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O Dia das - Saída de Emergência

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talvez do séc. XI ou XII, além <strong>de</strong> que o exame dos caracteresparece sugerir uma antiga variante do alfabeto dácionuma escrita semelhante ao proto-romeno.Nos anos ’90 os estudiosos Ottó Gyürk e Miklós Locsmándyempenharam-se em intensas pesquisas com basenuma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dados estatísticos e análisescomputoriza<strong>das</strong> do texto, concluindo (inconclusivamente)que, por um lado, a língua não é aparentada ao húngaro,e por outro, que não se trata <strong>de</strong> uma frau<strong>de</strong> em face <strong>das</strong>típicas regularida<strong>de</strong>s próprias <strong>de</strong> uma linguagem articulada.Quem souber húngaro, queira ter a bonda<strong>de</strong> <strong>de</strong> consultar olivro que Locsmándy publicou em 2005, A Rohonci Kó<strong>de</strong>x: egyrejtélyes középkori írás megfejtési kísérlete. (Parece que a traduçãodisto é: «O Códice Rohonczi: uma tentativa para <strong>de</strong>cifrarum misterioso manuscrito medieval». Como não sei húngaro,ficarei comovidamente penhorado ao caridoso leitor queme resuma o que lá se contém).De permeio com tudo isto, e após mais umas rocambolescasperipécias eruditas, uma universitária romena, VioricaEnâchiuc, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1982 se <strong>de</strong>dicara a estudar o códice,<strong>de</strong>clarou que conseguira finalmente traduzi-lo e publicouessa sua tradução em 2002, realçando as semelhanças entrecertos grafismos do manuscrito e os grafismos utilizadospelos Dácios e por uma cultura que floresceu em torno doDanúbio por volta <strong>de</strong> 1500 a.C. Nem todos porém se <strong>de</strong>ixaramconvencer e a polémica que já vinha <strong>de</strong> trás recru<strong>de</strong>sceu,pois se há eruditos que apoiam a tradução <strong>de</strong> Vioricacomo o professor N. Sâvescu, director da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Arqueologia, outros não menos qualificados consi<strong>de</strong>ram atradução falsa, observando que nada permite associar os caracteresdo Co<strong>de</strong>x Rohonczi a qualquer alfabeto conhecido,mesmo a antigos alfabetos entretanto <strong>de</strong>saparecidos, chegandoao ponto <strong>de</strong> afirmar que se trata <strong>de</strong> uma escrita aleatória<strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> qualquer significado, enquanto outros,ainda, vão mais longe e julgam <strong>de</strong>tectar todos os traços <strong>de</strong>uma escrita automática mediúmnica…E ainda há quem se queixe <strong>das</strong> inofensivas invençõesda FC&F!E enquanto ficamos nisto, aguardando que algum génioem criptologia nos dê enfim a ler este livro que existe masnão quer ser lido, saltemos para um outro talvez ainda maisinquietante do que o Co<strong>de</strong>x Rohonczi — estou a referir-mea um dos mais <strong>de</strong>batidos e investigados «livros malditos»<strong>de</strong> sempre: o Manuscrito Voynich, documento que <strong>de</strong>ve o seunome ao antiquário e bibliófilo Wilfrid M. Voynich (1865-1930), um anglo-americano <strong>de</strong> origem polaca que o adquiriuem 1912.A história <strong>de</strong>ste livro misterioso (mais um dos tais quenão querem ser lidos, nem a tiro <strong>de</strong> bazuka!) tem sido contadae recontada muitas vezes, com imprevistas variantes,e quem estiver interessado po<strong>de</strong> entreter-se a folhear osseguintes compêndios on<strong>de</strong> o apetite do ávido leitor po<strong>de</strong>ráser (quase) satisfeito: Robert S. Brumbaugh, The MostMysterious Manuscript: The Voynich ‘Roger Bacon’ Cipher Manuscript(1978); Leo Levitov, Solution of the Voynich Manuscript(1987); Gerry Kennedy & Rob Churchill, The Voynich Manuscript:The Mysterious Co<strong>de</strong> That Has Defi ed Interpretation forCenturies (2005); Nick Pelling, The Curse of the Voynich: TheSecret History of the World’s Most Mysterious Manuscript (2006);Lawrence Goldstone & Nancy Goldstone, The Friar and theCipher: Roger Bacon and the Unsolved Mystery of the Most UnusualManuscript in the World (2006); etc., etc. 2Diga-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, e para evitar suspenses <strong>de</strong>snecessários,que após inúmeras investigações <strong>de</strong> reputados especialistas olivro permanece um mistério e ainda hoje se ignora quem teriasido o seu autor, qual o tipo <strong>de</strong> escrita e em que linguagemestará redigido. Actualmente o volume encontra-se <strong>de</strong>positadocom a cota MS 408 na Beinecke Rare Book and ManuscriptLibrary, da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Yale (New Haven, EUA),a maior biblioteca do mundo especializada na conservaçãoe preservação <strong>de</strong> rarida<strong>de</strong>s bibliográficas. É um livro <strong>de</strong> 234páginas com o formato aproximado <strong>de</strong> 23cm x 15cm, semcapa, escrito com uma pena <strong>de</strong> ganso sobre «velino», ou seja,pergaminho virgem <strong>de</strong> alta qualida<strong>de</strong> obtido a partir da pele<strong>de</strong> vitelos mortos no ventre materno. Faltam-lhe 42 páginas,que não se sabe quando se per<strong>de</strong>ram. Devido a alguns aspectosobscuros que ro<strong>de</strong>iam as circunstâncias do seu (ainda)inexplicável aparecimento e do seu percurso, com contornosque prenunciam a suculenta teoria da conspiração, aqui <strong>de</strong>ixoao curioso leitor algumas (magras) pistas.Manuscrito Voynich: exemplo <strong>de</strong> umapágina com escrita <strong>de</strong>sconhecida.2Até há pouco tempo, estes e outros títulos congéneres podiam ser encontrados naAmazon.com.64 65Manuscrito Voynich: folio 75-retro.Secção biológica: nesta secção são abundantesas ilustrações <strong>de</strong> mulheres nuas banhando-se.O prof. <strong>de</strong> Matemática e <strong>de</strong> Informática Gordon Rugg(Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Keel, Inglaterra), num artigo publicadoem 2004, após <strong>de</strong>screver exaustivamente os métodos utilizadospara <strong>de</strong>cifrar o documento, adianta os seguintes esclarecimentos:«Uma análise estatística do texto revela uma gran<strong>de</strong> regularida<strong>de</strong>.As palavras mais utiliza<strong>das</strong> aparecem com frequênciamais <strong>de</strong> uma vez numa linha, e o texto apresentauma percentagem <strong>de</strong> repetições que não tem equivalenteem nenhuma língua conhecida. Por outro lado o “voynich” 3contém pouquíssimas frases em que mais <strong>de</strong> três palavrasdiferentes apareçam juntas. Estas características tornamduvidoso que o “voynich” seja uma linguagem humana: é<strong>de</strong>masiado diferente <strong>de</strong> to<strong>das</strong> as outras línguas. Outra possibilida<strong>de</strong>é consi<strong>de</strong>rar que o manuscrito não passa <strong>de</strong> umludíbrio e <strong>de</strong> uma frau<strong>de</strong>, ou da elucubração <strong>de</strong> algum alucinadoerudito. Mas a sua complexida<strong>de</strong> linguística parececontrariar esta última teoria. […] O Manuscrito Voynich nãoparece ser um texto em código, nem uma linguagem <strong>de</strong>sconhecida,nem uma produção aleatória. Então, o que é? Parasair <strong>de</strong>ste impasse, a minha colega Joanne Hy<strong>de</strong> e eu próprioreexaminámos to<strong>das</strong> as pistas. A conclusão <strong>de</strong> que as característicasdo “voynich” são incompatíveis com qualquerlinguagem humana baseia-se numa peritagem pertinente esólida. A impotência dos melhores criptoanalistas peranteo texto torna pouco provável a existência duma mensagemoculta. Resta a hipótese da mistificação, rejeitada pela maiorparte dos estudiosos por consi<strong>de</strong>rarem que o ManuscritoVoynich é <strong>de</strong>masiadamente complexo para ser falso». 43“Voynich”: nome convencionalmente atribuído à suposta língua em que teria sidoredigido o documento.4Gordon Rugg, “The Voynich Manuscript: An Elegant Hoax?” in: Cryptologia, vol.28, n.º 1, Jan. 2004.Pormenor <strong>de</strong> uma amostra da escritado Manuscrito Voynich.Outros investigadores, invocando a Lei <strong>de</strong> Zipf 5 e observandoque o texto está <strong>de</strong> acordo com esta lei, concluemque se trata <strong>de</strong> uma linguagem concreta (humana ou nãohumana),uma vez que seria pouco plausível que um falsificadordo séc. XV ou XVI 6 conhecesse uma lei da linguísticaque só seria formulada vários séculos <strong>de</strong>pois.Em suma, e quanto a mim, não hesito: se não é linguagemhumana, ou é trapaça ou <strong>de</strong> proveniência extraterrestre.Obviamente prefiro esta última alternativa, que melhorse encaixa nos acarinháveis <strong>de</strong>vaneios da FC&F!Apesar <strong>de</strong> os diversos relatos serem por vezes discordantes,tentemos traçar um pouco da retro-história do manuscrito.A actual proprietária, a Beinecke Rare Book andManuscript Library, obteve-o por oferta graciosa <strong>de</strong> HansP. Kraus (1907-1988), um conhecido comerciante <strong>de</strong> livrosraros que <strong>de</strong>cidiu doá-lo à Beinecke em 1969 porque nãohavia maneira <strong>de</strong> conseguir vendê-lo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1961, quandoo adquirira a uma amiga da viúva <strong>de</strong> Wilfrid Voynich. Este,que falecera em 1930, legara os seus bens à esposa, EthelLilian Voynich, que ao falecer por sua vez em 1960 <strong>de</strong>ixara omanuscrito à sua amiga íntima Anne Nill — a qual o ven<strong>de</strong>uem 1961, como dissemos, ao livreiro Hans P. Kraus. Voynich,por sua vez, comprara o manuscrito em 1912 ao ColégioRomano, que mantinha no palácio <strong>de</strong> Villa Mondragone,perto <strong>de</strong> Roma, a biblioteca pessoal <strong>de</strong> um antigo Superior-Geral da Companhia <strong>de</strong> Jesus, o Reverendo Peter Jan Beckx(1795-1887). Os 200 anos anteriores a esta posse são confusose cheios <strong>de</strong> lapsos, sabe-se que o sábio jesuíta AthanasiusKircher (1601-1680), orientalista e grafólogo, terá tidoo Manuscrito Voynich na sua posse <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1666, sabendo-seigualmente, por umas cartas encontra<strong>das</strong>, que antes dissoo manuscrito fora comprado por Rudolfo II <strong>de</strong> Habsburgo(1552-1612), imperador do Sacro Império e rei da Boémiae da Hungria, que pagou por ele a quantia <strong>de</strong> 600 ducados<strong>de</strong> ouro convencido que o autor do manuscrito seria RogerBacon (1214-1294). Finalmente, parece haver dois candidatosao título <strong>de</strong> proprietário mais antigo do manuscrito: oalquimista Georg Baresch, que vivia em Praga no séc. XVII,e o misterioso sábio isabelino John Dee (1527-1609).O prof. Gordon Rugg, que citei mais atrás, perfilha estaúltima hipótese, com a qual me inclino a concordar. Se havia5Lei <strong>de</strong> Zipf: — Em to<strong>das</strong> as línguas conheci<strong>das</strong> o comprimento <strong>das</strong> palavras éinversamente proporcional à sua frequência <strong>de</strong> aparecimento, ou seja, quanto maisvezes aparece uma palavra num idioma, mais curta é6O máximo que se conseguiu apurar, pericialmente, é que o documento Voynichteria sido escrito entre 1450 e 1520.

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