Logos 18 - Logos - Uerj

Charbelly Estrellaum palimpsesto porque aponta as ocupações anteriorese de certa forma sugere as posteriores, que nem sempreserão também grafites. E na maioria das vezes não são.O que estamos tentando arrumar é um espaço ondeos relevos entre os trabalhos artísticos ganhem diferençasmateriais e, ao mesmo tempo, que produzam suassingularidades enquanto forma artística não firam suapoética conecta-la com seu contexto histórico, políticoe social. Pontuar as diferenças entre os trabalhos, semcategorizações ou classificações institucionalizadas, é umaaposta nossa de um caminho possível para encontrarmoso artista. Enquanto textos, grafites se referem a essaspresenças. Mas ainda se agenciam numa relaçãoimbricada “grupo-indivíduo”. Se esta é característicaconstitutiva da própria condição do grafiteiro nãoqueremos forçar uma ruptura que não pode acontecer,mas daremos uma chance à desconfiança.Uma outra pontuação é a deflagração que o grafitefaz do deslocamento da função arquitetônica dos muros– separar, remarcar o dentro e o fora – onde o dentro émistério, o guardado, o trabalho artístico do grafiteparece, de forma lúdica, inverter esta relação pelos usosdessas superfícies. Os muros se transformam emcondições de possibilidade para essa ocupação deespaços antes separados. Um convite a quem estiverdentro para sair... O grafite reflete o uso artístico dassuperfícies urbanas.E neste sentido gera umdeslocamento da percepção que merece retidão. Os usoscomo produção de sentido tornam-se mais ululantesquando observamos a presença de grafites em pilaresde viadutos. Ocupação constante no Rio de Janeiro, istonos sugere uma relação espacial curiosa. Quase um146LOGOS 18: Comunicação e Artes