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O Dia das - Saída de Emergência

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Eu já estive com muitos humanos, mas jamais havia sidopenetrada por um, até hoje. Felizmente, meus temoreseram infundados. Você afirmou saber o que iria acontecer.Quando o processo funcionou direito conosco e vocêpermaneceu gozando por várias horas, eu soube que vocêestava certo, que havia falado a verda<strong>de</strong>. Você é <strong>de</strong> fatoum humano diferente!— Tee’lak, você <strong>de</strong>sgraçou minha vida!— Não exagere, querido. Sei perfeitamente que muitosmachos se sentem <strong>de</strong>primidos na primeira vez que seuspénis são digeridos. Como se a ausência do órgão implicasseperda <strong>de</strong> status ou masculinida<strong>de</strong>. Mas não importa.Logo crescerá um novo para substituir o que eu consumi.— Ah, meu Espírito Galáctico! — Comecei a chorar.— Você está querendo dizer que não vai nascer umpénis novo? — Num átimo, o tom <strong>de</strong> Tee’lak passou dacon<strong>de</strong>scendência simpática a um pesar assustado. — Masvocê me levou a crer que era um humano diferente… queera igualzinho aos calífagos neste ponto…Esta foi a história <strong>de</strong> minha paixão infinita <strong>de</strong> uma só noitepor minha bela calífaga Tee’lak.No amanhecer <strong>de</strong> nossa longa noite <strong>de</strong> amor, naquelasprimeiras horas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero após a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> minhaperda horrenda, tive ganas <strong>de</strong> estrangulá-la com minhaspróprias mãos. Mas <strong>de</strong>pois, caí em mim. Tee’lak não teveculpa. Fui vítima <strong>de</strong> minha própria ignorância.Ainda que reconhecesse a inocência <strong>de</strong>la, não me foipossível permanecer em seus aposentos ou no EstrelaAzul. Vesti-me como um autômato e saí para a rua aostropeções. Desnorteado, vagueei ao acaso até chegar aoVentos Uivantes lá pelo meio da manhã.A comandanta e os oficiais já começavam a se preocuparcomigo.Foi impossível ocultar minha <strong>de</strong>sgraça por muito tempo.Logo me tornei alvo <strong>de</strong> chacotas. Só então percebi oquão poucos amigos <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> eu possuía a bordo <strong>de</strong>ssemercante que eu consi<strong>de</strong>rava meu lar.E <strong>de</strong>scobri o quanto eu sempre fora menosprezadopelos preconceituosos que se abrigavam sob as cobertas<strong>de</strong> nossa nau, sujeitos que jamais aceitaram meu apetitepor alienígenas e que agora parecem secretamente satisfeitoscom minha <strong>de</strong>sdita. Como se julgassem que recebi apaga <strong>de</strong>vida e que agora <strong>de</strong>vo expiar por meus pecados…A comandanta afirmou ter ouvido falar que, fora doVale da Neblina, algures a leste do Planalto do Desespero,quiçá no legendário Império <strong>das</strong> Mil Raças, que muitosgarantem existir junto ao longínquo Oceano Oriental, hánúcleos humanos com tecnologia biomédica avançada.Talvez os sábios <strong>de</strong> lá possam reconstituir o órgão queTee’lak consumiu naquela única noite <strong>de</strong> paixão tórrida.Sei que, mais cedo ou mais tar<strong>de</strong>, tomarei coragem esairei do Vale da Neblina para tentar encontrar esses núcleoshumanos avançados. Só espero que esse tal Impérionão seja apenas mais uma lenda <strong>de</strong>ste planeta amaldiçoado!Um dia, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> superar a vergonha, enfrentarei minhasfamílias e confessarei a minhas esposas e filhos <strong>de</strong>que forma perdi minha masculinida<strong>de</strong>. Só então po<strong>de</strong>reime <strong>de</strong>sfazer <strong>de</strong> tudo o que tenho e <strong>de</strong>ixá-los amparados,antes <strong>de</strong> romper com a vida que conheci ao longo do Rioda Névoa e partir em peregrinação às regiões <strong>de</strong>sconheci<strong>das</strong>do oriente, em busca da cura para minha <strong>de</strong>formida<strong>de</strong>.É só o que me resta.Enquanto o Ventos Uivantes singra para norte, <strong>de</strong>mandandocontra a corrente do Rio da Névoa, eu me recordo<strong>das</strong> horas <strong>de</strong> paixão ao lado <strong>de</strong> Tee’lak.Iludo-me, afirmando para mim mesmo que, soubesseeu do risco imenso que corria, jamais me teria aproximadoda calífaga.No fundo, sei que tal afirmação não passa <strong>de</strong> bravatavazia.Pois, por mais negro que o futuro me possa hoje parecer,não consigo sentir a mínima ponta <strong>de</strong> arrependimento.Vergonha pela <strong>de</strong>sonra da masculinida<strong>de</strong> perdida, istosim.Remorsos? Algumas vezes.Arrependimento, jamais.Afinal, guardo uma certeza em meu íntimo, bem maisfundo do que a dor da vergonha que ora me consome:pu<strong>de</strong>sse eu voltar atrás no tempo e começar tudo <strong>de</strong> novocom Tee’lak, faria tudo igual.Porque, apesar <strong>de</strong> tudo, hoje compreendo que ter <strong>de</strong>sgraçadominha vida foi um preço ínfimo a pagar, pela glóriaabsoluta daquela noite <strong>de</strong> amor com Tee’lak.E eu não trocaria minhas recordações daquela noite <strong>de</strong>sonho, nem mesmo pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> restaurar minhamasculinida<strong>de</strong> e, com ela, minha honra perdida.É provável que muitos <strong>de</strong> vocês não compreendam oporquê <strong>de</strong> eu não nutrir arrependimento.Não posso culpá-los.Vossa ignorância, no entanto, serve para comprovaro quão pouco vocês alienígenas conhecem <strong>das</strong> motivaçõesdos machos humanos… BANG!CONTO INSPIRADO NUMA IDÉIA DE CARLA CRISTINA PEREIRA.Gerson Lodi-Ribeiro é um escritor brasileiro <strong>de</strong> fi cçãocientífi ca, com formação em engenharia eletrônica e emastronomia pela UFRJ. Foi ofi cial da Marinha do Brasil,presi<strong>de</strong>nte do Clube <strong>de</strong> Leitores <strong>de</strong> Ficção Científi ca erecebeu o Prêmio Nova 1996 <strong>de</strong> Melhor Trabalho <strong>de</strong>FC e Fantasia por “O Vampiro <strong>de</strong> Nova Holanda”, jápublicado entre nós.Esta é a sua primeira colaboração para a Bang!18 19O KRAKEN (1830)POEMA DE A LFRED T ENNYSONDebaixo dos trovões <strong>das</strong> profun<strong>de</strong>zas superiores,muito, muito abaixono mar abismal,o seu antigo, sem sonhos, não invadido sonhoo Kraken dormia: <strong>de</strong>smaia<strong>das</strong> luzes solares voavamà volta dos seus lados sombrios; acima <strong>de</strong>le inchavamenormes esponjas <strong>de</strong> crescimento e altura milenárias.E muito longe naluz doentia<strong>de</strong> muitas maravilhosas e secretas célulasinumeráveis eenormes póliposjoeiravam com braços gigantes verduras vicejantes.Aí estava ele estendido há séculos, e assim continuarácevando-se sobre enormes vermes do mar no seu sonoaté o último fogo aquecer as profun<strong>de</strong>zas;E assim que por homem e por anjos for vistorugindo ele se ergueráe na superfíciemorrerá.

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