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Agatha Christie - Uma Dose Mortal

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espeito daqueles ombros? Ou será que Poirot estava adquirindo o<br />

hábito de pensar que vozes e ombros eram familiares quando eles não<br />

eram nada disso? Será que ele estava, como temera na última noite,<br />

ficando velho?<br />

Poirot seguiu até o fim do muro da horta e parou para observar um<br />

conjunto de arbustos que crescia do lado de fora.<br />

Instantes depois, um objeto redondo, como se fosse uma lua,<br />

emergiu suavemente do topo do muro. Não era senão a cabeça de ovo<br />

de Hercule Poirot. E os olhos dele observaram com grande interesse o<br />

rosto do jovem empregado que agora parara de cavar e limpava o suor<br />

da testa com um lenço.<br />

– Muito interessante e curioso – murmurou Poirot.<br />

Ele desceu do arbusto, limpando os gravetos e folhinhas que<br />

comprometiam a limpeza da sua indumentária.<br />

Sim, de fato muito interessante e curioso que Frank Carter devesse<br />

estar ali ajudando a cuidar do jardim de Alistair Blunt. Ele não<br />

trabalhava em um escritório em algum lugar do interior?<br />

Refletindo sobre isso, Hercule Poirot ouviu um gongo ecoar distante<br />

e tratou de voltar para casa.<br />

No caminho, encontrou o seu anfitrião conversando com a srta.<br />

Montressor, que acabara de sair da horta por uma porta bem mais<br />

adiante.<br />

A voz dela podia ser ouvida com nitidez:<br />

– É muita gentileza sua, Alistair – disse ela no seu sotaque escocês<br />

–, mas prefiro continuar fazendo as refeições no chalé esse final de<br />

semana enquanto suas parentas americanas estiverem por aqui!<br />

Blunt disse:<br />

– Julia não é um exemplo de polidez, mas ela não faz por mal...<br />

A srta. Montressor disse calmamente:<br />

– Na minha opinião, a maneira como ela me trata é muito insolente<br />

e não tenho porque aceitar isso de uma americana, nem de qualquer<br />

outra mulher!<br />

A srta. Montressor se retirou. Poirot aproximou-se, e Alistair Blunt<br />

olhou-o com o ar constrangido que têm os homens quando as mulheres<br />

da casa estão brigando. Ele disse, pesaroso:<br />

– As mulheres são realmente criaturas difíceis. Bom dia, sr. Poirot.<br />

Está um dia ótimo, não é verdade?<br />

Eles voltaram a caminhar na direção da casa, e Blunt disse, com um<br />

suspiro:

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