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O Dia das - Saída de Emergência

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toavam-se como patos a abater, ignorantes <strong>das</strong> verda<strong>de</strong>irascapacida<strong>de</strong>s mortíferas do adversário, semmeios ou saber que lhes valesse. No fundo, pensouao vê-los agarrados aos seus pertences e entrandonos ina<strong>de</strong>quadamente <strong>de</strong>fensáveis veículos <strong>de</strong> locomoção,os humanos não têm Ganzzz.As forças alia<strong>das</strong> continuavam a atacar o inimigo,com pequenas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> guerrilha, começando afazer notórios estragos, especialmente ao longo <strong>das</strong>dunas.Quando já quase não havia humanos, o inimigocomeçou a comemorar a vitória, o sucesso do seucego bugblitzkrieg. Ainda não se tinham apercebidodo ataque na orla geográfica protegida, entre aservas.Nada mais se via sobre a areia senão nuvens <strong>de</strong>mosquitos em <strong>de</strong>lírio orgiástico; muitos <strong>de</strong>les, <strong>de</strong>barriga cheia, <strong>de</strong>dicavam-se a tarefas propagatórias.Tudo muitíssimo contente e distraído.Nesse inolvidável momento, as forças alia<strong>das</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>fesa da costa fecharam o cerco.Sob a escuridão radial <strong>das</strong> oculares do General,milhares <strong>de</strong> insectos saíram da areia e <strong>das</strong> dunas circundantes,empurrando bolas <strong>de</strong> minas-estrume elançando teias ao vento, enquanto briga<strong>das</strong> <strong>de</strong> peixes<strong>de</strong> várias espécies se posicionaram à espera da insana<strong>de</strong>rrocada do inimigo em direcção ao mar. O resto<strong>das</strong> tropas limitou-se a mor<strong>de</strong>r, picar e <strong>de</strong>vorar.Um clássico e brutal movimento <strong>de</strong> tenaz.A carnificina durou o resto da tar<strong>de</strong> e boa parteda noite, após o que o General se imolou satisfatoriamenteperante as mandíbulas dos seus próprioslí<strong>de</strong>res e sargentos. Fora atingida a perfeição.E o Ganzzz.o lixo variado. A água da maré cheia não chegaracompletamente ao cimo, à zona mais alta on<strong>de</strong> asdunas davam lugar à falésia, o que só aconteceriamais para a noite.O casal foi para mais perto da linha <strong>de</strong> água.Sobre o mar ainda se via alguma agitação, apesar<strong>de</strong> não haver on<strong>das</strong>. Abraçados, com expressões <strong>de</strong>perplexida<strong>de</strong> a ensombrar os rostos bronzeados, resolveramnão ligar para a espuma e para a aparenteprofusão <strong>de</strong> peixes e gaivotas.Namoraram assim, tranquila e lentamente, compequenos encostos e carícias. Só pararam o crescente<strong>de</strong> inevitável ousadia quando resmas <strong>de</strong> famílias,seguindo a diminuição do calor como nóma<strong>das</strong> portadores<strong>de</strong> criancinhas esfomea<strong>das</strong> por natureza, começarama aparecer por todo o lado.A maior praga do amor, murmurou o rapaz, é aexistência dos outros. Ela nada disse, mas abraçou-omais apertado.Acabaram por se afastar em direcção ao abrigoprovisório <strong>das</strong> dunas.Estimulados pela emissão <strong>de</strong> feromonas e com a serena leveza<strong>de</strong> quem está fi rmemente plantado na terra, os juncos e <strong>de</strong>maiservas daninhas, sebes, cardos e árvores <strong>de</strong> pequeno porte, observavamtudo.Algumas discussões fi losófi cas, sobre os acontecimentos <strong>das</strong>últimas horas e sobre a integração <strong>das</strong> activida<strong>de</strong>s falha<strong>das</strong>dos humanos como espécie, viriam ainda a reverberar entreelas durante muitos e bons anos.Principalmente entre as duas correntes onto-antagónicassimples.Entre os que <strong>de</strong>fendiam que nenhum animal, por<strong>de</strong>fi nição, podia ser inteligente e viável, e os que afi rmavam ocontrário. Preocupações discursivas elementares. Tudo <strong>de</strong>baixodo agradável sol do Verão. BANG!12 13— Achas que a praia já está boa? — Perguntou orapaz à namorada, enquanto passavam <strong>de</strong>sconfiadospelo pequeno trilho que levava à praia.— É tentar.A praia continuava <strong>de</strong>serta. Na parte mais seca,milhares <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> pontinhos pretos jaziamentre os cristais <strong>de</strong> sílica, os pedaços <strong>de</strong> palha eValéria Rizzi é uma jovem escritora fi lha <strong>de</strong> pai italiano emãe francesa que vive em Portugal <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os 3 anos <strong>de</strong>ida<strong>de</strong>. Espreita para o mundo <strong>das</strong> janelas góticas da suavivenda no Estoril e adora praia, mas do que realmentegosta é <strong>de</strong> ler e escrever sobre este mundo como sendoalgo <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iramente fantástico. Esta é a sua primeiracolaboração para a Bang!

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