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Prosa 3 - Academia Brasileira de Letras

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Reflexões sobre a poesia migrante na Itálialiterário rico e articulado, rejeitam-na, <strong>de</strong>nunciando uma marginalização implícitano termo, já que separa essa produção daquela consi<strong>de</strong>rada ortodoxamenteitaliana. Com efeito, o termo não po<strong>de</strong> e não <strong>de</strong>ve indicar uma diminuzio em relaçãoà literatura italiana em geral, como se tais autores <strong>de</strong>vessem a todo momentoconfirmar a própria maestria no uso do novo idioma, além do fato <strong>de</strong> que qualquerinovação formal ou violação do código efetuada por eles é vista, muitas vezes,não como uma luta corpo a corpo com a palavra, no esforço <strong>de</strong> afinamentoda forma, mas como imperícia no manejo do idioma <strong>de</strong> Dante.Uma outra objeção que po<strong>de</strong>ríamos fazer a tal <strong>de</strong>nominação está no fato <strong>de</strong>que generaliza experiências e obras <strong>de</strong> uma diversida<strong>de</strong> intrínseca. De fato, otermo “migrante” não distingue experiências tão diferentes como a do exilado,a do refugiado, a do expatriado ou a do emigrado. Essa distinção é importante,pois <strong>de</strong>la <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> a configuração que certos temas vão assumir na obra <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadosautores. É evi<strong>de</strong>nte que o exilado vai incorporar em sua produçãoo estigma, como afirma Edward W. Said, <strong>de</strong> ser um outsi<strong>de</strong>r. Por outro lado, osexpatriados vivem voluntariamente em um país estrangeiro, por breves ou longosperíodos, e os motivos po<strong>de</strong>m ser os mais diversos, como o do estudo, queé em geral uma experiência positiva. Quanto ao imigrado, ele tem status ambíguo,<strong>de</strong>ixa o país por uma sua escolha, mas vive frequentemente o mesmo penoso<strong>de</strong>sarraigamento do exilado.Segundo Said, o exilado tem obsessão pela sua condição, e tal sentimento<strong>de</strong>termina a sua vida e obra. Exemplos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s escritores exilados, marcadospelo sentimento <strong>de</strong> orfanda<strong>de</strong> e solidão, são Dante, Joyce, Conrad,Adorno. 4 A esses po<strong>de</strong>remos acrescentar muitos outros, como Iosif Brodskij,Günter Grass, Samuel Beckett, Eugene Jonesco, Ezra Pound, Paul Celan,Filippo Marinetti e Giuseppe Ungaretti e, no âmbito da língua portuguesa,po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong> alguma forma englobar autores como Camilo Pessanha, FernandoPessoa, Jorge <strong>de</strong> Sena, Murilo Men<strong>de</strong>s, Clarice Lispector e até Gui-4 Cf. SAID, E. W. “Riflessioni sull’Esilio”. Trad. <strong>de</strong> Stefania De Petris. In: Scritture Migranti – Rivista di ScambiInterculturali. Bologna: Dipartimento di Italianistica <strong>de</strong>ll’Università di Bologna; Cooperativa LibrariaUniversitaria Editrice Bologna, 2008. pp. 127-141 (135).175

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