno)<br />

VOTO PRELIMINAR<br />

0 Sr. Ministro Rafael Mayer (Revisor):<br />

— Sr. Presidente, estou inteiramente<br />

de acordo corn o Sr. MInistro<br />

Relator. NAo conheco da acAo<br />

rescis6ria, rernetendo os autos ao<br />

Tribunal de Justica do Estado de<br />

SA° Paulo.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

AR 742 — PR — Rel.:Min. Soares<br />

Muftoz. Rev.: Min. Rafael Mayer.<br />

Autores: Sllvestre da Cunha Castro e<br />

sua mulher. R6us: Maurine, Roque<br />

Menechellt, sua mulher e outros<br />

(Adv.: TheotOnio NegrAo e outros).<br />

Decisão: Não conheceram nos termos<br />

do veto da Turma. Deets/10<br />

unitnime. Impedido o Sr. Min. Decio<br />

Miranda. Ausentes, ocaslonalmente,<br />

os Srs. Mins. LelUo de Abreu e Antonio<br />

Neder, Presidente. Presidiu o<br />

Julgamento o Sr. Min. Xavier de Albuquerque,<br />

Vice-Presidente.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes A SessAo os<br />

Srs. Ministros Djaci FalcSo, Thompson<br />

Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

LeftAo de Abreu, Cordeiro Guerra,<br />

Moreira Alves, Cunha Peixoto, Soares<br />

Mufioz, Deck Miranda e Rafael<br />

Mayer. Procurador-Geral da Repilblica,<br />

Dr. Firmino Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 29 de marco de 1979 —<br />

Alberto Veronese Aguiar, Secretttrio<br />

Relator para o ac6rdilo: 0 Sr. Ministro Rafael Mayer.<br />

Autor: Alexandre Barduzzi — Re: UnlAo Federal — Lltisconsorte: Salathlel<br />

Soares da Silva.<br />

AcAo Resciseria. Cabimento. Declaragáo de Inconstitucionalidade<br />

de lel em tese NAo cabs aclio resciseria contra decisAo de declaracAo<br />

de inconstitucionalldade de lei em tese, falecendo legitimidade ao<br />

particular para intenttl-la. Ac,Ao resets/Aft inadmissivel.


50<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Sessao<br />

Plena, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e notas taquigrAficas, a<br />

unanimidade, julgar que o autor carece<br />

da acao porque a rescisOria nao<br />

6 admissivel no caso, vencido em<br />

parte, o Ministro Relator, que admitiu<br />

a Kai para o caso mas considerava<br />

que a parte ilegitima o autor.<br />

Brasilia, 19 de marco de 1980 —<br />

Antonio Neder, Presidente — Rafael<br />

Mayer, Relator p/ o acOrdao<br />

RELATORIO<br />

Sr. Ministro Soares Munoz: Pretende<br />

o Autor, serventuArio do 2? Tabelionato<br />

de Notas e Anexos da Comarca<br />

de Cafelandia, desconstituir o<br />

acOrdao proferido na Representacao<br />

n? 665, do Pleno do Supremo Tribunal<br />

Federal, que declarou inconstitucional<br />

o Decreto paulista n? 44.794,<br />

de 7.5.65.<br />

v. acórddo rescindendo 8 de 28<br />

de abril de 1966 e a inicial, de 26 de<br />

abril de 1971, foi despachada em<br />

maio do mesmo ano.<br />

Decreto paulista n? 44.794, de<br />

7.5.65, restabeleceu o Officio de Registro<br />

de ImOveis e Anexos da Comarca<br />

de Cafelandia. Por fovea de<br />

sua anulacao, o Autor perdeu a serventia<br />

pela qual tinha optado e dal<br />

seu interesse no feito.<br />

Ministro Lafayette de Andrade<br />

Relator no Pleno, da Representacao<br />

n? 665, entendeu que a expedicao<br />

desse decreto feriu o art. 124 da<br />

Constituicao Federal, que declara<br />

inalteraveis a divisao e organizacao<br />

judiciaria, dentro de 5 anos da data<br />

da lei que as estabelecer, salvo proposta<br />

motivada do Tribunal de Justica.<br />

Nao o convenceu o fato de que o<br />

decreto tivesse sido em cumprimento<br />

R.T.J. — 94<br />

do Decreto-lei 11.464/40, pots este se<br />

referia a Tabelionatos e nao a Registro<br />

de Im()vets, al6m do que o restabelecimento<br />

de cartörlo equivale A<br />

sua criacao, que deve ser objeto de<br />

lei e nao de decreto.<br />

0 voto referido teve acolhida unanime.<br />

A inicial alega que anterior mandada<br />

de seguranca, que veto ao Supremo<br />

Tribunal Federal no RO<br />

11.561, em 8.9.67, obteve da E. 3?<br />

Turma a declaracao de validade do<br />

D. 44.794/65, por ser executbrio do Dl<br />

11.464/40.<br />

Inquina o parecer da Procuradoria-Geral,<br />

que instrulu o<br />

v. acOrdao rescmdendo, de equivocado<br />

na apreciaeao da Organizaeao Judiciaria<br />

do Estado, quando entendeu<br />

que o Registro ImobiliArio nao estava<br />

incluido nas disposicOes do Dl n?<br />

11.464/40.<br />

Contra o v. acOrdao rescindendo<br />

houve o MS n? 17.483, que foi julgado<br />

improcedente, visto nao ser sucedaneo<br />

da acao rescisOria. Argui que o<br />

decreto anulado nao era normativo,<br />

mas individual, pelo que o v ac6rdad<br />

rescindendo foi ofensivo ao art.<br />

101, I, K, da Constituicao Federal<br />

modificada pela Emenda 16. Alam<br />

disso, o julgamento da Representacao<br />

n? 665 a nulo porque feito sem a<br />

audiancia do Autor, Calico prejudicado,<br />

devendo ser considerado litisconsorte<br />

passivo necessArio. Declara feridos<br />

o art. 124, I, da Constituicao<br />

Federal combinado corn o art. 6?,<br />

2?, da Lei de Introducao do 05d. Civil<br />

e a violacao de direito adquirido<br />

do Autor. Termina pedindo o provimento<br />

da acao com o restabelecimento<br />

do decidido no RO 16.561.<br />

Contestou a Uniao, invocando a<br />

propriedade da Representacao para<br />

o caso e a validade de seu julgamento.<br />

Sustentou a imutabilidade da declaracao<br />

de inconstitucionalidade,<br />

apoiando-se no art. 87 do Regimento<br />

Interno, hoje, art. 180. Argiliu a falta


de legitimidade do Autor, quando a<br />

inconstituclonalidade de lei s6 afeta<br />

ao Estado.<br />

Assim, como preliminares, levanta:<br />

a impropriedade da acAo;<br />

a falta de legitimidade do Autor.<br />

No merit°, apoia a decLsAo rescin-<br />

denda.<br />

Salathiel Soares da Silva, o escriv/lo<br />

do 1? CartOrio, tamb6m contestou<br />

a acAo a f. 153, no mesmo sentido<br />

da UnlAo.<br />

A douta Procuradoria-Geral da<br />

Reptblica opina pela preliminar de<br />

incabimento da acAo e, no merit°,<br />

pela sua improcedencia, adotando as<br />

alegacOes da UniAo.<br />

A revisAo do erninente Ministro<br />

Decio Miranda.<br />

Oportunamente, extraiam-se c6pias<br />

deste relatorlo para serem remendas<br />

aos eminentes Ministros.<br />

Brasilia, 02 de mato de 1979. — Ministro<br />

Soares Munoz, Relator.<br />

VOW<br />

0 Sr. Ministro Soares MutSoz (Relator):<br />

- A contestacAo da Una° elaborada<br />

pelo Ministro Jost Fernandes<br />

Dantas, ao tempo Procurador da Re<br />

pablica, e subscrita pelo Ministro<br />

Xavier de Albuquerque, naquela época<br />

Procurador-Geral da Repfiblica,<br />

suscitou as preliminares do descabimento<br />

da acAo rescisaria e da ilegitimidade<br />

dos autores para prop6-la,<br />

quando fosse admissive' a rescisão<br />

do acardAo deciaratdrio de inconstitucionalidade,<br />

proferido em representacAo.<br />

A primeira preliminar esta assim<br />

fundamentada:<br />

«A evidencia do descabimento da<br />

acao rescisaria, no caso, dispense<br />

exame macs aprofundado da doutrina<br />

brasileira do controle judicial<br />

R.T.J. — 94 51<br />

da constitucionalidade das leis. No<br />

pertinente ao processo direto e via<br />

principal desse controle, os contornos<br />

especiais que revestem a decisilo<br />

de inconstitucionalidade estao<br />

definidos no julgamento desse Excelso<br />

Prettrio, proferido na momentosa<br />

ReclamacAo n? 849, de autoria<br />

do Movimento Democratic°<br />

Brasileiro, e no qual, definitivamente,<br />

consagrou-se a especialidade<br />

da acAo de representacAo, em<br />

termos de relevAncia dos interesses<br />

estatals que a presidem corn<br />

exclusividade, donde não pass-sr do<br />

Procurador-Geral da Realica a<br />

legitimidade para move-la.<br />

A partir dessa especialidade,<br />

incompatibiliza-se corn a dita wit°<br />

todo e qualquer outro remédio processual<br />

que, no campo da formalistica<br />

comum, tenha por escopo<br />

a revisão da decisAo definitiva<br />

pela qual o Supremo Tribunal Federal<br />

ponha termo ao conflito constitutional<br />

tratado. Com efeito, a<br />

singularidade do poder jurisdicio-<br />

nal que somente o Supremo Tribunal<br />

Federal detkm para a decretacão<br />

de inconstitucionalidade da lei<br />

in abstracto, detido em alheio aos<br />

limites de seas atribuicees jurisdicionais<br />

comuns, torna o processo<br />

de representacAo estranho aos<br />

moldes das demais aches. Estas se<br />

prop6em deslindar interesses subjetivos,<br />

enquanto o queiram os<br />

seas autores. Mas a acAo de representacAo<br />

assim nao se comporta,<br />

bastando ver, a ligeiro exernplo diferencial,<br />

que urna vez instaurada<br />

a acAo, resulta indisponivel o seu<br />

objeto, dela nAo podendo desistir o<br />

praprio autor (art. 174, 2?, do Regiment°<br />

Interno). Isso porque, o<br />

autor 'go litiga interesse prOprio,<br />

portm interesse do Estado, do qua'<br />

agente, apenas para entregar ao<br />

maior &OA° jurisdicional o conhe-<br />

cimento da anormalidade institutional<br />

que a lei inconstitucional<br />

provocou.


52<br />

Significa dizer que a acão perde<br />

em natureza, transmudando-se em<br />

procedimento especialissimo aderido<br />

agora ao prOprio poder jurisdiclonal<br />

do controle das leis, inserto<br />

como atribuicAo do Judiciario, enquanto<br />

Poder do Estado. A decisao<br />

declaratOria de inconstitucionalidade<br />

por via direta nao resolve relacAo<br />

juridica vinculada a interesses<br />

das partes, senAo que um conflito<br />

de normas do Estado, proposto em<br />

termos de alcance politico fundamental,<br />

qual seja a volta a normahdade<br />

institucional malferida. Por<br />

essa razAo, a eficacia da decisão<br />

somente se complete quando o<br />

Presidente da Rept:Miler ou o Senado<br />

Federal (arts. 11, § 2?, e 42, VII,<br />

da ConstituicAo) a conhecem para<br />

prover a suspensäo da execucAo do<br />

ato declared° inconstitucional.<br />

Desse modo, tem-se que a jurisdicAo<br />

constitucional do Supremo<br />

Tribunal Federal se exaure por<br />

completo com a eficacia erga<br />

omnes que a sentence conquista<br />

com a suspensAo da execucão do<br />

ato. 0 julgado reveste-se de forge<br />

vinculativa, sem mats possibilidade,<br />

portanto, de o Supremo Tribunal<br />

Federal varier de jurisprudëncia,<br />

o que implica cessacao do poder<br />

jurisclicional sobre a hipOtese,<br />

conforme prelecionam os doutos.<br />

Ora, se tal 6 a natureza da decisap<br />

proferida na representacao,<br />

ve-se que, uma vez integrado 0<br />

fenenneno juridico da decretacão<br />

de inconstftuclonalidade, com a<br />

participacAo do Poder Judiciario e<br />

do Legislativo ou Executivo conforme<br />

o caso nao ha falar-se no restabelecimento<br />

da prestacao jurisdiclonal<br />

que se cumpriu inteiramente.<br />

Nenhum interesse subjetivo,<br />

porventura alcancado pela sentence<br />

(quanto mats que pertencente a<br />

terceiro alheio a acao), podera<br />

sobrepor-se ao principio da imutabilidade<br />

da decretacão de inconstitucionalidade.<br />

Transitada em jul-<br />

R.T.J. — 94<br />

gado, a sentence passou a constituir<br />

termo do ato complexo culminado<br />

na suspensao da execucão da<br />

norma, pondo-se em situacao inatingivel<br />

pela manifestacão unilateral<br />

dos Poderes que atuaram no<br />

processo de recomposicao da normalidade<br />

institucional.<br />

Releva notar que a imutabilidade<br />

da declsao, como caracteristica<br />

necessAria da especialidade do<br />

processo direto de declaracao de<br />

inconstitucionalidade, sempre<br />

preocupou o Supremo Tribunal Fe<br />

deral. Exemplo disso foi a relutancia<br />

com que a Corte Suprema f indou<br />

por admitir a constitucionalidade<br />

da Lei n? 2.271, de 22.9.54, na<br />

parte que dispfis sobre a embargabilidade<br />

de acOrdão proferido na<br />

acAo de representacAo. Consulte-se<br />

A. Cordeiro de Mello (0 Processo<br />

no Supremo Tribunal Federal, vol.<br />

II, pag. 852), em reportagem a assentada<br />

de julsamento em que o<br />

Ministro Hannemann Guimaräes<br />

frisou a indole das decisties dessa<br />

espécie, concluindo nao ser<br />

possivel que dual vezes o Tribunal<br />

decide a mesma questa° da inconstitucionalidade,<br />

principalmente em<br />

face do art. 87 do Regimento Interno<br />

(hoje, leia-se art. 180 do RI).<br />

Que dizer, pots, da rescindibilidade<br />

do acOrdão, quando o fim da declaracao<br />

6 completar-se pela suspensdo<br />

do ato, compondo o quadro da<br />

decretacao de inconstitucionalidadeb><br />

(fls. 113-116).<br />

Impugnando essa argumentacAo,<br />

atraves de seu ilustre advogado Dr.<br />

TheotOnlo Negrao, o autor salienta<br />

que: «0 Egrégio Supremo Tribunal<br />

Federal, em Sessão Plenaria, decidiu,<br />

por unanimidade de votos, ser<br />

incabivel o mandado de seguranca<br />

impetrado pelo ora autor contra o<br />

mesmo acardAo proferido na<br />

presentacao. Assim foi julgado por<br />

se entender que esse actmdAo pertencia<br />

A categoria dos «atos juris-


dicionais», cuja revise° «s6<br />

possivel por via de ace° resets&<br />

ria» (ementa oficial do v acerdeo<br />

no MS 17.483).<br />

NAo se yë por que motivo uma<br />

deliberacAo dessa magnitude nä°<br />

possa ser reexaminada e constltua<br />

verdadeiro tabu. Nilo sendo admissive!<br />

contra ela o mandado de<br />

seguranca, que outro caminho restare,<br />

sank, o da resciseria? Mas,<br />

adnaina pare argumentar que<br />

nem eats fosse possivel, entAo estartamos<br />

em face de uma decislo<br />

que, nAo constituindo colsa julgada,<br />

poderla ser <strong>revista</strong> ex officio.<br />

0 autor, corn a presente aclio, visa<br />

a objetivos preticos e nAo a discussflo<br />

de teses academicas, embora<br />

belissimas. Se em sue alta sabedoria<br />

o El:régi° Supremo Tribunal<br />

Federal entender que pride rever<br />

ex officio o acardfio proferido na<br />

representaclo, entlo aqui Lica espreesainente<br />

o pedido de que essa<br />

revisal) se face, e o macs depressa<br />

possivel.<br />

No fund, alias, o argument° dos<br />

contestantes nao passe de tuna pencil°<br />

de principio, em face dos ternon<br />

em que o autor colocou a<br />

questAo.<br />

0 que ele afirma a que, no caso,<br />

nAo cabia a representaralo. Como<br />

diner-se agora que contra acordao<br />

em representaclo &to cabe KA°<br />

reset/aerie, se o autor este atacando<br />

o cabimento da representacão<br />

e nAo o que nests se decidlu? (NA°<br />

precise atacar-lhe o merit° porque,<br />

como disse, reconhecklo o nä°<br />

cabimento da representacAo e invalided,<br />

por via de conseqtencia,<br />

o acercello vela proferido, passara<br />

a subsistir unicamente a outra decisflo<br />

do Egregio Supremo Tribunal<br />

Federal que le deciarou sem<br />

nenhum direito o terceiro 'Serventente,<br />

Salathiel Soares da Silva).<br />

mega-se ainda, na tentative de<br />

demonstrar-se a inviabilidade da<br />

R.T.J. — 94 53<br />

ace° rescithria, que o pedido 6 ju-<br />

ridicamente impossivel. Eis, porem<br />

o que se pediu: que seja rescindido<br />

«o venerando acerdeo proferido<br />

na Representaclo n? 665,<br />

devendo-se em conseq06ncia, expedir<br />

oficio ao Senado Federal,<br />

para que revogue a Ftesoluclo n?<br />

5, de 11 de Janeiro de 1967, e ao<br />

Govern do Estado de SA° Paulo,<br />

para que revogue o Decreto n?<br />

50.674, de 8 de novembro de 1968,<br />

uma e outro decorrentes do venerando<br />

acerdlo cuja rescistio se<br />

pede.»<br />

E principlo de direito o de que<br />

MIMI tam naturals art Warn eo<br />

nere quidque dissolvere quo earlgab=<br />

est. Se, em virtude de tuna<br />

decisào judicial, o Senado Federal<br />

baixou uma ResolucAo, 6 clam que<br />

este obrigado a baixar nova Resoluclo,<br />

revogando a anterior, se no-<br />

va decisào anular a primeira. 0<br />

mesmo se digs quanta ao Decreto<br />

n? 50.674.<br />

Nem serla a primeira vez que isso<br />

teria acontecido. Tenth o Senado<br />

Federal, atraves da ResoluCao<br />

n? 93, de 1965, dado !notate execucflo<br />

a tuna deeisilo do Egregio Supremo<br />

Tribunal Federal (v. RTJ<br />

38/5 e 38/61), vtu-se forcado a promulgar<br />

nova Res:duck), a de n? 50,<br />

de 7.6.67 (em Lax 1967/1505 e RT<br />

Ma/ 437), revogando a anterior.<br />

No caso, a revogacAo da Resoluclo<br />

e do Decreto nflo passa de meros<br />

efeltos secunderios do julgado.<br />

Acoihida a aclo resciseria, nAo podere°<br />

mesmo continuer subsistindo<br />

esses atos.<br />

Isso nib significa, porem, que,<br />

comp pretende o terceiro interveniente,<br />

o Senado Federal e o Governo<br />

do Estado de Silo Paulo devain<br />

ser partes na ace°. 0 autor<br />

nada pleiteia destes. Tea° de<br />

cumprir o julgado, tad comp o oficial<br />

do reglstro civil, nas aches de


54<br />

R.T.J. — 94<br />

desquite, ou o oficial do registro de<br />

imOveis, nas de usucapião, etc»<br />

(fls. 271-273).<br />

Data yenta, da brilhante dissertaea°<br />

contida na defesa da União, nao<br />

encontro incompatibilidade invencivel<br />

entre a acao direta de declaracão<br />

de inconstitucionalidade de<br />

let ou de ato normative e a KA° rescisOria,<br />

presentes que se acham na<br />

primeira os pressupostos da segunda,<br />

insta dizer, sentenca proferida<br />

em processo contencioso, sobre o<br />

mérito da causa e que fez coisa julgada<br />

material. As objecOes, derivadas<br />

da especialidade da representaa)<br />

de inconstitucionalidade, nä° me<br />

levam a sobrepO-las aqueles pressupostos.<br />

Assim, assiste razão a impugnacdo,<br />

quando observa que, «se o<br />

Senado Federal baixou uma Resolucks,<br />

6 clam que estã obrigado a baixar<br />

nova Resolueao, revogando a anterior,<br />

se nova decisäo rescindir a<br />

primeira» E o que acontece, acrescento,<br />

com as se tend desconstitutivas<br />

proferidas contra o Estado, em<br />

mandado de seguranca ou em acdo<br />

ordinaria. Rescindida a sentenca, a<br />

Administracao PUblica, que the dera<br />

cumprlmento, a obrigada a desfazer<br />

os atos executtrios que praticou.<br />

Relativamente, a ilegitimidade ad<br />

causam do autor para prop& a presente<br />

nä° resciseria, a cothestacao<br />

da Untho aduz o seguinte:<br />

«Por outro lado, quando fosse admissive)<br />

a rescisão do acOrclao declarat6rio<br />

de inconstitucionalidade,<br />

proferido na representacäo, naturalmente<br />

que o direito do judicium<br />

rescindens a ningtthin mais acobertaria,<br />

send° que as partes diretamente<br />

ligadas a relacäo processual,<br />

isto 6, o Procurador-Geral da<br />

Reptiblica e o Estado-membro editor<br />

da norma julgada inconstitucional.<br />

Presa ao interesse Alnico da<br />

normalidade institutional afetada<br />

pela lei contraria a C,onstituiedo, a<br />

decisào na representacao mais nao<br />

produz em eficacia do que o resta-<br />

belecimento dessa normalidade,<br />

gravitando s6 campo de uniformidade<br />

da legislacOo, segundo a<br />

hierarquia do sistema federativo.<br />

Logo, ao terceiro que foi mero<br />

espectador do interesse que fez instaurar<br />

a questa° constitutional,<br />

nao teria como se reconhecer legitimidade<br />

para a reabertura da jurisdicao.<br />

Quando se the permitisse<br />

legitimidade, estar-se-ia reduzindo<br />

a especialidade do processo principal,<br />

tirando-o daquela excepcional<br />

posicão constitutional, para regélo,<br />

na reabertura da instAncia, pelos<br />

principios comuns da formalistica,<br />

com os quais nao se afina.<br />

Em conseqithncia, desinvestirse-la<br />

a decisão de seus caracteres<br />

prOprios, relegando-a ao campo ordinario<br />

da prestacao jurisdicional<br />

devida ao trato dos interesses privados,<br />

quando, em verdade, multo<br />

maior e a sua destinacäo, dirigida,<br />

como se viu, ao trato das relacOes<br />

federativas, sem indagacAo de direltos<br />

individuals porventura interligados.<br />

Os portadores desses direitos,<br />

que em tese sao todos os cidadãos,<br />

ja que a qualquer do povo<br />

atinge a fulminacão de um ato normativo,<br />

nao tern como dispor de<br />

KA° para rescindir o acOrdào, posto<br />

que nao disp6em para instaurar<br />

o conflito, de cuja relacão processual,<br />

quando participem, somente<br />

o fazem como meros assistentes,<br />

ativos ou passivos.<br />

Por conseguinte, conclui-se preliminarmente,<br />

que inteiramente incabivel<br />

6 a acdo rescisdria, no caso,<br />

porquanto se cuida de julgado<br />

que, em representacao, decidiu argilled°<br />

de inconstitucionalidade,<br />

operando a suspensão da execucao<br />

do ato argilido Em Ultima hipOtese,<br />

se fosse cabivel a acdo, legitimidade<br />

nä° teria o autor, que nao<br />

foi parte na representacäo e se<br />

propOe a defender, unicamente interesse<br />

pessoal, do qual, obviamente,<br />

nao tratou a decisäo rescindenda»<br />

(fls. 116-117).


ftedargiliu, porem, o autor:<br />

«Sustenta-se que somente quem<br />

foi parte pode propor agAo rescis&<br />

ria.<br />

Não 6 exato. Quern, devendo ser<br />

parte, nAo foi conclamado ao<br />

litigio, tambem tem qualidade para<br />

a propositura daquela acAo; os<br />

Tribunals, a todo moment°, decidem<br />

que aquele em eujo nome esta<br />

transcrito o imOvel e parte legitima<br />

para propor acão rescisOria<br />

contra decisAo que, sem a sua citecAct,<br />

julgou procedente acAo de<br />

usucapiAo (cf. RT 411/185, 400/218,<br />

381/147, 361/195, 330/422, 319/241,<br />

303/351, 303/592). E, ainda:<br />

«A doutrina dominante (Pontes<br />

de Miranda, Jorge American,<br />

OdiIon de Andrade, Carneiro de<br />

Lacerda, Carvalho Santos e outros)<br />

confere legitimacão tamhem<br />

aos terceiros prejudicados<br />

pela sentenca. Conquanto a coisa<br />

inigada diga respeito apenas as<br />

wales, a sentenca, por sua eficAcia<br />

natural, atinge terceiros,<br />

permitlndo-se-lhes, quando<br />

juridicamente prejudicados,<br />

opor-se-Ihe por meld de recurso<br />

(05d. de Proc. Civil, art. 815), e,<br />

analogicamente, por meio de<br />

an° rescisOria» (Moacyr Amaral<br />

Santos, Primeiras Linhas de<br />

Direito Processual Clvll, 4! ed.,<br />

3? vol., n? 968, p. 459).<br />

No caw, o autor deixou de ser<br />

provido numa serventla, para a qual<br />

jA tin& manifestado omit°, corn<br />

direito de preferAncia (mit° e sem<br />

concorrentes possivels pant essa<br />

nomeacAo. Como negar-]he a quaildade<br />

de tercelro prejudicado?<br />

Tambem se diz que o Estado de<br />

São Paulo 6 que teria qualidade<br />

para a propositura desta acão (f.<br />

116, n? 11), argumentacAo conflitante<br />

corn a do tercelro interessado,<br />

para o qual este Estado devia<br />

ser reu na acilo.<br />

R.T.J. — 94 55<br />

Nem uma coisa, nem outra. Ja<br />

mostramos (item 4, in fine) que<br />

ele tiara 6.<br />

Autor, poderia ser, se o guisesse,<br />

porque, do ponto-de-vista processual,<br />

foi ele o reu na representacao<br />

e, pois, contra ele a que foi<br />

proferida a decisao (embora o Cudco<br />

prejudicado tenha sido 0 ora autor).<br />

Mas o que tem urn direito a yindicar<br />

nth) fica Impedido de manifestar<br />

sua pretensao ern juizo se<br />

outro, nas mesmas condicees, se<br />

onlitir. Na pior das hipeteses para<br />

o autor, se se tratasse de Iltiscons6rcio<br />

ativo necessário, e nal) se<br />

trata, caberia ao eminente Sr. Ministro<br />

Relator, corn apoio no art. 91<br />

do COdigo de Processo Civil, ordenar<br />

a citacão do Estado de Sao<br />

Paulo, se entender que esta pode<br />

ser felta para Integrar o contraditOrio<br />

(o texto da lei Pala em integrar<br />

«a contestacao», de onde uma<br />

corrente de ()pinta°, muito saida,<br />

no sentido de que s6 6 posslvel o<br />

chamamento do co-reu, e nao de litisconsorte<br />

ativo, ainda que necessalt,<br />

como se pode ver no precloso<br />

estudo de Moacyr Lobo da Costa<br />

sobre A Intervenclio Iussu Iudicis no<br />

Processo Civil Brasher°, ed. Saraiva,<br />

1961, n? 35, especialmente p.<br />

110 e 111).<br />

De qualquer forma, e isto 6 que<br />

importa, o autor nth) pode ser prejudicado,<br />

pois tal providancla a determinada<br />

ex officio pelo juiz, de<br />

sorte que, se o processo chega ate<br />

decislio final sem essa citacAo, o<br />

autor não 6 caracedor da acAo,<br />

mas o processo deve ser anulado,<br />

para que o chamamento a juizo se<br />

efetive. E o que se lé ern venerando<br />

acOrdAo publicado em RTJ<br />

56/705, corn a seguinte ementa official:<br />

«A faith de chamamento do 11tisconsorte<br />

necessArio induz nulldade<br />

processual. Recurso ex-


56<br />

R.T.J. — 94<br />

traordinario conhecido e provido,<br />

para anular o processo a partir<br />

do despacho saneador, inclusive,<br />

a fim de que seja regularmente<br />

citado o litisconsorte » (RE<br />

64.663-SP; relator, o Exmo. Sr.<br />

Ministro Djaci Falcão; 1a Turma;<br />

j. 1911.70; conheceram do recurso<br />

e deram-lhe provimento, em<br />

parte, v. u.)<br />

A acAo foi proposta contra o Exmo.<br />

Sr. Procurador-Geral da Reptblica,<br />

por ser este o titular do direito<br />

de acAo, na representacOo.<br />

A capa dos autos consigna que a<br />

KA° e contra a USA° Federal.<br />

Pensa o autor que o reu, no caso,<br />

era mesmo o Exmo. Sr. Procurador.<br />

E basta imaginar o seguinte:<br />

cabendo a representacAo tambem<br />

para a declaracão de inconstitucionalidade<br />

de «lei ou ato normativo<br />

<strong>federal</strong>» (ConstituicAo, art. 119-I-<br />

1), teriamos a MAO° como autora<br />

e re, ao mesmo tempo, em tats cases»<br />

(fls. 273-275).<br />

A questão ndo e, excluslvamente,<br />

de direito processual para que a sua<br />

solucAo possa ser encontrada nas<br />

normas que disciplinam a legitimidade<br />

ad processum, mas nas relativas<br />

a ilegitimidade ad causam, intimamente<br />

vinculada ao direito material<br />

exercitado na lide. 0 judiclum<br />

resclndens a de sobreposicAo a sentenca<br />

proferida na KA° originaria.<br />

A legitimidade para propor uma e<br />

outra e a mesma. Quem nä° tem titulariedade<br />

para propor a KA° originAria,<br />

ou para contests-la, tambem<br />

nAo a tern para ajuizar acAo rescithria.<br />

Ora, parte legitima para propor<br />

a representagão de inconstitucionalidade<br />

de lei ou de ato normativo e o<br />

Procurador-Geral da RepUblica e<br />

macs ninguem, tal como decidiu o<br />

Supremo Tribunal Federal nä RepresentacAo<br />

n9 849. Sugestivo 6, a respeito,<br />

este tepico do voto do relator,<br />

eminente Ministro Adalicio Noguelra,<br />

que, como se vera, fez uma sintese<br />

da argumentacal da maioria:<br />

«ja se ye, pois, que a iniciativa<br />

do Procurador-Geral da Rep(Italica<br />

para encaminhar a representacAo<br />

de inconstitucionalidade ao Supremo<br />

Tribunal e insubstituivel pela<br />

acAo de terceiro. E essa uma atribuicAo<br />

sua, especifica, de que ele<br />

o organ exclusivo. Seria inconcebivel<br />

que outrem se lhe sobrepusesse<br />

nesse procedimento» (RTJ<br />

59/344).<br />

Pela mesma razAo, digo eu, legitimado<br />

exclusivo para acAo rescistiria<br />

de sentenca proferida em RepresentacAo<br />

de Inconstitucionalidade é o<br />

Procurador-Geral da RepUblica. Mc)<br />

ha que se falar em interesse de terceiro.<br />

NAo a dele que trata a KA° direta<br />

de inconstitucionalidade . E o interesse<br />

pAblico que lhe imprime a<br />

especialidade que a distingue dos outros<br />

procedimentos. E manifesto que<br />

uma sentenca informada por<br />

principios de ordem publics, nAo e<br />

suscetivel de ser rescindida, mediante<br />

a inciativa de terceiro acaso<br />

interessado. A especialidade da acdo<br />

originaria dita a especialidade da<br />

acão resciseria, sob pena de<br />

desfigurar-se aquela no judicium<br />

reseindens.<br />

A contestacAo admite que, alem do<br />

Procurador-Geral da Reptiblica, ao<br />

Estado- membro, autor da norma<br />

julgada inconstitucional, assiste, por<br />

igual, o direito ao judicium<br />

rescindens. Abstenho-me de<br />

manifestar-me sobre essa possibilidade,<br />

porque ela nao se acha em discussAo<br />

na especie sub judice.<br />

Ante o exposto, julgo o autor carecedor<br />

da acAo resciseria e condeno-o<br />

nas custas e em honorarios advocaticios,<br />

que fixo em 10% sobre o valor<br />

da causa.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Mastro Rafael Mayer (Revisor):<br />

Procede, a meu ver, a preliminar<br />

de ilegitimidade de parte para<br />

a propositura da KA° rescisOria. Da-


da a natureza da aceo e da sentence<br />

declarathria da inconstitucionalidade<br />

da lei em tese, visando diretamente<br />

realizacAo do direito objetivo pela<br />

desconstituicAo de preceitos de indole<br />

generica, aos particulares ntio<br />

dada a legitimidade para corn relaclio<br />

a ela serem autores, reus, assistentes<br />

ou opoentes. Declara-se a in-<br />

constitucionalidade da lei em tese,<br />

em relacAo a qual, embora possa haver<br />

urn interesse de todos ou de al-<br />

guns cidadeos, sera sempre um interesse<br />

indireto ou politico, •nunca urn<br />

interesse juridico que se possa fazer<br />

valer naquele procedimento. A declaractio<br />

incidental de inconstitudonalidade<br />

inside em Anna relacAo<br />

juridica entre partes deduzida em<br />

juizo, onde ha portanto um interesse<br />

individual a resolver, mas a dechumcAo<br />

em tese f az abstraceo de qualquer<br />

interesse e se coloca no piano<br />

do relacionamento dos Poderes e do<br />

puro exercicio jurisdicional de con-<br />

Mole da constituctonalidade da let<br />

em si mesma considerada, como<br />

manifestaceo da vontade do Estado,<br />

independente dos seus efeltos concretos.<br />

0 interesse do Autor 6 sim-<br />

ples interesse de fato, intense igual<br />

a de todos quantos tem situacCoes individuals<br />

desfeitas em conseqÜencia<br />

da declaraceo da inconstituctonalldade<br />

da lei em que se embasaram,<br />

sem que todavla dal resulte legitimidade<br />

para se altar ao nivel da dtscusseo<br />

da let em si.<br />

Admitir que o Autor tivesse<br />

rnidade part por meio da resciseria,<br />

desconstituir uma declaracAo de inconstitucionalidade<br />

da lei em tese<br />

seria atribuir-lhe, de certo modo, a<br />

titularidade da ace° origlnaria que e<br />

reservada ao Procurador-Geral da<br />

Republica.<br />

Mas esta preliminar este interligada<br />

com a do cabimento da ace° yes-<br />

Simla pots 6 o prOprio nivel, o contexts)<br />

e as implicaciles da declaraceo<br />

da inconstitucionalidade que se me°<br />

runoldam ao quadro do Infra resentdente.<br />

question-se, no caso, a im-<br />

R.T.J. — 94 57<br />

possibilidade que haveria em lever o<br />

Senado a editar nova resoluceo pela<br />

qual revogasse a suspense° da lei<br />

declarada inconstitucional. Mas tambem<br />

sob outro prlsma, o de que a declaracAo<br />

da inconstitucionalidade<br />

em tese importa a desconstituicAo, a<br />

nulificacAo da prepria lei em si, como<br />

efeito imediato da sentence desconstitutive,<br />

a dificuldade se apresenta<br />

na impossibilidade de restau-<br />

rar o que tot desconstituido, pots se<br />

diz corn raze° que os efeitos da sentence<br />

seo imutaveis.<br />

Por outro lado, interligando-se aos<br />

aspectos abordados no problema da<br />

legitimidade, ter-seta que a rescis6ria<br />

seria urn meio de desvlrtuar o<br />

Procedimento rescindendo afetando<br />

os seus contornos constitucionais.<br />

Assim, tanto pela impropriedade<br />

da ace°, como pela degItimidade de<br />

parte procede a defesa do douto<br />

Procurador-Gera] da Reptrblica. Julgo<br />

o Autor carecedor da acAo.<br />

ESCLARECIMENTO<br />

0 Sr. Mintstro Soares Muiloz (Relator):<br />

Sr. Presidente, data verde,<br />

Tao vejo razAo pare o descablmento<br />

da aCao resciseria de sentence proferida<br />

em representaceo de inconsti-<br />

tucionalidade, se Proposta (a resetsOria)<br />

pelo Procurador-Gera] da RepUblica.<br />

Nesse ace° originaria encontramse<br />

os pressupostos do cabimento do<br />

judiclum rescisorium, vale dizer:<br />

de contenclosa, sentence sobre o merito<br />

e a coisa julgada.<br />

A circunstAncia de a lei declarada<br />

inconstitucional ter tido sua execuclio<br />

suspense pelo Senado Federal<br />

WI° constitut Obice invencivel ao cabimento<br />

da resets:via, pots, tuna vez<br />

julgada procedente esta, caberit ao<br />

Senado Federal levantar a suspensAo,<br />

p<strong>revista</strong> no art. 42, VII, da<br />

Constituiceo da Fteptiblica.<br />

E o interesse que possa ter o<br />

Procurador-Geral para proper a


58<br />

acAo rescisOria 6 manifesto, tanto no<br />

caso de a representacAo ter sido julgada<br />

procedente quanto improcedente,<br />

presente que se encontra urn dos<br />

pressupostos estabelecidos no art.<br />

485 do Cédigo de Processo Civil.<br />

que nAo a possivel admitir-se e<br />

que o judicium rescisorlum seja<br />

acionado pelo particular, porque, entao,<br />

se estaria desfigurando nele os<br />

interesses de natureza pftblica que<br />

informam a representacão de inconstitucionalidade.<br />

Foi, por isso, que, em face das<br />

duas preliminares, resolvi acolher<br />

somente a referente a ilegitimidade<br />

ad causam do autor.<br />

VOTO SOBRE PRELIMINARES<br />

Sr. Ministro Cunha Peixoto —<br />

Sr. Presidente, data yenta do eminente<br />

Relator, pelos fundamentos do<br />

voto do eminente Ministro Rafael<br />

Mayer, acolho a preliminar de impropriedade<br />

da acAo.<br />

VOTO SOBRE PRELIMINARES<br />

Sr. Ministro Moreira Alves —<br />

Sr. Presidente, eu também, data<br />

venia do eminente Relator, acolho a<br />

preliminar de impropriedade da<br />

acão.<br />

A meu ver, a acAo direta de declaracAo<br />

de inconstitucionalidade 6 urn<br />

meio de controle politico da ConstituicAo,<br />

que b deferido, em carAter<br />

excepcionalissimo, a esta Suprema<br />

Corte. eminente Procurador-Geral da<br />

Reptibilea 0 o titular dessa representacão,<br />

apenas para o efeito de provocar,<br />

ou nAo, o Tribunal, porque ele,<br />

como OrgAo politico — ja que se trata<br />

de acão de natureza politica, pots<br />

o que se decide sAo os limites da<br />

atuacdo de dots Poderes conjugados<br />

ao elaborar uma lei —, pode encaminhar,<br />

ou nap, o pedido. Mas, uma<br />

vet encaminhado, nem mesmo ele<br />

pode mats retire-lo. E mats. Ainda<br />

R.T.J. — 94<br />

que seja contrArio ao próprio pedido<br />

que encaminha, o Regimento se the<br />

defere a possibilidade de dar parecer<br />

em contrArio.<br />

Essas peculiaridades e o f ato de<br />

que o prOprio Supremo pode dispenser<br />

as inf ormacOes do Congresso ou<br />

da Assembleia estäo a demonstrar, a<br />

meu ver, o carAter excepcional dessa<br />

acão.<br />

por ser ela instrumento de controle<br />

politico da constitucionalidade<br />

da lei em tese, e não estritamente<br />

meio de prestacdo jurisdicional,<br />

se me afigura possivel sujeita-la a<br />

KA° rescisOria p<strong>revista</strong> no Cedlgo<br />

de Processo Civil.<br />

VOTO SOBRE PRELIMINAR<br />

Sr. Ministro Cordeiro Guerra:<br />

Sr. Presidente, acolho a impossibilidade<br />

juridica da acão rescisAria nas<br />

representacOes por inconstitucionalidade.<br />

Uma vez julgada procedente, suspende<br />

a lei em caster definitivo,<br />

porque, logicamente, uma lei näo pode<br />

ser periodicamente inconstitucional<br />

e periodicamente constittrAonal.<br />

Se o Supremo Tribunal, em tese, declara<br />

a inconstitucionalidade tuna<br />

lei, a rescisAria que, por urn absurdo,<br />

fosse admitida, ndo teria a finalidade<br />

de rescindir o acOrdAo do Supremo,<br />

mas, repristinar tuna lei declarada<br />

inconstitucional pelo Supremo<br />

Tribunal e suspensa pelo Senado<br />

Federal. Ora, nem o Supremo Tribunal<br />

pode repristinar uma lei, nem<br />

determinar a revogacão de urn ato<br />

legitimo praticado pelo Senado, em<br />

conseqiiéncia da declaracAo de inconstitucionalidade<br />

desta mesma lei,<br />

em tese<br />

Sr. Ministro Soares Mtuloz (Relator):<br />

Mas o Senado Federal nä()<br />

cassou a lei; sua execucão suspendeu<br />

(art. 42, VII, da CF).<br />

Sr. Ministro Cordeiro Guerra:<br />

Mas declarou que ela a inconstitucional,<br />

invAlida perante a ConstituicAo.


VOTO SOBRE PRELIMINAR<br />

0 Sr. Mastro Thompson Flores —<br />

Senhor Presidente. Peso yenta ao<br />

eminente Relator, cujo voto acompanharla,<br />

se pudesse apreciar o fundamento<br />

por S. Exa. acolhido.<br />

Todavia, ha uma razao malor que<br />

obsta a citada apreciacão, a inviabi-<br />

Ildade juridica do pedido, a goal me<br />

leva, inelutavelmente, a concluir pela<br />

carencia da acao, como considerou<br />

o voto do eminente Revisor.<br />

Trata-se de causa mencionada no<br />

art. 267, VI, que, reconhecida, importa<br />

em extincao do preprio pedido.<br />

E, com precisäo indicou-a o pare-<br />

cer da douta Procuradoria-Geral da<br />

Ftep6bIlca, cuja leitura procedeu o<br />

eminente Relator.<br />

As razbes expendidas no referido<br />

parecer acrescento as consideracbes<br />

que acaba de produzir em seu vote o<br />

eminente Ministro Moreira Alves.<br />

Evidenciam todas que a representea°,<br />

procedimento especialissimo,<br />

quica origlnalidade do direito brasitaro,<br />

norma disciplinadora que brota<br />

da prOpria Constituictic e por ela<br />

delimitada, corn indole eminentemente<br />

politica, de iniciativa exclusive<br />

do Procurador-Geral da ReaIlea,<br />

o qual jamais pod dela desistir,<br />

pa° comporta rescisao, maxime pelos<br />

efeitos politicos ja causados,<br />

emergentes de seu acolhimento.<br />

Assim, inviavel a rescisfria a<br />

qual, como 6 sabido, assenta em<br />

pressupostos outros, ausentes com<br />

respeito ao processo de representa-<br />

°Ito, por inconstitucionalidade, em<br />

tese da lei.<br />

g o meu voto, data yenta.<br />

VOTO SOBRE PRELIMINAR<br />

0 Sr. Ministro Djaci FalcAo: Sr.<br />

Presidente, tenho pare mim que a<br />

representacao de inconstitucionali-<br />

R.T.J. — 94 59<br />

dad tem uma natureza peculiarissima,<br />

eminentemente politica, a envolver<br />

a lei em tese, e não interesse de<br />

pessoas. Trata-se de inovacao instituida<br />

corn a Carta Politica de 1946<br />

(art. 8?, Paragrafo tJnico), visando<br />

resguardar a ordem juridica, independente,<br />

pots, de lesao a direito individual.<br />

Diante dessa situacao jtuldicopolitica<br />

em que se sane a representacao,<br />

a rescisoria nä° 6 mete idOneo<br />

para rescindir a decisão que venha a<br />

ser proferida na chamada acao direta,<br />

para declaraceo da inconstitucionalidade<br />

de lei.<br />

Acolho, assim, a primeira prelirninar,<br />

julgando prejudicada a segunda.<br />

VOTO SOBRE PRELIMINAR<br />

0 Sr. Mlnistro Antonio Node'',<br />

(Presidente): Também eu peso<br />

ao eminente Relator pare votar<br />

pelo acolhimento da preliminar nos<br />

termos da fundamentacito do voto do<br />

eminente Ministro Moreira Alves.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

AR. 878 — SP — Rel., Min. Soares<br />

Murloz. Rev.: Rafael Mayer. Autor.:<br />

Alexandre Barduzzi. (Adv.: Theotonio<br />

Negrao). R6.: Uniäo Federal. Li-<br />

tisconsorte: Salathiel Soares da Silva.<br />

(Adv.: Teofilo Xavier de Mendonca<br />

e outro).<br />

Decisao: Em votacao uniforme jtd-<br />

gou o Tribunal que 0 autor carece da<br />

aviio porque a resciseria não 6 admissivel<br />

no caso, vencido em parte,<br />

o Ministro Relator, que admitiu a<br />

ace° para o caso mas considerava<br />

que 6 parte llegftima o autor. Impedidos<br />

os Srs. Ministros Xavier de Albuquerque<br />

e Decio Miranda.


60<br />

Presidência do Senhor Ministro<br />

Antonio Neder Presentes a Sessão<br />

os Senhores Ministros Djaci FalcAo,<br />

Thompson Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves, Cunha Peixoto, Soares Minloz,<br />

Decio Miranda e Rafael Mayer. —<br />

R.T.J. — 94<br />

ACAO RESCISORIA N? 950 — SP<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Ausente, licenciado, o Sr. Ministro<br />

Leitão de Abreu. Procurador-Geral<br />

da ReptibBea, Dr. Firmino Ferreira<br />

Paz.<br />

Brasilia, 19 de marco de 1980. —<br />

Alberto Veronese Agular, SecretArlo.<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Rafael Mayer.<br />

Autora: Massey-Ferguson do Brasil S/A Indristria e Comercio — Re:<br />

UniAo Federal,<br />

1?) . AcAo resciseria. Competencia. Agravo regimental desprovido.<br />

Embora se trate de inadmissilo de recurso extraordinario, a questao<br />

<strong>federal</strong> foi apreciada de modo a firmer a competancia do STF.<br />

2!) Imposto de renda. Multa. Divida confessada. Retroatividade<br />

benéfica do Dec.-Lei 401/68. Indeferimento do pedido de reducao, nao<br />

s6 por ter sido requerido a destempo, como por se tratar de situitclio<br />

definitivamente julgada no ambito administrativo. Inocorrancia de<br />

violas ao a literal disposicao da lei. — Actio rescisOria improcedente.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em SessAo<br />

Plena, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e notas taquigrAficas, A<br />

unanimidade, julgar improcedente a<br />

resciseria.<br />

Brasilia, 26 de margo de 1980 —<br />

Antonio Neder, Presidente — Rafael<br />

Mayer, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Rafael Mayer:<br />

Massey-Ferguson do Brasil S/A prop6e<br />

a presente acAo resciseria contra<br />

a UniAo Federal sob o fundamento<br />

do art. 485, incisos V e IX,<br />

parAgrafo 1?, do COdigo de Processo<br />

Civil, tendo por objeto desconstituir<br />

o acerdAo proferido pela Segunda<br />

Turma deste Tribunal, no Agravo de<br />

Instrumento n? 56.853, em grau de<br />

agravo regimental, relatado pelo<br />

eminente Ministro Thompson Flores.<br />

2. 0 acerdAo rescindendo tern a seguinte<br />

ementa:<br />

«Imposto de renda. Multa. Pedido<br />

de reducAo requerido a destempo,<br />

segundo disposicAo do<br />

Decreto-lel n? 401/68.<br />

II —; Mandado de seguranca, por<br />

fim denegado.<br />

III — Recurso extraordinArio<br />

inadmitido por falta de pressupostos.»<br />

E o voto do eminente Ministro-<br />

Relator assim se expressou:<br />

«Nego provimento ao agravo.<br />

2. Fago-o porque a decisão originAria<br />

e antes transcrita vale por<br />

si, nAo a tendo infirmado, nem a<br />

fundamentacão do agravo de instrumento,<br />

nem, sequer, a do regimental,<br />

sua argumentagAo e a<br />

mesma, dispensando consideracOes<br />

outras.


o meu voto.»<br />

0 despacho, no agravo de instrumento,<br />

de que fora interposto o<br />

regimental acima aludido, estA assim<br />

vazado:<br />

«Vlstos. Nego seguimento ao<br />

agravo, nos termos do art. 22, § 1?,<br />

do Regiment° Intern°.<br />

2. Faco para adotar por inteiro<br />

os ftmdamentos do despacho<br />

agravado de fls. 82/85, os gnats,<br />

porque corretos e em sintonia corn<br />

elementos informativos constantes<br />

dos autos, dispensam quaisquer<br />

acrtscimos . 3. Em conseq0Bncia,<br />

arqulve-se. Publique-se.»<br />

Por sua vez, o despacho que indeferiu<br />

o recurso extraordinario, de<br />

lavra do eminente Ministro Armando<br />

Rollemberg, e que faz parte integrante<br />

da decistio rescidenda, pela<br />

incorporacAo dos seus fundamentos,<br />

esta colocado nos seguintes termos:<br />

«Contra Massey-Ferguson do<br />

Brasil S/A — Indfistria e Comercio,<br />

foi Instaurada acAo fiscal<br />

da qual decorreram lancamento.<br />

ex officio que se tornam definitivos<br />

por nAo ter o contribuinte apresentado<br />

reclamacAo no prazo de trinta<br />

Was, como facultado por lei.<br />

Invocando o Decreto-lel 401, de<br />

30 de dezembro de 1968, pleiteou,<br />

em 11 de marco de 1969, o parcelsmento<br />

do debit° corn a reduclio da<br />

multa que the fora aplicada de<br />

100% para 150%, o que the fol indeferido<br />

pela autoridade, sob o fundament°<br />

de que tal reducão,<br />

tratando-se de processo que JA estava<br />

definitivamente encerrado,<br />

somente fora admItido pelo citado<br />

diploma legal quando o contribulnte<br />

a requeresse dentro de 60 dias<br />

da data em que entrou em vigor,<br />

prazo que a Interessada deixara<br />

escoar.<br />

Inconformada impetrou mandado<br />

de seguranca que, deferido<br />

na primeira instAncla, velo a ser<br />

R.T.J. — 94 61<br />

cassado por Turma Julgadora deste<br />

Tribunal.<br />

Veio a contribulnte entAo corn recurs°<br />

extraordinArio arguindo violacflo<br />

do art. 153, § 4?, da ConstituicAo,<br />

negativa de viencia ao art.<br />

106, II, C, do C6digo Tributario Naclonal<br />

e ao 3? do art. 6? da Lei de<br />

IntroducAo ao C6digo Civil, bem<br />

como que nAo se dera razoável interpretacAo<br />

ao art. 23 do Decretolei<br />

401-68. Sustentou ainda que o<br />

Julgado recorrido conflitou corn decistles<br />

nas quals se admitiu a<br />

aplicacAo do principio da lex<br />

mitior em direito fiscal e que tal<br />

aplicacflo se deveria dar quando<br />

nAo houvesse decisAo judicial transitada<br />

em julgado.<br />

2 — Dispite o art. 106 do C6digo<br />

Tributarlo Nacional:<br />

RA lei aplica-se ao ato ou fato<br />

preterito:<br />

I — em qualquer caso, quando<br />

se expressamente Interpretativa<br />

exclulda a aplicaclio de penalidade<br />

a infracAo dos dispositivos<br />

Interpretados;<br />

II — Tratando-se de ato nAo definitivamente<br />

julgado;<br />

quando deixa de defini-lo como<br />

infracAo;<br />

quando deixa de trata-lo como<br />

contrario a qualquer exigéncla<br />

de rick) ou omissito, desde<br />

que nAo tenha sido fraudulent° e<br />

nAo tenha implicado em falta de<br />

pagamento de tributo;<br />

c) quando the comina penalidade<br />

menos severa que a p<strong>revista</strong><br />

na lel vigente ao tempo de<br />

sua pratica.»<br />

Da lettura de tal disposicão se<br />

verifica que al se consagrou o<br />

principio de que a lex mitior somente<br />

se aplica no direito fiscal<br />

em relacAo a ato nAo deflnitivamente<br />

julgado. Ora, no caso do<br />

lancamento ex officio feito contra<br />

a recorrente, o ato respectivo


62<br />

tornou-se definitivo por ndo ter<br />

contra ele reclamacdo no prazo legal,<br />

corn o que A hipOtese, nä°<br />

aplicacdo a norma do art. 106,<br />

II, c, da Lei 5.172/66.<br />

0 Decreto-lei 401-68, porem, foi<br />

mats amplo que o C6cligo Tributario<br />

Nacional na fixacdo da apneacão<br />

da norma mais benefica ao<br />

contribuinte e admitiu, no seu art.<br />

23, que a reducdo do percentual da<br />

multa previsto na tetra a do art.<br />

21, exatamente a que havia sido<br />

aplicada a recorrente, se fizesse a<br />

processos definitivamente julgados,<br />

desde que os contribuintes o<br />

requeressem dentro do prazo de 60<br />

dias de sua publicacdo. NM) providenciou<br />

a recorrente, entretanto, o<br />

requerimento dentro de tal prazo<br />

com o que tal norma tornou-se-lhe<br />

inaplicavel.<br />

Procura fugir a essa conclusdo<br />

sustentando que definitivamente<br />

julgado a somente o processo no<br />

qual haja sido proferida decisdo judicial<br />

definitiva, no que nao the assiste<br />

razdo, pois se conformara<br />

corn a decisdo administrativa, tanto<br />

que requereu o pagamento parcelado<br />

do debito originado de Iancamento<br />

que tal decisdo entendera<br />

correto.<br />

Lanca, por fim, argumento<br />

habil mats Improcedente, tal<br />

seja o de que admitindo-se como<br />

definitiva decisdo administrativa<br />

se estaria contrariando o preceito<br />

constitutional que assegura a<br />

apreciacdo, pelo Poder Judiciario,<br />

de qualquer lesdo a direito. Para<br />

que tivesse razao seria necessario<br />

que a lei dissesse que estaria fora<br />

do alcance do Judiciario o exarbe<br />

da procedencia ou ride d P decisdo<br />

administrativa, o aue ndo ocorreu,<br />

pois o que nela se considerou foram<br />

hipOteses em que, tal como se<br />

deu no caso dos autos, a decisdo administrativa<br />

setornaradefinitiva em<br />

conseqtlencia de reconhectmento,<br />

pelo contribuinte, de sua proceden-<br />

R.T.J. — 94<br />

cia, que, por isso, dela nä° recorrera<br />

na 6rbita administrativa e nem<br />

pugnara pela sua anulacdo perante<br />

o Judiciario.<br />

No caso concrete, alias, e tanto<br />

mais procedente a conclusão acima,<br />

quanto o contribuinte, no mandado<br />

de seguranca, nä° discutiu o<br />

fate gerador do tributo, nem a<br />

existencia das circunstancias que<br />

levaram A aplicacdo da penalidade<br />

e sim pleiteou que esta fosse reduzida<br />

corn apoio na lei que estabelecera<br />

prazo para o favor, ao qual<br />

desatendera.<br />

Inexiste, assim, quer negativa de<br />

vigencia da lei, quer dissidio de<br />

julgados.<br />

Indefiro o recurso.<br />

Publique-se.»<br />

3. Relata a initial que a Autora teve<br />

suas declaracdes de Imposto de<br />

Renda, relativas aos exercicios de<br />

65,66 e 67, impugnadas pela Fazenda<br />

que nao concordou corn deducees feitas.<br />

Antes que se decidisse o assunto,<br />

advelo o Decreto-iei n? 352/68,<br />

de cuja anistla partial de penalidades<br />

a Autora postMou beneficiarse,<br />

calculando o montante do seu debito<br />

e o recolhendo, espontaneamente.<br />

Mas a Fazenda ndo aceitou o imposto<br />

assim calculado e notificou a<br />

Autora para o recolhimento do debito<br />

de Cr$ 27.769,00, a titulo de imposto,<br />

e Cr$ 344.036,00, a titulo de<br />

multa. Nesse Interim, foi baixado 0<br />

Decreto-lei n? 401/68, e, jplgando-se<br />

a Autora beneficiada pelo art. 21, tetra<br />

c, que reduzia para 150% a multa<br />

de 300% que the fora linposta e pela<br />

retroatividAde benefica da lei fiscal,<br />

nos termos do art. 106, 71, c, do CTN,<br />

formulou pedido de pare lamento do<br />

debito, ccm todas as coautelas recomendada<br />

3„ inclusive a confissdo<br />

do montante da divida que the pareceu<br />

correto, nos termos da lei. Entretanto,<br />

o pedido foi indeferido sob


dots motivos: a) a Autora se teria reducAo<br />

da multa se o pedido houvesse<br />

ingressado ate 28.2.1969, dentro do<br />

prazo de 60 dias concedido pelo art.<br />

23 do Decreto-lei n? 401/68, jA que<br />

seu caso estaria definitivamente julgado,<br />

corn a nAo apresentactio de reclamaclio<br />

administrative contra tancement°<br />

ex officio; b) nAo tendo Wren°<br />

a multa benefice, a Autora nee)<br />

teria confessado a totalidade do seu<br />

debito. Contra essa decisilo administrative<br />

6 que foi impetrado mandado<br />

de seguranca para o efeito de (a) pagar<br />

o seu debito parceladamente; e<br />

(b) na forma confessada, isto e, corn<br />

aproveitamento da multa p<strong>revista</strong><br />

no art. 21, c, do DL 401/68, e e esse<br />

mandado que este em cause na decisAo<br />

rescindenda.<br />

4. Feb° art. 485, V, do COdigo de<br />

Processo Civil, Indica a Autora que a<br />

decisAo rescindenda contrarlou literal<br />

disPosIctio dos arts. 97 e 106, inciso<br />

II, letra c, do CTN, do art. 6?,<br />

paregrafo 3?, da Lei de Introducão<br />

ao 06dW° Civil e do art. 153, 4? e 29<br />

da Constituicilo Federal.<br />

A clareza do texto da let tributeria<br />

apenas exclui da retroatividade benefice<br />

o ato definitivamente julgado,<br />

o dispositivo da lei introdutória do<br />

COdigo Civil fornece o precis() alcance<br />

da expressão, ao deft& caso<br />

julgado ou coisa julgada, como a decisAo<br />

de que não caiba recurso. Somente<br />

as decisOes do Poder JudiciArio<br />

6 possivel atribuir-se o carater de<br />

coisa julgada, de modo que ao considerar<br />

como definitivamente julgado<br />

um lancamento administrativo<br />

ex officio, ofendeu simultaneamente<br />

a esses dispositivos.<br />

5. 0 acOrdAo rescindendo tambem<br />

suscetivel de desconstittdclio pelo<br />

fundament() do art. 485, incise IX,<br />

1?, do C6cligo de Processo Civil, pots<br />

fundou-se em erro de fate ao considerar<br />

como razAo de decidir pela<br />

definitividade do ato administrativo<br />

que o Autor havia confessado a totalidade<br />

do debito, pots, na verdade,<br />

R.T.J. — 94 63<br />

confessou apenas parte, e assim o<br />

mesmo acerdAo admitiu fato inexistente.<br />

Ademais 6 impossivel em Direito<br />

Tributerio admitir que a conflssAo<br />

condicAo de constituir<br />

coisa julgada o lancamento admintstrattvo.<br />

A aceo fol contestada, preliminarmente,<br />

corn a alegactio de litispendencia<br />

e da inocorrencia dos<br />

pressupostos da ace°, e, no merit(),<br />

pela improcedencia.<br />

Rejeitei a execucAo de litispendencia<br />

sem que as partes recorressem<br />

do despacho, nAo houve proposicAo<br />

de prove a produzir e as mesmas<br />

partes ofereceram alegacOes finals,<br />

reiterando os seus argumentos.<br />

o relatOrio, que submeto<br />

apreciacAo do eminente Ministro<br />

Djact FalcAo, revisor.<br />

Oportunamente, extraiam-se c6-<br />

Sas deste relaterio para serem remetidas<br />

aos eminentes Ministros.<br />

Brasilia, 05 de fevereiro de 1980 —<br />

?Mastro Rafael Mayer, Relator.<br />

VOTO<br />

Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator):<br />

Competente e o Supremo Tribunal<br />

para o julgamento desta ace°,<br />

pots o acerdilo rescindendo se reporta<br />

a decistles anteriores, inclusive<br />

o despacho que, no Tribunal Federal<br />

de Recursos, inadmitiu o recurs() extraordinitrio,<br />

para incorporar, como<br />

prOprios, os seus fundamentos. Por<br />

at se ye que, embora se trate de<br />

inadmissAo de recurso extraordinitrio,<br />

a questAo <strong>federal</strong> OM substancialmente<br />

versada, de modo a firmar<br />

a competencia aludida, na conformidade<br />

de <strong>jurisprudencia</strong> pacifica,<br />

sendo, por outro lado, tempestiva<br />

a acão intentada.<br />

A pretense() da Autora, veiculada<br />

pelo mandado de seguranca na instAncia<br />

originaria, e a1 repelida, se<br />

centrava na consecucão da retroattvidade<br />

benefice da lei tributaria, es-


64<br />

to representada pelo Decreto-lei n?<br />

401, de 1968, que reduzia para 150% a<br />

multa que the estava sendo exigida<br />

na ordem de 300% (art. 21, C),<br />

aplicando-se o beneficlo mesmo a<br />

processos definitivamente julgados,<br />

desde que requerido em sessenta<br />

dias da data da lei (art. 23). A razao<br />

essential do indeferimento fora a intempestividade<br />

do requerimento por<br />

se tratar de situacao deflnitivamente<br />

julgada, inclusive pelo irretratavel<br />

de uma confissao.<br />

O acOrd.do rescindendo recusou admi<br />

tir ocorresse nessa decisao negativa<br />

de vigencia do art. 153, § 4?, da<br />

Constituted°, do art. 106, II, c, do<br />

CTN, e do art. 6?, § 3?, da Lei de Introducan<br />

ao C6digo Civil, e esses<br />

mesmos dispositivos ora On indicados<br />

como violados na sua literalidade.<br />

O ndcleo da argumentacao da rescisOria<br />

se situa na interpretacao a<br />

ser dada ao art. 106, II, c, do CTN,<br />

segundo a qual se asseguraria a retroatividade<br />

da lei a ato preterite,<br />

quando comine penalidade mais<br />

branda, tratando-se de ato nao definitivamente<br />

julgado, e 6 nessa<br />

clausula modal que se pOe a controversia.<br />

Como se ye da prOpr la constelacao<br />

de disposicOes legais invocadas todas<br />

como malferidas, a Autora propOe<br />

o entendimento de que o termo<br />

de preclusao do beneficio retroativo<br />

at posto, somente estaria na prepria<br />

coisa julgada judicial, em sentenca<br />

do Poder Judiciario transitada em<br />

julgado.<br />

Entretanto, essa interpretacao restritiva<br />

nao se amolda ao contexto da<br />

legislacao em que se situa e ao reconhecimento<br />

da instancia e de um<br />

procedimento admintstrativo-tributado.<br />

Sem prejuizo de que ao Judiciario<br />

compita constitucionalmente a irrestrita<br />

apreciacao das lesOes do direlto<br />

subjetivo, cabe a Administracao<br />

também a realizacao do Direito,<br />

anlicando a lei aos casos, segundo<br />

R.T.J. — 94<br />

procedimentos prOprios que se traduzem<br />

16gica e necessariamente em<br />

decisdes ou julgamentos que, pela<br />

preclusao, se tornam definitivos. E<br />

definitivo 8 o ato administrativotributário<br />

de lancamento do imposto,<br />

quando ja nao penda recurso administrativo,<br />

pots o que dai resulta e a<br />

prepria constituicao do credit° tributad°,<br />

emergente do procedimento<br />

fiscal pertinente.<br />

Considerando coma redundante<br />

que a lei tributaria viesse opor a sua<br />

aplicacäo retroativa a existancia de<br />

coisa julgada judicial, pots esta e<br />

realidade juridica que ja tern respaldo<br />

no instituto constitutional, certo<br />

que se deve ter em vista que o pensamento<br />

da norma tributaria 6 de<br />

estabelecer um marco na instancia<br />

administrativa, antes do qual nao se<br />

farti valer o efeito retroativo em beneficio<br />

do contribuinte.<br />

Para que o ato administrativo, inclusive<br />

na area tributária, alcance a<br />

perfeicao, a eficacia e a executoriedade<br />

que the sac) pit/arias, e necessario<br />

que esteja revestido da caracteristica<br />

da efetividade. Quando 0<br />

ato tenha contend° deciserio, envolvendo<br />

o deslinde de interesses<br />

particulares em conflito corn a Administracdo,<br />

ao termo de urn procedimento,<br />

estamos diante de urn<br />

julgamento, nos limites da jurisdicao<br />

administrativa, e julgamento definitivo<br />

quando nä° haja mats possibilidade<br />

de alteracao nessa instancia.<br />

Ainda que corn impropriedade, mas<br />

por analogia, o fato tem recebido a<br />

denomtnacao de coisa julgada administrativa.<br />

Tenho, portanto, que ao interpretar<br />

o prefalado artigo do COdigo Tributario<br />

e o inciso do Dec.-lei n?<br />

401/68, no sentido de que o ato definitivamente<br />

julgado 6 aquele que foi<br />

objeto de apreciacdo final do procedimento<br />

administrativo, o acerclao<br />

rescindendo adotou o entendimento<br />

compativel corn a tetra e o espirito<br />

da norma, situando-a no sistema tributario.


0 reconhecimento da definitividade<br />

do Julgamento administrativo,<br />

em seu prOprio Ambito, para efeito<br />

do surgimento do crédito tributtwio,<br />

nit° importa em negar a possibilidade<br />

do seu controle judicial, nos termos<br />

da ConstituicAo, nem, portanto,<br />

em ofensa ao art. 153, 4?, da ConstituicAo,<br />

como tamb6m ao art. 6?,<br />

3?, da Lei de IntroducAo ao Cédigo<br />

Civil, por nAo se tratar, na espècie,<br />

de coisa julgada judicial.<br />

Finalmente, a Autora pretende<br />

ocorrido o fundamento de rescisão<br />

pelo art. 485, IX, ff 1?, do C6digo de<br />

processo Civil, sob color de que houve<br />

erro de fate, por isso que o despacho<br />

rescindendo admitiu que houvesse<br />

confissAo total do &tit°, quando<br />

houve apenas parietal. Mesmo admitido<br />

houvesse erro de fate, o fundament°<br />

nib prevaleceria. Primeiro<br />

porque houve controversia e pronunciamento<br />

Judicial sobre o tema,<br />

eis que a confissAo 6 especificamente<br />

contemplada na decisAo rescindenda,<br />

e assim, pelo 4 2?, do mesmo<br />

inciso, se afasta a sua invocacAo.<br />

Por outro lado, a confissAo, como<br />

causa de definitividade do ato e<br />

alinhada ao lado -do lancamento ex<br />

officio, sobre o qual nAo incidiu recurso,<br />

e que atribtli definitividade ao<br />

ate independente desse outro motivo,<br />

razAo por que, aquele nAo Witt sido<br />

razAo (mica de decidir.<br />

Febexposto, cuido inocorrente a<br />

ofensa aos dispositivos de lei 1nvocados,<br />

e, de consegUinte, Julgo<br />

procedente a acdo, condenando a Autors<br />

as cominacties da suctunbëncia,<br />

inclusive honorttrios de advogado em<br />

10% sobre o valor da causa.<br />

0 Sr. Ministro Djacl FakAo (Revisor):<br />

A presente acAo, arrimada no<br />

art. 485, incs. V e, IX, do C6digo de<br />

Process° Civil. visa a desconstituir<br />

decklo tomada em agravo regimental.<br />

julgado pedit Egrtgia Segunda<br />

Turma. A decisAo rescindenda,<br />

R.T.J. — 94 65<br />

apolou-se nos fundamentos do despacho<br />

que inadmitiu o recurso extraordinario,<br />

onde mereceram<br />

apreciacAo questties de direito <strong>federal</strong><br />

(art. 153, 3?, da ConstitukAo<br />

Federal, art. 106, inc. II, letra c, do<br />

CTN e 3? do art. 6? da Lei de IntroducAo<br />

ao C6digo Civil).<br />

Dessarte, situa-se no Ambito da<br />

competEncia do Supremo TribUnal<br />

Federal (alma 249).<br />

0 primer° argumento da autora<br />

consiste em violacAo do disposto no<br />

art. 106, inc. II, letra c, do CTN, que<br />

estabelece a substituicAo da pena<br />

macs grave da lei vigente ao tempo<br />

do ato pumvel, pela sancAo menos<br />

severa da lei nova. Tem-se ai norma<br />

de retroatividade benign, inspirada<br />

no C6digo Penal (art. 2?, paragrafo<br />

Cmico).<br />

Como observava o saudoso Professor<br />

e Ministro Allomar Baleeiro:<br />

«A disposicAo nAo o diz, mas, pela<br />

pr6pria natureza dela, ha de<br />

entender-se como compreensiva do<br />

Julgamento tanto administrativo<br />

como judicial». (Direito Trib.<br />

Braslleiro, 9? edicAo, pttg. 3138).<br />

0 acOrdAo da Turma louvou-se no<br />

despacho do Presidente Armando<br />

Rolemberg, que delxou explicito:<br />

«Ora, no caso do lancamento ex<br />

officio felto contra a recorrente, o<br />

ato respectivo tornou-se definitivo<br />

por não ter contra ele reclamado<br />

no prazo legal, com o que A hiptitese,<br />

Mk° tinha aplicactio a norma do<br />

art. 106, II, c, da Lei 5.172/66».<br />

Al6m disso, 6 fora de dttvida que<br />

no prazo do art. 23 do Dec.- Lei<br />

401/68, a recorrente nAo requereu a<br />

reducao do percentual da multa p<strong>revista</strong><br />

na tetra a do art. 21 do mesmo<br />

diploma. Constitulu-se, em definitivo,<br />

o credito tributario. Por outro<br />

lado, jamais houve afronta ao<br />

principio do controle judicial (art.<br />

153, I 4?, da ConstRuicao Federal).<br />

Assim, o entendimento adotado, em<br />

harmonia coin o espirito do davit°


dos artigos 60 e 64, unanffnemente:<br />

das expressties "serventuarlos<br />

e" no artigo 148, unanimemente;<br />

III) do partgrafo Calico do artigo<br />

148, unanimemente;<br />

IV) no artist) 149 as expresses<br />

«podendo, todavia, o Tribunal de<br />

Justice deferir permutas ou transferências<br />

ou determiner remocees, por<br />

conveniencla do servico, desde que<br />

pare Comarca da mesma entrAncia»,<br />

vencidos, em parte, os Srs. MInistros<br />

Soares Mufloz e Xavier de Albuquerque;<br />

V) do parAgrafo lance, do artigo<br />

149, unanimemente; Brasilia, 13 de<br />

junho de 1979 — Antonio Neder, Presidente<br />

— Died Falcao — Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Djaci Falello — 0<br />

Prof. Henrique Fonseca de Aratjo,<br />

Procurador-Geral da Repablica, no<br />

use da atribuiCao que the confers o<br />

art. 119, I, letra 1, da ConstituicAo<br />

Federal, e atendendo a solicitaclio<br />

do Sr. Procurador-Geral da Justice<br />

do Estado do MaranhAo, submete a<br />

julgamento do S.T.F. a argflicAo de<br />

inconstitucionalidade das regras<br />

constantes dos arts. 60, 64, 148, Mum<br />

e 149, da Resolucflo re 8, de 18-12lint<br />

do Egregio Tribunal de Justice<br />

do Miran/go.<br />

Os artigos inquinados de violadores<br />

da ConstituicAo trazem o seguinte<br />

«Art. BO — 0 Tribunal de Justice<br />

poderA remover, para Comarca de<br />

igual entrAncia, para Vara da mes-<br />

ma Comers.° Cu pant Zona diferente,<br />

o Julz de Direito ou Juiz Substitute<br />

que o requerer e deferir per-<br />

mUtas de .Comarcas, Vents, ou Zones,<br />

a Juba da mesma entrAncia.<br />

Efetivada , a remock ou a permute,<br />

sera o ato comunicadO ao Poder<br />

Executive para os devidos fins.»<br />

«Art. 64 — Vagando Comarca de<br />

prandra Fatrancla serf a meerna<br />

R.T.J. — 94 67<br />

preenchida pelo Tribunal de Justice,<br />

entre os Juizes de Direito.Subs-<br />

Mutes de 1? Entrfincia segundo as<br />

normas do artigo anterior, no que<br />

couber».<br />

«Art. 148 — Aprovados em Concurso<br />

e corn rigorosa obediencia a<br />

ordem de Classificacilo, os Servertuttrios<br />

e funcionários de Justica<br />

serif° nomeados, em sander efetivo,<br />

medlante a aprovacão do Plenano,<br />

adquirindo estabilidade ap6s<br />

dois anos de exercicio. Dentro detrinta<br />

Was de aprovacilo o Presidente<br />

farA a nomeacAo.»<br />

«Paragrafo tuna) — NAo havendo<br />

candidate habilitado em concurso,<br />

os cargos vagos de serventuhdos<br />

e de ftmcionAnos da Justice<br />

poderAo ser provides, em sander<br />

temporArio, pelas autoridades<br />

mencionadas nests artigo, pelo<br />

prazo de dots anos.»<br />

«Art. 149 — 0 serventuArlo da<br />

Justice somente serf) provide no<br />

cargo pant o qual over Nested°<br />

concurso, podendo, todavia, o Tribunal<br />

de Justice deferir permutes<br />

ou transferfmcias ou determiner<br />

remosfles, por convenithcia do ser-<br />

;rico, desde que para Comarca da<br />

mesma entrAncia.<br />

«ParAgrafo Calico — Por urgente<br />

e reconhecido interesse da Justice,<br />

a remocAo poderA ser fella para<br />

Comarca de entrfincia imediatamente<br />

ma's elevada.» (fls. 4 e 5).<br />

0 Des. Kleber Moreira de Souza,<br />

Presidents do Tribunal de Justica,<br />

expee em sues informacOes:<br />

«Diz o argfiente que os citados<br />

anises atribuem ao Tribunal de<br />

Juitisa do Estado competência pare<br />

efetuar remocCes p permutes de<br />

Juizes de Direlto, bem come 0<br />

prenichimento de Comarca de PMmeira<br />

InstAnela por Julzes SUbstitutos,<br />

alem da tiorneaello de serventuarios<br />

e funcionarlos da Justice<br />

concursados e, nomeacties provlsOrlits,<br />

pelf► prazo de 2 (dole)


68<br />

anos, desses funcionarios, quando<br />

nao houverem candidatos habilitados<br />

em concurso, o que vem ferir o<br />

principlo da independencia e harmonia<br />

dos Poderes, isto por ser o<br />

provimento dos cargos pOblicos da<br />

atribuicAo do Poder Executivo, se<br />

se permitindo a admissao de servidores<br />

em servicos de carAter ternporario<br />

para fungdes de natureza<br />

tecnica especializada, sob regime<br />

juridic° estabelecido em lei especial.<br />

Fele que se le dos dispositivos da<br />

Resolucao n? 8/72 — referidos posteriormente,<br />

envolvem os mesmos<br />

remogOes e permutas de Juizes de<br />

Direito, quando requeridas pelos<br />

interessados, e nomeacao provis6ria<br />

de serventuArios e funcionArlos<br />

da Justica, pelo prazo de 2 (dots)<br />

anos, na hip6tese de nao haver<br />

candidato habilitado em concurso.<br />

Quanto A permuta de Comarcas,<br />

Vara ou Zonas entre Juizes da<br />

mesma Entrancia, apenas deferida<br />

ou nao pelo Tribunal, se verifica<br />

em decorrencia de requerimento<br />

dos pr6prios interessados. Tal<br />

ocorrencla que irk) altera absolutamente<br />

a situacao funcional do Juiz,<br />

nada tern a haver corn provimento<br />

de cargo. Ocorrida que seja, o Magistrado<br />

continua com sua situacão<br />

funcional inalterada, apenas mudando<br />

de Comarca, Vara ou Zona,<br />

sendo o fato comunicado ao Poder<br />

Executivo.<br />

Como vemos a hip6tese da violano<br />

do principio da independencia<br />

e harmonia dos Poderes nao se<br />

configura no caso, o mesmo ocorrendo<br />

no que diz respeito as remocOes.<br />

No que diz respeito a nomeacao<br />

de servidores, em carater temporano,<br />

pelo prazo mAximo de 2<br />

(doffs) anos, quando nao houver<br />

candidato habilitado em concurso,<br />

consta do artigo 148, paragrafo Unico<br />

da Resolucao em caso por estar<br />

p<strong>revista</strong> no artigo 94, III, da Cons-<br />

R.T.J. — 94<br />

tituicão do Estado do Maranhao»<br />

(fls. 16 e 17).<br />

Por ultimo, pronunciou-se a douta<br />

Procuradoria-Geral da RepUblica<br />

nos seguintes termos:<br />

Em pauta a argtiicao de inconstitucionalidade<br />

de alguns dispositivos<br />

da Resolucao n? 8, de 18<br />

de dezembro de 1972, do Egregio<br />

Tribunal de Justica do Estado do<br />

Maranhao, que dispOe sobre o COdigo<br />

de Divisao e Organizaedo JudiciAria<br />

daquela unidade federativa.<br />

Alega-se, fundamentalmente, o<br />

descompasso entre determinadas<br />

normas-de competencia all exaradas<br />

e o principlo da independkncia<br />

e harmonia entre os Poderes Executivo<br />

e Judicjario, de respaldo<br />

constitucional (Carta Magna, artigo<br />

10, inciso VII, alinea c).<br />

Em boa parte a questa() se<br />

exaure na tecnica constitucional de<br />

distribuicao de competencia, calcada<br />

ex hypothesi em larga experiencia<br />

histerico-institutional. No tbpico<br />

relativo,A consentaneidade estAtica<br />

e dinamica entre Executivo e<br />

JudiciArio, a regra adotada deu<br />

preeminencia inequivoca ao primeiro<br />

dos Poderes, máxime no que<br />

respeita ao provimento de cargos<br />

do segundo.<br />

No que concern aos artlgos 60<br />

e 64 do estatuto normativo em<br />

questa° (fis. 4 e 5 dos autos), sobre<br />

remocão, deferimento de permuta<br />

e preenchimento por vacancia de<br />

comarca, de juizes, pelo Tribunal<br />

estadual, cumpre referir a tradicao<br />

republican de competencia<br />

pessoal privativa do Presidente da<br />

Reptiblica, corn as necessArias excecOes,<br />

refletidas nas Callas de<br />

1891 (art. 48, item 5?); de 1934 (art.<br />

56, item 14); de 1937 (art. 74, alinea<br />

1); de 1946 (art. 87, inciso V) e, na<br />

atual Constituicao, o artigo 81, inciso<br />

VIII.<br />

0 artigo 37, inciso VI, da Constituicrao,<br />

do Estado do Maranhao,<br />

contkm norma semelhante as pro-


nunciadas supra, corn referencia<br />

ao Governador do Estado. A ele<br />

caberA prover os cargos ptibIlcos<br />

estaduals, na forma da lel. No parecer<br />

do eminente Ministro Morelra<br />

Alves, A ePoca Procurador-<br />

Geral da Reptlica, trazido A colacao<br />

(f. 7), realca a importancia notöria<br />

dos atos de investidura e de<br />

cossaeao do vinctrio relativamente<br />

aos cargos ptiblicos. A senSibilidade<br />

dos doutrinadoreS brasileiros<br />

nao refoge ao ponto, podendo-se<br />

constatar em Hely Lopes Meirelles,<br />

a natureza tipicamente admi-<br />

nistrativa da investidura (Direito<br />

Administrattvo Brasilia°, S. Paulo,<br />

I978, pAg. 386).<br />

Esposam a tese da atribuiCao<br />

privativa do Cittefe do Executivo no<br />

provimento dot cargos pfiblicos<br />

gadoS A sua esfera de Poder Oswald°<br />

Aranha Bandeira de Mello<br />

(Principles Gerais de Direito<br />

AdmhilstratIvo, volume II, Rio,<br />

1974, prig. 386) e Jost Cretella Junior<br />

(Curs° de Direito<br />

Administrativo, Rio, 1975, prig.<br />

523). 0 reflexo na legislacao e evidente,<br />

corn° se viu aclma.<br />

Como se demonstra, as llmitacaes<br />

ratans personae nao ense-<br />

Jam dttvidas, ademais que adicio-<br />

nadas das restrieaes ratione<br />

materiae, haJa vista que se trata<br />

de nomeacao e transferencia de<br />

magistrados — °raw dotados de<br />

parcela da soberanla o que desde<br />

logo conflita corn a natureza dos<br />

institutes regulAveis mediante co:<br />

dificaoaes de regras<br />

orgasms* Judicituia afetas mais<br />

odministrativa de equacionamento<br />

da dinAmica funcional<br />

da Justioa, e, Pew isto, enta con-<br />

Midas ao Poder Judtclario (Cast.<br />

art. 144, 0 5t , redano anterior A<br />

Emenda n? 7/77).<br />

8. SeJa origin/trio Ou derivado,<br />

vale dizer, o provimento que se exterioriza<br />

pela nomeaeao ou pela<br />

transfettncia, v. g., o que importa<br />

R.T.J. — 94<br />

o fato da designacäo de alguem<br />

para ocupar o cargo pUblico. Movi-<br />

mento vertical ou movimento hori-<br />

zontal (na taxionomia de Bandeira<br />

de M ello, op. cit., Wigs. 380 e 381),<br />

hA investidura ou desinvestidura.<br />

Temos, portanto, que fete as normal<br />

constftucionais tambem a dieposioao<br />

vertida no artigo 60 (alêm<br />

do artigo 64) da Etesolucao em tela,<br />

quando disciplina a remocao<br />

(transferencia) e a permuta (Idem)<br />

de Julzes no Estado do Maranhao.<br />

Alinhados e combinados os<br />

preceitos da Lei suprema (artigos<br />

13, incise I e 10, inciso VII, alinea<br />

c), a cristalina a inconstitucionalidade<br />

— a ser ipso lure declarada<br />

— dos artigos 60 e 64 do COdigo Judiciiwio<br />

do Estado do Maranhao.<br />

HA nitido desrespeito A Carta maranhense<br />

(artigo 37 inciso VI) e,<br />

por via do citado artigo 13, incise I,<br />

da Constituicao Federal, o abuso<br />

de poder infrator da harmonia e independencia<br />

entre os Poderes, de<br />

disciplinacao na Lei Mar.<br />

A luz do mesmo criteria dove<br />

ser examinada a constituclonalidade<br />

dos artigos 148 e seu parAgrafo<br />

(uric° e 149 e seu parAgrafo<br />

ambos da ftesolucito maranhense,<br />

levando-se em conta, porem, o disposto<br />

no art. 115, II, da Constituicao<br />

Federal, seta na redacão vi-<br />

gente A epoca, se-Jo na sua redacao<br />

atual.<br />

,<br />

11. Nele se consagra a norma de<br />

que<br />

«organizar<br />

compete aos Tribunals<br />

seus servicos<br />

prOVendo-lhes os cargos,<br />

forma da lei.»<br />

na<br />

12.- Constltui-se o preceito, Praia-<br />

principlo<br />

mente, numa das exceo5es ao<br />

constitutional de que cabe<br />

ao Presidente da Reptiblica o<br />

provimento dos<br />

por via de<br />

cargos federais, e,<br />

conseqtiencia, ao Governador<br />

do Estado e dos cargos Estaduals.<br />

69


70<br />

Mas, justamente por se tratar<br />

de excecao, a doutrina e a <strong>jurisprudencia</strong><br />

tem dado interpretacao<br />

estrita ao preceito que atribui aos<br />

<strong>tribunal</strong>s o provimento dos cargos<br />

de seus servicos auxlliares, limitando<br />

seu alcance aos precisos termos<br />

da norma, ou seja, aos cargos<br />

das Secretaries desses Orgaos, que<br />

sao "os seus servicos auxiliares".<br />

(Representacao n? 880, dO Parana).<br />

A Resolucäo n? 8, de 18-12-72,<br />

do Tribunal de Justica do Estado<br />

do Maranhao, define o que entende<br />

por «Serventuario da Justica» e<br />

«funcionario da Justica », verbis:<br />

«Art. 91 — Consideram-se Serventuarlos<br />

os que, nao sendo magistrados<br />

ou funcionarios, ocuparem<br />

nos servicos de justica, cargos<br />

criados em lei, corn denominacao<br />

prepria e percebam vencimentos<br />

dos cofres do Estado e<br />

custas, ou somente custas ou<br />

emolumentos.<br />

Art. 141 — Sao funcionarlos da<br />

Justica, os que ocuparem na Secretaria<br />

do Tribunal de Justica<br />

ou na Corregedorta Geral, cargos<br />

criados por lei, em runner° cello,<br />

corn denominacao prOpria e vencimentos<br />

pagos pelo Estado.»<br />

Portanto, so os «funcionarios<br />

da Justica» estao compreendidos<br />

entre os que, por integrarem os servicos<br />

auxiliares do Tribunal, podem<br />

ser por este nomeados.<br />

Em conseqiiencia, o art. 148<br />

da Ftesolucao em causa inconstitucional<br />

na parte em que atribui ao<br />

Tribunal de Justica a nomeacao de<br />

«serventuarlos da Justica»; o para.grafo<br />

(wilco do art. 148, na parte<br />

em que preve, tambem pelo Tribunal,<br />

o provimento, em carater ternporario,<br />

de cargos vagos de «serventuarios<br />

da Justica»; o art. 149,<br />

caput, na parte em que confere ao<br />

Tribunal competencia para deferir<br />

permutas ou transferencias de ser-<br />

ventuários e determinar sua remocao<br />

Como a lei deve ser interpretada<br />

na sua integralidade, dentro<br />

do sistema que adota e dos conceitos<br />

que expressa, nao parece rwcessario<br />

declarar-se a Inc mstitucionalidade<br />

da totalidade ,io art.<br />

148 e sou paragrato Unico e do art.<br />

149, ja que outros preceitos \rem<br />

definidas as expressOes «serventuarios<br />

da Justica» e «funcionarios<br />

da Justica», peas quaffs se verifica<br />

que somente estes estäo incluidos<br />

na previsao do art. 115, II, da<br />

Constituicao Federal.<br />

Assim, em conclusäo, opinamos<br />

no sentido de que sejam declarados<br />

inconstitucionais os artigos<br />

60 e 64 da Resolucdo nt 8, de 18-127<br />

72, do Egregio Tribunal de Justica<br />

do Maranhao, e no art. 148, caput,<br />

as palavras serventuhrios e, no<br />

parágrafo &rico do art. 148 as palavras<br />

de serventuárlos e, no art.<br />

149 caput, as express:71es podendo,<br />

todavla, o Tribunal de Justica defter<br />

permutas ou transferencias<br />

ou determinar remoras, por cobveniencia<br />

do servico, desde que para<br />

Comarca da mesma entrancia.<br />

Quanto ao paregrafo nnico do art.<br />

149, embora perca seu sentido, em<br />

face da apontada inconstitucionalldade<br />

partial do caput, nä° ofende<br />

a Constituican, devendo, nessa parte,<br />

ser julgada improcedente a representacen.<br />

Nesse sentido, pois, o nosso parecer,<br />

sub censura.»<br />

Corn este yelattorio, do qual a Secretaria<br />

devere enviar cOpia aos Senhores<br />

Ministros, peco dia para o<br />

julgamento.<br />

Brasilia, 25 de abril de 1979 — Ministro<br />

Djaci Falcao — Relator.<br />

1/0TO<br />

0 Sr. Ministro Mad Falclio (Relator):<br />

Esta representacao compreen-


de preceitos inseridos na Ftesolucio<br />

if 8, de 18.12.1972 (Cedigo de Divisio<br />

Organizacio Judiciiria do Estado<br />

do Maranhio).<br />

A pritneira regra acoimada de inconstitucional<br />

esti no art 60, in<br />

verbis:<br />

«Art. 60 — 0 Tribunal de Justica<br />

poderi remover, para Comarca de<br />

brat entrincia, para Vara da mesma<br />

Comarca on para Zona diferente,<br />

o Juiz de Direito ou Julz Substitute<br />

que o requerer e deferir pertnutas<br />

de Comarcas, Varas ou Zo-<br />

°as, a Julies da mesma entrincia.<br />

Efetivada a remocito ou a permuta,<br />

seri o ato comunicado ao Poder<br />

Executivo para os devidos fins.»<br />

NAo padece &Arida de que tat regra<br />

afronta a ConstitulcAo, ferindo,<br />

em fitima analise, o principio da independincia<br />

e harmonia dos Poderes<br />

do Estado (art. 10, inc. VII, tetra c).<br />

Compete, privativamente, ao chefe<br />

do Poder Executivo (Governador, no<br />

case dos Estados), o provlmento dos<br />

cargos pflblieos (art. 81, inc. VIM,<br />

ressalvadas as excecies indlcadas<br />

na prOpria Constituicio Federal, em<br />

que ato se acham incluidos os membros<br />

do Poder Judiciirio. Alias, o<br />

art. 37, inc. VI, da Constitute...410 do<br />

Estado do Maranhao, seguiu o modelo<br />

<strong>federal</strong> (art. 13, inc. I).<br />

E de convir, ao lado disso, que a<br />

remocAo e a perrnuta tanto quanta a<br />

pomeactio, situam-se no Ambito do<br />

ato juridlco-adrninistratIvo de provimento.<br />

A nomeacAo constitui provimento<br />

inicial de cargo ptiblico, a<br />

promocAo 6 o provimento mediante<br />

acesso para classe ou gran superior,<br />

e a permuta e a transferincia ou remocio<br />

feita a pedido e que esti subordinada<br />

aos interesses da administracio.<br />

Portanto, trate-se de provimento<br />

sob forma orillinaria, ou derivada<br />

como ocorre na espicie, constitut<br />

ato da competincia do Poder<br />

Executivo.<br />

R.T.J. — 94 71<br />

Idintica orientactio teve esta Corte<br />

ao apreciar a Rp 880-PR, relatada<br />

pelo eminente e saudoso Ministro<br />

Luiz Gatti (RTJ 65/606 a 624).<br />

Dispile, a seu turn, o art. 64:<br />

«Art. 64 — Vagando Comma de<br />

Primeira Entrincia seri a mesma<br />

preenchida pelo Tribunal de Justica,<br />

entre os Julies de Direito Subs-<br />

titutes de V! entrincia segundo as<br />

normas do artigo anterior, no que<br />

couber.<br />

Provimento originario, confetti)<br />

ao Tribunal de Justica, importa em<br />

vulneracAo aos preceitos da Lei<br />

Magna, mencionados em relacAo ao<br />

art. 60, anteriormente apreciado.<br />

Em conseq0incia, acolho a argaicio<br />

de inconstitucionalidade dos<br />

arts. 60 e 64.<br />

Seguem-se:<br />

U Art. 148 — Aprovados em concurso<br />

e com rigorosa obedlincia<br />

ordem de classlflcacAo, as Serventuirios<br />

e Funciongulos de Justica<br />

sett nomeados, em cariter efetivo,<br />

pelo Presldente do Tribunal<br />

mediante aprovacio do Plenirio,<br />

adquirindo estabilidade apes dois<br />

anos de exercicio. Dentro em trinta<br />

Was da aprovacio o Presidente<br />

fari a nomeacAo.<br />

Parftgrafo thdea — NAo havendo<br />

candidate habilitado em concurso,<br />

os cargos vagos de serventuirlos e<br />

de funcionirios da Justica poderio<br />

ser provides, em cariter temporirio<br />

pelas autoridades mencionadas<br />

neste artigo, pelo prazo de dois<br />

anos.n<br />

«Art. 149 — 0 serventuirio da<br />

Justica somente sera provido no<br />

cargo para o qual liver prestado<br />

concurso, podendo, todavia, o Tribunal<br />

de Justica deferir permutas<br />

ou transferinclas ou detenninar<br />

converdincia do servico, desde que<br />

para Comarca da mesma entrAncia.


72<br />

R.T.J. — 94<br />

Paragrafo unto — Por urgente e<br />

reconhecido interesse da Justice, a<br />

remocao podera ser feita para Comarca<br />

de entrancia imediatamente<br />

macs elevada.» (f. 5).<br />

0 art. 148 e o seu paragrafo Calico<br />

conferem ao Presidente do Tribunal<br />

de Justice competencia para nomear,<br />

em carater efetivo, ap6s aprovacao<br />

do Plenario, os Serventuarios<br />

e Funcionarios de Justice, habilitados<br />

em concurso, bem assim, para<br />

prover, em carater temporario, pelo<br />

prazo de dots anos, os cargos correspondentes,<br />

quando nao houver candidato<br />

habilitado em concurso.<br />

Segundo a Constituicao Federal<br />

(antes da E.C. n? 7/77):<br />

«Art. 115 — Compete aos Tribunals:<br />

II — elaborar seus regimentos<br />

interns e organizer os servicos<br />

auxiliares, provendo-llies os cargos<br />

na forma da lei.»<br />

E conferido aos Tribunals o poder<br />

de auto-organizacao quarto aos seus<br />

servicos auxiliares e o provimento<br />

dos respectivos cargos, mediante lei<br />

e na forma desta.<br />

Por se tratar de excecao A competencia<br />

confiada ao chefe do Poder<br />

Executivo (art. 81, VIII, da Constituicao<br />

Federal), a regra deve ser interpretada<br />

de modo estrito, cornpreendendo,<br />

em conseqaancia, os<br />

cargos das Secretaries dos Tribunals.<br />

Esta Corte, interpretando o preceito<br />

constitutional, tem entendido que<br />

«servicos auxiliares» nao vao alem<br />

dos servIcos de Secretaria. Na referida<br />

locucao nä° se compreendem os<br />

cargos de serventuarios, por nao integrarem<br />

os servicos auxiliares dos<br />

Tribunals. HA de se considerar que<br />

se tern em vista os servicos auxiliares<br />

dos Tribunals e nap) os servicos<br />

auxiliares da Justice.<br />

Assim sendo, restringe-se a cornpetancia<br />

dos Tribunals ao provimento<br />

dos cargos das suas Secretaries.<br />

Nesse sentido a decisào proferida na<br />

Representacao n? 880 do PR, relatada<br />

pelo eminente e saudoso Ministro<br />

Luiz Gallon On RTJ 65/606 a 624).<br />

Portanto, falece competencia ao<br />

Presidente do Tribunal de Justice<br />

para nomear Serventuario de Justice<br />

(art. 81 VIII, c/c o art. 13, I, da<br />

Constituicao Federal)<br />

De acordo corn o parecer da douta<br />

Procuradoria-Geral da Reptiblica tenho<br />

como inconstitucional, no menclonado<br />

art. 148, apenas a lecticao<br />

«Serventuarios e». Os funcionarios<br />

da Justice sao, nao ha &wide, titulares<br />

de cargos compreendidos na Secretaria<br />

do Tribunal de Justice (art.<br />

141 da Res. n? 8/72). Dal por que<br />

acolho, em parte, a argilicao de inconstitucionalidade<br />

do art. 148.<br />

No que toca ao paragrafo unto<br />

procede integralmente a alegacao de<br />

sua inconstitucionalidade, e nao apenas<br />

em relacao As expressOes «de<br />

serventuarios e», como opina a Procuradoria<br />

--Geral da Reptiblica.<br />

Justifica-se tal entendimento a consideracao<br />

de que, segundo o disPosto<br />

no 1? do art. 97 da Constituicao Federal,<br />

sem dirvida, de observancia<br />

obligati:ea para os Estados (art. 13,<br />

V, da Constituicao), «a primeira investidura<br />

em cargo pitblico dependera<br />

de aprovaao previa, em concurso<br />

pablico de proves e titulos...».<br />

Insere-se ai urn preceito generic°,<br />

que encontra excecao apenas nos<br />

«casos indicados em lei» e em relacao<br />

aos cargos de provimento em comissao,<br />

de line nomeacao e exoneracao.<br />

A excecao «casos indicados<br />

em lei» quer se referir a determinedos<br />

cargos que, em razao de sua natureza<br />

especifica, a lei torna dispensavel<br />

o concurso para se processar a<br />

investidura (como se ye, somente<br />

por meio de lei em sentido formal).<br />

Alias, em caso semelhante, esta<br />

Corte deu pela inconstitucionalidade<br />

do art. 121, III, da Constituicao do<br />

Estado de Mato Grosso (Rep. 888,<br />

relatada pelo eminente e saudoso


Ministro Aliomar Baleeiro in Reprosentacites<br />

por Inconstitucionalidade,<br />

tomo I, Thu. 449 a 452).<br />

Portant°, o paragrafo sob exame,<br />

al6m de vlolar o principio da<br />

pendancia e harmonia dos Poderes<br />

(art. 10, VII, c, da C. F.), em Macao<br />

aos Serventuftrios, contrapes-se a reps<br />

do g 1? do art. 97 da ConstituicAo<br />

Federal, no due tange aos funcionarios<br />

da Justica.<br />

Quanto ao art. 149, manifesta 6 a<br />

sua inconstitucionalidade na parte<br />

em que confere competEncia do Tribunal<br />

de Justica, para deferir permutas,<br />

ou transferencias ou determinar<br />

remoctles, dizendo textuahnente:<br />

((widow°, todavla, o Tribunal de<br />

Justica deferir permutas ou transferências<br />

ou detenninar remocites, por<br />

conveniência do service, desde que<br />

para Comarca da mesma entrAncia.»<br />

Ila violacito do art. 10, VII, c, c/c<br />

os arts. 81, VIII e 13, I, da Constituicao<br />

Federal.<br />

Finalments, o paragrafo (una) do<br />

Art. 149 perde o seu sentldo diante da<br />

Mew . • stitucionalidade do caput.<br />

Concluindo, sao inconstitucionals:<br />

— os arts. 60 e 64, por vtolarem<br />

o art. 10, inciso VII, tetra c, c/c os<br />

arts. 81, inc. VIII e 13, inc. I, da<br />

C.F.;<br />

— o art. 148, em parte, quanto<br />

as expressaes «serventruirios es, por<br />

violacAo do art. 10, inc. VII, letra<br />

c/c os arts. 115, inc. II, 81, inc. VIII<br />

e 13, inc. I, da C.F.;<br />

— o paragrafo Calico do art. 148,<br />

por afrontar os arts. 10, inc. VII, tetra<br />

c c/c os arts. 81, inc. VIII e 13,<br />

Inc. I (quarto aos serventuttrios da<br />

Justica), e por contrapor-se ao 1?<br />

do art. 97 (em relacito aos funcionanos<br />

da Justica);<br />

— o art. 149, em parte, ao dizer:<br />

«podendo, todavla, o Tribunal de<br />

Justica deferir permutas ou transferencias<br />

ou determinar remocOes, por<br />

R.T.J. - 94 73<br />

conveniancia do servico, desde que<br />

para Comarca da mesma entrancia»,<br />

por vulnerar o art. 10, inc. VII,<br />

letra c c/c os arts. 81, inc VIII e 13,<br />

inc. I, da C.F., ficando sem sentido 0<br />

seu paragrafo anico.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Soares Mutioz: —<br />

Sr. Presidente, interpret° esta norma<br />

como sendo uma atribuicAo que<br />

se dit ao Tribunal para mbar a respelto<br />

da remoclio e pennuta de servenni/trios.<br />

O Sr. Mlnistro Di ad Fable) (Relator):<br />

Do ponto de vista de conveni gn-<br />

eta, como Desembargador que ful,<br />

dou meu testemunho de que a norma<br />

6 interessante.<br />

Sr. Ministro Moreira Alves: Os<br />

termos silo «deferir ou determinar».<br />

Sr. Ministro Soares Murat 0<br />

Tribunal deferirta e submeteria ao<br />

Governador o ato da remocito.<br />

Sr. Ministro Morels* Alves: Tenho<br />

ImPressao de que se entendeu<br />

que o Tribunal mg° pole exclulr os<br />

Pedid0s, .e se ele defers, ism o poder<br />

de excluir alguns deice.<br />

Sr. Ministro Soares Mutioz: —<br />

Interpret° assim, para rdio desvincular<br />

completamente o Tribunal desses<br />

atos.<br />

0 Sr. Mlnistro Dial FalcAo (Relator):<br />

— Deferir 6 111111 colsa,<br />

e outra. Em Pernambuco,ppoor exempla<br />

tinhamos norma lntetressante<br />

em Telma° a remocAo. Eu me recordo<br />

de que, certa vez em que se encaminhou<br />

a Assembléia Legislativa um<br />

projeto de Lei de OrganizacAo Judiciaria,<br />

se estabeleceu, um preceito<br />

segundo o qual, nas remocOes ou<br />

permutas de Juizes, einbora o ato<br />

fosse da compethr ►cia do Poder Executivo,<br />

o pedido feito pebs candidatos<br />

merecia uma apreciacao por<br />

parte do Tribunal, e esse o encarnibrava,<br />

corn infonnacdes sobre calla<br />

urn dos candidatos, ao Governador


74<br />

do Estado. A norma, alias, era sAbia.<br />

Mas, o ato de provimento era da<br />

compethncia do Chef e do Poder Executivo.<br />

0 Sr. Ministro Soares Munoz: No<br />

Tribunal de Justica do Rio Grande<br />

do Sul, quando o serventuArio pede<br />

remocAo, o Conselho da Magistratura<br />

determina uma inspecAo no Cartbrio,<br />

para ver se esth em condiMes;<br />

depots, emite parecer e remete ao<br />

Gevernador, corn parecer contrArio<br />

ou Mo. Enfim, examina a convenithcia<br />

ou nAo da remocAo.<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves: —<br />

Mas, eminente Ministry, mesmo com<br />

o voto de V. Exa., o parAgrafo Curie°<br />

tem que cair, pots essa 6 a interpretaMo<br />

que deveria ser dada ao caput.<br />

0 Sr. Ministro Djaci Mello (Relator):<br />

Perde o sentido.<br />

VOTO<br />

(S/art. 149)<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Sr. Presidente, peso 11cenca<br />

para situar-me entre o eminente<br />

Relator e o eminente Ministro<br />

Soares Munoz, estabelecendo, assim,<br />

urn termo m6dio.<br />

R.T.J. — 94<br />

Impressionaram-me algumas ponderacees<br />

do eminente Ministro Soares<br />

Munoz e parece sabido que os<br />

Tribunals 6 que coordenam as provid6ncias<br />

preparatbrias da remocAo<br />

de qualquer serventuArio, para que o<br />

chefe do Poder Executivo possa lavrar<br />

o ato final.<br />

Em alguns Estados, ha concurso<br />

para a remocAo. Os serventuArlos a<br />

ela concorrem, de acordo corn seus<br />

titulos, atendidos os requlsitos estabelecidos<br />

nas normal locals. 0 Tribunal<br />

apura o resultado do concurso<br />

e o apresenta ao Poder Executivo.<br />

Aqui, nesta norma, ha, realmente,<br />

uma expressão, — «deferir permutas<br />

ou transfertncias», — que me parece<br />

envolver ato de provimento. No<br />

macs, a norma, que diz que o Tibunal<br />

poderA, por conveniència de servico,<br />

determinar remoMes de serventuArios<br />

de Justica, parece-me,<br />

que Mt) colide com a ConstituicAo. A<br />

prOpria Constituicão, alias, da aos<br />

Tribunals competéncia para deterninar<br />

a remocAo ou disponibilidade de<br />

Julz, ou de membro seu, em caso de<br />

interesse pbblico. Naturalmente, nä°<br />

estA ai a significar que o Tribunal<br />

baize o ato de disponibilidade ou de<br />

remocAo, mas que ele delibere sobre<br />

o terra e o submeta ao Poder Executivo,<br />

para a lavratura do ato.<br />

Ora, se a norma estadual, aqui, esta<br />

adotando forma perfeitamente semelhante<br />

a da Constituicao, e agora<br />

tambem a da Lei OrgAnica da Magistratura<br />

Nacional, que dé ao Conselho<br />

Nacional da Magistratura cornpethncia<br />

para determinar — o verbo<br />

e este — a disponibilidade ou aposentadoria<br />

de magistrado, creio que nao<br />

se pode apontar essa norma como inconstitucional.<br />

0 Sr. Ministro Djaci Falcão (Relator):<br />

V. Exa. permite urn aparte?<br />

Al ha urn preceito expresso, contido<br />

na prOpria ConstituicAo. uma<br />

excecAo expressa na ConstituicAo.<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque — Esse fato não modifica<br />

a linha do meu entendimento.<br />

Por fim, a norma da ResolucAo,<br />

tendo redaMo perfeitamente semelhante<br />

a da pthpria ConstituicAo e a<br />

de uma lei complementar, que 6 a<br />

Lei OrgAnica da Magistratura Nacional,<br />

nAo pode ser acolmada de inconstitucional,<br />

desde que se the de a<br />

interpretaMo que acaba de ser ponderada<br />

pelo eminente Ministro Soares<br />

Munoz.<br />

Desta sorte, meu voto a pelo reconhecimento<br />

partial da inconstitucionalidade,<br />

exclusivamente quanto as<br />

palavras — «deferir permutas ou<br />

transferencias orm — que se contem<br />

no art. 149, ora examinado.


VOTO<br />

(S/ art. 149)<br />

0 Sr. Ministro Thompson Mores:<br />

Corn o eminente Relator.<br />

Votaria com o eminente Mieistro<br />

Soares Munoz, se o art. 60 aqui visanib<br />

usasse da expressilo 'clefelir».<br />

0 que importa reconhecer que<br />

fica atribuido ao Presidente do Tribunal<br />

de Justice nib s6 Mender o pedido,<br />

como também desatendli-lo, o<br />

que, a men ver, 6 atribuiclio do Chefe<br />

do Poder Executivo, segundo. Jurisprudencia<br />

assente do S.T.F., apreciando<br />

casos de remocao ou permute.<br />

ReconbeW que 6 de toda converdeueia<br />

que o prdprio Judicittrio execute<br />

taus atos, pots, ninguem melhor<br />

do que ele conhece des necessidades<br />

dos seas services e, coin mats seguranca,<br />

proveria a respeito.<br />

Awn°, potbm, nib quer a Constituictto.<br />

0 que dew ocorrer 6 admitir<br />

que os Peadosseism dtrlgidoe ao<br />

Presidente do Tribunal que os ins_<br />

truirft e informara encaminhando<br />

ao Chefe do Executivo, pare decidir,<br />

E como voto.<br />

VOTO<br />

(paragrafo ante° do art. 149)<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Sr. Presidente, considero<br />

que.o paritgrafo fmico 6 constiweireuu,<br />

porque reputei constitutional<br />

o teor do artigo, tirando-selhe<br />

as expressees por tnim citadas. Mas,<br />

se o proprlo artigo lit foi declared°<br />

inconstitucional, contra meu veto,<br />

nib tem sentido permanecter o parkgrab.<br />

R.T.J. - 94<br />

Acompanho o eminente Relator, a<br />

vista de tal contingéncia.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

Rp 996 — MA — Rel.: Min. Djaci<br />

Rpte.: Procurador-Geral da<br />

RepOblica. Rpdo.: Tribunal de Justice<br />

do Estado.<br />

Jublaram procedente, em<br />

parte, a Representacao Para declarer,<br />

na Resolucho n? 08, de 18.12.72,<br />

do Tribunal de Justice do Maranhho,<br />

a inconstitucionalidade:<br />

dos at/Igoe 60 e 64, unanimemente;<br />

des expressOes «serventuarios<br />

e», no artigo 148, unardmemente;<br />

M) do parftgrafo Unice do artigo<br />

148, unanimemente;<br />

no artigo 149 as expreesdes<br />

«podendo, todavia, o Tribunal de<br />

Justice deferir Permutes ou transferancias<br />

ou determiner remapies,<br />

por conveniancia do servico, cbsde<br />

que pare Comarca da mesipa entrancia»,<br />

vencidos, em parte, os<br />

Srs. Ministros Soares Munoz e Xavier<br />

de Albuquerque;<br />

do parftgrafo fmico, do artigo<br />

149, unanimemente. Votou o Presidente.<br />

Presidéncia do Sr. Mlnistro Antonio<br />

Neder. Presentes k SessAo os<br />

Srs. Ministros Mad Feta°, Thompson<br />

Mores, Xavier de Albuquerque,<br />

Cordeiro Guerra, Moreira Alves, Cunha<br />

Peixoto, Soares Mttfloz, • Declo<br />

Miranda e Rafael Mayer. — Ausente,<br />

justificadamente, o Min. Leitão<br />

de Abreu. — Procurador-Geral da<br />

Repfiblica, substituto, Dr. Francisco<br />

de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 13 de limbo de 1979.<br />

Alberto Veronese Aguiar, Secretariat


76<br />

R.T.J. — 94<br />

REPRESENTACAO N? 1.017 — MG<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra.<br />

Representante: Procurador-Geral da Repfiblica — Representados: Assembleia<br />

Legislative e Governador do Estado.<br />

A delegacAo legislative, expressamente p<strong>revista</strong> na Constituicflo<br />

Federal, nAo encontra Mice no principlo da independencia e harm-<br />

Ma dos Poderes da DMA°.<br />

Admissibilidade da delegacilo legislative no Ambito estaduil,<br />

(mica do art. 200 da Constituicilo Federal, se adotado o mesmo<br />

prhwipio na Constituictio Estadual.<br />

Constitucionalidade do art. 9? da Lei 7.290, de 1978, e Incise I do<br />

art. 5? do Decreto 19.290 de 1978.<br />

Represented.° improcedente.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em SessAo<br />

Plenaria, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e das notes taquigraftcas,<br />

a unanimidade de votos, em Julgar<br />

imp medente a representacAo.<br />

Brasilia, 12 de marco de 1980 —<br />

Xavier de Albuquerque, Presidente<br />

— Cordeiro Guerra, Relator.<br />

• RELATORIO<br />

O Sr. Ministro Cordeiro Guerra: 0<br />

ilustre professor Henrique Fonseca<br />

de Aranjo, entAo no exercicio da<br />

Procuradoria-Geral da RepUblica,<br />

formulou a presente representacAo<br />

para submeter ao exame e Julgamento<br />

do Supremo Tribunal Federal<br />

a argilicAo de inconstitucionalidade<br />

da Lei 7 290, de 4 de julho de 1978,<br />

em seu art. 9?, e do respectivo Decreto<br />

regulamentar de n? 19.290, da<br />

mesma data, em seu art. 5?, ambos<br />

os estatutos originarios do Estado<br />

de Minas Gerais<br />

0 art. 9? da Lei n? 7.290, de 4.7.978,<br />

disp5e:<br />

«Art. 9? — 0 Poder Executivo regulamentare<br />

esta Lei, ficando autorizado<br />

a estabelecer:<br />

I — a estrutura e as normas de<br />

funcionamento da CBPM;<br />

II — o plano de cargos e salerios;<br />

III — o regime previdencial e o<br />

piano de beneficios;<br />

IV — a forma de prestacão de<br />

assistëncia medica, odontolOgica,<br />

hospitalar e fannaceutica, que<br />

nAo podere ser feita diretamente<br />

pela autarquia”.<br />

0 art. 5? do Decreto n? 19.290, da<br />

mesma data, baixado de conformidade<br />

com a referida autorizacão legal,<br />

se limitou a dispor:<br />

«Art. 5? — Considera-se dependente<br />

do Segurado, para os efeitos deste<br />

Regulamento:<br />

I — a esposa; o marido invMido;<br />

a companheira, mantida he<br />

mats de chic° anos; o filho de<br />

qualquer condicAo menor de 18<br />

anos ou invalid° e a filha de qualquer<br />

cone Lica°, solteira, menor dO<br />

21 anos ou invMida<br />

Sustenta-se na representacAo feita<br />

ao !lustre Procurador-Geral da Ree<br />

por este submetida a consideracão<br />

deste Egregio Tribunal,<br />

que nAo era licito deierir a lei ao Poder<br />

Executivo a sua regulamentacão<br />

sem ofensa ao art. 6? da ConstituicAo


Federal, hem como restringir o beneficio<br />

da penal° a idade de 21 anos<br />

das filhas solteiras de qualquer con-<br />

dick°, Ja que tal restricao nä° constava<br />

da lei regulamentada, nem da<br />

legislacAo anterior.<br />

ontrossim, que o Egregio Tribunal<br />

de Justica de Minas Gerais, no regime<br />

da Lei n? 5&5, de 1911, considerara<br />

que esta poderia ser alterada,<br />

ou restringida, pelo Decreto n?<br />

15.871/73, que se the segulu — do que<br />

deduz ofensa a (limit° adquirido e<br />

colsa Julgada.<br />

A caixa beneficente da Policia Ml-<br />

litar do Estado de Minas Gerais<br />

manifestou-se favoravelmente a procedência<br />

da representacão — no entendimento<br />

de "como delegar a configuracAo<br />

dos beneficiatios da pens/to<br />

so executivo estadual, o ato le-<br />

R.T.J. — 94<br />

delegacAo legislativa, na forma do<br />

Calico do art. 6? da Constituictio Fe-<br />

deral, salvo nos casos dos arts. 40, 42<br />

e 44, pelo que, tratando-se de matkria<br />

atinente a previditncia social,<br />

legit/ma era a delegacAo felts, pela<br />

Lel Mineira n? 7.290/78, pots nä° esta<br />

tal matkria nem no f Unico do art.<br />

52, nem no art. 40 (Competencla Privativa<br />

da Camara dos Deputados),<br />

nem no art. 42 (Competkncia Privativa<br />

do Senado Federal) e, mutt°<br />

memos, no art. 44 (Cotnpetkacia Privativa<br />

do Congress° Nacional), fl.<br />

49.<br />

Argumenta, ainda, que em se tratando<br />

de Previdéncia Social (ConstituicAo<br />

Federal, art. 8?, XVII, c) s6<br />

poderla dispor o leglslador estadual<br />

supletivamente, e, por conseguinte,<br />

limitado pela Lei n? 3.807 (LOPS), de<br />

gislativo incorreu na deficigncia le- 26.8.960, por imperativo de ordem<br />

nen,gal<br />

Previa/Ilea/a WsPosta* (Carta MI- constituclonal (CF, art. 8?, Unica) e<br />

art. (I Pennitindo-se sabre a matkria em apreco,<br />

assenhorear de dominio legisferante, LOPS:<br />

dispee a<br />

decreto em pauta materializou inn «Art. 11<br />

tipico abuso de poder. Ofensa indis-<br />

Consideram-se decutivel<br />

a ConstituicAo<br />

pendentes do segurado, da Rep/lb/Ica,<br />

para os<br />

em sett artigo 13, inciso I, c/c artigo<br />

efeitos desta Lek<br />

10, inciso VII, alinea c, contrariado o I — a esposa, o marido invali-<br />

principlo malor da independkncia e d°, os filhos de qualquer condi-<br />

barman's dos Poderes.»<br />

cAo menores de 18 (dezoito) anos<br />

prestou as informaCOes solicitadas<br />

ou invalidos, e as tubas sonatas<br />

Bustle Governador do Estado de<br />

de qualquer condiolio memras de<br />

21 (vinte e um)<br />

Minas Gerais, sustentando que nit°<br />

anos ou<br />

invalldas.»<br />

houve hwasito de atribWc6es do Le-<br />

•<br />

gislativo, mas delegacito autorizada 2.3.4. Tambarn o Decreto n?<br />

por lei, o que 6 Permitido pelos arts. 77.077, de 24 de Janeiro de 1976, —<br />

52 a 54 da ConstituicAo Federal, apli- Consolidactio das Lets da Previcavel<br />

aos Estados por forca do Onidência SOcial estabelece em<br />

co do art. 200 da Carta Magna, ine- 21 anos o lbnite de idade da tuba<br />

inetindn, portant°, ofensa ao art. 6?, soltetra para figurar como de-<br />

§ Witco da Constituicilo Federal — f. pendente, verbis:<br />

35. «Art. 13 — Consideram-se de-<br />

Trunbm, que a Itepresentacäo pendentes do segurado. Para<br />

nib) 6 o meta praprio para o reconhe- efeito desta ConsolidaCao:<br />

cimento de eventuals direitos adquiidos.<br />

fls. 35/42.<br />

"I — a espo,sa, o markt° invalid°,<br />

a eottlptudietra maudda<br />

Em sues informactletafluStre As- ha mats<br />

ets:gent<br />

de‘ 5 (cinco) anos, os fi-<br />

Legislativa do Estado susents,lhos<br />

de qualquer condicAo mana-<br />

nos resumlr as pretensOes do tees de 18 (dezolto) antis ou invali-<br />

epresentante Inlcial,. que vidida 6 a das e as fan eoltelras de (OS-<br />

.<br />

77


78<br />

R.T.J. — 94<br />

quer condictio menores de 21<br />

(vinte e um) ands ou invalidas;”<br />

2.3.5. Assim, como de Let MIneira<br />

n? 7.290/78 e meramente<br />

supletiva da Lei n? 3.807, de<br />

26.8.60 e de seu regulamento Consolidado,<br />

— Decreto n? 77.077, de<br />

24.1.1976 — encontra seus limites<br />

em tats diplomas, por imposicAo<br />

de ordem constitutional (CF, art.<br />

paragrafo imico). E, caso dispucoscci,<br />

como pretende o interessado<br />

na representacAo, seHa inconstitucional.<br />

2.4. 0 Decreto Mineiro n?<br />

19.290/78 e limitado pela Lei Federal<br />

n? 3.807 (LOPS), de<br />

26.8.1960, e pelo Decreto n?<br />

77.077.<br />

Ftegistra-se, tambem, que nä°<br />

podem vingar as criticas enderecadas<br />

ao artigo 5?, item I, do Decreto<br />

Mineiro n? 19.290, de<br />

4.7.1978, pots ele tem seus limites<br />

cos mesmos parAmetros la mencionados<br />

acima (subitem 2.3.) e<br />

que o seu editor fez foi somente<br />

explicitar num instrumento local,<br />

para orientar seus aplicadores,<br />

aquilo que a legislacão <strong>federal</strong><br />

previu e que esta submetida a legtslacAo<br />

estadual, como supletiva<br />

que e.<br />

2.5. A Lel n? 7.290/78 e o Deereto<br />

n? 19.290/78 não atinglram direito<br />

adquirldo e nem colsa Jul<br />

-gada.<br />

2.5.1. Por urn simples relance<br />

no art. 8?, item XVII, alinea c<br />

c/c o seu 2? da Constituiclio Federal,<br />

de 24.1.67 e a vista de seu<br />

art. 189, nAo padece qualquer<br />

vida de que a Let Mineira n? 565,<br />

de 19 de setembro de 1911 — em<br />

que se julga amparado 0 interessado<br />

na representacAo para<br />

em «threat) adquiriao : e lxvolsa<br />

julgada» — esta derrogada desde<br />

o dia 15 de marco de 1967, data<br />

da entrada em vigor da constantcAo<br />

<strong>federal</strong> e a vista do disposto<br />

na Let n? 3.807, de 26.8.1960, que<br />

passou a nAo mais poder ser contrariada<br />

na legislacao estadual.»<br />

Finaimente, tece as seguintes consideraches:<br />

«2.5.5. Nao procede a alegacAo<br />

de que a Lei 7.290/78 e seu regulamento<br />

— Decreto n? 19.290/78<br />

atinlam colsa julgada.<br />

Basta, conforme relata o pr6prio<br />

interessado na representacap,<br />

verificar que o julgamento<br />

mencionado — apelacAo n? 44.731<br />

— teve em vista caso concreto,<br />

em face do Decreto n? 15.871, de<br />

5.12.73, e que seria ilegal naqullo<br />

que contrariou a Lei 565, de<br />

19.9.1911, pots nAo tern ele o condAo<br />

de derrogar esta lei.<br />

NAo se aplica, portanto, aos autos,<br />

a hipetese invocada como<br />

coisa julgada.<br />

2.6. Ainda que não admftido o<br />

raciocinio desenvolvtdo no subitem<br />

2.5., nil° sera caso de decretacAo<br />

de inconstituctonalidade da<br />

Lei n? 7.290 e seu regulamento,<br />

decreto n? 19.290, por lesào a direito<br />

adquirldo.<br />

Se, por hipatese, nAo fossem<br />

admitidas as razOes constantes<br />

do subitem 2.5., supra, ainda assim,<br />

não sena caso de decretacAo<br />

de inconstitucionalidade,<br />

quer do art. 9? da Lei 7.290, quer<br />

do art. 5? item I, do Regulamento,<br />

a locuCoto «menor de 21 anos»,<br />

corn ruler° no art. 153, $ 3?, da<br />

ConstituicAo Federal, pots tais diplomas<br />

jurldicos estAo dispondo<br />

para o presente, e nä° para o<br />

passado como quer fazer crer o<br />

interessado na representacAo e,<br />

por conseguinte, em plena harmonia<br />

com o dispoto no art. 6? e<br />

paragrafos<br />

da Lei de Introducão<br />

ao C6d igoCivil - »<br />

A douta. Procurauoria-Geral de-<br />

Republica assim opina pela improcedäncia<br />

da representacão:<br />

pedido do Tenente-Coronel reformado<br />

Adrian de Carvalho, da


Milftar do Estado de Minas<br />

Gerais, esta Procuradoria-Geral<br />

da Repiblica, atraves de meu antecessor,<br />

submeteu a exame e Jul-<br />

gamento desse colendo Supremo<br />

Tribunal Federal representacAo<br />

arguindo a inconstitucionalidade<br />

do arttgo 9? da Lei do Estado de<br />

Minas Gerais de n? 7.290, de 4 de<br />

Who de 1978 e do artigo 5? do Decree<br />

Estadual n? 19.290, da mesma<br />

data, que a regulamentou.<br />

Transcreve-se os textos Impugnados:<br />

Artlgo 9? da Lel a? 7.290, de 1978<br />

a 0 Poder Executivo reguiamentart%<br />

esta Lei, ficando autorizado a<br />

ettabelecer:<br />

I — a estrutura e as normas de<br />

funcionamento da CNPM (Caixa<br />

Beneficente da Policia Militar do<br />

Estado de Minas Gerais):<br />

II — o piano de cargos e sale<br />

dos:<br />

III — o regime previdenclal e o<br />

piano de benefidos:<br />

IV — a forma de prestactio de<br />

assistincia medica, odontolOgica,<br />

hospitalar e farmaciutica, que ntio<br />

poderA ser feita diretatnente pela<br />

autarquia.D<br />

Artlgo 5? do Decreto n? 19.290, de<br />

1978<br />

9Considera-se dependente do segurado<br />

para os efeitos deste Regulamento:<br />

I — a esposa: 0 marido invalid°,<br />

a companbeira mantida hi mats<br />

de cinco (5) linos; o litho de qualquer<br />

condiello, menor de dezoito<br />

(18) ants ou invalid° e a Mita, de<br />

qualquer condicio, solteira, menor<br />

de vinte e tun (21) anos ou Wyattdig<br />

R.T.J. — 99 79<br />

II — a pessoa designada que, se<br />

do sexo masculino, se poderA ser<br />

menor de dezoito (18) anos, malor<br />

de sessenta (60) anos, ou invilida;<br />

III — a mile;<br />

IV — o pai invilido:<br />

V — o irmtio, de qualquer condicao,<br />

menor de dezolto (18) anos ou<br />

InvAlido; a irmit solteira, de qualquer<br />

condicito, menor de vinte e<br />

urn (21) anos ou InvAlida.<br />

1? — Equipara-se ao fllho, nas<br />

condicOes estabelecidas no inciso I,<br />

por declaracio escrita do segurado:<br />

enteado;<br />

o menor que, por determinacilo<br />

legal, se concentre sob sua<br />

guarda ou tutela e nits possua recurso<br />

suficiente para o preprio sustenth<br />

e educacio.<br />

2? — A existincia de qualquer<br />

dependente de qualquer das classes<br />

prevlstas nos incisos I e II exclui<br />

do Wren° is prestacties os das<br />

classes subseq0entes.<br />

— Inexistindo esposa, ou marido<br />

invilido, corn Wren° as prestacties,<br />

a pessoa designada poderit,<br />

por declaracAo escrita do segurado,<br />

concorrer corn os Mhos deste.<br />

— NAo sendo casado civilmente<br />

o segurado, Presumir-se-a<br />

designada a pessoa corn quern tenant<br />

se casado religlosarnente.<br />

— Por declaracilo escrita do<br />

segurado, os dependentes a que se<br />

referem os incises III e IV poderio<br />

concorrer corn a esposa, a comPe<br />

nbeirit, ou o marido invalid°, ou<br />

corn a pessoa designada na forma<br />

do parigrafo anterior, salvo se<br />

exlstlr Mho corn direlto A presta-<br />

Cite<br />

13? — A dependincia econOmica<br />

da pessoa Indicada no incise 6 pre<br />

sumida e a das demals deve ser<br />

comprovada.D


BO<br />

Reproduziu-se, na Integra o tea°<br />

do artigo 5? do Decreto n? 19.290,<br />

de 1978, porque a peticAo Uncial a<br />

ele referiu-se, sem qualquer destaque.<br />

Ocorre, porem, que a SOplica<br />

ensejadora da FtepresentacAo busca<br />

impugnar, tAo-somente, a expressão<br />

«menor de 21 anos»,<br />

nuada na parte final do inciso I<br />

desse artigo, alem de Artigo 9? da<br />

Lei n? 7.290, também de 1978, este<br />

sim, in integrum, todo o artigo.<br />

Dols foram os fundamentos da<br />

Sfiplica: no primeiro, sustenta o<br />

suplicante a violacAo do artigo 6?,<br />

parAgrafo<br />

da ConstituicAo<br />

Federal em que se veda a qualquer<br />

dos Poderes delegar atribuicees.<br />

Eis o texto do dispositivo constitucional<br />

invocado:<br />

«Art. 6? — SAo Poderes da<br />

União, independentes e harmOnicos,<br />

o Legislativo, o Executivo e o<br />

Judiciario.<br />

ParAgrafo Calico. Salvo as excecees<br />

p<strong>revista</strong>s nesta ConstituicAo,<br />

e vedado a qualquer dos Poderes<br />

delegar atribuicOes; quem for investido<br />

na ftmcAo de um deles nä°<br />

podera exercer a de outro.»<br />

A vedacão constitucional teria sido<br />

transgredida, ao ver do Suplicante,<br />

porque, pelo art. 9? da Lei<br />

7.290, de 1978, deu o Poder Legislativo<br />

autorizacAo ao Poder Executivo<br />

«para que este elaborasse a estrutura<br />

da Cain atraves de Regulamento»<br />

(inciso I).<br />

0 segundo fundament° do Suplicante<br />

e o de que a condicAo de Idade,<br />

da filha solteira para figurar como<br />

dependente do segurado, estabelecida<br />

no inciso I do art. 5? do<br />

Decreto n? 19.290, de 1978, violaria<br />

o § 3? do art. 153 da Constituicão<br />

Federal em dots pontos: prejuizo<br />

ao direito adquirido e desrespeito<br />

coisa julgada.<br />

Instados pelo Exmo. Sr.<br />

Ministro-Relator, em cumprimento<br />

— 04<br />

ao art. 175 do Regiment° Intern°<br />

do Supremo Tribunal Federal,<br />

prestaram informacOes o senhor<br />

Governador do Estado de Minas<br />

Gerais, e a Augusta Assembiêia<br />

Legislativa.<br />

0 primeiro sustentando que a Lei<br />

7.290, de 1978, «cuja elaboracAo se<br />

pode creditar ao propOsito do govern°<br />

estadual anterior de aperfeicoar<br />

a assistëncia previdenciAria<br />

prestada as familias dos oficials e<br />

pracas da Policia Militar do Estado<br />

de Minas Gerais que vierem a<br />

falecer, se limitou, em sintese, a<br />

descentralizar um servico publico,<br />

mediante a criacau de uma autarquia<br />

e a autorizar o Poder Executivo<br />

a dispor, em norma de natureza<br />

regulamentar, sobre o servico cuja<br />

execucAo foi confiada a autarquia<br />

criada». E que «nAo e licito ao interprete,<br />

desprezando os cuidados<br />

que deve ter, admitir a existencia<br />

de delegavão de poder nos cases<br />

em que nä° se delegou qualquer<br />

atribuicAo constitucional, mas apenas<br />

se autorizou o Poder Executivo,<br />

por lei, a elaborar normas sobre<br />

determinada materia.»<br />

Profliga, ainda, o Senhor Governador<br />

a arglicAo, corn este argument°,<br />

verb's:<br />

«Se a ConstituicAo Federal permitisse<br />

a delegagAo legislativa ao<br />

Presidente da Repablica rtlediante<br />

resoluato do Congresso Nacional<br />

(arts. 52 a 54), a qual poderA ser<br />

por ele solicitada, conforme dispOe<br />

o art. 118 do Regiment° Comum do<br />

referido tirgAo, o mesmo podendo<br />

ocorrer, evidentemente, no Ambito<br />

estadual, ex vi do disposto no paragrafo<br />

Calico do art. 200 da Lei Magna,<br />

que permite aos Estados a adocdo<br />

do regime das Leis delegadas,<br />

nap veto como se possa contestar a<br />

validade da delegacão legislativa<br />

dada a um Governador de Estado<br />

por lei no sentido formal.»


No tocante a «coisa Julgada», o<br />

segundo fundamento da SUplica,<br />

diz o Senhor Governador, em suas<br />

informacties, que a alegacAo nada<br />

tem a ver corn a representacAo de<br />

inconstitucionalidade cWo desprovimento,<br />

evidentemente, em nada<br />

afetarit a eficAcia da «coisa Julgada»<br />

que o Suplicante invocou.<br />

quanto as informacdes da<br />

ASSeMblaia legislativa, sobressaem<br />

os seguintes argumentos:<br />

«A Lei tern por finalidade adequar<br />

a Caixa Reneficente da<br />

Policia Minter do Estado de Minas<br />

Gerais, autarquia estadual assim<br />

definida por let, a moderna sistemetica<br />

previdenciAria, para o<br />

cumPrimento eficiente de sua alta<br />

finalidade de prestacAo beneficiAria<br />

a sews segurados...» e que por<br />

se tratar de materia cuja competencia<br />

estadual para legislar e<br />

supletiva, ex vi do art. 8?, inciso<br />

XVII, alinea c, e parigrafo Untco,<br />

teria o Estado de Minas Gerais<br />

que, sem preJuizo da preservacão<br />

da entidade e seus fins, adaptar-se<br />

A legislactio <strong>federal</strong> pertinente<br />

Previdencia Social, por imperativo<br />

de ordem constitucional, por isso<br />

que a legislacAo que se tenta reviver<br />

estava inteiramente divorciada<br />

do atual sistema previdencierio<br />

instituldo no piano <strong>federal</strong> e, por<br />

que nAo dizer, derrogada» (sic)<br />

ainda a Assemblela<br />

Legialativa quern rechaca os fundamentos<br />

do Suplicante, nestes termos:<br />

que, sem entrar no merit°<br />

quanto a existAncia, no caso da Lei<br />

7.290, de 1978, de delegaclio de<br />

poder, a vedacAo constitucional<br />

ago e absolute. 0 parttgrafo tuna)<br />

do artigo 6? da Constituiclo ressalva<br />

as excecties nela p<strong>revista</strong>s e o<br />

melhor exemplo 6 o DaS Leis<br />

Delegadas de que trata o art. 52. A<br />

materia atinente a PrevidAncla Social,<br />

tratada na Lei mineira 7.290,<br />

de 1978, e exatamente daquelas<br />

R.T.J. — 94 81<br />

que podem ser °Wet° de delegacAo.<br />

E o Decreto 19.290, também<br />

impugnado, a limitado pela Lei Federal<br />

n? 3.807 (Lei (Nance da<br />

Previdencia Social), de 26 de agosto<br />

de 1960 e pelo Decreto n? 77.077,<br />

de 24 de Janeiro de 1976, que expediu<br />

a Consolidacgo das Leis da<br />

Previdencia Social.<br />

Por fim, alega a Assemblgia<br />

Legislative, fundamentadamente,<br />

nAo ter havido ofensa a direito adquirido<br />

ou desrespeito a coisa Julgada<br />

pelos diplomas legais °Wet°<br />

da argilicAo.<br />

0 parecer desta Procuradoria-<br />

Geral da Reptiblica, que, na<br />

reservou-se para dizer quanto<br />

ao merit° nesta oportunidade, 6 pela<br />

improcedencla da Representacão.<br />

Os ftmdamentos de que se utilizou<br />

o Suplicante, quaffs seJam, o da<br />

indelegabilidade de atribuicties de<br />

urn Poder a outro e os de violacAo<br />

de direito adquirido e ofensa a coisa<br />

Julgada foram suficientemente<br />

ilididos pelos Representados, ern<br />

suas informacOes.<br />

Com efelto, a autorizacAo legislativa<br />

para que o Poder Executivo,<br />

regulamentando a materia, dispusesse<br />

sobre a estrutura e as normas<br />

de funclonamento da Cain<br />

Beneficente da Miter de<br />

Minas Gerais (Inciso I do art. 9?<br />

da Lel n? 7.290, de 1978), Mo coatita<br />

corn a vedacAo constitucional de<br />

delegar atribuicties porque a prepria<br />

Constituicflo Mo restringe<br />

EI (formal) toda a materia previdencittria.<br />

No art. 8?, Inc's° XVII,<br />

diz-se que «compete a Until° legislar<br />

sobre normas gerais... de<br />

seguro e previdencia Social».<br />

A Assembleia Legbdativa do Estado<br />

de MIMS Gerais, corn--o_respaldo<br />

constitucional do parAgrafo<br />

Wilco do referido art. 8?, em que se<br />

atribul competencla supletiva ao<br />

Estado-membro para legislar so-


82 — 94<br />

bre a materia, e obediente a simetria<br />

imposta pelo art. 200, autorizou o<br />

Poder Executivo a complements-la<br />

por Regulamento.<br />

A orientacao doutrinaria e jurispruden<br />

c i al permite ao<br />

Regulamento dispor sobre materia<br />

ao ventilada na Lei<br />

Regulamentada desde que nao<br />

transponha os lindes da competencia<br />

executiva. «No poder de chefiar<br />

a Administracäo esta implicito<br />

de regulamentar a lei e suprir,<br />

corn normas prOprias, as omiss6es<br />

do Legislativo que estiverem na alcada<br />

do Executivo. Os vazios da lei<br />

a imprevisibilidade de certos f atos<br />

e circunstAnclas que surgem a<br />

reclamar providencias imediatas<br />

da AdministracAo, imp6e-se reconheca<br />

ao Chefe do Executivo o poder<br />

de regulamentar, atraves de<br />

decreto, as normas legislativas incompletas,<br />

ou de prover situacOes<br />

nao p<strong>revista</strong>s pelo legislador, mas<br />

ocorrentes na pratica administrativa.<br />

0 essential e que o Executivo,<br />

ao expedir regulamento — autOnomo<br />

ou de execucAo, da lei — nä()<br />

invada as chamadas «reservas da<br />

lei», ou seja, aquelas materlas se<br />

disciplinaveis por lei, e tats sa.o,<br />

em principio, as que afetam as garantias<br />

e os direitos individuals assegurados<br />

pela ConstitulcAo (art.<br />

153 e seus paragrafos)». (Hely Lopes<br />

Meirelles, Direito AdmInistrativo<br />

Braslleiro, 6? EdIcAo, Ed. Revista<br />

dos Tribunals, 1978).<br />

NAo fora essa a orientacAo, ainda<br />

assim nao poderia ser acolhida<br />

a Stiplica pelo fundamento da indelegabilidade<br />

de atribuicOes por<br />

que, no paragrafo (mica do art. 200<br />

da Constituicao, permite-se que os<br />

Estados adotem o regime de leis<br />

delegadas.<br />

No piano <strong>federal</strong> ha exemplos sufictentes<br />

para demonstrar a fragilidade<br />

da fundamentacAo do Suplicante.<br />

O primeiro exemplo pertine<br />

prepria Previdtncia Social. 0 atual<br />

SINPAS (Sistema Nacional de Previdencia<br />

e Assistencia Social) foi<br />

instituido pela Lei n? 6.439, de 1? de<br />

setembro de 1977, em que assim se<br />

disp6s no seu art. 1?:<br />

«Fica instituido o Sistema Nacional<br />

de Previdencia e Assistencia<br />

Social — SINPAS sob a orientacAo,<br />

coordenacão e controle do<br />

Ministerio da Previdencia e Assistencia<br />

Social — MPAS, corn a<br />

finalidade de integrar as seguintes<br />

funcees atribuidas as entidades<br />

referidas nesta Lei:<br />

concessao e manutencAo de<br />

beneflcios e prestacão de servicos;<br />

custeio de atividades e programas;<br />

III. gestão administrative, financeira<br />

e patrimonial».<br />

A regulamentacAo foi prevlsta no<br />

artigo 33 da Lel, nestes termos:<br />

seja efetivamente implantado ate<br />

do Servico<br />

“0 Poder Executivo baixara o<br />

regulamento desta Lei e tomara<br />

providencias para a organizacAo<br />

das novas entidades, a reformuladas<br />

remanescentes e a liquidagão<br />

das extintas, corn declaracfm<br />

da extincAo de sua personalidade<br />

juridica, a fim de que o SINPAS<br />

seja efetivamente implantado ate<br />

1? de julho de 1978.D (o grlfo nao e<br />

do original).<br />

ye-se, desde logo, que a declaracdo<br />

de extincAo da personalidade<br />

juriclica de entidades de direito pablico,<br />

como as autarquias <strong>federal</strong>s<br />

o sac), cuja competéncia originaria<br />

e do Poder Legislativo, foi delegada<br />

ao Poder Executivo como (mica<br />

forma capaz de viabilizar o novo<br />

Sistema Prevklenciario implantado.<br />

Quanto as materias enumeradas<br />

nos incisos I, II e III do art. 1? da<br />

Le. 6.439, de 1977, instituidora do<br />

SINPAS, foram tratadas por De-


creto por force de comando legislative<br />

expresso 0 Decreto n? 77.077,<br />

de 24 de Janeiro de 1976, expediu a<br />

ConsolidacAo das Leis da Previdencia<br />

Social «que compreende as<br />

disposicee i 4.1a Lei OrgAnica da<br />

Previdencia Social (Lei 3.807, de 26<br />

de agosto de 1960) e da respective<br />

legislacão complementer, <strong>revista</strong>s<br />

atuallzadas e remuneradas» (Artigo<br />

finial do Decreto Chad(); os<br />

fos nAo silo do original).<br />

Na ExposicAo de Motivos em que<br />

Senhor Mintstro da Previdtncia<br />

Social submeteu o texto da referida<br />

Cons°lidacito a aprovacilo do<br />

Exmo. Sr. Presidente da<br />

le-se:<br />

«20. Em prtmeiro Luger, ela<br />

eneatitul salvo methor juizo, virtual<br />

inovacio legislative, porque,<br />

embora expedida por decreto, nAo<br />

urn regulamento, mas sim um<br />

documento legal de natureza substantive,<br />

elaborada que tot por force<br />

de comando legislativo expresso.<br />

0 Cticllgo Tr(but/trio Nacional<br />

contem determinacAo klentica, que<br />

todavia nib chegou Wilda a ser<br />

cumprlda.»<br />

Otero exemplo, ainda na esfera<br />

<strong>federal</strong> 6 o da implantactio do<br />

Plano de Classfficagdo de Cargos<br />

do Servigo Civil da Untie. Com<br />

efelto, na Lei nt 5.645, de 10 de dezembro<br />

de 1970, estabeleceu-se as<br />

Diretrizes para a elassfficagao e no<br />

sou Artlgo 10 operou-se a seguinte<br />

delegactio:<br />

«0 org&o central do Sistema do<br />

pessoal expedira as normas e<br />

instructbes necessaries e coordenara<br />

a execucão do novo Plano, a<br />

ser proposta pelos MlniSterios,<br />

ergilos integrantes da Presideneta<br />

da RepOblica e autarqulas,<br />

dentro das respectivas jurtsdicoos,<br />

pare aprovacAo mediante<br />

decreto.»<br />

Fol então questionada a delegacão<br />

de competencia para o trato da<br />

R.T.J. — 94 83<br />

materla legal substantive pelo Poder<br />

Executivo. Apes divergencies<br />

em seus julgados o Egregio<br />

Tribunal Federal de Recursos acionou<br />

pela primeira vez os dispositivos<br />

processuais que the permitlam<br />

a uniformizacão de sua <strong>jurisprudencia</strong><br />

(art. 476 e seguintes do<br />

CPC), editando a Stimula 1, come<br />

consectario de julgamento do<br />

Trwunal Pleno (Incidencia de Untformizacito<br />

de Jurisprudencia na<br />

AMS n? 79.878, Pleno, em 5 de<br />

Maio de 1977) em que se reconheceu<br />

a validade, com force legal,<br />

das InstrugOes NormatIvas que o<br />

DASP expedlu, autorizado que tot<br />

pelo Leglalador (Publicada no<br />

Mario da Justice de 17 de setembro<br />

de 1979).<br />

Quanto aos fundamentos de que<br />

se utllizou o Supllcante para sustenter<br />

a inconstitucionalidade do<br />

artigo 5? do Decreto n? 19.290, de<br />

1970, pelo que imp6s-se condicAo de<br />

menoridade a Ma solterta benetieerie<br />

do segurado da Cain<br />

Benetleente, quaffs seja o de desrespeito<br />

a coisa julgada» e o de<br />

violactio ao (Breit° adqutrldo», Ja o<br />

demonstraram as informacems que<br />

tal nAo ocorreu.<br />

Somente na aplicactio incidental<br />

na nova legislactio* que se poderla<br />

verificar a ocorrencia de qualquer<br />

dessas hipeteses. NAo, evidentemente,<br />

examinando-se Let em tese.<br />

E e indiscutivel que o controle jurisdicional<br />

de constitucionalklade<br />

das lets a operado, incidentalmente,<br />

atraves de procedtmento<br />

ordlnerlo ou de mandado de<br />

seguranga.<br />

Por todo o exposto, o parecer<br />

pela Improcedencia da<br />

Representagllo.<br />

Brasilia, 28 de dezembro de 1979 —<br />

Firmlno Ferreira Paz, Procurador-<br />

Geral da Reptiblica».


84 R.T.J. — 94<br />

o relatOrio, que submeto a consideragäo<br />

dos Exmo. Srs. Ministros<br />

(art. 177 do RI) pedindo dia para Julgamento.<br />

Brasilia, de fevereiro de 1980 —<br />

Corder° Guerra, Ministro-Relator.<br />

VOTO<br />

Sr. Ministro Cordeiro Guerra<br />

(Relator): Corn bem observa o parecer<br />

da douta Procuradoria-Geral da<br />

Repfiblica, a presente representacAo<br />

visa impugnar, in integrum, o art. 9?<br />

da Lei 7.290, de 1978, e a expressão<br />

«menor de 21 anos», contida na parte<br />

final do inciso I do art. 5? do Decreto<br />

19.290, de 1978.<br />

Critica-se o art. 9? da Lei 7.290, de<br />

1978, a titulo de violacAo do art. 6?, §<br />

imico, da ConstituicAo Federal, e o<br />

inciso I do art. 5? do Decreto n?<br />

19.290, de 1978, por violacAo do art.<br />

153, § 3? da ConstituicAo Federal.<br />

Improcede a representacão em<br />

ambos os pontos mencionados.<br />

principio da separacAo de poderes<br />

sugerido por ,Arist6teles e consagrado<br />

por Montesquieu, defendido<br />

por Locke e Rousseau, nAo configura<br />

mais aquela rigidez de outrora, como<br />

observa Jose Afonso da Silva: «a<br />

ampliacAo das atividades do Estado<br />

contemporAneo imp& nova visa° da<br />

teoria da separacao de poderes e novas<br />

formas de relacionamento entre<br />

os OrgAos legislativo e executivo e<br />

destes corn o judiciario, tanto que<br />

atualmente se prefere falar em colaboracAo<br />

de poderes, que se fundamenta<br />

na conciliacão de duas tecnicas:<br />

independencia orgänica e harmonia<br />

de poderes.» (Curso de Direito<br />

Constitutional Positivo, RT vol. I,<br />

p. 85).<br />

art. 6? da Constituicao da Reptiblica<br />

declara a independOncia e harmonia<br />

dos Poderes da Uniäo e veda<br />

a qualquer deles delegar atribuicties,<br />

salvo as excecOes expressas na prOpria<br />

Constituicâo (paragrafo (mica,<br />

art. 6?).<br />

Entre as excecOes expressamente<br />

p<strong>revista</strong>s na Constituicão se encontra,<br />

exatamente, a da legitimidade<br />

da delegacdo legislativa do Potter<br />

Executivo art. 46, IV e V; art. 52, 53<br />

e 55 (idem, p. 88).<br />

Unanlme e a doutrina a respeito,<br />

ate mesmo nos paises em que, como<br />

os Estados Unidos, encontravam<br />

obice a delegacáo legislativa, no texto<br />

constitutional tal a forca dos fatos<br />

novos sobre as estruturas juridicas<br />

preexistentes.<br />

Veja-se, por exemplo, Bernard<br />

Schwartz: «Nos Estados Unidos, como<br />

na Inglaterra, as necessidades<br />

da administracáo moderna tern cornpelido<br />

o legislativo a delegar ao Executivo<br />

poderes para promulgar regras<br />

e regulamentos que possuem<br />

Corea de lei. A legislacão delegada<br />

quando valida tern o mesmo efeito<br />

que um estatuto aprovado pelo Legislativo.»<br />

(Direlto Conslituclonal<br />

Americano — Forense — p. 34).<br />

A ConstituicAo Francesa, de 3 de<br />

junho de 1958, autoriza a delegacão<br />

legislativa do parlamento, mediante<br />

as leis programaticas ou autorizativas,<br />

art. 34, 37, 38, podendo o gover-,<br />

no editar regulamentos, decretos,<br />

leis ou ordenacties (ordonances) ratificavels,<br />

ou nä° pelo Parlamento.<br />

Dai dizer George Burdeau sobre a<br />

competencia normativa do Governo,<br />

que esta compreende, alem dos regulamentos<br />

tradicionais, a faculdade<br />

de editar normas outras, porque a '<br />

competencia legislativa do Govern<br />

est tine competence de droit cornmun<br />

puisque le Parlement n'aqu'une<br />

competence d'attribution (Droit<br />

Constituclonnel et Instituitions<br />

Politiques, 121 ed., Paris, 1966, p. 535<br />

e seguintes).<br />

Do mesmo modo na ConstRuicao<br />

Italiana, que prevé e regula a delegacAo<br />

do poder legislativo do Parlamento<br />

ao Govern, nos arts. 72, 76 e<br />

77, sobre qualquer matéria, salvo as<br />

mencionadas nos artigos 78, 79 e 117


da mesma Constituted°, como esclarece<br />

o professor ordinArio da Universidade<br />

de Roma, Carlo Cavagna<br />

(Istituzioni di Dlritto Publico — 3?<br />

ed., Utet, 1976, Ws 95 a 106) que cita<br />

abundante bibliografia sobre o terra<br />

(notes 95, p. 293).<br />

Explica-se, assim, facllmente, a<br />

regularidade da lei delegada ora impugnada,<br />

porque o art. 200 da Constituted°<br />

Federal, § Onico, autoriza as<br />

Constitutor/es dos Estados adotarem<br />

o regime de leis delegadas, proibidos,<br />

apenas, os decretos lets.<br />

A Constituted° Mineira nos arts.<br />

38 e 47, expressamente, autoriza o<br />

regime da delegacdo legislativa, salvo<br />

em matéria de compettncia privative<br />

da Assembleia Legislativa, o<br />

que ndo e o caso dos autos, § Unico<br />

do art. 47 da Constituted° Mineira<br />

(Constituted° Federal e Constituigdes<br />

Estaduais, Tomo I, p. 443/445 -<br />

r Ed. 1977, Senado Federal — Secretaria<br />

de Edieees Tecnicas).<br />

Por outro lado, nenhuma violaedo<br />

existe a direito adquirido, na restriedo<br />

estabelecida «menor de 21<br />

anosn, em prlmelro lugar porque dispee<br />

para o futuro; em segundo, por<br />

estar conforme a Lei Orgdnica da<br />

Presidencia Social, e, finalmente,<br />

porque o acOrddo trazido a colaello<br />

dtz respeito a hipOtese diversa, relativa<br />

a outra lei, e a urn regulamento<br />

R.T.J. — 94 85<br />

a ela infringente, quando a lei apredada<br />

TA° resultara de delegacäo legislativa.<br />

Em face do exposto, das doutas<br />

consideraenes constantes das informeet:es<br />

prestadas pelas autoridades<br />

interessadas e do parecer da douta<br />

Procuradoria-Geral da Republica,<br />

julgo improcedente, na integra, a representaedo.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

Rp. 1.017 — MG — Rel.: Min. Cordeiro<br />

Guerra. Bente.: Procurador-<br />

Geral da Reptiblica. Repdos.: Assembleta<br />

Legislative e Governador<br />

do Estado.<br />

Decisdo: Julgaram improcedente a<br />

representaedo. Decisdo undnime.<br />

Votou o Presidente.<br />

Presiddncia do Senhor Ministro<br />

Xavier de Albuquerque. Presentes<br />

Sessdo os Senhores Mlnistros Djaci<br />

Falcdo, Thompson Flores, Cordeiro<br />

Guerra, Moretra Alves, Cunha Peixoto,<br />

Soares Munoz, Decto Miranda<br />

e Rafael Mayer. — Ausente, B islift -cadamente, o Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presidente. Ausente, licenciado,<br />

o Sr. Min. Lend° de Abreu. —<br />

Procurador-Geral da Repüblica, Dr.<br />

Fir/11bl° Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 12 de marco de 1980. —<br />

Alberto Veronese Aguiar SecretArio.<br />

ACAO RESCISORIA Et 1.062 — DF<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Thompson Flores.<br />

Autor: Antonio Flores Cruz — Ret • Procurador-Geral da RepOblica.<br />

Mao rescisOria. Decadencia reconhecida porque, posto o autor<br />

tenha tngressado em Juts° tempesttvamente e obtido despacho ordenando<br />

a citagdo em moment() OW, 5-9-77, /go promoveu a Macao no<br />

prazo de dez dies a que se refere o art. 219, f 2?, nem requereu a<br />

prorrogaedo do prazo mencionado no parAgrafo 3? do citado artigo.<br />

II. Ertl/10o do processo com assento nos arts. 269, II, e 495 do<br />

US° de Processo Civil.


86<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Sessao<br />

PlenAria, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigrAficas<br />

por unanimidade de votos, julgar<br />

extinto o processo.<br />

Brasilia, 26 de setembro de 1979 .<br />

Antonio Neder, Presidente —<br />

Thompson Flores, Relator.<br />

RELATORIO PRELIMINAR<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

Contra o Procurador-Geral da Republica<br />

e Stud Book Brasileiro, secliado<br />

na Cidade de Sao Paulo, Av. Lineu<br />

de Paula Machado, n? 875, ajuizou o<br />

autor, em 14-8-77, a presente acao<br />

rescisOria visando a rescindir o ac6rdao<br />

deste PlenArio, proferido no<br />

Mandado de Seguranca 20.119, em<br />

11-5-77, e cuja ementa dispOe, f. 10:<br />

«Mandado de Seguranca. Internpestividade<br />

do ajuizamento do<br />

writ. Pedido nao conhecido.»<br />

Corn a initial apresentou os documentos<br />

de fls. 6/20, inserindo-se a 1.<br />

21 o comprovante do dep6sito.<br />

Ordenada a citacao em despacho<br />

de 5-9-78, fls. 22/v, fol.° despacho<br />

publicado no D.J. de 11-9-78, f. 23,<br />

certificando-se a 14-11-78'o seguinte,<br />

f. 24: «Certifico e dou fè que, ate a presente<br />

data, o interessado nao cornpareceu<br />

A Secretaria deste Tribunal<br />

para providenciar o pagamento<br />

da Carta de Ordem, em cumprimento<br />

ao r. despacho de fls. 22 verso.<br />

Setor de Processos Diversos, 14<br />

de novembro de 1978. Eu, Eunice<br />

Barroso de Melo e Souza, Técnico<br />

JudiciArio, lavrei a presente.»<br />

A f. 25 certificou a Secretaria<br />

que a decisao rescindenda transitou<br />

em julgado em 11-8-77, f. 25.<br />

R.T.J. — 94<br />

4. E o relatOrio preliminar, o qual<br />

6 sujeito A revisào do eminente Ministro<br />

Xavier de Albuquerque.<br />

Atenda a Secretaria o disposto no<br />

art. 83, II, do Regimento Intern°.<br />

Brasilia, 31 de agosto de 1979 .Ministro<br />

Thompson Flores, Relator.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Mores<br />

(Relator): Julgo extinto o processo<br />

por ter ocorrido a decadéncia nos<br />

termos do art. 269, II, c.c. o art. 495,<br />

ambos do C.P.C., pagando o autor as<br />

custas do processo e os honorArios<br />

de advogado, os quaffs fixo em<br />

Cr$ 500,00, atento ao valor atribuido A<br />

causa, Crii 1.000,00, revertido em prol<br />

dos r6us o depOsito procedido.<br />

2. 0 acOrdao rescindendo transitou<br />

em julgado em 11-8-77.<br />

E, posto o autor tenha ingressado<br />

em Juizo tempestivamente e obtido<br />

despacho ordenando a citacao em<br />

momento fail, 5-9-77, nao promoveu<br />

a citacao no prazo de dez dias a que<br />

se refere o art. 219, 2?, nem requereu<br />

a prorrogacao do prazo mencionado<br />

no parAgrafo 3? do citado artigo.<br />

Irremediavelmente, ocorreu a decadencia<br />

em 11-8-79.<br />

o meu voto.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque (Revisor) • Sr. Presidente,<br />

estou de acordo corn o eminente<br />

Relator.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

AR 1.062 — DF — Rel.: Min.<br />

Thompson Mores. Rev.: Min. Xavier<br />

de Albuquerque. Autor: Antonio Flores<br />

Cruz (Adv: Em causa prOpria).<br />

Ftku: Procurador-Geral da RepUblica.


Decisao: Julgou-se extinto o processo<br />

por ter ocorrido a decadencia.<br />

Decisao uniforme.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes a Sessao os<br />

Srs. Ministros Djaci Falcao, Thompson<br />

Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

R.T.J. — 94 87<br />

Leitao de Abreu, Cordeiro Guerra,<br />

Moreira Alves, Cunha Peixoto, Soares<br />

Mtuioz, Decio Miranda e Rafael<br />

Mayer. Procurador-Geral da Reptiblica,<br />

Dr. Firmino Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 26 de setembro de 1979 .<br />

Alberto Veronese Aguiar, Secretario.<br />

AQAO HOMOLOGATORIA DE SENTENCA ESTRANGEIRA N? 2.613 — ES-<br />

TADO ESPANHOL<br />

Presidente: 0 Sr. Ministro Antonio Nedet<br />

Autor: Rafael Alberto Juarez Sangrador — Re: Rosa Maria Sara Arnaiz<br />

Garcia<br />

Sentenca eclesiftstica espanhola de separacão dos cOnjuges e<br />

sentenca de sua execucilo pela Justica comum da Espanha nos termos<br />

do direito local. Silo ambas homologAvels no Brasil.<br />

Caso em que o varao 6 espanhol domiciliado no Brasil e a mu-<br />

Iher espanhola tern domicIlio na Espanha.<br />

3. Satlsfeltos, na espkie, os requlsitos dos artlgos 15 e 17 da Lei de<br />

1ntroducão ao UAW° Civil Brasileiro, devem ser homologadas uma e<br />

outra sentences estrangeiras.<br />

Vlstos e analisados estes autos de<br />

Acao Homologatoria de Sentenca Estrangeira<br />

n? 2.613, proferida na Espanha,<br />

em que O autor Rafael Alberto<br />

Juarez Sangrador, e re Rosa Maria<br />

Sara Arnaiz Garcia, etc.<br />

2. Rafael Alberto Juarez Sangrador,<br />

espanhol, domiciliado no Brasil<br />

(Sao Paulo), requer seta homologada,<br />

para que tenha eficãcia neste<br />

Pais, a sentenca espanhola de separactio<br />

conjugal, proferida pelo eg.<br />

Tribunal Eclesiastico n? 3 do Arcebispado<br />

de Madri-Alcalá, datilografada<br />

nas fls. 38 e seguintes, traduzida<br />

para o idioma portugues nas fls.<br />

48 e seguintes, pela quallot decretada,<br />

em demanda proposta por sua<br />

mother Rosa Marla Ana& Garcia, a<br />

separacao do casal.<br />

Nos termos do artigo XXIV, da<br />

Concordata de 27-8-953, firmada pela<br />

Santa Se e pelo Estado Espanhol, re-<br />

ferida sentenca foi submetida, em<br />

1978, ao Juizado de Primeira Instancia<br />

Ntlmero Quatro de Madri, para<br />

ser executada no tocante aos efeitos<br />

de natureza civil e a ela inerentes,<br />

donde a sentenca daquele Julz de fls.<br />

11 e seguintes, traduzida para o idioma<br />

portugues nas fls. 15 e seguintes.<br />

A Re foi citada pelo edital de f. 28,<br />

afixado na Portaria desta Corte, publicado<br />

no Diftrio da Justica, f. 26, e<br />

na Imprensa, Ss. 24 e 25, mas nä°<br />

atendeu ao chamamento, donde a<br />

sua revelia certificada na f. 29 e a<br />

nomeacao de curador para the defender<br />

os direitos, nomeacao que recaiu<br />

no advogado Pedro Gordilho, f.<br />

29, o qual se pronunciou nestes termos,<br />

fls. 64 e 65:<br />

«Rafael Alberto Juarez Sangrador,<br />

espanhol (f. 59), oferece A homologacão<br />

o veredicto corn que o<br />

Tribunal Eclesiastico de Madri<br />

promulgou a «separacao conjugal<br />

por tempo indefinido)) (fls. 48-54). a


88 R.T.J. — 94<br />

pedido de sua ex-consorte, tambem<br />

national da Espanha (f. 59), através<br />

de sentenca ja executada pelo<br />

Juizado Civil, em conformidade<br />

corn a legislacho do pais (fls. 15-18,<br />

especialmente a f. 16).<br />

A sentenca cuja homologacão<br />

se requer tern sua veracidade reconhecida<br />

por autoridade diplomatica<br />

brasileira em Madri (fls. 7v., 14<br />

e 47), constando dos autos em seu<br />

inteiro teor, devidamente traduzida<br />

(fls. 48-54).<br />

A competencia internacional<br />

da justica espanhola estA caracterizada<br />

por forca da nacionalidade<br />

comprovada das partes (f. 48 e f.<br />

59). Ademais, ressalte-se, o casamento<br />

canOnico realizou-se na Espanha.<br />

Prova-se, corretamente, a irrecorribilidade<br />

da sentenca de separacAo<br />

corn a certidAo de f. 8 que<br />

instruiu o pedido, onde estA consignado:<br />

«(...) Certlfico: que nos autos<br />

do pleito de separacAo conjugal<br />

nUmero 656, do ano de 1976, promovidos<br />

ante este Tribunal pela<br />

senhora Rosa Maria Sara Arnaiz<br />

Garcia contra o senhor Rafael<br />

Alberto Juarez Sangrador, lot ditada<br />

a sentenca, ja firme e transitada<br />

ern julgado (...)»<br />

No tocante ao requisito da citacão,<br />

segundo se deduz a f. 48, a<br />

revelia do cOnjuge-varão restou caracterizada<br />

no processo de separacAo<br />

em que foi proferida a sentenca<br />

homologanda. Como e o prObrio<br />

cOnjuge-varão, no entanto, que requer<br />

a presente homologacAo, a de<br />

reconhecer-se que tenha aceito como<br />

regular o processo em que foi<br />

proferida a sentenca homologanda<br />

(SE 2.461, DJ, 30-11-78, p. 9.682).<br />

«6. Finalmente, ressalte-se, nä.°<br />

existe nos autos a comprovacão de<br />

que a legIslacAo espanhola admite<br />

a dissolucAo do vinculo. Assim, o<br />

parecer 6 pelo acolhimento do pe-<br />

dido, para conferir a sentenca homologanda<br />

o efeito da separacão<br />

judicial, limitado o direito ao novo<br />

casamento de qualquer das partes<br />

a que, antes, decorra o prazo estabelecido<br />

no 6? do art. 7? da<br />

L.I.C.C., corn a redacAo do art. 49<br />

da Lei n? 6.515, de 26-12-77.»<br />

eg. Procuradoria-Geral da Repnblica<br />

oficiou nas fls. 68 a 69,<br />

verbis:<br />

Assiste razAo ao douto curador<br />

especial quando assevera, no<br />

parecer de fls. 64/65, que se encontram<br />

reunidos os pressupostos gerais<br />

de homologabilidade, pertinentes<br />

a competencia internacional a<br />

citacào, ao trAnsito em julgado,<br />

chancela consular e a propriedade<br />

da traducAo da sentenca homologanda.<br />

Parece-me, porém, corn a<br />

devida venia, equivoca a conclusão<br />

expressa no item 6. 0 que aqui<br />

temos 6 uma sentenca decretatorla<br />

de separacão judicial,sem extincAo<br />

do matrix/Onto. Cabe, pots,<br />

homology-la sem restrigOes de ordem<br />

temporal, ficando claro que<br />

seus efeitos, hoje ou a qualquer<br />

tempo futuro, nab compreendem o<br />

retorno das partes ao estado de liberdade<br />

para novo casamento.»<br />

Isto posto, deduzo ern seguida os<br />

fundamentos e o dispostivo desta<br />

sentenca.<br />

A competencia do Tribunal<br />

EclesiAstico do Arcebispado de<br />

Madri-AlcalA e a do Juizado de PHmeira<br />

InstAncia Milner° Quatro de<br />

Madri, na especie, o primeiro para<br />

julgar a separacAo conjugal e o segundo<br />

para the dar efeito civil, e<br />

competencia p<strong>revista</strong> na Concordata<br />

de 27-8-953 celebrada entre a Santa<br />

See o Estado Espanhol.<br />

Corn efeito, o art. XXIV dessa Concordata<br />

expressa que o Estado Espanhol<br />

reconhece a competencia exclusiva<br />

dos Tribunals eclesiAsticos da<br />

Espanha para julgar as causas de


separacAo conjugal e a competencia<br />

dos Tribunals jurisdicionais espatine's<br />

para executar os julgados daqueles<br />

outros.<br />

Considerando que a competencia,<br />

na especie, 6 a da lex fort, nenhuma<br />

objecilo pode ser oposta, conseq0entemente,<br />

A dos Tribunals que proleriram<br />

os dots julgados acima referidos.<br />

Quanto a citacAo do reu para responder<br />

as duas demandas espanholas,<br />

6 materia que, no caso, nao tem<br />

relevAncia, porquanto o Autor desta<br />

homologateria tot o reu naquelas outras.<br />

A firmeza de tais julgados este<br />

comprovada no fato de que o primeiro<br />

foi executado na jurisdicilo civil e<br />

no de que o segundo contem referencia<br />

a tal requisito em seu texto, como<br />

se ve de f. 17.<br />

R.T.J. — 04 89<br />

A traducão 6 compreenst vel e foi<br />

felta no Brasil por tradutor<br />

Os dois julgados nao contem ofensa<br />

a ordem pliblica, nem aos bons<br />

costumes, nem A soberania nacional<br />

e apresentam, em bons termos, a autenticacAo<br />

consular.<br />

6. Julgo procedente a homologateria<br />

para que os do's julgados estrangeiros<br />

tenham no Brasil a eficAcia<br />

de separaceo judicial dos cOrtiuges,<br />

ou desquite, e nth) de divercio, visto<br />

que o vinculo matrimonial nao se<br />

acha dissolvido na especie, donde a<br />

conseqiiencia de que o Autor e a Re<br />

nao podeito casar-se de novo no<br />

Brasil.<br />

Custas, como de lel.<br />

Supremo Tribunal Federal, 05 de<br />

mato, 1980. — Ministro Antonio<br />

Neder, Presidente.•<br />

AQAO HOMOLOGATORIA DE SENTENQA ESTRANGEIRA N? 2.634<br />

REPUBLICA FEDERAL DA ALEMANHA<br />

Presidente: 0 Sr. Ministro Antonio Neder<br />

Autora: Renata Maria Clara Vieira Leineweber — Reu: Dieter Leineweber<br />

Sentenca estrangeira de divercio. Caso em que um dos cbnjuges<br />

6 brasileiro e em que nao transcorreu o prazo de tres anon fixado<br />

no f 6? do art. 7? da Lei de Introducgo<br />

a redacgo<br />

ao COdigo Civil Brasileiro, com<br />

que the deu o art. 49 da Lei n? 6.515, de 26.12.1977. Dita sentenca<br />

pode ser homologada em parte, isto e, para que tenha ericacia<br />

de separacito judicial dos deluges, e nao a eficacia plena e imediata<br />

pertinente a de dlvercio vincular. Decorrido tal prazo, qualquer das<br />

partes tem o Wren° de postular o rename da sentenca, 03M0<br />

to na Ementa Regimental n? 8, do<br />

previs-<br />

STF, aplicevel ao caso por analo-<br />

Aclio bomologatOria procedente em parte.<br />

Vistos e analisados estes autos de<br />

Acilo Homologatoria de Sentenca Estrangeira<br />

n? 2.634, em que ski partes<br />

Renata Maria Clara Vieira Leineweber<br />

e reu Dieter Leineweber, etc.<br />

2. Renata Maria Clara Vieira Leineweber,<br />

brasileira, domiclliada no<br />

Brasil, onde se casou corn Dieter<br />

Leineweber, contra este proptie a<br />

presente KAI) homologatoria da sentenca<br />

germanica de fls. 9 e seguintes,<br />

traduzida nas Its. 51 e seguintes,<br />

pela qual o Tribunal Regional<br />

de Justica de Hamburgo, Reptiblica<br />

Federal da Alemanha, decretou,<br />

mediante divOrcio a dissolucAo<br />

do casamento que ela contralu


90<br />

corn o Reu nesta Capital (Brasilia)<br />

em 26.12.1976.<br />

0 it] Dieter Leineweber ingressou<br />

nestes autos e assentiu no pedido formulado<br />

pela Demandante, f. 31.<br />

3. A eg. Procuradoria-Geral da RepUblica<br />

oficiou no caso, fls. 42 e 43,<br />

verbis:<br />

«A requerente, brasileira, traz<br />

homologacão a sentenca coin que a<br />

Justica de Hamburgo, R.F.A., dissolveu<br />

por divercio absoluto, em<br />

1978, o matrimOnio que dots anos<br />

antes, ern Brasilia, a unira ao stdito<br />

alemAo Dieter Leineweber.<br />

A competëncia do Juizo processante<br />

encontra fundamento suficiente<br />

no domitilio alemAo das<br />

partes, ambas presentes no foro ao<br />

longo do processo. (f. 13).<br />

A decisAo homologanda e irrecorrivel<br />

(fls. 39-40), traz no original<br />

a chancela consular brasileira<br />

(f. 12) e fez objeto de traducao autentica.<br />

R.T.J. — 94<br />

«4. Feb° deferimento do pedido<br />

de homologacAo, restrito, porém, o<br />

direito das partes a novo casamento,<br />

a que antes decorra o prazo<br />

marcado no<br />

6? do art. 7? da<br />

L.I.C.C., com a redacao que the<br />

deu o art. 49 da Lei n? 6.515/77».<br />

Isto posto, ;Tao a seguir deduzidas<br />

a fundamentacAo e a parte decisOria<br />

desta sentenca.<br />

0 julgado alernâo e inteligivel e<br />

se acha redigido em termos que permitem<br />

a sua execucao.<br />

0 Tribunal que o proferiu a coinpetente,<br />

porque, ao tempo da demanda<br />

em que se originou, as duas<br />

partes residiam e se achavam domiciliados<br />

na Repfthlica Federal da<br />

Alemanha.<br />

IA-se no texto de tal sentenca que<br />

a demanda foi proposta pela mulher<br />

e que o varáo esteve presente no respectivo<br />

processo.<br />

0 documento de f. 39 expressa que<br />

a referida sentenca transitou em Julgado.<br />

Ela nAo ofende a soberania nacional,<br />

nem os bons costumes.<br />

Conslderando que a firmeza de tal<br />

julgado se concretizou em 28.3.78, f.<br />

39, 6 de se ressalvar que, nos termos<br />

do 6? do art. 7? da Lei de Introduflo<br />

ao C6digo Civil Brasileiro, de novo<br />

redigido pelo art. 49 da Lei n?<br />

6.515, de 26.12.1977, a homologacâo<br />

da sentenca ora questionada s6 podera<br />

ser concedida ern parte, isto e,<br />

para que ela produza os efeitos de<br />

separaetio judicial, e nao a eficária<br />

plena e imediata de divercio, pois esta<br />

Ultima s6 poderá ser considerada<br />

oportunamente, depots de transcorrido<br />

o prazo de trés anos, e noutro procedimento,<br />

que e o de reexame, nos<br />

termos da Emenda Regimental n? 8,<br />

de 1979, do STF, aplicavel ao caso<br />

por analogia.<br />

6. Julgo procedente, em parte, a<br />

homologateria, para que a referida<br />

sentenca estrangeira produza Os<br />

efeitos de separaello judicial dos<br />

conjuges e seus bens, isto porque<br />

nAo transcorreu ainda, no caso, o<br />

prazo de träs anos marcado no 6?<br />

do art. 7? da Lei de Introducdo ao<br />

COdigo Civil Brasileiro, coin a redacdo<br />

que the deu o art. 49 da Lei n?<br />

6.515 de 26.12.1977.<br />

Custas, como de lei.<br />

Supremo Tribunal Federal, 18 de<br />

abril, 1980. — Ministro Antonio<br />

Neder, Presidente.


R.T.J. — 94 91<br />

CONFLITO DE JURISDICAO N? 6.184-SP<br />

(Tribunal Plano)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Moreira Alves.<br />

Suscitante: Tribunal de Alcada Criminal do Estado — Suscitado: Tribunal<br />

de Justica do Estado.<br />

Conlin() negativo de jurisdicAo. Mesmo em face da nova redacAo<br />

dada pela Emenda n? 7/77 ao artig0119, I, e da ConsUtuicAo Federal,<br />

nao AA conflito de jurisdicAo entre Tribunal de Justica e Tribunal de<br />

Alcada do mesmo Estado-membro.<br />

Precedente do STF (C.J. 6.164, de 26.4.79).<br />

Cantlit° nao conhecldo.<br />

ACORDAO<br />

Vtstos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Sessáo<br />

Plenaria, na tonformidade da ata do<br />

Julgamento e das notas taquigraficas,<br />

por unanimMade de votos, nao<br />

conhecer do conflito.<br />

Brasilia, 06 de Junho de 1979. —<br />

Antonio Neder, Presidente —<br />

Moreira Alves, Relator.<br />

EELATORIO<br />

0 Sr. Ministry Moreira Alves -<br />

Trata-se de conflito negativo de jurisdicao<br />

em que o suscitante e o Tribunal<br />

de Alcada Criminal do Estado<br />

de Sao Paulo e o suscitado o Tribunal<br />

de Justica da mesma unidade da<br />

Federacao.<br />

Sobre ele assim se manifesta a<br />

Procuradoria-Geral da Rep/Mica,<br />

em parecer do Dr. Claudio Lemos<br />

Fonteles (US. 66-70):<br />

(


92<br />

tabelecido, lido ha lugar para disto<br />

se cogitar, no caso, vez que o evento<br />

ndo ultrapassara o momento investigate:n*10<br />

pre-processual: o inquerito<br />

policial.<br />

A 1? Camara do Tribunal de Justica<br />

de S. Paulo dissentiu desta colocacão,<br />

por concluir, em voto de<br />

'lustre Relator Carvaiho Filho,<br />

verb's:<br />

«A expressão «causas» contida<br />

no dispositivo invocado ndo tem o<br />

sentido restrito de acdo ou litigio,<br />

mas significado amplo e abrange<br />

todo e qualquer procedimento,<br />

como o processo policial que outra<br />

coisa tido 6 send() o inquerito<br />

que nos termos do Livro I, Titulo<br />

II, do COdigo de Processo Penal,<br />

incumbe a policia judiciaria.<br />

Em tais condicdes, desde que<br />

este ( inquerito) se ref ira a crime<br />

cujo julgamento, em segunda instAncia<br />

foi atribuido ao Tribunal<br />

de Alcada Criminal, deste e a<br />

competencia originaria para conhecer<br />

e julgar mandado de seguranca<br />

contra ato de Juiz de-Direito<br />

corn ele relacionado». (vide:<br />

fls. 55-56).<br />

Tornando os autos a 68 Cdmara<br />

Criminal do Tribunal de Alcada, a<br />

mesma, aduzindo ainda não ser a<br />

materia objetivada na impetracdo<br />

de natureza processual penal,<br />

«mas tipicamente administratriva»<br />

(IL 61), suscitou o conflito negativo<br />

de competencia.<br />

Mc) 6 de prosperar o entendimento<br />

do Tribunal de Alcada.<br />

A nocdo processual de causa nda<br />

se confunde com o pedido, que e o<br />

merito da pretensdo deduzida Judicialmente.<br />

A causa é a razdo ampla do pedido.<br />

Para estarmos corn o douto e<br />

emerito jurista, prof. Moacir Amaral<br />

Santos, verbis:<br />

«Ao pedido deve corresponder<br />

uma causa de pedir (causa<br />

petendi). A quem invoca uma<br />

providência jurisdicional quanta<br />

a um bem pretendido, cumpre dizer<br />

no que se funda o seu pedido.<br />

Conforme as palavras da lei<br />

(C6d. Proc. Civil, art. 282 n°<br />

III), insta ao autor expor na inicial<br />

os fatos e os fundamentos<br />

juridicos do pedido: na fundamentacdo<br />

esta a causa de pedir.<br />

Chama-se a atencdo para o texto<br />

da lei. 0 C6cligo exige que o<br />

autor exponha na inicial o Tato e<br />

os fundamentos juridicos do pedido.<br />

Por esse modo faz ver que na<br />

inicial se exponha rid° s6 a causa<br />

prAxima - as fundamentos juridicos,<br />

a natureza do direito controvertido<br />

- como tambem a causa<br />

remota - o fato gerador do<br />

direito. Quer dizer que o cOdigo<br />

adotou a teoria da substanciacAo,<br />

como os cadigos alemdo e<br />

Austriaco. Por esta teoria tido<br />

basta a exposicdo da causa pr6xima,<br />

mas tamb6m se exige a da<br />

causa remota». (in - Primeiras<br />

Linhas de Direito Processual<br />

Civil - 1? vol p. 141/142, grifamos<br />

).<br />

Portanto, o conceito de causa, no<br />

piano remoto, abrange a eclosào<br />

do evento no mundo Mica que, no<br />

caso, propiciou a investigacdo pollcial<br />

previa, considerada pelo titular<br />

da acdo renal - o Ministerio Pablico<br />

- improficua, no particular.<br />

E o Juiz de Direito, a prop:GU°<br />

disto, assuniu deliberacão, negando<br />

o conhetimento pUblica do deliberado<br />

- requereu-se certiddo da<br />

conclusdo do Ora° acusaterio, pelo<br />

arquivamento dos autos -, obviamente<br />

decidiu sobre a causa, na<br />

perspectiv a remota, tido admitiu a<br />

divulgacdo da diretriz que, no fato,<br />

desconheceu ilicitude criminal.<br />

E por ai se estabelece a impropriedade<br />

da afirmacão que diz ser


a matiria, deduzida no writ of<br />

mandamus, tipicamente administrativa».<br />

Impossivel!<br />

0 fato gerador do direito - a causa<br />

remota - 6, repetimos, a decisão<br />

da acusacAo pUblica de nth) formalizer<br />

a persecutio crimbils Judicial:<br />

o tema 6 de cunho nitidamente penal.<br />

Conhecendo-se do conflito, seta<br />

determinada a competência na 6?<br />

CArnara Criminal do Tribunal de<br />

Alcada de S. Paulo.»<br />

E o relat6rio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves (Relator)<br />

- Em sessão de 26.4.1979, em<br />

conflito negativo de jurisdicao em<br />

que, igualmente, o suscitante foi o<br />

Tribunal de AlCada Criminal e o suscftado<br />

o Tribunal de Justica, ambos<br />

do Estado de Sao Paulo, este Plenario,<br />

por unanimidade de votos, dele<br />

ndo conheceu por acOrdAo, de que fol<br />

relator o Sr. Ministro Xavier de Albuquerque,<br />

e do qual a ementa 6 esta:<br />

((Conlin° de jurisdicAo. Consoante<br />

antiga e reiterada Jurisprudencia<br />

do Supremo Tribunal Federal,<br />

nä° pode haver conflito entre o Tri-<br />

R.T.J. — 94 93<br />

bunal de Justica e o. Tribunal de<br />

Alcada do mesmo Estado da federacAo.<br />

NA° compromete tal<br />

tacAo a nova redacAo do art. 119, I,<br />

letra e da ConstituicAo (Emenda n?<br />

7, de 1977), em sue exata interpretack*.<br />

Conflito não conhecido».<br />

Com base nesse precedente, tenho<br />

por inexistente o conflito, razAo<br />

por que dele na() conheco.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

CJ 6.184 - SP - Rel., Min. Moreira<br />

Alves. Suste.: Tribunal de Alcada<br />

Criminal do Estado de São Paulo.<br />

Susdo.: Tribunal de Justica do Estado<br />

de Sfto Paulo.<br />

DecisAo: Não conheceram,<br />

nirnemente.una-<br />

Presidêncla do Senhor Ministro<br />

Antonio Neder. Presentes a Sessgo<br />

os Senhores Ministros Thad Falcfto,<br />

Thompson Flores, Xavier de<br />

Albuquerque, Leitão de Abreu,<br />

Cordeiro Guerra, Moreira Alves,<br />

Cunha Peixoto, Soares Munoz, Dedo<br />

Miranda e Rafael Mayer.<br />

Procurador-Geral da Republica,<br />

substituto, o Dr. Francisco<br />

sis Toledo.<br />

de As-<br />

Brasilia, 6 de Junho de 1979. —<br />

Alberto Veronese Agular, Secretario.<br />

CONFLITO DE JURISDICAO PP 8.247 — BA<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Xavier de Albuquerque.<br />

Suscitante: Tribunal Federal de Recursos — Suscitado: Tribunal Regional<br />

do Trabalho da 5? Ftegiao — Interessados: Banco Nacional do Desenvolvimento<br />

EconOmico e Teobaldo Santana e outros.<br />

Confine de jurisdigalo. Execuclo trabalhista na qual lntervem em-<br />

Praia Padica <strong>federal</strong>, Para pedir anulagflo da pram sob a alegacio<br />

de the ester hipotecado o be= penhorado e praceado. Intervenglio que<br />

nao dogma a compet&lcla para a Justica Federal (CJ 6.091 RTJ<br />

88/48). Conflito conhecido, declarando-se a competência do Tribunal<br />

Regional do Trabalho da 5? Regiflo.


94<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal em SessAo<br />

Plenaria, na conformidade da ata do<br />

julgamento e notas taquigraficas, a<br />

unanimidade de votos, conhecer do<br />

conflito e dar pela competencia do<br />

Tribunal suscitado.<br />

Brasilia, 19 de junho de 1980 —<br />

Antonio Neder — Presidente —<br />

Xavier de Albuquerque — Relator.<br />

RELATORIO<br />

R.T.J. -- 94<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque : — Para apresentar o<br />

caso, lelo o parecer que emitiu nos<br />

autos, pela Procuradoria-Geral da<br />

RepUblica, o Procurador Moacir Antonio<br />

Machado da Silva (fls.<br />

101/102):<br />

«Em execucAo de sentenca proferida<br />

pela Justica do Trabalho, interveio<br />

o Banco Nacional de Desenvolvimento<br />

EconOmico, pedindo<br />

a anulacäo da praca ou do laic',<br />

sob o fundamento de que «o guincho<br />

objeto da penhora e da arematacao,<br />

como os demais dquipamentos<br />

instalados na empresa e<br />

utllizados em sua exploractio econOmica,<br />

encontram-se, como acessoes<br />

intelectuals, abrangidos pela<br />

hipoteca do im6vel» da empresa<br />

em relacáo ao Banto (f. 46).<br />

0 eg. Tribunal Regional do<br />

Trabalho da 5? Regiae acolheu a<br />

preliminar suscitada pelo BNDE,entendendo<br />

que a intervencao de<br />

uma empresa pitblica <strong>federal</strong> provoca<br />

o deslocamento da competencia<br />

para a Justica Federal.<br />

0 eg. Tribunal Federal ee Recursos,<br />

porem, suscltou conflito negativo<br />

de jurisdicao, acolhendo o<br />

entendimento ja manifestado pelo<br />

Supremo Tribunal Federal, no Julgamento<br />

do CJ n? 6.091-BA (RTJ<br />

88, p. 48).<br />

4. No julgamento do CJ 6.091, decidiu<br />

o Egregio Plenario do Supremo<br />

Tribunal Federal que a intervencao<br />

de empresa pUblica <strong>federal</strong>,<br />

em execucao de sentenca trabalhista,<br />

nao desloca a competencia<br />

para a Justica Federal se não<br />

se f az numa das quatro condicOes<br />

a que alude o inciso I do artigo 125<br />

da Constituicäo Federal.<br />

0 caso a rigorosamente 'dentin°<br />

ao precedente. A intervencao do<br />

BNDE, tambem no caso sub<br />

judice, não se cla na condicão de<br />

autora, re, assistente ou opoente,<br />

que, nos termos do art. 125, I, da<br />

Constituicao Federal, definiria a<br />

competencia da Justica Federal.<br />

A anulacAo requerida pelo<br />

BNDE, portanto, deve ser decidida<br />

pela Justica do Trabalho, onde se<br />

processa a execucAo.<br />

Pelo conhecimento do conflito,<br />

declarando-se a competencia do<br />

eg. Tribunal suscitado.»<br />

E o relatario.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque (Relator) — Nos termos<br />

do precedente invocado no parecer<br />

da Procuradoria-Geral, conheco<br />

do conflito e dou pela competencia<br />

do Tribunal suscitado para o conhecimento<br />

do agravo de peticdo interposto<br />

nestes autos.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

CJ 6.247 — BA — Rel. Min. Xavier<br />

de Albuquerque. Suste.: Tribunal Federal<br />

de Recursos. Susdo.: Tribunal<br />

Regional do Trabalho da Regiao.<br />

Interessados : Banco Nacional do Desenvolvimento<br />

Econ6mico (Adv.:<br />

Luiz Otavio de Freitas) e Teobaldo<br />

Santana e outros (Adv.: Gabriel Nunes).


Decisão: Conheceu-se do conflito e<br />

deu-se pela competencia do Tribunal<br />

suscitado. Decisho uniforme.<br />

Presidencia do Senhor Ministro<br />

Antonio Neder. Presentes a Sessfio<br />

os Senhores Ministros Djaci FaIca°,<br />

Thompson Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

Leith° de Abreu, Cordeiro<br />

Guerra, Cunha Pebcoto, Soares Mu-<br />

R.T.J. — 94<br />

fioz, Decio Miranda e Rafael Mayer.<br />

Ausente, justificadamente, o Sr.<br />

Min. Moreira Alves. Procurador-<br />

Geral da Repdblica o Dr. Firmino<br />

Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 19 de Audio de 1980 —<br />

Alberto Veronese Agular — Secretario.<br />

MANDADO DE SEGURAKA N? 20.225 — DF<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra.<br />

Impetrante: Tefocrito Rodrigues de Miranda — Autoridade Coatora: Presidente<br />

da Rep(Slice —Li tisconsorte Passivo: Cello de Jesus Lobão Ferreira.<br />

NAo 6 inconstitucional, nem Regal, a nomeacilo do Auditor Corregedor<br />

da Justice Militar pelo Exmo. Senbor Presidente da<br />

de conformidade corn o art. 26 do Dec.-lei 1.003, de 21.10.69, corn a redace°<br />

altered& pela Lei 8.821, de 22.12.78: KO Auditor Corregedor<br />

nomeado dentre os auditores de 2! entrench, mediante lista triplice<br />

organizada pelo Sup erior Tribunal Militar, em sessilo secrete«.<br />

megitirnidade de parte, nAo acoihida no merit°, indeferida a segurano<br />

Impetrada.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Sessho<br />

Pleneria, na conformidade da ata de<br />

Julgamentos e das notas taquigreficas,<br />

por unanimidade de votos, em<br />

rejeltar a preliminar de ilegitimidade<br />

de parte, e, no merit°, huleferir a<br />

seguranca.<br />

Brasilia, 19 de marco de 1980. —<br />

Antonio Neder, Presidente —<br />

Cordaro Guerra, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Senhor Mastro Cordeiro<br />

Guerra: Insurge-se o impetrante,<br />

Juiz Auditor da 1! Auditoria da Aeroneutica,<br />

por via deste mandamus,<br />

contra o decreto de 18 de setembro<br />

de 1979. que nomeou o Dr. Cello de<br />

Jesus Lobáo Ferreira para exercer o<br />

cargo de Auditor Corregedor da Justica<br />

Militar, sob o fundamento de<br />

que, sendo o impetrante o mats antigo,<br />

tendo sido a vaga anterior preenchida<br />

pelo criterio de merecimento,<br />

imptmha-se a sua nomeacao pelo criterio<br />

de antigOldade, no que ve violacflo<br />

do dlreito liquid° e certo seu no<br />

ato de nomeacto lavrado pelo Exmo.<br />

Senhor Presidente da Rem:Mika.<br />

Sustenta que a Lel nt 6.621, de<br />

22.12.78, que altera dispositivos do<br />

D ecreto-lel n? 1.033, de 21.8.69, eslabeleceu:<br />

«art. 28 — A carreira de magistratura<br />

civil da Justice Militar,<br />

inicia-se no cargo de Auditor Substituto,<br />

sendo providos subseqiientemente<br />

os cargos de Auditor e Auditor<br />

Corregedor,,.<br />

95


96<br />

R.T.J. — 94<br />

E, dispondo a Lei Organica da Magistratura<br />

Nacional — Lei Complementar<br />

n? 35, de 11.3.79, que:<br />

«art. 80 — A lei regulata o processo<br />

de promocao, prescreven do a<br />

observancia dos criterios de antigilidade<br />

e de merecimento, alternadamente,<br />

e o da indicacao dos<br />

candidates a promocao por merecimento,<br />

em lista triplice, sempre<br />

que possivel».<br />

Cabia-lhe a vaga preenchida pelo<br />

Auditor nomeado, indicado pelo<br />

Egregio Superior Tribunal Militar<br />

em 3? lugar em lista triplice, quando<br />

o impetrante o fora em primeiro lugar.<br />

Finalmente, instituida a carreira<br />

de magistratura civil da Justica Militar,<br />

afastada estaria a norma do<br />

art. 26 do Decreto-lei 1.003, de<br />

21.10.69, a qual declara que:<br />

«0 Auditor Corregedor a nomeado<br />

dentre os auditores da 2, entrancia,<br />

mediante lista triplice organizada<br />

pelo Superior Tribunal<br />

Militar, em sessao secreta».<br />

pots, o art. 147 da Lei Complementar<br />

n? 35, revoga todas as disposicOes<br />

em contrario.<br />

Negada a liminar solicitada, vieram<br />

as informacaes do ilustre impetrado,<br />

nas quaffs se sustenta que a<br />

norma adotada por quase todos os<br />

Tribunals de Justica consiste na escolha,<br />

por melo de eleicdes, de membro<br />

da Magistratura para exercer o<br />

cargo de Corregedor, como indica a<br />

f. 24 e que desse principio flat) se<br />

afasta a Justica Militar — Lei n?<br />

1.003,de 21.10.69, com a redacao alterada<br />

pela Lei 6.621, de 22.12.78, art.<br />

25, 26, § unico e art. 28, como se segue:<br />

«art. 26 — 0 Auditor Corregedor<br />

nomeado, dentre os auditores,<br />

mediante lista triplice, organizada<br />

pelo Superior Tribunal Militar».<br />

«art. 28 — A carreira da Magistratura<br />

Civil da Justica Militar<br />

inicia-se no cargo de auditor substituto,<br />

sendo providos, por promocao,<br />

subseqtientemente, os cargos<br />

de Auditor e Auditor Corregedor.<br />

Acrescenta, que, ao adicionar o<br />

cargo de Auditor Corregedor na carreira<br />

da Magistratura Civil da Justica<br />

Militar, a Lei 6.621/78, nao estabeleceu<br />

que o referido cargo deveria<br />

ser provido por merecimento ou por<br />

antigilidade, tendo conservado a redacao<br />

anterior (art. 26) ou seja, lista<br />

triplice organizada pelo Superior<br />

Tribunal Militar.<br />

Aduz, ainda, que o art. 80 da Lei<br />

Organica da Magistratura Nacional<br />

nao a auto-aplicave l, dependendo de<br />

norma especifica para sua aplicacao<br />

a Justica Militar.<br />

Os arts. 30, § Urdu) e 31 da Lei<br />

6.621/78, que modificaram o Decretolei<br />

1.003/69, disciplinam a promocao<br />

dos auditores sem qualquer referencia<br />

ao Auditor Corregedor — f. 28.<br />

Ora, nessa conformidade, nenhum<br />

vicio macula o ato de nomeacao impugnado.<br />

A douta Procuradoria-Ge ral da<br />

RepOblica, por seu ilustre<br />

Subprocurador-Geral Mauro Leite<br />

Soares, bem assim se manifesta:<br />

«0 impetrante, Juiz Auditor da<br />

Magistratura Castrense, impugna<br />

o decreto de 18 de setembro de 1979<br />

do Senhor Presidente da Republica,<br />

de nomeacao do Juiz Auditor<br />

Corregedor da Justica Militar, nomeacao<br />

essa processada atraves<br />

de escolha em lista triplice organizada<br />

pelo Egregio Superior Tribunal<br />

Militar. Alega o impetrante<br />

que o cargo provido pelo ato impugnado<br />

e de carreira e, de acordo<br />

com a legislacao pertinente, e<br />

considerando-se que o anterior provimento<br />

do cargo, ocorrido em<br />

1978, deu-se pelo criterio de merecimento,<br />

para o preenchimento de<br />

vaga em exame deveria ter sido<br />

obedecido o critério de antigtiida-


de, sendo ele, o impetrante, o mais<br />

antigo e, ainda, tendo constado da<br />

lista triplice em primeiro lugar.<br />

Em conclustio, nAo deveria haver<br />

organizactlo de lista triplice e, sim,<br />

a sua promoctio pelo critério de an><br />

tiguldade.<br />

0 Senhor Presidente da ReptibIlea<br />

prestou informac6es as f. 20<br />

atrav6s do Ministerio da Justica.<br />

«Somos pelo nao conhecimento<br />

do mandado de seguranca.<br />

Inexiste ilegalidade, muito menos<br />

abuso de poder, no ato impugnado.<br />

0 ato impugnado, f. 9, foi baixado<br />

de acordo com o art: 26 do DI<br />

1.003/69, na redactio da pela Lei<br />

6.621, de 22 de dezembro de 1978:<br />

Declara-se nesta:<br />

Art. 1? — 0 Dec.-lei n? 1.003, de<br />

21 de outubro de 1969 (Lei de Organizactio<br />

Judicial-la Maar),<br />

passa a vigorar com as segutntes<br />

alteracOes:<br />

Art. 26 — 0 Auditor-Corregedor<br />

e nomeado dentre os Auditores,<br />

mediante lista triplice, organizada<br />

pelo Superior Tribunal Milltar,<br />

em sessão secreta<br />

g Only) — para a Indus& em<br />

lista 6 necessario o intersticio de<br />

2 (dots) anos, pelo menos, no<br />

exercicio da hula°.<br />

Art. 28 — A carreira da magistratura<br />

civil da Justica Mtlitar<br />

inicia-se no cargo de Auditor<br />

Substituto, sendo providos, por<br />

promocAo, subseqUentemente, os<br />

cargos de Auditor e Auditor-<br />

Corregedor.<br />

Art. 29 — QAuditor Substituto<br />

sera nomeado, dentre brasileiros<br />

natos, bacharéis em birth°, em<br />

Made ntio inferior a 25 (Mite e<br />

cinco) anos, nem superior a 95<br />

(quarenta e cinco) anos, aprovados<br />

em concurso ptiblico de pro-<br />

E.T.J. — 94 97<br />

vas, e por ordem de classificagão<br />

na forma das instructies estabelecidas<br />

pelo Superior Tribunal Militar.<br />

Art. 30 — Os cargos de Auditor<br />

sera') providos pelo crttério alternado<br />

da antigtlidade e do merecimento,<br />

dentre os Auditores Substitutos.<br />

A simples leitura da let, parecenos,dispensaria<br />

qualquer comentArio<br />

a respeito da legalidade do ato<br />

impugnado, porque, nos termos da<br />

Lei de OrganizagAo JudiciAria Milttar,<br />

o cargo de Auditor-Corregedor e<br />

de carreira e provido mediante nomeacAo<br />

do Senhor Presidente da<br />

Reptiblica ap6s a lista triplice organizada<br />

pelo Tribunal dentre os Auditores.<br />

No entanto, alega Cimpetrante<br />

que: a) — A Let OrgAnica da<br />

Magistratura Nacional, em seu art.<br />

80, revogou o art. 26 da Lei 6.621/78<br />

em questtio; b) a anterior nomeacão<br />

para o cargo de Auditor Corregedor<br />

foi feita pelo criterio do merecimento<br />

e, assim, a nomeacAo<br />

ora impugnada deveria obedecer<br />

ao critkrio de antiguidade.<br />

Por ser prejudicial da primeira<br />

alegacAo retro referida, examinaremos<br />

a segunda. Contraditoriamente<br />

ao alegado, 0 impetrante<br />

comprova a f. 12 que o Ultimo ato<br />

de nomeacAo para o cargo visado<br />

obedeceu ao mesmo crit6rio do ora<br />

impugnado, lsto 6, a nomeactio do<br />

Auditor Milton Fitiza foi feita mediante<br />

lista triplice. Assim, mesmo<br />

que procedente pudesse ser a argumentacAo<br />

de que a nomeacAo para<br />

o cargo de Auditor Corregedor deverA,<br />

a partir da Lei OrgAnica da Magistratura<br />

Nacional, submeter-se<br />

ao criterio altemado de merecimento<br />

e antigtildade, temos que a<br />

Ultima nil° foi por merecimento, isto<br />

e, a Ultima nomeaclio obedeceu<br />

ao critério Mad° na lei que ntio d18tingula<br />

ou distingue entre antiadade<br />

e merecimento, mas sim, so-


98<br />

mente livre escolha na organizacao<br />

da lista triplice e nomeacao e, o que<br />

e plor para o impetrante, a<br />

nomeacao ora impugnada 6 a primeira<br />

apes a Lei Organica invocada.<br />

Assim, meramente academica<br />

seria ou sera a discussao em torno<br />

do art. 80 da Lei Organica, como<br />

pretende o impetrante, porque ele<br />

nao preenche o pressuposto minimo<br />

ou basic° para a sua invocacao.<br />

Ademais, entrariamos no exame da<br />

lei em tese, o que e vedado pela<br />

SUmula 266. Finalmente, embora<br />

desnecessaria a anotacao, temos<br />

que o art. 80 da Lei Organica declare<br />

que verb's. «A lel regulare o processo<br />

de promocao, ••.». Portanto,<br />

mesmo que pertinente sej a a interpretacao<br />

pretendida, pelo impetrante<br />

no concernente ao art. 80 da<br />

Lei da Magistrature, o que se admite<br />

por argumentacao, temos que,<br />

iniludivelmente, necessario sera<br />

aguardar a lei regulamentar a respeito<br />

da materia.<br />

Somos, se conhecido, pelo nao deferimento<br />

do mandado de seguran-<br />

Ca.<br />

Brasilia, 16 de novembro de 1979»<br />

(fls. 35-38).<br />

Determine! a citacao do litisconsorte<br />

necessario — f. 39 que sustenta nao<br />

ser o impetrante o Juiz auditor mais<br />

antigo da Justice Militer, embora<br />

fosse o de mator antigaidade na 2?<br />

entrancia, porem, como a Lei 6.621,<br />

de 22.12.78, extingulu as entrancias,<br />

determinando a investidura, ex vi<br />

lea, dos Julies auditores de 1? e 2?<br />

entrancias, na entrancia (mica, desapareceu<br />

a antigaldade nos cargos extintos,<br />

que era contada ate entao para<br />

o Urn exclusivo de promocao — e<br />

que, desde entao, nao mais considerou<br />

antigilidade na entrancia, e, sim<br />

na Justice Militer, e observado esse<br />

criteria nao e o impetrante o jutz<br />

auditor mats antigo — fls. 46/47 —<br />

does. 49/50.<br />

R.T.J. — 94<br />

Ouvido o ilustre impetrante, respondeu<br />

que a fusdo das entrancias<br />

nao poderia prejudicar-lhe o direito<br />

adquirido, tai come foi ressalvado<br />

por esta Corte no RE n? 73.081 — SP<br />

— RTJ 62/727, ao extinguir-se a 4? entrancia<br />

no Estado de Sao Paulo,<br />

• quando se ressalvou a preferencia<br />

nos direitos de promocao aos demais<br />

juizes de 3? entrancia.<br />

A respeito, manifestou-se a douta<br />

Procuradoria-Gera' da Republica<br />

nestes termos:<br />

«Conforme f. 51v o requerente obteve<br />

vista dos autos, tomando conhecimento<br />

do r. despacho do eminente<br />

Ministro Relator de f. 51 e<br />

nao manifestou acerca da intervencao<br />

de f. 45 do litisconsorte passivo,<br />

na qual se alega, preliminarmente,<br />

que o requerente do mandado de seguranca<br />

nao possui ou nao preenche<br />

a qualidade minima de Juiz-<br />

Auditor mais antigo, qualidade essa<br />

necessaria em tese, para a pretendida<br />

impugnacao do ato do Senhor<br />

Presidente da Rep(Mika.<br />

Assim sendo, permitindo-nos ratificacao<br />

do aduzido no nosso parecer<br />

de f. 35, ao qual aditamos a preliminar<br />

de ilegitImidade para a causa<br />

do requerente, somos, acaso conhecido,<br />

pelo nao deferimento do mended°<br />

de seguranca.<br />

Brasilia, 25 de fevereiro de 1980<br />

— Mauro Leite Soares,<br />

Subprocuradoria-Gera' da Repablica»<br />

(f. 57)<br />

E o related°.<br />

VOTO<br />

0 Senhor Ministro Cordetro<br />

Guerra (Relator): A Constituicao Federal<br />

inclui no Poder Judie!aria art.<br />

IV, os Tribunals e Jutzes militares,<br />

estabelecendo-lhes as garantias<br />

de vitaliciedade, inamovibidade e irredutlbilidade<br />

de vencimentos — art.<br />

I e III.


Ao definir-the os OrgAos, especifica<br />

que o integram o Superior Tribunal<br />

Minter e os Tribunals e Juizes inferiores<br />

instituldos por lei — art. 127.<br />

Na composicão do Superior Tribunal<br />

Mllitar entram dois auditores e<br />

membros do Ministeriolice da<br />

Justice Mllitar, de comprovado saber<br />

juridic°, nomeados pelo Presidente<br />

da Repablica, depots de aprovada<br />

a escolha pelo Senado Federal.<br />

Não instituiu, pots, o constituinte<br />

uma carrelra de magistrados mllitares,<br />

ou mesmo <strong>federal</strong>s, reservando<br />

tal sistema, tAo s6 aos Magistrados<br />

Estaduais — art. 114, I e II, assegurando<br />

a promocAo dos seus juizes de<br />

entrancia a entráncia, por antighidade<br />

e por merecimento alternadamente,<br />

apurando-se a antigtlidade e o<br />

merecimento, este em lista triplice<br />

art. 144, II, a , e o acesso aos Tribunals<br />

de Segunda instancia dar-se-A<br />

por antigaidade e por merecimento<br />

alternadamente; ve-se portanto, que<br />

a Justice Mllitar somente foram asseguradas<br />

as garantias do art. 113, I,<br />

II e III, da CF.<br />

NAo existe, pots, carreira de juizes<br />

mllitares na Constituiclio Federal,<br />

nAo s6 porque a eles nä° se aplica a<br />

discipline das Justices Estaduais,<br />

como o acesso ao Superior Tribunal<br />

Minter obedece ao criteria de livre<br />

escolha do Presidente da Repablica,<br />

mediante aprovacão do Senado Federal.<br />

A Lei OrgAnica da Magistrature<br />

Nacional — Lei Complementar n? 35,<br />

de 14 de marco de 1979, estabelece<br />

em seu art. 7?:<br />

((Silo 6rgAos da Justice Minter da<br />

Uniall, alem do Superior Tribunal<br />

Minter, os Julzes auditores e os<br />

Conselhos de Justice, cujos niunera,<br />

organizacAo e competencia silo<br />

definidos em lei, «expliCitando —<br />

art. 85 —.» 0 acesso de Juizes aucli-<br />

R.T.J. — 94 99<br />

tores e membros do Ministerio Pablico<br />

da Justice Militar do Superior<br />

Tribunal Minter, far-se-a por livre<br />

escolha do Presidente da Repablica.».<br />

NAo tem aplicaclio a Justice castrense,<br />

por conseguinte, os criterlos<br />

na promocão da Justice dos Estados.<br />

0 Decreto-lel n? 1.003, de 21.10.1969<br />

— Lei da Organizactio Judicitaia Militar,<br />

definiu em seu art.2?, as autoridades<br />

judiciaries:<br />

Superior Tribunal Minter<br />

os Conselhos de Justice Miter<br />

c) os auditores<br />

No art. 5? dispOs:<br />

Serão de uma (mica entráncia todas<br />

as Auditorias, com excecão da<br />

Auditoria de Correicao que sera de<br />

segunda entrancia e funcionare<br />

junto ao Superior Tribunal Militar<br />

(Lei 6.621, de 22.12.78).<br />

NAo confunde a Lei de Organizacflo<br />

da Justice Mllitar, mesmo com a redacáo<br />

dada pela Lei 6.621, de 22.12.78,<br />

os juizes Auditores corn o Auditor<br />

Corregedor, pois, no art. 27 do<br />

Capitulo VI, estabeelece a composicao<br />

de cada auditoria, que Gera urn auditor,<br />

urn auditor substituto, urn procurador,<br />

um advogado de offal°, etc... e<br />

no Capitulo V, trata da Auditoria de<br />

CorreicAo, estabelecendo expressamente:<br />

«art. 26 — 0 auditor corregedor e<br />

nomeado dentre os auditores me-<br />

(Dante lista triplice, organizada pelo<br />

Superior Tribunal Minter, ern<br />

sessAo secrete».<br />

Aos auditores substitutos 6 que a<br />

lei, no art. 30 preyb o provlmento no<br />

cargo de auditor pelo criteria alternado<br />

de antigUidade e merecimento,<br />

dispondo o art. 32:<br />

As promoctles por merecimento<br />

far-se-Ao medlante lista triplice organizada<br />

pelo Superior Tribunal<br />

Minter, em sessile secrete».


100<br />

Sustenta o impetrante que o art. 28<br />

da Lei de Organizacäo JudIciária, assegura<br />

a promocao a Auditor Corregedor<br />

pelo criterio alternado de antigilidade<br />

e merecimento, pois dispOe<br />

A carreira da magistratura civil<br />

da Justica Militar inicia-se no<br />

cargo de auditor substituto, sendo<br />

providos, por promocao, subseqtientemente,<br />

os cargos de auditor<br />

e auditor corregedor».<br />

Como j a foi salientado, inexiste,<br />

constitucionalmente, carreira de magistrado<br />

militar, mas tao s6 de magistrados<br />

estaduais, e assim, ainda<br />

que se admaisse a inclusao do cargo<br />

de auditor corregedor na "carreira",<br />

o seu provimento näo estava adstrito<br />

aos criterios alternativos da antigiiidade<br />

e do merecimento, por isso, validamente<br />

dispOs o art. 26, que o auditor<br />

corregedor a nomeado, dentre os<br />

auditores, mediante lista triplice, organizada<br />

pelo Superior Tribunal Milltar,<br />

em sessao secreta, «corn uma<br />

(mica exigancia, a necessiaade de intersticio<br />

de dots anos, pelo menos, no<br />

exercicio da funcao — Calico do art.<br />

26».<br />

De fato, como esclarece Candid°<br />

Mendes de Almeida, «o Corregedor<br />

era o primeiro magistrado na Comarca,<br />

superior aos juizes que nela existiam,<br />

com extensa jurisdicao, tanto<br />

no crime como no civei». (nota 2,<br />

Titulo VII, do 1? Livro das<br />

Ordenactles Filipinas — ed. 1870), szelava<br />

pela boa ordem dos servicos judiciarios,<br />

e pela boa aplicacäo da<br />

Justica.<br />

Exerciam, portanto, urn cargo de<br />

confianca por livre nomeacão real. A<br />

ele, por certo, se aplicaram os criterios<br />

de escolha do Regedor 4a Casa<br />

de Suplicacao, «seja o major Tribunal<br />

de Justica de nossos Reinos»,<br />

«deve o Regedor dela ter as qualidades,<br />

que para cargo de tanta confianca<br />

e autoridade se requerem». Febo<br />

que mandava El Rey use deve semore<br />

procurer, que seja homem tidal-<br />

R.T.J. — 94<br />

go, de limpo sangue, de sd consciOncia,<br />

prudente e de muita autoridade,<br />

e letrado, se for possivel; e sobretudo<br />

tao inteiro que sem respeito de amor,<br />

6dio, ou perturbacdo outra de Animo,<br />

possa a todos guardar Justica igualmente».<br />

(Titulo I do Primeiro Livro<br />

das OrdenacOes Filipinas).<br />

E de ver-se que tais requisitos, näo<br />

se apuram pelo criterio de antigilidade.<br />

Isso explica que, em todas as Justicas<br />

do Pais, sejam as direcOes dos<br />

Tribunals eleitos, e não providas pelo<br />

criterio tao s6 de antigiiidade —<br />

art. 102 da Lei Complementar n? 35<br />

de 14.3.1979.<br />

De quanto exposto, inaplicavel o<br />

principal constitucional da alternatividade<br />

das promocOes dos juizes estaduals<br />

aos juizes militares, forcoso<br />

sera reconhecer que o art. 28, da Lei<br />

de OrganIzacão Judicieria Militar,<br />

nao confine, nem revoga o art. 26 da<br />

mesma lei, que legitima o ato impugnado.<br />

Desse modo, rejeito a preliminar<br />

de ilegitimidade de parte, e no merit°<br />

indefiro a seguranca pots o ilustre<br />

magistrado impetrante não teve violado<br />

direito llquido e certo.<br />

E o meu voto.<br />

VOTO<br />

O Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Sr. Presidente, parecenos<br />

que o eminente Relator, examinando<br />

a legislacao pertinente, demonstrou;<br />

qui ca sem o dizer, gue o<br />

cargo"de Auditor Corregedor 6 cargo<br />

isolado da Justice Militar Federal e<br />

que, portanto, a ele näo podem ter<br />

acesso, por promocao, os auditores,<br />

tornando-se irrelevante saber se caberia<br />

aplicar o criterio de antigtlidade,<br />

ou de merecimento.<br />

Tambem indefiro a seguranca.


EXTRATO DA ATA<br />

MS. 20.225 — DF — Rel. Min. Cordeiro<br />

Guerra. Impte: Te6crito Rodrigues<br />

de Miranda. (Adv.: Alcino Guedes<br />

da. Silva). Autoridade Coatora:<br />

Presidente da Republica. Litisconsorte<br />

Passivo: Cèlio de Jesus Lobáo<br />

Ferreira.<br />

Deetslio: ReJeitou-se a preliminar<br />

de ilegitimidade de parte, e, no merito,<br />

indeferiu-se a seguranca nos termos<br />

do voto do Ministro Relator. Decisão<br />

uniforme.<br />

R.T.J. — 94 101<br />

Presidéncia do Senhor Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes is Sessão os Senhores<br />

Ministros Djaci Falcão,<br />

Thompson Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves, Cunha Peixoto, Soares Mufloz,<br />

Decio Miranda e Rafael Mayer — Ausente,<br />

licenciado, o Sr. Ministro Leitill)<br />

de Abreu — Procurador-Geral da<br />

Republica, Dr. Firmino Ferreira<br />

Paz.<br />

Brasilia, 19 de marco de 1980 —<br />

Alberto Veronese Agular, SecretArio.<br />

RECURSO DE HABEAS CORPUS blie 56.120 — RS<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cunha Pelxoto.<br />

Recorrente: Hector Rodolfo Dorfman — Recorrido: Tribunal Federal de<br />

Recursos.<br />

Habeas Corpus — Uso de documento falso — E inepta a demincla<br />

que, fundada em meras conjecturas, dissociadas da prova Incliciaria<br />

ate entilo apurada, imputou ao paciente o crime deflnido no art. 304<br />

do axtigo Penal, independentemente de quaisquer elementos de conviccho<br />

quanto ao dolo, ditto ou eventual, indispensavel a tiplficacho<br />

penal do tato.<br />

Recurso de habeas corpus provido parcialmente, pare o fim<br />

reconhecer<br />

de se<br />

a in0pcia da denOncia.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discuticlos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal na conformidade da ata do<br />

Julgamento e das notas taquigráficas,<br />

por unanimidade de votos, em<br />

dar provimento parcial ao recurso<br />

de habeas corpus.<br />

Brasilia, 30 de mai° de 1978. —<br />

Antonio Neder, Presidente — Cunha<br />

Peixoto, Relator.<br />

RELATORIO<br />

O Sr. Ministro Cunha Pelxoto: 1 —<br />

Impetrou-se ordem de habeas corpus<br />

ao egregio Tribunal Federal de Re-<br />

cursos, a favor de Hector Rodolfo<br />

Dorfman, objetivando-se o trancamento<br />

de acáo penal movida contra<br />

o paciente sob a acusacno de haver<br />

feito use de documento falso (art.<br />

304 do COdigo Penal), por falta de<br />

Justa causa.<br />

2 — Transcrevo a denfincia, que,<br />

embora extensa, a necessaria a exata<br />

compreensao da materia:<br />

«0 Ministerio Pnblico Federal,<br />

por seu agente, abaixo firmado,<br />

comparece A presenca de V. Exa.<br />

a rim de oferecer demincia contra:<br />

Hector Rodolfo Dorfman, brasileiro,<br />

casado, comerclante, Mho de<br />

Mateo Dorfman e de Luiza Strusberg,<br />

nascido em 6 de Janeiro de


102<br />

R.T.J. — 94<br />

1927, residente a rua Ramiro Barcelos,<br />

n? 1.314, ap. 201, Porto Alegre.<br />

e<br />

Ely Barbosa da Silva, brasileiro,<br />

casado, mestre de obras, filho de<br />

Ataliba Barbosa da Silva e de Angela<br />

Lazaroti da Silva, nascido em<br />

23 de outubro de 1937, residente<br />

Praca Japao, n? 203, Porto Alegre,<br />

pelos seguintes fatos delituosos:<br />

O primeiro denunciado, Hector<br />

Rodolfo Dorfman, foi o incorporador<br />

e proprietario do «Centro Comercial<br />

PetrOpolis», cuja construea°<br />

em grande parte cometeu ao<br />

segundo denunciado, Ely Barbosa<br />

da Silva, que, por empreitada, levou<br />

a efeito a referida obra.<br />

De acordo corn o contrato de empreitada<br />

firmado entre ambos, de<br />

resto confirmado nos depoimentos<br />

prestados perante a autoridade policial,<br />

incumbia ao empreiteiro<br />

(Ely) o pagamento dos encargos<br />

socials, especificamente o recolhimento<br />

das contribuicOes previdenciarias<br />

que incidiam sobre a construed°.<br />

Acontece que, por irregularidades<br />

que desinteressam aqui referir,<br />

o «Centro Comercial Petrepolis»<br />

endividou-se perante o I.N.P.S.<br />

Nesse meio tempo, o primeiro<br />

denunciado negociou (vendeu) urn<br />

dos apartamentos situados no referido<br />

«Centro Comercial», necessitando<br />

conseqiientemente do Certificado<br />

de Quitacao do I.N.P.S. para<br />

poder concretizar a transaeao.<br />

Solicitou, entao, ao segundo denunciado<br />

que conseguisse junto ao<br />

I.N.P.S. aquele Certificado.<br />

Ora, por estar em divida corn a<br />

autarquia, o referido «Centro Comercial»<br />

nao poderia obter a dita<br />

peca.<br />

Inobstante isso, atraves de processos<br />

que nao ficaram bem escla-<br />

recidos (e que se por isso nao dilatarn<br />

o ambito da presente acusaeao),<br />

Ely Barbosa da Silva conseguiu<br />

um Certificado de Quitacao<br />

falsificado, que passou as maos de<br />

Hector Rodolfo Dorfman, o qual,<br />

utilizando o tal documento, levou a<br />

efeito a operacdo imobiliaria antes<br />

anunciada.<br />

0 tal documento (also, datado de<br />

27 de outubro de 1971, epoca, alias,<br />

de sua utilizacdo, fora emitido em<br />

nome de outra empresa, esta em<br />

situaeao regular perante o I.N.P.S.<br />

Posteriormente foi apagado o nome<br />

desta empresa, inserindo-se os<br />

dados que interessavam aos denunciados.<br />

Mats precisamente a operacdo<br />

de falsificaeao desenvolveu-se da<br />

seguinte forma: uma outra empresa,<br />

em situacdo regular, solicitou a<br />

expedieão de um Certificado de<br />

Quitacao. 0 requerimento tramitou<br />

regularmente, merecendo informaeOes<br />

favoraveis dos setores competentes.<br />

Feito isso, alguém apagou o<br />

nome daquela empresa no pedido<br />

(deixando no verso do mesmo apenas<br />

as informac6es favoraveis), inserindo<br />

ern seu lugar o nome<br />

ficticio oEli da Silva SO", bem como<br />

o endereco do Centro Cornercial<br />

Petr6polis e o fim do documento:<br />

«venda de economias do Centro<br />

Comercial PetrOpolis». A vista de<br />

tal «pedido” (la convenientemente<br />

«ajeitado»), foi expedido o Certificado<br />

de Quitacao em nome do<br />

ficticio<br />

da Silva SO». 0 docu-<br />

mento entao, isto e, o Certificado<br />

de Quitacao sofreu nova alteraeao<br />

fraudulenta: sobre o nome «Ely da<br />

Silva S6» foi inserida a denominacdo<br />

«Centro Comercial PetrOpolis».<br />

Assim o documento foi uttlizado<br />

pelos denunciados.<br />

Quern exatamente realizou a f alsificaeao,<br />

nao foi possivel apurar.


Embora seta evidente que fell gente<br />

«de dentro» do I.N.P.S.<br />

Certo, por outro lado, que o denunciado<br />

Ely Barbosa da Silva<br />

encornendou o documento, mesmo<br />

custa das fraudes antes descritas,<br />

pois que evidentemente tinha<br />

conhecimento da impossibilidade<br />

de consegui-lo, por estar em divida<br />

corn a autarquia previdenciaria.<br />

Quanto ao denunciado Hector, se<br />

maior participacão nao teve (pelo<br />

menos nada de concreto se apurou)<br />

na falsificacdo, e flagrante<br />

que se utilizou conscientemente do<br />

documento falso, els que nao poderia<br />

ter-lhe passado despercebido o<br />

fato do documento ter sido emitido<br />

en nome de outra pessoa («Eli da<br />

Silva SO» ) , que nä° o seu construtor.<br />

Em assim agindo, o denunciado<br />

Hector Rodolfo Dorfman incorreu<br />

no crime previsto no artigo 304 do<br />

C6digo Penal.<br />

Enquanto Eli Barbosa da Silva<br />

incorreu nos crimes previstos nos<br />

artigos 304 e 297, § 2?, combinado<br />

corn o artigo 25 do COdigo Penal.<br />

0 pois requer sejam citados<br />

para se verem processor, ate<br />

final sentenca condenateria.<br />

Requer a inquiriedo das testemunhas,<br />

abaixo arroladas.<br />

N. Termos,<br />

p. Deferimento.<br />

Porto Alegre, 19 de male de 1976<br />

mnir Josè Finocchlaro Sarti,<br />

Procurador da RepOblica.<br />

Rol de Testemunhas:<br />

Telmo de Aratjo da Veiga;<br />

Romeu de Almeida Lima;<br />

Sara Pereira Nepomuceno;<br />

Lia Irma Braga Guimardes;<br />

Todos funciondrios do I.N.P.S.,<br />

lotados nests Capital».<br />

R.T.J. — 94 103<br />

3 — Os fundamentos do writ estão<br />

assim sintetizados pelo prOprio impetrante<br />

(Hs. 4-6):<br />

«No que diz respeito ao paciente,<br />

pois, ficaram expressos os seguintes<br />

pontos:<br />

Hector Rodolfo Dorfman rid°<br />

teve nenhuma participaedo no processo<br />

de falsificacdo;<br />

NA° incumbia a ele, diretamente,<br />

o pagamento das contribuicOes<br />

previdenciarias, que incidlam<br />

sobre a construed°, mas sim ao<br />

empreitelro Ely Barbosa da Silva,<br />

circunstäncia essa incontroversa<br />

nao so (Dante dos termos do contrato<br />

de empreitada existente, como<br />

tambem por ter sido confirmada<br />

por depoimentos prestados na<br />

policia;<br />

c) Finalmente, a Unica circunstancia<br />

apresentada como causa para<br />

denunciar Hector Rodolfo Dorfman<br />

feria sido o fato de que tido<br />

the poderia ter passado desapercebido<br />

que o Certificado de Quitacäo<br />

fora emitido em nome de outra<br />

pessoa — Eli da Silva S6 que<br />

não seu construtor. Como se demonstrara<br />

mais tarde, ai incidiu<br />

em erro o digno representante do<br />

Ministerio PUblico Federal, não<br />

apenas porque o documento entregue<br />

a Hector o fora em nome da<br />

obra — ainda que por forca da<br />

mencionada alteraclo do documento<br />

pelo acrescimo do nome Centro<br />

Comercial Petropolis como porque<br />

era de todo irrelevante o nome<br />

do construtor no mencionado certificado.<br />

0 nome que deveria constar e como<br />

efetivamente constava quando<br />

o Certificado foi entregue a Hector<br />

Rodolfo Dorfman era o do Centro<br />

Comercial, obra devidamente matriculada<br />

no I.N.P.S. sob o n?<br />

19.150.03.178/67. Como se ye, em<br />

relacdo a Hector Rodolfo Dorfman,<br />

a dent:meta partiu de uma premissa<br />

equivocada para admitir como


104<br />

conseqiiencia necessaria o conhecimento<br />

da falsidade do documento,<br />

elemento necessario a configuracao<br />

do ilicito penal de use de documento<br />

falso.<br />

0 Certificado de Quitaceo, por<br />

outro lado, constituia documento<br />

obrigaterio para efetivacao de cada<br />

vends que viesse o paciente a<br />

realizar relativamente a cada unidade<br />

do centro comercial, nos termos<br />

do disposto no art. 4?, tetra d,<br />

do Decreto n? 60.368, de 11 de mar-<br />

CO de 1967, in verbis:<br />

“Art. 4? — 0 Certificado de<br />

Quitacão (CQ) constitui documento<br />

obrigaterto para a efetivacao<br />

dos seguintes atos:<br />

d) primeira transaceo a ser<br />

realizada corn predio ou unidade<br />

imobiliarla seja qual for a sua<br />

forma, desde que a respectiva<br />

construcao tenha sido terminada<br />

apes a viOncia do Decreto-lei n?<br />

66, de 21 de novembro de 1966».<br />

Certo, pois, que para a efetivaea°<br />

de cada transacão referente a<br />

unidades do edificio, seria necessaria<br />

a apresentacao de urn novo<br />

Certificado de Quitacao, tendo<br />

Hector Rodolfo Dorfman solicitado<br />

a Ely Barbosa da Silva a obtenceo<br />

do primeiro Certificado, cuja falsidade<br />

se pretende, exclusivamente<br />

porque ao Ultimo, nos termos do<br />

que contrataram, cometia a responsabilidade<br />

pelas contribuicOes<br />

previdenciarias, servindo, pois,<br />

nao so para concretizar a primeira<br />

transaceo, mas tambem como prova<br />

de adimplemento por parte do<br />

construtor de sua obrigacão nesse<br />

sentidom<br />

Acrescenta o impetrante, corn base<br />

em copiosa <strong>jurisprudencia</strong>, que o<br />

I.N.P.S. net) poderia recusar-se a<br />

fornecer o aludido certificado de quitacao,<br />

o qual, assim, nao expressa<br />

informacho falsa, o que, nos termos<br />

R.T.J. — 94<br />

da doutrina. macs autorizada, descaracterizaria<br />

o crime de falsidade, e,<br />

em conseqtlencia, tambem o de utilizacão<br />

de documento {also.<br />

4<br />

0 egregio Tribunal recorrido<br />

denegou a ordem, conforme AcOrdao<br />

de fl. 117, assim ementado, verbis:<br />


3. Sobressai de trecho da denUncia,<br />

como essencia do postular a<br />

punicao do infrator, verbis:<br />

a) 0 primeiro denunciado,<br />

Hector Rodolfo Dorfman, foi incorporador<br />

e proprieterio do<br />

«Centro Comercial Petrepolis,»<br />

cuja construcâo em grande parte<br />

cometeu ao segundo denunciado,<br />

Ely Barbosa da Silva, que, por<br />

empreitada, levou a efeito a referida<br />

obra;<br />

«De acordo corn o contrato<br />

de empreitada firmado entre ambas<br />

de resto confirmed° nos depoimentos<br />

prestados perante a<br />

autoridade policial, incumbia ao<br />

empreiteiro (Ely) o pagamento<br />

dos encargos sociais, especificamente<br />

o recolhimento das contribuicOes<br />

previdencierias que Incidiem<br />

sobre a construciio» (sic);<br />

0 Centro Comercial Petropolls<br />

endividou-se perante o<br />

I.N.P.S. e nesse meio tempo Hector<br />

Rodolfo Dorfman negoctou<br />

um dos apartamentos do referido<br />

centro comercial, necessitando<br />

conseqfientemente do certtricado<br />

de qultagao do I.N.P.S., em radio<br />

do que solicttou ao emprettelro<br />

que o obtivesse;<br />

Ely, que deveria ter evidentemente<br />

conhecimento da impossibilidade<br />

de conseguir tal Certificado,<br />

em decorrencia do debit°<br />

existente, conseguiu um Certificado<br />

de Quitactio falsificado,<br />

entregando-o a Hector Rodolfo<br />

Dorfman, o qual, utilizando tal<br />

documento levou a efeito a operano<br />

imobilieria referida;<br />

A operacão de falsificack)<br />

desenvolveu-se da seguinte forma:<br />

«uma outra empresa, em situacAo<br />

regular, sollcitou a expedicAo<br />

de um Certificado de Quitecáo.<br />

0 requerimento tramitou regularmente,<br />

merecendo informacOes<br />

favorAveis nos setores cornpetentes.<br />

Feito isso, alguem apa-<br />

R.T.J. 94 105<br />

you o nome daquela empresa do<br />

pedido (deixando no verso do<br />

mesmo apenas as informacOes<br />

favoreveis), inserindo em seu lugar<br />

o nome ficticio «Eli da Silva<br />

S6», bem como o endereco do<br />

Centro Comercial Petropolis e o<br />

fim do documento: «Venda de<br />

economies do Centro Comercial<br />

PetrOpolis». A vista de tal «perildo»<br />

(A convenientemente «Weitado»),<br />

foi expedido o Certificado<br />

de Quitacão em nome do ficticio<br />

«Ell da Silva SOD. 0 documento<br />

entAo, isto o, o Certificado de<br />

QuitacAo, sofreu nova alteracáo<br />

fraudulenta: sobre o nome «Ell<br />

da Silva S6» foi inserida a denominacão<br />

«Centro Comercial Petropfills»<br />

(sic); (Vide: fls. 99-100,<br />

grifamos).<br />

Como se ye, a opinlo delicti<br />

ressalta, no trecho que sublinhamos,<br />

o concreto 1nteresse do<br />

recorrente na utilizacão fraudulenta<br />

do documento, sob pena de näo<br />

receber numerfirio, como preco de<br />

venda imobillaria, que efetuara.<br />

Invievel cogitar-se, ainda, de<br />

que nenhum interesse animaria<br />

Hector Dorfman ao delito, vez que<br />

«rulo cable ao recorrente o pagamento<br />

das contribuicOes previdencierias<br />

relativamente A obra...» (f.<br />

122).<br />

6. Claro o magisterio do 2? do<br />

wills) 142 da CLPS (Cons°lidecAo<br />

das Leis da Previdëncia Social),<br />

verbis:<br />

«0 proprietitrio, o dono da<br />

obra, ou o condOmino de unidade<br />

qualquer que seja a<br />

forma por que haja contratado a<br />

obra de construcao, reforma ou<br />

acrescimo de imOvel, 6 solidarlamente<br />

responsflvel corn o<br />

construtor pelo cumprimento das<br />

obrigagges decorrentes desta<br />

consolidacAo, resalvado seu direito<br />

regressivo contra o executor<br />

ou contraente das obras e ad-


106<br />

R.T.J. — 94<br />

mitida a retencao de importancias<br />

e estes devidas para a garantia<br />

do cumprimento dessas<br />

obrigacOes, ate a expedicao do<br />

«Certificado de Quitacao (artigo<br />

152, item I, letra c)».<br />

Co-devedor da instituicao previdenciAria,<br />

manifesto o interesse<br />

na obtencao de documento falso<br />

que, em principio isentA-lo-ia de<br />

adimplir a obrigacao.<br />

Por outro lado, assentar-se<br />

que a expedicao do Certificado de<br />

Quitacao nao poderia ser recusada<br />

pelo Instituto, ante a liar) definicAo<br />

do procedimento administrativo<br />

tendente a constatacao do debit°, o<br />

que retiraria qualquer significado<br />

ao ato de contrafazer e usar o<br />

contrafeito, sobre tal conclusao<br />

nao se adequar a melhor doutrina,<br />

como bem enfatizado no voto do<br />

douto Min. Jorge Lafayette (Us.<br />

111-112), e de se convir que a denUncia<br />

assevera toda uma trama,<br />

(Vide: alinea e, da transcricAo no<br />

item 3, deste) destinada ao falso, o<br />

que, obviamente, nao se compraz<br />

corn a realidade de quem nada deve<br />

e se desejava obviar o andamento<br />

dos expedientes.<br />

9. Pelo improvimento do recurso».<br />

E o relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cunha Peixoto (Relator):<br />

1 — 0 recorrente estA sendo<br />

processado sob a acusacao de haver<br />

feito use de documento falso — exibicao,<br />

em carterio, de certificado de<br />

quitacao do I.N.P.S., para lavratura<br />

de escritura de compra e venda de<br />

um apartamento, o qual teria sido<br />

adulterado<br />

tendo ficado reconhe-<br />

cido expressamente na denimcia que<br />

o mesmo nao participara, de qualquer<br />

forma, no processo de falsificacao.<br />

2 — A prepria den -meta reconhece<br />

como fato provado, por outro lado,<br />

que o recorrente empreitara corn o<br />

co-reu Ely a construcao do edificio<br />

de apartamentos, ficando este Ultimo<br />

responsAvel pelos encargos socials,<br />

e, especificamente, o recolhimento<br />

das contribuicOes previdenciArias<br />

que incidiam sobre a construcao.<br />

3 — E ainda a prepria denUncia<br />

que esclarece haver o co-reu Ely<br />

transmitido ao recorrente o aludido<br />

documento perfeito e acabado.<br />

Vale aqui a transcricao do tepico<br />

da denUncia, verbis:<br />

«Inobstante isso, através de processos<br />

que nao ficaram bem esclarecidos<br />

(e que se por Isso nao dilatam<br />

o ambito da presente acusacan),<br />

Ely Barbosa da Silva, conseguiu<br />

urn Certificado de Quitacao<br />

falsificado, que passou as inãos de<br />

Hector Rodolfo Dorfman, o qual,<br />

utilizando o tal documento, levou a<br />

efeito a operacao imobiliAria antes<br />

anunciada» (fl. 69.<br />

E conclui a den-meta:<br />

«Certo, por outro lado, que o denunciado<br />

Ely Barbosa da Silva<br />

encomendou o documento, mesmo<br />

A custa das fraudes antes descritas,<br />

pots que evidentemente tinha<br />

conhecimento da impossibilidade<br />

de consegui-lo por estar em divida<br />

corn a autarquia previdenciAria.<br />

Quanto ao denunciado Hector, se<br />

maior participacao nao teve (pelo<br />

menos nada de concreto se apurou)<br />

na falsificacao, e flagrante<br />

que se utilizou conscientemente do<br />

documento falso, eis que nä() poderia<br />

ter-lhe passado despercebido o<br />

fato de o documento ter sido emitido<br />

em nome de outra pessoa («Eli<br />

da Silva S6)», que nao o seu construtor»<br />

(f. 70).<br />

4 — 0 exame do referido Certificado<br />

de Quitacao, apresentado em fotocepia<br />

a f. 42, nao autoriza a conclusao<br />

a que chegou o nobre representante<br />

do Ministerio Pithlico Federal<br />

que subscreveu a denUncia, eviden-


temente no que se refere a acusacdo<br />

fella ao ora recorrente Hector.<br />

0 Certificado em questa° este inserido<br />

em formulario prOprio do<br />

constando em caixa alta a<br />

firma ou razdo social do empreendimento<br />

de propriedade do recorrente<br />

— Centro Comerclel PetrOpolls<br />

corn todas as especificacOes que individualizam<br />

referido empreendimento,<br />

bem como sua finalidade e a<br />

designaglio do Tabelionato onde deveria<br />

ser exibido como requisito<br />

lavratura da escritura.<br />

ContInha abide o Certificado as assinaturas<br />

dos funcionarlos competentes<br />

para a expedicao do documento,<br />

bem como o carimbo, regularmente<br />

rubricado, da repartigão expedidora.<br />

Assim, o Onico elemento (Merepante<br />

— e no qual se apega a de/in/Ida<br />

para concluir pela atuacão dolosa<br />

do recorrente — 6 a mudanca de<br />

um dos nomes do construtor: Eli da<br />

Silva SO, ao inves de Ely Barbosa da<br />

Silva, sendo que referido nome consta<br />

em caixa baixa abaixo do nome<br />

do empreendimento, destacado em<br />

caixa alta, como la ficou exposto.<br />

5 — Essa ligeira discrepAncia, entretanto,<br />

näo poderia conduzir o ilustre<br />

subscritor da denOncia, desde<br />

que dissociada como este de todas as<br />

denials proves indiclerias expostas<br />

na pega vestibular acusatOria, a condusk,<br />

de que o recorrente tinha conhecimento<br />

prEvio de que o documento<br />

era falso.<br />

Esses incliclos demonstram o contrail°,<br />

a saber:<br />

0 empreiteiro-co-denunciado<br />

Ely — merecia a confianga do recorrente,<br />

tanto assim que firmaram urn<br />

contrato de vulto para construgâo de<br />

um edifIcio;<br />

Como se reconhece na prOpria<br />

denOncia, ficou sob a responsabilidade<br />

exclusive desse empreiteiro o<br />

Onus pertinente ao recolhimento da<br />

obrigacAo previdencieria;<br />

R.T.J. — 94 107<br />

Em consecniOncia, o recorrente,<br />

por forge de Baca° 'twice incontesteye!,<br />

tinha todo o interesse de que esse<br />

recolhimento fosse feito pontualmente,<br />

pots nos termos da legislacáo<br />

especifica, apesar do que ficara pactuado<br />

entre as partes, respondia ele<br />

solidariamente perante o I.N.P.S.<br />

por qualquer debit() referente a obra<br />

em questeo;<br />

0 Certificado que the foi fornecido<br />

por intermédio do co-reu Ely tinha<br />

todas as caracteristicas de um<br />

documento autentico, tanto assim<br />

que o mesmo fot aceito pelo tabelläo<br />

como valid°, sem qualquer reserva;<br />

e) o aludido Certificado, por forge<br />

do Decreto n? 60.368, de 11.03.67, que<br />

aprovou o Regulamento para expedia)<br />

de documentos a que se referem<br />

os artigos 141 e 142 da Lei OrgAncla<br />

da Previdencia Social (art. 15, paregrafo<br />

link° e art. 17), tenha forcosamente<br />

de ser examinado pelo tabelião,<br />

para afericäo de sua autenticidade,<br />

devendo este, inclusive, reconhecer<br />

as assinaturas dos funcionarios<br />

responsAveis pela sua expedicâo<br />

E no caso de rasuras identificaveis<br />

a olho nu, competia ao mesmo taberecusar<br />

o documento, como expressamente<br />

estatul o IA citado art.<br />

17.<br />

f ) Estabelecidas essas premissas,<br />

todas elas fundadas nos prOprios f atos<br />

descritos na denüncia, 6 evidente<br />

que, nos termos em que a peca acusatOria<br />

foi poste, inexiste qualquer<br />

elemento indicierio, mesmo ténue,<br />

que autorize fundada suspeita de que<br />

o recorrente tenha agido com dolo —<br />

direto ou eventual —, elemento este<br />

imprescindivel a caracterizacão do<br />

crime que the a imputado, conforme<br />

farta jurispruancia , e ensinamentos<br />

dos macs doutos penalistas (Nelson<br />

Hungria, Bento de Feria, Magalhães<br />

Noronha, Frederico Marques e Heleno<br />

Fragoso, entre outros).


108<br />

6 — NAo se trata, no caso, de exame<br />

de prova para afericAo do dolo,<br />

como decidiu o egregio Tribunal a<br />

quo<br />

Aqui, limitei-me a analisar os fatos<br />

narradoS na denüncia, para verificar<br />

se essa peca acusateria, apenas<br />

na parte ref erente ao recorrente,<br />

repita-se, contem os elementos indicierios<br />

necessArios para estabelecerem<br />

fundada suspeita, ou seja, conviccAo<br />

razodvel, pertinente a esse<br />

requisito essencial tipificador do crime<br />

previsto no art. 304 do C6digo Penal<br />

No entanto, alêm de nada encontrar<br />

na dereincia que pudesse alicercar<br />

essa conviccAo fundada na prova<br />

contem ela, explicita e<br />

implicitamente, fatos que conduzem<br />

fatalmente ao raciocinio oposto, ou<br />

seja, de que, nos termos em que o<br />

nobre representante do Ministerio<br />

PGblico expos os fatos, os indicios<br />

sAo todos no sentido de demonstrar,<br />

ate prova em contrerio, a boa-fe<br />

corn que se houve o recorrente quando<br />

exibiu o malsinado documento.<br />

7 — Isto posto, concordo com a<br />

premissa estabelecida no Actin:leo<br />

recorrido no sentido de que a prova<br />

indiciAria que serviu de base a dereincia<br />

nä° a bastante para se concluir<br />

pela inimputabilidade absolute<br />

do recorrente quanto ao crime em<br />

questäo.<br />

Entretanto, inexiste tambem prova<br />

indicieria bastante para o oferecimento<br />

da denfmcia contra o mesmo<br />

recorrente, pelos fundamentos retro<br />

expendidos, dada a carencia absolute,<br />

quando da instauracão da acAo<br />

penal, de elementos de conviccAo<br />

quanto a atuacão dolosa do acusado,<br />

ora recorrente.<br />

8 — E curial que a denfincia oferecida<br />

contra um agente pode ser aditada<br />

a qualquer tempo antes da sentence<br />

final, sem prejuizo do disposto<br />

no art. 40 do C6digo de Processo Penal,<br />

quando o juiz, de oficio, adotare<br />

R.T.J. — 94<br />

as medidas ali determinadas para a<br />

apuracão da responsabilidade penal<br />

de terceiros.<br />

Astim, caso viesse a ser obtida<br />

prove incriminateria contra o recorrente<br />

no correr da instrucAo criminal,<br />

seria licit° ao Ministerio Pablico<br />

imputar-lhe o fato delituoso, sem<br />

qualquer prejuizo para a boa administracAo<br />

da Justice.<br />

que nAo se pode conceber que,<br />

por mera suposielto, destitulda de<br />

elementos feticos convincentes, seja<br />

recorrente, desde logo, submetido<br />

aos percalcos de uma acão criminal<br />

que, obviamente, the trara transtornos<br />

ate mesmo no exercicio de sua<br />

atividade comercial.<br />

9 — Isto posto, dou provimento<br />

parcial ao recurso, nAo para trancar<br />

definitivamente a acAo penal contra<br />

recorrente, le que podem surglr<br />

elementos de prova que venham a<br />

incrimine-lo no futuro, mas tat:, somente<br />

para decretar a inepcia da denimcia<br />

em ratio ao mesmo recorrente,<br />

fundada que este, neste particular,<br />

em mera suposicäo destituida<br />

de qualquer indicio probaterlo que<br />

posse sustente-la.<br />

VOTO<br />

Sr. Ministro Soares Munoz: Sr.<br />

Presidente, o impetrante aduz uma<br />

serie de argumentos, sendo que dots<br />

deles foram bem respondidos pelo<br />

Dr. Subprocurador-Geral da Repflblica,<br />

no parecer escrito que produziu<br />

nos autos, lido pelo eminente Relator<br />

em sessào. Mas, sobraram outros<br />

argumentos, principalmente<br />

dots deles que sera° objeto do meu<br />

voto. primeiro desses argumentos e o<br />

de que a dentincia não diz que o paciente<br />

tivesse ciencia da falsidade do<br />

documento utilizado. A denfincia<br />

limita-se a inferir que essa ciencia o<br />

paciente deveria ter, porque consta<br />

da certidAo, em Lugar do nome do


empreiteiro, Ely Barbosa da Silva, o<br />

nome de Eli da Silva SO. Ora, esse<br />

detalhe, o fink° em que se baseia a<br />

denuncia para inferir a clencla que<br />

teria o paclente da falsidade do documento,<br />

parece-me irrelevante. Em<br />

primeiro lugar, em face da semelhanca<br />

dos nomes, ambos Ely, um<br />

da Silva S6 e outro Barbosa da Silva.<br />

Em segundo lugar, porque, numa<br />

certiclAo dessa• natureza, o que importa<br />

e o nome da obra e a denomlnacilo<br />

da mesma este explIcita na<br />

certideo sem margem a nenhuma<br />

confusão: Centro Comercial Petropolis.<br />

As contribuicees previdencierias<br />

vinculam a obra, tanto que, se o empreiteiro<br />

se oblige a pagar e /leo<br />

honra o compromisso, responsevel e<br />

o dono da construcAo. Portanto, o<br />

importante na certiclAo 6 que liberasse<br />

a obra, vale (Hier, o Centro Comtercial<br />

Petropolis, e ela liberou. Liberou<br />

em termos relativos, ressalvend°<br />

divides que vlessem a ser apuradas.<br />

De mantra que, para mim, a<br />

denuncia ndo satisfaz os requisitos<br />

do art. 41 do C6digo de Processo Penal,<br />

por ndo conter o fate com todas<br />

as sues circunstAncias, pots as que<br />

enumera não geram a conviccAo de<br />

que, na imputacão, se encontre earinativa<br />

concernente a que o denunclad°<br />

tivesse ciencia da falsidade do<br />

documento utilized°. Nesse ponto,<br />

concordo corn o voto do eminente<br />

Relator.<br />

HA, ainda, outro argumento que<br />

me impressionou: 6 o de que a denOncla<br />

ndo assevera que existisse<br />

divide constituida em relacAo ao<br />

INFS. E a <strong>jurisprudencia</strong> 6 no sentido<br />

de que essa autarquia se pode negar<br />

a certidAo quando he divide<br />

constituida. No memorial este transcrito<br />

o acerdeo da Egregia Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal Federal,<br />

related° pelo eminente Ministro<br />

Xavier de Albuquerque, corn a segulnte<br />

ementa:<br />

«Previdencia social. Certlficado<br />

de qultacAo. DeelsAo que linpOe ao<br />

R.T.J. — 94 109<br />

INPS. o seu fornecimento ao contribuinte,<br />

por pender de solucão 0<br />

processo de verificaceo do debit()<br />

alegado, nAo nega vigencia aos<br />

arts. 142 da L. 3.807/60 e 186 g 1?,<br />

do D. 60.501/67. Dissidio pretoriano<br />

nAo demonstrado. Recurso extraordinArio<br />

nAo conhecido.”<br />

De sorte que a existencia do pretendido<br />

debit°, que se acha em discusseo,<br />

na via administrative, não<br />

impedla que a autarquia concedesse<br />

a certidilo, nos termos em que a forneceu.<br />

Por esses motivos, meu vote e em<br />

sintonia corn o do eminente Relator,<br />

para conceder a ordem a Bin de<br />

trancar o processo por in6pcia da denfincia.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RHC 56.120 — FtS — Rel.: Min. Cunha<br />

Peixoto. Recte. Hector Rodolfo<br />

Dorfman. Impte.: Caetano Pedone.<br />

Recdo.: Tribunal Federal de Recursos.<br />

DecisAo: Dado provimento, nos<br />

termos do voto do Ministro Relator,<br />

unfinime. — Falou pelo Recte. o Dr.<br />

Caetano Pedone, e, pelo Ministerlo<br />

Pfiblico Federal, o Dr. Francisco de<br />

Assis Toledo, 4? Subprocurador-<br />

Geral da RepUblica.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes A SessAo os<br />

Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Alckmin, Cunha Peixoto<br />

e Soares Munoz. — 4?<br />

Subprocurador-Geral da Repfiblica,<br />

o Dr. Francisco de Midis Toledo.<br />

Brasilia; 30 de mato de 1978. —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Seereterlo.


110<br />

R.T.J. — 94<br />

HABEAS CORPUS N? 57.026 — SP<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Djaci FaIca° .<br />

Impetrante e Paciente: Arlindo GerOnimo da Silva Fiala.<br />

Reu preso em flagrante, condenado corn os beneficios da suspensilo<br />

condicional da pena. Audiencia acimoniteria nao realizada, por<br />

ter sido o acusado acometido de doenca e submetido a exame de sanidade<br />

mental, ap6s a sentenca. Lando unanime de peritos oficiais que<br />

diagnosticaram a sintomatologia do paciente como resultado de «reactio<br />

carceraria». Habeas corpus deferido, a fim de que se realize a<br />

audiencia admonitOria, sem prejulzo do julgamento da apelactio da<br />

defesa.<br />

ACORDAO<br />

Vistas, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam as Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigralicas,<br />

por unanimidade, de votos, conceder<br />

a ordem, nos termos do voto<br />

do Relator.<br />

Brasilia, 26 de junho de 1979. —<br />

Djaci Falctio, Presidente e Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Djaci 0 parecer<br />

da Procuradoria-Geral da Republica<br />

esclarece a mataria objeto<br />

do pedido, nos seguintes termos:<br />

«1. Arlindo Gertnimo da Silva<br />

Filho insurge-se, em causa<br />

pria, contra o processo crime a<br />

que foi submetido e contra sua pHsat),<br />

decorrente de flagrante, a seu<br />

ver, forjado.<br />

2. As informaciies do ilustre Presidente<br />

do Tribunal de Alcada Criminal<br />

de Sao Paulo assim esclarecem<br />

os fatos:<br />

0 paciente, preso em flagrante<br />

(fls. 5-9, doc. n? 1), acabou denunciado,<br />

perante o MM. Juiz da<br />

58 Vara Criminal de Sao Paulo,<br />

coma incurs° no art. 155, §§ 1? e<br />

4?, ns. III e IV, do C6digo Penal,<br />

por delft° de furto perpetrado no<br />

dia 4 de Janeiro de 1978 (fls. 2-3,<br />

doc. ri? 2).<br />

Requisitada a apresentacäo do<br />

reu em juizo, foi ele interrogado<br />

em 9 de fevereiro de 1978 (fls. 31v,<br />

doc. n? 3).<br />

Processado regularmente, foi o<br />

paciente considerado como incurso<br />

no art. 155, 4? ns. III e IV, do<br />

COdigo Penal, combinado corn o<br />

art. 12, n? II, do mesmo estatuto<br />

e condenado a 1 ano e 4 meses de<br />

reclusao e multa de Cr$ 1.333,34,<br />

sendo-lhe concedido o beneficio<br />

da suspensão conditional da pena<br />

por dois anos (fls. 54-5, doc. n?<br />

4). Marcada a audiancia admonitOria,<br />

esta nao se realizou «em<br />

virtude do it encontrar-se doente,<br />

segundo informacOes da carceragem”,<br />

tendo o MM. Juiz de<br />

1a instancia solicitado atestado<br />

medico (fls. 65-67 e 71, doc. n? 5)<br />

e autorizado sua remota° para o<br />

ManicOmio Judiciario (fl. 73, doe.<br />

n? 6), por apresentar o paclente<br />

quadro clinico de esquizofrenia.<br />

Ao apelo manifestado pelo paciente<br />

a E. Sexta Camara deste<br />

Tribunal, atendendo solicitacdo<br />

da Procuradoria, converteu o Julgamento<br />

em diligancia para a


instrucao, em primeira instancia,<br />

do incidente de sanidade mental<br />

do acusado (fls. 90-91, doc. n? 7).<br />

Impetrou, ainda, q Habeas<br />

Corpus n? 89.820, do qual nao conheceu<br />

a E. Sexta Camara desta<br />

Corte, por entender que passara<br />

a figurer como ergao judicierio<br />

coator, determinando a remessa<br />

dos autos a Suprema Corte (doe.<br />

n? 8).<br />

DItimado o exame de sanidade<br />

mental em marco Ultimo (fls. 42-<br />

46 do apenso, doc. n? 9), em abril<br />

retornaram os autos a este Tribunal,<br />

para julgamento da apelacao.<br />

Ouvida a douta Procuradoria<br />

da Justice, o ilustre Julz Dr.<br />

Camargo Aranha lancou seu related°<br />

dos autos, interrompendo-se<br />

a tramltacao do recurso para que<br />

as presentes 1ntormacOes pudessem<br />

ser prestadas.<br />

(Fls. 32-33).<br />

3. Acrescente-se que o laudo pedelal<br />

referido nas informacees<br />

Juntado por cepla a fls. 59/63, concluiu<br />

pela responsabilidade reduzida<br />

do paciente, em decorrencia de<br />

perturbacao da sailde mental (personalidade<br />

psicopetica).<br />

E desse laudo destacamos o seguinte<br />

diagnestico sobre os males<br />

de que foi acometido o paciente,<br />

durante a sua prisao:<br />

Ora, o que se verificou foi uma<br />

patoplastia de cunho delirante —<br />

abwinatOrto com colorido esqulzofreniforme,<br />

cujas caracteristicas<br />

silo as da reacao carceritria.<br />

Outrossim, faz-se necesserio<br />

um breve diagnestico diferencial<br />

entre a esquizofrenia doenca e a<br />

nossa reacao carcereria de colorido<br />

esquizofreniforme. Naquele,<br />

que evolui por surtos, e que<br />

quando esses surtos remitem delxam<br />

defeitos dizem os tratados<br />

R.T.J. — 94<br />

111<br />

de psiqulatria, que por ma's miseravel<br />

e desgracado que sejam<br />

os dellrlos e as alucinacees, o esquizofrenico<br />

Ihes confere validade<br />

indiscutivel e refraterla a<br />

qualquer tipo de sugestào, todos<br />

se acham sadios e querem alta.<br />

Por outro lado, a reacao carcerade<br />

ocorre sobre uma personalidade<br />

pre-dlsposta (no caso nosso<br />

6 a personalidade psicopetica)<br />

e e engendrada pelo mein ambiente,<br />

pelas circunstancias. Tanto<br />

e que o cotidiano contacto com<br />

os allenados mentals, nos enslnaram<br />

que nesses casos de reacao<br />

carcereria, basta afastar o paciente<br />

do presidio que a engendrou,<br />

para que remita totalmente<br />

a sintomatologia.<br />

(Fls. 62-63).<br />

4. Ora multo bem. Se a sentence<br />

condenateria concedeu ao paciente<br />

o surds. Se, por outro lado, a audiencia<br />

admoniteria s6 nao se realizou<br />

devido a doenca de que foi<br />

acometido na prisao. Se essa doenca,<br />

conforme atestam os peritos<br />

do Juiz, a provocada pelo<br />

«meio ambiente», no caso pela<br />

greacao carcereria», cessando corn<br />

a remocao da cause, 1st° e, o conflnamento<br />

na prisão, parece-nos tubvio<br />

inexistir razao para que nao se<br />

cumpra a sentence, na parte em<br />

que concedeu a suspensflo condiclonal<br />

da pena, transformando-se,<br />

contraditoriamente, o recurso de<br />

apelacão da defesa em ensejo para<br />

que se manter preso quern je poderia<br />

ester em liberdade.<br />

Somos, pots, pela concessao da<br />

ordem para que se realize, !mediatemente,<br />

a audiencia admoniteria,<br />

sem prejuizo do Julgamento do recurs°<br />

da defesa, que obviamente<br />

nab podera acarretar reformatlo In<br />

pelus.<br />

E o parecer.


112<br />

Brasilia, 22 de junho de 1979 —<br />

Francisco de Assts Toledo, 2?<br />

Subprocurador-Geral da RepUblica.»<br />

(fls. 65 a 69)<br />

VOTO<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Sr. Ministro Djaci Falac, (Relator):<br />

No caso, desde que a sentenca<br />

condenatOria concedeu o sursis, deixando<br />

de se efetuar a audiëncia admonitOria<br />

em virtude de doenca,<br />

que, segundo pericia medica, foi provocada<br />

pelo «meio ambiente », inexiste<br />

fazao para que rhio seja cumprida<br />

a decisao, na parte relativa<br />

suspensão condicional da pena.<br />

Acolho o parecer para deferir a ordem,<br />

a fim de que se realize a audiëncia<br />

admonitOria, sem prejuizo do<br />

julgamento da apelacão interposta<br />

pela defesa.<br />

HABEAS CORPUS N? 57.046 — SP<br />

(Segunda Turma)<br />

EXTRATO DA ATA<br />

HC 57.026 — SP — Rel.: Min. Djaci<br />

FaIca,. Impte. e Pte.: Arlindo Ger6nimo<br />

da Silva Filho. Autoridade Coatora:<br />

Tribunal de Alcada Criminal do<br />

Estado.<br />

Decisão: Concedida a ordem nos<br />

termos do voto do Relator. Unânime.<br />

Ausente, ocasionalmente, o Ministro<br />

Leitäo de Abreu.<br />

Presidëncia do Sr. Ministro Djaci<br />

Fated° — Presentes a Sessão os Srs.<br />

Ministros Leitäo de Abreu, Cordeiro<br />

Guerra e Decio Miranda. — Ausente,<br />

justificadamente, o Sr. Ministro Moreira<br />

Alves. 5? Subprocurador-Geral<br />

da Reptblica, o Dr. Mauro Leite<br />

Soares.<br />

Brasilia, 26 de junho de 1979. —<br />

Hello Francisco Marques, Secreterio.<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Moreira Alves.<br />

Paciente: ClAudio Herãclito Valentim Coca.<br />

Habeas corpus. Nulidade quanto a formulacao de quesitos ao JO-<br />

ri.<br />

E correta, e preconizada pela doutrina, a formulacao, corn o<br />

emprego da forma negative, do quesito relativo a inexistencla da plena<br />

capacidade do reu de entender o caritter criminoso do fato (paregrafo<br />

finial do artigo 22 do COdiggPenal).<br />

Nao acarreta nulidade a omissáo de quesito sobre a segunda<br />

htpbtese a que alude o referido parttgrafo We* do artigo 22 do 05c11go<br />

Penal, quando a defesa se limita a sustentar a conclusäo do laudo,<br />

este acoihe a semi-imputabilid ade corn base na primeiracausa de<br />

reducao de pena a que elude o citado dispositivo, considerand o prejudicada<br />

— como evidentemente o e — a segunda, que pressupee o<br />

afastamento da primeira. Falta, alias, de oportuno protesto da defesa,<br />

ensejando, tambem, a aplicaggto, no caso, do artigo 565 do COdigo<br />

de Processo Penal.<br />

Habeas corpus indeferido.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taqulgraficas,<br />

por unanimidade de votos, indeferir<br />

o pedido.


Brasilia, 5 de junho de 1979. —<br />

Djaci Falcao, Presidente — Moreira<br />

Alves, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves —<br />

Sao estas as informacOes prestadas<br />

pelo Exm? Sr. 2? Vice-Presidente do<br />

Tribunal de Justice. do Estado de<br />

Sao Paulo (fls. 31-33):<br />

«Em resposta ao oficio 120/R, de<br />

7 do corrente, uma vez requisitados<br />

os autos do processo crime e<br />

da revisal:, criminal, tenho a honra<br />

de prestar a Vossa Excelancia informacOes<br />

relativas ao habeas<br />

corpus n? 57.046 — 1 impetrado em<br />

favor de Claudio Heraclito Valentim<br />

Coca.<br />

0 paciente foi submetido a Juni e<br />

condenado a 14 anos de reclusao<br />

como incurs° no art. 121, § 2? II e<br />

IV, do C6digo Penal, em decisào<br />

mantida, por malaria de votos, em<br />

grau de apelacao e em embargos.<br />

Requereu posteriormente revisal)<br />

criminal na qual, além de impugnar<br />

o merito, argiliu a nulidade do<br />

julgamento por defeituosa redacao<br />

do quesito relativo A semiimputabilidade<br />

e, ainda, porque, a<br />

despelto de serem duas as causas<br />

de reduCao de pena p<strong>revista</strong>s no<br />

art. 22, § (Kam do COdigo Penal,<br />

somente sobre uma delas foi o Jfiri<br />

questionado.<br />

Nao obteve exit° (doe. I) e, inconformado,<br />

manifestou recurso<br />

extraordinário, cujo processamento<br />

foi denegado (doe. II).<br />

Agora, em habeas corpus originario,<br />

insiste nas mesmas alegacOes<br />

visando a nulidade do julgamento.<br />

NA° assiste, data yenta, razao ao<br />

ilustre impetrante. 0 v. aresto da<br />

E. Seca() Criminal e o respeitavel<br />

despacho denegaterio do recurso<br />

extremo bem examinaram a especie.<br />

R.T.J. — 94 113<br />

Sobre nao ter havido oportuna<br />

reclamacäo da defesa, o quesito<br />

referente a semi-responsabilidade<br />

foi formulado nos termos previstos<br />

no art. 22, § Calico, do COdigo Penal.<br />

Negando-o, os Jurados reconheceram<br />

a plena capacidade do<br />

reu e nada ha, no quesito, que pudesse<br />

autorizar a conclusao de que<br />

o Conselho de Sentenca quis afirmar<br />

a semi-imputabilidade do<br />

agente.<br />

De outro lado, nao culdou o questionario,<br />

corn o beneplacito da defesa,<br />

de segunda causa de reducão<br />

da responsabilidade a que se refere<br />

a impetracao porque nao oferecida<br />

em plenario e nem amparada<br />

pelo laudo pericial e seus esclarecimentos<br />

posteriores (does. III e<br />

IV ).»<br />

As fls. 34/39, encontra-se o acOrdao<br />

que, por unanimidade, indeferiu 0<br />

pedido de revisáo, e no qual foram<br />

examinadas as mesmas alegacOes<br />

de nulidade feitas no presente<br />

habeas corpus, alegacOes essas que<br />

nao se fizeram quando da apelacao<br />

contra a decisào condenateria, nem<br />

quando dos embargos infringentes<br />

posteriormente interpostos. No ac6rciao<br />

que julgou a revisal), le-se:<br />

gAcordam, em sessao das Caimans<br />

Conjuntas Criminals do Tribunal<br />

de Justica de Sao Paulo, por<br />

votacao imanime, indeferir o pedido<br />

revisional.<br />

Custas na forma da lei.<br />

Claudio Heraclito Valentim Coca<br />

foi condenado pelo Tribunal do JOri,<br />

por urn homicidio duplamente<br />

qualificado, a 14 anos de reclusao.<br />

Em v. acCordao assinado pelos eminentes<br />

Desembargadores Xavier<br />

Homrich (Relator) e Mendes Franf.4,<br />

a Egregia Terceira Camara,<br />

contra o voto do llustre Desembargador<br />

Cavalcanti Silva, negou provimento<br />

ao seu apelo, sendo rejeitados<br />

os embargos infringentes por<br />

ele interpostos, em v. aresto tam-


114<br />

bam assinado pelos inclitos Desembargadores<br />

Weiss de Andrade (Relator)<br />

e Dj alma Lofrano (Revisor).<br />

Agora, atravas da presente<br />

revisao-criminal, o peticionärio,<br />

preliminarmente, alega duas nulidades:<br />

1?) defeituosa formulaca<br />

do quesito relativo a semiimputabilidade,<br />

o que fez corn que<br />

mesmo tendo juri negado que o rau<br />

fosse penalmente responsavel, o<br />

juiz concluisse pela responsabilidade<br />

plena; 2?) a despeito de serem<br />

duas as causas de reducdo da pena,<br />

p<strong>revista</strong>s no paragrafo anico<br />

do art. 22 do estatuto penal, os jurados<br />

somente foram questinnados<br />

sobre uma delas. No marito sustenta<br />

que a decisAo afrontou a evidancia<br />

dos autos, vez que foi contrariado<br />

o laudo pericial que o classtficou<br />

como semi-imputavel.<br />

Apensados os autos originals, a<br />

douta Procuradoria-Geral da Justica<br />

opinou pelo indeferimento.<br />

E o relatOrio.<br />

Indeferem o pedido.<br />

0 quesito relativo a semiresponsabilidade<br />

esta assim redigido:<br />

«o rau, em virtude de pertubacAo<br />

de saade mental nao possaia,<br />

ao tempo do crime, a plena capacidade<br />

de entender o carater criminoso<br />

do fato que praticou?»<br />

R.T.J. — 94<br />

Nada existe na redaca deste<br />

quesito que autoriza a conclusa de<br />

nulidade.<br />

Por outro lado, ao darem resposta<br />

negativa, os jurados afirmaram<br />

a plena responsabilidade do reu,<br />

tal como entendeu o digno magistrado.<br />

E certo que duas sào as causas<br />

de reducAo de pena p<strong>revista</strong>s no<br />

art. 22, paragrafo Waco do C6digo<br />

Penal, tendo o juiz proposto quesito<br />

somente sobre uma delas.<br />

Mas acontece que a redacAo do<br />

quesito esta de acordo com a defesa<br />

apresentada em plenario e com<br />

o laudo pericial.<br />

Com efeito, o laudo afirma que<br />

«em raza de perturbacdo de<br />

saade mental, o paciente<br />

possuia, ao tempo do crime, a<br />

plena capacidade de entender o<br />

carater criminoso do fato que<br />

praticou» (f. 47 do apenso).<br />

Nada fala essa peca sobre capacidade<br />

de «determinar-se de acordo<br />

corn esse entendimento ». Ora,<br />

em plenario, a defesa requereu que<br />

o laudo fosse aceito pelos jurados<br />

(f. 3051. Logo toda a discussa se<br />

cingiu a apenas uma das duas causas<br />

E sobre ela o magistrado,<br />

acertadamente, elaborou a quesito,<br />

sendo suparfluo e desnecessario indagar<br />

a respeito da outra, que nao<br />

estava em discussão e nem havia<br />

sido pleiteada.<br />

De qualquer forma, no que tange<br />

a essas duas alegactles de nulidade,<br />

o que interessa 8 que nada reclamou<br />

a defesa no momento processual<br />

adequado, ou seja, depots<br />

de lidos os quesitos, conforme se<br />

verifica da ata, tendo havido, destarte,<br />

preclusào sobre a materia,<br />

conforme, alias, jurisprudancia<br />

deste Egragio Tribunal a respeito<br />

(cf. v. acOrdAo relatado pelo erninente<br />

Desembargador Hoeppner<br />

Dutra, in Revista de Jurisprudencia<br />

do Tribunal de Justly'. de Silo Paulo,<br />

vol. 25, oag. 528.<br />

Realmente, nao impugnado 0<br />

mencionado quesito oportunamente,<br />

no momento prOprio, a defesa<br />

teria concorrido corn o seu silancio,<br />

com a sua °missal, para a soi<br />

(Markt nulidade, e, nos termos do<br />

art. 565 do estatuto adjetivo.<br />

«nenhuma das partes podera<br />

argUir nulidade a que haja dado


causa, ou para que tenha concorrido<br />

...”<br />

No mals, a revise° tambem<br />

improcede. «Nao recta a menor<br />

dUvida de que dentro de sua soberania<br />

nao este o JOri obrigado<br />

a acatar a prova tecnica. Mas se<br />

o faz sem apoio em qualquer outro<br />

elemento probated° de conviccão<br />

existente nos autos, Julga<br />

contra a evidencia da prova. Estabelecida<br />

este premissa cabe indagar<br />

se na hipotese em exame<br />

os Jurados decidiram contra a<br />

evidencia da prova ao repudiarem<br />

conclusao de exame psiquietee°,<br />

que e, e evidência, prova<br />

tecnica. Para tanto cabe examiner,<br />

de inlet°, o laudo Pericial e<br />

os esclarecimentos prestados pelos<br />

peritos. Assinalaram estes, no<br />

item «exame mental», que o acusado<br />

era calmo, com postura<br />

adequada, gestos e mimicas moderados,<br />

corn respelto e solicitude.<br />

Mostrou-se corn ritmo associativo<br />

do pensamento normal,<br />

memeria e nexos afetivos conservados<br />

e nao evidenclou distOrblos<br />

de senso-percepcao e nem manifesta<br />

delirios. E orlentado e apresenta<br />

pragmatismo conservado<br />

(f. 26 dos autos em apenso). Concluiram<br />

todavia os peritos pelo<br />

diagnOstico de «crises convulsivas,<br />

tipo «grande mal», e em decorrencia<br />

apresentam o Feu como<br />

inimputevel. Contudo, o representante<br />

do Ministerio<br />

co pediu que esclarecessem o<br />

laudo porque nas respostas dadas<br />

aos dots primeiros quesitos formulados<br />

pela acusacao, afirmaram<br />

que o acusado ao tempo da<br />

ace° nao sofria qualquer doenca<br />

mental. Nos esclarecimentos, os<br />

perltos deixaram assentado que<br />

a epilepsia embora seta «enfermidade<br />

neurolOgica, provoca series<br />

e graves perturbacOes da<br />

saOcle mental, atraves de suas<br />

variadas mEurifestacOes, apesar<br />

R.T.J. — 94 115<br />

de tats manifestacOes serem de<br />

careter temporerio. De um modo<br />

geral, essas manifestadies suprimem<br />

por inteiro a capacidade do<br />

paciente de entender os atos que<br />

pratica, quer sejam criminosos<br />

ou nilo» (f. 46, autos em apenso).<br />

Acrescentaram que «Nem todos<br />

os individuos portadores de epilepsia<br />

cometem crimes e quando<br />

os cometem, nem sempfe o f azem<br />

com sua capacidade de entendimento<br />

inteiramente abolida»<br />

(f. 46). E em seguida, respondendo<br />

aos quesitos formulados<br />

afirmaram que o paciente<br />

era urn semi-responsevel (f. 47)<br />

— Evidente que o primeiro laudo,<br />

onde se afirmou a incapacldade<br />

total do reu, neo este fundamentado<br />

e sua concluseo se choca<br />

frontalmente corn o diagnestico<br />

e os posteriores esclarecimentos<br />

dos peritos. Por outro !ado,<br />

observe Jose Alves Garcia, como<br />

os doentes de epllepsia sao examinados<br />

nos intervalos de suas<br />

crises, 6 de todo conveniente buscar<br />

o diagnostico «caracterolOgico<br />

do enfermo, antes, ou simultaneamente,<br />

do diagnestico sindrOmico<br />

da epilepsia» (Pslcopalologla<br />

Forense, pegs.<br />

224/225). Cabe portanto ao perito<br />

atentar nos tracos temperamentais<br />

do doente para que conclua<br />

pela epilepsia e pela decorrente<br />

inimputabilidade. No caso em tele,<br />

os experts descreveram urn<br />

individuo com caracteres normals,<br />

nao havendo qualquer referencia<br />

ao traco temperamental<br />

de urn epileptic°. E tanto<br />

bastasse, o epileptico somente este<br />

isento de pena quando o crime<br />

cometido como uma manifestacao<br />

epileptica. Esta circunstancia<br />

fol admitida pelos peritos ao<br />

assinalarem que as manifestacOes<br />

epilepticas que suprimem<br />

por inteiro a capacidade do paciente,<br />

sao de careter tempore-


116<br />

R.T.J. — 94<br />

rio. Conseqiientemente se impunha<br />

que o laudo concluisse haver<br />

o acusado cometido o delito quando<br />

se encontrava corn sua capacidade<br />

de entendimento abolida,<br />

quer por estar em crise epilepti-<br />

Ca, quer por haver o delito se seguido<br />

imediatamente a uma crise,<br />

quer por se encontrar em estado<br />

crepuscular do campo da<br />

consciencia. 0 laudo e o esclarecimento<br />

nao contem a mais leve<br />

mencao a estas circunstancias.<br />

Dat por que inaceitavel a conclusac,<br />

pericial, quer da total quer<br />

da parcial irresponsabilidade do<br />

reu. Paralelamente, os informes<br />

prestados pelas testemunhas sdo<br />

no sentido de que este nunca<br />

apresentou sinal de perturbacao<br />

mental durante nave anos que<br />

morou na casa de Natalia da Palxao<br />

(f. 66), nunca demonstrou<br />

ser nervoso ou pancada (f. 68),<br />

submeteu-se a exame de pesquisa<br />

social e medico para ingressar<br />

na extinta guarda-civil, nada se<br />

apurando quanto a sua personalidade<br />

ou uma possivel enfermidade<br />

mental (f. 135 v.), nao se envolvia<br />

em brigas ou discussOes e<br />

nem cometia arbitrariedade, sendo<br />

pessoa caima (f 136), era disciplinado<br />

e born policial (f. 136<br />

v.) e apenas apresentou queixas<br />

difusas de nervosismo, mas nunca<br />

solicitou seu internamento ( f.<br />

145). 0 acusado, portanto, durante<br />

longos anos, nao manifestou<br />

temperamento e nem tracos que<br />

indicassem carater epilepticos.<br />

Tambem nao ha qualquer noticia<br />

de paroxismos e convulsOes reveladoras<br />

da epilepsia ern sua forma<br />

conhecida como «grande<br />

mal». Diante deste quadro probatOrio,<br />

levando-se ainda em conta<br />

a manifestada incongruencia, incoerencia<br />

e ausencia de fundamentacao<br />

do laudo pericial, o JU-<br />

N, repelindo a pretendida semiimputabilidade,<br />

nao decidiu manifestamente<br />

contra a prova dos<br />

autos» (v. acOrdao de fls. 372-<br />

375), ou contra a evidencia desses<br />

mesmos autos.<br />

Nada a deferir, por conseguinte,<br />

salientando-se que nenhuma excludente<br />

ampara o peticionario, tendo<br />

ficado bem caracterizadas as qualificadoras,<br />

eis que ele, por motivo<br />

ratn, ou seja, por Tian concordar<br />

que a vitima namorasse na frente<br />

de sua casa, matou-a a tiros, em<br />

circunstancias que impossibilitaram<br />

a defesa do ofendido, vale direr<br />

corn surpresa.»<br />

As fls. 67/73, assim se manifesta a<br />

Procuradoria-Geral da RepUblica,<br />

em parecer do Dr. Francisco de Assis<br />

Toledo, 2? Subprocurador-Geral:<br />

«Alega-se, em sintese, na inicial,<br />

o seguinte:<br />

nulidade do julgamento pelo<br />

Juni, por defeito na formulacao<br />

do 5? quesito, relativo a semiimputabilidade<br />

do reu;<br />

ainda nulidade do mesmo<br />

julgamento, por omissäo de quesito<br />

relativo a segunda hip:nese<br />

de reducao da imputabilidade, ou<br />

seja, ausencia de indagacao sobre<br />

se possuia, ou nao, o reu a<br />

plena capacidade de autodeterminar-se<br />

(parte final do<br />

§ .unicO do art. 22 do CP).<br />

0 ilustre 2? Vice-Presidente do<br />

Tribunal de Justiea de Sao Paulo<br />

prestou informacOes esclarecendo<br />

os fatos que interessam ao julgamento<br />

do pedido:<br />

0 paciente foi submetido a Jun<br />

e condenado a 14 anos de reclusao<br />

como incurso no art. 121, § 2?, II e<br />

IV, do COdigo Penal, em decisào<br />

mantida, por maioria de votos, em<br />

grau de apelacao e em embargos.<br />

Requereu posteriormente revisao<br />

criminal na qual, alem de impugnar<br />

o merito, arguiu a nulidade do<br />

julgamento por defeituosa redacao


do quesito relativo A semiimputabilidade<br />

e, ainda, porque, a<br />

despeito de serem duas as causas<br />

de reducAo de pena p<strong>revista</strong> no<br />

art. 22, § (inlet), do COdigo Penal,<br />

somente sobre uma delas foi o<br />

questionado.<br />

NA° obteve &ill° (doe. I) e, inconformado,<br />

manlfestou recurso<br />

extraordinario, cujo processamento<br />

foi denegado (doc. II).<br />

Agora, em habeas corpus °Mgtnario,<br />

insiste nas mesmas alegagOes<br />

visando a nulidade do julgamento.<br />

NAo assiste, data venia, razao ao<br />

'lustre impetrante. 0 v. aresto da<br />

E. Seca° Criminal e o respeitavel<br />

despacho denegatOrio do recurso<br />

extremo bem examinaram a est:tide.<br />

Sobre näo ter havido oportuna<br />

reclamaeao da defesa, o quesito<br />

referente A semi-responsabilidade<br />

foi formulado nos termos previstos<br />

no art. 22, § ante°, do COdigo Penal.<br />

Negando-o, os Jurados reconheceram<br />

a plena capacidade do<br />

rEu e nada ha, no quesito, que pudesse<br />

autorizar a conclusào de que<br />

o Conselho de Sentenca quis afirmar<br />

a semi-imputabilidade do<br />

agente.<br />

De outro lado, nAo cuidou o questionArio,<br />

com o beneplAcito da defesa,<br />

de segunda cause de reducAo<br />

da responsabllidade a que se refere<br />

a impetraeão porque nAo oferecida<br />

em plenario e nem amparada<br />

pelo laudo pericial e seus esciarecimentos<br />

posteriores (does. III e<br />

IV).»<br />

(Fls. 31-33).<br />

A formulacAo de quesito em forma<br />

negativa, 6 preconizada por<br />

Nelson Hungria, em seus<br />

ComentArlos, vol. I, tomo 2?, 3?<br />

ed., Nag. 386, para a pericia<br />

medico-legal, In verb's:<br />

R.T.J. — 94 117<br />

2? 0 acusado, ao tempo da<br />

KA° (ou da omissao), nAo<br />

possula, por motivo de perturbaflo<br />

da saude mental ou desenvolvimento<br />

mental incompleto ou<br />

retardado, a plena capacidade de<br />

entender o carater criminoso do<br />

fato ou de determinar-se de acordo<br />

com esse entendimento?»<br />

(Grifamos).<br />

Frederico Marques acolhe a<br />

mesma tecnica, nos formularios<br />

que fez publicar corn sua conhecida<br />

obra, In verb's:<br />

ol? Quesito: 0 Awl reconhece<br />

que o reu..., em virtude de perturbaflo<br />

de saude mental (ou<br />

por desenvolvimento mental incompleto<br />

ou retardado, se for o<br />

caso), nAo possul ao tempo do<br />

crime a plena capacidade de<br />

determinar-se de acordo com o<br />

entendimento do carAter crimlnoso<br />

do fato?<br />

2? Quesito: 0 Jar' reconhece<br />

que o rat', em virtude de perturbacAo<br />

de saude mental (ou por<br />

desenvolvimento incompleto ou<br />

retardado, se for o caso), nAo<br />

possuia ao tempo do crime a plena<br />

capacidade de entender o Carater<br />

criminoso do fato?<br />

ObservacOes: — A afirmativa<br />

de qualquer destes quesitos importa<br />

no reconhecimento da existancia<br />

das circunstAnclas da atenuaeão<br />

de responsabilidade, p<strong>revista</strong><br />

no Calico do art. 22 do Cactigo<br />

Penal.» (Grifamos).<br />

(0 Jfiri no Mtn° Brasileiro,<br />

2? Ed., Saraiva, 1955, ;Mg. 362).<br />

Nota-se, contudo, que, no caso<br />

em exame, o Juiz utilizou-se das<br />

mesmas expressOes mas suprimiu<br />

a indagacAo da parte final do quesito<br />

proposto por Nelson Hungria,<br />

ou de todo o 2? quesito desdobrado,<br />

do formulario publicado por Frederico<br />

Marques, isto 6, precisamente<br />

aquele que deveria perguntar ao


118<br />

R.T.J. — 94<br />

JUri sobre a reducao da capacidade<br />

de autodeterminacao . Essa supressao,<br />

parece-nos fundamental<br />

por ter deixado incompleto o julgamento.<br />

Com efeito, preve o § Calico do<br />

art. 22 duas causas de reducao da<br />

capacidade penal: nao possuir o<br />

agente a plena capacidade de<br />

compreensao do injusto (1? parte<br />

do preceito) ou nao possuir o agente<br />

a plena capacidade de autodeterminacao<br />

(2? parte). A exclusao<br />

da primeira nao implica obviamente<br />

na da segunda, pots uma coisa<br />

saber-se o que se faz, outra e poder<br />

ter o dominio sobre aquilo que se<br />

faz. Ora, a defesa alegou e pediu<br />

conforme consta da ata (f. 12),<br />

fosse reconhecida a semiimputabilidade<br />

do reu. Nada esclarece<br />

a ata sobre o conteildo dessa<br />

alegacao. 0 laudo pericial concluiu<br />

afirmativamente a respeito das<br />

duas hipateses legais, pois afirmou<br />

taxativamente ser o reu semiimputavel,<br />

por Liao possuir ao tempo<br />

do crime a plena capacidade de<br />

entendimento (f. 64) e esclareceu,<br />

na Ultima resposta (f. 61), que sua<br />

conduta foi «automatica», por alterack,<br />

do estado da consciencia».<br />

Estava, pois, com a capacidade reduzida,<br />

segundo se infere, seja por<br />

uma, seja por outra das hipOteses<br />

legais. Cumpria, portanto, ao juiz<br />

formular quesitos aos jurados sobre<br />

questOes tab importantes para<br />

o julgamento do reu.<br />

E certo que os jurados rejeitaram<br />

o laudo quanto a primeira hip6tese<br />

(reducao da capacidade de<br />

compreensao do injusto), ao responder<br />

o 5? quesito. Todavia, nao<br />

Ihes tendo sido formulada qualquer<br />

indagacao a respeito da segunda<br />

hipOtese (reducao da capacidade<br />

de autodeterminacao), como preconiza<br />

Frederico Marques no formulario<br />

citado, nao se sabe qual<br />

teria sido a resposta de tao imprevisivel<br />

Conselho de Sentenca —<br />

que rejeita ate laudos medicos — a<br />

essa segunda indagacao, a nosso<br />

ver obrigatbria diante do que dispee<br />

os arts. 484, III, e 564, §<br />

do CPP.<br />

Estamos de acordo com o v.<br />

acOrdao de fls. 16/20 quando afirma<br />

que o Jari, na sua soberania,<br />

nao esta obrigado a acatar a prova<br />

tecnica. Concordamos, ainda, com<br />

a existencia de incongruencias no<br />

laudo, apontadas nesse mesmo julgado.<br />

Mas, tats circunstancias em<br />

nada afastam a alegada deficiencia<br />

de quesitos que, por zonstituir<br />

nulidade absoluta, nao poderia sofrer<br />

sequer os efeitos da preclusao.<br />

Diga-se para concluir, que, se o<br />

legislador estabeleceu causas de<br />

reducao da responsabilidade penal<br />

e se, na espacie, ha laudo pericial<br />

apontando a existencia delas, o<br />

minimo que se poderia exigir de<br />

um julgamento, para que fosse pelo<br />

menos completo, a que tivesse<br />

decidido, claramente, de forma induvidosa,<br />

se aceitava, ou nao, no<br />

caso concreto, a existencia dessas<br />

causas. Do contrario, estar-se-ia<br />

condenando o reu, ao arrepio da lei<br />

e de laudos periciais, por uma indesejavel<br />

influencia de evidentes<br />

deficiencias procedimentais.<br />

Por todo o exposto, parece-nos<br />

que a melhor solucao para o caso<br />

a que foi defendida pelo ilustre Desembargador<br />

Cavalcanti Silva, em<br />

seu voto vencido, referido no ac6rdao<br />

dos embargos infringentes, ou<br />

seja, mandar o reu a outro julgamento,<br />

gapOs novo exame psiquiatrico»<br />

(f. 17).<br />

Esse, data yenta, e o nosso parecer,<br />

pelo que entendemos deva ser<br />

concedida a ordem exclusivamente<br />

para ta] fim.»<br />

8 o relatbrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr.: Minlstro Moreira Alves (Relator)<br />

— 1. Como observa o parecer


da Procuradoria-Geral da RepUblica,<br />

corn base nas 1ic6es de Nelson<br />

Hungria e Frederico Marques, ndo<br />

procede a primeira nulidade invocada<br />

pelo impetrante, segundo a qual o<br />

quesito relativo A capacidade de entendimento<br />

do reu, por ter sido formulado<br />

em forma negativa, acarretaria<br />

dOvida quanto ao sentido da<br />

resposta, quer fosse ela WI°, quer<br />

fosse slim Alias, quando se nega<br />

uma negativa, afirma-se; e quando<br />

se afirma o que se negou, confirmase<br />

a negativa. NAo ha &A rida alguma<br />

a esse respeito; daf, ser a formulack'<br />

adotada no caso a preconizada<br />

pela doutrina.<br />

2. Quanto A segunda nulidade invocada<br />

— a da omissao de quesito relativo<br />

A segunda hipMese de reducdo<br />

da .pena por semi-imputabilidade, ou<br />

seta, ausëncia de indagacAo sobre se<br />

possuia, ou nä°, o reu a plena capacidade<br />

de determinar-se de acordo<br />

corn o entendimento do carAter criminoso<br />

do fato (2? parte do parAgrafo<br />

(micro do artigo 22 do COdigo Penal)<br />

— tamirdn ela 6 improcedente,<br />

nflo obstante o apoio que the dA o parecer<br />

da Procuradoria-Geral da Republica.<br />

Corn efeito, a defesa, como se ye<br />

da ata da sessdo do jud, se limitou<br />

«ao reconhecimento do delito imputado<br />

ao reu, afastamento das qualificadoras<br />

e a aceitacdo do laudo que<br />

conclui ser o reu semi-imputAvel». 0<br />

laudo, por sua vez, ao responder aos<br />

quesitos da acusacao, que separava<br />

as duas hipOteses de semiimputabilidade,<br />

A pergunta «apresentava<br />

o paciente, ao tempo da<br />

acão, pertubacdo da sattde mental,<br />

em qualquer das quatro hipOteses<br />

clinlcas?», respondeu: «sim» • mais<br />

adiante, A indagacdo «por causa dessa<br />

perturbacdo o paciente ndo possuia,<br />

ao tempo da acdo, a plena capacidade<br />

de entender-lhe o carAter<br />

cr1minoso?», respondeu: «frac' possuia»;<br />

e, logo em seguida, A pergunta<br />

«Por causa dessa perturbacão 0<br />

— 94 119<br />

paciente nä° possuia, ao tempo da<br />

acdo, a plena capacidade de<br />

determinar-se segundo esse entendimento»,<br />

respondeu: «prejudicado»<br />

(f. 60). Isso foi reafirmado no oficio,<br />

dirigido ao Julz, em que os peritos<br />

esclareceram dtividas suscitadas pelo<br />

laudo. Nesse ofido, 16-se (f. 64):<br />

«5 — 0 paciente, em virtude de<br />

perturbacdo da sa0de mental, s6<br />

possuia, ao tempo do crime, parcial<br />

capacidade de entender o carater<br />

criminoso do fato que praticou?<br />

Resp. 0 paciente, em razdo de<br />

perturbacdo de saade mental, ndo<br />

possuia, ao tempo do crime, a plena<br />

capacidade de entender o cartter<br />

criminoso do fato que praticou.<br />

6 — 0 paciente, em virtude de<br />

perturbacdo da sa0de mental, s6<br />

possuia, ao tempo do crime, parcial<br />

capacidade de determinar-se<br />

de acordo coma entendimento que<br />

tinha do carAter criminoso do fato<br />

que praticou?<br />

Resp. Prejudicado.»<br />

Portanto, a inequivoco que o laudo<br />

conduit' pela inexisténcia, no caso;<br />

da plena capacidade do reu de entender<br />

o carAter criminoso do fato, o<br />

que excluia, obviamente, a segunda<br />

causa de reducdo facultativa da Pen<br />

a (a plena capacidade de<br />

determinar-se de acordo corn o entendimento<br />

do carAter criminoso do<br />

fato), que pressupee que se possa<br />

entender o carAter criminoso do fato.<br />

Por isso mesmo, a que, ao quesito<br />

da presenca dessa causa, a resposta<br />

fol «prejudicado». AssIm entendeu,<br />

tamb6m, o juiz, que formulou, entdo,<br />

para os jurados o quesito relativo A<br />

conclusdo do laudo, que estancou na<br />

primeira causa de reducdo facultativa<br />

da pena, excludente que a da segunda.<br />

E assim tambèrn o entendeu<br />

a defesa, que nä° protestou, na ocasift<br />

oportuna, contra qualquer deficiëncla<br />

dos quesitos, e, na apelaqdo


120<br />

e nos embargos infringentes, igualmente<br />

nada alegou a respeito.<br />

Ora, os quesitos se formulam em<br />

face dos termos em que 6 posta a defesa,<br />

e se esta mesma entende que<br />

eles atendem ao fim a que ela visa,<br />

tanto assim que net) protesta contra<br />

qualquer omissao, o seu silOncio, no<br />

minimo, concorrerA para ensejar nu-<br />

Made que a favorece, sendo apneavel,<br />

portanto, ao caso, o disposto no<br />

artigo 565 do C6digo de Processo Penal,<br />

como acertadamente salientou,<br />

a esse respeito, o acOrdao do Tribunal<br />

de Justice do Estado de See Paulo,<br />

ao julgar a revisao criminal.<br />

R.T.J. — 94<br />

Observo, por outro lado, que, ao<br />

contrario do que se afigurou ao parecer<br />

da Procuradoria-Ge ral da Reptlblica,<br />

o Conselho de Sentence, ao rejeitar<br />

o laudo pericial, nao o fez p<br />

ser imprevisivel, tanto assim queor<br />

Tribunal de Justice do Estado de<br />

Sao Paulo, ao julgar os embargos Infrigentes,<br />

examinou a questa° de decisao<br />

tomada contra a evidOncia dos<br />

autos, e a repeliu, nestes termos:<br />

«No caso em tela, os experts descreveram<br />

um individuo com caracteres<br />

normais, nao havendo qualquer<br />

referOncia a traco temperamental<br />

de um epileptic°.<br />

E tanto Liao bastasse, o epiléptico<br />

somente este isento de pena<br />

quando o crime 6 cometido como<br />

uma manifestacao epiléptica.<br />

Esta circunstancia foi admitida<br />

pelos peritos ao assinalarem que<br />

as manifestacdes epilepticas que<br />

suprimem por inteiro a capacidade<br />

do paciente, sac) de carAter temporArio.<br />

Conseqiientemente se impunha<br />

que o laudo concluisse haver o embargante<br />

cometido o delito quando<br />

se encontrava corn sua capacidade<br />

de entendimento abolida, quer por<br />

estar em crise epiltptica, quer por<br />

haver o delito se seguido imediatamente<br />

a uma crise, quer por se encontrar<br />

em estado crepuscular do<br />

campo da conscitncia. 0 laudo e o<br />

esclarecimento net) contem a mais<br />

leve mencao a estas circunstancias.<br />

Dai porque inaceitAvel a conclusao<br />

pericial, quer da total, quer<br />

da partial irresponsabilidade do<br />

embargante.<br />

Paralelamente, os informes prestados<br />

pelas testemunhas sao no<br />

sentido de que este nunca apresentou<br />

sinal de perturbacao mental<br />

durante nove anos que morou na<br />

casa de Natalia Peralta Monte da<br />

Paixdo ( f. 66), nunca demonstrou<br />

ser nervoso ou pancada ( f. 68),<br />

submeteu-se a exame de pesquisa<br />

social e medico para ingressar na<br />

extinta guarda-civil, nada se apurando<br />

quanto a sua personalidade<br />

ou uma possivel enfermidade mental<br />

(f. 135 v.), nap se envolvla em<br />

brigas ou discussOes e nem cometia<br />

arbitrariedade, sendo pessoa<br />

calma (f. 136), era disciplinado e<br />

bom policial (f. 136 v.) e apenas<br />

apresentou queixas difusas de nervosismo,<br />

mas nunca solicitou seu<br />

internamento (f. 145).<br />

0 embargante, portanto, duracte<br />

longos anos, nao manifestou temperamento<br />

e nem tracos que indicassem<br />

carAter epilepticos. Tambem<br />

ciao ha qualquer noticia de paroximos<br />

e convulsees reveladoras<br />

da epilepsia em sua forma conhecida<br />

como «grande mal».<br />

Diante deste quadro probathrio,<br />

levando-se ainda em contra a manifesta<br />

incongruencia, incoer6ncia<br />

e ausencia de fundamentacao do<br />

lauo pericial, o 'Rut repelindo a<br />

pretendida semi-imputabilidade,<br />

nao decidiu manifestamcpto contra<br />

a prove dos autos» ( fls. f9-20).<br />

3. Em face do exposto, indefiro 0<br />

presente habeas corpus.


EXTRATO DA ATA<br />

HC 57.046 — SP — Rel., Min. Moreira<br />

Alves. Pacte.: Claudio Heraclito<br />

Valentim Coca (Impte.: Joaquim<br />

Reis Martins Cruz). Aut. Coatora:<br />

Tribunal de Justica do Estado de<br />

SA° Paulo.<br />

Decistio: Indeferido o pedido, a<br />

unanimidade de votos.<br />

R.T.J. — 94<br />

121<br />

Presidencia do Sr. Ministro piaci<br />

— Presentes a Sessdo os Srs.<br />

Ministros Leitdo de Abreu. Cordeiro<br />

Guerra, Moreira Alves e Decio Miranda.<br />

— 5? Subprocurador-Geral da<br />

Repttblica, o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 5 de Junho de 1979. —<br />

Hello Francisco Marques, Secretario.<br />

RECURSO DE HABEAS CORPUS N? 57.170 — SC<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Djaci<br />

Recorrente: Pedro Luiz Gonsalves — Recorrido: Tribunal de Justica do<br />

stado.<br />

Prontincia por infracalo do art. 121, I 2?, incs. I e III, do COdigo<br />

p enal. Acerto do acerchlo recorrido, que denegou a ImpetracAo. Err&<br />

nea a concessAo ex officio de habeas corpus, por considerar caracterizada<br />

a figura do latmcinio, desde que decretou contra o reu nulidade<br />

nAo argOida pela acusacAo (SUmula 160).<br />

Recurs() ordinitrio provido em parte.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

utos, acordam os Ministros da Seunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

ederal, na conformidade da ata do<br />

lgamento e das notes taquigrafias,<br />

por unanimidade de votos, dar<br />

rovimento parcial ao recurso nos<br />

rmos do voto do Relator.<br />

Brasilia, 3 de agosto de 1979. Mad<br />

alcAo, Presidente e Relator.<br />

RELATORIO<br />

O Sr. Ministro Mad FaIclio —<br />

ern o seguinte contendo a decisão<br />

jeto deste recurso:<br />

«Habeas corpus. Carencia de<br />

prova da autoria. Rau pronunciado<br />

que pretende aguardar o Julgamento<br />

do Juni em liberdade.<br />

Denegacdo da ordem.<br />

Concessao de habeas corpus de<br />

°Bch), face a decretacão da null-<br />

dade da sentenca, lavrada por<br />

Juiz incompetente, por ser o crime<br />

narrado na denancia de latrocinio<br />

e flat) de homicidio quailficado.<br />

Aplicacdo do art. 108, §<br />

1?, c/c o art. 410, ambos do CPP.<br />

Havendo indicios da autoria do<br />

crime, e o rau estando ausente do<br />

distrito da culpa, em lugar de endereco<br />

desconhecido, Justifica-se<br />

a decretacdo de sua prisdo para<br />

a garantia da aplicacdo da lei penal<br />

e conveniencia da instrucdo<br />

criminal, pots sua fuga frustra o<br />

procedimento criminal a que responde<br />

e impede seu Julgamento<br />

perante o Tribunal do Aug.<br />

O agente que mata e confessa<br />

que assim procedeu porque queria<br />

o dinheiro que a vitima ndo<br />

the dera espontaneamente, e<br />

apes tirar-Ihe a vida, ato<br />

continuo, despoja-a de todo o numerario<br />

que trazia nos bolsos,


122<br />

B.T.J. — 94<br />

pratica o delito de latrocinio e<br />

nAo homicidio.<br />

Quando o juiz se convencer, em<br />

discorancia corn a classificacao<br />

dada na peca exordial, da existencia<br />

de crime que ndo seja da<br />

competencia do Tribunal do Juni,<br />

deverA proceder na conformidade<br />

do que disp6em o art. 108, §<br />

1?, art. 408, § 4? e art. 410, todos<br />

do CPP. Se ao inves, lavra a sentenca<br />

provisional, nulifica esse<br />

julgamento, ex vi do estatuido no<br />

art. 564, I, c/c o art. 567, ambos<br />

da lei processual penal.<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos de Habeas Corpus n?<br />

6.056, da comarca da Capital (1?<br />

Vara), em que é impetrante o Dr.<br />

José de Brito Andrade, sendo paciente<br />

Pedro Luiz Goncalves:<br />

Acordam, em Segunda CAmara<br />

Criminal, a unanimidade, denegar<br />

a ordem pelos fundamentos da impetracAo<br />

e conceder habeas corpus<br />

de oficio, para anular a sentenca<br />

de pronfmcia e determinar que se<br />

proceda de acordo corn Cod<br />

108, § 1? e 410, ambos do Cedigo de<br />

Processo Penal.<br />

Custas, na forma da lei.<br />

Trata-se de uma ordem de<br />

habeas corpus impetrada pelo Dr.<br />

Jose de Brito Andrade, em favor<br />

de Pedro Luiz Goncalves, pronundada<br />

pelo MM Juiz da 1? Vara Criminal<br />

da Capital, como incurso nas<br />

sancees do art. 121, § 2?, incises I e<br />

III, do Codigo Penal.<br />

Postula-se, na impetracão, o seguinte:<br />

0 processamento do recurso<br />

em sentido estrito aforado contra a<br />

pronüncia, corn o reu em liberdade;<br />

0 exame "do merito da causa<br />

em que pontifica a ausencia absoluta<br />

de prova da autoria do crime,<br />

imputado ao pacientett, e, finalmente,<br />

3. 0 beneficio da Lei Fleury.<br />

Coral vista dos autos, a douta<br />

Procuradoria-Geral do Estado, em<br />

parecer oral, opinou pela denegacAo<br />

da ordem, pelos fundamentos<br />

da impetracao, opinando, entretanto,<br />

em parecer escrito, pela concessdo<br />

de habeas corpus de oficio,<br />

para anulacão da sentenca de pronOncia,<br />

porque lavrada por juiz incompetertte.<br />

Exam inando o pedido, na ordem<br />

das alegacOes aduzidas, deve o<br />

mesmo ser denegado, pelas raz6es<br />

seguintes:<br />

NAo haver amparo legal para<br />

o processamento do recurso em<br />

sentido estrito da sentenca de pronUncia,<br />

sem que o paciente seja<br />

pessoalmente intimado da provisional<br />

(art. 414 CPP) e se recolha a<br />

prisão (art. 585 CPP).<br />

NA° ser cabivel o exame valorativo<br />

da prova para a pretendida<br />

inadmissão de prova da autoria do<br />

delito, ja que a acão penal contem<br />

indiclos de que o paciente e o autor<br />

do crime pelo qual estA sendo processado,<br />

traduzidos na confissäo<br />

extrajudicial — embora retratada<br />

em juizo — esteada em outros elementos<br />

circunstanciais extraidos<br />

do exame e levantamento do local<br />

do crime (fls. 36 e seguintes), do<br />

auto de exame cadaveric° (fls. 22 e<br />

seguintes) e o registro das assertivas<br />

das testemunhas Zelita Goncalves<br />

e MariMeta Silva de Jesus<br />

(f. 178), que, embora colhidas sem<br />

as formalidades legais, não podem<br />

ser sumariamente descritas, porque<br />

prestadas perante urn magistrado<br />

idOneo e digno, sob todos os<br />

titulos.<br />

3.Igualmente, imerece o paciente<br />

o benericio pretendido de respon<br />

der sotto ao processo, nos termos<br />

do art. 408, § 2?, corn a redacdo da<br />

da pela Lei n? 5.941, de 22.11.73. E<br />

que, inobstante primArio e de bon<br />

antecedentes, o paciente evaditt-s


do distrito da culpa, corn flagrante<br />

violactio do estatuido no art. 369 do<br />

Ctkligo de Processo Penal, estando,<br />

atualmente, segundo o dizer do impetrante,<br />

na cidade de SAo Paulo,<br />

em endereco desconhecido.<br />

Corn essa fuga, o reu esta frustrando<br />

o normal desenvolvimento<br />

do procedimento criminal contra<br />

ele instaurado, pelo que, para garantia<br />

de aplicacAo da lei penal, e<br />

por conveniencia da instrucao criminal,<br />

bem andou o magistrado de<br />

1? grau, ao decretar-the a prisAo,<br />

corn o que, alias, aflnou-se corn a<br />

jurisprudëncla desta Casa<br />

(Jtnisprudencia Catarinense, vol.<br />

18/304 — HC n? 5.761, de Lages) e<br />

tambem do Colendo Supremo Tribunal<br />

Federal (RHC 54.965, de Sao<br />

Paulo — DJU — 11.3.77, pag. 1.324<br />

e RHC 5.633, de SP — DJU —<br />

16.6.78, pig. 4.895).<br />

Entretanto, a ordem 6 de ser<br />

concedida, de oficio, pelas juridicas<br />

razOes expostas pela douta<br />

Procuradoria-Geral do Estado, em<br />

parecer da lavra do Dr. Ayres Cesari°<br />

Pereira, as quaffs vAo adiante<br />

transcritos, e a Camara adota-as<br />

como razAo de decidir: «A ordem,<br />

a nosso ver, 6 de ser deferida, mas<br />

em decorrëncia de nulidade partial<br />

da acAo penal, que atingindo<br />

inclusive a prontincia — ponto de<br />

origem do pretenso constrangimento<br />

ilegal — torn prejudicados os<br />

fundamentos da impetraflo.<br />

— Procedendo-se ao exame<br />

dos autos requisitados, observa-se<br />

que a denfmcia descreve o fato delituoso<br />

do seguinte modo:<br />

O denunclado conhecia a vitima<br />

Lauro SimAo, vulgo `Juquinha',<br />

pederasta passivo, a quern luxuriava,<br />

recebendo Cr$ 20,00, por ato sexual.<br />

As 21 horas do dla 31 de Julho<br />

de 1974, a vitima encontrou o denunciado<br />

e 0 convidou para manterem<br />

o congresso anal, pelo preco<br />

acima e mats Cr$ 15,00 que the de-<br />

R.T.J. — 94<br />

123<br />

via de um ato anterior. Chegando a<br />

urn local ermo, antes da cOpula, o<br />

denunciado exigiu o pagamento<br />

adiantado, fato que gerou discussAo<br />

Em pleno aterro da bale sul,<br />

perto da nova ponte, o denunclado<br />

armou-se de urn pau e desferiu, entao,<br />

varlos golpes no corpo e cabeca<br />

da vitima, ate que esta caiu<br />

quase desmalada. NA° satisfelto, o<br />

denunclado tirou spa cinta da calve<br />

e enlacou o pescoco de Juquinha,<br />

passando a aperta-lo, enquanto<br />

este gemia e implorava que parasse,<br />

parando ao rebentar a cinta.<br />

Cruel e desumano, encheu a boca<br />

de Juquinha de areia cobrindo depois<br />

sua cabeca, s6 nAo enterrando<br />

o corpo porque a areia era dura.<br />

Apes o crime, passou a <strong>revista</strong>r os<br />

pertences da vitima, se apropriando<br />

em cerca de Cr$ 100,00 que a<br />

mesma tinha em seu poder'.<br />

«Tal versa() — robustamente all-<br />

cercada nas declaracOes do proprio<br />

paciente e de duas testemunhas<br />

presenciais, colhidas no in-<br />

querito (fls 78-79v, 83 e 90), bem<br />

como nos laudos de exame cadaverico<br />

e de levantamento do local do<br />

delft° — mereceu, por parte do OrgAo<br />

denunciante, o enquadramento<br />

no art. 121, § 2°, !tens I, II e III, do<br />

C6digo Penal, motivo este que, presumidamente,<br />

levou o MM. Julz a<br />

imprimir ao processo o rito estabelecido<br />

para o julgamento pelo Tribunal<br />

do ari, donde sobreveio, fi<br />

nalmente, a provisional de fls. que,<br />

mesmo sem modificacAo probate-<br />

ria quanto ao evento em si, ratificou<br />

a configuracAo do homicidio,<br />

desacolhendo apenas a qualificadora<br />

do molly° Mil.<br />

«II — Denota-se, desde logo, que<br />

a inicial acusateria apresenta evidente<br />

colisào entre a capitulacAo<br />

adotada e a narracAo do acontecimento<br />

Welt% pots, enquanto a pHmeira<br />

considera violadas<br />

certas disposic6es legais pertlnentes<br />

ao homicidlo qualificado, a se-


124<br />

R.T.J. — 94<br />

gunda, conjunturalmente, estampa<br />

urn latrocinio, que a urn crime<br />

complexo — previsto no art. 157, §<br />

3?, do COdigo Penal — no qual a<br />

morte nao passa de meio utilizado<br />

para a consecucao do real escopo<br />

do agente ativo: a subtracäo do patrimanio<br />

da vitima.<br />

«Por oportuno, convem lembrar<br />

que esta Colenda Camara, em<br />

acerden da lavra do eminente Desembargador<br />

Francisco May Filho,<br />

assim ja decidiu:<br />

`Mesmo que se admita como<br />

verdadeira a afirmac ão do reu<br />

e que nao tinha a intenceo de<br />

rroubar,<br />

se apOs matar a vitima,<br />

ato continuo, despoj a-a dos seus<br />

haveres, caracter izou-se o dein°<br />

de latroci' nio(in Jurisprutiência<br />

Catarinense, vol. 15/16, pag• 437).<br />

«III — Ora, sendo <strong>jurisprudencia</strong><br />

uniforme dos <strong>tribunal</strong>s patrios que<br />

`ern nosso COdigo de Processo Penal<br />

prevalece o sistema de que a<br />

acusacao se forma corn o fato descrito<br />

e nao com o fato classificado<br />

na dein:meta ou libelo', a contradida<br />

aludida peca imp6e-se resolvida<br />

em favor da imputacao<br />

pormenorizadamente narrada, ou<br />

cuja, pela adocao do latrocinio, inserido<br />

no diploma repressivo, sob<br />

o titulo `dos crimes contra o patrirwanio',<br />

cuja competenc ia 6 da jurisdicao<br />

singular, conforme orientacao<br />

Pacifica do Supremo Tribunal<br />

Federal, preconizada atraves<br />

de inameros arestos, dentre os<br />

quals destacamos:<br />

Latrocinio: Seu julgamento<br />

pelo juiz singular, e nao pelo<br />

Motivacao.<br />

No art. 157, § 3?, do C6d.<br />

Pen., definiu-se a figura do latrocinio,<br />

cuja caracteristica essencial<br />

e o roubo com morte.<br />

Crime contra o patrimenio,<br />

em que o elemento dominante e o<br />

roubo, nao o descaracteriza o<br />

evento morte, dolosa, culposa ou<br />

preterintencional, injustifica ndo<br />

to pelo-se,<br />

assim, seu julgamen<br />

jüri, limitado aos crimes dolosos<br />

contra a vida, ou seja, aos que<br />

assim define o citado Estatuto<br />

Penal.<br />

IV. Precedentes do Supremo<br />

Tribunal Federal.<br />

Indeferimento' . (HC n? 49.276<br />

— AM, Segunda Turma — Rel.:<br />

Min. Thompson Flores, in RTJ<br />

60/665).<br />

EMENTA: Habeas corpus —<br />

Latrocinio — Competencia.<br />

Se na pratica do roubo ficou<br />

consumado o homicidio, estara<br />

sempre tipificado o crime de latrocinio,<br />

pouco importando se<br />

houve ou nao efetiva subtracao<br />

do bem patrimonial, sendo a<br />

competencia para o processo e<br />

julgamento do juizo singular,<br />

conforme reiterada <strong>jurisprudencia</strong><br />

do Supremo Tribunal Federal.<br />

Precedentes: RCr n? 84.591 e<br />

MS n? 56.171 — Habeas Corpus<br />

indeferido' (HC 56.704-5-SP —<br />

Rel.: Min. Cunha Peixoto, Primetra<br />

Turma, ac. un. de 20.2.79,<br />

in WU de 23.3.79, pag• 2.100).<br />

«IV — Conseqiientemente, inexiste<br />

a mais leve davida de que a<br />

ace° penal promovida contra o paciente<br />

esta contaminada de nulidade<br />

insanavel, inscrita no art. 564,<br />

inciso I, do C6digo Penal, porquanto<br />

indevidamente foi adotado, no<br />

essamento, como se disse<br />

linhas a rAma, o r o es<br />

para o posterior veredito do Tribunal<br />

Popular.<br />

«Alias, em hipotese semelhante a<br />

presente, a Primeira Turma do<br />

Excelso Pret6rio concedeu habeas<br />

corpus para, anulando decisao proferida<br />

pelo Juni, determinar fosse<br />

o paciente julgado pelo juiz singular<br />

(RTJ 41/130), corroborando,


dessa forma, antigo pronunciamento,<br />

endossado por Eduardo Espinola<br />

Fllho (COdigo de Processo Penal<br />

Brasileiro Anotado, vol. V, P ed.,<br />

n? 1.161, ;Mg. n? 464), em que afirmou<br />

'constituir sempre materia de<br />

ordem pftblica a nulidade por incompeténela<br />

do julzo, no crime',<br />

devendo, por isso, 'ser decretada,<br />

embora sem prove de prejulzo, remetldo<br />

o processo ao julz competente',<br />

onde prosseguira, nos termos<br />

do art. 108 da lei adjetiva,<br />

ap6s ratificados os atos probat6rios.<br />

«Trata-se, como se ye, de nulidade<br />

absolute, declaravel ex officio,<br />

que nao convalesce pelo silancio ou<br />

concordancia das panes, consoante<br />

se depreende da llcAo de Florando<br />

de Abreu: 'as quest6es de ordem<br />

competencial sae), mint, eminentemente<br />

de ordem pUblica, rift°<br />

tolerando transacao ou acordo das<br />

panes, tendentes a admitir juiz incompetente<br />

na cause. Dal a nulidade<br />

dos atos praticados por juiz incompetente,<br />

cumprindo ao juiz superior<br />

decreta-la, tenba ou Mo havido<br />

argalello de qualquer das partes'<br />

(in Comentarlos ao akligo de<br />

Processo Penal, vol. V, ed. 1945,<br />

pag. 54)».<br />

Ressalte-se, por Ultimo, em abono<br />

da solucao acima preconizada,<br />

conforme decidiu o Colendo Supremo<br />

Tribunal Federal que «0 habeas<br />

corpus 6 0 melo judicial apto<br />

para suseiter a incompetancia absolute<br />

do julz. Embora o paciente<br />

nä.) esteja preso, o procedimento<br />

criminal, pelo sequlto de gravames<br />

que acarreta ao acusado, importa<br />

em restricäo de sua liberdade de it<br />

e yin> (RCr nnmero 56.873, SP —<br />

DJU — 19.4.79, plg. 3.063).<br />

A incompetência do Juizo, expressamente<br />

proclamada, anula<br />

somente os atos deciserlos (art. 567<br />

do CPP) e merce da nova classificacao<br />

do crime narrado na demln-<br />

R.T.J. — 94<br />

125<br />

cia, que tipifica o delito do latroclnio,<br />

imp:le-se a anulacao do<br />

p rocesso, a partir da pronUncia,<br />

devendo o MM Juiz, proceder na<br />

forma do que dispeem o art. 108, §<br />

1?, combinado com os arts. 408,<br />

4? e 410, todos da lei processual<br />

penal.<br />

E, como a ordem de prisão contra<br />

o reu decorria da sentence de<br />

pronuncla contra ele lavrada, deve<br />

em seu favor ser expedido o comp<br />

etente alvara de soltura, se por<br />

outro motivo nao estiver preso.<br />

Florian6polis, 26 de abril de 1979.<br />

Presidente. Relator» (fls. 18 a 26).<br />

O recorrente, ap6s tecer consideracties<br />

sobre a decistio, conclul textualmente:<br />

«Ante o exposto, Excelancia,<br />

vem o signaterio requerer a reforma<br />

total do v. acOrdao do Tribunal<br />

a quo, ou seja: a) considerar procedente<br />

o pedido origin/trio para o<br />

fim de o Tribunal Estadual determiner<br />

nibble do recurso em sentido<br />

estrito, apreciando-o independentemente<br />

da prisao do paciente;<br />

b) reformat' o deelsOrio a quo no<br />

que diz respell!) 6 nulidade da pronfmcia<br />

para que outro julgamento<br />

se fizesse pelo juizo singular, por<br />

entender capitulada a infraeao como<br />

crime de latroelnio, quando<br />

nao 0 6, segundo se demonstrou linhas<br />

titres, por ser medida de direito<br />

e justice." (f. 38)<br />

Manifestou-se o Minlstario Pnblico<br />

local pelo Improvimento ao recurs()<br />

(fls. 54 a 56).<br />

Apes relating° sobre o caso, diz o<br />

p arecer do Dr. Alvaro Augusto RIbeiro<br />

Costa, a provado pelo<br />

Subprocurador-Geral Francisco de<br />

Assis Toledo:<br />

«Dal, o apelo de fls. 33/38, que<br />

suscita duas teses. A primeira, no<br />

sentldo de que a anulacao da pronancia<br />

impllcou em reformatio in<br />

pejus; a segunda, sustentando que


R.T.J. — 94<br />

126<br />

officio, por isso que o recurso ordinario<br />

de habeas corpus somente<br />

e admissive! das decisOes<br />

denegathrias proferidas pelos<br />

Tribunais Federais ou Tribunals<br />

dos Estados, consoante estabelecem<br />

os arts. 119, inc. II, letra c,<br />

da Constituicäo Federal, e 289, do<br />

RI desse Excelso Pret6rio.»<br />

10. Nao se nos afigura proceden yenta, a preliminar acima<br />

-te, data<br />

colocada.<br />

—«Diante da faculdade cone- 11.0 que fez o acarclao recorridida<br />

ao juiz pelo art. 408, § 2'. ,do do, quanto ao ponto, foi decretar,<br />

COdigo de Processo Penal e por- contra o reu, nulidade nä° arguida<br />

que subsistem as razOes pelas pela acusacao . Incide no particuquais<br />

decretada a prisao preven- lar, em conseqiiencia, a &maga<br />

tiva do acusado (v. f. 108), por lea<br />

nao ter o acusado continuado as 12. A aplicacao do aludido verbe-<br />

apresentacOes de para exames to — preciso ressaltar — nä° imsuasdea<br />

fim constatar-se<br />

de sua inte- plica em negar-se o acerto da tese<br />

gridade mental, indo para lugar adotada pelo aresto recorrido, afir-<br />

incerto e nä° sabido, segundo<br />

inmando a compethncia do juiz sin-<br />

forma<br />

dos seus defensores, fe gular, no caso, eis que caracterizadecret<br />

o-the a prisào, determinando se acha o latrocinio . For isso,<br />

do que se expeca contra o mesmo nao sendo admissivel o modo atras<br />

andado de prisáo, remetendo- yes do qual a incomPetOncia do jfi-<br />

e capia Polinter, expedindo-se ri foi proclamada — eis que impor crecathria corn a mesma<br />

nada<br />

arta p<br />

tou em reformatio in pejus —<br />

finalidade Comarca de Tijuimpede que, ao ser o paciente jul-<br />

cas/SC, onde talvez possa ser enggado ado pela torte popular, ' venha a<br />

contrado através de seus pals ser felta a necesaria<br />

desclassifique<br />

residem na localidade de No- cacao, mediante s a adequada forva<br />

Descoberta naquele municiPio mulacäo do questionario e eventual<br />

e Comarca» .<br />

incidencia da regra contida no § 2?<br />

do art. 492 do Cedigo de Processo<br />

0 impetrante admite que o pa-<br />

ciente se encontra ern lugar inter- Penal.<br />

to e nao sabido; em outras path-<br />

13. Em face do exposto, sugerivras,<br />

foragido. n o quanto basta, a mos o parcial provimento do recurnosso<br />

ver, para que se entenda jusso,<br />

a fim de que seta anulado o<br />

tifica cut6dia cautelar, no ca- acerclao de fls. 18/26, na parte em<br />

so, le vando- da a<br />

s o paciente, por ser primario e de<br />

bons antecedentes, f az jus ao beneficio<br />

de recorrer contra a promincia,<br />

sem necessidade de se recolher<br />

a prisäo.<br />

De logo, desmerece acolhimento,<br />

a nosso ver, a segunda tese.<br />

Na sentenca de pronfincia,<br />

encontra-se o tOpico abaixo colacionado:<br />

se em conta, tambem, que decretou nulidade mar) argilida<br />

os motivos assinalado s na pronfm- pela acusacao.» (fls. 63 a 66)<br />

cia.<br />

Quanto a argOida reformatioVOTO<br />

in pejus, o parecer de fls. 54/56<br />

suscita uma questa°, in verbis: 0 Sr. Ministro Djaci Falcão (Relator):<br />

Com acerto, o acerclao indefe-<br />

«Preliminarmente, argilimos a<br />

riu o pedido, dada a inviabilidade do<br />

impropriedade do remedio eleito reexame de prova da autoria do deli-<br />

para a apreciacao da parte relato,<br />

bem assim consideracao de<br />

tiva a concesstio da ordem ex


clue, nas circunstAncias do caso, tido<br />

tern amparo legal o processamento<br />

do recurso em sentldo estrito da sentenca<br />

de pronfincia, corn o reu em 11berdade.<br />

A sentenca de pronUncia<br />

assinalou que subsistiam as razoes<br />

do decreto de prisAo preventiva,<br />

acentuando que o reu deixara de se<br />

apresentar em julzo para submeterse<br />

a exame de sanidade mental,<br />

encontrando-se foragiclo.<br />

No entanto, a concessao ex officio<br />

do habeas corpus, para decretar contra<br />

o rtu nulidade nAo argilida pela<br />

acusacao, esta a merecer reparo,<br />

nos termos da Sfuntzla NO, in verb's:<br />

E nula a decisAo do Tribunal<br />

que acolhe, contra o reu, nulidade<br />

nAo argilida no recurso da acusacAo,<br />

ressalvados os casos de recurso<br />

de oficio».<br />

Diante do exposto e acolhendo o<br />

parecer da Procuradoria-Gera' da<br />

Republica, dou provimento parcial<br />

R.T.J. — 94<br />

EXTRATO DA ATA<br />

127<br />

ao recurso, para anular a decisão,<br />

na pane em que decretou a nulidade<br />

da sentenca de pronUncia.<br />

RHC 57.170 — SC — Rel.: Min.<br />

Djaci FalcAo. Recte.: Pedro Luiz<br />

Goncalves (Adv.: Josè de Brito Andrade).<br />

Recdo.: Tribunal de Justica<br />

do Estado.<br />

DecisAo: Provido parcialmente nos<br />

termos do voto do Relator. Uniinime.<br />

PresidAncia do Sr. Ministro Djaci<br />

FalcAo — Presentes a Sessão os Srs.<br />

Ministros Leitilo de Abreu, Cordeiro<br />

Guerra e Moreira Alves. Ausente,<br />

Justific adamente, o Sr. Ministro De-<br />

do Miranda. Subprocurador-Geral<br />

da Repfiblica, o Dr. Mauro Leite<br />

Soares.<br />

Brasilia, 3 de agosto de 1979. Hello<br />

Francisco Marques, SecretArio.<br />

RECURS() DE HABEAS CORPUS N? 57.397 — RJ<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Thompson Flores..<br />

Recorrente: Oswaldo Ferreira ou Osvaldo Ferreira — Recorrido: Tribunal<br />

de Justica do Estado do Rio de Janeiro.<br />

PrisAo pr eventiva. Juste causa. HIpOtese em que nAo se encontra<br />

caracterizada a argOlda Insubsistencla das rages que levaram o julz<br />

a considerar necessarla a custedia.<br />

H. Recurso nSo provido.<br />

ACORDA0<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

Juigamento e das notas taquigraficas,<br />

por maloria de votos, negar provimento<br />

ao recurso.<br />

Brasilia, 25 de setembro de 1979. —<br />

Thompson Flores, Presidente e Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores: 0<br />

parecer da douta Procuradoria-<br />

Geral da Republica bem expOe a<br />

p retensAo e sobre ela se manifesta,<br />

nestes termos, fls. 63/6:<br />

A 1mpetracAo ora em grau de<br />

r ecurs() se funda em alegada falta<br />

de Justa causa para a prisão preventiva<br />

decretada pelo despacho<br />

de fls. 14/15 e mantida pela pronOncia<br />

de fls. 41/46.


128<br />

R.T.J. — 94<br />

A nosso ver, potent !leo se<br />

mostra visivel, no tocante ao constrangimento<br />

em pauta, ilegalidade<br />

ou abuso de poder.<br />

Justificando a custodia cautelar,<br />

o magistrado que a decretou<br />

trouxe aos autos as seguinte s consideracees,<br />

externadas no despacho:<br />

«0 acusado Osvaldo Ferreira<br />

nega qualquer particiPac äo no<br />

fato, mas a testemunhal coligida<br />

nä() permite que paire qualquer<br />

dilvida quanto a sua responsab ili<br />

r pelo executor-dade,<br />

a comeca<br />

que nAo hesitou em confirma r hole,<br />

perante este Juizo, tudo o que<br />

disse diante da Autoridade Policial,<br />

detalhe-Por-detalhe. Do cotejo<br />

dos depoimentos de fls. 13, 36,<br />

46, 54/56, 75 e 79, corn a palavra<br />

de Dedivar, emerge incontesta yel a particiPacão de Oswaido no<br />

delito.<br />

A materialidade esta comprovada<br />

pelos Laudos Necrosc6Picos<br />

e de Exame de Local de Homicidio,<br />

constantes de fls. 28 e<br />

83/88, respectivamente. 0 crime<br />

imputado aos acusados a daqueles<br />

que chocam profundam ente o<br />

cidadAo normal, quer pela maneira<br />

covarde como foi perpetrado,<br />

quer pela excessiv a dose de<br />

violencia e 6dio que o presidiram,<br />

a ponto de Mar o cadaver<br />

mutilado, como se comprov a pelos<br />

chocantes fotogramas anexados<br />

ao Laudo de fls. 83/88. Por isso<br />

mesmo, a Ordem niblica esta<br />

ameacada dada a grande comocdo<br />

social dele resultante e diante<br />

do indisfarcavel desejo de yinganca<br />

por parte dos familiares<br />

da vitima.<br />

Por outro lado e de ser resguardada<br />

a boa marcha da Instrucäo<br />

Criminal, o que nä() seria<br />

possivel corn o acusado em fiberdade,<br />

porque:<br />

1. Ao tomar conhecimento do<br />

pedido de Prise° Preventiva formulado<br />

pela Autoridade Policial,<br />

o acusado saiu da cidade, fato do<br />

conhecimento pUblico, tomando<br />

rumo ignorado, sla regressando<br />

depots da certeza do indeferimento<br />

do pedido e chamado por<br />

seus advogados, conforme se depreende<br />

da informaflo de fl. 58v.<br />

e da Certidão de fis.;<br />

2. Tambem e do conhecimento<br />

pUblico, e o acusado confirmou<br />

hole em Julio, que dois dias apes<br />

o crime ele vendeu todo o seu gado.<br />

Ademais, consta que o acusado<br />

esta em vias de concretizar a<br />

venda de sua propriedade agropecuaria,<br />

o que evidencia o seu<br />

deliberado propOsito de deixar o<br />

distrito da culpa;<br />

3. Osvaldo Ferreira deu mostras<br />

de pretender dificultar a acAo da<br />

Justiga ao «recomendar» a esposa<br />

do executor, e a este prOprio, que<br />

se a Policia fizesse perguntas dissessem<br />

que a mulher fora agarrada<br />

pela vitima para relacees sexuais<br />

a forca e por isso foi morto,<br />

o que evitaria qualquer comPlicacão<br />

corn o seu nome U. 46)».<br />

8 certo que os impetrantes<br />

contestam os enunciad os funiamentos<br />

da necessidade da cust6dia.<br />

Entretanto, razoavel nos parece<br />

o aresto recorrido, quando pondera:<br />

«Dedicam-se os ilustrados impetrantes,<br />

alem disso, a impugnar<br />

a valoracAo, pelo Dr. Juiz,<br />

dos indicios que o levaram a, reormando<br />

entendimento anterior,<br />

passar a ter como necessaria e<br />

conveniente a prisAo do reu. NAo<br />

podem ser ouvidos, obviamente,<br />

porque o Juiz, integrado no meio<br />

social em que ocorreu o fato, e,<br />

quem melhores condicees tem<br />

para conhecer os seus comarca-


nos e aquilatar adequadamente<br />

suas atitudes o acerto das opini6es<br />

de uns, ou a respeitabilidade<br />

das impressees e comenterios<br />

de outros sobre o que o comportamento<br />

do acusado pode tornar<br />

previsfvel ou para temer. Nan ha<br />

nenhuma evidencia de que errasse<br />

ao faze-1o, razed porque nAo se<br />

the repudia o ponto de vista».<br />

Somos, em face do exposto, pelo<br />

improvimento do recurso.<br />

Brasilia, 10 de setembro de 1979 —<br />

Alvaro Augusto Ribetro Costa, Procurador<br />

da Repablica.<br />

APROVO. Francisco de Asais<br />

Toledo, Subprocurador-Geral da Republica.»<br />

Dou como feito o relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Florets:<br />

(Relator) — Nego provimento ao re,<br />

eta/T.°.<br />

0 que visa o recorrente 6 °btu<br />

sua liberacão, apes a prolaclio da<br />

sentence que o pronunclou e na qual<br />

o magistrado acentuou, fl. 46.<br />

«NA° fazem os rens jus aos favores<br />

do artigo 408, 2?, do C6digo de<br />

Processo Penal (redeye° da Lei n?<br />

5.941/73) porque se encontram sob<br />

os efeitos de acautelamento preventivo<br />

e perduram as razOes que<br />

determinaram a declsAo judicial.»<br />

E as rages preexistentes sac)<br />

aquelas que embasaram o decreto<br />

de custedia preventive, rememoradas<br />

no parecer, o qual transcreve<br />

fragmentos substanciais, inclusive<br />

aqueles nos quaffs o aresto recorrido<br />

valorize as afirmacoes do magistrado.<br />

Em tats condicees, nem abusive,<br />

nem Regal se fez a sentence<br />

mantendo a custedia.<br />

NS 6 bastante para sua concessea;<br />

os atributos da primariedade e dos<br />

bons antecedentes, a lel entrega ao<br />

R.T.J. — 94 129<br />

juiz, em tal emergencia, certa dose,.<br />

nao de arbitrio, mas, de discricionariedade,<br />

para ajuizar da liberace6<br />

do real pronunciado, maxime quando<br />

com a prised decretada fundamentadamente.<br />

E, In casu, afirmou o firmaterio<br />

da pronüncla que perduravam os<br />

fundamentos longa e anteriormente<br />

examinados.<br />

Ned logrou o recurso ilidir tats<br />

afirmaceses. Quanto aos arestos desta<br />

Corte, invocados em seu prol, no<br />

RHC 52.902, Plenerio, 27-11-74 (RTJ<br />

73, 98), a hipatese era diverse. NS<br />

havia priseo preventive e o caso era<br />

de iipelaceo, mesmo • assim prevaleceu<br />

o voto do Ministro Cordeiro<br />

Guerra, contra/10 a concesseo.<br />

E no RHC 54.168, de Minas Gerais<br />

(RTJ 80, 427) diverse ainda era a<br />

controversia, posto que se tratasse<br />

de promincia.<br />

Veja-se o que disp6e sua ementa:<br />

«Habeas Corpus. RS primerib e<br />

de bons antecedentes. Sentence de<br />

pronScia /leo motivada quanto a<br />

manutencao do acusado sob cust.6dia.<br />

Recurso provido para que o<br />

recorrente aguarde em liberdade o<br />

Julgamento pelo Jeri.»<br />

Aqui os pressupostos sào diferentes.<br />

Havia prised preventive regularmente<br />

decretada e nä° revogada; antes,<br />

a pronuncla a ratificou, expressamente,<br />

justificando porque não 11berava<br />

o r6u que pronunciava.<br />

Cabe aqui aplicar o precedente da<br />

Egregia 2? Turma (RTJ 85, 516), citado<br />

no parecer da Procuradoria-<br />

Geral da Justice, e cuja ementa dispee:<br />

«A decretacao da prised, ou a<br />

sua revogacao, em decorrencia de<br />

sentence de pronfmcia, no caso de<br />

primario e de bons antecedentes,<br />

a faculdade atribuida ao julz.<br />

Reu preso em vlrtude de prised<br />

preventive decretada para assegurar<br />

a aplicacao da lei penal. Sub-


130<br />

sistOncia dos motivos da decretacno<br />

por °casino da pronüncia.<br />

RHC improvido.»<br />

No mais, reporto-me ao parecer da<br />

douta Procuradoria-Geral da<br />

transcrito no relat6rio.<br />

E o meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

R.T.J. — 94<br />

RHC 57.337 — RJ — Rel.: Min.<br />

Thompson Flores. Recte.: Oswaldo<br />

Ferreira ou Osvaldo Ferreira. Recdo.:<br />

Tribunal de Justica do Estado<br />

do Rio de Janeiro. Imptes.: Jonas<br />

Lopes de Carvalho e outros<br />

Decisno: Adiado o julgamento por<br />

haver pedido vista o Ministro Cunha<br />

Peixoto, ap6s os votos dos Ministros<br />

Relator, Rafael Mayer e Soares Munoz,<br />

que negavam provimento ao recurso.<br />

Falou como Impte.: o Dr. Jonas<br />

Lopes de Carvalho.<br />

Presidéricia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a Sessac)<br />

os Senhores Ministros Xavier de<br />

Albuquerque, Cunha Peixoto, Soares<br />

Munoz e Rafael Mayer.<br />

Subprocurador-Geral da Republica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 18 de setembro de 1979. —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretario.<br />

VOTO (VISTA)<br />

0 Sr. Ministro Cunha Peixoto: 1 —<br />

Visa o recorrente obter sua liberacao,<br />

ap6s a sentenca que o pronunciou<br />

e na qual o magistrado assinalou:<br />

«Näo fazem os rths jus aos favorer<br />

do artigo 408, § 2?, do COdigo de<br />

Processo Penal porque se encontram<br />

sob os efeitos do acautelamento<br />

preventivo e perduravam<br />

as raz6es que determinaram a decisdo<br />

judicial•»<br />

E as razOes preexistentes, que fundamentaram<br />

a prisâo preventiva,<br />

snip as seguintes:<br />

— o r8u, ao tomar conhecimento<br />

do pedido de prisao preventiva<br />

formulado pela autoridade policial,<br />

saiu da cidade, tomando rumo ignorado,<br />

se regressando quando soube<br />

do indeferimento do pedido;<br />

— vendera todo o seu gads, logo<br />

ap6s o crime;<br />

— constar que o recorrente estava<br />

em vias de vender sua propriedade<br />

rural;<br />

— haver dada mostra de pretender<br />

dificultar a acdo da justica ao<br />

recomendar a esposa do executor do<br />

crime, e a este, que se a Policia fizesse<br />

perguntas, dissessem que a<br />

mulher fora agarrada pela vitima.<br />

0 eminente Ministro Thompson<br />

Flores negou provimento ao recurso<br />

por entender prevalecerem os motivos<br />

invocados pelo juiz, e na() serem<br />

bastantes para a concessào dos beneficios<br />

do § 2? do art. 408 do Cedigo<br />

de Processo Penal os atributos da<br />

primariedade e dos bons antecedentes.<br />

E continua Sua Exceléncia: «a<br />

lei entrega ao juiz, em tal emergëncia,<br />

certa dose, nno de arbitrio, mas,<br />

de discricionariedade, para ajuizar<br />

da liberacão do reu pronunciado,<br />

mnxime quando com a prisäo decretada<br />

fundamentadamente».<br />

2 — Diz o § 2? do art. 408 do C6digo<br />

de Processo Penal, ao referir-se<br />

sentenca de pronüncia, que, use o<br />

rèu for primnrio e de bons antecedentes,<br />

poderá o juiz deixar de<br />

decretar-lhe a prisão ou revogä-la,<br />

caso JO se encontre preso».<br />

8 evidente que a lei nno confere ao<br />

Juiz o arbitrio de resolver o favor,<br />

ainda que o rOu retina os requisitos<br />

legais e nao haja razáo alguma que<br />

desaconselhe a concessno do beneficio.<br />

No caso em apreco, o recorrente<br />

refine, a nosso ver, todos os requisi-


tos exigidos pelo § 2? do art. 408 do<br />

C6digo de Processo Penal, fat° que<br />

nAo 6 negado pelo juiz que decretou<br />

a prise° preventive. E a prove nä°<br />

deixa d6vida, send° ele ate mesmo<br />

Jurado, tendo servido em varies sessees<br />

do Art<br />

Por outro lado, entendemos, data<br />

venia do Ministro Thompson Flores,<br />

nAo estar fundamentada a negative<br />

de revogaceo da prise°. 0 Julz<br />

limitou-se a declarer que perduraram<br />

os motivos que determinaram a<br />

prise° preventive.<br />

Ora, verifica-se do despacho que<br />

decretou a prise° preventive do recorrente,<br />

que se os motivos Justificayam<br />

aquela medida, nAo prevaleciam<br />

ma's por °caste° da pronüncia.<br />

Corn efeito, dos motivos alegados,<br />

naquela °caste°, permaneceu apenas<br />

o fato dele haver vendido o gado,<br />

porque todos os outros, neo s6 net,<br />

confirmaram a suspeita do Julz que<br />

decretou a prise° preventive, como<br />

ficaram superados. Realmente, afirmou<br />

o Julz constar que o recorrente<br />

deselava vender sua propriedade rural,<br />

prove de que deseJava fugir do<br />

local e da ace° da justice. Acontece<br />

que, como este provado nos autos, o<br />

acusado nä° tinha apenas uma propriedade<br />

no municipio, mas varies.<br />

Segundo, ficou tambem demonstrado<br />

que o afastamento do recorrente do<br />

local da culpa net) atendeu Aquele<br />

fim, Canto que, restabelecido, permaneceu<br />

no local de 22 de marco ate 5<br />

de abril, quando foi decretada sua<br />

prise° preventive, e esta s6 foi requericia<br />

pelo Representante do MInistério<br />

Piiblico em 29 do mesmo<br />

mes. Portanto, estava ele no local,<br />

quando foi relterada sua prised preventiva,<br />

e /leo se afastou, a espera<br />

da deciseo do Julz. Ora, ha prove de<br />

que sua ausencia no periodo de 14 a<br />

22 de marco deu-se por moll y° de<br />

sane.<br />

Por outro lado, a influencia sobre<br />

a testemunha !leo poderia mats pre-<br />

R.T.J. — 94 131<br />

valecer, Ja que ela havia prestado<br />

seu depoimento.<br />

Assim, a nosso ver, a simples declarageo<br />

do Julz da pronOncia de que<br />

perduravam as /*rubes que determinaram<br />

a prise° preventive net) 6<br />

bastante.<br />

3 — Por estes motivos, data yenta<br />

do eminente relator, dou provtmento<br />

ao recurso para deferir o pedido de<br />

habeas corpus.<br />

CONFIRMACAO DE VOTO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

(Presidente e Relator) — Senhores<br />

Ministros.<br />

Peco venia ao eminente Ministro<br />

Cunha Peixoto para manter o meu<br />

voto.<br />

Considero que o § 2? do art. 408 do<br />

C P P corn a redeye° que the emrprestou<br />

a Lei 5.941/73, atrlbulu ao<br />

Julz uma certa discricionariedade ao<br />

deixar de decretar a prise° do it<br />

que pronuncia, ou relaxer a do que<br />

je esteJa preso.<br />

NAo a bastante que seta o pronunciado<br />

primerio e de bons antecedentes,<br />

para se ver livre. Estas condi-<br />

Vies são substanciais, pressupostos<br />

mesmo da pretense°.<br />

Mas, apesar dlsso, podem advir<br />

razoes que desaconselhem continue<br />

em liberdade.<br />

0 magistrado tem que, fundamentadamente,<br />

as apresentar.<br />

Foi o que ocorreu. A prise() preventive<br />

foi decretada em despacho<br />

fundamentado.<br />

Ao pronunciar o paciente, asseverou<br />

o novo Ju!z que perdurava. E<br />

suas afirmacees nä° foram !Midas.<br />

Valem elas ate prove em contrario,<br />

e estas net* foram trazidas.


132<br />

Demais, é mister receber as afirmativas<br />

do juiz, nä() com reservas,<br />

mas, merecendo redobrado apreco<br />

porque ele, como acentuava Orozimbo<br />

Nonato, a que, estando no local,<br />

melhor pode ajuizar da conveninncia<br />

ou não da prisno, ate vezes varias,<br />

pelo preprio interesse do paciente.<br />

Repito, assim, peco vnnia para<br />

manter o meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RHC 57.337 — RJ — Rel.: Min.<br />

Thompson Flores. Recte : Oswaldo<br />

Ferreira ou Osvaldo Ferreira. Recdo.:<br />

Tribunal de Justica do Estado<br />

R.T.J. — 94<br />

do Rio de Janeiro. Imptes.: Jonas<br />

Lopes de Carvalho e outros.<br />

Decisao: Negaram provimento ao<br />

recurso de Habeas Corpus, vencido 0<br />

Ministro Cunha Peixoto.<br />

Presiancia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a Sessac)<br />

os Srs. Ministros Cunha Peixoto,<br />

Soares Munoz e Rafael Mayer. Ausente<br />

justificadamente o Sr. MM.<br />

Xavier de Albuquerque. Subprocurador-Geral<br />

da Reptiblica, o Dr.<br />

Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 25 de setembro de 1979 —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secreted°.<br />

HABEAS CORPUS N? 57.368 — SP<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Thompson Flores.<br />

Paciente: Douglas Melhem.<br />

Habeas corpus. Conhecimento em decorrencia de fato novo, julgamento<br />

da apelacao pelo Tribunal a quo.<br />

Prescricão segundo a pena concretizada na sentenca da qual<br />

recorreu a acusacão.<br />

Nesta expresseo compreende-se a acusaceo publica (M.P) ou<br />

privada (querelante) não se aplicando por isso a StImula 146.<br />

IV. Pedido conhecido, julgado em parte prejudicado, e Indeferido<br />

no restante.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigraficas<br />

por unanimidade de votos, conhecer<br />

do pedido, julgar prejudicado,<br />

em parte, e indeferir no restante.<br />

Brasilia, 2 de outubro de 1979 —<br />

Thompson Flores, Presidente e Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

Em sesseo de 22.02.79, assim relate!<br />

a pretenstio, fls. 79:<br />

«Condenado em primeiro grau a<br />

(9) nove meses e (10) dez dias de<br />

detencáo e multa como incurso nas<br />

sancdes dos arts. 138, 139 e 140, c.c.<br />

51, § 1?, todos do C6digo Penal,<br />

sem surds e sem poder apelar 11vre,<br />

porque primario não era, apelou<br />

o querelante, pleiteando a majoracão<br />

da pena.


Propugnou o paciente a concessAo<br />

de fiance para poder apelar<br />

em liberdade. Fol negada a pretensAo<br />

em ambas as instAncias.<br />

E porque o acerdilo se omitira<br />

sobre a prescricAo, plelteou-a, perante<br />

a 16? vara criminal, sendo<br />

negada.<br />

Dal o presente pedido de<br />

habeas corpus, pleiteando a extincAo<br />

da punibilidade.<br />

4. Coin as informacees e insercão<br />

de versos documentos, emitiu<br />

parecer a douta Procuradoria-<br />

Geral da Reptiblica pelo nAo conhecimento;<br />

acaso conhecido, pelo<br />

Indeferimento, fls. 75/7».<br />

0 pedido não fol conhecido,' remetidos<br />

os autos ao Egreglo Tribunal<br />

de Alcada Criminal.<br />

Sua ementa dispee, fls. 82.<br />

«Habeas corpus. Coacão emanada<br />

de julz de direlto. Descabe ao<br />

S.T.F. conhecer originariamente<br />

do pedido contra tal procedimento.<br />

Incidéncia do art. 119, I, 11, da<br />

ConstituteAo.<br />

II. Pedldo nä° conhecido, remetidos<br />

os autos ao Tribunal a quo.»<br />

Sucedeu que a 03.05.79, e citada<br />

Corte, apreclara a apelacão interposta<br />

pelo querelante e considerando<br />

o tema da extincAo da punibilidade,<br />

reconheceu, apenas, no pertinente ao<br />

crime da injOria, tomada sua pena<br />

in abstrato, repelindo-a corn alusAo<br />

aos de calla/11a e difamacAo, mantidas<br />

as sancees impostas em primeiro<br />

grau, (2) dots e (1) um ano, respectivamente,<br />

fls. 95.<br />

Houve voto vencido quanto a dene-<br />

gacAo da prescriclio nä() esclarecendo<br />

os autos, se foram ou nib), opostos<br />

embargos infringentes.<br />

4. Dal nAo haver o Tribunal a quo<br />

conhecido do pedido de habeas<br />

corpus, ern actIrdlio de 30.08.79, fls.<br />

106, longamente expondo o sucedido.<br />

R.T.J. — 94<br />

133<br />

Entrementes, em 08.05.79, esta<br />

Turma negou provimento ao R.H.C.,<br />

57.027-5, mantendo a decisào do Colegiado<br />

local que denegara pedido da<br />

habeas corpus pleiteando o reconhecimento<br />

da prescricão logo apes a<br />

prolacão do Julgado de 1? grau, condenaterio,<br />

fls. 113/7.<br />

Parecer da douta Procuradoria-<br />

Geral da RepUblica, reportando-se,<br />

no merits), ao parecer de fls. 77,<br />

verb's:<br />

Acaso seta superado este ebice<br />

preliminar, a mencAo a SUmula n?<br />

146 6 de todo indevida, data yenta.<br />

No despacho Judicial, que se vem<br />

de aludir, desponta, verbis:<br />

«0 querelante apelou (fls. 494),<br />

vindo teems, inclusive do Dr.<br />

Promotor (fls. 497 — 500, 537 —<br />

538). Sem contra-razees do querelado.»<br />

(vide fls. 72, grifamos).<br />

Ora, recorrendo o querelante nAo<br />

hA lugar a mencao a SUmula n?<br />

146, que obsta a prescricAo retroativa,<br />

«quando ha recurso da<br />

acusacao.<br />

E nem supor-se que a acusacgo,<br />

entAo consignada, seria a pUblica:<br />

a um, porque estar-se-'a distinguindo,<br />

onde o preceito não (Banngue;<br />

a dots, porque s6 se pode veildamente<br />

operar a retroacao, se o<br />

quantum sancionaterio imobilizase<br />

no decisum de 1? grau, o que<br />

incerto, presente pretensflo recursal<br />

a majoracao do mesmo.»<br />

E o relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores<br />

(Relator): Conheco do pedido, julgando,<br />

em parte, prejudicado, e, no<br />

restante, indeferindo-o.<br />

2. Corn o Julgamento da apelacão<br />

do paclente, posterlormente a dee"desta<br />

Turma, que devoiveu os<br />

autos ao Tribunal a quo, certo obsta-


134<br />

do ficou ele de apreciar o presente<br />

writ, dado que sobre a mat gria ja se<br />

pronunciara.<br />

E ao fazg-lo o acerdao, em<br />

questao, reconheceu a prescricao,<br />

considerando a pena, in abstrato, no<br />

pertinente ao crime de injOria.<br />

Ficou, pots, prejudicado o pedido a<br />

tal respeito.<br />

Remanesce a pretensao alusivamente<br />

a calfinia e difamacão.<br />

Para desatendg-la disse o acOrdao<br />

proferido na apelacao, fls. 95:<br />

R.T.J. — 94<br />

interposta apenas pelo querelante,<br />

pugnando pela exacerbacao da pena,<br />

descabe invocar a prescricao,<br />

corn base na Stimula 146, segundo<br />

<strong>jurisprudencia</strong> assente do S.T.F.D.<br />

E o meu voto.<br />

ADITAMENTO AO VOTO<br />

Ao voto que trouxe escrito e que<br />

tocante aos crimes de calif- acabei de ler, quern acrescentar<br />

«No<br />

nia e difamacao, corn penas, res- poucas palavras, tendo em conta os<br />

, de 2 anos e 1 ano, o termos da sustentacão oral que aca-<br />

pectivamente<br />

lapso prescricional g<br />

de 4 anos (ar- ba de ser produzida, e das considera-<br />

do C6cligo Penal), po- cOes que a respeito teceu o ilustre<br />

tigo 109, V<br />

rem, havendo recurso da acusacao Subprocurador-G eral 0 Sr. Ministro Thompson Flores<br />

(Presidente e Relator) e Senhores<br />

Ministros.<br />

da RepUblica,<br />

, ha como se falar em prescri- Professor Francisco de Assis Toledo.<br />

nag<br />

coo retroativa, consoante iterativa<br />

jurisprudgricia do Excelso Pretario<br />

e agasalhada pela maioria julgadora,<br />

vencido o 2? Juiz que a acolhia<br />

nos termos da Sirmula n? 146 e nos<br />

artigos 108, IV e 109, VI, do C6cligo<br />

Penal, considerada a pena aplicada,<br />

cujo lapso prescricional de 2<br />

anos decorrera entre o recebimento<br />

da denfmcia em 04.09.75 e a publicacao<br />

da sentence em 19.04.1978».<br />

Andou ele corn acerto, pois esta g<br />

a jurisprudgncia do S.T.F., calcada<br />

na Samula 146, a qual nap distinguiu<br />

para sua consideracâo que o recurso<br />

seja do Ministgrio Pithlico, ou do<br />

querelante. Engloba-o na expressao<br />

acusacao. Interpretara o paragrafo<br />

finial, do art. 110 do COdigo Penal<br />

corn a redacao originaria, o qual<br />

transformado em § 1?, pela Lei n?<br />

6.416/77, valeu-se do termo acusacao<br />

pondo-se, pots, de acordo corn a redacâo<br />

do verbete sumulado.<br />

Por isso sinalara esta Turma ao<br />

julgar o ja referido R.H.C. 57.027, na A alteracao introduzida no art go<br />

110 do COdigo Penal, convertendo<br />

seu Paragrafo folic° em 1?, e acrescentando<br />

urn 2?, nao proporciona ao<br />

paclente qualquer beneficio.<br />

Tratando-se de acao pOblica ou<br />

privada, a aplicacao da Sfunula 146<br />

somente tem lugar quando nao ocorra<br />

recurso da acusacao, seja atravgs<br />

do Ministgrio POblico, seja a Waves<br />

do querelante.<br />

0 que importa, consoante o substrato<br />

do verbete, e que a pena flxada<br />

na sentenca ja liar) possa ser majorade.<br />

Se corre o perigo de o ser, posto<br />

que nao o seja, a indiferente. n a imprecisao<br />

desse maximo que justifica<br />

sua consideracao para o efeito de<br />

examinar-se o prazo da prescricao.<br />

Essa fixacao definitive a que faz<br />

converter o maximo abstratamente<br />

considerado e o maximo fixado no<br />

julgado e ja definitivo.<br />

Por Ultimo, embora fale o § 2? em<br />

ementa aposta ao respectivo acOr- dem:meta, o certo 6 que esta ele ligaciao,<br />

fls. 113:<br />

do ao § 1? do qual advent, e nele nao<br />

«Se da decisao condenatoria hou- ocorre qualquer distincao, pots usa<br />

ye recurso da acusacao, posto que da expressão acusacao, que corn-


preende o acusador pUblico ou o querelante<br />

da acao privada.<br />

Corn estas consideracOes, as quaffs<br />

dou como incorporadas ao meu voto,<br />

mantenho as conclus6es j g anunciadas.<br />

E o acrescimo.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

HC 57.368 — SP — Rel.: Ministro<br />

Thompson Flores. Pte.: Douglas Me-<br />

'hem. Imptes.: Galba Menegale e<br />

Suety Aparecida Grandesso Perrone.<br />

Decisào: Conheceram do pedido, e<br />

julgaram prejudlcado em parte, e in-<br />

R.T.J. — 94 135<br />

deferiram no restante, nos termos do<br />

voto do Ministro Relator, decisão<br />

ungnime. Falou como Impte.: a Dra.<br />

Suety Aparecida Grandesso Perrone.<br />

Presidencia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a Sessäo<br />

os Senhores Ministros Xavier de<br />

Albuquerque, Cunha Peixoto e Rafael<br />

Mayer. Ausente, justificadamente,<br />

o Sr. Ministro Soares Munoz.<br />

Subprocurador-Geral da Repdblica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 2 de outubro de 1979 —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretário.<br />

RECURSO DE HABEAS CORPUS N? 57.764 — SP<br />

(Segundo Purina)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra.<br />

Recorrente: Enrico Zeurgo — Recorrido: Tribunal de Alcada Criminal<br />

do Estado de Sao Paulo.<br />

Se nlio obstante a conexAo ou continAncia foram instaurados processor<br />

dfferentes, a autoridade prevalente deverai avocar os processos<br />

que correm perante os outros julzos, salvo se IA estiverem corn<br />

sentence definitiva. Neste caso, a unidade dos processos se se dark<br />

ulteriormente, para o efelto de soma ou de unfficaciin de pens —<br />

art. 82 do C6digo de Processo Penal.<br />

RHC provido parcialmente, para que o juiz competente, por preveneAo<br />

e que ainda nAo tenha prolatado sentenea definitive, avoque<br />

todos os processos em curso pare julgamento.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e das notas taquigrAficas,<br />

por unanimidade de votos, em<br />

dar provimento parcial ao recurso.<br />

Brasilia, 14 de marco de 1980. —<br />

Mac( Falai% Presidente — Cordeiro<br />

Guerra, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra: 0<br />

V. Acerdäo recorrido e o do teor seguinte:<br />

«Trata-se de habeas corpus impetrado<br />

pelo Bel. Jose Carlos Pereira<br />

Vianna, em favor de Eurico<br />

Zeurgo, sob a alegacão de estar o<br />

paciente a sofrer constrangimento<br />

ilegal da parte dos MM. Juizes de<br />

Direito das 2?, 3?, 6a., 81., 10a.,<br />

13a., 16a., 20a., 21a., e 22a., Varas<br />

Criminals, em virtude de estar<br />

sendo processado por delito de furto<br />

qualificado, embora se trate de<br />

um Onico delito que deveria ser<br />

apurado num s6 processo. Assim,<br />

tendo o paciente sido absolvido da<br />

imputacáo no Juizo da 23a. Vara<br />

Criminal, deveria prevalecer essa


136<br />

decisao absolutoria, apenas. Se assim<br />

nao se entendesse deveria prevalecer<br />

a R. Sentenca condenatOria<br />

proferida no Juizo da 3a., Vara<br />

Criminal, anulando-se a R. Sentenca<br />

proferida no Juizo da 16a. Vara<br />

Criminal. Nos dois primeiros casos<br />

todos os demais processos deveriam<br />

ser arquivados apOs previo<br />

trancamento.<br />

Prestadas informacOes pelos<br />

MM. Juizes indigitados como autoridades<br />

coatoras, manifestou-se a<br />

douta Procuradoria da Justica pela<br />

denegacAo da ordem.<br />

Requisitados melhores esclarecimentos<br />

e apensados os autos das<br />

aches penais que correm contra o<br />

paciente nas 13a., 21a., 10a., Varas<br />

Criminals, voltou a douta Procuradoria<br />

da Justica a insistir no parecer<br />

anterior.<br />

E o relaterio.<br />

0 pedido de anulacao da R. Sentenca<br />

proferida no Juizo da 16a.<br />

Vara Criminal nao esta esclarecido<br />

suficientemente na impetracao<br />

porque nao se aponta nenhum vicio<br />

de que padeceria aquele R. Julgado.<br />

Ao que parece o douto impetrante<br />

se referiu a essa acao, ja decidida,<br />

porque nao poderia, quanto a<br />

ela, solicitar o trancamento como<br />

pediu corn relacao as demais aches<br />

em andamento.<br />

A questäo relativa a afirmacao<br />

de que se trata de delito Calico tarnbCzn<br />

nao pode ser examinada no<br />

Ambito estreito do habeas corpus<br />

porque exigiria o exame profundo<br />

dos autos das varias aches propostas.<br />

Tanto isso a exato que no caso<br />

julgado na 23? Vara Criminal o pa-<br />

R.T.J. — 94<br />

ciente foi absolvido por nao provada<br />

a materialidade do delito, ao<br />

que se af Irma, enquanto nos Juizos<br />

das 3? e 16? Varas Criminals o paciente<br />

foi achado culpado.<br />

Haveria a hipOtese de se tratar<br />

de delito continuado, como alias, a<br />

certidão de fl. 191 parece indicar.<br />

Mas tambem essa questa°, pelas<br />

mesmas raz6es relativas a hipOtese<br />

do delito ante() nao pode ser examinada<br />

no pedido de habeas<br />

corpus.<br />

Assim, denega-se a ordem, cabendo<br />

ao ilustre impetrante, oportunamente,<br />

querendo alcancar no<br />

Juizo das ExecucOes Criminals<br />

possivel unificacAo de penas.» (fls.<br />

199-201).<br />

Inconformado insiste o recorrente<br />

em que se trata de crime Wilco e que<br />

quando muito poderia ser classificado<br />

como crime continuado, que esta<br />

inocente da imputacao, pais os crimes<br />

foram praticados por seu cunhado,<br />

valendo-se de sua ausëncia,<br />

do depOsito da firma, de que era vigia.<br />

A douta Procuradoria-Geral da<br />

RepOblica ap6s resumir os fatos, assim<br />

conclui:<br />

«A nosso ver, todavia, desmerece<br />

acolhimento a irresignacAo.<br />

0 reconhecimento da alegada<br />

unidade dos fatos originadores das<br />

diversas acOes penais, a afirmacAo<br />

do carater continuado das condutas<br />

nelas cogitadas, ou ainda a proclamacAo<br />

da inocOncia do paciente,<br />

tudo isso 6 materia que apenas<br />

atraves de aprofundado exame dos<br />

fatos e das provas se poderia efetuar.<br />

Com os elementos oferecidos<br />

nestes autos a que nao se faz viavel<br />

tal analise, pots o cotejo entre


as diversas dentincias revela divergAncias<br />

no tocante as datas em que<br />

os delitos terlam ocorrido, bem como<br />

relativamente aos objetos furtados.<br />

Fica ressalvada, por6m, ao paciente,<br />

pleitear, junto aos Juizos<br />

em que tern curso os processos em<br />

andamento, a avocagão de que trata<br />

o art. 82 do CPP; bem assim, se<br />

for o caso, a unificacAo das penas<br />

aplicadas por sentencas definitivas.<br />

Febo improvimento do recurso,<br />

face ao exposto, 8 o parecer.<br />

Brasilia, 6 de marco de 1980. —<br />

Alvaro Augusto Ribeiro Costa, Procurador<br />

da Repilbilea» (fl. 224)<br />

E o relatOrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra<br />

(Relator): Varios foram os furtos em<br />

dias diversos. Cumpre, assim,<br />

aprecitt-los, urn a urn, em face da<br />

prova dos autos e V. acOrdAo recorrido<br />

assim decidiu, sem afastar a hipOtese<br />

de crime continuado.<br />

Sugere, corn acerto, a douta<br />

Procuradoria-Geral da Republica a<br />

aplicacAo do art. 82 do CPP a espécle,<br />

aos processos ainda Mc) julgados<br />

definitivamente.<br />

R.T.J. — 94 137<br />

Parece-me que, para esse Mu, deve<br />

ser provido o recurso, into 6, para<br />

que todos os processes sej am avocados<br />

e julgados pelo juiz competente<br />

para conhecer do primeiro, por distribuicAo,<br />

que ainda TIM) tenha proferldo<br />

definitiva sem prejuizo<br />

da unificacão das penas dos<br />

processes definitivamente julgados,<br />

no Juizo das Execucees, quando, entao,<br />

se decidira sobre o beneficio da<br />

continuidade eventualmente admissivel.<br />

E o meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RHC 57.764 — SP — Rel.: Min.<br />

Cordeiro Guerra. Recte.: Eurico<br />

Zeurgo (Adv.: Jos6 Carlos Pereira<br />

\Timm). Recdo.: Tribunal de Alcada<br />

Criminal do Estado de Sao Paulo.<br />

Decialo: Provido em parte nos ter-•<br />

mos do voto do Relator. UnAnime.<br />

PresidAncia do Sr. Ministro Thad<br />

FalcAo. — Presentes a SessAo os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves, e Deck) Miranda. Licenciado,<br />

o Sr. Ministro Leitão de Abreu.<br />

Subprocurador-Geral as Reptiblica,<br />

o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 14 de marco de 1980. —<br />

Hello Francisco Marques, SecretArlo.<br />

RECURSO DE HABEAS CORPUS N? 57.799 — MS<br />

(Segundo Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra.<br />

Recorrente: Alvaro Rodrigues de Vasconcellos Netto — Recorrido: Tribunal<br />

de Justica do Estado de Mato Grosso do Sul.<br />

Interpretaclio do art. 48 do Cedigo de<br />

de nub:lade da dernincia.<br />

Processo Penal. Argaicilo<br />

O Ministkrio KUM° ntio tem a disponibilklade que 6 inderrogivel.<br />

da<br />

Isto, porem,<br />

Lica° pens<br />

blico<br />

nito quer diver<br />

tato possa, que o Ministgrio<br />

em face das provas do inquerito,<br />

P<br />

um Ineldenie que<br />

conch& e escolhf<br />

contra quem apresentar<br />

envolva duos ou mob pessoas, aquela ou ague<br />

denOncla.<br />

RHC improvido.


138<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e das notas taquigreficas<br />

a unanimidade de votos, em negar<br />

provimento ao recurso.<br />

Brasilia, 21 de marco de 1980. —<br />

Djaci Falcao, Presidente — Cordeiro<br />

Guerra, Relator. -<br />

RELATORIO<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra: 0<br />

v. acerdeo recorrido da lavra do<br />

ilustre Desembar gador Gerval Bernardino<br />

de Souza, este assim concebido:<br />

«Depreende-se da materia relatada,<br />

que o impetrante alega a<br />

existencia de constrangimento Begat,<br />

porque o era° do Ministerio<br />

lico ofereceu denuncia contra o<br />

paciente, deixando de oferecer contra<br />

Walter Soares e, o recebimento<br />

da denuncia afrontou o principio<br />

da indivisibilidade da acdo penal,<br />

inscrito no art. 48 do Codigo de<br />

Processo Penal, pretendendo a nulidade<br />

da dentIncia oferecida contra<br />

o paciente.<br />

0 insigne representante do Ministerio<br />

Publico ofereceu a denOncia,<br />

funded() nos elementos informativos<br />

constantes do Inquerito<br />

Policial, consignando na denuncia<br />

o seguinte fato:<br />

«... no dia 10 de novembro de<br />

1978, por volta de 7.45 hs. no cruzamento<br />

da Av. Afonso Pena corn a<br />

rua Pedro Celestino, nesta cidade,<br />

a vitima Walter Soares, inadvertidamente,<br />

fechou, corn seu veiculo<br />

Dodge Dart, o Chevete do acusado<br />

que, bastante irado, desceu do carro<br />

e, apes dar alguns disparos,<br />

passou a agredir a vitima, corn<br />

revolver que portava, ficando a<br />

mesma ferida, pelo modo descrito<br />

no auto de exame de corpo de delito<br />

de f. 11.<br />

Para. fazer frente a agressão armada,<br />

a vitima entreou em luta<br />

corn o acusado, que por sua vez sofreu<br />

ligeiros ferimentos descritos<br />

no auto de fls., havendo a agressão<br />

finalmente cessado graces a intervencäo<br />

de terceiros.<br />

Depots de oferecida a denuncia<br />

contra o paciente, o impetrante requereu<br />

que os autos fossem corn<br />

vistas ao Ministerio Publico, Para<br />

suprir a falta existente, isto porque<br />

net) havia denunciado a vitima<br />

Walter Soares. 0 Ministerio<br />

co, ao receber os autos, colocou a<br />

materia nos seguintes termos:<br />

«Este Ministério nao "esqueceuse<br />

de oferecer denuncia" como<br />

quer o Requerente. E se nao apresentou<br />

a inicial, foi por ter visto somente<br />

atraves de uma analise<br />

complete das pecas colhidas, atos<br />

defensivos por parte de Walter<br />

Soares frente a um agressor armado<br />

e dando tiros em plena via ptblica,<br />

agredindo-o de maneira desnecesseriamente<br />

brutal.<br />

As escoriacOes apresentadas pelo<br />

acusado foram resultantes das manobras<br />

defensives da vitima, conforme<br />

argumentamos na nossa<br />

cial."<br />

Por nao ter o Ministério Publico<br />

oferecido denuncia contra Walter<br />

Soares e por ter o Magistrado recebido<br />

a denuncia contra o paciente,<br />

pretende-se a nulidade da denuncia<br />

oferecida contra o paciente, em nome<br />

do principio da indivisibilidade<br />

da acão penal.<br />

Em julgamento proferido por esta<br />

Egregla Turma Julgadora, no<br />

Habeas Corpus n? 17/79 de Corumbe,<br />

que tivemos a honra de relater,<br />

registramos que — «o principio da<br />

indivisibilidade da Kai penal, fixado<br />

no art. 48 do C6digo de Processo<br />

Penal nä° se apresenta como


compartimento estanque, esta Made<br />

aos delitos de acao privada e alcanca<br />

o Ministerio PUblico sem<br />

contudo atingir o seu livre convencimento<br />

como dominus — «A<br />

meu sentir, o Ministerio PUblico,<br />

nil° assume nenhuma conduta abusive<br />

ao proclamar, «que nee se<br />

sentindo suficientemente esclarecido<br />

para o exerciclo do jus<br />

denunciandi, reserve o direito de<br />

cumprir o exercicio apes a apuraa)<br />

dos fates.»<br />

Neste mesmo sentido, o ilustre<br />

Des. Athayde Monteiro da Silva, —<br />

quando Procurader-Geral da Justice<br />

do Estado de Mato Grosso, consignou<br />

em seu parecer, in anais<br />

Forenses do Estado de Mato<br />

Grosso — vol. XXIV — 51 — «NA°<br />

estando comprovado nos autos a<br />

co-participacAo de outrem, no fato<br />

delltuoso imputed° ao paciente,<br />

nAo se pode, tamb6m, proclamar<br />

que houve violacAo do prhicipio da<br />

indivisibilidade da acAo penal. Somente<br />

quando estiver Clara e manifesta<br />

nos autos que o representante<br />

do Ministerio Pithlico procedeu,<br />

arbitradamente, escolhendo o<br />

a dedo os rens, perseguindo a tins e<br />

protegendo a outros, em detrimento<br />

da repressAo penal, fazendo corn<br />

isso o Jogo de interesses escusos, 6<br />

que se impee o reconhecimento do<br />

principle da indivisibilidade da<br />

acAo penal, para que, ern sendo<br />

oferecida nova der/Uncle, todos os<br />

participes do delito sej am chamados<br />

a responsabilidade pelos atos<br />

praticados.»<br />

0 vote proferido pelo Des. LeAo<br />

Neto do Carmo, define corn perfeiclio<br />

a espécie, quando afirma: «...<br />

quero assinalar que nAo MI ate hoje,<br />

capaz de compreender a extensão<br />

que se tern pretendido dar ao<br />

principio da indivisibilidade da<br />

acAo penal. Parece-me que meu<br />

raclocinio tem algum fundamento,<br />

porque a disposidlo invocada pelos<br />

impetrantes e o artigo 48 do Cedigo<br />

R.T.J. — 94 139<br />

de Processo Penal, e se refere especificamente<br />

a queixa; portanto,<br />

aos crimes de ea/ privada, onde o<br />

legislador pretendeu exatamente<br />

evidenclar que esta acao privada,<br />

cuja iniciativa apenas ele transferiu<br />

a parte, nAo pode ser exercitada<br />

no interesse de sua vingance.<br />

Apenas, e e born que se frise isso,<br />

na acAo privada, o legislador<br />

transfere a parte a iniciativa da<br />

ea). Ela, no fundo, continua a ter<br />

a mesma publicidade que a WO<br />

ou ern outras palavras, segundo<br />

able= penalistas, o sided°<br />

passive permanente desses delitos<br />

tambem e o Estado.»<br />

Ora, esse principle pode e deve<br />

se estender, come salutar ao Ministerio<br />

Pithlico, mas nAo obriga o<br />

Promoter a denunciar, a exercer o<br />

jus denunciandi, a nAo ser quando<br />

ele age convencido de que ha nos<br />

autos elementos para faze-lo.<br />

«NAo veto, absoiutamente, como<br />

pudesse efetivamente o promotor,<br />

em sA consciencia, oferecer a dean/de<br />

contra os indiciados, sem<br />

elementos de conviccao nos autos.»<br />

(Rev. cit. p. 54 a 55).<br />

0 julgado inscrito in RT vol.<br />

429/482/3 nAo tern nenhuma apneacrto<br />

a especie.<br />

E bem de ver que que o principle<br />

da lndlvislbllidade da acAo penal<br />

nAo significa alvitre concedido a<br />

parte acusada, de, por sua yentade,<br />

distribuir entre terceiros, o peso<br />

da acusacilo (Min. Cunha Peixoto,<br />

RTJ 80/383).<br />

De resto, o STF, tendo como rel.<br />

o Min. Antonio Neder, in RTJ vol.<br />

79/399 a 401, decidindo especie semelhante,<br />

construiu o seguinte entendimento:<br />

«1 — Pete que expressam os<br />

arts. 48, 49 e 51 do Cedigo de Processo<br />

Penal, a Kilo privada 6 indivisivel.<br />

0 principle 6 aplicAvel<br />

acAo Pal)lice.


140<br />

R.T.J. — 94<br />

2 — Se o MP denuncia urn s6 dos Custas pelo impetrante.<br />

protagonistas de certa briga, por E o meu voto.» (fls. 51-55).<br />

entender que o outro nao cometeu Inconformado, o recorrente insiscrime,<br />

nenhuma ofensa pode ser te, invocando o acerclao do Tribunal<br />

vislumbrada, nesse fato, ao sobre- de Justice do Estado de Sao Paulo<br />

dito — prtncipio.<br />

(RTJ 429/484) em que oa denuncia<br />

Sem clavicle, pelo que se la nos nao pode acusar urn individuo no f a-<br />

arts. 48, 49 e 51 do C6digo de Proto delituoso e excluir, Spont sua oucesso<br />

Penal, a acao privada 6 indi- tro, pots que ao promotor falece atrivisivel,<br />

mar esse principio, embora buicao para tanto. 8 nula a denüncia<br />

aplicavel a acao pablica, nao tern rn assim se apresente», invocando<br />

nenhuma pertinencia corn<br />

o caso o principio da indisponibilidade da<br />

noticiado nester autos, no goal, acao penal pablica.<br />

born se va, sem dificuldade, nao in-<br />

cide. Os impetrantes estap eviden- A douta Procuradoria-Geralda<br />

temente equivocados. Corn efeito, Republica, em parecer do ilustre<br />

por entenderem que o paciente, e Subprocurador-Geral Francisco de<br />

outra pessoa trocaram socos, con- Assts Toledo, assim opina:<br />

cluem eles que ambos deviam ser g<br />

denunciados, considerando, poram, 3 — Nao vemos o que reparar na<br />

que o Ministério Fablico denunciou decisão recorrida que, para chegar<br />

somente um dos participes da bri- a conclusão a que chegou,<br />

ga, sustentam, de maneira conclu- arrimou-se em acerclao do Excels°<br />

dente, que, por isso, ficou poster- Fretful°, Relator Min. Antonio Negada<br />

a regra de que a indivisivel a der, publicado na RTJ 79/399, cilia<br />

acao penal. Ora, se o Ministario Pa- ementa 6 a seguinte:<br />

blico ilk, denunciou o segundo protagonista<br />

da contenda, a porque «1. Pelo que expressam os arts.<br />

'lac) vislumbrou nele a conduta do-<br />

48, 49 e 51 do Cedigo de Processo<br />

losa que the justificasse a denim-<br />

Penal, a acao privada 6 indivisivel.<br />

cia, e isto nao diz respelto ao 0 principio 6 aplicavel a acao paprincipio<br />

de que 6 indivisivel a bike.<br />

acao penal, nem constitui assunto 2 — Se o MP denuncia um s6 dos<br />

que pertenca ao paciente, que se protagonistas de certa briga por<br />

nao beneficia do pormenor, o qual, entender que o outro TIM:, cometeu<br />

alias, nao tern como ser discutido crime, nenhuma ofensa pode ser<br />

em processo de habeas corpus, por vislumbradai nesse fat% ao sobrese<br />

achar envolvido ern prove. A te- dito prindpio.<br />

se dos impetrantes nao passa de<br />

algo anOmalo, e que, s6 por isto, 3 — Peticao de Habeas corpus Innao<br />

tern como ser considerada.» deferida.»<br />

Se o Ministario Pablico disse cla- 4 — Corn efeito, o principio da inramente<br />

porque nao denunciou, divisibill dade da acao penal, que<br />

deixou expresso o seu convenci- se dirigt. ao Ministario Pablico e ao<br />

mento. 0 recebimento da denim- Juiz, impondo-Ihes o dever de dilicia,<br />

pelo Magistrado, Ilk) constitui &ride e imparcialidade, pode ter<br />

nenhuma afronta do principio da a sua correta aplicacäo fiscalizada<br />

indivisibilidade da acao penal, nä° pela defesa. Essa faculdade, pose<br />

podendo falar em constrangi- ram, nao deve ser rebaixada a memento<br />

!legal.<br />

ro instrumento de obstaculizacao<br />

Pelos fundamentos expostos, deda<br />

acao penal pablica, para transnego<br />

a ordem. acao ulna


egra que objetiva a mats ample e<br />

complete persecucAo do crime em<br />

meio de se impedir esse mesmo<br />

objetivo.<br />

5 — Pelo Febimprovimento, 6 o parecer.»<br />

(fls. 97-98).<br />

E o relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra<br />

(Relator): No RHC 57.223 — SP, esta<br />

Egregia Turma repellu, a unanimidade,<br />

a tese sustentada pelo recorrente<br />

— RT.! 91/477.<br />

Disse, entAO, eu como relator:<br />

«Sem davida entendeu esta<br />

Egregla Corte no HC 53.990 — SP<br />

— relator o eminente Min. Antonio<br />

Neder, RTJ 79/399, que acao penal<br />

6 indlvisivel, e que tal principio 6<br />

aplicavel A acAo pablIca, mas, entao<br />

se decidlu que se o MP denunciou<br />

urn s6 dos protagonistas de<br />

certa briga por entender que o outro<br />

nAo cometeu crime, nenhuma<br />

ofensa pode ser vislumbrada, nesse<br />

fato, ao sobredito principlo.<br />

Realmente, Como observa Hello<br />

Tornaghi «o Wren° de acAo 6 direito<br />

de pedir ao Estado que face justice,<br />

nAo seja instrtunento de vindita.<br />

Entendeu a let que pedir a puntcAo<br />

de uns e nAo de outros defensores<br />

nAo seria solicitor justice, sum<br />

exercer vinganca. Dal a regra de<br />

indivisibilidade da acAo privada.<br />

Quanto A publica nAo havia necessidade<br />

de preceito, expresso, ja<br />

que o MP nAo pode renunciar ao<br />

exercicio da acAo» (Instil:Wefts do<br />

f. 357, TOMO, 2).<br />

De fato o MP nil° tem a disponibilidade<br />

da acAo penal, que 6 inderrogavel.<br />

Isto, porem, nAo quer<br />

dizer que o MP nAo possa, em face<br />

das proves do inquerito, concluir e<br />

escolher, num lncidente que envolva<br />

dual ou mats pessoas, aquela<br />

ou aquelas contra quem &presenter<br />

dentine's.<br />

R.T.J. — 94 141<br />

Ele e o dominos lulls e somente<br />

cabe ao Julz, art. 28 do COdigo de<br />

Processo Penal, representar ao<br />

Procurador-Geral da Justica contra<br />

o arqulvamento do inquerito,<br />

ou a exclusAo, eventualmente nAo<br />

justificada, de algum indiciado.<br />

NAo se pode compelir o MP a<br />

agir, pots, a autonomia deste em<br />

face da Magistrature o impede. Ne<br />

procedat Judea ex officio.<br />

Assim, nAo obstante o precedente<br />

citado faro reserves ao conceito<br />

de que o art. 48 do COdigo de Processo<br />

Penal, dirigido tAo-s6 as<br />

queixas, nos crimes de acAo privada,<br />

pots, a renancia ao exercicio do<br />

direito de quelxa, em relacAo a urn<br />

dos autores do crime a todos se estender&<br />

(art. 49 do Cedigo de Processo<br />

Penal), tambem abranj a generalizadamente<br />

crimes de acAo<br />

pablica, que a meu ver, nAo se incluem<br />

no preceito, por forca do<br />

art, 28 do Cadigo de Processo Penal<br />

e motivos expostos.<br />

De fato, a norma do art. 48 do<br />

COdigo de Processo Penal, a meu<br />

ver, nAo compreende a acAo penal<br />

pablica, que, nAo obstante, 6 inderrogavel.<br />

Nilo he confundlr este conceito<br />

com a indivisibilidade, pots nAo pode<br />

o MP agar contra quem nAo teria<br />

indiclos de autorla ou prova de<br />

crime.<br />

Nao obstante, mesmo que asslm<br />

nAo se entendesse, o certo 6 que,<br />

na especie, nAo ha como atefider-se<br />

As pretens6es do recorrente, como<br />

demonstra o parecer da<br />

Procuradoria-Geral da Reptiblica a<br />

que me reporto, para negar provimento<br />

ao recurso.» (RTJ 91/480).<br />

o meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RHC 57.799 — MTS — Rel., MM.<br />

Cordeiro Guerra. Recte. Alvaro 110-


142<br />

drigues de Vasconcellos Netto (Adv.:<br />

Rene Sufi). Recdo.: Tribunal de Justica<br />

do Estado de Mato Grosso do<br />

Sul.<br />

Decisao: Negado provimento. Unanime.<br />

Presidéncia do Sr. Ministro Djaci<br />

Falcao. Presentes a Sessao os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra e Decio<br />

R.T.J. — 94<br />

Miranda. — Ausente, justificadamente,<br />

o Sr. Ministro Moreira Alves.<br />

Licenciado, o Sr. Ministro, Leitao de<br />

Abreu. — Subprocurador-G eral da<br />

Republica, o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 21 de marco de 1980. —<br />

Hello Francisco Marques, Secretario.<br />

RECURS() DE HABEAS CORPUS N? 57.803 — RJ<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Decio Miranda.<br />

Recorrente: Valter de Souza Santos — Recorrido: Trib. de Justiga do<br />

Est. do Rio de Janeiro.<br />

Processual--Penal. Inqu6rito policial. Arquivamento. Inqu6rito<br />

que dura mats de seas anos, sem nada apurar contra urn dos indiciados<br />

Arquivamento requerido pelo twig° do Ministériolico, quanto<br />

a esse indiciado. Despacho que, reconsiderando deferimento anterior,<br />

devolve o inqu6rito a Policia para prosseguimento, em vez de<br />

proceder como determina o art. 28 do C6d. Proc. Penal. Caracterizacao<br />

da violencia a liberdade de locomogão em sentido amplo, uma<br />

vez que o indiciado não consegue atestado de bons antecedentes, assim<br />

impecUdo de obter emprego e de exibir a prova de nada dever A<br />

Justica Penal. Corn os ascendentes indices de criminalidade, tambem<br />

os inocentes estilo sob permanente suspeita, necessitando ter acesso<br />

Mal a prova de sua conclicAo. Assim como a falta de justa causa pa-<br />

rs a acao penal, embora envolvendo apenas remota ameaca a liberdade<br />

de locomovão dã lugar ao habeas corpus, tambem o direito ao<br />

regular processo do pedido de arquivamento do inqu6rito policial conduz<br />

mesma concesslio.<br />

ACORDAO<br />

te, Valter de Souza Santos, no homieldio<br />

cometido contra Aluizio Pe-<br />

Vistos, relatados e discutidos estes dro da Silva, foi instaurado inquérito<br />

autos, acordam os Ministros do Su- policial em 17-10-1973, inquerito esse<br />

premo Tribunal Federal, em Segun- sem solucao ate hole.<br />

da Turma, na conformidade da ata<br />

de julgamentos e das notas taquigra- 0 paciente, dizendo nada ter a ver<br />

fleas, a unanimidade de votos, dar corn o caso, queixa-se de que tal inprovimento<br />

ao recurso para conce- diciacao, que la dura mats de seas<br />

anos, o impede de tirar atestado de<br />

der a ordem.<br />

bons antecedentes para melhorar de<br />

Brasilia, 18 de marco de 1980 — emprego<br />

Djaci Falcao, Presidente. — Decio<br />

Miranda, Relator. A 4? Camara Criminal do Tribunal<br />

RELATORIO<br />

de Justica do Estado do Rio de Janeiro<br />

denegou a ordem, sob o funda-<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda: Pa- mento de que «o habeas corpus» nag)<br />

ra apurar o envolvimento do pacien- a meio adequado para compelir-se o


Juizo apontado como coator a arquivar<br />

inquerito policial, em que o paciente<br />

figura como indiciado, a teor<br />

do parecer da d. Procuradoria, de f.<br />

40, que, nos termos regimentals, passa<br />

a integrar este acerdAo». U. 45).<br />

0 parecer, a que se refere o acerdAo,<br />

reza, em sua parte precipua:<br />

«3. Portula o impetrante, em resumo,<br />

que a ordem sej a concedida<br />

para o fim de determinar-se o arquivamento<br />

do dito inquérito com<br />

relacAo ao paciente ou, se essa medida<br />

nAo for adotada, a remessa do<br />

mesmo inquerito (cujo arquivamento<br />

partial, alias, is foi requerido<br />

pelo Dr. Promotor de Justica),<br />

ao Exmo. Sr. Procurador-Geral da<br />

Justica, para as providencias p<strong>revista</strong>s<br />

no art. 28 do C6digo de Processo<br />

Penal.<br />

NAo vejo, data yenta, no caso,<br />

constrangimento 'legal, suscetivel<br />

de ser sanado pela via do habeas<br />

corpus. Este nAo 6, sabidamente,<br />

mats tame° para obter-se o arquivamento<br />

de inquerito policial, tanto<br />

mats que o inquerito, na especie.<br />

sequer foi terminado. E o pedido<br />

de arquivamento, cuja iniciativa<br />

cabe, por lei, ao Orgão do Minist6rio<br />

POblico, pressup6e o exame dos<br />

ele.mentos de prova, relacionados<br />

corn os fatos apurados no inquerito<br />

policial ou nas pecas de informacAo,<br />

e esse exame descabe, em<br />

principio, segundo pactfica jurisprudencla,<br />

no limitado Ambito do<br />

remetho herolco.<br />

E inegAvel que, de ha muito,<br />

ja foram esgotados os prazos que a<br />

lei preve para o encerramento das<br />

investigacOes preliminares, mesmo<br />

em se tratando de fato de dificil<br />

elucidacAo (art. 10, 4 3?, CPP), e<br />

certo e, tambem,, que esse prolongado<br />

retardamento esta dificultando<br />

a urn cidadAo (cuja inocencia se<br />

presume, ate prova contrArio) o It-<br />

R.T.J. — 94 143<br />

vre exercicio dos direitos que a<br />

Carta Magna the assegura. Mas<br />

ocorre, por outro lado, que a rigor<br />

o alegado constrangimento ilegal<br />

nAo interfere corn a liberdade de<br />

locomocão do paciente, e essa liberdade<br />

a que, sobretudo, se visa<br />

resguardar por meio do habeas<br />

corpus (art. 153, g 20, da ConstituicAo<br />

Federal). Alias, se irregularidades<br />

se podem vislumbrar no modo<br />

como se vem portando a autoridade<br />

policial, tern o pactente, para<br />

coibi-las ou remediA-las, adequados<br />

recursos legais A sua disposicão,<br />

inclusive na esfera administrativa.»<br />

(Fls. 40-1)<br />

Recorre o impetrante, argumentando:<br />

«0 Amago da questa() consiste,<br />

pots, em tres pontos que se interligam,<br />

selando um a sorte do outro<br />

Primeiro, 0 Orgetto do M.P. requereu<br />

a exclusito de um dos indiclados<br />

em inquerito policial, e o arquivamento<br />

em relacito a ele, prossegulndo<br />

a instrucäo em relacito ao<br />

outro indiciado, como ocorreu (fis.<br />

175, 193v. e 194 do inquerito), e explicitamente<br />

foi deferido pelo entAo<br />

Dr. Juiz Sumariante da 2? Vara<br />

Criminal (fls. 176, 180v. e 192 do inquerito),<br />

sendo, inclusive, expedido<br />

o officio ao I.F.P., determinando-se<br />

o cancelamento na folha penal do<br />

Paciente da anotacilo referente ao<br />

inquerito.<br />

Ressalte-se, ademals, que o llustre<br />

Dr. Juiz Sumariante ora em<br />

exercicio naquela Vara, coator, intcialmente,<br />

também chegou a admitir<br />

o arquivamento, embora se<br />

prendendo a detalhes de semantica,<br />

nAo entendendo que o douto Orgfio<br />

do M. P., ao requerer o cancelamento<br />

da indiciacAo contra o Paciente,<br />

nada macs estava pedlndo


144<br />

do que o arquivamento do inquerito<br />

em relacdo ao mesmo.<br />

Tanto 6 assim que a ilustre autoridade<br />

coatora, em seu r. despacho<br />

de f. 194, assim se manifestou:<br />

g<br />

o cancelamento, antes de<br />

arquivar-se o inquerito, e MadmissivelD<br />

Dal, o !lustre Dr. Promotor de<br />

Justica, em sua douta promocAo de<br />

f. 200, insistindo na tese do arqu'vamento<br />

partial, ajustou-se ao entendimento<br />

do Dr. Juiz Sumariante,<br />

e assim se manifestou:<br />

somos pelo Arquivamento com<br />

relacão a Valter de Souza Santos,<br />

prosseguindo-se a instrucAo com<br />

relacAo a Ney Gil Nunes, ate porque<br />

nada impecttrit a dentmcla<br />

contra Valter se, ao curso da instruflo,<br />

novos elementos de informaflo<br />

forem oferecidos» (grifos<br />

do Recorrente)<br />

vindo, em seguida, surpreendentemente,<br />

o r. despacho de f. 200v.,<br />

que ensejou o recurso de Habeas<br />

Corpus:<br />

R.T.J. — 94<br />

Mantenho o despacho de f. 194, já<br />

que o arquivamento, em parte,<br />

do inquhrito, 6 Incabiveh (Grifos<br />

do Recorrente).<br />

0 segundo ponto a ser considerado<br />

6 o do constrangimento ilegal do<br />

Paciente, anteriormente abordado,<br />

ou seja se o fato de se impedir que<br />

ele trabalhe onde sempre<br />

trabalhou — seguranca banceria —<br />

obrigando-se a viver de biscates,<br />

consiste ou não em constrangimento<br />

ilegal.<br />

0 tercelro ponto decorre dos dots<br />

primeiros: se 6 ilicito o arquivamento<br />

do inquhrtto em relacito ao<br />

Paciente, por absoluta falta de provas<br />

em relacAo a ele, nAo observando,<br />

ademais, a autoridade coa-<br />

tora o que dispoe o art. 28 do CPP,<br />

conclui-se que obstar esse arquivamento<br />

constitui-se numa violencia<br />

em relacdo ao Paciente, que fica<br />

impedido de trabalhar, tendo-se,<br />

então, inelutavelmente, que o unico<br />

reit-161:110 cabivel para reparar a in-<br />

Justica e o habeas corpus e que, a<br />

partir dessa constatacAo, a autoridade<br />

coatora a aquela que denega<br />

o arquivamento sem poder para isso<br />

e, por via de conseqtiencia, impede<br />

ao Paciente o exercicio de um<br />

dos direltos mais sagrados que a<br />

Carta Magna the assegura; o direito<br />

de trabalhar para prover condignamente<br />

sua subsistencia e de<br />

sua mae, de quem e arrimo.<br />

Esta e a hipotese do Habeas<br />

Corpus, injustamente denegado,<br />

data yenta.<br />

NAo pretendeu o impetrante usar<br />

do remedio herOlco para requerer<br />

pura e simplesmente o arquivamento<br />

do inquerito, passando por<br />

sobre as atribuicOes do Orgao do<br />

M.P. e a jurisdicAo do Juiz, mas,<br />

isto sim, a cessacAo do constrangimento<br />

ilegal de que este sendo vitima<br />

o paciente, jA então por parte<br />

da autoridade coatora, a partir do<br />

momento em que negou, sem amparo<br />

legal, ao Orgao do M.P. de 1,<br />

InstAncia direito e dever inarredeveis<br />

que ]he faculta o C.P.P. (art.<br />

28), tanto mais que se ele pode o<br />

maxima (oferecer denfmcia, requerer<br />

dlligencias e ate o arquivamento<br />

de inquerito em relacao a todos<br />

as indiciados), pode, tambem, corn<br />

muito mais razAo, e fundamento<br />

legal, o minima, ou seja, o arquivamento<br />

em relacão a urn dos indiciados,<br />

tanto mats de este indiciado<br />

estar sendo vitima de um gritante<br />

erro policial.<br />

Tanto que o Promotor de Justica<br />

pode, sempre, denunciar alguns indiciados<br />

e excluir outros da mesma<br />

peca acusattria.


Se esta faculdade the for denegada,<br />

come feito no v. acerdao recorrido,<br />

e mats do que uma faculdade,<br />

urn dever, entao se esters diante<br />

do caos social e juridic°, da derrocada<br />

de flosses instituicaes Juridicas!<br />

A prevalecer o entendimento da<br />

autoridade coatora, acobertada pelo<br />

E. Tribunal a quo estarao todos,<br />

inocentes e criminosos, ao sabor do<br />

arbltrlo de qualquer autoridade po-<br />

'fetal que resolve, ao seu talento,<br />

indicter quem the aprouver, ate<br />

que urn dia, ou muitos anos depots,<br />

como e o caso em exame, possa o<br />

M.P. requerer o arquivamento do<br />

inquerito em relacAo apenas a<br />

todos (nunca em relearn apenas ao<br />

inocente), ou enttio, pasme-se, oferecer<br />

denancla apenas contra os<br />

verdadelros reus e, se entao, requerer<br />

a exclusAo dos inocentes do<br />

°those inquerito!!!<br />

Desse modo, embora o llustre<br />

Dr. Procurador da Justice, em seu<br />

douto parecer, In fine, tenha excluldo<br />

o habeas corpus como remedlo<br />

para cura da !legal situacao, o<br />

tato é que o recurso adequado para<br />

coibir o constrangimento 'legal de<br />

que este sendo vltima o Paclente,<br />

como demonstrado, a mesmo o<br />

Habeas Corpus, e nä° qualsquer<br />

outros recursos legais, multo menos<br />

na esfera administrative, sobretudo<br />

na esfera administrative,<br />

onde talvez sejam necessaries<br />

mats sets anos para se corrigir as<br />

irregularidades da atividade da autoridade<br />

PoBetel. » (Fls. 51-4).<br />

Oficiando nos autos, o Subprocurador-Geral<br />

Prof. Francisco<br />

de Assts Toledo manifesta-se pelo<br />

improvimento do recurso.<br />

Para isso, considera que, «podendo<br />

o Juiz, antes de apreclar o pedido de<br />

arquivamento, determiner diligenclas<br />

de °tido para meihor apuracao<br />

dos fates, nada o impede de remeter<br />

a apreciacao de urn pedido de arqui-<br />

— 94 145<br />

vamento, parcial e antecipado, para<br />

depots de concluidas as investigacties<br />

em curso9. «De resto, acrescenta,<br />

inexistindo qualquer cerceamento<br />

a liberdade de locomocao do paciente,<br />

inexiste o que corrigir na via do<br />

habeas corpus*. (F. 62).<br />

E o relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda (Relator):<br />

Somente uma testemtmha, Irma<br />

da vitima, fez alusao dubitativa<br />

a um certo Walter, que nem se sabe<br />

se era o paclente.<br />

Disse que aseu Irma°, antes de dar<br />

entrada no Hospital, confessou a declarante<br />

que quem the feriu foi Ney<br />

e que Walter, teria tambem participadoo.<br />

(F. 14 nuidlo).<br />

Isto foi dito em 1973, em discor-<br />

dAncia com as demais testemunhas,<br />

nenhuma das quaffs se referiu a Walter.<br />

Passados tantos anos, o Ministerio<br />

Pllblico requer o arquivemento<br />

quanto a Walter e o prosseguimento<br />

do inquerito quanto a Ney.<br />

Estava o Juiz adstrlto ou a deferir<br />

o arquivamento ou a exercer a prance<br />

do art. 28 do Cad. Proc. Penal, fazendo<br />

remessa dos autos ao<br />

Procurador-Geral.<br />

NAo the era dado recusar o pedido<br />

de arquivamerito, que, embora dlzendo<br />

respelto a urn se dos incliciados,<br />

nAo se poderia dizer parcial, expressAo<br />

que ma's seria adequada se<br />

o arquivamento se limitasse a alguma<br />

dentre varies aches mencionadas<br />

em certo inquerito.<br />

NAo aceito, tambem, a adversative<br />

de nAo se achar em causa a liberdade<br />

de locomocito do indiciado.<br />

Hoje, corn os ascendentes Indices<br />

de criminalidade, a provocar, paredoxelmente,<br />

permanente suspeita<br />

contra os preprios Inocentes, constitui<br />

ameaca A liberdade de locomo-


146<br />

cão o invididuo nao poder exibir,<br />

R.T.J. — 94<br />

quando solicitado, carteira de identidade,<br />

ou apresentar-se candidato a<br />

emprego corn a possibilidade de se<br />

descobrir que este indiciado por homicidio.<br />

Assim como a falta de justa causa<br />

para a acao penal, embora envolvendo<br />

remota ameaca a liberdade de locomocao,<br />

de lugar ao habeas corpus,<br />

tambem o direito ao processo regular<br />

do pedido de arquivamento do inquerito<br />

policial conduz a mesma concessao.<br />

A longa indiciacão, que o Ministerio<br />

Pithlico entende sem causa legitima,<br />

nao pode ser mantida pelo simples<br />

querer do magistrado, adstrito<br />

a deferir o arquivament o do inquerito<br />

quanto ao indiciado, ou submeter<br />

o pedido a consideracao do Procurador-Geral<br />

da Justica.<br />

Dou provimento ao recurso, para<br />

conceder a ordem, a fim de restabelecer<br />

o despacho anterior, do Dr.<br />

Juiz, que determinara o cancelamento<br />

da indiciacao do paciente ( fls. 24v. fine<br />

e fls. 25).<br />

E meu voto.<br />

VOTO<br />

O Sr. Ministro Moreira Alves: Sr.<br />

Presidente, estou de acordo corn o<br />

Sr. Ministro Relator, mas por outro<br />

fundament° . A meu ver, tendo o juiz<br />

dado o despacho, determinando o arquivamento,<br />

exauriu-se a sua jurisdicao,<br />

nao podendo ele voltar Wes.<br />

Não fosse ism), e nao concederia<br />

habeas corpus, porque nao se podt<br />

retirar do Juiz a possibilidade de, antes<br />

de manifestar-se, determinar a<br />

balsa dos autos a Policia, e, corn base<br />

nas diligencias cumpridas, indeferir o<br />

pedido de arquivamento, ordenando<br />

que os autos seja encaminhado s ao<br />

Procurador-Geral da Justica.<br />

Corn base nesse fundamento, tamban<br />

dou provimento ao recurso<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra:<br />

Sr. Presidente, o Ministerio Pfrblico<br />

6 o dominus lit's. A ele compete, recebendo<br />

o inquerito policial, apresentar<br />

dentincia ou requerer o arquivamento,<br />

e, se ache-10 insuficientemente<br />

instruldo requerer a Policia<br />

diligencias complementare s. Nesta<br />

fase do inquerito policial, nao compete<br />

ao magistrado, ex officio, determinar<br />

diligencias a Policia, porque<br />

ninguém pode ser juiz e acusador ao<br />

mesmo tempo, salvo no caso das<br />

contravencOes penais. De modo que<br />

nä° tem o Juiz legitimidade para<br />

acusar; ele s6 tern a faculdade a que<br />

se refere o Procurador-Gera l da Republica,<br />

de, uma vez proposta a acao<br />

penal, para seu esclarecimento, determinar<br />

as diligencias que entender<br />

necessaries.<br />

Mas, no caso o inquerito policial<br />

ainda estava no ambito das atribuicOes<br />

do Ministerio PUblico, e este entendeu,<br />

certo ou errado, que devia<br />

manifestar-se pelo arquivamento da<br />

acusacao formulada contra o paciente.<br />

Assim, se ele o fez e o fez condicionalmente,<br />

sem prejuizo de que,<br />

mats tarde, pudesse examinar novas<br />

provas, porque ate o momento nenhuma<br />

prova existia, o Dr. Juiz s6<br />

Mira duas atitudes: deferir ou representar<br />

ao Procurador-Geral da Justica.<br />

Ele optou pelo deferimento. Nessa<br />

conformidade, estava preclusa a<br />

acusacao, nesta fase, ao indiciado.<br />

E, assim, sendo, nao poderia ele, ex<br />

officio, reformar o seu despacho anterior,<br />

que estava precluso, para determinar<br />

o prosseguimento do processo<br />

Ele, Juiz, nao e o dono da acao<br />

penal, e, apenas, na alternativa que<br />

a lei the ride, optou pelo arquivamento:<br />

nao representou ao Procurador-<br />

Geral da Justica<br />

Assim sendo, a continuidade da<br />

acusacao contra o paciente, corn a<br />

conseqtiente impossibilidade de tirar<br />

a sua fotha corrida, o seu atestado


de bons antecedentes constitui, evidentemente,<br />

um constrangimento<br />

'legal.<br />

Nesta linha de consideracOes,<br />

acompanho os votos que me precederam,<br />

dando provimento ao recurso<br />

para conceder a ordem.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Mintstro Djaci Falac, (Presidente):<br />

Tambem estou de acordo<br />

corn o eminente Relator, considerando,<br />

sobretudo, a ocorrencia da preclusAo.<br />

Dou provimento ao recurso para<br />

conceder a ordem.<br />

R.T.J. — 94 147<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RHC 57.803 — RJ — Rel.:, Min.<br />

Decio Miranda. Recte.: Valter de<br />

Souza Santos Adv. Sergio Marques<br />

Garcia. Recdo.: Tribunal de Justica<br />

do Estado do Rio de Janeiro.<br />

Decisão: Provido o recurso pan<br />

conceder a ordem. UnAnime.<br />

Presidéncia do Sr. Ministro Thad<br />

Falcão. — Presentes A SessAo os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves e Decio Miranda. — Licenciado,<br />

o Sr. Ministro LeitAo de Abreu.<br />

— Subprocurador-Geral da FtepOblica,<br />

o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 18 de man° de 1980. —<br />

Hello Francisco Marques, Secrettirio.<br />

RECURSO DE HABEAS CORPUS N! 57.903 — RJ<br />

(Prtheirs Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Xavier de Albuquerque.<br />

Recorrente: Jorge Grego — Recorrido: Tribunal de Justica do Estado do<br />

Rlo de Janeiro.<br />

PrIsAo civil de devedor de alimentos que, Intimado, ofereceu jus-<br />

=cane) ou escusa. Ilegalldade de despacho que a decreta sem qualquer<br />

ftmdamentaclio. Recurso de habeas corpus provido.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primeths<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformldade da ata de<br />

juigamentos e notes taquignficas, A<br />

unanlmidade de votos, dar provimento<br />

ao recurso de habeas corpus.<br />

Brasilia, 06 de maio de 1980. —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Xavier de Albuquerque, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Em parecer do Procurador<br />

Alvaro Augusto Metro Costa,<br />

a Procuradoria-Geral da RemiblIca<br />

assim resume e aprecia a esp6cie<br />

(fls. 31/34):<br />

«Contra prisão civil, decretada<br />

em virtude do inadimplemento de<br />

obrigacão alimenticia, fol impetrada<br />

ordem de habeas corpus, cujos<br />

alegados fundamentos o requerente<br />

sintetizou, In verbis:<br />

6A) 0 Dr. Juiz da 2! Van de<br />

Familia 6 incompetente para decretar<br />

a prisilo do paclente por<br />

&tit° alimentar, uma vez que<br />

somente o Dr. Juiz da 6! Van de<br />

Familia poderla faze-lo por ter<br />

silo o prolator da sentenca que<br />

condenou aos alimentos, pots,<br />

repete-se, o acordo homologado<br />

na 2! Vara de Familia clizia respell°<br />

A separacilo judicial do ex-


148<br />

R.T.J. — 94<br />

casal, nAo tendo inovado quanto<br />

a alimentos; B) 0 art. 733, Unto),<br />

do Cód. de Processo Civil somente<br />

admite a prisao quando 0<br />

devedor tido se escusa, que nao é<br />

o caso do paciente, uma vez que<br />

na longa peticao (doc. n? 5) justificou,<br />

razoavelmente, a impossibilidade<br />

do pagamento, juntando<br />

inclusive, documentos contAbeis,<br />

tanto que nem o parecer do Ora'<br />

do Ministerio Pdblico nem o<br />

despacho que decretou a prisAo<br />

refutam as escusas. 0 Ministério<br />

Pdblico e o Juiz sat) obrigados a<br />

motivar seus despachos; C) A<br />

quantia para a qual o paciente<br />

foi intimado a pagar, nAo foi apurada<br />

por cAlculos do Contador e<br />

devidamente homologada, mas<br />

resultou apenas da cabeca da exmulher<br />

do paciente, como se va<br />

do documento n? 4, pots os autos<br />

da acao de alimentos se encontram<br />

na Eg. 1? Camara Civel do<br />

Tribunal de Justica em grau de<br />

recurso — Apelava() Civel n? 701;<br />

D) E subversao da prestacAO da<br />

tutela jurisdicional, a existancia<br />

de dots juizes distintos em Juizos<br />

e Varas diversas (6? e 2? de<br />

Familia) para decidir a mesma<br />

mataria, ou seja, a relativa aos<br />

alimentos que o paciente foi condenado<br />

a pagar A ex-mulher».<br />

Indeferida a ordem, pelo aresto<br />

de f. 23, sobreveio o apelo de fls.<br />

25/26, que reitera as alegacOes iniclams.<br />

NAo merece prosperar o recurso,<br />

quanto A argdida incompetancla<br />

do Juiz que exarou o despacho<br />

coercitivo. A propOsito, o parecer<br />

de fls. 20/21 observou, com acerto:<br />

«A acao de separacAo consensual,<br />

antigo desquite amigAvel,<br />

abrangente dos alimentos anteriormente<br />

fixados em outra Vara<br />

— Tanto que, no termo de acordo<br />

estA dito: «que o Rau continuarA<br />

a pagar a autora e Who a pensAo<br />

jd fixada na 6? Vara de Familia».<br />

(f. 8) — Isto vale pela cláusula<br />

dos alimentos, sem a qual nao<br />

poderia ser homologado o acordo.<br />

Ao contrArio do que sustenta<br />

o Impetrante, a homologacAo da<br />

separacAo consensual é que pos<br />

fim, por perda de objeto, A acao<br />

de alimentos».<br />

No que diz respeito A ,alegada<br />

justificacao da Inadimplancia o<br />

impetrante suscltou tema cujo exame<br />

escapa ao ambito do Writ, pots<br />

somente atravas de aprofundada<br />

anAlise das provas se poderia reconhecer<br />

a impossibilidade de satiscacao<br />

da obrigacao voluntariamente<br />

assumida pelo paciente.<br />

Certo, poram, e que, dentre os<br />

argilidos fundamentos da impetracao,<br />

consta a ausancia de motivacao<br />

do despacho coativo. 0 aresto<br />

recorrido, entretanto, nao cuidou<br />

desse ponto, nem dale cogitou o parecer<br />

cujos fundamentos foram<br />

adotados como razOes de decidir.<br />

6. Tambam omitido, na instancia<br />

a quo, foi o exame de argiiicao<br />

concernente ao carAter 'liquid° da<br />

divida, posto que o valor da mesma<br />

terra sido unilateralmente fixado<br />

pela credora.<br />

Em face do exposto, o parecer<br />

sugere o provimento parcial do recurso,<br />

a fim de que sejam supridas,<br />

na instancia a quo, as omissees<br />

aqui apontadas.»<br />

Dou por feito o relat6rio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque (Relator): Tudo indica<br />

que o acolhimento da sugestAo da<br />

Procuradoria-Geral levaria ao prejuizo<br />

da impetracao. Corn efeito, a<br />

prisao do recorrente foi decretada a<br />

4 de fevereiro de (f. 6) e, segundo as<br />

razOes do recurso, datadas de 7 de<br />

marco, ja havia sido efetivada (f.<br />

26). Se devessemos determinar que o<br />

Tribunal a quo suprisse, mediante


apreciacAo de questoes nAo examinadas,<br />

as omissOes que o parecer encontrou<br />

no acOrdao recorrido, seria<br />

quase certo que, ao fasA-lo a referida<br />

Corte, JA se teria exaurido o tempo<br />

de duracAo da prisão.<br />

De resto, nAo existe dOvida alguma<br />

sobre estar objetivamente desfundamentado<br />

o decreto de prislio. E<br />

este o seu teor (f. 6):<br />

«Decreto a prisito do alimentante<br />

inadiraplente por 3 meses.<br />

Expeca-se mandado.»<br />

Se a lei manda que o devedor de<br />

allmentos seta intimado para efetuar<br />

o pagamento, prover que o fez ou<br />

justificar a impossibilidade de<br />

efetuA-lo (art. 733 do CO(ligo de Processo<br />

Civil), e se determina que o<br />

Juiz the decrete a prisAo, se ele nAo<br />

pagar, nem se escusar (I 1? do mesmo<br />

artlgo), parece clam que a. justificacAo<br />

ou escusa, acaso apresentada,<br />

nAo pode deixar de ser apreciada<br />

pelo despacho que, a final, entender<br />

de decretar a prisAo.<br />

Dou provimento ao recurso e concedo<br />

a ordem de habeas corpus para<br />

R.T.J. — 94<br />

149<br />

cassar, porque destituido de fundamentacAo,<br />

o despacho que decretou<br />

a prisAo do recorrente, o qual (lever&<br />

ser imediatamente posto em liberdade,<br />

se por outro motivo nAo dever<br />

permanecer preso.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RHC 57.903 — RJ — Rel. Min. Xavier<br />

de Albuquerque. Recte.: Jorge<br />

Grego (Adv.: Fernando Sobral da<br />

Cruz). Recdo.: Tribunal de Justice<br />

do Estado do Rio de Janeiro.<br />

DecisAo: Provido o recurso para<br />

conceder a ordem nos termos do voto<br />

do Relator. UnAnime.<br />

Presidencia do Sr. MM. Thompson<br />

Flores. Presentes A Sessito os Senhores<br />

Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto, Soares Munoz e<br />

Rafael Mayer. — Subprocurador-<br />

Geral da ReptIblica o Dr. Francisco<br />

de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 6 de maio de 1980 — Hello<br />

Francisco Marques, SecretArio<br />

RECURS() DE HABEAS CORPUS N? 58.091 — RJ<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Xavier de Albuquerque.<br />

Recorrente: SebastiAo Moraes da Silva — Recorrido: Tribunal de Justica<br />

do Estado do Rio de Janeiro.<br />

SuspensAo conditional da pena. Se o quantum da reprimenda<br />

comporta, em principlo, o favor legal, deve o juts<br />

pronunciar-se sobre sua concessAo a luz dos pressupostos do art. 57<br />

do COdigo Penal. Recurso de habeas corpus parcialmente provido.<br />

ACORDAO Brasilia, 27 de ARM° de 1980.<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Xavier de Albuquerque, Relator.<br />

autos, acordam os Min istros da Primeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e notas taquigrAficas,<br />

unanimidade de votos, dar provimento<br />

parcial ao recurso, nos termos<br />

do voto do Ministro-Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Assim relate e aprecla<br />

a espècle o parecer da Procuradoria-<br />

Geral da RepOblica, exarado pelo


150<br />

R.T.J. — 94<br />

Procurador Aristides Junqueira Alvarenga<br />

(fls. 38/40):<br />

«Sebastido Moraes da Silva, via<br />

de seu defensor, impetrou ordem<br />

de habeas corpus ao Egitgio Tribunal<br />

de Justica do Estado do Rio<br />

de Janeiro contra o MM. Juiz do I<br />

Tribunal do JON da Comarca da<br />

Capital, que ndo the concedeu a<br />

suspensdo condicional na pena de<br />

dois anos de detencdo resultante de<br />

sua condenacdo pelo Mut por ter<br />

excedido culposamente os limites<br />

da defesa (fls. 2/11).<br />

Em atendimento A solicitacdo<br />

do Tribunal, o MM. Juiz apontado<br />

como coator informou que, de fato,<br />

o paciente foi submetido a Julgamento<br />

e condenado a dots anos de<br />

detencdo, «como incurso nas sancOes<br />

do art. 121, 3?, do C6digo Penab.<br />

Informou, ainda, que o paciente<br />

desfruta de bons antecedentes,<br />

«mas manteve-se foragido,<br />

corn evidente prop6sito de escapar<br />

A aplicacdo da Lei Penal», pelo<br />

que deixou de conceder-the o beneficio<br />

da suspensdo condicional<br />

da pena, ante o recurso do Minist6rio<br />

Pithlico que se mostrou inconformado<br />

corn a decisAo do JUN<br />

(115. 14/15).<br />

A Egrégia 3! Camara Criminal<br />

do Egrêgio Tribunal destinatArio<br />

da impetracdo denegou a ordem,<br />

unanimemente, atrav6s de V.<br />

AcOrddo, cub teor decisOrio foi,<br />

verb's:<br />

«Al6m de ndo ser o «habeas<br />

corpus» o meio adequado A concessdo<br />

do beneficio da suspensdo<br />

condicional da pena, conforme<br />

parecer do Dr. Procurador da<br />

Justica o pedido mereceu indeferimento<br />

do Dr. Juiz em razAo do<br />

argumento ponderAvel de que o<br />

paciente esteve foragido, corn o<br />

evidente propesito de escapar A<br />

aplicacdo da lei penal» (11. 29).<br />

4. 0 inconformismo do impetrante<br />

gerou o recurso ordindrio tern-<br />

pestivo, cub as raz6es refletem a insistAncia<br />

na obtencdo do sursis<br />

(fls. 31/32).<br />

5. Sendo a suspensdo condicional<br />

da pena, desde que satisfeitos os<br />

requisitos legais, urn (Breit() do<br />

condenado, s6 pode o Juiz negarlhe<br />

o beneficio, atravès de decisdo<br />

fundamentada, atendo-se ao exame<br />

dos requisitos fixados em lei:<br />

a - inexistthicia de condenagdo<br />

anterior, irrecorrivel, A pena privativa<br />

de liberdade e<br />

b - presuncdo de que ndo tornarA<br />

a delinqüir, em face de seus antecedentes,<br />

personalidade, motivos e<br />

circunstfincias do crime (art. 57 do<br />

C P , corn a redavdo dada pela Lei<br />

i 6.416/77).<br />

6. No caso em foco, a sentenca<br />

foi omissa (fls. 17v/18) e seu prolator,<br />

posteriormente, externou um<br />

(uric° fundamento para a denegaedo<br />

do sursis: o manter-se, antes,<br />

foragido o reu, corn o propOsito<br />

evidente de escapar A aplicacdo da<br />

lei penal.<br />

Todavia, em face da condencdo<br />

imposta ao recorrente, o fundamento<br />

tornou-se insubsistente,<br />

alèm de ndo ser ele causa p<strong>revista</strong><br />

em lei que impeca a concessdo do<br />

beneficio, como tambtm ndo o 6 a<br />

exist6ncia de recurso do Ministério<br />

PUblico.<br />

JA houve aplicacdo da pena, restando,<br />

agora, resolver-se a respeito<br />

de mero incidente de sua execucdo.<br />

E certo que, em sede de<br />

habeas corpus, ndo se pode perquirir<br />

a presenca dos requisitos exigidos<br />

para a suspensdo condicional<br />

da pena, mas pode-se verificar se o<br />

Juiz da condengdo os examinou, como<br />

deveria, por se tratar de urn direito<br />

do refs.<br />

Por todo o exposto, somos pelo<br />

provimento parcial do recurso, Most)<br />

para que o magistrado prolator


da sentenca condenateria,<br />

limitando-se ao exame dos requisitos<br />

fixados no artlgo 57 do COdigo<br />

Penal, deckla sobre o benefIcio<br />

plelteado pelo reeorrente.D<br />

Dou por felto o relatOrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque (Relator): 0 juiz omitlu,<br />

na sentenca, qualquer referéncia<br />

suspensào condlclonal da pena (fl.<br />

18). E embora provocado pelo recorrente,<br />

que manitestou embargos de<br />

declaracio, limitou-se a responder<br />

laconlcamente, cerca de um mès e<br />

melo depots, que nada havia a declarar<br />

(fl. 10). Somente nas informa-<br />

, cites prestadas em razao da impetracilo<br />

fol que o magistrado acbou<br />

possivel Justificar a negativa do beneffelo<br />

coin as alegativas de que o<br />

recorrente, conquanto desfrutasse de<br />

bons antecedentes, mantivera-se foragido,<br />

e de que o Minlstério Ptiblico<br />

recorrera da decisito do Jtui.<br />

Esses não Sao, todavia, segundo a<br />

lei, motivos capazes de embasar a<br />

R.T.J. — 94<br />

Rife 58.091-RJ - Rel.: Ministro Xavier<br />

de Albuquerque. Recte.: Sebas-<br />

US° Moraes da Silva (Advs.: Josè<br />

Malamud e outro). Recdo.: Tribunal<br />

de Justica do Estado do Rio de Janeiro.<br />

Decisilo: Deram provimento, em<br />

parte, nos termos do voto do Relator.<br />

Unãnhne.<br />

Pres1d8ncia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a Sesos<br />

Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Pebcoto, Soares Muhoz<br />

e Rafael Mayer. —<br />

Subpr ocurador-Geral da Republica,<br />

Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 27 de junho de 1980. —<br />

Melo Carlos Dayrell, Secretftrio.<br />

151<br />

negativa do favor legal perseguido<br />

pelo recorrente, como bem observa o<br />

parecer da Procuradorla-Geral.<br />

Nos termos desse parecer e para o<br />

nele lndicado, dou provimento<br />

parcial ao rectirso.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 63.306— SP<br />

(Primelra Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro SoaresMuftoz.<br />

rats.<br />

Recorrente: Estado de Silo Paulo — Recorrido: Ruy Rodrigues de Mo-<br />

cia.<br />

Executivo fiscal. Decreto-lei n? 960, de 1938. Absolvicilo de lnstán-<br />

NAo p<strong>revista</strong>, pelo Decreto-lei 18 960/38, a absolviciio da Makincia,<br />

nos processes de executive fiscal,<br />

a lei processual civil.<br />

a eles nile se apnea a respelto<br />

Recurso extraorditario conhecido e provido.<br />

ACOADA0<br />

Vistos,<br />

Acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Primeira Turma,<br />

a unanimldade de votos e na<br />

conformidade des notes taquigraficas,<br />

conhecer do recurs° e dar-lhe<br />

provimento.<br />

Brasilia, 27 de marco de 1979. —<br />

Thompson Flores, Presldente —<br />

Soares Moles, Relator.


152<br />

RELATORIO<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Sr. Ministro Soares Muftoz: 0<br />

despacho do ilustre Juiz Humberto<br />

de Andrade Junqueira, Presidente<br />

do Tribunal de Algada do Estado de<br />

São Paulo, exp8s a especie:<br />

«Em processo de executivo fiscal,<br />

o m. juiz absolveu da instancia<br />

o executado, em razed do nao cornparecimento<br />

do procurador da recorrente<br />

audiencia de instrucAo e<br />

julgamento.<br />

Inconformada, a recorrente interp8s<br />

o presente Recurso Extraordined°,<br />

corn fundamento no art.<br />

114, III, letras a e d da Constituicäo<br />

Federal, alegando que o acOrdeo<br />

nä() somente violou o disposto<br />

no art. 62 do Dec.- lei n? 960 como<br />

tambem divergiu de verios actordeo<br />

de outros Tribunals, segundo<br />

os quais nao cabe no processo de<br />

executivo fiscal pedido de absolvicão<br />

de instancia, devendo o magistrado<br />

prosseguir no processo apesar<br />

da ausencia do procurador da<br />

Fazenda Feblica. (Rev. Trib.<br />

247/629; 253/617; 180/784; 147/100;<br />

182/299).<br />

O recurso foi impugnado, opinando<br />

o recorrido pelo indeferimento,<br />

por inocorrencia de violaceo da lei<br />

<strong>federal</strong> e por estar a <strong>jurisprudencia</strong><br />

atual orientada no sentido da<br />

decisão recorrida.<br />

Defiro o processamento do recurso.<br />

O dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l este<br />

comprovado pela invocaceo dos<br />

acOrdeos padrOes do Egregio Tribunal<br />

Federal de Recurso (Rev.<br />

Trib. 247/629) e do Colendo Supremo<br />

Tribunal Federal (Rev. Trib.<br />

253/617).<br />

Por outro lado, o Dec.-lei n? 960<br />

nao cogita da absolvicAo da instancia<br />

em raze() de nao comparecimento<br />

do procurador das partes<br />

em audiencia de instruceo e julga-<br />

mento; e como os arts. 22 e 23 do<br />

Dec.-lei em questa° disciplinam a<br />

audiencia de tal modo que a final o<br />

juiz este obrigado a proferir decise°<br />

sobre 0 merit°, segue-se que o<br />

nä° comparecimento das partes é<br />

considered° irrelevante, mesmo<br />

porque os procuradores da Fazendalice<br />

nä° podem, com sua<br />

ausencia, prejudicar o andamento<br />

do executivo fiscal» (fls. 66 e 67).<br />

A Procuradoria-Geral da Republica,<br />

em parecer elaborado pelo nobre<br />

Procurador Sebastian Ribeiro Salomao,<br />

opinou pelo conhecimento e<br />

provimento do recurso extraordinerio:<br />

«Ha, de fato, dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l<br />

em torn da materia em<br />

discussAo. Os acórdeos trazidos a<br />

confronto, tanto do Egregio Supremo<br />

Tribunal Federal, como do<br />

Egrêgio Tribunal Federal de Recursos<br />

negam a interrupcAo de instancia<br />

na ace() executive fiscal, como<br />

foi decidido pelo v. acerdeo<br />

impugnado.<br />

E a lei dos executivos fiscais e<br />

expressa ao declarer em seu artigo<br />

62 que «a instancia net) se interrompe».<br />

A vulneraceo ao referido<br />

dispositivo legal e, pois, evidente»<br />

(f. 79).<br />

E o relate/1o.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Soares Munoz (Relator):<br />

A deciseo impugnada este em<br />

dissidio corn os arestos indicados como<br />

paradigmas, inclusive corn o proferido<br />

pelo Supremo Tribunal Federal<br />

no RE 20.868, Relator o Ministro<br />

Lafayette de Andrade, cuja ementa<br />

e a seguinte:<br />

«eião incluida no Decreto-lei<br />

n? 960, de 1938, a absolviceo da<br />

instancia, esta nao pode ser decretada<br />

nos processos por ele<br />

regulados a que sabidamente<br />

se° os executivos (DJU, de<br />

6/8/56, peg. 1.203).


Essa orientacao a Corte ratificou,<br />

posterlormente, nos RR EE 52.693 e<br />

56.790, Relator Ministro Villas Boas;<br />

RE 66.146, relator Ministro Luiz Gallotti<br />

e 69.871, relator Ministro Barros<br />

Monteiro.<br />

Ante o exposto, conheco do recurso<br />

e the dou provhnento, para que, cassado<br />

o acOrdao recorrido, prosslga o<br />

executivo como de direito.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 63.306 — SP — Rel. Min. Soares<br />

Mufloz. Recte: Estado de Sao<br />

Paulo. (Adv. Nelson Coutinho. Rec-<br />

R.T.J. — 94<br />

153<br />

do: Ruy Rodrigues de Morals (Advs.<br />

Plinio Ribeiro Volpini e outros).<br />

Decisao: conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator,<br />

unttnime.<br />

Presidancia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a Ses<br />

sacs os Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

'Cunha Peixoto e. Soares<br />

Mufioz — Ausente justificadamente o<br />

Sr. Ministro Rafael Mayer. — 2?<br />

Subprocurador-Geral da Republica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 27 de Marco de 1979. —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretario.<br />

EMBARGOS NO RECURSO EXTRAORDINARIO N? 69.345 — SP<br />

(Tribunal Pleno)<br />

(RE na RTJ 84/851)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Antonio Neder.<br />

Embargante: Celso Aratangy — Embargado: Estado de Sao Paulo.<br />

Nilo se confundem a matéria do direito de que nasce a demanda e<br />

os resultados patrimonials que promanam desse direito.<br />

&zinnia, verbete 443.<br />

3. Embargos de divergencla conhecidos mas rejeltados.<br />

ACORDAO Seu Relator, o eminence Sr. Ministro<br />

Thad Falcão, redi<br />

Vistos e relatados estes autos de desse julgado nestes termos<br />

giu a em enta<br />

Embargos no Recurso Extraordina-<br />

, fl . 1130:<br />

rio n? 69.345, do Estado de Sao Pau- «Prescricao. Sao inconfundivels<br />

lo, em que 6 embargante Celso Ara- o nascimento do direito que autoritangy<br />

e embargado o referido Esta- za o exercicio da acao e os resultado,<br />

decide o Supremo Tribunal Fede- dos patrimonials provenientes ral, em Segal°<br />

do<br />

Plena, unanimemen- direito.<br />

te, conhecer dos embargos mas<br />

rejeitá-los, de acordo com as notas “Na especie nä() se trata de<br />

Juntas.<br />

giro juridica de trato sucessivo, a<br />

Brasilia, 21 de maio de 1980. — ensejar apenas a prescricao das<br />

Antonio Neder, Presidente e Relator.<br />

prestacdes respectivas.<br />

((Recurs() extraordinario a que se<br />

RELATORIO<br />

nega provirnento.»<br />

0 Sr. Ministro Antonio Neder (Re- A mattria uesUonada no re<br />

julgado 6 a se<br />

ferido<br />

o q lator): 0 acerciSto embargado PM pro- do nobre Ministro<br />

guInte,<br />

Mad<br />

que<br />

Falcao,<br />

lelo no voto<br />

fls.<br />

ferido pela egrègla Segunda Turma. 171 e 172:


154<br />

R.T.J. — 94<br />

(CO Sr. Ministro Djaci Falac)<br />

(Relator): «0 autor, ora recorrente,<br />

escrivão aposentado, ajuizou a<br />

presente acAo ordinAria, a 17-6-<br />

1966, visando a elevacAo dos seus<br />

proventos, sob alegacão de haver<br />

participado do movimento constitucionalista<br />

de 1932. Baseou o pedido<br />

no art. 30, letra d, da ConstituicAo<br />

Estadual de 1947, combinado corn o<br />

art. 6? da Lei n? 211/48 e art. 28 da<br />

Lei n? 819/50.<br />

«Entenderam as decisbes na instancia<br />

ordinAria que o suplicante<br />

nilo apresentou o certificado passado<br />

pela ComissAo do art. 30 das<br />

DisposicOes Transitórias, expressamente<br />

exigido pelo art. 28 da Lei<br />

819, de 31-10-1950. ye-se de um lado,<br />

que deixou de apresentar documento<br />

essencial a obtencão do beneficio.<br />

Por outro, jA ilk( podia por<br />

meio judicial pr6prio, demonstrar<br />

a sua participacão ativa no movimento<br />

constitucionalista, por haver<br />

decorrido mats de dez anos a contar<br />

da vigencia da Lei 819/50.<br />

«NAo era possivel conservar em<br />

aberto, por tempo ilimitado, a responsabilidade<br />

do Estado, de modo<br />

a ensejar sempre o direito de KA°.<br />

Dai por que deram pela prescricAo<br />

da acAo, corn apoio no Dec.<br />

20.910/32.<br />

«A meu ver nAo se configura vulneracAo<br />

do direito positivo <strong>federal</strong>.<br />

No entanto, esti) comprovado 0<br />

dIssidlo de julgados. 0 recorrente<br />

traz a confronto o acardilo do RE<br />

57.861, relatado pelo eminente Ministro<br />

Victor Nunes Leal, que leio:»<br />

(...)<br />

Depots de haver feito a leitura do<br />

acOrdAo-paradigms (o do RE<br />

57.861), prosseguiu em seu voto o nobre<br />

Ministro Djaci FalcAo, fls. 175 a<br />

176: «Invoca ainda acardAo de que foi<br />

relator o eminente e saudoso Ministro<br />

Candid° Mota (RE 55.169,<br />

fls. 119 e 120).<br />

«Conhecendo do recurso, negolhe<br />

poram provimento . NA° vejo<br />

como considerar imprescritivel o<br />

direito de postular o reconhecim en<br />

-to da participacão na revolucAo<br />

constitucionalista de 1932.<br />

«Prescreve em cinco anos «todo<br />

e qualquer direito ou acAo contra a<br />

Fazenda Federal, Estadual ou Municipal<br />

seta qual for a sua natureza»<br />

(art. 1? do Dec. 20.910/32). No<br />

mesmo prazo prescrevem as prestacOes<br />

correspondentes a pensbes,<br />

soldo, montepio e quaisquer restituicees<br />

ou diferencas» (art. 2?).<br />

dApegam-se os recorrentes e alguns<br />

interpretes ao art. 31, que reza:<br />

«Quando o pagamento se dividir<br />

por dias, meses e anos, a<br />

prescricAo atingirft progressivamente<br />

as prestactles, a medida<br />

que completarem os prazos estabelecidos<br />

pelo presente decreto».<br />

«A Ultima regra pressupae,<br />

parece-me claro, a existancia de<br />

um direito integrado no patrinaônio<br />

do interessado. Se existe o direito,<br />

at, sim, tern-se a prescricAo progressiva<br />

das prestacOes. SAo inconfundiveis<br />

o nascimento do direito<br />

que autoriza o exercicio da acflo e<br />

os resultados patrimonlais provenientes<br />

desse direito.<br />

«Na evade, jamais foi reconhecido<br />

ao autor, ora recorrente, a<br />

sua condicAo de particiPante at<br />

o movento revolucionArio de<br />

1932, nos im termos da legislagão especial<br />

que dIsciplinou o assunto.<br />

Alem dL;so, ele somente ingressou<br />

em juizo, pleiteando o reconhecimento<br />

dessa condicão indispensAvel<br />

ao bereficie previsto na letra d,<br />

do art. 30, das Disposicees Transi-<br />

&alas da Constituicão Paulist de<br />

a<br />

1947, fora do qfiincitlo ant prescri cional,<br />

conforme jA ficou esclarecido.<br />

«EnfIm, nAo se cogita, como estA<br />

claro, de relacão juridica de trato


sucessivo, a ensejar apenas a prescricAo<br />

das prestacees respectivas.<br />

aPor todo o exposto nego provimento<br />

ao recurso.»<br />

No mesmo sentido votou o nobre<br />

Mastro Moreira Alves, fls. 177 e<br />

178, verbis:<br />

sO Sr. Ministro Moreira Alves —<br />

Estou de inteiro acordo. Sou dos<br />

que entendem que a legislacAo especial<br />

de prescriclio em favor da<br />

Until°, no seu art. 3?, s6 admite a<br />

prescricao pen:dice quando se trata<br />

de efeltos periedicos de direito<br />

ou de situacAo ftmcional Indiacutivel.<br />

Assim, por exemplo, se alguem<br />

6 ftmcionitrio pablko, e todos<br />

os funcionitrios pfiblicos tem dintto<br />

a determinada gratificacão, e<br />

ele nAo a requer, como essa grafificacAo<br />

decorre de situacAo funcional<br />

que nAo se nega, esse efeito da<br />

situacão funcional, que e o pagamento<br />

da gratfficacAo, 6 susceptivel<br />

de ter sua pretense° prescrita<br />

perlodicamente, pots esta renasce<br />

a cada period° em que a<br />

vantagem pecuniftria 6 devida.<br />

allo caso, entretanto, o objeto da<br />

acAo e o prOprio direito de ter gratiftcaqito.<br />

S6 corn o reconbeclmento<br />

de sua existencia a que nasceriam<br />

os efeitos perks:11cm, ou seja, as<br />

vantagens pecuniArias devidas periodicamente.<br />

Neste caso, pots, nAo<br />

M que falar que o direito generic°<br />

a gratificacAo — que a permanente<br />

— nasca e renasca todos os meses,<br />

ou em determinados periodos. Como<br />

6 possivel um Wren° permanente<br />

prescrever periodicamente,<br />

sea expllcaclio da prescricAo peril:Kites<br />

6 justamente decorrente do<br />

fato de que o que prescreve periodicamente<br />

stio seus efeltos que renascem<br />

ao fim de cads periodo?<br />

sEssas, Sr. Presidente, as razdes<br />

por que estou de inteiro acordo<br />

corn a tese de V. Exa. Conheco do<br />

recurs°, em virtude do dissidlo de<br />

R.T.J. — 94<br />

155<br />

Misprudencia, mas The nego provimento.»<br />

Em sua peticAo de embargos,<br />

fis. 182 e seguintes, alega o Embar-<br />

gante que o acerdeo embargado esta<br />

em divergencia corn os que foram<br />

proferidos nestes casos: RE n?<br />

57.861, RE 55.169, Ag 31.756, RE<br />

68.080, ERE 56.188, RE 70.669, e,<br />

tamb6m, nos precedentes que fundamentam<br />

o verbete 443 da Semla.<br />

0 Estado de SA° Paulo impugnou<br />

os embargos corn estas razdes:<br />

(le).<br />

A egregla Procuradoria-Geral<br />

da RepOblIca emitlu sobre o caso este<br />

parecer da lavra do nobre Procurador<br />

Moacir Antonio Machado da<br />

Silva, lb. 195 a 196:<br />

0 v. acerdAo embargado Julgou<br />

prescrita acilo tendente a obter<br />

o beneficio do art. 30, letra d,<br />

do ADCT da Constitulclio de 1947,<br />

de Silo Paulo, assegurado aos parttelpantes<br />

do movilnento revolucio-<br />

nArio de 1932, sob o fundament° de<br />

que visava ela o reconhecimento<br />

do •preprio direito a vantagem e,<br />

nil° se tratando de relacAo juridica<br />

de trato sucessivo, não se haveria<br />

de falar em prescricAo apenas das<br />

respectivas prestactes.<br />

«2. Entre os julgados relaclonados<br />

pela embargante, nao servem<br />

A caracterizano de divergencla os<br />

que fundamentam a &Mule 443, o<br />

RE 68.080 (RV 68/658) e o RE<br />

70.669 (DJ de 4-12-70), vlsto que a<br />

declsao embargada distinguiu nitidamente<br />

a hip6tese de um Wren.°<br />

reconhecido, integrado no patrim6nio<br />

do Interessado, em que a prescricAo<br />

se atinge as prestactles periMicas,<br />

daquela em que a relacilo<br />

juridica nil° 6 de trato sucessivo,<br />

atingindo aqui, a prescricAo, a<br />

acAo pan o reconheclmento do direlto.<br />

«3. Quanto ao ERE 56.188, havia<br />

circunstAncia especial, que nä° esta<br />

presente na hip6tese sub judice:


156<br />

R.T.J. — 94<br />

ali se considerou que o direito A<br />

disponibilidade, previsto no art. 24<br />

do ADCT de 1946, s6 podia ser negado<br />

pelo Governador, razAo por<br />

que o termo initial do prazo prescricional<br />

s6 poderia ser contado do<br />

despacho de indeferimento do Chefe<br />

do Executivo estadual.<br />

Quanto aos demais (RE<br />

57.861, RE 55.169 e AG 31.756), serviram<br />

eles de fundamento para o<br />

recurso extraordinArio e a decisäo<br />

embargada os teve por dissidentes.<br />

Nada obstante, nth) desenvolve o<br />

embargante a tese desses acOrdAos<br />

paradigmas, limitando-se A transcricão<br />

dos trechos que configuram<br />

a divergencia.<br />

De qualquer forma, a melhor<br />

orientacAo 6 efetivamente a do v.<br />

acOrdAo embargado. 0 direito ao<br />

beneficio, no caso sub judice, nAo<br />

inerenie A relacão juridica funcional<br />

nem uma decorrencla necessaria<br />

desse vinculo; pelo contrArio, o<br />

seu reconhecimento estarla condicionado<br />

A apuracao de uma circunstAncia<br />

de fato — a participacão<br />

no movimento revolucionArio<br />

de 1932 — de sorte que nAo se haveria<br />

de falar apenas em prescricAo<br />

das prestacees periedicas.<br />

«6. Pelo conhecimento, mas pela<br />

rejeleAo dos embargos.»<br />

IV. E o relat6rio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Antonio Neder (Relator):<br />

1. A divergencia corn os actin<br />

dãos proferidos no RE n? 68.080, nos<br />

ERE n? 56.188 e no RE 70.669 nAo se<br />

acha demonstrada.<br />

E que o Embargante nAo cumpriu<br />

o art. 305 do Regimento Intern desta<br />

Corte quanto A prova do texto de<br />

cada urn de tais julgados, nem, obviamente,<br />

quanto A transcricAo dos<br />

trechos a serem confrontados.<br />

As duas formalidades constituem<br />

requisitos necessArios de procedi-<br />

mento dos embargos (verbete 290 da<br />

&nutria).<br />

Portanto, nAo se tern como considerar<br />

que os referidos arestos merecam<br />

a qualificacão de paradigmas.<br />

No que diz respeito A divergencia<br />

entre o actudAo l embargado e os que<br />

fundamentam o verbete 443 da<br />

&nunla, estou em que ela nAo se<br />

configura, visto como, na verdade, o<br />

primeiro julgado e os outros nAo se<br />

acham em discordAncia, mas, isto<br />

sim, em harmonia.<br />

0 acOrdAo embargado julgou que,<br />

na especie, a prescricAo 6 do prOprio<br />

direito reclamado, nAo das presta-<br />

66es de trato sucessivo inerentes a<br />

esse direito, e, julgando assim a controversia,<br />

referido acOrdAo reproduziu<br />

o mesmo entendimento inscrito<br />

naquele verbete da Sfnnula, corn o<br />

qual, portanto, se concllia.<br />

Quanto A divergencia entre o ac6r-<br />

(IA° embargado e os tits primeiros<br />

paradigmas indicados na petieão dos<br />

embargos, e de se reconhece-la demonstrada,<br />

isto porque o acOrdAo<br />

agora discutido declarou e afirmou<br />

tal discordAncia.<br />

Portanto, conheco dos embargos.<br />

Mas nAo tenho como recebe-los.<br />

Estou em que deve prevalecer, no<br />

caso, a orientacAo do acOrdAo embargado,<br />

por ser a que se harmoniza<br />

corn a orientacAo que o STF resumiu<br />

no verbete 443 da Stunula.<br />

0 Embargante nAo provou que se<br />

configura a essencia do direito material<br />

que pretende sej a reconhecido.<br />

Se a materia do direito reclamado<br />

nAo se configura na esp6cie, nä° se<br />

tem como cogitar de prescricAo do<br />

direito As parcelas vincendas inerentes<br />

a esse direito.<br />

Disse corn acerto o nobre Ministro<br />

Djaci Falai), no acOrdAo embargado,<br />

que não se podem confundir o direito<br />

de que nasce a demanda e os<br />

resultados patrimoniais que proma-


nam desse direito, fl. 180, e acrescentou,<br />

corn igual acerto, no mesmo<br />

acOrdAo, o nobre Ministro Moreira<br />

Alves, que, no caso, o &reit° reclamado<br />

é o prOprio (Breit° a gratificacAo,<br />

de cujo reconhecimento G que<br />

nasceriam as vantagens pecuniArias<br />

devidas periodicamente, 0. 177.<br />

II. Repito que conheco os embargos<br />

e os rejelto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

ERE 69.345 — SP — Rel.: Min. Antonio<br />

Neder. Embte.: Celso Aratangy<br />

(Adv.: Luiz Carlos Bettiol). Embdo.:<br />

Estado de SAo Paulo (Adva.: LOcia<br />

R.T.J. — 94 157<br />

Machado Monteiro). (Dec. Embda.:<br />

2? T, em 16-6-77.<br />

DecisAo: Conheceu-se dos embargos,<br />

que foram contudo rejeltados.<br />

Votacão uniforme.<br />

Presidência do Senhor Ministro<br />

Antonio Neder. Presentes A SessAo<br />

os Senhores Ministros Djaci FalcAo,<br />

Thompson Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

LeltAo de Abreu. Cordeiro<br />

Guerra, Moreira Alves, Cunha Peixoto,<br />

Soares Munoz, Decio Miranda<br />

e Rafael Mayer. Procurador-Geral<br />

da Repablica, substituto, o Dr. Francisco<br />

de Assts Toledo.<br />

Brasilia, 21 de maio de 1980. —<br />

Alberto Veronese Agular, SecretArio.<br />

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nt 72.809 (AgRA) — SP<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Leitito de Abreu.<br />

Agravantes: Credibras Financeira do Brasil S/A — Crêdito, Financiamento<br />

e Investimento e outra. — Agravada: Estrel Estudos, Representacdes<br />

e AdministracAo S/A.<br />

AcAo para anular letra de cAmbio ao portador. Carencla decreta-<br />

N da. ApllcacAo, pela tetra a, da SOmula 400. DissIdlo No caracterizado.<br />

InviAvel, assim, o recurso extraordinArio, tot o agravo regimental<br />

desprovido.<br />

ACORDAO CredibrAs Financeira do Bra-<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade corn a ata<br />

de julgamentos e notas taquigrAficas,<br />

em negar provimento ao agravo,<br />

unanimemente.<br />

Brasilia, 23 de maio de 1980. —<br />

Djaci FaJell°, Presidente — Leith°<br />

de Abreu, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Leith° de Abreu: 0<br />

sll S/A — Credito, Financiamento<br />

e Investimento, aceitou tetras de<br />

ambit) ao portador sacadas pela<br />

sociedade Estrel Estudos, Representaetles<br />

e Administraello em virtude<br />

de contratos de ttnanciamento<br />

que the fez.<br />

«Segundo se alega, enviados os<br />

titulos A Diva Distribuidora de<br />

Titulos e Valores Moblliarios<br />

Ltda., para distribuicAo, diversas<br />

cambia, num total de Cr$<br />

228.100,00, desapareceram, nAo<br />

sendo possivel precisar se inutiliza-<br />

das, furtadas ou extraviadas.<br />

recurso de apelacalo Sol desprovido, «Com fundamento no artigo 36 do<br />

por maiorla de votos, nestes termos: Decreto 2.044, de 31-12-1908, a Fl-


158<br />

nancladora e a Distribuidora requereram<br />

a restituigão ou a anulactio<br />

das camblais, podendo aglr,<br />

por forga da sentenca que substituir<br />

os titulos, na conformidade do<br />

parligrafo 9?, do citado decreto,<br />

ap6s a citacao por editais publlcados<br />

no Dlario Oficial para que fossem<br />

apresentados em juizo no prazo<br />

de tits meses. Citada por precataria<br />

a sacadora.<br />

«Decorrido o prazo dos editals,<br />

foi a actio julgada improcedente<br />

porque, de acordo corn os artigos<br />

1? e 2? da Lei Uniforme, náo 6 letra<br />

o escrito a que faltar o nome<br />

da pessoa a quem ou A ordem de<br />

quem deve ser paga. Nao pode<br />

macs a letra de cambio ser emitida<br />

ao portador.<br />

«Ern sua apelacao, impugnando<br />

a sentenca, pretendem a sua reforma.<br />

A douta Procuradoria Geral<br />

da Justica 6 pelo improvimento do<br />

recurso. «Especificando os requisitos,<br />

&kr, 6 certo que a Lei Uniforme<br />

tenha eliminado a emissão de letra<br />

em branco, isto 6, titulo dessa natureza<br />

a que faltem requisitos. Expresso<br />

era o Decreto 2.044, que a<br />

letra podia ser emitida ao portador<br />

(art. 1?, ri? IV, segunda figura).<br />

R.T.J. — 94<br />

«Dlspde o artigo 10? da Lel Uniforme<br />

Relativa as Letras de Camillo<br />

e Notas Promissarlas que, 'se<br />

uma letra incompleta no momenta<br />

de ser passada tiver sido completada<br />

contrarlamente aos acordos<br />

realizados nati pode a inobserváncia<br />

desses acordos ser motivo de<br />

oposlcao ao portador, salvo se este<br />

tiver adquirido a letra de ma f6 ou,<br />

adquirindo-a, tenha cometldo uma<br />

falta grave'.<br />

«Esse dispositivo permite nal) s6<br />

a emissAo de letra em branco, como<br />

tambarn posterior aperfeicoamento<br />

do titulo.<br />

«0 Banco Central do Brasil informou:<br />

'A Lei Uniforme, conforme se<br />

ye de seus artigos 1? e nil° per-<br />

mite a letra de cambio ao portador.<br />

0 Brasll aceitou essa !novasilo,<br />

a qual, por6m, nä() atinge as<br />

letras de cambio lancadas em mercado,<br />

em observlincia do disposto<br />

na Lei sobre Mercado de Capitals<br />

(Lei n? 4.728, de 14 de )ulho de<br />

1965)'.<br />

«E esclarece que as letras de<br />

cambia lancadas no mercado, na<br />

conformidade dos artigos 14, Inds°<br />

II e 27, da Lel n? 4.728, obedecem a<br />

disciplina das Resolucdes n?s 45,<br />

de 30-12-66; 104, de 10-12-68; 165, de<br />

24-11-70 e 234, de 01-9-72 (f. 24).<br />

«Em se tratando de sociedade de<br />

financiamento e investimento,<br />

figuram no titulo: a) Sacador<br />

— a empresa ou pessoa fisica<br />

que vai ser financiada, beneficiarla<br />

do contrato de abertura de cr6dito;<br />

b) sacado — a sociedade de<br />

cr6dito, financlamento e investimento<br />

que, ao assumir a obrigaclio<br />

oriunda do saque, passa a ser responsavel<br />

pelo pagamento da letra<br />

de cambia em virtude do aceite<br />

que lancou no referido titulo; c) beneflciario<br />

— as letras de cambio<br />

sari, via de regra, emitidas ao portador.<br />

Assim, o beneflciario sera o<br />

comprador do titulo, o inversor ou<br />

a pessoa A qual, pela simples tradicflo<br />

o titulo foi transferido (The6phllo<br />

de Azeredo Santos, Manual<br />

dos Titulos de Credit°, 3? Ed. pag.<br />

124).<br />

«De acordo corn o artigo 2?, § 4?,<br />

I, do Decreto-lei n? 427, de 22-1-69,<br />

nAo 6 obrigatario o registro dos<br />

titulos sacados em funcão de contratos<br />

especificos de abertura de<br />

credlto celebrados corn instituicOes<br />

financeiras.<br />

«Por um simples edital pretende<br />

a sociedade financelra sacada, responsAvel<br />

pelo pagamento das letras<br />

de camblo em virtude do aceite<br />

que lancou nos titulos, eximir-se<br />

de sua responsabilldade anulandoos.


processo de anulaclio da letra<br />

previsto no artigo 36 do Decreto<br />

2.044 6 privativo da pessoa a favor<br />

de quem a ordem 6 dada. 0 beneficifulo,<br />

o portador, o favorecido.<br />

«Decretada a nulidade do titulo<br />

extraviado ou destruldo, 'por esta<br />

sentence, flea o proprietitrio<br />

tad°, pare o exercicio da ace° executive<br />

contra o aceltante e os outros<br />

co-obrigados' (94?).<br />

«A acão de recuperacAo de titulo<br />

ao portador, segundo o dIsposto<br />

nos artigos 336 a 342, do Cedigo de<br />

Process° Civil, anterior, igualmente,<br />

ao beneficlarlo portador, que na<br />

conclusAo pediria a notificacilo do<br />

devedor do titulo, pare que No pague<br />

o capital e os juros ou dividendos<br />

(art. 336, paragrafo Unico, letra<br />

a).<br />

«Regulam os artigos 907 a 913 do<br />

. Gems° de Processo em vigor o<br />

mesmo procedlmento.<br />

daltimitm-se pare a acão de<br />

anulacilo e substltuicalo de Milos<br />

ao portador, as mamas pessoas a<br />

quern igual procedimento era usegurado<br />

pelas leis supra mencionadas.<br />

«Disptie expressamente o artigo<br />

908, II, 'requerendo a cftacilo do<br />

devedor, pare que deposite em<br />

brim o capital, bem como os juros<br />

ou divldendos vencidos ou vincendos'.<br />

«0 sacado nAo se legitima pare<br />

demander a nulidade de titulo, culo<br />

pagamento assumiu corn o aceite.<br />

Mormente em se tratando de<br />

obrigacOes assumMas pare serem<br />

lancadas no mercado de capitals.<br />

Sua seguranCa .nio se compraz<br />

corn a anulacilo apes o decurso de<br />

um simples edital publlcado no era<br />

oficial.<br />

«Somente the b permitido deixar<br />

tie efetuar o pagamento depots de<br />

cumpridamente proved() No se<br />

tratar o portador de legfttmo proprIetirto<br />

da tetra de amble saca-<br />

— 94 159<br />

da pela pessoa fisica ou buldica flnanciada,<br />

aceita pela soctedade de<br />

cr6d1to, financlamento e investfmento<br />

financladora» (fls. 11-15).<br />

Rejettados os embargos infringen-<br />

tes, veto aos autos recurso extraordi-<br />

Uri°, que No logrou ser processado,<br />

porque, pela letra a, o despacho<br />

denegatOrio aplicou a SUmula 400, e<br />

pela letra d, teve o dlssidlo por No<br />

caracterizado.<br />

Ao agravo de instrumento neguel<br />

seguimento, reportando-me As ra-<br />

zees do despacho local. Dal o agravo<br />

regimental, que insiste na viabilidade<br />

do apelo Ultimo.<br />

to relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Len° de Abreu<br />

(Relator): Insistem as agravantes<br />

em que o actirdão recorrido negou<br />

vigencia ao artigo 39 do Decreto n?<br />

2.044, de 1908, que preceltua<br />

possuldor<br />

ser o<br />

legftimo proprieterio da<br />

letra ao portador e da letra endossada<br />

em branco. Afirmam, igualmente,<br />

porem, sem fundamentar a alegaga°,<br />

ter o aresto ofendido os artigos<br />

521, 524 e 1.509, do Cedigo Civil,<br />

907 do Cetligo de Processo Civil e 36<br />

do Decreto n? 2.044, de 1908.<br />

A verdade 6, no entente, que o<br />

ao5rdäo local nAo vlolou as normas<br />

dadas como ofendidas, dando-Ihe, ao<br />

contrarlo, interpretacilo razoitvel.<br />

Do acerdAo da apelaclio, transcrito<br />

no relatório, relelo, Pan<br />

conclusAo, o seguinte trecho:<br />

abonar essa<br />

«Por um simples edital pretende<br />

a soctedade fbranceire secede, res-<br />

Dons/mei pelo pagamento das Tetras<br />

de cemblo em virtude do aceite<br />

que lancou nos titulos, exlmir-se<br />

de sue responsabilidade,<br />

processo de anulacgo da tetra<br />

prevato no litho 36 do Decreto<br />

2.044, 6 privative da pampa as favor


160<br />

R.T.J. — 94<br />

de quem a ordem A dada: o beneficiArio,<br />

o portador, o favorecido.<br />

«Decretada a nulidade do titulo<br />

extraviado ou destruido, 'por esta<br />

sentenca, fica o proprietArio habiltado,<br />

para o exercicio da acão executiva<br />

contra o aceitante e os outros<br />

co-obrigados' (§ 4? ) .<br />

«A acAo de recuperacão de titulo<br />

ao portador, segundo o disposto<br />

nos artigos 336 a 342 do C6digo de<br />

Processo Civil anterior, igualmente<br />

ao beneficiArio portador, que na<br />

conclusão pediria a notificacAo do<br />

devedor do titulo, para que nAo pague<br />

o capital e os Juros ou dividendos<br />

(artigo 336, parAgrafo Anico,<br />

letra a).<br />

«Regulam os artigos 907 a 913 do<br />

C6cligo de Processo em vigor o<br />

mesmo procedimento.<br />

«Legitimam-se para a acAo de<br />

anulacAo e substituicAo de titulos<br />

ao portador, as mesmas pessoas a<br />

quem igual procedimento era assegurado<br />

pelas leis supra mencionadas.<br />

«Disp6e expressamente o artigo<br />

908, II, 'requerendo a citacilo do<br />

devedor, para que deposite em<br />

juizo o capital, bem como os juros<br />

ou dividendos vencidos ou vincendos'.<br />

«0 sacado nAo se legitima para<br />

demandar a nulidade de titulo, cu-<br />

Jo pagamento assumlu corn o aceite.<br />

Mormente ern se tratando de<br />

obrigacOes assumidas para serem<br />

lancadas no mercado de capitals.<br />

Sua seguranca nAo se compraz<br />

corn a anulacAo ap6s o decurso de<br />

urn simples edital publicado no orgAo<br />

«Somente the 6 permitido deixar<br />

de efetuar o pagamento depois de<br />

cumpridamente provado nAo se<br />

tratar o portador de legitimo proprietArio<br />

da letra de cAmbio sacada<br />

pela pessoa fisica ou juridica financiada,<br />

aceita pela sociedade de<br />

crédito, financiamento e investimento<br />

financiadora » (fls. 14-15).<br />

Alega-se, na peticAo de agravo regimental,<br />

que uma das agravantes,<br />

a Diva Distribuidora de Titulos e Valores<br />

MobiliArios Ltda., sAcia da outra<br />

agravante, isto A, a CredibrAs Financeira<br />

do Brasil S/A, Cr6dito, Flnanciamento<br />

e Investimento era procuradora<br />

da agravada, ou seta, a<br />

Estrel Estudos, RepresentagOes e<br />

Administraciio S/A. Dal se tira o argument°<br />

para infirmar a conclusão<br />

a que chegou o actin:1E10 impugnado.<br />

Ocorre, contudo, que este nAo cuidou<br />

desta situacAo, limitando-se a afirmar<br />

o principio de que a sociedade<br />

financeira sacada, responsAvel pelo<br />

pagamento das letras de cAmbio em<br />

virtude do aceite-que lancou nos titulos,<br />

nAo pode, por simples edital,<br />

anular os ditos titulos, para eximirse<br />

de sua responsabilidade. Isto porque<br />

— diz — o processo de anulacão<br />

da letra previsto no artigo 36 do Decreto<br />

n? 2.044, 6 privativo da pessoa<br />

a favor de quem a ordem 6 dada, isto<br />

A: o beneficiArio, o portador, o f avorecido.<br />

NAo tendo, pots, o aresto<br />

recorrido versado a questAo suscitada<br />

pelas agravantes, tornou-se ela<br />

insuscetivel de exame em recurso<br />

extraordinArio.<br />

Quanto ao dissidlo, os acerdAos<br />

trazidos a confronto, em flamer° de<br />

tries, citados As fls. 28 e 29, tal como<br />

frisa o despacho presidential que<br />

inadmitiu o recurso, nAo se assemelham<br />

ao aresto impugnado nem corn<br />

ele se identificam.<br />

Nego provimento ao agravo regimental.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

Ag 72.809 (AgRg) — SP — Rel.:<br />

Min. LeitAo de Abreu. Agte.: CredibrAs<br />

Financeira do Brasil S/A —<br />

CrAdito, Financiamento, e Investimento<br />

e outra (Advs.: Lourival Dantas<br />

e Paulo Cesar Gontijo). Agda.:<br />

Estrel Estudos, Representacties e


Administractio S/A (Adv.: 3! Curadoria<br />

de Ausentes e Incapazes).<br />

DecisAo: Negado provimento ao<br />

Agravo Regimental. UnAnime.<br />

Presiciéncia do Senhor Ministro<br />

Di ad FaIca°. Presentes A Sessão os<br />

Senhores Ministros LeftAo de Abreu,<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Sessão<br />

R.T.J. — 99<br />

161<br />

Moreira Alves e Decio Miranda. Ausente,<br />

Justificadamente, o Senhor<br />

Mlnistro Cordeiro Guerra. Subprocurador-Geral<br />

da RepUblica, o Dr.<br />

Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 23 de maio de 1980. —<br />

Hello Francisco Marques, SecretArlo<br />

AGRAVO DE INSTRUMENTO N? 73.300 — (AgRg) — RS<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cunha Peixoto.<br />

Agravante: S.A. Feltros Renner.<br />

Agravo Regimental em agravo de instrumento — Matkria trabalhista<br />

— Agravo de instrumento interposto de despacho proferido pelo<br />

presldente do Tribunal Superior do Trabalho, negando seguimento<br />

a recurso extraordinitrio em decistio proferida pela Justica Especializada<br />

— Prazo.<br />

0 prazo para interposiclio de agravo de instrumento, na hipOtese,<br />

6 de cinco dias (arts. 106 do R. I. S. T. F. e 188 do C. P. C.), nao se aplicando,<br />

a esp6cie, o art. 897, 1? da C. L. T., que regula o prazo apenas<br />

para o procedimento Wilda na esfera da Justica do Trabalho.<br />

Precedente: Ag. n? 68.590 (AgRg) — SP — (Pleno, SessAo de<br />

17.11.76 — DJ de 13.12.976).<br />

Agravo regimental improvido.<br />

ACORDA0 prazo comecado a fluir, conseqUen-<br />

temente, na sexta-feira, dia<br />

15.07.977, vindo a findar no dia 19<br />

do mesmo mes e ano (terca-feira).<br />

PlenAria, na conformidade da ata do<br />

Julgamento e das notas taqulgrAficas,<br />

por unanimidade de votos, em<br />

negar provimento ao Agravo Regimental.<br />

Brasilia, 07 de Ruth° de 1978. —<br />

Antonio Neder, Presidente — Cunha<br />

Pebcoto, Relator.<br />

A peticão do agravo, entretanto,<br />

somente fol protocolada no dia<br />

22.07.977, portanto serodiamente.<br />

Nos termos do art. 22, § 1? do Regimento<br />

Intern do Supremo Tribunal<br />

Federal, determino o arquivamento<br />

do processo.»<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Cunha Pebtoto: 0<br />

Despacho pelo qual neguei segulmento<br />

ao agravo de instrumento 6<br />

do seguinte teor (1. 44):<br />

rcO despacho agravado Poi publicado<br />

no Mario da Justica de<br />

13.07.977, que circulou no dia seguinte,<br />

14 ( qulnta-feira), tendo 0<br />

Agrava de regiment a recorrente,<br />

sob a alegagAo de que, tratando-se<br />

de mat6ria sujeita a Justica do Tra-<br />

balite), o prazo para a interposicão do<br />

agravo de instrumento a de °Ito dias,<br />

nos termos do art. 897, letra «b», E §<br />

1?, da ConsolidacAo das Leis do Trabalho.<br />

E o relatOrio.


162<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cunha Peixoto (Reiator)<br />

— 1. 0 colendo Supremo Tribunal<br />

Federal, em Decisao 1"lenaria<br />

proferida na Sessao de 17.11.976, no<br />

julgamento do agravo regimental<br />

em agravo de instrumento n? 68.590<br />

— SP, relator o eminente Ministro<br />

Antonio Neder, firmou <strong>jurisprudencia</strong><br />

no sentido de que o dispositivo da<br />

Consolidacao das Leis do Trabalho<br />

citado pela agravante nao se aplica<br />

aos recursos dirigidos a Excelsa<br />

Corte.<br />

0 precedente referido, publicado<br />

no Diario da Justica de 13.12.976,<br />

porta a seguinte ementa:<br />

«1. Agravo de instrumento interposto<br />

a decisao que denega recurso<br />

extraordinario ajuizado perante o<br />

Tribunal Superior do Trabalho. Seu<br />

prazo e de cinco dias.<br />

Sendo agravante a Fazenda<br />

blica, dito prazo a duplicado, como<br />

exprimem o art. 106 do R. I. do S.<br />

T. F. e o art. 188 do C. Pr. Civil.<br />

R.T.J. — 94<br />

Inadmissivel a ideia de que o<br />

prazo, na especie, e o de oito dias<br />

previsto no artigo 897, § 1?, da<br />

C.L.T., pots este Ultimo na p a apli-<br />

cavel ao procedimento do recurso<br />

extraordinario, e sim ao do processo<br />

trabalhista.<br />

2. Agravo regimental ajuizado<br />

pelo Estado de Sao Paulo e desprovido<br />

pelo S.T.F.».<br />

— Nego provimento ao agravo regimental.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

Ag 73.300 — (AgRg) — RS — Rel.,<br />

Min. Cunha Peixoto. Agte.: S.A. Feltros<br />

Renner (Advs.: Jose Alberto<br />

Couto Maciel e outro).<br />

Decisao: Negado provimento, unanimemente.<br />

Votou o Presidente.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder, Vice-Presidente, na ausencia<br />

ocasional do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores, Presidente. Presentes<br />

a Sessao os Srs. Ministros<br />

Djaci Falcao, Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Alckmin, Leitao de<br />

Abreu, Cordeiro Guerra, Moreira Alves,<br />

Cunha Peixoto e Soares Munoz.<br />

Procurador-Geral da RepUblica o<br />

Prof. Henrique Fonseca de Arafijo.<br />

Brasilia, 7 de junho de 1978. —<br />

Alberto Veronese Aguiar, Secretario.<br />

AGRAVO DE INSTRUMENTO N? 73.890 (AgRg) — RJ<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Djaci Falcao<br />

Agravante: Sinclicato dos Bancos dos Estados do Rio de Janeiro e Espirito<br />

Santo — Agravados: Federacao dos Empregados em Estabelecimentos<br />

Bancarios dos Estados do Rio de Janeiro e Espirito Santo e outros<br />

Descabimento de recurso extraordinario contra decisAo que se limitou<br />

a emitir juizo interpretativo sobre a eficacla e extensào de sentenca,<br />

sem se contrapor aos preceitos constitucionals da legalidade,<br />

da coisa julgada e do controle Indiciado (§§ 2?, 3? e 4? do art. 153).<br />

Agravo regimental improvido.


ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em SessAo<br />

Plena, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigráficas,<br />

por unanimidade de votos, negar<br />

provimento ao agravo.<br />

Brasilia, 27 de junho de 1979 —<br />

Xavier de Albuquerque, Presidente<br />

— Djaci Falai), Relator.<br />

FtELATORIO<br />

0 Sr. Mastro Djaci FalcAo: —<br />

Culda-se de agravo regimental manifestado<br />

em tempo Mil, contra o despacho<br />

de f. 56, que leio.<br />

F de o agravante:<br />

«0 v. despacho ftmdamenta-se<br />

em que o limite da eficacia da sentence<br />

normativa rescindida 6 0<br />

momento do tritnsito em Julgado<br />

da sentenca que a desconstituiu.<br />

Em conseqftencia, nega qualquer<br />

eficAcia retroativa ao julgamento<br />

proferido na acao resciseria, que<br />

deu pela nulidade parcial da sentenca<br />

rescindenda.<br />

Entretanto, o v. despacho não<br />

examinou a outra questAo oportunamente<br />

suscltada no agravo de<br />

instrumento e na peticAo de recurso<br />

extraordinfirio: o v. acOrdAo<br />

proferido na acao rescisdia rift<br />

poderia dispor sobre a sua eficãcia<br />

em relacito as rides de cumprimento,<br />

porque isto 6 matkria estranha<br />

a Ude e afeta a Utispendência,<br />

isto 6, as aches de cumprimento<br />

em curso.<br />

Se a materia 6 de dissidio coletivo,<br />

cabe apenas estabelecer normas<br />

e condicOes de trabaiho, não<br />

regras processuais aplicAvels a outros<br />

processos em curso.<br />

Nao examinou, portanto, o v.<br />

despacho a incompetencia funcional<br />

e ration materiae do E. Tribunal<br />

Superior do Trabalho, para de-<br />

R.T.J. — 94<br />

163<br />

nesta acao rescis6ria, sobre<br />

as ashes de cumprimento em cur-<br />

so, sobretudo porque isto não fol<br />

pedido ate que se configurasse a li-<br />

Uspendencia, mas, apenas, em embargos<br />

de declaracAo do Sindicato<br />

de Empregados.<br />

Se o direito alitelo esta pendente<br />

de decisAo judicial, o E. Tribunal<br />

Superior do Trabalho, data yenta,<br />

não podia transiglr com o direito<br />

alheio, prejulgando todas as aches<br />

de cumprimento. Mufto menos poderia<br />

faze-lo numa acao rescis6ria<br />

em que deu ganho de causa a parte,<br />

tomando !nail a acao corretiva<br />

exercida atraves da referida acao<br />

rescisOria.<br />

Por esse motivo se detrain como<br />

violados os arts. 142, § 1?, e 153, $*<br />

2? e 4?, da ConstituicAo: incompe-<br />

tente o TST, supressAo do direito<br />

adquirido das partes a prestacAo<br />

jurisdicional correspondente as<br />

ashes de cumprimento em curso,<br />

construcAo de direito novo, fora do<br />

objeto do litigio. Violado, tambem<br />

§ 4? do art. 141 da ConstituicAo,<br />

porque a compete/Ida das Juntas e<br />

dos TRTs, ainda nAo exaurida nas<br />

aches de cumprimento, ntio poderia<br />

ser desconsiderada pela v. de-<br />

, que cerceou o seu !lyre<br />

exercicio.» (fls. 58 e 59)<br />

E, ap6s invocar o magistério de<br />

camelutti, acrescenta:<br />

« Raciocinando, pots, agora corn<br />

Carneluttl: se a decisão proferida<br />

na resciseria estabeleceu awn()<br />

que into devia ser, na sentenca rescindenda,<br />

por uma razão de<br />

nulidade (Julgamento clamorosamente<br />

extra petitum), afronta a 16gica<br />

e o bom-senso supor que este<br />

não-ser da sentenca rescindenda<br />

seja relativo, permitindo o enriquedmento<br />

lliclto dos empregados, e,<br />

o que 6 o plor, impedindo os Adzes<br />

competentes de decidirer. a respeito,<br />

para, desde logo, atribuir<br />

aos empregados o direito, nAo apenas<br />

de permanecer corn o que JA


164<br />

tenham recebido, mas, sim, de<br />

continuer exigindo aqullo a que<br />

se sabe que tie° tern direito! Se<br />

Carnelutti conhecesse a situagão<br />

desta causa, teria bastante reforcada<br />

a sua conviccao pela necessaria<br />

retroatividade da sentenca que<br />

desconstitui outra, em razão da nulidade.»<br />

(fls. 61 a 62)<br />

R.T.J. — 94<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Djaci Falai) (Relator):<br />

Estabeleceu o acerdao recorddo,<br />

consoante declaracão feita em<br />

grau de embargos: as gratificacnes<br />

percebidas pelos bancarios ate o<br />

transito em julgado do acardao que<br />

as rescindiu e reajustou nä° sera°<br />

devolvidas aos bancos empregadores<br />

mas, dali por diante, reduzidas na<br />

forma do referido acardao, unanimementeD<br />

(f. 22).<br />

Alias, ficou expresso no acerdao<br />

dos embargos de declaracao opostos<br />

pelo Sindicato dos Bancos:<br />

«Nada de obscuro ou de duvidoso<br />

no acerciao embargado, eis que declara<br />

!IA° susceptiveis de devolucAo<br />

as gratificac6es pagas ate a<br />

data da publicacAo do acerclao.<br />

Na realidade, o que pretende o<br />

Embargante e inovar o decidido na<br />

acao resciseria, estabelecendo normas,<br />

prOprias de execucAo.<br />

Todavia, o que nao autoriza a lei<br />

e a pretensão de consignacao no<br />

acardAo que rescindiu clausula da<br />

sentenca normativa, de solucão<br />

prOpria da execucão.» (f. 123, do<br />

Ag 75.161).<br />

A agravante sustenta, em Ultima<br />

analise, que o acerdão recorrido teria<br />

decidido alem dos limites do objeto<br />

do litigio. Isso, a rigor, importaria<br />

em vulneragao da regra do art.<br />

128 do C.P.C. NAo ha que falar, pois<br />

em ofensa ao § 1? do art. 142 da<br />

ConstituicAo Federal, que disciplina<br />

os limites da competencia normativa<br />

da Justica do Trabalho.<br />

A decisAo objeto do recurso extraordinario<br />

cingiu-se a emitir juizo<br />

interpretativo sobre a eficacia e extensão<br />

da sentenca, sem se contrapor<br />

aos preceitos constitucionais da<br />

legalidade, da coisa julgada e do<br />

controle judiciario (§§ 2?, 3? e 9? do<br />

art. 153).<br />

Na verdade, o aresto recorrido entendeu<br />

que a decisao rescindente<br />

opera a partir do transit° em julgado.<br />

Como quer que seja, !IA° se ye<br />

demonstrada afronta a preceito de<br />

ordem constitucional.<br />

Assim sendo, nego provimento ao<br />

agravo.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

Ag 73.890 — (AgRg) — RJ — Rel.:<br />

Min. Djaci Falcao. Agte.: Sindicato<br />

dos Bancos dos Estados do Rio de<br />

Janeiro e Espirito Santo (Adv.: Hugo<br />

Gueiros Bernardes). Agdos.: Federacao<br />

dos Empregados em Estabelecimentos<br />

Bancarlos dos Estados do<br />

Rio de Janeiro e Espirito Santo e outros<br />

(Advs • Maria Lticia Vitorino<br />

Borba e outro).<br />

Decisao: Negado provimento, unanimemente.<br />

Votou o Presidente. Ausente,<br />

ocasionalmente, o Sr. Ministro<br />

Antonio Neaer, Presidente. Presidiu<br />

ao julgamento o Sr. Min. Xavier de<br />

Albuquerque, Vice-Presidente.<br />

Presidencia do Senhor Ministro<br />

Xavier de Albuquerque, na ausencia<br />

ocasional do Senhor Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes a Sessao os Senhores<br />

Ministros Djaci Falcao, Thompson<br />

Flores, LeitAo de Abreu, Cordeiro<br />

Guerra, Cunha Peixoto, Soares<br />

Munoz, Decio Miranda e Rafael Mayer.<br />

— Ausente, justificadamen te, o<br />

Sr. Ministro Moreira Alves. —<br />

Procurador-Geral da Reptblica, Dr.<br />

Firmino Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 27 de junho de 1979. —<br />

Alberto Veronese Aguiar, Secreted°.


R.T.J. — 94<br />

AGRAVO DE INSTRUMENTO N? 75.161 (AgRg) — RJ<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Djaci FalcAo.<br />

Agravantes: Federacho dos Empregados em Estabelecimentos Banchrios<br />

dos Estados do Rio de Janeiro e Espirito Santo e outros. — A gravado:<br />

Sindicato dos Bancos dos Estados do Rio de Janeiro e Espirito Santo.<br />

Descabimento de recurso extraordinArio, por nAo se configurar<br />

afronta a preceito de ordem constitucional (art. 143).<br />

Agravo regimental a que se nega provimento.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Sessào<br />

Plena, na conformidade da ata do<br />

)ulgamento e das notas taquigrAficas,<br />

por unanimidade de votos, negar<br />

provimento ao agravo.<br />

Brasilia, 27 de junho de 1979 —<br />

Xavier de Albuquerque, Presidente<br />

— Djaci FalcAo. Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Mac' Falcão. Em<br />

tempo oportuno hot interposto este<br />

agravo regimental contra o despaelm<br />

de fls. 207 a 208, que lelo.<br />

Diz a agravante, por intermtdio do<br />

seu patron:<br />

“Da ofensa A coisa Julgada e ao<br />

ato Juridico perfeito<br />

E necessario, para o fiel entendimento<br />

da mattria, urn resumo dos<br />

fatos:<br />

o Egr6gio TRT, ao jtzlgar o<br />

RO-DC 118/72, institui a clAusula<br />

normativa que assegurou uma<br />

gratificacAo de Mingo pare os<br />

bancArios exercentes de determinadas<br />

lunches.<br />

Ocorrldo o trAnsito em Julgado<br />

daquela decisAo, foram<br />

ajuizadas numerosas aches de<br />

cumprimento, corn arrimo no artigo<br />

872 e seu parAgrafo fink° da<br />

Cons°Macao das Leis do Traba-<br />

iho, Codas elas julgadas procedentes,<br />

inclusive por decisho des-<br />

se Excelso Prethrlo conforme<br />

provam diversas xerochpias anexas.<br />

Dezenas e dezenas das aches<br />

de cumprimento jA obtiveram<br />

trAnsito em julgado, sendo XI/311m<br />

e nothrio que os seus benefi-<br />

Winos ja receberam vultosas<br />

importAnclas.<br />

0 acerclio recorrido permite<br />

a devolucáo de importancias recebidas,<br />

corn base no transit° em<br />

Julgado ocorrido nas respectivas<br />

aches de cumprimento, sem que<br />

os acOrdAos proferidos em ditas<br />

aches tenham sido rescindidos.<br />

0 artigo 153, 3?. da Carta Magna<br />

estabelece que a lei nAo prejudicar&<br />

o ato Juridico perfeito e a colsa<br />

julgada.<br />

A presente acAo rescisbria pretendeu<br />

rescindir tAo somente a<br />

clAusula sexta do acOrdAo proferi-<br />

do no RO-DC 118/72. NSo teve por<br />

obJeto, nem indiretamente, rescindir<br />

as numerosas decisbes proferidas<br />

nas awes de cumprimento.<br />

As decishes proferidas nas aches<br />

dcu mprimento nAo sAo atacAveis<br />

sequer por via de acAo rescisoria,<br />

uma vez que elas thm perfeito arrimo<br />

no que disptle o art. 872, parAgrafo<br />

Wilco, da ConsolidacAo das<br />

Leis do Trabalho.<br />

Ademais, a devolucão autorizada<br />

abrange inclusive decisties prolata-<br />

165


166<br />

R.T.J. — 94<br />

das, ha mais de dois anos, isto e,<br />

que nAo sAo mais atacAveis sequer<br />

por meio de uma acAo rescisAria<br />

prOpria. No particular, o acerdAo<br />

sub censura violenta, ostensivamente,<br />

o artigo 836 da Carta Trabalhista.<br />

As acOes de cumprimento tinham<br />

perfeito arrimo no parAgrafo<br />

Calico do artigo 872 da CLT. Tanto<br />

isto 6 verdadeiro que todas elas foram<br />

julgadas procedentes, inclusive<br />

corn o beneplAcito de numerosos<br />

acerdAos proferidos por esse Excelso<br />

Pret6rio. Logo, ditas decisOes<br />

configuram o instituto do ato<br />

juridic° perfeito.<br />

A estranha devolucão das importAncias<br />

recebidas, corn base no ato<br />

juridic° perfeito e no Institut° da<br />

coisa julgada, sem dnvida alguma,<br />

atentatAria ao 3? do artigo 153<br />

da Constituicáo Federal.<br />

Ninguem pode negar que o recebimento<br />

das gratificacOes de funcAo,<br />

A base do acOrdAo proferido<br />

ern autos de dissidio coletivo, cuja<br />

rescisAo ainda nAo se operou, encontrou<br />

suporte no art. 872 da CLT.<br />

Este dispositivo determina que,<br />

nas acOes de cumprimento, não se<br />

discutem as razOes de fato e de direlto<br />

da decisào normativa objeto<br />

da execucAo. E foi por esta razAo<br />

que centenas de agOes de cumpriforam<br />

julgadas procedentes,<br />

mu<br />

inclusive com o aval do Excelso<br />

PretArio, conforme retratam os<br />

acOrdAos de fls. 46 a 73. Assim, hA<br />

centenas, de Wes de cumprimento,<br />

nas quaffs se determina o pagamento<br />

integral daquelas gratificacOes,<br />

todas elas jA abrangidas pelos<br />

efeitos da coisa julgada.<br />

Apesar dist°, o acOrdAo recorrido<br />

prev6 a devolucão de parte daquelas<br />

importAncias ja recebidas.<br />

A questAo relevantissima que se<br />

coloca para exame e a seguinte: o<br />

acerdão proferido, nos autos da<br />

AR-5/74, cuja finalidade especifica<br />

e exclusiva é rescindir a decisdo<br />

proferida nos autos do RO-DC<br />

118/72, pode alcancar a coisa julgada<br />

formada nas numerosas acOes<br />

de cumprimento? Evidentemente<br />

que a resposta sO pode ser negativa.<br />

As acees de cumprimento se<br />

constituiram em processos autemomos<br />

e distintos. Alem do mais, na<br />

presente acão rescisOria, nä° hA o<br />

pedio do Aut visando alcancar<br />

os efeitos das or decisOes proferidas<br />

nas acOes de cumprimento.<br />

Tais fatos caracterizam infrinencia<br />

A coisa julgada e ao ato<br />

juridico perfeito e acabado. ViolaeAo<br />

do art. 836 da CLT, que estabelece<br />

a eficAcia da coisa julgada, ao<br />

mesmo tempo que fixa o prazo de<br />

dois anos para o exercicio da mesma.<br />

A eficAcia das decisOes proferidas<br />

nas acOes de cumprimento,<br />

independe do resultado da presente<br />

acAo rescisOria, tanto assim que,<br />

baseado nelas, numerosos autores<br />

ja receberam as gratificagOes de<br />

tuna); acrescente-se que muitas<br />

dessas decis6es, conforme revelam<br />

os arestos de fls. 46 e seguintes, jA<br />

transitaram em julgado, hA mats<br />

de dots anos; portanto, ja nAo sAo<br />

mais atacAveis sequer por meio de<br />

acOes resciserias prOprias, que tivessem<br />

por objeto rescindir a decisal]<br />

final proferida em cada urn daqueles<br />

processos.<br />

0 ato juridic° perfeito e acabado<br />

tambem esta presente, em cada<br />

um dos processos de agOes de cumprimento,<br />

no momento em que<br />

gerada a eficAcia da coisa julgada.<br />

Deferir-se a vulnerabilidade daqueles<br />

acOrdAos, em consequthcia<br />

dos efeitos da presente acão rescis6ria,<br />

que jamais teve como objeto<br />

rescindir actirdAos daqueles processos,<br />

significa ostensiva ofensa<br />

ao 3? do art. 153 da ConstituicAo<br />

Federal.


Violacao do Art. 142,<br />

1?, da carte politica<br />

A tenure da Integra do act:n..0°<br />

do Excelso Pretario, fls. 26/28, deixa<br />

claro que a Justice do Trabalho<br />

ofende o § 1? do art. 142 da Constituicao,<br />

sempre que decidir de forma<br />

contraria a mandamento insito<br />

nas normal legais disciplinadoras<br />

da chamada politica salarial do<br />

Governo.<br />

A veneranda decisao recorrida<br />

determinou que Mr) devolviveis as<br />

importanclas recebidas, posteriormente<br />

a publicacao do acardao sub<br />

censura, na parte excelente dos<br />

quantitativos nele fixados.<br />

A decisao, concessa Yenta, ofende,<br />

Ilteralmente, ao § 3? do artigo<br />

6? da Lei n? 4.725/65, verb's<br />

Ǥ 3?. 0 provimento do recurso<br />

nao importare na restituicao dossalerios<br />

ou vantagens pagos, em<br />

execucao de julgado.»<br />

Como vemos, a norma 6 categ6rice<br />

na vedacão a devolucao de<br />

qualquer importancia recebida em<br />

decorrencia de ea° de cumprimento<br />

de clausulas de dissidlo coletivo.<br />

0 sentido social do § 3? 6 de alcance<br />

mifitiplo:<br />

Erna a intrancjilllidade dos<br />

trabalhadores beneficlarlos com<br />

vantagens decorrentes de sentences<br />

normativas, a qual subsistiria<br />

sempre, caso a° se tivesse a<br />

certeza de sua eficacia.<br />

Evita-se a defasagem dos<br />

salarios, os quals se suportam<br />

nos limites minimos de sobrevivancia<br />

dos assalariados, sobrevivencia<br />

que As vezes nem sempre<br />

atinge os requisitos da prepria<br />

dignidade humana, entendida esta<br />

dentro dos conceitos modernos<br />

sobre as finalldades da vide de<br />

qualquer ser human. Este nao<br />

R.T.J. — 94<br />

167<br />

vive mats para softer a vida,<br />

mas essencialmente, para goza-<br />

Ia.<br />

c) Impede-se o prOprio desertdito<br />

da eficacia do instrumento<br />

normativo, o que ocorreria com a<br />

devolucao de importancias recebidas,<br />

embora plenamente acobertadas<br />

pela juricilcidade, das<br />

acees de cumprimento.<br />

A decisào malsinada alum de<br />

ofender a literalidade do § desatende<br />

a todos os princIpios rudimentares<br />

que informam a tranqiii-<br />

Made das relactes de trabalho, especialmente,<br />

no que pertine aos assalariados,<br />

hipossuficientes, e que<br />

dependem para sobrevivencia pr6pria<br />

e dos seus dependentes Unica<br />

e excluslyamente dos magerrimos<br />

salarlos auferidos. Exigir a devolucao<br />

de salario por parte de quem<br />

mal ganha para sobreviver 6 trilhar<br />

o cannnho do absurdo. E norma<br />

elementer de hermeneutica<br />

que a interpretacão da lel nao pode<br />

desprezar os seus fins socials.<br />

In casu, os fins socials nao foram<br />

apenas desprezados; pior do que isto,<br />

foram frontalmente violentados.<br />

Se a macs Alta Corte do Pais entendeu<br />

que o TST ofende a Carta<br />

Magna quando desobedece uma<br />

norma reguladora da politica salarial<br />

do Governo, na hipOtese em<br />

que foram beneficierios os bancos;<br />

1gual entendimento ha de prevalecer,<br />

no caso presente, quando serao<br />

beneficierlos do ponto de vista<br />

do Supremo os trabalhadores. Como<br />

6 16gico, a shwa° diverse das<br />

partes nao altera a competancia da<br />

Pistica do Trabalho; para decidir<br />

«at materla relaclonada com o direit°<br />

normative.<br />

Outras quest6es relevantes ainda<br />

sat) abordadas no recurso extraor-<br />

&Sao e reclamam uma resposta<br />

juridica por parte do Excelso Pre-<br />

Norio.


168<br />

R.T.J. — 94<br />

0 respeitAvel despacho agravado<br />

limitou-se a ratificar o despacho<br />

trancaterio do recurso extraordinario;<br />

ocorre que esse limitou-se a<br />

formulacao de urn relatOrio incompleto<br />

das questOes versadas no<br />

apelo.<br />

0 (mica fundamento constante do<br />

despacho trancatario do recurso<br />

extraordinario 6 este:<br />

«0 acardao recorrido decidiu<br />

que a sentenca normativa tern eficacia<br />

ate o momento em que transitou<br />

em julgado a decisào que a<br />

desconstituiu. Este tambem e o<br />

mite da eficacia da Ka() de cum -<br />

primento, material e formaimente<br />

derivado das sentencas normativas,<br />

tanto a rescindenda quanto a<br />

rescisaria. ( fl. 90 ) . »<br />

Como vemos, o despacho se HIMta<br />

a dizer que as awes de cumprimento<br />

derivam da sentenca normativa.<br />

Admitimos que assim o seja;<br />

tal fato nao exclui a argilicao<br />

de que eles tern vida prapria, tanto<br />

assim que foram ajuizadas independentemente<br />

da sentenca normativa,<br />

percorreram varias instancias<br />

do judiciario, inclusive o<br />

Excelso Pretario, sendo certo que<br />

somente foram executadas, quando<br />

se operou o transit° em julgado da<br />

decisao final, proferida em cada<br />

urn daqueles processos.<br />

Quanto a impossibilidade de devolucao<br />

das importancias recebidas<br />

pelos trabalhadores, corn amparo<br />

nos efeitos da coisa julgada,<br />

nenhuma palavra foi dispensada<br />

pelo despacho indeferit(5rio do extraordInArio.<br />

Tambem a omissao e<br />

o silencio serviram de fundamento;<br />

por macs estranho que pareca, para<br />

afastar a procedência das alegacOes<br />

de julgamento feito fora<br />

dos limites da lide, bem como a argtlicao<br />

de ilegibilidade de parte.<br />

Restaram sem resposta, tambem,<br />

as questOes relacionadas corn a<br />

impossibilidade de acao resciseria,<br />

em sentenca normativa, e os ensinamentos<br />

profundos do eminente<br />

jurista Pontes de Miranda, quando<br />

defende a viabilidade de recurso<br />

extraordinArio, em materia trabalhista,<br />

quando se nega vigencia<br />

lei <strong>federal</strong>.<br />

Todas essas questOes relevantes<br />

nao mereceram uma Unica palavra<br />

por parte dos despachos atacados.<br />

Por todas as raz6es expostas, os<br />

Agravantes esperam que V. Exa.<br />

se digne de reconsiderar o despacho<br />

sob analise; em caso contrArio,<br />

requerem a apresentacao deste<br />

apelo ern Mesa, a fim de que seja<br />

julgado e provido, cassando-se o<br />

despacho denegaterio do agravo de<br />

instrumento, para que seja processado<br />

o recurso extraordinario».<br />

(fls. 211 a 216).<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Djaci Falcao (Relator)<br />

• Em resumo, entende a agravante<br />

que o acardao recorrido, enseja<br />

a devolucao das gratificacOes recebidas,<br />

corn base no transit° em<br />

julgado ocorrido nas respectivas<br />

aches de cumprimento, o que importa<br />

em afronta ao 3? do art. 153 da<br />

Constituicao. Por outro lado, serla<br />

inviavel o sobrestamento das awes<br />

de cumprimento da sentenca normativa<br />

em fase de tramitacao, por forca<br />

do actirdao objeto do recurso extraord1narlo,<br />

tendo em vista o que<br />

dispde o<br />

3?, do art. 6? da Lei<br />

4.725/65, que veda a devolucao de<br />

importancias recebidas em execucao<br />

de julgado.<br />

De leitura dos autos verifica-se<br />

que, a rigor, a materia suscitada nao<br />

foi objeto de prequestionamento no<br />

acOrdao recorrido e no julgamento<br />

dos embargos declaraterios (fls. 145<br />

a 152 e 166 a 167). Assim concluiu a<br />

Corte trabalhista:<br />

«Acordam os Ministros do Tribunal<br />

Superior do Trabalho, receber<br />

os embargos para declarar que as


gratificacnes percebidas pelos bancarios<br />

ate o transito em Julgado do<br />

aordao que as rescindiu e reajustou<br />

nä° sera° devolvidas aos bancos<br />

empregadores mas, dali por<br />

diante, reduzidas na forma do referido<br />

acôrdao, unanimemente.» (f.<br />

167).<br />

Depreende-se do exposto que, tra-<br />

Made em Julgado a decisao proferida<br />

na actlo rescisOria, a path!' dal, e<br />

diante de cada caso concreto, caber&<br />

ao Juizo da execueáo considerar os<br />

efeitos da decisáo rescindente sobre<br />

as aches de cumprimento, concluidas<br />

ou nao.<br />

Como quer que seta, nal) se ve demonstrada<br />

afronta a preceito de ordem<br />

constitucional. Nego provimento<br />

ao agravo regimental.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

Ag 75.161 (AgRg) — RJ — Rel.:<br />

Min. Djaci Feick). Agtes.: Federa-<br />

Oo dos Empregados em Estabelecimentos<br />

Bancarios dos Estados do<br />

Rio de Janeiro e Espirito Santo e<br />

R.T.J. — 94<br />

169<br />

outros (Advs.: Jose Torres das Neves<br />

e outra). Agdo.: Sindicato dos<br />

Bancos dos Estados do Rio de Janeiro<br />

e Espirito Santo (Adv.: Hugo<br />

Gueiros Bernardes e outra).<br />

Decisao: Negado provimento unanimemente.<br />

Votou o Presidente. Ausente,<br />

ocasionalmente, o Sr. Ministro<br />

Antonio Neder, Presidente. Presidia<br />

ao Julgamento o Sr. Ministro Xavier<br />

de Albuquerque, Vice-Presidente.<br />

Presidencia do Senhor Ministro<br />

Xavier de Albuquerque, na ausencia<br />

ocasional do Senhor Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes A Sessao os Senhores<br />

Ministros Djaci Falai°, Thompson<br />

Flores, Leak* de Abreu, Cordelro<br />

Guerra, Cunha Peixoto, Soares Munoz,<br />

Decio Miranda e Rafael Mayer.<br />

Ausente, Justificadamente, o Sr. Ministro<br />

Moreira Alves. Procurador-<br />

Geral da Republica, Dr. Firmino<br />

Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 27 de junho de 1979 —<br />

Alberto Veronese Agutar, Secretario<br />

EMBARGOS NO RECURSO EXTRAORDINARIO NI 76.671 —<br />

(Tribunal Pleno)<br />

(RE na RTJ 66/610)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Leitao de Abreu.<br />

Embargantes: Mathusalêm Boris Casiuch e sua muffler — Embargada:<br />

Incorporadora Reino Unido Ltda.<br />

Promessa de compra e venda de imOvel, por Instrumento particular.<br />

Adjudicaclio compulseria. Nao cabimento, JA que o contrato não<br />

fol inscrito no registro lmob111Arlo. Precedentes do Supremo Tribunal<br />

Federal. Embargos de divergencia conhecidos, porem reJeltados.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em sessão<br />

plener1a, na conformidade com a ata<br />

de Julgamentos e notas taquigrafi-<br />

cas, A unanimIdade de votos, conhecer<br />

dos embargos, mas rejeite-los,<br />

por maloria de votos.<br />

Brasilia, 22 de novembro de 1978.<br />

— Thompson Flores, Presidente —<br />

Let% de Abreu, Relator.


170<br />

RELATORIO<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Sr. Ministro Leitao de Abreu: Ao<br />

relater o R.E. n? 76.671, disse o Ministro<br />

Oswaldo Trigueiro:<br />

00 Juiz da 14! Vara Civel da<br />

Guanabara julgou procedente acao<br />

cominateria proposta por Mathusalem<br />

Boris Casiuch e sua mulher,<br />

contra Incorporadora Reino Unido<br />

Ltda., e, em consearencia, condenou<br />

a re a outorgar escritura definitive<br />

de im6veis que haviam sido<br />

objeto de promessa de venda, mediante<br />

contrato particular, (f. 132).<br />

"Essa deciseo foi confirmada por<br />

acOrdao da 4? Camara Civel do<br />

Tribunal de Alcada, em cuja ementa<br />

U. 173) se le: 'Ace° cominateria.<br />

Pode intents-la, contra o promitente<br />

vendedor, para compelir a venda<br />

definitive, o promitentecomprador<br />

de imOvel, munido de<br />

instrumento particular, pouco importando<br />

o valor da coisa.'<br />

Opostos embargos infringentes,<br />

rejeitou-os o Primeiro Grupo de<br />

Cameras Civets (fs. 212), pelos<br />

fundamentos que a respective<br />

ementa resume:<br />

contrato preliminar, ou precontrato,<br />

gera obrigacOes.<br />

A doutrina e a <strong>jurisprudencia</strong><br />

tern aceitado o instrumento particular,<br />

na hip6tese do artigo 134, II,<br />

do COdigo Civil. (fls. 269/270).<br />

O Ministro Oswaldo Trigueiro proferiu<br />

este voto, acolhido s unanimidade:<br />

«0 valor da cause !leo constitui<br />

6bice ao conhecimento do recurso<br />

A vista da ressalva contida no<br />

caput do artigo 308 do Regimento<br />

Intern.<br />

00 recurso argil dissidlo corn a<br />

<strong>jurisprudencia</strong> predominante, cornpendiada<br />

na Stmula 413, segundo a<br />

qual o compromisso de compra e<br />

venda de imOvel de direito s execued°<br />

compulsOria, quando reuni-<br />

dos os requisitos legais. Entre estes<br />

requisitos, como e 6bvio, figura<br />

a inscricao do contrato no registro<br />

imobilierio (Decreto-lei 58/37 e Decreto<br />

3.079/38; Lei 649/49).<br />

«No R.E. 68.732, decidiu a Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

que, se o contrato nAo foi inscrito<br />

no Registro de 1[ne l/cis, como dispee<br />

a Lei 649/49, nao autoriza a comieria,<br />

nat visando a adjudicacao<br />

compulsOria (RTJ 57/330).<br />

«Identico entendimento tem prevalecido<br />

em varies outras decisees,<br />

entre as quais: RE 31.695,<br />

RTJ 35/209; RE 64.997, RTJ 50/516;<br />

RE 67.206, RTJ 55/604; RE 68.905,<br />

RTJ 53/696; RE 71.167, RTJ 57/652;<br />

RE 71.850, RTJ 57/893.<br />

«Reportando-me a esses precedentes,<br />

conheco do recurso e the<br />

dou provimento» (fls. 274/275).<br />

Para o acOrdao foi redigida esta<br />

ementa: «Promessa de compra e<br />

venda de im6vel, por instrumento<br />

particular. Nao cabe a adjudicacao<br />

compulseria, se o contrato nao foi<br />

inscrito no registro imobilierio. Recurso<br />

conhecido e provido.»<br />

Com a alegacao de divergir o acerdeo<br />

de julgados outros desta Corte,<br />

foram apresentados embargos,<br />

manifestando-se a Procuradoria-Geral<br />

da Reptblica favorevel ao seu<br />

conhecimento e recebimento.<br />

E o relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Lelia° de Abreu<br />

(Relator) — Na indicagao da divergenzia,<br />

os embargantes trouxeram<br />

colacao, dele juntando cepia As fls.<br />

300/309, o R.E. 70.362, relatado pelo<br />

Ministro Luiz Gallotti. 0 aresto tem<br />

esta ementa:<br />

«Promessa de compra e venda<br />

de im6veis.<br />

«Adjudicacao compulseria.


R.T.J. — 94 171<br />

«AplicacAo do artigo 22 do meiro pelo Ministro Djacilea() e o<br />

Decreto-lei 58 de 1937 corn a reda- segundo pelo Ministro Moreira Alcão<br />

da Lel n? 649, de 1949, e artigo ves:<br />

546 do C6digo de Processo Civil. «Avg') de adjudicaeão compuls6-<br />

KE valid° o contrato prelitninar ria.<br />

de compra e venda de inffwel feito<br />

por instrumento particular.<br />

«A inscricAo no Registro de Im6yds<br />

a condieAo imprescindivel a<br />

inscricAo do prê-contrato adjudicacAo compulsOria de imOvel<br />

estabelecida para oponibilidade prometido a venda por instrumento<br />

erga omnes e, assim, a sua falta particular, sem clausula de arre-<br />

nAo obsta a execueAo in natura. pendimento e JA quitado o preco.<br />

«Recurs° extraordinario conheci- Inteligéncia dos artigos 22 e 23 do<br />

do mas nAo provido.»<br />

Decreto-lei n? 58/37, na redacAo<br />

Feito o confronto, ressai a diver- dada pela lel n? 6.014/73. Correta a<br />

gencia. No acerdão embargado, jurisprudAncia do Supremo Tribu-<br />

repeliu-se a adjudicacilo compuls6nal Federal, em face do novo C6ciiria,<br />

dada a falta de inscricAo no rego de Processo Civil. Dissidlo jugistro<br />

imoblliArio da promessa de risprudencial comprovado. Recur-<br />

compra e venda por instrumento so extraordinArio conhecido mas<br />

particular. No aresto-padrAo, ao con- improvido (R.E. 89.191-9, de<br />

trArio, entendeu-se que cabe a adju- 19.5.1978).<br />

dicaeao, ainda que a promessa nAo «AyA° de adjudicaeAo compuls6-<br />

tenha sido inscrita, pois a inscriclio ria.<br />

s6 6 estabelecida para oponibilldade A inscrieão no Registro de Im6-<br />

erga omnes, nAt) entre os prOprios veis a condieão indispensAvel a ad-<br />

contratantes.<br />

judicaeAo compulsOria de !rut:mei<br />

Imptle-se o conhecimento dos em- prometido a venda por instrumento<br />

bargos, fft que prevalece — contra a particular, sem clAusula de arre-<br />

minha opinitio — o entendimento de pendimento e já quitado o prey°.<br />

que nilo constitui 6b1ce para isso 0 NAo ocorrencia, no caso da ressal-<br />

fato de serem ambos os acOrdAos da va final da SCunula 167.<br />

mesma Turma, quando editados «Recurs° extraordinario conheci-<br />

amediante votaello majoritAria emido e provido» (R.E. 84.828, de<br />

tida por ministros dfferentes» (RTJ 16.6.1978).<br />

43/768). Participararn do julgamento<br />

do acerdlio embargado, corn voto<br />

Afirmou a Procuradoria-Geral da<br />

vencedor, os Mlnistros Oswaldo Tri-<br />

Republica, em parecer que conclui<br />

gueiro, DjacilcAo e Rodrigues<br />

pelo recebimento dos embargos, ter<br />

Alckmin, ao passo que, no julgamen- hworrido em manifesto equivoco o<br />

to do paradigma, sufragaram a opi- acOrdAo embargado, quando afirmou<br />

nillo vencedora os Ministros Allomar não ter cabida, na hip6tese, a adjudi-<br />

Baleelro, Amaral Santos, Barros cacao compulkoria, quando esta nem<br />

Montefro e Diaci FalcAo.<br />

sequer foi postulada no libelo inaugural<br />

(lls. 320).<br />

Conhecidos, rejeito os embargos. A Observo que, se tal ocorre, cabia a<br />

decisio concernente ao actordtio em- correetio via embargos de declaracAo,<br />

bargado foi tomada a vista de prece- nAo embargos de divergencia. Em se<br />

dentes desta Corte, citados no voto tratando, no caso, de embargos de<br />

do Ministro relator. De acordo corn divergencia, cumpre acarear apenas<br />

essa orientacAo tenho votado na Se- o acOrdAo embargado, tal como redigunda<br />

Turma, que recentemente degido, corn pad/toes trazidos a colacidiu,<br />

em acOrdAos relatados, o pricite, para confronto das teses adota-


172<br />

das. E o que aqui se acaba de fazer,<br />

nao cabendo sanar eventual equlvoco<br />

em que tenha incorrido o acerdAo<br />

embargado, ja que para este fim a<br />

lei processual oferece meio preprio.<br />

Isto posto, conheco dos embargos,<br />

porem os rejeito.<br />

VOTO<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda Sr.<br />

Presidente, apesar da devida suscitada,<br />

sobre se seriam ou nao divergentes<br />

os acerdAos, entendo que a divergencia<br />

este caracterizada quantum<br />

satis, para autorizar o conhecicimento<br />

dos embargos.<br />

Num caso, Pala-se em acAo de adjudicacão<br />

compulseria e, no outro,<br />

Pala-se em acAo cominateria para<br />

adjudicacAo compuiseria. Tanto no<br />

espirito, como nas ementas, os casos<br />

são divergentes. Concordo, pots, corn<br />

o eminente Ministro Relator no conhecimento<br />

dos embargos.<br />

JA na solucAo a ser dada ao problema,<br />

nAo vejo necessidade de inscricAo<br />

da promessa de venda para<br />

pleitear a adjudicacAo compulserla.<br />

Compreendo que se deva entender<br />

a clausula legal «desde que inscritos<br />

em qualquer tempo» como «desde<br />

que inscritiveis em qualquer tempo».<br />

Caso nao esteja inscrita a promessa<br />

de venda, pode o autor inscreve-la.<br />

Se se trata de uma promessa de venda<br />

incapaz de ser inscrita, al sim,<br />

acolheria a objecno, porque a sentenca<br />

de adjudicacão compulseria<br />

nao poderia, de sua vez, ser registrada.<br />

Fora disso, nAo ha argumento 16gico<br />

que suporte a clausula legal em<br />

toda sua literalidade. A inscricAo e<br />

garantia e formalidade que opera<br />

em relagão a terceiros. Em relacAo<br />

as partes que convencionaram, nao<br />

necessaria a inscricAo, seja para<br />

qualquer outra demanda relative ao<br />

contrato, seja para exigir sua execucap<br />

in natura.<br />

Com a vênia devida, conheco dos<br />

embargos e os recebo.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Soares Mufioz: Sr.<br />

Presidente, eu nao cont undo acão cominateria<br />

com acAo de adjudicacAo<br />

compulseria. A acao de adjudicacAo<br />

compulseria a uma execucAo in<br />

natura; a acão cominateria 6 apenas<br />

um meio de que o promitente comprador<br />

dispee para ativar a vontade<br />

do promitente re vendedor a<br />

outorgar-lhe a escritura, sob pena de<br />

pagar a cominacAo estabelecida, ou<br />

a indenizacAo pedida na inicial. Mas,<br />

no caso, o acerdão embargado confundiu<br />

essas duas aches. Tanto que,<br />

segundo ele, a presente acdo cominateria<br />

visa a obter a adjudicacão<br />

do imOvel. Ora, se assim foi decidido,<br />

configurada este a divergencia<br />

alegada. Por isso, conheco dos embargos<br />

de divergencia, mas nAo os<br />

recebo. Entendo que a existencia de<br />

promessa de compra e venda insertta<br />

no registro de im6veis 6 condicAo<br />

indispensavel a propositura da acAo<br />

de adjudicacAo compulseria, nos termos<br />

do art. 22 do Decreto-lei n? 58/37<br />

com a redacdo da Lei if 6.014/73.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

ERE 76.671 — RJ — Rel.: Min.<br />

Leith° de Abreu. Embtes.: Mathusa-<br />

16m Boris Casiuch e sua mulher<br />

(Adv.: Walter Sztainberg). Ernbda.:<br />

Incorporadora Reino Un1do Ltda.<br />

(Adv.: Maria Christina Rodrigues<br />

Alves). (Decreto Embda.: 1! T.,<br />

7.8.73).<br />

Decisào: Pediu vista o Ministro<br />

Cunha Peixoto, apes os votos dos Ministros<br />

Relator, Declo Miranda e<br />

Soares Munoz conhecendo e rejeitando<br />

os embargos.<br />

Presidencia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a Sessào<br />

os Srs. Ministros Djaci FalcAo,<br />

Antonio Neder, Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Alckmin, Leitdo de<br />

Abreu, Cordeiro Guerra, Moreira Alves,<br />

Cunha Peixoto, Soares Munoz e


Decio Miranda. — Procurador-Geral<br />

da Repablica, o Prof. Henrique Fonseca<br />

de Aratijo.<br />

Brasilia, 27 de setembro de 1978 —<br />

Alberto Veronese Aguiar, SecretArlo<br />

VOTO (VISTA)<br />

0 Sr. Mlnlstro Cunha Peixoto: I —<br />

Versa a especie questão pertinente A<br />

possibilidade ou nAo de, nos contratos<br />

de promessa de compra e venda<br />

de imOveis pactuados por instrumento<br />

particular, poder o compromissário<br />

comprador requerer a adjudicacAo<br />

compulseria do imOvel independentemente<br />

de inscricAo no registro imo-<br />

Wharf°, sendo esse registro necessArio<br />

apenas para a oponibilidade do<br />

contrato a terceiros.<br />

H — Os eminentes Ministros Relator<br />

e Soares Munez, filiando-se A corrente<br />

doutrinAria e Jurisprudencial<br />

que n8o admite a adjudicaclio cornpuiseria,<br />

conhecem dos presentes<br />

embargos, vez que comprovada a divergencia<br />

com o Julgado padre°,<br />

mas Os rejeitam, enquanto o não menos<br />

eminente Ministro Decio Miranda<br />

os recebe, sob o entendimento de<br />

que o registro 6 garantia e formalidade<br />

que opera em relacao a tercetros,<br />

nAo sendo necessArla a inscricão<br />

nos litigios deflagrados entre as partes<br />

contratantes.<br />

III — Pedi vista para melhor refle-<br />

Hr sobre a matéria, vez que, quando<br />

do julgamento do RE n? 82.220-CE,<br />

proferido pela Egregla Primeira<br />

Turma na SessAo de 31.5.77 — Relator<br />

o eminente Ministro Antonio Neder<br />

— prevaleceu o entendimento<br />

majorilftrio da admissibflidade da<br />

adjudlcacAo compulsOria.<br />

Naquela oportunidade, em que fui<br />

designado relator pan o acercitio,<br />

proferi voto do qual transcrevo a<br />

parte OW, in verbis:<br />

a3. 0 desate da questao<br />

encontra-se, assim, no art. 22 do<br />

Decreto-lei n? 58/37. corn a redacAo<br />

R.T.J. — 94<br />

173<br />

que The atribuiu a Lei if<br />

to 6, se s6 a<br />

649/49, is-<br />

promessa<br />

consubstanciada<br />

de venda<br />

em documento devidamente<br />

registrado enseja<br />

cucAo<br />

a<br />

compulsOria<br />

exe-<br />

da obrigacAo,<br />

ou se tal ato objetiva apenas a garantla<br />

da venda em relacAo<br />

ceiro.<br />

a ter-<br />

A materta nAo 6 pacifica,<br />

reconhecendo-se que a maioria<br />

pende para s6 admitir a adjudicacAo<br />

compulseria, mesmo entre as<br />

partes, quando o documento estA registrado.<br />

HA, por6m, no dissidlo, uma Area<br />

de entendimento. Todos admitem<br />

assumir o promitente vendedor<br />

uma obrigacAo de fazer. A divergencia<br />

comeca na execucao da<br />

obrigacAo, quando descumprida,<br />

pots, enquanto uns entendem que a<br />

falta do registro enseja apenas<br />

perdas e danos, outros admitem a<br />

execucAo em es/Ade.<br />

Antes do Decreto-lei<br />

nos n?<br />

pronunciávamos<br />

58/39, Je<br />

no sentido da<br />

segunda corrente. Em trabaiho,<br />

publicado As fls. 437/9, do volume<br />

74 da Revista Forense,<br />

mos:escreve-<br />

«Constitue a promessa de compra<br />

e venda uma obrigacAo de<br />

fazer. E, neste pouco, mostramse<br />

a <strong>jurisprudencia</strong> e os tratadis-<br />

tas de perfelto acordo. Ora, as<br />

obrigacees desta especie devem<br />

ser executadas quando seu cumprimento<br />

especifico pode ser obtido<br />

sem coacAo fisica ao promitente.<br />

NAo 6 apneas/el, no caso<br />

em apreco, o art. 880 do COdigo<br />

Civil, porque al se trata da obri-<br />

gave() se imposta ao devedor e so<br />

por ele execaivel. Tal o conceito<br />

que dale fazem o macs dos civil's-<br />

tas, tal a definicAo de Carvalho<br />

Santos (C6citgo Civil Brasileiro<br />

Interpretado, volume 11, PAS.<br />

89). A regra geral vem estabelecida<br />

no art. 881 do mesmo COWgo:


174<br />

R.T.J. — 94<br />

«Se o fato puder ser executado<br />

por terceiros, sera livre ao<br />

credor manda-lo executar a<br />

custa do devedor, havendo recusa<br />

ou mora deste, ou pedir<br />

indenizaqao por perdas e danos.»<br />

(C. C., art. 881).<br />

Discretea Cl&is Bevilaqua):<br />

«NAo e necessario que o devedor<br />

cumpra em pessoa o que<br />

prometeu fazer. 0 essential e<br />

que o fato prometido se execute<br />

pelo modo ajustado. » (Cod.<br />

Civil, vol. 4, pagina 23).<br />

Se a indepizacão nä° importa<br />

cumprimento da obrigacao ela s6<br />

tern lugar quando impossivel a<br />

prestacao de terceiros, ou nap<br />

convir ao credor. Ora, nada podera<br />

obstar que o comprador insista<br />

no cumprimento da obrigacAo<br />

desde que seja satisfeita a<br />

formalidade da escritura<br />

E digamos de lugar, mau grado<br />

opiniOes contrarias, que nAo tem<br />

aplicabilidade, na especie, o<br />

principio memo precise ad f acturn<br />

cogi potest, porque, para obter<br />

a execucAo compulsOria do<br />

contrato, nenhuma violencia se<br />

fail a vontade do promitente. A<br />

obligati° faciendi sera cumprida<br />

por terceiros, isto é, pelo Juiz. A<br />

prOpria sentenca valerA como<br />

titulo a ser transcrito . E nAo ha<br />

que objetar a essa conclusa°,<br />

pots o COdigo Civil a adota, expressamente,<br />

em relacAo ao usucapião<br />

e implicitamente nos arts.<br />

685 e 1.139:<br />

«Podendo requerer ao juiz<br />

que assim o declare por senteca,<br />

a qual the servira de titulo<br />

para a transcricAo no registro<br />

de im6veis.» (C. C., art. 550).<br />

Nos termos do art. 1.139 do COdigo<br />

Civil, pode o condOmino em<br />

coisa indivisivel, caso outro consorte<br />

tenha vendido sua parte a<br />

terceiro, sem aviso previo, haver<br />

do adquirente a parte vendida,<br />

tanto por tanto. Caso identico se<br />

encontra na enfiteuse. Ora, se o<br />

adquirente nAo quiser outorgar a<br />

escritura, somente se podera fazer<br />

respeitar estes dispositivos,<br />

por meio de sentenca judicial,<br />

que servira de titulo a ser transcrito<br />

no registro de imOveis. Por<br />

outro lado, a compra e venda<br />

quando pura, considerar-se-A<br />

obrigat6ria e perfeita, desde que<br />

as partes acordaram no objeto e<br />

no preco. (C6d. Civil, art. 1.126).<br />

Mas reza o art. 1.088:<br />

,Quando o instrumento Obitco<br />

for exigido como prova do<br />

contrato, qualquer das partes<br />

pode arrepender-se, antes de o<br />

assinar, ressarcindo A outra<br />

perdas e danos resultantes do<br />

arrependimento, sem prejuizo<br />

do estatuido nos arts. 1.095 a<br />

1.097.» (C. C., art. 1.088).<br />

Poderemos, destarte, desde<br />

que as partes, no contrato preliminar<br />

de promessa de compra e<br />

venda, acordaram no objeto e no<br />

preco e foi feita por escritura pablica,<br />

com outorga ux6ria, dizer<br />

como Planiol que:<br />

«...ce serait un acte de vente<br />

mal qualifit ou mal redige,<br />

dans lequel les parties aurait<br />

dit: — «Je promete vendre... je<br />

promets d'acheter...» — au lieu<br />

de: — «Je vans... achete.»<br />

Parece-nos irrepreensivel a licao<br />

de Andrade Bezerra:<br />

«Nos contratos de natureza<br />

consensual a promessa preliminar<br />

sinalagmatica confunde-se<br />

com o preprio contrato, desde<br />

que as partes estejam ac6rdes,<br />

sabre o objeto e modalidades<br />

do contrato.» (Tese apresentada<br />

a Faculdade de Direito do<br />

Recife, cap. XXX).<br />

A identica solucao chegaremos,<br />

estudando o direito anterior. As<br />

ordenacOes do livro 4?, tit. 19, excluiam<br />

o contrato de promessa


R.T.J. —<br />

de compra e venda que ilk, se revestisse<br />

a forma do contrato defi- comma au temps de Pothier,<br />

nifty° e nos demais casos consi-<br />

recourir au <strong>tribunal</strong> et obtenir<br />

derava o principal como perfelto un Jugemente; mats les Juges<br />

n'ont<br />

e eficaz por conta da sentence.<br />

plus besoin de condemner<br />

Escreve Silva Pereira:<br />

le vendeur A passer un contract<br />

comme autrefois; ils constate-<br />

«Noto inpraxe que nunca vi ront simplesment l'existence de<br />

na prance fazer-se esse cons- le promesse de vente et du contranglmento<br />

real, sena que em sentement .de I'acheteur, et<br />

semetharites casos se manda donneront sa mise en posse-<br />

nas sentences que a parte faga sion.» (Planio, Droll Civil, vol.<br />

a escritura; e não o fazendo fl- , pag. 496).<br />

que a mesma sentence \reticle, Ensina Pothier:<br />

como se o fora.» (Reperb5rio,<br />

vol. 1, peg. 623).<br />

«D'un autre cote on dira que<br />

Outra nap 6 a °piffle') do erudi-<br />

la eagle Nemo Potest Cogi ad<br />

to Teixeira de Freltas.<br />

Factum, et Celle que les obligations<br />

quae in faciendo consis-<br />

Correa Teles adverte:<br />

tent, se resolvent necessaire-<br />

«Se obrlgou-se a fazer escrimente en dommage et interets,<br />

tura de venda e recusa, a sen- ne resolvent d'application qu'a<br />

tence, que o condenar a faze-la, llgard des obligations de faits<br />

flea servindo de Milo" (Correa exterleurs et corporels, telle<br />

Teles, Doutrina das Acas, not. qu'est Pbligation de celui qui se<br />

832).<br />

seralt oblige de copier mes ea-<br />

Tierceis esta solucAo 6 consachiers, lesquels falls ne peugrada<br />

em verias legislacees. 0<br />

vent se supleer que par une<br />

dirieto alemAo permite, por<br />

condemanation de dommages<br />

positivo expresso, a sentence Ju-<br />

et intaets. Mats le fait qui est<br />

dicial servindo de Undo definiti. l'objec d'une promesse de an-<br />

vo:<br />

te n'est pas un fait exterleur et<br />

corporal de la personne de de-<br />

«Se o devedor 6 condenado a , petit le supleer par<br />

fazef tuna declaracAo de vonta<br />

un<br />

Jugement comme nous l'avons<br />

de, a declaracAo se considera<br />

rapporte, qui ordennera que,<br />

felts, apenas tenha a sentence faute par le debiteur le vouloir<br />

passado em julgado.» (C. Pro- passer un contract. Cat opicessual<br />

alemAo, 894).<br />

nion parait suivie dans la praU-<br />

Outro nao e o direito austriaco.<br />

que comme la plus forme A is<br />

No direito trances, nilo existe a fidelite qui dolt regner entre les<br />

hommes pour<br />

mesma regra, mas pelo art. 1.589<br />

Paccomplisse-<br />

equipara a promessa<br />

ment de leurs<br />

de compra<br />

promesse.» (Potiller,<br />

aVente»,<br />

e venda verdadeira venda.<br />

it 479).<br />

Mesmo a promessa unilateral,<br />

Confirma-no Baudry et Saignat:<br />

segundo tratadistas, deve ser<br />

cumprida e, nAo o sendo, poderA all creditore della promessa<br />

ser coativamente executada por unllaterale di vendere ha non<br />

sentence do Julz. Manic!, sem solo 11 diritto di domandare<br />

distinguir a promessa unilateral daunt e gli interessl in caso d'i-<br />

da bilateral, assegura que:<br />

nademplenza, ma anche quello<br />

si le promettant refuse de<br />

di costringere 11 promettente,<br />

livrer la chose, 11 faudra lieu, the 6 ora un venditore, e se si<br />

rffiutasse di consegnare la co-<br />

175


176<br />

R.T.J. — 94<br />

sa, l'ufficio del giudice diverrebbe<br />

necessario non gie, come si<br />

dice spesso, per condannare 11<br />

venditore ad affrettare la vendita<br />

e stipulare 11 contratto, ma<br />

pin esattamente per constatare<br />

l'esistenza della vendita e ordinarne<br />

l'adempimento: la sentenza<br />

fartt le veci dell'atto.»<br />

(Baudry et Saignat, «Della vencllta<br />

e della permuta», n?s 66 e<br />

76).<br />

No mesmo sentido Demolombe<br />

(Trent des Obligations, vol. 2, n?<br />

520).<br />

Ma's importante para o caso<br />

sub judice e o estudo do Direito<br />

italiano, pots all, como entre nes,<br />

nAo existe a regra expressa do<br />

Direito alemão, nem a do Direito<br />

Frances, que equipara a promessa<br />

bilateral de compra e venda<br />

prepria venda. Giorgi, por exemplo,<br />

assim se manifesta:<br />

«La promessa di vendita non<br />

e vendita, non transferisce 11<br />

dominio e pero non si pub dire,<br />

a rigor di principio, una obbligazione<br />

di dare. Ma erra, chi<br />

da el?) trae la conseguenza, the<br />

promittente possa llberarsi<br />

prestando A UMW sua 11 Quid<br />

Interest, invece della cosa venduta.<br />

No: 11 promittente e obbligato<br />

a dar la cosa, e estipulare<br />

l'atto opportuno; e se vi si rifiuta,<br />

la sentenza potre tener luogo<br />

del contratto, giusta l'art.<br />

1932, n? 7, del Codice<br />

Giorgi, «Teoria delle obbligazioni»,<br />

vol. 3, 153, pAg. 169).<br />

Mattirolo a mais incisivo. Reconhece<br />

que a sentenca fare as vezes<br />

do contrato, valendo como<br />

titulo:<br />

«... nesse caso essa parte poser<br />

levada pelo outro contraente<br />

perante a autoridade<br />

judiciaria, afim de ser coagida,<br />

ao cumprimento de sua obrigacao;<br />

e o juiz, aplicando os<br />

principios que regulam a obrigacdo<br />

de fazer, declarada a<br />

existkncia legal da promessa, estabelecera<br />

urn termo dentro do<br />

qual o devedor tera de prestarse<br />

A formacAo legal do ato, em<br />

falta do qual valera como tal a<br />

pr6pria sentenca.» (Mattirolo,<br />

Trattado di Diritto gludiziario<br />

chine Italian, volume 3, peg.<br />

210).»<br />

0 preconceito de que a obrigacAo<br />

de fazer nan comportava execucão,<br />

em forma especifica, se poderia<br />

ser mantldo por muitos, durante<br />

muito tempo, nao poderia, evidentemente,<br />

resistir, depois que a lei,<br />

expressamente, o admitiu (art. 16<br />

do Decreto-lei n? 58/37, 346 e T,<br />

do art. 1.006 do C6digo de Processo<br />

Civil).<br />

Realmente, como se verifica, o<br />

art. 16 do Decreto-lei n? 58 disciplinou<br />

uma obrigacAo de fazer e, no<br />

entanto, permitiu que, pagas, mesmo<br />

antecipadam ente todas as prestactles,<br />

o promissArio comprador<br />

podere notificar o promitente vendedor<br />

a outorgar-lhe a escritura no<br />

prazo de dez dies. E mais, no caso<br />

de pagamento de todas as prestagees,<br />

e licito ao promitente vendedor<br />

intimar o promisserio comprador<br />

a receber a escritura no prazo<br />

de trinta dies e, se nAo o fizer, o<br />

terreno sere depositado por sua<br />

conta e risco, correndo todas as<br />

despesas por sua conta, isto 6, do<br />

promissArio comprador. E em nenhum<br />

dos dispositivos referido —<br />

art. 16 e 17 — a lei fala em previo<br />

registro do document° de promessa<br />

de venda. 0 registro, como se<br />

verifica, pelo art. 5? do mesmo<br />

Decreto-lei, e para valer contra<br />

terceiro.<br />

«A averbacAo atribui ao compromissario<br />

direito real, oponivel<br />

a terceiros, quanto A alienacão<br />

ou oneracAo posteiror e fas-se-A A<br />

vista do instrumento de compromisso<br />

de venda, em que o official<br />

lancare a nota indicative do li-


vro, pAgina e data do assentamento».<br />

E nAo poderla ser de maneira dlversa,<br />

porque, em mat6ria de obrigacetes<br />

convencionals, o °Wetly° do<br />

registro 6 apenas aquele mencionado<br />

no art. 135 do C6cligo Civil: valer<br />

contra terceiro.<br />

Observe-se que a redacAo primitiya<br />

do art. 22 nAo condicionava a adjudicacAo<br />

compulsOria A averbacAo<br />

do document°, verb's:<br />

«As escrituras de compromisso<br />

de compra e venda de im6veis<br />

nAo loteados, cujo preco deva<br />

pagar-se a prazo, corn uma ou<br />

mats prestacOes, sera° averbadas<br />

a margem da respectiva transerica°<br />

aquisitiya, para os efeltos<br />

desta lei».<br />

Quals os efeitos da lei a que se<br />

referia este inciso? Evidentemente,<br />

o consubstanciado no art. 5?, isto<br />

e, passarta o compromisso a valer<br />

tambtm contra terceiro, ou melhor,<br />

o comprador teria o direito de<br />

seqllela, isto 6, de receber a escritura<br />

do imOvel, mesmo que tivesse<br />

ele sldo transferido a terceiro. A<br />

transacAo corn relacAo ao terceiro,<br />

passarla a ser nula.<br />

Nem se diga que o art. 23 declarava<br />

que nenhuma actio ou defesa<br />

seria apresentada, sem prova da<br />

averbactio do document°, porque<br />

os dispositivos de uma lei devem<br />

ser interpretados harmonicamente,<br />

e esta integracão s6 ocorre se se<br />

entender que a lei se refere a hip6tese<br />

do art. 5?, isto 6, no caso de<br />

ter side estabelecida uma garantia<br />

real sobre o imOvel adquirido.<br />

Por outro lado, como ensina<br />

Darcy Bessone,<br />

aCOMO quer que seta, a certo<br />

que, ap6s o Decreto-lei n? 58, a<br />

cuja margem poderiam prosperar<br />

dOvidas, o C.P.C. tornou nitido,<br />

por duas vezes, o caritter pessoal<br />

ou obrigacional do direito do<br />

promissArio. JA ficou visto que<br />

R.T.J. — 94<br />

177<br />

esse carater emerge facllmente<br />

dos arts. 346 e 1.006. Este OltImo<br />

eressamente alude ao deved<br />

e xp obrigactio decorrente da proor<br />

messa de contratarD (ob. cit.,<br />

pSg. 152, n? 57).<br />

A Lei nt 649, data yenta,<br />

dificou<br />

não mo-<br />

a situacAo. Este diploma legal<br />

tern de ser entendido como exiglndo<br />

o registro apenas para valer<br />

contra terceiro, pots, a entend6-lo<br />

de maneira diferente, nAo teria sentido<br />

a possibllidade de se poder<br />

proceder ao registro em qualquer<br />

tempo. Enquanto a colsa estiver<br />

em mAos do prornitente<br />

o promissArio<br />

vendedor,<br />

comprador pode registrar<br />

o document°,<br />

«em<br />

pots a lei<br />

qualquer<br />

dtz:<br />

tempo D e voltar<br />

corn a acilo de adjudicacAo pcom- ulsOria. AlAm disso, como se verifica,<br />

o dispositivo em apreco, posto<br />

de nova redacão ao art. 22 do<br />

Decreto-lei n? 58/39 e aluda ao registro<br />

tamb6m faz remissilo aos<br />

arts. 16 da mesma lei e 346 do<br />

C.P.C., dispositivos que traduzem<br />

uma obrigactio pessoal.<br />

A distincAo entre o contrato de<br />

promessa de venda reglstrado<br />

nAo, 6 que no ou<br />

primeiro se the atirbut<br />

uma eft/cis real, enquanto na<br />

Ultima hipotese apenas uma<br />

cia pessoal. Ocorre o mesmo coin<br />

relacAo a hip6tese. Esta, sem o re-<br />

Astro, tem todo o valor entre as<br />

partes, apenas, nAo tendo eficAcia<br />

real, nAo se pode opor o contrato a<br />

terceiro.<br />

Observe-se que os prOprios<br />

rentesrecor-<br />

pedtram, em primeiro<br />

gar,lu-<br />

que o colendo Supremo Tribunal<br />

Federal Julgasse «os recorridos<br />

carecedores da acAo proposta corn<br />

sua condenacAo no pagamento<br />

custas».<br />

das<br />

Ora, a carencia da<br />

pede a propositura<br />

acAo ntio im-<br />

de outra. Assin],<br />

prevalecendo o voto do eminente<br />

Ministro Antonio Neder, os<br />

recorridos, de conformidade corn a<br />

Lei n? 649/49, poderão registrar o


178<br />

documento e voltar corn a mesma<br />

acao.<br />

0 Desembargador Serpa Lopes,<br />

examinando hiplitese em que, no<br />

correr da acao, o promissario cornprador<br />

registrara o im6vel, susten-<br />

tou:<br />

«A conseqüencia a que, sendo 0<br />

ato obrigat6rio, sua sancao assenta<br />

numa situacao objetivanegativa,<br />

isto é, sujeitar-se ao in-<br />

R.T.J. — 94<br />

teressado a todas as prejucidiais<br />

que possam decorrer da omissao,<br />

tais como, em relacao a tercelros,<br />

que logrem prioridade, inscrevendo<br />

outra promessa de venda<br />

posterior, ou em face de<br />

qualquer outro Onus real ou<br />

ainda de alienacao da<br />

coisa, que se venha a f azer<br />

medlo tempore. Resulta do exposto,<br />

que a inscricão da promessa<br />

de venda, no curso da acäo<br />

proposta pelo compromitente,<br />

ainda foi tempestiva, e de nenhum<br />

modo importou em violacão<br />

de direlto expresso o julgado<br />

que assim reconhecem (Ap. n?<br />

127, de 1943, apud Waldemar Louretro,<br />

Registro da Propriedade<br />

ImOvel, peg. 178, n? 119).<br />

Procuramos demonstrar que a<br />

falta de registro não impede a exe-<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra:<br />

Sr. Presidente, a tese em debate tot<br />

largamente discutida no RE 89.191-<br />

MG, pela Segunda Turma, em ac6rdão<br />

em que foi Relator o eminente<br />

Ministro Djaci Falai) Nessa oportunidade,<br />

prevaleceu a tese de que, para<br />

a Ka° de adjudicacao compuls6-<br />

ria, a inscricao no Registro de Im6veis<br />

6 condicao imprescindi vel. Fezse<br />

o exame dos arts. 22 e 23 do Dl n?<br />

58/37, na redacao dada pela Lei n?<br />

6.014/73, e se teve por correta a jurisprucigncia<br />

do Supremo, que remonta<br />

ate a &mulls 167.<br />

Reportando-me ao voto que proferi<br />

e aos doutos fundamentos do eminente<br />

Ministro Djaci Falcao, que indica<br />

numeroso s precedentes, acornpanho<br />

o eminente Relator conhecendo<br />

dos embargos e os rejeitando.<br />

. ,<br />

gentes no direito bras e . tro Thompson Flores; 71.167, em que<br />

IV I- Ponderei sobre os fundament osfoi Relator o eminente Ministro Alioconstantes<br />

dos votos dos eminentes mar Baleeiro; 66.671, relatado pelo<br />

Ministros que me anteceder am no eminente Ministro Oswaldo Trigueijulgamento<br />

do caso sub judice, e, pe- ro; 81.858, em que foi Relator o emilos<br />

motivos expostos no voto retro nente Ministro Rodrigues Alckmin,<br />

transcrito, peco vtnia aos eminente shavendo tambem caso apreciado pe-<br />

Ministros Relator e Soares Mufioz VOTO<br />

0 Sr. Ministro Djaci Falcgo: Sr.<br />

Presidente, tambem acompanho o<br />

eminente Relator. Assim tenho entendido<br />

desde que ingresse i nesta<br />

Corte.<br />

Como ressaltou, ha pouco, o emigun°<br />

compulthria do contrato de nente Ministro Cordeiro Guerra, re-<br />

compra e venda, desde que o im6centemente, a 19 de maio deste ano,<br />

vel ainda continue sob o donlinio fui Relator do RE n? 89.191, onde es-<br />

do vendedor, mas de toda maneira posei a tese do acardão embargado,<br />

ter-se-la de aplicar a hipetes e, a citando numerosos precedente s da<br />

Stimula 400, ja que a interpretacáo Corte, como os Recursos Extraordi-<br />

do Tribunal do Ceara a razoavel e narios n?s 68.705, de que fui Relator;<br />

harmonize-se corn as normal vi- 1 t do pelo eminente Ministo<br />

eminente Ministro Antonio Neder.<br />

para acompanhar o nobre Ministro Assim, conhece dos embar gos e os<br />

Decio Miranda, conhecendo dos em- rejeito.<br />

bargos e os recebendo.


EXTRATO DA ATA<br />

ERE 76.671 — RJ — Rel., Min.<br />

Left/lo de Abreu. Embtes: Mathusa-<br />

16m Boris Casiuch e sua mulher<br />

(Adv: Walter Sztainberg). Embda:<br />

Incorporadora Relno Guido Ltda<br />

(Adv.: Maria Cristina Rodrigues Alves).<br />

(Dec. embda. 1? T. 07.08.73).<br />

Decisão: Conhecidos, unanimemente,<br />

foram rejeltados os Embargos,<br />

vencidos os Ministros Decio Mi-<br />

R.T.J. — 99<br />

179<br />

randa e Cunha Peixoto que os recebiam.<br />

PresidOncia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes A Ses-<br />

WI° os Srs. Ministros Djaci Faictio,<br />

Antonio Neder, Xavier de Albuquerque,<br />

LeitAo de Abreu, Cordeiro Guerra,<br />

Moreira Alves, Cunha Peixoto,<br />

Soares Muiioz e Decio Miranda.<br />

Procurador-Geral da RepUblica, o<br />

Prof. Henrique Fonseca de AraiIjo.<br />

Brasilia, 22 de novembro de 1978 —<br />

Alberto Veronese Aguiar, SecretArio.<br />

RECURS() EXTRAORDINARIO N? 81.041 — AL<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Soares Munoz,.<br />

Recorrente: Institute do Acucar e do Alcool — Recorrido: Estado de Alagoas,.<br />

— da competencia da Justica Federal processar e julgar, nas<br />

dues instincias ordbirias, os mandados de seguranca requeridos por<br />

autarqula <strong>federal</strong>, contra ato de autoridade estadual. Sfimula 511.<br />

ACORDAO<br />

Vistos.<br />

Acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Primeira Turma,<br />

A unanimidade de votos e na<br />

conformidade das notas taquigrAficas,<br />

conhecer do recurso e dar-lhe<br />

provimento.<br />

Brasilia, 27 de marco de 1979. —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Soares Mulioz, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Sores Mutloz: 0<br />

despacho que admitiu o recurso extraordinario,<br />

da lavra do Presidente<br />

do Tribunal Federal de Recursos,<br />

eminente Ministro MArclo Ribeiro,<br />

exptie a espêcie:<br />

4Sentenca proferida em mandado<br />

de seguranca requerido pelo<br />

Institute do Acticar e do Alcool<br />

contra a cobranca de I.C.M. sobre<br />

produtos de sua fabrlcacao tot anulada<br />

por Turma deste Tribunal ao<br />

fundamento de ser a Justica Federal<br />

incompetente para processar e<br />

julgar writ impetrado por autarquia<br />

<strong>federal</strong> contra ato de autoridade<br />

estadual.<br />

Inconformado, recorre extraordinariamente<br />

o I.A.A. com apolo nas<br />

letras a e d, da permissáo constituclonal.<br />

Alega o recorrente que o aresto<br />

lmpugnado apreciou a controvOrsia<br />

em face do art. 125, VIII, da Constituictio,<br />

quando teria de ser observado<br />

o que preceitua o inclso I,<br />

do mesmo artigo.<br />

E, para justificar a interposiclio<br />

pela letra d, traz a confronto diversos<br />

arestos, Inclusive do Plenrio<br />

da Suprema cone em sentido oposto<br />

a decirlo recorrida.


180<br />

R.T.J. — 94<br />

Em principio, a admissibilidade<br />

do recurso estaria obstada pelo<br />

art. 308, III, do Reg. STF.<br />

Entretanto, a hip6tese envolve<br />

dlscussão de materia constitucional<br />

cilia lnterpretacão ainda suscita<br />

debates acalorados, sendo, assim<br />

conveniente que o Prethrio Excelso<br />

se manifeste sobre ela, exercendo<br />

seu papel de Orgao uniformizador<br />

da <strong>jurisprudencia</strong> e intérprete<br />

maxim° da Lei Maior.<br />

Verlficando-se, portanto, a ressalva<br />

contida no caput daquele dispositivo<br />

regimental, admito o recurso<br />

e mando processa-lo » (1. 84).<br />

0 parecer do ilustre Dr. Antonio<br />

de Padua Ribelro, subscrito pelo<br />

Procurador-Geral da RepOblica, opina<br />

pelo conhecimento e provimento<br />

do recurso:<br />

«A sentenca de primeiro grau<br />

(fls. 36-39), proferida por Juiz Federal,<br />

concedeu seguranca requerlda<br />

por autarquia <strong>federal</strong> contra ato<br />

de autoridade estadual.<br />

Em recurso, o acOrdão Impugnado<br />

(f. 73) anulou o processo por incompetencla<br />

da Justica Federal e<br />

determinou a remessa dos autos a<br />

Justica Estadual.<br />

Inconformada, manifestou a impetrante<br />

recurso extraordinario,<br />

pelas letras a e d, em que alega<br />

que o acOdao recorrido violou o<br />

art. 125, I, da E. C. n? 1/69 e dissentiu<br />

da SUmula 511 e dos julgados<br />

que the servem de fundamento.<br />

A nosso ver, a decisao atacada<br />

esta em manifesto dissidio com a<br />

Samula 511, in verbis:<br />

«Compete a Justica Federal,<br />

em ambas as instancias, processar<br />

e julgar as causas entre autarquias<br />

federais e entidades pUblicas<br />

locals, inclusive mandados<br />

de seguranca ressalvada a ace()<br />

fiscal, nos termos da Constituicao<br />

Federal, de 1967, art. 119, §<br />

3?.»<br />

E, sem dOvida alguma, a expressac,<br />

«entidades pOblicas locals»<br />

constante do verbete abrange as<br />

autoridades estaduals de que provenha<br />

o ato ensejador da seguranca,<br />

conforme resulta da ementa do<br />

acOrdao proferido pelo Colendo<br />

Tribunal Pleno no CJ 2.980-GB, que<br />

exprime o teor do decidido (RTJ<br />

32/526):<br />

«Competencia. Tribunal Federal<br />

de Recursos. Recurso em<br />

mandado de seguranca requerido<br />

por autarquia <strong>federal</strong> contra autoridade<br />

local. Sendo impetrante<br />

uma autarquia <strong>federal</strong>, a competencia<br />

Para julgar o agravo, em<br />

mandado de seguranca, embora<br />

contra ato de autoridade local, e<br />

do Tribunal Federal de Recursos,<br />

e !IA° do Tribunal de Justlca Estadual.<br />

Exame de precedentes (RMS<br />

9.696, RMS 13.203, CJ 2.676, AC<br />

81, AC 9.654, AC 9.656).»<br />

E bem verdade que quando do<br />

julgamento do mencionado conflito<br />

de jurisdicao, ainda /leo fora restsbelecida<br />

a justica <strong>federal</strong> de primeira<br />

instancia, raze° porque a seguranca<br />

fora decidida pelo Juiz da<br />

Vara da Fazenda POblica Local.<br />

Essa circunstancia, porem, nao<br />

altera os termos da questa°, els<br />

que aquele juiz, na ocasiao, acumulava,<br />

em primeiro grau de jurisdicão,<br />

a competencia hoje atrlbulda<br />

aos juizes federais.<br />

Em tais condicees, pelos fundamentos<br />

menclonados, o parecer<br />

pelo conhecimento e provimento do<br />

recurso extraordinario» (fls. 93 a<br />

95).<br />

E o relatOrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Soares Munoz (Relator):<br />

— Conheco do recurso em face<br />

do dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l e the<br />

dou provimento pelos precedentes


compendlados na stunula 511, para,<br />

cassando o acOrdno recorrido, reconhecer<br />

a competnncia da Justica Federal<br />

e determinar o retorno dos autos<br />

ao Egrêgio Tribunal Federal . de<br />

Recursos.<br />

Mats recomenda essa solucão a<br />

circunstáncia de o writ consubstanciar<br />

embargos antecipados a execucão<br />

fiscal, cWo advento visou obstar,<br />

e que, se ajuizada, seria da competencla<br />

da Justica Federal, ex vi. do<br />

art. 125, I, da Constitute/10 da Reptiblica.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 81.041 — AL — Rel.: Mitt, Soares<br />

Munoz. Recte.: Instituto do AO-<br />

R.T.J. — 94<br />

181<br />

car e do Alcool (Adv.: A. C. Sigmaringa<br />

Seixas). Recdo.: Estado de<br />

Alagoas (Adv.: Pedro Cavalcanti).<br />

Decisno: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator,<br />

unfinime.<br />

Presidéncla do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores, Presentes a Sessac)<br />

os Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto e Soares<br />

Munoz. Ausente, justificadamente o<br />

Sr. Ministro Rafael Mayer 2?<br />

Subprocurador-Geral da Republica, o<br />

Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 27 de marco de 1979. —<br />

AntOnlo Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretario.<br />

FtECURSO EXTRAORDINARIO N? 81.947 — SP<br />

(Primeire Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Soares Munoz<br />

Recorrente: Daniel de Campos Junior — Recorrido: Institute Nacional<br />

de Previdencia Social .<br />

Acidente do trabalho. Aposentadoria que não exclui a indenizacilo<br />

acidentaria.<br />

— Os p roventos de 70%, que o Institute page ao recorrente, tam<br />

matter de beneficlo previdencierio e nibs de manutencao de salttrio,<br />

de sorte que não esta excluida a indenizapio farffeda da lei de acidentes<br />

do trabalho.<br />

ACORDAO<br />

Vistos,<br />

Acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Primeire Turma,<br />

a unanimidade de votos, e na<br />

conformidade das notas taquigraficas,<br />

conhecer do recurs() e dar-lhe<br />

provimento.<br />

Brasilia, 27 de marco de 1979. —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Soares Munoz, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Soares Munoz — 0<br />

despacho do Metre Julz Augusto de<br />

Macedo Costa, Presidente do Tribunal<br />

de Alcada Civil do Estado de Sao<br />

Paulo, expOe a especle:<br />

(Neste fide acidentaria 6 fato incontroverso<br />

que o autor, Made en-<br />

tao ex IAPETEC e demandante<br />

de indenizacgo por quebra laborativa<br />

virtude de tuberculose pul-<br />

monar profissional, incepacitante<br />

de 50%, nem recebendo o beneficio<br />

da aposentadoria por invalidez<br />

desde male de 1955, quando<br />

surgiram os sintomas da tuberculose<br />

pulmonar, aposentadoria esta<br />

que, de provisOria, tome-se-1a definitive<br />

a Dank de 1986, quando a<br />

actio tot proposta» (da sentence de


182<br />

R.T.J. — 94<br />

f. 99, mantida pelo acacia° de f.<br />

121). Foi, todavia, julgado carecedor<br />

da nal:, nos dois graus de jurisdicão<br />

porque:<br />

«Segundo informou o INPS, a f.<br />

85, o agravante, a partir de 11 de<br />

maio de 1955 passou a perceber o<br />

beneffcio da aposentadoria provisada<br />

por invalidez e, desde 1966,<br />

sob a agide do Decreto-Lei n?<br />

66/1966, art. 27, 69, tal beneficio<br />

tornou-se definitivo, por contar o<br />

beneficial° corn mais de 55 anos<br />

de idade e estar provisoriamente<br />

aposentado a mais de chic° anos.<br />

Concedida a aposentadoria definitiva,<br />

dentro do regime previdenciario,<br />

nao ha falar em indenizacao<br />

na forma tarifada» (acacia°,<br />

f. 122).<br />

Inconformado, o autor pede, corn<br />

endosso do Ministario Pfiblico, recurso<br />

extraordinario, corn apoio<br />

nos permissivos constitutionals<br />

das letras a e d, sustentando que,<br />

estando provado que o INPS «s6<br />

concedeu a aposentadoria pelo regime<br />

da lei Orglinica da Previdaneta<br />

Social (70%), excluindo o regime<br />

de manutencao salarial porque<br />

entendeu que o caso do recorrente<br />

nao era acidente do trabalho,» teria<br />

o julgado, neste passo contrariado<br />

a Sfunula 465 e as normas federais<br />

de contato.<br />

Considerando que a natureza do<br />

litigio e a invocacao de desrespeito<br />

a uma das Sumulas da jurisprudancia<br />

predominante do Colendo<br />

Supremo Tribunal, tenho comp superada<br />

a trava do artigo 308 do Regimento<br />

Interne dessa Corte. E defiro<br />

o recurso, pelo permissive da<br />

letra d pois considerados os termos<br />

da Sfunula 465 parece incontroversa<br />

a contrariedade da decisäo recorrida<br />

corn esta exegese pretoriana<br />

do Colendo Tribunal ad quem,<br />

Processe-se o recurso» (fls. 141-<br />

142).<br />

A Procuradoria-Geral da Republica<br />

opinou no sentido de que:<br />

«Ata onde se discutam a acumulava°<br />

da aposentadoria por invalidez,<br />

tornada definitiva ap6s cinco<br />

anos de aposentadoria proviseria,<br />

e o dlreito a indenizaclio tariferia,<br />

estamos em que a v. decisäo se<br />

houve corn acerto<br />

De fato, a hipatese nä° se subsume<br />

a Sfunula 465, e, no que tenha<br />

de assemelhacão corn ela, atendeulhe<br />

a conclusao em nao se somarem<br />

beneficios orlundos do mesmo<br />

fato.<br />

Parecer contrail° ao conhecimento,<br />

ou, por derradeiro, contrario<br />

ao provimento do recurso.» (f.<br />

150).<br />

E o related°.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Mlnistro Soares Mufioz (Relator):<br />

Ao caso apnea-se o art. 308 do<br />

Regimento Interne do Supremo Tribunal<br />

Federal, corn sua redacao anterior<br />

a Emenda n? 3, de 12.6.75, porquanto<br />

o acacia() data de 1972.<br />

A causa foi dado, na peticâo<br />

cial, ajuizada no die 9 de setembro<br />

de 1966, o valor de Crt 4.000,00, inferior<br />

a 60 vezes o maior safari° minim°<br />

vigente no pats naquela epoca,<br />

ou melhor precisando, inferior a Cr$<br />

16.128,00, pois houve uniformidade<br />

das decisaes das duas instfincias ordinarias.<br />

Vence poram, ao veto regimental a<br />

invocacão a Sfunula 465, corn a qual<br />

o recorrente alega que se ache em<br />

dissenso o acadao recorrido<br />

E sob esse prlsma que passo a<br />

examiner o recurso extraordinalo,<br />

ara concluir que, efetivamente, a<br />

decisão re corrida esta em dissidio<br />

corn o verbete em referenda, visto<br />

que excluiu a indenizacao tornado<br />

da lei de acidentes a uma hipaese<br />

em que nao foi assegurado o regime<br />

de manutencao de salad°.


Constituindo fato certo que o Institute<br />

nAo estA pagando a aposentadorift<br />

pelo Regime de ManutencAo Salarial<br />

em sua integralidade, impedido<br />

nil° estA o recorrente de pleitear<br />

a indenizacilo acidentAria.<br />

Ante o exposto, conheco do recurso<br />

extraordinArio e the dou provimento,<br />

para cassados o acerdAo e a sentenca,<br />

que reconheceram a carencia da<br />

determinar que outra sentenca<br />

seja proferida, apreclando as demals<br />

(itlestOes da causa.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 81.447 — SP — Rel.: Min. Soares<br />

Muhoz. Recte.: Daniel de Cam-<br />

R.T.J. — 94<br />

183<br />

pos J0nior (Adv.: Waldir Pereira)<br />

Recdo.: Institute Nacional de PrevidAncia<br />

Social (Adv.: Antonio Dota).<br />

Decisào: Conhecido e provido, nos<br />

termos do voto do Ministro Relator,<br />

unftnime.<br />

PresidAncia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes 8 Sesos<br />

Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto e Soares<br />

Muiloz. — Ausente justificadamente<br />

o Sr. Ministro Rafael Mayer. — 2?<br />

Subprocurador-Geral da Repdblica,<br />

o Dr. Francisco de Assts Toledo.<br />

Brasilia, 27 de marco de 1979. —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

SecretArlo.<br />

RECURSO EXT RAORDINARIO N? 81.846 — RJ<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator para o acOrdAo: 0 Sr. Ministro LeitAo de Abreu:.<br />

Recorrente: IndOstrias Vlliares S/A — Recorrido: Conselho Regional de<br />

Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA — 13? RegiAo).<br />

Conselho de eng<br />

cads contrato de p<br />

enharia, arquitetura e agronomia. Registro de<br />

194 e 196, de 1970,<br />

restacAo<br />

sem quebra<br />

de servico.<br />

do<br />

Exigencia nas ResolucOes<br />

principlo<br />

nt s<br />

stela de da reserva da lei. Inocorgo<br />

153, If ofensa A lei <strong>federal</strong> (Lei n? 5.194/66) ou A ConstituicAo (arti-<br />

2? e 23).<br />

Recurs() extraordinArio nolo conhecido.<br />

ACORDAO<br />

Conselho Regional de Engenharia e<br />

Vistos, relatados e discutidos estes Arquitetura o direito de exigir o reautos,<br />

acordam os Ministros do Su- Bistro do contrato relativo a cads<br />

premo Tribunal Federal, em SessAo obra a ser executada, coin base na<br />

Plenftria, na conformidade com a Resoluctio n? 194, de 22 de mato de<br />

ata de julgamentos e notas taquigrAfi- 1970, sob pena de multa (ler o ac6r-<br />

cas, em nAo conhecer do recurso, em<br />

dAo fls. 90-94).<br />

decisAo tomada por maloria de vo- A resoluctio fol balxada<br />

tos.gado<br />

fundamento<br />

com o ale-<br />

da letra f do an. 34<br />

Brasilia, 29 de jtmho de 1979. —<br />

da Lel 5.194, de 24-12-1966.<br />

Antonio Neder, Presidente — Leith° In<br />

de Abreu, Relator para o acerdAo. g<br />

conformada a impetrante da se-<br />

uranca interpOs RE que foi admitido<br />

por despacho do llustre Presiden-<br />

RELATORIO<br />

te March) Ribeiro, do teor seguinte:<br />

(fls. 116-117)<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra: 0<br />

v. acOrdlio recorrido reconheceu ao' 'Trata-se de mandado de segu-<br />

ranca impetrado por Inddstrias


184<br />

R.T.J. — 94<br />

Villares S.A. corn o objetive de impugnar<br />

ato do Conselho Regional<br />

de Engenharia, Arquitetura e<br />

Agronomia (CREA) 13? Região,<br />

constante da ResolucAo 194, atra-<br />

Ares da qual esse Orgão exigia,<br />

alêm do registro da firma como<br />

executante de obras de engenharia<br />

na instalacAo de elevadores e outros<br />

produtos de sua fabricacdo, a<br />

anotacdo da responsabllidade teenice<br />

na execucão de cada contrato<br />

de venda desses produtos.<br />

A seguranca, concedida pelo Juiz<br />

singular, foi cassada por decisdo<br />

de Turma deste Tribunal, que entendeu<br />

legitima a exigencia da autarquia.<br />

Inconformada, recorre extraordinariamente,<br />

a impetrante, alegando<br />

negativa de vigencia de verios<br />

dispositivos da Lei 5.194/66 e ofensa<br />

ao art. 153, §§ 2? e 23, da ConstituicAo.<br />

Data venia dos votos vencedores,<br />

estou em que assiste razAo a recorrente.<br />

Isso porque a citada Lel<br />

5.194/66, que disciplina o exerciclo<br />

da profisssAo de engenheiro, estabelece<br />

os requisitos para que esse<br />

exercteio e as sancOes pela inobservancia<br />

dos seus preceitos e destes<br />

nAo consta a exigencia de registro<br />

de cada contrato, como foi<br />

feito na resolugdo malsinada.<br />

Entendo, por isso, que simples<br />

resolucAo do OrgAo fiscalizador nAo<br />

pode obrigar as empresas a fazer<br />

mais do que pede a lei, sob pena de<br />

infringir a garantla outorgada pelo<br />

art. 153, § 29, da Carta Magna,<br />

além de limitar a liberdade profissional<br />

de que Pala o § 23 do mesmo<br />

dispositivo constitutional.<br />

Admito, por isso, o recurso e<br />

mando processá-lo.<br />

Prossiga-se.<br />

Publique-se, inclusive para os<br />

efeitos do art. 545 do CPC».<br />

A Procuradoria-Geral da Reptiblica<br />

assim se manifests, fls. 143/149:<br />

recorrente impetrou seguranea<br />

contra o Presidente do Conselho<br />

Regional de Engenharla, Arquitetura<br />

e Agronomia da 8? Regido,<br />

que the impOe multa por fata de<br />

registro de anotacdo de responsabllidade<br />

tecnica nos contratos para<br />

prestacan de servicos, previsto na<br />

Resolucdo n? 194, de 22.5.70, do<br />

Conselho Federal, fundada em que<br />

essa exigencia extravasa os limites<br />

da Lei n? 5.194, de 1966.<br />

0 eg. Tribunal Federal de Recursos,<br />

invocando precedentes da Corte,<br />

concluiu pela legitimidade da<br />

exigencia, porque a resolucAo, decorrente<br />

do poder regulamentar<br />

atribuido ao Conselho Federal pelo<br />

art. 27, 1, da Lei 5.194, atende 8 finalidade<br />

de tornar efetiva a Meanzacdo<br />

do cumprimento das normas<br />

relativas A fiscalizacdo, direCdo e<br />

execucAo de obras e servicos técnicos<br />

(art. 7?, letras e, f e g, da Lei).<br />

No presente recurso extraordindrio,<br />

que se vale do art. 119, III, a,<br />

da Constituiedo, alega a recorrente<br />

ofensa aos §§ 2? e 23 do art. 153, da<br />

CF, e negativa de vigencia das disposicdes<br />

da Lei 5.194, em suma,<br />

porque: a) a Resolucdo n? 194, ao<br />

prever o registro de cada contrato,<br />

estatuiu condicdo ndo p<strong>revista</strong> em<br />

lei; b) a exigencia limita a liberdade<br />

de exercicio profissional, ao estabelecer<br />

condicdo de capacidade<br />

sem base em lei; c) a resolugão<br />

amplia exigencias de habllitacdo<br />

profissional que a Lei discrimina<br />

taxativamente .<br />

0 v: actirddo recorrido, reportando-se<br />

a julgados anteriores<br />

do Tribunal, destaca o AMS<br />

66.521, em que o eminente Ministro<br />

Relator Jose Men da Silveira adotou<br />

como razOes de decidir os fundamentos<br />

do parecer do Doutor<br />

Antonio Amaro Filho, pela Procuradoria<br />

da Renüblica em Minas<br />

Gerais (fls. 82-86). Em resumo,<br />

ali se acentua que a flscalizacdo<br />

deve ser exercida de


forma efetiva, atuante e dinAmica,<br />

não se reduzindo ao mero e vazio<br />

fOrmalismo de urn fmico e isolado<br />

reglstro de habilitaollo profissional.<br />

No exerciclo do poder de regulamentaclio<br />

que the fol conferido<br />

(art. 27, letra f, da Lei 5.194), o<br />

Conselho Federal podera valer-se<br />

dos poderes explicitos e implicitos<br />

contidos na lel.<br />

Quanto aos poderes explicitos,<br />

porque a fiscallzacAo, além do registro<br />

profissional, exige sa . participaclio<br />

efetiva e a autoria declaradas<br />

(art. 8?, par. °litho),<br />

devendd-se ainda acrescentar o<br />

exame dos contratos referentes as<br />

obras a serem executadas para os<br />

fins do art. 15 do mesmo diploma.<br />

Em relaoilo aos poderes implicitos,<br />

deve ser assinalada a tutela global<br />

delegada ao Ora° para que o<br />

exerciclo e as atividades do setor<br />

profissional se desenvolvam regularmente<br />

(art. 24).<br />

Corn efeito. Em face daquela delegacAo,<br />

ao Conselho Federal compete<br />

baixar resolucOes que atendarn<br />

a dupla finaildade de regulamentaclio<br />

e de execuclio da Lei<br />

5.194, de 1966. Do exerciclo desse<br />

poder 6 que decorre a Resolucilo n?<br />

194, de 1970 (f. 10), cujo art. 1? previu<br />

o reglstro sob a forma de anotacit°<br />

de responsabilidade t6cnica<br />

de todo contrato relativo a prestaclio<br />

de servicos profissionais.<br />

A exigencia, alias, constitui decorrencia<br />

da preceituacAo do par.<br />

Only) do art. 8? da Lei 5.194/66,<br />

verbis.<br />

art. 8? —<br />

paragrafo Culla) — As pessoas<br />

juridicas e organizacties estatals<br />

ag poderito exercer as atkidades<br />

dIscriminadas no art. 7?, corn excessao<br />

das contidas na alinea<br />

alinea a, corn a partIcipacgo efetiva<br />

e autoria declarada de profisslonal<br />

legalmente habilitado e<br />

registrado pelo Conselho Regional,<br />

assegurados os direitos que<br />

esta let the confere.<br />

R.T.J. — 94 185<br />

E conseqiiente que Importa ;Terificar,<br />

em relaciio a cada contrato,<br />

se a fiscalizacão, a direclio e a execuclio<br />

de obras ou servicos t6cnicos<br />

flcarilo a cargo de profissional<br />

habilltado (art. 7?, alineas e, f e g).<br />

Mais se afirma a conclusAo porque<br />

a participacAo efetiva e a autoria<br />

declarada condicOes para o<br />

exerciclo das attvidades descritas<br />

no art. 7?.<br />

0 art. 16, citado pela recorrente,<br />

6 medlda que interessa a fiscalizacAo,<br />

mas nAo a exaure nem restringe<br />

a funcAo regulamentar do<br />

Conselho Federal. Febt) contrario,<br />

a exiencia atende o que dispOe o<br />

art. 15 da Let, que considera nulos<br />

os contratos firmados corn pessoas<br />

ngo habilitadas, e ainda o art. 34,<br />

Tetra f, permittndo aos Conselhos<br />

Regionals a organizacilo de sistema<br />

de fiscalizacilo do exerciclo das<br />

profissges.<br />

E Ineggvel que a decisilo proferida<br />

pelo eg. Tribunal a quo no AISIS<br />

66.521 esta inspirada no mats autgntico<br />

sentido de Juridicidade. E<br />

claro que, em face do principio<br />

contido no art. 153, { 2?, da ConstituicAo,<br />

que resulta do regime democratic°<br />

e representativo, a da<br />

alcada de lei a criacão de obrigacities<br />

e a imposicgo das respectivas<br />

sancties. Nilo 6 menos certo, porgm,<br />

que a funcAo regulamentar,<br />

inerente ao Poder Executivo, nAo<br />

esta limitada a reproducAo literal<br />

dos termos da lei, antes, como anota<br />

Carlos Medeiros da Silva, »...<br />

deve evidenciar e tornar expllcito<br />

tudo aqullo que a lei encerra. Assim,<br />

se uma faculdade, ou atribuiego,<br />

esta lmplicita no text* legal, o<br />

regulamento ngo exorbltarg, se the<br />

der «forma articulada e eXplicitan<br />

(RDA 33,p 453).<br />

Isto, alias, 6 o minim° que se reconhece<br />

ao poder regulamentar,<br />

razgo por que a doutrina 6 pacifica<br />

nesse entendimento. Observa, por<br />

exemplo, Cabo TAcito: (Nilo 6 in-


186<br />

R.T.J. — 94<br />

constitutional, mesmo nos paises<br />

contrarios a delegacAo de poderes,<br />

a participacAo do Executivo na<br />

criagão do direito objetivo. Regulamentar<br />

nao 6 somente reproduzir<br />

analiticamente a lei, mas ampliala<br />

e completá-la, segundo o seu<br />

espirito e o seu contèudo, sobretudo<br />

nos aspectos que a pr6pria<br />

expressa ou implicitamente, outorga<br />

a esfera regulamentar» (RDA<br />

34, p 473). E Bielsa: «Puede el Poder<br />

Ejecutivo al dictar un reglamento<br />

apartarse de la estructura<br />

literal de la ley, siempre que se<br />

ajuste al espiritu de ella» (Derecho<br />

Administrative, 6! ed., II, p. 221)<br />

Alega a recorrente que, «a falta<br />

de base legal, e para nao estabelecer<br />

exigencia sem sansAo», o art.<br />

4? da Resolugão comma a «multa<br />

p<strong>revista</strong> no art. 73, a, da Let 5.194,<br />

de 1966», aos que nAo promoveram<br />

o registro dos contratos, o que corresponde<br />

a sanflo administrativa<br />

nAo p<strong>revista</strong> em lei. Sem razAo, porem,<br />

a sancAo 6 a p<strong>revista</strong> em lei,<br />

como 6 evidente.<br />

Os regulamentos, atos administrativos<br />

gerais, nAo participam,<br />

verdade, da natureza de ato legislativo.<br />

Mas suas disposicOes integram<br />

o contend° da lei, na medida<br />

em que a completam ou a explicitam,<br />

e thin !antic° poder normative<br />

(Hely Lopes Meirelles, Dir.<br />

Adm. Brasiller°, 2? ed., p. 76). Por<br />

isso, referindo-se ao regulamento<br />

editado por autoridade competente,<br />

conclui Bielsa que ele «... forma<br />

parte de la ley misma, y su violadon<br />

o falsa interpretacien afecta<br />

al regimen legal creado por ella»<br />

(obra citada p.217).<br />

As sancOes penis, que acompanham<br />

as normas regulamentares,<br />

como regras de direito, devem estar<br />

estabelecidas em lei. Ou, como<br />

diz Marcello Caetano: «Estas pens<br />

são concretamente estabelecidas<br />

na lei especial quando se trate<br />

de urn regulamento complementar<br />

ou de execucão» (Manual de Dir.<br />

Ad., 1? ed., bras., p. 102).<br />

0 art. 73, a, parte final, da Lei<br />

5.194, de 1966, prevë a multa de urn<br />

a tits d6cimos do salario-minimo a<br />

todas as «clisposicties para as quais<br />

nAo haja indlcacão expressa de<br />

penalidade». E consequente, pois,<br />

que a inobservAncia da regra contida<br />

em regulamento, porque Integra<br />

a lei, sujeita o infrator a essa<br />

penalidade.<br />

A garantia das san°6es legais as<br />

regras prescritas em regulamentos<br />

6 uma constante na legislacAo naclonal<br />

e estrangeira. A eviancia<br />

dispensaria demonstraflo. Em<br />

matOria tributaria, p. exemplo, a<br />

inobservAncia de obrigacão acess6ria,<br />

que decorre da legislactio<br />

tributaria, na ampla acepcAo do<br />

art. 96 do COdigo Tributario Nacional,<br />

converte-se em obrignAo<br />

principal<br />

relativamente<br />

penalidade pecunlaria (art. 113, §<br />

3?, do CTN), e esta s6 pode ser<br />

fundada em lei.<br />

Finalmente, nAo houve ofensa ao<br />

artigo 153,<br />

23, da ConstituicAo.<br />

Argumente-se, alias, que se algum<br />

regulamento contivesse regra estabelecendo<br />

condicAo de capacidade,<br />

a infraflo dessa disposicAo constitucional<br />

estaria subordinada a<br />

igual ofensa ao principio da iegalidade.<br />

Na verdade, porém, a exigencia<br />

de registro nAo interfere, absolutamente,<br />

na capacidade para o<br />

exerciclo profissional. Longe de<br />

implicar restricão a liberdade profissional,<br />

a exiancia antes a assegura,<br />

evitando que pessoas nao capacitadas<br />

substituam o profissional<br />

habilitado. NAo ha, pois, como se<br />

cogitar de ofensa a preceito constitucional,<br />

aem a disposicOes da Lei<br />

it 5.194, de 1966. 0 registro objetiva<br />

garantir que a prestacAo de<br />

servicos se faca por profissional<br />

capacitado, anteriormente registrado<br />

no Conselho Federal.


Febo nAo conhecimento.<br />

Brasilia, 8 de agosto de 1975. —<br />

Moacir Antonio M. da Silva, Procurador<br />

da RepOblica.»<br />

o relatOrio.<br />

VOTO<br />

Sr. Ministro Cordeiro Guerra<br />

(Relator): NAo se discute que ao<br />

CREA compete organlzar o sistema<br />

de fiscalizacão do exercicio das profissOes<br />

reguladas pela Lei 5.194, de<br />

24-12-66, por forca do art. 34, letra f,<br />

bem como expedir atos corn essa finalidade<br />

(letra f do art. 34). 0 que se<br />

impugn e a criacAo de tuna exigéncis<br />

nAo p<strong>revista</strong> na lei, sob pena de<br />

tuna multa, tambem nAo especificada,<br />

para sancionar a ornisslio do preceito<br />

legalmente inexistente.<br />

De tato, não hA confundir a atividade<br />

do profissional ou das empresas<br />

de engenharia, decorrentes de<br />

sua atividade tecnlca profissional,<br />

coin os contratos de locactio ou de<br />

servicos ou de empreitadas. 0 que a<br />

Lei 5.194/66 autoriza ao Consent° Regional<br />

6 zelar pela tkcnica e moralidade<br />

dos pronssionais do ramo, e<br />

ntio a sua atividade por assim dizer<br />

comercial.<br />

NAo prevé a lei, em qualquer dos<br />

seus artigos, a obrigactio do registro<br />

dos contratos firmados pelos pronssionals<br />

de engenharia.<br />

Somente preve o reglstro de pianos<br />

e projetos para salvaguarda dos direltos<br />

autorais dos profissionais, que<br />

o desejarem, art. 23, isto 6, em carAter<br />

facultativo.<br />

A fiscalizacAo da atividade dos<br />

profissionais a felts, sobre o prof's-<br />

Mona', impondo-lhe o registro previo,<br />

sob pena das sancOes, que vAo<br />

da nulidade a multa.<br />

0 art. 73 da Lel 5.194/66 especifica<br />

os casos em que sao aplicAveis as<br />

multas, e entre elas, nAo se encontra<br />

o de omissão de registro de contratos,<br />

pois, como fol assinalado, este<br />

R.T.J. — 94<br />

187<br />

registro nAo a previsto, e quando admitido,<br />

em se tratando de projetos,<br />

não 6 obrigatOrio.<br />

Argumenta-se corn o inciso a do<br />

art. 73, que permute a imposicAo de<br />

multas de urn a très d6cimos do<br />

salArio-minimo, aos infratores dos<br />

arts. 17 e 58, que nAo se referem a<br />

esse registro, «e das dispos1c6es para<br />

as quals nao haja indicactio expressa<br />

de penalidadep.<br />

Admitida que seja a validade dessa<br />

norma gen6rica, em branco, ainda<br />

al, a imposicAo de multa por preceito<br />

regularnentar, não seria<br />

possivel na esp6cie, pois, nil° se<br />

aponta a disposicAo legal que imp?*<br />

a obrigatoriedade do registro dos<br />

contratos.<br />

0 que 6 exigivel e o registro do<br />

profissional, da empresa de engenharia,<br />

arts. 55, 59; competindo as<br />

autoridades administrativas e judiclArias,<br />

as reparticOes estatals, paraestatais,<br />

autArquicas ou de economia<br />

mista a verificacAo de que os<br />

estudos, laudos, pericias, arbitramentos,<br />

e, quaisquer outros trabalhos,<br />

sejam assinados por profissioflats<br />

em dia coin as anuidades devidas<br />

ao CREA — art. 68.<br />

NAo se encontra, assim, na lel<br />

qualquer disposicAo que imponha a<br />

obrigacAo do reglstro de contratos<br />

firmados por profissionais de engenharia,<br />

e consequentemente, nAo<br />

tem pertinència, de modo a legalmar,<br />

nesse ponto a ResolucAo n? 194,<br />

a invocacAo da parte final do inciso<br />

a do art. 73, da Lei em exame.<br />

Creio que exorbita da lei a pretensilo<br />

do CREA, de fiscalizar os contratos<br />

que, no exercicio de Sua profissão<br />

regular, Miriam os profissionais<br />

e empresas de engenharia, regularmente<br />

registrados.<br />

Nessa conformidade, conheco do<br />

recurso, arts. 153, f 2? e 23, da ConstituicAo<br />

Federal, e the dou provimento<br />

para conceder a seguranca.


188<br />

VOTO (VISTA)<br />

0 Sr. Ministro LeitAo de Abreu: 0<br />

eminente Ministro Jose Mr! da Silveira,<br />

em voto que proferiu, como<br />

relator, no julgamento do Agravo em<br />

Mandado de Seguranca n? 66.521 —<br />

Minas Gerais, que versava sobre<br />

materia igual a debatida no presente<br />

recurso extraordinario, assinalou<br />

que, de forma esplendida, analisara a<br />

quaestlo furls o culto Procurador da<br />

Republica, naquele Estado, Dr. Anti:kilo<br />

Amaro Fllho, em parecer que,<br />

a seguir, transcreve. Dito pronunciamento<br />

esta vasado nestes termos:<br />

«A controversia esta posta nos<br />

seguintes termos: a impetrante entende<br />

que, a legitimidade das atividades<br />

do setor de engenharia, Basta<br />

registro, no caso de pessoa<br />

juridica, da empresa e dos respectivos<br />

responsaveis tecnicos devidamente<br />

habllitados; alem disco —<br />

afirma o impetrado — f az-se necessario<br />

o registro de cada obra.<br />

«Ao que me parece, a razao esta<br />

corn o impetrado.<br />

«Como autarquia <strong>federal</strong>, ao<br />

Conselho Federal e aos Conselhos<br />

Regionals acha-se delegado — ha<br />

mats de quarenta anos — o relevante<br />

servico pftblico de fiscalizagao<br />

do setor profissional da engenharia.<br />

E essa fiscallzacAo, como<br />

convern aos superiores interesses<br />

socials, ha de ser efetiva, atuante e<br />

dinamica, nunca se reduzindo ao<br />

mero e vazio formalismo de urn<br />

ftnico e isolado registro por epoca<br />

em que o profissional ou a empresa<br />

se habilitam ao exercicio das<br />

atividades cientificas e tecnicas<br />

da engenharia.<br />

«Assim, no use da delegacão que<br />

the foi cometida por lei, pode o orgAo<br />

requerido em termos amplos e<br />

irrestritos exercer o poder de f iscalizacao.<br />

Podera valer-se, para<br />

tanto dos poderes explicitos da lei<br />

regulamentadora do exercicio profissional,<br />

nunca se esquecendo, po-<br />

R.T.J. — 94<br />

rem, dos poderes implicitos, cuja<br />

eficacia, no clout& magisterio do<br />

Ministro Aliomar Baleeiro, e equiparavel<br />

A das regras expressas<br />

(LimitacOes Constitucionais ao Poder<br />

de Tributar, 2? ed., pag. 233).<br />

E que a tecnica legislativa moderna,<br />

especialmente quando prove a<br />

AdministracAo PUblica de meios e<br />

recursos para a realizacào de suas<br />

finalidades, vem-se limitando a<br />

enunciar prIncipios gerais, regras<br />

de comando ou diretrizes programaticas,<br />

para evitar o exagerado<br />

casuismo das legislacOes que se<br />

perdiam em mindcias e nas solucOes<br />

individualistas corn que, na<br />

maloria das vezes, emperravam a<br />

AdministracAo PUblica. Editam-se,<br />

assim, os principios gerais, sempre<br />

se reservando aos OrgAos de deliberacAo<br />

e execucao o chamado poder<br />

regulamentar com que, sem<br />

inovar ou contrariar a lei, ao confrith°,<br />

dinamizando e dando vida a<br />

seu espirito e a sua fllosofia, se<br />

completa a obra legislativa. Precisamente<br />

por isso a que autores da<br />

envergadura do Ministro Themistocies<br />

Cavalcanti, em comentdrios<br />

garantia constitutional do artigo<br />

150, (invocada na inicial), diz<br />

significar a mesma um controle<br />

eficaz do arbitrio administrativo,<br />

sem, contudo, retirar as autoridades<br />

pftblicas, o seu poder regulamentar<br />

e outras formas legislativas<br />

complementares, sem as quals<br />

nth) poderia exercer a funcAo administrativa<br />

(A Constituiclio Federal<br />

Comentada, ed. 1952, v. HI,<br />

'rag. 80).<br />

«No caso sub judice, embora a<br />

lei regulamentadora da profissäo e<br />

das atividades ligadas a engenharia<br />

(Lei n? 5.194, de 24;12-66), nAo<br />

disponha textualmente sobre o registro<br />

individual de cada obra, entendo<br />

data venia, que tal exigencia<br />

— resultante do poder regulamentar<br />

conferido ao CONFEA (art. 27,<br />

letra f, Lei 5.194) — inspirou-se sa-


iamente nos poderes explicitos e<br />

Implicitos delegados ao OrgAo para<br />

a efetiva fiscalizactio do setor profissional.<br />

«Nos poderes explicitos, porque<br />

a fiscalizacflo que se recomendou<br />

expressamente, no tocante a empresas,<br />

6 a que exige — al6m do<br />

registro dos respectivos profisslonab<br />

no OrgAo de jurlsdicAo - a partIcipagflo<br />

efetiva e a autorla declarada<br />

(art. 8?, parAgrafo Onico),<br />

evidentemente em cada obra. Alnda<br />

nos poderes explicitamente delegados<br />

A autarquia porque a esta<br />

cumpre, corn relacAo a cada obra,<br />

o exame dos contratos referentes<br />

As obras a serem executadas para<br />

os fins menclonados no artigo 15,<br />

Impondo-se a flscallzacAo, de cada<br />

unlciade a ser construida, para verificacAo<br />

das condlcOes p<strong>revista</strong>s<br />

no artigo 16.<br />

«No elenco dos poderes implf citos,<br />

bastarla assinalar-se a tutela<br />

global delegada ao OrgAo para que<br />

o exercicio e as atividades do setor<br />

profissinal se desenvolvant regularmente<br />

(artigo 24). Uma empresa,<br />

como a impetrante, por empreitada<br />

ou por admintstracilo,<br />

contrata, via de regra, a urn s6<br />

tempo, a reallzacAo de infimeras<br />

obras. A cada uma delas, certamente<br />

destina um ou mals proftsslonals<br />

de seus quadros. Mas, tab<br />

proftssionals evidentemente se distribuirão<br />

pelas obras em execucão,<br />

de modo que a responsabllidade<br />

teenica e administrativa &aria<br />

afetada ou vInculada apenas a cada<br />

obra de que tenha o profissional<br />

a participacAo efetiva.<br />

«Essas considerattes — retiradas<br />

do poderes explicitos e implici-<br />

tos delegados ao ((Rao — dao-nos a<br />

certeza da legitimidade da exlgencia<br />

do registro de cada obra. NAo a<br />

vicia, ao que penso, haver a condicAo<br />

resultado do poder regulamentar<br />

do CONFEA, poder com que —<br />

como jit fol dito — se completa a<br />

R.T.J. — 94<br />

189<br />

obra legislativa, e se evlta o casuismo<br />

anacrOnico de leis ultrapassadas.»<br />

Penso, tamb6m, que a ClUeStii0 se<br />

acha posta excelentemente nesse<br />

pronunciamento, o qual, em sIntese<br />

perfelta, demonstra não ter o &gab<br />

de disciplina da profissAo, o CON-<br />

FEA, excedido os poderes, que a lel<br />

the conferiu, mantendo-se, ao contrArio,<br />

estritamente nos seus<br />

Ampla 6 a tarefa fiscallzadora que<br />

a Lei 5.194, de 24-12-66, que regula o<br />

exerelcio das proflssbes de engenheiro,<br />

arquiteto e engenhetro agranomo,<br />

impOe ao Conselho Federal e aos<br />

Conselhos Regionals. Diz, a prop6s1to,<br />

o seu artigo 24: «A aplicacAo do<br />

que dispOe esta lel, a verifIcacito e<br />

fiscalizacAo do exercicio e atividadest<br />

das proriss6es nela reguladas sotto<br />

exercidas por um Consetho Federal<br />

de Engenharla, Arqultetura e Agronomla<br />

(CONFEA) e Conselhos Regionals<br />

de Engenharla, Arqultetura e<br />

Agronomla (CREA), organizados de<br />

forma a assegurarem =Made de<br />

acAo».<br />

Cabe a essas entidades, pots, nos<br />

termos da lei, verifIcar e flscallzar o<br />

exercicio e as atividades das proffssites,<br />

a que se refere o citado dispositivo.<br />

NAo the toca, assim, apenas verificar<br />

se os profissionals estAo habl-<br />

Ittados pan o desempenho do seu<br />

mister, mas fiscalizar o exerciclo<br />

deste, as atividades e proflssOes, a<br />

fim de apurar se tab atividades estAo<br />

efetuadas por quem possua<br />

Mulct para isso. A capacidade<br />

resulta, por certo, do titulo, porêm<br />

Itnporta averlguar se existe coincidencia<br />

entre a habilitacAo profisslonal<br />

e a efetiva eXeCtICAO da tarefa a<br />

que diga respeito a atividade fiscallzAvel.<br />

Entre as atribuittes do Consetho<br />

Federal, fol incluida, de outra parte,<br />

artigo 27, f, a de ttbabcar e fazer<br />

publicar as resoluctles p<strong>revista</strong>s para<br />

a regulamentacAo e execucao da


190<br />

R.T.J. — 94<br />

presente lei, e, ouvidos os Conselhos,<br />

Orgão de discipline profissional a fisresolver<br />

os casos °misses.»<br />

calizar o cumprimento dessas exit<br />

claro que, a pretexto de regulaggncias,<br />

podendo, destarte, para a<br />

execucAo da lei, prover quanto aos<br />

mentar a lei ou prover quanto a sua meios para cumprir esse dever, isto<br />

execucAo, o CONFEA nAo pode exce- 6, o de verificar se a participacAo do<br />

der os limites do rule making power, profissional 6 efetiva e se a autoria<br />

que the foi conferido. Tem, ao con- do trabalho the pertence. Corn esse<br />

trail°, que manter-se no campo do objetivo 6 que o CONFEA balxou a<br />

ato legislative, que the conferiu corn- ResolucAo 194, na qual se preceitua,<br />

petgncia regulamentadora. Poderg, artigo 1?: «Todo contrato, escrito ou<br />

tao somente, desenvolver-Ihe o senti- verbal, para prestagAo de qualsquer<br />

do, preencher os espacos deixados servicos profissionais referentes a<br />

pelos standards, estabelecidos pelo engenharia, a arquitetura ou a agro-<br />

legislador, estipular nos lindes do ra- nomia — inclusive os referentes a<br />

zoavel, requisitos exigiveis para a projetos — clever& ser registrado,<br />

estrita observAncia das prescricges sob a forma de anotacAo de respon-<br />

legais.<br />

sabilidade tecnica, no Conselho Re-<br />

Ora, esses confins nAo foram ultra- gional ern cuja jurisdicAo for exercipassados<br />

pelo CONFEA, ao baixar da a respective atividade».<br />

as Resolucges n? 194 e 196, que se Timitaram<br />

a prover quanto a execucAo Argumenta-se que a fiscalizacAo<br />

de norms do diploma legal, que re- deve contentar-se corn o registro,<br />

gula o exercicio das profissOes de sendo supgrflua e abusive a exiggnengenheiro,<br />

arquiteto e engenheiro- cia de anotacAo sob forma de resagrOnomo.<br />

ponsabllidade Wilke. Procederia a<br />

argiiicão se ra) incumbisse ao 6r-<br />

Para firmer essa conclusAo, basta gal fiscalizador, por imposicAo leo<br />

exame do que se contém, por gal, investigar se a participacAo do<br />

exemplo, no paragrafo finico, artigo profissional 6 efetiva e nAo ficticia<br />

8? da mencionada lei, bem coma no se a autoria do trabalho e sua e ngo<br />

artigo 15. No primeiro desses precei- de outrem, carente de qualificacão<br />

tos, paragrafo °nice do artigo 8?, se<br />

estatui: «As pessoas juridicas e orpara<br />

o °fide. A propesito, acentua o<br />

ganizacOes estatais s6 poderAo exerrecorrido,<br />

na impugnacgo ao ex-<br />

alegacges<br />

cer as atividades discriminadas no traordinario . «As da<br />

PeticAo de recurso extraordinario<br />

artigo 7? (as de engenheiro, arquiteto<br />

e engenheiro-agranomo), corn exde<br />

que tats anotacges seriam inetuas<br />

cecAo das contidas na alinea a (de- para a efetiva fiscalizaggo do profissempenho<br />

de cargos, funcges e co- stonel nAo sAo corretas. Partem de<br />

missges em entidades estatais, paquern<br />

flat) tem vivencia das peculia-<br />

ridades do exercicio profissional de<br />

raestatais, autarquicas, de economia<br />

mista e privada) corn a participacAo<br />

Engenharia, em confronto com o<br />

exercicio de outras profissOes libe-<br />

efetiva e autoria declarada de profisrats. A primeira vista je se torna<br />

sional legalmente habilitado e regis-<br />

trado pelo Conselho Regional, asseevidente<br />

que esses exercicios ngo pogurado<br />

direitos ue esta lei lhe<br />

dem ser equiparados, pelo s6 f ato de<br />

conferes os Exige-se, q como se vg, nAo existir um curso de engenharia,<br />

mas sim diversos cursos de engenha-<br />

quanto as pessoas juridicas, nAo apenas<br />

o registro do profissiona l, mas a ria. Cada curso forma um tipo de en-<br />

genheiro. Cada engenheiro tern que<br />

sua participacão efetiva na atividade<br />

e a declaracAo de autoria do traba- se heiro. sua especializacão. A diversidade<br />

dos diversos tipos de engelho<br />

pelo profissional a que a ativida- aria é evidente: o engenheiro de<br />

de se referir. Est& obrigado, pois, o


minas nada sabe sobre a engenharia<br />

eletrOnica; o engenheiro agrimensor<br />

nada sabe de engenharia mecanica,<br />

e assim por diante. HA que haver<br />

uma entidade que preserve as especializa0Oes,<br />

o que, em °Rime anitlise,<br />

6, tambern, a preservaflo da mole<br />

mestra de todo progresso tecno16gico.»<br />

Pouco adlante, anota, ainda, o<br />

recorrido: «As prOprias Prefeituras<br />

estAo se conscientizando dessa anotacit°<br />

de responsabilidade previa do<br />

contrato. 0 COdigo de Edificavrtes de<br />

Brasilia (Decreto «N» 596 de 8-3-1967<br />

— D.O. de 29-3-67) jit exige que para<br />

o requerimento de alvara de construcito<br />

hA necessidade da apresentaeilo<br />

do contrato Emoted° no CREA (arilgo<br />

330, VII). A disposicão visa a que<br />

a Prefeltura se vaLha do CREA —<br />

entidade especifica pars o exame de<br />

atribuiclies profissionais — e tenha a<br />

certeza de que o profissional que se<br />

dispile a executer a obra tern capacidade<br />

legal para tanto. 0 CREA, por<br />

sua vez, para anotar o contrato examine<br />

todas as peculatidades da obra<br />

em confronto corn as atribuicties do<br />

profissional e, se essas silo bastantes.<br />

Casos hA em que urn so profissional<br />

nil° 6 suficiente para o empreendimento.<br />

Quando numa obra<br />

hA, por exemplo, ligactles eletricas<br />

de alts tensAo. HA necessidade, entao,<br />

de que ao engenheiro civil se some<br />

um engenheiro eletricista.»<br />

Estabelece, por sua vez, o artigo<br />

15: «silo nulos de pleno direito os<br />

contratos referentes a qualquer ramo<br />

da engenharia, arquitetura ou da<br />

agronornia, inclusive a elaboracao<br />

do projeto, direcilo ou execucao de<br />

obras, quando firmados por entidade<br />

pfiblica ou particular corn pessoas<br />

fisica ou juridlca nAo legalmente habllitada<br />

a praticar a atividade nos<br />

termos desta lel». Dir-se-a que,<br />

quanto A infracao do mandamento<br />

consigned° negsa regra legal, esta je<br />

dispes de modo bastante, quando co-<br />

Mina, para a sua violacAo, a nulidade<br />

de pleno direito do contrato. En-<br />

R.T.J. — 94 191<br />

tretanto, cumpre aos orgAos de discipline<br />

profissional velar para que tals<br />

infracties nAo se verifiquem, dados<br />

os riscos que estas podem acarretar<br />

ao interesse pane°, riscos nAo !maglnarlos.<br />

porem tragicamente reels.<br />

Em vez, pots, de desnecessaria e<br />

abusive a extends estatuida pelo<br />

CONFEA, para apuncilo de responsabllidade<br />

tecnica dos engenheiros,<br />

arqultetos e engenheiros-agranomos,<br />

tal exigencia se compreende na<br />

ratio, tambem, do citado art. 15, sendo<br />

dele deductivel por implicacao<br />

16gIca e por imposicao pratica.<br />

Isto posto, nAo vejo, no caso, quebra<br />

do principio da reserve da Lei,<br />

pols a ResoInca° 194 se fllia a normas<br />

leglslativas, que legitimam plenamente<br />

o que vela se estipula. NA°<br />

confine, igualmente, essa Res°lucao<br />

corn a regra exarada no 23 do artigo<br />

153 da ConsHtuicilo Federal, pols<br />

nesse nAo se requer condicao nova<br />

de capacidade para o exercicio da<br />

proflssAo de engenheiro, mas o<br />

preenchimento de requlsito para verificacilo<br />

de que a capacidade, reclamada<br />

por lei, se configure em<br />

ao caso concreto.<br />

NAo hA ofensa, por outro lado, a<br />

qualquer dos preceitos legals, a que<br />

se refere a recorrente, entre os quais<br />

o que regula a iniposieáo de multa.<br />

Uma vez assente que a obrigacao de<br />

registro de contratos nil° a arbitraria,<br />

mas perfeltamente legal, incide,<br />

na espêcie, o artigo 73, a, tia<br />

Lei n1 5.194/66, onde se autoriza a<br />

Impostilo de multa aos infratores<br />

das disposicties para as quais nAo<br />

haja indicacão expressa de penalidade.»<br />

Incensuritveis se me afiguram, por<br />

conseguinte, quer a Res°Inca° re<br />

194, quer a ResoInca° n? 196, em favor<br />

das quais matte, alem disso, o<br />

principlo de que quem quer os fins<br />

quer os mefos, ou postos de outra<br />

forma esse postulado, a imposicilo<br />

de urn dever habilita o dorgilo, a<br />

quern o dever incumbe, a usar dos


192<br />

metes adequados e convenientes para<br />

o desempenho do encargo a que<br />

esta obrigado. Isto, nada mats do<br />

que isso, foi o que fez. na hipotese,<br />

medlante as Resolucees atacadas pela<br />

recorrente, o Conseiho Federal de<br />

Engenharia, Arquitetura e Agronomia<br />

(CONFEA).<br />

Ante o exposto, nAo conheco, preliminarmente,<br />

do recurso.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

R.T.J. — 94<br />

RE 81.846 — RJ — Rel.: Min. Cordeiro<br />

Guerra. Recte.: IndOstrias Villares<br />

S/A (Adv.: J. Paulo Sepulveda<br />

Pertence). Recdo.: Conselho Regional<br />

de Engenharia, Arquitetura e<br />

Agronomia (CREA — 13? Rg).<br />

(Adv.: Vicente Rosati).<br />

Decisno: Pediu vista o Ministro<br />

Rafael Mayer, apes o veto do Ministro<br />

Relator conhecendo e dando pro-<br />

Sento e do vote do Ministro Lean()<br />

de Abreu nno conhecendo do recurso.<br />

Falou pelo Recorrente, o Dr. Jose<br />

Paulo Sepulveda Pertence.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder Presentes u Sessào os<br />

Srs. Ministros Djaci Feick), Thompson<br />

Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

Lean() de Albreu, Cordeiro Guerra,<br />

Moreira Alves, Cunha Peixoto, Soares<br />

Munoz Decio Miranda e Rafael<br />

Mayer.<br />

Procurador-Geral da Republica,<br />

Dr. Firmino Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 18 de abril de 1979 —<br />

Alberto Veronese Aguiar, Secretario.<br />

VOTO (VISTA)<br />

0 Sr. Ministro Rafael Mayer: Pedi<br />

vista a fim de orientar-me diante dos<br />

doutos votos divergentes dos eminentes<br />

Ministros Cordeiro Guerra e Leith()<br />

de Abreu, proferidos respectivament(<br />

, nos RREE 81.846/RJ e 88.002-<br />

0/RJ, sob julgamento conjunto.<br />

A materia sub judice diz corn a legalidade<br />

da Resolucäo n? 194/70, do<br />

Conseiho Federal de Engenharia,<br />

Arquitetura e Agronomia, ao dispor<br />

que todo contrato para a prestagão<br />

de quaisquer servicos profissionais<br />

referentes a engenharia devera ser<br />

registrado, sob na forma de anotacão<br />

de responsabllidade técnica, sem o<br />

que nenhuma obra ou service podere<br />

ter inicio (art. 1?), alem de sujeitar<br />

o responsävel tecnlco a multa p<strong>revista</strong><br />

na alinea a do art. 73, da Lei n?<br />

5.194/76 (art. 4?).<br />

Os acOrdãos recorridos, do Egregio<br />

Tribunal Federal de Recursos,<br />

dando pela legitimidade da norma<br />

sno impugnados por via do art. 119,<br />

III, a, sob color de violacno dos §§ 2?<br />

e 23 do art. 153 da Constituicno e denegacAo<br />

de vigencia a artigos varies<br />

da Lei n? 5.194/66 (artigos 6?, 8?, 16).<br />

Em seu respeltável voto, entende o<br />

eminente Ministro Cordeiro Guerra<br />

que os disposttivos regulamentares,<br />

em questno, exorbitam da Lei n?<br />

5.194/66, que regula o exercicio da<br />

profissáo de engenheiro, nesta nä()<br />

se encontrando qualquer disposicão<br />

que imponha a obrigagão de registro<br />

do contrato, nAo podendo o regulamento,<br />

por conseguinte, institui-lo, e<br />

ao faze-lo, afrontou o art. 153, 2? e<br />

23, da Constitutcno.<br />

Discrepante desse entendimento, o<br />

veto do eminente Ministro Leitão de<br />

Abreu assegura terem restado incelumes<br />

os referidos dispositivos constituclonals,<br />

posto que nAo houve quebra<br />

do principle da reserva legal,<br />

uma vez que a ResolucAo impugnada<br />

se filia a normas leglslativas que legitimam,<br />

plenamente, o que nela se<br />

estipula, nem, por outro lado, se requereu<br />

condicao nova de capacidade<br />

para o exercicio da profissào, de modo<br />

a confiner com o § 23 do art.<br />

153. Segundo o mesmo veto, inocorre,<br />

ainda, qualquer ofensa a preceltos<br />

legais, a que, na verdade, a Resolucdo<br />

se acomoda, pois, apenas<br />

instituiu melos adequados e convenientes<br />

para o desempenho do encargo<br />

da entidade, legitimado pelo


principio de quem quer os fins quer<br />

os meios.<br />

Devo registrar a ocorrancia de<br />

precedente, não trazido aos autos, no<br />

trato da mesma ResolucAo n? 194/70,<br />

constante de acOrdAo, de 6-4-1976, no<br />

RE 81.532, sendo Relator o eminente<br />

Mlnlstro Cunha Peixoto. onde decidldo<br />

o nAo prevalecimento da norma<br />

regulaznentar, por violentar a Lei<br />

que estaria a exigir apenas o registry<br />

do profissional, e nao o registry<br />

de cads contrato.<br />

Adotando tese contrarla, entretanto,<br />

consta o acOrdlio de marco de<br />

1987, da Terceira Turma do Supremo<br />

Tribunal, no RMS 16.422-GB, sendo<br />

Relator o Mlnlstro Hermes Lima, o<br />

qual, embora versando ResolucAo<br />

anterior, balxada corn suporte no<br />

Decreto 23.569/33, se traduz em<br />

jamming° de principle, nessa<br />

ementa:<br />

«landed° de seguranca, Conselho<br />

Regional de Engenharla e<br />

Arquitetura — ReglAo. A Resoluclio<br />

it 10, de 1961, determinou a<br />

exibicAo do contrato ou seu resumo<br />

pare simples anotacAo e consecpiente<br />

fiscalizacAo do exercicio<br />

profissional, o que se visa e o controle<br />

da atividade profissional, conforme<br />

o disposto no Decreto if<br />

23.569, de 1933. Recurso desprovido."<br />

Isso posto, peso yenta para dar<br />

adesAo ao voto do erninente Mlnlstro<br />

Lena° de Abreu, atento A lUcida argumentacilo<br />

corn que oferece interpretacAo,<br />

de todo consentlinea, A lei<br />

orgitnica da entidade profissional<br />

dos engenheiros.<br />

Entendo, igualmente, que o poder<br />

normative ou, regulamentar atrtbuido,<br />

por lei, ao CONFEA, deve ser<br />

compreendido num sentido condizente<br />

As caracteristicas da entidade e A<br />

large incumbAncia que, literalmente,<br />

the 6 dada, no art. 24, de exercitar,<br />

aplicando a lei, a verificacAo e a fiscalizaclio<br />

do exercicio, assim como<br />

R.T.J. — 99 193<br />

das atividades, dos profissionals de<br />

engenharia, o que obviamente, e de<br />

si mesmo, significa muito macs<br />

que o simples registro ou inscricAo e<br />

a cobranca de anuidades.<br />

Trata-se de entidade de natureza<br />

corporative, dotada de elevado gran<br />

de autonomic, personificacAo do grupo<br />

profissional a quem se delega o<br />

exercicio do poder normative, nos 11mites<br />

da lei, para a reallzacAo dos<br />

interesses do setor profisslonal, tanto<br />

quanto do interesse priblico.<br />

A fim de que cumpra, plenamente,<br />

essa misstlo de yerificacilo e &callzacAo<br />

do exerciclo e da atividade<br />

profisslonal de seus pn5prios membros,<br />

esta insita, no poder normativo<br />

conferido pelo art. 27, f do diploma<br />

legal, a faculdade de estabelecer,<br />

dentro de urn Julzo discricionArio<br />

prt5prio da regulamentaflo do poder<br />

de policia administrativo, procedimentos<br />

para a consecucão dos propOsitos<br />

da lei e da realizacAo dos fins<br />

institucionals da autarquia corporative.<br />

Sem prejuizo da validade desse<br />

equacionamento, o prOprio I tmico<br />

do art. 8! da Lei, impondo, nas organizactles<br />

de engenharia, mats do que<br />

o simples reglstro, participaclio<br />

efetiva e autoria declarada de profisatonal<br />

legalmente habllftado*, eats<br />

a reclamar a efetividade dessa exigAncia<br />

em condiciies e modos que so<br />

a norma complementar pole propor.<br />

A anotacAo da responsabilidade<br />

Mcnica, emergente de cada contrato,<br />

nada mats significa do que propiciar<br />

dados e melos apropriados A verificacao<br />

competente, pelo CONFEA, da<br />

legitimidade do exerciclo da profissAo,<br />

realmente, tuna manifestacAo<br />

de controle.<br />

Mas, se legitimo e o procedimento<br />

reclamado dos seus membros, pessoas<br />

Micas ou jurfdicas, que, pela<br />

InscricAo, assumem o status de especial<br />

sujeicAo A supremacia auhninistrativa<br />

da entidade, que 6 de direito


194<br />

conseqiiente sera a legitimidade<br />

da multa, pelo seu descumprimento,<br />

nos exatos termos do art. 73,<br />

a. Assim. estou de acordo corn o ilustrado<br />

voto em que a norma regulamentar<br />

se conforma as exigências<br />

da lei, limitando-se a dar-lhe<br />

exeqiilbilidade e complementacão.<br />

Em favor do entendimento,<br />

registre-se que a legIslacäo antiga,<br />

como a vigente, não discrepam nas<br />

suas proposic6es, no particular (art.<br />

9? do D. 23.569/33), pots as Resoluc6es<br />

que se sucederam, nos dois regimes<br />

legals, tern fontes autorizativas<br />

correspondentes. Assim, o reconhecimento<br />

da legitimidade da exiancia,<br />

como manifestacao do poder<br />

normativo do CONFEA, resulta de<br />

interpretagäo da legislacão e de prãtica<br />

administrativa, de remota observáncia,<br />

o que 6 ponderävel para a<br />

manutencao do entendimento.<br />

Por isso, náo conheco dos recur-<br />

SOS.<br />

R.T.J. — 94<br />

VOTO PRELIMINAR<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda: Sr<br />

Presidente, adotando o brilhante voto<br />

do eminente Ministro Rafael Mayer,<br />

corn o qual estou de acordo, diria<br />

eu que, sem a efetiva fiscalizacAo,<br />

mediante registro dos contratos<br />

fettos por filiados dos Conselhos de<br />

Engenharia, sera impossIvel a estes<br />

OrgAos coibir a prAtica do exercicio<br />

da profissão por meio de prestanomes.<br />

Este registro dos contratos se<br />

(liege A finalidade maior do OrgAo,<br />

um instrumento, 6 um meio eflcaz<br />

de atingir aquela finalidade.<br />

De acordo corn o eminente Ministro<br />

Rafael Mayer, nao conheco do<br />

recurso<br />

CONFIRMACAO DE VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra:<br />

Sr. Presidente, gostaria de lembrar<br />

que se se der essa forca ao Conselho<br />

Regional de Engenharia e Arquitetura,<br />

dentro em breve nOs estaremos<br />

admitindo que os advogados sej am<br />

sujeitos a lgual disciplina, tendo que<br />

apresentar Junto corn a contestacflo<br />

o seu contrato de honorArios A Ordem<br />

dos Advogados. E, pela interpretacAo<br />

dada pelo eminente Ministro<br />

Rafael Mayer, chegariamos, dentro<br />

em pouco, As corporacOes de<br />

°tido, que fizeram a glOria de Veneza,<br />

mas, que, evidentemente, contrariam<br />

a principlo da livre iniciativa e<br />

da liberdade de profissão. Essa concepcão<br />

de ente corporativo tern nthdos<br />

caracteres totalitArlos, porque,<br />

evidentemente, não e a fiscallzacAo<br />

da t6cnica o que se esta pretendendo<br />

impor, e a fiscalizacão da iniciativa<br />

privada no campo econOmico, da remuneracão<br />

do profissional, porque<br />

nada impede que se leve urn contrato<br />

f also ao CREA e o verdadeiro esteja<br />

por fora. E urn acrescimo de burocracia<br />

desnecesSArlo e oneroso.<br />

Cria-se, por resolucAo, tuna sancAo<br />

nit° p<strong>revista</strong> na lei, porque se 6 norma<br />

mais ou menos assente de que as<br />

leis 6 que criam as sancdes e nem<br />

mesmo os regularnentos podem autorizar<br />

a imposictio de pena, como se<br />

pode admitir, por tuna simples resoluctio,<br />

que viola a liberdade de com6rcio,<br />

a livre iniciativa, que o engenheiro,<br />

inscrito no CREA, tenha<br />

que provar os negOcios que est& f azendo.<br />

Data yenta das opiniOes respeitàvets,<br />

mantenho o meu voto, conhecendo<br />

do recurso e the dando provimento.<br />

VOTO PRELIMINAR<br />

0 Sr. Ministro Soares Munoz: Sr.<br />

Presidente, data yenta do voto prof erido<br />

pelo eminente Ministro Cordeiro<br />

Guerra, cujos fundamentos sAo respeitAvels,<br />

adiro aos votos do eminentes<br />

Ministros Leith() de .oreu e<br />

Rafael Mayer, nAo conhecendo do<br />

recurso.<br />

A objecão de que a aplicacão dos<br />

princtplos que informam tats pro-


nunciamentos, ao exercicio da profess&<br />

de advogado, acarretaria series<br />

conseqilenclas, nlio esta em<br />

equacAo.<br />

Penso que A especie em julgamento,<br />

a fiscalizactio tem perfelta adequacio;<br />

se nil° a tern para outra profissAo,<br />

6 problema que examinarei<br />

no seu devido lugar, mesmo porque,<br />

cada uma delas, k regida por leis<br />

prOprias.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Afinlstro Cunha Pelxoto: 1 —<br />

No Brasil, a regularidade de todas<br />

as profissites liberals se subordina<br />

a previa Wavle& do profisslonal ou<br />

socledade na autarquia a que weance.<br />

No tocante A engenharia, agronomia<br />

e arqultetura, discipline a matt.ria<br />

a Lei n? 5.194, de 1966, que s6 exige,<br />

para o exercicio dessas profissOes,<br />

o registro no CREA. Estabelece<br />

o parilgrafo Wilco do art. 2? deste<br />

diploma legal:<br />

«0 exercicio das atividades de<br />

engenheiro, arquiteto e engenheiroagrOnomo<br />

a garantido, obedecidos<br />

os llmites das respectivas licences<br />

e exclufdas as expedidas a tltulo<br />

precArlo, ate a publicacno data<br />

Let, aos que, nests data, esteiam<br />

registrados nos Consellios Regionals.»<br />

E no tocante, As sociedades, regulaments<br />

a matkria o art. 59:<br />

«As firmas, sociedades, associates,<br />

companhias, cooperatives e<br />

empresas em geral, que se organ'.<br />

ram pare executer obras ou services<br />

relacionados na forma estabelecida<br />

nesta lel, s6 poderAo inlciar<br />

sues atividades depots de promoverem<br />

o competente registro nos<br />

Conselhos Regionals, bem como o<br />

dos profissionals do seu quadro<br />

tecnico.»<br />

2 — 0 Consellio Federal da autarqula<br />

tem competencla pare, em Resoluctio,<br />

estabelecer os requisites ne-<br />

R.T.J. — 94 195<br />

cessArlos A MscricAo, como determina<br />

o parAgrato 3? desse dlsposltivo.<br />

Portanto, uma vez felto o registro,<br />

a pessoa fisica ou jurldlca estA apta<br />

para, sem mats outra tormalldade,<br />

exercer a proftssAo. E, para nAo delxar<br />

dUvida quanto a s6 necessklade<br />

deste requisite, vern o art. 6? e estabelece<br />

os atos que a lel considera como<br />

ilegals ao exerciclo da profissAo<br />

de en genheiro, arquiteto ou<br />

engenheiro-agrtinomo:<br />

«Exerce liegalmente a proffssAo<br />

de engenheiro, arqutteto ou<br />

engenheiro-agrOnomo:<br />

a pessoa fisica ou juridica que<br />

reallzar atos ou prestar services<br />

pOblico ou privado reservados aos<br />

professionals de que trate eats let e<br />

que nAo pouua registro nos Censelhos<br />

Regionals:<br />

o professional que se incumbir<br />

de atividades estranhas As atribuicOes<br />

discriminadas em seu maitre;<br />

cl 0 Prellstdonal que emprestar<br />

seu none a pessoas, firmas, orftanizacties<br />

ou e mpresas executoras<br />

de obras e sei sem sua real<br />

cos<br />

particIpaclio nos trabaihos<br />

delas;<br />

o profissional que, suspense de<br />

seu exude's', continue em atividade;<br />

a firma, organizacito ou socledade<br />

que, na quails's& de pessoa<br />

juricilca, exercer atrIbuicdes reservadas<br />

aos profisslonals da engenharle,<br />

da arqultetura e da ammomia,<br />

com infringencia do disposto<br />

no par:Strafe Onico do art. 8? desta<br />

lel.»<br />

0 paritiffilf0 Only) do art. 8?, alias<br />

reproducAo do 59, it<br />

pee:<br />

trail/writ°, Ws-<br />

As pessoas juridicas e organizecOes<br />

estate's s6 poderflo exercer as<br />

atividades discriminadas no art.<br />

7?, corn exceciio das contidas na<br />

althea a. com participacito efetiva<br />

e autoria declarada de profissional<br />

legalmente habllftado e registrado


196<br />

R.T.J. — 94<br />

pelo Conselho Regional, assegurados<br />

os direitos que esta lel the confere.»<br />

De evidencia, assim, a Resolueão<br />

n? 194, de 22-5-1970, do Conselho Federal<br />

de Engenharla, Arqultetura e<br />

Agronomia, que estabeleceu, como<br />

requlsito para o exercicio da profisou<br />

seta, para o desempenho de<br />

qualquer trabalho relativo a estas<br />

profisstles, o reglstro no Conselho de<br />

dodo contrato, escrito ou verbal<br />

(sic),», ndo pode prevalecer, pots<br />

violenta a lei que disciplinou a materia.<br />

De fato, 6 elementar o principio de<br />

que o regulamento deve ficar adstrito<br />

a lei. 0 Regulamento niio pode<br />

modificar ou ampliar direitos ou deveres.<br />

Deve limitar-se ao contetdo<br />

da lei e<br />

pode extravasd-la sob o<br />

pretexto de ser a medida necessftria<br />

a fiscalizaello da profissdo. 0 regulamento<br />

ha de se conter dentro dos objetivos<br />

da lei, não podendo, pots, ampllar<br />

aqullo que foi intenedo do legislador,<br />

nem mesmo sob a capa de necessidade<br />

de fiscalizaedo.<br />

A propesito do poder de Regulamental*,<br />

6 sempre atual a lied° de<br />

Pimenta Bueno, que o considera<br />

abusivo nos casos seguintes:<br />

em criar direitos, ou obrigaeOes<br />

novas, nAo estabelecidas pela<br />

lei porquanto seria uma inovaedo<br />

exorbitante de suss atribuiedes,<br />

uma usurpaedo do poder legislativo,<br />

que so poderd ser tolerada por<br />

camaras desmoralisadas . Se assim<br />

tido fora poderia o govern criar<br />

impostos, penas, ou deveres, que a<br />

lei ndo estabeleceu, teriamos dots<br />

legisladores, e o sistema constituclonal<br />

seria uma verdadeira ilusào;<br />

em ampliar, restringlr ou modificar<br />

direitos ou obrigacees, porquanto<br />

a faculdade the lot dada para<br />

que fizesse observar fielmente a<br />

lei, e nä° para introduzir mudanca<br />

ou afferagão alguma nela, para<br />

manter os direitos e obrigaebes co-<br />

mo foram estabelecidos, e ndo para<br />

acrescentit-los ou diminui-los,<br />

para obedecer ao legislador, e nä°<br />

para sobrepor-se a ele;<br />

c) em ordenar, ou proibir o que<br />

ela tido ordena, ou ndo profbe, porquanto<br />

dar-se-ia abuso igual ao que<br />

ja notamos no antecedente nfirnero<br />

primeiro. E demais, o govemo nä°<br />

tem autoridade alguma para suprir,<br />

por melo regulamentar, as lacunas<br />

da lei, e mormente do direito<br />

privado, pots que estas entidades<br />

não são simples detalhes, ou<br />

meios de execueão. Se a matéria<br />

como princfplo 6 objeto de lei, deve<br />

ser reservada ao legislador; se nä°<br />

6, então ndo ha lacuna na lei, sim<br />

objeto de detalhe de execuedo;<br />

em facultar, ou proibir, diversamente<br />

do que a lei estabelece,<br />

porquanto deixarla esta de ser<br />

qual fora decretada, passaria a ser<br />

diferente, quando a obrigaeão do<br />

govern() 6 de ser em tudo e por tudo<br />

fiel e submisso a lei.<br />

finalmente, ern extinguir ou<br />

anular direitos ou obrigaeOes, pots<br />

que um tal ato equivaleria a revogagdo<br />

da lei que os estabelecera ou<br />

reconhecera; serla um ato verdadeiramente<br />

atentatedo. » (Direito<br />

Mlle° BrasiJeff°, pág• 237).<br />

Este entendimento foi reproduzido,<br />

atualmente, por Seabra Fagundes,<br />

que fazendo a distinedo entre a lei e<br />

o Regulamento, ensina quanto a este:<br />

«... nä; the cabe alterar situaeão<br />

juridica anterior, mas, apenas,<br />

pormenorizar as condielles de modificaedo<br />

origindria doutro ato<br />

(lei). Se o fizer, exorbitarA, significando<br />

uma invasdo, pelo Poder<br />

Executivo, da competenda legislativa<br />

do Congresso. » (Controle dos<br />

Atos Administrativos, pAg. 35, nota<br />

ao comentário do n? 10?).<br />

Pontes de Miranda ainda 6 macs<br />

positivo:


a... se o regulamento cria direltos<br />

ou obrigaciies novas, estranhas<br />

A lei, ou faz revlverem diretto, deveres,<br />

pretenstles, obrigacdes,<br />

rides ou excecoes, que a lei apagou,<br />

6 inconstitucional. Por exemplo:<br />

se faz exemplificativo o que<br />

6 taxativo, ou vice-versa. Tamponco<br />

pode ele limiter, modificar ou<br />

emptier direitos, deveres, pretens6es,<br />

obliges:6es, rides ou excessOes.<br />

Nero pode facultar o que na<br />

lei se prof be, nem the procurer exceciles<br />

A proibicão, salvo se estão<br />

explicitas. Nem ordenar o que a lei<br />

nao ordena. Se a regra lurk:Lica 6<br />

impositiva, ou protbitiva, isto e, de<br />

Wren() cogente, ao regulamento<br />

nAo 6 dado tornA-la regra juriclica,<br />

diapositive ou interpretative. Se<br />

diapositive, licito nAo the 6 faze-la<br />

interpretative ou cogente (imperative,<br />

prolblUva). Se interpretative,<br />

nao pode mudit-la em cogente ou<br />

em dispositiva. 0 regulamento<br />

proposta de interpretacAo ou conjunto<br />

de normas de Wren° formal<br />

administrativo. Nenhum princIpto<br />

novo, ou diferente, de direito material,<br />

se the pode introduzir. Em<br />

consecitlência disso, nAo tixa, nem<br />

diminul, nem eleva vencimentos,<br />

nem Institut penes, emohnnentos,<br />

texas ou isencdes. Vale dentro da<br />

lei; fora da lei, a que se reporta, ou<br />

das outras leis, nAo vale».<br />

(Comentitrios A Const1tuicAo de<br />

1967, vol. III, pAg. 312).<br />

E continua, na pitghia 313:<br />

nAo pode o regulamento fazer<br />

prescricional o prazo preclusivo,<br />

ou vice-versa. Nem, a pretexto de<br />

interpreter, dizer algo diferente<br />

daquilo que o sistema juridic° permite<br />

que se leis na lei. Sempre que<br />

no regulamento se insere o que se<br />

afasta, pare macs on pare menos,<br />

da lei, a ntda, por ser contrAria<br />

let, a regra ituldica que se tentou<br />

embutir no sistema Juridic°. Se,<br />

regulamentando a lei a, o regulamento<br />

fere a constituicAo ou outra<br />

lel, 6 contrSrlo a conStituicilo ou<br />

R.T.J. - 94 197<br />

lei, e, em conseq(lencia, nulo o que<br />

editoua.<br />

0 Regulamento do CREA tot elem.<br />

Nero querendo deixar impunes aqueles<br />

que o desobedecessem, comlnou,<br />

pant o nAo registro do contrato, ita<br />

multa p<strong>revista</strong> na althea a, do art.<br />

73, da Lei n? 5.194, de 24-12-1966a.<br />

Ora, como ensina Bartolomeu A.<br />

Florini,<br />

a... el principio de legalidad mita<br />

potestad penal rige en forma absolute;<br />

no puede la administracidn<br />

crear sanclones contra los administrados,<br />

pus en los regimens democraticos<br />

es atribuicien exclusive<br />

del legislador el crear la conduta<br />

punlble y las respective' undonew.<br />

(Manual de Derecho Adadnistrativo,<br />

vol. II, pig. 678).<br />

Por todos ester motivos, conheco<br />

do recurso, data yenta dos eminentes<br />

Ministros que votaram em sentido<br />

contrario, e the dou provimento, nos<br />

termos deste voto e do eminente<br />

nistro Cordeiro Guerra.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 81.846 — 11J — Rel., Min. Cordeiro<br />

Guerra. Recta: Indftstrias VIIlares<br />

S/A (Adv.: J. Paulo Sepiliveda<br />

Pertence). Recdo.: Conselho Regional<br />

de Engenharla, Arqultetura e<br />

Agronomla. (CREA — 13! Rg.)<br />

(Adv.: Vicente Rosati).<br />

Dectsão • Pectin vista o MinIstro<br />

Moreira Alves, ap6s os votes dos Ministros<br />

Relator e Cunha Peixoto conhecendo<br />

e dando provimento, e dos<br />

votos dos Ministros Leitiio de Aire%<br />

Rafael Mayer, Deck) Miranda e Soares<br />

Mufloz nA0 conhecendo do Recurso.<br />

PresidenMa do Senhor Ministro<br />

Antonio Neder. Presentes A Sepik<br />

os Senhores Ministros Died Falcilo,<br />

Xavier de Albuquerque, Leitilo de<br />

Abreu, Cordeiro Guerra, Morelli* Alves,<br />

Cunha PehrotO, Somas Mutes,<br />

Decio Miranda e Rafael Mayer• Au-


198<br />

sente, justificadamente, o Senhor<br />

Ministro Thompson Flores. —<br />

Procurador-Geral da Repllblica, Dr.<br />

Firmino Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 24 de maio de 1979. —<br />

Alberto Veronese Agutar, SecretArlo.<br />

VOTO (VISTA)<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves — 1.<br />

Pedi vista dos autos, em face da divergencia<br />

entre as Srs. Ministros<br />

Cordeiro Guerra, relator deste recurso,<br />

e Leak, de Abreu, relator do<br />

RE 88.002, que estAo sendo julgados<br />

em conjunto.<br />

2. 0 problema que se apresenta e o<br />

de saber se, no caso, o poder regulamentar,<br />

atribuido ao CONFEA, the<br />

permite, para o efeito da observAncla<br />

da sistemAtica de fiscallzaclio<br />

que ele adotou, llnpor o registro, sob<br />

a forma de anotacAo de responsabilidade<br />

tecnica, de qualquer contrato<br />

que vise A prestacAo de servicos profissionais<br />

de engenharia, arquitetura<br />

ou agronomia, sob pena de. aplicacAo<br />

de mita, p<strong>revista</strong> na Lei 5.194/66 para<br />

o nAo cumprimento de suas disposicdes<br />

para as quaffs nAo haja indicaexpressa<br />

de penalidade.<br />

3. Do exame dessa questAo, conduo<br />

que o CONFEA, ao expedir sua<br />

resolucAo n? 194/70, onde estabeleceu<br />

essa imposicAo, agiu dentro do Ambito<br />

de sua compeancia regulamentar.<br />

Com efeito, a Lei 5.194/66, em seu<br />

artigo 24, determina que «a apneactio<br />

do que dispee esta lei, a verificaclio<br />

e fiscalizacAo do exercicio e atividades<br />

das profiss6es nelO reguladas<br />

serAo exercidas por urn Conselho<br />

Federal de Engenharia, Arquitetura<br />

e Agronomia (CONFEA), e Conselhos<br />

Regionals de Engenharia, Arquitetura<br />

e Agronomia (CREA), organizados<br />

de forma a assegurarem<br />

tuddade de acAo». Por outro lado, es-<br />

sa fiscalizacAo nAo se exaure com o<br />

registro dos profissionais habllitados,<br />

que e, apenas, o pressuposto para<br />

o exercicio legal da profissAo,<br />

mas incide, tamb6m, sobre a maneira<br />

como o profissional registrado a<br />

exerce. Assim, por exempla, 6 forma<br />

de exercicio llegal da profissAo<br />

incumbir-se o profissional resgistrado<br />

de atividades estranhas As atribuicdes<br />

discrlminadas em seu registro<br />

(tetra b do artigo 6?) ou emprestar<br />

seu nome a pessoas, firmas, organizacties<br />

ou empresas executoras<br />

de obras e servicos sem sua real<br />

participacAo nos trabalhos delas (letra<br />

c do mesmo artigo).<br />

Ora, em mataria regulamentar vigora<br />

o princlplo de que dos poderes<br />

explicitos atribuldos a uma entidade<br />

resultam poderes implicitos que silo<br />

os necessariarnente conseqllentes daqueles.<br />

E, nessa ordem de raclocinio,<br />

nAo hA dllvida de que consegliencia<br />

indeclinAvel ddeverpea<br />

legal de fiscalizar e a<br />

, de per-<br />

mitir o exercicio da fiscalizacAo, daqueies<br />

que a ela, tamb6m legalmente,<br />

estAo sujeitos.<br />

Por outro lado, ao estabelecer a<br />

Lei 5.194/66 as penalidades aplicAveis<br />

por infracAo dela, disp6s, na tetra<br />

a do artigo 73, que uma delas seria<br />

representada pelas «multas de<br />

um a tries decimos do salario-minimo,<br />

aos infratores dos artigos 17 e 58<br />

e das disposicOes para as quaffs nAo<br />

haja lndlcacAo expressa de penalidade».<br />

Assim sendo, n8o hA que se dizer<br />

que, no caso, a regulamentacAo<br />

criou dever que nAo resultasse<br />

implicit° da prapria lei (o dever de<br />

respeitar o sistema de fiscalizacAo<br />

para cujo estabelecimento 6 competente<br />

o CONFEA), nem tampouco<br />

que criou sancão nAo p<strong>revista</strong> legalmente,<br />

mas, ao contrArio, ela, dentro<br />

do seu Ambito de interpretaclio


da lei — e, a meu ver, sem excedelo,<br />

explieltou a aplicacAo desta (a<br />

multa) em hipetese em que o nAo<br />

cinnprimento de um dever (o de<br />

sujeltar-se ao sistema de fiscalizaclo<br />

regularmente imposto) infringe,<br />

de modo indireto, o disposltivo legal<br />

que dA ao CONFEA a atribuicAo de<br />

flscalizar.<br />

4. Em face do exposto, e sem atribuir<br />

As entidades corporativas da<br />

natureza do CONFEA poder regulamentar<br />

mats elAstico do que o tem<br />

qualquer outra entidade estatal ou<br />

paraestatal, tambem nAo conheco do<br />

presente recurso, com a devida yenta<br />

dos Srs. Ministros Cordeiro<br />

Guerra e Cunha Peixoto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 81.846 — ELT — Rel., Min. Cordeiro<br />

Guerra. Recte.: Indestrias Villares<br />

S/A (Adv.: J. Paulo Sepulveda<br />

Pertence). Recdo.: Conselho Regional<br />

de Engenharla, Arqultetura e<br />

Agronomla (CREA — 13! Rg.)<br />

(Adv.: Vicente Rosati),<br />

Decisio: Adiado o julgamento por<br />

haver pedido vista o Mastro Xavier<br />

de Albuquerque, depots dos votos dos<br />

Mins. Relator, Rafael Mayer, Decio<br />

Miranda, Soares Munoz e Moretra<br />

Alves nAo conhecendo, e dos votes<br />

dos Mins. Cordeiro Guerra e Cimha<br />

Peixoto conhecendo e dando provimento<br />

ao recurso.<br />

PresIdencia do Senhor kUnistro<br />

Antonio Neder. Presentes a Sessile<br />

os Senhores Ministros Djaci FalcAo,<br />

Thompson Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

Lela° de Abreu, Cordeiro<br />

Guerra, Moretra Alves, Cunha Peixoto,<br />

Soares Mutloz, Decio Miranda<br />

e Rafael Mayer. Procurador-Geral<br />

da Repablica, Dr. Firmlno Ferreira<br />

Paz.<br />

Brasilia, 31 de malo de 1979 —<br />

119110 Francisco Marques, Secretario.<br />

R.T.J. — 94 199<br />

VOTO (VISTA)<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Discute-se a legitimidade,<br />

A face da Lel 5.194, de 24-12-<br />

66, da ResolucAo n? 194, de 22-5-70,<br />

do Conselho Federal de Engenharia,<br />

Arquitetura e Agronomia, que lnstitutu,<br />

sob pena de multa, a obrigatoriedade<br />

de regtstro no Conselho Regional,<br />

sob a forma de anotacilo de<br />

responsabllidade Monica, de todo<br />

contrato, escrito ou verbal, para<br />

prestacAo de seryico profissional referente<br />

A engenharia A arquitetura<br />

ou a agronomia.<br />

Os eminentes Ministros Cordeiro<br />

Guerra e Cunha Peixoto entendem<br />

que a questionada ResolucAo, expe-<br />

Ma a pretexto de regulamentar referida<br />

lel, dela exorbitou, criando<br />

obrigacAo e commando sancAo nela<br />

nAo contempladas nem autorizadas.<br />

Diversamente pensam os eminentes<br />

Ministros Leittio de Abreu, Rafael<br />

Mayer, Declo Miranda, Soares Munoz<br />

e Moreira Alves, para os quals a<br />

ResolucAo se conteve nos ilmites do<br />

poder regulamentar, nlio se tisnando<br />

de llegitimidade.<br />

Ponderei devidamente todos os argumentos,<br />

nem sempre colncidentes,<br />

dos llustres colegas que este° formando<br />

corrente majorititria. Mas<br />

niio me convene!, data venia, de os<br />

dever acolher.<br />

Li e reli todo o texto da Lei . n?<br />

5.194/66, e em nenhum de seus precellos<br />

encontrel norma que, a meu<br />

Mize, bastasse A legitimacio da exisancta<br />

Imposts pela ResolucAo<br />

puitnada. Sequer me possuf de que<br />

ela fosse necessaria ao desempenho<br />

da funcAo fiscalizadora atribulda aos<br />

Conselhos Federal e Regionals, para<br />

os qtildt3 conStitUisse — pare referirme<br />

ao argument° pragmAtleo do<br />

eminente Mintstro Deelo Miranda,<br />

que ma me sensibllizou dentre to-


200<br />

R.T.J. — 94<br />

dos os que convergem em seu favor<br />

— o Unto) melo de coibirem a prAtica<br />

do exercicio da proflssAo por<br />

mein de presta-nomes. Essa taref a,<br />

os Conselhos podem cumpri-la recolhendo<br />

informacOes junto As repartiodes<br />

administrativas incumbidas do<br />

licenciamento de obras e servicos,<br />

sem que precisem dtficultA-los e embaractr-los<br />

corn mats urn ato ritual de<br />

sufocante burocracia A brasileira, e<br />

onerA-los corn a cobranca de macs<br />

tuna taxa.<br />

Nos dias de hoje, estA legitimada a<br />

exigAncia, porque assim o quis o legislador.<br />

Legitimou-a, corn efeito, a<br />

Lei n? 6.496, de 7-12-77, que instituiu<br />

a «Anotacão de Responsabilidade<br />

TAcnica» na prestacAo de servicos<br />

de engenharia, arquitetura e agronomia,<br />

e cujo art. 1?, visivelmente mutuado<br />

ao mesmo artigo da Resoluck)<br />

n? 194/70, assim dives:<br />

(Art. 1?. Todo contrato, escrito<br />

ou verbal, para a execucAo de<br />

obras ou prestacAo de quaisquer<br />

servicos profissionais referentes A<br />

Engenharia, A Arqultetura e A<br />

Agronomia fica sujeito A «Anotactto<br />

de Responsabilidade Thcnica»<br />

(ART).»<br />

Depots da nova lei, nada resta a<br />

discutir. Neste caso, poram, os fatos<br />

se deram antes de sua vigencia.<br />

Data yenta, acompanho os votos<br />

dos eminentes Ministros Cordeiro<br />

Guerra e Cunha Peixoto.<br />

VOTO PRELIMINAR<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

Senhor Presidente. Peg° permissAo<br />

aos eminentes Ministros Cordeiro<br />

Guerra e Cunha Peixoto para acornpanhar<br />

os votos que nAo conhecem<br />

do recurso.<br />

Como eles, considero que a Resoluctio<br />

n? 194 que contain normas visando<br />

executar e regulamentar a Lei<br />

5.194, podia dispor como disp8s, pots<br />

operou corn as atribuicOes que the<br />

proporcionou a lei matriz, e sem<br />

qualquer abuso ou excesso.<br />

Pots a exigAncia das anotacOes dos<br />

contratos de obras a realizar pelas<br />

Empresas constituem requisito substancial<br />

para que melhor os Conselhos<br />

possam realizar seu mister de<br />

fiscallzacAo de como operam, de alta<br />

responsabllidade e relevAncia Obitca<br />

e social.<br />

Considero, pots, correta a orientacAo<br />

que tomaram os acOrdAos recorridos<br />

do Tribunal Federal de Recursos,<br />

inspirados no bem lancado parecer<br />

da Procuradoria da Reptrblica de<br />

Minas Gerais.<br />

Assim, de resto, jA decidiu o Plenttrio<br />

desta Corte, embora nem a ResolucAo<br />

nem a lei fossem as mesmas,<br />

mas identico o tema discutido.<br />

Refiro-me ao R.M.S. n? 16.422, Julgado<br />

ese stio plenArla de 3-3-67<br />

(RTJ, 41/247).<br />

E o meu voto. data yenta.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 81.846 RJ — Rel.: Min. Cordeiro<br />

Guerra. Recte.: InclUstrias Villares<br />

S/A (Adv.: J. Paulo Septilveda<br />

Pertence). Recdo.: Conselho Regional<br />

de Engenharia, Arquitetura e<br />

Agronomia. (CREA — 13? Rg.)<br />

(Adv.: Vicente Rosati).<br />

DecisAo: NAo conheceram do recurso,<br />

vencidos os Ministros Relator,<br />

Cunha Peixoto e Xavier de Albuquerque.<br />

PresidAncia do Senhor Ministro<br />

Antonio Neder. Presentes A SessAo<br />

os Senhores Ministros Thompson<br />

Flores, Xavier de Albuquerque, Leitit°<br />

de Abreu, Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves, Cunha Peixoto, Soares<br />

Mufioz, Decie Miranda e Rafael Mayer.<br />

— Ausente, justificadamente, o<br />

Sr. Ministro Djaci FalcAo. —<br />

Procurador-Geral da Repttbilea, Dr.<br />

Firmino Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 29 de junto de 1979 —<br />

Alberto Veronese Agular, SecretArlo.


R.T.J. — 94<br />

FtECURSO EXTRAORDINARIO IV 82.119 — RJ<br />

(Segundo Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro LeitAo de Abreu.<br />

Recorrente: GatedOnto Em preendimentos Industrials e Comercials S/A<br />

— Recorrido: Estado do Rio de Janeiro.<br />

A Decgo<br />

sapropriaclio.<br />

rggi improcedente<br />

Indenteacao. 1) AMordlio sem fundamentacAo.<br />

lit que o acOrdilo s<br />

supriu o da apelaclo. 2) Verba relativa da<br />

de declaractio<br />

o Bid<br />

embargo.<br />

nlo ventaada<br />

s de re<br />

(Samula 282).<br />

mploi. Questa°<br />

3) Mbar/IMOa de advogado. N8o aplicacAo da lei processual<br />

InoCorrancia de afronta I lei <strong>federal</strong>, climb:110 Me<br />

civil. 4)<br />

configured°.<br />

Rectal) extraordlnario de que a Turma nile conbeceu.<br />

5)<br />

ACORDA0<br />

Vistos, relatados e discutidos ester<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Stiprerno Tribunal<br />

Federal, na conformidade com a eta<br />

de julgamentos e notes taquigrAficase<br />

em nao conhecer do recurso, pot<br />

unanimidade de votos.<br />

Brasilia, 16 de outubro de 1979. —<br />

magi Falelo, Presidents — Leith°<br />

de Abreu, Relator.<br />

29.656 e Cri 3.000.000,00 pelo Lote 2<br />

do PAL 29.656, tudo somando<br />

12.000.000,00, neles compreendidas<br />

as benfeitorlas do Lote 1 do PAL<br />

27.795.<br />

«A Superintendancia Executiva<br />

de Projetos Especials — SEPE —<br />

promoveu uma desapropriacão<br />

contra CaledOnia Empreendimentos<br />

Industrials e Comercials S/A<br />

pars indtir-se na posse dos imOvels<br />

denominados Lote 1 do PAL 27.795<br />

e Lotes 1 e 2 do PAL 29.656.<br />

«Houve pericla j udicial,<br />

RELATORIO<br />

0 Sr . Mirdstro Lei th° de Abreu —<br />

Em processo de desapropriacão, foi<br />

encontrando-se nos autos os laudos<br />

proferido o seguinte acardao:<br />

resPectivos e, afinal, o Juiz senten-<br />

c!ou de as. 299 a 302,<br />

«Vistas, relatados e discutidos<br />

julgando proestes<br />

autos de Apelaclo Civel<br />

cedente, em parte, o pedldo e fi-<br />

xando a indenIzacao em Cri<br />

84.568, em que silo apelantes o 10.000.000,00.<br />

Juizo da 4! Vara da Fazenda POblica,<br />

a CaledOnia<br />

«Ha urn agravo no auto do pro-<br />

Empreendimentos cesso, interposto a f. 285 e tomado<br />

Industrials e Comercials S/A e a por termo a f. 287.<br />

Superintendancia Executiva de<br />

Projetos Especials — SEPE,<br />

«Nega-se-lhe provimento por<br />

unanimidade de votos. Nä° ha por<br />

«Acordam os Juizes da If Cams- que determinar a citacao de tercelra<br />

Civel do Tribunal de Justice do ros possiveis interessados no le-<br />

Estado da Guanabara, por unani- vantamento do preco da expropriamidade<br />

de votos, em negar provi- cao, levantamento esse que sera<br />

mento ao agravo no auto do pro- feito oportunamente, medlante a<br />

cesso e em dar, em parte, provi- prova plena da propriedade<br />

mento ao recurso da<br />

por<br />

expropriada parte da expropriada.<br />

para fixer a justa indenizaclio a<br />

ser paga em Cri 7.000.000,00 pepreco<br />

oferecido pelo Estado<br />

para<br />

lo Late 1 do PAL 27.795; Cri<br />

conseguir a Massa° Buttner<br />

2.000.000,00 pelo Lote 1 do PAL<br />

na posse nAo corresponds de nenhum<br />

modo so Justo valor da coisa<br />

201


202<br />

R.T.J. — 94<br />

expropriada, como demonstrou<br />

sem dAvida o laudo do perito do<br />

Juizo. Ainda o prOprio Estado da<br />

Guanabara, em estudo a que mandou<br />

proceder por intermAdio da Secretaria<br />

de Plenajamento e Coordenacäo<br />

Geral, teria estimado o<br />

valor do metro quadrado em Cr$<br />

5,00 (f. 66 do estudo), considerando<br />

assim a desaproPriacAo s6 dos terrenos,<br />

sem atentar para as benfeitorias<br />

acaso existentes. Este valor<br />

foi encontrado por uma comissAo<br />

nomeada pelo Estado e que se utilizou<br />

dos servicos do Dr. José Chipper,<br />

urn dos engenheiros do Estado,<br />

para fixacão do valor unitArio.<br />

Diz o pr6prio trabalho que o Dr.<br />

Chipper 6 perito em avaliacOes,<br />

corn exercicio junto A Procuradorla<br />

de DesapropriacOes.<br />

«A Area total desapropriada A de<br />

934.811,00m2, sendo que parte pertence<br />

a Caledönia, parte A Caixa<br />

Habitacional da Policia Militar do<br />

Estado da Guanabara e parte ao<br />

Clube dos Oficiais da Policia Mllitar<br />

e do Corpo de Bombeiros.<br />

«VA-se dai, que, pelo valor encontrado<br />

pela ComissAo do Estado<br />

que procedeu ao estudo do Projeto<br />

Especial do Aut6dromo da Barra,<br />

jA o preco oferecido na inicial nAo<br />

encontrava justificativa.<br />

«0 perito do Juizo, Dr. Fernando<br />

Clãuclio de Oliveira, no bem lancado<br />

trabalho de fls. 80 a 88, discriminou<br />

os diversos lotes expropriados,<br />

integrantes da PALS, diferentes,<br />

assim localizando-o s e<br />

descrevendo-os: (f. 81). «Os lotes<br />

objeto da presente Mao de DesapropriacAo,<br />

constituiam, primitivamente,<br />

em Ante° lote, corn<br />

934.811,00m2, do PA 22.664. Posteriormente<br />

o PA 22.664 foi desmembrado<br />

em 2 lotes 1 do PA 27.795 e<br />

lote 2 do PA 27.795, sendo o lote 1,<br />

destinado a Aut6dromo corn uma<br />

area de 467.765,00m2 e o lote 2, destinado<br />

a Conjunto Residential, corn<br />

uma area de 467.046,00m 2 Este lote<br />

2 foi, ainda, desmembrado em lote<br />

1 do PA 29.656, corn 162.087,50m2,<br />

de Area e lote 2 do PA 29.656 com<br />

304.958,50m2 de area.<br />

«InformOu o perito no seu laudo<br />

(f. 84) que, ante a diversidade de<br />

valores atribuidos aos terrenos expropriados,<br />

utilizou-se dos valores<br />

calculados pelo Departamento do<br />

PatrimOnio do Estado (fls. 39 a 40<br />

dos autos do processo 15.917/69),<br />

que determina para uma area na<br />

pr6pria peninsula de Itapeba, onde<br />

se localiza a Area expropriada, um<br />

valor de Cr$ 1.500.000,00 para<br />

146.280,00m2, isso em 30-12-69.<br />

«A f. 48, consta uma escritura lavrada<br />

no 23? Oficio de Notas — TabeliAo<br />

MArcio Braga — entre a CaleclOnia<br />

Empreendimentos Industrials<br />

e Comerciais S/A (exproia<br />

e a Caixa Habitacional da<br />

Polic olicia Militar do Estado da Guanabara,<br />

escritura na qual se convencionou<br />

o desmembramen to de<br />

uma area de 162.087,50m2, que foi<br />

alienada pelo preco certo e ajustado<br />

de Cr$ 1.458.000,00 (f. 49).<br />

«Conelui o perito, tendo em vis.<br />

to o arbitramento em funcão de<br />

urn indite, em razAo do aumento<br />

mAdio verificado no periodo de setembro<br />

de 1971 a setembro de 1972<br />

(f. 85), pela Macao do valor de<br />

Cr$ 16,97 por metro quadrado. E,<br />

aplicando esse valor As Areas expropriadas,<br />

teria encontrado: para<br />

o Lote 1 do PAL n1 27.795, corn<br />

467.765,00m2, Cr$ 7.937.972,05; para<br />

o Lote 1 do PAL n? 29.656, corn<br />

162.087,50m2, Cr$ 2.750.624,87; e para<br />

o Lote 2 do PAL n? 29.656, corn<br />

304.958,50m2, Cr$ 5.175.145,75, o que<br />

tudo importava em atribuir s6 ao<br />

terreno o valor de Cr$ 15.863.742,67.<br />

«Acentuou o perito — o que nAo<br />

foi observado pela sentenca — que<br />

apenas no Lote 1 do PAL, n? 27.795<br />

existem benfeitorias constituldas<br />

pelas pistas do Aut6dromo, das<br />

quais 4.160ms estao prontas e 1.200<br />

preparadas para receber a cober-


tura asfAltica. A essas benfeltorias<br />

atribuiu o perito o valor de Cr;<br />

2.414.807,55. «Da soma das benfeltorias,<br />

que — repita-se — so existern<br />

no Lote 1 do PAL n? 27.795,<br />

corn o valor do terreno conclul o<br />

perito por flxar o total de Cr;<br />

18.278.550,22 como o )unto valor a<br />

ser pago pela expropriacAo.<br />

«JA o assistente tecnico da expropriada,<br />

A f. 250, fixa o valor do<br />

Lote 1 do PAL n? 27.795 em Cr;<br />

14.032.950,00, A rank) de Cr; 30,00 o<br />

metro quadrado; o do Lote 1 do<br />

PAL n? 29.656 em CO; 4.862.625,00,<br />

atendendo ao mesmo valor unitArio;<br />

e o do Lote 2 do PAL n? 29.656<br />

em Cr; 9.148.755,00, atendendo,<br />

ao mesmo valor unitArlo de Cr;<br />

30,00 o metro quadrado. Dando As<br />

benfeltorlas o valor de Cr;<br />

2.896.768,70, obttm o valor total de<br />

Cr; 30.941.098,70. Entre os elementos<br />

Informativos da conduta do<br />

Juiz, dots hA nos autos que merecem<br />

atencflo pela responsabilidade<br />

de que se revestem. Urn, o do engenhetro<br />

Sérgio Magalhiles, por copia<br />

xerox de fls. 43 a 47, no qual se<br />

dA ao Lote 1 do PAL n? 27.795, Carrico<br />

que tern benfeltorlas, o valor de<br />

Cr; 7.623.385,00 e ao Lote 2, o valor<br />

de Cr; 3.870.480,00, sendo que, no<br />

que se refere ao Lote I, o terreno<br />

fol avallado em Cr; 6.548.710,00 e<br />

as benfeltorias em 1.074.675,00.<br />

40 outro elemento 6 a escritura<br />

de compra e venda consensual entre<br />

o CaledOnla e a Caixa Habitaclonal<br />

da Policia Militar do Estado<br />

da Guanabara, pela qual fol vendida<br />

uma Area de 162.000m2 por Cr;<br />

1.458.000,00 que da um valor exato<br />

de Cr; 9,00 por metro quadrado (f.<br />

49), alnda estipulado o pagamento<br />

em prestacties, conforme o instrumento<br />

respectivo, escritura lavrada<br />

em Notas do 23? OHS f. 51v.<br />

do Livro 1.722.<br />

«0 laudo do perito Sato Magaencontrado<br />

As fls. 43 e segulntes,<br />

tot celebrado a pedido da<br />

R.T.J. — 94<br />

203<br />

Firma Cantagalo Empreenclimentos<br />

e Participacdes S/A, que estaria,<br />

ao que se diz, interessada na<br />

compra de terrenos e benfeltorias<br />

situadas na peninsula de Itapeba,<br />

na Baixada de Jacarepagua (f. 41).<br />

Esse laudo fixa o valor das benfeltorlas<br />

em Cr; 1.074.675,00 e o «do<br />

terreno correspondente ao Lote 1<br />

do PAL n? 2 7.79 5 em Cr;<br />

6.548.710,00, o que tudo daria Cr;<br />

7.623.385,00. Para o Lote 2, que nalo<br />

possul benfeltorias, deu o perito 0<br />

valor de Cr; 3.870.460,00. Asstm; o<br />

valor total da Area seria de Cr;<br />

11.493.845,00 (f. 47). Para o Lote 1,<br />

corn benfeltorias, JA submetldo a<br />

obras de adaptacAo, o perito deu o<br />

valor de Cr; 14,00 por metro quadrado<br />

e, para o Lote 2, o valor de<br />

Ca 10,00 por metro quadrado.<br />

aNa verdade, mats se aproximam<br />

da realidade os valores constantes<br />

desse laudo; alhelo aos triteresses<br />

das partes conflitantes —<br />

SEPE e expropriada — laudo esse<br />

efetuado em 24 de jinilto de 1971 (f.<br />

47) fixando o valor total dos lotes e<br />

benfeltorias — estas s6 existentes<br />

no Lote 1 do Pa n? 27.795 (f. 83)<br />

conforme se apura do laudo do perito<br />

do Juizo. «Acordam os Juizes<br />

da 1? Camara Civel do Tribunal de<br />

Justica do Estado da Guanabara,<br />

por unanimidade, em dar provimento,<br />

em parte, ao recurs() para,<br />

admitlndo como base de cAlculo o<br />

valor unitArio atualizado de 1971<br />

para 1973, data do julgamento, de<br />

Cr; 15,00 o metro quadrado, flxar o<br />

montante da indenizacilo s6 para<br />

os terrenos em Cr; 12.493.000,00,<br />

arredondada a Area expropriada<br />

para 934.000rn2, incluindo as benfeltorias,<br />

s6 existentes no Lote 1 do<br />

PAL n? 27.795.<br />

Observa-se que o prOprio estudo<br />

oferecido pela expropriada de fls.<br />

114 a 144 dos autos, elaborado por<br />

peritos de sua confianca em 30-1-<br />

1973, proclama que a desapropriaclio<br />

dove abranger toda a Area (f.


204<br />

R.T.J. — 94<br />

142) por nao terem sido regularizedos<br />

pela Caleder-11a os desmembramentos<br />

projetados.<br />

Fica, assim; condenada a expropriada<br />

SEPE; a pagar pela area<br />

expropriada e benfeltorias Cr;<br />

12.000.000,00, sendo Cr; 7.000.000,00<br />

pelo Lote 1 do PAL n? 27.795, Cr;<br />

2.000.000,00, pelo lote 1 do PAL n?<br />

29.656 e Cr; 3.000.000,00 pelo Lote 2<br />

do PAL n? 29.656, bem como honorarlos<br />

de advogado a razao de 5%<br />

sobre a diferenca entre a oferta e o<br />

valor ora fixado corn juros de mora<br />

e custas processuais. N ao se<br />

computam desde ja juros compensaterios,<br />

pots a expropriante nao<br />

se imitiu na posse da area. Quando<br />

isso ocorrer, clever& o pagamento<br />

ser acrescido desses juros desde a<br />

imissao. Mt) ha, pots, juros cornpensaterios<br />

sobre o remanescente<br />

nä° levantavel desde logo. Pagara<br />

ainda a expropriante correcao monetaria<br />

a contar da data da sentenca<br />

ate o efetivo pagamento do preco<br />

(115. 433/439).<br />

CaleclOnia Empreendimentos Industrials<br />

e Comerciais S/A apresentou<br />

embargos de declaragao, aduzindo<br />

o seguinte:<br />

«0 acerclao de fls. 433/439, ap6s<br />

diversas consideracOes, houve por<br />

bem se adotar, para efeito de fixacao<br />

do valor da indenizacao do<br />

bem expropriado, o laudo de fls. 43<br />

e seguintes elaborado pelo engenheiro<br />

Sergio Magalhaes, por se<br />

aproximarem da realidade os valores<br />

dele constantes (f. 438).<br />

«Assim; admitiu a decisao embargada<br />

como base de calculo para<br />

a indenizacao, o valor united°<br />

atualizado de Cr5 15,00 para o metro<br />

quadrado, o que resulta numa<br />

cifra de Cr; 14.010.000,00 (quatorze<br />

mllhOes e dez mil cruzeiros) para<br />

os 934.000m2 desaproPriados. Essa<br />

nao fol, entretanto, a conclusao do<br />

acardao, que estabeleceu em Cr5<br />

12.000.000,00 (doze mi1/16es de cruzeiros)<br />

o preco da indenizacao, in-<br />

cluidas neste valor as benfeltorias<br />

exlstentes no Tote n? 1 do PAL n?<br />

27.795. E, evidentemente, nesta<br />

parte, contradithria a decisao de<br />

fls. 433/439, razao pela qual a expropriada<br />

opee os presentes embargos<br />

de declaracao para que,<br />

corrlgindo o erro material apontado,<br />

essa egregla Camara fixe em<br />

Cr; 14.010.000,00 o valor da indentzacao,<br />

se, para os terrenos, de<br />

acordo corn a prepria fundamentacao<br />

do acerclao » (fls. 441/442).<br />

Seus embargos foram assim recebidos:<br />

«Acordam os Juizes da 1? Camara<br />

Civet do Tribunal de Justica do<br />

Estado da Guanabara, por unanimidade<br />

de votos, em receber os<br />

embargos da empresa CaledOnia<br />

para esclarecer que, na verdade,<br />

terla existido contradicao entre a<br />

«exposictio contida no voto do relator<br />

e a conduato do actirdao embargado.<br />

«Esta contradicao se explica pelo<br />

fato de ter sido o voto do relator<br />

alterado por masa° do julgamento<br />

para se par de acordo com seus colegas,<br />

reduzindo o valor final da indenizacão.<br />

«Assim; a base de calculo constante<br />

do laudo do engenheiro Sergio<br />

Magalhaes deixou de prevalecer<br />

no acordo dos julgadores; que<br />

se harmonizaram na Mogan da indenizacao<br />

ern Cr; 12.000.000,00,<br />

sendo Cr; 7.000.000,00 pelo Lote 1<br />

do PAL n? 27.795; Cr; 2.000.000,00<br />

pelo Lote 1 do PAL n? 29.656 e Cr;<br />

3.000.000,00 pelo Lote 2 do PAL n?<br />

29.656.<br />

«Asslm, a condenagao foi afinal<br />

esta e rat) outra proposta pelo voto<br />

do relator, que se reconsiderou na<br />

prOpria assentada de julgamento<br />

para concordar corn sews colegas e<br />

fixar a indenizacao na soma acima<br />

referlda» (fls. 450/451).<br />

Donde o recurso extraordinerio, da<br />

CaledOnia, pelas Tetras a e d, recurso


contra cWo conhectmento ou provi-<br />

memo se manifesta<br />

expropriante a<br />

Geral da RepOblica.<br />

Procuradorta-<br />

fleava condenada a pagar<br />

pela area expropriada<br />

torlas Cr$<br />

e benfei-<br />

E o relatario.<br />

12.000.000,00, 7.000.000,00<br />

sendo Cr;<br />

pelo Lote 1 do PAL n?<br />

VOTO<br />

27.795, Ca 2.000.000,00 pelo Lote<br />

PAL n?<br />

1 do<br />

0 Sr. Mthistro Lento de Abreu 29.656 e Cr$ 3.000.000,00 pelo<br />

(Relator) — Argot a Lote 2 do PAL n ? 29.656. Correspon-<br />

recorrente, intcialmente,<br />

negativa de vigancia ao de lsso ao que consta da ata de Jul-<br />

dlsposto no paragrafo<br />

gamento;<br />

anico do arti-<br />

onde se asslnala: «No mego<br />

118 e no Item II do artigo 280 do rit°. Depots do Conselho, o Tribunal,<br />

por u<br />

C6digo de Processo Civil de 1939. nanimidade de votos, reformou<br />

a decisito de<br />

Mega: «Ao admitir taxativa e tex-<br />

1! InstAncla,<br />

dando<br />

em parte,<br />

provimento tualmente ter ocorrido contradicao<br />

ao 2? recurso para<br />

fixar a indenizaato (nlio tot dlvergencla, mas contradt-<br />

pelo Lote 1 do<br />

cao) entre os fundamentos<br />

PAL 27.795 e<br />

do acar- 7<br />

benfettorlas: Cr$<br />

dito (parte expositiva) e sua conclu- .000.000,00 (sete milhtles de cruzele<br />

determinando a prevalancia<br />

ros), pelo Lote 1 do PAL 29.656, Cr:<br />

2.000.000,00 da conclusao, sem correcao da parte<br />

(dols mllhOes de cruzel-<br />

expositiva, a declsAo<br />

ros), pelo lote 2 do PAL<br />

proferlda em<br />

29.656 —<br />

grau de embargos de declaraclio 3.000.000,00 (Wes milhiles de ouzel-<br />

(fls. 449/450 dos autos) relegou a<br />

ros, somando<br />

432).<br />

12.000.000,00D (f.<br />

obIlvio os dIspositivos legals lnvoca- Como se ye,<br />

dos, convertendo-se em urn julgado te, corn a<br />

houve Conselho e ['es-<br />

concordAncia sem tundamentagAo. Instate, mats<br />

do relator, se<br />

adiante: gASSim,<br />

dlminutu o preco da indenizacao, se a colenda Camalrera, ao julgar os necessarios<br />

ativarnente ao que resultarla da<br />

embargos<br />

de declaracao, entendeu que de-<br />

aplicacao da base de calculo de quirtverta<br />

prevalecer a<br />

ze cruzelros por metro<br />

importAncia de mo<br />

quadrado. a area<br />

Co-<br />

Cr: 12.000.000,00 (doze milhaes de<br />

desaproprtada media<br />

cruzeiros), deveria ter declarado os<br />

934.000m2 e como, de outra parte, o<br />

preco final da<br />

fatos que fundamentaram<br />

lndenizactio<br />

seu con-<br />

se flxava<br />

vencimento nesse senttdo».<br />

.000,00, 00. tern-se<br />

verdade, o aca<br />

, na<br />

A contradicAo increpada ao acardilo<br />

tot reconhecida corn o recebtmento<br />

dos embargos de declaracilo.<br />

No aresto dos embargos se atribul a<br />

contradicao a urn erro ou equivoco,<br />

pots que o Relator, embora se houvesse<br />

posto de acordo com seus agegas,<br />

pan reduzlr o valor final da indenizacao<br />

pare C4 12.000.000,00 (doze<br />

intlhaes de cruzeiros), delxou consignado<br />

ao redtgir a dectsilo, que a<br />

base de calculo do imOvel desapropriado<br />

era de Ca 15,00 o metro quadrado,<br />

incluidas as benfettortas.<br />

0 erro ou equlvoco residiu, na verdade,<br />

exclusivamente, na menato<br />

aos Cr: 15,00 por metro quadrado,<br />

pots se acha expresso na conclusao C<br />

do prOprto acardao embargado que a p<br />

0 rdao, em vez que<br />

de tomar<br />

por base os dltos Cr$ 15,00 por<br />

metro quadrado, adotou como base<br />

de calculo o preco de cerca de Cr;<br />

12,85 por metro quadrado.<br />

Esclarecido, pots, nos termos em<br />

que o rot, o acardAo embargado, nAo<br />

ha diner que este nito se acha fundamentado.<br />

Com os suprimentos<br />

aresto profertdo<br />

do<br />

nos embargos de declaracao,<br />

claras ficaram as razoes<br />

pelas qua's o acardAo embargado,<br />

ern vez de fixar a lndenizacão em<br />

1<br />

.010.000,K estimou-a em Cr:<br />

2.000.000,00. Residem tats razOes em<br />

que, em Conselho, nilo se acolheu,<br />

por inteiro, o laudo do Engenheiro<br />

Sergio MagalhAes, consoante era<br />

litho fazer, uma vez que, na apura-<br />

Ao do )unto valor do bem desaprortado<br />

0 julgador nAo esti.) adstrtto<br />

— 94<br />

205


206<br />

R.T.J. — 94<br />

aos laudos periciais. Ademais, o provimento ao apelo para que, nos<br />

acardäo nao repudia, inteiramente, o termos do artigo 285 do C6cligo de<br />

Processo Civil de 1939, se corrigisse<br />

laudo do Engenheiro Sergio Magalhaes,<br />

nem inteiramente o perfilha, inexatidão material da sentenca, depots<br />

salienta, unicamente, ser ele o vida a lapso manifesto. No caso verque<br />

mais se aproximav a da realida- tente, Liao ocorreu, contudo , como<br />

de (1. 438). Reduzindo o valor do mepenso<br />

ter sido demonstrado, inexatitro<br />

quadrado de qulnze cruzeiros,<br />

ciao material, pois a decisan recorripara<br />

cerca de treze cruzeiro s — da, deixou expresso que a indeniama<br />

is exatamente cerca de doze cru- cao se fixava em Cr; 12.000.000,00 .z 0<br />

lapso que ocorreu nao diz respeito,<br />

zeiros e oitenta e tits centavos —, a<br />

deciseo impugnad a nao se pode dizer<br />

portanto, ao montante da indenizadesfundamentada.<br />

Nao ocorreu,<br />

ea°, porem; a circunstancia de flat)<br />

ter o relator, por equivoco, ajustado<br />

diante disso, a alegada afronta aos<br />

dispositivos de ordem processual, a o preco do metro qua do a esse<br />

valor. 0 erro mater, ial draonfigurado c<br />

que se refere a recorrente.<br />

no caso, e corrigido pelo acOrdao dos<br />

Nä°<br />

houve violacão a tats precei- embargos, residiu, pois, unicamente<br />

tos,<br />

nem, igualmente, ao artigo 285 em se ter fixado o valor do metro qua-<br />

do estatuto processual civil drado em quinze cruzeiros e na p, code<br />

1939. Nesse se prescreve que as<br />

nexatidees materials, erros de es- mo decorrencia da decisao tomada<br />

em Conselho e traduzida claramente<br />

crita ou de calculo podem ser carno acOrdeo, em doze cruzeiros e oi-<br />

gidos por despacho, de °tido ou a re- tenta e tits centavos. Nao se verifiquerimento<br />

das partes. Ora, nada ca, pots, a pretendida identidade ou<br />

emntrario em co ao que al se estatul fol semelhanca entre o presente caso e<br />

sustentado pelo acOrdao recorrido. aquele a que se refere o R.E. 79.524,<br />

Pela letra d, improcede, tambem, de que fui relator. Corn este aditao<br />

recurso. Quanto a verba relativa a mento, reitero a conclusäo do meu<br />

frail An remPloi, trata-se de ques- voto: nä° conheco do recurso.<br />

do (Stanula 282). Quando da questa°<br />

se houvesse cuidado, ainda assim<br />

nä.° poderia ter exito a argilicão da<br />

recorrente, porquanto a jurisprude n<br />

ter) nao ventilada no acbrdao recorri-<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Deck) Miranda —<br />

-eta nao tem admitido o cOmpuio des- Sr. Presidente, o eminente Relator<br />

sa verba na indenizacäo (RE's. acaba de demonstrar, com grande<br />

85.209 e 86.607). No tocante a honorenos,<br />

a orienta gao predominante, no<br />

nitidez, que o caso nao comporta re-<br />

Supremo Tribunal, 6 que sac) eles recurso<br />

extraordina rio, seja pela tetra<br />

a, seja pela letra d da permissao<br />

gidos por lei especial, nao se aplicando<br />

os princlpios estabelecidos,<br />

constitutional. A queixa que faz o recorrente,<br />

em termos tao insistentes e<br />

quanta materia, pelo COdigo de aparentemente destinados a obter<br />

Processo Civil (RTJ 76/659 e 82/593). ressonancia, a uma queixa sobre o<br />

Ante o exposto, nao conheco do re- que constituiria injustica, ou melhor,<br />

curso.<br />

insuficiencia da indenizacao fixada<br />

Ja estava reddigido este voto quan- pelo ad:4'a° recorrido . Isso, porem,<br />

do, ontem a tarde, chegou ao meu nao autoriza a abertura da instancia<br />

Gabinete memorial da recorrente, extraordinaria.<br />

no qual est& junta capia do R.E.<br />

79.524 (RTJ 73/946), de que fui relator.<br />

No julgamento desse recurso, a Acompanho o voto do eminente<br />

Turma, acolbendo o meu voto, deu<br />

Relator, nao conhecendo o recurso.


EXTRATO DA ATA<br />

RE 82.119 — RJ — Rel.: Min. LeitAo<br />

de Abreu. Recte.: Caledonia Empreendimentos<br />

Industrials e Cornerdais<br />

S/A (Advs.: Frederico Jose Leite<br />

Gueiros, Hugo M6sca e Oscar Jose<br />

Muller). Recdo.: Estado do Rio de<br />

Janeiro (Adv.: Luiz Carlos Guimariles<br />

Castro).<br />

DecisAo: NAo conhecido, unAnime.<br />

Falou, pelo Recte.: o Dr. Oscar Jose<br />

Muller.<br />

R.T.J. — 94<br />

207<br />

Presicidncia do Sr. Ministro DJacl<br />

— Presentes a Sessflo os Srs.<br />

Ministros Leitão de Abreu, Moreira<br />

Alves e Decio Miranda. Ausente,<br />

Justificadamente, o Sr. Min. Cordeiro<br />

Guerra. Subprocurador-Geral<br />

da Republica, o Dr. Mauro Leite<br />

Soares.<br />

Brasilia, 16 de outubro de 1979 —<br />

Hello Francisco Marques, SecretArlo.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 82.996 — GO<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Soares Minioz<br />

Oliveira. Recorrente: Banco do Brasil S/A — Recorrido: Claudimiro Martins de<br />

G&Wla Rural Pignoraticia. Execucão Judicial.<br />

A multa instituida no art. 71 do<br />

gem caso de cobranca em<br />

Decreto-lei<br />

p<br />

n? 167, de 1967, incide<br />

minlstrativo» e, por via de rocesso contencioso ou nAo judicial ou<br />

consecitiencia,<br />

ad-<br />

ominacties da suc<br />

nAo se destlna a cobrir as<br />

co s<br />

umbência,<br />

judicial<br />

esp<br />

contencloso.<br />

ecificadamente inerentes ao proces-<br />

ACORDAO<br />

Vistos.<br />

Acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Primeira Turma,<br />

a unanimidade de votos, e na<br />

conformidade das notas taquigraftcas,<br />

conhecer do recurso e dar-lhe<br />

provimento.<br />

Brasilia, 27 de marco de 1979. —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Soares Munoz, Relator.<br />

RELATORIO<br />

O Sr. Ministro Soares Mtuloz: 0<br />

despacho do !lustre Desembargador<br />

Arinan de Loyola Fleury Presidente<br />

do Tribunal de Justice do Estado<br />

de Goias, admitiu o recurso extraordinftrio,<br />

assim expondo a especie:<br />

KO Banco do Brasil S.A., irresignado<br />

coin o actirdAo unAnime de<br />

fls. 41/43 da Turma da 2? CA-<br />

mare Civel, nos autos da apelacAo<br />

it 7.907 da comarca de Rio Verde,<br />

sendo apelante Claudimiro Martins<br />

de Oliveira e apelado, o atual recorrente<br />

— recorre, extraordinariamente,<br />

para o Egreglo Supremo<br />

Tribunal Federal, corn fundamento<br />

no art. 119, inciso III, Tetra<br />

d, da Const. Federal.<br />

O cabimento do recurs() nAo foi<br />

impugned°.<br />

Versam os presentes autos sobre<br />

acAo executive proposta pelo recorrente<br />

contra o recorrido, coin<br />

apelo no art. 298, nts VI e VIII do<br />

CPC 39 e no art. 71, do Dl n?<br />

167/67, para cobranca de debit°<br />

oritmdo de financiamento agricola.<br />

O Julgado recorrido reformou,<br />

em parte, a sentence de primeiro<br />

grau, de fls. 29/30, para incluir as<br />

custas devidas pelo recorrido ne<br />

multa de 10% clue The tot imposta,<br />

firmando, entflo, a tese de que


208<br />

R.T.J. — 94<br />

multa p<strong>revista</strong> pelo art. 71 do que corn eta !Tao se contemplam as<br />

Decreto-lei n9 167, de 14 de fevereicominacOes<br />

da sucumbencia, esro<br />

de 1967, destina-se a atender as pecificamente inerentes ao prodespesas<br />

judiciais e honorArio s ad- cesso contencioso e, como sao as<br />

custas judiciais honorarios de<br />

vocaticios”.<br />

Diz o recorrente que, assim deadvogado.<br />

cidindo, o acOrdan diver do se- Isto sto, o parecer e elo proguinte<br />

aresto do TAIX,/SP, Pleno,<br />

vimentopo do recurso, para p restabepublicado<br />

in Suplemento da Re- lecer a sentenca singular » (fls. 61<br />

vista dos Tribunals «RT — In- a 62).<br />

forma», n? 36, de 30.6.71, p. 33; «A E o relatOrio.<br />

multa instituida pelo art. 71 do<br />

VOTO<br />

Decreto-lei n9 167, de 1967, On<br />

guarda qualquer relacao corn a 0 Sr. Ministro Soares Mufloz (Re-<br />

p<strong>revista</strong> na de usura, tanto que 6<br />

exigivel mesmo na cobranc a ad- lator): 0 dissidio jurisprudential a<br />

manifesto. Decidiu o acerdao pa-<br />

ministrativa, nao se podendo assim<br />

afirmar que o destino dessa multa radigma, do Tribunal de Alcada<br />

seja o de fazer face a hanorArios».<br />

Civel do Estado de lo Paulo: «A<br />

multa instituida Saoart. 71 pe do<br />

0 dissidlo estA comProvado. Decreto-lei 167, de 1967, nao guarda<br />

Admitimos o recurso, no efeito qualquer relaeao corn a p<strong>revista</strong> na<br />

devolutivo, e determinamos que se de usura, tanto que 6 exigivel mesabra<br />

vista dos autos ao recorrente mo na cobranqa administrativa, nao<br />

ao recorrido, sucessivamente,<br />

para, no prazo legal, apresentarem<br />

suas razdes» (fls. 48 a 49).<br />

0 eminente Ministro Jose Fernandes<br />

Dantas, ao tempo 1?<br />

Subprocurador-Geral da Republica,<br />

opinou pelo provimento do recurso,<br />

para restabelecer a sentenca singular,<br />

em parecer assim fundamentado•<br />

«Ao entender do v. acerclao (fls.<br />

41/43), a multa estipulada pelo art.<br />

71 do Dl 167/67, releva a condenacao<br />

do devedor inadimplente nas<br />

custas e honorArios .mcessuais<br />

e demais comacoes, in-<br />

0 conhecimento do recurso se elusive a multa de 10% p<strong>revista</strong> no<br />

baste pela indicacao de preceden- art. 71 do mencionado Decreto-lei. E<br />

tes proferido em sentido contrArio deixou de condenar os executados<br />

pelo Tribunal de Alcada Civel de S. em honorArios de advogado, por nao<br />

Paulo ( RT 36/33).<br />

ser o caso (sic): «visto o Banco ter<br />

E conhecido, o seu provimento contrato para isso p ( 1. 29).<br />

parece certo, desde que, na vernatureza<br />

moratoria da-<br />

De conseguinte, a negative quanto<br />

dude, a aos honorarios advocaticio s tranquela<br />

multa ressalta do - texto, so- sitou em julgado, por ilk) ter o Ban-<br />

bre andar aplicA-la no caso de<br />

cob m<br />

se podendo assim afirmar que o estino<br />

dessa multa seja o de fazer face<br />

a honor6r1os» U. Entretanto, o<br />

acerdäo recorrido, provendo em parte<br />

a apelacgto do executado, determinou<br />

a inclusäo das custas na 6rbita<br />

da multa estabelecida no art. 71 do<br />

Decreto-lei 167, de 1967.<br />

A sentenca de primeiro grau, que<br />

transitou em julgado em relacao ao<br />

ora recorrente Banco do Brasil S.A.,<br />

que dela nao apelou, condenara o<br />

executada e sua mulher a pagarem o<br />

incipal da divida, custas proco<br />

do Brasil apelado, como jA sa-<br />

ranca em processo contencio- lientei. Cinge-se o recurso extraordiso<br />

ou nao.<br />

nario A inclusao das custas na mu -<br />

Dasse nitido carater penal da<br />

multa se extrai a compreens ao de ta. Sendo essa a imica questao a ser


eexaminada e discutida, nao tenho<br />

davidas em adotar, no caso a<br />

orientacao do acerdao paradigma.<br />

Estatuida a multa, inclusive para a<br />

hipbtese de cobranca em processo<br />

administrativo (art. 71 do Decretolei<br />

167/1967), b curial que ela nao se<br />

destina a cobrir os Onus da sucumbkncia<br />

instituida na COdigo de<br />

Processo Civil.<br />

Ante o exposto, conheco do recurso<br />

e the dou provimento, para restaurar<br />

a sentenca de primeira instancia.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 82.996 — GO — Rel.: Min. Soares<br />

Munoz. Recte.: Banco do Brasil<br />

S.A. (Advs.: Jose Sampaio de La-<br />

R.T.J. — 94<br />

209<br />

cerda, Afranio Adauto Viana Palhares<br />

e outros ). Recdo.: Claudimiro<br />

Martins de Oliveira (Adv.: Hilton<br />

Ferreira da Silva).<br />

Decisao: Conhecido e provido, nos<br />

termos do voto do Ministro Relator,<br />

unanime. Falou pelo Recte.: o Dr.<br />

Afranio Adauto Viana Palhares.<br />

Presidancia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a Sessao<br />

os Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto e Soares<br />

Munoz. Ausente justificadamente o<br />

Sr. Ministro Rafael Mayer. — 2?<br />

Subprocurador-Geral da Republica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 27 de marco de 1979. —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretario.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 83.432 - SP<br />

(Tribunal Plano)<br />

Relator para o acOrcitio: 0 Sr. 'Moistly Rafael Mayer.<br />

Reeorrente: Francisco Pinto Duarte FM° — Recorrida: Prefeitura Municipal<br />

de Americana.<br />

Recurso. Igualdade processual. Privllagio da Fazenda Pablica.<br />

Art. 74 do D1960/38. Nilo ofende o principle de isonomia, aplicAvel a<br />

igualdade das panes no processo, o conferimento de tratamento especial<br />

A Fazenda POblica, o que se faz em stencil° ao peso e superloridade<br />

dos setts Merman em jogo. ApllcacAo vetusta do preceito quesgonad°,<br />

sem impugnacao. ConsUtucionalidade do art. 74 do Dl 960/38.<br />

Recurso extraordinario nAo conhecido.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em SessAo<br />

Plena, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e notas taquigraficas,<br />

por =torts de votes, nib conhecer<br />

do recurso.<br />

Brasilia, 22 de marco de 1979.<br />

Antonio Neder, Presidente — Rafael<br />

Mayer, Relator para o AcOrdao.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Lena° de Abreu: —<br />

Esta a decisão recorrida:<br />

«Acordam, em Quinta Camara<br />

do Primeiro Tribunal de Alcada Civil,<br />

por votaclio unAnime, negar<br />

provimento.<br />

«Julgado procedente executivo<br />

fiscal, no valor de Cr$ 184,74, o<br />

executado interpOs agravo de peticão<br />

contra a sentenca. 0 recurso<br />

nao foi recebido pelo magistrado a<br />

quo, a vista do valor da causa.<br />

aDessa deliberacao foi extraida<br />

carta testemunhavel, na qual sustenta<br />

o recorrente que nao e<br />

possivel tratamento desigual em<br />

mattria recursal, pots se a Fazenda<br />

pode recorrer (e ha em seu fa-


210<br />

R.T.J. — 94<br />

vor recurso de oficio), o duplo grau<br />

de jurisdicAo devia ser assegurado<br />

por canon constitucional.<br />

«A argumentacAo, posto que sedutora,<br />

improcede. A limitacäo recursal,<br />

inclusive pelo C6digo de<br />

Processo Civil de 1939, sempre<br />

existiu, mAxime em causas de valor<br />

exiguo, as chamadas de alcada.<br />

«0 artigo 74 do Decreto-lei n?<br />

960/38, corn a redacAo dada<br />

pelo Decreto-lei n? 479/69,<br />

limitou o recurso ordinArio<br />

apenas em favor da Fazenda POblica.<br />

NAo ofende o principio de<br />

isonomia, pois este consiste em<br />

tratar igualmente os iguais e desigualmente<br />

os desiguais. E favores<br />

a Fazenda existem, dada a<br />

complexidade da mAquina administrativa<br />

estatal, que não permite<br />

maior vigilAncia de seus interesses<br />

(que sAo os da coletividade), como<br />

ao particular que s6 demanda episodicamente.<br />

Veja-se, v.g., a questão<br />

dos prazos.<br />

«A invocacAo ao julgado da Rev.<br />

Tribs., vol. 411, nAo beneficia. Nele<br />

se cuidava da hip6tese de apneacAo<br />

do artigo 839, do C6digo de<br />

Processo Civil (de 1939), previsto 0<br />

recurso de embargos ao prOprio<br />

Juiz, o que não acontece nos executivos<br />

fiscais, que tiveram previsAo<br />

recursal prOpria e nAo coincidente<br />

corn a do C6digo de Processo.<br />

«Nem vale argumentar, por remate,<br />

corn o vigente C6digo de<br />

1974, pois o agravo foi interposto<br />

regularmente antes de sua vigëncia,<br />

verificando-se o efeito residual<br />

da lei revogada.» (fls. 45-46).<br />

Interposto recurso extraordinArio,<br />

que subiu gracas a provimento de<br />

agravo, oficiou a Procuradoria-Geral<br />

da RepUblica, pela Procuradora<br />

Cecilia de Cerqueira Leite Zarur:<br />

«Em executivo fiscal julgado<br />

procedente, interp6s o • executado<br />

agravo de peticAo, nAo recebido<br />

pelo prolator da sentenca tendo em<br />

vista o valor da causa (Cr; 184,74),<br />

isto sob a egide do artigo 74 do<br />

Decreto-lei 960/38, corn a redacão<br />

dada pelo Decreto-lei 474, de<br />

19.11.1969.<br />

«Desse despacho foi extraida<br />

carta testemunhAvel, onde se pleb<br />

teou, sob invocacAo do principio de<br />

isonomia, tratamento igual ao da<br />

Fazenda Pilblica, ern materia recursal<br />

«Negacio provimento a mesma,<br />

lot interposto recurso extraordinario,<br />

pela letra a do permissivo<br />

constitucional, o qual subiu por via<br />

de agravo.<br />

«DispOe o artigo 74 do Decretolei<br />

n? 960, corn a redacAo dada pelo<br />

Decreto-lei 474: Nas causas para<br />

cobranca da divida ativa de valor<br />

inferior a dez (10) vezes o maior<br />

salArio-minimo vigente no pais, somente<br />

haverA recurso ordinArio se<br />

a Fazenda for vencida, no todo ou<br />

em parte.<br />

«Emerge desse texto que o recurso<br />

ordinArio: limita-se a Fazenda<br />

Pfibllca, que reflete o bem comum<br />

o qual e<br />

«mais alto que o bem particular do<br />

individuo e sempre 0 absorve» (f.<br />

58).<br />

«Ex poslUs, somas pelo nAo conhecimento<br />

do apelo» (fls. 78-79).<br />

2 o relatOrlo.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Leitito de Abreu<br />

(Relator) Contende-se a respeito do<br />

disposto no artigo 74 do Decreto-lei<br />

n? 960, de 17.12.38, com a redacAo<br />

dada pelo Decreto-lei n? 474, de<br />

19.02.69. Preceitua-se nessa norma<br />

legal: «Nas causas para a cobranca<br />

da divida ativa de valor inferior a<br />

dez vezes o maior salArio-minimo vigente<br />

no pais, somente haverA recurso<br />

ordinArio se a Fazenda for vencida,<br />

no todo ou em parte».<br />

Na hip6tese, a Fazenda foi vencida<br />

em parte, donde recurso de oficio,<br />

nessa parte, pelo magistrado sentenciante.<br />

Recorreu o contribuinte


quanto A parte em que salu vencido,<br />

porém o recurso acabou por nAo ser<br />

acolhido pelo Tribunal de Alcada Civil,<br />

sob o fundamento de que a regra<br />

legal supratranscrita nAo dA recurso<br />

ordinarto ao executado nos executivos<br />

fiscals de valor inferior a 10 vezes<br />

o salario-minimo, caso dos autos.<br />

Causa de valor inferior A alcada,<br />

argul-se, no extraordinArio, ofensa<br />

ao postulado da isonomia, visto como,<br />

na hipatese, se interpretou de<br />

forma discriminataria a regra do artigo<br />

74, negando-se como se negou,<br />

recurso ordinArio ao contribuinte, ao<br />

mesmo tempo que a Fazenda se garantla<br />

o recurso de off Mo.<br />

Responde-se que a Fazenda e a<br />

Fazenda, nAo podendo ao interesse<br />

dela, que 6 =bile°, nivelar-se o kiteresse,<br />

meramente privado, do contri-<br />

Se. Logo, legitimo, na especie, o<br />

privileglo corn que se forra o interesse<br />

public°, privileglo que nAo 6 inadito,<br />

pots =contra, no campo process<br />

sUa1, slmlIes Mmterosos.<br />

E inegAvel que o interesse pablico<br />

prefere ao interesse privado e que,<br />

em nome dessa preferancia, a ordem<br />

processual culda, em certos pontos,<br />

de oferecer a Fazenda Pablica posicAo<br />

mats favorecida do que a p<strong>revista</strong>,<br />

em situacAo analogs, para o comum<br />

das partes. Tait; sAo os casos<br />

do recurso de oftdo, dos prazos processuais,<br />

dos honorarios de advogados,<br />

alan de outros, sem falar de regattas<br />

de que goza, em outros campos<br />

jurldicos, como a concernente A<br />

prescricAo.<br />

Em nenhuma dessas hipateses se<br />

trava, no entanto, o iter processal do<br />

contribuinte. Se a prerrogativa, assegurada<br />

a Fazenda, confere, na<br />

contends processual, posiclio favoreclda,<br />

favor nAo 6 tal que =peva a<br />

outra parte de prosseguir no<br />

exercicio do seu &reit° subjetivo de<br />

acAo. Quanto ao prazo prescricional,<br />

pole este encobrir, em tempo mats<br />

curto, a pretensAo que assista ao sujeito<br />

privado. Entretanto, a este e<br />

dado =pea', por medlda posta A<br />

R.T.J. — 94<br />

211<br />

sua disposicAo pela ordem Juridica,<br />

que a prescrivao se consume. Peculiar<br />

se mostra, todavia, o carAter do<br />

privilégio que, pelo artigo 74 do<br />

Decreto-lel 860, se atribui A Fazenda<br />

Pablica. Enquanto se garante a este<br />

recurso A instAncla superior, quanto<br />

a dividas inferiores a determinado<br />

teto, igual recurso se recusa ao contribuinte,<br />

quando vencido, noltodo ou<br />

em parte. Mutlla-se, destarte, em<br />

prejuizo do devedor, a sua pretensAo<br />

A tutela jurtdica, ao passo que ate se<br />

reforca essa pretensflo em prol do<br />

credor, cujo interesse JA era, alias,<br />

protegido pelo recurso de Mid°.<br />

Retrucar-se-a que nada garante o<br />

segundo grau de jurisdicAo, podendo<br />

a lei NM consagrA-lo, quando o entender<br />

conveniente. NAo 6 isso, porem,<br />

que se nega: o que se repele e a<br />

faculdade de se recusar acesso a<br />

uma das partes ao grau superior de<br />

jurisdicAo e de se garantir Ms° A outra<br />

parte. Nada haveria a reparar,<br />

por conseguinte, se o credor e o devector<br />

fiscal se sujeltassem ambos a<br />

um s6 grau de jurisdicAo. E incivll,<br />

contudo, a meu juizo, proporcionar o<br />

duplo grau de jurisdicao ao &co e<br />

tolher esse recurso ao contribuinte.<br />

Pouco importa que o valor da divida,<br />

quanto ao qual se priva o contribuinte<br />

de recurso, seja pequeno. Primetro,<br />

porque, se esse valor e minim°<br />

para o contribuinte, minim() sea,<br />

ate corn mats razAo, para o fisco.<br />

Segundo, porque o que se acha em<br />

jogo 6, acima de tudo, quest= print-<br />

Aceito o principio de<br />

que, em nome do interesse pOblico, e<br />

licito estabelecer privilégio da casta<br />

do institukto no falado artigo 74, liclto<br />

sera elevar, indefinidamente, ate<br />

corn maior proven° para o interesse<br />

fiscal, o limite ate onde o contribuinte,<br />

vencido em primeiro grau, nAo<br />

poderA manifestar a sua inconformi-<br />

Cade. Juridicamente possivel seria,<br />

praticamente, destarte, debcar o contribuinte<br />

a mingua de recurso a instAncia<br />

superior, em face do poder


212<br />

R.T.J. — 94<br />

fiscal, sempre protegido, de seu la- autanoma em relacAo aquela que se<br />

do, pelo duplo grau de jurisdicão. vinha exercitando no processo<br />

(Barbosa Moreira, Comentdrios, Fo-<br />

Flagrante se revela, pois, na esp6cie,<br />

a ofensa ao principio constituciorense,<br />

V, p. 220). De acordo, pois,<br />

nal da isonomia. Dir-se-a que fisco e<br />

corn essa orientacao, vedar o recurcontribuinte<br />

nap sAo iguais. Na ver- so, quando a regra e. a do duplo grau<br />

de jurisdicao, importa negar direito<br />

dade nem o sAo, nem a igualdade ab-<br />

soluta, thra da que pode estabelecerde<br />

acao, o que equivale, na medida<br />

se acerca de entes de razao, 6 deste<br />

em que assim se proceda, em ex-<br />

clulr da apreciacAo do poder judicidmundo,<br />

isto 6, do mundo fenomanico.<br />

A igualdade, na ordem empirica, se<br />

rio lesao de direito que, pelo recurso,<br />

obtEm, via de regra, de modo artifise<br />

pretenda rep arar. Pode ser, no<br />

vial, corn abstracao de particularidaentanto,<br />

como entende a maior parte<br />

da doutrina, que o poder de recorrer<br />

des que slngularizam os seres con-<br />

frontados. Tomam-se, por isso, para<br />

constltua simples aspecto, elemento<br />

ou modalidade do pr6prio direito de<br />

o estabeleclmento de equacAo entre<br />

os seres, que assim se relacionam,<br />

acao exercido no processo (Barbosa<br />

notas denotadoras da paridade,<br />

Morel ra, ob. e loc.). Tal concepcao<br />

desprezando-se as que marquem disnao<br />

altera, porem, os termos da<br />

semelhancas. Na hip6tese em exaquesta°,<br />

pois, castrando-se o aludido<br />

me, podem ser dispares, quanto se<br />

poder, quando este se assegure a ouqueira,<br />

fisco e contribuinte. Entretro<br />

parte, desfigura-se, pela amputatanto,<br />

isso nao impede que, como su-<br />

Cao de urn dos seus c omponentes, 0<br />

jeitos processuais, no pertinente a<br />

due process of law, sonegando-se,<br />

recursos, sejam havidos, necessaria-<br />

Pols, - insist° -, ao judicidrio, ern bemente,<br />

como parificados ou equiponeficio<br />

do fisco, a apreciacao da le-<br />

sac, de direito, argtiida pelo contrilentes.<br />

buinte. Configura-se, conseguinte-<br />

Identicas,<br />

como hdo de ser, as mente, na es/36de, contrariedade,<br />

mascaras Juridical do contribuinte e<br />

do fisco no que toca a via recursal,<br />

assim ao § 1?, como ao § f!, do artigo<br />

briga corn , essa condicAo parithria<br />

153 da Constituicdo Federal.<br />

dar recurso a urn, o fisco, e arreba- Cumpre ressaltar que, no caso vertar<br />

esse direito ao outro, o contri- tente, mats patente se faz a discrimibuinte,<br />

cujo status sublectionls, em nacAo, de que se queixa o recorrenrazao<br />

do qual the pesa a carga tribu- te, quando 6 certo que, tendo o fisco<br />

tdria, ainda mats se agrava corn 0 sido vencido em parte, nesta parte o<br />

arrancar-se-lhe titulo para provocar, recurso, em seu favor, nao s6 6 f acorn<br />

amplidAo, a censura judicidria cultativo, mas ainda obrigathrio, ensobre<br />

a legitimidade do Gnus que se quanto que ao contribuinte, acerca<br />

lhe imp6e.<br />

da parte em que 6 vencido, se cassa<br />

NA° 6 s6 o principio da igualdade<br />

o exercicio do poder de recorrer.<br />

que, por essa forma, se quebranta.<br />

Desse modo, ao mesmo tempo que a<br />

Nega-se vigéncia, também, por esse<br />

decisAo contrdria, no que entende<br />

corn o contribuinte, faz coisa julga-<br />

ditado legislativo, a regra que assegura,<br />

a quem quer que seja, ser ouda,<br />

isso nao sucede com o fisco, a<br />

vido, sob o devldo processo legal,<br />

quem se faculta buscar melhor sorquando<br />

alegue, perante o judicidrio,<br />

te, em segundo grau. Quadra, perfeilesAo<br />

de direito. Pode argumentar-se<br />

tamente, aqui, a lick, de Gabriel Reque<br />

o contribuinte, na especie, foi<br />

zende Filho, quando ensina: «0<br />

ouvido em primeiro gran, onde o seu<br />

principio juridic° do processo impbe<br />

caso foi liquidado. Porem, o recurso,<br />

'Silo° tratamento aos litigantes.<br />

segundo prestigiosa corrente doutri-<br />

Autor e reu devem ter, em juizo, os<br />

naria, constitui uma acao distinta e<br />

mesmos direitos, as mesmas garan-


R.T.J. — 94 213<br />

ties, assim como os mesmos devehones Interesses da Administracao,<br />

res. Se o objetivo do processo 6 a considerar-se inconstitucional o dis-<br />

atuagão da lei no caso concreto, mepositivo sob color de tratamento dediante<br />

a descoberta da verdade, nao sigual, quando na verdade sae desi-<br />

poderla o mesmo ser atingido se se guals as partes em causa. Alias,<br />

concedesse tratamento deslgual As trata-se de dispositivo de prance anpartes.<br />

Que garantla de justice have- Uquisslma, e sem impugnacao, daria<br />

se uma das partes dispusesse de tando de 1938, o que s6 por si desa-<br />

malores recursos, de mats beneficios conselharia o equacionamento em<br />

e garantias que a outra? Repugna, termos de inconstituctonalidade.<br />

portanto, A doutrina processual conferir<br />

privilagio ou posicao especial a<br />

o meu voto.<br />

quem quer que seja em juizo. Todos<br />

VOTO<br />

silo 'gnats perante a let, afirmam as<br />

Constituicaes dos povos civilizados» 0 Sr. Ministro Declo Miranda: Sr.<br />

(Curso de DIrelto Processual Civil, Presidente, reportando-me ao voto<br />

Saraiva, v. I, 1962, p. 224).<br />

que proferi, em caso anterior, no RE<br />

n? 82.594, no qual concordei corn o<br />

E provavel, a julgar pela jurispru- vote do eminente Relator,<br />

dancia que se amontoa contra o meu<br />

Sr. Ministro<br />

Leith° de Abreu, acompartho S.<br />

ponto de vista, que me nao assista Exa. o Sr. Ministro Relator.<br />

rail°. Foram, se estou em erro,<br />

so nil° me acho convencido; e, como<br />

VOTO<br />

por dever de oficio, devo voter de 0 Sr. Ministro Soares Mufioz: Se-<br />

acordo corn o meu convencimento, nhor Presidente, o voto do eminente<br />

conheco do recurso e the dou provi- Ministro Leta° de Abreu 6 impresmento<br />

para declarer inconstitucional sionante na sua cerrada fundamen-<br />

o artigo 74 do Decreto-lei n? 960, de tacit°. Mas, ease disposttivo, que se<br />

17.12.1938, corn a redacilo dada pelo pretende declarer inconstitucional,<br />

Decreto-lel n? 474, de 19.02.1969. esti em vigancia hã mals de quaren-<br />

VOTO<br />

ta anos e, atualmente, ja se ache revogado.<br />

NAo vejo, data venla, maior<br />

O Sr. Ministro Rafael Mayer: Sr. alcance em deciararmos inconstitu-<br />

Presidente, tambtm nao conheco, de clonal uma lei, que vigorou durante<br />

acordo corn o voto divergente do quarenta anos, depots que ela foi re-<br />

eminente Ministro Cordeiro Guerra. vogada. t evidente que ha um inte-<br />

Quern afirmar que segul atentamenresse pare o caso especifico. Mas<br />

te as brilhantes razaes do voto do nao sob outro prisma mass relevan-<br />

eminente Ministro Leith° de Abreu, te, como soem ser as declaracites de<br />

entretanto, antes mesmo de ouvi-las, inconstituctonalidade proferidas pelo<br />

segula entendimento diverse. Supremo Tribunal Federal. No caso<br />

Por antigo convencimento, crelo anterior, votes no sentido de acornpa-<br />

que a sttpremacia da administracâo nhar o eminente Relator, porque<br />

ptrbllca e do poder pitblico em rela- male do que o principlo da agualdaclio<br />

aos administrados tern diversas de, o processo, principalmente o pro-<br />

manifestaciies e estas que se exercess° civil, 6 informed° pelo<br />

cem nos procedhnentos Judiciais principio do contraditOrio, que dA As<br />

fluem do mesmo principlo. Na ver- partes iguals oportunidades.<br />

dade, nao se poderla, somente neste Em verdade, perrnitlndo-se<br />

auto, quando tantas silo as espécies<br />

o recurso<br />

a Fazenda e se the negando ao<br />

em que se criam privlleglos para a particular, este-se contrariando esse<br />

Fazenda Pirbilea, em atenctio A su- principio. Mu ha circunstancias pepremacla<br />

do poder Ohne° em relacao<br />

aos administrados, e aos supetullares<br />

que, na hipatese das execucOes<br />

fiscais, me fazem considerar


214<br />

R.T.J. — 94<br />

que a posicAo do exeqtiente, a União,<br />

e do executado nAo sac) iguais. 0 Fisco<br />

cobra, freqUentemente, pequenas<br />

importAncias em meitiplos executivos.<br />

Essas pequenas quantias sAo de<br />

mutt() pouco significado, no sentido<br />

econ6mIco, para o executado, mas<br />

para o Fisco, As vezes, totalizam somas<br />

vultosas, se considerados os debitos<br />

cobrados nas diversas execuc6es,<br />

corn apreciavels repercuss6es<br />

na receita. Talvez seja nessa eventualidade<br />

que se tenha inspirado 0<br />

art. 74 do Decreto-lei n? 960, de 1938.<br />

Mas, como se disse, o que mats me<br />

leva a deixar de declarar a Inconstitucionalidade<br />

6 a circunstAncia de<br />

que nAo vejo oportunidade nessa decisão,<br />

em face do preceito legal ter<br />

vigorado durante macs de quarenta<br />

anos e, de no momento, achar-se revogado.<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Tenho, também, uma<br />

ponderacAo. NA° ha, realmente, essa<br />

utilidade e isso me acudiu. Mas no<br />

caso dos autos, haveria a utilldade<br />

de livrar o recorrente de urn imposto<br />

que o Supremo Tribunal Federal declarou<br />

inconstitucional. Ou nes o f azemos<br />

agora, neste feito, ou ele fleare<br />

condenado, irremediavelmente, a<br />

pagar.<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves: V.<br />

Exa. me permitiria: Nes precisamos<br />

atentar para o seguinte: quern excluiu<br />

o recurso extraordinario nAo<br />

foi o art. 74, foi urn ato institucional,<br />

corn force, portanto, de texto constitucional.<br />

Acho dificll declararmos inconstitucional<br />

um texto de lei que<br />

continua no mesmo teor primitivo,<br />

que era constitucional quando havia<br />

o recurso extraordinario, e porque<br />

urn outro texto de force constitucional<br />

tirou o recurso extraordinario.<br />

Este Ultimo texto, entAo, 6 que terra<br />

violado o principio do contraditerio,<br />

nAo o art. 74, que continua corn a<br />

mesma redacão anterior: «Nas causas<br />

para cobranca da divida ativa de<br />

valor inferior a dez vezes o salariominim°<br />

vigente, mas somente have-<br />

ra o recurso extraordinario se a Fazenda<br />

for vencida no todo ou em parte».<br />

Ora, se veto o ato institucional e<br />

acabou com o recurso extraordinario<br />

nestes casos, entAo quem retirou o<br />

recurso nao fol essa lei, fot o ato institucional.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cunha Peixoto: Sr.<br />

Presidente, ja no RE 82.594, acompathei<br />

o eminente Ministro Leila° de<br />

Abreu. NA° vejo motivo para modiflcar<br />

o meu ponto de vista, principalmente<br />

depots do brilhante voto que<br />

S. Exa. acaba de pronunciar, e o aditivo<br />

trazido A colacAo, no julgamento<br />

passado, pelo eminente Ministro Xavier<br />

de Albuquerque.<br />

Ora, a constituicão declare que se<br />

pode se declarer a inconstitucionalidade<br />

de uma lei, por maioria absolute<br />

dos Tribunals. Logo, se nes nAo<br />

admItirmos, em caso de inconstitucionalidade,<br />

recurso para nenhum<br />

<strong>tribunal</strong>, flea o Juiz de it InstAncia<br />

senhor absoluto dessa matéria.<br />

De modo que, data venia dos que<br />

votaram em contrario, acompanho 0<br />

eminente Ministro Leith° de Abreu.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves: Sr.<br />

Presidente, a minha opiniâo Ja C conhecida<br />

do Tribunal. Considero que<br />

[IA° ha violacAo do principio de isonomia,<br />

tendo em vista a circunstAncia<br />

de que, a meu ver, nä° ocorre,<br />

no caso, a lgualdade de situacAo das<br />

partes, que 6 pressuposto necessario<br />

para que esse principlo se aplique.<br />

Assim, e, com a devida vania do<br />

eminente Ministro Leith° de Abreu e<br />

dos que o acompanham, mantenho a<br />

orientacão, que tradicionalmente<br />

vem sendo seguida no nosso Direito,<br />

de nAo vislumbrar inconstitucionalidade<br />

nesse dispositivo, em vigor ha<br />

muitos anos. NA° conheco do presente<br />

recurso.


VOTO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Sr. Presidente, as consideracdes<br />

feitas pelos eminentes Colegas<br />

mostram que prosperou e produziu<br />

frutos a malicia do fisco. Este<br />

recorrente — isso eu verifiquel naquele<br />

caso de que petit vista — estava<br />

a ser acionado pelo fisco municipal<br />

em cento e tantos executivos autOnomos,<br />

e lutou bravamente para<br />

que, de acordo corn a lei, fossem esses<br />

executivos agrupados em autos<br />

anicos, mas nao conseguiu. E porque<br />

nao conseguiu, todos cairam na regra<br />

da alcada. Vat ele ficar condenado<br />

a pager o inmost° ern moldes que<br />

o Supremo Tribunal Federal Hi declarou<br />

inconstituclonais?<br />

Corn esta observacao, reporto-me<br />

ao voto que proferi no Recurso Extraordlnario<br />

82.594, para conhecer do<br />

recurso e the der provimento.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

Senhor Presidente.<br />

A especie a Irma gamea daquela<br />

que originou o RE n? 82.594, do qual<br />

sou relator. Seu julgamento iniciouse<br />

na 2! Turma e foi rernetido ao<br />

Plenario porque, apOs vista dos autos,<br />

inclinou-se o eminente Ministro<br />

Lent, de Abreu, pela declaracao de<br />

inconstitucionalidade do art. 74 do<br />

D.L. n? 960/38, com a redacao que<br />

the emprestou o D.L. n? 474/69.<br />

Aqui mantive o meu voto, desprezando<br />

a argaicAo ern longo voto.<br />

Dlssentiu o eminente Ministro Leitlio<br />

de Abreu em longo e erudito voto.<br />

Peco venia a S. Exa., e aos que o<br />

acompanham, para reportar-me ao<br />

voto em questa°, que tenho aqui como<br />

integrado atraves de capla que o<br />

seguira.<br />

Permito-me, porem, ligeiras consideracOes,<br />

as quaffs, em verdade, estAo<br />

implicitas no voto em referencia.<br />

Parece-me que a °nice hipatese na<br />

qual, validamente, poderia ser reco-<br />

R.T.J. — 94 215<br />

nhecida a inconstitucionalidade, seria<br />

por contrariar o art. 153, 1?, da<br />

Constituicao, preceito tmico invocado<br />

na peticao recursal.<br />

Mas elude que se queira invocar o<br />

I 36 daquele artigo, o que Paco<br />

plesmente para argumentar, pots<br />

nao integrou a peticao de recurso,<br />

nao traria qualquer prestimo, pots,<br />

como o 1? refere-se a direito individual,<br />

pots s6 de this direitos cuida o<br />

capitulo da Carta Maior onde se insere.<br />

Razdes filos6ficas outras nao<br />

teriarn o alcance de invalidar precelto<br />

de lei, mas, apenas, sua inconstituclonalidade,<br />

como 6 sabido.<br />

Preocupou-se, 6 certo, o eminente<br />

Ministro Xavier de Albuquerque com<br />

a situacao do contribuinte que, privado<br />

do recurso, enquanto dele goza-<br />

Ha a Fazenda, Maria °bilged° a pagar<br />

o que considera indevido.<br />

Parece-me que remedios outros o<br />

podern socorrer. A acao rescisoria<br />

onde inocorre a discriminacao, ou<br />

restituicao do indebito quando teria<br />

assegurado ate a correcao monetAria.<br />

Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Mas nao he indébito,<br />

eminente Ministro. HA sentence judicial<br />

transitada em julgado.<br />

Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

Tem razao V. Exa. no pertinente<br />

restituicao como acao ordineria.<br />

Mas nada obsta o use de rescisOria<br />

coin o rnesmo prop6sito.<br />

E o que queria acrescentar.<br />

Assim, corn a yenta dos votos em<br />

contrerio, nao conheco do recurso.<br />

como voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

hE 83.432 — SP — Rel.: Min. Leitao<br />

de Abreu. Recte.: Francisco Pinto<br />

Duarte Filho (Adv.: TheotOnio NegrAo).<br />

Recda.: Prefeftura Municipal<br />

de Americana (Advs.: Milton Alcides<br />

de Gaspari e outro).<br />

Decistio: Pediu vista o Ministro<br />

Djaci Falcao, ap6s os votos dos Mi-


216<br />

nistros Relator: Decio Miranda, Cunha<br />

Peixoto e Xavier de Albuquerque<br />

conhecendo e dando provimento,<br />

para declarar a inconstitucionalidade<br />

do art. 74 do Decreto-lei n? 960, de<br />

17.12.38, e dos votos dos Ministros<br />

Rafael Mayer, Soares Mulioz, Moretra<br />

Alves, Cordeiro Guerra e Thompson<br />

Flores ndo conhecendo do Recurso.<br />

PresidAncia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes a Sessdo os<br />

Srs. Ministros Djaci Paled°, Thompson<br />

Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

Lend° de Abreu, Cordeiro Guerra,<br />

Moreira Alves, Cunha Peixoto, Soares<br />

Munoz, Decto Miranda e Rafael<br />

Mayer. — Procurador-Geral da Repablica,<br />

o Prof. Henrique Fonseca<br />

de Arai/Jo.<br />

Brasilia, 14 de mare° de 1979 —<br />

Alberto Veronese Aguiar, SecretArlo.<br />

VOTO (VISTA)<br />

0 Sr. Ministro Mac! Falcdo:<br />

Cinge-se o tema deste recurso A validade<br />

do art. 74 do Dec.-lei 960/38, na<br />

redaedo dada pelo Dec.-lei 474, de<br />

19.02.1969, em face da Constituted°<br />

(art. 153, § 1?).<br />

Dispele o texto legal:<br />

«Art. 74 — Nas causas para cobranea<br />

da divida ativa de valor inferior<br />

a dez (10) vezes o maior<br />

salArto-minimo vigente no Pais, somente<br />

haverà recurso ordinArto se<br />

a Fazenda for vencida, no todo ou<br />

em parted)<br />

RespettAvels opinthes ja foram<br />

manifestadas, em sentidos discrepantes,<br />

pelos eminentes colegas. Do<br />

reexame que fiz da materia reforcei<br />

o meu primitivo entendimento, na linha<br />

de que ao restringir o recurso<br />

ordinArio n Fazenda, quando vencida,<br />

a regra malsinada ndo afronta o<br />

principio da isonomia.<br />

As diversas especies de igualdade<br />

juridica, compreensivas da igualdade<br />

civil, politica, social, fiscal e jurisdicional,<br />

ndo se inserem num<br />

igualamento aritmetico e absoluto.<br />

R.T.J. — 94<br />

Contudo, o principio de tratamento<br />

igual para todos pressup6e a existencia<br />

de uma identidade de situae6es.<br />

Onde ndo ha uma identidade de condiedes<br />

e circunstAncias ndo ha que<br />

invocar o sedutor postulado juridic°<br />

da igualdade. NA° se pode considerar<br />

violado o principio da igualdade<br />

inserida no art. 153, § 1?, da Constituted°<br />

Federal, quando se assegura<br />

As pessoas de situae6es desiguais direitos,<br />

prerrogativas e vantagens designals.<br />

Este o alcance finalistico<br />

dessa declaraedo de dtretto.<br />

Com propriedade acentuou o eminente<br />

Des. Gongalves Santana:<br />

«Esta definitivamente firmado<br />

que ndo se equipara ao particular<br />

a Fazenda PithBea. A relevdncia<br />

do interesse pablico, por esta preservado,<br />

separa-a, na sua natureza,<br />

do particulard) (f. 47).<br />

ConsectArio 16gico desse conceito<br />

o tratamento especial conferido A<br />

Fazenda PUblica, em nosso sistema<br />

ituidico-posttivo, abrangendo, verbi<br />

grant prazos (art. 32 do C.P.C. de<br />

1939 e art. 188 do atual C.P.C.); recurso<br />

de oflcio, ou a chamada remessa<br />

ex officio (art. 822, parAgrafo<br />

finial, III, do C.P.C. de 1939, e art.<br />

475, II e HI do vigente C.P.C.); honorArios<br />

de advogado (art. 20, § 4?, in<br />

fine; do C.P.C.); prescriflo (art. 178,<br />

§ 10, VI, do C. Civil, e Decreto<br />

20.910/32).<br />

No Dec.-lei 960/38 0 leglslador procurou<br />

proporcional Fazenda PUblica<br />

meios mats efic yzes, visando assegurar<br />

a cobranea dos seus creditos.<br />

0 art. 74 buscou resguardar a<br />

posted° especial da Fazenda, dlante<br />

de circunstancias peculiares, conforme<br />

ficou realeado no voto do eminente<br />

Ministro Soares Mufioz, ao se<br />

referir 8 desigualdade de posted° entre<br />

a Fazenda e o executado. Na verdade,<br />

o jurista ndo pode deixar de<br />

considerar a valorizagdo politica das<br />

questhes de Direito PAblico, dada a<br />

sua repercussdo no interesse da coletividade,<br />

asstm como as peculiarida-


des do sistema juridico em razAo do<br />

qual deverA aplicar a lei.<br />

NAo diviso afronta ao art. 153, § 1?,<br />

da ConstituteAo Federal.<br />

Com estas resumidas consideracOes<br />

oriento-me na linha dos votos<br />

que repelem a argilicão de inconstitucionalidade<br />

do art. 74 do Dec.-lei<br />

960/38, na redacio dada pelo Dec.-lei<br />

n? 474/69, e nAo conhecem dos recurso,<br />

data yenta dos que entendem de<br />

modo diverso.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 83.432 — SP — Rel.: Min. Leitilo<br />

de Abreu. Recte.: Francisco Pinto<br />

Duarte FM° (Adv.: Theotanio Negrito).<br />

Recda.: Prefeitura Municipal<br />

R.T.J. — 94 217<br />

de Americana (Advs.: Milton Alcides<br />

de Gasped e outro).<br />

DecisAo: Nilo conheceram, venddos<br />

os Ministros Decio Miranda,<br />

Cunha Peixoto, Leitão de Abreu e Xavier<br />

de Albuquerque que conheciam e<br />

davam provimento ao Recurso. Votou<br />

o Presidente.<br />

Presidéncia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes A SessAo os<br />

Srs. Ministros Djaci FalcAo, Thompson<br />

Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

LeitAo de Abreu, Cordeiro Guerra,<br />

Moreira Alves, Cunha Peixoto, Soares<br />

Munoz, Decio Miranda e Rafael<br />

Mayer. — Procurador-Geral da RepOblica,<br />

Dr. Firmino Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 22 de marco de 1979 —<br />

Alberto Veronese Aguiar, SecretArio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 83.976 — RJ<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Soares Murioz.<br />

Recorrente: Esso Brasileira de Petr6leo S/A — Recorrido: Alvaro Furtado<br />

Sardinha.<br />

— A extincAo do processo executivo, em conseq(18ncia do pagamento<br />

da divida pelo execUtacto ao exeqUente, nAo se confuncte com a<br />

desistencia da acAo. SO esta exige o consentimento do reu, depots de<br />

oferecida a contestacilo. 0 riador, embora co-executado, nAo tem<br />

legitimo interesse para exigir que a execucAo prossiga.<br />

ACORDAO<br />

Vistos,<br />

Acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Primeira Turma,<br />

A unanimidade de votos, e na<br />

conformidade das notas taquigrAficas,<br />

conhecer do recurso e dar-lhe<br />

provimento.<br />

Brasilia, 27 de marco de 1979. —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Soares Murioz, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Soares Munoz: 0<br />

despacho do Ilustre Desembargador<br />

Mauro Gourta Coelho, Presidente<br />

em exercicio do Tribunal de Justica<br />

do Estado do Rio de Janeiro, resume<br />

a especle:<br />

«AcAo Executiva proposta, sob<br />

regime do processo revogado, contra<br />

aceitante de duplicatas mercantis<br />

e contra fiadores (nAo avalistas),<br />

julgada extinta pelo pagamento,<br />

efetuado, no curso da causa,<br />

pelo devedor principal.<br />

Inconformado, urn dos fiadores<br />

apelou da decisAo. Sustentara a<br />

ocorrtncia de fato desonerativo da<br />

obrigacAo acess6ria, pretendendo<br />

— no ventre da acAo executiva:


218<br />

«Todas as reparacnes e danos<br />

decorrentes desta acdo, no que<br />

influir no seus neg6cios» (folhas<br />

60).<br />

Enfatizava, por isso, no recurso<br />

ordindrio, fosse:<br />

«Declarada, por sentenga, a<br />

ndo validade da carta de fianca»,<br />

bem como<br />

«Excluido da agdo por falta de<br />

fundamento juridico», seja, o A.,<br />

condenado, na forma dos artigos<br />

16 e 18 do C6digo de Processo Civil,<br />

a perdas e danos, no valor de<br />

Cr$ 100.000,00, face a penhora recaida,<br />

andevidamente, sobre seu<br />

Milo° bem e ainda para<br />

ressarci-lo dos prejuizos comerdais<br />

sofridos, tats como: abalo<br />

de crèclito, recusa bancaria em<br />

pedido de emprêstimo, etc. seja,<br />

ainda, o A., condenado em custas<br />

processuais e honordrios de advogado,<br />

na base de 20%>> (folhas<br />

98-9).<br />

A apelagdo foi provida pela<br />

Egrêgia Sétima Camara Civel. Dal<br />

o recurso extraordindrio, baseado<br />

no artigo 119, III, a da Constituigdo<br />

Federal, sustentando, a autorarecorrente,<br />

que a decisdo recorrida,<br />

ao reformar a que dera pela<br />

extingdo da causa, pelo pagamento,<br />

sem dtivicia, teria negado aplicacao<br />

a norma <strong>federal</strong> que considera<br />

extinta a divida pelo pagamento,<br />

ou extinta:<br />

«A execucdo quando o devedor<br />

satisf az a obrigagdo» (C6digo de<br />

Processo Civil, artigo 794, I).<br />

Ao subordinar o pedido de extingdo<br />

a concordAncla do /tits,<br />

ignorou-se distingdo, que faz a lei<br />

processual, entre extingdo do pedido,<br />

ou da execugdo, e desistência<br />

da acdo. Finalmente, ao cogitar de<br />

reparacão de prejuizos, acaso sofridos,<br />

pelo tabula rasa da norma<br />

processual que ndo admite, em de-<br />

R.T.J. — 94<br />

fesa (ao tempo, mediante contestagdo),<br />

postular a condenagão do autor»<br />

(fls. 126 e 127).<br />

E o relatOrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Soares Mutioz (Relator):<br />

0 ac6rddo recorrido confundiu<br />

desistencla da acdo, que exige o<br />

consentimento do réu, depots de of erecida<br />

a contestagão, com a extingdo<br />

do processo, ou, mats precisamente,<br />

da acdo executiva, em face do pagamento<br />

da divida pelo devedorexecutado.<br />

E dessa confusdo resultou<br />

a negativa da vigència dos dispositivos<br />

legais indicados no recurso<br />

extraordindrio. As pretensees do ora<br />

recorrido, figurante na execugdo coma<br />

executado, dada sua condigdo de<br />

fiador, tido o autorizam a compelir<br />

os litigantes principals a continuar<br />

com a demanda, pots nela o fiador<br />

tido obteria os ressarcimentos que<br />

pretende, embora possa alcanca-los<br />

noutra acdo, ressalva que Paco.<br />

Ante o exposto, conhego do recurso<br />

extraordinario e the dou provimento,<br />

para restaurar a sentenga de primeiro<br />

grau.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 83.976 — RJ — Rel.: MM. Soares<br />

Munoz. Recte.: Esso Brasileira<br />

de Petr61êo S.A. (Adv. Orlindo Elias<br />

Filho). Recdo.: Alvaro Furtado Sardinha<br />

(Adv. Matilda Rodrigues).<br />

Decisdo: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator,<br />

unânime.<br />

Presidëncia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes A Sessão<br />

os Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto e Soares<br />

Munoz. — Ausente justificadamente<br />

o Sr. Ministro Rafael Mayer. — 2?<br />

Subprocurador-Geral da Repnblica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 27 de marco de 1979. —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretario.


R.T.J. — 94 219<br />

RECURS() EXTRAORDINARIO N! 85.049 — RS<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator para o AcOrdllo: 0 Sr. Ministro Moreira Alves.<br />

Recorrentes: Eliseo Jos6 Mezzomo e outros — Recorrida: Amelia Battaglln<br />

Sesti Deon Correa e outros.<br />

Direito de preferencia de arrendatArio de imOvel rural vendido<br />

terceiros.<br />

a<br />

— Inexistencia desse direito, uma vez que, no caso, a comprae<br />

vends decorreu de promessa celebrada anteriormente ao advento da<br />

lei que orlon a preferencia.<br />

Em face do 3? do artigo 153 da ConstitulcAo, que nAo fez qualquer<br />

distlncllo em materla de ato juridic° perfelto e de direito adquirido, e<br />

indubitAvel que o contrato valid° entre as partes 6 ato juridico perfeito,<br />

dele decorrendo, para uma ou para ambas, direitos adquirldos. Se<br />

lei posterior orbs para terceiro direlto sobre o objeto do contrato e<br />

oponivel a ambas as panes contratantes, nAo pode ela, sob pena de<br />

alcanar o ato juridic° perfeito e o direito adqulrldo entre as partes,<br />

ser apllcada a contratos validamente celebrados antes de sua vig6ncia.<br />

Para esse Melt*, pouco inworta que o contrato, quando celebrado,<br />

Uvesse, ou &to, sido inscrito em registro publico para ser,<br />

diem perante terceiros.<br />

ou nAo<br />

Recurso extraordinArio conhecido e provido.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento das notas taquigraficas,<br />

por maiorla de votos, conhecer do<br />

recurso e dar-]he provimento.<br />

Brasilia, 18 de maio de 1979. —<br />

Mad Foca°, Presidente — Moreira<br />

Alves, Relator p/o AcOrdeo.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda: Em<br />

ace° de preferencia de arrendaterlos<br />

de linevel rural, reclamando adjudicacao<br />

do imOvel que a outros fora<br />

vendido sem oferecimento a eles<br />

preferentes, um primeiro acOrdAo do<br />

Tribunal de Justice anulou o processo,<br />

por dele nAo haver participado,<br />

como parte, os proprietarios arrendantes<br />

do imevel, tendo sido chama-<br />

dos ao feito somente os adquirentes.<br />

(fls. 104 e segs.).<br />

Desse acerdao houve recurso extraordinario<br />

dos autores, de que o<br />

Supremo Tribunal ilk) conheceu (RE<br />

63.287, fls. 150 e segs).<br />

Prosseguindo a acao, compareceram<br />

os reus proprietarios, vindo a<br />

sentenca de primeira instancia a julgar<br />

procedente a acao ( 1. 226).<br />

Confirmou-a o acerdão da 1! Camara<br />

Civel Especial do Tribunal de<br />

Justica do Rio Grande do Sul, do seguinte<br />

teor:<br />

«0 Dr. Nathaniel M. GuimarAes:<br />

Trata-se de uma ace° ordineria de<br />

pretext/10a movida por Amelia<br />

Battaglin Sesti Deon, Roseli Deon<br />

Correa e Paulo Roberto Deon contra<br />

Eliseo Jose Mezzomo e Nilo Arno<br />

Segabinazzi, diz a inicial, em<br />

resumo, que o marido da primeira<br />

demandante arrendou, conforme<br />

contrato, 10 quadras de sesmarias


220<br />

R.T.J. — 94<br />

de campos e matos e de uma pequena<br />

restinga, parte integrante<br />

da Fazenda Santa Rosa. Falecido 0<br />

arrendatArio, Pedro Crivellaro<br />

Deon,<br />

arrendamento<br />

contratado corn Angelo Arteaga e<br />

sua esposa, Emilia Brum de Arteaga,<br />

conforme clAusula 61.<br />

Em 1964, Emilia sucedeu ao arrendante<br />

e, nestas condicOes, vendeu<br />

uma fracao de terras, campos<br />

e matos, corn a area de 436ha e<br />

600m 2, por Cr$ 17.464.000,00 (em<br />

moeda da epoca), correspondendo<br />

esta area a metade da terra arrendada<br />

e transacionada em plena vigencia<br />

do arrendamento, e da mesma<br />

TIM) foram os autores notificados,<br />

nos termos do 3? do art. 52<br />

da Lei n? 4.504 (Estatuto da Terra),<br />

para, no prazo de 30 dias,<br />

exercerem o direito de preempcao,<br />

como dispOe o art. 4? da mesma<br />

lei. A acao esta baseada no art. 313<br />

do C6digo de Processo Civil anterior<br />

e no art. 92, 4?, da Lei 4.504,<br />

de 30 de novembro de 1964.<br />

Citados, defendem-se os raus<br />

corn suas esposas. Preliminarmente<br />

alegam ser in6cua a invocacao<br />

da Lei n? 4.504, pois, a apoca da<br />

aquisicao, que fizeram de Angelo<br />

Arteaga e sua mulher, ciao havia<br />

dita lei sido publicada, nap produzido<br />

efeitos, o que tambam ocorre<br />

ainda agora. A lei mencionada s6<br />

poderia produzir efeitos ap6s devidamente<br />

regulamentada. Invocam<br />

o 2? do art. 3? do C6digo Civil, na<br />

parte da introducao.<br />

Querem nao possam os herdeiros<br />

beneficiarem-se do contrato ap6s a<br />

morte do arrendatArio, pois, nao<br />

sendo o arrendamento urn direito<br />

pessoal, poderia transferir-se aos<br />

herdeiros. Mas direito de prefectcia<br />

a pessoal e nao real Invocam o<br />

direito de preferancia, tratado pelo<br />

C6digo Civil no seu art. 1.157, que<br />

deixa expressado nao possa o direito<br />

de preferancia ser cedido ou<br />

passar aos herdeiros, o que ja contraria<br />

a acao pretendida pelos autores,<br />

pots a preferancia versa sobre<br />

direito personalissimo, impossivel<br />

de ceder-se Inter vtvos,<br />

nao passando aos herdeiros.<br />

Citam doutrinadores como Joao<br />

Franzen da Silva, J. M. Carvalho<br />

dos Santos e Washington de Barros<br />

Monteiro. Refutam o quantum pedido<br />

a titulo de honorArios de advogado<br />

e pedem a improcedancia da<br />

acao.<br />

Os autores falaram sobre a contestacao<br />

(fls. 26-35). Lancou-se o<br />

saneador (f. 36), realizou-se a audiancia<br />

de instrucao e julgamento<br />

(f. 54) e o magistrado decldiu (fls.<br />

61-70). Houve apelacao que, processada,<br />

foi apreciada em segundo<br />

grau de jurisdicao, sucedendo, entao,<br />

a decisao de f. 104, que anulou<br />

o processo por dele nao ter participado,<br />

como parte, o proprietArio e<br />

arrendante do im6vel (acOrdao de<br />

fls. 104-107). Foi interposto recurso<br />

extraordinArio que, admitido no<br />

Tribunal de Justica, veto a irk) ser<br />

conhecido unanimemente pelo colendo<br />

Tribunal Federal (f. 156).<br />

Os autores, ap6s retorno dos autos,<br />

realizaram escritura pOblica<br />

de transacao, permuta e cessao de<br />

direitos, tornando-se legitimos senhores<br />

e possuidores, proprietArios<br />

da metade da area arrendada, ou<br />

seja, 4.366.000m 2, area esta lindeira<br />

Aquela em que exercem seus direitos<br />

de preferencia. Na mesma escritura,<br />

sax) os autores investidos<br />

pelos filhos da falecida proprietAria,<br />

para receberem a citacao inicial<br />

e ratificarem atos processuais.<br />

Os autores, corn base em tal ato,<br />

declaram-se citados. Mas pediram<br />

a Macao de Carlos Vicente Arteaga<br />

Brum e sua mulher, e José Angel<br />

de Arteaga Brum e sua muilher,<br />

por seu procurador, Bel. Candido<br />

Alfredo Silva Leal.


Os reus repisam os termos da<br />

contestacAo, invocando a ementa<br />

de f. 157, e querem tenha ocorrido<br />

decadencia do direito dos autores,<br />

eis que anulado o feito a partir da<br />

citacAo inicial.<br />

Os revs, como litisconsortes,<br />

vem corn outra procuracão nos autos<br />

e repetem argumentos da contestacAo,<br />

pedindo absolvicão de<br />

insttincia ou o indeferimento da inicial.<br />

Face ao despacho de f. 184, os<br />

autores apontam defeitos no instrumento<br />

procuraterio de f. 183 e o<br />

substabelecimento. Dizem que o<br />

Bel. Arnaldo Jorge Pedron recebeu<br />

substabelecimento de urn dos fllhos<br />

da faleclda proprietAria, Carlos Vicente<br />

de Arteaga Brum.<br />

Replicam os autores, alegando<br />

que nAo houve decisão definitiva<br />

da causa e que vAlida seria tar) somente<br />

a procuracão outorgada ao<br />

Bel. Candid° A. S. Leal (f. 171),<br />

tendo jA fluid° o prazo para contestacAo,<br />

e pedem o desentranhamento<br />

da contestacAo de f. 180, por intempestiva,<br />

bem como do julgado<br />

de piano corn base no art. 330, I,<br />

do C6cligo de Processo Civil.<br />

0 feito foi saneado e houve debates<br />

orals, decldindo o magistrado<br />

pela procedencla da ace° a favor<br />

dos autores, adjudicando a Area do<br />

litigio aos mesmos, desde que efetuado<br />

o pagamento dos tributos<br />

revestindo-se a decisão de<br />

titulo hAbil para o registro e f ormalizacen<br />

da transferencia considerada<br />

ineficaz a venda realizada<br />

pelos revs proprietarios aos reus<br />

adquirentes, cancelada a inscricão<br />

no Registro de Im6veis. 0 valor<br />

depositado pelos autores — continua<br />

o Julz na sua parte final — ficava<br />

a disposicão dos reus adquirentes.<br />

Todos os reus foram condenados<br />

ao pagamento de custas e<br />

honorArios de advogado, fixados<br />

estes em 18% sobre o valor da causa.<br />

R.T.J. — 94<br />

221<br />

Apelam Ellseu Jose Mezzomo e<br />

Nilo Arno Segabinazzl. Preliminarmente,<br />

dizem serem os autores carecedores<br />

de acão, pois, tendo 0<br />

processo sido anulado por falta de<br />

participaflo dos proprietArios alienantes,<br />

deve proceder-se nova citacao<br />

das partes, os proprietarios<br />

alienantes e adquirentes, ora apelados,<br />

o que nAo foi feito. A falta<br />

de providencia da parte autora para<br />

citacAo dos prOprios alienantes<br />

acarretaria inegAvel prejuizo aos<br />

apelantes. Os autores deveriam renovar<br />

a instAncia, o que ntio fizerarn,<br />

nAo se produzlndo a litispendência.<br />

Ao fazer a alegactio de preferencia,<br />

JA o fizeram alêm do prazo<br />

de 6 meses, caducando o seu direito.<br />

Citam Oswaldo Opitz em<br />

Contratos Agrarios do Estatuto da<br />

Terra, pAg. 94.<br />

No merit°, invocam a irretroatividade<br />

dos fatos da Lei 4.504, salientando<br />

que o referido diploma<br />

legal não era auto-executavel. Adotam<br />

os argumentos de merit° expendidos<br />

na apelacão de fls. 79 e<br />

seguintes, que foi a primitiva apelack,<br />

feita.<br />

Apelam tambem Amelia Betteglin<br />

Sesti Deon, Rosen Deon Correa<br />

e Paulo Roberto Deon apenas<br />

parcialmente, objetivando excluir<br />

a obrigacão imposta de recolher<br />

impostos de transmissao.<br />

Os apelantes manifestaram-se<br />

nos autos.<br />

Melhor definindo partes do relaterio,<br />

examino a decisào de f. 104,<br />

que e o acerdAo em que foi anulada<br />

a agAo. A ementa diz o segulnte:<br />

"AO° de preferencia com fundamento<br />

no art. 313 do COdigo de<br />

Processo Civil, combinado corn o<br />

art. 92, § 4?, da Lei 4.504, de<br />

30.11.64. Preferencia assegurada<br />

pelo Estatuto da Terra ao arrendatArio.<br />

Nulo o processo por dele nAo<br />

haver participado como parte o


222<br />

proprietArio e arrendante do lineye!».<br />

Foi uma decisao sem voto discrepante.<br />

0 recurso extraordinario, que foi<br />

mencionado ter sido interposto,<br />

veio a nao ser conhecido unanimemente<br />

pelo Colendo Supremo Tribunal<br />

Federal. Consta a f. 156. Fol<br />

relator o eminente Ministro<br />

Adalicio Nogueira. (leu).<br />

Assim, Sr. Presidente, lendo essas<br />

pecas que me pareceram indispensAveis<br />

para uma ideia de conjunto<br />

do process(), dou por encerrado<br />

o related°, que foi submetido a<br />

revisan do Dr. Ruschel.<br />

Nao ha intervencao do Ministerio<br />

PUblico.<br />

E o related°.<br />

VOTO<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Dr. Nathaniel M. GuimarAes<br />

(Relator): Sr. Presidente, Como se<br />

viu, a especie apresenta de Intel° 0<br />

problema a ser resolvido referente<br />

a preliminar de carencia da acao<br />

suscitada pelos apelantes, ou seja,<br />

os adquirentes do im6vel e tambem,<br />

quanto a decade/Ida do prazo<br />

de 6 meses. Essas duas constaram<br />

expressamente das rages de apelo.<br />

E da tribuna ouvimos tambem<br />

ser suscitada uma preliminar referente<br />

a necessidade ou obrigatorledade<br />

de interferencia do Ministerio<br />

Pithlie° na causa, face o apelo envolver<br />

materia referente a tributos.<br />

Passarei, Sr. Presidente, a<br />

aborda-las na ordem em que foram<br />

sucitadas. Ao que diz respeito a carencia<br />

de acao precipuamente referentes<br />

a f alta de citacao dos proprieterios<br />

alienantes e dos adquirentes,<br />

o meu voto e no sentido da<br />

improcedencia dessa preliminar. E<br />

explico o meu entender: a que a citacao<br />

dos proprietaries, precisamente<br />

contra os quais a acao deve,<br />

e deveria, ter sido movida — acao<br />

a que se refere o art. 92, §§ 3? e 4?,<br />

da Lei n? 4.504, de 30.11.64 —<br />

concretizou-se pela existencia da<br />

procuracao de fls. 168/170. Essa<br />

procuracao a oriunda da Reptiblica<br />

do Urugual. Consta seu texto original,<br />

em espanhol, e apresenta tambem,<br />

simultaneamente, autenticada,<br />

a traducao. A traducao este a<br />

fls. 171/173. Poi outorgada pelos fi-<br />

Ihos da falecida proprietAria alienante.<br />

EstA vazada nos seguintes<br />

termos (leu).<br />

Essa procuracao, conseqflentemente,<br />

como se ye, e valida e torna<br />

os outorgantes representados no<br />

feito. A f. 167, Carlos Vicente de<br />

Arteaga Brum e sua mulher, Maria<br />

de Los Angeles Fernandes Cuero<br />

de Arteaga, e Jose Angel de Arteaga<br />

Brum e sua mulher, Maria<br />

Iolanda Briozzo Aycardi de Arteaga,<br />

entraram corn uma peticao, onde<br />

dizem que comparecem em<br />

juizo para declararem-se cientes<br />

do procedimento da acao de adjudicacAo<br />

compulseria que Amelia<br />

Battaglin Sesti Deon, Roseli Deon<br />

Correa e seu marido, Gilberto Niederauer<br />

Correa e Paulo Roberto<br />

Deon, promoveram contra Eliseo<br />

Jose Mezzomo e sua mulher, Maria<br />

de Lourdes Pedron Mezzomo, e<br />

Nilo Arno Segabinazzi e sua mulher,<br />

Nilda Rumpel Segabinazzi,<br />

peticao assinada por Candid() Alfredo<br />

Silva Leal, a quem foram outorgados<br />

poderes pelo mandato de<br />

fls. 171/173.<br />

Aqui, como se ye, deram-se por<br />

citados e representados por seu advogado.<br />

Eles inesmos, posteriormente,<br />

nao contestam a acao. Sao<br />

os arrendantes.<br />

A citacao dos adquirentes achase<br />

sanada nessa fase do procedimento,<br />

entao em renovacão, porque<br />

eles compareceram a f. 177.<br />

Suas posicOes, a partir dessa data<br />

em diante, sa ga de litisconsortes<br />

passivos necessarios. Conseqtiente-


mente, a preliminar de carencia de<br />

acão nAo tern procedencia. Mat voto<br />

seria no sentido de rejeitar a<br />

preliminar de carencia da acão.<br />

Quanto a decadencia do prazo de<br />

6 meses para o pedido, nos termos<br />

do art. 92, § 4?, do Estatuto da Terra,<br />

IA° vejo como possa ser considerada.<br />

0 pedido Poi ajuizado oportuna<br />

e habllmente. Ve-se dos autos,<br />

A f. 13, que parte do imOvel arrendado<br />

aos autores fora vendido aos<br />

litisconsortes passIvos necessarios<br />

os adquirentes Eliseo Jose Mezzomo<br />

e Nllo Arno Segabinazzi, por<br />

escritura pfiblica de 23.12.64, pelo<br />

prey° de Cr$ 17.464.000,00 (ern<br />

moeda da epoca), alienacAo fefta<br />

por Elmira Brum de Arteaga,<br />

va do primitivo arrendante. 0 prazo<br />

de 6 meses de decadencia findaria<br />

a 23.6.65 e a acAo foi ajuizada,<br />

conseqllentemente recebido o pedldo<br />

na esfera judicial, em 27.5.65,<br />

o Estatuto da Terra refere a requerer<br />

dentro dos 6 meses a contar<br />

da transcricAo. A transcricao, como<br />

se ye do documento de f. 13,<br />

ocorreu a 22.4.65. Conseqllentemente,<br />

no meu entender, não houve decadencia,<br />

els que foi exercido<br />

aquele direlto no momento habit,<br />

ou seja, exatamente, denim do<br />

prazo de 6 meses, porque o art. 92,<br />

§ 4?, refere-se a ser exercido esse<br />

direlto no prazo de 6 meses. Diz o §<br />

4?: «0 arrendatario, a quem nao se<br />

notificar a venda, podera, depositando<br />

o preco haver para si o im6vel<br />

arrendado. Fara isso se o requerer<br />

no prazo de 6 meses. Conse-<br />

Mientemente, ja agora dando urn<br />

apanhado englobado quanto a carencia<br />

da aflo, quer quanto a Macao<br />

quer quanto a decadencia do<br />

prazo, meu voto 6 no sentido de re-<br />

'altar as preliminares de carencia<br />

de acão e de decadencia<br />

0 Dr. Ruy Ruben Ruschel: Abordaria,<br />

invertendo a ordem das<br />

duas preliminares, primeiramente<br />

a de decadencia. 0 § 4? do art. 92<br />

R.T..T. — 94<br />

223<br />

cria o prazo decadencial de 6 meses<br />

a ser contado a partir da<br />

transcricAo do ato de alienacAo no<br />

Registro de ImOvels. Entretanto,<br />

deve ser requerido pelo arrendatArio<br />

o direito previsto naquele dispo-<br />

sitivo. Os termos em que esta vazado<br />

o § 4? revelam que a simples<br />

propositura da acAo jA 6 a mani-<br />

festacAo do direito requerido. Mesmo<br />

que entendessemos, utllizando<br />

o prInciplo do art. 166, § 2?, do antigo<br />

C6digo de Processo Civil: «A atacklo<br />

vailda produz os seguintes<br />

efeltos: (§ 2?) induz litispendencia»,<br />

ha de ser levado em conta<br />

que exatamente os prImeiros apelantes,<br />

que se insurgiram, alegando<br />

essa decadencia, foram citados<br />

validamente dentro daquele prazo.<br />

Dentro ainda do prazo decadencial.<br />

Entretanto, entendo que o prazo<br />

decadencial 6 para simples propositura<br />

da acAo.<br />

Quanto a citacão dos outros reus,<br />

como bem demonstrou a eminente<br />

Relator, foi perfeita e acabada,<br />

atravas de uma procuracAo, cujos<br />

termos foram lidos pelo Relator.<br />

Assim, acompanho o voto do eminente<br />

Relator tambem neste sentido.<br />

0 Sr. Presidente (Des. Jose<br />

Silva): Estou inteiramente de acordo<br />

corn os eminentes Colegas.<br />

0 Dr. Nathaniel it Guimariles:<br />

Ha preliminar suscitada da tribuna<br />

pelo nobre procurador das partes<br />

adqulrentes desse imOvel e objeto<br />

desta acão, de que, versando a materia<br />

em discussAo, numa das apelac6es,<br />

materia de tributo, deveria<br />

obrigatoriamente ser ouvldo 0 Orgao<br />

do Mlnisterio Pllblico. Para se<br />

abordar esse problema de inicio,<br />

iriamos tratar, na Integra, o<br />

prio merit° da apelacAo. Dai a minha<br />

sugestAo de que, concordando<br />

os eminentes Colegas, se relegasse


224<br />

para apreciacäo conjunta corn o<br />

merito.<br />

0 Dr. Ruy Ruben Ruschel: Concordo,<br />

realmente, esta inteiramente<br />

entrosada corn a materia de merit()<br />

do tributo ja pago.<br />

0 Sr. Presidente (Des. Jose<br />

Silva): Tambem acomPanho inteiramente<br />

o eminente Relator.<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Dr. Nathaniel It GuimarAes.<br />

Sr. Presidente, quanto ao merito,<br />

ve-se que, na especie, os autores<br />

apelados alegam haver sucedido<br />

aos arrendatarios da area descrita<br />

na initial. Essa area esta localizada<br />

numa invernada denominada<br />

Umbu, corn 10 quadras de sesmaria<br />

de campos e matos e uma pequena<br />

restinga e arramados . Faz<br />

parte de uma fazenda chamada<br />

Santa Rosa, situada no 1? Distrito<br />

de General Vargas. Pelo documento<br />

de f. 10, que 6 do Registro de<br />

1m6veis se ye transcricAo onde<br />

aparecem, como arrendante s, Angelo<br />

de Arteaga e sua esposa Elmira<br />

Brum de Arteaga, e como arrendatario,<br />

Pedro Crivelaro Deon.<br />

Pedro Crivelaro Deon veio a f alecer<br />

posteriormente. Dal por que<br />

estao no processo seus herdeiros,<br />

que continuaram corn o arrendamento,<br />

segundo disposicAo expressa<br />

constante da clausula 6?, onde<br />

se diz: «no caso de morte do arrendatario<br />

durante a vigencia do contrato,<br />

ficam seus herdeiros corn o<br />

direito de opcdo pela continuacão<br />

do arrendamento ate o fim, ou<br />

rescindi-lo, caso ern que a rescisAo<br />

ter& sugar no fim do ano ja pago<br />

adiantadamente. No caso de morte<br />

do arrendante, ficam seus herdeiros<br />

na obrigacao de manterem o<br />

contrato ate seu termino.”<br />

Como se ye, foi realizado o contrato<br />

por escritura pOblica que se<br />

acha, conforme ja mencionel, a f.<br />

11.<br />

Pedro Crivelaro Deon, cabeca do<br />

casal arrendatario, veto a falecer,<br />

como se pode constatar pelo inventart°<br />

cuja certidAo documental<br />

consta a f. 6 dos autos, tocando os<br />

bens a ele pertencentes aos herdeiros<br />

ora autores, que sAo Roseli<br />

Deon Correa e Paulo Roberto<br />

Deon. Foi inventariante Amelia<br />

Battaglin Sesti Deon.<br />

Sucedendo, durante o arrendamento,<br />

a venda de parte da area<br />

arrendada, foram vendidos 436ha e<br />

600m1, conforme se ye a f. 13. 0 documento<br />

apontado a uma certiclão<br />

do Registro de Imeve's, onde 6 referida<br />

a data da escritura: 23.12.64.<br />

Consta o preco deposltado.<br />

Esse fato levou a autora, como<br />

sucessora, ao ajuizamento da pretensão<br />

manifestada na initial, corn<br />

base justamente no art. 92, §§ 3? e<br />

4?, do Estatuto da Terra. 0 § 3? do<br />

art. 92 dispOe: «No caso de alienacAo<br />

do imOvel arrendando, o arrendatario<br />

ter& preferencia para<br />

adquiri-lo ern igualdade de condicOes,<br />

devendo o proprietar io darlhe<br />

conhecimento da venda, a fim<br />

de que possa exercer o direito de<br />

preempcAo dentro de 30 dias a contar<br />

da notificacao judicial, ou comprovadamente<br />

efetuada mediante<br />

recibo. E o § 4? reza: «0 arrendatado<br />

a quern nao se notificar a venda<br />

podera, depositando o preco,<br />

haver para si o imOvel arrendado,<br />

se o requerer no prazo de seis meses,<br />

a contar da transcrifl o do ato<br />

de alienacão no Registro de Irmaveis.”<br />

Febexame que se fez dos autos,<br />

verifica-se que nao houve a notifi-


cacao aos autores do processo da<br />

venda felta aos adquirentes. Dal<br />

terem eles felt° inicialmente o de-<br />

/3(mill) da quantia pela qual se opemu<br />

a venda e tambem do valor do<br />

impost° de transmissao, pago pelos<br />

adqulrentes, que, assim, esteriam<br />

ressarcidos. Houve depOsito<br />

inclusive das custas tides corn a<br />

escritura. Entenderam os autores<br />

que fosse dever deles nao se Hmitarem<br />

apenes a depositar preco,<br />

nos termos do Estatuto da Terra.<br />

Tambem fizeram o dep6sito do imposto<br />

que haviam pago em razao<br />

da transmissAo e das despesas que<br />

tiveram corn a escritura. A lei<br />

4.504, de 30.11.64, na parte invocada<br />

pelos autores, mostra-se dotada<br />

de auto-execucao, isto é, dispense<br />

a regulamentacao. A prOpria lel,<br />

no seu hole revogado art. 107, dispunha<br />

ate do rito para formalizecao<br />

da demanda. A re gulamentacao<br />

nAo faz, pots, reflexo ties dlspositivos<br />

invocados, que Sin realmente<br />

auto-execucao ou autoaplicacao.<br />

Como bem sltuou o magistrado<br />

na sentence apelada, o arrendamento,<br />

pela cltuisula 6! do contrato<br />

(f. podia prosseguir na pessoa<br />

dos herdeiros dos contratimites, e<br />

podia . o direlto de prefertneia ser<br />

pel•smos exercido, els que,<br />

a los A época da allenaca<br />

m, conseqtlentemente, direlto<br />

de preferencia, mesmo nao<br />

considered° este como direito real.<br />

Mas, na verde* 6 direlto real e<br />

se constituiu em limitacao ao direito<br />

de dispor da cotsa, exercendo-se<br />

o (Breit° de seqtlela erga muds.<br />

O magistrado, na decisao em que<br />

Julgou procedente a ace° e deferiu<br />

a adjudicaclio, cite decisaes<br />

tas na Resists de Jurisprudential.<br />

19/201 a 28/265.<br />

R.T.J. — 94 225<br />

Assim, Sr. Presidente, quanto<br />

primeire apelacao — vencida como<br />

JA fol pela Camara a preliminar de<br />

carencia da acao, relativamente A<br />

questa° da habilidade das cantles<br />

realizadas e tambem quanto A materia<br />

referente A decadéncia — parece<br />

que o merito se singeliza<br />

nossa compreensilo. Meu voto 6 no<br />

sentido de negar-lhe provimento.<br />

Quanto a segunda apelacAo, tamb6m,<br />

Sr. Presidente, nego provimento.<br />

Essa segunda apelacao e a<br />

dos autores, que recorreram apenas<br />

para eximirem-se do pagamento<br />

do imposto de transmissao de<br />

propriedade. 0 juiz determhiou a<br />

adjudicacao do imOvel, que seria<br />

concretizada:,gom a apresentacao<br />

da sentence perante o Reglstro<br />

!mob!HAM°. Mas, para que pudesse<br />

o Sr. Oficial efetuar o registro, evidentemente<br />

tinhe qtte haver quitecao<br />

dos tmpostos. E que a vends<br />

realizada pelos rtus aos adquirentes,<br />

e primeiros apelantes,<br />

mostrou-se perfeita, sendo, pots,<br />

cablvel o pagamento do imposto,<br />

como fizeram-no aqueles. E, ao depositarem<br />

o preco da venda, os autores<br />

tambem depositaram as custas<br />

tides coin a escritura e o imposto<br />

de transmissao. Eases valores,<br />

tao logo transitada re‘lecisao,<br />

segundo expressou a sentence, poderiam<br />

ser levantados pelOs adqulrentes.<br />

Relaclonam-sea vends que<br />

ora estA sendo desconstRuida.<br />

Quanto ao pagamento do impost°<br />

de transmissao, do qual foi Met°<br />

a apelacAo, o Juiz nada mats fez do<br />

que colocar aquela expressao na<br />

sentence como lembrete, pots se<br />

trate de uma exigencia fiscal referente<br />

ao impost° de transmissao.<br />

Esse nao poderia o julz excuser;<br />

nao teria validade a disposicao do<br />

Lutz. A compra e venda nAo se concretizaria<br />

sem o pagamento do imposto<br />

de transmissao. A lei exlge o


226<br />

R.T.J.— 94<br />

dep6sito do preco. NA° cogita do<br />

imposto de transmissAo e nem das<br />

custas. Na parte executiva, posteriormente,<br />

se levantado apenas o<br />

prego, podem near aquelas outras<br />

duas parcelas A disposicAo do depositante,<br />

como excedente do valor<br />

legal devido. Para que os autores<br />

possam levar a sentenca, que a seu<br />

titulo de aquisicão, ao Registro de<br />

Imeveis — porque na verdade foi<br />

adjudicado o imOvel — devem pagar<br />

o imposto de transmissAo que<br />

lhes compete. Os autores devem<br />

pagar o preco, custas e os impostos,<br />

substituindo-se aos adquirentes,<br />

como que indenizando-os . E<br />

agora devem pagar o custo de sua<br />

escritura e o valor do imposto. NA°<br />

hit duplo recolhimento do tributo,<br />

pots um 1ntegrou o preco da compre<br />

e venda ora tornado ineficaz; e<br />

o outro o mesmo imposto devido.<br />

•<br />

Conseqllentemente, nego provimento<br />

a primeira apelacAo e tarnbent<br />

a segunda, por estes fundamentos<br />

expostos.<br />

0 Dr. Ruy Ruben Ruschel: Sr.<br />

Presidente, entendo tambem que o<br />

Estatuto da Terra, Lei n? 4.504, de<br />

30 de novembro de 1964, no tangente<br />

ao direito sobre o qual se discute,<br />

tem eficAcia plena e imediata.<br />

a este entendimento chego atrayes,<br />

ate mesmo, dos termos dos<br />

preprios dispositivos que dAo inicio<br />

termino a esta lei. Diz o art. 1?:<br />

«Essa lei regula os direitos e obrigacOes<br />

concernentes aos bens im6veis<br />

rurais, para os fins de execucAo<br />

da reforma agraria e promocAo<br />

da politica agricola». E o art.<br />

128 diz: «Esta let entrarA em vigor<br />

na data da sua publicacAo, revogadas<br />

as disposicOes em contrArio».<br />

Conseqllentemente, trata-se de ato<br />

legislativo que cria direitos e obrigacOes<br />

e cuja regulamentaeAo<br />

p<strong>revista</strong> apenas quando necessAria,<br />

relativa<br />

aos aspectos que de-<br />

pendem de regulamentacão, o que<br />

evidentemente nAo e o art. 92, nos<br />

seus parAgrafos 3? e 4?, ao concernente<br />

ao prOprio direito criado nestes<br />

dois parAgrafos.<br />

Entendo tambem que o Estatuto<br />

da Terra e aplicAvel a especie —<br />

embora segundo alega da tribuna o<br />

procurador dos primeiros apelantes<br />

— se alegue que o que existe e<br />

de um contrato de promessa de<br />

compra e venda relativo a este<br />

im6vel. Ocorre que o 4 3? dispee<br />

sobre alienacAo. E macs adiante se<br />

refere a venda. Promessa de venda<br />

nAo a venda; nAo 6 alienacAo. 0<br />

direito surge extamente no momento<br />

da venda e nAo no momento<br />

de urn contrato preltminar, de um<br />

precontrato de promessa de compra<br />

e venda.<br />

Alem do macs, pelos dados que<br />

se colhe e que colhi da revisAo, se<br />

constata que a promessa de cornpra<br />

e venda existente nos autos<br />

nAo diz respeito exatamente aquela<br />

Area de terras que e 0 objeto do pedido<br />

dos autores.<br />

Tambem nAo f az major sentido a<br />

alegacAo de que o colendo Supremo<br />

Tribunal Federal houvesse j A<br />

se pronunciado acerca da inaplicabilidade<br />

do Estatuto da Terra. A<br />

referencia A inaplicabilidade existente<br />

do aresto em nada se relaciona<br />

a inaplicabilidade do Estatuto<br />

da Terra no que pertine a esta especie.<br />

Trata-se da inaplicabilidade<br />

de urn dispositivo do COdigo Civil,<br />

A luz das relacOes decorrentes do<br />

Estatuto da Terra.<br />

Por outro lado, o Supremo Tribunal<br />

Federal nAo poderia, como nAo<br />

o fez, apreciar esta materia, que<br />

nAo era objeto do recurso extraordinArlo.


Houve tamb6m uma referenda,<br />

da tribuna, ao art. 1.157 do C6digo<br />

Civil, no sentido de que o direito de<br />

preferencia nAo passaria a herdelros.<br />

Esse dispositivo diz respeito<br />

apenas a preferencia decorrente de<br />

contrato de compra e venda, como<br />

evidente pela pr6pria posicAo<br />

ocupada pelo dispositivo dentro do<br />

Cedigo Civil. Alem do mats, no caso,<br />

os autores e segundos apelantes<br />

WI° ingressaram em juizo na condicAo<br />

de herdeiros dos arrendatAdos<br />

e slm na conclicAo de arrendatArios,<br />

pots que eles o eram em<br />

conseqtlencia da clAusula 6! do<br />

contrato de arrendamento.<br />

Enfim, por todas estas raziles e<br />

pelo evidente ajuizamento da acão<br />

ainda dentro do prazo decadencial,<br />

segundo materia jA vencida, entendo<br />

que realmente os autores tinham<br />

o direito que pleiteavam.<br />

For esta razAo, nego provimento<br />

primeira apelacAo.<br />

Relativamente a segunda apelacAo,<br />

acompanho o digno relator,<br />

porquanto, corn efeito, a disposicAo<br />

do Julz ao determinar que, antes de<br />

transcricflo da sentenca, se depositasse<br />

o impost° de transmissao e<br />

apenas urn lembrete, como dlsse S.<br />

Exa.; porquanto se trata de tuna<br />

disposicAo que, mesmo que nAo:<br />

constasse da sentenca, teria de ser!,<br />

cumprida por ser uma determinacao<br />

meramente fiscal. Em razito<br />

disso, acho que tambem fica prejudicada<br />

a preliminar alegada na<br />

buna da necessidade de IntervencAo<br />

do Org.!lo do Ministkrio Pftblico •<br />

na esp6cle.<br />

Tambtm nego provimento a segunda<br />

apelacAo.<br />

E meu voto.<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Sr. Presidente (Des. J<br />

Silva): Estou inteiramente de ac<br />

do corn os eminentes Colegas.<br />

Apelactic) Civel n? 23.683, Silo<br />

cente do SW. Rejeltaram a preli<br />

nar de carencia de acAo, rele<br />

ram a invocada da tribuna pelo<br />

bre advogado dos 1?s apelant<br />

quanto a necessidade da interv<br />

cAo do Minist6rio Pfiblico, par<br />

exame corn o merito, neste ne<br />

ram provimento a ambas as ape<br />

cOes prejudicadas a Wilma pre<br />

minar.» (fls. 263-278).<br />

A ease acerdão contrapeem os<br />

quirentes, Eliseo Jose Mezzom<br />

sua muffler e Nib Arno Segabina<br />

e sua muffler, recurso extraordin<br />

rio, fundado nas tetras a, c e d<br />

permissilo constituclonal.<br />

Pela tetra a, alegam que fol neg<br />

da vigencia ao art. 92, 4 4?, do Es<br />

tuto da Terra, ao deixar-se de rec<br />

nhecer a decadencia da acAo,<br />

qual os litisconsortes necessftrios s<br />

mente foram citados ap6s o decur<br />

dos seas meses previstos para<br />

exercfflio da acAo de preferencia.<br />

Na tnictal, tinham sido omissos<br />

autores em promover a citacflo d<br />

vencedores, litisconsortes neces<br />

Mos, o que levou o primeiro acôrdf<br />

a anular o processo, a partir da cit<br />

cAo. Por outro lado, a prepria cit<br />

cAo, que se veto a fazer, al6m de i<br />

tempestiva em relactio ao prazo d<br />

sets meses, foi irregular. Deu-se m<br />

diante comparecimento a Juizo d<br />

Dr. CAndido Alfredo Silva Leal, cu<br />

mandato nAo o autorizava a tanto.<br />

Por outro lado, dizem os recorre<br />

tes, foram contrariados o art. 153,<br />

3?, da ConstituicAo, e o art. 6? da L<br />

de IntroducAo ao COdlgo Civil, por<br />

terem ferido o direito adquirido e<br />

ato juridico perfeito.


228<br />

R.T.J. — 94<br />

que, argtem os recorrentes, a<br />

promessa de venda tinha sido celebrada<br />

a 11 de marco de 1964, antes<br />

da vigência do Estatuto da Terra,<br />

Lei n? 4.504, de 30.11.1964. Assim, os<br />

proprietarios do imOvel arrendado<br />

podiam, perfeitamente, prometer<br />

vencle-lo a terceiros, inexistente enttlo<br />

qualquer threat) de prefertncia<br />

dos arrendatArios. E seria irrelevante<br />

a objectio derivada do Pato de o<br />

compromisso não ter sido levado a<br />

registro. A resin da nAo prevalencia<br />

do ato em face de terceiros, pela ausftncia<br />

de registro, pressup0e o conftito<br />

de atos juridicos sob o imperio<br />

da mesma lei. Encarado o ato da<br />

promessa de venda sob o imperio da<br />

lei em cuja Agenda tot praticado,<br />

era ele eficaz e, portanto, nAo podia<br />

incidir no regime da lei nova.<br />

Por Ultimo, foi negada vigencia ao<br />

art. 82, III, c/c o art. 84, do CPC, por<br />

se haver deixado de reconhecer a<br />

nulidade do processo pela falta de intervencão<br />

do Orgilo do Ministerio PUblico.<br />

Com essas argfticOes, consideraram<br />

os recorrentes ojustificada» a infrigência<br />

de leis federais e da ConstituicAo,<br />

hip6teses p<strong>revista</strong>s no art.<br />

119, III, letras a e c (fl. 300 fine).<br />

No que tange A letra d, assim justfficam<br />

os recorrentes o cabimento<br />

do recurso:<br />

«a) — Referentemente ao art. 6?<br />

da Lel de IntroducAo ao C6cligo Civil<br />

e art. 153, § 3?, da ConstituicAo<br />

Federal:<br />

«E hoje, professam Eduardo<br />

Spindola e Eduardo Spindola Fllho,<br />

quase controvertido, na doutrina e<br />

na jurisprud6ncia national, que o<br />

C6digo Civil Braslleiro nAo reconhece<br />

force retroativa As leis de<br />

interpretacAo. Embora a lei se declare<br />

interpretative em termos expressos,<br />

o dispositivo da nossa lei<br />

permite que por ela sejam prejudicados<br />

os direitos adquiridos, os<br />

atos juridicos perfeitos e a coisa<br />

itzigada». (Ac. do STF, 21.9.43, no<br />

RE 4.369, Rev. de Dir. Adm. v.<br />

1/161/).<br />

«A situacAo juriclica, a que elude<br />

o art. 6? da Lei de IntroducAo ao C6digo<br />

Civil, So decorre de uma sentence,<br />

mas de atos ou fatos ocorridos<br />

anteriormente A propositura da<br />

acAo. Ao judicittrio, cabe a declaracAo<br />

da existencia dessa situacAo.»<br />

(Ac. do TJSP, 15.4.48, Rev.<br />

Tribs. 174/118).<br />

Pelos arestos acima transcritos,<br />

verifIca-se que, não tendo o ac6rdAo<br />

recorrido dado atencão A promessa<br />

de compra e venda firmada<br />

corn os recorrentes, ofendeu o art.<br />

6? da Lei de IntroducAo ao C6cligo<br />

Civil e ao art. 153, § 3? da C. Federal.<br />

— Na parte referente A nä° citack)<br />

dos litisconsortes necessArlos,<br />

o acercillo recorrido diverge<br />

das seguintes decisOes:<br />

«0 despacho saneador que decorreu<br />

sem recurso constituiu coisa<br />

julgada. Po/tin 6 nulo " .ab initio"<br />

o processo, quando, sendo caso de<br />

litisconsercio passivo obrigaterio,<br />

nä° houve citacAo de todos os interessados».<br />

(Ac. do STF, 19.9.57 —<br />

DJU<br />

'<br />

7<br />

'<br />

4 58 ' p p. 1 439)<br />

«Configurada a existencia do litisconsercio<br />

necessario passivo, a falta<br />

de citacdo do litisconsorte induz<br />

nulidade do processo. (Art. 88 c/c o<br />

art. 165 do C.P.C.... Portanto, a<br />

anulacão do processo a partir da<br />

contestacAo nAo importou em Julgamento<br />

ultra ou extra petittun, de<br />

modo a incidir na proibictto expressa<br />

no art. 4? do ipma processual<br />

citado. Ademaid lo<br />

s, se a falta de<br />

citaflo, ato essential do processo,<br />

importa em nulidade cominada.<br />

(Art. 165 do CPC).» (Ac. do STF,<br />

9.10.67 — RTJ 43/637).<br />

— Quanto A decadëncia, o<br />

aresto recorrido est& em desacordo<br />

com os seguintes deciserlos:


«0 simples ingress° da aclio em<br />

juizo nAo interrompe a prescrlcAo<br />

e s6 tem ease efeito desde que a citacAo<br />

seja promovida em 10 dlas<br />

nos termos do art. 166, f 2! do<br />

CPC.)) (Ac. do TASP 26.12.56 —<br />

Rev. Tribs. 263/500).<br />

«0 art. 166, 4 2?, do CPC, obriga o<br />

interessado a promover a citacão<br />

no prazo de 10 dies. Promover e<br />

dar impulso, dlligenclar, movimentar.<br />

NAo pode ter o sentido de executer,<br />

porque tal nAo 6 dado a parte,<br />

mac aos agentes do juizon<br />

(Ac. do TASP, 11.5.55. Rev. Tribs.<br />

238/382).<br />

«Tratando-se de prazo de decadenote<br />

ou preclusflo, o simples ingress°<br />

em Juizo nib° prevalece pare<br />

os efeltos legais. Mister se faz<br />

que, dentro do prazo em que o direito<br />

pode ser exercido, seja o reu<br />

cited°. S6 assim, a acAo se cons!.<br />

dere proposta.» (Ac. TJSP, 3.9.62,<br />

Rev. Tribs. 346/186).s —,(Fls. 301-<br />

2).<br />

Vein a peticAo de recurso acompanhada<br />

de substimcloso parecer do<br />

Prof. Galeno de Lacerda, coin as<br />

conclusaes que asslin se expressam:<br />

«1?) — NAo pode o Estatuto da<br />

Terra ser spliced° a situacdes<br />

juridicas anterlores a sua viands,<br />

de modo a tornar ineficaz, na ewecie,<br />

a promessa de compra e venda.<br />

Eats se constitulu em ato<br />

juridic° perfelto e acabado, sob o<br />

lmperio da lei antiga, e dela nasceu<br />

pars os consulentes o direito<br />

adquirldo A outorga da escritura<br />

definitive de compra. Aquele ato a<br />

ease direito rulo pode ser lesado,<br />

em prol dos autores, sob pens de<br />

°tense aos arts. 6? da Lei de IntroducAo<br />

e 153, § da Constituiclio<br />

Federal.<br />

2?) IncIdiram os autores em decade-ads<br />

da acao, por omitirem a<br />

°ascii° de todos os lltisconsortes<br />

necessarios no prazo (F.<br />

324).<br />

R.T.J. — 99 22<br />

Fol o recurs() extraordlnarlo admi<br />

tido por despacho do entlo Presiden<br />

te do Tribunal de Justice , que hoje<br />

coin tanto regozijo da Justice, ter<br />

assento no Supremo Tribunal Fede<br />

ral, o 'nab) magistrado Pedro Soa<br />

res Munoz, do seguinte teor:<br />

«Vistos.<br />

Alegando ausencla de notifica<br />

cAo, nos termos do g 3? do art. 9<br />

da Lei n? 4.504/64, a fim de que pu<br />

dessem, no prazo legal, exercer o<br />

direito de preempcAo, Amelia Bat<br />

taglin Sesti Deon e outros propuse<br />

ram acilo de preferencia contra<br />

Eliseo Jose Mezzomo e Nllo Arno<br />

Segabinazzi.<br />

Julgada procedente a ace°, em<br />

grau de recurso o processo foi anu<br />

lado, a partir da citactio, por nlio<br />

haver participado, como parte, o<br />

proprietarlo e arrendante do im6<br />

vel.<br />

Admitido o recurso extraordina<br />

rio interposto, o Supremo Tribuna<br />

Federal, através de sua 2! Turma<br />

dele nAo conheceu.<br />

Processada a cause, na comama<br />

de orlgem, o Dr. Julz de Direlto<br />

Substituto de SA° Vicente do<br />

Sul julgou procedente a acão e deferiu,<br />

em favor dos autores, a adjudicacao<br />

do !Wove' descrito.<br />

As partes apelaram.<br />

Por unanimidade de votes, a Pr!meira<br />

Camara Civel Especial negou<br />

provimento a arnbas as apelacdes,<br />

rejeltadas as preliminares de<br />

carencia da 'Ica° e de decadencia e<br />

prejudicada a relative A necessidade<br />

de intervencAo do Ministkrio<br />

Pftblico.<br />

Irresignados, recorrem, extraordinariamente,<br />

Eliseo Jost Mezzomo<br />

e Nilo Arno Segabinazzi e res-<br />

PecUvas muiheres, esteiando-se<br />

nas letras a, c e d do Incise III do<br />

art. 119 da Constituicilo Federal.


R.T.J. — 94<br />

Os recorridos Impugnaram o cablmento<br />

do recurso<br />

A especie e a seguinte: os proprietArios<br />

de uma fracAo de terras<br />

arrendaram a mesma pelo prazo<br />

de quatro anos; no curso do arrendamento,<br />

faleceram urn dos arrendantes<br />

e o arrendatArio, mas a locacAo<br />

contlnuou, por Puma de clAusula<br />

contratual. Antes de se venter<br />

aquele prazo, a viftva do arrendante,<br />

entao proprietAria do imOvel,<br />

vendeu parte do mesmo a tercelros,<br />

sem ouvir os sucessores do arrendatArio<br />

(ut resumo a as. 104-<br />

105). Aflrma-se a ocorrencia da decadencia<br />

da acAo, uma vez que os<br />

autores foram omissos em promover<br />

a totalidade das citaceses no<br />

prazo legal e o processo foi anulado<br />

a partir da<br />

0 prazo do art. 92, I 4?, do Estatuto<br />

da Terra 6 decadencial.<br />

Asseveram os recorrentes que as<br />

citac6es vMidas deveriam ter sido<br />

promovidas, necessariamente, dentro<br />

do prazo preclusivo. 0 acerclão<br />

adotou a orientacAo de que o prazo<br />

decadencial 6 para a simples propositura<br />

da acAo, providencia esta,<br />

tempestivamente, tomada pelos<br />

autores.<br />

Pelo fato de nAo haverem os autotes<br />

movido a acAo contra os litisconsortes<br />

necessarios, a relaclio<br />

jurfdica processual ntlo chegou a<br />

constituir-se devidamente. Por isso,<br />

a Pritneira Cement Civel, em<br />

5.7.66, apes proclamar como principal<br />

responsAvel o proprietArioalienante,<br />

anulou o processo a partlr<br />

citacão inicial.<br />

E certo que o 4? do art. 92 do<br />

Estatuto da Terra exige que haja<br />

requerimento, no prazo de seis meses,<br />

a contar da transcricão do ato<br />

de alienaclio.<br />

Assim, embora correta a afirmaclo<br />

do acOrdAo, de que o texto legal<br />

apenas exige a propositura da<br />

acAo, nAo se pode olvidar, porem,<br />

que a acAo nAo se dirigiu e nAo fol<br />

requerida contra o principal<br />

responsAvel, no dizer da decisAo da<br />

Primeira CAmara Civel, transita<br />

em julgado (f. 106), circunstAncia<br />

que impediu a formaclio devida da<br />

relacão jurfdica processual. Esta,<br />

somente anos ap6s, se constitulu<br />

regularmente.<br />

NAo deixa, assim, de assumir relevo<br />

a argftida decadencia.<br />

5. A ausencia de formalizacAo da<br />

caeca° dos lftisconsortes necessArios,<br />

invocada pelos recorrentes,<br />

nAo encontra ftmdamento. 0 aspecto<br />

6 enfrentado, corn precisão, no<br />

voto do Relator (fls. 268-269):<br />

... e que a citacAo dos proprietArios,<br />

precisamente contra os<br />

gnats a acAo deve, e deveria, ter<br />

sido movida— acAo a que se refere<br />

o art. 92, §{ 3? e 4?, da Lel n?<br />

4.504, de 30.11.64 — concretizouse<br />

pela existencla da procuracAo<br />

de fls. 168/170. Essa procuracAo 6<br />

oriunda da Repdblica do Uruguai.<br />

Consta seu texto original,<br />

em espanhol, e apresenta tamb6m,<br />

simultaneamente, autenticada,<br />

a traductio. A traducão estA<br />

a fls. 171/173. Foi outorgada<br />

pelos Mhos da falecida proprietAria<br />

alienante. EstA vazada nos<br />

seguintes termos (leu).<br />

Essa procuracAo, conseqUentemente,<br />

como se ye, 6 vAlida e<br />

torna os outorgantes representados<br />

no feito. A f. 167, Carlos Vicente<br />

de Arteaga Brum e sua<br />

mulher, Marla de los Angeles<br />

Fernandez Cuero de Arteaga, e<br />

Jose Angel de Arteaga Brum e<br />

sua mulher, Maria Iolanda Briozzo<br />

Aycardi de Arteaga, entraram<br />

corn uma peticAo, onde dizem<br />

que comparecem em jtazo para<br />

declararem-se cientes do procedimegto<br />

da acAo de adjudicacão<br />

complulsOria que Amelia Battaglia<br />

Sesti Deon, Roseli Deon Correa<br />

e seu marido, Gilberto Niede-


auer Correa, e Paulo Roberto<br />

Deon promoverann contra Eliseo<br />

Jose 1VIezzomo e sua muiher, Maria<br />

de Lourdes Pedron Mezzomo,<br />

e Nllo Arno Segabinazzi e sua<br />

mulher, Nllda Rumpel Segablnazzi,<br />

petite° assinada por Candid()<br />

Alfredo Silva Leal, a quern<br />

foram outorgados poderes pelo<br />

mandato de fls. 171/173.<br />

Aqui, como se ve, deram-se por<br />

citados e representados por seu<br />

advogado. Eles mesmos, posteriormente,<br />

nAo contestam a aclio.<br />

SA° os arrendantes.<br />

A cftacão dos kdquirentes<br />

acha-se sanada nessa fase do procedimento,<br />

entAo ern" renovacilo,<br />

porque eles compareceram a f.<br />

177. Sues posicties, a partir dessa<br />

' data, em diante, silo de litisconsortes<br />

passives necesserios.<br />

A intervenclio do Ministkrio<br />

Maim nAo era obrigateria. 0 direito,<br />

que a acAo se propes a atingir,<br />

nAo se ache inscrito entre as<br />

causes enumeradas no art. 82 do<br />

C6digo de Processo Civil.<br />

Sustentam os recorrentes a tese<br />

da inaplicabllidade, A especie,<br />

do Estatuto da Terra, nAo podendo<br />

o direito de preferencia tornar inefleas<br />

promessa de compra e venda<br />

anterior a vigencia do Estatuto,<br />

embora nAo inscrita no Registro de<br />

ImOveis.<br />

Este aspecto foi prequestionado,<br />

tempestivamente, consoante se infere<br />

de vote do revisor, a fls.<br />

276/277.<br />

0 contrato de compromisso de<br />

compra e venda foi Juntado a fls.<br />

38/39. Este datado de 11.3.64 e as<br />

firmas foram reconhecidas em<br />

10.6.64. Anterior, portanto, a vigencia<br />

do Estatuto da Terra (Lei n°<br />

4.504, de 30.11.1964).<br />

A ex1stencia desta promessa de<br />

compra e venda, anterior a vigencia<br />

da Lei n? 4.504, corn pagamento<br />

parcelado e sem clausula de erre-<br />

R.T.J. — 94 231<br />

pendimento, projeta reflexos profundos<br />

na soluclio do litigio, que se<br />

calca no direito de preferencia implantado<br />

pelo Estatuto da Terra.<br />

Segundo Oswaldo Opitz, a Lei n?<br />

4.504, em seu 4 3? do art. 92, criou<br />

um caso de preferencia legal<br />

(Contratos Agritrios no Estatuto da<br />

Terra, p. 108), encontrando semelhanca<br />

no art. 1.139 do Cédigo Civll).<br />

Essa norma, que lntroduziu precello<br />

novo no direito positivo brasileiro,<br />

atinentemente a arrendamentoi<br />

rurals, ntio atinge neg6cios<br />

juridicos estabelecidos anteriormente<br />

ou situacees Juridicas, mesmo<br />

de natureza obrigacional, definitivamente<br />

constituidas.<br />

Se essa promessa de venda tivesse<br />

sido acordada posteriormente<br />

entrada em vigor do Estatuto, aos<br />

promitentes vendedores incumbia<br />

a obrigacAo de comunicar a sua intencAo<br />

aos arrendatArlos, ensejando<br />

a oportunidade pars o exercicio<br />

do direito de preferência.<br />

Assinala Oswaldo Opitz (opus<br />

cit., p. 112) que fala-se, no thick) do<br />

g 3?, do artigo 92, de alienactio do<br />

imOvel, mas a verdade a que se<br />

trate de venda. (...) Inclui-se, na<br />

venda do imOvel, a promessa de<br />

compra e venda e da promessa de<br />

cessAo, definitive e irretratAvel,<br />

porque a Lei nt 649, de 1949, equiparou<br />

o prornitente comprador ao<br />

adquirente.<br />

NAo engendra maiores conseqUenclas<br />

o fate de a promessa ter<br />

sido firmada pelos herdeiros e,<br />

posteriormente, a escritura, pela<br />

vieva, e ter a escritura abrangido<br />

Area menor a prometida vender. A<br />

ausencia di registro da promessa<br />

de venda nAo desnatura as obrigacdes<br />

pactuadas entre as partes,<br />

que nela intervieram.<br />

A lei nova, criando um caso de<br />

preferincia, nAo poderia atingir,<br />

sem afronta ao art. 6? da Lei de In-


232 R.T.J. — 94<br />

troducAo ao COdigo Civil e ao art.<br />

153, § 3?, da ConstituicAo Federal<br />

os direitos e as oh/Unties consolidadas<br />

anteriormente, tornando ineficaz<br />

urn contrato de promessa de<br />

compra e venda, perfeitamente<br />

forrnaltzado entre as partes.<br />

Corn micro na letra d, porem,<br />

inviavel se apresenta o derradelo<br />

apelo. Os julgados, arrolados como<br />

paradigmas, não se , prestam para<br />

a perfeita demonstracAo do<br />

dissidio, por ausAncia de comprovaclio,<br />

pelos trechos transcritos, de<br />

identidade entre as situacees cotejadas.<br />

Incidem a Stnula, verberte<br />

n? 291, e o art. 305 do Regiment°<br />

Intern° do Supremo Tribunal Federal.<br />

Admit° o recurso, corn base na<br />

letra a.<br />

Vista, para razdes.» (fls.<br />

347/353).<br />

Em contra-razdes, sustentam os<br />

recorridos, arrendattulos a quern fol<br />

reconhecida a prefer-Alicia: a) o acerdão<br />

anterior nAo anulara a citacAo,<br />

senao apenas os atos processuais<br />

que se the seguiram; anulou o processo,<br />

a partir da citacAo que fora<br />

fella e que continuava valida, para<br />

que fosse convocada A lide a vendedora,<br />

dona Elmira Brum de Arteaga;<br />

b) a inaplicabilidade do Estatuto<br />

da Terra, em face da existencia da<br />

promessa de venda a ele anterior,<br />

nal) foi prequestlonada; c) de qualquer<br />

forma, a compra e venda que<br />

deu causa A acAo não se orlginou daquele<br />

prê-contrato; d) de acrescentar,<br />

ainda, que referido pre-contrato<br />

nAo fora inscrito no Registro de Im6veis,<br />

nAo gerando direito real nem<br />

mesmo contra os promitentesvendedores.<br />

(Fls. 361-5).<br />

A Procuradoria-Geral da<br />

em parecer, devidamente aprovado,<br />

do Procurador Walter Josè de<br />

Medeiros, assim se pronuncia:<br />

gTrata-se de recurso extraordinArio<br />

interposto corn fincas nas<br />

alineas a, c e d do permissivo constitucional<br />

pertinente, onde de logo<br />

ressai a irnprocedéncia dos dots 01limos<br />

fundamentos invocados, porquanto<br />

nAo se indica lei ou ato de<br />

Governor local contestado em face<br />

da ConstituicAo ou de lel <strong>federal</strong><br />

nem, de outra parte, se aponta decisão<br />

que haja dado interpretacAo<br />

divergente da contida no v. acOrclão<br />

impugnado a respelto dos mesmos<br />

fatos discutidos na causa.<br />

Resta, portant°, examinar se se<br />

verifica o pressuposto constitucional<br />

da alinea a.<br />

A propOsito da primeira questAo<br />

suscitada — decadAncia do direlto<br />

de acAo — nAo se preclsa no recurso<br />

o dispositivo legal cilia vigAncia<br />

teria sido denegada. Bastaria isto<br />

para ter-se por relegada a preliminar<br />

do prazo decadencia], multo<br />

bem repelida pela douta decisAo<br />

impugnada, nestes termos do voto<br />

do eminente relator:<br />

gConseqtlentemente, no meu<br />

entender, nAo houve decadAncia,<br />

eis que foi exercido aquele direito<br />

ao momento hâbil, ou seja,<br />

exatamente dentro do prazo de<br />

sets meses...» (f. 270).<br />

De fato dispee o art. 92, § 4?, do<br />

Estatuto da Terra (Lel 4.504, de 30<br />

de novembro de 1964) que, se o fizer<br />

no prazo de sets meses, a contar<br />

da transcricAo, poderA o arrendatttrio,<br />

a quem nAo se notificou a<br />

venda, haver para si o imOvel arrendado,<br />

depositando o respectivo<br />

prep.<br />

Ora, corn base nos elementos<br />

constantes dos autos, ficou patente<br />

que, transcrita a escritura em<br />

22.4.65 (f. 13), ja em 27.5.65 tinha<br />

ingress° em juizo a acAo de preferência,<br />

dentro, por conseguinte, do<br />

semestre legal.<br />

Bastava, a nosso ver, a simples<br />

propositura da acAo no prazo legalmente<br />

previsto para se ter por<br />

afastada a decadencia, sem neces-


sidade do aperieicoamento das eltn8es,<br />

els que a tanto nao obrigava<br />

o texto da lei, cuja viencia, antes<br />

de denegada, tot pontualmente<br />

afirmada, no particular da alegada<br />

decadOncia.<br />

Tents= os recorrentes introduzir,<br />

por sua vez, debate novo acerco<br />

da existencia de direito adquirido,<br />

consistente em contrato de promessa<br />

de compra e venda anterior<br />

viencia da Lei 4.504, de 30 de<br />

novembro de 1964, quando, ate en-<br />

GU, inexistia qualquer direito de<br />

pretext-oda dos arrendatarios A<br />

compra doimOvel questionado.<br />

Trata-se, pelo vistO, de tema nao<br />

ventilado pela douta decisão recorride<br />

e a que falta o Indispenstivel<br />

requisito do presquestionamento<br />

(Sfimulas 282, 356).<br />

Pelo nao conhecimento.» (Fls.<br />

378-380).<br />

E o relatOrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Mlnistro Decio Miranda (Relator)<br />

— No acOrdllo anterior, que<br />

proferira nos autos a Primeira CAmare<br />

Civel do Tribunal de Justice<br />

do Estado do Rio Grande do Sul,<br />

declarou-se que «sendo o proprietirio<br />

e arrendante o principal responsavel<br />

pela intracho legal, a ele e aos<br />

arrendaterios deve ser enderecada a<br />

ado e nä° o tot, radio porque se deu<br />

provimento a primeira apelactlo, para<br />

anular o processo a partir da citacão<br />

bided, e se julgou prejudicada a semade<br />

apelacAos. (F. 107).<br />

Se a actio era proposta pelos arrendmarios,<br />

a evidente que a exPrezsilo<br />

do acarchlo correspondia a um<br />

engano material. Queria dizer(«aele,<br />

proprietario, e aos promisstutsadqulrentes»<br />

deve ser dirisida a<br />

actio.<br />

Aos promissttrios adquirentes a<br />

nib) ja Holm sido citada. Faltava a<br />

anti° dos proprietArios promiten-<br />

R.T.J . - 94<br />

233<br />

tes vendedores. A falta desta citacáo<br />

6 que se dlrige o actirchlo. «A partir<br />

da citacaloo, nele, quer dizer, «a Part&<br />

da fase da citacAos, Ease que flea-<br />

ra incomplete pela falta de Macao<br />

dos proprietttrios. Quanto aos promissados-compradores,<br />

a citacão<br />

J& fora felta, e o process° contra eles<br />

continuou sem necessidade de nova<br />

citadlo.<br />

Vale dizer, pots, que o process°<br />

permanecia vivo, inclusive o ato pelo<br />

qual se etetuara a citacalo de um dos<br />

litisconsortes.<br />

Indlspensavel, porem, para que a<br />

relacilo processual se Integrasse,<br />

tossem citados os co-reus, os proprietarios<br />

allenantes.<br />

Estes, tazendo acordo com os arrendattaios<br />

(f. 162), perMitind que<br />

os prOprios autores se declarassem<br />

citados da act em nome dos its<br />

PrOPriettrios-allenantes (1.160), assumindo,<br />

assim, a posiello concomitante<br />

de autores e r6us-litisconsortes.<br />

Deram-se por citados<br />

em 4.10.71 (f.159).<br />

do Q a uando<br />

acti porem,<br />

deveria ter ocorricit<br />

o?<br />

Sobre o exercicio de preferencia<br />

do arrendatario, disptle o Estatuto<br />

da Terra, Lei it? 4.504, de 30.11.1964:<br />

«Art. 92<br />

if 3? — No caso de alienactlo do<br />

lmOvel arrendado, o arrendatario<br />

ter& preterencia pare adquiri-lo<br />

em igualdade de condicees, devendo<br />

o propriehlrio dar-lhe conheclmento<br />

da venda, a fim de<br />

que posse exercltar o direito de<br />

PeremPC80 dentro de Uinta dies,<br />

a contar da notificacilo judicial<br />

ou comprovadamente efetuada,<br />

medlante recibo.<br />

4? —0 arrendatArio a quem<br />

nao se notificar da venda poderS,<br />

depositando o preco, haver para<br />

si o imevel arrendado, se o requerer<br />

no prazo de self; meses, a


234<br />

R.T.J. — 94<br />

contar da transcricao do ato de<br />

alienacAo non o Registro de Im6vets.<br />

))<br />

pots, um prazo de sets meses,<br />

a contar da transcriclio do ato de<br />

alienactio no Registro de Im()vela,<br />

para o exercicio do direito de preferencla.<br />

Trata-se de um prazo de decadencia.<br />

No caso dos autos, nAo se tern a<br />

data da transcriciio na certiclão de f.<br />

13, mas, sendo de 23.12.1964 a escritura<br />

que the deu causa, 6 evidente<br />

que a Wm de preferencia, ajuizada<br />

em 24.5.1965 (f. 4), observou o prazo<br />

de seas meses. em virtude do acordo que com eles<br />

Nilo bastava, por6m, segundo os celebraram (fls. 159-160). E na mesrecorrentes,<br />

ajuizar o pedido dentro ma data, isto 6, sem tardanca, ainda<br />

Besse prazo, para ficarem os autores compareceram e se deram por citaa<br />

salvo da decadencia. Deveriam es- dos na pessoa de advogado a quern<br />

tes efetuar a citacAo dos alienantes outorgaram poderes para recebino<br />

prazo do art. 166, I 2?, do CPC de mento de citacAo initial. (f. 167).<br />

1939,vigente a spots, combinado Por tudo isso, incabivel se mostra,<br />

corn o art. 1? do Decreto-lei n? 6.790,<br />

rcunstlincias<br />

do caso con-<br />

de 15.8.44, que 6 tornou aplicavel aos<br />

ante as ci<br />

creto, a alegacAo de decadencia do<br />

ca de decadencia. NAo bastava pedido, que, oportuna na primeira<br />

manifestar a preferancia nos termos aPelacAo, nAo rot entilo fefta.<br />

do 9 4? do art. 92 do Estatuto da Ter-<br />

ra, sendo necessario fazer citar no<br />

Improcede, pois, a alegacAo de neprazo<br />

processual os interessadosgativa de vigancia do art. 92, 9 4? do<br />

contra quem se exercia a preferen- Estatuto da Terra.<br />

cis.<br />

Vejamos a alegacão de ferimento<br />

A observactio dos recorrentes se- ao art. 153, § 3?, da Constituiciio, e<br />

ria procedente, mas nAo mats nesta<br />

do art. 6? da Lei de IntroducAo ao<br />

Hada°.<br />

C6digo Civil.<br />

Deveria ter sido feita por °mita° Repousa em que o direito de prefedo<br />

primeiro recurso extraordinario. rencia do arrendatario, nascendo<br />

corn o Estatuto da Terra em 1964,<br />

A sentenca que julgara procedente<br />

a acao dos arrendatarios, nab de- nAo podia atingir os efeitos de proviam<br />

ter oposto os promissario s- messa de vends anteriormente celecompradores<br />

apenas a alegacAo de brad 9 dosa, em 11.3.1964, qual o de fls. 38-<br />

nulidade por falta de citaciio dos<br />

autos.<br />

alienantes, como o fizeram a fls. Responde-se que se tats de docu-<br />

78/79, masdecadanci deviam ter oposto, desde<br />

a, por falls de ci-_ acerclAo na apelacão, nAo 6 possivel,<br />

nestp segunda fase, introduzir o nadiclo<br />

de decade/xis por motivo naquela<br />

epoca invocavel.<br />

A demora da citacão, agora, somente<br />

poderia implicar no reconhecimento<br />

da decadencia se, apas batxados<br />

os autos do Supremo Tribunal<br />

corn o acerdAo no anterior recurso<br />

extraordinario, nao tivessem os autores<br />

promovido em prazo habil a citacilo<br />

dos refs proprietarios alienantes,<br />

considerados litisconsorte s necessarios.<br />

Mas esta citacAo Tao demorou,<br />

porque pelos rails alienantes se deor<br />

citados os prOprios autores,<br />

mento particular, apenas reconhecientilo,<br />

a _ das as firmas por tabeliAo, nAo<br />

WA° sortes daqueles, recesses, tidos como litiscon transcrito ou inscrito em registro pit-<br />

blico. Dele nAo decorrem nem o co-<br />

Atendidos os rem promissarios- nhecimento de terceiros, nem a cercompradores,<br />

no que pediram, pelo<br />

teza legal da data de sua feitura.


E os recorridos dizem que nAo fo1<br />

dessa promessa que promanou o document°<br />

definitivo de venda, mas de<br />

outra, macs recente, outorgada JO na<br />

viands do Estatuto da Terra.<br />

Tats objec(Ses, 6 certo, s8o desprezadas<br />

pelo douto despacho que ad/11'-<br />

0u o recurs° extraordlnArio, verbisi<br />

((NA° engendra maiores consequenclas<br />

o tato de a promessa<br />

ter sido firmada pelos herdeiros<br />

e, posteriormente, a escritura,<br />

pela viva e ter a escritura<br />

abrangido Area menor A prometida<br />

vender. A ausencla de registry<br />

da promessa de venda nAo<br />

desnatura as obrigacOes pactuadas<br />

entre as partes, que nela intervleram.<br />

A lei nova, criando urn caso de<br />

preferencia, nAo poderia atingir,<br />

sem afronta ao art. 6? da Lei de<br />

Introducilo ao ardigo Civil e ao<br />

art. 153, 3?, da Constituictio Federal,<br />

os direitos e as obrigactes<br />

consolidadas anteriormente, tornando<br />

ineflcaz um contrato de<br />

promessa de compra e venda,<br />

perfeitamente formalizado entre<br />

as parteso. (f. 353).<br />

Emend°, porem, que tal contrato,<br />

embora formalizado, para valer entre<br />

as partes nAo pole ser oposto a<br />

terceiro, qual arrendatArio do 'Wive]<br />

objeto da promessa.<br />

A esta consideracAo acrescento<br />

que nenhuma tentativa se fez para<br />

provar por outros meths a existencla<br />

do contrato na data em que consta<br />

ter sido celebrado Sequer se invocou<br />

a notoriedade do compromisso, ou<br />

seu conhecimento por parte dos arrendatArios,<br />

ou o pagamento, por estes,<br />

de arrendamento aos compradores.<br />

A (mica prova da existencia do<br />

documento anterlormente A data da<br />

lei que criou o direito de preferencia<br />

do arrendatArio 6 sua prOpria data, e<br />

a data do reconhecimento de firmas,<br />

Ede lancado.<br />

R.T.J. - 94<br />

Quanta A decadencla da acilo por<br />

nil° ter sido proposta simultaneamanta<br />

contra os allenantes, os ac6rdAos<br />

colacionados (fls. 301-2), sobre<br />

ser nulo o process° quando nAo citados<br />

todos os litisconsortes passivos<br />

necessaries, seriam invocAvels na<br />

ase anterior. Mas esta flcou supera-<br />

235<br />

Pode o terceiro, o arrendatArio,<br />

ser afrontado com a simples presun-<br />

OW de veracidade de tats dates?<br />

De qualquer sorte, a transcricAo<br />

da compra e venda no Reglstro de<br />

ImOveis (f. 13), indica como titulo do<br />

contrato a escritura de 23.12.1964.<br />

, Esta Gltima, completada pela<br />

transcricAo, 6 o ato de que decorre o<br />

exerciclo do direito de preferencia<br />

por parte dos arrendatArtos.<br />

Celebrada a escritura na aludida<br />

data de 23.12.1964, o ato se praticava<br />

na vigencia do Estatuto da Terra,<br />

que entrou em vigor na data de sua<br />

publicacAo, isto 6, em 30.11.1964.<br />

NAo hA, pots, colisAo entre a sujei-<br />

VI° do caso aos efeitos da lei, e o ato<br />

juridic° parfait°, se o ato 6 posterior<br />

A vigencla desta.<br />

Afasta-se, assim, a alegada negativa<br />

de Agenda do art. 153, { 3?, da<br />

ConstitulcAo, e do art. 6? da Let de<br />

IntroducAo ao COdigo Civil.<br />

Tambem nAo hA de prosperar a inconsistente<br />

alegacAo de negativa de<br />

vigêncla dos arts. 82, III, e 84 do<br />

CPC, por falta de intervenclio do erg/to<br />

do Min!start° POblico. NAo artiste<br />

no caso, tnteresse da Fazenda POblica,<br />

no concemente ao pagamento<br />

de Impostos.<br />

Por outro lado, nSo oferece a menor<br />

adequacAo o invocado cabimento<br />

do recurso pela letra c.<br />

No concernente ao fundament° da<br />

letra d, nAo divergem do acardilo recorrido<br />

os arestos alusivos A apneacAo<br />

temporal da lei, invocados a f.<br />

301, publicados, respectivamente, na<br />

RDA 1/161 (RE 4.369) e na RT<br />

174/118.


236<br />

R.T.J. — 94<br />

da corn a decisAo de nulidade a par- EXTRATO DA ATA<br />

tir da citacão, o que, no caso, apenas<br />

significava mandar citar o litiscon- RE 85.049 Rel. Min. Desorte<br />

passivo ainda nAo trazido aos do Miranda. Recte.: Eliseo, Jose<br />

autos.<br />

Mezzomo e outros (Advs.: Angelito<br />

A. Aiquel e outros). Recdos.: Amelia<br />

No tocante aos actordAos afirmati- Battaglia Sesti Deon Correa e outros<br />

vos da decadencia por nAo ter s ido<br />

(Advs.: Jose Dutra e outros).<br />

feta a citacão no prazo legal subseqiiente<br />

ao despacho a ordenou, Decisao: Adiado o julgamento por<br />

tambem aqui falta o pressuposto de haver pedido vista o MM. Moreira<br />

sua adequacAo ao caso dos autos, em Alves, depots do voto do Relator que<br />

que tanto a primeira quanto a segun- nAo conhecia do recurso. Falou, pelo<br />

da citacao ocorreram em prazo Otil, Recte.:o Dr. Angelito A. Aiquel. Au-<br />

em rt.31cilo ao precedente ato Judisente, justificadamente, o Sr. Min.<br />

cial qtCe ordenara cada uma delas. Cordeiro Guerra.<br />

De resto, como assinala o douto Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

despacho que admitiu o recurso ex- Presentes A SessAo os Srs.<br />

traordinArto, «os julgados, arrolados Ministros LeitAo de Abreu, Moreira<br />

como paradigmas, nä° se prestam Alves e Decio Miranda. — Ausente,<br />

para a perfeita demonstracAo do justificamente, o Sr. Min. Cordeiro<br />

dissidlo, por ausencia de comprova- Guerra. 5? Subprocurador-Geral da<br />

clio, pelos trechos transcritos, de in- Reptiblica, o Dr. Mauro Lelte Soadentidade<br />

entre as situacees cotejares.das», incidindo, assim, o verbete Brasilia, 8 de mato de 1979 — Hello<br />

291 da &mule e o art. 305 do Regi- Francisco Marques, SecretArio.<br />

mento Intern do Supremo Tribunal.<br />

(f. 353).<br />

VOTO (VISTA)<br />

Ve-se, deste meu voto, que a<br />

argilictio mais poderosa do recurso<br />

seria a dos efeitos, em relacAo ao ar- 0 Sr. Ministro Moreira Alves — 1.<br />

rendatArio, da preexistent promes- Pedi vista, para examiner dots ponsa<br />

de venda, trazida aos autos por tos no voto do eminent relator: o<br />

documento particular nAo inscrito em que S. Exa. afasta a alegacAo de<br />

em registro pUblico, apenas com da- decadéncia pela circunstancia de<br />

tas de assinatura e de reconhecimen- q ue ela seria procedente se Mita por<br />

to de firmas anteriores A data de vi- °mill° do primer° recurso extraorgencia<br />

da lei.<br />

(Mario; e o em que S. Exa. nega a<br />

existencia de direito adquirido em<br />

Admitiu seu efeito, contra o arren- favor dos compradores, por entepder<br />

datArio, o douto despacho que defe- que a promessa de compra e venda<br />

existente em favor deles, e anterior<br />

riu o recurso<br />

ao Estatuto da Terra, Igo tinha eftcAcia<br />

contra terceiros pelo fato de<br />

Recusa-lhe meu voto tai efeito, pe- nAo ter sido registrado em Registro<br />

la consideracAo de se tratar de documento<br />

cuj a data s6 prevalece contra<br />

PUblico.<br />

as preprias partes, que nele intervie- 2. Do exame dos autos, tambem<br />

ram.<br />

cheguei A conclusAo de que, no tocante<br />

A alegada decadencia, nAo he<br />

Por isso, e pelo mais que expus em<br />

como se sustentar a negativa de vi-<br />

meu voto quanto As demais questhes<br />

gencia do artigo 92, 4?, do Estatuto<br />

suscitadas, nAo conheco do recurso.<br />

da Terra.<br />

4<br />

t


R.T.J. — 94<br />

Para isso, nao levo em conta a cir<br />

cunstAncia de os recorrentes nAo ha<br />

da (C6d. Proc. Civil, art. 294,<br />

-<br />

verem Invocado a decadencia por<br />

I)".<br />

ocasiAo do primeiro recurso extraor- Dal, portanto, ser valida a Ifsao de<br />

Naquele momento, a discus- CAmara Leal (Da Primerica° e da<br />

silo se cingia a existencia, ou nAo, de Decadkncia, nis 155-A, pitgs. 249/250,<br />

litisconsortes passivos necesserios SAo Paulo, 1939). segundo o qual —<br />

(os vendedores), questAo evidente- embora o CAdigo Civil, no tocante<br />

mente previa corn relacAo a existen- interrupclio da prescricilo (e o mescla<br />

de decadencia por nil° haver o mo principlo se splice A decadencia,<br />

direly) de preferencia sido exercido no que dlz respelto A fbracAo da data<br />

em face desses litisconsortes. A con- de seu exercleio), tivesse sido °missideracilo<br />

que me lnduz a afastar a s°, ao contrArio do que sucedera<br />

alegada negativa de vigencia do arti- quando As aches pessoais, no concergo<br />

92, f do Estatuto da Terra 6 a nente As aeries reels em que havia 11-<br />

de que, sobb o império do C6digo de tisconsercio necessArio — segundo a<br />

Process° Civil de 1939 — em cuja vi- qua!, repito, "se houver o litisconserglincia<br />

se propels a presente acAo a cio passno necessArio, a interrupcão<br />

acAo era tida por proposta, da prescricilo contra urn dos lit's-<br />

instaurando-se a instAncia (e — noteconsorte prejUdiea a todos os dese<br />

— o seu simples ajuizamento basmals litisconsortes passlvosu. 0 que<br />

tava para impedIr a decadkncia), implica direr, em materia de deca-<br />

corn a so citacAo de um dos revs, dkncia, que ajuizada a nil° contra<br />

abide quando, mail tarde, se verif!- urn dos lillsconsortes unitArios necasse<br />

a ausencia de Iltisconsorte unios, dentro do prazo, nAo ocortfulo<br />

necessArio, cuja citacAo devere a decadencla corn relacilo aos deria<br />

ser determinada pelo juiz, ao mats, desde que, determinada sua<br />

proferir o despacho saneador. A pro- citactio posteriormente, essa se face<br />

peon°, escrevia Guilherme Estelita — como se fez, no caso — regular-<br />

(Do Litisconsorte no Direito mente.<br />

Bras!Miro, nag. 408, Rio de Janeiro, Esse entendimento6, sem rill-<br />

1955):<br />

vi da, desarrazoado, apllcando-se-lhe<br />

a SOmula 400.<br />

uPoder-se-A questioner: ainda E nilo hA, a propOsito,<br />

em casos tals, a Irish:Meta deve <strong>jurisprudencia</strong>,<br />

dissidlo de<br />

uma vez que os actr-<br />

ser tida por comecada e a acAo dAos trazidos a confronto WM se re-<br />

por proposta, corn a so citacAo de ferem a hipeteses em que houvesse a<br />

um dos revs? Se a relacilo circunstAncia acima descrita.<br />

lltiglosa nAo pode ser decidida 3. Corn relacão ao alegado direlto<br />

sena° em face de todos os adquirido, em virtude da preexistan-<br />

ressados, sera legal admit& procia, ao Estatuto da Terra, de propasta<br />

a acAo, instaurada a hismessa de compra e venda, tot essa<br />

tAncia, sem estarem todos conve- materia prequestionada, como se ve<br />

eados pars o juizo? Ainda assim, do voto do revisor (corn o qual con-<br />

afirmativa deve ser a resposta: a cordou o vogal, ao declarer: "Estou<br />

lnstAncia se lnstaurou, a cause inteiramente de acordo corn os eml-<br />

esta proposta. A ausencia no pronentes colegas" — f. 278), no qual a<br />

cess° de um litisconsorte neces- alegacko tot afastada sob o funda-<br />

Mut nAo impede que a acAo se ment° de que:<br />

tenha por proposta. Apenas o<br />

juiz, ao saner o feito, determi- «Entendo tanthent que o Estenant<br />

a citaclo do Iltisconsorte ou tuto da Terra 6 aplicAvel a espe-<br />

lltisconsortes ausentes a deman- cle — embora segundo alega da<br />

tribune o procurador dos primel-<br />

237


238<br />

R.T.J. — 94<br />

ros apelantes — se alegue que o<br />

que existe a contrato de promessa<br />

de compra e venda relat i vo a<br />

este im6vel. Ocorre que o § 3?<br />

dispOe sobre allenacAo• E mats<br />

adiante se refere A venda. Promessa<br />

de compra e venda ilk, 6<br />

venda; nAo 6 allenacAo. 0 direito<br />

surge exatamente no momento<br />

da venda e nAo no momento de<br />

urn contrato preliminar, de urn<br />

precontrato de promessa de cornpra<br />

e venda.<br />

Al6m do mats, pelos dados que se<br />

collie e que colhi da revisAo, se<br />

constata que a promessa de cornpra<br />

e venda existente nos autos<br />

nAo dlz respeito exatamente<br />

Aguela Area de terras que 6 o objeto<br />

do pedido dos autores" (fls.<br />

276/277).<br />

Prequestionada a questAo n o<br />

eminente relator nAo o nega<br />

di-<br />

Arlo de S. Exa. quanto A conclusAo<br />

sobre seu merito.<br />

A propOsito, acentua o eminente<br />

relator:<br />

«Entendo, nortm, que tal contrato,<br />

embora formalizado para<br />

valer entre as partes, au) pode<br />

ser oposto a terceiro, equal o arrendatArio<br />

do irnOvel objeto da<br />

promessa.<br />

A esta consideraflo acrescento<br />

que nenhtuna tentativa se fez para<br />

provar por outros meios a<br />

existencla do contrato na data<br />

em que consta ter sldo celebrado.<br />

Sequer se invocou a notoriedade<br />

do compromisso, ou seu conhecimento<br />

por parte dos arrendatArlos,<br />

ou o pagamento, por estes,<br />

de arrendamento aos compradores.<br />

A (mica prova da existencia<br />

do documento anteriormen te A<br />

data da lel que criou o direito de<br />

preferencia do arrendatArio e a<br />

sua prepria data, e a data do reconhecimento<br />

de firms, nele<br />

lancado.<br />

Pode o terceiro, o arrendatbrio,<br />

ser afrontado corn a simples _<br />

presuncAo de veracidade de tais -<br />

datas?<br />

De qualquer sorte, a transcri-+<br />

cão da compra e venda no Registro<br />

de Im6veis (f. 13), indica co-4<br />

mo titulo do contrato a escritura<br />

de 23-12-1964.<br />

Esta Ultima, completada pela<br />

transcricilo, e o ato de que decorre<br />

o exercicio de direito de preferencia<br />

por parte dos arrendatArios.<br />

Celebrada a escrltura na aludida<br />

data de 23-12-1964, o ato se<br />

praticava jA na vigencia do Estatuto<br />

da Terra, que entrou em vigor<br />

data de sua publicacão, is<br />

to 6, e<br />

na m 30-11-1964.<br />

NAo ha, pots, collsAo entre a<br />

sujictlo do caso aos efeitos<br />

lel, e e o ato juridlco perfeito, se<br />

ato 6 posterior A vigéncia desta.<br />

Afasta-se, assim, a alegada ne<br />

gativa de vigéncia do art. 153,<br />

3?, da ConstituicAo, e do art. 6?<br />

da Lei de Introducão ao COdigo<br />

Data venia, nAo se me afiguram<br />

procedentes tais alegac6es.<br />

Demonstram-no, a meu ver, es<br />

tas precisas consideracOes, que s<br />

encontram a fls. 314/320, do pare<br />

cer do Prof. Galeno de Lacerda:<br />

«As pecullaridades de que s<br />

reveste o caso concreto nAo infi<br />

mam a conclusAo de que a lei no<br />

va poderla tornar ineficaz o ne<br />

g6clo juridic° celebrado pelos l<br />

cadores corn os consulentes.<br />

Em primeiro lugar, 6 irrele<br />

vante o fato de se tratar de pr<br />

messa de compra e venda, com<br />

se ela nAo obrigasse, a tal pon<br />

que a let nova pudesse impedi<br />

the o curnprimento mediante<br />

proscricflo do negficio definiti<br />

pactuado.


Sabe-se que o compromisso de<br />

compra e venda de im(Wel se caracteriza<br />

por constituir-se em<br />

obrigacAo de fazer, isto é, de outorgar<br />

a escritura definitive. Este<br />

represents, pots, o efeito<br />

juridic° do negacio resultante da<br />

promessa.<br />

Ora, vlmos aclma, pelas licaes<br />

dos mestres de direito transited°,<br />

que os efeltos huldicos dos<br />

neg6clos constituidos sob a lei<br />

antiga nib) podem ser atingidos<br />

pela lei nova. Que, no caso, o<br />

compromisso se perfez, como ne-<br />

*Selo perfelto e acabado, sob a<br />

lel anterior, e que, em timcAo<br />

desta, se constftuiram os direitos<br />

subjetivos des partes a execucAo<br />

da obrigacAo de fazer, ou seja, a<br />

realizacAo do negacio definitivo,<br />

e inquestionAvel. Ninguem podera<br />

negar, em sa consciencia, que,<br />

na hipotese, a aplicaptio da let<br />

nova em beneticio dos locatArios,<br />

rompe aura situacilo juridica perfeftamente<br />

constituida entre terceiros<br />

sob a egide do direito anterior.<br />

E lsto se nos afigura aosolutemente<br />

vedado pela regra constitucional.<br />

Pouco importa que se trate de<br />

obrigaclio de fazer. Bonnecase,<br />

citando Merkur, a clam:<br />

l'egard de l'expectative resultant<br />

d'un contrat, elle est toujail<br />

:Stern-it hors de Patteinte<br />

Posterieure, parce hue<br />

told trat forme un lien legal<br />

par Is forma duquel ceux 'qul<br />

Pont souscrit sont soumis a la necessite<br />

de darner ou d3faire ce a<br />

quol Hs se sent engages» (Ob.<br />

cit., wig. 115).<br />

Tambem nao procede a eventual<br />

objecAo resultante do Cato<br />

de, no compromisso, se pactuarem<br />

prestacCes sucessivas do<br />

PreCo, embora o vencimento da<br />

Ultima viesse a ocorrer la sob o<br />

imperio da lei nova. E evidente<br />

que esse tato nito retire do nes&<br />

R.T.J. - 94<br />

do juridic° as sues caracteris<br />

cas de acordo de vontades perf<br />

to e acabado, para os fins de d<br />

reito transiterio.<br />

Abide Bonnecase, atando de<br />

ta vez Aubry e Rau, esclare<br />

deflnitivamente o assunto:<br />

elms drofls darkant tune co<br />

vention expresse ou lagaleme<br />

presumee amstituent, dans<br />

sons de notre mallere, des dro<br />

acquit; a Falun de l'atteInte<br />

toute lop nouvelle, alors mem<br />

gulls ont pour objet des pal<br />

ments a faire a des époques su<br />

cesslves, qui ne viendraient a 6<br />

cbtance quo postarleurement a<br />

Promulgation de cette lob) (O<br />

cit., pall. 123).<br />

Alias, na especie, verifica-s<br />

que a escritura definitive tev<br />

por objeto, apenas, metade d<br />

Area prometida vender, o qu<br />

significa que, pelo contrato, a<br />

prestaciles da parte adquirida s<br />

venceram todas antes da vigen<br />

cia da lei nova.<br />

Nem se din que, pelo fato de<br />

objeto ser parcial, tratar-se-ia d<br />

outro neg6clo, desvinculado d<br />

promessa anterior. 0 argument<br />

nAo procede, a toda evidencia. S<br />

os compromissithos compradore<br />

clue, na verdade, poderiam exigh<br />

o cumprimento integral da pro<br />

messa, mediante o pagamento in<br />

tegral do preco, mesmo que ocor<br />

rido vencimento da prestacAo<br />

pactuada pare data que veto a<br />

cat no perfodo de vigencia da let<br />

nova, se contentaram corn a realizacAo<br />

de parte do negacio, nem<br />

Dor isto essa realizacAo delxa de<br />

constituir execticAo e efeito do<br />

compromisso anterior. A parte<br />

este integrada no todo prometido,<br />

e, sendo assim, a escritura<br />

parcial vincula-se, indiscutivelmente,<br />

a reterida promessa.<br />

Tambem nib impressions o fato<br />

de a promessa ter sido firma-


240<br />

da pelos herdeiros, e a escritura<br />

definitiva pela vinva e inventariante.<br />

A doutrina, tratando de terra<br />

ainda mais significativo, admite<br />

hoje, sem reservas, a eficacia da<br />

venda de bem alhelo:<br />

«Uma vez que o contrato de<br />

compra e venda a consensual e<br />

por ele se se promete a transmisda<br />

propriedade e da posse,<br />

se<br />

ou s6 da posse, nada obsta a que<br />

R.T.J. —94<br />

seja objeto de tal contrato o bem<br />

alheio, isto 6, o bem de propriedade,<br />

ou de posse, ou de propriedade<br />

e de posse alheias. Neo hã<br />

qualquer invalidade, nem ineficacia.<br />

Se o vended3r vem a prestar,<br />

por ter adquirido o bem, ou<br />

por ter encarregado o dono de<br />

prestar a propriedade e a posse,<br />

ou s6 a propriedade, ou s6 a posse,<br />

cumpriu o que prometeu. Se<br />

falba, inadimpliu, e ha as conseqfiencias<br />

do inadimplemento".<br />

(Pontes de Miranda, Tratado,<br />

vol. 39, peg. 26).<br />

Ora, se a venda de bem alheio<br />

e eficaz, corn mull° mais raze()<br />

haverA de se-lo a promessa de<br />

venda de bens de heranga indivisa<br />

feita pelos herdeiros. A mile<br />

destes, no caso, nada mais fez do<br />

que cumprir o pactuado pelos filhos,<br />

condeminos, corn ela, dos<br />

bens inventariados, tank* mais<br />

que o preco jit fora recebido.<br />

Ern outras palavras, um dos<br />

efeitos da promessa consistiu na<br />

anuencia da vinva em prestar a<br />

escritura. Se net) o fizesse, seus<br />

fllhos responderiam por perdas e<br />

danos em virtude do compromisso.<br />

A manifestacão de vontade da<br />

mee se Isere, assim, necessariamente,<br />

no contexto dos efeitos do<br />

compromisso, imunes a atuacão<br />

da lei nova. Quaisquer que fossem<br />

os dlspositivos desta, impenderia<br />

aos filhos cumprir a promessa,<br />

ou diretamente, ou por intermédio<br />

de outra pessoa, no ca-<br />

so, a mee e inventariante dos<br />

bens da heranca.<br />

Finalmente, cumpre examinar<br />

a objecão consistente no fato de o<br />

compromisso não ter 'sido levado<br />

a registro e, portanto, neo se tornar<br />

eficaz contra terceiro.<br />

Existe no argumento urn soilsma<br />

sail, mas, nem por isto, menos<br />

evidente. 0 problema que se<br />

pee 6 exatamente o inverso. NAo<br />

se trata de saber se o neg6clo 6<br />

eficaz em face de terceiro, pela<br />

ausencia de registro, mas, sim,<br />

se terceiro, em virtude de lei<br />

nova, pode desconstituir ato<br />

juridico perfeito e acabado, ou<br />

tome-10 ineficaz, entre as partes<br />

que nele se vincularam an<br />

mente sob o imperio da lei antiti- ga.<br />

A regra da não prevalencia do<br />

ato ern face de terceiros, pela ausencia<br />

do registrn, pressupee o<br />

conflito de . atos juridicos sob o<br />

imperio da mesma lei. Então,<br />

sim, se afirma, corn razed, que,<br />

por exemplo, na bip6tese da venda<br />

do mesmo bem a pessoas diversas,<br />

ern atos distlntos, prevalece<br />

aquela que for registrada<br />

ern primeiro lugar. Os negOcios<br />

se realizaram sob a mesma lei.<br />

0 de que aqui se cuida, por m,<br />

e de hipetese inteiramente diversa,<br />

nitidamente de (Unit° intertemporal.<br />

A Unica indagaceo que<br />

cumpre fazer 6 esta: Sob a lei antiga,<br />

segundo a qual se efetivou o<br />

compromisso, poderiam os locatArlos,<br />

estranhos ao negOcio,<br />

torna-lo ineficaz A revelia das<br />

partes, pelo simples fato da inexistencia<br />

do registro? E este,<br />

acaso, entre as mesmas partes,<br />

seria elemento indispensavel Para<br />

a constitulcAo e perfeigão da<br />

eficacia do contrato?<br />

A resposta negativa se impee<br />

corn evidencia solar.


Estamos, portanto, em presenca<br />

de um ato juridic° perfeito e<br />

acabado, gerador Inequivoco de<br />

(Unitas adqulridos, plenamente<br />

eficazes segundo a lei antiga, e<br />

que, portanto, deve permanecer<br />

ao abrigo de ataques da lei nova,<br />

por imperativo coristitucional.<br />

Pouco importa que esses ataques<br />

se apresentem sob qualquer<br />

forma desconstitutiva, seta a<br />

abolictio do negacio juridic° pure<br />

e simples, seta a criacflo de Wren*<br />

real em favor de terceiro.<br />

Em ambas as hipoteses, haverA<br />

tentativa de supressAo de uma situacAo<br />

Juridica concreta, definitivamente<br />

constitulda sob a lei antiga,<br />

o que 6 positivamente vedado<br />

pela ordem constitucional.<br />

Para o dlreito transitario, nestas<br />

circunst.9ncias, nAo cabe nenhuma<br />

prioridade para os diretos<br />

reels em face dos pessoals,<br />

ou vice-versa. Ambos merecem<br />

igual protecAo, em confrontoctuis<br />

com os outros, se constltuldos<br />

sob imperil) da lei anterior.<br />

Bonnecase, a este respelto, innate<br />

com magistral argUcla:<br />

«A plus forte raison, si Von<br />

pent dire, notre criterium<br />

exigent-11 is respect de taus les<br />

dross patrimonitux, aussi Men<br />

des droits reels que des droits de<br />

creance nes sous l'empire de la<br />

legislation ancienne.<br />

«Si tine obligation a aPParu<br />

sous l'empire de la loi ancienne,<br />

du fait de la mise en fonctionnement<br />

d'une source d'obligations<br />

consacrite para celles-ci, cette<br />

obligation subsistera avec les carattans<br />

et les consequences qul<br />

lui attribuaft la loi ancierme».<br />

(Ob. cit., Wig. 264).<br />

R.T.J. — 94 241<br />

A tese da prioridade dos dlreltos<br />

reais criados por lel nova sabre<br />

os direitos pessoais adqulrldos<br />

sob lei antiga surglu na<br />

Franca, em meados do seculo<br />

passado, por obra de Chabot de<br />

L'Alller, e encontrou eco, ate, em<br />

Roubier, em hipatese anAloga de<br />

criacilo de direito real em favor<br />

do locatarlo, na primeira edict)<br />

de seu livro Les Conflits de Lois<br />

dens le Temps (2? vol., pAgs. 1<br />

e 189), surgida em 1933.<br />

A °pinta° de Chabot, contudo,<br />

foi amplamente refutada por<br />

Bonnecase (ob. cit.,. pAgs. 109 e<br />

), e Roulner ellminou da segunda<br />

elleAo de sua obra a passagem<br />

referida (V. edicflo de<br />

1960, pAgs. 191 e segs.).<br />

Acontece que, em Franca, pelo<br />

menos na etioca em que tai tese<br />

fol sustentada, o principio do<br />

respeito aos direitos adguiridos<br />

possuia assento, nAo constitucional,<br />

mas meramente legal, inscrito<br />

no art. 2? do ardigo Civil,<br />

tAo somente.<br />

Outra e a sftuagflo no Brasil,<br />

onde esta regra basica emana da<br />

Constitute-So, que tutela de modo<br />

pereinptario, contra as intrusoes<br />

da lel nova, o ato juridic() perfeito<br />

e os direitos adqulridos sewdo<br />

a lei anterior, a todos ales, sejam<br />

quals forem, sem distingullos<br />

pela natureza pessoal ou<br />

real.»<br />

Em face do 5 3? do artigo 153 da<br />

Constituicilo, que nAo In qualquer<br />

Wirth:Tao em matkria de ato juridic°<br />

perfelto e de dingo adquirido, e indubitivel<br />

que o contrato valid() entre<br />

as partes 6 ato juridic° perfeito, dele<br />

decorrendo, pare tuna ou para ambas,<br />

(Arenas adqulridos. Se lei posterior<br />

aria pare terceiro dingo sobre


242<br />

R.T.J. — 94<br />

o objeto do contrato e oponivel a ambas<br />

as partes contratantes, nAo pode<br />

ela. sob pena de alcancar o ato<br />

juridic() perfeito e o direito adquirido<br />

entre as partes, ser aplicada a contratos<br />

validamente celebrados antes<br />

de sua vigOncia. Para esse efeito,<br />

pouco importa que o contrato, quando<br />

celebrado, tivesse, ou tido, sido<br />

insult° em registro pUblico para<br />

ser, ou nAo. eficaz perante terceiros<br />

Basta que se atente para o seguinte<br />

exemplo: duas pessoas celebram urn<br />

contrato que a licit° no momento de<br />

sua formacão; posteriormente, a promulgada<br />

lei que torna 'licit° tal contrato,<br />

podendo, portanto, sua nulidade<br />

ser invocada por qualquer interessado;<br />

havern quem sustente que<br />

esse contrato nAo estA fora do campo<br />

de aplicacAo da lei nova por se tratar<br />

de ato juridic() perfeito, independentemente<br />

de ter sido, ou nAo, levado<br />

a registro prIblico para ser eficaz<br />

perante terceiros? Parece evidente<br />

que nAo, e muito menos - se se admitisse<br />

o contrArio — que se pretendesse<br />

que o terceiro s6 poderia<br />

impugnA-lo, por nulo, se, quando ele<br />

era vAlido, nAo tivesse sido levado a<br />

inscricAo em registro pUblico.<br />

Observo, finalmente, que a validade<br />

da promessa entre as partes —<br />

inclusive no tocante A data da celebracAo<br />

— nAo foi impugnada sequer<br />

corn a alegavAo de simulacAo parcial.<br />

4. Em face do exposto, e corn a devida<br />

venia do eminente relator, co-<br />

nheco do rem's() e lhe dou provimento,<br />

para julgar improcedente a<br />

acAo, invertidos os Onus da swumbencia,<br />

inclusive quanto a honornrios<br />

de advogado.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Mad flick) (Presidente):<br />

— 'rive dtvida de 'nicks,<br />

mas, diante do esclarecimento trazido,<br />

agora, pelo eminente Ministro<br />

Moreira Alves em relacAo ao segundo<br />

ponto do recurso, tambern peso<br />

yenta ao eminente Relator para, conhecendo<br />

do recurso, dar-lhe pros*.<br />

mento.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 85.049 — RS — Rel. Min Decio<br />

Miranda. Recte.: Eliseo Jose Mezzomo<br />

e outros (Advs.: Angela° A. Alquel<br />

e outros). Recdos.: Amelia Battaglin<br />

Sesti Deon Correa e outros.<br />

(Advs.: Jose Dutra e outros).<br />

DecisAo: Conhecido e provido, vencido<br />

o Relator.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

FalcAo. — Presentes A SessAo os Srs.<br />

Ministros Leith) de Abreu, Cordeiro<br />

Guerra, Moreira Alves e Decio Miranda.<br />

5? Subprocurador-Geral da<br />

Repfiblica, o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 18 de malo de 1979. —<br />

Hello Francisco Marques, Secreted°.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 85.127 — RJ<br />

(Prlmeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Soares Mufroz.<br />

Recorrente: Antonio Gomes de Andrade — Recorrido: Rede Ferroviaria<br />

Federal S/A — Sistema Reg. Centro.<br />

— Morte de menor que calu do trem onde viajava. Na indenizacAo<br />

concedida aos pals, pelo prejuizo presumivel decorrente da morte<br />

de Mho menor, esti incluido o ressarcimento do dano moral resultante<br />

do mesmo fato.


ACORDAO<br />

Vistos.<br />

Acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Primeira Parma,<br />

a unanimidade de votos, e na<br />

conformidade das notas taquigraficas,<br />

conhecer do recurso em parte e<br />

negar-lhe provimento.<br />

Brasilia, 3 de abrll de 1979. —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Soares Muaoz, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Soares Mutloz: Em<br />

ace° de indenizaceo pgla morte de<br />

menor, que call/ do trem onde viajava,<br />

a Qulnta Camara Civil do Tribunal<br />

de Alcada do Estado do Rio de<br />

Janeiro deu provimento, em parte,<br />

as apelacties do pal da vitima e da<br />

transportadora, para que sejam<br />

atuallzadas as peristles vencidas, ate<br />

a data da execucão e para que as referidas<br />

penges integrem a honoráits<br />

advocaticios, e a Elm de que se<br />

reduza a verba relative a luto e funeral<br />

a um salerio minim°.<br />

0 autor, inconformado, interpes<br />

recurso extraordinario pelas lefties a<br />

e d do permissivo constitucional,<br />

propugnando pela incluslio na indentzacao<br />

das verbas referentes ao ressarcimento<br />

do dano moral e a aquisicilo<br />

de jazigo.<br />

A irresignacao 101 admitida pela<br />

letra d.<br />

0 parecer da Procuradoria-Geral<br />

da Republica a pelo conhecimento<br />

parcial do recurso e, no merit°. pelo<br />

seu desprovimento, verbls:<br />

uRebela-se o recorrente contra o<br />

v. actirdlio impugnado (f. 11) na<br />

parte em que excluiu da condenacal°<br />

o ressarcimento do dano moral,<br />

sem contemplar, por outro lado,<br />

qualquer verba para as despesas<br />

relatives a jazigo perpttuo.<br />

R.T.J. — 94<br />

243<br />

Quanto a este Ultimo ponto,<br />

parece-nos manifestamente improcedente<br />

a irresignacao derradeira,<br />

pots nAo culdou o aresto hostilizado<br />

do tema, tambem nAo objeto de<br />

prequestionarnento por via dos<br />

cabivels embargos declaratorios<br />

Stunulas 282 e 356).<br />

Por 1st% nflo ha falar em divergencia<br />

a respelto de matkria nAo<br />

ventilada pela declsAo recorrida.<br />

No pertinente ao dano moral, temos<br />

por devidamente caracterizado<br />

o divercio exegetico, a recomendar<br />

o conhecimento parietal do apelo<br />

extremo.<br />

No merits), imp6e-se, contudo,<br />

desprove-lo, porquanto, embora<br />

vaellante, tem a <strong>jurisprudencia</strong> se<br />

firmado no sentido de somente admitir<br />

a ressarcibilidade do dano<br />

moral quando hair% produzido danos<br />

materials, com reflexos Patri monlais. Se o dano 6 apenas moral,<br />

ag o ha o que ressarcir, exatamente<br />

porque inindenizavel a dor moral.<br />

No caso. morta a vitima. seus beneficifirlos<br />

foram contemplados Delo<br />

acerciao corn a indenizacalo jul-<br />

gada devida, em face dos efeitos<br />

p atrimonials do evento. Inexiste,<br />

portanto, qualquer outro ressarcimento<br />

a reclamar.<br />

Parecer, pots, pelo conhecimento<br />

parcial do remises e, no merit°, D elo<br />

seu desprovimento» (fls. 153 e<br />

154).<br />

to relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Soares Afulloz (Relator):<br />

Aceito a solucao proposta ao<br />

Parecer.<br />

Com efelto, o actordlio nAo culdou<br />

da questa° atinente a qualquer verba<br />

pare atender as despesas corn a<br />

aquisiclio ou construcao de jazigo<br />

perpetuo. Aplicam-se, pots, nesse<br />

parte da irresignaclio, as<br />

282 e 356.<br />

Semulas


244<br />

R.T.J. — 94<br />

No que concern a indenizacão por<br />

dano moral, embora exista a divergftncia<br />

<strong>jurisprudencia</strong>l indicada, a<br />

orientacão reiterada do Supremo<br />

Tribunal Federal foi muito bem exposta<br />

em voto do eminente Ministro<br />

Bilac Pinto, adotado por esta Turma,<br />

no RE 83.873, relatado pelo eminente<br />

Ministro Eloy da Rocha:<br />

«A construflo <strong>jurisprudencia</strong>l<br />

do Supremo Tribunal Federal, no<br />

sentido da indenizacäo pela morte<br />

de filhos menores, em decor-<br />

/tido de ato ilicito, inspirou-se<br />

no principio de reparacão de dano<br />

moral (RE 50.940, in RTJ<br />

39/3; RE.111, in RTJ 41/844; RE<br />

65.281, In RTJ 47/279; RE 64.711,<br />

In RTJ 56/783).<br />

2, pode-se dizer, uma forma<br />

obllqua de se atingir a reparacão<br />

do dano moral, dadas as reaches<br />

que suscita o pleno reconhecimento<br />

do Institut°.<br />

que nao 6, entretanto,<br />

possivel 6 que se acrescente A reparaflo,<br />

que, por meios indiretos<br />

compensa aquele dano, nova ver-<br />

ba, a titulo de reparacAo de dano<br />

moral» (RTJ 82/546 e 549)».<br />

Ante o exposto, conheco em parte<br />

o recurso extraordinArio e lhe nego<br />

provimento.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 85.127 — RJ — Rel. Min. Soares<br />

Mufioz. Recte. Antonio Gomes de<br />

Andrade (Adv. Paulo Roberto SIqueira).<br />

R ecdo. Rede FerroviAria<br />

Federal S/A — Sisterfta Reg. Centro<br />

(Adv.: Arnaldo Acioli de Oliveira).<br />

Decisao: Conhecido parcialmente,<br />

mas lhe negado provimento nos termos<br />

do voto do Ministro Relator,<br />

unänime.<br />

Presidftncia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a sesski<br />

os Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto, Soares Muftoz<br />

e Rafael Mayer. — 2•<br />

Subprocurador-Geral da Repfiblica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 3 de abril de 1979 —<br />

Antonio Carlos de Azevedo, Secrethrio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 85.461 —RJ<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Decio Miranda.<br />

Recorrente: Estado do Rio de Janeiro — Recorridos : Antonio Alves Ferreira<br />

Filho e outro.<br />

OrganizacAo JudiciAria. Serventias nfto oficializada s, no Estado<br />

do Rio de Janeiro. Limite a percepcäo de renda liquida, estabelecido<br />

pela Lei Estadual n? 2.013, de 1-12-1971. Contraried ade a explicita ressalvo<br />

da Constituicäo Estadual. Precedente do RE 86.100, julgado no<br />

Pleno de 26-3-80.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Sessäo<br />

PlenAria, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e das notas taquigrAficas,<br />

por maioria de votos, näo se conhecer<br />

do recurso.<br />

Brasilia, 9 de abril de 1980 —<br />

Xavier de Albuquerque, Presidente<br />

— Decio Miranda, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda —<br />

Anthill° Alves Ferreira Filho e nsio


Alves Ferreira, respectivamente Tabeliflo<br />

do 4? Oficio de Notas e 1? Partidor<br />

da Justice do antigo Estado da<br />

Guanabara, serventias nAo remuneradas<br />

pelos cofres pablicos, moveram<br />

acAo ao referldo Estado para<br />

obter declaracAo de WO lhes serem<br />

aplicAvels o art. 42, e respectivo paregret°<br />

ludas, da Lel Estadual n?<br />

2.085-A, de 5-9-72, segundo os quais<br />

os titulares das serventias, °tidos ou<br />

carterios não oficializados nAo poderAo<br />

auferir mensalmente como renda<br />

liquida importAncla superior ao<br />

'Amite a que se refere o art. 11 da Lel<br />

Estadual n? 2.013, de 1-12-1971, devendo<br />

o eventual excesso apurado na<br />

renda liquida ser recolhido aos cofres<br />

estaduais ate o die 31 de marco<br />

do exercicio subseqÜente ao vencido.<br />

Fol a evil° julgada procedente por<br />

sentence do Juiz Jorge de Miranda<br />

MagalhAes e confirmada esta pela 3?<br />

Camara Civel do Tribunal de Justice,<br />

em acOrdlto de que fol relator o<br />

saudoso Desembargador Paulo Aronso,<br />

corn a seguinte ementa:<br />

tacit° declaratOria. E cabivel<br />

pare declarer a existencia ou inexistencia<br />

de relacAo juridica, ou<br />

seta de um direito litigioso, e bem<br />

assim sua extensAo. Nunca se entendeu<br />

que a regra do art. 196, da<br />

Emenda Constitucional n? 1, que<br />

veda a particlpavAo de servidores<br />

pilblicos no produto da arrecadacilo<br />

de tributos e multas, atingisse<br />

regime de custas auferidas por<br />

serventuftrios de Justice. Os titulares<br />

e serventuttrios de Justice tem<br />

direito adquirldo reconhecido de<br />

repelirem a oficializacAo e a remuneracAo<br />

estatutaria que the limbs<br />

art. 42 e seu parAgrafo fmico, da<br />

lei estadual n? 2.085-A, de 5 de setembro<br />

de 1972. Sentence confirmada,<br />

corn apolo inclusive no parecer<br />

de Procuradoria-Geral da<br />

Justice.), (fl. 116).<br />

Recorre o Estado do Rio de Janeiro,<br />

coin fundamento no art. 119. III,<br />

a, da ConstituicAo Federal, /*legend°<br />

R.T.J. — 94 245<br />

terem sido contrariados os arts. 196<br />

e 153, 3?, da referida Carta. (fls.<br />

122-133).<br />

Admitlu o recurso o Presidente<br />

Luis Antonio de Andrade. (fls. 146-8).<br />

A Procuradoria-Geral da Republica,<br />

em parecer do Procurador Humberto<br />

Agricola Barbi, aprovado pelo<br />

Subprocurador-Geral Joaquim Justino<br />

Ribeiro, dicta pelo não conhecimento<br />

do recurso, (fls. 170-2).<br />

E o relatbrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda (Relator):<br />

Na sessAo plenAria de 26 de<br />

marco findo, decldlu o Tribunal caso<br />

Mende° a este, no RE 86.100.<br />

Sendo Relator o eminente Ministro<br />

Cordeiro Guerra, o Tribunal não conheceu<br />

do recurso do Estado do Rio<br />

de Janeiro, vencido o nil° menos<br />

eminente. Ministro Xavier de Albuquerque,<br />

que ora preside a sessão<br />

deste julgamento.<br />

Reiterando a manifestactio do vote<br />

que entAo proferi, e atento a conclusAo<br />

entAo adotada, nao conheco do<br />

presente recurso.<br />

E meu vote.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque (Presidente): Peg° licence<br />

para divergir, mantendo o veto<br />

que proferi no RE 86.100. Entendo<br />

haver sido ferido o art. 153, 3?, da<br />

Constituictio, ao dar o acOrdão recorrido<br />

por configured° o direito adquirido,<br />

que, a meu ver, 6 inexistente.<br />

Assim, conheco do recurso e the<br />

dou provimento.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE. 85.461 — R.7 — Rel.: Min. Dedo<br />

Miranda. Recte.: Estado do Rio<br />

de Janeiro. (Adv.: Ricardo Cesar Pe-


246<br />

reira Lira). Recdo.: Anthill° Alves<br />

Ferreira Fllho e outro. (Advs.: Josè<br />

Guilherme Villela, Jose de Agular<br />

Dias e outro).<br />

Decisão: NAo se conheceu do recurso,<br />

vencido o Ministro Xavier de<br />

Albuquerque que dele conhecia e the<br />

dava provimento. Ausente, ocasionalmente,<br />

o Sr. Min. Antonio Neder<br />

— Presidente. PresidAncia do Sr.<br />

Min. Xavier de Albuquerque. Falou<br />

pelos Recdos. o Dr. Jose Guilherme<br />

ViBela. Impedido o Sr. Ministro Moreira<br />

Alves.<br />

R.T.J. — 94<br />

Presidencia do Senhor Ministro<br />

Xavier de Albuquerque. Presentes A<br />

sessAo os senhores Ministros Mac!<br />

Feick', Thompson Flores, Cordeiro<br />

Guerra, Moreira Alves, Cunha Peixoto,<br />

Soares Mufioz, Decio Miranda<br />

e Rafael Mayer. Ausente, ocasionalmente,<br />

o Sr. Mn. Antonio Neder —<br />

Presidente. Ausente, licenciado, o<br />

Sr. Min. LeitAo de Abreu. Procurador-Geral<br />

da Republica, Dr. Firmino<br />

Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 9 de abril de 1980. —<br />

Alberto Veronese Aguiar, SecretArlo.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 85.732 — SP<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro LeitAo de Abreu.<br />

Recorrentes: Carmelo Paoletti e outros — Recorrido: Prefeito Municipal<br />

de Jundiai e o Municiptd..<br />

Imposto territorial urbano e predial. AlteracAo do valor venal do<br />

inthvel, que nAo o decorrente de correcAo monetAria, medtante decreto.<br />

Impossibllidade, por depender de lei (R.E. 87.763). Recurso ex-<br />

traordinftrio conhecido e provido.<br />

AcORnAo<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade corn a ata<br />

de julgamentos e notas taquigraficas,<br />

em conhecer do recurso e the<br />

dar provimento, unanimemente.<br />

Brasilia, 19 de outubro de 1979. —<br />

Mac! Feick), Presidente — LeitAo<br />

de Abreu, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro LeitAo de Abreu: 0<br />

acOrdAo recorrido tem o seguinte<br />

teor: «Trata-se de seguranca impetrada<br />

contra o Sr. Prefeito de Jundiai,<br />

insurgindo-se os impetrantes, contribuintes<br />

do imposto territorial urbane,<br />

contra o excessive aumento<br />

dos tributos, sustentando a Began-<br />

dade do Decreto Municipal 2.601,<br />

de 26-9-73, que majorou abusivamente<br />

a base de cAlculo dos tributos<br />

predial urban e territorial urbane.<br />

«0 douto Juiz concedeu a seguranca<br />

fundado em que, pelo decreto<br />

atacado, a Prefeitura revalorizara<br />

imeveis em ate 3.000% sem<br />

qualquer interferencia legisferante,<br />

quando o indite de correcAo sobre<br />

o ano de 1973 era de 16%.<br />

Houve aumento de tributos sem<br />

reserva em lei (art. 153, § 29, da C.<br />

Federal), devendo entender-se a<br />

expressAo raatualizacAo do valor<br />

monetArio da respective base de<br />

cAlculo" do artigo 97, § 2?, do CTN,<br />

como correcAo monetAria.<br />

«Mas, data venia, não adotou o<br />

llustre Juiz a melhor orientacAo.<br />

Como tern sido proclamado ern<br />

intImeros Julgados desta Corte, re-


clamam sem razao, a propesito do<br />

assunto, os contribuintes de Jundial.<br />

«Com o Decreto 2.601, de 26-9-73,<br />

relativo a planta de valores imobiliarlos<br />

para ser aplicada no lancamento<br />

dos impostos devidos no<br />

exercicio fiscal seguinte, comportou-se<br />

o Sr. Prefeito Municipal<br />

de Jundial nos estritos termos<br />

da legalidade. Essa era a sua<br />

obrigacao nos termos do artigo 138<br />

do °Wig° Tributario Municipal, e<br />

sem vinculacito ou dependencia da<br />

Camara Municipal da localidade.<br />

E nao exorbitou dos limites legais<br />

porque, na revalorizactio dos int&<br />

vets, tenha superado os indices de<br />

correcão monetaria. 0 que a Constituleão<br />

prolbe 6 que se exija ou<br />

aumente tributo sem que a lei o estabeleca.<br />

Mas nao constitui majorack,<br />

como estabelece o C6digo<br />

Tributario Nacional, "a atualizacao<br />

do valor monetario da respectiva<br />

base de calculo" (art. 97,<br />

2?), que tot o que ocorreu. E nem<br />

ha rubes para submeter-se o conceito<br />

de tal atualizacäo aos indices<br />

de correcao monetaria, mesmo<br />

porque as causas dos desajustes<br />

acaso existences podem ser diversas<br />

e mats ou menos antigas. Bastam<br />

razbes relevantes, como, por<br />

exempt°, o total desajuste anterior<br />

aos valores vents dos terrenos ou<br />

das edificacties, causa justificativa<br />

de uma elevada diferenca. Alias,<br />

nesse Ultimo aspecto nao h9 reclamacees,<br />

e nem tilts impugnactoes<br />

mereceriam conhecimento no Ambito<br />

estrito da seguranca, tocando<br />

ao procedimento comum a verificacao<br />

de eventuais abusos na fixaea°<br />

dos valores.<br />

«A seguranca, em suma, náo<br />

procedla, e nao devia ter sido concedida,<br />

razAo porque, providos os<br />

recursos, fica a mesma cassada,<br />

corn as custas pelos impetrantes»<br />

(fls. 225-227).<br />

R.T.J. — 94 297<br />

recurso extraordinario tern por<br />

contrariados os artigos 18, 2?, 19 e<br />

seu inciso I e 153, { 29, da Constituieao<br />

e por negada a viancia do artigo<br />

97, inclsos II e IV, if 1? e 2?, do<br />

UMW° Tributario Nacional.<br />

A Procuradoria-Geral da RepUblica<br />

6 contraria ao conhecimento do<br />

recurso.<br />

2 o relatbrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Leta° de Abreu<br />

(Relator): A questa° fundamental,<br />

em debate nos autos, diz respeito<br />

interpretactto do I 2? do artigo 97 do<br />

CTN, onde se estatui nao constituir<br />

majoractio de tributo, para os fins do<br />

disposto no inciso II, desse artigo, a<br />

atualizacao do valor monetario da<br />

respectiva base de calculo. No actirdilo<br />

recorrido se sustenta que o Prefeito<br />

Municipal nao exorbitou dos<br />

mites legais ao ter, na revalorizacao<br />

dos imbvels, superado os indices de<br />

convert° monettula. Nem ha razbes<br />

— acrescenta — para submeter-se o<br />

conceito da atualizaeão, p<strong>revista</strong> no<br />

artigo 97, f 2?, aos indices de correeao<br />

monetaria, mesmo porque as<br />

causas dos desajustes acaso existentes<br />

podem ser diversas e mats, ou<br />

menos, antigas. Essa hermenbutica<br />

esta em desacordo, todavia, corn a<br />

que Agora no Supremo Tribunal.<br />

Em julgamento recente, relator o<br />

eminente Ministro MorMra Alves,<br />

estabeleceu-se que co I 2? do artigo<br />

97 do UMW Tributario Nacional diz<br />

respeito, somente, a correcAo monetaria<br />

do valor venal do imOvel (base<br />

de calculo do imposto predial), nao<br />

alcancando a reavaliactlo mesma<br />

(reavaliacão econ0mica) desse valor<br />

venal». Assentou-se nessa decisAo,<br />

tomada pelo Tribunal Pleno, que para<br />

use atribuir outro valor venal ao<br />

imOvel, que nito o decorrente do anterior<br />

mats a correcao monetaria,<br />

mister lei, nä° bastando, para isso,<br />

simples decreto» (RE 87.763).


248<br />

Como tentro, tambêm, essa interpretacao<br />

como correta (nAo participei<br />

do citado julgamento), conheco<br />

do recurso e The dou provimento, Para<br />

restabelecer a sentenca, que concedeu<br />

a seguranca.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 85.732 — SP — Rel.: Min. Leltao<br />

de Abreu. Rectes.: Carmelo Paoletti<br />

e outros (Adv.: Baslleu Garcia,<br />

Meyer Ben Herman e outro). Recdo:<br />

Prefeito Municipal de Jundiai e o<br />

Municipio (Advs.: Ulla Marisa<br />

Prendes e outro).<br />

R.T.J. — 94<br />

Decisäo: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator.<br />

UnAnime.<br />

Presidancia do Sr. Ministro 'Arid<br />

FalcAo. — Presentes A sessao os Srs.<br />

Ministros Leila° de Abreu, Moreira<br />

Alves e Decio Miranda. Ausente,<br />

justificadamente, o Sr. Min. Cordeiro<br />

Guerra. Subprocurador-Geral da<br />

Repablica, o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 19 de outubro de 1979: —<br />

Hello Francisco Marques, SecretArio.<br />

FtECURSO EXTRAORDINARIO CRIMINAL N? 86.209 — SP<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Soares Munoz.<br />

Recorrente: Ministério Pllblico Estadual — Recorrido: Daniel Coelho.<br />

Medida de seguranca. Recurs() do Minister%)lico visando a<br />

ampliar o prazo minimo de nuractio da medida de seguranca. Legitimo<br />

interesse do recorrente.<br />

Actordtio que dissentiu frontalmente da jurisprudOncia do Supremo<br />

Tribunal Federal, no concernente ao termo !racial do prazo de<br />

dna) anos, ap6s o qual cessa a presun cno legal de periculosidade.<br />

— Recurso extraordinArio conhecido e provido, Para o efeito de<br />

restaurar a sentenca de primeira instAncia, que aplicou ao sentenciado<br />

a medida de seguranca correspondente a reinciancla em crime<br />

doloso (internacão por dois anos no minimo) e conseqiiente reforma<br />

do acOrdlio que reduzira 0 prazo pant urn ano, referente A periculosidade<br />

real.<br />

ACORDAO<br />

RELATORIO<br />

Vistos,<br />

Acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Primeira Turma,<br />

a unanimidade de votos, e na<br />

conformidade das notas taquigraficas,<br />

conhecer do recurso e dar-lhe<br />

provimento.<br />

Brasilia, 27 de marco de 1979 —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Soares Munoz, Relator.<br />

0 Sr. Ministro Soares Munoz: 0<br />

Dr. Procurador-Geral da Justica do<br />

Estado de Sao Paulo interpOs recurso<br />

extraordinArio, com Micro na letra<br />

d do permissive constitucional,<br />

contra o acOrdAO do Tribunal de Alcada<br />

Criminal que, nAo obstante haver<br />

reconhecido Daniel Coelho reincidente<br />

em crime doloso, cancelou a<br />

medida de seguranca p<strong>revista</strong> no<br />

art. 93, inciso I, do COdigo Penal,<br />

substituindo-a pela modalidade me-


R.T.J. — 94 249<br />

nos severe p<strong>revista</strong> no art. 93, inciso<br />

H, alinea a, do mesmo estatuto. Para<br />

chegar a essa conclusão, o acer-<br />

WI° considerou vencido o prazo do<br />

art. 78, § 1?, do estatuto repressivo.<br />

Entretanto, esse entendimento,<br />

alega o recorrente, discrepa da jurisprudAncia<br />

do Supremo Tribunal<br />

Federal, que, apreciando hipoteses<br />

semelhantes, tern decidido que «o<br />

prazo de cinco anos, contido no § 1?<br />

do do Art. 78 do C6digo Penal tern<br />

seu termo inicial no dia em que<br />

agente se tornou reincidente (RR<br />

EE 78.776, 78.562, 78.334, 79.566,<br />

78.884, 78.976, 77.318, 77.317, 77.049,<br />

77.491, 77.146, 76.880, 77.490. 77.198,<br />

78.774, 79.468)".<br />

0 recurso extraordinario nao foi<br />

admitido pelo Presidente do Tribunal<br />

de Alcada Criminal, sob o ftmdamento<br />

de que o ac6rdAo desvlou-se<br />

das antes movedicas consubstanciadas<br />

naquela conceituacao de periculosidade<br />

pare firmar-se em °titre<br />

posiclio, tendo por base a periculosidade<br />

real, cuja estrutura reconheceu<br />

nos elementos objetivos do processo.<br />

Nessas condictles, conch!' o despacho<br />

denegaterio do recurso extraordined°.<br />

«0 colendo Supremo Tribunal<br />

Federal nao seria chamado para<br />

defender a vigancia das leis da<br />

Uniao, nem, tampouco, teria por<br />

funcao o equlllbrio Jurisprudencial,<br />

mas ser-lhe-ia cometido, contrariando<br />

os principios federativos,<br />

nos gnats estamos politicamente<br />

organizados, um reexame de mento<br />

naquele julgamento» (fls. 118).<br />

Interposto agravo de instrumento,<br />

foi ele provido e determined° o processamento<br />

da inconformidade derradeira,<br />

pare melhor exame.<br />

«0 recurso, apoiado na tetra d do<br />

permissivo constitucional visa exclusivamente<br />

, em sintese, emptier<br />

de um para dois anos o tempo de<br />

duracAo da mediae de seguranca<br />

imposta ao recorrido. 0 Tribunal<br />

substituiu a medida do art. 93,<br />

I, pela do art. 93, II, a, corn o que<br />

nao se conforma o Ministerio PUblico,<br />

pretendendo o restabelecimento<br />

da que fora imposta na sentence.<br />

0 recurso 6 data venla, meramente<br />

academic°. Diante do dispost°<br />

no art. 81 do CP, "nao se revoga<br />

medida de seguranca pessoal,<br />

enquanto nao se verifica, mediante<br />

exame do individuo, que este delxou<br />

de ser perigoso, «Sendo, pots, o<br />

prazo fixado para a medida o<br />

minim° de sua duraclio, s6 cessando<br />

apes verIfIca rao da cessacklo da<br />

periculosidade, das duas uma:<br />

ou o reu continua perigeso e,<br />

nesse caso, perrnanecera internedo<br />

pelo tempo que for preciso;<br />

ou o reu delxou de ser pert.<br />

goso, conforme se contatar em<br />

exame regular, e, entAo, nao tern<br />

por amor a pura forma,<br />

emptier, apesar disso, o prazo<br />

de sua permanencia no estabelecimento<br />

penal, apenas ern virtude<br />

de medida de seguranca que<br />

perdeu a razAo de ser.<br />

Acrescente-se a law que jurisprudancia<br />

referida no recurso este<br />

superada pela supervenMncia da<br />

Lei n? 6.416/n que de outro tratemento<br />

ao termo inicial do prazo de<br />

cinco anos apOs o qual cessa a presunceo<br />

legal de perlculosidade<br />

(RECr. 88.136, Rel.: Mht. Decio Miranda,<br />

DJ 23/2/79)» (fls. 133-134).<br />

E o relaterio.<br />

parecer do !lustre Dr. Francisco<br />

de Assts Toledo, 2? Subprocurador-<br />

Geral da Reptiblica, opine pelo nao<br />

conheciment0 do recurso extraordinario<br />

verb's:<br />

VOTO<br />

0 Sr. Mlnlstro Soares Mufloz (Relator):<br />

Para reduzir o prazo minim°<br />

da medida de seguranca, de dois<br />

anos para urn ano, o acardao recor-


250<br />

O exame previsto no 1? do mencionado<br />

art. 81 procede-se "ao fim<br />

do prazo minim° fixado pela lei para<br />

a medida de seguranca"• Por essa<br />

re:gra, o sentenciado permanece internado<br />

durante o prazo minimo da<br />

medida de seguranca, realizando-se<br />

o exame uma vez atingido o respectivo<br />

termini). Nat) afasta o interesse<br />

recursal o disposto no inciso III, que<br />

preve o exame, em qualquer tempo,<br />

porque essa hipOtese, por configurar<br />

excecAo Aguela regra, pressuPee expressa<br />

determinacAo da superior instAncia.<br />

No mesmo sentido, dispeem<br />

os artigos 775 e 777 do C6digo de Processo<br />

Penal.<br />

— 94<br />

Nelson Hungria, comentando o art.<br />

rido apresenta a seguinte fundamen- 81 do COdigo Penal, observa:<br />

tacAo:<br />

«A medida de seguranca, cabivel «Condicionada a persistente peri-<br />

aos olhos das correntes rigida e inculosidade subjetiva, a medida de<br />

termediAria, 6 indevida segundo 0 seguranca pessoal, necessariamen-<br />

entendimento da "4! corrente" e te indeterminada quanto a sua du-<br />

da liberal (RT 389/303) (cf. fls. 38 racAo (salvo quanto ao minim°<br />

v°). Todavia, dellnquindo em concurso<br />

e a mAo armada, eviden-<br />

prefixado segundo criterio meraclou<br />

o apelante periculosidade real<br />

mente politico), deve ser, logicamente,<br />

revogada, cessando sua<br />

e o inteiro cabimento da medida de execucAo, com a superveniente<br />

seguranca do art. 93, II, a, do COdi- cessacão dessa periculosidade»<br />

go Penal» (fls. 108).<br />

(Coment. ao COdlgo Penal, V, III,<br />

verifica-se, pots, que a decisAo di- p. 121).<br />

vergiu frontalmente da <strong>jurisprudencia</strong><br />

reiterada do Supremo Tribunal<br />

Federal indicada pelo recorrente,<br />

E Espinola Fllho, em anotacão aos<br />

deixando de reconhecer, no caso, a<br />

arts. 775 e 777 do aidlgo de Processo<br />

presuncAo de periculosidade decor-<br />

Penal, perfllha a mesma doutrina,<br />

rente da reincidencia em crime dolo-<br />

dizendo que o CAdigo Penal<br />

so e aplicando a medida de seguran- estabelecendo, como medida de<br />

ca correspondente A periculosidade<br />

prudencia, urn prazo minim° de<br />

duracAo das medidas de segOranca,<br />

real. adotou uma providencia destinada a<br />

aresto recorrido reduziu o prazo atenuar o rigor daquela determina-<br />

minim° de duracAo da medida de secAo, com o permitir que, em qualguranca<br />

de dots anos (art. 93, I, CP) quer tempo, possa ser, por decisão<br />

para um ano (art. 93, II, a); dat o in- do Tribunal Superior (o de apelacão<br />

teresse do Ministerio POblico na re- certamente), verificada a cessacAo<br />

forma da decisAo recorrida (art. 577, da periculosidade do individuo stilet-<br />

parfivafo co, do Cod. de Proc. to a medida de seguranca pessoal<br />

Penal). E nAo afasta esse interesse, (C6d de Proc. Penal Anotado, v. 7, p.<br />

transformando-o em meramente 582, It e 2! ed.).<br />

academico, o disposto no art. 81 do<br />

COdtgo Penal.<br />

Configurado o dissidlo <strong>jurisprudencia</strong>l<br />

e o legitimo interesse do MP<br />

nisterio POblico em obter a reforma<br />

do acerdão impugnado, conheco do<br />

recurso extraordinArio, para adotar<br />

a tese das decisees indicadas como<br />

paradigmas do Supremo Tribunal<br />

Federal.<br />

0 crime ocorreu no dia 17 de agosto<br />

de 1973 e a sentenca condenathria<br />

foi proferida a 8 de malo de 1975.<br />

NAo aprovelta ao sentenciado a Lei<br />

n? 6.416/77, promulgada depots da<br />

interposicAO do recurso extraordinArio,<br />

visto que o recorrido este preso<br />

e assim jA se encontrava quando da


tramitactio do processo, em conseqilencia<br />

de condenacão anterior (Cs.<br />

45v e 90v).<br />

Ante o exposto, conheco recurso<br />

extraordinitrio, para restaurar a sentenca<br />

de primeira instancla, no tocante<br />

a medida de seguranca.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 86.209 — SP — Rel.: Min. Soares<br />

Blutioz. Recte.: Ministerlo POblico<br />

Estadual. Recdo.: Daniel Coelho<br />

(Adv.: Junta Verna Ferreira de Souza).<br />

R.T.J. — 94<br />

251<br />

DecisAo: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator,<br />

unfinime.<br />

Presidencia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores,. Presentes a Sessilo<br />

os Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Pelxoto e Soares<br />

Mthioz. Ausente justificadamente o<br />

Sr. Ministro Rafael Mayer. — 2?<br />

Subprocurador-Geral da RepOblica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 27 de marco de 1979 —<br />

Antall° Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretirrio.<br />

RECURS() EXTRAORDINARIO N! 86.287 - DF<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Antonio Neder.<br />

Reeorrente: S. A. de Seguros Gerais Lloyd Industrial Sul American<br />

Reeorrida: Raimunda Alves Bezerra.<br />

Recurs() extraordiniirio em que se discute a lncidencia, no caso,<br />

do f 1! do art. 209 do C. Pr, Civil, de 1939, norma deilnida como<br />

sendo vulnerada pelo acOrdilo recorrido.<br />

Provimento<br />

ACORDA0<br />

Vistos e relatados estes autos de<br />

Recurso Extraordinario n? 86.287, do<br />

Distrito Federal, em que a recorrente<br />

S.A. de Seguros Gerais Lloyd Industrial<br />

Sul American, e recorrida<br />

Raimuhda Alves Bezerra, decide o<br />

Supremo Tribunal Federal, por sua<br />

Primeira Turma, unanimemente, conhecer<br />

do recurso e dar-lhe provimento,<br />

de acordo corn as notas juntas.<br />

Brasilia, 20 de malo de 1980.<br />

Antonio Neder, Presidente e Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Antonio Neder (Relator):<br />

I. Leto na fl. 64 o seguinte relathe°<br />

da sentenca:<br />

«Raimunda Alves Bezerra, brasileira,<br />

solteira, malor, domiciliada<br />

nesta Capital, propOs acáo ordina-<br />

ria contra Lloyd Industrial SW<br />

American, corn agencia nesta Capital,<br />

alegando que contratou corn<br />

a Re o seguro de velculo de sua<br />

p ropriedade, identificado na intcial,<br />

atraves da ap6lice n?<br />

112.400.138, contra riscos de coilsAo,<br />

incéndlo e routes, tendo efetuado<br />

oportunamente o pagamento do<br />

prémio. Em 23 de main de 1970,<br />

Franklin Vents dos Santos se apoderou<br />

da chave do velculo, sem<br />

p ermissilo da Autora, fato que esta<br />

imediatamente comunicou<br />

Policla; ato continuo, Franklin !anyou<br />

ma° do velculo da Autora e<br />

corn ele capotou, falecendo no acidente,<br />

ficando o automovel totalmente<br />

lnutlllzado. Negando-se a Re<br />

ao p agamento do valor da apOlice<br />

pede a Autora que seja a mesma<br />

condenada ao pagamento devido,<br />

instruindo a inicial corn os documentos<br />

de Cs. 5/18.


R.T.J. — 94<br />

252<br />

«Contestou S.A. de Seguros Ge- cluiu pela improceden cia da demanrais<br />

Lloyd Industrial Sul America- da.<br />

no suscitando preliminar de caren- 0 apelo da Autora mereceu provicia<br />

de acäo por inepcia da inicial, mento da Segunda Turma do eg. Coesteiada<br />

na ilegitimidade ativa e legio local, vencido urn dos nobres<br />

passiva para a causa e na inexis- Desembar gadores que a compOem.<br />

tencia de interesse legitimo para a 0 acerdao proferido no apelo foi<br />

propositura da aflo, por ter sido na o redigido corn esta ementa, fl. 98:<br />

seguro contratado corn<br />

«Acão ordinaria de cobranga.<br />

Vieira dos Santos, que, posterior- Recurso provido, para julgar pro-<br />

mente, vendeu o veiculo segurado cedente a acao. Sentenca do Juiz a<br />

corn reserva de dominio a Autora,<br />

Relatiam nte ao merit°, a Re<br />

quo fundada ern alegacäo exclusiaduziu<br />

v que e não e veridica a alegava<br />

da re, náo comprovada nos aucan<br />

de furto do veiculo, dado que tos, esquecendo-se o prolator da reefetivamente<br />

a Autora incorreu em<br />

gra contida no § 2? do art. 209 do<br />

falta contratual, pals o sinistro de-<br />

C6digo de Processo Civil.»<br />

correu de culpa grave ou dolo da Opostos embargos infringentes a<br />

Autora, ao permitir o uso do veicu- esse actordão, foram eles recebidos'<br />

lo por pessoa que nä° era legal- pela maioria dos nobres Desembarmente<br />

habilitada. A gratuita alega- gadores que os julgaram.<br />

cão de furto não pode bastar para Nesse julgamento a controversia<br />

obliterar a negligencia da Autora, restringiu-se a um ponto, qual seja 0<br />

razão pela qual, como tambem por de incidir, no caso, a regra do § 1? ou<br />

ao se achar provada a total inuti- 2° uma e outra do artigo 209 do<br />

lizacão do veiculo pediu a improce- C. Pr. Civil, de 1939, vigorante na<br />

dencia da acão.<br />

ocasiäo.<br />

«Em replica, argumentou a Au- Corn efeito, os Desembargadores<br />

tora corn a expressa mencáo de Meuren e Ribeiro, fls. 119/120 e 123,<br />

seu nome na apt:dice de seguro, sa- concluiram que a Autora alegou furlientando<br />

que o inquerito policial to de uso, que a Re negou esse furto,<br />

demonstrou que o terceiro vitima- e que a Autora devia provar o f ato<br />

do pelo acidente se apoderou do que alegou, tal como lhe imptutha na<br />

velculo, sem que a Autora pudesse ocasião o § 1? do art. 209 do C.Pr.Ci-<br />

evitar o fato.<br />

vil, de 1939.<br />

«Acudindo ao despacho de fls. 42 Os Desembargadores Fernandes,<br />

verso a Autora juntou o documen-<br />

fls. 93/94 e fl. 121, e Guerrera, fl. 121,<br />

to de fl. 45, sobre o qual se maim- acompanhados pelos dema s, afirfestou<br />

a Re (fl. 47). A objecao da maram, como razao decis6ria, que a<br />

Re, redargiiiu a Autora corn o do- Re devia provar o que alegou na<br />

cumento de fl. 50.<br />

contestagão, e que, por isso, a norma<br />

«0 despacho saneador (fl. 56) reguladora do caso era, na ocasião, §<br />

apreciou a materia preliminar e 2? do art. 209 do C.Pr.Civil de 1939.<br />

desprezou as objecOes da contesta- Eis o texto dos votos que profericão,<br />

dispensando a realizacão de ram os mencionados Juizes:... (w).<br />

pericia. II. Pelo recurso extraordinario que<br />

«Ern audiencia prestou depoi- deduziu nas fls. 130 e seguintes, a<br />

mento pessoal a Autora.» Re, seguradora vencida, sustenta<br />

Ao julgar o caso, considerou o Adz<br />

que o acerclao local vulnerou o § 1?<br />

de primeiro grau que a Autora desdo<br />

art. 209 do C. Pr. Civil, de 199, e<br />

cumpriu o contrato de seguro e conse<br />

acha ern divergencia corn os pa


adigmas que indicou em sua petipelas<br />

respectivas ementas, fls.<br />

136 e 137.<br />

Dlto recurso foi admitido e razoado<br />

nestes termos:<br />

III. E o relat6rio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Antonio Neder (Relator)<br />

I. Na verdade, o acOrdito<br />

pugnado questionou o dlrelto <strong>federal</strong><br />

inscrito no f 1? e no 2?, um e outro<br />

do art. 209 do C.Pr. Civil, de 1939.<br />

Sem dOvida, os Desembargadores<br />

Meuren e Ribeiro, fl. 119 e fl. 123,<br />

sustentaram que, na especte, e o referido<br />

f 1? que 'nettle, ao passo que<br />

os Desembargadores Fernandes, fl.<br />

93, fl. 121, e Guerrera, fl. 121, afirmaram<br />

que 6 o mencionado f 2? que<br />

incide.<br />

Portanto, foram questionadas pelo<br />

Tribunal a quo as matérias daquelas<br />

dues normas <strong>federal</strong>s.<br />

Qual delas 6 aplichvel ao caso,<br />

qual delas foi vulnerada?<br />

Na peticao inicialgou gMe a Autora<br />

que Franklin Vera Oo<br />

Santos furtou<br />

a chave do automOvel e passou a<br />

quando produziu a capotagem<br />

do carro e a sua danificac go, f. 3; e<br />

na contestano, a R6 sustentou que a<br />

Autora entregou o auto a Franklin,<br />

isto e, que este nil° furtou o carro.<br />

V6-se que a Autora alegou um tato,<br />

que e o furto do carro, e a Re negou<br />

ease tato.<br />

Se a Re negou o tato, claro 6 que a<br />

Autora devia provit-lo.<br />

o que the Impunha o entAo vigorante<br />

f 1? do art. 209 do C.Pr. Civil<br />

de 1939.<br />

Julgando, como julgou, que, na es-<br />

Stele, a Re devia provar o fato que<br />

ela negou em sua contestaetio, o<br />

acerdgo recorrido vulnerou o cltado<br />

1?.<br />

Para roborar este meu entendimento,<br />

taco a leitura do voto que, no<br />

Tribunal a quo, profertu o nobre De-<br />

— 94 253<br />

sembargador Eduardo Ribeiro, fls.<br />

123 e 124.<br />

aSenhor Presidente, data yenta<br />

dos doutos votos JA proferidos,<br />

cumpre que se considere o seguinte,<br />

a meu ver: a inicial 6 que<br />

assevera, a inicial 6 que alega, a<br />

'Metal 6 que aflrma que as chasms<br />

do velculo -foram furtadas<br />

por Franklin Vera dos Santos,<br />

para se utilizar do veiculo, isto<br />

porque, se furtadas não tivessem<br />

sido, se as tivesse emprestado ao<br />

mencionado Franklin, nAo serla<br />

devida a indenizacão, posto que<br />

se tratava de pessoa nAo habilitada.<br />

«Ora, se o acidente ocorreu<br />

quando o velculo era dlrigido por<br />

pessoa nä° habilitada, se o acidente<br />

ocorreu nessas circunstAncias,<br />

cuinpria a autora fazer<br />

prova do fato, que exclula<br />

a incidéncia da clAusula contratual,<br />

pertinente a perda da htdenizacilo;<br />

a ela inctunbia provar<br />

que, na realidade, aquela pessoa<br />

furtara o veiculo. Por isso mesmo<br />

6 que ela o alegou na inicial.<br />

«A contestaego nlio alega shimlacgo<br />

do furto, data yenta. 0 que<br />

a contestacito faz 6 negar tenha<br />

ocorrido furto argUido na inicial,<br />

para excluir a incidAncia da falta;<br />

afirma que o automOvel foi<br />

emprestado, enquanto que a autora<br />

aflrma que o automOvel foi<br />

furtado; nega, assfm, a existencia<br />

do turto, que era fato constitutivo<br />

do dlrelto da autora, posto<br />

que isso 6 que excluta a 'widencis<br />

da clAusula XII, que negava<br />

o direlto a indenizaego, .quando<br />

houvesse cessAo empitstimo do<br />

velculo, a algutm nlio habIlltado.<br />

NAo se negou, em nenhuma fase<br />

do processo, e, por Isso mesmo,<br />

independia de prova, que aquelz<br />

pessoa, em cujo poder o veiculo<br />

se encontrava, quando houve o<br />

acidente, nAo era habllitada. Em<br />

nenhurn momento o llustre patro-


254<br />

R.T.J. — 94<br />

no da autora negou este fato; por<br />

isso mesmo fez-se incontroverso.<br />

«De sorte que, em primeiro Lugar.<br />

me parece que 8 autora cabia<br />

provar este fato basic°, alegado<br />

na initial. E qual a prova<br />

que trouxe? Nenhuma. A prova,<br />

Unica, que pretendeu apresentar<br />

foi a sua propria alegacao, feita,<br />

na dentmcia, a policia, na qual<br />

ela reconhece que, no mesmo<br />

dia, ja emprestara o veleta° a<br />

Franklin, que se vitimou com o<br />

acidente. 0 que nao se justifica<br />

que a embargada, que afirmou<br />

peremptoriamente, na sua declarack,<br />

dirigida a policia, que, numa<br />

primeira fase, emprestara o<br />

vetculo, afirma, ao prestar depotmento<br />

pessoal, que jamais emprestou,<br />

como jamais que empesta- r<br />

ria o seu veiculo, a<br />

m quer<br />

seja.<br />

«Mantenho o voto que proferi,<br />

acompanhando o Desembargador<br />

Relator.»<br />

Na verdade, afirmou a Autora na<br />

peticao initial que Franklin furtou<br />

as chaves do seu autom6vel e passou<br />

a usa-lo, produzindo-lhe a capotagem<br />

que o inutilizou, fls. 2 e 3.<br />

De seu lado, a R6, na contestacao,<br />

negou o furto ao sustentar que a Autora<br />

entregou o carro a Franklin, e,<br />

ainda, que, ao usa-lo, Franklin produziu<br />

a capotagem que danificou o<br />

auto, U. 26.<br />

V8-se que a matéria juriclica discutida<br />

na causa diz respelto com o<br />

8nus da prova.<br />

Na espécie, o tema do 8nus da prova<br />

foi julgado na consideracao do artigo<br />

209 do C. Pr. Civil, de 1939.<br />

0 I 1° desse artigo expressava<br />

que, negado pelo réu, na contestao<br />

fato que o autor alegara, a este<br />

competia prova-lo.<br />

Foi o que sucedeu no caso agora<br />

discutido.<br />

Alegou a Autora que o carro fora<br />

furtado por Franklin e a Re negou<br />

esse fato.<br />

Competia, pois, a Autora provar o<br />

furto do autom6vel.<br />

Se o nao fez, a sua pretensao perdeu<br />

viabilidade.<br />

Ao julgar a questa() referente ao<br />

Onus da prova, o eg. Tribunal a quo<br />

aplicou a regra do 2? do art. 209 do<br />

C. Pr. Civil, de 1939.<br />

Ocorre, por6m, que tal regra s6 incidiria<br />

no caso presente se a R6,<br />

aceitando ou reconhecendo como<br />

verdadeiro o furto, alegasse outro f ato<br />

que the desfizesse os efeitos.<br />

certo, por6m, 6 que a Re negou<br />

o furto.<br />

Destaco na f. 120 o seguinte trecho<br />

do voto que proferiu, no acerclao impugnado,<br />

o seu Relator:<br />

«A alegacao da autora de que o<br />

carro fora furtado foi frontalmente<br />

negada pela r6. Cumpria<br />

autora provar o furto. Como esta<br />

dito na peticao !racial, a autora<br />

tentou provar o furto pelo documento<br />

de fls. 11/12, 'isto 6, comunicacao<br />

a Policia. Tal comunicacat)<br />

se chocou corn o depoimento<br />

pessoal da autora (fl. 58).<br />

Incumbiu-se a autora de provar a<br />

nao existéncia do furto. Frise-se<br />

que o depoimento pessoal da autora<br />

foi tornado a, pedido da ra<br />

(f. 55). Depoimento pessoal<br />

meio de pron. Incablvel, pois,<br />

dizer-se que a ré nao produziu<br />

prova. As contradicees da autora<br />

sae evidentes. Entre a primeira<br />

versa° (fls. 11-12), mais pp:alma<br />

dos acontecimentos, e a derradeira<br />

(f. 58), ha grande distancia,<br />

bastante para a configuracao<br />

da mentira, da astacia, do engodo<br />

para propiciar o recebimento<br />

do pr8mio do seguro. Assim, se a<br />

autora nao provou o alegado na<br />

initial e frontalmente negado na<br />

contestacao, emaranhando-se


autora em contradicties, a WM<br />

so poderia ter sido julgada<br />

procedente, nAo havendo no caso<br />

sub judice cabimento Data a aplicacti°<br />

da regra conticia no art.<br />

209, paragrafo 2?, do COdigo de<br />

Processo<br />

Concluo que, ao aplicar A. especie<br />

o 2? do art. 209 do C. Pr. Civil, de<br />

1939, o actordAo local vulnerou o 1?<br />

desse mesmo artigo.<br />

Conheco, Dols, do recurs°, e the<br />

dou provimento pare restabelecer a<br />

sentenca Miele!.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 86.287-DF — Rel.: Min. Antonio<br />

Neder. Recte.: S.A. de Seguros Gerais<br />

Lloyd Industrial Sul American°<br />

R.T.J. — 94<br />

255<br />

(Adv.: Arlindo Leon de Souza).<br />

Recd*.: Raimunda Alves Bezerra<br />

(Adv.: Inezil Paula Marinho).<br />

Decisfio: Conheceu-se do recurs° e<br />

se lhe den provimento nos termos do<br />

voto do Ministro Relator. DecisAo<br />

uniforme. Presidlu o julgamento 0<br />

Senhor Ministro Antonio Neder, por<br />

achar-se vinculado nos termos do<br />

art. 71 do RI. NAo participou do Julgement°<br />

o Senhor Ministro Thompson<br />

Flores.<br />

Presidgncla do Sr. Mastro Antonio<br />

Neder. Presentes 'A SessSo os<br />

Srs. Mlnistros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto, Soares Mtnloz e<br />

Rafael Mayer. Subprocurador-Geral<br />

da Reptibllea, Dr. Francisco de Assts<br />

Toledo.<br />

Brasilia, 20 de mato de 1980. —<br />

Alberto Veronese Aguiar, Secrettuio.<br />

RECURSO EX TRAORDINAFtIO N? 86.382 — GO<br />

(Segundo Tuna)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Morefra Alves.<br />

Recorrentes: Oripes Jose de Sit, s/mWher e outros — Recorridos: Almir<br />

Alves Correia e outro.<br />

AcAo de relvinclicacAo. Alegactio de usucapitio.<br />

— No que concerne ao primeiro recurs° extraordimirfo, aplicam-se<br />

as Stunulas 282, 356 e 279. InexIstencla de demcalstragio de Weskit°<br />

de jurlsprudgncla.<br />

terceiro<br />

— Quante ao segundo recurs° extordbutrio, se ca que o<br />

prejudiced° pode interp6-1o, tam rt *<br />

p 6 cer<br />

que constitul seu objeto clever* ter sido ventilada no to coque<br />

a questa°<br />

do sob pens de nAo haver o India{ Bevel ardrio recorrilas<br />

282 e 356). Por isso, nAo 6 ele melo<br />

prequestionamento (Snmumetre<br />

mAo, nulidade do p pare alegar-se, em pri-<br />

necessArio.<br />

rocess° por faits de Macao de litisconsorte<br />

Recursosextraordinftrios Who conhecidos.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segundo<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

Julgamento e das notes taquigraficas,<br />

por unanimidade de votos, nAo<br />

conhecer dos rectums.<br />

Brasilia, 1? de junho de 1979. —<br />

Djaci Facie, Presidente — Moreira<br />

Alves, Relator


256<br />

RELATORIO<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves — E<br />

este o teor do acOrclao recorrido (fls.<br />

256-257):<br />

«Vistos, relatados e discutidos<br />

os presentes autos de Apelacao<br />

Civet n? 9.388, da Comarca de<br />

Ivolandia. figurando como 1%.<br />

apelantes Oripes Josè de SA e outros<br />

2?s apelantes Almir Alves<br />

Correia e outros, e apelados os<br />

mesmos.<br />

Consoante se liquida do relaterdo<br />

de fls. 253/253 verso, Almir<br />

Alves Correia e outros aforaram<br />

a presente acão reivindicatOria,<br />

contra Oripes Josè de SA e outros.<br />

E porque, entendendo o Magistrado<br />

a quo nao se encontrar o<br />

im6vel reivindicando devidamente<br />

caracterizado, como também,<br />

a posse invocada pelos r6us sobre<br />

a area em questa°, embora<br />

provada para o efelto de gerar a<br />

prescricao aquisitiva, mas por<br />

inexlstir a reconvencao, julgou os<br />

autores carecedores da acao.<br />

Forcoso, portm, 6 reconhecerse<br />

que o linen/el se acha bem individuado<br />

e fad! de ser localizado<br />

no terreno. Tanto assim 6 que<br />

sobre essa parte a contestacao<br />

nao abordou, e os r6us, somente<br />

agora, nas suas contra-razOes de<br />

fls. 237/239, a ela fazem mencao.<br />

No que se refere a posse, nao<br />

se cuida de posse mansa, pacifica<br />

e ininterrupta . Sofreu ela interrupcOes.<br />

E se essa posse tivesse ficado<br />

comprovada, nada impediria, como<br />

realmente nao Impede, ser a<br />

prescricao aquisitiva invocada<br />

como materia de defesa na contestacao.<br />

Independe, in casu, de<br />

reconvencao. Visa, apenas, obstar<br />

o exito da acao intentada. Totavia,<br />

o réu citado, e corn posse<br />

capaz de gerar o usucapiao, poderA<br />

ingressar corn a reconvencao,<br />

que constitui uma acao dentro<br />

da outra, e requerer ao juiz<br />

que declare seu dominio por sentenca,<br />

a qual the servirA de Mule,<br />

para transcricao no registro de<br />

im6veis (art. 550 do C6d. Civil),<br />

observando-se, no que couber, o<br />

disposto no art. 941 e segs. do<br />

Cod. de Proc. Civil. Sao, portanto,<br />

duas modalidades distintas e<br />

de efeitos diferentes.<br />

Resulta, dai, que a sentenca, a<br />

despeito de bem elaborada e brilhante,<br />

nao pode subsistir.<br />

Isto posto:<br />

Acorda o Tribunal de Justica<br />

do Estado de Goias, pela Terceira<br />

Turma de sua Terceira Camara<br />

Civet, a unanimidade de votos,<br />

conhecer de ambos os apelos e<br />

dar provimento ao segundo para,<br />

reformando a sentenca recorrida,<br />

julgar a acao procedente e<br />

condenar os r6us nas custas e honorArlos<br />

de advogado arbitrados<br />

em vinte por cento (20%) sobre o<br />

valor da causa, ficando prejudicado<br />

o primeiro apelo, bem como<br />

desprezada a preliminar relativa<br />

a prescricao aquisitiva».<br />

Contra essa decisao, foram interpostos<br />

dots recursos extraordinArios,<br />

admitidos pelo seguinte despacho<br />

(fls. 314-317):<br />

«Vistos, etc. Oripes José de SA,<br />

Sebastiao Pereira Borges e suas<br />

respectivas mulheres (fls. 259-<br />

268), Antonio Paula do Carmo,<br />

Orcelo Lemes de Siqueira e suas<br />

respectivas mulheres (fls. 269-<br />

274), irresignados com o acerdao<br />

unanime de fls. 256/258 da 3? Camara<br />

Civet, nos autos da apelacan<br />

n? 9.8 da Comarca de Ivolandia,<br />

—decor rent, extraordinariamente,<br />

para o Egrêgio Supremo<br />

Tribunal Federal, corn fundamento<br />

no art. 119, inciso HI, tetras<br />

a e d (os primeiros) e tetra


a (os Olt'mos) da Constituicao<br />

Federal.<br />

Trata-se, na especie, de ace°<br />

reivindicathria, que o acerdao<br />

impugned°, reformando a sentence<br />

de primelro grau, Julgou<br />

procedente.<br />

DIto Raged° este resumido na<br />

ementa do seguinte teo • «Rei-<br />

A/Micah:via. Independe de recoilvenal)<br />

a invocacao da prescri-<br />

VI° aquisitive como materia de<br />

defesa, que visa, apenas, obstar<br />

o exito da ace° intentada. Todavia,<br />

o reu citado, e corn posse capaz<br />

de gerar o usucapiao, poderA<br />

ingressar corn a reconvencão,<br />

que constitul uma ace() dentro da<br />

outra, e requer ao Adz que declare<br />

o seu dominio por sentence, a<br />

eual the servirA de titulo para<br />

iransericRo no registro de im6veis<br />

(art. 550 do Cad. Civil),<br />

observando-se, no que couber, o<br />

disposto no art. 941 e segs. do<br />

C6d. de Proc. Civil. Inocorre, in<br />

casu, a prescricao aquisitiva invocada<br />

pelos reus. Area reivindicanda<br />

devidamente indivlduada.<br />

Proceancia da acAo. Apelo conhecklo<br />

e provido».<br />

Mum os primelros recorrentes<br />

(fls. 259-268) que o acardao<br />

recorrido negou Wanda a lei <strong>federal</strong><br />

e diverglu de outros <strong>tribunal</strong>s,<br />

a saber:<br />

— arts. 82, III, 84, 246 e 944<br />

do C.P.C. — falta de intervencAo<br />

do M.P. necessAria, face A defesa<br />

fundada no usucapiAo, que flzeram;<br />

— art. 550 do C.C. — ao negar<br />

a posse ininterrupta dos recorrentes,<br />

que olz de primeiro<br />

grau admitiu e os documentos<br />

provam;<br />

c) — ao afirmar que o imOvel<br />

reivindlcando este suficientemen-<br />

R.T.J. — 54 257<br />

to caracterizado, o acardão divergiu<br />

deste aresto: "n requisite<br />

basic° da acdo de reivinclicacão e<br />

condicao para o julgamento de<br />

sua procedencia a perfeita individuacAo<br />

da coisa reivindicanda,<br />

por sews caracteristicos e confrontactes,<br />

sendo essencial, alem<br />

disco, quando o pedido Liver por<br />

objeto apenas parte do itnevel<br />

(como 6 o caso dos autos), que o<br />

autor Indlque nAo tufo os Uranus<br />

deste, tornado no seu todo,<br />

tambEm a area reIvindIcanda".<br />

(f. 268).<br />

Reconhecem os pr6prios recorrentes<br />

que o acOrdflo nao abordou<br />

a materia relaclonada corn a<br />

falta de intervencilo do M.P. (f.<br />

266, In fine).<br />

Ora, 6 inadmisslvel o apelo<br />

derradeiro, quando nao ventllada,<br />

na decisao recorrida, a questa°<br />

<strong>federal</strong> (Namla 282).<br />

Ademals, nao se tratando propriamente<br />

de ace° de usucapiao<br />

e, sim, de defesa baseada em Wren°<br />

de usucapião, parece-nos<br />

que a intervencao do M.P. nAo<br />

era mesmo indispensAvel.<br />

Existir, ou nao, posse minterrupta<br />

6 materia de fato, que escape<br />

ao controle do Excelso Pretart°<br />

atraves do recurso extraordinArio<br />

(SOmula 279).<br />

Na initial, ap6s a caracterizacao<br />

do im6vel, considerado no<br />

seu todo, alegam os autores, in<br />

verb's (fls. 4-5): "A despetto de<br />

pretenderem os suplicantes exercer,<br />

ern toda a plenitude, como<br />

lhes faculta e assegura a lei, os<br />

direltos inerentes ao dominio, estat)<br />

impossibilitados de faze-lo,<br />

eis que: a) — o primeiro suplicante<br />

varao, que recentemente<br />

adquiriu a sua glebe, nao Ode<br />

tomar posse dela, JA que a faixa<br />

mats valorizada, exatamente a


258<br />

de cultura esta invadida; b) — o<br />

segundo, de sua vez, em que pese<br />

proprietArio de 58 alqueires e fracAo,<br />

s6 tern dominio e posse sobre<br />

8 alqueires, estando o restante,<br />

tamb6m, flicitamente ocupado»<br />

( o grifo nAo esta no orIglna<br />

ye-se, por at, que os autores<br />

nao pretendem e nem podem reivindlcar<br />

a gleba descrita, na sua<br />

totalidade, pols o segundo ja est&<br />

na posse de parte dela, mas apenas,<br />

parte dela e essa nao fot por<br />

ele Individualizada.<br />

Assim, ao ter como suficientemente<br />

caracterizado o im6vel<br />

reivIndicando, o acardao data<br />

yenta — contrariou o principio de<br />

que, quando, como na esp6cie, o<br />

objeto da acAo reivindicatOria 6<br />

apenas parte do im6vel, o autor<br />

deve indicar, rift s6 os limites<br />

deste, tornado no seu todo, mas e<br />

sobretudo os da parte, pots,<br />

"nao se pode reivindicar area 1ndetermlnada"<br />

(cf. ac. do S.T.F.,<br />

no RE ri? 6.121-MG, relator Ministro<br />

Orozimbo Nonato, in Repertbrio<br />

de Jurisprudencia do COdigo<br />

Civil, Direito das Coisas,<br />

1/236, vbt. 662).<br />

Os altlmos recorrentes (fls.<br />

269/274) lancam mao do apelo extremo<br />

como terceiros prejudicados<br />

(C.P.C., art. 499 e seu parAg.<br />

1?), a alegacAo de que, embora<br />

sejam senhores e possuldores de<br />

parte do im6vel, fato denunciado<br />

no processo, em vArias oportunidades,<br />

a comecar pela contestaglio<br />

(f. 29, J), nao foram citados,<br />

o que inquina o processo de nulldade<br />

(C.P.C., art. 213 e 214).<br />

A reivIndicacao tern por causa<br />

o dominlo, do qual lllmltacão e<br />

exclusividade sào caracteres fundamentals.<br />

Julgada procedente a acao, fica<br />

assegurado ao proprietarlo o<br />

R.T.J. — 94<br />

direlto de imitir-se na posse do<br />

im6vel relvindicando como urn<br />

todo, o que nos leva a concluir<br />

que todos quantos o detenham<br />

devem ser citados, como litlsconsortes<br />

necessarios.<br />

0 Colendo Supremo Tribunal<br />

Federal tern admitido o recurso<br />

extraordinArio de terceiro, quando,<br />

como aqui, a juridicamente<br />

prejudicado (RTJ, 43/151).<br />

Quanto ao apelo derradeiro do<br />

terceiro prejudicado tern ainda o<br />

Excelso Pret6rio decidido que,<br />

"se o recurso de terceiro prejudicado,<br />

que o interpUe precisamente<br />

para denunciar a inobservAncia<br />

das regras legais relativas ao<br />

litisconsOrcio necessArio, nAo pode<br />

obstar-]he o cabimento 0 6bvio<br />

silêncio do acifirdAo recorrido»<br />

(RTJ, 71/72).<br />

Admitimos ambos os recursos,<br />

no efeito devolutivo e determinamos<br />

que se abra vista dos autos<br />

aos recorrentes e recorridos, sucessivamente,<br />

para, no prazo legal,<br />

apresentarem suas raz6es.D<br />

As fis. 342/343, assim se manifesta<br />

a Procuradoria-Geral da<br />

em parecer do Dr, Mauro Leite Soares,<br />

5? Subprocurador-Geral:<br />

«0 Tribunal a quo, f. 256, reformando<br />

a sentenca inicial, declarou<br />

a procedencia da acAo reivindicat6ria<br />

porque o im6vel se<br />

acha bem individuado e fAcil de<br />

ser localizado no terreno, ao lado<br />

de a prescricAo aquisitiva invocada<br />

ern defesa pelos rem nao se<br />

encontrar caracterizada por posse<br />

mansa e pacifica, sofrendo interrupcdes.<br />

Dal os doffs recursos extraordinArios<br />

apoiados nas Tetras a e d,<br />

sendo que os primeiros recorrentes,<br />

ram na acao, alegam negativa<br />

dos arts. 82, III, 84, 246 e 944


por falta de intervencao do Ministrio<br />

PUblico e 550 do C6clig°<br />

Civil, enquanto que os segundos<br />

recorrentes, conk terceiros prejudicados,<br />

alegam negativa dos<br />

arts. 213 e 214 do Cadiz° Processual<br />

Civil porque nao citados<br />

possuidores e senhores de parte<br />

do im6vel reivindicando.<br />

Somos pelo nit conhecimento<br />

de ambos os recursos.<br />

Relativamente ao primeiro recurso<br />

quanto a ntio intervencao<br />

do Ministario PCzblico trata-se de<br />

materia não prequestionada, ao<br />

lado de versarem os autos, nä°<br />

de reivindicacilo e nito de usucapit.<br />

0 restante da impugnacão<br />

se refere a materia de prova.<br />

Quanto ao segundo recurso<br />

tambem se pretende exame de<br />

materia de prova e esta instAncia<br />

extraordinitria não 6 apropriada<br />

pare o exame. Se eles, os recorrentes,<br />

nllo foram parte na presente<br />

acllo, na ocasiAo prepria da<br />

execucão ou em acilo distinta poderilo<br />

fazer valer seus alegados<br />

direitos.<br />

Se conhecidos, somos pelo nllo<br />

provimento dos recursos extraordinftrios.»<br />

E o relatOrlo.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Minlatro Moreira Alves (Relator)<br />

— 1. Dols foram os fundamentos<br />

do acardllo recorrido: o de que o<br />

lmOvel se acha bem lndivlduallzado,<br />

e o de que WI° houve usucapitio por<br />

ter a posse sofrido interrupcts.<br />

2. Assim sendo, e no que diz respeito<br />

ao primeiro recurso extraordinario<br />

— o a fls. 259/268 -, falta prequestionamento<br />

a questflo relativa A<br />

R.T.J. — 94 25<br />

ausencia de intervencao do Minist6rio<br />

PUblico (SUmulas 282 e 356). Ademats,<br />

para se chegar a conclusâo de<br />

que houve negativa de vigéncia do<br />

artigo 550 do Cadigo Civil, seria mister<br />

o reexame de provas, o que não<br />

admissive] para o conbecimento do<br />

recurso extraordinitrio (Saimaa 279).<br />

Finalmente, quanto ao dissidio de <strong>jurisprudencia</strong>,<br />

nllo se encontra ele caracterizado,<br />

pots o acardAo recorrido<br />

(e, a propesito, nfio foram opostos<br />

embargos da declaracAo) se limitou<br />

a considerar que o thatwel estava Ludtviduallzado,<br />

nIto entrando na apreclacão<br />

da necessidade, ou nlio, de Individualizacâo<br />

global ou partial.<br />

Em face do exposto, não conheco<br />

do primeiro recurso extraordinArio.<br />

3. No que concern ao segundo recurso<br />

extraordinario (o a fls. 269-<br />

274), interposto por terceiros prejudicados,<br />

sob o fundamento de que,<br />

sent eles litisconsortes necessArios,<br />

o processo 6 nulo por falta de sua<br />

tamb6m nAo pode ser connectdo.<br />

Corn efeito, embora se admita<br />

recurso extraordinArio de terceiro<br />

prejudicado, 6 mister que a questa°<br />

nele atacada tenha sldo ventllada no<br />

acardAo recorrido, para que hat b<br />

indispenstivel prequestionamento<br />

(Stimulas 282 e 358). 0 que nAo e<br />

possfvel, tendo em vista os llmites<br />

estreftos do recurso extraordInArio,<br />

e admitir essa modalidade de recurso<br />

para examinar-se, em primeira<br />

mao, a exIstancla, ou nil°, de litisconsOrcio<br />

necessArlo, pant o efeito<br />

de decretactio da nulidade do processo<br />

por falta de citacilo. Albs, ntio<br />

havendo esses recorrentes integrado<br />

a relacAo processual, a decisllo nela<br />

proferida 6 ineficaz com relacAo a<br />

eles.<br />

Por esses motivos, nä° conbeco,<br />

tamb6m, do segundo recurso extraordtnárto.


260<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 86.382 — GO — Rel.: MM. Moreira<br />

Alves. Rectes.: Oripes Jose de<br />

SA. s/mulher e outros (2 recursos)<br />

(Adv.: Americo Antunes) Recdos.:<br />

Almir Alves Correia e outro (Adv.:<br />

Francisco Moreira Camargo).<br />

Decisao: Nat) conhecido, unanime.<br />

R.T.J. — 94<br />

PresidAncia do Sr. Ministro Djaci<br />

— Presentes a Sessao os Srs.<br />

Ministros Leila° de Abreu, Cordeiro<br />

Guerra, Moreira Alves e Decio Miranda.<br />

— Subprocurador-Gera l da<br />

Republica, o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 1 de junho de 1979. —<br />

Hello Francisco Marques, Secretario.<br />

RECURS° EXTRAORDINARIO N? 86.405 — SP<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cunha Peixoto.<br />

Recorrente: Sindicato da IndUstria de Abrasivos do Estado de Sao Paulo<br />

— Recorridos: Sindicato dos Trabalhadores nas IndUstrias Quimicas e FarmacAuticas<br />

de Guarulhos e Salto, e outro.<br />

Matkria Trabalhista: 1 — Estabilldade provistirla da gestante.<br />

Decisäo normathra que a concede nfio ofende a ConstituIcAo. — 2) —<br />

SalArio normativo. Sua legftlmidade constftucional 14 fol reconhecida<br />

pelo Supremo Tribunal Federal. — 3) — Justfficactio de falta a estudante<br />

por motivo de exame. Inconstftucionalidade da decisão que a<br />

concedeu.<br />

Recurso extraordtherio parcialmente conhecido e provido nessa<br />

parte.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em sessão<br />

plenAria, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigrAficas,<br />

por unanimidade de votos, em<br />

conhecer e prover parcialmente o recurso.<br />

Brasilia, 07 de junho de 1978 —<br />

Antonio Neder, Presidente — Cunha<br />

Peixoto, Relator.<br />

RELATORIO<br />

O Sr. Ministro Cunha Peixoto:<br />

Trata-se de recurso extraordinArio<br />

interposto contra acerdao do Tribunal<br />

Superior do Trabalho, proferido<br />

em dissidio coletivo.<br />

0 (lustre Presidente do Tribunal<br />

Superior do Trabalho, Ministro Luiz<br />

Roberto de Rezende Puech, assim<br />

resumira e apreciara a controversia:<br />

«Fundamentado nos artigos 119,<br />

III, letras a e d e 143 da Constituicao<br />

Federal, recorre extraordinariamente<br />

«Sindicato da IndUstria<br />

de Abrasivos do Estado de Sao<br />

Paulo», contra decisao deste Egrtgio<br />

Tribunal que:<br />

assegurou a gestante a permanAncia<br />

no emprego, ate sessente<br />

(60) dias ap6s o termino da licenca<br />

previdenciAria;<br />

aplicou ao salad() do substituto,<br />

o previsto no Prejulgado n? 56;<br />

c) assegurou ao empregado estudante<br />

o direito de justificar a falta<br />

por motivo de exame em escola<br />

oficial ou reconhecida, comprova-


do o motivo medlante atestado do<br />

estabelecimento.<br />

Sustenta a violacão dos artigos<br />

6?, 43, 142, 1? e 153, § 2?, da ConstituicAo<br />

Federal.<br />

Preliminarmente, cumpre ressaltar,<br />

quanto aos 'tens a e b o<br />

Egreglo Supremo Tribunal Federal,<br />

ao julgar hip6tese identica,<br />

pronunciou-se em todas elas, pela<br />

constitucionalidade do decidido.<br />

ViAvel o Recurso Extraordinario,<br />

entretanto, no que se refers As ausencias<br />

escolares. NAo hA davicia<br />

de que 6 constltucional e legal a<br />

competencia normativa da Justica<br />

do Trabalho. Todavia, na espécie,<br />

esta afrontou a regra do art. 192, §<br />

1?, da ConstituicAo.<br />

que, in casu, nAo hA 0 interesse<br />

especitith da categoric* proffsatonal,<br />

segundo o qual 6 Rota a<br />

formulacAo do pedldo coletivo e<br />

seu atendimento.<br />

verdade que nossa legislacAo a<br />

propOsito nAo 6 suficientemente<br />

preclsa. Todavia, alguns de seus<br />

preckitos, A luz do corporativismo<br />

itallano que a moldou, permitem<br />

esciarecer e fundamentar a inviabilidade<br />

do dissidlo coletivo em<br />

matkria que excede do interesse da<br />

categoria.<br />

Categoria profisslonal (art. 511,<br />

2?, da ConsolidacAo das Leis do<br />

Trabalho) a aa expressAo social<br />

elementar resultante da similitude<br />

de condic6es de yids, oriundas da<br />

proffssgo ou trabalho em comum,<br />

em situacifo de emprego na mesma<br />

atividade econOmica ou em<br />

vidades flimflams ou conexatuf<br />

(grffos nossos).<br />

Observa Carnelutti que o limite<br />

maxim° de apllcacAo da sentenca<br />

coletiva e a categoria interessada,<br />

enquanto que a lel nAo sofre essa<br />

limitacão. (»Teorla del Rlgolamento<br />

Collectivo», pAgs. 172 e seguintes).<br />

R.T.J. — 94 261<br />

Ora, nAo se pode esquecer que as<br />

categorias profissionais perante a<br />

lei organlza-se em sindicato. E este<br />

postula em nome dessas categorias,<br />

de modo limitado, definido e<br />

objetivamente. Impossivel seria fazer<br />

confer nessa limitacAo (conforme<br />

a carte sindical do sindicato<br />

postulante) o interesse da escolaridade<br />

e suas conseq0knclas matkria<br />

tipicamente legislativa, inespeciffca<br />

a categoria profissional.<br />

Trata-se, isto sim, de matkria<br />

substancialmente legislativa. Apenas<br />

quando, ad absurdam, exlstlsse<br />

Slndicato dos Trabalhadores,<br />

corn freqÜencia As escolas, poderla<br />

ser a questAo postulada.<br />

E nAo por ser especffico da categoria<br />

o interesse, seu deferimento<br />

importaria, possivelmente, no fenmento<br />

do princIpio da igualdade<br />

perante a lei.»<br />

Manifestando-se pelo nAo conhecimento<br />

do recurso, dlsse a douta<br />

Procuradoria-Geral da Republica:<br />

4. 0 v. acOrdAo de fls. 202, proferido<br />

em dlssfdio coletivo, houve<br />

por bern acolher parclalmente o<br />

recurso dos sindicatos obreiros Para<br />

assegurar: a) estabilldade A empregada<br />

gestante ate sessenta Was<br />

ap6s a alta da previdencla social;<br />

b) ao substituto o mesmo salarlo<br />

do empregado substituldo; c) ao<br />

empregado estudante o dlrelto de<br />

justfficar a falta por motivo de<br />

exame em escola oficial ou reconhecida,<br />

comprovado mediante<br />

atestado do estabeleclmento.<br />

A este julgado °WM recurs()<br />

extraordinario o Sindicato da Indi:Istria<br />

de Abrasivos do Estado de<br />

'Ao Paulo, argtlindo ofensa aos<br />

arts. 6?, 43, 142, 1? e 153, 2?, da<br />

ConstltulcAo.<br />

0 Supremo Tribunal Federal<br />

jA se manifestou a respeito das<br />

quest6es sub gaff e abo e confirmou<br />

decisOrlo do Eg. Tribunal a quo no<br />

mesmo sentido do v. acOrdAo re-


262<br />

R.T.J. — 94<br />

corrido. Ao negar seguimento ao<br />

AI n? 59.488 (D.J. de 17.12.73, peg.<br />

9.637), o eminente Ministro<br />

Oswaldo Trigueiro afastou a alegada<br />

violacão aos arts. 142, 1? e 153,<br />

2?, da Constituicão, argumentando<br />

que o acerdAo então impugned°<br />

se mantivera «no plane da interpretacão<br />

da legislacAo que estabelece<br />

normas e condicees de traba-<br />

Iho", e adiantou que o descanso remunerado<br />

da gestante, antes e depois<br />

do parto, estava assegurado<br />

pelo preceito constitucional do art.<br />

165, n? XI. No tocante ao salario do<br />

substitute, veja-se o despacho proferido<br />

pelo eminente Ministro<br />

Cordeiro Guerra no AI n? 66.937<br />

(D.J. de 14.4.76, peg. 2.482), em<br />

que sufragou a orientacAo do Eg.<br />

Tribunal Superior do Trabalho.<br />

Trata-se de construcAo de alto sentido<br />

social, que visa a dificultar a<br />

rotatividade da mAo de obra e a<br />

demissAo injusta do empregado<br />

mais antigo, ja Integrado na empresa.<br />

4. As mesmas razdes levaram o<br />

v. acordAo recorrido a assegurar<br />

ao empregado estudante a Justincacao<br />

de suas faltas, pois, além de<br />

arrimado em norma constitucional<br />

que confere a todos o dlreito a educacao<br />

e imptie ao Estado o dever<br />

de respeitA-lo (art. 176), teve em<br />

mire estimular e proteger aqueles<br />

que, atraves do estudo, lutam por<br />

melhor qualificacAo profissional.<br />

Nem se diga que houve afronta ao<br />

art. 142, 1?, da ConstitulcAo, como<br />

entende o r. despacho que admitiu<br />

o recurso. Se a educacAo<br />

constitui direito de todos, conforme<br />

dito acima, /Tao se ha de negar o<br />

interesse de qualquer sindicato em<br />

relvindicA-lo para os seus associados».<br />

E o relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Minsitro Cunha Peixoto (Relator)<br />

1 — 0 «Sindicato da IndOstria<br />

de Abrasives do Estado de S. Paulo<br />

recorre extraordinariamente contra<br />

decisAo do Tribunal Superior do Trabalho<br />

que: a) — assegurou a gestante<br />

a permanancia no emprego, ate<br />

sessenta dias ap6s o termino da licence<br />

previdenciaria; b) —<br />

ao Warn) do substitute o previsto na<br />

sentence normative para o substi-<br />

Undo; c) — assegurou ao empregado<br />

estudante o direito de justificar a<br />

falta por motivo de exame em escola<br />

°tidal ou reconhecida, comprovado<br />

o motivo mediante atestado do estebelecimento.<br />

2 — 0 primeiro ponto do recurso<br />

extraordinario enfrenta o problema<br />

da establlidade proviseria da gestante,<br />

e ja foi dirimido por este colendo<br />

Supremo Tribunal Federal nos<br />

11.11.EE. n?s. 83.860 e 79.317, quando<br />

entendeu nAo ser lnconstitucionai a<br />

sentence normative que a determinou.<br />

Neste Ultimo recurso, o Relator,<br />

Ministro Xavier de Albuquerque, assim<br />

se pronunciou:<br />

«Quanto A establlidade provisoria<br />

da gestante ha no acerdAo recorrido<br />

esforco de construcAo que<br />

talvez transcenda os exatos limites<br />

das disposicties legais pertlnentes,<br />

mas que positivamente nAo ofende<br />

a ConstitulcAo. Foi, alias, na intencAo<br />

de cumpri-la com exactio que<br />

ele se inspirou, e compreende-se<br />

por que: na ConstitulcAo de 1937,<br />

contemporAnea dos preceitos da<br />

Consoliciaclio das Leis do Trabalho,<br />

garantiu-se Agestante apenas o salario<br />

de period° de reponse (art.<br />

137, I), ao passo que nas ConstituicOes<br />

subseqllentes, a semeihanca<br />

da de 1934 (art. 121, 10, garantiuse-lhe<br />

rat, apenas o salarlo, mas,<br />

tambem a emprego (CF 46, art.<br />

157, X; CF 67, art. 158, XI; EC 1/69,<br />

art. 165, I)».<br />

3 — Com relacAo ao salario normative,<br />

tivemos oportunidade de<br />

afirmar no RE n? 77.650:<br />

«Sendo as convencOes coletivas<br />

ou sentences proferidas nesses


dissidios atos normativos e, como<br />

tats, fonte formal de direito do trabalho,<br />

nada impede que esses decis8es<br />

tenham force obrigateria<br />

mesmo em relacáo aos empregados<br />

que venham a ser admitidos<br />

apas o dissidlo, inexistindo qualquer<br />

elva de Inconstitucionalidade<br />

quanto a esses efettos, vez que não<br />

he norma expressa na legit:lava°<br />

pAttia determinando que a sentenca<br />

normative somente aproveita<br />

aos trabalhadores admitidos ate a<br />

data do julgamento».<br />

4 — As sentences normativas constituem<br />

fonte formal de direito do trabalbo.<br />

0 art. 813 da CLT define a<br />

convenctio coletiva como aacordo de<br />

carater normativo, pelo qual dots ou<br />

mats sindicatos representativos de<br />

categories economicas e profissionab<br />

estipulam condicdes de trabalho,<br />

spite:Weis no ambito das respectivas<br />

representacOes, as relacees individuals<br />

de trabalho».<br />

Ripert chama-o de lei do grupo<br />

prolissional, e o Professor Paulo<br />

Emilio Ribeiro de ViMena equiparou<br />

a sentence normative a propria lei<br />

(Da Sentence Normative, Belo Horizonte,<br />

1961, peg. 10). Segulndo, alias,<br />

neste particular, os ensinamentos de<br />

Carneluttl, que diz ter a sentence<br />

normative corpo de sentence e alma<br />

de lel.<br />

Este escritor Italian leciona abide<br />

que o interesse da categoria que se<br />

leva a debate na 11de coletiva e o interesse<br />

— tipo, valioso para qualquer<br />

membro da categoria, associado<br />

ou nao, presente ou futuro (Teoria<br />

Del Regolamento CoBetty° Del<br />

Repporti de Lavoro, peg. 142).<br />

Por isto a que o eminente Presidente<br />

do Tribunal Superior do Trabath°,<br />

Ministro Luiz Roberto de Rezende<br />

Puech, afirmou ser Inconstitucional<br />

a permlssao de ausanclas escolares,<br />

porque anão hA o Interesse<br />

especifico da categoria proftssional,<br />

R.T.J. — 94 263<br />

segundo o qual a Ilene a formulacão<br />

do pedido coletivo e seu atendimento».<br />

Juiz terA, no caso, como adverte<br />

Oliveira Wane (Problemas de DIreito<br />

Corporativo, peg. 118), de se mover<br />

sempre infra legem, dentro dos<br />

llmites que the tracam as leis e os<br />

regulamentos.<br />

Ora, inexiste lei no Brasil, nem<br />

dispositivo Constituclonal, que permita,<br />

ao menos Implicitamente, a<br />

ausencia do estudante para Inn de<br />

escolaridade, isto e, para fim de<br />

prestar exame. Neste caso, o Tribunal<br />

agiu como legislador, desrespeltando<br />

o princIpto da autonomla e independencia<br />

entre os poderes. A decisao<br />

impugnada legislou sobre bores<br />

de trabaiho, antencipando-se ao<br />

legislador. Se fosse posslvel a Justice<br />

do Trabalho dispenser o estudante<br />

trabalhador para prestar exame,<br />

sem prejuizo de seus proventos, poderia<br />

tambem emptier o beneficio e •<br />

permitir sua ausencla durante as horas<br />

escolares, estas tao necessaries<br />

como aquelas, pots a freq(kancia<br />

pre-requisito para a aprovacâo no<br />

ano letivo.<br />

Por estes motivos, conheco, nos<br />

termos do pronunclamento do Presidente<br />

do Tribunal Superior do Trabalho,<br />

em parte, do recurso, para<br />

considerar inconstitucional a decisão,<br />

quando entendeu como justlficada<br />

falta de empregado-estudante<br />

ocorrida por motivo de exame em<br />

estabelecimento °Betel.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 86.405 — SP — Rel.: Min.<br />

C'a.na Peixoto. Recte.: Sindicato da<br />

111dt:stria de Abrasivos do Estado de<br />

Sao Paulo (Advs.: Benjamim Montelt°<br />

e outros). Recdos.: Sindicato<br />

dos Trabalhadores nas IndOstrias<br />

Quimicas Farmacauticas de Guarulhos<br />

e Salto e outro (Advs.: Carlos<br />

Arnaldo Selva e outros).


264<br />

DecisAo: Pediu vista o Ministro<br />

Soares Mufloz, ap6s o voto do Relator<br />

conhecendo em parte, e dando<br />

provimento ao recurso.<br />

Presiddricia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes A sessAo<br />

os Srs. Ministros Djaci Fala°,<br />

Antonio Neder, Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Alckmin, Lela') de<br />

Abreu, Cordeiro Guerra, Cunha Peixoto<br />

e Soares Mufloz. Ausente, justficadamente,<br />

o Sr. Ministro Moreira<br />

Alves. Procurador-Geral da RepObitca<br />

o Prof. Henrique Fonseca de<br />

Aradjo.<br />

Brasilia, 13 de fevereiro de 1978 —<br />

Alberto Veronese Agular, Secreario.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Soares Muiloz: NAo<br />

veto similitude entre a estabilidade assegurada<br />

A gestante no emprego, ate<br />

sessenta dies apes o termitic) da licence<br />

previdenclAria, e, bem assim,<br />

a equIparacAo do salArio do substituto<br />

ao do substituido corn a norma<br />

convencional que considera falta justificada<br />

a do empregado por motivo<br />

de exame em escola oficial ou reconhecida.<br />

As duas primeiras se radicam em<br />

interesses especificos da categoria<br />

profissional compreendida na convencAo<br />

coletiva e, por isso, nAo exor-<br />

Warn do seu campo de incidAncia. 0<br />

mesmo nAo ocorre em relacão ao direito<br />

assegurado ao empregado —<br />

estudante — A justificacAo das f altas,<br />

por motivo de exame em escola<br />

oficial ou reconhecida.<br />

Inexiste, no tocante A esta Ultima<br />

prerrogativa, interesse especifico da<br />

categoria profissional, para que possa<br />

ser objeto de convencAo normative.<br />

Mas interesse inespecifico A Categorla,<br />

vinculado a todos aqueles<br />

que estudam, a ser reconhecido e<br />

disciplined° mediante lei, quicA A semelhanca<br />

das que existem em alguns<br />

setores da atividade pablica.<br />

R.T.J. — 94<br />

Concordo, pois, corn o voto do eminente<br />

Ministro Cunha Peixoto, para<br />

conhecer, em parte, do recurso extraordinario,<br />

e the dar provimento<br />

nesse ponto, declarando a inconstiturionalidade<br />

do ato normativo, quanuo<br />

consldera justificada a falta do<br />

empregado ocorrida por motivo de<br />

exame, em estabelecimento oficial<br />

ou reconhecido.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves: Sr.<br />

Presidente, corn a devida vania, entendo<br />

que a sentenea normativa /la°<br />

se equipara a lei. A sentenca normativa<br />

cria direitos, dentro do Ambito<br />

de competancia que a lei ]he cia. Assitu,<br />

nAo é ela colocada no mesmo<br />

piano da lei. Se fosse, teriamos de<br />

admitir que ela poderia estabelecer<br />

que os estudantes tell= abonadas<br />

as horas de trabalho necessarias para<br />

fazer prova.<br />

Por entender que a sentenca normativa,<br />

embora crie normas concretas,<br />

que se aplicam apenas aquele<br />

grupo a que se destinam, mas normas<br />

essas que estAo condicionadas<br />

ao Ambito da competAncia que a legislacáo<br />

trabalhista the dA, entendo,<br />

tambarn, que a mataria sob exame<br />

liar) se situa dentro do campo de<br />

competancia da sentenca normativa.<br />

Por isso, como o eminente Relator<br />

e o Sr. Ministro Soares Munoz, tenho<br />

esta parte como inconstitucional.<br />

Nas demais, ja ha decisdes do Plenario<br />

Corte, no sentido da constitucionalidade.<br />

Conseqiientemente,<br />

tambarn conheco do recurso, em<br />

parte, e, nesta parte, dou-lhe provimento.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra:<br />

Sr. Presidente, pelos motivos expostos<br />

pelo eminente Ministro Moreira<br />

Alves, nAo acolhia a estabilidade da<br />

gestante, ficando vencido nos Julgamentos<br />

anteriores.


Clam que me curvo as decisdes do<br />

Plenerio, corn ressalva do meu ponto<br />

de vista, nesta parte.<br />

Na outra, referente ao salArio normally°,<br />

houve maloria, de modo que<br />

estou, tambern, de acordo.<br />

E, pelos motivos por que nAo admit!<br />

a criacilo de urns obrigagito<br />

sem lei, porque fora do campo da<br />

Justice do Trabalho nos contratos<br />

nonnativos, acompanho o eminente<br />

Relator, conhecendo, em parte, do<br />

recurs°, e nesta parte The dando provimento.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 86.405 — SP — Rel.: Min.<br />

Cunha Pebcoto. Recte.: Sindicato da<br />

Indfastrla de Abrasivos do Estado de<br />

Sao Paulo (Advs.: Benjamim Mon-<br />

R.T.J. — 94<br />

265<br />

teiro e outros). Recdos.: Sinclicato<br />

dos Trabalhadores nas Inalstrias<br />

Qulmicas e Farmaceuticas de Guarulhos<br />

e Salto e outro (Advs.: Carlos<br />

Arnaldo Selva e outros).<br />

DecisAo: Conheceram, em parte, e<br />

deram provimento ao Recurso. DeciunAnime.<br />

Votou o Presidente.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder, Vice-Presidente, na ausencia<br />

ocasional do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores, Presidente. Presentes<br />

a Sessao os Srs. Ministros<br />

Djaci FalcAo, Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Alckmin, Leito de<br />

Abreu, Cordeiro Guerra, Moreir A a Alves,<br />

Cunha Peixoto e Soares Mufloz.<br />

Procurador-Geral da ReptIblica o<br />

Prof. Henrique Fonseca de AraWo.<br />

Brasilia, 07 de butho de 1978 —<br />

Alberto Veronese Aguiar, SecretArio.<br />

RECURSO EXT RAORDINARIO N? 86.538 - PR<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Lena() de Abreu,.<br />

Recorrente: Josè Carlos Ribas Batista — Recorrida: Cooperativa Agricola<br />

Mista de Ponta Grossa.<br />

Execuclio. Dupllcata WI° aceita. Deve, para ter forca executiva,<br />

rent& os requlsitos a que se refere a parte final do caput do artigo 15<br />

da Lel nt 5.474/68, alterada pelo Decreto-lef 436/69 (RTJ 77/345). Nao<br />

a tem, entretanto, se The falta o protesto.<br />

Recurs() extraordbuirlo conhecido e provido.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Mlnlstros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade coin a ata<br />

de julgamentos e notas taquigrAficas,<br />

em conhecer do recurso e the<br />

dar provimento, por unanimidade de<br />

votos.<br />

Brasilia, 23 de mato de 1980. Diaci<br />

Falceo, Presidente — LeitAo de<br />

Abreu, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Leitilo de Abreu:<br />

Em seu parecer, o Procurador da<br />

Republica Walter Jose de Medeiros<br />

assim expee e aprecia o tema do recurso<br />

extraordinerio:<br />

«Opostos embargos a execucAo,<br />

foram eles parcialmente recebidos<br />

pelo MM. Julz singular para o fito<br />

de excluir do processo executerio a<br />

q uantla de Cr$ 49.030,11 (quarenta<br />

e note mil, trinta cruzeiros e onze


266<br />

R.T.J. — 94<br />

centavos), correspondente a (UN/Ida<br />

representada por duplicatas nao<br />

aceitas e tamb6m nao protestadas(f.<br />

155).<br />

«Em grau de apelagao, o eg. Tribunal<br />

de Justica do Parana reformou<br />

a sentenca para mandar Incluir<br />

na condenacao a parcela por<br />

ela anteriormente excluida. Partin<br />

o v. acerclao recorrido da premissa<br />

de estar superada a polamica sobre<br />

a executividade da duplicata<br />

sem aceite, desde que acompanhada<br />

do comprovante de entrega da<br />

mercadoria. A tal conclusão se<br />

chegou em face da redagao do artigo<br />

15 da Lei n? 5.474, de 18 de julho<br />

de 1968, corn as alteracees subseqtlentes.<br />

Segundo o acardao, seria<br />

facultativo o protesto, pots o artigo<br />

referido fala em duplicata nao<br />

aceita `ou' protestada. Assim,<br />

Yalta de protesto, poderia ser executada<br />

a duplicata sem aceite, desde<br />

que acompanhada do comprovante<br />

de entrega da mercadoria (f.<br />

212).<br />

«Dai o recurso extraordinario pelas<br />

alineas a e d da norma constituclonal<br />

autorizativa (f. 219), prontamente<br />

admitido por despacho do<br />

eminente Presidente Jorge Andriguetto<br />

(f. 233).<br />

«Procede, a nosso ver, o apelo<br />

por ambos os fundamentos invocados.<br />

«E evidente o equlvoco em que<br />

incorreu, data yenta, o eg. Tribunal<br />

paranaense ao vislumbrar, no<br />

artigo 15 da Lei 5.474, de 1968, corn<br />

a redacão que the deu o Dec.-lei<br />

436, de 1969, a conjuncão alternativa<br />

ou, quando, em verdade, all se<br />

Insculpiu a copulativa e.<br />

«De Pato, o processo de execucão<br />

so tern lugar na hipatese de duplicata<br />

n90 aceita, desde que devidamente<br />

protestada e acompanhada<br />

de documento comprobatario da<br />

remessa ou da entrega da mercadoria.<br />

Dizem-no a lei e a farta ju-<br />

risprudancia colacionada a propelsito<br />

do terra.<br />

«No caso, duplicatas sem aceite,<br />

embora acompanhadas da prova<br />

de entrega da mercadoria, nao foram<br />

regularmente protestadas.<br />

Did a impropriedade do processo<br />

executario para a cobranca pretendida.<br />

Rua° tinha, por conseguinte,<br />

a sentenca do MM. Juiz singular<br />

que, ao receber parcialmente os<br />

embargos opostos a execucao, determinou<br />

fosse excluida a parcela<br />

representada por duplicatas naquelas<br />

condicaes.<br />

«Parecer, em conclusao, pelo<br />

provimento do recurso a fim de<br />

que, cassado o v. acardão recorri-<br />

doe<br />

restabelecida a sentenca<br />

de primeiro grau» (fls. 271-272).<br />

E o relatario.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Mikan) Lela() de Abreu<br />

(Relator): Sao titulos executivos<br />

extrajudiciais, nos termos do<br />

inciso VII do artigo 585 do Codigo de<br />

Processo Civil, «todos os demais<br />

titulos a que, por disposicao expressa,<br />

a lei atrlbui forca executiva». No<br />

aplicar esse preceito legal, tem o Supremo<br />

Tribunal entendido que<br />

titulo executivo extrajudicial ga duplicata<br />

nao aceita que preencha os<br />

requlsitos a que alude a parte final,<br />

caput, do artigo 15 da Lei n? 5.474, de<br />

18.7.68 (com as modificacOes do<br />

Dec.-Lei 436, de 27.01.69)» - RTJ<br />

77/345, entre outros julgados. Mas a<br />

duplicata a que at se alude 6 a duplicata<br />

(ou triplicata) nä° aceita e protestada,<br />

desde que esteja acompanhada<br />

de qualquer documento cornprobaterio<br />

da remessa ou da entrega<br />

da mercadoria.<br />

Apesar de se encontrar a duplicata<br />

flat:, aceita acompanhada do documento<br />

que fazia prova da entrega da<br />

mercadoria, nao se achava ela protestada.<br />

Considerou o acerclao im-


pugnado ser optativo o protesto. Esse<br />

assertive confine, PoreM, corn a<br />

letra da lei, pots esta nAo emprega a<br />

conjuncilo ou, disiuntiva, ou alternativa,<br />

mas a conjuncAo e, copulative.<br />

Estatul a lei: e... duplicate ou triplicate<br />

nAo aceita e protestada...D. Logo,<br />

nilo protestada, a duplicate sem<br />

acelte, nilo preenche todos os requisitos<br />

do artigo 15 da Lel n? 5.474/68,<br />

alterada pelo Dec.-lei n? 436/69.<br />

Por estes fundarnentos, de acordo<br />

corn o parecer, que acolho, conhee0<br />

do recurso e the dou provimento Para<br />

restabelecer a sentence de prlrnelro<br />

grau.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 86.538 - PR - MM. Leltao<br />

de Abreu. Recte.: Jost Carlos Ribes<br />

R.T.J. - 94<br />

267<br />

Batista (Advs.: Auracyr Azevedo M.<br />

Cordeiro e outro). Recda.: Cooperative<br />

Agricola Mista de Ponta Grosse<br />

(Adv.: Divo Lara).<br />

Decisilo: Conhec e provi nos<br />

termos do voto do ido<br />

Ministro Rel<br />

do UnAnime.<br />

ator.<br />

Presidencia do Senhor Ministro<br />

Thad FalcAo. Presentes a Seas/lo os<br />

Senhores Ministros Leitilo de Abreu,<br />

Moreira Alves e Decio Miranda. Ausente,<br />

justificadamente, o Senhor Ministro<br />

Cordeiro Guerra. Subprocura..<br />

dor-Geral da Remlblice, o Dr. Mauro<br />

Lelte Soares.<br />

Brasilia, 23 de main de 1980. Hello<br />

Francisco Marques, SecretArio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO PI? 86.647 — RJ<br />

(13rimeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Rafael Mayer.<br />

Recorrente: Manasche ilrzepicM — Recorrido: Stephan Onward.<br />

— Realm Extraordinario. Locacão. Fian ce — Re<br />

no do Supremo Tribunal Federal, art. 308, V. —<br />

glmento Inter-<br />

acesso a via ex Inviabilidade<br />

traordimiria, náo s6 das causes que versem a reMcilo<br />

de<br />

ex locato propriamente dita, como tambem de qualsquer direltos e<br />

obrigactles denudes da Ravi°, entre os quails se lnclul a fiance,<br />

que a ela se vincule. — Recurso Extraordintirio nib conhecido.<br />

ACORDAO<br />

ordintirias, uma contra M. F.<br />

mo Ltda, e Ste<br />

Tuns-<br />

Vistos, relatados e discutidos estes phan Onward, visando<br />

recebimento<br />

autos, acordam os Ministros da Pri-<br />

de aluguels e demals<br />

metre Turma do Supremo Tribunal encergos, e outra contra a primeira<br />

Federal, na conformidade da ata pare haver perdas e danos e despede<br />

sac<br />

julgamentos e notes ta<br />

p<br />

quigraficas, a<br />

rocessuals, divide essa decorunanimidade,<br />

nAo conhecer do recur- rente de locacAo de !Wive] past em-<br />

so.<br />

presa e ariancada pelo segundo.<br />

Brasilia, 25 de marco de 1980 — Tulgadas procedentes ambas as<br />

Thompson Flores, Presidente — Wes, apelaram as partes,<br />

Rafael Mayer, Relator.<br />

Stephan<br />

Osward pedindo a reforma<br />

da intern'<br />

sentence, slate<br />

RELATORIO<br />

que a novacio do<br />

contrato de locaclio exonera o fiador.<br />

0 Sr. Ministro Rafael Mayer: Ma-<br />

Por sua vez, o autor persegue a cornasche<br />

Ifrzepicki alul2ou duds acees recao monetAria de todas as verbas<br />

devidas pelos rem, alem da inclusAo


268<br />

R.T.J. — 94<br />

que «a moratoria para o efeito de ex-<br />

de Cr; 500,00 relativa a honorarios tinguir a fianca s6 a exercitävel, co-<br />

de advogado.<br />

mo direito, nos termos do art. 1.503,<br />

A egragia Primeira Camara do I, do C6cligo Civil, quando expressa-<br />

Tribunal de Alcada, por unanimid a mente concedida».<br />

to a pri-<br />

-de de votos, deu provimen Denegado seguimento ao recurso,<br />

meira apelacao para excluir o ape- subiu em virtude do provimento daante<br />

da relacäo juridica processual, do ao Ag. 68.090, pelo meu ilustre an-<br />

condenando o apelado ao pagamento tecessor, Ministro Rodrigues Alck-<br />

de honorarios, em 10% dos valores min. Nesta instancia, opinou a douta<br />

das respectivas causas, e negou pro- Procuradoria-Gera] da Republica pevimento<br />

segunda apelacao . A<br />

lo conhecimOnto e provimento, em<br />

ementa do acardao esta redigida parecer da lavra do ilustre Procura-<br />

nestes termos:<br />

dor Dr. Joao Boabaid de Oliveira<br />

«Fianca. Responde o fiador, na Rapary, in verbis:<br />

hipottse da decretacáo do despejo, «Manasche Krzepicki moveu 'a<br />

ata urn periodo razoavel para a Stephan °sward e M. F. Turismo<br />

execucao da sentenca. Desonera-o,<br />

Ltda. duas acOes: na primeira pediu<br />

que Sthephan Osward pagasse<br />

porém, a permanéncia do locatario<br />

do im6vel, ap6s aquele periodo, alugueres encargos e tributos que<br />

a afiancada — M. F. Turismo Ltda<br />

porque, sendo o contrato de fianca — nao pagara, além de multa con-<br />

acessario ao de locacao, não pode<br />

substituir uma vez resolvido este. tratual; na segunda, pedia o pagamento<br />

de perdas e danos, alugue-<br />

Correa() monetaria incabivel.» res e despesas processuais.<br />

Irresignado Manashe Krzepicki interp6e<br />

recurso extraordinärio, pelas Ambas as acOes foram julgadas<br />

Tetras a e d, sustentando violacao ao procedentes. 0 autor apelou, visan-<br />

§ 29 art. 153 da Constituicao Federal,<br />

do a obter reforma partial da sentenca,<br />

a fim de que houvesse a cor-<br />

quando disptie que «ninguem sera<br />

obrigado a fazer ou deixar de fazer recao monetaria de todas as ver-<br />

alguma coisa sena() em virtude de<br />

bas da condenacao, inclusive da<br />

lei». A seu ver, nao se lobriga em correspondente aos honorario s pa-<br />

qualquer lei a obrigacao do locador<br />

gos no processo de vistoria . Houve,<br />

de promover a execucao do despejo tamb6m, apelacao de Stepha n Os-<br />

decretado na sentenca, nem muito<br />

ward, que pretendia a reforma to-<br />

menos a exoneracao do fiador nessa<br />

tal da v. decisào de primeira ins-<br />

hip6tese. Entende, também, vulneratancia.do o § 1? do mesmo dispositiv o cons- Ao julgar os recursos, a Colenda<br />

titucional, que estabelece a igualda- Primeira Camara Mel do Tribude<br />

de todos perante a lei, visto que nal de Alcada do Rio de Janeiro, a<br />

teria tido tratamento desigual em re- unanimidade de votos, proferiu a r.<br />

lacao ao fiador Punida a inertia de- decisäo de fls. 180/3, que tem a sele<br />

recorrente, em nao promover desguinte ementa:<br />

de logo a execucao da sentenca de<br />

despejo, premiou-se entretanto a iner- "Fianca . Responde o fiador,<br />

na hipotese de decretacão do destia<br />

do fiador, a quem cumpria exigir<br />

do afiancado a satisfacao da pejo, ate urn periodo razoavel pa-<br />

obrigacao ou a exoneracao da flanra a execucao da sentenca.<br />

ca. Para comprovac ao de dissidio ju-<br />

Desonera-o, portm, a perman<br />

risprudencial, indica inUmeros julgados<br />

do Supremo Tribunal Federal e<br />

de outros Tribunals no sentido de<br />

ên<br />

-cia do locatario no imOvel, ap6s<br />

aquele periodo, porque, sendo o<br />

contrato de fianca acessOrio ao


de locacao, nao pode subsistir<br />

uma vez resolvido este. Correcito<br />

moneterla incablvel» (f. 180).<br />

Irresignado, manifestou Manesche<br />

Krzepicki embargos declaratedos,<br />

os quals foram rejeitados<br />

unanimidade de votos. Veto entao,<br />

o apelo extremo, mandado processor<br />

por force da deciseo proferida<br />

em agravo de Instrtunento.<br />

Parece-nos data yenta, que o<br />

dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l este suficientemente<br />

provado, razflo por<br />

que opinamos no sentido de que sent<br />

conhecido o recurs°.<br />

Se conhecido, temos que se lmpee<br />

seu provimento, a fim de que<br />

reformado seja o r. aresto atacado.<br />

E que, desde logo temos como<br />

Inarredavel que, sendo a fiance dada,<br />

como no caso, ate a devolucao<br />

das chaves ao locador, somente se<br />

exlgem as obrlgacees do fiador<br />

quando efetivada a entrega das<br />

chaves.<br />

Enquanto tal nao se verifica,<br />

subsistem as suas obrigacdes.<br />

Demais, disso, nao vemos, data<br />

venla, como a Inercia do locador,<br />

que retardou a execuceo da sentence,<br />

que deferiu os seus pedidos Indais,<br />

possa ser considerada cause<br />

extintiva das obrigacdes do fiador.<br />

Ao Niger o agravo nt 65.031-SP,<br />

do qua! tot Relator o Exmo. Sr. Mlnistro<br />

Moreira Alves (transcrino<br />

as fls. 196/7), assentou a 1f Turma<br />

do Preterio Excelso que, havendo<br />

omissäo do credor, cabe ao fiador<br />

o poder de promover o andamento<br />

da actio contra o devedor, nos ter-<br />

mos do artlgo 1.998 do Cedigo Civil.<br />

Esta, sem amide, a providencia<br />

legal que o fiador cidveria ter adotado.<br />

Configurada tolerancia, que nao<br />

6 causa de extincao das obrigacees<br />

do fiador, parece-nos que, comprovado<br />

o dissidio Jurisprudenclal,<br />

merece ser conhecido e provido o<br />

R T.J — 91<br />

269<br />

apelo extremo, para que reformado<br />

o r. aresto atacado e restabelecida<br />

a v. decisao de primeiro<br />

grau».<br />

E o related°.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator):<br />

A especie versada nestes au-<br />

tos, dlz respeito a contrato de fianca<br />

vinculado a locacao, ou melhor,<br />

responsabilldade do fiador na hipetese<br />

de decretacao de despejo Creio<br />

que nao ha como escaper ao veto do<br />

art. 308, V, do Regiment° Intern° do<br />

Supremo Tribunal Federal, na redacilo<br />

dada pela Emenda Regimental<br />

n? 3, aplicavel ao presente recurso,<br />

els que o acordao recorrido fol proferido<br />

posteriormente a 31.07.75.<br />

O dispositivo regimental em foco<br />

nao obstacullza apenas a relacao ex<br />

locate Propriamente dita, porem val<br />

bem roofs longe, envolvendo<br />

qualsquer direltos e obrigacOes deri-<br />

vados na locacao entre os gnats certemente<br />

se !nazi a fiance que a garante.<br />

Nestes termos, nao conheco do recurs°.<br />

E o meu voto.<br />

EXTFtATO DA ATA<br />

RE 86.647-FtJ — Rel.: Min. Rafael<br />

Mayer. Recte: Manasche Krzepicki<br />

(Adv. Salomao velmovItsky). Recdo:<br />

Stephan Osward (Adv. Marco Antonio<br />

Soares de Assis).<br />

Declsao: Nao conhecido, decisao<br />

unfit/line.<br />

Presidencla do Sr. -Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes sessac)<br />

os Srs. Minlstros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Pelxoto, Soares Mufioz<br />

e Rafael Mayer. — Subprocurador-Geral<br />

da RepUblica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 25 de marco de 1980 —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secreted°.


270<br />

R.T.J. - 94<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 86.760 — SP<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Antonio Neder;.<br />

artamento<br />

Recorrentes: Francisco Salvia e sua mulher —Recorrido: Dep<br />

de Estradas de Rodagem do Municipio de São Paulo — DERMU/SP<br />

1. DesaproPriacio. 0 valor do lmivel desapropriad o 6 de ser contemporineo<br />

do laudo avallatirio, como expressa o art. 26 do Decretolei<br />

e 3.365, de 1941. Trata-se de materia juridica, e nAo materia de<br />

fato. Pode ser questionada em recurs() extraordinirio.<br />

2. Apelo excepcional a que o STF di provimento.<br />

ACORDAO<br />

Vistos e relatados estes autos de<br />

Recurso Extraordinärio n? 86.760, do<br />

Estado de Sio Paulo, em que sic, recorrentes<br />

Francisco Salvia e sua<br />

mulher e recorrido o Departamento<br />

de Estradas de Rodagem do Municipio<br />

de Si() Paulo — DERMU/SP,<br />

decide o Supremo Tribunal Federal,<br />

sua Primeira Tur ce , por maio-<br />

ria de votos, conher ma juros, de dezembro de 1970. A autarquia,<br />

a seu turno, pleiteia a<br />

reductio do valor indenizatOrio e<br />

da verba honoraria.<br />

Processados regularmente, os<br />

recursos, foram contr a-arrazoados.<br />

2. Primeiramente, de aceitarse<br />

como correto o criterio do magistratlo,<br />

ao considerar a Area<br />

ocupada como sendo de<br />

do recurso e 1.856,67m2. Como salientou Sua<br />

dar-lhe provimento, de acordo coin Excelencia, os levantamentos le-<br />

as notas juntas.<br />

vados a efeito pelo expert do<br />

Brasilia, 27 de maio de 1980. — juizo tendem a exaticlio (fls. 79 e<br />

Antonio Neder, Presidente e Relator. 135-137), enquanto a constante<br />

dos titulos pode levar a equivo-<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Antonio Neder (Relator)<br />

— I. Le-se no actirdão recorrido,<br />

fls. 179 a 181:<br />

«1. Cuida-se de indenizatOria,<br />

julgada procedente, em que o<br />

DERMU/SP foi condenado ao pagamento<br />

de area2.229.490,0 pela<br />

ocupacio da area de 1.856 0 ,67m2,<br />

juros desde a ocupacio, a serem<br />

apurados em execugão, salarios<br />

dos peritos, reembolso das custas<br />

e honoririos de 10% sobre a condenacio.<br />

Ao recurso oficial somou-se o<br />

apelo das partes. Autores, alegando<br />

erro no laudo do perito judicial,<br />

pedem o aumento da Area<br />

ocupada, bem como o estabelecimento<br />

da data, tiara fluencia dos<br />

cos.<br />

No tocante ao valor, o Dr. 'Ritz<br />

de Direito acolheu, integralmente,<br />

aquele encontrado pelo perito<br />

do juizo, que adotando o criterio<br />

do «metro quadrado medio», e o<br />

indice n60», chegando ao valor de<br />

Ca 2.229.490,00.<br />

3. Todavia, as criticas do assistente<br />

da autarquia merecem acurado<br />

estudo. S. SI sugere o desconto<br />

de 20% sobre o unitirio do<br />

perito judicial, levando em conta<br />

o valor, antes da melhoria, que<br />

seria, entAo de 960,64m2.<br />

De outro lado, sugere a eliminactio<br />

da area correspondente ao<br />

prolongamento da rua Particular,<br />

que fatalmente seria inaprovenal/el,<br />

nit, fora a obra ptiblica<br />

(vide fls. 105 e 108).


Tats criticas parecem de todo<br />

procedentes e merecem ser aceitas,<br />

pelo que se reduz a indenizagfio<br />

a Crt 1.630.000,00.<br />

A honoraria foi bem fixada em<br />

10%, levando-se em conta que a<br />

agilo decorreu de ato ilicito praticado<br />

pela autarquia-re.<br />

Em conseq06ncia, para reduz1r-se<br />

a IndenizacAo a Cr$<br />

1.630.000,00, stio parcialmente<br />

provldos os recursos °tidal e o<br />

voluntArlo da re.<br />

De outro lado, o apelo dos<br />

autores tambem 6 acolhido parcialmente,<br />

para fixar-se a data<br />

da fluencia dos Juros compensaterlos,<br />

a partir de dezembro de<br />

1970 (f. 153).<br />

Quanto a Area, JA ficou ela delimitada<br />

no item 2 acima.<br />

No mats, 6 manticia a r. sentence<br />

pelos seas fundamentos.»<br />

Pelo recurso extraordinario que<br />

deduziram nas fls. 183 e seguintes,<br />

elegem Francisco Salvia e sua mu-<br />

'her que o acordAo local vulnerou o<br />

art. 153, 22, da Constituictio, o art.<br />

26 do Decreto-Lei n? 3.365-41 e se<br />

ache em divergencla com os arestos<br />

que Indlcou para confronto.<br />

Quanto ao primeiro fundament°,<br />

dlsseram os Recorrentes, fls. 183 a<br />

185:<br />

al. Trata-se de desapropriagão<br />

indireta, essencialmente, portanto,<br />

tuna questAo expropriateria, e<br />

o V. Acerdflo recorrido, reformando<br />

a r. sentenca de 1? grau,<br />

reduziu a indenizagAo fixada,<br />

baseando-se no laudo pericial do<br />

d. Assistente do Expropriante,<br />

cujo acolhimento importou:<br />

em exclulr a indenizagito de<br />

certa parte (prolongamento de rua<br />

particular);<br />

fazer.retroceder o valor do<br />

imevel a tempo anterior a<br />

pericla, segundo um criterio subjetivo<br />

do preprio Assistente cujo<br />

R.T — 94<br />

271<br />

laudo Poi acolhido pelo V. Ac6rdão.<br />

A primeira questa° (exclusão<br />

de parte de Area) nao 6 objeto do<br />

presente recurso, por parecer<br />

aos Recorrentes que nAo enseja o<br />

extraordinario, situando-se num<br />

contexto de apreciacAo probate-<br />

/la da competencia do E. Tribunal<br />

local.<br />

A segunda questAo enseja o extraordinario,<br />

por ambas as letras<br />

(a e d) do permissivo constituclonal,<br />

em virtude da clara violactto<br />

de lel <strong>federal</strong> (art. 26 do Decreto-<br />

Lel 3.365/41, corn a redacAo da<br />

Lei 2.786/56) e, obliquamente, da<br />

prepria garantla constituclonal<br />

(ConstitulgAo Federal, Emenda<br />

n? 1, art. 153, I 22), alem de dissidencia<br />

manifest(' em relagão a<br />

Julgados de outros Tribunals e do<br />

E. Supremo Tribunal Federal.<br />

2. Realmente, quanto a questAo<br />

que aqui interessa, diz o v. AcOrdAo<br />

recorrido.<br />

No tocante ao valor, o Dr.<br />

Juiz de Direito acolheu, bitegralmente,<br />

aquele encontrado<br />

pelo perito do juizo, que adotando<br />

o criterio do «metro quadrado<br />

e o indice '60'<br />

chegando ao valor de Cri<br />

2.229.490,00.<br />

Today's, as criticas do asslstents<br />

da autarquia merecem<br />

acurado estudo. S. 3! sugere o<br />

desconto de 20% sobre o tmitArlo<br />

do perito judicial, levando<br />

em conta o valor, antes da method/I,<br />

que seria, entlio de<br />

960,641n2)) (f. 180).<br />

De sua vez, o laudo assim adotado,<br />

sob fundamento de merecer<br />

o acurado estudo», dlz o seguinte,<br />

sempre no que interessa ao recurso:<br />

Assim, fol determined° para<br />

o local (lndice 60.e custo de vide<br />

224,50) o valor unitario de<br />

Cr$ 1.200,80, que o signatario


272<br />

R.T.J. — 94<br />

Nestas condicOes ha que con-<br />

consideraria razoavel, caso a siderar o indite local proporcio-<br />

situacAo do imOvel fosse aquela nal a sItuacAo anterior ao me-<br />

verificada atualmente.<br />

lhoramento executado » (f. 107,<br />

Na realidade deve-se levar grifos nossos).<br />

em conta que a expropriacAo<br />

abrangeu uma area situada em 0 «melhoramento executado»,<br />

repita-se, e a obra que motivou a<br />

uma «avenlda projetada», e<br />

nAo na atual Av. NacOes Uni-<br />

desapropriacão, e esta bem claois,<br />

que o d. Assistente avadas,<br />

que difere radicalmente<br />

daquela dita projetada. Os tituliou<br />

o imOvel pela estimativa pes-<br />

soal do valor que teria, nAo na<br />

los de propriedade mencionam<br />

expressamente aquela s la coepoca<br />

da pericia, mas na epoca<br />

mo Av. Projetada, isto e, sem a da ocupaclio.»<br />

importAncia e valorizacão No tocante ao segundo fundamenadvinda<br />

da pr6pria obra. to, afirmaram os Impugnantes, f.<br />

Data yenta, entende o<br />

signatArio ser de legitima justi- 5. Em tema de extraordinario<br />

ca a indenizacAo pela area uti- em questOes exproPriatAria s, o<br />

lizada, porem corn as qualida- Min. Victor Nunes Leal, no agrades<br />

efetivas da mesma por vo de despacho denegaterio n?<br />

ocasiAo de sua absorcAo, atu- 24.995, assinalou:<br />

alizado Para a presente da- «No que respeita ao cAlculo<br />

ta. Da mesma forma nAo consi- da indenizacAo, o que constitui<br />

dera justo que o Autor obtenha<br />

indenizacAo mais elevada, de-<br />

questAo juridica sào os<br />

orittrios de julgamento, como<br />

corrente da execucAo da pr6- incluir, ou !ski, benfeltorias,<br />

pria obra» (fls. 106-107, grifos adicionar, ou nä°, honorArios<br />

originals).<br />

de advogado, tomar em conta o<br />

A Avenida NacOes Unidas, de valor da data da desaproPria-<br />

que se fala, e a prOpria obra que cAo, ou da data da pergola,<br />

motivou a desapropriacA o, e a etc.»<br />

«atualizacão » de que fala o Assis- 0 Excelso PretOrio tambem<br />

tente e a simples correcAo mone-<br />

Oita do valor estimado, como se<br />

decidiu:<br />

vë do prOprio texto.<br />

«0 problema relativo a epoca<br />

A parte a consideracáo de que a que deve corresponder o va-<br />

o Assistente Tecnico abalancoulor do im6vel desapropriado<br />

se a dizer o que e «justo» ou de nAo 6 questAo de fato e sim de<br />

«legitima justiea» ( taref a judi- dlreito.» (Recurso ExtraordinAcante<br />

e nAo pericial), verifica-se rio n? 48.127).<br />

que ele assistente julgou de ser<br />

atribuido o valor do imOvel Ainda assentou o Supremo Tri-<br />

antes, nä° na ocasiAo da pericia; bunal que, em relacAo a tais cri-<br />

o valor da sauna° do imOvel nas terios, ndo se trata de reexame<br />

supostas condicOes anteriores, da prova, «e, sim, do criterio le-<br />

conforme os «titulos de propriegal, e mesmo constitutional, redade»,<br />

ou «por ocasido de sua abgulador da indenizacão devida ao<br />

sorcão» (leia-se desaproPriacao, expropriado» (Revista Trimestral<br />

ou meihor ocupacAo, porque nal) de JurispructenCia, 64/421).»<br />

houve desapropriaeão ).<br />

«Ainda nas palavras do As-<br />

recurso foi assim admitido e razoado,<br />

fls. 199 a 204: ... (Lk).<br />

sistente:


A eg. Procuradoria-Geral da<br />

RepOblica oficlou ro caso emitindo<br />

este parecer do nobre Procurador<br />

Mauro Lelte Soares, f. 208:<br />

1. 0 Tribunal a quo, 1. 179, em<br />

acid, de desapropriacão indireta,<br />

reformou parcialmente a sentenca<br />

inicial no tocante ao valor da<br />

indenizacAo em face do confronto<br />

dos laudos apresentados pelo perito<br />

judicial e pelo perito da autarqula<br />

recorrida, descontando<br />

20% do preco =Bari° em face da<br />

melhoria operada pela desapro-<br />

priactio.<br />

0. Dal 0 recurso extraordinArio<br />

apolado nas Tetras a e d,<br />

alegando-se contrariedade ao art.<br />

153, f 22, da Constitute/Jo Federal,<br />

e negativa do art. 26 do<br />

DI 3.365/41).<br />

4. Somos pelo nAo conhecimento<br />

do recurso.<br />

«4. Pretende-se simples reexame<br />

da materia de prova atraves<br />

da confrontacAo de Indices dos<br />

laudos periclals apresentados, ao<br />

lado da alegacão de divergencia<br />

nao preencher as exigAncias da<br />

StImUla 291<br />

0. Se conhecido, somos pelo<br />

nAo provimento do recurso extraordinArio.»<br />

E o relat6rio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Mintstro Antonio Neder (Relator)<br />

— I. A materia regulada pelo<br />

artigo 26 do Decreto-Lel n? 3.365, de<br />

1941, toi assim conslderada na sentenca,<br />

f. 150:<br />

«De se ver que avaliacão foi<br />

feita para a situacAo atual A data<br />

do laudo, nilo tendo qualquer procedencia<br />

a critica felta pelo assistente<br />

t6cnico do r6u, de que<br />

deveria ser levada em consideracão<br />

a situacão da Area quando<br />

prOxima e como piarte de uma<br />

«avenida projetada» (f. 106).»<br />

R.T.J. — 94 273<br />

Essa materia foi julgada pelo<br />

acOrdão impugnado, como se 16 no<br />

seu texto constante do relatOrio, e foi<br />

Julgada no sentldo contrArlo ao que<br />

decidlu a sentenca, isto e, que o valor<br />

do im6vel desapropriado não pode<br />

ser o verificado ao tempo do laudo,<br />

e sim o anterior A melhoria que o<br />

Recorrido construlu no terreho (f.<br />

180, it 3).<br />

Ora, desprezando, como desprezou,<br />

o valor fixado na consideracão<br />

das circunstancias existentes no dia<br />

do laudo, e aceltando, como aceltou,<br />

o valor apurado em antes desse dia,<br />

isto 6, antes da melhoria (MC), o<br />

acOrdilo recorrido na verdade negou<br />

vigencla ao art. 26 do Decreto-Lel n!<br />

3.365, de 21-6-41, norma que define o<br />

valor da indenizacão como sendo 0<br />

apurado no dia em que se fizer a<br />

avallacAo.<br />

Vulnerada, que foi, no ponto, a citada<br />

norma <strong>federal</strong>, conheco do recurso<br />

extraordinArio quanto a essa<br />

materia.<br />

Trata-se, logo se ye, de materia<br />

jurldica, e nAo materia de Cato, essa<br />

de se fixar o dia em que se verifica o<br />

valor do im6vel desapropriado, porquanto<br />

esse dia se acha previsto no<br />

art. 26 do Decreto-Lei it! 3.365, de<br />

1941, norma <strong>federal</strong> cogente.<br />

II. Conheco do recurso e the dou<br />

provimento para restabelecer a sentenca<br />

Uncial na parte referente ao<br />

valor do ImOvel, mantido no macs o<br />

acOrdão impugnado.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 86.760 — SP — Rel.: Min. Antonio<br />

Neder. Rectes.: Francisco Salvia<br />

e sua mulher (Advs.: Paulo Valle<br />

Nogueira e Luiz Carlos Bettiol). Itecdo.:<br />

Departamento de Estradas de<br />

Rodagem do Municfplo de SIM Paulo<br />

— DERMU/SP (Adv.: Antenia Maria<br />

Zappa Schneider).


274<br />

Decisao: Conheceu-se do recurso e<br />

se ]he deu provimento nos termos do<br />

voto do Ministro Relator. Vencido 0<br />

Min. Soares Mufioz. Presidlu ao julgamento<br />

o Ministro Antonio Neder,<br />

por achar-se vinculado, nos termos<br />

do art. 71 do RI. Nao participou do<br />

julgamento o Min. Thompson Flores<br />

(Presidente).<br />

R.T.J. — 94<br />

Presidencia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder Presentes a Sessao os<br />

Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto, Soares Mutioz e<br />

Rafael Mayer. — Subprocurador-<br />

Geral da Republica, Dr. Francisco<br />

de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 27 de malo de 1980 —<br />

136Icio Carlos Dayrell, Secretario.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO 86.799 - SP<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Thompson Flores.<br />

Recorrentes: Adhemar Camardella Sant'Anna ou Adehmar Cambardella<br />

Sant'Anna e outros — Recoerldos: Miguel Martinez Matute, Pedro Martinez<br />

Matute (EspOlio de), Representado por s/invte.: Rosa .Aparecida Panelli e<br />

outros — Spencer do Amaral Thome — Ruth Guaratto Daniel, s/marido e<br />

outros.<br />

Mandado de Seguranca contra decisão judicial da qual o recurso<br />

cabivel TAW tinha efeito suspensivo e ameacava causar dano de demorada<br />

e Mat reparaclio.<br />

II. Recurso extraordinArio não conhecido porque, nem ocorreu<br />

negativa de vigencia do art. 5?, II, da Lei n? 1.533/51, nem dissidio<br />

com as Stmulas 267 e 268. Precedentes do S.T.F.<br />

ACORDAO<br />

a homologacao da proposta de<br />

compra de bens do acervo da so-<br />

Vistos, relatados e discutidos estes ciedade em liquidacao constitui-<br />

autos, acordam os Ministros da Pri-<br />

meira Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigraficas,<br />

por unanimidade de votos,<br />

conhecer do recurso.<br />

Brasilia, 18 de setembro de 1979. —<br />

Thompson Flores, Presidente e Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

Ao admitir o recurso extraordinario<br />

o ilustre Presidente, Juiz Joao Del<br />

Nero, fls. 209/10, assim resumiu a<br />

controvérsia:<br />

«Trata-se de mandado de Seguranca,<br />

em que os impetrantes sustentam<br />

que a suspensao de leilau e<br />

ram atos eivados de ilegalidade.<br />

0 yen. acOrdao de fls. 188/190<br />

concedeu a seguranca.<br />

Inconformados, os vencidos interpuseram<br />

recurso extraordinado,<br />

corn fundamento no artigo 119,<br />

III, letras a e d da Constituicao Federa<br />

l , alegando que o yen. acfirciao<br />

recorrido contrariou os artigos 5?,<br />

II, da Lei n? 1.533/51 e 468 do COdigo<br />

de Processo Civil e inculcou<br />

orientagao que diverge da firmada<br />

pelo Colendo Supremo Tribunal Federal<br />

(SOmulas 267-268) e pelo<br />

Egregio Tribunal de Justica de Sao<br />

Paulo (M.S. 240.954- 1. 198).<br />

O recurso, regularmente processado<br />

foi impugnado.


A Egregia Procuradoria-Geral<br />

da Justice opine pelo deferimento<br />

do recurso.<br />

Nilo ha, no caso, violacAo, mas<br />

tao somente interpretacAo razatvel<br />

da lei. Conforme consign a Egregia<br />

Procuradoria-Geral da Justice:<br />

«0 referido dispositivo da Lei<br />

do Mandado de Seguranca (art.<br />

5? n? II) 6 texto de controvertida<br />

interpretacilo nos <strong>tribunal</strong>s, de<br />

modo que simples opcAo a corrente<br />

ampliativa do writ nilo pode<br />

ser interpretada como literal<br />

violacão de lei. A respeito,<br />

socorre-me o verbete n? 400, da<br />

&mina mencionada. Acreditamos<br />

que identtco raclocinlo possa<br />

ser apresentado relativamente a<br />

alegada violacilo do art. 468 do<br />

Calig° de Processo Civil, ante o<br />

singelo despacho lanced° na pencil°<br />

de f. 17».<br />

Quanto A «diverancla de InterpretacAo<br />

portm, ressalte-se que sobre<br />

o cabimento do mandado 0<br />

eminente Relator do ven. acerdilo<br />

recorrido fol vencido «porque considerou,<br />

em dupla fundtunentacAo,<br />

que o writ era inadequado A meta<br />

(SUmula 267)» (f. 188).<br />

Imp6e-se, portanto, que sobre a<br />

mattrla aqui versada, se ensae o<br />

macs autorizado pronunciamento<br />

do Colendo Supremo Tribunal Federal.<br />

Por estes motivos, defiro o processamento<br />

do recurso.»<br />

2. Corn raz6es das partes, subiram<br />

os autos a esta Corte recebendo parecer<br />

contrArio da douta Procuradoria-Geral<br />

da Reptiblica, nestes termos,<br />

fls. 258/9:<br />

«0 Tribunal a quo f. 187, conhecendo<br />

por malorla, concedeu A<br />

unanimidade mandado de seguranca<br />

impetrado contra decisAo Judicial<br />

que suspendeu o leilAo de bens<br />

no die para ele aprazado, sem audiência<br />

dos &Scions, e homologou<br />

R.T.J. — 94<br />

275<br />

proposta de compra do acervo da<br />

sociedade em liquidecAo, proposta<br />

essa de pagamento em prestaciles<br />

e sem garantia real.<br />

Dal o recurso extraordiniirio<br />

apoiado nas letras a e d alegando<br />

negative dos arts. 5?, II, da lei n?<br />

1.533/51 e 468 do C6digo de Processo<br />

Civil, trazendo-se ao confronto<br />

as Stunulas 267 e 268.<br />

Somos pelo nao conhecimento<br />

do recurso.<br />

A impugnacão se refere apenas<br />

a parte preliminar do conhecimento<br />

do mandado de seguranca.<br />

O acerdilo recorrido declarou no<br />

merito que a decislio Judicial estava<br />

eivada de ilegalidade. Conforme<br />

o entendimento do Egreglo Supremo<br />

Tribunal no R.E. 76.909, Relator<br />

Ministro Xavier de Albuquerque,<br />

sesslio plearia de 5.12.73, avocado<br />

a f. 225, quando o recurso<br />

adequado tem apenas o efeito suspensivo<br />

e hit ameaca de dano irreparAvel,<br />

tern cabimento o socorro<br />

ao mandado de seguranca, contra<br />

decisão Judicial passivel de recurso<br />

corn efelto apenas devolutivo ou<br />

correicAo pante'.<br />

0 caso versado nos autos ajustase<br />

ao entenclimento em questa° em<br />

face da entAo iminencia de expeclicAo<br />

de alvarA para a outorga de<br />

escritura de venda de imovel da<br />

sociedade em dissolucAo. A medida<br />

liminar fol, inclusive, concedida, f.<br />

123.<br />

Somos, se conhecido, pelo nAo<br />

provimento do recurso extraordinArio.<br />

Brasilia, 30 de agosto de 1979. —<br />

Mauro Late Soaves, Subprocurador-<br />

Geral da Reptblica».<br />

E o relat6rio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Mastro Thompson Flores<br />

(Relator): NAo conheco do recurso.


276<br />

R.T.J. — 94<br />

Cinge-se ele a incabencia do<br />

mandamus, pots, admitindo-o contra<br />

despacho judicial, denegou vigencla<br />

aos art. 5?, II, da Lel 1.533/59 e discrepou<br />

da Saimaa 267 e 268, do<br />

S.T.F.<br />

Penso que inocorreram os pressupostos<br />

recursais em questdo.<br />

0 acCorddo, longamente considerou<br />

a manifesta ilegalidade do despacho<br />

impugned° e de conseqllente prejuizo<br />

dele emergente e da incerta reparacão.<br />

4. Corn efeito.<br />

No aresto se le, fls. 187/8:<br />

«Voltando-se o mandado de seguranca<br />

em causa contra decisdo judicial<br />

que alterou a normalidade<br />

processual - suspensão de lend° de<br />

bens precedido de editals e intimaea°<br />

regular as partes considerou a<br />

maioria que se tornava imprescindivel<br />

a intimacdo pessoal de todos<br />

os interessados, mesmo porque<br />

não era ilicito admitir a interrupcflo<br />

e o encerramento do Mil& remanescente<br />

sem aquela formalidade,<br />

por aplicacão analOgica da regra<br />

do art. 242, 3?, do C6digo de<br />

Processo Civil. Assim, o despacho<br />

interruptivo e a concomitante decksào<br />

terminative corn a homologacAo<br />

de proposta de liquidacAo, ndo<br />

podia ser havida como preclusa pela<br />

s6 e ulterior publicacflo dos atos<br />

inoportunos na imprensa official.<br />

Aberta, por force desse douto entendimento<br />

da maioria, a via de<br />

conhecimentb do merit° da impetreed°,<br />

possivel se tornou o julgamento<br />

do mandado, na ample perspective<br />

da indigitada lesào a direito<br />

liquido e certo.»<br />

E versando o merito, deduziu, fls.<br />

188/9:<br />

«A liquidacão da soctedade de<br />

que participou o impetrante e assistentes<br />

litisconsorcials (f. 128),<br />

notadamente na fase final de apu-<br />

cacao da fungibiltdade liquida dos<br />

bens societarios, ficou incada de<br />

dificuldades, apesar do esforco e<br />

dedicacdo do seu liquidante dativo;<br />

brotou conseMientemente, como<br />

solucdo, o praceamento dos<br />

bens, esgotadas todas as demais<br />

formas de desate. Designada a<br />

praca nAo houve licitante,<br />

seguindo-se designacAo de leilAo;<br />

ocorreu, entdo, a ilegalidade manifests.<br />

Sem audiencia de todos os<br />

secios, o MM. Juiz suspendeu o lei-<br />

IA°, no die para ele aprazado e na<br />

prOpria conjunta petted° de adiamento<br />

e noticia de proposta de<br />

compra do acervo, por terceiros,<br />

corn preco a prestacOes e sem garantia<br />

real, homologou a proposta<br />

de imediato. Ora, a proposta tal<br />

como noticiada, contrariava o tempo<br />

e a forma reqiiestados no art.<br />

700 do COdigo de Processo Civil e<br />

jamais poderia ter sido homologada<br />

naquelas condic6es, sem audiencia<br />

previa das partes. E que a<br />

proposta, no contend°, era passivel<br />

de justo repndio, se evidenciou desde<br />

logo pelo surgimento de outra,<br />

mats vantajosa e de mats adequada<br />

garantia real, que serviu de endosso<br />

a veemente °posted° do grupo<br />

de socios, ora impetrantes. E<br />

bastou urn pouco mats de meditae<br />

ponderacAo para Hear demonstrado<br />

o marcante acodamento<br />

da irrita homologacdo, contra a<br />

qual os demais sectos nä° impetrantes<br />

terminaram por reconhecer<br />

ao pedir assistencia litisconsorcial<br />

ativa neste mandado de seguranee<br />

L. 128).<br />

NA° podem prevalecer, conse-<br />

Mientemente, os atos conseqUendais<br />

do despacho objeto da impetreed°<br />

(1. 17: «J. Suspendo o lend°.<br />

Homologo a proposta que melhor<br />

atende a liquidacdo»). A sua ilegalidade<br />

vem do desrespeito do art.<br />

700 e seus do C6digo de Processo<br />

Civil; de sua inoportunidade. pela


nä° antecedencia audiencia das<br />

partes, interrompendo secglencia<br />

processual irreversivel pelo s6<br />

arbltrio do liquidante a quem era<br />

defeso, tambem, a transigencia de<br />

evidente veto no art. 351 do Ctochgo<br />

Cornercial.”<br />

E concluindo, f. 190:<br />

«Anota-se. por derradeiro, que os<br />

proponentes dtsputantes, inclusive<br />

os intervenientes de f. 156, nfto tern<br />

do que se quelxar corn o remote de<br />

agora porque lanearam-se empreitada<br />

de compra pela via de poheitzc6es<br />

que nä° completarsun o<br />

ciclo de sua definitividade, pela<br />

discordAncia dos outros visados<br />

contratantes. E o julgamento antecedente<br />

do Agravo de Instrtunento<br />

n? 220.220, ntio tern ressontincia<br />

aqui e agora, pois aquela decistio<br />

quedou-se numa prejudicial de intempestividade<br />

recursal, dIssociada<br />

das castles que Informaram, eft,<br />

o desate da prelimhtar e o de merito*.<br />

4. Verlfica-se assim que ntio ocorreu<br />

negativa de vigencia do art. 5?,<br />

II, mencionado nem dos verbetes sumulados,<br />

pots o S.T.F., sensivel a hipeteses<br />

como a dos autos, tern admitido<br />

a via do mandado de seguranca,<br />

em cartiter reservado dando exegese<br />

aos referidos enunciados.<br />

Mem do precedente indicado no<br />

parecer, cabe acrecentar outros, RE<br />

88.076, RTJ 84,1071, RE 84.181 - RTJ<br />

81/879, inclusive recente, desta 'Turma,<br />

ao ser julgado o RE n? 85.355 do<br />

R.S. onde sao indicados outros (RTJ,<br />

54,681; 63,490; 70,504; 72,743) e cuja<br />

ementa disp6e:<br />

eMandado de Seguranca. E<br />

cablvel contra decisties judiciSrlas<br />

R.T.J. — 94 27<br />

contra as quais não caiba recurso<br />

com efeito suspensivo, originando<br />

dano de (Melt reparacho.<br />

Precedentes do S.T.F. dando<br />

exegese ao art. 5?, II, da Lei n?<br />

1.533/51 e fazendo aplIcacão da<br />

Umtata 267.<br />

Prorrogacão pelo magistrado<br />

sem amparo legal, do prazo do art.<br />

352 do CPC de 1939, origlnando dano<br />

de Melt reparacho.<br />

Recurso extraordinftrio que<br />

se náo conhece, por ausencia de<br />

seus pressupostos.<br />

E o meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 86.799 - SP - Rel.: Min. Thompson<br />

Flores. Rectes.: Adhemar Camardella<br />

Sant'Anna ou Adhemar<br />

Cambardella Sant'Anna e outros<br />

(Adv.: Hotans Pedro Sartori). Recdos.:<br />

Miguel Martinez Matute, Pedro<br />

Martinez Matute (Espelio de): Representado<br />

por s/Inventariante Rosa<br />

Aparecida Panelli e outros (Adv.:<br />

Gull/myrtle Ramalho Netto); Spencer<br />

Pompeo do Amaral Thome (Adv.:<br />

Paulo Miguel de Oliveira) e Ruth<br />

Guaratto Daniel, seu markt° e outros<br />

(Adv.: Jose Stocco Netto).<br />

Decistlo: Nao conhecido, decIsflo<br />

unfinime.<br />

Presidência do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes 8 Sessilo<br />

os Senhores MhUstros Xavier de<br />

Albuquerque, Cunha Peixoto, Soares<br />

Mullor e Rafael Mayer. Subprocuradoria-Geral<br />

da Reptblica, o Dr.<br />

Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 18 de setembro de 1979. —<br />

Antonio Carlos de Asevedo tired&<br />

Secrettusio.


278<br />

R.T.J. — 94<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO CRIMINAL N? 86.847 — SP<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator para o acOrdAo: 0 Sr. Ministro Soares Munoz:<br />

Recorrente: Minist6rio Pllblico — Recorridos: Franklin Tadeu da ConceicAo<br />

e outro.<br />

Crime continuado. Possibllidade da continuacAo delitiva em crime<br />

de roubo, ainda que as infracOes tenham sido praticadas contra<br />

vithnas dilerentes.<br />

Recurso fundado exclusivamente na letra d do permissivo constitucional.<br />

NAo conhecimento da irresignacAo, de conformidade corn a<br />

SUmula 286.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, etc.<br />

Acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Primeira Turma,<br />

por maioria de votos e na conformidade<br />

das notas taquigrAficas,<br />

nAo conhecer do recurso.<br />

Brasilia, 27 de marco de 1979. —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Soares Muboz, Relator para o Actordrw.<br />

RELATORIO<br />

O Sr. Ministro Cunha Peixoto: 1. Os<br />

r6us Franklin Tadeu da Conceic6 e<br />

AntOnio Roberto da Silva foram denunclados<br />

corno incursos nas penas<br />

dos arts. 288, (wilco, 157, if 2?, I e II<br />

(por cinco vezes, em concurso material),<br />

todos do COdigo Penal, e pelo<br />

art. 1? da Lei n? 2.252/54.<br />

Segundo a dentncia, os acusados,<br />

ora recorridos, em companhia de<br />

dois menores, ajustaram-se, em bando,<br />

para a prAtica de roubos, tendo<br />

praticado, em co-autoria, os seguintes<br />

crimes: a) em 29-3-75, As 18:30 horas,<br />

frente ao warner° 106 da rua Paturd,<br />

mediante ameaca com arena de<br />

fogo, apropriaram-se do autom6vel<br />

Volkswagen placa EQ-1807, de pro-<br />

priedade de Maria Aparecida Batista<br />

Fllho, que se encontrava na direcão<br />

do veiculo, estando em sua companhia<br />

o marido e filhos menores do<br />

casal; b) em 5-4-75, As 18:55 horas, no<br />

final da Av. Cursino, corn o mesmo<br />

tlpo de ameaca, subtrairam a Simon<br />

Serradllha Dominguez o autom6vel<br />

Dodge-Dart placa DK-1602, bem como<br />

outros objetos que se encontravam<br />

no interior do velculo; c) em 5-<br />

4-75, As 21:30 horas, com o emprego<br />

de arenas de fogo, assaltaram tits<br />

pessoas que se encontravam no interior<br />

de um bar situado na rua JaboatAo,<br />

621, das quais subtrairam reinglos<br />

de pulso e pequenas quantias<br />

em dlnhelro.<br />

2 — 0 MM. Julz de Direito da 1?<br />

Vara Criminal, entretanto, na sentenca<br />

de fls. 131/136, afastando 0<br />

concurso material, acolheu a tese da<br />

continuldade delitiva quanto aos crimes<br />

de roubo, condenando cada urn<br />

dos recorridos A pena corporal de oito<br />

(8) anos de reclusAo, por lnfracAo<br />

ao art. 157, 4 2?, incisos I e II, c.c.<br />

art. 51, § 2?, ambos do COdigo Penal,<br />

bem corno A pena pecuniAria de Cr;<br />

6,00, e macs as custas do process*,<br />

metade para cada um dos sentenciados.<br />

Absolveu ainda os aludidos itus<br />

pelos delitos previstos no art. 288,<br />

parAgrafo Calico do C6digo Penal e<br />

art. 1? da Lei n? 2.252/54.


3 — 0 Dr. Promotor de Justice<br />

apelou pleiteando a reforma da sentence<br />

neo so quanto a absolvicao referente<br />

aos dois crimes JA menclonados,<br />

mas, alnda, corn relactio ao nil°<br />

reconhecimento do concurso material<br />

nos tres roubos retro especificados.<br />

4 — A Segunda Camara do Tribunal<br />

de Alcada Criminal do Estado de<br />

SA° Paulo negou provimento ao recurso,<br />

o que ensejou a interposicao<br />

do presente recurso extraordlnarlo,<br />

pelo Ministerio PGbllco Estadual,<br />

funded° no art. 119, bids° III, letra<br />

da Constituicao Federal, dando como<br />

divergente julgados de outros<br />

Tribunals estaduais e deste colendo<br />

Supremo Tribunal, onde se pleitela<br />

apenas o reconbecimento do concurso<br />

material nos tres assaltos.<br />

5 — Admitido o recurso pelo nobre<br />

Presidente do Egregio Tribunal a<br />

quo, manifesta-se a Procuradoria-<br />

Geral da Reptiblica pelo seu conhecimento<br />

e provimento, sob o fundament°<br />

de que sa materia is tem deflniclio<br />

cabal nesta Suprema Corte,<br />

repeUndo a orlentaclio sufragada no<br />

coleglado estaduals.<br />

E o relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cunha PeLtoto (Relator):<br />

1 — Conheco do recurso, la<br />

que comprovado o dissidlo pretoriano.<br />

Sustentou-se no Acerclio recorrido<br />

que, embora os assaltos tenham sido<br />

praticados em dates e locals diversos,<br />

contra vitimas diferentes, estava<br />

conflgurada a continuidade delitiva,<br />

enquanto que os padrees alinhados<br />

na pencil° do extraordinerio<br />

R.T.J. - 94 279<br />

alirmaram exatamente tese diametralmente<br />

oposta.<br />

2 — Conhecido o apelo, seu provimento<br />

se imptle.<br />

Este colendo Supremo Tribunal,<br />

em decisiles plentrias, la flrmou <strong>jurisprudencia</strong><br />

no senUdo de que, sendo<br />

diversas as dates e locals dos de-<br />

Mos, e implicando eles em °tense A<br />

pessoa, quando diferentes as vitimas,<br />

conflgura-se o concurso material<br />

de crimes.<br />

Entre outros, podemos nos referir<br />

aos julgados proferidos no RECr. n?<br />

84.377—SP, de que tui o relator, assim<br />

ementado, verbis:<br />

«Crime continued° — Condkees<br />

— Unidade de hdracilo Penal —<br />

Inocorrencia.<br />

Delitos que, alem de praticados<br />

em lugares diferentes, ocorreram<br />

em epocas e contra pessoas diver-<br />

US.<br />

Recurso conhecldo e providos.<br />

E, recentemente, a tese fol confirmade<br />

nos RREE n?s 87.789 e 88.396,<br />

julgados pelo Tribunal Pleno.<br />

Isto posto, conheco do recurso e<br />

the dou provimento para, cassando 0<br />

adordeo recorrido, determiner que<br />

outro seja proferido pelo egreglo Tribunal<br />

a quo, como entender de cUrelto,<br />

afastada a conUnuidade delitIva.<br />

VOW PRELIMINAR<br />

0 Sr. Ministro Soares Mufti: Sr.<br />

Presidente, a divergencia em que se


280<br />

R.T.J. — 94<br />

arrima o recurso extraordinArio se<br />

acha superada, pots o Supremo Tribunal<br />

Federal, nos Recursos ExtraordinArios<br />

n?s 88.396 e 87.769, em<br />

sessOes plenarias realizadas a 9-5-78<br />

e 11-10-78, respectivamente, unificou<br />

sua <strong>jurisprudencia</strong> no sentido da possibilidade<br />

da continuacão delitiva no<br />

crime de roubo, ainda que as infracOes<br />

tenham sido praticadas contra<br />

vitimas diferentes. Embora dois dos<br />

votos que integraram a tese majorititria,<br />

tenham-na confinado As h1p6teses<br />

em que os roubos ocorrem no<br />

mesmo dia ou corn poucos dias de intervalo,<br />

penso que nAo 6 posslvel<br />

reexaminar, ern recurso extraordinArio<br />

fundado exclusivamente na Tetra<br />

d do permissivo constitucional,<br />

a negative ou nä° de vigAncia do art.<br />

51, 2?, do C6digo Penal. Possivel<br />

que fosse esse reexame, adotaria,<br />

data venia do eminente Relator do<br />

presente recurso extraordinArio, os<br />

preprios fundamentos do acerdão<br />

impugnado, na parte em que decidiu<br />

que, em se tratando de infracties<br />

praticadas corn poucos dies de interval°<br />

(duas delas ocorreram no mesmo<br />

dia e a outra corn 6 Was de antecedAncia),<br />

e semelhantes quanto As<br />

circunstAncias de Lugar, de modo e<br />

de maneira de execucão, as duas {llamas<br />

devem ser consideradas como<br />

continuacAo da primeira, para os<br />

efeitos do 2?, do art. 51, do COdigo<br />

Penal.<br />

Ante o exposto, nAo conheco do recurso<br />

extraordinArio.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RECr 86.847 — SP — Rel.: MM.<br />

Cunha Peixoto. Recte.: Ministerio<br />

Mita) Estadual. Recdos.: Franklin<br />

Tadeu da ConceicAo e outro (Advt.:<br />

Maria Efigénia Sartoris Moreira).<br />

DecisAo: Adiado o julgamento por<br />

haver pedido vista o Ministro Xavier<br />

de Albuquerque, apes os votos do Ministro<br />

Cunha Peixoto (Relator) que<br />

conhecia e provia, e Ministros Soa-<br />

res Mufloz e Rodrigues Alckmin, que<br />

nAo conheciam do recurso.<br />

PresidAncia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes A sessAo os Srs.<br />

Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Alckmin, Cunha Peixoto e<br />

Soares Mtuloz. 2? Subprocurador-<br />

Geral da RepOblica, o Dr. Francisco<br />

de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 24 de outubro de 1978 —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretario.<br />

VOTO (VISTA)<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: 0 Tribunal de Alcada<br />

Criminal de SA° Paulo reconheceu<br />

que crimes de roubo distintos, praticados<br />

pelos recorridos contra vitimas<br />

diferentes, constituiam urn se<br />

crime continuado. Por isso, confirmou<br />

a sentence que assim tambem<br />

os considerara.<br />

0 eminente Relator conhece do recurso<br />

extraordinArio do Ministerio<br />

PIMlico, corn base no alegado<br />

dissidio pretoriano, e the clA provimento<br />

para afastar o nexo continuativo.<br />

Diverge o eminente Ministro<br />

Soares Mufioz, que lam conhece do<br />

recurso porque a orientacAo do acerclão<br />

recorrido alMa, no essencial,<br />

corn as macs recentes decisOes do<br />

Plenario do Supremo Tribunal Federal.<br />

Sao cinco os acOrdAos que se apontarn<br />

como divergentes, havendo todos<br />

eles decidido, em suma, pela impossibllidade<br />

de configuracAo de roubo<br />

continuado, quando as news sal)<br />

praticadas contra vitimas diferentes.<br />

Essa orientagao, todavia, como obtempera<br />

o eminente Ministro Soares<br />

Mtuloz, ja nAo traduz o pensamento<br />

atual do Supremo Tribunal Federal,<br />

cujo Plenario reexaminou e debateu<br />

largamente o tema quando dos julgamentos,<br />

concluidos a 11-10-78, dos<br />

RECr's 87.769 e 88.394. Nessa oportunidade,<br />

a maioria formada pelos


eminentes Ministros Decio Miranda,<br />

Soares Munoz, LeitAo de Abreu, Rodrigues<br />

Alckmin, Djaci Feick) e<br />

Thompson Flores, e por mim — entendeu<br />

que a circunstAncia de serem<br />

diferenteS as vitimas nflo constitul<br />

6bice, desde que presentes as outras<br />

condicdes legals, ao reconhecimento<br />

da continuacAo em crime de roubo.<br />

Z certo que eases dots recursos foram<br />

cOnhecidos e providos,<br />

reformando-se os acedilos estaduais<br />

que haviatil reconhecido a confinede<br />

dellttva. Mas 1sso se deu, come<br />

ficou clam nos derradeiros votos<br />

proteridos, dos eminentes Ministros<br />

Djaci Fatcao e Thompson Flores,<br />

nao porque a diversidade de vitimas<br />

impatiens aquele reconbecimento,<br />

mar, elm, porque eram distintas as<br />

circunstincias da pridica criminosa.<br />

Como o que arrhna o recurso<br />

esti circunecrito a tese gene/Ica<br />

de se inadmissivel a configurecillo<br />

do roubo continued°, quando diferentes<br />

as vitimas das aches delituosae,<br />

tenho-o por superado pela ju-<br />

Mauve/nes superveniente do Ple-<br />

EsclareCo que relive estes autos<br />

por alguns meses porque aguardava<br />

a oportunidade, que s6 por estes Was<br />

R.T.J. — 94 281<br />

se me ofereceu, de examiner, para<br />

consulta e compreensAo do decidido<br />

nos referidos RECr's 87.769 e 88.394,<br />

as notas taquigrAficas, <strong>revista</strong>s, dos<br />

votes entAo proferidos.<br />

Com a yenta do eminente Relator,<br />

acompanho o voto do eminente Ministros<br />

Soares Mulloz e tambem nAo<br />

conheco do recurso.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RECr 86.847 — SP — Rel.: Min.<br />

Cunha Pelxoto. Recte.: Ministerio<br />

Pnblico Estadual. Recdos.: Franklin<br />

Tadeu da ConceicAo e outro (Advit.:<br />

Maria EfigAnia Sartoris Moreira).<br />

NAo conheceram do recurso,<br />

vencido o Ministro Relator,<br />

nAo votou o Ministro Presidente.<br />

Presidencia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes A SessSo<br />

Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto e Soares<br />

Mutioz. Ausente justfficadamente o<br />

Sr. Ministro Rafael Mayer. 2?<br />

Subprocurador-Geral da Reptiblica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 27 de marco de l crm —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secrethrio.<br />

RECURS() EXTRAORDINARIO N? 87.259 — SP<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Thompson Flores.<br />

ReCerente: Sylvio Zaffarani — Recorrido: Conselho Superior da Magistrature.<br />

Mended° de segurama pare otter expedisilo de certidees requerides<br />

so Judielerio pare deems de direitos.<br />

— Negative que imports contrariedade garantia individual pre<br />

vista no arti♦o 153, f 35, a qual, DO caw se coniuga coin<br />

amain da Constituielle.<br />

5 do 1 15,<br />

III — Recurs extraordinArio conhecido e provido, com as ressalvas<br />

que resguardent 0 sighs publico, se for o caso.


282<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigrAficas<br />

t per unanimidade de votos, conhecer<br />

do recurso e dar-lhe provimento.<br />

Brasilia, 25 de setembro de 1979. —<br />

Thompson Flores, Presidente e Relator.<br />

RELATORIO<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

Este o despacho corn o qual o nobre<br />

Presidente, Desembargador Gentil<br />

do Carmo Pinto inadmitiu o recurso<br />

extraordinArio folhas 62/65:<br />

«0 Dr. Sylvio Zaffarini, advogado<br />

em causa prepria, impetrou seguranca<br />

contra o Presidente deste<br />

Tribunal de Justica para obter certidOes<br />

de doze representacOes que<br />

formulou pedindo a apuracAo de<br />

responsabilidade de vArios magistrados<br />

por<br />

«Irregularidades, arbitrariedades,<br />

despreparos, desculdos, violencias,<br />

injusticas, descasos, que<br />

o Eg. Conselho Superior de Magistratura<br />

determinou o arquivamentov<br />

(fls. 2-3).<br />

Denegado o writ, manifestou o<br />

impetrante recurso extraordinärio<br />

corn apoio nas letras a e c do art.<br />

119, III, da ConstituicAo da Reptrblica,<br />

alegando que foi contrariado<br />

o seu art. 153, § 35, e que o acercião<br />

prestiou a determinaAo contida<br />

no ar g t i go 5? do Decret c o-lei Estadual<br />

n? 104, de 20 de Junho de 1969,<br />

cuja validade 6 contestada perante<br />

o Ultimo dispositivo constitucional.<br />

A douta Procuradoria-Gera1 da<br />

Justica opinou pelo indeferimento,<br />

sublinhando:<br />

«0 que se entendeu no acOrdito<br />

e esse e o seu fundamento capi-<br />

tal, 6 que o direito de certidAo<br />

conferido pela Constituicão Federal<br />

nä° poder ser exercido abusivamente,<br />

corn o mero fito de tumultuar<br />

a vida interna 'da administracAo,<br />

porque se trata de urn<br />

direito condicionado a urn legitimo<br />

interesse que precisa ser convenlentemente<br />

demonstrado.<br />

0 acOrdAo, ern Ultima instAncia,<br />

tern urn fundamento de fato:<br />

entendeu-se diante das provas<br />

existentes, que o impetrante, ora<br />

recorrente, fazia use abusivo de<br />

urn direito, fundamento esse que<br />

nAo pode ser apreciado dentro do<br />

apertado Ambito do recurso extraordinArio»<br />

(fls. 59/60).<br />

Com efeito, ern decorrencia de<br />

preceito expresso (CF 153, I 35),<br />

doutrina e <strong>jurisprudencia</strong> assentam<br />

que o exercicio do direito subjetty°<br />

certidão deve repousar em<br />

legitimo interesse espedfico, cilia<br />

verificacAo compete A autoridade<br />

administrativa.<br />

Ora,<br />

«No caso, o impetrante, aventando<br />

o interesse que tem de<br />

defender-se em diversos processes,<br />

limitou-se a apontar quase todas as<br />

PeCas dos autos, sem que tivesse<br />

esclarecido a finalidade especifica<br />

de cada um. Logo, desde que ausente<br />

essa especificacAo, corn precis:1o,<br />

que ensejaria o interesse da<br />

medida, s6 podia ser o seu intento<br />

Indeferido, coerce da extravagAncis<br />

de seu prop6sito.<br />

0 direito de pedir certidão, embora<br />

erigido em postulado constitucional,<br />

nAo a arbitrArio. Est6 condicionado,<br />

coma foi predito, a demonstracão<br />

do interesse subjacente<br />

para que, atraves do mesmo,<br />

possa a autoridade administrativa<br />

aferlr de sua necessidade e averiguar<br />

os pressupostos condicionais<br />

para a sua concessAo" (folhas 42-<br />

43).


A alusAo a processo por crime<br />

contra a seguranca naelonal cuja<br />

instauracilo tot reclamada contra o<br />

recorrente nit° se relaciona corn a<br />

matoria destes autos, versando recusa<br />

de certidoes de representac6es<br />

por ele posteriormente articulades<br />

— como de habit° — contra<br />

vArios magistrados.<br />

NAo se entrev6, destarte, ofensa<br />

ao cllspositivo constitucional invocado,<br />

o que tome despicienda a<br />

argiiicAo de inconstitucionalidade<br />

da lel estadual n? 104/69.<br />

Pelo exposto, indefiro o recurso.»<br />

2. Entretanto o excepcional teve<br />

processamento, coin o provimento<br />

do Ag. 67.961, pelo eminente Minter°<br />

Antonio Neder, subindo a esta Corte<br />

coin nudes do recorrente, logrando<br />

parecer da douta Procuradoria-<br />

Gera' da RepOblica, nestes termos,<br />

fis. 83/4:<br />

M. 0 Tribunal a quo 1. 38, por<br />

maioria, denegou mandado de seguranca<br />

visando a expedicäo de<br />

certidlies constantes de diversos<br />

processos coin o fin de delas<br />

servir-se em defesa dos direitos perante<br />

as Justices Minter e Criminal<br />

perante as quids esta o Impetrante<br />

sendo processed°, porque,<br />

segundo o actrd8o, embora tai direlto<br />

se constltua em principio<br />

constitucional, Mo 6 arbitritrio,<br />

condicionando-se a demonstracAo<br />

do direlto subjacente atraves do<br />

qual a autoridade administrative<br />

Mere e averlgua dos seas pressupostos.<br />

2. Dal o recurs) ordincirio apolado<br />

nas letras a e c alegando contrariedade<br />

ao art. 153, e 35,<br />

da ConStituicilo e a invalidade do<br />

art. 5! do D.L. Estadual n! 104/69.<br />

R.T.J. — 94 283<br />

Somos pelo conheeimento do<br />

recurso.<br />

Declarou o llustre Des. Dimas<br />

R. de Ahneida em seu voto vencldo<br />

A f. 45: «..somente porque numerosas<br />

eram as pecas a serem certificedes:<br />

ou porque o impetrante 6<br />

renitente no seu objetivo de injusdear<br />

Magistrados, ou de os incemodar<br />

coin as relteradas e improcedentes<br />

denOncias que contra eles<br />

fez, assim como ao Egregio Conselho<br />

Superior da Magistrature, nao<br />

exlste suporte legal pare a denegac80.<br />

Poucas, ou mulles as certidoes,<br />

arcarla o Impetrante coin o<br />

Gnus da sua extracao; e o policiamento<br />

permitido pelo Decreto-lei<br />

estadual nt 104/69, afasta a possibilidade<br />

de ser fornecida certldAo de<br />

alguma peca de carater sigiloso,<br />

hipOtese esta algo cerebrina uma<br />

vez que o Judicitirio, nada tem a<br />

manter em sigillo (apenas resguarda<br />

as situaciles individuals daqueles<br />

que perante ele litigam».<br />

0 Ministerio PUblico local, f.<br />

76, atraves do Procurador Wolfgang<br />

Stein, ao pronunciamento em<br />

questAo aderlu e Ws, tamb6m, de<br />

acordo coin a intevalldade dos<br />

mesmos, permitimo-nos adotar os<br />

entendimentos em questAo.<br />

A materia referente A invalldade<br />

do dispositivo estadual invocado<br />

flea prejudicada, por desnecessArio<br />

seu exame ao merito da<br />

cause.<br />

7. Somos pelo provimento do recurs)<br />

extraordinario.<br />

Brasilia, 13 de setembro de 1979.<br />

— Mauro Lelte Soares,<br />

Subprocurador-Geral da<br />

ca.<br />

to relatOrio.


284<br />

VOW<br />

O Senhor Ministro Thompson<br />

Flores (Relator): Conhego do recurso<br />

e lhe dou provimento, para conceder<br />

a seguranca, sem prejuizo do<br />

controle que, em termos, se fizer necessario,<br />

no pertinente aos atos reconhecidamente<br />

sigllosos.<br />

Conquanto oferega o aresto impugnado<br />

alguns aspectos semelhantes<br />

aos proferidos nos M.S. nduneros<br />

240.230 e 244.126, xerocoplados As fls.<br />

25/7 e 28/31v., os quais originaram<br />

os Ag n?s 66.141 e 66.957, fruto da<br />

inadmisslio dos extraordinArios manifestados<br />

e ambos jA definitivamente<br />

arqtilvados (DJ de 27.2.76 e<br />

19.5.78, respectivamente), dissentem<br />

eles em pontos essenclais, proporclonando,<br />

dessarte, diverso desfecho.<br />

R.T.J. — 94<br />

In casu, o ora recorrente impetrou<br />

seguranca porque nib) logrou<br />

obter certidOes que se diz necessita-<br />

Jo para fazer sua defesa nas aides<br />

penais que se originaram das representacdes<br />

que fizer, as foram quais<br />

Certo nAo precisou quais, antes visou<br />

a sua totalidade, e, porque muitas<br />

as representacties, desatendido<br />

tot em seu prOposito.<br />

Tenho que, em assim decidindo,<br />

antes de dar cumprimento ao disposto<br />

no art. 153, § 35, da Constituiclio, o<br />

deciserio impugnado, tornado por<br />

maioria de votos, contrariou-o,<br />

deixando de proporcionar ao recorrente<br />

as pecas que julgou necessArias<br />

A sua defesa nos procedimentos<br />

criminals que indicou, defesa esta<br />

que a Lei Maior tamb6m o assegura<br />

na amplitude do § 15, do mesmo artigo.<br />

Certo pode suceder que algumas<br />

dessas pegas tenham cunho de reservados<br />

ou sigllosos, e faltaria,então,<br />

legitimidade ao requerente para conhecer<br />

seu contend°. Dal a ressalva<br />

que se introduz no provimento deste<br />

recurso.<br />

No mats reporto-me ao parecer da<br />

douta Procuradoria-Geral da Reptiblica<br />

e ao bem deduzido voto do !lustre<br />

Desembargador Dimas R. de Almeida,<br />

o qual, a meu ver, bem situou<br />

a controvnrsia, e neste termos,<br />

Os. 44/6:<br />

«1. Concedo, em parte, a seguranga;<br />

para que sem prejuizo do<br />

controle autorizado pelo Decretolei<br />

estadual n? 104/69, sejam tomecidas<br />

ao im-petrante as certidepes<br />

pedidas e denegadas consoante a<br />

motivacão constante de Os. 16/18,<br />

que aprovada pela Egrègla Presidéncia,<br />

representa a llegalidade de<br />

que se quelxa o impetrante.<br />

2. Ao que se verffica da motivagflo<br />

exarada no parecer do Dr. Juiz<br />

Auxillar da Presidencia, e por esta<br />

aprovado, a denegacAo das certi-<br />

(Wes teve por Micro a circunstAncia<br />

do pedido se referir a quase todas<br />

as Degas dos autos que indicou;<br />

e nAo porque nAo houvesse o impetrante<br />

especificado os fins para os<br />

quais formulava o pedido de bits<br />

certidOes. E, desde que 6 incontroverso<br />

que indlcou os fins, especif!cando<br />

que eram para a defesa dos<br />

seus direitos e da sua situactio em<br />

vArias aides penals que the movem<br />

Magistrados que se consideram<br />

injuriados ou calunlados nas<br />

relteradas representacdes contra<br />

eles formuladas pelo impetrante ao<br />

Egrngio Conselho Superior da Magistratura,<br />

nAo hA como se the negar<br />

o direito, amparado no art.<br />

153, § 35, da Emenda n? 1/69, sem<br />

possiblidade de abusos que o<br />

Decreto-lei ri? 104/69 corrigirA na<br />

expedigAo.<br />

411As, o relatbrio contido no V.<br />

AcOrdAo retro, ao expor a pretensào<br />

do impetrante, deixa claro que<br />

foi ela precisa na inclicacAo dos


fins que representam o seu objetivo,<br />

embora numerosa a indicadio<br />

das pecas a serem certificadas.<br />

Em tats condicdes, somente porque<br />

numerosas eram as pecas a serem<br />

certificadas; ou porque o impetrante<br />

6 renitente no seu,,objeUvo<br />

de injusUcar Magistrados, ou de<br />

incomodar corn as reiteradas e improcedentes<br />

dedincias que contra<br />

eles fez, assim, como ao Egrégio<br />

Conselho Superior da Magistratura,<br />

nao existe suporte legal para a<br />

denegacilo. Poucas, ou muitas as<br />

certidOes, arcarla o impetrante<br />

corn os Onus da sua extracao; e o<br />

pollclamento permitido pelo<br />

Decreto-lei estadual n? 104/69,<br />

afasta a possibilidade de ser forneckla<br />

certidao de alguma peca de<br />

water siglloso, hipOtese esta algo<br />

cerebrina uma vez que o Judicittrio,<br />

nada tern a manter em sigilo<br />

(apenas resguarda as situacOes<br />

daqueles que perante ele<br />

Iftigam).<br />

Seja permitido transcrever o<br />

magistério de Pontes de Miranda,<br />

ao comentar a Constituicilo de<br />

1965, Emenda n? 1, Tomo V, peg.<br />

665:<br />

«A expedicão de certidOes re-<br />

Weridas para defesa de direltos<br />

— cumpre frisar-se — de modo<br />

nenhum pode depender de apredavit°<br />

da especle pela reparticao<br />

que as ha de passar: serla<br />

permitir-sea autoridade adultnatrativa<br />

arbitrio, ou, pelo menos,<br />

pre-exame do direlto do. requerente.<br />

A denegacilo somente<br />

se pode admitir por falta de legitimacao<br />

do requerente para requerer,<br />

ou nenhuma ligacilo do<br />

contettdo do ato certificavel<br />

com o direito deduzido, ou<br />

deduzir-se, em Adz° ou admintstrativamente,<br />

ou<br />

Evidente que a circunstancia de<br />

serem numerosas as certidOes pedidas,<br />

— ainda que constituam elas<br />

todo o processo admtnistrativo, ou<br />

R.T.J. — 94<br />

285<br />

todos os processos dessa natureza<br />

instaurados por provocactio do impetrante<br />

— desde que a pretenslio<br />

olio 6 carente de legitimactio ou de<br />

precis/1o, e pela acão fiscalizadora<br />

do Decreto-lei 104/69, o «sigilo» que<br />

deva ser resguardado pode ser as-<br />

Segundo, o direito do impetrante<br />

encontra respaldo no art. 153, 9 35<br />

da Emenda nt 1/69.<br />

E certo que na assentada de Julgamento,<br />

lembrada foi a possibilldade<br />

do impetrante obter tall certidies<br />

atraves de requIsicito do<br />

Jufzo Criminal, nas acees pewits a<br />

quo responde. Mas, sobre olio afastar<br />

o adireito individual» a simples<br />

possibilidade de obtencão do mesmo<br />

objetivo, por outros meios legals,<br />

ha considerar Edda que cabe<br />

it parte a produce° das provas necessarlas<br />

sua defesa salvo a hipotese<br />

de miserabilidade.<br />

3. Por this nudes concedo, coin a<br />

restridlo jai assinalada, a seguratica».<br />

E o meu voto.<br />

EXTRATO AA ATA<br />

RE 87.259 — SP — Rel. Min.<br />

Thompson Flores. Recte.: Sylvlo<br />

Zaffaranl (Adv. em causa propria).<br />

Recdo: Conselho Superior da<br />

Magistratura.<br />

Decisao: Conhecido e provido,<br />

decals) unlinlme.<br />

Preside-oda do Sr. Mil/nitro<br />

Thompson Flores. Presentes 8 Sesos<br />

Srs. Mlnistros Cunha Peixoto,<br />

Soares Munoz e Rafael Mayer.<br />

Ausente justificadamente o Sr.<br />

Mln. Xavier de Albuquerque.<br />

Subprocurador-Geral da RepObilea,<br />

o Dr. Francisco Assls Toledo.<br />

Brasilia, 25 de setembro de 1979<br />

— Antonio Carlos de Azevedo<br />

Braga, Secretarlo.


286<br />

— 94<br />

RECURSO EXTRAORDINAR IO N? 87.306 — SP<br />

(Prlmeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cunha Peixoto.<br />

Recorrente: Unido Federal — Recorrida: PENNWALT S.A. Ind(Istria e<br />

Comercio. Multa do art. 60, I, da Lel n? 3.244/57. Ilegaltdade de sua impostquando<br />

a mercadorla estava acobertada por licenca de Importacão<br />

no momento do desembarque, embora tenha esta stdo expedlda<br />

ap6s seu embarque no estrangelro.<br />

Recurso conheeldo e desprovido.<br />

ACORDAO<br />

e perante o egregio Tribunal Federal<br />

de Recursos, que confirmou aquela<br />

Vistos, relatados e discutidos estes decisdo em actircido que porta a<br />

autos, acordam os Ministros da Pri- ementa seguinte:<br />

meira Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do «Importacdo. A multa do art. 60,<br />

julgamento e das notas taquigrAfi- I, da Lei 3.244/57, corn a redacdo<br />

cas, por unanimidade de votos, em dada pelo art. 169 do Decreto-lei<br />

conhecer do recurso mas the negar 37/66, somente tern aplicacdo no<br />

provimento.<br />

caso de sub ou superfaturamento<br />

ou qualquer outra modalidade de<br />

fraude cambial, circtmstAncias que<br />

Brasilia, 6 de junho de 1978. —<br />

Antonio Neder, Presidente — Cunha<br />

Peixoto, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Cunha Peixotraziennwalt<br />

S.A. IndOstria e Comdrcio<br />

adquiriu na Argentina mercadoria<br />

que foi embarcada para o Brasil<br />

aqul chegou quando ainda ndo fora<br />

emitida a guia de importacdo. Declarou<br />

tal circunstAncia ao promover<br />

despacho respectivo, jA entdo munida<br />

da aludida guia. Contudo, veio a<br />

ser multada em 100% (cem por cents)<br />

do valor do imposto de importacdo<br />

por ato assentado no art. 60 da<br />

Lei n? 3.244/57, corn a redacdo do<br />

art. 169 do Dec.-lei n? 37/66.<br />

Impetrou mandado de seguranca<br />

para se isentar da referida multa, logrando<br />

exito em primeira instAncia<br />

tido ocorrem em relacdo a merca-<br />

dolga embarcada antes da expedicdo<br />

da guia de importacdo, mas<br />

posta a despacho quando jA cumprida<br />

tal formalidade. Sentenca<br />

concessiva de seguranca confirmadam<br />

Inconformada, a Unido Federal interpOs<br />

recurso extraordinArlo, corn<br />

fundamento nas letras a e d, do n?<br />

III, do art. 119 da Constituicdo Federal,<br />

apontando como violado o art. 60<br />

da Lei n? 3.244/67, com a redacdo<br />

que the deu o art. 169 do Dec.-lei n?<br />

37/66, bem como dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l.<br />

A Procuradoria-Ge ral da Reptblica<br />

opina no sentido de ser o recurso<br />

conhecido e provido.<br />

o relat6rio.<br />

VOTO<br />

Sr. Ministro Cunha Pelxoto (Relator):


O egragio Tribunal Federal de Recursos<br />

entendeu indevida a multa<br />

quando embarcada a mercadoria antes<br />

da expedictio da gula de importa_<br />

cAo, mas existente esta quando de<br />

sua chegada ao Brasil.<br />

A UniAo interpOs recurso extraordinario,<br />

corn ftmdamento nas tetras<br />

a e d do permissivo constitutional.<br />

No aresto proferido na AMS<br />

63.476 (DJ. de 13-3-73), flcou consignado:<br />

ultesolucAo nt 35, do Banco Central<br />

da Repablica. A importacito de<br />

produto classificada na categoria<br />

geral dispensa o certificado que<br />

prova a cobertura cambial, mas<br />

estit sujeita a guia de importacAo<br />

corn os elementos daquele documento<br />

e efleacia por cento e Ante<br />

Was. Importada mercadoria que se<br />

classifica na categoria geral, mas<br />

tinportada sem a referida gula, ou<br />

mediante guia expedida algtun<br />

tempo depots do embarque da mercadoria<br />

no exterior, taw constitui<br />

infracAo de natureza fiscal.,<br />

Conheco, pots, do recurso corn fundamento<br />

na tetra d, mas para the negar<br />

provimento.<br />

Na verdade, os bens importados<br />

foram embarcados no exterior antes<br />

da expedicAo da guia de importacAo,<br />

mas quando do desembarque dos<br />

mesmos no porto do destino, a importadora<br />

ja a possula. Ora, como<br />

estabelece o art. 19 do COdigo Tributart°,<br />

o fato gerador do impost° de<br />

importaca0 e a entrada da mercadoria<br />

em porto brasileiro.<br />

Nilo ha, assim, molly° para apneacAti,<br />

a hipetese, da multa p<strong>revista</strong> no<br />

art. 60 da Lei if 3.244/57, corn a redacAo<br />

clue the deu o art. 169 do Dec.-<br />

R.T.J. — 94<br />

287<br />

lei it 37/66, ou seja, quando do desembaraco<br />

aduaneiro, a impetrante<br />

la tlnha obtido a licenca. Dispde o<br />

art. 60, if I, corn a redacAo dada pelo<br />

art. 169 do Dec.-lei if 37/66:<br />

gais 'nineties de natureza cambial,<br />

apuradas pela reparticao<br />

aduaneira, serão punidas corn:<br />

I — Multa de 100% (cem por cento)<br />

do respectivo valor, no caso de<br />

mercadoria Importada sem licenca<br />

de importacAo ou sem o cumpri-<br />

'tient° de outro qualquer requisite<br />

de controle cambial ern que se exila<br />

o pagarnento ou depOsito de sobretaxas,<br />

quando sua importactio<br />

estiver sujeita a tails requisites, revogados<br />

os 3?, 41 e 51 do artigo<br />

6?, e o artigo 11 da Lei n? 2.145, de<br />

29 de dezembro de 1953.,<br />

Como se veriflca, o dispositivo 6 tipicamente<br />

penal e, portanto, nAo pode<br />

ser aplicado por analogia ou extensAo.<br />

Daf s6 estar sujeita a multa,<br />

como declara o dispositivo invocado,<br />

quando, por ocasiAo do embarque,<br />

no porto de origem, a mercadoria<br />

ntio esta munida de documento que<br />

the habilite a importacAo.<br />

As normas punitivas do Wren° tributario<br />

sAo de duas natureza: civis e<br />

penis. Estas se caracterizam pela<br />

sua natureza tipicamente de penas,<br />

nada tendo corn o prejuizo patrimonial<br />

do fisco, que ocorre quando 0<br />

tributo 6 pago corn atraso. Ora, o dlrelto<br />

tributarth penal 6 um direlto de<br />

excecAo e, portanto, de interpretacAo<br />

restrita.<br />

Daf porque — assinala Fithio Fanucchl<br />

— (Tara a solucAo dos casos<br />

trtbutarios penis, ha de se observar<br />

todos os princIpios juridicos que regem<br />

o direlto penal, a comecar pelos<br />

mats importantes doles, pelos efeitos


288<br />

R.T.J.—<br />

que sac) capazes de gerar: o da inexistencia<br />

da infragao e da Pena, se a<br />

lei não as descreve e comina corn<br />

anterioridade (nullum crimen, nulla<br />

poena, sine lege); o da solucao das<br />

dtividas em favor do infrator (in dubio<br />

pro reo); o da retroatividade da<br />

lei mats benigna ao infrator; 0 de<br />

que a pena nao passa da pessoa do<br />

Infrator para terceiros » (Curso de<br />

Direito Tributario Brasileiro, volume<br />

I, pAg. 449, n? 136).<br />

Também Aliomar Baleelro:<br />

«0 C.T.N. dispOs, por outras palavras,<br />

que, em relacão as penalidades,<br />

observe-se o carater restritivo<br />

do direito penal, infenso — salvo<br />

opini6es isolada s — A analogia.<br />

A maxima in dubio pro reo vale<br />

aqui tamb6m. Benignamplianda,<br />

embora nAo se reconheca mérito<br />

na equiparacAo das Leis fiscais As<br />

lege diosae, que se yelhos<br />

o autores»a (Direito referem<br />

Tributftrio<br />

Brasileiro, pag• 407).<br />

Que o dispositivo invocado 8 de natureza<br />

penal ilk) ha thivida, pois, de<br />

conformidade corn o art. 19 do C6digo<br />

Tributario National, o fato gerador<br />

do imposto de importacdo e a entrada<br />

da mercadoria em Porto brasileiro.<br />

Portanto, desse momento<br />

que se pode cobrar o tributo e<br />

aplicar-lhe a multa, se nao pago no<br />

devido tempo.<br />

Ora, como se verifica pelo texto do<br />

dispositivo que criou a penalidade, a<br />

multa p<strong>revista</strong> no art. 60 6 de natureza<br />

cambial, e não hã como aplicala<br />

a urn desrespeito a prazo de embarque,<br />

contra o qual a Fazenda nao<br />

Instituiu nenhuma sancAo legal.<br />

Neste sentido, decidiu a egrégia<br />

Segunda Turma no RE if 67.698, que<br />

porta a ementa seguinte:<br />

«Multa do art. 60, I, da Let rit.'<br />

3.244/57.<br />

Ilegitimidade de sua imposicao<br />

quando a mercadoria estava acobertada<br />

por licenca de importacao,<br />

embora emitida dias depots de sua<br />

chegada. Impertinencia do problema<br />

relativo ao transporte em navio<br />

de bandeira estrangeira. Recurso<br />

extraordinario nao conhecir<br />

do.»<br />

Por todos estes motivos, conheco<br />

do recurso, mas the nego provimento.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Rodrigues Alckmin:<br />

Sr. Presidente com a ressalva do<br />

meu ponto de vista, acompanh o o oto<br />

do eminente Relator, atendendo<br />

orientacão firmada no Pleno.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 87.306 — SP — Rel.: Min.<br />

Cunha Peixoto. Recte.: Unit) Federal.<br />

Recda.: Pennwalt S/A — Inclftsthe.<br />

e Col/16rd° (Adv.: Joseval Sirqueira).<br />

Decisao: Conheceram do recurso,<br />

mas the negaram provimento, unanime.<br />

Presidancia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder Presentes A Sessao os<br />

Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Alckmin, Cunha Peixoto<br />

e Soares Mufroz. 4? Subprocurador-Geral<br />

da Reptiblica, o Dr.<br />

Francisco de Assts Toledo.<br />

Brasilia, 6 de Junho de 1978. —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

SecretArlo.


R.T.J. - 94 289<br />

EMBARGOS NO RECURSO EXTRAORDINARIO N° 87 518 — 11J<br />

(Tribunal Pleno)<br />

(RE na RTJ 92/775)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Rafael Mayer.<br />

Embargante: Inah de Carvelho K6s — Embargados: Joao AntOnio de<br />

Almeida Gonzaga JOnior (EspOlio de) e outros.<br />

— Recurso extraordinario. Exame de prove. Concubinato. Part!-<br />

]ha de bens. 1 — Inviabilidade do apelo extraordlnarlo face 8 Meantorritivel<br />

materia factual nos termos em que poste pelos blatancies<br />

Ordinaries. AI se teve por proved° que todos os bens delxados pelo de<br />

cujus foram por ele havldos anterlormente ao concubinato, o que exail<br />

a formacao de Um patrimOnio a base de esforco comum. 2 — Inoccrrencla<br />

do dash& pretendido, els que dlspares as teses oferecidas<br />

pelos acardilos paradlgmas nos pressupostos em que assentam as<br />

afirmactles imidicas. 3 — Embargos de divergencia nao conhecidos.<br />

ACORpA0<br />

Vlstos, relatados e discutidos este<br />

acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em SeesIto<br />

Plena, na conformldade da ata de<br />

julgamentos e notes taquigraficas, a<br />

unanimidade, em nAo conhecer dos<br />

embargos.<br />

Brasilia, 12 de marco de 1980 —<br />

Xavier de Albuqueque, Presidente —<br />

Rafael Mayer, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Rafael Mayer:<br />

Trata-se de acAo ordinAria ajuizada<br />

pela concubine objetivando o direito<br />

a meaclio dos bens delxados por<br />

JoA° Antonio de Almeida Gonzaga<br />

JOnior, coin quem vlveu more<br />

iambi, bent como a metade das rendas<br />

que foram percebidas pelo esp5no<br />

e porventura partUhadas.<br />

A sentence Julgou a acAo improcedente,<br />

sendo confirmada pelo egr6-<br />

(Po Tribunal de Justice, em grau de<br />

embargos infringentes, onde se fez a<br />

seguinte ementa:<br />

aConcubinato. Indeferimento da<br />

pretensao da concubine de partilhar<br />

bens, dada a inexistencia de<br />

sociedade de fato ou patrimOnio<br />

adquirido pelo esforco comum dos<br />

concubinos. Embargos rejeitados.»<br />

Interposto recurso extraordinario,<br />

nä° logrou ser conhecido pela ea:Ogle<br />

Segunda Turma deste Tribunal,<br />

cola ementa do adirdito lavrado pelo<br />

eminente relator do feito, Ministro<br />

Leitlio de Abreu, 6 deste teor:<br />

aConcubinato. PretensAo da concubine<br />

a partilhe de bens, repelida,<br />

nas instanclas ordinfulas, ao<br />

entendimento de inexistencia de<br />

sociedade de fato ou patrimOnio<br />

adqulrldo pelo esforco corn= dos<br />

concubinos. Inocorrancia de dissidio<br />

corn a Stunula 380. NAo<br />

cumprimento, no tocante aos outros<br />

padrOes, do disposto no artigo<br />

305 do Regiment° Interim do Supremo<br />

Tribunal Federal. Uniformizacilo<br />

da Jurisprudancia. Ausencla,<br />

neste ponto, de afronta a lei <strong>federal</strong>.")<br />

Inconformada a recorrente opOs os<br />

presentes embargos de divergencia,<br />

trazendo a confront° diversos arestos<br />

para comprovar o dissidio, no<br />

sentido do direito da concubine a<br />

meacAo, uma vez comprovada a<br />

existencia de sociedade de fato, — e<br />

da nao exigencla para a caracterizactio<br />

da sociedade de tato, da necessi-


290<br />

R.T.J. — 94<br />

dade de aporte de dinheiro, admitido<br />

que a colaboragão da concubina re-<br />

suite<br />

do praprio labor domêstico,<br />

mesmo de uma colaboracAo !material<br />

na formacAo ou ampliacAo do<br />

patrimOnio.<br />

Os embargos apontam, como divergidos,<br />

da Primeira Turma, os<br />

acordAos prof eridos no RE<br />

74.706/PR, Relator o Ministro Rodrigues<br />

Alclunin; RE 79.079,Relator o<br />

Ministro Antonio Neder; RE 68.952,<br />

Relator o Ministro Aliomar Baleeiro;<br />

RE 58.683, Relator o Ministro Hermes<br />

Lima (3? Turma); e do Tribunal<br />

Pleno, os ERE n? 53.122, Relator o<br />

Ministro Luiz Gallotti, e de resto a<br />

prOpria Stunt'la 380.<br />

Processados e impugnados as embargos,<br />

os autos foram corn vista A<br />

Procuradoria-Geral da Repdblica,<br />

onde, corn o referendo do eminente<br />

titular, o douto Procurador Walter<br />

José de Medeiros emitiu o seguinte<br />

parecer:<br />

«Repelida, em ambas as instAncias<br />

ordinArias, a pretensAo da<br />

concubina A partilha dos bens, foi<br />

por ela manifestado recurso extraordinArio,<br />

de que a eg. Segunda<br />

Turma nAo conheceu, em acOrdAo<br />

ralatado pelo eminente Ministro<br />

Leith° de Abreu. Em seu llustrado<br />

voto, salientou S. Exa. que, embora<br />

entendesse que, provada a vida<br />

more uxorio, podia-se presumir a<br />

existAncia da sociedade de fato,<br />

corn a partilha do patrimônio comum,<br />

tal solugAo, contudo, nAo poderia<br />

ser perfilhada no caso em<br />

aprego, porquanto demonstrado na<br />

jurisdicAo ordinAria que «a aquisigão<br />

de todos os bens ocorrera em<br />

period° anterior ao concubinato».<br />

E, para ilustrar seu asserto, transcreveu<br />

o llustre Ministro passagem<br />

do acOrdAo recorrido, demonstrativa<br />

desta particularidade do caso,<br />

como se pode ver do seu seguinte<br />

teor:<br />

«0 patrimOnlo do finado concubino<br />

jA se solidificara ao passar<br />

A vida em comum corn a embargante,<br />

em 1949, nada mais adquirind°<br />

depots...» (f. 1.059).<br />

Concluiu por afirmar a inocorrëncia<br />

de conflito corn a Stnnula<br />

380, a inobserviincia do art. 305 do<br />

Regiment° em relacão aos padrOes<br />

trazidos para confronto e lnvocando<br />

a Stimula 279 para trancar o<br />

reexame das provas, no ponto em<br />

que as instAncias ordinArias concluiram<br />

pela inexisténcia de patrimOnio<br />

adquirldo pelo esforgo comum<br />

que devesse ser partllhado<br />

entre os concubinos.<br />

Dal ter-se encimado o v. acOrdAo<br />

corn ementa assim conceblda:<br />

«Concubinato. PretensAo da<br />

concubina a partilha de bens, repelida,<br />

nas instAncias ordinArias,<br />

ao entendimento de inexistOncia<br />

de sociedade de fato ou patrimOnio<br />

adquirldo pelo esforco comum<br />

dos concubinos. Inocorréncia<br />

de dissidio corn a Siunula 380.<br />

NAo cumprimento, no tocante aos<br />

outros padrOes, do disposto no artigo<br />

205 do Regimento Interno do<br />

Supremo Tribunal Federal. UniformizagAo<br />

da <strong>jurisprudencia</strong>.<br />

Auséncia, neste ponto, de afronta<br />

A lei <strong>federal</strong>.<br />

R.E. nAo conhecidon (f. 1.226).<br />

Ainda irreslgnada, opOe a vencida<br />

embargos de diverancia em<br />

que, a despeito dos iniuneros julgados<br />

oferecidos a cotejo, nenhum se<br />

presta ao fim colimado, pelo que o<br />

recurso, em preliminar, nAo estA,<br />

a nosso ver, a merecer conhecimento.<br />

E que o v. act:prat) embargado,<br />

atento A regra contida na Stunula<br />

279, entendeu nAo ser possivel, no<br />

Ambito angusto do apelo constituclonal,<br />

rever a conclusAo, fundada


na prove coligida, a que chegara o<br />

eg. Tribunal de Justice fluminense,<br />

na esteira daquilo que tambem<br />

fora proclamado pela sentence do<br />

MM. Juix singular, quarto a inexistOncia<br />

de patrimOnto adquirido pelo<br />

esforCo comum, em face da<br />

cunstencta de terem os bens do<br />

amAslo sido adquiridos em epoca<br />

anterior ao concubinato.<br />

Ora, essa minima cIrcunstantia<br />

taco alio se acha presente em<br />

qualquer dos arestos trazidos a estampa,<br />

pots, pare que dissidlo houvesse,<br />

mister aerie a existencia de<br />

julgado onde, em face da mesma<br />

pecullaridade aqul assinalada, tivesse<br />

sido,conhecido o recurso extraordintrio.<br />

A embargante, contudo,<br />

nAo logrou demonstrar a similitude<br />

dos casos cotejados, a que fossem<br />

dadas solufles diversas. com<br />

o Tito de ensejar a admissilo do sett<br />

recurso.<br />

Nestas condicOes, a mIngua da<br />

divergencla alegada, o parecer,<br />

em preliminar, a pelo nao conhecimento<br />

dos embargos.»<br />

E o relatOrio.<br />

VOTO<br />

O Sr. Mlnlstro Rafael Mayer (Relator):<br />

0 ponto do acerdito submetido<br />

a debate este aclarado no vote do<br />

emlnente Relator nos seguintes termss:<br />

«NAo ocorre, por outro lado, o<br />

alegado confllto com a &mule 380.<br />

Tenho entendido, a este respeto,<br />

que, provada a more uxorlo,<br />

presume-se a sociedade de fate,<br />

cabendo a partilha do patrimOnio<br />

adqulrldo durante o concubinato.<br />

Meg, no caso vertente, o acerdilo<br />

recorrido, medlante o exame da<br />

R.T.J. — 94<br />

291<br />

prove, materia irrevistvel nesta<br />

InstAncia, a teor da Simile 279, assentou,<br />

na mesma linha da setenea,<br />

que a aquisicito de todos os<br />

bens ocorrera em period° anterior<br />

ao concubinato. Em mats de uma<br />

passagem do acOrdAo se afirma Isso,<br />

de modo categorico, bastando<br />

citar, no entanto, a proposlto, esta<br />

assertive final: «0 patrimOnlo do<br />

finado concubino ja se solldificara.<br />

ao passar a vide em comum com a<br />

Embargante, em 1949, nada mats<br />

adqulrindo depots...» (1.1.059). Destette,<br />

inaplicevel o principio da SOmule,<br />

corn o alcance que the confiro,<br />

pots nib houve, na especie, segundo<br />

o acerdão, aquisieto de patrhnOnio.<br />

Alias, cumpre ressaltar<br />

que a recorrente tot Contemplada<br />

com doacifes e testamento, o que<br />

motivou a declaracAo de vote do<br />

Desembargador Baslleu Ribero<br />

Fitho, que endosso. Quanto aos padrOes<br />

colacionados, nib se observou<br />

o disposto no artigo 305 do Regiments<br />

Interno; em relacAo ao<br />

RE 81.012, In RTJ 75/931, nAo este<br />

invocado na peticAo do recurso extraordinerio.<br />

NAo conheco do recurso».<br />

(fis.).<br />

Como se ye, o venerevel acerdlto<br />

embargado, ao negar conhecimento<br />

ao recurso extraorclinerio, nao o fez<br />

refutando a tese jtuldica consubstandada<br />

na Mande 380. Ao contrite°,<br />

afastou a sua aplicabilidade, mesmo<br />

nos termos da ample interpretactio<br />

que the de o eminente Relator do<br />

aerate° embargado, para reconhecer<br />

a inviabilidade do apelo extraordlnitrio<br />

face a incontornevel materia<br />

factual nos termos em que poste pelas<br />

InstAnclas ordinaries. Al corn<br />

efeito, se teve por provado que todos<br />

os bens deixados pelo de cujus foram<br />

por ele havidos anteriormente ao<br />

concubinato, o que implicitamente<br />

exclui a formactio de urn pat/tent°<br />

A base de esforco comum, caracteristico<br />

da sociedade de fins econt5-


292<br />

micos suscetivel de dissoluflo para a<br />

partllha dos aqiiestos.<br />

Ora, a colocaclio assim feita pelo<br />

acOrdlio embargado nAo esta em<br />

contradita cons as teses oferecidas<br />

pelos acfordAos paradigmas, que se<br />

nAo colocam, alias, naquele piano de<br />

identidade ou similitude de situacOes<br />

que propicie a analise comparativa.<br />

A rigor, conquanto tenha anexado<br />

copias dos acardAos referidos, a Embargante<br />

nlio se deteve na transcrino<br />

dos trechos que indicassem os<br />

pontos em contraste, a partir da demonstractio<br />

dos pressupostos comuns<br />

e com isso descuidou a melhor<br />

instrucAo do recurso intentado, na<br />

conformidade da exiancia regimental.<br />

Mas, a consideracflo dos prOprios<br />

textos aduzidos deircara evidenciada<br />

a mocorrência do pretendido dissidto.<br />

R.T.J. — 94<br />

Com efeito, nos RREE 68.952,<br />

74.706 74.079, a que se aludiu, partese<br />

de uma distincAo entre os efeitos<br />

do concubinato, quando ha sociedade<br />

de fato entre ambos na constituicAo<br />

do patrlmOnio comum, e quando ha<br />

efetiva prestacAo de servicos da concubinaria<br />

ao companheiro, e reconhecida<br />

a inexistencia daquele e da<br />

conseqtiente particão de bens pela<br />

sua dissolucão, deu-se pelo deferimento<br />

da remuneracAo devida na segunda<br />

est:bade. Se se pode dizer que<br />

comunga corn esses acordAos na<br />

parte em que nega a meacAo pela<br />

inexistencia da sociedade de fato, o<br />

veneravel acOrdAo corn eles nno atrita<br />

no tocante A remuneracAo dos servicos<br />

prestados pela concubina, simplesmente<br />

porque quanto a ela<br />

omisso, omissa que 6, no ponto, toda<br />

a causa, nAo se havendo formulado a<br />

pretensAo sequer como pedido subsid'art°.<br />

Nos outros dois paradigmas, o<br />

ERE 53.122 e o RE 58.683, se confere<br />

o direito da concubina a meacilo dos<br />

bens, a partir da premissa da sociedade<br />

de fato e do esforco comum na<br />

obtencAo deles. Aqui como IA, bem<br />

se ye, a impossivel estabelecer a<br />

comparacflo e deduzir eventual dlvergencia<br />

porque as espécies sAo<br />

realmente dispares nas circunstancias,<br />

into e, nos pressupostos ern que<br />

assentam as afirmacties juridicas.<br />

Assim, nAo demonstrada a diver-<br />

Seta, o meu voto 6 pelo nAo conhecimento<br />

dos embargos.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

ERE. 87.518 — RJ — Rel.: MM.<br />

Rafael Mayer. Embte.: Inah de Carvalho<br />

Kos. (Adv.: Steno Bastos Belchior).<br />

Embdos.: JoAo Antonio de Almeida<br />

Gonzaga Janitor (Esp6lio de)<br />

e outros. (Adv.: Roberto Moraes de<br />

Lima Rocha).<br />

DecisAo: NA° conheceram dos embargos.<br />

DecisAo unAnime. Falaram:<br />

pelo Embte. o Dr. Stelio Bastos Belchlor<br />

e pelos Embdos. o Dr. Roberto<br />

Moraes de Lima Rocha.<br />

Presidéncia do Senhor Ministro<br />

Xavier de Albuquerque. Presentee A<br />

sessAo os Senhores Ministros Djaci<br />

Fala°, Thompson Flores, Cordeiro<br />

Guerra, Moreira Alves, Cunha Peixoto,<br />

Soares Munoz, Decio Miranda e<br />

Rafael Mayer. Ausentes, justificadamente,<br />

o Sr. MM. Antonio Neder,<br />

Presidente. Ausente, licenciado, o<br />

Sr. Mln. Lena° de Abreu. Procurador-Geral<br />

da RepUblica, Dr. Firmino<br />

Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 12 de marco de 1980 —<br />

Mbergo Veronese Aguiar, Secreting°.


R.T.J. — 94 293<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N! 87.872 — SP<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cunha Peixoto.<br />

Recorrente: Engenharla e ConstructTes Japura Ltda. — Recorrido: Estado<br />

de SAo. Paulo.<br />

ResPowiabilidade civil.<br />

AtualizacAo do valor da indenizacito.<br />

Tratando-se de (Ueda do valor, nada impede que se utillzem os<br />

Indices de correCao monetarla, quando do pagamento pelo executado,<br />

pant correspondlincia entre o valor dos danos ressarcivels e a quantie<br />

de cUnheiro correspondente.<br />

Recurso extraordinirio conhecido e provtdo.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discuticlos estes<br />

autos, acordam os Ministros da PMmetra<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

Julgamento e das notas taquignificas,<br />

por unanimidade de votos, em<br />

conbecer e prover o recurso, nos termos<br />

do voto do Ministro-Relator.<br />

Brasilia, 9 de junho de 1978. —<br />

Antonio Neder, Presidente — Cunha<br />

Peixoto, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Afinistro Cunha Peixoto:<br />

Trata-se de actio de indentzacilo proposta<br />

por Engenharla e Constructles<br />

Japurit Ltda. contra o Estado de Silo<br />

Paulo, vlsando pagamento dos services<br />

prestados, liberaeAo das eaucoes,<br />

alem de perdas e danos estimados<br />

em Cr$ 100.000,00. Mega que,<br />

em 7.3.69, apts concorrencia pablka,<br />

regularmente processada, celebrou<br />

contrato corn o Estado de Silo Paulo<br />

para a constructio das obras do precllo<br />

do "Centro Educational Jardim<br />

N6brega", em Matta, corn o prazo de<br />

execucAo de 240 Was e o valor de Cr$<br />

1.235.197,00, nAo tendo, portm, consegutdo<br />

atacar as obras em rltmo normal,<br />

pela deficiOncia do projeto, reclamada<br />

em termo, mas nAo corrlglda<br />

pela contratante. Postertormente,<br />

o contrato fol tmilateralmente rescindido<br />

pelo Estado de SAo Paulo.<br />

Acrescenta que a paralisacito da<br />

obra se deve a culpa do Estado de<br />

Silo Paulo, que se revelou desapareihado<br />

administrativa e tecnicamente,<br />

mostrando, posterlormente, completo<br />

desinteresse no prossegutmento<br />

das obras.<br />

Defende-se o Estado de SA° Paulo,<br />

apresentando ainda reconvencAo.<br />

Sustenta que, desde o hack), a autora<br />

se afastou do projeto e normas de<br />

construcAo, sendo certo que tinha conhecimento<br />

das condic6es gerais e<br />

peculiares do terreno. Acrescenta<br />

que, trabalhando inadequadamente,<br />

a autora, primer°, paralisou as<br />

obras, e, depots, nAo foi capaz de<br />

lhes dar segemento.<br />

A decisAo de primelro grau, que<br />

deu pela proced6ncia da Witt, mas<br />

nil° atendeu a todas as pretenstles<br />

patrlmonals da autora, fot mantilla<br />

pelo Tribunal de JustIca do Estado<br />

de Silo Paulo, em acardAo que, t'elativamente<br />

a correcAo monetitria,<br />

P :.entuou:<br />

«Por outro lado, apurado atraves<br />

da prova periclal que nem todos os<br />

servicos prestados pela empreiteira<br />

foram remunerados, devem ser<br />

pagos do valor equlvalente, conforme<br />

se apurar em execuello. Quanto<br />

as perdas e danos, nao poderlam


294<br />

ser fixadas em quantia superior A<br />

formulada na inicial. Finalmente,<br />

correcAo monetaria e indevida nos<br />

contratos administrativos, em que<br />

o inadimplemento nä° decorre de<br />

dolo da AdministracAo, e a verba<br />

honoraria nal) pode ser reputada<br />

excessive, sendo fixada em conf ormidade<br />

corn as dificuldades da<br />

causa, inclusive demora em seu<br />

desfecho». (f. 656)<br />

Irresignada, a autora — Engenharia<br />

e Construcees Japura Ltda. — interpOs<br />

recurso extraordinerio, corn<br />

fundamento nas letras «a» e «d», do<br />

rt? III, do art. 119 da Constituiceo Federal,<br />

dando como vulnerada a Lei<br />

Federal n? 5.676/71, bem como divergencia<br />

em sua interpretaceo, em relace°<br />

aos julgados colacionados do<br />

Supremo Tribunal Federal, publicados<br />

na RTJ, vols. 44/109 e 46/421.<br />

A Procuradoria-Geral da Repeblica,<br />

em parecer da lavra do Dr. Anthill°<br />

de Padua Ribeiro, manifesta-se<br />

pelo conhecimento e provimento do<br />

recurso<br />

o related°.<br />

VOTO<br />

Sr. Ministro Cunha Peixoto (Relator):<br />

Trata-se de pagamento de indenizaceo<br />

por ato ilicito da administrace°,<br />

que, por sua culpa exclusive,<br />

nAo s6 impossibilitou o construtor de<br />

realizar a obra, como, ainda, rescindiu,<br />

unilateralmente, o contrato.<br />

Tribunal de Justice de Sao Paulo<br />

condenou o reu, ora recorrido, a<br />

pagar a Mule de indenizaceo a importencia<br />

de Cr$ 100.000,00, deixando<br />

de indult' a correcAo moneteria. E,<br />

no caso de reparaceo por ato ilicito,<br />

a <strong>jurisprudencia</strong> deste colendo Supremo<br />

Tribunal Federal is se consolidou<br />

no sentido de fixer o valor da<br />

epoca em que o pagamento a efetuado.<br />

Para isto, desnecesseria lei expressa,<br />

que autorize a valorizaceo<br />

R.T.J. — 94<br />

da importAncia a pagar, porque se<br />

trata de divida de valor, coastderando-se<br />

como tal aquelas que<br />

tem um objeto distinto do dinhelro,<br />

ainda que sej am suscetiveis de<br />

apreciactio pecuniAria.<br />

Na verdade, como adverte Gurfinkel<br />

de Wendy,<br />

«Como regla general,puededecirse<br />

que todas las obrigadones de Indemnizar<br />

daftos y perjulzos ya sea<br />

que estos provengan de hechos<br />

cltos (responsabilldad estracontractual)<br />

como dal incumplimiento<br />

Contractual, dan origen a una obligee's%<br />

de valor. La setencla que<br />

condene a indemnizar tender& a<br />

restltuir al patrimonlo del perjudlcado<br />

un valor analogo al del que se<br />

lo prive por la corals's% del acto a<br />

becho ilicito valor que a efectos del<br />

cumprlmento de la setencia respective<br />

deberls medirse necesariamente<br />

en dinero. Igual soluclen se<br />

admite en el supuesto de tratar-se<br />

de lnejecuelen a retardo de una obligacione<br />

contractual». (Depreciaden<br />

Monetitria — Itevaluackm de<br />

deudas denerarias, pegs. 51/2).<br />

0 tato de is haver sldo o prejuizo<br />

fixado em dinheiro neo altera a situaceo,<br />

porque a divida de valor s6<br />

perde esta caracteristica e<br />

transforma-se em divide de dinheiro<br />

no momento em que o debit° a saldado.<br />

Do contrerio, bastaria a prOpria<br />

demora no andamento do processo,<br />

no perlodo de liquidacAo, para alterar<br />

a situaceo, passando a favorecer<br />

o devedor.<br />

Dal haver o Ministro Xavier de Albuquerque<br />

afirmado:<br />

«Tratando-se de divide de valor,<br />

nada impede que se utilizem os<br />

indices de corrects) moneteria como<br />

instrumento de afericeo, quando<br />

do pagamento pelo executado,<br />

da correspondencia entre o valor<br />

dos danos materials ressarciveis e


a quantia em dinheiro correspondente».<br />

(RTJ, 80/304).<br />

Os julgados trazidos a confronto<br />

conflitam corn o acOrdão recorrido e<br />

traduzem a atual orIentaclio do Supremo<br />

Tribunal.<br />

Isto posto, conheco do recurso e<br />

the dou provimento, para mandar Inclulr<br />

no valor da lndentzacito a correcAo<br />

monetkrla a partir da cliacão,<br />

Incidlndo a verba de honorArlos so;<br />

bre a 1mportAncla corriglda.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 87.872 — SP — Rel.: Min.<br />

Cunha Peixoto. Recte.: Engenharla e<br />

Construeses JapurA Ltda. (Adv.: Rubens<br />

Geraldo Aranha de Macedo<br />

R.T.J. - 94 295<br />

VieIra e outro). Recdo.: Estado de<br />

SAo Paulo (Adv.: Celso de Mello Almada).<br />

DecisAo; Conhecldo e provido nos<br />

termos do voto do Min. Relator, unAnime.<br />

— Falou, pelo Recte. o Dr. Rubens<br />

Geraldo Aranha de Macedo<br />

Pres1d6ncia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes a SessAo os<br />

Srs. Minlstios Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Aldo:rain, Cunha Peixoto<br />

e Soares Munoz. 4? Subprocurador-Geral<br />

da Repfiblica o Dr.<br />

Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 9 de junho de 1978 —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga.<br />

Secretarlo.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO 87.963 — SP<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Mastro Cunha Peixoto.<br />

Recorrentes: Isaac Marchtein e sua muffler —Recorrldos: Dagmar Gagliardi<br />

Vitale e outros.<br />

Compromisso de Compra e Venda — Rescisflo do Contrato.<br />

NotitincAo vAlida, vez que os notificantes somente inipressaram<br />

com a acão de niacin° ap6s o decurso do prazo fixed° em lei, para<br />

purgacAo da mora.<br />

Na reconvenclio, a simples intimaclo de advogado invest:1d° dos<br />

poderes genericos constantes da clAusula ad judltla nAo 6 suflciente<br />

pare colocar em mora a parte reconvinda.<br />

A notificacAo Jetta somente ao promissArio comprador, dada as<br />

chetmstAnclas do caso concreto, versando sobre mated& pertinente a<br />

threat() obrigacional, nilo padece de qualquer viclo que posse lnvalMAla<br />

sendo de se aplicar ainda a espécie a Stunula 282.<br />

DepOsito felt° apenas pare discussAo sobre prete.nso inadimplemento<br />

do promitente vendedor nAo se contimde com a purgacio da<br />

mora.<br />

Recurso ExtraorcUnArio conk..2Mo.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e des notas taquigrAll-<br />

cas, por unanimidade de votos, em<br />

nAo conbecer do recurso extraordinazi°.<br />

Brasilia, 6 de )unto de 1978. —<br />

Antonio Nader, Presidente — Cunha<br />

Marne, Relator.


296 R.T.J. — 94<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Cunha Peixoto:<br />

Dagmar Gagliardi Vitale e outros<br />

ajuizaram acão ordlnAria contra<br />

Isaac Marchtein e sua mulher, expondo<br />

que, medlante compromisso<br />

particular de compra e venda, prometeram<br />

a venda ao r6u varão 0<br />

apartamento 2-A do Edificio Pruclèneta,<br />

a ser pago: Cr; 30.000,00 no ato<br />

do compromisso; Cr; 20.000,00 a cento<br />

e vinte dias do compromisso; e<br />

Cr; 160.000,00 medlante 16 prestacOes,<br />

cada uma de Cr; 10.000,00.<br />

Acrescentam nAo haver o r6u efetuado<br />

o pagamento das altimas prestac6es<br />

e, assim pleiteiam a rescisAo do<br />

contrato, corn condenacAo em perdas<br />

e danos.<br />

Os reus contestaram a acão, argilindo<br />

a nulidade da notfficactio<br />

via, pots os autores reclamaram o<br />

pagamento do dthito no prazo de<br />

quarenta e oito horas, e, no merito,<br />

sustentam terem eles descumprido<br />

os termos do contrato.<br />

Apresentam reconvencAo, na qual<br />

salientam que, no ensejo, depositaram<br />

a quantla restante do prego, e<br />

acrescentam as) terem os autores<br />

cumprido as clAusulas seguintes do<br />

contrato: a) — fazerem o reglstro no<br />

CartArlo ImobillArio da escritura de<br />

cessAo e transferAncia de que se dizem<br />

titulares; b) — obrigacão «at6 a<br />

data da outorga da escritura de compromisso»<br />

a dillgenciarem junto a<br />

pessoa titular do domtnio do im6vel,<br />

para, no final do pagamento do preco<br />

avencado no instrumento de cesser<br />

outorgada a escritura definitiva<br />

de venda e compra diretamente<br />

a eles, reus; c) — obrigacão de apresentarem,<br />

«att a data da escritura<br />

os seguintes documentos: certiclão<br />

negativa de tributo incidente sobre o<br />

im6vel e certidOes dos dIstribuidores<br />

judlcials e dos cartOrtos de protesto».<br />

A sentenca julgou autores e reus<br />

carecedores, respectivamente, da<br />

acão e da reconvencão. Os primeiros,<br />

por defeito da notificacão, Ja<br />

que fora feita para que os r6us pagassem<br />

as prestagees vencidas em<br />

quarenta e oito horas. Os rtus, porque<br />

objetivam a outorga da escritura<br />

definitiva da compra e venda e do<br />

ajuste formalizado entre os interessados.<br />

Ambas as partes apelaram, tendo<br />

o egrêgio Tribunal de Alcada de SAo<br />

Paulo dado provimento ao recurso<br />

dos autores para, afastando a cart/Ida<br />

da acão, determinar ao Juiz o<br />

Julgamento do mérito. Considerou<br />

como regular a notificagAo e em mora<br />

os reus, porque, embora tenha ela<br />

sido feito corn o prazo de quarenta e<br />

olto horas, a acão s6 fol proposta<br />

vinte e cinco dias ap6s e, neste intervalo,<br />

os rifts nä° tentaram efetuar o<br />

pagamento. Declara o acifordão:<br />

«A respeitAvel sentenca Julgou os<br />

autores carecedores de acAo, porque<br />

a interpelacão consignou prazo<br />

de apenas 48 horas, inferior, portanto,<br />

aos 15 Was de que cogita o<br />

Decreto-lei n? 745, de 1969. Considerou<br />

que a circunstAncia de ter sido<br />

a acAo ajuizada somente ap6s o decurso<br />

de 15 dias nAo tern o condAo<br />

de dar eficAcia Aguela providencia<br />

preliminar».<br />

NAo e o melhor entendimento,<br />

contudo. Embora indispensAvel a<br />

interpelactio, mesmo em se tratando<br />

de im6vel nao loteado (o contrato<br />

se refere a urn apartamento),<br />

nAo constitui requisito indispensàvel<br />

a correta fixacão do prazo. A<br />

interpelacAo, no caso, fol realizada<br />

em 5 de novembro de 1973 (fls. 11<br />

— verso), no passo que a acAo se,<br />

foi distr1bulda no dla 30 do mesmo<br />

més, ou seja, 25 did depots. Nesse<br />

interval°, os réus nAo manifestaram,<br />

de forma alguma, a IntencAo<br />

de pagar. Nem mesmo no prazo de<br />

resposta, pots o depOsito que real'.<br />

zaram (f. 68) nAo teve carater de<br />

purgacão da mora; na contestactio,<br />

os r6us invocam a excecão «non


adimpleti contractus», como justificativa<br />

para a ausencia de pagamento<br />

das prestanes convencionades,<br />

demonstrando, com isso, que<br />

nflo pretendiam purger a more. 0<br />

deposito constitura simples fundamento<br />

da reconvendlo.» (fis.<br />

447/448).<br />

Repele, a seu turn, a apelano dos<br />

retests, corn o fundamento seguinte:<br />

quanto a reconvendlo, nada<br />

ha que modificar na sentence recorrida.<br />

Se o objeto da reconven-<br />

00 A o de compel& os autores<br />

outorga da escritura de compra e<br />

vende e omitem-se os reconvites,<br />

no obstante, em argair recusa dos<br />

autores no cumprimento da<br />

no reclamada. Como bem situa o<br />

MM. juiz, nä° ha evidencia de que<br />

os rims tenham Instado os autores<br />

ao cumprimento das obriganes<br />

que reclama; e se o pagamento s6<br />

ocorreu quando Ja proposta a acilo,<br />

nab ha como se conduit' que os autons<br />

tivessem moused° o cumprimento<br />

da obrigacAo que Dies incumbia.»<br />

Insistem os reus em que a efface°<br />

para a reconvenclio terra constituido<br />

os autores em mora (CPC<br />

artlgo 219). Nada menos acertado,<br />

porem. Oferecida reconvencao, o<br />

autor no A citado, mas tãosomente<br />

intimado, na pessoa de<br />

seu procurador, pare contester em<br />

15 Was (CPC, artlgo 316). Ora, os<br />

efeitos de que trate o artlgo 219 do<br />

CPC so decorrern da citano vAllda;<br />

no assim da lntimacAo. A natuna<br />

de uma e de outra, se a dontrine<br />

Ja no distinguisse, 6 nitidamente<br />

deflrada dos artlgos 213 e<br />

234 do CPC, de sorts que nAo ha como<br />

contundi-las.<br />

Nflo configtwa da recusa dos autores<br />

ao cumprimento da °Wigan°<br />

de fuer, nem constitrados em<br />

more, a carencia decorre da ausenda<br />

de uma das condlnes de<br />

R.T.J. — 94<br />

297<br />

acAo qual seta, o Interesse de aglr,<br />

traduzido no binerrao necessidadeadequano.<br />

Sem a demonstracao<br />

de urn Interesse contrarlado, nAo<br />

atendido, ou tornado Incerto, nAo<br />

concorre a citada condicão, pots o<br />

titular nao tern necessidade da tutele<br />

jurisracional. Assim, o decreto<br />

de carencia de ano corresponde<br />

extindlo do processo sem julgamento<br />

do merit°, nos termos do artlgo<br />

267, n? VI, do CPC.» (fls<br />

449/450).<br />

Os reus opuseram embargos declarararios,<br />

sob o fundamento de que o<br />

adirdflo nenhuma referenda Were A<br />

falta de notificacira da mulher do outorgado<br />

comprador. Os embargos foram<br />

rejeltados, porque esta materia<br />

so Ed alegada por ocasitio das<br />

contra-razfles de apelacAo e, assim,<br />

nAo serfs possivel a sentence<br />

manifestar-se sobre o assunto, e,<br />

consedlentemente, ralo poderia o<br />

Tribunal faze-1o.<br />

Inconformados, os reus interpuseram<br />

recurso extraordinArio, corn<br />

fundamento nas tetras a e d, do n?<br />

do art. 119 da Constituleao, dizendo<br />

ofendidos os arts. 267, f{ e<br />

3?, 302 caput, 303, II, 334, II, III e<br />

364, 287, 315, 644, 219, 316, 300,<br />

301, VIII todos do CPC; 960, 116, 117 e<br />

145, V, do adigo Civil; e 1? do<br />

Decreto-lei n? 745; e, tambem, divergência<br />

com <strong>tribunal</strong>s de outros Estedos,<br />

inclusive corn decisties deste Colendo<br />

Supremo Tribunal.<br />

o related°.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cunha Peixoto (Reloran:<br />

1 — Sustentam os recorrentes<br />

a negative de vigencia dos arts. 1?<br />

do Decreto-lei n? 745/69, e 116, 117 e<br />

145 do Cedigo Civil, sob a alegacAo<br />

de que, posto o primeiro diploma legal<br />

estabeleca corno pressuposto pare<br />

a constituicAo em mora de qual<br />

das partes em contrato de corm<br />

pra e venda, a notlflcacAo corn ce


298<br />

R.T.J. — 94<br />

prazo de 15 dias; o acordao recorrido<br />

parte. A lei 6 clara em exigir o prazo<br />

entendeu valida a realizada corn o<br />

de quinze dias de antecedencia para<br />

prazo de quarenta e oito horas. que o compromissArio fique constituido<br />

em mora, e o notificado nAo<br />

Entretanto, a conclusAo da decisAo poderla ignorar esta circunstAncla.<br />

recorrida prendeu-se ao fato de, em- Na verdade, nAo 6 preciso que, da<br />

bora a notificacAo tenha sido feita notifica A° conste o prazo dentro do<br />

corn quarenta e oito horas, os auto- qual tern o notificado de cumprir sua<br />

res s6 haverem proposto a acAo de obrigacAo, jA que consta da lei, de<br />

rescisAo no vigesimo quinto dia. sorte que a fixacAo de prazo diferen-<br />

Proclamou o acerdão recorrido: te, por si s6, nAo tern o condAo de<br />

«A respeltAvel sentenca julgou os anular a notificacAo. NAo houve,<br />

autores carecedores de acAo, por- realmente, reducAo do prazo, jA que<br />

que a interpelacão consignou prazo o notificante aguardou o termini) de<br />

de apenas 48 ho as, inferior, por- quinze dias para o ingress° em julzo.<br />

Limitacão haveria se a nap tivesse<br />

tanto, aos 15 dias de que cogita o<br />

Decreto-Lei n? 745,. de 1969. Consi- sido proposta antes de esgotado o<br />

derou que a circunstAncia de ter si- mencIonado periodo, quando, entAo,<br />

do a acAo ajuizada somente apes o se poderla f alar em ineficAcia da no-<br />

decurso de 15 dies «a° tem o contificacão.dAo de dar eficAcia Aquela provi- O legislador, corn o Dec.-lei n?<br />

dencia preliminar». (fls. 449). 745/69, visou evitar fossem os com-<br />

NAo 6 o melhor entendirnento, promissArios compradores surpreen-<br />

contudo. Embora indispensAv el a didos corn as cobrancas imediatas;<br />

interpelacAo, mesmo em se tratan- desejou adverti-los da necessidade<br />

do de imOvel nAo loteado (o contra- do cumprimento de sua obrigacAo,<br />

to se refere a urn apartamento), dando-lhes urn prazo razoAvel para<br />

nAo constitui requisite indispensA- que o facam, e se a advertencia fora<br />

vel a correta fixacAo do prazo. A feita e o prazo concedido, cumprida<br />

interpelacão, no caso, foi realiza a estA a lei.<br />

em 5 de novembro de 1973 (fls. 11<br />

— verso), ao passo que a acAo s6 De toda maneira, a interpretacAo<br />

foi distribufda no dia 30 do mesmo dada a estes dispositivos pelo actor-<br />

Ines, ou seja, 25 dias depots. Nesse dAo recorrido nAo enseja recurso ex-<br />

Interval°, os r6us nAo manifesta- traordinArio, nos termos da SOmula<br />

ram, de forma alguma, a intencAo 400, jA que, no minim% serta razoàde<br />

pagan>) vel.<br />

Ora, a ninguem 6 licito ignorer a<br />

lei, de sorte que o fato de na notifica-<br />

2 — 0 reconhecimento, pelo Tribucao<br />

constar periodo menor do que o<br />

nal, da ineficacia a da macAo<br />

da<br />

constituicAo dos<br />

estabelecido, nAo provocaria sua nu- reconvencAo para<br />

lidade, como nA acarretaria a que credores emcia mora nAo negou am-<br />

omitisse<br />

o prazo, o ce se fora condido a bem vigen aos arts. 287, 300, t 315,<br />

parte inadimPlente para purgar a 316, 219 e 644.<br />

mora, o periodo fixado pela lei. NAo se nega ser a intimacão para<br />

«0 que a lel objetiva 6 despertar a a reconvencAo uma verdadeira citaatencão<br />

do inadimplente e, dar-]he cão, mas dal não se pode concluir<br />

urn prazo para o cumprimento da servir ela para colocar em mora,<br />

oblrigacAo. »nos termos do Dec.-lei n? 745, as par-<br />

Esta /IA° considera nulo o ato se,<br />

tes, em um contrato de promessa de<br />

realizado de maneira diferente ao compra e venda. Esta deseja a coestabelecido,<br />

não trouxe prejuizo A munlcacAo pessoal do interessado


inadimplente, e não atraves de procurador<br />

sem poderes expressos para<br />

o ato.<br />

Ora, como a constitute/10 em mora<br />

envolve eventual disponibilidade do<br />

Datil/116Mo, claro este nAo se incluir<br />

ela nos poderes conferidos pela<br />

sula &Umtata, e assim, nAo tem o<br />

advogado poderes para ser constituido<br />

em mora por seu cliente.<br />

NAo he, pots, como equiparar, para<br />

efeito de constituicao da parte em<br />

mora, a intimacAo na reconvencão<br />

feita ao advogado, corn a citacAo a<br />

ser efetuada pessoalmente.<br />

NAo comporta o art. 219 do COcllgo<br />

de Processo Civil InterpretacAo ana-<br />

16gica, pots se fosse intencAo do legislador<br />

estender seus efeitos tambem<br />

A intimacAo, t8-lo-la repetido no<br />

capitulo, onde se disp6e sobre as intimadies.<br />

3 — Ademals, Mc) houve negative<br />

de Agenda dos arts. 287, 300, 315 e<br />

316 do COdigo de Processo Civil. Ao<br />

contritrio, foram aceitos pela decisAo,<br />

que apenas entendeu nao terem<br />

aplicacAo na hipOtese, ante as circimstAnclas<br />

apresentadas nos autos.<br />

Por outro lado, como adverte o<br />

juiz, apolado Delo acerdtio recorrido<br />

untlo he evidencia de que os reus te- ,<br />

nham instado os autores ao cumpri-<br />

mento das obrigaciles que reclama;<br />

e se o pagamento so ocorreu quando<br />

je proposta a acAo, nAo hA como se<br />

conduit' que os autores tivessem recusado<br />

o cumprimento da obrigacAo<br />

que lhes incumbla.<br />

3 — Igualmente, não houve violactio<br />

dos arts. 267, 302, 303, II, 334, II,<br />

III, IV e 364 do C6cligo de Processo<br />

Civil, quando o Tribunal delxou de<br />

examiner a falta de notificacilo da<br />

mulher do compromissarlo comprador.<br />

Justifica-o bem o acerdtio prolerido<br />

nos embargos declaraterlos:<br />

sApontam os embargantes omissilo<br />

no AcOrdAo, que nAo teria<br />

apreciado inn dos fundamentos da<br />

defesa: a falta de notiftcacAo da<br />

R.T.J. — 94 299<br />

mulher do reu, compromisserio<br />

comprador, para o efeito de cons*.<br />

tuicão em mora.<br />

NAo hA omisstio alguma, entretanto.<br />

Acentue-se que a mencionada<br />

circunstancia se fot lembrada<br />

pelos embargantes nas contrarazties<br />

de apelactio (fls. 412 e 413).<br />

A contestacao silencla sobre o tema.<br />

Assim, ntio 6 de estranhar que<br />

a sentence tenha deixado de examiner<br />

a questão.<br />

Aqui ntto hA incidencia do artigo<br />

515, 2?, do C.P.C., como pretendem<br />

os embargantes. E que a ex-<br />

tensAo do efeito devolutivo determina-se<br />

pela extensao da lmpugnaclio:<br />

tantutn devolutum quantum<br />

appellatum. Esse e o sentido<br />

do caput do artigo. Bern por isso,<br />

ensina J. C. Barbosa Moreira que o<br />

objeto do Julgamento do Tribunal<br />

pode ser tAo extenso quanto o do<br />

julgamento de primeiro grau, ou<br />

menos extenso, de tal sorte que A<br />

parte nä° 6 permitido pedlr o que<br />

ntio pedira perante o Ora) a quo,<br />

assim como a. atividade cognitive<br />

do Tribunal 6 limitada A parte, ou<br />

As partes, da sentence que hajam<br />

siclo objeto de impugnacAo (Comentftrios<br />

ao C.P.C., volv. V. paging<br />

336).» (fls. 461/462).<br />

Aplica-se, pots, a hipOtese, a<br />

SOmula 282.<br />

4 — Por outro lado, 6 de plena validade<br />

Juridica o ato do promitente<br />

comprador notificando do inadimplemento<br />

0 outro contratante, e somente<br />

ele, pots que apenas corn ele contratara.<br />

A citacAo do outro cOnjuge<br />

somente 6 de rigor quando se trate<br />

de acAo real imobilieria. Tambem<br />

este e o entendimento do Supremo<br />

Tribunal Federal no RE 72.513-RTJ.<br />

60, peg. 290 — fol decidido:<br />

aDistincilo entre as aches que<br />

versam sobre direltos reefs fins In<br />

re) e as fundadas no hus ad rem,<br />

embora a obrigacAo tenha por objeto<br />

coisa imOvel. As animas sAo


300<br />

pessoals, e entre elas se inclui a<br />

presente (proposta para rescindir<br />

contrato). NA() era, assim, indispensAvel<br />

a citacão da mulher do<br />

reu».<br />

Ainda que se queira ver na acAo<br />

para a desconstituic Ao do contrato<br />

preliminar de compra e venda de<br />

im6vel uma acAo real imobiliAria,<br />

ainda assim nä° era de rigor a notificacão<br />

do outro cOnjuge. Dir-se-A<br />

que uma tal omissAo irA subtrair a<br />

um dos comunheiros a faculdade de<br />

purgar a mora.<br />

R.T.J. — 94<br />

Alem de ser o marido o chef e da<br />

sociedade conjugal e representAria,<br />

foi apenas ele que interve io no contrato<br />

preliminar. A obrigacAo de pagar<br />

a parcela do preco, obrigaflo<br />

pessoal, era sua. 0 objeto de contrato<br />

de promessa de compra e venda<br />

de im6vel säo obrigacOes pessoals<br />

articuladas, direitos de credito que<br />

se equivalem : a obrigacAo de pagar<br />

o preco e a obrigacAo de celebrar o<br />

contrato definitivo. Os direitos reais<br />

são de enumeracA o taxativa,<br />

numerus clausus, e nAo figura, no<br />

seu elenco, o direito do promitente<br />

comprador . Tanto isso a certo, que o<br />

COdigo Civil projetado no art. 1.045,<br />

inciso VII, lit Incluir entre os direitos<br />

mats o direito do promitente<br />

comprador do imOvel. EstA previsto<br />

para ser urn direito real de aquisicAo,<br />

nAo sendo, porem, agora, nada<br />

mais do que urn direito pessoal<br />

aqutsicAo. NAo dA realidade a esse<br />

direito do promitente comprador o<br />

fato de inscrever-se no registro de<br />

imOveis e de se permitir ao contrato<br />

preliminar a execucAo especifica.<br />

Nem dA realidade A promessa de<br />

venda o fato de inscrever-se no registro<br />

de imOveis. E situacAo de todo<br />

paragonal A da clAusula de vigAncia<br />

de que trata o art. 1.197 do C6digo<br />

Civil, ou do registro das sentencas<br />

que concedem renovatoria. Limitase<br />

a fazer certa e conhecida uma obrigagAo<br />

pessoal, a de celebrar o<br />

contrato definitivo, jA que a lei assegura<br />

execucAo in natura ao contrato<br />

de promessa. Ninguêm ousaria dizer<br />

reais os direitos all registrados.<br />

Assinale-se que o contrato de cessAo<br />

de promessa de compra e venda,<br />

que instrui a acAo, nAo se encontra<br />

registrado.<br />

Quando ingressaram, pots, em<br />

juizo corn a acAo ordinAria, visando<br />

rescisào do contrato de compra e<br />

venda, fizeram os autores citar os<br />

conjuges, o marido, iA notificado,<br />

pit-contratante solitArio, e a mulher,<br />

que nAo interviera na promessa.<br />

A relacäo processual estava perfeita,<br />

incensurAvel. 0 requisito da notifelta<br />

ao exclusivo contratante<br />

fora atendido.<br />

5 — E verdade que alguns julgados,<br />

no caso de falta de notificacAo,<br />

permitem a purgacAo da mora no<br />

prazo de contestacAo, que hoje coin-<br />

cide corn o da notificacão — quinze<br />

rias. Aqui, porem, os i no<br />

am e nem fizeram, tus dentrã quizeo<br />

deste<br />

prazo, o pagamento, jA que a apresentacAo<br />

do cheque visado felt° corn<br />

a contestacAo, como assinala o ac6rciao<br />

recorrido, nAo representou dep6sito<br />

para pagamento, mas apenas<br />

para discutir o inadimplemento dos<br />

autores. Diz a decisào recorrida:<br />

«Nesse intervalo, (de quinze dlas<br />

da notificacAo), os reus nAo manifestaram<br />

de forma alguma a intencAo<br />

de pagar. Nem mesmo no prazo<br />

da resposta, pots o depOsito que<br />

realizaram (fl. 68) Mk) ten caritter<br />

de purgacAo da mora; na contestacAo,<br />

os reus invocam a excecau<br />

non adimpleti contractus, como<br />

justificAvel para a ausencia de<br />

pagamento das prestacOes convencionadas,<br />

demonstrando, corn lsso,<br />

que nAo pretendiam purgar a moraD.<br />

(fls. 448).


Na verdade, os reus, orb recorream,<br />

reconviram, objetivando que<br />

os prOmitentes vendedores, depots<br />

de exibirem os documentos a que, dizem,<br />

estavam sunlit°s a apresentar,<br />

Outorgassem escritura definitive, ato<br />

que des preprios sabhun nAo depender<br />

dos autores, pots este sans*<br />

no contrato que a escritura definitive<br />

ihes aorta nuiorgada poIo. prOprieterio<br />

do imevel, cilia promessa lhes<br />

Lora wads pelos autores.<br />

Por ester motives, nAo conhajo do<br />

recurs).<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE n? 87.983 — SP — Rel.: Min.<br />

Cunha Peixoto. Rectes.: Isaac<br />

marchtein e sus mulher (Advs.: Antonioyaas<br />

•Bou Teixeira de Carve-<br />

11x Serino Marques da Cruz. Nelson<br />

Kojraisk ► e outro). Recdos.: Dag<br />

mar Gagliardi Vitale e outros<br />

(Advs.: Aquiles Rodrigues de Oliveira,<br />

Nelson7MM Real Amadeo e outro).<br />

•<br />

Actiltdo o julgamento por<br />

haver pedido vista o htinistro Soares<br />

sum, depots do vote do Relator<br />

qYe nao conhecia do recurso. Falou<br />

pelos Rectes. o Dr. Sergio Marques<br />

da Cruz.<br />

Presidencia do Sr. Ministry AnMnio<br />

Neder. Presentes A Sessao .os<br />

Srot. Mlnistros Xavier de Albuquera<br />

Rodrigues Alamin. Ctmha Peixoto<br />

e Soares Muhoz. 4? Suoprocurador-Geral<br />

da Repeblica.<br />

o Dr. Francisco de Assts Toledo.<br />

Brasilia, 14 de memo de 1978 —<br />

Antonio Caries de Azevedo Brags,<br />

Secretano.<br />

VOTO (VISTA)<br />

0 Sr. Ministro Soares Munoz: Tres<br />

sAO os fundamentos do recurso.<br />

R.T.J. — 94<br />

301<br />

O primeiro sustenta que o acerdilo<br />

recorrido negou view% aos arts. 1?<br />

do Decrety-lei n? 745 e 118, 117 e 145,<br />

V, do COdigo Civil, dando validade<br />

notifIcacAo corn o pram de 48 hens,<br />

quando aquele primeiro cbspositivo<br />

exlge o pram de 15 dies. Consider°,<br />

entretanto, rawly/el a interpretagilo<br />

quit° acerdlo recorrido deu Lasses<br />

dispositivos, conclUindo pela validade<br />

da notificacilo diante do fate de<br />

que entre o dta em que ela se reall-<br />

zou e a data reterente a cliacio<br />

dal decorreram mats do qt.% gift%<br />

dist Apilco no poet* a Maude 400.<br />

segundo fundament° do recurs()<br />

extraordinArio reside na faith de notificacAo<br />

da mulher do<br />

compromissArth-comprador, pormenor<br />

em que o acerdilo torts vulnerado<br />

os artigos 287 1. 2°<br />

caput, 303, Br. 384. II, III e IV e 384<br />

do COdigo de Process* Civil. Nenhum<br />

dosses clIspositivos &garde pertinencia<br />

com o fundament° invocady<br />

no acerdlio, segundo 0 qual a prat<br />

miner nAo tot apreciada Dorm% oracle<br />

tmicamente corn as nudes do<br />

apelado. Debcou de arrimar-se 0-re<br />

curse extraordlithrio nas disposicdes<br />

lents atbientes a apelacao, pots in-<br />

, dicou como vidnerados aqueles coni2ernentes<br />

A atividade do Juiz de primetro<br />

grau, antes de prolatada<br />

SPntenoa.<br />

a<br />

0 mesmo bcorrea corn os<br />

arestos apresentados. como paraclig-<br />

Mas, quo versaram a hips:nese de<br />

*MIR de Miestionamento na contestacAo<br />

e na Maria° a respeito<br />

aludida preliminar.<br />

da<br />

Quanto ao toroth.° fundament° do<br />

recurs*, ataca ele um dos argument%<br />

aduzidos no acerdilo, de que a in-<br />

.concernente a reconvencão<br />

nAo tem eficAcia de citacliO.<br />

concord* cont ease entendimento.<br />

Mow a doutrina de Pontes de Miranda<br />

de que o COdigo chamou de in-


342<br />

.<br />

timacao o que, ainda corn forma diferente,<br />

canal) 8 (Comentarios do<br />

05digo de Processo Civil de 1974, IV,<br />

p. 171). Todavia, o acardao,<br />

reportando-se a sentenca, contain<br />

outro argumento suficiente em si,<br />

nä° atacado no recurso extraordinãrio.<br />

Refiro-me ao aduzido a fls. 449:<br />

R.T.J. — 94<br />

0JA quanto a reconvengao, nada<br />

ha que modificar na sentenca recorrida.<br />

Se o objeto da reconvencat)<br />

6 o de compelir os autores a<br />

outorga da escritura de compra e<br />

venda, omitem-se os reconvintes,<br />

nao obstante, ern argair recusa dos<br />

autores no cumprimento da obrigacao<br />

reclamada. Como bem situa o<br />

MM. Juiz, nao ha evidancia de que<br />

os réus tenham instado os autores<br />

ao cumprimento das obrigacOes<br />

que reclama; e se o pagamento s6<br />

ocorreu quando ja proposta a Kilo,<br />

nao ha como se concluir que os autores<br />

tivessem recusado o cumprimento<br />

da obrigacao que lhes incumbia.»<br />

Ante o exposto, acompanho o eminente<br />

Ministro Cunha Peixoto, nao<br />

conhecendo do recurso extraordinario.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 87.963 — SP — Rel.: MM.<br />

Cunha Peixoto. Rectes.: Isaac<br />

Marchtein e sua mulher (Advs.: Antonio<br />

Vilas Boas Teixeira de Carvalho,Sérgio<br />

Marques da Cruz e Nelson<br />

Kojranski e outro). Recdos.: Dagmar<br />

Gagliardi Vitale e outros<br />

(Advs.: Aquiles Rodrigues de Oliveira,<br />

Nelson Fatte Real Amadeo e outro).<br />

Decisao: — Nao conhecido, unardme.<br />

PresidOncia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes a Sessão os<br />

Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Alckmin, Cunha Peixoto<br />

e Soares Munoz. 4?<br />

Subprocurador-Geral da Repfiblica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 6 de junho de 1978 —<br />

Tenho por manifests a incidnncia Antonio<br />

Secret-Arlo.<br />

Carlos de Azevedo Braga,<br />

da Sfunula 283.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 88.227 — SP<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0.Sr. Ministro Moreira Alves.<br />

Recorrente: Ministario Flablico Estadual — Recorrido: Dorival Ogne<br />

Loureiro.<br />

Cancelamento de protesto de titulo.<br />

Com o advento da Lei 6.268, de 24 de novembro de 1975, nao mats<br />

se admite o cancelamento do protesto de titulo pelo simples fato de o<br />

devedor haver efetuado o pagamento postertormente. Nessa hipotese,<br />

caber-lhe-a o dlreito de ver esse pagamento averbado a margem do<br />

registro de protesto, averbaglio essa que constara, obrigatoriamente,<br />

de qualquer certialo extraida desse registro, e que eliminarfi a ericacia<br />

deste em relacao ao credor, ressalvados direitos de coobrigados<br />

e terceiros, nos termos da Lei.<br />

Recurso extraordinitrio conhecido e provido.


ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segundo<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taqulgratieas,<br />

por unanimidade de votos, conhecer<br />

do recurso e dar-lhe provimento.<br />

Brasilia, 08 de junho de 1979. —<br />

Mad Fatah), Presidente — Moreira<br />

Alves, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. MIStar° Moreira Alves: 0<br />

ora recorrido requereu o cancelamemo<br />

de protest°, alegando:<br />

— 0 requerente era devedor<br />

das quantias de Cr; 146,65 e Cr$<br />

318,60 devidas As entidades comerdais<br />

Comercial e Importadora J.<br />

C. Morganti S/A e Confecctles Soulwat<br />

Ltda., por volta de 1967 e 1968,<br />

e nAo tendo condicties de salda-las,<br />

foram os titulos de credit° protestados,<br />

perante o 4? Cartario de<br />

Protestos da Capital, em 6-5-68 e<br />

29-5-67, livros 161-C e 219, fls. 857 e<br />

994, respectivamente.<br />

2 — Posterlormente, jA em condicOes<br />

de quite-las, procurou-as,<br />

mas Ludo em vao, e em vArtos locals,<br />

sendo certo que se dissolveram<br />

de fato, ou tornaram rumo Ignored°,<br />

obrigando-o a ingressar<br />

em mato de 1975, apes tentativas<br />

infrutiferas, corn uma AO° de<br />

Consignacao em Pagamento, matrlbufda<br />

A r. 18? Vara Civet da Ca-<br />

Oat, e uma vez etetuados os dep6sitos<br />

correspondentes a cada um<br />

dos titulos, obteve ganho de causa<br />

e sucesso em suas pretensaes.<br />

R.T.J. — 94<br />

303<br />

3 — Contudo, o simples depesito<br />

efetuado a favor das respectivas<br />

firmas comerciais e a r. decistlo<br />

favoravel com transit° em julgado,<br />

nAo e o bastante para que se opere<br />

o cancelamento dos titulos protestados,<br />

pots tots acontecimentos nao<br />

atendem aos requisitos do E. Provimento<br />

n? 1/74, exarado por V.<br />

Excia., notadamente pelo fato de<br />

nao ter ele em mAos os menclonados<br />

titulos de cradito, pelo que se<br />

vale da presente a tim de qUe o<br />

Douto Juno, examlnando o conte0do<br />

e alcance do que ora se pede, e<br />

dos documentos juntados, respeitosrunente<br />

ordene ao Sr. Escrivao do<br />

4? Canton° de Protestos da Capital<br />

que proceda aos cancelamentos<br />

dos aludidos protestos, como de direlto,<br />

no sentido de que, provad° 0<br />

pagamento dos menclonados<br />

los, possa o requerente, por mei°<br />

fiesta, reerguer-se moral e confercialmente,<br />

pots tats protestos<br />

impedem-no na consecticAo de novos<br />

créditos.<br />

4 — A vista do exposto, sollcita o<br />

total acolhimento do pedido ora<br />

formulado, ouvindo-se para tanto a<br />

Digna Curadorla, protestando provar<br />

o que alega por outros metros<br />

legals, se necessArio for (fls. 2-3).<br />

A sentenca de prImetro grau deferiu<br />

o pedido, e foi manticia pelo seguinte<br />

actordllo (fls. 54-55):<br />

«Acoroam, em Sexta Camara do<br />

Primeiro Tribunal de Alcada Civil,<br />

por votactio unanime, adotado o retotal°<br />

de f. 51, negar provimento<br />

ao recurso. E assim decidem porque<br />

t valid° e justo o cancelamento<br />

dos protestos, no caso vertente.<br />

Vieram eles de dues duplicates, nos<br />

Mos de 1968, estimulados por jalta<br />

de assinatura e pagamento. o credor<br />

nAo demandou a obrigaclto e<br />

quando it/ exaurida a exigibilidade<br />

cambial, o devedor promoveu a


304<br />

R.T.J. — 94<br />

consignacão judicial da divlda<br />

(1975) e obteve a quitacAo dos titulos.<br />

Dai o pedido de cancelamento<br />

dos protestos. Ao contrario do que<br />

sustenta o apelante, não ha veto da<br />

empreitada na lei <strong>federal</strong> if<br />

6.268/75; o fato desta disciplinar como<br />

anotar-se, a margem do registro<br />

do protesto, o pagamento dos<br />

tftulos, ntio impede que, na conformidade<br />

do Provimento n? 4/75 da<br />

Egregia Corregedoria Geral da<br />

Justica, se possa determinar o cancelamento<br />

do protesto. Prevaleceria<br />

a perspectiva do apelante se a<br />

lel, de expresso, impedisse o cancelamento;<br />

mas ela Mo contam<br />

preceito proibltivo e a orientacão<br />

da Corregedoria, sobre ser legItima,<br />

atende uma realidade social<br />

que reclama uma tutela cautelar<br />

obstativa de reflexos molestos a<br />

area negocial, in genere, pela distensAo<br />

abusiva de urn instituto que<br />

nAo foi criado para tanto. E no caso<br />

vertente, as ponderacfles da tese<br />

em que se apoia a recorrente e a<br />

D. Procuradoria, ficam esmaecidas<br />

e superadas porque os titulos,<br />

cujo protesto ja cancelado, ja estavam<br />

despidos de forca cambial e<br />

eram insuficientes, na forma e na<br />

substAncia, para atuar, eventualmente,<br />

em moderna falencia ou concordata<br />

do recorrido. Por isso, em<br />

slntese, o não provimento do recurso.»<br />

Interposto recurso extraordinario,<br />

foi ele admitido por este despacho<br />

(fls. 67-68):<br />

«Trata-se de cancelamento de<br />

protesto de duplicatas, deferido pelo<br />

MM. Jutz e a cuja r. decisAo foi<br />

confirmada pelo yen. acOrdAo de<br />

fls. 54-55.<br />

Inconformado, o Ministerio<br />

blIco do Estado de SAO Paulo interpas<br />

recurso extraordinario, com<br />

fundamento no artigo 119, III le-<br />

tras a e c da ConstituicAo Federal,<br />

alegando que o yen. acerdrio recorrido<br />

negou vigencia A Lei Federal<br />

n? 6.268 de 24-11-75 e julgou valid()<br />

Provimento local contestado em<br />

face da Lei Federal.<br />

0 recurso, regularmente processado,<br />

fol impugnado.<br />

Ressalte-se, de inIcio que a argumentacAo<br />

aduzida pelo ven. acerdAo<br />

recorrido permItiria concluir<br />

no sentido de que ele nAo negou vIgencla<br />

A Lei Federal if 6.268/75;<br />

tat) somente ]he deu interpretacAo<br />

razoavel.<br />

Entretanto, tambem se poderia<br />

concluir que «corn a edicAo dessa<br />

le1 passou a existir nova disciplina<br />

sobre a materia, suprindo a lacuna<br />

que vinha sendo preenchida pela<br />

<strong>jurisprudencia</strong>» (f. 35).<br />

Como quer que seja, conforme<br />

demonstra a Egregia Procuradoria-Geral<br />

da Justica, em 10cidas<br />

razOes, a magnitude da<br />

materia versada impfle seja ela<br />

submetida ao mats autorizado<br />

pronunciamento do Colendo Supremo<br />

Tribunal Federal.<br />

Por estes motivos, ressalvada a<br />

orientagAo pessoal do signatario<br />

deste despacho, determina-se o<br />

processamento do recurso.<br />

Ressalte-se, em remate, que a<br />

orientacAo aqui inculcada tem sldo<br />

seguida por esta Presidencia (RE<br />

na ApeIna') 220.485 S.P. despacho<br />

de 14-10-1976 e RE 225.148 — S.P.<br />

despacho de 25-11-76).»<br />

A fls. 86/87, assim se manifesta a<br />

Procuradoria-Geral da Republica,<br />

em parecer do Dr. Mauro Leite Soares:<br />

«0 Tribunal a quo, f. 54, confirmando<br />

a sentenca initial, declarou


a procedancia de pedido de cancelamento<br />

de protestos de duplicatas,<br />

ocorridos em 1968 e consignado 0<br />

pagamento em 1975, porque a lei<br />

<strong>federal</strong> 6.268/75, que permlte a<br />

simples anotacao da quitacAo<br />

margem do registro de protesto,<br />

nlio impede a aplicactio do Provimento<br />

n? 4/75 da Corregedoria da<br />

Justice Paulista que determina o<br />

preprio cancelamento.<br />

Dal o recurso extraordinario do<br />

Ministerlo PUblico local apoiado<br />

nas letras a e c alegando contrariedade<br />

ao art. 8?, XVII, 0 fink°, da<br />

Constituicão Federal e ne gativa da<br />

lei <strong>federal</strong> n? 6.268/75, alem de Julgar<br />

valid° Provimento local contestado<br />

em face da lel <strong>federal</strong>.<br />

Somos pelo conhecimento do recurso.<br />

A peticão recursal e mats as<br />

brlhantes razdes de f. 70 subscritas<br />

pelo Procurador da Justica Hermes<br />

Plnotti bem demonstram a<br />

procalancia do recurso.<br />

Reportando-nos as mesmas, somos<br />

pelo provlmento do recurso<br />

extraordinario a Bin de reformada<br />

a decisão a quo, decretada ser a<br />

inconatitUclonalidade do Provimento<br />

n1 4/75 da Corregedoria-Geral<br />

da JustIca do Estado de Slio Paulo.»<br />

E o relatorio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Morelra Alves (Relator):<br />

Coriheco do memo e The dou<br />

provlmento, para indeferir o pedido<br />

de cancelamento de protesto.<br />

A 27-4-79, esta Segunda Turma, ao<br />

julgar o RE 90.751, de que fa relator,<br />

decldiu, por unanimidade de votos,<br />

que:<br />

«Com o advento da Lel 6.268, de<br />

24 de novembro de 1975, nao mats<br />

se admite o cancelamento do protesto<br />

de titulo pelo simples Pato de<br />

R.T.J. — 04 305<br />

o devedor haver efetuado o pagamento<br />

posteriormente. Nessa hipotese,<br />

caber-lhe-a o direito de ver<br />

esse pagamento averbado a margem<br />

do registro de protesto, averback*<br />

essa que constara, obrlgatoriamente,<br />

de qualquer certldao ex-<br />

traida desse registro, e que eliminarit<br />

a eficacia deste em relacAo<br />

ao credor, ressalvados direitos de<br />

coobrigados e terceiros, nos termos<br />

da la<br />

Recurso extraordlnarlo conhecldo<br />

e provido.»<br />

Trata-se, no caso, de hipOtese analoga,<br />

tendo, pots, lntelra aplicactio 0<br />

referido precedente, no qual se examinou,<br />

longamente, a questa°.<br />

Observo, flnalmente, que, ao contain°<br />

doque pareceu a Procuradoria-Geral<br />

da Republica,<br />

nAo ha que se declarer a inconstitucionalidade<br />

do Provimento 4/75 da<br />

Corregedoria-Geral da Justice do<br />

Estado de SAo Paulo, porquanto,<br />

sendo ele de 14 de malo de 1975, e<br />

anterior a Lei Federal 6.268, de 24 de<br />

novembro de 1975.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RECr 88.227 — SP — Rel.: Min.<br />

Morelra Alves. Recte.: Ministerio<br />

Fablico Estadual. Recdo.: Dorival<br />

Ogne Loureiro (Advs.: Dalub SalomAo<br />

Jorge e outros).<br />

DeasIto: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Min. Relator.<br />

Unanime.<br />

Presidancia do Sr. Ministro Djaci<br />

FaIca°. — Presentes a SessAo os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra, Morelra<br />

Alves e Decio Miranda. Ausente, justificadamente,<br />

Ministro LeitAo de<br />

Abreu. 5? Subprocurador-Geral da<br />

Republica, o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 8 de junho de 1979. —<br />

Hello Francisco Marques, Secreta-


906<br />

ro S/A.<br />

R.T.J. — 94<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 86.909 — RS<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Djaci FalcAo.<br />

Recorrente: Estado do Rio Grande do Sul — Recorrido: Banco Sul Brasilei-<br />

Fazenda Mika. Duplo grau de jurtsdicAo. NAo o enseja o sishples<br />

despacho interlocuthrio proferido pelo Julz em Incidente de pagement°<br />

de impost° de transmisstio devido a Fazenda, em actio de<br />

execucAo thpotecttria entre partes• Arts. n?s 162, f 1? e 475 do C601.0<br />

de Processo Civil. RazoAvel inteligancia do dlreito positivo, Dissidlo<br />

jurisprudential comprovado, nos termos da Stunula 291. Recurso<br />

extraordinttrio nAo conheckio.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julg,amento e das notes taquigrAfi,<br />

cas, por unanimidade de votos, nAo<br />

conhecer do recurs°.<br />

Brasilia, 22 de Arnim de 1979. —<br />

Djaci Falc/to, Presidente e Relator.<br />

RELATORIO<br />

O Sr. Ministro Djad FalcAo: A decisAo<br />

recorrida traz o seguinte teor:<br />

«Relaterio: Trata-se de execucAo<br />

hipotecaria que Banco Sul Brasileiro<br />

S/A move contra Construtora e<br />

Pedreira Ltda.<br />

Aconteceu que o exethiente arrematou<br />

um imOvel por Cr;<br />

360.000,00 (f. 170). Esse im6vel fora<br />

availed° judicialmente, no curso<br />

da execucAo, em cinco milbOes setecentos<br />

e quarenta e sete mil e<br />

quatrocentos cruzeiros (Cr;<br />

5.747.400,00). (f. 54).<br />

Devendo ser expedida carte de<br />

arrematactio, que deveria ser precedida<br />

do pagamento do impost°<br />

de transmissAo, o autor pediu a remessa<br />

dos autos A Exatoria Estedual,<br />

para que se procedesse A<br />

avaliacAo do inthvel. (f. 186). 0 representante<br />

da Fazenda informou<br />

que, de acordo com o cadastro da<br />

Coordenadoria-Geral da ArrecadacAo,<br />

o valor do prédio 6 de Cr;<br />

2.952.000,00• Todavia consignou<br />

que, face ao que clisp6e o art. 7?,<br />

Inds° II, da L. E. na 5.384, de 27 de<br />

dezembro de 1966, o imposto de<br />

transmissão deverA ser recolhldo<br />

sobre o valor da avallacAo judicial,<br />

ou seja, sobre Cr; 5.747.400,00. (f.<br />

187).<br />

0 Banco prontamente peticionou<br />

invocando o art. 38 do C6digo Trtbuterio<br />

Nacional e insistindo em<br />

que o valor, para efeito tributerio,<br />

s6 poderia ser o de Cr; 2.952.000,00,<br />

que 6 o valor venal do inthvel (f.<br />

189).<br />

O magistrado decidlu que o valor<br />

a considerar deveria ser o de Cr;<br />

2.952.000,00. (f. 189).<br />

Lavrado o calculo, o representante<br />

da Fazenda impugnou-o com<br />

arrimo no art. 7?, inc. II, da L. E.<br />

n? 5.384, de 27.12.66 (f. 193). 0 magistrado<br />

manteve a decisão anterior<br />

(f. 195v). Cientificado em 3 de<br />

junho de 1976 (f. 195v.), a 30 de junho<br />

o Estado do Rio Grande do Sul<br />

interpOs recurs° de apelacão, que o<br />

juiz recebeu no duplo efeito. (fls.<br />

197 e 203).<br />

0 apelante argumenta que, no<br />

que the diz respeito, a apelactlo 6 o<br />

recurso adequado, porque a sentenca<br />

t definitive no que tange ao<br />

merit° de sua pretensAo — cobrar


o imposto corn aliquota incidente<br />

sobre a avaliacno judicial — e e<br />

terminativa no que tange ao incidente<br />

processual em que se constitut<br />

o debate sobre o valor do imOvel.<br />

Sustenta que, se nno houve recurso<br />

nem impugnacao da avaliacAo<br />

judicial, e seu valor figurou<br />

nos prOprios editals de praca, tal<br />

valor deve servir de base de eatenlo<br />

para incidencia do imposto de<br />

transmissao. Invoca o Inciso II, do<br />

art. 7?, da citada L. E. no 5.384/66,<br />

destacando que ela não conflita,<br />

antes se harmoniza, corn o art. 38<br />

do agligo Tributirrio Nacional. ( fls.<br />

197-202). 0 Banco Sul Brasileiro<br />

S/A, em contra-razOes, argil a inadequacao<br />

e a intempestividade do<br />

recurso; apropriado ao caso seria o<br />

agravo de instrumento, mas tanto<br />

este como o de apelacito so poderlam<br />

atacar a decisão de 1. 189, da<br />

qual a Fazenda teve ciencia, na<br />

meihor das hlpOteses, a 3 de maio,<br />

e o apelo so foi apresentado a 30 de<br />

junho; no que diz com o mtrito da<br />

controversia sustenta que o valor<br />

venal do lin(wet a Cr$ 2.952.000,00<br />

e, em conseqUencia, sobre ele deverfr<br />

inctdir o imposto, consoante<br />

determina o art. 38 do COdigo Trlbutario<br />

Nacional. (fls. 206-209).<br />

0 parecer do representante da<br />

Procuradoria-Geral da Justica e<br />

pelo provimento da apelactio.<br />

o relatOrio.<br />

A douta revisno.<br />

Porto Alegre, 9 de dezembro de<br />

1976 — Tun Medina Martins, Relator.»<br />

(fls. 217 a 218).<br />

((Apelain. Não se conhece se o<br />

recurso, al6m de nno ser o adequado,<br />

ainda 6 intempestivo.<br />

AminIto Civel n? 26.714.<br />

1! Camara Civel Porto Alegre.<br />

Estado do Rio Grande do SW —<br />

Apelante: Banco Sul Brasileiro<br />

S/A., Apelado. Construtora e Pedreira<br />

Ltda. (executada).<br />

R.T.J. — 94 307<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos os<br />

autos.<br />

Acordam, unanimemente, em<br />

Primeira Camara Civel do Tribunal<br />

de Justica do Estado, Integrados<br />

neste o relathrio retro e as notas<br />

taquigraficas anexas, em não<br />

conhecer da apelacno.<br />

Custas na forma da lei.<br />

Participou do julgamento, al6m<br />

dos signatarios, o Exmo. Sr. Des.<br />

Cristiano Graeff Jr.<br />

Porto Alegre, 14 de dezembro de<br />

1976. — Des. Oscar Gomes Nunes,<br />

Presidente — Dr. Tulle Medina<br />

Martins, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Dr. Tullo Medina Martins (Relator):<br />

(Leu o relatOrio de ns).<br />

VOTO<br />

0 Dr. Tullo Medina Martins (Relator):<br />

Sr. Presidente. 0 COdigo de<br />

Processo Civil diz o seguinte: «Art.<br />

513. Da sentenca caberir apelacão<br />

(artigos 267 e 269)». 0 dispositivo<br />

faz expressa remissao aos arts. 267<br />

e 269, do mesmo COdigo, deixando<br />

clam que sentenca e a declsão proferida<br />

numa das hipOteses enumeradas<br />

nos vitrios inclsos destes artigos.<br />

0 mesmo COdigo ainda diz:<br />

«Art. 162. Os atos do juiz consistirão<br />

em sentencas, decisbes interlocuterias<br />

e despachos.. 1? Sentenca<br />

6 o ato pelo qual o juiz pae termo<br />

ao processo, dectdindo ou nao o<br />

m6rito da causa». Ora, nem a decisiio<br />

de f. 189, nem a decisão de f.<br />

195v. puseram termo ao processo<br />

dectdindo o m6rito da causa. 0<br />

Juiz decidiu questno incidente entre<br />

o autor da execucão e o Estado,<br />

que nem sequer 6 parte na causa.<br />

Trata-se de tipica decisno interlocutOrta,<br />

tal como a define o 4 2? do<br />

art. 162 do COdigo de Processo Civil.


308<br />

R.T.J. — 94<br />

Tenho que recorrivel era o despacho<br />

de f. 189, que resolveu a<br />

questa() relativa acerca de saber<br />

sobre que valor deveria incidir o<br />

tributo. 0 Estado teve ciência deste<br />

despacho, na melhor das hip6teses,<br />

a 3 de maio de 1976, data da<br />

impugnacAo de f. 193. 0 recurso<br />

de apelacAo foi interposto a 30 de<br />

junho, portanto, completamente a<br />

destempo.<br />

Admitindo, para argumentar,<br />

que recorrivel fosse o despacho de<br />

f. 195, ainda assim o apelo seria<br />

intempestivo. 0 Estado teve dencia<br />

dessa decisAo a 3 de junho de<br />

1976, como se v6 a f. 195v. 0 recurso<br />

s6 foi apresentado a 30 de junho.<br />

Mesmo que se admitisse que continue<br />

a vigorar o principio da fungibilidade<br />

das interposigOes recursais<br />

a apelacAo s6 poderia ser acolhida<br />

como agravo de instrumento<br />

se interposta no prazo deste. No<br />

caso, mesmo computado em dobro<br />

(art. 188 do CPC) o Ultimo dia para<br />

agravar era 14 de junho.<br />

Sob a vigéncia do CPC de 1939,<br />

entendia-se que nAo se dava preclusao<br />

contra a Fazenda PUblica porque,<br />

no que pertine A Fazenda Ptblica,<br />

nAo poderia ela ser condenada<br />

pelo juizo de primeiro grau, por<br />

si s6. Todavia, tenho que hoje a situagAo<br />

6 outra porque o CPC, no<br />

seu art. 162, 1?, define o que seja<br />

sentenca e o art. 475 do mesmo C6digo<br />

mandou submeter a reexame<br />

sentencas proferidas contra a<br />

UniAo, o Estado e o Municipio.<br />

Ora, este reexame 6 urn privilégio<br />

da Fazenda Pithlica. Assim ja era<br />

o recurso de officio entendido como<br />

privilegio. Lembro-me do magist6rio<br />

de Pedro Batista Martins nos<br />

seus Comentarios ao C.RC.. Sendo<br />

privil6gio, deve ser interpretado<br />

restritivamente. NAo a possivel<br />

que o legislador que definiu sentenca<br />

no art. 162, ignore o conceito de<br />

sentenca no art. 475.<br />

Por estas raz6es, nao conhego do<br />

recurso.<br />

0 Sr. Presidente (Des. Oscar Gomes<br />

Nunes) — Acompanho o voto<br />

de V. Exa.<br />

0 Des. Cristiana Graeff Jr. —<br />

De acordo.» (fls. n? 220 a 222).<br />

Irresignado, o Estado do Rio Grande<br />

do Sul interp6s recurso extraordinArio<br />

com base nas tetras a e d do<br />

inciso III, do art. 119, da C. Federal,<br />

alegando que o aresto negou apneacAo<br />

nos arts. 475, II e 473 do CPC,<br />

entrando em dissonAncia corn a Stmula<br />

423 e acOrdAos que cita pela<br />

ementa (fls. 225 a 233).<br />

Inadmitido pelo despacho de fls.<br />

247 a 249, veto, no entanto, a ser processado<br />

em virtude de provimento<br />

do agravo 71.758 (processo em apenso).<br />

Apresentadas as razoes de fls.<br />

268 a 287, o processo subiu a esta<br />

Corte, onde recebeu o segulnte parecer:<br />

«1. 0 Tribunal a quo, t 220, nos<br />

autos de acAo de execucAo hipotecaria<br />

movida pelo Banco recorrido<br />

contra empresa particular, ilk) conheceu<br />

do recurso de apelacAo interposta<br />

pela Fazenda gaticha contra<br />

decisão interlocuthria proferida<br />

pelo Juiz e ref erente ao pagamento<br />

do imposto de transmissão porque,<br />

al6m de inadequado, intempestivo<br />

era o recurso, ao lado de nAo se<br />

tratar, no caso, da obrigatoriedade<br />

do duplo grau de jurisdicAo em relagão<br />

as causas da Fazenda PUblica,<br />

Porque esta lido era parte na<br />

agAo, nos termos dos arts. 162,<br />

1? e 475 do C6digo de Processo Civil.<br />

Dai o recurso extraordinario<br />

do Estado apoiado nas letras a e d<br />

alegando negativa dos artigos 473 e<br />

475 do C6digo Processual Civil e<br />

dissidio com a Stunula 423.<br />

Somos pelo nAo conhecimento<br />

do recurso.


Impugn o recorrente a parte<br />

do acerdAo que declarou nAo cornportar<br />

a (Imola° interlocuteria em<br />

questa() o duplo grau de jurisdicAo.<br />

Parece-nos que não The, asslste razes),<br />

a exemplo dos fundamentos do<br />

acOrdAo recorrido, do despacho<br />

inadmissivo de f. 247, e do parecer<br />

do Ministerio POblico local, f. 284,<br />

aos quals nos permitimos remiss:1o,<br />

porque, realmente, ao lado da<br />

Fazenda ter ingressado na causa<br />

incidentalmente para haver o impost°<br />

de transmissAo do im6vel,<br />

este, o impost°, nAo lhe foi negado,<br />

mas apenas nAo the foi deferido<br />

nas bases ou criterios pretendidos<br />

por ela, Fazenda. QuestAo de simples<br />

cAlculo ou homologacão de<br />

conta que nAo ensej a a remessa de<br />

oficio para a instAncia superior.<br />

Se conhecido, somos pelo nAo<br />

provimento do recurso extraordinArio.<br />

Brasilia, 23 de mato de 1979. —<br />

Mauro Leite Soares, 5?<br />

Subprocurador-Geral da ReptIblica.»<br />

(fls. 296 a 297).<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Mad Falai) (Relator):<br />

0 acerdAo recorrido nAo conheceu<br />

do recurso de apelacAo interposto<br />

pela Fazenda Estadual por entender<br />

que a decisAo referente ao pagamento<br />

do impost° de transmissAo,<br />

em virtude de arrematacAo de bem<br />

levado A prayer, tern caritter interlocutetrio,<br />

ensejando agravo de instrumento<br />

(4 2? do art. 162 e art. 522 do<br />

CPC); bem assim, ainda que coubesse<br />

apelacAo, o recurso era intempestivo,<br />

porquanto o Estado teve ciencia<br />

da decislio a 03.06.76 e somente recorreu<br />

a 30.06.76. Acrescentou ainda<br />

que nAo era caso da obrigatoriedade<br />

do duplo grau de jurisdicello, uma vez<br />

que a Fazenda POblica nAo era parte<br />

na actio (artigo 162, 4 1? e 475 do<br />

CPC)<br />

R.T.J. — 94 309<br />

Quanto A alegada vulneractio do<br />

art. 475, II, da lei adjetiva civil, não<br />

merece acolhida tendo em vista o<br />

carAter excepcional do recurso de<br />

oficio, a merecer interpretacAo<br />

strictu sensu. Ora, na especie a Fazenda<br />

nAo figurou como parte.<br />

Conforme ponderou, em caso semelhante<br />

(impost° de transmissAo<br />

Cat= mortis), o saudoso Ministro<br />

Rodrigues Alckinin:<br />

«0 recurso de oficio e um recurso<br />

excepcional, portanto de direito<br />

estrito. NAo comporta ampliactlo,<br />

Wilda que se entenda que, pelo<br />

principlo do duplo exame das questees<br />

em que a Fazenda 6 vencida,<br />

houvesse conveniencia de estendelo<br />

a certas decisees nAo abrangidas<br />

pela apelacAo. E claro que, em<br />

leis especiais, como no caso do<br />

Dec.-lei 960, se prevt recurso de<br />

oficio de decisties que seriam agravAvels<br />

de peticAo. Mas, no caso de<br />

cAlculo, a lei não dA recurso de<br />

oficio se a Fazenda for vencida ern<br />

qualquer pretensAo sua no inventArio.<br />

Cabe A Fazenda interpor recurso<br />

de agravo de instrumento. Se<br />

nAo o fez, nAo poderA faze-lo, o<br />

Julz, de oficio, porque nAo tem autorizacilo<br />

legal.» (RE 69.981, In<br />

RTJ 75/750).<br />

Tenho para mim que houve, pelo<br />

menos, uma razoAvel interpretacAo<br />

do direito positivo (arts. 162, 475 e<br />

522 do CPC).<br />

Por outro lado, não vinga a argelcão<br />

de implicita negativa de Agenda<br />

ao art. 473 do CPC, referente A<br />

preclusividade das decisees Judidais,<br />

materia into discutida no acOrdAo.<br />

Sem prestimo, por igual, a'<br />

cão da Samula 423, A vista das considerac6es<br />

antes aduzidas quanto ao<br />

descabimento da obrigatoriedade do<br />

duplo grau de jurisdicAo.<br />

Finalmente, os trechos de ado.dllos<br />

trazidos a confronto, que lei°<br />

(fls. 270 a 275), nAo demonstram a


310<br />

existencia de circunstancias que<br />

identifiquem ou assemelhem os casos<br />

confrontados (Stunula 291).<br />

Por todo o exposto, preliminarmente,<br />

nAo conheco do recurso.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 88.909 — RS — Rel.: Min. Djaci<br />

Recte.: Estado do Rio Grande<br />

do Sul (Adv.: Jacques TAvora Alfonsin).<br />

Recdo.: Banco Sul Bras!leiro<br />

R.T.J. — 94<br />

S/A. (Adv.: Carlos M. Fonyat Filho e<br />

outro).<br />

DeclsAo: NAo conhecido, unanime.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

— Presentes A SessAo os Srs.<br />

Ministros LeitAo de Abreu, Cordeiro<br />

Guerra, Moreira Alves e Decio Miranda.<br />

5? Subprocurador-Geral da<br />

Repftblica, o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 22 de Junho de 1979. —<br />

Hello Francisco Marques, SecretArio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARION? 89.138 — SP<br />

(nimeira llama)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cunha Peixoto.<br />

Recorrente: Pirelli S.A. — Companhia Industrial Braslleira — Recorrido:<br />

Estado de São Paulo.<br />

RepeticAo de indabito.<br />

CorrecAo monetAria concedida a partir do depbsito.<br />

Recurso conhecido e provido.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Frimeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na cortformidade da ata de<br />

Julgamentos e das notas taquigrAficas,<br />

por unanimidade, de votos, em<br />

conhecer e prover o recurso<br />

Brasilia, 13 de junho de 1978. —<br />

Antonio Neder, Presidente — Cunha<br />

Peixoto, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Cunha Peixoto:<br />

Trata-se de aceo ordinAria, movida<br />

por Pirelli S.A. — Companhia Industrial<br />

Braslleira —, contra a Fazenda<br />

Pithlice do Estado de SAo Paulo, Para<br />

haver correcão monetAria, cuja<br />

aela fol °militia na anterior acAo<br />

dery epeticão de indebito entre os<br />

mesmos litigantes.<br />

egregio Tribunal de Alcada do<br />

Estado de SAo Paulo acolheu a pretensAo,<br />

em parte, e concedeu a correek,<br />

a partir da citacAo.<br />

Dai o extraordinArio, com fundamento<br />

nas Tetras a e d, do n? III, do<br />

art. 119 da ConstituicAo Federal,<br />

apontando como vlolado o art. 108,<br />

do COdigo TributArio Nacional e<br />

dissidio corn a <strong>jurisprudencia</strong> deste<br />

colendo Supremo Tribunal Federal<br />

A Procuradoria-Geral da RepUblica<br />

manifesta-se pelo conhecimento e<br />

provimento do recurso.<br />

o relatOrio. VOTO<br />

O Sr. Ministro Cunha Peixoto (Relator):<br />

JA A pacifica e reiterada a<br />

jurispruciencia deste colendo Supremo<br />

Tribunal Federal no sentido de<br />

se admitir a correcAo monetAria do<br />

tributo indevidamente recolhido,<br />

quando a legislacão estadual preve


essa °wreck monetarla do depOsito<br />

em caso de devolucao decorrente da<br />

procedancia do recurs°, correclio<br />

te as contar da epoca do depOsito. es-<br />

E &to poderla ser de manelra diverse,<br />

porque, no dep6sito, o Estado<br />

se beneficiou com a Importancla depositada<br />

desde o moment° que a reabet<br />

e, conseantemente, dessa<br />

data ter& de sex calculada a coma°<br />

monearia.<br />

Pelos motives expostos e os precedentes<br />

invocados dente Colendo Tribunal<br />

Federal, conheco do recurso e<br />

the dou provimento.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 89.138-SP — Rel.: Min. Cunha<br />

Peixoto. Recte.: Pirelli S.A. — Com-<br />

R.T.J. — 94 311<br />

panhia Industrial Brasileira (Adv.:<br />

Pedro Gordllho). Recdo.: Estado de<br />

Sao Paulo (Adv.: Jorge A. de Macedo<br />

Vieira).<br />

Decisao: Conhecido e provido, unit-<br />

Presiancia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes a Sessao os<br />

Srs. Ministro Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Alckm1n, Cunha Peirote<br />

e Soares Mufloz. 4? Subprocurador-Geral<br />

da Repttblica, o Dr. Francisco<br />

de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 13 de Junho de 1978. —<br />

Antonio Carlos de Asevedo Braga,<br />

Secret/trio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 89.314 — PR<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cunha Peixoto.<br />

Recorrentes: Nelso Attillo Ublall e outros — Recorrido: Estado do Parana.<br />

Servidor Estabilidade excepcional, p<strong>revista</strong> no art. 177, I<br />

2! da Constittdcilo de 1967. A norma aproveita ao servo/dor que, a data<br />

da promulgacilo da Constituicao, exercia regularntente funclio pilblica<br />

ha mats de.clnco anos.<br />

Recurso cOnbecido e provido.<br />

ACORDA0<br />

Vlstos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primere<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da data do<br />

JulgAunento e des notes taquignificu,<br />

por tmanimidade de votos, em<br />

conhecer e prover o recurso.<br />

Brasilia, 13 de Junho de 1978 —<br />

Antonio Neder, Presidente — Cunha<br />

Peixoto, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Cunha Peixoto: Neiso<br />

AMU° Ublall e outros aluizaram<br />

acao ordhuiria contra o Estado do<br />

Parana, obJetivando sum estabilidade<br />

com base no 2? do art. 177 da Constituicilo<br />

Federal. Alegam ser prolessores<br />

do antigo gran medic) — ginssic<br />

e coleglo —, hole 1? e 2? gratis, do<br />

Estado do Parana, e que, em 24 de<br />

Janeiro de 1967, Unlic.:n mats de ctn.co<br />

anos de servico<br />

Defende-se o Estado do Parana.<br />

Ntio nega terem os autores mats de<br />

cInco anos de servico pOblico em 24<br />

de Janeiro de 1967, mas pondera nao<br />

lies ser aplictiVel o 3 2?, do art. 177<br />

da Constituicao, por serem professores<br />

suplementarlstai.


312 R.T.J. — 94<br />

A sentence de primeiro grau julgou<br />

procedente a ace°, mas o Egreglo<br />

Tribunal de Justice do Estado do<br />

Parana reformou essa decisAo sob o<br />

fundamento de que «e pressuposto<br />

impresclndivel da estabilidade a<br />

existencia do cargo e as aulas suplementares<br />

não constituem cargos e<br />

sac) de cunho eventual ou esporadigo)).<br />

Irresignados, os autores interpuseram<br />

recurso extraordinario corn<br />

fundamento nas tetras a e d, do n?<br />

III, do art. 119 da ConstituicAo Federal,<br />

apontando como vlolado o § 2?,<br />

do art. 177 da ConstituicAo e dissidio<br />

<strong>jurisprudencia</strong>l.<br />

A Procuradoria-Geral da Republica<br />

manifesta-se pelo nAo conhecimento<br />

do recurso.<br />

o related°. VOTO<br />

0 Senhor Ministro Cunha Pe1xoto<br />

(Relator): 1 — o § 2?, do art. 177 da<br />

ConstituteOa de 1967, abrange, sem<br />

clavicle, todos os servidores do Estado<br />

que, por ocasiAo de sua promulgacAo,<br />

tinham mais de cinco anos de<br />

exercicio.<br />

De fato, estabelece este inciso:<br />

«SA° estaveis os atuais servidores<br />

da Utak), dos Estados e dos<br />

Municiplos, da administracAo cenitralizada<br />

ou autarquia, que, a data<br />

da promulgacAo desta ConstituicOo,<br />

contem, pelo menos, cinco<br />

anos de service pablico.»<br />

Como se verifica, o preceito 6 generico<br />

e abrange, sem clavicle, a<br />

quantos na qualidade de servidores,<br />

hajamprestado servico pablico.<br />

No RE n? 67.377, julgado Pleno,<br />

eminente Ministro Thompson Flores<br />

teve oportunidade de sustentar:<br />

«Entendo que o art. 177, § 2?,<br />

cobre amplamente a todos os servidores,<br />

corn maior extensao, a<br />

meu ver, do que o fez a Constituicao<br />

de 1946, atraves do art. 23, do<br />

Ato das DisposicOes Constitucionais<br />

Transiterias e legislacOes que<br />

se the seguiu.<br />

De resto, assim ja considerou o<br />

Parecer n? H 529, da Consultoria<br />

Geral da RepOblica, de 27.6.67, aprovado<br />

pelo Sr. Presidente da Re-<br />

(RTJ. 53/548).<br />

Na mesma ocasiAo, manifestou-se<br />

0 eminente Ministro Djaci FalcAo:<br />

«A meu entender, o precelto<br />

abrange a quantos na qualidade de<br />

servidores haj am prestado servico<br />

Irrecusavelmente, a expressão<br />

generica — «servidores),<br />

— abrange nAo se os funcionarlos<br />

pablicos propriamente ditos, ou seja<br />

em sentido estrito, mas também<br />

aqueles que prestam servicos a<br />

Administracdo, sob o regime da<br />

ConsolidacAo das Leis do Trabalho))<br />

(Rev. e vol. cats., p. 550).<br />

Por sua vez, o Ministro Eloy da<br />

Rocha, no RE n? 67.763, firmou o<br />

mesmo principio:<br />

«A distincAo entre estabilidade,<br />

p<strong>revista</strong> na ConstituicAo, para os<br />

funcionarios pablicos, e a regulada<br />

na C.L.T., nao encontra amparo no<br />

art. 177, § 2?, que nä° contêm nenhuma<br />

ressalva. Quando quis festringir<br />

a garantia, a Constituted() o<br />

fez expressamente. No mesmo<br />

Tttulo das DisposlcOes Gerais e<br />

Transiterias, o art. 178 assegurou<br />

ao ex-combatente, que tenha participado<br />

efetivamente de operacOes<br />

belicas na Segunda Guerra Mundial,<br />

entre outros direitos, o de «estabilidade,<br />

se funcionario pablico»<br />

(RTJ. 56/722)..<br />

E no RE n? 85.647, julgado em 11<br />

de maio de 1967, o Pleno tornou a<br />

reafirmar estes principios:<br />

«Evidentemente a prestacdo de<br />

servico de natureza eventual, durante<br />

longos anos, corn subordinacAo<br />

hierarquica, sujeito o empregado<br />

a horario e remuneracâo, ha<br />

- de se concluir pela existOncia de<br />

vinculo empregaticio.<br />

A estabilidade de que trata o art.<br />

177, § 2? da Constituicão de 1967 incide<br />

sobre os servidores pablicos<br />

regidos pela CLT.,)


Ora, este provado nos autos, e o<br />

Estado e o acardeo nä° negam, que<br />

os recorrentes, quando da promulgaclio<br />

da Constituicao de 1967, le prestavam<br />

servicos ao Estado do Parana<br />

por multo mats de cinco anos. Portanto<br />

faziam Jus aos beneficios concedidos<br />

pelo if 2? do art. 177.<br />

Por estes motivos, conheco do recurso<br />

e the dou provimento, para<br />

restabelecer a sentence de primeiro<br />

grau.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 89314 — PR — Rel.: MM.<br />

Cunha Peixoto. Rectes.: Nelso ARM°<br />

Ibla11 e outros (Advs. Adonis Galileu<br />

R.T.J. — 94 313<br />

dos Santos e Raul Schwinden Junior<br />

e outro). Recdo.: Estado do Parana<br />

(Advs. Rubens de Barros Brisola e<br />

outros).<br />

Decisao — Conbecido e provldo,<br />

nos termos do voto do Ministro Relator,<br />

unanime.<br />

Presidencla do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes A sessão os Srs.<br />

Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Alckmin, Cunha Peixoto e<br />

Soares Mufloz. 4? Subprocurador-<br />

Geral da Repablica, o Dr. Francisco<br />

de Assts Toledo.<br />

Brasilia, 13 de Junho de 1979.<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretario.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 89.416 — SC<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Djaci FaIcao.<br />

Recorrente: Prefeitura Municipal de Florian°polls — Recorridos: Ade°<br />

Tabajara N. Galiberno e outros.<br />

Mandado de Seguranca. Prel'miner de nulidade do acerdio recorrido,<br />

a fundamento (le que a autoridade coatora nib fora lntImada da<br />

sentence. Sua imp rocedencia. Imposto sabre servicos. Corretor de<br />

imevel. Begalidade da sua Incidencla na base de 2%, sabre as comasgees<br />

auteridas pelo corretor. Intellencla do * 1? do art. 9? do Dec.-Ie1<br />

406/68. Precedente do S.T.F.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigraficas,<br />

por unanimidade de votos, não<br />

conhecer do recurso.<br />

Brasilia, 03 de agosto de 1979.<br />

Djaci Feick*, Presidente e Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Died Falcgo: Ao<br />

despachar o recurso extraordthario<br />

interposto pela Prefeitura Municipal<br />

de FlorlanOpolis (Wise o ilustre Des.<br />

Ary Pereira Oliveira:<br />

«0 recurso 6 interposto com fundamento<br />

no art. 119, III, letra a, da<br />

Constitulcao Federal.<br />

2. A v. decisao recorrida<br />

consubstancia-se no seguinte lance:<br />

«a pretensào da Prefeitura Municipal<br />

de cobrar dos corretores de.<br />

imOveis o I.S.S., calculado pela<br />

aliquota fixa de 2% sobre a renda<br />

bruta colhida nas transacOes imobiliarias,<br />

e «que represente, em Ultima<br />

manse, a remuneracith do<br />

prOprio trabalho dos corretores,<br />

por representar incidancia sobre<br />

fato gerador que da ensejo ao impost°<br />

de renda, auferido pela<br />

consubstancia flagrante violaetio<br />

ao que, a respeito dispOe o la<br />

referido g 1? do art. 9? do Dec.-lei


314<br />

R.T.J. — 94<br />

406/68, e art. 268, da Let 1.054, de<br />

30 de dezembro de 1971, que alterou<br />

as disposiceres do C6digo TributArio<br />

de Florianópolis » como bem<br />

salientou, com muita propriedade,<br />

a douta Procuradoritr-Geral do Estado<br />

em seu parecer a 1. 117 dos<br />

autos. A pesSoa fisica que exerce<br />

uma atividade profissional la tern<br />

os seus rendimentos tributados pela<br />

UniAo, isto 6, pelo Imposto de<br />

Benda, nao podendo, sobre esse<br />

mesmo fato, incidir o impost() sobre<br />

servicos. Admitir-se a legalidade<br />

de tai ato seria admitir-se dots<br />

trlbutos,•urn <strong>federal</strong> e outro municipal,<br />

sobre o mesmo fato gerador,<br />

o que 6 inviavel.» (fls.125-126).<br />

3. Alega a recorrente negactio de<br />

vigéncia dos seguintes dispositivos:<br />

artigos 234, 239 e 247 do CPC<br />

— não se efetivara a intimactio da<br />

sentenca, pots «os Wick's que capearam<br />

a decistio foram recebidos<br />

por Djalma Cunha», «terceira pessoa»<br />

(fls. 134 e 135), delxando de<br />

ser entregues aos impetrados e A<br />

Prefeitura Municipal. NAo houvera<br />

publicacilo da sentenca no Mario<br />

da Justice, nem intimaeAo através<br />

de AR;<br />

artigos 506, II e 513 do CPC —<br />

corn relaello ao prazo para o recurso,<br />

o qual decorre da intimacão<br />

das partes, quando a sentenca nLio<br />

for proferida em audiéncia.<br />

artigo 11 da Lei 1.533, de 31 de<br />

dezembro de 1957 — dispositivo<br />

que regula de forma especial a<br />

transmissAo do inteiro teor da sentence<br />

a autoridade coatora;<br />

artigo 9?, 1?, do Dec.-lei n?<br />

406, de 31 de dezembro de 1968 —<br />

disposittvo sobre o qual se apoiaram<br />

ambas as decisiies para<br />

entendé-lo violado.<br />

4. 0 arrazoado da recorrente se<br />

prende<br />

intimaetio que entende<br />

não consumada na especie, mattria<br />

estranha a lide, por não haver<br />

sido ventllada pelo respeitavel julgado<br />

de fls. 121/126. Nos termos da<br />

&mule, verbetes n? 282 e 279, o recurso<br />

nao encontra amparo. Acresque<br />

os impetrados, deixando de<br />

recorrer, por não se considerarem<br />

intimados, debraram de alegar<br />

aquelas raz6es em recurso, o que<br />

então, por prequestionamento, darlhes-la<br />

o dlretto da referencia as<br />

mesmas, nests apelo. Mats: a pessoa<br />

que recebeu as intimacOes 6<br />

funcionArio da recorrente. E os<br />

editais de distribuicilo e julgamento<br />

foram publtcados respectivamente<br />

nos Dierio da Judea de 22<br />

de junho de 1977 e 09 de setembro<br />

.de 1977.<br />

Quanto ao art. 9?, 1?, do Dec.lei<br />

n? 406, de 31 de dezembro de<br />

1968, exceptua o mesmo a importAncia<br />

paga a titulo de remuneracAo<br />

do pr6prio trabalho. Interpretando<br />

este dispositivo 6 que as<br />

duas decisOes consideraram llegais<br />

as notificactes apltcadas aos impetrantes.<br />

Indefere-se o pedido. Publiquese.»<br />

(folhas 161 a 163)<br />

Todavia, o recurso veto a ser processed°<br />

em vIrtude do Ag. de Instrumento<br />

78.017 (proc. ern apen.so). Oferecidas<br />

as razOes de fls. 167 a 173 e<br />

contra-razews de fls. 176 usque 189,<br />

bem assim o parecer do Minist6rio<br />

Mlles local (M. 192 a 194), subiu o<br />

processo a esta Corte, onde recebeu<br />

o seguinte parecer<br />

Assentou o aclirdAo tmpugnado<br />

que o I.S.S. devido pelos conetores<br />

de im6veis nAo pole ser calculado<br />

sobre o valor das tom'ssees,<br />

por se tratar de trabalho pessoal,<br />

de acordo com o que prescreve<br />

o 1? do art. 9? do Dec.-lei<br />

406/68.<br />

2. Recorre a Fazenda Municipal<br />

argllindo, em preliminar, negattva<br />

de vigáncia ao art. 11 da Let n?<br />

1.533/51 e aos arts. 234, 247, 506 e<br />

513 do CPC porque nAo teria sido


intimada da decistio de primeiro<br />

grau, nem bra esta publicada; e,<br />

no merit°, vlolacAo ao prOprio § 1?<br />

do citado art. 9?.<br />

A preliminar ntio procede. 0<br />

mandado de seguranca a regido<br />

por lei especial, que determine a<br />

intimactio da autoridade coatora<br />

por varias formes expedites, dentre<br />

elas o officio entregue pelo official<br />

do Niro ou pelo correio, corn<br />

aviso de recebimento. 0 oficlo fol<br />

expedido e entregue na reparticAo<br />

(fls. 109-110), sendo descabida a<br />

alegacAo de que deveria conter o<br />

recibo da prOpria autoridade. vese<br />

na cOpia a assinatura leglvel de<br />

quern o recebeu e que 6 [undo:Arlo<br />

da Munlcipalidade, como prove<br />

o recorrido As fls. 158 e 159. Cumpile<br />

A recorrente demonstrar o<br />

contrario, o que rdio fez.<br />

Quanto ao merit°, a inadmissivel<br />

o apelo, pots o acOrdflo<br />

aplicou, corretamente, o dispositivo<br />

dado como infringido. Antis, a<br />

materia nth) 6 nova, tendo precedente<br />

no RE 77.058—SP, julg,ado<br />

pela Eg. It Turma em 29.03.74, relator<br />

o saudoso mestre Altomer<br />

Baleeiro (RTJ 72/460), onde se decidlu<br />

no mesmo sentido.<br />

Opinamos nib seta conhecido.<br />

Brasilia, 11 de junho de 1979 —<br />

Miguel Frauzino Pereira, Procuredor<br />

da RepablIca.<br />

APROVO: Mauro Leite Soares, 5?<br />

Subprocurador-Geral da Repnblica.»<br />

(t1s. 201 a 202)<br />

VOTO<br />

0 Sr. Millar° Disci FalcAo (Relator):<br />

0 acifirdAo recorrido traz o seguinte<br />

teor.<br />

«Mandado de Seguranca. Reexame<br />

de decisAo de primeiro<br />

gnu.<br />

Corretores de imOveis. Pessoas<br />

fisicas. liege'Made da incidencia<br />

de Imposto sobre Servicos na base<br />

de 2% sobre as comissOes auferidas.<br />

R.T.J. — 94<br />

315<br />

“A pessoa fisica, como exercente<br />

(mica de uma atividade<br />

profissional, JA tern os rendimentos<br />

que aufira tributados pelo imposto<br />

<strong>federal</strong> sobre a renda e<br />

proventos de qualquer natureza e<br />

por essa razilo, sobre o mesmo<br />

fato, ratio pole sofrer a incidtncia<br />

do Imposto sobre Servicos. Serie<br />

admitir a incidencia de dots tributos,<br />

urn <strong>federal</strong> (renda) e urn<br />

municipal (de servicos), sobre<br />

um s6 tato econernico e uma s6<br />

base de ctilculo». (Fabio Fanucchi<br />

— Curse de Direlto Tributairio<br />

Benneleo, 1975, vol. II, nag.<br />

204/205).<br />

Violacão do § 1? do art. 9° do<br />

Decreto-lei Federal 406, de<br />

31.12.1968, e do art. 268 da Lel<br />

1.054, de 30 de dezembro de 1971,<br />

que alterou disposicCes do C6digo<br />

Tributerio de Florianópolis.<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos de apelacAo civel em<br />

mended° de seguranca n? 1.353, da<br />

comarca da Capital, remetido pelo<br />

Juizo de Direito da Vara dos Feitos<br />

da Fazenda PIMlice e Acidentes do<br />

Trabalho, sendo impetrantes AdAo<br />

Tabajara N. Galiberno e outros e<br />

impetrados Carlos Valter Machado<br />

e Armando Teixeira:<br />

Acordam, em Segunda Camara<br />

Civil, A unanimidade, reexaminando<br />

a sentence de primeiro grau,<br />

confirmft-la pelos seus pr6prios<br />

fundamentos.<br />

Custas na forma da let.<br />

AdAo Tabajara N. Galiberno,<br />

brasileiro, casado, CRECl/SC ri?<br />

661, Ademlr Petri, brasileiro, solteiro,<br />

CRECl/SC n? 417, Anita Padilha,<br />

brasileira, solteira, CRE-<br />

Cl/SC n? 605, Arlindo Fernandes<br />

Ramos Ferreira, braslleiro, casado,<br />

CRECl/SC n? 229, Ary Gomes<br />

de Oliveira, braslleiro, casado,<br />

CRECI/SC n? 214, Ayrton Agular<br />

Furtado, braslleiro, casado, CFtE-<br />

Cl/SC n? 465, Carlos Walfredo Livramento<br />

Machado, brasileiro, casado,<br />

CRECl/SC n? 111, Dalton


316<br />

R.T.J. — 94<br />

Joao de Andrade, brasileiro, casado,<br />

CRECl/SC n? 413, Demetre<br />

Athanast Samaras, grego, casado,<br />

CRECl/SC 719, Dilmar Becvhauser,<br />

brasileiro, casado, CRECl/SC<br />

n? 705, Elson Jose da Costa, brasileiro,<br />

casado, CRECl/SC n? (em<br />

andamento), Francisco Domingos<br />

de Souza, brasileiro, casado, CRE-<br />

Cl/SC n? 341, Gersony Sebastiao<br />

Pawlick, brasileiro, solteiro, CRE-<br />

Cl/SC n? 910, Gilson Morals, brasileiro,<br />

casado, CRECl/SC n? 591, IIdo<br />

Luiz Lodetti, brasileiro, solteiro,<br />

CRECl/SC n? (em andamento),<br />

Joao Carlos Espindola, brasileiro,<br />

solteiro, CRECl/SC n? 840, Jorge<br />

Nogueira Galiberne, brasileiro,<br />

solteiro, CRECl/SC n? 831, Laudares<br />

PoIli, brasileiro, casado, CRE-<br />

Cl/SC n? 400, Maria Salete Ignacio,<br />

brasileira, desqultada, CRECl/SC<br />

n? 684, Moacir Passim, brasileiro,<br />

casado, CRECl/SC n? 295, Nag!la<br />

Cherem, brasileira, casada, CRE-<br />

Cl/SC n? (em andamento), Nelson<br />

de Campos, brasileiro, casado,<br />

CRECl/SC n? 758, Nelson Rohden,<br />

brasileiro, solteiro, CRECl/SC n?<br />

(em andamento), Paulo Amaro da<br />

Silveira, brasileiro, casado, CRE-<br />

Cl/SC n? 912, Paulo Cesar Souza,<br />

brasileiro, casado, CRECl/SC n?<br />

763, Rubens Fernandes, brasileiro,<br />

casado, CRECl/SC n? 713, Sadi Silva<br />

Santos, brasileiro, solteiro,<br />

CRECl/SC n? 834, Silverio Simon',<br />

brasileiro, solteiro, CRECl/SC n?<br />

914, Valmor Quirino Goulart, brasileiro,<br />

casado, CRECl/SC n? 722, todos<br />

residentes e domiciliados nesta<br />

Capital, impetraram Mandado de<br />

Seguranca contra ato dos Srs. Carlos<br />

Valter Machado e Armando<br />

Teixeira, ambos Fiscais de Financas<br />

da Divisao de Fiscalizacao de<br />

Rendas Mobiliarias da Secretaria<br />

de Financas da Prefeitura Municipal<br />

de Florian(polls, expondo e requerendo<br />

o seguinte:<br />

1. Que os ora impetrantes sao todos<br />

"Corretores de Im6veis" aute-<br />

nomos, inscritos no Conselho Regional<br />

dos Corretores de Im(wets<br />

do Estado de Santa Catarina e percebem<br />

comissOes de corretagem,<br />

pelas vendas de im6veis de tercetros;<br />

Que, quando procuraram pa-<br />

-gar, na epoca devida, o I.S.S. a que<br />

estao obrigados, foram informados<br />

na Prefeitura Municipal de FlorianOpolis<br />

que estarlam sujeitos a 2%<br />

sobre as comissOes auferidas;<br />

Que a Recebedoria Municipal<br />

invocou para tanto a nova redacao<br />

dada ao COdigo Tributario Municipal<br />

pela Lei n? 1.054/71, que determina<br />

que os corretores de imOveis<br />

pagarao urn percentual de 2% sobre<br />

as comissOes percebidas;<br />

Que consoante o Dec.-lei n?<br />

406/68 — artigo 9? e seu 1?, a base<br />

de calculo do imposto e o preco<br />

do servico, e quando se tratar de<br />

prestacao de servicos sob a forma<br />

de trabalho pessoal do preprio contribuinte,<br />

o imposto sera calculado,<br />

por meio de aliquotas fixas ou variaveis,<br />

em funcão da natureza do<br />

servico ou de outros fatores pertinentes,<br />

nestes nao compreendida a<br />

importancia paga a titulo de remuneracao<br />

do prOprio trabalho;<br />

Que nesse mesmo sentido e o<br />

C6digo Tributário Municipal, dado<br />

pela Lei n? 1.054/71;<br />

Que a remuneracao dos impetrantes<br />

sac) as comissOes por corretagens<br />

na intermediacao de bens<br />

imOveis de terceiros, o que caracteriza<br />

puro trabalho pessoal, ja<br />

que nao sac, empresas e nao tern<br />

empregados;<br />

Que os atos impugnados ferem<br />

direito liquido e certo dos impetrantes,<br />

pois a exigencia das autoridades<br />

coatoras contraria disposi-<br />

Vies do Dec.-lei Federal n? 406/68,<br />

que determina que quando se tratar<br />

de prestacao de servico sob a<br />

forma de trabalho pessoal, o im-


R.T.J. — 94<br />

317<br />

posto sera calculado por mein de<br />

aliquotas fixas ou variAveis; 9? do Dec.-lei 406/68, as<br />

8. Que sejam suspensos<br />

cOes de fls., notificamente<br />

os atos impugnados<br />

liminar-<br />

aplicadas<br />

trantes, sal) liegals».<br />

aos lmpe-<br />

e apOs,<br />

notificadas as autoridades coato- 0 writ 101 concedido<br />

ras, seta, a final,<br />

para o fim<br />

concedida segu- de serem Julgadas ilegais as notifiranga,<br />

no sentido de serem declacacees de fls., tendo em vista que<br />

radas ilegais as<br />

mo, e principaimente<br />

notificaates, co-<br />

nAo pode prevalecer<br />

o dispositi dos lmp<br />

a exigencia<br />

vo<br />

(item 32 do art. 274 do Cedigo Triet etrados de cobrar dos 1mbutario<br />

Municipal, corn a redacao bre as comissees<br />

(dots por cento) so-<br />

dada pela Lei n? 1.054/71) que exi- conseqUancia,<br />

auferidas e, em<br />

qualquer<br />

ge o Imposto sobre Servicos de as intimagaes<br />

tornadas invAlidas<br />

de fls. 51/79,<br />

natureza (ISS) sobre as didas pela proce-<br />

comissaes (remuneracao) retores de Im(Weis<br />

dos Conrl<br />

municipalidade de<br />

anepolis contra os autores. Flo-<br />

que participam<br />

deste requertmento.<br />

Os autos vieram a este Egregio<br />

Tribunal face o disposto no item II<br />

A inicial acompartharam documentos.<br />

varlos Civil.<br />

do art. 475 do COdigo de Processo<br />

A liminar fol deferida A f. 86 v. A sentenca de<br />

Notificadas as ser<br />

autoridades<br />

confirmada<br />

primeiro grau 6 de<br />

ras, estas prestaram informacOes,<br />

coato-<br />

por seus<br />

jurldicos fundamentos.<br />

prOprios e<br />

petrantes<br />

dizendo que as atividades dos im- Corn efelto, a pretensao<br />

estao<br />

da Pre-<br />

enquadradas nos feltura Municipal de cobrar dos cor-<br />

itens 32 da Lista de Servicos da Lei retores de inufweis o I.S.S.,<br />

Municipal calcula-<br />

n?<br />

bro de 1971, e<br />

1.054, de 30 de dezemdo pela allquota fixa de 2% sobre a<br />

portanto, recolhimento<br />

sujeitos ao<br />

aos cofres municipals imobIllarias,<br />

renda bruta colhida nas transacOes<br />

e «que<br />

de 2% sobre a producao; esta provado que as<br />

que nao em Mama analise, a<br />

represente,<br />

atividades<br />

requerentes sac)<br />

dos<br />

do prOprio<br />

remuneracao<br />

trabalho dos<br />

exercidas<br />

forma de trabalho<br />

sob a por representar<br />

corretores,<br />

pessoal, e por-<br />

fato g<br />

incidancia sobre<br />

tant° nao tam os mesmos direito posto<br />

erador<br />

d<br />

que dA ensejo ao Im-<br />

11 o, amparavel<br />

Uni<br />

em<br />

ao, consubstancia<br />

aufericlo<br />

la<br />

flagrantepela<br />

Mandado de Seguranca; que o item ref ao que, a respeito disp6e o JA<br />

32 do art. 274 da Lei Municipal n?<br />

406<br />

erido 1? do art. 9? do Dec.-lei<br />

805, corn a nova redacao que The<br />

de /68,<br />

emprestou a Lei n? 1.054/71, rat)<br />

d<br />

e art. 268 da Lei 1.054, de 30<br />

violou o art. 9?, 1?, do Decreto-lei<br />

as disp<br />

ezembro de 1971, que alterou<br />

Federal n? 406/68; que ante o ex- de Flori<br />

oslceles do COdlgo Tributario<br />

posto, 6 de ser denegada a segu- tou, corn<br />

anOpolis»<br />

muita<br />

como bem sallento<br />

proprledade, ranca, cassando-se a llminar con- Procur a doucedida.<br />

em seu p<br />

adoria-Geral do Es ado<br />

arecer a f. 117 dos autos.<br />

0 Dr. Promotor PUblico, A p<br />

manifestando-se nos autos, opinou ant/ dade<br />

essoa Mica que exerce uma<br />

profissional<br />

pelo deferimento do writ, por en- seus<br />

JA tern os<br />

rendimentos<br />

tender que a profissao de Corretor<br />

DMA<br />

tributados pela<br />

de ImOvels envolve prestagao lada,<br />

n<br />

o, isto 6, pelo Imposto de Rena°<br />

p<br />

boral em forma de acao pessoal do<br />

fato odendo sobre esse mesmo<br />

prOpri0 contribuinte (pessoa fislca)<br />

cos. Admitir-se<br />

incidir o Imposto sobre Servia<br />

e de acordo corn o disposto no art. ato s<br />

legalidade de tal<br />

urn f<br />

eria admitir-se dots tributos,<br />

ederal e outro municipal, so-


318<br />

R.T.J. — 94<br />

tanto, para os corretores de<br />

bre o mesmo fato gerador, o que imOveis, estes estao obrigados a<br />

inviavel.<br />

recolher aos cofres municipals 2%<br />

Por esses motivos confirmou-se sobre as suas remunerac oes (fls.<br />

a respeitavel sentenca de primeiro 80-83).<br />

grau.<br />

«Base para o Trabalho Pessoal<br />

Florian6polis, 15 de setembro de — Dec.-lei n? 406, no art. 9?, estabeleceu<br />

tres critérios diferentes<br />

1977. Presidente — Relator .» (fls.<br />

121 a 126)<br />

conforme a natureza dos servicos.<br />

Se estes consistirem na prestacao<br />

0 recurso nao merece conhecim en<br />

de trabalho pessoal do pr6prio con-<br />

-to. Quanto a argilicao de negativa de<br />

tribuinte, a lei ordinaria municipal<br />

viencia das regras inseridas no art.<br />

devera estabelecer aliquotas fixas<br />

11 da Lei 1.533/51 e nos arts. 234, 247,<br />

506 e 513 do CPC, a consideracäo de<br />

ou variaveis, em funcao da nature-<br />

que nao teria havido intimacao da<br />

za do servico e outros fatores perti-<br />

sentenca e nem fora a mesma publinentes.<br />

A eleicao desses a deixada<br />

cada, a materia nao propicia o re-<br />

ao discricionarismo honesto do legislador<br />

local, resguardado o art.<br />

curso uma vez que, conforme pondera<br />

o parecer do Dr. Miguel Frauzino<br />

153, § 4?, da C.F. Mas, nestes fatores,<br />

nao podera ser contemplado o<br />

Pereira, tot expedido e entregue na<br />

rendimento auferido pelo trabalha-<br />

reparticao competente oficio acorndor que, sob esse ponto de vista, s6<br />

panhado de fotocOpla da sentenca<br />

podera ser tributado pelo imposto<br />

proferida no mandado de seguranca <strong>federal</strong> adequado (E.F., art. 21,<br />

(fls. 108 a 110). Ademais, o recorren-<br />

IV). Essa clausul a evita a superpoto<br />

nao demonstra o contrarlo.<br />

sick) do Imposto de Servicos sobre<br />

No que tange ao merito, tambOm o Imposto de Renda, sob o funda-<br />

descabido. Lë-se na sentenca do Julz mento de que o primeiro apenas to-<br />

Wilson Guarany Vieira:<br />

mava para base de calculo a recel-<br />

«0 Dec.-lei Federal n? 406/68 esta bruta, inconfundivel com a rentatui<br />

em seu art. 9? que:<br />

da liquida sujeita ao it timo.<br />

«Art. 9? — A base de calculo do<br />

imposto e o preco do servico. «0 art. 9?, § 1?, mencionando<br />

«aliquotas», empre ga palavra sin6-<br />

«§ 1? — Quando se tratar de<br />

prestacao de servicos sob a forma<br />

nima de fracas) que, entao, seria<br />

calculada sobre um valor qual-<br />

de trabalho pessoal do praprio contribuinte,<br />

o imposto sera calculado<br />

quer. Parece que nao a esse o pensamento<br />

do legislador do C.T.N.,<br />

por meio de aliquotas fixas ou va-<br />

porque a contrario senso da clauriaveis,<br />

em tuna() da natureza do<br />

servico ou de outros fatores pertisula<br />

final desse disposltivo nao se<br />

tomara como base a renda ou renentes,<br />

nestes nao compreendida a<br />

muneracao». (In Direito Tributário<br />

importancia paga a titulo de remu-<br />

BrasHero — 6a Edicao — Rev. Foneracao<br />

do pr6prio trabalho». rense — ano 1974 — pAg• 265 — Au-<br />

Os mesmos dizeres inseridos no<br />

tor: Aliomar Baleeiro).<br />

art. 9? e seu paragrafo 1? do Dec.-<br />

Falai° Fanucch i, mestre do Direilei<br />

406/68 estao contidos nos arts.<br />

to Tributario, em sua obra Curso<br />

267 e 268 da Lei Municipal de Flo- de Mello Tributfulo Bras'left°<br />

rian6polis, sob n? 1.054, de 30.12.71. (Editora Resenha Tributaria Ltda<br />

Varias categorias profissionais — S. Paulo — 3? Ed. 1975 — Vol. II<br />

foram enquadradas na Lista de — pags. 204 e 205, na parte que tra-<br />

Servicos (Lei n? 1.054/7 1 ) a pagar to do I.S.S., assim se manifesta:<br />

uma aliquota fixa por ano; no en-


R.T.J. — 94<br />

319<br />

«A pessoa Mica, como exercento<br />

(mica de uma atividade profissi «Os principios constitucional<br />

nal, jA tern os ren(Umenros<br />

0- e de<br />

que au-<br />

Justice Fiscal da tributacAo, ate-<br />

fire trlbutados Delo Imposto Fed nuada para<br />

e-<br />

o exercente (mica de<br />

rat sabre a renda e proventos atIvidade<br />

e<br />

pessoal, deverAo prevale-<br />

qualquer natureza e, por essa ra cer, como 0 16gico, sem cogitacAo<br />

sabre o mesmo fate, nao pods<br />

- da categoria tuncional do contri-<br />

wirer a incidencia do Imposto buinte».Sobre<br />

Services. Serie admitir a Inc 1- A remuneracflo dos impetrantes<br />

dência de dots tributos, um feder al 0 retie por comissoes oriundas de<br />

(renda) e um municipal (de servi corretagens na intermediacAo de<br />

cos), sobre um s6 faro econtornico e bens imOveis de terceiros, o que<br />

uma se base de cAlculo. Isso, evi caracteriza puro trabalho pessoal,<br />

dentemente, 6 inconstitucional h nAo podendo, assim, prevalecer<br />

muito tempo e s6 no atual sis en<br />

o<br />

tendimento dos impetrados, sob<br />

terra tributArio nacional. a per is esse asPecto.» (Us. 103 .a 105)<br />

so que a let discipliner do poder de Correto o<br />

tributar faz distincAo entre exer<br />

entendimento adotado<br />

pelas decisbes proferidas cente tulle° de sua atividade e pes-<br />

na instansOas<br />

fisicas ou juridicas<br />

cia ordinAria, no sentido de que o le-<br />

que congtarn in o concurso de tercefros<br />

islador, no I 1? do art 9? do Dec, lei<br />

na prestacAo de servicos. 0 pri-<br />

n? 408/68, guts evitar a superposicAo<br />

metro, 6 Bravado em do Imposto de Service, quando devi-<br />

seas rendido o Impost° de Remit<br />

mentos pelo imposto de renda e<br />

proventos: as segundas, como em- Alias, assim JA decidiu a Primeira<br />

presas que sAo (individuals ou co- Tina ao apreciar o RE 77.058, relaletivas)<br />

na coneeituactio que lhes tado pelo emlnentb e sempre lem-<br />

dal a leglslactio do Imposto de Renbrado Ministro Miomar Baleeiro<br />

d°, tern tributados, em vez dos (ver RTJ 72/460 a 463).<br />

rendimentos percebidos, o luero Ante o exposto, preliminarmente,<br />

produzido em sua ativ1dade, isto nAo conheco do recurso.<br />

apenas a diferenca entre os rendimentos<br />

ou receitas e as despesas<br />

incorridas no empreendimento.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

essa distinello essencial que a lei<br />

paulistana fez.<br />

RE 89.416 — SC — Rel.: Min. Mac!<br />

«Nilo bastasse isso so para deter- FalcAo. Recte.: Prefeitura Municipal<br />

miner<br />

de Flor<br />

a sensivel ilegalidade da<br />

ianOpolis (Adv.: Henrique Es-<br />

exigencia, restaria, abide, o Justo e<br />

pada Rodrigues Lima) Recdos.:<br />

InarredAvel postulado<br />

AdAo Tabajara N. Galiberno e ou-<br />

de justice<br />

fiscal dlrbpdo A pessoa natural que tros. (Adv.: Emilio da Silva J(iilor).<br />

preste °penes o seu prOprio traba- DecisAo: NAo conhecido, unAnime.<br />

lho, devendo receber, per lasso, tra- Presidencia do Sr. Mastro Djaci<br />

tamento tributtirio macs benign, Presentes A SessAo os Srs.<br />

diferente daquele que 6 reservado Ministros Leftiio de Abreu, Cordeiro<br />

aos que contain corn o concurso de Guerra e Moreira Alves. Ausente,<br />

trabalho alhelo no desenvolvimento histificadarnente, o Sr. Mastro De-<br />

des sues atividades, desde que iscio Miranda. Subprocurador-Gera]<br />

so, por si so, faz prever maior da RepOblica, o Dr. Mauro Leite<br />

capacidade contributive, indicada Soares.<br />

pela capacidade de sustentacao do<br />

trabalho alhelo.<br />

Brasilia, 3 de agosto de 1979. —<br />

Hello Francisco Marques, Secret/trio.


320<br />

R.T.J. — 94<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 89.494 — RJ<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Thompson Flores.<br />

Recorrente: Saveiros, CamuYrano — Servicos Maritimos S.A. — Recorrido:<br />

Estado do Rio de Janeiro.<br />

I.S.S.. Ftepetictio de inclebito. Servico de reboque de navios. Distincao<br />

com ode transporte.<br />

Inciancia do tributo municipal ate o advento do D.1.406/68.<br />

Recurso extraordinitrio que se não conhece porque ausentes os<br />

pressupostos em que se arrimou.<br />

ACORDAO<br />

«... em rejeitar a preliminar de<br />

nulidade. negando provimento ao<br />

Vistos, relatado s e discutidos estes<br />

recurso voluntário; e, em julgamento<br />

do 2? grau, em que fica conautos,<br />

acordam os Ministros da Pri- vertido o recurso de oficio, excluir<br />

meira Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

da sentenca a declaracao da imunidade<br />

tributaria da autora e a aujulgamento<br />

e das notas taquigrafi-<br />

Cas, por unanimidade de votos, nao torizacao para to levantamento dos<br />

depOsitos.»<br />

conhecer do recurso.<br />

Brasilia, 25 de setembro de 1979. — SuRep enta dispee:<br />

Thompson Flores, Presidente e Rela- eticao de indebito. Diferenciacao<br />

entre servico de transporte<br />

tor.<br />

e comunicacao, que e da esfera fe-<br />

RELATORIOderal salvo quando o trajeto nä°<br />

extravase os limites de urn mesmo<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores: MuniciPio e o de reboque-socorro,<br />

Contra o extinto Estado da Guanaba- que e da esfera municipal . Tributo<br />

ra ajuizou o recorrente, em 1-6-68, a exigivel sobre o servico de reboque<br />

presente acao de restituicao do incle- de navios e embarcacOes. Ate a vibito,<br />

referente ao pagamento de im- gencia da lei n? 406/68 era devido 0<br />

posto sabre servicos da atividade imposto sobre servicos, sendo<br />

que exerceu, no period() compreendi- legitimas a sua exigencia e o seu<br />

do entre 1-1-67 a 31-12-68, no total de recolhimento.<br />

Cr8 94.924,42. Improcedencia la acão.D<br />

E isto porque, embora voluntaria- Opostos - embargos de declaracão,<br />

mente, pagou tributo que caberia a foram rejeitados, fls. 372/3.<br />

Uniao Lon Federal. 4. Dai o recurso extraordinario<br />

sustenta sua preten- manifestado corn base nas tetras a, c<br />

sal).<br />

e d, da permissão constitutional, fls.<br />

Contestada, saneada a causa, 375/9.<br />

sentenciou o magistrado, acolhendo<br />

o pedido, fls. 331/3.<br />

. Inadmitido pelo despacho de fls.<br />

Houve recurso de oficio e volun- 387 5 -8, resultou, todavia, processado,<br />

corn o provimento do Ag. 70.300, pelo<br />

tario da autora.<br />

eminente Ministro Antonio Neder,<br />

0 Egregio Tribunal de Justica, por segundo autos apensados.<br />

sua 4? Camara Civet, em acerdao 6. Subiram os autos a esta Corte,<br />

unanime de 11-3-76, houve por bem, corn razbes das partes, recdbendo<br />

verb's, f. 361:


parecer favoravel da douta<br />

Procuradoria-Geral da Rep&ilea,<br />

nestes termos, fls. 425/7:<br />

«1. o melhor exame deste recurso,<br />

a que fora desfavoravel nosso<br />

pronunclamento no agravo em<br />

apenso, convence-nos de sua inteira<br />

viabilidade.<br />

Discute-se a tributacão dos<br />

servicos de reboque de embarcacOes,<br />

prestados pela Recorrente na<br />

Baia de Guanabara e no Oceano<br />

AtlAntico, sobre os quaffs esta sendo<br />

exigido o imposto municipal de<br />

servicos.<br />

Entendeu o actordao impugnado<br />

ser legal a inciancla em perlodo<br />

anterior ao Decreto-let n?<br />

406/68, a vista do entAo vigente art.<br />

71 da Lei n? 5.172 (C6digo Tributario<br />

Nacional); mas, nao a partir<br />

daquele diploma regente do I.S.S.,<br />

que determinou, em lista, as atividades<br />

por ele tributadas, sem contemplar<br />

o servico em apreciacAo.<br />

0 art. 68 do C.T.N. prev6 como<br />

fato gerador de impost() <strong>federal</strong> a<br />

prestacAo do servico de transporte,<br />

por qualquer via, de pessoas, bens,<br />

mercadorias ou valores, salvo<br />

quando o trajeto se contenha inteiramente<br />

no territario de urn mesmo<br />

municiplo.<br />

Transportar 6 conduzir ou levar<br />

de urn luga' • para outro. A<br />

acAo se caracteriza por isso apenas,<br />

sendo irrelevante o modo por<br />

que se realize: carregando, arrastando<br />

ou empurrando. Assim, o reboque<br />

de embarcacOes 6 unf servico<br />

de transporte. E sendo efetuado<br />

no mar territorial de propriedade<br />

da UniAo (Const., art. 5?, VI), 6 defeso<br />

ao Municipio tributA-lo, ante a<br />

compet6ncla definida no art. 68 do<br />

C.T.N.<br />

R.T.J. — 94<br />

321<br />

Tamb6m, mesmo nao se aceitando<br />

a caracterizacao do servico,<br />

que tern gerado controversias na<br />

doutrina, como expOe o conceituado<br />

tributarista Ulhoa Canto, em<br />

parecer nestes autos (f. 99), ainda<br />

assim mostra-se induvidoso que estaria<br />

o Mtunciplo invadindo competéncia<br />

alheia, ao arrepio da prescricAo<br />

do art. 8? do C.T.N.<br />

0 Decreto n? 5.798, de 11-6-40<br />

(alterado pelo Decreto n? 50.144, de<br />

26-1-61 e innmeros diplomas posteriores),<br />

ao regular o trafego<br />

maritimo, coloca sob a jurisdicao<br />

das Capitanias de Portos as aguas<br />

do dominio maritimo, fluvial e lacustre<br />

do Brasil, e dispOe minuciosamente<br />

sobre a Policia Naval, visando<br />

ao cumprimento das leis, regulamentos,<br />

disposicOes e ordens<br />

referentes a navegacAo e a Marlnha<br />

Mercante; estabelece regras a<br />

observar nos portos e vias navegAveis,<br />

para a entrada e saida de embarcacOes;<br />

determina a inscricAo<br />

destas, seu registro e licenciamento,<br />

bem como formalidades para<br />

alienacao; classifica-as, tendo em<br />

vista a navegacAo a que são destinadas,<br />

sistema de propulsdo e servico<br />

em que vao ser aplicadas,<br />

abrangendo as que se destinem a<br />

reboque e socorro Maritimo.<br />

Situando-se fora da esfera de<br />

jurisdicao do municipio, nao pode,<br />

portanto, o servico de rebocador<br />

submeter-se a sua imposicAo tributAria.<br />

Opinamos, assim seja conhecido<br />

e provido o recurso, para<br />

reconhecer-se, nao a imunidade ou<br />

isencao, como se entendeu nas instAncias<br />

ordinArlas, mas a nao incid8ncia<br />

do I.S.S. sobre os servicos<br />

prestados pela Recorrente, seja<br />

antes como depois do Decreto-lei<br />

n? 406-68.


322<br />

Brasilia, 4 de setembro e 1979.<br />

Miguel Frauzino Pereira. Procurador<br />

da Republica.<br />

APROVO:<br />

Mauro Lelte Soares, Subprocurador-Geral<br />

da Repithlice.»<br />

E o relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

(Relator) — Mr) conheco, preliminarmente,<br />

do recurso.<br />

R.T.J. — 94<br />

2. Funda-se ele, como acentuou o<br />

relaterio, nas letras a, c e d da permissäo<br />

constitutional.<br />

Sustenta que negando-se as decisees<br />

impugnadas a restituir o tributo<br />

pago ao extinto Estado da Guanabara,<br />

porque ao tempo era ele devido,<br />

pelo reboque de embarcac6es<br />

que reageral lizava, na Baia de Guanaba-<br />

ra em<br />

e no Oceano Atläntico<br />

em Especial, teriam elas contrariado<br />

o artigo 22, VII, da Constituicão<br />

de 1967 denegando, outrossim, vigéncia<br />

aos arts. 68, 71 e 118 do C.T.N. na<br />

sua redacáo originaria, bem como<br />

dissentido do aresto desta Corte, proferido<br />

no RE 78.956 (RTJ, 71/586).<br />

3. Penso, como de resto o reconheceu<br />

o despacho presidential, que ndo<br />

se verificaram os pressupostos recursais<br />

em questOo, ao menos como<br />

os deduziu a concisa peticAo irresi gnatOria.<br />

Corn efeito.<br />

Para manter a sentenca disse o<br />

acerdAo na sua fundamentacão medular,<br />

fls. 362-3:<br />

oCuida-se de saber se o servico<br />

de rebocadores, prestado na baia<br />

ou no mar alto e considerado<br />

transporte e, como tal, estava sujeito,<br />

frente a Lei n? 5.172/66, ao<br />

imposto <strong>federal</strong> de transportes e<br />

comunicacdes ou, por nä() constituir<br />

o servico fato gerador de imposto<br />

da competthcia <strong>federal</strong> ou<br />

estadual, estava sujeito ao imposto<br />

municipal.<br />

NA° e o local ou a via da prestacat)<br />

do servico, mas a sua natureza,<br />

que o define ou o qualifica.<br />

Os transportes e comunicacOes,<br />

salvo quando o trajeto nAo extravase<br />

os limites de um mesmo Municipio,<br />

sat) da competëncia tributaria<br />

da UniAo (Lei IV? 5.172, art.<br />

68), mas a prepria restricAo est& a<br />

mostrar que ai se tern em conta o<br />

servico de circulacAo pOblica e coletiva,<br />

feito por llnhas de veiculos<br />

e no seu interior.<br />

Leva-se alguém ou alguma coisa<br />

de urn a outro lugar, corn essa responsabilidade<br />

de p6-lo a salvo no<br />

seu destino.<br />

No reboque, porem, apenas se<br />

fornece a forca-motriz ou essa forca<br />

e uma tripulacAo para socorro<br />

de outra embarcacAo, para<br />

la na manobra, tracionando-a,<br />

empurrando-a, arrastando-a.<br />

E uma locacdo de servico, como<br />

querem uns, uma empreitada, como<br />

sustentam outros, ou ate mesmo<br />

um contrato de transporte, como<br />

pretendem alguns, mas sempre<br />

urn transporte sui generis ou<br />

extraordinario, pois a remocAo se<br />

faz sem que as embarcacees sequer<br />

se toquem, sem que o reboque<br />

carregue a outra no seu bojo, consoante<br />

a expressdo de Placid() e<br />

Silva.


E urn servico local, como o do<br />

taxi, que pode fazes uma viagem<br />

por Estados diferentes sem que isso<br />

desloque a natureza do transporte<br />

e da tributacâo devida.»<br />

A discrepancia corn o °nit° padrao<br />

indicado sequer, formalmente, resultou<br />

demonstrada, como requer o<br />

R.I., art. 305 (SOmula 291), eis que a<br />

recorrente limitou-se a indicacao do<br />

padrao. Todavia, trata ele de materia<br />

diversa, transporte terrestre de<br />

passageiros, em Onibus, e intermunicipal.<br />

E, aqui, se cuida de reboque<br />

de embarcacOes, em Aguas maritimas.<br />

Sem qualquer prtstimo, pois.<br />

De outra parte, descabe a Invocacao<br />

da letra c, dado que inexiste<br />

indispensAvel ato do govern, exigido<br />

no preceito em questa°. Antes, fol<br />

voluntario o recolhimento do imposto<br />

cuja devolucao se pede, nao sendo<br />

indicado, sequer, o seu lancamento<br />

pelo Tutu, quanto mais sua contestaa),<br />

perante a Lei Malor.<br />

Resta a premissa initial.<br />

Contrariedade ao citado art. 22,<br />

VII, da Constituicao, e negativa de<br />

vlancia das mencionadas disposicOes<br />

do C.T.N.<br />

Dizem ditas disposicOes, transcritas<br />

na peticao de recurso, fls. 376-7<br />

(ler).<br />

Refere-se a primeira ao servico de<br />

transporte, salvo quando de natureza<br />

estritamente municipal.<br />

E os arts. 68 e 71 dele cuidam e definer<br />

seu fato gerador.<br />

0 acardao recorrido, poran, e porque<br />

nao se tratava de simples transporte,<br />

mas de reboque de embartatees<br />

e manobras outras realizadas<br />

•<br />

R.T.J. — 94<br />

323<br />

pela recorrente, face a diversidade<br />

de sua conceituacao pelos doutrina-<br />

dores, admitlu que o imposto fora<br />

bem recolhido ao Estado (Municipio),<br />

justificando, razoavelmente,<br />

sua maneira de assim conceituar.<br />

0 preprio parecer oferecido pela<br />

r ecorrente, firmado por tun dos mais<br />

renomados especialistas no assunto,<br />

em sua longa e erudita exposicao,<br />

calcada em tratadista nationals e estrangeiros,<br />

esclarece como divergem<br />

os doutrinadores na conceituacao do<br />

reboque, fls. 90-128.<br />

Tudo esta a mostrar que nAo se pode,<br />

corn seguranca afirmar tenha o<br />

acordao, corn a fundamentacao que<br />

adotou, contrariado o art. 22, VII, da<br />

Constituicao de 1967, ou denegado vigéncla<br />

as comentadas disposicOes do<br />

C.T.N. Antes, tiveram estas razoavel<br />

exegese, coberta, pas, para o efeito<br />

do exceptional, pela SOmula 400, 1?<br />

parte.<br />

E o meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 89.494 — RJ — Rel.: Min<br />

Thompson Flores. Recte.: Saveiros,<br />

Camuyrano — Servicos Maritimos<br />

S/A (Adv.: Oscar da Silva Castro).<br />

Recdo.: Estado do Rio de Janeiro<br />

(Adv.: Arthur Jost Faveret Cavalcanti).<br />

Decisao: Nao conhecido, decisão<br />

tmanime.<br />

Presidencia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a Sessao<br />

os Srs. Ministros Cunha Peixoto,<br />

Soares Mtuloz e Rafael Mayer. —<br />

Ausentes justificadamente o Sr. Min.<br />

_ Xavier de Albuquerque. — Subprocura<br />

dor-Geral da Republica, 0<br />

Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 25 de setembro de 1979. —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretario.


324<br />

R.T.J. — 94<br />

RECURS() EXTRAORDINARIO CRIMINAL N? 89 498 — SP<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Moreira Alves.<br />

Recorrente: Ministerio PUblico Estadual — Recorrido: Walter Jose Rocha<br />

Aguiar ou Valter Jose Rocha Aguiar.<br />

Aplicano, feita em revisAo criminal, de lei nova mais benigna a<br />

fato julgado por sentenca condenateria irrecorrivel.<br />

— Tendo a manifestacao no sentido da reducAo da pena partido<br />

do próprio Mintsterio PUblico, ao emitir seu parecer, e nAo havendo<br />

sido levantada então a questa() relativa a inadequac ao da revisAo cri-<br />

a competencia para a aplicacão da let nova mats<br />

minal, bem co<br />

benigna, falta mo o prequestionamento dessas materlas (SOmula<br />

282). Com efeito, em face dessa circunstAncia, nAo se pode<br />

pretender que o Ministerio PUblico foi e oi surpreendido com a re dugão<br />

da pena determinada , sem qualquer provocacao, pelo actirAo, d rnAo<br />

iona a<br />

havendo, portant°, oportunidade processual para prequest<br />

questa°.<br />

Precedente do PlenArio do STF (RE 88.728).<br />

Recurso extraordinArio nAo conhecido.<br />

«Todavia, abolindo a lei n?<br />

ACORDAO<br />

6.416/77, a reincidencia especifica,<br />

sendo. sob esse aspecto, de carater<br />

Vistos, relatados e discutidos estes mais benefico, defere-se em parte<br />

autos, acordam os Ministros da Se- o pedido, unicamente para a redugunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

cao da reprimenda corporal do peticionario,<br />

a 3 (tres) anos de reclujulg<br />

a mento e das notas taquigrafi- sac), fixada pouco acima do minicas,<br />

por unanimidade de votos, nAo mo, por persistir sua condicao de<br />

conhecer do recurso.<br />

reincidente, devendo, no mais, sub-<br />

Brasilia, 29 de maio de 1979. — sistir o julgado » (f. 37),<br />

Djaci Fala°, Presidents — Moreira<br />

Alves, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves —<br />

Oficiando em revisao criminal, em<br />

que o ora recorrido pleiteava, entre<br />

outros pedidos, o da reducao da pena<br />

pela aplicacao retroativa da Lei<br />

6.416, de 5 de maio de 1977, o representante<br />

do Ministerio PUblico local<br />

se manifestou no sentido do acolhimento<br />

dessa pretensào.<br />

O actirdao recorrido, a fls. 35/37,<br />

deferiu, em parte, o pedido de revisAo,<br />

nesses termos:<br />

Interposto recurso extraordinario,<br />

foi ele admitido pelo seguinte despacho<br />

(fls. 49-51):<br />

«Walter Jose Rocha Aguiar I por<br />

incurso no art. 155, § 4?, n? , do<br />

COdigo Penal, foi condenado, na<br />

Comarca de Tupi Paulista, a 5<br />

anos e 15 dias de reclusão e multa<br />

de Cr$ 8,00. Foi-lhe imposta ainda,<br />

por se tratar de reincidente em crime<br />

doloso, medida de seguranca<br />

detentiva pelo prazo minimo de 2<br />

anos.<br />

A E. Terceira Camara deste Tribunal<br />

acolheu parcialmente o apelo<br />

do réu, diminuindo a pena de re-


clusao para 5 anos e 1 dia e a multa<br />

para Cr$ 2,00.<br />

Formulado pedido revisional, o<br />

E. Terceiro Grupo de CAmaras<br />

deferiu-o em parte para, aplicando<br />

a Lei 6.416/77, reduzlr a reprimenda<br />

corporal a 3 anos de reclusao.<br />

Corn fundamento no art. 119 n?<br />

III, letras a e d da Constituicao Federal,<br />

o preclaro Procurador-Geral<br />

da Justica interpes recurso extraordinitrio.<br />

Alega, em sinlese, que o art. 13<br />

da Lei de Introdugao ao C6digo de<br />

Processo Penal determina que a<br />

aplicacao da lei posterior mats benigna<br />

seja feita «mediante despacho<br />

do juiz, de oriel° ou a requerimento<br />

do condenado ou do Ministerio<br />

e nao pelo Tribunal.<br />

Acresce que, a atuacao da lex<br />

mitlor nao se inclui em nenhum<br />

dos casos de revisal), previstos no<br />

art. 621 do C6digo de Processo Penal.<br />

Impunha-se, em conseqiiancia, a<br />

conclusao de que o actirclao recorrido<br />

%tiara o art. 13 da Lei de Introducao<br />

e o art. 621 do estatuto<br />

processual penal.<br />

Alem disso a decisao impugnada<br />

divergira da orientacao firmada<br />

pelo E. Tribunal de Justica de Sao<br />

Paulo que, no julgamento da Rev.<br />

Crim. n? 131.757, de Sao Paulo, assentou<br />

ser da competancia do Juiz<br />

de primeiro grau o ajuste de penas<br />

decorrente de lei posterior macs f avoravel.<br />

NA° houve impugnacao.<br />

No julgamento da Revisal) n?<br />

73.182, de Santos, o eminente Juiz<br />

Cunha Camargo examinou magistralmente<br />

a materia debatida no<br />

presente recurso, lembrando que<br />

no Brasil, diferentemente do que<br />

acontece na Argentina, a aplicacao<br />

da lei nova macs benèfica nao pode<br />

ser felta atraves de revisao criminal.<br />

R.T.J. — 94<br />

325<br />

E isto porque em nosso pais a hipatese<br />

c regulada pelo art. 13 da<br />

Lei de Introducao ao C6digo de<br />

Processo Penal, que disp6e:<br />

«A aplicacao da lei nova ao fato<br />

julgado por sentenca condenat6ria<br />

irrecorrivel, nos casos previstos<br />

no art. 2? e seu paragrafo<br />

do C6digo Penal, far-se-a mediante<br />

despacho do juiz, de offcio, ou<br />

a requerimento do condenado ou<br />

do Ministerio Pah'leo.»<br />

Nesse sentido a licao de Espinola<br />

Filho, de Florancio de Abreu, de<br />

Sady Cardoso de Gusmao e de Roma°<br />

Cortes de Lacerda.<br />

E tambern a do preclaro Josè<br />

Frederico Marques, que a propOsito<br />

do art. 13 da Lei de Introducao<br />

observa:<br />

«0 preceito apresenta-se como<br />

regra para a aplicacao do Direito<br />

Penal intertemporal; e apesar de<br />

ter sick) posto em vigor tendo em<br />

vista a promulgacäo do vigente<br />

C6d. Penal, sua aplicacao perdura,<br />

pots se, atualmente, surgindo<br />

novatlo legis que !urethra em<br />

sentenCa condenatOria passada<br />

em julgado, a ele deve recorrerse<br />

para que se opere a incidancia<br />

de la lot plus douce» (Elementos<br />

'de Direlto Processual Penal,<br />

vol. IV, n? 1.114, p. 291).<br />

Finalmente, a propOstlo da aplicacao<br />

do principle do due process<br />

of law, sustenta o !lustre Ju12<br />

Cunha Camargo:<br />

«Evidentemente, admitindo<br />

que se faga originariamente em<br />

revisao a aplicagao da lei nova<br />

macs benigna ao fato definitivamente<br />

julgado, o Tribunal estara<br />

suprimindo o «procesgo adequado»<br />

a consecucao do fim colimado<br />

e o recurso cabivel Ida decisao<br />

do Juiz nesse procedirliento e, em<br />

prejuizo do rat', no cat° de eventualmente<br />

nail) the ser Cavort/el o<br />

pronunciamento da Justica, a<br />

prOpria via revisional. A prevale-


326<br />

R.T.J. — 94<br />

cer esse entendime nto, o Tribunal<br />

podera trancar ao reu a possibilidade<br />

de it vindicar no Juizo<br />

prOprio e pelo procedimento adequado<br />

a aplicacdo da lei nova ou,<br />

entdo, numa quebra de hierarquia<br />

de julgamentos, estara se<br />

arriscando a ver decisdes suas,<br />

em sede de revisAo, cassadas em<br />

1? instAncia ou mesmo em 2? por<br />

CAmaras Isoladas da mesma Corte,<br />

o que, evidentemente, ndo e<br />

possivel.<br />

Estas consideracOes que me parecem<br />

impecavels, sao adotadas<br />

como fundamentos do presente despacho.<br />

Na verdade, o art. 13 da Lei de<br />

Introducan ao C6digo de Processo<br />

Penal atribui ao Juiz da Primelra<br />

instAncla a competència para aplicar<br />

a lex mitior a f atos julgados<br />

por sentenca condenathria<br />

corrivel. Tal regra, obviamente,<br />

exclui a possibilidade de a segunda<br />

instAncia conhecer originariame nte<br />

de tats casos, inclusive porque estes<br />

nAo estAo catalogados no art.<br />

621 do C6digo de Processo Penal.<br />

Houve, assim ofensa As normas<br />

legais em apreco.<br />

InegAvel, de outra parte, a diverencia<br />

entre a decisào recorrida e o<br />

act5rdAo invocado pela douta Procuradoria,<br />

emanado do E. Tribunal<br />

de Justica de SA° Paulo, em que este<br />

Ultimo assentou ser inviAvel a<br />

aplicacAo da lei mats benigna por<br />

meio de revisão.<br />

Admit° o recurso, pelos dois fundamentos<br />

. Processe-se.»<br />

A f. 75, assim se manifesta a<br />

Procuradoria-Geral da RepOblica,<br />

em parecer do Dr. Claudio Lemos<br />

Fonteles.<br />

«0 tema, em analise, trata<br />

de questäo ja definida peremptoriamente<br />

por este Supremo Tribunal<br />

Federal: nAo tem legitimidade<br />

o colegiado estadual para, em sede<br />

de revisal° criminal aplicar a lex<br />

mitior, conferindo-se tal ao Juizo<br />

das ExecucOes Criminals.<br />

Pet° provimento do recurso.»<br />

E o relatOrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves (Relator):<br />

A 3 de abril do corrente ano,<br />

esta Segunda Turma, ao julgar o RE<br />

90.804, de que fui relator, decidiu caso<br />

analog° ao presente, sendo esta a<br />

ementa do acardao entäo prolatado:<br />

«AplicacAo, feita em revisão criminal,<br />

de lei nova macs benigna a<br />

fato julgado por sentenca condenat6ria<br />

irrecorrivel.<br />

Tendo a manifestacAo no sentido<br />

da reducäo da pena partido do<br />

pröprio Ministerio Pirblico, ao emitir<br />

seu parecer, e nAo havendo sido<br />

levantada então a questa() relativa<br />

a inadequacAo da revisão criminal,<br />

bem como a competencia para a<br />

aplicacAo da lei nova macs benigna,<br />

f alta o prequestionamento dessas<br />

materias (Samula 282). Com<br />

efeito, em face dessa circunstAncia,<br />

nAo se pode pretender que o<br />

Ministerio PUblico foi surpreendido<br />

corn a reducAo da pena determinada,<br />

sem qualquer provocacão, pelo<br />

acOrdão, nä° havendo, portant°,<br />

oportunidade processual para prequestionar<br />

a questa°.<br />

Precedente do Plenärio do STF<br />

(RE 88.728).<br />

Recurso extraordinario via) conhecido»<br />

.<br />

Em face desse precedente, que se<br />

baseou em decisAo do Plenário (RE<br />

88.728), nAo conheco do presente re-<br />

CUTS°.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RECr. 89.498 — SP — Rel. Min.<br />

Moreira Alves. Recte. Ministerio POblico<br />

Estadual. Recdo. Walter José


Rocha Aguiar ou Valter Jose Rocha<br />

Aguiar (Adv.: Dalva Castilho Targa<br />

).<br />

Decisao: Nao conhecido, unanime.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

Paled°. — Presentes A Sessao os Srs.<br />

R.T.J. 94 327<br />

Ministros Delta° de Abreu, Cordeiro<br />

Guerra, Moreira Alves e Decio Miranda.<br />

— 5? Subprocurador-Ger..41 da<br />

RepUblica, o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 29 de maio de 1979. —<br />

Hello Francisco Marques, Secreterio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 89.749 — GO<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Soares Mtuloz<br />

Recorrentes: Pedro Barbosa de Souza e outros — Recorrido: Prefeitura<br />

Municipal de AnApolis.<br />

Taxa de pavlmentacão cobrada pelo Municiplo de Anapolls. Inconstltucionalidade<br />

por constituir hlpOtese de contribuicao de melho-<br />

Ha, instituida sem os requlsitos desta.<br />

ACORDAO<br />

Vistos,<br />

Acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Sessao Plenaria,<br />

A unanimiaade de votos, e na<br />

conformidade das notas taquigraficas<br />

conhecer e dar provimento ao<br />

recurso.<br />

Brasilia, 29 de marco de 1979. —<br />

Antonio Neder, Presidente — Soares<br />

Mufloz, Relator.<br />

RELATORIO<br />

O Sr. Ministro Soares Mufloz: 0<br />

despacho do ilustre Presidente do<br />

Tribunal de Justica do Estado de<br />

Goias expels a es/36de:<br />

«Vistos etc.<br />

Pedro Barbosa de Souza e outros,<br />

irresignados corn o AcOrdao<br />

unanime de fls. 263/267 da Terceira<br />

Camara Civel, nos autos da Apelacao<br />

n? 10.665 da Comarca de Anapolls,<br />

sendo apelantes os mesmos e<br />

apelados Prefeito Municipal de<br />

Anápolis e Pavimentadores de<br />

AnApolis S/A — Paviana, — recorrem,<br />

extraordinariamente, para o<br />

Egregio Supremo Tribunal Fede-<br />

ral, corn fundament° no art. 119,<br />

Inds° III, letras a, c e d da Constituicao<br />

Federal.<br />

Nao houve impugnacao.<br />

Trata-se, na hipetese, de Mandedo<br />

de Seguranca impetrado contra<br />

a exiancia de Taxa de Pavimentacao<br />

e Calcamento, denegado nas<br />

jurisdicOes de primelro e segundo<br />

graus.<br />

O acOrdao impugnado decidiu:<br />

que «6 legitima a cobranca de<br />

taxa de calcamento, bem como nAo<br />

constitul delegacao de competencia<br />

o cometimento, A Sociedade de<br />

Economia Mista (Pavlmentadora<br />

de AnApolis S/A — Paviana), do<br />

encargo ou Muck) de executar a<br />

pavimentacao e o calcamento da<br />

cldade e arrecadar a taxa, juros e<br />

multas referentes a esses send-<br />

Cos»;<br />

que, «no que Lange, todavia,<br />

ao valor tributAvel que esta sendo<br />

cobrado, quanto ao percentual maximo<br />

cobrAvel do contribuinte, tudo<br />

isso, por se cuidar de materia<br />

complexa, torna-se impossivel examiner<br />

aqul, eis que extrapola os 11mites<br />

do Mended° de Seguranca».


328<br />

R.T.J. — 94<br />

Em contrapartida, dizem os recorrentes:<br />

1! questão: que o AcOrdAo violou<br />

os arts. 18, I e II, 21, parag. 5? e 13,<br />

parag. 3? da Constituted° Federal e<br />

os arts. 7?, 77 e 79 do C6digo Tributario<br />

Nacional, porque:<br />

o caso e de Contribuicdo de<br />

Melhoria e nao de Taxa, sendo portanto,<br />

inconstitucional e ilegal a<br />

cobranca da Taxa de PavimentacAo<br />

e Calcamento;<br />

admitiu a delegaedo de coinpete‘ncia<br />

tributaria a Sociedade de<br />

Economia Mista.<br />

uestdo . que o AcOrddo divergiu<br />

dos julgados do Egregio Supremo<br />

Tribunal Federal nos RE n?s<br />

70.237, In D.J.U. de 4-3-76; 74.676;<br />

76.807; 77.181; 66.231, In R.T.J.<br />

51/445-447; 71.010, in R.T.J, 61/160;<br />

74.467, in R.T.J., 63/829.<br />

NA° resta a menor dfivida que a<br />

distinedo entre Taxa e ContribuicAo<br />

de Melhoria a assunto polëmico.<br />

No julgamento do RE n? 71.010-<br />

PR, realizado em 9-3-72, que tinha<br />

por objeto a Taxa de Construed° e<br />

PavimentacAo do Municipio de<br />

Curitiba, invocado pelos recorrentes,<br />

o Colendo Supremo Tribunal<br />

Federal, Pleno, depois de estabelecer<br />

a nota distintiva essencial entre<br />

Contribuicdo de Melhoria e Taxa (a<br />

primeira esta sempre vinculada a<br />

uma obra pOblica e a segunda, subordinada<br />

a um service pOblice<br />

especial), concluiu que a<br />

pavimentagdo<br />

fato gerador da<br />

Contribuicdo de Melhoria (R.T.J.<br />

61/160).<br />

0 Art. 2?, I do Dl. n? 195/67 inclui<br />

a pavimentacdo de pragas e vias<br />

pUblicas entre as obras geradoras<br />

da Contribuiedo de Melhoria.<br />

Segundo o acerddo, Mao ocorre,<br />

na especie, delegacAo de competência<br />

Tributaria a uma Sociedade<br />

de Economia Mista — Pavimenta-<br />

dora de Ant/3011s — S/A — PAVIA-<br />

NA — e tao-somente do encargo de<br />

arrecadar a Taxa, o que, realmente,<br />

nAo constitui delegacão de cornpetència<br />

(parag. 3? do art. 7? do<br />

COdigo Tributario Nacional).<br />

Admitimos o recurso, no efeito<br />

devolutivo, corn a restriedo exposta,<br />

e determinamos que se abra<br />

vista dos autos aos recorrentes e<br />

aos recorridos, sucessivamente,<br />

para, no prazo legal apresentarem<br />

suas raz6es. Publique-se» . (fls. 285-<br />

286).<br />

A 5? Subprocuradoria-Geral da RepUblica<br />

assim opinou:<br />

«Em mandado de seguranca, do<br />

v. acOrddo que entendeu validos a<br />

cobranca de pavimentacAo aslantca<br />

de ruas de Anapolis, Goias,<br />

atraves de taxa e o cometimento<br />

dessa cobranca pela Sociedade de<br />

Economia Mista Pavimentadora<br />

de Anapolis S/A — PAVIANA, foi<br />

interposto recurso extraordindrio,<br />

pelas letras a, c e d do permissivo<br />

constitucional.<br />

Dizem-se ofendidos os artigos<br />

constitucionais 18, I e II, 21, § 5? e<br />

13, § 3?; 7?, 77 e 79, da Lei 5.172/66,<br />

pois sobre dever ser cobrada in<br />

casu, contributed° de melhoria,<br />

ndo podia a Municipalidade de<br />

Anapolis delegar competëncia Tributaria<br />

a sociedade de economia<br />

mista, como o fez.<br />

Nos termos da Magna Carta —<br />

artigo 18, alinea I, poder-se-do arrecadar<br />

taxas.<br />

«... pela utilizacdo efetiva ou<br />

potencial de servicos pnblicos<br />

especificos e divisiveis prestados<br />

ao contribuinte ou posto a sua<br />

dIsposicdo...>)<br />

Segundo Bilac Pinto, é caracteristico<br />

fundamental da taxa.<br />

«constituir contraprestacão de<br />

servicos especiais prestados ou<br />

posto disposiedo do contribuinte.<br />

0 beneficio especial Melly°.


mensuravel, condicao essencial<br />

para que o tributo seja conceituado<br />

como taxa». (Grif amos)<br />

(Estudos Dir. Publ., peg. 158).<br />

Ponderou ainda o E. Ministro em<br />

voto vencedor, no RE 71.010 (Tribunal<br />

Pleno):<br />


330<br />

Decisao: Conhecera m e deram<br />

provimento ao Recurso, Para declarar<br />

a inconstitucionalidade dos arts.<br />

256 a 260, da Lei n? 432, de 20-12-73,<br />

do Municipio de Anapolis. Decisao<br />

unanime. Votou o Presiden te. Ausentes,<br />

ocasionalmente, os Srs. Mins.<br />

Leitao de Abreu e Antonio Neder,<br />

Presidente. Presidiu ao julamento o<br />

Sr. MM. Xavier de Albugquerque, Vice-Presidente.<br />

R.T.J. — 94<br />

PresidOncia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes a Sessao os<br />

Srs. Ministros Djaci Falcao, Thompson<br />

Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

Leitao de Abreu, Cordeiro Guerra,<br />

Moreira Alves, Cunha Peixoto, Soares<br />

Mutloz, Decio Miranda e Rafael<br />

Mayer. Procurador-Geral da Repdblica,<br />

Dr. Firmino Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 29 de marco de 1979. —<br />

Alberto Veronese Aguiar, Secretario.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO CRIMINA L N? 89.891 — DF<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Leitao de Abreu.<br />

uio Barbosa dos Reis — Recorrido: Ministerio PtMB-<br />

Recorrente: Eustaq<br />

co do Distrito Federal e dos Territhrios.<br />

Latrocfnio . (C6digo Penal, art. 157, 3?). Tipffica-se este crime<br />

o homicidio, Mick se consuma a subtracão<br />

mesmo quando, consumado<br />

da coisa m6vel alheia. Verifies-se, tamb6m, este crime ainda quando<br />

morte haja sido dolosa. Recurs() extraordinftrio conbecido, pela letra<br />

a<br />

d, porêm desprovido.<br />

denunclados, em decorrOncia de co-<br />

ACORDAO<br />

autoria. Condenado, apelou, sem exi<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

to. Transcrevo, na parte que Interessa,<br />

o voto do relator, acolhido pelos<br />

autos, acordam os Ministros da Se- demais membros da Turma julgadogunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade corn a ata ra:<br />

de julgamentos e notas taquigrafi- «Levantou-se, em raz6es de relarecas, em conhecer do recurso, mas cursos, a tormentosa questa°<br />

negar-lhe provimento, por unanimi- tiva ao tratamento penal que se ha<br />

dale de votos.<br />

de emprestar a hipOtese em que se<br />

Brasilia, 19 de outubro de 1979. —<br />

configuraria, em principio, a tentativa<br />

de roubo, quando sobrevem o<br />

Djaci Falcao, Presidente — Leitao resultado morte.<br />

de Abreu, Relator.<br />

«0 primeiro ponto se prende a<br />

questao do vinculo psicolO gico en-<br />

RELATORIO<br />

tre a acao e o resultado morte.<br />

Ainda ha quern sustente que so in-<br />

0 Sr. Ministro Leit go de Abreu — cidiria o disposto no § 3? do artigo<br />

Conforme a denUncia, porque consu- 157 do COdigo Penal quando aquele<br />

mado o homicidio — crime-meio resultado adviesse de "culpa ou<br />

sem que fosse atingido o patrimanio preterdolo. Esta posicao, entretan-<br />

da vitima — crime-fim o recorto,<br />

pode ser considerada como venrente<br />

fol dado como incurso nas sancida. Sem duvida que se firma em<br />

gees do artigo 157, § 3?, c/c o artigo argumento sistematico de relevo.<br />

12, II, do COdigo Penal — tentativa Corn efeito, em outros casos de cride<br />

latrocinto . Tambem outros foram


R.T.J. — 94<br />

mes qualificados pel 1 resultado<br />

entende-se que as respectivas<br />

pela iei A hipetese,<br />

ras nAo compreendem<br />

figu-<br />

a hipOtese<br />

duzir a certo<br />

o que pode condesconchavo.<br />

de este haver sido dolosamente<br />

efeito, a admissào<br />

Corn<br />

al-<br />

da<br />

cancado. Entretanto,<br />

crime<br />

tentativa<br />

seria tricorn-<br />

c do<br />

omplexo, no caso, leva a<br />

preensivel que a let houvesse esta- que pena minima cominada seja<br />

belecido pena que pode atingir ate igual a cinco anos, inferior,<br />

trinta anos de reclusAo se nao to, A do homicidlo<br />

portan-<br />

simples. Real-<br />

abrangesse tambem o caso de a<br />

morte haver sido dolosa.<br />

resultado<br />

mente, bastante estranho que a tal<br />

se possa chegar.<br />

«0 caso em julgamento 6 o de «Cumpre considerar, entretanto,<br />

consumacao de crime-meto, posto que bastante amplos os limites da<br />

que se veriftcou a morte, e de sub- cominacAo, ensejando ajustamento<br />

tracAo nAo consumada.<br />

ao caso concreto de<br />

chegar a aplicacAo<br />

maneira a nao<br />

co caso a de crime complexo que sultados<br />

da pena a re-<br />

a lei trata como uma unidade<br />

aberrantes. De quinze a<br />

juridica. Em razAo desta unidade, trinta anos 6 a pena que poderA ser<br />

que derive de imposicào<br />

reduzida de um a dots tercos. As-<br />

legal, a<br />

consumacAo do crime membro sim, nao 6 de se supor que A tenta-<br />

pode lever A separacAo<br />

tive de roubo, quando sobrevem a<br />

juridicamente<br />

do que 6 morte, se vA aplicar uno. A licdo de Hun-<br />

a<br />

na, seja o<br />

gria, neste passo, embora fundada<br />

homicidio<br />

mesma pet<br />

doloso ou pre-<br />

em boas raz6es pragmAticas,<br />

erdoloso. 0 artigo 42 do C6digo<br />

nao Penal p<br />

pode ser acelta. Impossivel negarrta ropicia se faca a necessase<br />

que a consumacAo do crimemembro<br />

representa comeco de «Certo que persisttrA uma obje-<br />

execucAo do crime complexo e se a cAo. 0 maximo nao<br />

meta optata nao flit atingida, por<br />

p<br />

poderA ultra-<br />

motivos alheios A vontade do agen-<br />

sensi<br />

asser Ante anos, quantitattvo<br />

velmente inferior ao que pote,<br />

hA que se reconhecer que houve<br />

derla ser aplicado,<br />

a tentativa.<br />

nhecesse<br />

caso se reco-<br />

incidAncia do disposto no<br />

«Tais colocacoes doutrinArtas,<br />

artlgo 121, § 2?, V, do axligo Penal.<br />

En<br />

que resultam dos postulados le-<br />

tretanto, se a lei foi infellz<br />

gets, sAo de regra aceitas. Entre-<br />

no regular a mettle, nAo se me<br />

afigura que esta<br />

tanto, quando se trata do roubo<br />

consideracAo<br />

coin morte, o<br />

sa impedir sua<br />

pos-<br />

entendimento domi- a<br />

aplicacAo. conseqtiAncla<br />

Embora<br />

nante 6 no sentido de que se deva<br />

possa nAo ser a<br />

abrir excecão. A grande<br />

melhor, tenho nao ser dado ao in-<br />

maioria terprete desvincular dos autores e da jurisprudAncia<br />

o que a lei fez<br />

sustenta que,<br />

um) Se o crime a<br />

consumado<br />

complexo, o ho- tal hA de ser tratado.,<br />

como<br />

mocidto e a subtracAo nAo ultrapassando<br />

a tentativa, incidire o «Adiro, pots, A corrente minori-<br />

disposto no artlgo 121, § 2?, V, do tette como o fez a sentence e repu-<br />

aaligo Penal. Controverte-se<br />

to<br />

sobre<br />

corretamente feito o enquadra-<br />

se apItcável também mento a<br />

respondente A<br />

pena cor-<br />

juridlco» (fls. 308-309).<br />

tentative de crime 0 recurso extraordinArto, contra o patrimento.<br />

interpos-<br />

De qualquer to corn apolo na tetra d, mereceu o<br />

sorte, separam-se os crimes- segulnte parecer da<br />

membros.<br />

Procuradorla-<br />

Geral da Republica, subscrito pelo<br />

Procurador Claudio Lemos Fonteles:<br />

«Tal entendimento resulta • do<br />

inadequado tratamento dispensed° r<br />

«A denancia deixou claro que o<br />

esultado morte aconteceu porque<br />

331


332<br />

R.T.J. — 94<br />

os reus objetivavam apoderar-se<br />

de heranca patrimonial da vitima,<br />

nao o conseguindo pela forma desastrada<br />

corn que executaram a<br />

acdo (v. f. 3), e isto, admitiu-o amplamente<br />

a sentenca (v. f. 264).<br />

«Discutir-s e se esta era ou nä° a<br />

intencau dos acusados, obviamente<br />

nao e cabivel, na via eleita, presente<br />

o mandamento da SUmula<br />

279.<br />

0 Sr. Ministro Lena() de Abreu<br />

«For outro lado, o fato de ter-se<br />

(Relator) — A sentenca condenou o<br />

reu por tentativa de latrocinio.<br />

realizado o acontecimento morte<br />

nao desnatura a realidade Unica do Confirmou-a o acOrdao recorrido,<br />

cuja ementa esta assim redigida:<br />

crime de latrocinio, como conside-<br />

ram ambas as Turmas deste Cole-<br />

«Tentativa de roubo quando sobrevem<br />

o resultado por morte. 0 § 3? do<br />

giado Maior.<br />

artigo 157 do C6digo Penal incide<br />

«Assim, pronunciamentos dos ainda quando a morte haja sido dolodoutos<br />

istros Moreira Alves e sa. Tratando-se de crime comPlexo,<br />

Cunha PMin eixoto, verb's:<br />

nao ha como desmembrar aquilo que<br />

a lei tratou como uma unidade ». (f.<br />

Competencia.<br />

Ainda quando, para a pratica de 311).<br />

roubo, haja homicidio consumado e O Mu-recorrente alega dissidio ju-<br />

subtracäo tentada, nä() se descarisprudential, trazendo a colacao,<br />

racteriza o latrocinio, crime com- para comprova-lo, padrees de tribuplexo.<br />

Em tais casos, quer se connals locals, onde se assevera nao<br />

sidere que o latrocinio ja se consu- ocorrer latrocinio quando a subtramou,<br />

quer se entenda que ele foi cao da coisa alheia nao passa da tentativa,<br />

embora o homicidio se consu-<br />

simplesmente tentado — essa questäo<br />

nao esta em causa no presente me.<br />

recurso —, a competencia pars<br />

processo e julgament o e do Juiz No presente caso, consumou-se o<br />

singular, que e o competente, se- homicidio, nao, porem, a subtracao<br />

gundo entendiento do STF, em se<br />

patrimonial, que ficou na tentativa.<br />

tratando de lat m rocinio . Recurso ex- Diante de casos dessa natureza.<br />

traordinario onhecid o pelo dividem-se as opiniOes, quanto a cadissidio<br />

de jur cisprudencia, mas racterizacao de delito: aqui se susnOo<br />

provido . (RECr. 84.591 — Di<br />

tenta que ha tentiva de latrocinio;<br />

ali, que existe latrocinio consumado;<br />

12.11.76 — Dag. 9.824).<br />

acola, que se configura. homicidio<br />

Habeas corpus. Latrocinio . Corn- qualificado, na forma consumada, e<br />

petencia.<br />

roubo simples, na forma tentada, em<br />

concurso material. A sentenca, con-<br />

Se na pratica do roubo ficou<br />

consumado o hom icidio estara firmada pelo acOrciao, inclinou-s e pesempre<br />

tipificado o crime de lala<br />

primeira orientacao : tentativa de<br />

trocinio, pouco importando se houlatrocinio<br />

(C.P., artigo 157, §3?, cornye<br />

ou nao efetiva subtracao<br />

Tribunal Federal. RECr. 84.591 e<br />

MS 56.171. Habeas corpus indeferido.<br />

(H.C. 56.704 — DJ 23.3.79 'Dag.<br />

2.100).<br />

«Pei° improvimento do recurso»<br />

( cis. 342-344).<br />

E o relatOrio.<br />

VOTO<br />

do binado corn o artigo 12, II). Ao reconhecer,<br />

no caso, a existencia de<br />

bem patrimonial, sendo a compelatrocinio, o acOrdao recorrido ado-<br />

tencia para o processo e julgamentou posicão que coincide com a de<br />

to do Juizo singular, conforme rei-<br />

terada <strong>jurisprudencia</strong> do Supremo<br />

recentes pronunciamentos do Supre-


nui Tribunal. Tern entendido esta<br />

Corte, como afirma o parecer da<br />

Procuradoria-Gera] da ReaIlea,<br />

que se, na prAtica de roubo, se consuma<br />

homicidlo, tipificado esta 0 latrocinio,<br />

Wilda que nAo se consume a<br />

lesAo ao patrimAnio, Aos precedentes<br />

citados no parecer, cumpreacrescentar<br />

o concernente ao julgathento<br />

do H.C. 56.171, relator o Ministro<br />

Cordeiro Guerra. Nesses precedentes,<br />

nAo se cuidou de definir,<br />

por nAo ser necessArio, nas es/Ades<br />

entAo em exame, para a solugão do<br />

caso, se se tratava de latrocinio consumado<br />

ou de latrocinio tentado.<br />

Mas, no H.C. 56.817, tambOm desta<br />

Turma, Relator o Ministro Moreira<br />

Alves, foi-se alèm: estabelece-se ai<br />

que, consumado o crime de, homicidio,<br />

tem-se tambbm por consumado<br />

o latrocfnio, ainda que nAo se<br />

haja ifetivado a subtracão patrimonial<br />

intentada.<br />

Entre os acOrdAos trazidos a confronto,<br />

figura, ainda, o que esta a f.<br />

316. Sustenta-se, nessa decisAo, que<br />

«a hipOtese p<strong>revista</strong> pelo artigo 157,<br />

§ 3?, do COdigo Penal é de crime preterdoloso,<br />

qualificado pelo resultado.<br />

Verifica-se ela quando o agente, praticando<br />

roubo, causa morte ou lesOes<br />

corporals de natureza grave, sem ter<br />

querido». 0 padrAo a divergente do<br />

actirdAo recorrido, pois este afirma<br />

que «o § 3? do art. 157 do COdigo Penal<br />

incide ainda quando a morte haja<br />

sido dolosa». A melhor doutrina<br />

nAo esta, contudo, corn o acOrdAo paradigma,<br />

como se depreende do que<br />

eséreve o "lustre penalista DamAsio<br />

E. de Jesus (Revista de Direlto<br />

Penal, vol. 23, Editora Forense,<br />

pAgs. 122/3):<br />

«Pela sistematica do C6digo Penal<br />

de 1942, a hipOtese do artigo<br />

157, § 3?, deveria contemplar um<br />

delito preterintencional, uma vez<br />

R.T.J. — 94<br />

333<br />

que a expressAo 'se resulta' indica<br />

que a morte tipifica o delito como<br />

resultado e nAo como meio de execucâo<br />

do roubo prOprio ou imprO-<br />

prio. 0 COdigo, porém, cominou pena<br />

de tal severidade que não se<br />

h<br />

r<br />

armoniza corn delito preterdoloso:<br />

eclusão, de 15 a 30 anos. Entdo, se<br />

hipOtese fosse de crime<br />

so, punindo-se<br />

preterdolo-<br />

o resultado morte a<br />

titulo de culpa, corn a pena minima<br />

de 15 anos de reclusào,<br />

tariamoses-<br />

punindo<br />

culposo<br />

o homicidio<br />

qualificador do roubo corn<br />

pena mais grave que a imposta ao<br />

homicidlo doloso. Diante dessa iniqUidade<br />

a doutrina passou a afirmar<br />

que o tipo qualificado contempla<br />

a morte dolosa, culposo ou preterdolosa<br />

(Nelson Hungria); ou preterdolosa<br />

dolosa<br />

(MagalhAes Noronha),<br />

ou somente dolosa (Josè Frederica<br />

Marques)».<br />

Em face do exposto,<br />

mente configurado,<br />

estando clara-<br />

consoante se viu,<br />

o dissidlo <strong>jurisprudencia</strong>l, conheco<br />

do recurso; porèm, de acordo corn a<br />

orientacao desta Corte, the nego provimento.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RECr 89.891-DF — Rel.: Min. Leltäo<br />

de Abreu. Recte.: Eustaquio Barbosa<br />

dos Reis (Advs.: Maria Inez<br />

Soarez Abdala e outros). Recdo.: Ministerio<br />

Pithlico do Distrito Federal<br />

e dos Territtidos.<br />

Decisão: Conheceram do recurso,<br />

mas the negaram provimento. Unanime.<br />

P residAncia do Sr. Ministro Djaci<br />

FalcAo. — Presentes a Sessão os Srs.<br />

Mintstros Leitão de Abreu, Moreira<br />

Alves e Decio Miranda. Ausente, justif<br />

icadamente, o Sr. Min. Cordeiro<br />

Guerra. Subprocurador-Geral da Reo<br />

Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 19 de outubro de 1979 —<br />

Hello Francisco Marques, SecretArio.


334<br />

R.T.J. — 94<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 89.969 — SP<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Thompson Flores.<br />

Recorrente : Companhia de Saneamento Basic° do Estado de SA° Paulo<br />

— Recorridos: José Antonio e outros.<br />

Reclamactio trabalhlsta . Funclonarlos pfiblicos do Estado cedido<br />

a sociedade de economia mista (SABESP), pleiteando 13? Salli°<br />

es<br />

(Lei n? 4.090/62).<br />

II — NAo tendo os reclamantes optado pelo regime trabalhista,<br />

nos termos da Lei Estadual rt? 119/73, art. 8?, conthmando regidos pe-<br />

Ptiblicos Civis do Estado, incompetente<br />

lo Estatuto dos Funcionãrios<br />

e a Justica do Trabalho para apreciar sua pretensAo.<br />

III — Recurso extraordinãrlo conhecido e provido corn<br />

nos artigos 142 e 143 da ConstituicAo. STF. assento<br />

— Precedentes do<br />

4. Interposta <strong>revista</strong>, ndo foi ad-<br />

ACORDAO<br />

mitida, originando agravo o qual re-<br />

Vistos, relatados e discutidos ester sultou improvido pelo Egregio Triautos,<br />

acordam os Ministro s do Su- bunal Superior do Trabalho, por sua<br />

na Tribunal Federal, em Sessdo 1! 5 Turma<br />

Premo leria, na conformidade da ata do . Opostos embargos ndo foram<br />

julgamento e das notas taquigrd- admitidos, e, manifestado agravo refleas,<br />

por unanimidade de votos, co- gimental tambèm tido teve sucesso<br />

Corte,<br />

nhecer do recurso e dar-lhe pro- perante o Plendrio daquela<br />

em acerdäo undnime de 30-11-77.<br />

vimento.<br />

Brasilia, 27 de setembro de 1979. — 6. Dai o recurso extraordina rio, in-<br />

Antonio Neder, Presidente — terpostos a fls. 124-6.<br />

Thompson Flores, Relator. 7. Foi ele admitido pelo despacho<br />

do saudoso Presidente, Ministro Renato<br />

Machado, nestes termos, folhas<br />

RELATORIOi28-9:<br />

«Trata-se de pleito, no qual fun-<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores: cionarios pnblicos, estaduais, ce-<br />

Os recorridos em namero de (99) no- didos a Recorrente, pleiteiam o payenta<br />

e nove, funcionerios pnblicos<br />

estaduais, cedidos a recorrente, rem<br />

gamento do 13? saldrio.<br />

Tends esta Justica do Trabalho<br />

optarem pelo seu regime prOprio<br />

(C.L.T.) ajuizaram reclamacäo tra- reconhecido sua competencia para<br />

balhista postulando o 13? saldrio, fls.<br />

apreciar e decidir eito, e<br />

apresentado recurso o pltraordi- ex<br />

12-27•<br />

nark), alegando-se a infracAO aos<br />

Araida a incomPetencia da artigos 153, § 2?, 8?, XVII, b, e 142,<br />

Justia do Trabalho, foi rejeitada,<br />

acolhe c § 1?, da Constituied o Federal.<br />

ndo a Junta a pretensdo, fls.<br />

41-2.<br />

A primeira vista pode parecer<br />

Recorreu a reclamada ao que o recurso ndo e de ser admitido,<br />

como nAo o tern sido aqueles<br />

T.R.T., sem resultado, porem, man-<br />

lids que foi a decisdo originar ia, fo- em que a Rede Ferrovieria Federal<br />

impugna a competencia deslhas<br />

58-63.


to Justica Especializada para<br />

apreciar as reclamacees de funcionArios<br />

pdblicos cedidos, pretendendo<br />

a percepcao do 13? salArlo.<br />

Ocorre, todavia, diferenca substancial<br />

nas duas situacoes, na Rede<br />

FerroviAria Federal, os funcionArios<br />

pUblicos cedidos se integram<br />

e a Rede cabe pagar-lhe os<br />

proventos.<br />

Na Recorrente a situacao 6 outra,<br />

os funcionArios ptiblicos, de que<br />

tratam estes autos, nao foram por<br />

ela absorvidos de forma definitiva.<br />

Tendo em vista o dlsposto no artigo<br />

e seu paragrafo anico, da<br />

Lei Estadual de Sao Paulo, n? 119,<br />

de 29-6-1973 (texto integral a fls. 39-<br />

41), os Recorridos ainda continuam<br />

vinculados ao Estado. Este ainda<br />

pode providenciar sejam eles postos<br />

A disposicao de quaisquer Orgaos<br />

ou servicos da Admlnistracao<br />

direta ou indireta. AlOm disso, ressalta<br />

o parágrafo finlco do artigo<br />

citado, os venclmentos, vantagens<br />

e demais encargos relativos aos<br />

Recorridos estAo sendo custeados<br />

por dotacao orgamentAria da Secretarla<br />

dos Servicos e Obras POblicas.<br />

Isso, a meu ver, dA enfoque diverso<br />

As sltuacees e aconselha seja<br />

o assunto submetido ao crivo da<br />

Corte Suprema.<br />

Admito o recurso.»<br />

8. Parecer da douta Procuradorla-<br />

Geral da RepUblica favoravel e corn<br />

a seguinte fundamentacao, folhas<br />

134/6:<br />

«1. 0Egregio Tribunal Superior<br />

do Trabalho concluiu pela coinpetëncia<br />

da Justica Trabalhista para<br />

o processo e julgamento de reclamacao<br />

proposta por servidores<br />

pilblicos estaduais contra a SA-<br />

BESP, sociedade de economia mista,<br />

e, no merito, decidiu que o funclonArio<br />

cedido tern direito A gratlficacao<br />

natalina, enquanto durar<br />

R.T.J. — 94<br />

335<br />

a cessao, de acordo com a jurisprucléricia<br />

compendiada na<br />

SOmula 50.<br />

2. 0 recurso extraordinArio da<br />

SABESP tern por vulnerado os<br />

arts. 142, § 1?, 153, § 2?, e 8?, XVII,<br />

letra b, da Constituicao Federal.<br />

Sustenta o recorrente a incompeténcia<br />

da Justica do Trabalho para<br />

dirimir questees relativas a funcionarios<br />

ptiblicos e que a gratificacao<br />

natalina nä° pode ser deferida<br />

a servidores sujeitos A relacao<br />

estatutAria de servico<br />

3. Tern decldido o Supremo Tri-<br />

bunal Federal que 6 incompetente<br />

a Justica do Trabalho para as causas<br />

em que servidores estaduais,<br />

sob situacao estatutAria, litigam<br />

corn a FEPASA — Ferrovia Paulista<br />

S.A., empresa a qual foram<br />

cedidos (RE 86.362, DJ de 15-4-77,<br />

p. 2.351; RE 85.470, DJ, de 6-5-77, p.<br />

2.892; RE 86.363, DJ de 12-12-77, p.<br />

9.037; RE 85.474, DJ de 17-2-78, p.<br />

586; RE 88.604, DJ de 19-5-78, p.<br />

3.467, etc.).<br />

4. No caso, tambern os servidores<br />

p riblicos cedidos conservam<br />

sua vinculacao ao Estado e seus<br />

vencimentos, vantagens e outros<br />

e ncargos sao custeados pela Administragao<br />

Direta, atraves da Secretaria<br />

dos ServIcos e Obras POblicas,<br />

consoante resulta do art. 9?<br />

e seu par. tinico da Lei Estadual n?<br />

119, de 29-6-73 (fls. 39-41).<br />

HA, como notou o Exm? Senhor<br />

Ministro Renato Machado, no<br />

despacho de fls. 128-9, diferenca<br />

entre a situacao dos recorridos e a<br />

dos servidores pUblIcos cedidos<br />

Rede Ferroviaria Federal S.A.,<br />

porque os estip6ndios destes<br />

timos sao atendidos pela prOpria<br />

empresa.<br />

Ern julgado recente, de 14-8-9<br />

(RE 91.296, DJ de 31-8-79, p. 6.471),<br />

decidiu o Egréglo Plenario do Supremo<br />

Tribunal Federal pela Inc<br />

ompetencia da Justica do Tra-


336<br />

R.T.J. — 94<br />

balho para o processo e julgamen- Constituiedo, justificand o o conhecito<br />

de acAo proposta por servidores mento e provimento do exceptional,<br />

pUblicos do Estado contra a SA- coin arrimo em seu art. 143.<br />

salario.<br />

Inexiste relacao entre empregado<br />

Corn efeito, essas causas nao se e empregador entre os recorridos e a<br />

compreendem entre os dissidios re- recorrente.<br />

feridos no artigo 142 da Constitui- Pela cessAo operada simplesmente<br />

cao Federal, cujo julgamento á prestam aqueles servicos a esta.<br />

atribuido<br />

a Justica Trabalhista,<br />

p<br />

E isto porque continuam eles vin-<br />

7. Feb° conhecimento e pro- culados a Secretaria do Estado de<br />

vimento.<br />

onde provieram e a cujo quadro per-<br />

Brasilia, 4 de setembro de 1979. tencem.<br />

Moacir Antonio Machado da Perdura o regime que a cedente<br />

Silva, Procurador da RepUblica. estao vinculados; e, como seus servidores,<br />

regidos pelo Estatuto dos<br />

APROVO:<br />

Funcionarios Pablicos Civis do Es-<br />

Firmino Ferreira Paz, Procura- tado de SAo Paulo, do qual n5o quidor-Geral<br />

da Republica.)) seram se desprender uma vez que<br />

E o relat6rio.<br />

por outro regime nAo optaram, como<br />

Ries facultava, continuand o ainda a<br />

VOTO<br />

ser extipendiados pelo Estado. E tudo<br />

esta segundo o disposto na Lei<br />

Sr. Ministro Thompson Flores: Estadual n? 119/73, arts. 7°,§r, 8° e<br />

0<br />

(Relator ) — Conheco do recurso e 9°, paragrafo Ulna), fls. 339/40..<br />

the dou provimento para julgar in- 6 Assim decidiu este Plenario ao julcompetente<br />

a Justica do Trabalho, gar o RE 91.081-6, em sessdo de 8-8-<br />

com as repercuss6 es dai emergen- 79, do qual foi Relator o Eminente<br />

tes.<br />

Ministro Decio Miranda, e para cujo<br />

2. Sdo fatos certos, reconhecidos BESP, tendente a percePc do de 13° Corn efeito.<br />

desfecho concorri com o meu voto.<br />

pelas instancias ordinaries, que os<br />

reclamantes sdo servidores pUblicos<br />

Sua ementa disp6e: Competencia<br />

«Constitucional.<br />

duals, cedidos a recorrente, trabalhista. Funcionari os pablicos<br />

mas, porque nao optaram pelo re- cedidos a sociedade de economia<br />

gime que the e pr6prio, mantiveram mista (SABESP), que nao exerce-<br />

o originario, Estatuto dos Funcionaram direito de opcão, facultado em<br />

rios Civis Estaduais, e por isto mesmo<br />

estipendiados pelos cofres da repartied()<br />

de onde provieram (Secretaria<br />

de Servicos e Obras Pablicas).<br />

Mesmo assim e simplesmente na<br />

decorrencia da cessào, concluiram,<br />

com base no verbete 50 da sUmula<br />

do Tribunal Superior do Trabalho<br />

que, tido s6 era competente a Justica<br />

em questäo, como devido 0 13° salario<br />

aos recorridos, nos termos da<br />

Lei 4.090/62.<br />

3. Penso que, em assim decidindo,<br />

contrariado resultou o art. 142 da<br />

leis, pelo regime trabalhista, e<br />

cujos estipendios sac) atendidos pelo<br />

Orgão da Administracäo Direta a<br />

que continuaram vinculados. Inviavel<br />

a postulacA o de 13° salad() (ou<br />

de qualquer outra vantagem) na<br />

Justica do Trabalho, incomPetente<br />

para a especie, A luz do art. 142 da<br />

ConstituicAo Federal.<br />

E o meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE. 89.969 — SP — Rel.: Min.<br />

Thompson Flores. Recte.: COM-


panhia de Saneamento Basic° do Estado<br />

de Sao Paulo. (Advs.: Maria<br />

Cristina Paixao Cones e outros).<br />

Recdos.: Josê Antonio e outros.<br />

(Adv.: Ciro Sales de Oliveira).<br />

Decisao: Conheceu-se do recurso e<br />

se the deu provimento para julgar<br />

incompetente a Justice do Trabalho.<br />

Decisao uniforme. Votou o Presidente.<br />

Presidancia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes a Sessao os<br />

R.T.J. — 94<br />

337<br />

Srs. Ministros Djaci Falcao,'Thorepson<br />

Flores, Xavier de Album/vie,<br />

Cordeiro G<br />

Cunha Peixoto,<br />

uerra,- Moreira' Alves,<br />

Soares 'Mugot, Decio<br />

sente, Miranda e Rafael Mayer: — -Au-<br />

justificadamente, ,o. Sr;<br />

Leitao de Abreu. Procurador-Deal<br />

da Republica,<br />

Paz.<br />

Dr. Firmino Ferreira<br />

Brasilia, 27 de seternbro de 1979:<br />

Alberto V eronese Agutar, Secretário.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 90.069 — MG<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Deck, Miranda.<br />

Recorrente: Texaco Brasil SA. —<br />

Fernando de Castro Queiroz e out a. Produtos de Petraleo — iteCorri- ,<br />

cisao Processual Civil. 1) Excecgo cabe agravo<br />

de<br />

de instrumento<br />

incompetencia.<br />

e<br />

Da<br />

nao rispeC<br />

apelaego<br />

tiv,o<br />

c/c art. 522). 2) Fungibilidade ( CPC, an. 162,<br />

Admite-se, dos recursos. 2?,<br />

Excusabilidade<br />

gibilidade dos no regime do C6d. Proc. Civil de 1973, o principlo`da dMerro„<br />

r ft16-<br />

nele nao previsto ecursos, inerente ao Materna (art.<br />

expressamente, 250), a tisePeltti C6cligo de 1939. como antes ocorria no art 810 do de<br />

IndispensAvel, de do erro.<br />

no enfant°, o requisito da excusabilbla-<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do<br />

Supremo Tribunal Federal, em Segunda<br />

Turma, na conformidade da<br />

ata de julgamentos e das notas taquigraficas,<br />

a unanimidade de votos,<br />

Traci conhecer do recurso.<br />

Brasilia, 11 de abril de 1980, Thad<br />

Falebo, Presidente — Decio<br />

Miranda, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda: 0<br />

acerclao recorrido decidiu caber<br />

agravo de instrumento, e nao apelacao,<br />

da decisao que, dando-a por improcedente,<br />

Julgara a exceed() de incompetencia.<br />

Discorre, a propOsite, o aresto<br />

lavra do Desembargador Regulo a<br />

Peixoto, na 1? Camara Civil do Tribunal<br />

de Justice de Minas Gerais:<br />

«0 criterio determined° digo atual, de pelo C6-<br />

cabimento so, se apelacäo<br />

de recur-<br />

inst ou se agravo de<br />

rumento, 6 o do artigo 162, pa-<br />

/*gra:0s 1? e 2?.<br />

d<br />

Da sentence cabe apelaca°<br />

efinicao do C6digo, sentence k o<br />

p<br />

ato pelo qual o Julz p6e terinci ao<br />

rocesso, decidindo ou nao. o mento<br />

da causa.<br />

Ora, no caso, nao houve sentence<br />

pondo termo ao processo, decidindo<br />

ou nao o merit° da causa.<br />

0 que a apelante denorninou Jae<br />

sentence, nao passa de mere deci-


R.T.J. — 94<br />

3311<br />

saki de decisao sobre dente do<br />

Por outro lado, o acOrdao recorri-<br />

do teria entrado em conflito corn as<br />

processo, que tern recurso previsto<br />

no C6digo de Processo Civil, pots, numerosas deCiStieS que, no regime<br />

nao sendo sentenc a , da qual cabedo C6digo de PrOCeSSO Civil de 1973,<br />

admitem a fungibilidade dos recur-<br />

apelacao, nem sendo despacho<br />

de sos, a despeito de nao reproduzid a a<br />

mero expediente, que e irre-<br />

corrivel, e desafiante de agravo de norma do art. 810 do diploma proces-<br />

sual de 1939.<br />

instrumento.<br />

Nesse sentido, os acOrdaos do Tri-<br />

Alias, neste sentido, esta Egre- bunal de AR:ado de Sao Paulo nas<br />

gia Camara, por sua Turma Julga- ApelacOes Civets 207.693 e 18.351, in<br />

dora, la se manifestou intimeras<br />

vezes, tail come no agravo de ins-<br />

Julgados do Tribunal de Alcada de<br />

trumento n? 13.682, da Comarc a de Sao Paulo, vol. 32/241 e 32/359, Justi- respectivamente;<br />

do Tribunal de<br />

Belo Horizonte, 14.253, da Comarca Co-ca do mesmo Estado, no Agravo de<br />

de Montes Claros e 14.504,<br />

marca de Uberlandia, todos estes<br />

por mini relatados.<br />

E hoje, tat a clareza das normas,<br />

que o C6digo nao mais permite a<br />

conversao de urn recurso em outro.<br />

Escrevendo sobre o assunto, doutrina<br />

Sahione Fadel: «Nao pods,<br />

tamban licar sent uma palavra o<br />

sil6ncio do C6digo acerca da possi- , reira (Escudo, Liber Jur s,<br />

,<br />

bilidade de se varlar<br />

por erro ou dnvida na sua inter<br />

mats possibilidade de a parte errar «0 acerdao recorrido, entretan-<br />

de recurso . Se o fizer, erTara mesto, ao decidir pela impropriedade<br />

mo, sem possibilidade de convali- do recurso e ao mesmo tempo pela<br />

impossibilidade de conversao da<br />

dar ou aproveitar o apelo interpos-<br />

apelacao em agravo de instrumento».<br />

(In C6d. de Proc. Civil<br />

to, por nao encontrar elementos<br />

Coroentado, vol. III/110).<br />

Maim sendo, nä° conheco do re-<br />

que configurassem como sentenca<br />

curso pela sua impropriedade». (F.<br />

o julgamento de primeiro grau,<br />

nao violou qualquer norma <strong>federal</strong>,<br />

80).<br />

mas lhes deu interpretacao razoà-<br />

Recorre extraordinariamente a exvet e admitida em muitos julgaclpiente<br />

e apelante, fundando seu<br />

mentos de outros Tribunals<br />

apelo nas tetras a e d da permissäo<br />

(Siimula 400).<br />

constitucional.<br />

No entanto, em contraPartida,<br />

Ter-se-la negado vigencia ao art. ha, realmente, pronunciamentos<br />

513 do C6d. Proc. Civil, a dizer que opostos de outras Cortes de Justi-<br />

«da sentenca cabers apelacäo». ca, nos quais se defende e admite a<br />

Ora, die a recorrente, sentenca 0 subsistencia da conversa o e pots<br />

aquela que pde termo ao processo, e da fungibilidade dos recursos na<br />

dessa natureza a que Raga a exce- vigente legislacao processual civil,<br />

ed° de incompetência.<br />

po- Jos0 Oswaldo de Oliveira Leite (Da<br />

o texto do Fungibilidade dos Recursos, RT<br />

Myth), nito reproduzindo<br />

art. 80 do C6digo antigo. Talvez 488/23).<br />

tenha 1 Instrumento de n? 240.062,<br />

479/95; do Tribunal de Justica do Rio<br />

de Grande do Sul na Correica o Parcial<br />

n? 8.368, in RF 246/383.<br />

De resto, o princiPio da fungibilidade<br />

dos recursos no novo Cédigo<br />

afirmado pelos autores Jose Frederico<br />

Marques (Manuel, Saraiva,<br />

111/2/128); Jose Carlos Barbosa Moo<br />

iegislador entendldo, dada Foi o recurso admitido pela letra<br />

a clan distincao entre os conceitos d, em despacho que assim reza, na<br />

nten a e decisao, que nao ha parte precipua:


R.T.J. — 94<br />

como 0 demonstram as decisOes<br />

que ilustram a letra d.» (F. 94) Pela tetra d, pretende a recorrente<br />

E o relatario. se admita, no caso, a aplicacão principio da fungibilidade<br />

do<br />

sos.<br />

de recur-<br />

VOTO<br />

A jurisprudOncia do Supremo Tri-<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda (Re bunal Federal tem-no aceito no regilator):<br />

Na sua primitiva redacdo<br />

- me do diploma processual ora em viconstante<br />

da Let n? 5.869, de 11.1.73 • gor, a despeito de não vir expresso,<br />

Suplemento ao D.O. de 17.1.73, o<br />

gente C6digo de vi<br />

como antes ocorria no art. 810 do CO-<br />

Processo Civil, ao<br />

-dlgo de 1939. 0 principio<br />

regular a exceed° de incompetth<br />

ao sistema<br />

O inerente<br />

1 ,<br />

processual<br />

declarava, no art. 309, que, «havendo 250).<br />

(CPC, art.<br />

necessidade de prova testemunhal,<br />

juiz<br />

o Todavia, continua-se exigindo a<br />

designara audiOncia de instru- excusabilidade do erro.<br />

cdo, proferindo sentenca dentro de<br />

dez dias.»<br />

Assim, no acerdao do RE Lett<br />

o eminente MlnIstro Lend°<br />

A Lel n? 5.925, de 1.10.73, retificou, de Abreu (RTJ 89/210), deixou-se de<br />

entre outros, o citado art. 309, para conhecer de recurso extraordinario,<br />

deixa-lo corn o seu texto atual, a di- porque razoavel, e nä° confrontada<br />

zer, na parte final, que "0 Juiz de- consoante as exigOnclas do art. 305<br />

signara audiOncia de instrucao, deci- do Regiment°<br />

dindo em seguida<br />

Interno, a decisdo<br />

dentro de dez (10) que, nao admitindo<br />

dias.»<br />

apelacao<br />

sublinhara haver a apelante co-<br />

Dat, em suas excelentes anotacoes metido «erro inexcusavel».<br />

ao COdigo, dizer Theotonio Negrdo, Mais recentemente, outro acarddo<br />

de referenda ao art. 309, que as alterack)<br />

de<br />

desta Turma, no RE 91.189, Julgado<br />

redacdo de texto trazida em sessdo de 4.12.79, relater :o emi-<br />

pela Lei 5.925 tornou claro que nä° nente Ministro Cordeiro Guerra,<br />

se trata de Sentenca, porta de deci- acentuou o requisito da<br />

interlocutOria», de onde a conseexcusabilidade<br />

do erro, coin a<br />

qiiOncia, que assim exprime: «a deci-<br />

segulnte ementa:<br />

«Recurs°<br />

sac', quer rejelte, quer acolha a exce-<br />

interposto<br />

quando ainda<br />

por outro,<br />

ea° de incompetOncia, admitird<br />

controvertida a ma-<br />

agravo de instrumento». Cita, a protCria.<br />

Afastado 0 erro grosseiro,<br />

pasito, extenso rol<br />

admite-se a fungibIlldade<br />

de decisees.<br />

dos re-<br />

(C6digo de Process° cursos. RE conhecido e provido».<br />

pag• 102).<br />

Civil, 9! ed.,<br />

considerar<br />

No caso dos autos, nä° se pode<br />

De fato. Se a solucão da excecao<br />

excusavel o erro.<br />

de incompetdricia nao a uma senten- Tinha a ora recorrente, no art. 162,<br />

ca, mas simples decisao, acha-se de- 2?, do C6d. Proc. CiVil de 1973, a<br />

finida no art. 162, § 2?, do COdigo, «a- exata definiedo do ato pelo qual o<br />

to pelo qual o Juiz, no curso do pro- Juiz decidira o incidente de incompecesso,<br />

resolve questdo incidente». tência, a qua] macs nitida ainda se<br />

NA° se trata,<br />

fazia pela<br />

evidentemente,<br />

comparacão de<br />

ato pelo qual o Julz «pde termo ao<br />

ed° de sentenea,<br />

corn a deflatpro-<br />

ap<br />

1st° é, de decisdo<br />

cesso, decidindo ou ndo o merit° da elavel no § 1? do referido artigo.<br />

causa» (cit. art. 162, §1?).<br />

De resto, ao apelar em 21.6.77, em<br />

De todo improcedente, assim, a ar- tits anos e melo de Agenda do novo<br />

gticão de ofensa ao art. 513 do C6d.<br />

COdigo, nenhuma vacilacdo se verifi-<br />

Proc. Civil.<br />

care, na doutrina ou na<br />

ia, sobre o<br />

jurisprucién-<br />

ponto ora considerado.<br />

339


340<br />

Assim, em conclusao, nem o actirciao<br />

recorrido negou vigencia ao art.<br />

513 do C6d. Proc. Civil, nem divergiu<br />

da jurisPrudencia que admite o<br />

princiPio da fungibilidade dos recursos,<br />

subordinada que se acha ao re-<br />

quisito da excusabilidade do erro.<br />

Ante o exposto, nä() conheco do recurso<br />

extraordinario.<br />

E meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

R.T.J. — 94<br />

RE 90.069 — MG — Rel.: Min. Dedo<br />

Miranda. Recte.: Texaco Brasil<br />

S/A — Produtos de PetrOleo (Advs.:<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 90.090 — SP<br />

(Segunda Turma)<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda:<br />

Trata-se de mandado de seguranca<br />

impetrado pelo proprietario de linevet<br />

urban contra a cobranca de ta-<br />

Eduardo Guimaraes Andrade e outros).<br />

Recdos.: Fernando de Castro<br />

Queiroz e outra (Advs.: Maria Selma<br />

Moreira Mattos).<br />

Decisào: Nao conhecido . Unanime.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

Falcao. Presentes a sessao os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves e Decio Miranda. Licenciado,<br />

o Sr. Ministro Leith() de Abreu.<br />

Subprocurador-Geral da Republica,<br />

o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 11 de abril de 1980. —<br />

Hello Francisco Marques, Secretario.<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Decio Miranda. Recorrido: Milton de<br />

Recorrente: Prefeltura Municipal de Itapeva —<br />

Moura Muzzel.<br />

Tributário. Pavimentaego de logradouros. Tratando-se de obra<br />

a que, segundo o Decreto-let n? 195, de 24-2-67, bode corres-<br />

panes de Melhorla, nao tern o Poder Pablico a opeAo<br />

ponder Contribulcão<br />

itituir, alteativamente, taxa remunerathria ( RE 87.604, Pleno<br />

dens rn<br />

de 21-2-79). Ilegiti<br />

midade da Taxa de Pavimentac ão do Municipio de<br />

Itapeva.<br />

xa de pavimentacao do Municipio<br />

ACORDAO<br />

de Itapeva, instituida pela Lei Muni-<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

cipal n? 75, de 7-11-73, e destinada<br />

«a cobrir as despesas corn essa obra<br />

autos, acordam os Ministros do Su- e devida por todos os proprietarios<br />

premo Tribunal Federal, em Segun- de imOveis situados nos trechos de<br />

da Turma, na conformidade da ata<br />

de julgamentos e das notas taquigra-<br />

vias pOblicas beneficiada s corn esse<br />

fleas, a unanimidade de votos, nao<br />

melhoramento», incluidos os gastos<br />

«corn a construcao, retificacao e re-<br />

conhecer do recurso.<br />

forma de galerias pluviais, nivela-<br />

Brasilia, 18 de abril de 1980. — mento e despesas da administra-<br />

Djaci FaIcgo, Presidente — Decio cao”, calculada a incidencia median-<br />

Miranda, Relator.<br />

te a divisao dos gastos da obra «proporcionalmente<br />

ao ndmero ie me-<br />

RELATORIO<br />

tros de frente de cada propr ,3dade».<br />

Reformando sentenca de primeiro<br />

grau, a 1? Camara do 1? Tribunal de<br />

Alcada Civil de Sao Paulo concedeu


a seguranca corn esta fundamentacaw<br />

«Conforme mui bem fez sentir o<br />

nobre Dr. Procurador da Justica,<br />

em seu bem lancado parecer de<br />

fls. 51/52, a taxa obJetiva o custelo<br />

corn servico pablico especifico e<br />

divisivel prestado ao contribuinte,<br />

ou posto efetivamente A sua disposicao,<br />

conforme determina a lei e<br />

ensinam os doutos.<br />

Mas, no caso des autos nao existe<br />

servico divisive!, individuado,<br />

«ou referido imediatamente ao<br />

contribuinte», que Justifique o ratelo<br />

dos custos entre os proprietArios<br />

confrontantes da obra realizada,<br />

pots a pavimentacao de rua e<br />

aproveitada por todos que por eta<br />

transitam, sendo que o beneficio<br />

traz proveito A limpeza e seguranca<br />

dos transeuntes, a conservacao<br />

dos veiculos e, apenas, de forma<br />

imedlata aos moradores da rua,<br />

que nem sempre ski os proprietarios<br />

dos im6veis. E, servico geral<br />

prestado A coletividade fiat) pode<br />

ser cobrado a reduzido nameros<br />

de municipios, rotulado de taxa,<br />

por nao ser o use da pavimentacao<br />

exclusivo dos proprietarios lindeiros,<br />

e a tributacao desses s6 se<br />

tomaria legitima em funcao da valorizacáo<br />

de seus imOveis, decorrente'da<br />

obra.<br />

Acrescente-se que para a cobranca<br />

da contribuicao de melhoria a<br />

Municipalidade teria que editar lei,<br />

corn observancia do contido no art.<br />

82, precisando o coeficiente de valorizacao<br />

nos limites estabelecidos<br />

na Constituicao (art. 18, II), no C6digo<br />

TributArio Nacional (art. 82) e<br />

Decreto — Lei n? 195/67, que 6<br />

auto-executAvel (RE n? 76.278, in<br />

RTJ 69/814).D (F. 59).<br />

A esse acardao tiptoe recurso extraordinArio<br />

o Municipio, fundado<br />

nas Tetras a e d da permissao constitucional.<br />

R.T.J. — 94 341<br />

Sustenta que a decisao nega vigancla<br />

aos arts. 77 do C6cligo TributArio<br />

Nacional e contraria o art. 18, I,<br />

da Constituicao.<br />

Pqr outro lado, diverge o actirdao<br />

da Samula 129 do Supremo Tribunal.<br />

Dissente, por igual, de decis6es de<br />

outros Tribunals, v.g., do Tribunal<br />

de Alcada de Sao Paulo na AC n?<br />

24.888, RDA 55/231 («A lei pode optar<br />

entre a taxa de calcamento e a contribuicao<br />

de melhoria para ocorrer<br />

As despesas de pavimentacao de<br />

ruas”); da 34 Camara do mesmo Tribunal<br />

recorrido no AP 193.618, RT<br />

456/149: da 4! Camara do Tribunal<br />

de Alcada Civil, na AC 133.254, RT<br />

412/223. (F. 63).<br />

Ainda em dissencao o actordao recorrido<br />

corn o Julgado do Supremo<br />

Tribunal no RE 83.745 (publicado em<br />

Juigados do TACvSP 44/85), no qual<br />

o saudoso Ministro Rodrigues Akkmin<br />

declarou que a contribute/to de<br />

melhoria e a taxa de execuctio de<br />

calcamento «são institutos reciprocamente<br />

alternativos, porque e um<br />

excludente do outro»; se se exige<br />

contribuicâo de melhoria, nao se pode<br />

exigir, pela mesma obra, taxa de<br />

pavimentacao e vice-versa». (F. 64).<br />

0 despacho presidenclal admitlu o<br />

apelo extremo, ern mat) da Ultima<br />

divergancla apontada.<br />

E o relatario.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Witham Dodo Miranda (Relator):<br />

Ao dlspor sobre a cobranca<br />

da Contribuicao de Melhoria, o<br />

Decreto-lei n? 195, de 24-2-67, lei <strong>federal</strong><br />

de normas gerals sobre direito<br />

financeiro, assentou, no art. 2t, que<br />

«sera devida a Contribuicao de Melhoria,<br />

no caso de valorizaclio de<br />

imOveis de propriedade privada, em<br />

virtude de qualquer das seguIntes<br />

obras pnblicas».


342<br />

Entre estas, mencionou a «abertura,<br />

alargamento, pavimentacão, iluminacao,<br />

arborizacao, esgotos pluviais<br />

e outros melhoramentos de<br />

pracas e vias pUblicas» ( art. 2?, I).<br />

Temos, pots, que o Municipio de<br />

Itapeva instituiu Taxa de Pavimentacao<br />

em correspondencia corn obra<br />

que a lei complementar <strong>federal</strong> supOe<br />

tenha o seu custo retribuido por<br />

meio de Contribuicao de Melhoria.<br />

Como acentua o Municipio recorrente,<br />

a jurisprudëncia admitiu durante<br />

certo tempo a utilizacao alternativa<br />

de uma ou outra forma de recuperacao<br />

do gasto pUblico.<br />

Mats recentemente, porem, no julgamento<br />

do RE 87.604, tornado por<br />

unanimidade, Pleno de 21-2-79, fixou<br />

o Supremo Tribunal Federal entendimento<br />

segundo o qua], nos casos em<br />

que cabe a imposicao de contribuicao<br />

de melhoria, «nä° tern o Poder<br />

l'ablico a opcäo de instituir, alternativamente,<br />

taxa remunerathria » ( acOrdao<br />

cujas conclusOes foram publicadas<br />

no DJ. de 30-3-79).<br />

R.T.J. — 94<br />

Atento a essa orientacao. e porque<br />

esteja superada a divergencia invocada<br />

pelo Municipio recorrente, Liao conheco<br />

do recurso extraordinario.<br />

E meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 90.090 — SP — Rel.: Min. Decio<br />

Miranda. Recte.: Prefeitura Municipal<br />

de Itapeva (Adv.: Jose Maria<br />

Campolim do Canto). Recdo.: Milton<br />

de Moura Muzzel (Adv.: Mouracy do<br />

Prado Moura).<br />

Decisao: Nao conhecido. Unanime.<br />

Presiancia do Sr. Ministro Djaci<br />

Presentes aSessao os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra, Moreira<br />

• Alves e Decio Miranda. Licenciado,<br />

o Sr. Ministro Leitao de Abreu.<br />

Subprocurador-Geral da RepOblica,<br />

o Dr. Mauro Lelte Soares.<br />

Brasilia, 18 de abril de 1980. —<br />

Hello Francisco Marques, SecretArio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 90.519 — AM<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Thompson Flores.<br />

Recorrente: Prefeitura Municipal de Manaus — Recorrida: J. G. AraUjo<br />

& Cia. Ltda.<br />

Taxa de renovacAo anal de licenca para localizacAo, exigida pelo<br />

municipio de Manaus, Amazonas, atrav6s do art. 215 c/c o art. 212,<br />

f 1?, da Lei 1.125, de 27-10-71.<br />

II — Inconstitucionaliciade por nao corresponder ao efetivo<br />

exercicio do poder de policia, ou a service prestado ao contribuinte,<br />

exigido pela ConstituicAo, art. 18, I. Precedentes do STF (RE 69.957,<br />

89.518 e 81.950).<br />

III. Recurso extraordinftrio nAo conhecido.<br />

ACORDAO<br />

julgamento e das notas taquigrAficas,<br />

por unanimidade de votos, nao<br />

conhecer do recurso.<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Su- Brasilia, 20 de setembro de 1979. —<br />

premo Tribunal Federal, em Sessao Antonio Neder, Presidente —<br />

Plenaria, na conformidade da ata do Thompson Flores, Relator.


RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

Contra o recorrente ajuizou a recor<br />

Lida, em 17-5-73, Mandado de Seguranca,<br />

visando eximir do pagamento<br />

da taxa de renovacao da licenca para<br />

localizacão, que the esta sendo<br />

exigida corn base no C.T. do Municiplo<br />

(Lei n? 1.125, de 27-10-71, corn<br />

as alteracOes que the introduziu a<br />

Lei n? 1.138, de 23-7-72, artigos 208,<br />

209 e 221 ).<br />

Sustenta a inconstitucionalidade<br />

dos preceitos citados.<br />

Concedida a limtnar, a tempo<br />

sentenciou o magistrado, declarando<br />

a inconstitucionalidade da primeira<br />

das leis, concedendo a seguranca.<br />

Apreciando os apelos, houve por<br />

bem o Egrèglo Tribunal de Justica,<br />

em acOrdão unAnime de 19-2-78,<br />

prove-los em parte, declarando, apenas,<br />

a inconstitucionalidade dos arts.<br />

212 e 215, da Lei n? 1.125/71.<br />

Sua ementa disp0e, fl. 115:<br />

«Taxa de licenca para a localizacAo<br />

e atividade de estabelecimento<br />

de producAo, comercio, incinstria e<br />

prestacOes de servicos, instituida<br />

pelos arts. 212 e 215 do COdigo<br />

butario do Municiplo de Manaus<br />

(Lei 1.125, de 27 de outubro de<br />

1971).<br />

Antinomia dos mesmos, porque<br />

elegendo icidntica grandeza econ0mica<br />

que servira de base para calcular<br />

a cobranca de urn imposto,<br />

corn os arts. 77 e 78 do C6digo Tributario<br />

Nacional e o art. 18 da<br />

Emenda Constitutional n? 1.»<br />

4. Dal o presente recurso extraordinario<br />

fundado nas letras a e d da<br />

permissAo constitutional.<br />

Sustenta haver o deciserio impugnado<br />

contrariado o art. 18, I, da<br />

ConstituicAo e denegado vigencia ao<br />

artlgo 80 do C.T.N., bem como, discrepado<br />

de arestos de outros <strong>tribunal</strong>s,<br />

inclusive deste, fls. 119/31.<br />

R.T.J. — 94<br />

5. Admit!do pelo dissidlo, f. 135, su<br />

blu a esta Corte corn razoes des partes,<br />

recebendo parecer<br />

douta<br />

contritrio<br />

Procuradoria-Geral<br />

da<br />

da<br />

blica, nestes termos, f. 154:<br />

Repu-<br />

« Insurge-se a Recorrente contra<br />

decisão que Mum/ Inconstitucional<br />

a taxa de licenca de localizacAo<br />

corn base de calculo identica<br />

impost° parcial,<br />

a do<br />

a vista do disposto<br />

nos artigos 77 e 78 do C.T.N. e art.<br />

18, 2?, da ConstituicAo.<br />

Trata-se de mattria com precedente<br />

nessa Excelsa Corte,<br />

RE 81.930, julgado<br />

que, no<br />

em sessAo<br />

nark' de 9-5-79, *-<br />

sendo o<br />

eminente Ministro<br />

relator o<br />

Decio<br />

conheceu<br />

Miranda,<br />

unanlmemente de<br />

apelo corn o mesmo fundament°<br />

deste e defendendo o<br />

to.<br />

mesmo tribu-<br />

Assim, opinamos nAo seja<br />

cido o recurso.<br />

conhe-<br />

Brasilia, 29 de agosto de 1979.<br />

Miguel Frauzino Pereira,<br />

radon da Republica. Frozu-<br />

APROVO:<br />

Mauro Lefte Soares, Subprocurador-Geral<br />

da RepUblica<br />

o relatOrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores<br />

(Relator): NAo conheco do recurso.<br />

2. A espècie 6 IdOntica a que fol decldida<br />

por este Pienitrio em sessile<br />

de 09-05-79, no RE 81.950-9, do Amazonas,<br />

no qual tambem era recorrente<br />

a Prefeltura Municipal de Manaus.<br />

0 voto proferido pelo eminente Relator<br />

Min. Decio Miranda. e acompanhado<br />

pelos demais, fol o eeguinte:<br />

“Vlsivelmente inconstitucional se<br />

mostra a taxa ora diseutids. per<br />

nAo corresponder a efetito<br />

exerciclo do poder de pellets ou a<br />

servico prestado ao centribsftifte<br />

34


R.T.J. — 94<br />

344<br />

Nao the proporcionam qualquer<br />

(art. 18, I, da Constituicao), as decis6es como lo- prestimo, pois, foram apenas trans-<br />

bem reconheceram critas suas ementas, e delas nao se<br />

cats.<br />

extrai dissonancia entre elas e o jul-<br />

Por isso, nao conheco do recurso gado recorrido.<br />

pela tetra a.<br />

Seria de conhecer do recurso, Incide, pots, o R.I., art. 305 (S.<br />

corn fundament° na letra d, pela 291).<br />

invocacao do acardao divergente,<br />

do RE 71.509, proferido na 1? Tur- No mats, reporto-me aos fundama<br />

em 12-10-71, sendo relator o Sr. mentos do voto transcrito, os quais,<br />

Ministro Djaci ( fls. 103-8). afinam corn a <strong>jurisprudencia</strong> assente<br />

Mas o caso foi visto apenas sob o desta Corte e consubstanciada nesta<br />

aspecto da coincidencia da base de ementa:<br />

calculo da taxa corn a do imposto<br />

predial, que foi recusada.<br />

“Tributhrio, Taxa de Renovecao<br />

Ocorre que, considerado o aspec- anual de licence pare locanzacao.<br />

to da ausencia de prestacão de ser- Instituida pelo Municipio de Mavico<br />

pUblico ou de exercicia do ponaus, e cobravel a raid° de 0,024<br />

der de policia correspondentes a milesimos do sated° minima regio-<br />

taxa, o Plenerio adotou orientacao nal sobre o metro quadrado ou the-<br />

diverse, no caso lider da taxa de lica°, da area ocupada pelo estabecence<br />

para localizaca o, de caraclecimento (C6digo Tributario do<br />

teristicas identicas, do Municipio MuniciPio, Let n? 1.125, de 27-10-71,<br />

de Vitoria (RE 69.957, RTJ 59/799). art. 215 c/c art. 212 § 1?). Inconsti-<br />

E, ainda em assentada recente, tucionalidade da taxa, por nao cor-<br />

na sessao plena de 5-4-79, ao responder a efetivo exercicio do<br />

julgar-se o RE 89.528, relator o Sr.<br />

poder de policia ou a servico pres-<br />

Ministro Thompson Flores, recortado<br />

ao contribuinte. Precedentes,<br />

rente a Cia. Paulista de Force e<br />

entre outros: RE 69.957, RTJ<br />

Luz e recorrida a Prefeitura de Bo- 59/799, municipio de Vitoria; RE<br />

tucatu, conheceu-se do recurso do 89.528, pleno de 5-4-79, municiPio de<br />

contribuinte e deu-se-lhe provimen Botucatu.»<br />

-to, em decisao unanime, para E o meu voto.<br />

gar inconstitucional a lei municipal<br />

de Botucatu, pelo mesmo funda-<br />

Mento da ausencia do pressuposto<br />

EXTRATO DA ATA<br />

de contraprestacao e, ainda,<br />

acrescentou-se entao, por motivo RE 90.519 — AM — Rel.: Min.<br />

da incidencia percentual sobre o Thompson Flores. Recte.: Prefeitura<br />

capital do estabelecimento. Municipal de Manaus (Adv.: Edson<br />

Isto posto, porque nao ocorre a de Menezes Vieiralves) . Recdo.: J.<br />

alegada contrariedade a normas<br />

G. Aranjo e Cia. Ltda. (Adv.: Aristaconstitucionais,<br />

e porque a diver- Canes Castro).<br />

gencia <strong>jurisprudencia</strong>l se acha superada<br />

(Simile 286), nao conheco Decisao: Nao se conheceu do re-<br />

do recurso.»<br />

curso. Decisao uniforme . Votou o<br />

3. In casu, a peticao recursal inth- Presidente.<br />

ca dois outros paradigmas, os RE Presidencia do Senhor Ministro<br />

ths 75.294 (RTJ 67/542) e o aresto do Antonio Neder. Presentes Sessao<br />

Tribunal de Justice de Sao Paulo as Senhores Ministros Djaci Falcão,<br />

(RI 452/112).


R.T.J. — 94<br />

Moreira<br />

Thompson<br />

Alves,<br />

Flores,<br />

Cunha<br />

Corcleiro Guerra, Xavier de Albuquerque.<br />

Peixoto, Soa- Geral da Repfiblica,<br />

Procuradorres<br />

Muhoz, Decio Miranda e Rafael Ferreira Paz.<br />

o Dr. Firmino<br />

Mayer. Ausentes, justificadamente,<br />

os Srs. Ministros Leith° de Abreu e Brasilia, 20 de setembro de 1979 —<br />

Alberto Veronese Aguiar, Secretario.<br />

FtECURSO EXTRAOFtDINARIO N? 90.530 — RJ<br />

(Primeira Turrna)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Xavier de Albuquerque..<br />

Recorrente: ClOvis Oliveira —<br />

mulher.<br />

Recorridos: Mario Vieira Prioste e sua<br />

1) Registro de imOvels. Can celamento 'Unclad° em falsidade do<br />

titulo que the deu origent Ini doneidade da via administrativa, devendo<br />

a q uesta° ser solvida na via contenclosa.<br />

Apelacilo. Seu julgamento deve ater-se aos ]invites da materia<br />

devolvida ao c onbecimenW do Tribunal de segundo gran. Inadmissibllidade<br />

de cassacgo, relativamente a quem aquiesceu ao pedido e<br />

nAo apelou da sentenca de primeira insta1ncia.<br />

Recurso extraordingrio parcialmente conbecido<br />

ACORDAO e provido.<br />

mados ao processo os titulares nomi-<br />

Vistos, relatados e discutidos estes nals os registros<br />

deles,<br />

canceldos. Urn<br />

d oho Serralfo, clisse a n n autos, acordam os Ministros da Priao<br />

cancelamento ada opor<br />

meira Turma do Supremo Tribunal<br />

pretenclicio, nou sua posicho<br />

consig-<br />

Federal, de conformidade corn a ata e ressalvou<br />

de vitima de fraude<br />

de julgamentos e notas taquigrafio<br />

direito de<br />

resp<br />

demandar os<br />

cas, a unanimidade, nos termos do onsaveis (f. 79). 0 outro, primeivoto<br />

do Ministro Relator.<br />

ro dos ora recorridos,<br />

ma, que a materia<br />

alegou, em su-<br />

Brasilia, 20 de malo de 1980 — me na via<br />

reclamava<br />

contenciosa,<br />

exa-<br />

Thompson Flores, Presidente se prestando<br />

para tal nho<br />

Xavier de<br />

o<br />

Albuquerque,<br />

procedimento Relator. nistrativo adotado. admi-<br />

RELATORIO l<br />

A sentenca repeliu a objecho desse<br />

0 Sr. Ministro<br />

postulado.<br />

nteressado e deferiu o cancelamento<br />

Xavier de<br />

Albuquerque: — Perante a Vara dos Apelou apenas o segundo dos re-<br />

Registros FhbBoos da cidade do Rio queridos. E coo dxito, pots a 6? Cade<br />

Janeiro o recorrente promoveu<br />

processo de<br />

mars Civel do Tribunal de Justica<br />

cancelamento dos regis- do Estado do Rio de Janeiro deu protros<br />

de tries lotes, dos quais era vimento a apelacão para cassar a<br />

promitente-comprador, alegando sentenca apelada e mandar as parque,<br />

gracas a utilizacão de escritu- tes as vias ordinaries. 0<br />

ras falsas, tais imOveis foram dados mou esta ementa (f. 172): achrdho to-<br />

como transferldos a terceiras pessons.<br />

«Registro de imOvels.<br />

mento na via<br />

Cancela-<br />

0 Dr. juiz entendeu que o caso se de<br />

administrativa corn<br />

enquadrava no art. 214 da Lei n? claracho de falsidade do titulo<br />

que o determinou.<br />

6.015/73, e determinou fossem cha-<br />

Inadmissibilidade.<br />

345


R.T.J. — 94<br />

346<br />

— 0 cancelamento que pods ser<br />

determinado em process() admi-<br />

No macs, nao conhecO do recurso.<br />

nistrativo e o de registro nulo de<br />

pleno direito, nao o que decorre de Quanto A tetra a, porque o ac6rdão<br />

nulidade ou falsidade do titulo que recorrido decidiu acertadamente a<br />

o originou, mormente quando tal questa') que the foi proposta e nao<br />

registro ja produziu todos os seus vulnerou qualquer dos preceitos le-<br />

efeitos, ensejando novos registros gais invocados pelo recorrente. Se a<br />

material e formalmente perfeitos, nulidade do registro decorria da fal-<br />

que nao sae atingidos pelo cancelasidade do titulo que o havia propiciamento.»do,<br />

tal falsidade nal) podia prescindir<br />

de declarant) judicial na via conten-<br />

Dal o recurs() extraordinario do requerente,<br />

interposto corn fundamen ciosa.<br />

-to nas tetras a e d. Diz que o acerciao<br />

violou os arts. 145, II, III, IV e V, e Relativamente a tetra d, tenho co-<br />

146, paragrafo Unica do Cedi go Civil, mo descaracterizado o alegado<br />

bem coma o art. 214 da Lei dos Re- dissidio, consoante belt sustentaram<br />

gistros Pnblicos, alem de ter divergi- os recorridos nas suas contra-razOes.<br />

do de decisao do Tribuna<br />

E que o acerdao padrao nao solveu<br />

caso de cancelamento na via admi,<br />

pensa nistrativa, a, next decidiu que se dis-<br />

a via contenciosa para a declaracao<br />

da falsidade do titulo e o<br />

conseqftente cancelamente do registro.<br />

0 de que tratou foi de acao de nulidade<br />

de transcricao imobiliaria<br />

fundada em falsidade da escritura<br />

que the deu origem, para a qual entendeu<br />

ser dispensevel a previa anulack)<br />

da escritura. 0 acerdao recorrido<br />

nada afirmou em contrario, ate<br />

porque nao apreciou acao nenhuma.<br />

E como voto.<br />

l de Justica<br />

de Sao Paulo, proferida em caso<br />

idantico . Alega, tambem, que o aresto,<br />

cassando por inteiro a sentenca<br />

apelada, inclusiv e em relacao ao requerido<br />

Joao Serralfo, que nao se<br />

opusera ao pedido de cancelamento<br />

e nao apelara da referida decisao,<br />

vulnerou os arts. 126 e 460 do COdigo<br />

de Processo Civil.<br />

O recurso foi admitido corn fundamento<br />

no alegado dissidio jurisPru dencial.<br />

A Procuradoria-Geral da Republi primeiro grau, que, para ele, transttou<br />

em julgado.<br />

-ca opinou pelo nao conhecimento do<br />

recurso.<br />

E o relat6rio.<br />

VOW<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque (Relator) : — Conheco,<br />

em parte, do recurso, e nessa parte<br />

dou-lhe provimento, para restabelecer<br />

a sentenca no relativo ao camelament°<br />

do registro feito em nome<br />

de Joao Serralfo.<br />

Esse interessado, corn efeito, nao<br />

se opOs ao pedido de cancelamento,<br />

ao qual, ao reves, deu aquiescencia.<br />

E tambem nao apelou da decisao de<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 90.530 — RJ — Rel.: Min. Xavier<br />

de Albuquerque. Recte.: ClOvis<br />

Oliveira (Advs.: Euryalo de Lemos<br />

Sobral e Dionyso de Lemos Sobral).<br />

Recdos.: Mario Vieira Prioste e sua<br />

mulher (Advs.: Oscar Otavio Coimbra<br />

Argoilo, Alcirio Dardeau de Carvalho<br />

e outro) .<br />

Decisao: Conhecido, parcialmente,<br />

e nesta parte provido. Decisao unitnime.


R.T.J. — 94<br />

Presidencia do Senhor Ministro Geral da<br />

Thompson Flores. Pr Republica, esentes a Ses- de Assis Toledo. Dr. Francisco<br />

saga os Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto, Soares<br />

ro Mu- BrasiVer hoz e Rafael Mayer. Subpcurador- Alberto ona mai° de 1980 —<br />

347<br />

Awdar, Secretario.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 90.554 — RJ<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Moreira Alves.<br />

Recorrente: Residencia Companhia de Credit° I mobillerio — Recorrido:<br />

Hugo de Castro Eisenlohr.<br />

circular<br />

Banco<br />

dense<br />

Nacional<br />

Banco,<br />

de<br />

corn<br />

Habitacao.<br />

base no<br />

Unite de Altos e taxes fixados por<br />

— Aplicacio<br />

3? do artigo 39 da Let 4.380/64.<br />

da Stimula 596, urns<br />

ma financeiro nacional, e nao se vez que o BNH<br />

demonstrou<br />

Integra slate-<br />

na referida circular bah intringido<br />

que o teto ester belecido o<br />

nanceiro babitacional,<br />

limits ao, aplicAvel det ao sistema fl-<br />

que the 6 c ermlnada pelo C.M.N., no uso da<br />

onferida peto inciso IX do art. 4? da Let 4.595/64. atribuicão<br />

Recurso extraordinArio conbecido e provido.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes guintes:<br />

Assim decidem pelas razees se-<br />

autos, acordam os Ministros da Se- Lendo o instrumento<br />

gunda Purina do Supremo Tribunal<br />

de fls.<br />

30/32, ve-se que autor e re cele-<br />

Federal, na conformidade da ata do bram, em 26.12.67,<br />

Julgamento e das notas<br />

contrato,<br />

taquigrafl-<br />

(alte-•<br />

rand°, em parte, avenca anterior),<br />

°as, por unanimidade de votos, co- para o fim de estabelecer nhecer do recurso e dar-lhe que, na<br />

mento.provi-<br />

condicho de devedor mutuario,<br />

garia o autor A<br />

pa-<br />

re a taxa de 18% a<br />

Brasilia, 25 de mato de 1979. — titulo de Juros e<br />

discr<br />

comissbes, assim<br />

Mac' FalcAo, Presidente — Moreira iminados: 5%de taxa de aber-<br />

Alves, Relator. tura de cre ss 8%de taxa de<br />

5% de Juros e<br />

manutencao dit° de cre-<br />

RELATORIO<br />

•<br />

Quando tal foi ajustado, estava<br />

0 Sr. Minatro Moreira Alves: E em vigor a circular n? 54/4441/67<br />

este o teor do acerdão recorrido (fls.<br />

n<br />

do BNH que fixava, pars o mes de<br />

363/369):<br />

ovembro de 1967, em 18% a taxa<br />

gAeokdam maxima para os<br />

os Juizes da Sexta tuos<br />

contratos celebrados<br />

de mu-<br />

Cathara Civil do I Tribunal de Al-<br />

para aqUISICAO casa prepria (fls. de<br />

gada do Estado Rio de Janeiro, em<br />

156/163).<br />

dar provimento, em parte, ao ape- A despeito da estipulaciio conslo,<br />

para fixar a denominada taxa tante daquela circular, segundo en-<br />

de manutencho em 2%, repartidas tende a maiorla, nal) podia<br />

maxima do contrato<br />

a taxa<br />

as custas e reduzidos os honorarios<br />

limite de 12%,<br />

ultrapassar<br />

para<br />

o<br />

1096. Farilo declaracao de vo-<br />

submissos os c que estao,<br />

to a Juiza Relators e o Juiz Vogal. ontratos de tal natureza a Lel<br />

Decisão unanime.<br />

de Usura (D. 22.636/33 e D.L.<br />

182/38).


348<br />

R.T.J. — 94<br />

Alias a re se apercebeu da incontornabilidade<br />

de tal limitacAo<br />

quando as fis. 279/289, em 2.2.73, ja<br />

depois de prOposta a presente acAo,<br />

corrigiu a mesma re o excesso antes<br />

cometido, firmando com o autor<br />

novo contrato, em que os juros<br />

foram mantidos dentro dos limites<br />

em lei permitidos.<br />

E verdade que, mesmo no contrato<br />

de fls. 279/80 corn os juros,<br />

continuou a re a cobrar do autor a<br />

chamada taxa de manutencão,<br />

cuj a incidencia — entende a maioria<br />

— nä° Leila de fato cabimento, por<br />

nä° haver, por parte da re efetiva<br />

prestacAo de servicos que justifique<br />

tal cobranca.<br />

Como porem, atualmente,. entre<br />

taxas e juros não esta a re cobrando<br />

nos contrato s mats de 12%, nä°<br />

exclui a Camara a denomina da taxa<br />

de manutencAo, des que, mantida<br />

esta em 2%, somados a mesma<br />

os juros de 10%, näo se ultrapasse<br />

o limite de 12% fixado pela Lei de<br />

Usura.<br />

Nessas condicOes, acolhendo,<br />

em substAncia as conclusOes da<br />

sentenca, daa Camara provimento,<br />

apenas em parte, ao recurso,<br />

para introduzir, naquele douto julgado,<br />

as seguintes alteracOes:<br />

primeiro para admitir a cobranca<br />

da taxa de manutenflo na base de<br />

2%, reconhecendo, nada obstante os<br />

julgadores, que dita cobranca, embora<br />

sob nomem turis de taxa, corresponde<br />

na realidade a juros, s6<br />

sendo admitida porque, somada<br />

aos juros de 10% no contrado idicados<br />

não ultraPassa o total o<br />

mite da lei; segundo, para, em face<br />

Deciaraceo de Voto<br />

Lendo o instrumento de fls. 30-32,<br />

ve-se que autor e re celebraram,<br />

em 26.12.67, contrato, alterando,<br />

em parte, avenca anterio<br />

da procedencia parciAl da acdo ,<br />

ora reconhecida, determinar que<br />

as custas sejam repartidas e reduzidos<br />

os honorarios a 10%.<br />

Rio de Janeiro, 25 de Abril de 1978<br />

Penalva Santos, Presidente s/voto<br />

Aurea Pimentel Pereira, Relato-<br />

r, para o<br />

fim de estabelecer que, na condicäo<br />

de devedor mutuario, pagaria<br />

o autor a re a taxa de 18%, a titulo<br />

de juros a miss6es assim discriminadas:<br />

5% de taxa de abertura<br />

de credito; 5% de juros e 8% de taxa<br />

de manutencão de credito.<br />

Quando tal lot ajustado, estava<br />

em vigor a circular n? 54/4441/67<br />

do BNH que fixava, para o Mes de •<br />

novembro de 1967, em 18% a taxa<br />

maxima para os contratos de mutuos<br />

celebrados para aqtilsicAo de<br />

casa prOpria (fls. 156-163).<br />

TambOm aquela epoca ja estavam<br />

em vigor as Leis 4.595/6 4 e<br />

4.380/64 , por forca das quais, passou<br />

a incumbir, respectivamente<br />

ao Conselho Monetario Nacional e<br />

ao Banco Nacional de Habitacão, a<br />

fixacAo dos limites de prazo e de<br />

taxa de juros nos emprêstimos<br />

concedidos por financeiras.<br />

Aplicando-se, portanto, os diplo-<br />

acima referidos, temos<br />

ra<br />

que, e, em 25.10.77, ao ser celebdo<br />

contrato, de que se trata, estando,<br />

como estava em vigor a circular<br />

54/4441/67 do BNH, que fixava em<br />

18% o limite maximo das taxas e,<br />

juros dos contratos da natureza do<br />

presente, nenhuma incorrecao houve<br />

na fixacäo daquela taxa (18%)<br />

quando da celebracan de contrato<br />

entre A. e R.<br />

Näo se digs, porem, data yenta,<br />

que os contratos, como presente,<br />

estariam sujeltos, no que concerne<br />

A taxa de juros, A Lei de Usura.<br />

Como lembrou com acerto o Apelante<br />

em suas razOes de recurso, a<br />

nä° submissão dos contratos disciplinados<br />

pela L. 4.595/64, a chamada<br />

Lei de Usura, ja fol reconhecida<br />

— como entendimento prevalente<br />

ra.


— por ocasido do encontro dos Tribunals<br />

de Alcada realizado nesta<br />

cidade em 1972, tendo sido, acrescentamos,<br />

a tese, por coincidAncia<br />

discutida, Justamente pela Relatora,<br />

que na ocasiao representou nos<br />

debates, o Tribunal do entAo Estado<br />

da Guanabara.<br />

Ocorre, que atualmente, com o<br />

advento do D. 63.182/68, que em<br />

seu artigo 2?, estabeleceu os limites<br />

maximos do juros e taxas<br />

amass de servicos nos contratos da<br />

natureza do presente, em, respectivamente,<br />

10% (juros) e 2% (taxa<br />

de servico), por coincidAncia, os<br />

somatOrlos dos juros e taxas nAo<br />

ultrapassa os limites fixados na<br />

Lei deUsura, sem que haja, na verdade,<br />

isubmissAo, dos referidos<br />

contratos a lei em questão.<br />

Nessas condicees, em face da situacAo<br />

factica discutida, e, levando<br />

em conta: 1?) ewe, de fato constitui<br />

principio assente na <strong>jurisprudencia</strong>,<br />

a nAo submissAo das taxas de<br />

remuneracao de emprestimos, de<br />

que cuidam a L. 4.595/64, a Lei de<br />

Usura, entendimento que, data yenta<br />

se concilla com a politica de<br />

aquisicAo de casa pr6pria, pelo governs<br />

encetada, que nAo teria condicees<br />

de prosperar, nAo fossem os<br />

incentivos que as financeiras se<br />

procurou propiciar: 2?) que nAo seria<br />

caso de excluir-se a taxa de<br />

manutencAo, embora se reconheca<br />

que o excesso deva ser coibido para<br />

adequa-la aos permissivos do D.<br />

63.182/68 (2%), 3?) que as Financeiras<br />

desenvolvem, efetivamente<br />

atividade, que justifica a cobranca<br />

de tal taxa, pots expedem periodicamente<br />

carnets; procedem ao recalculo<br />

do saldo devedor, e executam<br />

o servico de cobranca; votes<br />

pelo provimento partial do recurso<br />

com a presente declaracAo de voto,<br />

para, havendo como efetivamente<br />

devida a taxa de manutencão, a<br />

tal titulo — e nAo como sucedAneo<br />

de juros — reconhecer a legitimi-<br />

R.T.J. — 94<br />

Alguma decisão judicial esporadica,<br />

que tinha dito alguma coisa<br />

diversa, nä° constitui fonte de direito,<br />

de acordo com os princfplos.<br />

A lei de usura nAo permite, de forma<br />

alguma, a cobranca de juros<br />

alem de 12%. Denominacão eufemistica,<br />

disfarcando juros, nAo<br />

importa em que se admita, por via<br />

obliqua, aqullo que diretamente a<br />

lei de usura e a leglislaego penal<br />

pertinente vedam.<br />

A taxa de administraflo, ou de<br />

servico, ou de manutencAo, ou<br />

qualquer outra, corn qualquer denominacAo<br />

eufemistica, somada<br />

aos juros, nAo pole ultrapassar o<br />

limite da lei de usura (12% ao<br />

ano).<br />

0 sistema financeiro de habitaa)<br />

tem o mecanismo da corregdo<br />

monettuda e dos juros. Tal mecanismo<br />

6 sujeito aos OrgAos administrativos<br />

competentes. Mas,<br />

ouanto aos juros permanece o Hittite,<br />

legal (lei de usura), que nenhuma<br />

autarquia tern o poder de<br />

revogar.<br />

Cobrar qualquer taxa, além da<br />

correcao monetaria, a cobrar<br />

juros.<br />

Rio de Janeiro 25 de abril de<br />

1978 — Rul Octavio Dornlngues.<br />

349<br />

dade de sua cobranca no limite de<br />

2% concluindo, outrossim, corn a<br />

douta maioria, pela reparticão das<br />

custas e reducSo da honoraria a<br />

10%, no mass mantendo o julgado<br />

de primeiro grau.<br />

Rio de Janeiro, 35 de abrll de 1978.<br />

— Aurea Pimentel Pereira.<br />

DeclaracAo de Voto<br />

Acompanho a douta maioria, declarando,<br />

todavia, que esta em pled<br />

vigor a Lel de Usura de ordem<br />

pUblica.


350<br />

Interposto recurso extraordinario,<br />

foi ele admitido pelo seguinte despacho<br />

(fls. 377-378):<br />

R.T.J. — 94<br />

«Irresignada corn o V. acOrdao<br />

de fl. 363, que, a unanimidade, deu<br />

provimento, apenas parcial, a<br />

apelaeao dela ora Recorrente, tao<br />

somente para fixar a denominada<br />

taxa de manutencao em 2% repartidas<br />

as custas e reduzidos os honorarios<br />

advocaticios para 10% mantida,<br />

no mats, a r. sentenca de 1?<br />

grau, que julgara procedente acao<br />

ordinaria que the moveu o ora Recorrido,<br />

condenando a Re, ora Recorrente,<br />

a retificar o saldo devedor,<br />

corn a reelaboracão do calculo<br />

das novas prestaeOes, que sejam<br />

de direito, devidas pelo Autor, a<br />

partir de dezembro de 1971,<br />

creditando-se-lhe as quantias, que,<br />

a contar dessa mesma data, a<br />

maior, pagou, por declarar nula a<br />

obrigaeao, que, no financiamento<br />

constante do contrato de emprestimo,<br />

corn pacto adjeto de hipoteca,<br />

para a aquisieao de casa prOpria,<br />

de 6.10.67, se the imp6s de solver<br />

a taxa de manutencao de credit°<br />

de 8%ao ano, em consonancia<br />

com as operacOes, que devem se<br />

perfazer ern execucao, por impugnadas,<br />

eficazmente, as que elaborou<br />

o perito, de nomeacao do<br />

Juizo, tendo feito declaracão de voto<br />

a Eminente Juiza Relatora e o<br />

Eminente Juiz Vogal, interpOe<br />

«Residencia Companhia de Credit°<br />

o presente Recurso<br />

Extraordinario, invocand o as<br />

alineas a e d do inciso III do art.<br />

119 da Constituted° Federal ( f.<br />

372).<br />

recurso nao foi impugnado, havendo<br />

decorrido in albis o prazo<br />

respectivo, conforme certificado a<br />

f. 376.<br />

Isto posto.<br />

Alega a Recorrente que o v.<br />

aresto recorrido, alem de discre-<br />

par frontalmente da &amnia 596,<br />

que estabelece que as disposicOes<br />

do Decreto 22.626/33 nao se aplicam<br />

as taxas de juros e outros encargos<br />

cobradas nas operacOes<br />

realizadas por instituicOes pfiblicas<br />

ou privadas que integram o sistema<br />

financeiro nacional, violou de<br />

forma indisfareavel, o art. 39, § 3?<br />

da Lei Federal 4.380, de 21.08.1964,<br />

que, deferindo ao Banco Nacional<br />

de Habitacao competencia para fixar<br />

finites de juros e taxas para<br />

as financeiras habitacionais, derrogou,<br />

quanto a estas instituicOes, o<br />

Decreto 22.626/33.<br />

Parece assistir inteira raze° a<br />

Recorrente, impondo-se o crlvo do<br />

Preterio Excelso.<br />

Ex positis.<br />

Admito o recurso.<br />

Abra-se vista as partes, no prazo<br />

do § 2? do art. 543 do C.P.C., e,<br />

apOs, atendido as demais formalidades<br />

legais, quanto ao preparo,<br />

subam os presentes autos ao Egrêgio<br />

Supremo Tribunal Federal,<br />

com as nossas homenagens reiteradas”.<br />

E o relatOrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves (Relator):<br />

Corn base na Lei 4.595/64, estabelece<br />

a Sitmula 596:<br />

«As disposicOes do Dec. n?<br />

22.626/33 nao se aplicam as taxas<br />

de juros e aos outros encargos cobrados<br />

nas operacOes realizadas<br />

por instituicees pOblicas ou privadas,<br />

que integram o sistema financeiro<br />

nacional».<br />

Ora, as mesmas razOes que levaram<br />

esta Corte a firmar a <strong>jurisprudencia</strong><br />

que se cristalizou nessa SOmula<br />

se aplicam ao caso presente.


0 Banco Nacional de Habitacào,<br />

criado pela lei 4.380/64, corn personalidade<br />

juridica de direlto pUblico<br />

(art. 16), tendo, dentre suas finalidades,<br />

a de orientar disciplinar e controlar<br />

o sistema financeiro da habttaeáo<br />

(art. 17, I), Integra o sistema<br />

financelro nacional, como principal<br />

instrumento de execucao da politica<br />

habitacional do Govern Federal, segundo<br />

dlspOe o § 7? do art. 4? da Lel<br />

4.595/64:<br />

«0 Banco Nacional de Habitacão<br />

6 o principal instrumento de execucAo<br />

da politica habitacional do Govern°<br />

Federal e Integra o sistema<br />

financeiro nacional, juntamente<br />

corn as socledades de credit() ImoblliArio,<br />

sob orientacAo, coordenacAo<br />

e fiscalizacão do Conselho MonetArio<br />

Nacional e do Banco Central<br />

da Rep(Wilco do Brasil, quanto<br />

A execucAo, nos termos desta lei,<br />

revogadas as disposicOes especiais<br />

ern contrArio.»<br />

Por outro lado, ern face do, disposto<br />

no § 3? do artigo 39 da Lel 4.380/64.<br />

«Nas suas operagOes, as sociedades<br />

de credit° imobillArio observarAo<br />

as normas desta lei e as expedidas<br />

pelo Banco Nacional de HabitacAo,<br />

corn relacão aos !finites do<br />

valor unitArlo, prazo, condicOes de<br />

pagamento, Juros, garantias, seguros,<br />

Aglos e desAglos na colocacão<br />

de letras imobillArlas e diversificacAo<br />

de aplIcacOes».<br />

E — o que cabla ser felt° pelo autor,<br />

ora recorrido — nä° se demonstrou,<br />

destes autos, que o teto dos juros<br />

e taxas cobrados corn base na<br />

circular 54/4441/67 do Banco Nacional<br />

de Habitacilo ultrapassasse llmitacit°,<br />

aplictivel ao sistema financelro<br />

habitacional, determinada pelo<br />

Conselho MonetArio Nacional, no use<br />

R.T.J. — 94<br />

351<br />

de atribuicao que the 6 conferida<br />

pelo inciso IX do artigo 4? da Lei<br />

4.595/64.<br />

Em face do exposto, conheco do<br />

p resente recurso, e Ihes dou provimento,<br />

para Julgar improcedente a<br />

acAo, condenando 0 ora recorrido ao<br />

pag amento das custas e de honornrlos<br />

que fixo em 10% do valor atribuido<br />

a causa.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda:<br />

Sr. Presidente, estou de acor-<br />

do corn o eminente Relator, por<br />

se tratar de financiamento contratado<br />

anteriormente a 27 de agosto de<br />

1968. Nessa data, o Decreto n? 63.182,<br />

no art. 2?, Ihnitou os juros, no Sistema<br />

F inanceiro de HabitacAo, ao teto<br />

de 10% a. a., mats as taxas anuais<br />

de servico de 2% a. a.<br />

Acompanho S. Ex • , conhecendo<br />

do recurso e ]he dando provimento.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 90.554-RJ — Rel. Min. Morelra<br />

Alves. Recte. Restdencia, Companhia<br />

de Crnclito ImobiliArio (Adv.<br />

Pedro Paulo Cristofaro e outros).<br />

Recdo: Hugo de Castro Eisenlohr<br />

(Advs.: Fernando Mario de Oliveira<br />

e Cruz e outros).<br />

DecisAo: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator.<br />

UnAnlme. Ausente, ocaslonalmente,<br />

o Min. Cordell.° Guerra.<br />

Preslancia do Sr. Ministro Djaci<br />

FalcAo. — Presentes a SessAo os Srs,<br />

Ministros LeitAo de Abreu, Cordell.°<br />

Guerra, Morelra Alves e Decio Miranda<br />

— 5? Subprocurador-Geral da<br />

Reptiblica, o Dr. Mauro Lelte Soares.<br />

Brasilia, 25 de mato de 1979<br />

Hello Francisco Marques,<br />

—<br />

rio.SecretA


352<br />

R.T.J. — 94<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Moreira Alves:<br />

Recorrente:<br />

da: Cia. do Metropolitan de Sao Paulo — Metre.<br />

Almeida Land S/A. — Maquinas e Ferrament as — ReCOrri-<br />

DesaPropriacgo.<br />

— Em se tratando de locacgo em que o locador poderia, a qualquer<br />

momento, utilizar-se da deraincia vazia, não tern o locatario di-<br />

(inclusive no que diz respeito as despereitosas<br />

corn<br />

a qualquer<br />

a mudanca,<br />

indeezacgo<br />

a dlferenca entre aluguêts, ao valor residual do<br />

ponto comercial e a verbas semelhantes) pelo sO fate de, em virtude<br />

, ter de mudar-se pela perda da posse do imOvel<br />

de desaproPriacão<br />

em favor do expropriante.<br />

Precedentes de amber as Turmas do S. T. F. (RREE 85.068 e<br />

86.189, da Primeira Turma; 80.260, 80.258 e 90.087, da Segunda Turma).<br />

Recurso extraordWario conhecido em parte, mas nela nao<br />

provido.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 90.761 — SP<br />

(Segwida Turma)<br />

ACORDA0<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das novas taquigraficas,<br />

por unanimidade de votos, conhecer,<br />

em parte, do recurso, mas,<br />

nesta parte, negar-lhe provimento.<br />

Brasilia, 08 de maio de 1979. —<br />

Djaci Falet°, Presidente — Moreira<br />

Alves, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves: E<br />

este o teor do acerdao recorrido (fls.<br />

432-434):<br />

«Acordam, em Terceira Camara<br />

do Segundo Tribunal de kicada<br />

por votacão unanime, dar provimento<br />

ao recurso da re e julgar<br />

prejudicado o da autora.<br />

A autora, por prazo indeterminado,<br />

era locatária de urn imevel na<br />

Av. Prestes Maia, 714, a 748, onde<br />

estava instalado seu estabeleci<br />

priado 0-mento<br />

comercial. Desapro<br />

predio para a construcao da linha<br />

do metropolitano, ingressou com<br />

esta acao contra a expropriante<br />

para haver lndenizacão pela perda<br />

do fundo de comercio e verbas<br />

complementares decorrent es da<br />

mudanca, desmonta gem e montagem<br />

de suas novas instalacees.<br />

A sentenca reconheceu em parte<br />

o direlto da autora, ja que nä° poderia<br />

postular indenizacdo quando<br />

sua locacäo nao ester ao amparo da<br />

Lei de Luvas. Admitiu nao haver<br />

contrato por prazo certo e sim indetermlnado,<br />

mas acolheu a pretensao<br />

da locataria ern relacao as<br />

despesas de mudanca e reinstalacao.<br />

Sem embargo da autoridade de<br />

seu prolator, e nao obstante essa<br />

tese encontre receptividade na <strong>jurisprudencia</strong>,<br />

se o contrato nal) esta<br />

amparado pela Lei de Luvas e<br />

se ao executar o mandado de imissao<br />

de posse ja vigia a locacäo por<br />

prazo indeterminado, nenhum directo<br />

tem o locatario frente ao expropiante<br />

. E que aquela altura o<br />

locador poderla retomar o imOvel


sem motivar seu pedido, posto que<br />

amparado pela lei facultando-lhe a<br />

dentincia vazia. Nä° precisaria<br />

motivar a retomada e nao ficava o<br />

locador obrigado a pagar nenhuma<br />

indenizacao ou a reembolsar<br />

pesas corn<br />

des-<br />

mudancas, desmontagem<br />

e montagem do novo estabelecimento.<br />

Por que, entao, impor-se<br />

ao expropriante, que desapropria<br />

por interesse pnblico, os Onus daquelas<br />

despesas? Se em lugar de<br />

desapropriar o pr&lio houvesse a<br />

re comprado o linOval, nao ficava<br />

obrigada a respeltar a locacao por<br />

prazo indeterminado e, dessa forma,<br />

sem nada despender para<br />

aquelas despesas do locatario, requeriria<br />

o despejo corn fundamento<br />

na dentmcia vazia.<br />

Esse entendimento 6 posto em<br />

destaque no voto transcrito na sentenca<br />

recorrida, da lavra do Ministro<br />

Moreira Alves. Posteriormente,<br />

no julgamento do Recurso Extraor-<br />

dinario n? 85.068, de Sao Paulo, voltou<br />

essa tese a ser sufragada pelo<br />

mats alto Tribunal do Pais (cf.<br />

RTJ n? 81/604).<br />

Tem-se, pots, que no caso a autora<br />

a carecedora da acao, pots, nao<br />

estava a locacao protegida pela<br />

Lei de Luvas e nao foi rompida a<br />

locagao por prazo certo pela desaproprlacilo.<br />

Bern ao contrinio, o<br />

contrato era por prazo indeterminado<br />

e dava direlto ao locador<br />

romp6-lo quando the aprouvesse,<br />

sem necessidade de motivar a retomada<br />

e sem obrlgacao de reembolsar<br />

o locating° das despesas que<br />

a sentenca recorrida mandou pagar.<br />

Vale dizer que, se nao ttnha o<br />

inqullino direlto subjetivo ou situaea°<br />

de fato protegida pela ordem<br />

juridica, nada pode reclaman da<br />

expropriante.<br />

Assim, dA-se provimento ao recurso<br />

da re para julgar a acdo improcedente,<br />

invertendo-se os Onus<br />

da sucumbOncia, ficando prejudicado<br />

o recurso Oa autora.»<br />

R.T.J. — 94<br />

353<br />

Houve a interposicao de embargos<br />

de deciaracao, que foram recebidos<br />

pelo seguinte acOrdao (fls. 442-447):<br />

« Acordam, em Terceira Camara<br />

do Segundo Tribunal de Alcada Civil,<br />

por votacao unanlme, receber<br />

os embargos.<br />

Sustenta a embargante haver o<br />

acOrdão e mbargado nao decidido<br />

em p arte seu apelo, ja que reclamara<br />

tamb6m indenizacao pelos<br />

danos sofridos em conseqdbncia da<br />

obra do Metro, ja que houve<br />

sensivel queda de vendas no balcao<br />

«ortunda das dificuldades de transit°<br />

e de acesso corn o Mick) das<br />

obras do subterraneo».<br />

0 aresto embargado deu provimanta<br />

ao recurso da 1'6 para julgar<br />

a agao improcedente. Mas admitese<br />

nao haja percutido o tema ora<br />

enfocado corn a penetracao que estava<br />

a merecer. Dat o recebimento<br />

destes embargos<br />

p<br />

para esclarecer o<br />

onto omisso sem, contudo, alterar<br />

sua conclusào.<br />

Pretende a embargante Cia. do seja<br />

Metropolitan°<br />

a<br />

de Sao Paulo<br />

— Metro, condenada a the pagar<br />

indenizacão pela queda determinada<br />

em seu comercio<br />

obras do<br />

em<br />

subterraneo,<br />

razão das<br />

implicando<br />

temente,<br />

no desvio de transit°, e, conseqUen-<br />

reduzindo sua clientela de<br />

balcao naquela area. Vale dizer,<br />

invoca a teorla do risco admbllsstrativo<br />

para exigir a respon-<br />

abilidade daquela empresa com<br />

ausencia de culpa.<br />

A q<br />

destes<br />

uesta° nao 6 nova e o relator<br />

embargos, em outra oportunidade,<br />

em acordao relatado na<br />

apelacao n? 290.324,<br />

Santos,<br />

da Comarca subscrito<br />

de<br />

da T<br />

pela unanimidade<br />

erceira Camara do Tribunal<br />

de Justica, repudiou<br />

tensao de<br />

identica<br />

comerciante<br />

predia<br />

que<br />

resp preten-<br />

onsabllizar a obra ptiblica<br />

pelo seu insucesso comercial.


354<br />

R.T.J. — 94<br />

A tese a sedutora, mas esbarra<br />

no direito positivo brasileiro . E que<br />

o artigo 15 do COdigo Civil, em se<br />

tratando de responsabilidade civil<br />

do Estado, repudiou a teoria<br />

da culpa. A r<br />

não esponsabilidade sem<br />

culpa ou a teoria do risco encontra<br />

obstaculo naquele dispositivio legal,<br />

s6 se admitindo a sua aplicacao<br />

nos casos expressamente declarados<br />

em lei.<br />

0 professor Cabo 'nate, em comentario<br />

publicado na Revista de<br />

Diretto Administrativo, vol. 55,<br />

pag. 262/272, f az breve histtrico<br />

das «tenancias atuais sobre a responsabilidade<br />

civil do Estado » e,<br />

em relacao ao nosso direito positivo<br />

mostra que ap6s o advento da<br />

Constituicao de 1946, surgiram divergéncias<br />

em torn da vigência<br />

do artigo 15 do C6digo Civil. Se<br />

ponderavel corrente doutrinaria<br />

sustentava que o artigo 194 da Carta<br />

Magna havia revogado aquela<br />

disposicäo da lei Civil, respeitaveis<br />

nomes se mantiveram fiéis aos<br />

princiPlos romanisticos em torn<br />

da culpa. Faz incurs56 pelo Direito<br />

Comparado para demonstrar, a<br />

despeito da tendëncia oposta do direito<br />

alienigena, que a jurisprud6n -cia parla fixa o fundamento da<br />

responsabilidade do Poder Publico<br />

no seu conteUdo subjetivo. Assim,<br />

aduz: «a teoria do risco, nao obstante<br />

a valia de seus ilustres proselitos,<br />

nab conquistou, ainda, a<br />

chancela dos pretbrios, nem a unanimidade<br />

da doutrina », trazendo a<br />

colacäo a insusPeita autoridade de<br />

Filadelfo de Azevedo quando anotava,<br />

ap6s o exame da jurisprud en<br />

Nem se invoque em favor da embargante<br />

o princiPio da reparticao<br />

dos encargos pUblicos, fundamento<br />

da responsabilidade sem falta do<br />

Direito Francbs.<br />

que a hipetese<br />

em exame nao daquelas em que<br />

o Poder Pftblico atinge, em beneficio<br />

geral, direitos privados.<br />

Mas se cuida da ocorr6nc ia de desapropriacao<br />

em sentido lato. Nao<br />

houve expropriano, requisicao,<br />

encamPacão, confisco, disposicão<br />

compulsbria, destruicao compulsbria,<br />

inallenabilidade, transformacab<br />

coativa, desconcentracao da<br />

propriedade ou a transdesapropriacao<br />

de que Pala Pontes de Miranda.<br />

Em qualquer dessas hip6teses<br />

nasceria para o proPrietario atingi-<br />

l, que nossos <strong>tribunal</strong>s-cia<br />

naciona<br />

näo haviam acolhid o a teoria do<br />

do o direito indenizac<br />

risco quando se trata da responsabilidade<br />

estatal. Por derradeiro,<br />

ao los em seu valor econernico, sem<br />

obrigaflo de indenizar».<br />

Assim tambem se manifesta<br />

Castro Nunes (c.f. A Fazenda PUblica<br />

em Juizo, 'rag. 403), admitindo<br />

a responsabilidade da Administracao<br />

na hipOtese de culpa levissima.<br />

Mas, a despeito da abertura<br />

propiciada pela regra moral do<br />

hominem leodero, sustenta o autor<br />

nä() ser possivel admitir-se, face<br />

ao nosso Direito Positivo, a responsabilidade<br />

do Estado sem culpa.<br />

Dab indagar: Mas sera possivel<br />

realizar jurisPrudencialmente essa<br />

obra de renovacao ou admitir a<br />

responsabilidade do Estado nos casos<br />

de absoluta ausencia de culpa e<br />

ate mesmo aqueles em que se mostre<br />

o cumPrimento exato e pontual<br />

do seu dever legal»? Mas adiante<br />

acrescenta que «a teoria do risco<br />

nao encontra base em nosso direito<br />

positivo, salvo nos casos especiais<br />

a que atenta o legislador».<br />

como corolario<br />

da reparticao dos encargos<br />

e da intangibilidade do patrimOnio<br />

' ado Mas esse principio da re-<br />

arremata: «A a iv i tido-<br />

particao dos encargos publicos, co<br />

nada da administracao condiciona,<br />

o exercicio de dimo<br />

anota Cabo Tacito, nao absolegitimamente,<br />

reitos individuals, podendo atingi- luto nem geral. At compensacao,


assinala o autor citado, «6 limitado<br />

ao dano especial e anormal gerado<br />

pela atividade administrativa. Generalizar<br />

a nova° a todo e qualquer<br />

prejulzo, decorrente do funcionamento<br />

do servico pUblico, serla a<br />

prOpria denegacao da supremacia<br />

do interesse ptiblico e da destinea)<br />

social da propriedade" (cf. op.<br />

cit. peg. 272).<br />

0 que obriga a indenizacao e a<br />

cause direta e primaria dos prejuizos<br />

e nao a indlreta e secunderia.<br />

A vingar o argumento da recorrente,<br />

sempre que o Poder Public°<br />

desviasse a corrente de trailco<br />

de determinada via pfiblica,<br />

acarretando a diminulcao e ate a<br />

extincao do movimento do cornerdo<br />

all existente, ficaria obrigado a<br />

!Mentzar.<br />

Nao houve cerceamento do<br />

exerciclo da atividade comercial<br />

da recorrente.<br />

0 reflexo, como se percebe, 6 no<br />

movimento comerclal. Mas outros<br />

fatores influem nessa retracão do<br />

seu comercio. Não se pode olvidar<br />

que a vontade dos proprietarlos de<br />

veiculos tambari a fator determinante<br />

da reducao desse movimento,<br />

naturalmente nao mats motivados<br />

a trafegar pelo local, fazendo<br />

Uso da via elevada. Durante e execucao<br />

das obras, o transito mats<br />

tambem 6 responsavel pela<br />

°ma° do motorista que dali se desvia<br />

para ganhar outra via menos<br />

congestionada e de rapid() escoamento.<br />

Se a reducao da intensidade do<br />

transit° de velculo 6 fator desvalorizante<br />

do ponto para o seu cornerclo,<br />

poderit ser fator de valorizacao<br />

para outro ramp de atividade.<br />

Vale dizer, em substancla a obra<br />

pUblica em nada afetou a propriedade<br />

da recorrente.<br />

Observa-se que na hipotese de<br />

desapropriacan do !Wive' restaria<br />

a recorrente apenas e tflo somente<br />

R.T.J. — 94<br />

355<br />

o direito A indenizaeão pelo terreno<br />

e benfeitorias. Nao poderia pleitear,<br />

alem desses valores, o<br />

possivel valor do (undo de cotnercio<br />

indenizacao por possiveis prej<br />

tlizos decorrentes dos reflexos da<br />

execucao de obra pOblica no local.<br />

Sao esses os fundamentos Palos<br />

quaffs, recebido os embargos suprindo<br />

a omissao do acerclao, sem<br />

alterar, contudo, sua conclusao.»<br />

Interposto recurso extraordinario,<br />

foi ele admitido por este despacho<br />

(fls. 479/486):<br />

«Almeida Land S/A — Maquinas<br />

e Ferramentas moveu esta acao a<br />

Companhia do Metroplitano de Sao<br />

Paulo — Metro para haver indentzacao<br />

compreensiva das varias ordens<br />

de prejuizos advindos das atividades<br />

da Re, e afetadoras do co-<br />

'nerd° da autora em predio que locave<br />

e do qual teve de se mudar.<br />

Na perspective de que a locacao<br />

da Autora nao se achava protegida<br />

pela Lei de Luvas, a decisao de<br />

prlmeiro grau concedeu-lhe apenas<br />

— atraves a aplicaeao analOgIca<br />

do art. 25, parAgrafo Wilco do<br />

Decreto-lei 3.365 — a verba de Cr:<br />

333.561,22, correspondente as despesas<br />

corn mudanea e reinstalacao.<br />

A Colenda Terceira Camara,<br />

atendendo ao apelo da Re, julgou a<br />

Autora carecedora da acao, assim,<br />

fturdamentando, no ponto essenclef:<br />

«Sem embargo da autoridad e<br />

de seu prolator, e nao obstante<br />

essa tese encontre receptividade<br />

na <strong>jurisprudencia</strong>, se o contrato<br />

nao esta amparado pela Lei de<br />

Luvas e se ao executar o mandado<br />

de imissao de posse la vigia a<br />

locaeao por pram indeterminado,<br />

nenhum direito tern o locatarlo<br />

frente ao expropriante. E que<br />

Aquela altura o locador poderia<br />

retomar o imOvel sem motivar


356<br />

R.T.J. — 94<br />

seu pedido, posto que amparado<br />

assim justificou — em ponto de re-<br />

pela lei facultando-lhe a denfmcia levo para este despacho — sua re-<br />

vazia. NA° precisaria motivar a<br />

cusa de indenizar ate mesmo os<br />

retomada e nao ficava o locador prejuizos decorrentes da queda de<br />

vendas no balcao, «oriunda das di-<br />

obrigado a pagar nenhuma indenizacao<br />

ou a reembolsar despeficuldades de transito e de acesso<br />

com o inicio das obras do subterrasas<br />

com mudancas, desmontagem<br />

e montagem do novo estabeneo»:lecimento. Por que, entao, impor «0 que obriga a indenizac o<br />

se ao expropriante, que desapro- a causa direta e primaria dos<br />

pria por interesse pUblico, os prejuizos e nao a indireta e se-<br />

Onus daquelas despesas? Se em cundaria. A vingar o argumento<br />

lugar de desapropriar o predio da recorrente, sempre que o Po-<br />

houvesse a re comprad o o imOder Pilblico desviasse a corrente<br />

ye!, nao ficava obrigada a respei- de trafego de determinada<br />

tar a locacao por prazo indeter- via pablica, acarretand o a<br />

minado e, dessa forma, sem na- diminuicao e ate a extincao do<br />

da despender para aquelas. des- movimento do comercio ali exispesas<br />

do locatario, requereria o tente, ficaria obrigado a indeni-<br />

despejo corn fundamento na dezar.nOncia vazia.<br />

Nao houve cerceamento do<br />

Esse entendimento a posto em exercicio da atividade comercial<br />

destaque no voto transcrito na da recorrente.<br />

sentenca recorrida, da lavra do 0 reflexo, como se percebe, 6<br />

Ministro Moreira Alves: Poste- no movimento comercial. Mas<br />

riormente, no julgamento do Re- outros fatores influem nessa recurso<br />

Extraordinario n? 85.068, track, do seu comércio . Nao se<br />

de Sao Paulo, voltou essa tese a pode olvidar que a vontade dos<br />

ser sufragada pelo mais alto Tri- proprietarios de veiculos tambunal<br />

do Pais (cf. RTJ n? b6m a fator determinante da re-<br />

81/604).<br />

ducão desse movimento, natural-<br />

Tern-se, pois, que no caso a aumente nao macs motivados a tratora<br />

6 carecedora da Ka°, pois, fegar pelo local, fazendo use da<br />

nao estava a locacao protegida via elevada. Durante a execucao<br />

pela Lei de Luvas e nao lot rorn- das obras, o transito mats dificil,<br />

pida a locacao por prazo certo<br />

pela desapropriacao. Bent ao tambem a responsável pela opcao<br />

do motorista que dali se des-<br />

contrario, o contrato era por pravia para ganhar outra via menos<br />

zo indeterminado e dava direito congestionada e de rapid° escoa-<br />

ao locador rompe-lo quando the<br />

aprouvesse, sem necessidade de mento.<br />

motivar a retomada e sem obri-<br />

Se a reducao da intensidade do<br />

gacao de reembolsar o locatario transito de veiculo 6 fator desva-<br />

das despesas que a sentenca relorizante<br />

do ponto para o seu cocorrida<br />

mandou pagar. Vale dimercio,<br />

podera ser fator de valozer<br />

que, se nao tinha o inquilino<br />

rizacao para outro ramo de ativi-<br />

direito subjetivo ou situacao de<br />

dade. Vale dizer, em substancia<br />

fato protegida pela ordem juridi- a obra ptiblica em nada afetou a<br />

ca, nada pode reclamar da eex- propriedade da recorrente » (f.<br />

propriante. » (fls. 433-434).<br />

446).<br />

Em seguida, na consideracao de<br />

Contra o decidido, recorre a Au-<br />

embargos declaratbrios da Autora, tora, extraordinariamente, arrima-


da As tetras a e d da autorizacao<br />

constitutional, a dizer ofendidos os<br />

arts. 107 da Lei Mator, 159 do Cecilgo<br />

Civil, 25 parAgrafo Critic° do<br />

Decreto-let 3.365 e 3? do Decreto-lei<br />

n? 4/66 e divergidos vv. arestos encontraveis<br />

em RTJ 81/932; 65/464 e<br />

78/230; corn argeicão, ainda, de relevAncia<br />

da questao <strong>federal</strong>.<br />

Impugnaedo a fls. 473/477.<br />

Assim aprecio as diferentes argilieees:<br />

I. No piano da tetra a:<br />

A — Repudio, de !nick), o argumento,<br />

so agora e de passagem<br />

vindo na impugnacdo, Segundo 'o<br />

qual nao seria, a R6, alcaneada pelo<br />

art. 107 da Constituicao, eis que<br />

se trata de pessoa juridica de direito<br />

privado Penso que sua condicdo<br />

de empresa pUblica — aqui,<br />

«facets» do Estado no exercicio de<br />

atividade eminentemente PUblica<br />

sobreleva as feicees puramente<br />

formals e operacionals de carAter<br />

privado; em termos de p6-la sob a<br />

abrangencia da aludida regra<br />

constitutional.<br />

Penso entretanto, inatacado 0<br />

art. 107 da Carta Magna. Embora<br />

possam, em tese, gerar a reparacdo<br />

all p<strong>revista</strong> os atos cobertos<br />

por decisAo judicial, 6 inegAvel que<br />

o debate, in casu, se desloca para<br />

a Area da caracterizacdo do dano<br />

como resultado da afetaedo indevida<br />

de urn direito subjetivo. E aqui<br />

a recusa da indenizado se prende,<br />

se e nitidamente, A negaedo de urn<br />

direito oponivel ao expropriado; o<br />

que, em desdobramento, preserva<br />

inteiramente o apontado preceito<br />

constRucional enquanto norma gendrica.<br />

Realmente, a afirmaedo implicita<br />

e sintetizada do v. julgado recorrido,<br />

neste teptco, e a de que,<br />

nAo se beneflciando, a locatArla, de<br />

urn direlto subjetivo ou de situacdo<br />

juridica economicamente apreCidvel<br />

perante o locador, na verdade<br />

R.T.J. — 94<br />

357<br />

nao havia como perde-la por ato da<br />

expropriante. Em decorrencia, a<br />

recusa da indenizado — por falta<br />

de prejuizo no caso particular —;<br />

sem qualquer negativa A gentrica<br />

asseguracdo constitutional.<br />

Por arremate, ainda na Area da<br />

tetra a, diga-se que o entendimento<br />

da inviabilidade de indenizaedo a<br />

locatArio nao tutelado pela Let de<br />

Luvas, na consideraedo primeira,<br />

— como aqui implicit° — de que<br />

nao se the pode reconhecer ante o<br />

expropriante, maior direito do que<br />

possui frente o proprietArio,<br />

firmou-se definitivamente no entAo<br />

Unico Tribunal de Alcada Civil deste<br />

Estado, sem jamals sofrer 'corte<br />

ao fundamento de afrontoso<br />

Constituted° (RT 435/158 e Julgados<br />

do Tribunal de Alcada Civil de<br />

Sao Paulo, ed. Lex, 19/62). Peio<br />

contrArio, da Suprema. Corte apenas<br />

se conhecem vv. devisees concessivas<br />

da reparado wand° renovAvel<br />

a locado (RTJ 54/22 e 71<br />

/890 e RE 74.708, in DJU de 28.6.74,<br />

pAg. 4.570); sem contar aqueia<br />

explicita, a dizer: «Desapropriaedo<br />

recaindo sobre imOvel locado.<br />

AO° direta. Indenizado nAo contemplada<br />

no processo desapropriaterio<br />

e objeto da aedo direta. II.<br />

Nela nAo se inclui o fundo de comercio,<br />

porque a locacdo nAo se<br />

regia pelo Decreto n? 24.150/34,<br />

nem os lucros cessantes, mesmo<br />

considerando o- art. 107 da Consti-<br />

tuted°. III. Recurs() extraordindrio<br />

conhecido parcialmente, mas nao<br />

p rovido» (RE 80.258 — SP,tn DJU<br />

de 24.10.75, pAg. 7.761). E no mesmo<br />

sentido, mats recentemente, o<br />

Ag. 73.943-2 — Rel.: Min. Dial<br />

Falai], ern DJU de 14.8.78, pAg.<br />

5.768;<br />

B — 0 art. 159 do C6digo Civil<br />

por igual restou indene, visto que a<br />

recusa a indenizaetto mesmo fora<br />

dos reflexos da exproprlaedo, foi,<br />

ainda, produto apenas da constata-


358<br />

R.T.J. — 94<br />

cao Mica de inexistencia de prejuizo<br />

casualmente vinculavel<br />

obra pUblica; questa°, pa is, conducente<br />

a area do debate probat6rio,<br />

alheia a perspectiva do recurso extraordinArio<br />

(SUmula 279);<br />

C — 0 art. 25 paragrafo (Mica do<br />

Decreto-lei 3.365 fot, em primeiro<br />

grau, apenas aplicado por analogia,<br />

posto que o prejuizo computado<br />

nAo feriu o expropriado, mas a<br />

locatAria. Bastaria essa circunstancia,<br />

penso, para se conduit: pela<br />

impossibilidade lOgica de se pretender<br />

negada sua vigencia. Sobre<br />

isso, porem, cumpre repetir o jA<br />

dito aqui sob A, posto que a consideracao<br />

fundamental do v. aresto<br />

refere-se a inocorrencia de uma situacao<br />

juridica que assegurasse, a<br />

Autora, direito correspondente,<br />

frente ao locador;<br />

D — 0 art. 3? do Decreto-lei 4/66<br />

exprime materia nao prequestionada;<br />

inconsiderAvel, portanto<br />

(SUmula, verbete n? 282);<br />

II. Ao prisma da tetra d, todavia,<br />

tenho o seguimento do recurso por<br />

incoercivel, frente as vv. decisOes<br />

estampadas em R. T. J. 78/230 e<br />

81/932, onde verbas alheias ao fundo<br />

de cameral° foram concedidas,<br />

embora nAo protegido, o locatArio<br />

pela, Lei de Luvas.<br />

Tenho por inapreciAvel, no setor,<br />

o v. julgado inserto em RTJ 65/464,<br />

dada a circunstancia de ali se enfocar<br />

— diversamente do que sucede,<br />

In casu — hipOtese de contrato<br />

interrromPldo pela desapropriacao,<br />

segundo se retira do voto do<br />

eminente Ministro Rodrigues AlckmM,<br />

all proferido (RTJ 65/467,<br />

468).<br />

Anoto, por final, que a diretrlz<br />

atual da Suprema Corte ampara a<br />

solucao do v. avai:Tao recorrido,<br />

segundo o decidido nos RREE<br />

80.258, em DJU de 24.10.75, pg.<br />

7.761; 85.068, em DJU de 29.4.77,<br />

pg. 2.742 e 86.189, em DJU de<br />

27.5.77, pg. 3.461; o primeiro da Colenda<br />

Segunda Turma e os dois tiltimos<br />

da Colenda Primeira Turma.<br />

Autorizo, portanto, siga o presente<br />

reclamo, apenas na visa() da Tetra<br />

d.<br />

A argilicao de relevancia me parece<br />

incabivel, dada a (IA° incidencia<br />

de voto regimental. Diante, todavia,<br />

do art. 308, § 3? do Regimento<br />

Intern da Suprema Corte,<br />

limito-me a dizer que tal argilicao<br />

receberA o tratamento determinado<br />

pela opcao da recorrente, frente<br />

As opcOes concedidas.»<br />

Processada a argilicao de relevancia<br />

da questa() <strong>federal</strong>, foi ela rejeitada<br />

em sessao de Conselho, de<br />

22.3.79.<br />

8 o relatario.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Morelra Alves (Relator):<br />

1. 0 presente recurso extraordinArio<br />

visa a obtencao de indenizacäo<br />

pelos danos sofridos com a perda<br />

da rentabilidade ocorrida desde o<br />

inicio das obras do metro, e a conseqilente<br />

diminuicao do valor do fundo<br />

de comercio, bem como os resultantes<br />

da desapropriacào, ou seja, as<br />

despesas com o novo contrato de locacao,<br />

a simultaneidade de duas locacOes<br />

e a oneracao de dots alugels,<br />

a diferenca sensivel de aluguel, a<br />

agravacao da quebra da rentabilidade<br />

em decorrencia da queda do faturamento<br />

do mes da mudanca, a perda<br />

do valioso ponto comercial, o<br />

prosseguimento da quebra da rentabilidade<br />

ap6s a mudanca» (fls. 450-<br />

451). Em sintese, pedem-se perdas e<br />

danos sofridos antes, durante e depois<br />

da desapropriacao.<br />

Sucede, porem, que, na inicial da<br />

presente acao, embora se aluda aos<br />

prejuizos causados a recorrente pela<br />

obra em si mesma — e, portanto,<br />

prejuizos anteriores a desapropriaflo<br />

ao se formular o pedido, foi


ele restringido aos danos sofridos pela<br />

ora recorrente em decorrencia da<br />

desocupacdo e da mudanca forcada<br />

e rapida de seu estabelecimento comercial,<br />

Como se le a fls. 6/7 dos autos:<br />

«Do exposto, requer determine<br />

Vossa Excelencia a citacao da<br />

Companhia do Metropolitan° de<br />

Sdo Paulo — Metro, para todos os<br />

atos e termos desta acdo, ate final<br />

sentence que, julgando-a procedente,<br />

condenara a R6 ao pagamento<br />

da indenizacdo de todas as perdas<br />

e danos sofridos pela Autora em<br />

decorrencia da desocupacdo e da<br />

mudanca forcada e rapida de seu<br />

estabelecimento comercial, cujo<br />

montante devera ser apurado em<br />

regular perIcia que especificara os<br />

valores das verbas ndo especificadas<br />

nesta !Metal, indenizagdo<br />

acrescida de 'tiros e correcao monetarla,<br />

condenando-a alnda ao pagement°<br />

das verbas da sucumbeneta.<br />

Protesta por todos os meths de<br />

prove em dlreito admitidos, sem<br />

qualquer excecao, requerendo desde<br />

ja depolmento pessoal do representante<br />

legal da Re, inquirtedo de<br />

testemunhas, pericla e juntada<br />

posterior de documentos.<br />

Declara que seus advogados re-<br />

ceberdo intimacoes em seus escriterios,<br />

a Avenida Liberdade, 21 —<br />

andar, conj. 106.<br />

Requer, abide, possa o Oficial de<br />

Justice proceder nos termos do §<br />

do artigo 172 do Cadlgo de Processo<br />

Civil.»<br />

Por isso mesmo, na sentence a fls.<br />

371/379, o Dr. Jutz de Primeiro grau,<br />

assim fixou a controversta:<br />

aDecido.<br />

Pretende a autora receber da<br />

Companhia do Metropolitano de<br />

Sao Paulo — Metro — lndenizacdo<br />

pelas perdas e danos que sofreu,<br />

em razdo da desocupacão e da mu-<br />

R.T.J. 94<br />

359<br />

danca forcada de seu estabelecimento<br />

comercial, instalado em<br />

pr6dio que foi desapropriado pela<br />

re.<br />

Redargiliu a suplicada afirmando,<br />

prelimi narmente, a carencia<br />

da acdo, uma vez que a autora<br />

d emonstrou a sua condicdo de locatária,<br />

e, quanto ao merit°, refutou<br />

a pretensdo ajuizada.<br />

Esta e a control/61.sta». (f. 373).<br />

Na ap elacão (Rs. 390-403), a ora<br />

recorrente, entao apelante, insurgiu-<br />

se, tambem, contra a ndo-concessào<br />

de perdas e danos que sofreu, no<br />

p eriodo anterior a desapropriacao,<br />

resultante das obras do metr O. 0<br />

actirdao, a fls. 432/434, ao Julgar a<br />

apelacão, adstringiu-se, como sucedere<br />

com a sentence, a apreciacdo<br />

dos danos decorrentes da desaprop<br />

riacão. Houve embargos de declaracão,<br />

onde se alegou omissdo quanto<br />

aos danos anteriores a expropriacao,<br />

e o acOrddo, a fls. 442/447, sem<br />

atentar pare o tato de que eases da-<br />

nos /leo tinhara ski° objeto do pedido<br />

lidded e, por isso, não haviam sido<br />

examinados na sentence de prImeiro<br />

grau, recebeu os embargos, r por ter<br />

econhecido a omissdo, mas repeliu,<br />

no merit°, a pretensdo<br />

rente.<br />

da ora recor-<br />

Deixo, portanto, de aprectar curs° extraordinerio,<br />

o re-<br />

na parte relative<br />

aos danos que teriam resulted°<br />

das obras do metro, antes da desapropriacdo,<br />

adstrita que este a prestea)<br />

jurisdicional, no caso, aos<br />

mites do pedido, que tido abrange<br />

tale danos.<br />

2. No tocante aos danos resultantes<br />

da desapropriacao, conheco do recurs°<br />

pelo dissIdio, apenas, corn o<br />

RE 81.119, da Primeira Turma, relator<br />

o Sr. Ministro 131lac Pinto, julgado<br />

a 2.12.75 (RTJ 78/230 e segs.), onde<br />

se admitiu que Rembora ausente o<br />

fundo de comercio, pode o locate/1o,<br />

corn a desap<br />

cado, sofrer<br />

ropriacdo do imOvel lo-<br />

prejulzos de outra natu-


B.T.J. — 94<br />

360<br />

reza, indenizaveis portanto » (e esses<br />

de reinstalacao, mais juros e cor-<br />

prejuizos eram traduzido s pelas verrecáo monetaria.<br />

bas de reinstalacdo, materia l e dile- Quer a recorrente a expropriante,<br />

que este Tribunal diga nao ter a<br />

renca para a nova locacdo). recorrida direito a indenizacAo<br />

Com referenda aos dots outros pleiteada e que the foi deferida.<br />

acOrdaos trazidos a confronto, ine- Ao admitir o recurso, teve o proxiste<br />

o dissidio. Corn efeito, no RE<br />

74.142 (RTJ 65/464 e segs.), como se lator do despacho, Juiz Aniceto Lo-<br />

ye do voto do Sr. Ministro Rodrigues<br />

pes Aliende, como configured° o<br />

Alckmin, a hipotese dizia respeito a<br />

dissidio com o julgado publicado<br />

contrato de locacao cujo prazo deter-<br />

na RT 435/158. E a Procurad<br />

minado nao havia, ainda, terminado,<br />

o que nao sucede no caso presente;<br />

e, no RE 85.276 (RTJ 81/932 e segs.),<br />

se tratou de especie tambem diverse<br />

da em julgamento, pois ali a desapropriacao<br />

nao extinguira a locacao,<br />

mas, embora ela permanecesse, o located°<br />

teve a sua atividad e prejuchcada,<br />

pela reduce° de espaco Util e<br />

pela dificuldade de acesso por parte<br />

de sua freguesia.<br />

Conhecendo, pois, do recurso pelo<br />

dissidio corn o julgado no RE 81.119,<br />

a ele, pore, nego provimento.<br />

De feito, em decisOes posteriore s a<br />

prolatada nesse RE 81.119, firmouse,<br />

em ambas as Turmas desta Corte,<br />

a orientacao de que, em hipoteses<br />

como a presente, nao a devida qualquer<br />

indenizacãe. A propria Primeira<br />

Turma, ao julgar o RE 85.068, em<br />

16.12.76, sendo relator o Sr. Ministro<br />

Bilac Pinto, examinand o caso especifico<br />

de indenizacao a titulo de<br />

despesas de mudanca e de reinstalacao,<br />

quando a locacao nao era regida<br />

pelo Decreto 24.150, nem era por<br />

prazo determinado, modificou sua<br />

posicao anterior (seguida no RE<br />

81.119), nos termos do voto de relator,<br />

verbis:<br />

«Conforme o related°, a locateria<br />

do imOvel desaProPriado, não<br />

estando o contrato sujeito ao Decreto<br />

n? 24.150/1934, vigendo je a<br />

locacao por prazo indeterminado,<br />

obteve ela, com a partial procedOncia<br />

de sua acdo, indenizacao a<br />

titulo de despesas de mudanca e<br />

oria<br />

ca afirmou corn-<br />

-Geral da Republi<br />

provada a diverg'encia corn a invocacao<br />

dos ERE n? 65.182. Quanto<br />

ao padre° da RT 435/158, esta a<br />

ementa do acerdao:<br />

Havendo inquilino no im6vel<br />

exproPriado, 0 expropriante so<br />

the devera indenizaca o, por perdas<br />

e danos, caso esteja registrado<br />

o contrato de locacao para<br />

que prevaleca contra terceiros e<br />

sob a protecao da Lei de Luvas».<br />

Deste actordan:<br />

«Mas, se a locacao, ainda que<br />

por prazo vigente e determinado,<br />

nao pode ser posta erga omnes,<br />

por nao haver sido registrad o o<br />

contrato e nao a tutelada pela Lei<br />

de Luvas, ja o locatario nao tera<br />

direito algum indenizavel, Beando<br />

submetido ao expropriante,<br />

como ficaria ao particular adquirente<br />

do predio, que pretendesse<br />

retomar a coisa alugada . Ern tal<br />

hip6tese, o adquirente nao estaria<br />

obrigado a respeitar a locacao<br />

(art. 1.197 do C6digo Civil, 28<br />

da Lei n? 4.864, de 29.11.1965 e<br />

art. 4?, n? VI, do Decreto-lei n? 4,<br />

de 7.2.1966), nem havendo que indenizar<br />

o inquilino, salvo no tocante<br />

a benfeitorias, nos casos<br />

previstos no art. 1.199 do C6digo<br />

Civil.»<br />

Desta decisao, que 6 do antigo<br />

Tribunal de Alcada Civil de Säo<br />

Paulo, opOs-se recurso extraordinario,<br />

que foi denegado . Subindo o<br />

agravo, que aqui recebeu Q nOmero


Ag. n? 55.256, a ele o Ministro Xavier<br />

de Albuquerque negou seguimento,<br />

conforme despacho publicado<br />

no DJ, de 5.9.1972.<br />

Creio configurado o dissidio, e<br />

por isso conheco do recurso.<br />

No RE n? 80.258, Segunda Turma<br />

em SessAo de 23.9.1975, disse o Ministro<br />

Moreira Alves:<br />

aQuando o Estado desapropria<br />

urn im6vel, e ha locatario cujo<br />

!undo de comêrcio 6 protegido<br />

pela denominacao Lel de luvas<br />

(Locoed() comercial), tern este<br />

R.T.J. — 94<br />

cAo de fato protegida j pela ordem<br />

uridica foi ofendido; ao contrario,<br />

ele 6 que nao pode violar o<br />

direito do proprietarlo<br />

a coisa locada.<br />

de reaver<br />

NA° fora assim, o devedor sofreria,<br />

juridicamente, urn dano,<br />

ao cumprir a obracAo ig a que esta<br />

sujeito.<br />

Se o Estado, atuando como urn<br />

particular adquirisse o im6vel<br />

ern causa, poderia usar do direito<br />

de denunciar nao motivadamente<br />

um direito que 6 lesado pelo ato o contrato de locacão, e, por isso,<br />

do Estado, ainda que legitimo, e, nao estaria, evidentemente, su-<br />

gracas a responsabilidade objetijeito<br />

a qualquer responsabilidade.<br />

Tern<br />

va consagrada no art. 107 da<br />

cabimento que o Estado,<br />

ConstituicAo Federal,<br />

no interesse<br />

6 o Estado<br />

ptiblico e usando de<br />

respon urn direito<br />

sabilizado pelo dano cau-<br />

constitutional desapropriar<br />

seu —<br />

sado. 0 mesmo sucede — e nesse<br />

—, se tome proprie-<br />

sentido a <strong>jurisprudencia</strong><br />

tart° de um<br />

citada<br />

im6vel, e, como tal,<br />

no voto do eminente relator (por para exercer o direito de dentin-<br />

exemplo, Revista dos Tribunals cla vazia seja responsabilizado<br />

444/174) — nas locacdes nao co-<br />

por urn dano que inexiste, tuna<br />

mercials, ern que o prazo contra- vez que o locatario, em virtude<br />

tual ainda nao se tenha esgotado; dessa dentincia, deixa de ter di-<br />

at, ha o direito, que a lesado corn<br />

reit° a e passa a dever a<br />

a desapropriacAo,<br />

permanecer<br />

de o locatario devolucao da colsa Parece-me<br />

no in-ravel<br />

do prazo<br />

at6 o fim<br />

evidente que se impde a resposta<br />

contratual,<br />

negativa.»<br />

qtientemente,<br />

e, conse-<br />

existe dano, ern Corn os fturclamentos da parte<br />

sentido juriclico, a ser ressarcido. fractal deste voto, dou provimento<br />

No caso concreto,<br />

ao recurso,<br />

por6m,<br />

julgando<br />

cacao nao 6 a lo-<br />

a acao impro-<br />

comercial,<br />

vendo sido<br />

e, la hacedente.<br />

Fica a autora, ora recor-<br />

ultrapassado<br />

do contrato,<br />

o prazo<br />

rida, condenada a pagar as custas<br />

poderia<br />

do p<br />

qualquer<br />

o locador,<br />

momento,<br />

a<br />

rocesso e honorarios de 10%<br />

mediante<br />

(dez por cento) sobre o valor da<br />

denfmcia<br />

nao motivada (dentincia causa». (RTJ 81/606 e 607).<br />

vazia), exigir a restituicAo<br />

im6vel, fazendo,<br />

do<br />

Posteriormente, ainda a Primeira<br />

parecer<br />

corn isso, desa- Turma, ao julgar, em 29.4.77, o RE<br />

o direito do<br />

p<br />

locatario de 86.189, send° relator tamb6m o Sr.<br />

ermanecer nele, obrigado que Ministro Bilac Pinto, reafirmou<br />

ficaria a devolucAo.<br />

orientacao, invocando,<br />

essa<br />

o precedente<br />

entre outros,<br />

acima.<br />

Com a demincia vazia por par-<br />

-<br />

te do proprietario, desaparece<br />

Era essa,<br />

o a<br />

igualmente, a orientacao<br />

direito do locatario, que, por II- dotada por esta Segundo Turma,<br />

car obrigado a restittdr o im6vel, o<br />

como se ye dos RREE 80.260, relator<br />

nao sofre dano ern sentido juridi- q Sr. Ministro Xavier de<br />

co, pots nenhum direito subjetivo d<br />

ue, j<br />

Albuquer-<br />

seu, interesse legithno<br />

o<br />

ulgado a 13.12.74; 80.258, juiga-<br />

a<br />

ou situa- q 23.9.75, e ern que consta o voto<br />

ue proferi e que tot reproduzido nas<br />

36


362<br />

R.T.J. — 94<br />

decisOes prolatadas na Primeira<br />

Turma: 90.087, julgado a 29.9.78, de<br />

que frit relator, e em cuja ementa se<br />

le:<br />

«Desapropriacao.<br />

— Em se tratando de locacäo ern<br />

que o locador poderia, a qualquer<br />

momenta, utilizar-se da demincia<br />

vazia, nào tern o locatario direito a<br />

indenizacão pelo s6 fato de, em ter vir- de<br />

tude de desapropriacao,<br />

mudar-se pela perda da posse do<br />

imOvel em favor do exproPriante.<br />

Precedentes do S.T.F.<br />

Recurs° extraordinário conhec ido<br />

e provido”.<br />

3. Em face do exposto, e resumi n<br />

-do, conheco do recurso apenas no tocante<br />

aos pretendidos danos decorrentes<br />

da desapropriacão, mas the<br />

nego provimento, em face da atual<br />

orientacdo desta Corte.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 90.761 — SP — Rel.: Min. Moreira<br />

Alves. Recte.: Almeida Land<br />

S/A — Maquinas e Ferramentas<br />

(Adv.: Isidoro Angelico). Recda.:<br />

Cia. do Metropolitan de Sao Paulo<br />

— Metre (Advs.: Beatriz Helena de<br />

A. Penteado e outros).<br />

Decisäo: Conheceram do recurso<br />

em parte e nesta parte negaram provimento<br />

. Unanime.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

Falcdo. — Presentes a Sessäo os Srs.<br />

Ministros Leitäo de Abreu, Moreira<br />

Alves e Decio Miranda . Ausente, justificadamente,<br />

o Sr. Min. Cordeiro<br />

Guerra. 5? Subprocurador-Geral da<br />

Republica• o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 8 de maio de 1979. —<br />

Hello Francisco Marques, Secretario.<br />

---<br />

RECURSO ExTRAoRDINARto N? 90.764 — RJ<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator : 0 Sr. Ministro Decio Miranda.<br />

Recorrente: Sociedade Agro-Avicola Pinheir o S/A — Recorrida : Maria<br />

Tatiana da Gama Barandier.<br />

Comercial. Falência. 1) A falencia requerida corn base no art. 1?<br />

da respectiva lei 6 elidida pelo depOsito efetuado nos termos do art.<br />

11, { 2?. 2) Ao credor que o seja exclusivamente por clivid a vencida e<br />

exigivel basta o requerimento do art. 1? da Lel de Falancia s, não ihe<br />

em qualquer dos casos do art. 2?. 3) 0 deptisito eli-<br />

cabendo o fundado ito no caw<br />

dente da falencia (art. 11, § 2?) tanto serve a esse propOs<br />

do art. 1? quanto nos do art. 2?, em se tratand o de requerente credor.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Segunda<br />

Turma, na conformidade da ata<br />

de julgamentos e das notas taquign.fleas,<br />

unanimidade de votos, conhecer<br />

do recurso e the dar provimento.<br />

Brasilia, 18 de abril de 1980 —<br />

Djaci Falcao, Presidente — Decio<br />

Miranda, Relator.<br />

RELATORio<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda —<br />

Exibindo ta promisseria de Cr$<br />

100.000,00, v<br />

no encida em 23-6-73, e autos<br />

de protesto que interrompera a


prescricao da acao cambial, Maria<br />

Tatiana da Gama Barandier requereu<br />

a fal#ncia da Sociedade Agro-<br />

Avicola Pinheiro S/A em 24-5-77.<br />

Fe-lo com dois fundamentos: 1?,<br />

falta de pagamento da obrigacao<br />

liquida (art. 1? da Lel de Faléncias);<br />

2?, a empresa estava fechada, abandonada<br />

e acefala (art. 2?, VII, da<br />

mesma Lei).<br />

Defendeu-se a requerlda e ao mesmo<br />

tempo requereu, para elidir a f a-<br />

1#ncia, depOsito da quantia reclamada,<br />

que foi efetuado. (Fls. 65 fine e<br />

fls. 80).<br />

A sentenca de primeiro grau afirmou<br />

que o pedido da falencia estava<br />

elidido pelo depositor mas, considerando<br />

prescrita a acao cambial, deu<br />

pela carëncia do pedido e autorizou o<br />

levantamento do dep6sito em favor<br />

da requerida. (F. 153 fine).<br />

Apelando a requerente, foi atenclida<br />

em acOrdao da Sexta Camara do<br />

Tribunal de Justica do Estado do Rio<br />

de Janeiro, a consideracao de que,<br />

elidido pelo depOsito o pedido de falencia<br />

com fundamento no art. 1?,<br />

remanescia o baseado no art. 2?, inciso<br />

VII, o qual demandava a realizacao<br />

de provas, que ficavam deferidas.<br />

NA° houve alusao ao problema<br />

da prescricao. (F. 185).<br />

Recorre extraordinariamente a<br />

empresa sustentando que, ante o dep6sito<br />

efetuado, nao poderia ter sido<br />

decretada a faiëncia; o que, feito,<br />

constitul violacao dos arts. 4?, IV e<br />

VI, da Let de Falencias; 265, IV, e<br />

420, I e II, do Cod. Proc. Civil.<br />

Efetuado o dep6sito elidente da fa-<br />

!theta, torna-se infitil, diz a recorrente,<br />

verificar a existencia dos<br />

pressupostos do art. 2?, VII, da lel de<br />

quebras.<br />

Demais, o acOrdilo recorrido diverge<br />

de outro, proferido pela 2? Camara<br />

Civel do Tribunal de Justica do<br />

Estado do Rio de Janeiro, em 18-12-<br />

73, a Wier que, «quando a let estipu-<br />

R.T.J. — 94<br />

363<br />

la determinada forma de prova para<br />

certo ato, a incabivel, fazer-se qualquer<br />

outra, em substituicao». (F. 198<br />

fine).<br />

Fat o recurso admitido pela letra<br />

a, corn apoio na consideracao da<br />

Procuradoria-Geral da Justica,<br />

verb's:<br />

«Como se v#, o aresto recorrido<br />

deu provimento ao apelo da<br />

Rda. no sentido de «de que seja<br />

admitida a prova destinada a demonstrar<br />

os pressupostos do art.<br />

2?, VII, da lei mencionada,, com<br />

vistas ao acolhimento, ou nao, do<br />

pedido de fal#ncia.<br />

Mas isso nao 6 possivel no presente<br />

feito, ante o dep6sito elisivo<br />

de fls. 80-81. A falencia da Rte.<br />

nao mats pode ser decretada neste<br />

processo. Resta apenas apurar<br />

quem levanta o depOsito: se a<br />

Rte, ou a Rda.n (F. 214).<br />

A Procuradoria-Geral da<br />

em parecer do Subprocurador-<br />

Geral Joäo Boabald de Oliveira Itapary,<br />

oficia pelo conhecimento e provimento<br />

do recurso. (Fls. 236-8).<br />

Acrescento que pela recorrente foi<br />

argilida a relevancia da questao <strong>federal</strong><br />

(ARv 3.641 em apenso), que fol<br />

rejeltada.<br />

E o relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Declo Miranda,<br />

(Relator) — Preliminarmente, considero<br />

desinfluente, na espécie, a rejeicao<br />

da argflicao de relevancia,<br />

visto que nenhum dos Obices do art.<br />

308 do Regimento Intern tolhia o recurso.<br />

No merito, # de salientar que o requerimento<br />

de falëncia corn base<br />

num dos fatos do art. 2? da Lel de<br />

Fal#ncias (Decreto-lei n? 7.661, de<br />

21-6-45), se 6 feito por um erector<br />

(an. 9?), compete necessariamente<br />

ao que o seja por Undo ainda nao<br />

vencido.


364<br />

R.T.J. — 94<br />

Se o requerente e credor por divida<br />

ja vencida, obviamente o fundamento<br />

de seu pedido estara no art.<br />

1?, e, depositada a importancia nos<br />

termos do art. 11, § 2?, segunda parte,<br />

o interesse do credor se restringe<br />

a discussão sobre o direito ao levantamento<br />

do depOsito.<br />

Nao the compete, send() por mero<br />

capricho, qualquer das alegacOes do<br />

art. 2? da lei falimentar.<br />

Seu interesse, derivado exclusivamente<br />

do titulo vencido e potenctalmente<br />

satisfeito pelo depOsito, nao<br />

mais alcanca ingerencia nas condiclies<br />

de solvOncia do comerciante.<br />

Assim, esta-se a ver que, atendida<br />

a recorrida no seu finico interesse<br />

legitimo, que era o da satisfacdo de<br />

seu crédito, nao havia como prosseguir<br />

em providencias somente<br />

exigivels, se, alêm do crédito apresentado,<br />

tivesse ela outros cr6ditos,<br />

nao vencidos, a depender da regularidade<br />

futura dos neg6cios da empresa<br />

devedora.<br />

Eis por que acolho, para conhecer<br />

e prover o recurso, a invocacao do<br />

art. 4?, VI, da Lei de FalOncias, concernente<br />

ao «depOsito judicial oportunamente<br />

feito», conquanto mats<br />

adequadamente a recorrente devesse<br />

ter invocado o art. 11, § 2?, da<br />

mesma Lei, especificame nte alusivo<br />

ao depOsito para elidir a falOncia.<br />

Adoto, para essa solucao, as consideracOes<br />

que se seguem, do douto<br />

parecer do Subprocurador-Geral<br />

Joao Boabaid de Oliveira Itapary.<br />

«4. Admitido o apelo extremo<br />

pela tetra a do permissive constitucional,<br />

resume-se o deslinde da<br />

questão em saber se o depOsito<br />

previsto no art. 11, § 2?, da Lei<br />

Falimentar elide a quebra, inobstante<br />

a invocacão de outro fundamento,<br />

alEm da impontualidade<br />

do pagamento.<br />

Inquestionavelmente, sim.<br />

Dots dep6sitos permite a Lei. 0<br />

art. 4?, inc. VI — «depOsito judicial<br />

oportunamente feito,» provado<br />

o qual «a falOncia lido sera declarada,<br />

» nos termos imperativos<br />

do artigo. Entendem os doutos<br />

que se trata de depOsito feito antes<br />

de pedida a declaracáo de falencia.<br />

Pelo Feboutro depOsito, o do<br />

art. 11, § 2? — «citado, podera o<br />

devedor, dentro do prazo para<br />

defesa, depositar a quantia correspondente<br />

ao crOdito reclamado,<br />

para discussAo da sua legitimidade<br />

ou importAncia, lltdindo<br />

a falëncia.» (Grifamos).<br />

Certo que o art. 11, caput, trata<br />

do caso de requerimento de falencia<br />

corn fundamento no art. 1?<br />

do Decreto-lei 7.661/45 — impontualidade<br />

do pagamento. Nesse<br />

caso deve «instruir o pedido corn<br />

a prova de sua qualidade e corn a<br />

certidäo do protesto que caracteriza<br />

a impontualidade do devedor.<br />

«A prova de impontualidade<br />

e feita mediante a certicläo do<br />

protesto. Dal, a imprescindibilidade<br />

de sua juntada a inicial. Tal<br />

depOsito elide a falOncia, peremptoriamente,<br />

conforme a<br />

alinea segunda do art. 11: «Feito<br />

o depOsito, a falencia nao pode<br />

ser declarada, » pots, «se for verificada<br />

a improcedëncia das alegacOes<br />

do devedor, o juiz ordenara,<br />

em favor do requerente da falencia,<br />

o levantamento da quantia<br />

depositada, ou da que tiver<br />

reconheci . lo como legitimamente<br />

devida».<br />

4.1. Medida drastica, e, por isso<br />

mesmo, chocante a falOncia, o<br />

dep6sito e um meio de defesa do<br />

comerciante, que, ao mesmo<br />

tempo, satisfaz o credor, cujo interesse<br />

nao deve it alem de receber<br />

o que the e devido. 0 depOsito<br />

ilide a falëncia, mesmo que verificada<br />

a improcedencia das alegacOes<br />

do devedor.


5. 0 processo do pedido de fa-<br />

!theta, por qualquer dos fatos<br />

enumerados no art. 2?, 6 regulado<br />

pelos arts. 12 a 14. Em nenhum<br />

desses artigos, Pala-se em<br />

depasito. Ante o silenclo de dispositivos<br />

que apenas regulam o<br />

processo, naqueles casos, pode<br />

dizer-se que nao a permitido o<br />

depOsito ilidente da falencia? Entendemos<br />

que seta. Por que permitir<br />

o depOsito no caso de impontualidade<br />

do pagamento (art.<br />

1?) e nao permiti-lo em qualquer<br />

das hipeteses discriminadas no<br />

art. 2?? Parece-nos muito mats<br />

grave a falta de pagamento, fato<br />

comprovado pelo protesto, do que<br />

muitas das hipOteses (meras suspeitas)<br />

especificadas no art. 2?.<br />

5.1. Outrossim, a nao ser o proprio<br />

falido, podem requerer a Palencia<br />

do devedor comerciante o<br />

cOnJuge sobrevivente, qualquer<br />

dos herdeiros do devedor; o inventariante,<br />

o sack) ou o erector,<br />

devendo este exibir o titulo de<br />

seu credit°, ainda que nao vencido<br />

(art. 9?). Dos estranhos, s6 o<br />

credor tem interesse e legitimidade<br />

para requerer a falencia do<br />

seu devedor Ora, se, em caso de<br />

impontualidade de pagamento,<br />

permite-se o depOsito illdente da<br />

falencia (art. 11 e seu f 2?), para<br />

discuss/to da legitimidade do cr6dtto<br />

ou da sua importAncia, por<br />

que razao Juridica geral ou pessoal,<br />

nao se ha de permiti-lo nas<br />

hipoteses do art. 2?? Por acaso<br />

nao cabe ao devedor discutir, nos<br />

fatos articulados no art. 2?, a legitimidade<br />

ou nao de sua divida?<br />

Claro que sim. Antes de o credor<br />

tentar provar a hipOtese do abandon<br />

de estabelecimento cornercial,<br />

pode o devedor provar que o<br />

debit° nao 6 legIttmo ou nao representa<br />

a ImportAncla constgnada.<br />

Dtretto impostergAvei do devector,<br />

em prtinetro Lugar, 6 Wscuttr<br />

a legittmidade ou nao de<br />

R.T.J. — 94<br />

365<br />

seu debit° ou a sua ezaticläo, em<br />

qualquer dos casos que autorizam<br />

o pedido de deeretacao da<br />

falencia, seja pela impontualidade,<br />

seta por qualquer das demais<br />

especies mencionadas no art. 2?.<br />

5.2. Com relacao ao depOsito<br />

«posterior», Sylvio Marcondes leciona:<br />

«Ao devedor que ern razOes<br />

contra a legitimidade t ou importancia<br />

da divida e que nao fol<br />

acionado pelo credor, na acao<br />

nil:1pda do titulo, Ego pode ser<br />

vedado discutir sua defesa, quando<br />

chamado a Juizo num pedido<br />

de falencia. E se nesse momento,<br />

pelo depOsito da quantla re-<br />

ciamada, demonstra que a capaz<br />

de pagar, nao podera ser instaurado<br />

o processo coletivo, mesmo<br />

quando vitorlosa a ac4o individual<br />

do credor.» (Problemas de Direlto<br />

Mercantil, tir., peg. 318).<br />

Ensina o abalizado TraJano de<br />

Miranda Valverde que «a defesa,<br />

baseada em martial relevante de<br />

Wren°, cabe tanto no processo<br />

p rellmtnar da falencia corn fun-<br />

dament° no art.. it, quanto na<br />

que o for corn fundamento no art.<br />

2? ( ComentArios a Lel de<br />

Falencias, 1-54. Grtfamos). E<br />

ninguem dire que a discussao sobre<br />

a «legitimidade do credit() ou<br />

sua importancia» nao constitui<br />

« matéria relevante de direito».<br />

Logo, tambem nos casos do art.<br />

2? cabe ao depOsito ilidente ou<br />

elidente da falencia.<br />

Jost da Silva Pacheco, em sua<br />

conhecida obra Processo de Falêncla<br />

e Concordats, 2? ed., 1-299,<br />

dissertando sobre o depOsito<br />

dente da quebra, afirma, em termos<br />

irrestritos:<br />

«Contudo, aastnale-se, a<br />

orientacao generallzada t a de<br />

que facultado o depOsito em qualquer<br />

caso, e feito este, elidida este<br />

a falencia.» (Grlfamos).


366<br />

De forma ampla, decidiu o Tribunal<br />

de Justica de Sao Paulo,<br />

em acerclao de 1.10.48:<br />

“Todo e qualquer depOsito,<br />

seja ou nao no juizo falimentar.<br />

elide a falencia e desloca a controversia<br />

para a legitimidade do<br />

credit° ajuizado pelo requerente<br />

da quebra. » (Rev. Forense,<br />

126/486).<br />

R.T.J. —94<br />

6. In casu, feito o depOsito, foi<br />

discutida a legitimidade do credito.<br />

Vitorioso ou nao o recorrente,<br />

a falencia esta eliminada nos<br />

precisos termos do art. 11, § 2?,<br />

da Lei Falimentar . Se o interesse<br />

do credor a receber a seu credit°,<br />

a respectiva importancia esta<br />

disposicäo da recorrida. 0 que se<br />

nota, porem, a que a requerente<br />

da falencia, mats que receber o<br />

seu credit°, quer a declaracAo da<br />

falencia do devedor, o que parece<br />

traduzir-se em mero capricho ou<br />

espirito de emulacao. (Fls. 234-<br />

7).<br />

Conheco do recurso e the dou provimento,<br />

para julgar elidida a fathncia<br />

pelo dep6sito efetuado nas condicOes<br />

prevlstas no art. 11, § 2?, da Lei<br />

de Falencias.<br />

Restabeleco a condenaflo, que a<br />

sentenca de primeiro grau impusera<br />

a requerente da falencia, ao pagamento<br />

das custas e honorarios de advogado,<br />

estes arbitrados em 10%<br />

(dez por cento) do valor dado a causa.<br />

E o meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 90.764 — RJ — Rel. Min. Decio<br />

Miranda. Recte.: Sociedade Agro-<br />

Avicola Pinheiro S/A (Adv. Jose<br />

Carlos Lima Silva). Recda • Maria<br />

Tatiana da Gama Barandier (Adv.<br />

em causa prOpria).<br />

DecisAo: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator.<br />

Unanime. Falou pelo Recte. o Dr.<br />

Jose Carlos Lima Silva.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

FalcAo. Presentes a Sessao os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra, Morcira<br />

Alves e Decio Miranda. Licenciado,<br />

o Sr. Ministro Leitão de Abreu.<br />

Subprocurador-Geral da Republica,<br />

o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 18 de abril de 1980 —<br />

Hello Francisco Marques, Secretario.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 90.933 — RJ<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator para o actirclao: 0 Sr. Ministro Rafael Mayer.<br />

Recorrente: Superintendencia das Empresas Incorporad as ao Patrimenio<br />

Nacional — Empresa Brasileira de Radiodifu sao S/A (RADIOBRAS) —<br />

Recorrida: Thereza Ferreira do Nascimento.<br />

Acumulacão de cargos. Proventos de funcionar ia autarquic a. Salario<br />

de radio-atriz da Radio Nacional. Constituicai Federal, art. 99,<br />

§ 4? (exegese) . Nä° estipulado na norma constitucion al, para efelto<br />

de acumulacao , limite de duracAo do contrato permitido ao aposentado,<br />

que tenha por objeto a prestacAo de servicos Mcnicos ou especializados,<br />

nä° resulta violado o preceito se reconbecid a a validade do<br />

exercicio cumulativo de contrato trabalhista cuja duracão seja indeterminada,<br />

na forma da CLT. Recurso extraordinttrio não conhecido.


ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Prinicira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e notas taquigraficas,<br />

por maloria de votos, nä° conhecer<br />

do recurso.<br />

Brasilia, 25 de marco de 1980 —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Rafael Mayer, Relator p/o acOrddo.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

Ao inadmitir o recurso extraordinftrio,<br />

assim resumlu a controvErsia, o<br />

ilustre Presidente Ministro Pecanha<br />

Martins, fls. 216/217:<br />

«A Superintendéncia das Empresas<br />

Incorporadas ao PatrimOnlo<br />

Nacional propee recurso extraordinärio<br />

corn apolo nas letras a e d,<br />

do permIssivo constitutional, contra<br />

decisAo de Turma Julgadora<br />

deste Tribunal, que restou assim<br />

ementada:<br />

«Reclamacdo trabalhista.<br />

Reintegracão. Aposentadoria<br />

noutro emprego. Procedência do<br />

pedido.<br />

A aposentadoria pelo INPS ndo<br />

impede o trabalho de radio-atrlz.<br />

Em determinadas condiebes, o<br />

inativo pode trabalhar. 0 lugar<br />

de radio-ator acha-se dentro dessa<br />

possibilidade, por se tratar de<br />

cargo tiecnico ou servico especlalizado».<br />

Inicialmente 6 de registrar-se<br />

que a hipOtese versa sobre a relacdo<br />

de trabalho de que trata o art.<br />

R.T.J. — 94<br />

367<br />

110 da Constituicâo<br />

sim, Federal. r As-<br />

essalvada a argdida ofensa<br />

ao art. 99, § 4?, da Constituted°,<br />

cluldos estAo da<br />

ex-<br />

apreciacão,<br />

via do recurso<br />

pela<br />

extraordindrio os<br />

demais fundamentos suscitados<br />

(art. 308, inciso IV, letra<br />

g b,<br />

iment° Interno do Supremo Tribu-<br />

do Renal<br />

Federal).<br />

DispOe o art. 99, § 4?, da Constituted°<br />

Federal:<br />

"Art. 99 — E vedada a acumulack,<br />

re munerada de cargos e<br />

tunes:3es pfiblicas, exceto:<br />

§ 4? — A proibiedo de acumular<br />

pr oventos nAo se apnea aos aposentados,<br />

quanto ao exercicio de<br />

mandato eletivo, quanto ao de<br />

urn cargo em comissao ou quanto<br />

a contrato para prestaedo de servicos<br />

tdcnicos ou especializados».<br />

A sua vez, conceituando cargo<br />

p<br />

tdcnico para efeito da acumulacdo,<br />

receitua o artigo 3?, do Decreto n?<br />

35.956/54:<br />

"Art. 3? — Cargo tdcnico ou<br />

cientifico 6 aquele para cujo<br />

exercicio seta indispensävel predominante<br />

e<br />

a aplicaedo de conhecimentos<br />

_cientificos a ou<br />

rtisticos, do nivel superior de<br />

ensino».<br />

Considerou o acOrclgo que a tuned° de<br />

recorrido<br />

radio-atriz<br />

terlza sere so<br />

carac-<br />

especializado, estando,<br />

dessarte, amparado «pela permissdo<br />

constitutional<br />

a<br />

o<br />

req status que<br />

uerente vinha desfrutando».<br />

Fe-lo, inclusive, embasado em parecer<br />

do DASp, que adman' ser tal<br />

cargo, pan efeito de acumulaedo,<br />

de natureza tdcnica (DAS}, — Pro-


368<br />

cesso 30.191/72, in DOU, Seca') I,<br />

Parte I, de 25-4-72):<br />

R.T.J. — 94<br />

«Cargo de Radio-atriz e de natureza<br />

tecnica para efeito de<br />

aplicaeao das regras de acumulack)<br />

k) de cargos pnblicos, nos termos<br />

do art. 3? do Decreto n?<br />

35.956, de 2 de agosto de 1954,<br />

acumulavel assim corn o cargo<br />

de professora de arte dramat ica».<br />

Isto ponto, entendo que a decisao<br />

impugnada , a evidencia, ofereceu<br />

as normas que disciplina m a materia<br />

inteligencia que guarda conotacao<br />

de razoabilidade e em nada<br />

contrariou disposigao constitucio nal (Snmula 400).<br />

Nego seguimento ao recurso.”<br />

0 exceptional, todavia,<br />

processou-se corn o provimento do<br />

Ag n? 73.912, pelo eminente Ministro<br />

Antonio Neder, como tudo consta dos<br />

autos em apenso.<br />

Com razOes das partes, fls.<br />

221/31 e 234, subiram os autos a esta<br />

Corte, recebendo parecer favoravel<br />

da douta Procuradoria-Geral da Repnblica,<br />

nestes termos, fls. 240/2:<br />

«1. Trata-se de recurso extraordinario<br />

arrimado nas letras a e d<br />

do permissive constitutional, atrayes<br />

do qual sustenta a recorrente<br />

haver sido contrariado o disposto<br />

no art. 99, § 4?, da Constituicao, negada<br />

vigencia aos arts. 188, 189 e<br />

192 da Lei nnmero 1.711, de 28-10-<br />

52, e aos arts. 1?, 2?, 3?, 5?, 13 e 14<br />

do Decreto n? 35.956, de 2-8-54, argiiindo,<br />

ademais, a existenc ia de<br />

dissidio pretoriano, consoante consigna<br />

a petieão de interPosicao, as<br />

fls. 154/157.<br />

2. Sobe o apelo extremo a essa<br />

Suprema Corte, para melhor exame,<br />

merce do r. despacho exarado<br />

pelo Exmo. Sr. Ministro Antonio<br />

Neder, fl. 71 dos autos do agravo<br />

em apenso.<br />

3. Cinge-se o deslinde da controversia<br />

a definieao da legitimidade<br />

ou nao da acumulacao de proventos<br />

percebidos por funcionaria autarquica<br />

<strong>federal</strong> aposentada corn<br />

salario de radio-atr iz da Radio Nacional,<br />

tendo o r. aresto recorrido<br />

havido por bem considera r francamente<br />

licita referida acumulacao,<br />

ao entendimento de constituir o<br />

emprego de radio-atriz servico especializado<br />

ou cargo tecnico,<br />

abrangido pela excecao estatuida<br />

na parte final do paragra fo 4? do<br />

art. 99 da Constituicao.<br />

4. Todavia, descurou o r. julgado<br />

recorrido de atentar para elemento<br />

essential a incidencia da predita<br />

norma constitucional, qual seja, o<br />

carater transithrio ou temporario<br />

que necessariamente reveste as<br />

tres hipoteses englobad as no para.grafo<br />

4? do arti go 99 da Lei Magna,<br />

pots exercicio de mandado elettvo,<br />

de cargo em comissa o e contrato<br />

para prestaeao de servicos tecnicos<br />

ou especializados exibem como<br />

ponto comum inarredavel sua transitoriedade,<br />

incomPativel e inconfundivel<br />

corn a condieão de empregada<br />

permanente da Radio Nacional,<br />

ostentada pela recorrida, de<br />

1944 ate 19 de outubro de 1971, data<br />

de sua questionada dispensa.<br />

5. 0 tema mac, espelha nada de<br />

novo para esse Pret6rio Excelso,<br />

visto ja ter sido alvo de minudente<br />

exame e exata solueao quando do<br />

julgamento do RE n? 79.188, cujo<br />

DD. Relator foi o Exmo. Sr. Ministro<br />

Thompson Flores, como se<br />

constata da leitura do v. actordao


estampado na RTJ n? 74, As pAginas<br />

808/812, ora mencionado em face<br />

da marcada similitude corn o<br />

caso presente.<br />

As razoes aduzidas pela recorrente,<br />

As fls. 222/231, bem demonstram<br />

a nitida contrarledade existente<br />

entre o r. aresto recorrido e a<br />

Lei Maior, a demandar emenda,<br />

impetrada via do apelo constitucional<br />

manifestado.<br />

Isto posto, o parecer a pelo conhecimento<br />

e provimento do recurso.<br />

Brasilia, 8 de fevereiro de 1980.<br />

— Jost Antonio Leal Chaves, Procurador<br />

da Republica.<br />

APROVO:<br />

Firmino Ferreira Paz, Procurador-Geral<br />

da RepUblicaN.<br />

E o relatario.<br />

VOTO<br />

O Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

(Relator) — Conheco do recurso e<br />

the dou provimento para julgar improcedente<br />

a reclamataria, pagas as<br />

custas na forma da lei.<br />

2. Para reieitar os embargos de divergencia,<br />

opostos pelo ora recorrente,<br />

houve por bem o PlenArlo do<br />

Egrêgio Tribunal Federal de Recursos,<br />

por maioria de votos, vencedores<br />

os eminentes Ministros Neri da<br />

Silveira, Jorge Lafayette, Paulo TAvora<br />

e AMU- Passarinho, manter o<br />

aresto embargado que reformara,<br />

em parte, a sentenca de fls. 117/13,<br />

apenas, para admitir fosse indenizada<br />

a reciamante, ora recorrida, em<br />

lugar de reintegrA-la, caso se verificasse<br />

a incompatibilidade.<br />

R.T.J. — 94<br />

369<br />

Fë -lo,<br />

rtidlo-atriz,<br />

ao reconhecer que a<br />

posto que aposentada pelo<br />

I.N.P.S., nat.) estA impedida de<br />

exercer sua atividade perante a recorrente.<br />

E isto porque desempenha<br />

cargo técnico ou servico especializado.<br />

E o que se extrai do voto do eminente<br />

Relator, invocando os arts. 99,<br />

§ 4?, da Constituicão e 3? do Decreto<br />

n? 35.956/54.<br />

3. Penso que, em assim decidindo,<br />

antes de aplicar o art. 99, § 4?, da<br />

Constituicão, e de modo razoAvel, como<br />

considerou o despacho presiden-<br />

tial, invocando, data Yenta, impro-<br />

priamente, a Stuntila 400, ao inadmitir<br />

o recurso, contrariou dito preceito<br />

da Lei Maior, dissentindo, outrossim,<br />

de julgados desta Corte e do<br />

prOprio Tribunal a quo.<br />

Justifica-se, dessarte, o conhecimento<br />

do recta-so.<br />

4. E impende provë-lo.<br />

Com efeito.<br />

A regra impeditiva da acumulaflo<br />

de cargos e func6es pablicas estA no<br />

caput do art. 99, da Constituicao.<br />

As excecoes constam de seus incisos<br />

e paragrafos. E, no pertinente<br />

acumulacAo quanto a proventos, cuida<br />

o Ultimo dos parAgrafos, ao dispor<br />

verbis:<br />

6Art. 99 — E vedada a acumulacAo<br />

remunerada de cargos e funcOes<br />

pablicas, exceto:<br />

§ 4? — A proibicAo de acumular<br />

proventos nAo se aplica aos aposentados,<br />

quanto ao exercicio de<br />

mandato eletivo, quanto ao de urn<br />

cargo em comissáo ou quanto a<br />

contrato para prestacäo de servicos<br />

técnicos ou especializados».<br />

Aposentada que era a recorrida no<br />

cargo de Oficial Administrativo do<br />

extinto I.A.P.F.E.S.P., recebendo os<br />

respectivos proventos, obstada estava<br />

de ser contratada pela recorrente


370<br />

R.T.J. — 94<br />

— Radio Nacional do Rio de Janeiro<br />

— Empresa. Brasileira de Radio-<br />

Difusao S.A. — Incorporada ao Patrimenio<br />

Nacional (Decreto n?<br />

60.700, de 26-7-67), Empresa pUblica<br />

que e, nos termos do art. 5?, do<br />

Decreto-lei 200/67.<br />

A tanto se opunha o citado § 4? do<br />

art. 99.<br />

Certo, admitiram as instancias ordinaries<br />

encontrar-se a recorrida,<br />

sob o patio da exceed° que ai se contern.<br />

E para tanto operou corn o Deereto<br />

n? 35.956/54, art 3?, verbis:<br />

«Art. 3? — Cargo tecnico ou<br />

cientifico é aquele para cujo<br />

exercicio seja indispensevel e predominante<br />

a aplicacao de conhecimentos<br />

cientificos ou artisticos, do<br />

nivel superior de ensino».<br />

Nao tern razao. Examinando caso<br />

identico de empregado, tambem da<br />

Radio Nacional, afirmei em meu veto<br />

proferido no RE 79.188, em 9.12.74,<br />

perante a Egregia 2? Turma, (RTJ<br />

84/808/812), dando exegese a Ultima<br />

parte do texto constitucional transcrito:<br />

«contrato para a prestacao de<br />

servicos tecnicos ou especializados».<br />

As excecties a proibicao de<br />

acumular proventos estao coerentemente<br />

englobados num mesmo<br />

dispositivo, pots se relacionam por<br />

aspecto comum: a natureza temporaria<br />

da prestacao de servico.<br />

Corn efeito, o exercicio de<br />

cargo em comissao, de livre nomeacao<br />

e demissao, e nitidamente<br />

temporärio. 0 mesmo ocorre corn<br />

o exercicio de mandato eletivo e<br />

tambern corn «a prestacao de services<br />

tecnicos ou especializados».<br />

11. Assim a que a Lei 3.780, em<br />

seu artigo 26, dispee:<br />

«Art. 26 — Para o desempenho<br />

de atividade tecnico-especia-<br />

lizada, para cuja execucao<br />

nao disponha o servico de<br />

funcionario habilitado, podere<br />

ser admitido especialista temporedo,<br />

por prazo nao excedente ao<br />

de urn exercicio financeiro mediante<br />

Portaria do Ministro de<br />

Estado ou de dirigente de Orgao<br />

subordinado ao Presidente da<br />

Republica .»<br />

Portanto, a «prestacao de<br />

servicos», referida na Constituicao,<br />

e a que se reveste do carater de<br />

excepcionalidade e que visa a atender<br />

necessidade temporeria, embora<br />

urgente, da administracao.<br />

Alias, a propria expressao<br />

utilizada — contrato para prestacao<br />

de servicos — bem indica a<br />

transitoriedade desses servicos.<br />

Ora, flat( 0 esse o caso da impetrante,<br />

que de ha muito vem trabalhando<br />

na Radio Nacional, onde<br />

possui urn emprego de carater permanente.<br />

Assim, tern razao a Superintenclancia<br />

das Empresas Incorporadas<br />

ao Patrimenio Nacional<br />

quando, em seu agravo de fl. 80,<br />

assinala:<br />

«a Carta Magna (art. 99, § 4?),<br />

bem evidencia a interinidade e a<br />

excepcionalidade de tais services,<br />

que sera° sempre em careter<br />

transiterio, como ja tern diddido<br />

a Consultoria-Geral da RepUblica<br />

(vide DO da Uniao, Seca()<br />

I, Parte I, de 6-12-71, p.<br />

9.959). E feta o prOprio texto<br />

constitucional em prestacao de<br />

servicos, que mais vem demonstrar<br />

a interinidade que exige para<br />

a excepcionalidade feita ao<br />

aposentado, o que mais vem demonstrar<br />

o desacerto de decisao<br />

do Dr. Juiz a quo. E prestacao de<br />

servicos a que sempre se refere<br />

a Lei e contrato ern carater exceptional<br />

como, simplesmente,<br />

para dar como exemplo temos<br />

ern caso idantice o prescrito no


R.T.J. — 94<br />

371<br />

art. 111 do Dec.-lei 200, de 25-2-6<br />

(Reforma Administrativa) qu 7 Mayer, apOs o voto do Ministro Rela-<br />

igualmente fala em «PrestacAoe<br />

tor, que conhecia e provia o recurso.<br />

de Servicos», a que nada atendeu Falou pela Recte.: 0 Dr. Elpidio<br />

a dectsào agravada.»<br />

Araftjo Neris.<br />

16. A Constituted° de modo geral,<br />

Presidëncia<br />

Thompson<br />

do Sr. Ministro<br />

veda a acumulacdo. A regra e a<br />

Flores. Presentes a Ses-<br />

na') acumulacAo. As excecOes espebuqsäo os Senhores Mins. Xavier de Aldais<br />

para os aposentados sat) corn- uerque, Soares Mutioz e Rafael<br />

preensiveis exatamente porque di- Mayer. Ausente, justificadamente, Sr. Min. Cunha Peixoto.<br />

o<br />

zem respetto A prestacAo de serviSubprocuracos<br />

temporados e que visam, sodor-Geral da RepUblica o Dr. Franbretudo,<br />

a atender aos superiores cisco de Assis Toledo.<br />

interesses da nacao (no caso do Brasilia, 11 de marco de 1980. —<br />

mandato eletivo) ou da pr6pria ad- Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

ministrano (nas hi pOteses de Secretário.<br />

exercicio de cargo em comissão e<br />

contrato para prestacão de servi-<br />

VOTO (VISTA)<br />

cos tecnicos ou especializados).<br />

Mas 6 claro que a Constituicdo não 0 Sr. Ministro Rafael Mayer: Tive<br />

iria se colocar contra os principios a ocasido de tratar essas materias,<br />

bAsicos que regem o instituto para sob o Angulo juridic°, quando do<br />

autorizar acumulaeAo de proventos exercicio de cargo na Administra-<br />

corn vencimentos ou salArtos de cdo, e sinto-me jungido, por<br />

cargo ou emprego publico permatente conviccAo, As<br />

persis-<br />

posicOes que ennentes.))<br />

Mr) adotei.<br />

Acrescento que, em caso idêntico, Mao tenho chlvida de que os empre-<br />

em que figurava como reclamante gados das Empresas IncorpOradaS<br />

Diamantina Augusta Duval Bandeira ao PatrimOnto Nacional, — como era<br />

e Reclamada, tambem, a Radio Na- então o caso da Radio Nacional, hoje<br />

cional, contrariamente julgou o incorporada a empresa pUblica Ra-<br />

T.F.R., e interposto recurso extraordiobrAs, — estavam e estAo sujeitas<br />

dinArto, inadmitido, originou o Ag As regras de acumulaeão de cargos.<br />

68.739, ao qual the negou seguimento Entendi e entendo que tais empresas<br />

o eminente Ministro Antonio Neder sào unidades autenomas, desempe-<br />

(DJ de 30-5-1975, pg. 3.675/6). nhando servicos industrials, em regi-<br />

E como voto.<br />

privada,<br />

me semelhante ao de uma empresa<br />

sob gestAo<br />

Nem sAo<br />

estatal direta.<br />

autarquias EXTRATO DA ATA<br />

pablicas,<br />

nem empresas<br />

carecendo de<br />

RE 90.933 — RJ — Rel.: Min. de juriclica<br />

personalida-<br />

e de patrimOnto<br />

Thompson Flores. Recte.: Su<br />

pr6prio,<br />

perin- pois os respectivos acervos integram<br />

tendencia das Empresas Incorpora- o patrimOnio da Uniao e se inserem<br />

das ao Patrimenio Nacional — Em- no seu corpo, de modo que automatipresa<br />

Brasileira de Radiofusäo S/A camente se aplicam aos seus servi-<br />

(RadiobrAs) (Advs.: Eugenio Affondores as normas constitucionais de<br />

so da Silva, Elpidio Arafrjo Neris e aeumulaeAo dos servidores da<br />

outros). Recda.: Thereza Ferreira do LIMA°, pots também o sao, embora<br />

Nascimento (Advs.: Eduardo Ante,- em regime especial, enquanto se tranto<br />

Kalache e outros).<br />

ta de empresas Assim, a Recorrida<br />

DecisAo: Adiado o j uigamento por<br />

esta sujeita em principlo a observAn-<br />

haver pedido vista o Ministro Rafael cia das normas constitucionais a sobre<br />

cumulacão por ser servidora desse


372<br />

R.T.J. — 94<br />

tipo de empresa, tanto quanto o<br />

por ser funcionaria aposentad a de<br />

autarquia.<br />

A questa() posta pelo recurso e de<br />

saber se, funcionaria autarquica<br />

aposentada, pode acumular es seus<br />

proventos corn o contrato, sob a forma<br />

trabalhista, para a prestacao de<br />

servicos tecnicos ou especializados,<br />

a teor da faculdade contida no art.<br />

99, § 4?, da Constituica o. E o respeitavel<br />

voto recusa a acumulaca o sob<br />

o argumento de que o contrato trabalhista<br />

da Recorrida nao se coadunaria<br />

corn o carater de temporari e<br />

-dade que esta implicit° no sentido da<br />

norma constitutional.<br />

Data yenta, quero crer nao esteja<br />

autorizada pela norma uma interpretacao<br />

restritiva que nao resulte de<br />

sua letra e de sua intencao . Tive a<br />

oportunidade de examinar o alcance<br />

do preceito, em parecer que proferi<br />

na Consultoria-Geral da Republica,<br />

reconhecendo a validade do que se<br />

vem praticando amplamen te na administracao<br />

direta e indireta . Disse<br />

entao:<br />

«A inspiracao constitution al, no<br />

tocante a materia enfocada, ha de<br />

ser entendida de acordo corn o propOsito<br />

e o alcance do preceito, sendo<br />

certo que o seu objetivo primordial<br />

e o de permitir o recrutamento<br />

de inativos qualificados para, em<br />

casos especiais, colaborar com a<br />

Administracao sem o Onus da perda<br />

dos respectivos vencimentos.<br />

Vistos em conjunto, o § 9? do art.<br />

93 e o § 4? do art. 99 excluem militares<br />

da reserva e reformados, e<br />

aposentados civis, da proibicao genérica<br />

da acumulac ao dos proventos<br />

da inatividade, facultando, portanto,<br />

a continuidade de sua percepcao<br />

e da situacao, defies, originante,<br />

nos casos especificado s; a)<br />

quanto ao exercicio de mandato<br />

eletivo; b) quanto ao exerciclo da<br />

funcao de magisterio, com relacao<br />

aos militares, sem qualquer limitacat)<br />

no tocante a duracao desse<br />

exercicio; c) quanto ao exercicio<br />

de cargo em comissao, atendida<br />

obviamente a natureza da investidura<br />

em oficios que, no entanto, integram<br />

os quadros permanentes,<br />

de carater estatutario, da Administracao,<br />

nao ocorrendo, ex lege, restricao<br />

quanto ao prazo de investidura,<br />

senao a caracteristic a demissibilidade<br />

ad nutum; d) quanto ao<br />

contrato para prestaflo de servicos<br />

tecnicos ou especializados.<br />

E de ver que a faculdade relacionada<br />

no ultimo item, objeto de exame,<br />

como excecao aberta, no interesse<br />

da Administracao, a proibicao<br />

de acumular, se apresenta de<br />

modo amplo, como bem acentuado<br />

no douto parecer da Consultoria<br />

Juridica do DASP, nao cabendo ao<br />

interprete opor-the restricaes arbitrarias,<br />

mas revelar todo o contelldo<br />

legico que decorre de sua letra<br />

e do seu espirito, buscando definir<br />

o seu ambito e alcance, ao lado das<br />

outras hipOteses p<strong>revista</strong>s no dispositivo,<br />

todas distintas, autOnomas<br />

e definidas.<br />

Com efeito, nele se fala em contrato<br />

que tem por objeto a prestacao<br />

de servicos, nao se especificand o a<br />

natureza desse contrato, o que vale<br />

dizer que ele ai se inscreve como<br />

urn conceito generic°, que tanto<br />

pode compreender a prestacao<br />

eventual de servicos, ou o contrato<br />

de locacao de servicos regido pelo<br />

direito comum, como o contrato de<br />

trabalho ou contrato de emprego,<br />

que tem especificam ente por objeto<br />

a prestacao de servicos de natureza<br />

nao eventual, sob a dependencia<br />

do empregado r (art. 3? da<br />

CLT).<br />

Na verdade, a forma habitual da<br />

prestacao de servicos tecnicos ou<br />

especializados a Administracao,<br />

ainda que por aposentado s, tern seguido<br />

o regime juridico-


trabalhista, pots a mesma ConstituicAo<br />

de 1967 que adotou, por primeiro,<br />

a hipetese (art. 97, § 3?),<br />

tambem estabeleceu que aos contratados<br />

para funcOes de natureza<br />

tecnica ou especializada se aplicaria<br />

a legislacAo trabalhista (art.<br />

104), diretriz que abide prevalece,<br />

tendo em vista o princlpio da tontinuidade<br />

das leis, nao sendo contraditada<br />

pela norma programAtica<br />

do art. 106 da Emenda n?1, nao regulamentada.<br />

Por outro lado, se a norma excepclonal<br />

em foco, nao contem, a evidencia,<br />

limitacOes a duracAo do<br />

contrato nela previsto, dai IAA) se<br />

he de inferir urn prazo-limite cogente,<br />

pelo simples fato de [raterse<br />

de norma excepcional. E se o<br />

contrato pode revestir, como tem<br />

revestido, na pretica, por ponder:Aveis<br />

razOes juridicas, o carater<br />

juridic° trabalhista, a presuncao<br />

juris tantum, valida nesse ramo do<br />

direito, é que ele vige por tempo<br />

indeterminado, salvo a prove de<br />

que tenha sido estipulado por prazo<br />

determinado.»<br />

Assim, nAo estipulado na norma<br />

constitucional urn limite de duracdo<br />

de contrato de trabalho do a posentado,<br />

que tenha por objeto a prestacAo<br />

de servlcos tecnicos ou especlalizados,<br />

nao resulta violado o preceito se<br />

reconhecida a validade de contrato<br />

em que a duracdo é indeterminada.<br />

Entendo, data venia, que nao houve<br />

ofensa ao texto constitucional em admitir<br />

o acerdAo recorrido que o cargo<br />

de rAdio-atriz e de natureza tecnica<br />

para efeito de acumulacAo, react<br />

por que nao conheco do recurso.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 90.933 — RJ — Rel.: Min.<br />

Thompson Flores. Recte.: Superintendencia<br />

das Empresas Incorporadas<br />

ao PatrimOnio Nacional — Em-<br />

R.T.J. — 94<br />

eminente Ministro Rafael Mayer<br />

ponderando que «se a norma excepcional<br />

em foco, nao contem, A evidencia,<br />

limited:3es<br />

trato nela<br />

A duractio do con-<br />

previsto, dal nAo se hit de<br />

inferir urn prazo-limite cogente, pelo<br />

simples fato de tratar-se de norma<br />

373<br />

presa Brasileira de Radiofusdo S/A<br />

(R adiobres). (Advs.: Eugenio Affon-<br />

so da Silva, Elpidlo Aranjo Neils e<br />

outros). Recda.: Thereza Ferreira do<br />

N ascimento (Advs.: Eduardo Antonio<br />

Kalache e outros).<br />

Decisdo: Adlado o julgamento por<br />

haver pedido vista o Min. Soares<br />

Munoz, apes os votos dos Ministros<br />

Relator, que conhecia e provia o recurso<br />

e Rafael Mayer que dele nAo<br />

conhecia.<br />

Presidencia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. — Presentes a<br />

SessAo os Senhores Ministros Xavier<br />

de Al buquerque, Cunha Peixoto, Soares<br />

Munoz e Rafael Mayer.<br />

Subproc urador-Geral da RepOblica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 18 de marco de 1980. —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretario.<br />

VOTO (VISTA)<br />

0 Sr. MinIstro Soares Munoz: Sr.<br />

Presidente: A divergencia verificada<br />

entre V. Exa., na qualidade de relator<br />

do presente recurs() extraordinddo,<br />

e o eminente Ministro Rafael<br />

Mayer reside na interpretacão do<br />

art. 99, § 4?, da ConstituicAo da Republica.<br />

Consoante V. Exa. a acumulacão<br />

dos proventos da aposentadoria, permitida<br />

no referido dispositivo, pressupde<br />

a temporariedade do cargo ou<br />

emprego exercido pelo servidor 1)0blico<br />

Wetly°, mesmo porque «a pre-<br />

prla expressão utilizada — contrato<br />

para prestacAo de servicos» — bem<br />

indica a transitoriedade<br />

cart.<br />

da ocupa-<br />

Desse ponto de vista, apartou-se o


374<br />

R.T.J. — 94<br />

exceptional. E, se o contrato pode<br />

revestir, como tem revestido, na<br />

pratica, por ponderavei s razees<br />

juridicas, o carater juridico trabalhista,<br />

a presuncao flirts tantum, valida<br />

nesse ramo do direito, e que vige<br />

por tempo indetermina do, salvo<br />

prova de que tenha sido estipulado<br />

por prazo determinado».<br />

Pedi vista, para melhor refletir a<br />

respeito da questa°, e passo, agora,<br />

a proferir o meu voto.<br />

Ndo se acha explicito, no paragrafo<br />

4? do art. 99 da Constituted° da<br />

Republica, a exigencia de que a acumulaedo<br />

dos proventos de aposentadoria<br />

corn a remuneraca o de cargo<br />

ou emprego, exercido pelo servidor<br />

inativo, pressuPonha que este seja<br />

transitOrio.<br />

0 mandato de deputado, embora<br />

por quatro anos, pode prolongar-se<br />

indefinidamente, atraves de sucessivas<br />

eleieees. 0 de senador nao tern<br />

nada de transitbrio, uma vez que sua<br />

duracdo e de oito anos, facultada,<br />

tambem, a reeleleao por muitas legislaturas<br />

. Os cargos em comissao,<br />

por igual, lido se caracterizam, ne-<br />

no contrato por tempo indetermina RE 90.933 — RJ — Rel.: Min.<br />

Thompson Flores. Recte.: Superintendencia<br />

das Empresas Incorporadas<br />

ao Patrimenio Nacional — Empresa<br />

Brasileira de Radiofusdo S/A<br />

(Radiobras). (Advs.: Eugenio Affonso<br />

da Silva, Elpidio Aranjo Neris e<br />

outros). Recda.: Thereza Ferreira do<br />

Nascimento (Advs.: Eduardo Antenio<br />

Kalache e outros).<br />

Decisao: Ndo conheceram do recurso,<br />

vencido o Ministro Relator.<br />

Ausente ocasionalmente o Min. Xavier<br />

de Albuquerque.<br />

Presidencia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes A sessdo<br />

os Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto, Soares Munoz<br />

e Rafael Mayer. Subprocuradorgo<br />

desde-do;<br />

ela se achava no empre Geral da Republica, o Dr. Francisco<br />

antiga data.<br />

de Assis Toledo.<br />

Quanto ao requisito concernen te a<br />

«servicos tecnicos especializados”,<br />

Brasilia, 25 de marco de 1980. —<br />

a Constituted° nao conceitua o que<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

sejam eles. Ha parecer do Coordena- Secretario.<br />

cessariamente, pela transitoriedade,<br />

tanto que o funcionario pode permanecer<br />

indefinidamente neles, apesar<br />

de demIssivel ad nutum. 0 contrato<br />

para prestagao de servicos tecnicos<br />

especializados, por igual, nao significa<br />

que deva ser por curta duraedo.<br />

A temporariedade do contrato<br />

vincula-se ao respectivo prazo, se<br />

por tempo determina do, e ao aviso<br />

previo, se por tempo indeterminado.<br />

Este podera estender-se indefinidamente<br />

e aquele ser passive! de renovacees<br />

sucessivas.<br />

0 caso da recorrida enquadra-se<br />

dor da Legislaedo do Pessoal do<br />

DASP admitindo que o lugar de «radio<br />

atriz» pode ser havido como de<br />

natureza tecnica, para o efeito de<br />

acumulacdo (fl. 138). Em verdade, o<br />

art. 3? do Decreto n? 35.956, de 1954,<br />

estabelece que «cargo tecnieo ou<br />

cientifico a aquele para cujo<br />

exercicio seja indispensa vel e predominante<br />

a aplicaedo de conhecimentos<br />

cientificos ou artisticos, do nivel<br />

superior de ensinp». Todavia, esse<br />

dispositivo nao se acha prequestio nado<br />

no apelo excepcional (fls. 154-<br />

157).<br />

Ante o exposto, corn a yenta do<br />

eminente Ministro Thompson Flores,<br />

nao conheco do recurso extraordinario,<br />

acompanhando o eminente Ministro<br />

Rafael Mayer.<br />

EXTRATO DA ATA


R.T.J. — 94<br />

RECURSO EXTRA ORDINARIO N? 90.976 — MA<br />

(segtmda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Decio Miranda.<br />

Recorrentes: Lil Castro Trinta de Carvalho e outros — Recorridos: Joana<br />

Ferreira Lopes Moreno Garbirto e outros.<br />

— Civil. Testamento. Promessa Made dos legados.<br />

de venda que<br />

Alegacao de acarretaria<br />

iznpnestabilidade<br />

a<br />

da<br />

caduvenda,<br />

promessa para esse Oen° e para o de autorizar adjudicacho compuls6de<br />

ria do imCovet, ante a falta de<br />

Wirt° (Sfzmula 413).<br />

requisitos<br />

InocorrOncia<br />

legais para o registro irnobide<br />

cerligo Civil. Divergencia <strong>jurisprudencia</strong>l<br />

violaciio aos arts. 1.094 e 1.126 do<br />

imprepria, ou nflo car documentada<br />

acterizada. Solucho tecnica do recurso<br />

por forma<br />

dinário, pelo nao-conhecimento ante a falta de ataque a extraordamentos<br />

do acerdilo, suficiente para a conclusão a que chegou. tun dos Voto fun-<br />

do relator, afirmativo da c<br />

justa da demanda, deixando ohicidencia dessa conclusho com<br />

prevalecer o<br />

a<br />

testamento,<br />

soluctio<br />

trumento ptiblico, expressivo da vida e dos ideals da<br />

feito por ins-<br />

o inexplicado doctunento particular de<br />

testadora,<br />

compromisso<br />

sobre<br />

nado uma semana antes do falecimento.<br />

de venda, assi-<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Segunda<br />

Turma, na conformidade da ata<br />

de Julgamentos e das notas taquigrAficas,<br />

A unanimidade de votos, nao<br />

conhecer do recurso.<br />

Brasilia, 8 de abril de 1980 — Dint<br />

Presidente — Decio Miranda,<br />

Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda: A<br />

professora Rosa Castro, que construiu,<br />

operou e dirigiu durante melo<br />

seculo o Colegio Rosa Castro em Sao<br />

Luis, veil) a falecer no dia 19 de abrll<br />

de 1976, coin 84 anos de idade, registrando<br />

o atestado de Obito que o desenlace<br />

se dera em virtude de «arritmia<br />

cardiAca, insuficiencia cardiaca,<br />

miocardlo (sic), esclerose, hemorragia<br />

digestive,,. (f. 6).<br />

Antes, no dia 5 de Janeiro, fizera<br />

testamento pfiblico, dizendo dispor<br />

de seus bens da seguinte forma:<br />

«3?) — Disse que sendo solteira,<br />

nao tendo ascendentes hem descendentes,<br />

deseja dispor dos seus bens<br />

da seguinte forma: a) 0 Colegio<br />

Rosa Castro, para que continue na<br />

obra da educacao,<br />

Wreck) e<br />

deverA ter na<br />

administracao em substitulcao<br />

a Testadora, Joana Ferreira<br />

Moreno Garbino e Maria de Jesus<br />

Gomes Padilha, caberao, em partes<br />

'gnats a propriedade,<br />

b posse e<br />

eneficios, bem como, todo o !mevel,<br />

material escolar, todo o equipamento<br />

(Wallet) existente no Colegio,<br />

ainda a manutencao do Colegio<br />

enquanto atender as exigencies<br />

do mesmo; b) Associa-se excl tambem<br />

usivamente como dono do predio<br />

do Colegio Rosa Castro o sobrinho<br />

e afilhado da Testadora Othon<br />

Jose de Castro, brasileiro, casado,<br />

comerciante, residente na<br />

de Niterti, Estado do Rio de Janeiro,<br />

J u<br />

rias Ja<br />

ntamente com as duas legate-<br />

mencionadas Joana Ferreira<br />

Moreno Garbino e Maria de Jesus<br />

Gomes Padllha, todos corn a<br />

clausula de inalienabilidade, quanto s<br />

eng<br />

ubsistir o Colégio; c) as le-<br />

atarias Joana Ferreira Moreno<br />

375


376<br />

R.T.J. — 94<br />

qualificado, sem nenhum pagamento<br />

extra, ficando, entretanto, a<br />

partir desta data, a direcão da firma<br />

mantenedora do Colegio, sob a<br />

responsabilidade dos compradores<br />

do predio.<br />

E por estarem de pleno acordo,<br />

assinam as partes contratantes, na<br />

Disse que desta forma tern feito es- presenca das testemunhas abaixo<br />

to seu testamento, revogat6rio de relacionadas.» U. 55)<br />

qualquer outro anteriormente feito Entre as testemunh as do documene<br />

se este tenha inteira e plena vali- to, figura, corn sua assinatura, o<br />

dade de como manifestac ào de sua Prof. Ary Moreno Garbino, marido<br />

vontade<br />

e ainda nomeia seus testa- de uma das herdeiras instituidas no<br />

menteiros<br />

Ary Moreno Garbino, testamento.<br />

brileiro, as casado, professor, resi- Apresentou-se em Juizo o testadente<br />

nesta cidade e Másio Jucb. de mento e abriu-se o inventhrio, por<br />

Castro, brasileiro, casado, photo peticao datada de 30 de julho de<br />

civil, residente no Rio de Janeiro,<br />

Capital do Estado do Rio de Janet- 1976.<br />

ro, por quanto da por abonados em Decorrido cerca de ano e meio da<br />

Juizo ou fora dele;» (f. 6v.) abertura do inventario, por peticâo<br />

Tres meses apOs esse testament o e de 21.2.78, compareceram aos autos<br />

Lil Castro Trinta de Carvalho e seu<br />

sete dias antes de sua morte, a Professora<br />

Rosa Castro assinou o semarido,<br />

beneficiArios<br />

do ja os transcri toms<br />

de re- -<br />

to «Contrato Arras»,<br />

guinte documento:<br />

clamaram a declarac go de caducida-<br />

«Contrato de Arras de do legado, tendo em vista a alie-<br />

Pelo presente instrumento de nacgo posterior da coisa legada, e a<br />

expedicäo de alvara de autorizacão<br />

contrato, Rosa Castro, brasileira,<br />

solteira, professora, portadora da para lavratura da escritura ptiblica<br />

carteira de identidade n? 39.306- definitiva de compra e Venda, apes o<br />

MA, CPF n? 000572313, residente depOsito ou pagamento da quantia<br />

nesta cidade, soda proprietaria da pactuada. (F s. 47-50).<br />

firma Rosa Castro, mantenedora<br />

do Colegio Rosa Castro, assume o<br />

tenedora do Colegio Rosa Castro<br />

GarbinoMaria de Jesus Gomes<br />

Padilha, a quern cabe administrar<br />

aos compradores do predio acima<br />

e Mani corn o direito de exploraflo<br />

comercial do Colegio, deverAo_<br />

por forca deste Testamento, destinar<br />

a importancia correspondente<br />

a cinco por cento (5% ) dos lucros, se<br />

houver, verificados na escrita con-<br />

Obi' de cada exercicio, a Oton Jode<br />

Castro, j5. mencionad o; 4(?)<br />

Foi pelo Dr. Juiz de Direito na sencomprisso<br />

de, em carater irrevo- tenca de fls. 97/101 acolhido o requegavel,<br />

vender o predio localizado a rimento, dizendo o magistrado para jul-<br />

Avenida Gomes de Castro n? 132, gar «procedente o pedido (...)<br />

nesta cidade, pela quantia de Cr; autorizar por meio de alvarA a la-<br />

700.000,00 (setecento s mil cruzei- vratura da competente Escritura<br />

ros), aos Srs. Joe Warwick de Cas-<br />

PUblica do predio situado nesta cidatro<br />

Trinta e Lil Castro Trinta de de a Av. Gomes de Castro n? 132,<br />

Carvalho, send° o pagamen to da que sera assinada pelo inventariante<br />

referida importanci a, mediante fi- e contratantes, mediante o pagamennanciamento<br />

pelo Banco de Desen- to pactuado nas condicties estipulavolvimento<br />

do Maranhão S/A. das pelo documento de f. 54 e cuja<br />

importância sera depositada neste<br />

Compromete-se, ainda, por oca- Juizo em nome do EspOlio para o se-<br />

slat) do referido pagamento, efe- guimento do inventArio».<br />

tuar a transferência da firma man


R.T.J. — 94<br />

Dessa sentenca apelaram as lega<br />

taigas Joana Ferreira Lopes Garbin quando, para este, basta o acordo<br />

e Maria de Jesus Gomes Padilhao<br />

das partes sobre o objeto e o preco.<br />

(mas nao o legatario Othon Juca de Ao Segundo, porque, existindo tal<br />

Castro), sustentando que o documen acordo, quanto ao objeto e ao preco,<br />

to particular assinado pela Profa. deixou-se de dar execucao ao pac-<br />

Rosa Castro nao reunia as condicOes tuado. (F. 144).<br />

necessarlas para autorizar adj udica- Relativamente ao<br />

cao compulsOria a favor dos benef I-<br />

fundamento<br />

letra d, alegam os<br />

da<br />

ciarios nele declarados, seja por nao<br />

recorrentes que o<br />

revestir a forma prescrita<br />

acerdao diverge do que foi proferido<br />

em lei, seja<br />

por nao ter sido inscrito no Regis-<br />

pelo Supremo Tribunal Federal no<br />

tro de Im6veis.<br />

RE 87.258, relator o Sr. Ministro Moreira<br />

Alves, a dizer, no seu voto que<br />

0 Tribunal de Justica, em acerdao «a jurispruclOncia desta Corte ja se<br />

unanime de sua Primeira Camara firmou no sentido de que e ad-<br />

Civel, deu provimento a apelagdo, missivel a adjudicacao de imOvel<br />

afirmando que, «sem o sinal, ou ar- nao loteado, cuja promessa de cornras,<br />

para comprovar o inlet° do papra e venda tenha sido celebrada por<br />

gamento, nao se torna obrigaterio o instrumento particular, desde que<br />

cumprimento de contrato de compro- inscrito».<br />

misso de compra e venda» (ementa,<br />

f. 139). Por outro lado, assentou o<br />

No caso, advertem os recorrentes,<br />

acerdao, « a promessa<br />

tratava-se de adjudicacáo compuls6-<br />

de compra e<br />

venda feita pela testadora nao consria.<br />

Dal a exigencia da insericão no<br />

titui documento habil, capaz de ge-<br />

Registro de ImOvels, mencionada no<br />

rar direlto» (f. 141 fine), por faltar<br />

voto. Aqui, nao se cuida de adjudicacao<br />

compulsOria, «sua inscricao no Registro de Imopedicao mas de simples exveis,<br />

sem o que a acao para compe-<br />

de alvara para cumprimento<br />

lir o vendedor a dar escritura deve<br />

do avencado, valendo para esta hip&<br />

tese o entendimento ser julgada improcedente»<br />

do Tribunal de<br />

(f. 141<br />

princ. ).<br />

Justica de Minas Gerais, a dizer, em<br />

acerdao unanime da 3? Camara<br />

A esse acOrdao opOem recurso ex- Civel, publicado em 16.12.77, que<br />

traordinario os oa<br />

beneficiarios do cha- obrigacao do registro contida no art.<br />

mado «contrato de arras», Lil Castro 23 do Decreto-lei 58, de 1937, somente<br />

Trinta de Carvalho e Joe Warwick e exigivel na adjudicacao compulsO-<br />

de Castro Trinta, e bem assim o leria, que e de efeito real, nao na simgatario<br />

do prOdio, Othon Juca de ples outorga de escritura, resultado<br />

Castro (f. 142).<br />

da execucao especifica de uma obrigaga()<br />

de fazer». (F. 146 medic).<br />

Othon Juca de Castro e sua mulher,<br />

todavia, desistiram do recurso Por outro lado, segundo decidiu o<br />

(Us. 174 e Us. 205v.).<br />

Tribunal de Justica do Rio Grande<br />

do SW, «aplica-se o<br />

Os recorrentes, fundando o apelo<br />

Decreto-lei<br />

de 1969, as<br />

745,<br />

promessas extremo nas alineas a e d da de compra e<br />

permissat)<br />

constituclonal, sustentam, em<br />

venda de imOveis, sem clausula de<br />

arrep<br />

primeiro lugar, que o acOrdao negou<br />

endimento, mesmo que IA° tenham<br />

sido registradas no respectivo<br />

vigëncia aos arts. 1.094 e 1.126 do Codigo<br />

Civil.<br />

CartOrio de ImOveis» (Ac. da 1? Camara<br />

Civel Especial, de 10.5.77, na<br />

Ao primeiro, por exigir o sinal, ou<br />

Apelacao 27.619-Bage).<br />

arras, como condicao indisp'ensavel Finalmente, o Conselho Superior<br />

ao aperfeicoamento do contrato, da Magistratura<br />

j<br />

de Sao Paulo, no<br />

ul gamento da Apelacao Civel<br />

377


378<br />

R.T.J. — 94<br />

251.102, assentou que «opre-contratosua imperiosa necessidade como<br />

de promessa de compra e venda de<br />

corolario de direito, o que nao<br />

ocorrera no caso vertente.<br />

imOvel nao cria direito real e nao 6<br />

admissivel no Registro de ImOveis ».Reform-se, pois, a decisao do Juiz<br />

a quo.» (<br />

For outro lado, o acOrdao deixou<br />

a F. 139).<br />

de atender a orientacao jurisprude n- Levadas em conta somente esta<br />

cial no sentido de que a promessa de ementa e a parte, que a ela corresvenda<br />

se equipara a alienaeao, para ponde, no contexto da decisao recoro<br />

efeito de acarretar a caducidade rida, nao caberia acollier a alegacao<br />

do legado.<br />

Foi o recurso admitido por despacho<br />

do Presidente Kleber Moreira de<br />

Souza, a dizer:<br />

«0 referido art. 1.094, do COdigo<br />

Civil Brasileiro, no qual se alicercon<br />

a decisao estabelece que


R.T.J. — 94<br />

37<br />

n? 4.380, de 21.8.64, a dizer que a promessa<br />

de venda suscetivel de execu- Ora, a dtvergCncia<br />

cAo compulsOria a aquela sem clAu- so pode ser Jurisprudencial<br />

docu<br />

sula de arrependimento e corn imisdão, ou cOpla mentada por certi-<br />

autenticada,<br />

sat) de posse, uma vez inscrita no diante citacdo de<br />

ou me-<br />

repositOrio Registro Geral de ImOveis».<br />

de <strong>jurisprudencia</strong><br />

oficial ou autorizado<br />

Ora, o documento particular, como t<br />

RISTF, art. 305), nao lo<br />

o ocontrato de arras» destes autos, corizacao<br />

aqueles<br />

grando au-<br />

nao se tratando de im6vel loteado, i<br />

omo os<br />

repertorios i que,<br />

ou beneficiado corn financiamento<br />

ntegralmente<br />

ndicados, nao reproduzem<br />

Sistema Financeiro<br />

do n<br />

as decisOes,<br />

da<br />

nao seria<br />

Habltacdo,<br />

as as respectivas<br />

mas ape-<br />

inscritivel<br />

a<br />

ementas<br />

no Registro<br />

rt. 95, § 1?).<br />

(RISTF,<br />

Inneveis (Lei n? 6.015, de de<br />

art. 221, I).<br />

31.12.73, j<br />

Inviavel, pois, a consideracao<br />

urisprudencia trazida a<br />

da<br />

Logo, impossivel a adjudicacao<br />

pelos recorrentes,<br />

confronto<br />

compulsOria.<br />

p<br />

no pertinente<br />

rimeiro ponto focalizado.<br />

ao<br />

Argumentam os recorrentes<br />

Cuidaram<br />

aqui nao se cuida que<br />

tambem os<br />

propriamente adjudicacão de<br />

de apresentar acOrdaos<br />

recorrentes<br />

compulsOria, mas de<br />

em relacäo ao divergentes<br />

ponto da<br />

transmissAo por escritura<br />

ser lavrada em<br />

pablica,<br />

dos legados pela<br />

caducidade<br />

a p superveniOncia de<br />

cumprimento<br />

varA do Juizo.<br />

ao al- passo<br />

romessa de venda do imOvel nesse<br />

referindo o acOrdâo<br />

no RE 67.451.<br />

proferido<br />

Mas, de duas uma: ou o inventariante<br />

estA adstrito a cumprir o al-<br />

vara, e nesse caso se estara dando vo<br />

Nesse acOrdAo, o imico em cuja in-<br />

execucAo dlreta A obrigacAo de faaucacao<br />

fol menclonado reperterio<br />

torizado de<br />

zer, operacAo equivalents a adjudi-<br />

65/<br />

<strong>jurisprudencia</strong>, RTJ<br />

cacao compulsOria, ou o inventarian- Di<br />

697, diz-se, no voto do Sr. Ministro<br />

to estarA autorizado a entender o alple ad<br />

s<br />

Falcão, relator, que oa slim-<br />

pr<br />

varA como sinal de mera autorizater<br />

omessa de venda, corn careirrevogavel,<br />

cao, podendo cumpri-lo ou nao, nesse<br />

de<br />

acarreta a<br />

do legado, por<br />

caducida-<br />

aplicacao<br />

segundo caso relegando-se para os pio<br />

do princi-<br />

melos processuais ordinAdos a ob- II», contido no Wad° ad. 1.708, n?<br />

o que fol compl<br />

tencao da ordem de adjudicacAo do saudoso Ministro<br />

ementado no voto<br />

compulsOria.<br />

min<br />

Rodrigues , ao assinalar<br />

Alck-<br />

No (undo, p<br />

do<br />

oque, no art. 1<br />

ois, a ordem coativa do alieC.<br />

Clv., quando a lei se refere<br />

.708,<br />

A<br />

Juiz do inventArio, para que se ou- toesnava°,<br />

por Identidade de situa-<br />

torgasse a escritura, equivalia<br />

ndo<br />

judicacAo compulsOria,<br />

A ad- vont ade<br />

impossivel<br />

atendetestadorm, do afestacAdevea<br />

tni<br />

o d<br />

no caso pela inexistencla<br />

abranger<br />

a p<br />

ambem<br />

dos requisi- trata<br />

Los legais a que se refere a Stmula<br />

vel».<br />

romessa de venda irre-<br />

413.<br />

Crein,<br />

p<br />

nao se<br />

orem, que a divergencia<br />

car<br />

Passemos A divergencia jurispru- segundo<br />

acterlza, tambem, neste<br />

p<br />

denclal alegada pelas recorrentes. colasAo<br />

onto. No acOrdAo trazido A<br />

af<br />

Os acerdAos tidos como divergen-<br />

de v irmou-se que a promessa<br />

enda vAlida induzlria<br />

tes, no tocante aos requisitos<br />

dade<br />

j udicacAo compulsoria,<br />

da addo<br />

tes<br />

A caduci-<br />

cord<br />

sAo pelos redo,<br />

tament°. No acerdAo re-<br />

con<br />

correntes cltados atraves de referen- sa de siderou-se que a promescias<br />

publicacão de suas ementas A fait<br />

venda, por nao valer como tal,<br />

em Vox Lea e Adcoas.<br />

xava de<br />

a das formalidades legals, dei-<br />

rep<br />

to. (f. ercutir sobre o testamen-<br />

141 print.).


380<br />

R.T.J. — 94<br />

Chega-se, pois, ao fim do exameque se acha nos autos na folha imedo<br />

recurso extraord<br />

intposto, diata, f. 55. Tdo o dinheiro do pro-<br />

ario er<br />

a conclusao de que nao ao deve o apelo metido preco oresultaria de urn emprestimo<br />

a ser tornado no Banco Deser<br />

conhecido, a falta de demonstrasenvolvimento do Maranhao. Nao ha<br />

o de ofensa a lei <strong>federal</strong> ou de havaer<br />

dissentido o aresto recorrid o de prazo previsto para o pagamento,<br />

nem para a celebraeao da escritura.<br />

acerclos consagradOres de teses<br />

Parece adequado dizer que a cauopostaas.<br />

sa em debate poderia ter sido me-<br />

Dar-se-a. que a solucao tecnica do lhor instruida se o magistrado<br />

recurso extraordinärio leva o caso a se preferido remeter as partes<br />

solucao menos justa e menos aceitaByespara<br />

os meios ordinarios, conic) estä prevel?<br />

visto no art.<br />

Parece que nao.<br />

984 do COdigo de Processo<br />

Civil, a fim de que, corn lar-<br />

A prevalecer a solucao defendidagueza de provas, se apurassem as<br />

pelos recorrentes, que foi a da sen- condicOes em que, apes lavrado o<br />

tenca de primeiro grau, cumprir-se- testamento, coerente corn os ideais e<br />

is a venda, pelo preco de Cr$ corn a vida da testadora, chegou ela,<br />

700.000,00 , do tradicional colegio e do tres meses depois, a solucao tae dia<br />

nsigvalioso<br />

imevel em que ele se acha<br />

metralmente oposta, qual a co<br />

instalado. Nenhum comPromisso<br />

ha- nada no contrato de 12 de abril de<br />

na 1976, que se entitula «contrato de arveria,<br />

da parte dos comp<br />

manutencao da veneravel instituiras)), mas que comeca per nao concAo<br />

de ensino, de meth seculo de ter arras ou sina .<br />

existencia. Poderia o im6vel ser ven- Todavia, as partes jamais pleitea-<br />

dido a outros, interessados exclusi- ram que a matéria tivesse solucao<br />

vamente lade no econemico de seu mais adequada em procedimento or-<br />

aproveltamento.<br />

dinario, em que a prova testemunhal<br />

e medico-Pericial pudesse explicar a<br />

JA a subsist'éncia do acOrdao re-<br />

corrido levara a execucao do testa- stbita reviravolta do espiro itrada boa<br />

senhora a afamada educado<br />

mara-<br />

men o, ato mats coerente corn a vida nhense, Dona Rosa Castro.<br />

da testadora, que por mais de meio<br />

seculo dedicara todos os seus esforcos<br />

a manutencao e ao engran ec<br />

mento do Cole gio Rosa Castro e que,<br />

pelo ref erido testamento, desejou<br />

fosse mantido Para o future, ao estabelecer<br />

a clausula de inalienabilidade.<br />

Corn essa clausula, legou o estabalecimento<br />

de ensino a duas professoras,<br />

as ora recorridas, e o imevel<br />

a seu sobrinho e afilhado Othon Juca<br />

de Castro, que perceberia 5% dos lucros<br />

do colegio . (F. 6v.). 0 testamento<br />

6 urn ato que se preocuPa<br />

corn a continuacao da existenc ia do<br />

colegio, instituicao respeitavel, vida<br />

e obra da testadora.<br />

Esta o testamento, nos autos, pela<br />

segunda vez, a f. 54. Compare-se o<br />

document° com o simplerio De qualquer modo, oem e apressado<br />

documento de venda do imOvel,<br />

ra<br />

nando que o ample debate probatbrio<br />

melhor teria esclarec ido a controversia<br />

dos autos, cingi-me, neste voto,<br />

a solucao do problema sob o aspecto<br />

exclusivamente tecnicojuridic°<br />

do cabimento do recurso extraordinario,<br />

corn a satisfaca o, contudo,<br />

de pressentir que a solucao tecnica<br />

parece coincidir corn a solucao<br />

justa da demanda.<br />

Nao conheco do recurso extraordinario.<br />

E meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE<br />

MA — Rel.: Min. De-<br />

90.976 —<br />

cio Miranda . Recte.: Lil Castro Trin-


R.T.J. — 94<br />

38<br />

to de Carvalho e outros (Advs.: S e-<br />

bastino Ribeiro Salomdo e Joao Leo<br />

ni Taveira e outro). Recda.: Joan<br />

Ferreira Lopes Moreno Garbino<br />

outros (Adv.: Sergio Gonzaga Du<br />

tra).<br />

Decls.5o: Adiado o julgamento po<br />

haver pedido vista o Ministro Morei<br />

ra Alves, depois do voto do Relator<br />

que nao conhecia do recurso.<br />

pelo Recte.: o Dr.<br />

Falou,<br />

Sebastião Ribeiro<br />

Salomao. Falou pelo Recdo.: o Dr.<br />

va de vigencia de egti-<br />

qualquer disposi<br />

Sergio Gonzaga Dutra.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

Falcao. — Presentes sessao os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves e Decio Miranda. Licenciado 0<br />

Sr. Ministro Leltäo de Abreu.<br />

Subprocurador-Geral da Republica,<br />

o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 25 de marco de 1980 —<br />

Hello Francisco Marques,<br />

do.Secreta-<br />

a ESse 6, sem dUvida, fundament()<br />

suficlente para a sustentacao<br />

a acOrdão recorrido.<br />

do<br />

e<br />

Ora, corn relacào a ele — ou seja,<br />

r o de que o legado nao caduca, corn<br />

base no artigo 1.708, II, do COdigo Ci-<br />

_ vil, se a promessa de compra e yen-<br />

de<br />

da Lido estiver inscrita no Registro<br />

ImOveis —, nao se •<br />

vo legal, e o Unico acordao a que alutidem<br />

os recorrentes de interp<br />

em sua peticâo<br />

osicäo de recurso extraordinario,<br />

e que trata,<br />

questâo<br />

realmente, da caducidade<br />

da<br />

face de p<br />

do legado em<br />

super<br />

romessa de compra e venda<br />

veniente, sáo os ERE 67.451<br />

conhecidos<br />

(RTJ 65/693 e segs.), que nao foram<br />

por falta de demonstraa3<br />

de dissidio, razao por que se<br />

em<br />

manteve, assim, o acardao earth)<br />

bargado, da Segunda Turma, e<br />

que aludia a promessa de compra e<br />

venda inscrita no Registro de Imee<br />

veis, como se ye de sua ementa:<br />

VOTO (VISTA)<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves: 1.<br />

Do exame dos autos, verifico que o<br />

acerdäo recorrido, em sua parte final,<br />

se fundou, tamb6m, para negar<br />

tivesse ocorrido a caducidade do legado<br />

corn base no Inds() II do artigo<br />

1.708 do COdigo Civil, na circunstAncia<br />

de que, no caso, a promessa de<br />

compra e venda nao estava inscrita<br />

no Registro de Imeovels. Com efelto,<br />

depois de salientar que «por outro lado,<br />

nao se me afigura ocioso insistirse<br />

na necessidade de sua inscricao<br />

no Registro de 'Wye's», e de dizer<br />

que «assim, se o contrato de compra<br />

e venda nao se constituiu das formalidades<br />

legais, tern-se que o testamento<br />

nao se encontra perempto»,<br />

conclui o acOrdao recorrido, afirmando:<br />

«NA° caducara, pois, o legado,<br />

JO que nao ocorrera o sinal, ou<br />

arras, e a inscricao da promessa de<br />

«Legado. A promessa de compra<br />

e venda irretratevel, irrevogavel e<br />

inscrita no Registro Geral de 'Wye's,<br />

feita pela<br />

riormente<br />

testadora,<br />

ao<br />

poste-<br />

testamento, sua cad<br />

leva<br />

ucidade» (RTJ 65/694).<br />

Assim, contra esse fundamento suficiente<br />

para a sustentacao do acerciao<br />

ora r ecorrido nao se baseou o recurso<br />

ex traordinArio na letra a do in-<br />

ciso III do artigo 119 da Constituicäo<br />

F ederal, nem foi trazido a confront°,<br />

para a de monstracão de dissidio de<br />

<strong>jurisprudencia</strong>, qualquer acerdáo<br />

que admitisse a caducidade do legado<br />

em face de promessa de compra<br />

e venda nao inscrita no Registro de<br />

ImOveis.<br />

compra e venda no Registro de Im6- q 2. Apenas por essa circunstancia<br />

veis, nao tendo, por isso mesmo, o c ue me imp ,<br />

ossibilita conhecer do relegado<br />

feito pela testadora perdido<br />

urso extraordinario,<br />

juridicamente a sua eflcAcia».<br />

c<br />

acompanho a<br />

onclusão a que chegou o eminente<br />

relator.


382<br />

R.T.J. — 94<br />

bastiao Ribeiro Salomao e Joao Leo-<br />

VOTO PRELIMINAR ni Taveira e outro). Recda.: Joana<br />

0 Sr. Ministro Djaci Falick) (Pre-<br />

Ferreira Lopes Moreno Garbino e<br />

outros (Adv.: Sergio Gonza ga Du-<br />

sidente) : Acompanho o Relator, todavia<br />

adotando os fundamentos do<br />

tra).<br />

voto do eminente Ministro Moreira Decisao: Nao conhecido . Unanime.<br />

Presidência do Sr. Ministro Djaci<br />

Alves no que tange a existOncia de<br />

urn motivo suficiente e inatacavel. Fated°. — Presentes a sessao os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Nao conheco, preliminarmente, do<br />

Alves e Decio Miranda<br />

recurso.<br />

. Licenciado,<br />

o Sr. Ministro Leitao de Abreu. —<br />

Subprocurador-Geral da Republica,<br />

EXTRATO DA ATA o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 8 de abril de 1980. —<br />

RE 90.976 — MA — Rel.: Min. De- Hello Francisco Marques, Secreta-<br />

do Miranda . Recte.: Lil Castro Trinta<br />

de Carvalho e outros (Advs.: Serio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 91.019 — SP<br />

(Segundo Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Moreira Alves.<br />

Recorrente: Frigorifico Vale do Tiet0 S/A — Recorrido : Estado de Sao<br />

Paulo.<br />

ICM. Conceal:, monetaria . Acrescimo. Decadencia.<br />

A jurisprudancia atual do S.T.F. e no sentido de que 6 legitima a inco- da correcao monetaria sobre o impost° e a multa, bem juiz<br />

cidenciamo,<br />

embora inconstitucional o acrescimo, nada impede que o<br />

the de o verdadeiro colter de honorerios advocaticios em que 6 obrigatoriamente<br />

condenada a parte sucumbente.<br />

Corn a lavratura do auto de infracao consuma- se o lancamento do<br />

credit° tributario (art. 242 do C.T.N.) . Por outro lado, a decadancia<br />

a essa lavratura; depois, entre a<br />

s6 6 admissivel no perlodo anterior<br />

ocorrencia dela e ate que flua o prazo para a interposicao do recurso<br />

administrativo, ou enquanto nao for decidido o recurso dessa natureza<br />

de que se tenha valido o contribuinte, Tao mats corre prazo para<br />

decadancia , e ainda nao se iniciou a fluencia do pram de prescricao;<br />

decorrido o prazo Para a interposicao do recurso administrativo, sem<br />

que ela tenha ocorrido ou decidido o recurso administrativo interposto<br />

pelo contribuinte, ha a constituicao definitiva do credit() tributerio,<br />

a que alude o artigo 174, comeca ndo a fluir, dal, o prazo de prescrick,<br />

da pretensao do Fisco.<br />

Recurso Extraordinario conhecido em parte, mas nao provido.<br />

cas, por unanimidade de votos, co-<br />

ACORDAO<br />

nhecer, em parte, do recurso, mas<br />

Vistos, relatados e discutidos estes negar-lhe provimento.<br />

autos, acordam os Ministros da Se- 22 de maio de 1979. —<br />

gunda Turma do Supremo Tribunal<br />

Brasilia,<br />

Federal, na conformidade da ata do Djaci Falcao, P<br />

julgamento e dos notas taquigrafi- Alves,<br />

Relatorresidente — Moreira<br />

.


RELATORIO<br />

0 Sr. MInlstro Morelra Alves: E<br />

este o teor do acOrdao recorrido (fls.<br />

72/75):<br />

«Acordam, em Quinta Camara<br />

do Primeiro Tribunal de Alcada Civil,<br />

por votacao unanime, negar<br />

provimento aos tres recursos.<br />

1. Os embargos, em execucao fiscal,<br />

foram parcialmente recebidos,<br />

com a reducao do acrescimo.<br />

O debit° foi apurado em procedimento<br />

administrativo, verificandose<br />

ter o contribuinte promovido o<br />

abate de bovinos sem o pagamento<br />

do ICM correspondente as opera-<br />

Goes. 0 fato basic° nao a negado,<br />

mas 6 invocada, no teor do artigo<br />

173, e seu paragrafo anico, a extinea°<br />

do direito de ser constituido 0<br />

credit° tributario. E que a autuaciao<br />

estä datada de 11 de outubro<br />

de 1971, com sua retificacao em 29<br />

do mesmo Inds, e a inscricao da<br />

divida somente se efetivou em 1?<br />

de abril de 1977, quando ja decorrido<br />

o qflinqi.idnio decadencial. Realmente,<br />

o C6digo Tributarlo Nacional,<br />

no dispositivo citado, dispOe<br />

que o direito de constituir-se o credit°<br />

tributario pelo lancamento fiextinto<br />

definitivamente pelo<br />

decurso do prazo de cinco anos. E<br />

acrescenta a contagem do prazo da<br />

data em que o sujeito passivo for<br />

notificado de qualquer medida preparateria<br />

Indispensavel ao lancamento.<br />

Sem davida, por ocorrer a<br />

extincao do direito, o prazo 6 de<br />

decaddncia e, assim, nao sofre interrupeao,<br />

cumprindo, dentro dele,<br />

ser diligenciada a constituicao do<br />

credit() tributário, corn o lancamento.<br />

No entanto, o embargante incidiu<br />

em manifesto equivoco. No teor do<br />

artigo 142 do C6digo Tributarlo Nacional,<br />

formulando um conceit° de<br />

lancamento, a inscricao da divida<br />

nao o Integra. Esse ato, a insert-<br />

R.T.J. — 94<br />

383<br />

ciao, visa precipuamente a formacao<br />

do titulo executOrio extrajudicial.<br />

0 lancamento, que o precede,<br />

6 urn procedimento administrativo<br />

destinado a verificar o fato gerador<br />

da obrigacao, determinar a<br />

materia tributavei, calcular o montante<br />

do tributo, identificar o sujeito<br />

p assivo e, se cabivel, impor pen<br />

alidade. Ora, como noticia a sentenca<br />

a fls. 88 do processo fiscal e<br />

em trinta de agosto de 1976, o contr<br />

ibuinte foi notificado, corn oavi-<br />

so de débito», da definitiva constituicao<br />

do credit° tributario. Essa a<br />

data a ser c onsiderada e nao a subsecjilente<br />

da inscricao da divida.<br />

Ora, entre o termo initial, a autua-<br />

ea° em outubro de 1971 e a constituted°<br />

do credit°, em agosto de<br />

1976, nao d ecorreram os cinco anos<br />

da decaddncia.<br />

2. 0 a crescimo de vinte por cento<br />

nao constitut credit° tributario tipico,<br />

mas suplementar e destinado a<br />

cobrir as despesas com a a puracao<br />

da divida e sua cobranca judicial.<br />

Pode ser encartado na autorizacao<br />

do artigo 161 do C6digo Tributarlo<br />

Nacional.<br />

Inad missivel que fosse a sua inst<br />

ituleao, nem por isso a sua inclusat),<br />

no ato de inscricao e na respectiva<br />

certldao, invalidaria uma<br />

ou outra. D estacado como e, a liquidez<br />

e certeza da divida flat) flcam<br />

tisnadas.<br />

3. Por outro lado, ao acrescimo<br />

foi dada a sua real dimensao de<br />

honoraria advocaticia, com o seu<br />

arbitrament° na sentenea. Destarte,<br />

mesmo adotado o entendimento<br />

da ilegalidade, a condencao decorreu<br />

da sucu mbencia e como honoraria<br />

advocaticia. E nao importa a<br />

inconstitucionalidade de sua destinacao<br />

aos Procuradores da Fazen-<br />

da do Estado, pots, como se dime,<br />

essa d estinacao nao e a causa da<br />

imp osieao e sim o sucumbimento<br />

Incondicionado.


R.T.J. — 94<br />

384<br />

Por outro lade, bem justificada<br />

pela decisao, o arbitrament°, no,<br />

percentual de 15%, deve ser mantido.<br />

4. A correcao monetaria incide<br />

sobre o montante da divida, seja o<br />

imposto, a multa, ou ambos. E, sobre<br />

o total corrigido incidem os juros<br />

e a honoraria. Corn a atualiza<br />

l e substituido,<br />

-ea°, o valor origina<br />

passando a mere dado hist6rico,<br />

neutro; e o valor real, decorrente<br />

da correedo em sintonia corn a depreciacao<br />

da moeda, e o Cinico a<br />

ser considerado para o calculo dos<br />

juros e da remuneracao do procurador.<br />

Por fim, descabe f alar em boa fe<br />

do contribuinte, mesmo que a lei<br />

cogitasse do elemento moral da infracao,<br />

porque a realidade dos autos<br />

nao autoriz a sua consideracao.<br />

Impae-se, destarte , o improvimento<br />

de todos os recursos.<br />

Custas ex causa."<br />

Interposto recurso extraordinario,<br />

nao foi ele admitido pelo seguinte<br />

despacho (fls. 98/101):<br />

«Trata-se de execueao fiscal,<br />

movida pela Fazenda do Estado de<br />

Sao Paulo contra o era recorrente,<br />

objetivando cobrar ICM, multa, acrescimo<br />

, juros de mora e correeao<br />

monetaria. monetaa.<br />

Improcede o recurso na alinea<br />

nte pr ocejulgou<br />

den<br />

apenas<br />

te os Emb parcialme<br />

argos, para o fim a, pois a respeitavel decisao recorrida<br />

nao contrariou dispositivo da<br />

olic°<br />

uzir 0 intitulado «a- Constituted() Federal, nem negou<br />

co»<br />

de red<br />

rescim de20%constante<br />

da cervigencia<br />

de tratado ou lei <strong>federal</strong>,<br />

tidao de divida ativa, ao percen- demonstrando, ao raves, nao ter<br />

mats as<br />

dual de e 15%, mantidas no m<br />

ncia<br />

havido a pretendida ofensa.<br />

Nulidade do Titulo ajuizado,<br />

0 v. acOrdao da Quinta Camara,<br />

a unanimidad confirmou deral, requerendo seja admitido o<br />

apelo extreme nos termos dos artigos<br />

541 e seguintes do CPC. Reproduz<br />

na peticao do extraordinario<br />

tres temas:<br />

Nulidade do titulo ajuizado.<br />

Ilegitimidade da incidencia<br />

da correedo monetaria.<br />

c) Inconstitucionalidade da cobranca<br />

do acrescimo, mesmo a titulo<br />

de verba honoraria.<br />

Relativamente ao primei<br />

A r. sentenca de primeiro gran,<br />

demais parcela s como incida Os tres temas em questa° sat);<br />

da correcao monetaria.<br />

a r. de- r ocorndo na hip6tese, de-<br />

visto cadenciao<br />

tea do direito de constituic<br />

cisao de fls. 21/26.<br />

do pretendido credit° tributário,<br />

Irsignada, interpes a recoralem da ilegitimidade do acresci-<br />

e present recurso extraordirent<br />

me, de 20% inscrito como divida<br />

nano, apoiado no<br />

art. 119, III,<br />

ativa,<br />

alinea a, c e d da Constituted° Fe-<br />

ro tema,<br />

alega ter o v. acOrdao negado<br />

vigencia aos arts. 173 e 201 do<br />

CTN, bem como aos arts. 585, VI e<br />

586 do CPC, alem de ter ofendido a<br />

Constituted°. Quanto ao segundo,<br />

afirma ter havido infringência dos<br />

arts. 18, § 1?, 23, § 5? e 153, § 29, da<br />

Constituicao, bem como dos arts.<br />

97, 201 e 204 do CTN: Quanto ao<br />

terceiro tema, diz que, decidindo<br />

come o fez, o v. acerclao discrePou<br />

de jurisPrudencia do Colendo Supremo<br />

Tribunal Federal (RE 84.994,<br />

de 13.4.77; RE 88.664 — SP — DJU<br />

de 25.4.78; RE 89.306, SF — DJU de<br />

9.6.77, !tag. 4.133 e RE 79.822 —<br />

DJU de 14.3.75, pag. 1.503).<br />

O recurso foi impugnado (fls.<br />

92/96).<br />

o recurso em apreco, pretende<br />

apoiar-se nas alineas a, c e d do<br />

art. 119, III, da Constituicao Federal.


R.T.J. — 94<br />

A ilegitimidade da incidencia<br />

da correcao monetaria,<br />

Tamb6m, no tocante a alinea d,<br />

A inconstitucionalidade da o recurso nao merece acolhimento,<br />

cobranca do aludido acrescimo p<br />

acrescimo, orque, tanto no que se refere<br />

mesmo a titulo de verba honoraria, aplicacao da correcao monetaria<br />

desde que,


R.T.J. — 94<br />

386<br />

No caso, a recorrente pretende que<br />

cursos opostos pelo contribuinte na<br />

o a decadência area administrativa tern apenas o se tenha verificad io — o<br />

efeito de suspender-lhe a exigibilida- dentro do periodo intermedi ar<br />

de” e, portanto, gapes o procedimen- da lavratu ra do auto ate o julgamen-<br />

cabe a invoca- to definitivo do recurso administratito<br />

admnistrativo,<br />

cao de i decadéncia» des<br />

. Par essa deci- vo por ela interpost o — em que, cosac)<br />

— para a qual concorri com meu mo se viu, nao nut prazo de decadénvoto<br />

—, a decad8ncia so ê admissivel cia ou de prescricao.<br />

no periodo anterior ao da lavratura EXTRATO DA ATA<br />

do auto de infracao, corn o qual se RE 91.019 — SP — Rel.: Min. Mo-<br />

consuma o lancamento do crédito<br />

tributario : apes essa lavratura e ate<br />

reira Alves. Recte.: Frigorifico Vale<br />

do Tietë S/A. (Advs.: Omar Costa e<br />

que flua o prazo para o recurso administrativo<br />

contra ela, ou enquantooutros). Redo.: Estado de Sao Paunao<br />

for decidido o recurso compete s- to (Adv.: Roberto Pinheiro Doria).<br />

te de que se haja valido o contribuin- Decisao: Conhecid o em parte, mas<br />

te, nao macs corre o prazo para a de- negado provimento. Unanime.<br />

cadencia , e ainda nao se iniciou a<br />

fluencia do prazo de prescricao; de- Presidéncia do Sr. Ministro Djaci<br />

Falcao. Presentesa<br />

Sessao os Srs.<br />

corrido o prazo para a interPosicao Ministros Leitao de Abreu, Cordeiro<br />

do recurso administrative, sem Guerra, Moreira Alves e Decio Mi-<br />

ela team ocorrido, ou decidido o que recurse<br />

administrative interposto pelo randa. 5? Subprocurador-Geral da<br />

Republica,<br />

contribuinte, ha a constituicão deft- Re<br />

, o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

nitiva do credito tributario, a que<br />

alude o artigo 174, comegando a Brasilia, 22 de maio de 1979. —<br />

fluir, dal, o prazo de prescric ao da liélio Francisco Marques, Secretario.<br />

pretensao do Fisco.<br />

RECURSO ExTRAortniNARio N? 91.053 — RJ<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Djaci Falcao.<br />

Recorrente: Tobias Maiovitch — ReCorrida : Iracema Teixeira de Lima.<br />

Inventitrio .<br />

Leith° e arremataggo do patrimOnto imobiliárto. Pedid°<br />

de adjudicacito regularmente defend° . Intelighncia do art. 693<br />

do 05dtgo de Process Civil de 1973. DissIctio jurtsprudencial nä° configurado<br />

(Snmula 291) o . Recurso extraordinarto nao conhectdo.<br />

RELATORIO<br />

ACORDAO<br />

0 Sr. Mintstro Djaci Falcao: 0<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

o pelo<br />

autos, acordam os Ministros da Se- presente recurso f oi admitid<br />

gunda Turma do Supremo Tribunal seguinte despacho:<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigrafi- «Com base nas alineas a e d do<br />

cas, per unanimidade de votos, nao permissive e argilindo a relevancia<br />

conhecer do recurso . da questa') <strong>federal</strong>, Tobias Maiovitch<br />

interpas o recurso extraordi-<br />

Brasilia, 22 de junho de 1979. —<br />

Djaci Falcao, Presidente e Relator.<br />

nario de folhas 80/5 contra o acOr-


dão de fls. 72/8, cuja ementa e a<br />

seguinte:<br />

«1. InventArlo — Leila° e arrematacao<br />

do patrimenio imobillario<br />

— Sua adjudicacão deferida.<br />

2. NA° se apresenta enfermada<br />

por ileg<br />

apes a<br />

alidade e decisAo que,<br />

arrematacao do<br />

nlo imobIllArio,<br />

patrine-<br />

deferiu a sua<br />

judicaCAo a vifiva e sucessora urn de quantos de<br />

inventariados, como condemlna<br />

ja<br />

na<br />

de da<br />

universalida-<br />

heranga, ja porque<br />

da a adJudicatAria,<br />

protegi-<br />

pela res<br />

judicata quanto<br />

tulacão.<br />

ao Wren° a pos-<br />

3. Conhecimento do agravo.<br />

unanimidade, pela tempestividade<br />

e, por maioria, pela idoneldade<br />

e, no merito, sem divergencia,<br />

pelo seu desprovimento».<br />

Mem de dissidio pretoriano, o recorrente<br />

alega violacão do artigo<br />

694 do Cedigo de Processo Civil ja<br />

que, corn a desistencia dos herdelros<br />

de exercerem a prefertncia, o<br />

auto de lellAo foi assinado,<br />

tornando-se assim a arrematacao<br />

perfeita, acabada e irretratAvel.<br />

0 apelo extremo merece seguimento<br />

por ambos os fundamentos<br />

invocados.<br />

De fato, demonstrou o recorrente<br />

as fls. 83/4 que a interpretacAo<br />

dada ao aludido texto processual<br />

pelo Excelso Preterio e pelo Egregio<br />

Tribunal de Justica do Estado<br />

de Sao Paulo e no sentido de que,<br />

assinado o auto de arrematacao, a<br />

arrematacao se torn ato juridic°<br />

perfelto, enquanto que o aresto recorrido<br />

se sitou em terreno oposto.<br />

Sao estas as razees que me leyarn<br />

a admitlr o recurso.<br />

Prossiga-se e forme-se o instrumento<br />

de relevAncia de questa() <strong>federal</strong>,<br />

em atencao as diretrizes das<br />

Emendas Regimentals de nos 3 e 4.<br />

R.T.J. — 94<br />

387<br />

Rio de Janeiro, 15 de Janeiro de<br />

1979 — Des. Marcelo Santiago<br />

Costa, Presidente». (fls. 94 e 95).<br />

Oferecidas as razoes de fls. 100 a<br />

104 e cont ra-razoes de fls. 110 a 116,<br />

bem assim o parecer do Ministerio<br />

Ptiblico (f. 121), subiu o recurso a esta<br />

Corte.<br />

Esclareco ainda que foi rejeitada a<br />

argilicAo de relevAncla sob n? 4.280<br />

(processo em apenso).<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro DAM Falcito (Relator):<br />

0 recorrente insurge-se a seguinte decisAo: contra<br />

«EMENTA: 1.<br />

Leila() e<br />

InventArio<br />

arrematacao<br />

—<br />

merit° l<br />

do patri-<br />

mobillArio — Sua adjudicacao<br />

deferida.<br />

2. NAo se apresenta<br />

por lleg<br />

enfermada<br />

ap6s a<br />

alidade e decisào que,<br />

arrematacao<br />

nio imo<br />

do patrime-<br />

j<br />

bIllArlo, deferlu a sua<br />

udicacAo a viuva e sucessora de<br />

urn de quantos<br />

como<br />

inventariados, condomina<br />

jA<br />

na<br />

de da heranca,<br />

universalidada<br />

a<br />

ja porque<br />

adjudIcatária,<br />

protegi-<br />

Judicata<br />

pela res<br />

q<br />

tulacAo.<br />

uanto ao direlto a pos-<br />

3. Con<br />

unanimidade,<br />

hecimento do agravo,<br />

pela<br />

de e, por<br />

tempestivida-<br />

maioria, pela idoneidade<br />

e, no merito, sem divergencia,<br />

pelo seu desprovlmento.<br />

AcOrdao<br />

Vistos, r elatados e discutidos estes<br />

autos do Agravo de Instrumento<br />

n? 1.391, da Capital, como agravante<br />

Tobias Maiovitch e agravada<br />

Iracema Teixeira de Lima:<br />

Acorda, a Primeira Camara<br />

Civel do Tribunal de Justica do Es-


R.T.J. — 94<br />

388<br />

lidade da decisão recorrida, haja<br />

tado do Rio de Janeiro, em conhe- vista que antes do Wile° requereu<br />

cer, por unanimidade, do recurso, a adjudicaflo do patrimenio que<br />

por tempestivo, em maioria pela nä° the foi deferida, mas ressalva-<br />

sua idoneidade, vencido o Relator, do the foi o direito de preferencia<br />

e, no merit°, sem divergencia, pelo<br />

desprovimento do apelo, nos ter-<br />

que, realmente, exerceu e, oportunamente,<br />

antes da assinatura da<br />

mos do voto do Relator.<br />

carta de arremataceo, no efeito do<br />

—R io de Ja neiro, 4 de julho de 1978 improvimento do recurso.<br />

Des. Rangel<br />

de Abreu — Presi- A Procuradoria da Fazenda opidente<br />

e Relator.<br />

nou pelo desprovimento do agravo<br />

RelatOrio<br />

(f. 55).<br />

Contrariamente a decisäo constante<br />

de folhas 34 usque 36 que, no<br />

inventario de Filomen a de Jesus e<br />

outros, adjudicou os bens que foram<br />

leiloados e arrematados por<br />

Tobias Maiovitch e outro ( documentos<br />

de fls. 11 e 12), a herdeira<br />

Iracema Teixeira de Lima, na qualidade<br />

de viuva meeira do inventariado<br />

Fausto de Lima Souza. interpbs<br />

arrematante Tobias Maiovitch<br />

o agravo de instrumento de<br />

fls. 02/04 que fol instruido corn as<br />

pecas /de fls. 06/15, onde busca a<br />

reforma de decisAo impugna da forte<br />

e firme em que tendo sido indeferido<br />

a agravada a adjudicacao<br />

do patrimOnio em face do disposto f. 63.<br />

no art. 1.117 e seu inciso I, do CPC, Neste superior instancia, a douta<br />

era inadmissivel o deferimento de- Procuradoria da Justice opinou pepoisde<br />

leiloado o patrimOnio, e lo não provimento do recurso.<br />

al:0os dots dias de lavratura do auto<br />

por ocasiAo do leitho, os herdeiros Voto<br />

foram consultados sobre a prefe- 1 Preambularmente,, rejeito a<br />

rencia e manifestaram-se pela ne-<br />

.<br />

alegacão formulada pela agravada<br />

gativa,<br />

ocorrendo ma-fé no pedi- relativamente a interposic ão a des-<br />

do posterior da agravada.<br />

tempo do agravo.<br />

As pecas pedidas pela agravada Positiva a certidAo constan te de<br />

figuram de fls. 20/42 que em segui- f. n? 61v. que a noticia relative a<br />

da, atraves das razoes de fls. 47/50<br />

suscitou a preliminar da intempes- publicacAo da decisào<br />

a<br />

tividade do recurso, eis que a decique<br />

adjudicou a agravada recorri<br />

o patrdisdo<br />

agravada foi prolatada em 29 Menlo lidos EspeD.O. lios inventariajdos,<br />

cada<br />

de junho de 1977 e sob a alegaceo<br />

foi pub no de 11 de ulho<br />

do agravante de er havido obstá- de 1977, dela nä.° constando o nome<br />

culo judicial, por t Em face dos despacho s de fls. 57<br />

a 58v. foram oferecida s as certi-<br />

Nes de fls. 58 e 59.<br />

0 despacho de fls. 59/59v., in<br />

fine, admitiu a intempestividade<br />

do agravo e no merit°, manteve a<br />

decisao.<br />

Em seguida, o agravante (f. 60)<br />

com base na certidAo inserta no<br />

verso da peticão de f. 61, sustentou<br />

a tempestividade do agravo, o que,<br />

tambem, foi admitido pelo Juizo (f.<br />

62).<br />

Em seguida, o agravante ofereceu<br />

os embar gos de declaracão de<br />

fls. 63/64 que mereceu a decisão de<br />

de arrematacAo e, ainda, porque, E o related°.<br />

estai r process° do agravante, como arrematante,<br />

nem do seu advogado Dr. Sylvio<br />

com a Procuradoria da Fazenda, Kelner. Assim, da publicacäo men-<br />

quando isso, somente depois aeon- cionada nab fluiu o prazo recursal.<br />

teceu e no merito sustentou a lega


De outra parte, ressalta a certiciao<br />

de f. 59 que os autos foram remetidos<br />

a Fazenda em 19 de julho<br />

e retornaram ao Carted° em 22 de<br />

Mho de 1977. Em face disso, o arrematante<br />

pretendendo recorrer<br />

da decisao e sob a alegacão de obstaculo<br />

Judicial pela ausencia dos<br />

autos, requereu e obteve em 18 ou<br />

19 de Mho de 1977, a odevolucdo<br />

do prazo». E, finalmente, tendo retornado<br />

os autos a 22 de julho interpOs<br />

o agravo de instrumento de<br />

folhas 02/04 a 25 e despachado a 26<br />

de Julio de 1977, evidente e a sock.dade,<br />

no prazo legal de cinco dias.<br />

Assim rejetto, a preliminar de<br />

intempestividade do recurso.<br />

2. Na qualidade de Relator e na<br />

conformidade de permissivo inserto<br />

no Regiments Interns e, ainda,<br />

corn suporte e forte em que a lei<br />

processual a de ordem pablica ou<br />

melhor de direito pitiolico, segundo<br />

Ha) do emeriti) Prof. Vicente no,<br />

suscitei ex officio a preliminar destinada<br />

ao na') conhecimento do recurso<br />

de agravo de instrumento,<br />

por inideneo a solucäo da especie.<br />

A meu entendimento, no caso,<br />

em se tratando de inventarios,<br />

ocorreu, no seu bolo, incidente<br />

quanto a venda, a arrematacao e<br />

que culminou corn a adjudicacáo<br />

do patrimOnlo de 3 (tres) herancas<br />

a agravada, na qualidade de mee!ra<br />

e herdeira de um dos inventerios,<br />

na conformidade com o Julgado<br />

recorrido (fls. 34-36).<br />

De minha parte, entendi que o<br />

Julgado recorrido pOs termo e corn<br />

a marca da definitividade ao incidente.<br />

Dai, tire! a ilacao de que o<br />

agravo de instrumento era recurso<br />

iniciOneo e dele net) conheci e porque<br />

deveria o Julgado ser atacado<br />

pela via large da apelacäo e inadmin<br />

a possibilidade da conversibllidade,<br />

a falta, na atualidade, de<br />

preceito a Semelhanca do art. 810<br />

do CPC de 1939 e porque contraria-<br />

R.T.J. — 94<br />

389<br />

mente a fung ibilidade a corrente a<br />

jurisp rudencia do Excelso Preterio<br />

(Ac. da 1? Turma — RE 83.756,<br />

Rel.: Min. Cunha Peixoto, in RTJ<br />

vol. 83, PP. 181/183).<br />

No entanto, &mei vencido, pois<br />

a douta maloria conheceu do agravo,<br />

como recurso pr6prio, a consideraceo<br />

de que o Julgado este repr<br />

esentado por mera decisâo que<br />

neo aflorou nem decidiu sobre materia<br />

de merito e muito menos,<br />

p orque nä° se trata de julgamento<br />

final do process°.<br />

3. No Mérito.<br />

A decisao agravada (fls. 34-36)<br />

douta e Justa, impecavel na forma<br />

e na juridicidade, impOe-se, sob todos<br />

os titulos, a confirmaceo.<br />

De inlets, no que interesse, reitero<br />

e subscrevo os seus fundamentos,<br />

verbis:<br />

«Proc. n? 21.271<br />

Inventerio de Filomena de Jesus<br />

e outros<br />

Levados a pftblico leilão, por<br />

näo admitirem diviseo cOmoda,<br />

os bens inventariados, foram eles<br />

arre matados, em 3.6.1977, na for-<br />

ma dos autos de fls. n? 227 e 228.<br />

imedlato,<br />

Dois dies depots, (mas no dia fail<br />

porque<br />

forense),<br />

09 foi feriado<br />

ingressou<br />

vitiva do<br />

nos autos a<br />

inventariado Fausto de<br />

Lima Souza (f.<br />

pedido<br />

230)<br />

de<br />

reiterando<br />

preferencia<br />

0<br />

na aquisicAo<br />

dos bens lelloados, mediante<br />

o depOsito de metade do preco<br />

das arrematacoes, posto que da<br />

outra metade ja era dona, como<br />

vitiva meeira e (mica herdeira do<br />

de cujus. 0 Juizo anterminou o<br />

depOsito do prey() (metade), o<br />

que foi cumprido a f. 233.<br />

E antiga e<br />

op<br />

controvertida na<br />

prudencia<br />

inião dos Mestres e da Juris-<br />

a questao op referente<br />

ortunidade do herdeiro para<br />

exercer o direito de preferencia<br />

na arrematacão de bens inventa-


R.T.J. — 94<br />

390<br />

riados. Corrente ponderosa se fiha<br />

a tese de que a pleiteacao da<br />

preferencia deve ser feita no ato<br />

do leilao; outra, todavia, admite<br />

que tal preferencia possa ser<br />

exercitada ate antes da expedicão<br />

da carta de arrematacao. 0<br />

novo COdigo de Processo Civil<br />

nao espancou as duvidas que a<br />

especie tern suscitado; antes, pelo<br />

contrario, avivou-as no determinar<br />

que o auto de arrematacao<br />

seja lavrado 24 horas depots de<br />

realizada a praca ou leilao (art.<br />

693), s6 admitindo como perfeita<br />

e acabada a arrematacao depots<br />

de assinado o auto. Parece valida<br />

a conclusao que se extrai do texto<br />

legal de que, se nas 24 horas<br />

seguintes a realizacao da praca<br />

ou leilao herdeiro se apresenta<br />

exercendo o direito de preferencia,<br />

a arrematacao nao se concretiza,<br />

nao se torna efetiva, perfeita<br />

ou acabada . A <strong>jurisprudencia</strong><br />

tern admitido, alias, que a adjudicacao<br />

podera ser requerida<br />

ate a assinatur a da carta de arrematacao<br />

(Ac. da 1! C. Civel do<br />

E. Tribunal de Justica do Estado<br />

do Rio de Janeiro, de que foi relator<br />

o Des. Basileu Ribeiro Filho<br />

— Ag. Instr. n? 24.373, de 4.8.71).<br />

No mesmo sentido o Ag. de Instr.<br />

n? 2.205, da 41 C. Civel do mesmo<br />

Tribunal, sendo relator o Des.<br />

Romero de Pinho, cuja decisao,<br />

que se ere luva ao presente<br />

caso, ssume na seguinte<br />

ementa:<br />

«Nao se pode dar por consumada<br />

a venda do im6vel, se antes<br />

da expedicao da carta de arrematacao<br />

ou da assinatura da<br />

escritura de venda, em casos de<br />

leilao por leiloeiro publico, o herdeiro<br />

pede a sua adjudicac ao, f azendo<br />

as reposicOes de direito»<br />

(Rev. Dir. Imob. vol. 15, pag. 58;<br />

Rev. For. vol. 156, pag. 197).<br />

0 Supremo Tribunal Federal<br />

nao foi insensivel a questao . Turma, no julgamento do RE<br />

8.611, entendeu por maioria, que<br />

o direito de preferencia deveria<br />

ser exercitado no ato do leilao,<br />

vencidos os Ministro s Goulart de<br />

Oliveira e Orosimbo Nonato<br />

(Arq. Jud. col. 75, nag. 31). Posteriormente,<br />

no julgamento do<br />

RE 1.872, a mesma Turma, sendo<br />

relator o Ministro Orosimbo Nonato,<br />

veto a decidir de forma<br />

contraria, admitindo possivel o<br />

exercicio do direito de preferencia<br />

ate enquanto nao expedida a<br />

carta de arrematacao ( Rev. Dir.<br />

Imob., vol. 21, pag. 16). Ern grau<br />

de embar gos, o Tribunal Pleno,<br />

por unanimidade e corn assento<br />

nos votos proferido s pelo Min.<br />

Orosimbo Nonato nos dois casos<br />

acima citados, que o relator Min.<br />

Luiz Galotti classific ou como magistrais,<br />

ma neve t o acOrdao proferido<br />

no RE. 1.872.<br />

Nao se deve desmerecer, ainda,<br />

para aplicacao correta da lei,<br />

o argumento que se traduz no<br />

interesse familiar de que o bem<br />

do espOlio, insuscetivel de divisao<br />

cOmoda, nä° passe a mans de estranhos.<br />

Os interesses econOmicos,<br />

na especie, devem ceder aos<br />

interesses de ordem afetiva.<br />

Outro argumento, que nao deve<br />

escapar ao exame dahipetese ,e a<br />

intencao certa, anteciPada, claramente<br />

manifestada pela requerente<br />

de f. 230 manter-se na posse<br />

do im6vel levado a hasta<br />

blica. Veja-se que, ja em 9 de<br />

marco de 1977 (f. 185), pedia a<br />

adjudicacao dos bens inventariados,<br />

pedido que o respeitav el des-<br />

acho de f. 190, do ilustre Juiz<br />

entao<br />

em exercicio nesta Vara,<br />

nao admitiu, em princirdo, ressalvando<br />

porem, o direito da postulante<br />

de exercer a preferencia<br />

pelo preco encontrado em leilao».<br />

E, malgrado a demasia, destaco,<br />

A 2'." ainda, que a agravada madrugou


R.T.J. — 94<br />

391<br />

em sua pretensào de nao se desfazer<br />

do acervo hereditArlo, mas nao<br />

logrou ëxito, pots a decisào constante<br />

de f. 25, de 27.4.76 entendeu<br />

ser impossivel a existAncia<br />

domfnio entre os<br />

de con-<br />

sucessores e, em<br />

conseqtiëncia, ordenou a venda dos<br />

bens em leilão.<br />

NA() obstante, ainda depots, a<br />

agravada remitiu contrariamente<br />

c<br />

A venda do patrimOnio<br />

p<br />

e<br />

dendo a sua<br />

pretenadj<br />

n<br />

udicacAo. Esta rid()<br />

foi admitida, desde logo, mas teve t<br />

a recorrida resguardada,<br />

C<br />

como directo<br />

adquirido e deferida,<br />

1<br />

judicata, a "preferência",<br />

pela res<br />

na adjudlcacAo,<br />

segundo, despacho de<br />

m<br />

02.05.77 e constante de f. 27, In<br />

c<br />

verbls:<br />

c<br />

oCumpra-se o despacho de f.<br />

182, que foi ratificado por decisào<br />

a<br />

da superior instAncia.<br />

28<br />

na<br />

As partes fica reservado o dl- na<br />

recto de exercerem sua preferén- ar<br />

cia».<br />

NAo colhem, no caso, os arguex<br />

Ao contrArlo do alegado, no auto<br />

do leilão (f. 28) nAo ficou o nome<br />

da recorrida nem de<br />

A<br />

qualquer<br />

ressado direto no<br />

trite- se,<br />

inventarlo, como arr<br />

presentes. Ora, se nAo<br />

presentes<br />

estiveram ma<br />

e se nAo asslnaram o auto,<br />

como renunciaram<br />

the<br />

preferAncla,<br />

ao dlreito de<br />

como<br />

sem<br />

res judicata,<br />

adjudicacAo<br />

A dal<br />

pretendlda? to '<br />

A resposta interrogacAo<br />

que<br />

plesmente<br />

6 simpela<br />

negativa.<br />

com<br />

giti<br />

For outro lado, desserve, por in- cac<br />

teiro, ao agravante, o teor da "in- vad<br />

formacAo" do EscrivAo constante<br />

do apenso e em resultado de junta- De<br />

da por linha, porque essa nao a a<br />

funcAo de escrivao e se fosse e se a do<br />

houvesse veracidade nos informes,<br />

curs<br />

omitira-se no cumprimento<br />

diato<br />

sim- decis<br />

co<br />

plesmente do dever, porque todo 0<br />

contendo dos informes deveriam<br />

compor o prOprio auto do leilAo.<br />

De outra parte, o pedido de adju-<br />

t<br />

dicacäo fora formulado, opportuno<br />

realizou-se<br />

empore. No caso, o lend') (f. 28)<br />

no dia 8 de junho de<br />

1977 e Como o dia 9 fol ferlado nalona'<br />

— Dia de corpus Christi — 0<br />

edido de adjudicacAo formulou-se<br />

o dia 10 e tempestivamente, a visa<br />

do disposto nos arts. 714 e 185 do<br />

PC e tamb6m porque o auto do<br />

eilAo deveria ser lavrado no dia<br />

medlato (art. 693 do CPC) e, finalente,<br />

porque o pedido<br />

ova° antecedeu a<br />

de adjudi-<br />

expedicão<br />

arta de arrematacão.<br />

da<br />

Registro, por derradelro, uto do fella°<br />

que ao<br />

Ao (f.<br />

) falta mais e muito mats. Dele<br />

o figuram os bens leiloados e<br />

r<br />

o se sabe se foram leiloados e<br />

ematados no todo ou, ern parte.<br />

o que 6 math grave, do auto<br />

nsta o pag nao<br />

mentos do agravante no sentido de ige expre<br />

amento vista, como<br />

que a agravada cp<br />

teve presente ao ro ssamente o art. 690 do<br />

C<br />

leilAo e renunciou<br />

nem dele figura que o lelloel-<br />

o direito A adju-<br />

dicacäo e que o pedido de adjudiderecebeu o prey) e para o efeito<br />

cacao foi formulado a destempo. Co<br />

seu depOsito em 24 horas, na<br />

nformidade do que<br />

art<br />

prescreve o<br />

igo 705, inc. V, do CPC.<br />

eviciAncia e a saciedade, tratano<br />

caso e na verclade, de urn<br />

emedo de leilão, de uma, arretacAo<br />

apenas ficticia e, por isso<br />

smo, sem consistencia<br />

eficAcia<br />

legal e<br />

juridica, a falta espemente<br />

do pagamento do dep6side<br />

seu preco pelo agravante,<br />

, assim, s6 se pode entendë-lo<br />

o pretenso arrema tante, na lemacão<br />

e legalidade do adjudl-<br />

A° legalmente deferida agraa.<br />

bco consignado, tamb6m, que<br />

gravada adjudlcatAria,<br />

c<br />

segundo<br />

umentacAo que instruiu o reo,<br />

cumpriu a risco e de imetodas<br />

as determinacOes<br />

Ao recorrida,<br />

da<br />

na consumacão


392<br />

R.T.J. — 94<br />

e consolidacao de sua velha pretensao:<br />

a adjudicacao de todo o patrimOnio<br />

preprio e f amiliar das herancas.<br />

Ex Positis: Rejeito a preliminar<br />

de intempestividade do agravo, a<br />

maioria e contrariamente ao meu<br />

voto, conheceu do recurso como<br />

pr6prio e no merito, nego provi-<br />

praca, ou o leilao, isto porque o direito<br />

de remir deve ser exercido<br />

nesse prazo, antes da assinatura<br />

do mesmo auto (art. 788).”<br />

(Comentarios ao Cbdigo de Processo<br />

Civil, vol. VIII, pag. 315)<br />

Outra nao e a exeges e adotada pelo<br />

Prof. Celso Neves, que assim se<br />

expressa:<br />

mento ao apelo, na confirmac ao a<br />

douta, juridica e justa decisao recorrida.<br />

E o meu voto.<br />

Rio de Janeiro, 4 de julho de 1978<br />

— Des. Rangel de Abreu, Relator.),<br />

(fls. 72 a 78)<br />

0 recorrente comeca por invocar<br />

negativa de vigencia ao art. 694, do<br />

C.P. Civil, in verbis:<br />

«Art. 694 — Assinado o auto pelo<br />

juiz, pelo escrivao, pelo arrematante<br />

e pelo porteiro ou pelo leiloeiro,<br />

a arrematacao considerar-se-a<br />

perfeita, acabada e irretratavel.»<br />

Acontece que, alem de consider a<br />

«CorresPonde o texto ao do art.<br />

975 do C6digo de 1939, e assinala<br />

que o procedimento oral do praceamento<br />

se reduz a escrito, mediante<br />

auto, que e a expressao docume<br />

es ao caso, o-cOes<br />

Micas peculiar<br />

aresto recorrido teve em vista o art.<br />

693 da lei adjetiva civil, que rem:<br />

«Art. 693 — A arrematacao constara<br />

de auto, que sera lavrado vinte<br />

e quatro (24) horas epois de<br />

realizada a praca ou o d<br />

Ora, este preceito inserido no C6digo<br />

de 1973, estabeleceu que o auto<br />

sera lavrado 24 horas ap6s a praca<br />

ou o leilao, corn o objetivo de permitir<br />

o exer ecicio do dwelt° de remir<br />

(arts. 651 788). Comentando-o diz o<br />

mestre Amilcar de Castro:<br />

«Pelo direito anterior, o auto devia<br />

ser lavrado logo apes a Ultima<br />

arrematacao e antes de encerrada<br />

a praca, isto e, antes de dar o juiz<br />

por encerrados os trabalhos da<br />

praca.<br />

Feb° direito atual, o auto de arrematacao<br />

deve ser lavrado vinte e<br />

quatro horas depois de realizada a<br />

n<br />

-tal do ato da arrematacao. Entre<br />

um e outro deve intercorrer o prazo<br />

de 24 horas, que o sistem a anterior<br />

nao tinha, criando, nao raro,<br />

serios problemas, em materia, especialmente,<br />

de remicao . Ja agora,<br />

corn essa intercorrencia, ha<br />

tempo bastante Para obstar que a<br />

arrematacao se consume, seja por<br />

remicao, tanto da arrematacao como<br />

da prbpria execucao. A T! Turma<br />

do T.R.T., da Regiao, em<br />

julgamento de 14.8.1974, entendeu,<br />

em face do texto em exame,<br />

que, requerida adjudicacao ou remicao,<br />

no prazo de 24 horas,<br />

sera apela<br />

bs<br />

a realizacao da praca,<br />

oportuna. Em termos formals, o<br />

auto de arrematacao a mein representativo<br />

ou histbrico de prova, dotado<br />

de eficacia objetiva e atendibilidade,<br />

desde que devidamente<br />

assinado. Aparece, no processo<br />

executed°, como f ato representativo,<br />

que tem no procedimento da<br />

arrematacao o fato representado.»<br />

(Comentartos ao Cbdtgo de Provesso<br />

Civil, vol. VII, edicäo, pag.<br />

133)<br />

Segundo ficou esclarecido no acerciao,<br />

o pedido de adjudicacao fol formulado<br />

em tempo oportuno.<br />

Desse modo, nao procede a argilcao.<br />

Quanto ao dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l<br />

nao me parece configurado. Em primeiro<br />

lugar, esclareco que nao sti a


decisAo pr oferiGa no RE 12.559, como<br />

as duas outras Invocadas pelo suplicante<br />

(fls. 83 e 84), foram tomadas<br />

em face do art. 986 do C.F. Civil<br />

de 1939, que nAo continha regra id6ntica<br />

a do art. 693 do vigente diploma<br />

processual.<br />

Em segundo lugar, observo que o<br />

acOrdão deu Anfase a circunstAnclas<br />

relativas A arre matacao e ao cornportamento<br />

da viuva, ora recorrida,<br />

externando velha pretensAo de adjudicar<br />

os bens em causa, de modo a<br />

nao permitir o conhecimento deste<br />

recurso, A mingua dos pressupostos<br />

de identidade ou assemelhacAo corn<br />

os arestos paradigmas (amnia 291).<br />

Ex positis, nä° conheco do recurso.<br />

R.T.J. — 94<br />

EXTRATO DA ATA<br />

393<br />

RE 91.053 — RJ — Rel.: Min. Djaci<br />

FaIcAo. Recte.: Tobias Maiovitch<br />

(Adv.: Sylvio Kelner). Recda.: Iracema<br />

Teixeira de Lima (Adv.: Carlos<br />

Linhares).<br />

D ecisão: NAo conhecido, unAnime.<br />

Presidthcia do Sr. Ministro Diaci<br />

FaIca°. — Pr esentes a SessAo os Srs.<br />

M inistros LeitAo de Abreu, Cordeiro<br />

Guerra, Moreira Alves e Decio Miranda.<br />

5? Subprocur ador-Gera' da<br />

Rep Ublica, o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 22 de junho de 1979. —<br />

Hello Francisco Marques, Secretario.<br />

RECURSO EXTRAOFtDINARIO N? 91.111 — MG<br />

(Segundo Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Leak) de Abreu.<br />

Recorrente: Brasmix — Engenhelros Assoclados, Indftstria e Comêrcio<br />

Ltda. — Re corrido: Estado de Minas Gerais.<br />

Imposto sobre circulacg o de mercadorias. For necimento de concreto<br />

pare construcao civil. Não incidéncia, nos termos de Precedentes<br />

do Supremo Tribunal Federal: RE's 82.501 e 87.375. Recurso extraordinario<br />

conhecido e provido.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade coin a ata<br />

de julgamentos e notas taquigrAficas,<br />

em conhecer do recurso e the<br />

dar provimento, por votacAo unAMme.<br />

Brasilia, 19 de outubro de 1979.<br />

— Disci Faleg°, Presidente —<br />

Leitgo de Abreu, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Leitgo de Abreu —<br />

Em grau de apelacAo, o Tribunal a<br />

quo,<br />

seg por maioria de votos, cassou a<br />

uranea, nos termos do voto do<br />

Relator, verb's:<br />

“Conhecendo do processado, em<br />

razao do duplo grau de jurisdicAo,<br />

bem como da apelacAo interposta<br />

cola Fazenda Pithlica Estadual,<br />

ntudo, nego confirmacão tenca recorrida, A sen-<br />

provendo so oficlal, prejudIcado<br />

o recur-<br />

o voluntArio.<br />

00 que se ye da documentacAo<br />

anexada aos autos, referentemente<br />

ao ICM corn incidkicia do oco no chama-<br />

ncreto fresco» 6 que, realmente,<br />

essa mercadoria,<br />

estava isenta do<br />

por lei,<br />

posto.<br />

menclonado Im


R.T.J. — 94<br />

394<br />

you merit° Nem incide a SUmula<br />

«To a ,<br />

o bem o demons-<br />

Estadual<br />

trou a Fazenda<br />

em<br />

fir- ,<br />

o<br />

em face do disposto na Stimula<br />

posteriormente,<br />

convenios<br />

mados pelos Estados (Cony. n?<br />

16/75), fora excluido do camp°<br />

isencional o denominado «concreto<br />

fresco».<br />

«E 0 Decreto Estadual n? 17.705<br />

de 15.1.76, convalidando o citado<br />

convent ° n? 16/75, excluiu, do campo<br />

isencional, essa mercadoria como<br />

se ve de seu artigo 3?.<br />

Assim, co razáo o Procura o V1COS, feita,<br />

Dr. Alvim Jacob Saad quando z empreitada, co rnmaterial<br />

for<br />

necido<br />

s ref erentes ao dia<br />

dono da<br />

pelo • ' ou pelo<br />

que os p<br />

emprei<br />

ICM no que Lan ge ao «concreto<br />

fresco » foram emitidos quando essa<br />

mercador is estava isenta do<br />

ICM.<br />

«Todavia, concluiu o ilustre Procurador:<br />

«Mas, hoje, depois do advento<br />

do Decreto Estadual n<br />

?<br />

17.705, de 15.1.76, convalidando<br />

o<br />

convent° n? 16/75, citado pela prO-<br />

isencAo<br />

pria Fazenda a f. ,<br />

caiu a partir da publicafl<br />

o deste Ira, m alustada<br />

obra a que se destina, e necessariadecreto.<br />

«Nestas condicOes, denego a semente<br />

preparada por quern tenha<br />

habilitacAo legal para elaborar<br />

os<br />

guranca imPetrada, condenando a<br />

impetrante nas custas Ave<br />

» (fls. 265- calculos e aplicar a tecica indisPensis<br />

A concretagem.n Essas carac-<br />

266).<br />

teristicas a diferenciam de postes,<br />

o o recurso extraordinArio ter-<br />

corn fundament° nas tetra ins a, lajotas ou placas 281,<br />

597.<br />

Tendo por comProvado o dissidio<br />

R.E. n? 82.501, in RTJ 77/959,<br />

corn<br />

em copia As fls. 187/20<br />

de cimento prefabricadas,<br />

estas,mereadorias<br />

pos - do provi-<br />

c e d, subindo e<br />

mento ao agrav o, em apenso.<br />

A Procuradorla-Geral da Repüblica,<br />

reportando-se a dots precedentes<br />

deste Tribunal (RE's 82.501 e 87.375),<br />

e favorAvel ao conhecimento e provimento<br />

do recurso.<br />

E o relatOrio.<br />

4, de que foi<br />

relator o Ministro Moreira Alves, conheco<br />

do recurso, pela alinea U. Do<br />

voto do Ministro relator, que esta<br />

Turma acolheu A unanimidade, destaco<br />

o seguinte: «Quer na preparacAo<br />

da massa quer na sua colocacáo<br />

na oa, br<br />

q ue ha. A prestacäo de ser-<br />

I sob forma de<br />

obra, conforme a modalidade de empreitada<br />

que foi celebrada. A prestaea°<br />

de servico nAo se desvirtua pela<br />

circunstAncia de a preParano da<br />

massa ser feita no local de obra, manualmente,<br />

ou em betoneiras colocadas<br />

em caminhOes, e que funcionem<br />

no lugar onde se constroi, ou venham<br />

preparando a mistura no trajeto<br />

ate a obra. Mistura meramente<br />

as necessidades da<br />

...» (RTJ 77/964).<br />

No mesmo sentido o R.E. 87.375,<br />

relator o Ministro Soares Murioz, que<br />

negou seguimento, nos termos do artigo<br />

22, 1?, do Regiment°, a recurso<br />

extraordinarto do Estado, reportando-se<br />

aos Agravos 63.821, 64.392<br />

e 65.304.<br />

De acordo corn os precedentes,<br />

dou Provimento ao recurso para res-<br />

VOTO<br />

tabelecer a sentenca.<br />

0 Sr. Ministro Leitão de Abreu<br />

(Relator): Não incidem, no caso, as EXTRATO DA ATA<br />

restricOes regimentals ao cabimento<br />

do recurso contidas nos inciso s III de RE 91.111 — MG — Rel.: MM. Lei-<br />

VIII do artigo 308, pois se trata tho de Abreu. Recte.: Brasmix —<br />

mandado de seguranca de que se Jul-


Engenheiros Associados, Ind. e Comèrcio<br />

I.Ada. (Advs.: Rafael Eugenio<br />

de Azeredo Coutinho, Lutz Carlos<br />

Bettiol, Afonso Estevao Torres, Josè<br />

de Magalhaes Barroso e outros).<br />

Recdo.: Estado de Minas Gerais<br />

(Advs.: Geraldo Pereira da Fonseca<br />

e Josè Alfredo Borges).<br />

Decisao: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator.<br />

Una/lime. Falou, pelo Recte. o Dr.<br />

Josè de Magalhaes Barroso. Falou<br />

R.T.J. — 94<br />

395<br />

pelo Recdo. o Dr. José Alfredo Borges.<br />

PresidënCia do Sr. Ministro Djaci<br />

Falcao. — Presentes a Sessao os Srs.<br />

Ministros Leitao de Abreu, Moretra<br />

Alves e Deck) Miranda — Ausente,<br />

justific<br />

ro Guerra.<br />

adamente, o Sr. Min. Cordel-<br />

Subprocurador-Geral Rep da<br />

res.<br />

nblica, o Dr. Mauro Leite Soa-<br />

Brasilia, 19 de outubro de 1979, —<br />

Hello<br />

rio. Francisco Marques, Secreta-<br />

RECURSO EXTRAO RDINARIO N? 91.180 — MG<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Rafael Mayer.<br />

Recorrente: Prefeitura M unicipal de Montes Clams — Recorrido: Francisco<br />

Ribeiro Pires.<br />

Ministarlo Pablico. Intervencao<br />

246 do C6d. de Processo<br />

obrigataria.<br />

Civil. Interesse<br />

Art. 82. III, c/c art.<br />

pessoa de direlto pablico ser<br />

pUblico.<br />

parte<br />

A circtuistfincia na lide nAo de a<br />

ciente pare a obrigatoriedade constitui razao sun-<br />

da se nä° evi intervencao<br />

denciada, no caso, a conotacao de do Ministèrio Pfiblico,<br />

aplica o art. 82, III, do CPC, a hi interesse<br />

pOtese paMico. NA° se<br />

judicial contra a Prefeltura Municipal.<br />

de execucao por titulo extracido,<br />

mas improvido.<br />

Recurso extraordinArio conhe-<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Pri-<br />

meira Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e notas taquigräficas, a<br />

unanimidade, em conhecer do recurso,<br />

mas negar-the provimento.<br />

Brasilia, 25 de marco de 1980.<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Rafael Mayer, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Rafael Mayer: Sob<br />

a forma de composicao amigavel e<br />

mediante escritura pi/Mica, a Prefeltura<br />

Municipal de Montes Claros desapropriou<br />

terreno dos recorridos. 0<br />

valor ajustado foi pago parte no ato<br />

da l avratura da escritura e o restante<br />

mediante promissoria pro soluto.<br />

Vencida e 'Lao paga a promiss6-<br />

ria, o credor promoveu execucao<br />

contra a Municipalidade. Esta embargou,<br />

a legando nulidade da transack),<br />

uma vez que o pagamento<br />

nä° fora feito integralmente em dinheiro,<br />

conforme exigancia do art.<br />

153, § 22, da Constituted') Federal.<br />

Vencida em ambas as instanclai<br />

or dinarias, pots confirmada a sentenca<br />

de primeiro grau no Juizo de<br />

apelacao, in terptIe a Prefeitura devedora<br />

recurso extraordinario, pelas<br />

tetras a e d, arglindo violacao dos<br />

arts. 82, III e 246 do CPC, alêm de<br />

dissidio Jurispru<br />

d dential. Pretende<br />

ecretacao da nulidade do a<br />

por falta de intervencao<br />

processo<br />

do representante<br />

do IVIinist6rio Pnblico.


R.T.J. — 94<br />

Cuido, no entanto, que o acOrdao<br />

recorrido tenha dado uma consentanea<br />

interpretacao aos textos legais<br />

em causa. Nao se deduz, necessariamente,<br />

do art. 82, III, do CPC, que a<br />

presenc a de pessoa de direito pallco<br />

na lide tenha como implic<br />

ito o interesse<br />

pUblico motivador da intervencao<br />

do Ministerio Pithlico, pois<br />

entao outra teria sido a formulacao<br />

do preceito, pondo-se o interesse ptlblico<br />

como conseqtlencia daquela<br />

participacão. 0 certo, porem, e que<br />

quaisquer que sejam as partes qualificadas<br />

, e nao esta dantemao excluido<br />

que possa ser outra que nab uma<br />

pessoa juridica de direito pUblico, e<br />

sempre exigivel que a participacao<br />

na lide, pela posicao, pretensao e objeto,<br />

tenha a conotacao de interesse<br />

pilblico.<br />

0 comParecimento daPrefeitura<br />

da pa rte.<br />

pelo Municipal , como re, a uma execucao<br />

A nulidade a desacolhida quo, sob o funda- por titulo extrajudicial, vinculado a<br />

Egregio Tribunal uma escritura de desaPropriacao<br />

de tratar-se, no ca-<br />

mento so, dea principal<br />

simples interesse<br />

da amigavel<br />

, nao se reveste daquela<br />

qualificacão necessa<br />

entidde<br />

de pfiblica, e nao interesse pi-<br />

ria a configurar<br />

o interesse pUblico, posto que se si-<br />

que afasta<br />

a tua no piano do interesse privado,<br />

blico, ciia<br />

obrigatorrcunstanc iedade da intervencao<br />

do despido da relevancia, da suprema-<br />

de nao ter<br />

Ministerio Pblico, al<br />

cia e da superior finalidade comunihavido<br />

demonUstracao de prejuizo em taria que caracterizam aqueloutro.<br />

virtude da omissão.<br />

Ora, os julgados trazido s Diante disso, nao se pode afirmar<br />

a colacao seja indeclinavel a intervencao do<br />

(Tribunal de Justica de Santa Cata- Ministerio PUblico em simpl e;s prorina,<br />

in AT — 482/207; Tribunal de cesso de execucao contra o Mu-<br />

Justica do Rio Grande do Sul, in niciPio, para haver a satisfacao de<br />

Rev. Jun. do<br />

,TJRGS 54/140), adotitulos emitidos pela Prefeitura Mu-<br />

tam a tese de que em qualquer de- nicipal. Thin razao, pois, tanto o vemanda<br />

ern que a pessoa juridica de neravel acardao recorrido quanto o<br />

direito pUblico seja parte, ipso facto, brilhante parecer da Procuradoria-<br />

pi<br />

se caracterizae o interesse<br />

lblico, Geral da Reptblica.<br />

evidenciado p la qualidade da parte,<br />

Convem registrar, outrossim, que<br />

a impor a intervencao do Ministerio a pretendida nulidad<br />

Pithlico. Ora, a tese do acOrdao re-<br />

e so veto a ser<br />

invocada pela Prefeitura quando da<br />

corrido, rejeitando esse absolutismo sustentacao oral no juizo da apela-<br />

conceitual e admitindo o caso parte em cao, entao ;la ouvido o Minister<br />

que a entidade priblica sendovencao M E<br />

io Pit-<br />

irostadual de segunda instancia<br />

nao acarreta a mesma inter, (fis. 37-38), que se manifesto<br />

dissociou-se daquele entendimento<br />

u sobre<br />

0 merit° da causa e pela confirma-<br />

no interprear a lei procssual, razao<br />

que e para t conhecer do e 396<br />

Admitido o recurso, a Procurado<br />

-ria-Geral da Republica, nesta<br />

cia, opina pelo conhecimento e nao<br />

provimento do recurs<br />

cao da sentenca apelada, sem argilir<br />

recurso pela<br />

a nulidade.<br />

Tetra U.<br />

o, em douto parecer<br />

do ilustre Procurador M<br />

oacir<br />

Antenio Machado da Silva (fls.<br />

91-<br />

94).<br />

E o relathrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator)<br />

: 0 objeto do recurso extraordi<br />

ge a questa° sobre a nuli-<br />

-natio se cin<br />

dade do feito por falta de interven -cao obrigatoria do Ministerio pUblico,<br />

nos termos do art. 246, do CPC,<br />

ao crivo do art. 82, III, do CPC, que<br />

atribui comPerencia ao mesm o organ<br />

para intervir em todas as causas em<br />

que hã interesse pUblico evidenciado<br />

pela natureza da lide ou quali da de


Assim, pela letra a o recurso nâo<br />

seria viavel porque bem interpretados<br />

os dispositivos legais dados como<br />

ofendidos; entretanto, como ja<br />

mencionado, cabe conhecer do recurso<br />

pela letra d mas para negarlhe<br />

provimento.<br />

E o meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 91.180 — MG — Rel.: Min. Rafael<br />

Mayer. Recte.: Prefeitura Municipal<br />

de Montes Claros (Advs.: Marcos<br />

Afonso de Souza e outros). Recdo.:<br />

— 94<br />

397<br />

Francisco Ribetro Pires (Advs.:<br />

Josè Giorgi e outra).<br />

pr<br />

Decisão: conhecido, mas negado<br />

ovimento, decisáo unanime. Ausente<br />

ocasionalmente, o Min. Xavier<br />

de Albuquerque.<br />

Presidencia do<br />

Thompson<br />

Sr.<br />

Flores. Ministro<br />

Presentes a Sesqsdo<br />

os Srs. Ministros Xavier de Albu-<br />

uerque, Cunha Peixoto, Soares Munoz<br />

e Rafael Mayer. Subprocurador-<br />

Geral da Republica, o Dr. Francisco<br />

de Assls Toledo.<br />

Brasilia, 25 de marco de 1980.<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretário.<br />

RECURSO EXTRA ORDINARIO N? 91.204 — PR<br />

(segtmda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Djaci FalcAo.<br />

Recorrentes: Altamiro Pedro Spinatto e S/Mulher — Recorridos: Santo<br />

ZaneIli e S/Mulher.<br />

lo de reivinclicacão. Reconvencilo. Inadmb3sibilidade desta nas<br />

circtuistAnclas do caso concreto. ArrematacAo. Nu&lade nAo cominada.<br />

Embora pr aticado de forma diversa da p rescrita em lei, o ato alcanCou<br />

os seus fins. Recurso extraordinftit conhecido em face da divergencia<br />

i tuisprudencial, e provido.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigráficas<br />

por unanimidade de votos, conhecer<br />

do recurso e dar-lhe provimento,<br />

nos termos do voto do Ministro<br />

Relator.<br />

Brasilia, 22 de junho de 1979. —<br />

Djaci FalcAo, Presidente e Relator<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Mac' FalcAo: 0<br />

acOrdAo objeto do recurso esta Iancado<br />

nos seguintes termos:<br />

o<br />

p<br />

Ementa: E nula pleno lure,<br />

raca ou lellAo em que o devedor<br />

a<br />

realizacao<br />

não foi intlmado por mandado da<br />

da praca ou leilno.<br />

AcOrdAo n? 16.274<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos de apelacao civel n? 898<br />

— 78 de Apucarana, ap em que sal)<br />

elantes: Santo Zaneili e sua mu-<br />

'her, e apelados: Spinatto<br />

Altamiro Pedro<br />

e sua mulher.<br />

A acAo 6 de reivindicacAo de posse,<br />

corn base em Carta de Arrema-<br />

p<br />

tack) nula por inobservar a forma<br />

porque<br />

rescrita em lei para ser emitida,<br />

pan liquidacão de obriga-<br />

cruzeiros,<br />

cno cambial de trinta e cinco mil<br />

tot feita a penhora de<br />

bens avaliados por baixo em oito-


398<br />

R.T.J. — 94<br />

cantos e cinqiienta mil cruzeiras e<br />

arrematados em praca nula piano<br />

jute ao omitir benfeitoriao s valiosas<br />

em cafezais e quando devedor<br />

nao lot intimado por mandado da<br />

realizacao da praca ou lank) — artigo<br />

687 3?, do CPC., ocorren do a<br />

praca antes dos vinte dias ao decurso<br />

do prazo ao edital.<br />

A reconvencao foi impugnada,<br />

sob o pressuposto de haver o devedor<br />

recebido p saldo do dinheiro<br />

pago pelo arrtmatante e que a via<br />

inadequada para anular a praca<br />

e a carta de errematacao, quando<br />

a certa a acao rescisOria, ocorrendo<br />

no mais a confissao Beta<br />

conforme o artigo 302 do CPC. Resultaram<br />

provadas as irregularida des na execucao da praca, que a<br />

torna nula de pleno direito, com a<br />

ausencia de prova de intimacao do<br />

devedor , ato nub suficiente para<br />

ser declarado, inclusive arrematacao<br />

e transcricao n? 1.840, doc. a f.<br />

20.<br />

A arrematacao nä.° transita em<br />

julgado : — «A arrematacao, por<br />

ser ato judicial, que indePende de<br />

sentenca, nao pode ser objeto de<br />

acao rescisOria ». — Revista dos<br />

Tribunals 105-199; Brasil, /teardaos,<br />

pag. 61, vol. 1? — Nä° preenchendo<br />

os requisitos legais a venda<br />

em hasta pUblica, corn arremata-<br />

1 e avalia ao omissa, nao<br />

Ctransita<br />

em julgado e como ato ju-<br />

Os vencidos interpuseram recurso<br />

dicial se declara como pedido na extraordinario corn base na letra a,<br />

reconvencao — artigo 694, $ (mica, do inc. III, do art. 119 da Constituin?<br />

I, por victo de nulidade . A null- cdo Federal, expondo por intermedio<br />

dade da penhora apontad a na con- do seu ilustrado patron:<br />

testac do, sem embargos do execu- «5<br />

.<br />

0 venerando acardao recorritado,<br />

ainda antes da arrematacao do afirma que:<br />

ou adjudicacao, fica superado ao Esta evidente que o arrematante<br />

nao tern condicOes juridicas de se<br />

dmitir na per bens arremata-<br />

ossenulo doso documento aos,<br />

por s<br />

presentado para fundamentar a<br />

acao, nao apresentando preenchidos<br />

os requisitos legais a validade<br />

da compra em praca.<br />

A via inadequada consa grada na<br />

sentenca, porque declarateria de<br />

nulidade de ato juridico, como fot<br />

requerido na reconvencao, observada<br />

a via certa para declaracao<br />

da nulidade, chegou a sentenc a a<br />

sown() imprOpria ao admitir a<br />

acao rescisOria como a via correta,<br />

sendo passivel de ser alterada para<br />

ter-se como extinta a Kati, nos<br />

termos do artigo 267, n? IV, do<br />

CPC. e nula a arrematacao e atos<br />

subseqtientes de transcricao imobiliaria<br />

corn a procedencia da reconvencao,<br />

condenando-se o A. e reconvindo<br />

nas despesas do. processo<br />

e honorarios de advo gado do R. e<br />

Reconvinte, ern vinte por cento dos<br />

valores da acao e reconvencao, somadas<br />

em Cri 131.712,00.<br />

Acordam os Desembargadores<br />

da Terceira Camara Civet do Tribunal<br />

de Justica do Estado do Parana,<br />

por unanimidade de votos,<br />

dar provimento a apelacao.<br />

Curitiba, 7 de novembro de 1978<br />

— Alceu Machado, President e —<br />

Said Zanlute, Relator — Wilson<br />

Reback .” GIs. 112 e 113)<br />

A arrematacao nao transita em<br />

poder requerer a substituicao do<br />

bempehordo or dinheiro — art. julgado: «a arrematacao,<br />

por ser<br />

the pre- ato judicial, q indePende de<br />

668 CPC, poor nao causar-ue<br />

sentenca, nao pr objeto de<br />

juizo, vez que a obrigacao liquida acao rescisOria”ode . — seRevista<br />

dos<br />

tern condicees legais de ser paga Tribunals 105/199, Brasil, Ac6rcorn<br />

os encargos da execucao.


dAos, pag. 61, vol. 1? — IslAo<br />

preenchendo os requisitos legais<br />

a venda em hasta pUblica, corn<br />

arrematacao nula e avaliacAo<br />

omissa, nao transita em julgado<br />

e como ato judicial se declara como<br />

pedido na reconvencao — art.<br />

694, § unico, n? I, por vicio de nulidade...<br />

Esta evidente, que o arrematante<br />

nao tern condicees juridicas<br />

de se imitar na posse dos bens<br />

arrematados, por ser nulo o documento<br />

apresentado para fundamentar<br />

a acao, nao apresentando<br />

preenchidos os requlsitos legais a<br />

validade da compra ern praca.»<br />

Admitiu, pois, em reconvencao a<br />

reivindicatbria do arrematante<br />

(para obter a posse do lin:Wel arrematado),<br />

apreciar e declarar supostas<br />

nulidades do processo da<br />

execucAo em que ocorreu a arrematacao,<br />

que redundariam em<br />

«ser nulo o documento apresentado<br />

para fundamentar a acão».<br />

A jurisprud6ncia, no entanto,<br />

contraria a essa tese, porque nth.)<br />

concorda em que os vicios do processo<br />

da execucao em que se deu a<br />

arrematacao sejam opostos como<br />

defesa, mesmo em reconvencao,<br />

na acao do arrematante para haver<br />

o bem adquirido.<br />

Os julgados a seguir transferidos<br />

demonstram a franca divergencia<br />

corn o venerando ac6rdAo recorrido:<br />

0... o autor arrematou o imOvel<br />

em hasta pOblica, exigindo a respectiva<br />

carta, revestida de todas<br />

as formalidades legais,<br />

verificando-se, ainda, que os reus<br />

tomaram parte na execucAo...<br />

Uma vez que tiveram oportunidade<br />

de defender o seu direito na<br />

execucAo da sentenca, nao poderão<br />

agora reabrir o debate, de<br />

modo a transformar a presente<br />

acao em verdadeira resciseria.<br />

— 94<br />

399<br />

Segundo a lick, de Pontes de Miranda<br />

Comentarios, vol. III, pag.<br />

317), «a arrematacao, uma vez<br />

assinada a carta de arrematacao<br />

e p assados os cinco dias do art.<br />

708, somente pode ser impugnada<br />

pela acao de rescisAo de sentenca<br />

(art. 798). Se foi o juiz que a<br />

assinou ainda que a arrematacao<br />

nao tenha sido valida ou nao tenha<br />

existido, a inexisténcia do<br />

negAcio juridic° ou a sua nulidade<br />

esta coberta pela assinatura<br />

da carta, se bem que tivesse havido<br />

a nulidade (Supremo Tribunal<br />

Federal, 29 de outubro de<br />

1959, Rev. de Direlto n? 59, 533),<br />

alias a acao de nulidade sobre o<br />

neg6clo seria inUtil para destruir<br />

a carta, s6 suscetivel na hipotese<br />

da rescisao de sentenca (ou de<br />

decretacAo de nulidade ipso jure<br />

da sentenca). 0 mesmo ensina-<br />

mento 8 ministrado por Amilcar<br />

de Castro (Comentitrlos, Vol. X,<br />

pag 308): «A arrematacao realizada<br />

em qualquer processo contencloso<br />

ou administrativo pode<br />

ser anulada, no mesmo processo,<br />

por melo de embargos, ou depots,<br />

por mein da acao rescis6ria»<br />

(Revista dos Tribunals, 320/346-<br />

347).<br />

Os embargantes arremataram<br />

ern praca o prklio e respectivo<br />

terreno da rua Tavares Ferreira<br />

n?s 45 e 45-A. Instruidos corn a<br />

carta de arrematacao requereram<br />

a imissAo de posse do ap .<br />

45, o que obtiveram, consoante a<br />

sentenca de fls. 51-52. Entretanto<br />

o acOrdão embargado de fis. 73-<br />

75 reformou a sentenca pan Julgar<br />

improcedente a acao, contra o<br />

voto do Des. Roman Cortes de<br />

Lacerda, que negava provimento<br />

ao recurso.<br />

Corn a carta de arrematacao<br />

despida de suas formalidades<br />

ex trinsecas, o arrematante quer<br />

a posse do im6vel. Mao 6 possivel


400<br />

R.T.J. — 04<br />

em acão desta 6rbita julgar manifestamente<br />

nula a carta de arrematacao,<br />

pois o arrematante e<br />

terceiro. Assim, somente em<br />

ace.° resciseria sera possivel invalidar<br />

uma carta de arremata a. Como se fez, e-cão<br />

registrad<br />

dentro da orientacAo seguida, os<br />

titulos registrados teriam existencia<br />

precaria . (Mario da Justiea<br />

da Uni 17-XI,1955, p. 4.024).<br />

0 Des. CunhaPebtoto: A acão<br />

de imissAo de posse cabe ao adquirente<br />

de bens para haver sua<br />

posse, contra o alienate ou terceiros<br />

que detenham os bens adquiridos<br />

e a acAo inicia-se corn a<br />

apresentacão do titulo de<br />

dominio . E o titulo de dominio a<br />

que se refere o art. 382 do CPC e,<br />

sem dilvida, a certiclão de transcricAo<br />

de transferencia da propriedade<br />

no registro de imOveis,<br />

nos termos do art. 530, n? I, 533 e<br />

860, § 1?, do CC.<br />

Ora, esta prova foi feita pelos<br />

autores, nEto sendo necessarla a<br />

juntada da carta de arremata no, nä° s6 porque, ela, em si,<br />

nAo prova o dominio, como porque,<br />

como assinala o Tribuna l de<br />

Justica de SAo Paulo, «na acão<br />

de imissao de posse de im6veis<br />

arrematados em executivo hipotecerio,<br />

nAo a possivel a alegacan,<br />

em defesa, da nulidade do<br />

executivo e da hasta pOblica”<br />

(RT vol. 154/263).<br />

8 que, como ia decldiu a Camara<br />

Civil deste Tribunal, em<br />

aclirdAo relatado pelo eminente<br />

Des. Autran Dourado, «mesmo<br />

as nulidades de pleno direito das<br />

arrematacOes, para tirarem o<br />

valor probante das cartas e preciso<br />

que sejam anuladas antes,<br />

em KA° de nulidade” (Jurispruclènela<br />

Mineira, vol.10-330).<br />

Ora, toda esta defesa se relaciona<br />

corn o processo de execu-<br />

cAo e näo corn a carta propriamente<br />

dita.<br />

Nestas condicOes, recebo os<br />

embargos ...” (Revista dos<br />

Tribunals, 416-364).<br />

Tratando-se de acao de imissão<br />

deposse fundada em carta de arrematacAo<br />

devidamente transcrita,<br />

a defesa consistente na alegacep<br />

de nulidade do processo de execucAo<br />

não pode ser oposta contra<br />

o arrematante, estranho aquele<br />

processo . Somente a nulidade de<br />

pleno direito au a rescisào do<br />

titulo podera obstar a entrega da<br />

coisa a sett legitimo dono<br />

(Revista dos Tribunals, 493-66)<br />

Os vicios argilidos pelos apelantes,<br />

relativos a falta de citacAo<br />

para a acAo ou execucão, onde<br />

se deu a arrematacAo do bem,<br />

sAo<br />

na presente de-<br />

manda. A hipatese seria de rescindibilidade<br />

por via da querela<br />

nuliltatis (art. 485 do CPC), que<br />

nä° se poderia reconhecer<br />

incidenter tantum (Revista dos<br />

Tribunals, 487-74).<br />

Eventuais nulidades da carta<br />

de adjudicacAo s6 em acAo prepria<br />

e de cognicAo ampla poderiam<br />

ser discutidas e analisadas.<br />

Repelida a defesa que a respeito<br />

o espOlio apresentou na imissAo<br />

de posse, os herdeiros ja nAo se<br />

poderiam furtar ao julgado,<br />

arrogando-se terceiros ciao alcancados<br />

pelo efeito da sentenca<br />

(Revista dos Tribunals, 494-136-<br />

137).<br />

A carta de arrematac Ao de<br />

im6vel emana de processo que<br />

transcorreu sem incidentes ate a<br />

expedicAo da mesma, autoriza a<br />

imissào de posse e quaisquer eivas<br />

apontadas posteriormente s6<br />

podem ser discutidas ern outra<br />

acão, transPostos que foram todos<br />

os prazos de defesa. (Revista<br />

dos Tribunals, 352/293-494).


Os autores, ora apelados, arremataram<br />

em hasta ptiblica o<br />

imOvel referido na inicial: nao<br />

obstante, os herdeiros, no inventarlo<br />

em que o imOvel foi inventarlado<br />

e vencido em hasta pabliea,<br />

se recusaram a entregar o<br />

im/Wel aos arrematantes, resultando<br />

dal a propositura da presente<br />

acao, que foi Julgada proce-<br />

A arrematacao de im6vel em<br />

hasta enquanto nao anulada,<br />

produz todos os efeltos legais,<br />

resultando dal a legitimidade<br />

ad causam para os autores ingressarem<br />

em juizo com a presente<br />

acao de imissao de posse<br />

(Revista dos Tribunals, 456-85).<br />

Como se vë dos Julgados acima,<br />

dos Tribunals de Sao Paulo, Minas<br />

Gerais e do antlgo Distrito Federal,<br />

eventuals nulidades ocorridas<br />

no processo de execucao, clue ensejou<br />

a arrematacao que lnforma o<br />

pedido de imissão na posse — nao<br />

podem ser discutidas nem acolhi<br />

das, na Kato em que o arrematante<br />

reivindica o bem, pela elementar<br />

razao de ser o arrematante terceiro<br />

em relacao ao processo da<br />

execucao. Somente quem neste foi<br />

parte pode debater sobre as ditas<br />

nulidades. Dal a jurisprudëncla<br />

desses <strong>tribunal</strong>s ainda afirmar que<br />

e essencial a propositura da acao<br />

rescisorla, assim compreenclida seja<br />

a que 6 aludida no art. 485 do<br />

C6d. de Proc. Civil, seta a que 6<br />

aludida no seu art. 486. Admitindo<br />

o debate sobre nulidades do processo<br />

da execucao na acao reivindicataria,<br />

e decretando-as em reconvencao<br />

oposta ao reivinclicante,<br />

mas nao ao exeqiiente, o venerando<br />

acardao recorrido divergiu matilfestamente<br />

dos Julgados acima<br />

apontados como padrão.<br />

6. Por outro lado, adotando a tese<br />

de ser absoluta a nulidade resul-<br />

R.T.J. 94<br />

401<br />

tante da transgressao do disposto<br />

no art. 687 e §§ do C6d. de Proc. Civil,<br />

a ponto de<br />

c<br />

decreta-la em re-<br />

onvencao a acao reivindlcaterla<br />

movida pelo<br />

presenca<br />

arrematante<br />

do<br />

(sem a<br />

exeqfiente),<br />

rando acOrdao<br />

o vene-<br />

recorrido<br />

verge de outros<br />

ainda di-<br />

<strong>tribunal</strong>s, cuja opi-<br />

Mao the 6 antagenica.<br />

IA-se no venerando corrido:<br />

acOrdáo re-<br />

(t A acao a de<br />

p<br />

reivinclicacilo de<br />

rematacao<br />

osse, com base em Carta de Ar-<br />

nula por<br />

forma<br />

inobservar<br />

prescrita<br />

a<br />

emitida,<br />

em lei Para ser<br />

porque para liquidacao<br />

de obrigacao cambial de trinta e<br />

cinco mil cruzeiros, fol felts a penhora<br />

de bens avaliados por balxo<br />

em oitocentos e<br />

cruzeiros<br />

cinquenta e mil<br />

arrematados<br />

ca nub<br />

em pra-<br />

«pleno b Jure* ao omitir<br />

enfeltorlas valiosas em cafezais<br />

e quando o devedor nao foi int,-<br />

da<br />

mado por mandado da reallzacao<br />

praca ou bilk) — art. 687,<br />

do CPC., ocorrendo a praca<br />

antes dos Ante dlas ao decurso<br />

do prazo do edltal» (f. 112)<br />

A acolhida dispensada a<br />

vencao, em que os Recorricl os invocaram<br />

o art. 146 do Cad. Civil<br />

(apoiando-se em Mao de Washington<br />

de Barros Monteiro), como se<br />

le a f. 58, implicou em declaracão<br />

de nulidade absoluta (pleno lure,<br />

diz o acOrdao), independente<br />

comprovacao<br />

da<br />

de prejuizo, porquanto<br />

a causa foi Julgada antecIpadamente<br />

e os ora Requeridos, em sua<br />

apelagao (Rs. 91-97), nao a lmpugnaram<br />

sob esse aspecto.<br />

A jurlsprucidncia de outros <strong>tribunal</strong>s,<br />

no entanto, alert: de ilk) considerar<br />

absoluta a nulidade que resulta<br />

da infracao ao disposto no<br />

art. 687 e if do Cod. de Proc. Civil,<br />

exige que seta demonstrada i pelo<br />

nteressado a ocorrencla de pre-<br />

Juizo, o que supOe instrucao proba- .


402<br />

R.T.J. — 94<br />

t6ria c no processo adequad o, entre<br />

executado e exeqilente, reiterese).<br />

Eis os exemplos:<br />

«Pelos apensos verifica-se que<br />

na nä() executiva, os editais foram<br />

de praca e let ao, como tern<br />

sido praxe que se generaliz a, e<br />

cuja valoracäo näo impede seja<br />

aqui feita. E o edital de leilao foi<br />

publicado no jornal de 17-1-1970,<br />

realizando-se a praca a 2 de fevereiro.<br />

Näo houve a certo a observAncia<br />

do prazo do art. 964.<br />

Mas, o importante e fundamen e em tela<br />

não-cominada, e, assim, se se<br />

pronuncia quando a demonstrado<br />

o prejuizo da parte. Neste sentido,<br />

pode invocar-se decisalo, sobre<br />

a materla na Revista de Jurisprudencia<br />

do Tribunal de Justly%<br />

do Estado vol. 18-283, de que<br />

Poi relator o hoje eminente Juiz<br />

de Alcada Dr. Oscar Gomes Nunes.<br />

Os Autores não demonstraram<br />

prejulzo pela data da publicacao,<br />

pots o prejuizo ai não eo<br />

vii preco da adjudicacao, mas<br />

para o aperfelcoamento do ato de<br />

leilào. E nada se fez, nem sequer<br />

se argumentou no sentido»<br />

(Revista dos Tribunals, 443-336 —<br />

337).<br />

Ainda a admitir que o venerando<br />

actirclao recorrido haja considerado<br />

o prejuizo in re 1psa pois alude<br />

desaProPriacäo Oco rrida entre o<br />

credit° e a avaliacäo (na verdade<br />

indica os valores da arrematacao<br />

— Cr§ 35.000,00, f. 15 — e da avaliacäo<br />

que foi de CrE 815.000,00 — f.<br />

8), a divergencta corn o julgado<br />

acima a evidente «pois o prejuizo<br />

at não e o preco vii da adjudicacao»,<br />

como afirma o Tribunal<br />

gaficho.<br />

Na mesma linha de raciocinio este<br />

acOrdão:<br />

«Tendo o ato atingido o fim colimado,<br />

näo a de ser decretada a<br />

-tal a que a nulidad<br />

anulacäo ainda que irregularid a -des fossem presentes, pois a nulldade<br />

decorrente da inobseracia<br />

ao disposto no art. 964 e seus parágrafos<br />

da lei processual (regras<br />

idanticas as do art. 687 e 0<br />

do COdigo atual), importa em nulidade<br />

«nao cominada », aplicando-se,<br />

as regras dos arts.<br />

273 e 278, § 2?, do COdigo de Process°<br />

Civil (coincidentes corn os<br />

arts. 244 e 249, § 1?, do Cedigo<br />

atual) (Revista dos Tribunals,<br />

240/230).<br />

0 pr6prio Supremo Tribunal chega<br />

a esse resultado:<br />

«Para conhecer da <strong>revista</strong> e<br />

prove-la, houve por bem o julgado<br />

ora recorrido aceltar que a<br />

transferéncia da praca, indepen-<br />

dentemente de circunstâncias outras,<br />

por contravir o disposto no<br />

art. 965. 1?, do C. Pr. Civ., importon<br />

em nulidade, desde que<br />

sua nova realizacão precedida<br />

nao foi da publicacti o de novo<br />

edital.<br />

Adotou assim o princiPio da nulidade<br />

absoluta pela simples<br />

transgressào da determinacao<br />

em questão.<br />

0 julgado trazido a cotejo, do<br />

Tribunal de Justica de Santa Catarina,<br />

cuja transcricao se encontra<br />

a f. 70, cuidando, tambem, da<br />

nulidade de praca, filiou-se a<br />

princiPio diverso . Aceitou que se<br />

trata de nulidade nap cominada.<br />

E se o ato atingiu o fim, sem prejuizo,<br />

a valido. Aplicou a tese do<br />

art. 273, I, do C6digo de Processo<br />

Civil, filiando-se dessarte ao<br />

aresto <strong>revista</strong>ndo.<br />

Ocorreu dessarte o dissidio,<br />

porque dissentiram ambos os yereditos,<br />

no que respeita as transgress6es<br />

das normas que cuidam<br />

da venda em hasta pOblica, justificando,<br />

pois, o conhecimento do<br />

apelo extremo.


E, dele conhecendo, entendo<br />

que a melhor orientacdo 6 aquela<br />

do aresto padrao, em rima corn o<br />

julgado que fol reformado atrayes<br />

da <strong>revista</strong>; dal o provImento.<br />

Para mim, a falta por si tido<br />

acarreta a nulldade pleno lure. E<br />

das //do comInadas. Assim, tendo<br />

o ato atingido seu fim, sem prova<br />

de qualquer prejulzo, o qual fol<br />

examinado e tido encontrado nas<br />

instill/0as Inferiores, razdo Wexiste<br />

para Invalida-lo nos termos<br />

do art. 273, I, do Diploma Processual»<br />

(Revista Trimestral de<br />

Jurlsprudencla, 52-108).<br />

Evidencia-se, portanto, a diverancla<br />

entre o que o venerando<br />

acOrddo recorrido afirma (nulldade<br />

absoluta, pleno lure como ele<br />

prOprio diz —), e o que assentam<br />

outros julgados, que consideram<br />

“ndo-cominada» a nulidade residtante<br />

da infracdo ao disposto nas<br />

regras legais que dIsciplinam a<br />

hasta pOblica e o lad°. 0 venerando<br />

acOrddo recorrido, ademais,<br />

nem sequer elude a ter resultado<br />

qualquer prejuizo, o que teve por<br />

despiclendo, contrariamente ao<br />

que proclama <strong>jurisprudencia</strong> de<br />

outros <strong>tribunal</strong>s.<br />

V — Observaeão Recess&la<br />

7. Ultrapassando o que afirmaram<br />

e pediram os ora Recorridos,<br />

o venerando ace:Mao dlz, espontaneamente,<br />

que «o devedor //do fol<br />

Intimado por mandado da reallzaedo<br />

da praca ou lend° — artigo<br />

687, 3?, do CPC.» (f. 112)<br />

Nem na contestacdo, nem na reconvenelio,<br />

os Recorridos lancaram<br />

tal afirmacilo, que sabem rullo<br />

ser verdadeira. Fe-lo o venerando<br />

acOrcido recorrido graclosamente e<br />

por excesso de Imaginacdo criadora,<br />

data yenta.<br />

Vai junto, a gora, o comprovante<br />

de que em verdade o devedor tot<br />

R.T.J. — 94<br />

«Intimado por mandado da realizada<br />

praca ou lelldo».<br />

Nao se trata de matdria Inca:Ave'<br />

no recurso, pots a Ins/Alta<br />

afirmacdo torna-a pertinente.<br />

Aldm dint), a fundamentaedo do<br />

recurso demo nstra-lhe o cablmento<br />

mesmo que fosse veraz tal asser-<br />

cdo, pots da lnfracao do art. 687, §<br />

3?, resWta nulldade, tamb6m, //do<br />

cominada, IncluIda na tese dos<br />

acturdkis apontados como padrdo.»<br />

(fls. 117 a 124)<br />

Ad/Wild° pelo despacho de fls. 128<br />

a 129, o recurso tramitou regularmente<br />

(fls. 136 a 143 e 145).<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Mae'<br />

tor): 0 acOrddo Fala°<br />

recorrido,<br />

(Rela-<br />

vlu, entendeu ser<br />

como se<br />

rar nulidades<br />

admissive'<br />

do<br />

decla-<br />

processo<br />

cao em que houve<br />

de execu-<br />

arremataedo, me-<br />

diante reconvened°<br />

vin oferecida<br />

clicatOria movlda pelo<br />

a relarrematan-<br />

te.<br />

Os re correntes indicam acOrddos<br />

af irmando que eventuals nulidades<br />

verificadas no processo de execucao,<br />

em que houve arrematacão, Tido podem<br />

ser di scutidas na acao de 'missal/<br />

de posse proposta pelo arrematante<br />

do bem, estranho dquele processo.<br />

Na verdade, o arrematante situa-<br />

se como terceiro em relaedo ao processo<br />

de execucao, els que somente<br />

part icipa da praca para adquirlr o<br />

bem, não se the podendo opor send°<br />

os vIcios desta. Dal, a Inadmissibilldade<br />

do debate sobre nulidades na<br />

reivindicatOria, ern reconvened°<br />

oposta ao relvi ndlcante e tido ao exeqilente.<br />

Po nderam, com acerto, os patronos<br />

dos recorrentes:<br />


R.T.J. — 94<br />

404<br />

num segundo momento, corn a alie-<br />

C6digo de Processo Civil, ou de flack:, do bem pelo maior lancO.<br />

rescisao pela via do art. 486 da<br />

Finalmente, nao me parece dema-<br />

mesma lei. Mas entre as proprias sia fazer mencao a cOpia autentica-<br />

partes litigantes, anicas legitimada<br />

do mandado de intimacao, junto<br />

das pars esse pleito, e nao como pelos recorrentes, por onde se ve que<br />

defesa ern processo no qual o arre-<br />

o recorrido Santo Zanelli foi intimamatante<br />

— estranho outra dedo da designacao do dia da praca<br />

manda — quer receber o que com-<br />

(ils. 126 a 126 v.).<br />

prara. » 139)<br />

Ante o exposto, conheco e provejo<br />

O actordao recorrido considerou<br />

o recurso, Para restabele cer a sen-<br />

nao somente a ausencia de intimacan<br />

do devedor por mandado, como tenca de fls. 85 a 88.<br />

tambem o fato de praca ocorrer an- EXTRATO DA ATA<br />

tes de vinte dias da publicacao do RE 91.204 — PR — Rel.: Min. Dja-<br />

edital (art. 687, §§ 1? e 3? do CPC.). ci Falcao. Rectes. : Altamiro Pedro<br />

Nessa parte a decisao tambem di- Spinatto e s/mulher (Advs.: Egas<br />

verge dos acOrdaos indicados as fls. Dirceu Moniz de Aragao e outro).<br />

122 e 123, que leio. Corn efeito, se a Recdos.: Santo Zanelli e s/mulher<br />

nulidade em questa() nao e comina- (Ado v.: Julio Cesar Christoffoli).<br />

da, a sua declaracao depende da Decisão : Conhecido e provido nos<br />

prova do prejuizo da parte. Ora, no termos do voto do Ministro Relator.<br />

caso o aresto recorrid o lido indica o<br />

Unanime.<br />

prejuizo, enquanto a afirmac ao feita<br />

Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

na impugnacao a reconvencao de ha-<br />

Falcao. — Presentes a Sessao os Srs.<br />

ver «o devedor recebido o saldo do<br />

Ministros Leitao de Abreu, Cordeiro<br />

dinheiro pago pelo arrematante», Guerra, Moreira Alves e Decio Mi-<br />

nao foi infirmada. Desse modo, randa. -- 5? Subprocura dor-Geral da<br />

inobstante praticado de forma diver-<br />

Republica. o Dr. Mauro Leite Soasada<br />

prescrita em lei, o ato alcan-<br />

res.<br />

cou os seas fins.<br />

Brasilia, 22 de junto de 1979. —<br />

disso,<br />

Nao se<br />

que<br />

deve<br />

houve<br />

perder<br />

uma<br />

de<br />

licitacao<br />

vista, alem<br />

sem Hello Francisco Marques, Secretàexito,<br />

operando-se a arrematacao rio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 91.231 — PR<br />

(Segundo Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Djaci<br />

S/A<br />

Falcao.<br />

— Financiamento, Credit() e Investimentos<br />

Recorrente: Bamerindus<br />

— Recorridos : Chozen Nakahodo e Miguel Puorro,<br />

A venda extrajudicial da coisa alienada<br />

itduciariamente<br />

AlienacAo fiducihria.<br />

rao exdui a responsabllidade juridica do avalista ece co- da<br />

nota promiss6ria, emitida em garantla do cr6clito, que perman<br />

obrigado pelo saldo devedor. Esta a exata exegeseDec dos fif 4? e 5? do<br />

.i -len? 911/69 ,<br />

art. 66 da Lei n? 4.728/65, na redacAo dada pelo<br />

bem assim das regras expressos nos arts. 2?, 5? e 6?, do Ultimo diploma.<br />

Precedentes do S.T.F.<br />

Recurso extraordinitrio conhecid o e provido em parte.


ACORDA0<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam as Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigrAficas,<br />

por unanimIdade de votos, conhecer<br />

do recurso e dar-]he provimento,<br />

parcialmente, nos termos do<br />

voto do Ministro Relator.<br />

Brasilia, 26 de Junho de 1979. Wad<br />

Falco, Presidente e Relator.<br />

RELATORIO<br />

O Sr. Ministro Thad Faloan: 0<br />

acardAo recorrido esta expresso nos<br />

seguintes termos:<br />

Allenagão FiduciAria — Busca e<br />

ApreensAo — Venda Particular pelo<br />

Credor do Objeto Fiduciado<br />

Apreendido por preco inferior ao<br />

credito — Cobranga do saldo pela<br />

execucao da Nota Promissoria<br />

criada em funcAo do contrato, execucao<br />

esta contra o devedor e seus<br />

avalistas — Decisão do MM. Dr.<br />

JuIz, deferindo a execucao apenas<br />

contra o Devedor Principal e emitente<br />

da nota promissOria, e indeferindo<br />

dita execucao contra os<br />

avalistas — Agravo de Instrumento<br />

do credor desprovido para manter<br />

a decisào agravada.<br />

Acerchlo n? 7.784 CIV<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos de Agravo de Instrumento<br />

n? 49/78, de Londrina — 3? Vara,<br />

em que 8 agravante Bamerindus<br />

S/A. — Financiamento, Credit° e<br />

Investimento e Agravado o Juizo<br />

de Direito.<br />

Acordam os Juizes da Primeira<br />

CAmara Civel do Tribunal de Alcada<br />

do Estado do Parana, por unanimidade<br />

de votos em negar &ay!.<br />

mento ao agravo para manter a<br />

decistio agravada.<br />

R.T.J. — 99<br />

905<br />

0 agravante fez financiamento<br />

ao Sr. Chozen Nakahodo coin alienacAo<br />

fiduciAria em garantia que<br />

incidiu sobre os bens especificados<br />

no respectivo contrato.<br />

Alêm da garantia<br />

acima o agravante<br />

mencionada<br />

fez o devedor<br />

emitir titulo cambial como outra<br />

garantia paralela, titulo esse avalizado<br />

por Chozen Nakahodo e Miguel<br />

Puorro.<br />

0 agravante procedeu a cobranca<br />

da divida contra o devedor principal,<br />

atraves de busca e apreensAo<br />

dos bens dados em garantia,<br />

cujos bens segundo informa vendeu<br />

ele preprio particularmente.<br />

Alega, porem, que a venda nao<br />

produziu a quantia suficiente para<br />

pagar a totalidade da divida, e por<br />

isso, requereu a execucao do titulo<br />

cambial contra o devedor principal<br />

e contra os avalistas.<br />

A respeitavel decisâo agravada<br />

deferiu a execucao tao somente<br />

quanto ao devedor principal Chozen<br />

Nakahodo, nos termos do art.<br />

1?, parAgrafo 5?, do Dec.-lei n?<br />

911/69.<br />

Pelo presente agravo pretende<br />

credor que seta<br />

o<br />

determinado que a<br />

execucao prossiga tambem contra<br />

os avalistas.<br />

E inegAvel que ao credor a licito<br />

demandar a execucao pelo restante<br />

da divida se na venda do bem<br />

apreendido nAo se cobrou de todo.<br />

Acontece entretanto que no caso<br />

nAo existe possibilidade de ajuizar<br />

execucao de titulo cambial, vinculado<br />

a um contrato em que o saldo<br />

remanescente do credito nao 6<br />

liquid° e certo.<br />

0 saldo devedor para se tornar<br />

liquido e certo e ensejar uma execucao,<br />

tern que ser fixado corn<br />

anuencia do devedor ou apurado<br />

Judicialmente, o que nao ocorreu<br />

no caso em exame.


R.T.J. — 94<br />

406<br />

Nao ha dfivida de que o acOrdao se<br />

No caso o credor fazendo busca e<br />

apreensao do bem fiduciado e de- divorciou da legislaca o especifica.<br />

pois vendendo o mesmo particular- Consoante exp6e o Prof. Orlando<br />

mente sem anuencia sequer do de- Gomes:<br />

vedor principal, ou prestaCao de «A cambial firmada pelo ere<br />

contas valida a respeito do preco do e seu avalista tern a funcao de<br />

obtido e apuracao do saldo, des- reforcar, corn uma garantia pesmantelou<br />

a liquidez e certeza da soal, a obrigacao contraida no con-<br />

divida, impossibilitando a executrato de financiamento. Assim sencao<br />

pura e simples.<br />

do, o titulo se se extingue, saindo<br />

Como se viu trata-se de titulo<br />

de circulacao, quando integralmen<br />

-te realizado o direito de credit()<br />

cambial vinculado a urn contrato oriundo de neg6cio basico, visto<br />

cuja execucao foi iniciada. 0 deve- que nesse caso, como observa Ferdor<br />

e solvente e continua pessoalri, sua funcao se esgota e o ciclo de<br />

mente obrigado a pagar o saldo devedor<br />

apurado, isto e, ajustado en-<br />

sua circulac ao se exaure » . (Fag.<br />

tre as partes ou judicialmente, e 162-163)<br />

nao apenas enunciado ao livre<br />

«Quando, porem, o direito ainda<br />

nao se extinguiu porque a divida<br />

arbitrio do credor.<br />

nao foi paga na sua totalidade, o<br />

Assim sendo, 'war) de sobra ti- titulo tambem nao se extingue,<br />

nha o MM. Dr. Juiz de indeferir a continuando a garantir a divida re-<br />

execucao contra os avalistas quanmanescente. Tern o credor nesse<br />

do a mesma a incabivel mesmo caso, o direito a intentar acao exe-<br />

contra o devedor principal que emcutiva contra emttente ou o avalisbora<br />

responsavel pelo divida devia ta pars cobrar o que the ainda<br />

ter acesso a apuracao do saldo. devido. » (pag. 163; In Allenacao Flduclarla<br />

em Garantia, 4a edicdo,<br />

Curitiba, 21 de junho de 1978 — pag. 162 e 163)<br />

Nunes do Nascimento, Presidente<br />

— Maximilian Stasiak, Relator — A venda extrajudic ial da coisa<br />

Schlavon Puppi.» (fls. 30 a 32).<br />

alienada fiduciariamente 'taco exclui<br />

a responsabilidade juridica do ava-<br />

A vencida interp6s recurso exlista da nota promisseria, emitida<br />

traordinario corn base na letra a, do ern garantia do credito, que perma-<br />

inc. III do art. 119 da Constituicao nece co-obrigado pelo saldo devedor.<br />

Federal, sob alegacao de negativa Esta a exata exegese dos §§ 4? e 5?<br />

de vigencia aos arts. 1?, § 5?, e 66 da do art. 66 da Lei n? 4.728/65, na reda-<br />

Lei n 4.728/65, na redacao dada pelo cao dada pelo Dec.lei n? 911/69, bem<br />

Dec.-lei n? 911/69, alem de discre- assim das regras expressas nos arts.<br />

panda corn a <strong>jurisprudencia</strong> preva- 2?, 5? e 6?, do ultimo diploma.<br />

lente. Foi despachado a f. 61. Houve<br />

invocaCao de relevancia da questa() Alias, o terra foi tratado, de modo<br />

exaustivo, no RE 84.695, relatado pe-<br />

<strong>federal</strong> (fls. 34 a 42). Acolhida a argiiicao<br />

de relevancia sob n? 35.083, lo eminente MM. Moreira Alves, e<br />

tramitou regularme nte (fls. 70 a 74 e que traz a seguinte ementa:<br />

75).<br />

«Alienacao fiduciaria em garantia.<br />

VOTO<br />

Se, vendida extrajudicialmente a<br />

coisa alienada fiduciariamente,<br />

0 Sr. Mtnistro Djaci Falcäo (Rela- ha saldo devedor, pode o credor,<br />

tor): A questa° debatida subiu a Cor- por ele, executar o avalista da nota<br />

te pela sua relevancia.


promisseria emitida, tambem em<br />

garantia do pagamento da quantia<br />

mutuada, pelo devedor. InterpretacAo<br />

dos if 4? e 5? do art. 66 da Lei<br />

n? 4.728, de 1965, na redacAo dada<br />

pelo Decreto-lei n? 911/1969, bem<br />

como dos arts. 2?, 5? e 6? do Ultimo<br />

desses diplomas legals.<br />

Recurso extraordinArio conhecido<br />

pelo dissidlo de jurispruclAncia,<br />

e provido parcialmente.» (RTJ<br />

80/934)<br />

Firme, nesse sentldo, e a <strong>jurisprudencia</strong><br />

do S.T.F. (ver RE 87.919,<br />

87.990, 88.526, 88.882, 89.917 e 90.077).<br />

Diante do exposto, conheco do recurso<br />

e dou-lhe provimento, em parte,<br />

para que afastada a carencia da<br />

execucAo, prossiga o julgamento no<br />

juizo competente.<br />

R.T.J. — 94<br />

407<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 91.231 — PR — Rel.: Min. Diaci<br />

FaIca°. Recte.: Bamerindus<br />

— Financlamento,<br />

S/A<br />

Credit° e Investimentos<br />

(Advs. Sergio Augusto Amaral<br />

Cidade e outros). Recdos.: Chozen<br />

Nakahodo e Miguel Puorro.<br />

DecisAo: Conhecido e provido parcialmente,<br />

nos termos do voto do Relator.<br />

UnAnime.<br />

Presidencia do Sr. M(nistro Djaci<br />

Falcao. — Presentes A SessAo os Srs.<br />

Ministros LeitAo de Abreu, Cordeiro<br />

Guerra e Deck) Miranda. Ausente,<br />

justificadamente, o Sr. Ministro Moreira<br />

Alves. 5? Subprocurador-Geral<br />

da Republica, o Dr. Mauro Leite<br />

Soares.<br />

Brasilia, 26 de junho de 1979.<br />

Francisco Marques,<br />

Hello<br />

Secretario.<br />

RECURS() EXTRAORDINARIO N? 91.256 — RJ<br />

(Segunda Tunnel<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Leith° de Abreu.<br />

Recorrente: Esso Brasileira de PetrOleo S/A — Recorridos: Posto de<br />

Servicos LKS Ltda., JoAo Baptista Valladares Silva e outra.<br />

Contratos collgados de p<br />

de comodato. 1) Imposlctio<br />

romessa<br />

apenas da<br />

de<br />

multa<br />

compra e venda mercantll e<br />

trato principal. Dissidlo convenclonada dem no con-<br />

actles conexas. NAo reconh<br />

onstrado. 2) Honorarios de advogado em<br />

ecimento, pelo acerdão, de dupla sucumbencla.<br />

Razoitvel aplIcacAo do artlgo 20 do Cedigo de<br />

3) Inocorrencla de afronta aos artlgos 505, 514 Processo Civil.<br />

cesso Civil. 4) Recurso e<br />

extra 515 do COdlgo de Prorem<br />

desprovido.<br />

ordinttrio part lalmente conhecido, po-<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade corn a ata<br />

de Julgamentos e notas taqulgrAficas,<br />

em conhecer, em parte, do recurso,<br />

porem desprove-lo, a unanimldade<br />

de votos.<br />

Brasilia, 27 de malo de 1980. —<br />

Djaci Mao, Presidente — Leittio<br />

de Abreu, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro LeltAo de Abreu —<br />

Noticiam estes autos a propositura,<br />

pelas partes signatArin de contrato<br />

de promessa de comp' a e venda<br />

mercantil e contrato de comodato,<br />

de duas acoes ordinArias, sob o mesmo<br />

fundamento de inadimplencia.<br />

Ao julgA-las em uma se sentenca,<br />

o magistrado deu pela improcedencia<br />

da acAo do Posto de Service°<br />

LKS Ltda., ora recorrido,<br />

condenando-o nas custas e honorti-


408<br />

R.T.J. — 94<br />

rios de advogado arbitrados em Cr$<br />

vicos LKS Ltda., Joao Baptista e sua<br />

10.000,00, e deu pela procedencia da<br />

mulher), o juiz arbitrou honorarios<br />

acao da Esso Brasileira de Petraleo<br />

em 20 e % sore o valor de condena-<br />

S/A, condenando os reus (Posto de cao; ao dar b pela improcedencia da<br />

ServicO LKS Ltda., Joao Baptista<br />

outra acao (autor o Posto dc Servi-<br />

Valladares Silva e sua muffler) ao cos, re a Esso Brasileira), fixou os<br />

pagamento de ambas as multas, cus- honorarios em Cr$ 10.00,00. Em amtas<br />

e honorarios de 20% sobre o va- bos os casos, estã cl 0<br />

aro, recaiu a<br />

condenacao em honorario s sobre o<br />

for da condenacao•<br />

sucumbente, o Posto de Servicos. 0<br />

Apelaram a Esso e o Posto: aquela acerdao, atacado no extraordinario,<br />

tao-so inconformada com os honora- provendo parcialmente o apeio do<br />

rios de Cr$ 10.000,00; e o Posto pre- Posto de Servicos, no tocante aos<br />

tendendo, em resumo, a procedenc ia efeitos da sucumbencia, reduziu os<br />

da Ka°. Decidiu o Tribunal a quo: honorarios para 10% sobre o valor a<br />

motivo<br />

«... em dar provimento partial<br />

apurar-se na execucao (


R.T.J. — 94<br />

409<br />

apelo, pare reduzir a verba hon<br />

ria, o acerdAo se conteve,<br />

nos limites da<br />

porta<br />

ora- via<br />

devolutividade,<br />

nto, re<br />

gar duplamente ao ora<br />

se haver operado,<br />

v<br />

na isto corrido. 0 acerdAo nAo<br />

hip6tese, a<br />

claro<br />

volueAo total. Logo, o principlo de-<br />

quanto A sua<br />

r fundamentacAo nem o<br />

tantum devolutum quant do ecorrente entrou corn<br />

ra embargos pa-<br />

recorrente,<br />

appellatum, em vez de aproveita<br />

u<br />

esclarecer a m le se<br />

ambigaidade que ne-<br />

sustenta<br />

r vislumbra. Como se pode ex-<br />

impugna.<br />

o aresto, que<br />

train da decisAo<br />

nothrios,<br />

recorrida que se que os ho-<br />

reclamam<br />

so, nao cabiam diante das<br />

no recurparticWa-<br />

Tambem nao cabe o ridades do caso, em que se resolvia<br />

recurso<br />

fundamento em que, tendo hay<br />

com<br />

unitariamente a mesma quest<br />

dupla sucu !do juriclica, penso quetese<br />

salter dupla<br />

mbencia, dal havia de lie<br />

e, perante<br />

reridades da hip as pecu-<br />

,<br />

rios. Quanto A alegagAo<br />

em honore-<br />

corrido deu ao artigo 20 do<br />

o aresto<br />

COdigo<br />

re-<br />

de<br />

de dissid<br />

nao se presta, pan configuth-lo, Jo, Processo Civil interpretactio,<br />

acerdão trazido a confronto.<br />

0 menos, razoAvel.<br />

quando<br />

cuida de acao e Nele<br />

reconvencAo,<br />

se<br />

valores diferentes, co<br />

eircunstanclas<br />

m<br />

sas estranhas ao caso es<br />

Com apelo na alinea d, a recorren-<br />

negou, de outra<br />

presente. N<br />

pane,<br />

ae)<br />

pug o aresto im<br />

haver<br />

te se insurge<br />

este<br />

contra o acerdAo, por<br />

en<br />

pia<br />

nado, nao caber, em caso de d mente a multa tendido que cable so-<br />

sucumbéncia, em aches conexas<br />

u- principal,<br />

relative ao contrato<br />

julgadas simultaneamente, dupl ,<br />

quando tambem,<br />

esta devia incidir,<br />

condenacAo em honothrios. Entena<br />

no que ao eonvenclonado<br />

no contrato de comodato.<br />

deu o acerdAo recorrido,<br />

mente, que a<br />

simples<br />

trado o dissfdio Demons-<br />

solucAo das<br />

mandas, pelo<br />

duas<br />

respeito,<br />

<strong>jurisprudencia</strong>l<br />

aresto Gnlco, nao sign]<br />

de<br />

conheco, nesta a<br />

parte,<br />

curso. Entretanto, nego-lhe provi-<br />

do re-<br />

fica, por si s6, dupla sucumbencia mento, neste<br />

Infere-se dal que o acerdão impug o<br />

ponto,<br />

rientaeão do Supremo<br />

visto Como a<br />

nado levou em conta,<br />

nhecer ao<br />

para bre a<br />

re nao reco-<br />

especie,<br />

Tribunal, a identica<br />

sothrios<br />

duplos,<br />

corrente<br />

as<br />

direito a hononal local A do Tribupedals<br />

circunstancias<br />

310).<br />

(RTJ 86-501, 87-192 e 88do<br />

caso. JA es-<br />

sallentara tence de primeiro<br />

a sen-<br />

grau<br />

duas aches conexas,<br />

que, nas Diante disso, conheco<br />

quaestio era a mesma,<br />

a Yenta te do recurso,<br />

parcialmen-<br />

panes em<br />

litigando posicees<br />

as<br />

mento.<br />

porem the nego provi-<br />

postulate/la<br />

de legitimidade<br />

al<br />

A ternada (f . 130).<br />

crescentara que o thema decl- EXTRATO DA ATA<br />

ticamentedendum,<br />

nas duas aches, era pra-<br />

o mesmo, corn<br />

Mantes de amplas alegacttes,<br />

as vate<br />

a parte. Versando<br />

de par- RE 91.256 — RJ — Rel.: Min. LeicAo<br />

de inadimplencia<br />

sobre a alegath°<br />

de Abreu. Recte.: Esso<br />

ra de<br />

de<br />

P Brasilei-<br />

um mesmo<br />

clAusulas<br />

contrato,<br />

de etreleo S/A (Adv.: Gustavo<br />

acAo<br />

na<br />

ordinfula,<br />

segunda<br />

Cesar de Barros Barreto). Recdos.:<br />

proposta<br />

dots meses e melo apes a<br />

cerca de Posto de Servicos LICS Ltda., Joao<br />

se alegou logo a<br />

primeira,<br />

Baptista Valladares Silva e outra<br />

(Advs.:<br />

conexito.<br />

M<br />

des as eircunstAnclas,<br />

Diante tros). auricio de Alencar e ou-<br />

concluiu<br />

acerdAo, ao pronunciar-se<br />

o<br />

quanto<br />

aos honothrios, que estes nao se de- DecisAo: Conhecido em parte, mas<br />

negado provimento. TJnAnime.


410<br />

Presidancia do Senhor Ministro<br />

Djaci Falcao. Presentes a sessao os<br />

Senhores Ministros Leitao de Abreu,<br />

Moreira Alves e Decio Miranda. Ausente,<br />

justificadamente, o Senhor<br />

R.T.J. — 94<br />

Ministro Cordeiro Guerra. — Subprocurador-Geral<br />

da Repilblira, o Dr.<br />

Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 27 de main de 1980. —<br />

HelloFranciscoMarques, Secretario.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 91.320 — RJ<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator : 0 Sr. Ministro Cordeiro e Guerra. sua mulher — Recorrida: Prefeitura<br />

Recorrente: Antonio Pinhe iro<br />

Municipal do Rio de Janeiro.<br />

— DesaProprlacgo. Indenizacäo fixada corn base no valor do im6vel<br />

pars efeltos Meals e em outros elementos previstos no art. 27 do<br />

Dec.-lei 3.365/41, aplicado fator de correc go pan obtencgo do valor<br />

de mercado. Inextstencla de violacito de threat) despesa <strong>federal</strong>.<br />

com mudanca<br />

Descabtmento de verba para repostcgo de<br />

para outro Menzel. Inexlstkncla de dissiclio corn julgados que a admtdram<br />

em casos excePcionats.<br />

de advogado. Incldencla sobre a dlferenca entre o va-<br />

Honorarios bos atu l<br />

lor da oferta e o da indenlzacao• am1 3.3<br />

alzados. Taxa fixada de<br />

acordo corn o art. 27, s I?, do Dec.-1e65/41.<br />

Precedentes do STF.<br />

RE nä° conhecido. Negaram verba para a aquisicao<br />

ACORDAO<br />

de nova residencia aos expropriados,<br />

f . 245 .<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal , na conformidade da ata de<br />

julgamento e das notas taqui grafi<br />

-cas, a unanimidade de votos, em nao<br />

conhecer do recurso.<br />

Brasilia, 21 de marco de 1980 —<br />

Disci Falcao, Presidente — Cordeiro<br />

Guerra, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra: —<br />

0 V. acardao recorrido, extremamente<br />

sintetico, reportando-se ao re-<br />

da Procuradoria:<br />

latario do parecer<br />

Geral da Justica, e aos fundamentos<br />

da sentenca apelada, confirmou o<br />

ulado do primeiro grau, excluindo<br />

ape g Admitien o apelo extraordinario<br />

tao-s6 quanto a tetra d do permissivo<br />

constitutional, quanto a verba<br />

do<br />

fiats reemplot, f. 285, assim resume<br />

a douta Procuradoria-Geral da Rept"blica:<br />

«1 — Ern acao de desapropriacao<br />

de !navels residential urban, o<br />

eg. Tribunal de Justic<br />

nas os juros moratOrios, admitidos<br />

que tenham sido os juros cornpensatOrios<br />

de 12%.<br />

a do Estado<br />

do Rio de Janeiro reformou a decisat)<br />

de primeira instancia apenas<br />

para excluir juros morathrios,<br />

mantendo-a em todo s os demais<br />

aspectos, a saber: indenizacao de<br />

Cri 695.428,00, para outubro<br />

de<br />

1977, de acordo com o laudo do perito<br />

judicial ; juros comPensathrios<br />

de 12% ao ano; e honorarios de advogado<br />

de 10% sobre a diferenca<br />

entre a oferta e a indenizacao, ambas<br />

atualizadas monetariamente.


2 — Invocando os arts. 153, § 22,<br />

da Constituicao,<br />

Desapropriac6es,<br />

e 27 da Lel das<br />

al6m de diverancia<br />

Jurisprudential, recorrem<br />

os expropriados, alegando, suma, que:<br />

em<br />

oa) deve ser adotado o laudo<br />

do assistente dos expropriados e<br />

desprezado o do perito judicial,<br />

uma vez que este se baseou apenas<br />

no valor do imevel para efeltos<br />

Meals;<br />

se impee a inclusAo da parcela<br />

de 20% para as despesas<br />

corn a aquisicao de nova<br />

dade;proprie-<br />

R.T.J. — 94<br />

reexarne, i ncablvel na instancia<br />

extraordinaria (Sainula 279).<br />

Nem ha diverg6ncla corn o RE<br />

72.950 (DJ de 25.8.72, p. 5.511), visto<br />

que a operacAo realizada rot tendente<br />

precisamente obtencão do<br />

valor de mercado.<br />

5 — A c hamada taxa de reemp<br />

rego do capital tot admitida em<br />

certos casos, ern que a indenizacão<br />

sofrerla consideravel desfalque<br />

corn as despesas de mudanca e de<br />

aq uisicao de outro imOvel.<br />

3 - E certo que a avaliacAo do<br />

perito judicial partlu do valor<br />

sa<br />

nal adotado yepela<br />

R<br />

para efeitos<br />

Municipalidade<br />

tributArlos em setem- 61<br />

bro de 1976. Entretanto,<br />

vac<br />

apes a ha<br />

bro de 1977, segundo as indices do<br />

custo de vida publicados pela re- id<br />

hi<br />

de tern por cem para a obtencão 7<br />

do valor de mercado, preclsamente des,<br />

tendo em conta que a avallacAo<br />

cal 6 felta corn<br />

fismoderacAo<br />

ren<br />

e pru- cAo<br />

déncia (fls. 75-8). Indi<br />

co<br />

4 — 0 laudo considera alnda ou- don<br />

tros dados referidos no art. 27 do a ju<br />

Decreto-lei IV 3.365, de 1941; a si- mo<br />

tuacão do imOvel, estado de conservacAo<br />

e seguranca. Po<br />

sacs en<br />

Embora crit6rio adotado<br />

seja o melhor, nAo demonstram<br />

s<br />

os prec<br />

recorrentes que o valor obtido nAo niza<br />

corresponde ao de mercado, ou nä')<br />

mesmo que se ofendeu o dlrelto fe- deral<br />

deral na avallacAo. A questa° nAo do C<br />

6 de valorizacilo ou de eflcilcia da<br />

prova, mas simp 8 —<br />

lesmente de seu decld<br />

ido na Avila Resets6ria 626<br />

e 53/164),<br />

Assim, no RE 64.237 (RTJ<br />

tr<br />

i atava-se de uma grande<br />

a verba honoraria deve ser ndUstria e na Ap. Civet 69.329 (RT<br />

elevada de dez para vinte por<br />

cento,<br />

lo<br />

321,<br />

concetteu<br />

p. 325), o Tribunal de SA° Pau-<br />

exclulndo-se, para<br />

a verba,<br />

esse<br />

porque<br />

efeito, a correcao monetaria da propriada mantinha urn a ex-<br />

oferta.<br />

rio de radio.<br />

laborate-<br />

6 — Fora desses casos<br />

STF sempre especials,<br />

Inadimitiu o da aludlda<br />

a Wein-<br />

parcela (RE<br />

TJ 64-7%, e RE 74.458,<br />

/415, ambos<br />

68.052, RTJ<br />

equivocadamente ados pelos in-<br />

atualizacAo desse valor para outu- , p<br />

recorrentes). Nilo<br />

ye<br />

ortanto, coma conceder essa<br />

rba no caso, que nAo guards<br />

vista Conjuntura Econtimica,<br />

p<br />

ntldade ou semelhanca<br />

o pe- Oteses corn as<br />

abrangidas<br />

tit° aplicou urn fator de correcao paradigmas.<br />

nos acOrdAos<br />

— Os honorarlos de advogado<br />

ern ser calculados sobre<br />

ca entre a<br />

a dife-<br />

oferta e a indeniza-<br />

, ambas atuallzadas, mediante<br />

ces de correcao monetaria,<br />

soante resulta do art. 27, I<br />

Dec.-lei 3.365/41. Essa<br />

rispructencia pacifica<br />

alias,<br />

Tribunal Federal.<br />

do Suprentra<br />

r outro lad% essa verba nAo<br />

fun<br />

ucu dament° no principlo<br />

mbéncia, mas no proprlo<br />

eito que assegura a justa indecAo.<br />

A taxa de dez por cento<br />

ofende, portanto, o direito fe-<br />

CPC. PC.<br />

inaplicavel o art. 20<br />

NAo ha discrepancia corn o<br />

411


412<br />

(RTJ 54/145), pots esta !leo cuidou<br />

de desapropriacào, mas da taxa de<br />

recuPeracAo econOmica de Minas<br />

Gerais. Quanto ao RE 59.262 (RTJ<br />

52/175), não foi decidida questa)<br />

pertinente a taxa dos honorArios de<br />

advogado ; a referenda a esta s6<br />

surgiu nas instAncias precedentes.<br />

9 — Pelo nAo conhecimento.<br />

Brasilia , 14 de agosto de 1979 —<br />

Moacir Antonio Machado R.T.J. — 94<br />

2.5 — Inexistindcr, assim, razees<br />

que me autorizem _ a dissentir do<br />

laudo do perito, impartial e eqiiidistante<br />

dos interesses das partes,<br />

adoto-o integralmente e estabeleco<br />

a indenizacão em Cr1 695.428,00')<br />

(f.152).<br />

NAo se pode dizer, portanto, que<br />

tenha sido violado o art7 o<br />

Decreto-lei 3.365, de 21.6.41, . 2 pods<br />

da Silva,<br />

apreciou o laudo e o acolheu sem<br />

violar o criterio do valor venal do<br />

Procurador da RepUblica." ( Its. imOvel, repelindo, apenas, o que Me<br />

pareceu ser uma especulacAo imobi-<br />

307-310).<br />

o relaterio.<br />

liAria.<br />

A questa), a<br />

zacao de prova, mas de reexam e, co-<br />

VOTO<br />

mo bem observ a o parecer da douta<br />

Procuradoria-Geral da Reptblica.<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra (Relator):<br />

— A Sentenca de primeiro<br />

(1. 308).<br />

grau assim fundamenta o valor fixa- Quanto a taxa para reemprego<br />

() a tem admitido a jurisdo<br />

do:<br />

capital,<br />

prudencia<br />

nä<br />

desta Corte, salvo em ca-<br />

2.2 — Enquanto a oferta e de CI'S<br />

dos com ial nalienabilidade,<br />

sos especiissimos, imOveiou s gI rava-Abri-<br />

307.000,00 (f. 3) • o perlto atribuiu<br />

ao imOvel o valor de Cr y 695.428,00cas sofisticadas, e assim decidimos<br />

no RE 92.035 — 8 — RJ, de que fui<br />

(f. 78), o assistente tecnico do ex- relator e em que salientei:<br />

propriante , Cr1 529.050,00 (f. 134) e<br />

t tecnico do exproPria- «Subsiste, assim, apenas a prefrais<br />

de<br />

do, Cr; 1.127.479,00 (f. 143). tensao de<br />

reemploi , o que foi admitido, certa<br />

vez, pelo eminente Ministro Eloy<br />

daRocha, ern se tratando de linevel<br />

clausulado corn inalienab ilidade<br />

— RE 83.871 — RJ e inadmitido<br />

por outra, pelo ilustre e saudoso<br />

Ministro Rodrigues Mckmin — RE<br />

n? 85.209 — RJ.<br />

Neste Ultimo sentido, por igual, o<br />

acOrdeo relatado pelo eminente<br />

Ministro Ban Pinto — RE 86.607 —<br />

RJ — RTJ 82/593.<br />

Traz a colaca) o recorrente o<br />

acOrdAo do RE 64.237 — GB, que<br />

admitiu a concessAo de verba para<br />

reposicAo de despesas corn aquisino<br />

de outro ImOvel (relator ssim, nä() e de valori-<br />

2.3 — 0 laudo do perito foi elaborado<br />

cuidadosamente, corn obser-<br />

Seta dos criterios usuais, nAo havendo<br />

sido apontados pelos assistentes<br />

tecnicos, em seus laudos<br />

criticos, elementos capaze<br />

eminente<br />

Min. AmaralSantos) RTJ<br />

53/164, em se tratando de «uma<br />

imensa inclUstria».<br />

s de levar<br />

o Juizo a rejeitar o dito laudo.<br />

2.4 — Corn efeito, nem hA como se<br />

acolheram, numa avaliaceo judicial,<br />

elementos fundados exclusiv a<br />

-mente na especulano imobiliaria,<br />

capazes de distorter o valor de urn<br />

imOvel e limites incomPreensiveis.<br />

No caso vertente, se se atentar para<br />

a circunstAncia de que, corn a<br />

maior facilidade, o assistente tecnico<br />

do exproPriado encontrou para<br />

urn terreno de vila, na rua Frei<br />

Caneca o valor de quase um milhAo<br />

de cruzeiros, bem de ver-se a<br />

inaceitabilidade desse laudo.


Entretanto, esta Turma, sendo<br />

relator o eminente Ministro Djaci<br />

FalcAo, decidiu:<br />

oDesc<br />

nada a<br />

abimento de verba desti-<br />

despesas corn a aquisicão<br />

de outro ImOvel. In casu, trata-se<br />

de simples terreno urban, sem<br />

edificacAo, enquanto<br />

trazidos a<br />

nos casos<br />

confronto<br />

ratOrio e<br />

havia labo-<br />

grande lndustria instalados<br />

nos prêdlos expropriados.<br />

Inoc<br />

pr orrencia de dissidio juris-<br />

udencial, Stuntsla 291.»<br />

De quanto exposto, resulta claro<br />

o acerto do p arecer da douta Procuradoria-Geral<br />

da Republica. A<br />

<strong>jurisprudencia</strong> desta Corte nAo admite<br />

a concessào de verba para fazer<br />

face a aquisicao de novo im6vel,<br />

porque tal ciao é previsto em<br />

lei, e porque o expropriado pode<br />

dar a ind enizacao o destlno que<br />

melhor the convier.» (Bs. 4-5).<br />

Finalmente, os honorarios foram<br />

fixados em justos limites na forma<br />

da JiwispruclAncia do Su premo Tribunal<br />

Federal. A tese da cornpatibi-<br />

Made dos juros compe nsatOrlos corn<br />

os moratorios nAo fol objeto do recurso<br />

extraordinazio.<br />

R.T.J. — 94<br />

413<br />

Assim, de acordo corn o parecer,<br />

que bem repeliu o dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l<br />

in vocado, corn base no art.<br />

305 do RI e SOmula 291 nAo conheco<br />

do recur<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 91.320 — RJ — Rel.: Min. Cordeiro<br />

Guerra. Recte.: Antanio Pi-<br />

Souza<br />

nheiro e sua mulher (Adv.: Paulo de<br />

An<br />

Municipal<br />

drade). Recda.: Prefeitura<br />

do Rio de<br />

Se Janeiro (Adv.<br />

ra).<br />

bastiao Luiz de Andrade Figuei-<br />

D<br />

me. ecisào: Nao conhecido. UnAni-<br />

Preside:Ida do<br />

Falcão.<br />

Sr.<br />

Pr Ministro Thad<br />

Ministro C<br />

esentes a Sessào os Srs.<br />

Miranda. Ausente,<br />

ordeiro Guerra e Decio<br />

justificadamente,<br />

o Sr. Ministro Moreira Alves. Licenbreu.ciado,<br />

o Sr. Ministro LeitAo de A-<br />

Subprocur<br />

p ador-Geral da Re-<br />

Ublica, o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 21 de marco de 1980 —<br />

Hello F<br />

tart°. rancisco de Marques, Secre-<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO bit 91.323 — RJ<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Leitao de Abreu.<br />

Recorrente: Estado do Rio de Janeiro —<br />

Recorrido: Antonio Rodrigues.<br />

Process° de e<br />

vedor nem bens arrestaveis,<br />

xecucao. Citacao. Acaso nAo<br />

seu encontrados cba nem o de-<br />

por ed1tal. Suspende-se mamento a juts° pode zacito do dev<br />

ser felt°<br />

r.<br />

a execucao ap6s esgotados edo Recurs° extraordintirio os meios na<br />

conhecido e provido.<br />

ACORDAO<br />

de julgamentos e notas taquigrAfi-<br />

Visto<br />

cas, em conhecer do recurso e<br />

autos, s,<br />

a ata<br />

relatados e discutidos estes<br />

acord<br />

prove-lo, am os<br />

por<br />

Ministros da Seunanimidade<br />

de votos.<br />

gunda Turma do Supremo Tribunal Tod Brasilia, 27 de malo de 1980. —<br />

Federal, na conformidade corn<br />

Presidente — Le.<br />

de Abreu, Relator.


414<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Mirdstro Leta° de Abreu:<br />

Em execueao fiscal, nan localizad o o<br />

devedor, nem bens que arrestar, o<br />

edictal assim certificou, devolvendo 0<br />

mandado. Em face da certidão negativa,<br />

o juiz suspendeu a execucao.<br />

Agravou o Estado-credor, porem foi<br />

mantida a decisao, verbts:<br />

«A citacao ficta, em proces so de<br />

execueao, somente tem cabida se<br />

garantido ja estiver o Juizo, com a<br />

constricao de bens. Nao tendo sido<br />

Gesso<br />

possivel a loca c d devedor<br />

posta pela lei (CPC, art. 652). Nao<br />

ou de bens para 1 serem arrestados,<br />

encontrado este, nem existindo<br />

a suspensao da execueao e o anico bens para serem arrestados (CPC,<br />

art. 653), nada imede seja o exe-<br />

camnho a ser palmilhado, nos termos<br />

i cutado citado par<br />

da lei processual civil em vi-<br />

p edital, por isso<br />

gor e da coiosa rudencia<br />

qe «aplicam-se subsidiariamente<br />

em<br />

de nossosja Tribunals,ju ispr especialan execucao as disposicOe s que redo<br />

Tribunal Federal de Recurso s e gem o processo de conhecimento'<br />

doSupremo Tribunal Federal » (f . (CPC, art. 58). E tendo em vista a<br />

regra do artigo 617 do COdigo de<br />

16).<br />

Processo Civil, segue-se a necessi-<br />

Tendo por certa a decisao agrava- dade de ser feita a citacao, para o<br />

da, o<br />

, por maioria de votos,<br />

a man acardao<br />

fim de ser interrompida a prescri-<br />

teve, sob estes fundamentos: no (C6digo de Processo Civil, art.<br />

«A nova lei processual civil esta- 219 e seus paregrafos, especialbelece<br />

nos seus artigos 653 e 654 do mente o $ 4?).<br />

C6digo de Processo Civil a condi- «Ap6s a citacao por edital, nao<br />

cao para a citacao edital de deve- vindo o executado aos autos e per-<br />

dor etado, que outra nap<br />

e se- sistindo a inexistencia de bens panao<br />

a xecu do arrest° de seus bens, que,<br />

no executivo fiscal regulado ante- ra penhora, entao e de se aplicar a<br />

regra do artigo 791, III, do C6digo<br />

riormente pelo Decreto n? 960/38, de Processo Civil» ( f.<br />

era denominado de seqiiesto.<br />

33).<br />

Opinou a Procuradoria-Geral da<br />

«Se a hipatese nal) foi o devedor<br />

zado, caberia segurar-se pri-<br />

Republica, em parecer do Procura-<br />

dor Miguel Frauzino Pereira, nestes<br />

metri metro o Juizo para depots requerer<br />

o credor a expedicao dos editais<br />

termos:<br />

«Entre as motives de suspensào<br />

para a citacao ficta.<br />

«Ora, comp se ye da certidao do<br />

da execucao, inclui o artigo 791 do<br />

CPC a hipôtese de nao possuir o<br />

Sr. fical TIM) foam encontrdos<br />

bens O a<br />

peinhoraveisr ao devedor que devedor bens penhoraveis. Por sua<br />

suportassem o arrest o R.T.J. — 94<br />

que justificou o decidid<br />

vez, o artigo 653 determina que,<br />

garantido<br />

da execucao. 0 fato, conseqiiente rnao<br />

sendo encontrado<br />

o devedor, o<br />

official de justica arrestar-lhe-a<br />

mente, imp6e a aplicaeao do distantos bens quanto s bastem para<br />

posto no artigo 791, n? III do C6digarantir a execueao• Efetivado 0<br />

go de Processo Civil, suspendendoarresto, sera o devedor procurado,<br />

se a execucao, coma decidi u e mui-<br />

to bem o douto Juiz a quo (fls. ),<br />

novamente, por tres vezes em dias<br />

o as fls.»<br />

(Fls. 22/23).<br />

Tratando-se de causa de valor inferior<br />

a alcada regimental, o recurso<br />

extraordinkrio subiu porque acolhida<br />

a argilleao de relevancia. Pela letra<br />

a, o recorrente alega negativa de vig'encia<br />

ao artigo 654 do C6digo de<br />

Processo Civil. Pela letra d, aponta<br />

dissidio corn julgado do Tribunal Federal<br />

de Rectirs0S, corn a seguinte<br />

ementa:<br />

«A citaeao do devedor, no pro-<br />

MOO condicao im-


distintos, nao sendo encontrado,<br />

competira ao credor requerer sua<br />

citacão por edital.<br />

«Sustenta o recorrente que a<br />

citacão-edital seria necessaria para<br />

interromper a prescricAo. Sucede<br />

que este efeito somente se opera<br />

pela attack) pessoal, como dispee<br />

expressamente o artigo 174, parkgrafo<br />

tinier), inciso I, do Carligo Tributario<br />

Nacional, adotando Igual<br />

norma do artigo 172, I, do Cadigo<br />

Civil.<br />

«Todayla, existem outros efeitos<br />

da Macao: tornar prevento o julzo,<br />

induzir litispenclancia, fazer litigiosa<br />

a coisa e constitutir em mora<br />

devedor. No processo de execucAo,<br />

ocorre a sujelciao de todos os bens<br />

do devedor, presentes e futuros,<br />

alem dos arrolados no artigo 592 do<br />

CPC. E quando a divida é tributaria,<br />

ha a prevencão da responsabi-<br />

Made dos sucessores e de terceiros,<br />

nas hiptteses dos artigos 129 e<br />

135 do arcligo Tributarlo Nacional.<br />

«Assim, entendemos nAo possa o<br />

juiz recusar a Macao do executado<br />

por edital, soli o /Cufdamento de<br />

nAo terem sido encontrados bens<br />

penhoravels.<br />

«Opinamos por que seta conhecido<br />

e provido o recurso» (Hs. 60/61).<br />

E o relatbrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministry Leith° de Abreu<br />

(Relator): 0 artigo 653 do CPC autoriza<br />

o oficial de Italica, que nao encontrar<br />

o devedor, a arrestar-lhe<br />

taptos bens quantos bastem para garantir,<br />

a execucAo. 0 artigo 654 determina<br />

que, no caso de se realizar o<br />

arresto, o credor, dentro de dez dias,<br />

contados da data em que fol intimado<br />

desse ato, requeira Macao por<br />

edital do devedor. Somente se regula<br />

al a citacAo por edital, na hipatese<br />

de ter havido arresto, de terem sido<br />

encontrados bens sobre os quals pos-<br />

R.T.J. — 94 415<br />

sa recalr esse ato cautelar. Nada autoriza<br />

a inferir, no entanto, que,<br />

tendo sido encontrados bens do devedor,<br />

nAo se havendo, por isso, efetuado<br />

o arresto previsto nesses preceltos<br />

processuais, descaiba a citacAo<br />

edital do devedor nao encontrado. A<br />

citacao do devedor é impreterivel,<br />

em qualquer caso, pena de nulidade<br />

da execucAo (art. 618, H). Ora, na<br />

especie, trata-se de execucAo, de<br />

maneira que deve ela realizar-se, na<br />

hipetese de realizacAo do arresto,<br />

nos termos do artigo 654 do CPC, ou<br />

pelos principlos comuns do processo<br />

de conhecimento, quando esse ato, a<br />

mingua de bens, nao se tiver realizado.<br />

NAo vale alegar que, nä° havendo<br />

bens que arrestar, perderia o objeto<br />

a citacilo, uma vez que dal resulta,<br />

entre outros efeitos, o de evitar<br />

o perecimento do direito. A circunstAncia<br />

de se falar, quer no Cadigo<br />

Civil, artigo 172, I, quer no<br />

C.T.N., artigo 174, paragrafo ante°,<br />

item I, em attacks pessoal, nAo retira<br />

a citactio por edital a eficacia interruptiva.<br />

Isto porque — discorre<br />

Pontes de Miranda — «chegar-se-la<br />

ao absurdo (devido a apressada nota<br />

de Clay's Bevilaqua, adlgo Civil<br />

Comentado, I, 496), de nAo permitir<br />

interrupcAo de prescricAo contra<br />

quem se escondesse (Cadigo de Process°<br />

Civil, arts. 227 e 228 e 1? e<br />

2?), ou fosse desconhecido, ou estivesse<br />

em Lugar incerto, ignorado ou<br />

inacessIvel (C6cligo de Processo Civil,<br />

artigos 231 e 232 e paragrafo OMco).<br />

Corrido — conclui — o tempo<br />

para a publicacAo edital, confirmase<br />

a interrupcAo (Tribunal de ApelacAo<br />

de Minas Gerais, 26 de novembro<br />

de 1937, R.F., 73, 86), devido ao<br />

artigo 219, I?» (Comentatios ao COdip<br />

de Processo Civil, t. III, plgs.<br />

252/253).<br />

A circunstAncia, por outro lado, de<br />

mandar o artigo 791, III, do CPC,<br />

suspender a execucAo quando o devedor<br />

nAo possuir bens penhoravels<br />

nao implica a impossibilidade juricti-


416<br />

ca de se realizar, quando não realizado<br />

o arresto, por nä° se encontrarem<br />

bens sobre os quais recaia, a citacäo<br />

edital do devedor, porque esta<br />

tem por fim estabelecer a relacao<br />

processual e possibilitar, enquanto<br />

(no perecer o direito, pela interrupcäo<br />

do curso do prazo prescriclonal,<br />

que a execucão retome o seu curso,<br />

se forem encontrados bens que o devedor<br />

ja possuia ou que venha a possuir,<br />

ja que, como afirma o parecer<br />

da Procuradoria-Geral da<br />

ca, «no processo de execucdo, ocorre<br />

a sujeicao de todos os bens do devedor,<br />

presentee e futuros”.<br />

Diante do exposto, emprestando<br />

aos artigos 653 e 654, bem como ao<br />

artigo 791, III, do C6digo de Processo<br />

Civil, alcance que refoge ao que<br />

neles se prescreve, o acerdão recorrido<br />

negou vigencia a estes Preceitos<br />

legais. Por isso, achando-se tambem<br />

caracterizado o dissidlo, conhe-<br />

R.T.J. — 94<br />

co do recurso e the dou provimento<br />

para, cassando o acOrdäo recorrido,<br />

determinar se promova a citacdo<br />

edital do devedor.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 91.323 — RJ — Rel.: MM. Leitäo<br />

de Abreu. Recte.: Estado do Rio<br />

de Janeiro (Adva.: Lelia Campos Godinho).<br />

Recdo.: Antonio Rodrigues.<br />

Decisào: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator.<br />

Unanime.<br />

Presidencia do Senhor Ministro<br />

Djaci Faleaf). Presentes a Sessäo os<br />

Senhores Ministros Leak( de Abreu,<br />

Moreira Alves e Decio Miranda. Ausente,<br />

justificadamente, o Senhor<br />

Ministro Cordeiro Guerra. Subprocurador-Geral<br />

da Repablica, o Dr.<br />

Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 27 de maio de 1980 —<br />

Hello Francisco Marques, Secreterio.<br />

RECURSO ExTRAoRDINARIO N? 91.498 — PA<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Thompson Flores,<br />

Recorrente: Democrito Rendeiro de Noronha — Recorrida: Maria de<br />

Lourdes Lobato de Miranda.<br />

Execuciio fundada em contrato particular de honoritrlos de advogado.<br />

H. Reconhecida sua valldade e a prestactio dos servicos nele fixados,<br />

não podem ser reduzldos, sob pretexto de exorbitantes, enquanto<br />

nao contrarie os limites legais.<br />

A reductio a metade do que flcou avencado importou em negacAo<br />

de vigência dos arts. 135, 1.310 e 1.330 do COdigo Civil, permitindo<br />

o acolhimento da irresignacAo.<br />

Recurso conhecido e provido.<br />

ACORDAO<br />

cas por unanimidade de votos, conhecer<br />

do recurso e the dar provimento.<br />

Brasilia, 25 de setembro de 1979. —<br />

Thompson Flores, Presidente e Relator.<br />

Vistos, relatados e disciitidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primetre<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigrefi


RELATORIO<br />

0 Sr. Mintstro Thompson Flores:<br />

Fundado no contrato de honorarios<br />

de advogado firmado entre o recorrente<br />

e a recorrida, ajuizou o primetro<br />

a presente execucao, visando a<br />

cobranca do que ali ficou avencado.<br />

Citada a executada, nao tendo pago,procedeu-sea<br />

penhora.<br />

A tempo ofereceu embargos os<br />

quals foram rejeitados em sentenca<br />

de fls. 53/6.<br />

Apelou a vencida. NAo teve sucesso,<br />

port m, eis que a Egr6gia 1!<br />

Camara Civet, manteve, por maioria<br />

de votos, o veredito apelado, fls.<br />

77/78v.<br />

Fundado no voto vencido que,<br />

considerando exagerados os honorarios<br />

e, por isso, determinou que fossem<br />

fixados em arbitrament°, °pas<br />

a executada embargos infringentes,<br />

os quais, por maioria de votos, resultaram,<br />

em parte, recebidos, para reduzir<br />

os honorarios pedidos a metade.<br />

Dai o recurso extraordinario<br />

manifestado pelo exegGente, fundado<br />

nas tetras a e d da permissao constitucional.<br />

Inadmitido pelo despacho de fls.<br />

127/9, determinei seu processamento,<br />

para melhor exame, provendo o<br />

Ag. 76.525, como tudo consta dos autos<br />

apensados.<br />

Apresentaram, entao, as partes as<br />

razoes de fls. 132/6 e 138/40.<br />

o relatbrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Minnitro Thompson Flores:<br />

(Relator): Conheco do recurso e the<br />

dou provimento para restabelecer a<br />

sentenca, mantida na via da apelacAo.<br />

R.T.J. — 94 417<br />

Todas as instancias deram como<br />

valid° o contrato de honorarios objeto<br />

da execucao, fls. 8/9. Fol ele firmado<br />

por ambas as partes, esta<br />

subscrito por duas testemunhas e<br />

inscrito no Registro Especial de<br />

Titulos e Documentos.<br />

Demais, reconheceram que o exeante<br />

prestou a executada seus servicos<br />

profissionais na nä° de desquite<br />

por ela intentada. Finalmente,<br />

que os bens correspondentes a sua<br />

meacão foram avallados em importancia<br />

que correspondia a 10% do estipulado<br />

no citado contrato.<br />

Certo esbocou a executada que o<br />

assinara, desprevenidamente, usando<br />

o exeq0ente de certo ardil. Todavia,<br />

o pretenso yid° que pudesse invalidar<br />

o contrato (C6cligo Civil, art.<br />

147, II) ficou apenas na insinuactio,<br />

dele nao cuidando a autora de fazer<br />

a minima prova.<br />

Reduzindo a metade a percentual<br />

dos honorarlos nele fixados, quica<br />

porque considerou excessivos, coma<br />

admitira o voto discrepante, ensejador<br />

dos embargos, a toda evidancia<br />

o aresto impugnado denegou<br />

vigencia aos arts. 135, 1.310 e 1.330,<br />

do C6digo Civil, em combinacão com<br />

o art. 89. XXII, e paragrafos Culla)<br />

do art. 100, da Lei n? 4.215/63, todos<br />

invocados na peticao de recurso, fls.<br />

111/20.<br />

Ditos preceitos nao s6 fixam a forma<br />

de ajustar os honorarios de advogado,<br />

bem como sua cobranca, e a<br />

eles se ateve 0 exeqüente.<br />

Demais, consta do contrato, fls,<br />

8/8v:<br />

«... 0 Dr. Democrito Rendeiro de<br />

Noronha esta contratado por dona<br />

Maria de Lourdes Miranda Morelra<br />

para prestar-the servicos profissionals,<br />

como advogado, recebendo,<br />

com essa finalidade, a incumbancia<br />

de promover o desquite da<br />

referida senhora de seu marido, o


918 R.T.J. — 94<br />

Dr. Flevio Guy da Silva Moreira,<br />

desquite esse que podera ser de natureza<br />

litigiosa ou amigavel, ficando,<br />

porem, logo reconhecido que,<br />

desde o inicio do segundo (2?) semestre<br />

do ano de mil novecentos e<br />

setenta e tres (1973), o aludido advogado<br />

vem exercendo suas atividades<br />

profissionais, no sentido de<br />

compor os interesses do casal. Em<br />

decortincia da clausula anterior,<br />

fica o Dr. Democrito Rendeiro de<br />

Noronha obrigado a atuar prof issionalmente<br />

perante o Juizo competente<br />

da Vara da Familia, na defesa<br />

dos direitos da Sr ? Maria de<br />

Lourdes Miranda Moreira, acompanhando<br />

o respectivo feito em todas<br />

as suas fases e incidentes, ate<br />

final da sentence, comprometendose<br />

de entregar a mesma as necessaries<br />

CertidOes, devidamente, averbadas<br />

nos CartOrios competent<br />

tes. Em retribuicâo a todos os services<br />

profissionais neste instrumento<br />

indicados, dona Maria de<br />

Lourdes Miranda Moreira pagara<br />

ao Dr. Democrito Rendeiro de Noronha<br />

a quantia correspondente a<br />

10% (dez por cento) sobre o valor<br />

dos bens que, por force da nä° do<br />

desquite proposta, a ela passarão a<br />

pertencer, podendo dito pagamento<br />

ser feito parceladamente, conforme<br />

entendimento entre os interessados”.<br />

Por Isso, corn acerto se conduzlu a<br />

minoria que participou do julgamento<br />

impugnado, mantendo a sentence,<br />

segundo as lenges declaracOes de votes<br />

de fls. 105/10.<br />

E o meu vote.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 91.498 — PA — Rel. Min.<br />

Thompson Flores. Recte.: Democrito<br />

de Noronha (Adv.: Raimundo F. Puget).<br />

Recda.: Maria de Lourdes Lobato<br />

de Miranda (Advs.: Celso Franco<br />

de Se Santoro, Oswaldo Reis e outro).<br />

Decisão Conhecido e provido, decisae<br />

unimime.<br />

Presidencia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a Sessae<br />

os Senhores Ministros Xavier de<br />

Albuquerque, Cunha Peixoto, Soares<br />

Muftez e Rafael Mayer. — Subprocurador-Geral<br />

da Republica, o Dr.<br />

Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 25 de setembro de 1979. —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secreterio.<br />

RECURSO ExTruaRDINAmo N? 91.562 — MG<br />

(Primelra Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Thompson Flores.<br />

Recorrentes: Grefica Planalto Ltda. e outra — Recorrido: Estado de Minas<br />

Gerais.<br />

Serv1cos de composicao grafica (Feltura e impressáo de notas<br />

flscals, fichas, talOes, cartOes, etc.)<br />

SWeicao, apenas, ao I.S.S.<br />

Apt/cacao (la CuobtItuicito, art. 24, II, C.C. os arts. 8?, f 1?, do<br />

Decreto-let n? 406/68, com as afteracdes Introduzldas pelo Decreto-let<br />

n? 834/69, Tabela, itens X e XXI.<br />

Recurso extraordinftrlo conhecido e provido.


ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Prlmetre<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigreficas,<br />

por unanimidade de votos, conhecer<br />

do recurso e the dar provimento.<br />

Brasilia, 25 de setembro de 1979. —<br />

Thompson Flores, Presidente e Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

Contra o ato do Secreterio da Fazenda<br />

que exlge da parte dos recorrentes<br />

a apresentatho mensal de Guia<br />

de Informatho e Apuratho do I.C.M.<br />

para autorizar a imprestho de documentos<br />

fiscais, antizaram a presente<br />

acAo de mandado de seguranca.<br />

Sustentam que, pelo ramo de atividade<br />

que exercem e cuja executho<br />

detalham, estAo suleitas e, apenas,<br />

ao pagamento do I.S.S., o qual recothem,<br />

e que a exigencia imposta<br />

atenta contra preceitos de lei que<br />

apontam, Segundo aplicatho que flies<br />

tern atribuido os Tribunals.<br />

0 Eg. Tribunal ,de Justice, por<br />

suas Cameras Civets, por maioria de<br />

votos, denegou a seguranca, fls.<br />

51/4. Dai o recurso extraordinerto<br />

manifestado a fls. 57/9, fundado nas<br />

tetras a e d da permisstio Constitucional.<br />

Sustenta contrariedade ao art. 24<br />

da Constituitho e dissidio corn arestos<br />

de outros Tribunals, inclusive<br />

deste.<br />

4. Admitido pelo despacho de fls.<br />

86/7, processou-se corn razOes apenas<br />

do recorrido, fls. 89/101.<br />

E o relatOrlo.<br />

R.T.J. — 94 419<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores<br />

(Relator): Conheco do recurso e the<br />

dou provimento para conceder a seguranca<br />

para o Urn especifico constante<br />

do pedido, pages as custas pelo<br />

requerido na forma da let.<br />

2. Afirmam as recorrentes na intcial<br />

de fls. 2/3:<br />

As impetrantes sAo constituidas<br />

corn a finalidade de explorer o ramo<br />

de tipografia ou gthfica em geral<br />

(does. juntos), prestando servicos<br />

de compositho grefIca, litografia<br />

e fotolitografia, atividades das<br />

artes greficas.<br />

Setts servicos resultam da confectho<br />

de impressos por encomenda<br />

de guias fiscais, cartOes corn<br />

timbre, papel de officio e de carta,<br />

formulerios na maior parte stilettos<br />

a modelos<br />

Na executho de seu trabalho,<br />

utilizam as Impetrantes de papel,<br />

tinta e cola, material essencial no<br />

desempenho da funtho, sendo que<br />

tern os impressos a destinatho de<br />

use exclusivo de cada encomendante,<br />

fato que lhes tira o carater<br />

de mercadoria, uma vez que não<br />

tern circulatho econihnica e<br />

sAo suscetiveis de serem colocados<br />

no mercado consumidor.<br />

Cumpre assinalar que o impresso,<br />

se recusado pelo encomendante,<br />

por urn motivo qualquer,<br />

torna-se imprestevel, dada sua<br />

conditho de personalista.<br />

No entanto, acontece que a Fazenda<br />

Estadual sob o comando do<br />

Impetrado recusa-se terminantemente<br />

a fornecer autorlzacáo para<br />

impressào de documentos flacals,<br />

para os clientes das Impetrantes e<br />

para seu use prOprio, caso se omit=<br />

na apresentatho da Guia de<br />

Informatho e Apuratho Mensal do<br />

I.C.M., ficando as Impetrantes impossibilitadas<br />

de exercerem seu


420 R.T.J. — 94<br />

trabalho e de atenderem a seus<br />

clientes».<br />

E, para desatender sua pretensào,<br />

assim fundamentou o ilustre Relator<br />

seu voto, no que foi acompanhado<br />

pela nobre maloria, fls. 53/4:<br />

«Entendo nao haver ilegalidade<br />

nesta exigencia, autorizada por<br />

disposicao expressa do Regulamento<br />

do ICM, e, sabidamente,<br />

instrumento indispensavel a verif<br />

cacao da verdadeira atividade do<br />

contribuinte. Obrigacao acessOria,<br />

de que nao resulta, necessariamente,<br />

obrigacão de pagar tributo, a<br />

ela nä() pode opor-se o contribuinte,<br />

sob pena de, limitada e impotente,<br />

nao ter a autoridade fazendada<br />

meios de apurar se da atividade<br />

das Impetrantes resulta ou<br />

nao obrigacäo de recolher ICM.<br />

E, quando assim nao fosse, objeto<br />

da impetracáo a fazer cessar<br />

exigencia do pagamento do ICM<br />

sobre as atividades greficas das<br />

Impetrantesp, pretensão generics,<br />

a alcancar todas atividades das<br />

Impetrantes, atuais e futuras. A<br />

concessäo da seguranca, coma requerida,<br />

importaria em verdadeira<br />

ordem in albis, aliviadas as Impetrantes<br />

de obrigagáo tributaria estadual<br />

mesmo quando, comerciantes,<br />

fossem por ela induvidosamente<br />

responsaveis. Cautela que macs<br />

se impeoe a teor dos atos constitutivos<br />

das Impetrantes, a lhes permitir<br />

atividade de comercio, explicita<br />

no contrato da primeira e implicit°<br />

no da segunda.<br />

\ Fora limitado o pedido, a alcancar<br />

determinada atividade, de Pura<br />

prestacdo de servico, seria de<br />

conceder-se a seguranca. Formulanda-o<br />

em carater generic°,<br />

as Impetrantes obrigam-me a<br />

natural cautela, sob pena de exporme<br />

ao risco de dar um perigoso<br />

bill de indenidade, a acobertar, inclusive,<br />

induvidosos atos de corner-<br />

cio. Alias, a avaliacao da verdadeira<br />

atividade das Impetrantes, exigiria,<br />

a rigor, apuracdo em instrucâo<br />

demorada, repelida pela natureza<br />

da medida pleiteada.<br />

Näo acudo, modesto, a orientacao<br />

do STF a respeito, quando entende<br />

que a expressao "composicao<br />

grafica", constante da lista<br />

anexa ao Decreto-lei n? 406, de<br />

1968, agasalha toda atividade grafica<br />

de forma ampla e abrangente.<br />

A propOsito, lembre-se apenas<br />

que, corn o moderno progresso teenolOgico,<br />

pode uma empresa fazer<br />

a composicao grafica, preparando<br />

matrizes, e outra A conseqiiente<br />

impressao de talOes, blocos e ate<br />

livros. Tudo a sugerir que a expressao<br />

se de interpretacao restritiva,<br />

e nao ampliativa, como o fez<br />

o Supremo, sob a pena de, por via<br />

indireta golpear-se competencia<br />

tributeria estaduab).<br />

Com os mesmos pressupostos, todavia,<br />

dissentiram os padrOes ja referidos.<br />

Justifica-se, assim, o conhecimento<br />

da irresignacao.<br />

3. E merece provido e pelos mesmos<br />

fundamentos aduzidos no paradigma,<br />

desta Corte, invocado, RE<br />

84.837-SP e do qual foi Relator.<br />

All afirmei, fls. 68/9:<br />

«A Constituicao, ern seu art. 24,<br />

II, atribui dito imposto ao Municipio,<br />

corn as ressalvas finals<br />

que introduziu.<br />

DispOs o citado art. 8?, § 1?.<br />

«Art. 8?. 0 imposto, de competencia<br />

dos Municipios, sobre servicos<br />

de qualquer natureza, tern<br />

como fato gerador a prestacao,<br />

por empresa ou profissional ante,nomo,<br />

com ou sem estabelecimento<br />

fixo, de servico constante<br />

da lista anexa.<br />

Ǥ 1?. Os servicos incluidos na<br />

lista ficam sujeitos apenas ao im-


posto previsto neste artigo, alnda<br />

que sua prestacdo envolva fornecimento<br />

de mercadorias».<br />

Adveio o Decreto-lei n? 834/69,<br />

alterando a lista dos servicos, p<strong>revista</strong><br />

no Decreto-lei n? 406/68.<br />

Ela 6 taxativa, ndo tolerando<br />

I.S.S., a nao ser nas hipOteses que<br />

contempla, corn a exclusAo de outras.<br />

Quando o admitia, se fazia expressa,<br />

como sucedia na tabela<br />

primitiva, itens X e XXI, pelo fornecimento<br />

de alimentos e bebidas<br />

e outras mercadorias pelas casas<br />

de diversOes, hotels e hospedarias.<br />

A vigente relacAo Sa ndo introduz<br />

as ressalvas, melhorando a poslcdo<br />

do Municipio (Baleeiro, Direito<br />

TrIbutftrio Brasileiro, Ed. 7,, 1975,<br />

p. 264).<br />

Assim, nos casos de tipografias,<br />

posto que empreguem nos seus servicos<br />

tinta, papel e ingredientes<br />

outros, ficam eles absorvidos corn<br />

a impressdo realizada; perdem o<br />

seu valor comercial, nAo sac) eles<br />

vendidos como bens corpOreos, merecendo,<br />

pots, tributado o servico<br />

prestado, o qual, como 6 expressa<br />

a Let, afasta a incidencia de outros.<br />

NAo vejo, assim, tenham os decisOrios<br />

impugnados denegados vig6ncia<br />

aos preceitos 34 aludidos,<br />

antes, a meu sentir, lhes deram razoAvel<br />

aplicacdo, o que afasta a<br />

possibilidade de conhecimento do<br />

exceptional, SUmula 400, primeira<br />

parte».<br />

No mesmo sentido os demais paradigmas.<br />

E, corn !vats fundamentos<br />

fol proferldo despacho pelo eminente<br />

Ministro MoreIra Alves no Ag. 75.238<br />

de Minas Gerais (DJ 6.4.79, p4g.<br />

2.687).<br />

R.T.J. — 94 421<br />

4. Por Ultimo, tenho como injustificado<br />

o temor do ilustre Relator da<br />

maior amplitude do bill concessOrio.<br />

Cinge-se ele aos termos em que lot<br />

posto no pedido. Ndo precisaria dizëlo,<br />

enquanto a atividade se circunscrever<br />

Aguela por ele descrita e usar<br />

os metodos de que invocou se valer,<br />

os corals, ndo foram contrariados.<br />

Fora dal, manifesto 6 que se os<br />

praticar em extensdo que a tome<br />

passive! do I.C.M., livre Pica ao Fisco<br />

local proceder como dispOe a let<br />

no sentido de resguardar seus interesses<br />

0 que ndo pode, e porque nem a<br />

Constltuicdo, nem a lei o permite, 6<br />

pretender, valendo-se dos meios que<br />

utilizou, prejudicar a atividade Reda<br />

das impetrantes, visando tributd-las<br />

pelos atos 34 referidos. Tributo ao<br />

qual ndo estao sujeitas.<br />

E como voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE. 91.562 — MG — Rel.: Ministro<br />

Thompson Flores. Rectes.: GrAfica<br />

Planalto Ltda. e outra (Adv.: Geraldo<br />

Lucas Gomes). Recdo.: Estado de<br />

Minas Gerais (Adv.: Mauricio Ferreira<br />

de Carvalho).<br />

DecisAo: Conhecido e provido, decisAo<br />

undnime.<br />

PresidAncia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a sessdo<br />

os Senhores Ministros Xavier de<br />

Albuquerque, Cunha Pebcoto, Soares<br />

Muhoz e Rafael Mayer. Subprocurador-Geral<br />

da Reptiblica, o Dr. Francisco<br />

de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 25 de setembro de 1979. —<br />

Antonio Carlos de Awed. Braga,<br />

Secretitrio.


422 R.T.J. — 94<br />

EMBARGOS NO RECURSO EXTRAORDINARIO N? 91.613 (AgFtg) — RJ<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Xavier de Albuquerque.<br />

Agravante: Wagner Wolney Magalhães — Agravado: Eustalia Maga-<br />

Alcada regimental para recurso extraordinArio. Prevalece o valor<br />

atribuido A causa e nao impugnado nem retiticado pelo juiz, e<br />

am, o calculado corn base no critério legal adequado. Agravo regimental<br />

nao provido.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal em SessAo<br />

Plenaria, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e notas taquigrAficas,<br />

unanimidade de votos, negar provimento<br />

ao agravo regimental.<br />

Brasilia, 28 de maio de 1980 —<br />

Antonio Neder, Presidente — Xavier<br />

de Albuquerque, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Trata-se de agravo regimental<br />

interposto contra o seguinte<br />

despacho ( f. 416 ):<br />

«Para nao conhecer do recurso<br />

extraordinario, o acOrdão embargado<br />

ateve-se a aplicacao do art.<br />

308, VIII, do Regimento Intern,<br />

na iedacAo resultante da Emends<br />

n? 3, de 1975. Nao havendo<br />

chegado, por isso mesmo, ao exame<br />

do mArito, nao pode o aresto<br />

ter divergido da Stunula 305, que<br />

]he diria respeito.<br />

Quanto a incidAncia da restri-<br />

Ado regimental, considerou o julgado,<br />

segundo a explicitacao contida<br />

naquele que posteriormente<br />

apreciou os embargos declaratdrios,<br />

que deve prevalecer o valor<br />

atribuido a causa e nao impugnado<br />

nem retificado pelo Juiz, e<br />

nao, o calculado corn base no critArio<br />

legal adequado.<br />

Essa orientacao espelha fielmente<br />

a diretriz afinal assentada<br />

pelo Tribunal a prop6sito do tema,<br />

a despeito da vacilacao inicialmente<br />

havida e traduzida em<br />

vários acOrdaos, muitos dos<br />

quais agora invocados pelo embargante<br />

para comprovacao da<br />

divergència em que baseia os<br />

presentes embargos.<br />

Tal divergAncia, todavia, estA<br />

cabalmente superada por jurispruclAncia<br />

mais recente. Precisamente<br />

por isso, foi que o PlenArio<br />

nao conheceu, a 8.6.77, dos embargos<br />

interpostos no RE 83.957,<br />

dos quais fui Relator, e que o fez<br />

sob invocaflo da Stunula 247.<br />

Relativamente a alegacao de<br />

que a restricdo regimental da alcada<br />

tract atinge as Wes de estado,<br />

A manifesto que, conquanto<br />

verdadeira, liar; tem pertinAncia<br />

no caso dos autos, que versa pura<br />

KA° de revisao de pensão alimenticia<br />

decorrente de desquite.<br />

Embora a nä° de alimentos possa,<br />

em certos casos, assumir carater<br />

de agar:, de estado (RE<br />

90.032, RTJ 90/1.070), a indubitàvel<br />

que, na hipetese destes autos,<br />

nao no tem.<br />

Isto posto, inadmito os embargos»<br />

Renova o agravante, longamente,<br />

sua argumentacao no sentido de que<br />

deve prevalecer, relativamente ao<br />

valor da causa, o critério legal, e


nfto a estimativa dada Belo autor,<br />

ainda que nä° impugnada nem retificada<br />

pelo Adz. Diz serem inadequados<br />

ao caso os acerdnos referidos no<br />

despacho agravado.<br />

E o relatOrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque (Relator): 0 agravante<br />

insiste em mat6ria vencida. Embora<br />

tenha havido, efetivamente, certa<br />

hesitacno initial, nossa jurisprudnncia<br />

firmou-se, afinal, no sentido de<br />

que deve prevalecer, para o efeito<br />

da restricäo regimental, o valor atribuido<br />

A causa e nno impugnado nem<br />

retificado pelo juiz, e nno, o calculado<br />

corn base no criterio legal adequado.<br />

E outra nä° e a conclusäo<br />

que se tira do art. 308, inciso VIII, do<br />

Regimento Interno, em sua redacno<br />

posterior A Emenda n? 3, de 1975.<br />

Nego provimento ao agravo regimental.<br />

R.T.J. — 94<br />

EXTRATO DA ATA<br />

ass<br />

RE 91.613 — (AgRg) — Rel. MM.<br />

Xavier de Albuquerque. Agte: Wagner<br />

Wolney Magalhães (Adv.: Jefferson<br />

de Aguiar). — Agda: EustAlia<br />

Magalhnes (Adv.: Antonio Alves<br />

Fernandes).<br />

Decisao: Negou-se provimento ao<br />

agravo regimental. Decisão uniforme.<br />

Presidência do Senhor Ministro<br />

Antonio Neder Presentes a Sessao<br />

os Senhores Ministros Djaci<br />

Thompson Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

Lena° de Abreu, Moreira<br />

Alves, Cunha Peixoto, Soares Munoz,<br />

Decio Miranda e Rafael Mayer. —<br />

Ausente, justificadamente, o Sr.<br />

MM. Cordeiro Guerra. Procurador-<br />

Geral da RepOblica, substituto, o Dr.<br />

Francisco de Assts Toledo.<br />

Brasilia, 28 de maio de 1980. —<br />

Alberto Veronese Aguiar. — Secretario.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 91.680 — PR<br />

(Prlmeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Rafael Mayer.<br />

Recorrente: Antbnio Maria Rodrigues — Recorrido: Estado do Parana.<br />

Responsabilidade Civil do Estado. Ato de Juiz. Imunidade Judi-<br />

Execucno desordenada de precatOrla. Alegaclo de excess's de<br />

ezecucilo de ordem manacle do juts, o que estaria subtraido i imunidade<br />

pertinente aos atos tipicamente judicial'', envolvendo a responsabilidade<br />

civil do Estado. Cause que, entretanto, não enfoeou ease<br />

aspecto da responsabilidade, cingindo-se ao equacionamento do ato<br />

de juiz, em sua funetto jurisdicional. Recurso extraordinirio nlio<br />

conheCido.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

jutgamentoS e notas taquigrifcas,<br />

unanimidade, não conhecer do i recurso.<br />

Brasilia. 25 de marco de 1980 —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Rafael Mayer, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Rafael Mayer: A<br />

questAo dlz respeito a responsabilidade<br />

civil do Estado por prejuizos de-


424 — 94<br />

correntes de ato de juiz em sua funcao<br />

jurisdicional. Mais precisamente,<br />

ao cumprimento de carta precat6ria<br />

pelo juiz da Comarca de Loanda,<br />

no Estado do Parana, que determinou<br />

a reintegracao de posse em<br />

favor do Des. Joao Alves da Rocha<br />

Loures, decisao essa posteriormente<br />

reformada em virtude de mandado<br />

de seguranca.<br />

Os fatos se originaram na Comarca<br />

de Apucarana, onde foi proposta<br />

uma acao de manutencao de posse,<br />

sendo o Desembargador Rocha Loures<br />

autor, e reu Querino Pereira dos<br />

Santos, em relacao a 2.475 hectares<br />

de terras, sobre a qual foi concedida<br />

liminar.<br />

_Expedida precatOria para cumprimento<br />

da liminar de manutencao de<br />

posse, foi cumprida em area de que<br />

era possuidor AntOnio Maria Rodrigues,<br />

o qual, irresignado, opts embargos<br />

de tercelro, que foram rejeltados.<br />

InterpOs, entao, mandado de seguranca,<br />

que teve essa solucao:<br />

«Acao de manutencao de posse<br />

julgada procedente. Execucao mediante<br />

precathria. Desvirtuamento<br />

do objeto da mesma. Atingimento<br />

de posse alheia. Mal-Wad° de seguranga.<br />

Concessao pra restabelecimento<br />

do estado anterior do im6vel,<br />

quando em carta precathria de<br />

execucao de manutencao de posse,<br />

referente a derrubada de arvores,<br />

precede-se a reintegracao de posse<br />

em area contendo culturas de algodao<br />

e cereals pertencentes a terceiros,<br />

concede-se a segufanca para<br />

restabelecimento do estado anterior<br />

da posse violada.”<br />

Para ressarcir-se dos prejuizos dal<br />

advindos, AntOnio Maria Rodrigues<br />

ajuizou acao ordinaria de reparacao<br />

de danos contra o Estado. A sentenca<br />

julgou o autor carecedor da acao,<br />

declarando extinto o processo. 0 Tribunal<br />

de Justica a manteve, com estes<br />

fundamentos:<br />

«A sentenca apelada, com acerto,<br />

deu o autor como carecedor da<br />

nao pela aushncia de possibilidade<br />

juridica do pedido. A tese da<br />

responsabilidade do Estado por erro<br />

judiciario nao merece acolhida,<br />

sendo que, excepclonalmente, mesmo<br />

o prOprio juiz somente podera<br />

ser responsabilizado pessoalmente,<br />

conforme estabelece o art. 133 do<br />

COdigo de Processo Civil. Dessa<br />

forma, impossivel, sem que ao menos<br />

tenha sido argilida a falta do<br />

juiz, pretender-se a responsabilidade<br />

direta do Estado.<br />

Mc, ha responsabilidade civil do<br />

Estado pelos prejuizos decorrentes<br />

de atos do juiz, em sua funcao jurisdicional,<br />

consoante tem entendido<br />

o Egrêgio Supremo Tribunal<br />

(RTJ 56/273, 59/782).<br />

Inexlste o ressarcimento de danos<br />

proveniente de atos do Poder<br />

Judiebitrio, porque se trata de um<br />

poder soberano, que goza de<br />

imunidades que nao se enquadram<br />

no regime da responsabilidade por<br />

efeitos de seus atos, quando no<br />

exercicio de sua lunches. Acrescente-se<br />

que as sentencas nao<br />

macs sujeitas a recursos, prevalece<br />

a presuncao de verdade,<br />

que e o trago caracteristico e o<br />

efeito marcante da coisa julgada,<br />

cujo Obice se apresenta intransponivel<br />

para reciamaches. Dai, na<br />

licao de Pedro Lessa:<br />

A irresponsabilidade do Poder<br />

P^blico nesta caso (atos do Poder<br />

Judiciario) 6 um corolario fatal<br />

da autoridade da res indicate.<br />

Ao particular lesado por uma<br />

sentenga judicial s6 poderia ser<br />

facultada a propositura de uma<br />

acao de indenizacao, depots de<br />

haver esgotado todos os recursos<br />

processuais; mas, depots de esgotados<br />

todos esses recursos, a sentenca<br />

a Irretratavel. Reclamar<br />

do Estado uma indenizacao por<br />

essa decisào inalteravel fora ini-


ciar urn novo litigio sobre a questao<br />

ja ultimada por uma sentence<br />

passada em julgado». (In Do<br />

Poder Judiciario, pag. 164).<br />

EntAo, os atos do Poder Judiciario<br />

nao determinam a responsabllidade<br />

do Estado, pelos danos deles<br />

decorrentes.».<br />

Inconformado recorre extraordinariamente,<br />

pelai letras a e d, sustentando<br />

violagAo dos arts. 467 e 468 do<br />

ardigo de Processo Civil, visto que o<br />

acOrclAo atentou contra a coisa julgada,<br />

reconhecendo os danos oriundos<br />

da execucAo desordenada da precatforla<br />

e nAo responsabilizando o Estado<br />

pelos prejuizos; alega, também,<br />

negative de vigencia dos arts. 15 do<br />

cedigo Civil e 107 da ConstituicAo,<br />

«que /IR) ressalvam imunidades ao<br />

Poder Judiciario, pelos danos resultantes<br />

do «desordenado cumprimento<br />

de precatOria». A guisa de<br />

diss1d1o, traz a confronto julgados do<br />

Supremo Tribunal Federal e de outros<br />

<strong>tribunal</strong>s.<br />

Denegado o recurso, por invocacão<br />

do art. 308, VII, do RI/STF, sublu<br />

pelo provimento do Ag. 74.789. Nessa<br />

instAncia, opinou a douta Procured°.<br />

ria pelo conhecimento e provimento.<br />

E o relatforio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator):<br />

Entendo, em principio, de<br />

modo igual ao douto parecer, necessari°<br />

distinguir entre os atos tipicos<br />

do Poder Judiciarlo, consubstanciados<br />

nos seus provimentos e decisbes,<br />

e as execucbes ou atos materials levadas<br />

a efelto pelos agentes, meios e<br />

mottos pertinentes, no amplo espectro<br />

do servico judiciario.<br />

NAo ha dfivida de que, no tocante<br />

Aqueles atos tipicos da jurisdlcAo,<br />

nil° se pode desenvolver a responsebllidade<br />

civil do Estado a partir dos<br />

danos que deles resultem. 0 pensamento<br />

dominante 6 de que em se fra-<br />

R.T.J. 94 425<br />

tando de exercicio de atos de soberania,<br />

a igual da irresponsabilidade do<br />

legislador, /Lao poderia resultar a<br />

responsabilidade de indenizar quem,<br />

sfibito, sofresse prejuizos dal conseqllentes.<br />

Cumprindo ao Juiz aplicar<br />

a lei ao caso, segundo a sua conviccAo<br />

interior, como meio de realizecão<br />

do praprio ordenamento juridic°,<br />

dal não se pode tirar razAo alguma<br />

para reparar os seus efeitos, pois seria<br />

a negacAo dos prOprios principlos.<br />

Poucas sac, as vozes que se obbein<br />

tese, mesmo porque, do contrario,<br />

se comprometeria a Wilda liberdade<br />

interior do ato de julgar.<br />

Este e o entendimento que tem<br />

prevalecido no Supremo Tribunal,<br />

inclusive em memoraveis tomadas<br />

de posicAo pelo Pleno, como se ye<br />

dos acOrdAos proferidos nos RREE<br />

n?s 69.568 e 70.121, em que Relatores,<br />

respectivamente, os eminentes<br />

Ministros Thompson Flores e Djaci<br />

onde restou acentuado que o<br />

Estado não 8 responsavel civllmente<br />

pelos atos do juiz, em sua funcAo jurisdicional,<br />

sera° quando previsto<br />

em lei (in RTJ — 59/782 e 64/689).<br />

Alias, a pretensão de causa 6 de<br />

estabelecer a responsabilidade civil<br />

do Estado, objetivamente fixada em<br />

functio de dano resultante de ato do<br />

Julz, sem que seja imputada ao Juiz<br />

conduta dolosa ou fraudulenta suscetivel<br />

de responsabiliza-lo, de modo<br />

direto e autbnomo, nos termos do<br />

art. 133 do Cédigo de Processo Civil<br />

e art. 49 da Lei OrgAnica da Magistrature<br />

Nacional.<br />

Acena o recurso, certo, para a<br />

hip6tese de que a responsabilidade<br />

do Estado adviria nilo de ato tipico<br />

do Juiz, da emissão de provimento<br />

jurisdicional, mas de desordenada<br />

execucAo de precataria recebida que<br />

danificou a propriedade rural, de um<br />

terceiro na relacAo processual. Em<br />

principlo, merecerla ser cogitada a<br />

distincAo proposta, inquinando de


426<br />

causante do dano nao a sentenca,<br />

mas o fato do servico extrapolando<br />

dos lindes da execucão ou da demanda<br />

corn o que a espCcie se subtrairia<br />

a imunidade dos atos tipicamente judiciais,<br />

envolvendo a responsabilidade<br />

civil do Estado.<br />

Entretando, tal enfoque nao representa<br />

o suporte juridico da causa,<br />

que antes se situa na invalidade da<br />

decisào judicial que destituindo 0<br />

Autor da posse em que fora reintegrado<br />

ofendera a coisa julgada resultante<br />

de concessão de seguranca.<br />

NA° a possivel, pois, tratar, aqui,<br />

desse aspecto da responsabilidade,<br />

mesmo porque o acOrdäo recorrido,<br />

em termos iguais aos da sentenca de<br />

primeiro grau, nao ventilou o tema,<br />

nem foi chamado a fazë-lo em embargos<br />

de declaracao, cingindo-se a<br />

reconhecer que estava sob exame a<br />

prAtica de ato do Juiz, em sua funcAo<br />

jurisdicional, dai resultando a irresponsabilidade<br />

do Estado pelos<br />

prejuizos conseqiientes. Aquele pressuposto<br />

a incontornAvel na instäncia<br />

extraordinAria, e o consectArio da irresponsabilidade<br />

uma necessidade<br />

juridica. Por Isso e que se trancou o<br />

processo, em virtude de carfincla da<br />

acão por impossibilidade juridica do<br />

pedido.<br />

A par de nao haver demonstrado<br />

adequadamente o dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l,<br />

pela tetra d, o recurso nao<br />

tem viabilidade pela tetra a. Corn<br />

efeito, os arts. 467 e 468 do C6digo de<br />

R.T.J. — 94<br />

Processo Civil nao foram questionados<br />

no acOrdão recorrido; e a desaplicacAo<br />

dos arts. 107 da Constituicdo<br />

e 15 do Código Civil nao implicou<br />

ern negar-lhes vigfincia, antes se<br />

lhes deu correta interpretacdo ao excluir<br />

a sua incidëncia quanto aos<br />

atos tipicos do Juiz, na sua funcAo<br />

jurisdicional, eis que nessa qualidade,<br />

como Orgäo da soberania nacional,<br />

nao se subsome na conceituacAo<br />

de funcionArio priblico ou representante<br />

do Estado segundo o pensamento<br />

da norma.<br />

Assim, nao conheco do recurso.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 91.680 — PR — Rel.: Min. Rafael<br />

Mayer. Recte.: Ant6nio Maria<br />

Rodrigues (Advs.: Vicente Souza Junior<br />

e outro). Recdo.: Estado do Paraná<br />

(Advs.: Rubens de Barros Brisolla<br />

e Gaspar Luiz Lacerda Pinto).<br />

DecIsAo: Nao conhecido, decisAo<br />

unAnime. Ausente ocasionalmente o<br />

Ministro Xavier de Albuquerque.<br />

Presidencia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a sessac,<br />

os Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto, Soares Mufioz<br />

e Rafael Mayer. Subprocurador-<br />

Geral da Repfiblica, o Dr. Francisco<br />

de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 25 de marco de 1980 —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

SecretArio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 91.785 — SP<br />

(Segundo Ttuma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra,<br />

Recorrente: UNIBANCO — Untho de Bancos Brasileiros S/A — Recorrido:<br />

Juiz de Direito da 1, Vara da Comarca de Rio Claro.<br />

Dineirsita de services, aceita e endossada. Sustaclio do protesto,<br />

por ato judicial, sem audiência ou intimacão do endossaterio.<br />

A este cabe o recurso a acAo de seguranca para proteger o seu<br />

direito liquido e certo.<br />

RE conhecido e provide.


ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e das notas taquigraficas,<br />

a unanimidade de votos,. em conhecer<br />

e dar provimento ao recurso.<br />

Brasilia, 11 de marco de 1980 —<br />

Djaci Fala°, Presidente — Cordeiro<br />

Guerra, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra:<br />

Trata-se de mandado de seguranca,<br />

impetrado contra ato do Excelentissimo<br />

Senhor Juiz de Direito da<br />

It Vara da Comarca de Rio Claro,<br />

consistente na concessäo de medida<br />

cautelar de sustacan de protesto de<br />

duplicata acelta pelo devedor, figurando<br />

o impetrante como endossatario.<br />

Sustenta este que se trata de<br />

protesto, necessario para assegurar<br />

seu direito de regresso contra o endossador,<br />

o qual clever& a termo legal,<br />

ser tirado em trinta dias, contados<br />

do vencimento.<br />

0 v. acOrdAo recorrido julgou o<br />

impetrante carecedor da seguranca,<br />

por entender que do despacho concessivo<br />

da medida cautelar caberia<br />

agravo, que, nao tendo sido interposto,<br />

acarretou a preclusao da mat°.<br />

ria. fls. 76/77.<br />

Inconformado o endossatario interpas<br />

o recurs() extraordinario sustentando<br />

negativa de vigancia do art.<br />

153, § 21, da Constituictlo Federal,<br />

art. 5?, II, da Lei 1.533, de 31-12-51 e<br />

sifinula 267, invocando o seu direito<br />

liquid° e certo de endossatario de<br />

duplicata acelta e nao ter sido citado<br />

para a aclio nos termos do art. 802<br />

do CPC e dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l,<br />

corn o MS 805, do Tribunal de Justica<br />

de Santa Catarina, assim ementado:<br />

R.T.J. — 94 427<br />

«Mandado de Seguranca. Impetracão<br />

contra despacho judicial da<br />

sustacAo de protesto. Admissibilidade<br />

— RT 469/199.»<br />

0 recurso foi indeferido pelo entendimento<br />

de que o acOrdAo nao entrou<br />

no marito do pedido e, conseMientemente,<br />

incabivel o apelo extraordi-<br />

(lad° coin base no art. 308, III, do<br />

RI.<br />

Dei provimento ao agravo para<br />

melhor exame.<br />

Sustenta o recorrente o cablniento<br />

do mandado, pots o protesto foi por<br />

ele requerido na qualidade de endossatario,<br />

e foi sustado por medida<br />

cautelar requerida pelo emitente devedor,<br />

em acAo movida contra o credor<br />

endossante, sem que ele eidossatario,<br />

tivesse sido citado.<br />

. De modo que a suspensào do protest°<br />

se verificou em processo para o<br />

qual !go fora citado, sendo, pots, estranho<br />

a lide, fls. 102/104.<br />

A, douta Procuradoria-Geral da<br />

RepOblica assim opina:<br />

«1 — A ora recorrente impetrou<br />

seguranca contra ato do MM. Jinx<br />

de Direito da 11 Vara. da Comarca<br />

de Rio Clam, que concedeu medida<br />

cautelar de sustacAo de protesto de<br />

duplicata acelta pelo devedor, em<br />

que a impetrante figura como endossataria.<br />

2 — 0 v. acardAo recorrido julgou<br />

a impetrante carecedora de seguranca,<br />

sob o fundamento de que<br />

a decisAo que deferiu a liminar de<br />

sustacão de protesto era passivel<br />

de recurso.<br />

3 — Sustenta a recorrente, no<br />

apelo extremo, violacAo dos arts.<br />

153, § 21, da Constituicão Federal,<br />

5?, II, da Lei 1.533, de 1951, alen<br />

de divergAncia com a Saimaa 267 e<br />

com decisAo do Tribunal de Justica<br />

de Santa Catarina (RT 469/199).<br />

4 — 0 acifordAo recorrido nao ingressou<br />

no marito do pedido, razão


428 R.T.J. — 94<br />

por que, em face do disposto no<br />

art. 308, III, do Reg. Intern do<br />

STF, s6 teria relevancia, para a<br />

admissibilidade do Recurso Extraordinario,<br />

questa() de ofensa a<br />

Constituicao Federal.<br />

5 — Ao invocar o art. 153, § 21,<br />

da Constituicao, sustenta a recorrente<br />

que nAo poderia recorrer da<br />

decisao que deferiu a medida cautelar,<br />

uma vez que, equhrocadamente,<br />

esta nä° foi requerida contra<br />

si, mas sim contra o sacador.<br />

6 — E certo que a questa() do cabimento<br />

do mandado de seguranca<br />

tem inteira conotacão constitucional.<br />

Trata a hip6tese, portm, de<br />

medida cautelar que, em casos excepcionais,<br />

pode ser determinada<br />

pelo juiz mesmo sem a audiencia<br />

das partes (CP, arts. 796 e segs.).<br />

7 — Por outro lado, a requerente<br />

instrulu o pedido com documentacao<br />

para demonstrar a inexecucAo<br />

dos servicos e o art. 20, § 3? da Lei<br />

5.474, de 18-7-68, exige prova documental<br />

da efetiva prestacao de servicos<br />

para transcricao do instrumento<br />

de protesto.<br />

8 — Dessa forma, nao nos parece<br />

caracterizada a ofensa ao art. 153 §<br />

21 da ConstituicAo, tendo aplicaa),<br />

no caso, a jurisprudAncil correspondente<br />

a SinnuM 400.<br />

9 — Febo nao conhecimento.<br />

Brasilia, 15 de fevereiro de 1980.<br />

— Moacir Antonio Machado da<br />

Silva, Procurador da Reptiblica.»<br />

(fls. 110-112).<br />

E o relat6rio.<br />

VOTO<br />

O Sr. Ministro Cordeiro Guerra<br />

(Relator): — Realmente, dispOe o<br />

art. 308, III, do Regimento Interno,<br />

que sao incabiveis recursos extraordinarios<br />

nos mandados de seguranca,<br />

quando nao julgarem o merit°,<br />

salvo as excecOes do caput do mesmo<br />

art. 308.<br />

Invoca o recorrente violacAo do<br />

art. 153, § 21, da Constituicao Federal,<br />

por the ter sido negada a via do<br />

remklio hereto) para a protecao de<br />

direito liquido e certo seu.<br />

Creio que ha tema constitucional a<br />

justificar o conhecimento do apelo<br />

extraordinario, pois, realmente, tern<br />

a jurisprudAncia desta Corte e de va-<br />

Hos <strong>tribunal</strong>s admitido o cabimento<br />

de mandado de seguranca contra o<br />

ato judicial de suspensao de protestor<br />

cambiais. (RE 89 825 — 5 — SP<br />

— de 26-10-79, de que fui relator) e o<br />

dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l foi evidenciado.<br />

Por outro lado, na espècie, o recorrente<br />

endossatario de duplicata aceita<br />

nao era . parte na relacão processual,<br />

nao foi citado para a medida<br />

cautelar nem para a acAo anulat6ria<br />

do titulo movida pelo emitente contra<br />

o aceltante, de modo que nao poderia<br />

recorrer da concessao da medida<br />

cautelar.<br />

Surpreendido corn a sustacäo do<br />

protesto, legitimo era o apelo ao<br />

mandado de seguranca — art. 153, §<br />

21, da Constituicao Federal e isso the<br />

foi negado sob o pretexto de ser carecedor<br />

do mandamus.<br />

Entretanto, como ensina Pontes de<br />

Miranda: «a sustagao do protesto de<br />

titulo cambial, apresentado pelo endossatario,<br />

corn fundamento na alegacao<br />

de defeito da mercadoria adqulrida<br />

e paga atrasts de cambiais,<br />

nao se justifica nem se legitima, por<br />

nao serem oponiveis ao endossatario<br />

as excecOes pessoals, entre as quals<br />

as derivadas da causa ou neg6cio de<br />

que a cambial foi objeto.» (Tratado<br />

de Direlto Cambial — Nota Prom1ssOria<br />

— H. V? 145, p. 175/6).<br />

Do mesmo modo decidiu o Egrtgio<br />

Tribunal de Justica de Sao Paulo, de<br />

acordo corn a melhor doutrina:


e0 estabelecimento bancArio,<br />

terceiro de boa-ft, que desconta<br />

duplicatas, formalmente revestidas<br />

dos requisitos legais, nada<br />

tern que ver corn a defesa que o devedbr<br />

possa ter corn refertncia<br />

transacAo a que elas se referem.»<br />

(Ap. 55.807 — Rel.: Des. Moura Bittencourt<br />

Rev. Forense, v.<br />

149/311).<br />

E indiferente, a meu ver, a circunstancia<br />

de se tratar na especie,<br />

de duplicata por prestacdo de servicos,<br />

visto que foi ela acelta, tornando<br />

liquida e certa a obrigacAo do pagamento.<br />

De qualquer modo ao terceiro de<br />

boa-ft, endossatario, nAo poderiam<br />

ser opostas as defesas pessoals do<br />

devedor.<br />

A nova lei de duplicatas impee restrigOes<br />

ao credor por servicos que<br />

emite a duplicata, exige que comprove<br />

o vinculo contratual e a efetiva<br />

prestacAo de servicos, para fazer valer<br />

os seus direitos contra o devedor,<br />

portm, se este aceita a duplicata,<br />

evidentemente, reconhece os pressupostos<br />

para a sua emissào e se obriga<br />

pelo pagamento e, em conseqtlencia,<br />

a elas se aplicam as disposicOes<br />

referentes a duplicata mercantil<br />

(art. 20, § 3?, da Lei 5.474, de 18-7-•<br />

68).<br />

NA° creio, ern que pese a grande<br />

autoridade de Cunha Peixoto, que<br />

tats faturas nä° sejam endossAveis<br />

(Comentarios a Lei de Duplicatas, p.<br />

195, 2? ed. Forense), pots a lei dispOe<br />

que se aplicam as mesmas, corn as<br />

adaptacOes cabiveis, as disposicOes<br />

referentes as duplicatas mercantis<br />

(§ 3? do art. 20, primeira parte), e o<br />

endosso nAo 6 incompativel corn a<br />

duplicata de servicos, uma vez<br />

aCefta pelo devedor.<br />

Penso que, para excluir o endosso,<br />

nesses casos, e por esses motivos,<br />

seria necessario norma expressa,<br />

que nAo consta da lei.<br />

R.T.J. — 94 429<br />

Aceita a duplicata, tern o titulo autonomia<br />

e pode ser endossado.<br />

Em conseqiitncia, cabivel o mandado<br />

de seguranca, liquid° e certo 0<br />

direito do endossatArio de duplicata<br />

aceita, a suspensão do protesto, sem<br />

auditncia do endossatArio, terceiro<br />

de boa-ft, em processo para o qual<br />

nAo foi citado, evidentemente, viola<br />

a garantia constitucional do art. 153,<br />

§ 21, da Constituicão Federal e assim,<br />

conheco do recurso e the dou<br />

provimento para conceder o writ.<br />

Afasto a invocacAo feita pela Procuradoria<br />

de Justica, do Obice do<br />

art. 308, VIII, do RI, não so pela excecAo<br />

que reconheco, como por que esta<br />

Corte ja decidiu:<br />

«AO° de mandado de seguran-<br />

Ca. Na interposicão do recurso extraordinArio<br />

6 indiferente o valor a<br />

ela atribuido.» RE 85.434 — SP, relator<br />

eminente Ministro Thompson<br />

Flores — RTJ 85/972.<br />

E o meu voto.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda —<br />

Sr. Presidente, estou de acordo corn<br />

o nobre Relator ate o ponto ern que,<br />

no seu douto voto, considera que o<br />

endossatario, estranho a controversia<br />

estabelecida sobre a sustacAo do<br />

protesto, nAo podia sofrer os efeltos<br />

desta sustacAo.<br />

Portanto, era-lhe facuitado requerer<br />

mandado de seguranca e deste<br />

nAo podia ser considerado careceder.<br />

Reconhecida, de acordo corn este<br />

meu pensamento, a qualidade do requerente<br />

do mandado de seguranca<br />

para a medicia impetrada, a conclusAo<br />

do meu voto 6 no sentido de determinar<br />

que, afastada a cartncla<br />

de acão, o Tribunal julgue, como for<br />

de direito, o merito da impetracAo.


430<br />

RETIFICACAO DO VOTO<br />

0 Ministro Cordeiro Guerra (Relator):<br />

Senhor Presidente, acolhendo<br />

as lucidas e oportunas consideracties<br />

do eminente Ministro Decio Miranda,<br />

retifico meu voto, acompanhando<br />

a conclusho do voto de S. Exa.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 91.785 — SP — Rel.: Min. Cordeiro<br />

Guerra. Recte.: UNIBANCO —<br />

Unido de Bancos Brasileiros S,"A<br />

(Advs.: Lourival Dantas e outros).<br />

Recdo.: Juiz de Direito da Primeira<br />

Vara da Comarca de Rio Claro.<br />

R.T.J. — 94<br />

Decisào: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator.<br />

Unanime.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

Falcdo. — Presentes a Sessão os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves e Decio Miranda. Licenciado,<br />

o Sr. Ministro Leitâo de Abreu.<br />

Subprocurador-Geral da Reptiblica,<br />

o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 11 de marco de 1980. —<br />

Hello Francisco Marques, Secretario.<br />

FtECURSO EXTRAORDINARIO N? 91.857 — SP<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Xavier de Albuquerque.<br />

Recorrente: Nelson Sigoli — Recorrido: Juiz de Direito da Segunda Vara<br />

Distrital do Ipiranga.<br />

Recurso extraordinário interposto de decisäo proferida em mandado<br />

de seguranca impetrado contra ato judicial praticado em acfto<br />

de despejo. Embora nfto dda o inciso III, por ter havido julgamento<br />

de mêrito, inc de o inciso V do art. 308 do Regimento Intertio. Recur-<br />

so nil° conhecido.<br />

ACORDAO<br />

Vistas, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Frimeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, de conformidade corn a ata<br />

de julgamentos e notas taquigraficas<br />

a unanimidade de votos, nä° conhecer<br />

do recurso.<br />

Brasilia, 3 de junho de 1980<br />

Thompson Flores, Presidente<br />

Xavier de Albuquerque, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Trata-se de mandado<br />

de seguranca impetrado contra ato<br />

judicial praticado em acao de despe-<br />

Denegada a seguranca, recorreu<br />

extraordinariamente o impetrante e<br />

teve admitido seu recurso.<br />

A Procuradoria-Geral da RepObIlea<br />

opinou pelo LIM) conhecimento,<br />

examinando cumpridamente a mattria<br />

discutida.<br />

E o relatOrio preliminar, que coinplementarei,<br />

se necessario.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque (Relator): No RECr<br />

89.996, julgado a 17.8.79 e interposto<br />

de decisao que concedera habeas<br />

corpus para trancar acdo penal por<br />

crime compreendido na restricao do<br />

inciso I, do art. 308 do Regimento Interno,<br />

o Plenario decidiu que tinha


aplicacAo o referido preceito regimental,<br />

embora nAo a tivesse o inciso<br />

II do mesmo artigo, especificamente<br />

referido as decis6es proferidas<br />

em processos de habeas corpus.<br />

Parece-me que o mesmo entendimento<br />

tem adequacAo ao caso destes<br />

autos.<br />

Aqui, o mandado de seguranva foi<br />

julgado pelo merit°, nAo incidindo,<br />

portanto, 0 Inciso III do referido art.<br />

308 do Regiment° Interno. Sucede<br />

que a impetracão visou ato judicial<br />

praticado em acao de despejo, fazendo<br />

as vezes de recurso contra o dito<br />

ato, o que faz incidir o inciso V do<br />

dispositivo jA mencionado.<br />

0 recorrente nAo alegou ofensa<br />

Constituiciio, nem suscitou argiiicäo<br />

de relevAncia da questa() <strong>federal</strong>.<br />

Isto posto, dou por caracterizado o<br />

impedimenta regimental e nAo co-<br />

R.T.J. — 94 431<br />

nheco preliminarmente, do recurso<br />

extraordinArio.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 91.857 — SP — Rel.: Min. Xavier<br />

de Albuquerque. Recte.: Nelson<br />

Sigoli (Adv.: Aguinaldo Ranieri de<br />

Almeida). Recdo.: Juiz de Direlto da<br />

Segunda Vara Distrital do Ipiranga.<br />

Preliminarmente nAo conheceram<br />

do recurso. UnAnime.<br />

PresidAncia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a SessAo<br />

os Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto, Soares Munoz<br />

e Rafael Mayer. — Subprocurador-Geral<br />

da Reptiblica, o Dr. Francisco<br />

de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 3 de junho de 1980. —<br />

Mid° Carlos Dayrell Secretario.<br />

FtECURSO EXTRAORDINARIO N? 91.948 - RJ<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra.<br />

Recorrente • J Thompson Publicidade Ltda. — Recorrido: Estado do Rio<br />

de Janeiro.<br />

Imposto sabre senlcos. LeglslacAo local que distlngue os<br />

cos de servi-<br />

relactles Mikes e pesquisa de mercado dos de propaganda e<br />

publIchlade, flxando aliquotas diversas pare cads atividade. thesistends<br />

de ofensa ao Wreak <strong>federal</strong>. AplicaMlo .291.<br />

das Silmulas 280, 400 e<br />

RE nAo conhecldo.<br />

ACORDAO<br />

Visto% relatados e discutidos estes<br />

autos, atordam os Ministros da Segunda<br />

Ttirma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e das notas taquigrAficas,<br />

a unanimidade de votos, em nAo<br />

conhecer do recurso.<br />

Brasilia, 21 de mare° de 1980. —<br />

Djacl FSICAO, Presidente — Cordeiro<br />

Guerra, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra: A<br />

recorrente impetrou seguranca, porque,<br />

autuada por infracAo do art. 75<br />

da Lei 1.165/65, na consideracão de<br />

ter recolhido a menos o imposto devido<br />

por servivos de relacees Obitcas,<br />

pesquisa de mercado e preparecAo<br />

de anfmcios, no periodo de 1? de<br />

Janeiro de 1967 a 31 de junho de 1969,<br />

considerou Indevida a aliquota de


432<br />

R.T.J. — 94<br />

5%, sustentando a incidencia da<br />

aliquota de 0,5% sobre as suas atividades<br />

de empresa de propaganda e<br />

as acima mencionadas.<br />

E isto porque, o referido artigo 75<br />

estabelece que o ISS e devido pela<br />

pessoa juridica ou profissional autOnorna<br />

que exerca qualquer das atividades<br />

referidas no artigo anterior.<br />

Sustenta a recorrente, que suas<br />

atividades estao incluidas no inciso<br />

XI do paragrafo Unico do art. 74:<br />

«II - 0 estudo, concepgao, execugap<br />

e distribuicao de propaganda e<br />

a divulgacao da propaganda e publicidade<br />

por quaisquer meios.»<br />

e nä') no inciso XII, como entenderam<br />

as autoridades administrativas:<br />

«XIII - Organizacäo, programageo<br />

planejamento e consultoria<br />

tecnica, financeira ou administrativa,<br />

avaliacao de bens, mercadorias,<br />

riscos ou danos; laboraterios<br />

de analises tecnicas; ou atividades<br />

congeneres ou similares.»<br />

Invoca, em seu prol, a definicao legal<br />

de Empresa de Publicidade - Lei<br />

4.680, de 18 de junho de 1965, e Decreto<br />

57.690, de 1? de fevereiro de<br />

1966•<br />

«... a pessoa juridica especializa-<br />

fixagao de sua aliquota art. 97, III e<br />

IV, do CTN, art. 150, § 2? e § 29, da<br />

CF - e, ainda, o art. 79 da pr6pria<br />

Lei Estadual 1.165, de 13 de dezembro<br />

de 1966, n? 3, que preceitua:<br />

«Empresas de propaganda e<br />

Empresas de Construcao Naval, na<br />

parte relativa a exportacao para o<br />

exterior 0,5%<br />

Argumenta em demonstracao do<br />

acerto de sua tese, que lei estadual<br />

posterior - Decreto-lei 299, de 29.11.69<br />

- desdobrou as atividades das empresas<br />

de publicidade em dois itens, a<br />

partir de 1970:<br />

«5 - Propaganda e publicidade<br />

sobre a remuneracao percebida na<br />

veiculaceo<br />

0,5%<br />

6 - Propaganda e publicidade sobre<br />

os servicos de concepcao, redacao,<br />

producao e veiculacao, esta<br />

Ultima quando efetuada diretamente<br />

2%<br />

Nessa conformidade, conclui, que,<br />

a data da autuacao - 1?.01.67 a 31.7.69<br />

I nenhuma distincao existia de modo<br />

a autorizar a incidencia da aliquota<br />

de 5%, pots a Ordem de Servico E,<br />

de 21 de novembro de 1969, e posterior<br />

a data da autuacao.<br />

A seguranca foi denegada pelo juiz<br />

da na arte e tecnica publicitaria de primeiro grau e confirmada foi a<br />

clue através de especialistas, estu- sentenca por actirclao assim ementada,<br />

concebe, executa e distribui do:<br />

propaganda aos veiculos de divul- «Empresa de propaganda. As<br />

gagão, por ordem e conta dos atividades de relaciies pOblicas,<br />

clientes anunciantes corn o objets- pesquisa de mercados e preparavo<br />

de promover a venda de produ- coo de anancios constituem prestatos<br />

e servicos, difundir ideias ou gees de servico tributadas separainformar<br />

o pilblico a respeito de damente de propaganda e publiciorganizacao<br />

ou instituicOes coloca- dade (lei 1.165, de 1966 e Dec.-lei<br />

das a servico desse mesmo Obit- 406/68); legitimidade do procedico.»<br />

mento fiscal; indeferimento do<br />

mandado de seguranca impetra-<br />

Sustenta que «Relacties POblicas»<br />

são uma forma de publicidade, pots<br />

do.» (fl. 89).<br />

visa «vender» a imagem do cliente. Sao estes os fundamentos da deci-<br />

Assim, insiste em que a decisao sac) recorrida, da lavra do saudoso<br />

irnpugnada violou o principio da de- Desembargador Paulo Alonso:<br />

f inigào legal do fato gerador e o de «


Sofrendo autuacho fiscal e exigido<br />

imposto por aliquota superior,<br />

sustentou a contribuinte que o Imposto<br />

Sobre Servicos seria devido<br />

em funcão do exercicto de suas atividades,<br />

quando o fato gerador 6 a<br />

prestacho de servico de qualquer<br />

natureza; em exame da controversia<br />

formada o Conselho de Contrlbuintes<br />

verificou que a atividade<br />

da recorrente era servicos de relaches<br />

pfiblicas, pesquisa de mercado<br />

e preparacão de antinclos, tributos<br />

pagos pela aliquota de 0,5% e<br />

não a de 5%, como devida, afirmando:<br />

«NA° tern razho a requerente<br />

quando alega que suas atividades<br />

estho enquadradas como<br />

empresa de publicidade, quando,<br />

efetivamente, sua atividade esta<br />

p<strong>revista</strong> no item XIII da lista que<br />

acompanha o Decreto-lei 406/68<br />

item XIII «Organizacho, programacho,<br />

planejamento e consultoria<br />

tecnica, financeira ou administrativa,<br />

avallacOes de bens, mercadorias,<br />

riscos ou danos; laboraterios<br />

de a/Wises tecnicas; atividades<br />

congéneres ou similares.»<br />

Realmente a prestacho de servico<br />

a essa enumerada, mas a impetrante<br />

insiste em que se inclui como<br />

de propaganda, e calculou a<br />

aliquota em 0,50%, sendo, entretanto,<br />

a exata de 5% ( hens 3 e 4 do<br />

art. 79 da lei n? 1.165, de 1966).<br />

Mostra, corn razão, a autoridade<br />

administrativa e engano interpretativo<br />

da apelante, quando situa<br />

suas atividades como tributadas<br />

pelo ISS, e não a prestacho de servico<br />

de que trata a lei dentro de<br />

suas atividades.» Assim 6 que, sob<br />

a aliquota de 0,5% a lei sltuou a<br />

empresa de propaganda em suas<br />

prestaches de servicos referentes e<br />

vinculadas diretamente a propaganda,<br />

eis que esta se diferencia<br />

claramente de «Relaches<br />

POblicass, da «Pesquisa de mercado»,<br />

e da «Preparacho de mauldos»,<br />

prestaches estas tributadas<br />

R.T.J. — 94 433<br />

na aliquota geral de 5%, nos exatos<br />

termos da lei, tal como esclarecem<br />

perfeitamente o art. 74 da lei<br />

1.165/66 (item XI do paragrafo) e<br />

art. 8? do Dec.-let 406/68 no item<br />

XV da lista de servicos que o<br />

acompanha, onde nho se incluem<br />

os servicos que nä() estritamente<br />

de propaganda e publicidade.»<br />

E realca ainda que a lei 2.143, de<br />

22 de novembro de 1972, na llnha<br />

de pensamento do legislador inicial,<br />

veto expressamente a fixar a<br />

aliquota de 5% para «Relaches Phblicas»,<br />

ap6s o desdobramento do<br />

campo da propaganda e publicidade<br />

do Decreto-lei 229/69, que deu a<br />

nova redacão ao art. 79 da let rt?<br />

1.165/66.<br />

Não merece reforma a sentenca<br />

apelada que considerou nä° pathciparem<br />

relaches pUblicas e pesquisa<br />

de mercado da mesma natureza<br />

dos servicos de propaganda e<br />

publicidade, cabendo a apelante<br />

pagar conforme os fatos geradores<br />

reais (fls. 62-3).<br />

Tal como as empresas que nho<br />

se envolvem corn atividades publichat-las,<br />

mas fazem pesquisas de<br />

mercado, relaches pdblicas e preparacho<br />

de antinclos, deveria a<br />

apelante ser tratada, como foi, em<br />

situactto de igualdade.<br />

A pesquisa do mercado e da opi-<br />

Mho pablica e a manipulacão dos<br />

meios de informacho constituem<br />

etapas diversas do proceSso amplo<br />

de comunicacão, cuja rase final, no<br />

caso possibilita a concretizacho da<br />

venda da propaganda ou publicidade,<br />

corn a qual nä° se assemelham.<br />

0 Ministério Paha), em primelra<br />

e segunda instanclas, amparou<br />

o apelado, nos pareceres dados.<br />

A atividade especifica da empresa<br />

nä() determina o percentual do<br />

imposto, mas a natureza das operaches<br />

havidas». (fls. 89-91).


434 R.T.J. — 94<br />

Interposto e indeferido o apelo extraordinArio,<br />

mandei-o processar em<br />

provimento a agravo regimental, para<br />

melhor exame.<br />

A douta Procuradoria-Geral da<br />

RepUbIlea assim opine:<br />

«1 - J. Walter Thompson Publicidade<br />

Ltda. impetrou seguranca para<br />

eximir-se do pagamento de diferenca<br />

de imposto sobre services,<br />

apurada em auto de infracào, alegando,<br />

em suma, que os services<br />

de relacdes pdblIcas e pesquisa de<br />

mercado estAo absorvidos pela atividade<br />

principal de propaganda e<br />

publicidade, de forma que o imposto<br />

deveria ser calculado a aliquota<br />

de 0,5% e nal) a de 5%. Acrescentou<br />

que a distincão entre essas atividades<br />

foi feita em legislacAo posterior<br />

ao period() a que se refere a<br />

autuacAo, nä() podendo, em consesancia,<br />

ter efeito retroativo.<br />

2 - Confirmando decisào de primetro<br />

grau denegat6r18 da seguranca,<br />

o eg. Tribunal de Justice do<br />

Estado concluiu pela legitimidade<br />

da autuacão, porque as atividades<br />

de relacOes pfiblicas e pesquisa de<br />

anfincios sac) distintas da propaganda<br />

e publicidade, justificando<br />

assim a fixacAo de aliquotas diversas<br />

feita na legislacAo local (Lei<br />

Est. 1.165, de 1966, arts. 74, 75 e<br />

79).<br />

3 - Recorre a impetrante, sustentando<br />

ofensa aos arts. 150, 29, da<br />

ConstituicAo Federal, e 97 do CTN,<br />

alem de divergéncia jurisprudential<br />

(RE 79.159, RE 79.753, RMS<br />

65.561 e RDA 114/109).<br />

4 - NA° merece prosperar o recurso.<br />

0 procedimento fiscal<br />

refere-se ao periodo de 1?.01,67 a<br />

31.7.69 e teve por base lei estadual -<br />

anterior (Lei 1.165, de 1966). A alegacäo<br />

da recorrente de que o ac6rdAo<br />

atribui eficacia retrooperante<br />

a Ordem de Service 21, de 10 de novembro<br />

de 1969, e ao Dec.-lei est.<br />

229, de 25.11.69, esta circunscrita<br />

interpretacAo de direito local, que<br />

nAo autoriza o recurso extraordinArio<br />

(SUmula 280).<br />

5 - E certo que o Dec.-lei 406/68<br />

entrou em vigor em 1.1.69, de forma<br />

que teria incidencia em relacAo<br />

ao periodo final a que se refere<br />

a autuacdo (1? de Janeiro a 31 de<br />

julho de 1969). Ocorre, porem, que<br />

o citado Decreto-lei não tornou ineficaz<br />

a distincão feita no direito local,<br />

para efeito de fixacao de<br />

aliquotas diversas, entre os servicos<br />

de propaganda e publiciadade<br />

e os de relay:les pUblicas e pesquisa<br />

de mercado. 0 item XV da Lista<br />

de Services, com efeito, refere-se<br />

estritamente a propaganda e publicidade<br />

e a decisäo recorrida considerou<br />

as demais atividades compreendidas<br />

no item XIII.<br />

6 - Consoante resulta dos textos<br />

legais que regulamentam o<br />

exercicio da profissao de Relacees<br />

Pithfleas (Lei 5.377, de 11-12-67) e<br />

de publicitario (Lei 4.680, de 18-6-<br />

65), essas atividades saes inconfundiveis.<br />

Ora, paralelamente aos<br />

servicos de propaganda e publicidade,<br />

a empresa tambern prestou<br />

services de pesquisa de mercado e<br />

relacees pfiblicas, de forma que o<br />

desdobramento, para efeito de calculo,<br />

de acordo com as aliquotas fixadas<br />

na legislacAo local, resulta<br />

da pr6pria definicäo do fato gerador<br />

do ISS, que 6 a prestacdo de<br />

service e nAo a atividade principal<br />

da empresa<br />

7 - A distincão feita pela decisAo<br />

recorrida entre as atividades em<br />

referencia e, portanto, razoavel<br />

(SUmula 400). A alegacao de ofensa<br />

ao principio da legalidade, por<br />

seu turn, encontra o obstAculo da<br />

SUmula 280, uma vez que a decisAo<br />

recorrida entendeu que a legislacäo<br />

local, anterior ao periodo a que<br />

se refere a autuaflo, distinguira os<br />

services prestados pela recorrida,<br />

fixando aliquotas diversas


8 - Pelo nao conhecimento.”(Fls.<br />

136-138)<br />

E o related°.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra<br />

(Relator): Inexiste violacAo ao<br />

principio da legalidade - art. 97 do<br />

CTN, art. 150, 1?, e 29 da ConstituicAo<br />

Federal, e isto porque a autuacAo<br />

impugnada e a aliquota imposta<br />

se encontram perfeitamente definidas<br />

na let preexistente (Lei 1.165, de<br />

13.12.66) A autuagAo - por infracOes<br />

abrangidas no periodo de 1? de Janeiro<br />

de 1967 a 31 de julho de 1969.<br />

0 v. acerdAo recorrido distinguiu:<br />

«NA° merece reforma a sentenca<br />

apelada que considerou rib) participarem<br />

relagOes pUblicas e pesguise<br />

de mercado da mesma natureza<br />

dos servigos de propaganda e<br />

publicidade, cabendo a apelante<br />

pagar conforme os f atos geradores<br />

reels<br />

Tal como as empresas que nAo<br />

se envolvem corn atividades publicitArlas<br />

mas fazem pesquisas de<br />

mercado, relagOes pUblicas e preparaglo<br />

de anCincios, deveria a<br />

apelante ser tratada, como foi, em<br />

situagAo de igualdade.<br />

A pesquisa de mercado e da °pinta°<br />

publics e a manipulagAo dos<br />

meios de informagão constituem<br />

etapas diversas do process° amplo<br />

de comunicacAo, cW a Ease final, no<br />

caso, possibilita a concretizagAo da<br />

venda de propaganda ou publicidade,<br />

com a qual nAo se assemelham.»<br />

(f. 90).<br />

Assim decidindo, nao descaracterizou<br />

a definicão de lei <strong>federal</strong> do que<br />

seja empresa de publicidade, pots<br />

estas se caracterizam pelo estudo,<br />

concepgAo, execucAo e distribuicão<br />

de propaganda aos veiculos de<br />

divulgactio - Lei 4.680, de 18.6.65.<br />

R.T.J. — 94 435<br />

Ora, o acerdAo nä° negou essa definicAo,<br />

o que entendeu 6 que relacOes<br />

pUblicas e pesquisas tecnicas de<br />

mercado, nao se compreendem nas<br />

atividades especificas das empresas<br />

de publicidade, tanto que, por outras,<br />

podem ser realizadas.<br />

Assim decidindo, aplicou a aliquota<br />

de 5%, p<strong>revista</strong> na let, sem prejuizo<br />

da aliquota de 0,5%, que foi imposts,<br />

nos atos preprios de empresa<br />

de publicidade.<br />

NA° se argumente, com o preeedente<br />

relativo a processamento de<br />

dados e programacAo, no campo eletn5nico,<br />

pots o primeiro 6 integrante<br />

do processo eletrOnico, que nao pode<br />

se realizar sem a previa programacAo<br />

dos dados.<br />

Na publicidade nAo, esta pode ser<br />

feita sem relacOes publicas ou pesguises<br />

de mercado.<br />

Como bem observe o parecer da<br />

douta Procuradoria-Geral da Repftblica,<br />

a legislacão posterior, local e<br />

<strong>federal</strong>, nao veio a crier novas formas<br />

de incidencia, mas apenas aclarar<br />

chlvidas dos contribuintes, que se<br />

insurgiam contra a aplicagão das<br />

leis preexistentes, tal como nelas se<br />

preceituava.<br />

Dal o acerto de sua conclusAo:<br />

«paralelamente aos servicos de<br />

propaganda e publicidade, a empresa<br />

prestou services de pesquisa<br />

de mercado e relacOes ptiblicas, de<br />

forma que o desdobramento, para<br />

efelto de cAlculo, de acordo corn<br />

aliquotas flxadas na legislacão local,<br />

resulta da propria definicão do<br />

fato gerador do ISS, que e a preen<br />

tagAo de servigo e nAo a atividadb'<br />

principal da empresa.<br />

A distincAo feita pela decisAo recorrida<br />

entre as atividades em referencia<br />

6, portanto, razoável<br />

(SOmula 400).<br />

A alegacAo de ofensa ao<br />

principio da legalidade, por seu<br />

turno, encontra o obstAculo da


436<br />

SUmula 280, uma vez que a descisac)<br />

recorrida entendeu que a legislack)<br />

local, anterior ao periodo a<br />

que se ref ere a autuacão, distinguira<br />

os servicos prestados pela recorrida,<br />

fixando aliquotas diversas.»<br />

(f. 138).<br />

Acrescento que o dissidlo jurisprudential<br />

invocado, o foi sem o rigor<br />

da Stunula 291.<br />

NAo conheco, pots, do recurso.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 91.948 - RJ - Rel.: MM. Cordeiro<br />

Guerra. Recte.: J. Thompson Pu-<br />

R.T.J. — 94<br />

blicidade Ltda. (Advs.: Rose Mary<br />

Jahel, Ivonne Ventura e outros).<br />

Recdo.: Estado do Rio de Janeiro<br />

(Adv.: Reynaldo de Mattos Reis).<br />

DecisAo: NAo conhecido. UnAnime.<br />

Presidancia do Sr. Ministro Di aci<br />

FaIca°. Presentes A SessAo os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra e Decio<br />

Miranda. Ausente, justificadamente,<br />

o Sr. Ministro Moreira Alves. Licenciado,<br />

o Sr. Ministro Leith() de<br />

Abreu. Subprocurador-Geral da Republica,<br />

o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 21 de marco de 1980. —<br />

Hello -Francisco. Marques, Secretario.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO CRIMINAL 91.996 — GO<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra.<br />

Recorrente: MinisMrio Palalico Estadual — Recorrido: Antonio Pereira<br />

dos Santos.<br />

— Jurt. Quesitos. Reconhecimento da circunstfincia qualificativa<br />

do motivo Mil (art. 121, 2?, II, do CP) e da circunstancla atenuante<br />

gentrica (art. 48, IV, c, segunda parte) ngo importa em contradiclio<br />

a justificar a nulidade do julgamento.<br />

Nilo hit confundlr a atenuante gen0rica mencionada com a causa<br />

especial de diminulcáo da pena do art. 121, 4 1?, do Cedigo Penal.<br />

RE conhecido e provido.<br />

ACORDAO se insurge o Ministerio Pahlico, anu-<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segundo<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e das notas taquigrafi-<br />

°as, A unimidade de votos, em conhecer<br />

e dar provimento ao recurso.<br />

Brasilia, 11 de marco de 1980. —<br />

Wad FalcAo, Presidente — Cordeiro<br />

Guerra, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra: 0<br />

v. acOrcigo recorrido, contra o qual<br />

lou o julgamento pelo juri, como<br />

bem resume a sua ementa:<br />

«Jar! — As respostas afirmativas<br />

aos quesitos relativos ao motivo<br />

futil e a violenta emocAo, por<br />

serem contradit6rias, determinant<br />

a anulacAo do julgamento, nos termos<br />

do art. 564, paragrafo anico,<br />

in fine, do C6digo de Processo Penal.<br />

Apelacao provida.» (fl. 178).<br />

Traz o recorrente, por seu ilustre<br />

Procurador Dr. Geraldo Batista de<br />

Siqueira, os seguintes julgados divergentes:


R.T.J. — 94<br />

«A circunstancia que, pelo art.<br />

121, 1?, do COdigo Penal, pode dar<br />

causa a diminuicao da pena, a de<br />

haver o reu praticado acao delituosa<br />

sob o dorninio de violenta emocao,<br />

logo em seguida a injusta provocacao<br />

da vitima. Nao 6, evidentemente,<br />

o mesmo que haver cometido<br />

o crime sob a influencia de<br />

violenta emocao, provocado por<br />

ato injusto da vitima, conforme o<br />

dispostO no art. 48, IV, c, corn refencia<br />

a atenuante. Respondido pelo<br />

Conselho de Sentenca afirmativamente,<br />

o quesito generic° sobre<br />

at mantes, cumpre aos magistrados<br />

submeter aos jurados as que<br />

the parecem adequadas ao caso, a<br />

tim de que os juizes de fato se manifestem»<br />

(TJSP, 1! Cam., n?<br />

104.143, em 30-3-70 Adriano Marrey,<br />

relator).<br />

Do Tribunal de Justica do Parana,<br />

por sua 2! Cam. Crim. 27/67,<br />

em 27-6-68, Marino Braga, relator,<br />

publica a Revista dos Tribunals<br />

398, p. 331: «Nilo ha incompatibllidade<br />

entre as afirmacdes de quail-<br />

ficadora do motivo futil e da atenuante<br />

de violenta emocao provocada<br />

por ato injusto da vitima, se<br />

esta atenuante nAo foi articulada<br />

ou alegada e sim apenas formulada<br />

em virtude de imposicão legal.»<br />

A Revlsta dos Tribunals, 267, p.<br />

115, traz outro elucidativo acerdao,<br />

assim ementado: «N5° ha lncongruencia,<br />

suficiente, Para anular o<br />

julgamento, decorrente do fato de<br />

haverem os jurados dado resposta<br />

afirmativa ao quesito correspondente<br />

ao motivo KIM e igual resposta<br />

ser dada ao da violenta emoctio.<br />

Esta seria circunstanc ia adstrita<br />

tao-so a aplicacilo da pena, da<br />

alcada exclusiva da presidencia do<br />

Art, sem qualquer repercusstio na<br />

essencia do julgamento » (Ac. da 3!<br />

Cam. Cr1m. do TJ de Sao Paulo,<br />

em 5-4-57, na Apelacão 52.216, rel.<br />

Des. Vasconcellos Leme)». f. 182.<br />

437<br />

Bern como o acOrdao do STF no<br />

RHC 54.123 — ES, relatado pelo emlnente<br />

Ministro Eloy da Rocha, ern<br />

que se decidiu:<br />

«Nao ocorreu a argilida contradiolio<br />

nas respostas aos quesitos.<br />

Foram reconhecidas as circunstancias<br />

qualificativas dos incisos I<br />

e IV do 2? do art. 121 do COdigo<br />

Penal, e a atenuante do art. 48, IV,<br />

c, esta inconfundivel corn a diminuicao<br />

de pena, do 4 L 1° do art.<br />

121.»<br />

RTJ 78-124.<br />

A douta Procuradorla-Geral da<br />

Repdblica, por seu ilustre<br />

SubprocUrador-Geral Dr. Francisco<br />

de Assis Toledo, assim mina:<br />

«1 — 0 E Tribunal de Justica de<br />

Goifts, acolhendo preliminar suscitada<br />

em recurso da defesa, anulou<br />

julgamento pelo jar', em acOrdao<br />

assim ementado:<br />

«Jfiri. As respostas afirmativas<br />

aos quesitos relativos ao motivo fttil<br />

e a violenta emocão, por serem<br />

contraditOrlas, determinam a anulava°<br />

do julgamento, nos termos<br />

do art. 564, paragrafo unico, in<br />

fine, do COdigo de Processo Penal.<br />

Apelacao provida.» (f. 178).<br />

2 — inconformado, recorreu o<br />

Ministerio PUblico do Estado, por<br />

seu ilustre Procurador, Dr. Geraldo<br />

Batista de Siqueira, corn apoio<br />

nas letras a e d do permissivo<br />

constitucional. Aponta-se como<br />

inobservada a norma do art. 563 do<br />

CPP e inclicam-se varios arestos<br />

divergentes.<br />

3 — Em relactio a tetra a, am<br />

vemos como se possa admitir o<br />

apelo, por faltar-The o requisito do<br />

prequestionamento (Samulas 202 e<br />

358). Niko obstante, parece-nos<br />

comprovado o dissidio corn o ac6rd5o<br />

do Tribunal de Justica do Parank<br />

trazido A colacAo (1. 183), pots<br />

nele se afirma tese diametraimente<br />

oposta a da decislio recorrida.


438 R.T.J. — 94<br />

Passemos, pots, ao mCrito.<br />

4 — A circunstancia qualificativa<br />

do «motivo pode, segundo<br />

pensamos, coexistir perfeitamente<br />

com a atenuante da violenta emo-<br />

Não vat contra a experiéncia<br />

da vida cotidiana o deparar-se alguCm<br />

corn individuos, portadores<br />

de uma sensibilidade a for da pele,<br />

que se deixam inflamar por raz6es<br />

verdadeiramente insignificantes,<br />

colocando-se na situacdo do<br />

art. 48, IV, c, do CP. E se, no impulso,<br />

cometem o crime, podem,<br />

concomitantemente, estar agindo<br />

por motivo Mtn.<br />

5 — Tomemos este °Vico de Anibal<br />

Bruno, para demonstracdo do<br />

que acima flcou dito:<br />

«Motivo Mil 6 aquele pequeno<br />

demais para que na sua<br />

cancia possa parecer capaz de explicar<br />

o crime que dele resulta. 0<br />

que acontece 6 uma desconformidade<br />

revoltante entre a pequeneza<br />

da provocacão e a grave reacdo<br />

criminosa que o sujelto the opOe. A<br />

um leve gracejo de urn companheiro<br />

o agente responde corn uma facada<br />

que o mata; ye uma crianca<br />

colhendo uma laranja no seu quintal<br />

e a abate corn urn tiro. 0 que o<br />

C6digo toma em conta 6 essa estranha<br />

insenslbilidade, esse desprezo<br />

pela vida alheia, que o agente<br />

revels na inconseqiiente motivacdo<br />

do seu comportamento.»<br />

(Crimes contra a pessoa, Ed.<br />

Rio, 3? Ed., p. 78).<br />

Parece-nos Obvio que, se «um leve<br />

gracejo» pode inegavelmente<br />

constituir — muitas vezes de fato,<br />

constltui — provocacdo injusta e<br />

tamb6m causa de, tat) violenta<br />

quanto desproporcionada reacao,<br />

tido ha como negar, em tese, pelo<br />

menos nesse exemplo, a possibilidade<br />

de conjugacdo, no mesmo<br />

comportamento, da futilidade do<br />

motivo corn a influéncia de forte<br />

emocdo provocada por ato injusto<br />

da vitima.<br />

Tudo dependera, em cada caso,<br />

do temperamento do pr6prio agente.<br />

6 — Por todo o exposto, somos<br />

pelo conhecimento e provimento do<br />

recurso para o fim de, afastado o<br />

tinico fundamento acolhido pelo<br />

ac6rddo, determinar-se tenha prosseguimento<br />

o julgamento do recurso<br />

da defesa, quanto as questOes<br />

ainda Tido apreciadas.» (fls. 193 —<br />

195).<br />

E o relat6rio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra<br />

(Relator): Manifesto 6 o dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l<br />

apontado, pelo que, conheco<br />

do recurso para the dar provimento<br />

nos termos do parecer da<br />

Procuradoria-Geral da Reptiblica.<br />

De fato, rid° 6 possivel confundir a<br />

atenuante genCrica do art. 48, IV, c,<br />

do CP — « ter sido o crime praticado<br />

sob influéncia de violenta emocdo,<br />

provocada por ato injusto da vitima,<br />

corn a causa especial de diminuicdo<br />

de pena p<strong>revista</strong> no § 1? do art. 121<br />

do CP; isto e, ter sido o crime praticado<br />

sob o donnnio de violenta emoa),<br />

logo em seguida a injusta pro:<br />

vocacao da vitima.»<br />

Bern o observaram os ilustres<br />

Adriano Marrey e Eloy da Rocha,<br />

nos acerddos trazidos a colagdo.<br />

HA que distinguir as hipOteses de<br />

formulacão simultänea de quesitos,<br />

motivo ftztil e homicidio privilegiado,<br />

e a de indagacdo da atenuante mencionada,<br />

em conseqiiencia da resposta<br />

ao quesito generico obrigatOrio sobre<br />

atenuantes, tal como ocorreu na<br />

espCcie.<br />

Neste caso, ndo ocorre qualquer<br />

contradigdo nas respostas, pots o<br />

juiz indaga, em face da resposta ao<br />

quesito generico, sobre todas as ate-


R.T.J. — 94<br />

nuantes legais, a comecar pela que,<br />

de algum modo, possa ter pertinéncia<br />

a espécie em julgamento, e, corn<br />

freqtiencia ocorre, nAo lograr o juiz<br />

resposta afirmativa, a qualquer das<br />

atenuantes legais.<br />

DA o juri, assim, uma manifestocAo<br />

de benevolencia em relacAo ao<br />

reu, para ser atendida pelo juiz, na<br />

fixacAo da pena, sem que tal resultado<br />

importe em contradlcão ou nulldade<br />

— art. 484, § Unico, III e IV, do<br />

CPP.<br />

Por outro lado, a <strong>jurisprudencia</strong><br />

desta Corte tem admitido a compatibilidade<br />

da causa especial de diminuicAo<br />

de pena — § 1? do art. 121 do<br />

COdigo Penal, corn as circunstAncias<br />

objetivas qualificadoras do homicidio,<br />

e o eminente Professor<br />

Francisco de Assis Toledo, corn brilho,<br />

demonstra a compatibilidade<br />

ate mesmo com o motivo<br />

IncomPativel serAo o reconhecimento<br />

do motivo torpe corn o motivo<br />

de relevante valor social ou moral,<br />

mas, evidentemente, nAo e o caso<br />

dos autos.<br />

439<br />

Em conseqiiencia, como disse de<br />

inicio, conheco do recurs() e the dou<br />

provimento.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RECr 91.996 — GO — Rel.: Min.<br />

Cordeiro Guerra. Recte.: Ministerio<br />

PUblico Estadual. Recdo.: Anthill°<br />

Pereira dos Santos (Advs.: Jose An-<br />

Onto de Carvalho Neto e FAblo de<br />

Resende Carvalho).<br />

DecisAo: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator.<br />

UnAnime.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

FalcAo. — Presentes a SessAo os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves e Decio Miranda. Licenciado,<br />

o Sr. Ministro LeitAo de Abreu. —<br />

Subprocurador-Geral da Republica,<br />

o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 11 de marco de 1980. —<br />

Hello Francisco Marques, Secrethrlo.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 92.000 — SP<br />

(Primelra Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Xavier de Albuquerque.<br />

Recorrente: Prefeitura Municipal de SA° Paulo — Recorrido: Ardellno<br />

Theodoro de Oliveira.<br />

A Lei n? 2.437, de 7-3-55, que reduz pram prescricional.<br />

e aplicitvel as preset-109es em curso na data de sus viands<br />

(1?-1-56), salvo quanto aos processos entlio pendentes ( SOmula 445).<br />

Dissidlo <strong>jurisprudencia</strong>l superado ( &mule 286 ). Recurso extraordi-<br />

nitrio nAo conhecido.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e dlscutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primeira<br />

Turma do Suprenio Tribunal<br />

Federal, de conformidade coin a ata<br />

de julgamentos e notas taquigrAfi-<br />

Brasilia, 27 de junho de 1980.<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Xavier de Albuquerque, Relator.<br />

RELATORIO.<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

cas, a unanimIdade de votos, nAo co- Albuquerque: Trata-se de acão pesnhecer<br />

do recurso.<br />

soal para a qual o reit foi cited° a 20-


440 R.T.J. — 94<br />

5-75. Como se haviam passado mais<br />

de vinte e seis anos desde 4-4-49, que<br />

foi o termo inicial da prescricao, o<br />

acOrdao recorrido deu-a por prescrita.<br />

Considerou que o prazo de vinte<br />

anos, para o qual a prescricao fora<br />

reduzida pela Lei 2.437, de 7-3-55,<br />

compreendia o period() la transcorrido<br />

quando do advento da mesma lei.<br />

Invocou a &amnia 445 e acrescentou<br />

(fl. 195):<br />

«As Egregias Caimans Civis<br />

Reunidas, deste Tribunal de Justica,<br />

por unanimidade de votos,<br />

jA decidiram igualmente, por<br />

ocasiao do julgamento do Recurso<br />

de Revista n? 177.895, da Comarca<br />

de Campos do Jordao, que<br />

a lei nova se aplica «as prescricities<br />

em curso, salvo quando 0<br />

tempo restante para se consumar<br />

a prescricao da lei anterior e inferior<br />

ao que ela estabelece»<br />

(Apud — Desembargador Henrique<br />

Augusto Machado — «Dez<br />

Anos de Jurisprudencia», 2? volume,<br />

pAginas 732-736). Ve-se por<br />

esse venerando acOrdao e pelo<br />

brilhante voto vencedor, proferido<br />

pelo eminente Desembargador<br />

Euler Bueno, que a computado o<br />

periodo de tempo anterior aquele<br />

diploma legal ao qual se acrescenta<br />

«o decorrldo depois, para<br />

perfazer-se o prazo, mais curto,<br />

da lei nova», e nä°, corn() pretende<br />

a Municipalidade de Sao Paulo,<br />

apenas o posterior a vigencia<br />

da citada lei (...).»<br />

0 recurso extraordinário da autora<br />

funda-se em violacäo do art. 6? da<br />

Lei de Introducao ao Codigo Civil e<br />

dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l. Fol ele admitldo<br />

pelo segundo desses fundamentos,<br />

verbis (fl. 239):<br />

«Esse entendimento, porem,<br />

conflita corn o dos v. acerciaos trazidos<br />

para cotejo, no primeiro dos<br />

quals se decidiu:<br />

«Nao pode a lel nova se aplicar<br />

ao prazo em curso sem o risco<br />

de ser retroativa resultando dai<br />

que o prazo novo, que ela instituiu,<br />

correre somente a partir da<br />

data de sua vigencia, e na hipetese<br />

contar-se-a de 1? de Janeiro de<br />

1956 quando passou a vlgorar»<br />

(textual — grifos da recorrente,<br />

fls. 200-201).<br />

Tenho, portanto, como demonstrada<br />

a divergencia <strong>jurisprudencia</strong>l,<br />

de modo a justificar o conhecimento<br />

do feito pelo Egregio Supremo<br />

Tribunal Federal.<br />

Em parecer do Procurador Moacir<br />

Antonio Machado da Silva, a Procuradoria-Geral<br />

da Republica opinou<br />

nestes termos (fls. 264-266):<br />

«A Municipalidade de Sao Paulo<br />

ajuizou, em 19-5-75 execucao de 0brigacao<br />

de fazer contra Ardelin6<br />

Theodoro de Oliveira, para<br />

compell-lo a outorga de escritura<br />

definitiva de cloaca() da area de<br />

1.200 m 2, em face de compromisso<br />

celebrado em 4-3-49.<br />

Aral o executado prescricao e<br />

carencia de execucao, sob alegacal)<br />

de que a Prefeitura nao cumprira,<br />

no prazo, a obrigacao de elecutar<br />

as obras p<strong>revista</strong>s no aludido<br />

compromisso.<br />

0 MM. Juiz acolheu a prescricao,<br />

porque decorridos mats de<br />

vinte anos desde 7-3-55, data da Lei<br />

n? 2.437, ate 19-5-75, quando foi proposta<br />

a acao.<br />

0 v. acerdâo de fls. confirmou a<br />

sentenca, entendendo, porem, que<br />

o termo inicial da prescricão era a<br />

data da celebracão do compromisso,<br />

de modo que o prazo de vinte<br />

anos se consumou em 4-4-69, nos<br />

termos do art. 177 do Codigo Civil,<br />

com a redacão que the deu a Lei n?<br />

2.437/55, e da Sfunula 445 da Jurisprudencla<br />

do Supremo Tribunal Federal.<br />

.<br />

InterpOe a Municipalidade recurso<br />

extraordinerio, sob alegacão de<br />

negative de vigencia ao art. 6? da


Lei de Intr. ao C6d. Civil e diver-<br />

Selo corn julgados de outros Tribunals<br />

do Pais. Entende a recorrente<br />

que nao pode ser computado<br />

o periodo anterior a 1? de Janeiro<br />

de 1956, quando entrou em vigor a<br />

Lei n? 2.437, de 1955.<br />

NAo mel-ece prosperar o recurso.<br />

Consoante enuncia a Stimula 445,<br />

«a Lei n? 2.437, de 7-3-55, que reduz<br />

prazo prescricional, e aplicavel as<br />

prescriciles em curso na data de<br />

sua vigencia (1?-1-56), salvo quanto<br />

aos processos entAo pendentes».<br />

No julgamento do RE 42.766, que<br />

constitui o «leading case» na materia,<br />

o Exmo. Sr. Ministro Vitas<br />

Boas invocou esta licao de Reynaldo<br />

Porchat (Curso Elem. de Direito<br />

Romano, n? 512):<br />

«Aplica-se retroativamente a<br />

uma prescricão em curso; a)...;<br />

b)...; c) a lei nova que abrevia o<br />

tempo prescricional estabelecido<br />

pela lei anterior, de modo que a<br />

prescricão se completa uma vez<br />

decorrido o menor prazo estabelecido<br />

por aquela lei, computado,<br />

tambem, por eqiiidade, o tempo<br />

decorrido no dominio da lei<br />

antiga, salvo se for brevissimo 0<br />

tempo que faltar depots de publicada<br />

a nova lei, ou se, no dia da<br />

publicacAo, la estiver decorrido<br />

todo o prazo exigido por esta...»<br />

(Ref. da &mule do STF, Jardel<br />

Noronha..., v. 23, p. 5).<br />

Inexiste, portanto, direito adquirido,<br />

nAo tendo sentido a invocactio<br />

do art. 6? da Lei de Intr. ao C6d.<br />

Civil. Igualmente lembrado na<br />

aludida decisao este ensinamento<br />

de Carpenter: «Antes de completado,<br />

de por inter° decorrido o prazo<br />

de prescricAo, o prescribente s6 tett<br />

uma expectativa de direito, nAo<br />

um direlto adquirido. Esse<br />

principio a incontestAvel, a inconcusso,<br />

e a ConseqÜencia que se deduz<br />

dele a que, estando em curso 0<br />

prazo de prescricAo, e vindo uma<br />

R.T.J. — 94 441<br />

lei nova que modifique o prazo,<br />

encurtando-o ou prolongando-o, a<br />

prescrIcho se completarft nao na<br />

conformidade da lei velha, mas<br />

sim, na conformidade da lei novaD<br />

(Manual do C6d. Civil, v. 4, p. 595).<br />

Quanto aos Julgados invocados<br />

para a caracterizacAo da divergencia,<br />

incide o veto da Stimula 286,<br />

pots a Jurisprudencia do Egregio<br />

PlenArio do Supremo Tribunal Federal<br />

esta firmada no sentido da<br />

decisAo recorrida.<br />

Feb° nao corthecimento.»<br />

E o relaterio.<br />

VOTO<br />

O Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque (Relator): 0 acerdAo<br />

recorrido afeicoa-se, efetivamente,<br />

Sfunula 445, como se pode ver dos<br />

precedentes que a informam.<br />

Por mim, preferiria seguir a orientacão<br />

propugnada pela recorrente:<br />

consideraria, sim, o prazo reduzido<br />

de vinte anos, mas o contaria da data<br />

em que entrou em vigor a lei que<br />

o reduziu, dado que ainda the era superior<br />

o que faltava do prazo estabelecido<br />

na lei antiga.<br />

Acomodo-me, todavia, a Jurisprudencia<br />

que o Tribunal firmou e reiterou<br />

nos Ciltimos quinze ou vinte anos.<br />

De resto, como ponderou o eminente<br />

Desembargador Euler Bueno, no julgamento<br />

referido pelo acOrdAo recorrido,<br />

«enfrentar a SOmula, concebida<br />

com o propOsito de estabilizar a<br />

jurisprudAncia, em tema taco ericado<br />

de dificuldades e de controversias,<br />

nem e prudente, nem construtivo»<br />

(Henrique Augusto Machado, Dez<br />

Anos de Jurisprudencia, vol. 2?, pag.<br />

735).


442 R.T.J. — 94<br />

Dando por superado, nos termos<br />

da Stimula 286, o dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l<br />

que ensejou a admissäo do<br />

recurso, dele nao conheco.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 92.000 — SP — Rel.: MM. Xavier<br />

de Albuquerque. Recte.: Prefeitura<br />

Municipal de Sdo Paulo (Adv.:<br />

Nassaralla Schahin Filho). Recdo.:<br />

Ardelino Theodoro de Oliveira (Adv.:<br />

Sidney Delcides de Avila).<br />

Decisdo: Nä° conheceram do recurso.<br />

Decisdo unnnime.<br />

Presidöncia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a Ses-<br />

Sao os Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto, Soares Munoz<br />

e Rafael Mayer. Subprocurador-<br />

Geral da Republica, Dr. Francisco<br />

de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 27 de junho de 1980 —<br />

Deice; Carlos Dayrell, Secretnrio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 92.002 — RS<br />

(PrimeIra Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Rafael Mayer.<br />

Recorrente: EIRICH — Indestria, Comercio e RepresentacOes Ltda. —<br />

Recorrida: WALLIG SUL S/A — InthIstria e Comercio.<br />

— Responsabilidade civil. Ato ilicito contratual. Divida de valor.<br />

Correcno monetnria. — 1) Os prejuizos resultantes de culposa InadimplAncia<br />

contratual devem propiclar complete reparaeAo, corn<br />

atualizacão do valor, sob pena de descumprir-se a regra de ressarcimento<br />

Integral constante do art. 1.059 do Cadlgo Civil.<br />

Exclusão da condenacAo referente a entrega dos componentes<br />

fabricados, reclarnavels mediante acAo proprla, haja vista ser materla<br />

que extrapola da litiscontestatio.<br />

Recurso Extraordinario conhectdo e provido, em parte.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e notas taquigraficas,<br />

unanimidade, conhecer parcialmente<br />

do recurso e dar-lhe provimento.<br />

Brasilia, 11 de marco de 1980 —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Rafael Mayer, Relator.<br />

RELATORIO<br />

O Sr. Ministro Rafael Mayer: Eirich<br />

— Industria, Comercio e Representagnes<br />

Ltda. ajuizou acno ordineria<br />

para haver o pagamento da<br />

quantia de Cr$ 107.740,60, acrescida<br />

de juros e correceo monetäria, contra<br />

Wallig Sul S/A, em decorrencia<br />

de inadimplemento unilateral de<br />

contrato para fabricacao de equipamento<br />

industrial, resultante de conduta<br />

culposa da Re.<br />

A sentenca deu pela procedencia<br />

da acão, condenando a Suplicada ao<br />

pagamento da quantia referida,<br />

mais juros de mora, a partir da cita-<br />

OM, correcão monetaria, custas e<br />

honorerios, reconhecendo o direito<br />

integral reparacão dos prejuizos pela<br />

incidencia dos arts. 1.056 e 1.059<br />

do C6digo Civil.<br />

0 Tribunal de Justica confirmou<br />

parcialmente a sentenca, alterandoa<br />

para excluir a correcno moneteria,<br />

mas determinando, por outro lado, a<br />

entrega a re dos compenentes


zados na fabricacdo. Diz o actirddo a<br />

respeito:<br />

«Apenas entendo que a condenacão<br />

deve limitar-se ao pagamento<br />

de Cr$ 107.740,60, com Juros legais<br />

a partir da citacao inicial,<br />

excluindo-se a correcdo monetaria<br />

que a sentenca de primeiro grau<br />

fez incidir sabre Cr$ 97.946,00, a<br />

base dos indices da Fundacdo Ge-<br />

Who Vargas, a partir da citagdo.<br />

Ndo veto como por-me de acordo<br />

corn tal contend° condenaterio. No<br />

pedido consignou-se que sobre o<br />

saldo de Cr$ 353.313,00 incidiria o<br />

reajuste, conforme indice da Fundagdo<br />

Getttlio Vargas, a contar do<br />

mes do pagamento da primeira<br />

parcela, parcela alias, que ndo foi<br />

paga como demonstrado e admitido.<br />

Essa incidencia calculada e incluida<br />

na fatura de f. 53 «como<br />

reajuste de prego, conforme indice<br />

60 da Revlsta Conjuntura<br />

EconOmica da Fundacdo Getting,<br />

Vargas, 3? mes anterior ao faturamento,<br />

na importancia de Cr$<br />

20.566,00, que somada ao preco do<br />

equipamento, resultou no valor cobrado<br />

de Cr$ 107.740,60, ja acrescido<br />

do impost° sobre Produtos Industrializados,<br />

tornou-se, a partir<br />

dat, divida de dinheiro e ndo de valor,<br />

incidindo td6-s6 juros de mora<br />

A taxa legal, consoante os arts.<br />

1.061/1.064 do a:1(11g° Civil, destinados<br />

a cobrirem as perdas e danos<br />

na obrigacdo de pagamento em dinheiro.<br />

Veja-se, ademais, que o<br />

reaJuste, pelos Indices da Fundacdo<br />

Getnlio Vargas, era dos pregos,<br />

como conseqtlencia da alteracdo<br />

da fabricacdo quanto a material<br />

e «mdo de-obraD (...) «Parece<br />

que a autora rid° remeteu a re os<br />

componentes fabricados, esperando<br />

seu pagamento. Assim, convern,<br />

acolhendo a observacdo do eminente<br />

Revisor, registrar que, cumprido<br />

pela re o pagamento, deverA a<br />

autora fazer entrega dos componentes<br />

que fabricou por encomenda<br />

da re.),<br />

R.T.J. — 94 443<br />

Inconformada a autora recorre extraordinariamente,<br />

pelas letras a e<br />

d, sustent ando violacdo dos arts.<br />

159, 1.056 e 1.059 do COdigo Civil, tendo<br />

em vista a exclusdo da correcão<br />

monetaria. Sobre o tema, indica Jurisprudencia<br />

do Supremo Tribunal<br />

Federal. Alega, tambem, ofensa aos<br />

arts. 128, 458, III, e 460 do C6digo de<br />

Processo Civil, porque a decisdo impugnada,<br />

ao determinar a devolugdo<br />

da mercadoria julgou ultra petita,<br />

trazendo a baila materia ndo discutida<br />

no processo.<br />

0 recurso foi admitido, apenas no<br />

que tange a tetra a e aos incisos da<br />

lei processual, sendo arrazoado pelas<br />

partes.<br />

E o related°.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator):<br />

Diz a recorrente que o acerrecorrido,<br />

ao determinar a entrega<br />

dos componentes que fabricou,<br />

por encomenda da Re, teria vulnerado<br />

os arts. 128, 458, III e 460 do COdigo<br />

de Processo Civil, proferindo julgamento<br />

ultra petlta, eis que contemplou<br />

questa° ndo inclusa na<br />

11tIscontestatlo. Ao Julgar da admissibilidade<br />

do recurso extraordinario,<br />

na instância a quo, o eminente Desembargador<br />

Jorge Ribas Santos advertiu<br />

a relevancia da impugnacão,<br />

se admitindo, alias, a postulacdo por<br />

esse fundamento.<br />

Com efeito, tendo a Autora pedido<br />

a condenacdo da Re ao pagamento<br />

do dano decorrente da violacdo contratual,<br />

consistente em indenizacäo<br />

de Cr$ 107.740,60, acrescida de juros<br />

e correcdo monetaria, a Re em sua<br />

contestacdo, pleiteia apenas a improcedencia<br />

da acdo, ou subsidiariamente,<br />

caso reconhecida culpada, a<br />

condenacdo tact somente ao pagamento<br />

dos componentes, nada al se


444 R.T.J. — 94<br />

alegando quanto a entrega destes.<br />

Ademais, a Re interpOs reconvened°<br />

para reivindicar as ditas mercadorias,<br />

nem para dar a Autora como<br />

inadimplente por isso, e portanto<br />

sem condicao juridica para pleitear<br />

a adimplencia da contraparte. Na<br />

verdade, em nenhum momento a Re<br />

suscitou a questa°.<br />

Desse modo, o veneravel actirddo<br />

recorrido nao poderia ter feito, como<br />

fez, determinando a Autora o cumprimento<br />

de uma prestacao, que<br />

nem adequada era a sua posiedo<br />

porcessual, nem fora deduzida como<br />

pretensão de quern quer que seja.<br />

Objeto de simples e exclusiva iniciativa<br />

do julgador, a medida ofende os<br />

principios processuais basicos consubstanciados<br />

nos incisos referidos,<br />

segundo os quais a prestacdo jurisdicional<br />

nao deve extrapolar do quadro<br />

posto pelo pedido das partes. Ne<br />

procedat judex ex officio.<br />

Outro item em que o recurso tarnbem<br />

se mostra viavel reside, pelo invocado<br />

fundamento da letra d, no<br />

dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l corn actirdãos<br />

que vem colacionados e nos<br />

quais se delineia tese contraria a do<br />

veneravel acOrdao recorrido, no que<br />

tange ao cabimento de atualizacao<br />

monetaria quando se trata de indenizaeao<br />

de prejuizos, inclusive os resultantes<br />

de ilicito contratual.<br />

Basta para a demonstracao, dentre<br />

os paradigmas indicados pelo Recorrente,<br />

o acOrdao proferido pela<br />

Primeira Turma no RE 81.541/SP,<br />

de que foi Relator o eminente Ministro<br />

Bilac Pinto, com a seguinte<br />

ementa:<br />

«Ato ilicito contratual. Perdas e<br />

danos. Possibilidade de sua atualizacdo,<br />

conforme a recente orientacdo<br />

do Supremo Tribunal Federal<br />

(RE 79.663, de 18.9.75), servindo,<br />

para este fim, os indices de corresao<br />

Recurso conhecido<br />

pela letra d, porem desprovido»<br />

(RTJ 76/623).<br />

E esse elucidativo e contrastante<br />

trecho que vem transcrito no corpo<br />

da peticao:<br />

«Na indenizaedo por ato ilicito<br />

contratual, a divida e a de valor e<br />

deve ser atualizada, sob pena de<br />

vulneraeao do principio do ressarcimento<br />

integral previsto no art.<br />

1.059, do COdigo Civil.» (fls.)<br />

Data yenta, nao poderia o veneravel<br />

acOrdao recorrido, sob pena de<br />

desviar-se de entendimento pacifico,<br />

tanto na doutrina como na jurisprudência,<br />

vir a considerar os itens de<br />

pagamento dos prejuizos resultantes<br />

de culposa inadimplencia contratual,<br />

e que devem propiciaur uma<br />

completa reparacao do dano sofrido,<br />

como divida de dinheiro, irk) suscetivel<br />

de correcao monetaria.<br />

As aparencias advindas do pedido<br />

de quantia certa nao justificam o<br />

conceito, mesmo porque nao se tratava<br />

de cobranca de uma parcela do<br />

contrato, mas de uma parcela indenizatOria,<br />

convertida ao titulo de indenizagdo<br />

do prejuizo correspondente.<br />

A correcao monetaria, no caso,<br />

nao tem em mira a revalorizacao de<br />

debitos nominais, o que seria inadmissive',<br />

pots entao se cogitaria simplesmente<br />

de aplicacao do art. 1.061<br />

do COdigo Civil; mas busca atualizar<br />

o valor da reparacao devida pelo<br />

real prejuizo.<br />

0 entendimento ora preconizado<br />

tem obtido confirmacdes recentes na<br />

<strong>jurisprudencia</strong> do Supremo Tribunal,<br />

como se ye, por exemplo, do acOrdao<br />

da Segunda Turma no RE 90.085/RJ,<br />

valendo transcrever pertinente passagem<br />

do voto do eminente Relator,<br />

Ministro Djaci FaIca°, onde se alude<br />

a precedentes, inverbis:<br />

«Cuida-se de ato ilicito contratual,<br />

a propiciar reparacao, com<br />

atualizacao do valor, sob pena de<br />

vulneracao de regra de ressarcimento<br />

integral, a que se refere o<br />

art. 1.059 do COdigo Civil.


O aresto recorrido procurou<br />

atualizar o valor devido, resultante<br />

do comportamento ilicito do reit,<br />

ora recorrente, utillzando-se do<br />

indice de correcão monetaria. Nesse<br />

ponto seguiu a orientacno que,<br />

por Ultimo, vem prevalecendo no<br />

STF — RE 79.872, relator o eminente<br />

Ministro Moreira Alves,<br />

RTJ. 76/589, relator o eminente Ministro<br />

Bilac Pinto, RTJ. 80/304,<br />

dentre outros” ( in RTJ. —<br />

89/1.078).<br />

Pelo exposto, conhecendo, em parte,<br />

pela tetra a e pela tetra d, nas<br />

condicees acima enunciadas, dou<br />

provimento para excluir a condenacão<br />

determinante da entrega a Re<br />

dos componentes fabricados pela Autora<br />

por sua encomenda, sem prejuizo<br />

de an° propria para have-los,<br />

bem assim provimento para restabelecer<br />

a correcno monetaria ample<br />

sobre a indenizacno plejteada e os<br />

denials concectarios reconhecidos na<br />

sentenca de primeiro grau.<br />

E o meu voto.<br />

R.T.J. — 94 445<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 92.002 — RS — Rel.: Ministro<br />

Rafael Mayer. Recte.: Eirich — Industria,<br />

Comercio e Representacties<br />

Ltda. (Advs.: Elton Velker e outro).<br />

Recda.: Wallig Sul S/A — Inchistria e<br />

Comercio (Advs.: Mauro G. Wabner<br />

Pupe e outros).<br />

Decisao: Conhecido parcialmente e<br />

provido, nos termos do voto do Ministro<br />

Relator, decisno unanime.<br />

Presidencia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a sessac)<br />

os Senhores Ministros Xavier de<br />

Albuquerque, Soares Munoz e Rafael<br />

Mayer. Ausente, justificadamente, o<br />

Sr. Ministro Cunha Peixoto.<br />

Subprocurador-Geral da Reptiblica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 11 de marco de 1980. —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretario.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 92.008 — SC<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Rafael Mayer.<br />

Recorrente: Jose Bonifacio de Moraes Rangel — Recorrida: APESC —<br />

Associacno de Poupanca e Empréstimo de Santa Catarina.<br />

, I) Julgamento antecipado da lide. Embargos de devedor. Provo<br />

documental. aidigode Processo Civil, art. 740, parag. (mica. — A confirmacilo,<br />

pelo adirdito recorrido, do julgamento antecipado da Ilde<br />

ngo desconheceu a disciplina do preceito ihvocado, ao contrario, cutdou<br />

que a especle, sendo tamb9m de fato, dependia de comprovacho<br />

mente documental, InOtil, portant°, a producáo de prova exclusivam<br />

pura ante testemunhal requerida.<br />

II) — Representacno Processual. Irregularldade. Ausencia de preclusno.<br />

Art. 267.. 3? do CPC. — Equacionada a quest.% sobre a ausència<br />

de pressupostos processuais, nAo pole o Tribunal eximir-st de<br />

sob alegaclio de preclusio. — - Recurso Extraordinitrio<br />

apreciii-la,e conhecido<br />

pro vido, em parte.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e notas taquigraficas, a<br />

unanimidade, conhecer do recurso,<br />

em parte, e dar-lhe provimento.


446 R.T.J. — 94<br />

Brasilia, 11 de marco de 1980. —<br />

Thompson Flores — Presidente —<br />

Rafael Mayer, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Mlnistro Rafael Mayer: —<br />

Trata-se de embargos opostos por<br />

Jose BonifAcio de Moraes Rangel a<br />

execucdo que the e movida pela AssociacAo<br />

de Poupanca e Emprestimo<br />

de Santa Catarina, em razão de Madimplencia<br />

de contrato de compra e<br />

venda, garantido por hipoteca.<br />

A sentenca julgou improcedentes<br />

os embargos, no que foi mantida pelo<br />

acardão da Terceira CAmata<br />

Civet do Tribunal de Justica, por estes<br />

fundamentos:<br />

«0 embargante nao repele o debito,<br />

mas argue novacao, porem,<br />

esta nail) ocorreu. Pelos pr6prios<br />

documentos de fls. 5,6 e 7, verificase<br />

que o procurador da exegiente<br />

andou gestionando um acordo mas<br />

este nao ficou comprovado e mesmo<br />

a procurador ressalvou essa<br />

circunstAncia.<br />

"Pelos processos ern que esta o<br />

BNH interessado coma sufragäneo<br />

de instituicOes financeiras, verifica-se<br />

que o mutuário esta<br />

sempre jungido a dispositivos leoninos.<br />

Desde que nao residente no<br />

local da transacão, é chamado por<br />

edital. Esta providCncia, quando a<br />

casa adqulrida por financiamento,<br />

e de recreio praiano, constata-se<br />

sempre que o mutuArio lA nao reside<br />

e, os emprestimos assim logrAdos,<br />

nao estao de acordo corn a finalidade<br />

do BNH. Apesar disso,<br />

nem a citacão por precatoria tern<br />

admitido o financiador.<br />

NA° fora ter comparecido o mutuArio<br />

ediscutido o merit°, o processo<br />

restaria nulo, pois no caso<br />

destes autos a citacAo local pelo<br />

oficial de justica declarando apenas<br />

que deixaria de citar por estar<br />

em lugar incerto e nao sabido (f.<br />

17), e vaga pois nä() esclarece<br />

quaffs as diligèncias que fez, para<br />

chegar a essa conclusao. Nem foi<br />

ao local onde a inicial diz residir o<br />

mutuArio."<br />

Opostos embargos de declarando<br />

para sanar omissdo do acardAo sobre<br />

as seguintes questOes: a) a nulldade<br />

da representacão processual da<br />

Exequente e Embargada; b) a nulidade<br />

pela ausencia de notificacão<br />

previa; c) nulidade produzida pelo<br />

julgamento antecipado da lide, foram<br />

recebidos para esclarecer os seguintes<br />

aspectos da Causa, verbis:<br />

Assim, a f. 88 dos embargos,<br />

argi-se nulidade de representacdo<br />

do advogado, conforme as razOes<br />

de f. 48.<br />

Esta nulidade se foi sustentada<br />

nas razOes do recurso e deveria,<br />

sob pena de preclusAo coma precluido<br />

ficou, to-lo sido na primeira<br />

oportunidade em que falou nos autos,<br />

segundo o artigo 245 do CPC,<br />

tendo o embargante, nao obstante,<br />

se pronunciado sobre o merit° do<br />

pedido, estadeado pelo citado mandato.<br />

Por outro lado, os embargos ettarn<br />

que a f. 48, item 3, houve julgamento<br />

antecipado da lide antes<br />

da realizacão da audiència de instrucAo,<br />

quando existiam provas a<br />

serem produzidas antes da sentenca,<br />

donde a sua nulidade.<br />

Naquelas raz6es, cita-se <strong>jurisprudencia</strong><br />

sobre a espécie.<br />

Esta, ressalta que somente no<br />

caso do paragrafo Unico do artigo<br />

740 (f. 49), ou seja, quando os embargos<br />

versarem sobre materia de<br />

direito, ou sendo de direito e de fato<br />

a prova for exclusivamente<br />

documental, cabe ser proferida a


sentenca sem a realizacão da audiancia.<br />

A nulidade argilida nao procede,<br />

pois houve alegacao de novacao<br />

embasada nos documehtos de fls.<br />

5, 6 e 7.<br />

Ora, esses documentos ciao<br />

noticia de uma proposta de transacao<br />

sobre a divida, que dependia<br />

de urn document confirmando a<br />

sua aceitacao. E bem de ver que<br />

essa prova competia a quem argiliu<br />

a novagao, prova exclusivamente<br />

documental, que deveria de<br />

pronto ser apresentada por quern<br />

alegou a novagão.<br />

A instrucao em audiancia, nenhuma<br />

falta fez, de vez que nela<br />

nada poderia ser adicionada ante<br />

os termos da proposta de transacAo.<br />

Flnalmente, tem-se que esclarecer,<br />

quando ao item II de f. 89, relativo<br />

ao item IV de f. 49, que as<br />

notificacaes de f. 13 dos autos de<br />

execucAo, nAo foram objeto de contestacao<br />

por parte do embargante<br />

no coffer do processo e, assim, nada<br />

deveria sobre ela dispor a decisào<br />

recorrida.<br />

Dai o recurso extraordinario, pelas<br />

Tetras a e d, corn argaicao de relevAncia<br />

da questa") <strong>federal</strong>, sustentando<br />

ofensa ao disposto no art. 267,<br />

IV, e 3?, e inc. I, do art. 330 do<br />

CPC, altm de divergancia corn julgados<br />

de outros <strong>tribunal</strong>s. A inconformacAo<br />

se traduz em que a materia<br />

de nulidade referente a deficitcia<br />

da representacao do advogado da<br />

embargada, nAo preclui_icomo entendeu<br />

o acardào recorrido, e pode<br />

ser argiiido em qualquer tempo, enquanto<br />

nAo proferida a sentenca. E<br />

mats, que o magistrado nAo podia<br />

antecipar o julgamento da lide, dispebtand9<br />

a producAo de prova requerida,<br />

sobre a novacao.<br />

R.T.J. — 94 447<br />

Admitido o recurso, o recorrente<br />

requereu a desistancia da relevancia.<br />

E o relatOrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Rafael Mayer (Relatr):<br />

— Pretende o Recorrente, por<br />

via do permissivo da tetra d demonstrar<br />

o dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l entre<br />

o veneravel acardAo recorrido e dois<br />

outros paradigmas emanados, respectivamente,<br />

do Segundo Tribunal<br />

de Alcada Civil de Sao Paulo e do<br />

Tribunal de Justica. Uns e outros<br />

versam o tema do julgamento antecipado<br />

da lide, e, diversamente do<br />

que ocorre, na especie, nos julgados<br />

paradigmas deu-se provimento a<br />

apelacAo para anular o julgamento<br />

antecipado e facultar a producao das<br />

provas requeridas. Mas isso nao Basta<br />

para caracterizacão do dissido,<br />

mesmo porque nap se adotou, no caso<br />

sub Judice, tese juridica oposta,<br />

senao que ao exame dos dados da<br />

causa se concluiu pela desnecessidade<br />

de provas em audit-Ida. E, ainda<br />

assim, em circunstAncias bem distintas<br />

dos outros processes, ern que<br />

pese o esforgo do Recorrente em<br />

convencer da semelhanca que na<br />

realidade inexiste. Portanto,'"hAo hA<br />

possibilidade de conhecer do recurso<br />

pela letra d, par nä° evidenciada a<br />

divergencia de interpretacão do dispositivo<br />

da lel <strong>federal</strong>.<br />

Tambem nao procede o debate sobre<br />

o mesmo-tema , pela letra a, a<br />

pretexto de violagao do art. 330, I, do<br />

CPC, 'avocado no recurso, e que melhor<br />

estaria dito, como sendo do art.<br />

740, parAgrafo Onico, eis que se cuida<br />

de embargos de devedor, equivoco<br />

nao prejudicial dada a identidade<br />

preceptiva.<br />

A confirinacAo .pelo acardAo recorrido<br />

do julgamento anteciphdo nä')


448<br />

desconheceu a disciplina do preceito<br />

invocado, mas, ao contrario, no suposto<br />

de sua aplicabilidade, e ao<br />

exame, alias bem coerente, dos elementos<br />

do processo, cuidou que a especie,<br />

sendo tambem de fato, dependia<br />

de comprovacao puramente documental,<br />

inOtil a producao da prova<br />

exclusivamente testemunhal requerida<br />

pelo Recorrente. Desse modo, nao<br />

se pode vislumbrar infringência a<br />

norma processual sob referenda.<br />

Entretanto, o acOrdao nao resiste<br />

a impugnacao que se lhe faz no tocante<br />

ao tratamento que deu ao problema<br />

da representacao processual.<br />

Suscitado nos embargos de declaracao<br />

o suprimento da omissao do<br />

acOrdno no tocante a preliminar de<br />

nulidade da execucao, invocada nas<br />

razUes de apelagao, — sob color de<br />

que o advogado da Exeqtiente nao tinha<br />

poderes, pois o instrumento nao<br />

declina o nome e a qualificacao do<br />

responsavel pela empresa outorgante,<br />

— o veneravel acOrdao recorrido,<br />

como visto, deixou clara a sua escusa<br />

de apreciar o merit° dessa questao,<br />

pois se ]he antepunha o (Wee da<br />

preclusao, face ao art. 245 do CPC.<br />

Ora, a esse mesmo artigo que excepciona,<br />

em seu paragrafo Wilco,<br />

do evento da preclusao, as hip6teses<br />

em que as nulidades devam ser decretadas<br />

de oficio. Em correlacão, o<br />

paragrafo 3? do art. 267, determina<br />

conheca o Juiz, de oficio, em qualquer<br />

tempo e grau de jurisdicdo, de<br />

certas materias que induzem a ex-<br />

Una) do processo sem o julgamento<br />

do merit°. Nao ocorre preclusäo para<br />

conhecer-se de tais materias, senao<br />

quando da prolacao da prOpria<br />

sentenca de merito, e o fato de alegacao<br />

tardia pela parte apenas the<br />

importa na apenacao pelas custas de<br />

retardamento.<br />

Ora, dentre tais materias esta precisamente<br />

a que versada no ponto<br />

R.T.J. — 99<br />

em referencia, pois a remissào do<br />

paragrafo 3? se reporta ao item IV,<br />

onde se da, como conhecivel naquelas<br />

condicOes, a ausëncia de pressupostos<br />

de constittdcao de desenvolvimento<br />

válido e regular do processo,<br />

e a alegacao sobre a irregularidade<br />

da representacao esta incluida nessa<br />

categoria normativa.<br />

NA° poderia, portanto, o actordao<br />

recorrido, pondo a questao, eximirse<br />

de aprecia-la sob a raid° de estar<br />

preclusa, pois em assim decidindo<br />

denegou aplicacno aos preceitos invocados.<br />

Em consequencia, conheco,<br />

em parte, do recurso pela letra a, e<br />

dou provimento para que, afastada a<br />

decisao recorrida, o Egregio Tribunal<br />

a quo conheca e julgue, preliminarmente,<br />

como achar de direito, a<br />

questa° sabre a regularidade da representacao<br />

processual.<br />

E o meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 92.008 — SC — Rel. Min. Rafael<br />

Mayer. Recte: Jose Bonif Ado de<br />

Moraes Rangel (Adv.: Jose Hamilton<br />

de Moura Ferro) Recda: APESC —<br />

Associacao de Poupanca e Emprestimo<br />

de Santa Catarina (Adv.: Aliatar<br />

Farias de Medeiros).<br />

Decisao: Conhecido parcialmente e<br />

provido, nos termos do voto do Ministro<br />

Relator, decisao unanime.<br />

Presidencia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a sessao<br />

os Senhores Ministro Xavier de<br />

Albuquerque, Soares Munoz e Rafael<br />

Mayer. Ausente, justificadamente, o<br />

Sr. Min. Cunha Peixoto. —<br />

Subprocurador-Geral da Republica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 11 de marco de 1980. —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretario.


R.T.J. — 94 449<br />

RECURS() EXTRAORDINARIO N? 92.030 — SP<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Decio Miranda.<br />

Recorrente: York S/A — Inch:Istria e Comercio — Recorrida: Prefeitura<br />

Municipal de SAo Paulo.<br />

Civil. Desapropriactio indireta. Juros compensatOrlos concedidos<br />

na fase de cognicilo, sem indicacito da taxa. PretensAo de fixft-los<br />

em 12% e nflo em 6% na fase da liquidactio. Veto do art. 308, VI, do<br />

Regiment° Intern°.<br />

AcOEDA0<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Segunda<br />

Turma, na conformidade da ata<br />

de Julgamentos e das notas taquigrAfleas,<br />

A unanimidade de votos, nAo<br />

conhecer do recurso.<br />

Brasilia, 21 de marco de 1980 —<br />

Djaci FalcAo, Presidente — Decio<br />

Miranda, Relator.<br />

EELATOEM<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda: o<br />

despacho do ilustre Presidente Agripino<br />

Vieira de Souza, ao denegar o<br />

recurso extraordinArio, assim dA<br />

noticia da especie dos autos:<br />

«Na fase de liquidacAo de expropriateria<br />

indireta, os juros compensaterios<br />

foram, nesta InstAncia,<br />

reduzidos de 12 para 6% ao ano.<br />

Atacando o decidido, recorre a<br />

vencida, extraordinariamente, amparada<br />

nas Tetras a e d da permissào<br />

constitucional, dizendo ofendido<br />

o art. 153, 22, da Lei Maior e<br />

divergidos vv. arestos da Suprema<br />

Corte. Argil!, ainda, relevAncia da<br />

questAO <strong>federal</strong>.<br />

Impugnaelio a fls. 186/187.<br />

Nego seguimento, corn a anotacAo<br />

de que a razAo do art. 308, VI,<br />

do Regimento Intern do Supremo<br />

Tribunal Federal s6 e considerAvel<br />

a alegacAo de ofensa A ConstituicAo.<br />

Primeiramente, entendo que,<br />

versando, o reclamo, apenas o tema<br />

de Juros, nAo ocorre incursao<br />

na Area constitucional.<br />

Veja-se realmente, que a assegurack)<br />

do art. 153, 22 da Carta<br />

Magna diz respeito A indenizacAo<br />

justa. Assim, sua afetacao direta<br />

se liga ao valor que no Decreto-lei<br />

3.365 aparece, nos arts. 26, 27, 4 1? e<br />

28, como «valor da indenizacão» ou<br />

«preco da indenizacão», ou seja, o<br />

valor pecuniArlo do bem expropriado,<br />

compreendidos os elementos<br />

acesserios desse bem (arts. 25 e<br />

parAgrafo ilnico e 26, fi 1?, do<br />

Decreto-lei 3.365).<br />

Em desdobramento, numa relacAo<br />

direta, as imperfeicees da decisAo<br />

que apenas digam com juros,<br />

s6 poderão ser caracterizadas como<br />

ofensas as normas ordinArias<br />

que regulam sua incidencia.<br />

Nem se pretenda irrelevante a<br />

distincAo ao argumento de que,<br />

agregados A verba principal, os Juros<br />

comp6em um todo que conformaria<br />

a indenizacgo referida no<br />

preceito constitucional; do que resultaria,<br />

a este ofensa pela via<br />

oblique, indireta, disfarcada, virtual<br />

ou implicita.<br />

E que a importancia do enfoque<br />

destacado resulta, precisamente,


450 R.T.J. — 94<br />

da norma regimental, a dizer inconsideraveis<br />

simples atentados a<br />

lei ordinAria em casos como o presente.<br />

E isso porque a verdadeira<br />

criaeão regimental de eclusas ou<br />

patamares — que, corn suporte<br />

constitucional (art. 119, paragrafo<br />

Unico), f az certas areas inacessiveis<br />

ao apelo exceptional —<br />

s6 pode ser entendido como seleeão<br />

obstativa, a atuar quando o gravame<br />

se corporifique ao nivel da lei<br />

ordinaria. que, de outra forma —<br />

exatamente porque no sistema<br />

juridico positivo toda norma ordinaria<br />

se filie a um preceito superior,<br />

constitucional — e universo<br />

compreensivo das s6 ofensas a let<br />

representaria urn tipico conjunto<br />

vazio; a fazer inatil excresc0ncia a<br />

restriflo regimental, facilmente<br />

ultrapassavel pela simples e rotineira<br />

indicaflo do preceito constitucional<br />

abrangente. Lembraveis,<br />

a propOsito os amplissimos espectros<br />

do art. 153, §§ 1? e 2? e 36.<br />

Concluindo, no setor; porque o<br />

alegado gravame se exprimiria,<br />

completarnente na visdo apenas de<br />

norma ordinaria, penso incidente,<br />

como Obice genêrico e definitivo, o<br />

ja apontado veto regimental.<br />

Anotando, por arremate, ainda<br />

no mesmo ambito, que tal colocacao<br />

ja recebeu o beneplacito da Suprema<br />

Corte, atravês r. despacho<br />

de S. Exa. o Ministro Djaci Palau,<br />

como Relator do Eg. 70.660 — SP,<br />

publicado em DJU de 25.5.77, pag.<br />

3.365.<br />

Ainda, portn, que se enfrente o<br />

problema na visa° nuclear, concernente<br />

a prepria legitimidade dos<br />

juros compensattrios de 12% ao<br />

ano, penso inatacavel — e, por isso,<br />

de prevalecer — a soluedo do v.<br />

aresto recorrido.<br />

Com efeito, mesmo partindo-se<br />

da nova° preliminar e corrente no<br />

tema — segundo a qual os juros<br />

compensatOrios sAo criacAo preto-<br />

riana, corn origem nas desapropriaeOes<br />

indiretas, tendente a anular<br />

ou atenuar eventual lesAo patrimonial<br />

ao particular efetivamente<br />

desapossado do bem, no period()<br />

que antecede a propositura da<br />

actio — nao se pode chegar validamente<br />

a conclusao de que tais juros<br />

devam ser de 12% ao ano. E<br />

assim pelas seguintes raz6es que<br />

se encadeiam e se aplicam ainda<br />

As desapropriaciies diretas, na<br />

perspectiva da prOvia imissAo na<br />

posse:<br />

lOgico, nao ha necessidade de<br />

recorrer as teorias sobre bens de<br />

producAo e suas relacOes com a<br />

renda derivada, para identificar<br />

tais juros, no caso, como pretendendo<br />

ser um «rendimento» produzido<br />

por certo «capital». Aguele,<br />

insista-se, admitido na perspectiva<br />

de que s6 a paga pela perda deste<br />

nao compehsaria o desfalque patrimonial,<br />

ja que o «preco» — expressal<br />

do capital —, mesmo corrigido,<br />

0 apenas um valor estatico, com<br />

a s6 referència a um dado instante ;<br />

cumprindo, pois, contar sua «producao»<br />

— esta, fluxo, componente dinarraco<br />

— lapso temporal a partir do<br />

torte no patrimOnio, ou na disponibilidade,<br />

do proprietario;<br />

Segue-se, dat, uma primeira<br />

conclusao imperiosa • tais juros flat)<br />

poderao ser vistos, sempre, como<br />

imponiveis, pena de se atender A<br />

ficeao, antes que a realidade das<br />

coisas. E que nao se podera desconsiderar<br />

o que efetivamente<br />

ocorria corn o bem afetado, em<br />

termos de produtividade; tanto<br />

mais quando, sabidamente, a simples<br />

asseguracao da estabilidade<br />

do capital em meio a uma conjuntura<br />

inflacionãria ja realiza integralmente<br />

o valor-produto almejado<br />

pelo proprietario.<br />

Ora, se urn imOvel nada produz<br />

efetivamente e a exata mensuracAo<br />

de seu valor real ja. alcancada<br />

através dos sistemas adequada-


dos — avaliagao atualizada e correcao<br />

monetarla em termos de<br />

faze-lo de pronto conversivel em<br />

outro bem igualmente estevel, atribuir<br />

ao seu equivalente monetario<br />

uma rentabilidade pro rata<br />

temporis, exprime nitida criacao<br />

sem apoio na realidade econOmica<br />

e, em desdobramento, iniquo gravame<br />

a entidade expropriante;<br />

sobre isso, necessario lembrar<br />

que a efetiva produtividade reduz1da<br />

pela perda do bem — v.g. lavouras<br />

afetadas, colheitas frustadas,<br />

arvores perdidas, contratos de<br />

locacao rescindidos, renda teorica<br />

de pastagem inviabilizada etc, — e<br />

normalmente computada na ava-<br />

Haat); o que leva a uma indevida<br />

pluralizacao de . f atores, corn repeticao<br />

de calculos na area do rendimento,<br />

pois que sobre o produto<br />

desses «lucros cessantes»se fazem<br />

tambem incidir os «juros compensateriose<br />

estes, se bem examinedos,<br />

fades ou modalidades daqueles:<br />

ponderados ern termos 16gicos<br />

esses aspectos, a prepria concessac)<br />

de «juros compensaterios», ao<br />

lado da indenizacao — esta, a seu<br />

turno, correspondente ao «dano<br />

emergente » — perde, necessariamente,<br />

sua condicao de solucao regular<br />

e praticamente automatica,<br />

para ter seu cabimento apenas deduzivel<br />

das peculiaridades latices.<br />

E exatamente porque deixa de<br />

ser uma fatalidade incontornavel,<br />

entra em causa e se f az diecutivel<br />

sua prOprla natureza juridica;<br />

5) inicialmente, nessa perspective,<br />

sera necessario lembrar que,<br />

se nominalmente tais juros sat) ditos<br />

« compensaterios», ontologicamente<br />

participam da classe dos<br />

"moraterios". Isso, fundamentalmente,<br />

porque antes de exprimir<br />

paga pelo use do dinheiro aihelo —<br />

o que implicaria na saida do<br />

capital em dinheiro, da disponibilidade<br />

de seu proprletario;<br />

R.T.J. — 94 451<br />

o que nao ocorre, na hipotese —<br />

na verdade, e mats exatamente,<br />

prestacao reparateria do atrasona<br />

entrada de certo capital no patri-<br />

Menlo do credor.<br />

Essa !dela nuclear vem, mesmo,<br />

claramente expressa no voto do<br />

eminente Ministro Victor Nunes,<br />

como relator do RE 46.157; este.<br />

uma das matrizes do verbete n?<br />

345 da StImula:<br />

«Velem, pois, os juros compensaterios,<br />

em tal caso como cornpensacao<br />

pelo liar) recebimento<br />

da indenizacao devida ao momento<br />

prOprlo».<br />

adiante: se essa paga, que se<br />

tern por devida je no tempo antes<br />

da acao, nem sempre correspondere<br />

a uma concreta e autOnoma perda<br />

de rendimento — sej a por inexistlr,<br />

seja por ja computada no<br />

valor da indenizacao — rigorosamente<br />

16g1co sera identifica-la apenas<br />

como «juros moraterios»,<br />

simplesmente calculeveis desde o<br />

desapossamento, a maneira do que<br />

dispee o art. 962 e, correspectivamente<br />

no setor, o art. 1.544, ambos<br />

do COdigo Civil; como decorrencia<br />

da identidade essencial entre situacOes<br />

juridicas assemelhadas, ja<br />

que o pagamento imediato da indenizacao<br />

corresponde a uma exigthcia<br />

de inafastevel equiparacao entre<br />

as desapropriacOes de fato e<br />

aqueles regularmente procedidas.<br />

Asslm, se o devido — como nas<br />

desapropriacOes regulares — ha de<br />

ser pago de pronto, ao atraso constatado<br />

nesse pagamento corresponderao,<br />

sim, juros, mas sempre e s6<br />

aqueles moraterios, previstos em<br />

lel;<br />

por derradeiro, caberia enfatizar<br />

o que seria, data yenta, uma<br />

incongrutwia a refletir-se nos pianos<br />

elle° e doutrinerlo, produzida<br />

pela circunstancia de os juros cornpensatOrios<br />

— alhelos a ideia de<br />

culpa pelo atraso — atuarem male


452 R.T.J. — 94<br />

gravosamente do que os moratorios<br />

que tern em si esse contigente<br />

de desatencAo ao direito. E tudo isso<br />

sem convencão e sem a preocupacäo<br />

de qualquer correspondencia<br />

entre o resultado e a concreta afetacão<br />

patrimonial do credor; que,<br />

como visto, pode ndo ocorrer, ou<br />

ser inferior, ou jA estar integralmente<br />

coberta na Area do valor do<br />

bem.<br />

Nessa linha de raciocinio, tenho<br />

como conclusäo inelutAvel que nem<br />

as normas pertinentes nem qualquer<br />

componente legal ou doutrinario<br />

dos institutos juridicos envolvidos<br />

determina — ou sequer autoriza<br />

a imposicAo dos juros aqui analisados<br />

e repetidamente denominados<br />

«compensathrios», em taxa superior<br />

Aguela legal de 6% ao ano,<br />

como condicão de fazer justa a lndenizacAo<br />

nas desapropriacOes indiretas.<br />

Em • inafastAvel desdobramento<br />

Ingle°, taxa que se prenda a esse<br />

limite, antes do que ser legitima, jamais<br />

poderA ser acoimada de ofensiva<br />

ao ditame constitucional correspondente.<br />

Esse o conjunto de razOes pelaS<br />

quais penso nAo merecer, este reclamo<br />

excepcional, a visto direta<br />

da Suprema Corte.<br />

A argilicAo de relevAncia receberA<br />

o tratamento determinado pela<br />

opcAo da recorrente frente As alternativas<br />

concedidas (Regimento<br />

Interno do Supremo Tribunal Federal,<br />

art. 308, § 5?, II e VI)». (fls.<br />

189-196).<br />

Subiu, porem, o recurso, para melhor<br />

exame, em virtude de despacho<br />

do eminente Ministro Djaci FalcAo,<br />

que, uma vez processado o apelo,<br />

propOs sua redistribuicAo, a mim<br />

que funcionara como relator do RE<br />

88.698, interposto na fase de cognicAo<br />

da mesma causa de desapropriacao<br />

indireta.<br />

o relaterio.<br />

VOTO<br />

Sr. Ministro Declo Miranda (Relator):<br />

Trata-se de recurso extraordinArio<br />

na fase de liquidacão da sentenca<br />

na expropriateria indireta.<br />

Na fase antecedente, de cognicAo<br />

do pedido, a sentenca atribuira ao<br />

autor «juros compensatOrios contados<br />

da data da efetiva ocupacão pela<br />

re» (f. 49v.), sem, contudo, fixar-ihes<br />

a taxa.<br />

Sobre essa taxa, tambêm silenciou<br />

o acerclão na apelacAo (f. 52).<br />

Fixada na execucAo a taxa de 6%<br />

(acercldo a f. 173), o recurso extraordinArio,<br />

pelas letras a e d da permissAo<br />

constitucional, alega contrariedade<br />

ao art. 153, § 22, da Constituicão,<br />

que assegura o direito de propriedade,<br />

salvo o caso de desapropriagAo<br />

mediante previa e justa indenizacAo,<br />

e divergencia com os<br />

acerdAos no RE 69.798, relator o Sr.<br />

Ministro Antonio Neder. RTJ 73/429,<br />

e no RE 88.229, relator o Sr. Ministro<br />

Cordeiro Guerra, DJ de 29.5.78, pAg<br />

3.732. (fls. 176-184).<br />

Cuida-se, pois, de recurso extraordinArio<br />

a que se op6e o veto do art.<br />

308, VI, do Regimento Interno, que o<br />

torna incabivel «nas execucOes por<br />

titulo judicial».<br />

A invocaflo do principio constitucional<br />

de garantia da propriedade<br />

Liao estA em causa, eis que a taxa de<br />

juros, a nAo ser quando compulsoriamente<br />

estabelecida de modo conf iseaten°,<br />

não envolve detrimento a tal<br />

direlto.<br />

Trata-se de materia a que a ora<br />

recorrente deveria ter dad!) atencao<br />

na fase cognitiva da acão de indenizagão<br />

per desapossamento ilicito.De-


veria entáo ter embargado de declaracâo<br />

as decisOes omissas quanto<br />

taxa de juros compensathrios, e nâo<br />

deixar a discussáo para a lase da 11quidacao,<br />

em que tal discussào 6<br />

vedada pelo art. 308, VI, do Regimento<br />

Interno.<br />

NA() havendo materia constitucional<br />

apta a superar o veto, também<br />

náo foi ele afastado pela argilicão de<br />

relevancia suscitada pela ora recorrente,<br />

que veto a ser rejeitada pelo<br />

Supremo Tribunal (ARv 4.677, em<br />

apenso).<br />

Isto posto, nä° conheco do recurso<br />

extraordinario.<br />

E meu vote.<br />

VOTO<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Sr. Ministro Corcleiro Guerra:<br />

Sr. Presidente, se se tratasse de decisao<br />

na fase de conhecimento, a jurisprud6nCi8<br />

seria favoravel ao reconente,<br />

mas . aoontece , que ele nä°<br />

453<br />

embargou, nä° recorreu, e, agora,<br />

na execucäo, o tema proposto nao 6<br />

constitucional.<br />

Näo conheco do recurso.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 92.030 — SP — Rel. MM. Decio<br />

Miranda. Recte. York S/A —<br />

trio e Comercio (Advs. Foch Simao e<br />

outro). Recda: Prefeitura Muncipal<br />

de SA° Paulo (Adv. Tereza Cristina<br />

Motta Ramos Marques).<br />

Decisão: Nat) conhecido. Unanime.<br />

Presid6ncia do Sr. Ministro Djaci<br />

Falcao. Presentes a Sessão os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra e Decio<br />

Miranda — Ausente, justificadamente,<br />

o Sr. Ministro Moreira Alves. —<br />

Licenciado, o Sr. Ministro Leitäo de<br />

Abreu. — Subprocurador-Geral da<br />

RepUblica o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 21 de marco de 1980 —<br />

Hello Francisco Marques, Secretario.<br />

RECURSO EtTRAORDINARIO N? 92.151 — SP<br />

(aegunda Turma)<br />

Relator 0 Sri Ministro Dedio Miranda<br />

Recorrentg: atm Angelo Pilon — Ftecorrido: ritezer<br />

, '<br />

,Dem;reVrIal,Zitga Orontissörtit, Registit do endosso, algid° pelo<br />

? 427, de 1969; regulithentado pelo Decreto no 64.156, de<br />

1969, eledittititib vela <strong>jurisprudencia</strong> do Supremo Tribunal. Suprttnida<br />

pela Lei wile (Dec.-let n? 1.700, de 18.10.79) a exigencia do Mastro. A<br />

forma extrtniec •doS atos rege-se pela it do tempo em que se prod-<br />

?carom, No devendo, entretanto, declarar-se a nulidadedo ato, por tie<br />

gonna, apes a viencia da lel que o considera vidido, mftichne -feito de:<br />

quando o favorecido pela nulidade era o interesse do Fisco, e nao o<br />

dos particUlarear participes do ate. Recurso extraordinftrio prejudiced°<br />

past superveniencia do Dec. lei n? 1.700/79, no tocante a fails de<br />

registry do endosso, e conhecido e provido em parte, apenas para<br />

canceler o julgamento de materia estranha a carencia da acAo do<br />

portador do titulo cambial corn endosso nAo registrado.<br />

• ACORDAO<br />

de julgamento e das notas taquigra-<br />

Vistos, relatados e (11scutidos estes fleas, a uhanimidade de votos, co-<br />

autos, acordarn os Ministros do Sunhecer em parte do recurs°, e, nesta<br />

premo Tribunal .Federal, em Segun- parte the dar provimento, nos terdit<br />

Turma na conforintdade de ata mos do voto do Relator.


454 — 94<br />

Brasilia, 21 de marco de 1980. —<br />

Djacl Falcao, Presidente, — Decio<br />

Miranda, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda . Recebendo<br />

embargos infringentes do<br />

credor exeqiiente, o Primeiro Grupo<br />

de COmaras Civeis do Tribunal de<br />

Alcada Civil de Sao Paulo teve como<br />

valida a execucao cambial baseada<br />

em nota promisseria de emissao registrada<br />

segundo o Decreto-let 427,<br />

de 22.1.69. mas a cujo endosso faltara<br />

o mesmo registro.<br />

LO-se no acerdao:<br />

“Assim decidem porque e irrelevante<br />

a falta de registro de endosso<br />

de cambial, uma vez que se trata<br />

de formalidade meramente fiscal,<br />

como ja decidlu o Preterio Excelso<br />

(R.E. 72.280).<br />

8 que tal registro flat) foi previsto<br />

no Decreto-lei n? 427/69, como<br />

indispensavel a validade do Mule,<br />

ou a sua exigibilidade, sendo certo<br />

que, ao estabelcer a obrigatoriedade<br />

de urn novo registro, o Decreto<br />

n? 64.156/69 exorbitou, deixando de<br />

lade a sua limed° meramente regulamentadora.<br />

Alem disso, nao foi estabelecido<br />

prazo para este registro e nem cominada<br />

qualquer nulidade a cambial,<br />

mesmo porque as normas regulamentadoras<br />

nao podem estabelecer<br />

nulidades nao p<strong>revista</strong>s expressamente<br />

na lei regulamentada.<br />

Por outro lado, o art. 2?, § 4?, n?<br />

V, daquele decreto-lei, apenas f acultou<br />

ao Poder Executive ampliar,<br />

atraves de regulamento, os<br />

casos de isencao de registro, e nao<br />

criar novos registros e definir outras<br />

operacaes sujeitas a ele.<br />

Esta e a orlentagão jurisprudential<br />

predominante neste Tribunal<br />

(Julgados dos Tribunals de Aleada<br />

Civil de Sao Paulo 31/127, 33/65,<br />

35/128, 36/62 e 38/293).<br />

Superada, assim, a carencia da<br />

execucao, impae-se, tambem, o desacolhimento<br />

dos embargos opostos<br />

pelo devedor, que, no merito,<br />

nada alegou corn conviccao e firmeza<br />

e nem apresentou pelo menos<br />

urn principle de prove.), — (fls.<br />

73-4).<br />

A essa decisao epee o devedor<br />

recurso extraordinario, fundado nas<br />

letras a e d da permissao constituclonal.<br />

Alega negative de vigencia<br />

do art. 2? do Decreto-lei n? 427/69 e<br />

do art. 4? do Decreto n? 64.156/69, e,<br />

bem assim divergencia corn varies<br />

acerdaos que cita (RTJ 83/194,<br />

82/530, 68/90, 66/930, 59/57), os quais<br />

consideraram imprescindivel o registro<br />

do endosso. Alem disso,<br />

acerdao teria violado o principle do<br />

duplo grau de jurisdicao, corn afronta<br />

a Constitulcao Federal e ao art.<br />

515 e § 1? do Cod. Proc. Civil, e corn<br />

entenchmento clissonante do que prevaleceu<br />

nos acOrciaos publicados in<br />

RTJ 79/1.002 e 74/621, por haver decidido<br />

desde logo sobre a improcedencia<br />

dos embargos do devedor, a respeito<br />

da qual nao se manifestara o<br />

Juiz de primeiro grau, adstrito ao<br />

pronunciamento da carancia da aeao<br />

por falta de registro do endosso. (fls.<br />

81-93).<br />

Fol o recurso admltido nos dots<br />

pontos versados. (fls. 96-8).<br />

8 o relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda (Relator):<br />

Conhego do recurso pela letra<br />

d, no panto concernente a indispensabilidade<br />

do registro do endosso,<br />

afirmada pelos actirciaos divergentes<br />

indicados.<br />

DA-se, porem, que pelo Decreto-lei<br />

n? 1.700, de 18.10.79, art. 1?,<br />

extingulu-se o registro das letras de<br />

cambio e notas promisserlas, estabe-


lecido no art. 2? e seus paragrafos do<br />

Decreto-le i n? 427, de 22.1.69, e no<br />

art. 1? § 11, do Decreto-lei n? 1.042,<br />

de 21.10.69.<br />

Conseq0entemente, cessou tambem<br />

o registro de endossos, exigenda<br />

que se considerou possivel, feita<br />

pelo Decreto n? 64.156, de 4.3.69.<br />

Sabe-se que tal registro teve em<br />

vista apenas o proveito da fiscalizactio<br />

e arrecadacao tributaries da<br />

Ulna°, tanto que inserida a exigencia,<br />

no primelro daqueles citados<br />

decretos-leis, em contexto de medidas<br />

legislativas atinentes ao imposto<br />

de renda.<br />

Nao visava a garantia dos particulares,<br />

tanto que, apesar da nulidade<br />

do titulo de credit°, cominada no art.<br />

2? do citado Decreto-lei n? 427,<br />

admitia-se a cobranca do titulo pela<br />

via comum e em atencao ao locupletamento<br />

do devedor.<br />

Desaparecida a exigencia de ordem<br />

puramente administrative, corn<br />

fins tributarios, a execucao cambial,<br />

ainda nao afastada definitivamente<br />

por sentence transitada ern<br />

julgado, pode retomar seu curso,<br />

instrulda corn o titulo a que nao<br />

mats se °pee a cominacao de nulidade.<br />

Certo, o C6cligo Civil, no art. 145,<br />

V. declare que e nulo o ato juridic°<br />

«quando a lei taxativamente o declarer<br />

nulo, ou the negar efelto».<br />

E nä° he, no C6digo Civil, regra<br />

expressa de direito intertemporal<br />

que revalide o ato, pela revogactlo<br />

da lei que o considerava nulo.<br />

Mas, se essa nulidade nao era estabelecida<br />

em favor das partes, senao<br />

em consideracao de interesse de<br />

terceiro, no caso a Uniflo Federal,<br />

destinattuda do comando legal, devese<br />

conduit que a retirada da cominava°<br />

de nulidade revitalize o ato.<br />

R.T.J. — 94<br />

455<br />

Parece exprimir a melhor doutrina<br />

sobre o ponto a disposicao que<br />

Haroldo Valletta° insertu no seu muito<br />

justamente celebrado Projeto de<br />

COctigo de Aplicacao das Normas<br />

Juridicas, a dizer:<br />

«Art. 83. A forma extrinseca dos<br />

atos rege-se segundo a lei do tempo<br />

em que se praticaram.<br />

Não sere, entretanto, corn<br />

base naquela lei, declarada a nulidade<br />

de urn contrato, por simples<br />

defeito de forma extrinseca, ap6s a<br />

vigencia da lei que o consldera yelido.<br />

0 testamento sera considerado<br />

valid° se tiver observado as<br />

formalidades da lei do tempo de<br />

sua feltura ou do dia da morte do<br />

testador.»<br />

(17/fret° Internacional Privado,<br />

3? ed., peg. 565).<br />

Tenho, assim, que, desaparecida a<br />

cominacão de nulidade por lei superveniente,<br />

prevalece a decisão recorrida,<br />

que por outras razaes a afastava,<br />

assim prejudicado, nessa parte,<br />

o recurso extraordinario.<br />

Quanto a segunda parte do recurso<br />

extraordinerio, tern razao o recorrente.<br />

Nos embargos a execucao, alem<br />

da falta de registro do endosso, havia<br />

ele alegado que a execucao nao<br />

podia prosseguir sem chamamento<br />

ao processo dos demais coobrigados,<br />

que entre eles ja se teriam<br />

composto, assim afastando a<br />

obrigacao cambial dele embargante.<br />

Tanto a sentence de primeiro<br />

grau, quanto o acerdao em apelacao,<br />

adstringiram-se a carencia da acao,<br />

por falta de registro do endosso.<br />

Não podiam o voto vencido na apelava°,<br />

e o acerclao em embprgos,<br />

que o acolheu, incursionar pela materia<br />

de merit() da execucao e conduit<br />

pela improcedencia da defesa do devedor,<br />

desbordando da mattria con-


456 R.T.J. — 94<br />

cernente a carência da acao por falta<br />

de registro do endosso.<br />

Nesse ponto, o actordâo recorrido<br />

desatendeu ao art. 515 do Cod. Proc.<br />

Civil, invocado pelo recorrente, a dizer<br />

que a apelacâo devolve ao conhecimento<br />

do Tribunal o conhecimento<br />

da materia impugnada.<br />

Isto posto, conheco em parte do recurso,<br />

e the dou provimento tambem<br />

parcial, para reformar o acOrdão no<br />

ponto em que julgou materia de merito,<br />

näo compreendida na declaracdo<br />

de carência da acâo pronunciada<br />

pela sentenca de primeiro grau; prejudicado,<br />

no mais, o recurso pela superveniencia<br />

do Decreto-lei n? 1.700,<br />

de 18.10.79.<br />

8 meu voto.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra:<br />

Sr. Presidente, a solucäo consagrada<br />

no voto do eminente Ministro Relator,<br />

embora comportasse urea Tonga<br />

analise e,'talvez, um dissenso dos<br />

motivos tambem ponderAveis, que<br />

näo escaparam a S. Exa., na realidade,<br />

dä uma conclUs8o para o taso<br />

E se fosse possivel aplicar aos nes-<br />

sos votos e aos acerdãos a SOmula<br />

400, eu a invocaria, nesta oportunidade.<br />

Acompanho o Relator, conhecendo,<br />

em parte, do recurso e the dando<br />

provimento tambem parcial.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 92.151 — SP — Rel.: Min. Dedo<br />

Miranda. Recte.: Joao Angelo Pi-<br />

Ion (Advs.: Erasmo Valladão Azevedo<br />

e Novaes Franca e outros). Recdo.:<br />

Eliezer Pia' (Adv.: Joao Fernandes<br />

More).<br />

Decisäo: Conhecido em parte, e<br />

nesta parte provido nos termos do<br />

voto do Relator. Unänime.<br />

Presidéncia do Sr. Ministro Djaci<br />

Falcao. Presentes Sessao OS Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra e Decio<br />

Miranda. — Ausente, justaicadamente,<br />

o Sr. Ministro Moreira Alves.<br />

— Licenciado, o Sr. Ministro Leitâo<br />

de Abreu. — Subprocurador-Geral<br />

da RepUblica, o Dr. Mauro Leite<br />

Soares.<br />

Brasilia, 21 de marco de 1980. —<br />

Hello _ Prancisco Marques, Secretario,<br />

RECURSO EXTRAORDINAItIO CRIMINAL N? 92.193 — PR<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Xavier de Albuquerque.<br />

Recorrente: Salvador Peres Fernandes — Recorrido: Ministerio PUblico<br />

Estadual.<br />

— 1) ApelacAo Criminal. E tempestiva quando entregue<br />

em carterio dentro do prazo legal, ainda que nao despachada pelo<br />

Juiz.<br />

Apelaclio limitada do Mini gthrio Pehlke: Impossibilidade de o<br />

Tribunal dar-lhe provimento em maior extensAo, por estar adstrito<br />

aos limites fixados pelo recorrente.<br />

Recurso extraordin/trio parcialmente conhecido e provide.


ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

Julgamentos e notas taquigraficas,<br />

conhecer parcialmente do recurso, e<br />

nesta parte the dar provimento A unanimidade<br />

de votos.<br />

Brasilia, 17 de junho de 1980. —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Xavier de Albuquerque, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Denunciado por incendio<br />

consumado, o recorrente Mt absolvido<br />

em primeira instAncia por insuflencia<br />

de prove da autoria. E o<br />

promotor de justice, que nas alegacOes<br />

finals retificara a classifitacão<br />

do crime para incendio tentado, apelou<br />

da sentence para, nesses termos,<br />

postular a condenacao do recorrente<br />

como incurso no art. 250, § 1?, letra<br />

a, combinado corn o art. 12, II do 06digo<br />

Penal.<br />

A apelagao foi provide pela Segunda<br />

Camara Criminal do Tribunal de<br />

Justice do Parana, que deu o recorrente<br />

como incurso no art. 250, caput<br />

do COrligo Penal, impondo-lhe as penes<br />

de tres anos de reclusAo e multa<br />

de dois mil cruzeiros e concedendolhe<br />

o beneflcio do regime aberto.<br />

Dal o presente recurso extraordinario,<br />

que suscita tres questees: a)<br />

intempestividade da apelacao do Ministerio<br />

cujo conhecimento<br />

importou negacao de vigencia ao<br />

art. 578, § 2? do Cedigo de Processo<br />

Penal e dissidio Jurisprudencial; b)<br />

Julgamento alem dos limites da apelacao,<br />

que postulara o reconhecimento<br />

do crime em sua forma tentada,<br />

e nao consumada, corn negaclio<br />

de vigencia ao art. 599 do mesmo C6digo<br />

e dissidio Jurisprudenclal; c)<br />

nulidade do processo por falta do<br />

R.T.J. — 94 457<br />

exame de corpo de delito, corn ofensa<br />

ao art. 158 do C6digo Ja referido<br />

e, par %fuel, divergencia pretoriana.<br />

Admitido e processado o recurso,<br />

sobre ele opinou a Procuradoria-Geral<br />

da RepOblica, em parecer do<br />

Procurador Aristides Junquelra Alvarenga,<br />

nestes termos (fls.<br />

106/109):<br />

«Quanto A alegada negativa de<br />

vigencia do artigo 158 do C.P.P.,<br />

que diz ser indispensavel o exame<br />

de corpo de delft% quando a infradeixar<br />

vestigios, trata-se de<br />

questa.° nao ventilada na decisao<br />

recorrida, pelo que se Lorna Madmissivel<br />

o recurso Incomum<br />

mula 282 do Supremo Tribunal Federal.).<br />

4. No que tange ao artigo<br />

578, § 2?, do COdigo de Processo<br />

Penal. («A peticAo de interposicao<br />

de recurso, corn o despacho do<br />

Juiz, sera, ate o dia seguinte ao Ultimo<br />

do prazo, entregue ao escrivao,<br />

que certificara no termo de<br />

Juntada a data da entregas), raw<br />

se vislumbra no V. AcOrdAo sua<br />

pretensa negativa, mas, ao contrario,<br />

sua correta aplicacAo.<br />

Comprovada a entrega da peticat)<br />

de apelacao no qulnqufdiolegal,<br />

atraves de certidao do senren-<br />

Mario, ha de ser tide comb tempestiva,<br />

aincla que tenha sick) ela<br />

apresentada ao Julz, para despacho,<br />

quando Ja esgotado o prazo recurse!.<br />

E certo que o escrivao nao cumpriu,<br />

oportuno tempore, a determinacAo<br />

contida na parte final do artigo<br />

578, 2?, do COdigo de Processo<br />

Penal, que o obriga a certificar<br />

no termo de juntada da pence() a<br />

data de sua entrega. Mass o fez,<br />

posteriormente, em cumprimento<br />

de diligencia deterrninada pelo Tribunal,<br />

que assim agindo, demonstrou<br />

no postergar a disposicao legal<br />

reguladora da tempestividade<br />

da apelacao.


458 R.T.J. — 94<br />

Quanto ao dissidio interpretativo<br />

atinente a tempestividade do<br />

apelo, os julgados dos Tribunals de<br />

Alcada do Rio de Janeiro, Minas<br />

Gerais e Rio Grande do Sul, trazidos<br />

a colacao pelo recorrente, dizem<br />

respeito a oportunidade do despacho<br />

do Juiz na peticao e este()<br />

em completa dissonancia corn o<br />

enunciado da amnia 428 desse Sumo<br />

Tribunal.<br />

Contudo, parece-nos violado<br />

pela v. decisao impugnada o<br />

principio do tantum devolutum,<br />

quantum appelatum, inserto no artigo<br />

599 do C.P.P.<br />

Ja antes da sentenca absolutOria<br />

de primeiro grau, o Ministerio PUblico<br />

limitava sua pretensao condenatOria<br />

ao reconhecimento de tentativa<br />

de incendio, apenas (fls.<br />

39/42). E essa mesma pretensao<br />

limitada Col a raze° de sua apelacAo,<br />

relevando notar que as razOes<br />

de apelo acompanharam a peticao<br />

recursal (fls. 48/50).<br />

Fossem elas oferecidas posteriormente,<br />

poder-se-ia dizer que o<br />

recurso fora ilimitado e ao Ministerio<br />

PUblico e vedado desistir dele,<br />

sequer parcialmente, restringindoo,<br />

ao oferecer as razoes.<br />

Aqui, entretanto, foram elas oferecidas<br />

juntamente com a pence°,<br />

pelo que torna-se indiscutivel ter o<br />

recurso da acusacao um escopo limitado:<br />

o reconhecimento de crime<br />

tentado e nao consumado, como reconhecido<br />

pelo Tribunal a quo,<br />

que, assim decidindo, olvidou o<br />

principio processual contido no artigo<br />

599 do C.P.P., alem de divergir<br />

do entendimento de outros Tribunals,<br />

inclusive desse Excelso<br />

Tribunal, como demonstrado pelo<br />

recorrente.<br />

Merece, portanto, conhecimento<br />

o recurso.<br />

Quanto a seu provimento, a<br />

prove existente nos autos esta a re-<br />

velar a inocorrencia de incendio<br />

consumado.<br />

Para a admissao deste o V.<br />

AcOrdeo recorrido alicercou-se<br />

apenas no fato de «que houve destruicao<br />

de objetos pertinentes<br />

vitima, de forma irreversivel)) (Us.<br />

65).<br />

Tal circunstAncia, contudo, caracteriza<br />

a consumacao do crime<br />

de dano qualificado, eis que cometido<br />

com emprego de Pogo (art.<br />

163, paragrafo Unico, inciso II, do<br />

C.P).<br />

Mas, tal delito e subsidiario, consoante<br />

declaracao expressa na norma<br />

penal citada.<br />

Resta, pois, examinar se o mesmo<br />

fato constitui crime mais grave.<br />

E a resposta ha de ser positiva,<br />

em face da definicAo legal do crime<br />

de incendio (art. 250, 1?, II, a<br />

do C.P.).<br />

Prevalente este, resta constatar<br />

se foi ele consumado ou tentado.<br />

Tratando-se de delito contra a incolumidade<br />

pUblica, consuma-se<br />

«quando se estabelece ou manifesta<br />

a situacao de perigo coletivo.<br />

Tal acontece geralmente com a expanse()<br />

do Pogo, quando ele assume<br />

proporcOes a tornarem dificil sua<br />

extincão, ameacando, dessarte, a<br />

incolumidade pablica». ( Magalhaes<br />

Noronha, Direito Penal, Saraiva,<br />

SAo Paulo, 6a. ed. 1973, 3?<br />

Vol., p. 348).<br />

E o mesmo autor afirma, acertadamente,<br />

que pode, alias, o Pogo<br />

romper e haver simplesmente tentative,<br />

se, pela intervenceo de terceiros,<br />

nao chegar as porporcees<br />

constitutivas do perigo comum» (idem,<br />

ibidem).<br />

E foi precisamente o que ocorreu,<br />

no caso em foco. Antes que o<br />

Pogo ateado no colchao da cama<br />

destruisse a casa e passasse para<br />

as casas vizinhas, tercelros o debelaram,<br />

usando Ague. Nenhum peri-


go comum foi concretizado, inobstante<br />

a verificacao de danos materials,<br />

pelo que nao se pode falar<br />

em incAndio consumado, mas apenas<br />

tentado.<br />

9. Pelo exposto, somos pelo provimento<br />

parcial do recurso, tao-s6<br />

para reduzir de dots tercos as penas<br />

de reclusan e multa aplicadas<br />

pelo V. AcOrclao impugnado, apenacan<br />

minima p<strong>revista</strong> (art. 12,<br />

parAgrafo unico, d6 CP.), em face<br />

da anAlise feita pela decisao recorrida<br />

a respelto da personalidade do<br />

recorrente (1. 66).»<br />

o relatdrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Mintstro Xavier de<br />

Albuquerque (Relator): Acolho o parecer<br />

da douta Procuradoria-Geral,<br />

a cujos fundamentos me reporto.<br />

Da falta de exame de corpo de delito<br />

nao cuidou com efeito, o acerdao<br />

recorrido Essa matèria, por outro<br />

lado, jamais fora suscitada nos autos.<br />

Quanto a intempestividade da apetenho<br />

como acertado o entendimento<br />

de que a afasta a entrega<br />

da peticao em cartOrlo, dentro do<br />

prazo legal, ainda que nao despachada<br />

pelo juiz, e assim jA decidi mats<br />

de uma vez. 8 certo que, neste caso<br />

o Tribunal a quo contentou-se com<br />

informacao prestada, cinco meses<br />

depots da ocorrancta, pelo escrivao,<br />

aparentemente de memOrta e sem<br />

mencao a qualquer tipo de registro<br />

ou elemento objetivo semelhante,<br />

acaso existente no cartOrio. Todavia,<br />

embora me pareca fundada a viva<br />

critica que the faz, no ponto, o recorrente,<br />

entendo que se trata de questa°<br />

de fato sobre a qual nao nos podemos<br />

pronunciar.<br />

R.T.J. — 94 459<br />

Resta o tema dos limites da apelacao,<br />

nao atendidos pela decisao recorrida.<br />

Aqui, ainda na companhia<br />

da Procuradoria-Geral, entendo que<br />

o recurso tern cabimento e procedëncia.<br />

Nao foi plena, com efeito, a apelava°<br />

do Ministerio POblico, pelo que<br />

nao restaurou a acusacao primitivamente<br />

contida na denfmcia. Foi, ao<br />

invas, limitada, perseguindo a reforma<br />

da sentenca para que se condenasse<br />

o acusado como autor de tentativa<br />

de incAndio.<br />

Isto posto, conhecendo, nessa parte,<br />

do recurso, dou-lhe provimento<br />

para retificar a capitulacao legal do<br />

fato e reduzir correspondentemente<br />

as penas impostas, dando o recorrente<br />

como incurso no art. 250, cornbinado<br />

corn o art. 12, II do COdtgo<br />

Penal, e sujeito, por isso, as penas<br />

de um ano e quatro meses de reciusao<br />

e CI 667,00 de multa, mantido 0<br />

beneficio do regime aberto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RECr 92.193 — PR — Rel. MM.<br />

Xavier de Albuquerque. Recte. Salvador<br />

Peres Fernandes (Advs. Walter<br />

Borges Carneiro e Rent Ariel<br />

Dotti). Recdo: MinistArio PIMlico Estadual.<br />

Decisao: Conheceram parcialmente<br />

do recurso, e nesta parte, the deram<br />

provimento. UnAnime.<br />

Presidancia do Sr. Mintstro<br />

Thompson Flores. Presentes A Sessao<br />

os Srs. Mlnistros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto, Soares Munoz<br />

e Rafael Mayer. Subprocurador-<br />

Geral da RepOblica, Dr. Francisco<br />

de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 17 de junho de 1980. —<br />

Deck) Carlos Dayrell, SecretArio.


460 R.T.J. — 94<br />

RECURS() EXTRAORDINAFtIO 92.217 —RS<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra.<br />

Recorrente: Zulmira Gonsalves da Silva — Recorridos: Noémio Modesto<br />

de Abreu e outra — Brasilio Pereira Garcia e outros — Odino Caetano Luiz<br />

Bacchin e outros.<br />

— A mulher casada a parte, e näo terceiro, em litisconsercio passivo<br />

necesst(rio com o marido, na acao executiva movida contra este,<br />

se a penhora recai em bens !Wive's.<br />

E, assim, carecedora da acâo de embargos de terceiro.<br />

Precedente.<br />

RE nä() conhecido, SOmula<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos ester<br />

autos, acordam os Ministros da Se<br />

gunda Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e das notas taquigrAficas,<br />

a unanimidade de votos, em nal)<br />

conhecer do recurso.<br />

Brasilia, 21 de marco de 1980 —<br />

Djaci Feel), Presidente — Cordeiro<br />

Guerra, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Corder() Guerra: 0<br />

recurso extraordindrio fol admitido<br />

em despacho do ilustre. Presidente<br />

pauloakidloTovo -do seguinte teor:<br />

(errata-se de embargos de terceiro<br />

opostos por Zulmira Gonsalves<br />

da Silva, visando excluir de cons-<br />

WO° Judicial sua meacAo, em<br />

bens imOveis penhorados, nas<br />

acOes executivas ajuizadas por<br />

Noêmio Modesto de Abreu e Outros<br />

contra seu marido Florian() Pereira<br />

da Silva.<br />

0 juiz de primeira instância julgou<br />

a embargante carecedora dos<br />

embargos de terceiro.<br />

Inconformada, a vencida apelou,<br />

pedindo a ref orma da sentenca.<br />

A 1? Cámara dive dente Tribunal,<br />

por maiorta, negou provimen-<br />

286.<br />

to a apelacdo, corn o seguinte entendimento:<br />

“Embargos de Terceiro.<br />

Na acâo executiva proposta<br />

contra o marido, recaindo a penhora<br />

em bens imOveis, a mulher<br />

assume a posicao de litisconsorte<br />

passiva, nä() podendo embargar<br />

como terceiro.<br />

Aplicacão dos arts. 707, 948, 2°<br />

parte, e 81, do Cedigo de Processo<br />

Civil.<br />

Careicia de acAo.<br />

Apelacdo nAo'provida.<br />

Voto vencido.»<br />

A apelante, arrimada no data()<br />

voto vencido, interpOs embargos<br />

infringentes, os Clues foram reeltados,<br />

por maioria, entendendo<br />

que:<br />

«Embargos Infringentes.<br />

A mulher casada é parte, e não<br />

terceiro, em litisconsOrcio passivo<br />

necessdrio com o marido, na<br />

acäo executiva proposta contra<br />

este, se a penhora recai em bens<br />

imOveis. E, assim, carecedora da<br />

acäo de embargos de terceiro Para<br />

defender a sua meacao.<br />

Embargos infringentes rejeitados.<br />

Votos vencidos.»


Irresignada, Zulmira Gonsalves<br />

da Silva recorreu extraordinariamente,<br />

embasando seu recurso no<br />

art. 119, inciso III, letra a e d, do<br />

permissivo constitucional. Alegou<br />

ofensa ao art. 3?, da Lei 4.121, de<br />

27.8.62, e ao art. 707 do CPP de<br />

1939.<br />

Para caracterizar o dissidio pretoriano,<br />

citou acOrdAos de outros<br />

<strong>tribunal</strong>s pAtrios.<br />

A peticAo do recurso extraordinatio<br />

foi protocolada neste Tribunal<br />

em 23 de abril de 1973, porem,<br />

por um lapso, o apelo nAo foi processado,<br />

tendo o processo baixado<br />

a origem, em 27 de outubro de<br />

1978, corn certideo de trAnsito em<br />

Julgado do acerao respectivo. Em<br />

20 de agosto deste ano, os autos foram<br />

requisitados por ordem do<br />

Presidente desta Corte para que<br />

fosse, entAo, processado o apein<br />

extremo (f. 137).<br />

O recurso foi impugnado em 5 de<br />

outubro de 1979.<br />

Em primeiro lugar, cumpre salientar<br />

que 6 aplicavel ao caso o<br />

CPP de 1939, uma vez que a sentenca<br />

foi publicada na vigencia<br />

deste diploma legal.<br />

Pela tetra a do dispositivo constitucional,<br />

nAo merece prosperar o<br />

apelo. A razoabllidade da interpretea°<br />

dada aos dispositivos legais<br />

pela decisAo recorrida, enseja aplicacao<br />

da SUmula 400 do STF.<br />

No tocante ao recurs° fundado<br />

na tetra d do permissivo constitucional,<br />

merece melhor sorte o recorrente.<br />

A materia, sob a egide do C6cligo<br />

de 1939, lavrou dissidlo nos <strong>tribunal</strong>s<br />

()aides, inclusive no Excelso<br />

Preen°.<br />

Os arestos trazidos para confronto,<br />

esposam orientagAo diversa da<br />

Ueda() recorrida, configurando-se,<br />

assim, o requisito de admissibilidade<br />

do apelo por tal fundamento.<br />

R.T.J. — 94 461<br />

Diante do exposto, deixo de admitir<br />

o recurso pela letra a,<br />

recebendo-o, no entanto, pela letra<br />

d, inciso III do art. 119 da Carta<br />

Magna.<br />

Determino que ap6s contados e<br />

preparados, seja dada vista dos<br />

autos as partes, oportunamente e<br />

na forma da lei, para oferecimento<br />

de raz6es.» (fls. 156-158).<br />

Insiste a recorrente nos fundamentos<br />

juridicos dos votos vencidos e o<br />

recurso foi contra-arrazoado.<br />

E o related°.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro -Cordeiro Guerra<br />

(Relator): Trata-se de embargos de<br />

terceiro opostos pela recorrente, nos<br />

termos do art. 3? da Lei 4.121, contra<br />

os recorridos, visando a excluir de<br />

constricAo judicial sua meacAo em<br />

bens mewls penhorados nas aches<br />

executives ajuizadas no regime do<br />

C6digo de 1939; contra seu marido, e<br />

na qual foi intimada da penhora.<br />

A <strong>jurisprudencia</strong> desta Corte<br />

trancAlla no sentido da decisAo recorrida.<br />

Veja-se, por exemplo, o RE<br />

70.852 — PR, de que foi relator o<br />

saudoso Min. Luiz Gallotti:<br />

«Embargos de terceiro.<br />

Citacao.<br />

Vale como tal a intimacAo da mulher,<br />

apes a penhora.<br />

Assim, nAo podera ela, que se<br />

tornou parte do litiglo, deixar de oferecer<br />

embargos a penhora no prazo<br />

legal, para apresentar embargos de<br />

terceiro por °caster, da praca.» RTJ<br />

55/732.<br />

No mesmo sentido o RE 72.487 —<br />

RJ, de que foi relator o pranteado<br />

MM. Berms Monteiro:<br />

«Mulher casada, intimada da penhora<br />

procedida em acAo executive,<br />

deve defender a sua mend°,<br />

corn apoio no art. 3? da Lei 4.121,<br />

por via de contestactio.


462 R.T.J. — 94<br />

De embargos de terceiro, ela<br />

carecedora.» RTJ 67/476.<br />

Observou, entao, o eminente<br />

Ministro-relator:<br />

"Na acao executiva proposta<br />

contra o marido, penhorados bens<br />

im6veis, a mulher assume a postcao<br />

de parte; em litisconsOrcio passivo<br />

necessario, nao tendo legitimidade<br />

para oferecer embargos, como<br />

terceiro.»<br />

No mesmo sentido: RE 79.415 —<br />

Min. Rodrigues Alckmin; RE 88.339<br />

— SP — Min. Moreira Albes — RTJ<br />

88/656; RE 79.720 — Ministro Leith)<br />

de Abreu, DJ 16.10.78.<br />

Finaimente, ja na vigência do novo<br />

Cedigo de Processo Civil, esta<br />

Egrégia Turma assim decidiu, em<br />

acerdao de que fui relator:<br />

«Nao opostos embargos a execucao<br />

em que era parte, licito nao<br />

era ao executado invocar o artigo<br />

1.046 do CPC.<br />

A pessoa fisica ou juridica pode<br />

ser simultaneamente parte e terceiro<br />

no mesmo processo, somente<br />

se sao diferentes os titulos juridicos<br />

que justificam esse duplo papel.<br />

Inocorrente esta hipetese, inadimissiveis<br />

sao Os embargos de terceiro.»<br />

(RE 89.802 — CE) RTJ<br />

88/717<br />

Pelos motivos expostos, nao conheco<br />

do recurso — Siimula 286.<br />

E o meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 92.217 — RS — Rel.: Min. Cordeiro<br />

Guerra. Recte.: Zulmira Goncalves<br />

da Silva. (Adv.: Eliseu G.<br />

Torres). Recdos.: Noémio Modesto<br />

de Abreu e outra. (Adv.: Lodoviglio<br />

Todeschini). Brasilio Pereira Garcia<br />

e outros. (Adv.: Silvio Tavares<br />

Tatsch). Odino Caetano Luiz Bacchin<br />

e outros. (Adv..: Moacyr Cunha<br />

Roesing).<br />

Decisao: P4lao conhecido, unanime.<br />

Presidëncia do Sr. Ministro Djaci<br />

Falcao. Presentes a Sessao os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra e Decio<br />

Miranda. Ausente, justificadamente,<br />

o Sr. Ministro Moreira Alves. Licenciado,<br />

o Sr. Ministro Leitao de<br />

Abreu. Subprocurador-Geral da Reo<br />

Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 21 de marco de 1980 —<br />

Hello Francisco Marques, Secretàdo.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 92.264 — SP<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Decio Miranda.<br />

Recorrente: Renovadora de Pneus Kennedy Ltda. — Recorrida: Prefeitura<br />

Municipal de Sao Paulo.<br />

Processual Regimental.<br />

Recurso extraordinArio. Valor da causa. Excluslio regimental.<br />

ExclusAo do recurso pelo pequeno valor da causa, inferior ao da cicada<br />

regimental, salvo no caso de ofensa a Constituicão (Regimento Interno,<br />

art. 308, VIII). Para superar o 6bice regimental, a alegacAo de<br />

contrariedade A ConstitulcAo deve ser necessAria, indlspensAvel. NAo<br />

e necessAria a argilicAo de principio constltucional genéricoe abrangente,<br />

quando a lei ordinAria contêm disposicAo particular sobre a<br />

mat6ria. Se, para provar a contrariedade a Constituted°, tern-se, antes,<br />

demonstrar a ofensa A lei ordinAria, a esta que conta para a admissibilidade<br />

do recurso extraordinArio em face das restricOes<br />

regimentals.


ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Segunda<br />

Turma, na conformidade da ata<br />

de julgamentos e das notas taquigraficas,<br />

a unanimidade de votos, nth)<br />

conhecer do recurso.<br />

Brasilia, 18 de abril de 1980 —<br />

Djaci FaIca°, Presidente — Decio<br />

Miranda, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda — Sentence<br />

e acerciao rejeitaram a defesa<br />

da empresa renovadora de pneumAticos,<br />

em execucao fiscal do Imposto<br />

sobre Services, por debitos relativos<br />

aos exercicios de 1967, 1969 e 1971.<br />

Recorre a executada, sustentando<br />

que o service de recauchutagem, a<br />

que se referem os debitos contra ela<br />

levantados, quanto aos exercicios de<br />

1967 e 1969 nao encontravam previsac)<br />

na lei <strong>federal</strong>, visto que somente<br />

pelo Decreto-lei n? 834, de 1969, a<br />

Uniao incluiu a recauchutagem na<br />

lista de services, incidencia que vigoraria<br />

a partir do exercicio seguinte,<br />

isto e, 1970.<br />

Quanto ao exercicio de 1971, ja entao<br />

consagrada a incidéncia, a execucao<br />

se mostrava improcedente pela<br />

nulidade da certidao de divida, lacunosa<br />

quanto aos sews elementos<br />

essentials.<br />

Funded° o recurso nas alineas a e<br />

d da permissao constitutional, alega<br />

contrariedade ao art. 153, §§ 2? e 29,<br />

da Carta Politica, bem assim negative<br />

de viencia aos arts. 108, § 1?, e<br />

202 do C6digo TributArio Nacional, e<br />

divergencia corn os acerclaos do Supremo<br />

Tribunal nos RREE 76.276<br />

(RTJ 72/432) e 81 621 (RTJ 78/928),<br />

de que foram relatores, respectivamente,<br />

os Srs. Ministros Bilac Pinto<br />

e Lena° de Abreu. (fls. 159-169).<br />

E o relaterio.<br />

R.T.J. — 94 463<br />

VOTO<br />

Sr. Ministro Decio Miranda (Relator)<br />

— 0 valor da execucao a de<br />

Cr$ 2.678,84, em 16.11.71, conforme a<br />

peticao initial de f. 2, inferior a alcada<br />

regimental (RISTF, art. 308,<br />

VIII).<br />

A alegacao, pela recorrente, de<br />

contrariedade aos parAgrafos 2? e 29<br />

da Constituicao (legalidade generica<br />

e legalidade tributAria) nao afasta o<br />

(Mice.<br />

Sao principles abrangentes de cuja<br />

invocacao s6 se terla de cogitar apes<br />

demonstrada a violacao da lei ordinAria,<br />

por sua aplicacao a cases nao<br />

previstos.<br />

que estA em causa, verdadeiramente,<br />

e a lei complementar <strong>federal</strong><br />

elusive ao Imposto sobre Servicos.<br />

ela que resolve a controversla,<br />

admitindo ou nao, nos exercicios de<br />

que se trata, a incidencia do ISS sobre<br />

services de recauchutagem de<br />

pneumAticos.<br />

Suficiente, pots, para a solucão da<br />

causa, ern tese, a consulta a norma<br />

de hierarquia inferior, nao tern lugar<br />

a alegacäo de ofensa a Constituicao,<br />

ao fito de se ultrapassar o crivo das<br />

restricees regimentals.<br />

No caso dos autos, sendo o valor<br />

da causa inferior ao previsto no art.<br />

308, VIII, do Regimento Interne, o<br />

recurso nap podia ter seguimento.<br />

Dele nao conheco.<br />

E o meu vote.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 92.264 — SP — Rel.: MM. Decio<br />

Miranda. Recte.: Renovadora de<br />

Pneus Kennedy Ltda. (Advs.: Maria<br />

Helena de Barros Hahn e outros).<br />

Recda.: Prefeitura Municipal de Sao<br />

Paulo (Adv.: Sandra Regina Lobue).<br />

Decisao: Nao conhecido. Unanime.


464<br />

Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

Falcao. Presentes a Sessdo os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves e Decio Miranda — Licenciado.<br />

o Sr. Ministro LeitAo de Abreu —<br />

R.T.J. — 94<br />

Subprocurador-Geral da Republica,<br />

o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 18 de abril de 1980 —<br />

Milo Francisco Marques, Secretdrio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 92.273 — RJ<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Decio Miranda:<br />

Recorrente: Estado do Rio de Janeiro — Recorrida: Lola Apeni dos Santos.<br />

Processual Civil. Processo de execucAo. CftacAo edital. Cabe, a<br />

requerimento do credor, efetuar-se a do devedor que ntio foi encontrado<br />

e do qual nAo foram achados bens a arrestar. Inteligencia dos<br />

arts. 652, 653 e 654 do C6digo de Processo Civil. Voto corn ressalva do<br />

relator, que aplicaria no caso o art. 791, III, do C,Odigo de Processo<br />

Civil.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Segunda<br />

Turma, na conformidade da ata<br />

de julgamentos e das notas taquigrafleas,<br />

A unanimidade de votos, conhecer<br />

do recurso e the dar provimento.<br />

Brasilia, 18 de abril de 1980 —<br />

Djaci Falcao, Presidente — Decio<br />

Miranda, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda: Decidiu<br />

o acerdão recorrido que, nä()<br />

encontrado o devedor nem bens a arrestar,<br />

a execuflo se suspende.<br />

Sustenta o Estado do Rio de Janeiro,<br />

exeqiiente, que, nesse caso, desde<br />

logo se procede A citacdo edital, Para<br />

a obtencAo de efeitos outros que<br />

Liao o preptio andamento da execucdo,<br />

como a interrupcao da prescriflo<br />

e a prevencão de fraudes aos direitos<br />

do credor.<br />

Alega o recorrente que o acerdAo<br />

nega vitencia ao art. 654 do Cedigo<br />

de Processo Civil e diverge do que<br />

decidiu o Tribunal Federal de Recursos<br />

no Agravo de Instrumento n?<br />

38.629, relator o ilustre Ministro Carlos<br />

Mario Velloso, DJ de 13-6-77 p.<br />

3.914.<br />

Tendo a cause apenas o valor de<br />

Cr$ 286,00, subiu o recurso pelo acolhimento<br />

da argilicao de relevancia<br />

(n? 3.504, em apenso).<br />

E o relatOrio.<br />

VOTO<br />

O Sr. Ministro Decio Miranda (Relator):<br />

No meu ponto de vista pessoal,<br />

que ja tive ocasiao de externar<br />

em outro caso, a providencia que a<br />

Fazenda Pfiblica do Estado do Rio<br />

resolveu adotar nas execucees fiscais<br />

que nem encontram o devedor,<br />

nem bens a arrestar, a uma especie<br />

de mimica do cumprimento do Bever,<br />

que exonera os funcionArios da<br />

exeqiiente do trabalho de localizar o<br />

devedor e os respectivos bens.<br />

Requer-se a citacão por edital,<br />

gastam-se somas elevadas na publicacAo,<br />

e tudo flea por isso mesmo,


deixando-se de fazer o que e essencial:<br />

a procura de bens do devedor.<br />

Mas a orientacao deste Tribunal ja<br />

se flxou, em ambas as Turmas, no<br />

sentido de acolher os recursos extraordinarios<br />

da Fazenda Estadual,<br />

interpostos em casos do genero<br />

(v.g., Turma, RE 92.274; 2? Turma,<br />

RE 91.021).<br />

Pela letra a, näo conheceria eu do<br />

recurso, visto que o art. 654 do C6digo<br />

de Processo Civil, invocado pelo<br />

Estado recorrente, dispOe justamente<br />

ao contrario do que se pretende:<br />

autorizar o credor a requerer a citacflo<br />

por edital, mas apes a realizaego<br />

do arresto. E o art. 791, III, do<br />

COdigo de Processo Civil preve para<br />

o caso a suspensào da execucau.<br />

Todavia, pela tetra d, comprova-se<br />

o dissidio corn o acerdáo do Tribunal<br />

Federal de Recursos, mencionado no<br />

relathrio.<br />

Conheco, pots, do apelo.<br />

R.T.J. — 94 465<br />

E, fazendo apllcacao da <strong>jurisprudencia</strong><br />

das duas Turmas, em orien-<br />

Lacão da qual divergi inicialmente<br />

no julgamento do RE 91.021, dou provimento<br />

ao recurso.<br />

E o meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 92.273 — RJ — Rel.: Min. Decio<br />

Miranda. Recte: Estado do Rio<br />

de Janeiro (Advs.: Antolauro S. Alfradique<br />

e outros). Recda: Lola Apeni<br />

dos Santos.<br />

Decisão: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator.<br />

Unánime.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

Falcao. Presentes a sessâo os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves e Decio Miranda. Licenciado,<br />

o Sr. Ministro Lelia° de Abreu.<br />

Subprocurador-Geral da Reptiblica,<br />

o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 18 de abril de 1980 —<br />

Hello Francisco Marques, Secretario.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 92.275 —1W<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra.<br />

Recorrente : Estado do Rio de Janeiro — Recorrida: Gercy de Oliveira.<br />

Execucilo Fiscal. A cltacAo do devedor, no processo de execucAo,<br />

e condlcAo lmposta pela let (CPC, art. 652). Nilo encontrado este,<br />

nem existindo bens pars serem arrestados (CPC, art. 653), nada impede<br />

seja o executado cltado por edital, por isso que ((apnea-se subsidiarlamente<br />

A execucAo as disposiciles que ream o processo de conhecimenton<br />

(CPC, art. 596). A cltacAo por edital produz efeltos que<br />

nAo podem ser negligenclados ou obstados em virtude do interesse<br />

phblico que preservam.<br />

Apes a cltacilo por edital, nAo vindo o executado nos autos e persistindo<br />

a inexlstenc.la de bens pare a penhora, entSo, e de aplicar-se<br />

a regra do art. 791, III, do Cedigo de Processo Civil.<br />

Precedentes: RE 91.021/RJ.<br />

RE conheddo e provido.


466 R.T.J. — 94<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e das notas taquigrAficas,<br />

a unanimidade de votos, em conhecer<br />

e dar provimento ao recurso.<br />

Brasilia, 14 de marco de 1980 —<br />

Djaci Falean, Presidente — Cordeiro<br />

Guerra, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra:<br />

Trata-se de execucao fiscal em que o<br />

v. acOrdao recorrido negou a citacAo<br />

por edital do devedor nao localizado,<br />

por the nao terem sido encontrados<br />

bens para serem arrestados,<br />

suspendendo-se a execucao, f. 18.<br />

Inconformado o exeqflente interpOs<br />

recurso extraordinario pelas letras a<br />

e d do permissivo constitutional e<br />

Argaicao de Relevancia, que tomou<br />

o n? 3.566-1, a qual foi acolhida.<br />

Traz a colacAo o recorrente o actor-ciao<br />

do Egrégio Tribunal Federal de<br />

Recurso no Agravo de Instrumento<br />

38.629-PI, de que foi relator o ilustre<br />

Ministro Carlos MArio Velloso — f.<br />

30, reproduzido em xerox, fls. 29/30.<br />

O ponto de vista da Procuradoria<br />

Geral da Reptiblica em casos idanticos<br />

ja foi manifestado pelo ilustre<br />

Procurador Miguel Frauzino Pereira,<br />

pelo conhecimento e provimento<br />

— RE 91.021, RJ:<br />

oEntre os motivos de suspensao<br />

da execucao, inclui o art. 791 do<br />

CPC a hipotese de nao possuir o<br />

devedor bens penhoraveis. Por sua<br />

vez, o art. 653 determina que, nao<br />

sendo encontrado o devedor, o of icial<br />

de justica arrestar-lhe-A tantos<br />

bens quantos bastem para garantir<br />

a execucao. Efetivado o arresto,<br />

sera o devedor procurado, novamente,<br />

por Was vezes em dias distintos;<br />

nao sendo encontrado, corn-<br />

petira ao credor requerer sua citacar)<br />

por edital.<br />

Sustenta o recorrente que a<br />

citacao-edital seria necessAria para<br />

interromper a prescricAo. Sucede<br />

que este efeito somente se opera<br />

pela citacao pessoal, como dispOe<br />

expressamente o art. 174, §<br />

inciso I, do COdigo TributArio Nacional,<br />

adotando igual norma do<br />

art. 172, I, do COdigo Civil.<br />

Todavia, existem outros efeitos<br />

da citacao: tornar prevento o juizo,<br />

induzir litispendencia, fazer litigiosa<br />

a coisa e constituir em mora o<br />

devedor. No processo de execucao,<br />

ocorre a sujeicao de todos os bens<br />

do devedor, presentes e futuros,<br />

alêm dos arrolados no art. 592 do<br />

CPC. E 4uando a divida a tributAria,<br />

ha a prevencao da responsabilidade<br />

dos sucessores e de terceiros,<br />

nas hipOteses dos arts. 129 e<br />

135 do C6digo Tributario Nacional.<br />

Questa() idantica a objeto do RE<br />

n? 91.323, relator o eminente Ministro<br />

Leitao de Abreu, e que subiu<br />

em razao de argiiicao de relevancia,<br />

acolhida em sessao de 8 de<br />

marco de 1979. »(fls. 55/56).<br />

E o relatOrio.<br />

VOTO<br />

O Sr. Ministro Cordeiro Guerra<br />

(Relator): — Afastado 0 Obice da alcada,<br />

pelo acolhimento da argUicäo<br />

de relevancia, patente e o dissidio<br />

jurisprudential apontado, e, assim,<br />

conheco do recurso e ]he dou provimento,<br />

de conformidade corn o voto<br />

que proferi no RE 91.021-2, acolhido<br />

por esta Turma corn a respeitAvel<br />

discordAncia do eminente Ministro<br />

Decio Miranda.<br />

Eu disse entao: “Trata-se de execucao<br />

por divida fiscal no valor de<br />

Cr$253.913,90, distribuldo em 20 de<br />

maio de 1977, f. 9, portanto, superior<br />

a alcada regimental (Decreto 79.610,<br />

de 1.5.77) pelo que, inexistindo qual-


quer outro Obice regimental, desnecessAria<br />

era a argilicAo de relevAncia<br />

que foi rejeitada, por certo, nessa<br />

consideracAo.<br />

Assim, conhego do recurso pela<br />

letra d do permissivo constituclonal,<br />

e, dele conhecendo, the dou provimento,<br />

de conformidade com o parecer<br />

da douta Procuradoria-Geral da<br />

Reptiblica porque, ainda que a<br />

citaflo-edital !IA° bastasse para interromper<br />

a prescrigão — tema que<br />

nä° interessa antecipar — o certo 6<br />

que «existem outros efeitos da citacAo:<br />

Tornar prevento o Juizo, induzir<br />

litispenancia, fazer litigiosa a colsa<br />

e constituir em mora o devedor»,<br />

alum de presumir a responsabilidade<br />

dos sucessores e terceiros, nas hip6teses<br />

dos arts. 129 e 135 do CAdigo<br />

TributArio Nacional, que cumpre<br />

preserver em beneficio do interesse<br />

pnblico representado pela Fazenda<br />

Estadual.<br />

E o voto.<br />

R.T.J. — 94<br />

467<br />

de vista pessoal, acompanho o douto<br />

Relator, conhecendo do recurso e the<br />

dando provimento, em atencAo a jurisprudthcia<br />

firmada na Turma.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 92.275 — RJ — Rel.: Min. Cordeiro<br />

Guerra. Recte.: Estado do Rio<br />

de Janeiro (Advs.: Meronia Coelho<br />

Amorim e outros). Recdo.: Gercy de<br />

Oliveira.<br />

DecisAo: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator.<br />

UnAnime.<br />

PresidAncia do Sr. Ministro DJ ad<br />

— Presentes a Sessào os Srs.<br />

Ministro Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves e Decio Miranda. — Licenciado,<br />

o Sr. Ministro LeitAo de Abreu.<br />

— Subprocurador-Geral da RepUblica,<br />

o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

VOTO<br />

Brasilia, 14 de margo de 1980 —<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda: Sr.<br />

Hello Francisco Marques, SecretA-<br />

Presidente, ressalvando meu ponto rio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO re 92.684 — RS<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Xavier de Albuquerque.<br />

Recorrentes: Francisco Licifilo da Silva Reis e s/mulher — Recorrido:<br />

Departamento AutOnomo de Estradas de Rodagem do Estado do Rio Grande<br />

do Sul.<br />

1) DesapropriacAo. Os juros compensaterios devem calcular-se<br />

taxa de 12% ao ano, consoante jurispruclencla relterada a Mime do<br />

Supremo Tribunal Federal.<br />

Desapropriaclio. E devida a correcão monetarla quando a sentenca,<br />

conquanto nil° acolha integralmente nenhum dos laudos ()ferecldos,<br />

serve-se dos seus elementos para encontrar os valores que devem<br />

compor a indenlzacao devida.<br />

Recurso exWaordinirio conhecido e provido


468<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, de conformidade corn a ata<br />

de julgamentos e notas taquigraficas,<br />

a unanimidade de votos, conhecer<br />

do recurso e the dar provimento,<br />

nos termos do voto do Ministro Relator.<br />

Brasilia, 24 de junho de 1980. —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Xavier de Albuquerque, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Nesta ace° de desapropriacao,<br />

o juiz serviu-se dos laudos<br />

periciais mas nao acolheu, na<br />

Integra, qualquer deles, preferindo<br />

encontrar, ele proprio, os valores da<br />

terra nua e de cada uma das benfeitorias,<br />

corn os quais compOs o total<br />

da indenizacao devida. Por isso, negou<br />

a correcao monetaria sob o fundamento<br />

de que "a avaliacao foi feita<br />

corn base na atualidade" (f. 179).<br />

Quanto aos juros compensaterios,<br />

fixou-os a taxa de 0,5% ao mes, a<br />

partir da imissao na posse.<br />

R.T.J. — 94<br />

Como a sentenca foi mantida, nesses<br />

do's pontos, em segunda instancia,<br />

vem os expropriados discuti-los<br />

por mein do presente recurso extraordinario.<br />

Quanto aos juros,<br />

funda-se o apelo em dissidio corn a<br />

<strong>jurisprudencia</strong> do Supremo Tribunal<br />

Federal, que os tern admitido a taxa<br />

de 12% ao ano, ou 1% ao mes. Relativamente<br />

a correcao monetaria, diz<br />

ofendido o art. 26, 2? do Decreto-lei<br />

n? 3.365/41 e aponta dissidio corn julgados<br />

do Supremo Tribunal.<br />

O recurso foi admitido com relacao<br />

aos juros compensaterios.<br />

E o relator'<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque (Relator): Nossa <strong>jurisprudencia</strong><br />

esta firmada no sentido de<br />

que os juros compensatOrios devem<br />

calcular-se a taxa de 12% ao ano, e<br />

os recorrentes demonstraram que<br />

dela diverge o acOrdeo recorrido.<br />

Merece acolhimento, portanto, nessa<br />

parte, o recurso.<br />

Tambem o merece no tocante a<br />

correcao monetaria, que a Stunula<br />

528 permite seja apreciada.<br />

Reconheceu o acerclao recorrido<br />

que o juiz, embora nao acolhesse integralmente<br />

nenhum dos tres laudos,<br />

serviu-se de elementos constantes de<br />

dois deles para chegar ao que reputou<br />

justo valor da indenizacao (f.<br />

E ao negar a elevacao desse<br />

valor, pedida pelos expropriados, enfatizou<br />

que nao era arbitraria a fixacao<br />

judicial, porque o magistrado se<br />

havia valido de elementos constantes<br />

dos laudos trazidos aos autos (f.<br />

Reconheceu mats o aresto, que o<br />

juiz chegou, praticamente, ao mesmo<br />

valor encontrado pelo perito oficial,<br />

dele discrepando apenas, para mats,<br />

no relativo a terra nua, e para menos,<br />

em medida quase identica, no<br />

concernente as benfeltorias (f. 205).<br />

Isso nao condiz, data yenta, com a<br />

afirmacao de que o juiz atualizou os<br />

valores integrantes da indenizacao<br />

para o momento em que proferida a<br />

sentenca, momento que se distanciou<br />

em mats de dots anos do primeiro<br />

laudo oferecido.<br />

Em tats condicOes, conheco do recurso<br />

e the dou provimento, in<br />

totum, seja para determinar que os<br />

juros compensatOrios se calculem a<br />

razao de 12% ao ano, seja para mandar-que<br />

incida a correcao monetaria


indevidamente negada pelas instãncias<br />

locals.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE. 92.684 — RS — Rel.: MM. Xavier<br />

de Albuquerque. Recte.: Francisco<br />

Lichtlo da Silva Reis e sua mulher<br />

(Advs.: Kleber Cunha Vianna e<br />

outros). Recdo.: Departamento Auton8mo<br />

de Estradas de Rodagem do<br />

Estado do Rio Grande do Sul (Advs.:<br />

Gastao Cerqueira e outro).<br />

R.T.J. — 94<br />

469<br />

Decisdo: Conhecido e provido, nos<br />

termos do voto do Ministro Relator.<br />

UnAnime.<br />

Presid8ncia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a Ses<br />

sat) os Srs. Minlstros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto, Soares Munoz<br />

e Rafael Mayer. Subprocurador-<br />

Geral da RepUblica, Dr. Francisco<br />

de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 24 de , junho de 1980. —<br />

I:Aldo Carlos Dayrell, Secretario.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!