<strong>Prosa</strong>Américo Facó: notas <strong>de</strong>acessoaumaobraperdidaFloriano MartinsAo final <strong>de</strong> 1996, circulou em Fortaleza, em forma <strong>de</strong> plaquete,um breve estudo <strong>de</strong> José Batista <strong>de</strong> Lima intitulado “ALiteratura Cearense e a Cultura das Antologias”, opúsculo que cumpriamuito bem seu intento <strong>de</strong> nos informar acerca das diversas antologiasque foram publicadas ao longo do século passado e que se<strong>de</strong>stinaram à mostra geral da literatura produzida em nosso estado.Não há dúvida sobre a pertinência e a oportunida<strong>de</strong> do estudo <strong>de</strong>Batista <strong>de</strong> Lima. Foi inclusive muito criterioso ao pontuar algumasausências entendidas como injustificáveis, mesmo levando em contao lugar-comum que é o fato <strong>de</strong> as antologias constituírem o terrenomais propício a falhas <strong>de</strong>ssa or<strong>de</strong>m.Algumas ausências, contudo, são tão recorrentes que parecemconfigurar um programa. A literatura brasileira – e quem <strong>de</strong>ra fosseapenas a literatura – tem o mau hábito <strong>de</strong> apagar algumas preciosaspistas (nomes e circunstâncias) <strong>de</strong> sua existência, tornando-se, assim,ainda mais efêmera do que já é. Decerto há um tanto <strong>de</strong> displi-Poeta, editor,ensaísta e tradutor.Criou e coor<strong>de</strong>na oProjeto EditorialBanda Hispânica,que inclui a revistaAgulha Hispânica.Coor<strong>de</strong>na ascoleções “PonteVelha” (EscriturasEditora, São Paulo)e“OComeçodaBusca” (EdiçõesNephelibata, SantaCatarina). Foi oCurador da 8.ªBienal InternacionaldoLivrodoCeará(2008). Autor <strong>de</strong>livros como UnNuevo Continente(2008), A Inocência<strong>de</strong> Pensar (2009),Fuego en las Cartas(2009) e EscrituraConquistada (2010).163
Floriano Martinscência e outro tanto <strong>de</strong> ingenuida<strong>de</strong> nessa ação que ao final resulta em prejuízopara a cultura como um todo. Ao ler o estudo <strong>de</strong> Batista <strong>de</strong> Lima, por exemplo,percebo que não há menção ao nome <strong>de</strong> Américo Facó, mesmo consi<strong>de</strong>randosua inclusão em três das antologias que critica: Sonetos Cearenses (1938),Coletânea <strong>de</strong> Poetas Cearenses (1952) e A Poesia Cearense no Século XX (1996), organizadasrespectivamente por Hugo Vítor, Augusto Linhares e Assis Brasil.Às vezes quero crer que o fato <strong>de</strong> Américo Facó (1885-1953) ter residido amaior parte <strong>de</strong> sua vida fora do Ceará colaborou para seu notório <strong>de</strong>sconhecimentopelos cearenses. Isto aconteceu com alguns outros poetas, sendo bastanteaqui mencionar Leão <strong>de</strong> Vasconcelos (1898-1965), Edigar <strong>de</strong> Alencar(1901-1993) e Gerardo Mello Mourão (1917-2007). A exemplo <strong>de</strong> Facó,todos escolheram o Rio <strong>de</strong> Janeiro por residência e ali <strong>de</strong>senvolveram açõesculturais <strong>de</strong> indiscutível importância, embora a <strong>de</strong> Leão <strong>de</strong> Vasconcelos tenha-sedado mais no âmbito jurídico.O fato <strong>de</strong> Batista <strong>de</strong> Lima não mencionar o nome <strong>de</strong> Américo Facó, seja porsua inclusão nas três antologias referidas, seja por sua ausência nas <strong>de</strong>mais, sejaainda pela estranheza que configura seu reaparecimento em uma antologia em1996, ausente que vinha do cenário das antologias <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1952, enfim, a nãopercepção <strong>de</strong> Batista <strong>de</strong> Lima traduz pura e simplesmente um <strong>de</strong>sconhecimentogeral em torno do nome e da obra <strong>de</strong> Américo Facó, o que se complica pelaprópria seleção <strong>de</strong> poemas incluídos na antologia <strong>de</strong> 1996 – uma mescla absurda<strong>de</strong> poemas da adolescência (1907/8), posteriormente renegados pelopoeta, com uma única mostra <strong>de</strong> sua maturida<strong>de</strong> (1951).Para muitos, em Fortaleza, Américo Facó é apenas uma mo<strong>de</strong>sta rua nobairro Bela Vista, ao lado da Parquelândia. Exceto pelas antologias acima citadas– <strong>de</strong> menor relevância em relação a outras como Terra da Luz (1966) eLiteratura Cearense (1976), respectivamente sob os cuidados <strong>de</strong> Artur EduardoBenevi<strong>de</strong>s e Sânzio <strong>de</strong> Azevedo –, não há a mínima referência à obra <strong>de</strong>Américo Facó entre nós, cujos versos iniciais – somam aproximadamenteuns 60 poemas – foram publicados em Fortaleza, no Jornal do Ceará, entre1907 e 1908.164