12.07.2015 Views

Prosa 3 - Academia Brasileira de Letras

Prosa 3 - Academia Brasileira de Letras

Prosa 3 - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Reflexões sobre a poesia migrante na Itália<strong>de</strong> seres humanos, capturados pela re<strong>de</strong> da criminalida<strong>de</strong> organizada, que exploramultidões <strong>de</strong> pessoas em busca <strong>de</strong> uma vida melhor ou em fuga <strong>de</strong> guerras, carestias,discriminações, perseguições étnicas e políticas.É claro que há, na Itália, a questão das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s regionais distintas, <strong>de</strong>ntrodo panorama nacional, on<strong>de</strong> muitas vezes cida<strong>de</strong>s próximas possuem costumese mesmo dialetos diferentes, mas tais varieda<strong>de</strong>s fazem parte da realida<strong>de</strong><strong>de</strong> tantos países, como, por exemplo, a Bélgica, a Espanha e mesmo o Brasil.Não é <strong>de</strong>ssas diferenças que falo aqui.O século XX será talvez conhecido como o das migrações contínuas: nuncase assistiu antes a um tal movimento <strong>de</strong> massas <strong>de</strong> populações em fuga <strong>de</strong> todosos guetos do mundo, da miséria das periferias, do isolamento dos muros,das fronteiras que separam os que têm o necessário e o supérfluo dos que foram<strong>de</strong>spojados <strong>de</strong> tudo, até da própria dignida<strong>de</strong>. Como outros países europeus,a Itália foi atingida por esta re<strong>de</strong> e por este fluxo humano em movimento,e o Mar Mediterrâneo é um gran<strong>de</strong> cemitério <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> clan<strong>de</strong>stinosque ali acharam sua sepultura, sem um nome, uma foto, uma história, umatumba para que os parentes possam pranteá-los.Erri <strong>de</strong> Lucca, escritor entre os maiores e mais intensos da literatura italianacontemporânea, traça, no livro Solo Andata, os contornos <strong>de</strong>sse drama, pondo-sena pele <strong>de</strong> tantos excluídos, seres <strong>de</strong>spojados <strong>de</strong> um presente e <strong>de</strong> um futuro:Scacciati dalla terra, siamo il seme sputato il più lontanodall’albero tagliato, fino ai campi <strong>de</strong>l mare.Servitevi di noi, giacimento di vita da sfruttare,pianta, metallo, mani, molto più di una forza da lavoro.Nostra patria è la cenere fresca di vecchi e di animali,è partita nel vento prima di noi, sarà arrivata già.Non avete mai visto migrar patrie? Noi <strong>de</strong>ll’Africa sì,s’alzano con il fumo <strong>de</strong>gli incendi, si spargono a concime. 6 1776 DE LUCA, E. Solo Andata – Righe che Vanno Troppo Spesso a Capo. Milano: Feltrinelli, 2005. p. 25.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!