Prosa 3 - Academia Brasileira de Letras
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Reflexões sobre a poesia migrante na Itáliaa língua da vida, a língua do único tempo visível e palpável: o tempo presente,o único ponto acessível do fluxo da vida. A língua das recordações nãopo<strong>de</strong> ser mais a primeira língua, assim como não será mais a língua dos projetos,das metas do futuro, dos planos <strong>de</strong> viagens. Portanto, nada para mimé mais natural do que escrever em italiano. Escrevo na minha língua. Pontofinal.]Tais autores parecem consi<strong>de</strong>rar como fundamental a dimensão do presente,em que o italiano é o código pre, embora, como para Helga Schnei<strong>de</strong>r, quetem uma experiência <strong>de</strong> relação trágica com o passado e com a figura materna,a qual abandonou a família para seguir as i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Hitler durante a SegundaGuerra Mundial, o passado retorne com frequência na nova língua. Nessecaso, o italiano é também o código em que ela reelabora o abandono e a inexistência<strong>de</strong> uma relação com a figura da mãe, que passa pela negação da línguamaterna, base <strong>de</strong> tal relação. O italiano para ela substituiu a língua nativa e setornou a primeira língua da interiorida<strong>de</strong>, em que foi possível reconstruir umanova relação dialógica com o mundo.Outro poeta, o holandês Arnald <strong>de</strong> Vos, afirma que <strong>de</strong>scobriu na língua italianaum concentrado <strong>de</strong> energias e forças que o levam à palavra e à escrita porqueessa língua o ajudou a <strong>de</strong>senvolver a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouvir e <strong>de</strong> se relacionarcom o outro, capacida<strong>de</strong> fundamental não só na vida quotidiana, mas tambémna literatura.Se tantas são as respostas dadas pelos autores migrantes 15 , já que diversa é apercepção <strong>de</strong> como se verifica o processo <strong>de</strong> assimilação e, às vezes, <strong>de</strong> substituição<strong>de</strong> um código pelo outro, muitas outras questões relevantes solicitam ointeresse do estudioso <strong>de</strong>sta literatura híbrida, como, por exemplo, a dos temasrecorrentes e a das características estilísticas <strong>de</strong>ssa produção.15 Cito aqui apenas algumas, mas tantas outras po<strong>de</strong>m ser encontradas em entrevistas e <strong>de</strong>poimentospublicados em vários sites e, sobretudo, em dois volumes organizados por Davi<strong>de</strong> Bregola, Da qui VersoCasa, Roma, Edizioni Interculturali, 2002, e Il Catalogo <strong>de</strong>lle Voci – Colloqui com Poeti Migrantii, Isernia,Cosmo Ianone Editore, 2005.183