Logos 18 - Logos - Uerj

Charbelly Estrellaum cenário – sua visualidade, compondo assim a própriafisionomia da cidade. O grafite então se dá quando nãofaz questão dos limites mas quando os nega, quandodesdenha 12 . Este continuar acontece não apenas emrelação ao muro como suporte, inclusive poderíamosdizer é peculiar a esta superfície, mas também em relaçãoa outros grafites. Podemos observar isto em diversasáreas da cidade, onde os trabalhos parecem se enlaçar,continuar ou começar uns nos outros. Esta dinâmica éfruto das produções conjuntas. Vários grafiteirostrabalham juntos, ao mesmo tempo, um mesmo muro 13 .Esta dinâmica marca duas questões – a primeira se refereà idéia de produção conjunta, há no trabalho do grafitea referência permanente a uma experiência de “gueto”,de gangues, de grupos de artistas, especialmente porqueos grafites nascem sempre desta ação conjunta e poroutro lado a própria execução de imagens em grandesdimensões em vias públicas demanda um númerorazoável de pessoas. A segunda se refere à marca de seutempo, o grafite evadiu o “gueto”, principalmente sepensarmos no Rio de Janeiro, onde pensar gueto é nomínimo fora de sentido. Produzir conjuntamente éconstruir testemunhas de produção que por sua vez sãoprodutivas. É comum que o momento do trabalho sejafilmado e fotografado, o que endossa a existência depontos de contato entre esta produção e os processossociais e maquínicos nos quais está inserida. Além daprópria dimensão antropológica, há uma poética, umalinguagem de continuidade, entrelaçamento, entre ostrabalhos que também inaugura as assinaturas artísticase os títulos dos trabalhos, insígnias de individualidade,mas de forma alguma há aqui a chance de retomar o144LOGOS 18: Comunicação e Artes