Logos 18 - Logos - Uerj

Fernando do Nascimento GonçalvesHá intervenções que não se repetem mais que umavez, outras já são passíveis de serem reapresentadas,porém sempre com variações. Há, finalmente, performancesque são concebidas para serem apresentadasapenas em certos lugares e apenas por certos performers,respectivamente, por suas qualidades geográficasou corporais intrínsecas. O tempo perde em cronologiapara ganhar em intensidade.Na performance, a valorização do momento daação dá às intervenções uma característica de rito, noqual o público entra como que numa comunhão como espetáculo: abolida a distância entre a cena e oespectador, produz-se ao invés de uma relação defruição, uma relação de empatia. O ritmo doespetáculo gira também em torno desta comunhãoque afeta o público da mesma forma que o faz com aperformance que está sendo apresentada.Existe, assim, na performance, uma “potência doinstante”, que tira do fragmento e do instantâneo suasingularidade. Na performance, a comunicação se constituienquanto poesis, pelas qualidades plásticas da collage de tempos,memórias e afetos, capazes de dizer e comunicar oindizível, numa época que parece preferir privilegiar aprodução de uma repetição banalizadora, ao invés deproduzir singularidades, numa época em que nem semprese reflete, no âmbito da própria comunicação, sobre osefeitos da hipercomunicação que se produz..30LOGOS 18: Comunicação e Artes