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Prosa 3 - Academia Brasileira de Letras

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Reflexões sobre a poesia migrante na Itáliaa canção que ressoa na fenda opaca do <strong>de</strong>sespero. O poeta-narrador encontraas palavras certas e as exprime durante a passagem perigosa. [...] O poeta trazconsigo e significa, ele mesmo, a presençaeaforçadapalavra, o seu peso, quecompõe luz e opacida<strong>de</strong>, voz e escrita.]Se os políticos italianos, que votaram e aprovaram a recente lei que regulamentaaentradaeapermanência<strong>de</strong>estrangeirosnaItália,a qual <strong>de</strong>nominaram,com um certo cinismo e cruelda<strong>de</strong>, Pachetto sicurezza, se lembrassem do própriopassado <strong>de</strong> imigrantes ou lessem algumas páginas <strong>de</strong>ssa literatura, tomariamconsciência do fato <strong>de</strong> que ninguém <strong>de</strong>ixa a própria terra sem um motivo forte eque o sentimento <strong>de</strong> enraizamento é um dos mais intensos e intrínsecos da almahumana. Definir qualquer imigrante como um clan<strong>de</strong>stino e criminá-lo pelosimples fato <strong>de</strong> que precisou <strong>de</strong>ixar a sua terra é renegar a história <strong>de</strong>sse país e renegartambém as bases <strong>de</strong> convivência da socieda<strong>de</strong> italiana, <strong>de</strong> matriz hebraico-cristã,afeita, pois, à importância ética, religiosa e até mesmo simbólica <strong>de</strong> termose conceitos como migração, peregrinação, <strong>de</strong>portação e exílio.Retomando o tema inicial, vemos que, com o passar do tempo e o assomarao mundo das letras <strong>de</strong> um número cada vez mais consistente <strong>de</strong> escritores nôma<strong>de</strong>s,bem como o interesse que tal literatura híbrida <strong>de</strong>spertava a nível mundial,também na Itália alguns estudiosos passaram a se interessar pela questão,<strong>de</strong>scobrindo em casa própria que escritores provenientes <strong>de</strong> vários países, e, àsvezes, com línguas <strong>de</strong> maior difusão do que o italiano, utilizavam esse idiomaem suas obras.O início <strong>de</strong> uma literatura produzida por autores migrantes na Itália éapontado no começo da década <strong>de</strong> 90, embora já antes escritores <strong>de</strong> várias nacionalida<strong>de</strong>stenham publicado seus livros nesse país, sem, no entanto, <strong>de</strong>spertaremmaior curiosida<strong>de</strong> por parte dos críticos. Ao contrário, havia uma certa<strong>de</strong>sconfiança e, às vezes, até prevenção quanto a essa produção, sobretudo emrelação aos autores que se autotraduziam.A crítica indica algumas fases na produção literária da migração: uma primeira,<strong>de</strong> testemunho, realizada com a ajuda <strong>de</strong> um intermediário, conhecedor179

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