Logos 18 - Logos - Uerj

Do erro de paralaxe à irrealidade cotidianaAtiva e excêntrica, Julia Cameron, inicia-se nafotografia tendo-a como um passatempo de meia idade(48 anos). Após ganhar de presente de sua filha uma“máquina de retrato” e todo o material necessário parafazer fotografia — usa-se na época o colódio ou chapaúmida de grande formato, que exige do fotógrafo apreparação da pesada chapa sensível e seu posteriorprocessamento, que deve ser imediato à tomada.Entusiasmada, não perde tempo e transforma umdepósito de carvão em quarto escuro e um antigogalinheiro em estúdio. A fotografia libera em Camerontoda uma energia de viver registrada em menos de dezanos de carreira. Sua paixão era tamanha que aoconseguir o primeiro retrato que lhe satisfazia — oretrato de uma menina — sob ele escreveu: “Annie —my first sucess — jan. 1864”. Feliz por conseguir esteretrato, ela se põe a fotografar febrilmente (foi ativa entre1864 e 1874, começando na fotografia quando esta tinhapouco mais de 25 anos de existência), usando no seudizer, a lente com ardor e carinho. Rapidamente tornouse mestra em retratos. Partindo de uma intençãopictorialista chega a resultados de extrema modernidade.Os retratos de Julia fugiam ao padrão da época,onde a exatidão em reproduzir o real era importante —o padrão das fotos consistia em mostrar o fotografadode corpo inteiro, olhando diretamente para a câmera ecom uma luz direta distribuída igualmente de modo amostrar tanto as feições como a roupa das pessoas. Oenquadramento proposto por Cameron é audacioso,aproximava-se de seus modelos com tomadas não usuais,com grandes planos de rosto considerados umanovidade para a época. O efeito produzido é de sur-Ano 10, nº 18, 1º semestre de 200397