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O Dia das - Saída de Emergência

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sida<strong>de</strong> «insuficientemente ortodoxa» (pelo menos para Emily).Aspectos que, aparentemente, só <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong>pois terãoficado satisfatoriamente consolidados, esclarecidos e resolvidos.O infortúnio abateu-se sobre o casal: um primeirofilho nasceu morto em 1851; mas tal já não aconteceu em1852, com o nascimento <strong>de</strong> Hallam, e em 1854, com o nascimento<strong>de</strong> Lionel. O casamento também significou o final<strong>de</strong> uma itinerância <strong>de</strong> Tennyson por várias localida<strong>de</strong>s: coma esposa estabeleceu-se em Twickenham, perto <strong>de</strong> Londres,e em 1853 alugou (três anos <strong>de</strong>pois compraria) a Casa <strong>de</strong>Farringford, em Freshwater, uma pequena cida<strong>de</strong> da ilha <strong>de</strong>Wight – on<strong>de</strong> permanecerá pelo menos uma parte <strong>de</strong> cadaano até ao fim da vida. Antes havia residido, após a mortedo pai e com ou sem a família, em Epping, Tunbridge Wells,Boxley, Cheltenham e também na capital inglesa.A estabilida<strong>de</strong> familiar e financeira <strong>de</strong> Alfred Tennysoncomeça a ter consequências (positivas) na sua obra. Em1854 escreve, enquanto poeta laureado, aquele que é talvezo seu poema mais famoso, «The Charge of the Light Briga<strong>de</strong>»(«A Carga da Brigada Ligeira»), que enaltece um acto <strong>de</strong>coragem do exército britânico durante a Guerra da Crimeia,ocorrido naquele ano; este poema será incluído em «Maud,And Other Poems», livro publicado em 1855. Durante todaa década <strong>de</strong> 50 os seus poemas são crescentemente objecto<strong>de</strong> disputa entre várias publicações periódicas, que oferecemsomas consi<strong>de</strong>ráveis pelo privilégio <strong>de</strong> os publicar em primeiramão – o nome <strong>de</strong> Tennyson aparecerá assim nas páginasda Cornhill Magazine, Examiner, Fraser’s, Macmillan’sMagazine, Morning Chronicle, New Review, NineteenthCentury, Once a Week, Punch, entre outras. Em 1859 é editada(a primeira parte <strong>de</strong>) «Idylls Of The King», obra queo consagrará <strong>de</strong>finitivamente, não só enquanto o poeta <strong>de</strong>língua inglesa mais importante do seu tempo, mas tambémenquanto um dos principais responsáveis pelo revivalismo,no século XIX (e que se prolonga pelo século XX e até aosnossos dias), do chamado «Ciclo Arturiano» – as len<strong>das</strong> <strong>de</strong>Camelot, do Rei Artur, Merlim e dos Cavaleiros da TávolaRedonda. Foi igualmente um enorme sucesso: terá vendidocerca <strong>de</strong> 10 mil exemplares só na primeira semana após olançamento, em Junho.Dois meses <strong>de</strong>pois, a 21 <strong>de</strong> Agosto, chega <strong>de</strong> navio aLisboa para uma visita à capital <strong>de</strong> Portugal e aos seus arredores,em particular Sintra. O poeta quis conhecer as mesmaspaisagens que, além <strong>de</strong> George Byron (exactamente 50anos antes, em Julho <strong>de</strong> 1809), Robert Southey e WilliamBeckford haviam conhecido e elogiado. No nosso país éentão Rei D. Pedro V; António José Sousa Manuel <strong>de</strong> MenesesSeverim <strong>de</strong> Noronha, Duque da Terceira, é primeiroministro... e Fontes Pereira <strong>de</strong> Melo é ministro. AlexandreHerculano tem 49 anos, Camilo Castelo Branco tem 34... eEça <strong>de</strong> Queiroz 14.Apesar <strong>das</strong> dificulda<strong>de</strong>s por que foi passando nos anosanteriores, Alfred Tennyson ia conseguindo ocasionalmenteos meios e as oportunida<strong>de</strong>s para fazer viagens a outros paíseseuropeus. Em 1832, ainda com Arthur Henry Hallam,percorreu (na actual Alemanha) a região do Reno; em 1846foi à Suíça com Edward Moxon, o seu editor; em 1848 <strong>de</strong>slocou-seà Irlanda; em 1851 visitou a Itália com Emily.A viagem a Portugal foi feita na companhia <strong>de</strong> doisamigos: Francis Turner Palgrave, que viria a notabilizar-senão só enquanto poeta, crítico e professor <strong>de</strong> poesia (naUniversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Oxford), mas também, e principalmente,por ser o organizador da antologia «The Gol<strong>de</strong>n Treasuryof English Songs and Lyrics», em cujo primeiro volume,publicado em 1861, colaborou Alfred Tennyson; e FlorenceCraufurd Grove, então estudante <strong>de</strong> Direito, mas que, maisdo que advogado, ficaria conhecido como alpinista, tendoescalado os Alpes e o Monte Elbrus, e escrito, a propósito<strong>de</strong>ste último (a maior montanha da Europa, na Rússia), o livro«The Frosty Caucasus» (1875). Os pormenores da visitado poeta inglês a seguir referidos foram retirados do artigo«Tennyson e Portugal», <strong>de</strong> Maria Aline Ferreira, publicadona Revista <strong>de</strong> Estudos Anglo-Portugueses (do Centro <strong>de</strong>Estudos Comparados <strong>de</strong> Línguas e Literaturas Mo<strong>de</strong>rnas daFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Sociais e Humanas da Universida<strong>de</strong>Nova <strong>de</strong> Lisboa), Nº 4, 1995 (páginas 133 a 149).Hospedados no Hotel Bragança, os três amigos percorreramLisboa ainda a 21 e a 22 <strong>de</strong> Agosto... dias <strong>de</strong> muitocalor. Visitaram o Mosteiro dos Jerónimos, a Sé, a Igreja <strong>de</strong>São Vicente <strong>de</strong> Fora e o Jardim Botânico da Ajuda... e gostaramtanto da «exótica e luxuriante vegetação» do jardim queo visitaram uma segunda vez. Alfred Tennyson terá ficadotão impressionado com o local que po<strong>de</strong>rá tê-lo recordado,e utilizado, enquanto inspiração para poemas posteriores,em especial «Enoch Ar<strong>de</strong>n»; porém, ficou <strong>de</strong>sagradadopor encontrar o cemitério (inglês) protestante encerrado...porque queria ver o túmulo <strong>de</strong> Henry Fielding, o autor <strong>de</strong>«Tom Jones», falecido na capital portuguesa em 1754. A 23<strong>de</strong> Agosto partiram para Sintra, on<strong>de</strong> chegaram após umaviagem <strong>de</strong> três horas; visitaram o castelo, o Parque e o Palácioda Pena, o Palácio da Vila, a Quinta e o Palácio <strong>de</strong>Monserrate (on<strong>de</strong> William Beckford habitara quase 70 anosantes), Colares e a Praia <strong>das</strong> Maçãs – on<strong>de</strong> «permaneceramlongamente, admirando os pescadores, a gran<strong>de</strong> quietu<strong>de</strong>do local e o oceano Atlântico». De volta a Lisboa a 26 <strong>de</strong>Agosto, os três ingleses assistiram a uma tourada no Cam-22 23po <strong>de</strong> Santana, tendo apreciado a «forma menos violenta ecruel (em comparação com Espanha) <strong>de</strong> tratar os touros». A5 <strong>de</strong> Setembro, e já sem Grove, que entretanto partira, Palgravee Tennyson foram a Santarém, on<strong>de</strong>, mais do que docastelo (em ruínas...), dos conventos e <strong>das</strong> igrejas, gostaramda vista sobre o vale da cida<strong>de</strong> e as «longas curvas do ver<strong>de</strong>Tejo». Finalmente, a 7 <strong>de</strong> Setembro, embarcaram <strong>de</strong> regressoa Inglaterra – não concretizando, assim, o plano inicialda viagem, que previa também viagens a Cádis, Granada,Málaga, Sevilha, Gibraltar e Tânger.As cartas e as entra<strong>das</strong> dos diários sobre a viagem a Portugalescritas por Alfred Tennyson e pelos seus companheiros<strong>de</strong>monstram que a impressão inicial não muito agradável– ou mesmo <strong>de</strong>sagradável – se tornou numa impressãofinal agradável, ou pelo menos favorável. Na verda<strong>de</strong>, além<strong>de</strong> com as pulgas, os mosquitos e as moscas, os viajantes inglesespenaram principalmente, como seria <strong>de</strong> esperar, como calor – Tennyson chegou mesmo a sofrer (além <strong>de</strong> umador <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes) uma insolação, que, apesar <strong>de</strong> ligeira e prontamentetratada por um médico seu compatriota, o levou arecear que po<strong>de</strong>ria ter o mesmo <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> Henry Fielding...Além disso, admitiu, em carta enviada à esposa, que «Sintra<strong>de</strong>sapontou-me à primeira vista, e talvez vá continuar a <strong>de</strong>sapontar-me,apesar <strong>de</strong>, para os olhos do Sul, os seus semprever<strong>de</strong>s pomares, em contraste com o aspecto árido e ressequidoda paisagem, <strong>de</strong>verem parecer muito adoráveis.» Masa beleza dos lugares (apesar <strong>de</strong> não correspon<strong>de</strong>rem, então,à antiga imagem superlativa <strong>de</strong>senhada por Byron, Southeye Beckford) e a simpatia <strong>das</strong> gentes levaram-no a escrever<strong>de</strong>pois que «eu gosto muito mais do sítio à medida que ovou conhecendo melhor». Isto apesar <strong>de</strong> não ter conseguidomanter o anonimato: <strong>de</strong> nada serviu registar-se no HotelBragança como «E. Tennyson» porque foi reconhecido porum jornalista... inglês, <strong>de</strong> apelido Lewtes, correspon<strong>de</strong>nte doDaily News, que escreveu e fez publicar, na edição do Jornaldo Commercio <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> Agosto, uma notícia dando contada chegada a Lisboa <strong>de</strong> «Mr. Alfredo Tennyson, o poeta laureadoda Inglaterra (...), (que) po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado como oprimeiro poeta inglês da actualida<strong>de</strong>. Se é inferior a Byrone a (Thomas) Moore, po<strong>de</strong> pôr-se a par <strong>de</strong> Southey e <strong>de</strong>Wordsworth. (...) Publicou há apenas dois meses “Idylls OfThe King”, (que) se por um lado lhe granjeou muitos inimigos,por outro lhe atraiu numerosos amigos e admiradores esuscitou gran<strong>de</strong> controvérsia entre as parcialida<strong>de</strong>s literáriaspela novida<strong>de</strong> do seu estilo caprichoso que não tem imitadorna língua inglesa.» E que terminava com o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> que«o ilustre poeta encontre no <strong>de</strong>licioso retiro <strong>de</strong> Sintra amenadistracção e <strong>de</strong>scanso dos seus trabalhos literários, longe<strong>das</strong> conten<strong>das</strong> <strong>de</strong> escolas rivais.» A partir daqui Tennyson«não parou <strong>de</strong> ser assediado por admiradores» e caçadores<strong>de</strong> autógrafos, vários dos quais «membros <strong>de</strong>stacados daaristocracia (portuguesa), <strong>de</strong>sejosos <strong>de</strong> o conhecer.» Alguns<strong>de</strong> entre eles o poeta não conseguiu i<strong>de</strong>ntificar – refere nassuas cartas «o Marquês <strong>de</strong> Figueros ou outro som parecido»e «um certo D. Pedro qualquer coisa». Contudo, haveráalguém que se lhe apresenta sem <strong>de</strong>ixar margempara dúvi<strong>das</strong>: João Carlos Gregório DomingosVicente Francisco <strong>de</strong>Saldanha Oliveirae Daun,Duque <strong>de</strong>Saldanha. O veteranomarechal dirigiu-se ao visitanteinglês na sala <strong>de</strong> jantar do Hotel Bragança e«<strong>de</strong>screveu-se a ele próprio como “tendo combatido sobo gran<strong>de</strong> Duque (<strong>de</strong> Welllington, Arthur Wellesley, duranteas invasões francesas), e tendo estado em duzentos e quarentacombates e bem sucedido em todos, e tendo casadocom duas esposas inglesas, ambas mulheres perfeitas”...e terminou apo<strong>de</strong>rando-se da minha mão e exclamando:“Quem é que não conhece o poeta laureado <strong>de</strong> Inglaterra?”»Já em Farringford, e em carta <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1859dirigida ao seu amigo George Campbell, Duque <strong>de</strong> Argyll,Alfred Tennyson recorda que «fui (a Portugal) para veraquela Sintra que Byron e Beckford fizeram tão famosa; masas laranjeiras estavam to<strong>das</strong> mortas <strong>de</strong> doença, e os caudaiscristalinos, com a excepção <strong>de</strong> alguns regatos salpicantes àbeira da estrada, ou secaram ou foram <strong>de</strong>sviados através <strong>de</strong>não vistos túneis para o gran<strong>de</strong> aqueduto <strong>de</strong> Lisboa. A<strong>de</strong>mais,o lugar é castiço («cockney», no original) e quando euestive lá estava abarrotado com janotas lisboetas e nobrezaportuguesa. (...) Sintra não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ter as suas belezas,sendo uma montanha <strong>de</strong> ver<strong>de</strong>s pinheiros erguendo-se <strong>de</strong>uma região árida e trigueira circundante, com um fantásticocastelo mourisco no cume, que comanda uma gran<strong>de</strong> extensãodo Atlântico e a boca do Tejo; aqui na torre mais altasentou-se o Rei – dizem eles – dia a dia nos velhos tempos<strong>de</strong> Vasco da Gama vigiando o seu regresso, até que ele o viuentrar no rio; esse talvez fosse um momento merecedor <strong>de</strong>ter sido esperado.»Ainda em 1859, em Dezembro, é editada a primeira ediçãoilustrada <strong>de</strong> «The Princess» - que se tornará uma <strong>das</strong>principais, e preferi<strong>das</strong>, pren<strong>das</strong> <strong>de</strong> Natal inglesas duranteos 10 anos seguintes. Além <strong>das</strong> reedições, outros novoslivros se seguirão a um ritmo mais ou menos regular <strong>de</strong>

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