Prosa 3 - Academia Brasileira de Letras
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O diplomata Joaquim NabucoCampos Salles, formalizado <strong>de</strong>pois por carta do Ministro do ExteriorOlyntho <strong>de</strong> Magalhães.Foi assim que Joaquim Nabuco <strong>de</strong>u por encerrados os <strong>de</strong>z longos anos <strong>de</strong>“luto da Monarquia”, como ele chamou o período em que se <strong>de</strong>dicou à <strong>de</strong>fesado antigo regime, pela superiorida<strong>de</strong> que via no sistema <strong>de</strong> gabinete inglês sobreo presi<strong>de</strong>ncialismo americano e por sentimento <strong>de</strong> lealda<strong>de</strong> e gratidão ao imperador,que apoiara a causa abolicionista mesmo com risco <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r o trono, etambém, é claro, à Princesa Isabel, a quem chamou certa vez “a nossa Lincoln”.Todos os anos, no dia 13 <strong>de</strong> maio, até sua morte, Nabuco telegrafava e,quando estava em Paris, mandava flores para a princesa.Foi também durante esse período <strong>de</strong> “luto” da Monarquia, que correspon<strong>de</strong>uà última década do século XIX, que Nabuco escreveu Minha Formação e UmEstadista do Império e o tempo em que ele reverteu à fé católica.Voltando ao nosso assunto, em 3 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1899, Nabuco parte com afamília para a Europa, on<strong>de</strong> inicia o estudo do nosso direito ao extenso territóriodisputadocomaInglaterraeacoletadosdocumentosqueoconsubstanciavam.Uma tarefa assoberbante, mas que não o impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>r frequentesviagens pelo Velho Continente, porque levava consigo, em gran<strong>de</strong>s caixotes,os livros e papéis <strong>de</strong> que precisava para o estudo da questão e trabalhava emquartos <strong>de</strong> hotel dias seguidos. Foi um ano, ou quase, <strong>de</strong> vida nôma<strong>de</strong>, emborasempre fazendo pião em Londres e Paris.O seu diário <strong>de</strong> 1899-1900 registra estadas em Saint Germain-en-Laye,Pourgues, Lausanne, Vevey, Montreux, Genebra, Berna, Zurique, Biarritz,San Sebastian, Lour<strong>de</strong>s, Pau, Bordéus, Tours, Fuenterrabia, Bayonne...Foi em Bayonne, no golfo <strong>de</strong> Biscaya, em 23 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1900, que Nabucorecebeu, para sua gran<strong>de</strong> tristeza, a notícia da morte repentina <strong>de</strong> seu amigoAlfredo <strong>de</strong> Souza Corrêa, nosso Ministro em Londres, que vinha conduzindocom o Ministro do Exterior britânico, Lord Salisbury, as negociações do tratado<strong>de</strong> arbitragem, que <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>limitar o território em disputa, nomear o árbitro e<strong>de</strong>terminar as normas <strong>de</strong> procedimento a serem observadas pelas partes.149