<strong>Prosa</strong>O i<strong>de</strong>ário liberal <strong>de</strong>Joaquim NabucoPaulo Nathanael Pereira <strong>de</strong> SouzaJoaquim Nabuco, cujo Centenário <strong>de</strong> morte transcorre neste ano<strong>de</strong> 2010, cultivou, quando jovem, seja no curso secundário, sejano superior, alguma simpatia para com as i<strong>de</strong>ias socialistas e republicanas.Cousas <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong>, pruridos <strong>de</strong> romantismo, que não resistiramao bom senso da maturida<strong>de</strong> e às luzes do conhecimento(aliás, costuma-se dizer, ainda hoje, que quem não foi revolucionárioaté os 20 anos precisa procurar o psiquiatra, em compensação,aquele que continuar revolucionário <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>ssa ida<strong>de</strong>, precisamesmo é <strong>de</strong> internação em hospital psiquiátrico!).Tendo servido como adido diplomático do Brasil, na legação <strong>de</strong>Washington e na Embaixada <strong>de</strong> Londres, <strong>de</strong>pois que se formou emDireito, não teve gosto para advogar, conviveu com as elites políticastanto americanas quanto inglesas. Tomou pulso no liberalismo<strong>de</strong> uns e na monarquia constitucional <strong>de</strong> outros, verificando in loco oinegável progresso <strong>de</strong>sses países, todo ele <strong>de</strong>vido à competência dosgovernantes e às virtu<strong>de</strong>s dos regimes que privilegiam a liberda<strong>de</strong>. ODoutor emEducação.Membro da<strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> Paulista<strong>de</strong> História.Presi<strong>de</strong>nte da<strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> Paulista<strong>de</strong> Educação e da<strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong> Cristã<strong>de</strong> <strong>Letras</strong>. Membrodas <strong>Aca<strong>de</strong>mia</strong>s<strong>Brasileira</strong>s <strong>de</strong>Educação eFilosofia.Ex-Presi<strong>de</strong>nte doConselho Fe<strong>de</strong>ral<strong>de</strong> Educação.Reitor <strong>de</strong>Universida<strong>de</strong>sCoorporativas emSão Paulo.193
Paulo Nathanael Pereira <strong>de</strong> Souzai<strong>de</strong>ário político <strong>de</strong> Nabuco, a partir <strong>de</strong> seus 35 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, i<strong>de</strong>ntificou-seinteiramente com a filosofia do liberalismo e com o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> governo damonarquia constitucional. Entusiasmado com a prosperida<strong>de</strong> inglesa promovidapela era da Rainha Vitória, tornou-se um campeão da causa monárquica.No Brasil, não morria <strong>de</strong> amores por D. Pedro II, mas <strong>de</strong>sfrutava da amiza<strong>de</strong>da Princesa Isabel, cujo círculo mais íntimo integrava e, quiçá por isso, pronunciouaquele discurso em que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a Monarquia como a mais civilizadaforma <strong>de</strong> governo, e as mulheres, como sendo mais competentes do que os homens,para ocuparem o trono e cingirem a coroa. Entusiasmos <strong>de</strong> quem nãoadmitia instabilida<strong>de</strong>s políticas, e tampouco perdia o ensejo <strong>de</strong> rendilhar galanteiosao mulherio que fazia seu encantamento.Mas há que se reconhecer nessas suas posições a influência maior do pai, oSenador Nabuco <strong>de</strong> Araújo, prócer do Império e personagem do maior dos livros<strong>de</strong> Joaquim Nabuco – Um Estadista do Império.Sempreafirmeievoltoarepetirque ninguém biografa um inimigo. Nabuco confirmou avante la lèttre esse axiomaao biografar o pai, um exemplo permanente <strong>de</strong> inspiração para seus passos navida, tanto que, certa vez, a ele assim referiu: “meu pai foi quem mais influiu sobremim”.Embora, como se viu, nunca estivesse muito próximo <strong>de</strong> D. Pedro II e cultivassequeixas do intenso patrulhamento das classes produtoras do Impériocontra si, em razão do seu abolicionismo militante, Nabuco recebeu a notíciada República em 1889 com extremo <strong>de</strong>sgosto e funda revolta. Detestava asproposições republicanas, da mesma forma que execrava a teoria positivista,que fortalecia o novo regime, via Escola Militar do Realengo, on<strong>de</strong> pontificavaBenjamin Constant. Não só repeliu convites <strong>de</strong> amigos seus para ocuparcargos no governo da República como se retirou em exílio voluntário a Paquetá,acompanhado <strong>de</strong> sua esposa, a Baronesa Evehna Soares Ribeiro, com quemse casara em 1891. Nessa tebaida escreveu suas melhores obras: Um Estadista doImpério e Minha Formação.Contudo, acabou ele por conciliar-se com a República mediante o empenho<strong>de</strong> homens do estofo do Barão do Rio Branco (que foi Embaixador e Mi-194