26.11.2012 Views

supremo tribunal federal revista trimestral jurisprudencia

supremo tribunal federal revista trimestral jurisprudencia

supremo tribunal federal revista trimestral jurisprudencia

SHOW MORE
SHOW LESS

Transforme seus PDFs em revista digital e aumente sua receita!

Otimize suas revistas digitais para SEO, use backlinks fortes e conteúdo multimídia para aumentar sua visibilidade e receita.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL<br />

REVISTA<br />

TRIMESTRAL<br />

DE<br />

JURISPRUDENCIA<br />

ORGANIZADA PELO<br />

SERVICO DE DIVULGACAO<br />

Volume 94* (Paginas 1/470) Outubro de 1980


REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL<br />

PODER JUDICIARIO<br />

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL<br />

Ministro ANTONIO NEDER (28-4-71), Presidents<br />

Ministro Francisco Manoel XAVIER DE ALBUQUERQUE<br />

(19-4-72), Vice-Presidente<br />

Want DJACI Alves FALCAO (22-2-67)<br />

Ministro Carlos THOMPSON FLORES (14-3-68)<br />

Ministro Joao LEITAO DE ABREU (17-6-74)<br />

Ministro Job Baptista CORDEIRO GUERRA (26-9-74)<br />

Ministro Josè Carlos MOREIRA ALVES (20-6-75)<br />

Ministro Carlos Fulgenclo da CUNHA PEIXOTO (4-7-75)<br />

Ministro Pedro SOARES MUNOZ (8-8-77)<br />

Ministro DECIO Meirelles de MIRANDA (27-6-78)<br />

Ministro Luiz RAFAEL MAYER (15-1248)<br />

COMISSAO DE REGIMENTO<br />

Ministro DJACI FALCAO<br />

Ministro SOARES MUNOZ<br />

Ministro RAFAEL MAYER<br />

Ministro LEITAO DE ABREU (suplente)<br />

COMISSAO DE JURISPRUDENCIA<br />

Ministro THOMPSON FLORES<br />

Ministro XAVIER DE ALBUQUERQUE<br />

Ministro MOREIRA ALVES<br />

COMISSAO DE DOCUMENTACAO<br />

Ministro LEITAO DE ABREU<br />

Ministro MOREIRA ALVES<br />

Ministro CUNHA PEIXOTO<br />

COMISSAO DE COORDENACAO<br />

Ministro CORDEIRO GUERRA<br />

Ministro CUNHA PEIXOTO<br />

Ministro DECIO MIRANDA<br />

PROCURADOR-GERAL DA REPUBLICA<br />

Doutor FIRMINO FERREIRA PAZ


REVISTA<br />

TRIMESTRAL<br />

DE<br />

JURISPRUDENCIA


SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL<br />

ACAO PENAL N? 253 — DF<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator para o acOrdão: 0 Sr. Ministro Cunha Peixoto.<br />

Autor: Mlnisterio Pnblico Federal — Rens: Jose JOlio Leal Fagundes,<br />

Jose Fernandes de Andrade, Juscelino Jose Ribeiro, Heladio Toledo Monteiro.<br />

Acäo Penal — Crime de Prevaricaeao —<br />

Rejeita-se a denuncla quando os fatos nela descritos, embora possam<br />

caracterizar falta discipliner, nflo demonstram o elemento sub-<br />

Jetivo tipificador do crime definido no art. 319 do Cedigo Penal.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em sessão<br />

plenária, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigraflcas<br />

por maioria de votos, em rejeitar<br />

a dentincia, vencido in totum, o<br />

Ministro Relator, e, em parte, o Ministro<br />

Soares Mutloz.<br />

Brasilia, 24 de maio de 1978. —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Cunha Peixoto, Relator p/o AcOrdão.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Mastro Cordeiro Guerra: —<br />

0 Exm? Sr. Dr. Procurador-Geral da<br />

Republica apresentou a este Egreglo<br />

Supremo Tribunal Federal a seguirl -te denfincia:<br />

Ministkrio Winne° Federal, por<br />

seu representante legal abaixo assinado,<br />

no use de suas atribuicOes legals,<br />

vem oferecer a V. Ex? denimcia<br />

contra os Drs. Josè JUllo Leal<br />

Fagundes, Jose Fernandes de Andrade,<br />

Juscelino Ribeiro e Helath°<br />

Toledo Monteiro, Desembargadores<br />

do Tribunal de Justiea do Distrito<br />

Federal e Territ6rios, todos domiciliados<br />

e residentes nesta Capital, pelos<br />

fatos delituosos que passa a narrar:<br />

Os Antecedentes<br />

2. Ha muito tempo, como a pilblico<br />

e notOrio, e a Imprensa tem se encarregado<br />

de divulgar, lavra grave<br />

crise no Tribunal de Justica local,<br />

que determinou, inclusive, a instauraeao<br />

de inquerito administrat1vo<br />

contra varios de seus integrantes, do<br />

qual resultou o oferecimento de denüncia<br />

contra o Desembargador Jo-


2<br />

R.T.J. — 94<br />

se Colombo de Souza, processo que<br />

la se acha em pauta para julgamento,<br />

tendo sido o acusado demitido,<br />

corn fundamento no Ato Instituclonal<br />

n? 5. Persistiu, porem, e se agravou a<br />

crise, provocando verdadeira divisdo<br />

no Tribunal, colocando, de urn lado,<br />

como verdadeira bancada, os quatro<br />

Desembargadores aqui denunciados.<br />

Vencidos na eleicão para a Presidëncia<br />

e Vice-Presidencia do Tribunal<br />

os ores primeiros deixaram de cornparecer<br />

a sessâo solene de posse dos<br />

eleitos, a 21 de abril de 1976, apesar<br />

de convidadas para a mesma, altas<br />

autoridades civis e militares.<br />

Seguiu-se a demissäo do Sr. Desembargador<br />

Candid° Colombo Cerqueira,<br />

e, ja para o provimento da<br />

vaga por este deixada, a ser provida<br />

pelo criterio de antigiiidade, novamente<br />

se iria patentear a posicAo<br />

facciosa do grupo formado pelos<br />

quatro denunciados, movidos, sem<br />

dUvida, pelo sentimento pessoal de<br />

desafeieäo ao Juiz de Direito Dr.<br />

Walclir Meuren, o mats antigo, que<br />

teve," precisamente, quatro votos<br />

contra sua indicacAo, feita por cinco<br />

a quatro, WA() havendo drivida quanto<br />

aos seus autores, em face de carta<br />

que aquele Juiz dirigiu o Desembargador<br />

Helládio Toledo Monteiro<br />

(Pasta VIII, doe. 54).<br />

Surgiu, depots, a notitia<br />

criminis trazida A este colendo Supremo<br />

Tribunal Federal pelo Dr.<br />

'raja Pimentel, Juiz de Direito da<br />

Vara das ExecucOes Criminals,<br />

acompanhada de farts documentacdo,<br />

atribuindo aos quatro acusados<br />

a prAtica, em co-autoria, do crime<br />

de prevaricacão (OM. Pen., art.<br />

319), atraves de ininneras awes e<br />

omissOes, contra expressas disposicOes<br />

legais, para satisfazer interesses<br />

ou sentimentos pessoais.<br />

Emerge claro, como se vera da<br />

descricâo dos fatos a seguir felta, o<br />

propOsito de beneficiar e proteger o<br />

serventuario Luiz David de Freitas,<br />

genro do segundo denunciado, desembargador<br />

Jose Fernandes de Andrade,<br />

bem como o de prejudicar<br />

moralmente o representante, Dr.<br />

IrajA Pimentel, simplesmente pmque<br />

este, no cumprimento de seu Bever,<br />

assim como outros magistrados<br />

de primeira instancia, contribuiram<br />

para a punicão disciplinar e criminal<br />

do referido Luiz David de Freitas.<br />

Utilizaram-se, inclusive, para tal<br />

fim, da atuacão do advogado Dr. Pedro<br />

Calmon Mendes. Procuraram,<br />

por todas as formas, prejudicar<br />

aquele Juiz, em face de decisOes criminals<br />

francamente moralizadoras<br />

que vinha proferindo, no sentido de<br />

tirar-lhes os eleitos.<br />

Assim, quase sempre em coautoria,<br />

como se vera a seguir, praticaram<br />

continuados atos que configuram,<br />

indiscutivelmente, o tipo penal<br />

definido no art. 319 do COdigo Penal.<br />

Os Fatos<br />

I — Desembargador Leal Fagundes<br />

Pode-se dizer que tiveram inicio<br />

os fatos com a comunicaeão feita pelos<br />

Juizes de Direito, Dr? Maria Carmen<br />

Henriques Ribeiro de Oliveira e<br />

Dr. Eduardo Andrade Ribeiro de Oliveira<br />

ao Juiz de Direito da 1? Vara<br />

Civel, relativamente a irregularidades<br />

que haviam constatado, por parte<br />

do serventuario Luiz David de<br />

Freitas, escriväo dessa Vara, e da<br />

qual se originou inquerito administrative<br />

presidido pelo primeiro denunciado,<br />

Desembargador Jose MI6<br />

Leal Fagundes.<br />

9. Conclulu este terem, efet ivamente,<br />

o Escriväo Luiz David e os<br />

Escreventes Waldemiro Mendes da<br />

Silva e Raimondo Bernardo de Lima<br />

exigido de diversos advogados e partes<br />

custas indevidas, e, per isso, a


todos puniu, corn penas de suspensäo<br />

e multa — noventa dias o primeiro;<br />

trinta dias os (Minos — mas, por<br />

conventhncia do servico, converteu<br />

as suspensOes em multa, dando-os<br />

como incursos nas sancees dos artigos<br />

16 e 18, ulinea a, do Decreto-lei<br />

n? 115, de 1997.<br />

Recorreram os serventuarios<br />

Luiz David e Waldemiro, e o Conselho<br />

de Justica, por tmanlmidade, deu<br />

provimento, ern parte ao recurs°,<br />

para reduzir a pena a multa de Cr;<br />

5,00 como incursos, tão somente, nas<br />

sancOes do art. 16 do Decreto-lei n?<br />

115/67, e, assim, abrangidos pela ResolucAo<br />

n? 32, de 20 de abril de 1972,<br />

que, alias, a eles nAo se aplicava.<br />

Acontece que o Exm? Sr. Ministro<br />

da Justica, Professor Alfredo Buzaid,<br />

tendo conhecimento dos fates<br />

atraves de representacAo que the havia<br />

sido feita por um advogado, determinou<br />

fosse instaurada acAo penal<br />

contra os Wes referidos serventuarios,<br />

por crime de concussão,<br />

pots sobre o Cedigo Penal nä° poderia<br />

prevalecer o Regiment° de Custas<br />

do Distrito Federal, que os considerava<br />

simples falta disciplinar, punida<br />

corn suspensão ate 90 dias, e,<br />

na reincidAncia, corn detencAo de 6<br />

meses a 2 anos.<br />

12. Fot, entao, oferecida a dentincia,<br />

vindo os reus Luiz David e Raimundo<br />

Bernardo da Silva a ser condenados<br />

as penas, respectivamente,<br />

de 2 anos, 6 meses e 10 dies de reclusào<br />

e 2 anos e 2 meses de recluslio,<br />

alem da multa, ambos como incursos<br />

nas sancees do artigo 316 do COdigo<br />

Penal. A sentenca, da lavra do<br />

Juiz de Direito Dr. Pingret de Carvalho,<br />

absolveu o terceiro co-reu,<br />

Waldemiro Mendes da Silva. Recorreram<br />

os do's reus condenados e o<br />

Ministerio Pablico, este em relacAo<br />

ao co-reu absolvido.<br />

R.T.J. — 94 3<br />

Apesar da apelacAo, foi requerido<br />

habeas corpus em favor de Luiz<br />

David, sob o fundament° de que a<br />

condenacão constituia verdadeiro bis<br />

in them, pots ja fora punido corn a<br />

pena de suspensào, somente sendo<br />

aplicavel sancdo penal na reincideneta,<br />

e, assim mesmo, a pena de detencão<br />

de 6 meses a 2 anos, p<strong>revista</strong><br />

no art. 18, althea b, do Decreto-lei n?<br />

115/67.<br />

Foi relator o Desembargador<br />

Helladio Monteiro, que votou pela<br />

concessdo do habeas corpus, para<br />

absolver Lutz David, send° acompanhado<br />

pelo Desembargador Leal Fagundes,<br />

votando vencido o Desembargador<br />

Jorge Duarte.<br />

15. Além da manifesta<br />

dade do acerdito, que não pode ser<br />

considerado mere erro in judicando,<br />

mas manifesto favoritismo em beneficto<br />

do Paclente, Henri) do denunciado<br />

desembargador Jose Fernandes<br />

Andrade, tanto que foi unanimemente<br />

cassado pelo colendo Supremo<br />

Tribunal, em sessao plenaria (RE n?<br />

84.683). Era manifesto o impedimento<br />

do denunciado desembargador<br />

Leal Fagundes, pots fora ele quern,<br />

como Corregedor, presidira o inquerito<br />

e punira o Paclente, como ele<br />

preprio proclamou, no !nick) de seu<br />

voto, ao dizer, verb's:<br />

«Bem conheco os pradromos deste<br />

caso, pots, quando Corregedor,<br />

presidi a inquérito e apenel o Paciente,<br />

tudo na esfera administrativa,<br />

sobre os mesmos fates, ora objeto<br />

da sentenca criminal condenathria,<br />

impugnada neste habeas<br />

corpus.»<br />

16. E, se nao bastasse o impedimenta<br />

dat decorrente, das palavras<br />

seguintes se ye, nitidamente, sua<br />

suspeicao:<br />

«Minha atuacAo administrativa<br />

no caso, foi alvo de escandaloso noticiario,<br />

corn que se pretendeu ins


4<br />

tigar o Govern° a utilizar-se da arma<br />

exceptional de que dispOe, para<br />

eliminar da vida pnblica quatro<br />

membros desta Corte.<br />

R.T.J. — 94<br />

Vitima das mais torpes caltmias,<br />

fui compelido a defender-me,<br />

inclusive quanto A minha aludida<br />

atuacAo administrativa, acusada<br />

de omissa, porque nAo mandei processar,<br />

criminalmente, o ora<br />

paciente.D (os grifos não sdo do<br />

original).<br />

Passou, a seguir, a sustentar a<br />

tese de que a conduta do Paciente<br />

somente poderia ser apreciada a luz<br />

do Decreto-lei n? 115/67, segundo o<br />

qual a exigencia de custas indevidas,<br />

somente na reincidencia seria<br />

passivel de sancees criminais, que<br />

configurariam o crime de excesso de<br />

exacAo, previsto na alinea b do art.<br />

18 do citado diploma legal.<br />

0 manifesto impedimento para<br />

participar do julgamento, a paixão<br />

que demonstrou em seu voto, multi)<br />

mais uma defesa de sua conduta, do<br />

que da que tivera o Paciente, e que o<br />

levou, como se viu, a falar no crime<br />

de «Excesso de exacäo», quando,<br />

neste, o dinheiro é recolhido aos cofres<br />

pnblicos e nAo ao bolso do agente,<br />

como no caso, configuram, induvidosamente,<br />

o crime definido no<br />

art. 319 do COdigo Penal, pois evidente<br />

o prop6sito de favorecer o Paciente,<br />

genro de seu colega de Turma,<br />

sendo seu voto decisivo, pots<br />

que, impedido o sogro, o terceiro desembargador,<br />

Jorge Duarte, votou<br />

pela denegacAo da ordem.<br />

Mas, não parou ai a conduta<br />

partial e facciosa do denunciado desembargador<br />

Leal Fagundes.<br />

Julgara o Dr. IrajA Pimentel<br />

acão de indenizacAo movida por Jose<br />

Garcia Ribeiro contra seu irmäo Edgard<br />

Garcia Ribeiro. Concluira pela<br />

procedencia da acao e, por entender<br />

que o Autor usara documento f also,<br />

determinou a remessa de pecas do<br />

processo ao Ministerio Pithlico, que<br />

ofereceu dentmcia, devidamente recebida.<br />

Foi, entdo, impetrado habeas<br />

corpus em favor do denunciado Jose<br />

Garcia Ribeiro, pelo advogado Pedro<br />

Calmon Mendes, corn duplo fundamento:<br />

trancamento da acdo penal<br />

por falta de justa causa, ou suspensào<br />

do curso da acAo penal ate o julgamento<br />

da apelacao que o Paciente<br />

interpusera, da sentenca que julgara<br />

improcedente a acAo de indenizacAo.<br />

Dlstribuido o habeas corpus A<br />

2? Turma, presidida pelo denunciado<br />

desembargador Leal Fagundes,<br />

dele foi Relator o acusado desembargador<br />

Juscelino Ribeiro, tomando<br />

parte o Presidente, corn voto, e o desembargador<br />

Helladio Monteiro.<br />

Determinou ou permitiu o Presidente,<br />

inusitadamente e de forma<br />

inedita, a gravacAo da sustentacão<br />

oral do pedido.<br />

Grande propaganda se fizera<br />

do julgamento, e, por isso, bastante<br />

concorrida foi a sessão.<br />

0 teor da sustentacao explicaria<br />

a razdo. 0 advogado Impetrante<br />

leu trabalho escrito, ofendendo, por<br />

todas as formas, a honra do Juiz que<br />

julgara a nä° de indenizacão, o Dr.<br />

Irajá Pimentel. Nenhum argument°<br />

Riddle°. SO e s6 acusacoes a esse<br />

Juiz, entre as quals a de parcialidade,<br />

por suas ligacties de amizade e<br />

assuntos de pecuaria corn uma das<br />

partes, a de autor de crime de agiotagem,<br />

de falsificacão de assinatura<br />

de sua esposa, e, ainda, a de qiie se<br />

apoderara dos autos e os retivera,<br />

para julgamento, por quase dois<br />

anos (Pasta I, doc. 17).<br />

Assim comecou o Relator, o desembargador<br />

Juscelino Ribeiro, seu<br />

voto, verbis:<br />

«Senhor Presidente, inicialmente<br />

devo acentuar que indefiro a juntada<br />

desta documentacao ora apresentada<br />

pelo advogado do Paciente<br />

ao processo de habeas corpus, des-


de que a mesma nAo me payee<br />

perlinente, nem necessAria ao julgamento<br />

da espécie.<br />

Todavia, requeiro a V. Ex? que<br />

determine sua juntada a traducão<br />

da fita de gravacAo desta asqPntada<br />

de julgamento, para que seja a<br />

mesma encaminhada ao Tribunal<br />

Pleno, a fim de que aquela Corte<br />

possa apreclar as gravissimas den(mcias<br />

feitas da Tribune contra o<br />

Juiz prolator da decisão a que se<br />

referiu o ilustre Advogado. Seth<br />

entAo, objeto de urn processo<br />

parte. Isto em defesa do pthprio<br />

Tribunal e do Juiz atingido. » (Os<br />

grifos nao sAo do original. Nre-se<br />

que foi apagada antes das palavras<br />

«do Juiz atingido» a expressão «do<br />

interessado», sem qualquer ressalva;<br />

fls. 150-151 do Apenso 6).<br />

0 Sr. Presidente, desembargador<br />

Leal Fagundes, nao sO admitiu<br />

que, sem qualquer pertinencia, o advogado<br />

ofendesse a honra do Juiz,<br />

Dr. IrajA Pimentel, como ainda concedeu<br />

prorrogacão para que o mesmo<br />

concluicse a sustentacAo oral.<br />

Tudo por evidente desafeicAo ao Juiz<br />

ofendido, incluido, certamente, pelo<br />

mesmo Desembargador, no «bando<br />

das trevas», quando assim se manifesta,<br />

no inicio de seu voto, no<br />

habeas corpus impetrado em favor<br />

de Luiz David, verbis:<br />

«Entretanto, o noticiArio emcovalhador,<br />

a servico do bando das trevas,<br />

capitaneado pela solercia<br />

anArquica, que fomenta Odios, Indiscipline<br />

e subversão, e deles se<br />

serve, emudeceu quanto a noticia<br />

de que o OrgAo mAximo de acusa-<br />

On do Pais nada encontrou para<br />

acusar, reconhecendo, assim, as<br />

falsidades caluniosas e a inocencia<br />

dos advogados» (Apenso 1, f. 41).<br />

ou, quando deferiu o pedido de<br />

habeas corpus, em favor do advogado<br />

Pedro Calmon Mendes, em cujo<br />

voto nao pode esconder o grau de<br />

sua desafeicão aos Juizes que se<br />

Jr<br />

R.T.J. — 94 5<br />

opOem aos atos que comprometem a<br />

dignidade do Tribunal de Justice, e,<br />

em especial, corn o Dr. IrajA Pimentel,<br />

declarando:<br />

«A dita solidariedade nAo teria<br />

sentido, se a classe fosse a da Magistrature,<br />

que nao tem acentuado<br />

espirito de classe e esta bem afeita<br />

ao auto-julgamento.<br />

Todavia, na Justica local, foi<br />

constituida uma subclasse, com a<br />

criacão de asssociacAo dos magistrados<br />

de primeira instAncia, da<br />

qual 6 presidente o MM. Dr. Juiz<br />

que representou contra o paciente.<br />

Sem dOvida que, como reconhece<br />

a irnpetracão, existem, nessa subclasse,<br />

vocacOes notaveis para a<br />

funcão de julgar, assim como existem<br />

outros, cWos temperamentos,<br />

atuacOes antecedentes e vinculagoes<br />

grupais, em verdade, nem a<br />

mim transmitem a seguranca de<br />

que nao tem espirito subclassista;<br />

e nao vai nisso qualquer desdouro,<br />

eis que a regra e a imperfectibilidade<br />

dos homens e 6 por isso que<br />

echo que esta ou aquela Justice<br />

humane seja melhor.» (Apenso n?<br />

11, f. 70).<br />

29. SO essa inimizade pode explicar,<br />

seu comportamento na presidencia<br />

da SessAo, permitindo que o<br />

advogado se limitasse a caluniar, difamar<br />

e injuriar o magistrado proletor<br />

da sentenca, fazendo letra morta<br />

do que dispee o Estatuto da Ordem<br />

dos Advogados, verbis:<br />

«Art. 15 — E defeso as partes e<br />

seus advogados empregar expressees<br />

injuriosas nos escritos apresentados<br />

no processo, cabendo ao<br />

juiz, de oficio ou a requerimento do<br />

ofendido, mender riscA-las<br />

ParAgrafo unico. Quando as expressbes<br />

injuriosas forem proferldas<br />

em defesa oral, o juIz adverbrA<br />

o advogado que nAo as use, sob<br />

pena de the ser cassada a<br />

palavra.»


6<br />

30. 0 denunciado Des Leal Fagundes<br />

ndo s6 advertiu o advogado, como<br />

ainda the prorrogou o tempo para<br />

a sustentacdo oral, permitindo<br />

que prosseguisse nas ofensas a lionra<br />

do magistrado prolator da sentenca.<br />

Tdo graves, que o Relator, o denunciado<br />

Desembargador Juscelino<br />

Ribeiro, entendeu que seu conhecimento<br />

deveria ser levado ao Tribunal<br />

Pleno, e tao impertinentes, que<br />

se recusou a junta-las aos autos.<br />

Mas, apesar disso, nenhuma providencia<br />

requereu ao Presidente, para<br />

que o advogado deixasse de ofender<br />

Juiz, demonstrando tambem sua<br />

parcialidade e sua desafeledo pelo<br />

magistrado agredido.<br />

31. Alias, seu voto, por sua total injuridicidade,<br />

bem as demonstram<br />

pois, numa interpretacdo, a contrario,<br />

sem qualquer lOglca, do que dispoe<br />

o art. 64 do C6d. de Proc. Penal<br />

— que faculta ao juiz a suspensdo da<br />

acão civet ate o julgamento da criminal<br />

— determinou a suspensdo do<br />

processo-crime ate o julgamento da<br />

apelacdo civet, esquecido de que tal<br />

se pode ocorrer, obrigatoriamente,<br />

quando se trata de questão prejudicial<br />

versando sobre o estado da pessoa<br />

(C. Proc. Penal, art. 92), e, facultativamente,<br />

quando de outra natureza,<br />

devendo o juiz, neste caso,<br />

marcar o prazo da suspensdo, findo<br />

qual fare. prosseguir o processo,<br />

retomando sua competencia para resolver,<br />

de fato e de direito, toda a<br />

materia da acusacdo ou da defesa<br />

(C. P. Pen., art. 93, § 1?), mas, assim<br />

mesmo, apes a inquiricdo das<br />

testemunhas e realizacdo da outra<br />

prove de natureza urgente (art. 93).<br />

32. Aqui, numa demonstracão do<br />

sentimento pessoal que o dominava,<br />

Relator suspendeu, de logo, sem 11mitacAo<br />

de tempo, a tramitacAo do<br />

processo-crime, suprimindo inclusive<br />

a primeira instancia, que sobre<br />

ela nao fol chamada a se manifestar,<br />

de cuja recusa nAo cabe qualquer<br />

recurso (C. P. Pen. art. 93, § 2?).<br />

R.T.J. — 94<br />

Não permitiu sequer o interrogaterio<br />

do reu, nem a ouvida das testemunhas.<br />

Corn o Relator, e sob as mesmas<br />

inspiracOes e motivacOes — satisfacAo<br />

e sentimentos pessoais —<br />

votaram os acusados Desembargadores<br />

liellAdio Monteiro e Leal Fagundes.<br />

E, tornando ainda mais patente<br />

tal motivacão, ern relacão ao Des.<br />

Leal Fagundes, constata-se que, jA<br />

sendo, a epoca, o Relator da ApelacAo<br />

Civet n? 3.805, e tratando-se de<br />

magistrado que mantem em dla o<br />

servico, ate hole, decorridos 2 anos e<br />

8 meses, ndo a levou a julgamento,<br />

impedindo deliberadamente o prosseguimento<br />

da acdo penal que, corn<br />

seu voto, teve sua tramitaedo suspensa.<br />

As razOes que, agora. apresentou,<br />

sdo de manifesta improcedencia,<br />

para justificar a ilegalidade<br />

e o facciosIsmo da sua conduta.<br />

35. Uma demonstracAo mais<br />

quivoca, ainda, desse sentimento<br />

pessoal que lnformou seu voto, bem<br />

como o do denunciado Des. Juscelino<br />

Ribeiro, caracterizador do crime definido<br />

no art. 319 do Cod. Penal, esta<br />

no fato de, posteriormente, pelas<br />

ofensas que, na sustentacAo, irrogara<br />

ao Juiz Iraja Pimentel, foi impetrado<br />

habeas corpus em favor do<br />

mesmo, sob a alegacdo de incompetencia<br />

da Justica comum, pots, nas<br />

suas palavras, se crime houvesse,<br />

seria contra a seguranca naclonal.<br />

E, por incrivel que pareca, votaram<br />

pela concessdo da ordem os desembargadores<br />

Leal Fagundes e Renadio<br />

Monteiro, corn os seguintes fundamentos,<br />

verbis:<br />

«Afrontar e contestar a hierarqula<br />

judiciaria, coin ou sem o fomento<br />

de superiores pervertidos,<br />

sem dfivida, pressdo antagdnica e<br />

subversiva, que afeta a seguranca<br />

intern do Pais.<br />

«Tenho a firme conviccdo de que<br />

os ataques caluniosos as autorida-


•<br />

des constituldas, como e o caso dos<br />

membros do Poder JudiciArio,<br />

qualquer clue seta o grau hierArquico<br />

desses membros do Poder<br />

desarmado, constituem processos<br />

de aluir as instituicOes ptiblicas, e,<br />

conseqtientemente, de afetar a seguranca<br />

interna do Estado» (Do<br />

voto do Des. Leal Fagundes, Apenso<br />

11, f. 72).<br />

oSenhor Presidente, dias Arts,<br />

Julgando urn processo em que demos<br />

pela competencia da Justica<br />

Militar, anulando sentenca absolutOria<br />

de 1? InstAncia da Justica local,<br />

sem que houvesse tamanho entusiasmo,<br />

por parte do M. Ptiblico<br />

em tomb da tese que acolhemos.<br />

Hole verificamos que a nossa<br />

Turma assume quase aspecto de<br />

Jilri Popular, em defesa da tese<br />

agora tao polémica.<br />

NAo veto razOes para tais entustasmos.<br />

A questa° 6, data yenta,<br />

simplesmente do direito e da let,<br />

jamais de paix6es. Vamos a ela.<br />

Sabe-se que, em Sessão desta<br />

Turma, o ora paciente, Dr. Pedro<br />

Calmon Mendes, defendendo<br />

habeas corpus de cliente seu, argiliu<br />

contra o Juiz Iraia Pimentel<br />

que, acentue-se, nenhuma relacAo<br />

dlreta tinha com a impetracAo, a<br />

autoria de fatos criminosos que o<br />

referido magistrado afirma e nos<br />

desejamos ardentemente que sejam,<br />

intetramente falsos. NAo se<br />

referlu ao cidadAo IrajA, mas sim,<br />

ao Juiz.<br />

NAo se trata, Sr. Presidente, na<br />

especle, de ofensa irrogada em<br />

Juizo, na discussAo da causa, pela<br />

parte ou por seu procurador, a que<br />

se refere o art. 142, item I, do C.<br />

Penal.<br />

A meu ver, o paciente<br />

aproveitou-se de uma oportunidade<br />

que the pareceu favorAvel para<br />

descarregar, contra o magistrado,<br />

as suas baterias, divulgando, da<br />

R.T.J. — 94 7<br />

Tribuna de Advogado, todas aquelas<br />

noticias a respeito de fatos que<br />

se afirmam inveridicos, com o ob-<br />

Jethro indiscutivel de indispor ou<br />

tentar indispor o povo contra aguela<br />

autoridade.<br />

Seu procedimento, atinge, de<br />

certa forma, toda a instituicAo, todo<br />

o organismo judiciArio de<br />

Brasilia, e repercutiu na imprensa<br />

falada, escrita e televisionada, produzindo,<br />

indiscutivelmente, aquelas<br />

pressOes antagonicas a que alude<br />

o § 1? do art. 3? da Lei de Seguranca<br />

Nacional.» (Do voto do<br />

Des. Juscelino Ribeiro: Apenso n?<br />

11, f. 78).<br />

Se a sustentacAo do advogado,<br />

tais as ofensas que dirigiu ao Juiz<br />

!raja. Pimentel, deveriam ser constderadas<br />

como atingindo o próprio<br />

Poder JudiciArto, capazes de (cabin*<br />

as instituicdes pUblicas» e afetar a<br />

seguranca Interna do Estado», nAo<br />

poderiam os dots Desembargadores<br />

— Leal Fagundes e Juscelino Ribeiro,<br />

respectivamente, Presidente e<br />

Relator — permitir que o advogado<br />

as proferlsse, sem a menor advertëncia,<br />

sob pena de se tornarem coniventes<br />

corn o crime contra a seguranca<br />

nacional.<br />

Mas, ao conceder o habeas<br />

corpus para remeter o processo A<br />

Justica Militar, mats uma vez davam<br />

provas esses Desembargadores<br />

e, tambem, o Desembargador José<br />

Fernandes, de estarem satisfazendo<br />

sentimentos pessoals de desafeicAo<br />

e, mesmo, de inimizade, contra o<br />

Juiz IrajA Pimentel, e de protecAo e<br />

favoritismo em relacão ao advogado<br />

Pedro Calmon Mendes, que o atacara<br />

(mats adiante se very a intimidade<br />

de suas relacdes), pots era evidente<br />

o propOsito de dificultar o andamento<br />

da acão penal contra este<br />

Ultimo, promovida mediante representacAo<br />

daquele magistrado, tAo<br />

despropositada era a invocacAo da<br />

se,guranca nacional. Tanto assim,<br />

que a Justica Militar nAo aceitou sua


8 R.T.J. — 94<br />

competencia, suscitou conflito de jurisdigAo<br />

e este colendo Supremo Tribunal<br />

Federal o julgou procedente<br />

(C. J. n? 5.996 — Apenso 2).<br />

Mais uma demonstracão ainda<br />

daria o denunciado Desembargador<br />

Leal Fagundes do sentimento pessoal<br />

que o dominava ao proferir todos<br />

esses votos. Foi quanto ao julgamento<br />

da apelacão do co-reu de Luiz<br />

David, o Escrevente Raimundo Bernardo<br />

de Lima.<br />

0 Desembargador Leal Fagundes,<br />

que suspendera a acáo penal<br />

contra Jose Garcia Ribeiro, para<br />

aguardar o julgamento da apelacAo<br />

na acdo civel da qual aquela se originara,<br />

aqui se °Os, acompanhando<br />

o Relator Des. HelAdio Monteiro, a<br />

que se aguardasse o julgamento do<br />

Recurso Extraordinario interposto<br />

da concessáo do habeas corpus em<br />

favor de Luiz David, quando, entao,<br />

nenhum prejuizo dai decorreria, por<br />

se tratar de processo jA julgado. Se o<br />

colendo Supremo Tribunal Federal<br />

confirmasse a decisAo recorrida,<br />

dando prevaltncia sobre o Cedigo<br />

Penal ao Regimento de Custas do<br />

Distrito Federal, tal entendimento se<br />

estenderia, logicamente, A situacao<br />

do co-reu Raimundo Bernardo de Lima,<br />

como materia prejudicial, pois,<br />

sendo primario e, como tal, so<br />

passivel de sancAo penal na reincidencia,<br />

desnecessaria seria qualquer<br />

outra indagacAo. Tal como no caso<br />

de Luiz David, näo haveria justa<br />

causa para o processo.<br />

40. Mas, havia o propesito de julgar,<br />

a qualquer preco, a apelacAo do<br />

co-rOu Raimundo, pois prepararia o<br />

terreno para o julgamento da de<br />

Luiz David, tal a certeza do provimento<br />

do recurso extraordinArio em<br />

relacão a este. Tanto, assim, que<br />

nä° ]he estenderam o habeas corpus,<br />

quando o fundamento era comum e<br />

nä° tinha carAter pessoal. Fizeram<br />

mais: homologaram a desistôncia do<br />

pedido de extensAo, para poderem<br />

julgar a apelacão. Desprezaram o<br />

parecer do Dr. Procurador-Geral da<br />

Justica e, no afa de absolver o coreu,<br />

levaram a apelacAo a julgamentor<br />

com a presenga do Subprocurador-Geral<br />

que jA se declarara impedido,<br />

sem intimar o primeiro, que vinha<br />

oficlando no processo, realizando<br />

urn julgamento absolutamente nulo,<br />

como veto a proclamar o Colendo<br />

Supremo Tribunal Federal, ao apreciar<br />

o competente recurso extraordinario.<br />

0 mais estranho e que o Des.<br />

Leal Fagundes, que presidira o inquerito<br />

e punira os rêus, reconhecendo<br />

expressamente terem eles exigido<br />

o pagamento de custas indevidas, o<br />

que nAo constituiria crime de concussAo,<br />

no seu entender, por estar<br />

previsto no Regimento de Custas, como<br />

simples ilicito administrativo,<br />

quando praticado pela primeira vez,<br />

tanto que !hes aplicou a pena de suspensAo<br />

por noventa dias, ao votar na<br />

apelacAo do co-reu Raimundo,<br />

manifestou-se pela insuficiencia de<br />

prova, nester termos, verbis:<br />

«A par dos fundamentos juridicos<br />

do meu precitado voto, aduzo<br />

que, apreciando, agora, a prova<br />

produzida, julgo-a insuficiente para<br />

a condenacão, quer pelo crime<br />

capitulado na deruincia, quer para<br />

qualquer outro que coubesse a desclassificacAo,<br />

porque, repito, as irregularidades<br />

apontadas nAo extravasam<br />

do ilicito puramente administrativo.»<br />

(Apenso 1, f. 123).<br />

Sem falar que, tal como no<br />

habeas corpus de Luiz David, estava<br />

impedido de julgar, eis que tambêm<br />

punira o co-reu, entdo apelante (Cod.<br />

Proc. Penal, art. 252, II), sendo os<br />

mesmos os fatos e identicas as teses<br />

de Direito.<br />

II — Desembargador Jose<br />

Fernandes<br />

43. 0 denunciado Des. Josè Fernandes<br />

de Andrade 6 causador direto<br />

e indireto de todos os acontecimen-


tos que deo origem a esta ace° penal.<br />

Tudo decorre, realmente, da<br />

protege° que, explicAvel, mas injustificadamente,<br />

dispensa ao seu genro,<br />

o Escriveo Luiz David de Freitas,<br />

tornando-se inimigo de quantos<br />

tenham constatado e apurado faltas<br />

e crimes por este praticados, e levando<br />

seus colegas, os demais Desembargadores<br />

denunciados a cornprometerem<br />

sua judicatura, no ale<br />

de, para !leo desagradA-lo, darem<br />

cobertura ou atenuarem a responsabilidade<br />

do citado EscrivAo, a ponto<br />

de incidirem nas sanceles do art. 319<br />

do C6digo Penal.<br />

Torna-se inimigo rancoroso de<br />

quantos se oponham ou facam restrigees<br />

A conduta funcional de seu<br />

apontado genro.<br />

46. Assim ocorreu corn os ilustres<br />

Juizes de Direito, Dr. Eduardo Andrade<br />

Ribeiro de Oliveira e Dra. Maria<br />

Carmen Henriques Ribeiro de<br />

Oliveira, que desencadearam o inquérito<br />

admInistrativo contra o Escrivao<br />

Luiz David, comunicando as<br />

irregularidades apuradas ao Juiz de<br />

Direito da 1! Vara Criminal. Foi o<br />

quanto bastou para que se tornasse<br />

inimigo de ambos, recorrendo<br />

ameaca e a intimaceo. Fol o que<br />

aconteceu, tambem, corn o Dr. IrajA<br />

Pimentel que, no cumprimento do<br />

dever, nao se prestou a chicanas dilatOrias,<br />

no andamento do processocrime<br />

movido contra Luiz David,<br />

acelerando-lhe a marcha e presidindo<br />

a audiencia de inquiricão das testemunhas.<br />

Foi, ainda, o que se deu<br />

corn o hoje Desembargador Waldir<br />

Meuren, ao obter de uma autoridade<br />

policial, cepla de urn depoimento de<br />

pessoa que fazia referenclas ofensivas<br />

A reputaceo desse magistrado,<br />

passando a dar-lhe insidiosa divulgacAo,<br />

o que motivou a carta que o<br />

Juiz atingido the diriglu e que consta<br />

dos autos.<br />

47. Dal, a explicacAo para a decise°<br />

do Conselho de Justica, provendo<br />

R.T.J. — 94<br />

ao recurso do Escrivdo Luiz David e<br />

reduzindo a punicAo a multa de Cr$<br />

5,00; para o habeas corpus que the<br />

foi concedido; para a reduce°, manifestamente<br />

'legal, da pena imposta<br />

ao oficial de Justica Jose Luiz da Silva<br />

Fllho, a fim de poupar-lhe a perda<br />

da funcAo pUblica; para conceder<br />

o habeas corpus em favor do advogado<br />

Pedro Calmon Mendes, reconhecendo<br />

a existencia de crime contra<br />

a seguranca national.; para que<br />

seu genro, apesar de punido administrativamente<br />

e condenado penalmente,<br />

continuasse, como continua,<br />

no exercicio do cargo, e, ainda, premiado<br />

corn uma designaceo para<br />

servir no Gabinete do Presidente do<br />

Tribunal de Justica; e para ter ho-<br />

mologados contratos de sua esposa e<br />

Mhos para seus ajudantes no Carte-<br />

Ho.<br />

E certo, assim, que foi Relator<br />

da Apelace° Criminal interposta pelo<br />

citado Oficial de Justica, condenado<br />

por sentenca do Dr. IrajA Pimentel,<br />

a pena de 3 anos e 9 meses<br />

de recluse°, pela prAtica de do's crimes<br />

de estelionato, em continuaceo,<br />

e a perda da funceo pablica.<br />

Como nib) era possivel ser sever°<br />

em relacdo a esse ServentuArio<br />

quando obtem de seus colegas da<br />

Turma todas as indulgencias para o<br />

Escrivao, seu genro, nä° podia manter<br />

a sentenca condenatöria, que implicava<br />

na perda da ftmeão de Oficial<br />

de Justica. Adiante se vai ver o<br />

estreito relacionamento entre os dots<br />

Serventuarlos.<br />

50. Seu voto, como Relator, esta eivado<br />

de inexatidOes, de erros e contradicOes,<br />

com o mal disfarcado propOsito<br />

de por em liberdade o Oficial<br />

de Justica, extremamente ligado ao<br />

seu genro Lutz David, na campanha<br />

difamat6ria contra o Dr. Iraja Pimentel,<br />

isso depois de votar contra a<br />

preliminar de Incompetència da<br />

Turma, por ja estar prevents a Jurisdicao<br />

da outra, por ter julgado<br />

habeas corpus em favor do Apelante.<br />

9


10<br />

Ft.T.J. — 94<br />

51. Disse que o Juiz deveria ter jul- pots, uma inverdade, ja que nao pogado<br />

proceciente, apenas em parte, a deria desconhec er o COdigo Penal,<br />

dem:I/Ida, mas que assim nao o fez, nem elementa r calculo aritmdico.<br />

entendendo se tratar de nova definicAo<br />

juridica, o que, a seu ver, nao<br />

ocorrera, pots que fora tamb6m denunciado<br />

pelo crime de estelionato.<br />

Nada macs (also, pots a denimcia<br />

descreveu dois fatos, capitulando<br />

urn no art. 171 e outro no art. 155 do<br />

Cedigo Penal. De acordo corn a prova,<br />

o Juiz desclassificou este Ultimo<br />

para o do art. 171, e, considerando os<br />

dois estelionatos como crimes continuados,<br />

aumentou de metade a penabase<br />

que fixara. Houve, portanto,<br />

desclassificacAo. Foi o Réu condenado<br />

por dots estelionatos . NA° tinha<br />

por que julgar, em parte, procedente<br />

a acAo penal.<br />

Mas, ainda inexatamente, disse<br />

o Relator, Des. JosC Fernandes,<br />

verbis:<br />

«Para a fixacAo da pena considerou<br />

o Magistrado que o condenado<br />

primario, revelando contudo, ma<br />

personalidade e grande intensidade<br />

dolosa Em face desse entendimento<br />

6 que fixou a pena base em dois<br />

anos e sets meses de recluao,<br />

grau médio da pena cominada ao<br />

crime de estelionato.<br />

«NAo poderia fazé-lo, pots<br />

somente em caso de reincidencia,<br />

art. 47 do C.P. e que a pena sera fixada<br />

acima da metade da soma do<br />

minimo corn o maxim°.<br />

«Mas, conforme ja salientei, o<br />

prOprio Julz considerou o condenado<br />

primario» (Apenso n? 10, f.<br />

os grifos nao säo do original).<br />

Ora, em primeiro lugar, a pena<br />

de 2 anos e 6 meses nao representava<br />

o grau médio, pots o estelionato<br />

punido corn pena de 1 a 5 anos de reclusao<br />

(CIA. Pen., art. 171), e, portanto,<br />

a metade da soma do minimo<br />

corn o mMdmo 6 de 3 anos.<br />

Consecjilentemente, a sentenca<br />

condenara o Apelante a pena inferior<br />

ao grau médio. Afirmou o Relator,<br />

Depots, o art. 47 do C. Penal<br />

nä° diz que somente ern caso de<br />

reincidAncia especifica a pena sera<br />

fixada acima da metade da soma do<br />

minimo com o maxim°. Diz, apenas,<br />

que a reincidOnc ia especifica<br />

importa na aplicacAo da pena acima<br />

da metade do minimo corn o maxima.<br />

Cometeu, assim, a segunda inverdade.<br />

Da mesma forma, nao e a torpeza,<br />

como afirmou a seguir o Relator,<br />

circunstAncia elementar do clime,<br />

pots pode alguCin cometer estelionato<br />

ate por motivo de relevante<br />

valor social, como, por exemplo, para<br />

obter recurso para prestar assisthncia<br />

medica a um filho doente.<br />

58. 0 Juiz analisara muito bem a<br />

personalidade do r6u e a intensidade<br />

do dolo, para fixar a pena-base em 2<br />

anos e 6 meses, dizendo, verb's:<br />

«Sopesando as circunstAncias judiciais<br />

do art. 42 do CP, tenho que<br />

o primeiro Acusado 6 primario, revelando<br />

personalidade ma, voltada<br />

para a delinaicia, embora<br />

ter diametralmente oposto the redame<br />

o exercicio da funcao de of icial<br />

da Justica do Distrito Federal;<br />

agiu com dolo intensissimo, em<br />

ambas as ocasiOes em que<br />

maxime quando nem urn motivo<br />

plauslvel conduzisse sua acAo<br />

para os crimes praticados; as circunstAncias<br />

favoreceram o cometimento<br />

dos delitos, seja a do acidente<br />

do Lesado, coin sua internacAo<br />

hospitalar, seja sua condicão de<br />

funcionario da Justica ensejadora<br />

de autoridade e de confianca; as<br />

conseq0Ancias nao foram das macs<br />

lastimaveis, ja que o Lesado certamente<br />

tern sido reembolsado dos<br />

prejuizos padecidos. Assim, fixo a<br />

pena base para o primeiro Acusado<br />

em dois anos e meio de reclusAo,<br />

atento aos Unites minimo e


mAximo da pena em abstrato (um<br />

e cinco anos).» (Apenso 10, f. 180).<br />

Näo ref utou o Relator essas circunstâncias,<br />

mas, assim mesmo, por<br />

entender que a torpeza era elementar<br />

do crime, reduziu a pena-base<br />

para 1 ano e 6 meses, e, pelo crime<br />

continuado, aumentou apenas urn<br />

sexto, para nä° ultrapassar os dois<br />

anos e, assim, poder excluir a pena<br />

acess6ria da perda da funcao, a<br />

mais necesmiria, em se tratando de<br />

urn Oficial de Justica que, estimulado<br />

pela impunidade, outros crimes<br />

voltaria a praticar, como efetivamente<br />

praticou.<br />

Ainda, por fim, esquecendo-se<br />

que a sentenca condenatOria interrompera<br />

a prescricão, decretou-a<br />

corn base na pena concretizada no<br />

ac6rdtio, e, assim, assegurou a impunidade<br />

do Oficial de Justica desonest°,<br />

mas extremamente vinculado<br />

ao seu genro.<br />

Contou para alcancar esse objetivo<br />

corn o voto do denunciado Des.<br />

Jucelino Ribeiro.<br />

Mas, demonstrando sua preocupactio<br />

de proteger o Escriváo Luiz<br />

David, o Des. Josè Fernandes tomou<br />

parte em dois julgamentos que diretamente<br />

beneficiavam seu genro.<br />

Era este, a 6poca, ocupante do<br />

Cartbrio da Fazenda Pfiblica, e, como<br />

tal, percebendo custas. A Sociedade<br />

de Economia Mista que explora<br />

o transporte de passageiros, nesta<br />

Capital, a T.C.B., entende que, em<br />

face da sua natureza juridica, esta<br />

isenta do pagamento de custas.<br />

Em dots julgamentos em que a<br />

matkria foi discutida e exatninada, o<br />

Desembargador Josê Fernandes ntio<br />

se deu por impedido, votando contra<br />

os interesses da T.C.B. e, conseq0entemente,<br />

a favor dos do Escrivtio,<br />

seu genro. TM ocorreu no julgamento<br />

do Agravo de Instrtunento n? 288,<br />

acerdEm de 9 de outubro de 1974, e no<br />

processo de Uniformizacão de Jurisprudëncia<br />

n° 1, ac6rdilo de 16 de de-<br />

R.T.J. — 94 11<br />

zembro de 1975, conforme documentos<br />

anexos. As causas, na realidade,<br />

eram entre o Escrivão Luiz David e<br />

a T.C.B.<br />

Esses fatos, corn os demais JO<br />

descritos, de que participou o Des.<br />

Josè Fernandes, bem configuram o<br />

crime definido no art. 319 do CAM.<br />

Penal.<br />

III — 0 Desembargador Juscelino<br />

Ribeiro<br />

Além de sua participacão nos<br />

julgamentos ja referidos, em que,<br />

como Relator ou Vogal, proferiu decistes<br />

contra expressa disposicAo de<br />

lei para satisfazer sentimento pessoal,<br />

pode ainda ser descrita outra<br />

conduta do Des. Juscelino Ribeiro,<br />

que bem caracteriza a figura definida<br />

no art. 319 do Cedigo Penal.<br />

67. A Renovadora de Pneus O.K.<br />

Ltda. moveu actio de cobranca contra<br />

o Advogado Antonio de Rezende<br />

Costa que, como seu Procurador, recebera<br />

determinadas importancias e<br />

delas não prestara contas.<br />

0 Dr. Iraja Pimentel julgou<br />

procedente a acAo e determinou a<br />

extracão de pecan do processo e sua<br />

remessa ao Ministkrio Ptlblico, que<br />

ofereceu dentmcia contra o referido<br />

advogado, como incurso nas sanc6es<br />

do art. 168 do COdigo Penal (Pasta<br />

V, doc 32, I).<br />

Acontece que, na Apelactio<br />

Civet interposta pelo Dr. Antonio Rezende<br />

Costa, o Desembargador Juscelino<br />

Ribeiro dera-se por imPwlido<br />

para julgit-la, escrevendo nos autos:<br />

«Afirmo tninha suspeiclto por motivo<br />

de natureza intima (art. 119, 1?, do<br />

C.P. Civil)». A cota tem a data de 11<br />

de dezembro de 1973 (Pasta V, doc<br />

32, III).<br />

70. No entanto, tendo sido impetrado<br />

habeas corpus visando ao trancamento<br />

da acilo penal instaurada<br />

contra o mesmo Antonio Rezende Costa,<br />

foi, como os demais, distribuido


12<br />

R.T.J. — 94<br />

2? Turma, sendo Relator o Desembargador<br />

Jose Fernandes, vindo a<br />

ordem a ser concedida por unanimidade.<br />

Tomou parte no julgamento nada<br />

menos do que o denunciado Des.<br />

Juscelino Ribeiro, que se declarara<br />

impedido, por suspeicAo, para julgar<br />

a acdo civel, onde entre as mesmas<br />

partes, se discutia a mesma tese: a<br />

existéncia, ou näo, de pagamento antes<br />

da sentenca, estando o acOrdão<br />

datado de 18 de junho de 1975 (Apenso<br />

7, f. 61).<br />

Votando em processo em que<br />

se achava impedido, para conceder<br />

a ordem de habeas corpus, mais<br />

uma vez praticou ato contra expressa<br />

disposicdo de lei, para satisfazer<br />

sentimento pessoal, qual o de beneficiar<br />

o Paciente, seu amigo. A 11 de<br />

setembro de 1973, não podia, por suspeicAo,<br />

julgar a apelacão, na acao<br />

civel, mas, em 18 de junho de 1975,<br />

nal se achou impedido para votar no<br />

pedido de habeas corpus, o que equivale<br />

a dizer: impedido e suspeito, no<br />

civel, mas desimpedido e insuspeito,<br />

no crime.<br />

E clUvida inexiste, pelos elementos<br />

constantes dos apensos, que<br />

a amizade do Desembargador Juscelino<br />

Ribeiro era, precisamente, corn<br />

o Paciente, o advogado Antonio Rezende<br />

Costa.<br />

Seus votos, neste, como em todos<br />

os casos ja citados, o tornam coautor<br />

do crime de prevaricacAo que<br />

os mesmos configuram<br />

75. Mas, ainda de outro foi tambem<br />

autor. Paulo Rezende era Escrevente<br />

contratado do 1? Carterio<br />

Civel, remunerado atraves de custas.<br />

Fora encarregado da Contabilidade<br />

do Carthrio, e, como tal, recebia<br />

as custas dos advogados e partes.<br />

A certa altura, constatou-se que<br />

se apropriara de C444.995,40, proveniente<br />

de custas. Apurado o fato, o<br />

Escrivão demitiu o Escrevente f altoso<br />

(Pasta 7, Doc. 57, II). 0 Juiz de<br />

Direito, Dr. Eduardo Andrade Ribei-<br />

ro de Oliveira, comunicou o fato a<br />

autoridade policial, para fins de inquerito<br />

(Doc. 57, III). Em conseqiiäncia,<br />

foi oferecida denfmcia contra<br />

Paulo Rezende. Seguiu-se o inevitAvel<br />

pedido de habeas corpus, inevitavelmente<br />

distribuido a 2? Turma,<br />

tendo como Relator o Desembargador<br />

Juscelino Ribeiro.<br />

Invocando precedente, relativo<br />

ao titular do CartOrio, a ordem foi<br />

concedida, sob o fundamento de que,<br />

de acordo corn o art. 18 do Decretolei<br />

n? 115/67, para que fosse restaurada<br />

a acão penal, necessario era<br />

que se instaurasse antes, o respectivo<br />

processo administrativo. Tal nä°<br />

ocorreu. Portanto a acão penal contra<br />

ele instaurada pecou pelo<br />

principio. E evidentemente eivada<br />

de nulidade, e, como tal, implica<br />

cerceamento de seu direito de defesa,<br />

e, por consecrilencia, a razoAvei<br />

que se reconheca a procedéncia do<br />

seu pedido de habeas corpus ora impetrado.»<br />

Alem de ja se ter demonstrado<br />

a improcedëncia do «Direito Penal<br />

dos Serventuarios de Justica do Distrito<br />

Federal», segundo o qual a exigéncia<br />

de custas indevidas se seria<br />

crime na reincidéncia, e, assim mesmo,<br />

punido corn pena de detencao,<br />

tese repelida unanimemente pelo Colendo<br />

Supremo Tribunal Federal ao<br />

cassar o habeas corpus concedido ao<br />

Escrivão Luiz David, no caso, era<br />

simplesmente impossivel o inquerito<br />

administrativo, pots se tratava de<br />

Escrevente contratado pelo EscrivAo<br />

que, apurado o fato, ja o demitira.<br />

78. NAo 1 avia, pots, como se condicionar<br />

a acão penal a urn inquerito<br />

administrativo impossivel, mesmo<br />

porque, para o primario, a pena p<strong>revista</strong><br />

era a de suspensão, inaplicAvel<br />

ao escrevente contratado, ja demitido.<br />

Em conseqiiencia, exigir para a<br />

acAo penal regular processo administrativo<br />

impossivel era proclamar<br />

a imnunidade.


IV — Desembargador He'Who<br />

Toledo Monteiro<br />

Sua atuacäo, que o f az incidir<br />

nas sancties do art. 319 do C6digo Penal,<br />

je foi descrita anteriormente, e<br />

consistiu em, como Relator ou simples<br />

Vogel, conduzir ou permitir que<br />

a 2! Turma do Tribunal de Justice<br />

concedesse ordens de habeas corpus<br />

ou proferisse decisdes em recursos<br />

ordinerios, corn o visivel e indiscutivel<br />

prop6sito de satisfazer sentimento<br />

pessoal, tudo conforme se ve<br />

dos itens 14, 15, 39 e 40 supra.<br />

Corroborando toda essa sua<br />

attack), fato recente praticado pelo<br />

Desembargador Helledio Monteiro,<br />

viria-caracterizar, por si s6, conduta<br />

incidente no art. 319 do C6digo Penal.<br />

Omftiu-se de indicar o nome do<br />

Dr. Waldir Meuren, o Juiz de Direito<br />

mais antigo, para vaga de Desembargador<br />

a ser provide pelo enteric'<br />

de antinidade. Permite, 6 certo, a<br />

Constituicao que o Tribunal recuse a<br />

indicacilo do Juiz ma's antigo. Mas,<br />

fazendo-o por sentimento pessoal,<br />

caracteriza o crime definido no art.<br />

319 do C6digo Penal.<br />

Embora sendo secrete o voto,<br />

fez questa° o Des. HeUMW Monteiro<br />

de tornar ptiblicas as razees pelas<br />

gnats nä° votaria no Dr. Waldir<br />

Marren, dando large divulgacao<br />

carte que a este dirigiu, em que expressava<br />

a motivacAo de sua conduta.<br />

Nela afirma que não votare em<br />

seu nome porque nAo concorda corn<br />

o seu critkrio no julgamento das<br />

acCes de acidente de trabalho, mas,<br />

precipuamente, porque a ele inhnigo<br />

dos Desembargadores Leal Fagundes,<br />

Jose Fernandes e Juscelino Ribeiro.<br />

E como estes näo iriam deixar<br />

o Tribtmal para que ele o integrasse,<br />

«voce 6 que &go poderit, no momento,<br />

ser promovido, por nä° convir<br />

instituicão. » A seguir, manifesta sua<br />

admirano pelos citados Desembargad0res,<br />

que KM° atacados porque<br />

R.T.J. — 94 13<br />

desejam as coisas direitas, como de-<br />

vem ser, e terão o meu apoio (dele,<br />

Des. Helledio) enquanto assim forem».<br />

83. Tornou-se pdblico e noterio<br />

que os quatro votos que recusaram a<br />

indicacäo do Dr. Waldir foram os<br />

dos Desembargadores Helledio ( declaradamente),<br />

Leal Fagundes, Jose<br />

Fernandes e Juscelino Ribeiro.<br />

Deu o Des. Helledio Monteiro,<br />

mais uma vez, corn seu voto,<br />

aliando-se aos dos tres citados Desembargadores,<br />

demonstracão cabal<br />

de que se orienta, em atos de oficio<br />

que deve praticar, por interesses e<br />

sentimentos pessoals, o que caracteriza<br />

o crime definido no art. 319 do<br />

C6digo Penal.<br />

Os laths, as pessoas e seu<br />

relacionamento<br />

Os fatos supra descritos, como<br />

se viu, devem ser apreciados em seu<br />

conjunto, pots realmente se interligam,<br />

fazendo ressaltar a prelim<br />

continuada, pelos denunciados, do<br />

crime definido no art. 319 do C6digo<br />

Penal, deles emergindo o dolo especifico,<br />

ou seja, a satisfacito de interesse<br />

ou sentimento pessoal.<br />

Ha, devidamente comprovado,<br />

urn estreito relacionamento entre os<br />

personagens dos fatos descritos: ser-<br />

ventuerios, advogados e partes, de<br />

um lado e os Desembargadores denunciados,<br />

de outro.<br />

Assim, o advogado Antonio Rezende<br />

Costa, que obteria o franca-<br />

mento da acäo penal contra ele moem<br />

desacordo corn a pacifica<br />

orient acao deste colendo Supremo<br />

Tribunal Federal no sentido de que a<br />

apropriacAo indebita n8o exlge prestacão<br />

de contas e ntio a Hide o pagamento<br />

do valor apropriado, tot quern<br />

mopes a acilo de Jose Garcia Ribeiro<br />

contra Edgard Garcia Ribeiro, e,<br />

tambem manifestou a Apelacao, que<br />

tomou o 3.805, conciusa ao Relator<br />

desde 19 de fevereiro de 1975, apesar


14<br />

de estar dependendo de seu julgamento<br />

o prosseguimento da ac ão penal<br />

contra o apelante, ilegalmente<br />

suspensa.<br />

0 bacharel Aloisio Barbosa de<br />

Souza, que foi advogado do Desembargador<br />

Leal Fagundes em<br />

interpelacão judicial que promoveu<br />

contra o Dr. José alio Guimarães<br />

Lima e outros, e, tambtm, designado<br />

para defender o advogado Pedro<br />

Calmon Mendes, quando processado<br />

pelas ofensas morals que dirigiu ao<br />

Juiz Raja Pimentel, por ocasiäo do<br />

Habeas Corpus impetrado em favor<br />

de Jost Garcia Ribeiro, ja fora advogado<br />

de Jost Garcia Ribeiro, em<br />

processo criminal anterior.<br />

Na acAo civel de reparacAo de<br />

danos morals movida pelo Juiz kola<br />

Pimentel contra o jornal Coneio do<br />

Planalto, a empresa arrolou as seguintes<br />

testemunhas: Desembargador<br />

Jost Fernandes de Andrade, Pedro<br />

Calmon Mendes, Raimundo de<br />

Lima, Jost Garcia Ribeiro e Aloisio<br />

Barbosa (Doc. n? 49), o que t bastante<br />

eloqiiente: o Desembargador<br />

sogro do Escrivdo Luiz David; o advogado<br />

que insultou o Juiz Irajà Pimentel,<br />

corn a complacéncia dos Desembargadores<br />

Leal Fagundes, Juscelino<br />

Ribeiro e Helládio Monteiro; o<br />

Escrevente condenado juntamente<br />

com Luiz David; o Paciente do<br />

habeas corpus; e o advogado deste<br />

em outras aceoes.<br />

As reportagens contra o Juiz<br />

Irajá. Pimentel eram precedidas de<br />

reunifies dos advogados Aloisio Barbosa<br />

de Souza, Pedro Calmon Mendes<br />

e Antonio Rezende Costa corn os<br />

Desembargadores Leal Fagundes,<br />

Juscelino Ribeiro e Jost Fernandes<br />

(pet. initial, fl. 14).<br />

A intimidade do Des. Josè Fernandes<br />

corn o advogado Pedro Calmon,<br />

em plena campanha deste contra<br />

o Juiz !raja Pimentel, Ode ser<br />

constatada pelos Juizes Drs. Eduardo<br />

Andrade Ribeiro de Oliveira, Romildo<br />

Bueno de Souza e Maria Car-<br />

R.T.J. — 94<br />

men Henriques Ribeiro de Oliveira,<br />

que viram o referido advogado, inclusive,<br />

no Gabinete do Desembargador<br />

Jost Fernandes, ditando urn<br />

trabalho para a Secretaria deste.<br />

Procuraram o Desembargador<br />

Presidente, Lficio Arantes, para dar<br />

conhecimento do fato. Nao o encontrando,<br />

pediram ao seu Assessor,<br />

Dr. OtAvio Augusto Vicente Barbosa<br />

para testemunhar a ocorrëncia<br />

Quando este se aproximou, ja o advogado<br />

e o Desembargador saiam de<br />

braco dado (dots. 23, b e c).<br />

A intimidade do mesmo advogado<br />

corn o Desembargador Juscelino<br />

Ribeiro tambtm se acha documentada<br />

por despacho do Juiz Dr.<br />

Romlldo Bueno de Souza, que assim<br />

narrou o fato, verbts:<br />

«5. E certo que, em fins de junho<br />

Ultimo, no Gabinete do Senhor<br />

Presidente do Tribunal Regional<br />

Eleitoral, de que tambtm<br />

sou Juiz, encontrei o Advogado<br />

Pedro C. Mendes em conversa<br />

com o Senhor Desembargador<br />

Juscelino Jost Ribeiro, näo sem<br />

certa surpresa. E como Sua Exceléncia<br />

fez mencâo de me apresentar<br />

o referido advogado, dispense!<br />

a apresentacão, na verdade<br />

desnecessaria, porquanto conheco<br />

o referido advogado «o suficiente”,<br />

como na ocasiäo declare!.<br />

Do fato, alias, na mesma data<br />

del conhecimento ao Senhor<br />

Desembargador Lucio Arantes,<br />

Presidente deste Tribunal, quando<br />

em seu Gabinete tambtm se<br />

encontrava o Senhor Desembargador<br />

Waldir Meuren.» (Doc. 23,<br />

d)<br />

94. Por sua vez, o Escrivão Luiz<br />

David e o Oficial de Justica Jost<br />

Luiz da Silva, conhecido por «Zt do<br />

Cheque> e Jose Garcia Ribeiro foram<br />

vistos, incitando menores jornaleiros,<br />

a apregoar, nas dependOncias<br />

do Tribunal, o jornal Correio do<br />

Planalto que publicava reportagens<br />

contra o Juiz Iraja Pimentel, pagas


pelo Advogado Pedro Calmon Mendes<br />

( docs. 23 e 23, b).<br />

Nä° se limitavam a incentivar<br />

os pequenos Jornaleiros. Faziam,<br />

entrada do Forum, verdadeiros<br />

comicios contra o Juiz Iraja Pimentel.<br />

Participavam, entre outros, Luiz<br />

David, sua esposa e filhos, todos funcionários<br />

da Justica; Jose Fernandes<br />

de Andrade Filho, Mho do Desembargador<br />

Jose Fernandes, funcionfi-<br />

rio do Tribunal de Justica; o Oficial<br />

de Justica Jose Lutz da Silva, o «Ze<br />

do Cheque», e o Advogado Pedro<br />

Calmon Mendes (Doc. 23, c).<br />

Fol visto, ainda, o EscrlvAo<br />

Luiz David a concitar o Jornaleiro a<br />

vender os jornais no interior do predio,<br />

como tambem urn neto do De-<br />

sembargador Josè Fernandes adqulrir<br />

quase todos os exemplares do<br />

«Correio do Planalto» que dispunha<br />

o jornaleiro e corn eles voltar para o<br />

interior do predio (Doc. 23, c).<br />

97. Ate nas sessiles administrativas,<br />

os Desembargadores Leal Fagundes,<br />

Jose Fernandes e Juscelino<br />

Ribelro funcionam como bancada,<br />

para prejudicar o andamento dos<br />

trabalhos e impedir sejam decididas<br />

as questiles em pauta. Assam, na<br />

SessAo de 11-5-76, o Desembargador<br />

Josè Fernandes, ao ser posta ern discussao<br />

determinada materia, soliditou<br />

que, por sua relevancia, se dei-<br />

xasse a deliberacão para quando todos<br />

os Desembargadores estivessem<br />

presentes. Na sec-silo seguinte, dia<br />

18-5-76, porem, nao compareceram<br />

nem ele, nem o Desembargador Juscelino<br />

Ribeiro. Ficou decidido que a<br />

materia seria apreciada na sessao<br />

seguinte, mesmo que nao estivessem<br />

todos presentes, desde que houvesse<br />

quoruM. Pois bem, no dia marcado<br />

— 25-5-76 — no instante em que seria<br />

apreciada a referida materia, o De-<br />

sembargador Josè Fernandes delxou<br />

a Sessào. Como ainda houvesse flamer°<br />

legal, foi dada a palavra ao<br />

Desembargador Milton Sebastiäo<br />

Barbosa. «Neste exato momento —<br />

R.T.J. — 94 15<br />

revela a Ata — retiraram-se da Sessho<br />

os Excelentissimos Senhores Desembargadores<br />

Jose Julio Leal Fagundes<br />

e Juscelino Jose Ribelro, o<br />

que ocasionou a suspensão da sessho,<br />

por falta de quorum, precisamente<br />

as 15,30 horas, ficando transferido<br />

o restante da pauta para a<br />

próxima reuniflo administrativa<br />

(Doc. 30 e DJ de 7-7-76).<br />

Bastou que o Juiz de Direito<br />

Luiz Claudio de Almeida Abreu defendesse<br />

sua competancia, ou melhor,<br />

da Justica comum, para julgar<br />

o processo-crime contra o advogado<br />

Pedro Calmon Mendes, no que o colendo<br />

Supremo Tribunal Federal the<br />

veto dar razäo (C.J. n? 5.996), para<br />

que, mais uma vez demonstrando<br />

seu facciosismo, contra ele invest'sse<br />

o Desembargador Jose Fernandes,<br />

verb's:<br />

«Causou-me ainda estranheza<br />

as informacOes do Dr. Juiz nas<br />

quaffs ele procura por todos os<br />

metre, em cinco laudas datilografadas,<br />

convencer que o crime<br />

atribuido ao paciente a da cornpetencia<br />

da Justica comum. E,<br />

por coincidancia, e o mesmo Juiz<br />

contra quem fol argaida a suspeicAo»<br />

(Doc. 29, fl. 10).<br />

Anote-se, ainda que quando 0<br />

Desembargador Jose Fernandes deu<br />

seu voto para reduzlr a pena imposta<br />

pelo Dr. 'raja Pimentei ao Oficial<br />

de Justica Josè Luiz da Silva, o «Ze<br />

do Chequen, de 2 anos e 6 meses para<br />

1 ano e 6 meses, este ja tinha praticado<br />

urn peculato, apropriando-se<br />

de Cr; 3.000,00 que recebera de um<br />

executado, tendo sido por isso suspenso<br />

de sua funcáo e, ainda, sofrido<br />

prisäo administrativa decretada pelo<br />

entao Corregedor, Desembargador<br />

Lacio Arantes, em data de 28 de<br />

agosto de 1974 (Doc. n? 33, VI). Ademats,<br />

sua expressiva folha penal se<br />

achava nos autos. E, por coincidencia,<br />

num verdadeiro «toma la, &I<br />

cá», a apelacho de «Ze do Cheque»,<br />

relatada pelo Desembargador Jose


16<br />

Fernandes, que injuridicamente the<br />

reduziu a pena, para evitar a perda<br />

da funcão, e decretou a prescricão,<br />

fol julgada na mesma sessäo de 23-4-<br />

75, em que a mesma 2? Turma concedeu<br />

o habeas corpus em favor de<br />

seu genro, o Escriváo Luiz David,<br />

proclamando a tese da prevalOncia<br />

do Regimento de Custas do Distrito<br />

Federal sobre o COdigo Penal, cuja<br />

heresia o Supremo Tribunal Federal<br />

veto a proclamar, cassando a ordem.<br />

Por sua vez, o eminente Desembargador<br />

Raimundo Macedo, assim<br />

tracou o perfil do Desembargador<br />

Leal Fagundes, confirmando tudo<br />

quanto nesta dernincia se ]he imputa,<br />

ao dizer, verbis:<br />

«0 escriba dessa subversão foi<br />

o arrogante, f accioso, insubordinado,<br />

arbitrario e perseguidor<br />

Corregedor-Geral da Justica, Desembargador<br />

Jose JUlio Leal Fagundes,<br />

que usa as suas decisoes<br />

para mimosear seus amigos, do<br />

mesmo modo que as usa para<br />

molestar e perseguir seus desafetos,<br />

como se passa a demonstrar<br />

e provar.» (Doc. 51, fl. 6).<br />

Esta ai, pois, uma serie de f atos<br />

e circunstancias, devidamente<br />

comprovados, que bem explicam as<br />

razOes e os motivos que levaram os<br />

denunciados, quase sempre em coautorla,<br />

a proferir decisOes, movidos<br />

por interesses e sentimentos pessoais<br />

contrarias a disposicees expressas<br />

de lei, configurando, de forma<br />

cabal, como ainda melhor se demonstrara<br />

no curso da KA° penal, o<br />

crime definido no art. 319 do °Argo<br />

Penal.<br />

102. E, para que se apure a responsabilidade<br />

dos denunciados, Desembargadores<br />

Leal Fagundes, Jose<br />

Fernandes, Juscelino Ribeiro e Hel-<br />

MI° Monteiro, oferece o Ministerio<br />

PUblico a presente dentmcia, que espera<br />

seja recebida e, afinal, julgada<br />

provada, para o fim de serem os<br />

mesmos condenados nas pens do<br />

R.T.J. — 94<br />

art. 319, combinado com o art. 68, I,<br />

ambos do C6digo Penal.<br />

Brasilia, 30 de novembro de 1977 —<br />

Henrique Fonseca de AraUjo,<br />

Procurador-Geral da RepUblica.»<br />

Ciente da mesma, na forma do art.<br />

226 e seus paragrafos, do RI, determines<br />

a notificacao dos acusados, fl.<br />

200, para oferecerem resposta escrita,<br />

no prazo de quinze dias, o que foi<br />

feito.<br />

0 primeiro a responder foi o 4? denunciado,<br />

Des. Heladio Toledo Monteiro,<br />

fl. 212/222, corn documentos de<br />

fl. 225/288 e em que sustenta inexistir<br />

crise no Tribunal, mas uma campanha<br />

insidiosa de maus juizes contra<br />

o judiciario, agasalhada por jornais<br />

enganados pelo jornalista Galba<br />

Menegale; que os co-denunciados sac)<br />

pessoas dignas do seu respeito e admiracao;<br />

pelo que os tern apoiado<br />

«para desespero dos maus juizes arrolados<br />

na denUncia como testemunhas».<br />

Aprecia a denüncia nestes termos:<br />

«A pea acusat6ria foi buscar<br />

em Maquiavel (sic) urn ensinamento<br />

de moralidade politica —<br />

minta, minta, minta, que alguma<br />

coisa Heart! fl. 45.<br />

Justifica o voto que deu contra o<br />

acesso do Juiz Waldir Meuren ao Tribunal<br />

de Justica como o exercicio<br />

regular de urn direito, art. 144, II,<br />

CP, extremado de sentimentos pessoais,<br />

näo sendo responsevel pela<br />

publicacdo da carta que the dirigiu.<br />

Contesta ter votado em qualquer<br />

questa() patrocinada ou do interesse<br />

do Dr. Rezende; e tendo feito, apenas,<br />

em um habeas corpus patrocinado<br />

pelo Dr. Calmon; e em dots recursos<br />

de interesse do Dr. Aloysio,<br />

sempre julgando corn imparcialidade.<br />

Finalmente, que os votos que deu<br />

em questoes de custas e preparos<br />

nao visavam atender aos interesses<br />

de Luiz de Freitas, genro do co-


denunciado, mas tho-somente ap11car<br />

a lei corn Menai<br />

DA aos acOrdãos do Supremo Tribunal<br />

Federal, mencionados na de-<br />

Murcia, interpretacão favoravel as<br />

testes que sustenta.<br />

As fls. 290/330 se encontra a defesa<br />

dos 1? e 2? denunciados, Desembargadores<br />

Jose Mill° Leal Fagundes e<br />

Jose Fernandes de Andrade.<br />

0 1?, ap6s historiar minuctosamente<br />

os fatos, sem contestá-los em sua<br />

essencia, sustenta que nee estava<br />

impedido de julgar Luiz de Freltas,<br />

genro do 2? denunciado, porque assim<br />

decidira o Tribunal Pleno, por<br />

iniciativa sua, fl. 297.<br />

Nessa conformidade, julgou o<br />

habeas corpus, desimpedido, salientando<br />

em seu voto o ineditismo de<br />

coudenachlo criminal, por excessive<br />

cobranca de custas, que reputou «fato<br />

sem similar, nos anals forenses de<br />

todo Pais» II. 296.<br />

Se impedido estivesse, por certo,<br />

teria anulado o julgamento o<br />

no RE 84.863, o que nrio ocorreu.<br />

Por igual, inexistia suspeiceo,<br />

alias, am argnida.<br />

Quarto ao merit*, justifica o voto<br />

a We do Decreto-lei 115/67, segtmdo o<br />

qual a cobranca de custas indevidas<br />

apenas na reincidencla seria<br />

passivel de sancOes criminals, f. 298.<br />

Analisa os votos increpados na dentmcia<br />

corno decorrentes de interesse<br />

ou sentiment° pessoal, de modo a<br />

persuadir que foram isentos desse<br />

element* moral do crime capitulado<br />

na dentmcia.<br />

Finalrnente, argil a denOncia de<br />

impreejsa — KnAo descrevendo o fa-<br />

to criminoso que pretende apontar,<br />

neln qualquer outro». — Nilo aponta<br />

qual o mandamento legal srojados<br />

njjo indica gals as normas legais<br />

violadas, dal ser inaceitavel a de-<br />

/Kuria, postulando, em conseqÜencia,<br />

a rejeicão da debriefs, que<br />

permite se exerca a defesa dos acusados,<br />

f. 329.<br />

R.T.J. - 94 17<br />

Em seu favor, o 2? denunciado,<br />

Desembargador Jose Fernandes de<br />

Andrade, reconhece que 6 seu genro<br />

o escrivão Luiz de Freites, Pored,<br />

tal dramstäncia neo ditou ou preponderou<br />

nos votos que prolatou,<br />

nem influencia alguma teve nos f atos<br />

narrados na dentincia, pots, todas<br />

as decisees foram tomadas conforme<br />

a lei, e mesmo pelo Conselho da Justice<br />

local de que !leo faze.m parte os<br />

denunciados, argumentando que<br />

seus votes tem apoio na junsPradancia,<br />

concluindo nos tennos da defesa<br />

do 1? denunciado.<br />

Por derradeiro, 0 3? denunciado,<br />

Desembargador Juscelino Joie RIbeiro,<br />

que se reconhece arn* de<br />

longs data do 2? denunciado, Des.<br />

Jose Fernandes de Andrade, afinna<br />

que jamals participou de julgamento<br />

de interesse do Sr. Lutz David de<br />

Freltas, genro do mesmo, f. 400/419.<br />

Quanto ao HC 1715, justifica a sua<br />

conduta, que tern por legithna e<br />

isenta de parte° ou Odlo — o mesmo<br />

quarto ao HC 1773, onde poderia ter<br />

ocorrido simples erro de Juligammita,<br />

f. 411.<br />

Em referenda a apelactio n? 2113,<br />

em que declarou suspelto por motivo<br />

de natureza inthna, sustenta que Who<br />

era tat ansPeino htlpedimento pare<br />

julgar o HC n? 1721, o mesmo ocorrendo<br />

nos demais processos<br />

dos na Uncial.<br />

Contesta que se tetra poste de<br />

acordo corn os demais denundados e<br />

advogados para veicular modeles pe-<br />

Ia irnprensa, f . 418. Concluindo a resposta,<br />

corn estas palavras, f. 419:<br />

«Fedi verfficar que mesmo adotando<br />

seu torn romanesco, seu caster<br />

de obra de flccAo, seu teor de<br />

novela bem urdida, não logra a dedescrever<br />

conduta do denunclado<br />

que possa ser enquaddrvel<br />

no art. 319 do CP.<br />

Espera-se, assim, sua raid-<br />

OM_


18<br />

As f. 387/396, o eminente Ministro<br />

Moreira Alves, então Procurador-<br />

Geral da RepUblica, aprecia o resultado<br />

da sindicancia aberta contra os<br />

dois primeiros denunciados, concluindo<br />

a f. 396.<br />

E o related°.<br />

VOTO<br />

Sr. Ministro Cordeiro Guerra<br />

(Relator): Etimologicamente, diz<br />

Nelson Hungria, praevaricator e o<br />

que anda obliquamente, desviado do<br />

caminho direito.<br />

A principio, designava-se, assim,<br />

aquele que, tomando a defesa de<br />

uma causa, favorecia a parte contraria,<br />

portm, corn o tempo, ampliou-se<br />

gradativamente a sua acepcao, e o<br />

vocabulo passou a denominar todo<br />

aquele que se torna infiel ao preprio<br />

cargo (Comentarios, ao C6digo<br />

Penal, IX — Forense, 1958, n? 147).<br />

Cedigo Penal vigente define o<br />

crime como:<br />

Art. 319 — «Retardar ou deixar<br />

de praticar, indevidamente, ato de<br />

oficio, ou pratica-lo contra disposicao<br />

expressa de lei, para satisfazer<br />

interesse ou sentimento pessoal».<br />

R.T.J. — 99<br />

crime pode ser praticado por<br />

omissao ou comissäo, e o elemento<br />

moral caracterizador do dolo especifico<br />

e o firn de satisfazer interesse<br />

ou sentimento pessoal. 0 interesse<br />

pessoal pode ser de natureza material<br />

(patrimonial) ou moral. «Por<br />

sentimento pessoal entende-se a afeicdo,<br />

a simpatia, a dedicacao, a benevolencia,<br />

a caridade, o 6dio, a parcialidade,<br />

o despeito, o desejo de yinganca,<br />

a paixao politica, o prazer da<br />

prepotencia ou do mandonismo, a<br />

subserviencia, o receio de molestar<br />

os poderosos, etc,», observa o mesmo<br />

Mestre — p. 376/377.<br />

Indiscutivel que 6 dever legal dos<br />

juizes o de ser impartial, pois, de<br />

julgar, sao, por lei expressa, afastados<br />

os suspeitos ou impedidos.<br />

Assim, se o magistrado suspeito ou<br />

impedido julga causas em que se deveria<br />

declarar-se suspeito ou impedido,<br />

viola dever legal de abstencao,<br />

afasta-se do caminho direito.<br />

Se, alem disso, o faz para<br />

satisfazer interesse ou sentimento<br />

pessoal, qualquer que sej a, afeicao,<br />

ou Odio, despeito ou desejo de yinganca,<br />

benevolencia, amizade, simpatia,<br />

prevarica, incide na sancao<br />

penal.<br />

A denUncia narra minuciosamente<br />

fatos, aches e omissOes, contrarias<br />

ao dever legal de imparcialidade da<br />

Magistratura, e di-los inspirados por<br />

sentimentos ou interesses pessoais<br />

que especifica em alguns fatos, e<br />

que, Implicitamente, atribui, em todos,<br />

a desaleicao ou a amizade pessoal<br />

dos denunciados, as partes, ou a<br />

parentes seus, corn infringencia do<br />

dever legal da imparcialidade.<br />

Creio que, em tese, se caracteriza<br />

a tipicidade dos fatos narrados na<br />

initial.<br />

Toda denUncia a uma proposta de<br />

demonstracao sujeita a comprovacao<br />

e contrariedade, de modo que,<br />

acredito, a atual <strong>jurisprudencia</strong> do<br />

Supremo Tribunal Federal se tern fixado<br />

em nao repeli-la, sena° quando<br />

o fato nela narrado nao constitui,<br />

evidentemente, crime.<br />

Em havendo dtivida sobre a criminalidade<br />

dos fatos, desde que<br />

possivel a tipicidade argiifda, nao ha<br />

como trancar-se o procedimento penal,<br />

suprimindo-se a oportunidade<br />

reservada ao Ministerio PUblico para<br />

a demonstracao do alegado, tanto<br />

mais que as omissbes da demincia e<br />

da queixa podem ser a qualquer<br />

tempo supridas, art. 569 do CPP.<br />

Assim, mesmo contestados os fatos,<br />

e a existencia do elemento moral<br />

do delito, nas defesas apresentadas,<br />

afigura-se-me nao ser licit° negar<br />

ao MinistOrio PUblico a oportunidade<br />

de demonstrar a sua intencao


— ja que a denfmcia, a meu ver,<br />

preenche os requisitos do art. 41 do<br />

CPP.<br />

De fato, rejeitar-se a denfmcia,<br />

formalmente correta, e que narra f atos<br />

delituosos, em tese, seria julgar<br />

marito da acusavao, sem ter havido,<br />

em sua plenitude, o contraditerio<br />

constitucional, o que tenho por inadmissive!.<br />

Por esses motivos, reecho a denimcia.<br />

QUESTAO DE ORDEM<br />

Sr. Ministro Thompson Mores:<br />

(Presidente) — Consulto o Tribunal<br />

se entende que a apreciacäo da de-<br />

*sada, pars o efeito de seu recebimento<br />

ou nao deve ser feito em Conselho.<br />

.<br />

VOTO S/QUESTA0<br />

DE ORDEM<br />

Sr. Ministro Cordeiro Guerra<br />

(Relator): — Sr. Presidente, em se<br />

tratando se de recebimento da denfmcia,<br />

abro mao do Conselho.<br />

VCYTO SOME QUESTAO<br />

DE ORDEM<br />

0 Sr. Ministro Leittio de Abreu, Sr.<br />

Presidente, proponho seja feito em<br />

Conselho o exame da denfmcia.<br />

QUESTAO DE ORDEM<br />

(Decistio)<br />

Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

(Presidente) — Ante a manifestacão.<br />

do eminente Ministro Leith° de<br />

Abreu, na forma regimental,o Tribunal<br />

passarit a funcionar em Conse-<br />

1ho.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

APn 253 — DF — Rel., Min. Cordeiro<br />

Guerra. Autor: Ministkrio public°<br />

Federal. !Mils: Josè alto Leal<br />

R.T.J. — 94 19<br />

Fagundes. (Adv.: Jose Bonifacio<br />

niz de Andrada); José Fernandes 41°1<br />

Andrade. (Adv.: Josè Bonifãcio Diniz,<br />

de Andrada); Juscelino Jose Ribeigt<br />

(Adv.: Fernando Neves da<br />

Heladio Toledo Monteiro. (Adv.: Cam:<br />

los Robichez Penna). 1/4'<br />

DecisAo: Pediu vista o Ministro.,<br />

Soares Munoz ap6s o voto do Relator)<br />

recebendo a denUncia. Falaram<br />

Ministario Federal, o Prof. Henriques<br />

Fonseca de Araftjo; pelo Rau Hel<br />

Toledo Monteiro o Dr. Luiz Car<br />

Pujol, pelos Ras José Julio Leal Ft,<br />

gundes e Jose Fernandes de AndraAj<br />

de o Dr. Jose Bonifacio Diniz de Ant,<br />

drada, e pelo Rau Juscelino José<br />

beiro o Dr. Fernando Neves da<br />

va. Impedido o Sr. Ministro Moreira<br />

n7"'<br />

Alves.<br />

.011<br />

Presidencia do Sr. MiniStrOP<br />

Thompson Flores. Presentes allset-n<br />

sae os Srs. Ministros Thad Faleatip<br />

Antonio Neder, Xavier de AlbuqtRINg<br />

que, Rodrigues Alckmin, !Jetta° deb<br />

Abreu, Cordeiro Guerra, Moreira<br />

ves, Cunha Peixoto e Soares MuilOion<br />

Procurador-Geral da Repablica Ion<br />

Prof. Henrique Fonseca de Aranjo. fin<br />

Brasilia, 5 de abril de 1978. »ft)<br />

Alberto Veronese Aguiar, Secretarlob<br />

f198<br />

yam (VISTA)<br />

lArt1<br />

0 Sr. Ministro Soares Munoz: 1 ,9<br />

A denancia que se alonga por 32.051r<br />

gins datilografadas, tecendo condderwOes<br />

em torn da atuakäo dose<br />

denunciados em vArios processnspb<br />

imputa-Ihes, quase sempre sem etsia<br />

pecificar datas, a prAtica de albs<br />

continuados de prevaricacAo, unit*<br />

tentes em terem, geraltnente emdat<br />

autoria, proferido decisOes co**<br />

Has a disposicOes expresso de ,leh<br />

corn o propOsito de beneficiar e pp;<br />

teger o serventuario Luiz David,*<br />

Freitas, genro do segundo denunqit<br />

do Desembargador Josè Fernandes<br />

de Andrade, bem comp o de Prehlia/<br />

car moralmente o representante, o


20 R.T.J. — 94<br />

Juiz de Direito Dr. IrajA Pimentel,<br />

simplesmente porque este, no cumprimento<br />

de seu dever, assim como<br />

outros magistrados de primeira instAncia,<br />

contribuiram para a punicão<br />

disciplinar e criminal do aludido<br />

Luiz David de Freitas.<br />

2 — 0 primeiro fato arrolado na<br />

denfmcia, como configurando o tipo<br />

criminal definido no art. 319 do C6digo<br />

Penal, e o de ter o denunciado,<br />

Desembargador Leal Fagundes, participado<br />

da decisào concessiva de<br />

habeas corpus a Luiz David, para<br />

cassar a sentenca de primeira instância<br />

que havia condenado o aludi-<br />

. do serventuario, como incurso no<br />

art. 316 do COdigo Penal, por ter exigido<br />

custas indevidas.<br />

Sustenta a dentIncia que, além da<br />

manifesta injuridicidade do acördAo,<br />

que nAo pode ser considerado mero<br />

erro in judicando, mas manifesto f avoritismo<br />

em beneficio do paciente,<br />

genro do denunciado Desembargador<br />

José Fernandes Andrade, tanto<br />

que esse aresto lot unanimemente<br />

cassado pelo colendo Supremo Tribunal<br />

Federal, era manifesto o impedimento<br />

do Desembargador Leal Fagundes,<br />

pots fora ele quem, na condicAo<br />

de Corregedor da Justica, presidira<br />

o inquêrito e punira o paciente,<br />

sendo ainda suspeito em razAo da<br />

amizade intima que mantinha (e<br />

mantem) com o sogro do paciente,<br />

Desembargador José Fernandes de<br />

Andrade.<br />

Em memorial, apresentado pelo<br />

Dr. Procurador da Fteptibllca, depots<br />

do meu pedido de vista, S. Exa. assim<br />

resume a imputacAo:<br />

«0 Desembargador Leal Fagundes<br />

participou do julgamento do<br />

habeas corpus requerido em favor<br />

de Luiz David Freitas, estando legalmente<br />

impedido, pois como Corregedor<br />

apurara os fatos e punira<br />

o ServentuArio com a pena disciplinar<br />

de 90 dias de suspensAo e, nessa<br />

decisAo, ja antecipara seu entendimento<br />

a respeito do funda-<br />

mento do habeas corpus: a Ines's-<br />

Veneta de infracäo penal, verificavel<br />

tAo sto na reinciancia e, accim<br />

mesmo, como crime de excesso de<br />

exacAo. Ademais, dos termos de<br />

seu voto, deixou claro sua parcialidade,<br />

pots constituiu muito mais<br />

na defesa de sua conduta no inqukrito<br />

administrativo e numa acusacAo<br />

aos juizes de primeira instAncia,<br />

que constituiriam uma subclasse,<br />

dal o «noticiario enxovalhador,<br />

a servico do bando das trevas»,<br />

capitaneado pela solërcia<br />

anarquica, que fomenta Odios, indisciplina<br />

e subversAo» do que na<br />

fundamentacAo de um ponto de<br />

vista.»<br />

Cumpre, desde logo, saltentar que<br />

a suspeicao, quando nAo declarada<br />

espontaneamente pelo Juiz, nem ar-<br />

Wilda pelas partes, nos prazos peremptörios<br />

estabelecidos nas leis<br />

processuais, torna-se superada e itmxistente,<br />

nAo podendo ap6s ser suscitada.<br />

No caso, as partes, inclusive o<br />

Ministkrio POblico, deixaram de argilir<br />

excecAo de suspetcAo no processo<br />

referente ao habeas corpus. Não<br />

viavel, depots, atraves de acAo penal,<br />

reavivar a pretendida excecão,<br />

como um dos elementos integrantes<br />

do crime de prevaricacAo.<br />

Quarto ao impedimento, näo o considero<br />

demonstrado, para os efeitos<br />

de legitimar, no ponto, o recebimento<br />

da denimcia. E que, entre os casos<br />

de impedimento, mencionados no<br />

art. 252 do C6digo de Processo Penal,<br />

nAo figura o de que o Juiz nAo<br />

podera exercer jurisdicão no processo<br />

resultante de humêrito administrativo<br />

que ele prOprio houver presidido.<br />

E sobe de monta essa consideracão<br />

em face da circunstancia de o<br />

impedimento näo ter sido argtildo no<br />

processo de habeas corpus.<br />

Resta da imputacAo o error in<br />

judicando, mas nem este, ainda que<br />

tivesse existido, pode constituir supedAneo,<br />

na hip6tese, do crime de<br />

prevaricacAo. A matéria concernen-


R.T.J. — 94<br />

to ao recebimento de custas indevi<br />

das estA disciplinada no Distrito Federal<br />

pelo Decreto-lei nt 115/67, que<br />

aprevou o Regiment° de Custas do<br />

Distrito Federal e TerritOrios, consoante<br />

o qual o recebimento de custas<br />

indevklas somente constftui crime<br />

se o funcionino for rehrcidente<br />

na lnfraccio. Bastarla a erdstAncia<br />

dessa norma, da mesma hierarquia<br />

formal do COdigo Penal, tarnb6m<br />

aprovado medlante Decreto-lei, para<br />

afastar do apontado error in<br />

judIcando o substrato para a configuracito<br />

do crime de<br />

Eidste urn conftito de le prevaricacrio.<br />

- ao Presidente do orgAo juigador, bais,<br />

da mesma<br />

hierarquia formal, que ao Jun canpre<br />

dirindr.<br />

Nitaencontro configured°, no primeim<br />

fate arrolado na dentincia, nenhum<br />

dos eiementos do crime previsto<br />

no art. 319 do Cfsdigo Penal.<br />

A segtmda imputacgo atribui ao<br />

denunciado Leal Pagundes o crime<br />

de prevaricaelio, por ter, na qualidade<br />

de Presidente da 2? Tenndo<br />

Tribunal de Justice do Distrito Federal,<br />

permitldo, Inusitadamente e de<br />

forma inklita, que o<br />

eadvogado Pedro Calmon Mendes<br />

injuriasse e caluniasse, da forma<br />

mats soez, o Jun IrajA Pimentel,<br />

que Protein' Mattes nos autos<br />

da Manna e debninara a extrace°<br />

de pecas para o oferecimento<br />

da denfircia contra o Paciente<br />

do habeas corpus, e, ainda<br />

concedeu-lhe prorrogane de tem_<br />

po. Assiut procedendo, debtou de<br />

praticar ate de oficio, determined°<br />

pelo art. 18 do Estatuto da Ordem<br />

dos Advogados.*<br />

Ora, tanto urna coin° outra dessas<br />

priticas longs de lnfiditas e inuslta-<br />

. E<br />

tot Precisamente a exletlincla da gravacito<br />

g e daS=sden taqUi nificas, envladas<br />

pelt* te da Turin* ao<br />

Presidents do Tribunal, que permitiu<br />

ao me Ind* Phnentel processar crimjnalmente<br />

o advogado Pedro Calmon<br />

Mendes. Nem sempre men,<br />

'Isar a sustentacao oral, de maneira<br />

a imPedir que a autoridade apontada<br />

comp coatora ou suspeita seja atacada.<br />

A prAtica macs consetanea e a de<br />

envier a quem de direito os terms<br />

dos ataques para que seja responseblitzed°<br />

o advogado se for o caso.<br />

Onde, pots, o crime de prevaricaclio<br />

neste epis6dio?<br />

Como dernonstrwäo macs<br />

quivoca do sentimento pessoal, caracterizador<br />

do crime definido no<br />

art. 319 do COdigo Penal, a de/lb/Ida<br />

apresenta o fato de os Desembargadores<br />

Leal Pagundes e Helfidio Montelro<br />

terem votado pela concessäo do<br />

habeas corpus bnpetrado, a seu favor,<br />

Oelo advogado Pedro Calmon<br />

Mendes, reconhecendo a incomPe-<br />

Nona da Justice comum e a canoe-<br />

Minna da Justice Minter pare pio<br />

cessar a ado penal instaurada contra<br />

o inmetrante, em razAo das ofen-<br />

SaS que dirigira ao Julz Irajá Pimentel,<br />

em sustentaclio oral.<br />

NAo percebo em que a acoliticla da<br />

decilnatecia, que importou no reconhecimento<br />

de crime man grave<br />

contra o advogado Pedro Calmon<br />

Mendes, Mies °tenses que dirigira<br />

ao Juiz Irak* Pimentel, posse eer Interpretada<br />

come decistio proferida,<br />

por sentiment* de desafeicAo ao aludido<br />

magistrado. PoderA ester errs-<br />

da, e assim a conslderou o EgrOgio<br />

Tribunal Superior Minter, porêm,<br />

erro in judIcando que, por si so, nä°<br />

configure o crime de prevaricacAo.<br />

Retomando ao habeas corpus con-<br />

°ern& a Lutz David sob o fundament°<br />

de que s6 na reincldencia 6 que se<br />

configura o crime definido no art. 18<br />

do Decreto-lei n. 15/87, o Desembargador<br />

Leal Fagundes, sustenta a de-<br />

/Karat, thtia o dever de estender a<br />

ordem ao co-r6u Raimundo Bernardo<br />

Lima, tarnbem acusado de ter<br />

exillido custas indevidas, e assim<br />

niio fez, korque havia interesse em<br />

Niger o merito da apelaflo desse<br />

serventuitrio, votando, depots, no Jul-<br />

21


22<br />

R.T.J. — 94<br />

gamento desse recurso, pela absolvi- justificar a ilegalidade e o facciosispor<br />

insuficiencia de provas. mo de sua conduta, sem esclarecer<br />

quaffs sejam essas rathes.<br />

Ndo atino qual tenha sido esse interesse,<br />

eis que o voto do Desembar- 0 Desembar gador Leal Fagundes<br />

gador Leal Fagundes concluiu pela em oficio dirigido ao eminente Miabsolvicão<br />

de Raimundo, por insufi- nistro Cordeiro Guerra, antes do ofeciencia<br />

de prova. Qual podera ser a recimento da denuncia, explica:<br />

repercussão desse pronunciamento «Cientificado dos termos das in-<br />

no julgamento final de Luiz David, formacees prestadas a Vossa Ex-<br />

ccmstitui ponto nao esclarecido na celencia pelo Exmo. Sr. Desembar-<br />

denuncia.<br />

gador Presidente desta Corte e Mc)<br />

Ademais, no pormenor, a dentincia tendo sua Excelencia se dignado<br />

intidiu em lamentavel equivoco. No propiciar-me esclarecimento s su-<br />

julgamento do habeas corpus conceplementares, a respeito de decisão<br />

dido a Luiz David de Freitas, o De- ou de processo pendente de julgasembargador<br />

Leal Fagundes finali- mento desta Turma, tenho a honra<br />

Zell o seu voto assim:<br />

de encaminhar-lhe tats suplementos,<br />

que me parecem relevantes,<br />

«Por todas essas rathes, concedo solicitando-lhe que me releve a in-<br />

a ordem ao paciente e a estendo ao tromissão, aconselhada pelos ou-<br />

outro reu Raimundo Bernardo de tros membros da Turma e que se<br />

Lima, a fim de ser trancado o pro- tem o propesito de melhor inforcesso,<br />

em que ambos foram, mar e para o case de interessar ao<br />

degitima e ilegalmente condena- estudo de Vossa Excelencia.<br />

dos, por crime inexistente.” (Apen-<br />

,so n? 1, f. 113).<br />

Quanto ao Agravo de Instrtunento<br />

n? 288, cumpre esclarecer que a<br />

A anima acusacdo formulada na materia nele contida foi objeto da<br />

denuncia contra o Desembargador Uniformizacao da Jurisprudencia<br />

Leal Fagundes e a de que<br />

n? 1, 'cujo Actirdao do Tribunal<br />

ovotou pelo trancamento da acdo Pleno, corn um se voto discrepan-<br />

penal intentada contra Jose Garcia te, segue, em apenso.<br />

Ribeiro, ate que fosse julgada a No que respeita a Apelacäo Civel<br />

apelacao deste na acao de falencia. n? 3.805, da qual sou o Relator, te-<br />

do se usurpou a competencia do nho a honra de remeter a Vossa<br />

juiz de primeira instancia, de cuja Excelencia, também em apenso, a<br />

deeiseo, se denegatoria, nao cabe reproducáo fiel de todas as pecas<br />

.duaiquer recurso, como nao fixou dos respectivos autos corn o escla-<br />

ptazo para a suspensdo. Decidiu, recimento (que ja fiz, verbalmen-<br />

pois, contra expressa disposicao de te, ao eminente Desembargador<br />

lei: COdigo de Processo Penal, art. Presidente do nosso Tribunal) de<br />

93, §§ 1? e 2?. E, macs grave ainda, que o respectivo julgamento ainda<br />

sendo Relator da Apelacâo Civel, nao foi levado a efeito, porque: a)<br />

de cujo julgamento fizera depender o Dr. Juiz prolator da sentenca foi<br />

o prosseguimento de acao penal, averbado de partial, em favor do<br />

nä° a levou a julgamento. A data reu da demanda, o qual ja teria su-<br />

da dentincia os autos the estavam bornado outro Juiz, demitido pelo<br />

conclusos ha 2 anos e 8 meses. E AI-5, bem como subornado teste-<br />

ate agora nao a passou ao Revimtuthas da mesma demanda; b)<br />

sor».<br />

tal averbacao feita por advogado,<br />

Adianta a denuncia que sac, de ma- alem de areada, na defesa oral do<br />

nifesta improcedenc ia as razbes, que habeas corpus n? 1.715, é objeto de<br />

esse denunciado apresentou, para excecao da verdade, levantada em


feito criminal pendente, como cornprovam<br />

as respectivas pecas, em<br />

anexo; C) diante de noticias tao<br />

graves, ache' de born alvitre<br />

aguardar a apuracao criminal dos<br />

fatos imputados ao Dr. Juiz e As<br />

testemunhas, ate porque a sentenca<br />

penal, se confirmaibria da exceciao<br />

da verdade, acarretaria a nulldade<br />

da sentenca civet d) a Apelace°<br />

Civet n? 3.805 estA suspensa,<br />

portanto, por esses relevantes fundamentos,<br />

e ate porque a mora nao<br />

prejudica as partes, que, como se<br />

ye dos autos reproduzidos, nenhuma<br />

reciamacao fizeram<br />

Reiterando escusas pela intromissao<br />

decorrente de lamentAvel<br />

conjunttwa e que rogo seja relevada,<br />

apresento a Vossa Excelencia<br />

meus protestos da ma's alta admirace°<br />

e do mats profundo respeito.»<br />

(fls. 361-362)<br />

A demora no julgamento da apelacao<br />

civel, da qual o denunciado e relator,<br />

foi por ele razoavelmente justificada,<br />

e essa justificativa assume<br />

malor grau de convencimento diante<br />

da ausencia de qualquer reclamacao<br />

das partes ou do Ministerlo PUblico,<br />

que poderiam, inclusive, argiiir excecao<br />

de suspeicao do magistrado ou<br />

interpor agravo regimental. Todavia,<br />

as explicacOes do denunciado<br />

omitiram fato relevante. E que a Se-<br />

gunda Turma, em julgamento por<br />

ele presidido e corn o seu voto, concedeu,<br />

a 11 de junto de 1975, o<br />

habeas corpus n? 1.715, impetrado<br />

pelo Bel. Pedro Calmon Mendes, eh<br />

favor de Jose Garcia Ribeiro, «para<br />

o sobrestamento da acao penal ate o<br />

julgamento do feito civel de que se<br />

originou» (f. 429). Em face desse<br />

precedente, o retardamento no julgamento<br />

da apelacao dye!, da qual o<br />

denunciado Leal Fagundes e relator,<br />

criou um impasse, que estA impossibilitando<br />

a tramitacao e julgamento<br />

do processo criminal. Improcedentes<br />

que sao, pelo visto, as rages apresentadas<br />

em sua resposta escrita,<br />

R.T.J. — 94 23<br />

desponta, como digna de consideracao,<br />

para os efeitos da denthcia,<br />

quanto a essa parte, a imputacao de<br />

que o acusado estA retardando o julgamento<br />

da Apelacao Civel n? 3.805,<br />

para satisfazer o sentimento pessoal,<br />

consistente no proposito de impedir o<br />

julgamento da ace° penal a que responde<br />

Jose Garcia Ribeiro.<br />

3 — 0 Desembargador Juscelino<br />

Ribeiro a acusado de se ter deixado<br />

«envolver na luta que deflagrou<br />

no Tribunal de Justica, tenth por<br />

pive o escrivao Luiz David, para<br />

emprestar sua solidariedade, pelo<br />

sentimento da amizade — aos Desembargadores<br />

Leal Fagundes e<br />

Jose Fernandes, passando assim a<br />

praticar, como autor ou co-autor,<br />

atos ou omissees, que o enquadram<br />

nas sancOes do art. 319 do COdigo<br />

Penal. Votou, como Relator, pela<br />

concessao da ordem de habeas<br />

corpus a Jose Garcia Ribeiro, suspendendo,<br />

sem fixacao de prazo e<br />

usurpando a competencia do Juiz<br />

do processo, a ace° penal movida<br />

contra o paciente, o que, como IA<br />

se demonstrou, desrespelta frontalmente<br />

o art. 93, e seus 11§ 1? e 2? do<br />

COdigo de Processo Penal, para satisfazer<br />

sentimento pessoal.<br />

Nesse mesmo julgamento,<br />

permitiu que o advogado Pedro<br />

Calmon Mendes ofendesse moralmente<br />

o Juiz prolator da sentenca<br />

que determinara a instauracao da<br />

acao penal, o Dr. IrajA Pimentel,<br />

caluniando-o, injuriando-o e<br />

difamando-o, contrariando, assim,<br />

expressamente o disposto no art.<br />

15 do Estatuto da Ordem dos Advogados,<br />

ainda para satisfazer sentiments<br />

pessoal: o interesse em atingir<br />

o Juiz que cometera o crime de<br />

acelerar julgamento do genro de<br />

seu colega de Turma, desencadeando<br />

as iras deste Ultimo.<br />

c) Tao despropositada fol sua<br />

conduta, permitindo as acusacees


24<br />

ao Juiz, que reconheceu a impertinencia<br />

da materia tratada pelo advogado,<br />

propondo a remessa de<br />

seu trabalho ao Presidente do Tribunal,<br />

o que mostra seu sentimento<br />

pessoal contra o Juiz. Mais tarde,<br />

no habeas corpus em favor do<br />

advogado, processado pelas of ensas<br />

que enteo irrogara ao Juiz, viria<br />

reconhecer que a conduta do<br />

advogado atentara contra a Seguranca<br />

Nacional.<br />

d) Ainda no julgamento da apelace°<br />

do co-réu de Luiz David, o<br />

Serventuario Raimundo Bernardo<br />

de Lima, deu mostras de sua parcialidade,<br />

deixando de praticar ato<br />

de oficio.<br />

Votando pela concessao do<br />

habeas corpus em favor de Luiz<br />

David porque, por ele punido corn<br />

a pena de suspensao, s6 na reincidencia<br />

se configuraria o crime definido<br />

no art. 18 do Decreto-lei n?<br />

115/67, era seu Bever, determined°<br />

expressamente em lei (C6digo de<br />

Processo Penal, art. 580) estender<br />

a ordem ao co-reu, por ele igualmente<br />

punido no mesmo processo<br />

administrativo, eis que o fundamento<br />

do habeas corpus neo era de<br />

natureza pessoal».<br />

Esses fatos je foram examinados<br />

no tapico atinente ao Desembargador<br />

Leal Fagundes, componente, assim<br />

como o Desembargador Juscelino<br />

Ribeiro, da Segunda Camara do<br />

Tribunal de Justice do Distrito Federal,<br />

e, nele, expus, as razaes pelas<br />

quaffs concha que nenhum dos ditos<br />

fatos configuram o crime de prevailcacao.<br />

A elas, destarte, me reporto, salientando<br />

que a concessao, em parte,<br />

do habeas corpus, impetrado a favor<br />

de Jose Garcia Ribeiro, para determiner<br />

a suspensao da ace° penal<br />

instaurada contra esse paciente, este<br />

justificada, no voto que, na qualidade<br />

de Relator, proferiu o Desembargador<br />

Juscelino Ribeiro:<br />

R.T.J, — 99<br />

«Assim quanto ao trancamento<br />

da ace° penal o meu voto a pela<br />

denegaceo da ordem.<br />

0 mesmo je não ocorre no que<br />

diz respeito ao sobrestamento do<br />

processo penal ate que seja decidida,<br />

em definitivo, a acão civel de<br />

que indiscutivelmente se originou.<br />

Quando o C6digo de Processo Penal,<br />

em seu art. 64, paragrafo Waco,<br />

lacuna ao Juiz do Civel a suspensao<br />

do curso da ace° ate o julgement°<br />

da ace° penal de que se<br />

originou, deixa entrever que a<br />

reciproca 6 verdadeira, isto e, que<br />

tambem o Juiz do Crime podere<br />

sobrestar o andamento do feito se<br />

este este intimamente vinculado a<br />

uma acao civel ainda nao decidida<br />

finalmente.<br />

Este entendimento encontra<br />

apoio tanto no bom senso como no<br />

que estatui o preprio C6digo Penal<br />

em seu art. 3?, ao admitir interpretacao<br />

extensive e aplicacao ana16gica<br />

bem como o suplemento dos<br />

principios gerais de direito.<br />

Restou absolutamente Ind'scutivel<br />

que a ace° penal intentada<br />

contra o paciente Jose Garcia Ribeiro<br />

6 oriunda da acao civel, ainda<br />

sub judice;podendo de seu julgement°<br />

final resultar conseqiiencies<br />

que prejudiquem o julgamento<br />

da primeira.<br />

Por assim entender, concedo a<br />

ordem unicamente para determiner<br />

o sobrestamento do processo<br />

criminal ate o julgamento definitivo<br />

Bas questaes civets a que este<br />

intimamente vinculada, no caso a<br />

Apelacao Civel n? 3.805». (f. 427).<br />

Poder-se-A divergir de tais fundamentos,<br />

portm, entre divergir e encontrar<br />

configured o crime de prevaricacao,<br />

nesse julgamento, vat<br />

uma enorme distencia. E não a exato<br />

que a suspensao do processo criminal<br />

haj a sido determinada sem a<br />

fixacao do prazo. Existisse, essa<br />

omissao no acOrdeo e o Ministkrio


26<br />

R.T.J. — 94<br />

quele advogado, visando a trancar<br />

a acão penal decorrente da acäo<br />

civel, o Desembargador Juscelino<br />

não se deu por impedido e votou<br />

pela concessäo do Habeas Corpus,<br />

sendo relator o Desembargador Jose<br />

Fernandes. E, como se demonstrou<br />

nos autos, o motivo de sua<br />

suspeicao na apelacão civel, era,<br />

precisamente, a amizade corn o<br />

advogado Rezende Costa.D<br />

Deixou de indicar na denfmcia em<br />

que fatos ou circunstencias se baseou<br />

para afirmar que o motivo da<br />

suspeicão na apelacäo civel era precisamente<br />

a amizade corn o advogado<br />

Rezende Costa, e essa explicitaceo<br />

se fazia necessária, visto que a<br />

suspetcdo foi manifestada imotivadamente,<br />

invocando a existencia de<br />

motivo de natureza intima.<br />

A resposta escrita do Desembargador<br />

Juscelino explica a ocorrencia:<br />

e0 denunciado nä() tinha, como<br />

salientou, um Orgeo disciplinar a<br />

quern pudesse, nos termos do art.<br />

119, § I?, do COdigo de Processo Civil,<br />

entäo vigente, comunicar quail<br />

motivos determinavam sua suspeicão<br />

para decidir o caso. Comunicaos,<br />

agora, ao eg. Supremo Tribunal<br />

Federal, em documento pUblico,<br />

premido pela denUncia maliciosa<br />

que pretende se intrometer, para<br />

exercitar o dom de advinhacão, no<br />

mais recendito daqueles contra os<br />

quaffs se dirige. 0 que determinou<br />

a suspeicen do denunciado para o<br />

julgamento da Apelack, Civel n?<br />

2.113 foi a sua amizade intima corn<br />

os proprietarios e prepostos da Renovadora<br />

de Pneus O.K. Ltda Este<br />

o motivo de haver afirmado a sua<br />

suspeicao pois, como disse, sendo<br />

human e imperfeito, sempre temeu<br />

que a amizade pudesse<br />

levy-lo a decidir injustamente, ainda<br />

que a injustica decorresse de<br />

conduta tie° consciente.<br />

Este, e não a relacão de cordialidade<br />

que mantem corn o advogado<br />

Antonio Rezende Costa, relacdo<br />

que, de resto, mantem corn urn nilmero<br />

muito grande de advogados<br />

ern Brasilia e que explica, inclusive,<br />

o fato, aludido na dentincia, de<br />

haver o Juiz Romildo Bueno de<br />

Souza encontrado, ern seu gabinete<br />

de Presidente do Tribunal Regional<br />

Eleitoral, o advogado Pedro<br />

Calmon Mendes. As portas de seus<br />

gabinetes — de Desembargador e<br />

de Presidente do Tribunal Regional<br />

Eleitoral — sal abertas, permanentemente.<br />

A tais gabinetes<br />

tern acesso todos os advogados que<br />

precisem f alar corn o denunciado<br />

e, dentre eles inclusive, o Dr. Arlindo<br />

Leoni de Sousa, mencionado<br />

na noticia criminal.<br />

As relacties de amizade do denunciado<br />

corn os proprietarios e<br />

prepostos da firma Renovadora<br />

Pneus O.K. Ltda., impediu-o de julgar<br />

a ApelacAo Civel n? 2.113, na<br />

qual dita firma figurava como apelada.<br />

Tal fato, contudo, nen o impediu<br />

de votar no habeas corpus<br />

impetrado em favor do advogado<br />

Antonio Rezende Costa. 8 que, como<br />

se colhe do voto do Desembargador<br />

Jose Fernandes de Andrade,<br />

o interesse da firma Pneus O.K.<br />

Ltda., na causa, era nenhum. Havendo<br />

recebido, anteriormente, corn°<br />

declarara, a importencia que<br />

reclamava na acao civel, natural<br />

seria seu descaso pelo resultado da<br />

KA° penal, esta que se (aria, entar),<br />

entre a Justica Pablica e o advogado<br />

Antonio Rezende Costa.<br />

Saliente-se, por Ultimo, que o voto<br />

do denunciado, n'do decidiu a<br />

concessâo io habeas corpus. 0 pedido<br />

foi deferido por unanimidade<br />

e, assim, ainda que o denunciado<br />

ou rap votasse — numa premonicão<br />

de que votando seria denunciado<br />

— ou votasse pela denegacão da<br />

ordem, essa seria concedida por<br />

maioria de votos. A constatacâo<br />

deste irrefutável dado da realidade,<br />

desconfigura a conduta do denunciado,<br />

afastando-a do tipo pre-


visto no art. 319 do 05digo Penal,<br />

ainda que, para s6 argumentar, se<br />

pudesse ter como veridica a afirmacAo<br />

da dentincia de que, agindo<br />

assim, satisfazia sentimento pessoal<br />

«... qual o de beneficiar o paciente,<br />

seu amigo». (fls. 413-414).<br />

E acrescente-se que a hipetese, se<br />

real a verstio da denüncia, nAo seria<br />

de impedimento (art. 252 do C6digo<br />

de Processo Civil) e, sim, de suspeicAo,<br />

superada e inexistente por falta<br />

de argticAo oportima.<br />

De igual natureza e a imputaelto<br />

derradeira, de que o Desembargador<br />

Juscelino tambem, para satisfazer<br />

sentimento pessoal, no caso a Lanni_<br />

zade corn o Juiz Waldir Meuren e a<br />

amizade corn o Desembargador Jose<br />

Fernandes, deixou de indicar o primetro,<br />

em vaga de antigOidade para<br />

o Tribunal de Justica, sendo o aludido<br />

Juiz o mais antigo.<br />

Trata-se de ato imotivado e secret°,<br />

sendo gratuita, sob o ponto de<br />

vista jtuldlco, a vinculagAo que the<br />

empresta a denüncia.<br />

4 — Contra o Desembargador HelAdio<br />

Toledo Monteiro sAo imputados<br />

crimes de prevaricacão, por ter participado,<br />

corn os Desembargadores<br />

Leal Fagundes e Juscelino Ribeiro,<br />

todos integrantes da Segunda Camara<br />

do Tribunal de Justica do Distrito<br />

Federal, do Julgamento do habeas<br />

corpus em favor do escrivAo Lutz<br />

David e, bem assim, do impetrado<br />

em prol de Jose Garcia Ribeiro, nos<br />

quaffs proferiu decisees corn o indiscutivel<br />

prop6sito de satisfazer sentimento<br />

pessoal.<br />

A esse denunciado se aplicam as<br />

consideracOes IA feitas sobre a ausencia<br />

de tipicidade em tais atos para<br />

a configuracAo do crime de prevaricacAo.<br />

HA, no entanto, tuna actisacAo que<br />

s6 diz respeito ao Desembargador<br />

HelAdio de Toledo Monteiro. Segundo<br />

ela, esse denunciado,<br />

R.T.J. — 94 27<br />

«por solidariedade aos seus colegas<br />

Desembargadores Leal Fagundes,<br />

Jost Fernandes e Juscelino<br />

Ribeiro, escreveu carta ao Juiz<br />

Waldir Meuren, dizendo-lhe que<br />

nAo o indicaria para vaga existente<br />

no Tribunal de Justica, a ser<br />

preenchida pelo criterio de antigthdade,<br />

por ser initnigo daqueles Desembargadores,<br />

o que importa em<br />

manifesta prevaricacAo, pots a<br />

permissào que a ConstituicAo preve<br />

para recusa do Juiz mais antigo,<br />

logicamente assenta em<br />

pasciveis defeitos e insuficiencias<br />

do magistrado a ser promovido,<br />

nunca, porem, no seu born ou mau<br />

relacionamento corn algum ou alguns<br />

membros do Tribunal.»<br />

Ainda nessa parte, a denfmcia se<br />

ressente de falta de tipicidade. A<br />

carta foi escrlta, como consta do seu<br />

texto, a pedido do Julz Waldir Meuren.<br />

A motivacAo nela exposta nä°<br />

tern outra explicacão do que o excessivo<br />

e despropositado escrUpulo do<br />

denunciado.<br />

0 Desembargador nAo deve dar<br />

explicacOes acerca dos votos sigflosos<br />

que profere nas sesshes secretas<br />

do Tribunal. Contudo, as constantes<br />

da carta demonstram que o missivista<br />

deircou de indicar a promocAo 0<br />

Julz Meuren atendendo ao que the<br />

parecla do interesse do Tribunal.<br />

Entendeu que a maneira como esse<br />

Juiz vinha decidindo as canns de<br />

acidente do trabalho e a inimizade<br />

que mantinha corn fres Desembargadores<br />

desaconselhavam seu ingresso<br />

na Corte. Certa ou errada essa motivacAo,<br />

inspirada nAo foi ela em sentimento<br />

pessoal. E manifesta, nesse<br />

ponto, a falta de arrimo juridico da<br />

dentincia.<br />

5 — Consoante a dentincia, o Desembargador<br />

Jose Fernandes de Andrade<br />

e o causador hidireto de todos<br />

os acontecimentos que dão origem A<br />

acAo penal. Sogro do EscrivAo Lutz<br />

David, tornou-se inimigo dos J1.11ZeS<br />

que desencadearam o inquérito con-


28<br />

tra seu genro, recorrendo inclusive,<br />

a ameacas contra a Juiza Dra. Maria<br />

Carmen, esposa do Juiz Dr.<br />

Eduardo Andrade Oliveira, usando<br />

ate as armas da calUnia. Da mesma<br />

forma, inimizou-se corn o Dr. IrajA<br />

Pimentel porque, funcionando no<br />

processo-crime contra Luiz David,<br />

cortou a chicana e contribulu para<br />

que a ac ão penal prosseguisse coin<br />

rapidez, chegando ao seu final.<br />

a) Participou, como Relator, do<br />

julgamento da apelacAo do Oficial de<br />

Justica Jose Luiz da Silva, recentemente<br />

demitido a bem do servico<br />

mas amigo inseparAvel de<br />

Luiz David, e que fora condenado<br />

precisamente pelo Dr. IrajA Pimentel<br />

pena de 3 anos e 9 meses de reclusào,<br />

como incurs° nas sancoes do<br />

art. 171, pela prittica de dots crimes<br />

de estelionato, praticados em continuacAo,<br />

achando-se a pena exaustivamente<br />

fundamentada.<br />

Acontece que na mesma sessAo,<br />

serla julgado o habeas corpus de seu<br />

genro, o escrivAo Lutz David. NAo<br />

era possivel premiar a este com a<br />

concessAo da ordem, e, ao mesmo<br />

tempo, manter a pena imposta a Jose<br />

Luiz, que importava na perda da<br />

funcAo Mblica, jA que ambos estavam<br />

irmanados e empenhados na<br />

companha difamateria contra o Juiz<br />

'raj* Pimentel.<br />

Dai o voto que, como Relator, proferiu<br />

o Desembargador Jose Fernandes,<br />

que nAo pode ser considerado<br />

como simples error in judicando.<br />

Afirmou que o Juiz fixara a penabase<br />

em 2 anos e 6 meses, tau<br />

mato de cominacAo p<strong>revista</strong> no C6digo<br />

Penal. Ora, sendo as penas de 1<br />

ano, no minimo, e 5 anos, no mAximo,<br />

o grau medio seria 3 anos. Afirmou,<br />

a seguir, que nao poderia fazelo<br />

«pois somente em caso de reincid6ncia,<br />

art. 47 do COdigo Penal 6 que<br />

a pena sera fixada acima da metade<br />

da soma do minimo corn o mAximo».<br />

Proclamou assim outra inverdade,<br />

que nAo pode ser considerada erro,<br />

R.T.J. — 94<br />

mesmo porque a pena-base fora fixada<br />

aquem do grau medio.<br />

Ainda com o propesito de diminuir<br />

a pena, para evitar a perda da funcAo<br />

Mblica, entendeu que a torpeza<br />

e elementar do crime de estelionato,<br />

o que tambem nao a verdade.<br />

«Assim, de reducão em reducAo,<br />

para satisfazer sentimento pessoal,<br />

qual o de favorecer o amigo de seu<br />

genro, chegou a pena-base de 1 am e<br />

6 meses, a qual acresceu de 1/6, para<br />

chegar ao total de 1 ano e 9 meses,<br />

e assim nAo perder a funcAo p0blica,<br />

e, ao mesmo tempo, permitir o<br />

reconhecimento da prescricAo, o que<br />

serla impossivel se a pena fosse superior<br />

a 2 anos.»<br />

Da maneira como a descrito o julgamento<br />

da apelacão interposta pelo<br />

Oficial de Justica Jose Luiz da Silva,<br />

talvez tenha havido, realmente,<br />

error in judicando. Entretanto, na<br />

imputacAo do crime de prevaricacAo,<br />

tres sào as arestas que apresenta,<br />

nesse particular, a dentinal: a)<br />

nAo consta que o erro tenha sido proclamado<br />

pelo Supremo Tribunal Federal,<br />

mediante a interposicAo de rearm<br />

extraordlnario pelo Ministkrio<br />

PUblico, de maneira que, achando-se<br />

a decisAo, sob o pAlio da coisa julgada,<br />

defeso a alegar-se que foi proferida<br />

contra expressa disposivAo de<br />

lei; b) a decisão nAo 6 da autoria singular<br />

do Desembargador Jose Fernandes,<br />

para que s6 ele possa ser<br />

acusado por ela; c) inexIste relacão<br />

de dependència, ou, pelo menos, a<br />

denUncia nao a demonstrou, entre o<br />

processo a que respondeu o EscrivAo<br />

Luiz David; genro do Desembargador<br />

Jose Fernandes, por crime de<br />

concussAo, e a acAo penal instaurada<br />

contra o Oficial de Justica Jose Luiz<br />

da Silva, por crime de estelionato.<br />

As mencionadas arestas demonstram<br />

que falta a imputacao a tipicidade<br />

do delito de prevaricacAo.<br />

Narra, também, a denUncia que o<br />

Desembargador Jose Fernandes


f2^


30 R.T.J. — 94<br />

do confronto da narrativa da dentincia<br />

corn a figura delituosa definida<br />

no art. 319 do C6digo Penal, para o<br />

que, tambem, level em conta as respostas<br />

escritas oferecidas pelos acusados,<br />

no prazo de 15 dias, que flies<br />

bpi concedido, ex vi do art. 226 do<br />

Regimento Intern°. Esse prazo proporciona<br />

um contraditOrio vestibular<br />

que autoriza, inclusive, a rejeicao da<br />

deraincia pelo reconhecimento da<br />

improcedencia da acusacão Nesse<br />

passo, nao vejo diferenca entre o<br />

procedimento estabelecido pelo Regimento<br />

Interno para os processoscrimes<br />

da competencia originaria do<br />

Supremo Tribunal Federal corn o referente<br />

aos processos da competencia<br />

originaria dos Tribunals de Justica,<br />

e regulados no C6digo de Processo<br />

Penal, o qual e expresso no art.<br />

559 de que “se a resposta ou defesa<br />

previa do acusado convencer da improcedencia<br />

da acusacao, o relator<br />

propora ao Tribunal o arquivamento<br />

do processo».<br />

Em votes anteriores, salientei que<br />

o julgamento da improcedencia da<br />

acusacão nao pode ultrapassar a verificacao<br />

das provas de natureza inequivoca.<br />

Na especie sub judice nao<br />

ultrapassei essa balisa. De regra,<br />

alias, nem a tangenciei, pots me limitei<br />

a proclamar a inexistencia de<br />

crime na quase totalidade das imputacOes.<br />

As raras incursees que empreendi,<br />

pelas alegacOes e as provas<br />

apresentadas nas respostas escritas,<br />

objetivaram desfazer meras suposicties<br />

levantadas na denancia e totalmente<br />

afastadas pela defesa.<br />

8 — Ante o exposto, recebo a denfincia<br />

tao somente quanto ao fato<br />

vinculado a paralizacao da ApeIna()<br />

Civel n? 3.805, imputacao essa feita<br />

unicamente ao Desembargador Leal<br />

Fagundes e nao recebo a denfincia<br />

em relacao as demais acusacOes e<br />

aos outros denunciados, corn a maxima<br />

venia do veto proferido pelo eminente<br />

Ministro Cordeiro Guerra.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cunha Peixoto: Sr.<br />

Presidente, o eminente Procurador-<br />

Geral da ReptibIlea denunciou os Desembargadores<br />

Leal Fagundes, Jose<br />

Fernandes, Juscelino Rlbeiro e Heladio<br />

Monteiro pelo crime do art. 319<br />

do C6digo Penal. Esse delito<br />

caracteriza-se pelo retardamento ou<br />

°missal) indevida de atos de oficio ou<br />

pela aplicacao desses mesmos atos<br />

contra disposicao expressa de le1<br />

Como assinala Eusebio Gomes, o<br />

elemento moral do crime de prevaricacao,<br />

principalmente corn relacdo<br />

ao juiz, encontra-se na intencao de<br />

contrariar a lei. Dal haver Rivarolle,<br />

citado per Bent° de Faria, proclamado<br />

que se a lei nao ordena ou<br />

proibe expressamente o que foi aplicado<br />

ou omitido, embora virtualmente<br />

esteja nela contido, nao se configure<br />

esse delito. Por seu turno, outro<br />

grande escritor argentino, Soler, ensina<br />

que nao constitui o crime de<br />

prevaricacão, quando o juiz simplesmente<br />

julga contra a lei ou aplica<br />

equivocamente o direito. E, na verdade,<br />

assim e, porque, do contrario,<br />

toda vez que o Supremo Tribunal conhecesse<br />

de recurso pela letra a do<br />

permissivo constitutional, teria' que<br />

haver prevaricacao, porque o juiz ou<br />

os Tribunais estariam negando a vigencia<br />

de uma lei <strong>federal</strong>.<br />

Firmados esses principios e baseado<br />

nessas premissas, passarei a examinar<br />

os fatos narrados na denimcia,<br />

para corn elan estabelecer minha<br />

conclusào E adotarei um sistema<br />

diferente do seguido pelo eminente<br />

Ministro Soares Munoz: procurarei<br />

examinar primeiro os fatos que<br />

sari comuns a todos os denunciados e<br />

entre eles se encontra o de nao terem<br />

esses desembargadores dado<br />

sua adesao a promocao do Juiz Dr.<br />

Waldir Meuren, levados por sentimentos<br />

pessoais.<br />

Neste caso como assinalou o Ministro<br />

Soares Munoz, todos sac' de-


nunciados pelo mesmo fato, apenas<br />

acrescentando que o Desembargador<br />

HelAdio Monteiro escreveu uma carte<br />

ao Juiz em questAo. Ora, como<br />

tambUm assinalou com propriedade<br />

o Ministro Soares Muftoz, trata-se de<br />

UM julgamento secreto, em que se<br />

leva muito macs em conta o conhecimento<br />

que se tern do juiz.<br />

Jos6 Duarte, no seu Comenterios<br />

conerituicAo Brasileira, ensina que o<br />

dispositivo segundo o qual o Tribunal<br />

pode rejeitar juiz, por antigilidade,<br />

para ascender ao Tribunal de Justi-<br />

Ca, adveio da Emenda Milton Cam-<br />

P00-<br />

0 eminente Deputado e Professor<br />

masagAo propunha, no anteprojeto<br />

da ConstituicAo de 1946, que a prirneira<br />

promoctlo de julz, 05 se fizesse<br />

por antiguidade; as intermedIA-<br />

rias aiternativamente, e, pare o Tribunal,<br />

apenas por merecimento. E<br />

justificava o eminente Professor<br />

We, mites vezes, urn juiz correto,<br />

mas sem capacidade intelectual, poderia<br />

ascender a urn Tribunal superior.<br />

Dal ter Milton Campos apresen_<br />

tado emenda em que a promoclio seta,<br />

em todos os casos, alternadamente,<br />

por merecimento e antigftidade,<br />

podendo, entretanto, o Tribunal,<br />

por maioria, recusar o mats antigo,<br />

a fim de evitar que elementos, embora<br />

corretos, cumpridores de sells<br />

deveres, mas sem capacidade tritelectual,<br />

tivessem assento no Tribunal<br />

de Justice.<br />

EntAo, quando um Desembargador<br />

vote para a recusa ou nAo de um<br />

juiz, ele leva em conta, inclusive, o<br />

clue sabe sobre os dotes intelectuais<br />

do candklato. Como acentuava Milton<br />

Campos, nAo havla nenhum desdoiro<br />

de ordem moral na recusa;<br />

apenas de ordem intelectual.<br />

Ora, alem disso, pela carte do Desembargador<br />

HelAdio Monteiro, que<br />

se vft no processo, ele declarou, expressamente,<br />

que dots foram os motivos<br />

que o levaram a recusar o Ariz<br />

(e fala com 0 preprio Julz): primei-<br />

R.T.J. — 94 31<br />

ro, o interesse do Tribunal, para<br />

que, como declare o eminente representante<br />

do Minisaio Pfiblico, ndo<br />

haja o acrescimo da bancada. E, segundo,<br />

principalmente no tocante a<br />

acidente do trabalho nAo comungava<br />

corn seu ponto de vista —e,<br />

portanto, ate que ele se convencesse<br />

de ester errado, nAo estaria em condivries<br />

de the dar o voto.<br />

NAo vejo, no caso, vontade de agir<br />

contra disposicfto expressa em let e,<br />

portanto, fica afastada a prevaricacão.<br />

No tocante ao julgamento do<br />

habeas corpus, em que e hiteressado,<br />

Jos6 David de Freitas, denunciado<br />

por crime de concussão pelo fato<br />

de ter recebido custas a maior, 6 de.<br />

se assinalar que penalistas de renome<br />

entendem que, no Cdcligo Penal<br />

atual, nAo se aplica ease dispositivo<br />

aos oficiais de caraio, aos escrlvAes.<br />

Nelson Hungria chega a afirmar<br />

no seu ihrni, vol. 9?, da edicAo da<br />

Revista Forense, que este 6 urn dos<br />

graves defeitos do Cedigo Penal da<br />

FtepUblica, que substitulu o paragrafo<br />

5? do art. 135, do Cedigo Penal do<br />

Impftr io , afastando, cliz Nelson HUngria,<br />

a concussAo do funcionerio da<br />

Justice.<br />

Encontrei, pelo menos, dots ac6rdAos<br />

que seguem essa orientacflo;<br />

urn do Tribunal de Minas Gerais e<br />

outro do Tribunal de Stio Paulo.<br />

Por outro lado, o art. 18, do Dec-lei<br />

n? 115, de 1967, declare que s6 a punido<br />

penalmente o escrlvAo, na reincidftncia.<br />

Ora, trata-se de um decreto-lei<br />

com a mesma force, como asslnala o<br />

eminente Ministro Soares Muftoz, do<br />

C6digo Penal.<br />

Era, pots, natural que assim se entendesse,<br />

e quem esti cumprindo<br />

tuna lei nAo prevaiica.<br />

Este argumento serve também pare<br />

o habeas corpus de Paulo Rezende.


32 R.T.J. — 94<br />

A outra alegacAo feita a dots dos<br />

denunciados, Leal Freitas e Juscelino<br />

Ribeiro, a que ambos assistiram,<br />

sem ter procured° reagir, a uma de-<br />

Mamie ao Julz de primeiro grau do<br />

advogado que defendia o habeas<br />

corpus requerido a favor de Jost<br />

Garcia. Primeiro, se havia uma pessoa<br />

responsAvel por esse fato, evidentemente,<br />

s6 poderia ser o Desembargador<br />

HelAdio. Mas ele mesmo<br />

tomou a providkncia razcavel: em<br />

vez de chamar a atencAo do advogado,<br />

no momento, incorrendo na suspeita<br />

de cerceamento de defesa, resolveu<br />

remeter &pia das palavras<br />

do advogado ao Tribunal e ao Julz, o<br />

que serviu de base a tuna queixacrime<br />

contra o advogado. Outro ato<br />

de prevaricacAo: ter o Tribunal concedido<br />

habeas corpus também a esse<br />

advogado, por ter entendido que se<br />

tratava de crime contra a Seguranca<br />

Nacional e nAo crime comum.<br />

Ora, todos n6s sabemos que as penes<br />

referentes a crimes contra a seguranca<br />

national &to multo mats<br />

graves que as dos crimes ordinArios.<br />

Nenhum amigo remeteria, pots, para<br />

Tribunal Milner, como sendo de<br />

seguranca national,- um crime que<br />

poderia near na Justfea comum.<br />

E nAo a possivel !Wert dal que des<br />

o fizeram por bondade ou por amizade<br />

ao advogado.<br />

Outro fato 6 a suspensAo do process°<br />

crime em que a deramcia dedare<br />

que se vlolou o art. 93 do COWgo<br />

Penal. Ora, tratava-se de um caso<br />

grave. Quando li a denüncia, tive<br />

a impressAo de haver um erro de datilografia.<br />

Sti hit ver que estava certo,<br />

porque verifiquet que a defesa<br />

tambem reproduzia o fato.<br />

Diz a denfmcia: «Julgara o dr. Irajá<br />

Pimentel KA° de indenizacAo movide<br />

por Jose Garcia Ribeiro contra<br />

seu Irma° Edgard Garcia Ribeiro.<br />

Coneluta pela procedéncia da acAo<br />

e, por entender que o Autor usara<br />

documento f also, determinou a re<br />

messa de pecas do processo ao M1<br />

nisthrio PUblico, que ofereceu denhncia,<br />

devidamente recebidam. (Fl.<br />

172).<br />

Acho que a acão aqui jA devia ter<br />

sido suspense, pots se ele prOprlo<br />

ache que o documento corn que firma<br />

a sentence a (also, como a que<br />

dA uma sentence sem antes mandar<br />

apurar essa falsidade?.<br />

Ent49, chegam;lo ao Tribunal, yetificaram<br />

nAo ser possivel continuer a<br />

acAo civet, sem que se julgasce pmmetro<br />

a acAo penal. NAo vejo prevaricacAo<br />

no fato, nem em tese Quanto<br />

a suspeicäo do Desembargador<br />

Juscelino Ribeiro, a defesa explica a<br />

razAo de seu procedimento. Declare<br />

ter ele relactes normals com o advogado.<br />

A sua suspeicAo, na acão,<br />

ocorreu porque eta amigo dos diretores<br />

da Empresa OK. NAo importava<br />

mesmo que, em duas awes, figurando<br />

as mesmas partes, o Juiz se de<br />

por suspeito em uma e nAo na outra.<br />

Quantas vezes, ou por leviandade ou<br />

por qualquer motivo, o julz manifests<br />

antecipadamente sua opinião?<br />

Neste caso deve julgar suspeicão,<br />

não o fazendo na segunda.<br />

Quanto aos demais fatos, concordo<br />

corn o eminente Ministro Soares Munoz,<br />

da inexisthncia do crime, exceto<br />

na parte relative ao Desembargador<br />

Leal Fagundes, em que S.Ext! recebe<br />

a dentmcia, por retardamento no Niger/lento<br />

do apelo. Delzei para o fim<br />

o exame desta matkria e, data verde<br />

de S.Exa., tambem aqui recuso a denüncia.<br />

Acho que a explicacAo dada<br />

pelo Juiz 6 razoAvel. Se nAo 6 urn<br />

modelo — e eu nAo apoio, podendo<br />

falar de cAtedra, porque, fellzmente,<br />

sempre mantive meu servico em<br />

dia, em todos os <strong>tribunal</strong>s em que já.<br />

estive — entretanto, ele explica o retardamento<br />

da maneira seguinte: a)<br />

o Dr. Juiz prolator da sentence foi<br />

averbado de partial, em favor do<br />

réu da demanda, o qual já teria suborned°<br />

um outro juiz demitido pelo<br />

41-5, bem como testemunhas da<br />

mesma demanda; b) tal averbacAo


feita pelos advogados, alem de argdida<br />

na defesa oral do HC 1.715, e<br />

objeto de excecao da verdade levantada<br />

em feito pendente, como provain<br />

as respectivas pecas em anexo•<br />

c) diante de noticia tao grave, achou<br />

de born alvitre aguardar a apuracao<br />

criminal dos fatos imputados ao Dr.<br />

Aft, ate 'porque a sentenca penal, se<br />

confirmathria da excecAo da verdade,<br />

acarretaria a nulidade da sentenca;<br />

d) a apelacäo 3.805 estã suspena<br />

portant°, por esses relevantes<br />

fundamentos.<br />

Sr. Presidente, por ease motivos, e<br />

principalmente pelos emitidos pelo<br />

eminente Ministro Soares Mtuloz,<br />

que fez uma anAlise rigorosa e detalhada<br />

de cada fato apontado como<br />

criminoso, eu tamb6m, data venla<br />

do eminente Ministro Relator, rejeito<br />

a denfmcia, mas totalmente, iito<br />

e, corn relacko a todos os denunclados.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Mastro Leith() de Abreu —<br />

Sr. Presidente, peso v6nia ao eminente<br />

Relator para rejeitar a dentineta<br />

quanto aos Desembargadores<br />

Juscelino Jose Ribeiro, Heladio Toledo<br />

Monteiro e Jose Fernandes de<br />

Andrade.<br />

Quanto ao denunciado Jose Jiilio<br />

Leal Fagundes, peso vista.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

ATM 253 — DF — Rel.: Min. Cordeiro<br />

Guerra. Autor: Ministkrio PObile°<br />

Federal. Ilkus: Jose Jfilio Leal<br />

Fagundes. (Adv: Josè Bonifficio Diniz<br />

de Andrada): Jose Fernandes de<br />

Andrade. (Adv: José Bonifãcio Diniz<br />

de Andrada); Ju, Mina Jose Ribeiro<br />

(Adv: Fernando Neves da Silva) e<br />

Helidio Toledo Monteiro. (Adv: Carlos<br />

Roblchez Penna).<br />

DecisAo: Pedlu vista o Ministro<br />

Leith() de Abreu, ap6s os votos dos<br />

Ministros Relator que recebe a de-<br />

R.T.J. — 94 33<br />

nimcia contra todos os acusados, do<br />

Ministro Soares Munoz que a recebe,<br />

em parte, apenas contra o acusado<br />

Jose Julio Leal Fagundes, e do Ministro<br />

Cunha Peixoto que a rejeitava<br />

por inteiro.<br />

, Presidéncia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores, Presentes A Sesos<br />

Srs. Ministros Djaci Falcao,<br />

Antonio Neder, Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Alcinnin, Leith° de<br />

Abreu, Cordeiro Guerra, Moreira Alves,<br />

Cunha Peixoto e Soares Mufloz.<br />

— Procurador-Geral da Reptiblica o<br />

Prof. Henrique Fonseca de AraCijo.<br />

Brasilia, 26 de abrll de 1978 —<br />

Alberto Veronese Agular, Secretiriot<br />

EXPLICACAO<br />

0 Sr. Mastro Cunha Peixoto: Sr.<br />

Presidente, desejo dar uma explicacao.<br />

Eu s6 näo afirmei que seria ou po-<br />

deria ser um equivoco, um erro de<br />

datilografia, porque a defesa reproduziu<br />

a proceancia. Entlio, achei<br />

que näo havia erro. Dal a irdnha<br />

afirmativa, porque semi° feria dito<br />

que era erro de datilografia, Pas, na<br />

verdade, nit° teria sentido a pronedéncia<br />

da acão.<br />

VOTO (VISTA)<br />

0 Sr. Ministro Lena° de Abreu —<br />

Por sentenca de 20 de maio de 1974,<br />

o Juiz 'raja Phnentel julgou improcedente-<br />

acko ordlnaria de indeinzacilo<br />

proposta por Jose Garcia Ribeiro<br />

contra Edgard Garcia !Metro. 0<br />

autor-sucumbente apelou e sua apelack°<br />

foi distribuida ao Desembargador<br />

José JOlio Leal Fagundes, em<br />

19.2.1975, corn o liftmen) 3.805.<br />

Ao julgar improcedente a acão ordinMia<br />

o juiz prolator da sentenca<br />

deterrninou a extracao de pecas e o<br />

seu envio ao Ministkrio Pablico, e este<br />

instaurou acão penal contra Josè<br />

Garcia Ribeiro e outro.


Ao Tribunal de Justice do Distrito<br />

Federal, o advogado Pedro Maurino<br />

Calmon Mendes pediu ordem de<br />

habeas corpus em favor de Jose<br />

Garcia Ribeiro, e a ordem foi concetilde<br />

para sobrestar a acao penal,<br />

ate o julgamento definitivo da acao<br />

ordineria de indenizacao, entao em<br />

grau de apelacao (Apelacdo n?<br />

3.805). Julgaram este pedido de<br />

habeas corpus, de nfimero 1 715, os<br />

Desembargadores Juscelino Ribeiro<br />

(Relator) Heladio Monteiro e Leal<br />

Fagundes.<br />

Na sessao de julgamento deste<br />

habeas corpus, o advogado Pedro<br />

Maurino Calmon Mendes fez sustentack)<br />

oral. Em face dos termos desta,<br />

o juiz Iraja Pimentel — prolator<br />

da sentence na acao ordineria de indenizacao<br />

— sentiu-se ofendido em<br />

sua honra Representou ao Ministerio<br />

Pfiblico, e este ofereceu denfincia<br />

contra o advogado, por crime de call:111M.<br />

1k-se desta denfincia:<br />

«Durante o julgamento desse<br />

habeas corpus, no dia 11 do corrente,<br />

perante os ilustrados Desembargadores,<br />

Representantes do Ministerio<br />

PUblico, advogados e demais<br />

circunstantes, o denunciado,<br />

em sues razOes orals, deixou de lado<br />

o exame dos fundamentos de fato<br />

e de direito da pretensäo do seu<br />

constituinte e, dolosamente, passou<br />

a investir contra a honra de diversas<br />

autoridades constituidas da<br />

Justice local, atacando, especialmente,<br />

o Dr. Iraje Pimentel, em<br />

raid() de suas funcdes, como Magistrado<br />

caluniando-o, por diversas<br />

vezes ao atribuir-lhe, falsamente,<br />

a prance do crime de prevaricacao.<br />

Assim, referindo-se ao julgamento<br />

da mencionada acao de indenizacao<br />

sustentou: "Posteriormente,<br />

assumiu o feito o Dr. Iraje<br />

Pimentel, na qualidade de Juiz<br />

Substituto.<br />

«Falava-se muito na derrota do<br />

paciente, face a amizade existente<br />

R.T.J. — 94<br />

entre aquele Juiz e Edgard Garcia<br />

Ribeiro, a ambos ligados a assuntos<br />

de fazenda, pecuaria e outros,<br />

no vizinho municipio de Luziania e<br />

na Capital da Reptiblica.<br />

«0 paciente, homem pobre, humilde<br />

e fad°, nä° dispondo de<br />

melos para movimentar qualquer<br />

processo ou incidente de suspeicao<br />

daquele Juiz, aguardou humildemente<br />

a sentence do feito (pag<br />

62).<br />

«Afirmando o denunciado que o<br />

ofendido nao se deu por suspeito,<br />

quando deveria faze-lo e, sabendo,<br />

ainda, inexistir a alegada amizade<br />

entre o Juiz e Edgard Garcia Ribeiro,<br />

atribuiu-lhe, falsamente,<br />

omissao de ato de oficio, fato este<br />

previsto como crime, nos termos<br />

do art. 319 do Codigo Penal Brasileiro.<br />

- «A respeito, deve ser ressaltado<br />

que o autor da referida demanda<br />

sempre foi assistido por advogado<br />

e este jamais excepcionou a suspeicao<br />

do ofendido.<br />

«Persistindo po concurso formal<br />

de delitos, alegando, falsamente, a<br />

parcialidade do ofendido, na conduck'<br />

da causa, o denunciado tambem<br />

o acusou de reter os autos indevidamente,<br />

nos seguintes termos.<br />

Mas, Senhores Desembargadores,<br />

o Dr. Iraje Pimentel se apoderou<br />

do processo por quase dois<br />

anos para proferir a sentence definitive.<br />

Durante este tempo, Edgard<br />

Garcia Ribeiro se desfazia dos<br />

seus bens, mOveis e imeveis, inclusive<br />

os de fundo de negócio:<br />

«transformou a razao social de<br />

sua firma e, temeroso de uma derrota,<br />

vendeu o supermercado 'Serve<br />

Bern' para o supermercado Pao<br />

de Acucar Jumbo (f. 62).<br />

Mais uma vez, o denunciado imputou,<br />

falsamente, ao ofendido a


prática do crime de prevaricacno"<br />

( fls. 364-365).<br />

0 advogado-denunciado opts excecao<br />

verdide. Arrolou testemunhas<br />

e pedlu a remes ta dos autos ao Tribunal<br />

de Justisa (C.P.P., artigo 85).<br />

Ao que me parece, a excesão nä°<br />

foi ainda apreciada pelo Orono JudiciArio<br />

competente pare tanto.<br />

Diante de tais circunstiincias, tenho<br />

por razoável a justificativa apresentada<br />

pelo Desembargador Leal Fagundes,<br />

que releio ao Tribunal.<br />

sNo que respeita a Apelactio<br />

Civet 3.805, da qual sou o Relator,<br />

tenho a honra de remeter a<br />

Vossa Exceltncia, também em<br />

yeas°, a reproducsno fiel de todas<br />

as pecas dos respectivos autos,<br />

corn o esclaracimento (clue<br />

ja fiz, verbalmente, ao eminente.<br />

Desembargador Presidente do<br />

nosso Tribunal) de que o respectivo<br />

julgamento ainda nno foi levado<br />

a efelto, porque: a) o Dr.<br />

Adz prolator da sentenca foi<br />

averbado de partial, em favor do<br />

rcsu da demanda, o qual ja teria<br />

subornado outro juiz, demitido<br />

pelo A.I.-5, bem como suborned°<br />

testemunhas da mesma demanda;<br />

b) tal averbacito fefta Vor advogado,<br />

atêm de arguida, na defesa<br />

oral do H.C. n? 1.715, S objeto<br />

de mown° da verdade, levantada<br />

em test criminal pendente,<br />

como comprovam as respectivos<br />

pecas, em anexo; c) climate de<br />

noticias tão graves, achei de bom<br />

alvitre aguardar a apuractto criminal<br />

dos fates Imputados ao Dr.<br />

Juiz e as testumenhas, ate porque<br />

a sentence penal, se confirmattes<br />

da excesilo da verdade,<br />

acarretaria a nulidade da sentence<br />

civet d) a Apelacito Civet n?<br />

3.805 est& suspensa, portanto, por<br />

esses relevantes tundamentos, e<br />

ate porque a mora n8o prejudica<br />

as partes, que, como se ve dos<br />

R.T.J. — 94 35<br />

autos reproduzidos, nenhuma reclamacão<br />

fizeram" (f. 362).<br />

Senhor Presidents, pelos fundamentos<br />

dos votos do eminente Ministro<br />

Soares Munoz, Relator, e do preclam<br />

Ministro Cunha Peixoto, já rejeftei<br />

a denturcia, na sessalo plemiria<br />

de 26 Ultimo, no tocante aos denunclados<br />

Desembargadores Juscelino<br />

Jost Ftibeiro, Heltylio Toledo Monteiro<br />

e Josè Fernandes de Andrade.<br />

Data yenta do eminente Relator, rejeito,<br />

agora, a dentmcia em relactio<br />

ao Desembargador Jost alto Leal<br />

Fagundes, acompanhando, nesta<br />

parte, o voto do Ministro Cunha Peixoto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

APn 253 — DF — Rel., Min.<br />

Cordeiro Guerra. Autor: Ministkrio<br />

Pterftco. Rtus: Josè JOlio Leal<br />

Fagundes. (Adv.: Jost BonifActo Diniz<br />

de Andrade); Jost Fernandes de<br />

Andrade. (Adv.: Jost Bonn:trio Diniz<br />

de Andrade); Juscelino Josè Metro<br />

(Adv.: Fernando Neves da Silva) e<br />

Heltidlo Toledo Monteiro. (Adv.: Carlos<br />

Roblchez Penns).<br />

Decisito: Pediu vista o Ministro<br />

Rodrigues Alckmin,aptis osvotos dos<br />

Ministros Relator que recebe a denUncla<br />

contra todos os acusados, do<br />

Ministro Soares Munoz que a recebe,<br />

em parte, apenas contra o acusado<br />

Jost Julio Leal Fagundes, e dos MInistros<br />

Cunha Peixoto e Lena° de<br />

Abreu que a rejettavam por inteiro.<br />

Presidencla do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes 8<br />

SessAo os Srs. Ministros Djaci FalcAo,<br />

Antonio Neder, Xavier de<br />

Albuquerque, Rodrigues Alckmin,<br />

Leittio de Abreu, Cordeiro Guerra,<br />

Morejra Alves, Cunha Peixoto e Soares<br />

Munoz. — Procurador-Geral da<br />

Reptlblica o Prof. Henrique Fonseca<br />

de Aradjo.<br />

Brasilia, 4 de mato de 1978 —<br />

Alberto Veronese Agular, Secretirio.


36 R.T.J. — 94<br />

VOTO (VISTA)<br />

O Sr. Ministro Rodrigues Alckmin:<br />

1. — A dentmcia atribui, a quatro desembargadores,<br />

crimes de prevaricacao.<br />

«em pratica continuada* (f.<br />

192), corn a observacao de que os fatos<br />

ha° le ser apreciados ern conjunto<br />

pots «se interliganm, «deles emergindo<br />

o dolo especifico, ou sej a, a satisfacao<br />

de interesse ou sentimento<br />

pessoalo.<br />

Pretende-se, em suma, que a propria<br />

reiteracao das condutas<br />

delitivas indicaria a existência de<br />

dolo especifico, a par das circunstancies<br />

que envolverd cada fat°. Estes<br />

circunstanclas, portanto, devem ser<br />

examinadas porque ao Supremo<br />

Tribunal Federal cabe, regimentalmente,<br />

quando do recebimento da<br />

denancia, macs ample margem de<br />

exame que aquela p<strong>revista</strong> no art. 43<br />

do COdigo de Processo Penal. NIAo<br />

fora assim, razao nä° haveria para<br />

abrir-se, antes de deliberacao sobre<br />

o recebimento da denfmcia, oportunidade<br />

de defesa.<br />

2. Ainda que, ern princfpio, nao se<br />

exclua a possibilidade da prance de<br />

crime de prevaricacao por parte de<br />

julz, desde logo 6 de considerar que<br />

se a fundada suspeita de parcialidade,<br />

deduzida de certos fatos<br />

(amizade intima, inimizade capital)<br />

permite afastar do processo 0<br />

magistrado (COdigo de Processo Civil,<br />

art 135; COdigo de Processo<br />

Penal, art. 254) 6 ela insuficiente, como<br />

simples suspeita, para compor o<br />

elemento subjetivo do crime de prevaricacao.<br />

Cabe observer, em segundo Lugar,<br />

que em cada acao que se pretenda<br />

criminosa cumpre ver a presence<br />

dos elementos do tipo: a conduta<br />

omissive ou comissiva «contra expressa<br />

disposicao de lelD, determinada<br />

pelo elemento subjetivo de<br />

satisfacao de sentimento pessoal explicitamente<br />

indicado em cada caso.<br />

Corn essas consideracdes, devo<br />

examiner as multas imputacdes<br />

constantes da dentincia.<br />

— A primeira acao que constituiria<br />

o delito do art. 319 seria o<br />

julgamento do Habeas Corpus,<br />

impetrado a favor de Lutz David de<br />

Freitas, genro de um desembargador.<br />

0 writ fol concedido. E<br />

haveria condutas contraries a disposicao<br />

expressa de lei, para satisfazer<br />

a sentimento de amizade.<br />

0 relator do acerdao tot o Des.<br />

Heladio Monteiro. 0 paciente fora<br />

condenado pelo crime de concussao,<br />

porque recebera custas em excesso.<br />

O relator, corn largo exame de doutrine<br />

e dos fatos, considerou que nao<br />

houve «exigencia» de custas. 0 simples<br />

recebimento delas em excesso<br />

nao seria ilicito penal. Invocou licao<br />

de Hungria. Invocou julgados. Ora,<br />

errenea que seja a concessão da ordem,<br />

qual a disposicao expressa de<br />

lei que tal concessao afrontara? A<br />

que define o crime de concussao? 0<br />

erro de direlto nao 6, soft por so,<br />

ofensa a expressa disposicao legal.<br />

Interpreter a lei, afirmando que onde<br />

ela diz exigir, nao se ref ere a<br />

peak ou receber, nao 6 contraria-la<br />

em sua literalidade. E se o habeas<br />

corpus nao comportava exame de fatos<br />

e proves, em profundidade, essa<br />

vedacao nao 6 estabelecida por expressos<br />

parametros legais. Quando 0<br />

magistrado entende nao provada a<br />

pratica de ato criminoso e absolve o<br />

reu, evidentemente nao decide «contra<br />

expressa disposicão de lei»,<br />

ainda que errOnea a decisao. hläo se<br />

configure, assim, nessa acusacáo<br />

constante da dentIncia, o delito do<br />

art. 319 do COdigo Penal.<br />

— Tomou parte nesse mesmo<br />

julgamento o Des. Leal Fagundes. A<br />

ele se atribui prevaricacäo porque,<br />

além do teor do voto, estaria impedido<br />

de JuIgen Como corregedor, je se<br />

manifestara sobre estar o serventuarlo<br />

somente a punicao<br />

discipliner. NA° dlz a denuncia qual


a expressa disposicAo de lei que estabeleceria<br />

em tal caso impedimento.<br />

Nao hA. A manifestactio funcional<br />

do corregedor, em sede discipliner,<br />

at° constitute impedimento de participar<br />

do julgamento criminal. Os impedimentos<br />

sac) de direito estrito. A<br />

conduta descrita na denUncia nAo configure<br />

crime de prevaricacão.<br />

5. — Passo ao exame de denUncia<br />

no tocante a crimes de prevaricacão<br />

que terlam ocorrido no julgamento<br />

de habeas corpus impetrado a favor<br />

de Jost Garcia Rlbeiro.<br />

Numa demanda entre este e o Irma°,<br />

a sentence, que a Julgou improcedente,<br />

determinou remessa de c6pia<br />

a Juiz de Vara Criminal para<br />

que se impulsionasse contra o demandante<br />

processo por denunciaclio<br />

calunlosa. Mats, teve que o autor deveria<br />

responder pelo crime de falsidade.<br />

Proferida a decisAo a 20 de maio<br />

jit na mesma data se enviava cepia<br />

dela ao Juiz . da 3! Vara Criminal,<br />

devendo dar-se (dizia o Juiz do<br />

Civet) «vista ao douto representante<br />

do Ministerio POblico pare o fim nela<br />

declarado». E tambem era remetida<br />

cOpia ao Procurador-Geral<br />

da Justice. Houve apelacão da sentence<br />

civet (Apel. n? 3.805).<br />

Contra acAo penal que assim se<br />

iniciou fol impetrado o Habeas<br />

Corpus n? 1.715.<br />

Fol relator dele o Des. Juscelino<br />

Ribeiro.<br />

E ai, visto que o procedimento penal<br />

se originara de determinacilo de<br />

setenca civil pendente de exame em<br />

apelacAo no habeas corpus se determinou<br />

que esse procedimento<br />

aguardasse o julgamento da aludida<br />

apelacAo. Pots se a sentence civil<br />

concluiu pela existencia de proves<br />

ou indicios de crimes por parte de<br />

um dos litigantes; e se houve apelaclio<br />

contra essa sentence, nä° he<br />

texto legal contrariado com essa<br />

R.T.J. — 94 37<br />

determinacAo. Atende, digo A consideracão<br />

de que sentence sujelta a<br />

recurso pode ser reformada na segunda<br />

instAncla. NAo tern valor<br />

atual.<br />

A conclusào de que um dos litigantes<br />

cometera crime 6 apreciacito<br />

submetida ao crivo da instAncia de<br />

recurso. Somente depois disso a que<br />

o efeito da sentence deveria<br />

manifestar-se. Iniciada desde logo<br />

evil° penal corn apolo em apreciacAo<br />

feita em acAo civil ainda nAo definitivamente<br />

decidida, a sustacAo da<br />

acAo penal se conforta na consideracAo<br />

de que a sentence civil apelada<br />

6 ato sem Okada juridica porque<br />

sujelto ao Implement° de conclicAo<br />

suspensive: a confirmacão.<br />

A decisAo desse habeas corpus,<br />

que apareceu tAo estranha A dentmcia,<br />

nAo desatendeu portanto a qualquer<br />

expresso mandamento legal. Antes,<br />

ao que me parece, considerou acodada<br />

a medida tomada pelo JulZ do<br />

Civet, que nao aguardara a aprecicAo<br />

da sentence apelada, no segundo<br />

grau de jurisdicAo, para as providen.<br />

cies que tomou. NAo vejo, pots, como<br />

qualificar essa decisAo do acerdAo<br />

do Habeas Corpus, n? 1.715, pelo seu<br />

teor como crime de prevaricacAo.<br />

Nem se indicam fatos demonstrativos<br />

de qualquer sentimento pessoal<br />

que motivasse a decisAo tomada.<br />

6. — No julgamento desse habeas<br />

corpus (julgamento presto:lido pelo<br />

Des. Leal Fagundes) se pretende<br />

existente crime de prevaricacAo porque<br />

ao advogado Calmon se permitiu<br />

sem cassar-the a palavra, ofensa A<br />

honra do Juiz Irajit Pimentel,<br />

gravando-se a sustentacAo e<br />

prorrogando-se o prazo dela.<br />

Quals as °tenses irrogadas ao<br />

Juiz? AcusacAo de parcialidade, de<br />

agiotagem, de falsificacAo de documentos,<br />

de retardamento em Alger<br />

o processo. Ora, nem hA texto legal<br />

que proiba graver sustentacees,<br />

ou que se tome improrrogAveis por<br />

minutos, ate que se completem os


38 R.T.J. — 94<br />

argumentos, o que é de prAtica geral<br />

nas assentadas de julgamento: nem<br />

o fato de o advogado tachar o juiz de<br />

parcial para retirar o valor probante<br />

ou a eficacia de afirmacOes por ele<br />

feitas em sentenca, apontando fatos<br />

indicativos de parcialidade, induziria<br />

crime de prevaricacdo por parte do<br />

presidente da Turma que admitiu tal<br />

sustentacAo. 0 Julz de Direito, em<br />

sentenca civil, assim se referiu ao<br />

paciente Josè Garcia Ribeiro: 0W-se<br />

então, a mais disso, que o autor<br />

useiro e vezeiro em desaparecer corn<br />

os meios de prova capazes de<br />

contrariar-lhe os interesses, alèm de<br />

ser urn contumaz falsificador de documentos,<br />

cuja perigosidade criminal<br />

haverA de motivar acentuadamente<br />

as autoridades policials e<br />

judiciais ern surpreender os seus crimes,<br />

pois tais expedientes jA estAo a<br />

afrontar grosseiramente o prestiglo<br />

da Justica» (sentenca na Apel. Civ.<br />

n? 3.805).<br />

0 advogado da parte assim acusada<br />

acoimou, por sua vez, o juiz de<br />

ser parcial ou de praticar atos desnbonadores.<br />

Ouvir tais acusacees e<br />

mandA-las encaminhadas ao<br />

competente para apreciA-las; infundadas<br />

que o sej am, nap levam a<br />

configurar crime de prevaricacAo<br />

por parte da Turma julgadora. NAo<br />

se trata, ai, de injarias proferidas<br />

contra magistrado, mas de acusacdes<br />

de faltas funcionais ou de faltas<br />

morals e de parcialidade no julgamento<br />

de causa. E nAo hA confundir<br />

estas acusactres, que podem<br />

interessar A defesa como elementos<br />

dela, corn as injfirias ou doestos, que<br />

em nada a auxiliam, e que devem<br />

ser prontamente reprimidas. Destas,<br />

nenhuma reproduz a denOncia.<br />

Inadmissivel, assim, ver nessa<br />

conduta dos julgadores como descrito<br />

na denfmcia, o crime de prevaricacAo.<br />

7. — Diz-se que, ao julgar habeas<br />

corpus impetrado pelo advogado Pedro<br />

Calmon Mendes, relativo a acão<br />

penal que the moveu o jut IrajA P1mentel<br />

diante das acusacees que o<br />

mesmo advogado assacou contra o<br />

juiz, cometeram crime de prevaricacão<br />

os desembargadores Juscelino<br />

Ribeiro, HelAdio Monteiro e Leal<br />

Fagundes. 0 crime de prevaricacAo<br />

estaria em que esses Juizes reconheceram<br />

erroneamente a competëncia<br />

da Justica Militar para processar e<br />

julgar a espêcie. Ora, parece evidente<br />

que o erro ern qUalificar o delito<br />

em nada encerraria o elemento subjetivo<br />

(o sentimento pessoal de favorecer<br />

ao paciente, por amizade),<br />

pois corn a admissAo da existencia<br />

de crime contra a seguranca national,<br />

o paciente nAo seria beneficlad°<br />

corn o reconhecimento da incompet8ncia<br />

da justica comum.<br />

Antes, se quisessem agir para favorecer<br />

ao paciente ou para prejudicar<br />

ao ofendido, não teriam razAo<br />

para recursar a prepria competëncia,<br />

reconhecendo a de outra Justica,<br />

cuja imparcialidade em nada<br />

favoreceria a tais designios. E o<br />

habeas corpus visou a obter Julgamento<br />

impartial ern primeiro<br />

grau, sendo evidente que tal finalidade<br />

nAo se ajusta A da prevaricacao.<br />

8. — Alega-se existente crime de<br />

prevaricacão no julgamento de<br />

apelaclio de Raimundo Bernardo de<br />

Lima. E que desejosos de absolver a<br />

este co-it/ de Luiz David, se procedeu<br />

o julgamento nulo, corn a presenca<br />

do Subprocurador-Geral impedido,<br />

homologou-se pedido de desisténcia<br />

de extensAo de ordem de<br />

habeas corpus e nAo se aguardou julgamento<br />

de extraordinArlo interpose<br />

to de decisào concessiva do writ a<br />

Luiz David. Ainda aqui nAo se<br />

aponta texto algum de lei que impusesse<br />

conduta comlssiva contrAria<br />

aos julgadores. A omissão de intimacAo<br />

da data do julgamento o Subprocurador<br />

desempedido nAo corre<br />

A conta dos Juizes. E neste Supremo<br />

Tribunal, dots eminentes Ministros


consideraram regular o julgamento,<br />

ausente embora o representante do<br />

Ministerio Pitblico. Impossivel pretender<br />

que o entendimento contrariava<br />

a prepria lei.<br />

E ainda nAo cabe a estranheza<br />

quando a ter urn dos julgadores, que<br />

puniria administrativamente o apelante,<br />

considered° insuficiente as<br />

proves para a condenacAo criminal,<br />

quando expressamente ponderou que<br />

as irregularidades nAo extravasam<br />

no 'licit° puramente administrativo»<br />

quando pelas proves colt/Ides na<br />

ado penal 6 que o reu havia de ser<br />

Julgado. Nilo, pelas que, produzldas<br />

no Ambito administrativo, bastaram<br />

a outra punlcAo.<br />

9. — Atribuiu-se ao Des. José Fernandes<br />

prevaricaerio no julgamento<br />

de apelacAo criminal do oficial de<br />

Justice Jose Lutz da Silva Fllho. Teria<br />

erroneamente fixed° a pena e teria<br />

erroneamente reconhecidb a<br />

prescriello. Trater-se-ia, pela sentence,<br />

de crime de estelionato continued°.<br />

0 Juiz fixou a pena ao crimthoso<br />

prbnario, guardando-a "sopesando<br />

as circimstlinclas judicials»<br />

em dois anos e sets mews de reclusAo.<br />

Admitiu existente a agravante<br />

da torpeza (sem dizer em que consistiria),<br />

que compensou corn a<br />

atenuante da reparacAo do dano.<br />

Isto, a firraeAo da pena- base, que<br />

acabou majorada, pela continuacAo<br />

para trey arms e nove meses de reclusAo.<br />

Dots pedidos de habeas corpus foram<br />

apresentados a favor do reu.<br />

Ambos foram denegados, unanimemente,<br />

sendo relator do primeiro<br />

Des. Leal Fagundes e votando, no<br />

segundo, o Des. Fernandes. Mas o<br />

Supremo Tribunal deu provimento<br />

ao recurso ordinArio interposto no<br />

segundo habeas corpus. Repenu o<br />

Juiz a sentence condenateria e, em<br />

apelacAo, a pena se reduziu a 1 anos<br />

6 meses de reclusAo, acrescida de<br />

um sexto. Pode-se acaso ver prevailcacao<br />

em Macao de pena dentro de<br />

R.T.J. — 94 39<br />

limites legais? A resposta negative<br />

se impire, A evidencia. E a prescricAo<br />

ocorreu, pots a sentence con- •<br />

denateria, a que se teria referido a<br />

dentincia como interruptive da preserica°,<br />

tot anulada pelo Supremo<br />

Tribunal Federal, não constitul prevaricacAo<br />

o tato constante da de-<br />

!Kumla.<br />

— Alega-se que o Des. Fernandes<br />

prevaricou, ao participar de julgement°<br />

de lnteresse do escrivAo<br />

seu genro. Votou contra a pretensAo<br />

de sociedade de economia mista, que<br />

se queria isenta de custas, em 1974 e<br />

em 1975. NAo era parte no processo 0<br />

genro do Juiz. Nenhum texto legal<br />

imptmhe ao desembargador afastarse<br />

dos julgamentos. Poderia fazt-lo<br />

por motivo do foro intim°. NAo, por<br />

determinacAo legal. NAo houve, pots;<br />

conduta contra expressa disposlcilo<br />

de lei. Nilo descreve, a derdincia ,<br />

prevaricacilo.<br />

— Alega-se que o Des. Juscelino<br />

Ribeiro cometeu crime de prevaricaeAo<br />

porque, em acAo civet, se<br />

deu como suspelto para Julgar apela-<br />

NI° interposta pelo advogado Re-<br />

zende Costa. Mas, como o Juiz IrajA<br />

Plmentel, que Julgara essa Lica°<br />

dye!, fizera extrair pelas dos autos<br />

para que fosse processado o mesmo<br />

advogado, participou do julgamento<br />

do habeas corpus visando ao<br />

cement° dessa acAo penal. ExplicacAo<br />

do imputado: declarou-se suspeito<br />

na acAo civil porque amigo<br />

intimo dos proprietArios e prepostos<br />

da gRenovadora de Pneus», parte na<br />

demanda. NAo era suspelto no<br />

habeas corpus porque nAo tinha relacdes<br />

de Intima amizade cam o reu,<br />

advogado Rezende Costa.<br />

Evidente a inexistencta de crime<br />

de prevaricacAo, no ponto. NAo<br />

aponta, a dentmcia, fato algum demonstrativo<br />

de amizade intima entre<br />

Juiz e paciente. Nem tern cabimento<br />

admitir que, depots do Julgamento, a<br />

simples alegacito de amizade entre


40<br />

julgador e parte justifique se instaure<br />

processo por prevaricacão.<br />

— Pretende-se que o Des. Juscelino<br />

foi autor de crime de prevaricacão,<br />

ao conceder habeas corpus ao<br />

escrevente Paulo Rezende, que se<br />

apropriara de custas. Concedeu-se a<br />

ordem porque teria havido cerceamento<br />

de defesa por falta de processo<br />

administrativo (Pasta 7). E impossivel<br />

era o processo, porque o escrivão<br />

ja demitira o escrevente Mas<br />

a concessão da ordem se fundou em<br />

que igual medida se adotara, com<br />

relagão ao «titular Luiz Roberto Passant»<br />

(f. 417) e em que a lei (DI.<br />

115/67) assim o exigia. ErrOnea que<br />

seja a decisào, omitiu a demincia esclarecer<br />

qual o sentimento pessoal a<br />

que visaria a concessAo dessa ordem,<br />

apontando demonstracties de<br />

amizade Wilma que pudessem determinar<br />

deliberada parcialidade no<br />

julgamento a favor do paciente.<br />

R.T.J. — 94<br />

— Ao Des. HelAdio Monteiro se<br />

atribui prevaricacAo ao nAo ter indicado<br />

juiz a promocAo. Ora, a indicacAo<br />

a promocAo ou o veto ao juiz<br />

mais antigo 6 urn julgamento de<br />

consciencia. IslAo e motivado. 0 juiz<br />

recusado pediu ao desembargador<br />

que expusesse as razOes da recusa.<br />

E o desembargador o fez, dizendo<br />

que nAo concordava com o criterio<br />

adotado pelo juiz no julgamento de<br />

determinadas news (apontava, pots,<br />

o que the parecia falha funcional do<br />

magistrado) e porque o juiz (este, o<br />

principal motivo) confessava ter intmizade<br />

corn tres dos desembargadores<br />

do Tribunal, inimizade que seria<br />

prejudicial a pr6pria instituicao. A<br />

declaracdo, em panto algum, revela<br />

motivo outro que o de zelar pela instituicao,<br />

na recusa ao sufrAgio do nome<br />

do juiz. E acertado ou nä° que<br />

fosse o motivo, nä° corresponde,<br />

evidencia, a ideia de satisfazer a<br />

sentimento de amizade ou de Adio.<br />

Impossivel lobrigar, em tal atitude,<br />

o crime de prevaricacAo, vistos os<br />

termos da pr6pria dentmcia.<br />

14. — Chego ao f ato que se atribui,<br />

como prevaricacão, o Des. Leal Fagundes;<br />

ter mantido sem julgamento,<br />

ate o presente, a Apelacao Civel<br />

n? 3.805, de cuja apreciacão dependerA<br />

o prosseguimento da acAo penal<br />

sustada pelo Habeas Corpus n? 1.715.<br />

Trata-se de acAo cuja sentenca,<br />

proferida apes ano de estudo, vai de<br />

pls. 175 As fls. 219 (apenso 3). Esclareceu<br />

o relator que ainda nä° levou<br />

o caso a julgamento porque:<br />

«a) — 0 Dr. Juiz prolator da sentenca<br />

foi averbado de parcial, em<br />

favor do rel.' da demanda, o qual<br />

teria subornado outro Juiz, demitido<br />

pelo AI-5, bem como subornado<br />

testemunhas da mesma demanda,<br />

b) — tal averbacAo feita por advogado,<br />

alem de argtiida, na defesa<br />

oral do Habeas Corpus n?<br />

1.715, e objeto de excecAo da verdade,<br />

levantada em feito criminal<br />

pendente, como comprovam as<br />

respectivas pecas, em anexo; c) —<br />

diarite de noticias tao graves, achei<br />

de born alvitre aguardar a apuracAo<br />

criminal dos fatos imputados<br />

ao Dr. Juiz e as testemunhas, ate<br />

porque a sentenca penal, se confirmateria<br />

da excecAo da verdade,<br />

acarretaria a nulidade da sentenca<br />

dvel; d) — a Apelacão Civel n?<br />

3.805 estA suspensa, portanto, por<br />

esses relevantes fundamentos, e<br />

ate porque a mora nao prejudica<br />

as partes, que, como se ye dos autos<br />

reproduzidos, nenhuma rectamacAo<br />

fizeram».<br />

A isto se °pee que a excecAo de<br />

verdade somente foi oferecida mais<br />

de um ano e meio depots de conclusos<br />

os autos ao relator. Mas a<br />

acão penal em que se argtiia de caluniosa<br />

a imputacâo feita pelo advogado<br />

se iniciara em 1975.<br />

E duas observacOes merecem ser<br />

feitas quanto A pretendida configuracão<br />

em hipatese, de crime de pre-•


varicacAo no retardamento. A pHmetre,<br />

a de que nem os interessados,<br />

nem o Ministerio Pfiblico solicitaram<br />

qualquer medida no tocante ao andement°<br />

do feito (C6digo de Processo<br />

Civil, arts. 198 e 199).<br />

A segunda, a de que esse mesmo<br />

fato afasta a !dela de ser, o retardamento,<br />

determinado por sentimento<br />

pessoal. NAo se ye em que uma generica<br />

afirmativa de inimizade<br />

quanto ao prolator de sentence motivaria<br />

retardamento em julgar<br />

apelacAo ou em retardar marcha de<br />

acAo penal, como se nAo ve qualquer<br />

indicacAo de fates demonstrativos de<br />

amizade Intima para corn um dos litigantes,<br />

amizade que sequer o 11tigante<br />

adverso menciona.<br />

15. — Observo, finalmente, que tenho<br />

como Inadmissivel que se pretenda<br />

responsabilizar criminalmente<br />

um joiz pela interpretacilo que de A<br />

lei. Boa ou mA, a interpretacAo a tarefa<br />

que a lei the 'mete, no exerckio<br />

do cargo. Tenho tambem como<br />

inadmIssIvel que, depots de proferida<br />

a decislio, certa ou errOnea, se<br />

suscitem suspeitas sobre a imparcia-<br />

Made do Adz para, corn fundamento<br />

nelas, trazer o julgador A barn dos<br />

<strong>tribunal</strong>s, corn a alegacão de que terla<br />

Apontem-se fates<br />

inclicativos de interesse ou sentimento<br />

pessoal, pela propria natureza deles,<br />

no descumprimento de lei expressa.<br />

NAo veto explicitada na denfmcia<br />

apesar de feito por mestre — uma<br />

aclio sequer, definida em seus contornos,<br />

contrAria A expressa disposicAo<br />

legal e ligada, por sftuactes de<br />

fate igualmente indicadas na dentincia,<br />

a finalidade de satisfazer a determinado<br />

e declarado sentiment°<br />

pessoal.<br />

Dal, a pretensAo a que se unam todas<br />

as aches ditas penalmente relevantes,<br />

pare que alegada relacilo de<br />

amizade corn o sogro de urn dos revs<br />

ou de desapreco a um Lutz bastem<br />

R.T.J. — 94 41<br />

pare preencher o elemento subjetivo<br />

de todas as condutas, ainda As que,<br />

especificamente, a tais pessoas nAo<br />

atinjam. NAo considero isso possivel.<br />

NAo he crime que deva ser necessariamente<br />

apreciado na multiplicidade<br />

de aches tierces independentes. E<br />

sequer aquelas circunstAncias, Isoladamente,<br />

configuram prevaricacão.<br />

LastimAvel que seta a situacão<br />

que os autos noticiam, não veto como<br />

dar-lhe solucAo na sede,penal proposte.<br />

Outra poderA ser, de futuro,<br />

eventualmente, a solucão.<br />

Rejeito, data yenta, a denfincia.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Mari FalcAo: Sr.<br />

Presidente, tambtm peso venia ao<br />

eminente Relator para rejeitar integralmente<br />

a denfmcia, consoante a<br />

motivactio, agora, trazida pelo<br />

eminente Ministro Rodrigues Alckmin.<br />

A materia, a meu entender, envolve<br />

sobretudo tema de ordem discipliner<br />

e lamentavelmente, ate hoje,<br />

ainda nä° temos, no Brasil, a Lei<br />

OrgAnica do Poder JudiciArio.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

APn 253 — DF — Rel., Min. Cordeiro<br />

Guerra. Autor: Ministerio Ptblico<br />

Federal. Rens: Jest Julio Leal<br />

Fagundes. (Adv. Jose Bonifãcio Diniz<br />

de Andrade); Jose Fernandes de<br />

Andrade. (Adv. Jose BonifAcio Diniz<br />

de Andrade); Juscelino Jose Ribeiro<br />

(Adv. Fernando Neves da Silva) e<br />

lielAdlo Toledo Monteiro. (Adv. Carlos<br />

Robichez Penna).<br />

Rejeltaram a denfmcia,<br />

vencido in totem` o Ministro Relator,<br />

e em parte o Ministro Soares<br />

Mutoz.<br />

Presidencia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes A Ses-


42 R.T.J. — 94<br />

sào os Senhores Ministros DJaci Fated°,<br />

Antonio Neder, Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Alckmin, Leitdo<br />

de Abreu, Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves, Cunha Peixoto e Soares<br />

Munoz. Procurador-Geral da RepUblica,<br />

o Prof. Henrique Fonseca<br />

de Ara.<br />

Brasilia, 24 de maio de 1978. —<br />

Alberto Veronese Aguiar, Secretario.<br />

EXTRADICAD N? 362 — FtEPOBLICA FEDERAL DA ALEMANHA<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Moreira Alves.<br />

Recorrente: Governo da Repfiblica Federal da Alemanha — Extraditando:<br />

Erich Wolf.<br />

ExtradicAo.<br />

Requerimento de conversflo do julgamento em diligencia indeferido,<br />

tuna vez que nAo cabe ao STF, ao examinar o pedido de extradicAo,<br />

apreciar questhes de distribuicAo interna de compettncia de Tribunals<br />

do pals requerente.<br />

NAo ocorrencia de qualquer circunstAncia impeditiva da extradicAo.<br />

Pedido deferido, coin a condicAo, porèm, da estrita observiincia<br />

do disposto no artigo 98, II, do Decreto-lei 941/69.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Sessao Plenaria,<br />

na conformidade da ata do Julgamento,<br />

e das notas taquigraficas,<br />

por unanimidade de votos, deferir o<br />

pedido.<br />

Brasilia, 23 de maio de 1979. —<br />

Antonio Neder, Presidente - —<br />

Moreira Alves, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves: Em<br />

28 de setembro de 1978, o Exmo. Sr.<br />

Ministro da Justica encaminhou a<br />

esta Corte pedido do Governo da Republica<br />

Federal da Alemanha para a<br />

extradicdo de Erich Wolf, contra o<br />

qual ha mandado de prisdo preventiva<br />

expedido, em 30 de setembro de<br />

1977, pelo Tribunal da Comarca de<br />

Reinbek.<br />

Por se achar o extraditando preso<br />

na cidade de Belo Horizonte, de-<br />

leguei o procedimento do interrogat6rio<br />

a Juiz da Vara da Justica<br />

Federal naquela localidade.<br />

A 17 de novembro de 1978, foi o extraditando<br />

interrogado (fls. 55 a 56<br />

verso).<br />

A fls. 60 a 79, encontram-se as razOes<br />

de defesa do extraditando.<br />

Restituidos os autos a esta Corte,<br />

foi ouvida a Procuradoria-Geral da<br />

RepUblica, que, em parecer do Dr.<br />

Antonio de Padua Ribeiro, assim se<br />

manifestou a f. 182:<br />

«Em sua defesa, alega o extraditando<br />

a incompeténcia do Tribunal<br />

de Reinbek para decretar a sua<br />

prisdo (f. 72) e faz referéncia ao<br />

HC 4.426, que feria sido requerido<br />

perante o Egregio Tribunal Federal<br />

de Recursos (f. 81).<br />

A Him de completar a instrucdo<br />

do feito, requer esta Procuradoria-<br />

Geral as seguintes diligéncias<br />

(Decreto-lei n? 941, de 13-10-69, art.<br />

95, § 4?):


ao Estado requerente para<br />

que, a vista da sua legislacAo, demonstra<br />

ter sido a prisào do extraditando<br />

determinada por juizo<br />

competente;<br />

ao Egrégio Tribunal Federal<br />

de Recursos, a fim de que preste<br />

informactles sobre o deslinde do<br />

habeas corpus supra-aludido.»<br />

A f. 187, exarel nos autos o seguinte<br />

despacho:<br />

sAtendido o segundo item do<br />

requerimento a f . 182, retornem<br />

os autos a Procuradoria-Geral da<br />

Republica, para que esta emita<br />

parecer sobre os demais aspectos<br />

da extradicilo, tuna vez que,<br />

quando de seu julgamento, submeterei<br />

ao PlenArio da Corte e a<br />

solicftecAo de diligencia junto a<br />

Repttblica Federal da Alemanha<br />

no tocante A questão da competencia<br />

do juizo que determinou<br />

a prisAo do extraditando.<br />

Brasilia — DF., 8 de marco de<br />

1979. — Min. Moreira Alves, Relator.»<br />

A tls. 189/192, voltou a manifestarse<br />

a Procuradoria-Geral da Fteptiblica,<br />

em parecer do Dr. AntOnio de<br />

Padua Ribeiro, nestes termos:<br />

«Com garantia expressa de reciprocidade<br />

(its. 4 e 7). o Govern<br />

da Republica Federal da Alemanha<br />

solicits a extradicAo de Erich<br />

Wolf, com prisAo preventive decretada<br />

pelo Tribunal de Reinbek<br />

(Rs. 9-15), onde responde pelos delitos<br />

previstos nos parAgrafos 263,<br />

267 e 52 do COdigo Penal alientgena.<br />

Interrogado (fls. 55-56v), o extraditando,<br />

através de advogado<br />

regularMente constituido (f. 46),<br />

produziu longa defesa a fls. 60-79.<br />

A fim de completer a instrucAo<br />

do feito, requereu esta<br />

procuradoria-Geral diligencias (f.<br />

182):<br />

R.T.J. — 94 43<br />

ao Estado requerente para<br />

que, a vista da sua legislacão, demonstre<br />

ter sido a prisAo do extraditando<br />

determinada por Juizo<br />

competente;<br />

ao Egregio Tribunal Federal<br />

de Recursos, a fim de que preste<br />

informacees sobre o deslinde do<br />

HC 4.426, referido na defesa a. 81).<br />

As referidas diligencias foram,<br />

em parte, atendidas. A f. 186,<br />

encontra-se certificado que o aludido<br />

habeas corpus foi encaminhado<br />

a essa Excelsa Corte, onde tomou<br />

o n? 56.751 e, na sessilo de 6-12-78,<br />

foi julgado prejudicado. Quanto a<br />

outra ficou o eminente Relator de<br />

submeté-la a consideracao do<br />

Egregio Tribunal Pleno.<br />

Passando ao exame das alegacties<br />

produzidas na defesa, res-<br />

Salvada a questAo relative A incompetencia<br />

do juiz decretante da<br />

prisAo do • extraditando, sera de<br />

concluir-se que as mesmas nAo<br />

procedem.<br />

Sustenta-se, inicialmente, a<br />

llegalidade da prislo do extracttando,<br />

vez que o SecretArio-Geral<br />

do Ministerio da Justice nAo teria<br />

competencia para decrete-la. Na<br />

especie, segundo se ve a f. 87, a<br />

prisAo foi determinada pelo citado<br />

funcionArk no uso da competencia<br />

que the foi delegada pela Portaria<br />

Ministerial n? 444, de 1-6-77. A possibilidade<br />

de tal delegactlo de competencia<br />

esta p<strong>revista</strong> nos arts. 12<br />

e 23, 4 1?, do Decreto-lei n? 200, de<br />

25-2-67, regulamentado o primer°<br />

pelo Decreto n? 62.460, de 25-3-68.<br />

Ademais, esse Colendo Tribunal,<br />

em casos anteriores de extradicAo,<br />

vem implicitamente admitindo coma<br />

legal a prisAo decretada por<br />

aquela autoridade, no uso de competencia<br />

delegada.<br />

Argtri-se que a Interpol/alemA<br />

nAo serla autoridade competente,<br />

vista do Decreto-lei n? 941/69, pare<br />

dlrlgir-se ao govern brasileiro.


44 R.T.J. — 94<br />

de ver-se, porem, pela leitura do<br />

radiograma de f. 59, pela que a autoridade<br />

que determinou a prisAo<br />

foi o Tribunal de Reinbek,<br />

erigindo-se a Interpol/alemA em<br />

mero velculo de cumprinjento da<br />

ordem emanada de autoridade judiciAria<br />

daquele Pais. Alias, essa<br />

tem sido 'a rotina observada nos<br />

casos de prisAo preventiva para<br />

fins de extradicAo.<br />

Alega-se que o prazo de noventa<br />

(90) dias, para a formalizacAo do<br />

pedido de extradicAo, haveria de<br />

ser contado do radiograma de 27-<br />

10-77, originArlo da Interpol/ Roma<br />

e nä() do radiograma de 15-8-78,<br />

oriundo da Interpol/alemd, o que<br />

implicaria em ter ocorrido, no caso,<br />

ofensa ao art. 93, § 3?, do<br />

Decreto-let n? 941/69, o qua] nAo<br />

admite prisão, para fins de extradicAo,<br />

por mats de noventa dias,<br />

nem novo pedido de prisAo corn tai<br />

finalidade, corn base no mesmo fato,<br />

sem que aquela tenha sido formalizada.<br />

Tal censura não procede,<br />

pots, consoante se verifica a<br />

f. 89, cingiu-se a Interpol/Roma<br />

em solicitar a sua congOnere brasileira<br />

informacAo sobre ingresso<br />

no Pais do cidadão alemAo Erich<br />

Wolf. Localizado o paradeiro deste,<br />

sim, a Interpol/alemA, em cumprimento<br />

de ordem judiciaria, diligenciou<br />

a sua prisào, para fins de<br />

extradicAo. NAo ocorre, pois, duplo<br />

pedido de prisAo para aquele fim<br />

corn base no mesmo fato. Tarnpouco<br />

transcorreu o prazo de noyenta<br />

dias, pois a prisAo se efetivou<br />

em 17-8-78 (f. 90) e o pedido de<br />

extradicAo foi formalizado em 15-9-<br />

78 (f. 6).<br />

Nessas condicees, entende esta<br />

Procuradoria-Geral que, superada<br />

a preliminar de incompetencia do<br />

juizo decretante da prisào do extraditando<br />

(f. 72), é de ser deferido<br />

o pedido, vez que o mesmo se encontra<br />

acompanhado de mandado<br />

de prisAo preventiva, do qua] cons-<br />

tam indicacees precisas sobre o local,<br />

data, natureza e circunstAncias<br />

do fato criminoso, identidade<br />

do extraditando e ainda c6pia dos<br />

textos legais sobre o crime e a pena<br />

e a sua prescricAo, inocorrendo<br />

quaisquer das circunstAncias impeditivas<br />

catalogadas nos arts. 88 e<br />

89 do Estatuto dos Estrangeiros.<br />

E, deferida, deve ser a entrega<br />

do extraditando condicionada ao<br />

cumprimento do art. 98, item II, do<br />

Decreto-lei n? 941/69, configurandose<br />

insuficiente, a seu ver, para<br />

atender Aguela exlgencia legal, a<br />

simples declaracão de propOsito<br />

contida na letra "d" da nota verbal<br />

encaminhada ao Governo brasileiro<br />

pela Embaixada da Republica<br />

Federal da Alemanha (f.<br />

8).»<br />

E o relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Morelra Alves (Relator):<br />

1. Indefiro o pedido de diligencia<br />

formulado pela<br />

Procuradoria-Gera] da Repdblica, no<br />

sentido de que o Estado requerente<br />

«demonstre ter sido a prisAo do extraditando<br />

determinada por juizo<br />

competente».<br />

Essa diligencla foi requerida corn<br />

base na alegacAo, que se encontra<br />

nas rages de defesa do extraditando,<br />

a fls. 72/73, onde se le:<br />

«A) — No Livro n? III, fls. 26 a<br />

29, inclusive, perante o NotArlo<br />

Mathias Biermann — Ratjin de<br />

Hamburgo 13, Mittelweg 30, compareceu,<br />

en 20 do corrente mes,<br />

de novembro, o Advogado Hans<br />

Dietrich Michell afirmou, em DeclaracAo<br />

sob juramento, para ser<br />

apresentada as Autoridades competentes<br />

da RepUblica Federativa<br />

do Brasil, que:<br />

«Urn inquerito judicial, dentro<br />

do Ambito do processo principal,<br />

pressupee a formalizacAo de uma


acusacAo por parte da Promotoria<br />

POblica e uma decisAo judicial<br />

sobre a abertura do processo<br />

principal. Esta decisAo judicial<br />

deve ser proferida pelo<br />

Tribunal competente pelo processo<br />

principal. Ate o momento,<br />

a Promotoria PUblica nAo formalIzou<br />

acusadio alguma sobre<br />

contra o Senhor Economista Dipl.<br />

Erich Wolf. Por isso nAo pode<br />

ser aberto um inquerito judicial.<br />

0 Tribunal competente pela<br />

aclio principal nAo chegou a<br />

tomar uma decisSo quanto A<br />

abertura do processo principal.<br />

ConseqÜentemene, nAo ha processo<br />

principal bm pendencia. 0<br />

mandado de prisAo expedido pelo<br />

Tribunal de comarca Reinbek em<br />

30-9-77 fol requerido pela Promotoriailea,<br />

no quadro das<br />

investigacees para formacAo de<br />

culpa. 0 mandado de prisAo nAo<br />

veiculava a decretacAo de uma<br />

sentenca judicial. A julgar pelas<br />

imputacties levantadas, presumese<br />

que a acusacA6 deve ser formalizada<br />

pelo competente Tribunal<br />

Estadual. 0 Tribunal competente<br />

e o Tribunal Estadual de<br />

Lvebeck, Etc, etc" (Doc. anexo<br />

de n? 7, original e traducAo pablica).<br />

Ora, a declaracAo do Advogado,<br />

prestada sob juramento, Cum fide<br />

publica do Not/Arlo, afirma a Incompetencia<br />

do Juiz decretante da<br />

prisao pars processar o<br />

extraditando.<br />

E, afirma ainda que, ate 20 de<br />

novembro corrente, nAo existia<br />

qualquer acusacAo formal contra o<br />

mesmo.<br />

Donde, Data yenta, inexiste urn<br />

processo ou uma decretacAo de<br />

prisAo por parte de Jut competente,<br />

inexistindo pois, legalidade no<br />

pedido de extradicAo.»<br />

Trata-se, como se ye, de questa()<br />

processual relativa a distribute/10 111.<br />

R.T.J. — 94 45<br />

terna da competencia, para determinar-se,<br />

dentro da Alemanha,<br />

qual seria o Tribunal competente para<br />

processar o extraditando. AlegacAo<br />

analoga a essa jA tem sido<br />

apreciada por esta Corte, e repelida,<br />

como se ve no Pedido de Extradicão<br />

n? 315, em que a requerente fol<br />

tambem a Republica Federal da<br />

Alemanha, e em que fol acolhido 0<br />

parecer da Procuradoria-Geral da<br />

Reptiblica, verbis:<br />

«Numa segunda ordem de ideias,<br />

reclama a defesa contra a falta de<br />

referenda, nos autos, aos preceltos<br />

da legislacão alemA determinantes<br />

da competencia do Tribunal da Comarca<br />

de Munique para expedir o<br />

mandado de captura. Nenhuma h<br />

norma, todavia, no Decreto-lei n?<br />

941/65 ou em seu regulamento,<br />

exige tal referenda. A condicão<br />

fundamental do reconhecimento da<br />

competencia do Estado requerente,<br />

qual seja a territorialidade do crime,<br />

nAo fez objeto de davida.<br />

Questoes inerentes A distribuicAo<br />

Intern da competencia, visando,<br />

vertd nth, a saber se o Tribunal<br />

prOprio era o de Munique, ou o de<br />

Hamburgo, ou o de ColOnia, perecem<br />

ante a legItima presuncAo<br />

de que a Corte processando age<br />

nos termos da lei local. Nem seria<br />

exigivel que tivesse o Supremo Tribunal<br />

brasileiro elementos para<br />

constatar o eventual yid° da fi-<br />

'cacao da competencia, quando despercebido<br />

no preprio Estado de origem».<br />

2. Ultrapassada essa preliminar,<br />

acolho a fundamentacAo do parecer<br />

da Procuradoria-Geral da Reptiblica,<br />

que corretamente refutou as<br />

questOes referentes A ilegalidade da<br />

prisAo do extraditando no Brasil e ao<br />

prazo de formalizacAo do pedido de<br />

extradictlo, bem como acentuou,<br />

acertadamente, que «6 de ser deferido<br />

o pedido, vez que o mesmo se encontra<br />

acompanhado de mandado de<br />

pita° preventiva, dip qual constam


46<br />

indicacees precisas sobre o local, data,<br />

natureza e circunstAncias do fato<br />

criminoso, identidade do extraditando<br />

e ainda cOpia dos textos legais<br />

sobre o crime e a pena e sua prescricAo,<br />

inocorrendo quaisquer das<br />

circunstAncias impeditivas catalogadas<br />

nos arts. 88 e 89 do Estatuto<br />

dos Estrangeiros» (fls. 191/192).<br />

Com efeito, o extraditando 6<br />

acusado da prAtica de crimes, que,<br />

no Brasil, correspondem aos de falsidade<br />

ideolegica e de estelionato; e<br />

tendo eles, segundo o mandado de<br />

prisAo preventiva (de 30-9-1977, e que<br />

fator de interrupflo da prescricAo,<br />

no direito penal germAnico), ocorrido<br />

entre 1972 e agosto de 1976 rift se<br />

verificou a prescricão, quer em face<br />

de nosso direito, quer em face do direito<br />

alemão (onde o prazo de preserica°,<br />

para crime a que se comma,<br />

em abstrato, pena ate cinco anos —<br />

como sucede corn os de cuj a pratica<br />

acusado o extraditando de<br />

cinco anos).<br />

3. Em face do exposto, defiro o pedido<br />

de extradicAo, condicionando,<br />

porém a entrega do extraditando A<br />

R.T.J. — 94<br />

ACAO RESCISORIA N? 742 — PR<br />

(Tribunal Pleno)<br />

estrita observAncia do disposto no<br />

artigo 98, II, do Decreto-lei n? 941/69.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

EXTR. 362 —RepUblica Federal da<br />

Alemanha — Rel. Min. Moreira Alves.<br />

Reqte: Governo da Repfiblica<br />

Federal da Alemanha. Extrdo: Erich<br />

Wolf (Advs. Drs. Sidney Safe Silveira,<br />

Menelick de Carvalho Filho)<br />

DecisAo: Deferiu-se o pedido de extradicAo<br />

em votagAo uniforme. Falou<br />

pelo Extdo. o Dr. Sidney F. Safe<br />

Silveira.<br />

PresiOncia do Senhor Ministro<br />

Antonio Neder. Presentes A SessAo<br />

os Senhores Ministros Djaci FalcAo,<br />

Thompson Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves, Cunha Peixoto, Soares<br />

Mufloz, Decio Miranda e Rafael Mayer.<br />

Ausente, justificadamente, o Senhor<br />

Ministro LeitAo de Abreu.<br />

Procuradoria-Gcral da Republica,<br />

Dr. Firmino Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 23 de maio de 1979. —<br />

Alberto Veronese Aguiar, SecretArio.<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Soares Mufioz.<br />

Autores: Silvestre da Cunha Castro e s/mulher — R6us: Maurilio Roque<br />

Menechelli, s/mulher e outros.<br />

AcAo Rescisorla fundada em otensa ft coisa julgada. QuestAo nAo<br />

apreciada no acOrdlio do Supremo Tribunal Federal, que /go conheceu<br />

do recurso extraordinArio.<br />

ACORDAO<br />

Vistos.<br />

Acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em SessAo PlenAria,<br />

A unanimidade de votos e na<br />

conformidade das notas taquigrAficas,<br />

não conhecer da acAo.<br />

Brasilia, 29 de marco de 1979 —<br />

Xavier de Albuquerque, Presidente<br />

— Soares Muth's, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Soares Muftoz:<br />

Adoto a parte expositiva do parecer<br />

elaborado pela Procuradoria-Geral<br />

da Repfiblica:<br />

«Sob o fundamento de haver sido<br />

proferido contra coisa julgada,<br />

pretendem os Autores rescindir o<br />

V. aresto desse Egrêgio Supremo


Tribunal Federal que nAo conheceu<br />

do recurso contra decisgo•que os<br />

julgou carecedores de actio para<br />

anular promessa de compra e yenda,<br />

felta corn limltes certos, antes<br />

de procedida a divisAo de lmOvel<br />

em condominio divisive]. Acentuou<br />

o Preterio Excelso que embora<br />

&ads nAo reallzada a divistio, a<br />

venda felts corn individuaclio da<br />

parte, nAo a invalidava, sendo<br />

considerada condicional. Sua integral<br />

validade ficava dependendo<br />

de ser atribuida ao coati/5min° yendedor<br />

aquela parte, quando da divisa°.<br />

Apontam os Autores como<br />

acerdAo em que antes ocorrera<br />

coin julgada, agora desrespeitada,<br />

aquele proferido pelo<br />

Egrggio Tribunal de Justica de SAo<br />

Paulo que, em processo de dgvida,<br />

suscitada pelo Registro de ImCovets<br />

contra os promitentes vendedor e<br />

comprador, negou inscricgo a mesma<br />

promessa por divergir da<br />

trauscricgo anterior. Nesta, constava<br />

serem titulares de partes<br />

Ideals do bnOvel em comtuthAo, ao<br />

passo que vendiam parte certa e<br />

determinada.<br />

Suscitam os Rgus preliminar de<br />

incompetencia dense Egrggio Tribunal<br />

para conhecer da presente<br />

rescisOria, porque somente<br />

podendo pronunciar-se, na medida<br />

em que assim for chamado pelo recurso<br />

extraordlnario, deste<br />

constava a questAo referente a colsa<br />

julgada, pelo pie nAo se prontmciou<br />

a respelto dela. Logo nAo<br />

pode conhecer, tamb6m, da resciséria.<br />

No mgrito, afirmam a luststends<br />

de res judicata: a) por<br />

serem diversas as poles nos dots<br />

processor; b) o 'processo de dgvida<br />

6 de natureza administrativa; c)<br />

apreclaram especies diversas"<br />

(fin. 89-70).<br />

R.T.J. — 94 47<br />

Esse mesmo parecer opinou pela<br />

improcedgncia da acAo rescisOzia,<br />

aduzindo os seguintes ftmdamentos:<br />

“Quanto a IncompetOncia, data<br />

yenta, improtede. E certo que o<br />

Colendo Pretgrio somente se manifests<br />

nos termos que the forem<br />

postos pelo recurso extraordingrio,<br />

pelo que, em principlo, somente<br />

the 6 dado rescind& as dectsges<br />

que naquele ]!mite houver tornado,<br />

tal principio nAo 6 absoluto. V.g.,<br />

cabe-lhe conhecer de resciseria<br />

quando as nulidades por ele diretamente<br />

cometidas, embora, e por<br />

lase mesmo, nAo alegadas no<br />

recurso extraordintirio. Asslm<br />

tarabgm nos ataques porventura,<br />

pot ele cometiclos a coisa julgada,<br />

cabe-lhe conhecer da rescisgria. •<br />

NAo bastasse, 6 de acentuar que<br />

o Egrggio Preb5rio, a despelto de<br />

ago conhecer do recurso, a verdade<br />

6 que solidarizou-se com a v.<br />

decislio recorrida, adotando os<br />

mesmos ftmdamentos desta: 6<br />

como se a decislio fosse proferida<br />

por ele prOprio. Portatto, se as entende<br />

que aqueta desre.speitou a<br />

colsa tilgada, o mesmo se tern<br />

deste dizer. Assim, pouco imports<br />

que a colsa julgada nAo fosse<br />

°Wet° de recurso, pots se a v. decisgo<br />

estadual a desrespeftou, o<br />

mesmo fez o Oltimo Tribunal que a<br />

encampou. No merlin, data yenta,<br />

improcede tambem. Embora em<br />

principlo tenha-se chegado a cu-<br />

Masa situacilo — urn acOrdAo<br />

reconheceu validade a venda e o<br />

outro entendeu que alio podia ser<br />

registrada — a verdade 6 que nAo<br />

count.= por terem apreciado aspectos<br />

diversos da controvgrsia,<br />

pelo que, sendo diversa a causa<br />

petendi ago hA que falar em coisa<br />

julgada capaz de ser oposta, validamente,<br />

so Preterio Excelso.<br />

Realmente, na acAo anulateria<br />

da promessa de compra e venda os


48<br />

Autores foram julgados carecedores<br />

de acao porque, tratando-se<br />

de Unitive! indivisivel, e estando a<br />

parte ventricle em poder dos vendedores<br />

ha muitos anos corn 11mites<br />

certos, rat) havia porqUe<br />

impedi-los de aliens-la. No processo<br />

de clavicle nao se negou a<br />

possibilidade daquela venda.<br />

Apenas, e muito acertadamente,<br />

negou-se o reglstro porque, vigindo<br />

entre nos o sistema da cadela cronolegica,<br />

nä° era possivel transcrever<br />

parte dividida quando all<br />

constava urn todo indiviso. Isto, poram,<br />

repita-se, nao significa que<br />

houvesse decidido pela nulidade da<br />

venda.<br />

Nem poderla te-lo decidido visto<br />

que, nao tendo nele tornado parte o<br />

comprador, tratava-se de processo<br />

nimiamente administrativo, incapaz<br />

de fazer coisa julgada e de<br />

ser oposto ao outro feito, este sim,<br />

de natureza contenciosa» (fls. 70-<br />

72).<br />

A revisal) do eminente Ministro<br />

Rafael Mayer, por estar impedido 0<br />

eminente Ministro DecAo Miranda<br />

(fls. 61).<br />

Oportunamente, extraiam-se cepias<br />

deste relaterio para serem enviadas<br />

aos eminentes Ministros.<br />

Brasilia, 6 de fevereiro de 1979. —<br />

Ministro Soares Munoz, Relator.<br />

•<br />

VOTO<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Ministro. Soares Munoz (Relator):<br />

— 0 fundamento da agão rescisOria<br />

este formulado na peticao<br />

initial assim:<br />

«que, data venia, inegevel e lncontestavelmente,<br />

o venerando<br />

acerdeo datado de 4-9-1964 — quatro<br />

de ,setembro de mil novecentos<br />

e sessenta e quatro, prolatado pela<br />

colenda Segunda Turma deste<br />

Egreglo Supremo Tribunal Federal,<br />

nos autos de recurso extraordinerto<br />

n? 55.507 — Sao Paulo,<br />

no 1 figuram como recorrentes<br />

os ott Autores e recorridos Carlos<br />

da Cunha Castro e outros e — nulo,<br />

porque prolatado corn °tense a coisa<br />

julgada, constitufda pela sentence<br />

de 25 de marco de 1962 do<br />

MM. Juiz de Piratininga, e pelo venerando<br />

acordeo de 4 (quatro) de<br />

julho de 1963, do Egragio Conselho<br />

da Magistrature de Sao Paulo, conforme<br />

prove o documento n?3» (f.<br />

3v).<br />

A ementa do act:wrier) rescindendo,<br />

proferido no RE 55.507, de Sao Paulo,<br />

a a seguinte:<br />

EMENTA: s«A. venda, corn divisas<br />

determiziadas, de qulnhao<br />

hereditarlo, objeto de partilha<br />

definitive, mesmo quando efetuada<br />

sem audlencia do meelro ou<br />

de outros herdeiros, net) a anulavet,<br />

devendo ser considerada<br />

conditional (C. C., art. 623, III, e<br />

um)» (f. 20).<br />

0 voto que nesse julgado proferiu<br />

o eminente Ministro Vic* Nunes,<br />

Relator, adotado pela Segunda Turma,<br />

apreciou o recurso extraordinano,<br />

verb's:<br />

«Conheceria do recurso, pelo<br />

dissidlo jurisprudential, mas nao<br />

fol alegado. Por violaclio da lel, dele<br />

nao conheco. Tenho por mars<br />

acertada e condizente com a realidade<br />

dos neg6cios a doutrina ja<br />

sustentada pelo Supremo Tribunal,<br />

como este exemplificado em conhecido<br />

acerdtio do eminente Ministro<br />

Orosimbo Nonato:<br />

RE 10.113, A, J, 80/350. Disse ele<br />

nesse julgado: "... o art. 633 nao<br />

proibe a venda da parte indivisa,<br />

expressamente permitida no art.<br />

623, III, do mesmo Cedigo...dir-se-a<br />

que o recorrido deu as Brides da<br />

parte em comum. Mas, em recurso<br />

de Minas Gerais, procure!, desenvolvidamente,<br />

mostrar que essa<br />

circunstencia nao anula a venda,<br />

dando-lhe, apenas, carater condicional.<br />

As cares tracadas


manterrse-Ao, se confirmadas, na<br />

comuni clividum... 6 certo que o n? 3<br />

do art. 623 fez remissAo ao art.<br />

1.139, mas a h1p6tese neste p<strong>revista</strong>,<br />

expressa e claramente, 6 a<br />

de colsa indivisivel. Quando nAo<br />

ocorre essa circunstAncia, em que<br />

a preferência se justifica pela tendancia<br />

de reduzir a pluralidade A<br />

unidade, a que elude SA Pereira, o<br />

his disponendi se exercita normalmenteD.<br />

JA aludi a esse Julgado<br />

em outro case, no qual, entretanto,<br />

a nossa decisão foi tomada por outro<br />

fundamento. Refiro-me ao RE<br />

52.899, de 10-9-63, DJ 21-11-63, p.<br />

1.196. Eis porque nao conheco do<br />

recurso (lls. 119 a 19 v).<br />

Verifica-se, pots, que a questAo<br />

atinente a colsa julgada, suscitada<br />

come fundamento (mice do pedido<br />

rescisbrio, nAo foi versada no<br />

acOrdAo rescindendo do Supremo<br />

Tribunal Federal.<br />

Ora, consoante a Samula 515,<br />

((a competencia para a acAo<br />

reselsOria nAo 6 do Supremo Tribunal<br />

Federal, quando a questAo<br />

<strong>federal</strong>, apreclada no recurso extraordinitrio<br />

ou no agravo de instrumento,<br />

seja diversa da que foi<br />

suscitada no pedido resciserio».<br />

Ante o exposto, nAo conheco da<br />

acAo rescisöria e determino a remessa<br />

dos autos ao Egr6gio Tribunal<br />

de Justica do Estado de SAo Paulo.<br />

R.T.J. — 94 49<br />

ACAO RESCISORIA N? 878 — SP<br />

(Tribunal Pleno)<br />

VOTO PRELIMINAR<br />

0 Sr. Ministro Rafael Mayer (Revisor):<br />

— Sr. Presidente, estou inteiramente<br />

de acordo corn o Sr. MInistro<br />

Relator. NAo conheco da acAo<br />

rescis6ria, rernetendo os autos ao<br />

Tribunal de Justica do Estado de<br />

SA° Paulo.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

AR 742 — PR — Rel.:Min. Soares<br />

Muftoz. Rev.: Min. Rafael Mayer.<br />

Autores: Sllvestre da Cunha Castro e<br />

sua mulher. R6us: Maurine, Roque<br />

Menechellt, sua mulher e outros<br />

(Adv.: TheotOnio NegrAo e outros).<br />

Decisão: Não conheceram nos termos<br />

do veto da Turma. Deets/10<br />

unitnime. Impedido o Sr. Min. Decio<br />

Miranda. Ausentes, ocaslonalmente,<br />

os Srs. Mins. LelUo de Abreu e Antonio<br />

Neder, Presidente. Presidiu o<br />

Julgamento o Sr. Min. Xavier de Albuquerque,<br />

Vice-Presidente.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes A SessAo os<br />

Srs. Ministros Djaci FalcSo, Thompson<br />

Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

LeftAo de Abreu, Cordeiro Guerra,<br />

Moreira Alves, Cunha Peixoto, Soares<br />

Mufioz, Deck Miranda e Rafael<br />

Mayer. Procurador-Geral da Repilblica,<br />

Dr. Firmino Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 29 de marco de 1979 —<br />

Alberto Veronese Aguiar, Secretttrio<br />

Relator para o ac6rdilo: 0 Sr. Ministro Rafael Mayer.<br />

Autor: Alexandre Barduzzi — Re: UnlAo Federal — Lltisconsorte: Salathlel<br />

Soares da Silva.<br />

AcAo Resciseria. Cabimento. Declaragáo de Inconstitucionalidade<br />

de lel em tese NAo cabs aclio resciseria contra decisAo de declaracAo<br />

de inconstitucionalldade de lei em tese, falecendo legitimidade ao<br />

particular para intenttl-la. Ac,Ao resets/Aft inadmissivel.


50<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Sessao<br />

Plena, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e notas taquigrAficas, a<br />

unanimidade, julgar que o autor carece<br />

da acao porque a rescisOria nao<br />

6 admissivel no caso, vencido em<br />

parte, o Ministro Relator, que admitiu<br />

a Kai para o caso mas considerava<br />

que a parte ilegitima o autor.<br />

Brasilia, 19 de marco de 1980 —<br />

Antonio Neder, Presidente — Rafael<br />

Mayer, Relator p/ o acOrdao<br />

RELATORIO<br />

Sr. Ministro Soares Munoz: Pretende<br />

o Autor, serventuArio do 2? Tabelionato<br />

de Notas e Anexos da Comarca<br />

de Cafelandia, desconstituir o<br />

acOrdao proferido na Representacao<br />

n? 665, do Pleno do Supremo Tribunal<br />

Federal, que declarou inconstitucional<br />

o Decreto paulista n? 44.794,<br />

de 7.5.65.<br />

v. acórddo rescindendo 8 de 28<br />

de abril de 1966 e a inicial, de 26 de<br />

abril de 1971, foi despachada em<br />

maio do mesmo ano.<br />

Decreto paulista n? 44.794, de<br />

7.5.65, restabeleceu o Officio de Registro<br />

de ImOveis e Anexos da Comarca<br />

de Cafelandia. Por fovea de<br />

sua anulacao, o Autor perdeu a serventia<br />

pela qual tinha optado e dal<br />

seu interesse no feito.<br />

Ministro Lafayette de Andrade<br />

Relator no Pleno, da Representacao<br />

n? 665, entendeu que a expedicao<br />

desse decreto feriu o art. 124 da<br />

Constituicao Federal, que declara<br />

inalteraveis a divisao e organizacao<br />

judiciaria, dentro de 5 anos da data<br />

da lei que as estabelecer, salvo proposta<br />

motivada do Tribunal de Justica.<br />

Nao o convenceu o fato de que o<br />

decreto tivesse sido em cumprimento<br />

R.T.J. — 94<br />

do Decreto-lei 11.464/40, pots este se<br />

referia a Tabelionatos e nao a Registro<br />

de Im()vets, al6m do que o restabelecimento<br />

de cartörlo equivale A<br />

sua criacao, que deve ser objeto de<br />

lei e nao de decreto.<br />

0 voto referido teve acolhida unanime.<br />

A inicial alega que anterior mandada<br />

de seguranca, que veto ao Supremo<br />

Tribunal Federal no RO<br />

11.561, em 8.9.67, obteve da E. 3?<br />

Turma a declaracao de validade do<br />

D. 44.794/65, por ser executbrio do Dl<br />

11.464/40.<br />

Inquina o parecer da Procuradoria-Geral,<br />

que instrulu o<br />

v. acOrdao rescmdendo, de equivocado<br />

na apreciaeao da Organizaeao Judiciaria<br />

do Estado, quando entendeu<br />

que o Registro ImobiliArio nao estava<br />

incluido nas disposicOes do Dl n?<br />

11.464/40.<br />

Contra o v. acOrdao rescindendo<br />

houve o MS n? 17.483, que foi julgado<br />

improcedente, visto nao ser sucedaneo<br />

da acao rescisOria. Argui que o<br />

decreto anulado nao era normativo,<br />

mas individual, pelo que o v ac6rdad<br />

rescindendo foi ofensivo ao art.<br />

101, I, K, da Constituicao Federal<br />

modificada pela Emenda 16. Alam<br />

disso, o julgamento da Representacao<br />

n? 665 a nulo porque feito sem a<br />

audiancia do Autor, Calico prejudicado,<br />

devendo ser considerado litisconsorte<br />

passivo necessArio. Declara feridos<br />

o art. 124, I, da Constituicao<br />

Federal combinado corn o art. 6?,<br />

2?, da Lei de Introducao do 05d. Civil<br />

e a violacao de direito adquirido<br />

do Autor. Termina pedindo o provimento<br />

da acao com o restabelecimento<br />

do decidido no RO 16.561.<br />

Contestou a Uniao, invocando a<br />

propriedade da Representacao para<br />

o caso e a validade de seu julgamento.<br />

Sustentou a imutabilidade da declaracao<br />

de inconstitucionalidade,<br />

apoiando-se no art. 87 do Regimento<br />

Interno, hoje, art. 180. Argiliu a falta


de legitimidade do Autor, quando a<br />

inconstituclonalidade de lei s6 afeta<br />

ao Estado.<br />

Assim, como preliminares, levanta:<br />

a impropriedade da acAo;<br />

a falta de legitimidade do Autor.<br />

No merit°, apoia a decLsAo rescin-<br />

denda.<br />

Salathiel Soares da Silva, o escriv/lo<br />

do 1? CartOrio, tamb6m contestou<br />

a acAo a f. 153, no mesmo sentido<br />

da UnlAo.<br />

A douta Procuradoria-Geral da<br />

Reptblica opina pela preliminar de<br />

incabimento da acAo e, no merit°,<br />

pela sua improcedencia, adotando as<br />

alegacOes da UniAo.<br />

A revisAo do erninente Ministro<br />

Decio Miranda.<br />

Oportunamente, extraiam-se c6pias<br />

deste relatorlo para serem remendas<br />

aos eminentes Ministros.<br />

Brasilia, 02 de mato de 1979. — Ministro<br />

Soares Munoz, Relator.<br />

VOW<br />

0 Sr. Ministro Soares MutSoz (Relator):<br />

- A contestacAo da Una° elaborada<br />

pelo Ministro Jost Fernandes<br />

Dantas, ao tempo Procurador da Re<br />

pablica, e subscrita pelo Ministro<br />

Xavier de Albuquerque, naquela época<br />

Procurador-Geral da Repfiblica,<br />

suscitou as preliminares do descabimento<br />

da acAo rescisaria e da ilegitimidade<br />

dos autores para prop6-la,<br />

quando fosse admissive' a rescisão<br />

do acardAo deciaratdrio de inconstitucionalidade,<br />

proferido em representacAo.<br />

A primeira preliminar esta assim<br />

fundamentada:<br />

«A evidencia do descabimento da<br />

acao rescisaria, no caso, dispense<br />

exame macs aprofundado da doutrina<br />

brasileira do controle judicial<br />

R.T.J. — 94 51<br />

da constitucionalidade das leis. No<br />

pertinente ao processo direto e via<br />

principal desse controle, os contornos<br />

especiais que revestem a decisilo<br />

de inconstitucionalidade estao<br />

definidos no julgamento desse Excelso<br />

Prettrio, proferido na momentosa<br />

ReclamacAo n? 849, de autoria<br />

do Movimento Democratic°<br />

Brasileiro, e no qual, definitivamente,<br />

consagrou-se a especialidade<br />

da acAo de representacAo, em<br />

termos de relevAncia dos interesses<br />

estatals que a presidem corn<br />

exclusividade, donde não pass-sr do<br />

Procurador-Geral da Realica a<br />

legitimidade para move-la.<br />

A partir dessa especialidade,<br />

incompatibiliza-se corn a dita wit°<br />

todo e qualquer outro remédio processual<br />

que, no campo da formalistica<br />

comum, tenha por escopo<br />

a revisão da decisAo definitiva<br />

pela qual o Supremo Tribunal Federal<br />

ponha termo ao conflito constitutional<br />

tratado. Com efeito, a<br />

singularidade do poder jurisdicio-<br />

nal que somente o Supremo Tribunal<br />

Federal detkm para a decretacão<br />

de inconstitucionalidade da lei<br />

in abstracto, detido em alheio aos<br />

limites de seas atribuicees jurisdicionais<br />

comuns, torna o processo<br />

de representacAo estranho aos<br />

moldes das demais aches. Estas se<br />

prop6em deslindar interesses subjetivos,<br />

enquanto o queiram os<br />

seas autores. Mas a acAo de representacAo<br />

assim nao se comporta,<br />

bastando ver, a ligeiro exernplo diferencial,<br />

que urna vez instaurada<br />

a acAo, resulta indisponivel o seu<br />

objeto, dela nAo podendo desistir o<br />

praprio autor (art. 174, 2?, do Regiment°<br />

Interno). Isso porque, o<br />

autor 'go litiga interesse prOprio,<br />

portm interesse do Estado, do qua'<br />

agente, apenas para entregar ao<br />

maior &OA° jurisdicional o conhe-<br />

cimento da anormalidade institutional<br />

que a lei inconstitucional<br />

provocou.


52<br />

Significa dizer que a acão perde<br />

em natureza, transmudando-se em<br />

procedimento especialissimo aderido<br />

agora ao prOprio poder jurisdiclonal<br />

do controle das leis, inserto<br />

como atribuicAo do Judiciario, enquanto<br />

Poder do Estado. A decisao<br />

declaratOria de inconstitucionalidade<br />

por via direta nao resolve relacAo<br />

juridica vinculada a interesses<br />

das partes, senAo que um conflito<br />

de normas do Estado, proposto em<br />

termos de alcance politico fundamental,<br />

qual seja a volta a normahdade<br />

institucional malferida. Por<br />

essa razAo, a eficacia da decisão<br />

somente se complete quando o<br />

Presidente da Rept:Miler ou o Senado<br />

Federal (arts. 11, § 2?, e 42, VII,<br />

da ConstituicAo) a conhecem para<br />

prover a suspensäo da execucAo do<br />

ato declared° inconstitucional.<br />

Desse modo, tem-se que a jurisdicAo<br />

constitucional do Supremo<br />

Tribunal Federal se exaure por<br />

completo com a eficacia erga<br />

omnes que a sentence conquista<br />

com a suspensAo da execucão do<br />

ato. 0 julgado reveste-se de forge<br />

vinculativa, sem mats possibilidade,<br />

portanto, de o Supremo Tribunal<br />

Federal varier de jurisprudëncia,<br />

o que implica cessacao do poder<br />

jurisclicional sobre a hipOtese,<br />

conforme prelecionam os doutos.<br />

Ora, se tal 6 a natureza da decisap<br />

proferida na representacao,<br />

ve-se que, uma vez integrado 0<br />

fenenneno juridico da decretacão<br />

de inconstftuclonalidade, com a<br />

participacAo do Poder Judiciario e<br />

do Legislativo ou Executivo conforme<br />

o caso nao ha falar-se no restabelecimento<br />

da prestacao jurisdiclonal<br />

que se cumpriu inteiramente.<br />

Nenhum interesse subjetivo,<br />

porventura alcancado pela sentence<br />

(quanto mats que pertencente a<br />

terceiro alheio a acao), podera<br />

sobrepor-se ao principio da imutabilidade<br />

da decretacão de inconstitucionalidade.<br />

Transitada em jul-<br />

R.T.J. — 94<br />

gado, a sentence passou a constituir<br />

termo do ato complexo culminado<br />

na suspensao da execucão da<br />

norma, pondo-se em situacao inatingivel<br />

pela manifestacão unilateral<br />

dos Poderes que atuaram no<br />

processo de recomposicao da normalidade<br />

institucional.<br />

Releva notar que a imutabilidade<br />

da declsao, como caracteristica<br />

necessAria da especialidade do<br />

processo direto de declaracao de<br />

inconstitucionalidade, sempre<br />

preocupou o Supremo Tribunal Fe<br />

deral. Exemplo disso foi a relutancia<br />

com que a Corte Suprema f indou<br />

por admitir a constitucionalidade<br />

da Lei n? 2.271, de 22.9.54, na<br />

parte que dispfis sobre a embargabilidade<br />

de acOrdão proferido na<br />

acAo de representacAo. Consulte-se<br />

A. Cordeiro de Mello (0 Processo<br />

no Supremo Tribunal Federal, vol.<br />

II, pag. 852), em reportagem a assentada<br />

de julsamento em que o<br />

Ministro Hannemann Guimaräes<br />

frisou a indole das decisties dessa<br />

espécie, concluindo nao ser<br />

possivel que dual vezes o Tribunal<br />

decide a mesma questa° da inconstitucionalidade,<br />

principalmente em<br />

face do art. 87 do Regimento Interno<br />

(hoje, leia-se art. 180 do RI).<br />

Que dizer, pots, da rescindibilidade<br />

do acOrdão, quando o fim da declaracao<br />

6 completar-se pela suspensdo<br />

do ato, compondo o quadro da<br />

decretacao de inconstitucionalidadeb><br />

(fls. 113-116).<br />

Impugnando essa argumentacAo,<br />

atraves de seu ilustre advogado Dr.<br />

TheotOnlo Negrao, o autor salienta<br />

que: «0 Egrégio Supremo Tribunal<br />

Federal, em Sessão Plenaria, decidiu,<br />

por unanimidade de votos, ser<br />

incabivel o mandado de seguranca<br />

impetrado pelo ora autor contra o<br />

mesmo acardAo proferido na<br />

presentacao. Assim foi julgado por<br />

se entender que esse actmdAo pertencia<br />

A categoria dos «atos juris-


dicionais», cuja revise° «s6<br />

possivel por via de ace° resets&<br />

ria» (ementa oficial do v acerdeo<br />

no MS 17.483).<br />

NAo se yë por que motivo uma<br />

deliberacAo dessa magnitude nä°<br />

possa ser reexaminada e constltua<br />

verdadeiro tabu. Nilo sendo admissive!<br />

contra ela o mandado de<br />

seguranca, que outro caminho restare,<br />

sank, o da resciseria? Mas,<br />

adnaina pare argumentar que<br />

nem eats fosse possivel, entAo estartamos<br />

em face de uma decislo<br />

que, nAo constituindo colsa julgada,<br />

poderla ser <strong>revista</strong> ex officio.<br />

0 autor, corn a presente aclio, visa<br />

a objetivos preticos e nAo a discussflo<br />

de teses academicas, embora<br />

belissimas. Se em sue alta sabedoria<br />

o El:régi° Supremo Tribunal<br />

Federal entender que pride rever<br />

ex officio o acardfio proferido na<br />

representaclo, entlo aqui Lica espreesainente<br />

o pedido de que essa<br />

revisal) se face, e o macs depressa<br />

possivel.<br />

No fund, alias, o argument° dos<br />

contestantes nao passe de tuna pencil°<br />

de principio, em face dos ternon<br />

em que o autor colocou a<br />

questAo.<br />

0 que ele afirma a que, no caso,<br />

nAo cabia a representaralo. Como<br />

diner-se agora que contra acordao<br />

em representaclo &to cabe KA°<br />

reset/aerie, se o autor este atacando<br />

o cabimento da representacão<br />

e nAo o que nests se decidlu? (NA°<br />

precise atacar-lhe o merit° porque,<br />

como disse, reconhecklo o nä°<br />

cabimento da representacAo e invalided,<br />

por via de conseqtencia,<br />

o acercello vela proferido, passara<br />

a subsistir unicamente a outra decisflo<br />

do Egregio Supremo Tribunal<br />

Federal que le deciarou sem<br />

nenhum direito o terceiro 'Serventente,<br />

Salathiel Soares da Silva).<br />

mega-se ainda, na tentative de<br />

demonstrar-se a inviabilidade da<br />

R.T.J. — 94 53<br />

ace° rescithria, que o pedido 6 ju-<br />

ridicamente impossivel. Eis, porem<br />

o que se pediu: que seja rescindido<br />

«o venerando acerdeo proferido<br />

na Representaclo n? 665,<br />

devendo-se em conseq06ncia, expedir<br />

oficio ao Senado Federal,<br />

para que revogue a Ftesoluclo n?<br />

5, de 11 de Janeiro de 1967, e ao<br />

Govern do Estado de SA° Paulo,<br />

para que revogue o Decreto n?<br />

50.674, de 8 de novembro de 1968,<br />

uma e outro decorrentes do venerando<br />

acerdlo cuja rescistio se<br />

pede.»<br />

E principlo de direito o de que<br />

MIMI tam naturals art Warn eo<br />

nere quidque dissolvere quo earlgab=<br />

est. Se, em virtude de tuna<br />

decisào judicial, o Senado Federal<br />

baixou uma ResolucAo, 6 clam que<br />

este obrigado a baixar nova Resoluclo,<br />

revogando a anterior, se no-<br />

va decisào anular a primeira. 0<br />

mesmo se digs quanta ao Decreto<br />

n? 50.674.<br />

Nem serla a primeira vez que isso<br />

teria acontecido. Tenth o Senado<br />

Federal, atraves da ResoluCao<br />

n? 93, de 1965, dado !notate execucflo<br />

a tuna deeisilo do Egregio Supremo<br />

Tribunal Federal (v. RTJ<br />

38/5 e 38/61), vtu-se forcado a promulgar<br />

nova Res:duck), a de n? 50,<br />

de 7.6.67 (em Lax 1967/1505 e RT<br />

Ma/ 437), revogando a anterior.<br />

No caso, a revogacAo da Resoluclo<br />

e do Decreto nflo passa de meros<br />

efeltos secunderios do julgado.<br />

Acoihida a aclo resciseria, nAo podere°<br />

mesmo continuer subsistindo<br />

esses atos.<br />

Isso nib significa, porem, que,<br />

comp pretende o terceiro interveniente,<br />

o Senado Federal e o Governo<br />

do Estado de Silo Paulo devain<br />

ser partes na ace°. 0 autor<br />

nada pleiteia destes. Tea° de<br />

cumprir o julgado, tad comp o oficial<br />

do reglstro civil, nas aches de


54<br />

R.T.J. — 94<br />

desquite, ou o oficial do registro de<br />

imOveis, nas de usucapião, etc»<br />

(fls. 271-273).<br />

Data yenta, da brilhante dissertaea°<br />

contida na defesa da União, nao<br />

encontro incompatibilidade invencivel<br />

entre a acao direta de declaracão<br />

de inconstitucionalidade de<br />

let ou de ato normative e a KA° rescisOria,<br />

presentes que se acham na<br />

primeira os pressupostos da segunda,<br />

insta dizer, sentenca proferida<br />

em processo contencioso, sobre o<br />

mérito da causa e que fez coisa julgada<br />

material. As objecOes, derivadas<br />

da especialidade da representaa)<br />

de inconstitucionalidade, nä° me<br />

levam a sobrepO-las aqueles pressupostos.<br />

Assim, assiste razão a impugnacdo,<br />

quando observa que, «se o<br />

Senado Federal baixou uma Resolucks,<br />

6 clam que estã obrigado a baixar<br />

nova Resolueao, revogando a anterior,<br />

se nova decisäo rescindir a<br />

primeira» E o que acontece, acrescento,<br />

com as se tend desconstitutivas<br />

proferidas contra o Estado, em<br />

mandado de seguranca ou em acdo<br />

ordinaria. Rescindida a sentenca, a<br />

Administracao PUblica, que the dera<br />

cumprlmento, a obrigada a desfazer<br />

os atos executtrios que praticou.<br />

Relativamente, a ilegitimidade ad<br />

causam do autor para prop& a presente<br />

nä° resciseria, a cothestacao<br />

da Untho aduz o seguinte:<br />

«Por outro lado, quando fosse admissive)<br />

a rescisão do acOrclao declarat6rio<br />

de inconstitucionalidade,<br />

proferido na representacäo, naturalmente<br />

que o direito do judicium<br />

rescindens a ningtthin mais acobertaria,<br />

send° que as partes diretamente<br />

ligadas a relacäo processual,<br />

isto 6, o Procurador-Geral da<br />

Reptiblica e o Estado-membro editor<br />

da norma julgada inconstitucional.<br />

Presa ao interesse Alnico da<br />

normalidade institutional afetada<br />

pela lei contraria a C,onstituiedo, a<br />

decisào na representacao mais nao<br />

produz em eficacia do que o resta-<br />

belecimento dessa normalidade,<br />

gravitando s6 campo de uniformidade<br />

da legislacOo, segundo a<br />

hierarquia do sistema federativo.<br />

Logo, ao terceiro que foi mero<br />

espectador do interesse que fez instaurar<br />

a questa° constitutional,<br />

nao teria como se reconhecer legitimidade<br />

para a reabertura da jurisdicao.<br />

Quando se the permitisse<br />

legitimidade, estar-se-ia reduzindo<br />

a especialidade do processo principal,<br />

tirando-o daquela excepcional<br />

posicão constitutional, para regélo,<br />

na reabertura da instAncia, pelos<br />

principios comuns da formalistica,<br />

com os quais nao se afina.<br />

Em conseqithncia, desinvestirse-la<br />

a decisão de seus caracteres<br />

prOprios, relegando-a ao campo ordinario<br />

da prestacao jurisdicional<br />

devida ao trato dos interesses privados,<br />

quando, em verdade, multo<br />

maior e a sua destinacäo, dirigida,<br />

como se viu, ao trato das relacOes<br />

federativas, sem indagacAo de direltos<br />

individuals porventura interligados.<br />

Os portadores desses direitos,<br />

que em tese sao todos os cidadãos,<br />

ja que a qualquer do povo<br />

atinge a fulminacão de um ato normativo,<br />

nao tern como dispor de<br />

KA° para rescindir o acOrdào, posto<br />

que nao disp6em para instaurar<br />

o conflito, de cuja relacão processual,<br />

quando participem, somente<br />

o fazem como meros assistentes,<br />

ativos ou passivos.<br />

Por conseguinte, conclui-se preliminarmente,<br />

que inteiramente incabivel<br />

6 a acdo rescisdria, no caso,<br />

porquanto se cuida de julgado<br />

que, em representacao, decidiu argilled°<br />

de inconstitucionalidade,<br />

operando a suspensão da execucao<br />

do ato argilido Em Ultima hipOtese,<br />

se fosse cabivel a acdo, legitimidade<br />

nä° teria o autor, que nao<br />

foi parte na representacäo e se<br />

propOe a defender, unicamente interesse<br />

pessoal, do qual, obviamente,<br />

nao tratou a decisäo rescindenda»<br />

(fls. 116-117).


ftedargiliu, porem, o autor:<br />

«Sustenta-se que somente quem<br />

foi parte pode propor agAo rescis&<br />

ria.<br />

Não 6 exato. Quern, devendo ser<br />

parte, nAo foi conclamado ao<br />

litigio, tambem tem qualidade para<br />

a propositura daquela acAo; os<br />

Tribunals, a todo moment°, decidem<br />

que aquele em eujo nome esta<br />

transcrito o imOvel e parte legitima<br />

para propor acão rescisOria<br />

contra decisAo que, sem a sua citecAct,<br />

julgou procedente acAo de<br />

usucapiAo (cf. RT 411/185, 400/218,<br />

381/147, 361/195, 330/422, 319/241,<br />

303/351, 303/592). E, ainda:<br />

«A doutrina dominante (Pontes<br />

de Miranda, Jorge American,<br />

OdiIon de Andrade, Carneiro de<br />

Lacerda, Carvalho Santos e outros)<br />

confere legitimacão tamhem<br />

aos terceiros prejudicados<br />

pela sentenca. Conquanto a coisa<br />

inigada diga respeito apenas as<br />

wales, a sentenca, por sua eficAcia<br />

natural, atinge terceiros,<br />

permitlndo-se-lhes, quando<br />

juridicamente prejudicados,<br />

opor-se-Ihe por meld de recurso<br />

(05d. de Proc. Civil, art. 815), e,<br />

analogicamente, por meio de<br />

an° rescisOria» (Moacyr Amaral<br />

Santos, Primeiras Linhas de<br />

Direito Processual Clvll, 4! ed.,<br />

3? vol., n? 968, p. 459).<br />

No caw, o autor deixou de ser<br />

provido numa serventla, para a qual<br />

jA tin& manifestado omit°, corn<br />

direito de preferAncia (mit° e sem<br />

concorrentes possivels pant essa<br />

nomeacAo. Como negar-]he a quaildade<br />

de tercelro prejudicado?<br />

Tambem se diz que o Estado de<br />

São Paulo 6 que teria qualidade<br />

para a propositura desta acão (f.<br />

116, n? 11), argumentacAo conflitante<br />

corn a do tercelro interessado,<br />

para o qual este Estado devia<br />

ser reu na acilo.<br />

R.T.J. — 94 55<br />

Nem uma coisa, nem outra. Ja<br />

mostramos (item 4, in fine) que<br />

ele tiara 6.<br />

Autor, poderia ser, se o guisesse,<br />

porque, do ponto-de-vista processual,<br />

foi ele o reu na representacao<br />

e, pois, contra ele a que foi<br />

proferida a decisao (embora o Cudco<br />

prejudicado tenha sido 0 ora autor).<br />

Mas o que tem urn direito a yindicar<br />

nth) fica Impedido de manifestar<br />

sua pretensao ern juizo se<br />

outro, nas mesmas condicees, se<br />

onlitir. Na pior das hipeteses para<br />

o autor, se se tratasse de Iltiscons6rcio<br />

ativo necessário, e nal) se<br />

trata, caberia ao eminente Sr. Ministro<br />

Relator, corn apoio no art. 91<br />

do COdigo de Processo Civil, ordenar<br />

a citacão do Estado de Sao<br />

Paulo, se entender que esta pode<br />

ser felta para Integrar o contraditOrio<br />

(o texto da lei Pala em integrar<br />

«a contestacao», de onde uma<br />

corrente de ()pinta°, muito saida,<br />

no sentido de que s6 6 posslvel o<br />

chamamento do co-reu, e nao de litisconsorte<br />

ativo, ainda que necessalt,<br />

como se pode ver no precloso<br />

estudo de Moacyr Lobo da Costa<br />

sobre A Intervenclio Iussu Iudicis no<br />

Processo Civil Brasher°, ed. Saraiva,<br />

1961, n? 35, especialmente p.<br />

110 e 111).<br />

De qualquer forma, e isto 6 que<br />

importa, o autor nth) pode ser prejudicado,<br />

pois tal providancla a determinada<br />

ex officio pelo juiz, de<br />

sorte que, se o processo chega ate<br />

decislio final sem essa citacAo, o<br />

autor não 6 caracedor da acAo,<br />

mas o processo deve ser anulado,<br />

para que o chamamento a juizo se<br />

efetive. E o que se lé ern venerando<br />

acOrdAo publicado em RTJ<br />

56/705, corn a seguinte ementa official:<br />

«A faith de chamamento do 11tisconsorte<br />

necessArio induz nulldade<br />

processual. Recurso ex-


56<br />

R.T.J. — 94<br />

traordinario conhecido e provido,<br />

para anular o processo a partir<br />

do despacho saneador, inclusive,<br />

a fim de que seja regularmente<br />

citado o litisconsorte » (RE<br />

64.663-SP; relator, o Exmo. Sr.<br />

Ministro Djaci Falcão; 1a Turma;<br />

j. 1911.70; conheceram do recurso<br />

e deram-lhe provimento, em<br />

parte, v. u.)<br />

A acAo foi proposta contra o Exmo.<br />

Sr. Procurador-Geral da Reptblica,<br />

por ser este o titular do direito<br />

de acAo, na representacOo.<br />

A capa dos autos consigna que a<br />

KA° e contra a USA° Federal.<br />

Pensa o autor que o reu, no caso,<br />

era mesmo o Exmo. Sr. Procurador.<br />

E basta imaginar o seguinte:<br />

cabendo a representacAo tambem<br />

para a declaracão de inconstitucionalidade<br />

de «lei ou ato normativo<br />

<strong>federal</strong>» (ConstituicAo, art. 119-I-<br />

1), teriamos a MAO° como autora<br />

e re, ao mesmo tempo, em tats cases»<br />

(fls. 273-275).<br />

A questão ndo e, excluslvamente,<br />

de direito processual para que a sua<br />

solucAo possa ser encontrada nas<br />

normas que disciplinam a legitimidade<br />

ad processum, mas nas relativas<br />

a ilegitimidade ad causam, intimamente<br />

vinculada ao direito material<br />

exercitado na lide. 0 judiclum<br />

resclndens a de sobreposicAo a sentenca<br />

proferida na KA° originaria.<br />

A legitimidade para propor uma e<br />

outra e a mesma. Quem nä° tem titulariedade<br />

para propor a KA° originAria,<br />

ou para contests-la, tambem<br />

nAo a tern para ajuizar acAo rescithria.<br />

Ora, parte legitima para propor<br />

a representagão de inconstitucionalidade<br />

de lei ou de ato normativo e o<br />

Procurador-Geral da RepUblica e<br />

macs ninguem, tal como decidiu o<br />

Supremo Tribunal Federal nä RepresentacAo<br />

n9 849. Sugestivo 6, a respeito,<br />

este tepico do voto do relator,<br />

eminente Ministro Adalicio Noguelra,<br />

que, como se vera, fez uma sintese<br />

da argumentacal da maioria:<br />

«ja se ye, pois, que a iniciativa<br />

do Procurador-Geral da Rep(Italica<br />

para encaminhar a representacAo<br />

de inconstitucionalidade ao Supremo<br />

Tribunal e insubstituivel pela<br />

acAo de terceiro. E essa uma atribuicAo<br />

sua, especifica, de que ele<br />

o organ exclusivo. Seria inconcebivel<br />

que outrem se lhe sobrepusesse<br />

nesse procedimento» (RTJ<br />

59/344).<br />

Pela mesma razAo, digo eu, legitimado<br />

exclusivo para acAo rescistiria<br />

de sentenca proferida em RepresentacAo<br />

de Inconstitucionalidade é o<br />

Procurador-Geral da RepUblica. Mc)<br />

ha que se falar em interesse de terceiro.<br />

NAo a dele que trata a KA° direta<br />

de inconstitucionalidade . E o interesse<br />

pAblico que lhe imprime a<br />

especialidade que a distingue dos outros<br />

procedimentos. E manifesto que<br />

uma sentenca informada por<br />

principios de ordem publics, nAo e<br />

suscetivel de ser rescindida, mediante<br />

a inciativa de terceiro acaso<br />

interessado. A especialidade da acdo<br />

originaria dita a especialidade da<br />

acão resciseria, sob pena de<br />

desfigurar-se aquela no judicium<br />

reseindens.<br />

A contestacAo admite que, alem do<br />

Procurador-Geral da Reptiblica, ao<br />

Estado- membro, autor da norma<br />

julgada inconstitucional, assiste, por<br />

igual, o direito ao judicium<br />

rescindens. Abstenho-me de<br />

manifestar-me sobre essa possibilidade,<br />

porque ela nao se acha em discussAo<br />

na especie sub judice.<br />

Ante o exposto, julgo o autor carecedor<br />

da acAo resciseria e condeno-o<br />

nas custas e em honorarios advocaticios,<br />

que fixo em 10% sobre o valor<br />

da causa.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Mastro Rafael Mayer (Revisor):<br />

Procede, a meu ver, a preliminar<br />

de ilegitimidade de parte para<br />

a propositura da KA° rescisOria. Da-


da a natureza da aceo e da sentence<br />

declarathria da inconstitucionalidade<br />

da lei em tese, visando diretamente<br />

realizacAo do direito objetivo pela<br />

desconstituicAo de preceitos de indole<br />

generica, aos particulares ntio<br />

dada a legitimidade para corn relaclio<br />

a ela serem autores, reus, assistentes<br />

ou opoentes. Declara-se a in-<br />

constitucionalidade da lei em tese,<br />

em relacAo a qual, embora possa haver<br />

urn interesse de todos ou de al-<br />

guns cidadeos, sera sempre um interesse<br />

indireto ou politico, •nunca urn<br />

interesse juridico que se possa fazer<br />

valer naquele procedimento. A declaractio<br />

incidental de inconstitudonalidade<br />

inside em Anna relacAo<br />

juridica entre partes deduzida em<br />

juizo, onde ha portanto um interesse<br />

individual a resolver, mas a dechumcAo<br />

em tese f az abstraceo de qualquer<br />

interesse e se coloca no piano<br />

do relacionamento dos Poderes e do<br />

puro exercicio jurisdicional de con-<br />

Mole da constituctonalidade da let<br />

em si mesma considerada, como<br />

manifestaceo da vontade do Estado,<br />

independente dos seus efeltos concretos.<br />

0 interesse do Autor 6 sim-<br />

ples interesse de fato, intense igual<br />

a de todos quantos tem situacCoes individuals<br />

desfeitas em conseqÜencia<br />

da declaraceo da inconstituctonalldade<br />

da lei em que se embasaram,<br />

sem que todavla dal resulte legitimidade<br />

para se altar ao nivel da dtscusseo<br />

da let em si.<br />

Admitir que o Autor tivesse<br />

rnidade part por meio da resciseria,<br />

desconstituir uma declaracAo de inconstitucionalidade<br />

da lei em tese<br />

seria atribuir-lhe, de certo modo, a<br />

titularidade da ace° origlnaria que e<br />

reservada ao Procurador-Geral da<br />

Republica.<br />

Mas esta preliminar este interligada<br />

com a do cabimento da ace° yes-<br />

Simla pots 6 o prOprio nivel, o contexts)<br />

e as implicaciles da declaraceo<br />

da inconstitucionalidade que se me°<br />

runoldam ao quadro do Infra resentdente.<br />

question-se, no caso, a im-<br />

R.T.J. — 94 57<br />

possibilidade que haveria em lever o<br />

Senado a editar nova resoluceo pela<br />

qual revogasse a suspense° da lei<br />

declarada inconstitucional. Mas tambem<br />

sob outro prlsma, o de que a declaracAo<br />

da inconstitucionalidade<br />

em tese importa a desconstituicAo, a<br />

nulificacAo da prepria lei em si, como<br />

efeito imediato da sentence desconstitutive,<br />

a dificuldade se apresenta<br />

na impossibilidade de restau-<br />

rar o que tot desconstituido, pots se<br />

diz corn raze° que os efeitos da sentence<br />

seo imutaveis.<br />

Por outro lado, interligando-se aos<br />

aspectos abordados no problema da<br />

legitimidade, ter-seta que a rescis6ria<br />

seria urn meio de desvlrtuar o<br />

Procedimento rescindendo afetando<br />

os seus contornos constitucionais.<br />

Assim, tanto pela impropriedade<br />

da ace°, como pela degItimidade de<br />

parte procede a defesa do douto<br />

Procurador-Gera] da Reptrblica. Julgo<br />

o Autor carecedor da acAo.<br />

ESCLARECIMENTO<br />

0 Sr. Mintstro Soares Muiloz (Relator):<br />

Sr. Presidente, data verde,<br />

Tao vejo razAo pare o descablmento<br />

da aCao resciseria de sentence proferida<br />

em representaceo de inconsti-<br />

tucionalidade, se Proposta (a resetsOria)<br />

pelo Procurador-Gera] da RepUblica.<br />

Nesse ace° originaria encontramse<br />

os pressupostos do cabimento do<br />

judiclum rescisorium, vale dizer:<br />

de contenclosa, sentence sobre o merito<br />

e a coisa julgada.<br />

A circunstAncia de a lei declarada<br />

inconstitucional ter tido sua execuclio<br />

suspense pelo Senado Federal<br />

WI° constitut Obice invencivel ao cabimento<br />

da resets:via, pots, tuna vez<br />

julgada procedente esta, caberit ao<br />

Senado Federal levantar a suspensAo,<br />

p<strong>revista</strong> no art. 42, VII, da<br />

Constituiceo da Fteptiblica.<br />

E o interesse que possa ter o<br />

Procurador-Geral para proper a


58<br />

acAo rescisOria 6 manifesto, tanto no<br />

caso de a representacAo ter sido julgada<br />

procedente quanto improcedente,<br />

presente que se encontra urn dos<br />

pressupostos estabelecidos no art.<br />

485 do Cédigo de Processo Civil.<br />

que nAo a possivel admitir-se e<br />

que o judicium rescisorlum seja<br />

acionado pelo particular, porque, entao,<br />

se estaria desfigurando nele os<br />

interesses de natureza pftblica que<br />

informam a representacão de inconstitucionalidade.<br />

Foi, por isso, que, em face das<br />

duas preliminares, resolvi acolher<br />

somente a referente a ilegitimidade<br />

ad causam do autor.<br />

VOTO SOBRE PRELIMINARES<br />

Sr. Ministro Cunha Peixoto —<br />

Sr. Presidente, data yenta do eminente<br />

Relator, pelos fundamentos do<br />

voto do eminente Ministro Rafael<br />

Mayer, acolho a preliminar de impropriedade<br />

da acAo.<br />

VOTO SOBRE PRELIMINARES<br />

Sr. Ministro Moreira Alves —<br />

Sr. Presidente, eu também, data<br />

venia do eminente Relator, acolho a<br />

preliminar de impropriedade da<br />

acão.<br />

A meu ver, a acAo direta de declaracAo<br />

de inconstitucionalidade 6 urn<br />

meio de controle politico da ConstituicAo,<br />

que b deferido, em carAter<br />

excepcionalissimo, a esta Suprema<br />

Corte. eminente Procurador-Geral da<br />

Reptibilea 0 o titular dessa representacão,<br />

apenas para o efeito de provocar,<br />

ou nAo, o Tribunal, porque ele,<br />

como OrgAo politico — ja que se trata<br />

de acão de natureza politica, pots<br />

o que se decide sAo os limites da<br />

atuacdo de dots Poderes conjugados<br />

ao elaborar uma lei —, pode encaminhar,<br />

ou nap, o pedido. Mas, uma<br />

vet encaminhado, nem mesmo ele<br />

pode mats retire-lo. E mats. Ainda<br />

R.T.J. — 94<br />

que seja contrArio ao próprio pedido<br />

que encaminha, o Regimento se the<br />

defere a possibilidade de dar parecer<br />

em contrArio.<br />

Essas peculiaridades e o f ato de<br />

que o prOprio Supremo pode dispenser<br />

as inf ormacOes do Congresso ou<br />

da Assembleia estäo a demonstrar, a<br />

meu ver, o carAter excepcional dessa<br />

acão.<br />

por ser ela instrumento de controle<br />

politico da constitucionalidade<br />

da lei em tese, e não estritamente<br />

meio de prestacdo jurisdicional,<br />

se me afigura possivel sujeita-la a<br />

KA° rescisOria p<strong>revista</strong> no Cedlgo<br />

de Processo Civil.<br />

VOTO SOBRE PRELIMINAR<br />

Sr. Ministro Cordeiro Guerra:<br />

Sr. Presidente, acolho a impossibilidade<br />

juridica da acão rescisAria nas<br />

representacOes por inconstitucionalidade.<br />

Uma vez julgada procedente, suspende<br />

a lei em caster definitivo,<br />

porque, logicamente, uma lei näo pode<br />

ser periodicamente inconstitucional<br />

e periodicamente constittrAonal.<br />

Se o Supremo Tribunal, em tese, declara<br />

a inconstitucionalidade tuna<br />

lei, a rescisAria que, por urn absurdo,<br />

fosse admitida, ndo teria a finalidade<br />

de rescindir o acOrdAo do Supremo,<br />

mas, repristinar tuna lei declarada<br />

inconstitucional pelo Supremo<br />

Tribunal e suspensa pelo Senado<br />

Federal. Ora, nem o Supremo Tribunal<br />

pode repristinar uma lei, nem<br />

determinar a revogacão de urn ato<br />

legitimo praticado pelo Senado, em<br />

conseqiiéncia da declaracAo de inconstitucionalidade<br />

desta mesma lei,<br />

em tese<br />

Sr. Ministro Soares Mtuloz (Relator):<br />

Mas o Senado Federal nä()<br />

cassou a lei; sua execucão suspendeu<br />

(art. 42, VII, da CF).<br />

Sr. Ministro Cordeiro Guerra:<br />

Mas declarou que ela a inconstitucional,<br />

invAlida perante a ConstituicAo.


VOTO SOBRE PRELIMINAR<br />

0 Sr. Mastro Thompson Flores —<br />

Senhor Presidente. Peso yenta ao<br />

eminente Relator, cujo voto acompanharla,<br />

se pudesse apreciar o fundamento<br />

por S. Exa. acolhido.<br />

Todavia, ha uma razao malor que<br />

obsta a citada apreciacão, a inviabi-<br />

Ildade juridica do pedido, a goal me<br />

leva, inelutavelmente, a concluir pela<br />

carencia da acao, como considerou<br />

o voto do eminente Revisor.<br />

Trata-se de causa mencionada no<br />

art. 267, VI, que, reconhecida, importa<br />

em extincao do preprio pedido.<br />

E, com precisäo indicou-a o pare-<br />

cer da douta Procuradoria-Geral da<br />

Ftep6bIlca, cuja leitura procedeu o<br />

eminente Relator.<br />

As razbes expendidas no referido<br />

parecer acrescento as consideracbes<br />

que acaba de produzir em seu vote o<br />

eminente Ministro Moreira Alves.<br />

Evidenciam todas que a representea°,<br />

procedimento especialissimo,<br />

quica origlnalidade do direito brasitaro,<br />

norma disciplinadora que brota<br />

da prOpria Constituictic e por ela<br />

delimitada, corn indole eminentemente<br />

politica, de iniciativa exclusive<br />

do Procurador-Geral da ReaIlea,<br />

o qual jamais pod dela desistir,<br />

pa° comporta rescisao, maxime pelos<br />

efeitos politicos ja causados,<br />

emergentes de seu acolhimento.<br />

Assim, inviavel a rescisfria a<br />

qual, como 6 sabido, assenta em<br />

pressupostos outros, ausentes com<br />

respeito ao processo de representa-<br />

°Ito, por inconstitucionalidade, em<br />

tese da lei.<br />

g o meu voto, data yenta.<br />

VOTO SOBRE PRELIMINAR<br />

0 Sr. Ministro Djaci FalcAo: Sr.<br />

Presidente, tenho pare mim que a<br />

representacao de inconstitucionali-<br />

R.T.J. — 94 59<br />

dad tem uma natureza peculiarissima,<br />

eminentemente politica, a envolver<br />

a lei em tese, e não interesse de<br />

pessoas. Trata-se de inovacao instituida<br />

corn a Carta Politica de 1946<br />

(art. 8?, Paragrafo tJnico), visando<br />

resguardar a ordem juridica, independente,<br />

pots, de lesao a direito individual.<br />

Diante dessa situacao jtuldicopolitica<br />

em que se sane a representacao,<br />

a rescisoria nä° 6 mete idOneo<br />

para rescindir a decisão que venha a<br />

ser proferida na chamada acao direta,<br />

para declaraceo da inconstitucionalidade<br />

de lei.<br />

Acolho, assim, a primeira prelirninar,<br />

julgando prejudicada a segunda.<br />

VOTO SOBRE PRELIMINAR<br />

0 Sr. Mlnistro Antonio Node'',<br />

(Presidente): Também eu peso<br />

ao eminente Relator pare votar<br />

pelo acolhimento da preliminar nos<br />

termos da fundamentacito do voto do<br />

eminente Ministro Moreira Alves.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

AR. 878 — SP — Rel., Min. Soares<br />

Murloz. Rev.: Rafael Mayer. Autor.:<br />

Alexandre Barduzzi. (Adv.: Theotonio<br />

Negrao). R6.: Uniäo Federal. Li-<br />

tisconsorte: Salathiel Soares da Silva.<br />

(Adv.: Teofilo Xavier de Mendonca<br />

e outro).<br />

Decisao: Em votacao uniforme jtd-<br />

gou o Tribunal que 0 autor carece da<br />

aviio porque a resciseria não 6 admissivel<br />

no caso, vencido em parte,<br />

o Ministro Relator, que admitiu a<br />

ace° para o caso mas considerava<br />

que 6 parte llegftima o autor. Impedidos<br />

os Srs. Ministros Xavier de Albuquerque<br />

e Decio Miranda.


60<br />

Presidência do Senhor Ministro<br />

Antonio Neder Presentes a Sessão<br />

os Senhores Ministros Djaci FalcAo,<br />

Thompson Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves, Cunha Peixoto, Soares Minloz,<br />

Decio Miranda e Rafael Mayer. —<br />

R.T.J. — 94<br />

ACAO RESCISORIA N? 950 — SP<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Ausente, licenciado, o Sr. Ministro<br />

Leitão de Abreu. Procurador-Geral<br />

da ReptibBea, Dr. Firmino Ferreira<br />

Paz.<br />

Brasilia, 19 de marco de 1980. —<br />

Alberto Veronese Agular, SecretArlo.<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Rafael Mayer.<br />

Autora: Massey-Ferguson do Brasil S/A Indristria e Comercio — Re:<br />

UniAo Federal,<br />

1?) . AcAo resciseria. Competencia. Agravo regimental desprovido.<br />

Embora se trate de inadmissilo de recurso extraordinario, a questao<br />

<strong>federal</strong> foi apreciada de modo a firmer a competancia do STF.<br />

2!) Imposto de renda. Multa. Divida confessada. Retroatividade<br />

benéfica do Dec.-Lei 401/68. Indeferimento do pedido de reducao, nao<br />

s6 por ter sido requerido a destempo, como por se tratar de situitclio<br />

definitivamente julgada no ambito administrativo. Inocorrancia de<br />

violas ao a literal disposicao da lei. — Actio rescisOria improcedente.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em SessAo<br />

Plena, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e notas taquigrAficas, A<br />

unanimidade, julgar improcedente a<br />

resciseria.<br />

Brasilia, 26 de margo de 1980 —<br />

Antonio Neder, Presidente — Rafael<br />

Mayer, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Rafael Mayer:<br />

Massey-Ferguson do Brasil S/A prop6e<br />

a presente acAo resciseria contra<br />

a UniAo Federal sob o fundamento<br />

do art. 485, incisos V e IX,<br />

parAgrafo 1?, do COdigo de Processo<br />

Civil, tendo por objeto desconstituir<br />

o acerdAo proferido pela Segunda<br />

Turma deste Tribunal, no Agravo de<br />

Instrumento n? 56.853, em grau de<br />

agravo regimental, relatado pelo<br />

eminente Ministro Thompson Flores.<br />

2. 0 acerdAo rescindendo tern a seguinte<br />

ementa:<br />

«Imposto de renda. Multa. Pedido<br />

de reducAo requerido a destempo,<br />

segundo disposicAo do<br />

Decreto-lel n? 401/68.<br />

II —; Mandado de seguranca, por<br />

fim denegado.<br />

III — Recurso extraordinArio<br />

inadmitido por falta de pressupostos.»<br />

E o voto do eminente Ministro-<br />

Relator assim se expressou:<br />

«Nego provimento ao agravo.<br />

2. Fago-o porque a decisão originAria<br />

e antes transcrita vale por<br />

si, nAo a tendo infirmado, nem a<br />

fundamentacão do agravo de instrumento,<br />

nem, sequer, a do regimental,<br />

sua argumentagAo e a<br />

mesma, dispensando consideracOes<br />

outras.


o meu voto.»<br />

0 despacho, no agravo de instrumento,<br />

de que fora interposto o<br />

regimental acima aludido, estA assim<br />

vazado:<br />

«Vlstos. Nego seguimento ao<br />

agravo, nos termos do art. 22, § 1?,<br />

do Regiment° Intern°.<br />

2. Faco para adotar por inteiro<br />

os ftmdamentos do despacho<br />

agravado de fls. 82/85, os gnats,<br />

porque corretos e em sintonia corn<br />

elementos informativos constantes<br />

dos autos, dispensam quaisquer<br />

acrtscimos . 3. Em conseq0Bncia,<br />

arqulve-se. Publique-se.»<br />

Por sua vez, o despacho que indeferiu<br />

o recurso extraordinario, de<br />

lavra do eminente Ministro Armando<br />

Rollemberg, e que faz parte integrante<br />

da decistio rescidenda, pela<br />

incorporacAo dos seus fundamentos,<br />

esta colocado nos seguintes termos:<br />

«Contra Massey-Ferguson do<br />

Brasil S/A — Indfistria e Comercio,<br />

foi Instaurada acAo fiscal<br />

da qual decorreram lancamento.<br />

ex officio que se tornam definitivos<br />

por nAo ter o contribuinte apresentado<br />

reclamacAo no prazo de trinta<br />

Was, como facultado por lei.<br />

Invocando o Decreto-lel 401, de<br />

30 de dezembro de 1968, pleiteou,<br />

em 11 de marco de 1969, o parcelsmento<br />

do debit° corn a reduclio da<br />

multa que the fora aplicada de<br />

100% para 150%, o que the fol indeferido<br />

pela autoridade, sob o fundament°<br />

de que tal reducão,<br />

tratando-se de processo que JA estava<br />

definitivamente encerrado,<br />

somente fora admItido pelo citado<br />

diploma legal quando o contribulnte<br />

a requeresse dentro de 60 dias<br />

da data em que entrou em vigor,<br />

prazo que a Interessada deixara<br />

escoar.<br />

Inconformada impetrou mandado<br />

de seguranca que, deferido<br />

na primeira instAncla, velo a ser<br />

R.T.J. — 94 61<br />

cassado por Turma Julgadora deste<br />

Tribunal.<br />

Veio a contribulnte entAo corn recurs°<br />

extraordinArio arguindo violacflo<br />

do art. 153, § 4?, da ConstituicAo,<br />

negativa de viencia ao art.<br />

106, II, C, do C6digo Tributario Naclonal<br />

e ao 3? do art. 6? da Lei de<br />

IntroducAo ao C6digo Civil, bem<br />

como que nAo se dera razoável interpretacAo<br />

ao art. 23 do Decretolei<br />

401-68. Sustentou ainda que o<br />

Julgado recorrido conflitou corn decistles<br />

nas quals se admitiu a<br />

aplicacAo do principio da lex<br />

mitior em direito fiscal e que tal<br />

aplicacflo se deveria dar quando<br />

nAo houvesse decisAo judicial transitada<br />

em julgado.<br />

2 — Dispite o art. 106 do C6digo<br />

Tributarlo Nacional:<br />

RA lei aplica-se ao ato ou fato<br />

preterito:<br />

I — em qualquer caso, quando<br />

se expressamente Interpretativa<br />

exclulda a aplicaclio de penalidade<br />

a infracAo dos dispositivos<br />

Interpretados;<br />

II — Tratando-se de ato nAo definitivamente<br />

julgado;<br />

quando deixa de defini-lo como<br />

infracAo;<br />

quando deixa de trata-lo como<br />

contrario a qualquer exigéncla<br />

de rick) ou omissito, desde<br />

que nAo tenha sido fraudulent° e<br />

nAo tenha implicado em falta de<br />

pagamento de tributo;<br />

c) quando the comina penalidade<br />

menos severa que a p<strong>revista</strong><br />

na lel vigente ao tempo de<br />

sua pratica.»<br />

Da lettura de tal disposicão se<br />

verifica que al se consagrou o<br />

principio de que a lex mitior somente<br />

se aplica no direito fiscal<br />

em relacAo a ato nAo deflnitivamente<br />

julgado. Ora, no caso do<br />

lancamento ex officio feito contra<br />

a recorrente, o ato respectivo


62<br />

tornou-se definitivo por ndo ter<br />

contra ele reclamacdo no prazo legal,<br />

corn o que A hipOtese, nä°<br />

aplicacdo a norma do art. 106,<br />

II, c, da Lei 5.172/66.<br />

0 Decreto-lei 401-68, porem, foi<br />

mats amplo que o C6cligo Tributario<br />

Nacional na fixacdo da apneacão<br />

da norma mais benefica ao<br />

contribuinte e admitiu, no seu art.<br />

23, que a reducdo do percentual da<br />

multa previsto na tetra a do art.<br />

21, exatamente a que havia sido<br />

aplicada a recorrente, se fizesse a<br />

processos definitivamente julgados,<br />

desde que os contribuintes o<br />

requeressem dentro do prazo de 60<br />

dias de sua publicacdo. NM) providenciou<br />

a recorrente, entretanto, o<br />

requerimento dentro de tal prazo<br />

com o que tal norma tornou-se-lhe<br />

inaplicavel.<br />

Procura fugir a essa conclusdo<br />

sustentando que definitivamente<br />

julgado a somente o processo no<br />

qual haja sido proferida decisdo judicial<br />

definitiva, no que nao the assiste<br />

razdo, pois se conformara<br />

corn a decisdo administrativa, tanto<br />

que requereu o pagamento parcelado<br />

do debito originado de Iancamento<br />

que tal decisdo entendera<br />

correto.<br />

Lanca, por fim, argumento<br />

habil mats Improcedente, tal<br />

seja o de que admitindo-se como<br />

definitiva decisdo administrativa<br />

se estaria contrariando o preceito<br />

constitutional que assegura a<br />

apreciacdo, pelo Poder Judiciario,<br />

de qualquer lesdo a direito. Para<br />

que tivesse razao seria necessario<br />

que a lei dissesse que estaria fora<br />

do alcance do Judiciario o exarbe<br />

da procedencia ou ride d P decisdo<br />

administrativa, o aue ndo ocorreu,<br />

pois o que nela se considerou foram<br />

hipOteses em que, tal como se<br />

deu no caso dos autos, a decisdo administrativa<br />

setornaradefinitiva em<br />

conseqtlencia de reconhectmento,<br />

pelo contribuinte, de sua proceden-<br />

R.T.J. — 94<br />

cia, que, por isso, dela nä° recorrera<br />

na 6rbita administrativa e nem<br />

pugnara pela sua anulacdo perante<br />

o Judiciario.<br />

No caso concrete, alias, e tanto<br />

mais procedente a conclusão acima,<br />

quanto o contribuinte, no mandado<br />

de seguranca, nä° discutiu o<br />

fate gerador do tributo, nem a<br />

existencia das circunstancias que<br />

levaram A aplicacdo da penalidade<br />

e sim pleiteou que esta fosse reduzida<br />

corn apoio na lei que estabelecera<br />

prazo para o favor, ao qual<br />

desatendera.<br />

Inexiste, assim, quer negativa de<br />

vigencia da lei, quer dissidio de<br />

julgados.<br />

Indefiro o recurso.<br />

Publique-se.»<br />

3. Relata a initial que a Autora teve<br />

suas declaracdes de Imposto de<br />

Renda, relativas aos exercicios de<br />

65,66 e 67, impugnadas pela Fazenda<br />

que nao concordou corn deducees feitas.<br />

Antes que se decidisse o assunto,<br />

advelo o Decreto-iei n? 352/68,<br />

de cuja anistla partial de penalidades<br />

a Autora postMou beneficiarse,<br />

calculando o montante do seu debito<br />

e o recolhendo, espontaneamente.<br />

Mas a Fazenda ndo aceitou o imposto<br />

assim calculado e notificou a<br />

Autora para o recolhimento do debito<br />

de Cr$ 27.769,00, a titulo de imposto,<br />

e Cr$ 344.036,00, a titulo de<br />

multa. Nesse Interim, foi baixado 0<br />

Decreto-lei n? 401/68, e, jplgando-se<br />

a Autora beneficiada pelo art. 21, tetra<br />

c, que reduzia para 150% a multa<br />

de 300% que the fora linposta e pela<br />

retroatividAde benefica da lei fiscal,<br />

nos termos do art. 106, 71, c, do CTN,<br />

formulou pedido de pare lamento do<br />

debito, ccm todas as coautelas recomendada<br />

3„ inclusive a confissdo<br />

do montante da divida que the pareceu<br />

correto, nos termos da lei. Entretanto,<br />

o pedido foi indeferido sob


dots motivos: a) a Autora se teria reducAo<br />

da multa se o pedido houvesse<br />

ingressado ate 28.2.1969, dentro do<br />

prazo de 60 dias concedido pelo art.<br />

23 do Decreto-lei n? 401/68, jA que<br />

seu caso estaria definitivamente julgado,<br />

corn a nAo apresentactio de reclamaclio<br />

administrative contra tancement°<br />

ex officio; b) nAo tendo Wren°<br />

a multa benefice, a Autora nee)<br />

teria confessado a totalidade do seu<br />

debito. Contra essa decisilo administrative<br />

6 que foi impetrado mandado<br />

de seguranca para o efeito de (a) pagar<br />

o seu debito parceladamente; e<br />

(b) na forma confessada, isto e, corn<br />

aproveitamento da multa p<strong>revista</strong><br />

no art. 21, c, do DL 401/68, e e esse<br />

mandado que este em cause na decisAo<br />

rescindenda.<br />

4. Feb° art. 485, V, do COdigo de<br />

Processo Civil, Indica a Autora que a<br />

decisAo rescindenda contrarlou literal<br />

disPosIctio dos arts. 97 e 106, inciso<br />

II, letra c, do CTN, do art. 6?,<br />

paregrafo 3?, da Lei de Introducão<br />

ao 06dW° Civil e do art. 153, 4? e 29<br />

da Constituicilo Federal.<br />

A clareza do texto da let tributeria<br />

apenas exclui da retroatividade benefice<br />

o ato definitivamente julgado,<br />

o dispositivo da lei introdutória do<br />

COdigo Civil fornece o precis() alcance<br />

da expressão, ao deft& caso<br />

julgado ou coisa julgada, como a decisAo<br />

de que não caiba recurso. Somente<br />

as decisOes do Poder JudiciArio<br />

6 possivel atribuir-se o carater de<br />

coisa julgada, de modo que ao considerar<br />

como definitivamente julgado<br />

um lancamento administrativo<br />

ex officio, ofendeu simultaneamente<br />

a esses dispositivos.<br />

5. 0 acOrdAo rescindendo tambem<br />

suscetivel de desconstittdclio pelo<br />

fundament() do art. 485, incise IX,<br />

1?, do C6cligo de Processo Civil, pots<br />

fundou-se em erro de fate ao considerar<br />

como razAo de decidir pela<br />

definitividade do ato administrativo<br />

que o Autor havia confessado a totalidade<br />

do debito, pots, na verdade,<br />

R.T.J. — 94 63<br />

confessou apenas parte, e assim o<br />

mesmo acerdAo admitiu fato inexistente.<br />

Ademais 6 impossivel em Direito<br />

Tributerio admitir que a conflssAo<br />

condicAo de constituir<br />

coisa julgada o lancamento admintstrattvo.<br />

A aceo fol contestada, preliminarmente,<br />

corn a alegactio de litispendencia<br />

e da inocorrencia dos<br />

pressupostos da ace°, e, no merit(),<br />

pela improcedencia.<br />

Rejeitei a execucAo de litispendencia<br />

sem que as partes recorressem<br />

do despacho, nAo houve proposicAo<br />

de prove a produzir e as mesmas<br />

partes ofereceram alegacOes finals,<br />

reiterando os seus argumentos.<br />

o relatOrio, que submeto<br />

apreciacAo do eminente Ministro<br />

Djact FalcAo, revisor.<br />

Oportunamente, extraiam-se c6-<br />

Sas deste relaterio para serem remetidas<br />

aos eminentes Ministros.<br />

Brasilia, 05 de fevereiro de 1980 —<br />

?Mastro Rafael Mayer, Relator.<br />

VOTO<br />

Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator):<br />

Competente e o Supremo Tribunal<br />

para o julgamento desta ace°,<br />

pots o acerdilo rescindendo se reporta<br />

a decistles anteriores, inclusive<br />

o despacho que, no Tribunal Federal<br />

de Recursos, inadmitiu o recurs() extraordinitrio,<br />

para incorporar, como<br />

prOprios, os seus fundamentos. Por<br />

at se ye que, embora se trate de<br />

inadmissAo de recurso extraordinitrio,<br />

a questAo <strong>federal</strong> OM substancialmente<br />

versada, de modo a firmar<br />

a competencia aludida, na conformidade<br />

de <strong>jurisprudencia</strong> pacifica,<br />

sendo, por outro lado, tempestiva<br />

a acão intentada.<br />

A pretense() da Autora, veiculada<br />

pelo mandado de seguranca na instAncia<br />

originaria, e a1 repelida, se<br />

centrava na consecucão da retroattvidade<br />

benefice da lei tributaria, es-


64<br />

to representada pelo Decreto-lei n?<br />

401, de 1968, que reduzia para 150% a<br />

multa que the estava sendo exigida<br />

na ordem de 300% (art. 21, C),<br />

aplicando-se o beneficlo mesmo a<br />

processos definitivamente julgados,<br />

desde que requerido em sessenta<br />

dias da data da lei (art. 23). A razao<br />

essential do indeferimento fora a intempestividade<br />

do requerimento por<br />

se tratar de situacao deflnitivamente<br />

julgada, inclusive pelo irretratavel<br />

de uma confissao.<br />

O acOrd.do rescindendo recusou admi<br />

tir ocorresse nessa decisao negativa<br />

de vigencia do art. 153, § 4?, da<br />

Constituted°, do art. 106, II, c, do<br />

CTN, e do art. 6?, § 3?, da Lei de Introducan<br />

ao C6digo Civil, e esses<br />

mesmos dispositivos ora On indicados<br />

como violados na sua literalidade.<br />

O ndcleo da argumentacao da rescisOria<br />

se situa na interpretacao a<br />

ser dada ao art. 106, II, c, do CTN,<br />

segundo a qual se asseguraria a retroatividade<br />

da lei a ato preterite,<br />

quando comine penalidade mais<br />

branda, tratando-se de ato nao definitivamente<br />

julgado, e 6 nessa<br />

clausula modal que se pOe a controversia.<br />

Como se ye da prOpr la constelacao<br />

de disposicOes legais invocadas todas<br />

como malferidas, a Autora propOe<br />

o entendimento de que o termo<br />

de preclusao do beneficio retroativo<br />

at posto, somente estaria na prepria<br />

coisa julgada judicial, em sentenca<br />

do Poder Judiciario transitada em<br />

julgado.<br />

Entretanto, essa interpretacao restritiva<br />

nao se amolda ao contexto da<br />

legislacao em que se situa e ao reconhecimento<br />

da instancia e de um<br />

procedimento admintstrativo-tributado.<br />

Sem prejuizo de que ao Judiciario<br />

compita constitucionalmente a irrestrita<br />

apreciacao das lesOes do direlto<br />

subjetivo, cabe a Administracao<br />

também a realizacao do Direito,<br />

anlicando a lei aos casos, segundo<br />

R.T.J. — 94<br />

procedimentos prOprios que se traduzem<br />

16gica e necessariamente em<br />

decisdes ou julgamentos que, pela<br />

preclusao, se tornam definitivos. E<br />

definitivo 8 o ato administrativotributário<br />

de lancamento do imposto,<br />

quando ja nao penda recurso administrativo,<br />

pots o que dai resulta e a<br />

prepria constituicao do credit° tributad°,<br />

emergente do procedimento<br />

fiscal pertinente.<br />

Considerando coma redundante<br />

que a lei tributaria viesse opor a sua<br />

aplicacäo retroativa a existancia de<br />

coisa julgada judicial, pots esta e<br />

realidade juridica que ja tern respaldo<br />

no instituto constitutional, certo<br />

que se deve ter em vista que o pensamento<br />

da norma tributaria 6 de<br />

estabelecer um marco na instancia<br />

administrativa, antes do qual nao se<br />

farti valer o efeito retroativo em beneficio<br />

do contribuinte.<br />

Para que o ato administrativo, inclusive<br />

na area tributária, alcance a<br />

perfeicao, a eficacia e a executoriedade<br />

que the sac) pit/arias, e necessario<br />

que esteja revestido da caracteristica<br />

da efetividade. Quando 0<br />

ato tenha contend° deciserio, envolvendo<br />

o deslinde de interesses<br />

particulares em conflito corn a Administracdo,<br />

ao termo de urn procedimento,<br />

estamos diante de urn<br />

julgamento, nos limites da jurisdicao<br />

administrativa, e julgamento definitivo<br />

quando nä° haja mats possibilidade<br />

de alteracao nessa instancia.<br />

Ainda que corn impropriedade, mas<br />

por analogia, o fato tem recebido a<br />

denomtnacao de coisa julgada administrativa.<br />

Tenho, portanto, que ao interpretar<br />

o prefalado artigo do COdigo Tributario<br />

e o inciso do Dec.-lei n?<br />

401/68, no sentido de que o ato definitivamente<br />

julgado 6 aquele que foi<br />

objeto de apreciacdo final do procedimento<br />

administrativo, o acerclao<br />

rescindendo adotou o entendimento<br />

compativel corn a tetra e o espirito<br />

da norma, situando-a no sistema tributario.


0 reconhecimento da definitividade<br />

do Julgamento administrativo,<br />

em seu prOprio Ambito, para efeito<br />

do surgimento do crédito tributtwio,<br />

nit° importa em negar a possibilidade<br />

do seu controle judicial, nos termos<br />

da ConstituicAo, nem, portanto,<br />

em ofensa ao art. 153, 4?, da ConstituicAo,<br />

como tamb6m ao art. 6?,<br />

3?, da Lei de IntroducAo ao Cédigo<br />

Civil, por nAo se tratar, na espècie,<br />

de coisa julgada judicial.<br />

Finalmente, a Autora pretende<br />

ocorrido o fundamento de rescisão<br />

pelo art. 485, IX, ff 1?, do C6digo de<br />

processo Civil, sob color de que houve<br />

erro de fate, por isso que o despacho<br />

rescindendo admitiu que houvesse<br />

confissAo total do &tit°, quando<br />

houve apenas parietal. Mesmo admitido<br />

houvesse erro de fate, o fundament°<br />

nib prevaleceria. Primeiro<br />

porque houve controversia e pronunciamento<br />

Judicial sobre o tema,<br />

eis que a confissAo 6 especificamente<br />

contemplada na decisAo rescindenda,<br />

e assim, pelo 4 2?, do mesmo<br />

inciso, se afasta a sua invocacAo.<br />

Por outro lado, a confissAo, como<br />

causa de definitividade do ato e<br />

alinhada ao lado -do lancamento ex<br />

officio, sobre o qual nAo incidiu recurso,<br />

e que atribtli definitividade ao<br />

ate independente desse outro motivo,<br />

razAo por que, aquele nAo Witt sido<br />

razAo (mica de decidir.<br />

Febexposto, cuido inocorrente a<br />

ofensa aos dispositivos de lei 1nvocados,<br />

e, de consegUinte, Julgo<br />

procedente a acdo, condenando a Autors<br />

as cominacties da suctunbëncia,<br />

inclusive honorttrios de advogado em<br />

10% sobre o valor da causa.<br />

0 Sr. Ministro Djacl FakAo (Revisor):<br />

A presente acAo, arrimada no<br />

art. 485, incs. V e, IX, do C6digo de<br />

Process° Civil. visa a desconstituir<br />

decklo tomada em agravo regimental.<br />

julgado pedit Egrtgia Segunda<br />

Turma. A decisAo rescindenda,<br />

R.T.J. — 94 65<br />

apolou-se nos fundamentos do despacho<br />

que inadmitiu o recurso extraordinario,<br />

onde mereceram<br />

apreciacAo questties de direito <strong>federal</strong><br />

(art. 153, 3?, da ConstitukAo<br />

Federal, art. 106, inc. II, letra c, do<br />

CTN e 3? do art. 6? da Lei de IntroducAo<br />

ao C6digo Civil).<br />

Dessarte, situa-se no Ambito da<br />

competEncia do Supremo TribUnal<br />

Federal (alma 249).<br />

0 primer° argumento da autora<br />

consiste em violacAo do disposto no<br />

art. 106, inc. II, letra c, do CTN, que<br />

estabelece a substituicAo da pena<br />

macs grave da lei vigente ao tempo<br />

do ato pumvel, pela sancAo menos<br />

severa da lei nova. Tem-se ai norma<br />

de retroatividade benign, inspirada<br />

no C6digo Penal (art. 2?, paragrafo<br />

Cmico).<br />

Como observava o saudoso Professor<br />

e Ministro Allomar Baleeiro:<br />

«A disposicAo nAo o diz, mas, pela<br />

pr6pria natureza dela, ha de<br />

entender-se como compreensiva do<br />

Julgamento tanto administrativo<br />

como judicial». (Direito Trib.<br />

Braslleiro, 9? edicAo, pttg. 3138).<br />

0 acOrdAo da Turma louvou-se no<br />

despacho do Presidente Armando<br />

Rolemberg, que delxou explicito:<br />

«Ora, no caso do lancamento ex<br />

officio felto contra a recorrente, o<br />

ato respectivo tornou-se definitivo<br />

por não ter contra ele reclamado<br />

no prazo legal, com o que A hiptitese,<br />

Mk° tinha aplicactio a norma do<br />

art. 106, II, c, da Lei 5.172/66».<br />

Al6m disso, 6 fora de dttvida que<br />

no prazo do art. 23 do Dec.- Lei<br />

401/68, a recorrente nAo requereu a<br />

reducao do percentual da multa p<strong>revista</strong><br />

na tetra a do art. 21 do mesmo<br />

diploma. Constitulu-se, em definitivo,<br />

o credito tributario. Por outro<br />

lado, jamais houve afronta ao<br />

principio do controle judicial (art.<br />

153, I 4?, da ConstRuicao Federal).<br />

Assim, o entendimento adotado, em<br />

harmonia coin o espirito do davit°


dos artigos 60 e 64, unanffnemente:<br />

das expressties "serventuarlos<br />

e" no artigo 148, unanimemente;<br />

III) do partgrafo Calico do artigo<br />

148, unanimemente;<br />

IV) no artist) 149 as expresses<br />

«podendo, todavia, o Tribunal de<br />

Justice deferir permutas ou transferências<br />

ou determiner remocees, por<br />

conveniencla do servico, desde que<br />

pare Comarca da mesma entrAncia»,<br />

vencidos, em parte, os Srs. MInistros<br />

Soares Mufloz e Xavier de Albuquerque;<br />

V) do parAgrafo lance, do artigo<br />

149, unanimemente; Brasilia, 13 de<br />

junho de 1979 — Antonio Neder, Presidente<br />

— Died Falcao — Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Djaci Falello — 0<br />

Prof. Henrique Fonseca de Aratjo,<br />

Procurador-Geral da Repablica, no<br />

use da atribuiCao que the confers o<br />

art. 119, I, letra 1, da ConstituicAo<br />

Federal, e atendendo a solicitaclio<br />

do Sr. Procurador-Geral da Justice<br />

do Estado do MaranhAo, submete a<br />

julgamento do S.T.F. a argflicAo de<br />

inconstitucionalidade das regras<br />

constantes dos arts. 60, 64, 148, Mum<br />

e 149, da Resolucflo re 8, de 18-12lint<br />

do Egregio Tribunal de Justice<br />

do Miran/go.<br />

Os artigos inquinados de violadores<br />

da ConstituicAo trazem o seguinte<br />

«Art. BO — 0 Tribunal de Justice<br />

poderA remover, para Comarca de<br />

igual entrAncia, para Vara da mes-<br />

ma Comers.° Cu pant Zona diferente,<br />

o Julz de Direito ou Juiz Substitute<br />

que o requerer e deferir per-<br />

mUtas de .Comarcas, Vents, ou Zones,<br />

a Juba da mesma entrAncia.<br />

Efetivada , a remock ou a permute,<br />

sera o ato comunicadO ao Poder<br />

Executive para os devidos fins.»<br />

«Art. 64 — Vagando Comarca de<br />

prandra Fatrancla serf a meerna<br />

R.T.J. — 94 67<br />

preenchida pelo Tribunal de Justice,<br />

entre os Juizes de Direito.Subs-<br />

Mutes de 1? Entrfincia segundo as<br />

normas do artigo anterior, no que<br />

couber».<br />

«Art. 148 — Aprovados em Concurso<br />

e corn rigorosa obediencia a<br />

ordem de Classificacilo, os Servertuttrios<br />

e funcionários de Justica<br />

serif° nomeados, em sander efetivo,<br />

medlante a aprovacão do Plenano,<br />

adquirindo estabilidade ap6s<br />

dois anos de exercicio. Dentro detrinta<br />

Was de aprovacilo o Presidente<br />

farA a nomeacAo.»<br />

«Paragrafo tuna) — NAo havendo<br />

candidate habilitado em concurso,<br />

os cargos vagos de serventuhdos<br />

e de ftmcionAnos da Justice<br />

poderAo ser provides, em sander<br />

temporArio, pelas autoridades<br />

mencionadas nests artigo, pelo<br />

prazo de dots anos.»<br />

«Art. 149 — 0 serventuArlo da<br />

Justice somente serf) provide no<br />

cargo pant o qual over Nested°<br />

concurso, podendo, todavia, o Tribunal<br />

de Justice deferir permutes<br />

ou transferfmcias ou determiner<br />

remosfles, por convenithcia do ser-<br />

;rico, desde que para Comarca da<br />

mesma entrAncia.<br />

«ParAgrafo Calico — Por urgente<br />

e reconhecido interesse da Justice,<br />

a remocAo poderA ser fella para<br />

Comarca de entrfincia imediatamente<br />

ma's elevada.» (fls. 4 e 5).<br />

0 Des. Kleber Moreira de Souza,<br />

Presidents do Tribunal de Justica,<br />

expee em sues informacOes:<br />

«Diz o argfiente que os citados<br />

anises atribuem ao Tribunal de<br />

Juitisa do Estado competência pare<br />

efetuar remocCes p permutes de<br />

Juizes de Direlto, bem come 0<br />

prenichimento de Comarca de PMmeira<br />

InstAnela por Julzes SUbstitutos,<br />

alem da tiorneaello de serventuarios<br />

e funcionarlos da Justice<br />

concursados e, nomeacties provlsOrlits,<br />

pelf► prazo de 2 (dole)


68<br />

anos, desses funcionarios, quando<br />

nao houverem candidatos habilitados<br />

em concurso, o que vem ferir o<br />

principlo da independencia e harmonia<br />

dos Poderes, isto por ser o<br />

provimento dos cargos pOblicos da<br />

atribuicAo do Poder Executivo, se<br />

se permitindo a admissao de servidores<br />

em servicos de carAter ternporario<br />

para fungdes de natureza<br />

tecnica especializada, sob regime<br />

juridic° estabelecido em lei especial.<br />

Fele que se le dos dispositivos da<br />

Resolucao n? 8/72 — referidos posteriormente,<br />

envolvem os mesmos<br />

remogOes e permutas de Juizes de<br />

Direito, quando requeridas pelos<br />

interessados, e nomeacao provis6ria<br />

de serventuArios e funcionArlos<br />

da Justica, pelo prazo de 2 (dots)<br />

anos, na hip6tese de nao haver<br />

candidato habilitado em concurso.<br />

Quanto A permuta de Comarcas,<br />

Vara ou Zonas entre Juizes da<br />

mesma Entrancia, apenas deferida<br />

ou nao pelo Tribunal, se verifica<br />

em decorrencia de requerimento<br />

dos pr6prios interessados. Tal<br />

ocorrencla que irk) altera absolutamente<br />

a situacao funcional do Juiz,<br />

nada tern a haver corn provimento<br />

de cargo. Ocorrida que seja, o Magistrado<br />

continua com sua situacão<br />

funcional inalterada, apenas mudando<br />

de Comarca, Vara ou Zona,<br />

sendo o fato comunicado ao Poder<br />

Executivo.<br />

Como vemos a hip6tese da violano<br />

do principio da independencia<br />

e harmonia dos Poderes nao se<br />

configura no caso, o mesmo ocorrendo<br />

no que diz respeito as remocOes.<br />

No que diz respeito a nomeacao<br />

de servidores, em carater temporano,<br />

pelo prazo mAximo de 2<br />

(doffs) anos, quando nao houver<br />

candidato habilitado em concurso,<br />

consta do artigo 148, paragrafo Unico<br />

da Resolucao em caso por estar<br />

p<strong>revista</strong> no artigo 94, III, da Cons-<br />

R.T.J. — 94<br />

tituicão do Estado do Maranhao»<br />

(fls. 16 e 17).<br />

Por ultimo, pronunciou-se a douta<br />

Procuradoria-Geral da RepUblica<br />

nos seguintes termos:<br />

Em pauta a argtiicao de inconstitucionalidade<br />

de alguns dispositivos<br />

da Resolucao n? 8, de 18<br />

de dezembro de 1972, do Egregio<br />

Tribunal de Justica do Estado do<br />

Maranhao, que dispOe sobre o COdigo<br />

de Divisao e Organizaedo JudiciAria<br />

daquela unidade federativa.<br />

Alega-se, fundamentalmente, o<br />

descompasso entre determinadas<br />

normas-de competencia all exaradas<br />

e o principlo da independkncia<br />

e harmonia entre os Poderes Executivo<br />

e Judicjario, de respaldo<br />

constitucional (Carta Magna, artigo<br />

10, inciso VII, alinea c).<br />

Em boa parte a questa() se<br />

exaure na tecnica constitucional de<br />

distribuicao de competencia, calcada<br />

ex hypothesi em larga experiencia<br />

histerico-institutional. No tbpico<br />

relativo,A consentaneidade estAtica<br />

e dinamica entre Executivo e<br />

JudiciArio, a regra adotada deu<br />

preeminencia inequivoca ao primeiro<br />

dos Poderes, máxime no que<br />

respeita ao provimento de cargos<br />

do segundo.<br />

No que concern aos artlgos 60<br />

e 64 do estatuto normativo em<br />

questa° (fis. 4 e 5 dos autos), sobre<br />

remocão, deferimento de permuta<br />

e preenchimento por vacancia de<br />

comarca, de juizes, pelo Tribunal<br />

estadual, cumpre referir a tradicao<br />

republican de competencia<br />

pessoal privativa do Presidente da<br />

Reptiblica, corn as necessArias excecOes,<br />

refletidas nas Callas de<br />

1891 (art. 48, item 5?); de 1934 (art.<br />

56, item 14); de 1937 (art. 74, alinea<br />

1); de 1946 (art. 87, inciso V) e, na<br />

atual Constituicao, o artigo 81, inciso<br />

VIII.<br />

0 artigo 37, inciso VI, da Constituicrao,<br />

do Estado do Maranhao,<br />

contkm norma semelhante as pro-


nunciadas supra, corn referencia<br />

ao Governador do Estado. A ele<br />

caberA prover os cargos ptibIlcos<br />

estaduals, na forma da lel. No parecer<br />

do eminente Ministro Morelra<br />

Alves, A ePoca Procurador-<br />

Geral da Reptlica, trazido A colacao<br />

(f. 7), realca a importancia notöria<br />

dos atos de investidura e de<br />

cossaeao do vinctrio relativamente<br />

aos cargos ptiblicos. A senSibilidade<br />

dos doutrinadoreS brasileiros<br />

nao refoge ao ponto, podendo-se<br />

constatar em Hely Lopes Meirelles,<br />

a natureza tipicamente admi-<br />

nistrativa da investidura (Direito<br />

Administrattvo Brasilia°, S. Paulo,<br />

I978, pAg. 386).<br />

Esposam a tese da atribuiCao<br />

privativa do Cittefe do Executivo no<br />

provimento dot cargos pfiblicos<br />

gadoS A sua esfera de Poder Oswald°<br />

Aranha Bandeira de Mello<br />

(Principles Gerais de Direito<br />

AdmhilstratIvo, volume II, Rio,<br />

1974, prig. 386) e Jost Cretella Junior<br />

(Curs° de Direito<br />

Administrativo, Rio, 1975, prig.<br />

523). 0 reflexo na legislacao e evidente,<br />

corn° se viu aclma.<br />

Como se demonstra, as llmitacaes<br />

ratans personae nao ense-<br />

Jam dttvidas, ademais que adicio-<br />

nadas das restrieaes ratione<br />

materiae, haJa vista que se trata<br />

de nomeacao e transferencia de<br />

magistrados — °raw dotados de<br />

parcela da soberanla o que desde<br />

logo conflita corn a natureza dos<br />

institutes regulAveis mediante co:<br />

dificaoaes de regras<br />

orgasms* Judicituia afetas mais<br />

odministrativa de equacionamento<br />

da dinAmica funcional<br />

da Justioa, e, Pew isto, enta con-<br />

Midas ao Poder Judtclario (Cast.<br />

art. 144, 0 5t , redano anterior A<br />

Emenda n? 7/77).<br />

8. SeJa origin/trio Ou derivado,<br />

vale dizer, o provimento que se exterioriza<br />

pela nomeaeao ou pela<br />

transfettncia, v. g., o que importa<br />

R.T.J. — 94<br />

o fato da designacäo de alguem<br />

para ocupar o cargo pUblico. Movi-<br />

mento vertical ou movimento hori-<br />

zontal (na taxionomia de Bandeira<br />

de M ello, op. cit., Wigs. 380 e 381),<br />

hA investidura ou desinvestidura.<br />

Temos, portanto, que fete as normal<br />

constftucionais tambem a dieposioao<br />

vertida no artigo 60 (alêm<br />

do artigo 64) da Etesolucao em tela,<br />

quando disciplina a remocao<br />

(transferencia) e a permuta (Idem)<br />

de Julzes no Estado do Maranhao.<br />

Alinhados e combinados os<br />

preceitos da Lei suprema (artigos<br />

13, incise I e 10, inciso VII, alinea<br />

c), a cristalina a inconstitucionalidade<br />

— a ser ipso lure declarada<br />

— dos artigos 60 e 64 do COdigo Judiciiwio<br />

do Estado do Maranhao.<br />

HA nitido desrespeito A Carta maranhense<br />

(artigo 37 inciso VI) e,<br />

por via do citado artigo 13, incise I,<br />

da Constituicao Federal, o abuso<br />

de poder infrator da harmonia e independencia<br />

entre os Poderes, de<br />

disciplinacao na Lei Mar.<br />

A luz do mesmo criteria dove<br />

ser examinada a constituclonalidade<br />

dos artigos 148 e seu parAgrafo<br />

(uric° e 149 e seu parAgrafo<br />

ambos da ftesolucito maranhense,<br />

levando-se em conta, porem, o disposto<br />

no art. 115, II, da Constituicao<br />

Federal, seta na redacão vi-<br />

gente A epoca, se-Jo na sua redacao<br />

atual.<br />

,<br />

11. Nele se consagra a norma de<br />

que<br />

«organizar<br />

compete aos Tribunals<br />

seus servicos<br />

prOVendo-lhes os cargos,<br />

forma da lei.»<br />

na<br />

12.- Constltui-se o preceito, Praia-<br />

principlo<br />

mente, numa das exceo5es ao<br />

constitutional de que cabe<br />

ao Presidente da Reptiblica o<br />

provimento dos<br />

por via de<br />

cargos federais, e,<br />

conseqtiencia, ao Governador<br />

do Estado e dos cargos Estaduals.<br />

69


70<br />

Mas, justamente por se tratar<br />

de excecao, a doutrina e a <strong>jurisprudencia</strong><br />

tem dado interpretacao<br />

estrita ao preceito que atribui aos<br />

<strong>tribunal</strong>s o provimento dos cargos<br />

de seus servicos auxlliares, limitando<br />

seu alcance aos precisos termos<br />

da norma, ou seja, aos cargos<br />

das Secretaries desses Orgaos, que<br />

sao "os seus servicos auxiliares".<br />

(Representacao n? 880, dO Parana).<br />

A Resolucäo n? 8, de 18-12-72,<br />

do Tribunal de Justica do Estado<br />

do Maranhao, define o que entende<br />

por «Serventuario da Justica» e<br />

«funcionario da Justica », verbis:<br />

«Art. 91 — Consideram-se Serventuarlos<br />

os que, nao sendo magistrados<br />

ou funcionarios, ocuparem<br />

nos servicos de justica, cargos<br />

criados em lei, corn denominacao<br />

prepria e percebam vencimentos<br />

dos cofres do Estado e<br />

custas, ou somente custas ou<br />

emolumentos.<br />

Art. 141 — Sao funcionarlos da<br />

Justica, os que ocuparem na Secretaria<br />

do Tribunal de Justica<br />

ou na Corregedorta Geral, cargos<br />

criados por lei, em runner° cello,<br />

corn denominacao prOpria e vencimentos<br />

pagos pelo Estado.»<br />

Portanto, so os «funcionarios<br />

da Justica» estao compreendidos<br />

entre os que, por integrarem os servicos<br />

auxiliares do Tribunal, podem<br />

ser por este nomeados.<br />

Em conseqiiencia, o art. 148<br />

da Ftesolucao em causa inconstitucional<br />

na parte em que atribui ao<br />

Tribunal de Justica a nomeacao de<br />

«serventuarlos da Justica»; o para.grafo<br />

(wilco do art. 148, na parte<br />

em que preve, tambem pelo Tribunal,<br />

o provimento, em carater ternporario,<br />

de cargos vagos de «serventuarios<br />

da Justica»; o art. 149,<br />

caput, na parte em que confere ao<br />

Tribunal competencia para deferir<br />

permutas ou transferencias de ser-<br />

ventuários e determinar sua remocao<br />

Como a lei deve ser interpretada<br />

na sua integralidade, dentro<br />

do sistema que adota e dos conceitos<br />

que expressa, nao parece rwcessario<br />

declarar-se a Inc mstitucionalidade<br />

da totalidade ,io art.<br />

148 e sou paragrato Unico e do art.<br />

149, ja que outros preceitos \rem<br />

definidas as expressOes «serventuarios<br />

da Justica» e «funcionarios<br />

da Justica», peas quaffs se verifica<br />

que somente estes estäo incluidos<br />

na previsao do art. 115, II, da<br />

Constituicao Federal.<br />

Assim, em conclusäo, opinamos<br />

no sentido de que sejam declarados<br />

inconstitucionais os artigos<br />

60 e 64 da Resolucdo nt 8, de 18-127<br />

72, do Egregio Tribunal de Justica<br />

do Maranhao, e no art. 148, caput,<br />

as palavras serventuhrios e, no<br />

parágrafo &rico do art. 148 as palavras<br />

de serventuárlos e, no art.<br />

149 caput, as express:71es podendo,<br />

todavla, o Tribunal de Justica defter<br />

permutas ou transferencias<br />

ou determinar remoras, por cobveniencia<br />

do servico, desde que para<br />

Comarca da mesma entrancia.<br />

Quanto ao paregrafo nnico do art.<br />

149, embora perca seu sentido, em<br />

face da apontada inconstitucionalldade<br />

partial do caput, nä° ofende<br />

a Constituican, devendo, nessa parte,<br />

ser julgada improcedente a representacen.<br />

Nesse sentido, pois, o nosso parecer,<br />

sub censura.»<br />

Corn este yelattorio, do qual a Secretaria<br />

devere enviar cOpia aos Senhores<br />

Ministros, peco dia para o<br />

julgamento.<br />

Brasilia, 25 de abril de 1979 — Ministro<br />

Djaci Falcao — Relator.<br />

1/0TO<br />

0 Sr. Ministro Mad Falclio (Relator):<br />

Esta representacao compreen-


de preceitos inseridos na Ftesolucio<br />

if 8, de 18.12.1972 (Cedigo de Divisio<br />

Organizacio Judiciiria do Estado<br />

do Maranhio).<br />

A pritneira regra acoimada de inconstitucional<br />

esti no art 60, in<br />

verbis:<br />

«Art. 60 — 0 Tribunal de Justica<br />

poderi remover, para Comarca de<br />

brat entrincia, para Vara da mesma<br />

Comarca on para Zona diferente,<br />

o Juiz de Direito ou Julz Substitute<br />

que o requerer e deferir pertnutas<br />

de Comarcas, Varas ou Zo-<br />

°as, a Julies da mesma entrincia.<br />

Efetivada a remocito ou a permuta,<br />

seri o ato comunicado ao Poder<br />

Executivo para os devidos fins.»<br />

NAo padece &Arida de que tat regra<br />

afronta a ConstitulcAo, ferindo,<br />

em fitima analise, o principio da independincia<br />

e harmonia dos Poderes<br />

do Estado (art. 10, inc. VII, tetra c).<br />

Compete, privativamente, ao chefe<br />

do Poder Executivo (Governador, no<br />

case dos Estados), o provlmento dos<br />

cargos pflblieos (art. 81, inc. VIM,<br />

ressalvadas as excecies indlcadas<br />

na prOpria Constituicio Federal, em<br />

que ato se acham incluidos os membros<br />

do Poder Judiciirio. Alias, o<br />

art. 37, inc. VI, da Constitute...410 do<br />

Estado do Maranhao, seguiu o modelo<br />

<strong>federal</strong> (art. 13, inc. I).<br />

E de convir, ao lado disso, que a<br />

remocAo e a perrnuta tanto quanta a<br />

pomeactio, situam-se no Ambito do<br />

ato juridlco-adrninistratIvo de provimento.<br />

A nomeacAo constitui provimento<br />

inicial de cargo ptiblico, a<br />

promocAo 6 o provimento mediante<br />

acesso para classe ou gran superior,<br />

e a permuta e a transferincia ou remocio<br />

feita a pedido e que esti subordinada<br />

aos interesses da administracio.<br />

Portanto, trate-se de provimento<br />

sob forma orillinaria, ou derivada<br />

como ocorre na espicie, constitut<br />

ato da competincia do Poder<br />

Executivo.<br />

R.T.J. — 94 71<br />

Idintica orientactio teve esta Corte<br />

ao apreciar a Rp 880-PR, relatada<br />

pelo eminente e saudoso Ministro<br />

Luiz Gatti (RTJ 65/606 a 624).<br />

Dispile, a seu turn, o art. 64:<br />

«Art. 64 — Vagando Comma de<br />

Primeira Entrincia seri a mesma<br />

preenchida pelo Tribunal de Justica,<br />

entre os Julies de Direito Subs-<br />

titutes de V! entrincia segundo as<br />

normas do artigo anterior, no que<br />

couber.<br />

Provimento originario, confetti)<br />

ao Tribunal de Justica, importa em<br />

vulneracAo aos preceitos da Lei<br />

Magna, mencionados em relacAo ao<br />

art. 60, anteriormente apreciado.<br />

Em conseq0incia, acolho a argaicio<br />

de inconstitucionalidade dos<br />

arts. 60 e 64.<br />

Seguem-se:<br />

U Art. 148 — Aprovados em concurso<br />

e com rigorosa obedlincia<br />

ordem de classlflcacAo, as Serventuirios<br />

e Funciongulos de Justica<br />

sett nomeados, em cariter efetivo,<br />

pelo Presldente do Tribunal<br />

mediante aprovacio do Plenirio,<br />

adquirindo estabilidade apes dois<br />

anos de exercicio. Dentro em trinta<br />

Was da aprovacio o Presidente<br />

fari a nomeacAo.<br />

Parftgrafo thdea — NAo havendo<br />

candidate habilitado em concurso,<br />

os cargos vagos de serventuirlos e<br />

de funcionirios da Justica poderio<br />

ser provides, em cariter temporirio<br />

pelas autoridades mencionadas<br />

neste artigo, pelo prazo de dois<br />

anos.n<br />

«Art. 149 — 0 serventuirio da<br />

Justica somente sera provido no<br />

cargo para o qual liver prestado<br />

concurso, podendo, todavia, o Tribunal<br />

de Justica deferir permutas<br />

ou transferinclas ou detenninar<br />

converdincia do servico, desde que<br />

para Comarca da mesma entrAncia.


72<br />

R.T.J. — 94<br />

Paragrafo unto — Por urgente e<br />

reconhecido interesse da Justice, a<br />

remocao podera ser feita para Comarca<br />

de entrancia imediatamente<br />

macs elevada.» (f. 5).<br />

0 art. 148 e o seu paragrafo Calico<br />

conferem ao Presidente do Tribunal<br />

de Justice competencia para nomear,<br />

em carater efetivo, ap6s aprovacao<br />

do Plenario, os Serventuarios<br />

e Funcionarios de Justice, habilitados<br />

em concurso, bem assim, para<br />

prover, em carater temporario, pelo<br />

prazo de dots anos, os cargos correspondentes,<br />

quando nao houver candidato<br />

habilitado em concurso.<br />

Segundo a Constituicao Federal<br />

(antes da E.C. n? 7/77):<br />

«Art. 115 — Compete aos Tribunals:<br />

II — elaborar seus regimentos<br />

interns e organizer os servicos<br />

auxiliares, provendo-llies os cargos<br />

na forma da lei.»<br />

E conferido aos Tribunals o poder<br />

de auto-organizacao quarto aos seus<br />

servicos auxiliares e o provimento<br />

dos respectivos cargos, mediante lei<br />

e na forma desta.<br />

Por se tratar de excecao A competencia<br />

confiada ao chefe do Poder<br />

Executivo (art. 81, VIII, da Constituicao<br />

Federal), a regra deve ser interpretada<br />

de modo estrito, cornpreendendo,<br />

em conseqaancia, os<br />

cargos das Secretaries dos Tribunals.<br />

Esta Corte, interpretando o preceito<br />

constitutional, tem entendido que<br />

«servicos auxiliares» nao vao alem<br />

dos servIcos de Secretaria. Na referida<br />

locucao nä° se compreendem os<br />

cargos de serventuarios, por nao integrarem<br />

os servicos auxiliares dos<br />

Tribunals. HA de se considerar que<br />

se tern em vista os servicos auxiliares<br />

dos Tribunals e nap) os servicos<br />

auxiliares da Justice.<br />

Assim sendo, restringe-se a cornpetancia<br />

dos Tribunals ao provimento<br />

dos cargos das suas Secretaries.<br />

Nesse sentido a decisào proferida na<br />

Representacao n? 880 do PR, relatada<br />

pelo eminente e saudoso Ministro<br />

Luiz Gallon On RTJ 65/606 a 624).<br />

Portanto, falece competencia ao<br />

Presidente do Tribunal de Justice<br />

para nomear Serventuario de Justice<br />

(art. 81 VIII, c/c o art. 13, I, da<br />

Constituicao Federal)<br />

De acordo corn o parecer da douta<br />

Procuradoria-Geral da Reptiblica tenho<br />

como inconstitucional, no menclonado<br />

art. 148, apenas a lecticao<br />

«Serventuarios e». Os funcionarios<br />

da Justice sao, nao ha &wide, titulares<br />

de cargos compreendidos na Secretaria<br />

do Tribunal de Justice (art.<br />

141 da Res. n? 8/72). Dal por que<br />

acolho, em parte, a argilicao de inconstitucionalidade<br />

do art. 148.<br />

No que toca ao paragrafo unto<br />

procede integralmente a alegacao de<br />

sua inconstitucionalidade, e nao apenas<br />

em relacao As expressOes «de<br />

serventuarios e», como opina a Procuradoria<br />

--Geral da Reptiblica.<br />

Justifica-se tal entendimento a consideracao<br />

de que, segundo o disPosto<br />

no 1? do art. 97 da Constituicao Federal,<br />

sem dirvida, de observancia<br />

obligati:ea para os Estados (art. 13,<br />

V, da Constituicao), «a primeira investidura<br />

em cargo pitblico dependera<br />

de aprovaao previa, em concurso<br />

pablico de proves e titulos...».<br />

Insere-se ai urn preceito generic°,<br />

que encontra excecao apenas nos<br />

«casos indicados em lei» e em relacao<br />

aos cargos de provimento em comissao,<br />

de line nomeacao e exoneracao.<br />

A excecao «casos indicados<br />

em lei» quer se referir a determinedos<br />

cargos que, em razao de sua natureza<br />

especifica, a lei torna dispensavel<br />

o concurso para se processar a<br />

investidura (como se ye, somente<br />

por meio de lei em sentido formal).<br />

Alias, em caso semelhante, esta<br />

Corte deu pela inconstitucionalidade<br />

do art. 121, III, da Constituicao do<br />

Estado de Mato Grosso (Rep. 888,<br />

relatada pelo eminente e saudoso


Ministro Aliomar Baleeiro in Reprosentacites<br />

por Inconstitucionalidade,<br />

tomo I, Thu. 449 a 452).<br />

Portant°, o paragrafo sob exame,<br />

al6m de vlolar o principio da<br />

pendancia e harmonia dos Poderes<br />

(art. 10, VII, c, da C. F.), em Macao<br />

aos Serventuftrios, contrapes-se a reps<br />

do g 1? do art. 97 da ConstituicAo<br />

Federal, no due tange aos funcionarios<br />

da Justica.<br />

Quanto ao art. 149, manifesta 6 a<br />

sua inconstitucionalidade na parte<br />

em que confere competEncia do Tribunal<br />

de Justica, para deferir permutas,<br />

ou transferencias ou determinar<br />

remoctles, dizendo textuahnente:<br />

((widow°, todavla, o Tribunal de<br />

Justica deferir permutas ou transferências<br />

ou detenninar remocites, por<br />

conveniência do service, desde que<br />

para Comarca da mesma entrAncia.»<br />

Ila violacito do art. 10, VII, c, c/c<br />

os arts. 81, VIII e 13, I, da Constituicao<br />

Federal.<br />

Finalments, o paragrafo (una) do<br />

Art. 149 perde o seu sentldo diante da<br />

Mew . • stitucionalidade do caput.<br />

Concluindo, sao inconstitucionals:<br />

— os arts. 60 e 64, por vtolarem<br />

o art. 10, inciso VII, tetra c, c/c os<br />

arts. 81, inc. VIII e 13, inc. I, da<br />

C.F.;<br />

— o art. 148, em parte, quanto<br />

as expressaes «serventruirios es, por<br />

violacAo do art. 10, inc. VII, letra<br />

c/c os arts. 115, inc. II, 81, inc. VIII<br />

e 13, inc. I, da C.F.;<br />

— o paragrafo Calico do art. 148,<br />

por afrontar os arts. 10, inc. VII, tetra<br />

c c/c os arts. 81, inc. VIII e 13,<br />

Inc. I (quarto aos serventuttrios da<br />

Justica), e por contrapor-se ao 1?<br />

do art. 97 (em relacito aos funcionanos<br />

da Justica);<br />

— o art. 149, em parte, ao dizer:<br />

«podendo, todavla, o Tribunal de<br />

Justica deferir permutas ou transferencias<br />

ou determinar remocOes, por<br />

R.T.J. - 94 73<br />

conveniancia do servico, desde que<br />

para Comarca da mesma entrancia»,<br />

por vulnerar o art. 10, inc. VII,<br />

letra c c/c os arts. 81, inc VIII e 13,<br />

inc. I, da C.F., ficando sem sentido 0<br />

seu paragrafo anico.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Soares Mutioz: —<br />

Sr. Presidente, interpret° esta norma<br />

como sendo uma atribuicAo que<br />

se dit ao Tribunal para mbar a respelto<br />

da remoclio e pennuta de servenni/trios.<br />

O Sr. Mlnistro Di ad Fable) (Relator):<br />

Do ponto de vista de conveni gn-<br />

eta, como Desembargador que ful,<br />

dou meu testemunho de que a norma<br />

6 interessante.<br />

Sr. Ministro Moreira Alves: Os<br />

termos silo «deferir ou determinar».<br />

Sr. Ministro Soares Murat 0<br />

Tribunal deferirta e submeteria ao<br />

Governador o ato da remocito.<br />

Sr. Ministro Morels* Alves: Tenho<br />

ImPressao de que se entendeu<br />

que o Tribunal mg° pole exclulr os<br />

Pedid0s, .e se ele defers, ism o poder<br />

de excluir alguns deice.<br />

Sr. Ministro Soares Mutioz: —<br />

Interpret° assim, para rdio desvincular<br />

completamente o Tribunal desses<br />

atos.<br />

0 Sr. Mlnistro Dial FalcAo (Relator):<br />

— Deferir 6 111111 colsa,<br />

e outra. Em Pernambuco,ppoor exempla<br />

tinhamos norma lntetressante<br />

em Telma° a remocAo. Eu me recordo<br />

de que, certa vez em que se encaminhou<br />

a Assembléia Legislativa um<br />

projeto de Lei de OrganizacAo Judiciaria,<br />

se estabeleceu, um preceito<br />

segundo o qual, nas remocOes ou<br />

permutas de Juizes, einbora o ato<br />

fosse da compethr ►cia do Poder Executivo,<br />

o pedido feito pebs candidatos<br />

merecia uma apreciacao por<br />

parte do Tribunal, e esse o encarnibrava,<br />

corn infonnacdes sobre calla<br />

urn dos candidatos, ao Governador


74<br />

do Estado. A norma, alias, era sAbia.<br />

Mas, o ato de provimento era da<br />

compethncia do Chef e do Poder Executivo.<br />

0 Sr. Ministro Soares Munoz: No<br />

Tribunal de Justica do Rio Grande<br />

do Sul, quando o serventuArio pede<br />

remocAo, o Conselho da Magistratura<br />

determina uma inspecAo no Cartbrio,<br />

para ver se esth em condiMes;<br />

depots, emite parecer e remete ao<br />

Gevernador, corn parecer contrArio<br />

ou Mo. Enfim, examina a convenithcia<br />

ou nAo da remocAo.<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves: —<br />

Mas, eminente Ministry, mesmo com<br />

o voto de V. Exa., o parAgrafo Curie°<br />

tem que cair, pots essa 6 a interpretaMo<br />

que deveria ser dada ao caput.<br />

0 Sr. Ministro Djaci Mello (Relator):<br />

Perde o sentido.<br />

VOTO<br />

(S/art. 149)<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Sr. Presidente, peso 11cenca<br />

para situar-me entre o eminente<br />

Relator e o eminente Ministro<br />

Soares Munoz, estabelecendo, assim,<br />

urn termo m6dio.<br />

R.T.J. — 94<br />

Impressionaram-me algumas ponderacees<br />

do eminente Ministro Soares<br />

Munoz e parece sabido que os<br />

Tribunals 6 que coordenam as provid6ncias<br />

preparatbrias da remocAo<br />

de qualquer serventuArio, para que o<br />

chefe do Poder Executivo possa lavrar<br />

o ato final.<br />

Em alguns Estados, ha concurso<br />

para a remocAo. Os serventuArlos a<br />

ela concorrem, de acordo corn seus<br />

titulos, atendidos os requlsitos estabelecidos<br />

nas normal locals. 0 Tribunal<br />

apura o resultado do concurso<br />

e o apresenta ao Poder Executivo.<br />

Aqui, nesta norma, ha, realmente,<br />

uma expressão, — «deferir permutas<br />

ou transfertncias», — que me parece<br />

envolver ato de provimento. No<br />

macs, a norma, que diz que o Tibunal<br />

poderA, por conveniència de servico,<br />

determinar remoMes de serventuArios<br />

de Justica, parece-me,<br />

que Mt) colide com a ConstituicAo. A<br />

prOpria Constituicão, alias, da aos<br />

Tribunals competéncia para deterninar<br />

a remocAo ou disponibilidade de<br />

Julz, ou de membro seu, em caso de<br />

interesse pbblico. Naturalmente, nä°<br />

estA ai a significar que o Tribunal<br />

baize o ato de disponibilidade ou de<br />

remocAo, mas que ele delibere sobre<br />

o terra e o submeta ao Poder Executivo,<br />

para a lavratura do ato.<br />

Ora, se a norma estadual, aqui, esta<br />

adotando forma perfeitamente semelhante<br />

a da Constituicao, e agora<br />

tambem a da Lei OrgAnica da Magistratura<br />

Nacional, que dé ao Conselho<br />

Nacional da Magistratura cornpethncia<br />

para determinar — o verbo<br />

e este — a disponibilidade ou aposentadoria<br />

de magistrado, creio que nao<br />

se pode apontar essa norma como inconstitucional.<br />

0 Sr. Ministro Djaci Falcão (Relator):<br />

V. Exa. permite urn aparte?<br />

Al ha urn preceito expresso, contido<br />

na prOpria ConstituicAo. uma<br />

excecAo expressa na ConstituicAo.<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque — Esse fato não modifica<br />

a linha do meu entendimento.<br />

Por fim, a norma da ResolucAo,<br />

tendo redaMo perfeitamente semelhante<br />

a da pthpria ConstituicAo e a<br />

de uma lei complementar, que 6 a<br />

Lei OrgAnica da Magistratura Nacional,<br />

nAo pode ser acolmada de inconstitucional,<br />

desde que se the de a<br />

interpretaMo que acaba de ser ponderada<br />

pelo eminente Ministro Soares<br />

Munoz.<br />

Desta sorte, meu voto a pelo reconhecimento<br />

partial da inconstitucionalidade,<br />

exclusivamente quanto as<br />

palavras — «deferir permutas ou<br />

transferencias orm — que se contem<br />

no art. 149, ora examinado.


VOTO<br />

(S/ art. 149)<br />

0 Sr. Ministro Thompson Mores:<br />

Corn o eminente Relator.<br />

Votaria com o eminente Mieistro<br />

Soares Munoz, se o art. 60 aqui visanib<br />

usasse da expressilo 'clefelir».<br />

0 que importa reconhecer que<br />

fica atribuido ao Presidente do Tribunal<br />

de Justice nib s6 Mender o pedido,<br />

como também desatendli-lo, o<br />

que, a men ver, 6 atribuiclio do Chefe<br />

do Poder Executivo, segundo. Jurisprudencia<br />

assente do S.T.F., apreciando<br />

casos de remocao ou permute.<br />

ReconbeW que 6 de toda converdeueia<br />

que o prdprio Judicittrio execute<br />

taus atos, pots, ninguem melhor<br />

do que ele conhece des necessidades<br />

dos seas services e, coin mats seguranca,<br />

proveria a respeito.<br />

Awn°, potbm, nib quer a Constituictto.<br />

0 que dew ocorrer 6 admitir<br />

que os Peadosseism dtrlgidoe ao<br />

Presidente do Tribunal que os ins_<br />

truirft e informara encaminhando<br />

ao Chefe do Executivo, pare decidir,<br />

E como voto.<br />

VOTO<br />

(paragrafo ante° do art. 149)<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Sr. Presidente, considero<br />

que.o paritgrafo fmico 6 constiweireuu,<br />

porque reputei constitutional<br />

o teor do artigo, tirando-selhe<br />

as expressees por tnim citadas. Mas,<br />

se o proprlo artigo lit foi declared°<br />

inconstitucional, contra meu veto,<br />

nib tem sentido permanecter o parkgrab.<br />

R.T.J. - 94<br />

Acompanho o eminente Relator, a<br />

vista de tal contingéncia.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

Rp 996 — MA — Rel.: Min. Djaci<br />

Rpte.: Procurador-Geral da<br />

RepOblica. Rpdo.: Tribunal de Justice<br />

do Estado.<br />

Jublaram procedente, em<br />

parte, a Representacao Para declarer,<br />

na Resolucho n? 08, de 18.12.72,<br />

do Tribunal de Justice do Maranhho,<br />

a inconstitucionalidade:<br />

dos at/Igoe 60 e 64, unanimemente;<br />

des expressOes «serventuarios<br />

e», no artigo 148, unardmemente;<br />

M) do parftgrafo Unice do artigo<br />

148, unanimemente;<br />

no artigo 149 as expreesdes<br />

«podendo, todavia, o Tribunal de<br />

Justice deferir Permutes ou transferancias<br />

ou determiner remapies,<br />

por conveniancia do servico, cbsde<br />

que pare Comarca da mesipa entrancia»,<br />

vencidos, em parte, os<br />

Srs. Ministros Soares Munoz e Xavier<br />

de Albuquerque;<br />

do parftgrafo fmico, do artigo<br />

149, unanimemente. Votou o Presidente.<br />

Presidéncia do Sr. Mlnistro Antonio<br />

Neder. Presentes k SessAo os<br />

Srs. Ministros Mad Feta°, Thompson<br />

Mores, Xavier de Albuquerque,<br />

Cordeiro Guerra, Moreira Alves, Cunha<br />

Peixoto, Soares Mttfloz, • Declo<br />

Miranda e Rafael Mayer. — Ausente,<br />

justificadamente, o Min. Leitão<br />

de Abreu. — Procurador-Geral da<br />

Repfiblica, substituto, Dr. Francisco<br />

de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 13 de limbo de 1979.<br />

Alberto Veronese Aguiar, Secretariat


76<br />

R.T.J. — 94<br />

REPRESENTACAO N? 1.017 — MG<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra.<br />

Representante: Procurador-Geral da Repfiblica — Representados: Assembleia<br />

Legislative e Governador do Estado.<br />

A delegacAo legislative, expressamente p<strong>revista</strong> na Constituicflo<br />

Federal, nAo encontra Mice no principlo da independencia e harm-<br />

Ma dos Poderes da DMA°.<br />

Admissibilidade da delegacilo legislative no Ambito estaduil,<br />

(mica do art. 200 da Constituicilo Federal, se adotado o mesmo<br />

prhwipio na Constituictio Estadual.<br />

Constitucionalidade do art. 9? da Lei 7.290, de 1978, e Incise I do<br />

art. 5? do Decreto 19.290 de 1978.<br />

Represented.° improcedente.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em SessAo<br />

Plenaria, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e das notes taquigraftcas,<br />

a unanimidade de votos, em Julgar<br />

imp medente a representacAo.<br />

Brasilia, 12 de marco de 1980 —<br />

Xavier de Albuquerque, Presidente<br />

— Cordeiro Guerra, Relator.<br />

• RELATORIO<br />

O Sr. Ministro Cordeiro Guerra: 0<br />

ilustre professor Henrique Fonseca<br />

de Aranjo, entAo no exercicio da<br />

Procuradoria-Geral da RepUblica,<br />

formulou a presente representacAo<br />

para submeter ao exame e Julgamento<br />

do Supremo Tribunal Federal<br />

a argilicAo de inconstitucionalidade<br />

da Lei 7 290, de 4 de julho de 1978,<br />

em seu art. 9?, e do respectivo Decreto<br />

regulamentar de n? 19.290, da<br />

mesma data, em seu art. 5?, ambos<br />

os estatutos originarios do Estado<br />

de Minas Gerais<br />

0 art. 9? da Lei n? 7.290, de 4.7.978,<br />

disp5e:<br />

«Art. 9? — 0 Poder Executivo regulamentare<br />

esta Lei, ficando autorizado<br />

a estabelecer:<br />

I — a estrutura e as normas de<br />

funcionamento da CBPM;<br />

II — o plano de cargos e salerios;<br />

III — o regime previdencial e o<br />

piano de beneficios;<br />

IV — a forma de prestacão de<br />

assistëncia medica, odontolOgica,<br />

hospitalar e fannaceutica, que<br />

nAo podere ser feita diretamente<br />

pela autarquia”.<br />

0 art. 5? do Decreto n? 19.290, da<br />

mesma data, baixado de conformidade<br />

com a referida autorizacão legal,<br />

se limitou a dispor:<br />

«Art. 5? — Considera-se dependente<br />

do Segurado, para os efeitos deste<br />

Regulamento:<br />

I — a esposa; o marido invMido;<br />

a companheira, mantida he<br />

mats de chic° anos; o filho de<br />

qualquer condicAo menor de 18<br />

anos ou invalid° e a filha de qualquer<br />

cone Lica°, solteira, menor dO<br />

21 anos ou invMida<br />

Sustenta-se na representacAo feita<br />

ao !lustre Procurador-Geral da Ree<br />

por este submetida a consideracão<br />

deste Egregio Tribunal,<br />

que nAo era licito deierir a lei ao Poder<br />

Executivo a sua regulamentacão<br />

sem ofensa ao art. 6? da ConstituicAo


Federal, hem como restringir o beneficio<br />

da penal° a idade de 21 anos<br />

das filhas solteiras de qualquer con-<br />

dick°, Ja que tal restricao nä° constava<br />

da lei regulamentada, nem da<br />

legislacAo anterior.<br />

ontrossim, que o Egregio Tribunal<br />

de Justica de Minas Gerais, no regime<br />

da Lei n? 5&5, de 1911, considerara<br />

que esta poderia ser alterada,<br />

ou restringida, pelo Decreto n?<br />

15.871/73, que se the segulu — do que<br />

deduz ofensa a (limit° adquirido e<br />

colsa Julgada.<br />

A caixa beneficente da Policia Ml-<br />

litar do Estado de Minas Gerais<br />

manifestou-se favoravelmente a procedência<br />

da representacão — no entendimento<br />

de "como delegar a configuracAo<br />

dos beneficiatios da pens/to<br />

so executivo estadual, o ato le-<br />

R.T.J. — 94<br />

delegacAo legislativa, na forma do<br />

Calico do art. 6? da Constituictio Fe-<br />

deral, salvo nos casos dos arts. 40, 42<br />

e 44, pelo que, tratando-se de matkria<br />

atinente a previditncia social,<br />

legit/ma era a delegacAo felts, pela<br />

Lel Mineira n? 7.290/78, pots nä° esta<br />

tal matkria nem no f Unico do art.<br />

52, nem no art. 40 (Competencla Privativa<br />

da Camara dos Deputados),<br />

nem no art. 42 (Competkncia Privativa<br />

do Senado Federal) e, mutt°<br />

memos, no art. 44 (Cotnpetkacia Privativa<br />

do Congress° Nacional), fl.<br />

49.<br />

Argumenta, ainda, que em se tratando<br />

de Previdéncia Social (ConstituicAo<br />

Federal, art. 8?, XVII, c) s6<br />

poderla dispor o leglslador estadual<br />

supletivamente, e, por conseguinte,<br />

limitado pela Lei n? 3.807 (LOPS), de<br />

gislativo incorreu na deficigncia le- 26.8.960, por imperativo de ordem<br />

nen,gal<br />

Previa/Ilea/a WsPosta* (Carta MI- constituclonal (CF, art. 8?, Unica) e<br />

art. (I Pennitindo-se sabre a matkria em apreco,<br />

assenhorear de dominio legisferante, LOPS:<br />

dispee a<br />

decreto em pauta materializou inn «Art. 11<br />

tipico abuso de poder. Ofensa indis-<br />

Consideram-se decutivel<br />

a ConstituicAo<br />

pendentes do segurado, da Rep/lb/Ica,<br />

para os<br />

em sett artigo 13, inciso I, c/c artigo<br />

efeitos desta Lek<br />

10, inciso VII, alinea c, contrariado o I — a esposa, o marido invali-<br />

principlo malor da independkncia e d°, os filhos de qualquer condi-<br />

barman's dos Poderes.»<br />

cAo menores de 18 (dezoito) anos<br />

prestou as informaCOes solicitadas<br />

ou invalidos, e as tubas sonatas<br />

Bustle Governador do Estado de<br />

de qualquer condiolio memras de<br />

21 (vinte e um)<br />

Minas Gerais, sustentando que nit°<br />

anos ou<br />

invalldas.»<br />

houve hwasito de atribWc6es do Le-<br />

•<br />

gislativo, mas delegacito autorizada 2.3.4. Tambarn o Decreto n?<br />

por lei, o que 6 Permitido pelos arts. 77.077, de 24 de Janeiro de 1976, —<br />

52 a 54 da ConstituicAo Federal, apli- Consolidactio das Lets da Previcavel<br />

aos Estados por forca do Onidência SOcial estabelece em<br />

co do art. 200 da Carta Magna, ine- 21 anos o lbnite de idade da tuba<br />

inetindn, portant°, ofensa ao art. 6?, soltetra para figurar como de-<br />

§ Witco da Constituicilo Federal — f. pendente, verbis:<br />

35. «Art. 13 — Consideram-se de-<br />

Trunbm, que a Itepresentacäo pendentes do segurado. Para<br />

nib) 6 o meta praprio para o reconhe- efeito desta ConsolidaCao:<br />

cimento de eventuals direitos adquiidos.<br />

fls. 35/42.<br />

"I — a espo,sa, o markt° invalid°,<br />

a eottlptudietra maudda<br />

Em sues informactletafluStre As- ha mats<br />

ets:gent<br />

de‘ 5 (cinco) anos, os fi-<br />

Legislativa do Estado susents,lhos<br />

de qualquer condicAo mana-<br />

nos resumlr as pretensOes do tees de 18 (dezolto) antis ou invali-<br />

epresentante Inlcial,. que vidida 6 a das e as fan eoltelras de (OS-<br />

.<br />

77


78<br />

R.T.J. — 94<br />

quer condictio menores de 21<br />

(vinte e um) ands ou invalidas;”<br />

2.3.5. Assim, como de Let MIneira<br />

n? 7.290/78 e meramente<br />

supletiva da Lei n? 3.807, de<br />

26.8.60 e de seu regulamento Consolidado,<br />

— Decreto n? 77.077, de<br />

24.1.1976 — encontra seus limites<br />

em tats diplomas, por imposicAo<br />

de ordem constitutional (CF, art.<br />

paragrafo imico). E, caso dispucoscci,<br />

como pretende o interessado<br />

na representacAo, seHa inconstitucional.<br />

2.4. 0 Decreto Mineiro n?<br />

19.290/78 e limitado pela Lei Federal<br />

n? 3.807 (LOPS), de<br />

26.8.1960, e pelo Decreto n?<br />

77.077.<br />

Ftegistra-se, tambem, que nä°<br />

podem vingar as criticas enderecadas<br />

ao artigo 5?, item I, do Decreto<br />

Mineiro n? 19.290, de<br />

4.7.1978, pots ele tem seus limites<br />

cos mesmos parAmetros la mencionados<br />

acima (subitem 2.3.) e<br />

que o seu editor fez foi somente<br />

explicitar num instrumento local,<br />

para orientar seus aplicadores,<br />

aquilo que a legislacão <strong>federal</strong><br />

previu e que esta submetida a legtslacAo<br />

estadual, como supletiva<br />

que e.<br />

2.5. A Lel n? 7.290/78 e o Deereto<br />

n? 19.290/78 não atinglram direito<br />

adquirldo e nem colsa Jul<br />

-gada.<br />

2.5.1. Por urn simples relance<br />

no art. 8?, item XVII, alinea c<br />

c/c o seu 2? da Constituiclio Federal,<br />

de 24.1.67 e a vista de seu<br />

art. 189, nAo padece qualquer<br />

vida de que a Let Mineira n? 565,<br />

de 19 de setembro de 1911 — em<br />

que se julga amparado 0 interessado<br />

na representacAo para<br />

em «threat) adquiriao : e lxvolsa<br />

julgada» — esta derrogada desde<br />

o dia 15 de marco de 1967, data<br />

da entrada em vigor da constantcAo<br />

<strong>federal</strong> e a vista do disposto<br />

na Let n? 3.807, de 26.8.1960, que<br />

passou a nAo mais poder ser contrariada<br />

na legislacao estadual.»<br />

Finaimente, tece as seguintes consideraches:<br />

«2.5.5. Nao procede a alegacAo<br />

de que a Lei 7.290/78 e seu regulamento<br />

— Decreto n? 19.290/78<br />

atinlam colsa julgada.<br />

Basta, conforme relata o pr6prio<br />

interessado na representacap,<br />

verificar que o julgamento<br />

mencionado — apelacAo n? 44.731<br />

— teve em vista caso concreto,<br />

em face do Decreto n? 15.871, de<br />

5.12.73, e que seria ilegal naqullo<br />

que contrariou a Lei 565, de<br />

19.9.1911, pots nAo tern ele o condAo<br />

de derrogar esta lei.<br />

NAo se aplica, portanto, aos autos,<br />

a hipetese invocada como<br />

coisa julgada.<br />

2.6. Ainda que não admftido o<br />

raciocinio desenvolvtdo no subitem<br />

2.5., nil° sera caso de decretacAo<br />

de inconstituctonalidade da<br />

Lei n? 7.290 e seu regulamento,<br />

decreto n? 19.290, por lesào a direito<br />

adquirldo.<br />

Se, por hipatese, nAo fossem<br />

admitidas as razOes constantes<br />

do subitem 2.5., supra, ainda assim,<br />

não sena caso de decretacAo<br />

de inconstitucionalidade,<br />

quer do art. 9? da Lei 7.290, quer<br />

do art. 5? item I, do Regulamento,<br />

a locuCoto «menor de 21 anos»,<br />

corn ruler° no art. 153, $ 3?, da<br />

ConstituicAo Federal, pots tais diplomas<br />

jurldicos estAo dispondo<br />

para o presente, e nä° para o<br />

passado como quer fazer crer o<br />

interessado na representacAo e,<br />

por conseguinte, em plena harmonia<br />

com o dispoto no art. 6? e<br />

paragrafos<br />

da Lei de Introducão<br />

ao C6d igoCivil - »<br />

A douta. Procurauoria-Geral de-<br />

Republica assim opina pela improcedäncia<br />

da representacão:<br />

pedido do Tenente-Coronel reformado<br />

Adrian de Carvalho, da


Milftar do Estado de Minas<br />

Gerais, esta Procuradoria-Geral<br />

da Repiblica, atraves de meu antecessor,<br />

submeteu a exame e Jul-<br />

gamento desse colendo Supremo<br />

Tribunal Federal representacAo<br />

arguindo a inconstitucionalidade<br />

do arttgo 9? da Lei do Estado de<br />

Minas Gerais de n? 7.290, de 4 de<br />

Who de 1978 e do artigo 5? do Decree<br />

Estadual n? 19.290, da mesma<br />

data, que a regulamentou.<br />

Transcreve-se os textos Impugnados:<br />

Artlgo 9? da Lel a? 7.290, de 1978<br />

a 0 Poder Executivo reguiamentart%<br />

esta Lei, ficando autorizado a<br />

ettabelecer:<br />

I — a estrutura e as normas de<br />

funcionamento da CNPM (Caixa<br />

Beneficente da Policia Militar do<br />

Estado de Minas Gerais):<br />

II — o piano de cargos e sale<br />

dos:<br />

III — o regime previdenclal e o<br />

piano de benefidos:<br />

IV — a forma de prestactio de<br />

assistincia medica, odontolOgica,<br />

hospitalar e farmaciutica, que ntio<br />

poderA ser feita diretatnente pela<br />

autarquia.D<br />

Artlgo 5? do Decreto n? 19.290, de<br />

1978<br />

9Considera-se dependente do segurado<br />

para os efeitos deste Regulamento:<br />

I — a esposa: 0 marido invalid°,<br />

a companbeira mantida hi mats<br />

de cinco (5) linos; o litho de qualquer<br />

condiello, menor de dezoito<br />

(18) ants ou invalid° e a Mita, de<br />

qualquer condicio, solteira, menor<br />

de vinte e tun (21) anos ou Wyattdig<br />

R.T.J. — 99 79<br />

II — a pessoa designada que, se<br />

do sexo masculino, se poderA ser<br />

menor de dezoito (18) anos, malor<br />

de sessenta (60) anos, ou invilida;<br />

III — a mile;<br />

IV — o pai invilido:<br />

V — o irmtio, de qualquer condicao,<br />

menor de dezolto (18) anos ou<br />

InvAlido; a irmit solteira, de qualquer<br />

condicito, menor de vinte e<br />

urn (21) anos ou InvAlida.<br />

1? — Equipara-se ao fllho, nas<br />

condicOes estabelecidas no inciso I,<br />

por declaracio escrita do segurado:<br />

enteado;<br />

o menor que, por determinacilo<br />

legal, se concentre sob sua<br />

guarda ou tutela e nits possua recurso<br />

suficiente para o preprio sustenth<br />

e educacio.<br />

2? — A existincia de qualquer<br />

dependente de qualquer das classes<br />

prevlstas nos incisos I e II exclui<br />

do Wren° is prestacties os das<br />

classes subseq0entes.<br />

— Inexistindo esposa, ou marido<br />

invilido, corn Wren° as prestacties,<br />

a pessoa designada poderit,<br />

por declaracAo escrita do segurado,<br />

concorrer corn os Mhos deste.<br />

— NAo sendo casado civilmente<br />

o segurado, Presumir-se-a<br />

designada a pessoa corn quern tenant<br />

se casado religlosarnente.<br />

— Por declaracilo escrita do<br />

segurado, os dependentes a que se<br />

referem os incises III e IV poderio<br />

concorrer corn a esposa, a comPe<br />

nbeirit, ou o marido invalid°, ou<br />

corn a pessoa designada na forma<br />

do parigrafo anterior, salvo se<br />

exlstlr Mho corn direlto A presta-<br />

Cite<br />

13? — A dependincia econOmica<br />

da pessoa Indicada no incise 6 pre<br />

sumida e a das demals deve ser<br />

comprovada.D


BO<br />

Reproduziu-se, na Integra o tea°<br />

do artigo 5? do Decreto n? 19.290,<br />

de 1978, porque a peticAo Uncial a<br />

ele referiu-se, sem qualquer destaque.<br />

Ocorre, porem, que a SOplica<br />

ensejadora da FtepresentacAo busca<br />

impugnar, tAo-somente, a expressão<br />

«menor de 21 anos»,<br />

nuada na parte final do inciso I<br />

desse artigo, alem de Artigo 9? da<br />

Lei n? 7.290, também de 1978, este<br />

sim, in integrum, todo o artigo.<br />

Dols foram os fundamentos da<br />

Sfiplica: no primeiro, sustenta o<br />

suplicante a violacAo do artigo 6?,<br />

parAgrafo<br />

da ConstituicAo<br />

Federal em que se veda a qualquer<br />

dos Poderes delegar atribuicees.<br />

Eis o texto do dispositivo constitucional<br />

invocado:<br />

«Art. 6? — SAo Poderes da<br />

União, independentes e harmOnicos,<br />

o Legislativo, o Executivo e o<br />

Judiciario.<br />

ParAgrafo Calico. Salvo as excecees<br />

p<strong>revista</strong>s nesta ConstituicAo,<br />

e vedado a qualquer dos Poderes<br />

delegar atribuicOes; quem for investido<br />

na ftmcAo de um deles nä°<br />

podera exercer a de outro.»<br />

A vedacão constitucional teria sido<br />

transgredida, ao ver do Suplicante,<br />

porque, pelo art. 9? da Lei<br />

7.290, de 1978, deu o Poder Legislativo<br />

autorizacAo ao Poder Executivo<br />

«para que este elaborasse a estrutura<br />

da Cain atraves de Regulamento»<br />

(inciso I).<br />

0 segundo fundament° do Suplicante<br />

e o de que a condicAo de Idade,<br />

da filha solteira para figurar como<br />

dependente do segurado, estabelecida<br />

no inciso I do art. 5? do<br />

Decreto n? 19.290, de 1978, violaria<br />

o § 3? do art. 153 da Constituicão<br />

Federal em dots pontos: prejuizo<br />

ao direito adquirido e desrespeito<br />

coisa julgada.<br />

Instados pelo Exmo. Sr.<br />

Ministro-Relator, em cumprimento<br />

— 04<br />

ao art. 175 do Regiment° Intern°<br />

do Supremo Tribunal Federal,<br />

prestaram informacOes o senhor<br />

Governador do Estado de Minas<br />

Gerais, e a Augusta Assembiêia<br />

Legislativa.<br />

0 primeiro sustentando que a Lei<br />

7.290, de 1978, «cuja elaboracAo se<br />

pode creditar ao propOsito do govern°<br />

estadual anterior de aperfeicoar<br />

a assistëncia previdenciAria<br />

prestada as familias dos oficials e<br />

pracas da Policia Militar do Estado<br />

de Minas Gerais que vierem a<br />

falecer, se limitou, em sintese, a<br />

descentralizar um servico publico,<br />

mediante a criacau de uma autarquia<br />

e a autorizar o Poder Executivo<br />

a dispor, em norma de natureza<br />

regulamentar, sobre o servico cuja<br />

execucAo foi confiada a autarquia<br />

criada». E que «nAo e licito ao interprete,<br />

desprezando os cuidados<br />

que deve ter, admitir a existencia<br />

de delegavão de poder nos cases<br />

em que nä° se delegou qualquer<br />

atribuicAo constitucional, mas apenas<br />

se autorizou o Poder Executivo,<br />

por lei, a elaborar normas sobre<br />

determinada materia.»<br />

Profliga, ainda, o Senhor Governador<br />

a arglicAo, corn este argument°,<br />

verb's:<br />

«Se a ConstituicAo Federal permitisse<br />

a delegagAo legislativa ao<br />

Presidente da Repablica rtlediante<br />

resoluato do Congresso Nacional<br />

(arts. 52 a 54), a qual poderA ser<br />

por ele solicitada, conforme dispOe<br />

o art. 118 do Regiment° Comum do<br />

referido tirgAo, o mesmo podendo<br />

ocorrer, evidentemente, no Ambito<br />

estadual, ex vi do disposto no paragrafo<br />

Calico do art. 200 da Lei Magna,<br />

que permite aos Estados a adocdo<br />

do regime das Leis delegadas,<br />

nap veto como se possa contestar a<br />

validade da delegacão legislativa<br />

dada a um Governador de Estado<br />

por lei no sentido formal.»


No tocante a «coisa Julgada», o<br />

segundo fundamento da SUplica,<br />

diz o Senhor Governador, em suas<br />

informacties, que a alegacAo nada<br />

tem a ver corn a representacAo de<br />

inconstitucionalidade cWo desprovimento,<br />

evidentemente, em nada<br />

afetarit a eficAcia da «coisa Julgada»<br />

que o Suplicante invocou.<br />

quanto as informacdes da<br />

ASSeMblaia legislativa, sobressaem<br />

os seguintes argumentos:<br />

«A Lei tern por finalidade adequar<br />

a Caixa Reneficente da<br />

Policia Minter do Estado de Minas<br />

Gerais, autarquia estadual assim<br />

definida por let, a moderna sistemetica<br />

previdenciAria, para o<br />

cumPrimento eficiente de sua alta<br />

finalidade de prestacAo beneficiAria<br />

a sews segurados...» e que por<br />

se tratar de materia cuja competencia<br />

estadual para legislar e<br />

supletiva, ex vi do art. 8?, inciso<br />

XVII, alinea c, e parigrafo Untco,<br />

teria o Estado de Minas Gerais<br />

que, sem preJuizo da preservacão<br />

da entidade e seus fins, adaptar-se<br />

A legislactio <strong>federal</strong> pertinente<br />

Previdencia Social, por imperativo<br />

de ordem constitucional, por isso<br />

que a legislacAo que se tenta reviver<br />

estava inteiramente divorciada<br />

do atual sistema previdencierio<br />

instituldo no piano <strong>federal</strong> e, por<br />

que nAo dizer, derrogada» (sic)<br />

ainda a Assemblela<br />

Legialativa quern rechaca os fundamentos<br />

do Suplicante, nestes termos:<br />

que, sem entrar no merit°<br />

quanto a existAncia, no caso da Lei<br />

7.290, de 1978, de delegaclio de<br />

poder, a vedacAo constitucional<br />

ago e absolute. 0 parttgrafo tuna)<br />

do artigo 6? da Constituiclo ressalva<br />

as excecties nela p<strong>revista</strong>s e o<br />

melhor exemplo 6 o DaS Leis<br />

Delegadas de que trata o art. 52. A<br />

materia atinente a PrevidAncla Social,<br />

tratada na Lei mineira 7.290,<br />

de 1978, e exatamente daquelas<br />

R.T.J. — 94 81<br />

que podem ser °Wet° de delegacAo.<br />

E o Decreto 19.290, também<br />

impugnado, a limitado pela Lei Federal<br />

n? 3.807 (Lei (Nance da<br />

Previdencia Social), de 26 de agosto<br />

de 1960 e pelo Decreto n? 77.077,<br />

de 24 de Janeiro de 1976, que expediu<br />

a Consolidacgo das Leis da<br />

Previdencia Social.<br />

Por fim, alega a Assemblgia<br />

Legislative, fundamentadamente,<br />

nAo ter havido ofensa a direito adquirido<br />

ou desrespeito a coisa Julgada<br />

pelos diplomas legais °Wet°<br />

da argilicAo.<br />

0 parecer desta Procuradoria-<br />

Geral da Reptiblica, que, na<br />

reservou-se para dizer quanto<br />

ao merit° nesta oportunidade, 6 pela<br />

improcedencla da Representacão.<br />

Os ftmdamentos de que se utilizou<br />

o Suplicante, quaffs seJam, o da<br />

indelegabilidade de atribuicties de<br />

urn Poder a outro e os de violacAo<br />

de direito adquirido e ofensa a coisa<br />

Julgada foram suficientemente<br />

ilididos pelos Representados, ern<br />

suas informacOes.<br />

Com efelto, a autorizacAo legislativa<br />

para que o Poder Executivo,<br />

regulamentando a materia, dispusesse<br />

sobre a estrutura e as normas<br />

de funclonamento da Cain<br />

Beneficente da Miter de<br />

Minas Gerais (Inciso I do art. 9?<br />

da Lel n? 7.290, de 1978), Mo coatita<br />

corn a vedacAo constitucional de<br />

delegar atribuicties porque a prepria<br />

Constituicflo Mo restringe<br />

EI (formal) toda a materia previdencittria.<br />

No art. 8?, Inc's° XVII,<br />

diz-se que «compete a Until° legislar<br />

sobre normas gerais... de<br />

seguro e previdencia Social».<br />

A Assembleia Legbdativa do Estado<br />

de MIMS Gerais, corn--o_respaldo<br />

constitucional do parAgrafo<br />

Wilco do referido art. 8?, em que se<br />

atribul competencla supletiva ao<br />

Estado-membro para legislar so-


82 — 94<br />

bre a materia, e obediente a simetria<br />

imposta pelo art. 200, autorizou o<br />

Poder Executivo a complements-la<br />

por Regulamento.<br />

A orientacao doutrinaria e jurispruden<br />

c i al permite ao<br />

Regulamento dispor sobre materia<br />

ao ventilada na Lei<br />

Regulamentada desde que nao<br />

transponha os lindes da competencia<br />

executiva. «No poder de chefiar<br />

a Administracäo esta implicito<br />

de regulamentar a lei e suprir,<br />

corn normas prOprias, as omiss6es<br />

do Legislativo que estiverem na alcada<br />

do Executivo. Os vazios da lei<br />

a imprevisibilidade de certos f atos<br />

e circunstAnclas que surgem a<br />

reclamar providencias imediatas<br />

da AdministracAo, imp6e-se reconheca<br />

ao Chefe do Executivo o poder<br />

de regulamentar, atraves de<br />

decreto, as normas legislativas incompletas,<br />

ou de prover situacOes<br />

nao p<strong>revista</strong>s pelo legislador, mas<br />

ocorrentes na pratica administrativa.<br />

0 essential e que o Executivo,<br />

ao expedir regulamento — autOnomo<br />

ou de execucAo, da lei — nä()<br />

invada as chamadas «reservas da<br />

lei», ou seja, aquelas materlas se<br />

disciplinaveis por lei, e tats sa.o,<br />

em principio, as que afetam as garantias<br />

e os direitos individuals assegurados<br />

pela ConstitulcAo (art.<br />

153 e seus paragrafos)». (Hely Lopes<br />

Meirelles, Direito AdmInistrativo<br />

Braslleiro, 6? EdIcAo, Ed. Revista<br />

dos Tribunals, 1978).<br />

NAo fora essa a orientacAo, ainda<br />

assim nao poderia ser acolhida<br />

a Stiplica pelo fundamento da indelegabilidade<br />

de atribuicOes por<br />

que, no paragrafo (mica do art. 200<br />

da Constituicao, permite-se que os<br />

Estados adotem o regime de leis<br />

delegadas.<br />

No piano <strong>federal</strong> ha exemplos sufictentes<br />

para demonstrar a fragilidade<br />

da fundamentacAo do Suplicante.<br />

O primeiro exemplo pertine<br />

prepria Previdtncia Social. 0 atual<br />

SINPAS (Sistema Nacional de Previdencia<br />

e Assistencia Social) foi<br />

instituido pela Lei n? 6.439, de 1? de<br />

setembro de 1977, em que assim se<br />

disp6s no seu art. 1?:<br />

«Fica instituido o Sistema Nacional<br />

de Previdencia e Assistencia<br />

Social — SINPAS sob a orientacAo,<br />

coordenacão e controle do<br />

Ministerio da Previdencia e Assistencia<br />

Social — MPAS, corn a<br />

finalidade de integrar as seguintes<br />

funcees atribuidas as entidades<br />

referidas nesta Lei:<br />

concessao e manutencAo de<br />

beneflcios e prestacão de servicos;<br />

custeio de atividades e programas;<br />

III. gestão administrative, financeira<br />

e patrimonial».<br />

A regulamentacAo foi prevlsta no<br />

artigo 33 da Lel, nestes termos:<br />

seja efetivamente implantado ate<br />

do Servico<br />

“0 Poder Executivo baixara o<br />

regulamento desta Lei e tomara<br />

providencias para a organizacAo<br />

das novas entidades, a reformuladas<br />

remanescentes e a liquidagão<br />

das extintas, corn declaracfm<br />

da extincAo de sua personalidade<br />

juridica, a fim de que o SINPAS<br />

seja efetivamente implantado ate<br />

1? de julho de 1978.D (o grlfo nao e<br />

do original).<br />

ye-se, desde logo, que a declaracdo<br />

de extincAo da personalidade<br />

juriclica de entidades de direito pablico,<br />

como as autarquias <strong>federal</strong>s<br />

o sac), cuja competéncia originaria<br />

e do Poder Legislativo, foi delegada<br />

ao Poder Executivo como (mica<br />

forma capaz de viabilizar o novo<br />

Sistema Prevklenciario implantado.<br />

Quanto as materias enumeradas<br />

nos incisos I, II e III do art. 1? da<br />

Le. 6.439, de 1977, instituidora do<br />

SINPAS, foram tratadas por De-


creto por force de comando legislative<br />

expresso 0 Decreto n? 77.077,<br />

de 24 de Janeiro de 1976, expediu a<br />

ConsolidacAo das Leis da Previdencia<br />

Social «que compreende as<br />

disposicee i 4.1a Lei OrgAnica da<br />

Previdencia Social (Lei 3.807, de 26<br />

de agosto de 1960) e da respective<br />

legislacão complementer, <strong>revista</strong>s<br />

atuallzadas e remuneradas» (Artigo<br />

finial do Decreto Chad(); os<br />

fos nAo silo do original).<br />

Na ExposicAo de Motivos em que<br />

Senhor Mintstro da Previdtncia<br />

Social submeteu o texto da referida<br />

Cons°lidacito a aprovacilo do<br />

Exmo. Sr. Presidente da<br />

le-se:<br />

«20. Em prtmeiro Luger, ela<br />

eneatitul salvo methor juizo, virtual<br />

inovacio legislative, porque,<br />

embora expedida por decreto, nAo<br />

urn regulamento, mas sim um<br />

documento legal de natureza substantive,<br />

elaborada que tot por force<br />

de comando legislativo expresso.<br />

0 Cticllgo Tr(but/trio Nacional<br />

contem determinacAo klentica, que<br />

todavia nib chegou Wilda a ser<br />

cumprlda.»<br />

Otero exemplo, ainda na esfera<br />

<strong>federal</strong> 6 o da implantactio do<br />

Plano de Classfficagdo de Cargos<br />

do Servigo Civil da Untie. Com<br />

efelto, na Lei nt 5.645, de 10 de dezembro<br />

de 1970, estabeleceu-se as<br />

Diretrizes para a elassfficagao e no<br />

sou Artlgo 10 operou-se a seguinte<br />

delegactio:<br />

«0 org&o central do Sistema do<br />

pessoal expedira as normas e<br />

instructbes necessaries e coordenara<br />

a execucão do novo Plano, a<br />

ser proposta pelos MlniSterios,<br />

ergilos integrantes da Presideneta<br />

da RepOblica e autarqulas,<br />

dentro das respectivas jurtsdicoos,<br />

pare aprovacAo mediante<br />

decreto.»<br />

Fol então questionada a delegacão<br />

de competencia para o trato da<br />

R.T.J. — 94 83<br />

materla legal substantive pelo Poder<br />

Executivo. Apes divergencies<br />

em seus julgados o Egregio<br />

Tribunal Federal de Recursos acionou<br />

pela primeira vez os dispositivos<br />

processuais que the permitlam<br />

a uniformizacão de sua <strong>jurisprudencia</strong><br />

(art. 476 e seguintes do<br />

CPC), editando a Stimula 1, come<br />

consectario de julgamento do<br />

Trwunal Pleno (Incidencia de Untformizacito<br />

de Jurisprudencia na<br />

AMS n? 79.878, Pleno, em 5 de<br />

Maio de 1977) em que se reconheceu<br />

a validade, com force legal,<br />

das InstrugOes NormatIvas que o<br />

DASP expedlu, autorizado que tot<br />

pelo Leglalador (Publicada no<br />

Mario da Justice de 17 de setembro<br />

de 1979).<br />

Quanto aos fundamentos de que<br />

se utllizou o Supllcante para sustenter<br />

a inconstitucionalidade do<br />

artigo 5? do Decreto n? 19.290, de<br />

1970, pelo que imp6s-se condicAo de<br />

menoridade a Ma solterta benetieerie<br />

do segurado da Cain<br />

Benetleente, quaffs seja o de desrespeito<br />

a coisa julgada» e o de<br />

violactio ao (Breit° adqutrldo», Ja o<br />

demonstraram as informacems que<br />

tal nAo ocorreu.<br />

Somente na aplicactio incidental<br />

na nova legislactio* que se poderla<br />

verificar a ocorrencia de qualquer<br />

dessas hipeteses. NAo, evidentemente,<br />

examinando-se Let em tese.<br />

E e indiscutivel que o controle jurisdicional<br />

de constitucionalklade<br />

das lets a operado, incidentalmente,<br />

atraves de procedtmento<br />

ordlnerlo ou de mandado de<br />

seguranga.<br />

Por todo o exposto, o parecer<br />

pela Improcedencia da<br />

Representagllo.<br />

Brasilia, 28 de dezembro de 1979 —<br />

Firmlno Ferreira Paz, Procurador-<br />

Geral da Reptiblica».


84 R.T.J. — 94<br />

o relatOrio, que submeto a consideragäo<br />

dos Exmo. Srs. Ministros<br />

(art. 177 do RI) pedindo dia para Julgamento.<br />

Brasilia, de fevereiro de 1980 —<br />

Corder° Guerra, Ministro-Relator.<br />

VOTO<br />

Sr. Ministro Cordeiro Guerra<br />

(Relator): Corn bem observa o parecer<br />

da douta Procuradoria-Geral da<br />

Repfiblica, a presente representacAo<br />

visa impugnar, in integrum, o art. 9?<br />

da Lei 7.290, de 1978, e a expressão<br />

«menor de 21 anos», contida na parte<br />

final do inciso I do art. 5? do Decreto<br />

19.290, de 1978.<br />

Critica-se o art. 9? da Lei 7.290, de<br />

1978, a titulo de violacAo do art. 6?, §<br />

imico, da ConstituicAo Federal, e o<br />

inciso I do art. 5? do Decreto n?<br />

19.290, de 1978, por violacAo do art.<br />

153, § 3? da ConstituicAo Federal.<br />

Improcede a representacão em<br />

ambos os pontos mencionados.<br />

principio da separacAo de poderes<br />

sugerido por ,Arist6teles e consagrado<br />

por Montesquieu, defendido<br />

por Locke e Rousseau, nAo configura<br />

mais aquela rigidez de outrora, como<br />

observa Jose Afonso da Silva: «a<br />

ampliacAo das atividades do Estado<br />

contemporAneo imp& nova visa° da<br />

teoria da separacao de poderes e novas<br />

formas de relacionamento entre<br />

os OrgAos legislativo e executivo e<br />

destes corn o judiciario, tanto que<br />

atualmente se prefere falar em colaboracAo<br />

de poderes, que se fundamenta<br />

na conciliacão de duas tecnicas:<br />

independencia orgänica e harmonia<br />

de poderes.» (Curso de Direito<br />

Constitutional Positivo, RT vol. I,<br />

p. 85).<br />

art. 6? da Constituicao da Reptiblica<br />

declara a independOncia e harmonia<br />

dos Poderes da Uniäo e veda<br />

a qualquer deles delegar atribuicties,<br />

salvo as excecOes expressas na prOpria<br />

Constituicâo (paragrafo (mica,<br />

art. 6?).<br />

Entre as excecOes expressamente<br />

p<strong>revista</strong>s na Constituicão se encontra,<br />

exatamente, a da legitimidade<br />

da delegacdo legislativa do Potter<br />

Executivo art. 46, IV e V; art. 52, 53<br />

e 55 (idem, p. 88).<br />

Unanlme e a doutrina a respeito,<br />

ate mesmo nos paises em que, como<br />

os Estados Unidos, encontravam<br />

obice a delegacáo legislativa, no texto<br />

constitutional tal a forca dos fatos<br />

novos sobre as estruturas juridicas<br />

preexistentes.<br />

Veja-se, por exemplo, Bernard<br />

Schwartz: «Nos Estados Unidos, como<br />

na Inglaterra, as necessidades<br />

da administracáo moderna tern cornpelido<br />

o legislativo a delegar ao Executivo<br />

poderes para promulgar regras<br />

e regulamentos que possuem<br />

Corea de lei. A legislacão delegada<br />

quando valida tern o mesmo efeito<br />

que um estatuto aprovado pelo Legislativo.»<br />

(Direlto Conslituclonal<br />

Americano — Forense — p. 34).<br />

A ConstituicAo Francesa, de 3 de<br />

junho de 1958, autoriza a delegacão<br />

legislativa do parlamento, mediante<br />

as leis programaticas ou autorizativas,<br />

art. 34, 37, 38, podendo o gover-,<br />

no editar regulamentos, decretos,<br />

leis ou ordenacties (ordonances) ratificavels,<br />

ou nä° pelo Parlamento.<br />

Dai dizer George Burdeau sobre a<br />

competencia normativa do Governo,<br />

que esta compreende, alem dos regulamentos<br />

tradicionais, a faculdade<br />

de editar normas outras, porque a '<br />

competencia legislativa do Govern<br />

est tine competence de droit cornmun<br />

puisque le Parlement n'aqu'une<br />

competence d'attribution (Droit<br />

Constituclonnel et Instituitions<br />

Politiques, 121 ed., Paris, 1966, p. 535<br />

e seguintes).<br />

Do mesmo modo na ConstRuicao<br />

Italiana, que prevé e regula a delegacAo<br />

do poder legislativo do Parlamento<br />

ao Govern, nos arts. 72, 76 e<br />

77, sobre qualquer matéria, salvo as<br />

mencionadas nos artigos 78, 79 e 117


da mesma Constituted°, como esclarece<br />

o professor ordinArio da Universidade<br />

de Roma, Carlo Cavagna<br />

(Istituzioni di Dlritto Publico — 3?<br />

ed., Utet, 1976, Ws 95 a 106) que cita<br />

abundante bibliografia sobre o terra<br />

(notes 95, p. 293).<br />

Explica-se, assim, facllmente, a<br />

regularidade da lei delegada ora impugnada,<br />

porque o art. 200 da Constituted°<br />

Federal, § Onico, autoriza as<br />

Constitutor/es dos Estados adotarem<br />

o regime de leis delegadas, proibidos,<br />

apenas, os decretos lets.<br />

A Constituted° Mineira nos arts.<br />

38 e 47, expressamente, autoriza o<br />

regime da delegacdo legislativa, salvo<br />

em matéria de compettncia privative<br />

da Assembleia Legislativa, o<br />

que ndo e o caso dos autos, § Unico<br />

do art. 47 da Constituted° Mineira<br />

(Constituted° Federal e Constituigdes<br />

Estaduais, Tomo I, p. 443/445 -<br />

r Ed. 1977, Senado Federal — Secretaria<br />

de Edieees Tecnicas).<br />

Por outro lado, nenhuma violaedo<br />

existe a direito adquirido, na restriedo<br />

estabelecida «menor de 21<br />

anosn, em prlmelro lugar porque dispee<br />

para o futuro; em segundo, por<br />

estar conforme a Lei Orgdnica da<br />

Presidencia Social, e, finalmente,<br />

porque o acOrddo trazido a colaello<br />

dtz respeito a hipOtese diversa, relativa<br />

a outra lei, e a urn regulamento<br />

R.T.J. — 94 85<br />

a ela infringente, quando a lei apredada<br />

TA° resultara de delegacäo legislativa.<br />

Em face do exposto, das doutas<br />

consideraenes constantes das informeet:es<br />

prestadas pelas autoridades<br />

interessadas e do parecer da douta<br />

Procuradoria-Geral da Republica,<br />

julgo improcedente, na integra, a representaedo.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

Rp. 1.017 — MG — Rel.: Min. Cordeiro<br />

Guerra. Bente.: Procurador-<br />

Geral da Reptiblica. Repdos.: Assembleta<br />

Legislative e Governador<br />

do Estado.<br />

Decisdo: Julgaram improcedente a<br />

representaedo. Decisdo undnime.<br />

Votou o Presidente.<br />

Presiddncia do Senhor Ministro<br />

Xavier de Albuquerque. Presentes<br />

Sessdo os Senhores Mlnistros Djaci<br />

Falcdo, Thompson Flores, Cordeiro<br />

Guerra, Moretra Alves, Cunha Peixoto,<br />

Soares Munoz, Decto Miranda<br />

e Rafael Mayer. — Ausente, B islift -cadamente, o Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presidente. Ausente, licenciado,<br />

o Sr. Min. Lend° de Abreu. —<br />

Procurador-Geral da Repüblica, Dr.<br />

Fir/11bl° Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 12 de marco de 1980. —<br />

Alberto Veronese Aguiar SecretArio.<br />

ACAO RESCISORIA Et 1.062 — DF<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Thompson Flores.<br />

Autor: Antonio Flores Cruz — Ret • Procurador-Geral da RepOblica.<br />

Mao rescisOria. Decadencia reconhecida porque, posto o autor<br />

tenha tngressado em Juts° tempesttvamente e obtido despacho ordenando<br />

a citagdo em moment() OW, 5-9-77, /go promoveu a Macao no<br />

prazo de dez dies a que se refere o art. 219, f 2?, nem requereu a<br />

prorrogaedo do prazo mencionado no parAgrafo 3? do citado artigo.<br />

II. Ertl/10o do processo com assento nos arts. 269, II, e 495 do<br />

US° de Processo Civil.


86<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Sessao<br />

PlenAria, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigrAficas<br />

por unanimidade de votos, julgar<br />

extinto o processo.<br />

Brasilia, 26 de setembro de 1979 .<br />

Antonio Neder, Presidente —<br />

Thompson Flores, Relator.<br />

RELATORIO PRELIMINAR<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

Contra o Procurador-Geral da Republica<br />

e Stud Book Brasileiro, secliado<br />

na Cidade de Sao Paulo, Av. Lineu<br />

de Paula Machado, n? 875, ajuizou o<br />

autor, em 14-8-77, a presente acao<br />

rescisOria visando a rescindir o ac6rdao<br />

deste PlenArio, proferido no<br />

Mandado de Seguranca 20.119, em<br />

11-5-77, e cuja ementa dispOe, f. 10:<br />

«Mandado de Seguranca. Internpestividade<br />

do ajuizamento do<br />

writ. Pedido nao conhecido.»<br />

Corn a initial apresentou os documentos<br />

de fls. 6/20, inserindo-se a 1.<br />

21 o comprovante do dep6sito.<br />

Ordenada a citacao em despacho<br />

de 5-9-78, fls. 22/v, fol.° despacho<br />

publicado no D.J. de 11-9-78, f. 23,<br />

certificando-se a 14-11-78'o seguinte,<br />

f. 24: «Certifico e dou fè que, ate a presente<br />

data, o interessado nao cornpareceu<br />

A Secretaria deste Tribunal<br />

para providenciar o pagamento<br />

da Carta de Ordem, em cumprimento<br />

ao r. despacho de fls. 22 verso.<br />

Setor de Processos Diversos, 14<br />

de novembro de 1978. Eu, Eunice<br />

Barroso de Melo e Souza, Técnico<br />

JudiciArio, lavrei a presente.»<br />

A f. 25 certificou a Secretaria<br />

que a decisao rescindenda transitou<br />

em julgado em 11-8-77, f. 25.<br />

R.T.J. — 94<br />

4. E o relatOrio preliminar, o qual<br />

6 sujeito A revisào do eminente Ministro<br />

Xavier de Albuquerque.<br />

Atenda a Secretaria o disposto no<br />

art. 83, II, do Regimento Intern°.<br />

Brasilia, 31 de agosto de 1979 .Ministro<br />

Thompson Flores, Relator.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Mores<br />

(Relator): Julgo extinto o processo<br />

por ter ocorrido a decadéncia nos<br />

termos do art. 269, II, c.c. o art. 495,<br />

ambos do C.P.C., pagando o autor as<br />

custas do processo e os honorArios<br />

de advogado, os quaffs fixo em<br />

Cr$ 500,00, atento ao valor atribuido A<br />

causa, Crii 1.000,00, revertido em prol<br />

dos r6us o depOsito procedido.<br />

2. 0 acOrdao rescindendo transitou<br />

em julgado em 11-8-77.<br />

E, posto o autor tenha ingressado<br />

em Juizo tempestivamente e obtido<br />

despacho ordenando a citacao em<br />

momento fail, 5-9-77, nao promoveu<br />

a citacao no prazo de dez dias a que<br />

se refere o art. 219, 2?, nem requereu<br />

a prorrogacao do prazo mencionado<br />

no parAgrafo 3? do citado artigo.<br />

Irremediavelmente, ocorreu a decadencia<br />

em 11-8-79.<br />

o meu voto.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque (Revisor) • Sr. Presidente,<br />

estou de acordo corn o eminente<br />

Relator.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

AR 1.062 — DF — Rel.: Min.<br />

Thompson Mores. Rev.: Min. Xavier<br />

de Albuquerque. Autor: Antonio Flores<br />

Cruz (Adv: Em causa prOpria).<br />

Ftku: Procurador-Geral da RepUblica.


Decisao: Julgou-se extinto o processo<br />

por ter ocorrido a decadencia.<br />

Decisao uniforme.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes a Sessao os<br />

Srs. Ministros Djaci Falcao, Thompson<br />

Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

R.T.J. — 94 87<br />

Leitao de Abreu, Cordeiro Guerra,<br />

Moreira Alves, Cunha Peixoto, Soares<br />

Mtuioz, Decio Miranda e Rafael<br />

Mayer. Procurador-Geral da Reptiblica,<br />

Dr. Firmino Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 26 de setembro de 1979 .<br />

Alberto Veronese Aguiar, Secretario.<br />

AQAO HOMOLOGATORIA DE SENTENCA ESTRANGEIRA N? 2.613 — ES-<br />

TADO ESPANHOL<br />

Presidente: 0 Sr. Ministro Antonio Nedet<br />

Autor: Rafael Alberto Juarez Sangrador — Re: Rosa Maria Sara Arnaiz<br />

Garcia<br />

Sentenca eclesiftstica espanhola de separacão dos cOnjuges e<br />

sentenca de sua execucilo pela Justica comum da Espanha nos termos<br />

do direito local. Silo ambas homologAvels no Brasil.<br />

Caso em que o varao 6 espanhol domiciliado no Brasil e a mu-<br />

Iher espanhola tern domicIlio na Espanha.<br />

3. Satlsfeltos, na espkie, os requlsitos dos artlgos 15 e 17 da Lei de<br />

1ntroducão ao UAW° Civil Brasileiro, devem ser homologadas uma e<br />

outra sentences estrangeiras.<br />

Vlstos e analisados estes autos de<br />

Acao Homologatoria de Sentenca Estrangeira<br />

n? 2.613, proferida na Espanha,<br />

em que O autor Rafael Alberto<br />

Juarez Sangrador, e re Rosa Maria<br />

Sara Arnaiz Garcia, etc.<br />

2. Rafael Alberto Juarez Sangrador,<br />

espanhol, domiciliado no Brasil<br />

(Sao Paulo), requer seta homologada,<br />

para que tenha eficãcia neste<br />

Pais, a sentenca espanhola de separactio<br />

conjugal, proferida pelo eg.<br />

Tribunal Eclesiastico n? 3 do Arcebispado<br />

de Madri-Alcalá, datilografada<br />

nas fls. 38 e seguintes, traduzida<br />

para o idioma portugues nas fls.<br />

48 e seguintes, pela quallot decretada,<br />

em demanda proposta por sua<br />

mother Rosa Marla Ana& Garcia, a<br />

separacao do casal.<br />

Nos termos do artigo XXIV, da<br />

Concordata de 27-8-953, firmada pela<br />

Santa Se e pelo Estado Espanhol, re-<br />

ferida sentenca foi submetida, em<br />

1978, ao Juizado de Primeira Instancia<br />

Ntlmero Quatro de Madri, para<br />

ser executada no tocante aos efeitos<br />

de natureza civil e a ela inerentes,<br />

donde a sentenca daquele Julz de fls.<br />

11 e seguintes, traduzida para o idioma<br />

portugues nas fls. 15 e seguintes.<br />

A Re foi citada pelo edital de f. 28,<br />

afixado na Portaria desta Corte, publicado<br />

no Diftrio da Justica, f. 26, e<br />

na Imprensa, Ss. 24 e 25, mas nä°<br />

atendeu ao chamamento, donde a<br />

sua revelia certificada na f. 29 e a<br />

nomeacao de curador para the defender<br />

os direitos, nomeacao que recaiu<br />

no advogado Pedro Gordilho, f.<br />

29, o qual se pronunciou nestes termos,<br />

fls. 64 e 65:<br />

«Rafael Alberto Juarez Sangrador,<br />

espanhol (f. 59), oferece A homologacão<br />

o veredicto corn que o<br />

Tribunal Eclesiastico de Madri<br />

promulgou a «separacao conjugal<br />

por tempo indefinido)) (fls. 48-54). a


88 R.T.J. — 94<br />

pedido de sua ex-consorte, tambem<br />

national da Espanha (f. 59), através<br />

de sentenca ja executada pelo<br />

Juizado Civil, em conformidade<br />

corn a legislacho do pais (fls. 15-18,<br />

especialmente a f. 16).<br />

A sentenca cuja homologacão<br />

se requer tern sua veracidade reconhecida<br />

por autoridade diplomatica<br />

brasileira em Madri (fls. 7v., 14<br />

e 47), constando dos autos em seu<br />

inteiro teor, devidamente traduzida<br />

(fls. 48-54).<br />

A competencia internacional<br />

da justica espanhola estA caracterizada<br />

por forca da nacionalidade<br />

comprovada das partes (f. 48 e f.<br />

59). Ademais, ressalte-se, o casamento<br />

canOnico realizou-se na Espanha.<br />

Prova-se, corretamente, a irrecorribilidade<br />

da sentenca de separacAo<br />

corn a certidAo de f. 8 que<br />

instruiu o pedido, onde estA consignado:<br />

«(...) Certlfico: que nos autos<br />

do pleito de separacAo conjugal<br />

nUmero 656, do ano de 1976, promovidos<br />

ante este Tribunal pela<br />

senhora Rosa Maria Sara Arnaiz<br />

Garcia contra o senhor Rafael<br />

Alberto Juarez Sangrador, lot ditada<br />

a sentenca, ja firme e transitada<br />

ern julgado (...)»<br />

No tocante ao requisito da citacão,<br />

segundo se deduz a f. 48, a<br />

revelia do cOnjuge-varão restou caracterizada<br />

no processo de separacAo<br />

em que foi proferida a sentenca<br />

homologanda. Como e o prObrio<br />

cOnjuge-varão, no entanto, que requer<br />

a presente homologacAo, a de<br />

reconhecer-se que tenha aceito como<br />

regular o processo em que foi<br />

proferida a sentenca homologanda<br />

(SE 2.461, DJ, 30-11-78, p. 9.682).<br />

«6. Finalmente, ressalte-se, nä.°<br />

existe nos autos a comprovacão de<br />

que a legIslacAo espanhola admite<br />

a dissolucAo do vinculo. Assim, o<br />

parecer 6 pelo acolhimento do pe-<br />

dido, para conferir a sentenca homologanda<br />

o efeito da separacão<br />

judicial, limitado o direito ao novo<br />

casamento de qualquer das partes<br />

a que, antes, decorra o prazo estabelecido<br />

no 6? do art. 7? da<br />

L.I.C.C., corn a redacAo do art. 49<br />

da Lei n? 6.515, de 26-12-77.»<br />

eg. Procuradoria-Geral da Repnblica<br />

oficiou nas fls. 68 a 69,<br />

verbis:<br />

Assiste razAo ao douto curador<br />

especial quando assevera, no<br />

parecer de fls. 64/65, que se encontram<br />

reunidos os pressupostos gerais<br />

de homologabilidade, pertinentes<br />

a competencia internacional a<br />

citacào, ao trAnsito em julgado,<br />

chancela consular e a propriedade<br />

da traducAo da sentenca homologanda.<br />

Parece-me, porém, corn a<br />

devida venia, equivoca a conclusão<br />

expressa no item 6. 0 que aqui<br />

temos 6 uma sentenca decretatorla<br />

de separacão judicial,sem extincAo<br />

do matrix/Onto. Cabe, pots,<br />

homology-la sem restrigOes de ordem<br />

temporal, ficando claro que<br />

seus efeitos, hoje ou a qualquer<br />

tempo futuro, nab compreendem o<br />

retorno das partes ao estado de liberdade<br />

para novo casamento.»<br />

Isto posto, deduzo ern seguida os<br />

fundamentos e o dispostivo desta<br />

sentenca.<br />

A competencia do Tribunal<br />

EclesiAstico do Arcebispado de<br />

Madri-AlcalA e a do Juizado de PHmeira<br />

InstAncia Milner° Quatro de<br />

Madri, na especie, o primeiro para<br />

julgar a separacAo conjugal e o segundo<br />

para the dar efeito civil, e<br />

competencia p<strong>revista</strong> na Concordata<br />

de 27-8-953 celebrada entre a Santa<br />

See o Estado Espanhol.<br />

Corn efeito, o art. XXIV dessa Concordata<br />

expressa que o Estado Espanhol<br />

reconhece a competencia exclusiva<br />

dos Tribunals eclesiAsticos da<br />

Espanha para julgar as causas de


separacAo conjugal e a competencia<br />

dos Tribunals jurisdicionais espatine's<br />

para executar os julgados daqueles<br />

outros.<br />

Considerando que a competencia,<br />

na especie, 6 a da lex fort, nenhuma<br />

objecilo pode ser oposta, conseq0entemente,<br />

A dos Tribunals que proleriram<br />

os dots julgados acima referidos.<br />

Quanto a citacAo do reu para responder<br />

as duas demandas espanholas,<br />

6 materia que, no caso, nao tem<br />

relevAncia, porquanto o Autor desta<br />

homologateria tot o reu naquelas outras.<br />

A firmeza de tais julgados este<br />

comprovada no fato de que o primeiro<br />

foi executado na jurisdicilo civil e<br />

no de que o segundo contem referencia<br />

a tal requisito em seu texto, como<br />

se ve de f. 17.<br />

R.T.J. — 04 89<br />

A traducão 6 compreenst vel e foi<br />

felta no Brasil por tradutor<br />

Os dois julgados nao contem ofensa<br />

a ordem pliblica, nem aos bons<br />

costumes, nem A soberania nacional<br />

e apresentam, em bons termos, a autenticacAo<br />

consular.<br />

6. Julgo procedente a homologateria<br />

para que os do's julgados estrangeiros<br />

tenham no Brasil a eficAcia<br />

de separaceo judicial dos cOrtiuges,<br />

ou desquite, e nth) de divercio, visto<br />

que o vinculo matrimonial nao se<br />

acha dissolvido na especie, donde a<br />

conseqiiencia de que o Autor e a Re<br />

nao podeito casar-se de novo no<br />

Brasil.<br />

Custas, como de lel.<br />

Supremo Tribunal Federal, 05 de<br />

mato, 1980. — Ministro Antonio<br />

Neder, Presidente.•<br />

AQAO HOMOLOGATORIA DE SENTENQA ESTRANGEIRA N? 2.634<br />

REPUBLICA FEDERAL DA ALEMANHA<br />

Presidente: 0 Sr. Ministro Antonio Neder<br />

Autora: Renata Maria Clara Vieira Leineweber — Reu: Dieter Leineweber<br />

Sentenca estrangeira de divercio. Caso em que um dos cbnjuges<br />

6 brasileiro e em que nao transcorreu o prazo de tres anon fixado<br />

no f 6? do art. 7? da Lei de Introducgo<br />

a redacgo<br />

ao COdigo Civil Brasileiro, com<br />

que the deu o art. 49 da Lei n? 6.515, de 26.12.1977. Dita sentenca<br />

pode ser homologada em parte, isto e, para que tenha ericacia<br />

de separacito judicial dos deluges, e nao a eficacia plena e imediata<br />

pertinente a de dlvercio vincular. Decorrido tal prazo, qualquer das<br />

partes tem o Wren° de postular o rename da sentenca, 03M0<br />

to na Ementa Regimental n? 8, do<br />

previs-<br />

STF, aplicevel ao caso por analo-<br />

Aclio bomologatOria procedente em parte.<br />

Vistos e analisados estes autos de<br />

Acilo Homologatoria de Sentenca Estrangeira<br />

n? 2.634, em que ski partes<br />

Renata Maria Clara Vieira Leineweber<br />

e reu Dieter Leineweber, etc.<br />

2. Renata Maria Clara Vieira Leineweber,<br />

brasileira, domiclliada no<br />

Brasil, onde se casou corn Dieter<br />

Leineweber, contra este proptie a<br />

presente KAI) homologatoria da sentenca<br />

germanica de fls. 9 e seguintes,<br />

traduzida nas Its. 51 e seguintes,<br />

pela qual o Tribunal Regional<br />

de Justica de Hamburgo, Reptiblica<br />

Federal da Alemanha, decretou,<br />

mediante divOrcio a dissolucAo<br />

do casamento que ela contralu


90<br />

corn o Reu nesta Capital (Brasilia)<br />

em 26.12.1976.<br />

0 it] Dieter Leineweber ingressou<br />

nestes autos e assentiu no pedido formulado<br />

pela Demandante, f. 31.<br />

3. A eg. Procuradoria-Geral da RepUblica<br />

oficiou no caso, fls. 42 e 43,<br />

verbis:<br />

«A requerente, brasileira, traz<br />

homologacão a sentenca coin que a<br />

Justica de Hamburgo, R.F.A., dissolveu<br />

por divercio absoluto, em<br />

1978, o matrimOnio que dots anos<br />

antes, ern Brasilia, a unira ao stdito<br />

alemAo Dieter Leineweber.<br />

A competëncia do Juizo processante<br />

encontra fundamento suficiente<br />

no domitilio alemAo das<br />

partes, ambas presentes no foro ao<br />

longo do processo. (f. 13).<br />

A decisAo homologanda e irrecorrivel<br />

(fls. 39-40), traz no original<br />

a chancela consular brasileira<br />

(f. 12) e fez objeto de traducao autentica.<br />

R.T.J. — 94<br />

«4. Feb° deferimento do pedido<br />

de homologacAo, restrito, porém, o<br />

direito das partes a novo casamento,<br />

a que antes decorra o prazo<br />

marcado no<br />

6? do art. 7? da<br />

L.I.C.C., com a redacao que the<br />

deu o art. 49 da Lei n? 6.515/77».<br />

Isto posto, ;Tao a seguir deduzidas<br />

a fundamentacAo e a parte decisOria<br />

desta sentenca.<br />

0 julgado alernâo e inteligivel e<br />

se acha redigido em termos que permitem<br />

a sua execucao.<br />

0 Tribunal que o proferiu a coinpetente,<br />

porque, ao tempo da demanda<br />

em que se originou, as duas<br />

partes residiam e se achavam domiciliados<br />

na Repfthlica Federal da<br />

Alemanha.<br />

IA-se no texto de tal sentenca que<br />

a demanda foi proposta pela mulher<br />

e que o varáo esteve presente no respectivo<br />

processo.<br />

0 documento de f. 39 expressa que<br />

a referida sentenca transitou em Julgado.<br />

Ela nAo ofende a soberania nacional,<br />

nem os bons costumes.<br />

Conslderando que a firmeza de tal<br />

julgado se concretizou em 28.3.78, f.<br />

39, 6 de se ressalvar que, nos termos<br />

do 6? do art. 7? da Lei de Introduflo<br />

ao C6digo Civil Brasileiro, de novo<br />

redigido pelo art. 49 da Lei n?<br />

6.515, de 26.12.1977, a homologacâo<br />

da sentenca ora questionada s6 podera<br />

ser concedida ern parte, isto e,<br />

para que ela produza os efeitos de<br />

separaetio judicial, e nao a eficária<br />

plena e imediata de divercio, pois esta<br />

Ultima s6 poderá ser considerada<br />

oportunamente, depots de transcorrido<br />

o prazo de trés anos, e noutro procedimento,<br />

que e o de reexame, nos<br />

termos da Emenda Regimental n? 8,<br />

de 1979, do STF, aplicavel ao caso<br />

por analogia.<br />

6. Julgo procedente, em parte, a<br />

homologateria, para que a referida<br />

sentenca estrangeira produza Os<br />

efeitos de separaello judicial dos<br />

conjuges e seus bens, isto porque<br />

nAo transcorreu ainda, no caso, o<br />

prazo de träs anos marcado no 6?<br />

do art. 7? da Lei de Introducdo ao<br />

COdigo Civil Brasileiro, coin a redacdo<br />

que the deu o art. 49 da Lei n?<br />

6.515 de 26.12.1977.<br />

Custas, como de lei.<br />

Supremo Tribunal Federal, 18 de<br />

abril, 1980. — Ministro Antonio<br />

Neder, Presidente.


R.T.J. — 94 91<br />

CONFLITO DE JURISDICAO N? 6.184-SP<br />

(Tribunal Plano)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Moreira Alves.<br />

Suscitante: Tribunal de Alcada Criminal do Estado — Suscitado: Tribunal<br />

de Justica do Estado.<br />

Conlin() negativo de jurisdicAo. Mesmo em face da nova redacAo<br />

dada pela Emenda n? 7/77 ao artig0119, I, e da ConsUtuicAo Federal,<br />

nao AA conflito de jurisdicAo entre Tribunal de Justica e Tribunal de<br />

Alcada do mesmo Estado-membro.<br />

Precedente do STF (C.J. 6.164, de 26.4.79).<br />

Cantlit° nao conhecldo.<br />

ACORDAO<br />

Vtstos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Sessáo<br />

Plenaria, na tonformidade da ata do<br />

Julgamento e das notas taquigraficas,<br />

por unanimMade de votos, nao<br />

conhecer do conflito.<br />

Brasilia, 06 de Junho de 1979. —<br />

Antonio Neder, Presidente —<br />

Moreira Alves, Relator.<br />

EELATORIO<br />

0 Sr. Ministry Moreira Alves -<br />

Trata-se de conflito negativo de jurisdicao<br />

em que o suscitante e o Tribunal<br />

de Alcada Criminal do Estado<br />

de Sao Paulo e o suscitado o Tribunal<br />

de Justica da mesma unidade da<br />

Federacao.<br />

Sobre ele assim se manifesta a<br />

Procuradoria-Geral da Rep/Mica,<br />

em parecer do Dr. Claudio Lemos<br />

Fonteles (US. 66-70):<br />

(


92<br />

tabelecido, lido ha lugar para disto<br />

se cogitar, no caso, vez que o evento<br />

ndo ultrapassara o momento investigate:n*10<br />

pre-processual: o inquerito<br />

policial.<br />

A 1? Camara do Tribunal de Justica<br />

de S. Paulo dissentiu desta colocacão,<br />

por concluir, em voto de<br />

'lustre Relator Carvaiho Filho,<br />

verb's:<br />

«A expressão «causas» contida<br />

no dispositivo invocado ndo tem o<br />

sentido restrito de acdo ou litigio,<br />

mas significado amplo e abrange<br />

todo e qualquer procedimento,<br />

como o processo policial que outra<br />

coisa tido 6 send() o inquerito<br />

que nos termos do Livro I, Titulo<br />

II, do COdigo de Processo Penal,<br />

incumbe a policia judiciaria.<br />

Em tais condicdes, desde que<br />

este ( inquerito) se ref ira a crime<br />

cujo julgamento, em segunda instAncia<br />

foi atribuido ao Tribunal<br />

de Alcada Criminal, deste e a<br />

competencia originaria para conhecer<br />

e julgar mandado de seguranca<br />

contra ato de Juiz de-Direito<br />

corn ele relacionado». (vide:<br />

fls. 55-56).<br />

Tornando os autos a 68 Cdmara<br />

Criminal do Tribunal de Alcada, a<br />

mesma, aduzindo ainda não ser a<br />

materia objetivada na impetracdo<br />

de natureza processual penal,<br />

«mas tipicamente administratriva»<br />

(IL 61), suscitou o conflito negativo<br />

de competencia.<br />

Mc) 6 de prosperar o entendimento<br />

do Tribunal de Alcada.<br />

A nocdo processual de causa nda<br />

se confunde com o pedido, que e o<br />

merito da pretensdo deduzida Judicialmente.<br />

A causa é a razdo ampla do pedido.<br />

Para estarmos corn o douto e<br />

emerito jurista, prof. Moacir Amaral<br />

Santos, verbis:<br />

«Ao pedido deve corresponder<br />

uma causa de pedir (causa<br />

petendi). A quem invoca uma<br />

providência jurisdicional quanta<br />

a um bem pretendido, cumpre dizer<br />

no que se funda o seu pedido.<br />

Conforme as palavras da lei<br />

(C6d. Proc. Civil, art. 282 n°<br />

III), insta ao autor expor na inicial<br />

os fatos e os fundamentos<br />

juridicos do pedido: na fundamentacdo<br />

esta a causa de pedir.<br />

Chama-se a atencdo para o texto<br />

da lei. 0 C6cligo exige que o<br />

autor exponha na inicial o Tato e<br />

os fundamentos juridicos do pedido.<br />

Por esse modo faz ver que na<br />

inicial se exponha rid° s6 a causa<br />

prAxima - as fundamentos juridicos,<br />

a natureza do direito controvertido<br />

- como tambem a causa<br />

remota - o fato gerador do<br />

direito. Quer dizer que o cOdigo<br />

adotou a teoria da substanciacAo,<br />

como os cadigos alemdo e<br />

Austriaco. Por esta teoria tido<br />

basta a exposicdo da causa pr6xima,<br />

mas tamb6m se exige a da<br />

causa remota». (in - Primeiras<br />

Linhas de Direito Processual<br />

Civil - 1? vol p. 141/142, grifamos<br />

).<br />

Portanto, o conceito de causa, no<br />

piano remoto, abrange a eclosào<br />

do evento no mundo Mica que, no<br />

caso, propiciou a investigacdo pollcial<br />

previa, considerada pelo titular<br />

da acdo renal - o Ministerio Pablico<br />

- improficua, no particular.<br />

E o Juiz de Direito, a prop:GU°<br />

disto, assuniu deliberacão, negando<br />

o conhetimento pUblica do deliberado<br />

- requereu-se certiddo da<br />

conclusdo do Ora° acusaterio, pelo<br />

arquivamento dos autos -, obviamente<br />

decidiu sobre a causa, na<br />

perspectiv a remota, tido admitiu a<br />

divulgacdo da diretriz que, no fato,<br />

desconheceu ilicitude criminal.<br />

E por ai se estabelece a impropriedade<br />

da afirmacão que diz ser


a matiria, deduzida no writ of<br />

mandamus, tipicamente administrativa».<br />

Impossivel!<br />

0 fato gerador do direito - a causa<br />

remota - 6, repetimos, a decisão<br />

da acusacAo pUblica de nth) formalizer<br />

a persecutio crimbils Judicial:<br />

o tema 6 de cunho nitidamente penal.<br />

Conhecendo-se do conflito, seta<br />

determinada a competência na 6?<br />

CArnara Criminal do Tribunal de<br />

Alcada de S. Paulo.»<br />

E o relat6rio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves (Relator)<br />

- Em sessão de 26.4.1979, em<br />

conflito negativo de jurisdicao em<br />

que, igualmente, o suscitante foi o<br />

Tribunal de AlCada Criminal e o suscftado<br />

o Tribunal de Justica, ambos<br />

do Estado de Sao Paulo, este Plenario,<br />

por unanimidade de votos, dele<br />

ndo conheceu por acOrdAo, de que fol<br />

relator o Sr. Ministro Xavier de Albuquerque,<br />

e do qual a ementa 6 esta:<br />

((Conlin° de jurisdicAo. Consoante<br />

antiga e reiterada Jurisprudencia<br />

do Supremo Tribunal Federal,<br />

nä° pode haver conflito entre o Tri-<br />

R.T.J. — 94 93<br />

bunal de Justica e o. Tribunal de<br />

Alcada do mesmo Estado da federacAo.<br />

NA° compromete tal<br />

tacAo a nova redacAo do art. 119, I,<br />

letra e da ConstituicAo (Emenda n?<br />

7, de 1977), em sue exata interpretack*.<br />

Conflito não conhecido».<br />

Com base nesse precedente, tenho<br />

por inexistente o conflito, razAo<br />

por que dele na() conheco.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

CJ 6.184 - SP - Rel., Min. Moreira<br />

Alves. Suste.: Tribunal de Alcada<br />

Criminal do Estado de São Paulo.<br />

Susdo.: Tribunal de Justica do Estado<br />

de Sfto Paulo.<br />

DecisAo: Não conheceram,<br />

nirnemente.una-<br />

Presidêncla do Senhor Ministro<br />

Antonio Neder. Presentes a Sessgo<br />

os Senhores Ministros Thad Falcfto,<br />

Thompson Flores, Xavier de<br />

Albuquerque, Leitão de Abreu,<br />

Cordeiro Guerra, Moreira Alves,<br />

Cunha Peixoto, Soares Munoz, Dedo<br />

Miranda e Rafael Mayer.<br />

Procurador-Geral da Republica,<br />

substituto, o Dr. Francisco<br />

sis Toledo.<br />

de As-<br />

Brasilia, 6 de Junho de 1979. —<br />

Alberto Veronese Agular, Secretario.<br />

CONFLITO DE JURISDICAO PP 8.247 — BA<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Xavier de Albuquerque.<br />

Suscitante: Tribunal Federal de Recursos — Suscitado: Tribunal Regional<br />

do Trabalho da 5? Ftegiao — Interessados: Banco Nacional do Desenvolvimento<br />

EconOmico e Teobaldo Santana e outros.<br />

Confine de jurisdigalo. Execuclo trabalhista na qual lntervem em-<br />

Praia Padica <strong>federal</strong>, Para pedir anulagflo da pram sob a alegacio<br />

de the ester hipotecado o be= penhorado e praceado. Intervenglio que<br />

nao dogma a compet&lcla para a Justica Federal (CJ 6.091 RTJ<br />

88/48). Conflito conhecido, declarando-se a competência do Tribunal<br />

Regional do Trabalho da 5? Regiflo.


94<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal em SessAo<br />

Plenaria, na conformidade da ata do<br />

julgamento e notas taquigraficas, a<br />

unanimidade de votos, conhecer do<br />

conflito e dar pela competencia do<br />

Tribunal suscitado.<br />

Brasilia, 19 de junho de 1980 —<br />

Antonio Neder — Presidente —<br />

Xavier de Albuquerque — Relator.<br />

RELATORIO<br />

R.T.J. -- 94<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque : — Para apresentar o<br />

caso, lelo o parecer que emitiu nos<br />

autos, pela Procuradoria-Geral da<br />

RepUblica, o Procurador Moacir Antonio<br />

Machado da Silva (fls.<br />

101/102):<br />

«Em execucAo de sentenca proferida<br />

pela Justica do Trabalho, interveio<br />

o Banco Nacional de Desenvolvimento<br />

EconOmico, pedindo<br />

a anulacäo da praca ou do laic',<br />

sob o fundamento de que «o guincho<br />

objeto da penhora e da arematacao,<br />

como os demais dquipamentos<br />

instalados na empresa e<br />

utllizados em sua exploractio econOmica,<br />

encontram-se, como acessoes<br />

intelectuals, abrangidos pela<br />

hipoteca do im6vel» da empresa<br />

em relacáo ao Banto (f. 46).<br />

0 eg. Tribunal Regional do<br />

Trabalho da 5? Regiae acolheu a<br />

preliminar suscitada pelo BNDE,entendendo<br />

que a intervencao de<br />

uma empresa pitblica <strong>federal</strong> provoca<br />

o deslocamento da competencia<br />

para a Justica Federal.<br />

0 eg. Tribunal Federal ee Recursos,<br />

porem, suscltou conflito negativo<br />

de jurisdicao, acolhendo o<br />

entendimento ja manifestado pelo<br />

Supremo Tribunal Federal, no Julgamento<br />

do CJ n? 6.091-BA (RTJ<br />

88, p. 48).<br />

4. No julgamento do CJ 6.091, decidiu<br />

o Egregio Plenario do Supremo<br />

Tribunal Federal que a intervencao<br />

de empresa pUblica <strong>federal</strong>,<br />

em execucao de sentenca trabalhista,<br />

nao desloca a competencia<br />

para a Justica Federal se não<br />

se f az numa das quatro condicOes<br />

a que alude o inciso I do artigo 125<br />

da Constituicäo Federal.<br />

0 caso a rigorosamente 'dentin°<br />

ao precedente. A intervencao do<br />

BNDE, tambem no caso sub<br />

judice, não se cla na condicão de<br />

autora, re, assistente ou opoente,<br />

que, nos termos do art. 125, I, da<br />

Constituicao Federal, definiria a<br />

competencia da Justica Federal.<br />

A anulacAo requerida pelo<br />

BNDE, portanto, deve ser decidida<br />

pela Justica do Trabalho, onde se<br />

processa a execucAo.<br />

Pelo conhecimento do conflito,<br />

declarando-se a competencia do<br />

eg. Tribunal suscitado.»<br />

E o relatario.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque (Relator) — Nos termos<br />

do precedente invocado no parecer<br />

da Procuradoria-Geral, conheco<br />

do conflito e dou pela competencia<br />

do Tribunal suscitado para o conhecimento<br />

do agravo de peticdo interposto<br />

nestes autos.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

CJ 6.247 — BA — Rel. Min. Xavier<br />

de Albuquerque. Suste.: Tribunal Federal<br />

de Recursos. Susdo.: Tribunal<br />

Regional do Trabalho da Regiao.<br />

Interessados : Banco Nacional do Desenvolvimento<br />

Econ6mico (Adv.:<br />

Luiz Otavio de Freitas) e Teobaldo<br />

Santana e outros (Adv.: Gabriel Nunes).


Decisão: Conheceu-se do conflito e<br />

deu-se pela competencia do Tribunal<br />

suscitado. Decisho uniforme.<br />

Presidencia do Senhor Ministro<br />

Antonio Neder. Presentes a Sessfio<br />

os Senhores Ministros Djaci FaIca°,<br />

Thompson Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

Leith° de Abreu, Cordeiro<br />

Guerra, Cunha Pebcoto, Soares Mu-<br />

R.T.J. — 94<br />

fioz, Decio Miranda e Rafael Mayer.<br />

Ausente, justificadamente, o Sr.<br />

Min. Moreira Alves. Procurador-<br />

Geral da Repdblica o Dr. Firmino<br />

Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 19 de Audio de 1980 —<br />

Alberto Veronese Agular — Secretario.<br />

MANDADO DE SEGURAKA N? 20.225 — DF<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra.<br />

Impetrante: Tefocrito Rodrigues de Miranda — Autoridade Coatora: Presidente<br />

da Rep(Slice —Li tisconsorte Passivo: Cello de Jesus Lobão Ferreira.<br />

NAo 6 inconstitucional, nem Regal, a nomeacilo do Auditor Corregedor<br />

da Justice Militar pelo Exmo. Senbor Presidente da<br />

de conformidade corn o art. 26 do Dec.-lei 1.003, de 21.10.69, corn a redace°<br />

altered& pela Lei 8.821, de 22.12.78: KO Auditor Corregedor<br />

nomeado dentre os auditores de 2! entrench, mediante lista triplice<br />

organizada pelo Sup erior Tribunal Militar, em sessilo secrete«.<br />

megitirnidade de parte, nAo acoihida no merit°, indeferida a segurano<br />

Impetrada.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Sessho<br />

Pleneria, na conformidade da ata de<br />

Julgamentos e das notas taquigreficas,<br />

por unanimidade de votos, em<br />

rejeltar a preliminar de ilegitimidade<br />

de parte, e, no merit°, huleferir a<br />

seguranca.<br />

Brasilia, 19 de marco de 1980. —<br />

Antonio Neder, Presidente —<br />

Cordaro Guerra, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Senhor Mastro Cordeiro<br />

Guerra: Insurge-se o impetrante,<br />

Juiz Auditor da 1! Auditoria da Aeroneutica,<br />

por via deste mandamus,<br />

contra o decreto de 18 de setembro<br />

de 1979. que nomeou o Dr. Cello de<br />

Jesus Lobáo Ferreira para exercer o<br />

cargo de Auditor Corregedor da Justica<br />

Militar, sob o fundamento de<br />

que, sendo o impetrante o mats antigo,<br />

tendo sido a vaga anterior preenchida<br />

pelo criterio de merecimento,<br />

imptmha-se a sua nomeacao pelo criterio<br />

de antigOldade, no que ve violacflo<br />

do dlreito liquid° e certo seu no<br />

ato de nomeacto lavrado pelo Exmo.<br />

Senhor Presidente da Rem:Mika.<br />

Sustenta que a Lel nt 6.621, de<br />

22.12.78, que altera dispositivos do<br />

D ecreto-lel n? 1.033, de 21.8.69, eslabeleceu:<br />

«art. 28 — A carreira de magistratura<br />

civil da Justice Militar,<br />

inicia-se no cargo de Auditor Substituto,<br />

sendo providos subseqiientemente<br />

os cargos de Auditor e Auditor<br />

Corregedor,,.<br />

95


96<br />

R.T.J. — 94<br />

E, dispondo a Lei Organica da Magistratura<br />

Nacional — Lei Complementar<br />

n? 35, de 11.3.79, que:<br />

«art. 80 — A lei regulata o processo<br />

de promocao, prescreven do a<br />

observancia dos criterios de antigilidade<br />

e de merecimento, alternadamente,<br />

e o da indicacao dos<br />

candidates a promocao por merecimento,<br />

em lista triplice, sempre<br />

que possivel».<br />

Cabia-lhe a vaga preenchida pelo<br />

Auditor nomeado, indicado pelo<br />

Egregio Superior Tribunal Militar<br />

em 3? lugar em lista triplice, quando<br />

o impetrante o fora em primeiro lugar.<br />

Finalmente, instituida a carreira<br />

de magistratura civil da Justica Militar,<br />

afastada estaria a norma do<br />

art. 26 do Decreto-lei 1.003, de<br />

21.10.69, a qual declara que:<br />

«0 Auditor Corregedor a nomeado<br />

dentre os auditores da 2, entrancia,<br />

mediante lista triplice organizada<br />

pelo Superior Tribunal<br />

Militar, em sessao secreta».<br />

pots, o art. 147 da Lei Complementar<br />

n? 35, revoga todas as disposicOes<br />

em contrario.<br />

Negada a liminar solicitada, vieram<br />

as informacaes do ilustre impetrado,<br />

nas quaffs se sustenta que a<br />

norma adotada por quase todos os<br />

Tribunals de Justica consiste na escolha,<br />

por melo de eleicdes, de membro<br />

da Magistratura para exercer o<br />

cargo de Corregedor, como indica a<br />

f. 24 e que desse principio flat) se<br />

afasta a Justica Militar — Lei n?<br />

1.003,de 21.10.69, com a redacao alterada<br />

pela Lei 6.621, de 22.12.78, art.<br />

25, 26, § unico e art. 28, como se segue:<br />

«art. 26 — 0 Auditor Corregedor<br />

nomeado, dentre os auditores,<br />

mediante lista triplice, organizada<br />

pelo Superior Tribunal Militar».<br />

«art. 28 — A carreira da Magistratura<br />

Civil da Justica Militar<br />

inicia-se no cargo de auditor substituto,<br />

sendo providos, por promocao,<br />

subseqtientemente, os cargos<br />

de Auditor e Auditor Corregedor.<br />

Acrescenta, que, ao adicionar o<br />

cargo de Auditor Corregedor na carreira<br />

da Magistratura Civil da Justica<br />

Militar, a Lei 6.621/78, nao estabeleceu<br />

que o referido cargo deveria<br />

ser provido por merecimento ou por<br />

antigilidade, tendo conservado a redacao<br />

anterior (art. 26) ou seja, lista<br />

triplice organizada pelo Superior<br />

Tribunal Militar.<br />

Aduz, ainda, que o art. 80 da Lei<br />

Organica da Magistratura Nacional<br />

nao a auto-aplicave l, dependendo de<br />

norma especifica para sua aplicacao<br />

a Justica Militar.<br />

Os arts. 30, § Urdu) e 31 da Lei<br />

6.621/78, que modificaram o Decretolei<br />

1.003/69, disciplinam a promocao<br />

dos auditores sem qualquer referencia<br />

ao Auditor Corregedor — f. 28.<br />

Ora, nessa conformidade, nenhum<br />

vicio macula o ato de nomeacao impugnado.<br />

A douta Procuradoria-Ge ral da<br />

RepOblica, por seu ilustre<br />

Subprocurador-Geral Mauro Leite<br />

Soares, bem assim se manifesta:<br />

«0 impetrante, Juiz Auditor da<br />

Magistratura Castrense, impugna<br />

o decreto de 18 de setembro de 1979<br />

do Senhor Presidente da Republica,<br />

de nomeacao do Juiz Auditor<br />

Corregedor da Justica Militar, nomeacao<br />

essa processada atraves<br />

de escolha em lista triplice organizada<br />

pelo Egregio Superior Tribunal<br />

Militar. Alega o impetrante<br />

que o cargo provido pelo ato impugnado<br />

e de carreira e, de acordo<br />

com a legislacao pertinente, e<br />

considerando-se que o anterior provimento<br />

do cargo, ocorrido em<br />

1978, deu-se pelo criterio de merecimento,<br />

para o preenchimento de<br />

vaga em exame deveria ter sido<br />

obedecido o critério de antigtiida-


de, sendo ele, o impetrante, o mais<br />

antigo e, ainda, tendo constado da<br />

lista triplice em primeiro lugar.<br />

Em conclustio, nAo deveria haver<br />

organizactlo de lista triplice e, sim,<br />

a sua promoctio pelo critério de an><br />

tiguldade.<br />

0 Senhor Presidente da ReptibIlea<br />

prestou informac6es as f. 20<br />

atrav6s do Ministerio da Justica.<br />

«Somos pelo nao conhecimento<br />

do mandado de seguranca.<br />

Inexiste ilegalidade, muito menos<br />

abuso de poder, no ato impugnado.<br />

0 ato impugnado, f. 9, foi baixado<br />

de acordo com o art: 26 do DI<br />

1.003/69, na redactio da pela Lei<br />

6.621, de 22 de dezembro de 1978:<br />

Declara-se nesta:<br />

Art. 1? — 0 Dec.-lei n? 1.003, de<br />

21 de outubro de 1969 (Lei de Organizactio<br />

Judicial-la Maar),<br />

passa a vigorar com as segutntes<br />

alteracOes:<br />

Art. 26 — 0 Auditor-Corregedor<br />

e nomeado dentre os Auditores,<br />

mediante lista triplice, organizada<br />

pelo Superior Tribunal Milltar,<br />

em sessão secreta<br />

g Only) — para a Indus& em<br />

lista 6 necessario o intersticio de<br />

2 (dots) anos, pelo menos, no<br />

exercicio da hula°.<br />

Art. 28 — A carreira da magistratura<br />

civil da Justica Mtlitar<br />

inicia-se no cargo de Auditor<br />

Substituto, sendo providos, por<br />

promocAo, subseqUentemente, os<br />

cargos de Auditor e Auditor-<br />

Corregedor.<br />

Art. 29 — QAuditor Substituto<br />

sera nomeado, dentre brasileiros<br />

natos, bacharéis em birth°, em<br />

Made ntio inferior a 25 (Mite e<br />

cinco) anos, nem superior a 95<br />

(quarenta e cinco) anos, aprovados<br />

em concurso ptiblico de pro-<br />

E.T.J. — 94 97<br />

vas, e por ordem de classificagão<br />

na forma das instructies estabelecidas<br />

pelo Superior Tribunal Militar.<br />

Art. 30 — Os cargos de Auditor<br />

sera') providos pelo crttério alternado<br />

da antigtlidade e do merecimento,<br />

dentre os Auditores Substitutos.<br />

A simples leitura da let, parecenos,dispensaria<br />

qualquer comentArio<br />

a respeito da legalidade do ato<br />

impugnado, porque, nos termos da<br />

Lei de OrganizagAo JudiciAria Milttar,<br />

o cargo de Auditor-Corregedor e<br />

de carreira e provido mediante nomeacAo<br />

do Senhor Presidente da<br />

Reptiblica ap6s a lista triplice organizada<br />

pelo Tribunal dentre os Auditores.<br />

No entanto, alega Cimpetrante<br />

que: a) — A Let OrgAnica da<br />

Magistratura Nacional, em seu art.<br />

80, revogou o art. 26 da Lei 6.621/78<br />

em questtio; b) a anterior nomeacão<br />

para o cargo de Auditor Corregedor<br />

foi feita pelo criterio do merecimento<br />

e, assim, a nomeacAo<br />

ora impugnada deveria obedecer<br />

ao critkrio de antiguidade.<br />

Por ser prejudicial da primeira<br />

alegacAo retro referida, examinaremos<br />

a segunda. Contraditoriamente<br />

ao alegado, 0 impetrante<br />

comprova a f. 12 que o Ultimo ato<br />

de nomeacAo para o cargo visado<br />

obedeceu ao mesmo crit6rio do ora<br />

impugnado, lsto 6, a nomeactio do<br />

Auditor Milton Fitiza foi feita mediante<br />

lista triplice. Assim, mesmo<br />

que procedente pudesse ser a argumentacAo<br />

de que a nomeacAo para<br />

o cargo de Auditor Corregedor deverA,<br />

a partir da Lei OrgAnica da Magistratura<br />

Nacional, submeter-se<br />

ao criterio altemado de merecimento<br />

e antigtildade, temos que a<br />

Ultima nil° foi por merecimento, isto<br />

e, a Ultima nomeaclio obedeceu<br />

ao critério Mad° na lei que ntio d18tingula<br />

ou distingue entre antiadade<br />

e merecimento, mas sim, so-


98<br />

mente livre escolha na organizacao<br />

da lista triplice e nomeacao e, o que<br />

e plor para o impetrante, a<br />

nomeacao ora impugnada 6 a primeira<br />

apes a Lei Organica invocada.<br />

Assim, meramente academica<br />

seria ou sera a discussao em torno<br />

do art. 80 da Lei Organica, como<br />

pretende o impetrante, porque ele<br />

nao preenche o pressuposto minimo<br />

ou basic° para a sua invocacao.<br />

Ademais, entrariamos no exame da<br />

lei em tese, o que e vedado pela<br />

SUmula 266. Finalmente, embora<br />

desnecessaria a anotacao, temos<br />

que o art. 80 da Lei Organica declare<br />

que verb's. «A lel regulare o processo<br />

de promocao, ••.». Portanto,<br />

mesmo que pertinente sej a a interpretacao<br />

pretendida, pelo impetrante<br />

no concernente ao art. 80 da<br />

Lei da Magistrature, o que se admite<br />

por argumentacao, temos que,<br />

iniludivelmente, necessario sera<br />

aguardar a lei regulamentar a respeito<br />

da materia.<br />

Somos, se conhecido, pelo nao deferimento<br />

do mandado de seguran-<br />

Ca.<br />

Brasilia, 16 de novembro de 1979»<br />

(fls. 35-38).<br />

Determine! a citacao do litisconsorte<br />

necessario — f. 39 que sustenta nao<br />

ser o impetrante o Juiz auditor mais<br />

antigo da Justice Militer, embora<br />

fosse o de mator antigaidade na 2?<br />

entrancia, porem, como a Lei 6.621,<br />

de 22.12.78, extingulu as entrancias,<br />

determinando a investidura, ex vi<br />

lea, dos Julies auditores de 1? e 2?<br />

entrancias, na entrancia (mica, desapareceu<br />

a antigaldade nos cargos extintos,<br />

que era contada ate entao para<br />

o Urn exclusivo de promocao — e<br />

que, desde entao, nao mais considerou<br />

antigilidade na entrancia, e, sim<br />

na Justice Militer, e observado esse<br />

criteria nao e o impetrante o jutz<br />

auditor mats antigo — fls. 46/47 —<br />

does. 49/50.<br />

R.T.J. — 94<br />

Ouvido o ilustre impetrante, respondeu<br />

que a fusdo das entrancias<br />

nao poderia prejudicar-lhe o direito<br />

adquirido, tai come foi ressalvado<br />

por esta Corte no RE n? 73.081 — SP<br />

— RTJ 62/727, ao extinguir-se a 4? entrancia<br />

no Estado de Sao Paulo,<br />

• quando se ressalvou a preferencia<br />

nos direitos de promocao aos demais<br />

juizes de 3? entrancia.<br />

A respeito, manifestou-se a douta<br />

Procuradoria-Gera' da Republica<br />

nestes termos:<br />

«Conforme f. 51v o requerente obteve<br />

vista dos autos, tomando conhecimento<br />

do r. despacho do eminente<br />

Ministro Relator de f. 51 e<br />

nao manifestou acerca da intervencao<br />

de f. 45 do litisconsorte passivo,<br />

na qual se alega, preliminarmente,<br />

que o requerente do mandado de seguranca<br />

nao possui ou nao preenche<br />

a qualidade minima de Juiz-<br />

Auditor mais antigo, qualidade essa<br />

necessaria em tese, para a pretendida<br />

impugnacao do ato do Senhor<br />

Presidente da Rep(Mika.<br />

Assim sendo, permitindo-nos ratificacao<br />

do aduzido no nosso parecer<br />

de f. 35, ao qual aditamos a preliminar<br />

de ilegitImidade para a causa<br />

do requerente, somos, acaso conhecido,<br />

pelo nao deferimento do mended°<br />

de seguranca.<br />

Brasilia, 25 de fevereiro de 1980<br />

— Mauro Leite Soares,<br />

Subprocuradoria-Gera' da Repablica»<br />

(f. 57)<br />

E o related°.<br />

VOTO<br />

0 Senhor Ministro Cordetro<br />

Guerra (Relator): A Constituicao Federal<br />

inclui no Poder Judie!aria art.<br />

IV, os Tribunals e Jutzes militares,<br />

estabelecendo-lhes as garantias<br />

de vitaliciedade, inamovibidade e irredutlbilidade<br />

de vencimentos — art.<br />

I e III.


Ao definir-the os OrgAos, especifica<br />

que o integram o Superior Tribunal<br />

Minter e os Tribunals e Juizes inferiores<br />

instituldos por lei — art. 127.<br />

Na composicão do Superior Tribunal<br />

Mllitar entram dois auditores e<br />

membros do Ministeriolice da<br />

Justice Mllitar, de comprovado saber<br />

juridic°, nomeados pelo Presidente<br />

da Repablica, depots de aprovada<br />

a escolha pelo Senado Federal.<br />

Não instituiu, pots, o constituinte<br />

uma carrelra de magistrados mllitares,<br />

ou mesmo <strong>federal</strong>s, reservando<br />

tal sistema, tAo s6 aos Magistrados<br />

Estaduais — art. 114, I e II, assegurando<br />

a promocAo dos seus juizes de<br />

entrancia a entráncia, por antighidade<br />

e por merecimento alternadamente,<br />

apurando-se a antigtlidade e o<br />

merecimento, este em lista triplice<br />

art. 144, II, a , e o acesso aos Tribunals<br />

de Segunda instancia dar-se-A<br />

por antigaidade e por merecimento<br />

alternadamente; ve-se portanto, que<br />

a Justice Mllitar somente foram asseguradas<br />

as garantias do art. 113, I,<br />

II e III, da CF.<br />

NAo existe, pots, carreira de juizes<br />

mllitares na Constituiclio Federal,<br />

nAo s6 porque a eles nä° se aplica a<br />

discipline das Justices Estaduais,<br />

como o acesso ao Superior Tribunal<br />

Minter obedece ao criteria de livre<br />

escolha do Presidente da Repablica,<br />

mediante aprovacão do Senado Federal.<br />

A Lei OrgAnica da Magistrature<br />

Nacional — Lei Complementar n? 35,<br />

de 14 de marco de 1979, estabelece<br />

em seu art. 7?:<br />

((Silo 6rgAos da Justice Minter da<br />

Uniall, alem do Superior Tribunal<br />

Minter, os Julzes auditores e os<br />

Conselhos de Justice, cujos niunera,<br />

organizacAo e competencia silo<br />

definidos em lei, «expliCitando —<br />

art. 85 —.» 0 acesso de Juizes aucli-<br />

R.T.J. — 94 99<br />

tores e membros do Ministerio Pablico<br />

da Justice Militar do Superior<br />

Tribunal Minter, far-se-a por livre<br />

escolha do Presidente da Repablica.».<br />

NAo tem aplicaclio a Justice castrense,<br />

por conseguinte, os criterlos<br />

na promocão da Justice dos Estados.<br />

0 Decreto-lel n? 1.003, de 21.10.1969<br />

— Lei da Organizactio Judicitaia Militar,<br />

definiu em seu art.2?, as autoridades<br />

judiciaries:<br />

Superior Tribunal Minter<br />

os Conselhos de Justice Miter<br />

c) os auditores<br />

No art. 5? dispOs:<br />

Serão de uma (mica entráncia todas<br />

as Auditorias, com excecão da<br />

Auditoria de Correicao que sera de<br />

segunda entrancia e funcionare<br />

junto ao Superior Tribunal Militar<br />

(Lei 6.621, de 22.12.78).<br />

NAo confunde a Lei de Organizacflo<br />

da Justice Mllitar, mesmo com a redacáo<br />

dada pela Lei 6.621, de 22.12.78,<br />

os juizes Auditores corn o Auditor<br />

Corregedor, pois, no art. 27 do<br />

Capitulo VI, estabeelece a composicao<br />

de cada auditoria, que Gera urn auditor,<br />

urn auditor substituto, urn procurador,<br />

um advogado de offal°, etc... e<br />

no Capitulo V, trata da Auditoria de<br />

CorreicAo, estabelecendo expressamente:<br />

«art. 26 — 0 auditor corregedor e<br />

nomeado dentre os auditores me-<br />

(Dante lista triplice, organizada pelo<br />

Superior Tribunal Minter, ern<br />

sessAo secrete».<br />

Aos auditores substitutos 6 que a<br />

lei, no art. 30 preyb o provlmento no<br />

cargo de auditor pelo criteria alternado<br />

de antigUidade e merecimento,<br />

dispondo o art. 32:<br />

As promoctles por merecimento<br />

far-se-Ao medlante lista triplice organizada<br />

pelo Superior Tribunal<br />

Minter, em sessile secrete».


100<br />

Sustenta o impetrante que o art. 28<br />

da Lei de Organizacäo JudIciária, assegura<br />

a promocao a Auditor Corregedor<br />

pelo criterio alternado de antigilidade<br />

e merecimento, pois dispOe<br />

A carreira da magistratura civil<br />

da Justica Militar inicia-se no<br />

cargo de auditor substituto, sendo<br />

providos, por promocao, subseqtientemente,<br />

os cargos de auditor<br />

e auditor corregedor».<br />

Como j a foi salientado, inexiste,<br />

constitucionalmente, carreira de magistrado<br />

militar, mas tao s6 de magistrados<br />

estaduais, e assim, ainda<br />

que se admaisse a inclusao do cargo<br />

de auditor corregedor na "carreira",<br />

o seu provimento näo estava adstrito<br />

aos criterios alternativos da antigiiidade<br />

e do merecimento, por isso, validamente<br />

dispOs o art. 26, que o auditor<br />

corregedor a nomeado, dentre os<br />

auditores, mediante lista triplice, organizada<br />

pelo Superior Tribunal Milltar,<br />

em sessao secreta, «corn uma<br />

(mica exigancia, a necessiaade de intersticio<br />

de dots anos, pelo menos, no<br />

exercicio da funcao — Calico do art.<br />

26».<br />

De fato, como esclarece Candid°<br />

Mendes de Almeida, «o Corregedor<br />

era o primeiro magistrado na Comarca,<br />

superior aos juizes que nela existiam,<br />

com extensa jurisdicao, tanto<br />

no crime como no civei». (nota 2,<br />

Titulo VII, do 1? Livro das<br />

Ordenactles Filipinas — ed. 1870), szelava<br />

pela boa ordem dos servicos judiciarios,<br />

e pela boa aplicacäo da<br />

Justica.<br />

Exerciam, portanto, urn cargo de<br />

confianca por livre nomeacão real. A<br />

ele, por certo, se aplicaram os criterios<br />

de escolha do Regedor 4a Casa<br />

de Suplicacao, «seja o major Tribunal<br />

de Justica de nossos Reinos»,<br />

«deve o Regedor dela ter as qualidades,<br />

que para cargo de tanta confianca<br />

e autoridade se requerem». Febo<br />

que mandava El Rey use deve semore<br />

procurer, que seja homem tidal-<br />

R.T.J. — 94<br />

go, de limpo sangue, de sd consciOncia,<br />

prudente e de muita autoridade,<br />

e letrado, se for possivel; e sobretudo<br />

tao inteiro que sem respeito de amor,<br />

6dio, ou perturbacdo outra de Animo,<br />

possa a todos guardar Justica igualmente».<br />

(Titulo I do Primeiro Livro<br />

das OrdenacOes Filipinas).<br />

E de ver-se que tais requisitos, näo<br />

se apuram pelo criterio de antigilidade.<br />

Isso explica que, em todas as Justicas<br />

do Pais, sejam as direcOes dos<br />

Tribunals eleitos, e não providas pelo<br />

criterio tao s6 de antigiiidade —<br />

art. 102 da Lei Complementar n? 35<br />

de 14.3.1979.<br />

De quanto exposto, inaplicavel o<br />

principal constitucional da alternatividade<br />

das promocOes dos juizes estaduals<br />

aos juizes militares, forcoso<br />

sera reconhecer que o art. 28, da Lei<br />

de OrganIzacão Judicieria Militar,<br />

nao confine, nem revoga o art. 26 da<br />

mesma lei, que legitima o ato impugnado.<br />

Desse modo, rejeito a preliminar<br />

de ilegitimidade de parte, e no merit°<br />

indefiro a seguranca pots o ilustre<br />

magistrado impetrante não teve violado<br />

direito llquido e certo.<br />

E o meu voto.<br />

VOTO<br />

O Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Sr. Presidente, parecenos<br />

que o eminente Relator, examinando<br />

a legislacao pertinente, demonstrou;<br />

qui ca sem o dizer, gue o<br />

cargo"de Auditor Corregedor 6 cargo<br />

isolado da Justice Militar Federal e<br />

que, portanto, a ele näo podem ter<br />

acesso, por promocao, os auditores,<br />

tornando-se irrelevante saber se caberia<br />

aplicar o criterio de antigtlidade,<br />

ou de merecimento.<br />

Tambem indefiro a seguranca.


EXTRATO DA ATA<br />

MS. 20.225 — DF — Rel. Min. Cordeiro<br />

Guerra. Impte: Te6crito Rodrigues<br />

de Miranda. (Adv.: Alcino Guedes<br />

da. Silva). Autoridade Coatora:<br />

Presidente da Republica. Litisconsorte<br />

Passivo: Cèlio de Jesus Lobáo<br />

Ferreira.<br />

Deetslio: ReJeitou-se a preliminar<br />

de ilegitimidade de parte, e, no merito,<br />

indeferiu-se a seguranca nos termos<br />

do voto do Ministro Relator. Decisão<br />

uniforme.<br />

R.T.J. — 94 101<br />

Presidéncia do Senhor Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes is Sessão os Senhores<br />

Ministros Djaci Falcão,<br />

Thompson Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves, Cunha Peixoto, Soares Mufloz,<br />

Decio Miranda e Rafael Mayer — Ausente,<br />

licenciado, o Sr. Ministro Leitill)<br />

de Abreu — Procurador-Geral da<br />

Republica, Dr. Firmino Ferreira<br />

Paz.<br />

Brasilia, 19 de marco de 1980 —<br />

Alberto Veronese Agular, SecretArio.<br />

RECURSO DE HABEAS CORPUS blie 56.120 — RS<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cunha Pelxoto.<br />

Recorrente: Hector Rodolfo Dorfman — Recorrido: Tribunal Federal de<br />

Recursos.<br />

Habeas Corpus — Uso de documento falso — E inepta a demincla<br />

que, fundada em meras conjecturas, dissociadas da prova Incliciaria<br />

ate entilo apurada, imputou ao paciente o crime deflnido no art. 304<br />

do axtigo Penal, independentemente de quaisquer elementos de conviccho<br />

quanto ao dolo, ditto ou eventual, indispensavel a tiplficacho<br />

penal do tato.<br />

Recurso de habeas corpus provido parcialmente, pare o fim<br />

reconhecer<br />

de se<br />

a in0pcia da denOncia.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discuticlos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal na conformidade da ata do<br />

Julgamento e das notas taquigráficas,<br />

por unanimidade de votos, em<br />

dar provimento parcial ao recurso<br />

de habeas corpus.<br />

Brasilia, 30 de mai° de 1978. —<br />

Antonio Neder, Presidente — Cunha<br />

Peixoto, Relator.<br />

RELATORIO<br />

O Sr. Ministro Cunha Pelxoto: 1 —<br />

Impetrou-se ordem de habeas corpus<br />

ao egregio Tribunal Federal de Re-<br />

cursos, a favor de Hector Rodolfo<br />

Dorfman, objetivando-se o trancamento<br />

de acáo penal movida contra<br />

o paciente sob a acusacno de haver<br />

feito use de documento falso (art.<br />

304 do COdigo Penal), por falta de<br />

Justa causa.<br />

2 — Transcrevo a denfincia, que,<br />

embora extensa, a necessaria a exata<br />

compreensao da materia:<br />

«0 Ministerio Pnblico Federal,<br />

por seu agente, abaixo firmado,<br />

comparece A presenca de V. Exa.<br />

a rim de oferecer demincia contra:<br />

Hector Rodolfo Dorfman, brasileiro,<br />

casado, comerclante, Mho de<br />

Mateo Dorfman e de Luiza Strusberg,<br />

nascido em 6 de Janeiro de


102<br />

R.T.J. — 94<br />

1927, residente a rua Ramiro Barcelos,<br />

n? 1.314, ap. 201, Porto Alegre.<br />

e<br />

Ely Barbosa da Silva, brasileiro,<br />

casado, mestre de obras, filho de<br />

Ataliba Barbosa da Silva e de Angela<br />

Lazaroti da Silva, nascido em<br />

23 de outubro de 1937, residente<br />

Praca Japao, n? 203, Porto Alegre,<br />

pelos seguintes fatos delituosos:<br />

O primeiro denunciado, Hector<br />

Rodolfo Dorfman, foi o incorporador<br />

e proprietario do «Centro Comercial<br />

PetrOpolis», cuja construea°<br />

em grande parte cometeu ao<br />

segundo denunciado, Ely Barbosa<br />

da Silva, que, por empreitada, levou<br />

a efeito a referida obra.<br />

De acordo corn o contrato de empreitada<br />

firmado entre ambos, de<br />

resto confirmado nos depoimentos<br />

prestados perante a autoridade policial,<br />

incumbia ao empreiteiro<br />

(Ely) o pagamento dos encargos<br />

socials, especificamente o recolhimento<br />

das contribuicOes previdenciarias<br />

que incidiam sobre a construed°.<br />

Acontece que, por irregularidades<br />

que desinteressam aqui referir,<br />

o «Centro Comercial Petrepolis»<br />

endividou-se perante o I.N.P.S.<br />

Nesse meio tempo, o primeiro<br />

denunciado negociou (vendeu) urn<br />

dos apartamentos situados no referido<br />

«Centro Comercial», necessitando<br />

conseqiientemente do Certificado<br />

de Quitacao do I.N.P.S. para<br />

poder concretizar a transaeao.<br />

Solicitou, entao, ao segundo denunciado<br />

que conseguisse junto ao<br />

I.N.P.S. aquele Certificado.<br />

Ora, por estar em divida corn a<br />

autarquia, o referido «Centro Comercial»<br />

nao poderia obter a dita<br />

peca.<br />

Inobstante isso, atraves de processos<br />

que nao ficaram bem escla-<br />

recidos (e que se por isso nao dilatarn<br />

o ambito da presente acusaeao),<br />

Ely Barbosa da Silva conseguiu<br />

um Certificado de Quitacao<br />

falsificado, que passou as maos de<br />

Hector Rodolfo Dorfman, o qual,<br />

utilizando o tal documento, levou a<br />

efeito a operacdo imobiliaria antes<br />

anunciada.<br />

0 tal documento (also, datado de<br />

27 de outubro de 1971, epoca, alias,<br />

de sua utilizacdo, fora emitido em<br />

nome de outra empresa, esta em<br />

situaeao regular perante o I.N.P.S.<br />

Posteriormente foi apagado o nome<br />

desta empresa, inserindo-se os<br />

dados que interessavam aos denunciados.<br />

Mats precisamente a operacdo<br />

de falsificaeao desenvolveu-se da<br />

seguinte forma: uma outra empresa,<br />

em situacdo regular, solicitou a<br />

expedieão de um Certificado de<br />

Quitacao. 0 requerimento tramitou<br />

regularmente, merecendo informaeOes<br />

favoraveis dos setores competentes.<br />

Feito isso, alguém apagou o<br />

nome daquela empresa no pedido<br />

(deixando no verso do mesmo apenas<br />

as informac6es favoraveis), inserindo<br />

ern seu lugar o nome<br />

ficticio oEli da Silva SO", bem como<br />

o endereco do Centro Cornercial<br />

Petr6polis e o fim do documento:<br />

«venda de economias do Centro<br />

Comercial PetrOpolis». A vista de<br />

tal «pedido” (la convenientemente<br />

«ajeitado»), foi expedido o Certificado<br />

de Quitacao em nome do<br />

ficticio<br />

da Silva SO». 0 docu-<br />

mento entao, isto e, o Certificado<br />

de Quitacao sofreu nova alteraeao<br />

fraudulenta: sobre o nome «Ely da<br />

Silva S6» foi inserida a denominacdo<br />

«Centro Comercial PetrOpolis».<br />

Assim o documento foi uttlizado<br />

pelos denunciados.<br />

Quern exatamente realizou a f alsificaeao,<br />

nao foi possivel apurar.


Embora seta evidente que fell gente<br />

«de dentro» do I.N.P.S.<br />

Certo, por outro lado, que o denunciado<br />

Ely Barbosa da Silva<br />

encornendou o documento, mesmo<br />

custa das fraudes antes descritas,<br />

pois que evidentemente tinha<br />

conhecimento da impossibilidade<br />

de consegui-lo, por estar em divida<br />

corn a autarquia previdenciaria.<br />

Quanto ao denunciado Hector, se<br />

maior participacão nao teve (pelo<br />

menos nada de concreto se apurou)<br />

na falsificacdo, e flagrante<br />

que se utilizou conscientemente do<br />

documento falso, els que nao poderia<br />

ter-lhe passado despercebido o<br />

fato do documento ter sido emitido<br />

en nome de outra pessoa («Eli da<br />

Silva SO» ) , que nä° o seu construtor.<br />

Em assim agindo, o denunciado<br />

Hector Rodolfo Dorfman incorreu<br />

no crime previsto no artigo 304 do<br />

C6digo Penal.<br />

Enquanto Eli Barbosa da Silva<br />

incorreu nos crimes previstos nos<br />

artigos 304 e 297, § 2?, combinado<br />

corn o artigo 25 do COdigo Penal.<br />

0 pois requer sejam citados<br />

para se verem processor, ate<br />

final sentenca condenateria.<br />

Requer a inquiriedo das testemunhas,<br />

abaixo arroladas.<br />

N. Termos,<br />

p. Deferimento.<br />

Porto Alegre, 19 de male de 1976<br />

mnir Josè Finocchlaro Sarti,<br />

Procurador da RepOblica.<br />

Rol de Testemunhas:<br />

Telmo de Aratjo da Veiga;<br />

Romeu de Almeida Lima;<br />

Sara Pereira Nepomuceno;<br />

Lia Irma Braga Guimardes;<br />

Todos funciondrios do I.N.P.S.,<br />

lotados nests Capital».<br />

R.T.J. — 94 103<br />

3 — Os fundamentos do writ estão<br />

assim sintetizados pelo prOprio impetrante<br />

(Hs. 4-6):<br />

«No que diz respeito ao paciente,<br />

pois, ficaram expressos os seguintes<br />

pontos:<br />

Hector Rodolfo Dorfman rid°<br />

teve nenhuma participaedo no processo<br />

de falsificacdo;<br />

NA° incumbia a ele, diretamente,<br />

o pagamento das contribuicOes<br />

previdenciarias, que incidlam<br />

sobre a construed°, mas sim ao<br />

empreitelro Ely Barbosa da Silva,<br />

circunstäncia essa incontroversa<br />

nao so (Dante dos termos do contrato<br />

de empreitada existente, como<br />

tambem por ter sido confirmada<br />

por depoimentos prestados na<br />

policia;<br />

c) Finalmente, a Unica circunstancia<br />

apresentada como causa para<br />

denunciar Hector Rodolfo Dorfman<br />

feria sido o fato de que tido<br />

the poderia ter passado desapercebido<br />

que o Certificado de Quitacäo<br />

fora emitido em nome de outra<br />

pessoa — Eli da Silva S6 que<br />

não seu construtor. Como se demonstrara<br />

mais tarde, ai incidiu<br />

em erro o digno representante do<br />

Ministerio PUblico Federal, não<br />

apenas porque o documento entregue<br />

a Hector o fora em nome da<br />

obra — ainda que por forca da<br />

mencionada alteraclo do documento<br />

pelo acrescimo do nome Centro<br />

Comercial Petropolis como porque<br />

era de todo irrelevante o nome<br />

do construtor no mencionado certificado.<br />

0 nome que deveria constar e como<br />

efetivamente constava quando<br />

o Certificado foi entregue a Hector<br />

Rodolfo Dorfman era o do Centro<br />

Comercial, obra devidamente matriculada<br />

no I.N.P.S. sob o n?<br />

19.150.03.178/67. Como se ye, em<br />

relacdo a Hector Rodolfo Dorfman,<br />

a dent:meta partiu de uma premissa<br />

equivocada para admitir como


104<br />

conseqiiencia necessaria o conhecimento<br />

da falsidade do documento,<br />

elemento necessario a configuracao<br />

do ilicito penal de use de documento<br />

falso.<br />

0 Certificado de Quitaceo, por<br />

outro lado, constituia documento<br />

obrigaterio para efetivacao de cada<br />

vends que viesse o paciente a<br />

realizar relativamente a cada unidade<br />

do centro comercial, nos termos<br />

do disposto no art. 4?, tetra d,<br />

do Decreto n? 60.368, de 11 de mar-<br />

CO de 1967, in verbis:<br />

“Art. 4? — 0 Certificado de<br />

Quitacão (CQ) constitui documento<br />

obrigaterto para a efetivacao<br />

dos seguintes atos:<br />

d) primeira transaceo a ser<br />

realizada corn predio ou unidade<br />

imobiliarla seja qual for a sua<br />

forma, desde que a respectiva<br />

construcao tenha sido terminada<br />

apes a viOncia do Decreto-lei n?<br />

66, de 21 de novembro de 1966».<br />

Certo, pois, que para a efetivaea°<br />

de cada transacão referente a<br />

unidades do edificio, seria necessaria<br />

a apresentacao de urn novo<br />

Certificado de Quitacao, tendo<br />

Hector Rodolfo Dorfman solicitado<br />

a Ely Barbosa da Silva a obtenceo<br />

do primeiro Certificado, cuja falsidade<br />

se pretende, exclusivamente<br />

porque ao Ultimo, nos termos do<br />

que contrataram, cometia a responsabilidade<br />

pelas contribuicOes<br />

previdenciarias, servindo, pois,<br />

nao so para concretizar a primeira<br />

transaceo, mas tambem como prova<br />

de adimplemento por parte do<br />

construtor de sua obrigacão nesse<br />

sentidom<br />

Acrescenta o impetrante, corn base<br />

em copiosa <strong>jurisprudencia</strong>, que o<br />

I.N.P.S. net) poderia recusar-se a<br />

fornecer o aludido certificado de quitacao,<br />

o qual, assim, nao expressa<br />

informacho falsa, o que, nos termos<br />

R.T.J. — 94<br />

da doutrina. macs autorizada, descaracterizaria<br />

o crime de falsidade, e,<br />

em conseqtlencia, tambem o de utilizacão<br />

de documento {also.<br />

4<br />

0 egregio Tribunal recorrido<br />

denegou a ordem, conforme AcOrdao<br />

de fl. 117, assim ementado, verbis:<br />


3. Sobressai de trecho da denUncia,<br />

como essencia do postular a<br />

punicao do infrator, verbis:<br />

a) 0 primeiro denunciado,<br />

Hector Rodolfo Dorfman, foi incorporador<br />

e proprieterio do<br />

«Centro Comercial Petrepolis,»<br />

cuja construcâo em grande parte<br />

cometeu ao segundo denunciado,<br />

Ely Barbosa da Silva, que, por<br />

empreitada, levou a efeito a referida<br />

obra;<br />

«De acordo corn o contrato<br />

de empreitada firmado entre ambas<br />

de resto confirmed° nos depoimentos<br />

prestados perante a<br />

autoridade policial, incumbia ao<br />

empreiteiro (Ely) o pagamento<br />

dos encargos sociais, especificamente<br />

o recolhimento das contribuicOes<br />

previdencierias que Incidiem<br />

sobre a construciio» (sic);<br />

0 Centro Comercial Petropolls<br />

endividou-se perante o<br />

I.N.P.S. e nesse meio tempo Hector<br />

Rodolfo Dorfman negoctou<br />

um dos apartamentos do referido<br />

centro comercial, necessitando<br />

conseqfientemente do certtricado<br />

de qultagao do I.N.P.S., em radio<br />

do que solicttou ao emprettelro<br />

que o obtivesse;<br />

Ely, que deveria ter evidentemente<br />

conhecimento da impossibilidade<br />

de conseguir tal Certificado,<br />

em decorrencia do debit°<br />

existente, conseguiu um Certificado<br />

de Quitactio falsificado,<br />

entregando-o a Hector Rodolfo<br />

Dorfman, o qual, utilizando tal<br />

documento levou a efeito a operano<br />

imobilieria referida;<br />

A operacão de falsificack)<br />

desenvolveu-se da seguinte forma:<br />

«uma outra empresa, em situacAo<br />

regular, sollcitou a expedicAo<br />

de um Certificado de Quitecáo.<br />

0 requerimento tramitou regularmente,<br />

merecendo informacOes<br />

favorAveis nos setores cornpetentes.<br />

Feito isso, alguem apa-<br />

R.T.J. 94 105<br />

you o nome daquela empresa do<br />

pedido (deixando no verso do<br />

mesmo apenas as informacOes<br />

favoreveis), inserindo em seu lugar<br />

o nome ficticio «Eli da Silva<br />

S6», bem como o endereco do<br />

Centro Comercial Petropolis e o<br />

fim do documento: «Venda de<br />

economies do Centro Comercial<br />

PetrOpolis». A vista de tal «perildo»<br />

(A convenientemente «Weitado»),<br />

foi expedido o Certificado<br />

de Quitacão em nome do ficticio<br />

«Ell da Silva SOD. 0 documento<br />

entAo, isto o, o Certificado de<br />

QuitacAo, sofreu nova alteracáo<br />

fraudulenta: sobre o nome «Ell<br />

da Silva S6» foi inserida a denominacão<br />

«Centro Comercial Petropfills»<br />

(sic); (Vide: fls. 99-100,<br />

grifamos).<br />

Como se ye, a opinlo delicti<br />

ressalta, no trecho que sublinhamos,<br />

o concreto 1nteresse do<br />

recorrente na utilizacão fraudulenta<br />

do documento, sob pena de näo<br />

receber numerfirio, como preco de<br />

venda imobillaria, que efetuara.<br />

Invievel cogitar-se, ainda, de<br />

que nenhum interesse animaria<br />

Hector Dorfman ao delito, vez que<br />

«rulo cable ao recorrente o pagamento<br />

das contribuicOes previdencierias<br />

relativamente A obra...» (f.<br />

122).<br />

6. Claro o magisterio do 2? do<br />

wills) 142 da CLPS (Cons°lidecAo<br />

das Leis da Previdëncia Social),<br />

verbis:<br />

«0 proprietitrio, o dono da<br />

obra, ou o condOmino de unidade<br />

qualquer que seja a<br />

forma por que haja contratado a<br />

obra de construcao, reforma ou<br />

acrescimo de imOvel, 6 solidarlamente<br />

responsflvel corn o<br />

construtor pelo cumprimento das<br />

obrigagges decorrentes desta<br />

consolidacAo, resalvado seu direito<br />

regressivo contra o executor<br />

ou contraente das obras e ad-


106<br />

R.T.J. — 94<br />

mitida a retencao de importancias<br />

e estes devidas para a garantia<br />

do cumprimento dessas<br />

obrigacOes, ate a expedicao do<br />

«Certificado de Quitacao (artigo<br />

152, item I, letra c)».<br />

Co-devedor da instituicao previdenciAria,<br />

manifesto o interesse<br />

na obtencao de documento falso<br />

que, em principio isentA-lo-ia de<br />

adimplir a obrigacao.<br />

Por outro lado, assentar-se<br />

que a expedicao do Certificado de<br />

Quitacao nao poderia ser recusada<br />

pelo Instituto, ante a liar) definicAo<br />

do procedimento administrativo<br />

tendente a constatacao do debit°, o<br />

que retiraria qualquer significado<br />

ao ato de contrafazer e usar o<br />

contrafeito, sobre tal conclusao<br />

nao se adequar a melhor doutrina,<br />

como bem enfatizado no voto do<br />

douto Min. Jorge Lafayette (Us.<br />

111-112), e de se convir que a denUncia<br />

assevera toda uma trama,<br />

(Vide: alinea e, da transcricAo no<br />

item 3, deste) destinada ao falso, o<br />

que, obviamente, nao se compraz<br />

corn a realidade de quem nada deve<br />

e se desejava obviar o andamento<br />

dos expedientes.<br />

9. Pelo improvimento do recurso».<br />

E o relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cunha Peixoto (Relator):<br />

1 — 0 recorrente estA sendo<br />

processado sob a acusacao de haver<br />

feito use de documento falso — exibicao,<br />

em carterio, de certificado de<br />

quitacao do I.N.P.S., para lavratura<br />

de escritura de compra e venda de<br />

um apartamento, o qual teria sido<br />

adulterado<br />

tendo ficado reconhe-<br />

cido expressamente na denimcia que<br />

o mesmo nao participara, de qualquer<br />

forma, no processo de falsificacao.<br />

2 — A prepria den -meta reconhece<br />

como fato provado, por outro lado,<br />

que o recorrente empreitara corn o<br />

co-reu Ely a construcao do edificio<br />

de apartamentos, ficando este Ultimo<br />

responsAvel pelos encargos socials,<br />

e, especificamente, o recolhimento<br />

das contribuicOes previdenciArias<br />

que incidiam sobre a construcao.<br />

3 — E ainda a prepria denUncia<br />

que esclarece haver o co-reu Ely<br />

transmitido ao recorrente o aludido<br />

documento perfeito e acabado.<br />

Vale aqui a transcricao do tepico<br />

da denUncia, verbis:<br />

«Inobstante isso, através de processos<br />

que nao ficaram bem esclarecidos<br />

(e que se por Isso nao dilatam<br />

o ambito da presente acusacan),<br />

Ely Barbosa da Silva, conseguiu<br />

urn Certificado de Quitacao<br />

falsificado, que passou as inãos de<br />

Hector Rodolfo Dorfman, o qual,<br />

utilizando o tal documento, levou a<br />

efeito a operacao imobiliAria antes<br />

anunciada» (fl. 69.<br />

E conclui a den-meta:<br />

«Certo, por outro lado, que o denunciado<br />

Ely Barbosa da Silva<br />

encomendou o documento, mesmo<br />

A custa das fraudes antes descritas,<br />

pots que evidentemente tinha<br />

conhecimento da impossibilidade<br />

de consegui-lo por estar em divida<br />

corn a autarquia previdenciAria.<br />

Quanto ao denunciado Hector, se<br />

maior participacao nao teve (pelo<br />

menos nada de concreto se apurou)<br />

na falsificacao, e flagrante<br />

que se utilizou conscientemente do<br />

documento falso, eis que nä() poderia<br />

ter-lhe passado despercebido o<br />

fato de o documento ter sido emitido<br />

em nome de outra pessoa («Eli<br />

da Silva S6)», que nao o seu construtor»<br />

(f. 70).<br />

4 — 0 exame do referido Certificado<br />

de Quitacao, apresentado em fotocepia<br />

a f. 42, nao autoriza a conclusao<br />

a que chegou o nobre representante<br />

do Ministerio Pithlico Federal<br />

que subscreveu a denUncia, eviden-


temente no que se refere a acusacdo<br />

fella ao ora recorrente Hector.<br />

0 Certificado em questa° este inserido<br />

em formulario prOprio do<br />

constando em caixa alta a<br />

firma ou razdo social do empreendimento<br />

de propriedade do recorrente<br />

— Centro Comerclel PetrOpolls<br />

corn todas as especificacOes que individualizam<br />

referido empreendimento,<br />

bem como sua finalidade e a<br />

designaglio do Tabelionato onde deveria<br />

ser exibido como requisito<br />

lavratura da escritura.<br />

ContInha abide o Certificado as assinaturas<br />

dos funcionarlos competentes<br />

para a expedicao do documento,<br />

bem como o carimbo, regularmente<br />

rubricado, da repartigão expedidora.<br />

Assim, o Onico elemento (Merepante<br />

— e no qual se apega a de/in/Ida<br />

para concluir pela atuacão dolosa<br />

do recorrente — 6 a mudanca de<br />

um dos nomes do construtor: Eli da<br />

Silva SO, ao inves de Ely Barbosa da<br />

Silva, sendo que referido nome consta<br />

em caixa baixa abaixo do nome<br />

do empreendimento, destacado em<br />

caixa alta, como la ficou exposto.<br />

5 — Essa ligeira discrepAncia, entretanto,<br />

näo poderia conduzir o ilustre<br />

subscritor da denOncia, desde<br />

que dissociada como este de todas as<br />

denials proves indiclerias expostas<br />

na pega vestibular acusatOria, a condusk,<br />

de que o recorrente tinha conhecimento<br />

prEvio de que o documento<br />

era falso.<br />

Esses incliclos demonstram o contrail°,<br />

a saber:<br />

0 empreiteiro-co-denunciado<br />

Ely — merecia a confianga do recorrente,<br />

tanto assim que firmaram urn<br />

contrato de vulto para construgâo de<br />

um edifIcio;<br />

Como se reconhece na prOpria<br />

denOncia, ficou sob a responsabilidade<br />

exclusive desse empreiteiro o<br />

Onus pertinente ao recolhimento da<br />

obrigacAo previdencieria;<br />

R.T.J. — 94 107<br />

Em consecniOncia, o recorrente,<br />

por forge de Baca° 'twice incontesteye!,<br />

tinha todo o interesse de que esse<br />

recolhimento fosse feito pontualmente,<br />

pots nos termos da legislacáo<br />

especifica, apesar do que ficara pactuado<br />

entre as partes, respondia ele<br />

solidariamente perante o I.N.P.S.<br />

por qualquer debit() referente a obra<br />

em questeo;<br />

0 Certificado que the foi fornecido<br />

por intermédio do co-reu Ely tinha<br />

todas as caracteristicas de um<br />

documento autentico, tanto assim<br />

que o mesmo fot aceito pelo tabelläo<br />

como valid°, sem qualquer reserva;<br />

e) o aludido Certificado, por forge<br />

do Decreto n? 60.368, de 11.03.67, que<br />

aprovou o Regulamento para expedia)<br />

de documentos a que se referem<br />

os artigos 141 e 142 da Lei OrgAncla<br />

da Previdencia Social (art. 15, paregrafo<br />

link° e art. 17), tenha forcosamente<br />

de ser examinado pelo tabelião,<br />

para afericäo de sua autenticidade,<br />

devendo este, inclusive, reconhecer<br />

as assinaturas dos funcionarios<br />

responsAveis pela sua expedicâo<br />

E no caso de rasuras identificaveis<br />

a olho nu, competia ao mesmo taberecusar<br />

o documento, como expressamente<br />

estatul o IA citado art.<br />

17.<br />

f ) Estabelecidas essas premissas,<br />

todas elas fundadas nos prOprios f atos<br />

descritos na denüncia, 6 evidente<br />

que, nos termos em que a peca acusatOria<br />

foi poste, inexiste qualquer<br />

elemento indicierio, mesmo ténue,<br />

que autorize fundada suspeita de que<br />

o recorrente tenha agido com dolo —<br />

direto ou eventual —, elemento este<br />

imprescindivel a caracterizacão do<br />

crime que the a imputado, conforme<br />

farta jurispruancia , e ensinamentos<br />

dos macs doutos penalistas (Nelson<br />

Hungria, Bento de Feria, Magalhães<br />

Noronha, Frederico Marques e Heleno<br />

Fragoso, entre outros).


108<br />

6 — NAo se trata, no caso, de exame<br />

de prova para afericAo do dolo,<br />

como decidiu o egregio Tribunal a<br />

quo<br />

Aqui, limitei-me a analisar os fatos<br />

narradoS na denüncia, para verificar<br />

se essa peca acusateria, apenas<br />

na parte ref erente ao recorrente,<br />

repita-se, contem os elementos indicierios<br />

necessArios para estabelecerem<br />

fundada suspeita, ou seja, conviccAo<br />

razodvel, pertinente a esse<br />

requisito essencial tipificador do crime<br />

previsto no art. 304 do C6digo Penal<br />

No entanto, alêm de nada encontrar<br />

na dereincia que pudesse alicercar<br />

essa conviccAo fundada na prova<br />

contem ela, explicita e<br />

implicitamente, fatos que conduzem<br />

fatalmente ao raciocinio oposto, ou<br />

seja, de que, nos termos em que o<br />

nobre representante do Ministerio<br />

PGblico expos os fatos, os indicios<br />

sAo todos no sentido de demonstrar,<br />

ate prova em contrerio, a boa-fe<br />

corn que se houve o recorrente quando<br />

exibiu o malsinado documento.<br />

7 — Isto posto, concordo com a<br />

premissa estabelecida no Actin:leo<br />

recorrido no sentido de que a prova<br />

indiciAria que serviu de base a dereincia<br />

nä° a bastante para se concluir<br />

pela inimputabilidade absolute<br />

do recorrente quanto ao crime em<br />

questäo.<br />

Entretanto, inexiste tambem prova<br />

indicieria bastante para o oferecimento<br />

da denfmcia contra o mesmo<br />

recorrente, pelos fundamentos retro<br />

expendidos, dada a carencia absolute,<br />

quando da instauracão da acAo<br />

penal, de elementos de conviccAo<br />

quanto a atuacão dolosa do acusado,<br />

ora recorrente.<br />

8 — E curial que a denfincia oferecida<br />

contra um agente pode ser aditada<br />

a qualquer tempo antes da sentence<br />

final, sem prejuizo do disposto<br />

no art. 40 do C6digo de Processo Penal,<br />

quando o juiz, de oficio, adotare<br />

R.T.J. — 94<br />

as medidas ali determinadas para a<br />

apuracão da responsabilidade penal<br />

de terceiros.<br />

Astim, caso viesse a ser obtida<br />

prove incriminateria contra o recorrente<br />

no correr da instrucAo criminal,<br />

seria licit° ao Ministerio Pablico<br />

imputar-lhe o fato delituoso, sem<br />

qualquer prejuizo para a boa administracAo<br />

da Justice.<br />

que nAo se pode conceber que,<br />

por mera suposielto, destitulda de<br />

elementos feticos convincentes, seja<br />

recorrente, desde logo, submetido<br />

aos percalcos de uma acão criminal<br />

que, obviamente, the trara transtornos<br />

ate mesmo no exercicio de sua<br />

atividade comercial.<br />

9 — Isto posto, dou provimento<br />

parcial ao recurso, nAo para trancar<br />

definitivamente a acAo penal contra<br />

recorrente, le que podem surglr<br />

elementos de prova que venham a<br />

incrimine-lo no futuro, mas tat:, somente<br />

para decretar a inepcia da denimcia<br />

em ratio ao mesmo recorrente,<br />

fundada que este, neste particular,<br />

em mera suposicäo destituida<br />

de qualquer indicio probaterlo que<br />

posse sustente-la.<br />

VOTO<br />

Sr. Ministro Soares Munoz: Sr.<br />

Presidente, o impetrante aduz uma<br />

serie de argumentos, sendo que dots<br />

deles foram bem respondidos pelo<br />

Dr. Subprocurador-Geral da Repflblica,<br />

no parecer escrito que produziu<br />

nos autos, lido pelo eminente Relator<br />

em sessào. Mas, sobraram outros<br />

argumentos, principalmente<br />

dots deles que sera° objeto do meu<br />

voto. primeiro desses argumentos e o<br />

de que a dentincia não diz que o paciente<br />

tivesse ciencia da falsidade do<br />

documento utilizado. A denfincia<br />

limita-se a inferir que essa ciencia o<br />

paciente deveria ter, porque consta<br />

da certidAo, em Lugar do nome do


empreiteiro, Ely Barbosa da Silva, o<br />

nome de Eli da Silva SO. Ora, esse<br />

detalhe, o fink° em que se baseia a<br />

denuncia para inferir a clencla que<br />

teria o paclente da falsidade do documento,<br />

parece-me irrelevante. Em<br />

primeiro lugar, em face da semelhanca<br />

dos nomes, ambos Ely, um<br />

da Silva S6 e outro Barbosa da Silva.<br />

Em segundo lugar, porque, numa<br />

certiclAo dessa• natureza, o que importa<br />

e o nome da obra e a denomlnacilo<br />

da mesma este explIcita na<br />

certideo sem margem a nenhuma<br />

confusão: Centro Comercial Petropolis.<br />

As contribuicees previdencierias<br />

vinculam a obra, tanto que, se o empreiteiro<br />

se oblige a pagar e /leo<br />

honra o compromisso, responsevel e<br />

o dono da construcAo. Portanto, o<br />

importante na certiclAo 6 que liberasse<br />

a obra, vale (Hier, o Centro Comtercial<br />

Petropolis, e ela liberou. Liberou<br />

em termos relativos, ressalvend°<br />

divides que vlessem a ser apuradas.<br />

De mantra que, para mim, a<br />

denuncia ndo satisfaz os requisitos<br />

do art. 41 do C6digo de Processo Penal,<br />

por ndo conter o fate com todas<br />

as sues circunstAncias, pots as que<br />

enumera não geram a conviccAo de<br />

que, na imputacão, se encontre earinativa<br />

concernente a que o denunclad°<br />

tivesse ciencia da falsidade do<br />

documento utilized°. Nesse ponto,<br />

concordo corn o voto do eminente<br />

Relator.<br />

HA, ainda, outro argumento que<br />

me impressionou: 6 o de que a denOncla<br />

ndo assevera que existisse<br />

divide constituida em relacAo ao<br />

INFS. E a <strong>jurisprudencia</strong> 6 no sentido<br />

de que essa autarquia se pode negar<br />

a certidAo quando he divide<br />

constituida. No memorial este transcrito<br />

o acerdeo da Egregia Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal Federal,<br />

related° pelo eminente Ministro<br />

Xavier de Albuquerque, corn a segulnte<br />

ementa:<br />

«Previdencia social. Certlficado<br />

de qultacAo. DeelsAo que linpOe ao<br />

R.T.J. — 94 109<br />

INPS. o seu fornecimento ao contribuinte,<br />

por pender de solucão 0<br />

processo de verificaceo do debit()<br />

alegado, nAo nega vigencia aos<br />

arts. 142 da L. 3.807/60 e 186 g 1?,<br />

do D. 60.501/67. Dissidio pretoriano<br />

nAo demonstrado. Recurso extraordinArio<br />

nAo conhecido.”<br />

De sorte que a existencia do pretendido<br />

debit°, que se acha em discusseo,<br />

na via administrative, não<br />

impedla que a autarquia concedesse<br />

a certidilo, nos termos em que a forneceu.<br />

Por esses motivos, meu vote e em<br />

sintonia corn o do eminente Relator,<br />

para conceder a ordem a Bin de<br />

trancar o processo por in6pcia da denfincia.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RHC 56.120 — FtS — Rel.: Min. Cunha<br />

Peixoto. Recte. Hector Rodolfo<br />

Dorfman. Impte.: Caetano Pedone.<br />

Recdo.: Tribunal Federal de Recursos.<br />

DecisAo: Dado provimento, nos<br />

termos do voto do Ministro Relator,<br />

unfinime. — Falou pelo Recte. o Dr.<br />

Caetano Pedone, e, pelo Ministerlo<br />

Pfiblico Federal, o Dr. Francisco de<br />

Assis Toledo, 4? Subprocurador-<br />

Geral da RepUblica.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes A SessAo os<br />

Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Alckmin, Cunha Peixoto<br />

e Soares Munoz. — 4?<br />

Subprocurador-Geral da Repfiblica,<br />

o Dr. Francisco de Midis Toledo.<br />

Brasilia; 30 de mato de 1978. —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Seereterlo.


110<br />

R.T.J. — 94<br />

HABEAS CORPUS N? 57.026 — SP<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Djaci FaIca° .<br />

Impetrante e Paciente: Arlindo GerOnimo da Silva Fiala.<br />

Reu preso em flagrante, condenado corn os beneficios da suspensilo<br />

condicional da pena. Audiencia acimoniteria nao realizada, por<br />

ter sido o acusado acometido de doenca e submetido a exame de sanidade<br />

mental, ap6s a sentenca. Lando unanime de peritos oficiais que<br />

diagnosticaram a sintomatologia do paciente como resultado de «reactio<br />

carceraria». Habeas corpus deferido, a fim de que se realize a<br />

audiencia admonitOria, sem prejulzo do julgamento da apelactio da<br />

defesa.<br />

ACORDAO<br />

Vistas, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam as Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigralicas,<br />

por unanimidade, de votos, conceder<br />

a ordem, nos termos do voto<br />

do Relator.<br />

Brasilia, 26 de junho de 1979. —<br />

Djaci Falctio, Presidente e Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Djaci 0 parecer<br />

da Procuradoria-Geral da Republica<br />

esclarece a mataria objeto<br />

do pedido, nos seguintes termos:<br />

«1. Arlindo Gertnimo da Silva<br />

Filho insurge-se, em causa<br />

pria, contra o processo crime a<br />

que foi submetido e contra sua pHsat),<br />

decorrente de flagrante, a seu<br />

ver, forjado.<br />

2. As informaciies do ilustre Presidente<br />

do Tribunal de Alcada Criminal<br />

de Sao Paulo assim esclarecem<br />

os fatos:<br />

0 paciente, preso em flagrante<br />

(fls. 5-9, doc. n? 1), acabou denunciado,<br />

perante o MM. Juiz da<br />

58 Vara Criminal de Sao Paulo,<br />

coma incurs° no art. 155, §§ 1? e<br />

4?, ns. III e IV, do C6digo Penal,<br />

por delft° de furto perpetrado no<br />

dia 4 de Janeiro de 1978 (fls. 2-3,<br />

doc. ri? 2).<br />

Requisitada a apresentacäo do<br />

reu em juizo, foi ele interrogado<br />

em 9 de fevereiro de 1978 (fls. 31v,<br />

doc. n? 3).<br />

Processado regularmente, foi o<br />

paciente considerado como incurso<br />

no art. 155, 4? ns. III e IV, do<br />

COdigo Penal, combinado corn o<br />

art. 12, n? II, do mesmo estatuto<br />

e condenado a 1 ano e 4 meses de<br />

reclusao e multa de Cr$ 1.333,34,<br />

sendo-lhe concedido o beneficio<br />

da suspensão conditional da pena<br />

por dois anos (fls. 54-5, doc. n?<br />

4). Marcada a audiancia admonitOria,<br />

esta nao se realizou «em<br />

virtude do it encontrar-se doente,<br />

segundo informacOes da carceragem”,<br />

tendo o MM. Juiz de<br />

1a instancia solicitado atestado<br />

medico (fls. 65-67 e 71, doc. n? 5)<br />

e autorizado sua remota° para o<br />

ManicOmio Judiciario (fl. 73, doe.<br />

n? 6), por apresentar o paclente<br />

quadro clinico de esquizofrenia.<br />

Ao apelo manifestado pelo paciente<br />

a E. Sexta Camara deste<br />

Tribunal, atendendo solicitacdo<br />

da Procuradoria, converteu o Julgamento<br />

em diligancia para a


instrucao, em primeira instancia,<br />

do incidente de sanidade mental<br />

do acusado (fls. 90-91, doc. n? 7).<br />

Impetrou, ainda, q Habeas<br />

Corpus n? 89.820, do qual nao conheceu<br />

a E. Sexta Camara desta<br />

Corte, por entender que passara<br />

a figurer como ergao judicierio<br />

coator, determinando a remessa<br />

dos autos a Suprema Corte (doe.<br />

n? 8).<br />

DItimado o exame de sanidade<br />

mental em marco Ultimo (fls. 42-<br />

46 do apenso, doc. n? 9), em abril<br />

retornaram os autos a este Tribunal,<br />

para julgamento da apelacao.<br />

Ouvida a douta Procuradoria<br />

da Justice, o ilustre Julz Dr.<br />

Camargo Aranha lancou seu related°<br />

dos autos, interrompendo-se<br />

a tramltacao do recurso para que<br />

as presentes 1ntormacOes pudessem<br />

ser prestadas.<br />

(Fls. 32-33).<br />

3. Acrescente-se que o laudo pedelal<br />

referido nas informacees<br />

Juntado por cepla a fls. 59/63, concluiu<br />

pela responsabilidade reduzida<br />

do paciente, em decorrencia de<br />

perturbacao da sailde mental (personalidade<br />

psicopetica).<br />

E desse laudo destacamos o seguinte<br />

diagnestico sobre os males<br />

de que foi acometido o paciente,<br />

durante a sua prisao:<br />

Ora, o que se verificou foi uma<br />

patoplastia de cunho delirante —<br />

abwinatOrto com colorido esqulzofreniforme,<br />

cujas caracteristicas<br />

silo as da reacao carceritria.<br />

Outrossim, faz-se necesserio<br />

um breve diagnestico diferencial<br />

entre a esquizofrenia doenca e a<br />

nossa reacao carcereria de colorido<br />

esquizofreniforme. Naquele,<br />

que evolui por surtos, e que<br />

quando esses surtos remitem delxam<br />

defeitos dizem os tratados<br />

R.T.J. — 94<br />

111<br />

de psiqulatria, que por ma's miseravel<br />

e desgracado que sejam<br />

os dellrlos e as alucinacees, o esquizofrenico<br />

Ihes confere validade<br />

indiscutivel e refraterla a<br />

qualquer tipo de sugestào, todos<br />

se acham sadios e querem alta.<br />

Por outro lado, a reacao carcerade<br />

ocorre sobre uma personalidade<br />

pre-dlsposta (no caso nosso<br />

6 a personalidade psicopetica)<br />

e e engendrada pelo mein ambiente,<br />

pelas circunstancias. Tanto<br />

e que o cotidiano contacto com<br />

os allenados mentals, nos enslnaram<br />

que nesses casos de reacao<br />

carcereria, basta afastar o paciente<br />

do presidio que a engendrou,<br />

para que remita totalmente<br />

a sintomatologia.<br />

(Fls. 62-63).<br />

4. Ora multo bem. Se a sentence<br />

condenateria concedeu ao paciente<br />

o surds. Se, por outro lado, a audiencia<br />

admoniteria s6 nao se realizou<br />

devido a doenca de que foi<br />

acometido na prisao. Se essa doenca,<br />

conforme atestam os peritos<br />

do Juiz, a provocada pelo<br />

«meio ambiente», no caso pela<br />

greacao carcereria», cessando corn<br />

a remocao da cause, 1st° e, o conflnamento<br />

na prisão, parece-nos tubvio<br />

inexistir razao para que nao se<br />

cumpra a sentence, na parte em<br />

que concedeu a suspensflo condiclonal<br />

da pena, transformando-se,<br />

contraditoriamente, o recurso de<br />

apelacão da defesa em ensejo para<br />

que se manter preso quern je poderia<br />

ester em liberdade.<br />

Somos, pots, pela concessao da<br />

ordem para que se realize, !mediatemente,<br />

a audiencia admoniteria,<br />

sem prejuizo do Julgamento do recurs°<br />

da defesa, que obviamente<br />

nab podera acarretar reformatlo In<br />

pelus.<br />

E o parecer.


112<br />

Brasilia, 22 de junho de 1979 —<br />

Francisco de Assts Toledo, 2?<br />

Subprocurador-Geral da RepUblica.»<br />

(fls. 65 a 69)<br />

VOTO<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Sr. Ministro Djaci Falac, (Relator):<br />

No caso, desde que a sentenca<br />

condenatOria concedeu o sursis, deixando<br />

de se efetuar a audiëncia admonitOria<br />

em virtude de doenca,<br />

que, segundo pericia medica, foi provocada<br />

pelo «meio ambiente », inexiste<br />

fazao para que rhio seja cumprida<br />

a decisao, na parte relativa<br />

suspensão condicional da pena.<br />

Acolho o parecer para deferir a ordem,<br />

a fim de que se realize a audiëncia<br />

admonitOria, sem prejuizo do<br />

julgamento da apelacão interposta<br />

pela defesa.<br />

HABEAS CORPUS N? 57.046 — SP<br />

(Segunda Turma)<br />

EXTRATO DA ATA<br />

HC 57.026 — SP — Rel.: Min. Djaci<br />

FaIca,. Impte. e Pte.: Arlindo Ger6nimo<br />

da Silva Filho. Autoridade Coatora:<br />

Tribunal de Alcada Criminal do<br />

Estado.<br />

Decisão: Concedida a ordem nos<br />

termos do voto do Relator. Unânime.<br />

Ausente, ocasionalmente, o Ministro<br />

Leitäo de Abreu.<br />

Presidëncia do Sr. Ministro Djaci<br />

Fated° — Presentes a Sessão os Srs.<br />

Ministros Leitäo de Abreu, Cordeiro<br />

Guerra e Decio Miranda. — Ausente,<br />

justificadamente, o Sr. Ministro Moreira<br />

Alves. 5? Subprocurador-Geral<br />

da Reptblica, o Dr. Mauro Leite<br />

Soares.<br />

Brasilia, 26 de junho de 1979. —<br />

Hello Francisco Marques, Secreterio.<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Moreira Alves.<br />

Paciente: ClAudio Herãclito Valentim Coca.<br />

Habeas corpus. Nulidade quanto a formulacao de quesitos ao JO-<br />

ri.<br />

E correta, e preconizada pela doutrina, a formulacao, corn o<br />

emprego da forma negative, do quesito relativo a inexistencla da plena<br />

capacidade do reu de entender o caritter criminoso do fato (paregrafo<br />

finial do artigo 22 do COdiggPenal).<br />

Nao acarreta nulidade a omissáo de quesito sobre a segunda<br />

htpbtese a que alude o referido parttgrafo We* do artigo 22 do 05c11go<br />

Penal, quando a defesa se limita a sustentar a conclusäo do laudo,<br />

este acoihe a semi-imputabilid ade corn base na primeiracausa de<br />

reducao de pena a que elude o citado dispositivo, considerand o prejudicada<br />

— como evidentemente o e — a segunda, que pressupee o<br />

afastamento da primeira. Falta, alias, de oportuno protesto da defesa,<br />

ensejando, tambem, a aplicaggto, no caso, do artigo 565 do COdigo<br />

de Processo Penal.<br />

Habeas corpus indeferido.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taqulgraficas,<br />

por unanimidade de votos, indeferir<br />

o pedido.


Brasilia, 5 de junho de 1979. —<br />

Djaci Falcao, Presidente — Moreira<br />

Alves, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves —<br />

Sao estas as informacOes prestadas<br />

pelo Exm? Sr. 2? Vice-Presidente do<br />

Tribunal de Justice. do Estado de<br />

Sao Paulo (fls. 31-33):<br />

«Em resposta ao oficio 120/R, de<br />

7 do corrente, uma vez requisitados<br />

os autos do processo crime e<br />

da revisal:, criminal, tenho a honra<br />

de prestar a Vossa Excelancia informacOes<br />

relativas ao habeas<br />

corpus n? 57.046 — 1 impetrado em<br />

favor de Claudio Heraclito Valentim<br />

Coca.<br />

0 paciente foi submetido a Juni e<br />

condenado a 14 anos de reclusao<br />

como incurs° no art. 121, § 2? II e<br />

IV, do C6digo Penal, em decisào<br />

mantida, por malaria de votos, em<br />

grau de apelacao e em embargos.<br />

Requereu posteriormente revisal)<br />

criminal na qual, além de impugnar<br />

o merito, argiliu a nulidade do<br />

julgamento por defeituosa redacao<br />

do quesito relativo A semiimputabilidade<br />

e, ainda, porque, a<br />

despelto de serem duas as causas<br />

de reduCao de pena p<strong>revista</strong>s no<br />

art. 22, § (Kam do COdigo Penal,<br />

somente sobre uma delas foi o Jfiri<br />

questionado.<br />

Nao obteve exit° (doe. I) e, inconformado,<br />

manifestou recurso<br />

extraordinário, cujo processamento<br />

foi denegado (doe. II).<br />

Agora, em habeas corpus originario,<br />

insiste nas mesmas alegacOes<br />

visando a nulidade do julgamento.<br />

NA° assiste, data yenta, razao ao<br />

ilustre impetrante. 0 v. aresto da<br />

E. Seca() Criminal e o respeitavel<br />

despacho denegaterio do recurso<br />

extremo bem examinaram a especie.<br />

R.T.J. — 94 113<br />

Sobre nao ter havido oportuna<br />

reclamacäo da defesa, o quesito<br />

referente a semi-responsabilidade<br />

foi formulado nos termos previstos<br />

no art. 22, § Calico, do COdigo Penal.<br />

Negando-o, os Jurados reconheceram<br />

a plena capacidade do<br />

reu e nada ha, no quesito, que pudesse<br />

autorizar a conclusao de que<br />

o Conselho de Sentenca quis afirmar<br />

a semi-imputabilidade do<br />

agente.<br />

De outro lado, nao culdou o questionario,<br />

corn o beneplacito da defesa,<br />

de segunda causa de reducão<br />

da responsabilidade a que se refere<br />

a impetracao porque nao oferecida<br />

em plenario e nem amparada<br />

pelo laudo pericial e seus esclarecimentos<br />

posteriores (does. III e<br />

IV ).»<br />

As fls. 34/39, encontra-se o acOrdao<br />

que, por unanimidade, indeferiu 0<br />

pedido de revisáo, e no qual foram<br />

examinadas as mesmas alegacOes<br />

de nulidade feitas no presente<br />

habeas corpus, alegacOes essas que<br />

nao se fizeram quando da apelacao<br />

contra a decisào condenateria, nem<br />

quando dos embargos infringentes<br />

posteriormente interpostos. No ac6rciao<br />

que julgou a revisal), le-se:<br />

gAcordam, em sessao das Caimans<br />

Conjuntas Criminals do Tribunal<br />

de Justica de Sao Paulo, por<br />

votacao imanime, indeferir o pedido<br />

revisional.<br />

Custas na forma da lei.<br />

Claudio Heraclito Valentim Coca<br />

foi condenado pelo Tribunal do JOri,<br />

por urn homicidio duplamente<br />

qualificado, a 14 anos de reclusao.<br />

Em v. acCordao assinado pelos eminentes<br />

Desembargadores Xavier<br />

Homrich (Relator) e Mendes Franf.4,<br />

a Egregia Terceira Camara,<br />

contra o voto do llustre Desembargador<br />

Cavalcanti Silva, negou provimento<br />

ao seu apelo, sendo rejeitados<br />

os embargos infringentes por<br />

ele interpostos, em v. aresto tam-


114<br />

bam assinado pelos inclitos Desembargadores<br />

Weiss de Andrade (Relator)<br />

e Dj alma Lofrano (Revisor).<br />

Agora, atravas da presente<br />

revisao-criminal, o peticionärio,<br />

preliminarmente, alega duas nulidades:<br />

1?) defeituosa formulaca<br />

do quesito relativo a semiimputabilidade,<br />

o que fez corn que<br />

mesmo tendo juri negado que o rau<br />

fosse penalmente responsavel, o<br />

juiz concluisse pela responsabilidade<br />

plena; 2?) a despeito de serem<br />

duas as causas de reducdo da pena,<br />

p<strong>revista</strong>s no paragrafo anico<br />

do art. 22 do estatuto penal, os jurados<br />

somente foram questinnados<br />

sobre uma delas. No marito sustenta<br />

que a decisAo afrontou a evidancia<br />

dos autos, vez que foi contrariado<br />

o laudo pericial que o classtficou<br />

como semi-imputavel.<br />

Apensados os autos originals, a<br />

douta Procuradoria-Geral da Justica<br />

opinou pelo indeferimento.<br />

E o relatOrio.<br />

Indeferem o pedido.<br />

0 quesito relativo a semiresponsabilidade<br />

esta assim redigido:<br />

«o rau, em virtude de pertubacAo<br />

de saade mental nao possaia,<br />

ao tempo do crime, a plena capacidade<br />

de entender o carater criminoso<br />

do fato que praticou?»<br />

R.T.J. — 94<br />

Nada existe na redaca deste<br />

quesito que autoriza a conclusa de<br />

nulidade.<br />

Por outro lado, ao darem resposta<br />

negativa, os jurados afirmaram<br />

a plena responsabilidade do reu,<br />

tal como entendeu o digno magistrado.<br />

E certo que duas sào as causas<br />

de reducAo de pena p<strong>revista</strong>s no<br />

art. 22, paragrafo Waco do C6digo<br />

Penal, tendo o juiz proposto quesito<br />

somente sobre uma delas.<br />

Mas acontece que a redacAo do<br />

quesito esta de acordo com a defesa<br />

apresentada em plenario e com<br />

o laudo pericial.<br />

Com efeito, o laudo afirma que<br />

«em raza de perturbacdo de<br />

saade mental, o paciente<br />

possuia, ao tempo do crime, a<br />

plena capacidade de entender o<br />

carater criminoso do fato que<br />

praticou» (f. 47 do apenso).<br />

Nada fala essa peca sobre capacidade<br />

de «determinar-se de acordo<br />

corn esse entendimento ». Ora,<br />

em plenario, a defesa requereu que<br />

o laudo fosse aceito pelos jurados<br />

(f. 3051. Logo toda a discussa se<br />

cingiu a apenas uma das duas causas<br />

E sobre ela o magistrado,<br />

acertadamente, elaborou a quesito,<br />

sendo suparfluo e desnecessario indagar<br />

a respeito da outra, que nao<br />

estava em discussão e nem havia<br />

sido pleiteada.<br />

De qualquer forma, no que tange<br />

a essas duas alegactles de nulidade,<br />

o que interessa 8 que nada reclamou<br />

a defesa no momento processual<br />

adequado, ou seja, depots<br />

de lidos os quesitos, conforme se<br />

verifica da ata, tendo havido, destarte,<br />

preclusào sobre a materia,<br />

conforme, alias, jurisprudancia<br />

deste Egragio Tribunal a respeito<br />

(cf. v. acOrdAo relatado pelo erninente<br />

Desembargador Hoeppner<br />

Dutra, in Revista de Jurisprudencia<br />

do Tribunal de Justly'. de Silo Paulo,<br />

vol. 25, oag. 528.<br />

Realmente, nao impugnado 0<br />

mencionado quesito oportunamente,<br />

no momento prOprio, a defesa<br />

teria concorrido corn o seu silancio,<br />

com a sua °missal, para a soi<br />

(Markt nulidade, e, nos termos do<br />

art. 565 do estatuto adjetivo.<br />

«nenhuma das partes podera<br />

argUir nulidade a que haja dado


causa, ou para que tenha concorrido<br />

...”<br />

No mals, a revise° tambem<br />

improcede. «Nao recta a menor<br />

dUvida de que dentro de sua soberania<br />

nao este o JOri obrigado<br />

a acatar a prova tecnica. Mas se<br />

o faz sem apoio em qualquer outro<br />

elemento probated° de conviccão<br />

existente nos autos, Julga<br />

contra a evidencia da prova. Estabelecida<br />

este premissa cabe indagar<br />

se na hipotese em exame<br />

os Jurados decidiram contra a<br />

evidencia da prova ao repudiarem<br />

conclusao de exame psiquietee°,<br />

que e, e evidência, prova<br />

tecnica. Para tanto cabe examiner,<br />

de inlet°, o laudo Pericial e<br />

os esclarecimentos prestados pelos<br />

peritos. Assinalaram estes, no<br />

item «exame mental», que o acusado<br />

era calmo, com postura<br />

adequada, gestos e mimicas moderados,<br />

corn respelto e solicitude.<br />

Mostrou-se corn ritmo associativo<br />

do pensamento normal,<br />

memeria e nexos afetivos conservados<br />

e nao evidenclou distOrblos<br />

de senso-percepcao e nem manifesta<br />

delirios. E orlentado e apresenta<br />

pragmatismo conservado<br />

(f. 26 dos autos em apenso). Concluiram<br />

todavia os peritos pelo<br />

diagnOstico de «crises convulsivas,<br />

tipo «grande mal», e em decorrencia<br />

apresentam o Feu como<br />

inimputevel. Contudo, o representante<br />

do Ministerio<br />

co pediu que esclarecessem o<br />

laudo porque nas respostas dadas<br />

aos dots primeiros quesitos formulados<br />

pela acusacao, afirmaram<br />

que o acusado ao tempo da<br />

ace° nao sofria qualquer doenca<br />

mental. Nos esclarecimentos, os<br />

perltos deixaram assentado que<br />

a epilepsia embora seta «enfermidade<br />

neurolOgica, provoca series<br />

e graves perturbacOes da<br />

saOcle mental, atraves de suas<br />

variadas mEurifestacOes, apesar<br />

R.T.J. — 94 115<br />

de tats manifestacOes serem de<br />

careter temporerio. De um modo<br />

geral, essas manifestadies suprimem<br />

por inteiro a capacidade do<br />

paciente de entender os atos que<br />

pratica, quer sejam criminosos<br />

ou nilo» (f. 46, autos em apenso).<br />

Acrescentaram que «Nem todos<br />

os individuos portadores de epilepsia<br />

cometem crimes e quando<br />

os cometem, nem sempfe o f azem<br />

com sua capacidade de entendimento<br />

inteiramente abolida»<br />

(f. 46). E em seguida, respondendo<br />

aos quesitos formulados<br />

afirmaram que o paciente<br />

era urn semi-responsevel (f. 47)<br />

— Evidente que o primeiro laudo,<br />

onde se afirmou a incapacldade<br />

total do reu, neo este fundamentado<br />

e sua concluseo se choca<br />

frontalmente corn o diagnestico<br />

e os posteriores esclarecimentos<br />

dos peritos. Por outro !ado,<br />

observe Jose Alves Garcia, como<br />

os doentes de epllepsia sao examinados<br />

nos intervalos de suas<br />

crises, 6 de todo conveniente buscar<br />

o diagnostico «caracterolOgico<br />

do enfermo, antes, ou simultaneamente,<br />

do diagnestico sindrOmico<br />

da epilepsia» (Pslcopalologla<br />

Forense, pegs.<br />

224/225). Cabe portanto ao perito<br />

atentar nos tracos temperamentais<br />

do doente para que conclua<br />

pela epilepsia e pela decorrente<br />

inimputabilidade. No caso em tele,<br />

os experts descreveram urn<br />

individuo com caracteres normals,<br />

nao havendo qualquer referencia<br />

ao traco temperamental<br />

de urn epileptic°. E tanto<br />

bastasse, o epileptico somente este<br />

isento de pena quando o crime<br />

cometido como uma manifestacao<br />

epileptica. Esta circunstancia<br />

fol admitida pelos peritos ao<br />

assinalarem que as manifestacOes<br />

epilepticas que suprimem<br />

por inteiro a capacidade do paciente,<br />

sao de careter tempore-


116<br />

R.T.J. — 94<br />

rio. Conseqiientemente se impunha<br />

que o laudo concluisse haver<br />

o acusado cometido o delito quando<br />

se encontrava corn sua capacidade<br />

de entendimento abolida,<br />

quer por estar em crise epilepti-<br />

Ca, quer por haver o delito se seguido<br />

imediatamente a uma crise,<br />

quer por se encontrar em estado<br />

crepuscular do campo da<br />

consciencia. 0 laudo e o esclarecimento<br />

nao contem a mais leve<br />

mencao a estas circunstancias.<br />

Dat por que inaceitavel a conclusac,<br />

pericial, quer da total quer<br />

da parcial irresponsabilidade do<br />

reu. Paralelamente, os informes<br />

prestados pelas testemunhas sdo<br />

no sentido de que este nunca<br />

apresentou sinal de perturbacao<br />

mental durante nave anos que<br />

morou na casa de Natalia da Palxao<br />

(f. 66), nunca demonstrou<br />

ser nervoso ou pancada (f. 68),<br />

submeteu-se a exame de pesquisa<br />

social e medico para ingressar<br />

na extinta guarda-civil, nada se<br />

apurando quanto a sua personalidade<br />

ou uma possivel enfermidade<br />

mental (f. 135 v.), nao se envolvia<br />

em brigas ou discussOes e<br />

nem cometia arbitrariedade, sendo<br />

pessoa caima (f 136), era disciplinado<br />

e born policial (f. 136<br />

v.) e apenas apresentou queixas<br />

difusas de nervosismo, mas nunca<br />

solicitou seu internamento ( f.<br />

145). 0 acusado, portanto, durante<br />

longos anos, nao manifestou<br />

temperamento e nem tracos que<br />

indicassem carater epilepticos.<br />

Tambem nao ha qualquer noticia<br />

de paroxismos e convulsOes reveladoras<br />

da epilepsia ern sua forma<br />

conhecida como «grande<br />

mal». Diante deste quadro probatOrio,<br />

levando-se ainda em conta<br />

a manifestada incongruencia, incoerencia<br />

e ausencia de fundamentacao<br />

do laudo pericial, o JU-<br />

N, repelindo a pretendida semiimputabilidade,<br />

nao decidiu manifestamente<br />

contra a prova dos<br />

autos» (v. acOrdao de fls. 372-<br />

375), ou contra a evidencia desses<br />

mesmos autos.<br />

Nada a deferir, por conseguinte,<br />

salientando-se que nenhuma excludente<br />

ampara o peticionario, tendo<br />

ficado bem caracterizadas as qualificadoras,<br />

eis que ele, por motivo<br />

ratn, ou seja, por Tian concordar<br />

que a vitima namorasse na frente<br />

de sua casa, matou-a a tiros, em<br />

circunstancias que impossibilitaram<br />

a defesa do ofendido, vale direr<br />

corn surpresa.»<br />

As fls. 67/73, assim se manifesta a<br />

Procuradoria-Geral da RepUblica,<br />

em parecer do Dr. Francisco de Assis<br />

Toledo, 2? Subprocurador-Geral:<br />

«Alega-se, em sintese, na inicial,<br />

o seguinte:<br />

nulidade do julgamento pelo<br />

Juni, por defeito na formulacao<br />

do 5? quesito, relativo a semiimputabilidade<br />

do reu;<br />

ainda nulidade do mesmo<br />

julgamento, por omissäo de quesito<br />

relativo a segunda hip:nese<br />

de reducao da imputabilidade, ou<br />

seja, ausencia de indagacao sobre<br />

se possuia, ou nao, o reu a<br />

plena capacidade de autodeterminar-se<br />

(parte final do<br />

§ .unicO do art. 22 do CP).<br />

0 ilustre 2? Vice-Presidente do<br />

Tribunal de Justiea de Sao Paulo<br />

prestou informacOes esclarecendo<br />

os fatos que interessam ao julgamento<br />

do pedido:<br />

0 paciente foi submetido a Jun<br />

e condenado a 14 anos de reclusao<br />

como incurso no art. 121, § 2?, II e<br />

IV, do COdigo Penal, em decisào<br />

mantida, por maioria de votos, em<br />

grau de apelacao e em embargos.<br />

Requereu posteriormente revisao<br />

criminal na qual, alem de impugnar<br />

o merito, arguiu a nulidade do<br />

julgamento por defeituosa redacao


do quesito relativo A semiimputabilidade<br />

e, ainda, porque, a<br />

despeito de serem duas as causas<br />

de reducAo de pena p<strong>revista</strong> no<br />

art. 22, § (inlet), do COdigo Penal,<br />

somente sobre uma delas foi o<br />

questionado.<br />

NA° obteve &ill° (doe. I) e, inconformado,<br />

manlfestou recurso<br />

extraordinario, cujo processamento<br />

foi denegado (doc. II).<br />

Agora, em habeas corpus °Mgtnario,<br />

insiste nas mesmas alegagOes<br />

visando a nulidade do julgamento.<br />

NAo assiste, data venia, razao ao<br />

'lustre impetrante. 0 v. aresto da<br />

E. Seca° Criminal e o respeitavel<br />

despacho denegatOrio do recurso<br />

extremo bem examinaram a est:tide.<br />

Sobre näo ter havido oportuna<br />

reclamaeao da defesa, o quesito<br />

referente A semi-responsabilidade<br />

foi formulado nos termos previstos<br />

no art. 22, § ante°, do COdigo Penal.<br />

Negando-o, os Jurados reconheceram<br />

a plena capacidade do<br />

rEu e nada ha, no quesito, que pudesse<br />

autorizar a conclusào de que<br />

o Conselho de Sentenca quis afirmar<br />

a semi-imputabilidade do<br />

agente.<br />

De outro lado, nAo cuidou o questionArio,<br />

com o beneplAcito da defesa,<br />

de segunda cause de reducAo<br />

da responsabllidade a que se refere<br />

a impetraeão porque nAo oferecida<br />

em plenario e nem amparada<br />

pelo laudo pericial e seus esciarecimentos<br />

posteriores (does. III e<br />

IV).»<br />

(Fls. 31-33).<br />

A formulacAo de quesito em forma<br />

negativa, 6 preconizada por<br />

Nelson Hungria, em seus<br />

ComentArlos, vol. I, tomo 2?, 3?<br />

ed., Nag. 386, para a pericia<br />

medico-legal, In verb's:<br />

R.T.J. — 94 117<br />

2? 0 acusado, ao tempo da<br />

KA° (ou da omissao), nAo<br />

possula, por motivo de perturbaflo<br />

da saude mental ou desenvolvimento<br />

mental incompleto ou<br />

retardado, a plena capacidade de<br />

entender o carater criminoso do<br />

fato ou de determinar-se de acordo<br />

com esse entendimento?»<br />

(Grifamos).<br />

Frederico Marques acolhe a<br />

mesma tecnica, nos formularios<br />

que fez publicar corn sua conhecida<br />

obra, In verb's:<br />

ol? Quesito: 0 Awl reconhece<br />

que o reu..., em virtude de perturbaflo<br />

de saude mental (ou<br />

por desenvolvimento mental incompleto<br />

ou retardado, se for o<br />

caso), nAo possul ao tempo do<br />

crime a plena capacidade de<br />

determinar-se de acordo com o<br />

entendimento do carAter crimlnoso<br />

do fato?<br />

2? Quesito: 0 Jar' reconhece<br />

que o rat', em virtude de perturbacAo<br />

de saude mental (ou por<br />

desenvolvimento incompleto ou<br />

retardado, se for o caso), nAo<br />

possuia ao tempo do crime a plena<br />

capacidade de entender o Carater<br />

criminoso do fato?<br />

ObservacOes: — A afirmativa<br />

de qualquer destes quesitos importa<br />

no reconhecimento da existancia<br />

das circunstAnclas da atenuaeão<br />

de responsabilidade, p<strong>revista</strong><br />

no Calico do art. 22 do Cactigo<br />

Penal.» (Grifamos).<br />

(0 Jfiri no Mtn° Brasileiro,<br />

2? Ed., Saraiva, 1955, ;Mg. 362).<br />

Nota-se, contudo, que, no caso<br />

em exame, o Juiz utilizou-se das<br />

mesmas expressOes mas suprimiu<br />

a indagacAo da parte final do quesito<br />

proposto por Nelson Hungria,<br />

ou de todo o 2? quesito desdobrado,<br />

do formulario publicado por Frederico<br />

Marques, isto 6, precisamente<br />

aquele que deveria perguntar ao


118<br />

R.T.J. — 94<br />

JUri sobre a reducao da capacidade<br />

de autodeterminacao . Essa supressao,<br />

parece-nos fundamental<br />

por ter deixado incompleto o julgamento.<br />

Com efeito, preve o § Calico do<br />

art. 22 duas causas de reducao da<br />

capacidade penal: nao possuir o<br />

agente a plena capacidade de<br />

compreensao do injusto (1? parte<br />

do preceito) ou nao possuir o agente<br />

a plena capacidade de autodeterminacao<br />

(2? parte). A exclusao<br />

da primeira nao implica obviamente<br />

na da segunda, pots uma coisa<br />

saber-se o que se faz, outra e poder<br />

ter o dominio sobre aquilo que se<br />

faz. Ora, a defesa alegou e pediu<br />

conforme consta da ata (f. 12),<br />

fosse reconhecida a semiimputabilidade<br />

do reu. Nada esclarece<br />

a ata sobre o conteildo dessa<br />

alegacao. 0 laudo pericial concluiu<br />

afirmativamente a respeito das<br />

duas hipateses legais, pois afirmou<br />

taxativamente ser o reu semiimputavel,<br />

por Liao possuir ao tempo<br />

do crime a plena capacidade de<br />

entendimento (f. 64) e esclareceu,<br />

na Ultima resposta (f. 61), que sua<br />

conduta foi «automatica», por alterack,<br />

do estado da consciencia».<br />

Estava, pois, com a capacidade reduzida,<br />

segundo se infere, seja por<br />

uma, seja por outra das hipOteses<br />

legais. Cumpria, portanto, ao juiz<br />

formular quesitos aos jurados sobre<br />

questOes tab importantes para<br />

o julgamento do reu.<br />

E certo que os jurados rejeitaram<br />

o laudo quanto a primeira hip6tese<br />

(reducao da capacidade de<br />

compreensao do injusto), ao responder<br />

o 5? quesito. Todavia, nao<br />

Ihes tendo sido formulada qualquer<br />

indagacao a respeito da segunda<br />

hipOtese (reducao da capacidade<br />

de autodeterminacao), como preconiza<br />

Frederico Marques no formulario<br />

citado, nao se sabe qual<br />

teria sido a resposta de tao imprevisivel<br />

Conselho de Sentenca —<br />

que rejeita ate laudos medicos — a<br />

essa segunda indagacao, a nosso<br />

ver obrigatbria diante do que dispee<br />

os arts. 484, III, e 564, §<br />

do CPP.<br />

Estamos de acordo com o v.<br />

acOrdao de fls. 16/20 quando afirma<br />

que o Jari, na sua soberania,<br />

nao esta obrigado a acatar a prova<br />

tecnica. Concordamos, ainda, com<br />

a existencia de incongruencias no<br />

laudo, apontadas nesse mesmo julgado.<br />

Mas, tats circunstancias em<br />

nada afastam a alegada deficiencia<br />

de quesitos que, por zonstituir<br />

nulidade absoluta, nao poderia sofrer<br />

sequer os efeitos da preclusao.<br />

Diga-se para concluir, que, se o<br />

legislador estabeleceu causas de<br />

reducao da responsabilidade penal<br />

e se, na espacie, ha laudo pericial<br />

apontando a existencia delas, o<br />

minimo que se poderia exigir de<br />

um julgamento, para que fosse pelo<br />

menos completo, a que tivesse<br />

decidido, claramente, de forma induvidosa,<br />

se aceitava, ou nao, no<br />

caso concreto, a existencia dessas<br />

causas. Do contrario, estar-se-ia<br />

condenando o reu, ao arrepio da lei<br />

e de laudos periciais, por uma indesejavel<br />

influencia de evidentes<br />

deficiencias procedimentais.<br />

Por todo o exposto, parece-nos<br />

que a melhor solucao para o caso<br />

a que foi defendida pelo ilustre Desembargador<br />

Cavalcanti Silva, em<br />

seu voto vencido, referido no ac6rdao<br />

dos embargos infringentes, ou<br />

seja, mandar o reu a outro julgamento,<br />

gapOs novo exame psiquiatrico»<br />

(f. 17).<br />

Esse, data yenta, e o nosso parecer,<br />

pelo que entendemos deva ser<br />

concedida a ordem exclusivamente<br />

para ta] fim.»<br />

8 o relatbrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr.: Minlstro Moreira Alves (Relator)<br />

— 1. Como observa o parecer


da Procuradoria-Geral da RepUblica,<br />

corn base nas 1ic6es de Nelson<br />

Hungria e Frederico Marques, ndo<br />

procede a primeira nulidade invocada<br />

pelo impetrante, segundo a qual o<br />

quesito relativo A capacidade de entendimento<br />

do reu, por ter sido formulado<br />

em forma negativa, acarretaria<br />

dOvida quanto ao sentido da<br />

resposta, quer fosse ela WI°, quer<br />

fosse slim Alias, quando se nega<br />

uma negativa, afirma-se; e quando<br />

se afirma o que se negou, confirmase<br />

a negativa. NAo ha &A rida alguma<br />

a esse respeito; daf, ser a formulack'<br />

adotada no caso a preconizada<br />

pela doutrina.<br />

2. Quanto A segunda nulidade invocada<br />

— a da omissao de quesito relativo<br />

A segunda hipMese de reducdo<br />

da .pena por semi-imputabilidade, ou<br />

seta, ausëncia de indagacAo sobre se<br />

possuia, ou nä°, o reu a plena capacidade<br />

de determinar-se de acordo<br />

corn o entendimento do carAter criminoso<br />

do fato (2? parte do parAgrafo<br />

(micro do artigo 22 do COdigo Penal)<br />

— tamirdn ela 6 improcedente,<br />

nflo obstante o apoio que the dA o parecer<br />

da Procuradoria-Geral da Republica.<br />

Corn efeito, a defesa, como se ye<br />

da ata da sessdo do jud, se limitou<br />

«ao reconhecimento do delito imputado<br />

ao reu, afastamento das qualificadoras<br />

e a aceitacdo do laudo que<br />

conclui ser o reu semi-imputAvel». 0<br />

laudo, por sua vez, ao responder aos<br />

quesitos da acusacao, que separava<br />

as duas hipOteses de semiimputabilidade,<br />

A pergunta «apresentava<br />

o paciente, ao tempo da<br />

acão, pertubacdo da sattde mental,<br />

em qualquer das quatro hipOteses<br />

clinlcas?», respondeu: «sim» • mais<br />

adiante, A indagacdo «por causa dessa<br />

perturbacdo o paciente ndo possuia,<br />

ao tempo da acdo, a plena capacidade<br />

de entender-lhe o carAter<br />

cr1minoso?», respondeu: «frac' possuia»;<br />

e, logo em seguida, A pergunta<br />

«Por causa dessa perturbacão 0<br />

— 94 119<br />

paciente nä° possuia, ao tempo da<br />

acdo, a plena capacidade de<br />

determinar-se segundo esse entendimento»,<br />

respondeu: «prejudicado»<br />

(f. 60). Isso foi reafirmado no oficio,<br />

dirigido ao Julz, em que os peritos<br />

esclareceram dtividas suscitadas pelo<br />

laudo. Nesse ofido, 16-se (f. 64):<br />

«5 — 0 paciente, em virtude de<br />

perturbacdo da sa0de mental, s6<br />

possuia, ao tempo do crime, parcial<br />

capacidade de entender o carater<br />

criminoso do fato que praticou?<br />

Resp. 0 paciente, em razdo de<br />

perturbacdo de saade mental, ndo<br />

possuia, ao tempo do crime, a plena<br />

capacidade de entender o cartter<br />

criminoso do fato que praticou.<br />

6 — 0 paciente, em virtude de<br />

perturbacdo da sa0de mental, s6<br />

possuia, ao tempo do crime, parcial<br />

capacidade de determinar-se<br />

de acordo coma entendimento que<br />

tinha do carAter criminoso do fato<br />

que praticou?<br />

Resp. Prejudicado.»<br />

Portanto, a inequivoco que o laudo<br />

conduit' pela inexisténcia, no caso;<br />

da plena capacidade do reu de entender<br />

o carAter criminoso do fato, o<br />

que excluia, obviamente, a segunda<br />

causa de reducdo facultativa da Pen<br />

a (a plena capacidade de<br />

determinar-se de acordo corn o entendimento<br />

do carAter criminoso do<br />

fato), que pressupee que se possa<br />

entender o carAter criminoso do fato.<br />

Por isso mesmo, a que, ao quesito<br />

da presenca dessa causa, a resposta<br />

fol «prejudicado». AssIm entendeu,<br />

tamb6m, o juiz, que formulou, entdo,<br />

para os jurados o quesito relativo A<br />

conclusdo do laudo, que estancou na<br />

primeira causa de reducdo facultativa<br />

da pena, excludente que a da segunda.<br />

E assim tambèrn o entendeu<br />

a defesa, que nä° protestou, na ocasift<br />

oportuna, contra qualquer deficiëncla<br />

dos quesitos, e, na apelaqdo


120<br />

e nos embargos infringentes, igualmente<br />

nada alegou a respeito.<br />

Ora, os quesitos se formulam em<br />

face dos termos em que 6 posta a defesa,<br />

e se esta mesma entende que<br />

eles atendem ao fim a que ela visa,<br />

tanto assim que net) protesta contra<br />

qualquer omissao, o seu silOncio, no<br />

minimo, concorrerA para ensejar nu-<br />

Made que a favorece, sendo apneavel,<br />

portanto, ao caso, o disposto no<br />

artigo 565 do C6digo de Processo Penal,<br />

como acertadamente salientou,<br />

a esse respeito, o acOrdao do Tribunal<br />

de Justice do Estado de See Paulo,<br />

ao julgar a revisao criminal.<br />

R.T.J. — 94<br />

Observo, por outro lado, que, ao<br />

contrario do que se afigurou ao parecer<br />

da Procuradoria-Ge ral da Reptlblica,<br />

o Conselho de Sentence, ao rejeitar<br />

o laudo pericial, nao o fez p<br />

ser imprevisivel, tanto assim queor<br />

Tribunal de Justice do Estado de<br />

Sao Paulo, ao julgar os embargos Infrigentes,<br />

examinou a questa° de decisao<br />

tomada contra a evidOncia dos<br />

autos, e a repeliu, nestes termos:<br />

«No caso em tela, os experts descreveram<br />

um individuo com caracteres<br />

normais, nao havendo qualquer<br />

referOncia a traco temperamental<br />

de um epileptic°.<br />

E tanto Liao bastasse, o epiléptico<br />

somente este isento de pena<br />

quando o crime 6 cometido como<br />

uma manifestacao epiléptica.<br />

Esta circunstancia foi admitida<br />

pelos peritos ao assinalarem que<br />

as manifestacdes epilepticas que<br />

suprimem por inteiro a capacidade<br />

do paciente, sac) de carAter temporArio.<br />

Conseqiientemente se impunha<br />

que o laudo concluisse haver o embargante<br />

cometido o delito quando<br />

se encontrava corn sua capacidade<br />

de entendimento abolida, quer por<br />

estar em crise epiltptica, quer por<br />

haver o delito se seguido imediatamente<br />

a uma crise, quer por se encontrar<br />

em estado crepuscular do<br />

campo da conscitncia. 0 laudo e o<br />

esclarecimento net) contem a mais<br />

leve mencao a estas circunstancias.<br />

Dai porque inaceitAvel a conclusao<br />

pericial, quer da total, quer<br />

da partial irresponsabilidade do<br />

embargante.<br />

Paralelamente, os informes prestados<br />

pelas testemunhas sao no<br />

sentido de que este nunca apresentou<br />

sinal de perturbacao mental<br />

durante nove anos que morou na<br />

casa de Natalia Peralta Monte da<br />

Paixdo ( f. 66), nunca demonstrou<br />

ser nervoso ou pancada ( f. 68),<br />

submeteu-se a exame de pesquisa<br />

social e medico para ingressar na<br />

extinta guarda-civil, nada se apurando<br />

quanto a sua personalidade<br />

ou uma possivel enfermidade mental<br />

(f. 135 v.), nap se envolvla em<br />

brigas ou discussOes e nem cometia<br />

arbitrariedade, sendo pessoa<br />

calma (f. 136), era disciplinado e<br />

bom policial (f. 136 v.) e apenas<br />

apresentou queixas difusas de nervosismo,<br />

mas nunca solicitou seu<br />

internamento (f. 145).<br />

0 embargante, portanto, duracte<br />

longos anos, nao manifestou temperamento<br />

e nem tracos que indicassem<br />

carAter epilepticos. Tambem<br />

ciao ha qualquer noticia de paroximos<br />

e convulsees reveladoras<br />

da epilepsia em sua forma conhecida<br />

como «grande mal».<br />

Diante deste quadro probathrio,<br />

levando-se ainda em contra a manifesta<br />

incongruencia, incoer6ncia<br />

e ausencia de fundamentacao do<br />

lauo pericial, o 'Rut repelindo a<br />

pretendida semi-imputabilidade,<br />

nao decidiu manifestamcpto contra<br />

a prove dos autos» ( fls. f9-20).<br />

3. Em face do exposto, indefiro 0<br />

presente habeas corpus.


EXTRATO DA ATA<br />

HC 57.046 — SP — Rel., Min. Moreira<br />

Alves. Pacte.: Claudio Heraclito<br />

Valentim Coca (Impte.: Joaquim<br />

Reis Martins Cruz). Aut. Coatora:<br />

Tribunal de Justica do Estado de<br />

SA° Paulo.<br />

Decistio: Indeferido o pedido, a<br />

unanimidade de votos.<br />

R.T.J. — 94<br />

121<br />

Presidencia do Sr. Ministro piaci<br />

— Presentes a Sessdo os Srs.<br />

Ministros Leitdo de Abreu. Cordeiro<br />

Guerra, Moreira Alves e Decio Miranda.<br />

— 5? Subprocurador-Geral da<br />

Repttblica, o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 5 de Junho de 1979. —<br />

Hello Francisco Marques, Secretario.<br />

RECURSO DE HABEAS CORPUS N? 57.170 — SC<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Djaci<br />

Recorrente: Pedro Luiz Gonsalves — Recorrido: Tribunal de Justica do<br />

stado.<br />

Prontincia por infracalo do art. 121, I 2?, incs. I e III, do COdigo<br />

p enal. Acerto do acerchlo recorrido, que denegou a ImpetracAo. Err&<br />

nea a concessAo ex officio de habeas corpus, por considerar caracterizada<br />

a figura do latmcinio, desde que decretou contra o reu nulidade<br />

nAo argOida pela acusacAo (SUmula 160).<br />

Recurs() ordinitrio provido em parte.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

utos, acordam os Ministros da Seunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

ederal, na conformidade da ata do<br />

lgamento e das notes taquigrafias,<br />

por unanimidade de votos, dar<br />

rovimento parcial ao recurso nos<br />

rmos do voto do Relator.<br />

Brasilia, 3 de agosto de 1979. Mad<br />

alcAo, Presidente e Relator.<br />

RELATORIO<br />

O Sr. Ministro Mad FaIclio —<br />

ern o seguinte contendo a decisão<br />

jeto deste recurso:<br />

«Habeas corpus. Carencia de<br />

prova da autoria. Rau pronunciado<br />

que pretende aguardar o Julgamento<br />

do Juni em liberdade.<br />

Denegacdo da ordem.<br />

Concessao de habeas corpus de<br />

°Bch), face a decretacão da null-<br />

dade da sentenca, lavrada por<br />

Juiz incompetente, por ser o crime<br />

narrado na denancia de latrocinio<br />

e flat) de homicidio quailficado.<br />

Aplicacdo do art. 108, §<br />

1?, c/c o art. 410, ambos do CPP.<br />

Havendo indicios da autoria do<br />

crime, e o rau estando ausente do<br />

distrito da culpa, em lugar de endereco<br />

desconhecido, Justifica-se<br />

a decretacdo de sua prisdo para<br />

a garantia da aplicacdo da lei penal<br />

e conveniencia da instrucdo<br />

criminal, pots sua fuga frustra o<br />

procedimento criminal a que responde<br />

e impede seu Julgamento<br />

perante o Tribunal do Aug.<br />

O agente que mata e confessa<br />

que assim procedeu porque queria<br />

o dinheiro que a vitima ndo<br />

the dera espontaneamente, e<br />

apes tirar-Ihe a vida, ato<br />

continuo, despoja-a de todo o numerario<br />

que trazia nos bolsos,


122<br />

B.T.J. — 94<br />

pratica o delito de latrocinio e<br />

nAo homicidio.<br />

Quando o juiz se convencer, em<br />

discorancia corn a classificacao<br />

dada na peca exordial, da existencia<br />

de crime que ndo seja da<br />

competencia do Tribunal do Juni,<br />

deverA proceder na conformidade<br />

do que disp6em o art. 108, §<br />

1?, art. 408, § 4? e art. 410, todos<br />

do CPP. Se ao inves, lavra a sentenca<br />

provisional, nulifica esse<br />

julgamento, ex vi do estatuido no<br />

art. 564, I, c/c o art. 567, ambos<br />

da lei processual penal.<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos de Habeas Corpus n?<br />

6.056, da comarca da Capital (1?<br />

Vara), em que é impetrante o Dr.<br />

José de Brito Andrade, sendo paciente<br />

Pedro Luiz Goncalves:<br />

Acordam, em Segunda CAmara<br />

Criminal, a unanimidade, denegar<br />

a ordem pelos fundamentos da impetracAo<br />

e conceder habeas corpus<br />

de oficio, para anular a sentenca<br />

de pronfmcia e determinar que se<br />

proceda de acordo corn Cod<br />

108, § 1? e 410, ambos do Cedigo de<br />

Processo Penal.<br />

Custas, na forma da lei.<br />

Trata-se de uma ordem de<br />

habeas corpus impetrada pelo Dr.<br />

Jose de Brito Andrade, em favor<br />

de Pedro Luiz Goncalves, pronundada<br />

pelo MM Juiz da 1? Vara Criminal<br />

da Capital, como incurso nas<br />

sancees do art. 121, § 2?, incises I e<br />

III, do Codigo Penal.<br />

Postula-se, na impetracão, o seguinte:<br />

0 processamento do recurso<br />

em sentido estrito aforado contra a<br />

pronüncia, corn o reu em liberdade;<br />

0 exame "do merito da causa<br />

em que pontifica a ausencia absoluta<br />

de prova da autoria do crime,<br />

imputado ao pacientett, e, finalmente,<br />

3. 0 beneficio da Lei Fleury.<br />

Coral vista dos autos, a douta<br />

Procuradoria-Geral do Estado, em<br />

parecer oral, opinou pela denegacAo<br />

da ordem, pelos fundamentos<br />

da impetracao, opinando, entretanto,<br />

em parecer escrito, pela concessdo<br />

de habeas corpus de oficio,<br />

para anulacão da sentenca de pronOncia,<br />

porque lavrada por juiz incompetertte.<br />

Exam inando o pedido, na ordem<br />

das alegacOes aduzidas, deve o<br />

mesmo ser denegado, pelas raz6es<br />

seguintes:<br />

NAo haver amparo legal para<br />

o processamento do recurso em<br />

sentido estrito da sentenca de pronUncia,<br />

sem que o paciente seja<br />

pessoalmente intimado da provisional<br />

(art. 414 CPP) e se recolha a<br />

prisão (art. 585 CPP).<br />

NA° ser cabivel o exame valorativo<br />

da prova para a pretendida<br />

inadmissão de prova da autoria do<br />

delito, ja que a acão penal contem<br />

indiclos de que o paciente e o autor<br />

do crime pelo qual estA sendo processado,<br />

traduzidos na confissäo<br />

extrajudicial — embora retratada<br />

em juizo — esteada em outros elementos<br />

circunstanciais extraidos<br />

do exame e levantamento do local<br />

do crime (fls. 36 e seguintes), do<br />

auto de exame cadaveric° (fls. 22 e<br />

seguintes) e o registro das assertivas<br />

das testemunhas Zelita Goncalves<br />

e MariMeta Silva de Jesus<br />

(f. 178), que, embora colhidas sem<br />

as formalidades legais, não podem<br />

ser sumariamente descritas, porque<br />

prestadas perante urn magistrado<br />

idOneo e digno, sob todos os<br />

titulos.<br />

3.Igualmente, imerece o paciente<br />

o benericio pretendido de respon<br />

der sotto ao processo, nos termos<br />

do art. 408, § 2?, corn a redacdo da<br />

da pela Lei n? 5.941, de 22.11.73. E<br />

que, inobstante primArio e de bon<br />

antecedentes, o paciente evaditt-s


do distrito da culpa, corn flagrante<br />

violactio do estatuido no art. 369 do<br />

Ctkligo de Processo Penal, estando,<br />

atualmente, segundo o dizer do impetrante,<br />

na cidade de SAo Paulo,<br />

em endereco desconhecido.<br />

Corn essa fuga, o reu esta frustrando<br />

o normal desenvolvimento<br />

do procedimento criminal contra<br />

ele instaurado, pelo que, para garantia<br />

de aplicacAo da lei penal, e<br />

por conveniencia da instrucao criminal,<br />

bem andou o magistrado de<br />

1? grau, ao decretar-the a prisAo,<br />

corn o que, alias, aflnou-se corn a<br />

jurisprudëncla desta Casa<br />

(Jtnisprudencia Catarinense, vol.<br />

18/304 — HC n? 5.761, de Lages) e<br />

tambem do Colendo Supremo Tribunal<br />

Federal (RHC 54.965, de Sao<br />

Paulo — DJU — 11.3.77, pag. 1.324<br />

e RHC 5.633, de SP — DJU —<br />

16.6.78, pig. 4.895).<br />

Entretanto, a ordem 6 de ser<br />

concedida, de oficio, pelas juridicas<br />

razOes expostas pela douta<br />

Procuradoria-Geral do Estado, em<br />

parecer da lavra do Dr. Ayres Cesari°<br />

Pereira, as quaffs vAo adiante<br />

transcritos, e a Camara adota-as<br />

como razAo de decidir: «A ordem,<br />

a nosso ver, 6 de ser deferida, mas<br />

em decorrëncia de nulidade partial<br />

da acAo penal, que atingindo<br />

inclusive a prontincia — ponto de<br />

origem do pretenso constrangimento<br />

ilegal — torn prejudicados os<br />

fundamentos da impetraflo.<br />

— Procedendo-se ao exame<br />

dos autos requisitados, observa-se<br />

que a denfmcia descreve o fato delituoso<br />

do seguinte modo:<br />

O denunclado conhecia a vitima<br />

Lauro SimAo, vulgo `Juquinha',<br />

pederasta passivo, a quern luxuriava,<br />

recebendo Cr$ 20,00, por ato sexual.<br />

As 21 horas do dla 31 de Julho<br />

de 1974, a vitima encontrou o denunciado<br />

e 0 convidou para manterem<br />

o congresso anal, pelo preco<br />

acima e mats Cr$ 15,00 que the de-<br />

R.T.J. — 94<br />

123<br />

via de um ato anterior. Chegando a<br />

urn local ermo, antes da cOpula, o<br />

denunciado exigiu o pagamento<br />

adiantado, fato que gerou discussAo<br />

Em pleno aterro da bale sul,<br />

perto da nova ponte, o denunclado<br />

armou-se de urn pau e desferiu, entao,<br />

varlos golpes no corpo e cabeca<br />

da vitima, ate que esta caiu<br />

quase desmalada. NA° satisfelto, o<br />

denunclado tirou spa cinta da calve<br />

e enlacou o pescoco de Juquinha,<br />

passando a aperta-lo, enquanto<br />

este gemia e implorava que parasse,<br />

parando ao rebentar a cinta.<br />

Cruel e desumano, encheu a boca<br />

de Juquinha de areia cobrindo depois<br />

sua cabeca, s6 nAo enterrando<br />

o corpo porque a areia era dura.<br />

Apes o crime, passou a <strong>revista</strong>r os<br />

pertences da vitima, se apropriando<br />

em cerca de Cr$ 100,00 que a<br />

mesma tinha em seu poder'.<br />

«Tal versa() — robustamente all-<br />

cercada nas declaracOes do proprio<br />

paciente e de duas testemunhas<br />

presenciais, colhidas no in-<br />

querito (fls 78-79v, 83 e 90), bem<br />

como nos laudos de exame cadaverico<br />

e de levantamento do local do<br />

delft° — mereceu, por parte do OrgAo<br />

denunciante, o enquadramento<br />

no art. 121, § 2°, !tens I, II e III, do<br />

C6digo Penal, motivo este que, presumidamente,<br />

levou o MM. Julz a<br />

imprimir ao processo o rito estabelecido<br />

para o julgamento pelo Tribunal<br />

do ari, donde sobreveio, fi<br />

nalmente, a provisional de fls. que,<br />

mesmo sem modificacAo probate-<br />

ria quanto ao evento em si, ratificou<br />

a configuracAo do homicidio,<br />

desacolhendo apenas a qualificadora<br />

do molly° Mil.<br />

«II — Denota-se, desde logo, que<br />

a inicial acusateria apresenta evidente<br />

colisào entre a capitulacAo<br />

adotada e a narracAo do acontecimento<br />

Welt% pots, enquanto a pHmeira<br />

considera violadas<br />

certas disposic6es legais pertlnentes<br />

ao homicidlo qualificado, a se-


124<br />

R.T.J. — 94<br />

gunda, conjunturalmente, estampa<br />

urn latrocinio, que a urn crime<br />

complexo — previsto no art. 157, §<br />

3?, do COdigo Penal — no qual a<br />

morte nao passa de meio utilizado<br />

para a consecucao do real escopo<br />

do agente ativo: a subtracäo do patrimanio<br />

da vitima.<br />

«Por oportuno, convem lembrar<br />

que esta Colenda Camara, em<br />

acerden da lavra do eminente Desembargador<br />

Francisco May Filho,<br />

assim ja decidiu:<br />

`Mesmo que se admita como<br />

verdadeira a afirmac ão do reu<br />

e que nao tinha a intenceo de<br />

rroubar,<br />

se apOs matar a vitima,<br />

ato continuo, despoj a-a dos seus<br />

haveres, caracter izou-se o dein°<br />

de latroci' nio(in Jurisprutiência<br />

Catarinense, vol. 15/16, pag• 437).<br />

«III — Ora, sendo <strong>jurisprudencia</strong><br />

uniforme dos <strong>tribunal</strong>s patrios que<br />

`ern nosso COdigo de Processo Penal<br />

prevalece o sistema de que a<br />

acusacao se forma corn o fato descrito<br />

e nao com o fato classificado<br />

na dein:meta ou libelo', a contradida<br />

aludida peca imp6e-se resolvida<br />

em favor da imputacao<br />

pormenorizadamente narrada, ou<br />

cuja, pela adocao do latrocinio, inserido<br />

no diploma repressivo, sob<br />

o titulo `dos crimes contra o patrirwanio',<br />

cuja competenc ia 6 da jurisdicao<br />

singular, conforme orientacao<br />

Pacifica do Supremo Tribunal<br />

Federal, preconizada atraves<br />

de inameros arestos, dentre os<br />

quals destacamos:<br />

Latrocinio: Seu julgamento<br />

pelo juiz singular, e nao pelo<br />

Motivacao.<br />

No art. 157, § 3?, do C6d.<br />

Pen., definiu-se a figura do latrocinio,<br />

cuja caracteristica essencial<br />

e o roubo com morte.<br />

Crime contra o patrimenio,<br />

em que o elemento dominante e o<br />

roubo, nao o descaracteriza o<br />

evento morte, dolosa, culposa ou<br />

preterintencional, injustifica ndo<br />

to pelo-se,<br />

assim, seu julgamen<br />

jüri, limitado aos crimes dolosos<br />

contra a vida, ou seja, aos que<br />

assim define o citado Estatuto<br />

Penal.<br />

IV. Precedentes do Supremo<br />

Tribunal Federal.<br />

Indeferimento' . (HC n? 49.276<br />

— AM, Segunda Turma — Rel.:<br />

Min. Thompson Flores, in RTJ<br />

60/665).<br />

EMENTA: Habeas corpus —<br />

Latrocinio — Competencia.<br />

Se na pratica do roubo ficou<br />

consumado o homicidio, estara<br />

sempre tipificado o crime de latrocinio,<br />

pouco importando se<br />

houve ou nao efetiva subtracao<br />

do bem patrimonial, sendo a<br />

competencia para o processo e<br />

julgamento do juizo singular,<br />

conforme reiterada <strong>jurisprudencia</strong><br />

do Supremo Tribunal Federal.<br />

Precedentes: RCr n? 84.591 e<br />

MS n? 56.171 — Habeas Corpus<br />

indeferido' (HC 56.704-5-SP —<br />

Rel.: Min. Cunha Peixoto, Primetra<br />

Turma, ac. un. de 20.2.79,<br />

in WU de 23.3.79, pag• 2.100).<br />

«IV — Conseqiientemente, inexiste<br />

a mais leve davida de que a<br />

ace° penal promovida contra o paciente<br />

esta contaminada de nulidade<br />

insanavel, inscrita no art. 564,<br />

inciso I, do C6digo Penal, porquanto<br />

indevidamente foi adotado, no<br />

essamento, como se disse<br />

linhas a rAma, o r o es<br />

para o posterior veredito do Tribunal<br />

Popular.<br />

«Alias, em hipotese semelhante a<br />

presente, a Primeira Turma do<br />

Excelso Pret6rio concedeu habeas<br />

corpus para, anulando decisao proferida<br />

pelo Juni, determinar fosse<br />

o paciente julgado pelo juiz singular<br />

(RTJ 41/130), corroborando,


dessa forma, antigo pronunciamento,<br />

endossado por Eduardo Espinola<br />

Fllho (COdigo de Processo Penal<br />

Brasileiro Anotado, vol. V, P ed.,<br />

n? 1.161, ;Mg. n? 464), em que afirmou<br />

'constituir sempre materia de<br />

ordem pftblica a nulidade por incompeténela<br />

do julzo, no crime',<br />

devendo, por isso, 'ser decretada,<br />

embora sem prove de prejulzo, remetldo<br />

o processo ao julz competente',<br />

onde prosseguira, nos termos<br />

do art. 108 da lei adjetiva,<br />

ap6s ratificados os atos probat6rios.<br />

«Trata-se, como se ye, de nulidade<br />

absolute, declaravel ex officio,<br />

que nao convalesce pelo silancio ou<br />

concordancia das panes, consoante<br />

se depreende da llcAo de Florando<br />

de Abreu: 'as quest6es de ordem<br />

competencial sae), mint, eminentemente<br />

de ordem pUblica, rift°<br />

tolerando transacao ou acordo das<br />

panes, tendentes a admitir juiz incompetente<br />

na cause. Dal a nulidade<br />

dos atos praticados por juiz incompetente,<br />

cumprindo ao juiz superior<br />

decreta-la, tenba ou Mo havido<br />

argalello de qualquer das partes'<br />

(in Comentarlos ao akligo de<br />

Processo Penal, vol. V, ed. 1945,<br />

pag. 54)».<br />

Ressalte-se, por Ultimo, em abono<br />

da solucao acima preconizada,<br />

conforme decidiu o Colendo Supremo<br />

Tribunal Federal que «0 habeas<br />

corpus 6 0 melo judicial apto<br />

para suseiter a incompetancia absolute<br />

do julz. Embora o paciente<br />

nä.) esteja preso, o procedimento<br />

criminal, pelo sequlto de gravames<br />

que acarreta ao acusado, importa<br />

em restricäo de sua liberdade de it<br />

e yin> (RCr nnmero 56.873, SP —<br />

DJU — 19.4.79, plg. 3.063).<br />

A incompetência do Juizo, expressamente<br />

proclamada, anula<br />

somente os atos deciserlos (art. 567<br />

do CPP) e merce da nova classificacao<br />

do crime narrado na demln-<br />

R.T.J. — 94<br />

125<br />

cia, que tipifica o delito do latroclnio,<br />

imp:le-se a anulacao do<br />

p rocesso, a partir da pronUncia,<br />

devendo o MM Juiz, proceder na<br />

forma do que dispeem o art. 108, §<br />

1?, combinado com os arts. 408,<br />

4? e 410, todos da lei processual<br />

penal.<br />

E, como a ordem de prisão contra<br />

o reu decorria da sentence de<br />

pronuncla contra ele lavrada, deve<br />

em seu favor ser expedido o comp<br />

etente alvara de soltura, se por<br />

outro motivo nao estiver preso.<br />

Florian6polis, 26 de abril de 1979.<br />

Presidente. Relator» (fls. 18 a 26).<br />

O recorrente, ap6s tecer consideracties<br />

sobre a decistio, conclul textualmente:<br />

«Ante o exposto, Excelancia,<br />

vem o signaterio requerer a reforma<br />

total do v. acOrdao do Tribunal<br />

a quo, ou seja: a) considerar procedente<br />

o pedido origin/trio para o<br />

fim de o Tribunal Estadual determiner<br />

nibble do recurso em sentido<br />

estrito, apreciando-o independentemente<br />

da prisao do paciente;<br />

b) reformat' o deelsOrio a quo no<br />

que diz respell!) 6 nulidade da pronfmcia<br />

para que outro julgamento<br />

se fizesse pelo juizo singular, por<br />

entender capitulada a infraeao como<br />

crime de latroelnio, quando<br />

nao 0 6, segundo se demonstrou linhas<br />

titres, por ser medida de direito<br />

e justice." (f. 38)<br />

Manifestou-se o Minlstario Pnblico<br />

local pelo Improvimento ao recurs()<br />

(fls. 54 a 56).<br />

Apes relating° sobre o caso, diz o<br />

p arecer do Dr. Alvaro Augusto RIbeiro<br />

Costa, a provado pelo<br />

Subprocurador-Geral Francisco de<br />

Assis Toledo:<br />

«Dal, o apelo de fls. 33/38, que<br />

suscita duas teses. A primeira, no<br />

sentldo de que a anulacao da pronancia<br />

impllcou em reformatio in<br />

pejus; a segunda, sustentando que


R.T.J. — 94<br />

126<br />

officio, por isso que o recurso ordinario<br />

de habeas corpus somente<br />

e admissive! das decisOes<br />

denegathrias proferidas pelos<br />

Tribunais Federais ou Tribunals<br />

dos Estados, consoante estabelecem<br />

os arts. 119, inc. II, letra c,<br />

da Constituicäo Federal, e 289, do<br />

RI desse Excelso Pret6rio.»<br />

10. Nao se nos afigura proceden yenta, a preliminar acima<br />

-te, data<br />

colocada.<br />

—«Diante da faculdade cone- 11.0 que fez o acarclao recorridida<br />

ao juiz pelo art. 408, § 2'. ,do do, quanto ao ponto, foi decretar,<br />

COdigo de Processo Penal e por- contra o reu, nulidade nä° arguida<br />

que subsistem as razOes pelas pela acusacao . Incide no particuquais<br />

decretada a prisao preven- lar, em conseqiiencia, a &maga<br />

tiva do acusado (v. f. 108), por lea<br />

nao ter o acusado continuado as 12. A aplicacao do aludido verbe-<br />

apresentacOes de para exames to — preciso ressaltar — nä° imsuasdea<br />

fim constatar-se<br />

de sua inte- plica em negar-se o acerto da tese<br />

gridade mental, indo para lugar adotada pelo aresto recorrido, afir-<br />

incerto e nä° sabido, segundo<br />

inmando a compethncia do juiz sin-<br />

forma<br />

dos seus defensores, fe gular, no caso, eis que caracterizadecret<br />

o-the a prisào, determinando se acha o latrocinio . For isso,<br />

do que se expeca contra o mesmo nao sendo admissivel o modo atras<br />

andado de prisáo, remetendo- yes do qual a incomPetOncia do jfi-<br />

e capia Polinter, expedindo-se ri foi proclamada — eis que impor crecathria corn a mesma<br />

nada<br />

arta p<br />

tou em reformatio in pejus —<br />

finalidade Comarca de Tijuimpede que, ao ser o paciente jul-<br />

cas/SC, onde talvez possa ser enggado ado pela torte popular, ' venha a<br />

contrado através de seus pals ser felta a necesaria<br />

desclassifique<br />

residem na localidade de No- cacao, mediante s a adequada forva<br />

Descoberta naquele municiPio mulacäo do questionario e eventual<br />

e Comarca» .<br />

incidencia da regra contida no § 2?<br />

do art. 492 do Cedigo de Processo<br />

0 impetrante admite que o pa-<br />

ciente se encontra ern lugar inter- Penal.<br />

to e nao sabido; em outras path-<br />

13. Em face do exposto, sugerivras,<br />

foragido. n o quanto basta, a mos o parcial provimento do recurnosso<br />

ver, para que se entenda jusso,<br />

a fim de que seta anulado o<br />

tifica cut6dia cautelar, no ca- acerclao de fls. 18/26, na parte em<br />

so, le vando- da a<br />

s o paciente, por ser primario e de<br />

bons antecedentes, f az jus ao beneficio<br />

de recorrer contra a promincia,<br />

sem necessidade de se recolher<br />

a prisäo.<br />

De logo, desmerece acolhimento,<br />

a nosso ver, a segunda tese.<br />

Na sentenca de pronfincia,<br />

encontra-se o tOpico abaixo colacionado:<br />

se em conta, tambem, que decretou nulidade mar) argilida<br />

os motivos assinalado s na pronfm- pela acusacao.» (fls. 63 a 66)<br />

cia.<br />

Quanto a argOida reformatioVOTO<br />

in pejus, o parecer de fls. 54/56<br />

suscita uma questa°, in verbis: 0 Sr. Ministro Djaci Falcão (Relator):<br />

Com acerto, o acerclao indefe-<br />

«Preliminarmente, argilimos a<br />

riu o pedido, dada a inviabilidade do<br />

impropriedade do remedio eleito reexame de prova da autoria do deli-<br />

para a apreciacao da parte relato,<br />

bem assim consideracao de<br />

tiva a concesstio da ordem ex


clue, nas circunstAncias do caso, tido<br />

tern amparo legal o processamento<br />

do recurso em sentldo estrito da sentenca<br />

de pronfincia, corn o reu em 11berdade.<br />

A sentenca de pronUncia<br />

assinalou que subsistiam as razoes<br />

do decreto de prisAo preventiva,<br />

acentuando que o reu deixara de se<br />

apresentar em julzo para submeterse<br />

a exame de sanidade mental,<br />

encontrando-se foragiclo.<br />

No entanto, a concessao ex officio<br />

do habeas corpus, para decretar contra<br />

o rtu nulidade nAo argilida pela<br />

acusacao, esta a merecer reparo,<br />

nos termos da Sfuntzla NO, in verb's:<br />

E nula a decisAo do Tribunal<br />

que acolhe, contra o reu, nulidade<br />

nAo argilida no recurso da acusacAo,<br />

ressalvados os casos de recurso<br />

de oficio».<br />

Diante do exposto e acolhendo o<br />

parecer da Procuradoria-Gera' da<br />

Republica, dou provimento parcial<br />

R.T.J. — 94<br />

EXTRATO DA ATA<br />

127<br />

ao recurso, para anular a decisão,<br />

na pane em que decretou a nulidade<br />

da sentenca de pronUncia.<br />

RHC 57.170 — SC — Rel.: Min.<br />

Djaci FalcAo. Recte.: Pedro Luiz<br />

Goncalves (Adv.: Josè de Brito Andrade).<br />

Recdo.: Tribunal de Justica<br />

do Estado.<br />

DecisAo: Provido parcialmente nos<br />

termos do voto do Relator. Uniinime.<br />

PresidAncia do Sr. Ministro Djaci<br />

FalcAo — Presentes a Sessão os Srs.<br />

Ministros Leitilo de Abreu, Cordeiro<br />

Guerra e Moreira Alves. Ausente,<br />

Justific adamente, o Sr. Ministro De-<br />

do Miranda. Subprocurador-Geral<br />

da Repfiblica, o Dr. Mauro Leite<br />

Soares.<br />

Brasilia, 3 de agosto de 1979. Hello<br />

Francisco Marques, SecretArio.<br />

RECURS() DE HABEAS CORPUS N? 57.397 — RJ<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Thompson Flores..<br />

Recorrente: Oswaldo Ferreira ou Osvaldo Ferreira — Recorrido: Tribunal<br />

de Justica do Estado do Rio de Janeiro.<br />

PrisAo pr eventiva. Juste causa. HIpOtese em que nAo se encontra<br />

caracterizada a argOlda Insubsistencla das rages que levaram o julz<br />

a considerar necessarla a custedia.<br />

H. Recurso nSo provido.<br />

ACORDA0<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

Juigamento e das notas taquigraficas,<br />

por maloria de votos, negar provimento<br />

ao recurso.<br />

Brasilia, 25 de setembro de 1979. —<br />

Thompson Flores, Presidente e Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores: 0<br />

parecer da douta Procuradoria-<br />

Geral da Republica bem expOe a<br />

p retensAo e sobre ela se manifesta,<br />

nestes termos, fls. 63/6:<br />

A 1mpetracAo ora em grau de<br />

r ecurs() se funda em alegada falta<br />

de Justa causa para a prisão preventiva<br />

decretada pelo despacho<br />

de fls. 14/15 e mantida pela pronOncia<br />

de fls. 41/46.


128<br />

R.T.J. — 94<br />

A nosso ver, potent !leo se<br />

mostra visivel, no tocante ao constrangimento<br />

em pauta, ilegalidade<br />

ou abuso de poder.<br />

Justificando a custodia cautelar,<br />

o magistrado que a decretou<br />

trouxe aos autos as seguinte s consideracees,<br />

externadas no despacho:<br />

«0 acusado Osvaldo Ferreira<br />

nega qualquer particiPac äo no<br />

fato, mas a testemunhal coligida<br />

nä() permite que paire qualquer<br />

dilvida quanto a sua responsab ili<br />

r pelo executor-dade,<br />

a comeca<br />

que nAo hesitou em confirma r hole,<br />

perante este Juizo, tudo o que<br />

disse diante da Autoridade Policial,<br />

detalhe-Por-detalhe. Do cotejo<br />

dos depoimentos de fls. 13, 36,<br />

46, 54/56, 75 e 79, corn a palavra<br />

de Dedivar, emerge incontesta yel a particiPacão de Oswaido no<br />

delito.<br />

A materialidade esta comprovada<br />

pelos Laudos Necrosc6Picos<br />

e de Exame de Local de Homicidio,<br />

constantes de fls. 28 e<br />

83/88, respectivamente. 0 crime<br />

imputado aos acusados a daqueles<br />

que chocam profundam ente o<br />

cidadAo normal, quer pela maneira<br />

covarde como foi perpetrado,<br />

quer pela excessiv a dose de<br />

violencia e 6dio que o presidiram,<br />

a ponto de Mar o cadaver<br />

mutilado, como se comprov a pelos<br />

chocantes fotogramas anexados<br />

ao Laudo de fls. 83/88. Por isso<br />

mesmo, a Ordem niblica esta<br />

ameacada dada a grande comocdo<br />

social dele resultante e diante<br />

do indisfarcavel desejo de yinganca<br />

por parte dos familiares<br />

da vitima.<br />

Por outro lado e de ser resguardada<br />

a boa marcha da Instrucäo<br />

Criminal, o que nä() seria<br />

possivel corn o acusado em fiberdade,<br />

porque:<br />

1. Ao tomar conhecimento do<br />

pedido de Prise° Preventiva formulado<br />

pela Autoridade Policial,<br />

o acusado saiu da cidade, fato do<br />

conhecimento pUblico, tomando<br />

rumo ignorado, sla regressando<br />

depots da certeza do indeferimento<br />

do pedido e chamado por<br />

seus advogados, conforme se depreende<br />

da informaflo de fl. 58v.<br />

e da Certidão de fis.;<br />

2. Tambem e do conhecimento<br />

pUblico, e o acusado confirmou<br />

hole em Julio, que dois dias apes<br />

o crime ele vendeu todo o seu gado.<br />

Ademais, consta que o acusado<br />

esta em vias de concretizar a<br />

venda de sua propriedade agropecuaria,<br />

o que evidencia o seu<br />

deliberado propOsito de deixar o<br />

distrito da culpa;<br />

3. Osvaldo Ferreira deu mostras<br />

de pretender dificultar a acAo da<br />

Justiga ao «recomendar» a esposa<br />

do executor, e a este prOprio, que<br />

se a Policia fizesse perguntas dissessem<br />

que a mulher fora agarrada<br />

pela vitima para relacees sexuais<br />

a forca e por isso foi morto,<br />

o que evitaria qualquer comPlicacão<br />

corn o seu nome U. 46)».<br />

8 certo que os impetrantes<br />

contestam os enunciad os funiamentos<br />

da necessidade da cust6dia.<br />

Entretanto, razoavel nos parece<br />

o aresto recorrido, quando pondera:<br />

«Dedicam-se os ilustrados impetrantes,<br />

alem disso, a impugnar<br />

a valoracAo, pelo Dr. Juiz,<br />

dos indicios que o levaram a, reormando<br />

entendimento anterior,<br />

passar a ter como necessaria e<br />

conveniente a prisAo do reu. NAo<br />

podem ser ouvidos, obviamente,<br />

porque o Juiz, integrado no meio<br />

social em que ocorreu o fato, e,<br />

quem melhores condicees tem<br />

para conhecer os seus comarca-


nos e aquilatar adequadamente<br />

suas atitudes o acerto das opini6es<br />

de uns, ou a respeitabilidade<br />

das impressees e comenterios<br />

de outros sobre o que o comportamento<br />

do acusado pode tornar<br />

previsfvel ou para temer. Nan ha<br />

nenhuma evidencia de que errasse<br />

ao faze-1o, razed porque nAo se<br />

the repudia o ponto de vista».<br />

Somos, em face do exposto, pelo<br />

improvimento do recurso.<br />

Brasilia, 10 de setembro de 1979 —<br />

Alvaro Augusto Ribetro Costa, Procurador<br />

da Repablica.<br />

APROVO. Francisco de Asais<br />

Toledo, Subprocurador-Geral da Republica.»<br />

Dou como feito o relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Florets:<br />

(Relator) — Nego provimento ao re,<br />

eta/T.°.<br />

0 que visa o recorrente 6 °btu<br />

sua liberacão, apes a prolaclio da<br />

sentence que o pronunclou e na qual<br />

o magistrado acentuou, fl. 46.<br />

«NA° fazem os rens jus aos favores<br />

do artigo 408, 2?, do C6digo de<br />

Processo Penal (redeye° da Lei n?<br />

5.941/73) porque se encontram sob<br />

os efeitos de acautelamento preventivo<br />

e perduram as razOes que<br />

determinaram a declsAo judicial.»<br />

E as rages preexistentes sac)<br />

aquelas que embasaram o decreto<br />

de custedia preventive, rememoradas<br />

no parecer, o qual transcreve<br />

fragmentos substanciais, inclusive<br />

aqueles nos quaffs o aresto recorrido<br />

valorize as afirmacoes do magistrado.<br />

Em tats condicees, nem abusive,<br />

nem Regal se fez a sentence<br />

mantendo a custedia.<br />

NS 6 bastante para sua concessea;<br />

os atributos da primariedade e dos<br />

bons antecedentes, a lel entrega ao<br />

R.T.J. — 94 129<br />

juiz, em tal emergencia, certa dose,.<br />

nao de arbitrio, mas, de discricionariedade,<br />

para ajuizar da liberace6<br />

do real pronunciado, maxime quando<br />

com a prised decretada fundamentadamente.<br />

E, In casu, afirmou o firmaterio<br />

da pronüncla que perduravam os<br />

fundamentos longa e anteriormente<br />

examinados.<br />

Ned logrou o recurso ilidir tats<br />

afirmaceses. Quanto aos arestos desta<br />

Corte, invocados em seu prol, no<br />

RHC 52.902, Plenerio, 27-11-74 (RTJ<br />

73, 98), a hipatese era diverse. NS<br />

havia priseo preventive e o caso era<br />

de iipelaceo, mesmo • assim prevaleceu<br />

o voto do Ministro Cordeiro<br />

Guerra, contra/10 a concesseo.<br />

E no RHC 54.168, de Minas Gerais<br />

(RTJ 80, 427) diverse ainda era a<br />

controversia, posto que se tratasse<br />

de promincia.<br />

Veja-se o que disp6e sua ementa:<br />

«Habeas Corpus. RS primerib e<br />

de bons antecedentes. Sentence de<br />

pronScia /leo motivada quanto a<br />

manutencao do acusado sob cust.6dia.<br />

Recurso provido para que o<br />

recorrente aguarde em liberdade o<br />

Julgamento pelo Jeri.»<br />

Aqui os pressupostos sào diferentes.<br />

Havia prised preventive regularmente<br />

decretada e nä° revogada; antes,<br />

a pronuncla a ratificou, expressamente,<br />

justificando porque não 11berava<br />

o r6u que pronunciava.<br />

Cabe aqui aplicar o precedente da<br />

Egregia 2? Turma (RTJ 85, 516), citado<br />

no parecer da Procuradoria-<br />

Geral da Justice, e cuja ementa dispee:<br />

«A decretacao da prised, ou a<br />

sua revogacao, em decorrencia de<br />

sentence de pronfmcia, no caso de<br />

primario e de bons antecedentes,<br />

a faculdade atribuida ao julz.<br />

Reu preso em vlrtude de prised<br />

preventive decretada para assegurar<br />

a aplicacao da lei penal. Sub-


130<br />

sistOncia dos motivos da decretacno<br />

por °casino da pronüncia.<br />

RHC improvido.»<br />

No mais, reporto-me ao parecer da<br />

douta Procuradoria-Geral da<br />

transcrito no relat6rio.<br />

E o meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

R.T.J. — 94<br />

RHC 57.337 — RJ — Rel.: Min.<br />

Thompson Flores. Recte.: Oswaldo<br />

Ferreira ou Osvaldo Ferreira. Recdo.:<br />

Tribunal de Justica do Estado<br />

do Rio de Janeiro. Imptes.: Jonas<br />

Lopes de Carvalho e outros<br />

Decisno: Adiado o julgamento por<br />

haver pedido vista o Ministro Cunha<br />

Peixoto, ap6s os votos dos Ministros<br />

Relator, Rafael Mayer e Soares Munoz,<br />

que negavam provimento ao recurso.<br />

Falou como Impte.: o Dr. Jonas<br />

Lopes de Carvalho.<br />

Presidéricia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a Sessac)<br />

os Senhores Ministros Xavier de<br />

Albuquerque, Cunha Peixoto, Soares<br />

Munoz e Rafael Mayer.<br />

Subprocurador-Geral da Republica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 18 de setembro de 1979. —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretario.<br />

VOTO (VISTA)<br />

0 Sr. Ministro Cunha Peixoto: 1 —<br />

Visa o recorrente obter sua liberacao,<br />

ap6s a sentenca que o pronunciou<br />

e na qual o magistrado assinalou:<br />

«Näo fazem os rths jus aos favorer<br />

do artigo 408, § 2?, do COdigo de<br />

Processo Penal porque se encontram<br />

sob os efeitos do acautelamento<br />

preventivo e perduravam<br />

as raz6es que determinaram a decisdo<br />

judicial•»<br />

E as razOes preexistentes, que fundamentaram<br />

a prisâo preventiva,<br />

snip as seguintes:<br />

— o r8u, ao tomar conhecimento<br />

do pedido de prisao preventiva<br />

formulado pela autoridade policial,<br />

saiu da cidade, tomando rumo ignorado,<br />

se regressando quando soube<br />

do indeferimento do pedido;<br />

— vendera todo o seu gads, logo<br />

ap6s o crime;<br />

— constar que o recorrente estava<br />

em vias de vender sua propriedade<br />

rural;<br />

— haver dada mostra de pretender<br />

dificultar a acdo da justica ao<br />

recomendar a esposa do executor do<br />

crime, e a este, que se a Policia fizesse<br />

perguntas, dissessem que a<br />

mulher fora agarrada pela vitima.<br />

0 eminente Ministro Thompson<br />

Flores negou provimento ao recurso<br />

por entender prevalecerem os motivos<br />

invocados pelo juiz, e na() serem<br />

bastantes para a concessào dos beneficios<br />

do § 2? do art. 408 do Cedigo<br />

de Processo Penal os atributos da<br />

primariedade e dos bons antecedentes.<br />

E continua Sua Exceléncia: «a<br />

lei entrega ao juiz, em tal emergëncia,<br />

certa dose, nno de arbitrio, mas,<br />

de discricionariedade, para ajuizar<br />

da liberacão do reu pronunciado,<br />

mnxime quando com a prisäo decretada<br />

fundamentadamente».<br />

2 — Diz o § 2? do art. 408 do C6digo<br />

de Processo Penal, ao referir-se<br />

sentenca de pronüncia, que, use o<br />

rèu for primnrio e de bons antecedentes,<br />

poderá o juiz deixar de<br />

decretar-lhe a prisão ou revogä-la,<br />

caso JO se encontre preso».<br />

8 evidente que a lei nno confere ao<br />

Juiz o arbitrio de resolver o favor,<br />

ainda que o rOu retina os requisitos<br />

legais e nao haja razáo alguma que<br />

desaconselhe a concessno do beneficio.<br />

No caso em apreco, o recorrente<br />

refine, a nosso ver, todos os requisi-


tos exigidos pelo § 2? do art. 408 do<br />

C6digo de Processo Penal, fat° que<br />

nAo 6 negado pelo juiz que decretou<br />

a prise° preventive. E a prove nä°<br />

deixa d6vida, send° ele ate mesmo<br />

Jurado, tendo servido em varies sessees<br />

do Art<br />

Por outro lado, entendemos, data<br />

venia do Ministro Thompson Flores,<br />

nAo estar fundamentada a negative<br />

de revogaceo da prise°. 0 Julz<br />

limitou-se a declarer que perduraram<br />

os motivos que determinaram a<br />

prise° preventive.<br />

Ora, verifica-se do despacho que<br />

decretou a prise° preventive do recorrente,<br />

que se os motivos Justificayam<br />

aquela medida, nAo prevaleciam<br />

ma's por °caste° da pronüncia.<br />

Corn efeito, dos motivos alegados,<br />

naquela °caste°, permaneceu apenas<br />

o fato dele haver vendido o gado,<br />

porque todos os outros, neo s6 net,<br />

confirmaram a suspeita do Julz que<br />

decretou a prise° preventive, como<br />

ficaram superados. Realmente, afirmou<br />

o Julz constar que o recorrente<br />

deselava vender sua propriedade rural,<br />

prove de que deseJava fugir do<br />

local e da ace° da justice. Acontece<br />

que, como este provado nos autos, o<br />

acusado nä° tinha apenas uma propriedade<br />

no municipio, mas varies.<br />

Segundo, ficou tambem demonstrado<br />

que o afastamento do recorrente do<br />

local da culpa net) atendeu Aquele<br />

fim, Canto que, restabelecido, permaneceu<br />

no local de 22 de marco ate 5<br />

de abril, quando foi decretada sua<br />

prise° preventive, e esta s6 foi requericia<br />

pelo Representante do MInistério<br />

Piiblico em 29 do mesmo<br />

mes. Portanto, estava ele no local,<br />

quando foi relterada sua prised preventiva,<br />

e /leo se afastou, a espera<br />

da deciseo do Julz. Ora, ha prove de<br />

que sua ausencia no periodo de 14 a<br />

22 de marco deu-se por moll y° de<br />

sane.<br />

Por outro lado, a influencia sobre<br />

a testemunha !leo poderia mats pre-<br />

R.T.J. — 94 131<br />

valecer, Ja que ela havia prestado<br />

seu depoimento.<br />

Assim, a nosso ver, a simples declarageo<br />

do Julz da pronOncia de que<br />

perduravam as /*rubes que determinaram<br />

a prise° preventive net) 6<br />

bastante.<br />

3 — Por estes motivos, data yenta<br />

do eminente relator, dou provtmento<br />

ao recurso para deferir o pedido de<br />

habeas corpus.<br />

CONFIRMACAO DE VOTO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

(Presidente e Relator) — Senhores<br />

Ministros.<br />

Peco venia ao eminente Ministro<br />

Cunha Peixoto para manter o meu<br />

voto.<br />

Considero que o § 2? do art. 408 do<br />

C P P corn a redeye° que the emrprestou<br />

a Lei 5.941/73, atrlbulu ao<br />

Julz uma certa discricionariedade ao<br />

deixar de decretar a prise° do it<br />

que pronuncia, ou relaxer a do que<br />

je esteJa preso.<br />

NAo a bastante que seta o pronunciado<br />

primerio e de bons antecedentes,<br />

para se ver livre. Estas condi-<br />

Vies são substanciais, pressupostos<br />

mesmo da pretense°.<br />

Mas, apesar dlsso, podem advir<br />

razoes que desaconselhem continue<br />

em liberdade.<br />

0 magistrado tem que, fundamentadamente,<br />

as apresentar.<br />

Foi o que ocorreu. A prise() preventive<br />

foi decretada em despacho<br />

fundamentado.<br />

Ao pronunciar o paciente, asseverou<br />

o novo Ju!z que perdurava. E<br />

suas afirmacees nä° foram !Midas.<br />

Valem elas ate prove em contrario,<br />

e estas net* foram trazidas.


132<br />

Demais, é mister receber as afirmativas<br />

do juiz, nä() com reservas,<br />

mas, merecendo redobrado apreco<br />

porque ele, como acentuava Orozimbo<br />

Nonato, a que, estando no local,<br />

melhor pode ajuizar da conveninncia<br />

ou não da prisno, ate vezes varias,<br />

pelo preprio interesse do paciente.<br />

Repito, assim, peco vnnia para<br />

manter o meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RHC 57.337 — RJ — Rel.: Min.<br />

Thompson Flores. Recte : Oswaldo<br />

Ferreira ou Osvaldo Ferreira. Recdo.:<br />

Tribunal de Justica do Estado<br />

R.T.J. — 94<br />

do Rio de Janeiro. Imptes.: Jonas<br />

Lopes de Carvalho e outros.<br />

Decisao: Negaram provimento ao<br />

recurso de Habeas Corpus, vencido 0<br />

Ministro Cunha Peixoto.<br />

Presiancia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a Sessac)<br />

os Srs. Ministros Cunha Peixoto,<br />

Soares Munoz e Rafael Mayer. Ausente<br />

justificadamente o Sr. MM.<br />

Xavier de Albuquerque. Subprocurador-Geral<br />

da Reptiblica, o Dr.<br />

Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 25 de setembro de 1979 —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secreted°.<br />

HABEAS CORPUS N? 57.368 — SP<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Thompson Flores.<br />

Paciente: Douglas Melhem.<br />

Habeas corpus. Conhecimento em decorrencia de fato novo, julgamento<br />

da apelacao pelo Tribunal a quo.<br />

Prescricão segundo a pena concretizada na sentenca da qual<br />

recorreu a acusacão.<br />

Nesta expresseo compreende-se a acusaceo publica (M.P) ou<br />

privada (querelante) não se aplicando por isso a StImula 146.<br />

IV. Pedido conhecido, julgado em parte prejudicado, e Indeferido<br />

no restante.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigraficas<br />

por unanimidade de votos, conhecer<br />

do pedido, julgar prejudicado,<br />

em parte, e indeferir no restante.<br />

Brasilia, 2 de outubro de 1979 —<br />

Thompson Flores, Presidente e Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

Em sesseo de 22.02.79, assim relate!<br />

a pretenstio, fls. 79:<br />

«Condenado em primeiro grau a<br />

(9) nove meses e (10) dez dias de<br />

detencáo e multa como incurso nas<br />

sancdes dos arts. 138, 139 e 140, c.c.<br />

51, § 1?, todos do C6digo Penal,<br />

sem surds e sem poder apelar 11vre,<br />

porque primario não era, apelou<br />

o querelante, pleiteando a majoracão<br />

da pena.


Propugnou o paciente a concessAo<br />

de fiance para poder apelar<br />

em liberdade. Fol negada a pretensAo<br />

em ambas as instAncias.<br />

E porque o acerdilo se omitira<br />

sobre a prescricAo, plelteou-a, perante<br />

a 16? vara criminal, sendo<br />

negada.<br />

Dal o presente pedido de<br />

habeas corpus, pleiteando a extincAo<br />

da punibilidade.<br />

4. Coin as informacees e insercão<br />

de versos documentos, emitiu<br />

parecer a douta Procuradoria-<br />

Geral da Reptiblica pelo nAo conhecimento;<br />

acaso conhecido, pelo<br />

Indeferimento, fls. 75/7».<br />

0 pedido não fol conhecido,' remetidos<br />

os autos ao Egreglo Tribunal<br />

de Alcada Criminal.<br />

Sua ementa dispee, fls. 82.<br />

«Habeas corpus. Coacão emanada<br />

de julz de direlto. Descabe ao<br />

S.T.F. conhecer originariamente<br />

do pedido contra tal procedimento.<br />

Incidéncia do art. 119, I, 11, da<br />

ConstituteAo.<br />

II. Pedldo nä° conhecido, remetidos<br />

os autos ao Tribunal a quo.»<br />

Sucedeu que a 03.05.79, e citada<br />

Corte, apreclara a apelacão interposta<br />

pelo querelante e considerando<br />

o tema da extincAo da punibilidade,<br />

reconheceu, apenas, no pertinente ao<br />

crime da injOria, tomada sua pena<br />

in abstrato, repelindo-a corn alusAo<br />

aos de calla/11a e difamacAo, mantidas<br />

as sancees impostas em primeiro<br />

grau, (2) dots e (1) um ano, respectivamente,<br />

fls. 95.<br />

Houve voto vencido quanto a dene-<br />

gacAo da prescriclio nä() esclarecendo<br />

os autos, se foram ou nib), opostos<br />

embargos infringentes.<br />

4. Dal nAo haver o Tribunal a quo<br />

conhecido do pedido de habeas<br />

corpus, ern actIrdlio de 30.08.79, fls.<br />

106, longamente expondo o sucedido.<br />

R.T.J. — 94<br />

133<br />

Entrementes, em 08.05.79, esta<br />

Turma negou provimento ao R.H.C.,<br />

57.027-5, mantendo a decisào do Colegiado<br />

local que denegara pedido da<br />

habeas corpus pleiteando o reconhecimento<br />

da prescricão logo apes a<br />

prolacão do Julgado de 1? grau, condenaterio,<br />

fls. 113/7.<br />

Parecer da douta Procuradoria-<br />

Geral da RepUblica, reportando-se,<br />

no merits), ao parecer de fls. 77,<br />

verb's:<br />

Acaso seta superado este ebice<br />

preliminar, a mencAo a SUmula n?<br />

146 6 de todo indevida, data yenta.<br />

No despacho Judicial, que se vem<br />

de aludir, desponta, verbis:<br />

«0 querelante apelou (fls. 494),<br />

vindo teems, inclusive do Dr.<br />

Promotor (fls. 497 — 500, 537 —<br />

538). Sem contra-razees do querelado.»<br />

(vide fls. 72, grifamos).<br />

Ora, recorrendo o querelante nAo<br />

hA lugar a mencao a SUmula n?<br />

146, que obsta a prescricAo retroativa,<br />

«quando ha recurso da<br />

acusacao.<br />

E nem supor-se que a acusacgo,<br />

entAo consignada, seria a pUblica:<br />

a um, porque estar-se-'a distinguindo,<br />

onde o preceito não (Banngue;<br />

a dots, porque s6 se pode veildamente<br />

operar a retroacao, se o<br />

quantum sancionaterio imobilizase<br />

no decisum de 1? grau, o que<br />

incerto, presente pretensflo recursal<br />

a majoracao do mesmo.»<br />

E o relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores<br />

(Relator): Conheco do pedido, julgando,<br />

em parte, prejudicado, e, no<br />

restante, indeferindo-o.<br />

2. Corn o Julgamento da apelacão<br />

do paclente, posterlormente a dee"desta<br />

Turma, que devoiveu os<br />

autos ao Tribunal a quo, certo obsta-


134<br />

do ficou ele de apreciar o presente<br />

writ, dado que sobre a mat gria ja se<br />

pronunciara.<br />

E ao fazg-lo o acerdao, em<br />

questao, reconheceu a prescricao,<br />

considerando a pena, in abstrato, no<br />

pertinente ao crime de injOria.<br />

Ficou, pots, prejudicado o pedido a<br />

tal respeito.<br />

Remanesce a pretensao alusivamente<br />

a calfinia e difamacão.<br />

Para desatendg-la disse o acOrdao<br />

proferido na apelacao, fls. 95:<br />

R.T.J. — 94<br />

interposta apenas pelo querelante,<br />

pugnando pela exacerbacao da pena,<br />

descabe invocar a prescricao,<br />

corn base na Stimula 146, segundo<br />

<strong>jurisprudencia</strong> assente do S.T.F.D.<br />

E o meu voto.<br />

ADITAMENTO AO VOTO<br />

Ao voto que trouxe escrito e que<br />

tocante aos crimes de calif- acabei de ler, quern acrescentar<br />

«No<br />

nia e difamacao, corn penas, res- poucas palavras, tendo em conta os<br />

, de 2 anos e 1 ano, o termos da sustentacão oral que aca-<br />

pectivamente<br />

lapso prescricional g<br />

de 4 anos (ar- ba de ser produzida, e das considera-<br />

do C6cligo Penal), po- cOes que a respeito teceu o ilustre<br />

tigo 109, V<br />

rem, havendo recurso da acusacao Subprocurador-G eral 0 Sr. Ministro Thompson Flores<br />

(Presidente e Relator) e Senhores<br />

Ministros.<br />

da RepUblica,<br />

, ha como se falar em prescri- Professor Francisco de Assis Toledo.<br />

nag<br />

coo retroativa, consoante iterativa<br />

jurisprudgricia do Excelso Pretario<br />

e agasalhada pela maioria julgadora,<br />

vencido o 2? Juiz que a acolhia<br />

nos termos da Sirmula n? 146 e nos<br />

artigos 108, IV e 109, VI, do C6cligo<br />

Penal, considerada a pena aplicada,<br />

cujo lapso prescricional de 2<br />

anos decorrera entre o recebimento<br />

da denfmcia em 04.09.75 e a publicacao<br />

da sentence em 19.04.1978».<br />

Andou ele corn acerto, pois esta g<br />

a jurisprudgncia do S.T.F., calcada<br />

na Samula 146, a qual nap distinguiu<br />

para sua consideracâo que o recurso<br />

seja do Ministgrio Pithlico, ou do<br />

querelante. Engloba-o na expressao<br />

acusacao. Interpretara o paragrafo<br />

finial, do art. 110 do COdigo Penal<br />

corn a redacao originaria, o qual<br />

transformado em § 1?, pela Lei n?<br />

6.416/77, valeu-se do termo acusacao<br />

pondo-se, pots, de acordo corn a redacâo<br />

do verbete sumulado.<br />

Por isso sinalara esta Turma ao<br />

julgar o ja referido R.H.C. 57.027, na A alteracao introduzida no art go<br />

110 do COdigo Penal, convertendo<br />

seu Paragrafo folic° em 1?, e acrescentando<br />

urn 2?, nao proporciona ao<br />

paclente qualquer beneficio.<br />

Tratando-se de acao pOblica ou<br />

privada, a aplicacao da Sfunula 146<br />

somente tem lugar quando nao ocorra<br />

recurso da acusacao, seja atravgs<br />

do Ministgrio POblico, seja a Waves<br />

do querelante.<br />

0 que importa, consoante o substrato<br />

do verbete, e que a pena flxada<br />

na sentenca ja liar) possa ser majorade.<br />

Se corre o perigo de o ser, posto<br />

que nao o seja, a indiferente. n a imprecisao<br />

desse maximo que justifica<br />

sua consideracao para o efeito de<br />

examinar-se o prazo da prescricao.<br />

Essa fixacao definitive a que faz<br />

converter o maximo abstratamente<br />

considerado e o maximo fixado no<br />

julgado e ja definitivo.<br />

Por Ultimo, embora fale o § 2? em<br />

ementa aposta ao respectivo acOr- dem:meta, o certo 6 que esta ele ligaciao,<br />

fls. 113:<br />

do ao § 1? do qual advent, e nele nao<br />

«Se da decisao condenatoria hou- ocorre qualquer distincao, pots usa<br />

ye recurso da acusacao, posto que da expressão acusacao, que corn-


preende o acusador pUblico ou o querelante<br />

da acao privada.<br />

Corn estas consideracOes, as quaffs<br />

dou como incorporadas ao meu voto,<br />

mantenho as conclus6es j g anunciadas.<br />

E o acrescimo.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

HC 57.368 — SP — Rel.: Ministro<br />

Thompson Flores. Pte.: Douglas Me-<br />

'hem. Imptes.: Galba Menegale e<br />

Suety Aparecida Grandesso Perrone.<br />

Decisào: Conheceram do pedido, e<br />

julgaram prejudlcado em parte, e in-<br />

R.T.J. — 94 135<br />

deferiram no restante, nos termos do<br />

voto do Ministro Relator, decisão<br />

ungnime. Falou como Impte.: a Dra.<br />

Suety Aparecida Grandesso Perrone.<br />

Presidencia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a Sessäo<br />

os Senhores Ministros Xavier de<br />

Albuquerque, Cunha Peixoto e Rafael<br />

Mayer. Ausente, justificadamente,<br />

o Sr. Ministro Soares Munoz.<br />

Subprocurador-Geral da Repdblica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 2 de outubro de 1979 —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretário.<br />

RECURSO DE HABEAS CORPUS N? 57.764 — SP<br />

(Segundo Purina)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra.<br />

Recorrente: Enrico Zeurgo — Recorrido: Tribunal de Alcada Criminal<br />

do Estado de Sao Paulo.<br />

Se nlio obstante a conexAo ou continAncia foram instaurados processor<br />

dfferentes, a autoridade prevalente deverai avocar os processos<br />

que correm perante os outros julzos, salvo se IA estiverem corn<br />

sentence definitiva. Neste caso, a unidade dos processos se se dark<br />

ulteriormente, para o efelto de soma ou de unfficaciin de pens —<br />

art. 82 do C6digo de Processo Penal.<br />

RHC provido parcialmente, para que o juiz competente, por preveneAo<br />

e que ainda nAo tenha prolatado sentenea definitive, avoque<br />

todos os processos em curso pare julgamento.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e das notas taquigrAficas,<br />

por unanimidade de votos, em<br />

dar provimento parcial ao recurso.<br />

Brasilia, 14 de marco de 1980. —<br />

Mac( Falai% Presidente — Cordeiro<br />

Guerra, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra: 0<br />

V. Acerdäo recorrido e o do teor seguinte:<br />

«Trata-se de habeas corpus impetrado<br />

pelo Bel. Jose Carlos Pereira<br />

Vianna, em favor de Eurico<br />

Zeurgo, sob a alegacão de estar o<br />

paciente a sofrer constrangimento<br />

ilegal da parte dos MM. Juizes de<br />

Direito das 2?, 3?, 6a., 81., 10a.,<br />

13a., 16a., 20a., 21a., e 22a., Varas<br />

Criminals, em virtude de estar<br />

sendo processado por delito de furto<br />

qualificado, embora se trate de<br />

um Onico delito que deveria ser<br />

apurado num s6 processo. Assim,<br />

tendo o paciente sido absolvido da<br />

imputacáo no Juizo da 23a. Vara<br />

Criminal, deveria prevalecer essa


136<br />

decisao absolutoria, apenas. Se assim<br />

nao se entendesse deveria prevalecer<br />

a R. Sentenca condenatOria<br />

proferida no Juizo da 3a., Vara<br />

Criminal, anulando-se a R. Sentenca<br />

proferida no Juizo da 16a. Vara<br />

Criminal. Nos dois primeiros casos<br />

todos os demais processos deveriam<br />

ser arquivados apOs previo<br />

trancamento.<br />

Prestadas informacOes pelos<br />

MM. Juizes indigitados como autoridades<br />

coatoras, manifestou-se a<br />

douta Procuradoria da Justica pela<br />

denegacAo da ordem.<br />

Requisitados melhores esclarecimentos<br />

e apensados os autos das<br />

aches penais que correm contra o<br />

paciente nas 13a., 21a., 10a., Varas<br />

Criminals, voltou a douta Procuradoria<br />

da Justica a insistir no parecer<br />

anterior.<br />

E o relaterio.<br />

0 pedido de anulacao da R. Sentenca<br />

proferida no Juizo da 16a.<br />

Vara Criminal nao esta esclarecido<br />

suficientemente na impetracao<br />

porque nao se aponta nenhum vicio<br />

de que padeceria aquele R. Julgado.<br />

Ao que parece o douto impetrante<br />

se referiu a essa acao, ja decidida,<br />

porque nao poderia, quanto a<br />

ela, solicitar o trancamento como<br />

pediu corn relacao as demais aches<br />

em andamento.<br />

A questäo relativa a afirmacao<br />

de que se trata de delito Calico tarnbCzn<br />

nao pode ser examinada no<br />

Ambito estreito do habeas corpus<br />

porque exigiria o exame profundo<br />

dos autos das varias aches propostas.<br />

Tanto isso a exato que no caso<br />

julgado na 23? Vara Criminal o pa-<br />

R.T.J. — 94<br />

ciente foi absolvido por nao provada<br />

a materialidade do delito, ao<br />

que se af Irma, enquanto nos Juizos<br />

das 3? e 16? Varas Criminals o paciente<br />

foi achado culpado.<br />

Haveria a hipOtese de se tratar<br />

de delito continuado, como alias, a<br />

certidão de fl. 191 parece indicar.<br />

Mas tambem essa questa°, pelas<br />

mesmas raz6es relativas a hipOtese<br />

do delito ante() nao pode ser examinada<br />

no pedido de habeas<br />

corpus.<br />

Assim, denega-se a ordem, cabendo<br />

ao ilustre impetrante, oportunamente,<br />

querendo alcancar no<br />

Juizo das ExecucOes Criminals<br />

possivel unificacAo de penas.» (fls.<br />

199-201).<br />

Inconformado insiste o recorrente<br />

em que se trata de crime Wilco e que<br />

quando muito poderia ser classificado<br />

como crime continuado, que esta<br />

inocente da imputacao, pais os crimes<br />

foram praticados por seu cunhado,<br />

valendo-se de sua ausëncia,<br />

do depOsito da firma, de que era vigia.<br />

A douta Procuradoria-Geral da<br />

RepOblica ap6s resumir os fatos, assim<br />

conclui:<br />

«A nosso ver, todavia, desmerece<br />

acolhimento a irresignacAo.<br />

0 reconhecimento da alegada<br />

unidade dos fatos originadores das<br />

diversas acOes penais, a afirmacAo<br />

do carater continuado das condutas<br />

nelas cogitadas, ou ainda a proclamacAo<br />

da inocOncia do paciente,<br />

tudo isso 6 materia que apenas<br />

atraves de aprofundado exame dos<br />

fatos e das provas se poderia efetuar.<br />

Com os elementos oferecidos<br />

nestes autos a que nao se faz viavel<br />

tal analise, pots o cotejo entre


as diversas dentincias revela divergAncias<br />

no tocante as datas em que<br />

os delitos terlam ocorrido, bem como<br />

relativamente aos objetos furtados.<br />

Fica ressalvada, por6m, ao paciente,<br />

pleitear, junto aos Juizos<br />

em que tern curso os processos em<br />

andamento, a avocagão de que trata<br />

o art. 82 do CPP; bem assim, se<br />

for o caso, a unificacAo das penas<br />

aplicadas por sentencas definitivas.<br />

Febo improvimento do recurso,<br />

face ao exposto, 8 o parecer.<br />

Brasilia, 6 de marco de 1980. —<br />

Alvaro Augusto Ribeiro Costa, Procurador<br />

da Repilbilea» (fl. 224)<br />

E o relatOrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra<br />

(Relator): Varios foram os furtos em<br />

dias diversos. Cumpre, assim,<br />

aprecitt-los, urn a urn, em face da<br />

prova dos autos e V. acOrdAo recorrido<br />

assim decidiu, sem afastar a hipOtese<br />

de crime continuado.<br />

Sugere, corn acerto, a douta<br />

Procuradoria-Geral da Republica a<br />

aplicacAo do art. 82 do CPP a espécle,<br />

aos processos ainda Mc) julgados<br />

definitivamente.<br />

R.T.J. — 94 137<br />

Parece-me que, para esse Mu, deve<br />

ser provido o recurso, into 6, para<br />

que todos os processes sej am avocados<br />

e julgados pelo juiz competente<br />

para conhecer do primeiro, por distribuicAo,<br />

que ainda TIM) tenha proferldo<br />

definitiva sem prejuizo<br />

da unificacão das penas dos<br />

processes definitivamente julgados,<br />

no Juizo das Execucees, quando, entao,<br />

se decidira sobre o beneficio da<br />

continuidade eventualmente admissivel.<br />

E o meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RHC 57.764 — SP — Rel.: Min.<br />

Cordeiro Guerra. Recte.: Eurico<br />

Zeurgo (Adv.: Jos6 Carlos Pereira<br />

\Timm). Recdo.: Tribunal de Alcada<br />

Criminal do Estado de Sao Paulo.<br />

Decialo: Provido em parte nos ter-•<br />

mos do voto do Relator. UnAnime.<br />

PresidAncia do Sr. Ministro Thad<br />

FalcAo. — Presentes a SessAo os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves, e Deck) Miranda. Licenciado,<br />

o Sr. Ministro Leitão de Abreu.<br />

Subprocurador-Geral as Reptiblica,<br />

o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 14 de marco de 1980. —<br />

Hello Francisco Marques, SecretArlo.<br />

RECURSO DE HABEAS CORPUS N? 57.799 — MS<br />

(Segundo Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra.<br />

Recorrente: Alvaro Rodrigues de Vasconcellos Netto — Recorrido: Tribunal<br />

de Justica do Estado de Mato Grosso do Sul.<br />

Interpretaclio do art. 48 do Cedigo de<br />

de nub:lade da dernincia.<br />

Processo Penal. Argaicilo<br />

O Ministkrio KUM° ntio tem a disponibilklade que 6 inderrogivel.<br />

da<br />

Isto, porem,<br />

Lica° pens<br />

blico<br />

nito quer diver<br />

tato possa, que o Ministgrio<br />

em face das provas do inquerito,<br />

P<br />

um Ineldenie que<br />

conch& e escolhf<br />

contra quem apresentar<br />

envolva duos ou mob pessoas, aquela ou ague<br />

denOncla.<br />

RHC improvido.


138<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e das notas taquigreficas<br />

a unanimidade de votos, em negar<br />

provimento ao recurso.<br />

Brasilia, 21 de marco de 1980. —<br />

Djaci Falcao, Presidente — Cordeiro<br />

Guerra, Relator. -<br />

RELATORIO<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra: 0<br />

v. acerdeo recorrido da lavra do<br />

ilustre Desembar gador Gerval Bernardino<br />

de Souza, este assim concebido:<br />

«Depreende-se da materia relatada,<br />

que o impetrante alega a<br />

existencia de constrangimento Begat,<br />

porque o era° do Ministerio<br />

lico ofereceu denuncia contra o<br />

paciente, deixando de oferecer contra<br />

Walter Soares e, o recebimento<br />

da denuncia afrontou o principio<br />

da indivisibilidade da acdo penal,<br />

inscrito no art. 48 do Codigo de<br />

Processo Penal, pretendendo a nulidade<br />

da dentIncia oferecida contra<br />

o paciente.<br />

0 insigne representante do Ministerio<br />

Publico ofereceu a denOncia,<br />

funded() nos elementos informativos<br />

constantes do Inquerito<br />

Policial, consignando na denuncia<br />

o seguinte fato:<br />

«... no dia 10 de novembro de<br />

1978, por volta de 7.45 hs. no cruzamento<br />

da Av. Afonso Pena corn a<br />

rua Pedro Celestino, nesta cidade,<br />

a vitima Walter Soares, inadvertidamente,<br />

fechou, corn seu veiculo<br />

Dodge Dart, o Chevete do acusado<br />

que, bastante irado, desceu do carro<br />

e, apes dar alguns disparos,<br />

passou a agredir a vitima, corn<br />

revolver que portava, ficando a<br />

mesma ferida, pelo modo descrito<br />

no auto de exame de corpo de delito<br />

de f. 11.<br />

Para. fazer frente a agressão armada,<br />

a vitima entreou em luta<br />

corn o acusado, que por sua vez sofreu<br />

ligeiros ferimentos descritos<br />

no auto de fls., havendo a agressão<br />

finalmente cessado graces a intervencäo<br />

de terceiros.<br />

Depots de oferecida a denuncia<br />

contra o paciente, o impetrante requereu<br />

que os autos fossem corn<br />

vistas ao Ministerio Publico, Para<br />

suprir a falta existente, isto porque<br />

net) havia denunciado a vitima<br />

Walter Soares. 0 Ministerio<br />

co, ao receber os autos, colocou a<br />

materia nos seguintes termos:<br />

«Este Ministério nao "esqueceuse<br />

de oferecer denuncia" como<br />

quer o Requerente. E se nao apresentou<br />

a inicial, foi por ter visto somente<br />

atraves de uma analise<br />

complete das pecas colhidas, atos<br />

defensivos por parte de Walter<br />

Soares frente a um agressor armado<br />

e dando tiros em plena via ptblica,<br />

agredindo-o de maneira desnecesseriamente<br />

brutal.<br />

As escoriacOes apresentadas pelo<br />

acusado foram resultantes das manobras<br />

defensives da vitima, conforme<br />

argumentamos na nossa<br />

cial."<br />

Por nao ter o Ministério Publico<br />

oferecido denuncia contra Walter<br />

Soares e por ter o Magistrado recebido<br />

a denuncia contra o paciente,<br />

pretende-se a nulidade da denuncia<br />

oferecida contra o paciente, em nome<br />

do principio da indivisibilidade<br />

da acão penal.<br />

Em julgamento proferido por esta<br />

Egregla Turma Julgadora, no<br />

Habeas Corpus n? 17/79 de Corumbe,<br />

que tivemos a honra de relater,<br />

registramos que — «o principio da<br />

indivisibilidade da Kai penal, fixado<br />

no art. 48 do C6digo de Processo<br />

Penal nä° se apresenta como


compartimento estanque, esta Made<br />

aos delitos de acao privada e alcanca<br />

o Ministerio PUblico sem<br />

contudo atingir o seu livre convencimento<br />

como dominus — «A<br />

meu sentir, o Ministerio PUblico,<br />

nil° assume nenhuma conduta abusive<br />

ao proclamar, «que nee se<br />

sentindo suficientemente esclarecido<br />

para o exerciclo do jus<br />

denunciandi, reserve o direito de<br />

cumprir o exercicio apes a apuraa)<br />

dos fates.»<br />

Neste mesmo sentido, o ilustre<br />

Des. Athayde Monteiro da Silva, —<br />

quando Procurader-Geral da Justice<br />

do Estado de Mato Grosso, consignou<br />

em seu parecer, in anais<br />

Forenses do Estado de Mato<br />

Grosso — vol. XXIV — 51 — «NA°<br />

estando comprovado nos autos a<br />

co-participacAo de outrem, no fato<br />

delltuoso imputed° ao paciente,<br />

nAo se pode, tamb6m, proclamar<br />

que houve violacAo do prhicipio da<br />

indivisibilidade da acAo penal. Somente<br />

quando estiver Clara e manifesta<br />

nos autos que o representante<br />

do Ministerio Pithlico procedeu,<br />

arbitradamente, escolhendo o<br />

a dedo os rens, perseguindo a tins e<br />

protegendo a outros, em detrimento<br />

da repressAo penal, fazendo corn<br />

isso o Jogo de interesses escusos, 6<br />

que se impee o reconhecimento do<br />

principle da indivisibilidade da<br />

acAo penal, para que, ern sendo<br />

oferecida nova der/Uncle, todos os<br />

participes do delito sej am chamados<br />

a responsabilidade pelos atos<br />

praticados.»<br />

0 vote proferido pelo Des. LeAo<br />

Neto do Carmo, define corn perfeiclio<br />

a espécie, quando afirma: «...<br />

quero assinalar que nAo MI ate hoje,<br />

capaz de compreender a extensão<br />

que se tern pretendido dar ao<br />

principio da indivisibilidade da<br />

acAo penal. Parece-me que meu<br />

raclocinio tem algum fundamento,<br />

porque a disposidlo invocada pelos<br />

impetrantes e o artigo 48 do Cedigo<br />

R.T.J. — 94 139<br />

de Processo Penal, e se refere especificamente<br />

a queixa; portanto,<br />

aos crimes de ea/ privada, onde o<br />

legislador pretendeu exatamente<br />

evidenclar que esta acao privada,<br />

cuja iniciativa apenas ele transferiu<br />

a parte, nAo pode ser exercitada<br />

no interesse de sua vingance.<br />

Apenas, e e born que se frise isso,<br />

na acAo privada, o legislador<br />

transfere a parte a iniciativa da<br />

ea). Ela, no fundo, continua a ter<br />

a mesma publicidade que a WO<br />

ou ern outras palavras, segundo<br />

able= penalistas, o sided°<br />

passive permanente desses delitos<br />

tambem e o Estado.»<br />

Ora, esse principle pode e deve<br />

se estender, come salutar ao Ministerio<br />

Pithlico, mas nAo obriga o<br />

Promoter a denunciar, a exercer o<br />

jus denunciandi, a nAo ser quando<br />

ele age convencido de que ha nos<br />

autos elementos para faze-lo.<br />

«NAo veto, absoiutamente, como<br />

pudesse efetivamente o promotor,<br />

em sA consciencia, oferecer a dean/de<br />

contra os indiciados, sem<br />

elementos de conviccao nos autos.»<br />

(Rev. cit. p. 54 a 55).<br />

0 julgado inscrito in RT vol.<br />

429/482/3 nAo tern nenhuma apneacrto<br />

a especie.<br />

E bem de ver que que o principle<br />

da lndlvislbllidade da acAo penal<br />

nAo significa alvitre concedido a<br />

parte acusada, de, por sua yentade,<br />

distribuir entre terceiros, o peso<br />

da acusacilo (Min. Cunha Peixoto,<br />

RTJ 80/383).<br />

De resto, o STF, tendo como rel.<br />

o Min. Antonio Neder, in RTJ vol.<br />

79/399 a 401, decidindo especie semelhante,<br />

construiu o seguinte entendimento:<br />

«1 — Pete que expressam os<br />

arts. 48, 49 e 51 do Cedigo de Processo<br />

Penal, a Kilo privada 6 indivisivel.<br />

0 principle 6 aplicAvel<br />

acAo Pal)lice.


140<br />

R.T.J. — 94<br />

2 — Se o MP denuncia urn s6 dos Custas pelo impetrante.<br />

protagonistas de certa briga, por E o meu voto.» (fls. 51-55).<br />

entender que o outro nao cometeu Inconformado, o recorrente insiscrime,<br />

nenhuma ofensa pode ser te, invocando o acerclao do Tribunal<br />

vislumbrada, nesse fato, ao sobre- de Justice do Estado de Sao Paulo<br />

dito — prtncipio.<br />

(RTJ 429/484) em que oa denuncia<br />

Sem clavicle, pelo que se la nos nao pode acusar urn individuo no f a-<br />

arts. 48, 49 e 51 do C6digo de Proto delituoso e excluir, Spont sua oucesso<br />

Penal, a acao privada 6 indi- tro, pots que ao promotor falece atrivisivel,<br />

mar esse principio, embora buicao para tanto. 8 nula a denüncia<br />

aplicavel a acao pablica, nao tern rn assim se apresente», invocando<br />

nenhuma pertinencia corn<br />

o caso o principio da indisponibilidade da<br />

noticiado nester autos, no goal, acao penal pablica.<br />

born se va, sem dificuldade, nao in-<br />

cide. Os impetrantes estap eviden- A douta Procuradoria-Geralda<br />

temente equivocados. Corn efeito, Republica, em parecer do ilustre<br />

por entenderem que o paciente, e Subprocurador-Geral Francisco de<br />

outra pessoa trocaram socos, con- Assts Toledo, assim opina:<br />

cluem eles que ambos deviam ser g<br />

denunciados, considerando, poram, 3 — Nao vemos o que reparar na<br />

que o Ministério Fablico denunciou decisão recorrida que, para chegar<br />

somente um dos participes da bri- a conclusão a que chegou,<br />

ga, sustentam, de maneira conclu- arrimou-se em acerclao do Excels°<br />

dente, que, por isso, ficou poster- Fretful°, Relator Min. Antonio Negada<br />

a regra de que a indivisivel a der, publicado na RTJ 79/399, cilia<br />

acao penal. Ora, se o Ministario Pa- ementa 6 a seguinte:<br />

blico ilk, denunciou o segundo protagonista<br />

da contenda, a porque «1. Pelo que expressam os arts.<br />

'lac) vislumbrou nele a conduta do-<br />

48, 49 e 51 do Cedigo de Processo<br />

losa que the justificasse a denim-<br />

Penal, a acao privada 6 indivisivel.<br />

cia, e isto nao diz respelto ao 0 principio 6 aplicavel a acao paprincipio<br />

de que 6 indivisivel a bike.<br />

acao penal, nem constitui assunto 2 — Se o MP denuncia um s6 dos<br />

que pertenca ao paciente, que se protagonistas de certa briga por<br />

nao beneficia do pormenor, o qual, entender que o outro TIM:, cometeu<br />

alias, nao tern como ser discutido crime, nenhuma ofensa pode ser<br />

em processo de habeas corpus, por vislumbradai nesse fat% ao sobrese<br />

achar envolvido ern prove. A te- dito prindpio.<br />

se dos impetrantes nao passa de<br />

algo anOmalo, e que, s6 por isto, 3 — Peticao de Habeas corpus Innao<br />

tern como ser considerada.» deferida.»<br />

Se o Ministario Pablico disse cla- 4 — Corn efeito, o principio da inramente<br />

porque nao denunciou, divisibill dade da acao penal, que<br />

deixou expresso o seu convenci- se dirigt. ao Ministario Pablico e ao<br />

mento. 0 recebimento da denim- Juiz, impondo-Ihes o dever de dilicia,<br />

pelo Magistrado, Ilk) constitui &ride e imparcialidade, pode ter<br />

nenhuma afronta do principio da a sua correta aplicacäo fiscalizada<br />

indivisibilidade da acao penal, nä° pela defesa. Essa faculdade, pose<br />

podendo falar em constrangi- ram, nao deve ser rebaixada a memento<br />

!legal.<br />

ro instrumento de obstaculizacao<br />

Pelos fundamentos expostos, deda<br />

acao penal pablica, para transnego<br />

a ordem. acao ulna


egra que objetiva a mats ample e<br />

complete persecucAo do crime em<br />

meio de se impedir esse mesmo<br />

objetivo.<br />

5 — Pelo Febimprovimento, 6 o parecer.»<br />

(fls. 97-98).<br />

E o relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra<br />

(Relator): No RHC 57.223 — SP, esta<br />

Egregia Turma repellu, a unanimidade,<br />

a tese sustentada pelo recorrente<br />

— RT.! 91/477.<br />

Disse, entAO, eu como relator:<br />

«Sem davida entendeu esta<br />

Egregla Corte no HC 53.990 — SP<br />

— relator o eminente Min. Antonio<br />

Neder, RTJ 79/399, que acao penal<br />

6 indlvisivel, e que tal principio 6<br />

aplicavel A acAo pablIca, mas, entao<br />

se decidlu que se o MP denunciou<br />

urn s6 dos protagonistas de<br />

certa briga por entender que o outro<br />

nAo cometeu crime, nenhuma<br />

ofensa pode ser vislumbrada, nesse<br />

fato, ao sobredito principlo.<br />

Realmente, Como observa Hello<br />

Tornaghi «o Wren° de acAo 6 direito<br />

de pedir ao Estado que face justice,<br />

nAo seja instrtunento de vindita.<br />

Entendeu a let que pedir a puntcAo<br />

de uns e nAo de outros defensores<br />

nAo seria solicitor justice, sum<br />

exercer vinganca. Dal a regra de<br />

indivisibilidade da acAo privada.<br />

Quanto A publica nAo havia necessidade<br />

de preceito, expresso, ja<br />

que o MP nAo pode renunciar ao<br />

exercicio da acAo» (Instil:Wefts do<br />

f. 357, TOMO, 2).<br />

De fato o MP nil° tem a disponibilidade<br />

da acAo penal, que 6 inderrogavel.<br />

Isto, porem, nAo quer<br />

dizer que o MP nAo possa, em face<br />

das proves do inquerito, concluir e<br />

escolher, num lncidente que envolva<br />

dual ou mats pessoas, aquela<br />

ou aquelas contra quem &presenter<br />

dentine's.<br />

R.T.J. — 94 141<br />

Ele e o dominos lulls e somente<br />

cabe ao Julz, art. 28 do COdigo de<br />

Processo Penal, representar ao<br />

Procurador-Geral da Justica contra<br />

o arqulvamento do inquerito,<br />

ou a exclusAo, eventualmente nAo<br />

justificada, de algum indiciado.<br />

NAo se pode compelir o MP a<br />

agir, pots, a autonomia deste em<br />

face da Magistrature o impede. Ne<br />

procedat Judea ex officio.<br />

Assim, nAo obstante o precedente<br />

citado faro reserves ao conceito<br />

de que o art. 48 do COdigo de Processo<br />

Penal, dirigido tAo-s6 as<br />

queixas, nos crimes de acAo privada,<br />

pots, a renancia ao exercicio do<br />

direito de quelxa, em relacAo a urn<br />

dos autores do crime a todos se estender&<br />

(art. 49 do Cedigo de Processo<br />

Penal), tambem abranj a generalizadamente<br />

crimes de acAo<br />

pablica, que a meu ver, nAo se incluem<br />

no preceito, por forca do<br />

art, 28 do Cadigo de Processo Penal<br />

e motivos expostos.<br />

De fato, a norma do art. 48 do<br />

COdigo de Processo Penal, a meu<br />

ver, nAo compreende a acAo penal<br />

pablica, que, nAo obstante, 6 inderrogavel.<br />

Nilo he confundlr este conceito<br />

com a indivisibilidade, pots nAo pode<br />

o MP agar contra quem nAo teria<br />

indiclos de autorla ou prova de<br />

crime.<br />

Nao obstante, mesmo que asslm<br />

nAo se entendesse, o certo 6 que,<br />

na especie, nAo ha como atefider-se<br />

As pretens6es do recorrente, como<br />

demonstra o parecer da<br />

Procuradoria-Geral da Reptiblica a<br />

que me reporto, para negar provimento<br />

ao recurso.» (RTJ 91/480).<br />

o meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RHC 57.799 — MTS — Rel., MM.<br />

Cordeiro Guerra. Recte. Alvaro 110-


142<br />

drigues de Vasconcellos Netto (Adv.:<br />

Rene Sufi). Recdo.: Tribunal de Justica<br />

do Estado de Mato Grosso do<br />

Sul.<br />

Decisao: Negado provimento. Unanime.<br />

Presidéncia do Sr. Ministro Djaci<br />

Falcao. Presentes a Sessao os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra e Decio<br />

R.T.J. — 94<br />

Miranda. — Ausente, justificadamente,<br />

o Sr. Ministro Moreira Alves.<br />

Licenciado, o Sr. Ministro, Leitao de<br />

Abreu. — Subprocurador-G eral da<br />

Republica, o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 21 de marco de 1980. —<br />

Hello Francisco Marques, Secretario.<br />

RECURS() DE HABEAS CORPUS N? 57.803 — RJ<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Decio Miranda.<br />

Recorrente: Valter de Souza Santos — Recorrido: Trib. de Justiga do<br />

Est. do Rio de Janeiro.<br />

Processual--Penal. Inqu6rito policial. Arquivamento. Inqu6rito<br />

que dura mats de seas anos, sem nada apurar contra urn dos indiciados<br />

Arquivamento requerido pelo twig° do Ministériolico, quanto<br />

a esse indiciado. Despacho que, reconsiderando deferimento anterior,<br />

devolve o inqu6rito a Policia para prosseguimento, em vez de<br />

proceder como determina o art. 28 do C6d. Proc. Penal. Caracterizacao<br />

da violencia a liberdade de locomogão em sentido amplo, uma<br />

vez que o indiciado não consegue atestado de bons antecedentes, assim<br />

impecUdo de obter emprego e de exibir a prova de nada dever A<br />

Justica Penal. Corn os ascendentes indices de criminalidade, tambem<br />

os inocentes estilo sob permanente suspeita, necessitando ter acesso<br />

Mal a prova de sua conclicAo. Assim como a falta de justa causa pa-<br />

rs a acao penal, embora envolvendo apenas remota ameaca a liberdade<br />

de locomovão dã lugar ao habeas corpus, tambem o direito ao<br />

regular processo do pedido de arquivamento do inqu6rito policial conduz<br />

mesma concesslio.<br />

ACORDAO<br />

te, Valter de Souza Santos, no homieldio<br />

cometido contra Aluizio Pe-<br />

Vistos, relatados e discutidos estes dro da Silva, foi instaurado inquérito<br />

autos, acordam os Ministros do Su- policial em 17-10-1973, inquerito esse<br />

premo Tribunal Federal, em Segun- sem solucao ate hole.<br />

da Turma, na conformidade da ata<br />

de julgamentos e das notas taquigra- 0 paciente, dizendo nada ter a ver<br />

fleas, a unanimidade de votos, dar corn o caso, queixa-se de que tal inprovimento<br />

ao recurso para conce- diciacao, que la dura mats de seas<br />

anos, o impede de tirar atestado de<br />

der a ordem.<br />

bons antecedentes para melhorar de<br />

Brasilia, 18 de marco de 1980 — emprego<br />

Djaci Falcao, Presidente. — Decio<br />

Miranda, Relator. A 4? Camara Criminal do Tribunal<br />

RELATORIO<br />

de Justica do Estado do Rio de Janeiro<br />

denegou a ordem, sob o funda-<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda: Pa- mento de que «o habeas corpus» nag)<br />

ra apurar o envolvimento do pacien- a meio adequado para compelir-se o


Juizo apontado como coator a arquivar<br />

inquerito policial, em que o paciente<br />

figura como indiciado, a teor<br />

do parecer da d. Procuradoria, de f.<br />

40, que, nos termos regimentals, passa<br />

a integrar este acerdAo». U. 45).<br />

0 parecer, a que se refere o acerdAo,<br />

reza, em sua parte precipua:<br />

«3. Portula o impetrante, em resumo,<br />

que a ordem sej a concedida<br />

para o fim de determinar-se o arquivamento<br />

do dito inquérito com<br />

relacAo ao paciente ou, se essa medida<br />

nAo for adotada, a remessa do<br />

mesmo inquerito (cujo arquivamento<br />

partial, alias, is foi requerido<br />

pelo Dr. Promotor de Justica),<br />

ao Exmo. Sr. Procurador-Geral da<br />

Justica, para as providencias p<strong>revista</strong>s<br />

no art. 28 do C6digo de Processo<br />

Penal.<br />

NAo vejo, data yenta, no caso,<br />

constrangimento 'legal, suscetivel<br />

de ser sanado pela via do habeas<br />

corpus. Este nAo 6, sabidamente,<br />

mats tame° para obter-se o arquivamento<br />

de inquerito policial, tanto<br />

mats que o inquerito, na especie.<br />

sequer foi terminado. E o pedido<br />

de arquivamento, cuja iniciativa<br />

cabe, por lei, ao Orgão do Minist6rio<br />

POblico, pressup6e o exame dos<br />

ele.mentos de prova, relacionados<br />

corn os fatos apurados no inquerito<br />

policial ou nas pecas de informacAo,<br />

e esse exame descabe, em<br />

principio, segundo pactfica jurisprudencla,<br />

no limitado Ambito do<br />

remetho herolco.<br />

E inegAvel que, de ha muito,<br />

ja foram esgotados os prazos que a<br />

lei preve para o encerramento das<br />

investigacOes preliminares, mesmo<br />

em se tratando de fato de dificil<br />

elucidacAo (art. 10, 4 3?, CPP), e<br />

certo e, tambem,, que esse prolongado<br />

retardamento esta dificultando<br />

a urn cidadAo (cuja inocencia se<br />

presume, ate prova contrArio) o It-<br />

R.T.J. — 94 143<br />

vre exercicio dos direitos que a<br />

Carta Magna the assegura. Mas<br />

ocorre, por outro lado, que a rigor<br />

o alegado constrangimento ilegal<br />

nAo interfere corn a liberdade de<br />

locomocão do paciente, e essa liberdade<br />

a que, sobretudo, se visa<br />

resguardar por meio do habeas<br />

corpus (art. 153, g 20, da ConstituicAo<br />

Federal). Alias, se irregularidades<br />

se podem vislumbrar no modo<br />

como se vem portando a autoridade<br />

policial, tern o pactente, para<br />

coibi-las ou remediA-las, adequados<br />

recursos legais A sua disposicão,<br />

inclusive na esfera administrativa.»<br />

(Fls. 40-1)<br />

Recorre o impetrante, argumentando:<br />

«0 Amago da questa() consiste,<br />

pots, em tres pontos que se interligam,<br />

selando um a sorte do outro<br />

Primeiro, 0 Orgetto do M.P. requereu<br />

a exclusito de um dos indiclados<br />

em inquerito policial, e o arquivamento<br />

em relacito a ele, prossegulndo<br />

a instrucäo em relacito ao<br />

outro indiciado, como ocorreu (fis.<br />

175, 193v. e 194 do inquerito), e explicitamente<br />

foi deferido pelo entAo<br />

Dr. Juiz Sumariante da 2? Vara<br />

Criminal (fls. 176, 180v. e 192 do inquerito),<br />

sendo, inclusive, expedido<br />

o officio ao I.F.P., determinando-se<br />

o cancelamento na folha penal do<br />

Paciente da anotacilo referente ao<br />

inquerito.<br />

Ressalte-se, ademals, que o llustre<br />

Dr. Juiz Sumariante ora em<br />

exercicio naquela Vara, coator, intcialmente,<br />

também chegou a admitir<br />

o arquivamento, embora se<br />

prendendo a detalhes de semantica,<br />

nAo entendendo que o douto Orgfio<br />

do M. P., ao requerer o cancelamento<br />

da indiciacAo contra o Paciente,<br />

nada macs estava pedlndo


144<br />

do que o arquivamento do inquerito<br />

em relacdo ao mesmo.<br />

Tanto 6 assim que a ilustre autoridade<br />

coatora, em seu r. despacho<br />

de f. 194, assim se manifestou:<br />

g<br />

o cancelamento, antes de<br />

arquivar-se o inquerito, e MadmissivelD<br />

Dal, o !lustre Dr. Promotor de<br />

Justica, em sua douta promocAo de<br />

f. 200, insistindo na tese do arqu'vamento<br />

partial, ajustou-se ao entendimento<br />

do Dr. Juiz Sumariante,<br />

e assim se manifestou:<br />

somos pelo Arquivamento com<br />

relacão a Valter de Souza Santos,<br />

prosseguindo-se a instrucAo com<br />

relacAo a Ney Gil Nunes, ate porque<br />

nada impecttrit a dentmcla<br />

contra Valter se, ao curso da instruflo,<br />

novos elementos de informaflo<br />

forem oferecidos» (grifos<br />

do Recorrente)<br />

vindo, em seguida, surpreendentemente,<br />

o r. despacho de f. 200v.,<br />

que ensejou o recurso de Habeas<br />

Corpus:<br />

R.T.J. — 94<br />

Mantenho o despacho de f. 194, já<br />

que o arquivamento, em parte,<br />

do inquhrito, 6 Incabiveh (Grifos<br />

do Recorrente).<br />

0 segundo ponto a ser considerado<br />

6 o do constrangimento ilegal do<br />

Paciente, anteriormente abordado,<br />

ou seja se o fato de se impedir que<br />

ele trabalhe onde sempre<br />

trabalhou — seguranca banceria —<br />

obrigando-se a viver de biscates,<br />

consiste ou não em constrangimento<br />

ilegal.<br />

0 tercelro ponto decorre dos dots<br />

primeiros: se 6 ilicito o arquivamento<br />

do inquhrtto em relacito ao<br />

Paciente, por absoluta falta de provas<br />

em relacAo a ele, nAo observando,<br />

ademais, a autoridade coa-<br />

tora o que dispoe o art. 28 do CPP,<br />

conclui-se que obstar esse arquivamento<br />

constitui-se numa violencia<br />

em relacdo ao Paciente, que fica<br />

impedido de trabalhar, tendo-se,<br />

então, inelutavelmente, que o unico<br />

reit-161:110 cabivel para reparar a in-<br />

Justica e o habeas corpus e que, a<br />

partir dessa constatacAo, a autoridade<br />

coatora a aquela que denega<br />

o arquivamento sem poder para isso<br />

e, por via de conseqtiencia, impede<br />

ao Paciente o exercicio de um<br />

dos direltos mais sagrados que a<br />

Carta Magna the assegura; o direito<br />

de trabalhar para prover condignamente<br />

sua subsistencia e de<br />

sua mae, de quem e arrimo.<br />

Esta e a hipotese do Habeas<br />

Corpus, injustamente denegado,<br />

data yenta.<br />

NAo pretendeu o impetrante usar<br />

do remedio herOlco para requerer<br />

pura e simplesmente o arquivamento<br />

do inquerito, passando por<br />

sobre as atribuicOes do Orgao do<br />

M.P. e a jurisdicAo do Juiz, mas,<br />

isto sim, a cessacAo do constrangimento<br />

ilegal de que este sendo vitima<br />

o paciente, jA então por parte<br />

da autoridade coatora, a partir do<br />

momento em que negou, sem amparo<br />

legal, ao Orgao do M.P. de 1,<br />

InstAncia direito e dever inarredeveis<br />

que ]he faculta o C.P.P. (art.<br />

28), tanto mais que se ele pode o<br />

maxima (oferecer denfmcia, requerer<br />

dlligencias e ate o arquivamento<br />

de inquerito em relacao a todos<br />

as indiciados), pode, tambem, corn<br />

muito mais razAo, e fundamento<br />

legal, o minima, ou seja, o arquivamento<br />

em relacão a urn dos indiciados,<br />

tanto mats de este indiciado<br />

estar sendo vitima de um gritante<br />

erro policial.<br />

Tanto que o Promotor de Justica<br />

pode, sempre, denunciar alguns indiciados<br />

e excluir outros da mesma<br />

peca acusattria.


Se esta faculdade the for denegada,<br />

come feito no v. acerdao recorrido,<br />

e mats do que uma faculdade,<br />

urn dever, entao se esters diante<br />

do caos social e juridic°, da derrocada<br />

de flosses instituicaes Juridicas!<br />

A prevalecer o entendimento da<br />

autoridade coatora, acobertada pelo<br />

E. Tribunal a quo estarao todos,<br />

inocentes e criminosos, ao sabor do<br />

arbltrlo de qualquer autoridade po-<br />

'fetal que resolve, ao seu talento,<br />

indicter quem the aprouver, ate<br />

que urn dia, ou muitos anos depots,<br />

como e o caso em exame, possa o<br />

M.P. requerer o arquivamento do<br />

inquerito em relacAo apenas a<br />

todos (nunca em relearn apenas ao<br />

inocente), ou enttio, pasme-se, oferecer<br />

denancla apenas contra os<br />

verdadelros reus e, se entao, requerer<br />

a exclusAo dos inocentes do<br />

°those inquerito!!!<br />

Desse modo, embora o llustre<br />

Dr. Procurador da Justice, em seu<br />

douto parecer, In fine, tenha excluldo<br />

o habeas corpus como remedlo<br />

para cura da !legal situacao, o<br />

tato é que o recurso adequado para<br />

coibir o constrangimento 'legal de<br />

que este sendo vltima o Paclente,<br />

como demonstrado, a mesmo o<br />

Habeas Corpus, e nä° qualsquer<br />

outros recursos legais, multo menos<br />

na esfera administrative, sobretudo<br />

na esfera administrative,<br />

onde talvez sejam necessaries<br />

mats sets anos para se corrigir as<br />

irregularidades da atividade da autoridade<br />

PoBetel. » (Fls. 51-4).<br />

Oficiando nos autos, o Subprocurador-Geral<br />

Prof. Francisco<br />

de Assts Toledo manifesta-se pelo<br />

improvimento do recurso.<br />

Para isso, considera que, «podendo<br />

o Juiz, antes de apreclar o pedido de<br />

arquivamento, determiner diligenclas<br />

de °tido para meihor apuracao<br />

dos fates, nada o impede de remeter<br />

a apreciacao de urn pedido de arqui-<br />

— 94 145<br />

vamento, parcial e antecipado, para<br />

depots de concluidas as investigacties<br />

em curso9. «De resto, acrescenta,<br />

inexistindo qualquer cerceamento<br />

a liberdade de locomocao do paciente,<br />

inexiste o que corrigir na via do<br />

habeas corpus*. (F. 62).<br />

E o relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda (Relator):<br />

Somente uma testemtmha, Irma<br />

da vitima, fez alusao dubitativa<br />

a um certo Walter, que nem se sabe<br />

se era o paclente.<br />

Disse que aseu Irma°, antes de dar<br />

entrada no Hospital, confessou a declarante<br />

que quem the feriu foi Ney<br />

e que Walter, teria tambem participadoo.<br />

(F. 14 nuidlo).<br />

Isto foi dito em 1973, em discor-<br />

dAncia com as demais testemunhas,<br />

nenhuma das quaffs se referiu a Walter.<br />

Passados tantos anos, o Ministerio<br />

Pllblico requer o arquivemento<br />

quanto a Walter e o prosseguimento<br />

do inquerito quanto a Ney.<br />

Estava o Juiz adstrlto ou a deferir<br />

o arquivamento ou a exercer a prance<br />

do art. 28 do Cad. Proc. Penal, fazendo<br />

remessa dos autos ao<br />

Procurador-Geral.<br />

NAo the era dado recusar o pedido<br />

de arquivamerito, que, embora dlzendo<br />

respelto a urn se dos incliciados,<br />

nAo se poderia dizer parcial, expressAo<br />

que ma's seria adequada se<br />

o arquivamento se limitasse a alguma<br />

dentre varies aches mencionadas<br />

em certo inquerito.<br />

NAo aceito, tambem, a adversative<br />

de nAo se achar em causa a liberdade<br />

de locomocito do indiciado.<br />

Hoje, corn os ascendentes Indices<br />

de criminalidade, a provocar, paredoxelmente,<br />

permanente suspeita<br />

contra os preprios Inocentes, constitui<br />

ameaca A liberdade de locomo-


146<br />

cão o invididuo nao poder exibir,<br />

R.T.J. — 94<br />

quando solicitado, carteira de identidade,<br />

ou apresentar-se candidato a<br />

emprego corn a possibilidade de se<br />

descobrir que este indiciado por homicidio.<br />

Assim como a falta de justa causa<br />

para a acao penal, embora envolvendo<br />

remota ameaca a liberdade de locomocao,<br />

de lugar ao habeas corpus,<br />

tambem o direito ao processo regular<br />

do pedido de arquivamento do inquerito<br />

policial conduz a mesma concessao.<br />

A longa indiciacão, que o Ministerio<br />

Pithlico entende sem causa legitima,<br />

nao pode ser mantida pelo simples<br />

querer do magistrado, adstrito<br />

a deferir o arquivament o do inquerito<br />

quanto ao indiciado, ou submeter<br />

o pedido a consideracao do Procurador-Geral<br />

da Justica.<br />

Dou provimento ao recurso, para<br />

conceder a ordem, a fim de restabelecer<br />

o despacho anterior, do Dr.<br />

Juiz, que determinara o cancelamento<br />

da indiciacao do paciente ( fls. 24v. fine<br />

e fls. 25).<br />

E meu voto.<br />

VOTO<br />

O Sr. Ministro Moreira Alves: Sr.<br />

Presidente, estou de acordo corn o<br />

Sr. Ministro Relator, mas por outro<br />

fundament° . A meu ver, tendo o juiz<br />

dado o despacho, determinando o arquivamento,<br />

exauriu-se a sua jurisdicao,<br />

nao podendo ele voltar Wes.<br />

Não fosse ism), e nao concederia<br />

habeas corpus, porque nao se podt<br />

retirar do Juiz a possibilidade de, antes<br />

de manifestar-se, determinar a<br />

balsa dos autos a Policia, e, corn base<br />

nas diligencias cumpridas, indeferir o<br />

pedido de arquivamento, ordenando<br />

que os autos seja encaminhado s ao<br />

Procurador-Geral da Justica.<br />

Corn base nesse fundamento, tamban<br />

dou provimento ao recurso<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra:<br />

Sr. Presidente, o Ministerio Pfrblico<br />

6 o dominus lit's. A ele compete, recebendo<br />

o inquerito policial, apresentar<br />

dentincia ou requerer o arquivamento,<br />

e, se ache-10 insuficientemente<br />

instruldo requerer a Policia<br />

diligencias complementare s. Nesta<br />

fase do inquerito policial, nao compete<br />

ao magistrado, ex officio, determinar<br />

diligencias a Policia, porque<br />

ninguém pode ser juiz e acusador ao<br />

mesmo tempo, salvo no caso das<br />

contravencOes penais. De modo que<br />

nä° tem o Juiz legitimidade para<br />

acusar; ele s6 tern a faculdade a que<br />

se refere o Procurador-Gera l da Republica,<br />

de, uma vez proposta a acao<br />

penal, para seu esclarecimento, determinar<br />

as diligencias que entender<br />

necessaries.<br />

Mas, no caso o inquerito policial<br />

ainda estava no ambito das atribuicOes<br />

do Ministerio PUblico, e este entendeu,<br />

certo ou errado, que devia<br />

manifestar-se pelo arquivamento da<br />

acusacao formulada contra o paciente.<br />

Assim, se ele o fez e o fez condicionalmente,<br />

sem prejuizo de que,<br />

mats tarde, pudesse examinar novas<br />

provas, porque ate o momento nenhuma<br />

prova existia, o Dr. Juiz s6<br />

Mira duas atitudes: deferir ou representar<br />

ao Procurador-Geral da Justica.<br />

Ele optou pelo deferimento. Nessa<br />

conformidade, estava preclusa a<br />

acusacao, nesta fase, ao indiciado.<br />

E, assim, sendo, nao poderia ele, ex<br />

officio, reformar o seu despacho anterior,<br />

que estava precluso, para determinar<br />

o prosseguimento do processo<br />

Ele, Juiz, nao e o dono da acao<br />

penal, e, apenas, na alternativa que<br />

a lei the ride, optou pelo arquivamento:<br />

nao representou ao Procurador-<br />

Geral da Justica<br />

Assim sendo, a continuidade da<br />

acusacao contra o paciente, corn a<br />

conseqtiente impossibilidade de tirar<br />

a sua fotha corrida, o seu atestado


de bons antecedentes constitui, evidentemente,<br />

um constrangimento<br />

'legal.<br />

Nesta linha de consideracOes,<br />

acompanho os votos que me precederam,<br />

dando provimento ao recurso<br />

para conceder a ordem.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Mintstro Djaci Falac, (Presidente):<br />

Tambem estou de acordo<br />

corn o eminente Relator, considerando,<br />

sobretudo, a ocorrencia da preclusAo.<br />

Dou provimento ao recurso para<br />

conceder a ordem.<br />

R.T.J. — 94 147<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RHC 57.803 — RJ — Rel.:, Min.<br />

Decio Miranda. Recte.: Valter de<br />

Souza Santos Adv. Sergio Marques<br />

Garcia. Recdo.: Tribunal de Justica<br />

do Estado do Rio de Janeiro.<br />

Decisão: Provido o recurso pan<br />

conceder a ordem. UnAnime.<br />

Presidéncia do Sr. Ministro Thad<br />

Falcão. — Presentes A SessAo os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves e Decio Miranda. — Licenciado,<br />

o Sr. Ministro LeitAo de Abreu.<br />

— Subprocurador-Geral da FtepOblica,<br />

o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 18 de man° de 1980. —<br />

Hello Francisco Marques, Secrettirio.<br />

RECURSO DE HABEAS CORPUS N! 57.903 — RJ<br />

(Prtheirs Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Xavier de Albuquerque.<br />

Recorrente: Jorge Grego — Recorrido: Tribunal de Justica do Estado do<br />

Rlo de Janeiro.<br />

PrIsAo civil de devedor de alimentos que, Intimado, ofereceu jus-<br />

=cane) ou escusa. Ilegalldade de despacho que a decreta sem qualquer<br />

ftmdamentaclio. Recurso de habeas corpus provido.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primeths<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformldade da ata de<br />

juigamentos e notes taquignficas, A<br />

unanlmidade de votos, dar provimento<br />

ao recurso de habeas corpus.<br />

Brasilia, 06 de maio de 1980. —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Xavier de Albuquerque, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Em parecer do Procurador<br />

Alvaro Augusto Metro Costa,<br />

a Procuradoria-Geral da RemiblIca<br />

assim resume e aprecia a esp6cie<br />

(fls. 31/34):<br />

«Contra prisão civil, decretada<br />

em virtude do inadimplemento de<br />

obrigacão alimenticia, fol impetrada<br />

ordem de habeas corpus, cujos<br />

alegados fundamentos o requerente<br />

sintetizou, In verbis:<br />

6A) 0 Dr. Juiz da 2! Van de<br />

Familia 6 incompetente para decretar<br />

a prisilo do paclente por<br />

&tit° alimentar, uma vez que<br />

somente o Dr. Juiz da 6! Van de<br />

Familia poderla faze-lo por ter<br />

silo o prolator da sentenca que<br />

condenou aos alimentos, pots,<br />

repete-se, o acordo homologado<br />

na 2! Vara de Familia clizia respell°<br />

A separacilo judicial do ex-


148<br />

R.T.J. — 94<br />

casal, nAo tendo inovado quanto<br />

a alimentos; B) 0 art. 733, Unto),<br />

do Cód. de Processo Civil somente<br />

admite a prisao quando 0<br />

devedor tido se escusa, que nao é<br />

o caso do paciente, uma vez que<br />

na longa peticao (doc. n? 5) justificou,<br />

razoavelmente, a impossibilidade<br />

do pagamento, juntando<br />

inclusive, documentos contAbeis,<br />

tanto que nem o parecer do Ora'<br />

do Ministerio Pdblico nem o<br />

despacho que decretou a prisAo<br />

refutam as escusas. 0 Ministério<br />

Pdblico e o Juiz sat) obrigados a<br />

motivar seus despachos; C) A<br />

quantia para a qual o paciente<br />

foi intimado a pagar, nAo foi apurada<br />

por cAlculos do Contador e<br />

devidamente homologada, mas<br />

resultou apenas da cabeca da exmulher<br />

do paciente, como se va<br />

do documento n? 4, pots os autos<br />

da acao de alimentos se encontram<br />

na Eg. 1? Camara Civel do<br />

Tribunal de Justica em grau de<br />

recurso — Apelava() Civel n? 701;<br />

D) E subversao da prestacAO da<br />

tutela jurisdicional, a existancia<br />

de dots juizes distintos em Juizos<br />

e Varas diversas (6? e 2? de<br />

Familia) para decidir a mesma<br />

mataria, ou seja, a relativa aos<br />

alimentos que o paciente foi condenado<br />

a pagar A ex-mulher».<br />

Indeferida a ordem, pelo aresto<br />

de f. 23, sobreveio o apelo de fls.<br />

25/26, que reitera as alegacOes iniclams.<br />

NAo merece prosperar o recurso,<br />

quanto A argdida incompetancla<br />

do Juiz que exarou o despacho<br />

coercitivo. A propOsito, o parecer<br />

de fls. 20/21 observou, com acerto:<br />

«A acao de separacAo consensual,<br />

antigo desquite amigAvel,<br />

abrangente dos alimentos anteriormente<br />

fixados em outra Vara<br />

— Tanto que, no termo de acordo<br />

estA dito: «que o Rau continuarA<br />

a pagar a autora e Who a pensAo<br />

jd fixada na 6? Vara de Familia».<br />

(f. 8) — Isto vale pela cláusula<br />

dos alimentos, sem a qual nao<br />

poderia ser homologado o acordo.<br />

Ao contrArio do que sustenta<br />

o Impetrante, a homologacAo da<br />

separacAo consensual é que pos<br />

fim, por perda de objeto, A acao<br />

de alimentos».<br />

No que diz respeito A ,alegada<br />

justificacao da Inadimplancia o<br />

impetrante suscltou tema cujo exame<br />

escapa ao ambito do Writ, pots<br />

somente atravas de aprofundada<br />

anAlise das provas se poderia reconhecer<br />

a impossibilidade de satiscacao<br />

da obrigacao voluntariamente<br />

assumida pelo paciente.<br />

Certo, poram, e que, dentre os<br />

argilidos fundamentos da impetracao,<br />

consta a ausancia de motivacao<br />

do despacho coativo. 0 aresto<br />

recorrido, entretanto, nao cuidou<br />

desse ponto, nem dale cogitou o parecer<br />

cujos fundamentos foram<br />

adotados como razOes de decidir.<br />

6. Tambam omitido, na instancia<br />

a quo, foi o exame de argiiicao<br />

concernente ao carAter 'liquid° da<br />

divida, posto que o valor da mesma<br />

terra sido unilateralmente fixado<br />

pela credora.<br />

Em face do exposto, o parecer<br />

sugere o provimento parcial do recurso,<br />

a fim de que sejam supridas,<br />

na instancia a quo, as omissees<br />

aqui apontadas.»<br />

Dou por feito o relat6rio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque (Relator): Tudo indica<br />

que o acolhimento da sugestAo da<br />

Procuradoria-Geral levaria ao prejuizo<br />

da impetracao. Corn efeito, a<br />

prisao do recorrente foi decretada a<br />

4 de fevereiro de (f. 6) e, segundo as<br />

razOes do recurso, datadas de 7 de<br />

marco, ja havia sido efetivada (f.<br />

26). Se devessemos determinar que o<br />

Tribunal a quo suprisse, mediante


apreciacAo de questoes nAo examinadas,<br />

as omissOes que o parecer encontrou<br />

no acOrdao recorrido, seria<br />

quase certo que, ao fasA-lo a referida<br />

Corte, JA se teria exaurido o tempo<br />

de duracAo da prisão.<br />

De resto, nAo existe dOvida alguma<br />

sobre estar objetivamente desfundamentado<br />

o decreto de prislio. E<br />

este o seu teor (f. 6):<br />

«Decreto a prisito do alimentante<br />

inadiraplente por 3 meses.<br />

Expeca-se mandado.»<br />

Se a lei manda que o devedor de<br />

allmentos seta intimado para efetuar<br />

o pagamento, prover que o fez ou<br />

justificar a impossibilidade de<br />

efetuA-lo (art. 733 do CO(ligo de Processo<br />

Civil), e se determina que o<br />

Juiz the decrete a prisAo, se ele nAo<br />

pagar, nem se escusar (I 1? do mesmo<br />

artlgo), parece clam que a. justificacAo<br />

ou escusa, acaso apresentada,<br />

nAo pode deixar de ser apreciada<br />

pelo despacho que, a final, entender<br />

de decretar a prisAo.<br />

Dou provimento ao recurso e concedo<br />

a ordem de habeas corpus para<br />

R.T.J. — 94<br />

149<br />

cassar, porque destituido de fundamentacAo,<br />

o despacho que decretou<br />

a prisAo do recorrente, o qual (lever&<br />

ser imediatamente posto em liberdade,<br />

se por outro motivo nAo dever<br />

permanecer preso.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RHC 57.903 — RJ — Rel. Min. Xavier<br />

de Albuquerque. Recte.: Jorge<br />

Grego (Adv.: Fernando Sobral da<br />

Cruz). Recdo.: Tribunal de Justice<br />

do Estado do Rio de Janeiro.<br />

DecisAo: Provido o recurso para<br />

conceder a ordem nos termos do voto<br />

do Relator. UnAnime.<br />

Presidencia do Sr. MM. Thompson<br />

Flores. Presentes A Sessito os Senhores<br />

Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto, Soares Munoz e<br />

Rafael Mayer. — Subprocurador-<br />

Geral da ReptIblica o Dr. Francisco<br />

de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 6 de maio de 1980 — Hello<br />

Francisco Marques, SecretArio<br />

RECURS() DE HABEAS CORPUS N? 58.091 — RJ<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Xavier de Albuquerque.<br />

Recorrente: SebastiAo Moraes da Silva — Recorrido: Tribunal de Justica<br />

do Estado do Rio de Janeiro.<br />

SuspensAo conditional da pena. Se o quantum da reprimenda<br />

comporta, em principlo, o favor legal, deve o juts<br />

pronunciar-se sobre sua concessAo a luz dos pressupostos do art. 57<br />

do COdigo Penal. Recurso de habeas corpus parcialmente provido.<br />

ACORDAO Brasilia, 27 de ARM° de 1980.<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Xavier de Albuquerque, Relator.<br />

autos, acordam os Min istros da Primeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e notas taquigrAficas,<br />

unanimidade de votos, dar provimento<br />

parcial ao recurso, nos termos<br />

do voto do Ministro-Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Assim relate e aprecla<br />

a espècle o parecer da Procuradoria-<br />

Geral da RepOblica, exarado pelo


150<br />

R.T.J. — 94<br />

Procurador Aristides Junqueira Alvarenga<br />

(fls. 38/40):<br />

«Sebastido Moraes da Silva, via<br />

de seu defensor, impetrou ordem<br />

de habeas corpus ao Egitgio Tribunal<br />

de Justica do Estado do Rio<br />

de Janeiro contra o MM. Juiz do I<br />

Tribunal do JON da Comarca da<br />

Capital, que ndo the concedeu a<br />

suspensdo condicional na pena de<br />

dois anos de detencdo resultante de<br />

sua condenacdo pelo Mut por ter<br />

excedido culposamente os limites<br />

da defesa (fls. 2/11).<br />

Em atendimento A solicitacdo<br />

do Tribunal, o MM. Juiz apontado<br />

como coator informou que, de fato,<br />

o paciente foi submetido a Julgamento<br />

e condenado a dots anos de<br />

detencdo, «como incurso nas sancOes<br />

do art. 121, 3?, do C6digo Penab.<br />

Informou, ainda, que o paciente<br />

desfruta de bons antecedentes,<br />

«mas manteve-se foragido,<br />

corn evidente prop6sito de escapar<br />

A aplicacdo da Lei Penal», pelo<br />

que deixou de conceder-the o beneficio<br />

da suspensdo condicional<br />

da pena, ante o recurso do Minist6rio<br />

Pithlico que se mostrou inconformado<br />

corn a decisAo do JUN<br />

(115. 14/15).<br />

A Egrégia 3! Camara Criminal<br />

do Egrêgio Tribunal destinatArio<br />

da impetracdo denegou a ordem,<br />

unanimemente, atrav6s de V.<br />

AcOrddo, cub teor decisOrio foi,<br />

verb's:<br />

«Al6m de ndo ser o «habeas<br />

corpus» o meio adequado A concessdo<br />

do beneficio da suspensdo<br />

condicional da pena, conforme<br />

parecer do Dr. Procurador da<br />

Justica o pedido mereceu indeferimento<br />

do Dr. Juiz em razAo do<br />

argumento ponderAvel de que o<br />

paciente esteve foragido, corn o<br />

evidente propesito de escapar A<br />

aplicacdo da lei penal» (11. 29).<br />

4. 0 inconformismo do impetrante<br />

gerou o recurso ordindrio tern-<br />

pestivo, cub as raz6es refletem a insistAncia<br />

na obtencdo do sursis<br />

(fls. 31/32).<br />

5. Sendo a suspensdo condicional<br />

da pena, desde que satisfeitos os<br />

requisitos legais, urn (Breit() do<br />

condenado, s6 pode o Juiz negarlhe<br />

o beneficio, atravès de decisdo<br />

fundamentada, atendo-se ao exame<br />

dos requisitos fixados em lei:<br />

a - inexistthicia de condenagdo<br />

anterior, irrecorrivel, A pena privativa<br />

de liberdade e<br />

b - presuncdo de que ndo tornarA<br />

a delinqüir, em face de seus antecedentes,<br />

personalidade, motivos e<br />

circunstfincias do crime (art. 57 do<br />

C P , corn a redavdo dada pela Lei<br />

i 6.416/77).<br />

6. No caso em foco, a sentenca<br />

foi omissa (fls. 17v/18) e seu prolator,<br />

posteriormente, externou um<br />

(uric° fundamento para a denegaedo<br />

do sursis: o manter-se, antes,<br />

foragido o reu, corn o propOsito<br />

evidente de escapar A aplicacdo da<br />

lei penal.<br />

Todavia, em face da condencdo<br />

imposta ao recorrente, o fundamento<br />

tornou-se insubsistente,<br />

alèm de ndo ser ele causa p<strong>revista</strong><br />

em lei que impeca a concessdo do<br />

beneficio, como tambtm ndo o 6 a<br />

exist6ncia de recurso do Ministério<br />

PUblico.<br />

JA houve aplicacdo da pena, restando,<br />

agora, resolver-se a respeito<br />

de mero incidente de sua execucdo.<br />

E certo que, em sede de<br />

habeas corpus, ndo se pode perquirir<br />

a presenca dos requisitos exigidos<br />

para a suspensdo condicional<br />

da pena, mas pode-se verificar se o<br />

Juiz da condengdo os examinou, como<br />

deveria, por se tratar de urn direito<br />

do refs.<br />

Por todo o exposto, somos pelo<br />

provimento parcial do recurso, Most)<br />

para que o magistrado prolator


da sentenca condenateria,<br />

limitando-se ao exame dos requisitos<br />

fixados no artlgo 57 do COdigo<br />

Penal, deckla sobre o benefIcio<br />

plelteado pelo reeorrente.D<br />

Dou por felto o relatOrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque (Relator): 0 juiz omitlu,<br />

na sentenca, qualquer referéncia<br />

suspensào condlclonal da pena (fl.<br />

18). E embora provocado pelo recorrente,<br />

que manitestou embargos de<br />

declaracio, limitou-se a responder<br />

laconlcamente, cerca de um mès e<br />

melo depots, que nada havia a declarar<br />

(fl. 10). Somente nas informa-<br />

, cites prestadas em razao da impetracilo<br />

fol que o magistrado acbou<br />

possivel Justificar a negativa do beneffelo<br />

coin as alegativas de que o<br />

recorrente, conquanto desfrutasse de<br />

bons antecedentes, mantivera-se foragido,<br />

e de que o Minlstério Ptiblico<br />

recorrera da decisito do Jtui.<br />

Esses não Sao, todavia, segundo a<br />

lei, motivos capazes de embasar a<br />

R.T.J. — 94<br />

Rife 58.091-RJ - Rel.: Ministro Xavier<br />

de Albuquerque. Recte.: Sebas-<br />

US° Moraes da Silva (Advs.: Josè<br />

Malamud e outro). Recdo.: Tribunal<br />

de Justica do Estado do Rio de Janeiro.<br />

Decisilo: Deram provimento, em<br />

parte, nos termos do voto do Relator.<br />

Unãnhne.<br />

Pres1d8ncia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a Sesos<br />

Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Pebcoto, Soares Muhoz<br />

e Rafael Mayer. —<br />

Subpr ocurador-Geral da Republica,<br />

Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 27 de junho de 1980. —<br />

Melo Carlos Dayrell, Secretftrio.<br />

151<br />

negativa do favor legal perseguido<br />

pelo recorrente, como bem observa o<br />

parecer da Procuradorla-Geral.<br />

Nos termos desse parecer e para o<br />

nele lndicado, dou provimento<br />

parcial ao rectirso.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 63.306— SP<br />

(Primelra Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro SoaresMuftoz.<br />

rats.<br />

Recorrente: Estado de Silo Paulo — Recorrido: Ruy Rodrigues de Mo-<br />

cia.<br />

Executivo fiscal. Decreto-lei n? 960, de 1938. Absolvicilo de lnstán-<br />

NAo p<strong>revista</strong>, pelo Decreto-lei 18 960/38, a absolviciio da Makincia,<br />

nos processes de executive fiscal,<br />

a lei processual civil.<br />

a eles nile se apnea a respelto<br />

Recurso extraorditario conhecido e provido.<br />

ACOADA0<br />

Vistos,<br />

Acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Primeira Turma,<br />

a unanimldade de votos e na<br />

conformidade des notes taquigraficas,<br />

conhecer do recurs° e dar-lhe<br />

provimento.<br />

Brasilia, 27 de marco de 1979. —<br />

Thompson Flores, Presldente —<br />

Soares Moles, Relator.


152<br />

RELATORIO<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Sr. Ministro Soares Muftoz: 0<br />

despacho do ilustre Juiz Humberto<br />

de Andrade Junqueira, Presidente<br />

do Tribunal de Algada do Estado de<br />

São Paulo, exp8s a especie:<br />

«Em processo de executivo fiscal,<br />

o m. juiz absolveu da instancia<br />

o executado, em razed do nao cornparecimento<br />

do procurador da recorrente<br />

audiencia de instrucAo e<br />

julgamento.<br />

Inconformada, a recorrente interp8s<br />

o presente Recurso Extraordined°,<br />

corn fundamento no art.<br />

114, III, letras a e d da Constituicäo<br />

Federal, alegando que o acOrdeo<br />

nä() somente violou o disposto<br />

no art. 62 do Dec.- lei n? 960 como<br />

tambem divergiu de verios actordeo<br />

de outros Tribunals, segundo<br />

os quais nao cabe no processo de<br />

executivo fiscal pedido de absolvicão<br />

de instancia, devendo o magistrado<br />

prosseguir no processo apesar<br />

da ausencia do procurador da<br />

Fazenda Feblica. (Rev. Trib.<br />

247/629; 253/617; 180/784; 147/100;<br />

182/299).<br />

O recurso foi impugnado, opinando<br />

o recorrido pelo indeferimento,<br />

por inocorrencia de violaceo da lei<br />

<strong>federal</strong> e por estar a <strong>jurisprudencia</strong><br />

atual orientada no sentido da<br />

decisão recorrida.<br />

Defiro o processamento do recurso.<br />

O dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l este<br />

comprovado pela invocaceo dos<br />

acOrdeos padrOes do Egregio Tribunal<br />

Federal de Recurso (Rev.<br />

Trib. 247/629) e do Colendo Supremo<br />

Tribunal Federal (Rev. Trib.<br />

253/617).<br />

Por outro lado, o Dec.-lei n? 960<br />

nao cogita da absolvicAo da instancia<br />

em raze() de nao comparecimento<br />

do procurador das partes<br />

em audiencia de instruceo e julga-<br />

mento; e como os arts. 22 e 23 do<br />

Dec.-lei em questa° disciplinam a<br />

audiencia de tal modo que a final o<br />

juiz este obrigado a proferir decise°<br />

sobre 0 merit°, segue-se que o<br />

nä° comparecimento das partes é<br />

considered° irrelevante, mesmo<br />

porque os procuradores da Fazendalice<br />

nä° podem, com sua<br />

ausencia, prejudicar o andamento<br />

do executivo fiscal» (fls. 66 e 67).<br />

A Procuradoria-Geral da Republica,<br />

em parecer elaborado pelo nobre<br />

Procurador Sebastian Ribeiro Salomao,<br />

opinou pelo conhecimento e<br />

provimento do recurso extraordinerio:<br />

«Ha, de fato, dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l<br />

em torn da materia em<br />

discussAo. Os acórdeos trazidos a<br />

confronto, tanto do Egregio Supremo<br />

Tribunal Federal, como do<br />

Egrêgio Tribunal Federal de Recursos<br />

negam a interrupcAo de instancia<br />

na ace() executive fiscal, como<br />

foi decidido pelo v. acerdeo<br />

impugnado.<br />

E a lei dos executivos fiscais e<br />

expressa ao declarer em seu artigo<br />

62 que «a instancia net) se interrompe».<br />

A vulneraceo ao referido<br />

dispositivo legal e, pois, evidente»<br />

(f. 79).<br />

E o relate/1o.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Soares Munoz (Relator):<br />

A deciseo impugnada este em<br />

dissidio corn os arestos indicados como<br />

paradigmas, inclusive corn o proferido<br />

pelo Supremo Tribunal Federal<br />

no RE 20.868, Relator o Ministro<br />

Lafayette de Andrade, cuja ementa<br />

e a seguinte:<br />

«eião incluida no Decreto-lei<br />

n? 960, de 1938, a absolviceo da<br />

instancia, esta nao pode ser decretada<br />

nos processos por ele<br />

regulados a que sabidamente<br />

se° os executivos (DJU, de<br />

6/8/56, peg. 1.203).


Essa orientacao a Corte ratificou,<br />

posterlormente, nos RR EE 52.693 e<br />

56.790, Relator Ministro Villas Boas;<br />

RE 66.146, relator Ministro Luiz Gallotti<br />

e 69.871, relator Ministro Barros<br />

Monteiro.<br />

Ante o exposto, conheco do recurso<br />

e the dou provhnento, para que, cassado<br />

o acOrdao recorrido, prosslga o<br />

executivo como de direito.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 63.306 — SP — Rel. Min. Soares<br />

Mufloz. Recte: Estado de Sao<br />

Paulo. (Adv. Nelson Coutinho. Rec-<br />

R.T.J. — 94<br />

153<br />

do: Ruy Rodrigues de Morals (Advs.<br />

Plinio Ribeiro Volpini e outros).<br />

Decisao: conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator,<br />

unttnime.<br />

Presidancia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a Ses<br />

sacs os Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

'Cunha Peixoto e. Soares<br />

Mufioz — Ausente justificadamente o<br />

Sr. Ministro Rafael Mayer. — 2?<br />

Subprocurador-Geral da Republica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 27 de Marco de 1979. —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretario.<br />

EMBARGOS NO RECURSO EXTRAORDINARIO N? 69.345 — SP<br />

(Tribunal Pleno)<br />

(RE na RTJ 84/851)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Antonio Neder.<br />

Embargante: Celso Aratangy — Embargado: Estado de Sao Paulo.<br />

Nilo se confundem a matéria do direito de que nasce a demanda e<br />

os resultados patrimonials que promanam desse direito.<br />

&zinnia, verbete 443.<br />

3. Embargos de divergencla conhecidos mas rejeltados.<br />

ACORDAO Seu Relator, o eminence Sr. Ministro<br />

Thad Falcão, redi<br />

Vistos e relatados estes autos de desse julgado nestes termos<br />

giu a em enta<br />

Embargos no Recurso Extraordina-<br />

, fl . 1130:<br />

rio n? 69.345, do Estado de Sao Pau- «Prescricao. Sao inconfundivels<br />

lo, em que 6 embargante Celso Ara- o nascimento do direito que autoritangy<br />

e embargado o referido Esta- za o exercicio da acao e os resultado,<br />

decide o Supremo Tribunal Fede- dos patrimonials provenientes ral, em Segal°<br />

do<br />

Plena, unanimemen- direito.<br />

te, conhecer dos embargos mas<br />

rejeitá-los, de acordo com as notas “Na especie nä() se trata de<br />

Juntas.<br />

giro juridica de trato sucessivo, a<br />

Brasilia, 21 de maio de 1980. — ensejar apenas a prescricao das<br />

Antonio Neder, Presidente e Relator.<br />

prestacdes respectivas.<br />

((Recurs() extraordinario a que se<br />

RELATORIO<br />

nega provirnento.»<br />

0 Sr. Ministro Antonio Neder (Re- A mattria uesUonada no re<br />

julgado 6 a se<br />

ferido<br />

o q lator): 0 acerciSto embargado PM pro- do nobre Ministro<br />

guInte,<br />

Mad<br />

que<br />

Falcao,<br />

lelo no voto<br />

fls.<br />

ferido pela egrègla Segunda Turma. 171 e 172:


154<br />

R.T.J. — 94<br />

(CO Sr. Ministro Djaci Falac)<br />

(Relator): «0 autor, ora recorrente,<br />

escrivão aposentado, ajuizou a<br />

presente acAo ordinAria, a 17-6-<br />

1966, visando a elevacAo dos seus<br />

proventos, sob alegacão de haver<br />

participado do movimento constitucionalista<br />

de 1932. Baseou o pedido<br />

no art. 30, letra d, da ConstituicAo<br />

Estadual de 1947, combinado corn o<br />

art. 6? da Lei n? 211/48 e art. 28 da<br />

Lei n? 819/50.<br />

«Entenderam as decisbes na instancia<br />

ordinAria que o suplicante<br />

nilo apresentou o certificado passado<br />

pela ComissAo do art. 30 das<br />

DisposicOes Transitórias, expressamente<br />

exigido pelo art. 28 da Lei<br />

819, de 31-10-1950. ye-se de um lado,<br />

que deixou de apresentar documento<br />

essencial a obtencão do beneficio.<br />

Por outro, jA ilk( podia por<br />

meio judicial pr6prio, demonstrar<br />

a sua participacão ativa no movimento<br />

constitucionalista, por haver<br />

decorrido mats de dez anos a contar<br />

da vigencia da Lei 819/50.<br />

«NAo era possivel conservar em<br />

aberto, por tempo ilimitado, a responsabilidade<br />

do Estado, de modo<br />

a ensejar sempre o direito de KA°.<br />

Dai por que deram pela prescricAo<br />

da acAo, corn apoio no Dec.<br />

20.910/32.<br />

«A meu ver nAo se configura vulneracAo<br />

do direito positivo <strong>federal</strong>.<br />

No entanto, esti) comprovado 0<br />

dIssidlo de julgados. 0 recorrente<br />

traz a confronto o acardilo do RE<br />

57.861, relatado pelo eminente Ministro<br />

Victor Nunes Leal, que leio:»<br />

(...)<br />

Depots de haver feito a leitura do<br />

acOrdAo-paradigms (o do RE<br />

57.861), prosseguiu em seu voto o nobre<br />

Ministro Djaci FalcAo, fls. 175 a<br />

176: «Invoca ainda acardAo de que foi<br />

relator o eminente e saudoso Ministro<br />

Candid° Mota (RE 55.169,<br />

fls. 119 e 120).<br />

«Conhecendo do recurso, negolhe<br />

poram provimento . NA° vejo<br />

como considerar imprescritivel o<br />

direito de postular o reconhecim en<br />

-to da participacão na revolucAo<br />

constitucionalista de 1932.<br />

«Prescreve em cinco anos «todo<br />

e qualquer direito ou acAo contra a<br />

Fazenda Federal, Estadual ou Municipal<br />

seta qual for a sua natureza»<br />

(art. 1? do Dec. 20.910/32). No<br />

mesmo prazo prescrevem as prestacOes<br />

correspondentes a pensbes,<br />

soldo, montepio e quaisquer restituicees<br />

ou diferencas» (art. 2?).<br />

dApegam-se os recorrentes e alguns<br />

interpretes ao art. 31, que reza:<br />

«Quando o pagamento se dividir<br />

por dias, meses e anos, a<br />

prescricAo atingirft progressivamente<br />

as prestactles, a medida<br />

que completarem os prazos estabelecidos<br />

pelo presente decreto».<br />

«A Ultima regra pressupae,<br />

parece-me claro, a existancia de<br />

um direito integrado no patrinaônio<br />

do interessado. Se existe o direito,<br />

at, sim, tern-se a prescricAo progressiva<br />

das prestacOes. SAo inconfundiveis<br />

o nascimento do direito<br />

que autoriza o exercicio da acflo e<br />

os resultados patrimonlais provenientes<br />

desse direito.<br />

«Na evade, jamais foi reconhecido<br />

ao autor, ora recorrente, a<br />

sua condicAo de particiPante at<br />

o movento revolucionArio de<br />

1932, nos im termos da legislagão especial<br />

que dIsciplinou o assunto.<br />

Alem dL;so, ele somente ingressou<br />

em juizo, pleiteando o reconhecimento<br />

dessa condicão indispensAvel<br />

ao bereficie previsto na letra d,<br />

do art. 30, das Disposicees Transi-<br />

&alas da Constituicão Paulist de<br />

a<br />

1947, fora do qfiincitlo ant prescri cional,<br />

conforme jA ficou esclarecido.<br />

«EnfIm, nAo se cogita, como estA<br />

claro, de relacão juridica de trato


sucessivo, a ensejar apenas a prescricAo<br />

das prestacees respectivas.<br />

aPor todo o exposto nego provimento<br />

ao recurso.»<br />

No mesmo sentido votou o nobre<br />

Mastro Moreira Alves, fls. 177 e<br />

178, verbis:<br />

sO Sr. Ministro Moreira Alves —<br />

Estou de inteiro acordo. Sou dos<br />

que entendem que a legislacAo especial<br />

de prescriclio em favor da<br />

Until°, no seu art. 3?, s6 admite a<br />

prescricao pen:dice quando se trata<br />

de efeltos periedicos de direito<br />

ou de situacAo ftmcional Indiacutivel.<br />

Assim, por exemplo, se alguem<br />

6 ftmcionitrio pablko, e todos<br />

os funcionitrios pfiblicos tem dintto<br />

a determinada gratificacão, e<br />

ele nAo a requer, como essa grafificacAo<br />

decorre de situacAo funcional<br />

que nAo se nega, esse efeito da<br />

situacão funcional, que e o pagamento<br />

da gratfficacAo, 6 susceptivel<br />

de ter sua pretense° prescrita<br />

perlodicamente, pots esta renasce<br />

a cada period° em que a<br />

vantagem pecuniftria 6 devida.<br />

allo caso, entretanto, o objeto da<br />

acAo e o prOprio direito de ter gratiftcaqito.<br />

S6 corn o reconbeclmento<br />

de sua existencia a que nasceriam<br />

os efeitos perks:11cm, ou seja, as<br />

vantagens pecuniArias devidas periodicamente.<br />

Neste caso, pots, nAo<br />

M que falar que o direito generic°<br />

a gratificacAo — que a permanente<br />

— nasca e renasca todos os meses,<br />

ou em determinados periodos. Como<br />

6 possivel um Wren° permanente<br />

prescrever periodicamente,<br />

sea expllcaclio da prescricAo peril:Kites<br />

6 justamente decorrente do<br />

fato de que o que prescreve periodicamente<br />

stio seus efeltos que renascem<br />

ao fim de cads periodo?<br />

sEssas, Sr. Presidente, as razdes<br />

por que estou de inteiro acordo<br />

corn a tese de V. Exa. Conheco do<br />

recurs°, em virtude do dissidlo de<br />

R.T.J. — 94<br />

155<br />

Misprudencia, mas The nego provimento.»<br />

Em sua peticAo de embargos,<br />

fis. 182 e seguintes, alega o Embar-<br />

gante que o acerdeo embargado esta<br />

em divergencia corn os que foram<br />

proferidos nestes casos: RE n?<br />

57.861, RE 55.169, Ag 31.756, RE<br />

68.080, ERE 56.188, RE 70.669, e,<br />

tamb6m, nos precedentes que fundamentam<br />

o verbete 443 da Semla.<br />

0 Estado de SA° Paulo impugnou<br />

os embargos corn estas razdes:<br />

(le).<br />

A egregla Procuradoria-Geral<br />

da RepOblIca emitlu sobre o caso este<br />

parecer da lavra do nobre Procurador<br />

Moacir Antonio Machado da<br />

Silva, lb. 195 a 196:<br />

0 v. acerdAo embargado Julgou<br />

prescrita acilo tendente a obter<br />

o beneficio do art. 30, letra d,<br />

do ADCT da Constitulclio de 1947,<br />

de Silo Paulo, assegurado aos parttelpantes<br />

do movilnento revolucio-<br />

nArio de 1932, sob o fundament° de<br />

que visava ela o reconhecimento<br />

do •preprio direito a vantagem e,<br />

nil° se tratando de relacAo juridica<br />

de trato sucessivo, não se haveria<br />

de falar em prescricAo apenas das<br />

respectivas prestactes.<br />

«2. Entre os julgados relaclonados<br />

pela embargante, nao servem<br />

A caracterizano de divergencla os<br />

que fundamentam a &Mule 443, o<br />

RE 68.080 (RV 68/658) e o RE<br />

70.669 (DJ de 4-12-70), vlsto que a<br />

declsao embargada distinguiu nitidamente<br />

a hip6tese de um Wren.°<br />

reconhecido, integrado no patrim6nio<br />

do Interessado, em que a prescricAo<br />

se atinge as prestactles periMicas,<br />

daquela em que a relacilo<br />

juridica nil° 6 de trato sucessivo,<br />

atingindo aqui, a prescricAo, a<br />

acAo pan o reconheclmento do direlto.<br />

«3. Quanto ao ERE 56.188, havia<br />

circunstAncia especial, que nä° esta<br />

presente na hip6tese sub judice:


156<br />

R.T.J. — 94<br />

ali se considerou que o direito A<br />

disponibilidade, previsto no art. 24<br />

do ADCT de 1946, s6 podia ser negado<br />

pelo Governador, razAo por<br />

que o termo initial do prazo prescricional<br />

s6 poderia ser contado do<br />

despacho de indeferimento do Chefe<br />

do Executivo estadual.<br />

Quanto aos demais (RE<br />

57.861, RE 55.169 e AG 31.756), serviram<br />

eles de fundamento para o<br />

recurso extraordinArio e a decisäo<br />

embargada os teve por dissidentes.<br />

Nada obstante, nth) desenvolve o<br />

embargante a tese desses acOrdAos<br />

paradigmas, limitando-se A transcricão<br />

dos trechos que configuram<br />

a divergencia.<br />

De qualquer forma, a melhor<br />

orientacAo 6 efetivamente a do v.<br />

acOrdAo embargado. 0 direito ao<br />

beneficio, no caso sub judice, nAo<br />

inerenie A relacão juridica funcional<br />

nem uma decorrencla necessaria<br />

desse vinculo; pelo contrArio, o<br />

seu reconhecimento estarla condicionado<br />

A apuracao de uma circunstAncia<br />

de fato — a participacão<br />

no movimento revolucionArio<br />

de 1932 — de sorte que nAo se haveria<br />

de falar apenas em prescricAo<br />

das prestacees periedicas.<br />

«6. Pelo conhecimento, mas pela<br />

rejeleAo dos embargos.»<br />

IV. E o relat6rio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Antonio Neder (Relator):<br />

1. A divergencia corn os actin<br />

dãos proferidos no RE n? 68.080, nos<br />

ERE n? 56.188 e no RE 70.669 nAo se<br />

acha demonstrada.<br />

E que o Embargante nAo cumpriu<br />

o art. 305 do Regimento Intern desta<br />

Corte quanto A prova do texto de<br />

cada urn de tais julgados, nem, obviamente,<br />

quanto A transcricAo dos<br />

trechos a serem confrontados.<br />

As duas formalidades constituem<br />

requisitos necessArios de procedi-<br />

mento dos embargos (verbete 290 da<br />

&nutria).<br />

Portanto, nAo se tern como considerar<br />

que os referidos arestos merecam<br />

a qualificacão de paradigmas.<br />

No que diz respeito A divergencia<br />

entre o actudAo l embargado e os que<br />

fundamentam o verbete 443 da<br />

&nunla, estou em que ela nAo se<br />

configura, visto como, na verdade, o<br />

primeiro julgado e os outros nAo se<br />

acham em discordAncia, mas, isto<br />

sim, em harmonia.<br />

0 acOrdAo embargado julgou que,<br />

na especie, a prescricAo 6 do prOprio<br />

direito reclamado, nAo das presta-<br />

66es de trato sucessivo inerentes a<br />

esse direito, e, julgando assim a controversia,<br />

referido acOrdAo reproduziu<br />

o mesmo entendimento inscrito<br />

naquele verbete da Sfnnula, corn o<br />

qual, portanto, se concllia.<br />

Quanto A divergencia entre o ac6r-<br />

(IA° embargado e os tits primeiros<br />

paradigmas indicados na petieão dos<br />

embargos, e de se reconhece-la demonstrada,<br />

isto porque o acOrdAo<br />

agora discutido declarou e afirmou<br />

tal discordAncia.<br />

Portanto, conheco dos embargos.<br />

Mas nAo tenho como recebe-los.<br />

Estou em que deve prevalecer, no<br />

caso, a orientacAo do acOrdAo embargado,<br />

por ser a que se harmoniza<br />

corn a orientacAo que o STF resumiu<br />

no verbete 443 da Stunula.<br />

0 Embargante nAo provou que se<br />

configura a essencia do direito material<br />

que pretende sej a reconhecido.<br />

Se a materia do direito reclamado<br />

nAo se configura na esp6cie, nä° se<br />

tem como cogitar de prescricAo do<br />

direito As parcelas vincendas inerentes<br />

a esse direito.<br />

Disse corn acerto o nobre Ministro<br />

Djaci Falai), no acOrdAo embargado,<br />

que não se podem confundir o direito<br />

de que nasce a demanda e os<br />

resultados patrimoniais que proma-


nam desse direito, fl. 180, e acrescentou,<br />

corn igual acerto, no mesmo<br />

acOrdAo, o nobre Ministro Moreira<br />

Alves, que, no caso, o &reit° reclamado<br />

é o prOprio (Breit° a gratificacAo,<br />

de cujo reconhecimento G que<br />

nasceriam as vantagens pecuniArias<br />

devidas periodicamente, 0. 177.<br />

II. Repito que conheco os embargos<br />

e os rejelto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

ERE 69.345 — SP — Rel.: Min. Antonio<br />

Neder. Embte.: Celso Aratangy<br />

(Adv.: Luiz Carlos Bettiol). Embdo.:<br />

Estado de SAo Paulo (Adva.: LOcia<br />

R.T.J. — 94 157<br />

Machado Monteiro). (Dec. Embda.:<br />

2? T, em 16-6-77.<br />

DecisAo: Conheceu-se dos embargos,<br />

que foram contudo rejeltados.<br />

Votacão uniforme.<br />

Presidência do Senhor Ministro<br />

Antonio Neder. Presentes A SessAo<br />

os Senhores Ministros Djaci FalcAo,<br />

Thompson Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

LeltAo de Abreu. Cordeiro<br />

Guerra, Moreira Alves, Cunha Peixoto,<br />

Soares Munoz, Decio Miranda<br />

e Rafael Mayer. Procurador-Geral<br />

da Repablica, substituto, o Dr. Francisco<br />

de Assts Toledo.<br />

Brasilia, 21 de maio de 1980. —<br />

Alberto Veronese Agular, SecretArio.<br />

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nt 72.809 (AgRA) — SP<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Leitito de Abreu.<br />

Agravantes: Credibras Financeira do Brasil S/A — Crêdito, Financiamento<br />

e Investimento e outra. — Agravada: Estrel Estudos, Representacdes<br />

e AdministracAo S/A.<br />

AcAo para anular letra de cAmbio ao portador. Carencla decreta-<br />

N da. ApllcacAo, pela tetra a, da SOmula 400. DissIdlo No caracterizado.<br />

InviAvel, assim, o recurso extraordinArio, tot o agravo regimental<br />

desprovido.<br />

ACORDAO CredibrAs Financeira do Bra-<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade corn a ata<br />

de julgamentos e notas taquigrAficas,<br />

em negar provimento ao agravo,<br />

unanimemente.<br />

Brasilia, 23 de maio de 1980. —<br />

Djaci FaJell°, Presidente — Leith°<br />

de Abreu, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Leith° de Abreu: 0<br />

sll S/A — Credito, Financiamento<br />

e Investimento, aceitou tetras de<br />

ambit) ao portador sacadas pela<br />

sociedade Estrel Estudos, Representaetles<br />

e Administraello em virtude<br />

de contratos de ttnanciamento<br />

que the fez.<br />

«Segundo se alega, enviados os<br />

titulos A Diva Distribuidora de<br />

Titulos e Valores Moblliarios<br />

Ltda., para distribuicAo, diversas<br />

cambia, num total de Cr$<br />

228.100,00, desapareceram, nAo<br />

sendo possivel precisar se inutiliza-<br />

das, furtadas ou extraviadas.<br />

recurso de apelacalo Sol desprovido, «Com fundamento no artigo 36 do<br />

por maiorla de votos, nestes termos: Decreto 2.044, de 31-12-1908, a Fl-


158<br />

nancladora e a Distribuidora requereram<br />

a restituigão ou a anulactio<br />

das camblais, podendo aglr,<br />

por forga da sentenca que substituir<br />

os titulos, na conformidade do<br />

parligrafo 9?, do citado decreto,<br />

ap6s a citacao por editais publlcados<br />

no Dlario Oficial para que fossem<br />

apresentados em juizo no prazo<br />

de tits meses. Citada por precataria<br />

a sacadora.<br />

«Decorrido o prazo dos editals,<br />

foi a actio julgada improcedente<br />

porque, de acordo corn os artigos<br />

1? e 2? da Lei Uniforme, náo 6 letra<br />

o escrito a que faltar o nome<br />

da pessoa a quem ou A ordem de<br />

quem deve ser paga. Nao pode<br />

macs a letra de cambio ser emitida<br />

ao portador.<br />

«Ern sua apelacao, impugnando<br />

a sentenca, pretendem a sua reforma.<br />

A douta Procuradoria Geral<br />

da Justica 6 pelo improvimento do<br />

recurso. «Especificando os requisitos,<br />

&kr, 6 certo que a Lei Uniforme<br />

tenha eliminado a emissão de letra<br />

em branco, isto 6, titulo dessa natureza<br />

a que faltem requisitos. Expresso<br />

era o Decreto 2.044, que a<br />

letra podia ser emitida ao portador<br />

(art. 1?, ri? IV, segunda figura).<br />

R.T.J. — 94<br />

«Dlspde o artigo 10? da Lel Uniforme<br />

Relativa as Letras de Camillo<br />

e Notas Promissarlas que, 'se<br />

uma letra incompleta no momenta<br />

de ser passada tiver sido completada<br />

contrarlamente aos acordos<br />

realizados nati pode a inobserváncia<br />

desses acordos ser motivo de<br />

oposlcao ao portador, salvo se este<br />

tiver adquirido a letra de ma f6 ou,<br />

adquirindo-a, tenha cometldo uma<br />

falta grave'.<br />

«Esse dispositivo permite nal) s6<br />

a emissAo de letra em branco, como<br />

tambarn posterior aperfeicoamento<br />

do titulo.<br />

«0 Banco Central do Brasil informou:<br />

'A Lei Uniforme, conforme se<br />

ye de seus artigos 1? e nil° per-<br />

mite a letra de cambio ao portador.<br />

0 Brasll aceitou essa !novasilo,<br />

a qual, por6m, nä() atinge as<br />

letras de cambio lancadas em mercado,<br />

em observlincia do disposto<br />

na Lei sobre Mercado de Capitals<br />

(Lei n? 4.728, de 14 de )ulho de<br />

1965)'.<br />

«E esclarece que as letras de<br />

cambia lancadas no mercado, na<br />

conformidade dos artigos 14, Inds°<br />

II e 27, da Lel n? 4.728, obedecem a<br />

disciplina das Resolucdes n?s 45,<br />

de 30-12-66; 104, de 10-12-68; 165, de<br />

24-11-70 e 234, de 01-9-72 (f. 24).<br />

«Em se tratando de sociedade de<br />

financiamento e investimento,<br />

figuram no titulo: a) Sacador<br />

— a empresa ou pessoa fisica<br />

que vai ser financiada, beneficiarla<br />

do contrato de abertura de cr6dito;<br />

b) sacado — a sociedade de<br />

cr6dito, financlamento e investimento<br />

que, ao assumir a obrigaclio<br />

oriunda do saque, passa a ser responsavel<br />

pelo pagamento da letra<br />

de cambia em virtude do aceite<br />

que lancou no referido titulo; c) beneflciario<br />

— as letras de cambio<br />

sari, via de regra, emitidas ao portador.<br />

Assim, o beneflciario sera o<br />

comprador do titulo, o inversor ou<br />

a pessoa A qual, pela simples tradicflo<br />

o titulo foi transferido (The6phllo<br />

de Azeredo Santos, Manual<br />

dos Titulos de Credit°, 3? Ed. pag.<br />

124).<br />

«De acordo corn o artigo 2?, § 4?,<br />

I, do Decreto-lei n? 427, de 22-1-69,<br />

nAo 6 obrigatario o registro dos<br />

titulos sacados em funcão de contratos<br />

especificos de abertura de<br />

credlto celebrados corn instituicOes<br />

financeiras.<br />

«Por um simples edital pretende<br />

a sociedade financelra sacada, responsAvel<br />

pelo pagamento das letras<br />

de camblo em virtude do aceite<br />

que lancou nos titulos, eximir-se<br />

de sua responsabilldade anulandoos.


processo de anulaclio da letra<br />

previsto no artigo 36 do Decreto<br />

2.044 6 privativo da pessoa a favor<br />

de quem a ordem 6 dada. 0 beneficifulo,<br />

o portador, o favorecido.<br />

«Decretada a nulidade do titulo<br />

extraviado ou destruldo, 'por esta<br />

sentence, flea o proprietitrio<br />

tad°, pare o exercicio da ace° executive<br />

contra o aceltante e os outros<br />

co-obrigados' (94?).<br />

«A acão de recuperacAo de titulo<br />

ao portador, segundo o dIsposto<br />

nos artigos 336 a 342, do Cedigo de<br />

Process° Civil, anterior, igualmente,<br />

ao beneficlarlo portador, que na<br />

conclusAo pediria a notificacilo do<br />

devedor do titulo, pare que No pague<br />

o capital e os juros ou dividendos<br />

(art. 336, paragrafo Unico, letra<br />

a).<br />

«Regulam os artigos 907 a 913 do<br />

. Gems° de Processo em vigor o<br />

mesmo procedlmento.<br />

daltimitm-se pare a acão de<br />

anulacilo e substltuicalo de Milos<br />

ao portador, as mamas pessoas a<br />

quern igual procedimento era usegurado<br />

pelas leis supra mencionadas.<br />

«Disptie expressamente o artigo<br />

908, II, 'requerendo a cftacilo do<br />

devedor, pare que deposite em<br />

brim o capital, bem como os juros<br />

ou divldendos vencidos ou vincendos'.<br />

«0 sacado nAo se legitima pare<br />

demander a nulidade de titulo, culo<br />

pagamento assumiu corn o aceite.<br />

Mormente em se tratando de<br />

obrigacOes assumMas pare serem<br />

lancadas no mercado de capitals.<br />

Sua seguranCa .nio se compraz<br />

corn a anulacilo apes o decurso de<br />

um simples edital publlcado no era<br />

oficial.<br />

«Somente the b permitido deixar<br />

tie efetuar o pagamento depots de<br />

cumpridamente proved() No se<br />

tratar o portador de legfttmo proprIetirto<br />

da tetra de amble saca-<br />

— 94 159<br />

da pela pessoa fisica ou buldica flnanciada,<br />

aceita pela soctedade de<br />

cr6d1to, financlamento e investfmento<br />

financladora» (fls. 11-15).<br />

Rejettados os embargos infringen-<br />

tes, veto aos autos recurso extraordi-<br />

Uri°, que No logrou ser processado,<br />

porque, pela letra a, o despacho<br />

denegatOrio aplicou a SUmula 400, e<br />

pela letra d, teve o dlssidlo por No<br />

caracterizado.<br />

Ao agravo de instrumento neguel<br />

seguimento, reportando-me As ra-<br />

zees do despacho local. Dal o agravo<br />

regimental, que insiste na viabilidade<br />

do apelo Ultimo.<br />

to relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Len° de Abreu<br />

(Relator): Insistem as agravantes<br />

em que o actirdão recorrido negou<br />

vigencia ao artigo 39 do Decreto n?<br />

2.044, de 1908, que preceltua<br />

possuldor<br />

ser o<br />

legftimo proprieterio da<br />

letra ao portador e da letra endossada<br />

em branco. Afirmam, igualmente,<br />

porem, sem fundamentar a alegaga°,<br />

ter o aresto ofendido os artigos<br />

521, 524 e 1.509, do Cedigo Civil,<br />

907 do Cetligo de Processo Civil e 36<br />

do Decreto n? 2.044, de 1908.<br />

A verdade 6, no entente, que o<br />

ao5rdäo local nAo vlolou as normas<br />

dadas como ofendidas, dando-Ihe, ao<br />

contrarlo, interpretacilo razoitvel.<br />

Do acerdAo da apelaclio, transcrito<br />

no relatório, relelo, Pan<br />

conclusAo, o seguinte trecho:<br />

abonar essa<br />

«Por um simples edital pretende<br />

a soctedade fbranceire secede, res-<br />

Dons/mei pelo pagamento das Tetras<br />

de cemblo em virtude do aceite<br />

que lancou nos titulos, exlmir-se<br />

de sue responsabilidade,<br />

processo de anulacgo da tetra<br />

prevato no litho 36 do Decreto<br />

2.044, 6 privative da pampa as favor


160<br />

R.T.J. — 94<br />

de quem a ordem A dada: o beneficiArio,<br />

o portador, o favorecido.<br />

«Decretada a nulidade do titulo<br />

extraviado ou destruido, 'por esta<br />

sentenca, fica o proprietArio habiltado,<br />

para o exercicio da acão executiva<br />

contra o aceitante e os outros<br />

co-obrigados' (§ 4? ) .<br />

«A acAo de recuperacão de titulo<br />

ao portador, segundo o disposto<br />

nos artigos 336 a 342 do C6digo de<br />

Processo Civil anterior, igualmente<br />

ao beneficiArio portador, que na<br />

conclusão pediria a notificacAo do<br />

devedor do titulo, para que nAo pague<br />

o capital e os Juros ou dividendos<br />

(artigo 336, parAgrafo Anico,<br />

letra a).<br />

«Regulam os artigos 907 a 913 do<br />

C6cligo de Processo em vigor o<br />

mesmo procedimento.<br />

«Legitimam-se para a acAo de<br />

anulacAo e substituicAo de titulos<br />

ao portador, as mesmas pessoas a<br />

quem igual procedimento era assegurado<br />

pelas leis supra mencionadas.<br />

«Disp6e expressamente o artigo<br />

908, II, 'requerendo a citacilo do<br />

devedor, para que deposite em<br />

juizo o capital, bem como os juros<br />

ou dividendos vencidos ou vincendos'.<br />

«0 sacado nAo se legitima para<br />

demandar a nulidade de titulo, cu-<br />

Jo pagamento assumlu corn o aceite.<br />

Mormente ern se tratando de<br />

obrigacOes assumidas para serem<br />

lancadas no mercado de capitals.<br />

Sua seguranca nAo se compraz<br />

corn a anulacAo ap6s o decurso de<br />

urn simples edital publicado no orgAo<br />

«Somente the 6 permitido deixar<br />

de efetuar o pagamento depois de<br />

cumpridamente provado nAo se<br />

tratar o portador de legitimo proprietArio<br />

da letra de cAmbio sacada<br />

pela pessoa fisica ou juridica financiada,<br />

aceita pela sociedade de<br />

crédito, financiamento e investimento<br />

financiadora » (fls. 14-15).<br />

Alega-se, na peticAo de agravo regimental,<br />

que uma das agravantes,<br />

a Diva Distribuidora de Titulos e Valores<br />

MobiliArios Ltda., sAcia da outra<br />

agravante, isto A, a CredibrAs Financeira<br />

do Brasil S/A, Cr6dito, Flnanciamento<br />

e Investimento era procuradora<br />

da agravada, ou seta, a<br />

Estrel Estudos, RepresentagOes e<br />

Administraciio S/A. Dal se tira o argument°<br />

para infirmar a conclusão<br />

a que chegou o actin:1E10 impugnado.<br />

Ocorre, contudo, que este nAo cuidou<br />

desta situacAo, limitando-se a afirmar<br />

o principio de que a sociedade<br />

financeira sacada, responsAvel pelo<br />

pagamento das letras de cAmbio em<br />

virtude do aceite-que lancou nos titulos,<br />

nAo pode, por simples edital,<br />

anular os ditos titulos, para eximirse<br />

de sua responsabilidade. Isto porque<br />

— diz — o processo de anulacão<br />

da letra previsto no artigo 36 do Decreto<br />

n? 2.044, 6 privativo da pessoa<br />

a favor de quem a ordem 6 dada, isto<br />

A: o beneficiArio, o portador, o f avorecido.<br />

NAo tendo, pots, o aresto<br />

recorrido versado a questAo suscitada<br />

pelas agravantes, tornou-se ela<br />

insuscetivel de exame em recurso<br />

extraordinArio.<br />

Quanto ao dissidlo, os acerdAos<br />

trazidos a confronto, em flamer° de<br />

tries, citados As fls. 28 e 29, tal como<br />

frisa o despacho presidential que<br />

inadmitiu o recurso, nAo se assemelham<br />

ao aresto impugnado nem corn<br />

ele se identificam.<br />

Nego provimento ao agravo regimental.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

Ag 72.809 (AgRg) — SP — Rel.:<br />

Min. LeitAo de Abreu. Agte.: CredibrAs<br />

Financeira do Brasil S/A —<br />

CrAdito, Financiamento, e Investimento<br />

e outra (Advs.: Lourival Dantas<br />

e Paulo Cesar Gontijo). Agda.:<br />

Estrel Estudos, Representacties e


Administractio S/A (Adv.: 3! Curadoria<br />

de Ausentes e Incapazes).<br />

DecisAo: Negado provimento ao<br />

Agravo Regimental. UnAnime.<br />

Presiciéncia do Senhor Ministro<br />

Di ad FaIca°. Presentes A Sessão os<br />

Senhores Ministros LeftAo de Abreu,<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Sessão<br />

R.T.J. — 99<br />

161<br />

Moreira Alves e Decio Miranda. Ausente,<br />

Justificadamente, o Senhor<br />

Mlnistro Cordeiro Guerra. Subprocurador-Geral<br />

da RepUblica, o Dr.<br />

Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 23 de maio de 1980. —<br />

Hello Francisco Marques, SecretArlo<br />

AGRAVO DE INSTRUMENTO N? 73.300 — (AgRg) — RS<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cunha Peixoto.<br />

Agravante: S.A. Feltros Renner.<br />

Agravo Regimental em agravo de instrumento — Matkria trabalhista<br />

— Agravo de instrumento interposto de despacho proferido pelo<br />

presldente do Tribunal Superior do Trabalho, negando seguimento<br />

a recurso extraordinitrio em decistio proferida pela Justica Especializada<br />

— Prazo.<br />

0 prazo para interposiclio de agravo de instrumento, na hipOtese,<br />

6 de cinco dias (arts. 106 do R. I. S. T. F. e 188 do C. P. C.), nao se aplicando,<br />

a esp6cie, o art. 897, 1? da C. L. T., que regula o prazo apenas<br />

para o procedimento Wilda na esfera da Justica do Trabalho.<br />

Precedente: Ag. n? 68.590 (AgRg) — SP — (Pleno, SessAo de<br />

17.11.76 — DJ de 13.12.976).<br />

Agravo regimental improvido.<br />

ACORDA0 prazo comecado a fluir, conseqUen-<br />

temente, na sexta-feira, dia<br />

15.07.977, vindo a findar no dia 19<br />

do mesmo mes e ano (terca-feira).<br />

PlenAria, na conformidade da ata do<br />

Julgamento e das notas taqulgrAficas,<br />

por unanimidade de votos, em<br />

negar provimento ao Agravo Regimental.<br />

Brasilia, 07 de Ruth° de 1978. —<br />

Antonio Neder, Presidente — Cunha<br />

Pebcoto, Relator.<br />

A peticão do agravo, entretanto,<br />

somente fol protocolada no dia<br />

22.07.977, portanto serodiamente.<br />

Nos termos do art. 22, § 1? do Regimento<br />

Intern do Supremo Tribunal<br />

Federal, determino o arquivamento<br />

do processo.»<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Cunha Pebtoto: 0<br />

Despacho pelo qual neguei segulmento<br />

ao agravo de instrumento 6<br />

do seguinte teor (1. 44):<br />

rcO despacho agravado Poi publicado<br />

no Mario da Justica de<br />

13.07.977, que circulou no dia seguinte,<br />

14 ( qulnta-feira), tendo 0<br />

Agrava de regiment a recorrente,<br />

sob a alegagAo de que, tratando-se<br />

de mat6ria sujeita a Justica do Tra-<br />

balite), o prazo para a interposicão do<br />

agravo de instrumento a de °Ito dias,<br />

nos termos do art. 897, letra «b», E §<br />

1?, da ConsolidacAo das Leis do Trabalho.<br />

E o relatOrio.


162<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cunha Peixoto (Reiator)<br />

— 1. 0 colendo Supremo Tribunal<br />

Federal, em Decisao 1"lenaria<br />

proferida na Sessao de 17.11.976, no<br />

julgamento do agravo regimental<br />

em agravo de instrumento n? 68.590<br />

— SP, relator o eminente Ministro<br />

Antonio Neder, firmou <strong>jurisprudencia</strong><br />

no sentido de que o dispositivo da<br />

Consolidacao das Leis do Trabalho<br />

citado pela agravante nao se aplica<br />

aos recursos dirigidos a Excelsa<br />

Corte.<br />

0 precedente referido, publicado<br />

no Diario da Justica de 13.12.976,<br />

porta a seguinte ementa:<br />

«1. Agravo de instrumento interposto<br />

a decisao que denega recurso<br />

extraordinario ajuizado perante o<br />

Tribunal Superior do Trabalho. Seu<br />

prazo e de cinco dias.<br />

Sendo agravante a Fazenda<br />

blica, dito prazo a duplicado, como<br />

exprimem o art. 106 do R. I. do S.<br />

T. F. e o art. 188 do C. Pr. Civil.<br />

R.T.J. — 94<br />

Inadmissivel a ideia de que o<br />

prazo, na especie, e o de oito dias<br />

previsto no artigo 897, § 1?, da<br />

C.L.T., pots este Ultimo na p a apli-<br />

cavel ao procedimento do recurso<br />

extraordinario, e sim ao do processo<br />

trabalhista.<br />

2. Agravo regimental ajuizado<br />

pelo Estado de Sao Paulo e desprovido<br />

pelo S.T.F.».<br />

— Nego provimento ao agravo regimental.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

Ag 73.300 — (AgRg) — RS — Rel.,<br />

Min. Cunha Peixoto. Agte.: S.A. Feltros<br />

Renner (Advs.: Jose Alberto<br />

Couto Maciel e outro).<br />

Decisao: Negado provimento, unanimemente.<br />

Votou o Presidente.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder, Vice-Presidente, na ausencia<br />

ocasional do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores, Presidente. Presentes<br />

a Sessao os Srs. Ministros<br />

Djaci Falcao, Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Alckmin, Leitao de<br />

Abreu, Cordeiro Guerra, Moreira Alves,<br />

Cunha Peixoto e Soares Munoz.<br />

Procurador-Geral da RepUblica o<br />

Prof. Henrique Fonseca de Arafijo.<br />

Brasilia, 7 de junho de 1978. —<br />

Alberto Veronese Aguiar, Secretario.<br />

AGRAVO DE INSTRUMENTO N? 73.890 (AgRg) — RJ<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Djaci Falcao<br />

Agravante: Sinclicato dos Bancos dos Estados do Rio de Janeiro e Espirito<br />

Santo — Agravados: Federacao dos Empregados em Estabelecimentos<br />

Bancarios dos Estados do Rio de Janeiro e Espirito Santo e outros<br />

Descabimento de recurso extraordinario contra decisAo que se limitou<br />

a emitir juizo interpretativo sobre a eficacla e extensào de sentenca,<br />

sem se contrapor aos preceitos constitucionals da legalidade,<br />

da coisa julgada e do controle Indiciado (§§ 2?, 3? e 4? do art. 153).<br />

Agravo regimental improvido.


ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em SessAo<br />

Plena, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigráficas,<br />

por unanimidade de votos, negar<br />

provimento ao agravo.<br />

Brasilia, 27 de junho de 1979 —<br />

Xavier de Albuquerque, Presidente<br />

— Djaci Falai), Relator.<br />

FtELATORIO<br />

0 Sr. Mastro Djaci FalcAo: —<br />

Culda-se de agravo regimental manifestado<br />

em tempo Mil, contra o despacho<br />

de f. 56, que leio.<br />

F de o agravante:<br />

«0 v. despacho ftmdamenta-se<br />

em que o limite da eficacia da sentence<br />

normativa rescindida 6 0<br />

momento do tritnsito em Julgado<br />

da sentenca que a desconstituiu.<br />

Em conseqftencia, nega qualquer<br />

eficAcia retroativa ao julgamento<br />

proferido na acao resciseria, que<br />

deu pela nulidade parcial da sentenca<br />

rescindenda.<br />

Entretanto, o v. despacho não<br />

examinou a outra questAo oportunamente<br />

suscltada no agravo de<br />

instrumento e na peticAo de recurso<br />

extraordinfirio: o v. acOrdAo<br />

proferido na acao rescisdia rift<br />

poderia dispor sobre a sua eficãcia<br />

em relacito as rides de cumprimento,<br />

porque isto 6 matkria estranha<br />

a Ude e afeta a Utispendência,<br />

isto 6, as aches de cumprimento<br />

em curso.<br />

Se a materia 6 de dissidio coletivo,<br />

cabe apenas estabelecer normas<br />

e condicOes de trabaiho, não<br />

regras processuais aplicAvels a outros<br />

processos em curso.<br />

Nao examinou, portanto, o v.<br />

despacho a incompetencia funcional<br />

e ration materiae do E. Tribunal<br />

Superior do Trabalho, para de-<br />

R.T.J. — 94<br />

163<br />

nesta acao rescis6ria, sobre<br />

as ashes de cumprimento em cur-<br />

so, sobretudo porque isto não fol<br />

pedido ate que se configurasse a li-<br />

Uspendencia, mas, apenas, em embargos<br />

de declaracAo do Sindicato<br />

de Empregados.<br />

Se o direito alitelo esta pendente<br />

de decisAo judicial, o E. Tribunal<br />

Superior do Trabalho, data yenta,<br />

não podia transiglr com o direito<br />

alheio, prejulgando todas as aches<br />

de cumprimento. Mufto menos poderia<br />

faze-lo numa acao rescis6ria<br />

em que deu ganho de causa a parte,<br />

tomando !nail a acao corretiva<br />

exercida atraves da referida acao<br />

rescisOria.<br />

Por esse motivo se detrain como<br />

violados os arts. 142, § 1?, e 153, $*<br />

2? e 4?, da ConstituicAo: incompe-<br />

tente o TST, supressAo do direito<br />

adquirido das partes a prestacAo<br />

jurisdicional correspondente as<br />

ashes de cumprimento em curso,<br />

construcAo de direito novo, fora do<br />

objeto do litigio. Violado, tambem<br />

§ 4? do art. 141 da ConstituicAo,<br />

porque a compete/Ida das Juntas e<br />

dos TRTs, ainda nAo exaurida nas<br />

aches de cumprimento, ntio poderia<br />

ser desconsiderada pela v. de-<br />

, que cerceou o seu !lyre<br />

exercicio.» (fls. 58 e 59)<br />

E, ap6s invocar o magistério de<br />

camelutti, acrescenta:<br />

« Raciocinando, pots, agora corn<br />

Carneluttl: se a decisão proferida<br />

na resciseria estabeleceu awn()<br />

que into devia ser, na sentenca rescindenda,<br />

por uma razão de<br />

nulidade (Julgamento clamorosamente<br />

extra petitum), afronta a 16gica<br />

e o bom-senso supor que este<br />

não-ser da sentenca rescindenda<br />

seja relativo, permitindo o enriquedmento<br />

lliclto dos empregados, e,<br />

o que 6 o plor, impedindo os Adzes<br />

competentes de decidirer. a respeito,<br />

para, desde logo, atribuir<br />

aos empregados o direito, nAo apenas<br />

de permanecer corn o que JA


164<br />

tenham recebido, mas, sim, de<br />

continuer exigindo aqullo a que<br />

se sabe que tie° tern direito! Se<br />

Carnelutti conhecesse a situagão<br />

desta causa, teria bastante reforcada<br />

a sua conviccao pela necessaria<br />

retroatividade da sentenca que<br />

desconstitui outra, em razão da nulidade.»<br />

(fls. 61 a 62)<br />

R.T.J. — 94<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Djaci Falai) (Relator):<br />

Estabeleceu o acerdao recorddo,<br />

consoante declaracão feita em<br />

grau de embargos: as gratificacnes<br />

percebidas pelos bancarios ate o<br />

transito em julgado do acardao que<br />

as rescindiu e reajustou nä° sera°<br />

devolvidas aos bancos empregadores<br />

mas, dali por diante, reduzidas na<br />

forma do referido acardao, unanimementeD<br />

(f. 22).<br />

Alias, ficou expresso no acerdao<br />

dos embargos de declaracao opostos<br />

pelo Sindicato dos Bancos:<br />

«Nada de obscuro ou de duvidoso<br />

no acerciao embargado, eis que declara<br />

!IA° susceptiveis de devolucAo<br />

as gratificac6es pagas ate a<br />

data da publicacAo do acerclao.<br />

Na realidade, o que pretende o<br />

Embargante e inovar o decidido na<br />

acao resciseria, estabelecendo normas,<br />

prOprias de execucAo.<br />

Todavia, o que nao autoriza a lei<br />

e a pretensão de consignacao no<br />

acardAo que rescindiu clausula da<br />

sentenca normativa, de solucão<br />

prOpria da execucão.» (f. 123, do<br />

Ag 75.161).<br />

A agravante sustenta, em Ultima<br />

analise, que o acerdão recorrido teria<br />

decidido alem dos limites do objeto<br />

do litigio. Isso, a rigor, importaria<br />

em vulneragao da regra do art.<br />

128 do C.P.C. NAo ha que falar, pois<br />

em ofensa ao § 1? do art. 142 da<br />

ConstituicAo Federal, que disciplina<br />

os limites da competencia normativa<br />

da Justica do Trabalho.<br />

A decisAo objeto do recurso extraordinario<br />

cingiu-se a emitir juizo<br />

interpretativo sobre a eficacia e extensão<br />

da sentenca, sem se contrapor<br />

aos preceitos constitucionais da<br />

legalidade, da coisa julgada e do<br />

controle judiciario (§§ 2?, 3? e 9? do<br />

art. 153).<br />

Na verdade, o aresto recorrido entendeu<br />

que a decisao rescindente<br />

opera a partir do transit° em julgado.<br />

Como quer que seja, !IA° se ye<br />

demonstrada afronta a preceito de<br />

ordem constitucional.<br />

Assim sendo, nego provimento ao<br />

agravo.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

Ag 73.890 — (AgRg) — RJ — Rel.:<br />

Min. Djaci Falcao. Agte.: Sindicato<br />

dos Bancos dos Estados do Rio de<br />

Janeiro e Espirito Santo (Adv.: Hugo<br />

Gueiros Bernardes). Agdos.: Federacao<br />

dos Empregados em Estabelecimentos<br />

Bancarlos dos Estados do<br />

Rio de Janeiro e Espirito Santo e outros<br />

(Advs • Maria Lticia Vitorino<br />

Borba e outro).<br />

Decisao: Negado provimento, unanimemente.<br />

Votou o Presidente. Ausente,<br />

ocasionalmente, o Sr. Ministro<br />

Antonio Neaer, Presidente. Presidiu<br />

ao julgamento o Sr. Min. Xavier de<br />

Albuquerque, Vice-Presidente.<br />

Presidencia do Senhor Ministro<br />

Xavier de Albuquerque, na ausencia<br />

ocasional do Senhor Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes a Sessao os Senhores<br />

Ministros Djaci Falcao, Thompson<br />

Flores, LeitAo de Abreu, Cordeiro<br />

Guerra, Cunha Peixoto, Soares<br />

Munoz, Decio Miranda e Rafael Mayer.<br />

— Ausente, justificadamen te, o<br />

Sr. Ministro Moreira Alves. —<br />

Procurador-Geral da Reptblica, Dr.<br />

Firmino Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 27 de junho de 1979. —<br />

Alberto Veronese Aguiar, Secreted°.


R.T.J. — 94<br />

AGRAVO DE INSTRUMENTO N? 75.161 (AgRg) — RJ<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Djaci FalcAo.<br />

Agravantes: Federacho dos Empregados em Estabelecimentos Banchrios<br />

dos Estados do Rio de Janeiro e Espirito Santo e outros. — A gravado:<br />

Sindicato dos Bancos dos Estados do Rio de Janeiro e Espirito Santo.<br />

Descabimento de recurso extraordinArio, por nAo se configurar<br />

afronta a preceito de ordem constitucional (art. 143).<br />

Agravo regimental a que se nega provimento.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Sessào<br />

Plena, na conformidade da ata do<br />

)ulgamento e das notas taquigrAficas,<br />

por unanimidade de votos, negar<br />

provimento ao agravo.<br />

Brasilia, 27 de junho de 1979 —<br />

Xavier de Albuquerque, Presidente<br />

— Djaci FalcAo. Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Mac' Falcão. Em<br />

tempo oportuno hot interposto este<br />

agravo regimental contra o despaelm<br />

de fls. 207 a 208, que lelo.<br />

Diz a agravante, por intermtdio do<br />

seu patron:<br />

“Da ofensa A coisa Julgada e ao<br />

ato Juridico perfeito<br />

E necessario, para o fiel entendimento<br />

da mattria, urn resumo dos<br />

fatos:<br />

o Egr6gio TRT, ao jtzlgar o<br />

RO-DC 118/72, institui a clAusula<br />

normativa que assegurou uma<br />

gratificacAo de Mingo pare os<br />

bancArios exercentes de determinadas<br />

lunches.<br />

Ocorrldo o trAnsito em Julgado<br />

daquela decisAo, foram<br />

ajuizadas numerosas aches de<br />

cumprimento, corn arrimo no artigo<br />

872 e seu parAgrafo fink° da<br />

Cons°Macao das Leis do Traba-<br />

iho, Codas elas julgadas procedentes,<br />

inclusive por decisho des-<br />

se Excelso Prethrlo conforme<br />

provam diversas xerochpias anexas.<br />

Dezenas e dezenas das aches<br />

de cumprimento jA obtiveram<br />

trAnsito em julgado, sendo XI/311m<br />

e nothrio que os seus benefi-<br />

Winos ja receberam vultosas<br />

importAnclas.<br />

0 acerclio recorrido permite<br />

a devolucáo de importancias recebidas,<br />

corn base no transit° em<br />

Julgado ocorrido nas respectivas<br />

aches de cumprimento, sem que<br />

os acOrdAos proferidos em ditas<br />

aches tenham sido rescindidos.<br />

0 artigo 153, 3?. da Carta Magna<br />

estabelece que a lei nAo prejudicar&<br />

o ato Juridico perfeito e a colsa<br />

julgada.<br />

A presente acAo rescisbria pretendeu<br />

rescindir tAo somente a<br />

clAusula sexta do acOrdAo proferi-<br />

do no RO-DC 118/72. NSo teve por<br />

obJeto, nem indiretamente, rescindir<br />

as numerosas decisbes proferidas<br />

nas awes de cumprimento.<br />

As decishes proferidas nas aches<br />

dcu mprimento nAo sAo atacAveis<br />

sequer por via de acAo rescisoria,<br />

uma vez que elas thm perfeito arrimo<br />

no que disptle o art. 872, parAgrafo<br />

Wilco, da ConsolidacAo das<br />

Leis do Trabalho.<br />

Ademais, a devolucão autorizada<br />

abrange inclusive decisties prolata-<br />

165


166<br />

R.T.J. — 94<br />

das, ha mais de dois anos, isto e,<br />

que nAo sAo mais atacAveis sequer<br />

por meio de uma acAo rescisAria<br />

prOpria. No particular, o acerdAo<br />

sub censura violenta, ostensivamente,<br />

o artigo 836 da Carta Trabalhista.<br />

As acOes de cumprimento tinham<br />

perfeito arrimo no parAgrafo<br />

Calico do artigo 872 da CLT. Tanto<br />

isto 6 verdadeiro que todas elas foram<br />

julgadas procedentes, inclusive<br />

corn o beneplAcito de numerosos<br />

acerdAos proferidos por esse Excelso<br />

Pret6rio. Logo, ditas decisOes<br />

configuram o instituto do ato<br />

juridic° perfeito.<br />

A estranha devolucão das importAncias<br />

recebidas, corn base no ato<br />

juridic° perfeito e no Institut° da<br />

coisa julgada, sem dnvida alguma,<br />

atentatAria ao 3? do artigo 153<br />

da Constituicáo Federal.<br />

Ninguem pode negar que o recebimento<br />

das gratificacOes de funcAo,<br />

A base do acOrdAo proferido<br />

ern autos de dissidio coletivo, cuja<br />

rescisAo ainda nAo se operou, encontrou<br />

suporte no art. 872 da CLT.<br />

Este dispositivo determina que,<br />

nas acOes de cumprimento, não se<br />

discutem as razOes de fato e de direlto<br />

da decisào normativa objeto<br />

da execucAo. E foi por esta razAo<br />

que centenas de agOes de cumpriforam<br />

julgadas procedentes,<br />

mu<br />

inclusive com o aval do Excelso<br />

PretArio, conforme retratam os<br />

acOrdAos de fls. 46 a 73. Assim, hA<br />

centenas, de Wes de cumprimento,<br />

nas quaffs se determina o pagamento<br />

integral daquelas gratificacOes,<br />

todas elas jA abrangidas pelos<br />

efeitos da coisa julgada.<br />

Apesar dist°, o acOrdAo recorrido<br />

prev6 a devolucão de parte daquelas<br />

importAncias ja recebidas.<br />

A questAo relevantissima que se<br />

coloca para exame e a seguinte: o<br />

acerdão proferido, nos autos da<br />

AR-5/74, cuja finalidade especifica<br />

e exclusiva é rescindir a decisdo<br />

proferida nos autos do RO-DC<br />

118/72, pode alcancar a coisa julgada<br />

formada nas numerosas acOes<br />

de cumprimento? Evidentemente<br />

que a resposta sO pode ser negativa.<br />

As acees de cumprimento se<br />

constituiram em processos autemomos<br />

e distintos. Alem do mais, na<br />

presente acão rescisOria, nä° hA o<br />

pedio do Aut visando alcancar<br />

os efeitos das or decisOes proferidas<br />

nas acOes de cumprimento.<br />

Tais fatos caracterizam infrinencia<br />

A coisa julgada e ao ato<br />

juridico perfeito e acabado. ViolaeAo<br />

do art. 836 da CLT, que estabelece<br />

a eficAcia da coisa julgada, ao<br />

mesmo tempo que fixa o prazo de<br />

dois anos para o exercicio da mesma.<br />

A eficAcia das decisOes proferidas<br />

nas acOes de cumprimento,<br />

independe do resultado da presente<br />

acAo rescisOria, tanto assim que,<br />

baseado nelas, numerosos autores<br />

ja receberam as gratificagOes de<br />

tuna); acrescente-se que muitas<br />

dessas decis6es, conforme revelam<br />

os arestos de fls. 46 e seguintes, jA<br />

transitaram em julgado, hA mats<br />

de dots anos; portanto, ja nAo sAo<br />

mais atacAveis sequer por meio de<br />

acOes resciserias prOprias, que tivessem<br />

por objeto rescindir a decisal]<br />

final proferida em cada urn daqueles<br />

processos.<br />

0 ato juridic° perfeito e acabado<br />

tambem esta presente, em cada<br />

um dos processos de agOes de cumprimento,<br />

no momento em que<br />

gerada a eficAcia da coisa julgada.<br />

Deferir-se a vulnerabilidade daqueles<br />

acOrdAos, em consequthcia<br />

dos efeitos da presente acão rescis6ria,<br />

que jamais teve como objeto<br />

rescindir actirdAos daqueles processos,<br />

significa ostensiva ofensa<br />

ao 3? do art. 153 da ConstituicAo<br />

Federal.


Violacao do Art. 142,<br />

1?, da carte politica<br />

A tenure da Integra do act:n..0°<br />

do Excelso Pretario, fls. 26/28, deixa<br />

claro que a Justice do Trabalho<br />

ofende o § 1? do art. 142 da Constituicao,<br />

sempre que decidir de forma<br />

contraria a mandamento insito<br />

nas normal legais disciplinadoras<br />

da chamada politica salarial do<br />

Governo.<br />

A veneranda decisao recorrida<br />

determinou que Mr) devolviveis as<br />

importanclas recebidas, posteriormente<br />

a publicacao do acardao sub<br />

censura, na parte excelente dos<br />

quantitativos nele fixados.<br />

A decisao, concessa Yenta, ofende,<br />

Ilteralmente, ao § 3? do artigo<br />

6? da Lei n? 4.725/65, verb's<br />

«§ 3?. 0 provimento do recurso<br />

nao importare na restituicao dossalerios<br />

ou vantagens pagos, em<br />

execucao de julgado.»<br />

Como vemos, a norma 6 categ6rice<br />

na vedacão a devolucao de<br />

qualquer importancia recebida em<br />

decorrencia de ea° de cumprimento<br />

de clausulas de dissidlo coletivo.<br />

0 sentido social do § 3? 6 de alcance<br />

mifitiplo:<br />

Erna a intrancjilllidade dos<br />

trabalhadores beneficlarlos com<br />

vantagens decorrentes de sentences<br />

normativas, a qual subsistiria<br />

sempre, caso a° se tivesse a<br />

certeza de sua eficacia.<br />

Evita-se a defasagem dos<br />

salarios, os quals se suportam<br />

nos limites minimos de sobrevivancia<br />

dos assalariados, sobrevivencia<br />

que As vezes nem sempre<br />

atinge os requisitos da prepria<br />

dignidade humana, entendida esta<br />

dentro dos conceitos modernos<br />

sobre as finalldades da vide de<br />

qualquer ser human. Este nao<br />

R.T.J. — 94<br />

167<br />

vive mats para softer a vida,<br />

mas essencialmente, para goza-<br />

Ia.<br />

c) Impede-se o prOprio desertdito<br />

da eficacia do instrumento<br />

normativo, o que ocorreria com a<br />

devolucao de importancias recebidas,<br />

embora plenamente acobertadas<br />

pela juricilcidade, das<br />

acees de cumprimento.<br />

A decisào malsinada alum de<br />

ofender a literalidade do § desatende<br />

a todos os princIpios rudimentares<br />

que informam a tranqiii-<br />

Made das relactes de trabalho, especialmente,<br />

no que pertine aos assalariados,<br />

hipossuficientes, e que<br />

dependem para sobrevivencia pr6pria<br />

e dos seus dependentes Unica<br />

e excluslyamente dos magerrimos<br />

salarlos auferidos. Exigir a devolucao<br />

de salario por parte de quem<br />

mal ganha para sobreviver 6 trilhar<br />

o cannnho do absurdo. E norma<br />

elementer de hermeneutica<br />

que a interpretacão da lel nao pode<br />

desprezar os seus fins socials.<br />

In casu, os fins socials nao foram<br />

apenas desprezados; pior do que isto,<br />

foram frontalmente violentados.<br />

Se a macs Alta Corte do Pais entendeu<br />

que o TST ofende a Carta<br />

Magna quando desobedece uma<br />

norma reguladora da politica salarial<br />

do Governo, na hipOtese em<br />

que foram beneficierios os bancos;<br />

1gual entendimento ha de prevalecer,<br />

no caso presente, quando serao<br />

beneficierlos do ponto de vista<br />

do Supremo os trabalhadores. Como<br />

6 16gico, a shwa° diverse das<br />

partes nao altera a competancia da<br />

Pistica do Trabalho; para decidir<br />

«at materla relaclonada com o direit°<br />

normative.<br />

Outras quest6es relevantes ainda<br />

sat) abordadas no recurso extraor-<br />

&Sao e reclamam uma resposta<br />

juridica por parte do Excelso Pre-<br />

Norio.


168<br />

R.T.J. — 94<br />

0 respeitAvel despacho agravado<br />

limitou-se a ratificar o despacho<br />

trancaterio do recurso extraordinario;<br />

ocorre que esse limitou-se a<br />

formulacao de urn relatOrio incompleto<br />

das questOes versadas no<br />

apelo.<br />

0 (mica fundamento constante do<br />

despacho trancatario do recurso<br />

extraordinario 6 este:<br />

«0 acardao recorrido decidiu<br />

que a sentenca normativa tern eficacia<br />

ate o momento em que transitou<br />

em julgado a decisào que a<br />

desconstituiu. Este tambem e o<br />

mite da eficacia da Ka() de cum -<br />

primento, material e formaimente<br />

derivado das sentencas normativas,<br />

tanto a rescindenda quanto a<br />

rescisaria. ( fl. 90 ) . »<br />

Como vemos, o despacho se HIMta<br />

a dizer que as awes de cumprimento<br />

derivam da sentenca normativa.<br />

Admitimos que assim o seja;<br />

tal fato nao exclui a argilicao<br />

de que eles tern vida prapria, tanto<br />

assim que foram ajuizadas independentemente<br />

da sentenca normativa,<br />

percorreram varias instancias<br />

do judiciario, inclusive o<br />

Excelso Pretario, sendo certo que<br />

somente foram executadas, quando<br />

se operou o transit° em julgado da<br />

decisao final, proferida em cada<br />

urn daqueles processos.<br />

Quanto a impossibilidade de devolucao<br />

das importancias recebidas<br />

pelos trabalhadores, corn amparo<br />

nos efeitos da coisa julgada,<br />

nenhuma palavra foi dispensada<br />

pelo despacho indeferit(5rio do extraordInArio.<br />

Tambem a omissao e<br />

o silencio serviram de fundamento;<br />

por macs estranho que pareca, para<br />

afastar a procedência das alegacOes<br />

de julgamento feito fora<br />

dos limites da lide, bem como a argtlicao<br />

de ilegibilidade de parte.<br />

Restaram sem resposta, tambem,<br />

as questOes relacionadas corn a<br />

impossibilidade de acao resciseria,<br />

em sentenca normativa, e os ensinamentos<br />

profundos do eminente<br />

jurista Pontes de Miranda, quando<br />

defende a viabilidade de recurso<br />

extraordinArio, em materia trabalhista,<br />

quando se nega vigencia<br />

lei <strong>federal</strong>.<br />

Todas essas questOes relevantes<br />

nao mereceram uma Unica palavra<br />

por parte dos despachos atacados.<br />

Por todas as raz6es expostas, os<br />

Agravantes esperam que V. Exa.<br />

se digne de reconsiderar o despacho<br />

sob analise; em caso contrArio,<br />

requerem a apresentacao deste<br />

apelo ern Mesa, a fim de que seja<br />

julgado e provido, cassando-se o<br />

despacho denegaterio do agravo de<br />

instrumento, para que seja processado<br />

o recurso extraordinario».<br />

(fls. 211 a 216).<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Djaci Falcao (Relator)<br />

• Em resumo, entende a agravante<br />

que o acardao recorrido, enseja<br />

a devolucao das gratificacOes recebidas,<br />

corn base no transit° em<br />

julgado ocorrido nas respectivas<br />

aches de cumprimento, o que importa<br />

em afronta ao 3? do art. 153 da<br />

Constituicao. Por outro lado, serla<br />

inviavel o sobrestamento das awes<br />

de cumprimento da sentenca normativa<br />

em fase de tramitacao, por forca<br />

do actirdao objeto do recurso extraord1narlo,<br />

tendo em vista o que<br />

dispde o<br />

3?, do art. 6? da Lei<br />

4.725/65, que veda a devolucao de<br />

importancias recebidas em execucao<br />

de julgado.<br />

De leitura dos autos verifica-se<br />

que, a rigor, a materia suscitada nao<br />

foi objeto de prequestionamento no<br />

acOrdao recorrido e no julgamento<br />

dos embargos declaraterios (fls. 145<br />

a 152 e 166 a 167). Assim concluiu a<br />

Corte trabalhista:<br />

«Acordam os Ministros do Tribunal<br />

Superior do Trabalho, receber<br />

os embargos para declarar que as


gratificacnes percebidas pelos bancarios<br />

ate o transito em Julgado do<br />

aordao que as rescindiu e reajustou<br />

nä° sera° devolvidas aos bancos<br />

empregadores mas, dali por<br />

diante, reduzidas na forma do referido<br />

acôrdao, unanimemente.» (f.<br />

167).<br />

Depreende-se do exposto que, tra-<br />

Made em Julgado a decisao proferida<br />

na actlo rescisOria, a path!' dal, e<br />

diante de cada caso concreto, caber&<br />

ao Juizo da execueáo considerar os<br />

efeitos da decisáo rescindente sobre<br />

as aches de cumprimento, concluidas<br />

ou nao.<br />

Como quer que seta, nal) se ve demonstrada<br />

afronta a preceito de ordem<br />

constitucional. Nego provimento<br />

ao agravo regimental.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

Ag 75.161 (AgRg) — RJ — Rel.:<br />

Min. Djaci Feick). Agtes.: Federa-<br />

Oo dos Empregados em Estabelecimentos<br />

Bancarios dos Estados do<br />

Rio de Janeiro e Espirito Santo e<br />

R.T.J. — 94<br />

169<br />

outros (Advs.: Jose Torres das Neves<br />

e outra). Agdo.: Sindicato dos<br />

Bancos dos Estados do Rio de Janeiro<br />

e Espirito Santo (Adv.: Hugo<br />

Gueiros Bernardes e outra).<br />

Decisao: Negado provimento unanimemente.<br />

Votou o Presidente. Ausente,<br />

ocasionalmente, o Sr. Ministro<br />

Antonio Neder, Presidente. Presidia<br />

ao Julgamento o Sr. Ministro Xavier<br />

de Albuquerque, Vice-Presidente.<br />

Presidencia do Senhor Ministro<br />

Xavier de Albuquerque, na ausencia<br />

ocasional do Senhor Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes A Sessao os Senhores<br />

Ministros Djaci Falai°, Thompson<br />

Flores, Leak* de Abreu, Cordelro<br />

Guerra, Cunha Peixoto, Soares Munoz,<br />

Decio Miranda e Rafael Mayer.<br />

Ausente, Justificadamente, o Sr. Ministro<br />

Moreira Alves. Procurador-<br />

Geral da Republica, Dr. Firmino<br />

Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 27 de junho de 1979 —<br />

Alberto Veronese Agutar, Secretario<br />

EMBARGOS NO RECURSO EXTRAORDINARIO NI 76.671 —<br />

(Tribunal Pleno)<br />

(RE na RTJ 66/610)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Leitao de Abreu.<br />

Embargantes: Mathusalêm Boris Casiuch e sua muffler — Embargada:<br />

Incorporadora Reino Unido Ltda.<br />

Promessa de compra e venda de imOvel, por Instrumento particular.<br />

Adjudicaclio compulseria. Nao cabimento, JA que o contrato não<br />

fol inscrito no registro lmob111Arlo. Precedentes do Supremo Tribunal<br />

Federal. Embargos de divergencia conhecidos, porem reJeltados.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em sessão<br />

plener1a, na conformidade com a ata<br />

de Julgamentos e notas taquigrafi-<br />

cas, A unanimIdade de votos, conhecer<br />

dos embargos, mas rejeite-los,<br />

por maloria de votos.<br />

Brasilia, 22 de novembro de 1978.<br />

— Thompson Flores, Presidente —<br />

Let% de Abreu, Relator.


170<br />

RELATORIO<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Sr. Ministro Leitao de Abreu: Ao<br />

relater o R.E. n? 76.671, disse o Ministro<br />

Oswaldo Trigueiro:<br />

00 Juiz da 14! Vara Civel da<br />

Guanabara julgou procedente acao<br />

cominateria proposta por Mathusalem<br />

Boris Casiuch e sua mulher,<br />

contra Incorporadora Reino Unido<br />

Ltda., e, em consearencia, condenou<br />

a re a outorgar escritura definitive<br />

de im6veis que haviam sido<br />

objeto de promessa de venda, mediante<br />

contrato particular, (f. 132).<br />

"Essa deciseo foi confirmada por<br />

acOrdao da 4? Camara Civel do<br />

Tribunal de Alcada, em cuja ementa<br />

U. 173) se le: 'Ace° cominateria.<br />

Pode intents-la, contra o promitente<br />

vendedor, para compelir a venda<br />

definitive, o promitentecomprador<br />

de imOvel, munido de<br />

instrumento particular, pouco importando<br />

o valor da coisa.'<br />

Opostos embargos infringentes,<br />

rejeitou-os o Primeiro Grupo de<br />

Cameras Civets (fs. 212), pelos<br />

fundamentos que a respective<br />

ementa resume:<br />

contrato preliminar, ou precontrato,<br />

gera obrigacOes.<br />

A doutrina e a <strong>jurisprudencia</strong><br />

tern aceitado o instrumento particular,<br />

na hip6tese do artigo 134, II,<br />

do COdigo Civil. (fls. 269/270).<br />

O Ministro Oswaldo Trigueiro proferiu<br />

este voto, acolhido s unanimidade:<br />

«0 valor da cause !leo constitui<br />

6bice ao conhecimento do recurso<br />

A vista da ressalva contida no<br />

caput do artigo 308 do Regimento<br />

Intern.<br />

00 recurso argil dissidlo corn a<br />

<strong>jurisprudencia</strong> predominante, cornpendiada<br />

na Stmula 413, segundo a<br />

qual o compromisso de compra e<br />

venda de imOvel de direito s execued°<br />

compulsOria, quando reuni-<br />

dos os requisitos legais. Entre estes<br />

requisitos, como e 6bvio, figura<br />

a inscricao do contrato no registro<br />

imobilierio (Decreto-lei 58/37 e Decreto<br />

3.079/38; Lei 649/49).<br />

«No R.E. 68.732, decidiu a Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

que, se o contrato nAo foi inscrito<br />

no Registro de 1[ne l/cis, como dispee<br />

a Lei 649/49, nao autoriza a comieria,<br />

nat visando a adjudicacao<br />

compulsOria (RTJ 57/330).<br />

«Identico entendimento tem prevalecido<br />

em varies outras decisees,<br />

entre as quais: RE 31.695,<br />

RTJ 35/209; RE 64.997, RTJ 50/516;<br />

RE 67.206, RTJ 55/604; RE 68.905,<br />

RTJ 53/696; RE 71.167, RTJ 57/652;<br />

RE 71.850, RTJ 57/893.<br />

«Reportando-me a esses precedentes,<br />

conheco do recurso e the<br />

dou provimento» (fls. 274/275).<br />

Para o acOrdao foi redigida esta<br />

ementa: «Promessa de compra e<br />

venda de im6vel, por instrumento<br />

particular. Nao cabe a adjudicacao<br />

compulseria, se o contrato nao foi<br />

inscrito no registro imobilierio. Recurso<br />

conhecido e provido.»<br />

Com a alegacao de divergir o acerdeo<br />

de julgados outros desta Corte,<br />

foram apresentados embargos,<br />

manifestando-se a Procuradoria-Geral<br />

da Reptblica favorevel ao seu<br />

conhecimento e recebimento.<br />

E o relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Lelia° de Abreu<br />

(Relator) — Na indicagao da divergenzia,<br />

os embargantes trouxeram<br />

colacao, dele juntando cepia As fls.<br />

300/309, o R.E. 70.362, relatado pelo<br />

Ministro Luiz Gallotti. 0 aresto tem<br />

esta ementa:<br />

«Promessa de compra e venda<br />

de im6veis.<br />

«Adjudicacao compulseria.


R.T.J. — 94 171<br />

«AplicacAo do artigo 22 do meiro pelo Ministro Djacilea() e o<br />

Decreto-lei 58 de 1937 corn a reda- segundo pelo Ministro Moreira Alcão<br />

da Lel n? 649, de 1949, e artigo ves:<br />

546 do C6digo de Processo Civil. «Avg') de adjudicaeão compuls6-<br />

KE valid° o contrato prelitninar ria.<br />

de compra e venda de inffwel feito<br />

por instrumento particular.<br />

«A inscricAo no Registro de Im6yds<br />

a condieAo imprescindivel a<br />

inscricAo do prê-contrato adjudicacAo compulsOria de imOvel<br />

estabelecida para oponibilidade prometido a venda por instrumento<br />

erga omnes e, assim, a sua falta particular, sem clausula de arre-<br />

nAo obsta a execueAo in natura. pendimento e JA quitado o preco.<br />

«Recurs° extraordinario conheci- Inteligéncia dos artigos 22 e 23 do<br />

do mas nAo provido.»<br />

Decreto-lei n? 58/37, na redacAo<br />

Feito o confronto, ressai a diver- dada pela lel n? 6.014/73. Correta a<br />

gencia. No acerdão embargado, jurisprudAncia do Supremo Tribu-<br />

repeliu-se a adjudicacilo compuls6nal Federal, em face do novo C6ciiria,<br />

dada a falta de inscricAo no rego de Processo Civil. Dissidlo jugistro<br />

imoblliArio da promessa de risprudencial comprovado. Recur-<br />

compra e venda por instrumento so extraordinArio conhecido mas<br />

particular. No aresto-padrAo, ao con- improvido (R.E. 89.191-9, de<br />

trArio, entendeu-se que cabe a adju- 19.5.1978).<br />

dicaeao, ainda que a promessa nAo «AyA° de adjudicaeAo compuls6-<br />

tenha sido inscrita, pois a inscriclio ria.<br />

s6 6 estabelecida para oponibilldade A inscrieão no Registro de Im6-<br />

erga omnes, nAt) entre os prOprios veis a condieão indispensAvel a ad-<br />

contratantes.<br />

judicaeAo compulsOria de !rut:mei<br />

Imptle-se o conhecimento dos em- prometido a venda por instrumento<br />

bargos, fft que prevalece — contra a particular, sem clAusula de arre-<br />

minha opinitio — o entendimento de pendimento e já quitado o prey°.<br />

que nilo constitui 6b1ce para isso 0 NAo ocorrencia, no caso da ressal-<br />

fato de serem ambos os acOrdAos da va final da SCunula 167.<br />

mesma Turma, quando editados «Recurs° extraordinario conheci-<br />

amediante votaello majoritAria emido e provido» (R.E. 84.828, de<br />

tida por ministros dfferentes» (RTJ 16.6.1978).<br />

43/768). Participararn do julgamento<br />

do acerdlio embargado, corn voto<br />

Afirmou a Procuradoria-Geral da<br />

vencedor, os Mlnistros Oswaldo Tri-<br />

Republica, em parecer que conclui<br />

gueiro, DjacilcAo e Rodrigues<br />

pelo recebimento dos embargos, ter<br />

Alckmin, ao passo que, no julgamen- hworrido em manifesto equivoco o<br />

to do paradigma, sufragaram a opi- acOrdAo embargado, quando afirmou<br />

nillo vencedora os Ministros Allomar não ter cabida, na hip6tese, a adjudi-<br />

Baleelro, Amaral Santos, Barros cacao compulkoria, quando esta nem<br />

Montefro e Diaci FalcAo.<br />

sequer foi postulada no libelo inaugural<br />

(lls. 320).<br />

Conhecidos, rejeito os embargos. A Observo que, se tal ocorre, cabia a<br />

decisio concernente ao actordtio em- correetio via embargos de declaracAo,<br />

bargado foi tomada a vista de prece- nAo embargos de divergencia. Em se<br />

dentes desta Corte, citados no voto tratando, no caso, de embargos de<br />

do Ministro relator. De acordo corn divergencia, cumpre acarear apenas<br />

essa orientacAo tenho votado na Se- o acOrdAo embargado, tal como redigunda<br />

Turma, que recentemente degido, corn pad/toes trazidos a colacidiu,<br />

em acOrdAos relatados, o pricite, para confronto das teses adota-


172<br />

das. E o que aqui se acaba de fazer,<br />

nao cabendo sanar eventual equlvoco<br />

em que tenha incorrido o acerdAo<br />

embargado, ja que para este fim a<br />

lei processual oferece meio preprio.<br />

Isto posto, conheco dos embargos,<br />

porem os rejeito.<br />

VOTO<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda Sr.<br />

Presidente, apesar da devida suscitada,<br />

sobre se seriam ou nao divergentes<br />

os acerdAos, entendo que a divergencia<br />

este caracterizada quantum<br />

satis, para autorizar o conhecicimento<br />

dos embargos.<br />

Num caso, Pala-se em acAo de adjudicacão<br />

compulseria e, no outro,<br />

Pala-se em acAo cominateria para<br />

adjudicacAo compuiseria. Tanto no<br />

espirito, como nas ementas, os casos<br />

são divergentes. Concordo, pots, corn<br />

o eminente Ministro Relator no conhecimento<br />

dos embargos.<br />

JA na solucAo a ser dada ao problema,<br />

nAo vejo necessidade de inscricAo<br />

da promessa de venda para<br />

pleitear a adjudicacAo compulserla.<br />

Compreendo que se deva entender<br />

a clausula legal «desde que inscritos<br />

em qualquer tempo» como «desde<br />

que inscritiveis em qualquer tempo».<br />

Caso nao esteja inscrita a promessa<br />

de venda, pode o autor inscreve-la.<br />

Se se trata de uma promessa de venda<br />

incapaz de ser inscrita, al sim,<br />

acolheria a objecno, porque a sentenca<br />

de adjudicacão compulseria<br />

nao poderia, de sua vez, ser registrada.<br />

Fora disso, nAo ha argumento 16gico<br />

que suporte a clausula legal em<br />

toda sua literalidade. A inscricAo e<br />

garantia e formalidade que opera<br />

em relagão a terceiros. Em relacAo<br />

as partes que convencionaram, nao<br />

necessaria a inscricAo, seja para<br />

qualquer outra demanda relative ao<br />

contrato, seja para exigir sua execucap<br />

in natura.<br />

Com a vênia devida, conheco dos<br />

embargos e os recebo.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Soares Mufioz: Sr.<br />

Presidente, eu nao cont undo acão cominateria<br />

com acAo de adjudicacAo<br />

compulseria. A acao de adjudicacAo<br />

compulseria a uma execucAo in<br />

natura; a acão cominateria 6 apenas<br />

um meio de que o promitente comprador<br />

dispee para ativar a vontade<br />

do promitente re vendedor a<br />

outorgar-lhe a escritura, sob pena de<br />

pagar a cominacAo estabelecida, ou<br />

a indenizacAo pedida na inicial. Mas,<br />

no caso, o acerdão embargado confundiu<br />

essas duas aches. Tanto que,<br />

segundo ele, a presente acdo cominateria<br />

visa a obter a adjudicacão<br />

do imOvel. Ora, se assim foi decidido,<br />

configurada este a divergencia<br />

alegada. Por isso, conheco dos embargos<br />

de divergencia, mas nAo os<br />

recebo. Entendo que a existencia de<br />

promessa de compra e venda insertta<br />

no registro de im6veis 6 condicAo<br />

indispensavel a propositura da acAo<br />

de adjudicacAo compulseria, nos termos<br />

do art. 22 do Decreto-lei n? 58/37<br />

com a redacdo da Lei if 6.014/73.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

ERE 76.671 — RJ — Rel.: Min.<br />

Leith° de Abreu. Embtes.: Mathusa-<br />

16m Boris Casiuch e sua mulher<br />

(Adv.: Walter Sztainberg). Ernbda.:<br />

Incorporadora Reino Un1do Ltda.<br />

(Adv.: Maria Christina Rodrigues<br />

Alves). (Decreto Embda.: 1! T.,<br />

7.8.73).<br />

Decisào: Pediu vista o Ministro<br />

Cunha Peixoto, apes os votos dos Ministros<br />

Relator, Declo Miranda e<br />

Soares Munoz conhecendo e rejeitando<br />

os embargos.<br />

Presidencia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a Sessào<br />

os Srs. Ministros Djaci FalcAo,<br />

Antonio Neder, Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Alckmin, Leitdo de<br />

Abreu, Cordeiro Guerra, Moreira Alves,<br />

Cunha Peixoto, Soares Munoz e


Decio Miranda. — Procurador-Geral<br />

da Repablica, o Prof. Henrique Fonseca<br />

de Aratijo.<br />

Brasilia, 27 de setembro de 1978 —<br />

Alberto Veronese Aguiar, SecretArlo<br />

VOTO (VISTA)<br />

0 Sr. Mlnlstro Cunha Peixoto: I —<br />

Versa a especie questão pertinente A<br />

possibilidade ou nAo de, nos contratos<br />

de promessa de compra e venda<br />

de imOveis pactuados por instrumento<br />

particular, poder o compromissário<br />

comprador requerer a adjudicacAo<br />

compulseria do imOvel independentemente<br />

de inscricAo no registro imo-<br />

Wharf°, sendo esse registro necessArio<br />

apenas para a oponibilidade do<br />

contrato a terceiros.<br />

H — Os eminentes Ministros Relator<br />

e Soares Munez, filiando-se A corrente<br />

doutrinAria e Jurisprudencial<br />

que n8o admite a adjudicaclio cornpuiseria,<br />

conhecem dos presentes<br />

embargos, vez que comprovada a divergencia<br />

com o Julgado padre°,<br />

mas Os rejeitam, enquanto o não menos<br />

eminente Ministro Decio Miranda<br />

os recebe, sob o entendimento de<br />

que o registro 6 garantia e formalidade<br />

que opera em relacao a tercetros,<br />

nAo sendo necessArla a inscricão<br />

nos litigios deflagrados entre as partes<br />

contratantes.<br />

III — Pedi vista para melhor refle-<br />

Hr sobre a matéria, vez que, quando<br />

do julgamento do RE n? 82.220-CE,<br />

proferido pela Egregla Primeira<br />

Turma na SessAo de 31.5.77 — Relator<br />

o eminente Ministro Antonio Neder<br />

— prevaleceu o entendimento<br />

majorilftrio da admissibflidade da<br />

adjudlcacAo compulsOria.<br />

Naquela oportunidade, em que fui<br />

designado relator pan o acercitio,<br />

proferi voto do qual transcrevo a<br />

parte OW, in verbis:<br />

a3. 0 desate da questao<br />

encontra-se, assim, no art. 22 do<br />

Decreto-lei n? 58/37. corn a redacAo<br />

R.T.J. — 94<br />

173<br />

que The atribuiu a Lei if<br />

to 6, se s6 a<br />

649/49, is-<br />

promessa<br />

consubstanciada<br />

de venda<br />

em documento devidamente<br />

registrado enseja<br />

cucAo<br />

a<br />

compulsOria<br />

exe-<br />

da obrigacAo,<br />

ou se tal ato objetiva apenas a garantla<br />

da venda em relacAo<br />

ceiro.<br />

a ter-<br />

A materta nAo 6 pacifica,<br />

reconhecendo-se que a maioria<br />

pende para s6 admitir a adjudicacAo<br />

compulseria, mesmo entre as<br />

partes, quando o documento estA registrado.<br />

HA, por6m, no dissidlo, uma Area<br />

de entendimento. Todos admitem<br />

assumir o promitente vendedor<br />

uma obrigacAo de fazer. A divergencia<br />

comeca na execucao da<br />

obrigacAo, quando descumprida,<br />

pots, enquanto uns entendem que a<br />

falta do registro enseja apenas<br />

perdas e danos, outros admitem a<br />

execucAo em es/Ade.<br />

Antes do Decreto-lei<br />

nos n?<br />

pronunciávamos<br />

58/39, Je<br />

no sentido da<br />

segunda corrente. Em trabaiho,<br />

publicado As fls. 437/9, do volume<br />

74 da Revista Forense,<br />

mos:escreve-<br />

«Constitue a promessa de compra<br />

e venda uma obrigacAo de<br />

fazer. E, neste pouco, mostramse<br />

a <strong>jurisprudencia</strong> e os tratadis-<br />

tas de perfelto acordo. Ora, as<br />

obrigacees desta especie devem<br />

ser executadas quando seu cumprimento<br />

especifico pode ser obtido<br />

sem coacAo fisica ao promitente.<br />

NAo 6 apneas/el, no caso<br />

em apreco, o art. 880 do COdigo<br />

Civil, porque al se trata da obri-<br />

gave() se imposta ao devedor e so<br />

por ele execaivel. Tal o conceito<br />

que dale fazem o macs dos civil's-<br />

tas, tal a definicAo de Carvalho<br />

Santos (C6citgo Civil Brasileiro<br />

Interpretado, volume 11, PAS.<br />

89). A regra geral vem estabelecida<br />

no art. 881 do mesmo COWgo:


174<br />

R.T.J. — 94<br />

«Se o fato puder ser executado<br />

por terceiros, sera livre ao<br />

credor manda-lo executar a<br />

custa do devedor, havendo recusa<br />

ou mora deste, ou pedir<br />

indenizaqao por perdas e danos.»<br />

(C. C., art. 881).<br />

Discretea Cl&is Bevilaqua):<br />

«NAo e necessario que o devedor<br />

cumpra em pessoa o que<br />

prometeu fazer. 0 essential e<br />

que o fato prometido se execute<br />

pelo modo ajustado. » (Cod.<br />

Civil, vol. 4, pagina 23).<br />

Se a indepizacão nä° importa<br />

cumprimento da obrigacao ela s6<br />

tern lugar quando impossivel a<br />

prestacao de terceiros, ou nap<br />

convir ao credor. Ora, nada podera<br />

obstar que o comprador insista<br />

no cumprimento da obrigacAo<br />

desde que seja satisfeita a<br />

formalidade da escritura<br />

E digamos de lugar, mau grado<br />

opiniOes contrarias, que nAo tem<br />

aplicabilidade, na especie, o<br />

principio memo precise ad f acturn<br />

cogi potest, porque, para obter<br />

a execucAo compulsOria do<br />

contrato, nenhuma violencia se<br />

fail a vontade do promitente. A<br />

obligati° faciendi sera cumprida<br />

por terceiros, isto é, pelo Juiz. A<br />

prOpria sentenca valerA como<br />

titulo a ser transcrito . E nAo ha<br />

que objetar a essa conclusa°,<br />

pots o COdigo Civil a adota, expressamente,<br />

em relacAo ao usucapião<br />

e implicitamente nos arts.<br />

685 e 1.139:<br />

«Podendo requerer ao juiz<br />

que assim o declare por senteca,<br />

a qual the servira de titulo<br />

para a transcricAo no registro<br />

de im6veis.» (C. C., art. 550).<br />

Nos termos do art. 1.139 do COdigo<br />

Civil, pode o condOmino em<br />

coisa indivisivel, caso outro consorte<br />

tenha vendido sua parte a<br />

terceiro, sem aviso previo, haver<br />

do adquirente a parte vendida,<br />

tanto por tanto. Caso identico se<br />

encontra na enfiteuse. Ora, se o<br />

adquirente nAo quiser outorgar a<br />

escritura, somente se podera fazer<br />

respeitar estes dispositivos,<br />

por meio de sentenca judicial,<br />

que servira de titulo a ser transcrito<br />

no registro de imOveis. Por<br />

outro lado, a compra e venda<br />

quando pura, considerar-se-A<br />

obrigat6ria e perfeita, desde que<br />

as partes acordaram no objeto e<br />

no preco. (C6d. Civil, art. 1.126).<br />

Mas reza o art. 1.088:<br />

,Quando o instrumento Obitco<br />

for exigido como prova do<br />

contrato, qualquer das partes<br />

pode arrepender-se, antes de o<br />

assinar, ressarcindo A outra<br />

perdas e danos resultantes do<br />

arrependimento, sem prejuizo<br />

do estatuido nos arts. 1.095 a<br />

1.097.» (C. C., art. 1.088).<br />

Poderemos, destarte, desde<br />

que as partes, no contrato preliminar<br />

de promessa de compra e<br />

venda, acordaram no objeto e no<br />

preco e foi feita por escritura pablica,<br />

com outorga ux6ria, dizer<br />

como Planiol que:<br />

«...ce serait un acte de vente<br />

mal qualifit ou mal redige,<br />

dans lequel les parties aurait<br />

dit: — «Je promete vendre... je<br />

promets d'acheter...» — au lieu<br />

de: — «Je vans... achete.»<br />

Parece-nos irrepreensivel a licao<br />

de Andrade Bezerra:<br />

«Nos contratos de natureza<br />

consensual a promessa preliminar<br />

sinalagmatica confunde-se<br />

com o preprio contrato, desde<br />

que as partes estejam ac6rdes,<br />

sabre o objeto e modalidades<br />

do contrato.» (Tese apresentada<br />

a Faculdade de Direito do<br />

Recife, cap. XXX).<br />

A identica solucao chegaremos,<br />

estudando o direito anterior. As<br />

ordenacOes do livro 4?, tit. 19, excluiam<br />

o contrato de promessa


R.T.J. —<br />

de compra e venda que ilk, se revestisse<br />

a forma do contrato defi- comma au temps de Pothier,<br />

nifty° e nos demais casos consi-<br />

recourir au <strong>tribunal</strong> et obtenir<br />

derava o principal como perfelto un Jugemente; mats les Juges<br />

n'ont<br />

e eficaz por conta da sentence.<br />

plus besoin de condemner<br />

Escreve Silva Pereira:<br />

le vendeur A passer un contract<br />

comme autrefois; ils constate-<br />

«Noto inpraxe que nunca vi ront simplesment l'existence de<br />

na prance fazer-se esse cons- le promesse de vente et du contranglmento<br />

real, sena que em sentement .de I'acheteur, et<br />

semetharites casos se manda donneront sa mise en posse-<br />

nas sentences que a parte faga sion.» (Planio, Droll Civil, vol.<br />

a escritura; e não o fazendo fl- , pag. 496).<br />

que a mesma sentence \reticle, Ensina Pothier:<br />

como se o fora.» (Reperb5rio,<br />

vol. 1, peg. 623).<br />

«D'un autre cote on dira que<br />

Outra nap 6 a °piffle') do erudi-<br />

la eagle Nemo Potest Cogi ad<br />

to Teixeira de Freltas.<br />

Factum, et Celle que les obligations<br />

quae in faciendo consis-<br />

Correa Teles adverte:<br />

tent, se resolvent necessaire-<br />

«Se obrlgou-se a fazer escrimente en dommage et interets,<br />

tura de venda e recusa, a sen- ne resolvent d'application qu'a<br />

tence, que o condenar a faze-la, llgard des obligations de faits<br />

flea servindo de Milo" (Correa exterleurs et corporels, telle<br />

Teles, Doutrina das Acas, not. qu'est Pbligation de celui qui se<br />

832).<br />

seralt oblige de copier mes ea-<br />

Tierceis esta solucAo 6 consachiers, lesquels falls ne peugrada<br />

em verias legislacees. 0<br />

vent se supleer que par une<br />

dirieto alemAo permite, por<br />

condemanation de dommages<br />

positivo expresso, a sentence Ju-<br />

et intaets. Mats le fait qui est<br />

dicial servindo de Undo definiti. l'objec d'une promesse de an-<br />

vo:<br />

te n'est pas un fait exterleur et<br />

corporal de la personne de de-<br />

«Se o devedor 6 condenado a , petit le supleer par<br />

fazef tuna declaracAo de vonta<br />

un<br />

Jugement comme nous l'avons<br />

de, a declaracAo se considera<br />

rapporte, qui ordennera que,<br />

felts, apenas tenha a sentence faute par le debiteur le vouloir<br />

passado em julgado.» (C. Pro- passer un contract. Cat opicessual<br />

alemAo, 894).<br />

nion parait suivie dans la praU-<br />

Outro nao e o direito austriaco.<br />

que comme la plus forme A is<br />

No direito trances, nilo existe a fidelite qui dolt regner entre les<br />

hommes pour<br />

mesma regra, mas pelo art. 1.589<br />

Paccomplisse-<br />

equipara a promessa<br />

ment de leurs<br />

de compra<br />

promesse.» (Potiller,<br />

aVente»,<br />

e venda verdadeira venda.<br />

it 479).<br />

Mesmo a promessa unilateral,<br />

Confirma-no Baudry et Saignat:<br />

segundo tratadistas, deve ser<br />

cumprida e, nAo o sendo, poderA all creditore della promessa<br />

ser coativamente executada por unllaterale di vendere ha non<br />

sentence do Julz. Manic!, sem solo 11 diritto di domandare<br />

distinguir a promessa unilateral daunt e gli interessl in caso d'i-<br />

da bilateral, assegura que:<br />

nademplenza, ma anche quello<br />

si le promettant refuse de<br />

di costringere 11 promettente,<br />

livrer la chose, 11 faudra lieu, the 6 ora un venditore, e se si<br />

rffiutasse di consegnare la co-<br />

175


176<br />

R.T.J. — 94<br />

sa, l'ufficio del giudice diverrebbe<br />

necessario non gie, come si<br />

dice spesso, per condannare 11<br />

venditore ad affrettare la vendita<br />

e stipulare 11 contratto, ma<br />

pin esattamente per constatare<br />

l'esistenza della vendita e ordinarne<br />

l'adempimento: la sentenza<br />

fartt le veci dell'atto.»<br />

(Baudry et Saignat, «Della vencllta<br />

e della permuta», n?s 66 e<br />

76).<br />

No mesmo sentido Demolombe<br />

(Trent des Obligations, vol. 2, n?<br />

520).<br />

Ma's importante para o caso<br />

sub judice e o estudo do Direito<br />

italiano, pots all, como entre nes,<br />

nAo existe a regra expressa do<br />

Direito alemão, nem a do Direito<br />

Frances, que equipara a promessa<br />

bilateral de compra e venda<br />

prepria venda. Giorgi, por exemplo,<br />

assim se manifesta:<br />

«La promessa di vendita non<br />

e vendita, non transferisce 11<br />

dominio e pero non si pub dire,<br />

a rigor di principio, una obbligazione<br />

di dare. Ma erra, chi<br />

da el?) trae la conseguenza, the<br />

promittente possa llberarsi<br />

prestando A UMW sua 11 Quid<br />

Interest, invece della cosa venduta.<br />

No: 11 promittente e obbligato<br />

a dar la cosa, e estipulare<br />

l'atto opportuno; e se vi si rifiuta,<br />

la sentenza potre tener luogo<br />

del contratto, giusta l'art.<br />

1932, n? 7, del Codice<br />

Giorgi, «Teoria delle obbligazioni»,<br />

vol. 3, 153, pAg. 169).<br />

Mattirolo a mais incisivo. Reconhece<br />

que a sentenca fare as vezes<br />

do contrato, valendo como<br />

titulo:<br />

«... nesse caso essa parte poser<br />

levada pelo outro contraente<br />

perante a autoridade<br />

judiciaria, afim de ser coagida,<br />

ao cumprimento de sua obrigacao;<br />

e o juiz, aplicando os<br />

principios que regulam a obrigacdo<br />

de fazer, declarada a<br />

existkncia legal da promessa, estabelecera<br />

urn termo dentro do<br />

qual o devedor tera de prestarse<br />

A formacAo legal do ato, em<br />

falta do qual valera como tal a<br />

pr6pria sentenca.» (Mattirolo,<br />

Trattado di Diritto gludiziario<br />

chine Italian, volume 3, peg.<br />

210).»<br />

0 preconceito de que a obrigacAo<br />

de fazer nan comportava execucão,<br />

em forma especifica, se poderia<br />

ser mantldo por muitos, durante<br />

muito tempo, nao poderia, evidentemente,<br />

resistir, depois que a lei,<br />

expressamente, o admitiu (art. 16<br />

do Decreto-lei n? 58/37, 346 e T,<br />

do art. 1.006 do C6digo de Processo<br />

Civil).<br />

Realmente, como se verifica, o<br />

art. 16 do Decreto-lei n? 58 disciplinou<br />

uma obrigacAo de fazer e, no<br />

entanto, permitiu que, pagas, mesmo<br />

antecipadam ente todas as prestactles,<br />

o promissArio comprador<br />

podere notificar o promitente vendedor<br />

a outorgar-lhe a escritura no<br />

prazo de dez dies. E mais, no caso<br />

de pagamento de todas as prestagees,<br />

e licito ao promitente vendedor<br />

intimar o promisserio comprador<br />

a receber a escritura no prazo<br />

de trinta dies e, se nAo o fizer, o<br />

terreno sere depositado por sua<br />

conta e risco, correndo todas as<br />

despesas por sua conta, isto 6, do<br />

promissArio comprador. E em nenhum<br />

dos dispositivos referido —<br />

art. 16 e 17 — a lei fala em previo<br />

registro do document° de promessa<br />

de venda. 0 registro, como se<br />

verifica, pelo art. 5? do mesmo<br />

Decreto-lei, e para valer contra<br />

terceiro.<br />

«A averbacAo atribui ao compromissario<br />

direito real, oponivel<br />

a terceiros, quanto A alienacão<br />

ou oneracAo posteiror e fas-se-A A<br />

vista do instrumento de compromisso<br />

de venda, em que o official<br />

lancare a nota indicative do li-


vro, pAgina e data do assentamento».<br />

E nAo poderla ser de maneira dlversa,<br />

porque, em mat6ria de obrigacetes<br />

convencionals, o °Wetly° do<br />

registro 6 apenas aquele mencionado<br />

no art. 135 do C6cligo Civil: valer<br />

contra terceiro.<br />

Observe-se que a redacAo primitiya<br />

do art. 22 nAo condicionava a adjudicacAo<br />

compulsOria A averbacAo<br />

do document°, verb's:<br />

«As escrituras de compromisso<br />

de compra e venda de im6veis<br />

nAo loteados, cujo preco deva<br />

pagar-se a prazo, corn uma ou<br />

mats prestacOes, sera° averbadas<br />

a margem da respectiva transerica°<br />

aquisitiya, para os efeltos<br />

desta lei».<br />

Quals os efeitos da lei a que se<br />

referia este inciso? Evidentemente,<br />

o consubstanciado no art. 5?, isto<br />

e, passarta o compromisso a valer<br />

tambtm contra terceiro, ou melhor,<br />

o comprador teria o direito de<br />

seqllela, isto 6, de receber a escritura<br />

do imOvel, mesmo que tivesse<br />

ele sldo transferido a terceiro. A<br />

transacAo corn relacAo ao terceiro,<br />

passarla a ser nula.<br />

Nem se diga que o art. 23 declarava<br />

que nenhuma actio ou defesa<br />

seria apresentada, sem prova da<br />

averbactio do document°, porque<br />

os dispositivos de uma lei devem<br />

ser interpretados harmonicamente,<br />

e esta integracão s6 ocorre se se<br />

entender que a lei se refere a hip6tese<br />

do art. 5?, isto 6, no caso de<br />

ter side estabelecida uma garantia<br />

real sobre o imOvel adquirido.<br />

Por outro lado, como ensina<br />

Darcy Bessone,<br />

aCOMO quer que seta, a certo<br />

que, ap6s o Decreto-lei n? 58, a<br />

cuja margem poderiam prosperar<br />

dOvidas, o C.P.C. tornou nitido,<br />

por duas vezes, o caritter pessoal<br />

ou obrigacional do direito do<br />

promissArio. JA ficou visto que<br />

R.T.J. — 94<br />

177<br />

esse carater emerge facllmente<br />

dos arts. 346 e 1.006. Este OltImo<br />

eressamente alude ao deved<br />

e xp obrigactio decorrente da proor<br />

messa de contratarD (ob. cit.,<br />

pSg. 152, n? 57).<br />

A Lei nt 649, data yenta,<br />

dificou<br />

não mo-<br />

a situacAo. Este diploma legal<br />

tern de ser entendido como exiglndo<br />

o registro apenas para valer<br />

contra terceiro, pots, a entend6-lo<br />

de maneira diferente, nAo teria sentido<br />

a possibllidade de se poder<br />

proceder ao registro em qualquer<br />

tempo. Enquanto a colsa estiver<br />

em mAos do prornitente<br />

o promissArio<br />

vendedor,<br />

comprador pode registrar<br />

o document°,<br />

«em<br />

pots a lei<br />

qualquer<br />

dtz:<br />

tempo D e voltar<br />

corn a acilo de adjudicacAo pcom- ulsOria. AlAm disso, como se verifica,<br />

o dispositivo em apreco, posto<br />

de nova redacão ao art. 22 do<br />

Decreto-lei n? 58/39 e aluda ao registro<br />

tamb6m faz remissilo aos<br />

arts. 16 da mesma lei e 346 do<br />

C.P.C., dispositivos que traduzem<br />

uma obrigactio pessoal.<br />

A distincAo entre o contrato de<br />

promessa de venda reglstrado<br />

nAo, 6 que no ou<br />

primeiro se the atirbut<br />

uma eft/cis real, enquanto na<br />

Ultima hipotese apenas uma<br />

cia pessoal. Ocorre o mesmo coin<br />

relacAo a hip6tese. Esta, sem o re-<br />

Astro, tem todo o valor entre as<br />

partes, apenas, nAo tendo eficAcia<br />

real, nAo se pode opor o contrato a<br />

terceiro.<br />

Observe-se que os prOprios<br />

rentesrecor-<br />

pedtram, em primeiro<br />

gar,lu-<br />

que o colendo Supremo Tribunal<br />

Federal Julgasse «os recorridos<br />

carecedores da acAo proposta corn<br />

sua condenacAo no pagamento<br />

custas».<br />

das<br />

Ora, a carencia da<br />

pede a propositura<br />

acAo ntio im-<br />

de outra. Assin],<br />

prevalecendo o voto do eminente<br />

Ministro Antonio Neder, os<br />

recorridos, de conformidade corn a<br />

Lei n? 649/49, poderão registrar o


178<br />

documento e voltar corn a mesma<br />

acao.<br />

0 Desembargador Serpa Lopes,<br />

examinando hiplitese em que, no<br />

correr da acao, o promissario cornprador<br />

registrara o im6vel, susten-<br />

tou:<br />

«A conseqüencia a que, sendo 0<br />

ato obrigat6rio, sua sancao assenta<br />

numa situacao objetivanegativa,<br />

isto é, sujeitar-se ao in-<br />

R.T.J. — 94<br />

teressado a todas as prejucidiais<br />

que possam decorrer da omissao,<br />

tais como, em relacao a tercelros,<br />

que logrem prioridade, inscrevendo<br />

outra promessa de venda<br />

posterior, ou em face de<br />

qualquer outro Onus real ou<br />

ainda de alienacao da<br />

coisa, que se venha a f azer<br />

medlo tempore. Resulta do exposto,<br />

que a inscricão da promessa<br />

de venda, no curso da acäo<br />

proposta pelo compromitente,<br />

ainda foi tempestiva, e de nenhum<br />

modo importou em violacão<br />

de direlto expresso o julgado<br />

que assim reconhecem (Ap. n?<br />

127, de 1943, apud Waldemar Louretro,<br />

Registro da Propriedade<br />

ImOvel, peg. 178, n? 119).<br />

Procuramos demonstrar que a<br />

falta de registro não impede a exe-<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra:<br />

Sr. Presidente, a tese em debate tot<br />

largamente discutida no RE 89.191-<br />

MG, pela Segunda Turma, em ac6rdão<br />

em que foi Relator o eminente<br />

Ministro Djaci Falai) Nessa oportunidade,<br />

prevaleceu a tese de que, para<br />

a Ka° de adjudicacao compuls6-<br />

ria, a inscricao no Registro de Im6veis<br />

6 condicao imprescindi vel. Fezse<br />

o exame dos arts. 22 e 23 do Dl n?<br />

58/37, na redacao dada pela Lei n?<br />

6.014/73, e se teve por correta a jurisprucigncia<br />

do Supremo, que remonta<br />

ate a &mulls 167.<br />

Reportando-me ao voto que proferi<br />

e aos doutos fundamentos do eminente<br />

Ministro Djaci Falcao, que indica<br />

numeroso s precedentes, acornpanho<br />

o eminente Relator conhecendo<br />

dos embargos e os rejeitando.<br />

. ,<br />

gentes no direito bras e . tro Thompson Flores; 71.167, em que<br />

IV I- Ponderei sobre os fundament osfoi Relator o eminente Ministro Alioconstantes<br />

dos votos dos eminentes mar Baleeiro; 66.671, relatado pelo<br />

Ministros que me anteceder am no eminente Ministro Oswaldo Trigueijulgamento<br />

do caso sub judice, e, pe- ro; 81.858, em que foi Relator o emilos<br />

motivos expostos no voto retro nente Ministro Rodrigues Alckmin,<br />

transcrito, peco vtnia aos eminente shavendo tambem caso apreciado pe-<br />

Ministros Relator e Soares Mufioz VOTO<br />

0 Sr. Ministro Djaci Falcgo: Sr.<br />

Presidente, tambem acompanho o<br />

eminente Relator. Assim tenho entendido<br />

desde que ingresse i nesta<br />

Corte.<br />

Como ressaltou, ha pouco, o emigun°<br />

compulthria do contrato de nente Ministro Cordeiro Guerra, re-<br />

compra e venda, desde que o im6centemente, a 19 de maio deste ano,<br />

vel ainda continue sob o donlinio fui Relator do RE n? 89.191, onde es-<br />

do vendedor, mas de toda maneira posei a tese do acardão embargado,<br />

ter-se-la de aplicar a hipetes e, a citando numerosos precedente s da<br />

Stimula 400, ja que a interpretacáo Corte, como os Recursos Extraordi-<br />

do Tribunal do Ceara a razoavel e narios n?s 68.705, de que fui Relator;<br />

harmonize-se corn as normal vi- 1 t do pelo eminente Ministo<br />

eminente Ministro Antonio Neder.<br />

para acompanhar o nobre Ministro Assim, conhece dos embar gos e os<br />

Decio Miranda, conhecendo dos em- rejeito.<br />

bargos e os recebendo.


EXTRATO DA ATA<br />

ERE 76.671 — RJ — Rel., Min.<br />

Left/lo de Abreu. Embtes: Mathusa-<br />

16m Boris Casiuch e sua mulher<br />

(Adv: Walter Sztainberg). Embda:<br />

Incorporadora Relno Guido Ltda<br />

(Adv.: Maria Cristina Rodrigues Alves).<br />

(Dec. embda. 1? T. 07.08.73).<br />

Decisão: Conhecidos, unanimemente,<br />

foram rejeltados os Embargos,<br />

vencidos os Ministros Decio Mi-<br />

R.T.J. — 99<br />

179<br />

randa e Cunha Peixoto que os recebiam.<br />

PresidOncia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes A Ses-<br />

WI° os Srs. Ministros Djaci Faictio,<br />

Antonio Neder, Xavier de Albuquerque,<br />

LeitAo de Abreu, Cordeiro Guerra,<br />

Moreira Alves, Cunha Peixoto,<br />

Soares Muiioz e Decio Miranda.<br />

Procurador-Geral da RepUblica, o<br />

Prof. Henrique Fonseca de AraiIjo.<br />

Brasilia, 22 de novembro de 1978 —<br />

Alberto Veronese Aguiar, SecretArio.<br />

RECURS() EXTRAORDINARIO N? 81.041 — AL<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Soares Munoz,.<br />

Recorrente: Institute do Acucar e do Alcool — Recorrido: Estado de Alagoas,.<br />

— da competencia da Justica Federal processar e julgar, nas<br />

dues instincias ordbirias, os mandados de seguranca requeridos por<br />

autarqula <strong>federal</strong>, contra ato de autoridade estadual. Sfimula 511.<br />

ACORDAO<br />

Vistos.<br />

Acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Primeira Turma,<br />

A unanimidade de votos e na<br />

conformidade das notas taquigrAficas,<br />

conhecer do recurso e dar-lhe<br />

provimento.<br />

Brasilia, 27 de marco de 1979. —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Soares Mulioz, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Sores Mutloz: 0<br />

despacho que admitiu o recurso extraordinario,<br />

da lavra do Presidente<br />

do Tribunal Federal de Recursos,<br />

eminente Ministro MArclo Ribeiro,<br />

exptie a espêcie:<br />

4Sentenca proferida em mandado<br />

de seguranca requerido pelo<br />

Institute do Acticar e do Alcool<br />

contra a cobranca de I.C.M. sobre<br />

produtos de sua fabrlcacao tot anulada<br />

por Turma deste Tribunal ao<br />

fundamento de ser a Justica Federal<br />

incompetente para processar e<br />

julgar writ impetrado por autarquia<br />

<strong>federal</strong> contra ato de autoridade<br />

estadual.<br />

Inconformado, recorre extraordinariamente<br />

o I.A.A. com apolo nas<br />

letras a e d, da permissáo constituclonal.<br />

Alega o recorrente que o aresto<br />

lmpugnado apreciou a controvOrsia<br />

em face do art. 125, VIII, da Constituictio,<br />

quando teria de ser observado<br />

o que preceitua o inclso I,<br />

do mesmo artigo.<br />

E, para justificar a interposiclio<br />

pela letra d, traz a confronto diversos<br />

arestos, Inclusive do Plenrio<br />

da Suprema cone em sentido oposto<br />

a decirlo recorrida.


180<br />

R.T.J. — 94<br />

Em principio, a admissibilidade<br />

do recurso estaria obstada pelo<br />

art. 308, III, do Reg. STF.<br />

Entretanto, a hip6tese envolve<br />

dlscussão de materia constitucional<br />

cilia lnterpretacão ainda suscita<br />

debates acalorados, sendo, assim<br />

conveniente que o Prethrio Excelso<br />

se manifeste sobre ela, exercendo<br />

seu papel de Orgao uniformizador<br />

da <strong>jurisprudencia</strong> e intérprete<br />

maxim° da Lei Maior.<br />

Verlficando-se, portanto, a ressalva<br />

contida no caput daquele dispositivo<br />

regimental, admito o recurso<br />

e mando processa-lo » (1. 84).<br />

0 parecer do ilustre Dr. Antonio<br />

de Padua Ribelro, subscrito pelo<br />

Procurador-Geral da RepOblica, opina<br />

pelo conhecimento e provimento<br />

do recurso:<br />

«A sentenca de primeiro grau<br />

(fls. 36-39), proferida por Juiz Federal,<br />

concedeu seguranca requerlda<br />

por autarquia <strong>federal</strong> contra ato<br />

de autoridade estadual.<br />

Em recurso, o acOrdão Impugnado<br />

(f. 73) anulou o processo por incompetencla<br />

da Justica Federal e<br />

determinou a remessa dos autos a<br />

Justica Estadual.<br />

Inconformada, manifestou a impetrante<br />

recurso extraordinario,<br />

pelas letras a e d, em que alega<br />

que o acOdao recorrido violou o<br />

art. 125, I, da E. C. n? 1/69 e dissentiu<br />

da SUmula 511 e dos julgados<br />

que the servem de fundamento.<br />

A nosso ver, a decisao atacada<br />

esta em manifesto dissidio com a<br />

Samula 511, in verbis:<br />

«Compete a Justica Federal,<br />

em ambas as instancias, processar<br />

e julgar as causas entre autarquias<br />

federais e entidades pUblicas<br />

locals, inclusive mandados<br />

de seguranca ressalvada a ace()<br />

fiscal, nos termos da Constituicao<br />

Federal, de 1967, art. 119, §<br />

3?.»<br />

E, sem dOvida alguma, a expressac,<br />

«entidades pOblicas locals»<br />

constante do verbete abrange as<br />

autoridades estaduals de que provenha<br />

o ato ensejador da seguranca,<br />

conforme resulta da ementa do<br />

acOrdao proferido pelo Colendo<br />

Tribunal Pleno no CJ 2.980-GB, que<br />

exprime o teor do decidido (RTJ<br />

32/526):<br />

«Competencia. Tribunal Federal<br />

de Recursos. Recurso em<br />

mandado de seguranca requerido<br />

por autarquia <strong>federal</strong> contra autoridade<br />

local. Sendo impetrante<br />

uma autarquia <strong>federal</strong>, a competencia<br />

Para julgar o agravo, em<br />

mandado de seguranca, embora<br />

contra ato de autoridade local, e<br />

do Tribunal Federal de Recursos,<br />

e !IA° do Tribunal de Justlca Estadual.<br />

Exame de precedentes (RMS<br />

9.696, RMS 13.203, CJ 2.676, AC<br />

81, AC 9.654, AC 9.656).»<br />

E bem verdade que quando do<br />

julgamento do mencionado conflito<br />

de jurisdicao, ainda /leo fora restsbelecida<br />

a justica <strong>federal</strong> de primeira<br />

instancia, raze° porque a seguranca<br />

fora decidida pelo Juiz da<br />

Vara da Fazenda POblica Local.<br />

Essa circunstancia, porem, nao<br />

altera os termos da questa°, els<br />

que aquele juiz, na ocasiao, acumulava,<br />

em primeiro grau de jurisdicão,<br />

a competencia hoje atrlbulda<br />

aos juizes federais.<br />

Em tais condicees, pelos fundamentos<br />

menclonados, o parecer<br />

pelo conhecimento e provimento do<br />

recurso extraordinario» (fls. 93 a<br />

95).<br />

E o relatOrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Soares Munoz (Relator):<br />

— Conheco do recurso em face<br />

do dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l e the<br />

dou provimento pelos precedentes


compendlados na stunula 511, para,<br />

cassando o acOrdno recorrido, reconhecer<br />

a competnncia da Justica Federal<br />

e determinar o retorno dos autos<br />

ao Egrêgio Tribunal Federal . de<br />

Recursos.<br />

Mats recomenda essa solucão a<br />

circunstáncia de o writ consubstanciar<br />

embargos antecipados a execucão<br />

fiscal, cWo advento visou obstar,<br />

e que, se ajuizada, seria da competencla<br />

da Justica Federal, ex vi. do<br />

art. 125, I, da Constitute/10 da Reptiblica.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 81.041 — AL — Rel.: Mitt, Soares<br />

Munoz. Recte.: Instituto do AO-<br />

R.T.J. — 94<br />

181<br />

car e do Alcool (Adv.: A. C. Sigmaringa<br />

Seixas). Recdo.: Estado de<br />

Alagoas (Adv.: Pedro Cavalcanti).<br />

Decisno: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator,<br />

unfinime.<br />

Presidéncla do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores, Presentes a Sessac)<br />

os Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto e Soares<br />

Munoz. Ausente, justificadamente o<br />

Sr. Ministro Rafael Mayer 2?<br />

Subprocurador-Geral da Republica, o<br />

Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 27 de marco de 1979. —<br />

AntOnlo Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretario.<br />

FtECURSO EXTRAORDINARIO N? 81.947 — SP<br />

(Primeire Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Soares Munoz<br />

Recorrente: Daniel de Campos Junior — Recorrido: Institute Nacional<br />

de Previdencia Social .<br />

Acidente do trabalho. Aposentadoria que não exclui a indenizacilo<br />

acidentaria.<br />

— Os p roventos de 70%, que o Institute page ao recorrente, tam<br />

matter de beneficlo previdencierio e nibs de manutencao de salttrio,<br />

de sorte que não esta excluida a indenizapio farffeda da lei de acidentes<br />

do trabalho.<br />

ACORDAO<br />

Vistos,<br />

Acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Primeire Turma,<br />

a unanimidade de votos, e na<br />

conformidade das notas taquigraficas,<br />

conhecer do recurs() e dar-lhe<br />

provimento.<br />

Brasilia, 27 de marco de 1979. —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Soares Munoz, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Soares Munoz — 0<br />

despacho do Metre Julz Augusto de<br />

Macedo Costa, Presidente do Tribunal<br />

de Alcada Civil do Estado de Sao<br />

Paulo, expOe a especle:<br />

(Neste fide acidentaria 6 fato incontroverso<br />

que o autor, Made en-<br />

tao ex IAPETEC e demandante<br />

de indenizacgo por quebra laborativa<br />

virtude de tuberculose pul-<br />

monar profissional, incepacitante<br />

de 50%, nem recebendo o beneficio<br />

da aposentadoria por invalidez<br />

desde male de 1955, quando<br />

surgiram os sintomas da tuberculose<br />

pulmonar, aposentadoria esta<br />

que, de provisOria, tome-se-1a definitive<br />

a Dank de 1986, quando a<br />

actio tot proposta» (da sentence de


182<br />

R.T.J. — 94<br />

f. 99, mantida pelo acacia° de f.<br />

121). Foi, todavia, julgado carecedor<br />

da nal:, nos dois graus de jurisdicão<br />

porque:<br />

«Segundo informou o INPS, a f.<br />

85, o agravante, a partir de 11 de<br />

maio de 1955 passou a perceber o<br />

beneffcio da aposentadoria provisada<br />

por invalidez e, desde 1966,<br />

sob a agide do Decreto-Lei n?<br />

66/1966, art. 27, 69, tal beneficio<br />

tornou-se definitivo, por contar o<br />

beneficial° corn mais de 55 anos<br />

de idade e estar provisoriamente<br />

aposentado a mais de chic° anos.<br />

Concedida a aposentadoria definitiva,<br />

dentro do regime previdenciario,<br />

nao ha falar em indenizacao<br />

na forma tarifada» (acacia°,<br />

f. 122).<br />

Inconformado, o autor pede, corn<br />

endosso do Ministario Pfiblico, recurso<br />

extraordinario, corn apoio<br />

nos permissivos constitutionals<br />

das letras a e d, sustentando que,<br />

estando provado que o INPS «s6<br />

concedeu a aposentadoria pelo regime<br />

da lei Orglinica da Previdaneta<br />

Social (70%), excluindo o regime<br />

de manutencao salarial porque<br />

entendeu que o caso do recorrente<br />

nao era acidente do trabalho,» teria<br />

o julgado, neste passo contrariado<br />

a Sfunula 465 e as normas federais<br />

de contato.<br />

Considerando que a natureza do<br />

litigio e a invocacao de desrespeito<br />

a uma das Sumulas da jurisprudancia<br />

predominante do Colendo<br />

Supremo Tribunal, tenho comp superada<br />

a trava do artigo 308 do Regimento<br />

Interne dessa Corte. E defiro<br />

o recurso, pelo permissive da<br />

letra d pois considerados os termos<br />

da Sfunula 465 parece incontroversa<br />

a contrariedade da decisäo recorrida<br />

corn esta exegese pretoriana<br />

do Colendo Tribunal ad quem,<br />

Processe-se o recurso» (fls. 141-<br />

142).<br />

A Procuradoria-Geral da Republica<br />

opinou no sentido de que:<br />

«Ata onde se discutam a acumulava°<br />

da aposentadoria por invalidez,<br />

tornada definitiva ap6s cinco<br />

anos de aposentadoria proviseria,<br />

e o dlreito a indenizaclio tariferia,<br />

estamos em que a v. decisäo se<br />

houve corn acerto<br />

De fato, a hipatese nä° se subsume<br />

a Sfunula 465, e, no que tenha<br />

de assemelhacão corn ela, atendeulhe<br />

a conclusao em nao se somarem<br />

beneficios orlundos do mesmo<br />

fato.<br />

Parecer contrail° ao conhecimento,<br />

ou, por derradeiro, contrario<br />

ao provimento do recurso.» (f.<br />

150).<br />

E o related°.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Mlnistro Soares Mufioz (Relator):<br />

Ao caso apnea-se o art. 308 do<br />

Regimento Interne do Supremo Tribunal<br />

Federal, corn sua redacao anterior<br />

a Emenda n? 3, de 12.6.75, porquanto<br />

o acacia() data de 1972.<br />

A causa foi dado, na peticâo<br />

cial, ajuizada no die 9 de setembro<br />

de 1966, o valor de Crt 4.000,00, inferior<br />

a 60 vezes o maior safari° minim°<br />

vigente no pats naquela epoca,<br />

ou melhor precisando, inferior a Cr$<br />

16.128,00, pois houve uniformidade<br />

das decisaes das duas instfincias ordinarias.<br />

Vence poram, ao veto regimental a<br />

invocacão a Sfunula 465, corn a qual<br />

o recorrente alega que se ache em<br />

dissenso o acadao recorrido<br />

E sob esse prlsma que passo a<br />

examiner o recurso extraordinalo,<br />

ara concluir que, efetivamente, a<br />

decisão re corrida esta em dissidio<br />

corn o verbete em referenda, visto<br />

que excluiu a indenizacao tornado<br />

da lei de acidentes a uma hipaese<br />

em que nao foi assegurado o regime<br />

de manutencao de salad°.


Constituindo fato certo que o Institute<br />

nAo estA pagando a aposentadorift<br />

pelo Regime de ManutencAo Salarial<br />

em sua integralidade, impedido<br />

nil° estA o recorrente de pleitear<br />

a indenizacilo acidentAria.<br />

Ante o exposto, conheco do recurso<br />

extraordinArio e the dou provimento,<br />

para cassados o acerdAo e a sentenca,<br />

que reconheceram a carencia da<br />

determinar que outra sentenca<br />

seja proferida, apreclando as demals<br />

(itlestOes da causa.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 81.447 — SP — Rel.: Min. Soares<br />

Muhoz. Recte.: Daniel de Cam-<br />

R.T.J. — 94<br />

183<br />

pos J0nior (Adv.: Waldir Pereira)<br />

Recdo.: Institute Nacional de PrevidAncia<br />

Social (Adv.: Antonio Dota).<br />

Decisào: Conhecido e provido, nos<br />

termos do voto do Ministro Relator,<br />

unftnime.<br />

PresidAncia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes 8 Sesos<br />

Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto e Soares<br />

Muiloz. — Ausente justificadamente<br />

o Sr. Ministro Rafael Mayer. — 2?<br />

Subprocurador-Geral da Repdblica,<br />

o Dr. Francisco de Assts Toledo.<br />

Brasilia, 27 de marco de 1979. —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

SecretArlo.<br />

RECURSO EXT RAORDINARIO N? 81.846 — RJ<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator para o acOrdAo: 0 Sr. Ministro LeitAo de Abreu:.<br />

Recorrente: IndOstrias Vlliares S/A — Recorrido: Conselho Regional de<br />

Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA — 13? RegiAo).<br />

Conselho de eng<br />

cads contrato de p<br />

enharia, arquitetura e agronomia. Registro de<br />

194 e 196, de 1970,<br />

restacAo<br />

sem quebra<br />

de servico.<br />

do<br />

Exigencia nas ResolucOes<br />

principlo<br />

nt s<br />

stela de da reserva da lei. Inocorgo<br />

153, If ofensa A lei <strong>federal</strong> (Lei n? 5.194/66) ou A ConstituicAo (arti-<br />

2? e 23).<br />

Recurs() extraordinArio nolo conhecido.<br />

ACORDAO<br />

Conselho Regional de Engenharia e<br />

Vistos, relatados e discutidos estes Arquitetura o direito de exigir o reautos,<br />

acordam os Ministros do Su- Bistro do contrato relativo a cads<br />

premo Tribunal Federal, em SessAo obra a ser executada, coin base na<br />

Plenftria, na conformidade com a Resoluctio n? 194, de 22 de mato de<br />

ata de julgamentos e notas taquigrAfi- 1970, sob pena de multa (ler o ac6r-<br />

cas, em nAo conhecer do recurso, em<br />

dAo fls. 90-94).<br />

decisAo tomada por maloria de vo- A resoluctio fol balxada<br />

tos.gado<br />

fundamento<br />

com o ale-<br />

da letra f do an. 34<br />

Brasilia, 29 de jtmho de 1979. —<br />

da Lel 5.194, de 24-12-1966.<br />

Antonio Neder, Presidente — Leith° In<br />

de Abreu, Relator para o acerdAo. g<br />

conformada a impetrante da se-<br />

uranca interpOs RE que foi admitido<br />

por despacho do llustre Presiden-<br />

RELATORIO<br />

te March) Ribeiro, do teor seguinte:<br />

(fls. 116-117)<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra: 0<br />

v. acOrdlio recorrido reconheceu ao' 'Trata-se de mandado de segu-<br />

ranca impetrado por Inddstrias


184<br />

R.T.J. — 94<br />

Villares S.A. corn o objetive de impugnar<br />

ato do Conselho Regional<br />

de Engenharia, Arquitetura e<br />

Agronomia (CREA) 13? Região,<br />

constante da ResolucAo 194, atra-<br />

Ares da qual esse Orgão exigia,<br />

alêm do registro da firma como<br />

executante de obras de engenharia<br />

na instalacAo de elevadores e outros<br />

produtos de sua fabricacdo, a<br />

anotacdo da responsabllidade teenice<br />

na execucão de cada contrato<br />

de venda desses produtos.<br />

A seguranca, concedida pelo Juiz<br />

singular, foi cassada por decisdo<br />

de Turma deste Tribunal, que entendeu<br />

legitima a exigencia da autarquia.<br />

Inconformada, recorre extraordinariamente,<br />

a impetrante, alegando<br />

negativa de vigencia de verios<br />

dispositivos da Lei 5.194/66 e ofensa<br />

ao art. 153, §§ 2? e 23, da ConstituicAo.<br />

Data venia dos votos vencedores,<br />

estou em que assiste razAo a recorrente.<br />

Isso porque a citada Lel<br />

5.194/66, que disciplina o exerciclo<br />

da profisssAo de engenheiro, estabelece<br />

os requisitos para que esse<br />

exercteio e as sancOes pela inobservancia<br />

dos seus preceitos e destes<br />

nAo consta a exigencia de registro<br />

de cada contrato, como foi<br />

feito na resolugdo malsinada.<br />

Entendo, por isso, que simples<br />

resolucAo do OrgAo fiscalizador nAo<br />

pode obrigar as empresas a fazer<br />

mais do que pede a lei, sob pena de<br />

infringir a garantla outorgada pelo<br />

art. 153, § 29, da Carta Magna,<br />

além de limitar a liberdade profissional<br />

de que Pala o § 23 do mesmo<br />

dispositivo constitutional.<br />

Admito, por isso, o recurso e<br />

mando processá-lo.<br />

Prossiga-se.<br />

Publique-se, inclusive para os<br />

efeitos do art. 545 do CPC».<br />

A Procuradoria-Geral da Reptiblica<br />

assim se manifests, fls. 143/149:<br />

recorrente impetrou seguranea<br />

contra o Presidente do Conselho<br />

Regional de Engenharla, Arquitetura<br />

e Agronomia da 8? Regido,<br />

que the impOe multa por fata de<br />

registro de anotacdo de responsabllidade<br />

tecnica nos contratos para<br />

prestacan de servicos, previsto na<br />

Resolucdo n? 194, de 22.5.70, do<br />

Conselho Federal, fundada em que<br />

essa exigencia extravasa os limites<br />

da Lei n? 5.194, de 1966.<br />

0 eg. Tribunal Federal de Recursos,<br />

invocando precedentes da Corte,<br />

concluiu pela legitimidade da<br />

exigencia, porque a resolucAo, decorrente<br />

do poder regulamentar<br />

atribuido ao Conselho Federal pelo<br />

art. 27, 1, da Lei 5.194, atende 8 finalidade<br />

de tornar efetiva a Meanzacdo<br />

do cumprimento das normas<br />

relativas A fiscalizacdo, direCdo e<br />

execucAo de obras e servicos técnicos<br />

(art. 7?, letras e, f e g, da Lei).<br />

No presente recurso extraordindrio,<br />

que se vale do art. 119, III, a,<br />

da Constituiedo, alega a recorrente<br />

ofensa aos §§ 2? e 23 do art. 153, da<br />

CF, e negativa de vigencia das disposicdes<br />

da Lei 5.194, em suma,<br />

porque: a) a Resolucdo n? 194, ao<br />

prever o registro de cada contrato,<br />

estatuiu condicdo ndo p<strong>revista</strong> em<br />

lei; b) a exigencia limita a liberdade<br />

de exercicio profissional, ao estabelecer<br />

condicdo de capacidade<br />

sem base em lei; c) a resolugão<br />

amplia exigencias de habllitacdo<br />

profissional que a Lei discrimina<br />

taxativamente .<br />

0 v: actirddo recorrido, reportando-se<br />

a julgados anteriores<br />

do Tribunal, destaca o AMS<br />

66.521, em que o eminente Ministro<br />

Relator Jose Men da Silveira adotou<br />

como razOes de decidir os fundamentos<br />

do parecer do Doutor<br />

Antonio Amaro Filho, pela Procuradoria<br />

da Renüblica em Minas<br />

Gerais (fls. 82-86). Em resumo,<br />

ali se acentua que a flscalizacdo<br />

deve ser exercida de


forma efetiva, atuante e dinAmica,<br />

não se reduzindo ao mero e vazio<br />

fOrmalismo de urn fmico e isolado<br />

reglstro de habilitaollo profissional.<br />

No exerciclo do poder de regulamentaclio<br />

que the fol conferido<br />

(art. 27, letra f, da Lei 5.194), o<br />

Conselho Federal podera valer-se<br />

dos poderes explicitos e implicitos<br />

contidos na lel.<br />

Quanto aos poderes explicitos,<br />

porque a fiscallzacAo, além do registro<br />

profissional, exige sa . participaclio<br />

efetiva e a autoria declaradas<br />

(art. 8?, par. °litho),<br />

devendd-se ainda acrescentar o<br />

exame dos contratos referentes as<br />

obras a serem executadas para os<br />

fins do art. 15 do mesmo diploma.<br />

Em relaoilo aos poderes implicitos,<br />

deve ser assinalada a tutela global<br />

delegada ao Ora° para que o<br />

exerciclo e as atividades do setor<br />

profissional se desenvolvam regularmente<br />

(art. 24).<br />

Corn efeito. Em face daquela delegacAo,<br />

ao Conselho Federal compete<br />

baixar resolucOes que atendarn<br />

a dupla finaildade de regulamentaclio<br />

e de execuclio da Lei<br />

5.194, de 1966. Do exerciclo desse<br />

poder 6 que decorre a Resolucilo n?<br />

194, de 1970 (f. 10), cujo art. 1? previu<br />

o reglstro sob a forma de anotacit°<br />

de responsabilidade t6cnica<br />

de todo contrato relativo a prestaclio<br />

de servicos profissionais.<br />

A exigencia, alias, constitui decorrencia<br />

da preceituacAo do par.<br />

Only) do art. 8? da Lei 5.194/66,<br />

verbis.<br />

art. 8? —<br />

paragrafo Culla) — As pessoas<br />

juridicas e organizacties estatals<br />

ag poderito exercer as atkidades<br />

dIscriminadas no art. 7?, corn excessao<br />

das contidas na alinea<br />

alinea a, corn a partIcipacgo efetiva<br />

e autoria declarada de profisslonal<br />

legalmente habilitado e<br />

registrado pelo Conselho Regional,<br />

assegurados os direitos que<br />

esta let the confere.<br />

R.T.J. — 94 185<br />

E conseqiiente que Importa ;Terificar,<br />

em relaciio a cada contrato,<br />

se a fiscalizacão, a direclio e a execuclio<br />

de obras ou servicos t6cnicos<br />

flcarilo a cargo de profissional<br />

habilltado (art. 7?, alineas e, f e g).<br />

Mais se afirma a conclusAo porque<br />

a participacAo efetiva e a autoria<br />

declarada condicOes para o<br />

exerciclo das attvidades descritas<br />

no art. 7?.<br />

0 art. 16, citado pela recorrente,<br />

6 medlda que interessa a fiscalizacAo,<br />

mas nAo a exaure nem restringe<br />

a funcAo regulamentar do<br />

Conselho Federal. Febt) contrario,<br />

a exiencia atende o que dispOe o<br />

art. 15 da Let, que considera nulos<br />

os contratos firmados corn pessoas<br />

ngo habilitadas, e ainda o art. 34,<br />

Tetra f, permittndo aos Conselhos<br />

Regionals a organizacilo de sistema<br />

de fiscalizacilo do exerciclo das<br />

profissges.<br />

E Ineggvel que a decisilo proferida<br />

pelo eg. Tribunal a quo no AISIS<br />

66.521 esta inspirada no mats autgntico<br />

sentido de Juridicidade. E<br />

claro que, em face do principio<br />

contido no art. 153, { 2?, da ConstituicAo,<br />

que resulta do regime democratic°<br />

e representativo, a da<br />

alcada de lei a criacão de obrigacities<br />

e a imposicgo das respectivas<br />

sancties. Nilo 6 menos certo, porgm,<br />

que a funcAo regulamentar,<br />

inerente ao Poder Executivo, nAo<br />

esta limitada a reproducAo literal<br />

dos termos da lei, antes, como anota<br />

Carlos Medeiros da Silva, »...<br />

deve evidenciar e tornar expllcito<br />

tudo aqullo que a lei encerra. Assim,<br />

se uma faculdade, ou atribuiego,<br />

esta lmplicita no text* legal, o<br />

regulamento ngo exorbltarg, se the<br />

der «forma articulada e eXplicitan<br />

(RDA 33,p 453).<br />

Isto, alias, 6 o minim° que se reconhece<br />

ao poder regulamentar,<br />

razgo por que a doutrina 6 pacifica<br />

nesse entendimento. Observa, por<br />

exemplo, Cabo TAcito: (Nilo 6 in-


186<br />

R.T.J. — 94<br />

constitutional, mesmo nos paises<br />

contrarios a delegacAo de poderes,<br />

a participacAo do Executivo na<br />

criagão do direito objetivo. Regulamentar<br />

nao 6 somente reproduzir<br />

analiticamente a lei, mas ampliala<br />

e completá-la, segundo o seu<br />

espirito e o seu contèudo, sobretudo<br />

nos aspectos que a pr6pria<br />

expressa ou implicitamente, outorga<br />

a esfera regulamentar» (RDA<br />

34, p 473). E Bielsa: «Puede el Poder<br />

Ejecutivo al dictar un reglamento<br />

apartarse de la estructura<br />

literal de la ley, siempre que se<br />

ajuste al espiritu de ella» (Derecho<br />

Administrative, 6! ed., II, p. 221)<br />

Alega a recorrente que, «a falta<br />

de base legal, e para nao estabelecer<br />

exigencia sem sansAo», o art.<br />

4? da Resolugão comma a «multa<br />

p<strong>revista</strong> no art. 73, a, da Let 5.194,<br />

de 1966», aos que nAo promoveram<br />

o registro dos contratos, o que corresponde<br />

a sanflo administrativa<br />

nAo p<strong>revista</strong> em lei. Sem razAo, porem,<br />

a sancAo 6 a p<strong>revista</strong> em lei,<br />

como 6 evidente.<br />

Os regulamentos, atos administrativos<br />

gerais, nAo participam,<br />

verdade, da natureza de ato legislativo.<br />

Mas suas disposicOes integram<br />

o contend° da lei, na medida<br />

em que a completam ou a explicitam,<br />

e thin !antic° poder normative<br />

(Hely Lopes Meirelles, Dir.<br />

Adm. Brasiller°, 2? ed., p. 76). Por<br />

isso, referindo-se ao regulamento<br />

editado por autoridade competente,<br />

conclui Bielsa que ele «... forma<br />

parte de la ley misma, y su violadon<br />

o falsa interpretacien afecta<br />

al regimen legal creado por ella»<br />

(obra citada p.217).<br />

As sancOes penis, que acompanham<br />

as normas regulamentares,<br />

como regras de direito, devem estar<br />

estabelecidas em lei. Ou, como<br />

diz Marcello Caetano: «Estas pens<br />

são concretamente estabelecidas<br />

na lei especial quando se trate<br />

de urn regulamento complementar<br />

ou de execucão» (Manual de Dir.<br />

Ad., 1? ed., bras., p. 102).<br />

0 art. 73, a, parte final, da Lei<br />

5.194, de 1966, prevë a multa de urn<br />

a tits d6cimos do salario-minimo a<br />

todas as «clisposicties para as quais<br />

nAo haja indlcacão expressa de<br />

penalidade». E consequente, pois,<br />

que a inobservAncia da regra contida<br />

em regulamento, porque Integra<br />

a lei, sujeita o infrator a essa<br />

penalidade.<br />

A garantia das san°6es legais as<br />

regras prescritas em regulamentos<br />

6 uma constante na legislacAo naclonal<br />

e estrangeira. A eviancia<br />

dispensaria demonstraflo. Em<br />

matOria tributaria, p. exemplo, a<br />

inobservAncia de obrigacão acess6ria,<br />

que decorre da legislactio<br />

tributaria, na ampla acepcAo do<br />

art. 96 do COdigo Tributario Nacional,<br />

converte-se em obrignAo<br />

principal<br />

relativamente<br />

penalidade pecunlaria (art. 113, §<br />

3?, do CTN), e esta s6 pode ser<br />

fundada em lei.<br />

Finalmente, nAo houve ofensa ao<br />

artigo 153,<br />

23, da ConstituicAo.<br />

Argumente-se, alias, que se algum<br />

regulamento contivesse regra estabelecendo<br />

condicAo de capacidade,<br />

a infraflo dessa disposicAo constitucional<br />

estaria subordinada a<br />

igual ofensa ao principio da iegalidade.<br />

Na verdade, porém, a exigencia<br />

de registro nAo interfere, absolutamente,<br />

na capacidade para o<br />

exerciclo profissional. Longe de<br />

implicar restricão a liberdade profissional,<br />

a exiancia antes a assegura,<br />

evitando que pessoas nao capacitadas<br />

substituam o profissional<br />

habilitado. NAo ha, pois, como se<br />

cogitar de ofensa a preceito constitucional,<br />

aem a disposicOes da Lei<br />

it 5.194, de 1966. 0 registro objetiva<br />

garantir que a prestacAo de<br />

servicos se faca por profissional<br />

capacitado, anteriormente registrado<br />

no Conselho Federal.


Febo nAo conhecimento.<br />

Brasilia, 8 de agosto de 1975. —<br />

Moacir Antonio M. da Silva, Procurador<br />

da RepOblica.»<br />

o relatOrio.<br />

VOTO<br />

Sr. Ministro Cordeiro Guerra<br />

(Relator): NAo se discute que ao<br />

CREA compete organlzar o sistema<br />

de fiscalizacão do exercicio das profissOes<br />

reguladas pela Lei 5.194, de<br />

24-12-66, por forca do art. 34, letra f,<br />

bem como expedir atos corn essa finalidade<br />

(letra f do art. 34). 0 que se<br />

impugn e a criacAo de tuna exigéncis<br />

nAo p<strong>revista</strong> na lei, sob pena de<br />

tuna multa, tambem nAo especificada,<br />

para sancionar a ornisslio do preceito<br />

legalmente inexistente.<br />

De tato, não hA confundir a atividade<br />

do profissional ou das empresas<br />

de engenharia, decorrentes de<br />

sua atividade tecnlca profissional,<br />

coin os contratos de locactio ou de<br />

servicos ou de empreitadas. 0 que a<br />

Lei 5.194/66 autoriza ao Consent° Regional<br />

6 zelar pela tkcnica e moralidade<br />

dos pronssionais do ramo, e<br />

ntio a sua atividade por assim dizer<br />

comercial.<br />

NAo prevé a lei, em qualquer dos<br />

seus artigos, a obrigactio do registro<br />

dos contratos firmados pelos pronssionals<br />

de engenharia.<br />

Somente preve o reglstro de pianos<br />

e projetos para salvaguarda dos direltos<br />

autorais dos profissionais, que<br />

o desejarem, art. 23, isto 6, em carAter<br />

facultativo.<br />

A fiscalizacAo da atividade dos<br />

profissionais a felts, sobre o prof's-<br />

Mona', impondo-lhe o registro previo,<br />

sob pena das sancOes, que vAo<br />

da nulidade a multa.<br />

0 art. 73 da Lel 5.194/66 especifica<br />

os casos em que sao aplicAveis as<br />

multas, e entre elas, nAo se encontra<br />

o de omissão de registro de contratos,<br />

pois, como fol assinalado, este<br />

R.T.J. — 94<br />

187<br />

registro nAo a previsto, e quando admitido,<br />

em se tratando de projetos,<br />

não 6 obrigatOrio.<br />

Argumenta-se corn o inciso a do<br />

art. 73, que permute a imposicAo de<br />

multas de urn a très d6cimos do<br />

salArio-minimo, aos infratores dos<br />

arts. 17 e 58, que nAo se referem a<br />

esse registro, «e das dispos1c6es para<br />

as quals nao haja indicactio expressa<br />

de penalidadep.<br />

Admitida que seja a validade dessa<br />

norma gen6rica, em branco, ainda<br />

al, a imposicAo de multa por preceito<br />

regularnentar, não seria<br />

possivel na esp6cie, pois, nil° se<br />

aponta a disposicAo legal que imp?*<br />

a obrigatoriedade do registro dos<br />

contratos.<br />

0 que 6 exigivel e o registro do<br />

profissional, da empresa de engenharia,<br />

arts. 55, 59; competindo as<br />

autoridades administrativas e judiclArias,<br />

as reparticOes estatals, paraestatais,<br />

autArquicas ou de economia<br />

mista a verificacAo de que os<br />

estudos, laudos, pericias, arbitramentos,<br />

e, quaisquer outros trabalhos,<br />

sejam assinados por profissioflats<br />

em dia coin as anuidades devidas<br />

ao CREA — art. 68.<br />

NAo se encontra, assim, na lel<br />

qualquer disposicAo que imponha a<br />

obrigacAo do reglstro de contratos<br />

firmados por profissionais de engenharia,<br />

e consequentemente, nAo<br />

tem pertinència, de modo a legalmar,<br />

nesse ponto a ResolucAo n? 194,<br />

a invocacAo da parte final do inciso<br />

a do art. 73, da Lei em exame.<br />

Creio que exorbita da lei a pretensilo<br />

do CREA, de fiscalizar os contratos<br />

que, no exercicio de Sua profissão<br />

regular, Miriam os profissionais<br />

e empresas de engenharia, regularmente<br />

registrados.<br />

Nessa conformidade, conheco do<br />

recurso, arts. 153, f 2? e 23, da ConstituicAo<br />

Federal, e the dou provimento<br />

para conceder a seguranca.


188<br />

VOTO (VISTA)<br />

0 Sr. Ministro LeitAo de Abreu: 0<br />

eminente Ministro Jose Mr! da Silveira,<br />

em voto que proferiu, como<br />

relator, no julgamento do Agravo em<br />

Mandado de Seguranca n? 66.521 —<br />

Minas Gerais, que versava sobre<br />

materia igual a debatida no presente<br />

recurso extraordinario, assinalou<br />

que, de forma esplendida, analisara a<br />

quaestlo furls o culto Procurador da<br />

Republica, naquele Estado, Dr. Anti:kilo<br />

Amaro Fllho, em parecer que,<br />

a seguir, transcreve. Dito pronunciamento<br />

esta vasado nestes termos:<br />

«A controversia esta posta nos<br />

seguintes termos: a impetrante entende<br />

que, a legitimidade das atividades<br />

do setor de engenharia, Basta<br />

registro, no caso de pessoa<br />

juridica, da empresa e dos respectivos<br />

responsaveis tecnicos devidamente<br />

habllitados; alem disco —<br />

afirma o impetrado — f az-se necessario<br />

o registro de cada obra.<br />

«Ao que me parece, a razao esta<br />

corn o impetrado.<br />

«Como autarquia <strong>federal</strong>, ao<br />

Conselho Federal e aos Conselhos<br />

Regionals acha-se delegado — ha<br />

mats de quarenta anos — o relevante<br />

servico pftblico de fiscalizagao<br />

do setor profissional da engenharia.<br />

E essa fiscallzacAo, como<br />

convern aos superiores interesses<br />

socials, ha de ser efetiva, atuante e<br />

dinamica, nunca se reduzindo ao<br />

mero e vazio formalismo de urn<br />

ftnico e isolado registro por epoca<br />

em que o profissional ou a empresa<br />

se habilitam ao exercicio das<br />

atividades cientificas e tecnicas<br />

da engenharia.<br />

«Assim, no use da delegacão que<br />

the foi cometida por lei, pode o orgAo<br />

requerido em termos amplos e<br />

irrestritos exercer o poder de f iscalizacao.<br />

Podera valer-se, para<br />

tanto dos poderes explicitos da lei<br />

regulamentadora do exercicio profissional,<br />

nunca se esquecendo, po-<br />

R.T.J. — 94<br />

rem, dos poderes implicitos, cuja<br />

eficacia, no clout& magisterio do<br />

Ministro Aliomar Baleeiro, e equiparavel<br />

A das regras expressas<br />

(LimitacOes Constitucionais ao Poder<br />

de Tributar, 2? ed., pag. 233).<br />

E que a tecnica legislativa moderna,<br />

especialmente quando prove a<br />

AdministracAo PUblica de meios e<br />

recursos para a realizacào de suas<br />

finalidades, vem-se limitando a<br />

enunciar prIncipios gerais, regras<br />

de comando ou diretrizes programaticas,<br />

para evitar o exagerado<br />

casuismo das legislacOes que se<br />

perdiam em mindcias e nas solucOes<br />

individualistas corn que, na<br />

maloria das vezes, emperravam a<br />

AdministracAo PUblica. Editam-se,<br />

assim, os principios gerais, sempre<br />

se reservando aos OrgAos de deliberacAo<br />

e execucao o chamado poder<br />

regulamentar com que, sem<br />

inovar ou contrariar a lei, ao confrith°,<br />

dinamizando e dando vida a<br />

seu espirito e a sua fllosofia, se<br />

completa a obra legislativa. Precisamente<br />

por isso a que autores da<br />

envergadura do Ministro Themistocies<br />

Cavalcanti, em comentdrios<br />

garantia constitutional do artigo<br />

150, (invocada na inicial), diz<br />

significar a mesma um controle<br />

eficaz do arbitrio administrativo,<br />

sem, contudo, retirar as autoridades<br />

pftblicas, o seu poder regulamentar<br />

e outras formas legislativas<br />

complementares, sem as quals<br />

nth) poderia exercer a funcAo administrativa<br />

(A Constituiclio Federal<br />

Comentada, ed. 1952, v. HI,<br />

'rag. 80).<br />

«No caso sub judice, embora a<br />

lei regulamentadora da profissäo e<br />

das atividades ligadas a engenharia<br />

(Lei n? 5.194, de 24;12-66), nAo<br />

disponha textualmente sobre o registro<br />

individual de cada obra, entendo<br />

data venia, que tal exigencia<br />

— resultante do poder regulamentar<br />

conferido ao CONFEA (art. 27,<br />

letra f, Lei 5.194) — inspirou-se sa-


iamente nos poderes explicitos e<br />

Implicitos delegados ao OrgAo para<br />

a efetiva fiscalizactio do setor profissional.<br />

«Nos poderes explicitos, porque<br />

a fiscalizacflo que se recomendou<br />

expressamente, no tocante a empresas,<br />

6 a que exige — al6m do<br />

registro dos respectivos profisslonab<br />

no OrgAo de jurlsdicAo - a partIcipagflo<br />

efetiva e a autorla declarada<br />

(art. 8?, parAgrafo Onico),<br />

evidentemente em cada obra. Alnda<br />

nos poderes explicitamente delegados<br />

A autarquia porque a esta<br />

cumpre, corn relacAo a cada obra,<br />

o exame dos contratos referentes<br />

As obras a serem executadas para<br />

os fins menclonados no artigo 15,<br />

Impondo-se a flscallzacAo, de cada<br />

unlciade a ser construida, para verificacAo<br />

das condlcOes p<strong>revista</strong>s<br />

no artigo 16.<br />

«No elenco dos poderes implf citos,<br />

bastarla assinalar-se a tutela<br />

global delegada ao OrgAo para que<br />

o exercicio e as atividades do setor<br />

profissinal se desenvolvant regularmente<br />

(artigo 24). Uma empresa,<br />

como a impetrante, por empreitada<br />

ou por admintstracilo,<br />

contrata, via de regra, a urn s6<br />

tempo, a reallzacAo de infimeras<br />

obras. A cada uma delas, certamente<br />

destina um ou mals proftsslonals<br />

de seus quadros. Mas, tab<br />

proftssionals evidentemente se distribuirão<br />

pelas obras em execucão,<br />

de modo que a responsabllidade<br />

teenica e administrativa &aria<br />

afetada ou vInculada apenas a cada<br />

obra de que tenha o profissional<br />

a participacAo efetiva.<br />

«Essas considerattes — retiradas<br />

do poderes explicitos e implici-<br />

tos delegados ao ((Rao — dao-nos a<br />

certeza da legitimidade da exlgencia<br />

do registro de cada obra. NAo a<br />

vicia, ao que penso, haver a condicAo<br />

resultado do poder regulamentar<br />

do CONFEA, poder com que —<br />

como jit fol dito — se completa a<br />

R.T.J. — 94<br />

189<br />

obra legislativa, e se evlta o casuismo<br />

anacrOnico de leis ultrapassadas.»<br />

Penso, tamb6m, que a ClUeStii0 se<br />

acha posta excelentemente nesse<br />

pronunciamento, o qual, em sIntese<br />

perfelta, demonstra não ter o &gab<br />

de disciplina da profissAo, o CON-<br />

FEA, excedido os poderes, que a lel<br />

the conferiu, mantendo-se, ao contrArio,<br />

estritamente nos seus<br />

Ampla 6 a tarefa fiscallzadora que<br />

a Lei 5.194, de 24-12-66, que regula o<br />

exerelcio das proflssbes de engenheiro,<br />

arquiteto e engenhetro agranomo,<br />

impOe ao Conselho Federal e aos<br />

Conselhos Regionals. Diz, a prop6s1to,<br />

o seu artigo 24: «A aplicacAo do<br />

que dispOe esta lel, a verifIcacito e<br />

fiscalizacAo do exercicio e atividadest<br />

das proriss6es nela reguladas sotto<br />

exercidas por um Consetho Federal<br />

de Engenharla, Arqultetura e Agronomla<br />

(CONFEA) e Conselhos Regionals<br />

de Engenharla, Arqultetura e<br />

Agronomla (CREA), organizados de<br />

forma a assegurarem =Made de<br />

acAo».<br />

Cabe a essas entidades, pots, nos<br />

termos da lei, verifIcar e flscallzar o<br />

exercicio e as atividades das proffssites,<br />

a que se refere o citado dispositivo.<br />

NAo the toca, assim, apenas verificar<br />

se os profissionals estAo habl-<br />

Ittados pan o desempenho do seu<br />

mister, mas fiscalizar o exerciclo<br />

deste, as atividades e proflssOes, a<br />

fim de apurar se tab atividades estAo<br />

efetuadas por quem possua<br />

Mulct para isso. A capacidade<br />

resulta, por certo, do titulo, porêm<br />

Itnporta averlguar se existe coincidencia<br />

entre a habilitacAo profisslonal<br />

e a efetiva eXeCtICAO da tarefa a<br />

que diga respeito a atividade fiscallzAvel.<br />

Entre as atribuittes do Consetho<br />

Federal, fol incluida, de outra parte,<br />

artigo 27, f, a de ttbabcar e fazer<br />

publicar as resoluctles p<strong>revista</strong>s para<br />

a regulamentacAo e execucao da


190<br />

R.T.J. — 94<br />

presente lei, e, ouvidos os Conselhos,<br />

Orgão de discipline profissional a fisresolver<br />

os casos °misses.»<br />

calizar o cumprimento dessas exit<br />

claro que, a pretexto de regulaggncias,<br />

podendo, destarte, para a<br />

execucAo da lei, prover quanto aos<br />

mentar a lei ou prover quanto a sua meios para cumprir esse dever, isto<br />

execucAo, o CONFEA nAo pode exce- 6, o de verificar se a participacAo do<br />

der os limites do rule making power, profissional 6 efetiva e se a autoria<br />

que the foi conferido. Tem, ao con- do trabalho the pertence. Corn esse<br />

trail°, que manter-se no campo do objetivo 6 que o CONFEA balxou a<br />

ato legislative, que the conferiu corn- ResolucAo 194, na qual se preceitua,<br />

petgncia regulamentadora. Poderg, artigo 1?: «Todo contrato, escrito ou<br />

tao somente, desenvolver-Ihe o senti- verbal, para prestagAo de qualsquer<br />

do, preencher os espacos deixados servicos profissionais referentes a<br />

pelos standards, estabelecidos pelo engenharia, a arquitetura ou a agro-<br />

legislador, estipular nos lindes do ra- nomia — inclusive os referentes a<br />

zoavel, requisitos exigiveis para a projetos — clever& ser registrado,<br />

estrita observAncia das prescricges sob a forma de anotacAo de respon-<br />

legais.<br />

sabilidade tecnica, no Conselho Re-<br />

Ora, esses confins nAo foram ultra- gional ern cuja jurisdicAo for exercipassados<br />

pelo CONFEA, ao baixar da a respective atividade».<br />

as Resolucges n? 194 e 196, que se Timitaram<br />

a prover quanto a execucAo Argumenta-se que a fiscalizacAo<br />

de norms do diploma legal, que re- deve contentar-se corn o registro,<br />

gula o exercicio das profissOes de sendo supgrflua e abusive a exiggnengenheiro,<br />

arquiteto e engenheiro- cia de anotacAo sob forma de resagrOnomo.<br />

ponsabllidade Wilke. Procederia a<br />

argiiicão se ra) incumbisse ao 6r-<br />

Para firmer essa conclusAo, basta gal fiscalizador, por imposicAo leo<br />

exame do que se contém, por gal, investigar se a participacAo do<br />

exemplo, no paragrafo finico, artigo profissional 6 efetiva e nAo ficticia<br />

8? da mencionada lei, bem coma no se a autoria do trabalho e sua e ngo<br />

artigo 15. No primeiro desses precei- de outrem, carente de qualificacão<br />

tos, paragrafo °nice do artigo 8?, se<br />

estatui: «As pessoas juridicas e orpara<br />

o °fide. A propesito, acentua o<br />

ganizacOes estatais s6 poderAo exerrecorrido,<br />

na impugnacgo ao ex-<br />

alegacges<br />

cer as atividades discriminadas no traordinario . «As da<br />

PeticAo de recurso extraordinario<br />

artigo 7? (as de engenheiro, arquiteto<br />

e engenheiro-agranomo), corn exde<br />

que tats anotacges seriam inetuas<br />

cecAo das contidas na alinea a (de- para a efetiva fiscalizaggo do profissempenho<br />

de cargos, funcges e co- stonel nAo sAo corretas. Partem de<br />

missges em entidades estatais, paquern<br />

flat) tem vivencia das peculia-<br />

ridades do exercicio profissional de<br />

raestatais, autarquicas, de economia<br />

mista e privada) corn a participacAo<br />

Engenharia, em confronto com o<br />

exercicio de outras profissOes libe-<br />

efetiva e autoria declarada de profisrats. A primeira vista je se torna<br />

sional legalmente habilitado e regis-<br />

trado pelo Conselho Regional, asseevidente<br />

que esses exercicios ngo pogurado<br />

direitos ue esta lei lhe<br />

dem ser equiparados, pelo s6 f ato de<br />

conferes os Exige-se, q como se vg, nAo existir um curso de engenharia,<br />

mas sim diversos cursos de engenha-<br />

quanto as pessoas juridicas, nAo apenas<br />

o registro do profissiona l, mas a ria. Cada curso forma um tipo de en-<br />

genheiro. Cada engenheiro tern que<br />

sua participacão efetiva na atividade<br />

e a declaracAo de autoria do traba- se heiro. sua especializacão. A diversidade<br />

dos diversos tipos de engelho<br />

pelo profissional a que a ativida- aria é evidente: o engenheiro de<br />

de se referir. Est& obrigado, pois, o


minas nada sabe sobre a engenharia<br />

eletrOnica; o engenheiro agrimensor<br />

nada sabe de engenharia mecanica,<br />

e assim por diante. HA que haver<br />

uma entidade que preserve as especializa0Oes,<br />

o que, em °Rime anitlise,<br />

6, tambern, a preservaflo da mole<br />

mestra de todo progresso tecno16gico.»<br />

Pouco adlante, anota, ainda, o<br />

recorrido: «As prOprias Prefeituras<br />

estAo se conscientizando dessa anotacit°<br />

de responsabilidade previa do<br />

contrato. 0 COdigo de Edificavrtes de<br />

Brasilia (Decreto «N» 596 de 8-3-1967<br />

— D.O. de 29-3-67) jit exige que para<br />

o requerimento de alvara de construcito<br />

hA necessidade da apresentaeilo<br />

do contrato Emoted° no CREA (arilgo<br />

330, VII). A disposicão visa a que<br />

a Prefeltura se vaLha do CREA —<br />

entidade especifica pars o exame de<br />

atribuiclies profissionais — e tenha a<br />

certeza de que o profissional que se<br />

dispile a executer a obra tern capacidade<br />

legal para tanto. 0 CREA, por<br />

sua vez, para anotar o contrato examine<br />

todas as peculatidades da obra<br />

em confronto corn as atribuicties do<br />

profissional e, se essas silo bastantes.<br />

Casos hA em que urn so profissional<br />

nil° 6 suficiente para o empreendimento.<br />

Quando numa obra<br />

hA, por exemplo, ligactles eletricas<br />

de alts tensAo. HA necessidade, entao,<br />

de que ao engenheiro civil se some<br />

um engenheiro eletricista.»<br />

Estabelece, por sua vez, o artigo<br />

15: «silo nulos de pleno direito os<br />

contratos referentes a qualquer ramo<br />

da engenharia, arquitetura ou da<br />

agronornia, inclusive a elaboracao<br />

do projeto, direcilo ou execucao de<br />

obras, quando firmados por entidade<br />

pfiblica ou particular corn pessoas<br />

fisica ou juridlca nAo legalmente habllitada<br />

a praticar a atividade nos<br />

termos desta lel». Dir-se-a que,<br />

quanto A infracao do mandamento<br />

consigned° negsa regra legal, esta je<br />

dispes de modo bastante, quando co-<br />

Mina, para a sua violacAo, a nulidade<br />

de pleno direito do contrato. En-<br />

R.T.J. — 94 191<br />

tretanto, cumpre aos orgAos de discipline<br />

profissional velar para que tals<br />

infracties nAo se verifiquem, dados<br />

os riscos que estas podem acarretar<br />

ao interesse pane°, riscos nAo !maglnarlos.<br />

porem tragicamente reels.<br />

Em vez, pots, de desnecessaria e<br />

abusive a extends estatuida pelo<br />

CONFEA, para apuncilo de responsabllidade<br />

tecnica dos engenheiros,<br />

arqultetos e engenheiros-agranomos,<br />

tal exigencia se compreende na<br />

ratio, tambem, do citado art. 15, sendo<br />

dele deductivel por implicacao<br />

16gIca e por imposicao pratica.<br />

Isto posto, nAo vejo, no caso, quebra<br />

do principio da reserve da Lei,<br />

pols a ResoInca° 194 se fllia a normas<br />

leglslativas, que legitimam plenamente<br />

o que vela se estipula. NA°<br />

confine, igualmente, essa Res°lucao<br />

corn a regra exarada no 23 do artigo<br />

153 da ConsHtuicilo Federal, pols<br />

nesse nAo se requer condicao nova<br />

de capacidade para o exercicio da<br />

proflssAo de engenheiro, mas o<br />

preenchimento de requlsito para verificacilo<br />

de que a capacidade, reclamada<br />

por lei, se configure em<br />

ao caso concreto.<br />

NAo hA ofensa, por outro lado, a<br />

qualquer dos preceitos legals, a que<br />

se refere a recorrente, entre os quais<br />

o que regula a iniposieáo de multa.<br />

Uma vez assente que a obrigacao de<br />

registro de contratos nil° a arbitraria,<br />

mas perfeltamente legal, incide,<br />

na espêcie, o artigo 73, a, tia<br />

Lei n1 5.194/66, onde se autoriza a<br />

Impostilo de multa aos infratores<br />

das disposicties para as quais nAo<br />

haja indicacão expressa de penalidade.»<br />

Incensuritveis se me afiguram, por<br />

conseguinte, quer a Res°Inca° re<br />

194, quer a ResoInca° n? 196, em favor<br />

das quais matte, alem disso, o<br />

principlo de que quem quer os fins<br />

quer os mefos, ou postos de outra<br />

forma esse postulado, a imposicilo<br />

de urn dever habilita o dorgilo, a<br />

quern o dever incumbe, a usar dos


192<br />

metes adequados e convenientes para<br />

o desempenho do encargo a que<br />

esta obrigado. Isto, nada mats do<br />

que isso, foi o que fez. na hipotese,<br />

medlante as Resolucees atacadas pela<br />

recorrente, o Conseiho Federal de<br />

Engenharia, Arquitetura e Agronomia<br />

(CONFEA).<br />

Ante o exposto, nAo conheco, preliminarmente,<br />

do recurso.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

R.T.J. — 94<br />

RE 81.846 — RJ — Rel.: Min. Cordeiro<br />

Guerra. Recte.: IndOstrias Villares<br />

S/A (Adv.: J. Paulo Sepulveda<br />

Pertence). Recdo.: Conselho Regional<br />

de Engenharia, Arquitetura e<br />

Agronomia (CREA — 13? Rg).<br />

(Adv.: Vicente Rosati).<br />

Decisno: Pediu vista o Ministro<br />

Rafael Mayer, apes o veto do Ministro<br />

Relator conhecendo e dando pro-<br />

Sento e do vote do Ministro Lean()<br />

de Abreu nno conhecendo do recurso.<br />

Falou pelo Recorrente, o Dr. Jose<br />

Paulo Sepulveda Pertence.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder Presentes u Sessào os<br />

Srs. Ministros Djaci Feick), Thompson<br />

Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

Lean() de Albreu, Cordeiro Guerra,<br />

Moreira Alves, Cunha Peixoto, Soares<br />

Munoz Decio Miranda e Rafael<br />

Mayer.<br />

Procurador-Geral da Republica,<br />

Dr. Firmino Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 18 de abril de 1979 —<br />

Alberto Veronese Aguiar, Secretario.<br />

VOTO (VISTA)<br />

0 Sr. Ministro Rafael Mayer: Pedi<br />

vista a fim de orientar-me diante dos<br />

doutos votos divergentes dos eminentes<br />

Ministros Cordeiro Guerra e Leith()<br />

de Abreu, proferidos respectivament(<br />

, nos RREE 81.846/RJ e 88.002-<br />

0/RJ, sob julgamento conjunto.<br />

A materia sub judice diz corn a legalidade<br />

da Resolucäo n? 194/70, do<br />

Conseiho Federal de Engenharia,<br />

Arquitetura e Agronomia, ao dispor<br />

que todo contrato para a prestagão<br />

de quaisquer servicos profissionais<br />

referentes a engenharia devera ser<br />

registrado, sob na forma de anotacão<br />

de responsabllidade técnica, sem o<br />

que nenhuma obra ou service podere<br />

ter inicio (art. 1?), alem de sujeitar<br />

o responsävel tecnlco a multa p<strong>revista</strong><br />

na alinea a do art. 73, da Lei n?<br />

5.194/76 (art. 4?).<br />

Os acOrdãos recorridos, do Egregio<br />

Tribunal Federal de Recursos,<br />

dando pela legitimidade da norma<br />

sno impugnados por via do art. 119,<br />

III, a, sob color de violacno dos §§ 2?<br />

e 23 do art. 153 da Constituicno e denegacAo<br />

de vigencia a artigos varies<br />

da Lei n? 5.194/66 (artigos 6?, 8?, 16).<br />

Em seu respeltável voto, entende o<br />

eminente Ministro Cordeiro Guerra<br />

que os disposttivos regulamentares,<br />

em questno, exorbitam da Lei n?<br />

5.194/66, que regula o exercicio da<br />

profissáo de engenheiro, nesta nä()<br />

se encontrando qualquer disposicão<br />

que imponha a obrigagão de registro<br />

do contrato, nAo podendo o regulamento,<br />

por conseguinte, institui-lo, e<br />

ao faze-lo, afrontou o art. 153, 2? e<br />

23, da Constitutcno.<br />

Discrepante desse entendimento, o<br />

veto do eminente Ministro Leitão de<br />

Abreu assegura terem restado incelumes<br />

os referidos dispositivos constituclonals,<br />

posto que nAo houve quebra<br />

do principle da reserva legal,<br />

uma vez que a ResolucAo impugnada<br />

se filia a normas leglslativas que legitimam,<br />

plenamente, o que nela se<br />

estipula, nem, por outro lado, se requereu<br />

condicao nova de capacidade<br />

para o exercicio da profissào, de modo<br />

a confiner com o § 23 do art.<br />

153. Segundo o mesmo veto, inocorre,<br />

ainda, qualquer ofensa a preceltos<br />

legais, a que, na verdade, a Resolucdo<br />

se acomoda, pois, apenas<br />

instituiu melos adequados e convenientes<br />

para o desempenho do encargo<br />

da entidade, legitimado pelo


principio de quem quer os fins quer<br />

os meios.<br />

Devo registrar a ocorrancia de<br />

precedente, não trazido aos autos, no<br />

trato da mesma ResolucAo n? 194/70,<br />

constante de acOrdAo, de 6-4-1976, no<br />

RE 81.532, sendo Relator o eminente<br />

Mlnlstro Cunha Peixoto. onde decidldo<br />

o nAo prevalecimento da norma<br />

regulaznentar, por violentar a Lei<br />

que estaria a exigir apenas o registry<br />

do profissional, e nao o registry<br />

de cads contrato.<br />

Adotando tese contrarla, entretanto,<br />

consta o acOrdlio de marco de<br />

1987, da Terceira Turma do Supremo<br />

Tribunal, no RMS 16.422-GB, sendo<br />

Relator o Mlnlstro Hermes Lima, o<br />

qual, embora versando ResolucAo<br />

anterior, balxada corn suporte no<br />

Decreto 23.569/33, se traduz em<br />

jamming° de principle, nessa<br />

ementa:<br />

«landed° de seguranca, Conselho<br />

Regional de Engenharla e<br />

Arquitetura — ReglAo. A Resoluclio<br />

it 10, de 1961, determinou a<br />

exibicAo do contrato ou seu resumo<br />

pare simples anotacAo e consecpiente<br />

fiscalizacAo do exercicio<br />

profissional, o que se visa e o controle<br />

da atividade profissional, conforme<br />

o disposto no Decreto if<br />

23.569, de 1933. Recurso desprovido."<br />

Isso posto, peso yenta para dar<br />

adesAo ao voto do erninente Mlnlstro<br />

Lena° de Abreu, atento A lUcida argumentacilo<br />

corn que oferece interpretacAo,<br />

de todo consentlinea, A lei<br />

orgitnica da entidade profissional<br />

dos engenheiros.<br />

Entendo, igualmente, que o poder<br />

normative ou, regulamentar atrtbuido,<br />

por lei, ao CONFEA, deve ser<br />

compreendido num sentido condizente<br />

As caracteristicas da entidade e A<br />

large incumbAncia que, literalmente,<br />

the 6 dada, no art. 24, de exercitar,<br />

aplicando a lei, a verificacAo e a fiscalizaclio<br />

do exercicio, assim como<br />

R.T.J. — 99 193<br />

das atividades, dos profissionals de<br />

engenharia, o que obviamente, e de<br />

si mesmo, significa muito macs<br />

que o simples registro ou inscricAo e<br />

a cobranca de anuidades.<br />

Trata-se de entidade de natureza<br />

corporative, dotada de elevado gran<br />

de autonomic, personificacAo do grupo<br />

profissional a quem se delega o<br />

exercicio do poder normative, nos 11mites<br />

da lei, para a reallzacAo dos<br />

interesses do setor profisslonal, tanto<br />

quanto do interesse priblico.<br />

A fim de que cumpra, plenamente,<br />

essa misstlo de yerificacilo e &callzacAo<br />

do exerciclo e da atividade<br />

profisslonal de seus pn5prios membros,<br />

esta insita, no poder normativo<br />

conferido pelo art. 27, f do diploma<br />

legal, a faculdade de estabelecer,<br />

dentro de urn Julzo discricionArio<br />

prt5prio da regulamentaflo do poder<br />

de policia administrativo, procedimentos<br />

para a consecucão dos propOsitos<br />

da lei e da realizacAo dos fins<br />

institucionals da autarquia corporative.<br />

Sem prejuizo da validade desse<br />

equacionamento, o prOprio I tmico<br />

do art. 8! da Lei, impondo, nas organizactles<br />

de engenharia, mats do que<br />

o simples reglstro, participaclio<br />

efetiva e autoria declarada de profisatonal<br />

legalmente habllftado*, eats<br />

a reclamar a efetividade dessa exigAncia<br />

em condiciies e modos que so<br />

a norma complementar pole propor.<br />

A anotacAo da responsabilidade<br />

Mcnica, emergente de cada contrato,<br />

nada mats significa do que propiciar<br />

dados e melos apropriados A verificacao<br />

competente, pelo CONFEA, da<br />

legitimidade do exerciclo da profissAo,<br />

realmente, tuna manifestacAo<br />

de controle.<br />

Mas, se legitimo e o procedimento<br />

reclamado dos seus membros, pessoas<br />

Micas ou jurfdicas, que, pela<br />

InscricAo, assumem o status de especial<br />

sujeicAo A supremacia auhninistrativa<br />

da entidade, que 6 de direito


194<br />

conseqiiente sera a legitimidade<br />

da multa, pelo seu descumprimento,<br />

nos exatos termos do art. 73,<br />

a. Assim. estou de acordo corn o ilustrado<br />

voto em que a norma regulamentar<br />

se conforma as exigências<br />

da lei, limitando-se a dar-lhe<br />

exeqiilbilidade e complementacão.<br />

Em favor do entendimento,<br />

registre-se que a legIslacäo antiga,<br />

como a vigente, não discrepam nas<br />

suas proposic6es, no particular (art.<br />

9? do D. 23.569/33), pots as Resoluc6es<br />

que se sucederam, nos dois regimes<br />

legals, tern fontes autorizativas<br />

correspondentes. Assim, o reconhecimento<br />

da legitimidade da exiancia,<br />

como manifestacao do poder<br />

normativo do CONFEA, resulta de<br />

interpretagäo da legislacão e de prãtica<br />

administrativa, de remota observáncia,<br />

o que 6 ponderävel para a<br />

manutencao do entendimento.<br />

Por isso, náo conheco dos recur-<br />

SOS.<br />

R.T.J. — 94<br />

VOTO PRELIMINAR<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda: Sr<br />

Presidente, adotando o brilhante voto<br />

do eminente Ministro Rafael Mayer,<br />

corn o qual estou de acordo, diria<br />

eu que, sem a efetiva fiscalizacAo,<br />

mediante registro dos contratos<br />

fettos por filiados dos Conselhos de<br />

Engenharia, sera impossIvel a estes<br />

OrgAos coibir a prAtica do exercicio<br />

da profissão por meio de prestanomes.<br />

Este registro dos contratos se<br />

(liege A finalidade maior do OrgAo,<br />

um instrumento, 6 um meio eflcaz<br />

de atingir aquela finalidade.<br />

De acordo corn o eminente Ministro<br />

Rafael Mayer, nao conheco do<br />

recurso<br />

CONFIRMACAO DE VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra:<br />

Sr. Presidente, gostaria de lembrar<br />

que se se der essa forca ao Conselho<br />

Regional de Engenharia e Arquitetura,<br />

dentro em breve nOs estaremos<br />

admitindo que os advogados sej am<br />

sujeitos a lgual disciplina, tendo que<br />

apresentar Junto corn a contestacflo<br />

o seu contrato de honorArios A Ordem<br />

dos Advogados. E, pela interpretacAo<br />

dada pelo eminente Ministro<br />

Rafael Mayer, chegariamos, dentro<br />

em pouco, As corporacOes de<br />

°tido, que fizeram a glOria de Veneza,<br />

mas, que, evidentemente, contrariam<br />

a principlo da livre iniciativa e<br />

da liberdade de profissão. Essa concepcão<br />

de ente corporativo tern nthdos<br />

caracteres totalitArlos, porque,<br />

evidentemente, não e a fiscallzacAo<br />

da t6cnica o que se esta pretendendo<br />

impor, e a fiscalizacão da iniciativa<br />

privada no campo econOmico, da remuneracão<br />

do profissional, porque<br />

nada impede que se leve urn contrato<br />

f also ao CREA e o verdadeiro esteja<br />

por fora. E urn acrescimo de burocracia<br />

desnecesSArlo e oneroso.<br />

Cria-se, por resolucAo, tuna sancAo<br />

nit° p<strong>revista</strong> na lei, porque se 6 norma<br />

mais ou menos assente de que as<br />

leis 6 que criam as sancdes e nem<br />

mesmo os regularnentos podem autorizar<br />

a imposictio de pena, como se<br />

pode admitir, por tuna simples resoluctio,<br />

que viola a liberdade de com6rcio,<br />

a livre iniciativa, que o engenheiro,<br />

inscrito no CREA, tenha<br />

que provar os negOcios que est& f azendo.<br />

Data yenta das opiniOes respeitàvets,<br />

mantenho o meu voto, conhecendo<br />

do recurso e the dando provimento.<br />

VOTO PRELIMINAR<br />

0 Sr. Ministro Soares Munoz: Sr.<br />

Presidente, data yenta do voto prof erido<br />

pelo eminente Ministro Cordeiro<br />

Guerra, cujos fundamentos sAo respeitAvels,<br />

adiro aos votos do eminentes<br />

Ministros Leith() de .oreu e<br />

Rafael Mayer, nAo conhecendo do<br />

recurso.<br />

A objecão de que a aplicacão dos<br />

princtplos que informam tats pro-


nunciamentos, ao exercicio da profess&<br />

de advogado, acarretaria series<br />

conseqilenclas, nlio esta em<br />

equacAo.<br />

Penso que A especie em julgamento,<br />

a fiscalizactio tem perfelta adequacio;<br />

se nil° a tern para outra profissAo,<br />

6 problema que examinarei<br />

no seu devido lugar, mesmo porque,<br />

cada uma delas, k regida por leis<br />

prOprias.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Afinlstro Cunha Pelxoto: 1 —<br />

No Brasil, a regularidade de todas<br />

as profissites liberals se subordina<br />

a previa Wavle& do profisslonal ou<br />

socledade na autarquia a que weance.<br />

No tocante A engenharia, agronomia<br />

e arqultetura, discipline a matt.ria<br />

a Lei n? 5.194, de 1966, que s6 exige,<br />

para o exercicio dessas profissOes,<br />

o registro no CREA. Estabelece<br />

o parilgrafo Wilco do art. 2? deste<br />

diploma legal:<br />

«0 exercicio das atividades de<br />

engenheiro, arquiteto e engenheiroagrOnomo<br />

a garantido, obedecidos<br />

os llmites das respectivas licences<br />

e exclufdas as expedidas a tltulo<br />

precArlo, ate a publicacno data<br />

Let, aos que, nests data, esteiam<br />

registrados nos Consellios Regionals.»<br />

E no tocante, As sociedades, regulaments<br />

a matkria o art. 59:<br />

«As firmas, sociedades, associates,<br />

companhias, cooperatives e<br />

empresas em geral, que se organ'.<br />

ram pare executer obras ou services<br />

relacionados na forma estabelecida<br />

nesta lel, s6 poderAo inlciar<br />

sues atividades depots de promoverem<br />

o competente registro nos<br />

Conselhos Regionals, bem como o<br />

dos profissionals do seu quadro<br />

tecnico.»<br />

2 — 0 Consellio Federal da autarqula<br />

tem competencla pare, em Resoluctio,<br />

estabelecer os requisites ne-<br />

R.T.J. — 94 195<br />

cessArlos A MscricAo, como determina<br />

o parAgrato 3? desse dlsposltivo.<br />

Portanto, uma vez felto o registro,<br />

a pessoa fisica ou jurldlca estA apta<br />

para, sem mats outra tormalldade,<br />

exercer a proftssAo. E, para nAo delxar<br />

dUvida quanto a s6 necessklade<br />

deste requisite, vern o art. 6? e estabelece<br />

os atos que a lel considera como<br />

ilegals ao exerciclo da profissAo<br />

de en genheiro, arquiteto ou<br />

engenheiro-agrtinomo:<br />

«Exerce liegalmente a proffssAo<br />

de engenheiro, arqutteto ou<br />

engenheiro-agrOnomo:<br />

a pessoa fisica ou juridica que<br />

reallzar atos ou prestar services<br />

pOblico ou privado reservados aos<br />

professionals de que trate eats let e<br />

que nAo pouua registro nos Censelhos<br />

Regionals:<br />

o professional que se incumbir<br />

de atividades estranhas As atribuicOes<br />

discriminadas em seu maitre;<br />

cl 0 Prellstdonal que emprestar<br />

seu none a pessoas, firmas, orftanizacties<br />

ou e mpresas executoras<br />

de obras e sei sem sua real<br />

cos<br />

particIpaclio nos trabaihos<br />

delas;<br />

o profissional que, suspense de<br />

seu exude's', continue em atividade;<br />

a firma, organizacito ou socledade<br />

que, na quails's& de pessoa<br />

juricilca, exercer atrIbuicdes reservadas<br />

aos profisslonals da engenharle,<br />

da arqultetura e da ammomia,<br />

com infringencia do disposto<br />

no par:Strafe Onico do art. 8? desta<br />

lel.»<br />

0 paritiffilf0 Only) do art. 8?, alias<br />

reproducAo do 59, it<br />

pee:<br />

trail/writ°, Ws-<br />

As pessoas juridicas e organizecOes<br />

estate's s6 poderflo exercer as<br />

atividades discriminadas no art.<br />

7?, corn exceciio das contidas na<br />

althea a. com participacito efetiva<br />

e autoria declarada de profissional<br />

legalmente habllftado e registrado


196<br />

R.T.J. — 94<br />

pelo Conselho Regional, assegurados<br />

os direitos que esta lel the confere.»<br />

De evidencia, assim, a Resolueão<br />

n? 194, de 22-5-1970, do Conselho Federal<br />

de Engenharla, Arqultetura e<br />

Agronomia, que estabeleceu, como<br />

requlsito para o exercicio da profisou<br />

seta, para o desempenho de<br />

qualquer trabalho relativo a estas<br />

profisstles, o reglstro no Conselho de<br />

dodo contrato, escrito ou verbal<br />

(sic),», ndo pode prevalecer, pots<br />

violenta a lei que disciplinou a materia.<br />

De fato, 6 elementar o principio de<br />

que o regulamento deve ficar adstrito<br />

a lei. 0 Regulamento niio pode<br />

modificar ou ampliar direitos ou deveres.<br />

Deve limitar-se ao contetdo<br />

da lei e<br />

pode extravasd-la sob o<br />

pretexto de ser a medida necessftria<br />

a fiscalizaello da profissdo. 0 regulamento<br />

ha de se conter dentro dos objetivos<br />

da lei, não podendo, pots, ampllar<br />

aqullo que foi intenedo do legislador,<br />

nem mesmo sob a capa de necessidade<br />

de fiscalizaedo.<br />

A propesito do poder de Regulamental*,<br />

6 sempre atual a lied° de<br />

Pimenta Bueno, que o considera<br />

abusivo nos casos seguintes:<br />

em criar direitos, ou obrigaeOes<br />

novas, nAo estabelecidas pela<br />

lei porquanto seria uma inovaedo<br />

exorbitante de suss atribuiedes,<br />

uma usurpaedo do poder legislativo,<br />

que so poderd ser tolerada por<br />

camaras desmoralisadas . Se assim<br />

tido fora poderia o govern criar<br />

impostos, penas, ou deveres, que a<br />

lei ndo estabeleceu, teriamos dots<br />

legisladores, e o sistema constituclonal<br />

seria uma verdadeira ilusào;<br />

em ampliar, restringlr ou modificar<br />

direitos ou obrigacees, porquanto<br />

a faculdade the lot dada para<br />

que fizesse observar fielmente a<br />

lei, e nä° para introduzir mudanca<br />

ou afferagão alguma nela, para<br />

manter os direitos e obrigaebes co-<br />

mo foram estabelecidos, e ndo para<br />

acrescentit-los ou diminui-los,<br />

para obedecer ao legislador, e nä°<br />

para sobrepor-se a ele;<br />

c) em ordenar, ou proibir o que<br />

ela tido ordena, ou ndo profbe, porquanto<br />

dar-se-ia abuso igual ao que<br />

ja notamos no antecedente nfirnero<br />

primeiro. E demais, o govemo nä°<br />

tem autoridade alguma para suprir,<br />

por melo regulamentar, as lacunas<br />

da lei, e mormente do direito<br />

privado, pots que estas entidades<br />

não são simples detalhes, ou<br />

meios de execueão. Se a matéria<br />

como princfplo 6 objeto de lei, deve<br />

ser reservada ao legislador; se nä°<br />

6, então ndo ha lacuna na lei, sim<br />

objeto de detalhe de execuedo;<br />

em facultar, ou proibir, diversamente<br />

do que a lei estabelece,<br />

porquanto deixarla esta de ser<br />

qual fora decretada, passaria a ser<br />

diferente, quando a obrigaeão do<br />

govern() 6 de ser em tudo e por tudo<br />

fiel e submisso a lei.<br />

finalmente, ern extinguir ou<br />

anular direitos ou obrigaeOes, pots<br />

que um tal ato equivaleria a revogagdo<br />

da lei que os estabelecera ou<br />

reconhecera; serla um ato verdadeiramente<br />

atentatedo. » (Direito<br />

Mlle° BrasiJeff°, pág• 237).<br />

Este entendimento foi reproduzido,<br />

atualmente, por Seabra Fagundes,<br />

que fazendo a distinedo entre a lei e<br />

o Regulamento, ensina quanto a este:<br />

«... nä; the cabe alterar situaeão<br />

juridica anterior, mas, apenas,<br />

pormenorizar as condielles de modificaedo<br />

origindria doutro ato<br />

(lei). Se o fizer, exorbitarA, significando<br />

uma invasdo, pelo Poder<br />

Executivo, da competenda legislativa<br />

do Congresso. » (Controle dos<br />

Atos Administrativos, pAg. 35, nota<br />

ao comentário do n? 10?).<br />

Pontes de Miranda ainda 6 macs<br />

positivo:


a... se o regulamento cria direltos<br />

ou obrigaciies novas, estranhas<br />

A lei, ou faz revlverem diretto, deveres,<br />

pretenstles, obrigacdes,<br />

rides ou excecoes, que a lei apagou,<br />

6 inconstitucional. Por exemplo:<br />

se faz exemplificativo o que<br />

6 taxativo, ou vice-versa. Tamponco<br />

pode ele limiter, modificar ou<br />

emptier direitos, deveres, pretens6es,<br />

obliges:6es, rides ou excessOes.<br />

Nero pode facultar o que na<br />

lei se prof be, nem the procurer exceciles<br />

A proibicão, salvo se estão<br />

explicitas. Nem ordenar o que a lei<br />

nao ordena. Se a regra lurk:Lica 6<br />

impositiva, ou protbitiva, isto e, de<br />

Wren() cogente, ao regulamento<br />

nAo 6 dado tornA-la regra juriclica,<br />

diapositive ou interpretative. Se<br />

diapositive, licito nAo the 6 faze-la<br />

interpretative ou cogente (imperative,<br />

prolblUva). Se interpretative,<br />

nao pode mudit-la em cogente ou<br />

em dispositiva. 0 regulamento<br />

proposta de interpretacAo ou conjunto<br />

de normas de Wren° formal<br />

administrativo. Nenhum princIpto<br />

novo, ou diferente, de direito material,<br />

se the pode introduzir. Em<br />

consecitlência disso, nAo tixa, nem<br />

diminul, nem eleva vencimentos,<br />

nem Institut penes, emohnnentos,<br />

texas ou isencdes. Vale dentro da<br />

lei; fora da lei, a que se reporta, ou<br />

das outras leis, nAo vale».<br />

(Comentitrios A Const1tuicAo de<br />

1967, vol. III, pAg. 312).<br />

E continua, na pitghia 313:<br />

nAo pode o regulamento fazer<br />

prescricional o prazo preclusivo,<br />

ou vice-versa. Nem, a pretexto de<br />

interpreter, dizer algo diferente<br />

daquilo que o sistema juridic° permite<br />

que se leis na lei. Sempre que<br />

no regulamento se insere o que se<br />

afasta, pare macs on pare menos,<br />

da lei, a ntda, por ser contrAria<br />

let, a regra ituldica que se tentou<br />

embutir no sistema Juridic°. Se,<br />

regulamentando a lei a, o regulamento<br />

fere a constituicAo ou outra<br />

lel, 6 contrSrlo a conStituicilo ou<br />

R.T.J. - 94 197<br />

lei, e, em conseq(lencia, nulo o que<br />

editoua.<br />

0 Regulamento do CREA tot elem.<br />

Nero querendo deixar impunes aqueles<br />

que o desobedecessem, comlnou,<br />

pant o nAo registro do contrato, ita<br />

multa p<strong>revista</strong> na althea a, do art.<br />

73, da Lei n? 5.194, de 24-12-1966a.<br />

Ora, como ensina Bartolomeu A.<br />

Florini,<br />

a... el principio de legalidad mita<br />

potestad penal rige en forma absolute;<br />

no puede la administracidn<br />

crear sanclones contra los administrados,<br />

pus en los regimens democraticos<br />

es atribuicien exclusive<br />

del legislador el crear la conduta<br />

punlble y las respective' undonew.<br />

(Manual de Derecho Adadnistrativo,<br />

vol. II, pig. 678).<br />

Por todos ester motivos, conheco<br />

do recurso, data yenta dos eminentes<br />

Ministros que votaram em sentido<br />

contrario, e the dou provimento, nos<br />

termos deste voto e do eminente<br />

nistro Cordeiro Guerra.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 81.846 — 11J — Rel., Min. Cordeiro<br />

Guerra. Recta: Indftstrias VIIlares<br />

S/A (Adv.: J. Paulo Sepiliveda<br />

Pertence). Recdo.: Conselho Regional<br />

de Engenharla, Arqultetura e<br />

Agronomla. (CREA — 13! Rg.)<br />

(Adv.: Vicente Rosati).<br />

Dectsão • Pectin vista o MinIstro<br />

Moreira Alves, ap6s os votes dos Ministros<br />

Relator e Cunha Peixoto conhecendo<br />

e dando provimento, e dos<br />

votos dos Ministros Leitiio de Aire%<br />

Rafael Mayer, Deck) Miranda e Soares<br />

Mufloz nA0 conhecendo do Recurso.<br />

PresidenMa do Senhor Ministro<br />

Antonio Neder. Presentes A Sepik<br />

os Senhores Ministros Died Falcilo,<br />

Xavier de Albuquerque, Leitilo de<br />

Abreu, Cordeiro Guerra, Morelli* Alves,<br />

Cunha PehrotO, Somas Mutes,<br />

Decio Miranda e Rafael Mayer• Au-


198<br />

sente, justificadamente, o Senhor<br />

Ministro Thompson Flores. —<br />

Procurador-Geral da Repllblica, Dr.<br />

Firmino Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 24 de maio de 1979. —<br />

Alberto Veronese Agutar, SecretArlo.<br />

VOTO (VISTA)<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves — 1.<br />

Pedi vista dos autos, em face da divergencia<br />

entre as Srs. Ministros<br />

Cordeiro Guerra, relator deste recurso,<br />

e Leak, de Abreu, relator do<br />

RE 88.002, que estAo sendo julgados<br />

em conjunto.<br />

2. 0 problema que se apresenta e o<br />

de saber se, no caso, o poder regulamentar,<br />

atribuido ao CONFEA, the<br />

permite, para o efeito da observAncla<br />

da sistemAtica de fiscallzaclio<br />

que ele adotou, llnpor o registro, sob<br />

a forma de anotacAo de responsabilidade<br />

tecnica, de qualquer contrato<br />

que vise A prestacAo de servicos profissionais<br />

de engenharia, arquitetura<br />

ou agronomia, sob pena de. aplicacAo<br />

de mita, p<strong>revista</strong> na Lei 5.194/66 para<br />

o nAo cumprimento de suas disposicdes<br />

para as quaffs nAo haja indicaexpressa<br />

de penalidade.<br />

3. Do exame dessa questAo, conduo<br />

que o CONFEA, ao expedir sua<br />

resolucAo n? 194/70, onde estabeleceu<br />

essa imposicAo, agiu dentro do Ambito<br />

de sua compeancia regulamentar.<br />

Com efeito, a Lei 5.194/66, em seu<br />

artigo 24, determina que «a apneactio<br />

do que dispee esta lei, a verificaclio<br />

e fiscalizacAo do exercicio e atividades<br />

das profiss6es nelO reguladas<br />

serAo exercidas por urn Conselho<br />

Federal de Engenharia, Arquitetura<br />

e Agronomia (CONFEA), e Conselhos<br />

Regionals de Engenharia, Arquitetura<br />

e Agronomia (CREA), organizados<br />

de forma a assegurarem<br />

tuddade de acAo». Por outro lado, es-<br />

sa fiscalizacAo nAo se exaure com o<br />

registro dos profissionais habllitados,<br />

que e, apenas, o pressuposto para<br />

o exercicio legal da profissAo,<br />

mas incide, tamb6m, sobre a maneira<br />

como o profissional registrado a<br />

exerce. Assim, por exempla, 6 forma<br />

de exercicio llegal da profissAo<br />

incumbir-se o profissional resgistrado<br />

de atividades estranhas As atribuicdes<br />

discrlminadas em seu registro<br />

(tetra b do artigo 6?) ou emprestar<br />

seu nome a pessoas, firmas, organizacties<br />

ou empresas executoras<br />

de obras e servicos sem sua real<br />

participacAo nos trabalhos delas (letra<br />

c do mesmo artigo).<br />

Ora, em mataria regulamentar vigora<br />

o princlplo de que dos poderes<br />

explicitos atribuldos a uma entidade<br />

resultam poderes implicitos que silo<br />

os necessariarnente conseqllentes daqueles.<br />

E, nessa ordem de raclocinio,<br />

nAo hA dllvida de que consegliencia<br />

indeclinAvel ddeverpea<br />

legal de fiscalizar e a<br />

, de per-<br />

mitir o exercicio da fiscalizacAo, daqueies<br />

que a ela, tamb6m legalmente,<br />

estAo sujeitos.<br />

Por outro lado, ao estabelecer a<br />

Lei 5.194/66 as penalidades aplicAveis<br />

por infracAo dela, disp6s, na tetra<br />

a do artigo 73, que uma delas seria<br />

representada pelas «multas de<br />

um a tries decimos do salario-minimo,<br />

aos infratores dos artigos 17 e 58<br />

e das disposicOes para as quaffs nAo<br />

haja lndlcacAo expressa de penalidade».<br />

Assim sendo, n8o hA que se dizer<br />

que, no caso, a regulamentacAo<br />

criou dever que nAo resultasse<br />

implicit° da prapria lei (o dever de<br />

respeitar o sistema de fiscalizacAo<br />

para cujo estabelecimento 6 competente<br />

o CONFEA), nem tampouco<br />

que criou sancão nAo p<strong>revista</strong> legalmente,<br />

mas, ao contrArio, ela, dentro<br />

do seu Ambito de interpretaclio


da lei — e, a meu ver, sem excedelo,<br />

explieltou a aplicacAo desta (a<br />

multa) em hipetese em que o nAo<br />

cinnprimento de um dever (o de<br />

sujeltar-se ao sistema de fiscalizaclo<br />

regularmente imposto) infringe,<br />

de modo indireto, o disposltivo legal<br />

que dA ao CONFEA a atribuicAo de<br />

flscalizar.<br />

4. Em face do exposto, e sem atribuir<br />

As entidades corporativas da<br />

natureza do CONFEA poder regulamentar<br />

mats elAstico do que o tem<br />

qualquer outra entidade estatal ou<br />

paraestatal, tambem nAo conheco do<br />

presente recurso, com a devida yenta<br />

dos Srs. Ministros Cordeiro<br />

Guerra e Cunha Peixoto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 81.846 — ELT — Rel., Min. Cordeiro<br />

Guerra. Recte.: Indestrias Villares<br />

S/A (Adv.: J. Paulo Sepulveda<br />

Pertence). Recdo.: Conselho Regional<br />

de Engenharla, Arqultetura e<br />

Agronomla (CREA — 13! Rg.)<br />

(Adv.: Vicente Rosati),<br />

Decisio: Adiado o julgamento por<br />

haver pedido vista o Mastro Xavier<br />

de Albuquerque, depots dos votos dos<br />

Mins. Relator, Rafael Mayer, Decio<br />

Miranda, Soares Munoz e Moretra<br />

Alves nAo conhecendo, e dos votes<br />

dos Mins. Cordeiro Guerra e Cimha<br />

Peixoto conhecendo e dando provimento<br />

ao recurso.<br />

PresIdencia do Senhor kUnistro<br />

Antonio Neder. Presentes a Sessile<br />

os Senhores Ministros Djaci FalcAo,<br />

Thompson Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

Lela° de Abreu, Cordeiro<br />

Guerra, Moretra Alves, Cunha Peixoto,<br />

Soares Mutloz, Decio Miranda<br />

e Rafael Mayer. Procurador-Geral<br />

da Repablica, Dr. Firmlno Ferreira<br />

Paz.<br />

Brasilia, 31 de malo de 1979 —<br />

119110 Francisco Marques, Secretario.<br />

R.T.J. — 94 199<br />

VOTO (VISTA)<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Discute-se a legitimidade,<br />

A face da Lel 5.194, de 24-12-<br />

66, da ResolucAo n? 194, de 22-5-70,<br />

do Conselho Federal de Engenharia,<br />

Arquitetura e Agronomia, que lnstitutu,<br />

sob pena de multa, a obrigatoriedade<br />

de regtstro no Conselho Regional,<br />

sob a forma de anotacilo de<br />

responsabllidade Monica, de todo<br />

contrato, escrito ou verbal, para<br />

prestacAo de seryico profissional referente<br />

A engenharia A arquitetura<br />

ou a agronomia.<br />

Os eminentes Ministros Cordeiro<br />

Guerra e Cunha Peixoto entendem<br />

que a questionada ResolucAo, expe-<br />

Ma a pretexto de regulamentar referida<br />

lel, dela exorbitou, criando<br />

obrigacAo e commando sancAo nela<br />

nAo contempladas nem autorizadas.<br />

Diversamente pensam os eminentes<br />

Ministros Leittio de Abreu, Rafael<br />

Mayer, Declo Miranda, Soares Munoz<br />

e Moreira Alves, para os quals a<br />

ResolucAo se conteve nos ilmites do<br />

poder regulamentar, nlio se tisnando<br />

de llegitimidade.<br />

Ponderei devidamente todos os argumentos,<br />

nem sempre colncidentes,<br />

dos llustres colegas que este° formando<br />

corrente majorititria. Mas<br />

niio me convene!, data venia, de os<br />

dever acolher.<br />

Li e reli todo o texto da Lei . n?<br />

5.194/66, e em nenhum de seus precellos<br />

encontrel norma que, a meu<br />

Mize, bastasse A legitimacio da exisancta<br />

Imposts pela ResolucAo<br />

puitnada. Sequer me possuf de que<br />

ela fosse necessaria ao desempenho<br />

da funcAo fiscalizadora atribulda aos<br />

Conselhos Federal e Regionals, para<br />

os qtildt3 conStitUisse — pare referirme<br />

ao argument° pragmAtleo do<br />

eminente Mintstro Deelo Miranda,<br />

que ma me sensibllizou dentre to-


200<br />

R.T.J. — 94<br />

dos os que convergem em seu favor<br />

— o Unto) melo de coibirem a prAtica<br />

do exercicio da proflssAo por<br />

mein de presta-nomes. Essa taref a,<br />

os Conselhos podem cumpri-la recolhendo<br />

informacOes junto As repartiodes<br />

administrativas incumbidas do<br />

licenciamento de obras e servicos,<br />

sem que precisem dtficultA-los e embaractr-los<br />

corn mats urn ato ritual de<br />

sufocante burocracia A brasileira, e<br />

onerA-los corn a cobranca de macs<br />

tuna taxa.<br />

Nos dias de hoje, estA legitimada a<br />

exigAncia, porque assim o quis o legislador.<br />

Legitimou-a, corn efeito, a<br />

Lei n? 6.496, de 7-12-77, que instituiu<br />

a «Anotacão de Responsabilidade<br />

TAcnica» na prestacAo de servicos<br />

de engenharia, arquitetura e agronomia,<br />

e cujo art. 1?, visivelmente mutuado<br />

ao mesmo artigo da Resoluck)<br />

n? 194/70, assim dives:<br />

(Art. 1?. Todo contrato, escrito<br />

ou verbal, para a execucAo de<br />

obras ou prestacAo de quaisquer<br />

servicos profissionais referentes A<br />

Engenharia, A Arqultetura e A<br />

Agronomia fica sujeito A «Anotactto<br />

de Responsabilidade Thcnica»<br />

(ART).»<br />

Depots da nova lei, nada resta a<br />

discutir. Neste caso, poram, os fatos<br />

se deram antes de sua vigencia.<br />

Data yenta, acompanho os votos<br />

dos eminentes Ministros Cordeiro<br />

Guerra e Cunha Peixoto.<br />

VOTO PRELIMINAR<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

Senhor Presidente. Peg° permissAo<br />

aos eminentes Ministros Cordeiro<br />

Guerra e Cunha Peixoto para acornpanhar<br />

os votos que nAo conhecem<br />

do recurso.<br />

Como eles, considero que a Resoluctio<br />

n? 194 que contain normas visando<br />

executar e regulamentar a Lei<br />

5.194, podia dispor como disp8s, pots<br />

operou corn as atribuicOes que the<br />

proporcionou a lei matriz, e sem<br />

qualquer abuso ou excesso.<br />

Pots a exigAncia das anotacOes dos<br />

contratos de obras a realizar pelas<br />

Empresas constituem requisito substancial<br />

para que melhor os Conselhos<br />

possam realizar seu mister de<br />

fiscallzacAo de como operam, de alta<br />

responsabllidade e relevAncia Obitca<br />

e social.<br />

Considero, pots, correta a orientacAo<br />

que tomaram os acOrdAos recorridos<br />

do Tribunal Federal de Recursos,<br />

inspirados no bem lancado parecer<br />

da Procuradoria da Reptrblica de<br />

Minas Gerais.<br />

Assim, de resto, jA decidiu o Plenttrio<br />

desta Corte, embora nem a ResolucAo<br />

nem a lei fossem as mesmas,<br />

mas identico o tema discutido.<br />

Refiro-me ao R.M.S. n? 16.422, Julgado<br />

ese stio plenArla de 3-3-67<br />

(RTJ, 41/247).<br />

E o meu voto. data yenta.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 81.846 RJ — Rel.: Min. Cordeiro<br />

Guerra. Recte.: InclUstrias Villares<br />

S/A (Adv.: J. Paulo Septilveda<br />

Pertence). Recdo.: Conselho Regional<br />

de Engenharia, Arquitetura e<br />

Agronomia. (CREA — 13? Rg.)<br />

(Adv.: Vicente Rosati).<br />

DecisAo: NAo conheceram do recurso,<br />

vencidos os Ministros Relator,<br />

Cunha Peixoto e Xavier de Albuquerque.<br />

PresidAncia do Senhor Ministro<br />

Antonio Neder. Presentes A SessAo<br />

os Senhores Ministros Thompson<br />

Flores, Xavier de Albuquerque, Leitit°<br />

de Abreu, Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves, Cunha Peixoto, Soares<br />

Mufioz, Decie Miranda e Rafael Mayer.<br />

— Ausente, justificadamente, o<br />

Sr. Ministro Djaci FalcAo. —<br />

Procurador-Geral da Repttbilea, Dr.<br />

Firmino Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 29 de junto de 1979 —<br />

Alberto Veronese Agular, SecretArlo.


R.T.J. — 94<br />

FtECURSO EXTRAORDINARIO IV 82.119 — RJ<br />

(Segundo Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro LeitAo de Abreu.<br />

Recorrente: GatedOnto Em preendimentos Industrials e Comercials S/A<br />

— Recorrido: Estado do Rio de Janeiro.<br />

A Decgo<br />

sapropriaclio.<br />

rggi improcedente<br />

Indenteacao. 1) AMordlio sem fundamentacAo.<br />

lit que o acOrdilo s<br />

supriu o da apelaclo. 2) Verba relativa da<br />

de declaractio<br />

o Bid<br />

embargo.<br />

nlo ventaada<br />

s de re<br />

(Samula 282).<br />

mploi. Questa°<br />

3) Mbar/IMOa de advogado. N8o aplicacAo da lei processual<br />

InoCorrancia de afronta I lei <strong>federal</strong>, climb:110 Me<br />

civil. 4)<br />

configured°.<br />

Rectal) extraordlnario de que a Turma nile conbeceu.<br />

5)<br />

ACORDA0<br />

Vistos, relatados e discutidos ester<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Stiprerno Tribunal<br />

Federal, na conformidade com a eta<br />

de julgamentos e notes taquigrAficase<br />

em nao conhecer do recurso, pot<br />

unanimidade de votos.<br />

Brasilia, 16 de outubro de 1979. —<br />

magi Falelo, Presidents — Leith°<br />

de Abreu, Relator.<br />

29.656 e Cri 3.000.000,00 pelo Lote 2<br />

do PAL 29.656, tudo somando<br />

12.000.000,00, neles compreendidas<br />

as benfeitorlas do Lote 1 do PAL<br />

27.795.<br />

«A Superintendancia Executiva<br />

de Projetos Especials — SEPE —<br />

promoveu uma desapropriacão<br />

contra CaledOnia Empreendimentos<br />

Industrials e Comercials S/A<br />

pars indtir-se na posse dos imOvels<br />

denominados Lote 1 do PAL 27.795<br />

e Lotes 1 e 2 do PAL 29.656.<br />

«Houve pericla j udicial,<br />

RELATORIO<br />

0 Sr . Mirdstro Lei th° de Abreu —<br />

Em processo de desapropriacão, foi<br />

encontrando-se nos autos os laudos<br />

proferido o seguinte acardao:<br />

resPectivos e, afinal, o Juiz senten-<br />

c!ou de as. 299 a 302,<br />

«Vistas, relatados e discutidos<br />

julgando proestes<br />

autos de Apelaclo Civel<br />

cedente, em parte, o pedldo e fi-<br />

xando a indenIzacao em Cri<br />

84.568, em que silo apelantes o 10.000.000,00.<br />

Juizo da 4! Vara da Fazenda POblica,<br />

a CaledOnia<br />

«Ha urn agravo no auto do pro-<br />

Empreendimentos cesso, interposto a f. 285 e tomado<br />

Industrials e Comercials S/A e a por termo a f. 287.<br />

Superintendancia Executiva de<br />

Projetos Especials — SEPE,<br />

«Nega-se-lhe provimento por<br />

unanimidade de votos. Nä° ha por<br />

«Acordam os Juizes da If Cams- que determinar a citacao de tercelra<br />

Civel do Tribunal de Justice do ros possiveis interessados no le-<br />

Estado da Guanabara, por unani- vantamento do preco da expropriamidade<br />

de votos, em negar provi- cao, levantamento esse que sera<br />

mento ao agravo no auto do pro- feito oportunamente, medlante a<br />

cesso e em dar, em parte, provi- prova plena da propriedade<br />

mento ao recurso da<br />

por<br />

expropriada parte da expropriada.<br />

para fixer a justa indenizaclio a<br />

ser paga em Cri 7.000.000,00 pepreco<br />

oferecido pelo Estado<br />

para<br />

lo Late 1 do PAL 27.795; Cri<br />

conseguir a Massa° Buttner<br />

2.000.000,00 pelo Lote 1 do PAL<br />

na posse nAo corresponds de nenhum<br />

modo so Justo valor da coisa<br />

201


202<br />

R.T.J. — 94<br />

expropriada, como demonstrou<br />

sem dAvida o laudo do perito do<br />

Juizo. Ainda o prOprio Estado da<br />

Guanabara, em estudo a que mandou<br />

proceder por intermAdio da Secretaria<br />

de Plenajamento e Coordenacäo<br />

Geral, teria estimado o<br />

valor do metro quadrado em Cr$<br />

5,00 (f. 66 do estudo), considerando<br />

assim a desaproPriacAo s6 dos terrenos,<br />

sem atentar para as benfeitorias<br />

acaso existentes. Este valor<br />

foi encontrado por uma comissAo<br />

nomeada pelo Estado e que se utilizou<br />

dos servicos do Dr. José Chipper,<br />

urn dos engenheiros do Estado,<br />

para fixacão do valor unitArio.<br />

Diz o pr6prio trabalho que o Dr.<br />

Chipper 6 perito em avaliacOes,<br />

corn exercicio junto A Procuradorla<br />

de DesapropriacOes.<br />

«A Area total desapropriada A de<br />

934.811,00m2, sendo que parte pertence<br />

a Caledönia, parte A Caixa<br />

Habitacional da Policia Militar do<br />

Estado da Guanabara e parte ao<br />

Clube dos Oficiais da Policia Mllitar<br />

e do Corpo de Bombeiros.<br />

«VA-se dai, que, pelo valor encontrado<br />

pela ComissAo do Estado<br />

que procedeu ao estudo do Projeto<br />

Especial do Aut6dromo da Barra,<br />

jA o preco oferecido na inicial nAo<br />

encontrava justificativa.<br />

«0 perito do Juizo, Dr. Fernando<br />

Clãuclio de Oliveira, no bem lancado<br />

trabalho de fls. 80 a 88, discriminou<br />

os diversos lotes expropriados,<br />

integrantes da PALS, diferentes,<br />

assim localizando-o s e<br />

descrevendo-os: (f. 81). «Os lotes<br />

objeto da presente Mao de DesapropriacAo,<br />

constituiam, primitivamente,<br />

em Ante° lote, corn<br />

934.811,00m2, do PA 22.664. Posteriormente<br />

o PA 22.664 foi desmembrado<br />

em 2 lotes 1 do PA 27.795 e<br />

lote 2 do PA 27.795, sendo o lote 1,<br />

destinado a Aut6dromo corn uma<br />

area de 467.765,00m2 e o lote 2, destinado<br />

a Conjunto Residential, corn<br />

uma area de 467.046,00m 2 Este lote<br />

2 foi, ainda, desmembrado em lote<br />

1 do PA 29.656, corn 162.087,50m2,<br />

de Area e lote 2 do PA 29.656 com<br />

304.958,50m2 de area.<br />

«InformOu o perito no seu laudo<br />

(f. 84) que, ante a diversidade de<br />

valores atribuidos aos terrenos expropriados,<br />

utilizou-se dos valores<br />

calculados pelo Departamento do<br />

PatrimOnio do Estado (fls. 39 a 40<br />

dos autos do processo 15.917/69),<br />

que determina para uma area na<br />

pr6pria peninsula de Itapeba, onde<br />

se localiza a Area expropriada, um<br />

valor de Cr$ 1.500.000,00 para<br />

146.280,00m2, isso em 30-12-69.<br />

«A f. 48, consta uma escritura lavrada<br />

no 23? Oficio de Notas — TabeliAo<br />

MArcio Braga — entre a CaleclOnia<br />

Empreendimentos Industrials<br />

e Comerciais S/A (exproia<br />

e a Caixa Habitacional da<br />

Polic olicia Militar do Estado da Guanabara,<br />

escritura na qual se convencionou<br />

o desmembramen to de<br />

uma area de 162.087,50m2, que foi<br />

alienada pelo preco certo e ajustado<br />

de Cr$ 1.458.000,00 (f. 49).<br />

«Conelui o perito, tendo em vis.<br />

to o arbitramento em funcão de<br />

urn indite, em razAo do aumento<br />

mAdio verificado no periodo de setembro<br />

de 1971 a setembro de 1972<br />

(f. 85), pela Macao do valor de<br />

Cr$ 16,97 por metro quadrado. E,<br />

aplicando esse valor As Areas expropriadas,<br />

teria encontrado: para<br />

o Lote 1 do PAL n1 27.795, corn<br />

467.765,00m2, Cr$ 7.937.972,05; para<br />

o Lote 1 do PAL n? 29.656, corn<br />

162.087,50m2, Cr$ 2.750.624,87; e para<br />

o Lote 2 do PAL n? 29.656, corn<br />

304.958,50m2, Cr$ 5.175.145,75, o que<br />

tudo importava em atribuir s6 ao<br />

terreno o valor de Cr$ 15.863.742,67.<br />

«Acentuou o perito — o que nAo<br />

foi observado pela sentenca — que<br />

apenas no Lote 1 do PAL, n? 27.795<br />

existem benfeitorias constituldas<br />

pelas pistas do Aut6dromo, das<br />

quais 4.160ms estao prontas e 1.200<br />

preparadas para receber a cober-


tura asfAltica. A essas benfeltorias<br />

atribuiu o perito o valor de Cr;<br />

2.414.807,55. «Da soma das benfeltorias,<br />

que — repita-se — so existern<br />

no Lote 1 do PAL n? 27.795,<br />

corn o valor do terreno conclul o<br />

perito por flxar o total de Cr;<br />

18.278.550,22 como o )unto valor a<br />

ser pago pela expropriacAo.<br />

«JA o assistente tecnico da expropriada,<br />

A f. 250, fixa o valor do<br />

Lote 1 do PAL n? 27.795 em Cr;<br />

14.032.950,00, A rank) de Cr; 30,00 o<br />

metro quadrado; o do Lote 1 do<br />

PAL n? 29.656 em CO; 4.862.625,00,<br />

atendendo ao mesmo valor unitArio;<br />

e o do Lote 2 do PAL n? 29.656<br />

em Cr; 9.148.755,00, atendendo,<br />

ao mesmo valor unitArlo de Cr;<br />

30,00 o metro quadrado. Dando As<br />

benfeltorlas o valor de Cr;<br />

2.896.768,70, obttm o valor total de<br />

Cr; 30.941.098,70. Entre os elementos<br />

Informativos da conduta do<br />

Juiz, dots hA nos autos que merecem<br />

atencflo pela responsabilidade<br />

de que se revestem. Urn, o do engenhetro<br />

Sérgio Magalhiles, por copia<br />

xerox de fls. 43 a 47, no qual se<br />

dA ao Lote 1 do PAL n? 27.795, Carrico<br />

que tern benfeltorlas, o valor de<br />

Cr; 7.623.385,00 e ao Lote 2, o valor<br />

de Cr; 3.870.480,00, sendo que, no<br />

que se refere ao Lote I, o terreno<br />

fol avallado em Cr; 6.548.710,00 e<br />

as benfeltorias em 1.074.675,00.<br />

40 outro elemento 6 a escritura<br />

de compra e venda consensual entre<br />

o CaledOnla e a Caixa Habitaclonal<br />

da Policia Militar do Estado<br />

da Guanabara, pela qual fol vendida<br />

uma Area de 162.000m2 por Cr;<br />

1.458.000,00 que da um valor exato<br />

de Cr; 9,00 por metro quadrado (f.<br />

49), alnda estipulado o pagamento<br />

em prestacties, conforme o instrumento<br />

respectivo, escritura lavrada<br />

em Notas do 23? OHS f. 51v.<br />

do Livro 1.722.<br />

«0 laudo do perito Sato Magaencontrado<br />

As fls. 43 e segulntes,<br />

tot celebrado a pedido da<br />

R.T.J. — 94<br />

203<br />

Firma Cantagalo Empreenclimentos<br />

e Participacdes S/A, que estaria,<br />

ao que se diz, interessada na<br />

compra de terrenos e benfeltorias<br />

situadas na peninsula de Itapeba,<br />

na Baixada de Jacarepagua (f. 41).<br />

Esse laudo fixa o valor das benfeltorlas<br />

em Cr; 1.074.675,00 e o «do<br />

terreno correspondente ao Lote 1<br />

do PAL n? 2 7.79 5 em Cr;<br />

6.548.710,00, o que tudo daria Cr;<br />

7.623.385,00. Para o Lote 2, que nalo<br />

possul benfeltorias, deu o perito 0<br />

valor de Cr; 3.870.460,00. Asstm; o<br />

valor total da Area seria de Cr;<br />

11.493.845,00 (f. 47). Para o Lote 1,<br />

corn benfeltorias, JA submetldo a<br />

obras de adaptacAo, o perito deu o<br />

valor de Cr; 14,00 por metro quadrado<br />

e, para o Lote 2, o valor de<br />

Ca 10,00 por metro quadrado.<br />

aNa verdade, mats se aproximam<br />

da realidade os valores constantes<br />

desse laudo; alhelo aos triteresses<br />

das partes conflitantes —<br />

SEPE e expropriada — laudo esse<br />

efetuado em 24 de jinilto de 1971 (f.<br />

47) fixando o valor total dos lotes e<br />

benfeltorias — estas s6 existentes<br />

no Lote 1 do Pa n? 27.795 (f. 83)<br />

conforme se apura do laudo do perito<br />

do Juizo. «Acordam os Juizes<br />

da 1? Camara Civel do Tribunal de<br />

Justica do Estado da Guanabara,<br />

por unanimidade, em dar provimento,<br />

em parte, ao recurs() para,<br />

admitlndo como base de cAlculo o<br />

valor unitArio atualizado de 1971<br />

para 1973, data do julgamento, de<br />

Cr; 15,00 o metro quadrado, flxar o<br />

montante da indenizacilo s6 para<br />

os terrenos em Cr; 12.493.000,00,<br />

arredondada a Area expropriada<br />

para 934.000rn2, incluindo as benfeltorias,<br />

s6 existentes no Lote 1 do<br />

PAL n? 27.795.<br />

Observa-se que o prOprio estudo<br />

oferecido pela expropriada de fls.<br />

114 a 144 dos autos, elaborado por<br />

peritos de sua confianca em 30-1-<br />

1973, proclama que a desapropriaclio<br />

dove abranger toda a Area (f.


204<br />

R.T.J. — 94<br />

142) por nao terem sido regularizedos<br />

pela Caleder-11a os desmembramentos<br />

projetados.<br />

Fica, assim; condenada a expropriada<br />

SEPE; a pagar pela area<br />

expropriada e benfeltorias Cr;<br />

12.000.000,00, sendo Cr; 7.000.000,00<br />

pelo Lote 1 do PAL n? 27.795, Cr;<br />

2.000.000,00, pelo lote 1 do PAL n?<br />

29.656 e Cr; 3.000.000,00 pelo Lote 2<br />

do PAL n? 29.656, bem como honorarlos<br />

de advogado a razao de 5%<br />

sobre a diferenca entre a oferta e o<br />

valor ora fixado corn juros de mora<br />

e custas processuais. N ao se<br />

computam desde ja juros compensaterios,<br />

pots a expropriante nao<br />

se imitiu na posse da area. Quando<br />

isso ocorrer, clever& o pagamento<br />

ser acrescido desses juros desde a<br />

imissao. Mt) ha, pots, juros cornpensaterios<br />

sobre o remanescente<br />

nä° levantavel desde logo. Pagara<br />

ainda a expropriante correcao monetaria<br />

a contar da data da sentenca<br />

ate o efetivo pagamento do preco<br />

(115. 433/439).<br />

CaleclOnia Empreendimentos Industrials<br />

e Comerciais S/A apresentou<br />

embargos de declaragao, aduzindo<br />

o seguinte:<br />

«0 acerclao de fls. 433/439, ap6s<br />

diversas consideracOes, houve por<br />

bem se adotar, para efeito de fixacao<br />

do valor da indenizacao do<br />

bem expropriado, o laudo de fls. 43<br />

e seguintes elaborado pelo engenheiro<br />

Sergio Magalhaes, por se<br />

aproximarem da realidade os valores<br />

dele constantes (f. 438).<br />

«Assim; admitiu a decisao embargada<br />

como base de calculo para<br />

a indenizacao, o valor united°<br />

atualizado de Cr5 15,00 para o metro<br />

quadrado, o que resulta numa<br />

cifra de Cr; 14.010.000,00 (quatorze<br />

mllhOes e dez mil cruzeiros) para<br />

os 934.000m2 desaproPriados. Essa<br />

nao fol, entretanto, a conclusao do<br />

acardao, que estabeleceu em Cr5<br />

12.000.000,00 (doze mi1/16es de cruzeiros)<br />

o preco da indenizacao, in-<br />

cluidas neste valor as benfeltorias<br />

exlstentes no Tote n? 1 do PAL n?<br />

27.795. E, evidentemente, nesta<br />

parte, contradithria a decisao de<br />

fls. 433/439, razao pela qual a expropriada<br />

opee os presentes embargos<br />

de declaracao para que,<br />

corrlgindo o erro material apontado,<br />

essa egregla Camara fixe em<br />

Cr; 14.010.000,00 o valor da indentzacao,<br />

se, para os terrenos, de<br />

acordo corn a prepria fundamentacao<br />

do acerclao » (fls. 441/442).<br />

Seus embargos foram assim recebidos:<br />

«Acordam os Juizes da 1? Camara<br />

Civet do Tribunal de Justica do<br />

Estado da Guanabara, por unanimidade<br />

de votos, em receber os<br />

embargos da empresa CaledOnia<br />

para esclarecer que, na verdade,<br />

terla existido contradicao entre a<br />

«exposictio contida no voto do relator<br />

e a conduato do actirdao embargado.<br />

«Esta contradicao se explica pelo<br />

fato de ter sido o voto do relator<br />

alterado por masa° do julgamento<br />

para se par de acordo com seus colegas,<br />

reduzindo o valor final da indenizacão.<br />

«Assim; a base de calculo constante<br />

do laudo do engenheiro Sergio<br />

Magalhaes deixou de prevalecer<br />

no acordo dos julgadores; que<br />

se harmonizaram na Mogan da indenizacao<br />

ern Cr; 12.000.000,00,<br />

sendo Cr; 7.000.000,00 pelo Lote 1<br />

do PAL n? 27.795; Cr; 2.000.000,00<br />

pelo Lote 1 do PAL n? 29.656 e Cr;<br />

3.000.000,00 pelo Lote 2 do PAL n?<br />

29.656.<br />

«Asslm, a condenagao foi afinal<br />

esta e rat) outra proposta pelo voto<br />

do relator, que se reconsiderou na<br />

prOpria assentada de julgamento<br />

para concordar corn sews colegas e<br />

fixar a indenizacao na soma acima<br />

referlda» (fls. 450/451).<br />

Donde o recurso extraordinerio, da<br />

CaledOnia, pelas Tetras a e d, recurso


contra cWo conhectmento ou provi-<br />

memo se manifesta<br />

expropriante a<br />

Geral da RepOblica.<br />

Procuradorta-<br />

fleava condenada a pagar<br />

pela area expropriada<br />

torlas Cr$<br />

e benfei-<br />

E o relatario.<br />

12.000.000,00, 7.000.000,00<br />

sendo Cr;<br />

pelo Lote 1 do PAL n?<br />

VOTO<br />

27.795, Ca 2.000.000,00 pelo Lote<br />

PAL n?<br />

1 do<br />

0 Sr. Mthistro Lento de Abreu 29.656 e Cr$ 3.000.000,00 pelo<br />

(Relator) — Argot a Lote 2 do PAL n ? 29.656. Correspon-<br />

recorrente, intcialmente,<br />

negativa de vigancia ao de lsso ao que consta da ata de Jul-<br />

dlsposto no paragrafo<br />

gamento;<br />

anico do arti-<br />

onde se asslnala: «No mego<br />

118 e no Item II do artigo 280 do rit°. Depots do Conselho, o Tribunal,<br />

por u<br />

C6digo de Processo Civil de 1939. nanimidade de votos, reformou<br />

a decisito de<br />

Mega: «Ao admitir taxativa e tex-<br />

1! InstAncla,<br />

dando<br />

em parte,<br />

provimento tualmente ter ocorrido contradicao<br />

ao 2? recurso para<br />

fixar a indenizaato (nlio tot dlvergencla, mas contradt-<br />

pelo Lote 1 do<br />

cao) entre os fundamentos<br />

PAL 27.795 e<br />

do acar- 7<br />

benfettorlas: Cr$<br />

dito (parte expositiva) e sua conclu- .000.000,00 (sete milhtles de cruzele<br />

determinando a prevalancia<br />

ros), pelo Lote 1 do PAL 29.656, Cr:<br />

2.000.000,00 da conclusao, sem correcao da parte<br />

(dols mllhOes de cruzel-<br />

expositiva, a declsAo<br />

ros), pelo lote 2 do PAL<br />

proferlda em<br />

29.656 —<br />

grau de embargos de declaraclio 3.000.000,00 (Wes milhiles de ouzel-<br />

(fls. 449/450 dos autos) relegou a<br />

ros, somando<br />

432).<br />

12.000.000,00D (f.<br />

obIlvio os dIspositivos legals lnvoca- Como se ye,<br />

dos, convertendo-se em urn julgado te, corn a<br />

houve Conselho e ['es-<br />

concordAncia sem tundamentagAo. Instate, mats<br />

do relator, se<br />

adiante: gASSim,<br />

dlminutu o preco da indenizacao, se a colenda Camalrera, ao julgar os necessarios<br />

ativarnente ao que resultarla da<br />

embargos<br />

de declaracao, entendeu que de-<br />

aplicacao da base de calculo de quirtverta<br />

prevalecer a<br />

ze cruzelros por metro<br />

importAncia de mo<br />

quadrado. a area<br />

Co-<br />

Cr: 12.000.000,00 (doze milhaes de<br />

desaproprtada media<br />

cruzeiros), deveria ter declarado os<br />

934.000m2 e como, de outra parte, o<br />

preco final da<br />

fatos que fundamentaram<br />

lndenizactio<br />

seu con-<br />

se flxava<br />

vencimento nesse senttdo».<br />

.000,00, 00. tern-se<br />

verdade, o aca<br />

, na<br />

A contradicAo increpada ao acardilo<br />

tot reconhecida corn o recebtmento<br />

dos embargos de declaracilo.<br />

No aresto dos embargos se atribul a<br />

contradicao a urn erro ou equivoco,<br />

pots que o Relator, embora se houvesse<br />

posto de acordo com seus agegas,<br />

pan reduzlr o valor final da indenizacao<br />

pare C4 12.000.000,00 (doze<br />

intlhaes de cruzeiros), delxou consignado<br />

ao redtgir a dectsilo, que a<br />

base de calculo do imOvel desapropriado<br />

era de Ca 15,00 o metro quadrado,<br />

incluidas as benfettortas.<br />

0 erro ou equlvoco residiu, na verdade,<br />

exclusivamente, na menato<br />

aos Cr: 15,00 por metro quadrado,<br />

pots se acha expresso na conclusao C<br />

do prOprto acardao embargado que a p<br />

0 rdao, em vez que<br />

de tomar<br />

por base os dltos Cr$ 15,00 por<br />

metro quadrado, adotou como base<br />

de calculo o preco de cerca de Cr;<br />

12,85 por metro quadrado.<br />

Esclarecido, pots, nos termos em<br />

que o rot, o acardAo embargado, nAo<br />

ha diner que este nito se acha fundamentado.<br />

Com os suprimentos<br />

aresto profertdo<br />

do<br />

nos embargos de declaracao,<br />

claras ficaram as razoes<br />

pelas qua's o acardAo embargado,<br />

ern vez de fixar a lndenizacão em<br />

1<br />

.010.000,K estimou-a em Cr:<br />

2.000.000,00. Residem tats razOes em<br />

que, em Conselho, nilo se acolheu,<br />

por inteiro, o laudo do Engenheiro<br />

Sergio MagalhAes, consoante era<br />

litho fazer, uma vez que, na apura-<br />

Ao do )unto valor do bem desaprortado<br />

0 julgador nAo esti.) adstrtto<br />

— 94<br />

205


206<br />

R.T.J. — 94<br />

aos laudos periciais. Ademais, o provimento ao apelo para que, nos<br />

acardäo nao repudia, inteiramente, o termos do artigo 285 do C6cligo de<br />

Processo Civil de 1939, se corrigisse<br />

laudo do Engenheiro Sergio Magalhaes,<br />

nem inteiramente o perfilha, inexatidão material da sentenca, depots<br />

salienta, unicamente, ser ele o vida a lapso manifesto. No caso verque<br />

mais se aproximav a da realida- tente, Liao ocorreu, contudo , como<br />

de (1. 438). Reduzindo o valor do mepenso<br />

ter sido demonstrado, inexatitro<br />

quadrado de qulnze cruzeiros,<br />

ciao material, pois a decisan recorripara<br />

cerca de treze cruzeiro s — da, deixou expresso que a indeniama<br />

is exatamente cerca de doze cru- cao se fixava em Cr; 12.000.000,00 .z 0<br />

lapso que ocorreu nao diz respeito,<br />

zeiros e oitenta e tits centavos —, a<br />

deciseo impugnad a nao se pode dizer<br />

portanto, ao montante da indenizadesfundamentada.<br />

Nao ocorreu,<br />

ea°, porem; a circunstancia de flat)<br />

ter o relator, por equivoco, ajustado<br />

diante disso, a alegada afronta aos<br />

dispositivos de ordem processual, a o preco do metro qua do a esse<br />

valor. 0 erro mater, ial draonfigurado c<br />

que se refere a recorrente.<br />

no caso, e corrigido pelo acOrdao dos<br />

Nä°<br />

houve violacão a tats precei- embargos, residiu, pois, unicamente<br />

tos,<br />

nem, igualmente, ao artigo 285 em se ter fixado o valor do metro qua-<br />

do estatuto processual civil drado em quinze cruzeiros e na p, code<br />

1939. Nesse se prescreve que as<br />

nexatidees materials, erros de es- mo decorrencia da decisao tomada<br />

em Conselho e traduzida claramente<br />

crita ou de calculo podem ser carno acOrdeo, em doze cruzeiros e oi-<br />

gidos por despacho, de °tido ou a re- tenta e tits centavos. Nao se verifiquerimento<br />

das partes. Ora, nada ca, pots, a pretendida identidade ou<br />

emntrario em co ao que al se estatul fol semelhanca entre o presente caso e<br />

sustentado pelo acOrdao recorrido. aquele a que se refere o R.E. 79.524,<br />

Pela letra d, improcede, tambem, de que fui relator. Corn este aditao<br />

recurso. Quanto a verba relativa a mento, reitero a conclusäo do meu<br />

frail An remPloi, trata-se de ques- voto: nä° conheco do recurso.<br />

do (Stanula 282). Quando da questa°<br />

se houvesse cuidado, ainda assim<br />

nä.° poderia ter exito a argilicão da<br />

recorrente, porquanto a jurisprude n<br />

ter) nao ventilada no acbrdao recorri-<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Deck) Miranda —<br />

-eta nao tem admitido o cOmpuio des- Sr. Presidente, o eminente Relator<br />

sa verba na indenizacäo (RE's. acaba de demonstrar, com grande<br />

85.209 e 86.607). No tocante a honorenos,<br />

a orienta gao predominante, no<br />

nitidez, que o caso nao comporta re-<br />

Supremo Tribunal, 6 que sac) eles recurso<br />

extraordina rio, seja pela tetra<br />

a, seja pela letra d da permissao<br />

gidos por lei especial, nao se aplicando<br />

os princlpios estabelecidos,<br />

constitutional. A queixa que faz o recorrente,<br />

em termos tao insistentes e<br />

quanta materia, pelo COdigo de aparentemente destinados a obter<br />

Processo Civil (RTJ 76/659 e 82/593). ressonancia, a uma queixa sobre o<br />

Ante o exposto, nao conheco do re- que constituiria injustica, ou melhor,<br />

curso.<br />

insuficiencia da indenizacao fixada<br />

Ja estava reddigido este voto quan- pelo ad:4'a° recorrido . Isso, porem,<br />

do, ontem a tarde, chegou ao meu nao autoriza a abertura da instancia<br />

Gabinete memorial da recorrente, extraordinaria.<br />

no qual est& junta capia do R.E.<br />

79.524 (RTJ 73/946), de que fui relator.<br />

No julgamento desse recurso, a Acompanho o voto do eminente<br />

Turma, acolbendo o meu voto, deu<br />

Relator, nao conhecendo o recurso.


EXTRATO DA ATA<br />

RE 82.119 — RJ — Rel.: Min. LeitAo<br />

de Abreu. Recte.: Caledonia Empreendimentos<br />

Industrials e Cornerdais<br />

S/A (Advs.: Frederico Jose Leite<br />

Gueiros, Hugo M6sca e Oscar Jose<br />

Muller). Recdo.: Estado do Rio de<br />

Janeiro (Adv.: Luiz Carlos Guimariles<br />

Castro).<br />

DecisAo: NAo conhecido, unAnime.<br />

Falou, pelo Recte.: o Dr. Oscar Jose<br />

Muller.<br />

R.T.J. — 94<br />

207<br />

Presicidncia do Sr. Ministro DJacl<br />

— Presentes a Sessflo os Srs.<br />

Ministros Leitão de Abreu, Moreira<br />

Alves e Decio Miranda. Ausente,<br />

Justificadamente, o Sr. Min. Cordeiro<br />

Guerra. Subprocurador-Geral<br />

da Republica, o Dr. Mauro Leite<br />

Soares.<br />

Brasilia, 16 de outubro de 1979 —<br />

Hello Francisco Marques, SecretArlo.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 82.996 — GO<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Soares Minioz<br />

Oliveira. Recorrente: Banco do Brasil S/A — Recorrido: Claudimiro Martins de<br />

G&Wla Rural Pignoraticia. Execucão Judicial.<br />

A multa instituida no art. 71 do<br />

gem caso de cobranca em<br />

Decreto-lei<br />

p<br />

n? 167, de 1967, incide<br />

minlstrativo» e, por via de rocesso contencioso ou nAo judicial ou<br />

consecitiencia,<br />

ad-<br />

ominacties da suc<br />

nAo se destlna a cobrir as<br />

co s<br />

umbência,<br />

judicial<br />

esp<br />

contencloso.<br />

ecificadamente inerentes ao proces-<br />

ACORDAO<br />

Vistos.<br />

Acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Primeira Turma,<br />

a unanimidade de votos, e na<br />

conformidade das notas taquigraftcas,<br />

conhecer do recurso e dar-lhe<br />

provimento.<br />

Brasilia, 27 de marco de 1979. —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Soares Munoz, Relator.<br />

RELATORIO<br />

O Sr. Ministro Soares Mtuloz: 0<br />

despacho do !lustre Desembargador<br />

Arinan de Loyola Fleury Presidente<br />

do Tribunal de Justice do Estado<br />

de Goias, admitiu o recurso extraordinftrio,<br />

assim expondo a especie:<br />

KO Banco do Brasil S.A., irresignado<br />

coin o actirdAo unAnime de<br />

fls. 41/43 da Turma da 2? CA-<br />

mare Civel, nos autos da apelacAo<br />

it 7.907 da comarca de Rio Verde,<br />

sendo apelante Claudimiro Martins<br />

de Oliveira e apelado, o atual recorrente<br />

— recorre, extraordinariamente,<br />

para o Egreglo Supremo<br />

Tribunal Federal, corn fundamento<br />

no art. 119, inciso III, Tetra<br />

d, da Const. Federal.<br />

O cabimento do recurs() nAo foi<br />

impugned°.<br />

Versam os presentes autos sobre<br />

acAo executive proposta pelo recorrente<br />

contra o recorrido, coin<br />

apelo no art. 298, nts VI e VIII do<br />

CPC 39 e no art. 71, do Dl n?<br />

167/67, para cobranca de debit°<br />

oritmdo de financiamento agricola.<br />

O Julgado recorrido reformou,<br />

em parte, a sentence de primeiro<br />

grau, de fls. 29/30, para incluir as<br />

custas devidas pelo recorrido ne<br />

multa de 10% clue The tot imposta,<br />

firmando, entflo, a tese de que


208<br />

R.T.J. — 94<br />

multa p<strong>revista</strong> pelo art. 71 do que corn eta !Tao se contemplam as<br />

Decreto-lei n9 167, de 14 de fevereicominacOes<br />

da sucumbencia, esro<br />

de 1967, destina-se a atender as pecificamente inerentes ao prodespesas<br />

judiciais e honorArio s ad- cesso contencioso e, como sao as<br />

custas judiciais honorarios de<br />

vocaticios”.<br />

Diz o recorrente que, assim deadvogado.<br />

cidindo, o acOrdan diver do se- Isto sto, o parecer e elo proguinte<br />

aresto do TAIX,/SP, Pleno,<br />

vimentopo do recurso, para p restabepublicado<br />

in Suplemento da Re- lecer a sentenca singular » (fls. 61<br />

vista dos Tribunals «RT — In- a 62).<br />

forma», n? 36, de 30.6.71, p. 33; «A E o relatOrio.<br />

multa instituida pelo art. 71 do<br />

VOTO<br />

Decreto-lei n9 167, de 1967, On<br />

guarda qualquer relacao corn a 0 Sr. Ministro Soares Mufloz (Re-<br />

p<strong>revista</strong> na de usura, tanto que 6<br />

exigivel mesmo na cobranc a ad- lator): 0 dissidio jurisprudential a<br />

manifesto. Decidiu o acerdao pa-<br />

ministrativa, nao se podendo assim<br />

afirmar que o destino dessa multa radigma, do Tribunal de Alcada<br />

seja o de fazer face a hanorArios».<br />

Civel do Estado de lo Paulo: «A<br />

multa instituida Saoart. 71 pe do<br />

0 dissidlo estA comProvado. Decreto-lei 167, de 1967, nao guarda<br />

Admitimos o recurso, no efeito qualquer relaeao corn a p<strong>revista</strong> na<br />

devolutivo, e determinamos que se de usura, tanto que 6 exigivel mesabra<br />

vista dos autos ao recorrente mo na cobranqa administrativa, nao<br />

ao recorrido, sucessivamente,<br />

para, no prazo legal, apresentarem<br />

suas razdes» (fls. 48 a 49).<br />

0 eminente Ministro Jose Fernandes<br />

Dantas, ao tempo 1?<br />

Subprocurador-Geral da Republica,<br />

opinou pelo provimento do recurso,<br />

para restabelecer a sentenca singular,<br />

em parecer assim fundamentado•<br />

«Ao entender do v. acerclao (fls.<br />

41/43), a multa estipulada pelo art.<br />

71 do Dl 167/67, releva a condenacao<br />

do devedor inadimplente nas<br />

custas e honorArios .mcessuais<br />

e demais comacoes, in-<br />

0 conhecimento do recurso se elusive a multa de 10% p<strong>revista</strong> no<br />

baste pela indicacao de preceden- art. 71 do mencionado Decreto-lei. E<br />

tes proferido em sentido contrArio deixou de condenar os executados<br />

pelo Tribunal de Alcada Civel de S. em honorArios de advogado, por nao<br />

Paulo ( RT 36/33).<br />

ser o caso (sic): «visto o Banco ter<br />

E conhecido, o seu provimento contrato para isso p ( 1. 29).<br />

parece certo, desde que, na vernatureza<br />

moratoria da-<br />

De conseguinte, a negative quanto<br />

dude, a aos honorarios advocaticio s tranquela<br />

multa ressalta do - texto, so- sitou em julgado, por ilk) ter o Ban-<br />

bre andar aplicA-la no caso de<br />

cob m<br />

se podendo assim afirmar que o estino<br />

dessa multa seja o de fazer face<br />

a honor6r1os» U. Entretanto, o<br />

acerdäo recorrido, provendo em parte<br />

a apelacgto do executado, determinou<br />

a inclusäo das custas na 6rbita<br />

da multa estabelecida no art. 71 do<br />

Decreto-lei 167, de 1967.<br />

A sentenca de primeiro grau, que<br />

transitou em julgado em relacao ao<br />

ora recorrente Banco do Brasil S.A.,<br />

que dela nao apelou, condenara o<br />

executada e sua mulher a pagarem o<br />

incipal da divida, custas proco<br />

do Brasil apelado, como jA sa-<br />

ranca em processo contencio- lientei. Cinge-se o recurso extraordiso<br />

ou nao.<br />

nario A inclusao das custas na mu -<br />

Dasse nitido carater penal da<br />

multa se extrai a compreens ao de ta. Sendo essa a imica questao a ser


eexaminada e discutida, nao tenho<br />

davidas em adotar, no caso a<br />

orientacao do acerdao paradigma.<br />

Estatuida a multa, inclusive para a<br />

hipbtese de cobranca em processo<br />

administrativo (art. 71 do Decretolei<br />

167/1967), b curial que ela nao se<br />

destina a cobrir os Onus da sucumbkncia<br />

instituida na COdigo de<br />

Processo Civil.<br />

Ante o exposto, conheco do recurso<br />

e the dou provimento, para restaurar<br />

a sentenca de primeira instancia.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 82.996 — GO — Rel.: Min. Soares<br />

Munoz. Recte.: Banco do Brasil<br />

S.A. (Advs.: Jose Sampaio de La-<br />

R.T.J. — 94<br />

209<br />

cerda, Afranio Adauto Viana Palhares<br />

e outros ). Recdo.: Claudimiro<br />

Martins de Oliveira (Adv.: Hilton<br />

Ferreira da Silva).<br />

Decisao: Conhecido e provido, nos<br />

termos do voto do Ministro Relator,<br />

unanime. Falou pelo Recte.: o Dr.<br />

Afranio Adauto Viana Palhares.<br />

Presidancia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a Sessao<br />

os Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto e Soares<br />

Munoz. Ausente justificadamente o<br />

Sr. Ministro Rafael Mayer. — 2?<br />

Subprocurador-Geral da Republica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 27 de marco de 1979. —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretario.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 83.432 - SP<br />

(Tribunal Plano)<br />

Relator para o acOrcitio: 0 Sr. 'Moistly Rafael Mayer.<br />

Reeorrente: Francisco Pinto Duarte FM° — Recorrida: Prefeitura Municipal<br />

de Americana.<br />

Recurso. Igualdade processual. Privllagio da Fazenda Pablica.<br />

Art. 74 do D1960/38. Nilo ofende o principle de isonomia, aplicAvel a<br />

igualdade das panes no processo, o conferimento de tratamento especial<br />

A Fazenda POblica, o que se faz em stencil° ao peso e superloridade<br />

dos setts Merman em jogo. ApllcacAo vetusta do preceito quesgonad°,<br />

sem impugnacao. ConsUtucionalidade do art. 74 do Dl 960/38.<br />

Recurso extraordinario nAo conhecido.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em SessAo<br />

Plena, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e notas taquigraficas,<br />

por =torts de votes, nib conhecer<br />

do recurso.<br />

Brasilia, 22 de marco de 1979.<br />

Antonio Neder, Presidente — Rafael<br />

Mayer, Relator para o AcOrdao.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Lena° de Abreu: —<br />

Esta a decisão recorrida:<br />

«Acordam, em Quinta Camara<br />

do Primeiro Tribunal de Alcada Civil,<br />

por votaclio unAnime, negar<br />

provimento.<br />

«Julgado procedente executivo<br />

fiscal, no valor de Cr$ 184,74, o<br />

executado interpOs agravo de peticão<br />

contra a sentenca. 0 recurso<br />

nao foi recebido pelo magistrado a<br />

quo, a vista do valor da causa.<br />

aDessa deliberacao foi extraida<br />

carta testemunhavel, na qual sustenta<br />

o recorrente que nao e<br />

possivel tratamento desigual em<br />

mattria recursal, pots se a Fazenda<br />

pode recorrer (e ha em seu fa-


210<br />

R.T.J. — 94<br />

vor recurso de oficio), o duplo grau<br />

de jurisdicAo devia ser assegurado<br />

por canon constitucional.<br />

«A argumentacAo, posto que sedutora,<br />

improcede. A limitacäo recursal,<br />

inclusive pelo C6digo de<br />

Processo Civil de 1939, sempre<br />

existiu, mAxime em causas de valor<br />

exiguo, as chamadas de alcada.<br />

«0 artigo 74 do Decreto-lei n?<br />

960/38, corn a redacAo dada<br />

pelo Decreto-lei n? 479/69,<br />

limitou o recurso ordinArio<br />

apenas em favor da Fazenda POblica.<br />

NAo ofende o principio de<br />

isonomia, pois este consiste em<br />

tratar igualmente os iguais e desigualmente<br />

os desiguais. E favores<br />

a Fazenda existem, dada a<br />

complexidade da mAquina administrativa<br />

estatal, que não permite<br />

maior vigilAncia de seus interesses<br />

(que sAo os da coletividade), como<br />

ao particular que s6 demanda episodicamente.<br />

Veja-se, v.g., a questão<br />

dos prazos.<br />

«A invocacAo ao julgado da Rev.<br />

Tribs., vol. 411, nAo beneficia. Nele<br />

se cuidava da hip6tese de apneacAo<br />

do artigo 839, do C6digo de<br />

Processo Civil (de 1939), previsto 0<br />

recurso de embargos ao prOprio<br />

Juiz, o que não acontece nos executivos<br />

fiscais, que tiveram previsAo<br />

recursal prOpria e nAo coincidente<br />

corn a do C6digo de Processo.<br />

«Nem vale argumentar, por remate,<br />

corn o vigente C6digo de<br />

1974, pois o agravo foi interposto<br />

regularmente antes de sua vigëncia,<br />

verificando-se o efeito residual<br />

da lei revogada.» (fls. 45-46).<br />

Interposto recurso extraordinArio,<br />

que subiu gracas a provimento de<br />

agravo, oficiou a Procuradoria-Geral<br />

da RepUblica, pela Procuradora<br />

Cecilia de Cerqueira Leite Zarur:<br />

«Em executivo fiscal julgado<br />

procedente, interp6s o • executado<br />

agravo de peticAo, nAo recebido<br />

pelo prolator da sentenca tendo em<br />

vista o valor da causa (Cr; 184,74),<br />

isto sob a egide do artigo 74 do<br />

Decreto-lei 960/38, corn a redacão<br />

dada pelo Decreto-lei 474, de<br />

19.11.1969.<br />

«Desse despacho foi extraida<br />

carta testemunhAvel, onde se pleb<br />

teou, sob invocacAo do principio de<br />

isonomia, tratamento igual ao da<br />

Fazenda Pilblica, ern materia recursal<br />

«Negacio provimento a mesma,<br />

lot interposto recurso extraordinario,<br />

pela letra a do permissivo<br />

constitucional, o qual subiu por via<br />

de agravo.<br />

«DispOe o artigo 74 do Decretolei<br />

n? 960, corn a redacAo dada pelo<br />

Decreto-lei 474: Nas causas para<br />

cobranca da divida ativa de valor<br />

inferior a dez (10) vezes o maior<br />

salArio-minimo vigente no pais, somente<br />

haverA recurso ordinArio se<br />

a Fazenda for vencida, no todo ou<br />

em parte.<br />

«Emerge desse texto que o recurso<br />

ordinArio: limita-se a Fazenda<br />

Pfibllca, que reflete o bem comum<br />

o qual e<br />

«mais alto que o bem particular do<br />

individuo e sempre 0 absorve» (f.<br />

58).<br />

«Ex poslUs, somas pelo nAo conhecimento<br />

do apelo» (fls. 78-79).<br />

2 o relatOrlo.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Leitito de Abreu<br />

(Relator) Contende-se a respeito do<br />

disposto no artigo 74 do Decreto-lei<br />

n? 960, de 17.12.38, com a redacAo<br />

dada pelo Decreto-lei n? 474, de<br />

19.02.69. Preceitua-se nessa norma<br />

legal: «Nas causas para a cobranca<br />

da divida ativa de valor inferior a<br />

dez vezes o maior salArio-minimo vigente<br />

no pais, somente haverA recurso<br />

ordinArio se a Fazenda for vencida,<br />

no todo ou em parte».<br />

Na hip6tese, a Fazenda foi vencida<br />

em parte, donde recurso de oficio,<br />

nessa parte, pelo magistrado sentenciante.<br />

Recorreu o contribuinte


quanto A parte em que salu vencido,<br />

porém o recurso acabou por nAo ser<br />

acolhido pelo Tribunal de Alcada Civil,<br />

sob o fundamento de que a regra<br />

legal supratranscrita nAo dA recurso<br />

ordinarto ao executado nos executivos<br />

fiscals de valor inferior a 10 vezes<br />

o salario-minimo, caso dos autos.<br />

Causa de valor inferior A alcada,<br />

argul-se, no extraordinArio, ofensa<br />

ao postulado da isonomia, visto como,<br />

na hipatese, se interpretou de<br />

forma discriminataria a regra do artigo<br />

74, negando-se como se negou,<br />

recurso ordinArio ao contribuinte, ao<br />

mesmo tempo que a Fazenda se garantla<br />

o recurso de off Mo.<br />

Responde-se que a Fazenda e a<br />

Fazenda, nAo podendo ao interesse<br />

dela, que 6 =bile°, nivelar-se o kiteresse,<br />

meramente privado, do contri-<br />

Se. Logo, legitimo, na especie, o<br />

privileglo corn que se forra o interesse<br />

public°, privileglo que nAo 6 inadito,<br />

pots =contra, no campo process<br />

sUa1, slmlIes Mmterosos.<br />

E inegAvel que o interesse pablico<br />

prefere ao interesse privado e que,<br />

em nome dessa preferancia, a ordem<br />

processual culda, em certos pontos,<br />

de oferecer a Fazenda Pablica posicAo<br />

mats favorecida do que a p<strong>revista</strong>,<br />

em situacAo analogs, para o comum<br />

das partes. Tait; sAo os casos<br />

do recurso de oftdo, dos prazos processuais,<br />

dos honorarios de advogados,<br />

alan de outros, sem falar de regattas<br />

de que goza, em outros campos<br />

jurldicos, como a concernente A<br />

prescricAo.<br />

Em nenhuma dessas hipateses se<br />

trava, no entanto, o iter processal do<br />

contribuinte. Se a prerrogativa, assegurada<br />

a Fazenda, confere, na<br />

contends processual, posiclio favoreclda,<br />

favor nAo 6 tal que =peva a<br />

outra parte de prosseguir no<br />

exercicio do seu &reit° subjetivo de<br />

acAo. Quanto ao prazo prescricional,<br />

pole este encobrir, em tempo mats<br />

curto, a pretensAo que assista ao sujeito<br />

privado. Entretanto, a este e<br />

dado =pea', por medlda posta A<br />

R.T.J. — 94<br />

211<br />

sua disposicAo pela ordem Juridica,<br />

que a prescrivao se consume. Peculiar<br />

se mostra, todavia, o carAter do<br />

privilégio que, pelo artigo 74 do<br />

Decreto-lel 860, se atribui A Fazenda<br />

Pablica. Enquanto se garante a este<br />

recurso A instAncla superior, quanto<br />

a dividas inferiores a determinado<br />

teto, igual recurso se recusa ao contribuinte,<br />

quando vencido, noltodo ou<br />

em parte. Mutlla-se, destarte, em<br />

prejuizo do devedor, a sua pretensAo<br />

A tutela jurtdica, ao passo que ate se<br />

reforca essa pretensflo em prol do<br />

credor, cujo interesse JA era, alias,<br />

protegido pelo recurso de Mid°.<br />

Retrucar-se-a que nada garante o<br />

segundo grau de jurisdicAo, podendo<br />

a lei NM consagrA-lo, quando o entender<br />

conveniente. NAo 6 isso, porem,<br />

que se nega: o que se repele e a<br />

faculdade de se recusar acesso a<br />

uma das partes ao grau superior de<br />

jurisdicAo e de se garantir Ms° A outra<br />

parte. Nada haveria a reparar,<br />

por conseguinte, se o credor e o devector<br />

fiscal se sujeltassem ambos a<br />

um s6 grau de jurisdicAo. E incivll,<br />

contudo, a meu juizo, proporcionar o<br />

duplo grau de jurisdicao ao &co e<br />

tolher esse recurso ao contribuinte.<br />

Pouco importa que o valor da divida,<br />

quanto ao qual se priva o contribuinte<br />

de recurso, seja pequeno. Primetro,<br />

porque, se esse valor e minim°<br />

para o contribuinte, minim() sea,<br />

ate corn mats razAo, para o fisco.<br />

Segundo, porque o que se acha em<br />

jogo 6, acima de tudo, quest= print-<br />

Aceito o principio de<br />

que, em nome do interesse pOblico, e<br />

licito estabelecer privilégio da casta<br />

do institukto no falado artigo 74, liclto<br />

sera elevar, indefinidamente, ate<br />

corn maior proven° para o interesse<br />

fiscal, o limite ate onde o contribuinte,<br />

vencido em primeiro grau, nAo<br />

poderA manifestar a sua inconformi-<br />

Cade. Juridicamente possivel seria,<br />

praticamente, destarte, debcar o contribuinte<br />

a mingua de recurso a instAncia<br />

superior, em face do poder


212<br />

R.T.J. — 94<br />

fiscal, sempre protegido, de seu la- autanoma em relacAo aquela que se<br />

do, pelo duplo grau de jurisdicão. vinha exercitando no processo<br />

(Barbosa Moreira, Comentdrios, Fo-<br />

Flagrante se revela, pois, na esp6cie,<br />

a ofensa ao principio constituciorense,<br />

V, p. 220). De acordo, pois,<br />

nal da isonomia. Dir-se-a que fisco e<br />

corn essa orientacao, vedar o recurcontribuinte<br />

nap sAo iguais. Na ver- so, quando a regra e. a do duplo grau<br />

de jurisdicao, importa negar direito<br />

dade nem o sAo, nem a igualdade ab-<br />

soluta, thra da que pode estabelecerde<br />

acao, o que equivale, na medida<br />

se acerca de entes de razao, 6 deste<br />

em que assim se proceda, em ex-<br />

clulr da apreciacAo do poder judicidmundo,<br />

isto 6, do mundo fenomanico.<br />

A igualdade, na ordem empirica, se<br />

rio lesao de direito que, pelo recurso,<br />

obtEm, via de regra, de modo artifise<br />

pretenda rep arar. Pode ser, no<br />

vial, corn abstracao de particularidaentanto,<br />

como entende a maior parte<br />

da doutrina, que o poder de recorrer<br />

des que slngularizam os seres con-<br />

frontados. Tomam-se, por isso, para<br />

constltua simples aspecto, elemento<br />

ou modalidade do pr6prio direito de<br />

o estabeleclmento de equacAo entre<br />

os seres, que assim se relacionam,<br />

acao exercido no processo (Barbosa<br />

notas denotadoras da paridade,<br />

Morel ra, ob. e loc.). Tal concepcao<br />

desprezando-se as que marquem disnao<br />

altera, porem, os termos da<br />

semelhancas. Na hip6tese em exaquesta°,<br />

pois, castrando-se o aludido<br />

me, podem ser dispares, quanto se<br />

poder, quando este se assegure a ouqueira,<br />

fisco e contribuinte. Entretro<br />

parte, desfigura-se, pela amputatanto,<br />

isso nao impede que, como su-<br />

Cao de urn dos seus c omponentes, 0<br />

jeitos processuais, no pertinente a<br />

due process of law, sonegando-se,<br />

recursos, sejam havidos, necessaria-<br />

Pols, - insist° -, ao judicidrio, ern bemente,<br />

como parificados ou equiponeficio<br />

do fisco, a apreciacao da le-<br />

sac, de direito, argtiida pelo contrilentes.<br />

buinte. Configura-se, conseguinte-<br />

Identicas,<br />

como hdo de ser, as mente, na es/36de, contrariedade,<br />

mascaras Juridical do contribuinte e<br />

do fisco no que toca a via recursal,<br />

assim ao § 1?, como ao § f!, do artigo<br />

briga corn , essa condicAo parithria<br />

153 da Constituicdo Federal.<br />

dar recurso a urn, o fisco, e arreba- Cumpre ressaltar que, no caso vertar<br />

esse direito ao outro, o contri- tente, mats patente se faz a discrimibuinte,<br />

cujo status sublectionls, em nacAo, de que se queixa o recorrenrazao<br />

do qual the pesa a carga tribu- te, quando 6 certo que, tendo o fisco<br />

tdria, ainda mats se agrava corn 0 sido vencido em parte, nesta parte o<br />

arrancar-se-lhe titulo para provocar, recurso, em seu favor, nao s6 6 f acorn<br />

amplidAo, a censura judicidria cultativo, mas ainda obrigathrio, ensobre<br />

a legitimidade do Gnus que se quanto que ao contribuinte, acerca<br />

lhe imp6e.<br />

da parte em que 6 vencido, se cassa<br />

NA° 6 s6 o principio da igualdade<br />

o exercicio do poder de recorrer.<br />

que, por essa forma, se quebranta.<br />

Desse modo, ao mesmo tempo que a<br />

Nega-se vigéncia, também, por esse<br />

decisAo contrdria, no que entende<br />

corn o contribuinte, faz coisa julga-<br />

ditado legislativo, a regra que assegura,<br />

a quem quer que seja, ser ouda,<br />

isso nao sucede com o fisco, a<br />

vido, sob o devldo processo legal,<br />

quem se faculta buscar melhor sorquando<br />

alegue, perante o judicidrio,<br />

te, em segundo grau. Quadra, perfeilesAo<br />

de direito. Pode argumentar-se<br />

tamente, aqui, a lick, de Gabriel Reque<br />

o contribuinte, na especie, foi<br />

zende Filho, quando ensina: «0<br />

ouvido em primeiro gran, onde o seu<br />

principio juridic° do processo impbe<br />

caso foi liquidado. Porem, o recurso,<br />

'Silo° tratamento aos litigantes.<br />

segundo prestigiosa corrente doutri-<br />

Autor e reu devem ter, em juizo, os<br />

naria, constitui uma acao distinta e<br />

mesmos direitos, as mesmas garan-


R.T.J. — 94 213<br />

ties, assim como os mesmos devehones Interesses da Administracao,<br />

res. Se o objetivo do processo 6 a considerar-se inconstitucional o dis-<br />

atuagão da lei no caso concreto, mepositivo sob color de tratamento dediante<br />

a descoberta da verdade, nao sigual, quando na verdade sae desi-<br />

poderla o mesmo ser atingido se se guals as partes em causa. Alias,<br />

concedesse tratamento deslgual As trata-se de dispositivo de prance anpartes.<br />

Que garantla de justice have- Uquisslma, e sem impugnacao, daria<br />

se uma das partes dispusesse de tando de 1938, o que s6 por si desa-<br />

malores recursos, de mats beneficios conselharia o equacionamento em<br />

e garantias que a outra? Repugna, termos de inconstituctonalidade.<br />

portanto, A doutrina processual conferir<br />

privilagio ou posicao especial a<br />

o meu voto.<br />

quem quer que seja em juizo. Todos<br />

VOTO<br />

silo 'gnats perante a let, afirmam as<br />

Constituicaes dos povos civilizados» 0 Sr. Ministro Declo Miranda: Sr.<br />

(Curso de DIrelto Processual Civil, Presidente, reportando-me ao voto<br />

Saraiva, v. I, 1962, p. 224).<br />

que proferi, em caso anterior, no RE<br />

n? 82.594, no qual concordei corn o<br />

E provavel, a julgar pela jurispru- vote do eminente Relator,<br />

dancia que se amontoa contra o meu<br />

Sr. Ministro<br />

Leith° de Abreu, acompartho S.<br />

ponto de vista, que me nao assista Exa. o Sr. Ministro Relator.<br />

rail°. Foram, se estou em erro,<br />

so nil° me acho convencido; e, como<br />

VOTO<br />

por dever de oficio, devo voter de 0 Sr. Ministro Soares Mufioz: Se-<br />

acordo corn o meu convencimento, nhor Presidente, o voto do eminente<br />

conheco do recurso e the dou provi- Ministro Leta° de Abreu 6 impresmento<br />

para declarer inconstitucional sionante na sua cerrada fundamen-<br />

o artigo 74 do Decreto-lei n? 960, de tacit°. Mas, ease disposttivo, que se<br />

17.12.1938, corn a redacilo dada pelo pretende declarer inconstitucional,<br />

Decreto-lel n? 474, de 19.02.1969. esti em vigancia hã mals de quaren-<br />

VOTO<br />

ta anos e, atualmente, ja se ache revogado.<br />

NAo vejo, data venla, maior<br />

O Sr. Ministro Rafael Mayer: Sr. alcance em deciararmos inconstitu-<br />

Presidente, tambtm nao conheco, de clonal uma lei, que vigorou durante<br />

acordo corn o voto divergente do quarenta anos, depots que ela foi re-<br />

eminente Ministro Cordeiro Guerra. vogada. t evidente que ha um inte-<br />

Quern afirmar que segul atentamenresse pare o caso especifico. Mas<br />

te as brilhantes razaes do voto do nao sob outro prisma mass relevan-<br />

eminente Ministro Leith° de Abreu, te, como soem ser as declaracites de<br />

entretanto, antes mesmo de ouvi-las, inconstituctonalidade proferidas pelo<br />

segula entendimento diverse. Supremo Tribunal Federal. No caso<br />

Por antigo convencimento, crelo anterior, votes no sentido de acornpa-<br />

que a sttpremacia da administracâo nhar o eminente Relator, porque<br />

ptrbllca e do poder pitblico em rela- male do que o principlo da agualdaclio<br />

aos administrados tern diversas de, o processo, principalmente o pro-<br />

manifestaciies e estas que se exercess° civil, 6 informed° pelo<br />

cem nos procedhnentos Judiciais principio do contraditOrio, que dA As<br />

fluem do mesmo principlo. Na ver- partes iguals oportunidades.<br />

dade, nao se poderla, somente neste Em verdade, perrnitlndo-se<br />

auto, quando tantas silo as espécies<br />

o recurso<br />

a Fazenda e se the negando ao<br />

em que se criam privlleglos para a particular, este-se contrariando esse<br />

Fazenda Pirbilea, em atenctio A su- principio. Mu ha circunstancias pepremacla<br />

do poder Ohne° em relacao<br />

aos administrados, e aos supetullares<br />

que, na hipatese das execucOes<br />

fiscais, me fazem considerar


214<br />

R.T.J. — 94<br />

que a posicAo do exeqtiente, a União,<br />

e do executado nAo sac) iguais. 0 Fisco<br />

cobra, freqUentemente, pequenas<br />

importAncias em meitiplos executivos.<br />

Essas pequenas quantias sAo de<br />

mutt() pouco significado, no sentido<br />

econ6mIco, para o executado, mas<br />

para o Fisco, As vezes, totalizam somas<br />

vultosas, se considerados os debitos<br />

cobrados nas diversas execuc6es,<br />

corn apreciavels repercuss6es<br />

na receita. Talvez seja nessa eventualidade<br />

que se tenha inspirado 0<br />

art. 74 do Decreto-lei n? 960, de 1938.<br />

Mas, como se disse, o que mats me<br />

leva a deixar de declarar a Inconstitucionalidade<br />

6 a circunstAncia de<br />

que nAo vejo oportunidade nessa decisão,<br />

em face do preceito legal ter<br />

vigorado durante macs de quarenta<br />

anos e, de no momento, achar-se revogado.<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Tenho, também, uma<br />

ponderacAo. NA° ha, realmente, essa<br />

utilidade e isso me acudiu. Mas no<br />

caso dos autos, haveria a utilldade<br />

de livrar o recorrente de urn imposto<br />

que o Supremo Tribunal Federal declarou<br />

inconstitucional. Ou nes o f azemos<br />

agora, neste feito, ou ele fleare<br />

condenado, irremediavelmente, a<br />

pagar.<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves: V.<br />

Exa. me permitiria: Nes precisamos<br />

atentar para o seguinte: quern excluiu<br />

o recurso extraordinario nAo<br />

foi o art. 74, foi urn ato institucional,<br />

corn force, portanto, de texto constitucional.<br />

Acho dificll declararmos inconstitucional<br />

um texto de lei que<br />

continua no mesmo teor primitivo,<br />

que era constitucional quando havia<br />

o recurso extraordinario, e porque<br />

urn outro texto de force constitucional<br />

tirou o recurso extraordinario.<br />

Este Ultimo texto, entAo, 6 que terra<br />

violado o principio do contraditerio,<br />

nAo o art. 74, que continua corn a<br />

mesma redacão anterior: «Nas causas<br />

para cobranca da divida ativa de<br />

valor inferior a dez vezes o salariominim°<br />

vigente, mas somente have-<br />

ra o recurso extraordinario se a Fazenda<br />

for vencida no todo ou em parte».<br />

Ora, se veto o ato institucional e<br />

acabou com o recurso extraordinario<br />

nestes casos, entAo quem retirou o<br />

recurso nao fol essa lei, fot o ato institucional.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cunha Peixoto: Sr.<br />

Presidente, ja no RE 82.594, acompathei<br />

o eminente Ministro Leila° de<br />

Abreu. NA° vejo motivo para modiflcar<br />

o meu ponto de vista, principalmente<br />

depots do brilhante voto que<br />

S. Exa. acaba de pronunciar, e o aditivo<br />

trazido A colacAo, no julgamento<br />

passado, pelo eminente Ministro Xavier<br />

de Albuquerque.<br />

Ora, a constituicão declare que se<br />

pode se declarer a inconstitucionalidade<br />

de uma lei, por maioria absolute<br />

dos Tribunals. Logo, se nes nAo<br />

admItirmos, em caso de inconstitucionalidade,<br />

recurso para nenhum<br />

<strong>tribunal</strong>, flea o Juiz de it InstAncia<br />

senhor absoluto dessa matéria.<br />

De modo que, data venia dos que<br />

votaram em contrario, acompanho 0<br />

eminente Ministro Leith° de Abreu.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves: Sr.<br />

Presidente, a minha opiniâo Ja C conhecida<br />

do Tribunal. Considero que<br />

[IA° ha violacAo do principio de isonomia,<br />

tendo em vista a circunstAncia<br />

de que, a meu ver, nä° ocorre,<br />

no caso, a lgualdade de situacAo das<br />

partes, que 6 pressuposto necessario<br />

para que esse principlo se aplique.<br />

Assim, e, com a devida vania do<br />

eminente Ministro Leith° de Abreu e<br />

dos que o acompanham, mantenho a<br />

orientacão, que tradicionalmente<br />

vem sendo seguida no nosso Direito,<br />

de nAo vislumbrar inconstitucionalidade<br />

nesse dispositivo, em vigor ha<br />

muitos anos. NA° conheco do presente<br />

recurso.


VOTO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Sr. Presidente, as consideracdes<br />

feitas pelos eminentes Colegas<br />

mostram que prosperou e produziu<br />

frutos a malicia do fisco. Este<br />

recorrente — isso eu verifiquel naquele<br />

caso de que petit vista — estava<br />

a ser acionado pelo fisco municipal<br />

em cento e tantos executivos autOnomos,<br />

e lutou bravamente para<br />

que, de acordo corn a lei, fossem esses<br />

executivos agrupados em autos<br />

anicos, mas nao conseguiu. E porque<br />

nao conseguiu, todos cairam na regra<br />

da alcada. Vat ele ficar condenado<br />

a pager o inmost° ern moldes que<br />

o Supremo Tribunal Federal Hi declarou<br />

inconstituclonais?<br />

Corn esta observacao, reporto-me<br />

ao voto que proferi no Recurso Extraordlnario<br />

82.594, para conhecer do<br />

recurso e the der provimento.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

Senhor Presidente.<br />

A especie a Irma gamea daquela<br />

que originou o RE n? 82.594, do qual<br />

sou relator. Seu julgamento iniciouse<br />

na 2! Turma e foi rernetido ao<br />

Plenario porque, apOs vista dos autos,<br />

inclinou-se o eminente Ministro<br />

Lent, de Abreu, pela declaracao de<br />

inconstitucionalidade do art. 74 do<br />

D.L. n? 960/38, com a redacao que<br />

the emprestou o D.L. n? 474/69.<br />

Aqui mantive o meu voto, desprezando<br />

a argaicAo ern longo voto.<br />

Dlssentiu o eminente Ministro Leitlio<br />

de Abreu em longo e erudito voto.<br />

Peco venia a S. Exa., e aos que o<br />

acompanham, para reportar-me ao<br />

voto em questa°, que tenho aqui como<br />

integrado atraves de capla que o<br />

seguira.<br />

Permito-me, porem, ligeiras consideracOes,<br />

as quaffs, em verdade, estAo<br />

implicitas no voto em referencia.<br />

Parece-me que a °nice hipatese na<br />

qual, validamente, poderia ser reco-<br />

R.T.J. — 94 215<br />

nhecida a inconstitucionalidade, seria<br />

por contrariar o art. 153, 1?, da<br />

Constituicao, preceito tmico invocado<br />

na peticao recursal.<br />

Mas elude que se queira invocar o<br />

I 36 daquele artigo, o que Paco<br />

plesmente para argumentar, pots<br />

nao integrou a peticao de recurso,<br />

nao traria qualquer prestimo, pots,<br />

como o 1? refere-se a direito individual,<br />

pots s6 de this direitos cuida o<br />

capitulo da Carta Maior onde se insere.<br />

Razdes filos6ficas outras nao<br />

teriarn o alcance de invalidar precelto<br />

de lei, mas, apenas, sua inconstituclonalidade,<br />

como 6 sabido.<br />

Preocupou-se, 6 certo, o eminente<br />

Ministro Xavier de Albuquerque com<br />

a situacao do contribuinte que, privado<br />

do recurso, enquanto dele goza-<br />

Ha a Fazenda, Maria °bilged° a pagar<br />

o que considera indevido.<br />

Parece-me que remedios outros o<br />

podern socorrer. A acao rescisoria<br />

onde inocorre a discriminacao, ou<br />

restituicao do indebito quando teria<br />

assegurado ate a correcao monetAria.<br />

Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Mas nao he indébito,<br />

eminente Ministro. HA sentence judicial<br />

transitada em julgado.<br />

Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

Tem razao V. Exa. no pertinente<br />

restituicao como acao ordineria.<br />

Mas nada obsta o use de rescisOria<br />

coin o rnesmo prop6sito.<br />

E o que queria acrescentar.<br />

Assim, corn a yenta dos votos em<br />

contrerio, nao conheco do recurso.<br />

como voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

hE 83.432 — SP — Rel.: Min. Leitao<br />

de Abreu. Recte.: Francisco Pinto<br />

Duarte Filho (Adv.: TheotOnio NegrAo).<br />

Recda.: Prefeftura Municipal<br />

de Americana (Advs.: Milton Alcides<br />

de Gaspari e outro).<br />

Decistio: Pediu vista o Ministro<br />

Djaci Falcao, ap6s os votos dos Mi-


216<br />

nistros Relator: Decio Miranda, Cunha<br />

Peixoto e Xavier de Albuquerque<br />

conhecendo e dando provimento,<br />

para declarar a inconstitucionalidade<br />

do art. 74 do Decreto-lei n? 960, de<br />

17.12.38, e dos votos dos Ministros<br />

Rafael Mayer, Soares Mulioz, Moretra<br />

Alves, Cordeiro Guerra e Thompson<br />

Flores ndo conhecendo do Recurso.<br />

PresidAncia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes a Sessdo os<br />

Srs. Ministros Djaci Paled°, Thompson<br />

Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

Lend° de Abreu, Cordeiro Guerra,<br />

Moreira Alves, Cunha Peixoto, Soares<br />

Munoz, Decto Miranda e Rafael<br />

Mayer. — Procurador-Geral da Repablica,<br />

o Prof. Henrique Fonseca<br />

de Arai/Jo.<br />

Brasilia, 14 de mare° de 1979 —<br />

Alberto Veronese Aguiar, SecretArlo.<br />

VOTO (VISTA)<br />

0 Sr. Ministro Mac! Falcdo:<br />

Cinge-se o tema deste recurso A validade<br />

do art. 74 do Dec.-lei 960/38, na<br />

redaedo dada pelo Dec.-lei 474, de<br />

19.02.1969, em face da Constituted°<br />

(art. 153, § 1?).<br />

Dispele o texto legal:<br />

«Art. 74 — Nas causas para cobranea<br />

da divida ativa de valor inferior<br />

a dez (10) vezes o maior<br />

salArto-minimo vigente no Pais, somente<br />

haverà recurso ordinArto se<br />

a Fazenda for vencida, no todo ou<br />

em parted)<br />

RespettAvels opinthes ja foram<br />

manifestadas, em sentidos discrepantes,<br />

pelos eminentes colegas. Do<br />

reexame que fiz da materia reforcei<br />

o meu primitivo entendimento, na linha<br />

de que ao restringir o recurso<br />

ordinArio n Fazenda, quando vencida,<br />

a regra malsinada ndo afronta o<br />

principio da isonomia.<br />

As diversas especies de igualdade<br />

juridica, compreensivas da igualdade<br />

civil, politica, social, fiscal e jurisdicional,<br />

ndo se inserem num<br />

igualamento aritmetico e absoluto.<br />

R.T.J. — 94<br />

Contudo, o principio de tratamento<br />

igual para todos pressup6e a existencia<br />

de uma identidade de situae6es.<br />

Onde ndo ha uma identidade de condiedes<br />

e circunstAncias ndo ha que<br />

invocar o sedutor postulado juridic°<br />

da igualdade. NA° se pode considerar<br />

violado o principio da igualdade<br />

inserida no art. 153, § 1?, da Constituted°<br />

Federal, quando se assegura<br />

As pessoas de situae6es desiguais direitos,<br />

prerrogativas e vantagens designals.<br />

Este o alcance finalistico<br />

dessa declaraedo de dtretto.<br />

Com propriedade acentuou o eminente<br />

Des. Gongalves Santana:<br />

«Esta definitivamente firmado<br />

que ndo se equipara ao particular<br />

a Fazenda PithBea. A relevdncia<br />

do interesse pablico, por esta preservado,<br />

separa-a, na sua natureza,<br />

do particulard) (f. 47).<br />

ConsectArio 16gico desse conceito<br />

o tratamento especial conferido A<br />

Fazenda PUblica, em nosso sistema<br />

ituidico-posttivo, abrangendo, verbi<br />

grant prazos (art. 32 do C.P.C. de<br />

1939 e art. 188 do atual C.P.C.); recurso<br />

de oflcio, ou a chamada remessa<br />

ex officio (art. 822, parAgrafo<br />

finial, III, do C.P.C. de 1939, e art.<br />

475, II e HI do vigente C.P.C.); honorArios<br />

de advogado (art. 20, § 4?, in<br />

fine; do C.P.C.); prescriflo (art. 178,<br />

§ 10, VI, do C. Civil, e Decreto<br />

20.910/32).<br />

No Dec.-lei 960/38 0 leglslador procurou<br />

proporcional Fazenda PUblica<br />

meios mats efic yzes, visando assegurar<br />

a cobranea dos seus creditos.<br />

0 art. 74 buscou resguardar a<br />

posted° especial da Fazenda, dlante<br />

de circunstancias peculiares, conforme<br />

ficou realeado no voto do eminente<br />

Ministro Soares Mufioz, ao se<br />

referir 8 desigualdade de posted° entre<br />

a Fazenda e o executado. Na verdade,<br />

o jurista ndo pode deixar de<br />

considerar a valorizagdo politica das<br />

questhes de Direito PAblico, dada a<br />

sua repercussdo no interesse da coletividade,<br />

asstm como as peculiarida-


des do sistema juridico em razAo do<br />

qual deverA aplicar a lei.<br />

NAo diviso afronta ao art. 153, § 1?,<br />

da ConstituteAo Federal.<br />

Com estas resumidas consideracOes<br />

oriento-me na linha dos votos<br />

que repelem a argilicão de inconstitucionalidade<br />

do art. 74 do Dec.-lei<br />

960/38, na redacio dada pelo Dec.-lei<br />

n? 474/69, e nAo conhecem dos recurso,<br />

data yenta dos que entendem de<br />

modo diverso.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 83.432 — SP — Rel.: Min. Leitilo<br />

de Abreu. Recte.: Francisco Pinto<br />

Duarte FM° (Adv.: Theotanio Negrito).<br />

Recda.: Prefeitura Municipal<br />

R.T.J. — 94 217<br />

de Americana (Advs.: Milton Alcides<br />

de Gasped e outro).<br />

DecisAo: Nilo conheceram, venddos<br />

os Ministros Decio Miranda,<br />

Cunha Peixoto, Leitão de Abreu e Xavier<br />

de Albuquerque que conheciam e<br />

davam provimento ao Recurso. Votou<br />

o Presidente.<br />

Presidéncia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes A SessAo os<br />

Srs. Ministros Djaci FalcAo, Thompson<br />

Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

LeitAo de Abreu, Cordeiro Guerra,<br />

Moreira Alves, Cunha Peixoto, Soares<br />

Munoz, Decio Miranda e Rafael<br />

Mayer. — Procurador-Geral da RepOblica,<br />

Dr. Firmino Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 22 de marco de 1979 —<br />

Alberto Veronese Aguiar, SecretArio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 83.976 — RJ<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Soares Murioz.<br />

Recorrente: Esso Brasileira de Petr6leo S/A — Recorrido: Alvaro Furtado<br />

Sardinha.<br />

— A extincAo do processo executivo, em conseq(18ncia do pagamento<br />

da divida pelo execUtacto ao exeqUente, nAo se confuncte com a<br />

desistencia da acAo. SO esta exige o consentimento do reu, depots de<br />

oferecida a contestacilo. 0 riador, embora co-executado, nAo tem<br />

legitimo interesse para exigir que a execucAo prossiga.<br />

ACORDAO<br />

Vistos,<br />

Acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Primeira Turma,<br />

A unanimidade de votos, e na<br />

conformidade das notas taquigrAficas,<br />

conhecer do recurso e dar-lhe<br />

provimento.<br />

Brasilia, 27 de marco de 1979. —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Soares Murioz, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Soares Munoz: 0<br />

despacho do Ilustre Desembargador<br />

Mauro Gourta Coelho, Presidente<br />

em exercicio do Tribunal de Justica<br />

do Estado do Rio de Janeiro, resume<br />

a especle:<br />

«AcAo Executiva proposta, sob<br />

regime do processo revogado, contra<br />

aceitante de duplicatas mercantis<br />

e contra fiadores (nAo avalistas),<br />

julgada extinta pelo pagamento,<br />

efetuado, no curso da causa,<br />

pelo devedor principal.<br />

Inconformado, urn dos fiadores<br />

apelou da decisAo. Sustentara a<br />

ocorrtncia de fato desonerativo da<br />

obrigacAo acess6ria, pretendendo<br />

— no ventre da acAo executiva:


218<br />

«Todas as reparacnes e danos<br />

decorrentes desta acdo, no que<br />

influir no seus neg6cios» (folhas<br />

60).<br />

Enfatizava, por isso, no recurso<br />

ordindrio, fosse:<br />

«Declarada, por sentenga, a<br />

ndo validade da carta de fianca»,<br />

bem como<br />

«Excluido da agdo por falta de<br />

fundamento juridico», seja, o A.,<br />

condenado, na forma dos artigos<br />

16 e 18 do C6digo de Processo Civil,<br />

a perdas e danos, no valor de<br />

Cr$ 100.000,00, face a penhora recaida,<br />

andevidamente, sobre seu<br />

Milo° bem e ainda para<br />

ressarci-lo dos prejuizos comerdais<br />

sofridos, tats como: abalo<br />

de crèclito, recusa bancaria em<br />

pedido de emprêstimo, etc. seja,<br />

ainda, o A., condenado em custas<br />

processuais e honordrios de advogado,<br />

na base de 20%>> (folhas<br />

98-9).<br />

A apelagdo foi provida pela<br />

Egrêgia Sétima Camara Civel. Dal<br />

o recurso extraordindrio, baseado<br />

no artigo 119, III, a da Constituigdo<br />

Federal, sustentando, a autorarecorrente,<br />

que a decisdo recorrida,<br />

ao reformar a que dera pela<br />

extingdo da causa, pelo pagamento,<br />

sem dtivicia, teria negado aplicacao<br />

a norma <strong>federal</strong> que considera<br />

extinta a divida pelo pagamento,<br />

ou extinta:<br />

«A execucdo quando o devedor<br />

satisf az a obrigagdo» (C6digo de<br />

Processo Civil, artigo 794, I).<br />

Ao subordinar o pedido de extingdo<br />

a concordAncla do /tits,<br />

ignorou-se distingdo, que faz a lei<br />

processual, entre extingdo do pedido,<br />

ou da execugdo, e desistência<br />

da acdo. Finalmente, ao cogitar de<br />

reparacão de prejuizos, acaso sofridos,<br />

pelo tabula rasa da norma<br />

processual que ndo admite, em de-<br />

R.T.J. — 94<br />

fesa (ao tempo, mediante contestagdo),<br />

postular a condenagão do autor»<br />

(fls. 126 e 127).<br />

E o relatOrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Soares Mutioz (Relator):<br />

0 ac6rddo recorrido confundiu<br />

desistencla da acdo, que exige o<br />

consentimento do réu, depots de of erecida<br />

a contestagão, com a extingdo<br />

do processo, ou, mats precisamente,<br />

da acdo executiva, em face do pagamento<br />

da divida pelo devedorexecutado.<br />

E dessa confusdo resultou<br />

a negativa da vigència dos dispositivos<br />

legais indicados no recurso<br />

extraordindrio. As pretensees do ora<br />

recorrido, figurante na execugdo coma<br />

executado, dada sua condigdo de<br />

fiador, tido o autorizam a compelir<br />

os litigantes principals a continuar<br />

com a demanda, pots nela o fiador<br />

tido obteria os ressarcimentos que<br />

pretende, embora possa alcanca-los<br />

noutra acdo, ressalva que Paco.<br />

Ante o exposto, conhego do recurso<br />

extraordinario e the dou provimento,<br />

para restaurar a sentenga de primeiro<br />

grau.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 83.976 — RJ — Rel.: MM. Soares<br />

Munoz. Recte.: Esso Brasileira<br />

de Petr61êo S.A. (Adv. Orlindo Elias<br />

Filho). Recdo.: Alvaro Furtado Sardinha<br />

(Adv. Matilda Rodrigues).<br />

Decisdo: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator,<br />

unânime.<br />

Presidëncia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes A Sessão<br />

os Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto e Soares<br />

Munoz. — Ausente justificadamente<br />

o Sr. Ministro Rafael Mayer. — 2?<br />

Subprocurador-Geral da Repnblica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 27 de marco de 1979. —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretario.


R.T.J. — 94 219<br />

RECURS() EXTRAORDINARIO N! 85.049 — RS<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator para o AcOrdllo: 0 Sr. Ministro Moreira Alves.<br />

Recorrentes: Eliseo Jos6 Mezzomo e outros — Recorrida: Amelia Battaglln<br />

Sesti Deon Correa e outros.<br />

Direito de preferencia de arrendatArio de imOvel rural vendido<br />

terceiros.<br />

a<br />

— Inexistencia desse direito, uma vez que, no caso, a comprae<br />

vends decorreu de promessa celebrada anteriormente ao advento da<br />

lei que orlon a preferencia.<br />

Em face do 3? do artigo 153 da ConstitulcAo, que nAo fez qualquer<br />

distlncllo em materla de ato juridic° perfelto e de direito adquirido, e<br />

indubitAvel que o contrato valid° entre as partes 6 ato juridico perfeito,<br />

dele decorrendo, para uma ou para ambas, direitos adquirldos. Se<br />

lei posterior orbs para terceiro direlto sobre o objeto do contrato e<br />

oponivel a ambas as panes contratantes, nAo pode ela, sob pena de<br />

alcanar o ato juridic° perfeito e o direito adqulrldo entre as partes,<br />

ser apllcada a contratos validamente celebrados antes de sua vig6ncia.<br />

Para esse Melt*, pouco inworta que o contrato, quando celebrado,<br />

Uvesse, ou &to, sido inscrito em registro publico para ser,<br />

diem perante terceiros.<br />

ou nAo<br />

Recurso extraordinArio conhecido e provido.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento das notas taquigraficas,<br />

por maiorla de votos, conhecer do<br />

recurso e dar-]he provimento.<br />

Brasilia, 18 de maio de 1979. —<br />

Mad Foca°, Presidente — Moreira<br />

Alves, Relator p/o AcOrdeo.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda: Em<br />

ace° de preferencia de arrendaterlos<br />

de linevel rural, reclamando adjudicacao<br />

do imOvel que a outros fora<br />

vendido sem oferecimento a eles<br />

preferentes, um primeiro acOrdAo do<br />

Tribunal de Justice anulou o processo,<br />

por dele nAo haver participado,<br />

como parte, os proprietarios arrendantes<br />

do imevel, tendo sido chama-<br />

dos ao feito somente os adquirentes.<br />

(fls. 104 e segs.).<br />

Desse acerdao houve recurso extraordinario<br />

dos autores, de que o<br />

Supremo Tribunal ilk) conheceu (RE<br />

63.287, fls. 150 e segs).<br />

Prosseguindo a acao, compareceram<br />

os reus proprietarios, vindo a<br />

sentenca de primeira instancia a julgar<br />

procedente a acao ( 1. 226).<br />

Confirmou-a o acerdão da 1! Camara<br />

Civel Especial do Tribunal de<br />

Justica do Rio Grande do Sul, do seguinte<br />

teor:<br />

«0 Dr. Nathaniel M. GuimarAes:<br />

Trata-se de uma ace° ordineria de<br />

pretext/10a movida por Amelia<br />

Battaglin Sesti Deon, Roseli Deon<br />

Correa e Paulo Roberto Deon contra<br />

Eliseo Jose Mezzomo e Nilo Arno<br />

Segabinazzi, diz a inicial, em<br />

resumo, que o marido da primeira<br />

demandante arrendou, conforme<br />

contrato, 10 quadras de sesmarias


220<br />

R.T.J. — 94<br />

de campos e matos e de uma pequena<br />

restinga, parte integrante<br />

da Fazenda Santa Rosa. Falecido 0<br />

arrendatArio, Pedro Crivellaro<br />

Deon,<br />

arrendamento<br />

contratado corn Angelo Arteaga e<br />

sua esposa, Emilia Brum de Arteaga,<br />

conforme clAusula 61.<br />

Em 1964, Emilia sucedeu ao arrendante<br />

e, nestas condicOes, vendeu<br />

uma fracao de terras, campos<br />

e matos, corn a area de 436ha e<br />

600m 2, por Cr$ 17.464.000,00 (em<br />

moeda da epoca), correspondendo<br />

esta area a metade da terra arrendada<br />

e transacionada em plena vigencia<br />

do arrendamento, e da mesma<br />

TIM) foram os autores notificados,<br />

nos termos do 3? do art. 52<br />

da Lei n? 4.504 (Estatuto da Terra),<br />

para, no prazo de 30 dias,<br />

exercerem o direito de preempcao,<br />

como dispOe o art. 4? da mesma<br />

lei. A acao esta baseada no art. 313<br />

do C6digo de Processo Civil anterior<br />

e no art. 92, 4?, da Lei 4.504,<br />

de 30 de novembro de 1964.<br />

Citados, defendem-se os raus<br />

corn suas esposas. Preliminarmente<br />

alegam ser in6cua a invocacao<br />

da Lei n? 4.504, pois, a apoca da<br />

aquisicao, que fizeram de Angelo<br />

Arteaga e sua mulher, ciao havia<br />

dita lei sido publicada, nap produzido<br />

efeitos, o que tambam ocorre<br />

ainda agora. A lei mencionada s6<br />

poderia produzir efeitos ap6s devidamente<br />

regulamentada. Invocam<br />

o 2? do art. 3? do C6digo Civil, na<br />

parte da introducao.<br />

Querem nao possam os herdeiros<br />

beneficiarem-se do contrato ap6s a<br />

morte do arrendatArio, pois, nao<br />

sendo o arrendamento urn direito<br />

pessoal, poderia transferir-se aos<br />

herdeiros. Mas direito de prefectcia<br />

a pessoal e nao real Invocam o<br />

direito de preferancia, tratado pelo<br />

C6digo Civil no seu art. 1.157, que<br />

deixa expressado nao possa o direito<br />

de preferancia ser cedido ou<br />

passar aos herdeiros, o que ja contraria<br />

a acao pretendida pelos autores,<br />

pots a preferancia versa sobre<br />

direito personalissimo, impossivel<br />

de ceder-se Inter vtvos,<br />

nao passando aos herdeiros.<br />

Citam doutrinadores como Joao<br />

Franzen da Silva, J. M. Carvalho<br />

dos Santos e Washington de Barros<br />

Monteiro. Refutam o quantum pedido<br />

a titulo de honorArios de advogado<br />

e pedem a improcedancia da<br />

acao.<br />

Os autores falaram sobre a contestacao<br />

(fls. 26-35). Lancou-se o<br />

saneador (f. 36), realizou-se a audiancia<br />

de instrucao e julgamento<br />

(f. 54) e o magistrado decldiu (fls.<br />

61-70). Houve apelacao que, processada,<br />

foi apreciada em segundo<br />

grau de jurisdicao, sucedendo, entao,<br />

a decisao de f. 104, que anulou<br />

o processo por dele nao ter participado,<br />

como parte, o proprietArio e<br />

arrendante do im6vel (acOrdao de<br />

fls. 104-107). Foi interposto recurso<br />

extraordinArio que, admitido no<br />

Tribunal de Justica, veto a irk) ser<br />

conhecido unanimemente pelo colendo<br />

Tribunal Federal (f. 156).<br />

Os autores, ap6s retorno dos autos,<br />

realizaram escritura pOblica<br />

de transacao, permuta e cessao de<br />

direitos, tornando-se legitimos senhores<br />

e possuidores, proprietArios<br />

da metade da area arrendada, ou<br />

seja, 4.366.000m 2, area esta lindeira<br />

Aquela em que exercem seus direitos<br />

de preferencia. Na mesma escritura,<br />

sax) os autores investidos<br />

pelos filhos da falecida proprietAria,<br />

para receberem a citacao inicial<br />

e ratificarem atos processuais.<br />

Os autores, corn base em tal ato,<br />

declaram-se citados. Mas pediram<br />

a Macao de Carlos Vicente Arteaga<br />

Brum e sua mulher, e José Angel<br />

de Arteaga Brum e sua muilher,<br />

por seu procurador, Bel. Candido<br />

Alfredo Silva Leal.


Os reus repisam os termos da<br />

contestacAo, invocando a ementa<br />

de f. 157, e querem tenha ocorrido<br />

decadencia do direito dos autores,<br />

eis que anulado o feito a partir da<br />

citacAo inicial.<br />

Os revs, como litisconsortes,<br />

vem corn outra procuracão nos autos<br />

e repetem argumentos da contestacAo,<br />

pedindo absolvicão de<br />

insttincia ou o indeferimento da inicial.<br />

Face ao despacho de f. 184, os<br />

autores apontam defeitos no instrumento<br />

procuraterio de f. 183 e o<br />

substabelecimento. Dizem que o<br />

Bel. Arnaldo Jorge Pedron recebeu<br />

substabelecimento de urn dos fllhos<br />

da faleclda proprietAria, Carlos Vicente<br />

de Arteaga Brum.<br />

Replicam os autores, alegando<br />

que nAo houve decisão definitiva<br />

da causa e que vAlida seria tar) somente<br />

a procuracão outorgada ao<br />

Bel. Candid° A. S. Leal (f. 171),<br />

tendo jA fluid° o prazo para contestacAo,<br />

e pedem o desentranhamento<br />

da contestacAo de f. 180, por intempestiva,<br />

bem como do julgado<br />

de piano corn base no art. 330, I,<br />

do C6cligo de Processo Civil.<br />

0 feito foi saneado e houve debates<br />

orals, decldindo o magistrado<br />

pela procedencla da ace° a favor<br />

dos autores, adjudicando a Area do<br />

litigio aos mesmos, desde que efetuado<br />

o pagamento dos tributos<br />

revestindo-se a decisão de<br />

titulo hAbil para o registro e f ormalizacen<br />

da transferencia considerada<br />

ineficaz a venda realizada<br />

pelos revs proprietarios aos reus<br />

adquirentes, cancelada a inscricão<br />

no Registro de Im6veis. 0 valor<br />

depositado pelos autores — continua<br />

o Julz na sua parte final — ficava<br />

a disposicão dos reus adquirentes.<br />

Todos os reus foram condenados<br />

ao pagamento de custas e<br />

honorArios de advogado, fixados<br />

estes em 18% sobre o valor da causa.<br />

R.T.J. — 94<br />

221<br />

Apelam Ellseu Jose Mezzomo e<br />

Nilo Arno Segabinazzl. Preliminarmente,<br />

dizem serem os autores carecedores<br />

de acão, pois, tendo 0<br />

processo sido anulado por falta de<br />

participaflo dos proprietArios alienantes,<br />

deve proceder-se nova citacao<br />

das partes, os proprietarios<br />

alienantes e adquirentes, ora apelados,<br />

o que nAo foi feito. A falta<br />

de providencia da parte autora para<br />

citacAo dos prOprios alienantes<br />

acarretaria inegAvel prejuizo aos<br />

apelantes. Os autores deveriam renovar<br />

a instAncia, o que ntio fizerarn,<br />

nAo se produzlndo a litispendência.<br />

Ao fazer a alegactio de preferencia,<br />

JA o fizeram alêm do prazo<br />

de 6 meses, caducando o seu direito.<br />

Citam Oswaldo Opitz em<br />

Contratos Agrarios do Estatuto da<br />

Terra, pAg. 94.<br />

No merit°, invocam a irretroatividade<br />

dos fatos da Lei 4.504, salientando<br />

que o referido diploma<br />

legal não era auto-executavel. Adotam<br />

os argumentos de merit° expendidos<br />

na apelacão de fls. 79 e<br />

seguintes, que foi a primitiva apelack,<br />

feita.<br />

Apelam tambem Amelia Betteglin<br />

Sesti Deon, Rosen Deon Correa<br />

e Paulo Roberto Deon apenas<br />

parcialmente, objetivando excluir<br />

a obrigacão imposta de recolher<br />

impostos de transmissao.<br />

Os apelantes manifestaram-se<br />

nos autos.<br />

Melhor definindo partes do relaterio,<br />

examino a decisào de f. 104,<br />

que e o acerdAo em que foi anulada<br />

a agAo. A ementa diz o segulnte:<br />

"AO° de preferencia com fundamento<br />

no art. 313 do COdigo de<br />

Processo Civil, combinado corn o<br />

art. 92, § 4?, da Lei 4.504, de<br />

30.11.64. Preferencia assegurada<br />

pelo Estatuto da Terra ao arrendatArio.<br />

Nulo o processo por dele nAo<br />

haver participado como parte o


222<br />

proprietArio e arrendante do lineye!».<br />

Foi uma decisao sem voto discrepante.<br />

0 recurso extraordinario, que foi<br />

mencionado ter sido interposto,<br />

veio a nao ser conhecido unanimemente<br />

pelo Colendo Supremo Tribunal<br />

Federal. Consta a f. 156. Fol<br />

relator o eminente Ministro<br />

Adalicio Nogueira. (leu).<br />

Assim, Sr. Presidente, lendo essas<br />

pecas que me pareceram indispensAveis<br />

para uma ideia de conjunto<br />

do process(), dou por encerrado<br />

o related°, que foi submetido a<br />

revisan do Dr. Ruschel.<br />

Nao ha intervencao do Ministerio<br />

PUblico.<br />

E o related°.<br />

VOTO<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Dr. Nathaniel M. GuimarAes<br />

(Relator): Sr. Presidente, Como se<br />

viu, a especie apresenta de Intel° 0<br />

problema a ser resolvido referente<br />

a preliminar de carencia da acao<br />

suscitada pelos apelantes, ou seja,<br />

os adquirentes do im6vel e tambem,<br />

quanto a decade/Ida do prazo<br />

de 6 meses. Essas duas constaram<br />

expressamente das rages de apelo.<br />

E da tribuna ouvimos tambem<br />

ser suscitada uma preliminar referente<br />

a necessidade ou obrigatorledade<br />

de interferencia do Ministerio<br />

Pithlie° na causa, face o apelo envolver<br />

materia referente a tributos.<br />

Passarei, Sr. Presidente, a<br />

aborda-las na ordem em que foram<br />

sucitadas. Ao que diz respeito a carencia<br />

de acao precipuamente referentes<br />

a f alta de citacao dos proprieterios<br />

alienantes e dos adquirentes,<br />

o meu voto e no sentido da<br />

improcedencia dessa preliminar. E<br />

explico o meu entender: a que a citacao<br />

dos proprietaries, precisamente<br />

contra os quais a acao deve,<br />

e deveria, ter sido movida — acao<br />

a que se refere o art. 92, §§ 3? e 4?,<br />

da Lei n? 4.504, de 30.11.64 —<br />

concretizou-se pela existencia da<br />

procuracao de fls. 168/170. Essa<br />

procuracao a oriunda da Reptiblica<br />

do Urugual. Consta seu texto original,<br />

em espanhol, e apresenta tambem,<br />

simultaneamente, autenticada,<br />

a traducao. A traducao este a<br />

fls. 171/173. Poi outorgada pelos fi-<br />

Ihos da falecida proprietAria alienante.<br />

EstA vazada nos seguintes<br />

termos (leu).<br />

Essa procuracao, conseqflentemente,<br />

como se ye, e valida e torna<br />

os outorgantes representados no<br />

feito. A f. 167, Carlos Vicente de<br />

Arteaga Brum e sua mulher, Maria<br />

de Los Angeles Fernandes Cuero<br />

de Arteaga, e Jose Angel de Arteaga<br />

Brum e sua mulher, Maria<br />

Iolanda Briozzo Aycardi de Arteaga,<br />

entraram corn uma peticao, onde<br />

dizem que comparecem em<br />

juizo para declararem-se cientes<br />

do procedimento da acao de adjudicacAo<br />

compulseria que Amelia<br />

Battaglin Sesti Deon, Roseli Deon<br />

Correa e seu marido, Gilberto Niederauer<br />

Correa e Paulo Roberto<br />

Deon, promoveram contra Eliseo<br />

Jose Mezzomo e sua mulher, Maria<br />

de Lourdes Pedron Mezzomo, e<br />

Nilo Arno Segabinazzi e sua mulher,<br />

Nilda Rumpel Segabinazzi,<br />

peticao assinada por Candid() Alfredo<br />

Silva Leal, a quem foram outorgados<br />

poderes pelo mandato de<br />

fls. 171/173.<br />

Aqui, como se ye, deram-se por<br />

citados e representados por seu advogado.<br />

Eles inesmos, posteriormente,<br />

nao contestam a acao. Sao<br />

os arrendantes.<br />

A citacao dos adquirentes achase<br />

sanada nessa fase do procedimento,<br />

entao em renovacão, porque<br />

eles compareceram a f. 177.<br />

Suas posicOes, a partir dessa data<br />

em diante, sa ga de litisconsortes<br />

passivos necessarios. Conseqtiente-


mente, a preliminar de carencia de<br />

acão nAo tern procedencia. Mat voto<br />

seria no sentido de rejeitar a<br />

preliminar de carencia da acão.<br />

Quanto a decadencia do prazo de<br />

6 meses para o pedido, nos termos<br />

do art. 92, § 4?, do Estatuto da Terra,<br />

IA° vejo como possa ser considerada.<br />

0 pedido Poi ajuizado oportuna<br />

e habllmente. Ve-se dos autos,<br />

A f. 13, que parte do imOvel arrendado<br />

aos autores fora vendido aos<br />

litisconsortes passIvos necessarios<br />

os adquirentes Eliseo Jose Mezzomo<br />

e Nllo Arno Segabinazzi, por<br />

escritura pfiblica de 23.12.64, pelo<br />

prey° de Cr$ 17.464.000,00 (ern<br />

moeda da epoca), alienacAo fefta<br />

por Elmira Brum de Arteaga,<br />

va do primitivo arrendante. 0 prazo<br />

de 6 meses de decadencia findaria<br />

a 23.6.65 e a acAo foi ajuizada,<br />

conseqllentemente recebido o pedldo<br />

na esfera judicial, em 27.5.65,<br />

o Estatuto da Terra refere a requerer<br />

dentro dos 6 meses a contar<br />

da transcricAo. A transcricao, como<br />

se ye do documento de f. 13,<br />

ocorreu a 22.4.65. Conseqllentemente,<br />

no meu entender, não houve decadencia,<br />

els que foi exercido<br />

aquele direlto no momento habit,<br />

ou seja, exatamente, denim do<br />

prazo de 6 meses, porque o art. 92,<br />

§ 4?, refere-se a ser exercido esse<br />

direlto no prazo de 6 meses. Diz o §<br />

4?: «0 arrendatario, a quem nao se<br />

notificar a venda, podera, depositando<br />

o preco haver para si o im6vel<br />

arrendado. Fara isso se o requerer<br />

no prazo de 6 meses. Conse-<br />

Mientemente, ja agora dando urn<br />

apanhado englobado quanto a carencia<br />

da aflo, quer quanto a Macao<br />

quer quanto a decadencia do<br />

prazo, meu voto 6 no sentido de re-<br />

'altar as preliminares de carencia<br />

de acão e de decadencia<br />

0 Dr. Ruy Ruben Ruschel: Abordaria,<br />

invertendo a ordem das<br />

duas preliminares, primeiramente<br />

a de decadencia. 0 § 4? do art. 92<br />

R.T..T. — 94<br />

223<br />

cria o prazo decadencial de 6 meses<br />

a ser contado a partir da<br />

transcricAo do ato de alienacAo no<br />

Registro de ImOvels. Entretanto,<br />

deve ser requerido pelo arrendatArio<br />

o direito previsto naquele dispo-<br />

sitivo. Os termos em que esta vazado<br />

o § 4? revelam que a simples<br />

propositura da acAo jA 6 a mani-<br />

festacAo do direito requerido. Mesmo<br />

que entendessemos, utllizando<br />

o prInciplo do art. 166, § 2?, do antigo<br />

C6digo de Processo Civil: «A atacklo<br />

vailda produz os seguintes<br />

efeltos: (§ 2?) induz litispendencia»,<br />

ha de ser levado em conta<br />

que exatamente os prImeiros apelantes,<br />

que se insurgiram, alegando<br />

essa decadencia, foram citados<br />

validamente dentro daquele prazo.<br />

Dentro ainda do prazo decadencial.<br />

Entretanto, entendo que o prazo<br />

decadencial 6 para simples propositura<br />

da acAo.<br />

Quanto a citacão dos outros reus,<br />

como bem demonstrou a eminente<br />

Relator, foi perfeita e acabada,<br />

atravas de uma procuracAo, cujos<br />

termos foram lidos pelo Relator.<br />

Assim, acompanho o voto do eminente<br />

Relator tambem neste sentido.<br />

0 Sr. Presidente (Des. Jose<br />

Silva): Estou inteiramente de acordo<br />

corn os eminentes Colegas.<br />

0 Dr. Nathaniel it Guimariles:<br />

Ha preliminar suscitada da tribuna<br />

pelo nobre procurador das partes<br />

adqulrentes desse imOvel e objeto<br />

desta acão, de que, versando a materia<br />

em discussAo, numa das apelac6es,<br />

materia de tributo, deveria<br />

obrigatoriamente ser ouvldo 0 Orgao<br />

do Mlnisterio Pllblico. Para se<br />

abordar esse problema de inicio,<br />

iriamos tratar, na Integra, o<br />

prio merit° da apelacAo. Dai a minha<br />

sugestAo de que, concordando<br />

os eminentes Colegas, se relegasse


224<br />

para apreciacäo conjunta corn o<br />

merito.<br />

0 Dr. Ruy Ruben Ruschel: Concordo,<br />

realmente, esta inteiramente<br />

entrosada corn a materia de merit()<br />

do tributo ja pago.<br />

0 Sr. Presidente (Des. Jose<br />

Silva): Tambem acomPanho inteiramente<br />

o eminente Relator.<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Dr. Nathaniel It GuimarAes.<br />

Sr. Presidente, quanto ao merito,<br />

ve-se que, na especie, os autores<br />

apelados alegam haver sucedido<br />

aos arrendatarios da area descrita<br />

na initial. Essa area esta localizada<br />

numa invernada denominada<br />

Umbu, corn 10 quadras de sesmaria<br />

de campos e matos e uma pequena<br />

restinga e arramados . Faz<br />

parte de uma fazenda chamada<br />

Santa Rosa, situada no 1? Distrito<br />

de General Vargas. Pelo documento<br />

de f. 10, que 6 do Registro de<br />

1m6veis se ye transcricAo onde<br />

aparecem, como arrendante s, Angelo<br />

de Arteaga e sua esposa Elmira<br />

Brum de Arteaga, e como arrendatario,<br />

Pedro Crivelaro Deon.<br />

Pedro Crivelaro Deon veio a f alecer<br />

posteriormente. Dal por que<br />

estao no processo seus herdeiros,<br />

que continuaram corn o arrendamento,<br />

segundo disposicAo expressa<br />

constante da clausula 6?, onde<br />

se diz: «no caso de morte do arrendatario<br />

durante a vigencia do contrato,<br />

ficam seus herdeiros corn o<br />

direito de opcdo pela continuacão<br />

do arrendamento ate o fim, ou<br />

rescindi-lo, caso ern que a rescisAo<br />

ter& sugar no fim do ano ja pago<br />

adiantadamente. No caso de morte<br />

do arrendante, ficam seus herdeiros<br />

na obrigacao de manterem o<br />

contrato ate seu termino.”<br />

Como se ye, foi realizado o contrato<br />

por escritura pOblica que se<br />

acha, conforme ja mencionel, a f.<br />

11.<br />

Pedro Crivelaro Deon, cabeca do<br />

casal arrendatario, veto a falecer,<br />

como se pode constatar pelo inventart°<br />

cuja certidAo documental<br />

consta a f. 6 dos autos, tocando os<br />

bens a ele pertencentes aos herdeiros<br />

ora autores, que sAo Roseli<br />

Deon Correa e Paulo Roberto<br />

Deon. Foi inventariante Amelia<br />

Battaglin Sesti Deon.<br />

Sucedendo, durante o arrendamento,<br />

a venda de parte da area<br />

arrendada, foram vendidos 436ha e<br />

600m1, conforme se ye a f. 13. 0 documento<br />

apontado a uma certiclão<br />

do Registro de Imeve's, onde 6 referida<br />

a data da escritura: 23.12.64.<br />

Consta o preco deposltado.<br />

Esse fato levou a autora, como<br />

sucessora, ao ajuizamento da pretensão<br />

manifestada na initial, corn<br />

base justamente no art. 92, §§ 3? e<br />

4?, do Estatuto da Terra. 0 § 3? do<br />

art. 92 dispOe: «No caso de alienacAo<br />

do imOvel arrendando, o arrendatario<br />

ter& preferencia para<br />

adquiri-lo ern igualdade de condicOes,<br />

devendo o proprietar io darlhe<br />

conhecimento da venda, a fim<br />

de que possa exercer o direito de<br />

preempcAo dentro de 30 dias a contar<br />

da notificacao judicial, ou comprovadamente<br />

efetuada mediante<br />

recibo. E o § 4? reza: «0 arrendatado<br />

a quern nao se notificar a venda<br />

podera, depositando o preco,<br />

haver para si o imOvel arrendado,<br />

se o requerer no prazo de seis meses,<br />

a contar da transcrifl o do ato<br />

de alienacão no Registro de Irmaveis.”<br />

Febexame que se fez dos autos,<br />

verifica-se que nao houve a notifi-


cacao aos autores do processo da<br />

venda felta aos adquirentes. Dal<br />

terem eles felt° inicialmente o de-<br />

/3(mill) da quantia pela qual se opemu<br />

a venda e tambem do valor do<br />

impost° de transmissao, pago pelos<br />

adqulrentes, que, assim, esteriam<br />

ressarcidos. Houve depOsito<br />

inclusive das custas tides corn a<br />

escritura. Entenderam os autores<br />

que fosse dever deles nao se Hmitarem<br />

apenes a depositar preco,<br />

nos termos do Estatuto da Terra.<br />

Tambem fizeram o dep6sito do imposto<br />

que haviam pago em razao<br />

da transmissAo e das despesas que<br />

tiveram corn a escritura. A lei<br />

4.504, de 30.11.64, na parte invocada<br />

pelos autores, mostra-se dotada<br />

de auto-execucao, isto é, dispense<br />

a regulamentacao. A prOpria lel,<br />

no seu hole revogado art. 107, dispunha<br />

ate do rito para formalizecao<br />

da demanda. A re gulamentacao<br />

nAo faz, pots, reflexo ties dlspositivos<br />

invocados, que Sin realmente<br />

auto-execucao ou autoaplicacao.<br />

Como bem sltuou o magistrado<br />

na sentence apelada, o arrendamento,<br />

pela cltuisula 6! do contrato<br />

(f. podia prosseguir na pessoa<br />

dos herdeiros dos contratimites, e<br />

podia . o direlto de prefertneia ser<br />

pel•smos exercido, els que,<br />

a los A época da allenaca<br />

m, conseqtlentemente, direlto<br />

de preferencia, mesmo nao<br />

considered° este como direito real.<br />

Mas, na verde* 6 direlto real e<br />

se constituiu em limitacao ao direito<br />

de dispor da cotsa, exercendo-se<br />

o (Breit° de seqtlela erga muds.<br />

O magistrado, na decisao em que<br />

Julgou procedente a ace° e deferiu<br />

a adjudicaclio, cite decisaes<br />

tas na Resists de Jurisprudential.<br />

19/201 a 28/265.<br />

R.T.J. — 94 225<br />

Assim, Sr. Presidente, quanto<br />

primeire apelacao — vencida como<br />

JA fol pela Camara a preliminar de<br />

carencia da acao, relativamente A<br />

questa° da habilidade das cantles<br />

realizadas e tambem quanto A materia<br />

referente A decadéncia — parece<br />

que o merito se singeliza<br />

nossa compreensilo. Meu voto 6 no<br />

sentido de negar-lhe provimento.<br />

Quanto a segunda apelacAo, tamb6m,<br />

Sr. Presidente, nego provimento.<br />

Essa segunda apelacao e a<br />

dos autores, que recorreram apenas<br />

para eximirem-se do pagamento<br />

do imposto de transmissao de<br />

propriedade. 0 juiz determhiou a<br />

adjudicacao do imOvel, que seria<br />

concretizada:,gom a apresentacao<br />

da sentence perante o Reglstro<br />

!mob!HAM°. Mas, para que pudesse<br />

o Sr. Oficial efetuar o registro, evidentemente<br />

tinhe qtte haver quitecao<br />

dos tmpostos. E que a vends<br />

realizada pelos rtus aos adquirentes,<br />

e primeiros apelantes,<br />

mostrou-se perfeita, sendo, pots,<br />

cablvel o pagamento do imposto,<br />

como fizeram-no aqueles. E, ao depositarem<br />

o preco da venda, os autores<br />

tambem depositaram as custas<br />

tides coin a escritura e o imposto<br />

de transmissao. Eases valores,<br />

tao logo transitada re‘lecisao,<br />

segundo expressou a sentence, poderiam<br />

ser levantados pelOs adqulrentes.<br />

Relaclonam-sea vends que<br />

ora estA sendo desconstRuida.<br />

Quanto ao pagamento do impost°<br />

de transmissao, do qual foi Met°<br />

a apelacAo, o Juiz nada mats fez do<br />

que colocar aquela expressao na<br />

sentence como lembrete, pots se<br />

trate de uma exigencia fiscal referente<br />

ao impost° de transmissao.<br />

Esse nao poderia o julz excuser;<br />

nao teria validade a disposicao do<br />

Lutz. A compra e venda nAo se concretizaria<br />

sem o pagamento do imposto<br />

de transmissao. A lei exlge o


226<br />

R.T.J.— 94<br />

dep6sito do preco. NA° cogita do<br />

imposto de transmissAo e nem das<br />

custas. Na parte executiva, posteriormente,<br />

se levantado apenas o<br />

prego, podem near aquelas outras<br />

duas parcelas A disposicAo do depositante,<br />

como excedente do valor<br />

legal devido. Para que os autores<br />

possam levar a sentenca, que a seu<br />

titulo de aquisicão, ao Registro de<br />

Imeveis — porque na verdade foi<br />

adjudicado o imOvel — devem pagar<br />

o imposto de transmissAo que<br />

lhes compete. Os autores devem<br />

pagar o preco, custas e os impostos,<br />

substituindo-se aos adquirentes,<br />

como que indenizando-os . E<br />

agora devem pagar o custo de sua<br />

escritura e o valor do imposto. NA°<br />

hit duplo recolhimento do tributo,<br />

pots um 1ntegrou o preco da compre<br />

e venda ora tornado ineficaz; e<br />

o outro o mesmo imposto devido.<br />

•<br />

Conseqllentemente, nego provimento<br />

a primeira apelacAo e tarnbent<br />

a segunda, por estes fundamentos<br />

expostos.<br />

0 Dr. Ruy Ruben Ruschel: Sr.<br />

Presidente, entendo tambem que o<br />

Estatuto da Terra, Lei n? 4.504, de<br />

30 de novembro de 1964, no tangente<br />

ao direito sobre o qual se discute,<br />

tem eficAcia plena e imediata.<br />

a este entendimento chego atrayes,<br />

ate mesmo, dos termos dos<br />

preprios dispositivos que dAo inicio<br />

termino a esta lei. Diz o art. 1?:<br />

«Essa lei regula os direitos e obrigacOes<br />

concernentes aos bens im6veis<br />

rurais, para os fins de execucAo<br />

da reforma agraria e promocAo<br />

da politica agricola». E o art.<br />

128 diz: «Esta let entrarA em vigor<br />

na data da sua publicacAo, revogadas<br />

as disposicOes em contrArio».<br />

Conseqllentemente, trata-se de ato<br />

legislativo que cria direitos e obrigacOes<br />

e cuja regulamentaeAo<br />

p<strong>revista</strong> apenas quando necessAria,<br />

relativa<br />

aos aspectos que de-<br />

pendem de regulamentacão, o que<br />

evidentemente nAo e o art. 92, nos<br />

seus parAgrafos 3? e 4?, ao concernente<br />

ao prOprio direito criado nestes<br />

dois parAgrafos.<br />

Entendo tambem que o Estatuto<br />

da Terra e aplicAvel a especie —<br />

embora segundo alega da tribuna o<br />

procurador dos primeiros apelantes<br />

— se alegue que o que existe e<br />

de um contrato de promessa de<br />

compra e venda relativo a este<br />

im6vel. Ocorre que o 4 3? dispee<br />

sobre alienacAo. E macs adiante se<br />

refere a venda. Promessa de venda<br />

nAo a venda; nAo 6 alienacAo. 0<br />

direito surge extamente no momento<br />

da venda e nAo no momento<br />

de urn contrato preltminar, de um<br />

precontrato de promessa de compra<br />

e venda.<br />

Alem do macs, pelos dados que<br />

se colhe e que colhi da revisAo, se<br />

constata que a promessa de cornpra<br />

e venda existente nos autos<br />

nAo diz respeito exatamente aquela<br />

Area de terras que e 0 objeto do pedido<br />

dos autores.<br />

Tambem nAo f az major sentido a<br />

alegacAo de que o colendo Supremo<br />

Tribunal Federal houvesse j A<br />

se pronunciado acerca da inaplicabilidade<br />

do Estatuto da Terra. A<br />

referencia A inaplicabilidade existente<br />

do aresto em nada se relaciona<br />

a inaplicabilidade do Estatuto<br />

da Terra no que pertine a esta especie.<br />

Trata-se da inaplicabilidade<br />

de urn dispositivo do COdigo Civil,<br />

A luz das relacOes decorrentes do<br />

Estatuto da Terra.<br />

Por outro lado, o Supremo Tribunal<br />

Federal nAo poderia, como nAo<br />

o fez, apreciar esta materia, que<br />

nAo era objeto do recurso extraordinArlo.


Houve tamb6m uma referenda,<br />

da tribuna, ao art. 1.157 do C6digo<br />

Civil, no sentido de que o direito de<br />

preferencia nAo passaria a herdelros.<br />

Esse dispositivo diz respeito<br />

apenas a preferencia decorrente de<br />

contrato de compra e venda, como<br />

evidente pela pr6pria posicAo<br />

ocupada pelo dispositivo dentro do<br />

Cedigo Civil. Alem do mats, no caso,<br />

os autores e segundos apelantes<br />

WI° ingressaram em juizo na condicAo<br />

de herdeiros dos arrendatAdos<br />

e slm na conclicAo de arrendatArios,<br />

pots que eles o eram em<br />

conseqtlencia da clAusula 6! do<br />

contrato de arrendamento.<br />

Enfim, por todas estas raziles e<br />

pelo evidente ajuizamento da acão<br />

ainda dentro do prazo decadencial,<br />

segundo materia jA vencida, entendo<br />

que realmente os autores tinham<br />

o direito que pleiteavam.<br />

For esta razAo, nego provimento<br />

primeira apelacAo.<br />

Relativamente a segunda apelacAo,<br />

acompanho o digno relator,<br />

porquanto, corn efeito, a disposicAo<br />

do Julz ao determinar que, antes de<br />

transcricflo da sentenca, se depositasse<br />

o impost° de transmissao e<br />

apenas urn lembrete, como dlsse S.<br />

Exa.; porquanto se trata de tuna<br />

disposicAo que, mesmo que nAo:<br />

constasse da sentenca, teria de ser!,<br />

cumprida por ser uma determinacao<br />

meramente fiscal. Em razito<br />

disso, acho que tambem fica prejudicada<br />

a preliminar alegada na<br />

buna da necessidade de IntervencAo<br />

do Org.!lo do Ministkrio Pftblico •<br />

na esp6cle.<br />

Tambtm nego provimento a segunda<br />

apelacAo.<br />

E meu voto.<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Sr. Presidente (Des. J<br />

Silva): Estou inteiramente de ac<br />

do corn os eminentes Colegas.<br />

Apelactic) Civel n? 23.683, Silo<br />

cente do SW. Rejeltaram a preli<br />

nar de carencia de acAo, rele<br />

ram a invocada da tribuna pelo<br />

bre advogado dos 1?s apelant<br />

quanto a necessidade da interv<br />

cAo do Minist6rio Pfiblico, par<br />

exame corn o merito, neste ne<br />

ram provimento a ambas as ape<br />

cOes prejudicadas a Wilma pre<br />

minar.» (fls. 263-278).<br />

A ease acerdão contrapeem os<br />

quirentes, Eliseo Jose Mezzom<br />

sua muffler e Nib Arno Segabina<br />

e sua muffler, recurso extraordin<br />

rio, fundado nas tetras a, c e d<br />

permissilo constituclonal.<br />

Pela tetra a, alegam que fol neg<br />

da vigencia ao art. 92, 4 4?, do Es<br />

tuto da Terra, ao deixar-se de rec<br />

nhecer a decadencia da acAo,<br />

qual os litisconsortes necessftrios s<br />

mente foram citados ap6s o decur<br />

dos seas meses previstos para<br />

exercfflio da acAo de preferencia.<br />

Na tnictal, tinham sido omissos<br />

autores em promover a citacflo d<br />

vencedores, litisconsortes neces<br />

Mos, o que levou o primeiro acôrdf<br />

a anular o processo, a partir da cit<br />

cAo. Por outro lado, a prepria cit<br />

cAo, que se veto a fazer, al6m de i<br />

tempestiva em relactio ao prazo d<br />

sets meses, foi irregular. Deu-se m<br />

diante comparecimento a Juizo d<br />

Dr. CAndido Alfredo Silva Leal, cu<br />

mandato nAo o autorizava a tanto.<br />

Por outro lado, dizem os recorre<br />

tes, foram contrariados o art. 153,<br />

3?, da ConstituicAo, e o art. 6? da L<br />

de IntroducAo ao COdlgo Civil, por<br />

terem ferido o direito adquirido e<br />

ato juridico perfeito.


228<br />

R.T.J. — 94<br />

que, argtem os recorrentes, a<br />

promessa de venda tinha sido celebrada<br />

a 11 de marco de 1964, antes<br />

da vigência do Estatuto da Terra,<br />

Lei n? 4.504, de 30.11.1964. Assim, os<br />

proprietarios do imOvel arrendado<br />

podiam, perfeitamente, prometer<br />

vencle-lo a terceiros, inexistente enttlo<br />

qualquer threat) de prefertncia<br />

dos arrendatArios. E seria irrelevante<br />

a objectio derivada do Pato de o<br />

compromisso não ter sido levado a<br />

registro. A resin da nAo prevalencia<br />

do ato em face de terceiros, pela ausftncia<br />

de registro, pressup0e o conftito<br />

de atos juridicos sob o imperio<br />

da mesma lei. Encarado o ato da<br />

promessa de venda sob o imperio da<br />

lei em cuja Agenda tot praticado,<br />

era ele eficaz e, portanto, nAo podia<br />

incidir no regime da lei nova.<br />

Por Ultimo, foi negada vigencia ao<br />

art. 82, III, c/c o art. 84, do CPC, por<br />

se haver deixado de reconhecer a<br />

nulidade do processo pela falta de intervencão<br />

do Orgilo do Ministerio PUblico.<br />

Com essas argfticOes, consideraram<br />

os recorrentes ojustificada» a infrigência<br />

de leis federais e da ConstituicAo,<br />

hip6teses p<strong>revista</strong>s no art.<br />

119, III, letras a e c (fl. 300 fine).<br />

No que tange A letra d, assim justfficam<br />

os recorrentes o cabimento<br />

do recurso:<br />

«a) — Referentemente ao art. 6?<br />

da Lel de IntroducAo ao C6cligo Civil<br />

e art. 153, § 3?, da ConstituicAo<br />

Federal:<br />

«E hoje, professam Eduardo<br />

Spindola e Eduardo Spindola Fllho,<br />

quase controvertido, na doutrina e<br />

na jurisprud6ncia national, que o<br />

C6digo Civil Braslleiro nAo reconhece<br />

force retroativa As leis de<br />

interpretacAo. Embora a lei se declare<br />

interpretative em termos expressos,<br />

o dispositivo da nossa lei<br />

permite que por ela sejam prejudicados<br />

os direitos adquiridos, os<br />

atos juridicos perfeitos e a coisa<br />

itzigada». (Ac. do STF, 21.9.43, no<br />

RE 4.369, Rev. de Dir. Adm. v.<br />

1/161/).<br />

«A situacAo juriclica, a que elude<br />

o art. 6? da Lei de IntroducAo ao C6digo<br />

Civil, So decorre de uma sentence,<br />

mas de atos ou fatos ocorridos<br />

anteriormente A propositura da<br />

acAo. Ao judicittrio, cabe a declaracAo<br />

da existencia dessa situacAo.»<br />

(Ac. do TJSP, 15.4.48, Rev.<br />

Tribs. 174/118).<br />

Pelos arestos acima transcritos,<br />

verifIca-se que, não tendo o ac6rdAo<br />

recorrido dado atencão A promessa<br />

de compra e venda firmada<br />

corn os recorrentes, ofendeu o art.<br />

6? da Lei de IntroducAo ao C6cligo<br />

Civil e ao art. 153, § 3? da C. Federal.<br />

— Na parte referente A nä° citack)<br />

dos litisconsortes necessArlos,<br />

o acercillo recorrido diverge<br />

das seguintes decisOes:<br />

«0 despacho saneador que decorreu<br />

sem recurso constituiu coisa<br />

julgada. Po/tin 6 nulo " .ab initio"<br />

o processo, quando, sendo caso de<br />

litisconsercio passivo obrigaterio,<br />

nä° houve citacAo de todos os interessados».<br />

(Ac. do STF, 19.9.57 —<br />

DJU<br />

'<br />

7<br />

'<br />

4 58 ' p p. 1 439)<br />

«Configurada a existencia do litisconsercio<br />

necessario passivo, a falta<br />

de citacdo do litisconsorte induz<br />

nulidade do processo. (Art. 88 c/c o<br />

art. 165 do C.P.C.... Portanto, a<br />

anulacão do processo a partir da<br />

contestacAo nAo importou em Julgamento<br />

ultra ou extra petittun, de<br />

modo a incidir na proibictto expressa<br />

no art. 4? do ipma processual<br />

citado. Ademaid lo<br />

s, se a falta de<br />

citaflo, ato essential do processo,<br />

importa em nulidade cominada.<br />

(Art. 165 do CPC).» (Ac. do STF,<br />

9.10.67 — RTJ 43/637).<br />

— Quanto A decadëncia, o<br />

aresto recorrido est& em desacordo<br />

com os seguintes deciserlos:


«0 simples ingress° da aclio em<br />

juizo nAo interrompe a prescrlcAo<br />

e s6 tem ease efeito desde que a citacAo<br />

seja promovida em 10 dlas<br />

nos termos do art. 166, f 2! do<br />

CPC.)) (Ac. do TASP 26.12.56 —<br />

Rev. Tribs. 263/500).<br />

«0 art. 166, 4 2?, do CPC, obriga o<br />

interessado a promover a citacão<br />

no prazo de 10 dies. Promover e<br />

dar impulso, dlligenclar, movimentar.<br />

NAo pode ter o sentido de executer,<br />

porque tal nAo 6 dado a parte,<br />

mac aos agentes do juizon<br />

(Ac. do TASP, 11.5.55. Rev. Tribs.<br />

238/382).<br />

«Tratando-se de prazo de decadenote<br />

ou preclusflo, o simples ingress°<br />

em Juizo nib° prevalece pare<br />

os efeltos legais. Mister se faz<br />

que, dentro do prazo em que o direito<br />

pode ser exercido, seja o reu<br />

cited°. S6 assim, a acAo se cons!.<br />

dere proposta.» (Ac. TJSP, 3.9.62,<br />

Rev. Tribs. 346/186).s —,(Fls. 301-<br />

2).<br />

Vein a peticAo de recurso acompanhada<br />

de substimcloso parecer do<br />

Prof. Galeno de Lacerda, coin as<br />

conclusaes que asslin se expressam:<br />

«1?) — NAo pode o Estatuto da<br />

Terra ser spliced° a situacdes<br />

juridicas anterlores a sua viands,<br />

de modo a tornar ineficaz, na ewecie,<br />

a promessa de compra e venda.<br />

Eats se constitulu em ato<br />

juridic° perfelto e acabado, sob o<br />

lmperio da lei antiga, e dela nasceu<br />

pars os consulentes o direito<br />

adquirldo A outorga da escritura<br />

definitive de compra. Aquele ato a<br />

ease direito rulo pode ser lesado,<br />

em prol dos autores, sob pens de<br />

°tense aos arts. 6? da Lei de IntroducAo<br />

e 153, § da Constituiclio<br />

Federal.<br />

2?) IncIdiram os autores em decade-ads<br />

da acao, por omitirem a<br />

°ascii° de todos os lltisconsortes<br />

necessarios no prazo (F.<br />

324).<br />

R.T.J. — 99 22<br />

Fol o recurs() extraordlnarlo admi<br />

tido por despacho do entlo Presiden<br />

te do Tribunal de Justice , que hoje<br />

coin tanto regozijo da Justice, ter<br />

assento no Supremo Tribunal Fede<br />

ral, o 'nab) magistrado Pedro Soa<br />

res Munoz, do seguinte teor:<br />

«Vistos.<br />

Alegando ausencla de notifica<br />

cAo, nos termos do g 3? do art. 9<br />

da Lei n? 4.504/64, a fim de que pu<br />

dessem, no prazo legal, exercer o<br />

direito de preempcAo, Amelia Bat<br />

taglin Sesti Deon e outros propuse<br />

ram acilo de preferencia contra<br />

Eliseo Jose Mezzomo e Nllo Arno<br />

Segabinazzi.<br />

Julgada procedente a ace°, em<br />

grau de recurso o processo foi anu<br />

lado, a partir da citactio, por nlio<br />

haver participado, como parte, o<br />

proprietarlo e arrendante do im6<br />

vel.<br />

Admitido o recurso extraordina<br />

rio interposto, o Supremo Tribuna<br />

Federal, através de sua 2! Turma<br />

dele nAo conheceu.<br />

Processada a cause, na comama<br />

de orlgem, o Dr. Julz de Direlto<br />

Substituto de SA° Vicente do<br />

Sul julgou procedente a acão e deferiu,<br />

em favor dos autores, a adjudicacao<br />

do !Wove' descrito.<br />

As partes apelaram.<br />

Por unanimidade de votes, a Pr!meira<br />

Camara Civel Especial negou<br />

provimento a arnbas as apelacdes,<br />

rejeltadas as preliminares de<br />

carencia da 'Ica° e de decadencia e<br />

prejudicada a relative A necessidade<br />

de intervencAo do Ministkrio<br />

Pftblico.<br />

Irresignados, recorrem, extraordinariamente,<br />

Eliseo Jost Mezzomo<br />

e Nilo Arno Segabinazzi e res-<br />

PecUvas muiheres, esteiando-se<br />

nas letras a, c e d do Incise III do<br />

art. 119 da Constituicilo Federal.


R.T.J. — 94<br />

Os recorridos Impugnaram o cablmento<br />

do recurso<br />

A especie e a seguinte: os proprietArios<br />

de uma fracAo de terras<br />

arrendaram a mesma pelo prazo<br />

de quatro anos; no curso do arrendamento,<br />

faleceram urn dos arrendantes<br />

e o arrendatArio, mas a locacAo<br />

contlnuou, por Puma de clAusula<br />

contratual. Antes de se venter<br />

aquele prazo, a viftva do arrendante,<br />

entao proprietAria do imOvel,<br />

vendeu parte do mesmo a tercelros,<br />

sem ouvir os sucessores do arrendatArio<br />

(ut resumo a as. 104-<br />

105). Aflrma-se a ocorrencia da decadencia<br />

da acAo, uma vez que os<br />

autores foram omissos em promover<br />

a totalidade das citaceses no<br />

prazo legal e o processo foi anulado<br />

a partir da<br />

0 prazo do art. 92, I 4?, do Estatuto<br />

da Terra 6 decadencial.<br />

Asseveram os recorrentes que as<br />

citac6es vMidas deveriam ter sido<br />

promovidas, necessariamente, dentro<br />

do prazo preclusivo. 0 acerclão<br />

adotou a orientacAo de que o prazo<br />

decadencial 6 para a simples propositura<br />

da acAo, providencia esta,<br />

tempestivamente, tomada pelos<br />

autores.<br />

Pelo fato de nAo haverem os autotes<br />

movido a acAo contra os litisconsortes<br />

necessarios, a relaclio<br />

jurfdica processual ntlo chegou a<br />

constituir-se devidamente. Por isso,<br />

a Pritneira Cement Civel, em<br />

5.7.66, apes proclamar como principal<br />

responsAvel o proprietArioalienante,<br />

anulou o processo a partlr<br />

citacão inicial.<br />

E certo que o 4? do art. 92 do<br />

Estatuto da Terra exige que haja<br />

requerimento, no prazo de seis meses,<br />

a contar da transcricão do ato<br />

de alienaclio.<br />

Assim, embora correta a afirmaclo<br />

do acOrdAo, de que o texto legal<br />

apenas exige a propositura da<br />

acAo, nAo se pode olvidar, porem,<br />

que a acAo nAo se dirigiu e nAo fol<br />

requerida contra o principal<br />

responsAvel, no dizer da decisAo da<br />

Primeira CAmara Civel, transita<br />

em julgado (f. 106), circunstAncia<br />

que impediu a formaclio devida da<br />

relacão jurfdica processual. Esta,<br />

somente anos ap6s, se constitulu<br />

regularmente.<br />

NAo deixa, assim, de assumir relevo<br />

a argftida decadencia.<br />

5. A ausencia de formalizacAo da<br />

caeca° dos lftisconsortes necessArios,<br />

invocada pelos recorrentes,<br />

nAo encontra ftmdamento. 0 aspecto<br />

6 enfrentado, corn precisão, no<br />

voto do Relator (fls. 268-269):<br />

... e que a citacAo dos proprietArios,<br />

precisamente contra os<br />

gnats a acAo deve, e deveria, ter<br />

sido movida— acAo a que se refere<br />

o art. 92, §{ 3? e 4?, da Lel n?<br />

4.504, de 30.11.64 — concretizouse<br />

pela existencla da procuracAo<br />

de fls. 168/170. Essa procuracAo 6<br />

oriunda da Repdblica do Uruguai.<br />

Consta seu texto original,<br />

em espanhol, e apresenta tamb6m,<br />

simultaneamente, autenticada,<br />

a traductio. A traducão estA<br />

a fls. 171/173. Foi outorgada<br />

pelos Mhos da falecida proprietAria<br />

alienante. EstA vazada nos<br />

seguintes termos (leu).<br />

Essa procuracAo, conseqUentemente,<br />

como se ye, 6 vAlida e<br />

torna os outorgantes representados<br />

no feito. A f. 167, Carlos Vicente<br />

de Arteaga Brum e sua<br />

mulher, Marla de los Angeles<br />

Fernandez Cuero de Arteaga, e<br />

Jose Angel de Arteaga Brum e<br />

sua mulher, Maria Iolanda Briozzo<br />

Aycardi de Arteaga, entraram<br />

corn uma peticAo, onde dizem<br />

que comparecem em jtazo para<br />

declararem-se cientes do procedimegto<br />

da acAo de adjudicacão<br />

complulsOria que Amelia Battaglia<br />

Sesti Deon, Roseli Deon Correa<br />

e seu marido, Gilberto Niede-


auer Correa, e Paulo Roberto<br />

Deon promoverann contra Eliseo<br />

Jose 1VIezzomo e sua muiher, Maria<br />

de Lourdes Pedron Mezzomo,<br />

e Nllo Arno Segabinazzi e sua<br />

mulher, Nllda Rumpel Segablnazzi,<br />

petite° assinada por Candid()<br />

Alfredo Silva Leal, a quern<br />

foram outorgados poderes pelo<br />

mandato de fls. 171/173.<br />

Aqui, como se ve, deram-se por<br />

citados e representados por seu<br />

advogado. Eles mesmos, posteriormente,<br />

nAo contestam a aclio.<br />

SA° os arrendantes.<br />

A cftacão dos kdquirentes<br />

acha-se sanada nessa fase do procedimento,<br />

entAo ern" renovacilo,<br />

porque eles compareceram a f.<br />

177. Sues posicties, a partir dessa<br />

' data, em diante, silo de litisconsortes<br />

passives necesserios.<br />

A intervenclio do Ministkrio<br />

Maim nAo era obrigateria. 0 direito,<br />

que a acAo se propes a atingir,<br />

nAo se ache inscrito entre as<br />

causes enumeradas no art. 82 do<br />

C6digo de Processo Civil.<br />

Sustentam os recorrentes a tese<br />

da inaplicabllidade, A especie,<br />

do Estatuto da Terra, nAo podendo<br />

o direito de preferencia tornar inefleas<br />

promessa de compra e venda<br />

anterior a vigencia do Estatuto,<br />

embora nAo inscrita no Registro de<br />

ImOveis.<br />

Este aspecto foi prequestionado,<br />

tempestivamente, consoante se infere<br />

de vote do revisor, a fls.<br />

276/277.<br />

0 contrato de compromisso de<br />

compra e venda foi Juntado a fls.<br />

38/39. Este datado de 11.3.64 e as<br />

firmas foram reconhecidas em<br />

10.6.64. Anterior, portanto, a vigencia<br />

do Estatuto da Terra (Lei n°<br />

4.504, de 30.11.1964).<br />

A ex1stencia desta promessa de<br />

compra e venda, anterior a vigencia<br />

da Lei n? 4.504, corn pagamento<br />

parcelado e sem clausula de erre-<br />

R.T.J. — 94 231<br />

pendimento, projeta reflexos profundos<br />

na soluclio do litigio, que se<br />

calca no direito de preferencia implantado<br />

pelo Estatuto da Terra.<br />

Segundo Oswaldo Opitz, a Lei n?<br />

4.504, em seu 4 3? do art. 92, criou<br />

um caso de preferencia legal<br />

(Contratos Agritrios no Estatuto da<br />

Terra, p. 108), encontrando semelhanca<br />

no art. 1.139 do Cédigo Civll).<br />

Essa norma, que lntroduziu precello<br />

novo no direito positivo brasileiro,<br />

atinentemente a arrendamentoi<br />

rurals, ntio atinge neg6cios<br />

juridicos estabelecidos anteriormente<br />

ou situacees Juridicas, mesmo<br />

de natureza obrigacional, definitivamente<br />

constituidas.<br />

Se essa promessa de venda tivesse<br />

sido acordada posteriormente<br />

entrada em vigor do Estatuto, aos<br />

promitentes vendedores incumbia<br />

a obrigacAo de comunicar a sua intencAo<br />

aos arrendatArlos, ensejando<br />

a oportunidade pars o exercicio<br />

do direito de preferência.<br />

Assinala Oswaldo Opitz (opus<br />

cit., p. 112) que fala-se, no thick) do<br />

g 3?, do artigo 92, de alienactio do<br />

imOvel, mas a verdade a que se<br />

trate de venda. (...) Inclui-se, na<br />

venda do imOvel, a promessa de<br />

compra e venda e da promessa de<br />

cessAo, definitive e irretratAvel,<br />

porque a Lei nt 649, de 1949, equiparou<br />

o prornitente comprador ao<br />

adquirente.<br />

NAo engendra maiores conseqUenclas<br />

o fate de a promessa ter<br />

sido firmada pelos herdeiros e,<br />

posteriormente, a escritura, pela<br />

vieva, e ter a escritura abrangido<br />

Area menor a prometida vender. A<br />

ausencia di registro da promessa<br />

de venda nAo desnatura as obrigacdes<br />

pactuadas entre as partes,<br />

que nela intervieram.<br />

A lei nova, criando um caso de<br />

preferincia, nAo poderia atingir,<br />

sem afronta ao art. 6? da Lei de In-


232 R.T.J. — 94<br />

troducAo ao COdigo Civil e ao art.<br />

153, § 3?, da ConstituicAo Federal<br />

os direitos e as oh/Unties consolidadas<br />

anteriormente, tornando ineficaz<br />

urn contrato de promessa de<br />

compra e venda, perfeitamente<br />

forrnaltzado entre as partes.<br />

Corn micro na letra d, porem,<br />

inviavel se apresenta o derradelo<br />

apelo. Os julgados, arrolados como<br />

paradigmas, não se , prestam para<br />

a perfeita demonstracAo do<br />

dissidio, por ausAncia de comprovaclio,<br />

pelos trechos transcritos, de<br />

identidade entre as situacees cotejadas.<br />

Incidem a Stnula, verberte<br />

n? 291, e o art. 305 do Regiment°<br />

Intern° do Supremo Tribunal Federal.<br />

Admit° o recurso, corn base na<br />

letra a.<br />

Vista, para razdes.» (fls.<br />

347/353).<br />

Em contra-razdes, sustentam os<br />

recorridos, arrendattulos a quern fol<br />

reconhecida a prefer-Alicia: a) o acerdão<br />

anterior nAo anulara a citacAo,<br />

senao apenas os atos processuais<br />

que se the seguiram; anulou o processo,<br />

a partir da citacAo que fora<br />

fella e que continuava valida, para<br />

que fosse convocada A lide a vendedora,<br />

dona Elmira Brum de Arteaga;<br />

b) a inaplicabilidade do Estatuto<br />

da Terra, em face da existencia da<br />

promessa de venda a ele anterior,<br />

nal) foi prequestlonada; c) de qualquer<br />

forma, a compra e venda que<br />

deu causa A acAo não se orlginou daquele<br />

prê-contrato; d) de acrescentar,<br />

ainda, que referido pre-contrato<br />

nAo fora inscrito no Registro de Im6veis,<br />

nAo gerando direito real nem<br />

mesmo contra os promitentesvendedores.<br />

(Fls. 361-5).<br />

A Procuradoria-Geral da<br />

em parecer, devidamente aprovado,<br />

do Procurador Walter Josè de<br />

Medeiros, assim se pronuncia:<br />

gTrata-se de recurso extraordinArio<br />

interposto corn fincas nas<br />

alineas a, c e d do permissivo constitucional<br />

pertinente, onde de logo<br />

ressai a irnprocedéncia dos dots 01limos<br />

fundamentos invocados, porquanto<br />

nAo se indica lei ou ato de<br />

Governor local contestado em face<br />

da ConstituicAo ou de lel <strong>federal</strong><br />

nem, de outra parte, se aponta decisão<br />

que haja dado interpretacAo<br />

divergente da contida no v. acOrclão<br />

impugnado a respelto dos mesmos<br />

fatos discutidos na causa.<br />

Resta, portant°, examinar se se<br />

verifica o pressuposto constitucional<br />

da alinea a.<br />

A propOsito da primeira questAo<br />

suscitada — decadAncia do direlto<br />

de acAo — nAo se preclsa no recurso<br />

o dispositivo legal cilia vigAncia<br />

teria sido denegada. Bastaria isto<br />

para ter-se por relegada a preliminar<br />

do prazo decadencia], multo<br />

bem repelida pela douta decisAo<br />

impugnada, nestes termos do voto<br />

do eminente relator:<br />

gConseqtlentemente, no meu<br />

entender, nAo houve decadAncia,<br />

eis que foi exercido aquele direito<br />

ao momento hâbil, ou seja,<br />

exatamente dentro do prazo de<br />

sets meses...» (f. 270).<br />

De fato dispee o art. 92, § 4?, do<br />

Estatuto da Terra (Lel 4.504, de 30<br />

de novembro de 1964) que, se o fizer<br />

no prazo de sets meses, a contar<br />

da transcricAo, poderA o arrendatttrio,<br />

a quem nAo se notificou a<br />

venda, haver para si o imOvel arrendado,<br />

depositando o respectivo<br />

prep.<br />

Ora, corn base nos elementos<br />

constantes dos autos, ficou patente<br />

que, transcrita a escritura em<br />

22.4.65 (f. 13), ja em 27.5.65 tinha<br />

ingress° em juizo a acAo de preferência,<br />

dentro, por conseguinte, do<br />

semestre legal.<br />

Bastava, a nosso ver, a simples<br />

propositura da acAo no prazo legalmente<br />

previsto para se ter por<br />

afastada a decadencia, sem neces-


sidade do aperieicoamento das eltn8es,<br />

els que a tanto nao obrigava<br />

o texto da lei, cuja viencia, antes<br />

de denegada, tot pontualmente<br />

afirmada, no particular da alegada<br />

decadOncia.<br />

Tents= os recorrentes introduzir,<br />

por sua vez, debate novo acerco<br />

da existencia de direito adquirido,<br />

consistente em contrato de promessa<br />

de compra e venda anterior<br />

viencia da Lei 4.504, de 30 de<br />

novembro de 1964, quando, ate en-<br />

GU, inexistia qualquer direito de<br />

pretext-oda dos arrendatarios A<br />

compra doimOvel questionado.<br />

Trata-se, pelo vistO, de tema nao<br />

ventilado pela douta decisão recorride<br />

e a que falta o Indispenstivel<br />

requisito do presquestionamento<br />

(Sfimulas 282, 356).<br />

Pelo nao conhecimento.» (Fls.<br />

378-380).<br />

E o relatOrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Mlnistro Decio Miranda (Relator)<br />

— No acOrdllo anterior, que<br />

proferira nos autos a Primeira CAmare<br />

Civel do Tribunal de Justice<br />

do Estado do Rio Grande do Sul,<br />

declarou-se que «sendo o proprietirio<br />

e arrendante o principal responsavel<br />

pela intracho legal, a ele e aos<br />

arrendaterios deve ser enderecada a<br />

ado e nä° o tot, radio porque se deu<br />

provimento a primeira apelactlo, para<br />

anular o processo a partir da citacão<br />

bided, e se julgou prejudicada a semade<br />

apelacAos. (F. 107).<br />

Se a actio era proposta pelos arrendmarios,<br />

a evidente que a exPrezsilo<br />

do acarchlo correspondia a um<br />

engano material. Queria dizer(«aele,<br />

proprietario, e aos promisstutsadqulrentes»<br />

deve ser dirisida a<br />

actio.<br />

Aos promissttrios adquirentes a<br />

nib) ja Holm sido citada. Faltava a<br />

anti° dos proprietArios promiten-<br />

R.T.J . - 94<br />

233<br />

tes vendedores. A falta desta citacáo<br />

6 que se dlrige o actirchlo. «A partir<br />

da citacaloo, nele, quer dizer, «a Part&<br />

da fase da citacAos, Ease que flea-<br />

ra incomplete pela falta de Macao<br />

dos proprietttrios. Quanto aos promissados-compradores,<br />

a citacão<br />

J& fora felta, e o process° contra eles<br />

continuou sem necessidade de nova<br />

citadlo.<br />

Vale dizer, pots, que o process°<br />

permanecia vivo, inclusive o ato pelo<br />

qual se etetuara a citacalo de um dos<br />

litisconsortes.<br />

Indlspensavel, porem, para que a<br />

relacilo processual se Integrasse,<br />

tossem citados os co-reus, os proprietarios<br />

allenantes.<br />

Estes, tazendo acordo com os arrendattaios<br />

(f. 162), perMitind que<br />

os prOprios autores se declarassem<br />

citados da act em nome dos its<br />

PrOPriettrios-allenantes (1.160), assumindo,<br />

assim, a posiello concomitante<br />

de autores e r6us-litisconsortes.<br />

Deram-se por citados<br />

em 4.10.71 (f.159).<br />

do Q a uando<br />

acti porem,<br />

deveria ter ocorricit<br />

o?<br />

Sobre o exercicio de preferencia<br />

do arrendatario, disptle o Estatuto<br />

da Terra, Lei it? 4.504, de 30.11.1964:<br />

«Art. 92<br />

if 3? — No caso de alienactlo do<br />

lmOvel arrendado, o arrendatario<br />

ter& preterencia pare adquiri-lo<br />

em igualdade de condicees, devendo<br />

o propriehlrio dar-lhe conheclmento<br />

da venda, a fim de<br />

que posse exercltar o direito de<br />

PeremPC80 dentro de Uinta dies,<br />

a contar da notificacilo judicial<br />

ou comprovadamente efetuada,<br />

medlante recibo.<br />

4? —0 arrendatArio a quem<br />

nao se notificar da venda poderS,<br />

depositando o preco, haver para<br />

si o imevel arrendado, se o requerer<br />

no prazo de self; meses, a


234<br />

R.T.J. — 94<br />

contar da transcricao do ato de<br />

alienacAo non o Registro de Im6vets.<br />

))<br />

pots, um prazo de sets meses,<br />

a contar da transcriclio do ato de<br />

alienactio no Registro de Im()vela,<br />

para o exercicio do direito de preferencla.<br />

Trata-se de um prazo de decadencia.<br />

No caso dos autos, nAo se tern a<br />

data da transcriciio na certiclão de f.<br />

13, mas, sendo de 23.12.1964 a escritura<br />

que the deu causa, 6 evidente<br />

que a Wm de preferencia, ajuizada<br />

em 24.5.1965 (f. 4), observou o prazo<br />

de seas meses. em virtude do acordo que com eles<br />

Nilo bastava, por6m, segundo os celebraram (fls. 159-160). E na mesrecorrentes,<br />

ajuizar o pedido dentro ma data, isto 6, sem tardanca, ainda<br />

Besse prazo, para ficarem os autores compareceram e se deram por citaa<br />

salvo da decadencia. Deveriam es- dos na pessoa de advogado a quern<br />

tes efetuar a citacAo dos alienantes outorgaram poderes para recebino<br />

prazo do art. 166, I 2?, do CPC de mento de citacAo initial. (f. 167).<br />

1939,vigente a spots, combinado Por tudo isso, incabivel se mostra,<br />

corn o art. 1? do Decreto-lei n? 6.790,<br />

rcunstlincias<br />

do caso con-<br />

de 15.8.44, que 6 tornou aplicavel aos<br />

ante as ci<br />

creto, a alegacAo de decadencia do<br />

ca de decadencia. NAo bastava pedido, que, oportuna na primeira<br />

manifestar a preferancia nos termos aPelacAo, nAo rot entilo fefta.<br />

do 9 4? do art. 92 do Estatuto da Ter-<br />

ra, sendo necessario fazer citar no<br />

Improcede, pois, a alegacAo de neprazo<br />

processual os interessadosgativa de vigancia do art. 92, 9 4? do<br />

contra quem se exercia a preferen- Estatuto da Terra.<br />

cis.<br />

Vejamos a alegacão de ferimento<br />

A observactio dos recorrentes se- ao art. 153, § 3?, da Constituiciio, e<br />

ria procedente, mas nAo mats nesta<br />

do art. 6? da Lei de IntroducAo ao<br />

Hada°.<br />

C6digo Civil.<br />

Deveria ter sido feita por °mita° Repousa em que o direito de prefedo<br />

primeiro recurso extraordinario. rencia do arrendatario, nascendo<br />

corn o Estatuto da Terra em 1964,<br />

A sentenca que julgara procedente<br />

a acao dos arrendatarios, nab de- nAo podia atingir os efeitos de proviam<br />

ter oposto os promissario s- messa de vends anteriormente celecompradores<br />

apenas a alegacAo de brad 9 dosa, em 11.3.1964, qual o de fls. 38-<br />

nulidade por falta de citaciio dos<br />

autos.<br />

alienantes, como o fizeram a fls. Responde-se que se tats de docu-<br />

78/79, masdecadanci deviam ter oposto, desde<br />

a, por falls de ci-_ acerclAo na apelacão, nAo 6 possivel,<br />

nestp segunda fase, introduzir o nadiclo<br />

de decade/xis por motivo naquela<br />

epoca invocavel.<br />

A demora da citacão, agora, somente<br />

poderia implicar no reconhecimento<br />

da decadencia se, apas batxados<br />

os autos do Supremo Tribunal<br />

corn o acerdAo no anterior recurso<br />

extraordinario, nao tivessem os autores<br />

promovido em prazo habil a citacilo<br />

dos refs proprietarios alienantes,<br />

considerados litisconsorte s necessarios.<br />

Mas esta citacAo Tao demorou,<br />

porque pelos rails alienantes se deor<br />

citados os prOprios autores,<br />

mento particular, apenas reconhecientilo,<br />

a _ das as firmas por tabeliAo, nAo<br />

WA° sortes daqueles, recesses, tidos como litiscon transcrito ou inscrito em registro pit-<br />

blico. Dele nAo decorrem nem o co-<br />

Atendidos os rem promissarios- nhecimento de terceiros, nem a cercompradores,<br />

no que pediram, pelo<br />

teza legal da data de sua feitura.


E os recorridos dizem que nAo fo1<br />

dessa promessa que promanou o document°<br />

definitivo de venda, mas de<br />

outra, macs recente, outorgada JO na<br />

viands do Estatuto da Terra.<br />

Tats objec(Ses, 6 certo, s8o desprezadas<br />

pelo douto despacho que ad/11'-<br />

0u o recurs° extraordlnArio, verbisi<br />

((NA° engendra maiores consequenclas<br />

o tato de a promessa<br />

ter sido firmada pelos herdeiros<br />

e, posteriormente, a escritura,<br />

pela viva e ter a escritura<br />

abrangido Area menor A prometida<br />

vender. A ausencla de registry<br />

da promessa de venda nAo<br />

desnatura as obrigacOes pactuadas<br />

entre as partes, que nela intervleram.<br />

A lei nova, criando urn caso de<br />

preferencia, nAo poderia atingir,<br />

sem afronta ao art. 6? da Lei de<br />

Introducilo ao ardigo Civil e ao<br />

art. 153, 3?, da Constituictio Federal,<br />

os direitos e as obrigactes<br />

consolidadas anteriormente, tornando<br />

ineflcaz um contrato de<br />

promessa de compra e venda,<br />

perfeitamente formalizado entre<br />

as parteso. (f. 353).<br />

Emend°, porem, que tal contrato,<br />

embora formalizado, para valer entre<br />

as partes nAo pole ser oposto a<br />

terceiro, qual arrendatArio do 'Wive]<br />

objeto da promessa.<br />

A esta consideracAo acrescento<br />

que nenhuma tentativa se fez para<br />

provar por outros meths a existencla<br />

do contrato na data em que consta<br />

ter sido celebrado Sequer se invocou<br />

a notoriedade do compromisso, ou<br />

seu conhecimento por parte dos arrendatArios,<br />

ou o pagamento, por estes,<br />

de arrendamento aos compradores.<br />

A (mica prova da existencia do<br />

documento anterlormente A data da<br />

lei que criou o direito de preferencia<br />

do arrendatArio 6 sua prOpria data, e<br />

a data do reconhecimento de firmas,<br />

Ede lancado.<br />

R.T.J. - 94<br />

Quanta A decadencla da acilo por<br />

nil° ter sido proposta simultaneamanta<br />

contra os allenantes, os ac6rdAos<br />

colacionados (fls. 301-2), sobre<br />

ser nulo o process° quando nAo citados<br />

todos os litisconsortes passivos<br />

necessaries, seriam invocAvels na<br />

ase anterior. Mas esta flcou supera-<br />

235<br />

Pode o terceiro, o arrendatArio,<br />

ser afrontado com a simples presun-<br />

OW de veracidade de tats dates?<br />

De qualquer sorte, a transcricAo<br />

da compra e venda no Reglstro de<br />

ImOveis (f. 13), indica como titulo do<br />

contrato a escritura de 23.12.1964.<br />

, Esta Gltima, completada pela<br />

transcricAo, 6 o ato de que decorre o<br />

exerciclo do direito de preferencia<br />

por parte dos arrendatArtos.<br />

Celebrada a escritura na aludida<br />

data de 23.12.1964, o ato se praticava<br />

na vigencia do Estatuto da Terra,<br />

que entrou em vigor na data de sua<br />

publicacAo, isto 6, em 30.11.1964.<br />

NAo hA, pots, colisAo entre a sujei-<br />

VI° do caso aos efeitos da lei, e o ato<br />

juridic° parfait°, se o ato 6 posterior<br />

A vigencla desta.<br />

Afasta-se, assim, a alegada negativa<br />

de Agenda do art. 153, { 3?, da<br />

ConstitulcAo, e do art. 6? da Let de<br />

IntroducAo ao COdigo Civil.<br />

Tambem nAo hA de prosperar a inconsistente<br />

alegacAo de negativa de<br />

vigêncla dos arts. 82, III, e 84 do<br />

CPC, por falta de intervenclio do erg/to<br />

do Min!start° POblico. NAo artiste<br />

no caso, tnteresse da Fazenda POblica,<br />

no concemente ao pagamento<br />

de Impostos.<br />

Por outro lado, nSo oferece a menor<br />

adequacAo o invocado cabimento<br />

do recurso pela letra c.<br />

No concernente ao fundament° da<br />

letra d, nAo divergem do acardilo recorrido<br />

os arestos alusivos A apneacAo<br />

temporal da lei, invocados a f.<br />

301, publicados, respectivamente, na<br />

RDA 1/161 (RE 4.369) e na RT<br />

174/118.


236<br />

R.T.J. — 94<br />

da corn a decisAo de nulidade a par- EXTRATO DA ATA<br />

tir da citacão, o que, no caso, apenas<br />

significava mandar citar o litiscon- RE 85.049 Rel. Min. Desorte<br />

passivo ainda nAo trazido aos do Miranda. Recte.: Eliseo, Jose<br />

autos.<br />

Mezzomo e outros (Advs.: Angelito<br />

A. Aiquel e outros). Recdos.: Amelia<br />

No tocante aos actordAos afirmati- Battaglia Sesti Deon Correa e outros<br />

vos da decadencia por nAo ter s ido<br />

(Advs.: Jose Dutra e outros).<br />

feta a citacão no prazo legal subseqiiente<br />

ao despacho a ordenou, Decisao: Adiado o julgamento por<br />

tambem aqui falta o pressuposto de haver pedido vista o MM. Moreira<br />

sua adequacAo ao caso dos autos, em Alves, depots do voto do Relator que<br />

que tanto a primeira quanto a segun- nAo conhecia do recurso. Falou, pelo<br />

da citacao ocorreram em prazo Otil, Recte.:o Dr. Angelito A. Aiquel. Au-<br />

em rt.31cilo ao precedente ato Judisente, justificadamente, o Sr. Min.<br />

cial qtCe ordenara cada uma delas. Cordeiro Guerra.<br />

De resto, como assinala o douto Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

despacho que admitiu o recurso ex- Presentes A SessAo os Srs.<br />

traordinArto, «os julgados, arrolados Ministros LeitAo de Abreu, Moreira<br />

como paradigmas, nä° se prestam Alves e Decio Miranda. — Ausente,<br />

para a perfeita demonstracAo do justificamente, o Sr. Min. Cordeiro<br />

dissidlo, por ausencia de comprova- Guerra. 5? Subprocurador-Geral da<br />

clio, pelos trechos transcritos, de in- Reptiblica, o Dr. Mauro Lelte Soadentidade<br />

entre as situacees cotejares.das», incidindo, assim, o verbete Brasilia, 8 de mato de 1979 — Hello<br />

291 da &mule e o art. 305 do Regi- Francisco Marques, SecretArio.<br />

mento Intern do Supremo Tribunal.<br />

(f. 353).<br />

VOTO (VISTA)<br />

Ve-se, deste meu voto, que a<br />

argilictio mais poderosa do recurso<br />

seria a dos efeitos, em relacAo ao ar- 0 Sr. Ministro Moreira Alves — 1.<br />

rendatArio, da preexistent promes- Pedi vista, para examiner dots ponsa<br />

de venda, trazida aos autos por tos no voto do eminent relator: o<br />

documento particular nAo inscrito em que S. Exa. afasta a alegacAo de<br />

em registro pUblico, apenas com da- decadéncia pela circunstancia de<br />

tas de assinatura e de reconhecimen- q ue ela seria procedente se Mita por<br />

to de firmas anteriores A data de vi- °mill° do primer° recurso extraorgencia<br />

da lei.<br />

(Mario; e o em que S. Exa. nega a<br />

existencia de direito adquirido em<br />

Admitiu seu efeito, contra o arren- favor dos compradores, por entepder<br />

datArio, o douto despacho que defe- que a promessa de compra e venda<br />

existente em favor deles, e anterior<br />

riu o recurso<br />

ao Estatuto da Terra, Igo tinha eftcAcia<br />

contra terceiros pelo fato de<br />

Recusa-lhe meu voto tai efeito, pe- nAo ter sido registrado em Registro<br />

la consideracAo de se tratar de documento<br />

cuj a data s6 prevalece contra<br />

PUblico.<br />

as preprias partes, que nele intervie- 2. Do exame dos autos, tambem<br />

ram.<br />

cheguei A conclusAo de que, no tocante<br />

A alegada decadencia, nAo he<br />

Por isso, e pelo mais que expus em<br />

como se sustentar a negativa de vi-<br />

meu voto quanto As demais questhes<br />

gencia do artigo 92, 4?, do Estatuto<br />

suscitadas, nAo conheco do recurso.<br />

da Terra.<br />

4<br />

t


R.T.J. — 94<br />

Para isso, nao levo em conta a cir<br />

cunstAncia de os recorrentes nAo ha<br />

da (C6d. Proc. Civil, art. 294,<br />

-<br />

verem Invocado a decadencia por<br />

I)".<br />

ocasiAo do primeiro recurso extraor- Dal, portanto, ser valida a Ifsao de<br />

Naquele momento, a discus- CAmara Leal (Da Primerica° e da<br />

silo se cingia a existencia, ou nAo, de Decadkncia, nis 155-A, pitgs. 249/250,<br />

litisconsortes passivos necesserios SAo Paulo, 1939). segundo o qual —<br />

(os vendedores), questAo evidente- embora o CAdigo Civil, no tocante<br />

mente previa corn relacAo a existen- interrupclio da prescricilo (e o mescla<br />

de decadencia por nil° haver o mo principlo se splice A decadencia,<br />

direly) de preferencia sido exercido no que dlz respelto A fbracAo da data<br />

em face desses litisconsortes. A con- de seu exercleio), tivesse sido °missideracilo<br />

que me lnduz a afastar a s°, ao contrArio do que sucedera<br />

alegada negativa de vigencia do arti- quando As aches pessoais, no concergo<br />

92, f do Estatuto da Terra 6 a nente As aeries reels em que havia 11-<br />

de que, sobb o império do C6digo de tisconsercio necessArio — segundo a<br />

Process° Civil de 1939 — em cuja vi- qua!, repito, "se houver o litisconserglincia<br />

se propels a presente acAo a cio passno necessArio, a interrupcão<br />

acAo era tida por proposta, da prescricilo contra urn dos lit's-<br />

instaurando-se a instAncia (e — noteconsorte prejUdiea a todos os dese<br />

— o seu simples ajuizamento basmals litisconsortes passlvosu. 0 que<br />

tava para impedIr a decadkncia), implica direr, em materia de deca-<br />

corn a so citacAo de um dos revs, dkncia, que ajuizada a nil° contra<br />

abide quando, mail tarde, se verif!- urn dos lillsconsortes unitArios necasse<br />

a ausencia de Iltisconsorte unios, dentro do prazo, nAo ocortfulo<br />

necessArio, cuja citacAo devere a decadencla corn relacilo aos deria<br />

ser determinada pelo juiz, ao mats, desde que, determinada sua<br />

proferir o despacho saneador. A pro- citactio posteriormente, essa se face<br />

peon°, escrevia Guilherme Estelita — como se fez, no caso — regular-<br />

(Do Litisconsorte no Direito mente.<br />

Bras!Miro, nag. 408, Rio de Janeiro, Esse entendimento6, sem rill-<br />

1955):<br />

vi da, desarrazoado, apllcando-se-lhe<br />

a SOmula 400.<br />

uPoder-se-A questioner: ainda E nilo hA, a propOsito,<br />

em casos tals, a Irish:Meta deve <strong>jurisprudencia</strong>,<br />

dissidlo de<br />

uma vez que os actr-<br />

ser tida por comecada e a acAo dAos trazidos a confronto WM se re-<br />

por proposta, corn a so citacAo de ferem a hipeteses em que houvesse a<br />

um dos revs? Se a relacilo circunstAncia acima descrita.<br />

lltiglosa nAo pode ser decidida 3. Corn relacão ao alegado direlto<br />

sena° em face de todos os adquirido, em virtude da preexistan-<br />

ressados, sera legal admit& procia, ao Estatuto da Terra, de propasta<br />

a acAo, instaurada a hismessa de compra e venda, tot essa<br />

tAncia, sem estarem todos conve- materia prequestionada, como se ve<br />

eados pars o juizo? Ainda assim, do voto do revisor (corn o qual con-<br />

afirmativa deve ser a resposta: a cordou o vogal, ao declarer: "Estou<br />

lnstAncia se lnstaurou, a cause inteiramente de acordo corn os eml-<br />

esta proposta. A ausencia no pronentes colegas" — f. 278), no qual a<br />

cess° de um litisconsorte neces- alegacko tot afastada sob o funda-<br />

Mut nAo impede que a acAo se ment° de que:<br />

tenha por proposta. Apenas o<br />

juiz, ao saner o feito, determi- «Entendo tanthent que o Estenant<br />

a citaclo do Iltisconsorte ou tuto da Terra 6 aplicAvel a espe-<br />

lltisconsortes ausentes a deman- cle — embora segundo alega da<br />

tribune o procurador dos primel-<br />

237


238<br />

R.T.J. — 94<br />

ros apelantes — se alegue que o<br />

que existe a contrato de promessa<br />

de compra e venda relat i vo a<br />

este im6vel. Ocorre que o § 3?<br />

dispOe sobre allenacAo• E mats<br />

adiante se refere A venda. Promessa<br />

de compra e venda ilk, 6<br />

venda; nAo 6 allenacAo. 0 direito<br />

surge exatamente no momento<br />

da venda e nAo no momento de<br />

urn contrato preliminar, de urn<br />

precontrato de promessa de cornpra<br />

e venda.<br />

Al6m do mats, pelos dados que se<br />

collie e que colhi da revisAo, se<br />

constata que a promessa de cornpra<br />

e venda existente nos autos<br />

nAo dlz respeito exatamente<br />

Aguela Area de terras que 6 o objeto<br />

do pedido dos autores" (fls.<br />

276/277).<br />

Prequestionada a questAo n o<br />

eminente relator nAo o nega<br />

di-<br />

Arlo de S. Exa. quanto A conclusAo<br />

sobre seu merito.<br />

A propOsito, acentua o eminente<br />

relator:<br />

«Entendo, nortm, que tal contrato,<br />

embora formalizado para<br />

valer entre as partes, au) pode<br />

ser oposto a terceiro, equal o arrendatArio<br />

do irnOvel objeto da<br />

promessa.<br />

A esta consideraflo acrescento<br />

que nenhtuna tentativa se fez para<br />

provar por outros meios a<br />

existencla do contrato na data<br />

em que consta ter sldo celebrado.<br />

Sequer se invocou a notoriedade<br />

do compromisso, ou seu conhecimento<br />

por parte dos arrendatArlos,<br />

ou o pagamento, por estes,<br />

de arrendamento aos compradores.<br />

A (mica prova da existencia<br />

do documento anteriormen te A<br />

data da lel que criou o direito de<br />

preferencia do arrendatArio e a<br />

sua prepria data, e a data do reconhecimento<br />

de firms, nele<br />

lancado.<br />

Pode o terceiro, o arrendatbrio,<br />

ser afrontado corn a simples _<br />

presuncAo de veracidade de tais -<br />

datas?<br />

De qualquer sorte, a transcri-+<br />

cão da compra e venda no Registro<br />

de Im6veis (f. 13), indica co-4<br />

mo titulo do contrato a escritura<br />

de 23-12-1964.<br />

Esta Ultima, completada pela<br />

transcricilo, e o ato de que decorre<br />

o exercicio de direito de preferencia<br />

por parte dos arrendatArios.<br />

Celebrada a escrltura na aludida<br />

data de 23-12-1964, o ato se<br />

praticava jA na vigencia do Estatuto<br />

da Terra, que entrou em vigor<br />

data de sua publicacão, is<br />

to 6, e<br />

na m 30-11-1964.<br />

NAo ha, pots, collsAo entre a<br />

sujictlo do caso aos efeitos<br />

lel, e e o ato juridlco perfeito, se<br />

ato 6 posterior A vigéncia desta.<br />

Afasta-se, assim, a alegada ne<br />

gativa de vigéncia do art. 153,<br />

3?, da ConstituicAo, e do art. 6?<br />

da Lei de Introducão ao COdigo<br />

Data venia, nAo se me afiguram<br />

procedentes tais alegac6es.<br />

Demonstram-no, a meu ver, es<br />

tas precisas consideracOes, que s<br />

encontram a fls. 314/320, do pare<br />

cer do Prof. Galeno de Lacerda:<br />

«As pecullaridades de que s<br />

reveste o caso concreto nAo infi<br />

mam a conclusAo de que a lei no<br />

va poderla tornar ineficaz o ne<br />

g6clo juridic° celebrado pelos l<br />

cadores corn os consulentes.<br />

Em primeiro lugar, 6 irrele<br />

vante o fato de se tratar de pr<br />

messa de compra e venda, com<br />

se ela nAo obrigasse, a tal pon<br />

que a let nova pudesse impedi<br />

the o curnprimento mediante<br />

proscricflo do negficio definiti<br />

pactuado.


Sabe-se que o compromisso de<br />

compra e venda de im(Wel se caracteriza<br />

por constituir-se em<br />

obrigacAo de fazer, isto é, de outorgar<br />

a escritura definitive. Este<br />

represents, pots, o efeito<br />

juridic° do negacio resultante da<br />

promessa.<br />

Ora, vlmos aclma, pelas licaes<br />

dos mestres de direito transited°,<br />

que os efeltos huldicos dos<br />

neg6clos constituidos sob a lei<br />

antiga nib) podem ser atingidos<br />

pela lei nova. Que, no caso, o<br />

compromisso se perfez, como ne-<br />

*Selo perfelto e acabado, sob a<br />

lel anterior, e que, em timcAo<br />

desta, se constftuiram os direitos<br />

subjetivos des partes a execucAo<br />

da obrigacAo de fazer, ou seja, a<br />

realizacAo do negacio definitivo,<br />

e inquestionAvel. Ninguem podera<br />

negar, em sa consciencia, que,<br />

na hipotese, a aplicaptio da let<br />

nova em beneticio dos locatArios,<br />

rompe aura situacilo juridica perfeftamente<br />

constituida entre terceiros<br />

sob a egide do direito anterior.<br />

E lsto se nos afigura aosolutemente<br />

vedado pela regra constitucional.<br />

Pouco importa que se trate de<br />

obrigaclio de fazer. Bonnecase,<br />

citando Merkur, a clam:<br />

l'egard de l'expectative resultant<br />

d'un contrat, elle est toujail<br />

:Stern-it hors de Patteinte<br />

Posterieure, parce hue<br />

told trat forme un lien legal<br />

par Is forma duquel ceux 'qul<br />

Pont souscrit sont soumis a la necessite<br />

de darner ou d3faire ce a<br />

quol Hs se sent engages» (Ob.<br />

cit., wig. 115).<br />

Tambem nao procede a eventual<br />

objecAo resultante do Cato<br />

de, no compromisso, se pactuarem<br />

prestacCes sucessivas do<br />

PreCo, embora o vencimento da<br />

Ultima viesse a ocorrer la sob o<br />

imperio da lei nova. E evidente<br />

que esse tato nito retire do nes&<br />

R.T.J. - 94<br />

do juridic° as sues caracteris<br />

cas de acordo de vontades perf<br />

to e acabado, para os fins de d<br />

reito transiterio.<br />

Abide Bonnecase, atando de<br />

ta vez Aubry e Rau, esclare<br />

deflnitivamente o assunto:<br />

elms drofls darkant tune co<br />

vention expresse ou lagaleme<br />

presumee amstituent, dans<br />

sons de notre mallere, des dro<br />

acquit; a Falun de l'atteInte<br />

toute lop nouvelle, alors mem<br />

gulls ont pour objet des pal<br />

ments a faire a des époques su<br />

cesslves, qui ne viendraient a 6<br />

cbtance quo postarleurement a<br />

Promulgation de cette lob) (O<br />

cit., pall. 123).<br />

Alias, na especie, verifica-s<br />

que a escritura definitive tev<br />

por objeto, apenas, metade d<br />

Area prometida vender, o qu<br />

significa que, pelo contrato, a<br />

prestaciles da parte adquirida s<br />

venceram todas antes da vigen<br />

cia da lei nova.<br />

Nem se din que, pelo fato de<br />

objeto ser parcial, tratar-se-ia d<br />

outro neg6clo, desvinculado d<br />

promessa anterior. 0 argument<br />

nAo procede, a toda evidencia. S<br />

os compromissithos compradore<br />

clue, na verdade, poderiam exigh<br />

o cumprimento integral da pro<br />

messa, mediante o pagamento in<br />

tegral do preco, mesmo que ocor<br />

rido vencimento da prestacAo<br />

pactuada pare data que veto a<br />

cat no perfodo de vigencia da let<br />

nova, se contentaram corn a realizacAo<br />

de parte do negacio, nem<br />

Dor isto essa realizacAo delxa de<br />

constituir execticAo e efeito do<br />

compromisso anterior. A parte<br />

este integrada no todo prometido,<br />

e, sendo assim, a escritura<br />

parcial vincula-se, indiscutivelmente,<br />

a reterida promessa.<br />

Tambem nib impressions o fato<br />

de a promessa ter sido firma-


240<br />

da pelos herdeiros, e a escritura<br />

definitiva pela vinva e inventariante.<br />

A doutrina, tratando de terra<br />

ainda mais significativo, admite<br />

hoje, sem reservas, a eficacia da<br />

venda de bem alhelo:<br />

«Uma vez que o contrato de<br />

compra e venda a consensual e<br />

por ele se se promete a transmisda<br />

propriedade e da posse,<br />

se<br />

ou s6 da posse, nada obsta a que<br />

R.T.J. —94<br />

seja objeto de tal contrato o bem<br />

alheio, isto 6, o bem de propriedade,<br />

ou de posse, ou de propriedade<br />

e de posse alheias. Neo hã<br />

qualquer invalidade, nem ineficacia.<br />

Se o vended3r vem a prestar,<br />

por ter adquirido o bem, ou<br />

por ter encarregado o dono de<br />

prestar a propriedade e a posse,<br />

ou s6 a propriedade, ou s6 a posse,<br />

cumpriu o que prometeu. Se<br />

falba, inadimpliu, e ha as conseqfiencias<br />

do inadimplemento".<br />

(Pontes de Miranda, Tratado,<br />

vol. 39, peg. 26).<br />

Ora, se a venda de bem alheio<br />

e eficaz, corn mull° mais raze()<br />

haverA de se-lo a promessa de<br />

venda de bens de heranga indivisa<br />

feita pelos herdeiros. A mile<br />

destes, no caso, nada mais fez do<br />

que cumprir o pactuado pelos filhos,<br />

condeminos, corn ela, dos<br />

bens inventariados, tank* mais<br />

que o preco jit fora recebido.<br />

Ern outras palavras, um dos<br />

efeitos da promessa consistiu na<br />

anuencia da vinva em prestar a<br />

escritura. Se net) o fizesse, seus<br />

fllhos responderiam por perdas e<br />

danos em virtude do compromisso.<br />

A manifestacão de vontade da<br />

mee se Isere, assim, necessariamente,<br />

no contexto dos efeitos do<br />

compromisso, imunes a atuacão<br />

da lei nova. Quaisquer que fossem<br />

os dlspositivos desta, impenderia<br />

aos filhos cumprir a promessa,<br />

ou diretamente, ou por intermédio<br />

de outra pessoa, no ca-<br />

so, a mee e inventariante dos<br />

bens da heranca.<br />

Finalmente, cumpre examinar<br />

a objecão consistente no fato de o<br />

compromisso não ter 'sido levado<br />

a registro e, portanto, neo se tornar<br />

eficaz contra terceiro.<br />

Existe no argumento urn soilsma<br />

sail, mas, nem por isto, menos<br />

evidente. 0 problema que se<br />

pee 6 exatamente o inverso. NAo<br />

se trata de saber se o neg6clo 6<br />

eficaz em face de terceiro, pela<br />

ausencia de registro, mas, sim,<br />

se terceiro, em virtude de lei<br />

nova, pode desconstituir ato<br />

juridico perfeito e acabado, ou<br />

tome-10 ineficaz, entre as partes<br />

que nele se vincularam an<br />

mente sob o imperio da lei antiti- ga.<br />

A regra da não prevalencia do<br />

ato ern face de terceiros, pela ausencia<br />

do registrn, pressupee o<br />

conflito de . atos juridicos sob o<br />

imperio da mesma lei. Então,<br />

sim, se afirma, corn razed, que,<br />

por exemplo, na bip6tese da venda<br />

do mesmo bem a pessoas diversas,<br />

ern atos distlntos, prevalece<br />

aquela que for registrada<br />

ern primeiro lugar. Os negOcios<br />

se realizaram sob a mesma lei.<br />

0 de que aqui se cuida, por m,<br />

e de hipetese inteiramente diversa,<br />

nitidamente de (Unit° intertemporal.<br />

A Unica indagaceo que<br />

cumpre fazer 6 esta: Sob a lei antiga,<br />

segundo a qual se efetivou o<br />

compromisso, poderiam os locatArlos,<br />

estranhos ao negOcio,<br />

torna-lo ineficaz A revelia das<br />

partes, pelo simples fato da inexistencia<br />

do registro? E este,<br />

acaso, entre as mesmas partes,<br />

seria elemento indispensavel Para<br />

a constitulcAo e perfeigão da<br />

eficacia do contrato?<br />

A resposta negativa se impee<br />

corn evidencia solar.


Estamos, portanto, em presenca<br />

de um ato juridic° perfeito e<br />

acabado, gerador Inequivoco de<br />

(Unitas adqulridos, plenamente<br />

eficazes segundo a lei antiga, e<br />

que, portanto, deve permanecer<br />

ao abrigo de ataques da lei nova,<br />

por imperativo coristitucional.<br />

Pouco importa que esses ataques<br />

se apresentem sob qualquer<br />

forma desconstitutiva, seta a<br />

abolictio do negacio juridic° pure<br />

e simples, seta a criacflo de Wren*<br />

real em favor de terceiro.<br />

Em ambas as hipoteses, haverA<br />

tentativa de supressAo de uma situacAo<br />

Juridica concreta, definitivamente<br />

constitulda sob a lei antiga,<br />

o que 6 positivamente vedado<br />

pela ordem constitucional.<br />

Para o dlreito transitario, nestas<br />

circunst.9ncias, nAo cabe nenhuma<br />

prioridade para os diretos<br />

reels em face dos pessoals,<br />

ou vice-versa. Ambos merecem<br />

igual protecAo, em confrontoctuis<br />

com os outros, se constltuldos<br />

sob imperil) da lei anterior.<br />

Bonnecase, a este respelto, innate<br />

com magistral argUcla:<br />

«A plus forte raison, si Von<br />

pent dire, notre criterium<br />

exigent-11 is respect de taus les<br />

dross patrimonitux, aussi Men<br />

des droits reels que des droits de<br />

creance nes sous l'empire de la<br />

legislation ancienne.<br />

«Si tine obligation a aPParu<br />

sous l'empire de la loi ancienne,<br />

du fait de la mise en fonctionnement<br />

d'une source d'obligations<br />

consacrite para celles-ci, cette<br />

obligation subsistera avec les carattans<br />

et les consequences qul<br />

lui attribuaft la loi ancierme».<br />

(Ob. cit., Wig. 264).<br />

R.T.J. — 94 241<br />

A tese da prioridade dos dlreltos<br />

reais criados por lel nova sabre<br />

os direitos pessoais adqulrldos<br />

sob lei antiga surglu na<br />

Franca, em meados do seculo<br />

passado, por obra de Chabot de<br />

L'Alller, e encontrou eco, ate, em<br />

Roubier, em hipatese anAloga de<br />

criacilo de direito real em favor<br />

do locatarlo, na primeira edict)<br />

de seu livro Les Conflits de Lois<br />

dens le Temps (2? vol., pAgs. 1<br />

e 189), surgida em 1933.<br />

A °pinta° de Chabot, contudo,<br />

foi amplamente refutada por<br />

Bonnecase (ob. cit.,. pAgs. 109 e<br />

), e Roulner ellminou da segunda<br />

elleAo de sua obra a passagem<br />

referida (V. edicflo de<br />

1960, pAgs. 191 e segs.).<br />

Acontece que, em Franca, pelo<br />

menos na etioca em que tai tese<br />

fol sustentada, o principio do<br />

respeito aos direitos adguiridos<br />

possuia assento, nAo constitucional,<br />

mas meramente legal, inscrito<br />

no art. 2? do ardigo Civil,<br />

tAo somente.<br />

Outra e a sftuagflo no Brasil,<br />

onde esta regra basica emana da<br />

Constitute-So, que tutela de modo<br />

pereinptario, contra as intrusoes<br />

da lel nova, o ato juridic() perfeito<br />

e os direitos adqulridos sewdo<br />

a lei anterior, a todos ales, sejam<br />

quals forem, sem distingullos<br />

pela natureza pessoal ou<br />

real.»<br />

Em face do 5 3? do artigo 153 da<br />

Constituicilo, que nAo In qualquer<br />

Wirth:Tao em matkria de ato juridic°<br />

perfelto e de dingo adquirido, e indubitivel<br />

que o contrato valid() entre<br />

as partes 6 ato juridic° perfeito, dele<br />

decorrendo, pare tuna ou para ambas,<br />

(Arenas adqulridos. Se lei posterior<br />

aria pare terceiro dingo sobre


242<br />

R.T.J. — 94<br />

o objeto do contrato e oponivel a ambas<br />

as partes contratantes, nAo pode<br />

ela. sob pena de alcancar o ato<br />

juridic() perfeito e o direito adquirido<br />

entre as partes, ser aplicada a contratos<br />

validamente celebrados antes<br />

de sua vigOncia. Para esse efeito,<br />

pouco importa que o contrato, quando<br />

celebrado, tivesse, ou tido, sido<br />

insult° em registro pUblico para<br />

ser, ou nAo. eficaz perante terceiros<br />

Basta que se atente para o seguinte<br />

exemplo: duas pessoas celebram urn<br />

contrato que a licit° no momento de<br />

sua formacão; posteriormente, a promulgada<br />

lei que torna 'licit° tal contrato,<br />

podendo, portanto, sua nulidade<br />

ser invocada por qualquer interessado;<br />

havern quem sustente que<br />

esse contrato nAo estA fora do campo<br />

de aplicacAo da lei nova por se tratar<br />

de ato juridic() perfeito, independentemente<br />

de ter sido, ou nAo, levado<br />

a registro prIblico para ser eficaz<br />

perante terceiros? Parece evidente<br />

que nAo, e muito menos - se se admitisse<br />

o contrArio — que se pretendesse<br />

que o terceiro s6 poderia<br />

impugnA-lo, por nulo, se, quando ele<br />

era vAlido, nAo tivesse sido levado a<br />

inscricAo em registro pUblico.<br />

Observo, finalmente, que a validade<br />

da promessa entre as partes —<br />

inclusive no tocante A data da celebracAo<br />

— nAo foi impugnada sequer<br />

corn a alegavAo de simulacAo parcial.<br />

4. Em face do exposto, e corn a devida<br />

venia do eminente relator, co-<br />

nheco do rem's() e lhe dou provimento,<br />

para julgar improcedente a<br />

acAo, invertidos os Onus da swumbencia,<br />

inclusive quanto a honornrios<br />

de advogado.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Mad flick) (Presidente):<br />

— 'rive dtvida de 'nicks,<br />

mas, diante do esclarecimento trazido,<br />

agora, pelo eminente Ministro<br />

Moreira Alves em relacAo ao segundo<br />

ponto do recurso, tambern peso<br />

yenta ao eminente Relator para, conhecendo<br />

do recurso, dar-lhe pros*.<br />

mento.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 85.049 — RS — Rel. Min Decio<br />

Miranda. Recte.: Eliseo Jose Mezzomo<br />

e outros (Advs.: Angela° A. Alquel<br />

e outros). Recdos.: Amelia Battaglin<br />

Sesti Deon Correa e outros.<br />

(Advs.: Jose Dutra e outros).<br />

DecisAo: Conhecido e provido, vencido<br />

o Relator.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

FalcAo. — Presentes A SessAo os Srs.<br />

Ministros Leith) de Abreu, Cordeiro<br />

Guerra, Moreira Alves e Decio Miranda.<br />

5? Subprocurador-Geral da<br />

Repfiblica, o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 18 de malo de 1979. —<br />

Hello Francisco Marques, Secreted°.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 85.127 — RJ<br />

(Prlmeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Soares Mufroz.<br />

Recorrente: Antonio Gomes de Andrade — Recorrido: Rede Ferroviaria<br />

Federal S/A — Sistema Reg. Centro.<br />

— Morte de menor que calu do trem onde viajava. Na indenizacAo<br />

concedida aos pals, pelo prejuizo presumivel decorrente da morte<br />

de Mho menor, esti incluido o ressarcimento do dano moral resultante<br />

do mesmo fato.


ACORDAO<br />

Vistos.<br />

Acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Primeira Parma,<br />

a unanimidade de votos, e na<br />

conformidade das notas taquigraficas,<br />

conhecer do recurso em parte e<br />

negar-lhe provimento.<br />

Brasilia, 3 de abrll de 1979. —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Soares Muaoz, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Soares Mutloz: Em<br />

ace° de indenizaceo pgla morte de<br />

menor, que call/ do trem onde viajava,<br />

a Qulnta Camara Civil do Tribunal<br />

de Alcada do Estado do Rio de<br />

Janeiro deu provimento, em parte,<br />

as apelacties do pal da vitima e da<br />

transportadora, para que sejam<br />

atuallzadas as peristles vencidas, ate<br />

a data da execucão e para que as referidas<br />

penges integrem a honoráits<br />

advocaticios, e a Elm de que se<br />

reduza a verba relative a luto e funeral<br />

a um salerio minim°.<br />

0 autor, inconformado, interpes<br />

recurso extraordinario pelas lefties a<br />

e d do permissivo constitucional,<br />

propugnando pela incluslio na indentzacao<br />

das verbas referentes ao ressarcimento<br />

do dano moral e a aquisicilo<br />

de jazigo.<br />

A irresignacao 101 admitida pela<br />

letra d.<br />

0 parecer da Procuradoria-Geral<br />

da Republica a pelo conhecimento<br />

parcial do recurso e, no merit°. pelo<br />

seu desprovimento, verbls:<br />

uRebela-se o recorrente contra o<br />

v. actirdlio impugnado (f. 11) na<br />

parte em que excluiu da condenacal°<br />

o ressarcimento do dano moral,<br />

sem contemplar, por outro lado,<br />

qualquer verba para as despesas<br />

relatives a jazigo perpttuo.<br />

R.T.J. — 94<br />

243<br />

Quanto a este Ultimo ponto,<br />

parece-nos manifestamente improcedente<br />

a irresignacao derradeira,<br />

pots nAo culdou o aresto hostilizado<br />

do tema, tambem nAo objeto de<br />

prequestionarnento por via dos<br />

cabivels embargos declaratorios<br />

Stunulas 282 e 356).<br />

Por 1st% nflo ha falar em divergencia<br />

a respelto de matkria nAo<br />

ventilada pela declsAo recorrida.<br />

No pertinente ao dano moral, temos<br />

por devidamente caracterizado<br />

o divercio exegetico, a recomendar<br />

o conhecimento parietal do apelo<br />

extremo.<br />

No merits), imp6e-se, contudo,<br />

desprove-lo, porquanto, embora<br />

vaellante, tem a <strong>jurisprudencia</strong> se<br />

firmado no sentido de somente admitir<br />

a ressarcibilidade do dano<br />

moral quando hair% produzido danos<br />

materials, com reflexos Patri monlais. Se o dano 6 apenas moral,<br />

ag o ha o que ressarcir, exatamente<br />

porque inindenizavel a dor moral.<br />

No caso. morta a vitima. seus beneficifirlos<br />

foram contemplados Delo<br />

acerciao corn a indenizacalo jul-<br />

gada devida, em face dos efeitos<br />

p atrimonials do evento. Inexiste,<br />

portanto, qualquer outro ressarcimento<br />

a reclamar.<br />

Parecer, pots, pelo conhecimento<br />

parcial do remises e, no merit°, D elo<br />

seu desprovimento» (fls. 153 e<br />

154).<br />

to relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Soares Afulloz (Relator):<br />

Aceito a solucao proposta ao<br />

Parecer.<br />

Com efelto, o actordlio nAo culdou<br />

da questa° atinente a qualquer verba<br />

pare atender as despesas corn a<br />

aquisiclio ou construcao de jazigo<br />

perpetuo. Aplicam-se, pots, nesse<br />

parte da irresignaclio, as<br />

282 e 356.<br />

Semulas


244<br />

R.T.J. — 94<br />

No que concern a indenizacão por<br />

dano moral, embora exista a divergftncia<br />

<strong>jurisprudencia</strong>l indicada, a<br />

orientacão reiterada do Supremo<br />

Tribunal Federal foi muito bem exposta<br />

em voto do eminente Ministro<br />

Bilac Pinto, adotado por esta Turma,<br />

no RE 83.873, relatado pelo eminente<br />

Ministro Eloy da Rocha:<br />

«A construflo <strong>jurisprudencia</strong>l<br />

do Supremo Tribunal Federal, no<br />

sentido da indenizacäo pela morte<br />

de filhos menores, em decor-<br />

/tido de ato ilicito, inspirou-se<br />

no principio de reparacão de dano<br />

moral (RE 50.940, in RTJ<br />

39/3; RE.111, in RTJ 41/844; RE<br />

65.281, In RTJ 47/279; RE 64.711,<br />

In RTJ 56/783).<br />

2, pode-se dizer, uma forma<br />

obllqua de se atingir a reparacão<br />

do dano moral, dadas as reaches<br />

que suscita o pleno reconhecimento<br />

do Institut°.<br />

que nao 6, entretanto,<br />

possivel 6 que se acrescente A reparaflo,<br />

que, por meios indiretos<br />

compensa aquele dano, nova ver-<br />

ba, a titulo de reparacAo de dano<br />

moral» (RTJ 82/546 e 549)».<br />

Ante o exposto, conheco em parte<br />

o recurso extraordinArio e lhe nego<br />

provimento.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 85.127 — RJ — Rel. Min. Soares<br />

Mufioz. Recte. Antonio Gomes de<br />

Andrade (Adv. Paulo Roberto SIqueira).<br />

R ecdo. Rede FerroviAria<br />

Federal S/A — Sisterfta Reg. Centro<br />

(Adv.: Arnaldo Acioli de Oliveira).<br />

Decisao: Conhecido parcialmente,<br />

mas lhe negado provimento nos termos<br />

do voto do Ministro Relator,<br />

unänime.<br />

Presidftncia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a sesski<br />

os Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto, Soares Muftoz<br />

e Rafael Mayer. — 2•<br />

Subprocurador-Geral da Repfiblica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 3 de abril de 1979 —<br />

Antonio Carlos de Azevedo, Secrethrio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 85.461 —RJ<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Decio Miranda.<br />

Recorrente: Estado do Rio de Janeiro — Recorridos : Antonio Alves Ferreira<br />

Filho e outro.<br />

OrganizacAo JudiciAria. Serventias nfto oficializada s, no Estado<br />

do Rio de Janeiro. Limite a percepcäo de renda liquida, estabelecido<br />

pela Lei Estadual n? 2.013, de 1-12-1971. Contraried ade a explicita ressalvo<br />

da Constituicäo Estadual. Precedente do RE 86.100, julgado no<br />

Pleno de 26-3-80.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Sessäo<br />

PlenAria, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e das notas taquigrAficas,<br />

por maioria de votos, näo se conhecer<br />

do recurso.<br />

Brasilia, 9 de abril de 1980 —<br />

Xavier de Albuquerque, Presidente<br />

— Decio Miranda, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda —<br />

Anthill° Alves Ferreira Filho e nsio


Alves Ferreira, respectivamente Tabeliflo<br />

do 4? Oficio de Notas e 1? Partidor<br />

da Justice do antigo Estado da<br />

Guanabara, serventias nAo remuneradas<br />

pelos cofres pablicos, moveram<br />

acAo ao referldo Estado para<br />

obter declaracAo de WO lhes serem<br />

aplicAvels o art. 42, e respectivo paregret°<br />

ludas, da Lel Estadual n?<br />

2.085-A, de 5-9-72, segundo os quais<br />

os titulares das serventias, °tidos ou<br />

carterios não oficializados nAo poderAo<br />

auferir mensalmente como renda<br />

liquida importAncla superior ao<br />

'Amite a que se refere o art. 11 da Lel<br />

Estadual n? 2.013, de 1-12-1971, devendo<br />

o eventual excesso apurado na<br />

renda liquida ser recolhido aos cofres<br />

estaduais ate o die 31 de marco<br />

do exercicio subseqÜente ao vencido.<br />

Fol a evil° julgada procedente por<br />

sentence do Juiz Jorge de Miranda<br />

MagalhAes e confirmada esta pela 3?<br />

Camara Civel do Tribunal de Justice,<br />

em acOrdlto de que fol relator o<br />

saudoso Desembargador Paulo Aronso,<br />

corn a seguinte ementa:<br />

tacit° declaratOria. E cabivel<br />

pare declarer a existencia ou inexistencia<br />

de relacAo juridica, ou<br />

seta de um direito litigioso, e bem<br />

assim sua extensAo. Nunca se entendeu<br />

que a regra do art. 196, da<br />

Emenda Constitucional n? 1, que<br />

veda a particlpavAo de servidores<br />

pilblicos no produto da arrecadacilo<br />

de tributos e multas, atingisse<br />

regime de custas auferidas por<br />

serventuftrios de Justice. Os titulares<br />

e serventuttrios de Justice tem<br />

direito adquirldo reconhecido de<br />

repelirem a oficializacAo e a remuneracAo<br />

estatutaria que the limbs<br />

art. 42 e seu parAgrafo fmico, da<br />

lei estadual n? 2.085-A, de 5 de setembro<br />

de 1972. Sentence confirmada,<br />

corn apolo inclusive no parecer<br />

de Procuradoria-Geral da<br />

Justice.), (fl. 116).<br />

Recorre o Estado do Rio de Janeiro,<br />

coin fundamento no art. 119. III,<br />

a, da ConstituicAo Federal, /*legend°<br />

R.T.J. — 94 245<br />

terem sido contrariados os arts. 196<br />

e 153, 3?, da referida Carta. (fls.<br />

122-133).<br />

Admitlu o recurso o Presidente<br />

Luis Antonio de Andrade. (fls. 146-8).<br />

A Procuradoria-Geral da Republica,<br />

em parecer do Procurador Humberto<br />

Agricola Barbi, aprovado pelo<br />

Subprocurador-Geral Joaquim Justino<br />

Ribeiro, dicta pelo não conhecimento<br />

do recurso, (fls. 170-2).<br />

E o relatbrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda (Relator):<br />

Na sessAo plenAria de 26 de<br />

marco findo, decldlu o Tribunal caso<br />

Mende° a este, no RE 86.100.<br />

Sendo Relator o eminente Ministro<br />

Cordeiro Guerra, o Tribunal não conheceu<br />

do recurso do Estado do Rio<br />

de Janeiro, vencido o nil° menos<br />

eminente. Ministro Xavier de Albuquerque,<br />

que ora preside a sessão<br />

deste julgamento.<br />

Reiterando a manifestactio do vote<br />

que entAo proferi, e atento a conclusAo<br />

entAo adotada, nao conheco do<br />

presente recurso.<br />

E meu vote.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque (Presidente): Peg° licence<br />

para divergir, mantendo o veto<br />

que proferi no RE 86.100. Entendo<br />

haver sido ferido o art. 153, 3?, da<br />

Constituictio, ao dar o acOrdão recorrido<br />

por configured° o direito adquirido,<br />

que, a meu ver, 6 inexistente.<br />

Assim, conheco do recurso e the<br />

dou provimento.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE. 85.461 — R.7 — Rel.: Min. Dedo<br />

Miranda. Recte.: Estado do Rio<br />

de Janeiro. (Adv.: Ricardo Cesar Pe-


246<br />

reira Lira). Recdo.: Anthill° Alves<br />

Ferreira Fllho e outro. (Advs.: Josè<br />

Guilherme Villela, Jose de Agular<br />

Dias e outro).<br />

Decisão: NAo se conheceu do recurso,<br />

vencido o Ministro Xavier de<br />

Albuquerque que dele conhecia e the<br />

dava provimento. Ausente, ocasionalmente,<br />

o Sr. Min. Antonio Neder<br />

— Presidente. PresidAncia do Sr.<br />

Min. Xavier de Albuquerque. Falou<br />

pelos Recdos. o Dr. Jose Guilherme<br />

ViBela. Impedido o Sr. Ministro Moreira<br />

Alves.<br />

R.T.J. — 94<br />

Presidencia do Senhor Ministro<br />

Xavier de Albuquerque. Presentes A<br />

sessAo os senhores Ministros Mac!<br />

Feick', Thompson Flores, Cordeiro<br />

Guerra, Moreira Alves, Cunha Peixoto,<br />

Soares Mufioz, Decio Miranda<br />

e Rafael Mayer. Ausente, ocasionalmente,<br />

o Sr. Mn. Antonio Neder —<br />

Presidente. Ausente, licenciado, o<br />

Sr. Min. LeitAo de Abreu. Procurador-Geral<br />

da Republica, Dr. Firmino<br />

Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 9 de abril de 1980. —<br />

Alberto Veronese Aguiar, SecretArlo.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 85.732 — SP<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro LeitAo de Abreu.<br />

Recorrentes: Carmelo Paoletti e outros — Recorrido: Prefeito Municipal<br />

de Jundiai e o Municiptd..<br />

Imposto territorial urbano e predial. AlteracAo do valor venal do<br />

inthvel, que nAo o decorrente de correcAo monetAria, medtante decreto.<br />

Impossibllidade, por depender de lei (R.E. 87.763). Recurso ex-<br />

traordinftrio conhecido e provido.<br />

AcORnAo<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade corn a ata<br />

de julgamentos e notas taquigraficas,<br />

em conhecer do recurso e the<br />

dar provimento, unanimemente.<br />

Brasilia, 19 de outubro de 1979. —<br />

Mac! Feick), Presidente — LeitAo<br />

de Abreu, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro LeitAo de Abreu: 0<br />

acOrdAo recorrido tem o seguinte<br />

teor: «Trata-se de seguranca impetrada<br />

contra o Sr. Prefeito de Jundiai,<br />

insurgindo-se os impetrantes, contribuintes<br />

do imposto territorial urbane,<br />

contra o excessive aumento<br />

dos tributos, sustentando a Began-<br />

dade do Decreto Municipal 2.601,<br />

de 26-9-73, que majorou abusivamente<br />

a base de cAlculo dos tributos<br />

predial urban e territorial urbane.<br />

«0 douto Juiz concedeu a seguranca<br />

fundado em que, pelo decreto<br />

atacado, a Prefeitura revalorizara<br />

imeveis em ate 3.000% sem<br />

qualquer interferencia legisferante,<br />

quando o indite de correcAo sobre<br />

o ano de 1973 era de 16%.<br />

Houve aumento de tributos sem<br />

reserva em lei (art. 153, § 29, da C.<br />

Federal), devendo entender-se a<br />

expressAo raatualizacAo do valor<br />

monetArio da respective base de<br />

cAlculo" do artigo 97, § 2?, do CTN,<br />

como correcAo monetAria.<br />

«Mas, data venia, não adotou o<br />

llustre Juiz a melhor orientacAo.<br />

Como tern sido proclamado ern<br />

intImeros Julgados desta Corte, re-


clamam sem razao, a propesito do<br />

assunto, os contribuintes de Jundial.<br />

«Com o Decreto 2.601, de 26-9-73,<br />

relativo a planta de valores imobiliarlos<br />

para ser aplicada no lancamento<br />

dos impostos devidos no<br />

exercicio fiscal seguinte, comportou-se<br />

o Sr. Prefeito Municipal<br />

de Jundial nos estritos termos<br />

da legalidade. Essa era a sua<br />

obrigacao nos termos do artigo 138<br />

do °Wig° Tributario Municipal, e<br />

sem vinculacito ou dependencia da<br />

Camara Municipal da localidade.<br />

E nao exorbitou dos limites legais<br />

porque, na revalorizactio dos int&<br />

vets, tenha superado os indices de<br />

correcão monetaria. 0 que a Constituleão<br />

prolbe 6 que se exija ou<br />

aumente tributo sem que a lei o estabeleca.<br />

Mas nao constitui majorack,<br />

como estabelece o C6digo<br />

Tributario Nacional, "a atualizacao<br />

do valor monetario da respectiva<br />

base de calculo" (art. 97,<br />

2?), que tot o que ocorreu. E nem<br />

ha rubes para submeter-se o conceito<br />

de tal atualizacäo aos indices<br />

de correcao monetaria, mesmo<br />

porque as causas dos desajustes<br />

acaso existences podem ser diversas<br />

e mats ou menos antigas. Bastam<br />

razbes relevantes, como, por<br />

exempt°, o total desajuste anterior<br />

aos valores vents dos terrenos ou<br />

das edificacties, causa justificativa<br />

de uma elevada diferenca. Alias,<br />

nesse Ultimo aspecto nao h9 reclamacees,<br />

e nem tilts impugnactoes<br />

mereceriam conhecimento no Ambito<br />

estrito da seguranca, tocando<br />

ao procedimento comum a verificacao<br />

de eventuais abusos na fixaea°<br />

dos valores.<br />

«A seguranca, em suma, náo<br />

procedla, e nao devia ter sido concedida,<br />

razAo porque, providos os<br />

recursos, fica a mesma cassada,<br />

corn as custas pelos impetrantes»<br />

(fls. 225-227).<br />

R.T.J. — 94 297<br />

recurso extraordinario tern por<br />

contrariados os artigos 18, 2?, 19 e<br />

seu inciso I e 153, { 29, da Constituieao<br />

e por negada a viancia do artigo<br />

97, inclsos II e IV, if 1? e 2?, do<br />

UMW° Tributario Nacional.<br />

A Procuradoria-Geral da RepUblica<br />

6 contraria ao conhecimento do<br />

recurso.<br />

2 o relatbrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Leta° de Abreu<br />

(Relator): A questa° fundamental,<br />

em debate nos autos, diz respeito<br />

interpretactto do I 2? do artigo 97 do<br />

CTN, onde se estatui nao constituir<br />

majoractio de tributo, para os fins do<br />

disposto no inciso II, desse artigo, a<br />

atualizacao do valor monetario da<br />

respectiva base de calculo. No actirdilo<br />

recorrido se sustenta que o Prefeito<br />

Municipal nao exorbitou dos<br />

mites legais ao ter, na revalorizacao<br />

dos imbvels, superado os indices de<br />

convert° monettula. Nem ha razbes<br />

— acrescenta — para submeter-se o<br />

conceito da atualizaeão, p<strong>revista</strong> no<br />

artigo 97, f 2?, aos indices de correeao<br />

monetaria, mesmo porque as<br />

causas dos desajustes acaso existentes<br />

podem ser diversas e mats, ou<br />

menos, antigas. Essa hermenbutica<br />

esta em desacordo, todavia, corn a<br />

que Agora no Supremo Tribunal.<br />

Em julgamento recente, relator o<br />

eminente Ministro MorMra Alves,<br />

estabeleceu-se que co I 2? do artigo<br />

97 do UMW Tributario Nacional diz<br />

respeito, somente, a correcAo monetaria<br />

do valor venal do imOvel (base<br />

de calculo do imposto predial), nao<br />

alcancando a reavaliactlo mesma<br />

(reavaliacão econ0mica) desse valor<br />

venal». Assentou-se nessa decisAo,<br />

tomada pelo Tribunal Pleno, que para<br />

use atribuir outro valor venal ao<br />

imOvel, que nito o decorrente do anterior<br />

mats a correcao monetaria,<br />

mister lei, nä° bastando, para isso,<br />

simples decreto» (RE 87.763).


248<br />

Como tentro, tambêm, essa interpretacao<br />

como correta (nAo participei<br />

do citado julgamento), conheco<br />

do recurso e The dou provimento, Para<br />

restabelecer a sentenca, que concedeu<br />

a seguranca.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 85.732 — SP — Rel.: Min. Leltao<br />

de Abreu. Rectes.: Carmelo Paoletti<br />

e outros (Adv.: Baslleu Garcia,<br />

Meyer Ben Herman e outro). Recdo:<br />

Prefeito Municipal de Jundiai e o<br />

Municipio (Advs.: Ulla Marisa<br />

Prendes e outro).<br />

R.T.J. — 94<br />

Decisäo: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator.<br />

UnAnime.<br />

Presidancia do Sr. Ministro 'Arid<br />

FalcAo. — Presentes A sessao os Srs.<br />

Ministros Leila° de Abreu, Moreira<br />

Alves e Decio Miranda. Ausente,<br />

justificadamente, o Sr. Min. Cordeiro<br />

Guerra. Subprocurador-Geral da<br />

Repablica, o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 19 de outubro de 1979: —<br />

Hello Francisco Marques, SecretArio.<br />

FtECURSO EXTRAORDINARIO CRIMINAL N? 86.209 — SP<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Soares Munoz.<br />

Recorrente: Ministério Pllblico Estadual — Recorrido: Daniel Coelho.<br />

Medida de seguranca. Recurs() do Minister%)lico visando a<br />

ampliar o prazo minimo de nuractio da medida de seguranca. Legitimo<br />

interesse do recorrente.<br />

Actordtio que dissentiu frontalmente da jurisprudOncia do Supremo<br />

Tribunal Federal, no concernente ao termo !racial do prazo de<br />

dna) anos, ap6s o qual cessa a presun cno legal de periculosidade.<br />

— Recurso extraordinArio conhecido e provido, Para o efeito de<br />

restaurar a sentenca de primeira instAncia, que aplicou ao sentenciado<br />

a medida de seguranca correspondente a reinciancla em crime<br />

doloso (internacão por dois anos no minimo) e conseqiiente reforma<br />

do acOrdlio que reduzira 0 prazo pant urn ano, referente A periculosidade<br />

real.<br />

ACORDAO<br />

RELATORIO<br />

Vistos,<br />

Acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Primeira Turma,<br />

a unanimidade de votos, e na<br />

conformidade das notas taquigraficas,<br />

conhecer do recurso e dar-lhe<br />

provimento.<br />

Brasilia, 27 de marco de 1979 —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Soares Munoz, Relator.<br />

0 Sr. Ministro Soares Munoz: 0<br />

Dr. Procurador-Geral da Justica do<br />

Estado de Sao Paulo interpOs recurso<br />

extraordinArio, com Micro na letra<br />

d do permissive constitucional,<br />

contra o acOrdAO do Tribunal de Alcada<br />

Criminal que, nAo obstante haver<br />

reconhecido Daniel Coelho reincidente<br />

em crime doloso, cancelou a<br />

medida de seguranca p<strong>revista</strong> no<br />

art. 93, inciso I, do COdigo Penal,<br />

substituindo-a pela modalidade me-


R.T.J. — 94 249<br />

nos severe p<strong>revista</strong> no art. 93, inciso<br />

H, alinea a, do mesmo estatuto. Para<br />

chegar a essa conclusão, o acer-<br />

WI° considerou vencido o prazo do<br />

art. 78, § 1?, do estatuto repressivo.<br />

Entretanto, esse entendimento,<br />

alega o recorrente, discrepa da jurisprudAncia<br />

do Supremo Tribunal<br />

Federal, que, apreciando hipoteses<br />

semelhantes, tern decidido que «o<br />

prazo de cinco anos, contido no § 1?<br />

do do Art. 78 do C6digo Penal tern<br />

seu termo inicial no dia em que<br />

agente se tornou reincidente (RR<br />

EE 78.776, 78.562, 78.334, 79.566,<br />

78.884, 78.976, 77.318, 77.317, 77.049,<br />

77.491, 77.146, 76.880, 77.490. 77.198,<br />

78.774, 79.468)".<br />

0 recurso extraordinario nao foi<br />

admitido pelo Presidente do Tribunal<br />

de Alcada Criminal, sob o ftmdamento<br />

de que o ac6rdAo desvlou-se<br />

das antes movedicas consubstanciadas<br />

naquela conceituacao de periculosidade<br />

pare firmar-se em °titre<br />

posiclio, tendo por base a periculosidade<br />

real, cuja estrutura reconheceu<br />

nos elementos objetivos do processo.<br />

Nessas condictles, conch!' o despacho<br />

denegaterio do recurso extraordined°.<br />

«0 colendo Supremo Tribunal<br />

Federal nao seria chamado para<br />

defender a vigancia das leis da<br />

Uniao, nem, tampouco, teria por<br />

funcao o equlllbrio Jurisprudencial,<br />

mas ser-lhe-ia cometido, contrariando<br />

os principios federativos,<br />

nos gnats estamos politicamente<br />

organizados, um reexame de mento<br />

naquele julgamento» (fls. 118).<br />

Interposto agravo de instrumento,<br />

foi ele provido e determined° o processamento<br />

da inconformidade derradeira,<br />

pare melhor exame.<br />

«0 recurso, apoiado na tetra d do<br />

permissivo constitucional visa exclusivamente<br />

, em sintese, emptier<br />

de um para dois anos o tempo de<br />

duracAo da mediae de seguranca<br />

imposta ao recorrido. 0 Tribunal<br />

substituiu a medida do art. 93,<br />

I, pela do art. 93, II, a, corn o que<br />

nao se conforma o Ministerio PUblico,<br />

pretendendo o restabelecimento<br />

da que fora imposta na sentence.<br />

0 recurso 6 data venla, meramente<br />

academic°. Diante do dispost°<br />

no art. 81 do CP, "nao se revoga<br />

medida de seguranca pessoal,<br />

enquanto nao se verifica, mediante<br />

exame do individuo, que este delxou<br />

de ser perigoso, «Sendo, pots, o<br />

prazo fixado para a medida o<br />

minim° de sua duraclio, s6 cessando<br />

apes verIfIca rao da cessacklo da<br />

periculosidade, das duas uma:<br />

ou o reu continua perigeso e,<br />

nesse caso, perrnanecera internedo<br />

pelo tempo que for preciso;<br />

ou o reu delxou de ser pert.<br />

goso, conforme se contatar em<br />

exame regular, e, entAo, nao tern<br />

por amor a pura forma,<br />

emptier, apesar disso, o prazo<br />

de sua permanencia no estabelecimento<br />

penal, apenas ern virtude<br />

de medida de seguranca que<br />

perdeu a razAo de ser.<br />

Acrescente-se a law que jurisprudancia<br />

referida no recurso este<br />

superada pela supervenMncia da<br />

Lei n? 6.416/n que de outro tratemento<br />

ao termo inicial do prazo de<br />

cinco anos apOs o qual cessa a presunceo<br />

legal de perlculosidade<br />

(RECr. 88.136, Rel.: Mht. Decio Miranda,<br />

DJ 23/2/79)» (fls. 133-134).<br />

E o relaterio.<br />

parecer do !lustre Dr. Francisco<br />

de Assts Toledo, 2? Subprocurador-<br />

Geral da Reptiblica, opine pelo nao<br />

conheciment0 do recurso extraordinario<br />

verb's:<br />

VOTO<br />

0 Sr. Mlnlstro Soares Mufloz (Relator):<br />

Para reduzir o prazo minim°<br />

da medida de seguranca, de dois<br />

anos para urn ano, o acardao recor-


250<br />

O exame previsto no 1? do mencionado<br />

art. 81 procede-se "ao fim<br />

do prazo minim° fixado pela lei para<br />

a medida de seguranca"• Por essa<br />

re:gra, o sentenciado permanece internado<br />

durante o prazo minimo da<br />

medida de seguranca, realizando-se<br />

o exame uma vez atingido o respectivo<br />

termini). Nat) afasta o interesse<br />

recursal o disposto no inciso III, que<br />

preve o exame, em qualquer tempo,<br />

porque essa hipOtese, por configurar<br />

excecAo Aguela regra, pressuPee expressa<br />

determinacAo da superior instAncia.<br />

No mesmo sentido, dispeem<br />

os artigos 775 e 777 do C6digo de Processo<br />

Penal.<br />

— 94<br />

Nelson Hungria, comentando o art.<br />

rido apresenta a seguinte fundamen- 81 do COdigo Penal, observa:<br />

tacAo:<br />

«A medida de seguranca, cabivel «Condicionada a persistente peri-<br />

aos olhos das correntes rigida e inculosidade subjetiva, a medida de<br />

termediAria, 6 indevida segundo 0 seguranca pessoal, necessariamen-<br />

entendimento da "4! corrente" e te indeterminada quanto a sua du-<br />

da liberal (RT 389/303) (cf. fls. 38 racAo (salvo quanto ao minim°<br />

v°). Todavia, dellnquindo em concurso<br />

e a mAo armada, eviden-<br />

prefixado segundo criterio meraclou<br />

o apelante periculosidade real<br />

mente politico), deve ser, logicamente,<br />

revogada, cessando sua<br />

e o inteiro cabimento da medida de execucAo, com a superveniente<br />

seguranca do art. 93, II, a, do COdi- cessacão dessa periculosidade»<br />

go Penal» (fls. 108).<br />

(Coment. ao COdlgo Penal, V, III,<br />

verifica-se, pots, que a decisAo di- p. 121).<br />

vergiu frontalmente da <strong>jurisprudencia</strong><br />

reiterada do Supremo Tribunal<br />

Federal indicada pelo recorrente,<br />

E Espinola Fllho, em anotacão aos<br />

deixando de reconhecer, no caso, a<br />

arts. 775 e 777 do aidlgo de Processo<br />

presuncAo de periculosidade decor-<br />

Penal, perfllha a mesma doutrina,<br />

rente da reincidencia em crime dolo-<br />

dizendo que o CAdigo Penal<br />

so e aplicando a medida de seguran- estabelecendo, como medida de<br />

ca correspondente A periculosidade<br />

prudencia, urn prazo minim° de<br />

duracAo das medidas de segOranca,<br />

real. adotou uma providencia destinada a<br />

aresto recorrido reduziu o prazo atenuar o rigor daquela determina-<br />

minim° de duracAo da medida de secAo, com o permitir que, em qualguranca<br />

de dots anos (art. 93, I, CP) quer tempo, possa ser, por decisão<br />

para um ano (art. 93, II, a); dat o in- do Tribunal Superior (o de apelacão<br />

teresse do Ministerio POblico na re- certamente), verificada a cessacAo<br />

forma da decisAo recorrida (art. 577, da periculosidade do individuo stilet-<br />

parfivafo co, do Cod. de Proc. to a medida de seguranca pessoal<br />

Penal). E nAo afasta esse interesse, (C6d de Proc. Penal Anotado, v. 7, p.<br />

transformando-o em meramente 582, It e 2! ed.).<br />

academico, o disposto no art. 81 do<br />

COdtgo Penal.<br />

Configurado o dissidlo <strong>jurisprudencia</strong>l<br />

e o legitimo interesse do MP<br />

nisterio POblico em obter a reforma<br />

do acerdão impugnado, conheco do<br />

recurso extraordinArio, para adotar<br />

a tese das decisees indicadas como<br />

paradigmas do Supremo Tribunal<br />

Federal.<br />

0 crime ocorreu no dia 17 de agosto<br />

de 1973 e a sentenca condenathria<br />

foi proferida a 8 de malo de 1975.<br />

NAo aprovelta ao sentenciado a Lei<br />

n? 6.416/77, promulgada depots da<br />

interposicAO do recurso extraordinArio,<br />

visto que o recorrido este preso<br />

e assim jA se encontrava quando da


tramitactio do processo, em conseqilencia<br />

de condenacão anterior (Cs.<br />

45v e 90v).<br />

Ante o exposto, conheco recurso<br />

extraordinitrio, para restaurar a sentenca<br />

de primeira instancla, no tocante<br />

a medida de seguranca.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 86.209 — SP — Rel.: Min. Soares<br />

Blutioz. Recte.: Ministerlo POblico<br />

Estadual. Recdo.: Daniel Coelho<br />

(Adv.: Junta Verna Ferreira de Souza).<br />

R.T.J. — 94<br />

251<br />

DecisAo: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator,<br />

unfinime.<br />

Presidencia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores,. Presentes a Sessilo<br />

os Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Pelxoto e Soares<br />

Mthioz. Ausente justificadamente o<br />

Sr. Ministro Rafael Mayer. — 2?<br />

Subprocurador-Geral da RepOblica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 27 de marco de 1979 —<br />

Antall° Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretirrio.<br />

RECURS() EXTRAORDINARIO N! 86.287 - DF<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Antonio Neder.<br />

Reeorrente: S. A. de Seguros Gerais Lloyd Industrial Sul American<br />

Reeorrida: Raimunda Alves Bezerra.<br />

Recurs() extraordiniirio em que se discute a lncidencia, no caso,<br />

do f 1! do art. 209 do C. Pr, Civil, de 1939, norma deilnida como<br />

sendo vulnerada pelo acOrdilo recorrido.<br />

Provimento<br />

ACORDA0<br />

Vistos e relatados estes autos de<br />

Recurso Extraordinario n? 86.287, do<br />

Distrito Federal, em que a recorrente<br />

S.A. de Seguros Gerais Lloyd Industrial<br />

Sul American, e recorrida<br />

Raimuhda Alves Bezerra, decide o<br />

Supremo Tribunal Federal, por sua<br />

Primeira Turma, unanimemente, conhecer<br />

do recurso e dar-lhe provimento,<br />

de acordo corn as notas juntas.<br />

Brasilia, 20 de malo de 1980.<br />

Antonio Neder, Presidente e Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Antonio Neder (Relator):<br />

I. Leto na fl. 64 o seguinte relathe°<br />

da sentenca:<br />

«Raimunda Alves Bezerra, brasileira,<br />

solteira, malor, domiciliada<br />

nesta Capital, propOs acáo ordina-<br />

ria contra Lloyd Industrial SW<br />

American, corn agencia nesta Capital,<br />

alegando que contratou corn<br />

a Re o seguro de velculo de sua<br />

p ropriedade, identificado na intcial,<br />

atraves da ap6lice n?<br />

112.400.138, contra riscos de coilsAo,<br />

incéndlo e routes, tendo efetuado<br />

oportunamente o pagamento do<br />

prémio. Em 23 de main de 1970,<br />

Franklin Vents dos Santos se apoderou<br />

da chave do velculo, sem<br />

p ermissilo da Autora, fato que esta<br />

imediatamente comunicou<br />

Policla; ato continuo, Franklin !anyou<br />

ma° do velculo da Autora e<br />

corn ele capotou, falecendo no acidente,<br />

ficando o automovel totalmente<br />

lnutlllzado. Negando-se a Re<br />

ao p agamento do valor da apOlice<br />

pede a Autora que seja a mesma<br />

condenada ao pagamento devido,<br />

instruindo a inicial corn os documentos<br />

de Cs. 5/18.


R.T.J. — 94<br />

252<br />

«Contestou S.A. de Seguros Ge- cluiu pela improceden cia da demanrais<br />

Lloyd Industrial Sul America- da.<br />

no suscitando preliminar de caren- 0 apelo da Autora mereceu provicia<br />

de acäo por inepcia da inicial, mento da Segunda Turma do eg. Coesteiada<br />

na ilegitimidade ativa e legio local, vencido urn dos nobres<br />

passiva para a causa e na inexis- Desembar gadores que a compOem.<br />

tencia de interesse legitimo para a 0 acerdao proferido no apelo foi<br />

propositura da aflo, por ter sido na o redigido corn esta ementa, fl. 98:<br />

seguro contratado corn<br />

«Acão ordinaria de cobranga.<br />

Vieira dos Santos, que, posterior- Recurso provido, para julgar pro-<br />

mente, vendeu o veiculo segurado cedente a acao. Sentenca do Juiz a<br />

corn reserva de dominio a Autora,<br />

Relatiam nte ao merit°, a Re<br />

quo fundada ern alegacäo exclusiaduziu<br />

v que e não e veridica a alegava<br />

da re, náo comprovada nos aucan<br />

de furto do veiculo, dado que tos, esquecendo-se o prolator da reefetivamente<br />

a Autora incorreu em<br />

gra contida no § 2? do art. 209 do<br />

falta contratual, pals o sinistro de-<br />

C6digo de Processo Civil.»<br />

correu de culpa grave ou dolo da Opostos embargos infringentes a<br />

Autora, ao permitir o uso do veicu- esse actordão, foram eles recebidos'<br />

lo por pessoa que nä° era legal- pela maioria dos nobres Desembarmente<br />

habilitada. A gratuita alega- gadores que os julgaram.<br />

cão de furto não pode bastar para Nesse julgamento a controversia<br />

obliterar a negligencia da Autora, restringiu-se a um ponto, qual seja 0<br />

razão pela qual, como tambem por de incidir, no caso, a regra do § 1? ou<br />

ao se achar provada a total inuti- 2° uma e outra do artigo 209 do<br />

lizacão do veiculo pediu a improce- C. Pr. Civil, de 1939, vigorante na<br />

dencia da acão.<br />

ocasiäo.<br />

«Em replica, argumentou a Au- Corn efeito, os Desembargadores<br />

tora corn a expressa mencáo de Meuren e Ribeiro, fls. 119/120 e 123,<br />

seu nome na apt:dice de seguro, sa- concluiram que a Autora alegou furlientando<br />

que o inquerito policial to de uso, que a Re negou esse furto,<br />

demonstrou que o terceiro vitima- e que a Autora devia provar o f ato<br />

do pelo acidente se apoderou do que alegou, tal como lhe imptutha na<br />

velculo, sem que a Autora pudesse ocasião o § 1? do art. 209 do C.Pr.Ci-<br />

evitar o fato.<br />

vil, de 1939.<br />

«Acudindo ao despacho de fls. 42 Os Desembargadores Fernandes,<br />

verso a Autora juntou o documen-<br />

fls. 93/94 e fl. 121, e Guerrera, fl. 121,<br />

to de fl. 45, sobre o qual se maim- acompanhados pelos dema s, afirfestou<br />

a Re (fl. 47). A objecao da maram, como razao decis6ria, que a<br />

Re, redargiiiu a Autora corn o do- Re devia provar o que alegou na<br />

cumento de fl. 50.<br />

contestagão, e que, por isso, a norma<br />

«0 despacho saneador (fl. 56) reguladora do caso era, na ocasião, §<br />

apreciou a materia preliminar e 2? do art. 209 do C.Pr.Civil de 1939.<br />

desprezou as objecOes da contesta- Eis o texto dos votos que profericão,<br />

dispensando a realizacão de ram os mencionados Juizes:... (w).<br />

pericia. II. Pelo recurso extraordinario que<br />

«Ern audiencia prestou depoi- deduziu nas fls. 130 e seguintes, a<br />

mento pessoal a Autora.» Re, seguradora vencida, sustenta<br />

Ao julgar o caso, considerou o Adz<br />

que o acerclao local vulnerou o § 1?<br />

de primeiro grau que a Autora desdo<br />

art. 209 do C. Pr. Civil, de 199, e<br />

cumpriu o contrato de seguro e conse<br />

acha ern divergencia corn os pa


adigmas que indicou em sua petipelas<br />

respectivas ementas, fls.<br />

136 e 137.<br />

Dlto recurso foi admitido e razoado<br />

nestes termos:<br />

III. E o relat6rio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Antonio Neder (Relator)<br />

I. Na verdade, o acOrdito<br />

pugnado questionou o dlrelto <strong>federal</strong><br />

inscrito no f 1? e no 2?, um e outro<br />

do art. 209 do C.Pr. Civil, de 1939.<br />

Sem dOvida, os Desembargadores<br />

Meuren e Ribeiro, fl. 119 e fl. 123,<br />

sustentaram que, na especte, e o referido<br />

f 1? que 'nettle, ao passo que<br />

os Desembargadores Fernandes, fl.<br />

93, fl. 121, e Guerrera, fl. 121, afirmaram<br />

que 6 o mencionado f 2? que<br />

incide.<br />

Portanto, foram questionadas pelo<br />

Tribunal a quo as matérias daquelas<br />

dues normas <strong>federal</strong>s.<br />

Qual delas 6 aplichvel ao caso,<br />

qual delas foi vulnerada?<br />

Na peticao inicialgou gMe a Autora<br />

que Franklin Vera Oo<br />

Santos furtou<br />

a chave do automOvel e passou a<br />

quando produziu a capotagem<br />

do carro e a sua danificac go, f. 3; e<br />

na contestano, a R6 sustentou que a<br />

Autora entregou o auto a Franklin,<br />

isto e, que este nil° furtou o carro.<br />

V6-se que a Autora alegou um tato,<br />

que e o furto do carro, e a Re negou<br />

ease tato.<br />

Se a Re negou o tato, claro 6 que a<br />

Autora devia provit-lo.<br />

o que the Impunha o entAo vigorante<br />

f 1? do art. 209 do C.Pr. Civil<br />

de 1939.<br />

Julgando, como julgou, que, na es-<br />

Stele, a Re devia provar o fato que<br />

ela negou em sua contestaetio, o<br />

acerdgo recorrido vulnerou o cltado<br />

1?.<br />

Para roborar este meu entendimento,<br />

taco a leitura do voto que, no<br />

Tribunal a quo, profertu o nobre De-<br />

— 94 253<br />

sembargador Eduardo Ribeiro, fls.<br />

123 e 124.<br />

aSenhor Presidente, data yenta<br />

dos doutos votos JA proferidos,<br />

cumpre que se considere o seguinte,<br />

a meu ver: a inicial 6 que<br />

assevera, a inicial 6 que alega, a<br />

'Metal 6 que aflrma que as chasms<br />

do velculo -foram furtadas<br />

por Franklin Vera dos Santos,<br />

para se utilizar do veiculo, isto<br />

porque, se furtadas não tivessem<br />

sido, se as tivesse emprestado ao<br />

mencionado Franklin, nAo serla<br />

devida a indenizacão, posto que<br />

se tratava de pessoa nAo habilitada.<br />

«Ora, se o acidente ocorreu<br />

quando o velculo era dlrigido por<br />

pessoa nä° habilitada, se o acidente<br />

ocorreu nessas circunstAncias,<br />

cuinpria a autora fazer<br />

prova do fato, que exclula<br />

a incidéncia da clAusula contratual,<br />

pertinente a perda da htdenizacilo;<br />

a ela inctunbia provar<br />

que, na realidade, aquela pessoa<br />

furtara o veiculo. Por isso mesmo<br />

6 que ela o alegou na inicial.<br />

«A contestaego nlio alega shimlacgo<br />

do furto, data yenta. 0 que<br />

a contestacito faz 6 negar tenha<br />

ocorrido furto argUido na inicial,<br />

para excluir a incidAncia da falta;<br />

afirma que o automOvel foi<br />

emprestado, enquanto que a autora<br />

aflrma que o automOvel foi<br />

furtado; nega, assfm, a existencia<br />

do turto, que era fato constitutivo<br />

do dlrelto da autora, posto<br />

que isso 6 que excluta a 'widencis<br />

da clAusula XII, que negava<br />

o direlto a indenizaego, .quando<br />

houvesse cessAo empitstimo do<br />

velculo, a algutm nlio habIlltado.<br />

NAo se negou, em nenhuma fase<br />

do processo, e, por Isso mesmo,<br />

independia de prova, que aquelz<br />

pessoa, em cujo poder o veiculo<br />

se encontrava, quando houve o<br />

acidente, nAo era habllitada. Em<br />

nenhurn momento o llustre patro-


254<br />

R.T.J. — 94<br />

no da autora negou este fato; por<br />

isso mesmo fez-se incontroverso.<br />

«De sorte que, em primeiro Lugar.<br />

me parece que 8 autora cabia<br />

provar este fato basic°, alegado<br />

na initial. E qual a prova<br />

que trouxe? Nenhuma. A prova,<br />

Unica, que pretendeu apresentar<br />

foi a sua propria alegacao, feita,<br />

na dentmcia, a policia, na qual<br />

ela reconhece que, no mesmo<br />

dia, ja emprestara o veleta° a<br />

Franklin, que se vitimou com o<br />

acidente. 0 que nao se justifica<br />

que a embargada, que afirmou<br />

peremptoriamente, na sua declarack,<br />

dirigida a policia, que, numa<br />

primeira fase, emprestara o<br />

vetculo, afirma, ao prestar depotmento<br />

pessoal, que jamais emprestou,<br />

como jamais que empesta- r<br />

ria o seu veiculo, a<br />

m quer<br />

seja.<br />

«Mantenho o voto que proferi,<br />

acompanhando o Desembargador<br />

Relator.»<br />

Na verdade, afirmou a Autora na<br />

peticao initial que Franklin furtou<br />

as chaves do seu autom6vel e passou<br />

a usa-lo, produzindo-lhe a capotagem<br />

que o inutilizou, fls. 2 e 3.<br />

De seu lado, a R6, na contestacao,<br />

negou o furto ao sustentar que a Autora<br />

entregou o carro a Franklin, e,<br />

ainda, que, ao usa-lo, Franklin produziu<br />

a capotagem que danificou o<br />

auto, U. 26.<br />

V8-se que a matéria juriclica discutida<br />

na causa diz respelto com o<br />

8nus da prova.<br />

Na espécie, o tema do 8nus da prova<br />

foi julgado na consideracao do artigo<br />

209 do C. Pr. Civil, de 1939.<br />

0 I 1° desse artigo expressava<br />

que, negado pelo réu, na contestao<br />

fato que o autor alegara, a este<br />

competia prova-lo.<br />

Foi o que sucedeu no caso agora<br />

discutido.<br />

Alegou a Autora que o carro fora<br />

furtado por Franklin e a Re negou<br />

esse fato.<br />

Competia, pois, a Autora provar o<br />

furto do autom6vel.<br />

Se o nao fez, a sua pretensao perdeu<br />

viabilidade.<br />

Ao julgar a questa() referente ao<br />

Onus da prova, o eg. Tribunal a quo<br />

aplicou a regra do 2? do art. 209 do<br />

C. Pr. Civil, de 1939.<br />

Ocorre, por6m, que tal regra s6 incidiria<br />

no caso presente se a R6,<br />

aceitando ou reconhecendo como<br />

verdadeiro o furto, alegasse outro f ato<br />

que the desfizesse os efeitos.<br />

certo, por6m, 6 que a Re negou<br />

o furto.<br />

Destaco na f. 120 o seguinte trecho<br />

do voto que proferiu, no acerclao impugnado,<br />

o seu Relator:<br />

«A alegacao da autora de que o<br />

carro fora furtado foi frontalmente<br />

negada pela r6. Cumpria<br />

autora provar o furto. Como esta<br />

dito na peticao !racial, a autora<br />

tentou provar o furto pelo documento<br />

de fls. 11/12, 'isto 6, comunicacao<br />

a Policia. Tal comunicacat)<br />

se chocou corn o depoimento<br />

pessoal da autora (fl. 58).<br />

Incumbiu-se a autora de provar a<br />

nao existéncia do furto. Frise-se<br />

que o depoimento pessoal da autora<br />

foi tornado a, pedido da ra<br />

(f. 55). Depoimento pessoal<br />

meio de pron. Incablvel, pois,<br />

dizer-se que a ré nao produziu<br />

prova. As contradicees da autora<br />

sae evidentes. Entre a primeira<br />

versa° (fls. 11-12), mais pp:alma<br />

dos acontecimentos, e a derradeira<br />

(f. 58), ha grande distancia,<br />

bastante para a configuracao<br />

da mentira, da astacia, do engodo<br />

para propiciar o recebimento<br />

do pr8mio do seguro. Assim, se a<br />

autora nao provou o alegado na<br />

initial e frontalmente negado na<br />

contestacao, emaranhando-se


autora em contradicties, a WM<br />

so poderia ter sido julgada<br />

procedente, nAo havendo no caso<br />

sub judice cabimento Data a aplicacti°<br />

da regra conticia no art.<br />

209, paragrafo 2?, do COdigo de<br />

Processo<br />

Concluo que, ao aplicar A. especie<br />

o 2? do art. 209 do C. Pr. Civil, de<br />

1939, o actordAo local vulnerou o 1?<br />

desse mesmo artigo.<br />

Conheco, Dols, do recurs°, e the<br />

dou provimento pare restabelecer a<br />

sentenca Miele!.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 86.287-DF — Rel.: Min. Antonio<br />

Neder. Recte.: S.A. de Seguros Gerais<br />

Lloyd Industrial Sul American°<br />

R.T.J. — 94<br />

255<br />

(Adv.: Arlindo Leon de Souza).<br />

Recd*.: Raimunda Alves Bezerra<br />

(Adv.: Inezil Paula Marinho).<br />

Decisfio: Conheceu-se do recurs° e<br />

se lhe den provimento nos termos do<br />

voto do Ministro Relator. DecisAo<br />

uniforme. Presidlu o julgamento 0<br />

Senhor Ministro Antonio Neder, por<br />

achar-se vinculado nos termos do<br />

art. 71 do RI. NAo participou do Julgement°<br />

o Senhor Ministro Thompson<br />

Flores.<br />

Presidgncla do Sr. Mastro Antonio<br />

Neder. Presentes 'A SessSo os<br />

Srs. Mlnistros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto, Soares Mtnloz e<br />

Rafael Mayer. Subprocurador-Geral<br />

da Reptibllea, Dr. Francisco de Assts<br />

Toledo.<br />

Brasilia, 20 de mato de 1980. —<br />

Alberto Veronese Aguiar, Secrettuio.<br />

RECURSO EX TRAORDINAFtIO N? 86.382 — GO<br />

(Segundo Tuna)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Morefra Alves.<br />

Recorrentes: Oripes Jose de Sit, s/mWher e outros — Recorridos: Almir<br />

Alves Correia e outro.<br />

AcAo de relvinclicacAo. Alegactio de usucapitio.<br />

— No que concerne ao primeiro recurs° extraordimirfo, aplicam-se<br />

as Stunulas 282, 356 e 279. InexIstencla de demcalstragio de Weskit°<br />

de jurlsprudgncla.<br />

terceiro<br />

— Quante ao segundo recurs° extordbutrio, se ca que o<br />

prejudiced° pode interp6-1o, tam rt *<br />

p 6 cer<br />

que constitul seu objeto clever* ter sido ventilada no to coque<br />

a questa°<br />

do sob pens de nAo haver o India{ Bevel ardrio recorrilas<br />

282 e 356). Por isso, nAo 6 ele melo<br />

prequestionamento (Snmumetre<br />

mAo, nulidade do p pare alegar-se, em pri-<br />

necessArio.<br />

rocess° por faits de Macao de litisconsorte<br />

Recursosextraordinftrios Who conhecidos.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segundo<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

Julgamento e das notes taquigraficas,<br />

por unanimidade de votos, nAo<br />

conhecer dos rectums.<br />

Brasilia, 1? de junho de 1979. —<br />

Djaci Facie, Presidente — Moreira<br />

Alves, Relator


256<br />

RELATORIO<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves — E<br />

este o teor do acOrclao recorrido (fls.<br />

256-257):<br />

«Vistos, relatados e discutidos<br />

os presentes autos de Apelacao<br />

Civet n? 9.388, da Comarca de<br />

Ivolandia. figurando como 1%.<br />

apelantes Oripes Josè de SA e outros<br />

2?s apelantes Almir Alves<br />

Correia e outros, e apelados os<br />

mesmos.<br />

Consoante se liquida do relaterdo<br />

de fls. 253/253 verso, Almir<br />

Alves Correia e outros aforaram<br />

a presente acão reivindicatOria,<br />

contra Oripes Josè de SA e outros.<br />

E porque, entendendo o Magistrado<br />

a quo nao se encontrar o<br />

im6vel reivindicando devidamente<br />

caracterizado, como também,<br />

a posse invocada pelos r6us sobre<br />

a area em questa°, embora<br />

provada para o efelto de gerar a<br />

prescricao aquisitiva, mas por<br />

inexlstir a reconvencao, julgou os<br />

autores carecedores da acao.<br />

Forcoso, portm, 6 reconhecerse<br />

que o linen/el se acha bem individuado<br />

e fad! de ser localizado<br />

no terreno. Tanto assim 6 que<br />

sobre essa parte a contestacao<br />

nao abordou, e os r6us, somente<br />

agora, nas suas contra-razOes de<br />

fls. 237/239, a ela fazem mencao.<br />

No que se refere a posse, nao<br />

se cuida de posse mansa, pacifica<br />

e ininterrupta . Sofreu ela interrupcOes.<br />

E se essa posse tivesse ficado<br />

comprovada, nada impediria, como<br />

realmente nao Impede, ser a<br />

prescricao aquisitiva invocada<br />

como materia de defesa na contestacao.<br />

Independe, in casu, de<br />

reconvencao. Visa, apenas, obstar<br />

o exito da acao intentada. Totavia,<br />

o réu citado, e corn posse<br />

capaz de gerar o usucapiao, poderA<br />

ingressar corn a reconvencao,<br />

que constitui uma acao dentro<br />

da outra, e requerer ao juiz<br />

que declare seu dominio por sentenca,<br />

a qual the servirA de Mule,<br />

para transcricao no registro de<br />

im6veis (art. 550 do C6d. Civil),<br />

observando-se, no que couber, o<br />

disposto no art. 941 e segs. do<br />

Cod. de Proc. Civil. Sao, portanto,<br />

duas modalidades distintas e<br />

de efeitos diferentes.<br />

Resulta, dai, que a sentenca, a<br />

despeito de bem elaborada e brilhante,<br />

nao pode subsistir.<br />

Isto posto:<br />

Acorda o Tribunal de Justica<br />

do Estado de Goias, pela Terceira<br />

Turma de sua Terceira Camara<br />

Civet, a unanimidade de votos,<br />

conhecer de ambos os apelos e<br />

dar provimento ao segundo para,<br />

reformando a sentenca recorrida,<br />

julgar a acao procedente e<br />

condenar os r6us nas custas e honorArlos<br />

de advogado arbitrados<br />

em vinte por cento (20%) sobre o<br />

valor da causa, ficando prejudicado<br />

o primeiro apelo, bem como<br />

desprezada a preliminar relativa<br />

a prescricao aquisitiva».<br />

Contra essa decisao, foram interpostos<br />

dots recursos extraordinArios,<br />

admitidos pelo seguinte despacho<br />

(fls. 314-317):<br />

«Vistos, etc. Oripes José de SA,<br />

Sebastiao Pereira Borges e suas<br />

respectivas mulheres (fls. 259-<br />

268), Antonio Paula do Carmo,<br />

Orcelo Lemes de Siqueira e suas<br />

respectivas mulheres (fls. 269-<br />

274), irresignados com o acerdao<br />

unanime de fls. 256/258 da 3? Camara<br />

Civet, nos autos da apelacan<br />

n? 9.8 da Comarca de Ivolandia,<br />

—decor rent, extraordinariamente,<br />

para o Egrêgio Supremo<br />

Tribunal Federal, corn fundamento<br />

no art. 119, inciso HI, tetras<br />

a e d (os primeiros) e tetra


a (os Olt'mos) da Constituicao<br />

Federal.<br />

Trata-se, na especie, de ace°<br />

reivindicathria, que o acerdao<br />

impugned°, reformando a sentence<br />

de primelro grau, Julgou<br />

procedente.<br />

DIto Raged° este resumido na<br />

ementa do seguinte teo • «Rei-<br />

A/Micah:via. Independe de recoilvenal)<br />

a invocacao da prescri-<br />

VI° aquisitive como materia de<br />

defesa, que visa, apenas, obstar<br />

o exito da ace° intentada. Todavia,<br />

o reu citado, e corn posse capaz<br />

de gerar o usucapiao, poderA<br />

ingressar corn a reconvencão,<br />

que constitul uma ace() dentro da<br />

outra, e requer ao Adz que declare<br />

o seu dominio por sentence, a<br />

eual the servirA de titulo para<br />

iransericRo no registro de im6veis<br />

(art. 550 do Cad. Civil),<br />

observando-se, no que couber, o<br />

disposto no art. 941 e segs. do<br />

C6d. de Proc. Civil. Inocorre, in<br />

casu, a prescricao aquisitiva invocada<br />

pelos reus. Area reivindicanda<br />

devidamente indivlduada.<br />

Proceancia da acAo. Apelo conhecklo<br />

e provido».<br />

Mum os primelros recorrentes<br />

(fls. 259-268) que o acardao<br />

recorrido negou Wanda a lei <strong>federal</strong><br />

e diverglu de outros <strong>tribunal</strong>s,<br />

a saber:<br />

— arts. 82, III, 84, 246 e 944<br />

do C.P.C. — falta de intervencAo<br />

do M.P. necessAria, face A defesa<br />

fundada no usucapiAo, que flzeram;<br />

— art. 550 do C.C. — ao negar<br />

a posse ininterrupta dos recorrentes,<br />

que olz de primeiro<br />

grau admitiu e os documentos<br />

provam;<br />

c) — ao afirmar que o imOvel<br />

reivindlcando este suficientemen-<br />

R.T.J. — 54 257<br />

to caracterizado, o acardão divergiu<br />

deste aresto: "n requisite<br />

basic° da acdo de reivinclicacão e<br />

condicao para o julgamento de<br />

sua procedencia a perfeita individuacAo<br />

da coisa reivindicanda,<br />

por sews caracteristicos e confrontactes,<br />

sendo essencial, alem<br />

disco, quando o pedido Liver por<br />

objeto apenas parte do itnevel<br />

(como 6 o caso dos autos), que o<br />

autor Indlque nAo tufo os Uranus<br />

deste, tornado no seu todo,<br />

tambEm a area reIvindIcanda".<br />

(f. 268).<br />

Reconhecem os pr6prios recorrentes<br />

que o acOrdflo nao abordou<br />

a materia relaclonada corn a<br />

falta de intervencilo do M.P. (f.<br />

266, In fine).<br />

Ora, 6 inadmisslvel o apelo<br />

derradeiro, quando nao ventllada,<br />

na decisao recorrida, a questa°<br />

<strong>federal</strong> (Namla 282).<br />

Ademals, nao se tratando propriamente<br />

de ace° de usucapiao<br />

e, sim, de defesa baseada em Wren°<br />

de usucapião, parece-nos<br />

que a intervencao do M.P. nAo<br />

era mesmo indispensAvel.<br />

Existir, ou nao, posse minterrupta<br />

6 materia de fato, que escape<br />

ao controle do Excelso Pretart°<br />

atraves do recurso extraordinArio<br />

(SOmula 279).<br />

Na initial, ap6s a caracterizacao<br />

do im6vel, considerado no<br />

seu todo, alegam os autores, in<br />

verb's (fls. 4-5): "A despetto de<br />

pretenderem os suplicantes exercer,<br />

ern toda a plenitude, como<br />

lhes faculta e assegura a lei, os<br />

direltos inerentes ao dominio, estat)<br />

impossibilitados de faze-lo,<br />

eis que: a) — o primeiro suplicante<br />

varao, que recentemente<br />

adquiriu a sua glebe, nao Ode<br />

tomar posse dela, JA que a faixa<br />

mats valorizada, exatamente a


258<br />

de cultura esta invadida; b) — o<br />

segundo, de sua vez, em que pese<br />

proprietArio de 58 alqueires e fracAo,<br />

s6 tern dominio e posse sobre<br />

8 alqueires, estando o restante,<br />

tamb6m, flicitamente ocupado»<br />

( o grifo nAo esta no orIglna<br />

ye-se, por at, que os autores<br />

nao pretendem e nem podem reivindlcar<br />

a gleba descrita, na sua<br />

totalidade, pols o segundo ja est&<br />

na posse de parte dela, mas apenas,<br />

parte dela e essa nao fot por<br />

ele Individualizada.<br />

Assim, ao ter como suficientemente<br />

caracterizado o im6vel<br />

reivIndicando, o acardao data<br />

yenta — contrariou o principio de<br />

que, quando, como na esp6cie, o<br />

objeto da acAo reivindicatOria 6<br />

apenas parte do im6vel, o autor<br />

deve indicar, rift s6 os limites<br />

deste, tornado no seu todo, mas e<br />

sobretudo os da parte, pots,<br />

"nao se pode reivindicar area 1ndetermlnada"<br />

(cf. ac. do S.T.F.,<br />

no RE ri? 6.121-MG, relator Ministro<br />

Orozimbo Nonato, in Repertbrio<br />

de Jurisprudencia do COdigo<br />

Civil, Direito das Coisas,<br />

1/236, vbt. 662).<br />

Os altlmos recorrentes (fls.<br />

269/274) lancam mao do apelo extremo<br />

como terceiros prejudicados<br />

(C.P.C., art. 499 e seu parAg.<br />

1?), a alegacAo de que, embora<br />

sejam senhores e possuldores de<br />

parte do im6vel, fato denunciado<br />

no processo, em vArias oportunidades,<br />

a comecar pela contestaglio<br />

(f. 29, J), nao foram citados,<br />

o que inquina o processo de nulldade<br />

(C.P.C., art. 213 e 214).<br />

A reivIndicacao tern por causa<br />

o dominlo, do qual lllmltacão e<br />

exclusividade sào caracteres fundamentals.<br />

Julgada procedente a acao, fica<br />

assegurado ao proprietarlo o<br />

R.T.J. — 94<br />

direlto de imitir-se na posse do<br />

im6vel relvindicando como urn<br />

todo, o que nos leva a concluir<br />

que todos quantos o detenham<br />

devem ser citados, como litlsconsortes<br />

necessarios.<br />

0 Colendo Supremo Tribunal<br />

Federal tern admitido o recurso<br />

extraordinArio de terceiro, quando,<br />

como aqui, a juridicamente<br />

prejudicado (RTJ, 43/151).<br />

Quanto ao apelo derradeiro do<br />

terceiro prejudicado tern ainda o<br />

Excelso Pret6rio decidido que,<br />

"se o recurso de terceiro prejudicado,<br />

que o interpUe precisamente<br />

para denunciar a inobservAncia<br />

das regras legais relativas ao<br />

litisconsOrcio necessArio, nAo pode<br />

obstar-]he o cabimento 0 6bvio<br />

silêncio do acifirdAo recorrido»<br />

(RTJ, 71/72).<br />

Admitimos ambos os recursos,<br />

no efeito devolutivo e determinamos<br />

que se abra vista dos autos<br />

aos recorrentes e recorridos, sucessivamente,<br />

para, no prazo legal,<br />

apresentarem suas raz6es.D<br />

As fis. 342/343, assim se manifesta<br />

a Procuradoria-Geral da<br />

em parecer do Dr, Mauro Leite Soares,<br />

5? Subprocurador-Geral:<br />

«0 Tribunal a quo, f. 256, reformando<br />

a sentenca inicial, declarou<br />

a procedencia da acAo reivindicat6ria<br />

porque o im6vel se<br />

acha bem individuado e fAcil de<br />

ser localizado no terreno, ao lado<br />

de a prescricAo aquisitiva invocada<br />

ern defesa pelos rem nao se<br />

encontrar caracterizada por posse<br />

mansa e pacifica, sofrendo interrupcdes.<br />

Dal os doffs recursos extraordinArios<br />

apoiados nas Tetras a e d,<br />

sendo que os primeiros recorrentes,<br />

ram na acao, alegam negativa<br />

dos arts. 82, III, 84, 246 e 944


por falta de intervencao do Ministrio<br />

PUblico e 550 do C6clig°<br />

Civil, enquanto que os segundos<br />

recorrentes, conk terceiros prejudicados,<br />

alegam negativa dos<br />

arts. 213 e 214 do Cadiz° Processual<br />

Civil porque nao citados<br />

possuidores e senhores de parte<br />

do im6vel reivindicando.<br />

Somos pelo nit conhecimento<br />

de ambos os recursos.<br />

Relativamente ao primeiro recurso<br />

quanto a ntio intervencao<br />

do Ministario PCzblico trata-se de<br />

materia não prequestionada, ao<br />

lado de versarem os autos, nä°<br />

de reivindicacilo e nito de usucapit.<br />

0 restante da impugnacão<br />

se refere a materia de prova.<br />

Quanto ao segundo recurso<br />

tambem se pretende exame de<br />

materia de prova e esta instAncia<br />

extraordinitria não 6 apropriada<br />

pare o exame. Se eles, os recorrentes,<br />

nllo foram parte na presente<br />

acllo, na ocasiAo prepria da<br />

execucão ou em acilo distinta poderilo<br />

fazer valer seus alegados<br />

direitos.<br />

Se conhecidos, somos pelo nllo<br />

provimento dos recursos extraordinftrios.»<br />

E o relatOrlo.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Minlatro Moreira Alves (Relator)<br />

— 1. Dols foram os fundamentos<br />

do acardllo recorrido: o de que o<br />

lmOvel se acha bem lndivlduallzado,<br />

e o de que WI° houve usucapitio por<br />

ter a posse sofrido interrupcts.<br />

2. Assim sendo, e no que diz respeito<br />

ao primeiro recurso extraordinario<br />

— o a fls. 259/268 -, falta prequestionamento<br />

a questflo relativa A<br />

R.T.J. — 94 25<br />

ausencia de intervencao do Minist6rio<br />

PUblico (SUmulas 282 e 356). Ademats,<br />

para se chegar a conclusâo de<br />

que houve negativa de vigéncia do<br />

artigo 550 do Cadigo Civil, seria mister<br />

o reexame de provas, o que não<br />

admissive] para o conbecimento do<br />

recurso extraordinitrio (Saimaa 279).<br />

Finalmente, quanto ao dissidio de <strong>jurisprudencia</strong>,<br />

nllo se encontra ele caracterizado,<br />

pots o acardAo recorrido<br />

(e, a propesito, nfio foram opostos<br />

embargos da declaracAo) se limitou<br />

a considerar que o thatwel estava Ludtviduallzado,<br />

nIto entrando na apreclacão<br />

da necessidade, ou nlio, de Individualizacâo<br />

global ou partial.<br />

Em face do exposto, não conheco<br />

do primeiro recurso extraordinArio.<br />

3. No que concern ao segundo recurso<br />

extraordinario (o a fls. 269-<br />

274), interposto por terceiros prejudicados,<br />

sob o fundamento de que,<br />

sent eles litisconsortes necessArios,<br />

o processo 6 nulo por falta de sua<br />

tamb6m nAo pode ser connectdo.<br />

Corn efeito, embora se admita<br />

recurso extraordinArio de terceiro<br />

prejudicado, 6 mister que a questa°<br />

nele atacada tenha sldo ventllada no<br />

acardAo recorrido, para que hat b<br />

indispenstivel prequestionamento<br />

(Stimulas 282 e 358). 0 que nAo e<br />

possfvel, tendo em vista os llmites<br />

estreftos do recurso extraordInArio,<br />

e admitir essa modalidade de recurso<br />

para examinar-se, em primeira<br />

mao, a exIstancla, ou nil°, de litisconsOrcio<br />

necessArlo, pant o efeito<br />

de decretactio da nulidade do processo<br />

por falta de citacilo. Albs, ntio<br />

havendo esses recorrentes integrado<br />

a relacAo processual, a decisllo nela<br />

proferida 6 ineficaz com relacAo a<br />

eles.<br />

Por esses motivos, nä° conbeco,<br />

tamb6m, do segundo recurso extraordtnárto.


260<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 86.382 — GO — Rel.: MM. Moreira<br />

Alves. Rectes.: Oripes Jose de<br />

SA. s/mulher e outros (2 recursos)<br />

(Adv.: Americo Antunes) Recdos.:<br />

Almir Alves Correia e outro (Adv.:<br />

Francisco Moreira Camargo).<br />

Decisao: Nat) conhecido, unanime.<br />

R.T.J. — 94<br />

PresidAncia do Sr. Ministro Djaci<br />

— Presentes a Sessao os Srs.<br />

Ministros Leila° de Abreu, Cordeiro<br />

Guerra, Moreira Alves e Decio Miranda.<br />

— Subprocurador-Gera l da<br />

Republica, o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 1 de junho de 1979. —<br />

Hello Francisco Marques, Secretario.<br />

RECURS° EXTRAORDINARIO N? 86.405 — SP<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cunha Peixoto.<br />

Recorrente: Sindicato da IndUstria de Abrasivos do Estado de Sao Paulo<br />

— Recorridos: Sindicato dos Trabalhadores nas IndUstrias Quimicas e FarmacAuticas<br />

de Guarulhos e Salto, e outro.<br />

Matkria Trabalhista: 1 — Estabilldade provistirla da gestante.<br />

Decisäo normathra que a concede nfio ofende a ConstituIcAo. — 2) —<br />

SalArio normativo. Sua legftlmidade constftucional 14 fol reconhecida<br />

pelo Supremo Tribunal Federal. — 3) — Justfficactio de falta a estudante<br />

por motivo de exame. Inconstftucionalidade da decisão que a<br />

concedeu.<br />

Recurso extraordtherio parcialmente conhecido e provido nessa<br />

parte.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em sessão<br />

plenAria, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigrAficas,<br />

por unanimidade de votos, em<br />

conhecer e prover parcialmente o recurso.<br />

Brasilia, 07 de junho de 1978 —<br />

Antonio Neder, Presidente — Cunha<br />

Peixoto, Relator.<br />

RELATORIO<br />

O Sr. Ministro Cunha Peixoto:<br />

Trata-se de recurso extraordinArio<br />

interposto contra acerdao do Tribunal<br />

Superior do Trabalho, proferido<br />

em dissidio coletivo.<br />

0 (lustre Presidente do Tribunal<br />

Superior do Trabalho, Ministro Luiz<br />

Roberto de Rezende Puech, assim<br />

resumira e apreciara a controversia:<br />

«Fundamentado nos artigos 119,<br />

III, letras a e d e 143 da Constituicao<br />

Federal, recorre extraordinariamente<br />

«Sindicato da IndUstria<br />

de Abrasivos do Estado de Sao<br />

Paulo», contra decisao deste Egrtgio<br />

Tribunal que:<br />

assegurou a gestante a permanAncia<br />

no emprego, ate sessente<br />

(60) dias ap6s o termino da licenca<br />

previdenciAria;<br />

aplicou ao salad() do substituto,<br />

o previsto no Prejulgado n? 56;<br />

c) assegurou ao empregado estudante<br />

o direito de justificar a falta<br />

por motivo de exame em escola<br />

oficial ou reconhecida, comprova-


do o motivo medlante atestado do<br />

estabelecimento.<br />

Sustenta a violacão dos artigos<br />

6?, 43, 142, 1? e 153, § 2?, da ConstituicAo<br />

Federal.<br />

Preliminarmente, cumpre ressaltar,<br />

quanto aos 'tens a e b o<br />

Egreglo Supremo Tribunal Federal,<br />

ao julgar hip6tese identica,<br />

pronunciou-se em todas elas, pela<br />

constitucionalidade do decidido.<br />

ViAvel o Recurso Extraordinario,<br />

entretanto, no que se refers As ausencias<br />

escolares. NAo hA davicia<br />

de que 6 constltucional e legal a<br />

competencia normativa da Justica<br />

do Trabalho. Todavia, na espécie,<br />

esta afrontou a regra do art. 192, §<br />

1?, da ConstituicAo.<br />

que, in casu, nAo hA 0 interesse<br />

especitith da categoric* proffsatonal,<br />

segundo o qual 6 Rota a<br />

formulacAo do pedldo coletivo e<br />

seu atendimento.<br />

verdade que nossa legislacAo a<br />

propOsito nAo 6 suficientemente<br />

preclsa. Todavia, alguns de seus<br />

preckitos, A luz do corporativismo<br />

itallano que a moldou, permitem<br />

esciarecer e fundamentar a inviabilidade<br />

do dissidlo coletivo em<br />

matkria que excede do interesse da<br />

categoria.<br />

Categoria profisslonal (art. 511,<br />

2?, da ConsolidacAo das Leis do<br />

Trabalho) a aa expressAo social<br />

elementar resultante da similitude<br />

de condic6es de yids, oriundas da<br />

proffssgo ou trabalho em comum,<br />

em situacifo de emprego na mesma<br />

atividade econOmica ou em<br />

vidades flimflams ou conexatuf<br />

(grffos nossos).<br />

Observa Carnelutti que o limite<br />

maxim° de apllcacAo da sentenca<br />

coletiva e a categoria interessada,<br />

enquanto que a lel nAo sofre essa<br />

limitacão. (»Teorla del Rlgolamento<br />

Collectivo», pAgs. 172 e seguintes).<br />

R.T.J. — 94 261<br />

Ora, nAo se pode esquecer que as<br />

categorias profissionais perante a<br />

lei organlza-se em sindicato. E este<br />

postula em nome dessas categorias,<br />

de modo limitado, definido e<br />

objetivamente. Impossivel seria fazer<br />

confer nessa limitacAo (conforme<br />

a carte sindical do sindicato<br />

postulante) o interesse da escolaridade<br />

e suas conseq0knclas matkria<br />

tipicamente legislativa, inespeciffca<br />

a categoria profissional.<br />

Trata-se, isto sim, de matkria<br />

substancialmente legislativa. Apenas<br />

quando, ad absurdam, exlstlsse<br />

Slndicato dos Trabalhadores,<br />

corn freqÜencia As escolas, poderla<br />

ser a questAo postulada.<br />

E nAo por ser especffico da categoria<br />

o interesse, seu deferimento<br />

importaria, possivelmente, no fenmento<br />

do princIpio da igualdade<br />

perante a lei.»<br />

Manifestando-se pelo nAo conhecimento<br />

do recurso, dlsse a douta<br />

Procuradoria-Geral da Republica:<br />

4. 0 v. acOrdAo de fls. 202, proferido<br />

em dlssfdio coletivo, houve<br />

por bern acolher parclalmente o<br />

recurso dos sindicatos obreiros Para<br />

assegurar: a) estabilldade A empregada<br />

gestante ate sessenta Was<br />

ap6s a alta da previdencla social;<br />

b) ao substituto o mesmo salarlo<br />

do empregado substituldo; c) ao<br />

empregado estudante o dlrelto de<br />

justfficar a falta por motivo de<br />

exame em escola oficial ou reconhecida,<br />

comprovado mediante<br />

atestado do estabeleclmento.<br />

A este julgado °WM recurs()<br />

extraordinario o Sindicato da Indi:Istria<br />

de Abrasivos do Estado de<br />

'Ao Paulo, argtlindo ofensa aos<br />

arts. 6?, 43, 142, 1? e 153, 2?, da<br />

ConstltulcAo.<br />

0 Supremo Tribunal Federal<br />

jA se manifestou a respeito das<br />

quest6es sub gaff e abo e confirmou<br />

decisOrlo do Eg. Tribunal a quo no<br />

mesmo sentido do v. acOrdAo re-


262<br />

R.T.J. — 94<br />

corrido. Ao negar seguimento ao<br />

AI n? 59.488 (D.J. de 17.12.73, peg.<br />

9.637), o eminente Ministro<br />

Oswaldo Trigueiro afastou a alegada<br />

violacão aos arts. 142, 1? e 153,<br />

2?, da Constituicão, argumentando<br />

que o acerdAo então impugned°<br />

se mantivera «no plane da interpretacão<br />

da legislacAo que estabelece<br />

normas e condicees de traba-<br />

Iho", e adiantou que o descanso remunerado<br />

da gestante, antes e depois<br />

do parto, estava assegurado<br />

pelo preceito constitucional do art.<br />

165, n? XI. No tocante ao salario do<br />

substitute, veja-se o despacho proferido<br />

pelo eminente Ministro<br />

Cordeiro Guerra no AI n? 66.937<br />

(D.J. de 14.4.76, peg. 2.482), em<br />

que sufragou a orientacAo do Eg.<br />

Tribunal Superior do Trabalho.<br />

Trata-se de construcAo de alto sentido<br />

social, que visa a dificultar a<br />

rotatividade da mAo de obra e a<br />

demissAo injusta do empregado<br />

mais antigo, ja Integrado na empresa.<br />

4. As mesmas razdes levaram o<br />

v. acordAo recorrido a assegurar<br />

ao empregado estudante a Justincacao<br />

de suas faltas, pois, além de<br />

arrimado em norma constitucional<br />

que confere a todos o dlreito a educacao<br />

e imptie ao Estado o dever<br />

de respeitA-lo (art. 176), teve em<br />

mire estimular e proteger aqueles<br />

que, atraves do estudo, lutam por<br />

melhor qualificacAo profissional.<br />

Nem se diga que houve afronta ao<br />

art. 142, 1?, da ConstitulcAo, como<br />

entende o r. despacho que admitiu<br />

o recurso. Se a educacAo<br />

constitui direito de todos, conforme<br />

dito acima, /Tao se ha de negar o<br />

interesse de qualquer sindicato em<br />

relvindicA-lo para os seus associados».<br />

E o relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Minsitro Cunha Peixoto (Relator)<br />

1 — 0 «Sindicato da IndOstria<br />

de Abrasives do Estado de S. Paulo<br />

recorre extraordinariamente contra<br />

decisAo do Tribunal Superior do Trabalho<br />

que: a) — assegurou a gestante<br />

a permanancia no emprego, ate<br />

sessenta dias ap6s o termino da licence<br />

previdenciaria; b) —<br />

ao Warn) do substitute o previsto na<br />

sentence normative para o substi-<br />

Undo; c) — assegurou ao empregado<br />

estudante o direito de justificar a<br />

falta por motivo de exame em escola<br />

°tidal ou reconhecida, comprovado<br />

o motivo mediante atestado do estebelecimento.<br />

2 — 0 primeiro ponto do recurso<br />

extraordinario enfrenta o problema<br />

da establlidade proviseria da gestante,<br />

e ja foi dirimido por este colendo<br />

Supremo Tribunal Federal nos<br />

11.11.EE. n?s. 83.860 e 79.317, quando<br />

entendeu nAo ser lnconstitucionai a<br />

sentence normative que a determinou.<br />

Neste Ultimo recurso, o Relator,<br />

Ministro Xavier de Albuquerque, assim<br />

se pronunciou:<br />

«Quanto A establlidade provisoria<br />

da gestante ha no acerdAo recorrido<br />

esforco de construcAo que<br />

talvez transcenda os exatos limites<br />

das disposicties legais pertlnentes,<br />

mas que positivamente nAo ofende<br />

a ConstitulcAo. Foi, alias, na intencAo<br />

de cumpri-la com exactio que<br />

ele se inspirou, e compreende-se<br />

por que: na ConstitulcAo de 1937,<br />

contemporAnea dos preceitos da<br />

Consoliciaclio das Leis do Trabalho,<br />

garantiu-se Agestante apenas o salario<br />

de period° de reponse (art.<br />

137, I), ao passo que nas ConstituicOes<br />

subseqllentes, a semeihanca<br />

da de 1934 (art. 121, 10, garantiuse-lhe<br />

rat, apenas o salarlo, mas,<br />

tambem a emprego (CF 46, art.<br />

157, X; CF 67, art. 158, XI; EC 1/69,<br />

art. 165, I)».<br />

3 — Com relacAo ao salario normative,<br />

tivemos oportunidade de<br />

afirmar no RE n? 77.650:<br />

«Sendo as convencOes coletivas<br />

ou sentences proferidas nesses


dissidios atos normativos e, como<br />

tats, fonte formal de direito do trabalho,<br />

nada impede que esses decis8es<br />

tenham force obrigateria<br />

mesmo em relacáo aos empregados<br />

que venham a ser admitidos<br />

apas o dissidlo, inexistindo qualquer<br />

elva de Inconstitucionalidade<br />

quanto a esses efettos, vez que não<br />

he norma expressa na legit:lava°<br />

pAttia determinando que a sentenca<br />

normative somente aproveita<br />

aos trabalhadores admitidos ate a<br />

data do julgamento».<br />

4 — As sentences normativas constituem<br />

fonte formal de direito do trabalbo.<br />

0 art. 813 da CLT define a<br />

convenctio coletiva como aacordo de<br />

carater normativo, pelo qual dots ou<br />

mats sindicatos representativos de<br />

categories economicas e profissionab<br />

estipulam condicdes de trabalho,<br />

spite:Weis no ambito das respectivas<br />

representacOes, as relacees individuals<br />

de trabalho».<br />

Ripert chama-o de lei do grupo<br />

prolissional, e o Professor Paulo<br />

Emilio Ribeiro de ViMena equiparou<br />

a sentence normative a propria lei<br />

(Da Sentence Normative, Belo Horizonte,<br />

1961, peg. 10). Segulndo, alias,<br />

neste particular, os ensinamentos de<br />

Carneluttl, que diz ter a sentence<br />

normative corpo de sentence e alma<br />

de lel.<br />

Este escritor Italian leciona abide<br />

que o interesse da categoria que se<br />

leva a debate na 11de coletiva e o interesse<br />

— tipo, valioso para qualquer<br />

membro da categoria, associado<br />

ou nao, presente ou futuro (Teoria<br />

Del Regolamento CoBetty° Del<br />

Repporti de Lavoro, peg. 142).<br />

Por isto a que o eminente Presidente<br />

do Tribunal Superior do Trabath°,<br />

Ministro Luiz Roberto de Rezende<br />

Puech, afirmou ser Inconstitucional<br />

a permlssao de ausanclas escolares,<br />

porque anão hA o Interesse<br />

especifico da categoria proftssional,<br />

R.T.J. — 94 263<br />

segundo o qual a Ilene a formulacão<br />

do pedido coletivo e seu atendimento».<br />

Juiz terA, no caso, como adverte<br />

Oliveira Wane (Problemas de DIreito<br />

Corporativo, peg. 118), de se mover<br />

sempre infra legem, dentro dos<br />

llmites que the tracam as leis e os<br />

regulamentos.<br />

Ora, inexiste lei no Brasil, nem<br />

dispositivo Constituclonal, que permita,<br />

ao menos Implicitamente, a<br />

ausencia do estudante para Inn de<br />

escolaridade, isto e, para fim de<br />

prestar exame. Neste caso, o Tribunal<br />

agiu como legislador, desrespeltando<br />

o princIpto da autonomla e independencia<br />

entre os poderes. A decisao<br />

impugnada legislou sobre bores<br />

de trabaiho, antencipando-se ao<br />

legislador. Se fosse posslvel a Justice<br />

do Trabalho dispenser o estudante<br />

trabalhador para prestar exame,<br />

sem prejuizo de seus proventos, poderia<br />

tambem emptier o beneficio e •<br />

permitir sua ausencla durante as horas<br />

escolares, estas tao necessaries<br />

como aquelas, pots a freq(kancia<br />

pre-requisito para a aprovacâo no<br />

ano letivo.<br />

Por estes motivos, conheco, nos<br />

termos do pronunclamento do Presidente<br />

do Tribunal Superior do Trabalho,<br />

em parte, do recurso, para<br />

considerar inconstitucional a decisão,<br />

quando entendeu como justlficada<br />

falta de empregado-estudante<br />

ocorrida por motivo de exame em<br />

estabelecimento °Betel.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 86.405 — SP — Rel.: Min.<br />

C'a.na Peixoto. Recte.: Sindicato da<br />

111dt:stria de Abrasivos do Estado de<br />

Sao Paulo (Advs.: Benjamim Montelt°<br />

e outros). Recdos.: Sindicato<br />

dos Trabalhadores nas IndOstrias<br />

Quimicas Farmacauticas de Guarulhos<br />

e Salto e outro (Advs.: Carlos<br />

Arnaldo Selva e outros).


264<br />

DecisAo: Pediu vista o Ministro<br />

Soares Mufloz, ap6s o voto do Relator<br />

conhecendo em parte, e dando<br />

provimento ao recurso.<br />

Presiddricia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes A sessAo<br />

os Srs. Ministros Djaci Fala°,<br />

Antonio Neder, Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Alckmin, Lela') de<br />

Abreu, Cordeiro Guerra, Cunha Peixoto<br />

e Soares Mufloz. Ausente, justficadamente,<br />

o Sr. Ministro Moreira<br />

Alves. Procurador-Geral da RepObitca<br />

o Prof. Henrique Fonseca de<br />

Aradjo.<br />

Brasilia, 13 de fevereiro de 1978 —<br />

Alberto Veronese Agular, Secreario.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Soares Muiloz: NAo<br />

veto similitude entre a estabilidade assegurada<br />

A gestante no emprego, ate<br />

sessenta dies apes o termitic) da licence<br />

previdenclAria, e, bem assim,<br />

a equIparacAo do salArio do substituto<br />

ao do substituido corn a norma<br />

convencional que considera falta justificada<br />

a do empregado por motivo<br />

de exame em escola oficial ou reconhecida.<br />

As duas primeiras se radicam em<br />

interesses especificos da categoria<br />

profissional compreendida na convencAo<br />

coletiva e, por isso, nAo exor-<br />

Warn do seu campo de incidAncia. 0<br />

mesmo nAo ocorre em relacão ao direito<br />

assegurado ao empregado —<br />

estudante — A justificacAo das f altas,<br />

por motivo de exame em escola<br />

oficial ou reconhecida.<br />

Inexiste, no tocante A esta Ultima<br />

prerrogativa, interesse especifico da<br />

categoria profissional, para que possa<br />

ser objeto de convencAo normative.<br />

Mas interesse inespecifico A Categorla,<br />

vinculado a todos aqueles<br />

que estudam, a ser reconhecido e<br />

disciplined° mediante lei, quicA A semelhanca<br />

das que existem em alguns<br />

setores da atividade pablica.<br />

R.T.J. — 94<br />

Concordo, pois, corn o voto do eminente<br />

Ministro Cunha Peixoto, para<br />

conhecer, em parte, do recurso extraordinario,<br />

e the dar provimento<br />

nesse ponto, declarando a inconstiturionalidade<br />

do ato normativo, quanuo<br />

consldera justificada a falta do<br />

empregado ocorrida por motivo de<br />

exame, em estabelecimento oficial<br />

ou reconhecido.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves: Sr.<br />

Presidente, corn a devida vania, entendo<br />

que a sentenea normativa /la°<br />

se equipara a lei. A sentenca normativa<br />

cria direitos, dentro do Ambito<br />

de competancia que a lei ]he cia. Assitu,<br />

nAo é ela colocada no mesmo<br />

piano da lei. Se fosse, teriamos de<br />

admitir que ela poderia estabelecer<br />

que os estudantes tell= abonadas<br />

as horas de trabalho necessarias para<br />

fazer prova.<br />

Por entender que a sentenca normativa,<br />

embora crie normas concretas,<br />

que se aplicam apenas aquele<br />

grupo a que se destinam, mas normas<br />

essas que estAo condicionadas<br />

ao Ambito da competAncia que a legislacáo<br />

trabalhista the dA, entendo,<br />

tambarn, que a mataria sob exame<br />

liar) se situa dentro do campo de<br />

competancia da sentenca normativa.<br />

Por isso, como o eminente Relator<br />

e o Sr. Ministro Soares Munoz, tenho<br />

esta parte como inconstitucional.<br />

Nas demais, ja ha decisdes do Plenario<br />

Corte, no sentido da constitucionalidade.<br />

Conseqiientemente,<br />

tambarn conheco do recurso, em<br />

parte, e, nesta parte, dou-lhe provimento.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra:<br />

Sr. Presidente, pelos motivos expostos<br />

pelo eminente Ministro Moreira<br />

Alves, nAo acolhia a estabilidade da<br />

gestante, ficando vencido nos Julgamentos<br />

anteriores.


Clam que me curvo as decisdes do<br />

Plenerio, corn ressalva do meu ponto<br />

de vista, nesta parte.<br />

Na outra, referente ao salArio normally°,<br />

houve maloria, de modo que<br />

estou, tambern, de acordo.<br />

E, pelos motivos por que nAo admit!<br />

a criacilo de urns obrigagito<br />

sem lei, porque fora do campo da<br />

Justice do Trabalho nos contratos<br />

nonnativos, acompanho o eminente<br />

Relator, conhecendo, em parte, do<br />

recurs°, e nesta parte The dando provimento.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 86.405 — SP — Rel.: Min.<br />

Cunha Pebcoto. Recte.: Sindicato da<br />

Indfastrla de Abrasivos do Estado de<br />

Sao Paulo (Advs.: Benjamim Mon-<br />

R.T.J. — 94<br />

265<br />

teiro e outros). Recdos.: Sinclicato<br />

dos Trabalhadores nas Inalstrias<br />

Qulmicas e Farmaceuticas de Guarulhos<br />

e Salto e outro (Advs.: Carlos<br />

Arnaldo Selva e outros).<br />

DecisAo: Conheceram, em parte, e<br />

deram provimento ao Recurso. DeciunAnime.<br />

Votou o Presidente.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder, Vice-Presidente, na ausencia<br />

ocasional do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores, Presidente. Presentes<br />

a Sessao os Srs. Ministros<br />

Djaci FalcAo, Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Alckmin, Leito de<br />

Abreu, Cordeiro Guerra, Moreir A a Alves,<br />

Cunha Peixoto e Soares Mufloz.<br />

Procurador-Geral da ReptIblica o<br />

Prof. Henrique Fonseca de AraWo.<br />

Brasilia, 07 de butho de 1978 —<br />

Alberto Veronese Aguiar, SecretArio.<br />

RECURSO EXT RAORDINARIO N? 86.538 - PR<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Lena() de Abreu,.<br />

Recorrente: Josè Carlos Ribas Batista — Recorrida: Cooperativa Agricola<br />

Mista de Ponta Grossa.<br />

Execuclio. Dupllcata WI° aceita. Deve, para ter forca executiva,<br />

rent& os requlsitos a que se refere a parte final do caput do artigo 15<br />

da Lel nt 5.474/68, alterada pelo Decreto-lef 436/69 (RTJ 77/345). Nao<br />

a tem, entretanto, se The falta o protesto.<br />

Recurs() extraordbuirlo conhecido e provido.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Mlnlstros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade coin a ata<br />

de julgamentos e notas taquigrAficas,<br />

em conhecer do recurso e the<br />

dar provimento, por unanimidade de<br />

votos.<br />

Brasilia, 23 de mato de 1980. Diaci<br />

Falceo, Presidente — LeitAo de<br />

Abreu, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Leitilo de Abreu:<br />

Em seu parecer, o Procurador da<br />

Republica Walter Jose de Medeiros<br />

assim expee e aprecia o tema do recurso<br />

extraordinerio:<br />

«Opostos embargos a execucAo,<br />

foram eles parcialmente recebidos<br />

pelo MM. Julz singular para o fito<br />

de excluir do processo executerio a<br />

q uantla de Cr$ 49.030,11 (quarenta<br />

e note mil, trinta cruzeiros e onze


266<br />

R.T.J. — 94<br />

centavos), correspondente a (UN/Ida<br />

representada por duplicatas nao<br />

aceitas e tamb6m nao protestadas(f.<br />

155).<br />

«Em grau de apelagao, o eg. Tribunal<br />

de Justica do Parana reformou<br />

a sentenca para mandar Incluir<br />

na condenacao a parcela por<br />

ela anteriormente excluida. Partin<br />

o v. acerclao recorrido da premissa<br />

de estar superada a polamica sobre<br />

a executividade da duplicata<br />

sem aceite, desde que acompanhada<br />

do comprovante de entrega da<br />

mercadoria. A tal conclusão se<br />

chegou em face da redagao do artigo<br />

15 da Lei n? 5.474, de 18 de julho<br />

de 1968, corn as alteracees subseqtlentes.<br />

Segundo o acardao, seria<br />

facultativo o protesto, pots o artigo<br />

referido fala em duplicata nao<br />

aceita `ou' protestada. Assim,<br />

Yalta de protesto, poderia ser executada<br />

a duplicata sem aceite, desde<br />

que acompanhada do comprovante<br />

de entrega da mercadoria (f.<br />

212).<br />

«Dai o recurso extraordinario pelas<br />

alineas a e d da norma constituclonal<br />

autorizativa (f. 219), prontamente<br />

admitido por despacho do<br />

eminente Presidente Jorge Andriguetto<br />

(f. 233).<br />

«Procede, a nosso ver, o apelo<br />

por ambos os fundamentos invocados.<br />

«E evidente o equlvoco em que<br />

incorreu, data yenta, o eg. Tribunal<br />

paranaense ao vislumbrar, no<br />

artigo 15 da Lei 5.474, de 1968, corn<br />

a redacão que the deu o Dec.-lei<br />

436, de 1969, a conjuncão alternativa<br />

ou, quando, em verdade, all se<br />

Insculpiu a copulativa e.<br />

«De Pato, o processo de execucão<br />

so tern lugar na hipatese de duplicata<br />

n90 aceita, desde que devidamente<br />

protestada e acompanhada<br />

de documento comprobatario da<br />

remessa ou da entrega da mercadoria.<br />

Dizem-no a lei e a farta ju-<br />

risprudancia colacionada a propelsito<br />

do terra.<br />

«No caso, duplicatas sem aceite,<br />

embora acompanhadas da prova<br />

de entrega da mercadoria, nao foram<br />

regularmente protestadas.<br />

Did a impropriedade do processo<br />

executario para a cobranca pretendida.<br />

Rua° tinha, por conseguinte,<br />

a sentenca do MM. Juiz singular<br />

que, ao receber parcialmente os<br />

embargos opostos a execucao, determinou<br />

fosse excluida a parcela<br />

representada por duplicatas naquelas<br />

condicaes.<br />

«Parecer, em conclusao, pelo<br />

provimento do recurso a fim de<br />

que, cassado o v. acardão recorri-<br />

doe<br />

restabelecida a sentenca<br />

de primeiro grau» (fls. 271-272).<br />

E o relatario.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Mikan) Lela() de Abreu<br />

(Relator): Sao titulos executivos<br />

extrajudiciais, nos termos do<br />

inciso VII do artigo 585 do Codigo de<br />

Processo Civil, «todos os demais<br />

titulos a que, por disposicao expressa,<br />

a lei atrlbui forca executiva». No<br />

aplicar esse preceito legal, tem o Supremo<br />

Tribunal entendido que<br />

titulo executivo extrajudicial ga duplicata<br />

nao aceita que preencha os<br />

requlsitos a que alude a parte final,<br />

caput, do artigo 15 da Lei n? 5.474, de<br />

18.7.68 (com as modificacOes do<br />

Dec.-Lei 436, de 27.01.69)» - RTJ<br />

77/345, entre outros julgados. Mas a<br />

duplicata a que at se alude 6 a duplicata<br />

(ou triplicata) nä° aceita e protestada,<br />

desde que esteja acompanhada<br />

de qualquer documento cornprobaterio<br />

da remessa ou da entrega<br />

da mercadoria.<br />

Apesar de se encontrar a duplicata<br />

flat:, aceita acompanhada do documento<br />

que fazia prova da entrega da<br />

mercadoria, nao se achava ela protestada.<br />

Considerou o acerclao im-


pugnado ser optativo o protesto. Esse<br />

assertive confine, PoreM, corn a<br />

letra da lei, pots esta nAo emprega a<br />

conjuncilo ou, disiuntiva, ou alternativa,<br />

mas a conjuncAo e, copulative.<br />

Estatul a lei: e... duplicate ou triplicate<br />

nAo aceita e protestada...D. Logo,<br />

nilo protestada, a duplicate sem<br />

acelte, nilo preenche todos os requisitos<br />

do artigo 15 da Lel n? 5.474/68,<br />

alterada pelo Dec.-lei n? 436/69.<br />

Por estes fundarnentos, de acordo<br />

corn o parecer, que acolho, conhee0<br />

do recurso e the dou provimento Para<br />

restabelecer a sentence de prlrnelro<br />

grau.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 86.538 - PR - MM. Leltao<br />

de Abreu. Recte.: Jost Carlos Ribes<br />

R.T.J. - 94<br />

267<br />

Batista (Advs.: Auracyr Azevedo M.<br />

Cordeiro e outro). Recda.: Cooperative<br />

Agricola Mista de Ponta Grosse<br />

(Adv.: Divo Lara).<br />

Decisilo: Conhec e provi nos<br />

termos do voto do ido<br />

Ministro Rel<br />

do UnAnime.<br />

ator.<br />

Presidencia do Senhor Ministro<br />

Thad FalcAo. Presentes a Seas/lo os<br />

Senhores Ministros Leitilo de Abreu,<br />

Moreira Alves e Decio Miranda. Ausente,<br />

justificadamente, o Senhor Ministro<br />

Cordeiro Guerra. Subprocura..<br />

dor-Geral da Remlblice, o Dr. Mauro<br />

Lelte Soares.<br />

Brasilia, 23 de main de 1980. Hello<br />

Francisco Marques, SecretArio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO PI? 86.647 — RJ<br />

(13rimeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Rafael Mayer.<br />

Recorrente: Manasche ilrzepicM — Recorrido: Stephan Onward.<br />

— Realm Extraordinario. Locacão. Fian ce — Re<br />

no do Supremo Tribunal Federal, art. 308, V. —<br />

glmento Inter-<br />

acesso a via ex Inviabilidade<br />

traordimiria, náo s6 das causes que versem a reMcilo<br />

de<br />

ex locato propriamente dita, como tambem de qualsquer direltos e<br />

obrigactles denudes da Ravi°, entre os quails se lnclul a fiance,<br />

que a ela se vincule. — Recurso Extraordintirio nib conhecido.<br />

ACORDAO<br />

ordintirias, uma contra M. F.<br />

mo Ltda, e Ste<br />

Tuns-<br />

Vistos, relatados e discutidos estes phan Onward, visando<br />

recebimento<br />

autos, acordam os Ministros da Pri-<br />

de aluguels e demals<br />

metre Turma do Supremo Tribunal encergos, e outra contra a primeira<br />

Federal, na conformidade da ata pare haver perdas e danos e despede<br />

sac<br />

julgamentos e notes ta<br />

p<br />

quigraficas, a<br />

rocessuals, divide essa decorunanimidade,<br />

nAo conhecer do recur- rente de locacAo de !Wive] past em-<br />

so.<br />

presa e ariancada pelo segundo.<br />

Brasilia, 25 de marco de 1980 — Tulgadas procedentes ambas as<br />

Thompson Flores, Presidente — Wes, apelaram as partes,<br />

Rafael Mayer, Relator.<br />

Stephan<br />

Osward pedindo a reforma<br />

da intern'<br />

sentence, slate<br />

RELATORIO<br />

que a novacio do<br />

contrato de locaclio exonera o fiador.<br />

0 Sr. Ministro Rafael Mayer: Ma-<br />

Por sua vez, o autor persegue a cornasche<br />

Ifrzepicki alul2ou duds acees recao monetAria de todas as verbas<br />

devidas pelos rem, alem da inclusAo


268<br />

R.T.J. — 94<br />

que «a moratoria para o efeito de ex-<br />

de Cr; 500,00 relativa a honorarios tinguir a fianca s6 a exercitävel, co-<br />

de advogado.<br />

mo direito, nos termos do art. 1.503,<br />

A egragia Primeira Camara do I, do C6cligo Civil, quando expressa-<br />

Tribunal de Alcada, por unanimid a mente concedida».<br />

to a pri-<br />

-de de votos, deu provimen Denegado seguimento ao recurso,<br />

meira apelacao para excluir o ape- subiu em virtude do provimento daante<br />

da relacäo juridica processual, do ao Ag. 68.090, pelo meu ilustre an-<br />

condenando o apelado ao pagamento tecessor, Ministro Rodrigues Alck-<br />

de honorarios, em 10% dos valores min. Nesta instancia, opinou a douta<br />

das respectivas causas, e negou pro- Procuradoria-Gera] da Republica pevimento<br />

segunda apelacao . A<br />

lo conhecimOnto e provimento, em<br />

ementa do acardao esta redigida parecer da lavra do ilustre Procura-<br />

nestes termos:<br />

dor Dr. Joao Boabaid de Oliveira<br />

«Fianca. Responde o fiador, na Rapary, in verbis:<br />

hipottse da decretacáo do despejo, «Manasche Krzepicki moveu 'a<br />

ata urn periodo razoavel para a Stephan °sward e M. F. Turismo<br />

execucao da sentenca. Desonera-o,<br />

Ltda. duas acOes: na primeira pediu<br />

que Sthephan Osward pagasse<br />

porém, a permanéncia do locatario<br />

do im6vel, ap6s aquele periodo, alugueres encargos e tributos que<br />

a afiancada — M. F. Turismo Ltda<br />

porque, sendo o contrato de fianca — nao pagara, além de multa con-<br />

acessario ao de locacao, não pode<br />

substituir uma vez resolvido este. tratual; na segunda, pedia o pagamento<br />

de perdas e danos, alugue-<br />

Correa() monetaria incabivel.» res e despesas processuais.<br />

Irresignado Manashe Krzepicki interp6e<br />

recurso extraordinärio, pelas Ambas as acOes foram julgadas<br />

Tetras a e d, sustentando violacao ao procedentes. 0 autor apelou, visan-<br />

§ 29 art. 153 da Constituicao Federal,<br />

do a obter reforma partial da sentenca,<br />

a fim de que houvesse a cor-<br />

quando disptie que «ninguem sera<br />

obrigado a fazer ou deixar de fazer recao monetaria de todas as ver-<br />

alguma coisa sena() em virtude de<br />

bas da condenacao, inclusive da<br />

lei». A seu ver, nao se lobriga em correspondente aos honorario s pa-<br />

qualquer lei a obrigacao do locador<br />

gos no processo de vistoria . Houve,<br />

de promover a execucao do despejo tamb6m, apelacao de Stepha n Os-<br />

decretado na sentenca, nem muito<br />

ward, que pretendia a reforma to-<br />

menos a exoneracao do fiador nessa<br />

tal da v. decisào de primeira ins-<br />

hip6tese. Entende, também, vulneratancia.do o § 1? do mesmo dispositiv o cons- Ao julgar os recursos, a Colenda<br />

titucional, que estabelece a igualda- Primeira Camara Mel do Tribude<br />

de todos perante a lei, visto que nal de Alcada do Rio de Janeiro, a<br />

teria tido tratamento desigual em re- unanimidade de votos, proferiu a r.<br />

lacao ao fiador Punida a inertia de- decisäo de fls. 180/3, que tem a sele<br />

recorrente, em nao promover desguinte ementa:<br />

de logo a execucao da sentenca de<br />

despejo, premiou-se entretanto a iner- "Fianca . Responde o fiador,<br />

na hipotese de decretacão do destia<br />

do fiador, a quem cumpria exigir<br />

do afiancado a satisfacao da pejo, ate urn periodo razoavel pa-<br />

obrigacao ou a exoneracao da flanra a execucao da sentenca.<br />

ca. Para comprovac ao de dissidio ju-<br />

Desonera-o, portm, a perman<br />

risprudencial, indica inUmeros julgados<br />

do Supremo Tribunal Federal e<br />

de outros Tribunals no sentido de<br />

ên<br />

-cia do locatario no imOvel, ap6s<br />

aquele periodo, porque, sendo o<br />

contrato de fianca acessOrio ao


de locacao, nao pode subsistir<br />

uma vez resolvido este. Correcito<br />

moneterla incablvel» (f. 180).<br />

Irresignado, manifestou Manesche<br />

Krzepicki embargos declaratedos,<br />

os quals foram rejeitados<br />

unanimidade de votos. Veto entao,<br />

o apelo extremo, mandado processor<br />

por force da deciseo proferida<br />

em agravo de Instrtunento.<br />

Parece-nos data yenta, que o<br />

dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l este suficientemente<br />

provado, razflo por<br />

que opinamos no sentido de que sent<br />

conhecido o recurs°.<br />

Se conhecido, temos que se lmpee<br />

seu provimento, a fim de que<br />

reformado seja o r. aresto atacado.<br />

E que, desde logo temos como<br />

Inarredavel que, sendo a fiance dada,<br />

como no caso, ate a devolucao<br />

das chaves ao locador, somente se<br />

exlgem as obrlgacees do fiador<br />

quando efetivada a entrega das<br />

chaves.<br />

Enquanto tal nao se verifica,<br />

subsistem as suas obrigacdes.<br />

Demais, disso, nao vemos, data<br />

venla, como a Inercia do locador,<br />

que retardou a execuceo da sentence,<br />

que deferiu os seus pedidos Indais,<br />

possa ser considerada cause<br />

extintiva das obrigacdes do fiador.<br />

Ao Niger o agravo nt 65.031-SP,<br />

do qua! tot Relator o Exmo. Sr. Mlnistro<br />

Moreira Alves (transcrino<br />

as fls. 196/7), assentou a 1f Turma<br />

do Preterio Excelso que, havendo<br />

omissäo do credor, cabe ao fiador<br />

o poder de promover o andamento<br />

da actio contra o devedor, nos ter-<br />

mos do artlgo 1.998 do Cedigo Civil.<br />

Esta, sem amide, a providencia<br />

legal que o fiador cidveria ter adotado.<br />

Configurada tolerancia, que nao<br />

6 causa de extincao das obrigacees<br />

do fiador, parece-nos que, comprovado<br />

o dissidio Jurisprudenclal,<br />

merece ser conhecido e provido o<br />

R T.J — 91<br />

269<br />

apelo extremo, para que reformado<br />

o r. aresto atacado e restabelecida<br />

a v. decisao de primeiro<br />

grau».<br />

E o related°.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator):<br />

A especie versada nestes au-<br />

tos, dlz respeito a contrato de fianca<br />

vinculado a locacao, ou melhor,<br />

responsabilldade do fiador na hipetese<br />

de decretacao de despejo Creio<br />

que nao ha como escaper ao veto do<br />

art. 308, V, do Regiment° Intern° do<br />

Supremo Tribunal Federal, na redacilo<br />

dada pela Emenda Regimental<br />

n? 3, aplicavel ao presente recurso,<br />

els que o acordao recorrido fol proferido<br />

posteriormente a 31.07.75.<br />

O dispositivo regimental em foco<br />

nao obstacullza apenas a relacao ex<br />

locate Propriamente dita, porem val<br />

bem roofs longe, envolvendo<br />

qualsquer direltos e obrigacOes deri-<br />

vados na locacao entre os gnats certemente<br />

se !nazi a fiance que a garante.<br />

Nestes termos, nao conheco do recurs°.<br />

E o meu voto.<br />

EXTFtATO DA ATA<br />

RE 86.647-FtJ — Rel.: Min. Rafael<br />

Mayer. Recte: Manasche Krzepicki<br />

(Adv. Salomao velmovItsky). Recdo:<br />

Stephan Osward (Adv. Marco Antonio<br />

Soares de Assis).<br />

Declsao: Nao conhecido, decisao<br />

unfit/line.<br />

Presidencla do Sr. -Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes sessac)<br />

os Srs. Minlstros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Pelxoto, Soares Mufioz<br />

e Rafael Mayer. — Subprocurador-Geral<br />

da RepUblica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 25 de marco de 1980 —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secreted°.


270<br />

R.T.J. - 94<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 86.760 — SP<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Antonio Neder;.<br />

artamento<br />

Recorrentes: Francisco Salvia e sua mulher —Recorrido: Dep<br />

de Estradas de Rodagem do Municipio de São Paulo — DERMU/SP<br />

1. DesaproPriacio. 0 valor do lmivel desapropriad o 6 de ser contemporineo<br />

do laudo avallatirio, como expressa o art. 26 do Decretolei<br />

e 3.365, de 1941. Trata-se de materia juridica, e nAo materia de<br />

fato. Pode ser questionada em recurs() extraordinirio.<br />

2. Apelo excepcional a que o STF di provimento.<br />

ACORDAO<br />

Vistos e relatados estes autos de<br />

Recurso Extraordinärio n? 86.760, do<br />

Estado de Sio Paulo, em que sic, recorrentes<br />

Francisco Salvia e sua<br />

mulher e recorrido o Departamento<br />

de Estradas de Rodagem do Municipio<br />

de Si() Paulo — DERMU/SP,<br />

decide o Supremo Tribunal Federal,<br />

sua Primeira Tur ce , por maio-<br />

ria de votos, conher ma juros, de dezembro de 1970. A autarquia,<br />

a seu turno, pleiteia a<br />

reductio do valor indenizatOrio e<br />

da verba honoraria.<br />

Processados regularmente, os<br />

recursos, foram contr a-arrazoados.<br />

2. Primeiramente, de aceitarse<br />

como correto o criterio do magistratlo,<br />

ao considerar a Area<br />

ocupada como sendo de<br />

do recurso e 1.856,67m2. Como salientou Sua<br />

dar-lhe provimento, de acordo coin Excelencia, os levantamentos le-<br />

as notas juntas.<br />

vados a efeito pelo expert do<br />

Brasilia, 27 de maio de 1980. — juizo tendem a exaticlio (fls. 79 e<br />

Antonio Neder, Presidente e Relator. 135-137), enquanto a constante<br />

dos titulos pode levar a equivo-<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Antonio Neder (Relator)<br />

— I. Le-se no actirdão recorrido,<br />

fls. 179 a 181:<br />

«1. Cuida-se de indenizatOria,<br />

julgada procedente, em que o<br />

DERMU/SP foi condenado ao pagamento<br />

de area2.229.490,0 pela<br />

ocupacio da area de 1.856 0 ,67m2,<br />

juros desde a ocupacio, a serem<br />

apurados em execugão, salarios<br />

dos peritos, reembolso das custas<br />

e honoririos de 10% sobre a condenacio.<br />

Ao recurso oficial somou-se o<br />

apelo das partes. Autores, alegando<br />

erro no laudo do perito judicial,<br />

pedem o aumento da Area<br />

ocupada, bem como o estabelecimento<br />

da data, tiara fluencia dos<br />

cos.<br />

No tocante ao valor, o Dr. 'Ritz<br />

de Direito acolheu, integralmente,<br />

aquele encontrado pelo perito<br />

do juizo, que adotando o criterio<br />

do «metro quadrado medio», e o<br />

indice n60», chegando ao valor de<br />

Ca 2.229.490,00.<br />

3. Todavia, as criticas do assistente<br />

da autarquia merecem acurado<br />

estudo. S. SI sugere o desconto<br />

de 20% sobre o unitirio do<br />

perito judicial, levando em conta<br />

o valor, antes da melhoria, que<br />

seria, entAo de 960,64m2.<br />

De outro lado, sugere a eliminactio<br />

da area correspondente ao<br />

prolongamento da rua Particular,<br />

que fatalmente seria inaprovenal/el,<br />

nit, fora a obra ptiblica<br />

(vide fls. 105 e 108).


Tats criticas parecem de todo<br />

procedentes e merecem ser aceitas,<br />

pelo que se reduz a indenizagfio<br />

a Crt 1.630.000,00.<br />

A honoraria foi bem fixada em<br />

10%, levando-se em conta que a<br />

agilo decorreu de ato ilicito praticado<br />

pela autarquia-re.<br />

Em conseq06ncia, para reduz1r-se<br />

a IndenizacAo a Cr$<br />

1.630.000,00, stio parcialmente<br />

provldos os recursos °tidal e o<br />

voluntArlo da re.<br />

De outro lado, o apelo dos<br />

autores tambem 6 acolhido parcialmente,<br />

para fixar-se a data<br />

da fluencia dos Juros compensaterlos,<br />

a partir de dezembro de<br />

1970 (f. 153).<br />

Quanto a Area, JA ficou ela delimitada<br />

no item 2 acima.<br />

No mats, 6 manticia a r. sentence<br />

pelos seas fundamentos.»<br />

Pelo recurso extraordinario que<br />

deduziram nas fls. 183 e seguintes,<br />

elegem Francisco Salvia e sua mu-<br />

'her que o acordAo local vulnerou o<br />

art. 153, 22, da Constituictio, o art.<br />

26 do Decreto-Lei n? 3.365-41 e se<br />

ache em divergencla com os arestos<br />

que Indlcou para confronto.<br />

Quanto ao primeiro fundament°,<br />

dlsseram os Recorrentes, fls. 183 a<br />

185:<br />

al. Trata-se de desapropriagão<br />

indireta, essencialmente, portanto,<br />

tuna questAo expropriateria, e<br />

o V. Acerdflo recorrido, reformando<br />

a r. sentenca de 1? grau,<br />

reduziu a indenizagAo fixada,<br />

baseando-se no laudo pericial do<br />

d. Assistente do Expropriante,<br />

cujo acolhimento importou:<br />

em exclulr a indenizagito de<br />

certa parte (prolongamento de rua<br />

particular);<br />

fazer.retroceder o valor do<br />

imevel a tempo anterior a<br />

pericla, segundo um criterio subjetivo<br />

do preprio Assistente cujo<br />

R.T — 94<br />

271<br />

laudo Poi acolhido pelo V. Ac6rdão.<br />

A primeira questa° (exclusão<br />

de parte de Area) nao 6 objeto do<br />

presente recurso, por parecer<br />

aos Recorrentes que nAo enseja o<br />

extraordinario, situando-se num<br />

contexto de apreciacAo probate-<br />

/la da competencia do E. Tribunal<br />

local.<br />

A segunda questAo enseja o extraordinario,<br />

por ambas as letras<br />

(a e d) do permissivo constituclonal,<br />

em virtude da clara violactto<br />

de lel <strong>federal</strong> (art. 26 do Decreto-<br />

Lel 3.365/41, corn a redacAo da<br />

Lei 2.786/56) e, obliquamente, da<br />

prepria garantla constituclonal<br />

(ConstitulgAo Federal, Emenda<br />

n? 1, art. 153, I 22), alem de dissidencia<br />

manifest(' em relagão a<br />

Julgados de outros Tribunals e do<br />

E. Supremo Tribunal Federal.<br />

2. Realmente, quanto a questAo<br />

que aqui interessa, diz o v. AcOrdAo<br />

recorrido.<br />

No tocante ao valor, o Dr.<br />

Juiz de Direito acolheu, bitegralmente,<br />

aquele encontrado<br />

pelo perito do juizo, que adotando<br />

o criterio do «metro quadrado<br />

e o indice '60'<br />

chegando ao valor de Cri<br />

2.229.490,00.<br />

Today's, as criticas do asslstents<br />

da autarquia merecem<br />

acurado estudo. S. 3! sugere o<br />

desconto de 20% sobre o tmitArlo<br />

do perito judicial, levando<br />

em conta o valor, antes da method/I,<br />

que seria, entlio de<br />

960,641n2)) (f. 180).<br />

De sua vez, o laudo assim adotado,<br />

sob fundamento de merecer<br />

o acurado estudo», dlz o seguinte,<br />

sempre no que interessa ao recurso:<br />

Assim, fol determined° para<br />

o local (lndice 60.e custo de vide<br />

224,50) o valor unitario de<br />

Cr$ 1.200,80, que o signatario


272<br />

R.T.J. — 94<br />

Nestas condicOes ha que con-<br />

consideraria razoavel, caso a siderar o indite local proporcio-<br />

situacAo do imOvel fosse aquela nal a sItuacAo anterior ao me-<br />

verificada atualmente.<br />

lhoramento executado » (f. 107,<br />

Na realidade deve-se levar grifos nossos).<br />

em conta que a expropriacAo<br />

abrangeu uma area situada em 0 «melhoramento executado»,<br />

repita-se, e a obra que motivou a<br />

uma «avenlda projetada», e<br />

nAo na atual Av. NacOes Uni-<br />

desapropriacão, e esta bem claois,<br />

que o d. Assistente avadas,<br />

que difere radicalmente<br />

daquela dita projetada. Os tituliou<br />

o imOvel pela estimativa pes-<br />

soal do valor que teria, nAo na<br />

los de propriedade mencionam<br />

expressamente aquela s la coepoca<br />

da pericia, mas na epoca<br />

mo Av. Projetada, isto e, sem a da ocupaclio.»<br />

importAncia e valorizacão No tocante ao segundo fundamenadvinda<br />

da pr6pria obra. to, afirmaram os Impugnantes, f.<br />

Data yenta, entende o<br />

signatArio ser de legitima justi- 5. Em tema de extraordinario<br />

ca a indenizacAo pela area uti- em questOes exproPriatAria s, o<br />

lizada, porem corn as qualida- Min. Victor Nunes Leal, no agrades<br />

efetivas da mesma por vo de despacho denegaterio n?<br />

ocasiAo de sua absorcAo, atu- 24.995, assinalou:<br />

alizado Para a presente da- «No que respeita ao cAlculo<br />

ta. Da mesma forma nAo consi- da indenizacAo, o que constitui<br />

dera justo que o Autor obtenha<br />

indenizacAo mais elevada, de-<br />

questAo juridica sào os<br />

orittrios de julgamento, como<br />

corrente da execucAo da pr6- incluir, ou !ski, benfeltorias,<br />

pria obra» (fls. 106-107, grifos adicionar, ou nä°, honorArios<br />

originals).<br />

de advogado, tomar em conta o<br />

A Avenida NacOes Unidas, de valor da data da desaproPria-<br />

que se fala, e a prOpria obra que cAo, ou da data da pergola,<br />

motivou a desapropriacA o, e a etc.»<br />

«atualizacão » de que fala o Assis- 0 Excelso PretOrio tambem<br />

tente e a simples correcAo mone-<br />

Oita do valor estimado, como se<br />

decidiu:<br />

vë do prOprio texto.<br />

«0 problema relativo a epoca<br />

A parte a consideracáo de que a que deve corresponder o va-<br />

o Assistente Tecnico abalancoulor do im6vel desapropriado<br />

se a dizer o que e «justo» ou de nAo 6 questAo de fato e sim de<br />

«legitima justiea» ( taref a judi- dlreito.» (Recurso ExtraordinAcante<br />

e nAo pericial), verifica-se rio n? 48.127).<br />

que ele assistente julgou de ser<br />

atribuido o valor do imOvel Ainda assentou o Supremo Tri-<br />

antes, nä° na ocasiAo da pericia; bunal que, em relacAo a tais cri-<br />

o valor da sauna° do imOvel nas terios, ndo se trata de reexame<br />

supostas condicOes anteriores, da prova, «e, sim, do criterio le-<br />

conforme os «titulos de propriegal, e mesmo constitutional, redade»,<br />

ou «por ocasido de sua abgulador da indenizacão devida ao<br />

sorcão» (leia-se desaproPriacao, expropriado» (Revista Trimestral<br />

ou meihor ocupacAo, porque nal) de JurispructenCia, 64/421).»<br />

houve desapropriaeão ).<br />

«Ainda nas palavras do As-<br />

recurso foi assim admitido e razoado,<br />

fls. 199 a 204: ... (Lk).<br />

sistente:


A eg. Procuradoria-Geral da<br />

RepOblica oficlou ro caso emitindo<br />

este parecer do nobre Procurador<br />

Mauro Lelte Soares, f. 208:<br />

1. 0 Tribunal a quo, 1. 179, em<br />

acid, de desapropriacão indireta,<br />

reformou parcialmente a sentenca<br />

inicial no tocante ao valor da<br />

indenizacAo em face do confronto<br />

dos laudos apresentados pelo perito<br />

judicial e pelo perito da autarqula<br />

recorrida, descontando<br />

20% do preco =Bari° em face da<br />

melhoria operada pela desapro-<br />

priactio.<br />

0. Dal 0 recurso extraordinArio<br />

apolado nas Tetras a e d,<br />

alegando-se contrariedade ao art.<br />

153, f 22, da Constitute/Jo Federal,<br />

e negativa do art. 26 do<br />

DI 3.365/41).<br />

4. Somos pelo nAo conhecimento<br />

do recurso.<br />

«4. Pretende-se simples reexame<br />

da materia de prova atraves<br />

da confrontacAo de Indices dos<br />

laudos periclals apresentados, ao<br />

lado da alegacão de divergencia<br />

nao preencher as exigAncias da<br />

StImUla 291<br />

0. Se conhecido, somos pelo<br />

nAo provimento do recurso extraordinArio.»<br />

E o relat6rio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Mintstro Antonio Neder (Relator)<br />

— I. A materia regulada pelo<br />

artigo 26 do Decreto-Lel n? 3.365, de<br />

1941, toi assim conslderada na sentenca,<br />

f. 150:<br />

«De se ver que avaliacão foi<br />

feita para a situacAo atual A data<br />

do laudo, nilo tendo qualquer procedencia<br />

a critica felta pelo assistente<br />

t6cnico do r6u, de que<br />

deveria ser levada em consideracão<br />

a situacão da Area quando<br />

prOxima e como piarte de uma<br />

«avenida projetada» (f. 106).»<br />

R.T.J. — 94 273<br />

Essa materia foi julgada pelo<br />

acOrdão impugnado, como se 16 no<br />

seu texto constante do relatOrio, e foi<br />

Julgada no sentldo contrArlo ao que<br />

decidlu a sentenca, isto e, que o valor<br />

do im6vel desapropriado não pode<br />

ser o verificado ao tempo do laudo,<br />

e sim o anterior A melhoria que o<br />

Recorrido construlu no terreho (f.<br />

180, it 3).<br />

Ora, desprezando, como desprezou,<br />

o valor fixado na consideracão<br />

das circunstancias existentes no dia<br />

do laudo, e aceltando, como aceltou,<br />

o valor apurado em antes desse dia,<br />

isto 6, antes da melhoria (MC), o<br />

acOrdilo recorrido na verdade negou<br />

vigencla ao art. 26 do Decreto-Lel n!<br />

3.365, de 21-6-41, norma que define o<br />

valor da indenizacão como sendo 0<br />

apurado no dia em que se fizer a<br />

avallacAo.<br />

Vulnerada, que foi, no ponto, a citada<br />

norma <strong>federal</strong>, conheco do recurso<br />

extraordinArio quanto a essa<br />

materia.<br />

Trata-se, logo se ye, de materia<br />

jurldica, e nAo materia de Cato, essa<br />

de se fixar o dia em que se verifica o<br />

valor do im6vel desapropriado, porquanto<br />

esse dia se acha previsto no<br />

art. 26 do Decreto-Lei it! 3.365, de<br />

1941, norma <strong>federal</strong> cogente.<br />

II. Conheco do recurso e the dou<br />

provimento para restabelecer a sentenca<br />

Uncial na parte referente ao<br />

valor do ImOvel, mantido no macs o<br />

acOrdão impugnado.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 86.760 — SP — Rel.: Min. Antonio<br />

Neder. Rectes.: Francisco Salvia<br />

e sua mulher (Advs.: Paulo Valle<br />

Nogueira e Luiz Carlos Bettiol). Itecdo.:<br />

Departamento de Estradas de<br />

Rodagem do Municfplo de SIM Paulo<br />

— DERMU/SP (Adv.: Antenia Maria<br />

Zappa Schneider).


274<br />

Decisao: Conheceu-se do recurso e<br />

se ]he deu provimento nos termos do<br />

voto do Ministro Relator. Vencido 0<br />

Min. Soares Mufioz. Presidlu ao julgamento<br />

o Ministro Antonio Neder,<br />

por achar-se vinculado, nos termos<br />

do art. 71 do RI. Nao participou do<br />

julgamento o Min. Thompson Flores<br />

(Presidente).<br />

R.T.J. — 94<br />

Presidencia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder Presentes a Sessao os<br />

Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto, Soares Mutioz e<br />

Rafael Mayer. — Subprocurador-<br />

Geral da Republica, Dr. Francisco<br />

de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 27 de malo de 1980 —<br />

136Icio Carlos Dayrell, Secretario.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO 86.799 - SP<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Thompson Flores.<br />

Recorrentes: Adhemar Camardella Sant'Anna ou Adehmar Cambardella<br />

Sant'Anna e outros — Recoerldos: Miguel Martinez Matute, Pedro Martinez<br />

Matute (EspOlio de), Representado por s/invte.: Rosa .Aparecida Panelli e<br />

outros — Spencer do Amaral Thome — Ruth Guaratto Daniel, s/marido e<br />

outros.<br />

Mandado de Seguranca contra decisão judicial da qual o recurso<br />

cabivel TAW tinha efeito suspensivo e ameacava causar dano de demorada<br />

e Mat reparaclio.<br />

II. Recurso extraordinArio não conhecido porque, nem ocorreu<br />

negativa de vigencia do art. 5?, II, da Lei n? 1.533/51, nem dissidio<br />

com as Stmulas 267 e 268. Precedentes do S.T.F.<br />

ACORDAO<br />

a homologacao da proposta de<br />

compra de bens do acervo da so-<br />

Vistos, relatados e discutidos estes ciedade em liquidacao constitui-<br />

autos, acordam os Ministros da Pri-<br />

meira Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigraficas,<br />

por unanimidade de votos,<br />

conhecer do recurso.<br />

Brasilia, 18 de setembro de 1979. —<br />

Thompson Flores, Presidente e Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

Ao admitir o recurso extraordinario<br />

o ilustre Presidente, Juiz Joao Del<br />

Nero, fls. 209/10, assim resumiu a<br />

controvérsia:<br />

«Trata-se de mandado de Seguranca,<br />

em que os impetrantes sustentam<br />

que a suspensao de leilau e<br />

ram atos eivados de ilegalidade.<br />

0 yen. acOrdao de fls. 188/190<br />

concedeu a seguranca.<br />

Inconformados, os vencidos interpuseram<br />

recurso extraordinado,<br />

corn fundamento no artigo 119,<br />

III, letras a e d da Constituicao Federa<br />

l , alegando que o yen. acfirciao<br />

recorrido contrariou os artigos 5?,<br />

II, da Lei n? 1.533/51 e 468 do COdigo<br />

de Processo Civil e inculcou<br />

orientagao que diverge da firmada<br />

pelo Colendo Supremo Tribunal Federal<br />

(SOmulas 267-268) e pelo<br />

Egregio Tribunal de Justica de Sao<br />

Paulo (M.S. 240.954- 1. 198).<br />

O recurso, regularmente processado<br />

foi impugnado.


A Egregia Procuradoria-Geral<br />

da Justice opine pelo deferimento<br />

do recurso.<br />

Nilo ha, no caso, violacAo, mas<br />

tao somente interpretacAo razatvel<br />

da lei. Conforme consign a Egregia<br />

Procuradoria-Geral da Justice:<br />

«0 referido dispositivo da Lei<br />

do Mandado de Seguranca (art.<br />

5? n? II) 6 texto de controvertida<br />

interpretacilo nos <strong>tribunal</strong>s, de<br />

modo que simples opcAo a corrente<br />

ampliativa do writ nilo pode<br />

ser interpretada como literal<br />

violacão de lei. A respeito,<br />

socorre-me o verbete n? 400, da<br />

&mina mencionada. Acreditamos<br />

que identtco raclocinlo possa<br />

ser apresentado relativamente a<br />

alegada violacilo do art. 468 do<br />

Calig° de Processo Civil, ante o<br />

singelo despacho lanced° na pencil°<br />

de f. 17».<br />

Quanto A «diverancla de InterpretacAo<br />

portm, ressalte-se que sobre<br />

o cabimento do mandado 0<br />

eminente Relator do ven. acerdilo<br />

recorrido fol vencido «porque considerou,<br />

em dupla fundtunentacAo,<br />

que o writ era inadequado A meta<br />

(SUmula 267)» (f. 188).<br />

Imp6e-se, portanto, que sobre a<br />

mattrla aqui versada, se ensae o<br />

macs autorizado pronunciamento<br />

do Colendo Supremo Tribunal Federal.<br />

Por estes motivos, defiro o processamento<br />

do recurso.»<br />

2. Corn raz6es das partes, subiram<br />

os autos a esta Corte recebendo parecer<br />

contrArio da douta Procuradoria-Geral<br />

da Reptiblica, nestes termos,<br />

fls. 258/9:<br />

«0 Tribunal a quo f. 187, conhecendo<br />

por malorla, concedeu A<br />

unanimidade mandado de seguranca<br />

impetrado contra decisAo Judicial<br />

que suspendeu o leilAo de bens<br />

no die para ele aprazado, sem audiência<br />

dos &Scions, e homologou<br />

R.T.J. — 94<br />

275<br />

proposta de compra do acervo da<br />

sociedade em liquidecAo, proposta<br />

essa de pagamento em prestaciles<br />

e sem garantia real.<br />

Dal o recurso extraordiniirio<br />

apoiado nas letras a e d alegando<br />

negative dos arts. 5?, II, da lei n?<br />

1.533/51 e 468 do C6digo de Processo<br />

Civil, trazendo-se ao confronto<br />

as Stunulas 267 e 268.<br />

Somos pelo nao conhecimento<br />

do recurso.<br />

A impugnacão se refere apenas<br />

a parte preliminar do conhecimento<br />

do mandado de seguranca.<br />

O acerdilo recorrido declarou no<br />

merito que a decislio Judicial estava<br />

eivada de ilegalidade. Conforme<br />

o entendimento do Egreglo Supremo<br />

Tribunal no R.E. 76.909, Relator<br />

Ministro Xavier de Albuquerque,<br />

sesslio plearia de 5.12.73, avocado<br />

a f. 225, quando o recurso<br />

adequado tem apenas o efeito suspensivo<br />

e hit ameaca de dano irreparAvel,<br />

tern cabimento o socorro<br />

ao mandado de seguranca, contra<br />

decisão Judicial passivel de recurso<br />

corn efelto apenas devolutivo ou<br />

correicAo pante'.<br />

0 caso versado nos autos ajustase<br />

ao entenclimento em questa° em<br />

face da entAo iminencia de expeclicAo<br />

de alvarA para a outorga de<br />

escritura de venda de imovel da<br />

sociedade em dissolucAo. A medida<br />

liminar fol, inclusive, concedida, f.<br />

123.<br />

Somos, se conhecido, pelo nAo<br />

provimento do recurso extraordinArio.<br />

Brasilia, 30 de agosto de 1979. —<br />

Mauro Late Soaves, Subprocurador-<br />

Geral da Reptblica».<br />

E o relat6rio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Mastro Thompson Flores<br />

(Relator): NAo conheco do recurso.


276<br />

R.T.J. — 94<br />

Cinge-se ele a incabencia do<br />

mandamus, pots, admitindo-o contra<br />

despacho judicial, denegou vigencla<br />

aos art. 5?, II, da Lel 1.533/59 e discrepou<br />

da Saimaa 267 e 268, do<br />

S.T.F.<br />

Penso que inocorreram os pressupostos<br />

recursais em questdo.<br />

0 acCorddo, longamente considerou<br />

a manifesta ilegalidade do despacho<br />

impugned° e de conseqllente prejuizo<br />

dele emergente e da incerta reparacão.<br />

4. Corn efeito.<br />

No aresto se le, fls. 187/8:<br />

«Voltando-se o mandado de seguranca<br />

em causa contra decisdo judicial<br />

que alterou a normalidade<br />

processual - suspensão de lend° de<br />

bens precedido de editals e intimaea°<br />

regular as partes considerou a<br />

maioria que se tornava imprescindivel<br />

a intimacdo pessoal de todos<br />

os interessados, mesmo porque<br />

não era ilicito admitir a interrupcflo<br />

e o encerramento do Mil& remanescente<br />

sem aquela formalidade,<br />

por aplicacão analOgica da regra<br />

do art. 242, 3?, do C6digo de<br />

Processo Civil. Assim, o despacho<br />

interruptivo e a concomitante decksào<br />

terminative corn a homologacAo<br />

de proposta de liquidacAo, ndo<br />

podia ser havida como preclusa pela<br />

s6 e ulterior publicacflo dos atos<br />

inoportunos na imprensa official.<br />

Aberta, por force desse douto entendimento<br />

da maioria, a via de<br />

conhecimentb do merit° da impetreed°,<br />

possivel se tornou o julgamento<br />

do mandado, na ample perspective<br />

da indigitada lesào a direito<br />

liquido e certo.»<br />

E versando o merito, deduziu, fls.<br />

188/9:<br />

«A liquidacão da soctedade de<br />

que participou o impetrante e assistentes<br />

litisconsorcials (f. 128),<br />

notadamente na fase final de apu-<br />

cacao da fungibiltdade liquida dos<br />

bens societarios, ficou incada de<br />

dificuldades, apesar do esforco e<br />

dedicacdo do seu liquidante dativo;<br />

brotou conseMientemente, como<br />

solucdo, o praceamento dos<br />

bens, esgotadas todas as demais<br />

formas de desate. Designada a<br />

praca nAo houve licitante,<br />

seguindo-se designacAo de leilAo;<br />

ocorreu, entdo, a ilegalidade manifests.<br />

Sem audiencia de todos os<br />

secios, o MM. Juiz suspendeu o lei-<br />

IA°, no die para ele aprazado e na<br />

prOpria conjunta petted° de adiamento<br />

e noticia de proposta de<br />

compra do acervo, por terceiros,<br />

corn preco a prestacOes e sem garantia<br />

real, homologou a proposta<br />

de imediato. Ora, a proposta tal<br />

como noticiada, contrariava o tempo<br />

e a forma reqiiestados no art.<br />

700 do COdigo de Processo Civil e<br />

jamais poderia ter sido homologada<br />

naquelas condic6es, sem audiencia<br />

previa das partes. E que a<br />

proposta, no contend°, era passivel<br />

de justo repndio, se evidenciou desde<br />

logo pelo surgimento de outra,<br />

mats vantajosa e de mats adequada<br />

garantia real, que serviu de endosso<br />

a veemente °posted° do grupo<br />

de socios, ora impetrantes. E<br />

bastou urn pouco mats de meditae<br />

ponderacAo para Hear demonstrado<br />

o marcante acodamento<br />

da irrita homologacdo, contra a<br />

qual os demais sectos nä° impetrantes<br />

terminaram por reconhecer<br />

ao pedir assistencia litisconsorcial<br />

ativa neste mandado de seguranee<br />

L. 128).<br />

NA° podem prevalecer, conse-<br />

Mientemente, os atos conseqUendais<br />

do despacho objeto da impetreed°<br />

(1. 17: «J. Suspendo o lend°.<br />

Homologo a proposta que melhor<br />

atende a liquidacdo»). A sua ilegalidade<br />

vem do desrespeito do art.<br />

700 e seus do C6digo de Processo<br />

Civil; de sua inoportunidade. pela


nä° antecedencia audiencia das<br />

partes, interrompendo secglencia<br />

processual irreversivel pelo s6<br />

arbltrio do liquidante a quem era<br />

defeso, tambem, a transigencia de<br />

evidente veto no art. 351 do Ctochgo<br />

Cornercial.”<br />

E concluindo, f. 190:<br />

«Anota-se. por derradeiro, que os<br />

proponentes dtsputantes, inclusive<br />

os intervenientes de f. 156, nfto tern<br />

do que se quelxar corn o remote de<br />

agora porque lanearam-se empreitada<br />

de compra pela via de poheitzc6es<br />

que nä° completarsun o<br />

ciclo de sua definitividade, pela<br />

discordAncia dos outros visados<br />

contratantes. E o julgamento antecedente<br />

do Agravo de Instrtunento<br />

n? 220.220, ntio tern ressontincia<br />

aqui e agora, pois aquela decistio<br />

quedou-se numa prejudicial de intempestividade<br />

recursal, dIssociada<br />

das castles que Informaram, eft,<br />

o desate da prelimhtar e o de merito*.<br />

4. Verlfica-se assim que ntio ocorreu<br />

negativa de vigencia do art. 5?,<br />

II, mencionado nem dos verbetes sumulados,<br />

pots o S.T.F., sensivel a hipeteses<br />

como a dos autos, tern admitido<br />

a via do mandado de seguranca,<br />

em cartiter reservado dando exegese<br />

aos referidos enunciados.<br />

Mem do precedente indicado no<br />

parecer, cabe acrecentar outros, RE<br />

88.076, RTJ 84,1071, RE 84.181 - RTJ<br />

81/879, inclusive recente, desta 'Turma,<br />

ao ser julgado o RE n? 85.355 do<br />

R.S. onde sao indicados outros (RTJ,<br />

54,681; 63,490; 70,504; 72,743) e cuja<br />

ementa disp6e:<br />

eMandado de Seguranca. E<br />

cablvel contra decisties judiciSrlas<br />

R.T.J. — 94 27<br />

contra as quais não caiba recurso<br />

com efeito suspensivo, originando<br />

dano de (Melt reparacho.<br />

Precedentes do S.T.F. dando<br />

exegese ao art. 5?, II, da Lei n?<br />

1.533/51 e fazendo aplIcacão da<br />

Umtata 267.<br />

Prorrogacão pelo magistrado<br />

sem amparo legal, do prazo do art.<br />

352 do CPC de 1939, origlnando dano<br />

de Melt reparacho.<br />

Recurso extraordinftrio que<br />

se náo conhece, por ausencia de<br />

seus pressupostos.<br />

E o meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 86.799 - SP - Rel.: Min. Thompson<br />

Flores. Rectes.: Adhemar Camardella<br />

Sant'Anna ou Adhemar<br />

Cambardella Sant'Anna e outros<br />

(Adv.: Hotans Pedro Sartori). Recdos.:<br />

Miguel Martinez Matute, Pedro<br />

Martinez Matute (Espelio de): Representado<br />

por s/Inventariante Rosa<br />

Aparecida Panelli e outros (Adv.:<br />

Gull/myrtle Ramalho Netto); Spencer<br />

Pompeo do Amaral Thome (Adv.:<br />

Paulo Miguel de Oliveira) e Ruth<br />

Guaratto Daniel, seu markt° e outros<br />

(Adv.: Jose Stocco Netto).<br />

Decistlo: Nao conhecido, decIsflo<br />

unfinime.<br />

Presidência do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes 8 Sessilo<br />

os Senhores MhUstros Xavier de<br />

Albuquerque, Cunha Peixoto, Soares<br />

Mullor e Rafael Mayer. Subprocuradoria-Geral<br />

da Reptblica, o Dr.<br />

Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 18 de setembro de 1979. —<br />

Antonio Carlos de Asevedo tired&<br />

Secrettusio.


278<br />

R.T.J. — 94<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO CRIMINAL N? 86.847 — SP<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator para o acOrdAo: 0 Sr. Ministro Soares Munoz:<br />

Recorrente: Minist6rio Pllblico — Recorridos: Franklin Tadeu da ConceicAo<br />

e outro.<br />

Crime continuado. Possibllidade da continuacAo delitiva em crime<br />

de roubo, ainda que as infracOes tenham sido praticadas contra<br />

vithnas dilerentes.<br />

Recurso fundado exclusivamente na letra d do permissivo constitucional.<br />

NAo conhecimento da irresignacAo, de conformidade corn a<br />

SUmula 286.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, etc.<br />

Acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Primeira Turma,<br />

por maioria de votos e na conformidade<br />

das notas taquigrAficas,<br />

nAo conhecer do recurso.<br />

Brasilia, 27 de marco de 1979. —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Soares Muboz, Relator para o Actordrw.<br />

RELATORIO<br />

O Sr. Ministro Cunha Peixoto: 1. Os<br />

r6us Franklin Tadeu da Conceic6 e<br />

AntOnio Roberto da Silva foram denunclados<br />

corno incursos nas penas<br />

dos arts. 288, (wilco, 157, if 2?, I e II<br />

(por cinco vezes, em concurso material),<br />

todos do COdigo Penal, e pelo<br />

art. 1? da Lei n? 2.252/54.<br />

Segundo a dentncia, os acusados,<br />

ora recorridos, em companhia de<br />

dois menores, ajustaram-se, em bando,<br />

para a prAtica de roubos, tendo<br />

praticado, em co-autoria, os seguintes<br />

crimes: a) em 29-3-75, As 18:30 horas,<br />

frente ao warner° 106 da rua Paturd,<br />

mediante ameaca com arena de<br />

fogo, apropriaram-se do autom6vel<br />

Volkswagen placa EQ-1807, de pro-<br />

priedade de Maria Aparecida Batista<br />

Fllho, que se encontrava na direcão<br />

do veiculo, estando em sua companhia<br />

o marido e filhos menores do<br />

casal; b) em 5-4-75, As 18:55 horas, no<br />

final da Av. Cursino, corn o mesmo<br />

tlpo de ameaca, subtrairam a Simon<br />

Serradllha Dominguez o autom6vel<br />

Dodge-Dart placa DK-1602, bem como<br />

outros objetos que se encontravam<br />

no interior do velculo; c) em 5-<br />

4-75, As 21:30 horas, com o emprego<br />

de arenas de fogo, assaltaram tits<br />

pessoas que se encontravam no interior<br />

de um bar situado na rua JaboatAo,<br />

621, das quais subtrairam reinglos<br />

de pulso e pequenas quantias<br />

em dlnhelro.<br />

2 — 0 MM. Julz de Direito da 1?<br />

Vara Criminal, entretanto, na sentenca<br />

de fls. 131/136, afastando 0<br />

concurso material, acolheu a tese da<br />

continuldade delitiva quanto aos crimes<br />

de roubo, condenando cada urn<br />

dos recorridos A pena corporal de oito<br />

(8) anos de reclusAo, por lnfracAo<br />

ao art. 157, 4 2?, incisos I e II, c.c.<br />

art. 51, § 2?, ambos do COdigo Penal,<br />

bem corno A pena pecuniAria de Cr;<br />

6,00, e macs as custas do process*,<br />

metade para cada um dos sentenciados.<br />

Absolveu ainda os aludidos itus<br />

pelos delitos previstos no art. 288,<br />

parAgrafo Calico do C6digo Penal e<br />

art. 1? da Lei n? 2.252/54.


3 — 0 Dr. Promotor de Justice<br />

apelou pleiteando a reforma da sentence<br />

neo so quanto a absolvicao referente<br />

aos dois crimes JA menclonados,<br />

mas, alnda, corn relactio ao nil°<br />

reconhecimento do concurso material<br />

nos tres roubos retro especificados.<br />

4 — A Segunda Camara do Tribunal<br />

de Alcada Criminal do Estado de<br />

SA° Paulo negou provimento ao recurso,<br />

o que ensejou a interposicao<br />

do presente recurso extraordlnarlo,<br />

pelo Ministerio PGbllco Estadual,<br />

funded° no art. 119, bids° III, letra<br />

da Constituicao Federal, dando como<br />

divergente julgados de outros<br />

Tribunals estaduais e deste colendo<br />

Supremo Tribunal, onde se pleitela<br />

apenas o reconbecimento do concurso<br />

material nos tres assaltos.<br />

5 — Admitido o recurso pelo nobre<br />

Presidente do Egregio Tribunal a<br />

quo, manifesta-se a Procuradoria-<br />

Geral da Reptiblica pelo seu conhecimento<br />

e provimento, sob o fundament°<br />

de que sa materia is tem deflniclio<br />

cabal nesta Suprema Corte,<br />

repeUndo a orlentaclio sufragada no<br />

coleglado estaduals.<br />

E o relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cunha PeLtoto (Relator):<br />

1 — Conheco do recurso, la<br />

que comprovado o dissidlo pretoriano.<br />

Sustentou-se no Acerclio recorrido<br />

que, embora os assaltos tenham sido<br />

praticados em dates e locals diversos,<br />

contra vitimas diferentes, estava<br />

conflgurada a continuidade delitiva,<br />

enquanto que os padrees alinhados<br />

na pencil° do extraordinerio<br />

R.T.J. - 94 279<br />

alirmaram exatamente tese diametralmente<br />

oposta.<br />

2 — Conhecido o apelo, seu provimento<br />

se imptle.<br />

Este colendo Supremo Tribunal,<br />

em decisiles plentrias, la flrmou <strong>jurisprudencia</strong><br />

no senUdo de que, sendo<br />

diversas as dates e locals dos de-<br />

Mos, e implicando eles em °tense A<br />

pessoa, quando diferentes as vitimas,<br />

conflgura-se o concurso material<br />

de crimes.<br />

Entre outros, podemos nos referir<br />

aos julgados proferidos no RECr. n?<br />

84.377—SP, de que tui o relator, assim<br />

ementado, verbis:<br />

«Crime continued° — Condkees<br />

— Unidade de hdracilo Penal —<br />

Inocorrencia.<br />

Delitos que, alem de praticados<br />

em lugares diferentes, ocorreram<br />

em epocas e contra pessoas diver-<br />

US.<br />

Recurso conhecldo e providos.<br />

E, recentemente, a tese fol confirmade<br />

nos RREE n?s 87.789 e 88.396,<br />

julgados pelo Tribunal Pleno.<br />

Isto posto, conheco do recurso e<br />

the dou provimento para, cassando 0<br />

adordeo recorrido, determiner que<br />

outro seja proferido pelo egreglo Tribunal<br />

a quo, como entender de cUrelto,<br />

afastada a conUnuidade delitIva.<br />

VOW PRELIMINAR<br />

0 Sr. Ministro Soares Mufti: Sr.<br />

Presidente, a divergencia em que se


280<br />

R.T.J. — 94<br />

arrima o recurso extraordinArio se<br />

acha superada, pots o Supremo Tribunal<br />

Federal, nos Recursos ExtraordinArios<br />

n?s 88.396 e 87.769, em<br />

sessOes plenarias realizadas a 9-5-78<br />

e 11-10-78, respectivamente, unificou<br />

sua <strong>jurisprudencia</strong> no sentido da possibilidade<br />

da continuacão delitiva no<br />

crime de roubo, ainda que as infracOes<br />

tenham sido praticadas contra<br />

vitimas diferentes. Embora dois dos<br />

votos que integraram a tese majorititria,<br />

tenham-na confinado As h1p6teses<br />

em que os roubos ocorrem no<br />

mesmo dia ou corn poucos dias de intervalo,<br />

penso que nAo 6 posslvel<br />

reexaminar, ern recurso extraordinArio<br />

fundado exclusivamente na Tetra<br />

d do permissivo constitucional,<br />

a negative ou nä° de vigAncia do art.<br />

51, 2?, do C6digo Penal. Possivel<br />

que fosse esse reexame, adotaria,<br />

data venia do eminente Relator do<br />

presente recurso extraordinArio, os<br />

preprios fundamentos do acerdão<br />

impugnado, na parte em que decidiu<br />

que, em se tratando de infracties<br />

praticadas corn poucos dies de interval°<br />

(duas delas ocorreram no mesmo<br />

dia e a outra corn 6 Was de antecedAncia),<br />

e semelhantes quanto As<br />

circunstAncias de Lugar, de modo e<br />

de maneira de execucão, as duas {llamas<br />

devem ser consideradas como<br />

continuacAo da primeira, para os<br />

efeitos do 2?, do art. 51, do COdigo<br />

Penal.<br />

Ante o exposto, nAo conheco do recurso<br />

extraordinArio.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RECr 86.847 — SP — Rel.: MM.<br />

Cunha Peixoto. Recte.: Ministerio<br />

Mita) Estadual. Recdos.: Franklin<br />

Tadeu da ConceicAo e outro (Advt.:<br />

Maria Efigénia Sartoris Moreira).<br />

DecisAo: Adiado o julgamento por<br />

haver pedido vista o Ministro Xavier<br />

de Albuquerque, apes os votos do Ministro<br />

Cunha Peixoto (Relator) que<br />

conhecia e provia, e Ministros Soa-<br />

res Mufloz e Rodrigues Alckmin, que<br />

nAo conheciam do recurso.<br />

PresidAncia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes A sessAo os Srs.<br />

Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Alckmin, Cunha Peixoto e<br />

Soares Mtuloz. 2? Subprocurador-<br />

Geral da RepOblica, o Dr. Francisco<br />

de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 24 de outubro de 1978 —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretario.<br />

VOTO (VISTA)<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: 0 Tribunal de Alcada<br />

Criminal de SA° Paulo reconheceu<br />

que crimes de roubo distintos, praticados<br />

pelos recorridos contra vitimas<br />

diferentes, constituiam urn se<br />

crime continuado. Por isso, confirmou<br />

a sentence que assim tambem<br />

os considerara.<br />

0 eminente Relator conhece do recurso<br />

extraordinArio do Ministerio<br />

PIMlico, corn base no alegado<br />

dissidio pretoriano, e the clA provimento<br />

para afastar o nexo continuativo.<br />

Diverge o eminente Ministro<br />

Soares Mufioz, que lam conhece do<br />

recurso porque a orientacAo do acerclão<br />

recorrido alMa, no essencial,<br />

corn as macs recentes decisOes do<br />

Plenario do Supremo Tribunal Federal.<br />

Sao cinco os acOrdAos que se apontarn<br />

como divergentes, havendo todos<br />

eles decidido, em suma, pela impossibllidade<br />

de configuracAo de roubo<br />

continuado, quando as news sal)<br />

praticadas contra vitimas diferentes.<br />

Essa orientagao, todavia, como obtempera<br />

o eminente Ministro Soares<br />

Mtuloz, ja nAo traduz o pensamento<br />

atual do Supremo Tribunal Federal,<br />

cujo Plenario reexaminou e debateu<br />

largamente o tema quando dos julgamentos,<br />

concluidos a 11-10-78, dos<br />

RECr's 87.769 e 88.394. Nessa oportunidade,<br />

a maioria formada pelos


eminentes Ministros Decio Miranda,<br />

Soares Munoz, LeitAo de Abreu, Rodrigues<br />

Alckmin, Djaci Feick) e<br />

Thompson Flores, e por mim — entendeu<br />

que a circunstAncia de serem<br />

diferenteS as vitimas nflo constitul<br />

6bice, desde que presentes as outras<br />

condicdes legals, ao reconhecimento<br />

da continuacAo em crime de roubo.<br />

Z certo que eases dots recursos foram<br />

cOnhecidos e providos,<br />

reformando-se os acedilos estaduais<br />

que haviatil reconhecido a confinede<br />

dellttva. Mas 1sso se deu, come<br />

ficou clam nos derradeiros votos<br />

proteridos, dos eminentes Ministros<br />

Djaci Fatcao e Thompson Flores,<br />

nao porque a diversidade de vitimas<br />

impatiens aquele reconbecimento,<br />

mar, elm, porque eram distintas as<br />

circunstincias da pridica criminosa.<br />

Como o que arrhna o recurso<br />

esti circunecrito a tese gene/Ica<br />

de se inadmissivel a configurecillo<br />

do roubo continued°, quando diferentes<br />

as vitimas das aches delituosae,<br />

tenho-o por superado pela ju-<br />

Mauve/nes superveniente do Ple-<br />

EsclareCo que relive estes autos<br />

por alguns meses porque aguardava<br />

a oportunidade, que s6 por estes Was<br />

R.T.J. — 94 281<br />

se me ofereceu, de examiner, para<br />

consulta e compreensAo do decidido<br />

nos referidos RECr's 87.769 e 88.394,<br />

as notas taquigrAficas, <strong>revista</strong>s, dos<br />

votes entAo proferidos.<br />

Com a yenta do eminente Relator,<br />

acompanho o voto do eminente Ministros<br />

Soares Mulloz e tambem nAo<br />

conheco do recurso.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RECr 86.847 — SP — Rel.: Min.<br />

Cunha Pelxoto. Recte.: Ministerio<br />

Pnblico Estadual. Recdos.: Franklin<br />

Tadeu da ConceicAo e outro (Advit.:<br />

Maria EfigAnia Sartoris Moreira).<br />

NAo conheceram do recurso,<br />

vencido o Ministro Relator,<br />

nAo votou o Ministro Presidente.<br />

Presidencia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes A SessSo<br />

Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto e Soares<br />

Mutioz. Ausente justfficadamente o<br />

Sr. Ministro Rafael Mayer. 2?<br />

Subprocurador-Geral da Reptiblica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 27 de marco de l crm —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secrethrio.<br />

RECURS() EXTRAORDINARIO N? 87.259 — SP<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Thompson Flores.<br />

ReCerente: Sylvio Zaffarani — Recorrido: Conselho Superior da Magistrature.<br />

Mended° de segurama pare otter expedisilo de certidees requerides<br />

so Judielerio pare deems de direitos.<br />

— Negative que imports contrariedade garantia individual pre<br />

vista no arti♦o 153, f 35, a qual, DO caw se coniuga coin<br />

amain da Constituielle.<br />

5 do 1 15,<br />

III — Recurs extraordinArio conhecido e provido, com as ressalvas<br />

que resguardent 0 sighs publico, se for o caso.


282<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigrAficas<br />

t per unanimidade de votos, conhecer<br />

do recurso e dar-lhe provimento.<br />

Brasilia, 25 de setembro de 1979. —<br />

Thompson Flores, Presidente e Relator.<br />

RELATORIO<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

Este o despacho corn o qual o nobre<br />

Presidente, Desembargador Gentil<br />

do Carmo Pinto inadmitiu o recurso<br />

extraordinArio folhas 62/65:<br />

«0 Dr. Sylvio Zaffarini, advogado<br />

em causa prepria, impetrou seguranca<br />

contra o Presidente deste<br />

Tribunal de Justica para obter certidOes<br />

de doze representacOes que<br />

formulou pedindo a apuracAo de<br />

responsabilidade de vArios magistrados<br />

por<br />

«Irregularidades, arbitrariedades,<br />

despreparos, desculdos, violencias,<br />

injusticas, descasos, que<br />

o Eg. Conselho Superior de Magistratura<br />

determinou o arquivamentov<br />

(fls. 2-3).<br />

Denegado o writ, manifestou o<br />

impetrante recurso extraordinärio<br />

corn apoio nas letras a e c do art.<br />

119, III, da ConstituicAo da Reptrblica,<br />

alegando que foi contrariado<br />

o seu art. 153, § 35, e que o acercião<br />

prestiou a determinaAo contida<br />

no ar g t i go 5? do Decret c o-lei Estadual<br />

n? 104, de 20 de Junho de 1969,<br />

cuja validade 6 contestada perante<br />

o Ultimo dispositivo constitucional.<br />

A douta Procuradoria-Gera1 da<br />

Justica opinou pelo indeferimento,<br />

sublinhando:<br />

«0 que se entendeu no acOrdito<br />

e esse e o seu fundamento capi-<br />

tal, 6 que o direito de certidAo<br />

conferido pela Constituicão Federal<br />

nä° poder ser exercido abusivamente,<br />

corn o mero fito de tumultuar<br />

a vida interna 'da administracAo,<br />

porque se trata de urn<br />

direito condicionado a urn legitimo<br />

interesse que precisa ser convenlentemente<br />

demonstrado.<br />

0 acOrdAo, ern Ultima instAncia,<br />

tern urn fundamento de fato:<br />

entendeu-se diante das provas<br />

existentes, que o impetrante, ora<br />

recorrente, fazia use abusivo de<br />

urn direito, fundamento esse que<br />

nAo pode ser apreciado dentro do<br />

apertado Ambito do recurso extraordinArio»<br />

(fls. 59/60).<br />

Com efeito, ern decorrencia de<br />

preceito expresso (CF 153, I 35),<br />

doutrina e <strong>jurisprudencia</strong> assentam<br />

que o exercicio do direito subjetty°<br />

certidão deve repousar em<br />

legitimo interesse espedfico, cilia<br />

verificacAo compete A autoridade<br />

administrativa.<br />

Ora,<br />

«No caso, o impetrante, aventando<br />

o interesse que tem de<br />

defender-se em diversos processes,<br />

limitou-se a apontar quase todas as<br />

PeCas dos autos, sem que tivesse<br />

esclarecido a finalidade especifica<br />

de cada um. Logo, desde que ausente<br />

essa especificacAo, corn precis:1o,<br />

que ensejaria o interesse da<br />

medida, s6 podia ser o seu intento<br />

Indeferido, coerce da extravagAncis<br />

de seu prop6sito.<br />

0 direito de pedir certidão, embora<br />

erigido em postulado constitucional,<br />

nAo a arbitrArio. Est6 condicionado,<br />

coma foi predito, a demonstracão<br />

do interesse subjacente<br />

para que, atraves do mesmo,<br />

possa a autoridade administrativa<br />

aferlr de sua necessidade e averiguar<br />

os pressupostos condicionais<br />

para a sua concessAo" (folhas 42-<br />

43).


A alusAo a processo por crime<br />

contra a seguranca naelonal cuja<br />

instauracilo tot reclamada contra o<br />

recorrente nit° se relaciona corn a<br />

matoria destes autos, versando recusa<br />

de certidoes de representac6es<br />

por ele posteriormente articulades<br />

— como de habit° — contra<br />

vArios magistrados.<br />

NAo se entrev6, destarte, ofensa<br />

ao cllspositivo constitucional invocado,<br />

o que tome despicienda a<br />

argiiicAo de inconstitucionalidade<br />

da lel estadual n? 104/69.<br />

Pelo exposto, indefiro o recurso.»<br />

2. Entretanto o excepcional teve<br />

processamento, coin o provimento<br />

do Ag. 67.961, pelo eminente Minter°<br />

Antonio Neder, subindo a esta Corte<br />

coin nudes do recorrente, logrando<br />

parecer da douta Procuradoria-<br />

Gera' da RepOblica, nestes termos,<br />

fis. 83/4:<br />

M. 0 Tribunal a quo 1. 38, por<br />

maioria, denegou mandado de seguranca<br />

visando a expedicäo de<br />

certidlies constantes de diversos<br />

processos coin o fin de delas<br />

servir-se em defesa dos direitos perante<br />

as Justices Minter e Criminal<br />

perante as quids esta o Impetrante<br />

sendo processed°, porque,<br />

segundo o actrd8o, embora tai direlto<br />

se constltua em principio<br />

constitucional, Mo 6 arbitritrio,<br />

condicionando-se a demonstracAo<br />

do direlto subjacente atraves do<br />

qual a autoridade administrative<br />

Mere e averlgua dos seas pressupostos.<br />

2. Dal o recurs) ordincirio apolado<br />

nas letras a e c alegando contrariedade<br />

ao art. 153, e 35,<br />

da ConStituicilo e a invalidade do<br />

art. 5! do D.L. Estadual n! 104/69.<br />

R.T.J. — 94 283<br />

Somos pelo conheeimento do<br />

recurso.<br />

Declarou o llustre Des. Dimas<br />

R. de Ahneida em seu voto vencldo<br />

A f. 45: «..somente porque numerosas<br />

eram as pecas a serem certificedes:<br />

ou porque o impetrante 6<br />

renitente no seu objetivo de injusdear<br />

Magistrados, ou de os incemodar<br />

coin as relteradas e improcedentes<br />

denOncias que contra eles<br />

fez, assim como ao Egregio Conselho<br />

Superior da Magistrature, nao<br />

exlste suporte legal pare a denegac80.<br />

Poucas, ou mulles as certidoes,<br />

arcarla o Impetrante coin o<br />

Gnus da sua extracao; e o policiamento<br />

permitido pelo Decreto-lei<br />

estadual nt 104/69, afasta a possibilidade<br />

de ser fornecida certldAo de<br />

alguma peca de carater sigiloso,<br />

hipOtese esta algo cerebrina uma<br />

vez que o Judicitirio, nada tem a<br />

manter em sigillo (apenas resguarda<br />

as situaciles individuals daqueles<br />

que perante ele litigam».<br />

0 Ministerio PUblico local, f.<br />

76, atraves do Procurador Wolfgang<br />

Stein, ao pronunciamento em<br />

questAo aderlu e Ws, tamb6m, de<br />

acordo coin a intevalldade dos<br />

mesmos, permitimo-nos adotar os<br />

entendimentos em questAo.<br />

A materia referente A invalldade<br />

do dispositivo estadual invocado<br />

flea prejudicada, por desnecessArio<br />

seu exame ao merito da<br />

cause.<br />

7. Somos pelo provimento do recurs)<br />

extraordinario.<br />

Brasilia, 13 de setembro de 1979.<br />

— Mauro Lelte Soares,<br />

Subprocurador-Geral da<br />

ca.<br />

to relatOrio.


284<br />

VOW<br />

O Senhor Ministro Thompson<br />

Flores (Relator): Conhego do recurso<br />

e lhe dou provimento, para conceder<br />

a seguranca, sem prejuizo do<br />

controle que, em termos, se fizer necessario,<br />

no pertinente aos atos reconhecidamente<br />

sigllosos.<br />

Conquanto oferega o aresto impugnado<br />

alguns aspectos semelhantes<br />

aos proferidos nos M.S. nduneros<br />

240.230 e 244.126, xerocoplados As fls.<br />

25/7 e 28/31v., os quais originaram<br />

os Ag n?s 66.141 e 66.957, fruto da<br />

inadmisslio dos extraordinArios manifestados<br />

e ambos jA definitivamente<br />

arqtilvados (DJ de 27.2.76 e<br />

19.5.78, respectivamente), dissentem<br />

eles em pontos essenclais, proporclonando,<br />

dessarte, diverso desfecho.<br />

R.T.J. — 94<br />

In casu, o ora recorrente impetrou<br />

seguranca porque nib) logrou<br />

obter certidOes que se diz necessita-<br />

Jo para fazer sua defesa nas aides<br />

penais que se originaram das representacdes<br />

que fizer, as foram quais<br />

Certo nAo precisou quais, antes visou<br />

a sua totalidade, e, porque muitas<br />

as representacties, desatendido<br />

tot em seu prOposito.<br />

Tenho que, em assim decidindo,<br />

antes de dar cumprimento ao disposto<br />

no art. 153, § 35, da Constituiclio, o<br />

deciserio impugnado, tornado por<br />

maioria de votos, contrariou-o,<br />

deixando de proporcionar ao recorrente<br />

as pecas que julgou necessArias<br />

A sua defesa nos procedimentos<br />

criminals que indicou, defesa esta<br />

que a Lei Maior tamb6m o assegura<br />

na amplitude do § 15, do mesmo artigo.<br />

Certo pode suceder que algumas<br />

dessas pegas tenham cunho de reservados<br />

ou sigllosos, e faltaria,então,<br />

legitimidade ao requerente para conhecer<br />

seu contend°. Dal a ressalva<br />

que se introduz no provimento deste<br />

recurso.<br />

No mats reporto-me ao parecer da<br />

douta Procuradoria-Geral da Reptiblica<br />

e ao bem deduzido voto do !lustre<br />

Desembargador Dimas R. de Almeida,<br />

o qual, a meu ver, bem situou<br />

a controvnrsia, e neste termos,<br />

Os. 44/6:<br />

«1. Concedo, em parte, a seguranga;<br />

para que sem prejuizo do<br />

controle autorizado pelo Decretolei<br />

estadual n? 104/69, sejam tomecidas<br />

ao im-petrante as certidepes<br />

pedidas e denegadas consoante a<br />

motivacão constante de Os. 16/18,<br />

que aprovada pela Egrègla Presidéncia,<br />

representa a llegalidade de<br />

que se quelxa o impetrante.<br />

2. Ao que se verffica da motivagflo<br />

exarada no parecer do Dr. Juiz<br />

Auxillar da Presidencia, e por esta<br />

aprovado, a denegacAo das certi-<br />

(Wes teve por Micro a circunstAncia<br />

do pedido se referir a quase todas<br />

as Degas dos autos que indicou;<br />

e nAo porque nAo houvesse o impetrante<br />

especificado os fins para os<br />

quais formulava o pedido de bits<br />

certidOes. E, desde que 6 incontroverso<br />

que indlcou os fins, especif!cando<br />

que eram para a defesa dos<br />

seus direitos e da sua situactio em<br />

vArias aides penals que the movem<br />

Magistrados que se consideram<br />

injuriados ou calunlados nas<br />

relteradas representacdes contra<br />

eles formuladas pelo impetrante ao<br />

Egrngio Conselho Superior da Magistratura,<br />

nAo hA como se the negar<br />

o direito, amparado no art.<br />

153, § 35, da Emenda n? 1/69, sem<br />

possiblidade de abusos que o<br />

Decreto-lei ri? 104/69 corrigirA na<br />

expedigAo.<br />

411As, o relatbrio contido no V.<br />

AcOrdAo retro, ao expor a pretensào<br />

do impetrante, deixa claro que<br />

foi ela precisa na inclicacAo dos


fins que representam o seu objetivo,<br />

embora numerosa a indicadio<br />

das pecas a serem certificadas.<br />

Em tats condicdes, somente porque<br />

numerosas eram as pecas a serem<br />

certificadas; ou porque o impetrante<br />

6 renitente no seu,,objeUvo<br />

de injusUcar Magistrados, ou de<br />

incomodar corn as reiteradas e improcedentes<br />

dedincias que contra<br />

eles fez, assim, como ao Egrégio<br />

Conselho Superior da Magistratura,<br />

nao existe suporte legal para a<br />

denegacilo. Poucas, ou muitas as<br />

certidOes, arcarla o impetrante<br />

corn os Onus da sua extracao; e o<br />

pollclamento permitido pelo<br />

Decreto-lei estadual n? 104/69,<br />

afasta a possibilidade de ser forneckla<br />

certidao de alguma peca de<br />

water siglloso, hipOtese esta algo<br />

cerebrina uma vez que o Judicittrio,<br />

nada tern a manter em sigilo<br />

(apenas resguarda as situacOes<br />

daqueles que perante ele<br />

Iftigam).<br />

Seja permitido transcrever o<br />

magistério de Pontes de Miranda,<br />

ao comentar a Constituicilo de<br />

1965, Emenda n? 1, Tomo V, peg.<br />

665:<br />

«A expedicão de certidOes re-<br />

Weridas para defesa de direltos<br />

— cumpre frisar-se — de modo<br />

nenhum pode depender de apredavit°<br />

da especle pela reparticao<br />

que as ha de passar: serla<br />

permitir-sea autoridade adultnatrativa<br />

arbitrio, ou, pelo menos,<br />

pre-exame do direlto do. requerente.<br />

A denegacilo somente<br />

se pode admitir por falta de legitimacao<br />

do requerente para requerer,<br />

ou nenhuma ligacilo do<br />

contettdo do ato certificavel<br />

com o direito deduzido, ou<br />

deduzir-se, em Adz° ou admintstrativamente,<br />

ou<br />

Evidente que a circunstancia de<br />

serem numerosas as certidOes pedidas,<br />

— ainda que constituam elas<br />

todo o processo admtnistrativo, ou<br />

R.T.J. — 94<br />

285<br />

todos os processos dessa natureza<br />

instaurados por provocactio do impetrante<br />

— desde que a pretenslio<br />

olio 6 carente de legitimactio ou de<br />

precis/1o, e pela acão fiscalizadora<br />

do Decreto-lei 104/69, o «sigilo» que<br />

deva ser resguardado pode ser as-<br />

Segundo, o direito do impetrante<br />

encontra respaldo no art. 153, 9 35<br />

da Emenda nt 1/69.<br />

E certo que na assentada de Julgamento,<br />

lembrada foi a possibilldade<br />

do impetrante obter tall certidies<br />

atraves de requIsicito do<br />

Jufzo Criminal, nas acees pewits a<br />

quo responde. Mas, sobre olio afastar<br />

o adireito individual» a simples<br />

possibilidade de obtencão do mesmo<br />

objetivo, por outros meios legals,<br />

ha considerar Edda que cabe<br />

it parte a produce° das provas necessarlas<br />

sua defesa salvo a hipotese<br />

de miserabilidade.<br />

3. Por this nudes concedo, coin a<br />

restridlo jai assinalada, a seguratica».<br />

E o meu voto.<br />

EXTRATO AA ATA<br />

RE 87.259 — SP — Rel. Min.<br />

Thompson Flores. Recte.: Sylvlo<br />

Zaffaranl (Adv. em causa propria).<br />

Recdo: Conselho Superior da<br />

Magistratura.<br />

Decisao: Conhecido e provido,<br />

decals) unlinlme.<br />

Preside-oda do Sr. Mil/nitro<br />

Thompson Flores. Presentes 8 Sesos<br />

Srs. Mlnistros Cunha Peixoto,<br />

Soares Munoz e Rafael Mayer.<br />

Ausente justificadamente o Sr.<br />

Mln. Xavier de Albuquerque.<br />

Subprocurador-Geral da RepObilea,<br />

o Dr. Francisco Assls Toledo.<br />

Brasilia, 25 de setembro de 1979<br />

— Antonio Carlos de Azevedo<br />

Braga, Secretarlo.


286<br />

— 94<br />

RECURSO EXTRAORDINAR IO N? 87.306 — SP<br />

(Prlmeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cunha Peixoto.<br />

Recorrente: Unido Federal — Recorrida: PENNWALT S.A. Ind(Istria e<br />

Comercio. Multa do art. 60, I, da Lel n? 3.244/57. Ilegaltdade de sua impostquando<br />

a mercadorla estava acobertada por licenca de Importacão<br />

no momento do desembarque, embora tenha esta stdo expedlda<br />

ap6s seu embarque no estrangelro.<br />

Recurso conheeldo e desprovido.<br />

ACORDAO<br />

e perante o egregio Tribunal Federal<br />

de Recursos, que confirmou aquela<br />

Vistos, relatados e discutidos estes decisdo em actircido que porta a<br />

autos, acordam os Ministros da Pri- ementa seguinte:<br />

meira Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do «Importacdo. A multa do art. 60,<br />

julgamento e das notas taquigrAfi- I, da Lei 3.244/57, corn a redacdo<br />

cas, por unanimidade de votos, em dada pelo art. 169 do Decreto-lei<br />

conhecer do recurso mas the negar 37/66, somente tern aplicacdo no<br />

provimento.<br />

caso de sub ou superfaturamento<br />

ou qualquer outra modalidade de<br />

fraude cambial, circtmstAncias que<br />

Brasilia, 6 de junho de 1978. —<br />

Antonio Neder, Presidente — Cunha<br />

Peixoto, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Cunha Peixotraziennwalt<br />

S.A. IndOstria e Comdrcio<br />

adquiriu na Argentina mercadoria<br />

que foi embarcada para o Brasil<br />

aqul chegou quando ainda ndo fora<br />

emitida a guia de importacdo. Declarou<br />

tal circunstAncia ao promover<br />

despacho respectivo, jA entdo munida<br />

da aludida guia. Contudo, veio a<br />

ser multada em 100% (cem por cents)<br />

do valor do imposto de importacdo<br />

por ato assentado no art. 60 da<br />

Lei n? 3.244/57, corn a redacdo do<br />

art. 169 do Dec.-lei n? 37/66.<br />

Impetrou mandado de seguranca<br />

para se isentar da referida multa, logrando<br />

exito em primeira instAncia<br />

tido ocorrem em relacdo a merca-<br />

dolga embarcada antes da expedicdo<br />

da guia de importacdo, mas<br />

posta a despacho quando jA cumprida<br />

tal formalidade. Sentenca<br />

concessiva de seguranca confirmadam<br />

Inconformada, a Unido Federal interpOs<br />

recurso extraordinArlo, corn<br />

fundamento nas letras a e d, do n?<br />

III, do art. 119 da Constituicdo Federal,<br />

apontando como violado o art. 60<br />

da Lei n? 3.244/67, com a redacdo<br />

que the deu o art. 169 do Dec.-lei n?<br />

37/66, bem como dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l.<br />

A Procuradoria-Ge ral da Reptblica<br />

opina no sentido de ser o recurso<br />

conhecido e provido.<br />

o relat6rio.<br />

VOTO<br />

Sr. Ministro Cunha Pelxoto (Relator):


O egragio Tribunal Federal de Recursos<br />

entendeu indevida a multa<br />

quando embarcada a mercadoria antes<br />

da expedictio da gula de importa_<br />

cAo, mas existente esta quando de<br />

sua chegada ao Brasil.<br />

A UniAo interpOs recurso extraordinario,<br />

corn ftmdamento nas tetras<br />

a e d do permissivo constitutional.<br />

No aresto proferido na AMS<br />

63.476 (DJ. de 13-3-73), flcou consignado:<br />

ultesolucAo nt 35, do Banco Central<br />

da Repablica. A importacito de<br />

produto classificada na categoria<br />

geral dispensa o certificado que<br />

prova a cobertura cambial, mas<br />

estit sujeita a guia de importacAo<br />

corn os elementos daquele documento<br />

e efleacia por cento e Ante<br />

Was. Importada mercadoria que se<br />

classifica na categoria geral, mas<br />

tinportada sem a referida gula, ou<br />

mediante guia expedida algtun<br />

tempo depots do embarque da mercadoria<br />

no exterior, taw constitui<br />

infracAo de natureza fiscal.,<br />

Conheco, pots, do recurso corn fundamento<br />

na tetra d, mas para the negar<br />

provimento.<br />

Na verdade, os bens importados<br />

foram embarcados no exterior antes<br />

da expedicAo da guia de importacAo,<br />

mas quando do desembarque dos<br />

mesmos no porto do destino, a importadora<br />

ja a possula. Ora, como<br />

estabelece o art. 19 do COdigo Tributart°,<br />

o fato gerador do impost° de<br />

importaca0 e a entrada da mercadoria<br />

em porto brasileiro.<br />

Nilo ha, assim, molly° para apneacAti,<br />

a hipetese, da multa p<strong>revista</strong> no<br />

art. 60 da Lei if 3.244/57, corn a redacAo<br />

clue the deu o art. 169 do Dec.-<br />

R.T.J. — 94<br />

287<br />

lei it 37/66, ou seja, quando do desembaraco<br />

aduaneiro, a impetrante<br />

la tlnha obtido a licenca. Dispde o<br />

art. 60, if I, corn a redacAo dada pelo<br />

art. 169 do Dec.-lei if 37/66:<br />

gais 'nineties de natureza cambial,<br />

apuradas pela reparticao<br />

aduaneira, serão punidas corn:<br />

I — Multa de 100% (cem por cento)<br />

do respectivo valor, no caso de<br />

mercadoria Importada sem licenca<br />

de importacAo ou sem o cumpri-<br />

'tient° de outro qualquer requisite<br />

de controle cambial ern que se exila<br />

o pagarnento ou depOsito de sobretaxas,<br />

quando sua importactio<br />

estiver sujeita a tails requisites, revogados<br />

os 3?, 41 e 51 do artigo<br />

6?, e o artigo 11 da Lei n? 2.145, de<br />

29 de dezembro de 1953.,<br />

Como se veriflca, o dispositivo 6 tipicamente<br />

penal e, portanto, nAo pode<br />

ser aplicado por analogia ou extensAo.<br />

Daf s6 estar sujeita a multa,<br />

como declara o dispositivo invocado,<br />

quando, por ocasiAo do embarque,<br />

no porto de origem, a mercadoria<br />

ntio esta munida de documento que<br />

the habilite a importacAo.<br />

As normas punitivas do Wren° tributario<br />

sAo de duas natureza: civis e<br />

penis. Estas se caracterizam pela<br />

sua natureza tipicamente de penas,<br />

nada tendo corn o prejuizo patrimonial<br />

do fisco, que ocorre quando 0<br />

tributo 6 pago corn atraso. Ora, o dlrelto<br />

tributarth penal 6 um direlto de<br />

excecAo e, portanto, de interpretacAo<br />

restrita.<br />

Daf porque — assinala Fithio Fanucchl<br />

— (Tara a solucAo dos casos<br />

trtbutarios penis, ha de se observar<br />

todos os princIpios juridicos que regem<br />

o direlto penal, a comecar pelos<br />

mats importantes doles, pelos efeitos


288<br />

R.T.J.—<br />

que sac) capazes de gerar: o da inexistencia<br />

da infragao e da Pena, se a<br />

lei não as descreve e comina corn<br />

anterioridade (nullum crimen, nulla<br />

poena, sine lege); o da solucao das<br />

dtividas em favor do infrator (in dubio<br />

pro reo); o da retroatividade da<br />

lei mats benigna ao infrator; 0 de<br />

que a pena nao passa da pessoa do<br />

Infrator para terceiros » (Curso de<br />

Direito Tributario Brasileiro, volume<br />

I, pAg. 449, n? 136).<br />

Também Aliomar Baleelro:<br />

«0 C.T.N. dispOs, por outras palavras,<br />

que, em relacão as penalidades,<br />

observe-se o carater restritivo<br />

do direito penal, infenso — salvo<br />

opini6es isolada s — A analogia.<br />

A maxima in dubio pro reo vale<br />

aqui tamb6m. Benignamplianda,<br />

embora nAo se reconheca mérito<br />

na equiparacAo das Leis fiscais As<br />

lege diosae, que se yelhos<br />

o autores»a (Direito referem<br />

Tributftrio<br />

Brasileiro, pag• 407).<br />

Que o dispositivo invocado 8 de natureza<br />

penal ilk) ha thivida, pois, de<br />

conformidade corn o art. 19 do C6digo<br />

Tributario National, o fato gerador<br />

do imposto de importacdo e a entrada<br />

da mercadoria em Porto brasileiro.<br />

Portanto, desse momento<br />

que se pode cobrar o tributo e<br />

aplicar-lhe a multa, se nao pago no<br />

devido tempo.<br />

Ora, como se verifica pelo texto do<br />

dispositivo que criou a penalidade, a<br />

multa p<strong>revista</strong> no art. 60 6 de natureza<br />

cambial, e não hã como aplicala<br />

a urn desrespeito a prazo de embarque,<br />

contra o qual a Fazenda nao<br />

Instituiu nenhuma sancAo legal.<br />

Neste sentido, decidiu a egrégia<br />

Segunda Turma no RE if 67.698, que<br />

porta a ementa seguinte:<br />

«Multa do art. 60, I, da Let rit.'<br />

3.244/57.<br />

Ilegitimidade de sua imposicao<br />

quando a mercadoria estava acobertada<br />

por licenca de importacao,<br />

embora emitida dias depots de sua<br />

chegada. Impertinencia do problema<br />

relativo ao transporte em navio<br />

de bandeira estrangeira. Recurso<br />

extraordinario nao conhecir<br />

do.»<br />

Por todos estes motivos, conheco<br />

do recurso, mas the nego provimento.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Rodrigues Alckmin:<br />

Sr. Presidente com a ressalva do<br />

meu ponto de vista, acompanh o o oto<br />

do eminente Relator, atendendo<br />

orientacão firmada no Pleno.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 87.306 — SP — Rel.: Min.<br />

Cunha Peixoto. Recte.: Unit) Federal.<br />

Recda.: Pennwalt S/A — Inclftsthe.<br />

e Col/16rd° (Adv.: Joseval Sirqueira).<br />

Decisao: Conheceram do recurso,<br />

mas the negaram provimento, unanime.<br />

Presidancia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder Presentes A Sessao os<br />

Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Alckmin, Cunha Peixoto<br />

e Soares Mufroz. 4? Subprocurador-Geral<br />

da Reptiblica, o Dr.<br />

Francisco de Assts Toledo.<br />

Brasilia, 6 de Junho de 1978. —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

SecretArlo.


R.T.J. - 94 289<br />

EMBARGOS NO RECURSO EXTRAORDINARIO N° 87 518 — 11J<br />

(Tribunal Pleno)<br />

(RE na RTJ 92/775)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Rafael Mayer.<br />

Embargante: Inah de Carvelho K6s — Embargados: Joao AntOnio de<br />

Almeida Gonzaga JOnior (EspOlio de) e outros.<br />

— Recurso extraordinario. Exame de prove. Concubinato. Part!-<br />

]ha de bens. 1 — Inviabilidade do apelo extraordlnarlo face 8 Meantorritivel<br />

materia factual nos termos em que poste pelos blatancies<br />

Ordinaries. AI se teve por proved° que todos os bens delxados pelo de<br />

cujus foram por ele havldos anterlormente ao concubinato, o que exail<br />

a formacao de Um patrimOnio a base de esforco comum. 2 — Inoccrrencla<br />

do dash& pretendido, els que dlspares as teses oferecidas<br />

pelos acardilos paradlgmas nos pressupostos em que assentam as<br />

afirmactles imidicas. 3 — Embargos de divergencia nao conhecidos.<br />

ACORpA0<br />

Vlstos, relatados e discutidos este<br />

acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em SeesIto<br />

Plena, na conformldade da ata de<br />

julgamentos e notes taquigraficas, a<br />

unanimidade, em nAo conhecer dos<br />

embargos.<br />

Brasilia, 12 de marco de 1980 —<br />

Xavier de Albuqueque, Presidente —<br />

Rafael Mayer, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Rafael Mayer:<br />

Trata-se de acAo ordinAria ajuizada<br />

pela concubine objetivando o direito<br />

a meaclio dos bens delxados por<br />

JoA° Antonio de Almeida Gonzaga<br />

JOnior, coin quem vlveu more<br />

iambi, bent como a metade das rendas<br />

que foram percebidas pelo esp5no<br />

e porventura partUhadas.<br />

A sentence Julgou a acAo improcedente,<br />

sendo confirmada pelo egr6-<br />

(Po Tribunal de Justice, em grau de<br />

embargos infringentes, onde se fez a<br />

seguinte ementa:<br />

aConcubinato. Indeferimento da<br />

pretensao da concubine de partilhar<br />

bens, dada a inexistencia de<br />

sociedade de fato ou patrimOnio<br />

adquirido pelo esforco comum dos<br />

concubinos. Embargos rejeitados.»<br />

Interposto recurso extraordinario,<br />

nä° logrou ser conhecido pela ea:Ogle<br />

Segunda Turma deste Tribunal,<br />

cola ementa do adirdito lavrado pelo<br />

eminente relator do feito, Ministro<br />

Leitlio de Abreu, 6 deste teor:<br />

aConcubinato. PretensAo da concubine<br />

a partilhe de bens, repelida,<br />

nas instanclas ordinfulas, ao<br />

entendimento de inexistencia de<br />

sociedade de fato ou patrimOnio<br />

adqulrldo pelo esforco corn= dos<br />

concubinos. Inocorrancia de dissidio<br />

corn a Stunula 380. NAo<br />

cumprimento, no tocante aos outros<br />

padrOes, do disposto no artigo<br />

305 do Regiment° Interim do Supremo<br />

Tribunal Federal. Uniformizacilo<br />

da Jurisprudancia. Ausencla,<br />

neste ponto, de afronta a lei <strong>federal</strong>.")<br />

Inconformada a recorrente opOs os<br />

presentes embargos de divergencia,<br />

trazendo a confront° diversos arestos<br />

para comprovar o dissidio, no<br />

sentido do direito da concubine a<br />

meacAo, uma vez comprovada a<br />

existencia de sociedade de fato, — e<br />

da nao exigencla para a caracterizactio<br />

da sociedade de tato, da necessi-


290<br />

R.T.J. — 94<br />

dade de aporte de dinheiro, admitido<br />

que a colaboragão da concubina re-<br />

suite<br />

do praprio labor domêstico,<br />

mesmo de uma colaboracAo !material<br />

na formacAo ou ampliacAo do<br />

patrimOnio.<br />

Os embargos apontam, como divergidos,<br />

da Primeira Turma, os<br />

acordAos prof eridos no RE<br />

74.706/PR, Relator o Ministro Rodrigues<br />

Alclunin; RE 79.079,Relator o<br />

Ministro Antonio Neder; RE 68.952,<br />

Relator o Ministro Aliomar Baleeiro;<br />

RE 58.683, Relator o Ministro Hermes<br />

Lima (3? Turma); e do Tribunal<br />

Pleno, os ERE n? 53.122, Relator o<br />

Ministro Luiz Gallotti, e de resto a<br />

prOpria Stunt'la 380.<br />

Processados e impugnados as embargos,<br />

os autos foram corn vista A<br />

Procuradoria-Geral da Repdblica,<br />

onde, corn o referendo do eminente<br />

titular, o douto Procurador Walter<br />

José de Medeiros emitiu o seguinte<br />

parecer:<br />

«Repelida, em ambas as instAncias<br />

ordinArias, a pretensAo da<br />

concubina A partilha dos bens, foi<br />

por ela manifestado recurso extraordinArio,<br />

de que a eg. Segunda<br />

Turma nAo conheceu, em acOrdAo<br />

ralatado pelo eminente Ministro<br />

Leith° de Abreu. Em seu llustrado<br />

voto, salientou S. Exa. que, embora<br />

entendesse que, provada a vida<br />

more uxorio, podia-se presumir a<br />

existAncia da sociedade de fato,<br />

corn a partilha do patrimônio comum,<br />

tal solugAo, contudo, nAo poderia<br />

ser perfilhada no caso em<br />

aprego, porquanto demonstrado na<br />

jurisdicAo ordinAria que «a aquisigão<br />

de todos os bens ocorrera em<br />

period° anterior ao concubinato».<br />

E, para ilustrar seu asserto, transcreveu<br />

o llustre Ministro passagem<br />

do acOrdAo recorrido, demonstrativa<br />

desta particularidade do caso,<br />

como se pode ver do seu seguinte<br />

teor:<br />

«0 patrimOnlo do finado concubino<br />

jA se solidificara ao passar<br />

A vida em comum corn a embargante,<br />

em 1949, nada mais adquirind°<br />

depots...» (f. 1.059).<br />

Concluiu por afirmar a inocorrëncia<br />

de conflito corn a Stnnula<br />

380, a inobserviincia do art. 305 do<br />

Regiment° em relacão aos padrOes<br />

trazidos para confronto e lnvocando<br />

a Stimula 279 para trancar o<br />

reexame das provas, no ponto em<br />

que as instAncias ordinArias concluiram<br />

pela inexisténcia de patrimOnio<br />

adquirldo pelo esforgo comum<br />

que devesse ser partllhado<br />

entre os concubinos.<br />

Dal ter-se encimado o v. acOrdAo<br />

corn ementa assim conceblda:<br />

«Concubinato. PretensAo da<br />

concubina a partilha de bens, repelida,<br />

nas instAncias ordinArias,<br />

ao entendimento de inexistOncia<br />

de sociedade de fato ou patrimOnio<br />

adquirldo pelo esforco comum<br />

dos concubinos. Inocorréncia<br />

de dissidio corn a Siunula 380.<br />

NAo cumprimento, no tocante aos<br />

outros padrOes, do disposto no artigo<br />

205 do Regimento Interno do<br />

Supremo Tribunal Federal. UniformizagAo<br />

da <strong>jurisprudencia</strong>.<br />

Auséncia, neste ponto, de afronta<br />

A lei <strong>federal</strong>.<br />

R.E. nAo conhecidon (f. 1.226).<br />

Ainda irreslgnada, opOe a vencida<br />

embargos de diverancia em<br />

que, a despeito dos iniuneros julgados<br />

oferecidos a cotejo, nenhum se<br />

presta ao fim colimado, pelo que o<br />

recurso, em preliminar, nAo estA,<br />

a nosso ver, a merecer conhecimento.<br />

E que o v. act:prat) embargado,<br />

atento A regra contida na Stunula<br />

279, entendeu nAo ser possivel, no<br />

Ambito angusto do apelo constituclonal,<br />

rever a conclusAo, fundada


na prove coligida, a que chegara o<br />

eg. Tribunal de Justice fluminense,<br />

na esteira daquilo que tambem<br />

fora proclamado pela sentence do<br />

MM. Juix singular, quarto a inexistOncia<br />

de patrimOnto adquirido pelo<br />

esforCo comum, em face da<br />

cunstencta de terem os bens do<br />

amAslo sido adquiridos em epoca<br />

anterior ao concubinato.<br />

Ora, essa minima cIrcunstantia<br />

taco alio se acha presente em<br />

qualquer dos arestos trazidos a estampa,<br />

pots, pare que dissidlo houvesse,<br />

mister aerie a existencia de<br />

julgado onde, em face da mesma<br />

pecullaridade aqul assinalada, tivesse<br />

sido,conhecido o recurso extraordintrio.<br />

A embargante, contudo,<br />

nAo logrou demonstrar a similitude<br />

dos casos cotejados, a que fossem<br />

dadas solufles diversas. com<br />

o Tito de ensejar a admissilo do sett<br />

recurso.<br />

Nestas condicOes, a mIngua da<br />

divergencla alegada, o parecer,<br />

em preliminar, a pelo nao conhecimento<br />

dos embargos.»<br />

E o relatOrio.<br />

VOTO<br />

O Sr. Mlnlstro Rafael Mayer (Relator):<br />

0 ponto do acerdito submetido<br />

a debate este aclarado no vote do<br />

emlnente Relator nos seguintes termss:<br />

«NAo ocorre, por outro lado, o<br />

alegado confllto com a &mule 380.<br />

Tenho entendido, a este respeto,<br />

que, provada a more uxorlo,<br />

presume-se a sociedade de fate,<br />

cabendo a partilha do patrimOnio<br />

adqulrldo durante o concubinato.<br />

Meg, no caso vertente, o acerdilo<br />

recorrido, medlante o exame da<br />

R.T.J. — 94<br />

291<br />

prove, materia irrevistvel nesta<br />

InstAncia, a teor da Simile 279, assentou,<br />

na mesma linha da setenea,<br />

que a aquisicito de todos os<br />

bens ocorrera em period° anterior<br />

ao concubinato. Em mats de uma<br />

passagem do acOrdAo se afirma Isso,<br />

de modo categorico, bastando<br />

citar, no entanto, a proposlto, esta<br />

assertive final: «0 patrimOnlo do<br />

finado concubino ja se solldificara.<br />

ao passar a vide em comum com a<br />

Embargante, em 1949, nada mats<br />

adqulrindo depots...» (1.1.059). Destette,<br />

inaplicevel o principio da SOmule,<br />

corn o alcance que the confiro,<br />

pots nib houve, na especie, segundo<br />

o acerdão, aquisieto de patrhnOnio.<br />

Alias, cumpre ressaltar<br />

que a recorrente tot Contemplada<br />

com doacifes e testamento, o que<br />

motivou a declaracAo de vote do<br />

Desembargador Baslleu Ribero<br />

Fitho, que endosso. Quanto aos padrOes<br />

colacionados, nib se observou<br />

o disposto no artigo 305 do Regiments<br />

Interno; em relacAo ao<br />

RE 81.012, In RTJ 75/931, nAo este<br />

invocado na peticAo do recurso extraordinerio.<br />

NAo conheco do recurso».<br />

(fis.).<br />

Como se ye, o venerevel acerdlto<br />

embargado, ao negar conhecimento<br />

ao recurso extraorclinerio, nao o fez<br />

refutando a tese jtuldica consubstandada<br />

na Mande 380. Ao contrite°,<br />

afastou a sua aplicabilidade, mesmo<br />

nos termos da ample interpretactio<br />

que the de o eminente Relator do<br />

aerate° embargado, para reconhecer<br />

a inviabilidade do apelo extraordlnitrio<br />

face a incontornevel materia<br />

factual nos termos em que poste pelas<br />

InstAnclas ordinaries. Al corn<br />

efeito, se teve por provado que todos<br />

os bens deixados pelo de cujus foram<br />

por ele havidos anteriormente ao<br />

concubinato, o que implicitamente<br />

exclui a formactio de urn pat/tent°<br />

A base de esforco comum, caracteristico<br />

da sociedade de fins econt5-


292<br />

micos suscetivel de dissoluflo para a<br />

partllha dos aqiiestos.<br />

Ora, a colocaclio assim feita pelo<br />

acOrdlio embargado nAo esta em<br />

contradita cons as teses oferecidas<br />

pelos acfordAos paradigmas, que se<br />

nAo colocam, alias, naquele piano de<br />

identidade ou similitude de situacOes<br />

que propicie a analise comparativa.<br />

A rigor, conquanto tenha anexado<br />

copias dos acardAos referidos, a Embargante<br />

nlio se deteve na transcrino<br />

dos trechos que indicassem os<br />

pontos em contraste, a partir da demonstractio<br />

dos pressupostos comuns<br />

e com isso descuidou a melhor<br />

instrucAo do recurso intentado, na<br />

conformidade da exiancia regimental.<br />

Mas, a consideracflo dos prOprios<br />

textos aduzidos deircara evidenciada<br />

a mocorrência do pretendido dissidto.<br />

R.T.J. — 94<br />

Com efeito, nos RREE 68.952,<br />

74.706 74.079, a que se aludiu, partese<br />

de uma distincAo entre os efeitos<br />

do concubinato, quando ha sociedade<br />

de fato entre ambos na constituicAo<br />

do patrlmOnio comum, e quando ha<br />

efetiva prestacAo de servicos da concubinaria<br />

ao companheiro, e reconhecida<br />

a inexistencia daquele e da<br />

conseqtiente particão de bens pela<br />

sua dissolucão, deu-se pelo deferimento<br />

da remuneracAo devida na segunda<br />

est:bade. Se se pode dizer que<br />

comunga corn esses acordAos na<br />

parte em que nega a meacAo pela<br />

inexistencia da sociedade de fato, o<br />

veneravel acOrdAo corn eles nno atrita<br />

no tocante A remuneracAo dos servicos<br />

prestados pela concubina, simplesmente<br />

porque quanto a ela<br />

omisso, omissa que 6, no ponto, toda<br />

a causa, nAo se havendo formulado a<br />

pretensAo sequer como pedido subsid'art°.<br />

Nos outros dois paradigmas, o<br />

ERE 53.122 e o RE 58.683, se confere<br />

o direito da concubina a meacilo dos<br />

bens, a partir da premissa da sociedade<br />

de fato e do esforco comum na<br />

obtencAo deles. Aqui como IA, bem<br />

se ye, a impossivel estabelecer a<br />

comparacflo e deduzir eventual dlvergencia<br />

porque as espécies sAo<br />

realmente dispares nas circunstancias,<br />

into e, nos pressupostos ern que<br />

assentam as afirmacties juridicas.<br />

Assim, nAo demonstrada a diver-<br />

Seta, o meu voto 6 pelo nAo conhecimento<br />

dos embargos.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

ERE. 87.518 — RJ — Rel.: MM.<br />

Rafael Mayer. Embte.: Inah de Carvalho<br />

Kos. (Adv.: Steno Bastos Belchior).<br />

Embdos.: JoAo Antonio de Almeida<br />

Gonzaga Janitor (Esp6lio de)<br />

e outros. (Adv.: Roberto Moraes de<br />

Lima Rocha).<br />

DecisAo: NA° conheceram dos embargos.<br />

DecisAo unAnime. Falaram:<br />

pelo Embte. o Dr. Stelio Bastos Belchlor<br />

e pelos Embdos. o Dr. Roberto<br />

Moraes de Lima Rocha.<br />

Presidéncia do Senhor Ministro<br />

Xavier de Albuquerque. Presentee A<br />

sessAo os Senhores Ministros Djaci<br />

Fala°, Thompson Flores, Cordeiro<br />

Guerra, Moreira Alves, Cunha Peixoto,<br />

Soares Munoz, Decio Miranda e<br />

Rafael Mayer. Ausentes, justificadamente,<br />

o Sr. MM. Antonio Neder,<br />

Presidente. Ausente, licenciado, o<br />

Sr. Mln. Lena° de Abreu. Procurador-Geral<br />

da RepUblica, Dr. Firmino<br />

Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 12 de marco de 1980 —<br />

Mbergo Veronese Aguiar, Secreting°.


R.T.J. — 94 293<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N! 87.872 — SP<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cunha Peixoto.<br />

Recorrente: Engenharla e ConstructTes Japura Ltda. — Recorrido: Estado<br />

de SAo. Paulo.<br />

ResPowiabilidade civil.<br />

AtualizacAo do valor da indenizacito.<br />

Tratando-se de (Ueda do valor, nada impede que se utillzem os<br />

Indices de correCao monetarla, quando do pagamento pelo executado,<br />

pant correspondlincia entre o valor dos danos ressarcivels e a quantie<br />

de cUnheiro correspondente.<br />

Recurso extraordinirio conhecido e provtdo.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discuticlos estes<br />

autos, acordam os Ministros da PMmetra<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

Julgamento e das notas taquignificas,<br />

por unanimidade de votos, em<br />

conbecer e prover o recurso, nos termos<br />

do voto do Ministro-Relator.<br />

Brasilia, 9 de junho de 1978. —<br />

Antonio Neder, Presidente — Cunha<br />

Peixoto, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Afinistro Cunha Peixoto:<br />

Trata-se de actio de indentzacilo proposta<br />

por Engenharla e Constructles<br />

Japurit Ltda. contra o Estado de Silo<br />

Paulo, vlsando pagamento dos services<br />

prestados, liberaeAo das eaucoes,<br />

alem de perdas e danos estimados<br />

em Cr$ 100.000,00. Mega que,<br />

em 7.3.69, apts concorrencia pablka,<br />

regularmente processada, celebrou<br />

contrato corn o Estado de Silo Paulo<br />

para a constructio das obras do precllo<br />

do "Centro Educational Jardim<br />

N6brega", em Matta, corn o prazo de<br />

execucAo de 240 Was e o valor de Cr$<br />

1.235.197,00, nAo tendo, portm, consegutdo<br />

atacar as obras em rltmo normal,<br />

pela deficiOncia do projeto, reclamada<br />

em termo, mas nAo corrlglda<br />

pela contratante. Postertormente,<br />

o contrato fol tmilateralmente rescindido<br />

pelo Estado de SAo Paulo.<br />

Acrescenta que a paralisacito da<br />

obra se deve a culpa do Estado de<br />

Silo Paulo, que se revelou desapareihado<br />

administrativa e tecnicamente,<br />

mostrando, posterlormente, completo<br />

desinteresse no prossegutmento<br />

das obras.<br />

Defende-se o Estado de SA° Paulo,<br />

apresentando ainda reconvencAo.<br />

Sustenta que, desde o hack), a autora<br />

se afastou do projeto e normas de<br />

construcAo, sendo certo que tinha conhecimento<br />

das condic6es gerais e<br />

peculiares do terreno. Acrescenta<br />

que, trabalhando inadequadamente,<br />

a autora, primer°, paralisou as<br />

obras, e, depots, nAo foi capaz de<br />

lhes dar segemento.<br />

A decisAo de primelro grau, que<br />

deu pela proced6ncia da Witt, mas<br />

nil° atendeu a todas as pretenstles<br />

patrlmonals da autora, fot mantilla<br />

pelo Tribunal de JustIca do Estado<br />

de Silo Paulo, em acardAo que, t'elativamente<br />

a correcAo monetitria,<br />

P :.entuou:<br />

«Por outro lado, apurado atraves<br />

da prova periclal que nem todos os<br />

servicos prestados pela empreiteira<br />

foram remunerados, devem ser<br />

pagos do valor equlvalente, conforme<br />

se apurar em execuello. Quanto<br />

as perdas e danos, nao poderlam


294<br />

ser fixadas em quantia superior A<br />

formulada na inicial. Finalmente,<br />

correcAo monetaria e indevida nos<br />

contratos administrativos, em que<br />

o inadimplemento nä° decorre de<br />

dolo da AdministracAo, e a verba<br />

honoraria nal) pode ser reputada<br />

excessive, sendo fixada em conf ormidade<br />

corn as dificuldades da<br />

causa, inclusive demora em seu<br />

desfecho». (f. 656)<br />

Irresignada, a autora — Engenharia<br />

e Construcees Japura Ltda. — interpOs<br />

recurso extraordinerio, corn<br />

fundamento nas letras «a» e «d», do<br />

rt? III, do art. 119 da Constituiceo Federal,<br />

dando como vulnerada a Lei<br />

Federal n? 5.676/71, bem como divergencia<br />

em sua interpretaceo, em relace°<br />

aos julgados colacionados do<br />

Supremo Tribunal Federal, publicados<br />

na RTJ, vols. 44/109 e 46/421.<br />

A Procuradoria-Geral da Repeblica,<br />

em parecer da lavra do Dr. Anthill°<br />

de Padua Ribeiro, manifesta-se<br />

pelo conhecimento e provimento do<br />

recurso<br />

o related°.<br />

VOTO<br />

Sr. Ministro Cunha Peixoto (Relator):<br />

Trata-se de pagamento de indenizaceo<br />

por ato ilicito da administrace°,<br />

que, por sua culpa exclusive,<br />

nAo s6 impossibilitou o construtor de<br />

realizar a obra, como, ainda, rescindiu,<br />

unilateralmente, o contrato.<br />

Tribunal de Justice de Sao Paulo<br />

condenou o reu, ora recorrido, a<br />

pagar a Mule de indenizaceo a importencia<br />

de Cr$ 100.000,00, deixando<br />

de indult' a correcAo moneteria. E,<br />

no caso de reparaceo por ato ilicito,<br />

a <strong>jurisprudencia</strong> deste colendo Supremo<br />

Tribunal Federal is se consolidou<br />

no sentido de fixer o valor da<br />

epoca em que o pagamento a efetuado.<br />

Para isto, desnecesseria lei expressa,<br />

que autorize a valorizaceo<br />

R.T.J. — 94<br />

da importAncia a pagar, porque se<br />

trata de divida de valor, coastderando-se<br />

como tal aquelas que<br />

tem um objeto distinto do dinhelro,<br />

ainda que sej am suscetiveis de<br />

apreciactio pecuniAria.<br />

Na verdade, como adverte Gurfinkel<br />

de Wendy,<br />

«Como regla general,puededecirse<br />

que todas las obrigadones de Indemnizar<br />

daftos y perjulzos ya sea<br />

que estos provengan de hechos<br />

cltos (responsabilldad estracontractual)<br />

como dal incumplimiento<br />

Contractual, dan origen a una obligee's%<br />

de valor. La setencla que<br />

condene a indemnizar tender& a<br />

restltuir al patrimonlo del perjudlcado<br />

un valor analogo al del que se<br />

lo prive por la corals's% del acto a<br />

becho ilicito valor que a efectos del<br />

cumprlmento de la setencia respective<br />

deberls medirse necesariamente<br />

en dinero. Igual soluclen se<br />

admite en el supuesto de tratar-se<br />

de lnejecuelen a retardo de una obligacione<br />

contractual». (Depreciaden<br />

Monetitria — Itevaluackm de<br />

deudas denerarias, pegs. 51/2).<br />

0 tato de is haver sldo o prejuizo<br />

fixado em dinheiro neo altera a situaceo,<br />

porque a divida de valor s6<br />

perde esta caracteristica e<br />

transforma-se em divide de dinheiro<br />

no momento em que o debit° a saldado.<br />

Do contrerio, bastaria a prOpria<br />

demora no andamento do processo,<br />

no perlodo de liquidacAo, para alterar<br />

a situaceo, passando a favorecer<br />

o devedor.<br />

Dal haver o Ministro Xavier de Albuquerque<br />

afirmado:<br />

«Tratando-se de divide de valor,<br />

nada impede que se utilizem os<br />

indices de corrects) moneteria como<br />

instrumento de afericeo, quando<br />

do pagamento pelo executado,<br />

da correspondencia entre o valor<br />

dos danos materials ressarciveis e


a quantia em dinheiro correspondente».<br />

(RTJ, 80/304).<br />

Os julgados trazidos a confronto<br />

conflitam corn o acOrdão recorrido e<br />

traduzem a atual orIentaclio do Supremo<br />

Tribunal.<br />

Isto posto, conheco do recurso e<br />

the dou provimento, para mandar Inclulr<br />

no valor da lndentzacito a correcAo<br />

monetkrla a partir da cliacão,<br />

Incidlndo a verba de honorArlos so;<br />

bre a 1mportAncla corriglda.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 87.872 — SP — Rel.: Min.<br />

Cunha Peixoto. Recte.: Engenharla e<br />

Construeses JapurA Ltda. (Adv.: Rubens<br />

Geraldo Aranha de Macedo<br />

R.T.J. - 94 295<br />

VieIra e outro). Recdo.: Estado de<br />

SAo Paulo (Adv.: Celso de Mello Almada).<br />

DecisAo; Conhecldo e provido nos<br />

termos do voto do Min. Relator, unAnime.<br />

— Falou, pelo Recte. o Dr. Rubens<br />

Geraldo Aranha de Macedo<br />

Pres1d6ncia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes a SessAo os<br />

Srs. Minlstios Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Aldo:rain, Cunha Peixoto<br />

e Soares Munoz. 4? Subprocurador-Geral<br />

da Repfiblica o Dr.<br />

Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 9 de junho de 1978 —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga.<br />

Secretarlo.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO 87.963 — SP<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Mastro Cunha Peixoto.<br />

Recorrentes: Isaac Marchtein e sua muffler —Recorrldos: Dagmar Gagliardi<br />

Vitale e outros.<br />

Compromisso de Compra e Venda — Rescisflo do Contrato.<br />

NotitincAo vAlida, vez que os notificantes somente inipressaram<br />

com a acão de niacin° ap6s o decurso do prazo fixed° em lei, para<br />

purgacAo da mora.<br />

Na reconvenclio, a simples intimaclo de advogado invest:1d° dos<br />

poderes genericos constantes da clAusula ad judltla nAo 6 suflciente<br />

pare colocar em mora a parte reconvinda.<br />

A notificacAo Jetta somente ao promissArio comprador, dada as<br />

chetmstAnclas do caso concreto, versando sobre mated& pertinente a<br />

threat() obrigacional, nilo padece de qualquer viclo que posse lnvalMAla<br />

sendo de se aplicar ainda a espécie a Stunula 282.<br />

DepOsito felt° apenas pare discussAo sobre prete.nso inadimplemento<br />

do promitente vendedor nAo se contimde com a purgacio da<br />

mora.<br />

Recurso ExtraorcUnArio conk..2Mo.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e des notas taquigrAll-<br />

cas, por unanimidade de votos, em<br />

nAo conbecer do recurso extraordinazi°.<br />

Brasilia, 6 de )unto de 1978. —<br />

Antonio Nader, Presidente — Cunha<br />

Marne, Relator.


296 R.T.J. — 94<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Cunha Peixoto:<br />

Dagmar Gagliardi Vitale e outros<br />

ajuizaram acão ordlnAria contra<br />

Isaac Marchtein e sua mulher, expondo<br />

que, medlante compromisso<br />

particular de compra e venda, prometeram<br />

a venda ao r6u varão 0<br />

apartamento 2-A do Edificio Pruclèneta,<br />

a ser pago: Cr; 30.000,00 no ato<br />

do compromisso; Cr; 20.000,00 a cento<br />

e vinte dias do compromisso; e<br />

Cr; 160.000,00 medlante 16 prestacOes,<br />

cada uma de Cr; 10.000,00.<br />

Acrescentam nAo haver o r6u efetuado<br />

o pagamento das altimas prestac6es<br />

e, assim pleiteiam a rescisAo do<br />

contrato, corn condenacAo em perdas<br />

e danos.<br />

Os reus contestaram a acão, argilindo<br />

a nulidade da notfficactio<br />

via, pots os autores reclamaram o<br />

pagamento do dthito no prazo de<br />

quarenta e oito horas, e, no merito,<br />

sustentam terem eles descumprido<br />

os termos do contrato.<br />

Apresentam reconvencAo, na qual<br />

salientam que, no ensejo, depositaram<br />

a quantla restante do prego, e<br />

acrescentam as) terem os autores<br />

cumprido as clAusulas seguintes do<br />

contrato: a) — fazerem o reglstro no<br />

CartArlo ImobillArio da escritura de<br />

cessAo e transferAncia de que se dizem<br />

titulares; b) — obrigacão «at6 a<br />

data da outorga da escritura de compromisso»<br />

a dillgenciarem junto a<br />

pessoa titular do domtnio do im6vel,<br />

para, no final do pagamento do preco<br />

avencado no instrumento de cesser<br />

outorgada a escritura definitiva<br />

de venda e compra diretamente<br />

a eles, reus; c) — obrigacão de apresentarem,<br />

«att a data da escritura<br />

os seguintes documentos: certiclão<br />

negativa de tributo incidente sobre o<br />

im6vel e certidOes dos dIstribuidores<br />

judlcials e dos cartOrtos de protesto».<br />

A sentenca julgou autores e reus<br />

carecedores, respectivamente, da<br />

acão e da reconvencão. Os primeiros,<br />

por defeito da notificacão, Ja<br />

que fora feita para que os r6us pagassem<br />

as prestagees vencidas em<br />

quarenta e oito horas. Os rtus, porque<br />

objetivam a outorga da escritura<br />

definitiva da compra e venda e do<br />

ajuste formalizado entre os interessados.<br />

Ambas as partes apelaram, tendo<br />

o egrêgio Tribunal de Alcada de SAo<br />

Paulo dado provimento ao recurso<br />

dos autores para, afastando a cart/Ida<br />

da acão, determinar ao Juiz o<br />

Julgamento do mérito. Considerou<br />

como regular a notificagAo e em mora<br />

os reus, porque, embora tenha ela<br />

sido feito corn o prazo de quarenta e<br />

olto horas, a acão s6 fol proposta<br />

vinte e cinco dias ap6s e, neste intervalo,<br />

os rifts nä° tentaram efetuar o<br />

pagamento. Declara o acifordão:<br />

«A respeitAvel sentenca Julgou os<br />

autores carecedores de acAo, porque<br />

a interpelacão consignou prazo<br />

de apenas 48 horas, inferior, portanto,<br />

aos 15 Was de que cogita o<br />

Decreto-lei n? 745, de 1969. Considerou<br />

que a circunstAncia de ter sido<br />

a acAo ajuizada somente ap6s o decurso<br />

de 15 dias nAo tern o condAo<br />

de dar eficAcia Aguela providencia<br />

preliminar».<br />

NAo e o melhor entendimento,<br />

contudo. Embora indispensAvel a<br />

interpelactio, mesmo em se tratando<br />

de im6vel nao loteado (o contrato<br />

se refere a urn apartamento),<br />

nAo constitui requisito indispensàvel<br />

a correta fixacão do prazo. A<br />

interpelacAo, no caso, fol realizada<br />

em 5 de novembro de 1973 (fls. 11<br />

— verso), no passo que a acAo se,<br />

foi distr1bulda no dla 30 do mesmo<br />

més, ou seja, 25 did depots. Nesse<br />

interval°, os réus nAo manifestaram,<br />

de forma alguma, a IntencAo<br />

de pagar. Nem mesmo no prazo de<br />

resposta, pots o depOsito que real'.<br />

zaram (f. 68) nAo teve carater de<br />

purgacão da mora; na contestactio,<br />

os r6us invocam a excecão «non


adimpleti contractus», como justificativa<br />

para a ausencia de pagamento<br />

das prestanes convencionades,<br />

demonstrando, com isso, que<br />

nflo pretendiam purger a more. 0<br />

deposito constitura simples fundamento<br />

da reconvendlo.» (fis.<br />

447/448).<br />

Repele, a seu turn, a apelano dos<br />

retests, corn o fundamento seguinte:<br />

quanto a reconvendlo, nada<br />

ha que modificar na sentence recorrida.<br />

Se o objeto da reconven-<br />

00 A o de compel& os autores<br />

outorga da escritura de compra e<br />

vende e omitem-se os reconvites,<br />

no obstante, em argair recusa dos<br />

autores no cumprimento da<br />

no reclamada. Como bem situa o<br />

MM. juiz, nä° ha evidencia de que<br />

os rims tenham Instado os autores<br />

ao cumprimento das obriganes<br />

que reclama; e se o pagamento s6<br />

ocorreu quando Ja proposta a acilo,<br />

nab ha como se conduit' que os autons<br />

tivessem moused° o cumprimento<br />

da obrigacAo que Dies incumbia.»<br />

Insistem os reus em que a efface°<br />

para a reconvenclio terra constituido<br />

os autores em mora (CPC<br />

artlgo 219). Nada menos acertado,<br />

porem. Oferecida reconvencao, o<br />

autor no A citado, mas tãosomente<br />

intimado, na pessoa de<br />

seu procurador, pare contester em<br />

15 Was (CPC, artlgo 316). Ora, os<br />

efeitos de que trate o artlgo 219 do<br />

CPC so decorrern da citano vAllda;<br />

no assim da lntimacAo. A natuna<br />

de uma e de outra, se a dontrine<br />

Ja no distinguisse, 6 nitidamente<br />

deflrada dos artlgos 213 e<br />

234 do CPC, de sorts que nAo ha como<br />

contundi-las.<br />

Nflo configtwa da recusa dos autores<br />

ao cumprimento da °Wigan°<br />

de fuer, nem constitrados em<br />

more, a carencia decorre da ausenda<br />

de uma das condlnes de<br />

R.T.J. — 94<br />

297<br />

acAo qual seta, o Interesse de aglr,<br />

traduzido no binerrao necessidadeadequano.<br />

Sem a demonstracao<br />

de urn Interesse contrarlado, nAo<br />

atendido, ou tornado Incerto, nAo<br />

concorre a citada condicão, pots o<br />

titular nao tern necessidade da tutele<br />

jurisracional. Assim, o decreto<br />

de carencia de ano corresponde<br />

extindlo do processo sem julgamento<br />

do merit°, nos termos do artlgo<br />

267, n? VI, do CPC.» (fls<br />

449/450).<br />

Os reus opuseram embargos declarararios,<br />

sob o fundamento de que o<br />

adirdflo nenhuma referenda Were A<br />

falta de notificacira da mulher do outorgado<br />

comprador. Os embargos foram<br />

rejeltados, porque esta materia<br />

so Ed alegada por ocasitio das<br />

contra-razfles de apelacAo e, assim,<br />

nAo serfs possivel a sentence<br />

manifestar-se sobre o assunto, e,<br />

consedlentemente, ralo poderia o<br />

Tribunal faze-1o.<br />

Inconformados, os reus interpuseram<br />

recurso extraordinArio, corn<br />

fundamento nas tetras a e d, do n?<br />

do art. 119 da Constituleao, dizendo<br />

ofendidos os arts. 267, f{ e<br />

3?, 302 caput, 303, II, 334, II, III e<br />

364, 287, 315, 644, 219, 316, 300,<br />

301, VIII todos do CPC; 960, 116, 117 e<br />

145, V, do adigo Civil; e 1? do<br />

Decreto-lei n? 745; e, tambem, divergência<br />

com <strong>tribunal</strong>s de outros Estedos,<br />

inclusive corn decisties deste Colendo<br />

Supremo Tribunal.<br />

o related°.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cunha Peixoto (Reloran:<br />

1 — Sustentam os recorrentes<br />

a negative de vigencia dos arts. 1?<br />

do Decreto-lei n? 745/69, e 116, 117 e<br />

145 do Cedigo Civil, sob a alegacAo<br />

de que, posto o primeiro diploma legal<br />

estabeleca corno pressuposto pare<br />

a constituicAo em mora de qual<br />

das partes em contrato de corm<br />

pra e venda, a notlflcacAo corn ce


298<br />

R.T.J. — 94<br />

prazo de 15 dias; o acordao recorrido<br />

parte. A lei 6 clara em exigir o prazo<br />

entendeu valida a realizada corn o<br />

de quinze dias de antecedencia para<br />

prazo de quarenta e oito horas. que o compromissArio fique constituido<br />

em mora, e o notificado nAo<br />

Entretanto, a conclusAo da decisAo poderla ignorar esta circunstAncla.<br />

recorrida prendeu-se ao fato de, em- Na verdade, nAo 6 preciso que, da<br />

bora a notificacAo tenha sido feita notifica A° conste o prazo dentro do<br />

corn quarenta e oito horas, os auto- qual tern o notificado de cumprir sua<br />

res s6 haverem proposto a acAo de obrigacAo, jA que consta da lei, de<br />

rescisAo no vigesimo quinto dia. sorte que a fixacAo de prazo diferen-<br />

Proclamou o acerdão recorrido: te, por si s6, nAo tern o condAo de<br />

«A respeltAvel sentenca julgou os anular a notificacAo. NAo houve,<br />

autores carecedores de acAo, por- realmente, reducAo do prazo, jA que<br />

que a interpelacão consignou prazo o notificante aguardou o termini) de<br />

de apenas 48 ho as, inferior, por- quinze dias para o ingress° em julzo.<br />

Limitacão haveria se a nap tivesse<br />

tanto, aos 15 dias de que cogita o<br />

Decreto-Lei n? 745,. de 1969. Consi- sido proposta antes de esgotado o<br />

derou que a circunstAncia de ter si- mencIonado periodo, quando, entAo,<br />

do a acAo ajuizada somente apes o se poderla f alar em ineficAcia da no-<br />

decurso de 15 dies «a° tem o contificacão.dAo de dar eficAcia Aquela provi- O legislador, corn o Dec.-lei n?<br />

dencia preliminar». (fls. 449). 745/69, visou evitar fossem os com-<br />

NAo 6 o melhor entendirnento, promissArios compradores surpreen-<br />

contudo. Embora indispensAv el a didos corn as cobrancas imediatas;<br />

interpelacAo, mesmo em se tratan- desejou adverti-los da necessidade<br />

do de imOvel nAo loteado (o contra- do cumprimento de sua obrigacAo,<br />

to se refere a urn apartamento), dando-lhes urn prazo razoAvel para<br />

nAo constitui requisite indispensA- que o facam, e se a advertencia fora<br />

vel a correta fixacAo do prazo. A feita e o prazo concedido, cumprida<br />

interpelacão, no caso, foi realiza a estA a lei.<br />

em 5 de novembro de 1973 (fls. 11<br />

— verso), ao passo que a acAo s6 De toda maneira, a interpretacAo<br />

foi distribufda no dia 30 do mesmo dada a estes dispositivos pelo actor-<br />

Ines, ou seja, 25 dias depots. Nesse dAo recorrido nAo enseja recurso ex-<br />

Interval°, os r6us nAo manifesta- traordinArio, nos termos da SOmula<br />

ram, de forma alguma, a intencAo 400, jA que, no minim% serta razoàde<br />

pagan>) vel.<br />

Ora, a ninguem 6 licito ignorer a<br />

lei, de sorte que o fato de na notifica-<br />

2 — 0 reconhecimento, pelo Tribucao<br />

constar periodo menor do que o<br />

nal, da ineficacia a da macAo<br />

da<br />

constituicAo dos<br />

estabelecido, nAo provocaria sua nu- reconvencAo para<br />

lidade, como nA acarretaria a que credores emcia mora nAo negou am-<br />

omitisse<br />

o prazo, o ce se fora condido a bem vigen aos arts. 287, 300, t 315,<br />

parte inadimPlente para purgar a 316, 219 e 644.<br />

mora, o periodo fixado pela lei. NAo se nega ser a intimacão para<br />

«0 que a lel objetiva 6 despertar a a reconvencAo uma verdadeira citaatencão<br />

do inadimplente e, dar-]he cão, mas dal não se pode concluir<br />

urn prazo para o cumprimento da servir ela para colocar em mora,<br />

oblrigacAo. »nos termos do Dec.-lei n? 745, as par-<br />

Esta /IA° considera nulo o ato se,<br />

tes, em um contrato de promessa de<br />

realizado de maneira diferente ao compra e venda. Esta deseja a coestabelecido,<br />

não trouxe prejuizo A munlcacAo pessoal do interessado


inadimplente, e não atraves de procurador<br />

sem poderes expressos para<br />

o ato.<br />

Ora, como a constitute/10 em mora<br />

envolve eventual disponibilidade do<br />

Datil/116Mo, claro este nAo se incluir<br />

ela nos poderes conferidos pela<br />

sula &Umtata, e assim, nAo tem o<br />

advogado poderes para ser constituido<br />

em mora por seu cliente.<br />

NAo he, pots, como equiparar, para<br />

efeito de constituicao da parte em<br />

mora, a intimacAo na reconvencão<br />

feita ao advogado, corn a citacAo a<br />

ser efetuada pessoalmente.<br />

NAo comporta o art. 219 do COcllgo<br />

de Processo Civil InterpretacAo ana-<br />

16gica, pots se fosse intencAo do legislador<br />

estender seus efeitos tambem<br />

A intimacAo, t8-lo-la repetido no<br />

capitulo, onde se disp6e sobre as intimadies.<br />

3 — Ademals, Mc) houve negative<br />

de Agenda dos arts. 287, 300, 315 e<br />

316 do COdigo de Processo Civil. Ao<br />

contritrio, foram aceitos pela decisAo,<br />

que apenas entendeu nao terem<br />

aplicacAo na hipOtese, ante as circimstAnclas<br />

apresentadas nos autos.<br />

Por outro lado, como adverte o<br />

juiz, apolado Delo acerdtio recorrido<br />

untlo he evidencia de que os reus te- ,<br />

nham instado os autores ao cumpri-<br />

mento das obrigaciles que reclama;<br />

e se o pagamento so ocorreu quando<br />

je proposta a acAo, nAo hA como se<br />

conduit' que os autores tivessem recusado<br />

o cumprimento da obrigacAo<br />

que lhes incumbla.<br />

3 — Igualmente, não houve violactio<br />

dos arts. 267, 302, 303, II, 334, II,<br />

III, IV e 364 do C6cligo de Processo<br />

Civil, quando o Tribunal delxou de<br />

examiner a falta de notificacilo da<br />

mulher do compromissarlo comprador.<br />

Justifica-o bem o acerdtio prolerido<br />

nos embargos declaraterlos:<br />

sApontam os embargantes omissilo<br />

no AcOrdAo, que nAo teria<br />

apreciado inn dos fundamentos da<br />

defesa: a falta de notiftcacAo da<br />

R.T.J. — 94 299<br />

mulher do reu, compromisserio<br />

comprador, para o efeito de cons*.<br />

tuicão em mora.<br />

NAo hA omisstio alguma, entretanto.<br />

Acentue-se que a mencionada<br />

circunstancia se fot lembrada<br />

pelos embargantes nas contrarazties<br />

de apelactio (fls. 412 e 413).<br />

A contestacao silencla sobre o tema.<br />

Assim, ntio 6 de estranhar que<br />

a sentence tenha deixado de examiner<br />

a questão.<br />

Aqui ntto hA incidencia do artigo<br />

515, 2?, do C.P.C., como pretendem<br />

os embargantes. E que a ex-<br />

tensAo do efeito devolutivo determina-se<br />

pela extensao da lmpugnaclio:<br />

tantutn devolutum quantum<br />

appellatum. Esse e o sentido<br />

do caput do artigo. Bern por isso,<br />

ensina J. C. Barbosa Moreira que o<br />

objeto do Julgamento do Tribunal<br />

pode ser tAo extenso quanto o do<br />

julgamento de primeiro grau, ou<br />

menos extenso, de tal sorte que A<br />

parte nä° 6 permitido pedlr o que<br />

ntio pedira perante o Ora) a quo,<br />

assim como a. atividade cognitive<br />

do Tribunal 6 limitada A parte, ou<br />

As partes, da sentence que hajam<br />

siclo objeto de impugnacAo (Comentftrios<br />

ao C.P.C., volv. V. paging<br />

336).» (fls. 461/462).<br />

Aplica-se, pots, a hipOtese, a<br />

SOmula 282.<br />

4 — Por outro lado, 6 de plena validade<br />

Juridica o ato do promitente<br />

comprador notificando do inadimplemento<br />

0 outro contratante, e somente<br />

ele, pots que apenas corn ele contratara.<br />

A citacAo do outro cOnjuge<br />

somente 6 de rigor quando se trate<br />

de acAo real imobilieria. Tambem<br />

este e o entendimento do Supremo<br />

Tribunal Federal no RE 72.513-RTJ.<br />

60, peg. 290 — fol decidido:<br />

aDistincilo entre as aches que<br />

versam sobre direltos reefs fins In<br />

re) e as fundadas no hus ad rem,<br />

embora a obrigacAo tenha por objeto<br />

coisa imOvel. As animas sAo


300<br />

pessoals, e entre elas se inclui a<br />

presente (proposta para rescindir<br />

contrato). NA() era, assim, indispensAvel<br />

a citacão da mulher do<br />

reu».<br />

Ainda que se queira ver na acAo<br />

para a desconstituic Ao do contrato<br />

preliminar de compra e venda de<br />

im6vel uma acAo real imobiliAria,<br />

ainda assim nä° era de rigor a notificacão<br />

do outro cOnjuge. Dir-se-A<br />

que uma tal omissAo irA subtrair a<br />

um dos comunheiros a faculdade de<br />

purgar a mora.<br />

R.T.J. — 94<br />

Alem de ser o marido o chef e da<br />

sociedade conjugal e representAria,<br />

foi apenas ele que interve io no contrato<br />

preliminar. A obrigacAo de pagar<br />

a parcela do preco, obrigaflo<br />

pessoal, era sua. 0 objeto de contrato<br />

de promessa de compra e venda<br />

de im6vel säo obrigacOes pessoals<br />

articuladas, direitos de credito que<br />

se equivalem : a obrigacAo de pagar<br />

o preco e a obrigacAo de celebrar o<br />

contrato definitivo. Os direitos reais<br />

são de enumeracA o taxativa,<br />

numerus clausus, e nAo figura, no<br />

seu elenco, o direito do promitente<br />

comprador . Tanto isso a certo, que o<br />

COdigo Civil projetado no art. 1.045,<br />

inciso VII, lit Incluir entre os direitos<br />

mats o direito do promitente<br />

comprador do imOvel. EstA previsto<br />

para ser urn direito real de aquisicAo,<br />

nAo sendo, porem, agora, nada<br />

mais do que urn direito pessoal<br />

aqutsicAo. NAo dA realidade a esse<br />

direito do promitente comprador o<br />

fato de inscrever-se no registro de<br />

imOveis e de se permitir ao contrato<br />

preliminar a execucAo especifica.<br />

Nem dA realidade A promessa de<br />

venda o fato de inscrever-se no registro<br />

de imOveis. E situacAo de todo<br />

paragonal A da clAusula de vigAncia<br />

de que trata o art. 1.197 do C6digo<br />

Civil, ou do registro das sentencas<br />

que concedem renovatoria. Limitase<br />

a fazer certa e conhecida uma obrigagAo<br />

pessoal, a de celebrar o<br />

contrato definitivo, jA que a lei assegura<br />

execucAo in natura ao contrato<br />

de promessa. Ninguêm ousaria dizer<br />

reais os direitos all registrados.<br />

Assinale-se que o contrato de cessAo<br />

de promessa de compra e venda,<br />

que instrui a acAo, nAo se encontra<br />

registrado.<br />

Quando ingressaram, pots, em<br />

juizo corn a acAo ordinAria, visando<br />

rescisào do contrato de compra e<br />

venda, fizeram os autores citar os<br />

conjuges, o marido, iA notificado,<br />

pit-contratante solitArio, e a mulher,<br />

que nAo interviera na promessa.<br />

A relacäo processual estava perfeita,<br />

incensurAvel. 0 requisito da notifelta<br />

ao exclusivo contratante<br />

fora atendido.<br />

5 — E verdade que alguns julgados,<br />

no caso de falta de notificacAo,<br />

permitem a purgacAo da mora no<br />

prazo de contestacAo, que hoje coin-<br />

cide corn o da notificacão — quinze<br />

rias. Aqui, porem, os i no<br />

am e nem fizeram, tus dentrã quizeo<br />

deste<br />

prazo, o pagamento, jA que a apresentacAo<br />

do cheque visado felt° corn<br />

a contestacAo, como assinala o ac6rciao<br />

recorrido, nAo representou dep6sito<br />

para pagamento, mas apenas<br />

para discutir o inadimplemento dos<br />

autores. Diz a decisào recorrida:<br />

«Nesse intervalo, (de quinze dlas<br />

da notificacAo), os reus nAo manifestaram<br />

de forma alguma a intencAo<br />

de pagar. Nem mesmo no prazo<br />

da resposta, pots o depOsito que<br />

realizaram (fl. 68) Mk) ten caritter<br />

de purgacAo da mora; na contestacAo,<br />

os reus invocam a excecau<br />

non adimpleti contractus, como<br />

justificAvel para a ausencia de<br />

pagamento das prestacOes convencionadas,<br />

demonstrando, corn lsso,<br />

que nAo pretendiam purgar a moraD.<br />

(fls. 448).


Na verdade, os reus, orb recorream,<br />

reconviram, objetivando que<br />

os prOmitentes vendedores, depots<br />

de exibirem os documentos a que, dizem,<br />

estavam sunlit°s a apresentar,<br />

Outorgassem escritura definitive, ato<br />

que des preprios sabhun nAo depender<br />

dos autores, pots este sans*<br />

no contrato que a escritura definitive<br />

ihes aorta nuiorgada poIo. prOprieterio<br />

do imevel, cilia promessa lhes<br />

Lora wads pelos autores.<br />

Por ester motives, nAo conhajo do<br />

recurs).<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE n? 87.983 — SP — Rel.: Min.<br />

Cunha Peixoto. Rectes.: Isaac<br />

marchtein e sus mulher (Advs.: Antonioyaas<br />

•Bou Teixeira de Carve-<br />

11x Serino Marques da Cruz. Nelson<br />

Kojraisk ► e outro). Recdos.: Dag<br />

mar Gagliardi Vitale e outros<br />

(Advs.: Aquiles Rodrigues de Oliveira,<br />

Nelson7MM Real Amadeo e outro).<br />

•<br />

Actiltdo o julgamento por<br />

haver pedido vista o htinistro Soares<br />

sum, depots do vote do Relator<br />

qYe nao conhecia do recurso. Falou<br />

pelos Rectes. o Dr. Sergio Marques<br />

da Cruz.<br />

Presidencia do Sr. Ministry AnMnio<br />

Neder. Presentes A Sessao .os<br />

Srot. Mlnistros Xavier de Albuquera<br />

Rodrigues Alamin. Ctmha Peixoto<br />

e Soares Muhoz. 4? Suoprocurador-Geral<br />

da Repeblica.<br />

o Dr. Francisco de Assts Toledo.<br />

Brasilia, 14 de memo de 1978 —<br />

Antonio Caries de Azevedo Brags,<br />

Secretano.<br />

VOTO (VISTA)<br />

0 Sr. Ministro Soares Munoz: Tres<br />

sAO os fundamentos do recurso.<br />

R.T.J. — 94<br />

301<br />

O primeiro sustenta que o acerdilo<br />

recorrido negou view% aos arts. 1?<br />

do Decrety-lei n? 745 e 118, 117 e 145,<br />

V, do COdigo Civil, dando validade<br />

notifIcacAo corn o pram de 48 hens,<br />

quando aquele primeiro cbspositivo<br />

exlge o pram de 15 dies. Consider°,<br />

entretanto, rawly/el a interpretagilo<br />

quit° acerdlo recorrido deu Lasses<br />

dispositivos, conclUindo pela validade<br />

da notificacilo diante do fate de<br />

que entre o dta em que ela se reall-<br />

zou e a data reterente a cliacio<br />

dal decorreram mats do qt.% gift%<br />

dist Apilco no poet* a Maude 400.<br />

segundo fundament° do recurs()<br />

extraordinArio reside na faith de notificacAo<br />

da mulher do<br />

compromissArth-comprador, pormenor<br />

em que o acerdilo torts vulnerado<br />

os artigos 287 1. 2°<br />

caput, 303, Br. 384. II, III e IV e 384<br />

do COdigo de Process* Civil. Nenhum<br />

dosses clIspositivos &garde pertinencia<br />

com o fundament° invocady<br />

no acerdlio, segundo 0 qual a prat<br />

miner nAo tot apreciada Dorm% oracle<br />

tmicamente corn as nudes do<br />

apelado. Debcou de arrimar-se 0-re<br />

curse extraordlithrio nas disposicdes<br />

lents atbientes a apelacao, pots in-<br />

, dicou como vidnerados aqueles coni2ernentes<br />

A atividade do Juiz de primetro<br />

grau, antes de prolatada<br />

SPntenoa.<br />

a<br />

0 mesmo bcorrea corn os<br />

arestos apresentados. como paraclig-<br />

Mas, quo versaram a hips:nese de<br />

*MIR de Miestionamento na contestacAo<br />

e na Maria° a respeito<br />

aludida preliminar.<br />

da<br />

Quanto ao toroth.° fundament° do<br />

recurs*, ataca ele um dos argument%<br />

aduzidos no acerdilo, de que a in-<br />

.concernente a reconvencão<br />

nAo tem eficAcia de citacliO.<br />

concord* cont ease entendimento.<br />

Mow a doutrina de Pontes de Miranda<br />

de que o COdigo chamou de in-


342<br />

.<br />

timacao o que, ainda corn forma diferente,<br />

canal) 8 (Comentarios do<br />

05digo de Processo Civil de 1974, IV,<br />

p. 171). Todavia, o acardao,<br />

reportando-se a sentenca, contain<br />

outro argumento suficiente em si,<br />

nä° atacado no recurso extraordinãrio.<br />

Refiro-me ao aduzido a fls. 449:<br />

R.T.J. — 94<br />

0JA quanto a reconvengao, nada<br />

ha que modificar na sentenca recorrida.<br />

Se o objeto da reconvencat)<br />

6 o de compelir os autores a<br />

outorga da escritura de compra e<br />

venda, omitem-se os reconvintes,<br />

nao obstante, ern argair recusa dos<br />

autores no cumprimento da obrigacao<br />

reclamada. Como bem situa o<br />

MM. Juiz, nao ha evidancia de que<br />

os réus tenham instado os autores<br />

ao cumprimento das obrigacOes<br />

que reclama; e se o pagamento s6<br />

ocorreu quando ja proposta a Kilo,<br />

nao ha como se concluir que os autores<br />

tivessem recusado o cumprimento<br />

da obrigacao que lhes incumbia.»<br />

Ante o exposto, acompanho o eminente<br />

Ministro Cunha Peixoto, nao<br />

conhecendo do recurso extraordinario.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 87.963 — SP — Rel.: MM.<br />

Cunha Peixoto. Rectes.: Isaac<br />

Marchtein e sua mulher (Advs.: Antonio<br />

Vilas Boas Teixeira de Carvalho,Sérgio<br />

Marques da Cruz e Nelson<br />

Kojranski e outro). Recdos.: Dagmar<br />

Gagliardi Vitale e outros<br />

(Advs.: Aquiles Rodrigues de Oliveira,<br />

Nelson Fatte Real Amadeo e outro).<br />

Decisao: — Nao conhecido, unardme.<br />

PresidOncia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes a Sessão os<br />

Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Alckmin, Cunha Peixoto<br />

e Soares Munoz. 4?<br />

Subprocurador-Geral da Repfiblica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 6 de junho de 1978 —<br />

Tenho por manifests a incidnncia Antonio<br />

Secret-Arlo.<br />

Carlos de Azevedo Braga,<br />

da Sfunula 283.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 88.227 — SP<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0.Sr. Ministro Moreira Alves.<br />

Recorrente: Ministario Flablico Estadual — Recorrido: Dorival Ogne<br />

Loureiro.<br />

Cancelamento de protesto de titulo.<br />

Com o advento da Lei 6.268, de 24 de novembro de 1975, nao mats<br />

se admite o cancelamento do protesto de titulo pelo simples fato de o<br />

devedor haver efetuado o pagamento postertormente. Nessa hipotese,<br />

caber-lhe-a o dlreito de ver esse pagamento averbado a margem do<br />

registro de protesto, averbaglio essa que constara, obrigatoriamente,<br />

de qualquer certialo extraida desse registro, e que eliminarfi a ericacia<br />

deste em relacao ao credor, ressalvados direitos de coobrigados<br />

e terceiros, nos termos da Lei.<br />

Recurso extraordinitrio conhecido e provido.


ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segundo<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taqulgratieas,<br />

por unanimidade de votos, conhecer<br />

do recurso e dar-lhe provimento.<br />

Brasilia, 08 de junho de 1979. —<br />

Mad Fatah), Presidente — Moreira<br />

Alves, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. MIStar° Moreira Alves: 0<br />

ora recorrido requereu o cancelamemo<br />

de protest°, alegando:<br />

— 0 requerente era devedor<br />

das quantias de Cr; 146,65 e Cr$<br />

318,60 devidas As entidades comerdais<br />

Comercial e Importadora J.<br />

C. Morganti S/A e Confecctles Soulwat<br />

Ltda., por volta de 1967 e 1968,<br />

e nAo tendo condicties de salda-las,<br />

foram os titulos de credit° protestados,<br />

perante o 4? Cartario de<br />

Protestos da Capital, em 6-5-68 e<br />

29-5-67, livros 161-C e 219, fls. 857 e<br />

994, respectivamente.<br />

2 — Posterlormente, jA em condicOes<br />

de quite-las, procurou-as,<br />

mas Ludo em vao, e em vArtos locals,<br />

sendo certo que se dissolveram<br />

de fato, ou tornaram rumo Ignored°,<br />

obrigando-o a ingressar<br />

em mato de 1975, apes tentativas<br />

infrutiferas, corn uma AO° de<br />

Consignacao em Pagamento, matrlbufda<br />

A r. 18? Vara Civet da Ca-<br />

Oat, e uma vez etetuados os dep6sitos<br />

correspondentes a cada um<br />

dos titulos, obteve ganho de causa<br />

e sucesso em suas pretensaes.<br />

R.T.J. — 94<br />

303<br />

3 — Contudo, o simples depesito<br />

efetuado a favor das respectivas<br />

firmas comerciais e a r. decistlo<br />

favoravel com transit° em julgado,<br />

nAo e o bastante para que se opere<br />

o cancelamento dos titulos protestados,<br />

pots tots acontecimentos nao<br />

atendem aos requisitos do E. Provimento<br />

n? 1/74, exarado por V.<br />

Excia., notadamente pelo fato de<br />

nao ter ele em mAos os menclonados<br />

titulos de cradito, pelo que se<br />

vale da presente a tim de qUe o<br />

Douto Juno, examlnando o conte0do<br />

e alcance do que ora se pede, e<br />

dos documentos juntados, respeitosrunente<br />

ordene ao Sr. Escrivao do<br />

4? Canton° de Protestos da Capital<br />

que proceda aos cancelamentos<br />

dos aludidos protestos, como de direlto,<br />

no sentido de que, provad° 0<br />

pagamento dos menclonados<br />

los, possa o requerente, por mei°<br />

fiesta, reerguer-se moral e confercialmente,<br />

pots tats protestos<br />

impedem-no na consecticAo de novos<br />

créditos.<br />

4 — A vista do exposto, sollcita o<br />

total acolhimento do pedido ora<br />

formulado, ouvindo-se para tanto a<br />

Digna Curadorla, protestando provar<br />

o que alega por outros metros<br />

legals, se necessArio for (fls. 2-3).<br />

A sentenca de prImetro grau deferiu<br />

o pedido, e foi manticia pelo seguinte<br />

actordllo (fls. 54-55):<br />

«Acoroam, em Sexta Camara do<br />

Primeiro Tribunal de Alcada Civil,<br />

por votactio unanime, adotado o retotal°<br />

de f. 51, negar provimento<br />

ao recurso. E assim decidem porque<br />

t valid° e justo o cancelamento<br />

dos protestos, no caso vertente.<br />

Vieram eles de dues duplicates, nos<br />

Mos de 1968, estimulados por jalta<br />

de assinatura e pagamento. o credor<br />

nAo demandou a obrigaclto e<br />

quando it/ exaurida a exigibilidade<br />

cambial, o devedor promoveu a


304<br />

R.T.J. — 94<br />

consignacão judicial da divlda<br />

(1975) e obteve a quitacAo dos titulos.<br />

Dai o pedido de cancelamento<br />

dos protestos. Ao contrario do que<br />

sustenta o apelante, não ha veto da<br />

empreitada na lei <strong>federal</strong> if<br />

6.268/75; o fato desta disciplinar como<br />

anotar-se, a margem do registro<br />

do protesto, o pagamento dos<br />

tftulos, ntio impede que, na conformidade<br />

do Provimento n? 4/75 da<br />

Egregia Corregedoria Geral da<br />

Justica, se possa determinar o cancelamento<br />

do protesto. Prevaleceria<br />

a perspectiva do apelante se a<br />

lel, de expresso, impedisse o cancelamento;<br />

mas ela Mo contam<br />

preceito proibltivo e a orientacão<br />

da Corregedoria, sobre ser legItima,<br />

atende uma realidade social<br />

que reclama uma tutela cautelar<br />

obstativa de reflexos molestos a<br />

area negocial, in genere, pela distensAo<br />

abusiva de urn instituto que<br />

nAo foi criado para tanto. E no caso<br />

vertente, as ponderacfles da tese<br />

em que se apoia a recorrente e a<br />

D. Procuradoria, ficam esmaecidas<br />

e superadas porque os titulos,<br />

cujo protesto ja cancelado, ja estavam<br />

despidos de forca cambial e<br />

eram insuficientes, na forma e na<br />

substAncia, para atuar, eventualmente,<br />

em moderna falencia ou concordata<br />

do recorrido. Por isso, em<br />

slntese, o não provimento do recurso.»<br />

Interposto recurso extraordinario,<br />

foi ele admitido por este despacho<br />

(fls. 67-68):<br />

«Trata-se de cancelamento de<br />

protesto de duplicatas, deferido pelo<br />

MM. Jutz e a cuja r. decisAo foi<br />

confirmada pelo yen. acOrdAo de<br />

fls. 54-55.<br />

Inconformado, o Ministerio<br />

blIco do Estado de SAO Paulo interpas<br />

recurso extraordinario, com<br />

fundamento no artigo 119, III le-<br />

tras a e c da ConstituicAo Federal,<br />

alegando que o yen. acerdrio recorrido<br />

negou vigencia A Lei Federal<br />

n? 6.268 de 24-11-75 e julgou valid()<br />

Provimento local contestado em<br />

face da Lei Federal.<br />

0 recurso, regularmente processado,<br />

fol impugnado.<br />

Ressalte-se, de inIcio que a argumentacAo<br />

aduzida pelo ven. acerdAo<br />

recorrido permItiria concluir<br />

no sentido de que ele nAo negou vIgencla<br />

A Lei Federal if 6.268/75;<br />

tat) somente ]he deu interpretacAo<br />

razoavel.<br />

Entretanto, tambem se poderia<br />

concluir que «corn a edicAo dessa<br />

le1 passou a existir nova disciplina<br />

sobre a materia, suprindo a lacuna<br />

que vinha sendo preenchida pela<br />

<strong>jurisprudencia</strong>» (f. 35).<br />

Como quer que seja, conforme<br />

demonstra a Egregia Procuradoria-Geral<br />

da Justica, em 10cidas<br />

razOes, a magnitude da<br />

materia versada impfle seja ela<br />

submetida ao mats autorizado<br />

pronunciamento do Colendo Supremo<br />

Tribunal Federal.<br />

Por estes motivos, ressalvada a<br />

orientagAo pessoal do signatario<br />

deste despacho, determina-se o<br />

processamento do recurso.<br />

Ressalte-se, em remate, que a<br />

orientacAo aqui inculcada tem sldo<br />

seguida por esta Presidencia (RE<br />

na ApeIna') 220.485 S.P. despacho<br />

de 14-10-1976 e RE 225.148 — S.P.<br />

despacho de 25-11-76).»<br />

A fls. 86/87, assim se manifesta a<br />

Procuradoria-Geral da Republica,<br />

em parecer do Dr. Mauro Leite Soares:<br />

«0 Tribunal a quo, f. 54, confirmando<br />

a sentenca initial, declarou


a procedancia de pedido de cancelamento<br />

de protestos de duplicatas,<br />

ocorridos em 1968 e consignado 0<br />

pagamento em 1975, porque a lei<br />

<strong>federal</strong> 6.268/75, que permlte a<br />

simples anotacao da quitacAo<br />

margem do registro de protesto,<br />

nlio impede a aplicactio do Provimento<br />

n? 4/75 da Corregedoria da<br />

Justice Paulista que determina o<br />

preprio cancelamento.<br />

Dal o recurso extraordinario do<br />

Ministerlo PUblico local apoiado<br />

nas letras a e c alegando contrariedade<br />

ao art. 8?, XVII, 0 fink°, da<br />

Constituicão Federal e ne gativa da<br />

lei <strong>federal</strong> n? 6.268/75, alem de Julgar<br />

valid° Provimento local contestado<br />

em face da lel <strong>federal</strong>.<br />

Somos pelo conhecimento do recurso.<br />

A peticão recursal e mats as<br />

brlhantes razdes de f. 70 subscritas<br />

pelo Procurador da Justica Hermes<br />

Plnotti bem demonstram a<br />

procalancia do recurso.<br />

Reportando-nos as mesmas, somos<br />

pelo provlmento do recurso<br />

extraordinario a Bin de reformada<br />

a decisão a quo, decretada ser a<br />

inconatitUclonalidade do Provimento<br />

n1 4/75 da Corregedoria-Geral<br />

da JustIca do Estado de Slio Paulo.»<br />

E o relatorio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Morelra Alves (Relator):<br />

Coriheco do memo e The dou<br />

provlmento, para indeferir o pedido<br />

de cancelamento de protesto.<br />

A 27-4-79, esta Segunda Turma, ao<br />

julgar o RE 90.751, de que fa relator,<br />

decldiu, por unanimidade de votos,<br />

que:<br />

«Com o advento da Lel 6.268, de<br />

24 de novembro de 1975, nao mats<br />

se admite o cancelamento do protesto<br />

de titulo pelo simples Pato de<br />

R.T.J. — 04 305<br />

o devedor haver efetuado o pagamento<br />

posteriormente. Nessa hipotese,<br />

caber-lhe-a o direito de ver<br />

esse pagamento averbado a margem<br />

do registro de protesto, averback*<br />

essa que constara, obrlgatoriamente,<br />

de qualquer certldao ex-<br />

traida desse registro, e que eliminarit<br />

a eficacia deste em relacAo<br />

ao credor, ressalvados direitos de<br />

coobrigados e terceiros, nos termos<br />

da la<br />

Recurso extraordlnarlo conhecldo<br />

e provido.»<br />

Trata-se, no caso, de hipOtese analoga,<br />

tendo, pots, lntelra aplicactio 0<br />

referido precedente, no qual se examinou,<br />

longamente, a questa°.<br />

Observo, flnalmente, que, ao contain°<br />

doque pareceu a Procuradoria-Geral<br />

da Republica,<br />

nAo ha que se declarer a inconstitucionalidade<br />

do Provimento 4/75 da<br />

Corregedoria-Geral da Justice do<br />

Estado de SAo Paulo, porquanto,<br />

sendo ele de 14 de malo de 1975, e<br />

anterior a Lei Federal 6.268, de 24 de<br />

novembro de 1975.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RECr 88.227 — SP — Rel.: Min.<br />

Morelra Alves. Recte.: Ministerio<br />

Fablico Estadual. Recdo.: Dorival<br />

Ogne Loureiro (Advs.: Dalub SalomAo<br />

Jorge e outros).<br />

DeasIto: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Min. Relator.<br />

Unanime.<br />

Presidancia do Sr. Ministro Djaci<br />

FaIca°. — Presentes a SessAo os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra, Morelra<br />

Alves e Decio Miranda. Ausente, justificadamente,<br />

Ministro LeitAo de<br />

Abreu. 5? Subprocurador-Geral da<br />

Republica, o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 8 de junho de 1979. —<br />

Hello Francisco Marques, Secreta-


906<br />

ro S/A.<br />

R.T.J. — 94<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 86.909 — RS<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Djaci FalcAo.<br />

Recorrente: Estado do Rio Grande do Sul — Recorrido: Banco Sul Brasilei-<br />

Fazenda Mika. Duplo grau de jurtsdicAo. NAo o enseja o sishples<br />

despacho interlocuthrio proferido pelo Julz em Incidente de pagement°<br />

de impost° de transmisstio devido a Fazenda, em actio de<br />

execucAo thpotecttria entre partes• Arts. n?s 162, f 1? e 475 do C601.0<br />

de Processo Civil. RazoAvel inteligancia do dlreito positivo, Dissidlo<br />

jurisprudential comprovado, nos termos da Stunula 291. Recurso<br />

extraordinttrio nAo conheckio.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julg,amento e das notes taquigrAfi,<br />

cas, por unanimidade de votos, nAo<br />

conhecer do recurs°.<br />

Brasilia, 22 de Arnim de 1979. —<br />

Djaci Falc/to, Presidente e Relator.<br />

RELATORIO<br />

O Sr. Ministro Djad FalcAo: A decisAo<br />

recorrida traz o seguinte teor:<br />

«Relaterio: Trata-se de execucAo<br />

hipotecaria que Banco Sul Brasileiro<br />

S/A move contra Construtora e<br />

Pedreira Ltda.<br />

Aconteceu que o exethiente arrematou<br />

um imOvel por Cr;<br />

360.000,00 (f. 170). Esse im6vel fora<br />

availed° judicialmente, no curso<br />

da execucAo, em cinco milbOes setecentos<br />

e quarenta e sete mil e<br />

quatrocentos cruzeiros (Cr;<br />

5.747.400,00). (f. 54).<br />

Devendo ser expedida carte de<br />

arrematactio, que deveria ser precedida<br />

do pagamento do impost°<br />

de transmissAo, o autor pediu a remessa<br />

dos autos A Exatoria Estedual,<br />

para que se procedesse A<br />

avaliacAo do inthvel. (f. 186). 0 representante<br />

da Fazenda informou<br />

que, de acordo com o cadastro da<br />

Coordenadoria-Geral da ArrecadacAo,<br />

o valor do prédio 6 de Cr;<br />

2.952.000,00• Todavia consignou<br />

que, face ao que clisp6e o art. 7?,<br />

Inds° II, da L. E. na 5.384, de 27 de<br />

dezembro de 1966, o imposto de<br />

transmissão deverA ser recolhldo<br />

sobre o valor da avallacAo judicial,<br />

ou seja, sobre Cr; 5.747.400,00. (f.<br />

187).<br />

0 Banco prontamente peticionou<br />

invocando o art. 38 do C6digo Trtbuterio<br />

Nacional e insistindo em<br />

que o valor, para efeito tributerio,<br />

s6 poderia ser o de Cr; 2.952.000,00,<br />

que 6 o valor venal do inthvel (f.<br />

189).<br />

O magistrado decidlu que o valor<br />

a considerar deveria ser o de Cr;<br />

2.952.000,00. (f. 189).<br />

Lavrado o calculo, o representante<br />

da Fazenda impugnou-o com<br />

arrimo no art. 7?, inc. II, da L. E.<br />

n? 5.384, de 27.12.66 (f. 193). 0 magistrado<br />

manteve a decisão anterior<br />

(f. 195v). Cientificado em 3 de<br />

junho de 1976 (f. 195v.), a 30 de junho<br />

o Estado do Rio Grande do Sul<br />

interpOs recurs° de apelacão, que o<br />

juiz recebeu no duplo efeito. (fls.<br />

197 e 203).<br />

0 apelante argumenta que, no<br />

que the diz respeito, a apelactlo 6 o<br />

recurso adequado, porque a sentenca<br />

t definitive no que tange ao<br />

merit° de sua pretensAo — cobrar


o imposto corn aliquota incidente<br />

sobre a avaliacno judicial — e e<br />

terminativa no que tange ao incidente<br />

processual em que se constitut<br />

o debate sobre o valor do imOvel.<br />

Sustenta que, se nno houve recurso<br />

nem impugnacao da avaliacAo<br />

judicial, e seu valor figurou<br />

nos prOprios editals de praca, tal<br />

valor deve servir de base de eatenlo<br />

para incidencia do imposto de<br />

transmissao. Invoca o Inciso II, do<br />

art. 7?, da citada L. E. no 5.384/66,<br />

destacando que ela não conflita,<br />

antes se harmoniza, corn o art. 38<br />

do agligo Tributirrio Nacional. ( fls.<br />

197-202). 0 Banco Sul Brasileiro<br />

S/A, em contra-razOes, argil a inadequacao<br />

e a intempestividade do<br />

recurso; apropriado ao caso seria o<br />

agravo de instrumento, mas tanto<br />

este como o de apelacito so poderlam<br />

atacar a decisão de 1. 189, da<br />

qual a Fazenda teve ciencia, na<br />

meihor das hlpOteses, a 3 de maio,<br />

e o apelo so foi apresentado a 30 de<br />

junho; no que diz com o mtrito da<br />

controversia sustenta que o valor<br />

venal do lin(wet a Cr$ 2.952.000,00<br />

e, em conseqUencia, sobre ele deverfr<br />

inctdir o imposto, consoante<br />

determina o art. 38 do COdigo Trlbutario<br />

Nacional. (fls. 206-209).<br />

0 parecer do representante da<br />

Procuradoria-Geral da Justica e<br />

pelo provimento da apelactio.<br />

o relatOrio.<br />

A douta revisno.<br />

Porto Alegre, 9 de dezembro de<br />

1976 — Tun Medina Martins, Relator.»<br />

(fls. 217 a 218).<br />

((Apelain. Não se conhece se o<br />

recurso, al6m de nno ser o adequado,<br />

ainda 6 intempestivo.<br />

AminIto Civel n? 26.714.<br />

1! Camara Civel Porto Alegre.<br />

Estado do Rio Grande do SW —<br />

Apelante: Banco Sul Brasileiro<br />

S/A., Apelado. Construtora e Pedreira<br />

Ltda. (executada).<br />

R.T.J. — 94 307<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos os<br />

autos.<br />

Acordam, unanimemente, em<br />

Primeira Camara Civel do Tribunal<br />

de Justica do Estado, Integrados<br />

neste o relathrio retro e as notas<br />

taquigraficas anexas, em não<br />

conhecer da apelacno.<br />

Custas na forma da lei.<br />

Participou do julgamento, al6m<br />

dos signatarios, o Exmo. Sr. Des.<br />

Cristiano Graeff Jr.<br />

Porto Alegre, 14 de dezembro de<br />

1976. — Des. Oscar Gomes Nunes,<br />

Presidente — Dr. Tulle Medina<br />

Martins, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Dr. Tullo Medina Martins (Relator):<br />

(Leu o relatOrio de ns).<br />

VOTO<br />

0 Dr. Tullo Medina Martins (Relator):<br />

Sr. Presidente. 0 COdigo de<br />

Processo Civil diz o seguinte: «Art.<br />

513. Da sentenca caberir apelacão<br />

(artigos 267 e 269)». 0 dispositivo<br />

faz expressa remissao aos arts. 267<br />

e 269, do mesmo COdigo, deixando<br />

clam que sentenca e a declsão proferida<br />

numa das hipOteses enumeradas<br />

nos vitrios inclsos destes artigos.<br />

0 mesmo COdigo ainda diz:<br />

«Art. 162. Os atos do juiz consistirão<br />

em sentencas, decisbes interlocuterias<br />

e despachos.. 1? Sentenca<br />

6 o ato pelo qual o juiz pae termo<br />

ao processo, dectdindo ou nao o<br />

m6rito da causa». Ora, nem a decisiio<br />

de f. 189, nem a decisão de f.<br />

195v. puseram termo ao processo<br />

dectdindo o m6rito da causa. 0<br />

Juiz decidiu questno incidente entre<br />

o autor da execucão e o Estado,<br />

que nem sequer 6 parte na causa.<br />

Trata-se de tipica decisno interlocutOrta,<br />

tal como a define o 4 2? do<br />

art. 162 do COdigo de Processo Civil.


308<br />

R.T.J. — 94<br />

Tenho que recorrivel era o despacho<br />

de f. 189, que resolveu a<br />

questa() relativa acerca de saber<br />

sobre que valor deveria incidir o<br />

tributo. 0 Estado teve ciência deste<br />

despacho, na melhor das hip6teses,<br />

a 3 de maio de 1976, data da<br />

impugnacAo de f. 193. 0 recurso<br />

de apelacAo foi interposto a 30 de<br />

junho, portanto, completamente a<br />

destempo.<br />

Admitindo, para argumentar,<br />

que recorrivel fosse o despacho de<br />

f. 195, ainda assim o apelo seria<br />

intempestivo. 0 Estado teve dencia<br />

dessa decisAo a 3 de junho de<br />

1976, como se v6 a f. 195v. 0 recurso<br />

s6 foi apresentado a 30 de junho.<br />

Mesmo que se admitisse que continue<br />

a vigorar o principio da fungibilidade<br />

das interposigOes recursais<br />

a apelacAo s6 poderia ser acolhida<br />

como agravo de instrumento<br />

se interposta no prazo deste. No<br />

caso, mesmo computado em dobro<br />

(art. 188 do CPC) o Ultimo dia para<br />

agravar era 14 de junho.<br />

Sob a vigéncia do CPC de 1939,<br />

entendia-se que nAo se dava preclusao<br />

contra a Fazenda PUblica porque,<br />

no que pertine A Fazenda Ptblica,<br />

nAo poderia ela ser condenada<br />

pelo juizo de primeiro grau, por<br />

si s6. Todavia, tenho que hoje a situagAo<br />

6 outra porque o CPC, no<br />

seu art. 162, 1?, define o que seja<br />

sentenca e o art. 475 do mesmo C6digo<br />

mandou submeter a reexame<br />

sentencas proferidas contra a<br />

UniAo, o Estado e o Municipio.<br />

Ora, este reexame 6 urn privilégio<br />

da Fazenda Pithlica. Assim ja era<br />

o recurso de officio entendido como<br />

privilegio. Lembro-me do magist6rio<br />

de Pedro Batista Martins nos<br />

seus Comentarios ao C.RC.. Sendo<br />

privil6gio, deve ser interpretado<br />

restritivamente. NAo a possivel<br />

que o legislador que definiu sentenca<br />

no art. 162, ignore o conceito de<br />

sentenca no art. 475.<br />

Por estas raz6es, nao conhego do<br />

recurso.<br />

0 Sr. Presidente (Des. Oscar Gomes<br />

Nunes) — Acompanho o voto<br />

de V. Exa.<br />

0 Des. Cristiana Graeff Jr. —<br />

De acordo.» (fls. n? 220 a 222).<br />

Irresignado, o Estado do Rio Grande<br />

do Sul interp6s recurso extraordinArio<br />

com base nas tetras a e d do<br />

inciso III, do art. 119, da C. Federal,<br />

alegando que o aresto negou apneacAo<br />

nos arts. 475, II e 473 do CPC,<br />

entrando em dissonAncia corn a Stmula<br />

423 e acOrdAos que cita pela<br />

ementa (fls. 225 a 233).<br />

Inadmitido pelo despacho de fls.<br />

247 a 249, veto, no entanto, a ser processado<br />

em virtude de provimento<br />

do agravo 71.758 (processo em apenso).<br />

Apresentadas as razoes de fls.<br />

268 a 287, o processo subiu a esta<br />

Corte, onde recebeu o segulnte parecer:<br />

«1. 0 Tribunal a quo, t 220, nos<br />

autos de acAo de execucAo hipotecaria<br />

movida pelo Banco recorrido<br />

contra empresa particular, ilk) conheceu<br />

do recurso de apelacAo interposta<br />

pela Fazenda gaticha contra<br />

decisão interlocuthria proferida<br />

pelo Juiz e ref erente ao pagamento<br />

do imposto de transmissão porque,<br />

al6m de inadequado, intempestivo<br />

era o recurso, ao lado de nAo se<br />

tratar, no caso, da obrigatoriedade<br />

do duplo grau de jurisdicAo em relagão<br />

as causas da Fazenda PUblica,<br />

Porque esta lido era parte na<br />

agAo, nos termos dos arts. 162,<br />

1? e 475 do C6digo de Processo Civil.<br />

Dai o recurso extraordinario<br />

do Estado apoiado nas letras a e d<br />

alegando negativa dos artigos 473 e<br />

475 do C6digo Processual Civil e<br />

dissidio com a Stunula 423.<br />

Somos pelo nAo conhecimento<br />

do recurso.


Impugn o recorrente a parte<br />

do acerdAo que declarou nAo cornportar<br />

a (Imola° interlocuteria em<br />

questa() o duplo grau de jurisdicAo.<br />

Parece-nos que não The, asslste razes),<br />

a exemplo dos fundamentos do<br />

acOrdAo recorrido, do despacho<br />

inadmissivo de f. 247, e do parecer<br />

do Ministerio POblico local, f. 284,<br />

aos quals nos permitimos remiss:1o,<br />

porque, realmente, ao lado da<br />

Fazenda ter ingressado na causa<br />

incidentalmente para haver o impost°<br />

de transmissAo do im6vel,<br />

este, o impost°, nAo lhe foi negado,<br />

mas apenas nAo the foi deferido<br />

nas bases ou criterios pretendidos<br />

por ela, Fazenda. QuestAo de simples<br />

cAlculo ou homologacão de<br />

conta que nAo ensej a a remessa de<br />

oficio para a instAncia superior.<br />

Se conhecido, somos pelo nAo<br />

provimento do recurso extraordinArio.<br />

Brasilia, 23 de mato de 1979. —<br />

Mauro Leite Soares, 5?<br />

Subprocurador-Geral da ReptIblica.»<br />

(fls. 296 a 297).<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Mad Falai) (Relator):<br />

0 acerdAo recorrido nAo conheceu<br />

do recurso de apelacAo interposto<br />

pela Fazenda Estadual por entender<br />

que a decisAo referente ao pagamento<br />

do impost° de transmissAo,<br />

em virtude de arrematacAo de bem<br />

levado A prayer, tern caritter interlocutetrio,<br />

ensejando agravo de instrumento<br />

(4 2? do art. 162 e art. 522 do<br />

CPC); bem assim, ainda que coubesse<br />

apelacAo, o recurso era intempestivo,<br />

porquanto o Estado teve ciencia<br />

da decislio a 03.06.76 e somente recorreu<br />

a 30.06.76. Acrescentou ainda<br />

que nAo era caso da obrigatoriedade<br />

do duplo grau de jurisdicello, uma vez<br />

que a Fazenda POblica nAo era parte<br />

na actio (artigo 162, 4 1? e 475 do<br />

CPC)<br />

R.T.J. — 94 309<br />

Quanto A alegada vulneractio do<br />

art. 475, II, da lei adjetiva civil, não<br />

merece acolhida tendo em vista o<br />

carAter excepcional do recurso de<br />

oficio, a merecer interpretacAo<br />

strictu sensu. Ora, na especie a Fazenda<br />

nAo figurou como parte.<br />

Conforme ponderou, em caso semelhante<br />

(impost° de transmissAo<br />

Cat= mortis), o saudoso Ministro<br />

Rodrigues Alckinin:<br />

«0 recurso de oficio e um recurso<br />

excepcional, portanto de direito<br />

estrito. NAo comporta ampliactlo,<br />

Wilda que se entenda que, pelo<br />

principlo do duplo exame das questees<br />

em que a Fazenda 6 vencida,<br />

houvesse conveniencia de estendelo<br />

a certas decisees nAo abrangidas<br />

pela apelacAo. E claro que, em<br />

leis especiais, como no caso do<br />

Dec.-lei 960, se prevt recurso de<br />

oficio de decisties que seriam agravAvels<br />

de peticAo. Mas, no caso de<br />

cAlculo, a lei não dA recurso de<br />

oficio se a Fazenda for vencida ern<br />

qualquer pretensAo sua no inventArio.<br />

Cabe A Fazenda interpor recurso<br />

de agravo de instrumento. Se<br />

nAo o fez, nAo poderA faze-lo, o<br />

Julz, de oficio, porque nAo tem autorizacilo<br />

legal.» (RE 69.981, In<br />

RTJ 75/750).<br />

Tenho para mim que houve, pelo<br />

menos, uma razoAvel interpretacAo<br />

do direito positivo (arts. 162, 475 e<br />

522 do CPC).<br />

Por outro lado, não vinga a argelcão<br />

de implicita negativa de Agenda<br />

ao art. 473 do CPC, referente A<br />

preclusividade das decisees Judidais,<br />

materia into discutida no acOrdAo.<br />

Sem prestimo, por igual, a'<br />

cão da Samula 423, A vista das considerac6es<br />

antes aduzidas quanto ao<br />

descabimento da obrigatoriedade do<br />

duplo grau de jurisdicAo.<br />

Finalmente, os trechos de ado.dllos<br />

trazidos a confronto, que lei°<br />

(fls. 270 a 275), nAo demonstram a


310<br />

existencia de circunstancias que<br />

identifiquem ou assemelhem os casos<br />

confrontados (Stunula 291).<br />

Por todo o exposto, preliminarmente,<br />

nAo conheco do recurso.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 88.909 — RS — Rel.: Min. Djaci<br />

Recte.: Estado do Rio Grande<br />

do Sul (Adv.: Jacques TAvora Alfonsin).<br />

Recdo.: Banco Sul Bras!leiro<br />

R.T.J. — 94<br />

S/A. (Adv.: Carlos M. Fonyat Filho e<br />

outro).<br />

DeclsAo: NAo conhecido, unanime.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

— Presentes A SessAo os Srs.<br />

Ministros LeitAo de Abreu, Cordeiro<br />

Guerra, Moreira Alves e Decio Miranda.<br />

5? Subprocurador-Geral da<br />

Repftblica, o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 22 de Junho de 1979. —<br />

Hello Francisco Marques, SecretArio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARION? 89.138 — SP<br />

(nimeira llama)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cunha Peixoto.<br />

Recorrente: Pirelli S.A. — Companhia Industrial Braslleira — Recorrido:<br />

Estado de São Paulo.<br />

RepeticAo de indabito.<br />

CorrecAo monetAria concedida a partir do depbsito.<br />

Recurso conhecido e provido.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Frimeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na cortformidade da ata de<br />

Julgamentos e das notas taquigrAficas,<br />

por unanimidade, de votos, em<br />

conhecer e prover o recurso<br />

Brasilia, 13 de junho de 1978. —<br />

Antonio Neder, Presidente — Cunha<br />

Peixoto, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Cunha Peixoto:<br />

Trata-se de aceo ordinAria, movida<br />

por Pirelli S.A. — Companhia Industrial<br />

Braslleira —, contra a Fazenda<br />

Pithlice do Estado de SAo Paulo, Para<br />

haver correcão monetAria, cuja<br />

aela fol °militia na anterior acAo<br />

dery epeticão de indebito entre os<br />

mesmos litigantes.<br />

egregio Tribunal de Alcada do<br />

Estado de SAo Paulo acolheu a pretensAo,<br />

em parte, e concedeu a correek,<br />

a partir da citacAo.<br />

Dai o extraordinArio, com fundamento<br />

nas Tetras a e d, do n? III, do<br />

art. 119 da ConstituicAo Federal,<br />

apontando como vlolado o art. 108,<br />

do COdigo TributArio Nacional e<br />

dissidio corn a <strong>jurisprudencia</strong> deste<br />

colendo Supremo Tribunal Federal<br />

A Procuradoria-Geral da RepUblica<br />

manifesta-se pelo conhecimento e<br />

provimento do recurso.<br />

o relatOrio. VOTO<br />

O Sr. Ministro Cunha Peixoto (Relator):<br />

JA A pacifica e reiterada a<br />

jurispruciencia deste colendo Supremo<br />

Tribunal Federal no sentido de<br />

se admitir a correcAo monetAria do<br />

tributo indevidamente recolhido,<br />

quando a legislacão estadual preve


essa °wreck monetarla do depOsito<br />

em caso de devolucao decorrente da<br />

procedancia do recurs°, correclio<br />

te as contar da epoca do depOsito. es-<br />

E &to poderla ser de manelra diverse,<br />

porque, no dep6sito, o Estado<br />

se beneficiou com a Importancla depositada<br />

desde o moment° que a reabet<br />

e, conseantemente, dessa<br />

data ter& de sex calculada a coma°<br />

monearia.<br />

Pelos motives expostos e os precedentes<br />

invocados dente Colendo Tribunal<br />

Federal, conheco do recurso e<br />

the dou provimento.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 89.138-SP — Rel.: Min. Cunha<br />

Peixoto. Recte.: Pirelli S.A. — Com-<br />

R.T.J. — 94 311<br />

panhia Industrial Brasileira (Adv.:<br />

Pedro Gordllho). Recdo.: Estado de<br />

Sao Paulo (Adv.: Jorge A. de Macedo<br />

Vieira).<br />

Decisao: Conhecido e provido, unit-<br />

Presiancia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes a Sessao os<br />

Srs. Ministro Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Alckm1n, Cunha Peirote<br />

e Soares Mufloz. 4? Subprocurador-Geral<br />

da Repttblica, o Dr. Francisco<br />

de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 13 de Junho de 1978. —<br />

Antonio Carlos de Asevedo Braga,<br />

Secret/trio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 89.314 — PR<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cunha Peixoto.<br />

Recorrentes: Nelso Attillo Ublall e outros — Recorrido: Estado do Parana.<br />

Servidor Estabilidade excepcional, p<strong>revista</strong> no art. 177, I<br />

2! da Constittdcilo de 1967. A norma aproveita ao servo/dor que, a data<br />

da promulgacilo da Constituicao, exercia regularntente funclio pilblica<br />

ha mats de.clnco anos.<br />

Recurso cOnbecido e provido.<br />

ACORDA0<br />

Vlstos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primere<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da data do<br />

JulgAunento e des notes taquignificu,<br />

por tmanimidade de votos, em<br />

conhecer e prover o recurso.<br />

Brasilia, 13 de Junho de 1978 —<br />

Antonio Neder, Presidente — Cunha<br />

Peixoto, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Cunha Peixoto: Neiso<br />

AMU° Ublall e outros aluizaram<br />

acao ordhuiria contra o Estado do<br />

Parana, obJetivando sum estabilidade<br />

com base no 2? do art. 177 da Constituicilo<br />

Federal. Alegam ser prolessores<br />

do antigo gran medic) — ginssic<br />

e coleglo —, hole 1? e 2? gratis, do<br />

Estado do Parana, e que, em 24 de<br />

Janeiro de 1967, Unlic.:n mats de ctn.co<br />

anos de servico<br />

Defende-se o Estado do Parana.<br />

Ntio nega terem os autores mats de<br />

cInco anos de servico pOblico em 24<br />

de Janeiro de 1967, mas pondera nao<br />

lies ser aplictiVel o 3 2?, do art. 177<br />

da Constituicao, por serem professores<br />

suplementarlstai.


312 R.T.J. — 94<br />

A sentence de primeiro grau julgou<br />

procedente a ace°, mas o Egreglo<br />

Tribunal de Justice do Estado do<br />

Parana reformou essa decisAo sob o<br />

fundamento de que «e pressuposto<br />

impresclndivel da estabilidade a<br />

existencia do cargo e as aulas suplementares<br />

não constituem cargos e<br />

sac) de cunho eventual ou esporadigo)).<br />

Irresignados, os autores interpuseram<br />

recurso extraordinario corn<br />

fundamento nas tetras a e d, do n?<br />

III, do art. 119 da ConstituicAo Federal,<br />

apontando como vlolado o § 2?,<br />

do art. 177 da ConstituicAo e dissidio<br />

<strong>jurisprudencia</strong>l.<br />

A Procuradoria-Geral da Republica<br />

manifesta-se pelo nAo conhecimento<br />

do recurso.<br />

o related°. VOTO<br />

0 Senhor Ministro Cunha Pe1xoto<br />

(Relator): 1 — o § 2?, do art. 177 da<br />

ConstituteOa de 1967, abrange, sem<br />

clavicle, todos os servidores do Estado<br />

que, por ocasiAo de sua promulgacAo,<br />

tinham mais de cinco anos de<br />

exercicio.<br />

De fato, estabelece este inciso:<br />

«SA° estaveis os atuais servidores<br />

da Utak), dos Estados e dos<br />

Municiplos, da administracAo cenitralizada<br />

ou autarquia, que, a data<br />

da promulgacAo desta ConstituicOo,<br />

contem, pelo menos, cinco<br />

anos de service pablico.»<br />

Como se verifica, o preceito 6 generico<br />

e abrange, sem clavicle, a<br />

quantos na qualidade de servidores,<br />

hajamprestado servico pablico.<br />

No RE n? 67.377, julgado Pleno,<br />

eminente Ministro Thompson Flores<br />

teve oportunidade de sustentar:<br />

«Entendo que o art. 177, § 2?,<br />

cobre amplamente a todos os servidores,<br />

corn maior extensao, a<br />

meu ver, do que o fez a Constituicao<br />

de 1946, atraves do art. 23, do<br />

Ato das DisposicOes Constitucionais<br />

Transiterias e legislacOes que<br />

se the seguiu.<br />

De resto, assim ja considerou o<br />

Parecer n? H 529, da Consultoria<br />

Geral da RepOblica, de 27.6.67, aprovado<br />

pelo Sr. Presidente da Re-<br />

(RTJ. 53/548).<br />

Na mesma ocasiAo, manifestou-se<br />

0 eminente Ministro Djaci FalcAo:<br />

«A meu entender, o precelto<br />

abrange a quantos na qualidade de<br />

servidores haj am prestado servico<br />

Irrecusavelmente, a expressão<br />

generica — «servidores),<br />

— abrange nAo se os funcionarlos<br />

pablicos propriamente ditos, ou seja<br />

em sentido estrito, mas também<br />

aqueles que prestam servicos a<br />

Administracdo, sob o regime da<br />

ConsolidacAo das Leis do Trabalho))<br />

(Rev. e vol. cats., p. 550).<br />

Por sua vez, o Ministro Eloy da<br />

Rocha, no RE n? 67.763, firmou o<br />

mesmo principio:<br />

«A distincAo entre estabilidade,<br />

p<strong>revista</strong> na ConstituicAo, para os<br />

funcionarios pablicos, e a regulada<br />

na C.L.T., nao encontra amparo no<br />

art. 177, § 2?, que nä° contêm nenhuma<br />

ressalva. Quando quis festringir<br />

a garantia, a Constituted() o<br />

fez expressamente. No mesmo<br />

Tttulo das DisposlcOes Gerais e<br />

Transiterias, o art. 178 assegurou<br />

ao ex-combatente, que tenha participado<br />

efetivamente de operacOes<br />

belicas na Segunda Guerra Mundial,<br />

entre outros direitos, o de «estabilidade,<br />

se funcionario pablico»<br />

(RTJ. 56/722)..<br />

E no RE n? 85.647, julgado em 11<br />

de maio de 1967, o Pleno tornou a<br />

reafirmar estes principios:<br />

«Evidentemente a prestacdo de<br />

servico de natureza eventual, durante<br />

longos anos, corn subordinacAo<br />

hierarquica, sujeito o empregado<br />

a horario e remuneracâo, ha<br />

- de se concluir pela existOncia de<br />

vinculo empregaticio.<br />

A estabilidade de que trata o art.<br />

177, § 2? da Constituicão de 1967 incide<br />

sobre os servidores pablicos<br />

regidos pela CLT.,)


Ora, este provado nos autos, e o<br />

Estado e o acardeo nä° negam, que<br />

os recorrentes, quando da promulgaclio<br />

da Constituicao de 1967, le prestavam<br />

servicos ao Estado do Parana<br />

por multo mats de cinco anos. Portanto<br />

faziam Jus aos beneficios concedidos<br />

pelo if 2? do art. 177.<br />

Por estes motivos, conheco do recurso<br />

e the dou provimento, para<br />

restabelecer a sentence de primeiro<br />

grau.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 89314 — PR — Rel.: MM.<br />

Cunha Peixoto. Rectes.: Nelso ARM°<br />

Ibla11 e outros (Advs. Adonis Galileu<br />

R.T.J. — 94 313<br />

dos Santos e Raul Schwinden Junior<br />

e outro). Recdo.: Estado do Parana<br />

(Advs. Rubens de Barros Brisola e<br />

outros).<br />

Decisao — Conbecido e provldo,<br />

nos termos do voto do Ministro Relator,<br />

unanime.<br />

Presidencla do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes A sessão os Srs.<br />

Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Rodrigues Alckmin, Cunha Peixoto e<br />

Soares Mufloz. 4? Subprocurador-<br />

Geral da Repablica, o Dr. Francisco<br />

de Assts Toledo.<br />

Brasilia, 13 de Junho de 1979.<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretario.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 89.416 — SC<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Djaci FaIcao.<br />

Recorrente: Prefeitura Municipal de Florian°polls — Recorridos: Ade°<br />

Tabajara N. Galiberno e outros.<br />

Mandado de Seguranca. Prel'miner de nulidade do acerdio recorrido,<br />

a fundamento (le que a autoridade coatora nib fora lntImada da<br />

sentence. Sua imp rocedencia. Imposto sabre servicos. Corretor de<br />

imevel. Begalidade da sua Incidencla na base de 2%, sabre as comasgees<br />

auteridas pelo corretor. Intellencla do * 1? do art. 9? do Dec.-Ie1<br />

406/68. Precedente do S.T.F.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigraficas,<br />

por unanimidade de votos, não<br />

conhecer do recurso.<br />

Brasilia, 03 de agosto de 1979.<br />

Djaci Feick*, Presidente e Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Died Falcgo: Ao<br />

despachar o recurso extraordthario<br />

interposto pela Prefeitura Municipal<br />

de FlorlanOpolis (Wise o ilustre Des.<br />

Ary Pereira Oliveira:<br />

«0 recurso 6 interposto com fundamento<br />

no art. 119, III, letra a, da<br />

Constitulcao Federal.<br />

2. A v. decisao recorrida<br />

consubstancia-se no seguinte lance:<br />

«a pretensào da Prefeitura Municipal<br />

de cobrar dos corretores de.<br />

imOveis o I.S.S., calculado pela<br />

aliquota fixa de 2% sobre a renda<br />

bruta colhida nas transacOes imobiliarias,<br />

e «que represente, em Ultima<br />

manse, a remuneracith do<br />

prOprio trabalho dos corretores,<br />

por representar incidancia sobre<br />

fato gerador que da ensejo ao impost°<br />

de renda, auferido pela<br />

consubstancia flagrante violaetio<br />

ao que, a respeito dispOe o la<br />

referido g 1? do art. 9? do Dec.-lei


314<br />

R.T.J. — 94<br />

406/68, e art. 268, da Let 1.054, de<br />

30 de dezembro de 1971, que alterou<br />

as disposiceres do C6digo TributArio<br />

de Florianópolis » como bem<br />

salientou, com muita propriedade,<br />

a douta Procuradoritr-Geral do Estado<br />

em seu parecer a 1. 117 dos<br />

autos. A pesSoa fisica que exerce<br />

uma atividade profissional la tern<br />

os seus rendimentos tributados pela<br />

UniAo, isto 6, pelo Imposto de<br />

Benda, nao podendo, sobre esse<br />

mesmo fato, incidir o impost() sobre<br />

servicos. Admitir-se a legalidade<br />

de tai ato seria admitir-se dots<br />

trlbutos,•urn <strong>federal</strong> e outro municipal,<br />

sobre o mesmo fato gerador,<br />

o que 6 inviavel.» (fls.125-126).<br />

3. Alega a recorrente negactio de<br />

vigéncia dos seguintes dispositivos:<br />

artigos 234, 239 e 247 do CPC<br />

— não se efetivara a intimactio da<br />

sentenca, pots «os Wick's que capearam<br />

a decistio foram recebidos<br />

por Djalma Cunha», «terceira pessoa»<br />

(fls. 134 e 135), delxando de<br />

ser entregues aos impetrados e A<br />

Prefeitura Municipal. NAo houvera<br />

publicacilo da sentenca no Mario<br />

da Justice, nem intimaeAo através<br />

de AR;<br />

artigos 506, II e 513 do CPC —<br />

corn relaello ao prazo para o recurso,<br />

o qual decorre da intimacão<br />

das partes, quando a sentenca nLio<br />

for proferida em audiéncia.<br />

artigo 11 da Lei 1.533, de 31 de<br />

dezembro de 1957 — dispositivo<br />

que regula de forma especial a<br />

transmissAo do inteiro teor da sentence<br />

a autoridade coatora;<br />

artigo 9?, 1?, do Dec.-lei n?<br />

406, de 31 de dezembro de 1968 —<br />

disposittvo sobre o qual se apoiaram<br />

ambas as decisiies para<br />

entendé-lo violado.<br />

4. 0 arrazoado da recorrente se<br />

prende<br />

intimaetio que entende<br />

não consumada na especie, mattria<br />

estranha a lide, por não haver<br />

sido ventllada pelo respeitavel julgado<br />

de fls. 121/126. Nos termos da<br />

&mule, verbetes n? 282 e 279, o recurso<br />

nao encontra amparo. Acresque<br />

os impetrados, deixando de<br />

recorrer, por não se considerarem<br />

intimados, debraram de alegar<br />

aquelas raz6es em recurso, o que<br />

então, por prequestionamento, darlhes-la<br />

o dlretto da referencia as<br />

mesmas, nests apelo. Mats: a pessoa<br />

que recebeu as intimacOes 6<br />

funcionArio da recorrente. E os<br />

editais de distribuicilo e julgamento<br />

foram publtcados respectivamente<br />

nos Dierio da Judea de 22<br />

de junho de 1977 e 09 de setembro<br />

.de 1977.<br />

Quanto ao art. 9?, 1?, do Dec.lei<br />

n? 406, de 31 de dezembro de<br />

1968, exceptua o mesmo a importAncia<br />

paga a titulo de remuneracAo<br />

do pr6prio trabalho. Interpretando<br />

este dispositivo 6 que as<br />

duas decisOes consideraram llegais<br />

as notificactes apltcadas aos impetrantes.<br />

Indefere-se o pedido. Publiquese.»<br />

(folhas 161 a 163)<br />

Todavia, o recurso veto a ser processed°<br />

em vIrtude do Ag. de Instrumento<br />

78.017 (proc. ern apen.so). Oferecidas<br />

as razOes de fls. 167 a 173 e<br />

contra-razews de fls. 176 usque 189,<br />

bem assim o parecer do Minist6rio<br />

Mlles local (M. 192 a 194), subiu o<br />

processo a esta Corte, onde recebeu<br />

o seguinte parecer<br />

Assentou o aclirdAo tmpugnado<br />

que o I.S.S. devido pelos conetores<br />

de im6veis nAo pole ser calculado<br />

sobre o valor das tom'ssees,<br />

por se tratar de trabalho pessoal,<br />

de acordo com o que prescreve<br />

o 1? do art. 9? do Dec.-lei<br />

406/68.<br />

2. Recorre a Fazenda Municipal<br />

argllindo, em preliminar, negattva<br />

de vigáncia ao art. 11 da Let n?<br />

1.533/51 e aos arts. 234, 247, 506 e<br />

513 do CPC porque nAo teria sido


intimada da decistio de primeiro<br />

grau, nem bra esta publicada; e,<br />

no merit°, vlolacAo ao prOprio § 1?<br />

do citado art. 9?.<br />

A preliminar ntio procede. 0<br />

mandado de seguranca a regido<br />

por lei especial, que determine a<br />

intimactio da autoridade coatora<br />

por varias formes expedites, dentre<br />

elas o officio entregue pelo official<br />

do Niro ou pelo correio, corn<br />

aviso de recebimento. 0 oficlo fol<br />

expedido e entregue na reparticAo<br />

(fls. 109-110), sendo descabida a<br />

alegacAo de que deveria conter o<br />

recibo da prOpria autoridade. vese<br />

na cOpia a assinatura leglvel de<br />

quern o recebeu e que 6 [undo:Arlo<br />

da Munlcipalidade, como prove<br />

o recorrido As fls. 158 e 159. Cumpile<br />

A recorrente demonstrar o<br />

contrario, o que rdio fez.<br />

Quanto ao merit°, a inadmissivel<br />

o apelo, pots o acOrdflo<br />

aplicou, corretamente, o dispositivo<br />

dado como infringido. Antis, a<br />

materia nth) 6 nova, tendo precedente<br />

no RE 77.058—SP, julg,ado<br />

pela Eg. It Turma em 29.03.74, relator<br />

o saudoso mestre Altomer<br />

Baleeiro (RTJ 72/460), onde se decidlu<br />

no mesmo sentido.<br />

Opinamos nib seta conhecido.<br />

Brasilia, 11 de junho de 1979 —<br />

Miguel Frauzino Pereira, Procuredor<br />

da RepablIca.<br />

APROVO: Mauro Leite Soares, 5?<br />

Subprocurador-Geral da Repnblica.»<br />

(t1s. 201 a 202)<br />

VOTO<br />

0 Sr. Millar° Disci FalcAo (Relator):<br />

0 acifirdAo recorrido traz o seguinte<br />

teor.<br />

«Mandado de Seguranca. Reexame<br />

de decisAo de primeiro<br />

gnu.<br />

Corretores de imOveis. Pessoas<br />

fisicas. liege'Made da incidencia<br />

de Imposto sobre Servicos na base<br />

de 2% sobre as comissOes auferidas.<br />

R.T.J. — 94<br />

315<br />

“A pessoa fisica, como exercente<br />

(mica de uma atividade<br />

profissional, JA tern os rendimentos<br />

que aufira tributados pelo imposto<br />

<strong>federal</strong> sobre a renda e<br />

proventos de qualquer natureza e<br />

por essa razilo, sobre o mesmo<br />

fato, ratio pole sofrer a incidtncia<br />

do Imposto sobre Servicos. Serie<br />

admitir a incidencia de dots tributos,<br />

urn <strong>federal</strong> (renda) e urn<br />

municipal (de servicos), sobre<br />

um s6 tato econernico e uma s6<br />

base de ctilculo». (Fabio Fanucchi<br />

— Curse de Direlto Tributairio<br />

Benneleo, 1975, vol. II, nag.<br />

204/205).<br />

Violacão do § 1? do art. 9° do<br />

Decreto-lei Federal 406, de<br />

31.12.1968, e do art. 268 da Lel<br />

1.054, de 30 de dezembro de 1971,<br />

que alterou disposicCes do C6digo<br />

Tributerio de Florianópolis.<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos de apelacAo civel em<br />

mended° de seguranca n? 1.353, da<br />

comarca da Capital, remetido pelo<br />

Juizo de Direito da Vara dos Feitos<br />

da Fazenda PIMlice e Acidentes do<br />

Trabalho, sendo impetrantes AdAo<br />

Tabajara N. Galiberno e outros e<br />

impetrados Carlos Valter Machado<br />

e Armando Teixeira:<br />

Acordam, em Segunda Camara<br />

Civil, A unanimidade, reexaminando<br />

a sentence de primeiro grau,<br />

confirmft-la pelos seus pr6prios<br />

fundamentos.<br />

Custas na forma da let.<br />

AdAo Tabajara N. Galiberno,<br />

brasileiro, casado, CRECl/SC ri?<br />

661, Ademlr Petri, brasileiro, solteiro,<br />

CRECl/SC n? 417, Anita Padilha,<br />

brasileira, solteira, CRE-<br />

Cl/SC n? 605, Arlindo Fernandes<br />

Ramos Ferreira, braslleiro, casado,<br />

CRECl/SC n? 229, Ary Gomes<br />

de Oliveira, braslleiro, casado,<br />

CRECI/SC n? 214, Ayrton Agular<br />

Furtado, braslleiro, casado, CFtE-<br />

Cl/SC n? 465, Carlos Walfredo Livramento<br />

Machado, brasileiro, casado,<br />

CRECl/SC n? 111, Dalton


316<br />

R.T.J. — 94<br />

Joao de Andrade, brasileiro, casado,<br />

CRECl/SC n? 413, Demetre<br />

Athanast Samaras, grego, casado,<br />

CRECl/SC 719, Dilmar Becvhauser,<br />

brasileiro, casado, CRECl/SC<br />

n? 705, Elson Jose da Costa, brasileiro,<br />

casado, CRECl/SC n? (em<br />

andamento), Francisco Domingos<br />

de Souza, brasileiro, casado, CRE-<br />

Cl/SC n? 341, Gersony Sebastiao<br />

Pawlick, brasileiro, solteiro, CRE-<br />

Cl/SC n? 910, Gilson Morals, brasileiro,<br />

casado, CRECl/SC n? 591, IIdo<br />

Luiz Lodetti, brasileiro, solteiro,<br />

CRECl/SC n? (em andamento),<br />

Joao Carlos Espindola, brasileiro,<br />

solteiro, CRECl/SC n? 840, Jorge<br />

Nogueira Galiberne, brasileiro,<br />

solteiro, CRECl/SC n? 831, Laudares<br />

PoIli, brasileiro, casado, CRE-<br />

Cl/SC n? 400, Maria Salete Ignacio,<br />

brasileira, desqultada, CRECl/SC<br />

n? 684, Moacir Passim, brasileiro,<br />

casado, CRECl/SC n? 295, Nag!la<br />

Cherem, brasileira, casada, CRE-<br />

Cl/SC n? (em andamento), Nelson<br />

de Campos, brasileiro, casado,<br />

CRECl/SC n? 758, Nelson Rohden,<br />

brasileiro, solteiro, CRECl/SC n?<br />

(em andamento), Paulo Amaro da<br />

Silveira, brasileiro, casado, CRE-<br />

Cl/SC n? 912, Paulo Cesar Souza,<br />

brasileiro, casado, CRECl/SC n?<br />

763, Rubens Fernandes, brasileiro,<br />

casado, CRECl/SC n? 713, Sadi Silva<br />

Santos, brasileiro, solteiro,<br />

CRECl/SC n? 834, Silverio Simon',<br />

brasileiro, solteiro, CRECl/SC n?<br />

914, Valmor Quirino Goulart, brasileiro,<br />

casado, CRECl/SC n? 722, todos<br />

residentes e domiciliados nesta<br />

Capital, impetraram Mandado de<br />

Seguranca contra ato dos Srs. Carlos<br />

Valter Machado e Armando<br />

Teixeira, ambos Fiscais de Financas<br />

da Divisao de Fiscalizacao de<br />

Rendas Mobiliarias da Secretaria<br />

de Financas da Prefeitura Municipal<br />

de Florian(polls, expondo e requerendo<br />

o seguinte:<br />

1. Que os ora impetrantes sao todos<br />

"Corretores de Im6veis" aute-<br />

nomos, inscritos no Conselho Regional<br />

dos Corretores de Im(wets<br />

do Estado de Santa Catarina e percebem<br />

comissOes de corretagem,<br />

pelas vendas de im6veis de tercetros;<br />

Que, quando procuraram pa-<br />

-gar, na epoca devida, o I.S.S. a que<br />

estao obrigados, foram informados<br />

na Prefeitura Municipal de FlorianOpolis<br />

que estarlam sujeitos a 2%<br />

sobre as comissOes auferidas;<br />

Que a Recebedoria Municipal<br />

invocou para tanto a nova redacao<br />

dada ao COdigo Tributario Municipal<br />

pela Lei n? 1.054/71, que determina<br />

que os corretores de imOveis<br />

pagarao urn percentual de 2% sobre<br />

as comissOes percebidas;<br />

Que consoante o Dec.-lei n?<br />

406/68 — artigo 9? e seu 1?, a base<br />

de calculo do imposto e o preco<br />

do servico, e quando se tratar de<br />

prestacao de servicos sob a forma<br />

de trabalho pessoal do preprio contribuinte,<br />

o imposto sera calculado,<br />

por meio de aliquotas fixas ou variaveis,<br />

em funcão da natureza do<br />

servico ou de outros fatores pertinentes,<br />

nestes nao compreendida a<br />

importancia paga a titulo de remuneracao<br />

do prOprio trabalho;<br />

Que nesse mesmo sentido e o<br />

C6digo Tributário Municipal, dado<br />

pela Lei n? 1.054/71;<br />

Que a remuneracao dos impetrantes<br />

sac) as comissOes por corretagens<br />

na intermediacao de bens<br />

imOveis de terceiros, o que caracteriza<br />

puro trabalho pessoal, ja<br />

que nao sac, empresas e nao tern<br />

empregados;<br />

Que os atos impugnados ferem<br />

direito liquido e certo dos impetrantes,<br />

pois a exigencia das autoridades<br />

coatoras contraria disposi-<br />

Vies do Dec.-lei Federal n? 406/68,<br />

que determina que quando se tratar<br />

de prestacao de servico sob a<br />

forma de trabalho pessoal, o im-


R.T.J. — 94<br />

317<br />

posto sera calculado por mein de<br />

aliquotas fixas ou variAveis; 9? do Dec.-lei 406/68, as<br />

8. Que sejam suspensos<br />

cOes de fls., notificamente<br />

os atos impugnados<br />

liminar-<br />

aplicadas<br />

trantes, sal) liegals».<br />

aos lmpe-<br />

e apOs,<br />

notificadas as autoridades coato- 0 writ 101 concedido<br />

ras, seta, a final,<br />

para o fim<br />

concedida segu- de serem Julgadas ilegais as notifiranga,<br />

no sentido de serem declacacees de fls., tendo em vista que<br />

radas ilegais as<br />

mo, e principaimente<br />

notificaates, co-<br />

nAo pode prevalecer<br />

o dispositi dos lmp<br />

a exigencia<br />

vo<br />

(item 32 do art. 274 do Cedigo Triet etrados de cobrar dos 1mbutario<br />

Municipal, corn a redacao bre as comissees<br />

(dots por cento) so-<br />

dada pela Lei n? 1.054/71) que exi- conseqUancia,<br />

auferidas e, em<br />

qualquer<br />

ge o Imposto sobre Servicos de as intimagaes<br />

tornadas invAlidas<br />

de fls. 51/79,<br />

natureza (ISS) sobre as didas pela proce-<br />

comissaes (remuneracao) retores de Im(Weis<br />

dos Conrl<br />

municipalidade de<br />

anepolis contra os autores. Flo-<br />

que participam<br />

deste requertmento.<br />

Os autos vieram a este Egregio<br />

Tribunal face o disposto no item II<br />

A inicial acompartharam documentos.<br />

varlos Civil.<br />

do art. 475 do COdigo de Processo<br />

A liminar fol deferida A f. 86 v. A sentenca de<br />

Notificadas as ser<br />

autoridades<br />

confirmada<br />

primeiro grau 6 de<br />

ras, estas prestaram informacOes,<br />

coato-<br />

por seus<br />

jurldicos fundamentos.<br />

prOprios e<br />

petrantes<br />

dizendo que as atividades dos im- Corn efelto, a pretensao<br />

estao<br />

da Pre-<br />

enquadradas nos feltura Municipal de cobrar dos cor-<br />

itens 32 da Lista de Servicos da Lei retores de inufweis o I.S.S.,<br />

Municipal calcula-<br />

n?<br />

bro de 1971, e<br />

1.054, de 30 de dezemdo pela allquota fixa de 2% sobre a<br />

portanto, recolhimento<br />

sujeitos ao<br />

aos cofres municipals imobIllarias,<br />

renda bruta colhida nas transacOes<br />

e «que<br />

de 2% sobre a producao; esta provado que as<br />

que nao em Mama analise, a<br />

represente,<br />

atividades<br />

requerentes sac)<br />

dos<br />

do prOprio<br />

remuneracao<br />

trabalho dos<br />

exercidas<br />

forma de trabalho<br />

sob a por representar<br />

corretores,<br />

pessoal, e por-<br />

fato g<br />

incidancia sobre<br />

tant° nao tam os mesmos direito posto<br />

erador<br />

d<br />

que dA ensejo ao Im-<br />

11 o, amparavel<br />

Uni<br />

em<br />

ao, consubstancia<br />

aufericlo<br />

la<br />

flagrantepela<br />

Mandado de Seguranca; que o item ref ao que, a respeito disp6e o JA<br />

32 do art. 274 da Lei Municipal n?<br />

406<br />

erido 1? do art. 9? do Dec.-lei<br />

805, corn a nova redacao que The<br />

de /68,<br />

emprestou a Lei n? 1.054/71, rat)<br />

d<br />

e art. 268 da Lei 1.054, de 30<br />

violou o art. 9?, 1?, do Decreto-lei<br />

as disp<br />

ezembro de 1971, que alterou<br />

Federal n? 406/68; que ante o ex- de Flori<br />

oslceles do COdlgo Tributario<br />

posto, 6 de ser denegada a segu- tou, corn<br />

anOpolis»<br />

muita<br />

como bem sallento<br />

proprledade, ranca, cassando-se a llminar con- Procur a doucedida.<br />

em seu p<br />

adoria-Geral do Es ado<br />

arecer a f. 117 dos autos.<br />

0 Dr. Promotor PUblico, A p<br />

manifestando-se nos autos, opinou ant/ dade<br />

essoa Mica que exerce uma<br />

profissional<br />

pelo deferimento do writ, por en- seus<br />

JA tern os<br />

rendimentos<br />

tender que a profissao de Corretor<br />

DMA<br />

tributados pela<br />

de ImOvels envolve prestagao lada,<br />

n<br />

o, isto 6, pelo Imposto de Rena°<br />

p<br />

boral em forma de acao pessoal do<br />

fato odendo sobre esse mesmo<br />

prOpri0 contribuinte (pessoa fislca)<br />

cos. Admitir-se<br />

incidir o Imposto sobre Servia<br />

e de acordo corn o disposto no art. ato s<br />

legalidade de tal<br />

urn f<br />

eria admitir-se dots tributos,<br />

ederal e outro municipal, so-


318<br />

R.T.J. — 94<br />

tanto, para os corretores de<br />

bre o mesmo fato gerador, o que imOveis, estes estao obrigados a<br />

inviavel.<br />

recolher aos cofres municipals 2%<br />

Por esses motivos confirmou-se sobre as suas remunerac oes (fls.<br />

a respeitavel sentenca de primeiro 80-83).<br />

grau.<br />

«Base para o Trabalho Pessoal<br />

Florian6polis, 15 de setembro de — Dec.-lei n? 406, no art. 9?, estabeleceu<br />

tres critérios diferentes<br />

1977. Presidente — Relator .» (fls.<br />

121 a 126)<br />

conforme a natureza dos servicos.<br />

Se estes consistirem na prestacao<br />

0 recurso nao merece conhecim en<br />

de trabalho pessoal do pr6prio con-<br />

-to. Quanto a argilicao de negativa de<br />

tribuinte, a lei ordinaria municipal<br />

viencia das regras inseridas no art.<br />

devera estabelecer aliquotas fixas<br />

11 da Lei 1.533/51 e nos arts. 234, 247,<br />

506 e 513 do CPC, a consideracäo de<br />

ou variaveis, em funcao da nature-<br />

que nao teria havido intimacao da<br />

za do servico e outros fatores perti-<br />

sentenca e nem fora a mesma publinentes.<br />

A eleicao desses a deixada<br />

cada, a materia nao propicia o re-<br />

ao discricionarismo honesto do legislador<br />

local, resguardado o art.<br />

curso uma vez que, conforme pondera<br />

o parecer do Dr. Miguel Frauzino<br />

153, § 4?, da C.F. Mas, nestes fatores,<br />

nao podera ser contemplado o<br />

Pereira, tot expedido e entregue na<br />

rendimento auferido pelo trabalha-<br />

reparticao competente oficio acorndor que, sob esse ponto de vista, s6<br />

panhado de fotocOpla da sentenca<br />

podera ser tributado pelo imposto<br />

proferida no mandado de seguranca <strong>federal</strong> adequado (E.F., art. 21,<br />

(fls. 108 a 110). Ademais, o recorren-<br />

IV). Essa clausul a evita a superpoto<br />

nao demonstra o contrarlo.<br />

sick) do Imposto de Servicos sobre<br />

No que tange ao merito, tambOm o Imposto de Renda, sob o funda-<br />

descabido. Lë-se na sentenca do Julz mento de que o primeiro apenas to-<br />

Wilson Guarany Vieira:<br />

mava para base de calculo a recel-<br />

«0 Dec.-lei Federal n? 406/68 esta bruta, inconfundivel com a rentatui<br />

em seu art. 9? que:<br />

da liquida sujeita ao it timo.<br />

«Art. 9? — A base de calculo do<br />

imposto e o preco do servico. «0 art. 9?, § 1?, mencionando<br />

«aliquotas», empre ga palavra sin6-<br />

«§ 1? — Quando se tratar de<br />

prestacao de servicos sob a forma<br />

nima de fracas) que, entao, seria<br />

calculada sobre um valor qual-<br />

de trabalho pessoal do praprio contribuinte,<br />

o imposto sera calculado<br />

quer. Parece que nao a esse o pensamento<br />

do legislador do C.T.N.,<br />

por meio de aliquotas fixas ou va-<br />

porque a contrario senso da clauriaveis,<br />

em tuna() da natureza do<br />

servico ou de outros fatores pertisula<br />

final desse disposltivo nao se<br />

tomara como base a renda ou renentes,<br />

nestes nao compreendida a<br />

muneracao». (In Direito Tributário<br />

importancia paga a titulo de remu-<br />

BrasHero — 6a Edicao — Rev. Foneracao<br />

do pr6prio trabalho». rense — ano 1974 — pAg• 265 — Au-<br />

Os mesmos dizeres inseridos no<br />

tor: Aliomar Baleeiro).<br />

art. 9? e seu paragrafo 1? do Dec.-<br />

Falai° Fanucch i, mestre do Direilei<br />

406/68 estao contidos nos arts.<br />

to Tributario, em sua obra Curso<br />

267 e 268 da Lei Municipal de Flo- de Mello Tributfulo Bras'left°<br />

rian6polis, sob n? 1.054, de 30.12.71. (Editora Resenha Tributaria Ltda<br />

Varias categorias profissionais — S. Paulo — 3? Ed. 1975 — Vol. II<br />

foram enquadradas na Lista de — pags. 204 e 205, na parte que tra-<br />

Servicos (Lei n? 1.054/7 1 ) a pagar to do I.S.S., assim se manifesta:<br />

uma aliquota fixa por ano; no en-


R.T.J. — 94<br />

319<br />

«A pessoa Mica, como exercento<br />

(mica de uma atividade profissi «Os principios constitucional<br />

nal, jA tern os ren(Umenros<br />

0- e de<br />

que au-<br />

Justice Fiscal da tributacAo, ate-<br />

fire trlbutados Delo Imposto Fed nuada para<br />

e-<br />

o exercente (mica de<br />

rat sabre a renda e proventos atIvidade<br />

e<br />

pessoal, deverAo prevale-<br />

qualquer natureza e, por essa ra cer, como 0 16gico, sem cogitacAo<br />

sabre o mesmo fate, nao pods<br />

- da categoria tuncional do contri-<br />

wirer a incidencia do Imposto buinte».Sobre<br />

Services. Serie admitir a Inc 1- A remuneracflo dos impetrantes<br />

dência de dots tributos, um feder al 0 retie por comissoes oriundas de<br />

(renda) e um municipal (de servi corretagens na intermediacAo de<br />

cos), sobre um s6 faro econtornico e bens imOveis de terceiros, o que<br />

uma se base de cAlculo. Isso, evi caracteriza puro trabalho pessoal,<br />

dentemente, 6 inconstitucional h nAo podendo, assim, prevalecer<br />

muito tempo e s6 no atual sis en<br />

o<br />

tendimento dos impetrados, sob<br />

terra tributArio nacional. a per is esse asPecto.» (Us. 103 .a 105)<br />

so que a let discipliner do poder de Correto o<br />

tributar faz distincAo entre exer<br />

entendimento adotado<br />

pelas decisbes proferidas cente tulle° de sua atividade e pes-<br />

na instansOas<br />

fisicas ou juridicas<br />

cia ordinAria, no sentido de que o le-<br />

que congtarn in o concurso de tercefros<br />

islador, no I 1? do art 9? do Dec, lei<br />

na prestacAo de servicos. 0 pri-<br />

n? 408/68, guts evitar a superposicAo<br />

metro, 6 Bravado em do Imposto de Service, quando devi-<br />

seas rendido o Impost° de Remit<br />

mentos pelo imposto de renda e<br />

proventos: as segundas, como em- Alias, assim JA decidiu a Primeira<br />

presas que sAo (individuals ou co- Tina ao apreciar o RE 77.058, relaletivas)<br />

na coneeituactio que lhes tado pelo emlnentb e sempre lem-<br />

dal a leglslactio do Imposto de Renbrado Ministro Miomar Baleeiro<br />

d°, tern tributados, em vez dos (ver RTJ 72/460 a 463).<br />

rendimentos percebidos, o luero Ante o exposto, preliminarmente,<br />

produzido em sua ativ1dade, isto nAo conheco do recurso.<br />

apenas a diferenca entre os rendimentos<br />

ou receitas e as despesas<br />

incorridas no empreendimento.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

essa distinello essencial que a lei<br />

paulistana fez.<br />

RE 89.416 — SC — Rel.: Min. Mac!<br />

«Nilo bastasse isso so para deter- FalcAo. Recte.: Prefeitura Municipal<br />

miner<br />

de Flor<br />

a sensivel ilegalidade da<br />

ianOpolis (Adv.: Henrique Es-<br />

exigencia, restaria, abide, o Justo e<br />

pada Rodrigues Lima) Recdos.:<br />

InarredAvel postulado<br />

AdAo Tabajara N. Galiberno e ou-<br />

de justice<br />

fiscal dlrbpdo A pessoa natural que tros. (Adv.: Emilio da Silva J(iilor).<br />

preste °penes o seu prOprio traba- DecisAo: NAo conhecido, unAnime.<br />

lho, devendo receber, per lasso, tra- Presidencia do Sr. Mastro Djaci<br />

tamento tributtirio macs benign, Presentes A SessAo os Srs.<br />

diferente daquele que 6 reservado Ministros Leftiio de Abreu, Cordeiro<br />

aos que contain corn o concurso de Guerra e Moreira Alves. Ausente,<br />

trabalho alhelo no desenvolvimento histificadarnente, o Sr. Mastro De-<br />

des sues atividades, desde que iscio Miranda. Subprocurador-Gera]<br />

so, por si so, faz prever maior da RepOblica, o Dr. Mauro Leite<br />

capacidade contributive, indicada Soares.<br />

pela capacidade de sustentacao do<br />

trabalho alhelo.<br />

Brasilia, 3 de agosto de 1979. —<br />

Hello Francisco Marques, Secret/trio.


320<br />

R.T.J. — 94<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 89.494 — RJ<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Thompson Flores.<br />

Recorrente: Saveiros, CamuYrano — Servicos Maritimos S.A. — Recorrido:<br />

Estado do Rio de Janeiro.<br />

I.S.S.. Ftepetictio de inclebito. Servico de reboque de navios. Distincao<br />

com ode transporte.<br />

Inciancia do tributo municipal ate o advento do D.1.406/68.<br />

Recurso extraordinitrio que se não conhece porque ausentes os<br />

pressupostos em que se arrimou.<br />

ACORDAO<br />

«... em rejeitar a preliminar de<br />

nulidade. negando provimento ao<br />

Vistos, relatado s e discutidos estes<br />

recurso voluntário; e, em julgamento<br />

do 2? grau, em que fica conautos,<br />

acordam os Ministros da Pri- vertido o recurso de oficio, excluir<br />

meira Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

da sentenca a declaracao da imunidade<br />

tributaria da autora e a aujulgamento<br />

e das notas taquigrafi-<br />

Cas, por unanimidade de votos, nao torizacao para to levantamento dos<br />

depOsitos.»<br />

conhecer do recurso.<br />

Brasilia, 25 de setembro de 1979. — SuRep enta dispee:<br />

Thompson Flores, Presidente e Rela- eticao de indebito. Diferenciacao<br />

entre servico de transporte<br />

tor.<br />

e comunicacao, que e da esfera fe-<br />

RELATORIOderal salvo quando o trajeto nä°<br />

extravase os limites de urn mesmo<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores: MuniciPio e o de reboque-socorro,<br />

Contra o extinto Estado da Guanaba- que e da esfera municipal . Tributo<br />

ra ajuizou o recorrente, em 1-6-68, a exigivel sobre o servico de reboque<br />

presente acao de restituicao do incle- de navios e embarcacOes. Ate a vibito,<br />

referente ao pagamento de im- gencia da lei n? 406/68 era devido 0<br />

posto sabre servicos da atividade imposto sobre servicos, sendo<br />

que exerceu, no period() compreendi- legitimas a sua exigencia e o seu<br />

do entre 1-1-67 a 31-12-68, no total de recolhimento.<br />

Cr8 94.924,42. Improcedencia la acão.D<br />

E isto porque, embora voluntaria- Opostos - embargos de declaracão,<br />

mente, pagou tributo que caberia a foram rejeitados, fls. 372/3.<br />

Uniao Lon Federal. 4. Dai o recurso extraordinario<br />

sustenta sua preten- manifestado corn base nas tetras a, c<br />

sal).<br />

e d, da permissão constitutional, fls.<br />

Contestada, saneada a causa, 375/9.<br />

sentenciou o magistrado, acolhendo<br />

o pedido, fls. 331/3.<br />

. Inadmitido pelo despacho de fls.<br />

Houve recurso de oficio e volun- 387 5 -8, resultou, todavia, processado,<br />

corn o provimento do Ag. 70.300, pelo<br />

tario da autora.<br />

eminente Ministro Antonio Neder,<br />

0 Egregio Tribunal de Justica, por segundo autos apensados.<br />

sua 4? Camara Civet, em acerdao 6. Subiram os autos a esta Corte,<br />

unanime de 11-3-76, houve por bem, corn razbes das partes, recdbendo<br />

verb's, f. 361:


parecer favoravel da douta<br />

Procuradoria-Geral da Rep&ilea,<br />

nestes termos, fls. 425/7:<br />

«1. o melhor exame deste recurso,<br />

a que fora desfavoravel nosso<br />

pronunclamento no agravo em<br />

apenso, convence-nos de sua inteira<br />

viabilidade.<br />

Discute-se a tributacão dos<br />

servicos de reboque de embarcacOes,<br />

prestados pela Recorrente na<br />

Baia de Guanabara e no Oceano<br />

AtlAntico, sobre os quaffs esta sendo<br />

exigido o imposto municipal de<br />

servicos.<br />

Entendeu o actordao impugnado<br />

ser legal a inciancla em perlodo<br />

anterior ao Decreto-let n?<br />

406/68, a vista do entAo vigente art.<br />

71 da Lei n? 5.172 (C6digo Tributario<br />

Nacional); mas, nao a partir<br />

daquele diploma regente do I.S.S.,<br />

que determinou, em lista, as atividades<br />

por ele tributadas, sem contemplar<br />

o servico em apreciacAo.<br />

0 art. 68 do C.T.N. prev6 como<br />

fato gerador de impost() <strong>federal</strong> a<br />

prestacAo do servico de transporte,<br />

por qualquer via, de pessoas, bens,<br />

mercadorias ou valores, salvo<br />

quando o trajeto se contenha inteiramente<br />

no territario de urn mesmo<br />

municiplo.<br />

Transportar 6 conduzir ou levar<br />

de urn luga' • para outro. A<br />

acAo se caracteriza por isso apenas,<br />

sendo irrelevante o modo por<br />

que se realize: carregando, arrastando<br />

ou empurrando. Assim, o reboque<br />

de embarcacOes 6 unf servico<br />

de transporte. E sendo efetuado<br />

no mar territorial de propriedade<br />

da UniAo (Const., art. 5?, VI), 6 defeso<br />

ao Municipio tributA-lo, ante a<br />

compet6ncla definida no art. 68 do<br />

C.T.N.<br />

R.T.J. — 94<br />

321<br />

Tamb6m, mesmo nao se aceitando<br />

a caracterizacao do servico,<br />

que tern gerado controversias na<br />

doutrina, como expOe o conceituado<br />

tributarista Ulhoa Canto, em<br />

parecer nestes autos (f. 99), ainda<br />

assim mostra-se induvidoso que estaria<br />

o Mtunciplo invadindo competéncia<br />

alheia, ao arrepio da prescricAo<br />

do art. 8? do C.T.N.<br />

0 Decreto n? 5.798, de 11-6-40<br />

(alterado pelo Decreto n? 50.144, de<br />

26-1-61 e innmeros diplomas posteriores),<br />

ao regular o trafego<br />

maritimo, coloca sob a jurisdicao<br />

das Capitanias de Portos as aguas<br />

do dominio maritimo, fluvial e lacustre<br />

do Brasil, e dispOe minuciosamente<br />

sobre a Policia Naval, visando<br />

ao cumprimento das leis, regulamentos,<br />

disposicOes e ordens<br />

referentes a navegacAo e a Marlnha<br />

Mercante; estabelece regras a<br />

observar nos portos e vias navegAveis,<br />

para a entrada e saida de embarcacOes;<br />

determina a inscricAo<br />

destas, seu registro e licenciamento,<br />

bem como formalidades para<br />

alienacao; classifica-as, tendo em<br />

vista a navegacAo a que são destinadas,<br />

sistema de propulsdo e servico<br />

em que vao ser aplicadas,<br />

abrangendo as que se destinem a<br />

reboque e socorro Maritimo.<br />

Situando-se fora da esfera de<br />

jurisdicao do municipio, nao pode,<br />

portanto, o servico de rebocador<br />

submeter-se a sua imposicAo tributAria.<br />

Opinamos, assim seja conhecido<br />

e provido o recurso, para<br />

reconhecer-se, nao a imunidade ou<br />

isencao, como se entendeu nas instAncias<br />

ordinArlas, mas a nao incid8ncia<br />

do I.S.S. sobre os servicos<br />

prestados pela Recorrente, seja<br />

antes como depois do Decreto-lei<br />

n? 406-68.


322<br />

Brasilia, 4 de setembro e 1979.<br />

Miguel Frauzino Pereira. Procurador<br />

da Republica.<br />

APROVO:<br />

Mauro Lelte Soares, Subprocurador-Geral<br />

da Repithlice.»<br />

E o relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

(Relator) — Mr) conheco, preliminarmente,<br />

do recurso.<br />

R.T.J. — 94<br />

2. Funda-se ele, como acentuou o<br />

relaterio, nas letras a, c e d da permissäo<br />

constitutional.<br />

Sustenta que negando-se as decisees<br />

impugnadas a restituir o tributo<br />

pago ao extinto Estado da Guanabara,<br />

porque ao tempo era ele devido,<br />

pelo reboque de embarcac6es<br />

que reageral lizava, na Baia de Guanaba-<br />

ra em<br />

e no Oceano Atläntico<br />

em Especial, teriam elas contrariado<br />

o artigo 22, VII, da Constituicão<br />

de 1967 denegando, outrossim, vigéncia<br />

aos arts. 68, 71 e 118 do C.T.N. na<br />

sua redacáo originaria, bem como<br />

dissentido do aresto desta Corte, proferido<br />

no RE 78.956 (RTJ, 71/586).<br />

3. Penso, como de resto o reconheceu<br />

o despacho presidential, que ndo<br />

se verificaram os pressupostos recursais<br />

em questOo, ao menos como<br />

os deduziu a concisa peticAo irresi gnatOria.<br />

Corn efeito.<br />

Para manter a sentenca disse o<br />

acerdAo na sua fundamentacão medular,<br />

fls. 362-3:<br />

oCuida-se de saber se o servico<br />

de rebocadores, prestado na baia<br />

ou no mar alto e considerado<br />

transporte e, como tal, estava sujeito,<br />

frente a Lei n? 5.172/66, ao<br />

imposto <strong>federal</strong> de transportes e<br />

comunicacdes ou, por nä() constituir<br />

o servico fato gerador de imposto<br />

da competthcia <strong>federal</strong> ou<br />

estadual, estava sujeito ao imposto<br />

municipal.<br />

NA° e o local ou a via da prestacat)<br />

do servico, mas a sua natureza,<br />

que o define ou o qualifica.<br />

Os transportes e comunicacOes,<br />

salvo quando o trajeto nAo extravase<br />

os limites de um mesmo Municipio,<br />

sat) da competëncia tributaria<br />

da UniAo (Lei IV? 5.172, art.<br />

68), mas a prepria restricAo est& a<br />

mostrar que ai se tern em conta o<br />

servico de circulacAo pOblica e coletiva,<br />

feito por llnhas de veiculos<br />

e no seu interior.<br />

Leva-se alguém ou alguma coisa<br />

de urn a outro lugar, corn essa responsabilidade<br />

de p6-lo a salvo no<br />

seu destino.<br />

No reboque, porem, apenas se<br />

fornece a forca-motriz ou essa forca<br />

e uma tripulacAo para socorro<br />

de outra embarcacAo, para<br />

la na manobra, tracionando-a,<br />

empurrando-a, arrastando-a.<br />

E uma locacdo de servico, como<br />

querem uns, uma empreitada, como<br />

sustentam outros, ou ate mesmo<br />

um contrato de transporte, como<br />

pretendem alguns, mas sempre<br />

urn transporte sui generis ou<br />

extraordinario, pois a remocAo se<br />

faz sem que as embarcacees sequer<br />

se toquem, sem que o reboque<br />

carregue a outra no seu bojo, consoante<br />

a expressdo de Placid() e<br />

Silva.


E urn servico local, como o do<br />

taxi, que pode fazes uma viagem<br />

por Estados diferentes sem que isso<br />

desloque a natureza do transporte<br />

e da tributacâo devida.»<br />

A discrepancia corn o °nit° padrao<br />

indicado sequer, formalmente, resultou<br />

demonstrada, como requer o<br />

R.I., art. 305 (SOmula 291), eis que a<br />

recorrente limitou-se a indicacao do<br />

padrao. Todavia, trata ele de materia<br />

diversa, transporte terrestre de<br />

passageiros, em Onibus, e intermunicipal.<br />

E, aqui, se cuida de reboque<br />

de embarcacOes, em Aguas maritimas.<br />

Sem qualquer prtstimo, pois.<br />

De outra parte, descabe a Invocacao<br />

da letra c, dado que inexiste<br />

indispensAvel ato do govern, exigido<br />

no preceito em questa°. Antes, fol<br />

voluntario o recolhimento do imposto<br />

cuja devolucao se pede, nao sendo<br />

indicado, sequer, o seu lancamento<br />

pelo Tutu, quanto mais sua contestaa),<br />

perante a Lei Malor.<br />

Resta a premissa initial.<br />

Contrariedade ao citado art. 22,<br />

VII, da Constituicao, e negativa de<br />

vlancia das mencionadas disposicOes<br />

do C.T.N.<br />

Dizem ditas disposicOes, transcritas<br />

na peticao de recurso, fls. 376-7<br />

(ler).<br />

Refere-se a primeira ao servico de<br />

transporte, salvo quando de natureza<br />

estritamente municipal.<br />

E os arts. 68 e 71 dele cuidam e definer<br />

seu fato gerador.<br />

0 acardao recorrido, poran, e porque<br />

nao se tratava de simples transporte,<br />

mas de reboque de embartatees<br />

e manobras outras realizadas<br />

•<br />

R.T.J. — 94<br />

323<br />

pela recorrente, face a diversidade<br />

de sua conceituacao pelos doutrina-<br />

dores, admitlu que o imposto fora<br />

bem recolhido ao Estado (Municipio),<br />

justificando, razoavelmente,<br />

sua maneira de assim conceituar.<br />

0 preprio parecer oferecido pela<br />

r ecorrente, firmado por tun dos mais<br />

renomados especialistas no assunto,<br />

em sua longa e erudita exposicao,<br />

calcada em tratadista nationals e estrangeiros,<br />

esclarece como divergem<br />

os doutrinadores na conceituacao do<br />

reboque, fls. 90-128.<br />

Tudo esta a mostrar que nAo se pode,<br />

corn seguranca afirmar tenha o<br />

acordao, corn a fundamentacao que<br />

adotou, contrariado o art. 22, VII, da<br />

Constituicao de 1967, ou denegado vigéncla<br />

as comentadas disposicOes do<br />

C.T.N. Antes, tiveram estas razoavel<br />

exegese, coberta, pas, para o efeito<br />

do exceptional, pela SOmula 400, 1?<br />

parte.<br />

E o meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 89.494 — RJ — Rel.: Min<br />

Thompson Flores. Recte.: Saveiros,<br />

Camuyrano — Servicos Maritimos<br />

S/A (Adv.: Oscar da Silva Castro).<br />

Recdo.: Estado do Rio de Janeiro<br />

(Adv.: Arthur Jost Faveret Cavalcanti).<br />

Decisao: Nao conhecido, decisão<br />

tmanime.<br />

Presidencia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a Sessao<br />

os Srs. Ministros Cunha Peixoto,<br />

Soares Mtuloz e Rafael Mayer. —<br />

Ausentes justificadamente o Sr. Min.<br />

_ Xavier de Albuquerque. — Subprocura<br />

dor-Geral da Republica, 0<br />

Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 25 de setembro de 1979. —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretario.


324<br />

R.T.J. — 94<br />

RECURS() EXTRAORDINARIO CRIMINAL N? 89 498 — SP<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Moreira Alves.<br />

Recorrente: Ministerio PUblico Estadual — Recorrido: Walter Jose Rocha<br />

Aguiar ou Valter Jose Rocha Aguiar.<br />

Aplicano, feita em revisAo criminal, de lei nova mais benigna a<br />

fato julgado por sentenca condenateria irrecorrivel.<br />

— Tendo a manifestacao no sentido da reducAo da pena partido<br />

do próprio Mintsterio PUblico, ao emitir seu parecer, e nAo havendo<br />

sido levantada então a questa() relativa a inadequac ao da revisAo cri-<br />

a competencia para a aplicacão da let nova mats<br />

minal, bem co<br />

benigna, falta mo o prequestionamento dessas materlas (SOmula<br />

282). Com efeito, em face dessa circunstAncia, nAo se pode<br />

pretender que o Ministerio PUblico foi e oi surpreendido com a re dugão<br />

da pena determinada , sem qualquer provocacao, pelo actirAo, d rnAo<br />

iona a<br />

havendo, portant°, oportunidade processual para prequest<br />

questa°.<br />

Precedente do PlenArio do STF (RE 88.728).<br />

Recurso extraordinArio nAo conhecido.<br />

«Todavia, abolindo a lei n?<br />

ACORDAO<br />

6.416/77, a reincidencia especifica,<br />

sendo. sob esse aspecto, de carater<br />

Vistos, relatados e discutidos estes mais benefico, defere-se em parte<br />

autos, acordam os Ministros da Se- o pedido, unicamente para a redugunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

cao da reprimenda corporal do peticionario,<br />

a 3 (tres) anos de reclujulg<br />

a mento e das notas taquigrafi- sac), fixada pouco acima do minicas,<br />

por unanimidade de votos, nAo mo, por persistir sua condicao de<br />

conhecer do recurso.<br />

reincidente, devendo, no mais, sub-<br />

Brasilia, 29 de maio de 1979. — sistir o julgado » (f. 37),<br />

Djaci Fala°, Presidents — Moreira<br />

Alves, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves —<br />

Oficiando em revisao criminal, em<br />

que o ora recorrido pleiteava, entre<br />

outros pedidos, o da reducao da pena<br />

pela aplicacao retroativa da Lei<br />

6.416, de 5 de maio de 1977, o representante<br />

do Ministerio PUblico local<br />

se manifestou no sentido do acolhimento<br />

dessa pretensào.<br />

O actirdao recorrido, a fls. 35/37,<br />

deferiu, em parte, o pedido de revisAo,<br />

nesses termos:<br />

Interposto recurso extraordinario,<br />

foi ele admitido pelo seguinte despacho<br />

(fls. 49-51):<br />

«Walter Jose Rocha Aguiar I por<br />

incurso no art. 155, § 4?, n? , do<br />

COdigo Penal, foi condenado, na<br />

Comarca de Tupi Paulista, a 5<br />

anos e 15 dias de reclusão e multa<br />

de Cr$ 8,00. Foi-lhe imposta ainda,<br />

por se tratar de reincidente em crime<br />

doloso, medida de seguranca<br />

detentiva pelo prazo minimo de 2<br />

anos.<br />

A E. Terceira Camara deste Tribunal<br />

acolheu parcialmente o apelo<br />

do réu, diminuindo a pena de re-


clusao para 5 anos e 1 dia e a multa<br />

para Cr$ 2,00.<br />

Formulado pedido revisional, o<br />

E. Terceiro Grupo de CAmaras<br />

deferiu-o em parte para, aplicando<br />

a Lei 6.416/77, reduzlr a reprimenda<br />

corporal a 3 anos de reclusao.<br />

Corn fundamento no art. 119 n?<br />

III, letras a e d da Constituicao Federal,<br />

o preclaro Procurador-Geral<br />

da Justica interpes recurso extraordinitrio.<br />

Alega, em sinlese, que o art. 13<br />

da Lei de Introdugao ao C6digo de<br />

Processo Penal determina que a<br />

aplicacao da lei posterior mats benigna<br />

seja feita «mediante despacho<br />

do juiz, de oriel° ou a requerimento<br />

do condenado ou do Ministerio<br />

e nao pelo Tribunal.<br />

Acresce que, a atuacao da lex<br />

mitlor nao se inclui em nenhum<br />

dos casos de revisal), previstos no<br />

art. 621 do C6digo de Processo Penal.<br />

Impunha-se, em conseqiiancia, a<br />

conclusao de que o actirclao recorrido<br />

%tiara o art. 13 da Lei de Introducao<br />

e o art. 621 do estatuto<br />

processual penal.<br />

Alem disso a decisao impugnada<br />

divergira da orientacao firmada<br />

pelo E. Tribunal de Justica de Sao<br />

Paulo que, no julgamento da Rev.<br />

Crim. n? 131.757, de Sao Paulo, assentou<br />

ser da competancia do Juiz<br />

de primeiro grau o ajuste de penas<br />

decorrente de lei posterior macs f avoravel.<br />

NA° houve impugnacao.<br />

No julgamento da Revisal) n?<br />

73.182, de Santos, o eminente Juiz<br />

Cunha Camargo examinou magistralmente<br />

a materia debatida no<br />

presente recurso, lembrando que<br />

no Brasil, diferentemente do que<br />

acontece na Argentina, a aplicacao<br />

da lei nova macs benèfica nao pode<br />

ser felta atraves de revisao criminal.<br />

R.T.J. — 94<br />

325<br />

E isto porque em nosso pais a hipatese<br />

c regulada pelo art. 13 da<br />

Lei de Introducao ao C6digo de<br />

Processo Penal, que disp6e:<br />

«A aplicacao da lei nova ao fato<br />

julgado por sentenca condenat6ria<br />

irrecorrivel, nos casos previstos<br />

no art. 2? e seu paragrafo<br />

do C6digo Penal, far-se-a mediante<br />

despacho do juiz, de offcio, ou<br />

a requerimento do condenado ou<br />

do Ministerio Pah'leo.»<br />

Nesse sentido a licao de Espinola<br />

Filho, de Florancio de Abreu, de<br />

Sady Cardoso de Gusmao e de Roma°<br />

Cortes de Lacerda.<br />

E tambern a do preclaro Josè<br />

Frederico Marques, que a propOsito<br />

do art. 13 da Lei de Introducao<br />

observa:<br />

«0 preceito apresenta-se como<br />

regra para a aplicacao do Direito<br />

Penal intertemporal; e apesar de<br />

ter sick) posto em vigor tendo em<br />

vista a promulgacäo do vigente<br />

C6d. Penal, sua aplicacao perdura,<br />

pots se, atualmente, surgindo<br />

novatlo legis que !urethra em<br />

sentenCa condenatOria passada<br />

em julgado, a ele deve recorrerse<br />

para que se opere a incidancia<br />

de la lot plus douce» (Elementos<br />

'de Direlto Processual Penal,<br />

vol. IV, n? 1.114, p. 291).<br />

Finalmente, a propOstlo da aplicacao<br />

do principle do due process<br />

of law, sustenta o !lustre Ju12<br />

Cunha Camargo:<br />

«Evidentemente, admitindo<br />

que se faga originariamente em<br />

revisao a aplicagao da lei nova<br />

macs benigna ao fato definitivamente<br />

julgado, o Tribunal estara<br />

suprimindo o «procesgo adequado»<br />

a consecucao do fim colimado<br />

e o recurso cabivel Ida decisao<br />

do Juiz nesse procedirliento e, em<br />

prejuizo do rat', no cat° de eventualmente<br />

nail) the ser Cavort/el o<br />

pronunciamento da Justica, a<br />

prOpria via revisional. A prevale-


326<br />

R.T.J. — 94<br />

cer esse entendime nto, o Tribunal<br />

podera trancar ao reu a possibilidade<br />

de it vindicar no Juizo<br />

prOprio e pelo procedimento adequado<br />

a aplicacdo da lei nova ou,<br />

entdo, numa quebra de hierarquia<br />

de julgamentos, estara se<br />

arriscando a ver decisdes suas,<br />

em sede de revisAo, cassadas em<br />

1? instAncia ou mesmo em 2? por<br />

CAmaras Isoladas da mesma Corte,<br />

o que, evidentemente, ndo e<br />

possivel.<br />

Estas consideracOes que me parecem<br />

impecavels, sao adotadas<br />

como fundamentos do presente despacho.<br />

Na verdade, o art. 13 da Lei de<br />

Introducan ao C6digo de Processo<br />

Penal atribui ao Juiz da Primelra<br />

instAncla a competència para aplicar<br />

a lex mitior a f atos julgados<br />

por sentenca condenathria<br />

corrivel. Tal regra, obviamente,<br />

exclui a possibilidade de a segunda<br />

instAncia conhecer originariame nte<br />

de tats casos, inclusive porque estes<br />

nAo estAo catalogados no art.<br />

621 do C6digo de Processo Penal.<br />

Houve, assim ofensa As normas<br />

legais em apreco.<br />

InegAvel, de outra parte, a diverencia<br />

entre a decisào recorrida e o<br />

act5rdAo invocado pela douta Procuradoria,<br />

emanado do E. Tribunal<br />

de Justica de SA° Paulo, em que este<br />

Ultimo assentou ser inviAvel a<br />

aplicacAo da lei mats benigna por<br />

meio de revisão.<br />

Admit° o recurso, pelos dois fundamentos<br />

. Processe-se.»<br />

A f. 75, assim se manifesta a<br />

Procuradoria-Geral da RepOblica,<br />

em parecer do Dr. Claudio Lemos<br />

Fonteles.<br />

«0 tema, em analise, trata<br />

de questäo ja definida peremptoriamente<br />

por este Supremo Tribunal<br />

Federal: nAo tem legitimidade<br />

o colegiado estadual para, em sede<br />

de revisal° criminal aplicar a lex<br />

mitior, conferindo-se tal ao Juizo<br />

das ExecucOes Criminals.<br />

Pet° provimento do recurso.»<br />

E o relatOrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves (Relator):<br />

A 3 de abril do corrente ano,<br />

esta Segunda Turma, ao julgar o RE<br />

90.804, de que fui relator, decidiu caso<br />

analog° ao presente, sendo esta a<br />

ementa do acardao entäo prolatado:<br />

«AplicacAo, feita em revisão criminal,<br />

de lei nova macs benigna a<br />

fato julgado por sentenca condenat6ria<br />

irrecorrivel.<br />

Tendo a manifestacAo no sentido<br />

da reducäo da pena partido do<br />

pröprio Ministerio Pirblico, ao emitir<br />

seu parecer, e nAo havendo sido<br />

levantada então a questa() relativa<br />

a inadequacAo da revisão criminal,<br />

bem como a competencia para a<br />

aplicacAo da lei nova macs benigna,<br />

f alta o prequestionamento dessas<br />

materias (Samula 282). Com<br />

efeito, em face dessa circunstAncia,<br />

nAo se pode pretender que o<br />

Ministerio PUblico foi surpreendido<br />

corn a reducAo da pena determinada,<br />

sem qualquer provocacão, pelo<br />

acOrdão, nä° havendo, portant°,<br />

oportunidade processual para prequestionar<br />

a questa°.<br />

Precedente do Plenärio do STF<br />

(RE 88.728).<br />

Recurso extraordinario via) conhecido»<br />

.<br />

Em face desse precedente, que se<br />

baseou em decisAo do Plenário (RE<br />

88.728), nAo conheco do presente re-<br />

CUTS°.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RECr. 89.498 — SP — Rel. Min.<br />

Moreira Alves. Recte. Ministerio POblico<br />

Estadual. Recdo. Walter José


Rocha Aguiar ou Valter Jose Rocha<br />

Aguiar (Adv.: Dalva Castilho Targa<br />

).<br />

Decisao: Nao conhecido, unanime.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

Paled°. — Presentes A Sessao os Srs.<br />

R.T.J. 94 327<br />

Ministros Delta° de Abreu, Cordeiro<br />

Guerra, Moreira Alves e Decio Miranda.<br />

— 5? Subprocurador-Ger..41 da<br />

RepUblica, o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 29 de maio de 1979. —<br />

Hello Francisco Marques, Secreterio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 89.749 — GO<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Soares Mtuloz<br />

Recorrentes: Pedro Barbosa de Souza e outros — Recorrido: Prefeitura<br />

Municipal de AnApolis.<br />

Taxa de pavlmentacão cobrada pelo Municiplo de Anapolls. Inconstltucionalidade<br />

por constituir hlpOtese de contribuicao de melho-<br />

Ha, instituida sem os requlsitos desta.<br />

ACORDAO<br />

Vistos,<br />

Acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Sessao Plenaria,<br />

A unanimiaade de votos, e na<br />

conformidade das notas taquigraficas<br />

conhecer e dar provimento ao<br />

recurso.<br />

Brasilia, 29 de marco de 1979. —<br />

Antonio Neder, Presidente — Soares<br />

Mufloz, Relator.<br />

RELATORIO<br />

O Sr. Ministro Soares Mufloz: 0<br />

despacho do ilustre Presidente do<br />

Tribunal de Justica do Estado de<br />

Goias expels a es/36de:<br />

«Vistos etc.<br />

Pedro Barbosa de Souza e outros,<br />

irresignados corn o AcOrdao<br />

unanime de fls. 263/267 da Terceira<br />

Camara Civel, nos autos da Apelacao<br />

n? 10.665 da Comarca de Anapolls,<br />

sendo apelantes os mesmos e<br />

apelados Prefeito Municipal de<br />

Anápolis e Pavimentadores de<br />

AnApolis S/A — Paviana, — recorrem,<br />

extraordinariamente, para o<br />

Egregio Supremo Tribunal Fede-<br />

ral, corn fundament° no art. 119,<br />

Inds° III, letras a, c e d da Constituicao<br />

Federal.<br />

Nao houve impugnacao.<br />

Trata-se, na hipetese, de Mandedo<br />

de Seguranca impetrado contra<br />

a exiancia de Taxa de Pavimentacao<br />

e Calcamento, denegado nas<br />

jurisdicOes de primelro e segundo<br />

graus.<br />

O acOrdao impugnado decidiu:<br />

que «6 legitima a cobranca de<br />

taxa de calcamento, bem como nAo<br />

constitul delegacao de competencia<br />

o cometimento, A Sociedade de<br />

Economia Mista (Pavlmentadora<br />

de AnApolis S/A — Paviana), do<br />

encargo ou Muck) de executar a<br />

pavimentacao e o calcamento da<br />

cldade e arrecadar a taxa, juros e<br />

multas referentes a esses send-<br />

Cos»;<br />

que, «no que Lange, todavia,<br />

ao valor tributAvel que esta sendo<br />

cobrado, quanto ao percentual maximo<br />

cobrAvel do contribuinte, tudo<br />

isso, por se cuidar de materia<br />

complexa, torna-se impossivel examiner<br />

aqul, eis que extrapola os 11mites<br />

do Mended° de Seguranca».


328<br />

R.T.J. — 94<br />

Em contrapartida, dizem os recorrentes:<br />

1! questão: que o AcOrdAo violou<br />

os arts. 18, I e II, 21, parag. 5? e 13,<br />

parag. 3? da Constituted° Federal e<br />

os arts. 7?, 77 e 79 do C6digo Tributario<br />

Nacional, porque:<br />

o caso e de Contribuicdo de<br />

Melhoria e nao de Taxa, sendo portanto,<br />

inconstitucional e ilegal a<br />

cobranca da Taxa de PavimentacAo<br />

e Calcamento;<br />

admitiu a delegaedo de coinpete‘ncia<br />

tributaria a Sociedade de<br />

Economia Mista.<br />

uestdo . que o AcOrddo divergiu<br />

dos julgados do Egregio Supremo<br />

Tribunal Federal nos RE n?s<br />

70.237, In D.J.U. de 4-3-76; 74.676;<br />

76.807; 77.181; 66.231, In R.T.J.<br />

51/445-447; 71.010, in R.T.J, 61/160;<br />

74.467, in R.T.J., 63/829.<br />

NA° resta a menor dfivida que a<br />

distinedo entre Taxa e ContribuicAo<br />

de Melhoria a assunto polëmico.<br />

No julgamento do RE n? 71.010-<br />

PR, realizado em 9-3-72, que tinha<br />

por objeto a Taxa de Construed° e<br />

PavimentacAo do Municipio de<br />

Curitiba, invocado pelos recorrentes,<br />

o Colendo Supremo Tribunal<br />

Federal, Pleno, depois de estabelecer<br />

a nota distintiva essencial entre<br />

Contribuicdo de Melhoria e Taxa (a<br />

primeira esta sempre vinculada a<br />

uma obra pOblica e a segunda, subordinada<br />

a um service pOblice<br />

especial), concluiu que a<br />

pavimentagdo<br />

fato gerador da<br />

Contribuicdo de Melhoria (R.T.J.<br />

61/160).<br />

0 Art. 2?, I do Dl. n? 195/67 inclui<br />

a pavimentacdo de pragas e vias<br />

pUblicas entre as obras geradoras<br />

da Contribuiedo de Melhoria.<br />

Segundo o acerddo, Mao ocorre,<br />

na especie, delegacAo de competência<br />

Tributaria a uma Sociedade<br />

de Economia Mista — Pavimenta-<br />

dora de Ant/3011s — S/A — PAVIA-<br />

NA — e tao-somente do encargo de<br />

arrecadar a Taxa, o que, realmente,<br />

nAo constitui delegacão de cornpetència<br />

(parag. 3? do art. 7? do<br />

COdigo Tributario Nacional).<br />

Admitimos o recurso, no efeito<br />

devolutivo, corn a restriedo exposta,<br />

e determinamos que se abra<br />

vista dos autos aos recorrentes e<br />

aos recorridos, sucessivamente,<br />

para, no prazo legal apresentarem<br />

suas raz6es. Publique-se» . (fls. 285-<br />

286).<br />

A 5? Subprocuradoria-Geral da RepUblica<br />

assim opinou:<br />

«Em mandado de seguranca, do<br />

v. acOrddo que entendeu validos a<br />

cobranca de pavimentacAo aslantca<br />

de ruas de Anapolis, Goias,<br />

atraves de taxa e o cometimento<br />

dessa cobranca pela Sociedade de<br />

Economia Mista Pavimentadora<br />

de Anapolis S/A — PAVIANA, foi<br />

interposto recurso extraordindrio,<br />

pelas letras a, c e d do permissivo<br />

constitucional.<br />

Dizem-se ofendidos os artigos<br />

constitucionais 18, I e II, 21, § 5? e<br />

13, § 3?; 7?, 77 e 79, da Lei 5.172/66,<br />

pois sobre dever ser cobrada in<br />

casu, contributed° de melhoria,<br />

ndo podia a Municipalidade de<br />

Anapolis delegar competëncia Tributaria<br />

a sociedade de economia<br />

mista, como o fez.<br />

Nos termos da Magna Carta —<br />

artigo 18, alinea I, poder-se-do arrecadar<br />

taxas.<br />

«... pela utilizacdo efetiva ou<br />

potencial de servicos pnblicos<br />

especificos e divisiveis prestados<br />

ao contribuinte ou posto a sua<br />

dIsposicdo...>)<br />

Segundo Bilac Pinto, é caracteristico<br />

fundamental da taxa.<br />

«constituir contraprestacão de<br />

servicos especiais prestados ou<br />

posto disposiedo do contribuinte.<br />

0 beneficio especial Melly°.


mensuravel, condicao essencial<br />

para que o tributo seja conceituado<br />

como taxa». (Grif amos)<br />

(Estudos Dir. Publ., peg. 158).<br />

Ponderou ainda o E. Ministro em<br />

voto vencedor, no RE 71.010 (Tribunal<br />

Pleno):<br />


330<br />

Decisao: Conhecera m e deram<br />

provimento ao Recurso, Para declarar<br />

a inconstitucionalidade dos arts.<br />

256 a 260, da Lei n? 432, de 20-12-73,<br />

do Municipio de Anapolis. Decisao<br />

unanime. Votou o Presiden te. Ausentes,<br />

ocasionalmente, os Srs. Mins.<br />

Leitao de Abreu e Antonio Neder,<br />

Presidente. Presidiu ao julamento o<br />

Sr. MM. Xavier de Albugquerque, Vice-Presidente.<br />

R.T.J. — 94<br />

PresidOncia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes a Sessao os<br />

Srs. Ministros Djaci Falcao, Thompson<br />

Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

Leitao de Abreu, Cordeiro Guerra,<br />

Moreira Alves, Cunha Peixoto, Soares<br />

Mutloz, Decio Miranda e Rafael<br />

Mayer. Procurador-Geral da Repdblica,<br />

Dr. Firmino Ferreira Paz.<br />

Brasilia, 29 de marco de 1979. —<br />

Alberto Veronese Aguiar, Secretario.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO CRIMINA L N? 89.891 — DF<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Leitao de Abreu.<br />

uio Barbosa dos Reis — Recorrido: Ministerio PtMB-<br />

Recorrente: Eustaq<br />

co do Distrito Federal e dos Territhrios.<br />

Latrocfnio . (C6digo Penal, art. 157, 3?). Tipffica-se este crime<br />

o homicidio, Mick se consuma a subtracão<br />

mesmo quando, consumado<br />

da coisa m6vel alheia. Verifies-se, tamb6m, este crime ainda quando<br />

morte haja sido dolosa. Recurs() extraordinftrio conbecido, pela letra<br />

a<br />

d, porêm desprovido.<br />

denunclados, em decorrOncia de co-<br />

ACORDAO<br />

autoria. Condenado, apelou, sem exi<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

to. Transcrevo, na parte que Interessa,<br />

o voto do relator, acolhido pelos<br />

autos, acordam os Ministros da Se- demais membros da Turma julgadogunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade corn a ata ra:<br />

de julgamentos e notas taquigrafi- «Levantou-se, em raz6es de relarecas, em conhecer do recurso, mas cursos, a tormentosa questa°<br />

negar-lhe provimento, por unanimi- tiva ao tratamento penal que se ha<br />

dale de votos.<br />

de emprestar a hipOtese em que se<br />

Brasilia, 19 de outubro de 1979. —<br />

configuraria, em principio, a tentativa<br />

de roubo, quando sobrevem o<br />

Djaci Falcao, Presidente — Leitao resultado morte.<br />

de Abreu, Relator.<br />

«0 primeiro ponto se prende a<br />

questao do vinculo psicolO gico en-<br />

RELATORIO<br />

tre a acao e o resultado morte.<br />

Ainda ha quern sustente que so in-<br />

0 Sr. Ministro Leit go de Abreu — cidiria o disposto no § 3? do artigo<br />

Conforme a denUncia, porque consu- 157 do COdigo Penal quando aquele<br />

mado o homicidio — crime-meio resultado adviesse de "culpa ou<br />

sem que fosse atingido o patrimanio preterdolo. Esta posicao, entretan-<br />

da vitima — crime-fim o recorto,<br />

pode ser considerada como venrente<br />

fol dado como incurso nas sancida. Sem duvida que se firma em<br />

gees do artigo 157, § 3?, c/c o artigo argumento sistematico de relevo.<br />

12, II, do COdigo Penal — tentativa Corn efeito, em outros casos de cride<br />

latrocinto . Tambem outros foram


R.T.J. — 94<br />

mes qualificados pel 1 resultado<br />

entende-se que as respectivas<br />

pela iei A hipetese,<br />

ras nAo compreendem<br />

figu-<br />

a hipOtese<br />

duzir a certo<br />

o que pode condesconchavo.<br />

de este haver sido dolosamente<br />

efeito, a admissào<br />

Corn<br />

al-<br />

da<br />

cancado. Entretanto,<br />

crime<br />

tentativa<br />

seria tricorn-<br />

c do<br />

omplexo, no caso, leva a<br />

preensivel que a let houvesse esta- que pena minima cominada seja<br />

belecido pena que pode atingir ate igual a cinco anos, inferior,<br />

trinta anos de reclusAo se nao to, A do homicidlo<br />

portan-<br />

simples. Real-<br />

abrangesse tambem o caso de a<br />

morte haver sido dolosa.<br />

resultado<br />

mente, bastante estranho que a tal<br />

se possa chegar.<br />

«0 caso em julgamento 6 o de «Cumpre considerar, entretanto,<br />

consumacao de crime-meto, posto que bastante amplos os limites da<br />

que se veriftcou a morte, e de sub- cominacAo, ensejando ajustamento<br />

tracAo nAo consumada.<br />

ao caso concreto de<br />

chegar a aplicacAo<br />

maneira a nao<br />

co caso a de crime complexo que sultados<br />

da pena a re-<br />

a lei trata como uma unidade<br />

aberrantes. De quinze a<br />

juridica. Em razAo desta unidade, trinta anos 6 a pena que poderA ser<br />

que derive de imposicào<br />

reduzida de um a dots tercos. As-<br />

legal, a<br />

consumacAo do crime membro sim, nao 6 de se supor que A tenta-<br />

pode lever A separacAo<br />

tive de roubo, quando sobrevem a<br />

juridicamente<br />

do que 6 morte, se vA aplicar uno. A licdo de Hun-<br />

a<br />

na, seja o<br />

gria, neste passo, embora fundada<br />

homicidio<br />

mesma pet<br />

doloso ou pre-<br />

em boas raz6es pragmAticas,<br />

erdoloso. 0 artigo 42 do C6digo<br />

nao Penal p<br />

pode ser acelta. Impossivel negarrta ropicia se faca a necessase<br />

que a consumacAo do crimemembro<br />

representa comeco de «Certo que persisttrA uma obje-<br />

execucAo do crime complexo e se a cAo. 0 maximo nao<br />

meta optata nao flit atingida, por<br />

p<br />

poderA ultra-<br />

motivos alheios A vontade do agen-<br />

sensi<br />

asser Ante anos, quantitattvo<br />

velmente inferior ao que pote,<br />

hA que se reconhecer que houve<br />

derla ser aplicado,<br />

a tentativa.<br />

nhecesse<br />

caso se reco-<br />

incidAncia do disposto no<br />

«Tais colocacoes doutrinArtas,<br />

artlgo 121, § 2?, V, do axligo Penal.<br />

En<br />

que resultam dos postulados le-<br />

tretanto, se a lei foi infellz<br />

gets, sAo de regra aceitas. Entre-<br />

no regular a mettle, nAo se me<br />

afigura que esta<br />

tanto, quando se trata do roubo<br />

consideracAo<br />

coin morte, o<br />

sa impedir sua<br />

pos-<br />

entendimento domi- a<br />

aplicacAo. conseqtiAncla<br />

Embora<br />

nante 6 no sentido de que se deva<br />

possa nAo ser a<br />

abrir excecão. A grande<br />

melhor, tenho nao ser dado ao in-<br />

maioria terprete desvincular dos autores e da jurisprudAncia<br />

o que a lei fez<br />

sustenta que,<br />

um) Se o crime a<br />

consumado<br />

complexo, o ho- tal hA de ser tratado.,<br />

como<br />

mocidto e a subtracAo nAo ultrapassando<br />

a tentativa, incidire o «Adiro, pots, A corrente minori-<br />

disposto no artlgo 121, § 2?, V, do tette como o fez a sentence e repu-<br />

aaligo Penal. Controverte-se<br />

to<br />

sobre<br />

corretamente feito o enquadra-<br />

se apItcável também mento a<br />

respondente A<br />

pena cor-<br />

juridlco» (fls. 308-309).<br />

tentative de crime 0 recurso extraordinArto, contra o patrimento.<br />

interpos-<br />

De qualquer to corn apolo na tetra d, mereceu o<br />

sorte, separam-se os crimes- segulnte parecer da<br />

membros.<br />

Procuradorla-<br />

Geral da Republica, subscrito pelo<br />

Procurador Claudio Lemos Fonteles:<br />

«Tal entendimento resulta • do<br />

inadequado tratamento dispensed° r<br />

«A denancia deixou claro que o<br />

esultado morte aconteceu porque<br />

331


332<br />

R.T.J. — 94<br />

os reus objetivavam apoderar-se<br />

de heranca patrimonial da vitima,<br />

nao o conseguindo pela forma desastrada<br />

corn que executaram a<br />

acdo (v. f. 3), e isto, admitiu-o amplamente<br />

a sentenca (v. f. 264).<br />

«Discutir-s e se esta era ou nä° a<br />

intencau dos acusados, obviamente<br />

nao e cabivel, na via eleita, presente<br />

o mandamento da SUmula<br />

279.<br />

0 Sr. Ministro Lena() de Abreu<br />

«For outro lado, o fato de ter-se<br />

(Relator) — A sentenca condenou o<br />

reu por tentativa de latrocinio.<br />

realizado o acontecimento morte<br />

nao desnatura a realidade Unica do Confirmou-a o acOrdao recorrido,<br />

cuja ementa esta assim redigida:<br />

crime de latrocinio, como conside-<br />

ram ambas as Turmas deste Cole-<br />

«Tentativa de roubo quando sobrevem<br />

o resultado por morte. 0 § 3? do<br />

giado Maior.<br />

artigo 157 do C6digo Penal incide<br />

«Assim, pronunciamentos dos ainda quando a morte haja sido dolodoutos<br />

istros Moreira Alves e sa. Tratando-se de crime comPlexo,<br />

Cunha PMin eixoto, verb's:<br />

nao ha como desmembrar aquilo que<br />

a lei tratou como uma unidade ». (f.<br />

Competencia.<br />

Ainda quando, para a pratica de 311).<br />

roubo, haja homicidio consumado e O Mu-recorrente alega dissidio ju-<br />

subtracäo tentada, nä() se descarisprudential, trazendo a colacao,<br />

racteriza o latrocinio, crime com- para comprova-lo, padrees de tribuplexo.<br />

Em tais casos, quer se connals locals, onde se assevera nao<br />

sidere que o latrocinio ja se consu- ocorrer latrocinio quando a subtramou,<br />

quer se entenda que ele foi cao da coisa alheia nao passa da tentativa,<br />

embora o homicidio se consu-<br />

simplesmente tentado — essa questäo<br />

nao esta em causa no presente me.<br />

recurso —, a competencia pars<br />

processo e julgament o e do Juiz No presente caso, consumou-se o<br />

singular, que e o competente, se- homicidio, nao, porem, a subtracao<br />

gundo entendiento do STF, em se<br />

patrimonial, que ficou na tentativa.<br />

tratando de lat m rocinio . Recurso ex- Diante de casos dessa natureza.<br />

traordinario onhecid o pelo dividem-se as opiniOes, quanto a cadissidio<br />

de jur cisprudencia, mas racterizacao de delito: aqui se susnOo<br />

provido . (RECr. 84.591 — Di<br />

tenta que ha tentiva de latrocinio;<br />

ali, que existe latrocinio consumado;<br />

12.11.76 — Dag. 9.824).<br />

acola, que se configura. homicidio<br />

Habeas corpus. Latrocinio . Corn- qualificado, na forma consumada, e<br />

petencia.<br />

roubo simples, na forma tentada, em<br />

concurso material. A sentenca, con-<br />

Se na pratica do roubo ficou<br />

consumado o hom icidio estara firmada pelo acOrciao, inclinou-s e pesempre<br />

tipificado o crime de lala<br />

primeira orientacao : tentativa de<br />

trocinio, pouco importando se houlatrocinio<br />

(C.P., artigo 157, §3?, cornye<br />

ou nao efetiva subtracao<br />

Tribunal Federal. RECr. 84.591 e<br />

MS 56.171. Habeas corpus indeferido.<br />

(H.C. 56.704 — DJ 23.3.79 'Dag.<br />

2.100).<br />

«Pei° improvimento do recurso»<br />

( cis. 342-344).<br />

E o relatOrio.<br />

VOTO<br />

do binado corn o artigo 12, II). Ao reconhecer,<br />

no caso, a existencia de<br />

bem patrimonial, sendo a compelatrocinio, o acOrdao recorrido ado-<br />

tencia para o processo e julgamentou posicão que coincide com a de<br />

to do Juizo singular, conforme rei-<br />

terada <strong>jurisprudencia</strong> do Supremo<br />

recentes pronunciamentos do Supre-


nui Tribunal. Tern entendido esta<br />

Corte, como afirma o parecer da<br />

Procuradoria-Gera] da ReaIlea,<br />

que se, na prAtica de roubo, se consuma<br />

homicidlo, tipificado esta 0 latrocinio,<br />

Wilda que nAo se consume a<br />

lesAo ao patrimAnio, Aos precedentes<br />

citados no parecer, cumpreacrescentar<br />

o concernente ao julgathento<br />

do H.C. 56.171, relator o Ministro<br />

Cordeiro Guerra. Nesses precedentes,<br />

nAo se cuidou de definir,<br />

por nAo ser necessArio, nas es/Ades<br />

entAo em exame, para a solugão do<br />

caso, se se tratava de latrocinio consumado<br />

ou de latrocinio tentado.<br />

Mas, no H.C. 56.817, tambOm desta<br />

Turma, Relator o Ministro Moreira<br />

Alves, foi-se alèm: estabelece-se ai<br />

que, consumado o crime de, homicidio,<br />

tem-se tambbm por consumado<br />

o latrocfnio, ainda que nAo se<br />

haja ifetivado a subtracão patrimonial<br />

intentada.<br />

Entre os acOrdAos trazidos a confronto,<br />

figura, ainda, o que esta a f.<br />

316. Sustenta-se, nessa decisAo, que<br />

«a hipOtese p<strong>revista</strong> pelo artigo 157,<br />

§ 3?, do COdigo Penal é de crime preterdoloso,<br />

qualificado pelo resultado.<br />

Verifica-se ela quando o agente, praticando<br />

roubo, causa morte ou lesOes<br />

corporals de natureza grave, sem ter<br />

querido». 0 padrAo a divergente do<br />

actirdAo recorrido, pois este afirma<br />

que «o § 3? do art. 157 do COdigo Penal<br />

incide ainda quando a morte haja<br />

sido dolosa». A melhor doutrina<br />

nAo esta, contudo, corn o acOrdAo paradigma,<br />

como se depreende do que<br />

eséreve o "lustre penalista DamAsio<br />

E. de Jesus (Revista de Direlto<br />

Penal, vol. 23, Editora Forense,<br />

pAgs. 122/3):<br />

«Pela sistematica do C6digo Penal<br />

de 1942, a hipOtese do artigo<br />

157, § 3?, deveria contemplar um<br />

delito preterintencional, uma vez<br />

R.T.J. — 94<br />

333<br />

que a expressAo 'se resulta' indica<br />

que a morte tipifica o delito como<br />

resultado e nAo como meio de execucâo<br />

do roubo prOprio ou imprO-<br />

prio. 0 COdigo, porém, cominou pena<br />

de tal severidade que não se<br />

h<br />

r<br />

armoniza corn delito preterdoloso:<br />

eclusão, de 15 a 30 anos. Entdo, se<br />

hipOtese fosse de crime<br />

so, punindo-se<br />

preterdolo-<br />

o resultado morte a<br />

titulo de culpa, corn a pena minima<br />

de 15 anos de reclusào,<br />

tariamoses-<br />

punindo<br />

culposo<br />

o homicidio<br />

qualificador do roubo corn<br />

pena mais grave que a imposta ao<br />

homicidlo doloso. Diante dessa iniqUidade<br />

a doutrina passou a afirmar<br />

que o tipo qualificado contempla<br />

a morte dolosa, culposo ou preterdolosa<br />

(Nelson Hungria); ou preterdolosa<br />

dolosa<br />

(MagalhAes Noronha),<br />

ou somente dolosa (Josè Frederica<br />

Marques)».<br />

Em face do exposto,<br />

mente configurado,<br />

estando clara-<br />

consoante se viu,<br />

o dissidlo <strong>jurisprudencia</strong>l, conheco<br />

do recurso; porèm, de acordo corn a<br />

orientacao desta Corte, the nego provimento.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RECr 89.891-DF — Rel.: Min. Leltäo<br />

de Abreu. Recte.: Eustaquio Barbosa<br />

dos Reis (Advs.: Maria Inez<br />

Soarez Abdala e outros). Recdo.: Ministerio<br />

Pithlico do Distrito Federal<br />

e dos Territtidos.<br />

Decisão: Conheceram do recurso,<br />

mas the negaram provimento. Unanime.<br />

P residAncia do Sr. Ministro Djaci<br />

FalcAo. — Presentes a Sessão os Srs.<br />

Mintstros Leitão de Abreu, Moreira<br />

Alves e Decio Miranda. Ausente, justif<br />

icadamente, o Sr. Min. Cordeiro<br />

Guerra. Subprocurador-Geral da Reo<br />

Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 19 de outubro de 1979 —<br />

Hello Francisco Marques, SecretArio.


334<br />

R.T.J. — 94<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 89.969 — SP<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Thompson Flores.<br />

Recorrente : Companhia de Saneamento Basic° do Estado de SA° Paulo<br />

— Recorridos: José Antonio e outros.<br />

Reclamactio trabalhlsta . Funclonarlos pfiblicos do Estado cedido<br />

a sociedade de economia mista (SABESP), pleiteando 13? Salli°<br />

es<br />

(Lei n? 4.090/62).<br />

II — NAo tendo os reclamantes optado pelo regime trabalhista,<br />

nos termos da Lei Estadual rt? 119/73, art. 8?, conthmando regidos pe-<br />

Ptiblicos Civis do Estado, incompetente<br />

lo Estatuto dos Funcionãrios<br />

e a Justica do Trabalho para apreciar sua pretensAo.<br />

III — Recurso extraordinãrlo conhecido e provido corn<br />

nos artigos 142 e 143 da ConstituicAo. STF. assento<br />

— Precedentes do<br />

4. Interposta <strong>revista</strong>, ndo foi ad-<br />

ACORDAO<br />

mitida, originando agravo o qual re-<br />

Vistos, relatados e discutidos ester sultou improvido pelo Egregio Triautos,<br />

acordam os Ministro s do Su- bunal Superior do Trabalho, por sua<br />

na Tribunal Federal, em Sessdo 1! 5 Turma<br />

Premo leria, na conformidade da ata do . Opostos embargos ndo foram<br />

julgamento e das notas taquigrd- admitidos, e, manifestado agravo refleas,<br />

por unanimidade de votos, co- gimental tambèm tido teve sucesso<br />

Corte,<br />

nhecer do recurso e dar-lhe pro- perante o Plendrio daquela<br />

em acerdäo undnime de 30-11-77.<br />

vimento.<br />

Brasilia, 27 de setembro de 1979. — 6. Dai o recurso extraordina rio, in-<br />

Antonio Neder, Presidente — terpostos a fls. 124-6.<br />

Thompson Flores, Relator. 7. Foi ele admitido pelo despacho<br />

do saudoso Presidente, Ministro Renato<br />

Machado, nestes termos, folhas<br />

RELATORIOi28-9:<br />

«Trata-se de pleito, no qual fun-<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores: cionarios pnblicos, estaduais, ce-<br />

Os recorridos em namero de (99) no- didos a Recorrente, pleiteiam o payenta<br />

e nove, funcionerios pnblicos<br />

estaduais, cedidos a recorrente, rem<br />

gamento do 13? saldrio.<br />

Tends esta Justica do Trabalho<br />

optarem pelo seu regime prOprio<br />

(C.L.T.) ajuizaram reclamacäo tra- reconhecido sua competencia para<br />

balhista postulando o 13? saldrio, fls.<br />

apreciar e decidir eito, e<br />

apresentado recurso o pltraordi- ex<br />

12-27•<br />

nark), alegando-se a infracAO aos<br />

Araida a incomPetencia da artigos 153, § 2?, 8?, XVII, b, e 142,<br />

Justia do Trabalho, foi rejeitada,<br />

acolhe c § 1?, da Constituied o Federal.<br />

ndo a Junta a pretensdo, fls.<br />

41-2.<br />

A primeira vista pode parecer<br />

Recorreu a reclamada ao que o recurso ndo e de ser admitido,<br />

como nAo o tern sido aqueles<br />

T.R.T., sem resultado, porem, man-<br />

lids que foi a decisdo originar ia, fo- em que a Rede Ferrovieria Federal<br />

impugna a competencia deslhas<br />

58-63.


to Justica Especializada para<br />

apreciar as reclamacees de funcionArios<br />

pdblicos cedidos, pretendendo<br />

a percepcao do 13? salArlo.<br />

Ocorre, todavia, diferenca substancial<br />

nas duas situacoes, na Rede<br />

FerroviAria Federal, os funcionArios<br />

pUblicos cedidos se integram<br />

e a Rede cabe pagar-lhe os<br />

proventos.<br />

Na Recorrente a situacao 6 outra,<br />

os funcionArios ptiblicos, de que<br />

tratam estes autos, nao foram por<br />

ela absorvidos de forma definitiva.<br />

Tendo em vista o dlsposto no artigo<br />

e seu paragrafo anico, da<br />

Lei Estadual de Sao Paulo, n? 119,<br />

de 29-6-1973 (texto integral a fls. 39-<br />

41), os Recorridos ainda continuam<br />

vinculados ao Estado. Este ainda<br />

pode providenciar sejam eles postos<br />

A disposicao de quaisquer Orgaos<br />

ou servicos da Admlnistracao<br />

direta ou indireta. AlOm disso, ressalta<br />

o parágrafo finlco do artigo<br />

citado, os venclmentos, vantagens<br />

e demais encargos relativos aos<br />

Recorridos estAo sendo custeados<br />

por dotacao orgamentAria da Secretarla<br />

dos Servicos e Obras POblicas.<br />

Isso, a meu ver, dA enfoque diverso<br />

As sltuacees e aconselha seja<br />

o assunto submetido ao crivo da<br />

Corte Suprema.<br />

Admito o recurso.»<br />

8. Parecer da douta Procuradorla-<br />

Geral da RepUblica favoravel e corn<br />

a seguinte fundamentacao, folhas<br />

134/6:<br />

«1. 0Egregio Tribunal Superior<br />

do Trabalho concluiu pela coinpetëncia<br />

da Justica Trabalhista para<br />

o processo e julgamento de reclamacao<br />

proposta por servidores<br />

pilblicos estaduais contra a SA-<br />

BESP, sociedade de economia mista,<br />

e, no merito, decidiu que o funclonArio<br />

cedido tern direito A gratlficacao<br />

natalina, enquanto durar<br />

R.T.J. — 94<br />

335<br />

a cessao, de acordo com a jurisprucléricia<br />

compendiada na<br />

SOmula 50.<br />

2. 0 recurso extraordinArio da<br />

SABESP tern por vulnerado os<br />

arts. 142, § 1?, 153, § 2?, e 8?, XVII,<br />

letra b, da Constituicao Federal.<br />

Sustenta o recorrente a incompeténcia<br />

da Justica do Trabalho para<br />

dirimir questees relativas a funcionarios<br />

ptiblicos e que a gratificacao<br />

natalina nä° pode ser deferida<br />

a servidores sujeitos A relacao<br />

estatutAria de servico<br />

3. Tern decldido o Supremo Tri-<br />

bunal Federal que 6 incompetente<br />

a Justica do Trabalho para as causas<br />

em que servidores estaduais,<br />

sob situacao estatutAria, litigam<br />

corn a FEPASA — Ferrovia Paulista<br />

S.A., empresa a qual foram<br />

cedidos (RE 86.362, DJ de 15-4-77,<br />

p. 2.351; RE 85.470, DJ, de 6-5-77, p.<br />

2.892; RE 86.363, DJ de 12-12-77, p.<br />

9.037; RE 85.474, DJ de 17-2-78, p.<br />

586; RE 88.604, DJ de 19-5-78, p.<br />

3.467, etc.).<br />

4. No caso, tambern os servidores<br />

p riblicos cedidos conservam<br />

sua vinculacao ao Estado e seus<br />

vencimentos, vantagens e outros<br />

e ncargos sao custeados pela Administragao<br />

Direta, atraves da Secretaria<br />

dos ServIcos e Obras POblicas,<br />

consoante resulta do art. 9?<br />

e seu par. tinico da Lei Estadual n?<br />

119, de 29-6-73 (fls. 39-41).<br />

HA, como notou o Exm? Senhor<br />

Ministro Renato Machado, no<br />

despacho de fls. 128-9, diferenca<br />

entre a situacao dos recorridos e a<br />

dos servidores pUblIcos cedidos<br />

Rede Ferroviaria Federal S.A.,<br />

porque os estip6ndios destes<br />

timos sao atendidos pela prOpria<br />

empresa.<br />

Ern julgado recente, de 14-8-9<br />

(RE 91.296, DJ de 31-8-79, p. 6.471),<br />

decidiu o Egréglo Plenario do Supremo<br />

Tribunal Federal pela Inc<br />

ompetencia da Justica do Tra-


336<br />

R.T.J. — 94<br />

balho para o processo e julgamen- Constituiedo, justificand o o conhecito<br />

de acAo proposta por servidores mento e provimento do exceptional,<br />

pUblicos do Estado contra a SA- coin arrimo em seu art. 143.<br />

salario.<br />

Inexiste relacao entre empregado<br />

Corn efeito, essas causas nao se e empregador entre os recorridos e a<br />

compreendem entre os dissidios re- recorrente.<br />

feridos no artigo 142 da Constitui- Pela cessAo operada simplesmente<br />

cao Federal, cujo julgamento á prestam aqueles servicos a esta.<br />

atribuido<br />

a Justica Trabalhista,<br />

p<br />

E isto porque continuam eles vin-<br />

7. Feb° conhecimento e pro- culados a Secretaria do Estado de<br />

vimento.<br />

onde provieram e a cujo quadro per-<br />

Brasilia, 4 de setembro de 1979. tencem.<br />

Moacir Antonio Machado da Perdura o regime que a cedente<br />

Silva, Procurador da RepUblica. estao vinculados; e, como seus servidores,<br />

regidos pelo Estatuto dos<br />

APROVO:<br />

Funcionarios Pablicos Civis do Es-<br />

Firmino Ferreira Paz, Procura- tado de SAo Paulo, do qual n5o quidor-Geral<br />

da Republica.)) seram se desprender uma vez que<br />

E o relat6rio.<br />

por outro regime nAo optaram, como<br />

Ries facultava, continuand o ainda a<br />

VOTO<br />

ser extipendiados pelo Estado. E tudo<br />

esta segundo o disposto na Lei<br />

Sr. Ministro Thompson Flores: Estadual n? 119/73, arts. 7°,§r, 8° e<br />

0<br />

(Relator ) — Conheco do recurso e 9°, paragrafo Ulna), fls. 339/40..<br />

the dou provimento para julgar in- 6 Assim decidiu este Plenario ao julcompetente<br />

a Justica do Trabalho, gar o RE 91.081-6, em sessdo de 8-8-<br />

com as repercuss6 es dai emergen- 79, do qual foi Relator o Eminente<br />

tes.<br />

Ministro Decio Miranda, e para cujo<br />

2. Sdo fatos certos, reconhecidos BESP, tendente a percePc do de 13° Corn efeito.<br />

desfecho concorri com o meu voto.<br />

pelas instancias ordinaries, que os<br />

reclamantes sdo servidores pUblicos<br />

Sua ementa disp6e: Competencia<br />

«Constitucional.<br />

duals, cedidos a recorrente, trabalhista. Funcionari os pablicos<br />

mas, porque nao optaram pelo re- cedidos a sociedade de economia<br />

gime que the e pr6prio, mantiveram mista (SABESP), que nao exerce-<br />

o originario, Estatuto dos Funcionaram direito de opcão, facultado em<br />

rios Civis Estaduais, e por isto mesmo<br />

estipendiados pelos cofres da repartied()<br />

de onde provieram (Secretaria<br />

de Servicos e Obras Pablicas).<br />

Mesmo assim e simplesmente na<br />

decorrencia da cessào, concluiram,<br />

com base no verbete 50 da sUmula<br />

do Tribunal Superior do Trabalho<br />

que, tido s6 era competente a Justica<br />

em questäo, como devido 0 13° salario<br />

aos recorridos, nos termos da<br />

Lei 4.090/62.<br />

3. Penso que, em assim decidindo,<br />

contrariado resultou o art. 142 da<br />

leis, pelo regime trabalhista, e<br />

cujos estipendios sac) atendidos pelo<br />

Orgão da Administracäo Direta a<br />

que continuaram vinculados. Inviavel<br />

a postulacA o de 13° salad() (ou<br />

de qualquer outra vantagem) na<br />

Justica do Trabalho, incomPetente<br />

para a especie, A luz do art. 142 da<br />

ConstituicAo Federal.<br />

E o meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE. 89.969 — SP — Rel.: Min.<br />

Thompson Flores. Recte.: COM-


panhia de Saneamento Basic° do Estado<br />

de Sao Paulo. (Advs.: Maria<br />

Cristina Paixao Cones e outros).<br />

Recdos.: Josê Antonio e outros.<br />

(Adv.: Ciro Sales de Oliveira).<br />

Decisao: Conheceu-se do recurso e<br />

se the deu provimento para julgar<br />

incompetente a Justice do Trabalho.<br />

Decisao uniforme. Votou o Presidente.<br />

Presidancia do Sr. Ministro Antonio<br />

Neder. Presentes a Sessao os<br />

R.T.J. — 94<br />

337<br />

Srs. Ministros Djaci Falcao,'Thorepson<br />

Flores, Xavier de Album/vie,<br />

Cordeiro G<br />

Cunha Peixoto,<br />

uerra,- Moreira' Alves,<br />

Soares 'Mugot, Decio<br />

sente, Miranda e Rafael Mayer: — -Au-<br />

justificadamente, ,o. Sr;<br />

Leitao de Abreu. Procurador-Deal<br />

da Republica,<br />

Paz.<br />

Dr. Firmino Ferreira<br />

Brasilia, 27 de seternbro de 1979:<br />

Alberto V eronese Agutar, Secretário.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 90.069 — MG<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Deck, Miranda.<br />

Recorrente: Texaco Brasil SA. —<br />

Fernando de Castro Queiroz e out a. Produtos de Petraleo — iteCorri- ,<br />

cisao Processual Civil. 1) Excecgo cabe agravo<br />

de<br />

de instrumento<br />

incompetencia.<br />

e<br />

Da<br />

nao rispeC<br />

apelaego<br />

tiv,o<br />

c/c art. 522). 2) Fungibilidade ( CPC, an. 162,<br />

Admite-se, dos recursos. 2?,<br />

Excusabilidade<br />

gibilidade dos no regime do C6d. Proc. Civil de 1973, o principlo`da dMerro„<br />

r ft16-<br />

nele nao previsto ecursos, inerente ao Materna (art.<br />

expressamente, 250), a tisePeltti C6cligo de 1939. como antes ocorria no art 810 do de<br />

IndispensAvel, de do erro.<br />

no enfant°, o requisito da excusabilbla-<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do<br />

Supremo Tribunal Federal, em Segunda<br />

Turma, na conformidade da<br />

ata de julgamentos e das notas taquigraficas,<br />

a unanimidade de votos,<br />

Traci conhecer do recurso.<br />

Brasilia, 11 de abril de 1980, Thad<br />

Falebo, Presidente — Decio<br />

Miranda, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda: 0<br />

acerclao recorrido decidiu caber<br />

agravo de instrumento, e nao apelacao,<br />

da decisao que, dando-a por improcedente,<br />

Julgara a exceed() de incompetencia.<br />

Discorre, a propOsite, o aresto<br />

lavra do Desembargador Regulo a<br />

Peixoto, na 1? Camara Civil do Tribunal<br />

de Justice de Minas Gerais:<br />

«0 criterio determined° digo atual, de pelo C6-<br />

cabimento so, se apelacäo<br />

de recur-<br />

inst ou se agravo de<br />

rumento, 6 o do artigo 162, pa-<br />

/*gra:0s 1? e 2?.<br />

d<br />

Da sentence cabe apelaca°<br />

efinicao do C6digo, sentence k o<br />

p<br />

ato pelo qual o Julz p6e terinci ao<br />

rocesso, decidindo ou nao. o mento<br />

da causa.<br />

Ora, no caso, nao houve sentence<br />

pondo termo ao processo, decidindo<br />

ou nao o merit° da causa.<br />

0 que a apelante denorninou Jae<br />

sentence, nao passa de mere deci-


R.T.J. — 94<br />

3311<br />

saki de decisao sobre dente do<br />

Por outro lado, o acOrdao recorri-<br />

do teria entrado em conflito corn as<br />

processo, que tern recurso previsto<br />

no C6digo de Processo Civil, pots, numerosas deCiStieS que, no regime<br />

nao sendo sentenc a , da qual cabedo C6digo de PrOCeSSO Civil de 1973,<br />

admitem a fungibilidade dos recur-<br />

apelacao, nem sendo despacho<br />

de sos, a despeito de nao reproduzid a a<br />

mero expediente, que e irre-<br />

corrivel, e desafiante de agravo de norma do art. 810 do diploma proces-<br />

sual de 1939.<br />

instrumento.<br />

Nesse sentido, os acOrdaos do Tri-<br />

Alias, neste sentido, esta Egre- bunal de AR:ado de Sao Paulo nas<br />

gia Camara, por sua Turma Julga- ApelacOes Civets 207.693 e 18.351, in<br />

dora, la se manifestou intimeras<br />

vezes, tail come no agravo de ins-<br />

Julgados do Tribunal de Alcada de<br />

trumento n? 13.682, da Comarc a de Sao Paulo, vol. 32/241 e 32/359, Justi- respectivamente;<br />

do Tribunal de<br />

Belo Horizonte, 14.253, da Comarca Co-ca do mesmo Estado, no Agravo de<br />

de Montes Claros e 14.504,<br />

marca de Uberlandia, todos estes<br />

por mini relatados.<br />

E hoje, tat a clareza das normas,<br />

que o C6digo nao mais permite a<br />

conversao de urn recurso em outro.<br />

Escrevendo sobre o assunto, doutrina<br />

Sahione Fadel: «Nao pods,<br />

tamban licar sent uma palavra o<br />

sil6ncio do C6digo acerca da possi- , reira (Escudo, Liber Jur s,<br />

,<br />

bilidade de se varlar<br />

por erro ou dnvida na sua inter<br />

mats possibilidade de a parte errar «0 acerdao recorrido, entretan-<br />

de recurso . Se o fizer, erTara mesto, ao decidir pela impropriedade<br />

mo, sem possibilidade de convali- do recurso e ao mesmo tempo pela<br />

impossibilidade de conversao da<br />

dar ou aproveitar o apelo interpos-<br />

apelacao em agravo de instrumento».<br />

(In C6d. de Proc. Civil<br />

to, por nao encontrar elementos<br />

Coroentado, vol. III/110).<br />

Maim sendo, nä° conheco do re-<br />

que configurassem como sentenca<br />

curso pela sua impropriedade». (F.<br />

o julgamento de primeiro grau,<br />

nao violou qualquer norma <strong>federal</strong>,<br />

80).<br />

mas lhes deu interpretacao razoà-<br />

Recorre extraordinariamente a exvet e admitida em muitos julgaclpiente<br />

e apelante, fundando seu<br />

mentos de outros Tribunals<br />

apelo nas tetras a e d da permissäo<br />

(Siimula 400).<br />

constitucional.<br />

No entanto, em contraPartida,<br />

Ter-se-la negado vigencia ao art. ha, realmente, pronunciamentos<br />

513 do C6d. Proc. Civil, a dizer que opostos de outras Cortes de Justi-<br />

«da sentenca cabers apelacäo». ca, nos quais se defende e admite a<br />

Ora, die a recorrente, sentenca 0 subsistencia da conversa o e pots<br />

aquela que pde termo ao processo, e da fungibilidade dos recursos na<br />

dessa natureza a que Raga a exce- vigente legislacao processual civil,<br />

ed° de incompetência.<br />

po- Jos0 Oswaldo de Oliveira Leite (Da<br />

o texto do Fungibilidade dos Recursos, RT<br />

Myth), nito reproduzindo<br />

art. 80 do C6digo antigo. Talvez 488/23).<br />

tenha 1 Instrumento de n? 240.062,<br />

479/95; do Tribunal de Justica do Rio<br />

de Grande do Sul na Correica o Parcial<br />

n? 8.368, in RF 246/383.<br />

De resto, o princiPio da fungibilidade<br />

dos recursos no novo Cédigo<br />

afirmado pelos autores Jose Frederico<br />

Marques (Manuel, Saraiva,<br />

111/2/128); Jose Carlos Barbosa Moo<br />

iegislador entendldo, dada Foi o recurso admitido pela letra<br />

a clan distincao entre os conceitos d, em despacho que assim reza, na<br />

nten a e decisao, que nao ha parte precipua:


R.T.J. — 94<br />

como 0 demonstram as decisOes<br />

que ilustram a letra d.» (F. 94) Pela tetra d, pretende a recorrente<br />

E o relatario. se admita, no caso, a aplicacão principio da fungibilidade<br />

do<br />

sos.<br />

de recur-<br />

VOTO<br />

A jurisprudOncia do Supremo Tri-<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda (Re bunal Federal tem-no aceito no regilator):<br />

Na sua primitiva redacdo<br />

- me do diploma processual ora em viconstante<br />

da Let n? 5.869, de 11.1.73 • gor, a despeito de não vir expresso,<br />

Suplemento ao D.O. de 17.1.73, o<br />

gente C6digo de vi<br />

como antes ocorria no art. 810 do CO-<br />

Processo Civil, ao<br />

-dlgo de 1939. 0 principio<br />

regular a exceed° de incompetth<br />

ao sistema<br />

O inerente<br />

1 ,<br />

processual<br />

declarava, no art. 309, que, «havendo 250).<br />

(CPC, art.<br />

necessidade de prova testemunhal,<br />

juiz<br />

o Todavia, continua-se exigindo a<br />

designara audiOncia de instru- excusabilidade do erro.<br />

cdo, proferindo sentenca dentro de<br />

dez dias.»<br />

Assim, no acerdao do RE Lett<br />

o eminente MlnIstro Lend°<br />

A Lel n? 5.925, de 1.10.73, retificou, de Abreu (RTJ 89/210), deixou-se de<br />

entre outros, o citado art. 309, para conhecer de recurso extraordinario,<br />

deixa-lo corn o seu texto atual, a di- porque razoavel, e nä° confrontada<br />

zer, na parte final, que "0 Juiz de- consoante as exigOnclas do art. 305<br />

signara audiOncia de instrucao, deci- do Regiment°<br />

dindo em seguida<br />

Interno, a decisdo<br />

dentro de dez (10) que, nao admitindo<br />

dias.»<br />

apelacao<br />

sublinhara haver a apelante co-<br />

Dat, em suas excelentes anotacoes metido «erro inexcusavel».<br />

ao COdigo, dizer Theotonio Negrdo, Mais recentemente, outro acarddo<br />

de referenda ao art. 309, que as alterack)<br />

de<br />

desta Turma, no RE 91.189, Julgado<br />

redacdo de texto trazida em sessdo de 4.12.79, relater :o emi-<br />

pela Lei 5.925 tornou claro que nä° nente Ministro Cordeiro Guerra,<br />

se trata de Sentenca, porta de deci- acentuou o requisito da<br />

interlocutOria», de onde a conseexcusabilidade<br />

do erro, coin a<br />

qiiOncia, que assim exprime: «a deci-<br />

segulnte ementa:<br />

«Recurs°<br />

sac', quer rejelte, quer acolha a exce-<br />

interposto<br />

quando ainda<br />

por outro,<br />

ea° de incompetOncia, admitird<br />

controvertida a ma-<br />

agravo de instrumento». Cita, a protCria.<br />

Afastado 0 erro grosseiro,<br />

pasito, extenso rol<br />

admite-se a fungibIlldade<br />

de decisees.<br />

dos re-<br />

(C6digo de Process° cursos. RE conhecido e provido».<br />

pag• 102).<br />

Civil, 9! ed.,<br />

considerar<br />

No caso dos autos, nä° se pode<br />

De fato. Se a solucão da excecao<br />

excusavel o erro.<br />

de incompetdricia nao a uma senten- Tinha a ora recorrente, no art. 162,<br />

ca, mas simples decisao, acha-se de- 2?, do C6d. Proc. CiVil de 1973, a<br />

finida no art. 162, § 2?, do COdigo, «a- exata definiedo do ato pelo qual o<br />

to pelo qual o Juiz, no curso do pro- Juiz decidira o incidente de incompecesso,<br />

resolve questdo incidente». tência, a qua] macs nitida ainda se<br />

NA° se trata,<br />

fazia pela<br />

evidentemente,<br />

comparacão de<br />

ato pelo qual o Julz «pde termo ao<br />

ed° de sentenea,<br />

corn a deflatpro-<br />

ap<br />

1st° é, de decisdo<br />

cesso, decidindo ou ndo o merit° da elavel no § 1? do referido artigo.<br />

causa» (cit. art. 162, §1?).<br />

De resto, ao apelar em 21.6.77, em<br />

De todo improcedente, assim, a ar- tits anos e melo de Agenda do novo<br />

gticão de ofensa ao art. 513 do C6d.<br />

COdigo, nenhuma vacilacdo se verifi-<br />

Proc. Civil.<br />

care, na doutrina ou na<br />

ia, sobre o<br />

jurisprucién-<br />

ponto ora considerado.<br />

339


340<br />

Assim, em conclusao, nem o actirciao<br />

recorrido negou vigencia ao art.<br />

513 do C6d. Proc. Civil, nem divergiu<br />

da jurisPrudencia que admite o<br />

princiPio da fungibilidade dos recursos,<br />

subordinada que se acha ao re-<br />

quisito da excusabilidade do erro.<br />

Ante o exposto, nä() conheco do recurso<br />

extraordinario.<br />

E meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

R.T.J. — 94<br />

RE 90.069 — MG — Rel.: Min. Dedo<br />

Miranda. Recte.: Texaco Brasil<br />

S/A — Produtos de PetrOleo (Advs.:<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 90.090 — SP<br />

(Segunda Turma)<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda:<br />

Trata-se de mandado de seguranca<br />

impetrado pelo proprietario de linevet<br />

urban contra a cobranca de ta-<br />

Eduardo Guimaraes Andrade e outros).<br />

Recdos.: Fernando de Castro<br />

Queiroz e outra (Advs.: Maria Selma<br />

Moreira Mattos).<br />

Decisào: Nao conhecido . Unanime.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

Falcao. Presentes a sessao os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves e Decio Miranda. Licenciado,<br />

o Sr. Ministro Leith() de Abreu.<br />

Subprocurador-Geral da Republica,<br />

o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 11 de abril de 1980. —<br />

Hello Francisco Marques, Secretario.<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Decio Miranda. Recorrido: Milton de<br />

Recorrente: Prefeltura Municipal de Itapeva —<br />

Moura Muzzel.<br />

Tributário. Pavimentaego de logradouros. Tratando-se de obra<br />

a que, segundo o Decreto-let n? 195, de 24-2-67, bode corres-<br />

panes de Melhorla, nao tern o Poder Pablico a opeAo<br />

ponder Contribulcão<br />

itituir, alteativamente, taxa remunerathria ( RE 87.604, Pleno<br />

dens rn<br />

de 21-2-79). Ilegiti<br />

midade da Taxa de Pavimentac ão do Municipio de<br />

Itapeva.<br />

xa de pavimentacao do Municipio<br />

ACORDAO<br />

de Itapeva, instituida pela Lei Muni-<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

cipal n? 75, de 7-11-73, e destinada<br />

«a cobrir as despesas corn essa obra<br />

autos, acordam os Ministros do Su- e devida por todos os proprietarios<br />

premo Tribunal Federal, em Segun- de imOveis situados nos trechos de<br />

da Turma, na conformidade da ata<br />

de julgamentos e das notas taquigra-<br />

vias pOblicas beneficiada s corn esse<br />

fleas, a unanimidade de votos, nao<br />

melhoramento», incluidos os gastos<br />

«corn a construcao, retificacao e re-<br />

conhecer do recurso.<br />

forma de galerias pluviais, nivela-<br />

Brasilia, 18 de abril de 1980. — mento e despesas da administra-<br />

Djaci FaIcgo, Presidente — Decio cao”, calculada a incidencia median-<br />

Miranda, Relator.<br />

te a divisao dos gastos da obra «proporcionalmente<br />

ao ndmero ie me-<br />

RELATORIO<br />

tros de frente de cada propr ,3dade».<br />

Reformando sentenca de primeiro<br />

grau, a 1? Camara do 1? Tribunal de<br />

Alcada Civil de Sao Paulo concedeu


a seguranca corn esta fundamentacaw<br />

«Conforme mui bem fez sentir o<br />

nobre Dr. Procurador da Justica,<br />

em seu bem lancado parecer de<br />

fls. 51/52, a taxa obJetiva o custelo<br />

corn servico pablico especifico e<br />

divisivel prestado ao contribuinte,<br />

ou posto efetivamente A sua disposicao,<br />

conforme determina a lei e<br />

ensinam os doutos.<br />

Mas, no caso des autos nao existe<br />

servico divisive!, individuado,<br />

«ou referido imediatamente ao<br />

contribuinte», que Justifique o ratelo<br />

dos custos entre os proprietArios<br />

confrontantes da obra realizada,<br />

pots a pavimentacao de rua e<br />

aproveitada por todos que por eta<br />

transitam, sendo que o beneficio<br />

traz proveito A limpeza e seguranca<br />

dos transeuntes, a conservacao<br />

dos veiculos e, apenas, de forma<br />

imedlata aos moradores da rua,<br />

que nem sempre ski os proprietarios<br />

dos im6veis. E, servico geral<br />

prestado A coletividade fiat) pode<br />

ser cobrado a reduzido nameros<br />

de municipios, rotulado de taxa,<br />

por nao ser o use da pavimentacao<br />

exclusivo dos proprietarios lindeiros,<br />

e a tributacao desses s6 se<br />

tomaria legitima em funcao da valorizacáo<br />

de seus imOveis, decorrente'da<br />

obra.<br />

Acrescente-se que para a cobranca<br />

da contribuicao de melhoria a<br />

Municipalidade teria que editar lei,<br />

corn observancia do contido no art.<br />

82, precisando o coeficiente de valorizacao<br />

nos limites estabelecidos<br />

na Constituicao (art. 18, II), no C6digo<br />

TributArio Nacional (art. 82) e<br />

Decreto — Lei n? 195/67, que 6<br />

auto-executAvel (RE n? 76.278, in<br />

RTJ 69/814).D (F. 59).<br />

A esse acardao tiptoe recurso extraordinArio<br />

o Municipio, fundado<br />

nas Tetras a e d da permissao constitucional.<br />

R.T.J. — 94 341<br />

Sustenta que a decisao nega vigancla<br />

aos arts. 77 do C6cligo TributArio<br />

Nacional e contraria o art. 18, I,<br />

da Constituicao.<br />

Pqr outro lado, diverge o actirdao<br />

da Samula 129 do Supremo Tribunal.<br />

Dissente, por igual, de decis6es de<br />

outros Tribunals, v.g., do Tribunal<br />

de Alcada de Sao Paulo na AC n?<br />

24.888, RDA 55/231 («A lei pode optar<br />

entre a taxa de calcamento e a contribuicao<br />

de melhoria para ocorrer<br />

As despesas de pavimentacao de<br />

ruas”); da 34 Camara do mesmo Tribunal<br />

recorrido no AP 193.618, RT<br />

456/149: da 4! Camara do Tribunal<br />

de Alcada Civil, na AC 133.254, RT<br />

412/223. (F. 63).<br />

Ainda em dissencao o actordao recorrido<br />

corn o Julgado do Supremo<br />

Tribunal no RE 83.745 (publicado em<br />

Juigados do TACvSP 44/85), no qual<br />

o saudoso Ministro Rodrigues Akkmin<br />

declarou que a contribute/to de<br />

melhoria e a taxa de execuctio de<br />

calcamento «são institutos reciprocamente<br />

alternativos, porque e um<br />

excludente do outro»; se se exige<br />

contribuicâo de melhoria, nao se pode<br />

exigir, pela mesma obra, taxa de<br />

pavimentacao e vice-versa». (F. 64).<br />

0 despacho presidenclal admitlu o<br />

apelo extremo, ern mat) da Ultima<br />

divergancla apontada.<br />

E o relatario.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Witham Dodo Miranda (Relator):<br />

Ao dlspor sobre a cobranca<br />

da Contribuicao de Melhoria, o<br />

Decreto-lei n? 195, de 24-2-67, lei <strong>federal</strong><br />

de normas gerals sobre direito<br />

financeiro, assentou, no art. 2t, que<br />

«sera devida a Contribuicao de Melhoria,<br />

no caso de valorizaclio de<br />

imOveis de propriedade privada, em<br />

virtude de qualquer das seguIntes<br />

obras pnblicas».


342<br />

Entre estas, mencionou a «abertura,<br />

alargamento, pavimentacão, iluminacao,<br />

arborizacao, esgotos pluviais<br />

e outros melhoramentos de<br />

pracas e vias pUblicas» ( art. 2?, I).<br />

Temos, pots, que o Municipio de<br />

Itapeva instituiu Taxa de Pavimentacao<br />

em correspondencia corn obra<br />

que a lei complementar <strong>federal</strong> supOe<br />

tenha o seu custo retribuido por<br />

meio de Contribuicao de Melhoria.<br />

Como acentua o Municipio recorrente,<br />

a jurisprudëncia admitiu durante<br />

certo tempo a utilizacao alternativa<br />

de uma ou outra forma de recuperacao<br />

do gasto pUblico.<br />

Mats recentemente, porem, no julgamento<br />

do RE 87.604, tornado por<br />

unanimidade, Pleno de 21-2-79, fixou<br />

o Supremo Tribunal Federal entendimento<br />

segundo o qua], nos casos em<br />

que cabe a imposicao de contribuicao<br />

de melhoria, «nä° tern o Poder<br />

l'ablico a opcäo de instituir, alternativamente,<br />

taxa remunerathria » ( acOrdao<br />

cujas conclusOes foram publicadas<br />

no DJ. de 30-3-79).<br />

R.T.J. — 94<br />

Atento a essa orientacao. e porque<br />

esteja superada a divergencia invocada<br />

pelo Municipio recorrente, Liao conheco<br />

do recurso extraordinario.<br />

E meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 90.090 — SP — Rel.: Min. Decio<br />

Miranda. Recte.: Prefeitura Municipal<br />

de Itapeva (Adv.: Jose Maria<br />

Campolim do Canto). Recdo.: Milton<br />

de Moura Muzzel (Adv.: Mouracy do<br />

Prado Moura).<br />

Decisao: Nao conhecido. Unanime.<br />

Presiancia do Sr. Ministro Djaci<br />

Presentes aSessao os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra, Moreira<br />

• Alves e Decio Miranda. Licenciado,<br />

o Sr. Ministro Leitao de Abreu.<br />

Subprocurador-Geral da RepOblica,<br />

o Dr. Mauro Lelte Soares.<br />

Brasilia, 18 de abril de 1980. —<br />

Hello Francisco Marques, SecretArio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 90.519 — AM<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Thompson Flores.<br />

Recorrente: Prefeitura Municipal de Manaus — Recorrida: J. G. AraUjo<br />

& Cia. Ltda.<br />

Taxa de renovacAo anal de licenca para localizacAo, exigida pelo<br />

municipio de Manaus, Amazonas, atrav6s do art. 215 c/c o art. 212,<br />

f 1?, da Lei 1.125, de 27-10-71.<br />

II — Inconstitucionaliciade por nao corresponder ao efetivo<br />

exercicio do poder de policia, ou a service prestado ao contribuinte,<br />

exigido pela ConstituicAo, art. 18, I. Precedentes do STF (RE 69.957,<br />

89.518 e 81.950).<br />

III. Recurso extraordinftrio nAo conhecido.<br />

ACORDAO<br />

julgamento e das notas taquigrAficas,<br />

por unanimidade de votos, nao<br />

conhecer do recurso.<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Su- Brasilia, 20 de setembro de 1979. —<br />

premo Tribunal Federal, em Sessao Antonio Neder, Presidente —<br />

Plenaria, na conformidade da ata do Thompson Flores, Relator.


RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

Contra o recorrente ajuizou a recor<br />

Lida, em 17-5-73, Mandado de Seguranca,<br />

visando eximir do pagamento<br />

da taxa de renovacao da licenca para<br />

localizacão, que the esta sendo<br />

exigida corn base no C.T. do Municiplo<br />

(Lei n? 1.125, de 27-10-71, corn<br />

as alteracOes que the introduziu a<br />

Lei n? 1.138, de 23-7-72, artigos 208,<br />

209 e 221 ).<br />

Sustenta a inconstitucionalidade<br />

dos preceitos citados.<br />

Concedida a limtnar, a tempo<br />

sentenciou o magistrado, declarando<br />

a inconstitucionalidade da primeira<br />

das leis, concedendo a seguranca.<br />

Apreciando os apelos, houve por<br />

bem o Egrèglo Tribunal de Justica,<br />

em acOrdão unAnime de 19-2-78,<br />

prove-los em parte, declarando, apenas,<br />

a inconstitucionalidade dos arts.<br />

212 e 215, da Lei n? 1.125/71.<br />

Sua ementa disp0e, fl. 115:<br />

«Taxa de licenca para a localizacAo<br />

e atividade de estabelecimento<br />

de producAo, comercio, incinstria e<br />

prestacOes de servicos, instituida<br />

pelos arts. 212 e 215 do COdigo<br />

butario do Municiplo de Manaus<br />

(Lei 1.125, de 27 de outubro de<br />

1971).<br />

Antinomia dos mesmos, porque<br />

elegendo icidntica grandeza econ0mica<br />

que servira de base para calcular<br />

a cobranca de urn imposto,<br />

corn os arts. 77 e 78 do C6digo Tributario<br />

Nacional e o art. 18 da<br />

Emenda Constitutional n? 1.»<br />

4. Dal o presente recurso extraordinario<br />

fundado nas letras a e d da<br />

permissAo constitutional.<br />

Sustenta haver o deciserio impugnado<br />

contrariado o art. 18, I, da<br />

ConstituicAo e denegado vigencia ao<br />

artlgo 80 do C.T.N., bem como, discrepado<br />

de arestos de outros <strong>tribunal</strong>s,<br />

inclusive deste, fls. 119/31.<br />

R.T.J. — 94<br />

5. Admit!do pelo dissidlo, f. 135, su<br />

blu a esta Corte corn razoes des partes,<br />

recebendo parecer<br />

douta<br />

contritrio<br />

Procuradoria-Geral<br />

da<br />

da<br />

blica, nestes termos, f. 154:<br />

Repu-<br />

« Insurge-se a Recorrente contra<br />

decisão que Mum/ Inconstitucional<br />

a taxa de licenca de localizacAo<br />

corn base de calculo identica<br />

impost° parcial,<br />

a do<br />

a vista do disposto<br />

nos artigos 77 e 78 do C.T.N. e art.<br />

18, 2?, da ConstituicAo.<br />

Trata-se de mattria com precedente<br />

nessa Excelsa Corte,<br />

RE 81.930, julgado<br />

que, no<br />

em sessAo<br />

nark' de 9-5-79, *-<br />

sendo o<br />

eminente Ministro<br />

relator o<br />

Decio<br />

conheceu<br />

Miranda,<br />

unanlmemente de<br />

apelo corn o mesmo fundament°<br />

deste e defendendo o<br />

to.<br />

mesmo tribu-<br />

Assim, opinamos nAo seja<br />

cido o recurso.<br />

conhe-<br />

Brasilia, 29 de agosto de 1979.<br />

Miguel Frauzino Pereira,<br />

radon da Republica. Frozu-<br />

APROVO:<br />

Mauro Lefte Soares, Subprocurador-Geral<br />

da RepUblica<br />

o relatOrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores<br />

(Relator): NAo conheco do recurso.<br />

2. A espècie 6 IdOntica a que fol decldida<br />

por este Pienitrio em sessile<br />

de 09-05-79, no RE 81.950-9, do Amazonas,<br />

no qual tambem era recorrente<br />

a Prefeltura Municipal de Manaus.<br />

0 voto proferido pelo eminente Relator<br />

Min. Decio Miranda. e acompanhado<br />

pelos demais, fol o eeguinte:<br />

“Vlsivelmente inconstitucional se<br />

mostra a taxa ora diseutids. per<br />

nAo corresponder a efetito<br />

exerciclo do poder de pellets ou a<br />

servico prestado ao centribsftifte<br />

34


R.T.J. — 94<br />

344<br />

Nao the proporcionam qualquer<br />

(art. 18, I, da Constituicao), as decis6es como lo- prestimo, pois, foram apenas trans-<br />

bem reconheceram critas suas ementas, e delas nao se<br />

cats.<br />

extrai dissonancia entre elas e o jul-<br />

Por isso, nao conheco do recurso gado recorrido.<br />

pela tetra a.<br />

Seria de conhecer do recurso, Incide, pots, o R.I., art. 305 (S.<br />

corn fundament° na letra d, pela 291).<br />

invocacao do acardao divergente,<br />

do RE 71.509, proferido na 1? Tur- No mats, reporto-me aos fundama<br />

em 12-10-71, sendo relator o Sr. mentos do voto transcrito, os quais,<br />

Ministro Djaci ( fls. 103-8). afinam corn a <strong>jurisprudencia</strong> assente<br />

Mas o caso foi visto apenas sob o desta Corte e consubstanciada nesta<br />

aspecto da coincidencia da base de ementa:<br />

calculo da taxa corn a do imposto<br />

predial, que foi recusada.<br />

“Tributhrio, Taxa de Renovecao<br />

Ocorre que, considerado o aspec- anual de licence pare locanzacao.<br />

to da ausencia de prestacão de ser- Instituida pelo Municipio de Mavico<br />

pUblico ou de exercicia do ponaus, e cobravel a raid° de 0,024<br />

der de policia correspondentes a milesimos do sated° minima regio-<br />

taxa, o Plenerio adotou orientacao nal sobre o metro quadrado ou the-<br />

diverse, no caso lider da taxa de lica°, da area ocupada pelo estabecence<br />

para localizaca o, de caraclecimento (C6digo Tributario do<br />

teristicas identicas, do Municipio MuniciPio, Let n? 1.125, de 27-10-71,<br />

de Vitoria (RE 69.957, RTJ 59/799). art. 215 c/c art. 212 § 1?). Inconsti-<br />

E, ainda em assentada recente, tucionalidade da taxa, por nao cor-<br />

na sessao plena de 5-4-79, ao responder a efetivo exercicio do<br />

julgar-se o RE 89.528, relator o Sr.<br />

poder de policia ou a servico pres-<br />

Ministro Thompson Flores, recortado<br />

ao contribuinte. Precedentes,<br />

rente a Cia. Paulista de Force e<br />

entre outros: RE 69.957, RTJ<br />

Luz e recorrida a Prefeitura de Bo- 59/799, municipio de Vitoria; RE<br />

tucatu, conheceu-se do recurso do 89.528, pleno de 5-4-79, municiPio de<br />

contribuinte e deu-se-lhe provimen Botucatu.»<br />

-to, em decisao unanime, para E o meu voto.<br />

gar inconstitucional a lei municipal<br />

de Botucatu, pelo mesmo funda-<br />

Mento da ausencia do pressuposto<br />

EXTRATO DA ATA<br />

de contraprestacao e, ainda,<br />

acrescentou-se entao, por motivo RE 90.519 — AM — Rel.: Min.<br />

da incidencia percentual sobre o Thompson Flores. Recte.: Prefeitura<br />

capital do estabelecimento. Municipal de Manaus (Adv.: Edson<br />

Isto posto, porque nao ocorre a de Menezes Vieiralves) . Recdo.: J.<br />

alegada contrariedade a normas<br />

G. Aranjo e Cia. Ltda. (Adv.: Aristaconstitucionais,<br />

e porque a diver- Canes Castro).<br />

gencia <strong>jurisprudencia</strong>l se acha superada<br />

(Simile 286), nao conheco Decisao: Nao se conheceu do re-<br />

do recurso.»<br />

curso. Decisao uniforme . Votou o<br />

3. In casu, a peticao recursal inth- Presidente.<br />

ca dois outros paradigmas, os RE Presidencia do Senhor Ministro<br />

ths 75.294 (RTJ 67/542) e o aresto do Antonio Neder. Presentes Sessao<br />

Tribunal de Justice de Sao Paulo as Senhores Ministros Djaci Falcão,<br />

(RI 452/112).


R.T.J. — 94<br />

Moreira<br />

Thompson<br />

Alves,<br />

Flores,<br />

Cunha<br />

Corcleiro Guerra, Xavier de Albuquerque.<br />

Peixoto, Soa- Geral da Repfiblica,<br />

Procuradorres<br />

Muhoz, Decio Miranda e Rafael Ferreira Paz.<br />

o Dr. Firmino<br />

Mayer. Ausentes, justificadamente,<br />

os Srs. Ministros Leith° de Abreu e Brasilia, 20 de setembro de 1979 —<br />

Alberto Veronese Aguiar, Secretario.<br />

FtECURSO EXTRAOFtDINARIO N? 90.530 — RJ<br />

(Primeira Turrna)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Xavier de Albuquerque..<br />

Recorrente: ClOvis Oliveira —<br />

mulher.<br />

Recorridos: Mario Vieira Prioste e sua<br />

1) Registro de imOvels. Can celamento 'Unclad° em falsidade do<br />

titulo que the deu origent Ini doneidade da via administrativa, devendo<br />

a q uesta° ser solvida na via contenclosa.<br />

Apelacilo. Seu julgamento deve ater-se aos ]invites da materia<br />

devolvida ao c onbecimenW do Tribunal de segundo gran. Inadmissibllidade<br />

de cassacgo, relativamente a quem aquiesceu ao pedido e<br />

nAo apelou da sentenca de primeira insta1ncia.<br />

Recurso extraordingrio parcialmente conbecido<br />

ACORDAO e provido.<br />

mados ao processo os titulares nomi-<br />

Vistos, relatados e discutidos estes nals os registros<br />

deles,<br />

canceldos. Urn<br />

d oho Serralfo, clisse a n n autos, acordam os Ministros da Priao<br />

cancelamento ada opor<br />

meira Turma do Supremo Tribunal<br />

pretenclicio, nou sua posicho<br />

consig-<br />

Federal, de conformidade corn a ata e ressalvou<br />

de vitima de fraude<br />

de julgamentos e notas taquigrafio<br />

direito de<br />

resp<br />

demandar os<br />

cas, a unanimidade, nos termos do onsaveis (f. 79). 0 outro, primeivoto<br />

do Ministro Relator.<br />

ro dos ora recorridos,<br />

ma, que a materia<br />

alegou, em su-<br />

Brasilia, 20 de malo de 1980 — me na via<br />

reclamava<br />

contenciosa,<br />

exa-<br />

Thompson Flores, Presidente se prestando<br />

para tal nho<br />

Xavier de<br />

o<br />

Albuquerque,<br />

procedimento Relator. nistrativo adotado. admi-<br />

RELATORIO l<br />

A sentenca repeliu a objecho desse<br />

0 Sr. Ministro<br />

postulado.<br />

nteressado e deferiu o cancelamento<br />

Xavier de<br />

Albuquerque: — Perante a Vara dos Apelou apenas o segundo dos re-<br />

Registros FhbBoos da cidade do Rio queridos. E coo dxito, pots a 6? Cade<br />

Janeiro o recorrente promoveu<br />

processo de<br />

mars Civel do Tribunal de Justica<br />

cancelamento dos regis- do Estado do Rio de Janeiro deu protros<br />

de tries lotes, dos quais era vimento a apelacão para cassar a<br />

promitente-comprador, alegando sentenca apelada e mandar as parque,<br />

gracas a utilizacão de escritu- tes as vias ordinaries. 0<br />

ras falsas, tais imOveis foram dados mou esta ementa (f. 172): achrdho to-<br />

como transferldos a terceiras pessons.<br />

«Registro de imOvels.<br />

mento na via<br />

Cancela-<br />

0 Dr. juiz entendeu que o caso se de<br />

administrativa corn<br />

enquadrava no art. 214 da Lei n? claracho de falsidade do titulo<br />

que o determinou.<br />

6.015/73, e determinou fossem cha-<br />

Inadmissibilidade.<br />

345


R.T.J. — 94<br />

346<br />

— 0 cancelamento que pods ser<br />

determinado em process() admi-<br />

No macs, nao conhecO do recurso.<br />

nistrativo e o de registro nulo de<br />

pleno direito, nao o que decorre de Quanto A tetra a, porque o ac6rdão<br />

nulidade ou falsidade do titulo que recorrido decidiu acertadamente a<br />

o originou, mormente quando tal questa') que the foi proposta e nao<br />

registro ja produziu todos os seus vulnerou qualquer dos preceitos le-<br />

efeitos, ensejando novos registros gais invocados pelo recorrente. Se a<br />

material e formalmente perfeitos, nulidade do registro decorria da fal-<br />

que nao sae atingidos pelo cancelasidade do titulo que o havia propiciamento.»do,<br />

tal falsidade nal) podia prescindir<br />

de declarant) judicial na via conten-<br />

Dal o recurs() extraordinario do requerente,<br />

interposto corn fundamen ciosa.<br />

-to nas tetras a e d. Diz que o acerciao<br />

violou os arts. 145, II, III, IV e V, e Relativamente a tetra d, tenho co-<br />

146, paragrafo Unica do Cedi go Civil, mo descaracterizado o alegado<br />

bem coma o art. 214 da Lei dos Re- dissidio, consoante belt sustentaram<br />

gistros Pnblicos, alem de ter divergi- os recorridos nas suas contra-razOes.<br />

do de decisao do Tribuna<br />

E que o acerdao padrao nao solveu<br />

caso de cancelamento na via admi,<br />

pensa nistrativa, a, next decidiu que se dis-<br />

a via contenciosa para a declaracao<br />

da falsidade do titulo e o<br />

conseqftente cancelamente do registro.<br />

0 de que tratou foi de acao de nulidade<br />

de transcricao imobiliaria<br />

fundada em falsidade da escritura<br />

que the deu origem, para a qual entendeu<br />

ser dispensevel a previa anulack)<br />

da escritura. 0 acerdao recorrido<br />

nada afirmou em contrario, ate<br />

porque nao apreciou acao nenhuma.<br />

E como voto.<br />

l de Justica<br />

de Sao Paulo, proferida em caso<br />

idantico . Alega, tambem, que o aresto,<br />

cassando por inteiro a sentenca<br />

apelada, inclusiv e em relacao ao requerido<br />

Joao Serralfo, que nao se<br />

opusera ao pedido de cancelamento<br />

e nao apelara da referida decisao,<br />

vulnerou os arts. 126 e 460 do COdigo<br />

de Processo Civil.<br />

O recurso foi admitido corn fundamento<br />

no alegado dissidio jurisPru dencial.<br />

A Procuradoria-Geral da Republi primeiro grau, que, para ele, transttou<br />

em julgado.<br />

-ca opinou pelo nao conhecimento do<br />

recurso.<br />

E o relat6rio.<br />

VOW<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque (Relator) : — Conheco,<br />

em parte, do recurso, e nessa parte<br />

dou-lhe provimento, para restabelecer<br />

a sentenca no relativo ao camelament°<br />

do registro feito em nome<br />

de Joao Serralfo.<br />

Esse interessado, corn efeito, nao<br />

se opOs ao pedido de cancelamento,<br />

ao qual, ao reves, deu aquiescencia.<br />

E tambem nao apelou da decisao de<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 90.530 — RJ — Rel.: Min. Xavier<br />

de Albuquerque. Recte.: ClOvis<br />

Oliveira (Advs.: Euryalo de Lemos<br />

Sobral e Dionyso de Lemos Sobral).<br />

Recdos.: Mario Vieira Prioste e sua<br />

mulher (Advs.: Oscar Otavio Coimbra<br />

Argoilo, Alcirio Dardeau de Carvalho<br />

e outro) .<br />

Decisao: Conhecido, parcialmente,<br />

e nesta parte provido. Decisao unitnime.


R.T.J. — 94<br />

Presidencia do Senhor Ministro Geral da<br />

Thompson Flores. Pr Republica, esentes a Ses- de Assis Toledo. Dr. Francisco<br />

saga os Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto, Soares<br />

ro Mu- BrasiVer hoz e Rafael Mayer. Subpcurador- Alberto ona mai° de 1980 —<br />

347<br />

Awdar, Secretario.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 90.554 — RJ<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Moreira Alves.<br />

Recorrente: Residencia Companhia de Credit° I mobillerio — Recorrido:<br />

Hugo de Castro Eisenlohr.<br />

circular<br />

Banco<br />

dense<br />

Nacional<br />

Banco,<br />

de<br />

corn<br />

Habitacao.<br />

base no<br />

Unite de Altos e taxes fixados por<br />

— Aplicacio<br />

3? do artigo 39 da Let 4.380/64.<br />

da Stimula 596, urns<br />

ma financeiro nacional, e nao se vez que o BNH<br />

demonstrou<br />

Integra slate-<br />

na referida circular bah intringido<br />

que o teto ester belecido o<br />

nanceiro babitacional,<br />

limits ao, aplicAvel det ao sistema fl-<br />

que the 6 c ermlnada pelo C.M.N., no uso da<br />

onferida peto inciso IX do art. 4? da Let 4.595/64. atribuicão<br />

Recurso extraordinArio conbecido e provido.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes guintes:<br />

Assim decidem pelas razees se-<br />

autos, acordam os Ministros da Se- Lendo o instrumento<br />

gunda Purina do Supremo Tribunal<br />

de fls.<br />

30/32, ve-se que autor e re cele-<br />

Federal, na conformidade da ata do bram, em 26.12.67,<br />

Julgamento e das notas<br />

contrato,<br />

taquigrafl-<br />

(alte-•<br />

rand°, em parte, avenca anterior),<br />

°as, por unanimidade de votos, co- para o fim de estabelecer nhecer do recurso e dar-lhe que, na<br />

mento.provi-<br />

condicho de devedor mutuario,<br />

garia o autor A<br />

pa-<br />

re a taxa de 18% a<br />

Brasilia, 25 de mato de 1979. — titulo de Juros e<br />

discr<br />

comissbes, assim<br />

Mac' FalcAo, Presidente — Moreira iminados: 5%de taxa de aber-<br />

Alves, Relator. tura de cre ss 8%de taxa de<br />

5% de Juros e<br />

manutencao dit° de cre-<br />

RELATORIO<br />

•<br />

Quando tal foi ajustado, estava<br />

0 Sr. Minatro Moreira Alves: E em vigor a circular n? 54/4441/67<br />

este o teor do acerdão recorrido (fls.<br />

n<br />

do BNH que fixava, pars o mes de<br />

363/369):<br />

ovembro de 1967, em 18% a taxa<br />

gAeokdam maxima para os<br />

os Juizes da Sexta tuos<br />

contratos celebrados<br />

de mu-<br />

Cathara Civil do I Tribunal de Al-<br />

para aqUISICAO casa prepria (fls. de<br />

gada do Estado Rio de Janeiro, em<br />

156/163).<br />

dar provimento, em parte, ao ape- A despeito da estipulaciio conslo,<br />

para fixar a denominada taxa tante daquela circular, segundo en-<br />

de manutencho em 2%, repartidas tende a maiorla, nal) podia<br />

maxima do contrato<br />

a taxa<br />

as custas e reduzidos os honorarios<br />

limite de 12%,<br />

ultrapassar<br />

para<br />

o<br />

1096. Farilo declaracao de vo-<br />

submissos os c que estao,<br />

to a Juiza Relators e o Juiz Vogal. ontratos de tal natureza a Lel<br />

Decisão unanime.<br />

de Usura (D. 22.636/33 e D.L.<br />

182/38).


348<br />

R.T.J. — 94<br />

Alias a re se apercebeu da incontornabilidade<br />

de tal limitacAo<br />

quando as fis. 279/289, em 2.2.73, ja<br />

depois de prOposta a presente acAo,<br />

corrigiu a mesma re o excesso antes<br />

cometido, firmando com o autor<br />

novo contrato, em que os juros<br />

foram mantidos dentro dos limites<br />

em lei permitidos.<br />

E verdade que, mesmo no contrato<br />

de fls. 279/80 corn os juros,<br />

continuou a re a cobrar do autor a<br />

chamada taxa de manutencão,<br />

cuj a incidencia — entende a maioria<br />

— nä° Leila de fato cabimento, por<br />

nä° haver, por parte da re efetiva<br />

prestacAo de servicos que justifique<br />

tal cobranca.<br />

Como porem, atualmente,. entre<br />

taxas e juros não esta a re cobrando<br />

nos contrato s mats de 12%, nä°<br />

exclui a Camara a denomina da taxa<br />

de manutencAo, des que, mantida<br />

esta em 2%, somados a mesma<br />

os juros de 10%, näo se ultrapasse<br />

o limite de 12% fixado pela Lei de<br />

Usura.<br />

Nessas condicOes, acolhendo,<br />

em substAncia as conclusOes da<br />

sentenca, daa Camara provimento,<br />

apenas em parte, ao recurso,<br />

para introduzir, naquele douto julgado,<br />

as seguintes alteracOes:<br />

primeiro para admitir a cobranca<br />

da taxa de manutenflo na base de<br />

2%, reconhecendo, nada obstante os<br />

julgadores, que dita cobranca, embora<br />

sob nomem turis de taxa, corresponde<br />

na realidade a juros, s6<br />

sendo admitida porque, somada<br />

aos juros de 10% no contrado idicados<br />

não ultraPassa o total o<br />

mite da lei; segundo, para, em face<br />

Deciaraceo de Voto<br />

Lendo o instrumento de fls. 30-32,<br />

ve-se que autor e re celebraram,<br />

em 26.12.67, contrato, alterando,<br />

em parte, avenca anterio<br />

da procedencia parciAl da acdo ,<br />

ora reconhecida, determinar que<br />

as custas sejam repartidas e reduzidos<br />

os honorarios a 10%.<br />

Rio de Janeiro, 25 de Abril de 1978<br />

Penalva Santos, Presidente s/voto<br />

Aurea Pimentel Pereira, Relato-<br />

r, para o<br />

fim de estabelecer que, na condicäo<br />

de devedor mutuario, pagaria<br />

o autor a re a taxa de 18%, a titulo<br />

de juros a miss6es assim discriminadas:<br />

5% de taxa de abertura<br />

de credito; 5% de juros e 8% de taxa<br />

de manutencão de credito.<br />

Quando tal lot ajustado, estava<br />

em vigor a circular n? 54/4441/67<br />

do BNH que fixava, para o Mes de •<br />

novembro de 1967, em 18% a taxa<br />

maxima para os contratos de mutuos<br />

celebrados para aqtilsicAo de<br />

casa prOpria (fls. 156-163).<br />

TambOm aquela epoca ja estavam<br />

em vigor as Leis 4.595/6 4 e<br />

4.380/64 , por forca das quais, passou<br />

a incumbir, respectivamente<br />

ao Conselho Monetario Nacional e<br />

ao Banco Nacional de Habitacão, a<br />

fixacAo dos limites de prazo e de<br />

taxa de juros nos emprêstimos<br />

concedidos por financeiras.<br />

Aplicando-se, portanto, os diplo-<br />

acima referidos, temos<br />

ra<br />

que, e, em 25.10.77, ao ser celebdo<br />

contrato, de que se trata, estando,<br />

como estava em vigor a circular<br />

54/4441/67 do BNH, que fixava em<br />

18% o limite maximo das taxas e,<br />

juros dos contratos da natureza do<br />

presente, nenhuma incorrecao houve<br />

na fixacäo daquela taxa (18%)<br />

quando da celebracan de contrato<br />

entre A. e R.<br />

Näo se digs, porem, data yenta,<br />

que os contratos, como presente,<br />

estariam sujeltos, no que concerne<br />

A taxa de juros, A Lei de Usura.<br />

Como lembrou com acerto o Apelante<br />

em suas razOes de recurso, a<br />

nä° submissão dos contratos disciplinados<br />

pela L. 4.595/64, a chamada<br />

Lei de Usura, ja fol reconhecida<br />

— como entendimento prevalente<br />

ra.


— por ocasido do encontro dos Tribunals<br />

de Alcada realizado nesta<br />

cidade em 1972, tendo sido, acrescentamos,<br />

a tese, por coincidAncia<br />

discutida, Justamente pela Relatora,<br />

que na ocasiao representou nos<br />

debates, o Tribunal do entAo Estado<br />

da Guanabara.<br />

Ocorre, que atualmente, com o<br />

advento do D. 63.182/68, que em<br />

seu artigo 2?, estabeleceu os limites<br />

maximos do juros e taxas<br />

amass de servicos nos contratos da<br />

natureza do presente, em, respectivamente,<br />

10% (juros) e 2% (taxa<br />

de servico), por coincidAncia, os<br />

somatOrlos dos juros e taxas nAo<br />

ultrapassa os limites fixados na<br />

Lei deUsura, sem que haja, na verdade,<br />

isubmissAo, dos referidos<br />

contratos a lei em questão.<br />

Nessas condicees, em face da situacAo<br />

factica discutida, e, levando<br />

em conta: 1?) ewe, de fato constitui<br />

principio assente na <strong>jurisprudencia</strong>,<br />

a nAo submissAo das taxas de<br />

remuneracao de emprestimos, de<br />

que cuidam a L. 4.595/64, a Lei de<br />

Usura, entendimento que, data yenta<br />

se concilla com a politica de<br />

aquisicAo de casa pr6pria, pelo governs<br />

encetada, que nAo teria condicees<br />

de prosperar, nAo fossem os<br />

incentivos que as financeiras se<br />

procurou propiciar: 2?) que nAo seria<br />

caso de excluir-se a taxa de<br />

manutencAo, embora se reconheca<br />

que o excesso deva ser coibido para<br />

adequa-la aos permissivos do D.<br />

63.182/68 (2%), 3?) que as Financeiras<br />

desenvolvem, efetivamente<br />

atividade, que justifica a cobranca<br />

de tal taxa, pots expedem periodicamente<br />

carnets; procedem ao recalculo<br />

do saldo devedor, e executam<br />

o servico de cobranca; votes<br />

pelo provimento partial do recurso<br />

com a presente declaracAo de voto,<br />

para, havendo como efetivamente<br />

devida a taxa de manutencão, a<br />

tal titulo — e nAo como sucedAneo<br />

de juros — reconhecer a legitimi-<br />

R.T.J. — 94<br />

Alguma decisão judicial esporadica,<br />

que tinha dito alguma coisa<br />

diversa, nä° constitui fonte de direito,<br />

de acordo com os princfplos.<br />

A lei de usura nAo permite, de forma<br />

alguma, a cobranca de juros<br />

alem de 12%. Denominacão eufemistica,<br />

disfarcando juros, nAo<br />

importa em que se admita, por via<br />

obliqua, aqullo que diretamente a<br />

lei de usura e a leglislaego penal<br />

pertinente vedam.<br />

A taxa de administraflo, ou de<br />

servico, ou de manutencAo, ou<br />

qualquer outra, corn qualquer denominacAo<br />

eufemistica, somada<br />

aos juros, nAo pole ultrapassar o<br />

limite da lei de usura (12% ao<br />

ano).<br />

0 sistema financeiro de habitaa)<br />

tem o mecanismo da corregdo<br />

monettuda e dos juros. Tal mecanismo<br />

6 sujeito aos OrgAos administrativos<br />

competentes. Mas,<br />

ouanto aos juros permanece o Hittite,<br />

legal (lei de usura), que nenhuma<br />

autarquia tern o poder de<br />

revogar.<br />

Cobrar qualquer taxa, além da<br />

correcao monetaria, a cobrar<br />

juros.<br />

Rio de Janeiro 25 de abril de<br />

1978 — Rul Octavio Dornlngues.<br />

349<br />

dade de sua cobranca no limite de<br />

2% concluindo, outrossim, corn a<br />

douta maioria, pela reparticão das<br />

custas e reducSo da honoraria a<br />

10%, no mass mantendo o julgado<br />

de primeiro grau.<br />

Rio de Janeiro, 35 de abrll de 1978.<br />

— Aurea Pimentel Pereira.<br />

DeclaracAo de Voto<br />

Acompanho a douta maioria, declarando,<br />

todavia, que esta em pled<br />

vigor a Lel de Usura de ordem<br />

pUblica.


350<br />

Interposto recurso extraordinario,<br />

foi ele admitido pelo seguinte despacho<br />

(fls. 377-378):<br />

R.T.J. — 94<br />

«Irresignada corn o V. acOrdao<br />

de fl. 363, que, a unanimidade, deu<br />

provimento, apenas parcial, a<br />

apelaeao dela ora Recorrente, tao<br />

somente para fixar a denominada<br />

taxa de manutencao em 2% repartidas<br />

as custas e reduzidos os honorarios<br />

advocaticios para 10% mantida,<br />

no mats, a r. sentenca de 1?<br />

grau, que julgara procedente acao<br />

ordinaria que the moveu o ora Recorrido,<br />

condenando a Re, ora Recorrente,<br />

a retificar o saldo devedor,<br />

corn a reelaboracão do calculo<br />

das novas prestaeOes, que sejam<br />

de direito, devidas pelo Autor, a<br />

partir de dezembro de 1971,<br />

creditando-se-lhe as quantias, que,<br />

a contar dessa mesma data, a<br />

maior, pagou, por declarar nula a<br />

obrigaeao, que, no financiamento<br />

constante do contrato de emprestimo,<br />

corn pacto adjeto de hipoteca,<br />

para a aquisieao de casa prOpria,<br />

de 6.10.67, se the imp6s de solver<br />

a taxa de manutencao de credit°<br />

de 8%ao ano, em consonancia<br />

com as operacOes, que devem se<br />

perfazer ern execucao, por impugnadas,<br />

eficazmente, as que elaborou<br />

o perito, de nomeacao do<br />

Juizo, tendo feito declaracão de voto<br />

a Eminente Juiza Relatora e o<br />

Eminente Juiz Vogal, interpOe<br />

«Residencia Companhia de Credit°<br />

o presente Recurso<br />

Extraordinario, invocand o as<br />

alineas a e d do inciso III do art.<br />

119 da Constituted° Federal ( f.<br />

372).<br />

recurso nao foi impugnado, havendo<br />

decorrido in albis o prazo<br />

respectivo, conforme certificado a<br />

f. 376.<br />

Isto posto.<br />

Alega a Recorrente que o v.<br />

aresto recorrido, alem de discre-<br />

par frontalmente da &amnia 596,<br />

que estabelece que as disposicOes<br />

do Decreto 22.626/33 nao se aplicam<br />

as taxas de juros e outros encargos<br />

cobradas nas operacOes<br />

realizadas por instituicOes pfiblicas<br />

ou privadas que integram o sistema<br />

financeiro nacional, violou de<br />

forma indisfareavel, o art. 39, § 3?<br />

da Lei Federal 4.380, de 21.08.1964,<br />

que, deferindo ao Banco Nacional<br />

de Habitacao competencia para fixar<br />

finites de juros e taxas para<br />

as financeiras habitacionais, derrogou,<br />

quanto a estas instituicOes, o<br />

Decreto 22.626/33.<br />

Parece assistir inteira raze° a<br />

Recorrente, impondo-se o crlvo do<br />

Preterio Excelso.<br />

Ex positis.<br />

Admito o recurso.<br />

Abra-se vista as partes, no prazo<br />

do § 2? do art. 543 do C.P.C., e,<br />

apOs, atendido as demais formalidades<br />

legais, quanto ao preparo,<br />

subam os presentes autos ao Egrêgio<br />

Supremo Tribunal Federal,<br />

com as nossas homenagens reiteradas”.<br />

E o relatOrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves (Relator):<br />

Corn base na Lei 4.595/64, estabelece<br />

a Sitmula 596:<br />

«As disposicOes do Dec. n?<br />

22.626/33 nao se aplicam as taxas<br />

de juros e aos outros encargos cobrados<br />

nas operacOes realizadas<br />

por instituicees pOblicas ou privadas,<br />

que integram o sistema financeiro<br />

nacional».<br />

Ora, as mesmas razOes que levaram<br />

esta Corte a firmar a <strong>jurisprudencia</strong><br />

que se cristalizou nessa SOmula<br />

se aplicam ao caso presente.


0 Banco Nacional de Habitacào,<br />

criado pela lei 4.380/64, corn personalidade<br />

juridica de direlto pUblico<br />

(art. 16), tendo, dentre suas finalidades,<br />

a de orientar disciplinar e controlar<br />

o sistema financeiro da habttaeáo<br />

(art. 17, I), Integra o sistema<br />

financelro nacional, como principal<br />

instrumento de execucao da politica<br />

habitacional do Govern Federal, segundo<br />

dlspOe o § 7? do art. 4? da Lel<br />

4.595/64:<br />

«0 Banco Nacional de Habitacão<br />

6 o principal instrumento de execucAo<br />

da politica habitacional do Govern°<br />

Federal e Integra o sistema<br />

financeiro nacional, juntamente<br />

corn as socledades de credit() ImoblliArio,<br />

sob orientacAo, coordenacAo<br />

e fiscalizacão do Conselho MonetArio<br />

Nacional e do Banco Central<br />

da Rep(Wilco do Brasil, quanto<br />

A execucAo, nos termos desta lei,<br />

revogadas as disposicOes especiais<br />

ern contrArio.»<br />

Por outro lado, ern face do, disposto<br />

no § 3? do artigo 39 da Lel 4.380/64.<br />

«Nas suas operagOes, as sociedades<br />

de credit° imobillArio observarAo<br />

as normas desta lei e as expedidas<br />

pelo Banco Nacional de HabitacAo,<br />

corn relacão aos !finites do<br />

valor unitArlo, prazo, condicOes de<br />

pagamento, Juros, garantias, seguros,<br />

Aglos e desAglos na colocacão<br />

de letras imobillArlas e diversificacAo<br />

de aplIcacOes».<br />

E — o que cabla ser felt° pelo autor,<br />

ora recorrido — nä° se demonstrou,<br />

destes autos, que o teto dos juros<br />

e taxas cobrados corn base na<br />

circular 54/4441/67 do Banco Nacional<br />

de Habitacilo ultrapassasse llmitacit°,<br />

aplictivel ao sistema financelro<br />

habitacional, determinada pelo<br />

Conselho MonetArio Nacional, no use<br />

R.T.J. — 94<br />

351<br />

de atribuicao que the 6 conferida<br />

pelo inciso IX do artigo 4? da Lei<br />

4.595/64.<br />

Em face do exposto, conheco do<br />

p resente recurso, e Ihes dou provimento,<br />

para Julgar improcedente a<br />

acAo, condenando 0 ora recorrido ao<br />

pag amento das custas e de honornrlos<br />

que fixo em 10% do valor atribuido<br />

a causa.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda:<br />

Sr. Presidente, estou de acor-<br />

do corn o eminente Relator, por<br />

se tratar de financiamento contratado<br />

anteriormente a 27 de agosto de<br />

1968. Nessa data, o Decreto n? 63.182,<br />

no art. 2?, Ihnitou os juros, no Sistema<br />

F inanceiro de HabitacAo, ao teto<br />

de 10% a. a., mats as taxas anuais<br />

de servico de 2% a. a.<br />

Acompanho S. Ex • , conhecendo<br />

do recurso e ]he dando provimento.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 90.554-RJ — Rel. Min. Morelra<br />

Alves. Recte. Restdencia, Companhia<br />

de Crnclito ImobiliArio (Adv.<br />

Pedro Paulo Cristofaro e outros).<br />

Recdo: Hugo de Castro Eisenlohr<br />

(Advs.: Fernando Mario de Oliveira<br />

e Cruz e outros).<br />

DecisAo: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator.<br />

UnAnlme. Ausente, ocaslonalmente,<br />

o Min. Cordell.° Guerra.<br />

Preslancia do Sr. Ministro Djaci<br />

FalcAo. — Presentes a SessAo os Srs,<br />

Ministros LeitAo de Abreu, Cordell.°<br />

Guerra, Morelra Alves e Decio Miranda<br />

— 5? Subprocurador-Geral da<br />

Reptiblica, o Dr. Mauro Lelte Soares.<br />

Brasilia, 25 de mato de 1979<br />

Hello Francisco Marques,<br />

—<br />

rio.SecretA


352<br />

R.T.J. — 94<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Moreira Alves:<br />

Recorrente:<br />

da: Cia. do Metropolitan de Sao Paulo — Metre.<br />

Almeida Land S/A. — Maquinas e Ferrament as — ReCOrri-<br />

DesaPropriacgo.<br />

— Em se tratando de locacgo em que o locador poderia, a qualquer<br />

momento, utilizar-se da deraincia vazia, não tern o locatario di-<br />

(inclusive no que diz respeito as despereitosas<br />

corn<br />

a qualquer<br />

a mudanca,<br />

indeezacgo<br />

a dlferenca entre aluguêts, ao valor residual do<br />

ponto comercial e a verbas semelhantes) pelo sO fate de, em virtude<br />

, ter de mudar-se pela perda da posse do imOvel<br />

de desaproPriacão<br />

em favor do expropriante.<br />

Precedentes de amber as Turmas do S. T. F. (RREE 85.068 e<br />

86.189, da Primeira Turma; 80.260, 80.258 e 90.087, da Segunda Turma).<br />

Recurso extraordWario conhecido em parte, mas nela nao<br />

provido.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 90.761 — SP<br />

(Segwida Turma)<br />

ACORDA0<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das novas taquigraficas,<br />

por unanimidade de votos, conhecer,<br />

em parte, do recurso, mas,<br />

nesta parte, negar-lhe provimento.<br />

Brasilia, 08 de maio de 1979. —<br />

Djaci Falet°, Presidente — Moreira<br />

Alves, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves: E<br />

este o teor do acerdao recorrido (fls.<br />

432-434):<br />

«Acordam, em Terceira Camara<br />

do Segundo Tribunal de kicada<br />

por votacão unanime, dar provimento<br />

ao recurso da re e julgar<br />

prejudicado o da autora.<br />

A autora, por prazo indeterminado,<br />

era locatária de urn imevel na<br />

Av. Prestes Maia, 714, a 748, onde<br />

estava instalado seu estabeleci<br />

priado 0-mento<br />

comercial. Desapro<br />

predio para a construcao da linha<br />

do metropolitano, ingressou com<br />

esta acao contra a expropriante<br />

para haver lndenizacão pela perda<br />

do fundo de comercio e verbas<br />

complementares decorrent es da<br />

mudanca, desmonta gem e montagem<br />

de suas novas instalacees.<br />

A sentenca reconheceu em parte<br />

o direlto da autora, ja que nä° poderia<br />

postular indenizacdo quando<br />

sua locacäo nao ester ao amparo da<br />

Lei de Luvas. Admitiu nao haver<br />

contrato por prazo certo e sim indetermlnado,<br />

mas acolheu a pretensao<br />

da locataria ern relacao as<br />

despesas de mudanca e reinstalacao.<br />

Sem embargo da autoridade de<br />

seu prolator, e nao obstante essa<br />

tese encontre receptividade na <strong>jurisprudencia</strong>,<br />

se o contrato nal) esta<br />

amparado pela Lei de Luvas e<br />

se ao executar o mandado de imissao<br />

de posse ja vigia a locacäo por<br />

prazo indeterminado, nenhum directo<br />

tem o locatario frente ao expropiante<br />

. E que aquela altura o<br />

locador poderla retomar o imOvel


sem motivar seu pedido, posto que<br />

amparado pela lei facultando-lhe a<br />

dentincia vazia. Nä° precisaria<br />

motivar a retomada e nao ficava o<br />

locador obrigado a pagar nenhuma<br />

indenizacao ou a reembolsar<br />

pesas corn<br />

des-<br />

mudancas, desmontagem<br />

e montagem do novo estabelecimento.<br />

Por que, entao, impor-se<br />

ao expropriante, que desapropria<br />

por interesse pnblico, os Onus daquelas<br />

despesas? Se em lugar de<br />

desapropriar o pr&lio houvesse a<br />

re comprado o linOval, nao ficava<br />

obrigada a respeltar a locacao por<br />

prazo indeterminado e, dessa forma,<br />

sem nada despender para<br />

aquelas despesas do locatario, requeriria<br />

o despejo corn fundamento<br />

na dentmcia vazia.<br />

Esse entendimento 6 posto em<br />

destaque no voto transcrito na sentenca<br />

recorrida, da lavra do Ministro<br />

Moreira Alves. Posteriormente,<br />

no julgamento do Recurso Extraor-<br />

dinario n? 85.068, de Sao Paulo, voltou<br />

essa tese a ser sufragada pelo<br />

mats alto Tribunal do Pais (cf.<br />

RTJ n? 81/604).<br />

Tem-se, pots, que no caso a autora<br />

a carecedora da acao, pots, nao<br />

estava a locacao protegida pela<br />

Lei de Luvas e nao foi rompida a<br />

locagao por prazo certo pela desaproprlacilo.<br />

Bern ao contrinio, o<br />

contrato era por prazo indeterminado<br />

e dava direlto ao locador<br />

romp6-lo quando the aprouvesse,<br />

sem necessidade de motivar a retomada<br />

e sem obrlgacao de reembolsar<br />

o locating° das despesas que<br />

a sentenca recorrida mandou pagar.<br />

Vale dizer que, se nao ttnha o<br />

inqullino direlto subjetivo ou situaea°<br />

de fato protegida pela ordem<br />

juridica, nada pode reclaman da<br />

expropriante.<br />

Assim, dA-se provimento ao recurso<br />

da re para julgar a acdo improcedente,<br />

invertendo-se os Onus<br />

da sucumbOncia, ficando prejudicado<br />

o recurso Oa autora.»<br />

R.T.J. — 94<br />

353<br />

Houve a interposicao de embargos<br />

de deciaracao, que foram recebidos<br />

pelo seguinte acOrdao (fls. 442-447):<br />

« Acordam, em Terceira Camara<br />

do Segundo Tribunal de Alcada Civil,<br />

por votacao unanlme, receber<br />

os embargos.<br />

Sustenta a embargante haver o<br />

acOrdão e mbargado nao decidido<br />

em p arte seu apelo, ja que reclamara<br />

tamb6m indenizacao pelos<br />

danos sofridos em conseqdbncia da<br />

obra do Metro, ja que houve<br />

sensivel queda de vendas no balcao<br />

«ortunda das dificuldades de transit°<br />

e de acesso corn o Mick) das<br />

obras do subterraneo».<br />

0 aresto embargado deu provimanta<br />

ao recurso da 1'6 para julgar<br />

a agao improcedente. Mas admitese<br />

nao haja percutido o tema ora<br />

enfocado corn a penetracao que estava<br />

a merecer. Dat o recebimento<br />

destes embargos<br />

p<br />

para esclarecer o<br />

onto omisso sem, contudo, alterar<br />

sua conclusào.<br />

Pretende a embargante Cia. do seja<br />

Metropolitan°<br />

a<br />

de Sao Paulo<br />

— Metro, condenada a the pagar<br />

indenizacão pela queda determinada<br />

em seu comercio<br />

obras do<br />

em<br />

subterraneo,<br />

razão das<br />

implicando<br />

temente,<br />

no desvio de transit°, e, conseqUen-<br />

reduzindo sua clientela de<br />

balcao naquela area. Vale dizer,<br />

invoca a teorla do risco admbllsstrativo<br />

para exigir a respon-<br />

abilidade daquela empresa com<br />

ausencia de culpa.<br />

A q<br />

destes<br />

uesta° nao 6 nova e o relator<br />

embargos, em outra oportunidade,<br />

em acordao relatado na<br />

apelacao n? 290.324,<br />

Santos,<br />

da Comarca subscrito<br />

de<br />

da T<br />

pela unanimidade<br />

erceira Camara do Tribunal<br />

de Justica, repudiou<br />

tensao de<br />

identica<br />

comerciante<br />

predia<br />

que<br />

resp preten-<br />

onsabllizar a obra ptiblica<br />

pelo seu insucesso comercial.


354<br />

R.T.J. — 94<br />

A tese a sedutora, mas esbarra<br />

no direito positivo brasileiro . E que<br />

o artigo 15 do COdigo Civil, em se<br />

tratando de responsabilidade civil<br />

do Estado, repudiou a teoria<br />

da culpa. A r<br />

não esponsabilidade sem<br />

culpa ou a teoria do risco encontra<br />

obstaculo naquele dispositivio legal,<br />

s6 se admitindo a sua aplicacao<br />

nos casos expressamente declarados<br />

em lei.<br />

0 professor Cabo 'nate, em comentario<br />

publicado na Revista de<br />

Diretto Administrativo, vol. 55,<br />

pag. 262/272, f az breve histtrico<br />

das «tenancias atuais sobre a responsabilidade<br />

civil do Estado » e,<br />

em relacao ao nosso direito positivo<br />

mostra que ap6s o advento da<br />

Constituicao de 1946, surgiram divergéncias<br />

em torn da vigência<br />

do artigo 15 do C6digo Civil. Se<br />

ponderavel corrente doutrinaria<br />

sustentava que o artigo 194 da Carta<br />

Magna havia revogado aquela<br />

disposicäo da lei Civil, respeitaveis<br />

nomes se mantiveram fiéis aos<br />

princiPlos romanisticos em torn<br />

da culpa. Faz incurs56 pelo Direito<br />

Comparado para demonstrar, a<br />

despeito da tendëncia oposta do direito<br />

alienigena, que a jurisprud6n -cia parla fixa o fundamento da<br />

responsabilidade do Poder Publico<br />

no seu conteUdo subjetivo. Assim,<br />

aduz: «a teoria do risco, nao obstante<br />

a valia de seus ilustres proselitos,<br />

nab conquistou, ainda, a<br />

chancela dos pretbrios, nem a unanimidade<br />

da doutrina », trazendo a<br />

colacäo a insusPeita autoridade de<br />

Filadelfo de Azevedo quando anotava,<br />

ap6s o exame da jurisprud en<br />

Nem se invoque em favor da embargante<br />

o princiPio da reparticao<br />

dos encargos pUblicos, fundamento<br />

da responsabilidade sem falta do<br />

Direito Francbs.<br />

que a hipetese<br />

em exame nao daquelas em que<br />

o Poder Pftblico atinge, em beneficio<br />

geral, direitos privados.<br />

Mas se cuida da ocorr6nc ia de desapropriacao<br />

em sentido lato. Nao<br />

houve expropriano, requisicao,<br />

encamPacão, confisco, disposicão<br />

compulsbria, destruicao compulsbria,<br />

inallenabilidade, transformacab<br />

coativa, desconcentracao da<br />

propriedade ou a transdesapropriacao<br />

de que Pala Pontes de Miranda.<br />

Em qualquer dessas hip6teses<br />

nasceria para o proPrietario atingi-<br />

l, que nossos <strong>tribunal</strong>s-cia<br />

naciona<br />

näo haviam acolhid o a teoria do<br />

do o direito indenizac<br />

risco quando se trata da responsabilidade<br />

estatal. Por derradeiro,<br />

ao los em seu valor econernico, sem<br />

obrigaflo de indenizar».<br />

Assim tambem se manifesta<br />

Castro Nunes (c.f. A Fazenda PUblica<br />

em Juizo, 'rag. 403), admitindo<br />

a responsabilidade da Administracao<br />

na hipOtese de culpa levissima.<br />

Mas, a despeito da abertura<br />

propiciada pela regra moral do<br />

hominem leodero, sustenta o autor<br />

nä() ser possivel admitir-se, face<br />

ao nosso Direito Positivo, a responsabilidade<br />

do Estado sem culpa.<br />

Dab indagar: Mas sera possivel<br />

realizar jurisPrudencialmente essa<br />

obra de renovacao ou admitir a<br />

responsabilidade do Estado nos casos<br />

de absoluta ausencia de culpa e<br />

ate mesmo aqueles em que se mostre<br />

o cumPrimento exato e pontual<br />

do seu dever legal»? Mas adiante<br />

acrescenta que «a teoria do risco<br />

nao encontra base em nosso direito<br />

positivo, salvo nos casos especiais<br />

a que atenta o legislador».<br />

como corolario<br />

da reparticao dos encargos<br />

e da intangibilidade do patrimOnio<br />

' ado Mas esse principio da re-<br />

arremata: «A a iv i tido-<br />

particao dos encargos publicos, co<br />

nada da administracao condiciona,<br />

o exercicio de dimo<br />

anota Cabo Tacito, nao absolegitimamente,<br />

reitos individuals, podendo atingi- luto nem geral. At compensacao,


assinala o autor citado, «6 limitado<br />

ao dano especial e anormal gerado<br />

pela atividade administrativa. Generalizar<br />

a nova° a todo e qualquer<br />

prejulzo, decorrente do funcionamento<br />

do servico pUblico, serla a<br />

prOpria denegacao da supremacia<br />

do interesse ptiblico e da destinea)<br />

social da propriedade" (cf. op.<br />

cit. peg. 272).<br />

0 que obriga a indenizacao e a<br />

cause direta e primaria dos prejuizos<br />

e nao a indlreta e secunderia.<br />

A vingar o argumento da recorrente,<br />

sempre que o Poder Public°<br />

desviasse a corrente de trailco<br />

de determinada via pfiblica,<br />

acarretando a diminulcao e ate a<br />

extincao do movimento do cornerdo<br />

all existente, ficaria obrigado a<br />

!Mentzar.<br />

Nao houve cerceamento do<br />

exerciclo da atividade comercial<br />

da recorrente.<br />

0 reflexo, como se percebe, 6 no<br />

movimento comerclal. Mas outros<br />

fatores influem nessa retracão do<br />

seu comercio. Não se pode olvidar<br />

que a vontade dos proprietarlos de<br />

veiculos tambari a fator determinante<br />

da reducao desse movimento,<br />

naturalmente nao mats motivados<br />

a trafegar pelo local, fazendo<br />

Uso da via elevada. Durante e execucao<br />

das obras, o transito mats<br />

tambem 6 responsavel pela<br />

°ma° do motorista que dali se desvia<br />

para ganhar outra via menos<br />

congestionada e de rapid() escoamento.<br />

Se a reducao da intensidade do<br />

transit° de velculo 6 fator desvalorizante<br />

do ponto para o seu cornerclo,<br />

poderit ser fator de valorizacao<br />

para outro ramp de atividade.<br />

Vale dizer, em substancla a obra<br />

pUblica em nada afetou a propriedade<br />

da recorrente.<br />

Observa-se que na hipotese de<br />

desapropriacan do !Wive' restaria<br />

a recorrente apenas e tflo somente<br />

R.T.J. — 94<br />

355<br />

o direito A indenizaeão pelo terreno<br />

e benfeitorias. Nao poderia pleitear,<br />

alem desses valores, o<br />

possivel valor do (undo de cotnercio<br />

indenizacao por possiveis prej<br />

tlizos decorrentes dos reflexos da<br />

execucao de obra pOblica no local.<br />

Sao esses os fundamentos Palos<br />

quaffs, recebido os embargos suprindo<br />

a omissao do acerclao, sem<br />

alterar, contudo, sua conclusao.»<br />

Interposto recurso extraordinario,<br />

foi ele admitido por este despacho<br />

(fls. 479/486):<br />

«Almeida Land S/A — Maquinas<br />

e Ferramentas moveu esta acao a<br />

Companhia do Metroplitano de Sao<br />

Paulo — Metro para haver indentzacao<br />

compreensiva das varias ordens<br />

de prejuizos advindos das atividades<br />

da Re, e afetadoras do co-<br />

'nerd° da autora em predio que locave<br />

e do qual teve de se mudar.<br />

Na perspective de que a locacao<br />

da Autora nao se achava protegida<br />

pela Lei de Luvas, a decisao de<br />

prlmeiro grau concedeu-lhe apenas<br />

— atraves a aplicaeao analOgIca<br />

do art. 25, parAgrafo Wilco do<br />

Decreto-lei 3.365 — a verba de Cr:<br />

333.561,22, correspondente as despesas<br />

corn mudanea e reinstalacao.<br />

A Colenda Terceira Camara,<br />

atendendo ao apelo da Re, julgou a<br />

Autora carecedora da acao, assim,<br />

fturdamentando, no ponto essenclef:<br />

«Sem embargo da autoridad e<br />

de seu prolator, e nao obstante<br />

essa tese encontre receptividade<br />

na <strong>jurisprudencia</strong>, se o contrato<br />

nao esta amparado pela Lei de<br />

Luvas e se ao executar o mandado<br />

de imissao de posse la vigia a<br />

locaeao por pram indeterminado,<br />

nenhum direito tern o locatarlo<br />

frente ao expropriante. E que<br />

Aquela altura o locador poderia<br />

retomar o imOvel sem motivar


356<br />

R.T.J. — 94<br />

seu pedido, posto que amparado<br />

assim justificou — em ponto de re-<br />

pela lei facultando-lhe a denfmcia levo para este despacho — sua re-<br />

vazia. NA° precisaria motivar a<br />

cusa de indenizar ate mesmo os<br />

retomada e nao ficava o locador prejuizos decorrentes da queda de<br />

vendas no balcao, «oriunda das di-<br />

obrigado a pagar nenhuma indenizacao<br />

ou a reembolsar despeficuldades de transito e de acesso<br />

com o inicio das obras do subterrasas<br />

com mudancas, desmontagem<br />

e montagem do novo estabeneo»:lecimento. Por que, entao, impor «0 que obriga a indenizac o<br />

se ao expropriante, que desapro- a causa direta e primaria dos<br />

pria por interesse pUblico, os prejuizos e nao a indireta e se-<br />

Onus daquelas despesas? Se em cundaria. A vingar o argumento<br />

lugar de desapropriar o predio da recorrente, sempre que o Po-<br />

houvesse a re comprad o o imOder Pilblico desviasse a corrente<br />

ye!, nao ficava obrigada a respei- de trafego de determinada<br />

tar a locacao por prazo indeter- via pablica, acarretand o a<br />

minado e, dessa forma, sem na- diminuicao e ate a extincao do<br />

da despender para aquelas. des- movimento do comercio ali exispesas<br />

do locatario, requereria o tente, ficaria obrigado a indeni-<br />

despejo corn fundamento na dezar.nOncia vazia.<br />

Nao houve cerceamento do<br />

Esse entendimento a posto em exercicio da atividade comercial<br />

destaque no voto transcrito na da recorrente.<br />

sentenca recorrida, da lavra do 0 reflexo, como se percebe, 6<br />

Ministro Moreira Alves: Poste- no movimento comercial. Mas<br />

riormente, no julgamento do Re- outros fatores influem nessa recurso<br />

Extraordinario n? 85.068, track, do seu comércio . Nao se<br />

de Sao Paulo, voltou essa tese a pode olvidar que a vontade dos<br />

ser sufragada pelo mais alto Tri- proprietarios de veiculos tambunal<br />

do Pais (cf. RTJ n? b6m a fator determinante da re-<br />

81/604).<br />

ducão desse movimento, natural-<br />

Tern-se, pois, que no caso a aumente nao macs motivados a tratora<br />

6 carecedora da Ka°, pois, fegar pelo local, fazendo use da<br />

nao estava a locacao protegida via elevada. Durante a execucao<br />

pela Lei de Luvas e nao lot rorn- das obras, o transito mats dificil,<br />

pida a locacao por prazo certo<br />

pela desapropriacao. Bent ao tambem a responsável pela opcao<br />

do motorista que dali se des-<br />

contrario, o contrato era por pravia para ganhar outra via menos<br />

zo indeterminado e dava direito congestionada e de rapid° escoa-<br />

ao locador rompe-lo quando the<br />

aprouvesse, sem necessidade de mento.<br />

motivar a retomada e sem obri-<br />

Se a reducao da intensidade do<br />

gacao de reembolsar o locatario transito de veiculo 6 fator desva-<br />

das despesas que a sentenca relorizante<br />

do ponto para o seu cocorrida<br />

mandou pagar. Vale dimercio,<br />

podera ser fator de valozer<br />

que, se nao tinha o inquilino<br />

rizacao para outro ramo de ativi-<br />

direito subjetivo ou situacao de<br />

dade. Vale dizer, em substancia<br />

fato protegida pela ordem juridi- a obra ptiblica em nada afetou a<br />

ca, nada pode reclamar da eex- propriedade da recorrente » (f.<br />

propriante. » (fls. 433-434).<br />

446).<br />

Em seguida, na consideracao de<br />

Contra o decidido, recorre a Au-<br />

embargos declaratbrios da Autora, tora, extraordinariamente, arrima-


da As tetras a e d da autorizacao<br />

constitutional, a dizer ofendidos os<br />

arts. 107 da Lei Mator, 159 do Cecilgo<br />

Civil, 25 parAgrafo Critic° do<br />

Decreto-let 3.365 e 3? do Decreto-lei<br />

n? 4/66 e divergidos vv. arestos encontraveis<br />

em RTJ 81/932; 65/464 e<br />

78/230; corn argeicão, ainda, de relevAncia<br />

da questao <strong>federal</strong>.<br />

Impugnaedo a fls. 473/477.<br />

Assim aprecio as diferentes argilieees:<br />

I. No piano da tetra a:<br />

A — Repudio, de !nick), o argumento,<br />

so agora e de passagem<br />

vindo na impugnacdo, Segundo 'o<br />

qual nao seria, a R6, alcaneada pelo<br />

art. 107 da Constituicao, eis que<br />

se trata de pessoa juridica de direito<br />

privado Penso que sua condicdo<br />

de empresa pUblica — aqui,<br />

«facets» do Estado no exercicio de<br />

atividade eminentemente PUblica<br />

sobreleva as feicees puramente<br />

formals e operacionals de carAter<br />

privado; em termos de p6-la sob a<br />

abrangencia da aludida regra<br />

constitutional.<br />

Penso entretanto, inatacado 0<br />

art. 107 da Carta Magna. Embora<br />

possam, em tese, gerar a reparacdo<br />

all p<strong>revista</strong> os atos cobertos<br />

por decisAo judicial, 6 inegAvel que<br />

o debate, in casu, se desloca para<br />

a Area da caracterizacdo do dano<br />

como resultado da afetaedo indevida<br />

de urn direito subjetivo. E aqui<br />

a recusa da indenizado se prende,<br />

se e nitidamente, A negaedo de urn<br />

direito oponivel ao expropriado; o<br />

que, em desdobramento, preserva<br />

inteiramente o apontado preceito<br />

constRucional enquanto norma gendrica.<br />

Realmente, a afirmaedo implicita<br />

e sintetizada do v. julgado recorrido,<br />

neste teptco, e a de que,<br />

nAo se beneflciando, a locatArla, de<br />

urn direlto subjetivo ou de situacdo<br />

juridica economicamente apreCidvel<br />

perante o locador, na verdade<br />

R.T.J. — 94<br />

357<br />

nao havia como perde-la por ato da<br />

expropriante. Em decorrencia, a<br />

recusa da indenizado — por falta<br />

de prejuizo no caso particular —;<br />

sem qualquer negativa A gentrica<br />

asseguracdo constitutional.<br />

Por arremate, ainda na Area da<br />

tetra a, diga-se que o entendimento<br />

da inviabilidade de indenizaedo a<br />

locatArio nao tutelado pela Let de<br />

Luvas, na consideraedo primeira,<br />

— como aqui implicit° — de que<br />

nao se the pode reconhecer ante o<br />

expropriante, maior direito do que<br />

possui frente o proprietArio,<br />

firmou-se definitivamente no entAo<br />

Unico Tribunal de Alcada Civil deste<br />

Estado, sem jamals sofrer 'corte<br />

ao fundamento de afrontoso<br />

Constituted° (RT 435/158 e Julgados<br />

do Tribunal de Alcada Civil de<br />

Sao Paulo, ed. Lex, 19/62). Peio<br />

contrArio, da Suprema. Corte apenas<br />

se conhecem vv. devisees concessivas<br />

da reparado wand° renovAvel<br />

a locado (RTJ 54/22 e 71<br />

/890 e RE 74.708, in DJU de 28.6.74,<br />

pAg. 4.570); sem contar aqueia<br />

explicita, a dizer: «Desapropriaedo<br />

recaindo sobre imOvel locado.<br />

AO° direta. Indenizado nAo contemplada<br />

no processo desapropriaterio<br />

e objeto da aedo direta. II.<br />

Nela nAo se inclui o fundo de comercio,<br />

porque a locacdo nAo se<br />

regia pelo Decreto n? 24.150/34,<br />

nem os lucros cessantes, mesmo<br />

considerando o- art. 107 da Consti-<br />

tuted°. III. Recurs() extraordindrio<br />

conhecido parcialmente, mas nao<br />

p rovido» (RE 80.258 — SP,tn DJU<br />

de 24.10.75, pAg. 7.761). E no mesmo<br />

sentido, mats recentemente, o<br />

Ag. 73.943-2 — Rel.: Min. Dial<br />

Falai], ern DJU de 14.8.78, pAg.<br />

5.768;<br />

B — 0 art. 159 do C6digo Civil<br />

por igual restou indene, visto que a<br />

recusa a indenizaetto mesmo fora<br />

dos reflexos da exproprlaedo, foi,<br />

ainda, produto apenas da constata-


358<br />

R.T.J. — 94<br />

cao Mica de inexistencia de prejuizo<br />

casualmente vinculavel<br />

obra pUblica; questa°, pa is, conducente<br />

a area do debate probat6rio,<br />

alheia a perspectiva do recurso extraordinArio<br />

(SUmula 279);<br />

C — 0 art. 25 paragrafo (Mica do<br />

Decreto-lei 3.365 fot, em primeiro<br />

grau, apenas aplicado por analogia,<br />

posto que o prejuizo computado<br />

nAo feriu o expropriado, mas a<br />

locatAria. Bastaria essa circunstancia,<br />

penso, para se conduit: pela<br />

impossibilidade lOgica de se pretender<br />

negada sua vigencia. Sobre<br />

isso, porem, cumpre repetir o jA<br />

dito aqui sob A, posto que a consideracao<br />

fundamental do v. aresto<br />

refere-se a inocorrencia de uma situacao<br />

juridica que assegurasse, a<br />

Autora, direito correspondente,<br />

frente ao locador;<br />

D — 0 art. 3? do Decreto-lei 4/66<br />

exprime materia nao prequestionada;<br />

inconsiderAvel, portanto<br />

(SUmula, verbete n? 282);<br />

II. Ao prisma da tetra d, todavia,<br />

tenho o seguimento do recurso por<br />

incoercivel, frente as vv. decisOes<br />

estampadas em R. T. J. 78/230 e<br />

81/932, onde verbas alheias ao fundo<br />

de cameral° foram concedidas,<br />

embora nAo protegido, o locatArio<br />

pela, Lei de Luvas.<br />

Tenho por inapreciAvel, no setor,<br />

o v. julgado inserto em RTJ 65/464,<br />

dada a circunstancia de ali se enfocar<br />

— diversamente do que sucede,<br />

In casu — hipOtese de contrato<br />

interrromPldo pela desapropriacao,<br />

segundo se retira do voto do<br />

eminente Ministro Rodrigues AlckmM,<br />

all proferido (RTJ 65/467,<br />

468).<br />

Anoto, por final, que a diretrlz<br />

atual da Suprema Corte ampara a<br />

solucao do v. avai:Tao recorrido,<br />

segundo o decidido nos RREE<br />

80.258, em DJU de 24.10.75, pg.<br />

7.761; 85.068, em DJU de 29.4.77,<br />

pg. 2.742 e 86.189, em DJU de<br />

27.5.77, pg. 3.461; o primeiro da Colenda<br />

Segunda Turma e os dois tiltimos<br />

da Colenda Primeira Turma.<br />

Autorizo, portanto, siga o presente<br />

reclamo, apenas na visa() da Tetra<br />

d.<br />

A argilicao de relevancia me parece<br />

incabivel, dada a (IA° incidencia<br />

de voto regimental. Diante, todavia,<br />

do art. 308, § 3? do Regimento<br />

Intern da Suprema Corte,<br />

limito-me a dizer que tal argilicao<br />

receberA o tratamento determinado<br />

pela opcao da recorrente, frente<br />

As opcOes concedidas.»<br />

Processada a argilicao de relevancia<br />

da questa() <strong>federal</strong>, foi ela rejeitada<br />

em sessao de Conselho, de<br />

22.3.79.<br />

8 o relatario.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Morelra Alves (Relator):<br />

1. 0 presente recurso extraordinArio<br />

visa a obtencao de indenizacäo<br />

pelos danos sofridos com a perda<br />

da rentabilidade ocorrida desde o<br />

inicio das obras do metro, e a conseqilente<br />

diminuicao do valor do fundo<br />

de comercio, bem como os resultantes<br />

da desapropriacào, ou seja, as<br />

despesas com o novo contrato de locacao,<br />

a simultaneidade de duas locacOes<br />

e a oneracao de dots alugels,<br />

a diferenca sensivel de aluguel, a<br />

agravacao da quebra da rentabilidade<br />

em decorrencia da queda do faturamento<br />

do mes da mudanca, a perda<br />

do valioso ponto comercial, o<br />

prosseguimento da quebra da rentabilidade<br />

ap6s a mudanca» (fls. 450-<br />

451). Em sintese, pedem-se perdas e<br />

danos sofridos antes, durante e depois<br />

da desapropriacao.<br />

Sucede, porem, que, na inicial da<br />

presente acao, embora se aluda aos<br />

prejuizos causados a recorrente pela<br />

obra em si mesma — e, portanto,<br />

prejuizos anteriores a desapropriaflo<br />

ao se formular o pedido, foi


ele restringido aos danos sofridos pela<br />

ora recorrente em decorrencia da<br />

desocupacdo e da mudanca forcada<br />

e rapida de seu estabelecimento comercial,<br />

Como se le a fls. 6/7 dos autos:<br />

«Do exposto, requer determine<br />

Vossa Excelencia a citacao da<br />

Companhia do Metropolitan° de<br />

Sdo Paulo — Metro, para todos os<br />

atos e termos desta acdo, ate final<br />

sentence que, julgando-a procedente,<br />

condenara a R6 ao pagamento<br />

da indenizacdo de todas as perdas<br />

e danos sofridos pela Autora em<br />

decorrencia da desocupacdo e da<br />

mudanca forcada e rapida de seu<br />

estabelecimento comercial, cujo<br />

montante devera ser apurado em<br />

regular perIcia que especificara os<br />

valores das verbas ndo especificadas<br />

nesta !Metal, indenizagdo<br />

acrescida de 'tiros e correcao monetarla,<br />

condenando-a alnda ao pagement°<br />

das verbas da sucumbeneta.<br />

Protesta por todos os meths de<br />

prove em dlreito admitidos, sem<br />

qualquer excecao, requerendo desde<br />

ja depolmento pessoal do representante<br />

legal da Re, inquirtedo de<br />

testemunhas, pericla e juntada<br />

posterior de documentos.<br />

Declara que seus advogados re-<br />

ceberdo intimacoes em seus escriterios,<br />

a Avenida Liberdade, 21 —<br />

andar, conj. 106.<br />

Requer, abide, possa o Oficial de<br />

Justice proceder nos termos do §<br />

do artigo 172 do Cadlgo de Processo<br />

Civil.»<br />

Por isso mesmo, na sentence a fls.<br />

371/379, o Dr. Jutz de Primeiro grau,<br />

assim fixou a controversta:<br />

aDecido.<br />

Pretende a autora receber da<br />

Companhia do Metropolitano de<br />

Sao Paulo — Metro — lndenizacdo<br />

pelas perdas e danos que sofreu,<br />

em razdo da desocupacão e da mu-<br />

R.T.J. 94<br />

359<br />

danca forcada de seu estabelecimento<br />

comercial, instalado em<br />

pr6dio que foi desapropriado pela<br />

re.<br />

Redargiliu a suplicada afirmando,<br />

prelimi narmente, a carencia<br />

da acdo, uma vez que a autora<br />

d emonstrou a sua condicdo de locatária,<br />

e, quanto ao merit°, refutou<br />

a pretensdo ajuizada.<br />

Esta e a control/61.sta». (f. 373).<br />

Na ap elacão (Rs. 390-403), a ora<br />

recorrente, entao apelante, insurgiu-<br />

se, tambem, contra a ndo-concessào<br />

de perdas e danos que sofreu, no<br />

p eriodo anterior a desapropriacao,<br />

resultante das obras do metr O. 0<br />

actirdao, a fls. 432/434, ao Julgar a<br />

apelacão, adstringiu-se, como sucedere<br />

com a sentence, a apreciacdo<br />

dos danos decorrentes da desaprop<br />

riacão. Houve embargos de declaracão,<br />

onde se alegou omissdo quanto<br />

aos danos anteriores a expropriacao,<br />

e o acOrddo, a fls. 442/447, sem<br />

atentar pare o tato de que eases da-<br />

nos /leo tinhara ski° objeto do pedido<br />

lidded e, por isso, não haviam sido<br />

examinados na sentence de prImeiro<br />

grau, recebeu os embargos, r por ter<br />

econhecido a omissdo, mas repeliu,<br />

no merit°, a pretensdo<br />

rente.<br />

da ora recor-<br />

Deixo, portanto, de aprectar curs° extraordinerio,<br />

o re-<br />

na parte relative<br />

aos danos que teriam resulted°<br />

das obras do metro, antes da desapropriacdo,<br />

adstrita que este a prestea)<br />

jurisdicional, no caso, aos<br />

mites do pedido, que tido abrange<br />

tale danos.<br />

2. No tocante aos danos resultantes<br />

da desapropriacao, conheco do recurs°<br />

pelo dissIdio, apenas, corn o<br />

RE 81.119, da Primeira Turma, relator<br />

o Sr. Ministro 131lac Pinto, julgado<br />

a 2.12.75 (RTJ 78/230 e segs.), onde<br />

se admitiu que Rembora ausente o<br />

fundo de comercio, pode o locate/1o,<br />

corn a desap<br />

cado, sofrer<br />

ropriacdo do imOvel lo-<br />

prejulzos de outra natu-


B.T.J. — 94<br />

360<br />

reza, indenizaveis portanto » (e esses<br />

de reinstalacao, mais juros e cor-<br />

prejuizos eram traduzido s pelas verrecáo monetaria.<br />

bas de reinstalacdo, materia l e dile- Quer a recorrente a expropriante,<br />

que este Tribunal diga nao ter a<br />

renca para a nova locacdo). recorrida direito a indenizacAo<br />

Com referenda aos dots outros pleiteada e que the foi deferida.<br />

acOrdaos trazidos a confronto, ine- Ao admitir o recurso, teve o proxiste<br />

o dissidio. Corn efeito, no RE<br />

74.142 (RTJ 65/464 e segs.), como se lator do despacho, Juiz Aniceto Lo-<br />

ye do voto do Sr. Ministro Rodrigues<br />

pes Aliende, como configured° o<br />

Alckmin, a hipotese dizia respeito a<br />

dissidio com o julgado publicado<br />

contrato de locacao cujo prazo deter-<br />

na RT 435/158. E a Procurad<br />

minado nao havia, ainda, terminado,<br />

o que nao sucede no caso presente;<br />

e, no RE 85.276 (RTJ 81/932 e segs.),<br />

se tratou de especie tambem diverse<br />

da em julgamento, pois ali a desapropriacao<br />

nao extinguira a locacao,<br />

mas, embora ela permanecesse, o located°<br />

teve a sua atividad e prejuchcada,<br />

pela reduce° de espaco Util e<br />

pela dificuldade de acesso por parte<br />

de sua freguesia.<br />

Conhecendo, pois, do recurso pelo<br />

dissidio corn o julgado no RE 81.119,<br />

a ele, pore, nego provimento.<br />

De feito, em decisOes posteriore s a<br />

prolatada nesse RE 81.119, firmouse,<br />

em ambas as Turmas desta Corte,<br />

a orientacao de que, em hipoteses<br />

como a presente, nao a devida qualquer<br />

indenizacãe. A propria Primeira<br />

Turma, ao julgar o RE 85.068, em<br />

16.12.76, sendo relator o Sr. Ministro<br />

Bilac Pinto, examinand o caso especifico<br />

de indenizacao a titulo de<br />

despesas de mudanca e de reinstalacao,<br />

quando a locacao nao era regida<br />

pelo Decreto 24.150, nem era por<br />

prazo determinado, modificou sua<br />

posicao anterior (seguida no RE<br />

81.119), nos termos do voto de relator,<br />

verbis:<br />

«Conforme o related°, a locateria<br />

do imOvel desaProPriado, não<br />

estando o contrato sujeito ao Decreto<br />

n? 24.150/1934, vigendo je a<br />

locacao por prazo indeterminado,<br />

obteve ela, com a partial procedOncia<br />

de sua acdo, indenizacao a<br />

titulo de despesas de mudanca e<br />

oria<br />

ca afirmou corn-<br />

-Geral da Republi<br />

provada a diverg'encia corn a invocacao<br />

dos ERE n? 65.182. Quanto<br />

ao padre° da RT 435/158, esta a<br />

ementa do acerdao:<br />

Havendo inquilino no im6vel<br />

exproPriado, 0 expropriante so<br />

the devera indenizaca o, por perdas<br />

e danos, caso esteja registrado<br />

o contrato de locacao para<br />

que prevaleca contra terceiros e<br />

sob a protecao da Lei de Luvas».<br />

Deste actordan:<br />

«Mas, se a locacao, ainda que<br />

por prazo vigente e determinado,<br />

nao pode ser posta erga omnes,<br />

por nao haver sido registrad o o<br />

contrato e nao a tutelada pela Lei<br />

de Luvas, ja o locatario nao tera<br />

direito algum indenizavel, Beando<br />

submetido ao expropriante,<br />

como ficaria ao particular adquirente<br />

do predio, que pretendesse<br />

retomar a coisa alugada . Ern tal<br />

hip6tese, o adquirente nao estaria<br />

obrigado a respeitar a locacao<br />

(art. 1.197 do C6digo Civil, 28<br />

da Lei n? 4.864, de 29.11.1965 e<br />

art. 4?, n? VI, do Decreto-lei n? 4,<br />

de 7.2.1966), nem havendo que indenizar<br />

o inquilino, salvo no tocante<br />

a benfeitorias, nos casos<br />

previstos no art. 1.199 do C6digo<br />

Civil.»<br />

Desta decisao, que 6 do antigo<br />

Tribunal de Alcada Civil de Säo<br />

Paulo, opOs-se recurso extraordinario,<br />

que foi denegado . Subindo o<br />

agravo, que aqui recebeu Q nOmero


Ag. n? 55.256, a ele o Ministro Xavier<br />

de Albuquerque negou seguimento,<br />

conforme despacho publicado<br />

no DJ, de 5.9.1972.<br />

Creio configurado o dissidio, e<br />

por isso conheco do recurso.<br />

No RE n? 80.258, Segunda Turma<br />

em SessAo de 23.9.1975, disse o Ministro<br />

Moreira Alves:<br />

aQuando o Estado desapropria<br />

urn im6vel, e ha locatario cujo<br />

!undo de comêrcio 6 protegido<br />

pela denominacao Lel de luvas<br />

(Locoed() comercial), tern este<br />

R.T.J. — 94<br />

cAo de fato protegida j pela ordem<br />

uridica foi ofendido; ao contrario,<br />

ele 6 que nao pode violar o<br />

direito do proprietarlo<br />

a coisa locada.<br />

de reaver<br />

NA° fora assim, o devedor sofreria,<br />

juridicamente, urn dano,<br />

ao cumprir a obracAo ig a que esta<br />

sujeito.<br />

Se o Estado, atuando como urn<br />

particular adquirisse o im6vel<br />

ern causa, poderia usar do direito<br />

de denunciar nao motivadamente<br />

um direito que 6 lesado pelo ato o contrato de locacão, e, por isso,<br />

do Estado, ainda que legitimo, e, nao estaria, evidentemente, su-<br />

gracas a responsabilidade objetijeito<br />

a qualquer responsabilidade.<br />

Tern<br />

va consagrada no art. 107 da<br />

cabimento que o Estado,<br />

ConstituicAo Federal,<br />

no interesse<br />

6 o Estado<br />

ptiblico e usando de<br />

respon urn direito<br />

sabilizado pelo dano cau-<br />

constitutional desapropriar<br />

seu —<br />

sado. 0 mesmo sucede — e nesse<br />

—, se tome proprie-<br />

sentido a <strong>jurisprudencia</strong><br />

tart° de um<br />

citada<br />

im6vel, e, como tal,<br />

no voto do eminente relator (por para exercer o direito de dentin-<br />

exemplo, Revista dos Tribunals cla vazia seja responsabilizado<br />

444/174) — nas locacdes nao co-<br />

por urn dano que inexiste, tuna<br />

mercials, ern que o prazo contra- vez que o locatario, em virtude<br />

tual ainda nao se tenha esgotado; dessa dentincia, deixa de ter di-<br />

at, ha o direito, que a lesado corn<br />

reit° a e passa a dever a<br />

a desapropriacAo,<br />

permanecer<br />

de o locatario devolucao da colsa Parece-me<br />

no in-ravel<br />

do prazo<br />

at6 o fim<br />

evidente que se impde a resposta<br />

contratual,<br />

negativa.»<br />

qtientemente,<br />

e, conse-<br />

existe dano, ern Corn os fturclamentos da parte<br />

sentido juriclico, a ser ressarcido. fractal deste voto, dou provimento<br />

No caso concreto,<br />

ao recurso,<br />

por6m,<br />

julgando<br />

cacao nao 6 a lo-<br />

a acao impro-<br />

comercial,<br />

vendo sido<br />

e, la hacedente.<br />

Fica a autora, ora recor-<br />

ultrapassado<br />

do contrato,<br />

o prazo<br />

rida, condenada a pagar as custas<br />

poderia<br />

do p<br />

qualquer<br />

o locador,<br />

momento,<br />

a<br />

rocesso e honorarios de 10%<br />

mediante<br />

(dez por cento) sobre o valor da<br />

denfmcia<br />

nao motivada (dentincia causa». (RTJ 81/606 e 607).<br />

vazia), exigir a restituicAo<br />

im6vel, fazendo,<br />

do<br />

Posteriormente, ainda a Primeira<br />

parecer<br />

corn isso, desa- Turma, ao julgar, em 29.4.77, o RE<br />

o direito do<br />

p<br />

locatario de 86.189, send° relator tamb6m o Sr.<br />

ermanecer nele, obrigado que Ministro Bilac Pinto, reafirmou<br />

ficaria a devolucAo.<br />

orientacao, invocando,<br />

essa<br />

o precedente<br />

entre outros,<br />

acima.<br />

Com a demincia vazia por par-<br />

-<br />

te do proprietario, desaparece<br />

Era essa,<br />

o a<br />

igualmente, a orientacao<br />

direito do locatario, que, por II- dotada por esta Segundo Turma,<br />

car obrigado a restittdr o im6vel, o<br />

como se ye dos RREE 80.260, relator<br />

nao sofre dano ern sentido juridi- q Sr. Ministro Xavier de<br />

co, pots nenhum direito subjetivo d<br />

ue, j<br />

Albuquer-<br />

seu, interesse legithno<br />

o<br />

ulgado a 13.12.74; 80.258, juiga-<br />

a<br />

ou situa- q 23.9.75, e ern que consta o voto<br />

ue proferi e que tot reproduzido nas<br />

36


362<br />

R.T.J. — 94<br />

decisOes prolatadas na Primeira<br />

Turma: 90.087, julgado a 29.9.78, de<br />

que frit relator, e em cuja ementa se<br />

le:<br />

«Desapropriacao.<br />

— Em se tratando de locacäo ern<br />

que o locador poderia, a qualquer<br />

momenta, utilizar-se da demincia<br />

vazia, nào tern o locatario direito a<br />

indenizacão pelo s6 fato de, em ter vir- de<br />

tude de desapropriacao,<br />

mudar-se pela perda da posse do<br />

imOvel em favor do exproPriante.<br />

Precedentes do S.T.F.<br />

Recurs° extraordinário conhec ido<br />

e provido”.<br />

3. Em face do exposto, e resumi n<br />

-do, conheco do recurso apenas no tocante<br />

aos pretendidos danos decorrentes<br />

da desapropriacão, mas the<br />

nego provimento, em face da atual<br />

orientacdo desta Corte.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 90.761 — SP — Rel.: Min. Moreira<br />

Alves. Recte.: Almeida Land<br />

S/A — Maquinas e Ferramentas<br />

(Adv.: Isidoro Angelico). Recda.:<br />

Cia. do Metropolitan de Sao Paulo<br />

— Metre (Advs.: Beatriz Helena de<br />

A. Penteado e outros).<br />

Decisäo: Conheceram do recurso<br />

em parte e nesta parte negaram provimento<br />

. Unanime.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

Falcdo. — Presentes a Sessäo os Srs.<br />

Ministros Leitäo de Abreu, Moreira<br />

Alves e Decio Miranda . Ausente, justificadamente,<br />

o Sr. Min. Cordeiro<br />

Guerra. 5? Subprocurador-Geral da<br />

Republica• o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 8 de maio de 1979. —<br />

Hello Francisco Marques, Secretario.<br />

---<br />

RECURSO ExTRAoRDINARto N? 90.764 — RJ<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator : 0 Sr. Ministro Decio Miranda.<br />

Recorrente: Sociedade Agro-Avicola Pinheir o S/A — Recorrida : Maria<br />

Tatiana da Gama Barandier.<br />

Comercial. Falência. 1) A falencia requerida corn base no art. 1?<br />

da respectiva lei 6 elidida pelo depOsito efetuado nos termos do art.<br />

11, { 2?. 2) Ao credor que o seja exclusivamente por clivid a vencida e<br />

exigivel basta o requerimento do art. 1? da Lel de Falancia s, não ihe<br />

em qualquer dos casos do art. 2?. 3) 0 deptisito eli-<br />

cabendo o fundado ito no caw<br />

dente da falencia (art. 11, § 2?) tanto serve a esse propOs<br />

do art. 1? quanto nos do art. 2?, em se tratand o de requerente credor.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Segunda<br />

Turma, na conformidade da ata<br />

de julgamentos e das notas taquign.fleas,<br />

unanimidade de votos, conhecer<br />

do recurso e the dar provimento.<br />

Brasilia, 18 de abril de 1980 —<br />

Djaci Falcao, Presidente — Decio<br />

Miranda, Relator.<br />

RELATORio<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda —<br />

Exibindo ta promisseria de Cr$<br />

100.000,00, v<br />

no encida em 23-6-73, e autos<br />

de protesto que interrompera a


prescricao da acao cambial, Maria<br />

Tatiana da Gama Barandier requereu<br />

a fal#ncia da Sociedade Agro-<br />

Avicola Pinheiro S/A em 24-5-77.<br />

Fe-lo com dois fundamentos: 1?,<br />

falta de pagamento da obrigacao<br />

liquida (art. 1? da Lel de Faléncias);<br />

2?, a empresa estava fechada, abandonada<br />

e acefala (art. 2?, VII, da<br />

mesma Lei).<br />

Defendeu-se a requerlda e ao mesmo<br />

tempo requereu, para elidir a f a-<br />

1#ncia, depOsito da quantia reclamada,<br />

que foi efetuado. (Fls. 65 fine e<br />

fls. 80).<br />

A sentenca de primeiro grau afirmou<br />

que o pedido da falencia estava<br />

elidido pelo depositor mas, considerando<br />

prescrita a acao cambial, deu<br />

pela carëncia do pedido e autorizou o<br />

levantamento do dep6sito em favor<br />

da requerida. (F. 153 fine).<br />

Apelando a requerente, foi atenclida<br />

em acOrdao da Sexta Camara do<br />

Tribunal de Justica do Estado do Rio<br />

de Janeiro, a consideracao de que,<br />

elidido pelo depOsito o pedido de falencia<br />

com fundamento no art. 1?,<br />

remanescia o baseado no art. 2?, inciso<br />

VII, o qual demandava a realizacao<br />

de provas, que ficavam deferidas.<br />

NA° houve alusao ao problema<br />

da prescricao. (F. 185).<br />

Recorre extraordinariamente a<br />

empresa sustentando que, ante o dep6sito<br />

efetuado, nao poderia ter sido<br />

decretada a faiëncia; o que, feito,<br />

constitul violacao dos arts. 4?, IV e<br />

VI, da Let de Falencias; 265, IV, e<br />

420, I e II, do Cod. Proc. Civil.<br />

Efetuado o dep6sito elidente da fa-<br />

!theta, torna-se infitil, diz a recorrente,<br />

verificar a existencia dos<br />

pressupostos do art. 2?, VII, da lel de<br />

quebras.<br />

Demais, o acOrdilo recorrido diverge<br />

de outro, proferido pela 2? Camara<br />

Civel do Tribunal de Justica do<br />

Estado do Rio de Janeiro, em 18-12-<br />

73, a Wier que, «quando a let estipu-<br />

R.T.J. — 94<br />

363<br />

la determinada forma de prova para<br />

certo ato, a incabivel, fazer-se qualquer<br />

outra, em substituicao». (F. 198<br />

fine).<br />

Fat o recurso admitido pela letra<br />

a, corn apoio na consideracao da<br />

Procuradoria-Geral da Justica,<br />

verb's:<br />

«Como se v#, o aresto recorrido<br />

deu provimento ao apelo da<br />

Rda. no sentido de «de que seja<br />

admitida a prova destinada a demonstrar<br />

os pressupostos do art.<br />

2?, VII, da lei mencionada,, com<br />

vistas ao acolhimento, ou nao, do<br />

pedido de fal#ncia.<br />

Mas isso nao 6 possivel no presente<br />

feito, ante o dep6sito elisivo<br />

de fls. 80-81. A falencia da Rte.<br />

nao mats pode ser decretada neste<br />

processo. Resta apenas apurar<br />

quem levanta o depOsito: se a<br />

Rte, ou a Rda.n (F. 214).<br />

A Procuradoria-Geral da<br />

em parecer do Subprocurador-<br />

Geral Joäo Boabald de Oliveira Itapary,<br />

oficia pelo conhecimento e provimento<br />

do recurso. (Fls. 236-8).<br />

Acrescento que pela recorrente foi<br />

argilida a relevancia da questao <strong>federal</strong><br />

(ARv 3.641 em apenso), que fol<br />

rejeltada.<br />

E o relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Declo Miranda,<br />

(Relator) — Preliminarmente, considero<br />

desinfluente, na espécie, a rejeicao<br />

da argflicao de relevancia,<br />

visto que nenhum dos Obices do art.<br />

308 do Regimento Intern tolhia o recurso.<br />

No merito, # de salientar que o requerimento<br />

de falëncia corn base<br />

num dos fatos do art. 2? da Lel de<br />

Fal#ncias (Decreto-lei n? 7.661, de<br />

21-6-45), se 6 feito por um erector<br />

(an. 9?), compete necessariamente<br />

ao que o seja por Undo ainda nao<br />

vencido.


364<br />

R.T.J. — 94<br />

Se o requerente e credor por divida<br />

ja vencida, obviamente o fundamento<br />

de seu pedido estara no art.<br />

1?, e, depositada a importancia nos<br />

termos do art. 11, § 2?, segunda parte,<br />

o interesse do credor se restringe<br />

a discussão sobre o direito ao levantamento<br />

do depOsito.<br />

Nao the compete, send() por mero<br />

capricho, qualquer das alegacOes do<br />

art. 2? da lei falimentar.<br />

Seu interesse, derivado exclusivamente<br />

do titulo vencido e potenctalmente<br />

satisfeito pelo depOsito, nao<br />

mais alcanca ingerencia nas condiclies<br />

de solvOncia do comerciante.<br />

Assim, esta-se a ver que, atendida<br />

a recorrida no seu finico interesse<br />

legitimo, que era o da satisfacdo de<br />

seu crédito, nao havia como prosseguir<br />

em providencias somente<br />

exigivels, se, alêm do crédito apresentado,<br />

tivesse ela outros cr6ditos,<br />

nao vencidos, a depender da regularidade<br />

futura dos neg6cios da empresa<br />

devedora.<br />

Eis por que acolho, para conhecer<br />

e prover o recurso, a invocacao do<br />

art. 4?, VI, da Lei de FalOncias, concernente<br />

ao «depOsito judicial oportunamente<br />

feito», conquanto mats<br />

adequadamente a recorrente devesse<br />

ter invocado o art. 11, § 2?, da<br />

mesma Lei, especificame nte alusivo<br />

ao depOsito para elidir a falOncia.<br />

Adoto, para essa solucao, as consideracOes<br />

que se seguem, do douto<br />

parecer do Subprocurador-Geral<br />

Joao Boabaid de Oliveira Itapary.<br />

«4. Admitido o apelo extremo<br />

pela tetra a do permissive constitucional,<br />

resume-se o deslinde da<br />

questão em saber se o depOsito<br />

previsto no art. 11, § 2?, da Lei<br />

Falimentar elide a quebra, inobstante<br />

a invocacão de outro fundamento,<br />

alEm da impontualidade<br />

do pagamento.<br />

Inquestionavelmente, sim.<br />

Dots dep6sitos permite a Lei. 0<br />

art. 4?, inc. VI — «depOsito judicial<br />

oportunamente feito,» provado<br />

o qual «a falOncia lido sera declarada,<br />

» nos termos imperativos<br />

do artigo. Entendem os doutos<br />

que se trata de depOsito feito antes<br />

de pedida a declaracáo de falencia.<br />

Pelo Feboutro depOsito, o do<br />

art. 11, § 2? — «citado, podera o<br />

devedor, dentro do prazo para<br />

defesa, depositar a quantia correspondente<br />

ao crOdito reclamado,<br />

para discussAo da sua legitimidade<br />

ou importAncia, lltdindo<br />

a falëncia.» (Grifamos).<br />

Certo que o art. 11, caput, trata<br />

do caso de requerimento de falencia<br />

corn fundamento no art. 1?<br />

do Decreto-lei 7.661/45 — impontualidade<br />

do pagamento. Nesse<br />

caso deve «instruir o pedido corn<br />

a prova de sua qualidade e corn a<br />

certidäo do protesto que caracteriza<br />

a impontualidade do devedor.<br />

«A prova de impontualidade<br />

e feita mediante a certicläo do<br />

protesto. Dal, a imprescindibilidade<br />

de sua juntada a inicial. Tal<br />

depOsito elide a falOncia, peremptoriamente,<br />

conforme a<br />

alinea segunda do art. 11: «Feito<br />

o depOsito, a falencia nao pode<br />

ser declarada, » pots, «se for verificada<br />

a improcedëncia das alegacOes<br />

do devedor, o juiz ordenara,<br />

em favor do requerente da falencia,<br />

o levantamento da quantia<br />

depositada, ou da que tiver<br />

reconheci . lo como legitimamente<br />

devida».<br />

4.1. Medida drastica, e, por isso<br />

mesmo, chocante a falOncia, o<br />

dep6sito e um meio de defesa do<br />

comerciante, que, ao mesmo<br />

tempo, satisfaz o credor, cujo interesse<br />

nao deve it alem de receber<br />

o que the e devido. 0 depOsito<br />

ilide a falëncia, mesmo que verificada<br />

a improcedencia das alegacOes<br />

do devedor.


5. 0 processo do pedido de fa-<br />

!theta, por qualquer dos fatos<br />

enumerados no art. 2?, 6 regulado<br />

pelos arts. 12 a 14. Em nenhum<br />

desses artigos, Pala-se em<br />

depasito. Ante o silenclo de dispositivos<br />

que apenas regulam o<br />

processo, naqueles casos, pode<br />

dizer-se que nao a permitido o<br />

depOsito ilidente da falencia? Entendemos<br />

que seta. Por que permitir<br />

o depOsito no caso de impontualidade<br />

do pagamento (art.<br />

1?) e nao permiti-lo em qualquer<br />

das hipeteses discriminadas no<br />

art. 2?? Parece-nos muito mats<br />

grave a falta de pagamento, fato<br />

comprovado pelo protesto, do que<br />

muitas das hipOteses (meras suspeitas)<br />

especificadas no art. 2?.<br />

5.1. Outrossim, a nao ser o proprio<br />

falido, podem requerer a Palencia<br />

do devedor comerciante o<br />

cOnJuge sobrevivente, qualquer<br />

dos herdeiros do devedor; o inventariante,<br />

o sack) ou o erector,<br />

devendo este exibir o titulo de<br />

seu credit°, ainda que nao vencido<br />

(art. 9?). Dos estranhos, s6 o<br />

credor tem interesse e legitimidade<br />

para requerer a falencia do<br />

seu devedor Ora, se, em caso de<br />

impontualidade de pagamento,<br />

permite-se o depOsito illdente da<br />

falencia (art. 11 e seu f 2?), para<br />

discuss/to da legitimidade do cr6dtto<br />

ou da sua importAncia, por<br />

que razao Juridica geral ou pessoal,<br />

nao se ha de permiti-lo nas<br />

hipoteses do art. 2?? Por acaso<br />

nao cabe ao devedor discutir, nos<br />

fatos articulados no art. 2?, a legitimidade<br />

ou nao de sua divida?<br />

Claro que sim. Antes de o credor<br />

tentar provar a hipOtese do abandon<br />

de estabelecimento cornercial,<br />

pode o devedor provar que o<br />

debit° nao 6 legIttmo ou nao representa<br />

a ImportAncla constgnada.<br />

Dtretto impostergAvei do devector,<br />

em prtinetro Lugar, 6 Wscuttr<br />

a legittmidade ou nao de<br />

R.T.J. — 94<br />

365<br />

seu debit° ou a sua ezaticläo, em<br />

qualquer dos casos que autorizam<br />

o pedido de deeretacao da<br />

falencia, seja pela impontualidade,<br />

seta por qualquer das demais<br />

especies mencionadas no art. 2?.<br />

5.2. Com relacao ao depOsito<br />

«posterior», Sylvio Marcondes leciona:<br />

«Ao devedor que ern razOes<br />

contra a legitimidade t ou importancia<br />

da divida e que nao fol<br />

acionado pelo credor, na acao<br />

nil:1pda do titulo, Ego pode ser<br />

vedado discutir sua defesa, quando<br />

chamado a Juizo num pedido<br />

de falencia. E se nesse momento,<br />

pelo depOsito da quantla re-<br />

ciamada, demonstra que a capaz<br />

de pagar, nao podera ser instaurado<br />

o processo coletivo, mesmo<br />

quando vitorlosa a ac4o individual<br />

do credor.» (Problemas de Direlto<br />

Mercantil, tir., peg. 318).<br />

Ensina o abalizado TraJano de<br />

Miranda Valverde que «a defesa,<br />

baseada em martial relevante de<br />

Wren°, cabe tanto no processo<br />

p rellmtnar da falencia corn fun-<br />

dament° no art.. it, quanto na<br />

que o for corn fundamento no art.<br />

2? ( ComentArios a Lel de<br />

Falencias, 1-54. Grtfamos). E<br />

ninguem dire que a discussao sobre<br />

a «legitimidade do credit() ou<br />

sua importancia» nao constitui<br />

« matéria relevante de direito».<br />

Logo, tambem nos casos do art.<br />

2? cabe ao depOsito ilidente ou<br />

elidente da falencia.<br />

Jost da Silva Pacheco, em sua<br />

conhecida obra Processo de Falêncla<br />

e Concordats, 2? ed., 1-299,<br />

dissertando sobre o depOsito<br />

dente da quebra, afirma, em termos<br />

irrestritos:<br />

«Contudo, aastnale-se, a<br />

orientacao generallzada t a de<br />

que facultado o depOsito em qualquer<br />

caso, e feito este, elidida este<br />

a falencia.» (Grlfamos).


366<br />

De forma ampla, decidiu o Tribunal<br />

de Justica de Sao Paulo,<br />

em acerclao de 1.10.48:<br />

“Todo e qualquer depOsito,<br />

seja ou nao no juizo falimentar.<br />

elide a falencia e desloca a controversia<br />

para a legitimidade do<br />

credit° ajuizado pelo requerente<br />

da quebra. » (Rev. Forense,<br />

126/486).<br />

R.T.J. —94<br />

6. In casu, feito o depOsito, foi<br />

discutida a legitimidade do credito.<br />

Vitorioso ou nao o recorrente,<br />

a falencia esta eliminada nos<br />

precisos termos do art. 11, § 2?,<br />

da Lei Falimentar . Se o interesse<br />

do credor a receber a seu credit°,<br />

a respectiva importancia esta<br />

disposicäo da recorrida. 0 que se<br />

nota, porem, a que a requerente<br />

da falencia, mats que receber o<br />

seu credit°, quer a declaracAo da<br />

falencia do devedor, o que parece<br />

traduzir-se em mero capricho ou<br />

espirito de emulacao. (Fls. 234-<br />

7).<br />

Conheco do recurso e the dou provimento,<br />

para julgar elidida a fathncia<br />

pelo dep6sito efetuado nas condicOes<br />

prevlstas no art. 11, § 2?, da Lei<br />

de Falencias.<br />

Restabeleco a condenaflo, que a<br />

sentenca de primeiro grau impusera<br />

a requerente da falencia, ao pagamento<br />

das custas e honorarios de advogado,<br />

estes arbitrados em 10%<br />

(dez por cento) do valor dado a causa.<br />

E o meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 90.764 — RJ — Rel. Min. Decio<br />

Miranda. Recte.: Sociedade Agro-<br />

Avicola Pinheiro S/A (Adv. Jose<br />

Carlos Lima Silva). Recda • Maria<br />

Tatiana da Gama Barandier (Adv.<br />

em causa prOpria).<br />

DecisAo: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator.<br />

Unanime. Falou pelo Recte. o Dr.<br />

Jose Carlos Lima Silva.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

FalcAo. Presentes a Sessao os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra, Morcira<br />

Alves e Decio Miranda. Licenciado,<br />

o Sr. Ministro Leitão de Abreu.<br />

Subprocurador-Geral da Republica,<br />

o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 18 de abril de 1980 —<br />

Hello Francisco Marques, Secretario.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 90.933 — RJ<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator para o actirclao: 0 Sr. Ministro Rafael Mayer.<br />

Recorrente: Superintendencia das Empresas Incorporad as ao Patrimenio<br />

Nacional — Empresa Brasileira de Radiodifu sao S/A (RADIOBRAS) —<br />

Recorrida: Thereza Ferreira do Nascimento.<br />

Acumulacão de cargos. Proventos de funcionar ia autarquic a. Salario<br />

de radio-atriz da Radio Nacional. Constituicai Federal, art. 99,<br />

§ 4? (exegese) . Nä° estipulado na norma constitucion al, para efelto<br />

de acumulacao , limite de duracAo do contrato permitido ao aposentado,<br />

que tenha por objeto a prestacAo de servicos Mcnicos ou especializados,<br />

nä° resulta violado o preceito se reconbecid a a validade do<br />

exercicio cumulativo de contrato trabalhista cuja duracão seja indeterminada,<br />

na forma da CLT. Recurso extraordinttrio não conhecido.


ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Prinicira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e notas taquigraficas,<br />

por maloria de votos, nä° conhecer<br />

do recurso.<br />

Brasilia, 25 de marco de 1980 —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Rafael Mayer, Relator p/o acOrddo.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

Ao inadmitir o recurso extraordinftrio,<br />

assim resumlu a controvErsia, o<br />

ilustre Presidente Ministro Pecanha<br />

Martins, fls. 216/217:<br />

«A Superintendéncia das Empresas<br />

Incorporadas ao PatrimOnlo<br />

Nacional propee recurso extraordinärio<br />

corn apolo nas letras a e d,<br />

do permIssivo constitutional, contra<br />

decisAo de Turma Julgadora<br />

deste Tribunal, que restou assim<br />

ementada:<br />

«Reclamacdo trabalhista.<br />

Reintegracão. Aposentadoria<br />

noutro emprego. Procedência do<br />

pedido.<br />

A aposentadoria pelo INPS ndo<br />

impede o trabalho de radio-atrlz.<br />

Em determinadas condiebes, o<br />

inativo pode trabalhar. 0 lugar<br />

de radio-ator acha-se dentro dessa<br />

possibilidade, por se tratar de<br />

cargo tiecnico ou servico especlalizado».<br />

Inicialmente 6 de registrar-se<br />

que a hipOtese versa sobre a relacdo<br />

de trabalho de que trata o art.<br />

R.T.J. — 94<br />

367<br />

110 da Constituicâo<br />

sim, Federal. r As-<br />

essalvada a argdida ofensa<br />

ao art. 99, § 4?, da Constituted°,<br />

cluldos estAo da<br />

ex-<br />

apreciacão,<br />

via do recurso<br />

pela<br />

extraordindrio os<br />

demais fundamentos suscitados<br />

(art. 308, inciso IV, letra<br />

g b,<br />

iment° Interno do Supremo Tribu-<br />

do Renal<br />

Federal).<br />

DispOe o art. 99, § 4?, da Constituted°<br />

Federal:<br />

"Art. 99 — E vedada a acumulack,<br />

re munerada de cargos e<br />

tunes:3es pfiblicas, exceto:<br />

§ 4? — A proibiedo de acumular<br />

pr oventos nAo se apnea aos aposentados,<br />

quanto ao exercicio de<br />

mandato eletivo, quanto ao de<br />

urn cargo em comissao ou quanto<br />

a contrato para prestaedo de servicos<br />

tdcnicos ou especializados».<br />

A sua vez, conceituando cargo<br />

p<br />

tdcnico para efeito da acumulacdo,<br />

receitua o artigo 3?, do Decreto n?<br />

35.956/54:<br />

"Art. 3? — Cargo tdcnico ou<br />

cientifico 6 aquele para cujo<br />

exercicio seta indispensävel predominante<br />

e<br />

a aplicaedo de conhecimentos<br />

_cientificos a ou<br />

rtisticos, do nivel superior de<br />

ensino».<br />

Considerou o acOrclgo que a tuned° de<br />

recorrido<br />

radio-atriz<br />

terlza sere so<br />

carac-<br />

especializado, estando,<br />

dessarte, amparado «pela permissdo<br />

constitutional<br />

a<br />

o<br />

req status que<br />

uerente vinha desfrutando».<br />

Fe-lo, inclusive, embasado em parecer<br />

do DASp, que adman' ser tal<br />

cargo, pan efeito de acumulaedo,<br />

de natureza tdcnica (DAS}, — Pro-


368<br />

cesso 30.191/72, in DOU, Seca') I,<br />

Parte I, de 25-4-72):<br />

R.T.J. — 94<br />

«Cargo de Radio-atriz e de natureza<br />

tecnica para efeito de<br />

aplicaeao das regras de acumulack)<br />

k) de cargos pnblicos, nos termos<br />

do art. 3? do Decreto n?<br />

35.956, de 2 de agosto de 1954,<br />

acumulavel assim corn o cargo<br />

de professora de arte dramat ica».<br />

Isto ponto, entendo que a decisao<br />

impugnada , a evidencia, ofereceu<br />

as normas que disciplina m a materia<br />

inteligencia que guarda conotacao<br />

de razoabilidade e em nada<br />

contrariou disposigao constitucio nal (Snmula 400).<br />

Nego seguimento ao recurso.”<br />

0 exceptional, todavia,<br />

processou-se corn o provimento do<br />

Ag n? 73.912, pelo eminente Ministro<br />

Antonio Neder, como tudo consta dos<br />

autos em apenso.<br />

Com razOes das partes, fls.<br />

221/31 e 234, subiram os autos a esta<br />

Corte, recebendo parecer favoravel<br />

da douta Procuradoria-Geral da Repnblica,<br />

nestes termos, fls. 240/2:<br />

«1. Trata-se de recurso extraordinario<br />

arrimado nas letras a e d<br />

do permissive constitutional, atrayes<br />

do qual sustenta a recorrente<br />

haver sido contrariado o disposto<br />

no art. 99, § 4?, da Constituicao, negada<br />

vigencia aos arts. 188, 189 e<br />

192 da Lei nnmero 1.711, de 28-10-<br />

52, e aos arts. 1?, 2?, 3?, 5?, 13 e 14<br />

do Decreto n? 35.956, de 2-8-54, argiiindo,<br />

ademais, a existenc ia de<br />

dissidio pretoriano, consoante consigna<br />

a petieão de interPosicao, as<br />

fls. 154/157.<br />

2. Sobe o apelo extremo a essa<br />

Suprema Corte, para melhor exame,<br />

merce do r. despacho exarado<br />

pelo Exmo. Sr. Ministro Antonio<br />

Neder, fl. 71 dos autos do agravo<br />

em apenso.<br />

3. Cinge-se o deslinde da controversia<br />

a definieao da legitimidade<br />

ou nao da acumulacao de proventos<br />

percebidos por funcionaria autarquica<br />

<strong>federal</strong> aposentada corn<br />

salario de radio-atr iz da Radio Nacional,<br />

tendo o r. aresto recorrido<br />

havido por bem considera r francamente<br />

licita referida acumulacao,<br />

ao entendimento de constituir o<br />

emprego de radio-atriz servico especializado<br />

ou cargo tecnico,<br />

abrangido pela excecao estatuida<br />

na parte final do paragra fo 4? do<br />

art. 99 da Constituicao.<br />

4. Todavia, descurou o r. julgado<br />

recorrido de atentar para elemento<br />

essential a incidencia da predita<br />

norma constitucional, qual seja, o<br />

carater transithrio ou temporario<br />

que necessariamente reveste as<br />

tres hipoteses englobad as no para.grafo<br />

4? do arti go 99 da Lei Magna,<br />

pots exercicio de mandado elettvo,<br />

de cargo em comissa o e contrato<br />

para prestaeao de servicos tecnicos<br />

ou especializados exibem como<br />

ponto comum inarredavel sua transitoriedade,<br />

incomPativel e inconfundivel<br />

corn a condieão de empregada<br />

permanente da Radio Nacional,<br />

ostentada pela recorrida, de<br />

1944 ate 19 de outubro de 1971, data<br />

de sua questionada dispensa.<br />

5. 0 tema mac, espelha nada de<br />

novo para esse Pret6rio Excelso,<br />

visto ja ter sido alvo de minudente<br />

exame e exata solueao quando do<br />

julgamento do RE n? 79.188, cujo<br />

DD. Relator foi o Exmo. Sr. Ministro<br />

Thompson Flores, como se<br />

constata da leitura do v. actordao


estampado na RTJ n? 74, As pAginas<br />

808/812, ora mencionado em face<br />

da marcada similitude corn o<br />

caso presente.<br />

As razoes aduzidas pela recorrente,<br />

As fls. 222/231, bem demonstram<br />

a nitida contrarledade existente<br />

entre o r. aresto recorrido e a<br />

Lei Maior, a demandar emenda,<br />

impetrada via do apelo constitucional<br />

manifestado.<br />

Isto posto, o parecer a pelo conhecimento<br />

e provimento do recurso.<br />

Brasilia, 8 de fevereiro de 1980.<br />

— Jost Antonio Leal Chaves, Procurador<br />

da Republica.<br />

APROVO:<br />

Firmino Ferreira Paz, Procurador-Geral<br />

da RepUblicaN.<br />

E o relatario.<br />

VOTO<br />

O Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

(Relator) — Conheco do recurso e<br />

the dou provimento para julgar improcedente<br />

a reclamataria, pagas as<br />

custas na forma da lei.<br />

2. Para reieitar os embargos de divergencia,<br />

opostos pelo ora recorrente,<br />

houve por bem o PlenArlo do<br />

Egrêgio Tribunal Federal de Recursos,<br />

por maioria de votos, vencedores<br />

os eminentes Ministros Neri da<br />

Silveira, Jorge Lafayette, Paulo TAvora<br />

e AMU- Passarinho, manter o<br />

aresto embargado que reformara,<br />

em parte, a sentenca de fls. 117/13,<br />

apenas, para admitir fosse indenizada<br />

a reciamante, ora recorrida, em<br />

lugar de reintegrA-la, caso se verificasse<br />

a incompatibilidade.<br />

R.T.J. — 94<br />

369<br />

Fë -lo,<br />

rtidlo-atriz,<br />

ao reconhecer que a<br />

posto que aposentada pelo<br />

I.N.P.S., nat.) estA impedida de<br />

exercer sua atividade perante a recorrente.<br />

E isto porque desempenha<br />

cargo técnico ou servico especializado.<br />

E o que se extrai do voto do eminente<br />

Relator, invocando os arts. 99,<br />

§ 4?, da Constituicão e 3? do Decreto<br />

n? 35.956/54.<br />

3. Penso que, em assim decidindo,<br />

antes de aplicar o art. 99, § 4?, da<br />

Constituicão, e de modo razoAvel, como<br />

considerou o despacho presiden-<br />

tial, invocando, data Yenta, impro-<br />

priamente, a Stuntila 400, ao inadmitir<br />

o recurso, contrariou dito preceito<br />

da Lei Maior, dissentindo, outrossim,<br />

de julgados desta Corte e do<br />

prOprio Tribunal a quo.<br />

Justifica-se, dessarte, o conhecimento<br />

do recta-so.<br />

4. E impende provë-lo.<br />

Com efeito.<br />

A regra impeditiva da acumulaflo<br />

de cargos e func6es pablicas estA no<br />

caput do art. 99, da Constituicao.<br />

As excecoes constam de seus incisos<br />

e paragrafos. E, no pertinente<br />

acumulacAo quanto a proventos, cuida<br />

o Ultimo dos parAgrafos, ao dispor<br />

verbis:<br />

6Art. 99 — E vedada a acumulacAo<br />

remunerada de cargos e funcOes<br />

pablicas, exceto:<br />

§ 4? — A proibicAo de acumular<br />

proventos nAo se aplica aos aposentados,<br />

quanto ao exercicio de<br />

mandato eletivo, quanto ao de urn<br />

cargo em comissáo ou quanto a<br />

contrato para prestacäo de servicos<br />

técnicos ou especializados».<br />

Aposentada que era a recorrida no<br />

cargo de Oficial Administrativo do<br />

extinto I.A.P.F.E.S.P., recebendo os<br />

respectivos proventos, obstada estava<br />

de ser contratada pela recorrente


370<br />

R.T.J. — 94<br />

— Radio Nacional do Rio de Janeiro<br />

— Empresa. Brasileira de Radio-<br />

Difusao S.A. — Incorporada ao Patrimenio<br />

Nacional (Decreto n?<br />

60.700, de 26-7-67), Empresa pUblica<br />

que e, nos termos do art. 5?, do<br />

Decreto-lei 200/67.<br />

A tanto se opunha o citado § 4? do<br />

art. 99.<br />

Certo, admitiram as instancias ordinaries<br />

encontrar-se a recorrida,<br />

sob o patio da exceed° que ai se contern.<br />

E para tanto operou corn o Deereto<br />

n? 35.956/54, art 3?, verbis:<br />

«Art. 3? — Cargo tecnico ou<br />

cientifico é aquele para cujo<br />

exercicio seja indispensevel e predominante<br />

a aplicacao de conhecimentos<br />

cientificos ou artisticos, do<br />

nivel superior de ensino».<br />

Nao tern razao. Examinando caso<br />

identico de empregado, tambem da<br />

Radio Nacional, afirmei em meu veto<br />

proferido no RE 79.188, em 9.12.74,<br />

perante a Egregia 2? Turma, (RTJ<br />

84/808/812), dando exegese a Ultima<br />

parte do texto constitucional transcrito:<br />

«contrato para a prestacao de<br />

servicos tecnicos ou especializados».<br />

As excecties a proibicao de<br />

acumular proventos estao coerentemente<br />

englobados num mesmo<br />

dispositivo, pots se relacionam por<br />

aspecto comum: a natureza temporaria<br />

da prestacao de servico.<br />

Corn efeito, o exercicio de<br />

cargo em comissao, de livre nomeacao<br />

e demissao, e nitidamente<br />

temporärio. 0 mesmo ocorre corn<br />

o exercicio de mandato eletivo e<br />

tambern corn «a prestacao de services<br />

tecnicos ou especializados».<br />

11. Assim a que a Lei 3.780, em<br />

seu artigo 26, dispee:<br />

«Art. 26 — Para o desempenho<br />

de atividade tecnico-especia-<br />

lizada, para cuja execucao<br />

nao disponha o servico de<br />

funcionario habilitado, podere<br />

ser admitido especialista temporedo,<br />

por prazo nao excedente ao<br />

de urn exercicio financeiro mediante<br />

Portaria do Ministro de<br />

Estado ou de dirigente de Orgao<br />

subordinado ao Presidente da<br />

Republica .»<br />

Portanto, a «prestacao de<br />

servicos», referida na Constituicao,<br />

e a que se reveste do carater de<br />

excepcionalidade e que visa a atender<br />

necessidade temporeria, embora<br />

urgente, da administracao.<br />

Alias, a propria expressao<br />

utilizada — contrato para prestacao<br />

de servicos — bem indica a<br />

transitoriedade desses servicos.<br />

Ora, flat( 0 esse o caso da impetrante,<br />

que de ha muito vem trabalhando<br />

na Radio Nacional, onde<br />

possui urn emprego de carater permanente.<br />

Assim, tern razao a Superintenclancia<br />

das Empresas Incorporadas<br />

ao Patrimenio Nacional<br />

quando, em seu agravo de fl. 80,<br />

assinala:<br />

«a Carta Magna (art. 99, § 4?),<br />

bem evidencia a interinidade e a<br />

excepcionalidade de tais services,<br />

que sera° sempre em careter<br />

transiterio, como ja tern diddido<br />

a Consultoria-Geral da RepUblica<br />

(vide DO da Uniao, Seca()<br />

I, Parte I, de 6-12-71, p.<br />

9.959). E feta o prOprio texto<br />

constitucional em prestacao de<br />

servicos, que mais vem demonstrar<br />

a interinidade que exige para<br />

a excepcionalidade feita ao<br />

aposentado, o que mais vem demonstrar<br />

o desacerto de decisao<br />

do Dr. Juiz a quo. E prestacao de<br />

servicos a que sempre se refere<br />

a Lei e contrato ern carater exceptional<br />

como, simplesmente,<br />

para dar como exemplo temos<br />

ern caso idantice o prescrito no


R.T.J. — 94<br />

371<br />

art. 111 do Dec.-lei 200, de 25-2-6<br />

(Reforma Administrativa) qu 7 Mayer, apOs o voto do Ministro Rela-<br />

igualmente fala em «PrestacAoe<br />

tor, que conhecia e provia o recurso.<br />

de Servicos», a que nada atendeu Falou pela Recte.: 0 Dr. Elpidio<br />

a dectsào agravada.»<br />

Araftjo Neris.<br />

16. A Constituted° de modo geral,<br />

Presidëncia<br />

Thompson<br />

do Sr. Ministro<br />

veda a acumulacdo. A regra e a<br />

Flores. Presentes a Ses-<br />

na') acumulacAo. As excecOes espebuqsäo os Senhores Mins. Xavier de Aldais<br />

para os aposentados sat) corn- uerque, Soares Mutioz e Rafael<br />

preensiveis exatamente porque di- Mayer. Ausente, justificadamente, Sr. Min. Cunha Peixoto.<br />

o<br />

zem respetto A prestacAo de serviSubprocuracos<br />

temporados e que visam, sodor-Geral da RepUblica o Dr. Franbretudo,<br />

a atender aos superiores cisco de Assis Toledo.<br />

interesses da nacao (no caso do Brasilia, 11 de marco de 1980. —<br />

mandato eletivo) ou da pr6pria ad- Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

ministrano (nas hi pOteses de Secretário.<br />

exercicio de cargo em comissão e<br />

contrato para prestacão de servi-<br />

VOTO (VISTA)<br />

cos tecnicos ou especializados).<br />

Mas 6 claro que a Constituicdo não 0 Sr. Ministro Rafael Mayer: Tive<br />

iria se colocar contra os principios a ocasido de tratar essas materias,<br />

bAsicos que regem o instituto para sob o Angulo juridic°, quando do<br />

autorizar acumulaeAo de proventos exercicio de cargo na Administra-<br />

corn vencimentos ou salArtos de cdo, e sinto-me jungido, por<br />

cargo ou emprego publico permatente conviccAo, As<br />

persis-<br />

posicOes que ennentes.))<br />

Mr) adotei.<br />

Acrescento que, em caso idêntico, Mao tenho chlvida de que os empre-<br />

em que figurava como reclamante gados das Empresas IncorpOradaS<br />

Diamantina Augusta Duval Bandeira ao PatrimOnto Nacional, — como era<br />

e Reclamada, tambem, a Radio Na- então o caso da Radio Nacional, hoje<br />

cional, contrariamente julgou o incorporada a empresa pUblica Ra-<br />

T.F.R., e interposto recurso extraordiobrAs, — estavam e estAo sujeitas<br />

dinArto, inadmitido, originou o Ag As regras de acumulaeão de cargos.<br />

68.739, ao qual the negou seguimento Entendi e entendo que tais empresas<br />

o eminente Ministro Antonio Neder sào unidades autenomas, desempe-<br />

(DJ de 30-5-1975, pg. 3.675/6). nhando servicos industrials, em regi-<br />

E como voto.<br />

privada,<br />

me semelhante ao de uma empresa<br />

sob gestAo<br />

Nem sAo<br />

estatal direta.<br />

autarquias EXTRATO DA ATA<br />

pablicas,<br />

nem empresas<br />

carecendo de<br />

RE 90.933 — RJ — Rel.: Min. de juriclica<br />

personalida-<br />

e de patrimOnto<br />

Thompson Flores. Recte.: Su<br />

pr6prio,<br />

perin- pois os respectivos acervos integram<br />

tendencia das Empresas Incorpora- o patrimOnio da Uniao e se inserem<br />

das ao Patrimenio Nacional — Em- no seu corpo, de modo que automatipresa<br />

Brasileira de Radiofusäo S/A camente se aplicam aos seus servi-<br />

(RadiobrAs) (Advs.: Eugenio Affondores as normas constitucionais de<br />

so da Silva, Elpidio Arafrjo Neris e aeumulaeAo dos servidores da<br />

outros). Recda.: Thereza Ferreira do LIMA°, pots também o sao, embora<br />

Nascimento (Advs.: Eduardo Ante,- em regime especial, enquanto se tranto<br />

Kalache e outros).<br />

ta de empresas Assim, a Recorrida<br />

DecisAo: Adiado o j uigamento por<br />

esta sujeita em principlo a observAn-<br />

haver pedido vista o Ministro Rafael cia das normas constitucionais a sobre<br />

cumulacão por ser servidora desse


372<br />

R.T.J. — 94<br />

tipo de empresa, tanto quanto o<br />

por ser funcionaria aposentad a de<br />

autarquia.<br />

A questa() posta pelo recurso e de<br />

saber se, funcionaria autarquica<br />

aposentada, pode acumular es seus<br />

proventos corn o contrato, sob a forma<br />

trabalhista, para a prestacao de<br />

servicos tecnicos ou especializados,<br />

a teor da faculdade contida no art.<br />

99, § 4?, da Constituica o. E o respeitavel<br />

voto recusa a acumulaca o sob<br />

o argumento de que o contrato trabalhista<br />

da Recorrida nao se coadunaria<br />

corn o carater de temporari e<br />

-dade que esta implicit° no sentido da<br />

norma constitutional.<br />

Data yenta, quero crer nao esteja<br />

autorizada pela norma uma interpretacao<br />

restritiva que nao resulte de<br />

sua letra e de sua intencao . Tive a<br />

oportunidade de examinar o alcance<br />

do preceito, em parecer que proferi<br />

na Consultoria-Geral da Republica,<br />

reconhecendo a validade do que se<br />

vem praticando amplamen te na administracao<br />

direta e indireta . Disse<br />

entao:<br />

«A inspiracao constitution al, no<br />

tocante a materia enfocada, ha de<br />

ser entendida de acordo corn o propOsito<br />

e o alcance do preceito, sendo<br />

certo que o seu objetivo primordial<br />

e o de permitir o recrutamento<br />

de inativos qualificados para, em<br />

casos especiais, colaborar com a<br />

Administracao sem o Onus da perda<br />

dos respectivos vencimentos.<br />

Vistos em conjunto, o § 9? do art.<br />

93 e o § 4? do art. 99 excluem militares<br />

da reserva e reformados, e<br />

aposentados civis, da proibicao genérica<br />

da acumulac ao dos proventos<br />

da inatividade, facultando, portanto,<br />

a continuidade de sua percepcao<br />

e da situacao, defies, originante,<br />

nos casos especificado s; a)<br />

quanto ao exercicio de mandato<br />

eletivo; b) quanto ao exerciclo da<br />

funcao de magisterio, com relacao<br />

aos militares, sem qualquer limitacat)<br />

no tocante a duracao desse<br />

exercicio; c) quanto ao exercicio<br />

de cargo em comissao, atendida<br />

obviamente a natureza da investidura<br />

em oficios que, no entanto, integram<br />

os quadros permanentes,<br />

de carater estatutario, da Administracao,<br />

nao ocorrendo, ex lege, restricao<br />

quanto ao prazo de investidura,<br />

senao a caracteristic a demissibilidade<br />

ad nutum; d) quanto ao<br />

contrato para prestaflo de servicos<br />

tecnicos ou especializados.<br />

E de ver que a faculdade relacionada<br />

no ultimo item, objeto de exame,<br />

como excecao aberta, no interesse<br />

da Administracao, a proibicao<br />

de acumular, se apresenta de<br />

modo amplo, como bem acentuado<br />

no douto parecer da Consultoria<br />

Juridica do DASP, nao cabendo ao<br />

interprete opor-the restricaes arbitrarias,<br />

mas revelar todo o contelldo<br />

legico que decorre de sua letra<br />

e do seu espirito, buscando definir<br />

o seu ambito e alcance, ao lado das<br />

outras hipOteses p<strong>revista</strong>s no dispositivo,<br />

todas distintas, autOnomas<br />

e definidas.<br />

Com efeito, nele se fala em contrato<br />

que tem por objeto a prestacao<br />

de servicos, nao se especificand o a<br />

natureza desse contrato, o que vale<br />

dizer que ele ai se inscreve como<br />

urn conceito generic°, que tanto<br />

pode compreender a prestacao<br />

eventual de servicos, ou o contrato<br />

de locacao de servicos regido pelo<br />

direito comum, como o contrato de<br />

trabalho ou contrato de emprego,<br />

que tem especificam ente por objeto<br />

a prestacao de servicos de natureza<br />

nao eventual, sob a dependencia<br />

do empregado r (art. 3? da<br />

CLT).<br />

Na verdade, a forma habitual da<br />

prestacao de servicos tecnicos ou<br />

especializados a Administracao,<br />

ainda que por aposentado s, tern seguido<br />

o regime juridico-


trabalhista, pots a mesma ConstituicAo<br />

de 1967 que adotou, por primeiro,<br />

a hipetese (art. 97, § 3?),<br />

tambem estabeleceu que aos contratados<br />

para funcOes de natureza<br />

tecnica ou especializada se aplicaria<br />

a legislacAo trabalhista (art.<br />

104), diretriz que abide prevalece,<br />

tendo em vista o princlpio da tontinuidade<br />

das leis, nao sendo contraditada<br />

pela norma programAtica<br />

do art. 106 da Emenda n?1, nao regulamentada.<br />

Por outro lado, se a norma excepclonal<br />

em foco, nao contem, a evidencia,<br />

limitacOes a duracAo do<br />

contrato nela previsto, dai IAA) se<br />

he de inferir urn prazo-limite cogente,<br />

pelo simples fato de [raterse<br />

de norma excepcional. E se o<br />

contrato pode revestir, como tem<br />

revestido, na pretica, por ponder:Aveis<br />

razOes juridicas, o carater<br />

juridic° trabalhista, a presuncao<br />

juris tantum, valida nesse ramo do<br />

direito, é que ele vige por tempo<br />

indeterminado, salvo a prove de<br />

que tenha sido estipulado por prazo<br />

determinado.»<br />

Assim, nAo estipulado na norma<br />

constitucional urn limite de duracdo<br />

de contrato de trabalho do a posentado,<br />

que tenha por objeto a prestacAo<br />

de servlcos tecnicos ou especlalizados,<br />

nao resulta violado o preceito se<br />

reconhecida a validade de contrato<br />

em que a duracdo é indeterminada.<br />

Entendo, data venia, que nao houve<br />

ofensa ao texto constitucional em admitir<br />

o acerdAo recorrido que o cargo<br />

de rAdio-atriz e de natureza tecnica<br />

para efeito de acumulacAo, react<br />

por que nao conheco do recurso.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 90.933 — RJ — Rel.: Min.<br />

Thompson Flores. Recte.: Superintendencia<br />

das Empresas Incorporadas<br />

ao PatrimOnio Nacional — Em-<br />

R.T.J. — 94<br />

eminente Ministro Rafael Mayer<br />

ponderando que «se a norma excepcional<br />

em foco, nao contem, A evidencia,<br />

limited:3es<br />

trato nela<br />

A duractio do con-<br />

previsto, dal nAo se hit de<br />

inferir urn prazo-limite cogente, pelo<br />

simples fato de tratar-se de norma<br />

373<br />

presa Brasileira de Radiofusdo S/A<br />

(R adiobres). (Advs.: Eugenio Affon-<br />

so da Silva, Elpidlo Aranjo Neils e<br />

outros). Recda.: Thereza Ferreira do<br />

N ascimento (Advs.: Eduardo Antonio<br />

Kalache e outros).<br />

Decisdo: Adlado o julgamento por<br />

haver pedido vista o Min. Soares<br />

Munoz, apes os votos dos Ministros<br />

Relator, que conhecia e provia o recurso<br />

e Rafael Mayer que dele nAo<br />

conhecia.<br />

Presidencia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. — Presentes a<br />

SessAo os Senhores Ministros Xavier<br />

de Al buquerque, Cunha Peixoto, Soares<br />

Munoz e Rafael Mayer.<br />

Subproc urador-Geral da RepOblica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 18 de marco de 1980. —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretario.<br />

VOTO (VISTA)<br />

0 Sr. MinIstro Soares Munoz: Sr.<br />

Presidente: A divergencia verificada<br />

entre V. Exa., na qualidade de relator<br />

do presente recurs() extraordinddo,<br />

e o eminente Ministro Rafael<br />

Mayer reside na interpretacão do<br />

art. 99, § 4?, da ConstituicAo da Republica.<br />

Consoante V. Exa. a acumulacão<br />

dos proventos da aposentadoria, permitida<br />

no referido dispositivo, pressupde<br />

a temporariedade do cargo ou<br />

emprego exercido pelo servidor 1)0blico<br />

Wetly°, mesmo porque «a pre-<br />

prla expressão utilizada — contrato<br />

para prestacAo de servicos» — bem<br />

indica a transitoriedade<br />

cart.<br />

da ocupa-<br />

Desse ponto de vista, apartou-se o


374<br />

R.T.J. — 94<br />

exceptional. E, se o contrato pode<br />

revestir, como tem revestido, na<br />

pratica, por ponderavei s razees<br />

juridicas, o carater juridico trabalhista,<br />

a presuncao flirts tantum, valida<br />

nesse ramo do direito, e que vige<br />

por tempo indetermina do, salvo<br />

prova de que tenha sido estipulado<br />

por prazo determinado».<br />

Pedi vista, para melhor refletir a<br />

respeito da questa°, e passo, agora,<br />

a proferir o meu voto.<br />

Ndo se acha explicito, no paragrafo<br />

4? do art. 99 da Constituted° da<br />

Republica, a exigencia de que a acumulaedo<br />

dos proventos de aposentadoria<br />

corn a remuneraca o de cargo<br />

ou emprego, exercido pelo servidor<br />

inativo, pressuPonha que este seja<br />

transitOrio.<br />

0 mandato de deputado, embora<br />

por quatro anos, pode prolongar-se<br />

indefinidamente, atraves de sucessivas<br />

eleieees. 0 de senador nao tern<br />

nada de transitbrio, uma vez que sua<br />

duracdo e de oito anos, facultada,<br />

tambem, a reeleleao por muitas legislaturas<br />

. Os cargos em comissao,<br />

por igual, lido se caracterizam, ne-<br />

no contrato por tempo indetermina RE 90.933 — RJ — Rel.: Min.<br />

Thompson Flores. Recte.: Superintendencia<br />

das Empresas Incorporadas<br />

ao Patrimenio Nacional — Empresa<br />

Brasileira de Radiofusdo S/A<br />

(Radiobras). (Advs.: Eugenio Affonso<br />

da Silva, Elpidio Aranjo Neris e<br />

outros). Recda.: Thereza Ferreira do<br />

Nascimento (Advs.: Eduardo Antenio<br />

Kalache e outros).<br />

Decisao: Ndo conheceram do recurso,<br />

vencido o Ministro Relator.<br />

Ausente ocasionalmente o Min. Xavier<br />

de Albuquerque.<br />

Presidencia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes A sessdo<br />

os Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto, Soares Munoz<br />

e Rafael Mayer. Subprocuradorgo<br />

desde-do;<br />

ela se achava no empre Geral da Republica, o Dr. Francisco<br />

antiga data.<br />

de Assis Toledo.<br />

Quanto ao requisito concernen te a<br />

«servicos tecnicos especializados”,<br />

Brasilia, 25 de marco de 1980. —<br />

a Constituted° nao conceitua o que<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

sejam eles. Ha parecer do Coordena- Secretario.<br />

cessariamente, pela transitoriedade,<br />

tanto que o funcionario pode permanecer<br />

indefinidamente neles, apesar<br />

de demIssivel ad nutum. 0 contrato<br />

para prestagao de servicos tecnicos<br />

especializados, por igual, nao significa<br />

que deva ser por curta duraedo.<br />

A temporariedade do contrato<br />

vincula-se ao respectivo prazo, se<br />

por tempo determina do, e ao aviso<br />

previo, se por tempo indeterminado.<br />

Este podera estender-se indefinidamente<br />

e aquele ser passive! de renovacees<br />

sucessivas.<br />

0 caso da recorrida enquadra-se<br />

dor da Legislaedo do Pessoal do<br />

DASP admitindo que o lugar de «radio<br />

atriz» pode ser havido como de<br />

natureza tecnica, para o efeito de<br />

acumulacdo (fl. 138). Em verdade, o<br />

art. 3? do Decreto n? 35.956, de 1954,<br />

estabelece que «cargo tecnieo ou<br />

cientifico a aquele para cujo<br />

exercicio seja indispensa vel e predominante<br />

a aplicaedo de conhecimentos<br />

cientificos ou artisticos, do nivel<br />

superior de ensinp». Todavia, esse<br />

dispositivo nao se acha prequestio nado<br />

no apelo excepcional (fls. 154-<br />

157).<br />

Ante o exposto, corn a yenta do<br />

eminente Ministro Thompson Flores,<br />

nao conheco do recurso extraordinario,<br />

acompanhando o eminente Ministro<br />

Rafael Mayer.<br />

EXTRATO DA ATA


R.T.J. — 94<br />

RECURSO EXTRA ORDINARIO N? 90.976 — MA<br />

(segtmda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Decio Miranda.<br />

Recorrentes: Lil Castro Trinta de Carvalho e outros — Recorridos: Joana<br />

Ferreira Lopes Moreno Garbirto e outros.<br />

— Civil. Testamento. Promessa Made dos legados.<br />

de venda que<br />

Alegacao de acarretaria<br />

iznpnestabilidade<br />

a<br />

da<br />

caduvenda,<br />

promessa para esse Oen° e para o de autorizar adjudicacho compuls6de<br />

ria do imCovet, ante a falta de<br />

Wirt° (Sfzmula 413).<br />

requisitos<br />

InocorrOncia<br />

legais para o registro irnobide<br />

cerligo Civil. Divergencia <strong>jurisprudencia</strong>l<br />

violaciio aos arts. 1.094 e 1.126 do<br />

imprepria, ou nflo car documentada<br />

acterizada. Solucho tecnica do recurso<br />

por forma<br />

dinário, pelo nao-conhecimento ante a falta de ataque a extraordamentos<br />

do acerdilo, suficiente para a conclusão a que chegou. tun dos Voto fun-<br />

do relator, afirmativo da c<br />

justa da demanda, deixando ohicidencia dessa conclusho com<br />

prevalecer o<br />

a<br />

testamento,<br />

soluctio<br />

trumento ptiblico, expressivo da vida e dos ideals da<br />

feito por ins-<br />

o inexplicado doctunento particular de<br />

testadora,<br />

compromisso<br />

sobre<br />

nado uma semana antes do falecimento.<br />

de venda, assi-<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Segunda<br />

Turma, na conformidade da ata<br />

de Julgamentos e das notas taquigrAficas,<br />

A unanimidade de votos, nao<br />

conhecer do recurso.<br />

Brasilia, 8 de abril de 1980 — Dint<br />

Presidente — Decio Miranda,<br />

Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda: A<br />

professora Rosa Castro, que construiu,<br />

operou e dirigiu durante melo<br />

seculo o Colegio Rosa Castro em Sao<br />

Luis, veil) a falecer no dia 19 de abrll<br />

de 1976, coin 84 anos de idade, registrando<br />

o atestado de Obito que o desenlace<br />

se dera em virtude de «arritmia<br />

cardiAca, insuficiencia cardiaca,<br />

miocardlo (sic), esclerose, hemorragia<br />

digestive,,. (f. 6).<br />

Antes, no dia 5 de Janeiro, fizera<br />

testamento pfiblico, dizendo dispor<br />

de seus bens da seguinte forma:<br />

«3?) — Disse que sendo solteira,<br />

nao tendo ascendentes hem descendentes,<br />

deseja dispor dos seus bens<br />

da seguinte forma: a) 0 Colegio<br />

Rosa Castro, para que continue na<br />

obra da educacao,<br />

Wreck) e<br />

deverA ter na<br />

administracao em substitulcao<br />

a Testadora, Joana Ferreira<br />

Moreno Garbino e Maria de Jesus<br />

Gomes Padilha, caberao, em partes<br />

'gnats a propriedade,<br />

b posse e<br />

eneficios, bem como, todo o !mevel,<br />

material escolar, todo o equipamento<br />

(Wallet) existente no Colegio,<br />

ainda a manutencao do Colegio<br />

enquanto atender as exigencies<br />

do mesmo; b) Associa-se excl tambem<br />

usivamente como dono do predio<br />

do Colegio Rosa Castro o sobrinho<br />

e afilhado da Testadora Othon<br />

Jose de Castro, brasileiro, casado,<br />

comerciante, residente na<br />

de Niterti, Estado do Rio de Janeiro,<br />

J u<br />

rias Ja<br />

ntamente com as duas legate-<br />

mencionadas Joana Ferreira<br />

Moreno Garbino e Maria de Jesus<br />

Gomes Padllha, todos corn a<br />

clausula de inalienabilidade, quanto s<br />

eng<br />

ubsistir o Colégio; c) as le-<br />

atarias Joana Ferreira Moreno<br />

375


376<br />

R.T.J. — 94<br />

qualificado, sem nenhum pagamento<br />

extra, ficando, entretanto, a<br />

partir desta data, a direcão da firma<br />

mantenedora do Colegio, sob a<br />

responsabilidade dos compradores<br />

do predio.<br />

E por estarem de pleno acordo,<br />

assinam as partes contratantes, na<br />

Disse que desta forma tern feito es- presenca das testemunhas abaixo<br />

to seu testamento, revogat6rio de relacionadas.» U. 55)<br />

qualquer outro anteriormente feito Entre as testemunh as do documene<br />

se este tenha inteira e plena vali- to, figura, corn sua assinatura, o<br />

dade de como manifestac ào de sua Prof. Ary Moreno Garbino, marido<br />

vontade<br />

e ainda nomeia seus testa- de uma das herdeiras instituidas no<br />

menteiros<br />

Ary Moreno Garbino, testamento.<br />

brileiro, as casado, professor, resi- Apresentou-se em Juizo o testadente<br />

nesta cidade e Másio Jucb. de mento e abriu-se o inventhrio, por<br />

Castro, brasileiro, casado, photo peticao datada de 30 de julho de<br />

civil, residente no Rio de Janeiro,<br />

Capital do Estado do Rio de Janet- 1976.<br />

ro, por quanto da por abonados em Decorrido cerca de ano e meio da<br />

Juizo ou fora dele;» (f. 6v.) abertura do inventario, por peticâo<br />

Tres meses apOs esse testament o e de 21.2.78, compareceram aos autos<br />

Lil Castro Trinta de Carvalho e seu<br />

sete dias antes de sua morte, a Professora<br />

Rosa Castro assinou o semarido,<br />

beneficiArios<br />

do ja os transcri toms<br />

de re- -<br />

to «Contrato Arras»,<br />

guinte documento:<br />

clamaram a declarac go de caducida-<br />

«Contrato de Arras de do legado, tendo em vista a alie-<br />

Pelo presente instrumento de nacgo posterior da coisa legada, e a<br />

expedicäo de alvara de autorizacão<br />

contrato, Rosa Castro, brasileira,<br />

solteira, professora, portadora da para lavratura da escritura ptiblica<br />

carteira de identidade n? 39.306- definitiva de compra e Venda, apes o<br />

MA, CPF n? 000572313, residente depOsito ou pagamento da quantia<br />

nesta cidade, soda proprietaria da pactuada. (F s. 47-50).<br />

firma Rosa Castro, mantenedora<br />

do Colegio Rosa Castro, assume o<br />

tenedora do Colegio Rosa Castro<br />

GarbinoMaria de Jesus Gomes<br />

Padilha, a quern cabe administrar<br />

aos compradores do predio acima<br />

e Mani corn o direito de exploraflo<br />

comercial do Colegio, deverAo_<br />

por forca deste Testamento, destinar<br />

a importancia correspondente<br />

a cinco por cento (5% ) dos lucros, se<br />

houver, verificados na escrita con-<br />

Obi' de cada exercicio, a Oton Jode<br />

Castro, j5. mencionad o; 4(?)<br />

Foi pelo Dr. Juiz de Direito na sencomprisso<br />

de, em carater irrevo- tenca de fls. 97/101 acolhido o requegavel,<br />

vender o predio localizado a rimento, dizendo o magistrado para jul-<br />

Avenida Gomes de Castro n? 132, gar «procedente o pedido (...)<br />

nesta cidade, pela quantia de Cr; autorizar por meio de alvarA a la-<br />

700.000,00 (setecento s mil cruzei- vratura da competente Escritura<br />

ros), aos Srs. Joe Warwick de Cas-<br />

PUblica do predio situado nesta cidatro<br />

Trinta e Lil Castro Trinta de de a Av. Gomes de Castro n? 132,<br />

Carvalho, send° o pagamen to da que sera assinada pelo inventariante<br />

referida importanci a, mediante fi- e contratantes, mediante o pagamennanciamento<br />

pelo Banco de Desen- to pactuado nas condicties estipulavolvimento<br />

do Maranhão S/A. das pelo documento de f. 54 e cuja<br />

importância sera depositada neste<br />

Compromete-se, ainda, por oca- Juizo em nome do EspOlio para o se-<br />

slat) do referido pagamento, efe- guimento do inventArio».<br />

tuar a transferência da firma man


R.T.J. — 94<br />

Dessa sentenca apelaram as lega<br />

taigas Joana Ferreira Lopes Garbin quando, para este, basta o acordo<br />

e Maria de Jesus Gomes Padilhao<br />

das partes sobre o objeto e o preco.<br />

(mas nao o legatario Othon Juca de Ao Segundo, porque, existindo tal<br />

Castro), sustentando que o documen acordo, quanto ao objeto e ao preco,<br />

to particular assinado pela Profa. deixou-se de dar execucao ao pac-<br />

Rosa Castro nao reunia as condicOes tuado. (F. 144).<br />

necessarlas para autorizar adj udica- Relativamente ao<br />

cao compulsOria a favor dos benef I-<br />

fundamento<br />

letra d, alegam os<br />

da<br />

ciarios nele declarados, seja por nao<br />

recorrentes que o<br />

revestir a forma prescrita<br />

acerdao diverge do que foi proferido<br />

em lei, seja<br />

por nao ter sido inscrito no Regis-<br />

pelo Supremo Tribunal Federal no<br />

tro de Im6veis.<br />

RE 87.258, relator o Sr. Ministro Moreira<br />

Alves, a dizer, no seu voto que<br />

0 Tribunal de Justica, em acerdao «a jurispruclOncia desta Corte ja se<br />

unanime de sua Primeira Camara firmou no sentido de que e ad-<br />

Civel, deu provimento a apelagdo, missivel a adjudicacao de imOvel<br />

afirmando que, «sem o sinal, ou ar- nao loteado, cuja promessa de cornras,<br />

para comprovar o inlet° do papra e venda tenha sido celebrada por<br />

gamento, nao se torna obrigaterio o instrumento particular, desde que<br />

cumprimento de contrato de compro- inscrito».<br />

misso de compra e venda» (ementa,<br />

f. 139). Por outro lado, assentou o<br />

No caso, advertem os recorrentes,<br />

acerdao, « a promessa<br />

tratava-se de adjudicacáo compuls6-<br />

de compra e<br />

venda feita pela testadora nao consria.<br />

Dal a exigencia da insericão no<br />

titui documento habil, capaz de ge-<br />

Registro de ImOvels, mencionada no<br />

rar direlto» (f. 141 fine), por faltar<br />

voto. Aqui, nao se cuida de adjudicacao<br />

compulsOria, «sua inscricao no Registro de Imopedicao mas de simples exveis,<br />

sem o que a acao para compe-<br />

de alvara para cumprimento<br />

lir o vendedor a dar escritura deve<br />

do avencado, valendo para esta hip&<br />

tese o entendimento ser julgada improcedente»<br />

do Tribunal de<br />

(f. 141<br />

princ. ).<br />

Justica de Minas Gerais, a dizer, em<br />

acerdao unanime da 3? Camara<br />

A esse acOrdao opOem recurso ex- Civel, publicado em 16.12.77, que<br />

traordinario os oa<br />

beneficiarios do cha- obrigacao do registro contida no art.<br />

mado «contrato de arras», Lil Castro 23 do Decreto-lei 58, de 1937, somente<br />

Trinta de Carvalho e Joe Warwick e exigivel na adjudicacao compulsO-<br />

de Castro Trinta, e bem assim o leria, que e de efeito real, nao na simgatario<br />

do prOdio, Othon Juca de ples outorga de escritura, resultado<br />

Castro (f. 142).<br />

da execucao especifica de uma obrigaga()<br />

de fazer». (F. 146 medic).<br />

Othon Juca de Castro e sua mulher,<br />

todavia, desistiram do recurso Por outro lado, segundo decidiu o<br />

(Us. 174 e Us. 205v.).<br />

Tribunal de Justica do Rio Grande<br />

do SW, «aplica-se o<br />

Os recorrentes, fundando o apelo<br />

Decreto-lei<br />

de 1969, as<br />

745,<br />

promessas extremo nas alineas a e d da de compra e<br />

permissat)<br />

constituclonal, sustentam, em<br />

venda de imOveis, sem clausula de<br />

arrep<br />

primeiro lugar, que o acOrdao negou<br />

endimento, mesmo que IA° tenham<br />

sido registradas no respectivo<br />

vigëncia aos arts. 1.094 e 1.126 do Codigo<br />

Civil.<br />

CartOrio de ImOveis» (Ac. da 1? Camara<br />

Civel Especial, de 10.5.77, na<br />

Ao primeiro, por exigir o sinal, ou<br />

Apelacao 27.619-Bage).<br />

arras, como condicao indisp'ensavel Finalmente, o Conselho Superior<br />

ao aperfeicoamento do contrato, da Magistratura<br />

j<br />

de Sao Paulo, no<br />

ul gamento da Apelacao Civel<br />

377


378<br />

R.T.J. — 94<br />

251.102, assentou que «opre-contratosua imperiosa necessidade como<br />

de promessa de compra e venda de<br />

corolario de direito, o que nao<br />

ocorrera no caso vertente.<br />

imOvel nao cria direito real e nao 6<br />

admissivel no Registro de ImOveis ».Reform-se, pois, a decisao do Juiz<br />

a quo.» (<br />

For outro lado, o acOrdao deixou<br />

a F. 139).<br />

de atender a orientacao jurisprude n- Levadas em conta somente esta<br />

cial no sentido de que a promessa de ementa e a parte, que a ela corresvenda<br />

se equipara a alienaeao, para ponde, no contexto da decisao recoro<br />

efeito de acarretar a caducidade rida, nao caberia acollier a alegacao<br />

do legado.<br />

Foi o recurso admitido por despacho<br />

do Presidente Kleber Moreira de<br />

Souza, a dizer:<br />

«0 referido art. 1.094, do COdigo<br />

Civil Brasileiro, no qual se alicercon<br />

a decisao estabelece que


R.T.J. — 94<br />

37<br />

n? 4.380, de 21.8.64, a dizer que a promessa<br />

de venda suscetivel de execu- Ora, a dtvergCncia<br />

cAo compulsOria a aquela sem clAu- so pode ser Jurisprudencial<br />

docu<br />

sula de arrependimento e corn imisdão, ou cOpla mentada por certi-<br />

autenticada,<br />

sat) de posse, uma vez inscrita no diante citacdo de<br />

ou me-<br />

repositOrio Registro Geral de ImOveis».<br />

de <strong>jurisprudencia</strong><br />

oficial ou autorizado<br />

Ora, o documento particular, como t<br />

RISTF, art. 305), nao lo<br />

o ocontrato de arras» destes autos, corizacao<br />

aqueles<br />

grando au-<br />

nao se tratando de im6vel loteado, i<br />

omo os<br />

repertorios i que,<br />

ou beneficiado corn financiamento<br />

ntegralmente<br />

ndicados, nao reproduzem<br />

Sistema Financeiro<br />

do n<br />

as decisOes,<br />

da<br />

nao seria<br />

Habltacdo,<br />

as as respectivas<br />

mas ape-<br />

inscritivel<br />

a<br />

ementas<br />

no Registro<br />

rt. 95, § 1?).<br />

(RISTF,<br />

Inneveis (Lei n? 6.015, de de<br />

art. 221, I).<br />

31.12.73, j<br />

Inviavel, pois, a consideracao<br />

urisprudencia trazida a<br />

da<br />

Logo, impossivel a adjudicacao<br />

pelos recorrentes,<br />

confronto<br />

compulsOria.<br />

p<br />

no pertinente<br />

rimeiro ponto focalizado.<br />

ao<br />

Argumentam os recorrentes<br />

Cuidaram<br />

aqui nao se cuida que<br />

tambem os<br />

propriamente adjudicacão de<br />

de apresentar acOrdaos<br />

recorrentes<br />

compulsOria, mas de<br />

em relacäo ao divergentes<br />

ponto da<br />

transmissAo por escritura<br />

ser lavrada em<br />

pablica,<br />

dos legados pela<br />

caducidade<br />

a p superveniOncia de<br />

cumprimento<br />

varA do Juizo.<br />

ao al- passo<br />

romessa de venda do imOvel nesse<br />

referindo o acOrdâo<br />

no RE 67.451.<br />

proferido<br />

Mas, de duas uma: ou o inventariante<br />

estA adstrito a cumprir o al-<br />

vara, e nesse caso se estara dando vo<br />

Nesse acOrdAo, o imico em cuja in-<br />

execucAo dlreta A obrigacAo de faaucacao<br />

fol menclonado reperterio<br />

torizado de<br />

zer, operacAo equivalents a adjudi-<br />

65/<br />

<strong>jurisprudencia</strong>, RTJ<br />

cacao compulsOria, ou o inventarian- Di<br />

697, diz-se, no voto do Sr. Ministro<br />

to estarA autorizado a entender o alple ad<br />

s<br />

Falcão, relator, que oa slim-<br />

pr<br />

varA como sinal de mera autorizater<br />

omessa de venda, corn careirrevogavel,<br />

cao, podendo cumpri-lo ou nao, nesse<br />

de<br />

acarreta a<br />

do legado, por<br />

caducida-<br />

aplicacao<br />

segundo caso relegando-se para os pio<br />

do princi-<br />

melos processuais ordinAdos a ob- II», contido no Wad° ad. 1.708, n?<br />

o que fol compl<br />

tencao da ordem de adjudicacAo do saudoso Ministro<br />

ementado no voto<br />

compulsOria.<br />

min<br />

Rodrigues , ao assinalar<br />

Alck-<br />

No (undo, p<br />

do<br />

oque, no art. 1<br />

ois, a ordem coativa do alieC.<br />

Clv., quando a lei se refere<br />

.708,<br />

A<br />

Juiz do inventArio, para que se ou- toesnava°,<br />

por Identidade de situa-<br />

torgasse a escritura, equivalia<br />

ndo<br />

judicacAo compulsOria,<br />

A ad- vont ade<br />

impossivel<br />

atendetestadorm, do afestacAdevea<br />

tni<br />

o d<br />

no caso pela inexistencla<br />

abranger<br />

a p<br />

ambem<br />

dos requisi- trata<br />

Los legais a que se refere a Stmula<br />

vel».<br />

romessa de venda irre-<br />

413.<br />

Crein,<br />

p<br />

nao se<br />

orem, que a divergencia<br />

car<br />

Passemos A divergencia jurispru- segundo<br />

acterlza, tambem, neste<br />

p<br />

denclal alegada pelas recorrentes. colasAo<br />

onto. No acOrdAo trazido A<br />

af<br />

Os acerdAos tidos como divergen-<br />

de v irmou-se que a promessa<br />

enda vAlida induzlria<br />

tes, no tocante aos requisitos<br />

dade<br />

j udicacAo compulsoria,<br />

da addo<br />

tes<br />

A caduci-<br />

cord<br />

sAo pelos redo,<br />

tament°. No acerdAo re-<br />

con<br />

correntes cltados atraves de referen- sa de siderou-se que a promescias<br />

publicacão de suas ementas A fait<br />

venda, por nao valer como tal,<br />

em Vox Lea e Adcoas.<br />

xava de<br />

a das formalidades legals, dei-<br />

rep<br />

to. (f. ercutir sobre o testamen-<br />

141 print.).


380<br />

R.T.J. — 94<br />

Chega-se, pois, ao fim do exameque se acha nos autos na folha imedo<br />

recurso extraord<br />

intposto, diata, f. 55. Tdo o dinheiro do pro-<br />

ario er<br />

a conclusao de que nao ao deve o apelo metido preco oresultaria de urn emprestimo<br />

a ser tornado no Banco Deser<br />

conhecido, a falta de demonstrasenvolvimento do Maranhao. Nao ha<br />

o de ofensa a lei <strong>federal</strong> ou de havaer<br />

dissentido o aresto recorrid o de prazo previsto para o pagamento,<br />

nem para a celebraeao da escritura.<br />

acerclos consagradOres de teses<br />

Parece adequado dizer que a cauopostaas.<br />

sa em debate poderia ter sido me-<br />

Dar-se-a. que a solucao tecnica do lhor instruida se o magistrado<br />

recurso extraordinärio leva o caso a se preferido remeter as partes<br />

solucao menos justa e menos aceitaByespara<br />

os meios ordinarios, conic) estä prevel?<br />

visto no art.<br />

Parece que nao.<br />

984 do COdigo de Processo<br />

Civil, a fim de que, corn lar-<br />

A prevalecer a solucao defendidagueza de provas, se apurassem as<br />

pelos recorrentes, que foi a da sen- condicOes em que, apes lavrado o<br />

tenca de primeiro grau, cumprir-se- testamento, coerente corn os ideais e<br />

is a venda, pelo preco de Cr$ corn a vida da testadora, chegou ela,<br />

700.000,00 , do tradicional colegio e do tres meses depois, a solucao tae dia<br />

nsigvalioso<br />

imevel em que ele se acha<br />

metralmente oposta, qual a co<br />

instalado. Nenhum comPromisso<br />

ha- nada no contrato de 12 de abril de<br />

na 1976, que se entitula «contrato de arveria,<br />

da parte dos comp<br />

manutencao da veneravel instituiras)), mas que comeca per nao concAo<br />

de ensino, de meth seculo de ter arras ou sina .<br />

existencia. Poderia o im6vel ser ven- Todavia, as partes jamais pleitea-<br />

dido a outros, interessados exclusi- ram que a matéria tivesse solucao<br />

vamente lade no econemico de seu mais adequada em procedimento or-<br />

aproveltamento.<br />

dinario, em que a prova testemunhal<br />

e medico-Pericial pudesse explicar a<br />

JA a subsist'éncia do acOrdao re-<br />

corrido levara a execucao do testa- stbita reviravolta do espiro itrada boa<br />

senhora a afamada educado<br />

mara-<br />

men o, ato mats coerente corn a vida nhense, Dona Rosa Castro.<br />

da testadora, que por mais de meio<br />

seculo dedicara todos os seus esforcos<br />

a manutencao e ao engran ec<br />

mento do Cole gio Rosa Castro e que,<br />

pelo ref erido testamento, desejou<br />

fosse mantido Para o future, ao estabelecer<br />

a clausula de inalienabilidade.<br />

Corn essa clausula, legou o estabalecimento<br />

de ensino a duas professoras,<br />

as ora recorridas, e o imevel<br />

a seu sobrinho e afilhado Othon Juca<br />

de Castro, que perceberia 5% dos lucros<br />

do colegio . (F. 6v.). 0 testamento<br />

6 urn ato que se preocuPa<br />

corn a continuacao da existenc ia do<br />

colegio, instituicao respeitavel, vida<br />

e obra da testadora.<br />

Esta o testamento, nos autos, pela<br />

segunda vez, a f. 54. Compare-se o<br />

document° com o simplerio De qualquer modo, oem e apressado<br />

documento de venda do imOvel,<br />

ra<br />

nando que o ample debate probatbrio<br />

melhor teria esclarec ido a controversia<br />

dos autos, cingi-me, neste voto,<br />

a solucao do problema sob o aspecto<br />

exclusivamente tecnicojuridic°<br />

do cabimento do recurso extraordinario,<br />

corn a satisfaca o, contudo,<br />

de pressentir que a solucao tecnica<br />

parece coincidir corn a solucao<br />

justa da demanda.<br />

Nao conheco do recurso extraordinario.<br />

E meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE<br />

MA — Rel.: Min. De-<br />

90.976 —<br />

cio Miranda . Recte.: Lil Castro Trin-


R.T.J. — 94<br />

38<br />

to de Carvalho e outros (Advs.: S e-<br />

bastino Ribeiro Salomdo e Joao Leo<br />

ni Taveira e outro). Recda.: Joan<br />

Ferreira Lopes Moreno Garbino<br />

outros (Adv.: Sergio Gonzaga Du<br />

tra).<br />

Decls.5o: Adiado o julgamento po<br />

haver pedido vista o Ministro Morei<br />

ra Alves, depois do voto do Relator<br />

que nao conhecia do recurso.<br />

pelo Recte.: o Dr.<br />

Falou,<br />

Sebastião Ribeiro<br />

Salomao. Falou pelo Recdo.: o Dr.<br />

va de vigencia de egti-<br />

qualquer disposi<br />

Sergio Gonzaga Dutra.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

Falcao. — Presentes sessao os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves e Decio Miranda. Licenciado 0<br />

Sr. Ministro Leltäo de Abreu.<br />

Subprocurador-Geral da Republica,<br />

o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 25 de marco de 1980 —<br />

Hello Francisco Marques,<br />

do.Secreta-<br />

a ESse 6, sem dUvida, fundament()<br />

suficlente para a sustentacao<br />

a acOrdão recorrido.<br />

do<br />

e<br />

Ora, corn relacào a ele — ou seja,<br />

r o de que o legado nao caduca, corn<br />

base no artigo 1.708, II, do COdigo Ci-<br />

_ vil, se a promessa de compra e yen-<br />

de<br />

da Lido estiver inscrita no Registro<br />

ImOveis —, nao se •<br />

vo legal, e o Unico acordao a que alutidem<br />

os recorrentes de interp<br />

em sua peticâo<br />

osicäo de recurso extraordinario,<br />

e que trata,<br />

questâo<br />

realmente, da caducidade<br />

da<br />

face de p<br />

do legado em<br />

super<br />

romessa de compra e venda<br />

veniente, sáo os ERE 67.451<br />

conhecidos<br />

(RTJ 65/693 e segs.), que nao foram<br />

por falta de demonstraa3<br />

de dissidio, razao por que se<br />

em<br />

manteve, assim, o acardao earth)<br />

bargado, da Segunda Turma, e<br />

que aludia a promessa de compra e<br />

venda inscrita no Registro de Imee<br />

veis, como se ye de sua ementa:<br />

VOTO (VISTA)<br />

0 Sr. Ministro Moreira Alves: 1.<br />

Do exame dos autos, verifico que o<br />

acerdäo recorrido, em sua parte final,<br />

se fundou, tamb6m, para negar<br />

tivesse ocorrido a caducidade do legado<br />

corn base no Inds() II do artigo<br />

1.708 do COdigo Civil, na circunstAncia<br />

de que, no caso, a promessa de<br />

compra e venda nao estava inscrita<br />

no Registro de Imeovels. Com efelto,<br />

depois de salientar que «por outro lado,<br />

nao se me afigura ocioso insistirse<br />

na necessidade de sua inscricao<br />

no Registro de 'Wye's», e de dizer<br />

que «assim, se o contrato de compra<br />

e venda nao se constituiu das formalidades<br />

legais, tern-se que o testamento<br />

nao se encontra perempto»,<br />

conclui o acOrdao recorrido, afirmando:<br />

«NA° caducara, pois, o legado,<br />

JO que nao ocorrera o sinal, ou<br />

arras, e a inscricao da promessa de<br />

«Legado. A promessa de compra<br />

e venda irretratevel, irrevogavel e<br />

inscrita no Registro Geral de 'Wye's,<br />

feita pela<br />

riormente<br />

testadora,<br />

ao<br />

poste-<br />

testamento, sua cad<br />

leva<br />

ucidade» (RTJ 65/694).<br />

Assim, contra esse fundamento suficiente<br />

para a sustentacao do acerciao<br />

ora r ecorrido nao se baseou o recurso<br />

ex traordinArio na letra a do in-<br />

ciso III do artigo 119 da Constituicäo<br />

F ederal, nem foi trazido a confront°,<br />

para a de monstracão de dissidio de<br />

<strong>jurisprudencia</strong>, qualquer acerdáo<br />

que admitisse a caducidade do legado<br />

em face de promessa de compra<br />

e venda nao inscrita no Registro de<br />

ImOveis.<br />

compra e venda no Registro de Im6- q 2. Apenas por essa circunstancia<br />

veis, nao tendo, por isso mesmo, o c ue me imp ,<br />

ossibilita conhecer do relegado<br />

feito pela testadora perdido<br />

urso extraordinario,<br />

juridicamente a sua eflcAcia».<br />

c<br />

acompanho a<br />

onclusão a que chegou o eminente<br />

relator.


382<br />

R.T.J. — 94<br />

bastiao Ribeiro Salomao e Joao Leo-<br />

VOTO PRELIMINAR ni Taveira e outro). Recda.: Joana<br />

0 Sr. Ministro Djaci Falick) (Pre-<br />

Ferreira Lopes Moreno Garbino e<br />

outros (Adv.: Sergio Gonza ga Du-<br />

sidente) : Acompanho o Relator, todavia<br />

adotando os fundamentos do<br />

tra).<br />

voto do eminente Ministro Moreira Decisao: Nao conhecido . Unanime.<br />

Presidência do Sr. Ministro Djaci<br />

Alves no que tange a existOncia de<br />

urn motivo suficiente e inatacavel. Fated°. — Presentes a sessao os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Nao conheco, preliminarmente, do<br />

Alves e Decio Miranda<br />

recurso.<br />

. Licenciado,<br />

o Sr. Ministro Leitao de Abreu. —<br />

Subprocurador-Geral da Republica,<br />

EXTRATO DA ATA o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 8 de abril de 1980. —<br />

RE 90.976 — MA — Rel.: Min. De- Hello Francisco Marques, Secreta-<br />

do Miranda . Recte.: Lil Castro Trinta<br />

de Carvalho e outros (Advs.: Serio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 91.019 — SP<br />

(Segundo Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Moreira Alves.<br />

Recorrente: Frigorifico Vale do Tiet0 S/A — Recorrido : Estado de Sao<br />

Paulo.<br />

ICM. Conceal:, monetaria . Acrescimo. Decadencia.<br />

A jurisprudancia atual do S.T.F. e no sentido de que 6 legitima a inco- da correcao monetaria sobre o impost° e a multa, bem juiz<br />

cidenciamo,<br />

embora inconstitucional o acrescimo, nada impede que o<br />

the de o verdadeiro colter de honorerios advocaticios em que 6 obrigatoriamente<br />

condenada a parte sucumbente.<br />

Corn a lavratura do auto de infracao consuma- se o lancamento do<br />

credit° tributario (art. 242 do C.T.N.) . Por outro lado, a decadancia<br />

a essa lavratura; depois, entre a<br />

s6 6 admissivel no perlodo anterior<br />

ocorrencia dela e ate que flua o prazo para a interposicao do recurso<br />

administrativo, ou enquanto nao for decidido o recurso dessa natureza<br />

de que se tenha valido o contribuinte, Tao mats corre prazo para<br />

decadancia , e ainda nao se iniciou a fluencia do pram de prescricao;<br />

decorrido o prazo Para a interposicao do recurso administrativo, sem<br />

que ela tenha ocorrido ou decidido o recurso administrativo interposto<br />

pelo contribuinte, ha a constituicao definitiva do credit() tributerio,<br />

a que alude o artigo 174, comeca ndo a fluir, dal, o prazo de prescrick,<br />

da pretensao do Fisco.<br />

Recurso Extraordinario conhecido em parte, mas nao provido.<br />

cas, por unanimidade de votos, co-<br />

ACORDAO<br />

nhecer, em parte, do recurso, mas<br />

Vistos, relatados e discutidos estes negar-lhe provimento.<br />

autos, acordam os Ministros da Se- 22 de maio de 1979. —<br />

gunda Turma do Supremo Tribunal<br />

Brasilia,<br />

Federal, na conformidade da ata do Djaci Falcao, P<br />

julgamento e dos notas taquigrafi- Alves,<br />

Relatorresidente — Moreira<br />

.


RELATORIO<br />

0 Sr. MInlstro Morelra Alves: E<br />

este o teor do acOrdao recorrido (fls.<br />

72/75):<br />

«Acordam, em Quinta Camara<br />

do Primeiro Tribunal de Alcada Civil,<br />

por votacao unanime, negar<br />

provimento aos tres recursos.<br />

1. Os embargos, em execucao fiscal,<br />

foram parcialmente recebidos,<br />

com a reducao do acrescimo.<br />

O debit° foi apurado em procedimento<br />

administrativo, verificandose<br />

ter o contribuinte promovido o<br />

abate de bovinos sem o pagamento<br />

do ICM correspondente as opera-<br />

Goes. 0 fato basic° nao a negado,<br />

mas 6 invocada, no teor do artigo<br />

173, e seu paragrafo anico, a extinea°<br />

do direito de ser constituido 0<br />

credit° tributario. E que a autuaciao<br />

estä datada de 11 de outubro<br />

de 1971, com sua retificacao em 29<br />

do mesmo Inds, e a inscricao da<br />

divida somente se efetivou em 1?<br />

de abril de 1977, quando ja decorrido<br />

o qflinqi.idnio decadencial. Realmente,<br />

o C6digo Tributarlo Nacional,<br />

no dispositivo citado, dispOe<br />

que o direito de constituir-se o credit°<br />

tributario pelo lancamento fiextinto<br />

definitivamente pelo<br />

decurso do prazo de cinco anos. E<br />

acrescenta a contagem do prazo da<br />

data em que o sujeito passivo for<br />

notificado de qualquer medida preparateria<br />

Indispensavel ao lancamento.<br />

Sem davida, por ocorrer a<br />

extincao do direito, o prazo 6 de<br />

decaddncia e, assim, nao sofre interrupeao,<br />

cumprindo, dentro dele,<br />

ser diligenciada a constituicao do<br />

credit() tributário, corn o lancamento.<br />

No entanto, o embargante incidiu<br />

em manifesto equivoco. No teor do<br />

artigo 142 do C6digo Tributarlo Nacional,<br />

formulando um conceit° de<br />

lancamento, a inscricao da divida<br />

nao o Integra. Esse ato, a insert-<br />

R.T.J. — 94<br />

383<br />

ciao, visa precipuamente a formacao<br />

do titulo executOrio extrajudicial.<br />

0 lancamento, que o precede,<br />

6 urn procedimento administrativo<br />

destinado a verificar o fato gerador<br />

da obrigacao, determinar a<br />

materia tributavei, calcular o montante<br />

do tributo, identificar o sujeito<br />

p assivo e, se cabivel, impor pen<br />

alidade. Ora, como noticia a sentenca<br />

a fls. 88 do processo fiscal e<br />

em trinta de agosto de 1976, o contr<br />

ibuinte foi notificado, corn oavi-<br />

so de débito», da definitiva constituicao<br />

do credit° tributario. Essa a<br />

data a ser c onsiderada e nao a subsecjilente<br />

da inscricao da divida.<br />

Ora, entre o termo initial, a autua-<br />

ea° em outubro de 1971 e a constituted°<br />

do credit°, em agosto de<br />

1976, nao d ecorreram os cinco anos<br />

da decaddncia.<br />

2. 0 a crescimo de vinte por cento<br />

nao constitut credit° tributario tipico,<br />

mas suplementar e destinado a<br />

cobrir as despesas com a a puracao<br />

da divida e sua cobranca judicial.<br />

Pode ser encartado na autorizacao<br />

do artigo 161 do C6digo Tributarlo<br />

Nacional.<br />

Inad missivel que fosse a sua inst<br />

ituleao, nem por isso a sua inclusat),<br />

no ato de inscricao e na respectiva<br />

certldao, invalidaria uma<br />

ou outra. D estacado como e, a liquidez<br />

e certeza da divida flat) flcam<br />

tisnadas.<br />

3. Por outro lado, ao acrescimo<br />

foi dada a sua real dimensao de<br />

honoraria advocaticia, com o seu<br />

arbitrament° na sentenea. Destarte,<br />

mesmo adotado o entendimento<br />

da ilegalidade, a condencao decorreu<br />

da sucu mbencia e como honoraria<br />

advocaticia. E nao importa a<br />

inconstitucionalidade de sua destinacao<br />

aos Procuradores da Fazen-<br />

da do Estado, pots, como se dime,<br />

essa d estinacao nao e a causa da<br />

imp osieao e sim o sucumbimento<br />

Incondicionado.


R.T.J. — 94<br />

384<br />

Por outro lade, bem justificada<br />

pela decisao, o arbitrament°, no,<br />

percentual de 15%, deve ser mantido.<br />

4. A correcao monetaria incide<br />

sobre o montante da divida, seja o<br />

imposto, a multa, ou ambos. E, sobre<br />

o total corrigido incidem os juros<br />

e a honoraria. Corn a atualiza<br />

l e substituido,<br />

-ea°, o valor origina<br />

passando a mere dado hist6rico,<br />

neutro; e o valor real, decorrente<br />

da correedo em sintonia corn a depreciacao<br />

da moeda, e o Cinico a<br />

ser considerado para o calculo dos<br />

juros e da remuneracao do procurador.<br />

Por fim, descabe f alar em boa fe<br />

do contribuinte, mesmo que a lei<br />

cogitasse do elemento moral da infracao,<br />

porque a realidade dos autos<br />

nao autoriz a sua consideracao.<br />

Impae-se, destarte , o improvimento<br />

de todos os recursos.<br />

Custas ex causa."<br />

Interposto recurso extraordinario,<br />

nao foi ele admitido pelo seguinte<br />

despacho (fls. 98/101):<br />

«Trata-se de execueao fiscal,<br />

movida pela Fazenda do Estado de<br />

Sao Paulo contra o era recorrente,<br />

objetivando cobrar ICM, multa, acrescimo<br />

, juros de mora e correeao<br />

monetaria. monetaa.<br />

Improcede o recurso na alinea<br />

nte pr ocejulgou<br />

den<br />

apenas<br />

te os Emb parcialme<br />

argos, para o fim a, pois a respeitavel decisao recorrida<br />

nao contrariou dispositivo da<br />

olic°<br />

uzir 0 intitulado «a- Constituted() Federal, nem negou<br />

co»<br />

de red<br />

rescim de20%constante<br />

da cervigencia<br />

de tratado ou lei <strong>federal</strong>,<br />

tidao de divida ativa, ao percen- demonstrando, ao raves, nao ter<br />

mats as<br />

dual de e 15%, mantidas no m<br />

ncia<br />

havido a pretendida ofensa.<br />

Nulidade do Titulo ajuizado,<br />

0 v. acOrdao da Quinta Camara,<br />

a unanimidad confirmou deral, requerendo seja admitido o<br />

apelo extreme nos termos dos artigos<br />

541 e seguintes do CPC. Reproduz<br />

na peticao do extraordinario<br />

tres temas:<br />

Nulidade do titulo ajuizado.<br />

Ilegitimidade da incidencia<br />

da correedo monetaria.<br />

c) Inconstitucionalidade da cobranca<br />

do acrescimo, mesmo a titulo<br />

de verba honoraria.<br />

Relativamente ao primei<br />

A r. sentenca de primeiro gran,<br />

demais parcela s como incida Os tres temas em questa° sat);<br />

da correcao monetaria.<br />

a r. de- r ocorndo na hip6tese, de-<br />

visto cadenciao<br />

tea do direito de constituic<br />

cisao de fls. 21/26.<br />

do pretendido credit° tributário,<br />

Irsignada, interpes a recoralem da ilegitimidade do acresci-<br />

e present recurso extraordirent<br />

me, de 20% inscrito como divida<br />

nano, apoiado no<br />

art. 119, III,<br />

ativa,<br />

alinea a, c e d da Constituted° Fe-<br />

ro tema,<br />

alega ter o v. acOrdao negado<br />

vigencia aos arts. 173 e 201 do<br />

CTN, bem como aos arts. 585, VI e<br />

586 do CPC, alem de ter ofendido a<br />

Constituted°. Quanto ao segundo,<br />

afirma ter havido infringência dos<br />

arts. 18, § 1?, 23, § 5? e 153, § 29, da<br />

Constituicao, bem como dos arts.<br />

97, 201 e 204 do CTN: Quanto ao<br />

terceiro tema, diz que, decidindo<br />

come o fez, o v. acerclao discrePou<br />

de jurisPrudencia do Colendo Supremo<br />

Tribunal Federal (RE 84.994,<br />

de 13.4.77; RE 88.664 — SP — DJU<br />

de 25.4.78; RE 89.306, SF — DJU de<br />

9.6.77, !tag. 4.133 e RE 79.822 —<br />

DJU de 14.3.75, pag. 1.503).<br />

O recurso foi impugnado (fls.<br />

92/96).<br />

o recurso em apreco, pretende<br />

apoiar-se nas alineas a, c e d do<br />

art. 119, III, da Constituicao Federal.


R.T.J. — 94<br />

A ilegitimidade da incidencia<br />

da correcao monetaria,<br />

Tamb6m, no tocante a alinea d,<br />

A inconstitucionalidade da o recurso nao merece acolhimento,<br />

cobranca do aludido acrescimo p<br />

acrescimo, orque, tanto no que se refere<br />

mesmo a titulo de verba honoraria, aplicacao da correcao monetaria<br />

desde que,


R.T.J. — 94<br />

386<br />

No caso, a recorrente pretende que<br />

cursos opostos pelo contribuinte na<br />

o a decadência area administrativa tern apenas o se tenha verificad io — o<br />

efeito de suspender-lhe a exigibilida- dentro do periodo intermedi ar<br />

de” e, portanto, gapes o procedimen- da lavratu ra do auto ate o julgamen-<br />

cabe a invoca- to definitivo do recurso administratito<br />

admnistrativo,<br />

cao de i decadéncia» des<br />

. Par essa deci- vo por ela interpost o — em que, cosac)<br />

— para a qual concorri com meu mo se viu, nao nut prazo de decadénvoto<br />

—, a decad8ncia so ê admissivel cia ou de prescricao.<br />

no periodo anterior ao da lavratura EXTRATO DA ATA<br />

do auto de infracao, corn o qual se RE 91.019 — SP — Rel.: Min. Mo-<br />

consuma o lancamento do crédito<br />

tributario : apes essa lavratura e ate<br />

reira Alves. Recte.: Frigorifico Vale<br />

do Tietë S/A. (Advs.: Omar Costa e<br />

que flua o prazo para o recurso administrativo<br />

contra ela, ou enquantooutros). Redo.: Estado de Sao Paunao<br />

for decidido o recurso compete s- to (Adv.: Roberto Pinheiro Doria).<br />

te de que se haja valido o contribuin- Decisao: Conhecid o em parte, mas<br />

te, nao macs corre o prazo para a de- negado provimento. Unanime.<br />

cadencia , e ainda nao se iniciou a<br />

fluencia do prazo de prescricao; de- Presidéncia do Sr. Ministro Djaci<br />

Falcao. Presentesa<br />

Sessao os Srs.<br />

corrido o prazo para a interPosicao Ministros Leitao de Abreu, Cordeiro<br />

do recurso administrative, sem Guerra, Moreira Alves e Decio Mi-<br />

ela team ocorrido, ou decidido o que recurse<br />

administrative interposto pelo randa. 5? Subprocurador-Geral da<br />

Republica,<br />

contribuinte, ha a constituicão deft- Re<br />

, o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

nitiva do credito tributario, a que<br />

alude o artigo 174, comegando a Brasilia, 22 de maio de 1979. —<br />

fluir, dal, o prazo de prescric ao da liélio Francisco Marques, Secretario.<br />

pretensao do Fisco.<br />

RECURSO ExTRAortniNARio N? 91.053 — RJ<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Djaci Falcao.<br />

Recorrente: Tobias Maiovitch — ReCorrida : Iracema Teixeira de Lima.<br />

Inventitrio .<br />

Leith° e arremataggo do patrimOnto imobiliárto. Pedid°<br />

de adjudicacito regularmente defend° . Intelighncia do art. 693<br />

do 05dtgo de Process Civil de 1973. DissIctio jurtsprudencial nä° configurado<br />

(Snmula 291) o . Recurso extraordinarto nao conhectdo.<br />

RELATORIO<br />

ACORDAO<br />

0 Sr. Mintstro Djaci Falcao: 0<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

o pelo<br />

autos, acordam os Ministros da Se- presente recurso f oi admitid<br />

gunda Turma do Supremo Tribunal seguinte despacho:<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigrafi- «Com base nas alineas a e d do<br />

cas, per unanimidade de votos, nao permissive e argilindo a relevancia<br />

conhecer do recurso . da questa') <strong>federal</strong>, Tobias Maiovitch<br />

interpas o recurso extraordi-<br />

Brasilia, 22 de junho de 1979. —<br />

Djaci Falcao, Presidente e Relator.<br />

nario de folhas 80/5 contra o acOr-


dão de fls. 72/8, cuja ementa e a<br />

seguinte:<br />

«1. InventArlo — Leila° e arrematacao<br />

do patrimenio imobillario<br />

— Sua adjudicacão deferida.<br />

2. NA° se apresenta enfermada<br />

por ileg<br />

apes a<br />

alidade e decisAo que,<br />

arrematacao do<br />

nlo imobIllArio,<br />

patrine-<br />

deferiu a sua<br />

judicaCAo a vifiva e sucessora urn de quantos de<br />

inventariados, como condemlna<br />

ja<br />

na<br />

de da<br />

universalida-<br />

heranga, ja porque<br />

da a adJudicatAria,<br />

protegi-<br />

pela res<br />

judicata quanto<br />

tulacão.<br />

ao Wren° a pos-<br />

3. Conhecimento do agravo.<br />

unanimidade, pela tempestividade<br />

e, por maioria, pela idoneldade<br />

e, no merito, sem divergencia,<br />

pelo seu desprovimento».<br />

Mem de dissidio pretoriano, o recorrente<br />

alega violacão do artigo<br />

694 do Cedigo de Processo Civil ja<br />

que, corn a desistencia dos herdelros<br />

de exercerem a prefertncia, o<br />

auto de lellAo foi assinado,<br />

tornando-se assim a arrematacao<br />

perfeita, acabada e irretratAvel.<br />

0 apelo extremo merece seguimento<br />

por ambos os fundamentos<br />

invocados.<br />

De fato, demonstrou o recorrente<br />

as fls. 83/4 que a interpretacAo<br />

dada ao aludido texto processual<br />

pelo Excelso Preterio e pelo Egregio<br />

Tribunal de Justica do Estado<br />

de Sao Paulo e no sentido de que,<br />

assinado o auto de arrematacao, a<br />

arrematacao se torn ato juridic°<br />

perfelto, enquanto que o aresto recorrido<br />

se sitou em terreno oposto.<br />

Sao estas as razees que me leyarn<br />

a admitlr o recurso.<br />

Prossiga-se e forme-se o instrumento<br />

de relevAncia de questa() <strong>federal</strong>,<br />

em atencao as diretrizes das<br />

Emendas Regimentals de nos 3 e 4.<br />

R.T.J. — 94<br />

387<br />

Rio de Janeiro, 15 de Janeiro de<br />

1979 — Des. Marcelo Santiago<br />

Costa, Presidente». (fls. 94 e 95).<br />

Oferecidas as razoes de fls. 100 a<br />

104 e cont ra-razoes de fls. 110 a 116,<br />

bem assim o parecer do Ministerio<br />

Ptiblico (f. 121), subiu o recurso a esta<br />

Corte.<br />

Esclareco ainda que foi rejeitada a<br />

argilicAo de relevAncla sob n? 4.280<br />

(processo em apenso).<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro DAM Falcito (Relator):<br />

0 recorrente insurge-se a seguinte decisAo: contra<br />

«EMENTA: 1.<br />

Leila() e<br />

InventArio<br />

arrematacao<br />

—<br />

merit° l<br />

do patri-<br />

mobillArio — Sua adjudicacao<br />

deferida.<br />

2. NAo se apresenta<br />

por lleg<br />

enfermada<br />

ap6s a<br />

alidade e decisào que,<br />

arrematacao<br />

nio imo<br />

do patrime-<br />

j<br />

bIllArlo, deferlu a sua<br />

udicacAo a viuva e sucessora de<br />

urn de quantos<br />

como<br />

inventariados, condomina<br />

jA<br />

na<br />

de da heranca,<br />

universalidada<br />

a<br />

ja porque<br />

adjudIcatária,<br />

protegi-<br />

Judicata<br />

pela res<br />

q<br />

tulacAo.<br />

uanto ao direlto a pos-<br />

3. Con<br />

unanimidade,<br />

hecimento do agravo,<br />

pela<br />

de e, por<br />

tempestivida-<br />

maioria, pela idoneidade<br />

e, no merito, sem divergencia,<br />

pelo seu desprovlmento.<br />

AcOrdao<br />

Vistos, r elatados e discutidos estes<br />

autos do Agravo de Instrumento<br />

n? 1.391, da Capital, como agravante<br />

Tobias Maiovitch e agravada<br />

Iracema Teixeira de Lima:<br />

Acorda, a Primeira Camara<br />

Civel do Tribunal de Justica do Es-


R.T.J. — 94<br />

388<br />

lidade da decisão recorrida, haja<br />

tado do Rio de Janeiro, em conhe- vista que antes do Wile° requereu<br />

cer, por unanimidade, do recurso, a adjudicaflo do patrimenio que<br />

por tempestivo, em maioria pela nä° the foi deferida, mas ressalva-<br />

sua idoneidade, vencido o Relator, do the foi o direito de preferencia<br />

e, no merit°, sem divergencia, pelo<br />

desprovimento do apelo, nos ter-<br />

que, realmente, exerceu e, oportunamente,<br />

antes da assinatura da<br />

mos do voto do Relator.<br />

carta de arremataceo, no efeito do<br />

—R io de Ja neiro, 4 de julho de 1978 improvimento do recurso.<br />

Des. Rangel<br />

de Abreu — Presi- A Procuradoria da Fazenda opidente<br />

e Relator.<br />

nou pelo desprovimento do agravo<br />

RelatOrio<br />

(f. 55).<br />

Contrariamente a decisäo constante<br />

de folhas 34 usque 36 que, no<br />

inventario de Filomen a de Jesus e<br />

outros, adjudicou os bens que foram<br />

leiloados e arrematados por<br />

Tobias Maiovitch e outro ( documentos<br />

de fls. 11 e 12), a herdeira<br />

Iracema Teixeira de Lima, na qualidade<br />

de viuva meeira do inventariado<br />

Fausto de Lima Souza. interpbs<br />

arrematante Tobias Maiovitch<br />

o agravo de instrumento de<br />

fls. 02/04 que fol instruido corn as<br />

pecas /de fls. 06/15, onde busca a<br />

reforma de decisAo impugna da forte<br />

e firme em que tendo sido indeferido<br />

a agravada a adjudicacao<br />

do patrimOnio em face do disposto f. 63.<br />

no art. 1.117 e seu inciso I, do CPC, Neste superior instancia, a douta<br />

era inadmissivel o deferimento de- Procuradoria da Justice opinou pepoisde<br />

leiloado o patrimOnio, e lo não provimento do recurso.<br />

al:0os dots dias de lavratura do auto<br />

por ocasiAo do leitho, os herdeiros Voto<br />

foram consultados sobre a prefe- 1 Preambularmente,, rejeito a<br />

rencia e manifestaram-se pela ne-<br />

.<br />

alegacão formulada pela agravada<br />

gativa,<br />

ocorrendo ma-fé no pedi- relativamente a interposic ão a des-<br />

do posterior da agravada.<br />

tempo do agravo.<br />

As pecas pedidas pela agravada Positiva a certidAo constan te de<br />

figuram de fls. 20/42 que em segui- f. n? 61v. que a noticia relative a<br />

da, atraves das razoes de fls. 47/50<br />

suscitou a preliminar da intempes- publicacAo da decisào<br />

a<br />

tividade do recurso, eis que a decique<br />

adjudicou a agravada recorri<br />

o patrdisdo<br />

agravada foi prolatada em 29 Menlo lidos EspeD.O. lios inventariajdos,<br />

cada<br />

de junho de 1977 e sob a alegaceo<br />

foi pub no de 11 de ulho<br />

do agravante de er havido obstá- de 1977, dela nä.° constando o nome<br />

culo judicial, por t Em face dos despacho s de fls. 57<br />

a 58v. foram oferecida s as certi-<br />

Nes de fls. 58 e 59.<br />

0 despacho de fls. 59/59v., in<br />

fine, admitiu a intempestividade<br />

do agravo e no merit°, manteve a<br />

decisao.<br />

Em seguida, o agravante (f. 60)<br />

com base na certidAo inserta no<br />

verso da peticão de f. 61, sustentou<br />

a tempestividade do agravo, o que,<br />

tambem, foi admitido pelo Juizo (f.<br />

62).<br />

Em seguida, o agravante ofereceu<br />

os embar gos de declaracão de<br />

fls. 63/64 que mereceu a decisão de<br />

de arrematacAo e, ainda, porque, E o related°.<br />

estai r process° do agravante, como arrematante,<br />

nem do seu advogado Dr. Sylvio<br />

com a Procuradoria da Fazenda, Kelner. Assim, da publicacäo men-<br />

quando isso, somente depois aeon- cionada nab fluiu o prazo recursal.<br />

teceu e no merito sustentou a lega


De outra parte, ressalta a certiciao<br />

de f. 59 que os autos foram remetidos<br />

a Fazenda em 19 de julho<br />

e retornaram ao Carted° em 22 de<br />

Mho de 1977. Em face disso, o arrematante<br />

pretendendo recorrer<br />

da decisao e sob a alegacão de obstaculo<br />

Judicial pela ausencia dos<br />

autos, requereu e obteve em 18 ou<br />

19 de Mho de 1977, a odevolucdo<br />

do prazo». E, finalmente, tendo retornado<br />

os autos a 22 de julho interpOs<br />

o agravo de instrumento de<br />

folhas 02/04 a 25 e despachado a 26<br />

de Julio de 1977, evidente e a sock.dade,<br />

no prazo legal de cinco dias.<br />

Assim rejetto, a preliminar de<br />

intempestividade do recurso.<br />

2. Na qualidade de Relator e na<br />

conformidade de permissivo inserto<br />

no Regiments Interns e, ainda,<br />

corn suporte e forte em que a lei<br />

processual a de ordem pablica ou<br />

melhor de direito pitiolico, segundo<br />

Ha) do emeriti) Prof. Vicente no,<br />

suscitei ex officio a preliminar destinada<br />

ao na') conhecimento do recurso<br />

de agravo de instrumento,<br />

por inideneo a solucäo da especie.<br />

A meu entendimento, no caso,<br />

em se tratando de inventarios,<br />

ocorreu, no seu bolo, incidente<br />

quanto a venda, a arrematacao e<br />

que culminou corn a adjudicacáo<br />

do patrimOnlo de 3 (tres) herancas<br />

a agravada, na qualidade de mee!ra<br />

e herdeira de um dos inventerios,<br />

na conformidade com o Julgado<br />

recorrido (fls. 34-36).<br />

De minha parte, entendi que o<br />

Julgado recorrido pOs termo e corn<br />

a marca da definitividade ao incidente.<br />

Dai, tire! a ilacao de que o<br />

agravo de instrumento era recurso<br />

iniciOneo e dele net) conheci e porque<br />

deveria o Julgado ser atacado<br />

pela via large da apelacäo e inadmin<br />

a possibilidade da conversibllidade,<br />

a falta, na atualidade, de<br />

preceito a Semelhanca do art. 810<br />

do CPC de 1939 e porque contraria-<br />

R.T.J. — 94<br />

389<br />

mente a fung ibilidade a corrente a<br />

jurisp rudencia do Excelso Preterio<br />

(Ac. da 1? Turma — RE 83.756,<br />

Rel.: Min. Cunha Peixoto, in RTJ<br />

vol. 83, PP. 181/183).<br />

No entanto, &mei vencido, pois<br />

a douta maloria conheceu do agravo,<br />

como recurso pr6prio, a consideraceo<br />

de que o Julgado este repr<br />

esentado por mera decisâo que<br />

neo aflorou nem decidiu sobre materia<br />

de merito e muito menos,<br />

p orque nä° se trata de julgamento<br />

final do process°.<br />

3. No Mérito.<br />

A decisao agravada (fls. 34-36)<br />

douta e Justa, impecavel na forma<br />

e na juridicidade, impOe-se, sob todos<br />

os titulos, a confirmaceo.<br />

De inlets, no que interesse, reitero<br />

e subscrevo os seus fundamentos,<br />

verbis:<br />

«Proc. n? 21.271<br />

Inventerio de Filomena de Jesus<br />

e outros<br />

Levados a pftblico leilão, por<br />

näo admitirem diviseo cOmoda,<br />

os bens inventariados, foram eles<br />

arre matados, em 3.6.1977, na for-<br />

ma dos autos de fls. n? 227 e 228.<br />

imedlato,<br />

Dois dies depots, (mas no dia fail<br />

porque<br />

forense),<br />

09 foi feriado<br />

ingressou<br />

vitiva do<br />

nos autos a<br />

inventariado Fausto de<br />

Lima Souza (f.<br />

pedido<br />

230)<br />

de<br />

reiterando<br />

preferencia<br />

0<br />

na aquisicAo<br />

dos bens lelloados, mediante<br />

o depOsito de metade do preco<br />

das arrematacoes, posto que da<br />

outra metade ja era dona, como<br />

vitiva meeira e (mica herdeira do<br />

de cujus. 0 Juizo anterminou o<br />

depOsito do prey() (metade), o<br />

que foi cumprido a f. 233.<br />

E antiga e<br />

op<br />

controvertida na<br />

prudencia<br />

inião dos Mestres e da Juris-<br />

a questao op referente<br />

ortunidade do herdeiro para<br />

exercer o direito de preferencia<br />

na arrematacão de bens inventa-


R.T.J. — 94<br />

390<br />

riados. Corrente ponderosa se fiha<br />

a tese de que a pleiteacao da<br />

preferencia deve ser feita no ato<br />

do leilao; outra, todavia, admite<br />

que tal preferencia possa ser<br />

exercitada ate antes da expedicão<br />

da carta de arrematacao. 0<br />

novo COdigo de Processo Civil<br />

nao espancou as duvidas que a<br />

especie tern suscitado; antes, pelo<br />

contrario, avivou-as no determinar<br />

que o auto de arrematacao<br />

seja lavrado 24 horas depots de<br />

realizada a praca ou leilao (art.<br />

693), s6 admitindo como perfeita<br />

e acabada a arrematacao depots<br />

de assinado o auto. Parece valida<br />

a conclusao que se extrai do texto<br />

legal de que, se nas 24 horas<br />

seguintes a realizacao da praca<br />

ou leilao herdeiro se apresenta<br />

exercendo o direito de preferencia,<br />

a arrematacao nao se concretiza,<br />

nao se torna efetiva, perfeita<br />

ou acabada . A <strong>jurisprudencia</strong><br />

tern admitido, alias, que a adjudicacao<br />

podera ser requerida<br />

ate a assinatur a da carta de arrematacao<br />

(Ac. da 1! C. Civel do<br />

E. Tribunal de Justica do Estado<br />

do Rio de Janeiro, de que foi relator<br />

o Des. Basileu Ribeiro Filho<br />

— Ag. Instr. n? 24.373, de 4.8.71).<br />

No mesmo sentido o Ag. de Instr.<br />

n? 2.205, da 41 C. Civel do mesmo<br />

Tribunal, sendo relator o Des.<br />

Romero de Pinho, cuja decisao,<br />

que se ere luva ao presente<br />

caso, ssume na seguinte<br />

ementa:<br />

«Nao se pode dar por consumada<br />

a venda do im6vel, se antes<br />

da expedicao da carta de arrematacao<br />

ou da assinatura da<br />

escritura de venda, em casos de<br />

leilao por leiloeiro publico, o herdeiro<br />

pede a sua adjudicac ao, f azendo<br />

as reposicOes de direito»<br />

(Rev. Dir. Imob. vol. 15, pag. 58;<br />

Rev. For. vol. 156, pag. 197).<br />

0 Supremo Tribunal Federal<br />

nao foi insensivel a questao . Turma, no julgamento do RE<br />

8.611, entendeu por maioria, que<br />

o direito de preferencia deveria<br />

ser exercitado no ato do leilao,<br />

vencidos os Ministro s Goulart de<br />

Oliveira e Orosimbo Nonato<br />

(Arq. Jud. col. 75, nag. 31). Posteriormente,<br />

no julgamento do<br />

RE 1.872, a mesma Turma, sendo<br />

relator o Ministro Orosimbo Nonato,<br />

veto a decidir de forma<br />

contraria, admitindo possivel o<br />

exercicio do direito de preferencia<br />

ate enquanto nao expedida a<br />

carta de arrematacao ( Rev. Dir.<br />

Imob., vol. 21, pag. 16). Ern grau<br />

de embar gos, o Tribunal Pleno,<br />

por unanimidade e corn assento<br />

nos votos proferido s pelo Min.<br />

Orosimbo Nonato nos dois casos<br />

acima citados, que o relator Min.<br />

Luiz Galotti classific ou como magistrais,<br />

ma neve t o acOrdao proferido<br />

no RE. 1.872.<br />

Nao se deve desmerecer, ainda,<br />

para aplicacao correta da lei,<br />

o argumento que se traduz no<br />

interesse familiar de que o bem<br />

do espOlio, insuscetivel de divisao<br />

cOmoda, nä° passe a mans de estranhos.<br />

Os interesses econOmicos,<br />

na especie, devem ceder aos<br />

interesses de ordem afetiva.<br />

Outro argumento, que nao deve<br />

escapar ao exame dahipetese ,e a<br />

intencao certa, anteciPada, claramente<br />

manifestada pela requerente<br />

de f. 230 manter-se na posse<br />

do im6vel levado a hasta<br />

blica. Veja-se que, ja em 9 de<br />

marco de 1977 (f. 185), pedia a<br />

adjudicacao dos bens inventariados,<br />

pedido que o respeitav el des-<br />

acho de f. 190, do ilustre Juiz<br />

entao<br />

em exercicio nesta Vara,<br />

nao admitiu, em princirdo, ressalvando<br />

porem, o direito da postulante<br />

de exercer a preferencia<br />

pelo preco encontrado em leilao».<br />

E, malgrado a demasia, destaco,<br />

A 2'." ainda, que a agravada madrugou


R.T.J. — 94<br />

391<br />

em sua pretensào de nao se desfazer<br />

do acervo hereditArlo, mas nao<br />

logrou ëxito, pots a decisào constante<br />

de f. 25, de 27.4.76 entendeu<br />

ser impossivel a existAncia<br />

domfnio entre os<br />

de con-<br />

sucessores e, em<br />

conseqtiëncia, ordenou a venda dos<br />

bens em leilão.<br />

NA() obstante, ainda depots, a<br />

agravada remitiu contrariamente<br />

c<br />

A venda do patrimOnio<br />

p<br />

e<br />

dendo a sua<br />

pretenadj<br />

n<br />

udicacAo. Esta rid()<br />

foi admitida, desde logo, mas teve t<br />

a recorrida resguardada,<br />

C<br />

como directo<br />

adquirido e deferida,<br />

1<br />

judicata, a "preferência",<br />

pela res<br />

na adjudlcacAo,<br />

segundo, despacho de<br />

m<br />

02.05.77 e constante de f. 27, In<br />

c<br />

verbls:<br />

c<br />

oCumpra-se o despacho de f.<br />

182, que foi ratificado por decisào<br />

a<br />

da superior instAncia.<br />

28<br />

na<br />

As partes fica reservado o dl- na<br />

recto de exercerem sua preferén- ar<br />

cia».<br />

NAo colhem, no caso, os arguex<br />

Ao contrArlo do alegado, no auto<br />

do leilão (f. 28) nAo ficou o nome<br />

da recorrida nem de<br />

A<br />

qualquer<br />

ressado direto no<br />

trite- se,<br />

inventarlo, como arr<br />

presentes. Ora, se nAo<br />

presentes<br />

estiveram ma<br />

e se nAo asslnaram o auto,<br />

como renunciaram<br />

the<br />

preferAncla,<br />

ao dlreito de<br />

como<br />

sem<br />

res judicata,<br />

adjudicacAo<br />

A dal<br />

pretendlda? to '<br />

A resposta interrogacAo<br />

que<br />

plesmente<br />

6 simpela<br />

negativa.<br />

com<br />

giti<br />

For outro lado, desserve, por in- cac<br />

teiro, ao agravante, o teor da "in- vad<br />

formacAo" do EscrivAo constante<br />

do apenso e em resultado de junta- De<br />

da por linha, porque essa nao a a<br />

funcAo de escrivao e se fosse e se a do<br />

houvesse veracidade nos informes,<br />

curs<br />

omitira-se no cumprimento<br />

diato<br />

sim- decis<br />

co<br />

plesmente do dever, porque todo 0<br />

contendo dos informes deveriam<br />

compor o prOprio auto do leilAo.<br />

De outra parte, o pedido de adju-<br />

t<br />

dicacäo fora formulado, opportuno<br />

realizou-se<br />

empore. No caso, o lend') (f. 28)<br />

no dia 8 de junho de<br />

1977 e Como o dia 9 fol ferlado nalona'<br />

— Dia de corpus Christi — 0<br />

edido de adjudicacAo formulou-se<br />

o dia 10 e tempestivamente, a visa<br />

do disposto nos arts. 714 e 185 do<br />

PC e tamb6m porque o auto do<br />

eilAo deveria ser lavrado no dia<br />

medlato (art. 693 do CPC) e, finalente,<br />

porque o pedido<br />

ova° antecedeu a<br />

de adjudi-<br />

expedicão<br />

arta de arrematacão.<br />

da<br />

Registro, por derradelro, uto do fella°<br />

que ao<br />

Ao (f.<br />

) falta mais e muito mats. Dele<br />

o figuram os bens leiloados e<br />

r<br />

o se sabe se foram leiloados e<br />

ematados no todo ou, ern parte.<br />

o que 6 math grave, do auto<br />

nsta o pag nao<br />

mentos do agravante no sentido de ige expre<br />

amento vista, como<br />

que a agravada cp<br />

teve presente ao ro ssamente o art. 690 do<br />

C<br />

leilAo e renunciou<br />

nem dele figura que o lelloel-<br />

o direito A adju-<br />

dicacäo e que o pedido de adjudiderecebeu o prey) e para o efeito<br />

cacao foi formulado a destempo. Co<br />

seu depOsito em 24 horas, na<br />

nformidade do que<br />

art<br />

prescreve o<br />

igo 705, inc. V, do CPC.<br />

eviciAncia e a saciedade, tratano<br />

caso e na verclade, de urn<br />

emedo de leilão, de uma, arretacAo<br />

apenas ficticia e, por isso<br />

smo, sem consistencia<br />

eficAcia<br />

legal e<br />

juridica, a falta espemente<br />

do pagamento do dep6side<br />

seu preco pelo agravante,<br />

, assim, s6 se pode entendë-lo<br />

o pretenso arrema tante, na lemacão<br />

e legalidade do adjudl-<br />

A° legalmente deferida agraa.<br />

bco consignado, tamb6m, que<br />

gravada adjudlcatAria,<br />

c<br />

segundo<br />

umentacAo que instruiu o reo,<br />

cumpriu a risco e de imetodas<br />

as determinacOes<br />

Ao recorrida,<br />

da<br />

na consumacão


392<br />

R.T.J. — 94<br />

e consolidacao de sua velha pretensao:<br />

a adjudicacao de todo o patrimOnio<br />

preprio e f amiliar das herancas.<br />

Ex Positis: Rejeito a preliminar<br />

de intempestividade do agravo, a<br />

maioria e contrariamente ao meu<br />

voto, conheceu do recurso como<br />

pr6prio e no merito, nego provi-<br />

praca, ou o leilao, isto porque o direito<br />

de remir deve ser exercido<br />

nesse prazo, antes da assinatura<br />

do mesmo auto (art. 788).”<br />

(Comentarios ao Cbdigo de Processo<br />

Civil, vol. VIII, pag. 315)<br />

Outra nao e a exeges e adotada pelo<br />

Prof. Celso Neves, que assim se<br />

expressa:<br />

mento ao apelo, na confirmac ao a<br />

douta, juridica e justa decisao recorrida.<br />

E o meu voto.<br />

Rio de Janeiro, 4 de julho de 1978<br />

— Des. Rangel de Abreu, Relator.),<br />

(fls. 72 a 78)<br />

0 recorrente comeca por invocar<br />

negativa de vigencia ao art. 694, do<br />

C.P. Civil, in verbis:<br />

«Art. 694 — Assinado o auto pelo<br />

juiz, pelo escrivao, pelo arrematante<br />

e pelo porteiro ou pelo leiloeiro,<br />

a arrematacao considerar-se-a<br />

perfeita, acabada e irretratavel.»<br />

Acontece que, alem de consider a<br />

«CorresPonde o texto ao do art.<br />

975 do C6digo de 1939, e assinala<br />

que o procedimento oral do praceamento<br />

se reduz a escrito, mediante<br />

auto, que e a expressao docume<br />

es ao caso, o-cOes<br />

Micas peculiar<br />

aresto recorrido teve em vista o art.<br />

693 da lei adjetiva civil, que rem:<br />

«Art. 693 — A arrematacao constara<br />

de auto, que sera lavrado vinte<br />

e quatro (24) horas epois de<br />

realizada a praca ou o d<br />

Ora, este preceito inserido no C6digo<br />

de 1973, estabeleceu que o auto<br />

sera lavrado 24 horas ap6s a praca<br />

ou o leilao, corn o objetivo de permitir<br />

o exer ecicio do dwelt° de remir<br />

(arts. 651 788). Comentando-o diz o<br />

mestre Amilcar de Castro:<br />

«Pelo direito anterior, o auto devia<br />

ser lavrado logo apes a Ultima<br />

arrematacao e antes de encerrada<br />

a praca, isto e, antes de dar o juiz<br />

por encerrados os trabalhos da<br />

praca.<br />

Feb° direito atual, o auto de arrematacao<br />

deve ser lavrado vinte e<br />

quatro horas depois de realizada a<br />

n<br />

-tal do ato da arrematacao. Entre<br />

um e outro deve intercorrer o prazo<br />

de 24 horas, que o sistem a anterior<br />

nao tinha, criando, nao raro,<br />

serios problemas, em materia, especialmente,<br />

de remicao . Ja agora,<br />

corn essa intercorrencia, ha<br />

tempo bastante Para obstar que a<br />

arrematacao se consume, seja por<br />

remicao, tanto da arrematacao como<br />

da prbpria execucao. A T! Turma<br />

do T.R.T., da Regiao, em<br />

julgamento de 14.8.1974, entendeu,<br />

em face do texto em exame,<br />

que, requerida adjudicacao ou remicao,<br />

no prazo de 24 horas,<br />

sera apela<br />

bs<br />

a realizacao da praca,<br />

oportuna. Em termos formals, o<br />

auto de arrematacao a mein representativo<br />

ou histbrico de prova, dotado<br />

de eficacia objetiva e atendibilidade,<br />

desde que devidamente<br />

assinado. Aparece, no processo<br />

executed°, como f ato representativo,<br />

que tem no procedimento da<br />

arrematacao o fato representado.»<br />

(Comentartos ao Cbdtgo de Provesso<br />

Civil, vol. VII, edicäo, pag.<br />

133)<br />

Segundo ficou esclarecido no acerciao,<br />

o pedido de adjudicacao fol formulado<br />

em tempo oportuno.<br />

Desse modo, nao procede a argilcao.<br />

Quanto ao dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l<br />

nao me parece configurado. Em primeiro<br />

lugar, esclareco que nao sti a


decisAo pr oferiGa no RE 12.559, como<br />

as duas outras Invocadas pelo suplicante<br />

(fls. 83 e 84), foram tomadas<br />

em face do art. 986 do C.F. Civil<br />

de 1939, que nAo continha regra id6ntica<br />

a do art. 693 do vigente diploma<br />

processual.<br />

Em segundo lugar, observo que o<br />

acOrdão deu Anfase a circunstAnclas<br />

relativas A arre matacao e ao cornportamento<br />

da viuva, ora recorrida,<br />

externando velha pretensAo de adjudicar<br />

os bens em causa, de modo a<br />

nao permitir o conhecimento deste<br />

recurso, A mingua dos pressupostos<br />

de identidade ou assemelhacAo corn<br />

os arestos paradigmas (amnia 291).<br />

Ex positis, nä° conheco do recurso.<br />

R.T.J. — 94<br />

EXTRATO DA ATA<br />

393<br />

RE 91.053 — RJ — Rel.: Min. Djaci<br />

FaIcAo. Recte.: Tobias Maiovitch<br />

(Adv.: Sylvio Kelner). Recda.: Iracema<br />

Teixeira de Lima (Adv.: Carlos<br />

Linhares).<br />

D ecisão: NAo conhecido, unAnime.<br />

Presidthcia do Sr. Ministro Diaci<br />

FaIca°. — Pr esentes a SessAo os Srs.<br />

M inistros LeitAo de Abreu, Cordeiro<br />

Guerra, Moreira Alves e Decio Miranda.<br />

5? Subprocur ador-Gera' da<br />

Rep Ublica, o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 22 de junho de 1979. —<br />

Hello Francisco Marques, Secretario.<br />

RECURSO EXTRAOFtDINARIO N? 91.111 — MG<br />

(Segundo Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Leak) de Abreu.<br />

Recorrente: Brasmix — Engenhelros Assoclados, Indftstria e Comêrcio<br />

Ltda. — Re corrido: Estado de Minas Gerais.<br />

Imposto sobre circulacg o de mercadorias. For necimento de concreto<br />

pare construcao civil. Não incidéncia, nos termos de Precedentes<br />

do Supremo Tribunal Federal: RE's 82.501 e 87.375. Recurso extraordinario<br />

conhecido e provido.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade coin a ata<br />

de julgamentos e notas taquigrAficas,<br />

em conhecer do recurso e the<br />

dar provimento, por votacAo unAMme.<br />

Brasilia, 19 de outubro de 1979.<br />

— Disci Faleg°, Presidente —<br />

Leitgo de Abreu, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Leitgo de Abreu —<br />

Em grau de apelacAo, o Tribunal a<br />

quo,<br />

seg por maioria de votos, cassou a<br />

uranea, nos termos do voto do<br />

Relator, verb's:<br />

“Conhecendo do processado, em<br />

razao do duplo grau de jurisdicAo,<br />

bem como da apelacAo interposta<br />

cola Fazenda Pithlica Estadual,<br />

ntudo, nego confirmacão tenca recorrida, A sen-<br />

provendo so oficlal, prejudIcado<br />

o recur-<br />

o voluntArio.<br />

00 que se ye da documentacAo<br />

anexada aos autos, referentemente<br />

ao ICM corn incidkicia do oco no chama-<br />

ncreto fresco» 6 que, realmente,<br />

essa mercadoria,<br />

estava isenta do<br />

por lei,<br />

posto.<br />

menclonado Im


R.T.J. — 94<br />

394<br />

you merit° Nem incide a SUmula<br />

«To a ,<br />

o bem o demons-<br />

Estadual<br />

trou a Fazenda<br />

em<br />

fir- ,<br />

o<br />

em face do disposto na Stimula<br />

posteriormente,<br />

convenios<br />

mados pelos Estados (Cony. n?<br />

16/75), fora excluido do camp°<br />

isencional o denominado «concreto<br />

fresco».<br />

«E 0 Decreto Estadual n? 17.705<br />

de 15.1.76, convalidando o citado<br />

convent ° n? 16/75, excluiu, do campo<br />

isencional, essa mercadoria como<br />

se ve de seu artigo 3?.<br />

Assim, co razáo o Procura o V1COS, feita,<br />

Dr. Alvim Jacob Saad quando z empreitada, co rnmaterial<br />

for<br />

necido<br />

s ref erentes ao dia<br />

dono da<br />

pelo • ' ou pelo<br />

que os p<br />

emprei<br />

ICM no que Lan ge ao «concreto<br />

fresco » foram emitidos quando essa<br />

mercador is estava isenta do<br />

ICM.<br />

«Todavia, concluiu o ilustre Procurador:<br />

«Mas, hoje, depois do advento<br />

do Decreto Estadual n<br />

?<br />

17.705, de 15.1.76, convalidando<br />

o<br />

convent° n? 16/75, citado pela prO-<br />

isencAo<br />

pria Fazenda a f. ,<br />

caiu a partir da publicafl<br />

o deste Ira, m alustada<br />

obra a que se destina, e necessariadecreto.<br />

«Nestas condicOes, denego a semente<br />

preparada por quern tenha<br />

habilitacAo legal para elaborar<br />

os<br />

guranca imPetrada, condenando a<br />

impetrante nas custas Ave<br />

» (fls. 265- calculos e aplicar a tecica indisPensis<br />

A concretagem.n Essas carac-<br />

266).<br />

teristicas a diferenciam de postes,<br />

o o recurso extraordinArio ter-<br />

corn fundament° nas tetra ins a, lajotas ou placas 281,<br />

597.<br />

Tendo por comProvado o dissidio<br />

R.E. n? 82.501, in RTJ 77/959,<br />

corn<br />

em copia As fls. 187/20<br />

de cimento prefabricadas,<br />

estas,mereadorias<br />

pos - do provi-<br />

c e d, subindo e<br />

mento ao agrav o, em apenso.<br />

A Procuradorla-Geral da Repüblica,<br />

reportando-se a dots precedentes<br />

deste Tribunal (RE's 82.501 e 87.375),<br />

e favorAvel ao conhecimento e provimento<br />

do recurso.<br />

E o relatOrio.<br />

4, de que foi<br />

relator o Ministro Moreira Alves, conheco<br />

do recurso, pela alinea U. Do<br />

voto do Ministro relator, que esta<br />

Turma acolheu A unanimidade, destaco<br />

o seguinte: «Quer na preparacAo<br />

da massa quer na sua colocacáo<br />

na oa, br<br />

q ue ha. A prestacäo de ser-<br />

I sob forma de<br />

obra, conforme a modalidade de empreitada<br />

que foi celebrada. A prestaea°<br />

de servico nAo se desvirtua pela<br />

circunstAncia de a preParano da<br />

massa ser feita no local de obra, manualmente,<br />

ou em betoneiras colocadas<br />

em caminhOes, e que funcionem<br />

no lugar onde se constroi, ou venham<br />

preparando a mistura no trajeto<br />

ate a obra. Mistura meramente<br />

as necessidades da<br />

...» (RTJ 77/964).<br />

No mesmo sentido o R.E. 87.375,<br />

relator o Ministro Soares Murioz, que<br />

negou seguimento, nos termos do artigo<br />

22, 1?, do Regiment°, a recurso<br />

extraordinarto do Estado, reportando-se<br />

aos Agravos 63.821, 64.392<br />

e 65.304.<br />

De acordo corn os precedentes,<br />

dou Provimento ao recurso para res-<br />

VOTO<br />

tabelecer a sentenca.<br />

0 Sr. Ministro Leitão de Abreu<br />

(Relator): Não incidem, no caso, as EXTRATO DA ATA<br />

restricOes regimentals ao cabimento<br />

do recurso contidas nos inciso s III de RE 91.111 — MG — Rel.: MM. Lei-<br />

VIII do artigo 308, pois se trata tho de Abreu. Recte.: Brasmix —<br />

mandado de seguranca de que se Jul-


Engenheiros Associados, Ind. e Comèrcio<br />

I.Ada. (Advs.: Rafael Eugenio<br />

de Azeredo Coutinho, Lutz Carlos<br />

Bettiol, Afonso Estevao Torres, Josè<br />

de Magalhaes Barroso e outros).<br />

Recdo.: Estado de Minas Gerais<br />

(Advs.: Geraldo Pereira da Fonseca<br />

e Josè Alfredo Borges).<br />

Decisao: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator.<br />

Una/lime. Falou, pelo Recte. o Dr.<br />

Josè de Magalhaes Barroso. Falou<br />

R.T.J. — 94<br />

395<br />

pelo Recdo. o Dr. José Alfredo Borges.<br />

PresidënCia do Sr. Ministro Djaci<br />

Falcao. — Presentes a Sessao os Srs.<br />

Ministros Leitao de Abreu, Moretra<br />

Alves e Deck) Miranda — Ausente,<br />

justific<br />

ro Guerra.<br />

adamente, o Sr. Min. Cordel-<br />

Subprocurador-Geral Rep da<br />

res.<br />

nblica, o Dr. Mauro Leite Soa-<br />

Brasilia, 19 de outubro de 1979, —<br />

Hello<br />

rio. Francisco Marques, Secreta-<br />

RECURSO EXTRAO RDINARIO N? 91.180 — MG<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Rafael Mayer.<br />

Recorrente: Prefeitura M unicipal de Montes Clams — Recorrido: Francisco<br />

Ribeiro Pires.<br />

Ministarlo Pablico. Intervencao<br />

246 do C6d. de Processo<br />

obrigataria.<br />

Civil. Interesse<br />

Art. 82. III, c/c art.<br />

pessoa de direlto pablico ser<br />

pUblico.<br />

parte<br />

A circtuistfincia na lide nAo de a<br />

ciente pare a obrigatoriedade constitui razao sun-<br />

da se nä° evi intervencao<br />

denciada, no caso, a conotacao de do Ministèrio Pfiblico,<br />

aplica o art. 82, III, do CPC, a hi interesse<br />

pOtese paMico. NA° se<br />

judicial contra a Prefeltura Municipal.<br />

de execucao por titulo extracido,<br />

mas improvido.<br />

Recurso extraordinArio conhe-<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Pri-<br />

meira Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e notas taquigräficas, a<br />

unanimidade, em conhecer do recurso,<br />

mas negar-the provimento.<br />

Brasilia, 25 de marco de 1980.<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Rafael Mayer, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Rafael Mayer: Sob<br />

a forma de composicao amigavel e<br />

mediante escritura pi/Mica, a Prefeltura<br />

Municipal de Montes Claros desapropriou<br />

terreno dos recorridos. 0<br />

valor ajustado foi pago parte no ato<br />

da l avratura da escritura e o restante<br />

mediante promissoria pro soluto.<br />

Vencida e 'Lao paga a promiss6-<br />

ria, o credor promoveu execucao<br />

contra a Municipalidade. Esta embargou,<br />

a legando nulidade da transack),<br />

uma vez que o pagamento<br />

nä° fora feito integralmente em dinheiro,<br />

conforme exigancia do art.<br />

153, § 22, da Constituted') Federal.<br />

Vencida em ambas as instanclai<br />

or dinarias, pots confirmada a sentenca<br />

de primeiro grau no Juizo de<br />

apelacao, in terptIe a Prefeitura devedora<br />

recurso extraordinario, pelas<br />

tetras a e d, arglindo violacao dos<br />

arts. 82, III e 246 do CPC, alêm de<br />

dissidio Jurispru<br />

d dential. Pretende<br />

ecretacao da nulidade do a<br />

por falta de intervencao<br />

processo<br />

do representante<br />

do IVIinist6rio Pnblico.


R.T.J. — 94<br />

Cuido, no entanto, que o acOrdao<br />

recorrido tenha dado uma consentanea<br />

interpretacao aos textos legais<br />

em causa. Nao se deduz, necessariamente,<br />

do art. 82, III, do CPC, que a<br />

presenc a de pessoa de direito pallco<br />

na lide tenha como implic<br />

ito o interesse<br />

pUblico motivador da intervencao<br />

do Ministerio Pithlico, pois<br />

entao outra teria sido a formulacao<br />

do preceito, pondo-se o interesse ptlblico<br />

como conseqtlencia daquela<br />

participacão. 0 certo, porem, e que<br />

quaisquer que sejam as partes qualificadas<br />

, e nao esta dantemao excluido<br />

que possa ser outra que nab uma<br />

pessoa juridica de direito pUblico, e<br />

sempre exigivel que a participacao<br />

na lide, pela posicao, pretensao e objeto,<br />

tenha a conotacao de interesse<br />

pilblico.<br />

0 comParecimento daPrefeitura<br />

da pa rte.<br />

pelo Municipal , como re, a uma execucao<br />

A nulidade a desacolhida quo, sob o funda- por titulo extrajudicial, vinculado a<br />

Egregio Tribunal uma escritura de desaPropriacao<br />

de tratar-se, no ca-<br />

mento so, dea principal<br />

simples interesse<br />

da amigavel<br />

, nao se reveste daquela<br />

qualificacão necessa<br />

entidde<br />

de pfiblica, e nao interesse pi-<br />

ria a configurar<br />

o interesse pUblico, posto que se si-<br />

que afasta<br />

a tua no piano do interesse privado,<br />

blico, ciia<br />

obrigatorrcunstanc iedade da intervencao<br />

do despido da relevancia, da suprema-<br />

de nao ter<br />

Ministerio Pblico, al<br />

cia e da superior finalidade comunihavido<br />

demonUstracao de prejuizo em taria que caracterizam aqueloutro.<br />

virtude da omissão.<br />

Ora, os julgados trazido s Diante disso, nao se pode afirmar<br />

a colacao seja indeclinavel a intervencao do<br />

(Tribunal de Justica de Santa Cata- Ministerio PUblico em simpl e;s prorina,<br />

in AT — 482/207; Tribunal de cesso de execucao contra o Mu-<br />

Justica do Rio Grande do Sul, in niciPio, para haver a satisfacao de<br />

Rev. Jun. do<br />

,TJRGS 54/140), adotitulos emitidos pela Prefeitura Mu-<br />

tam a tese de que em qualquer de- nicipal. Thin razao, pois, tanto o vemanda<br />

ern que a pessoa juridica de neravel acardao recorrido quanto o<br />

direito pUblico seja parte, ipso facto, brilhante parecer da Procuradoria-<br />

pi<br />

se caracterizae o interesse<br />

lblico, Geral da Reptblica.<br />

evidenciado p la qualidade da parte,<br />

Convem registrar, outrossim, que<br />

a impor a intervencao do Ministerio a pretendida nulidad<br />

Pithlico. Ora, a tese do acOrdao re-<br />

e so veto a ser<br />

invocada pela Prefeitura quando da<br />

corrido, rejeitando esse absolutismo sustentacao oral no juizo da apela-<br />

conceitual e admitindo o caso parte em cao, entao ;la ouvido o Minister<br />

que a entidade priblica sendovencao M E<br />

io Pit-<br />

irostadual de segunda instancia<br />

nao acarreta a mesma inter, (fis. 37-38), que se manifesto<br />

dissociou-se daquele entendimento<br />

u sobre<br />

0 merit° da causa e pela confirma-<br />

no interprear a lei procssual, razao<br />

que e para t conhecer do e 396<br />

Admitido o recurso, a Procurado<br />

-ria-Geral da Republica, nesta<br />

cia, opina pelo conhecimento e nao<br />

provimento do recurs<br />

cao da sentenca apelada, sem argilir<br />

recurso pela<br />

a nulidade.<br />

Tetra U.<br />

o, em douto parecer<br />

do ilustre Procurador M<br />

oacir<br />

Antenio Machado da Silva (fls.<br />

91-<br />

94).<br />

E o relathrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator)<br />

: 0 objeto do recurso extraordi<br />

ge a questa° sobre a nuli-<br />

-natio se cin<br />

dade do feito por falta de interven -cao obrigatoria do Ministerio pUblico,<br />

nos termos do art. 246, do CPC,<br />

ao crivo do art. 82, III, do CPC, que<br />

atribui comPerencia ao mesm o organ<br />

para intervir em todas as causas em<br />

que hã interesse pUblico evidenciado<br />

pela natureza da lide ou quali da de


Assim, pela letra a o recurso nâo<br />

seria viavel porque bem interpretados<br />

os dispositivos legais dados como<br />

ofendidos; entretanto, como ja<br />

mencionado, cabe conhecer do recurso<br />

pela letra d mas para negarlhe<br />

provimento.<br />

E o meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 91.180 — MG — Rel.: Min. Rafael<br />

Mayer. Recte.: Prefeitura Municipal<br />

de Montes Claros (Advs.: Marcos<br />

Afonso de Souza e outros). Recdo.:<br />

— 94<br />

397<br />

Francisco Ribetro Pires (Advs.:<br />

Josè Giorgi e outra).<br />

pr<br />

Decisão: conhecido, mas negado<br />

ovimento, decisáo unanime. Ausente<br />

ocasionalmente, o Min. Xavier<br />

de Albuquerque.<br />

Presidencia do<br />

Thompson<br />

Sr.<br />

Flores. Ministro<br />

Presentes a Sesqsdo<br />

os Srs. Ministros Xavier de Albu-<br />

uerque, Cunha Peixoto, Soares Munoz<br />

e Rafael Mayer. Subprocurador-<br />

Geral da Republica, o Dr. Francisco<br />

de Assls Toledo.<br />

Brasilia, 25 de marco de 1980.<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretário.<br />

RECURSO EXTRA ORDINARIO N? 91.204 — PR<br />

(segtmda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Djaci FalcAo.<br />

Recorrentes: Altamiro Pedro Spinatto e S/Mulher — Recorridos: Santo<br />

ZaneIli e S/Mulher.<br />

lo de reivinclicacão. Reconvencilo. Inadmb3sibilidade desta nas<br />

circtuistAnclas do caso concreto. ArrematacAo. Nu&lade nAo cominada.<br />

Embora pr aticado de forma diversa da p rescrita em lei, o ato alcanCou<br />

os seus fins. Recurso extraordinftit conhecido em face da divergencia<br />

i tuisprudencial, e provido.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigráficas<br />

por unanimidade de votos, conhecer<br />

do recurso e dar-lhe provimento,<br />

nos termos do voto do Ministro<br />

Relator.<br />

Brasilia, 22 de junho de 1979. —<br />

Djaci FalcAo, Presidente e Relator<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Mac' FalcAo: 0<br />

acOrdAo objeto do recurso esta Iancado<br />

nos seguintes termos:<br />

o<br />

p<br />

Ementa: E nula pleno lure,<br />

raca ou lellAo em que o devedor<br />

a<br />

realizacao<br />

não foi intlmado por mandado da<br />

da praca ou leilno.<br />

AcOrdAo n? 16.274<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos de apelacao civel n? 898<br />

— 78 de Apucarana, ap em que sal)<br />

elantes: Santo Zaneili e sua mu-<br />

'her, e apelados: Spinatto<br />

Altamiro Pedro<br />

e sua mulher.<br />

A acAo 6 de reivindicacAo de posse,<br />

corn base em Carta de Arrema-<br />

p<br />

tack) nula por inobservar a forma<br />

porque<br />

rescrita em lei para ser emitida,<br />

pan liquidacão de obriga-<br />

cruzeiros,<br />

cno cambial de trinta e cinco mil<br />

tot feita a penhora de<br />

bens avaliados por baixo em oito-


398<br />

R.T.J. — 94<br />

cantos e cinqiienta mil cruzeiras e<br />

arrematados em praca nula piano<br />

jute ao omitir benfeitoriao s valiosas<br />

em cafezais e quando devedor<br />

nao lot intimado por mandado da<br />

realizacao da praca ou lank) — artigo<br />

687 3?, do CPC., ocorren do a<br />

praca antes dos vinte dias ao decurso<br />

do prazo ao edital.<br />

A reconvencao foi impugnada,<br />

sob o pressuposto de haver o devedor<br />

recebido p saldo do dinheiro<br />

pago pelo arrtmatante e que a via<br />

inadequada para anular a praca<br />

e a carta de errematacao, quando<br />

a certa a acao rescisOria, ocorrendo<br />

no mais a confissao Beta<br />

conforme o artigo 302 do CPC. Resultaram<br />

provadas as irregularida des na execucao da praca, que a<br />

torna nula de pleno direito, com a<br />

ausencia de prova de intimacao do<br />

devedor , ato nub suficiente para<br />

ser declarado, inclusive arrematacao<br />

e transcricao n? 1.840, doc. a f.<br />

20.<br />

A arrematacao nä.° transita em<br />

julgado : — «A arrematacao, por<br />

ser ato judicial, que indePende de<br />

sentenca, nao pode ser objeto de<br />

acao rescisOria ». — Revista dos<br />

Tribunals 105-199; Brasil, /teardaos,<br />

pag. 61, vol. 1? — Nä° preenchendo<br />

os requisitos legais a venda<br />

em hasta pUblica, corn arremata-<br />

1 e avalia ao omissa, nao<br />

Ctransita<br />

em julgado e como ato ju-<br />

Os vencidos interpuseram recurso<br />

dicial se declara como pedido na extraordinario corn base na letra a,<br />

reconvencao — artigo 694, $ (mica, do inc. III, do art. 119 da Constituin?<br />

I, por victo de nulidade . A null- cdo Federal, expondo por intermedio<br />

dade da penhora apontad a na con- do seu ilustrado patron:<br />

testac do, sem embargos do execu- «5<br />

.<br />

0 venerando acardao recorritado,<br />

ainda antes da arrematacao do afirma que:<br />

ou adjudicacao, fica superado ao Esta evidente que o arrematante<br />

nao tern condicOes juridicas de se<br />

dmitir na per bens arremata-<br />

ossenulo doso documento aos,<br />

por s<br />

presentado para fundamentar a<br />

acao, nao apresentando preenchidos<br />

os requisitos legais a validade<br />

da compra em praca.<br />

A via inadequada consa grada na<br />

sentenca, porque declarateria de<br />

nulidade de ato juridico, como fot<br />

requerido na reconvencao, observada<br />

a via certa para declaracao<br />

da nulidade, chegou a sentenc a a<br />

sown() imprOpria ao admitir a<br />

acao rescisOria como a via correta,<br />

sendo passivel de ser alterada para<br />

ter-se como extinta a Kati, nos<br />

termos do artigo 267, n? IV, do<br />

CPC. e nula a arrematacao e atos<br />

subseqtientes de transcricao imobiliaria<br />

corn a procedencia da reconvencao,<br />

condenando-se o A. e reconvindo<br />

nas despesas do. processo<br />

e honorarios de advo gado do R. e<br />

Reconvinte, ern vinte por cento dos<br />

valores da acao e reconvencao, somadas<br />

em Cri 131.712,00.<br />

Acordam os Desembargadores<br />

da Terceira Camara Civet do Tribunal<br />

de Justica do Estado do Parana,<br />

por unanimidade de votos,<br />

dar provimento a apelacao.<br />

Curitiba, 7 de novembro de 1978<br />

— Alceu Machado, President e —<br />

Said Zanlute, Relator — Wilson<br />

Reback .” GIs. 112 e 113)<br />

A arrematacao nao transita em<br />

poder requerer a substituicao do<br />

bempehordo or dinheiro — art. julgado: «a arrematacao,<br />

por ser<br />

the pre- ato judicial, q indePende de<br />

668 CPC, poor nao causar-ue<br />

sentenca, nao pr objeto de<br />

juizo, vez que a obrigacao liquida acao rescisOria”ode . — seRevista<br />

dos<br />

tern condicees legais de ser paga Tribunals 105/199, Brasil, Ac6rcorn<br />

os encargos da execucao.


dAos, pag. 61, vol. 1? — IslAo<br />

preenchendo os requisitos legais<br />

a venda em hasta pUblica, corn<br />

arrematacao nula e avaliacAo<br />

omissa, nao transita em julgado<br />

e como ato judicial se declara como<br />

pedido na reconvencao — art.<br />

694, § unico, n? I, por vicio de nulidade...<br />

Esta evidente, que o arrematante<br />

nao tern condicees juridicas<br />

de se imitar na posse dos bens<br />

arrematados, por ser nulo o documento<br />

apresentado para fundamentar<br />

a acao, nao apresentando<br />

preenchidos os requlsitos legais a<br />

validade da compra ern praca.»<br />

Admitiu, pois, em reconvencao a<br />

reivindicatbria do arrematante<br />

(para obter a posse do lin:Wel arrematado),<br />

apreciar e declarar supostas<br />

nulidades do processo da<br />

execucAo em que ocorreu a arrematacao,<br />

que redundariam em<br />

«ser nulo o documento apresentado<br />

para fundamentar a acão».<br />

A jurisprud6ncia, no entanto,<br />

contraria a essa tese, porque nth.)<br />

concorda em que os vicios do processo<br />

da execucao em que se deu a<br />

arrematacao sejam opostos como<br />

defesa, mesmo em reconvencao,<br />

na acao do arrematante para haver<br />

o bem adquirido.<br />

Os julgados a seguir transferidos<br />

demonstram a franca divergencia<br />

corn o venerando ac6rdAo recorrido:<br />

0... o autor arrematou o imOvel<br />

em hasta pOblica, exigindo a respectiva<br />

carta, revestida de todas<br />

as formalidades legais,<br />

verificando-se, ainda, que os reus<br />

tomaram parte na execucAo...<br />

Uma vez que tiveram oportunidade<br />

de defender o seu direito na<br />

execucAo da sentenca, nao poderão<br />

agora reabrir o debate, de<br />

modo a transformar a presente<br />

acao em verdadeira resciseria.<br />

— 94<br />

399<br />

Segundo a lick, de Pontes de Miranda<br />

Comentarios, vol. III, pag.<br />

317), «a arrematacao, uma vez<br />

assinada a carta de arrematacao<br />

e p assados os cinco dias do art.<br />

708, somente pode ser impugnada<br />

pela acao de rescisAo de sentenca<br />

(art. 798). Se foi o juiz que a<br />

assinou ainda que a arrematacao<br />

nao tenha sido valida ou nao tenha<br />

existido, a inexisténcia do<br />

negAcio juridic° ou a sua nulidade<br />

esta coberta pela assinatura<br />

da carta, se bem que tivesse havido<br />

a nulidade (Supremo Tribunal<br />

Federal, 29 de outubro de<br />

1959, Rev. de Direlto n? 59, 533),<br />

alias a acao de nulidade sobre o<br />

neg6clo seria inUtil para destruir<br />

a carta, s6 suscetivel na hipotese<br />

da rescisao de sentenca (ou de<br />

decretacAo de nulidade ipso jure<br />

da sentenca). 0 mesmo ensina-<br />

mento 8 ministrado por Amilcar<br />

de Castro (Comentitrlos, Vol. X,<br />

pag 308): «A arrematacao realizada<br />

em qualquer processo contencloso<br />

ou administrativo pode<br />

ser anulada, no mesmo processo,<br />

por melo de embargos, ou depots,<br />

por mein da acao rescis6ria»<br />

(Revista dos Tribunals, 320/346-<br />

347).<br />

Os embargantes arremataram<br />

ern praca o prklio e respectivo<br />

terreno da rua Tavares Ferreira<br />

n?s 45 e 45-A. Instruidos corn a<br />

carta de arrematacao requereram<br />

a imissAo de posse do ap .<br />

45, o que obtiveram, consoante a<br />

sentenca de fls. 51-52. Entretanto<br />

o acOrdão embargado de fis. 73-<br />

75 reformou a sentenca pan Julgar<br />

improcedente a acao, contra o<br />

voto do Des. Roman Cortes de<br />

Lacerda, que negava provimento<br />

ao recurso.<br />

Corn a carta de arrematacao<br />

despida de suas formalidades<br />

ex trinsecas, o arrematante quer<br />

a posse do im6vel. Mao 6 possivel


400<br />

R.T.J. — 04<br />

em acão desta 6rbita julgar manifestamente<br />

nula a carta de arrematacao,<br />

pois o arrematante e<br />

terceiro. Assim, somente em<br />

ace.° resciseria sera possivel invalidar<br />

uma carta de arremata a. Como se fez, e-cão<br />

registrad<br />

dentro da orientacAo seguida, os<br />

titulos registrados teriam existencia<br />

precaria . (Mario da Justiea<br />

da Uni 17-XI,1955, p. 4.024).<br />

0 Des. CunhaPebtoto: A acão<br />

de imissAo de posse cabe ao adquirente<br />

de bens para haver sua<br />

posse, contra o alienate ou terceiros<br />

que detenham os bens adquiridos<br />

e a acAo inicia-se corn a<br />

apresentacão do titulo de<br />

dominio . E o titulo de dominio a<br />

que se refere o art. 382 do CPC e,<br />

sem dilvida, a certiclão de transcricAo<br />

de transferencia da propriedade<br />

no registro de imOveis,<br />

nos termos do art. 530, n? I, 533 e<br />

860, § 1?, do CC.<br />

Ora, esta prova foi feita pelos<br />

autores, nEto sendo necessarla a<br />

juntada da carta de arremata no, nä° s6 porque, ela, em si,<br />

nAo prova o dominio, como porque,<br />

como assinala o Tribuna l de<br />

Justica de SAo Paulo, «na acão<br />

de imissao de posse de im6veis<br />

arrematados em executivo hipotecerio,<br />

nAo a possivel a alegacan,<br />

em defesa, da nulidade do<br />

executivo e da hasta pOblica”<br />

(RT vol. 154/263).<br />

8 que, como ia decldiu a Camara<br />

Civil deste Tribunal, em<br />

aclirdAo relatado pelo eminente<br />

Des. Autran Dourado, «mesmo<br />

as nulidades de pleno direito das<br />

arrematacOes, para tirarem o<br />

valor probante das cartas e preciso<br />

que sejam anuladas antes,<br />

em KA° de nulidade” (Jurispruclènela<br />

Mineira, vol.10-330).<br />

Ora, toda esta defesa se relaciona<br />

corn o processo de execu-<br />

cAo e näo corn a carta propriamente<br />

dita.<br />

Nestas condicOes, recebo os<br />

embargos ...” (Revista dos<br />

Tribunals, 416-364).<br />

Tratando-se de acao de imissão<br />

deposse fundada em carta de arrematacAo<br />

devidamente transcrita,<br />

a defesa consistente na alegacep<br />

de nulidade do processo de execucAo<br />

não pode ser oposta contra<br />

o arrematante, estranho aquele<br />

processo . Somente a nulidade de<br />

pleno direito au a rescisào do<br />

titulo podera obstar a entrega da<br />

coisa a sett legitimo dono<br />

(Revista dos Tribunals, 493-66)<br />

Os vicios argilidos pelos apelantes,<br />

relativos a falta de citacAo<br />

para a acAo ou execucão, onde<br />

se deu a arrematacAo do bem,<br />

sAo<br />

na presente de-<br />

manda. A hipatese seria de rescindibilidade<br />

por via da querela<br />

nuliltatis (art. 485 do CPC), que<br />

nä° se poderia reconhecer<br />

incidenter tantum (Revista dos<br />

Tribunals, 487-74).<br />

Eventuais nulidades da carta<br />

de adjudicacAo s6 em acAo prepria<br />

e de cognicAo ampla poderiam<br />

ser discutidas e analisadas.<br />

Repelida a defesa que a respeito<br />

o espOlio apresentou na imissAo<br />

de posse, os herdeiros ja nAo se<br />

poderiam furtar ao julgado,<br />

arrogando-se terceiros ciao alcancados<br />

pelo efeito da sentenca<br />

(Revista dos Tribunals, 494-136-<br />

137).<br />

A carta de arrematac Ao de<br />

im6vel emana de processo que<br />

transcorreu sem incidentes ate a<br />

expedicAo da mesma, autoriza a<br />

imissào de posse e quaisquer eivas<br />

apontadas posteriormente s6<br />

podem ser discutidas ern outra<br />

acão, transPostos que foram todos<br />

os prazos de defesa. (Revista<br />

dos Tribunals, 352/293-494).


Os autores, ora apelados, arremataram<br />

em hasta ptiblica o<br />

imOvel referido na inicial: nao<br />

obstante, os herdeiros, no inventarlo<br />

em que o imOvel foi inventarlado<br />

e vencido em hasta pabliea,<br />

se recusaram a entregar o<br />

im/Wel aos arrematantes, resultando<br />

dal a propositura da presente<br />

acao, que foi Julgada proce-<br />

A arrematacao de im6vel em<br />

hasta enquanto nao anulada,<br />

produz todos os efeltos legais,<br />

resultando dal a legitimidade<br />

ad causam para os autores ingressarem<br />

em juizo com a presente<br />

acao de imissao de posse<br />

(Revista dos Tribunals, 456-85).<br />

Como se vë dos Julgados acima,<br />

dos Tribunals de Sao Paulo, Minas<br />

Gerais e do antlgo Distrito Federal,<br />

eventuals nulidades ocorridas<br />

no processo de execucao, clue ensejou<br />

a arrematacao que lnforma o<br />

pedido de imissão na posse — nao<br />

podem ser discutidas nem acolhi<br />

das, na Kato em que o arrematante<br />

reivindica o bem, pela elementar<br />

razao de ser o arrematante terceiro<br />

em relacao ao processo da<br />

execucao. Somente quem neste foi<br />

parte pode debater sobre as ditas<br />

nulidades. Dal a jurisprudëncla<br />

desses <strong>tribunal</strong>s ainda afirmar que<br />

e essencial a propositura da acao<br />

rescisorla, assim compreenclida seja<br />

a que 6 aludida no art. 485 do<br />

C6d. de Proc. Civil, seta a que 6<br />

aludida no seu art. 486. Admitindo<br />

o debate sobre nulidades do processo<br />

da execucao na acao reivindicataria,<br />

e decretando-as em reconvencao<br />

oposta ao reivinclicante,<br />

mas nao ao exeqiiente, o venerando<br />

acardao recorrido divergiu matilfestamente<br />

dos Julgados acima<br />

apontados como padrão.<br />

6. Por outro lado, adotando a tese<br />

de ser absoluta a nulidade resul-<br />

R.T.J. 94<br />

401<br />

tante da transgressao do disposto<br />

no art. 687 e §§ do C6d. de Proc. Civil,<br />

a ponto de<br />

c<br />

decreta-la em re-<br />

onvencao a acao reivindlcaterla<br />

movida pelo<br />

presenca<br />

arrematante<br />

do<br />

(sem a<br />

exeqfiente),<br />

rando acOrdao<br />

o vene-<br />

recorrido<br />

verge de outros<br />

ainda di-<br />

<strong>tribunal</strong>s, cuja opi-<br />

Mao the 6 antagenica.<br />

IA-se no venerando corrido:<br />

acOrdáo re-<br />

(t A acao a de<br />

p<br />

reivinclicacilo de<br />

rematacao<br />

osse, com base em Carta de Ar-<br />

nula por<br />

forma<br />

inobservar<br />

prescrita<br />

a<br />

emitida,<br />

em lei Para ser<br />

porque para liquidacao<br />

de obrigacao cambial de trinta e<br />

cinco mil cruzeiros, fol felts a penhora<br />

de bens avaliados por balxo<br />

em oitocentos e<br />

cruzeiros<br />

cinquenta e mil<br />

arrematados<br />

ca nub<br />

em pra-<br />

«pleno b Jure* ao omitir<br />

enfeltorlas valiosas em cafezais<br />

e quando o devedor nao foi int,-<br />

da<br />

mado por mandado da reallzacao<br />

praca ou bilk) — art. 687,<br />

do CPC., ocorrendo a praca<br />

antes dos Ante dlas ao decurso<br />

do prazo do edltal» (f. 112)<br />

A acolhida dispensada a<br />

vencao, em que os Recorricl os invocaram<br />

o art. 146 do Cad. Civil<br />

(apoiando-se em Mao de Washington<br />

de Barros Monteiro), como se<br />

le a f. 58, implicou em declaracão<br />

de nulidade absoluta (pleno lure,<br />

diz o acOrdao), independente<br />

comprovacao<br />

da<br />

de prejuizo, porquanto<br />

a causa foi Julgada antecIpadamente<br />

e os ora Requeridos, em sua<br />

apelagao (Rs. 91-97), nao a lmpugnaram<br />

sob esse aspecto.<br />

A jurlsprucidncia de outros <strong>tribunal</strong>s,<br />

no entanto, alert: de ilk) considerar<br />

absoluta a nulidade que resulta<br />

da infracao ao disposto no<br />

art. 687 e if do Cod. de Proc. Civil,<br />

exige que seta demonstrada i pelo<br />

nteressado a ocorrencla de pre-<br />

Juizo, o que supOe instrucao proba- .


402<br />

R.T.J. — 94<br />

t6ria c no processo adequad o, entre<br />

executado e exeqilente, reiterese).<br />

Eis os exemplos:<br />

«Pelos apensos verifica-se que<br />

na nä() executiva, os editais foram<br />

de praca e let ao, como tern<br />

sido praxe que se generaliz a, e<br />

cuja valoracäo näo impede seja<br />

aqui feita. E o edital de leilao foi<br />

publicado no jornal de 17-1-1970,<br />

realizando-se a praca a 2 de fevereiro.<br />

Näo houve a certo a observAncia<br />

do prazo do art. 964.<br />

Mas, o importante e fundamen e em tela<br />

não-cominada, e, assim, se se<br />

pronuncia quando a demonstrado<br />

o prejuizo da parte. Neste sentido,<br />

pode invocar-se decisalo, sobre<br />

a materla na Revista de Jurisprudencia<br />

do Tribunal de Justly%<br />

do Estado vol. 18-283, de que<br />

Poi relator o hoje eminente Juiz<br />

de Alcada Dr. Oscar Gomes Nunes.<br />

Os Autores não demonstraram<br />

prejulzo pela data da publicacao,<br />

pots o prejuizo ai não eo<br />

vii preco da adjudicacao, mas<br />

para o aperfelcoamento do ato de<br />

leilào. E nada se fez, nem sequer<br />

se argumentou no sentido»<br />

(Revista dos Tribunals, 443-336 —<br />

337).<br />

Ainda a admitir que o venerando<br />

actirclao recorrido haja considerado<br />

o prejuizo in re 1psa pois alude<br />

desaProPriacäo Oco rrida entre o<br />

credit° e a avaliacäo (na verdade<br />

indica os valores da arrematacao<br />

— Cr§ 35.000,00, f. 15 — e da avaliacäo<br />

que foi de CrE 815.000,00 — f.<br />

8), a divergencta corn o julgado<br />

acima a evidente «pois o prejuizo<br />

at não e o preco vii da adjudicacao»,<br />

como afirma o Tribunal<br />

gaficho.<br />

Na mesma linha de raciocinio este<br />

acOrdão:<br />

«Tendo o ato atingido o fim colimado,<br />

näo a de ser decretada a<br />

-tal a que a nulidad<br />

anulacäo ainda que irregularid a -des fossem presentes, pois a nulldade<br />

decorrente da inobseracia<br />

ao disposto no art. 964 e seus parágrafos<br />

da lei processual (regras<br />

idanticas as do art. 687 e 0<br />

do COdigo atual), importa em nulidade<br />

«nao cominada », aplicando-se,<br />

as regras dos arts.<br />

273 e 278, § 2?, do COdigo de Process°<br />

Civil (coincidentes corn os<br />

arts. 244 e 249, § 1?, do Cedigo<br />

atual) (Revista dos Tribunals,<br />

240/230).<br />

0 pr6prio Supremo Tribunal chega<br />

a esse resultado:<br />

«Para conhecer da <strong>revista</strong> e<br />

prove-la, houve por bem o julgado<br />

ora recorrido aceltar que a<br />

transferéncia da praca, indepen-<br />

dentemente de circunstâncias outras,<br />

por contravir o disposto no<br />

art. 965. 1?, do C. Pr. Civ., importon<br />

em nulidade, desde que<br />

sua nova realizacão precedida<br />

nao foi da publicacti o de novo<br />

edital.<br />

Adotou assim o princiPio da nulidade<br />

absoluta pela simples<br />

transgressào da determinacao<br />

em questão.<br />

0 julgado trazido a cotejo, do<br />

Tribunal de Justica de Santa Catarina,<br />

cuja transcricao se encontra<br />

a f. 70, cuidando, tambem, da<br />

nulidade de praca, filiou-se a<br />

princiPio diverso . Aceitou que se<br />

trata de nulidade nap cominada.<br />

E se o ato atingiu o fim, sem prejuizo,<br />

a valido. Aplicou a tese do<br />

art. 273, I, do C6digo de Processo<br />

Civil, filiando-se dessarte ao<br />

aresto <strong>revista</strong>ndo.<br />

Ocorreu dessarte o dissidio,<br />

porque dissentiram ambos os yereditos,<br />

no que respeita as transgress6es<br />

das normas que cuidam<br />

da venda em hasta pOblica, justificando,<br />

pois, o conhecimento do<br />

apelo extremo.


E, dele conhecendo, entendo<br />

que a melhor orientacdo 6 aquela<br />

do aresto padrao, em rima corn o<br />

julgado que fol reformado atrayes<br />

da <strong>revista</strong>; dal o provImento.<br />

Para mim, a falta por si tido<br />

acarreta a nulldade pleno lure. E<br />

das //do comInadas. Assim, tendo<br />

o ato atingido seu fim, sem prova<br />

de qualquer prejulzo, o qual fol<br />

examinado e tido encontrado nas<br />

instill/0as Inferiores, razdo Wexiste<br />

para Invalida-lo nos termos<br />

do art. 273, I, do Diploma Processual»<br />

(Revista Trimestral de<br />

Jurlsprudencla, 52-108).<br />

Evidencia-se, portanto, a diverancla<br />

entre o que o venerando<br />

acOrddo recorrido afirma (nulldade<br />

absoluta, pleno lure como ele<br />

prOprio diz —), e o que assentam<br />

outros julgados, que consideram<br />

“ndo-cominada» a nulidade residtante<br />

da infracdo ao disposto nas<br />

regras legais que dIsciplinam a<br />

hasta pOblica e o lad°. 0 venerando<br />

acOrddo recorrido, ademais,<br />

nem sequer elude a ter resultado<br />

qualquer prejuizo, o que teve por<br />

despiclendo, contrariamente ao<br />

que proclama <strong>jurisprudencia</strong> de<br />

outros <strong>tribunal</strong>s.<br />

V — Observaeão Recess&la<br />

7. Ultrapassando o que afirmaram<br />

e pediram os ora Recorridos,<br />

o venerando ace:Mao dlz, espontaneamente,<br />

que «o devedor //do fol<br />

Intimado por mandado da reallzaedo<br />

da praca ou lend° — artigo<br />

687, 3?, do CPC.» (f. 112)<br />

Nem na contestacdo, nem na reconvenelio,<br />

os Recorridos lancaram<br />

tal afirmacilo, que sabem rullo<br />

ser verdadeira. Fe-lo o venerando<br />

acOrcido recorrido graclosamente e<br />

por excesso de Imaginacdo criadora,<br />

data yenta.<br />

Vai junto, a gora, o comprovante<br />

de que em verdade o devedor tot<br />

R.T.J. — 94<br />

«Intimado por mandado da realizada<br />

praca ou lelldo».<br />

Nao se trata de matdria Inca:Ave'<br />

no recurso, pots a Ins/Alta<br />

afirmacdo torna-a pertinente.<br />

Aldm dint), a fundamentaedo do<br />

recurso demo nstra-lhe o cablmento<br />

mesmo que fosse veraz tal asser-<br />

cdo, pots da lnfracao do art. 687, §<br />

3?, resWta nulldade, tamb6m, //do<br />

cominada, IncluIda na tese dos<br />

acturdkis apontados como padrdo.»<br />

(fls. 117 a 124)<br />

Ad/Wild° pelo despacho de fls. 128<br />

a 129, o recurso tramitou regularmente<br />

(fls. 136 a 143 e 145).<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Mae'<br />

tor): 0 acOrddo Fala°<br />

recorrido,<br />

(Rela-<br />

vlu, entendeu ser<br />

como se<br />

rar nulidades<br />

admissive'<br />

do<br />

decla-<br />

processo<br />

cao em que houve<br />

de execu-<br />

arremataedo, me-<br />

diante reconvened°<br />

vin oferecida<br />

clicatOria movlda pelo<br />

a relarrematan-<br />

te.<br />

Os re correntes indicam acOrddos<br />

af irmando que eventuals nulidades<br />

verificadas no processo de execucao,<br />

em que houve arrematacão, Tido podem<br />

ser di scutidas na acao de 'missal/<br />

de posse proposta pelo arrematante<br />

do bem, estranho dquele processo.<br />

Na verdade, o arrematante situa-<br />

se como terceiro em relaedo ao processo<br />

de execucao, els que somente<br />

part icipa da praca para adquirlr o<br />

bem, não se the podendo opor send°<br />

os vIcios desta. Dal, a Inadmissibilldade<br />

do debate sobre nulidades na<br />

reivindicatOria, ern reconvened°<br />

oposta ao relvi ndlcante e tido ao exeqilente.<br />

Po nderam, com acerto, os patronos<br />

dos recorrentes:<br />


R.T.J. — 94<br />

404<br />

num segundo momento, corn a alie-<br />

C6digo de Processo Civil, ou de flack:, do bem pelo maior lancO.<br />

rescisao pela via do art. 486 da<br />

Finalmente, nao me parece dema-<br />

mesma lei. Mas entre as proprias sia fazer mencao a cOpia autentica-<br />

partes litigantes, anicas legitimada<br />

do mandado de intimacao, junto<br />

das pars esse pleito, e nao como pelos recorrentes, por onde se ve que<br />

defesa ern processo no qual o arre-<br />

o recorrido Santo Zanelli foi intimamatante<br />

— estranho outra dedo da designacao do dia da praca<br />

manda — quer receber o que com-<br />

(ils. 126 a 126 v.).<br />

prara. » 139)<br />

Ante o exposto, conheco e provejo<br />

O actordao recorrido considerou<br />

o recurso, Para restabele cer a sen-<br />

nao somente a ausencia de intimacan<br />

do devedor por mandado, como tenca de fls. 85 a 88.<br />

tambem o fato de praca ocorrer an- EXTRATO DA ATA<br />

tes de vinte dias da publicacao do RE 91.204 — PR — Rel.: Min. Dja-<br />

edital (art. 687, §§ 1? e 3? do CPC.). ci Falcao. Rectes. : Altamiro Pedro<br />

Nessa parte a decisao tambem di- Spinatto e s/mulher (Advs.: Egas<br />

verge dos acOrdaos indicados as fls. Dirceu Moniz de Aragao e outro).<br />

122 e 123, que leio. Corn efeito, se a Recdos.: Santo Zanelli e s/mulher<br />

nulidade em questa() nao e comina- (Ado v.: Julio Cesar Christoffoli).<br />

da, a sua declaracao depende da Decisão : Conhecido e provido nos<br />

prova do prejuizo da parte. Ora, no termos do voto do Ministro Relator.<br />

caso o aresto recorrid o lido indica o<br />

Unanime.<br />

prejuizo, enquanto a afirmac ao feita<br />

Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

na impugnacao a reconvencao de ha-<br />

Falcao. — Presentes a Sessao os Srs.<br />

ver «o devedor recebido o saldo do<br />

Ministros Leitao de Abreu, Cordeiro<br />

dinheiro pago pelo arrematante», Guerra, Moreira Alves e Decio Mi-<br />

nao foi infirmada. Desse modo, randa. -- 5? Subprocura dor-Geral da<br />

inobstante praticado de forma diver-<br />

Republica. o Dr. Mauro Leite Soasada<br />

prescrita em lei, o ato alcan-<br />

res.<br />

cou os seas fins.<br />

Brasilia, 22 de junto de 1979. —<br />

disso,<br />

Nao se<br />

que<br />

deve<br />

houve<br />

perder<br />

uma<br />

de<br />

licitacao<br />

vista, alem<br />

sem Hello Francisco Marques, Secretàexito,<br />

operando-se a arrematacao rio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 91.231 — PR<br />

(Segundo Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Djaci<br />

S/A<br />

Falcao.<br />

— Financiamento, Credit() e Investimentos<br />

Recorrente: Bamerindus<br />

— Recorridos : Chozen Nakahodo e Miguel Puorro,<br />

A venda extrajudicial da coisa alienada<br />

itduciariamente<br />

AlienacAo fiducihria.<br />

rao exdui a responsabllidade juridica do avalista ece co- da<br />

nota promiss6ria, emitida em garantla do cr6clito, que perman<br />

obrigado pelo saldo devedor. Esta a exata exegeseDec dos fif 4? e 5? do<br />

.i -len? 911/69 ,<br />

art. 66 da Lei n? 4.728/65, na redacAo dada pelo<br />

bem assim das regras expressos nos arts. 2?, 5? e 6?, do Ultimo diploma.<br />

Precedentes do S.T.F.<br />

Recurso extraordinitrio conhecid o e provido em parte.


ACORDA0<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam as Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigrAficas,<br />

por unanimIdade de votos, conhecer<br />

do recurso e dar-]he provimento,<br />

parcialmente, nos termos do<br />

voto do Ministro Relator.<br />

Brasilia, 26 de Junho de 1979. Wad<br />

Falco, Presidente e Relator.<br />

RELATORIO<br />

O Sr. Ministro Thad Faloan: 0<br />

acardAo recorrido esta expresso nos<br />

seguintes termos:<br />

Allenagão FiduciAria — Busca e<br />

ApreensAo — Venda Particular pelo<br />

Credor do Objeto Fiduciado<br />

Apreendido por preco inferior ao<br />

credito — Cobranga do saldo pela<br />

execucao da Nota Promissoria<br />

criada em funcAo do contrato, execucao<br />

esta contra o devedor e seus<br />

avalistas — Decisão do MM. Dr.<br />

JuIz, deferindo a execucao apenas<br />

contra o Devedor Principal e emitente<br />

da nota promissOria, e indeferindo<br />

dita execucao contra os<br />

avalistas — Agravo de Instrumento<br />

do credor desprovido para manter<br />

a decisào agravada.<br />

Acerchlo n? 7.784 CIV<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos de Agravo de Instrumento<br />

n? 49/78, de Londrina — 3? Vara,<br />

em que 8 agravante Bamerindus<br />

S/A. — Financiamento, Credit° e<br />

Investimento e Agravado o Juizo<br />

de Direito.<br />

Acordam os Juizes da Primeira<br />

CAmara Civel do Tribunal de Alcada<br />

do Estado do Parana, por unanimidade<br />

de votos em negar &ay!.<br />

mento ao agravo para manter a<br />

decistio agravada.<br />

R.T.J. — 99<br />

905<br />

0 agravante fez financiamento<br />

ao Sr. Chozen Nakahodo coin alienacAo<br />

fiduciAria em garantia que<br />

incidiu sobre os bens especificados<br />

no respectivo contrato.<br />

Alêm da garantia<br />

acima o agravante<br />

mencionada<br />

fez o devedor<br />

emitir titulo cambial como outra<br />

garantia paralela, titulo esse avalizado<br />

por Chozen Nakahodo e Miguel<br />

Puorro.<br />

0 agravante procedeu a cobranca<br />

da divida contra o devedor principal,<br />

atraves de busca e apreensAo<br />

dos bens dados em garantia,<br />

cujos bens segundo informa vendeu<br />

ele preprio particularmente.<br />

Alega, porem, que a venda nao<br />

produziu a quantia suficiente para<br />

pagar a totalidade da divida, e por<br />

isso, requereu a execucao do titulo<br />

cambial contra o devedor principal<br />

e contra os avalistas.<br />

A respeitavel decisâo agravada<br />

deferiu a execucao tao somente<br />

quanto ao devedor principal Chozen<br />

Nakahodo, nos termos do art.<br />

1?, parAgrafo 5?, do Dec.-lei n?<br />

911/69.<br />

Pelo presente agravo pretende<br />

credor que seta<br />

o<br />

determinado que a<br />

execucao prossiga tambem contra<br />

os avalistas.<br />

E inegAvel que ao credor a licito<br />

demandar a execucao pelo restante<br />

da divida se na venda do bem<br />

apreendido nAo se cobrou de todo.<br />

Acontece entretanto que no caso<br />

nAo existe possibilidade de ajuizar<br />

execucao de titulo cambial, vinculado<br />

a um contrato em que o saldo<br />

remanescente do credito nao 6<br />

liquid° e certo.<br />

0 saldo devedor para se tornar<br />

liquido e certo e ensejar uma execucao,<br />

tern que ser fixado corn<br />

anuencia do devedor ou apurado<br />

Judicialmente, o que nao ocorreu<br />

no caso em exame.


R.T.J. — 94<br />

406<br />

Nao ha dfivida de que o acOrdao se<br />

No caso o credor fazendo busca e<br />

apreensao do bem fiduciado e de- divorciou da legislaca o especifica.<br />

pois vendendo o mesmo particular- Consoante exp6e o Prof. Orlando<br />

mente sem anuencia sequer do de- Gomes:<br />

vedor principal, ou prestaCao de «A cambial firmada pelo ere<br />

contas valida a respeito do preco do e seu avalista tern a funcao de<br />

obtido e apuracao do saldo, des- reforcar, corn uma garantia pesmantelou<br />

a liquidez e certeza da soal, a obrigacao contraida no con-<br />

divida, impossibilitando a executrato de financiamento. Assim sencao<br />

pura e simples.<br />

do, o titulo se se extingue, saindo<br />

Como se viu trata-se de titulo<br />

de circulacao, quando integralmen<br />

-te realizado o direito de credit()<br />

cambial vinculado a urn contrato oriundo de neg6cio basico, visto<br />

cuja execucao foi iniciada. 0 deve- que nesse caso, como observa Ferdor<br />

e solvente e continua pessoalri, sua funcao se esgota e o ciclo de<br />

mente obrigado a pagar o saldo devedor<br />

apurado, isto e, ajustado en-<br />

sua circulac ao se exaure » . (Fag.<br />

tre as partes ou judicialmente, e 162-163)<br />

nao apenas enunciado ao livre<br />

«Quando, porem, o direito ainda<br />

nao se extinguiu porque a divida<br />

arbitrio do credor.<br />

nao foi paga na sua totalidade, o<br />

Assim sendo, 'war) de sobra ti- titulo tambem nao se extingue,<br />

nha o MM. Dr. Juiz de indeferir a continuando a garantir a divida re-<br />

execucao contra os avalistas quanmanescente. Tern o credor nesse<br />

do a mesma a incabivel mesmo caso, o direito a intentar acao exe-<br />

contra o devedor principal que emcutiva contra emttente ou o avalisbora<br />

responsavel pelo divida devia ta pars cobrar o que the ainda<br />

ter acesso a apuracao do saldo. devido. » (pag. 163; In Allenacao Flduclarla<br />

em Garantia, 4a edicdo,<br />

Curitiba, 21 de junho de 1978 — pag. 162 e 163)<br />

Nunes do Nascimento, Presidente<br />

— Maximilian Stasiak, Relator — A venda extrajudic ial da coisa<br />

Schlavon Puppi.» (fls. 30 a 32).<br />

alienada fiduciariamente 'taco exclui<br />

a responsabilidade juridica do ava-<br />

A vencida interp6s recurso exlista da nota promisseria, emitida<br />

traordinario corn base na letra a, do ern garantia do credito, que perma-<br />

inc. III do art. 119 da Constituicao nece co-obrigado pelo saldo devedor.<br />

Federal, sob alegacao de negativa Esta a exata exegese dos §§ 4? e 5?<br />

de vigencia aos arts. 1?, § 5?, e 66 da do art. 66 da Lei n? 4.728/65, na reda-<br />

Lei n 4.728/65, na redacao dada pelo cao dada pelo Dec.lei n? 911/69, bem<br />

Dec.-lei n? 911/69, alem de discre- assim das regras expressas nos arts.<br />

panda corn a <strong>jurisprudencia</strong> preva- 2?, 5? e 6?, do ultimo diploma.<br />

lente. Foi despachado a f. 61. Houve<br />

invocaCao de relevancia da questa() Alias, o terra foi tratado, de modo<br />

exaustivo, no RE 84.695, relatado pe-<br />

<strong>federal</strong> (fls. 34 a 42). Acolhida a argiiicao<br />

de relevancia sob n? 35.083, lo eminente MM. Moreira Alves, e<br />

tramitou regularme nte (fls. 70 a 74 e que traz a seguinte ementa:<br />

75).<br />

«Alienacao fiduciaria em garantia.<br />

VOTO<br />

Se, vendida extrajudicialmente a<br />

coisa alienada fiduciariamente,<br />

0 Sr. Mtnistro Djaci Falcäo (Rela- ha saldo devedor, pode o credor,<br />

tor): A questa° debatida subiu a Cor- por ele, executar o avalista da nota<br />

te pela sua relevancia.


promisseria emitida, tambem em<br />

garantia do pagamento da quantia<br />

mutuada, pelo devedor. InterpretacAo<br />

dos if 4? e 5? do art. 66 da Lei<br />

n? 4.728, de 1965, na redacAo dada<br />

pelo Decreto-lei n? 911/1969, bem<br />

como dos arts. 2?, 5? e 6? do Ultimo<br />

desses diplomas legals.<br />

Recurso extraordinArio conhecido<br />

pelo dissidlo de jurispruclAncia,<br />

e provido parcialmente.» (RTJ<br />

80/934)<br />

Firme, nesse sentldo, e a <strong>jurisprudencia</strong><br />

do S.T.F. (ver RE 87.919,<br />

87.990, 88.526, 88.882, 89.917 e 90.077).<br />

Diante do exposto, conheco do recurso<br />

e dou-lhe provimento, em parte,<br />

para que afastada a carencia da<br />

execucAo, prossiga o julgamento no<br />

juizo competente.<br />

R.T.J. — 94<br />

407<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 91.231 — PR — Rel.: Min. Diaci<br />

FaIca°. Recte.: Bamerindus<br />

— Financlamento,<br />

S/A<br />

Credit° e Investimentos<br />

(Advs. Sergio Augusto Amaral<br />

Cidade e outros). Recdos.: Chozen<br />

Nakahodo e Miguel Puorro.<br />

DecisAo: Conhecido e provido parcialmente,<br />

nos termos do voto do Relator.<br />

UnAnime.<br />

Presidencia do Sr. M(nistro Djaci<br />

Falcao. — Presentes A SessAo os Srs.<br />

Ministros LeitAo de Abreu, Cordeiro<br />

Guerra e Deck) Miranda. Ausente,<br />

justificadamente, o Sr. Ministro Moreira<br />

Alves. 5? Subprocurador-Geral<br />

da Republica, o Dr. Mauro Leite<br />

Soares.<br />

Brasilia, 26 de junho de 1979.<br />

Francisco Marques,<br />

Hello<br />

Secretario.<br />

RECURS() EXTRAORDINARIO N? 91.256 — RJ<br />

(Segunda Tunnel<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Leith° de Abreu.<br />

Recorrente: Esso Brasileira de PetrOleo S/A — Recorridos: Posto de<br />

Servicos LKS Ltda., JoAo Baptista Valladares Silva e outra.<br />

Contratos collgados de p<br />

de comodato. 1) Imposlctio<br />

romessa<br />

apenas da<br />

de<br />

multa<br />

compra e venda mercantll e<br />

trato principal. Dissidlo convenclonada dem no con-<br />

actles conexas. NAo reconh<br />

onstrado. 2) Honorarios de advogado em<br />

ecimento, pelo acerdão, de dupla sucumbencla.<br />

Razoitvel aplIcacAo do artlgo 20 do Cedigo de<br />

3) Inocorrencla de afronta aos artlgos 505, 514 Processo Civil.<br />

cesso Civil. 4) Recurso e<br />

extra 515 do COdlgo de Prorem<br />

desprovido.<br />

ordinttrio part lalmente conhecido, po-<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade corn a ata<br />

de Julgamentos e notas taqulgrAficas,<br />

em conhecer, em parte, do recurso,<br />

porem desprove-lo, a unanimldade<br />

de votos.<br />

Brasilia, 27 de malo de 1980. —<br />

Djaci Mao, Presidente — Leittio<br />

de Abreu, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro LeltAo de Abreu —<br />

Noticiam estes autos a propositura,<br />

pelas partes signatArin de contrato<br />

de promessa de comp' a e venda<br />

mercantil e contrato de comodato,<br />

de duas acoes ordinArias, sob o mesmo<br />

fundamento de inadimplencia.<br />

Ao julgA-las em uma se sentenca,<br />

o magistrado deu pela improcedencia<br />

da acAo do Posto de Service°<br />

LKS Ltda., ora recorrido,<br />

condenando-o nas custas e honorti-


408<br />

R.T.J. — 94<br />

rios de advogado arbitrados em Cr$<br />

vicos LKS Ltda., Joao Baptista e sua<br />

10.000,00, e deu pela procedencia da<br />

mulher), o juiz arbitrou honorarios<br />

acao da Esso Brasileira de Petraleo<br />

em 20 e % sore o valor de condena-<br />

S/A, condenando os reus (Posto de cao; ao dar b pela improcedencia da<br />

ServicO LKS Ltda., Joao Baptista<br />

outra acao (autor o Posto dc Servi-<br />

Valladares Silva e sua muffler) ao cos, re a Esso Brasileira), fixou os<br />

pagamento de ambas as multas, cus- honorarios em Cr$ 10.00,00. Em amtas<br />

e honorarios de 20% sobre o va- bos os casos, estã cl 0<br />

aro, recaiu a<br />

condenacao em honorario s sobre o<br />

for da condenacao•<br />

sucumbente, o Posto de Servicos. 0<br />

Apelaram a Esso e o Posto: aquela acerdao, atacado no extraordinario,<br />

tao-so inconformada com os honora- provendo parcialmente o apeio do<br />

rios de Cr$ 10.000,00; e o Posto pre- Posto de Servicos, no tocante aos<br />

tendendo, em resumo, a procedenc ia efeitos da sucumbencia, reduziu os<br />

da Ka°. Decidiu o Tribunal a quo: honorarios para 10% sobre o valor a<br />

motivo<br />

«... em dar provimento partial<br />

apurar-se na execucao (


R.T.J. — 94<br />

409<br />

apelo, pare reduzir a verba hon<br />

ria, o acerdAo se conteve,<br />

nos limites da<br />

porta<br />

ora- via<br />

devolutividade,<br />

nto, re<br />

gar duplamente ao ora<br />

se haver operado,<br />

v<br />

na isto corrido. 0 acerdAo nAo<br />

hip6tese, a<br />

claro<br />

volueAo total. Logo, o principlo de-<br />

quanto A sua<br />

r fundamentacAo nem o<br />

tantum devolutum quant do ecorrente entrou corn<br />

ra embargos pa-<br />

recorrente,<br />

appellatum, em vez de aproveita<br />

u<br />

esclarecer a m le se<br />

ambigaidade que ne-<br />

sustenta<br />

r vislumbra. Como se pode ex-<br />

impugna.<br />

o aresto, que<br />

train da decisAo<br />

nothrios,<br />

recorrida que se que os ho-<br />

reclamam<br />

so, nao cabiam diante das<br />

no recurparticWa-<br />

Tambem nao cabe o ridades do caso, em que se resolvia<br />

recurso<br />

fundamento em que, tendo hay<br />

com<br />

unitariamente a mesma quest<br />

dupla sucu !do juriclica, penso quetese<br />

salter dupla<br />

mbencia, dal havia de lie<br />

e, perante<br />

reridades da hip as pecu-<br />

,<br />

rios. Quanto A alegagAo<br />

em honore-<br />

corrido deu ao artigo 20 do<br />

o aresto<br />

COdigo<br />

re-<br />

de<br />

de dissid<br />

nao se presta, pan configuth-lo, Jo, Processo Civil interpretactio,<br />

acerdão trazido a confronto.<br />

0 menos, razoAvel.<br />

quando<br />

cuida de acao e Nele<br />

reconvencAo,<br />

se<br />

valores diferentes, co<br />

eircunstanclas<br />

m<br />

sas estranhas ao caso es<br />

Com apelo na alinea d, a recorren-<br />

negou, de outra<br />

presente. N<br />

pane,<br />

ae)<br />

pug o aresto im<br />

haver<br />

te se insurge<br />

este<br />

contra o acerdAo, por<br />

en<br />

pia<br />

nado, nao caber, em caso de d mente a multa tendido que cable so-<br />

sucumbéncia, em aches conexas<br />

u- principal,<br />

relative ao contrato<br />

julgadas simultaneamente, dupl ,<br />

quando tambem,<br />

esta devia incidir,<br />

condenacAo em honothrios. Entena<br />

no que ao eonvenclonado<br />

no contrato de comodato.<br />

deu o acerdAo recorrido,<br />

mente, que a<br />

simples<br />

trado o dissfdio Demons-<br />

solucAo das<br />

mandas, pelo<br />

duas<br />

respeito,<br />

<strong>jurisprudencia</strong>l<br />

aresto Gnlco, nao sign]<br />

de<br />

conheco, nesta a<br />

parte,<br />

curso. Entretanto, nego-lhe provi-<br />

do re-<br />

fica, por si s6, dupla sucumbencia mento, neste<br />

Infere-se dal que o acerdão impug o<br />

ponto,<br />

rientaeão do Supremo<br />

visto Como a<br />

nado levou em conta,<br />

nhecer ao<br />

para bre a<br />

re nao reco-<br />

especie,<br />

Tribunal, a identica<br />

sothrios<br />

duplos,<br />

corrente<br />

as<br />

direito a hononal local A do Tribupedals<br />

circunstancias<br />

310).<br />

(RTJ 86-501, 87-192 e 88do<br />

caso. JA es-<br />

sallentara tence de primeiro<br />

a sen-<br />

grau<br />

duas aches conexas,<br />

que, nas Diante disso, conheco<br />

quaestio era a mesma,<br />

a Yenta te do recurso,<br />

parcialmen-<br />

panes em<br />

litigando posicees<br />

as<br />

mento.<br />

porem the nego provi-<br />

postulate/la<br />

de legitimidade<br />

al<br />

A ternada (f . 130).<br />

crescentara que o thema decl- EXTRATO DA ATA<br />

ticamentedendum,<br />

nas duas aches, era pra-<br />

o mesmo, corn<br />

Mantes de amplas alegacttes,<br />

as vate<br />

a parte. Versando<br />

de par- RE 91.256 — RJ — Rel.: Min. LeicAo<br />

de inadimplencia<br />

sobre a alegath°<br />

de Abreu. Recte.: Esso<br />

ra de<br />

de<br />

P Brasilei-<br />

um mesmo<br />

clAusulas<br />

contrato,<br />

de etreleo S/A (Adv.: Gustavo<br />

acAo<br />

na<br />

ordinfula,<br />

segunda<br />

Cesar de Barros Barreto). Recdos.:<br />

proposta<br />

dots meses e melo apes a<br />

cerca de Posto de Servicos LICS Ltda., Joao<br />

se alegou logo a<br />

primeira,<br />

Baptista Valladares Silva e outra<br />

(Advs.:<br />

conexito.<br />

M<br />

des as eircunstAnclas,<br />

Diante tros). auricio de Alencar e ou-<br />

concluiu<br />

acerdAo, ao pronunciar-se<br />

o<br />

quanto<br />

aos honothrios, que estes nao se de- DecisAo: Conhecido em parte, mas<br />

negado provimento. TJnAnime.


410<br />

Presidancia do Senhor Ministro<br />

Djaci Falcao. Presentes a sessao os<br />

Senhores Ministros Leitao de Abreu,<br />

Moreira Alves e Decio Miranda. Ausente,<br />

justificadamente, o Senhor<br />

R.T.J. — 94<br />

Ministro Cordeiro Guerra. — Subprocurador-Geral<br />

da Repilblira, o Dr.<br />

Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 27 de main de 1980. —<br />

HelloFranciscoMarques, Secretario.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 91.320 — RJ<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator : 0 Sr. Ministro Cordeiro e Guerra. sua mulher — Recorrida: Prefeitura<br />

Recorrente: Antonio Pinhe iro<br />

Municipal do Rio de Janeiro.<br />

— DesaProprlacgo. Indenizacäo fixada corn base no valor do im6vel<br />

pars efeltos Meals e em outros elementos previstos no art. 27 do<br />

Dec.-lei 3.365/41, aplicado fator de correc go pan obtencgo do valor<br />

de mercado. Inextstencla de violacito de threat) despesa <strong>federal</strong>.<br />

com mudanca<br />

Descabtmento de verba para repostcgo de<br />

para outro Menzel. Inexlstkncla de dissiclio corn julgados que a admtdram<br />

em casos excePcionats.<br />

de advogado. Incldencla sobre a dlferenca entre o va-<br />

Honorarios bos atu l<br />

lor da oferta e o da indenlzacao• am1 3.3<br />

alzados. Taxa fixada de<br />

acordo corn o art. 27, s I?, do Dec.-1e65/41.<br />

Precedentes do STF.<br />

RE nä° conhecido. Negaram verba para a aquisicao<br />

ACORDAO<br />

de nova residencia aos expropriados,<br />

f . 245 .<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal , na conformidade da ata de<br />

julgamento e das notas taqui grafi<br />

-cas, a unanimidade de votos, em nao<br />

conhecer do recurso.<br />

Brasilia, 21 de marco de 1980 —<br />

Disci Falcao, Presidente — Cordeiro<br />

Guerra, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra: —<br />

0 V. acardao recorrido, extremamente<br />

sintetico, reportando-se ao re-<br />

da Procuradoria:<br />

latario do parecer<br />

Geral da Justica, e aos fundamentos<br />

da sentenca apelada, confirmou o<br />

ulado do primeiro grau, excluindo<br />

ape g Admitien o apelo extraordinario<br />

tao-s6 quanto a tetra d do permissivo<br />

constitutional, quanto a verba<br />

do<br />

fiats reemplot, f. 285, assim resume<br />

a douta Procuradoria-Geral da Rept"blica:<br />

«1 — Ern acao de desapropriacao<br />

de !navels residential urban, o<br />

eg. Tribunal de Justic<br />

nas os juros moratOrios, admitidos<br />

que tenham sido os juros cornpensatOrios<br />

de 12%.<br />

a do Estado<br />

do Rio de Janeiro reformou a decisat)<br />

de primeira instancia apenas<br />

para excluir juros morathrios,<br />

mantendo-a em todo s os demais<br />

aspectos, a saber: indenizacao de<br />

Cri 695.428,00, para outubro<br />

de<br />

1977, de acordo com o laudo do perito<br />

judicial ; juros comPensathrios<br />

de 12% ao ano; e honorarios de advogado<br />

de 10% sobre a diferenca<br />

entre a oferta e a indenizacao, ambas<br />

atualizadas monetariamente.


2 — Invocando os arts. 153, § 22,<br />

da Constituicao,<br />

Desapropriac6es,<br />

e 27 da Lel das<br />

al6m de diverancia<br />

Jurisprudential, recorrem<br />

os expropriados, alegando, suma, que:<br />

em<br />

oa) deve ser adotado o laudo<br />

do assistente dos expropriados e<br />

desprezado o do perito judicial,<br />

uma vez que este se baseou apenas<br />

no valor do imevel para efeltos<br />

Meals;<br />

se impee a inclusAo da parcela<br />

de 20% para as despesas<br />

corn a aquisicao de nova<br />

dade;proprie-<br />

R.T.J. — 94<br />

reexarne, i ncablvel na instancia<br />

extraordinaria (Sainula 279).<br />

Nem ha diverg6ncla corn o RE<br />

72.950 (DJ de 25.8.72, p. 5.511), visto<br />

que a operacAo realizada rot tendente<br />

precisamente obtencão do<br />

valor de mercado.<br />

5 — A c hamada taxa de reemp<br />

rego do capital tot admitida em<br />

certos casos, ern que a indenizacão<br />

sofrerla consideravel desfalque<br />

corn as despesas de mudanca e de<br />

aq uisicao de outro imOvel.<br />

3 - E certo que a avaliacAo do<br />

perito judicial partlu do valor<br />

sa<br />

nal adotado yepela<br />

R<br />

para efeitos<br />

Municipalidade<br />

tributArlos em setem- 61<br />

bro de 1976. Entretanto,<br />

vac<br />

apes a ha<br />

bro de 1977, segundo as indices do<br />

custo de vida publicados pela re- id<br />

hi<br />

de tern por cem para a obtencão 7<br />

do valor de mercado, preclsamente des,<br />

tendo em conta que a avallacAo<br />

cal 6 felta corn<br />

fismoderacAo<br />

ren<br />

e pru- cAo<br />

déncia (fls. 75-8). Indi<br />

co<br />

4 — 0 laudo considera alnda ou- don<br />

tros dados referidos no art. 27 do a ju<br />

Decreto-lei IV 3.365, de 1941; a si- mo<br />

tuacão do imOvel, estado de conservacAo<br />

e seguranca. Po<br />

sacs en<br />

Embora crit6rio adotado<br />

seja o melhor, nAo demonstram<br />

s<br />

os prec<br />

recorrentes que o valor obtido nAo niza<br />

corresponde ao de mercado, ou nä')<br />

mesmo que se ofendeu o dlrelto fe- deral<br />

deral na avallacAo. A questa° nAo do C<br />

6 de valorizacilo ou de eflcilcia da<br />

prova, mas simp 8 —<br />

lesmente de seu decld<br />

ido na Avila Resets6ria 626<br />

e 53/164),<br />

Assim, no RE 64.237 (RTJ<br />

tr<br />

i atava-se de uma grande<br />

a verba honoraria deve ser ndUstria e na Ap. Civet 69.329 (RT<br />

elevada de dez para vinte por<br />

cento,<br />

lo<br />

321,<br />

concetteu<br />

p. 325), o Tribunal de SA° Pau-<br />

exclulndo-se, para<br />

a verba,<br />

esse<br />

porque<br />

efeito, a correcao monetaria da propriada mantinha urn a ex-<br />

oferta.<br />

rio de radio.<br />

laborate-<br />

6 — Fora desses casos<br />

STF sempre especials,<br />

Inadimitiu o da aludlda<br />

a Wein-<br />

parcela (RE<br />

TJ 64-7%, e RE 74.458,<br />

/415, ambos<br />

68.052, RTJ<br />

equivocadamente ados pelos in-<br />

atualizacAo desse valor para outu- , p<br />

recorrentes). Nilo<br />

ye<br />

ortanto, coma conceder essa<br />

rba no caso, que nAo guards<br />

vista Conjuntura Econtimica,<br />

p<br />

ntldade ou semelhanca<br />

o pe- Oteses corn as<br />

abrangidas<br />

tit° aplicou urn fator de correcao paradigmas.<br />

nos acOrdAos<br />

— Os honorarlos de advogado<br />

ern ser calculados sobre<br />

ca entre a<br />

a dife-<br />

oferta e a indeniza-<br />

, ambas atuallzadas, mediante<br />

ces de correcao monetaria,<br />

soante resulta do art. 27, I<br />

Dec.-lei 3.365/41. Essa<br />

rispructencia pacifica<br />

alias,<br />

Tribunal Federal.<br />

do Suprentra<br />

r outro lad% essa verba nAo<br />

fun<br />

ucu dament° no principlo<br />

mbéncia, mas no proprlo<br />

eito que assegura a justa indecAo.<br />

A taxa de dez por cento<br />

ofende, portanto, o direito fe-<br />

CPC. PC.<br />

inaplicavel o art. 20<br />

NAo ha discrepancia corn o<br />

411


412<br />

(RTJ 54/145), pots esta !leo cuidou<br />

de desapropriacào, mas da taxa de<br />

recuPeracAo econOmica de Minas<br />

Gerais. Quanto ao RE 59.262 (RTJ<br />

52/175), não foi decidida questa)<br />

pertinente a taxa dos honorArios de<br />

advogado ; a referenda a esta s6<br />

surgiu nas instAncias precedentes.<br />

9 — Pelo nAo conhecimento.<br />

Brasilia , 14 de agosto de 1979 —<br />

Moacir Antonio Machado R.T.J. — 94<br />

2.5 — Inexistindcr, assim, razees<br />

que me autorizem _ a dissentir do<br />

laudo do perito, impartial e eqiiidistante<br />

dos interesses das partes,<br />

adoto-o integralmente e estabeleco<br />

a indenizacão em Cr1 695.428,00')<br />

(f.152).<br />

NAo se pode dizer, portanto, que<br />

tenha sido violado o art7 o<br />

Decreto-lei 3.365, de 21.6.41, . 2 pods<br />

da Silva,<br />

apreciou o laudo e o acolheu sem<br />

violar o criterio do valor venal do<br />

Procurador da RepUblica." ( Its. imOvel, repelindo, apenas, o que Me<br />

pareceu ser uma especulacAo imobi-<br />

307-310).<br />

o relaterio.<br />

liAria.<br />

A questa), a<br />

zacao de prova, mas de reexam e, co-<br />

VOTO<br />

mo bem observ a o parecer da douta<br />

Procuradoria-Geral da Reptblica.<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra (Relator):<br />

— A Sentenca de primeiro<br />

(1. 308).<br />

grau assim fundamenta o valor fixa- Quanto a taxa para reemprego<br />

() a tem admitido a jurisdo<br />

do:<br />

capital,<br />

prudencia<br />

nä<br />

desta Corte, salvo em ca-<br />

2.2 — Enquanto a oferta e de CI'S<br />

dos com ial nalienabilidade,<br />

sos especiissimos, imOveiou s gI rava-Abri-<br />

307.000,00 (f. 3) • o perlto atribuiu<br />

ao imOvel o valor de Cr y 695.428,00cas sofisticadas, e assim decidimos<br />

no RE 92.035 — 8 — RJ, de que fui<br />

(f. 78), o assistente tecnico do ex- relator e em que salientei:<br />

propriante , Cr1 529.050,00 (f. 134) e<br />

t tecnico do exproPria- «Subsiste, assim, apenas a prefrais<br />

de<br />

do, Cr; 1.127.479,00 (f. 143). tensao de<br />

reemploi , o que foi admitido, certa<br />

vez, pelo eminente Ministro Eloy<br />

daRocha, ern se tratando de linevel<br />

clausulado corn inalienab ilidade<br />

— RE 83.871 — RJ e inadmitido<br />

por outra, pelo ilustre e saudoso<br />

Ministro Rodrigues Mckmin — RE<br />

n? 85.209 — RJ.<br />

Neste Ultimo sentido, por igual, o<br />

acOrdeo relatado pelo eminente<br />

Ministro Ban Pinto — RE 86.607 —<br />

RJ — RTJ 82/593.<br />

Traz a colaca) o recorrente o<br />

acOrdAo do RE 64.237 — GB, que<br />

admitiu a concessAo de verba para<br />

reposicAo de despesas corn aquisino<br />

de outro ImOvel (relator ssim, nä() e de valori-<br />

2.3 — 0 laudo do perito foi elaborado<br />

cuidadosamente, corn obser-<br />

Seta dos criterios usuais, nAo havendo<br />

sido apontados pelos assistentes<br />

tecnicos, em seus laudos<br />

criticos, elementos capaze<br />

eminente<br />

Min. AmaralSantos) RTJ<br />

53/164, em se tratando de «uma<br />

imensa inclUstria».<br />

s de levar<br />

o Juizo a rejeitar o dito laudo.<br />

2.4 — Corn efeito, nem hA como se<br />

acolheram, numa avaliaceo judicial,<br />

elementos fundados exclusiv a<br />

-mente na especulano imobiliaria,<br />

capazes de distorter o valor de urn<br />

imOvel e limites incomPreensiveis.<br />

No caso vertente, se se atentar para<br />

a circunstAncia de que, corn a<br />

maior facilidade, o assistente tecnico<br />

do exproPriado encontrou para<br />

urn terreno de vila, na rua Frei<br />

Caneca o valor de quase um milhAo<br />

de cruzeiros, bem de ver-se a<br />

inaceitabilidade desse laudo.


Entretanto, esta Turma, sendo<br />

relator o eminente Ministro Djaci<br />

FalcAo, decidiu:<br />

oDesc<br />

nada a<br />

abimento de verba desti-<br />

despesas corn a aquisicão<br />

de outro ImOvel. In casu, trata-se<br />

de simples terreno urban, sem<br />

edificacAo, enquanto<br />

trazidos a<br />

nos casos<br />

confronto<br />

ratOrio e<br />

havia labo-<br />

grande lndustria instalados<br />

nos prêdlos expropriados.<br />

Inoc<br />

pr orrencia de dissidio juris-<br />

udencial, Stuntsla 291.»<br />

De quanto exposto, resulta claro<br />

o acerto do p arecer da douta Procuradoria-Geral<br />

da Republica. A<br />

<strong>jurisprudencia</strong> desta Corte nAo admite<br />

a concessào de verba para fazer<br />

face a aquisicao de novo im6vel,<br />

porque tal ciao é previsto em<br />

lei, e porque o expropriado pode<br />

dar a ind enizacao o destlno que<br />

melhor the convier.» (Bs. 4-5).<br />

Finalmente, os honorarios foram<br />

fixados em justos limites na forma<br />

da JiwispruclAncia do Su premo Tribunal<br />

Federal. A tese da cornpatibi-<br />

Made dos juros compe nsatOrlos corn<br />

os moratorios nAo fol objeto do recurso<br />

extraordinazio.<br />

R.T.J. — 94<br />

413<br />

Assim, de acordo corn o parecer,<br />

que bem repeliu o dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l<br />

in vocado, corn base no art.<br />

305 do RI e SOmula 291 nAo conheco<br />

do recur<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 91.320 — RJ — Rel.: Min. Cordeiro<br />

Guerra. Recte.: Antanio Pi-<br />

Souza<br />

nheiro e sua mulher (Adv.: Paulo de<br />

An<br />

Municipal<br />

drade). Recda.: Prefeitura<br />

do Rio de<br />

Se Janeiro (Adv.<br />

ra).<br />

bastiao Luiz de Andrade Figuei-<br />

D<br />

me. ecisào: Nao conhecido. UnAni-<br />

Preside:Ida do<br />

Falcão.<br />

Sr.<br />

Pr Ministro Thad<br />

Ministro C<br />

esentes a Sessào os Srs.<br />

Miranda. Ausente,<br />

ordeiro Guerra e Decio<br />

justificadamente,<br />

o Sr. Ministro Moreira Alves. Licenbreu.ciado,<br />

o Sr. Ministro LeitAo de A-<br />

Subprocur<br />

p ador-Geral da Re-<br />

Ublica, o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 21 de marco de 1980 —<br />

Hello F<br />

tart°. rancisco de Marques, Secre-<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO bit 91.323 — RJ<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Leitao de Abreu.<br />

Recorrente: Estado do Rio de Janeiro —<br />

Recorrido: Antonio Rodrigues.<br />

Process° de e<br />

vedor nem bens arrestaveis,<br />

xecucao. Citacao. Acaso nAo<br />

seu encontrados cba nem o de-<br />

por ed1tal. Suspende-se mamento a juts° pode zacito do dev<br />

ser felt°<br />

r.<br />

a execucao ap6s esgotados edo Recurs° extraordintirio os meios na<br />

conhecido e provido.<br />

ACORDAO<br />

de julgamentos e notas taquigrAfi-<br />

Visto<br />

cas, em conhecer do recurso e<br />

autos, s,<br />

a ata<br />

relatados e discutidos estes<br />

acord<br />

prove-lo, am os<br />

por<br />

Ministros da Seunanimidade<br />

de votos.<br />

gunda Turma do Supremo Tribunal Tod Brasilia, 27 de malo de 1980. —<br />

Federal, na conformidade corn<br />

Presidente — Le.<br />

de Abreu, Relator.


414<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Mirdstro Leta° de Abreu:<br />

Em execueao fiscal, nan localizad o o<br />

devedor, nem bens que arrestar, o<br />

edictal assim certificou, devolvendo 0<br />

mandado. Em face da certidão negativa,<br />

o juiz suspendeu a execucao.<br />

Agravou o Estado-credor, porem foi<br />

mantida a decisao, verbts:<br />

«A citacao ficta, em proces so de<br />

execueao, somente tem cabida se<br />

garantido ja estiver o Juizo, com a<br />

constricao de bens. Nao tendo sido<br />

Gesso<br />

possivel a loca c d devedor<br />

posta pela lei (CPC, art. 652). Nao<br />

ou de bens para 1 serem arrestados,<br />

encontrado este, nem existindo<br />

a suspensao da execueao e o anico bens para serem arrestados (CPC,<br />

art. 653), nada imede seja o exe-<br />

camnho a ser palmilhado, nos termos<br />

i cutado citado par<br />

da lei processual civil em vi-<br />

p edital, por isso<br />

gor e da coiosa rudencia<br />

qe «aplicam-se subsidiariamente<br />

em<br />

de nossosja Tribunals,ju ispr especialan execucao as disposicOe s que redo<br />

Tribunal Federal de Recurso s e gem o processo de conhecimento'<br />

doSupremo Tribunal Federal » (f . (CPC, art. 58). E tendo em vista a<br />

regra do artigo 617 do COdigo de<br />

16).<br />

Processo Civil, segue-se a necessi-<br />

Tendo por certa a decisao agrava- dade de ser feita a citacao, para o<br />

da, o<br />

, por maioria de votos,<br />

a man acardao<br />

fim de ser interrompida a prescri-<br />

teve, sob estes fundamentos: no (C6digo de Processo Civil, art.<br />

«A nova lei processual civil esta- 219 e seus paregrafos, especialbelece<br />

nos seus artigos 653 e 654 do mente o $ 4?).<br />

C6digo de Processo Civil a condi- «Ap6s a citacao por edital, nao<br />

cao para a citacao edital de deve- vindo o executado aos autos e per-<br />

dor etado, que outra nap<br />

e se- sistindo a inexistencia de bens panao<br />

a xecu do arrest° de seus bens, que,<br />

no executivo fiscal regulado ante- ra penhora, entao e de se aplicar a<br />

regra do artigo 791, III, do C6digo<br />

riormente pelo Decreto n? 960/38, de Processo Civil» ( f.<br />

era denominado de seqiiesto.<br />

33).<br />

Opinou a Procuradoria-Geral da<br />

«Se a hipatese nal) foi o devedor<br />

zado, caberia segurar-se pri-<br />

Republica, em parecer do Procura-<br />

dor Miguel Frauzino Pereira, nestes<br />

metri metro o Juizo para depots requerer<br />

o credor a expedicao dos editais<br />

termos:<br />

«Entre as motives de suspensào<br />

para a citacao ficta.<br />

«Ora, comp se ye da certidao do<br />

da execucao, inclui o artigo 791 do<br />

CPC a hipôtese de nao possuir o<br />

Sr. fical TIM) foam encontrdos<br />

bens O a<br />

peinhoraveisr ao devedor que devedor bens penhoraveis. Por sua<br />

suportassem o arrest o R.T.J. — 94<br />

que justificou o decidid<br />

vez, o artigo 653 determina que,<br />

garantido<br />

da execucao. 0 fato, conseqiiente rnao<br />

sendo encontrado<br />

o devedor, o<br />

official de justica arrestar-lhe-a<br />

mente, imp6e a aplicaeao do distantos bens quanto s bastem para<br />

posto no artigo 791, n? III do C6digarantir a execueao• Efetivado 0<br />

go de Processo Civil, suspendendoarresto, sera o devedor procurado,<br />

se a execucao, coma decidi u e mui-<br />

to bem o douto Juiz a quo (fls. ),<br />

novamente, por tres vezes em dias<br />

o as fls.»<br />

(Fls. 22/23).<br />

Tratando-se de causa de valor inferior<br />

a alcada regimental, o recurso<br />

extraordinkrio subiu porque acolhida<br />

a argilleao de relevancia. Pela letra<br />

a, o recorrente alega negativa de vig'encia<br />

ao artigo 654 do C6digo de<br />

Processo Civil. Pela letra d, aponta<br />

dissidio corn julgado do Tribunal Federal<br />

de Rectirs0S, corn a seguinte<br />

ementa:<br />

«A citaeao do devedor, no pro-<br />

MOO condicao im-


distintos, nao sendo encontrado,<br />

competira ao credor requerer sua<br />

citacão por edital.<br />

«Sustenta o recorrente que a<br />

citacão-edital seria necessaria para<br />

interromper a prescricAo. Sucede<br />

que este efeito somente se opera<br />

pela attack) pessoal, como dispee<br />

expressamente o artigo 174, parkgrafo<br />

tinier), inciso I, do Carligo Tributario<br />

Nacional, adotando Igual<br />

norma do artigo 172, I, do Cadigo<br />

Civil.<br />

«Todayla, existem outros efeitos<br />

da Macao: tornar prevento o julzo,<br />

induzir litispenclancia, fazer litigiosa<br />

a coisa e constitutir em mora<br />

devedor. No processo de execucAo,<br />

ocorre a sujelciao de todos os bens<br />

do devedor, presentes e futuros,<br />

alem dos arrolados no artigo 592 do<br />

CPC. E quando a divida é tributaria,<br />

ha a prevencão da responsabi-<br />

Made dos sucessores e de terceiros,<br />

nas hiptteses dos artigos 129 e<br />

135 do arcligo Tributarlo Nacional.<br />

«Assim, entendemos nAo possa o<br />

juiz recusar a Macao do executado<br />

por edital, soli o /Cufdamento de<br />

nAo terem sido encontrados bens<br />

penhoravels.<br />

«Opinamos por que seta conhecido<br />

e provido o recurso» (Hs. 60/61).<br />

E o relatbrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministry Leith° de Abreu<br />

(Relator): 0 artigo 653 do CPC autoriza<br />

o oficial de Italica, que nao encontrar<br />

o devedor, a arrestar-lhe<br />

taptos bens quantos bastem para garantir,<br />

a execucAo. 0 artigo 654 determina<br />

que, no caso de se realizar o<br />

arresto, o credor, dentro de dez dias,<br />

contados da data em que fol intimado<br />

desse ato, requeira Macao por<br />

edital do devedor. Somente se regula<br />

al a citacAo por edital, na hipatese<br />

de ter havido arresto, de terem sido<br />

encontrados bens sobre os quals pos-<br />

R.T.J. — 94 415<br />

sa recalr esse ato cautelar. Nada autoriza<br />

a inferir, no entanto, que,<br />

tendo sido encontrados bens do devedor,<br />

nAo se havendo, por isso, efetuado<br />

o arresto previsto nesses preceltos<br />

processuais, descaiba a citacAo<br />

edital do devedor nao encontrado. A<br />

citacao do devedor é impreterivel,<br />

em qualquer caso, pena de nulidade<br />

da execucAo (art. 618, H). Ora, na<br />

especie, trata-se de execucAo, de<br />

maneira que deve ela realizar-se, na<br />

hipetese de realizacAo do arresto,<br />

nos termos do artigo 654 do CPC, ou<br />

pelos principlos comuns do processo<br />

de conhecimento, quando esse ato, a<br />

mingua de bens, nao se tiver realizado.<br />

NAo vale alegar que, nä° havendo<br />

bens que arrestar, perderia o objeto<br />

a citacilo, uma vez que dal resulta,<br />

entre outros efeitos, o de evitar<br />

o perecimento do direito. A circunstAncia<br />

de se falar, quer no Cadigo<br />

Civil, artigo 172, I, quer no<br />

C.T.N., artigo 174, paragrafo ante°,<br />

item I, em attacks pessoal, nAo retira<br />

a citactio por edital a eficacia interruptiva.<br />

Isto porque — discorre<br />

Pontes de Miranda — «chegar-se-la<br />

ao absurdo (devido a apressada nota<br />

de Clay's Bevilaqua, adlgo Civil<br />

Comentado, I, 496), de nAo permitir<br />

interrupcAo de prescricAo contra<br />

quem se escondesse (Cadigo de Process°<br />

Civil, arts. 227 e 228 e 1? e<br />

2?), ou fosse desconhecido, ou estivesse<br />

em Lugar incerto, ignorado ou<br />

inacessIvel (C6cligo de Processo Civil,<br />

artigos 231 e 232 e paragrafo OMco).<br />

Corrido — conclui — o tempo<br />

para a publicacAo edital, confirmase<br />

a interrupcAo (Tribunal de ApelacAo<br />

de Minas Gerais, 26 de novembro<br />

de 1937, R.F., 73, 86), devido ao<br />

artigo 219, I?» (Comentatios ao COdip<br />

de Processo Civil, t. III, plgs.<br />

252/253).<br />

A circunstAncia, por outro lado, de<br />

mandar o artigo 791, III, do CPC,<br />

suspender a execucAo quando o devedor<br />

nAo possuir bens penhoravels<br />

nao implica a impossibilidade juricti-


416<br />

ca de se realizar, quando não realizado<br />

o arresto, por nä° se encontrarem<br />

bens sobre os quais recaia, a citacäo<br />

edital do devedor, porque esta<br />

tem por fim estabelecer a relacao<br />

processual e possibilitar, enquanto<br />

(no perecer o direito, pela interrupcäo<br />

do curso do prazo prescriclonal,<br />

que a execucão retome o seu curso,<br />

se forem encontrados bens que o devedor<br />

ja possuia ou que venha a possuir,<br />

ja que, como afirma o parecer<br />

da Procuradoria-Geral da<br />

ca, «no processo de execucdo, ocorre<br />

a sujeicao de todos os bens do devedor,<br />

presentee e futuros”.<br />

Diante do exposto, emprestando<br />

aos artigos 653 e 654, bem como ao<br />

artigo 791, III, do C6digo de Processo<br />

Civil, alcance que refoge ao que<br />

neles se prescreve, o acerdão recorrido<br />

negou vigencia a estes Preceitos<br />

legais. Por isso, achando-se tambem<br />

caracterizado o dissidlo, conhe-<br />

R.T.J. — 94<br />

co do recurso e the dou provimento<br />

para, cassando o acOrdäo recorrido,<br />

determinar se promova a citacdo<br />

edital do devedor.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 91.323 — RJ — Rel.: MM. Leitäo<br />

de Abreu. Recte.: Estado do Rio<br />

de Janeiro (Adva.: Lelia Campos Godinho).<br />

Recdo.: Antonio Rodrigues.<br />

Decisào: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator.<br />

Unanime.<br />

Presidencia do Senhor Ministro<br />

Djaci Faleaf). Presentes a Sessäo os<br />

Senhores Ministros Leak( de Abreu,<br />

Moreira Alves e Decio Miranda. Ausente,<br />

justificadamente, o Senhor<br />

Ministro Cordeiro Guerra. Subprocurador-Geral<br />

da Repablica, o Dr.<br />

Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 27 de maio de 1980 —<br />

Hello Francisco Marques, Secreterio.<br />

RECURSO ExTRAoRDINARIO N? 91.498 — PA<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Thompson Flores,<br />

Recorrente: Democrito Rendeiro de Noronha — Recorrida: Maria de<br />

Lourdes Lobato de Miranda.<br />

Execuciio fundada em contrato particular de honoritrlos de advogado.<br />

H. Reconhecida sua valldade e a prestactio dos servicos nele fixados,<br />

não podem ser reduzldos, sob pretexto de exorbitantes, enquanto<br />

nao contrarie os limites legais.<br />

A reductio a metade do que flcou avencado importou em negacAo<br />

de vigência dos arts. 135, 1.310 e 1.330 do COdigo Civil, permitindo<br />

o acolhimento da irresignacAo.<br />

Recurso conhecido e provido.<br />

ACORDAO<br />

cas por unanimidade de votos, conhecer<br />

do recurso e the dar provimento.<br />

Brasilia, 25 de setembro de 1979. —<br />

Thompson Flores, Presidente e Relator.<br />

Vistos, relatados e disciitidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primetre<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigrefi


RELATORIO<br />

0 Sr. Mintstro Thompson Flores:<br />

Fundado no contrato de honorarios<br />

de advogado firmado entre o recorrente<br />

e a recorrida, ajuizou o primetro<br />

a presente execucao, visando a<br />

cobranca do que ali ficou avencado.<br />

Citada a executada, nao tendo pago,procedeu-sea<br />

penhora.<br />

A tempo ofereceu embargos os<br />

quals foram rejeitados em sentenca<br />

de fls. 53/6.<br />

Apelou a vencida. NAo teve sucesso,<br />

port m, eis que a Egr6gia 1!<br />

Camara Civet, manteve, por maioria<br />

de votos, o veredito apelado, fls.<br />

77/78v.<br />

Fundado no voto vencido que,<br />

considerando exagerados os honorarios<br />

e, por isso, determinou que fossem<br />

fixados em arbitrament°, °pas<br />

a executada embargos infringentes,<br />

os quais, por maioria de votos, resultaram,<br />

em parte, recebidos, para reduzir<br />

os honorarios pedidos a metade.<br />

Dai o recurso extraordinario<br />

manifestado pelo exegGente, fundado<br />

nas tetras a e d da permissao constitucional.<br />

Inadmitido pelo despacho de fls.<br />

127/9, determinei seu processamento,<br />

para melhor exame, provendo o<br />

Ag. 76.525, como tudo consta dos autos<br />

apensados.<br />

Apresentaram, entao, as partes as<br />

razoes de fls. 132/6 e 138/40.<br />

o relatbrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Minnitro Thompson Flores:<br />

(Relator): Conheco do recurso e the<br />

dou provimento para restabelecer a<br />

sentenca, mantida na via da apelacAo.<br />

R.T.J. — 94 417<br />

Todas as instancias deram como<br />

valid° o contrato de honorarios objeto<br />

da execucao, fls. 8/9. Fol ele firmado<br />

por ambas as partes, esta<br />

subscrito por duas testemunhas e<br />

inscrito no Registro Especial de<br />

Titulos e Documentos.<br />

Demais, reconheceram que o exeante<br />

prestou a executada seus servicos<br />

profissionais na nä° de desquite<br />

por ela intentada. Finalmente,<br />

que os bens correspondentes a sua<br />

meacão foram avallados em importancia<br />

que correspondia a 10% do estipulado<br />

no citado contrato.<br />

Certo esbocou a executada que o<br />

assinara, desprevenidamente, usando<br />

o exeq0ente de certo ardil. Todavia,<br />

o pretenso yid° que pudesse invalidar<br />

o contrato (C6cligo Civil, art.<br />

147, II) ficou apenas na insinuactio,<br />

dele nao cuidando a autora de fazer<br />

a minima prova.<br />

Reduzindo a metade a percentual<br />

dos honorarlos nele fixados, quica<br />

porque considerou excessivos, coma<br />

admitira o voto discrepante, ensejador<br />

dos embargos, a toda evidancia<br />

o aresto impugnado denegou<br />

vigencia aos arts. 135, 1.310 e 1.330,<br />

do C6digo Civil, em combinacão com<br />

o art. 89. XXII, e paragrafos Culla)<br />

do art. 100, da Lei n? 4.215/63, todos<br />

invocados na peticao de recurso, fls.<br />

111/20.<br />

Ditos preceitos nao s6 fixam a forma<br />

de ajustar os honorarios de advogado,<br />

bem como sua cobranca, e a<br />

eles se ateve 0 exeqüente.<br />

Demais, consta do contrato, fls,<br />

8/8v:<br />

«... 0 Dr. Democrito Rendeiro de<br />

Noronha esta contratado por dona<br />

Maria de Lourdes Miranda Morelra<br />

para prestar-the servicos profissionals,<br />

como advogado, recebendo,<br />

com essa finalidade, a incumbancia<br />

de promover o desquite da<br />

referida senhora de seu marido, o


918 R.T.J. — 94<br />

Dr. Flevio Guy da Silva Moreira,<br />

desquite esse que podera ser de natureza<br />

litigiosa ou amigavel, ficando,<br />

porem, logo reconhecido que,<br />

desde o inicio do segundo (2?) semestre<br />

do ano de mil novecentos e<br />

setenta e tres (1973), o aludido advogado<br />

vem exercendo suas atividades<br />

profissionais, no sentido de<br />

compor os interesses do casal. Em<br />

decortincia da clausula anterior,<br />

fica o Dr. Democrito Rendeiro de<br />

Noronha obrigado a atuar prof issionalmente<br />

perante o Juizo competente<br />

da Vara da Familia, na defesa<br />

dos direitos da Sr ? Maria de<br />

Lourdes Miranda Moreira, acompanhando<br />

o respectivo feito em todas<br />

as suas fases e incidentes, ate<br />

final da sentence, comprometendose<br />

de entregar a mesma as necessaries<br />

CertidOes, devidamente, averbadas<br />

nos CartOrios competent<br />

tes. Em retribuicâo a todos os services<br />

profissionais neste instrumento<br />

indicados, dona Maria de<br />

Lourdes Miranda Moreira pagara<br />

ao Dr. Democrito Rendeiro de Noronha<br />

a quantia correspondente a<br />

10% (dez por cento) sobre o valor<br />

dos bens que, por force da nä° do<br />

desquite proposta, a ela passarão a<br />

pertencer, podendo dito pagamento<br />

ser feito parceladamente, conforme<br />

entendimento entre os interessados”.<br />

Por Isso, corn acerto se conduzlu a<br />

minoria que participou do julgamento<br />

impugnado, mantendo a sentence,<br />

segundo as lenges declaracOes de votes<br />

de fls. 105/10.<br />

E o meu vote.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 91.498 — PA — Rel. Min.<br />

Thompson Flores. Recte.: Democrito<br />

de Noronha (Adv.: Raimundo F. Puget).<br />

Recda.: Maria de Lourdes Lobato<br />

de Miranda (Advs.: Celso Franco<br />

de Se Santoro, Oswaldo Reis e outro).<br />

Decisão Conhecido e provido, decisae<br />

unimime.<br />

Presidencia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a Sessae<br />

os Senhores Ministros Xavier de<br />

Albuquerque, Cunha Peixoto, Soares<br />

Muftez e Rafael Mayer. — Subprocurador-Geral<br />

da Republica, o Dr.<br />

Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 25 de setembro de 1979. —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secreterio.<br />

RECURSO ExTruaRDINAmo N? 91.562 — MG<br />

(Primelra Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Thompson Flores.<br />

Recorrentes: Grefica Planalto Ltda. e outra — Recorrido: Estado de Minas<br />

Gerais.<br />

Serv1cos de composicao grafica (Feltura e impressáo de notas<br />

flscals, fichas, talOes, cartOes, etc.)<br />

SWeicao, apenas, ao I.S.S.<br />

Apt/cacao (la CuobtItuicito, art. 24, II, C.C. os arts. 8?, f 1?, do<br />

Decreto-let n? 406/68, com as afteracdes Introduzldas pelo Decreto-let<br />

n? 834/69, Tabela, itens X e XXI.<br />

Recurso extraordinftrlo conhecido e provido.


ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Prlmetre<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata do<br />

julgamento e das notas taquigreficas,<br />

por unanimidade de votos, conhecer<br />

do recurso e the dar provimento.<br />

Brasilia, 25 de setembro de 1979. —<br />

Thompson Flores, Presidente e Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores:<br />

Contra o ato do Secreterio da Fazenda<br />

que exlge da parte dos recorrentes<br />

a apresentatho mensal de Guia<br />

de Informatho e Apuratho do I.C.M.<br />

para autorizar a imprestho de documentos<br />

fiscais, antizaram a presente<br />

acAo de mandado de seguranca.<br />

Sustentam que, pelo ramo de atividade<br />

que exercem e cuja executho<br />

detalham, estAo suleitas e, apenas,<br />

ao pagamento do I.S.S., o qual recothem,<br />

e que a exigencia imposta<br />

atenta contra preceitos de lei que<br />

apontam, Segundo aplicatho que flies<br />

tern atribuido os Tribunals.<br />

0 Eg. Tribunal ,de Justice, por<br />

suas Cameras Civets, por maioria de<br />

votos, denegou a seguranca, fls.<br />

51/4. Dai o recurso extraordinerto<br />

manifestado a fls. 57/9, fundado nas<br />

tetras a e d da permisstio Constitucional.<br />

Sustenta contrariedade ao art. 24<br />

da Constituitho e dissidio corn arestos<br />

de outros Tribunals, inclusive<br />

deste.<br />

4. Admitido pelo despacho de fls.<br />

86/7, processou-se corn razOes apenas<br />

do recorrido, fls. 89/101.<br />

E o relatOrlo.<br />

R.T.J. — 94 419<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Thompson Flores<br />

(Relator): Conheco do recurso e the<br />

dou provimento para conceder a seguranca<br />

para o Urn especifico constante<br />

do pedido, pages as custas pelo<br />

requerido na forma da let.<br />

2. Afirmam as recorrentes na intcial<br />

de fls. 2/3:<br />

As impetrantes sAo constituidas<br />

corn a finalidade de explorer o ramo<br />

de tipografia ou gthfica em geral<br />

(does. juntos), prestando servicos<br />

de compositho grefIca, litografia<br />

e fotolitografia, atividades das<br />

artes greficas.<br />

Setts servicos resultam da confectho<br />

de impressos por encomenda<br />

de guias fiscais, cartOes corn<br />

timbre, papel de officio e de carta,<br />

formulerios na maior parte stilettos<br />

a modelos<br />

Na executho de seu trabalho,<br />

utilizam as Impetrantes de papel,<br />

tinta e cola, material essencial no<br />

desempenho da funtho, sendo que<br />

tern os impressos a destinatho de<br />

use exclusivo de cada encomendante,<br />

fato que lhes tira o carater<br />

de mercadoria, uma vez que não<br />

tern circulatho econihnica e<br />

sAo suscetiveis de serem colocados<br />

no mercado consumidor.<br />

Cumpre assinalar que o impresso,<br />

se recusado pelo encomendante,<br />

por urn motivo qualquer,<br />

torna-se imprestevel, dada sua<br />

conditho de personalista.<br />

No entanto, acontece que a Fazenda<br />

Estadual sob o comando do<br />

Impetrado recusa-se terminantemente<br />

a fornecer autorlzacáo para<br />

impressào de documentos flacals,<br />

para os clientes das Impetrantes e<br />

para seu use prOprio, caso se omit=<br />

na apresentatho da Guia de<br />

Informatho e Apuratho Mensal do<br />

I.C.M., ficando as Impetrantes impossibilitadas<br />

de exercerem seu


420 R.T.J. — 94<br />

trabalho e de atenderem a seus<br />

clientes».<br />

E, para desatender sua pretensào,<br />

assim fundamentou o ilustre Relator<br />

seu voto, no que foi acompanhado<br />

pela nobre maloria, fls. 53/4:<br />

«Entendo nao haver ilegalidade<br />

nesta exigencia, autorizada por<br />

disposicao expressa do Regulamento<br />

do ICM, e, sabidamente,<br />

instrumento indispensavel a verif<br />

cacao da verdadeira atividade do<br />

contribuinte. Obrigacao acessOria,<br />

de que nao resulta, necessariamente,<br />

obrigacão de pagar tributo, a<br />

ela nä() pode opor-se o contribuinte,<br />

sob pena de, limitada e impotente,<br />

nao ter a autoridade fazendada<br />

meios de apurar se da atividade<br />

das Impetrantes resulta ou<br />

nao obrigacäo de recolher ICM.<br />

E, quando assim nao fosse, objeto<br />

da impetracáo a fazer cessar<br />

exigencia do pagamento do ICM<br />

sobre as atividades greficas das<br />

Impetrantesp, pretensão generics,<br />

a alcancar todas atividades das<br />

Impetrantes, atuais e futuras. A<br />

concessäo da seguranca, coma requerida,<br />

importaria em verdadeira<br />

ordem in albis, aliviadas as Impetrantes<br />

de obrigagáo tributaria estadual<br />

mesmo quando, comerciantes,<br />

fossem por ela induvidosamente<br />

responsaveis. Cautela que macs<br />

se impeoe a teor dos atos constitutivos<br />

das Impetrantes, a lhes permitir<br />

atividade de comercio, explicita<br />

no contrato da primeira e implicit°<br />

no da segunda.<br />

\ Fora limitado o pedido, a alcancar<br />

determinada atividade, de Pura<br />

prestacdo de servico, seria de<br />

conceder-se a seguranca. Formulanda-o<br />

em carater generic°,<br />

as Impetrantes obrigam-me a<br />

natural cautela, sob pena de exporme<br />

ao risco de dar um perigoso<br />

bill de indenidade, a acobertar, inclusive,<br />

induvidosos atos de corner-<br />

cio. Alias, a avaliacao da verdadeira<br />

atividade das Impetrantes, exigiria,<br />

a rigor, apuracdo em instrucâo<br />

demorada, repelida pela natureza<br />

da medida pleiteada.<br />

Näo acudo, modesto, a orientacao<br />

do STF a respeito, quando entende<br />

que a expressao "composicao<br />

grafica", constante da lista<br />

anexa ao Decreto-lei n? 406, de<br />

1968, agasalha toda atividade grafica<br />

de forma ampla e abrangente.<br />

A propOsito, lembre-se apenas<br />

que, corn o moderno progresso teenolOgico,<br />

pode uma empresa fazer<br />

a composicao grafica, preparando<br />

matrizes, e outra A conseqiiente<br />

impressao de talOes, blocos e ate<br />

livros. Tudo a sugerir que a expressao<br />

se de interpretacao restritiva,<br />

e nao ampliativa, como o fez<br />

o Supremo, sob a pena de, por via<br />

indireta golpear-se competencia<br />

tributeria estaduab).<br />

Com os mesmos pressupostos, todavia,<br />

dissentiram os padrOes ja referidos.<br />

Justifica-se, assim, o conhecimento<br />

da irresignacao.<br />

3. E merece provido e pelos mesmos<br />

fundamentos aduzidos no paradigma,<br />

desta Corte, invocado, RE<br />

84.837-SP e do qual foi Relator.<br />

All afirmei, fls. 68/9:<br />

«A Constituicao, ern seu art. 24,<br />

II, atribui dito imposto ao Municipio,<br />

corn as ressalvas finals<br />

que introduziu.<br />

DispOs o citado art. 8?, § 1?.<br />

«Art. 8?. 0 imposto, de competencia<br />

dos Municipios, sobre servicos<br />

de qualquer natureza, tern<br />

como fato gerador a prestacao,<br />

por empresa ou profissional ante,nomo,<br />

com ou sem estabelecimento<br />

fixo, de servico constante<br />

da lista anexa.<br />

«§ 1?. Os servicos incluidos na<br />

lista ficam sujeitos apenas ao im-


posto previsto neste artigo, alnda<br />

que sua prestacdo envolva fornecimento<br />

de mercadorias».<br />

Adveio o Decreto-lei n? 834/69,<br />

alterando a lista dos servicos, p<strong>revista</strong><br />

no Decreto-lei n? 406/68.<br />

Ela 6 taxativa, ndo tolerando<br />

I.S.S., a nao ser nas hipOteses que<br />

contempla, corn a exclusAo de outras.<br />

Quando o admitia, se fazia expressa,<br />

como sucedia na tabela<br />

primitiva, itens X e XXI, pelo fornecimento<br />

de alimentos e bebidas<br />

e outras mercadorias pelas casas<br />

de diversOes, hotels e hospedarias.<br />

A vigente relacAo Sa ndo introduz<br />

as ressalvas, melhorando a poslcdo<br />

do Municipio (Baleeiro, Direito<br />

TrIbutftrio Brasileiro, Ed. 7,, 1975,<br />

p. 264).<br />

Assim, nos casos de tipografias,<br />

posto que empreguem nos seus servicos<br />

tinta, papel e ingredientes<br />

outros, ficam eles absorvidos corn<br />

a impressdo realizada; perdem o<br />

seu valor comercial, nAo sac) eles<br />

vendidos como bens corpOreos, merecendo,<br />

pots, tributado o servico<br />

prestado, o qual, como 6 expressa<br />

a Let, afasta a incidencia de outros.<br />

NAo vejo, assim, tenham os decisOrios<br />

impugnados denegados vig6ncia<br />

aos preceitos 34 aludidos,<br />

antes, a meu sentir, lhes deram razoAvel<br />

aplicacdo, o que afasta a<br />

possibilidade de conhecimento do<br />

exceptional, SUmula 400, primeira<br />

parte».<br />

No mesmo sentido os demais paradigmas.<br />

E, corn !vats fundamentos<br />

fol proferldo despacho pelo eminente<br />

Ministro MoreIra Alves no Ag. 75.238<br />

de Minas Gerais (DJ 6.4.79, p4g.<br />

2.687).<br />

R.T.J. — 94 421<br />

4. Por Ultimo, tenho como injustificado<br />

o temor do ilustre Relator da<br />

maior amplitude do bill concessOrio.<br />

Cinge-se ele aos termos em que lot<br />

posto no pedido. Ndo precisaria dizëlo,<br />

enquanto a atividade se circunscrever<br />

Aguela por ele descrita e usar<br />

os metodos de que invocou se valer,<br />

os corals, ndo foram contrariados.<br />

Fora dal, manifesto 6 que se os<br />

praticar em extensdo que a tome<br />

passive! do I.C.M., livre Pica ao Fisco<br />

local proceder como dispOe a let<br />

no sentido de resguardar seus interesses<br />

0 que ndo pode, e porque nem a<br />

Constltuicdo, nem a lei o permite, 6<br />

pretender, valendo-se dos meios que<br />

utilizou, prejudicar a atividade Reda<br />

das impetrantes, visando tributd-las<br />

pelos atos 34 referidos. Tributo ao<br />

qual ndo estao sujeitas.<br />

E como voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE. 91.562 — MG — Rel.: Ministro<br />

Thompson Flores. Rectes.: GrAfica<br />

Planalto Ltda. e outra (Adv.: Geraldo<br />

Lucas Gomes). Recdo.: Estado de<br />

Minas Gerais (Adv.: Mauricio Ferreira<br />

de Carvalho).<br />

DecisAo: Conhecido e provido, decisAo<br />

undnime.<br />

PresidAncia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a sessdo<br />

os Senhores Ministros Xavier de<br />

Albuquerque, Cunha Pebcoto, Soares<br />

Muhoz e Rafael Mayer. Subprocurador-Geral<br />

da Reptiblica, o Dr. Francisco<br />

de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 25 de setembro de 1979. —<br />

Antonio Carlos de Awed. Braga,<br />

Secretitrio.


422 R.T.J. — 94<br />

EMBARGOS NO RECURSO EXTRAORDINARIO N? 91.613 (AgFtg) — RJ<br />

(Tribunal Pleno)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Xavier de Albuquerque.<br />

Agravante: Wagner Wolney Magalhães — Agravado: Eustalia Maga-<br />

Alcada regimental para recurso extraordinArio. Prevalece o valor<br />

atribuido A causa e nao impugnado nem retiticado pelo juiz, e<br />

am, o calculado corn base no critério legal adequado. Agravo regimental<br />

nao provido.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal em SessAo<br />

Plenaria, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e notas taquigrAficas,<br />

unanimidade de votos, negar provimento<br />

ao agravo regimental.<br />

Brasilia, 28 de maio de 1980 —<br />

Antonio Neder, Presidente — Xavier<br />

de Albuquerque, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Trata-se de agravo regimental<br />

interposto contra o seguinte<br />

despacho ( f. 416 ):<br />

«Para nao conhecer do recurso<br />

extraordinario, o acOrdão embargado<br />

ateve-se a aplicacao do art.<br />

308, VIII, do Regimento Intern,<br />

na iedacAo resultante da Emends<br />

n? 3, de 1975. Nao havendo<br />

chegado, por isso mesmo, ao exame<br />

do mArito, nao pode o aresto<br />

ter divergido da Stunula 305, que<br />

]he diria respeito.<br />

Quanto a incidAncia da restri-<br />

Ado regimental, considerou o julgado,<br />

segundo a explicitacao contida<br />

naquele que posteriormente<br />

apreciou os embargos declaratdrios,<br />

que deve prevalecer o valor<br />

atribuido a causa e nao impugnado<br />

nem retificado pelo Juiz, e<br />

nao, o calculado corn base no critArio<br />

legal adequado.<br />

Essa orientacao espelha fielmente<br />

a diretriz afinal assentada<br />

pelo Tribunal a prop6sito do tema,<br />

a despeito da vacilacao inicialmente<br />

havida e traduzida em<br />

vários acOrdaos, muitos dos<br />

quais agora invocados pelo embargante<br />

para comprovacao da<br />

divergència em que baseia os<br />

presentes embargos.<br />

Tal divergAncia, todavia, estA<br />

cabalmente superada por jurispruclAncia<br />

mais recente. Precisamente<br />

por isso, foi que o PlenArio<br />

nao conheceu, a 8.6.77, dos embargos<br />

interpostos no RE 83.957,<br />

dos quais fui Relator, e que o fez<br />

sob invocaflo da Stunula 247.<br />

Relativamente a alegacao de<br />

que a restricdo regimental da alcada<br />

tract atinge as Wes de estado,<br />

A manifesto que, conquanto<br />

verdadeira, liar; tem pertinAncia<br />

no caso dos autos, que versa pura<br />

KA° de revisao de pensão alimenticia<br />

decorrente de desquite.<br />

Embora a nä° de alimentos possa,<br />

em certos casos, assumir carater<br />

de agar:, de estado (RE<br />

90.032, RTJ 90/1.070), a indubitàvel<br />

que, na hipetese destes autos,<br />

nao no tem.<br />

Isto posto, inadmito os embargos»<br />

Renova o agravante, longamente,<br />

sua argumentacao no sentido de que<br />

deve prevalecer, relativamente ao<br />

valor da causa, o critério legal, e


nfto a estimativa dada Belo autor,<br />

ainda que nä° impugnada nem retificada<br />

pelo Adz. Diz serem inadequados<br />

ao caso os acerdnos referidos no<br />

despacho agravado.<br />

E o relatOrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque (Relator): 0 agravante<br />

insiste em mat6ria vencida. Embora<br />

tenha havido, efetivamente, certa<br />

hesitacno initial, nossa jurisprudnncia<br />

firmou-se, afinal, no sentido de<br />

que deve prevalecer, para o efeito<br />

da restricäo regimental, o valor atribuido<br />

A causa e nno impugnado nem<br />

retificado pelo juiz, e nno, o calculado<br />

corn base no criterio legal adequado.<br />

E outra nä° e a conclusäo<br />

que se tira do art. 308, inciso VIII, do<br />

Regimento Interno, em sua redacno<br />

posterior A Emenda n? 3, de 1975.<br />

Nego provimento ao agravo regimental.<br />

R.T.J. — 94<br />

EXTRATO DA ATA<br />

ass<br />

RE 91.613 — (AgRg) — Rel. MM.<br />

Xavier de Albuquerque. Agte: Wagner<br />

Wolney Magalhães (Adv.: Jefferson<br />

de Aguiar). — Agda: EustAlia<br />

Magalhnes (Adv.: Antonio Alves<br />

Fernandes).<br />

Decisao: Negou-se provimento ao<br />

agravo regimental. Decisão uniforme.<br />

Presidência do Senhor Ministro<br />

Antonio Neder Presentes a Sessao<br />

os Senhores Ministros Djaci<br />

Thompson Flores, Xavier de Albuquerque,<br />

Lena° de Abreu, Moreira<br />

Alves, Cunha Peixoto, Soares Munoz,<br />

Decio Miranda e Rafael Mayer. —<br />

Ausente, justificadamente, o Sr.<br />

MM. Cordeiro Guerra. Procurador-<br />

Geral da RepOblica, substituto, o Dr.<br />

Francisco de Assts Toledo.<br />

Brasilia, 28 de maio de 1980. —<br />

Alberto Veronese Aguiar. — Secretario.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 91.680 — PR<br />

(Prlmeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Rafael Mayer.<br />

Recorrente: Antbnio Maria Rodrigues — Recorrido: Estado do Parana.<br />

Responsabilidade Civil do Estado. Ato de Juiz. Imunidade Judi-<br />

Execucno desordenada de precatOrla. Alegaclo de excess's de<br />

ezecucilo de ordem manacle do juts, o que estaria subtraido i imunidade<br />

pertinente aos atos tipicamente judicial'', envolvendo a responsabilidade<br />

civil do Estado. Cause que, entretanto, não enfoeou ease<br />

aspecto da responsabilidade, cingindo-se ao equacionamento do ato<br />

de juiz, em sua funetto jurisdicional. Recurso extraordinirio nlio<br />

conheCido.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

jutgamentoS e notas taquigrifcas,<br />

unanimidade, não conhecer do i recurso.<br />

Brasilia. 25 de marco de 1980 —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Rafael Mayer, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Rafael Mayer: A<br />

questAo dlz respeito a responsabilidade<br />

civil do Estado por prejuizos de-


424 — 94<br />

correntes de ato de juiz em sua funcao<br />

jurisdicional. Mais precisamente,<br />

ao cumprimento de carta precat6ria<br />

pelo juiz da Comarca de Loanda,<br />

no Estado do Parana, que determinou<br />

a reintegracao de posse em<br />

favor do Des. Joao Alves da Rocha<br />

Loures, decisao essa posteriormente<br />

reformada em virtude de mandado<br />

de seguranca.<br />

Os fatos se originaram na Comarca<br />

de Apucarana, onde foi proposta<br />

uma acao de manutencao de posse,<br />

sendo o Desembargador Rocha Loures<br />

autor, e reu Querino Pereira dos<br />

Santos, em relacao a 2.475 hectares<br />

de terras, sobre a qual foi concedida<br />

liminar.<br />

_Expedida precatOria para cumprimento<br />

da liminar de manutencao de<br />

posse, foi cumprida em area de que<br />

era possuidor AntOnio Maria Rodrigues,<br />

o qual, irresignado, opts embargos<br />

de tercelro, que foram rejeltados.<br />

InterpOs, entao, mandado de seguranca,<br />

que teve essa solucao:<br />

«Acao de manutencao de posse<br />

julgada procedente. Execucao mediante<br />

precathria. Desvirtuamento<br />

do objeto da mesma. Atingimento<br />

de posse alheia. Mal-Wad° de seguranga.<br />

Concessao pra restabelecimento<br />

do estado anterior do im6vel,<br />

quando em carta precathria de<br />

execucao de manutencao de posse,<br />

referente a derrubada de arvores,<br />

precede-se a reintegracao de posse<br />

em area contendo culturas de algodao<br />

e cereals pertencentes a terceiros,<br />

concede-se a segufanca para<br />

restabelecimento do estado anterior<br />

da posse violada.”<br />

Para ressarcir-se dos prejuizos dal<br />

advindos, AntOnio Maria Rodrigues<br />

ajuizou acao ordinaria de reparacao<br />

de danos contra o Estado. A sentenca<br />

julgou o autor carecedor da acao,<br />

declarando extinto o processo. 0 Tribunal<br />

de Justica a manteve, com estes<br />

fundamentos:<br />

«A sentenca apelada, com acerto,<br />

deu o autor como carecedor da<br />

nao pela aushncia de possibilidade<br />

juridica do pedido. A tese da<br />

responsabilidade do Estado por erro<br />

judiciario nao merece acolhida,<br />

sendo que, excepclonalmente, mesmo<br />

o prOprio juiz somente podera<br />

ser responsabilizado pessoalmente,<br />

conforme estabelece o art. 133 do<br />

COdigo de Processo Civil. Dessa<br />

forma, impossivel, sem que ao menos<br />

tenha sido argilida a falta do<br />

juiz, pretender-se a responsabilidade<br />

direta do Estado.<br />

Mc, ha responsabilidade civil do<br />

Estado pelos prejuizos decorrentes<br />

de atos do juiz, em sua funcao jurisdicional,<br />

consoante tem entendido<br />

o Egrêgio Supremo Tribunal<br />

(RTJ 56/273, 59/782).<br />

Inexlste o ressarcimento de danos<br />

proveniente de atos do Poder<br />

Judiebitrio, porque se trata de um<br />

poder soberano, que goza de<br />

imunidades que nao se enquadram<br />

no regime da responsabilidade por<br />

efeitos de seus atos, quando no<br />

exercicio de sua lunches. Acrescente-se<br />

que as sentencas nao<br />

macs sujeitas a recursos, prevalece<br />

a presuncao de verdade,<br />

que e o trago caracteristico e o<br />

efeito marcante da coisa julgada,<br />

cujo Obice se apresenta intransponivel<br />

para reciamaches. Dai, na<br />

licao de Pedro Lessa:<br />

A irresponsabilidade do Poder<br />

P^blico nesta caso (atos do Poder<br />

Judiciario) 6 um corolario fatal<br />

da autoridade da res indicate.<br />

Ao particular lesado por uma<br />

sentenga judicial s6 poderia ser<br />

facultada a propositura de uma<br />

acao de indenizacao, depots de<br />

haver esgotado todos os recursos<br />

processuais; mas, depots de esgotados<br />

todos esses recursos, a sentenca<br />

a Irretratavel. Reclamar<br />

do Estado uma indenizacao por<br />

essa decisào inalteravel fora ini-


ciar urn novo litigio sobre a questao<br />

ja ultimada por uma sentence<br />

passada em julgado». (In Do<br />

Poder Judiciario, pag. 164).<br />

EntAo, os atos do Poder Judiciario<br />

nao determinam a responsabllidade<br />

do Estado, pelos danos deles<br />

decorrentes.».<br />

Inconformado recorre extraordinariamente,<br />

pelai letras a e d, sustentando<br />

violagAo dos arts. 467 e 468 do<br />

ardigo de Processo Civil, visto que o<br />

acOrclAo atentou contra a coisa julgada,<br />

reconhecendo os danos oriundos<br />

da execucAo desordenada da precatforla<br />

e nAo responsabilizando o Estado<br />

pelos prejuizos; alega, também,<br />

negative de vigencia dos arts. 15 do<br />

cedigo Civil e 107 da ConstituicAo,<br />

«que /IR) ressalvam imunidades ao<br />

Poder Judiciario, pelos danos resultantes<br />

do «desordenado cumprimento<br />

de precatOria». A guisa de<br />

diss1d1o, traz a confronto julgados do<br />

Supremo Tribunal Federal e de outros<br />

<strong>tribunal</strong>s.<br />

Denegado o recurso, por invocacão<br />

do art. 308, VII, do RI/STF, sublu<br />

pelo provimento do Ag. 74.789. Nessa<br />

instAncia, opinou a douta Procured°.<br />

ria pelo conhecimento e provimento.<br />

E o relatforio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator):<br />

Entendo, em principio, de<br />

modo igual ao douto parecer, necessari°<br />

distinguir entre os atos tipicos<br />

do Poder Judiciarlo, consubstanciados<br />

nos seus provimentos e decisbes,<br />

e as execucbes ou atos materials levadas<br />

a efelto pelos agentes, meios e<br />

mottos pertinentes, no amplo espectro<br />

do servico judiciario.<br />

NAo ha dfivida de que, no tocante<br />

Aqueles atos tipicos da jurisdlcAo,<br />

nil° se pode desenvolver a responsebllidade<br />

civil do Estado a partir dos<br />

danos que deles resultem. 0 pensamento<br />

dominante 6 de que em se fra-<br />

R.T.J. 94 425<br />

tando de exercicio de atos de soberania,<br />

a igual da irresponsabilidade do<br />

legislador, /Lao poderia resultar a<br />

responsabilidade de indenizar quem,<br />

sfibito, sofresse prejuizos dal conseqllentes.<br />

Cumprindo ao Juiz aplicar<br />

a lei ao caso, segundo a sua conviccAo<br />

interior, como meio de realizecão<br />

do praprio ordenamento juridic°,<br />

dal não se pode tirar razAo alguma<br />

para reparar os seus efeitos, pois seria<br />

a negacAo dos prOprios principlos.<br />

Poucas sac, as vozes que se obbein<br />

tese, mesmo porque, do contrario,<br />

se comprometeria a Wilda liberdade<br />

interior do ato de julgar.<br />

Este e o entendimento que tem<br />

prevalecido no Supremo Tribunal,<br />

inclusive em memoraveis tomadas<br />

de posicAo pelo Pleno, como se ye<br />

dos acOrdAos proferidos nos RREE<br />

n?s 69.568 e 70.121, em que Relatores,<br />

respectivamente, os eminentes<br />

Ministros Thompson Flores e Djaci<br />

onde restou acentuado que o<br />

Estado não 8 responsavel civllmente<br />

pelos atos do juiz, em sua funcAo jurisdicional,<br />

sera° quando previsto<br />

em lei (in RTJ — 59/782 e 64/689).<br />

Alias, a pretensão de causa 6 de<br />

estabelecer a responsabilidade civil<br />

do Estado, objetivamente fixada em<br />

functio de dano resultante de ato do<br />

Julz, sem que seja imputada ao Juiz<br />

conduta dolosa ou fraudulenta suscetivel<br />

de responsabiliza-lo, de modo<br />

direto e autbnomo, nos termos do<br />

art. 133 do Cédigo de Processo Civil<br />

e art. 49 da Lei OrgAnica da Magistrature<br />

Nacional.<br />

Acena o recurso, certo, para a<br />

hip6tese de que a responsabilidade<br />

do Estado adviria nilo de ato tipico<br />

do Juiz, da emissão de provimento<br />

jurisdicional, mas de desordenada<br />

execucAo de precataria recebida que<br />

danificou a propriedade rural, de um<br />

terceiro na relacAo processual. Em<br />

principlo, merecerla ser cogitada a<br />

distincAo proposta, inquinando de


426<br />

causante do dano nao a sentenca,<br />

mas o fato do servico extrapolando<br />

dos lindes da execucão ou da demanda<br />

corn o que a espCcie se subtrairia<br />

a imunidade dos atos tipicamente judiciais,<br />

envolvendo a responsabilidade<br />

civil do Estado.<br />

Entretando, tal enfoque nao representa<br />

o suporte juridico da causa,<br />

que antes se situa na invalidade da<br />

decisào judicial que destituindo 0<br />

Autor da posse em que fora reintegrado<br />

ofendera a coisa julgada resultante<br />

de concessão de seguranca.<br />

NA° a possivel, pois, tratar, aqui,<br />

desse aspecto da responsabilidade,<br />

mesmo porque o acOrdäo recorrido,<br />

em termos iguais aos da sentenca de<br />

primeiro grau, nao ventilou o tema,<br />

nem foi chamado a fazë-lo em embargos<br />

de declaracao, cingindo-se a<br />

reconhecer que estava sob exame a<br />

prAtica de ato do Juiz, em sua funcAo<br />

jurisdicional, dai resultando a irresponsabilidade<br />

do Estado pelos<br />

prejuizos conseqiientes. Aquele pressuposto<br />

a incontornAvel na instäncia<br />

extraordinAria, e o consectArio da irresponsabilidade<br />

uma necessidade<br />

juridica. Por Isso e que se trancou o<br />

processo, em virtude de carfincla da<br />

acão por impossibilidade juridica do<br />

pedido.<br />

A par de nao haver demonstrado<br />

adequadamente o dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l,<br />

pela tetra d, o recurso nao<br />

tem viabilidade pela tetra a. Corn<br />

efeito, os arts. 467 e 468 do C6digo de<br />

R.T.J. — 94<br />

Processo Civil nao foram questionados<br />

no acOrdão recorrido; e a desaplicacAo<br />

dos arts. 107 da Constituicdo<br />

e 15 do Código Civil nao implicou<br />

ern negar-lhes vigfincia, antes se<br />

lhes deu correta interpretacdo ao excluir<br />

a sua incidëncia quanto aos<br />

atos tipicos do Juiz, na sua funcAo<br />

jurisdicional, eis que nessa qualidade,<br />

como Orgäo da soberania nacional,<br />

nao se subsome na conceituacAo<br />

de funcionArio priblico ou representante<br />

do Estado segundo o pensamento<br />

da norma.<br />

Assim, nao conheco do recurso.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 91.680 — PR — Rel.: Min. Rafael<br />

Mayer. Recte.: Ant6nio Maria<br />

Rodrigues (Advs.: Vicente Souza Junior<br />

e outro). Recdo.: Estado do Paraná<br />

(Advs.: Rubens de Barros Brisolla<br />

e Gaspar Luiz Lacerda Pinto).<br />

DecIsAo: Nao conhecido, decisAo<br />

unAnime. Ausente ocasionalmente o<br />

Ministro Xavier de Albuquerque.<br />

Presidencia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a sessac,<br />

os Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto, Soares Mufioz<br />

e Rafael Mayer. Subprocurador-<br />

Geral da Repfiblica, o Dr. Francisco<br />

de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 25 de marco de 1980 —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

SecretArio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 91.785 — SP<br />

(Segundo Ttuma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra,<br />

Recorrente: UNIBANCO — Untho de Bancos Brasileiros S/A — Recorrido:<br />

Juiz de Direito da 1, Vara da Comarca de Rio Claro.<br />

Dineirsita de services, aceita e endossada. Sustaclio do protesto,<br />

por ato judicial, sem audiência ou intimacão do endossaterio.<br />

A este cabe o recurso a acAo de seguranca para proteger o seu<br />

direito liquido e certo.<br />

RE conhecido e provide.


ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e das notas taquigraficas,<br />

a unanimidade de votos,. em conhecer<br />

e dar provimento ao recurso.<br />

Brasilia, 11 de marco de 1980 —<br />

Djaci Fala°, Presidente — Cordeiro<br />

Guerra, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra:<br />

Trata-se de mandado de seguranca,<br />

impetrado contra ato do Excelentissimo<br />

Senhor Juiz de Direito da<br />

It Vara da Comarca de Rio Claro,<br />

consistente na concessäo de medida<br />

cautelar de sustacan de protesto de<br />

duplicata acelta pelo devedor, figurando<br />

o impetrante como endossatario.<br />

Sustenta este que se trata de<br />

protesto, necessario para assegurar<br />

seu direito de regresso contra o endossador,<br />

o qual clever& a termo legal,<br />

ser tirado em trinta dias, contados<br />

do vencimento.<br />

0 v. acOrdAo recorrido julgou o<br />

impetrante carecedor da seguranca,<br />

por entender que do despacho concessivo<br />

da medida cautelar caberia<br />

agravo, que, nao tendo sido interposto,<br />

acarretou a preclusao da mat°.<br />

ria. fls. 76/77.<br />

Inconformado o endossatario interpas<br />

o recurs() extraordinario sustentando<br />

negativa de vigancia do art.<br />

153, § 21, da Constituictlo Federal,<br />

art. 5?, II, da Lei 1.533, de 31-12-51 e<br />

sifinula 267, invocando o seu direito<br />

liquid° e certo de endossatario de<br />

duplicata acelta e nao ter sido citado<br />

para a aclio nos termos do art. 802<br />

do CPC e dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l,<br />

corn o MS 805, do Tribunal de Justica<br />

de Santa Catarina, assim ementado:<br />

R.T.J. — 94 427<br />

«Mandado de Seguranca. Impetracão<br />

contra despacho judicial da<br />

sustacAo de protesto. Admissibilidade<br />

— RT 469/199.»<br />

0 recurso foi indeferido pelo entendimento<br />

de que o acOrdAo nao entrou<br />

no marito do pedido e, conseMientemente,<br />

incabivel o apelo extraordi-<br />

(lad° coin base no art. 308, III, do<br />

RI.<br />

Dei provimento ao agravo para<br />

melhor exame.<br />

Sustenta o recorrente o cablniento<br />

do mandado, pots o protesto foi por<br />

ele requerido na qualidade de endossatario,<br />

e foi sustado por medida<br />

cautelar requerida pelo emitente devedor,<br />

em acAo movida contra o credor<br />

endossante, sem que ele eidossatario,<br />

tivesse sido citado.<br />

. De modo que a suspensào do protest°<br />

se verificou em processo para o<br />

qual !go fora citado, sendo, pots, estranho<br />

a lide, fls. 102/104.<br />

A, douta Procuradoria-Geral da<br />

RepOblica assim opina:<br />

«1 — A ora recorrente impetrou<br />

seguranca contra ato do MM. Jinx<br />

de Direito da 11 Vara. da Comarca<br />

de Rio Clam, que concedeu medida<br />

cautelar de sustacAo de protesto de<br />

duplicata acelta pelo devedor, em<br />

que a impetrante figura como endossataria.<br />

2 — 0 v. acardAo recorrido julgou<br />

a impetrante carecedora de seguranca,<br />

sob o fundamento de que<br />

a decisAo que deferiu a liminar de<br />

sustacão de protesto era passivel<br />

de recurso.<br />

3 — Sustenta a recorrente, no<br />

apelo extremo, violacAo dos arts.<br />

153, § 21, da Constituicão Federal,<br />

5?, II, da Lei 1.533, de 1951, alen<br />

de divergAncia com a Saimaa 267 e<br />

com decisAo do Tribunal de Justica<br />

de Santa Catarina (RT 469/199).<br />

4 — 0 acifordAo recorrido nao ingressou<br />

no marito do pedido, razão


428 R.T.J. — 94<br />

por que, em face do disposto no<br />

art. 308, III, do Reg. Intern do<br />

STF, s6 teria relevancia, para a<br />

admissibilidade do Recurso Extraordinario,<br />

questa() de ofensa a<br />

Constituicao Federal.<br />

5 — Ao invocar o art. 153, § 21,<br />

da Constituicao, sustenta a recorrente<br />

que nAo poderia recorrer da<br />

decisao que deferiu a medida cautelar,<br />

uma vez que, equhrocadamente,<br />

esta nä° foi requerida contra<br />

si, mas sim contra o sacador.<br />

6 — E certo que a questa() do cabimento<br />

do mandado de seguranca<br />

tem inteira conotacão constitucional.<br />

Trata a hip6tese, portm, de<br />

medida cautelar que, em casos excepcionais,<br />

pode ser determinada<br />

pelo juiz mesmo sem a audiencia<br />

das partes (CP, arts. 796 e segs.).<br />

7 — Por outro lado, a requerente<br />

instrulu o pedido com documentacao<br />

para demonstrar a inexecucAo<br />

dos servicos e o art. 20, § 3? da Lei<br />

5.474, de 18-7-68, exige prova documental<br />

da efetiva prestacao de servicos<br />

para transcricao do instrumento<br />

de protesto.<br />

8 — Dessa forma, nao nos parece<br />

caracterizada a ofensa ao art. 153 §<br />

21 da ConstituicAo, tendo aplicaa),<br />

no caso, a jurisprudAncil correspondente<br />

a SinnuM 400.<br />

9 — Febo nao conhecimento.<br />

Brasilia, 15 de fevereiro de 1980.<br />

— Moacir Antonio Machado da<br />

Silva, Procurador da Reptiblica.»<br />

(fls. 110-112).<br />

E o relat6rio.<br />

VOTO<br />

O Sr. Ministro Cordeiro Guerra<br />

(Relator): — Realmente, dispOe o<br />

art. 308, III, do Regimento Interno,<br />

que sao incabiveis recursos extraordinarios<br />

nos mandados de seguranca,<br />

quando nao julgarem o merit°,<br />

salvo as excecOes do caput do mesmo<br />

art. 308.<br />

Invoca o recorrente violacAo do<br />

art. 153, § 21, da Constituicao Federal,<br />

por the ter sido negada a via do<br />

remklio hereto) para a protecao de<br />

direito liquido e certo seu.<br />

Creio que ha tema constitucional a<br />

justificar o conhecimento do apelo<br />

extraordinario, pois, realmente, tern<br />

a jurisprudAncia desta Corte e de va-<br />

Hos <strong>tribunal</strong>s admitido o cabimento<br />

de mandado de seguranca contra o<br />

ato judicial de suspensao de protestor<br />

cambiais. (RE 89 825 — 5 — SP<br />

— de 26-10-79, de que fui relator) e o<br />

dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l foi evidenciado.<br />

Por outro lado, na espècie, o recorrente<br />

endossatario de duplicata aceita<br />

nao era . parte na relacão processual,<br />

nao foi citado para a medida<br />

cautelar nem para a acAo anulat6ria<br />

do titulo movida pelo emitente contra<br />

o aceltante, de modo que nao poderia<br />

recorrer da concessao da medida<br />

cautelar.<br />

Surpreendido corn a sustacäo do<br />

protesto, legitimo era o apelo ao<br />

mandado de seguranca — art. 153, §<br />

21, da Constituicao Federal e isso the<br />

foi negado sob o pretexto de ser carecedor<br />

do mandamus.<br />

Entretanto, como ensina Pontes de<br />

Miranda: «a sustagao do protesto de<br />

titulo cambial, apresentado pelo endossatario,<br />

corn fundamento na alegacao<br />

de defeito da mercadoria adqulrida<br />

e paga atrasts de cambiais,<br />

nao se justifica nem se legitima, por<br />

nao serem oponiveis ao endossatario<br />

as excecOes pessoals, entre as quals<br />

as derivadas da causa ou neg6cio de<br />

que a cambial foi objeto.» (Tratado<br />

de Direlto Cambial — Nota Prom1ssOria<br />

— H. V? 145, p. 175/6).<br />

Do mesmo modo decidiu o Egrtgio<br />

Tribunal de Justica de Sao Paulo, de<br />

acordo corn a melhor doutrina:


e0 estabelecimento bancArio,<br />

terceiro de boa-ft, que desconta<br />

duplicatas, formalmente revestidas<br />

dos requisitos legais, nada<br />

tern que ver corn a defesa que o devedbr<br />

possa ter corn refertncia<br />

transacAo a que elas se referem.»<br />

(Ap. 55.807 — Rel.: Des. Moura Bittencourt<br />

Rev. Forense, v.<br />

149/311).<br />

E indiferente, a meu ver, a circunstancia<br />

de se tratar na especie,<br />

de duplicata por prestacdo de servicos,<br />

visto que foi ela acelta, tornando<br />

liquida e certa a obrigacAo do pagamento.<br />

De qualquer modo ao terceiro de<br />

boa-ft, endossatario, nAo poderiam<br />

ser opostas as defesas pessoals do<br />

devedor.<br />

A nova lei de duplicatas impee restrigOes<br />

ao credor por servicos que<br />

emite a duplicata, exige que comprove<br />

o vinculo contratual e a efetiva<br />

prestacAo de servicos, para fazer valer<br />

os seus direitos contra o devedor,<br />

portm, se este aceita a duplicata,<br />

evidentemente, reconhece os pressupostos<br />

para a sua emissào e se obriga<br />

pelo pagamento e, em conseqtlencia,<br />

a elas se aplicam as disposicOes<br />

referentes a duplicata mercantil<br />

(art. 20, § 3?, da Lei 5.474, de 18-7-•<br />

68).<br />

NA° creio, ern que pese a grande<br />

autoridade de Cunha Peixoto, que<br />

tats faturas nä° sejam endossAveis<br />

(Comentarios a Lei de Duplicatas, p.<br />

195, 2? ed. Forense), pots a lei dispOe<br />

que se aplicam as mesmas, corn as<br />

adaptacOes cabiveis, as disposicOes<br />

referentes as duplicatas mercantis<br />

(§ 3? do art. 20, primeira parte), e o<br />

endosso nAo 6 incompativel corn a<br />

duplicata de servicos, uma vez<br />

aCefta pelo devedor.<br />

Penso que, para excluir o endosso,<br />

nesses casos, e por esses motivos,<br />

seria necessario norma expressa,<br />

que nAo consta da lei.<br />

R.T.J. — 94 429<br />

Aceita a duplicata, tern o titulo autonomia<br />

e pode ser endossado.<br />

Em conseqiitncia, cabivel o mandado<br />

de seguranca, liquid° e certo 0<br />

direito do endossatArio de duplicata<br />

aceita, a suspensão do protesto, sem<br />

auditncia do endossatArio, terceiro<br />

de boa-ft, em processo para o qual<br />

nAo foi citado, evidentemente, viola<br />

a garantia constitucional do art. 153,<br />

§ 21, da Constituicão Federal e assim,<br />

conheco do recurso e the dou<br />

provimento para conceder o writ.<br />

Afasto a invocacAo feita pela Procuradoria<br />

de Justica, do Obice do<br />

art. 308, VIII, do RI, não so pela excecAo<br />

que reconheco, como por que esta<br />

Corte ja decidiu:<br />

«AO° de mandado de seguran-<br />

Ca. Na interposicão do recurso extraordinArio<br />

6 indiferente o valor a<br />

ela atribuido.» RE 85.434 — SP, relator<br />

eminente Ministro Thompson<br />

Flores — RTJ 85/972.<br />

E o meu voto.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda —<br />

Sr. Presidente, estou de acordo corn<br />

o nobre Relator ate o ponto ern que,<br />

no seu douto voto, considera que o<br />

endossatario, estranho a controversia<br />

estabelecida sobre a sustacAo do<br />

protesto, nAo podia sofrer os efeltos<br />

desta sustacAo.<br />

Portanto, era-lhe facuitado requerer<br />

mandado de seguranca e deste<br />

nAo podia ser considerado careceder.<br />

Reconhecida, de acordo corn este<br />

meu pensamento, a qualidade do requerente<br />

do mandado de seguranca<br />

para a medicia impetrada, a conclusAo<br />

do meu voto 6 no sentido de determinar<br />

que, afastada a cartncla<br />

de acão, o Tribunal julgue, como for<br />

de direito, o merito da impetracAo.


430<br />

RETIFICACAO DO VOTO<br />

0 Ministro Cordeiro Guerra (Relator):<br />

Senhor Presidente, acolhendo<br />

as lucidas e oportunas consideracties<br />

do eminente Ministro Decio Miranda,<br />

retifico meu voto, acompanhando<br />

a conclusho do voto de S. Exa.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 91.785 — SP — Rel.: Min. Cordeiro<br />

Guerra. Recte.: UNIBANCO —<br />

Unido de Bancos Brasileiros S,"A<br />

(Advs.: Lourival Dantas e outros).<br />

Recdo.: Juiz de Direito da Primeira<br />

Vara da Comarca de Rio Claro.<br />

R.T.J. — 94<br />

Decisào: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator.<br />

Unanime.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

Falcdo. — Presentes a Sessão os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves e Decio Miranda. Licenciado,<br />

o Sr. Ministro Leitâo de Abreu.<br />

Subprocurador-Geral da Reptiblica,<br />

o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 11 de marco de 1980. —<br />

Hello Francisco Marques, Secretario.<br />

FtECURSO EXTRAORDINARIO N? 91.857 — SP<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Xavier de Albuquerque.<br />

Recorrente: Nelson Sigoli — Recorrido: Juiz de Direito da Segunda Vara<br />

Distrital do Ipiranga.<br />

Recurso extraordinário interposto de decisäo proferida em mandado<br />

de seguranca impetrado contra ato judicial praticado em acfto<br />

de despejo. Embora nfto dda o inciso III, por ter havido julgamento<br />

de mêrito, inc de o inciso V do art. 308 do Regimento Intertio. Recur-<br />

so nil° conhecido.<br />

ACORDAO<br />

Vistas, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Frimeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, de conformidade corn a ata<br />

de julgamentos e notas taquigraficas<br />

a unanimidade de votos, nä° conhecer<br />

do recurso.<br />

Brasilia, 3 de junho de 1980<br />

Thompson Flores, Presidente<br />

Xavier de Albuquerque, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Trata-se de mandado<br />

de seguranca impetrado contra ato<br />

judicial praticado em acao de despe-<br />

Denegada a seguranca, recorreu<br />

extraordinariamente o impetrante e<br />

teve admitido seu recurso.<br />

A Procuradoria-Geral da RepObIlea<br />

opinou pelo LIM) conhecimento,<br />

examinando cumpridamente a mattria<br />

discutida.<br />

E o relatOrio preliminar, que coinplementarei,<br />

se necessario.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque (Relator): No RECr<br />

89.996, julgado a 17.8.79 e interposto<br />

de decisao que concedera habeas<br />

corpus para trancar acdo penal por<br />

crime compreendido na restricao do<br />

inciso I, do art. 308 do Regimento Interno,<br />

o Plenario decidiu que tinha


aplicacAo o referido preceito regimental,<br />

embora nAo a tivesse o inciso<br />

II do mesmo artigo, especificamente<br />

referido as decis6es proferidas<br />

em processos de habeas corpus.<br />

Parece-me que o mesmo entendimento<br />

tem adequacAo ao caso destes<br />

autos.<br />

Aqui, o mandado de seguranva foi<br />

julgado pelo merit°, nAo incidindo,<br />

portanto, 0 Inciso III do referido art.<br />

308 do Regiment° Interno. Sucede<br />

que a impetracão visou ato judicial<br />

praticado em acao de despejo, fazendo<br />

as vezes de recurso contra o dito<br />

ato, o que faz incidir o inciso V do<br />

dispositivo jA mencionado.<br />

0 recorrente nAo alegou ofensa<br />

Constituiciio, nem suscitou argiiicäo<br />

de relevAncia da questa() <strong>federal</strong>.<br />

Isto posto, dou por caracterizado o<br />

impedimenta regimental e nAo co-<br />

R.T.J. — 94 431<br />

nheco preliminarmente, do recurso<br />

extraordinArio.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 91.857 — SP — Rel.: Min. Xavier<br />

de Albuquerque. Recte.: Nelson<br />

Sigoli (Adv.: Aguinaldo Ranieri de<br />

Almeida). Recdo.: Juiz de Direlto da<br />

Segunda Vara Distrital do Ipiranga.<br />

Preliminarmente nAo conheceram<br />

do recurso. UnAnime.<br />

PresidAncia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a SessAo<br />

os Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto, Soares Munoz<br />

e Rafael Mayer. — Subprocurador-Geral<br />

da Reptiblica, o Dr. Francisco<br />

de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 3 de junho de 1980. —<br />

Mid° Carlos Dayrell Secretario.<br />

FtECURSO EXTRAORDINARIO N? 91.948 - RJ<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra.<br />

Recorrente • J Thompson Publicidade Ltda. — Recorrido: Estado do Rio<br />

de Janeiro.<br />

Imposto sabre senlcos. LeglslacAo local que distlngue os<br />

cos de servi-<br />

relactles Mikes e pesquisa de mercado dos de propaganda e<br />

publIchlade, flxando aliquotas diversas pare cads atividade. thesistends<br />

de ofensa ao Wreak <strong>federal</strong>. AplicaMlo .291.<br />

das Silmulas 280, 400 e<br />

RE nAo conhecldo.<br />

ACORDAO<br />

Visto% relatados e discutidos estes<br />

autos, atordam os Ministros da Segunda<br />

Ttirma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e das notas taquigrAficas,<br />

a unanimidade de votos, em nAo<br />

conhecer do recurso.<br />

Brasilia, 21 de mare° de 1980. —<br />

Djacl FSICAO, Presidente — Cordeiro<br />

Guerra, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra: A<br />

recorrente impetrou seguranca, porque,<br />

autuada por infracAo do art. 75<br />

da Lei 1.165/65, na consideracão de<br />

ter recolhido a menos o imposto devido<br />

por servivos de relacees Obitcas,<br />

pesquisa de mercado e preparecAo<br />

de anfmcios, no periodo de 1? de<br />

Janeiro de 1967 a 31 de junho de 1969,<br />

considerou Indevida a aliquota de


432<br />

R.T.J. — 94<br />

5%, sustentando a incidencia da<br />

aliquota de 0,5% sobre as suas atividades<br />

de empresa de propaganda e<br />

as acima mencionadas.<br />

E isto porque, o referido artigo 75<br />

estabelece que o ISS e devido pela<br />

pessoa juridica ou profissional autOnorna<br />

que exerca qualquer das atividades<br />

referidas no artigo anterior.<br />

Sustenta a recorrente, que suas<br />

atividades estao incluidas no inciso<br />

XI do paragrafo Unico do art. 74:<br />

«II - 0 estudo, concepgao, execugap<br />

e distribuicao de propaganda e<br />

a divulgacao da propaganda e publicidade<br />

por quaisquer meios.»<br />

e nä') no inciso XII, como entenderam<br />

as autoridades administrativas:<br />

«XIII - Organizacäo, programageo<br />

planejamento e consultoria<br />

tecnica, financeira ou administrativa,<br />

avaliacao de bens, mercadorias,<br />

riscos ou danos; laboraterios<br />

de analises tecnicas; ou atividades<br />

congeneres ou similares.»<br />

Invoca, em seu prol, a definicao legal<br />

de Empresa de Publicidade - Lei<br />

4.680, de 18 de junho de 1965, e Decreto<br />

57.690, de 1? de fevereiro de<br />

1966•<br />

«... a pessoa juridica especializa-<br />

fixagao de sua aliquota art. 97, III e<br />

IV, do CTN, art. 150, § 2? e § 29, da<br />

CF - e, ainda, o art. 79 da pr6pria<br />

Lei Estadual 1.165, de 13 de dezembro<br />

de 1966, n? 3, que preceitua:<br />

«Empresas de propaganda e<br />

Empresas de Construcao Naval, na<br />

parte relativa a exportacao para o<br />

exterior 0,5%<br />

Argumenta em demonstracao do<br />

acerto de sua tese, que lei estadual<br />

posterior - Decreto-lei 299, de 29.11.69<br />

- desdobrou as atividades das empresas<br />

de publicidade em dois itens, a<br />

partir de 1970:<br />

«5 - Propaganda e publicidade<br />

sobre a remuneracao percebida na<br />

veiculaceo<br />

0,5%<br />

6 - Propaganda e publicidade sobre<br />

os servicos de concepcao, redacao,<br />

producao e veiculacao, esta<br />

Ultima quando efetuada diretamente<br />

2%<br />

Nessa conformidade, conclui, que,<br />

a data da autuacao - 1?.01.67 a 31.7.69<br />

I nenhuma distincao existia de modo<br />

a autorizar a incidencia da aliquota<br />

de 5%, pots a Ordem de Servico E,<br />

de 21 de novembro de 1969, e posterior<br />

a data da autuacao.<br />

A seguranca foi denegada pelo juiz<br />

da na arte e tecnica publicitaria de primeiro grau e confirmada foi a<br />

clue através de especialistas, estu- sentenca por actirclao assim ementada,<br />

concebe, executa e distribui do:<br />

propaganda aos veiculos de divul- «Empresa de propaganda. As<br />

gagão, por ordem e conta dos atividades de relaciies pOblicas,<br />

clientes anunciantes corn o objets- pesquisa de mercados e preparavo<br />

de promover a venda de produ- coo de anancios constituem prestatos<br />

e servicos, difundir ideias ou gees de servico tributadas separainformar<br />

o pilblico a respeito de damente de propaganda e publiciorganizacao<br />

ou instituicOes coloca- dade (lei 1.165, de 1966 e Dec.-lei<br />

das a servico desse mesmo Obit- 406/68); legitimidade do procedico.»<br />

mento fiscal; indeferimento do<br />

mandado de seguranca impetra-<br />

Sustenta que «Relacties POblicas»<br />

são uma forma de publicidade, pots<br />

do.» (fl. 89).<br />

visa «vender» a imagem do cliente. Sao estes os fundamentos da deci-<br />

Assim, insiste em que a decisao sac) recorrida, da lavra do saudoso<br />

irnpugnada violou o principio da de- Desembargador Paulo Alonso:<br />

f inigào legal do fato gerador e o de «


Sofrendo autuacho fiscal e exigido<br />

imposto por aliquota superior,<br />

sustentou a contribuinte que o Imposto<br />

Sobre Servicos seria devido<br />

em funcão do exercicto de suas atividades,<br />

quando o fato gerador 6 a<br />

prestacho de servico de qualquer<br />

natureza; em exame da controversia<br />

formada o Conselho de Contrlbuintes<br />

verificou que a atividade<br />

da recorrente era servicos de relaches<br />

pfiblicas, pesquisa de mercado<br />

e preparacão de antinclos, tributos<br />

pagos pela aliquota de 0,5% e<br />

não a de 5%, como devida, afirmando:<br />

«NA° tern razho a requerente<br />

quando alega que suas atividades<br />

estho enquadradas como<br />

empresa de publicidade, quando,<br />

efetivamente, sua atividade esta<br />

p<strong>revista</strong> no item XIII da lista que<br />

acompanha o Decreto-lei 406/68<br />

item XIII «Organizacho, programacho,<br />

planejamento e consultoria<br />

tecnica, financeira ou administrativa,<br />

avallacOes de bens, mercadorias,<br />

riscos ou danos; laboraterios<br />

de a/Wises tecnicas; atividades<br />

congéneres ou similares.»<br />

Realmente a prestacho de servico<br />

a essa enumerada, mas a impetrante<br />

insiste em que se inclui como<br />

de propaganda, e calculou a<br />

aliquota em 0,50%, sendo, entretanto,<br />

a exata de 5% ( hens 3 e 4 do<br />

art. 79 da lei n? 1.165, de 1966).<br />

Mostra, corn razão, a autoridade<br />

administrativa e engano interpretativo<br />

da apelante, quando situa<br />

suas atividades como tributadas<br />

pelo ISS, e não a prestacho de servico<br />

de que trata a lei dentro de<br />

suas atividades.» Assim 6 que, sob<br />

a aliquota de 0,5% a lei sltuou a<br />

empresa de propaganda em suas<br />

prestaches de servicos referentes e<br />

vinculadas diretamente a propaganda,<br />

eis que esta se diferencia<br />

claramente de «Relaches<br />

POblicass, da «Pesquisa de mercado»,<br />

e da «Preparacho de mauldos»,<br />

prestaches estas tributadas<br />

R.T.J. — 94 433<br />

na aliquota geral de 5%, nos exatos<br />

termos da lei, tal como esclarecem<br />

perfeitamente o art. 74 da lei<br />

1.165/66 (item XI do paragrafo) e<br />

art. 8? do Dec.-let 406/68 no item<br />

XV da lista de servicos que o<br />

acompanha, onde nho se incluem<br />

os servicos que nä() estritamente<br />

de propaganda e publicidade.»<br />

E realca ainda que a lei 2.143, de<br />

22 de novembro de 1972, na llnha<br />

de pensamento do legislador inicial,<br />

veto expressamente a fixar a<br />

aliquota de 5% para «Relaches Phblicas»,<br />

ap6s o desdobramento do<br />

campo da propaganda e publicidade<br />

do Decreto-lei 229/69, que deu a<br />

nova redacão ao art. 79 da let rt?<br />

1.165/66.<br />

Não merece reforma a sentenca<br />

apelada que considerou nä° pathciparem<br />

relaches pUblicas e pesquisa<br />

de mercado da mesma natureza<br />

dos servicos de propaganda e<br />

publicidade, cabendo a apelante<br />

pagar conforme os fatos geradores<br />

reais (fls. 62-3).<br />

Tal como as empresas que nho<br />

se envolvem corn atividades publichat-las,<br />

mas fazem pesquisas de<br />

mercado, relaches pdblicas e preparacho<br />

de antinclos, deveria a<br />

apelante ser tratada, como foi, em<br />

situactto de igualdade.<br />

A pesquisa do mercado e da opi-<br />

Mho pablica e a manipulacão dos<br />

meios de informacho constituem<br />

etapas diversas do proceSso amplo<br />

de comunicacão, cuja rase final, no<br />

caso possibilita a concretizacho da<br />

venda da propaganda ou publicidade,<br />

corn a qual nä° se assemelham.<br />

0 Ministério Paha), em primelra<br />

e segunda instanclas, amparou<br />

o apelado, nos pareceres dados.<br />

A atividade especifica da empresa<br />

nä() determina o percentual do<br />

imposto, mas a natureza das operaches<br />

havidas». (fls. 89-91).


434 R.T.J. — 94<br />

Interposto e indeferido o apelo extraordinArio,<br />

mandei-o processar em<br />

provimento a agravo regimental, para<br />

melhor exame.<br />

A douta Procuradoria-Geral da<br />

RepUbIlea assim opine:<br />

«1 - J. Walter Thompson Publicidade<br />

Ltda. impetrou seguranca para<br />

eximir-se do pagamento de diferenca<br />

de imposto sobre services,<br />

apurada em auto de infracào, alegando,<br />

em suma, que os services<br />

de relacdes pdblIcas e pesquisa de<br />

mercado estAo absorvidos pela atividade<br />

principal de propaganda e<br />

publicidade, de forma que o imposto<br />

deveria ser calculado a aliquota<br />

de 0,5% e nal) a de 5%. Acrescentou<br />

que a distincão entre essas atividades<br />

foi feita em legislacAo posterior<br />

ao period() a que se refere a<br />

autuacAo, nä() podendo, em consesancia,<br />

ter efeito retroativo.<br />

2 - Confirmando decisào de primetro<br />

grau denegat6r18 da seguranca,<br />

o eg. Tribunal de Justice do<br />

Estado concluiu pela legitimidade<br />

da autuacão, porque as atividades<br />

de relacOes pfiblicas e pesquisa de<br />

anfincios sac) distintas da propaganda<br />

e publicidade, justificando<br />

assim a fixacAo de aliquotas diversas<br />

feita na legislacAo local (Lei<br />

Est. 1.165, de 1966, arts. 74, 75 e<br />

79).<br />

3 - Recorre a impetrante, sustentando<br />

ofensa aos arts. 150, 29, da<br />

ConstituicAo Federal, e 97 do CTN,<br />

alem de divergéncia jurisprudential<br />

(RE 79.159, RE 79.753, RMS<br />

65.561 e RDA 114/109).<br />

4 - NA° merece prosperar o recurso.<br />

0 procedimento fiscal<br />

refere-se ao periodo de 1?.01,67 a<br />

31.7.69 e teve por base lei estadual -<br />

anterior (Lei 1.165, de 1966). A alegacäo<br />

da recorrente de que o ac6rdAo<br />

atribui eficacia retrooperante<br />

a Ordem de Service 21, de 10 de novembro<br />

de 1969, e ao Dec.-lei est.<br />

229, de 25.11.69, esta circunscrita<br />

interpretacAo de direito local, que<br />

nAo autoriza o recurso extraordinArio<br />

(SUmula 280).<br />

5 - E certo que o Dec.-lei 406/68<br />

entrou em vigor em 1.1.69, de forma<br />

que teria incidencia em relacAo<br />

ao periodo final a que se refere<br />

a autuacdo (1? de Janeiro a 31 de<br />

julho de 1969). Ocorre, porem, que<br />

o citado Decreto-lei não tornou ineficaz<br />

a distincão feita no direito local,<br />

para efeito de fixacao de<br />

aliquotas diversas, entre os servicos<br />

de propaganda e publiciadade<br />

e os de relay:les pUblicas e pesquisa<br />

de mercado. 0 item XV da Lista<br />

de Services, com efeito, refere-se<br />

estritamente a propaganda e publicidade<br />

e a decisäo recorrida considerou<br />

as demais atividades compreendidas<br />

no item XIII.<br />

6 - Consoante resulta dos textos<br />

legais que regulamentam o<br />

exercicio da profissao de Relacees<br />

Pithfleas (Lei 5.377, de 11-12-67) e<br />

de publicitario (Lei 4.680, de 18-6-<br />

65), essas atividades saes inconfundiveis.<br />

Ora, paralelamente aos<br />

servicos de propaganda e publicidade,<br />

a empresa tambern prestou<br />

services de pesquisa de mercado e<br />

relacees pfiblicas, de forma que o<br />

desdobramento, para efeito de calculo,<br />

de acordo com as aliquotas fixadas<br />

na legislacAo local, resulta<br />

da pr6pria definicäo do fato gerador<br />

do ISS, que 6 a prestacdo de<br />

service e nAo a atividade principal<br />

da empresa<br />

7 - A distincão feita pela decisAo<br />

recorrida entre as atividades em<br />

referencia e, portanto, razoavel<br />

(SUmula 400). A alegacao de ofensa<br />

ao principio da legalidade, por<br />

seu turn, encontra o obstAculo da<br />

SUmula 280, uma vez que a decisAo<br />

recorrida entendeu que a legislacäo<br />

local, anterior ao periodo a que<br />

se refere a autuaflo, distinguira os<br />

services prestados pela recorrida,<br />

fixando aliquotas diversas


8 - Pelo nao conhecimento.”(Fls.<br />

136-138)<br />

E o related°.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra<br />

(Relator): Inexiste violacAo ao<br />

principio da legalidade - art. 97 do<br />

CTN, art. 150, 1?, e 29 da ConstituicAo<br />

Federal, e isto porque a autuacAo<br />

impugnada e a aliquota imposta<br />

se encontram perfeitamente definidas<br />

na let preexistente (Lei 1.165, de<br />

13.12.66) A autuagAo - por infracOes<br />

abrangidas no periodo de 1? de Janeiro<br />

de 1967 a 31 de julho de 1969.<br />

0 v. acerdAo recorrido distinguiu:<br />

«NA° merece reforma a sentenca<br />

apelada que considerou rib) participarem<br />

relagOes pUblicas e pesguise<br />

de mercado da mesma natureza<br />

dos servigos de propaganda e<br />

publicidade, cabendo a apelante<br />

pagar conforme os f atos geradores<br />

reels<br />

Tal como as empresas que nAo<br />

se envolvem corn atividades publicitArlas<br />

mas fazem pesquisas de<br />

mercado, relagOes pUblicas e preparaglo<br />

de anCincios, deveria a<br />

apelante ser tratada, como foi, em<br />

situagAo de igualdade.<br />

A pesquisa de mercado e da °pinta°<br />

publics e a manipulagAo dos<br />

meios de informagão constituem<br />

etapas diversas do process° amplo<br />

de comunicacAo, cW a Ease final, no<br />

caso, possibilita a concretizagAo da<br />

venda de propaganda ou publicidade,<br />

com a qual nAo se assemelham.»<br />

(f. 90).<br />

Assim decidindo, nao descaracterizou<br />

a definicão de lei <strong>federal</strong> do que<br />

seja empresa de publicidade, pots<br />

estas se caracterizam pelo estudo,<br />

concepgAo, execucAo e distribuicão<br />

de propaganda aos veiculos de<br />

divulgactio - Lei 4.680, de 18.6.65.<br />

R.T.J. — 94 435<br />

Ora, o acerdAo nä° negou essa definicAo,<br />

o que entendeu 6 que relacOes<br />

pUblicas e pesquisas tecnicas de<br />

mercado, nao se compreendem nas<br />

atividades especificas das empresas<br />

de publicidade, tanto que, por outras,<br />

podem ser realizadas.<br />

Assim decidindo, aplicou a aliquota<br />

de 5%, p<strong>revista</strong> na let, sem prejuizo<br />

da aliquota de 0,5%, que foi imposts,<br />

nos atos preprios de empresa<br />

de publicidade.<br />

NA° se argumente, com o preeedente<br />

relativo a processamento de<br />

dados e programacAo, no campo eletn5nico,<br />

pots o primeiro 6 integrante<br />

do processo eletrOnico, que nao pode<br />

se realizar sem a previa programacAo<br />

dos dados.<br />

Na publicidade nAo, esta pode ser<br />

feita sem relacOes publicas ou pesguises<br />

de mercado.<br />

Como bem observe o parecer da<br />

douta Procuradoria-Geral da Repftblica,<br />

a legislacão posterior, local e<br />

<strong>federal</strong>, nao veio a crier novas formas<br />

de incidencia, mas apenas aclarar<br />

chlvidas dos contribuintes, que se<br />

insurgiam contra a aplicagão das<br />

leis preexistentes, tal como nelas se<br />

preceituava.<br />

Dal o acerto de sua conclusAo:<br />

«paralelamente aos servicos de<br />

propaganda e publicidade, a empresa<br />

prestou services de pesquisa<br />

de mercado e relacOes ptiblicas, de<br />

forma que o desdobramento, para<br />

efelto de cAlculo, de acordo corn<br />

aliquotas flxadas na legislacão local,<br />

resulta da propria definicão do<br />

fato gerador do ISS, que e a preen<br />

tagAo de servigo e nAo a atividadb'<br />

principal da empresa.<br />

A distincAo feita pela decisAo recorrida<br />

entre as atividades em referencia<br />

6, portanto, razoável<br />

(SOmula 400).<br />

A alegacAo de ofensa ao<br />

principio da legalidade, por seu<br />

turno, encontra o obstAculo da


436<br />

SUmula 280, uma vez que a descisac)<br />

recorrida entendeu que a legislack)<br />

local, anterior ao periodo a<br />

que se ref ere a autuacão, distinguira<br />

os servicos prestados pela recorrida,<br />

fixando aliquotas diversas.»<br />

(f. 138).<br />

Acrescento que o dissidlo jurisprudential<br />

invocado, o foi sem o rigor<br />

da Stunula 291.<br />

NAo conheco, pots, do recurso.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 91.948 - RJ - Rel.: MM. Cordeiro<br />

Guerra. Recte.: J. Thompson Pu-<br />

R.T.J. — 94<br />

blicidade Ltda. (Advs.: Rose Mary<br />

Jahel, Ivonne Ventura e outros).<br />

Recdo.: Estado do Rio de Janeiro<br />

(Adv.: Reynaldo de Mattos Reis).<br />

DecisAo: NAo conhecido. UnAnime.<br />

Presidancia do Sr. Ministro Di aci<br />

FaIca°. Presentes A SessAo os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra e Decio<br />

Miranda. Ausente, justificadamente,<br />

o Sr. Ministro Moreira Alves. Licenciado,<br />

o Sr. Ministro Leith() de<br />

Abreu. Subprocurador-Geral da Republica,<br />

o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 21 de marco de 1980. —<br />

Hello -Francisco. Marques, Secretario.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO CRIMINAL 91.996 — GO<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra.<br />

Recorrente: MinisMrio Palalico Estadual — Recorrido: Antonio Pereira<br />

dos Santos.<br />

— Jurt. Quesitos. Reconhecimento da circunstfincia qualificativa<br />

do motivo Mil (art. 121, 2?, II, do CP) e da circunstancla atenuante<br />

gentrica (art. 48, IV, c, segunda parte) ngo importa em contradiclio<br />

a justificar a nulidade do julgamento.<br />

Nilo hit confundlr a atenuante gen0rica mencionada com a causa<br />

especial de diminulcáo da pena do art. 121, 4 1?, do Cedigo Penal.<br />

RE conhecido e provido.<br />

ACORDAO se insurge o Ministerio Pahlico, anu-<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segundo<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e das notas taquigrafi-<br />

°as, A unimidade de votos, em conhecer<br />

e dar provimento ao recurso.<br />

Brasilia, 11 de marco de 1980. —<br />

Wad FalcAo, Presidente — Cordeiro<br />

Guerra, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra: 0<br />

v. acOrcigo recorrido, contra o qual<br />

lou o julgamento pelo juri, como<br />

bem resume a sua ementa:<br />

«Jar! — As respostas afirmativas<br />

aos quesitos relativos ao motivo<br />

futil e a violenta emocAo, por<br />

serem contradit6rias, determinant<br />

a anulacAo do julgamento, nos termos<br />

do art. 564, paragrafo anico,<br />

in fine, do C6digo de Processo Penal.<br />

Apelacao provida.» (fl. 178).<br />

Traz o recorrente, por seu ilustre<br />

Procurador Dr. Geraldo Batista de<br />

Siqueira, os seguintes julgados divergentes:


R.T.J. — 94<br />

«A circunstancia que, pelo art.<br />

121, 1?, do COdigo Penal, pode dar<br />

causa a diminuicao da pena, a de<br />

haver o reu praticado acao delituosa<br />

sob o dorninio de violenta emocao,<br />

logo em seguida a injusta provocacao<br />

da vitima. Nao 6, evidentemente,<br />

o mesmo que haver cometido<br />

o crime sob a influencia de<br />

violenta emocao, provocado por<br />

ato injusto da vitima, conforme o<br />

dispostO no art. 48, IV, c, corn refencia<br />

a atenuante. Respondido pelo<br />

Conselho de Sentenca afirmativamente,<br />

o quesito generic° sobre<br />

at mantes, cumpre aos magistrados<br />

submeter aos jurados as que<br />

the parecem adequadas ao caso, a<br />

tim de que os juizes de fato se manifestem»<br />

(TJSP, 1! Cam., n?<br />

104.143, em 30-3-70 Adriano Marrey,<br />

relator).<br />

Do Tribunal de Justica do Parana,<br />

por sua 2! Cam. Crim. 27/67,<br />

em 27-6-68, Marino Braga, relator,<br />

publica a Revista dos Tribunals<br />

398, p. 331: «Nilo ha incompatibllidade<br />

entre as afirmacdes de quail-<br />

ficadora do motivo futil e da atenuante<br />

de violenta emocao provocada<br />

por ato injusto da vitima, se<br />

esta atenuante nAo foi articulada<br />

ou alegada e sim apenas formulada<br />

em virtude de imposicão legal.»<br />

A Revlsta dos Tribunals, 267, p.<br />

115, traz outro elucidativo acerdao,<br />

assim ementado: «N5° ha lncongruencia,<br />

suficiente, Para anular o<br />

julgamento, decorrente do fato de<br />

haverem os jurados dado resposta<br />

afirmativa ao quesito correspondente<br />

ao motivo KIM e igual resposta<br />

ser dada ao da violenta emoctio.<br />

Esta seria circunstanc ia adstrita<br />

tao-so a aplicacilo da pena, da<br />

alcada exclusiva da presidencia do<br />

Art, sem qualquer repercusstio na<br />

essencia do julgamento » (Ac. da 3!<br />

Cam. Cr1m. do TJ de Sao Paulo,<br />

em 5-4-57, na Apelacão 52.216, rel.<br />

Des. Vasconcellos Leme)». f. 182.<br />

437<br />

Bern como o acOrdao do STF no<br />

RHC 54.123 — ES, relatado pelo emlnente<br />

Ministro Eloy da Rocha, ern<br />

que se decidiu:<br />

«Nao ocorreu a argilida contradiolio<br />

nas respostas aos quesitos.<br />

Foram reconhecidas as circunstancias<br />

qualificativas dos incisos I<br />

e IV do 2? do art. 121 do COdigo<br />

Penal, e a atenuante do art. 48, IV,<br />

c, esta inconfundivel corn a diminuicao<br />

de pena, do 4 L 1° do art.<br />

121.»<br />

RTJ 78-124.<br />

A douta Procuradorla-Geral da<br />

Repdblica, por seu ilustre<br />

SubprocUrador-Geral Dr. Francisco<br />

de Assis Toledo, assim mina:<br />

«1 — 0 E Tribunal de Justica de<br />

Goifts, acolhendo preliminar suscitada<br />

em recurso da defesa, anulou<br />

julgamento pelo jar', em acOrdao<br />

assim ementado:<br />

«Jfiri. As respostas afirmativas<br />

aos quesitos relativos ao motivo fttil<br />

e a violenta emocão, por serem<br />

contraditOrlas, determinam a anulava°<br />

do julgamento, nos termos<br />

do art. 564, paragrafo unico, in<br />

fine, do COdigo de Processo Penal.<br />

Apelacao provida.» (f. 178).<br />

2 — inconformado, recorreu o<br />

Ministerio PUblico do Estado, por<br />

seu ilustre Procurador, Dr. Geraldo<br />

Batista de Siqueira, corn apoio<br />

nas letras a e d do permissivo<br />

constitucional. Aponta-se como<br />

inobservada a norma do art. 563 do<br />

CPP e inclicam-se varios arestos<br />

divergentes.<br />

3 — Em relactio a tetra a, am<br />

vemos como se possa admitir o<br />

apelo, por faltar-The o requisito do<br />

prequestionamento (Samulas 202 e<br />

358). Niko obstante, parece-nos<br />

comprovado o dissidio corn o ac6rd5o<br />

do Tribunal de Justica do Parank<br />

trazido A colacAo (1. 183), pots<br />

nele se afirma tese diametraimente<br />

oposta a da decislio recorrida.


438 R.T.J. — 94<br />

Passemos, pots, ao mCrito.<br />

4 — A circunstancia qualificativa<br />

do «motivo pode, segundo<br />

pensamos, coexistir perfeitamente<br />

com a atenuante da violenta emo-<br />

Não vat contra a experiéncia<br />

da vida cotidiana o deparar-se alguCm<br />

corn individuos, portadores<br />

de uma sensibilidade a for da pele,<br />

que se deixam inflamar por raz6es<br />

verdadeiramente insignificantes,<br />

colocando-se na situacdo do<br />

art. 48, IV, c, do CP. E se, no impulso,<br />

cometem o crime, podem,<br />

concomitantemente, estar agindo<br />

por motivo Mtn.<br />

5 — Tomemos este °Vico de Anibal<br />

Bruno, para demonstracdo do<br />

que acima flcou dito:<br />

«Motivo Mil 6 aquele pequeno<br />

demais para que na sua<br />

cancia possa parecer capaz de explicar<br />

o crime que dele resulta. 0<br />

que acontece 6 uma desconformidade<br />

revoltante entre a pequeneza<br />

da provocacão e a grave reacdo<br />

criminosa que o sujelto the opOe. A<br />

um leve gracejo de urn companheiro<br />

o agente responde corn uma facada<br />

que o mata; ye uma crianca<br />

colhendo uma laranja no seu quintal<br />

e a abate corn urn tiro. 0 que o<br />

C6digo toma em conta 6 essa estranha<br />

insenslbilidade, esse desprezo<br />

pela vida alheia, que o agente<br />

revels na inconseqiiente motivacdo<br />

do seu comportamento.»<br />

(Crimes contra a pessoa, Ed.<br />

Rio, 3? Ed., p. 78).<br />

Parece-nos Obvio que, se «um leve<br />

gracejo» pode inegavelmente<br />

constituir — muitas vezes de fato,<br />

constltui — provocacdo injusta e<br />

tamb6m causa de, tat) violenta<br />

quanto desproporcionada reacao,<br />

tido ha como negar, em tese, pelo<br />

menos nesse exemplo, a possibilidade<br />

de conjugacdo, no mesmo<br />

comportamento, da futilidade do<br />

motivo corn a influéncia de forte<br />

emocdo provocada por ato injusto<br />

da vitima.<br />

Tudo dependera, em cada caso,<br />

do temperamento do pr6prio agente.<br />

6 — Por todo o exposto, somos<br />

pelo conhecimento e provimento do<br />

recurso para o fim de, afastado o<br />

tinico fundamento acolhido pelo<br />

ac6rddo, determinar-se tenha prosseguimento<br />

o julgamento do recurso<br />

da defesa, quanto as questOes<br />

ainda Tido apreciadas.» (fls. 193 —<br />

195).<br />

E o relat6rio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra<br />

(Relator): Manifesto 6 o dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l<br />

apontado, pelo que, conheco<br />

do recurso para the dar provimento<br />

nos termos do parecer da<br />

Procuradoria-Geral da Reptiblica.<br />

De fato, rid° 6 possivel confundir a<br />

atenuante genCrica do art. 48, IV, c,<br />

do CP — « ter sido o crime praticado<br />

sob influéncia de violenta emocdo,<br />

provocada por ato injusto da vitima,<br />

corn a causa especial de diminuicdo<br />

de pena p<strong>revista</strong> no § 1? do art. 121<br />

do CP; isto e, ter sido o crime praticado<br />

sob o donnnio de violenta emoa),<br />

logo em seguida a injusta pro:<br />

vocacao da vitima.»<br />

Bern o observaram os ilustres<br />

Adriano Marrey e Eloy da Rocha,<br />

nos acerddos trazidos a colagdo.<br />

HA que distinguir as hipOteses de<br />

formulacão simultänea de quesitos,<br />

motivo ftztil e homicidio privilegiado,<br />

e a de indagacdo da atenuante mencionada,<br />

em conseqiiencia da resposta<br />

ao quesito generico obrigatOrio sobre<br />

atenuantes, tal como ocorreu na<br />

espCcie.<br />

Neste caso, ndo ocorre qualquer<br />

contradigdo nas respostas, pots o<br />

juiz indaga, em face da resposta ao<br />

quesito generico, sobre todas as ate-


R.T.J. — 94<br />

nuantes legais, a comecar pela que,<br />

de algum modo, possa ter pertinéncia<br />

a espécie em julgamento, e, corn<br />

freqtiencia ocorre, nAo lograr o juiz<br />

resposta afirmativa, a qualquer das<br />

atenuantes legais.<br />

DA o juri, assim, uma manifestocAo<br />

de benevolencia em relacAo ao<br />

reu, para ser atendida pelo juiz, na<br />

fixacAo da pena, sem que tal resultado<br />

importe em contradlcão ou nulldade<br />

— art. 484, § Unico, III e IV, do<br />

CPP.<br />

Por outro lado, a <strong>jurisprudencia</strong><br />

desta Corte tem admitido a compatibilidade<br />

da causa especial de diminuicAo<br />

de pena — § 1? do art. 121 do<br />

COdigo Penal, corn as circunstAncias<br />

objetivas qualificadoras do homicidio,<br />

e o eminente Professor<br />

Francisco de Assis Toledo, corn brilho,<br />

demonstra a compatibilidade<br />

ate mesmo com o motivo<br />

IncomPativel serAo o reconhecimento<br />

do motivo torpe corn o motivo<br />

de relevante valor social ou moral,<br />

mas, evidentemente, nAo e o caso<br />

dos autos.<br />

439<br />

Em conseqiiencia, como disse de<br />

inicio, conheco do recurs() e the dou<br />

provimento.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RECr 91.996 — GO — Rel.: Min.<br />

Cordeiro Guerra. Recte.: Ministerio<br />

PUblico Estadual. Recdo.: Anthill°<br />

Pereira dos Santos (Advs.: Jose An-<br />

Onto de Carvalho Neto e FAblo de<br />

Resende Carvalho).<br />

DecisAo: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator.<br />

UnAnime.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

FalcAo. — Presentes a SessAo os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves e Decio Miranda. Licenciado,<br />

o Sr. Ministro LeitAo de Abreu. —<br />

Subprocurador-Geral da Republica,<br />

o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 11 de marco de 1980. —<br />

Hello Francisco Marques, Secrethrlo.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 92.000 — SP<br />

(Primelra Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Xavier de Albuquerque.<br />

Recorrente: Prefeitura Municipal de SA° Paulo — Recorrido: Ardellno<br />

Theodoro de Oliveira.<br />

A Lei n? 2.437, de 7-3-55, que reduz pram prescricional.<br />

e aplicitvel as preset-109es em curso na data de sus viands<br />

(1?-1-56), salvo quanto aos processos entlio pendentes ( SOmula 445).<br />

Dissidlo <strong>jurisprudencia</strong>l superado ( &mule 286 ). Recurso extraordi-<br />

nitrio nAo conhecido.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e dlscutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primeira<br />

Turma do Suprenio Tribunal<br />

Federal, de conformidade coin a ata<br />

de julgamentos e notas taquigrAfi-<br />

Brasilia, 27 de junho de 1980.<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Xavier de Albuquerque, Relator.<br />

RELATORIO.<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

cas, a unanimIdade de votos, nAo co- Albuquerque: Trata-se de acão pesnhecer<br />

do recurso.<br />

soal para a qual o reit foi cited° a 20-


440 R.T.J. — 94<br />

5-75. Como se haviam passado mais<br />

de vinte e seis anos desde 4-4-49, que<br />

foi o termo inicial da prescricao, o<br />

acOrdao recorrido deu-a por prescrita.<br />

Considerou que o prazo de vinte<br />

anos, para o qual a prescricao fora<br />

reduzida pela Lei 2.437, de 7-3-55,<br />

compreendia o period() la transcorrido<br />

quando do advento da mesma lei.<br />

Invocou a &amnia 445 e acrescentou<br />

(fl. 195):<br />

«As Egregias Caimans Civis<br />

Reunidas, deste Tribunal de Justica,<br />

por unanimidade de votos,<br />

jA decidiram igualmente, por<br />

ocasiao do julgamento do Recurso<br />

de Revista n? 177.895, da Comarca<br />

de Campos do Jordao, que<br />

a lei nova se aplica «as prescricities<br />

em curso, salvo quando 0<br />

tempo restante para se consumar<br />

a prescricao da lei anterior e inferior<br />

ao que ela estabelece»<br />

(Apud — Desembargador Henrique<br />

Augusto Machado — «Dez<br />

Anos de Jurisprudencia», 2? volume,<br />

pAginas 732-736). Ve-se por<br />

esse venerando acOrdao e pelo<br />

brilhante voto vencedor, proferido<br />

pelo eminente Desembargador<br />

Euler Bueno, que a computado o<br />

periodo de tempo anterior aquele<br />

diploma legal ao qual se acrescenta<br />

«o decorrldo depois, para<br />

perfazer-se o prazo, mais curto,<br />

da lei nova», e nä°, corn() pretende<br />

a Municipalidade de Sao Paulo,<br />

apenas o posterior a vigencia<br />

da citada lei (...).»<br />

0 recurso extraordinário da autora<br />

funda-se em violacäo do art. 6? da<br />

Lei de Introducao ao Codigo Civil e<br />

dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l. Fol ele admitldo<br />

pelo segundo desses fundamentos,<br />

verbis (fl. 239):<br />

«Esse entendimento, porem,<br />

conflita corn o dos v. acerciaos trazidos<br />

para cotejo, no primeiro dos<br />

quals se decidiu:<br />

«Nao pode a lel nova se aplicar<br />

ao prazo em curso sem o risco<br />

de ser retroativa resultando dai<br />

que o prazo novo, que ela instituiu,<br />

correre somente a partir da<br />

data de sua vigencia, e na hipetese<br />

contar-se-a de 1? de Janeiro de<br />

1956 quando passou a vlgorar»<br />

(textual — grifos da recorrente,<br />

fls. 200-201).<br />

Tenho, portanto, como demonstrada<br />

a divergencia <strong>jurisprudencia</strong>l,<br />

de modo a justificar o conhecimento<br />

do feito pelo Egregio Supremo<br />

Tribunal Federal.<br />

Em parecer do Procurador Moacir<br />

Antonio Machado da Silva, a Procuradoria-Geral<br />

da Republica opinou<br />

nestes termos (fls. 264-266):<br />

«A Municipalidade de Sao Paulo<br />

ajuizou, em 19-5-75 execucao de 0brigacao<br />

de fazer contra Ardelin6<br />

Theodoro de Oliveira, para<br />

compell-lo a outorga de escritura<br />

definitiva de cloaca() da area de<br />

1.200 m 2, em face de compromisso<br />

celebrado em 4-3-49.<br />

Aral o executado prescricao e<br />

carencia de execucao, sob alegacal)<br />

de que a Prefeitura nao cumprira,<br />

no prazo, a obrigacao de elecutar<br />

as obras p<strong>revista</strong>s no aludido<br />

compromisso.<br />

0 MM. Juiz acolheu a prescricao,<br />

porque decorridos mats de<br />

vinte anos desde 7-3-55, data da Lei<br />

n? 2.437, ate 19-5-75, quando foi proposta<br />

a acao.<br />

0 v. acerdâo de fls. confirmou a<br />

sentenca, entendendo, porem, que<br />

o termo inicial da prescricão era a<br />

data da celebracão do compromisso,<br />

de modo que o prazo de vinte<br />

anos se consumou em 4-4-69, nos<br />

termos do art. 177 do Codigo Civil,<br />

com a redacão que the deu a Lei n?<br />

2.437/55, e da Sfunula 445 da Jurisprudencla<br />

do Supremo Tribunal Federal.<br />

.<br />

InterpOe a Municipalidade recurso<br />

extraordinerio, sob alegacão de<br />

negative de vigencia ao art. 6? da


Lei de Intr. ao C6d. Civil e diver-<br />

Selo corn julgados de outros Tribunals<br />

do Pais. Entende a recorrente<br />

que nao pode ser computado<br />

o periodo anterior a 1? de Janeiro<br />

de 1956, quando entrou em vigor a<br />

Lei n? 2.437, de 1955.<br />

NAo mel-ece prosperar o recurso.<br />

Consoante enuncia a Stimula 445,<br />

«a Lei n? 2.437, de 7-3-55, que reduz<br />

prazo prescricional, e aplicavel as<br />

prescriciles em curso na data de<br />

sua vigencia (1?-1-56), salvo quanto<br />

aos processos entAo pendentes».<br />

No julgamento do RE 42.766, que<br />

constitui o «leading case» na materia,<br />

o Exmo. Sr. Ministro Vitas<br />

Boas invocou esta licao de Reynaldo<br />

Porchat (Curso Elem. de Direito<br />

Romano, n? 512):<br />

«Aplica-se retroativamente a<br />

uma prescricão em curso; a)...;<br />

b)...; c) a lei nova que abrevia o<br />

tempo prescricional estabelecido<br />

pela lei anterior, de modo que a<br />

prescricão se completa uma vez<br />

decorrido o menor prazo estabelecido<br />

por aquela lei, computado,<br />

tambem, por eqiiidade, o tempo<br />

decorrido no dominio da lei<br />

antiga, salvo se for brevissimo 0<br />

tempo que faltar depots de publicada<br />

a nova lei, ou se, no dia da<br />

publicacAo, la estiver decorrido<br />

todo o prazo exigido por esta...»<br />

(Ref. da &mule do STF, Jardel<br />

Noronha..., v. 23, p. 5).<br />

Inexiste, portanto, direito adquirido,<br />

nAo tendo sentido a invocactio<br />

do art. 6? da Lei de Intr. ao C6d.<br />

Civil. Igualmente lembrado na<br />

aludida decisao este ensinamento<br />

de Carpenter: «Antes de completado,<br />

de por inter° decorrido o prazo<br />

de prescricAo, o prescribente s6 tett<br />

uma expectativa de direito, nAo<br />

um direlto adquirido. Esse<br />

principio a incontestAvel, a inconcusso,<br />

e a ConseqÜencia que se deduz<br />

dele a que, estando em curso 0<br />

prazo de prescricAo, e vindo uma<br />

R.T.J. — 94 441<br />

lei nova que modifique o prazo,<br />

encurtando-o ou prolongando-o, a<br />

prescrIcho se completarft nao na<br />

conformidade da lei velha, mas<br />

sim, na conformidade da lei novaD<br />

(Manual do C6d. Civil, v. 4, p. 595).<br />

Quanto aos Julgados invocados<br />

para a caracterizacAo da divergencia,<br />

incide o veto da Stimula 286,<br />

pots a Jurisprudencia do Egregio<br />

PlenArio do Supremo Tribunal Federal<br />

esta firmada no sentido da<br />

decisAo recorrida.<br />

Feb° nao corthecimento.»<br />

E o relaterio.<br />

VOTO<br />

O Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque (Relator): 0 acerdAo<br />

recorrido afeicoa-se, efetivamente,<br />

Sfunula 445, como se pode ver dos<br />

precedentes que a informam.<br />

Por mim, preferiria seguir a orientacão<br />

propugnada pela recorrente:<br />

consideraria, sim, o prazo reduzido<br />

de vinte anos, mas o contaria da data<br />

em que entrou em vigor a lei que<br />

o reduziu, dado que ainda the era superior<br />

o que faltava do prazo estabelecido<br />

na lei antiga.<br />

Acomodo-me, todavia, a Jurisprudencia<br />

que o Tribunal firmou e reiterou<br />

nos Ciltimos quinze ou vinte anos.<br />

De resto, como ponderou o eminente<br />

Desembargador Euler Bueno, no julgamento<br />

referido pelo acOrdAo recorrido,<br />

«enfrentar a SOmula, concebida<br />

com o propOsito de estabilizar a<br />

jurisprudAncia, em tema taco ericado<br />

de dificuldades e de controversias,<br />

nem e prudente, nem construtivo»<br />

(Henrique Augusto Machado, Dez<br />

Anos de Jurisprudencia, vol. 2?, pag.<br />

735).


442 R.T.J. — 94<br />

Dando por superado, nos termos<br />

da Stimula 286, o dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l<br />

que ensejou a admissäo do<br />

recurso, dele nao conheco.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 92.000 — SP — Rel.: MM. Xavier<br />

de Albuquerque. Recte.: Prefeitura<br />

Municipal de Sdo Paulo (Adv.:<br />

Nassaralla Schahin Filho). Recdo.:<br />

Ardelino Theodoro de Oliveira (Adv.:<br />

Sidney Delcides de Avila).<br />

Decisdo: Nä° conheceram do recurso.<br />

Decisdo unnnime.<br />

Presidöncia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a Ses-<br />

Sao os Srs. Ministros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto, Soares Munoz<br />

e Rafael Mayer. Subprocurador-<br />

Geral da Republica, Dr. Francisco<br />

de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 27 de junho de 1980 —<br />

Deice; Carlos Dayrell, Secretnrio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 92.002 — RS<br />

(PrimeIra Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Rafael Mayer.<br />

Recorrente: EIRICH — Indestria, Comercio e RepresentacOes Ltda. —<br />

Recorrida: WALLIG SUL S/A — InthIstria e Comercio.<br />

— Responsabilidade civil. Ato ilicito contratual. Divida de valor.<br />

Correcno monetnria. — 1) Os prejuizos resultantes de culposa InadimplAncia<br />

contratual devem propiclar complete reparaeAo, corn<br />

atualizacão do valor, sob pena de descumprir-se a regra de ressarcimento<br />

Integral constante do art. 1.059 do Cadlgo Civil.<br />

Exclusão da condenacAo referente a entrega dos componentes<br />

fabricados, reclarnavels mediante acAo proprla, haja vista ser materla<br />

que extrapola da litiscontestatio.<br />

Recurso Extraordinario conhectdo e provido, em parte.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e notas taquigraficas,<br />

unanimidade, conhecer parcialmente<br />

do recurso e dar-lhe provimento.<br />

Brasilia, 11 de marco de 1980 —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Rafael Mayer, Relator.<br />

RELATORIO<br />

O Sr. Ministro Rafael Mayer: Eirich<br />

— Industria, Comercio e Representagnes<br />

Ltda. ajuizou acno ordineria<br />

para haver o pagamento da<br />

quantia de Cr$ 107.740,60, acrescida<br />

de juros e correceo monetäria, contra<br />

Wallig Sul S/A, em decorrencia<br />

de inadimplemento unilateral de<br />

contrato para fabricacao de equipamento<br />

industrial, resultante de conduta<br />

culposa da Re.<br />

A sentenca deu pela procedencia<br />

da acão, condenando a Suplicada ao<br />

pagamento da quantia referida,<br />

mais juros de mora, a partir da cita-<br />

OM, correcão monetaria, custas e<br />

honorerios, reconhecendo o direito<br />

integral reparacão dos prejuizos pela<br />

incidencia dos arts. 1.056 e 1.059<br />

do C6digo Civil.<br />

0 Tribunal de Justica confirmou<br />

parcialmente a sentenca, alterandoa<br />

para excluir a correcno moneteria,<br />

mas determinando, por outro lado, a<br />

entrega a re dos compenentes


zados na fabricacdo. Diz o actirddo a<br />

respeito:<br />

«Apenas entendo que a condenacão<br />

deve limitar-se ao pagamento<br />

de Cr$ 107.740,60, com Juros legais<br />

a partir da citacao inicial,<br />

excluindo-se a correcdo monetaria<br />

que a sentenca de primeiro grau<br />

fez incidir sabre Cr$ 97.946,00, a<br />

base dos indices da Fundacdo Ge-<br />

Who Vargas, a partir da citagdo.<br />

Ndo veto como por-me de acordo<br />

corn tal contend° condenaterio. No<br />

pedido consignou-se que sobre o<br />

saldo de Cr$ 353.313,00 incidiria o<br />

reajuste, conforme indice da Fundagdo<br />

Getttlio Vargas, a contar do<br />

mes do pagamento da primeira<br />

parcela, parcela alias, que ndo foi<br />

paga como demonstrado e admitido.<br />

Essa incidencia calculada e incluida<br />

na fatura de f. 53 «como<br />

reajuste de prego, conforme indice<br />

60 da Revlsta Conjuntura<br />

EconOmica da Fundacdo Getting,<br />

Vargas, 3? mes anterior ao faturamento,<br />

na importancia de Cr$<br />

20.566,00, que somada ao preco do<br />

equipamento, resultou no valor cobrado<br />

de Cr$ 107.740,60, ja acrescido<br />

do impost° sobre Produtos Industrializados,<br />

tornou-se, a partir<br />

dat, divida de dinheiro e ndo de valor,<br />

incidindo td6-s6 juros de mora<br />

A taxa legal, consoante os arts.<br />

1.061/1.064 do a:1(11g° Civil, destinados<br />

a cobrirem as perdas e danos<br />

na obrigacdo de pagamento em dinheiro.<br />

Veja-se, ademais, que o<br />

reaJuste, pelos Indices da Fundacdo<br />

Getnlio Vargas, era dos pregos,<br />

como conseqtlencia da alteracdo<br />

da fabricacdo quanto a material<br />

e «mdo de-obraD (...) «Parece<br />

que a autora rid° remeteu a re os<br />

componentes fabricados, esperando<br />

seu pagamento. Assim, convern,<br />

acolhendo a observacdo do eminente<br />

Revisor, registrar que, cumprido<br />

pela re o pagamento, deverA a<br />

autora fazer entrega dos componentes<br />

que fabricou por encomenda<br />

da re.),<br />

R.T.J. — 94 443<br />

Inconformada a autora recorre extraordinariamente,<br />

pelas letras a e<br />

d, sustent ando violacdo dos arts.<br />

159, 1.056 e 1.059 do COdigo Civil, tendo<br />

em vista a exclusdo da correcão<br />

monetaria. Sobre o tema, indica Jurisprudencia<br />

do Supremo Tribunal<br />

Federal. Alega, tambem, ofensa aos<br />

arts. 128, 458, III, e 460 do C6digo de<br />

Processo Civil, porque a decisdo impugnada,<br />

ao determinar a devolugdo<br />

da mercadoria julgou ultra petita,<br />

trazendo a baila materia ndo discutida<br />

no processo.<br />

0 recurso foi admitido, apenas no<br />

que tange a tetra a e aos incisos da<br />

lei processual, sendo arrazoado pelas<br />

partes.<br />

E o related°.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator):<br />

Diz a recorrente que o acerrecorrido,<br />

ao determinar a entrega<br />

dos componentes que fabricou,<br />

por encomenda da Re, teria vulnerado<br />

os arts. 128, 458, III e 460 do COdigo<br />

de Processo Civil, proferindo julgamento<br />

ultra petlta, eis que contemplou<br />

questa° ndo inclusa na<br />

11tIscontestatlo. Ao Julgar da admissibilidade<br />

do recurso extraordinario,<br />

na instância a quo, o eminente Desembargador<br />

Jorge Ribas Santos advertiu<br />

a relevancia da impugnacão,<br />

se admitindo, alias, a postulacdo por<br />

esse fundamento.<br />

Com efeito, tendo a Autora pedido<br />

a condenacdo da Re ao pagamento<br />

do dano decorrente da violacdo contratual,<br />

consistente em indenizacäo<br />

de Cr$ 107.740,60, acrescida de juros<br />

e correcdo monetaria, a Re em sua<br />

contestacdo, pleiteia apenas a improcedencia<br />

da acdo, ou subsidiariamente,<br />

caso reconhecida culpada, a<br />

condenacdo tact somente ao pagamento<br />

dos componentes, nada al se


444 R.T.J. — 94<br />

alegando quanto a entrega destes.<br />

Ademais, a Re interpOs reconvened°<br />

para reivindicar as ditas mercadorias,<br />

nem para dar a Autora como<br />

inadimplente por isso, e portanto<br />

sem condicao juridica para pleitear<br />

a adimplencia da contraparte. Na<br />

verdade, em nenhum momento a Re<br />

suscitou a questa°.<br />

Desse modo, o veneravel actirddo<br />

recorrido nao poderia ter feito, como<br />

fez, determinando a Autora o cumprimento<br />

de uma prestacao, que<br />

nem adequada era a sua posiedo<br />

porcessual, nem fora deduzida como<br />

pretensão de quern quer que seja.<br />

Objeto de simples e exclusiva iniciativa<br />

do julgador, a medida ofende os<br />

principios processuais basicos consubstanciados<br />

nos incisos referidos,<br />

segundo os quais a prestacdo jurisdicional<br />

nao deve extrapolar do quadro<br />

posto pelo pedido das partes. Ne<br />

procedat judex ex officio.<br />

Outro item em que o recurso tarnbem<br />

se mostra viavel reside, pelo invocado<br />

fundamento da letra d, no<br />

dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l corn actirdãos<br />

que vem colacionados e nos<br />

quais se delineia tese contraria a do<br />

veneravel acOrdao recorrido, no que<br />

tange ao cabimento de atualizacao<br />

monetaria quando se trata de indenizaeao<br />

de prejuizos, inclusive os resultantes<br />

de ilicito contratual.<br />

Basta para a demonstracao, dentre<br />

os paradigmas indicados pelo Recorrente,<br />

o acOrdao proferido pela<br />

Primeira Turma no RE 81.541/SP,<br />

de que foi Relator o eminente Ministro<br />

Bilac Pinto, com a seguinte<br />

ementa:<br />

«Ato ilicito contratual. Perdas e<br />

danos. Possibilidade de sua atualizacdo,<br />

conforme a recente orientacdo<br />

do Supremo Tribunal Federal<br />

(RE 79.663, de 18.9.75), servindo,<br />

para este fim, os indices de corresao<br />

Recurso conhecido<br />

pela letra d, porem desprovido»<br />

(RTJ 76/623).<br />

E esse elucidativo e contrastante<br />

trecho que vem transcrito no corpo<br />

da peticao:<br />

«Na indenizaedo por ato ilicito<br />

contratual, a divida e a de valor e<br />

deve ser atualizada, sob pena de<br />

vulneraeao do principio do ressarcimento<br />

integral previsto no art.<br />

1.059, do COdigo Civil.» (fls.)<br />

Data yenta, nao poderia o veneravel<br />

acOrdao recorrido, sob pena de<br />

desviar-se de entendimento pacifico,<br />

tanto na doutrina como na jurisprudência,<br />

vir a considerar os itens de<br />

pagamento dos prejuizos resultantes<br />

de culposa inadimplencia contratual,<br />

e que devem propiciaur uma<br />

completa reparacao do dano sofrido,<br />

como divida de dinheiro, irk) suscetivel<br />

de correcao monetaria.<br />

As aparencias advindas do pedido<br />

de quantia certa nao justificam o<br />

conceito, mesmo porque nao se tratava<br />

de cobranca de uma parcela do<br />

contrato, mas de uma parcela indenizatOria,<br />

convertida ao titulo de indenizagdo<br />

do prejuizo correspondente.<br />

A correcao monetaria, no caso,<br />

nao tem em mira a revalorizacao de<br />

debitos nominais, o que seria inadmissive',<br />

pots entao se cogitaria simplesmente<br />

de aplicacao do art. 1.061<br />

do COdigo Civil; mas busca atualizar<br />

o valor da reparacao devida pelo<br />

real prejuizo.<br />

0 entendimento ora preconizado<br />

tem obtido confirmacdes recentes na<br />

<strong>jurisprudencia</strong> do Supremo Tribunal,<br />

como se ye, por exemplo, do acOrdao<br />

da Segunda Turma no RE 90.085/RJ,<br />

valendo transcrever pertinente passagem<br />

do voto do eminente Relator,<br />

Ministro Djaci FaIca°, onde se alude<br />

a precedentes, inverbis:<br />

«Cuida-se de ato ilicito contratual,<br />

a propiciar reparacao, com<br />

atualizacao do valor, sob pena de<br />

vulneracao de regra de ressarcimento<br />

integral, a que se refere o<br />

art. 1.059 do COdigo Civil.


O aresto recorrido procurou<br />

atualizar o valor devido, resultante<br />

do comportamento ilicito do reit,<br />

ora recorrente, utillzando-se do<br />

indice de correcão monetaria. Nesse<br />

ponto seguiu a orientacno que,<br />

por Ultimo, vem prevalecendo no<br />

STF — RE 79.872, relator o eminente<br />

Ministro Moreira Alves,<br />

RTJ. 76/589, relator o eminente Ministro<br />

Bilac Pinto, RTJ. 80/304,<br />

dentre outros” ( in RTJ. —<br />

89/1.078).<br />

Pelo exposto, conhecendo, em parte,<br />

pela tetra a e pela tetra d, nas<br />

condicees acima enunciadas, dou<br />

provimento para excluir a condenacão<br />

determinante da entrega a Re<br />

dos componentes fabricados pela Autora<br />

por sua encomenda, sem prejuizo<br />

de an° propria para have-los,<br />

bem assim provimento para restabelecer<br />

a correcno monetaria ample<br />

sobre a indenizacno plejteada e os<br />

denials concectarios reconhecidos na<br />

sentenca de primeiro grau.<br />

E o meu voto.<br />

R.T.J. — 94 445<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 92.002 — RS — Rel.: Ministro<br />

Rafael Mayer. Recte.: Eirich — Industria,<br />

Comercio e Representacties<br />

Ltda. (Advs.: Elton Velker e outro).<br />

Recda.: Wallig Sul S/A — Inchistria e<br />

Comercio (Advs.: Mauro G. Wabner<br />

Pupe e outros).<br />

Decisao: Conhecido parcialmente e<br />

provido, nos termos do voto do Ministro<br />

Relator, decisno unanime.<br />

Presidencia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a sessac)<br />

os Senhores Ministros Xavier de<br />

Albuquerque, Soares Munoz e Rafael<br />

Mayer. Ausente, justificadamente, o<br />

Sr. Ministro Cunha Peixoto.<br />

Subprocurador-Geral da Reptiblica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 11 de marco de 1980. —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretario.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 92.008 — SC<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Rafael Mayer.<br />

Recorrente: Jose Bonifacio de Moraes Rangel — Recorrida: APESC —<br />

Associacno de Poupanca e Empréstimo de Santa Catarina.<br />

, I) Julgamento antecipado da lide. Embargos de devedor. Provo<br />

documental. aidigode Processo Civil, art. 740, parag. (mica. — A confirmacilo,<br />

pelo adirdito recorrido, do julgamento antecipado da Ilde<br />

ngo desconheceu a disciplina do preceito ihvocado, ao contrario, cutdou<br />

que a especle, sendo tamb9m de fato, dependia de comprovacho<br />

mente documental, InOtil, portant°, a producáo de prova exclusivam<br />

pura ante testemunhal requerida.<br />

II) — Representacno Processual. Irregularldade. Ausencia de preclusno.<br />

Art. 267.. 3? do CPC. — Equacionada a quest.% sobre a ausència<br />

de pressupostos processuais, nAo pole o Tribunal eximir-st de<br />

sob alegaclio de preclusio. — - Recurso Extraordinitrio<br />

apreciii-la,e conhecido<br />

pro vido, em parte.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e notas taquigraficas, a<br />

unanimidade, conhecer do recurso,<br />

em parte, e dar-lhe provimento.


446 R.T.J. — 94<br />

Brasilia, 11 de marco de 1980. —<br />

Thompson Flores — Presidente —<br />

Rafael Mayer, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Mlnistro Rafael Mayer: —<br />

Trata-se de embargos opostos por<br />

Jose BonifAcio de Moraes Rangel a<br />

execucdo que the e movida pela AssociacAo<br />

de Poupanca e Emprestimo<br />

de Santa Catarina, em razão de Madimplencia<br />

de contrato de compra e<br />

venda, garantido por hipoteca.<br />

A sentenca julgou improcedentes<br />

os embargos, no que foi mantida pelo<br />

acardão da Terceira CAmata<br />

Civet do Tribunal de Justica, por estes<br />

fundamentos:<br />

«0 embargante nao repele o debito,<br />

mas argue novacao, porem,<br />

esta nail) ocorreu. Pelos pr6prios<br />

documentos de fls. 5,6 e 7, verificase<br />

que o procurador da exegiente<br />

andou gestionando um acordo mas<br />

este nao ficou comprovado e mesmo<br />

a procurador ressalvou essa<br />

circunstAncia.<br />

"Pelos processos ern que esta o<br />

BNH interessado coma sufragäneo<br />

de instituicOes financeiras, verifica-se<br />

que o mutuário esta<br />

sempre jungido a dispositivos leoninos.<br />

Desde que nao residente no<br />

local da transacão, é chamado por<br />

edital. Esta providCncia, quando a<br />

casa adqulrida por financiamento,<br />

e de recreio praiano, constata-se<br />

sempre que o mutuArio lA nao reside<br />

e, os emprestimos assim logrAdos,<br />

nao estao de acordo corn a finalidade<br />

do BNH. Apesar disso,<br />

nem a citacão por precatoria tern<br />

admitido o financiador.<br />

NA° fora ter comparecido o mutuArio<br />

ediscutido o merit°, o processo<br />

restaria nulo, pois no caso<br />

destes autos a citacAo local pelo<br />

oficial de justica declarando apenas<br />

que deixaria de citar por estar<br />

em lugar incerto e nao sabido (f.<br />

17), e vaga pois nä() esclarece<br />

quaffs as diligèncias que fez, para<br />

chegar a essa conclusao. Nem foi<br />

ao local onde a inicial diz residir o<br />

mutuArio."<br />

Opostos embargos de declarando<br />

para sanar omissdo do acardAo sobre<br />

as seguintes questOes: a) a nulldade<br />

da representacão processual da<br />

Exequente e Embargada; b) a nulidade<br />

pela ausencia de notificacão<br />

previa; c) nulidade produzida pelo<br />

julgamento antecipado da lide, foram<br />

recebidos para esclarecer os seguintes<br />

aspectos da Causa, verbis:<br />

Assim, a f. 88 dos embargos,<br />

argi-se nulidade de representacdo<br />

do advogado, conforme as razOes<br />

de f. 48.<br />

Esta nulidade se foi sustentada<br />

nas razOes do recurso e deveria,<br />

sob pena de preclusAo coma precluido<br />

ficou, to-lo sido na primeira<br />

oportunidade em que falou nos autos,<br />

segundo o artigo 245 do CPC,<br />

tendo o embargante, nao obstante,<br />

se pronunciado sobre o merit° do<br />

pedido, estadeado pelo citado mandato.<br />

Por outro lado, os embargos ettarn<br />

que a f. 48, item 3, houve julgamento<br />

antecipado da lide antes<br />

da realizacão da audiència de instrucAo,<br />

quando existiam provas a<br />

serem produzidas antes da sentenca,<br />

donde a sua nulidade.<br />

Naquelas raz6es, cita-se <strong>jurisprudencia</strong><br />

sobre a espécie.<br />

Esta, ressalta que somente no<br />

caso do paragrafo Unico do artigo<br />

740 (f. 49), ou seja, quando os embargos<br />

versarem sobre materia de<br />

direito, ou sendo de direito e de fato<br />

a prova for exclusivamente<br />

documental, cabe ser proferida a


sentenca sem a realizacão da audiancia.<br />

A nulidade argilida nao procede,<br />

pois houve alegacao de novacao<br />

embasada nos documehtos de fls.<br />

5, 6 e 7.<br />

Ora, esses documentos ciao<br />

noticia de uma proposta de transacao<br />

sobre a divida, que dependia<br />

de urn document confirmando a<br />

sua aceitacao. E bem de ver que<br />

essa prova competia a quem argiliu<br />

a novagao, prova exclusivamente<br />

documental, que deveria de<br />

pronto ser apresentada por quern<br />

alegou a novagão.<br />

A instrucao em audiancia, nenhuma<br />

falta fez, de vez que nela<br />

nada poderia ser adicionada ante<br />

os termos da proposta de transacAo.<br />

Flnalmente, tem-se que esclarecer,<br />

quando ao item II de f. 89, relativo<br />

ao item IV de f. 49, que as<br />

notificacaes de f. 13 dos autos de<br />

execucAo, nAo foram objeto de contestacao<br />

por parte do embargante<br />

no coffer do processo e, assim, nada<br />

deveria sobre ela dispor a decisào<br />

recorrida.<br />

Dai o recurso extraordinario, pelas<br />

Tetras a e d, corn argaicao de relevAncia<br />

da questa") <strong>federal</strong>, sustentando<br />

ofensa ao disposto no art. 267,<br />

IV, e 3?, e inc. I, do art. 330 do<br />

CPC, altm de divergancia corn julgados<br />

de outros <strong>tribunal</strong>s. A inconformacAo<br />

se traduz em que a materia<br />

de nulidade referente a deficitcia<br />

da representacao do advogado da<br />

embargada, nAo preclui_icomo entendeu<br />

o acardào recorrido, e pode<br />

ser argiiido em qualquer tempo, enquanto<br />

nAo proferida a sentenca. E<br />

mats, que o magistrado nAo podia<br />

antecipar o julgamento da lide, dispebtand9<br />

a producAo de prova requerida,<br />

sobre a novacao.<br />

R.T.J. — 94 447<br />

Admitido o recurso, o recorrente<br />

requereu a desistancia da relevancia.<br />

E o relatOrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Rafael Mayer (Relatr):<br />

— Pretende o Recorrente, por<br />

via do permissivo da tetra d demonstrar<br />

o dissidio <strong>jurisprudencia</strong>l entre<br />

o veneravel acardAo recorrido e dois<br />

outros paradigmas emanados, respectivamente,<br />

do Segundo Tribunal<br />

de Alcada Civil de Sao Paulo e do<br />

Tribunal de Justica. Uns e outros<br />

versam o tema do julgamento antecipado<br />

da lide, e, diversamente do<br />

que ocorre, na especie, nos julgados<br />

paradigmas deu-se provimento a<br />

apelacAo para anular o julgamento<br />

antecipado e facultar a producao das<br />

provas requeridas. Mas isso nao Basta<br />

para caracterizacão do dissido,<br />

mesmo porque nap se adotou, no caso<br />

sub Judice, tese juridica oposta,<br />

senao que ao exame dos dados da<br />

causa se concluiu pela desnecessidade<br />

de provas em audit-Ida. E, ainda<br />

assim, em circunstAncias bem distintas<br />

dos outros processes, ern que<br />

pese o esforgo do Recorrente em<br />

convencer da semelhanca que na<br />

realidade inexiste. Portanto,'"hAo hA<br />

possibilidade de conhecer do recurso<br />

pela letra d, par nä° evidenciada a<br />

divergencia de interpretacão do dispositivo<br />

da lel <strong>federal</strong>.<br />

Tambem nao procede o debate sobre<br />

o mesmo-tema , pela letra a, a<br />

pretexto de violagao do art. 330, I, do<br />

CPC, 'avocado no recurso, e que melhor<br />

estaria dito, como sendo do art.<br />

740, parAgrafo Onico, eis que se cuida<br />

de embargos de devedor, equivoco<br />

nao prejudicial dada a identidade<br />

preceptiva.<br />

A confirinacAo .pelo acardAo recorrido<br />

do julgamento anteciphdo nä')


448<br />

desconheceu a disciplina do preceito<br />

invocado, mas, ao contrario, no suposto<br />

de sua aplicabilidade, e ao<br />

exame, alias bem coerente, dos elementos<br />

do processo, cuidou que a especie,<br />

sendo tambem de fato, dependia<br />

de comprovacao puramente documental,<br />

inOtil a producao da prova<br />

exclusivamente testemunhal requerida<br />

pelo Recorrente. Desse modo, nao<br />

se pode vislumbrar infringência a<br />

norma processual sob referenda.<br />

Entretanto, o acOrdao nao resiste<br />

a impugnacao que se lhe faz no tocante<br />

ao tratamento que deu ao problema<br />

da representacao processual.<br />

Suscitado nos embargos de declaracao<br />

o suprimento da omissao do<br />

acOrdno no tocante a preliminar de<br />

nulidade da execucao, invocada nas<br />

razUes de apelagao, — sob color de<br />

que o advogado da Exeqtiente nao tinha<br />

poderes, pois o instrumento nao<br />

declina o nome e a qualificacao do<br />

responsavel pela empresa outorgante,<br />

— o veneravel acOrdao recorrido,<br />

como visto, deixou clara a sua escusa<br />

de apreciar o merit° dessa questao,<br />

pois se ]he antepunha o (Wee da<br />

preclusao, face ao art. 245 do CPC.<br />

Ora, a esse mesmo artigo que excepciona,<br />

em seu paragrafo Wilco,<br />

do evento da preclusao, as hip6teses<br />

em que as nulidades devam ser decretadas<br />

de oficio. Em correlacão, o<br />

paragrafo 3? do art. 267, determina<br />

conheca o Juiz, de oficio, em qualquer<br />

tempo e grau de jurisdicdo, de<br />

certas materias que induzem a ex-<br />

Una) do processo sem o julgamento<br />

do merit°. Nao ocorre preclusäo para<br />

conhecer-se de tais materias, senao<br />

quando da prolacao da prOpria<br />

sentenca de merito, e o fato de alegacao<br />

tardia pela parte apenas the<br />

importa na apenacao pelas custas de<br />

retardamento.<br />

Ora, dentre tais materias esta precisamente<br />

a que versada no ponto<br />

R.T.J. — 99<br />

em referencia, pois a remissào do<br />

paragrafo 3? se reporta ao item IV,<br />

onde se da, como conhecivel naquelas<br />

condicOes, a ausëncia de pressupostos<br />

de constittdcao de desenvolvimento<br />

válido e regular do processo,<br />

e a alegacao sobre a irregularidade<br />

da representacao esta incluida nessa<br />

categoria normativa.<br />

NA° poderia, portanto, o actordao<br />

recorrido, pondo a questao, eximirse<br />

de aprecia-la sob a raid° de estar<br />

preclusa, pois em assim decidindo<br />

denegou aplicacno aos preceitos invocados.<br />

Em consequencia, conheco,<br />

em parte, do recurso pela letra a, e<br />

dou provimento para que, afastada a<br />

decisao recorrida, o Egregio Tribunal<br />

a quo conheca e julgue, preliminarmente,<br />

como achar de direito, a<br />

questa° sabre a regularidade da representacao<br />

processual.<br />

E o meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 92.008 — SC — Rel. Min. Rafael<br />

Mayer. Recte: Jose Bonif Ado de<br />

Moraes Rangel (Adv.: Jose Hamilton<br />

de Moura Ferro) Recda: APESC —<br />

Associacao de Poupanca e Emprestimo<br />

de Santa Catarina (Adv.: Aliatar<br />

Farias de Medeiros).<br />

Decisao: Conhecido parcialmente e<br />

provido, nos termos do voto do Ministro<br />

Relator, decisao unanime.<br />

Presidencia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a sessao<br />

os Senhores Ministro Xavier de<br />

Albuquerque, Soares Munoz e Rafael<br />

Mayer. Ausente, justificadamente, o<br />

Sr. Min. Cunha Peixoto. —<br />

Subprocurador-Geral da Republica,<br />

o Dr. Francisco de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 11 de marco de 1980. —<br />

Antonio Carlos de Azevedo Braga,<br />

Secretario.


R.T.J. — 94 449<br />

RECURS() EXTRAORDINARIO N? 92.030 — SP<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Decio Miranda.<br />

Recorrente: York S/A — Inch:Istria e Comercio — Recorrida: Prefeitura<br />

Municipal de SAo Paulo.<br />

Civil. Desapropriactio indireta. Juros compensatOrlos concedidos<br />

na fase de cognicilo, sem indicacito da taxa. PretensAo de fixft-los<br />

em 12% e nflo em 6% na fase da liquidactio. Veto do art. 308, VI, do<br />

Regiment° Intern°.<br />

AcOEDA0<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Segunda<br />

Turma, na conformidade da ata<br />

de Julgamentos e das notas taquigrAfleas,<br />

A unanimidade de votos, nAo<br />

conhecer do recurso.<br />

Brasilia, 21 de marco de 1980 —<br />

Djaci FalcAo, Presidente — Decio<br />

Miranda, Relator.<br />

EELATOEM<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda: o<br />

despacho do ilustre Presidente Agripino<br />

Vieira de Souza, ao denegar o<br />

recurso extraordinArio, assim dA<br />

noticia da especie dos autos:<br />

«Na fase de liquidacAo de expropriateria<br />

indireta, os juros compensaterios<br />

foram, nesta InstAncia,<br />

reduzidos de 12 para 6% ao ano.<br />

Atacando o decidido, recorre a<br />

vencida, extraordinariamente, amparada<br />

nas Tetras a e d da permissào<br />

constitucional, dizendo ofendido<br />

o art. 153, 22, da Lei Maior e<br />

divergidos vv. arestos da Suprema<br />

Corte. Argil!, ainda, relevAncia da<br />

questAO <strong>federal</strong>.<br />

Impugnaelio a fls. 186/187.<br />

Nego seguimento, corn a anotacAo<br />

de que a razAo do art. 308, VI,<br />

do Regimento Intern do Supremo<br />

Tribunal Federal s6 e considerAvel<br />

a alegacAo de ofensa A ConstituicAo.<br />

Primeiramente, entendo que,<br />

versando, o reclamo, apenas o tema<br />

de Juros, nAo ocorre incursao<br />

na Area constitucional.<br />

Veja-se realmente, que a assegurack)<br />

do art. 153, 22 da Carta<br />

Magna diz respeito A indenizacAo<br />

justa. Assim, sua afetacao direta<br />

se liga ao valor que no Decreto-lei<br />

3.365 aparece, nos arts. 26, 27, 4 1? e<br />

28, como «valor da indenizacão» ou<br />

«preco da indenizacão», ou seja, o<br />

valor pecuniArlo do bem expropriado,<br />

compreendidos os elementos<br />

acesserios desse bem (arts. 25 e<br />

parAgrafo ilnico e 26, fi 1?, do<br />

Decreto-lei 3.365).<br />

Em desdobramento, numa relacAo<br />

direta, as imperfeicees da decisAo<br />

que apenas digam com juros,<br />

s6 poderão ser caracterizadas como<br />

ofensas as normas ordinArias<br />

que regulam sua incidencia.<br />

Nem se pretenda irrelevante a<br />

distincAo ao argumento de que,<br />

agregados A verba principal, os Juros<br />

comp6em um todo que conformaria<br />

a indenizacgo referida no<br />

preceito constitucional; do que resultaria,<br />

a este ofensa pela via<br />

oblique, indireta, disfarcada, virtual<br />

ou implicita.<br />

E que a importancia do enfoque<br />

destacado resulta, precisamente,


450 R.T.J. — 94<br />

da norma regimental, a dizer inconsideraveis<br />

simples atentados a<br />

lei ordinAria em casos como o presente.<br />

E isso porque a verdadeira<br />

criaeão regimental de eclusas ou<br />

patamares — que, corn suporte<br />

constitucional (art. 119, paragrafo<br />

Unico), f az certas areas inacessiveis<br />

ao apelo exceptional —<br />

s6 pode ser entendido como seleeão<br />

obstativa, a atuar quando o gravame<br />

se corporifique ao nivel da lei<br />

ordinaria. que, de outra forma —<br />

exatamente porque no sistema<br />

juridico positivo toda norma ordinaria<br />

se filie a um preceito superior,<br />

constitucional — e universo<br />

compreensivo das s6 ofensas a let<br />

representaria urn tipico conjunto<br />

vazio; a fazer inatil excresc0ncia a<br />

restriflo regimental, facilmente<br />

ultrapassavel pela simples e rotineira<br />

indicaflo do preceito constitucional<br />

abrangente. Lembraveis,<br />

a propOsito os amplissimos espectros<br />

do art. 153, §§ 1? e 2? e 36.<br />

Concluindo, no setor; porque o<br />

alegado gravame se exprimiria,<br />

completarnente na visdo apenas de<br />

norma ordinaria, penso incidente,<br />

como Obice genêrico e definitivo, o<br />

ja apontado veto regimental.<br />

Anotando, por arremate, ainda<br />

no mesmo ambito, que tal colocacao<br />

ja recebeu o beneplacito da Suprema<br />

Corte, atravês r. despacho<br />

de S. Exa. o Ministro Djaci Palau,<br />

como Relator do Eg. 70.660 — SP,<br />

publicado em DJU de 25.5.77, pag.<br />

3.365.<br />

Ainda, portn, que se enfrente o<br />

problema na visa° nuclear, concernente<br />

a prepria legitimidade dos<br />

juros compensattrios de 12% ao<br />

ano, penso inatacavel — e, por isso,<br />

de prevalecer — a soluedo do v.<br />

aresto recorrido.<br />

Com efeito, mesmo partindo-se<br />

da nova° preliminar e corrente no<br />

tema — segundo a qual os juros<br />

compensatOrios sAo criacAo preto-<br />

riana, corn origem nas desapropriaeOes<br />

indiretas, tendente a anular<br />

ou atenuar eventual lesAo patrimonial<br />

ao particular efetivamente<br />

desapossado do bem, no period()<br />

que antecede a propositura da<br />

actio — nao se pode chegar validamente<br />

a conclusao de que tais juros<br />

devam ser de 12% ao ano. E<br />

assim pelas seguintes raz6es que<br />

se encadeiam e se aplicam ainda<br />

As desapropriaciies diretas, na<br />

perspectiva da prOvia imissAo na<br />

posse:<br />

lOgico, nao ha necessidade de<br />

recorrer as teorias sobre bens de<br />

producAo e suas relacOes com a<br />

renda derivada, para identificar<br />

tais juros, no caso, como pretendendo<br />

ser um «rendimento» produzido<br />

por certo «capital». Aguele,<br />

insista-se, admitido na perspectiva<br />

de que s6 a paga pela perda deste<br />

nao compehsaria o desfalque patrimonial,<br />

ja que o «preco» — expressal<br />

do capital —, mesmo corrigido,<br />

0 apenas um valor estatico, com<br />

a s6 referència a um dado instante ;<br />

cumprindo, pois, contar sua «producao»<br />

— esta, fluxo, componente dinarraco<br />

— lapso temporal a partir do<br />

torte no patrimOnio, ou na disponibilidade,<br />

do proprietario;<br />

Segue-se, dat, uma primeira<br />

conclusao imperiosa • tais juros flat)<br />

poderao ser vistos, sempre, como<br />

imponiveis, pena de se atender A<br />

ficeao, antes que a realidade das<br />

coisas. E que nao se podera desconsiderar<br />

o que efetivamente<br />

ocorria corn o bem afetado, em<br />

termos de produtividade; tanto<br />

mais quando, sabidamente, a simples<br />

asseguracao da estabilidade<br />

do capital em meio a uma conjuntura<br />

inflacionãria ja realiza integralmente<br />

o valor-produto almejado<br />

pelo proprietario.<br />

Ora, se urn imOvel nada produz<br />

efetivamente e a exata mensuracAo<br />

de seu valor real ja. alcancada<br />

através dos sistemas adequada-


dos — avaliagao atualizada e correcao<br />

monetarla em termos de<br />

faze-lo de pronto conversivel em<br />

outro bem igualmente estevel, atribuir<br />

ao seu equivalente monetario<br />

uma rentabilidade pro rata<br />

temporis, exprime nitida criacao<br />

sem apoio na realidade econOmica<br />

e, em desdobramento, iniquo gravame<br />

a entidade expropriante;<br />

sobre isso, necessario lembrar<br />

que a efetiva produtividade reduz1da<br />

pela perda do bem — v.g. lavouras<br />

afetadas, colheitas frustadas,<br />

arvores perdidas, contratos de<br />

locacao rescindidos, renda teorica<br />

de pastagem inviabilizada etc, — e<br />

normalmente computada na ava-<br />

Haat); o que leva a uma indevida<br />

pluralizacao de . f atores, corn repeticao<br />

de calculos na area do rendimento,<br />

pois que sobre o produto<br />

desses «lucros cessantes»se fazem<br />

tambem incidir os «juros compensateriose<br />

estes, se bem examinedos,<br />

fades ou modalidades daqueles:<br />

ponderados ern termos 16gicos<br />

esses aspectos, a prepria concessac)<br />

de «juros compensaterios», ao<br />

lado da indenizacao — esta, a seu<br />

turno, correspondente ao «dano<br />

emergente » — perde, necessariamente,<br />

sua condicao de solucao regular<br />

e praticamente automatica,<br />

para ter seu cabimento apenas deduzivel<br />

das peculiaridades latices.<br />

E exatamente porque deixa de<br />

ser uma fatalidade incontornavel,<br />

entra em causa e se f az diecutivel<br />

sua prOprla natureza juridica;<br />

5) inicialmente, nessa perspective,<br />

sera necessario lembrar que,<br />

se nominalmente tais juros sat) ditos<br />

« compensaterios», ontologicamente<br />

participam da classe dos<br />

"moraterios". Isso, fundamentalmente,<br />

porque antes de exprimir<br />

paga pelo use do dinheiro aihelo —<br />

o que implicaria na saida do<br />

capital em dinheiro, da disponibilidade<br />

de seu proprletario;<br />

R.T.J. — 94 451<br />

o que nao ocorre, na hipotese —<br />

na verdade, e mats exatamente,<br />

prestacao reparateria do atrasona<br />

entrada de certo capital no patri-<br />

Menlo do credor.<br />

Essa !dela nuclear vem, mesmo,<br />

claramente expressa no voto do<br />

eminente Ministro Victor Nunes,<br />

como relator do RE 46.157; este.<br />

uma das matrizes do verbete n?<br />

345 da StImula:<br />

«Velem, pois, os juros compensaterios,<br />

em tal caso como cornpensacao<br />

pelo liar) recebimento<br />

da indenizacao devida ao momento<br />

prOprlo».<br />

adiante: se essa paga, que se<br />

tern por devida je no tempo antes<br />

da acao, nem sempre correspondere<br />

a uma concreta e autOnoma perda<br />

de rendimento — sej a por inexistlr,<br />

seja por ja computada no<br />

valor da indenizacao — rigorosamente<br />

16g1co sera identifica-la apenas<br />

como «juros moraterios»,<br />

simplesmente calculeveis desde o<br />

desapossamento, a maneira do que<br />

dispee o art. 962 e, correspectivamente<br />

no setor, o art. 1.544, ambos<br />

do COdigo Civil; como decorrencia<br />

da identidade essencial entre situacOes<br />

juridicas assemelhadas, ja<br />

que o pagamento imediato da indenizacao<br />

corresponde a uma exigthcia<br />

de inafastevel equiparacao entre<br />

as desapropriacOes de fato e<br />

aqueles regularmente procedidas.<br />

Asslm, se o devido — como nas<br />

desapropriacOes regulares — ha de<br />

ser pago de pronto, ao atraso constatado<br />

nesse pagamento corresponderao,<br />

sim, juros, mas sempre e s6<br />

aqueles moraterios, previstos em<br />

lel;<br />

por derradeiro, caberia enfatizar<br />

o que seria, data yenta, uma<br />

incongrutwia a refletir-se nos pianos<br />

elle° e doutrinerlo, produzida<br />

pela circunstancia de os juros cornpensatOrios<br />

— alhelos a ideia de<br />

culpa pelo atraso — atuarem male


452 R.T.J. — 94<br />

gravosamente do que os moratorios<br />

que tern em si esse contigente<br />

de desatencAo ao direito. E tudo isso<br />

sem convencão e sem a preocupacäo<br />

de qualquer correspondencia<br />

entre o resultado e a concreta afetacão<br />

patrimonial do credor; que,<br />

como visto, pode ndo ocorrer, ou<br />

ser inferior, ou jA estar integralmente<br />

coberta na Area do valor do<br />

bem.<br />

Nessa linha de raciocinio, tenho<br />

como conclusäo inelutAvel que nem<br />

as normas pertinentes nem qualquer<br />

componente legal ou doutrinario<br />

dos institutos juridicos envolvidos<br />

determina — ou sequer autoriza<br />

a imposicAo dos juros aqui analisados<br />

e repetidamente denominados<br />

«compensathrios», em taxa superior<br />

Aguela legal de 6% ao ano,<br />

como condicão de fazer justa a lndenizacAo<br />

nas desapropriacOes indiretas.<br />

Em • inafastAvel desdobramento<br />

Ingle°, taxa que se prenda a esse<br />

limite, antes do que ser legitima, jamais<br />

poderA ser acoimada de ofensiva<br />

ao ditame constitucional correspondente.<br />

Esse o conjunto de razOes pelaS<br />

quais penso nAo merecer, este reclamo<br />

excepcional, a visto direta<br />

da Suprema Corte.<br />

A argilicAo de relevAncia receberA<br />

o tratamento determinado pela<br />

opcAo da recorrente frente As alternativas<br />

concedidas (Regimento<br />

Interno do Supremo Tribunal Federal,<br />

art. 308, § 5?, II e VI)». (fls.<br />

189-196).<br />

Subiu, porem, o recurso, para melhor<br />

exame, em virtude de despacho<br />

do eminente Ministro Djaci FalcAo,<br />

que, uma vez processado o apelo,<br />

propOs sua redistribuicAo, a mim<br />

que funcionara como relator do RE<br />

88.698, interposto na fase de cognicAo<br />

da mesma causa de desapropriacao<br />

indireta.<br />

o relaterio.<br />

VOTO<br />

Sr. Ministro Declo Miranda (Relator):<br />

Trata-se de recurso extraordinArio<br />

na fase de liquidacão da sentenca<br />

na expropriateria indireta.<br />

Na fase antecedente, de cognicAo<br />

do pedido, a sentenca atribuira ao<br />

autor «juros compensatOrios contados<br />

da data da efetiva ocupacão pela<br />

re» (f. 49v.), sem, contudo, fixar-ihes<br />

a taxa.<br />

Sobre essa taxa, tambêm silenciou<br />

o acerclão na apelacAo (f. 52).<br />

Fixada na execucAo a taxa de 6%<br />

(acercldo a f. 173), o recurso extraordinArio,<br />

pelas letras a e d da permissAo<br />

constitucional, alega contrariedade<br />

ao art. 153, § 22, da Constituicão,<br />

que assegura o direito de propriedade,<br />

salvo o caso de desapropriagAo<br />

mediante previa e justa indenizacAo,<br />

e divergencia com os<br />

acerdAos no RE 69.798, relator o Sr.<br />

Ministro Antonio Neder. RTJ 73/429,<br />

e no RE 88.229, relator o Sr. Ministro<br />

Cordeiro Guerra, DJ de 29.5.78, pAg<br />

3.732. (fls. 176-184).<br />

Cuida-se, pois, de recurso extraordinArio<br />

a que se op6e o veto do art.<br />

308, VI, do Regimento Interno, que o<br />

torna incabivel «nas execucOes por<br />

titulo judicial».<br />

A invocaflo do principio constitucional<br />

de garantia da propriedade<br />

Liao estA em causa, eis que a taxa de<br />

juros, a nAo ser quando compulsoriamente<br />

estabelecida de modo conf iseaten°,<br />

não envolve detrimento a tal<br />

direlto.<br />

Trata-se de materia a que a ora<br />

recorrente deveria ter dad!) atencao<br />

na fase cognitiva da acão de indenizagão<br />

per desapossamento ilicito.De-


veria entáo ter embargado de declaracâo<br />

as decisOes omissas quanto<br />

taxa de juros compensathrios, e nâo<br />

deixar a discussáo para a lase da 11quidacao,<br />

em que tal discussào 6<br />

vedada pelo art. 308, VI, do Regimento<br />

Interno.<br />

NA() havendo materia constitucional<br />

apta a superar o veto, também<br />

náo foi ele afastado pela argilicão de<br />

relevancia suscitada pela ora recorrente,<br />

que veto a ser rejeitada pelo<br />

Supremo Tribunal (ARv 4.677, em<br />

apenso).<br />

Isto posto, nä° conheco do recurso<br />

extraordinario.<br />

E meu vote.<br />

VOTO<br />

R.T.J. — 94<br />

0 Sr. Ministro Corcleiro Guerra:<br />

Sr. Presidente, se se tratasse de decisao<br />

na fase de conhecimento, a jurisprud6nCi8<br />

seria favoravel ao reconente,<br />

mas . aoontece , que ele nä°<br />

453<br />

embargou, nä° recorreu, e, agora,<br />

na execucäo, o tema proposto nao 6<br />

constitucional.<br />

Näo conheco do recurso.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 92.030 — SP — Rel. MM. Decio<br />

Miranda. Recte. York S/A —<br />

trio e Comercio (Advs. Foch Simao e<br />

outro). Recda: Prefeitura Muncipal<br />

de SA° Paulo (Adv. Tereza Cristina<br />

Motta Ramos Marques).<br />

Decisão: Nat) conhecido. Unanime.<br />

Presid6ncia do Sr. Ministro Djaci<br />

Falcao. Presentes a Sessão os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra e Decio<br />

Miranda — Ausente, justificadamente,<br />

o Sr. Ministro Moreira Alves. —<br />

Licenciado, o Sr. Ministro Leitäo de<br />

Abreu. — Subprocurador-Geral da<br />

RepUblica o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 21 de marco de 1980 —<br />

Hello Francisco Marques, Secretario.<br />

RECURSO EtTRAORDINARIO N? 92.151 — SP<br />

(aegunda Turma)<br />

Relator 0 Sri Ministro Dedio Miranda<br />

Recorrentg: atm Angelo Pilon — Ftecorrido: ritezer<br />

, '<br />

,Dem;reVrIal,Zitga Orontissörtit, Registit do endosso, algid° pelo<br />

? 427, de 1969; regulithentado pelo Decreto no 64.156, de<br />

1969, eledittititib vela <strong>jurisprudencia</strong> do Supremo Tribunal. Suprttnida<br />

pela Lei wile (Dec.-let n? 1.700, de 18.10.79) a exigencia do Mastro. A<br />

forma extrtniec •doS atos rege-se pela it do tempo em que se prod-<br />

?carom, No devendo, entretanto, declarar-se a nulidadedo ato, por tie<br />

gonna, apes a viencia da lel que o considera vidido, mftichne -feito de:<br />

quando o favorecido pela nulidade era o interesse do Fisco, e nao o<br />

dos particUlarear participes do ate. Recurso extraordinftrio prejudiced°<br />

past superveniencia do Dec. lei n? 1.700/79, no tocante a fails de<br />

registry do endosso, e conhecido e provido em parte, apenas para<br />

canceler o julgamento de materia estranha a carencia da acAo do<br />

portador do titulo cambial corn endosso nAo registrado.<br />

• ACORDAO<br />

de julgamento e das notas taquigra-<br />

Vistos, relatados e (11scutidos estes fleas, a uhanimidade de votos, co-<br />

autos, acordarn os Ministros do Sunhecer em parte do recurs°, e, nesta<br />

premo Tribunal .Federal, em Segun- parte the dar provimento, nos terdit<br />

Turma na conforintdade de ata mos do voto do Relator.


454 — 94<br />

Brasilia, 21 de marco de 1980. —<br />

Djacl Falcao, Presidente, — Decio<br />

Miranda, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda . Recebendo<br />

embargos infringentes do<br />

credor exeqiiente, o Primeiro Grupo<br />

de COmaras Civeis do Tribunal de<br />

Alcada Civil de Sao Paulo teve como<br />

valida a execucao cambial baseada<br />

em nota promisseria de emissao registrada<br />

segundo o Decreto-let 427,<br />

de 22.1.69. mas a cujo endosso faltara<br />

o mesmo registro.<br />

LO-se no acerdao:<br />

“Assim decidem porque e irrelevante<br />

a falta de registro de endosso<br />

de cambial, uma vez que se trata<br />

de formalidade meramente fiscal,<br />

como ja decidlu o Preterio Excelso<br />

(R.E. 72.280).<br />

8 que tal registro flat) foi previsto<br />

no Decreto-lei n? 427/69, como<br />

indispensavel a validade do Mule,<br />

ou a sua exigibilidade, sendo certo<br />

que, ao estabelcer a obrigatoriedade<br />

de urn novo registro, o Decreto<br />

n? 64.156/69 exorbitou, deixando de<br />

lade a sua limed° meramente regulamentadora.<br />

Alem disso, nao foi estabelecido<br />

prazo para este registro e nem cominada<br />

qualquer nulidade a cambial,<br />

mesmo porque as normas regulamentadoras<br />

nao podem estabelecer<br />

nulidades nao p<strong>revista</strong>s expressamente<br />

na lei regulamentada.<br />

Por outro lado, o art. 2?, § 4?, n?<br />

V, daquele decreto-lei, apenas f acultou<br />

ao Poder Executive ampliar,<br />

atraves de regulamento, os<br />

casos de isencao de registro, e nao<br />

criar novos registros e definir outras<br />

operacaes sujeitas a ele.<br />

Esta e a orlentagão jurisprudential<br />

predominante neste Tribunal<br />

(Julgados dos Tribunals de Aleada<br />

Civil de Sao Paulo 31/127, 33/65,<br />

35/128, 36/62 e 38/293).<br />

Superada, assim, a carencia da<br />

execucao, impae-se, tambem, o desacolhimento<br />

dos embargos opostos<br />

pelo devedor, que, no merito,<br />

nada alegou corn conviccao e firmeza<br />

e nem apresentou pelo menos<br />

urn principle de prove.), — (fls.<br />

73-4).<br />

A essa decisao epee o devedor<br />

recurso extraordinario, fundado nas<br />

letras a e d da permissao constituclonal.<br />

Alega negative de vigencia<br />

do art. 2? do Decreto-lei n? 427/69 e<br />

do art. 4? do Decreto n? 64.156/69, e,<br />

bem assim divergencia corn varies<br />

acerdaos que cita (RTJ 83/194,<br />

82/530, 68/90, 66/930, 59/57), os quais<br />

consideraram imprescindivel o registro<br />

do endosso. Alem disso,<br />

acerdao teria violado o principle do<br />

duplo grau de jurisdicao, corn afronta<br />

a Constitulcao Federal e ao art.<br />

515 e § 1? do Cod. Proc. Civil, e corn<br />

entenchmento clissonante do que prevaleceu<br />

nos acOrciaos publicados in<br />

RTJ 79/1.002 e 74/621, por haver decidido<br />

desde logo sobre a improcedencia<br />

dos embargos do devedor, a respeito<br />

da qual nao se manifestara o<br />

Juiz de primeiro grau, adstrito ao<br />

pronunciamento da carancia da aeao<br />

por falta de registro do endosso. (fls.<br />

81-93).<br />

Fol o recurso admltido nos dots<br />

pontos versados. (fls. 96-8).<br />

8 o relaterio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda (Relator):<br />

Conhego do recurso pela letra<br />

d, no panto concernente a indispensabilidade<br />

do registro do endosso,<br />

afirmada pelos actirciaos divergentes<br />

indicados.<br />

DA-se, porem, que pelo Decreto-lei<br />

n? 1.700, de 18.10.79, art. 1?,<br />

extingulu-se o registro das letras de<br />

cambio e notas promisserlas, estabe-


lecido no art. 2? e seus paragrafos do<br />

Decreto-le i n? 427, de 22.1.69, e no<br />

art. 1? § 11, do Decreto-lei n? 1.042,<br />

de 21.10.69.<br />

Conseq0entemente, cessou tambem<br />

o registro de endossos, exigenda<br />

que se considerou possivel, feita<br />

pelo Decreto n? 64.156, de 4.3.69.<br />

Sabe-se que tal registro teve em<br />

vista apenas o proveito da fiscalizactio<br />

e arrecadacao tributaries da<br />

Ulna°, tanto que inserida a exigencia,<br />

no primelro daqueles citados<br />

decretos-leis, em contexto de medidas<br />

legislativas atinentes ao imposto<br />

de renda.<br />

Nao visava a garantia dos particulares,<br />

tanto que, apesar da nulidade<br />

do titulo de credit°, cominada no art.<br />

2? do citado Decreto-lei n? 427,<br />

admitia-se a cobranca do titulo pela<br />

via comum e em atencao ao locupletamento<br />

do devedor.<br />

Desaparecida a exigencia de ordem<br />

puramente administrative, corn<br />

fins tributarios, a execucao cambial,<br />

ainda nao afastada definitivamente<br />

por sentence transitada ern<br />

julgado, pode retomar seu curso,<br />

instrulda corn o titulo a que nao<br />

mats se °pee a cominacao de nulidade.<br />

Certo, o C6cligo Civil, no art. 145,<br />

V. declare que e nulo o ato juridic°<br />

«quando a lei taxativamente o declarer<br />

nulo, ou the negar efelto».<br />

E nä° he, no C6digo Civil, regra<br />

expressa de direito intertemporal<br />

que revalide o ato, pela revogactlo<br />

da lei que o considerava nulo.<br />

Mas, se essa nulidade nao era estabelecida<br />

em favor das partes, senao<br />

em consideracao de interesse de<br />

terceiro, no caso a Uniflo Federal,<br />

destinattuda do comando legal, devese<br />

conduit que a retirada da cominava°<br />

de nulidade revitalize o ato.<br />

R.T.J. — 94<br />

455<br />

Parece exprimir a melhor doutrina<br />

sobre o ponto a disposicao que<br />

Haroldo Valletta° insertu no seu muito<br />

justamente celebrado Projeto de<br />

COctigo de Aplicacao das Normas<br />

Juridicas, a dizer:<br />

«Art. 83. A forma extrinseca dos<br />

atos rege-se segundo a lei do tempo<br />

em que se praticaram.<br />

Não sere, entretanto, corn<br />

base naquela lei, declarada a nulidade<br />

de urn contrato, por simples<br />

defeito de forma extrinseca, ap6s a<br />

vigencia da lei que o consldera yelido.<br />

0 testamento sera considerado<br />

valid° se tiver observado as<br />

formalidades da lei do tempo de<br />

sua feltura ou do dia da morte do<br />

testador.»<br />

(17/fret° Internacional Privado,<br />

3? ed., peg. 565).<br />

Tenho, assim, que, desaparecida a<br />

cominacão de nulidade por lei superveniente,<br />

prevalece a decisão recorrida,<br />

que por outras razaes a afastava,<br />

assim prejudicado, nessa parte,<br />

o recurso extraordinario.<br />

Quanto a segunda parte do recurso<br />

extraordinerio, tern razao o recorrente.<br />

Nos embargos a execucao, alem<br />

da falta de registro do endosso, havia<br />

ele alegado que a execucao nao<br />

podia prosseguir sem chamamento<br />

ao processo dos demais coobrigados,<br />

que entre eles ja se teriam<br />

composto, assim afastando a<br />

obrigacao cambial dele embargante.<br />

Tanto a sentence de primeiro<br />

grau, quanto o acerdao em apelacao,<br />

adstringiram-se a carencia da acao,<br />

por falta de registro do endosso.<br />

Não podiam o voto vencido na apelava°,<br />

e o acerclao em embprgos,<br />

que o acolheu, incursionar pela materia<br />

de merit() da execucao e conduit<br />

pela improcedencia da defesa do devedor,<br />

desbordando da mattria con-


456 R.T.J. — 94<br />

cernente a carência da acao por falta<br />

de registro do endosso.<br />

Nesse ponto, o actordâo recorrido<br />

desatendeu ao art. 515 do Cod. Proc.<br />

Civil, invocado pelo recorrente, a dizer<br />

que a apelacâo devolve ao conhecimento<br />

do Tribunal o conhecimento<br />

da materia impugnada.<br />

Isto posto, conheco em parte do recurso,<br />

e the dou provimento tambem<br />

parcial, para reformar o acOrdão no<br />

ponto em que julgou materia de merito,<br />

näo compreendida na declaracdo<br />

de carência da acâo pronunciada<br />

pela sentenca de primeiro grau; prejudicado,<br />

no mais, o recurso pela superveniencia<br />

do Decreto-lei n? 1.700,<br />

de 18.10.79.<br />

8 meu voto.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra:<br />

Sr. Presidente, a solucäo consagrada<br />

no voto do eminente Ministro Relator,<br />

embora comportasse urea Tonga<br />

analise e,'talvez, um dissenso dos<br />

motivos tambem ponderAveis, que<br />

näo escaparam a S. Exa., na realidade,<br />

dä uma conclUs8o para o taso<br />

E se fosse possivel aplicar aos nes-<br />

sos votos e aos acerdãos a SOmula<br />

400, eu a invocaria, nesta oportunidade.<br />

Acompanho o Relator, conhecendo,<br />

em parte, do recurso e the dando<br />

provimento tambem parcial.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 92.151 — SP — Rel.: Min. Dedo<br />

Miranda. Recte.: Joao Angelo Pi-<br />

Ion (Advs.: Erasmo Valladão Azevedo<br />

e Novaes Franca e outros). Recdo.:<br />

Eliezer Pia' (Adv.: Joao Fernandes<br />

More).<br />

Decisäo: Conhecido em parte, e<br />

nesta parte provido nos termos do<br />

voto do Relator. Unänime.<br />

Presidéncia do Sr. Ministro Djaci<br />

Falcao. Presentes Sessao OS Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra e Decio<br />

Miranda. — Ausente, justaicadamente,<br />

o Sr. Ministro Moreira Alves.<br />

— Licenciado, o Sr. Ministro Leitâo<br />

de Abreu. — Subprocurador-Geral<br />

da RepUblica, o Dr. Mauro Leite<br />

Soares.<br />

Brasilia, 21 de marco de 1980. —<br />

Hello _ Prancisco Marques, Secretario,<br />

RECURSO EXTRAORDINAItIO CRIMINAL N? 92.193 — PR<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Xavier de Albuquerque.<br />

Recorrente: Salvador Peres Fernandes — Recorrido: Ministerio PUblico<br />

Estadual.<br />

— 1) ApelacAo Criminal. E tempestiva quando entregue<br />

em carterio dentro do prazo legal, ainda que nao despachada pelo<br />

Juiz.<br />

Apelaclio limitada do Mini gthrio Pehlke: Impossibilidade de o<br />

Tribunal dar-lhe provimento em maior extensAo, por estar adstrito<br />

aos limites fixados pelo recorrente.<br />

Recurso extraordin/trio parcialmente conhecido e provide.


ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

Julgamentos e notas taquigraficas,<br />

conhecer parcialmente do recurso, e<br />

nesta parte the dar provimento A unanimidade<br />

de votos.<br />

Brasilia, 17 de junho de 1980. —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Xavier de Albuquerque, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Denunciado por incendio<br />

consumado, o recorrente Mt absolvido<br />

em primeira instAncia por insuflencia<br />

de prove da autoria. E o<br />

promotor de justice, que nas alegacOes<br />

finals retificara a classifitacão<br />

do crime para incendio tentado, apelou<br />

da sentence para, nesses termos,<br />

postular a condenacao do recorrente<br />

como incurso no art. 250, § 1?, letra<br />

a, combinado corn o art. 12, II do 06digo<br />

Penal.<br />

A apelagao foi provide pela Segunda<br />

Camara Criminal do Tribunal de<br />

Justice do Parana, que deu o recorrente<br />

como incurso no art. 250, caput<br />

do COrligo Penal, impondo-lhe as penes<br />

de tres anos de reclusAo e multa<br />

de dois mil cruzeiros e concedendolhe<br />

o beneflcio do regime aberto.<br />

Dal o presente recurso extraordinario,<br />

que suscita tres questees: a)<br />

intempestividade da apelacao do Ministerio<br />

cujo conhecimento<br />

importou negacao de vigencia ao<br />

art. 578, § 2? do Cedigo de Processo<br />

Penal e dissidio Jurisprudencial; b)<br />

Julgamento alem dos limites da apelacao,<br />

que postulara o reconhecimento<br />

do crime em sua forma tentada,<br />

e nao consumada, corn negaclio<br />

de vigencia ao art. 599 do mesmo C6digo<br />

e dissidio Jurisprudenclal; c)<br />

nulidade do processo por falta do<br />

R.T.J. — 94 457<br />

exame de corpo de delito, corn ofensa<br />

ao art. 158 do C6digo Ja referido<br />

e, par %fuel, divergencia pretoriana.<br />

Admitido e processado o recurso,<br />

sobre ele opinou a Procuradoria-Geral<br />

da RepOblica, em parecer do<br />

Procurador Aristides Junquelra Alvarenga,<br />

nestes termos (fls.<br />

106/109):<br />

«Quanto A alegada negativa de<br />

vigencia do artigo 158 do C.P.P.,<br />

que diz ser indispensavel o exame<br />

de corpo de delft% quando a infradeixar<br />

vestigios, trata-se de<br />

questa.° nao ventilada na decisao<br />

recorrida, pelo que se Lorna Madmissivel<br />

o recurso Incomum<br />

mula 282 do Supremo Tribunal Federal.).<br />

4. No que tange ao artigo<br />

578, § 2?, do COdigo de Processo<br />

Penal. («A peticAo de interposicao<br />

de recurso, corn o despacho do<br />

Juiz, sera, ate o dia seguinte ao Ultimo<br />

do prazo, entregue ao escrivao,<br />

que certificara no termo de<br />

Juntada a data da entregas), raw<br />

se vislumbra no V. AcOrdAo sua<br />

pretensa negativa, mas, ao contrario,<br />

sua correta aplicacAo.<br />

Comprovada a entrega da peticat)<br />

de apelacao no qulnqufdiolegal,<br />

atraves de certidao do senren-<br />

Mario, ha de ser tide comb tempestiva,<br />

aincla que tenha sick) ela<br />

apresentada ao Julz, para despacho,<br />

quando Ja esgotado o prazo recurse!.<br />

E certo que o escrivao nao cumpriu,<br />

oportuno tempore, a determinacAo<br />

contida na parte final do artigo<br />

578, 2?, do COdigo de Processo<br />

Penal, que o obriga a certificar<br />

no termo de juntada da pence() a<br />

data de sua entrega. Mass o fez,<br />

posteriormente, em cumprimento<br />

de diligencia deterrninada pelo Tribunal,<br />

que assim agindo, demonstrou<br />

no postergar a disposicao legal<br />

reguladora da tempestividade<br />

da apelacao.


458 R.T.J. — 94<br />

Quanto ao dissidio interpretativo<br />

atinente a tempestividade do<br />

apelo, os julgados dos Tribunals de<br />

Alcada do Rio de Janeiro, Minas<br />

Gerais e Rio Grande do Sul, trazidos<br />

a colacao pelo recorrente, dizem<br />

respeito a oportunidade do despacho<br />

do Juiz na peticao e este()<br />

em completa dissonancia corn o<br />

enunciado da amnia 428 desse Sumo<br />

Tribunal.<br />

Contudo, parece-nos violado<br />

pela v. decisao impugnada o<br />

principio do tantum devolutum,<br />

quantum appelatum, inserto no artigo<br />

599 do C.P.P.<br />

Ja antes da sentenca absolutOria<br />

de primeiro grau, o Ministerio PUblico<br />

limitava sua pretensao condenatOria<br />

ao reconhecimento de tentativa<br />

de incendio, apenas (fls.<br />

39/42). E essa mesma pretensao<br />

limitada Col a raze° de sua apelacAo,<br />

relevando notar que as razOes<br />

de apelo acompanharam a peticao<br />

recursal (fls. 48/50).<br />

Fossem elas oferecidas posteriormente,<br />

poder-se-ia dizer que o<br />

recurso fora ilimitado e ao Ministerio<br />

PUblico e vedado desistir dele,<br />

sequer parcialmente, restringindoo,<br />

ao oferecer as razoes.<br />

Aqui, entretanto, foram elas oferecidas<br />

juntamente com a pence°,<br />

pelo que torna-se indiscutivel ter o<br />

recurso da acusacao um escopo limitado:<br />

o reconhecimento de crime<br />

tentado e nao consumado, como reconhecido<br />

pelo Tribunal a quo,<br />

que, assim decidindo, olvidou o<br />

principio processual contido no artigo<br />

599 do C.P.P., alem de divergir<br />

do entendimento de outros Tribunals,<br />

inclusive desse Excelso<br />

Tribunal, como demonstrado pelo<br />

recorrente.<br />

Merece, portanto, conhecimento<br />

o recurso.<br />

Quanto a seu provimento, a<br />

prove existente nos autos esta a re-<br />

velar a inocorrencia de incendio<br />

consumado.<br />

Para a admissao deste o V.<br />

AcOrdeo recorrido alicercou-se<br />

apenas no fato de «que houve destruicao<br />

de objetos pertinentes<br />

vitima, de forma irreversivel)) (Us.<br />

65).<br />

Tal circunstAncia, contudo, caracteriza<br />

a consumacao do crime<br />

de dano qualificado, eis que cometido<br />

com emprego de Pogo (art.<br />

163, paragrafo Unico, inciso II, do<br />

C.P).<br />

Mas, tal delito e subsidiario, consoante<br />

declaracao expressa na norma<br />

penal citada.<br />

Resta, pois, examinar se o mesmo<br />

fato constitui crime mais grave.<br />

E a resposta ha de ser positiva,<br />

em face da definicAo legal do crime<br />

de incendio (art. 250, 1?, II, a<br />

do C.P.).<br />

Prevalente este, resta constatar<br />

se foi ele consumado ou tentado.<br />

Tratando-se de delito contra a incolumidade<br />

pUblica, consuma-se<br />

«quando se estabelece ou manifesta<br />

a situacao de perigo coletivo.<br />

Tal acontece geralmente com a expanse()<br />

do Pogo, quando ele assume<br />

proporcOes a tornarem dificil sua<br />

extincão, ameacando, dessarte, a<br />

incolumidade pablica». ( Magalhaes<br />

Noronha, Direito Penal, Saraiva,<br />

SAo Paulo, 6a. ed. 1973, 3?<br />

Vol., p. 348).<br />

E o mesmo autor afirma, acertadamente,<br />

que pode, alias, o Pogo<br />

romper e haver simplesmente tentative,<br />

se, pela intervenceo de terceiros,<br />

nao chegar as porporcees<br />

constitutivas do perigo comum» (idem,<br />

ibidem).<br />

E foi precisamente o que ocorreu,<br />

no caso em foco. Antes que o<br />

Pogo ateado no colchao da cama<br />

destruisse a casa e passasse para<br />

as casas vizinhas, tercelros o debelaram,<br />

usando Ague. Nenhum peri-


go comum foi concretizado, inobstante<br />

a verificacao de danos materials,<br />

pelo que nao se pode falar<br />

em incAndio consumado, mas apenas<br />

tentado.<br />

9. Pelo exposto, somos pelo provimento<br />

parcial do recurso, tao-s6<br />

para reduzir de dots tercos as penas<br />

de reclusan e multa aplicadas<br />

pelo V. AcOrclao impugnado, apenacan<br />

minima p<strong>revista</strong> (art. 12,<br />

parAgrafo unico, d6 CP.), em face<br />

da anAlise feita pela decisao recorrida<br />

a respelto da personalidade do<br />

recorrente (1. 66).»<br />

o relatdrio.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Mintstro Xavier de<br />

Albuquerque (Relator): Acolho o parecer<br />

da douta Procuradoria-Geral,<br />

a cujos fundamentos me reporto.<br />

Da falta de exame de corpo de delito<br />

nao cuidou com efeito, o acerdao<br />

recorrido Essa matèria, por outro<br />

lado, jamais fora suscitada nos autos.<br />

Quanto a intempestividade da apetenho<br />

como acertado o entendimento<br />

de que a afasta a entrega<br />

da peticao em cartOrlo, dentro do<br />

prazo legal, ainda que nao despachada<br />

pelo juiz, e assim jA decidi mats<br />

de uma vez. 8 certo que, neste caso<br />

o Tribunal a quo contentou-se com<br />

informacao prestada, cinco meses<br />

depots da ocorrancta, pelo escrivao,<br />

aparentemente de memOrta e sem<br />

mencao a qualquer tipo de registro<br />

ou elemento objetivo semelhante,<br />

acaso existente no cartOrio. Todavia,<br />

embora me pareca fundada a viva<br />

critica que the faz, no ponto, o recorrente,<br />

entendo que se trata de questa°<br />

de fato sobre a qual nao nos podemos<br />

pronunciar.<br />

R.T.J. — 94 459<br />

Resta o tema dos limites da apelacao,<br />

nao atendidos pela decisao recorrida.<br />

Aqui, ainda na companhia<br />

da Procuradoria-Geral, entendo que<br />

o recurso tern cabimento e procedëncia.<br />

Nao foi plena, com efeito, a apelava°<br />

do Ministerio POblico, pelo que<br />

nao restaurou a acusacao primitivamente<br />

contida na denfmcia. Foi, ao<br />

invas, limitada, perseguindo a reforma<br />

da sentenca para que se condenasse<br />

o acusado como autor de tentativa<br />

de incAndio.<br />

Isto posto, conhecendo, nessa parte,<br />

do recurso, dou-lhe provimento<br />

para retificar a capitulacao legal do<br />

fato e reduzir correspondentemente<br />

as penas impostas, dando o recorrente<br />

como incurso no art. 250, cornbinado<br />

corn o art. 12, II do COdtgo<br />

Penal, e sujeito, por isso, as penas<br />

de um ano e quatro meses de reciusao<br />

e CI 667,00 de multa, mantido 0<br />

beneficio do regime aberto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RECr 92.193 — PR — Rel. MM.<br />

Xavier de Albuquerque. Recte. Salvador<br />

Peres Fernandes (Advs. Walter<br />

Borges Carneiro e Rent Ariel<br />

Dotti). Recdo: MinistArio PIMlico Estadual.<br />

Decisao: Conheceram parcialmente<br />

do recurso, e nesta parte, the deram<br />

provimento. UnAnime.<br />

Presidancia do Sr. Mintstro<br />

Thompson Flores. Presentes A Sessao<br />

os Srs. Mlnistros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto, Soares Munoz<br />

e Rafael Mayer. Subprocurador-<br />

Geral da RepOblica, Dr. Francisco<br />

de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 17 de junho de 1980. —<br />

Deck) Carlos Dayrell, SecretArio.


460 R.T.J. — 94<br />

RECURS() EXTRAORDINAFtIO 92.217 —RS<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra.<br />

Recorrente: Zulmira Gonsalves da Silva — Recorridos: Noémio Modesto<br />

de Abreu e outra — Brasilio Pereira Garcia e outros — Odino Caetano Luiz<br />

Bacchin e outros.<br />

— A mulher casada a parte, e näo terceiro, em litisconsercio passivo<br />

necesst(rio com o marido, na acao executiva movida contra este,<br />

se a penhora recai em bens !Wive's.<br />

E, assim, carecedora da acâo de embargos de terceiro.<br />

Precedente.<br />

RE nä() conhecido, SOmula<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos ester<br />

autos, acordam os Ministros da Se<br />

gunda Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e das notas taquigrAficas,<br />

a unanimidade de votos, em nal)<br />

conhecer do recurso.<br />

Brasilia, 21 de marco de 1980 —<br />

Djaci Feel), Presidente — Cordeiro<br />

Guerra, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Corder() Guerra: 0<br />

recurso extraordindrio fol admitido<br />

em despacho do ilustre. Presidente<br />

pauloakidloTovo -do seguinte teor:<br />

(errata-se de embargos de terceiro<br />

opostos por Zulmira Gonsalves<br />

da Silva, visando excluir de cons-<br />

WO° Judicial sua meacAo, em<br />

bens imOveis penhorados, nas<br />

acOes executivas ajuizadas por<br />

Noêmio Modesto de Abreu e Outros<br />

contra seu marido Florian() Pereira<br />

da Silva.<br />

0 juiz de primeira instância julgou<br />

a embargante carecedora dos<br />

embargos de terceiro.<br />

Inconformada, a vencida apelou,<br />

pedindo a ref orma da sentenca.<br />

A 1? Cámara dive dente Tribunal,<br />

por maiorta, negou provimen-<br />

286.<br />

to a apelacdo, corn o seguinte entendimento:<br />

“Embargos de Terceiro.<br />

Na acâo executiva proposta<br />

contra o marido, recaindo a penhora<br />

em bens imOveis, a mulher<br />

assume a posicao de litisconsorte<br />

passiva, nä() podendo embargar<br />

como terceiro.<br />

Aplicacão dos arts. 707, 948, 2°<br />

parte, e 81, do Cedigo de Processo<br />

Civil.<br />

Careicia de acAo.<br />

Apelacdo nAo'provida.<br />

Voto vencido.»<br />

A apelante, arrimada no data()<br />

voto vencido, interpOs embargos<br />

infringentes, os Clues foram reeltados,<br />

por maioria, entendendo<br />

que:<br />

«Embargos Infringentes.<br />

A mulher casada é parte, e não<br />

terceiro, em litisconsOrcio passivo<br />

necessdrio com o marido, na<br />

acäo executiva proposta contra<br />

este, se a penhora recai em bens<br />

imOveis. E, assim, carecedora da<br />

acäo de embargos de terceiro Para<br />

defender a sua meacao.<br />

Embargos infringentes rejeitados.<br />

Votos vencidos.»


Irresignada, Zulmira Gonsalves<br />

da Silva recorreu extraordinariamente,<br />

embasando seu recurso no<br />

art. 119, inciso III, letra a e d, do<br />

permissivo constitucional. Alegou<br />

ofensa ao art. 3?, da Lei 4.121, de<br />

27.8.62, e ao art. 707 do CPP de<br />

1939.<br />

Para caracterizar o dissidio pretoriano,<br />

citou acOrdAos de outros<br />

<strong>tribunal</strong>s pAtrios.<br />

A peticAo do recurso extraordinatio<br />

foi protocolada neste Tribunal<br />

em 23 de abril de 1973, porem,<br />

por um lapso, o apelo nAo foi processado,<br />

tendo o processo baixado<br />

a origem, em 27 de outubro de<br />

1978, corn certideo de trAnsito em<br />

Julgado do acerao respectivo. Em<br />

20 de agosto deste ano, os autos foram<br />

requisitados por ordem do<br />

Presidente desta Corte para que<br />

fosse, entAo, processado o apein<br />

extremo (f. 137).<br />

O recurso foi impugnado em 5 de<br />

outubro de 1979.<br />

Em primeiro lugar, cumpre salientar<br />

que 6 aplicavel ao caso o<br />

CPP de 1939, uma vez que a sentenca<br />

foi publicada na vigencia<br />

deste diploma legal.<br />

Pela tetra a do dispositivo constitucional,<br />

nAo merece prosperar o<br />

apelo. A razoabllidade da interpretea°<br />

dada aos dispositivos legais<br />

pela decisAo recorrida, enseja aplicacao<br />

da SUmula 400 do STF.<br />

No tocante ao recurs° fundado<br />

na tetra d do permissivo constitucional,<br />

merece melhor sorte o recorrente.<br />

A materia, sob a egide do C6cligo<br />

de 1939, lavrou dissidlo nos <strong>tribunal</strong>s<br />

()aides, inclusive no Excelso<br />

Preen°.<br />

Os arestos trazidos para confronto,<br />

esposam orientagAo diversa da<br />

Ueda() recorrida, configurando-se,<br />

assim, o requisito de admissibilidade<br />

do apelo por tal fundamento.<br />

R.T.J. — 94 461<br />

Diante do exposto, deixo de admitir<br />

o recurso pela letra a,<br />

recebendo-o, no entanto, pela letra<br />

d, inciso III do art. 119 da Carta<br />

Magna.<br />

Determino que ap6s contados e<br />

preparados, seja dada vista dos<br />

autos as partes, oportunamente e<br />

na forma da lei, para oferecimento<br />

de raz6es.» (fls. 156-158).<br />

Insiste a recorrente nos fundamentos<br />

juridicos dos votos vencidos e o<br />

recurso foi contra-arrazoado.<br />

E o related°.<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro -Cordeiro Guerra<br />

(Relator): Trata-se de embargos de<br />

terceiro opostos pela recorrente, nos<br />

termos do art. 3? da Lei 4.121, contra<br />

os recorridos, visando a excluir de<br />

constricAo judicial sua meacAo em<br />

bens mewls penhorados nas aches<br />

executives ajuizadas no regime do<br />

C6digo de 1939; contra seu marido, e<br />

na qual foi intimada da penhora.<br />

A <strong>jurisprudencia</strong> desta Corte<br />

trancAlla no sentido da decisAo recorrida.<br />

Veja-se, por exemplo, o RE<br />

70.852 — PR, de que foi relator o<br />

saudoso Min. Luiz Gallotti:<br />

«Embargos de terceiro.<br />

Citacao.<br />

Vale como tal a intimacAo da mulher,<br />

apes a penhora.<br />

Assim, nAo podera ela, que se<br />

tornou parte do litiglo, deixar de oferecer<br />

embargos a penhora no prazo<br />

legal, para apresentar embargos de<br />

terceiro por °caster, da praca.» RTJ<br />

55/732.<br />

No mesmo sentido o RE 72.487 —<br />

RJ, de que foi relator o pranteado<br />

MM. Berms Monteiro:<br />

«Mulher casada, intimada da penhora<br />

procedida em acAo executive,<br />

deve defender a sua mend°,<br />

corn apoio no art. 3? da Lei 4.121,<br />

por via de contestactio.


462 R.T.J. — 94<br />

De embargos de terceiro, ela<br />

carecedora.» RTJ 67/476.<br />

Observou, entao, o eminente<br />

Ministro-relator:<br />

"Na acao executiva proposta<br />

contra o marido, penhorados bens<br />

im6veis, a mulher assume a postcao<br />

de parte; em litisconsOrcio passivo<br />

necessario, nao tendo legitimidade<br />

para oferecer embargos, como<br />

terceiro.»<br />

No mesmo sentido: RE 79.415 —<br />

Min. Rodrigues Alckmin; RE 88.339<br />

— SP — Min. Moreira Albes — RTJ<br />

88/656; RE 79.720 — Ministro Leith)<br />

de Abreu, DJ 16.10.78.<br />

Finaimente, ja na vigência do novo<br />

Cedigo de Processo Civil, esta<br />

Egrégia Turma assim decidiu, em<br />

acerdao de que fui relator:<br />

«Nao opostos embargos a execucao<br />

em que era parte, licito nao<br />

era ao executado invocar o artigo<br />

1.046 do CPC.<br />

A pessoa fisica ou juridica pode<br />

ser simultaneamente parte e terceiro<br />

no mesmo processo, somente<br />

se sao diferentes os titulos juridicos<br />

que justificam esse duplo papel.<br />

Inocorrente esta hipetese, inadimissiveis<br />

sao Os embargos de terceiro.»<br />

(RE 89.802 — CE) RTJ<br />

88/717<br />

Pelos motivos expostos, nao conheco<br />

do recurso — Siimula 286.<br />

E o meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 92.217 — RS — Rel.: Min. Cordeiro<br />

Guerra. Recte.: Zulmira Goncalves<br />

da Silva. (Adv.: Eliseu G.<br />

Torres). Recdos.: Noémio Modesto<br />

de Abreu e outra. (Adv.: Lodoviglio<br />

Todeschini). Brasilio Pereira Garcia<br />

e outros. (Adv.: Silvio Tavares<br />

Tatsch). Odino Caetano Luiz Bacchin<br />

e outros. (Adv..: Moacyr Cunha<br />

Roesing).<br />

Decisao: P4lao conhecido, unanime.<br />

Presidëncia do Sr. Ministro Djaci<br />

Falcao. Presentes a Sessao os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra e Decio<br />

Miranda. Ausente, justificadamente,<br />

o Sr. Ministro Moreira Alves. Licenciado,<br />

o Sr. Ministro Leitao de<br />

Abreu. Subprocurador-Geral da Reo<br />

Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 21 de marco de 1980 —<br />

Hello Francisco Marques, Secretàdo.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 92.264 — SP<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Decio Miranda.<br />

Recorrente: Renovadora de Pneus Kennedy Ltda. — Recorrida: Prefeitura<br />

Municipal de Sao Paulo.<br />

Processual Regimental.<br />

Recurso extraordinArio. Valor da causa. Excluslio regimental.<br />

ExclusAo do recurso pelo pequeno valor da causa, inferior ao da cicada<br />

regimental, salvo no caso de ofensa a Constituicão (Regimento Interno,<br />

art. 308, VIII). Para superar o 6bice regimental, a alegacAo de<br />

contrariedade A ConstitulcAo deve ser necessAria, indlspensAvel. NAo<br />

e necessAria a argilicAo de principio constltucional genéricoe abrangente,<br />

quando a lei ordinAria contêm disposicAo particular sobre a<br />

mat6ria. Se, para provar a contrariedade a Constituted°, tern-se, antes,<br />

demonstrar a ofensa A lei ordinAria, a esta que conta para a admissibilidade<br />

do recurso extraordinArio em face das restricOes<br />

regimentals.


ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Segunda<br />

Turma, na conformidade da ata<br />

de julgamentos e das notas taquigraficas,<br />

a unanimidade de votos, nth)<br />

conhecer do recurso.<br />

Brasilia, 18 de abril de 1980 —<br />

Djaci FaIca°, Presidente — Decio<br />

Miranda, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda — Sentence<br />

e acerciao rejeitaram a defesa<br />

da empresa renovadora de pneumAticos,<br />

em execucao fiscal do Imposto<br />

sobre Services, por debitos relativos<br />

aos exercicios de 1967, 1969 e 1971.<br />

Recorre a executada, sustentando<br />

que o service de recauchutagem, a<br />

que se referem os debitos contra ela<br />

levantados, quanto aos exercicios de<br />

1967 e 1969 nao encontravam previsac)<br />

na lei <strong>federal</strong>, visto que somente<br />

pelo Decreto-lei n? 834, de 1969, a<br />

Uniao incluiu a recauchutagem na<br />

lista de services, incidencia que vigoraria<br />

a partir do exercicio seguinte,<br />

isto e, 1970.<br />

Quanto ao exercicio de 1971, ja entao<br />

consagrada a incidéncia, a execucao<br />

se mostrava improcedente pela<br />

nulidade da certidao de divida, lacunosa<br />

quanto aos sews elementos<br />

essentials.<br />

Funded° o recurso nas alineas a e<br />

d da permissao constitutional, alega<br />

contrariedade ao art. 153, §§ 2? e 29,<br />

da Carta Politica, bem assim negative<br />

de viencia aos arts. 108, § 1?, e<br />

202 do C6digo TributArio Nacional, e<br />

divergencia corn os acerclaos do Supremo<br />

Tribunal nos RREE 76.276<br />

(RTJ 72/432) e 81 621 (RTJ 78/928),<br />

de que foram relatores, respectivamente,<br />

os Srs. Ministros Bilac Pinto<br />

e Lena° de Abreu. (fls. 159-169).<br />

E o relaterio.<br />

R.T.J. — 94 463<br />

VOTO<br />

Sr. Ministro Decio Miranda (Relator)<br />

— 0 valor da execucao a de<br />

Cr$ 2.678,84, em 16.11.71, conforme a<br />

peticao initial de f. 2, inferior a alcada<br />

regimental (RISTF, art. 308,<br />

VIII).<br />

A alegacao, pela recorrente, de<br />

contrariedade aos parAgrafos 2? e 29<br />

da Constituicao (legalidade generica<br />

e legalidade tributAria) nao afasta o<br />

(Mice.<br />

Sao principles abrangentes de cuja<br />

invocacao s6 se terla de cogitar apes<br />

demonstrada a violacao da lei ordinAria,<br />

por sua aplicacao a cases nao<br />

previstos.<br />

que estA em causa, verdadeiramente,<br />

e a lei complementar <strong>federal</strong><br />

elusive ao Imposto sobre Servicos.<br />

ela que resolve a controversla,<br />

admitindo ou nao, nos exercicios de<br />

que se trata, a incidencia do ISS sobre<br />

services de recauchutagem de<br />

pneumAticos.<br />

Suficiente, pots, para a solucão da<br />

causa, ern tese, a consulta a norma<br />

de hierarquia inferior, nao tern lugar<br />

a alegacäo de ofensa a Constituicao,<br />

ao fito de se ultrapassar o crivo das<br />

restricees regimentals.<br />

No caso dos autos, sendo o valor<br />

da causa inferior ao previsto no art.<br />

308, VIII, do Regimento Interne, o<br />

recurso nap podia ter seguimento.<br />

Dele nao conheco.<br />

E o meu vote.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 92.264 — SP — Rel.: MM. Decio<br />

Miranda. Recte.: Renovadora de<br />

Pneus Kennedy Ltda. (Advs.: Maria<br />

Helena de Barros Hahn e outros).<br />

Recda.: Prefeitura Municipal de Sao<br />

Paulo (Adv.: Sandra Regina Lobue).<br />

Decisao: Nao conhecido. Unanime.


464<br />

Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

Falcao. Presentes a Sessdo os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves e Decio Miranda — Licenciado.<br />

o Sr. Ministro LeitAo de Abreu —<br />

R.T.J. — 94<br />

Subprocurador-Geral da Republica,<br />

o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 18 de abril de 1980 —<br />

Milo Francisco Marques, Secretdrio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 92.273 — RJ<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Decio Miranda:<br />

Recorrente: Estado do Rio de Janeiro — Recorrida: Lola Apeni dos Santos.<br />

Processual Civil. Processo de execucAo. CftacAo edital. Cabe, a<br />

requerimento do credor, efetuar-se a do devedor que ntio foi encontrado<br />

e do qual nAo foram achados bens a arrestar. Inteligencia dos<br />

arts. 652, 653 e 654 do C6digo de Processo Civil. Voto corn ressalva do<br />

relator, que aplicaria no caso o art. 791, III, do C,Odigo de Processo<br />

Civil.<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros do Supremo<br />

Tribunal Federal, em Segunda<br />

Turma, na conformidade da ata<br />

de julgamentos e das notas taquigrafleas,<br />

A unanimidade de votos, conhecer<br />

do recurso e the dar provimento.<br />

Brasilia, 18 de abril de 1980 —<br />

Djaci Falcao, Presidente — Decio<br />

Miranda, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda: Decidiu<br />

o acerdão recorrido que, nä()<br />

encontrado o devedor nem bens a arrestar,<br />

a execuflo se suspende.<br />

Sustenta o Estado do Rio de Janeiro,<br />

exeqiiente, que, nesse caso, desde<br />

logo se procede A citacdo edital, Para<br />

a obtencAo de efeitos outros que<br />

Liao o preptio andamento da execucdo,<br />

como a interrupcao da prescriflo<br />

e a prevencão de fraudes aos direitos<br />

do credor.<br />

Alega o recorrente que o acerdAo<br />

nega vitencia ao art. 654 do Cedigo<br />

de Processo Civil e diverge do que<br />

decidiu o Tribunal Federal de Recursos<br />

no Agravo de Instrumento n?<br />

38.629, relator o ilustre Ministro Carlos<br />

Mario Velloso, DJ de 13-6-77 p.<br />

3.914.<br />

Tendo a cause apenas o valor de<br />

Cr$ 286,00, subiu o recurso pelo acolhimento<br />

da argilicao de relevancia<br />

(n? 3.504, em apenso).<br />

E o relatOrio.<br />

VOTO<br />

O Sr. Ministro Decio Miranda (Relator):<br />

No meu ponto de vista pessoal,<br />

que ja tive ocasiao de externar<br />

em outro caso, a providencia que a<br />

Fazenda Pfiblica do Estado do Rio<br />

resolveu adotar nas execucees fiscais<br />

que nem encontram o devedor,<br />

nem bens a arrestar, a uma especie<br />

de mimica do cumprimento do Bever,<br />

que exonera os funcionArios da<br />

exeqiiente do trabalho de localizar o<br />

devedor e os respectivos bens.<br />

Requer-se a citacão por edital,<br />

gastam-se somas elevadas na publicacAo,<br />

e tudo flea por isso mesmo,


deixando-se de fazer o que e essencial:<br />

a procura de bens do devedor.<br />

Mas a orientacao deste Tribunal ja<br />

se flxou, em ambas as Turmas, no<br />

sentido de acolher os recursos extraordinarios<br />

da Fazenda Estadual,<br />

interpostos em casos do genero<br />

(v.g., Turma, RE 92.274; 2? Turma,<br />

RE 91.021).<br />

Pela letra a, näo conheceria eu do<br />

recurso, visto que o art. 654 do C6digo<br />

de Processo Civil, invocado pelo<br />

Estado recorrente, dispOe justamente<br />

ao contrario do que se pretende:<br />

autorizar o credor a requerer a citacflo<br />

por edital, mas apes a realizaego<br />

do arresto. E o art. 791, III, do<br />

COdigo de Processo Civil preve para<br />

o caso a suspensào da execucau.<br />

Todavia, pela tetra d, comprova-se<br />

o dissidio corn o acerdáo do Tribunal<br />

Federal de Recursos, mencionado no<br />

relathrio.<br />

Conheco, pots, do apelo.<br />

R.T.J. — 94 465<br />

E, fazendo apllcacao da <strong>jurisprudencia</strong><br />

das duas Turmas, em orien-<br />

Lacão da qual divergi inicialmente<br />

no julgamento do RE 91.021, dou provimento<br />

ao recurso.<br />

E o meu voto.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 92.273 — RJ — Rel.: Min. Decio<br />

Miranda. Recte: Estado do Rio<br />

de Janeiro (Advs.: Antolauro S. Alfradique<br />

e outros). Recda: Lola Apeni<br />

dos Santos.<br />

Decisão: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator.<br />

Unánime.<br />

Presidencia do Sr. Ministro Djaci<br />

Falcao. Presentes a sessâo os Srs.<br />

Ministros Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves e Decio Miranda. Licenciado,<br />

o Sr. Ministro Lelia° de Abreu.<br />

Subprocurador-Geral da Reptiblica,<br />

o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

Brasilia, 18 de abril de 1980 —<br />

Hello Francisco Marques, Secretario.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO N? 92.275 —1W<br />

(Segunda Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra.<br />

Recorrente : Estado do Rio de Janeiro — Recorrida: Gercy de Oliveira.<br />

Execucilo Fiscal. A cltacAo do devedor, no processo de execucAo,<br />

e condlcAo lmposta pela let (CPC, art. 652). Nilo encontrado este,<br />

nem existindo bens pars serem arrestados (CPC, art. 653), nada impede<br />

seja o executado cltado por edital, por isso que ((apnea-se subsidiarlamente<br />

A execucAo as disposiciles que ream o processo de conhecimenton<br />

(CPC, art. 596). A cltacAo por edital produz efeltos que<br />

nAo podem ser negligenclados ou obstados em virtude do interesse<br />

phblico que preservam.<br />

Apes a cltacilo por edital, nAo vindo o executado nos autos e persistindo<br />

a inexlstenc.la de bens pare a penhora, entSo, e de aplicar-se<br />

a regra do art. 791, III, do Cedigo de Processo Civil.<br />

Precedentes: RE 91.021/RJ.<br />

RE conheddo e provido.


466 R.T.J. — 94<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Segunda<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, na conformidade da ata de<br />

julgamentos e das notas taquigrAficas,<br />

a unanimidade de votos, em conhecer<br />

e dar provimento ao recurso.<br />

Brasilia, 14 de marco de 1980 —<br />

Djaci Falean, Presidente — Cordeiro<br />

Guerra, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Cordeiro Guerra:<br />

Trata-se de execucao fiscal em que o<br />

v. acOrdao recorrido negou a citacAo<br />

por edital do devedor nao localizado,<br />

por the nao terem sido encontrados<br />

bens para serem arrestados,<br />

suspendendo-se a execucao, f. 18.<br />

Inconformado o exeqflente interpOs<br />

recurso extraordinario pelas letras a<br />

e d do permissivo constitutional e<br />

Argaicao de Relevancia, que tomou<br />

o n? 3.566-1, a qual foi acolhida.<br />

Traz a colacAo o recorrente o actor-ciao<br />

do Egrégio Tribunal Federal de<br />

Recurso no Agravo de Instrumento<br />

38.629-PI, de que foi relator o ilustre<br />

Ministro Carlos MArio Velloso — f.<br />

30, reproduzido em xerox, fls. 29/30.<br />

O ponto de vista da Procuradoria<br />

Geral da Reptiblica em casos idanticos<br />

ja foi manifestado pelo ilustre<br />

Procurador Miguel Frauzino Pereira,<br />

pelo conhecimento e provimento<br />

— RE 91.021, RJ:<br />

oEntre os motivos de suspensao<br />

da execucao, inclui o art. 791 do<br />

CPC a hipotese de nao possuir o<br />

devedor bens penhoraveis. Por sua<br />

vez, o art. 653 determina que, nao<br />

sendo encontrado o devedor, o of icial<br />

de justica arrestar-lhe-A tantos<br />

bens quantos bastem para garantir<br />

a execucao. Efetivado o arresto,<br />

sera o devedor procurado, novamente,<br />

por Was vezes em dias distintos;<br />

nao sendo encontrado, corn-<br />

petira ao credor requerer sua citacar)<br />

por edital.<br />

Sustenta o recorrente que a<br />

citacao-edital seria necessAria para<br />

interromper a prescricAo. Sucede<br />

que este efeito somente se opera<br />

pela citacao pessoal, como dispOe<br />

expressamente o art. 174, §<br />

inciso I, do COdigo TributArio Nacional,<br />

adotando igual norma do<br />

art. 172, I, do COdigo Civil.<br />

Todavia, existem outros efeitos<br />

da citacao: tornar prevento o juizo,<br />

induzir litispendencia, fazer litigiosa<br />

a coisa e constituir em mora o<br />

devedor. No processo de execucao,<br />

ocorre a sujeicao de todos os bens<br />

do devedor, presentes e futuros,<br />

alêm dos arrolados no art. 592 do<br />

CPC. E 4uando a divida a tributAria,<br />

ha a prevencao da responsabilidade<br />

dos sucessores e de terceiros,<br />

nas hipOteses dos arts. 129 e<br />

135 do C6digo Tributario Nacional.<br />

Questa() idantica a objeto do RE<br />

n? 91.323, relator o eminente Ministro<br />

Leitao de Abreu, e que subiu<br />

em razao de argiiicao de relevancia,<br />

acolhida em sessao de 8 de<br />

marco de 1979. »(fls. 55/56).<br />

E o relatOrio.<br />

VOTO<br />

O Sr. Ministro Cordeiro Guerra<br />

(Relator): — Afastado 0 Obice da alcada,<br />

pelo acolhimento da argUicäo<br />

de relevancia, patente e o dissidio<br />

jurisprudential apontado, e, assim,<br />

conheco do recurso e ]he dou provimento,<br />

de conformidade corn o voto<br />

que proferi no RE 91.021-2, acolhido<br />

por esta Turma corn a respeitAvel<br />

discordAncia do eminente Ministro<br />

Decio Miranda.<br />

Eu disse entao: “Trata-se de execucao<br />

por divida fiscal no valor de<br />

Cr$253.913,90, distribuldo em 20 de<br />

maio de 1977, f. 9, portanto, superior<br />

a alcada regimental (Decreto 79.610,<br />

de 1.5.77) pelo que, inexistindo qual-


quer outro Obice regimental, desnecessAria<br />

era a argilicAo de relevAncia<br />

que foi rejeitada, por certo, nessa<br />

consideracAo.<br />

Assim, conhego do recurso pela<br />

letra d do permissivo constituclonal,<br />

e, dele conhecendo, the dou provimento,<br />

de conformidade com o parecer<br />

da douta Procuradoria-Geral da<br />

Reptiblica porque, ainda que a<br />

citaflo-edital !IA° bastasse para interromper<br />

a prescrigão — tema que<br />

nä° interessa antecipar — o certo 6<br />

que «existem outros efeitos da citacAo:<br />

Tornar prevento o Juizo, induzir<br />

litispenancia, fazer litigiosa a colsa<br />

e constituir em mora o devedor»,<br />

alum de presumir a responsabilidade<br />

dos sucessores e terceiros, nas hip6teses<br />

dos arts. 129 e 135 do CAdigo<br />

TributArio Nacional, que cumpre<br />

preserver em beneficio do interesse<br />

pnblico representado pela Fazenda<br />

Estadual.<br />

E o voto.<br />

R.T.J. — 94<br />

467<br />

de vista pessoal, acompanho o douto<br />

Relator, conhecendo do recurso e the<br />

dando provimento, em atencAo a jurisprudthcia<br />

firmada na Turma.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE 92.275 — RJ — Rel.: Min. Cordeiro<br />

Guerra. Recte.: Estado do Rio<br />

de Janeiro (Advs.: Meronia Coelho<br />

Amorim e outros). Recdo.: Gercy de<br />

Oliveira.<br />

DecisAo: Conhecido e provido nos<br />

termos do voto do Ministro Relator.<br />

UnAnime.<br />

PresidAncia do Sr. Ministro DJ ad<br />

— Presentes a Sessào os Srs.<br />

Ministro Cordeiro Guerra, Moreira<br />

Alves e Decio Miranda. — Licenciado,<br />

o Sr. Ministro LeitAo de Abreu.<br />

— Subprocurador-Geral da RepUblica,<br />

o Dr. Mauro Leite Soares.<br />

VOTO<br />

Brasilia, 14 de margo de 1980 —<br />

0 Sr. Ministro Decio Miranda: Sr.<br />

Hello Francisco Marques, SecretA-<br />

Presidente, ressalvando meu ponto rio.<br />

RECURSO EXTRAORDINARIO re 92.684 — RS<br />

(Primeira Turma)<br />

Relator: 0 Sr. Ministro Xavier de Albuquerque.<br />

Recorrentes: Francisco Licifilo da Silva Reis e s/mulher — Recorrido:<br />

Departamento AutOnomo de Estradas de Rodagem do Estado do Rio Grande<br />

do Sul.<br />

1) DesapropriacAo. Os juros compensaterios devem calcular-se<br />

taxa de 12% ao ano, consoante jurispruclencla relterada a Mime do<br />

Supremo Tribunal Federal.<br />

Desapropriaclio. E devida a correcão monetarla quando a sentenca,<br />

conquanto nil° acolha integralmente nenhum dos laudos ()ferecldos,<br />

serve-se dos seus elementos para encontrar os valores que devem<br />

compor a indenlzacao devida.<br />

Recurso exWaordinirio conhecido e provido


468<br />

ACORDAO<br />

Vistos, relatados e discutidos estes<br />

autos, acordam os Ministros da Primeira<br />

Turma do Supremo Tribunal<br />

Federal, de conformidade corn a ata<br />

de julgamentos e notas taquigraficas,<br />

a unanimidade de votos, conhecer<br />

do recurso e the dar provimento,<br />

nos termos do voto do Ministro Relator.<br />

Brasilia, 24 de junho de 1980. —<br />

Thompson Flores, Presidente —<br />

Xavier de Albuquerque, Relator.<br />

RELATORIO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque: Nesta ace° de desapropriacao,<br />

o juiz serviu-se dos laudos<br />

periciais mas nao acolheu, na<br />

Integra, qualquer deles, preferindo<br />

encontrar, ele proprio, os valores da<br />

terra nua e de cada uma das benfeitorias,<br />

corn os quais compOs o total<br />

da indenizacao devida. Por isso, negou<br />

a correcao monetaria sob o fundamento<br />

de que "a avaliacao foi feita<br />

corn base na atualidade" (f. 179).<br />

Quanto aos juros compensaterios,<br />

fixou-os a taxa de 0,5% ao mes, a<br />

partir da imissao na posse.<br />

R.T.J. — 94<br />

Como a sentenca foi mantida, nesses<br />

do's pontos, em segunda instancia,<br />

vem os expropriados discuti-los<br />

por mein do presente recurso extraordinario.<br />

Quanto aos juros,<br />

funda-se o apelo em dissidio corn a<br />

<strong>jurisprudencia</strong> do Supremo Tribunal<br />

Federal, que os tern admitido a taxa<br />

de 12% ao ano, ou 1% ao mes. Relativamente<br />

a correcao monetaria, diz<br />

ofendido o art. 26, 2? do Decreto-lei<br />

n? 3.365/41 e aponta dissidio corn julgados<br />

do Supremo Tribunal.<br />

O recurso foi admitido com relacao<br />

aos juros compensaterios.<br />

E o relator'<br />

VOTO<br />

0 Sr. Ministro Xavier de<br />

Albuquerque (Relator): Nossa <strong>jurisprudencia</strong><br />

esta firmada no sentido de<br />

que os juros compensatOrios devem<br />

calcular-se a taxa de 12% ao ano, e<br />

os recorrentes demonstraram que<br />

dela diverge o acOrdeo recorrido.<br />

Merece acolhimento, portanto, nessa<br />

parte, o recurso.<br />

Tambem o merece no tocante a<br />

correcao monetaria, que a Stunula<br />

528 permite seja apreciada.<br />

Reconheceu o acerclao recorrido<br />

que o juiz, embora nao acolhesse integralmente<br />

nenhum dos tres laudos,<br />

serviu-se de elementos constantes de<br />

dois deles para chegar ao que reputou<br />

justo valor da indenizacao (f.<br />

E ao negar a elevacao desse<br />

valor, pedida pelos expropriados, enfatizou<br />

que nao era arbitraria a fixacao<br />

judicial, porque o magistrado se<br />

havia valido de elementos constantes<br />

dos laudos trazidos aos autos (f.<br />

Reconheceu mats o aresto, que o<br />

juiz chegou, praticamente, ao mesmo<br />

valor encontrado pelo perito oficial,<br />

dele discrepando apenas, para mats,<br />

no relativo a terra nua, e para menos,<br />

em medida quase identica, no<br />

concernente as benfeltorias (f. 205).<br />

Isso nao condiz, data yenta, com a<br />

afirmacao de que o juiz atualizou os<br />

valores integrantes da indenizacao<br />

para o momento em que proferida a<br />

sentenca, momento que se distanciou<br />

em mats de dots anos do primeiro<br />

laudo oferecido.<br />

Em tats condicOes, conheco do recurso<br />

e the dou provimento, in<br />

totum, seja para determinar que os<br />

juros compensatOrios se calculem a<br />

razao de 12% ao ano, seja para mandar-que<br />

incida a correcao monetaria


indevidamente negada pelas instãncias<br />

locals.<br />

EXTRATO DA ATA<br />

RE. 92.684 — RS — Rel.: MM. Xavier<br />

de Albuquerque. Recte.: Francisco<br />

Lichtlo da Silva Reis e sua mulher<br />

(Advs.: Kleber Cunha Vianna e<br />

outros). Recdo.: Departamento Auton8mo<br />

de Estradas de Rodagem do<br />

Estado do Rio Grande do Sul (Advs.:<br />

Gastao Cerqueira e outro).<br />

R.T.J. — 94<br />

469<br />

Decisdo: Conhecido e provido, nos<br />

termos do voto do Ministro Relator.<br />

UnAnime.<br />

Presid8ncia do Sr. Ministro<br />

Thompson Flores. Presentes a Ses<br />

sat) os Srs. Minlstros Xavier de Albuquerque,<br />

Cunha Peixoto, Soares Munoz<br />

e Rafael Mayer. Subprocurador-<br />

Geral da RepUblica, Dr. Francisco<br />

de Assis Toledo.<br />

Brasilia, 24 de , junho de 1980. —<br />

I:Aldo Carlos Dayrell, Secretario.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!