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Agatha Christie - Uma Dose Mortal

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Entrei no quarto onde estava o baú, caminhei até ele e a primeira coisa<br />

que vi foi um sapato com fivela, velho e desgastado!<br />

– Mas e então?<br />

– O senhor não prestou atenção. Era um sapato velho e<br />

desgastado, que tinha sido muito usado. Ao que tudo indica, a srta.<br />

Sainsbury Seale fora até aquele apartamento na noite daquele mesmo<br />

dia, o dia do assassinato do sr. Morley. Mas os sapatos que vi de manhã<br />

eram novos! Eles não teriam se desgastado tanto ao longo de um único<br />

dia.<br />

Alistair Blunt disse, sem dar muita atenção:<br />

– Ela poderia ter dois pares de sapato, não?<br />

– Não, porque eu e Japp tínhamos ido ao quarto dela no<br />

Glengowrie Court Hotel. Olhamos as coisas dela e não havia nenhum<br />

par de sapatos com fivela. Ela poderia ter outro par mais velho de<br />

sapatos. Poderia tê-los calçado para sair à noite, depois de um dia<br />

cansativo. Mas, nesse caso, teria deixado o par mais novo no hotel.<br />

Curioso, não?<br />

– Não estou entendendo qual a importância disso tudo...<br />

– Não é importante. Não é nada importante. Mas é algo que não se<br />

tinha como explicar. Fiquei parado em frente ao baú, olhando para o<br />

sapato... A fivela tinha sido costurada à mão. Não soube o que pensar.<br />

Disse para mim mesmo que talvez, naquela manhã, eu estivesse vendo<br />

coisas. Depois de sair do dentista, eu enxergava tudo cor-de-rosa.<br />

Sapatos velhos pareciam novos...<br />

– E talvez fosse essa a explicação?<br />

– Não, não! Meus olhos nunca me enganam. Estudei o corpo dessa<br />

mulher e não gostei do que vi. Por que é que tinham demolido o rosto<br />

daquele jeito, com golpes a esmo, até que ficasse irreconhecível?<br />

Alistair Blunt começou a caminhar impaciente. Ele disse:<br />

– Temos de rever essa questão mais uma vez? Sabemos que...<br />

– É preciso – interrompeu Poirot, decidido. – Tenho de mostrar-lhe o<br />

caminho que fiz para descobrir a verdade. Eu disse para mim mesmo:<br />

“Algo está errado. Temos aqui uma mulher morta vestida com as roupas<br />

da srta. Sainsbury Seale, mas os sapatos não devem ser os mesmos. A<br />

bolsa da srta. Sainsbury Seale está com a mulher, mas não é possível<br />

reconhecer o seu rosto. Seria por que o rosto não é o da srta. Sainsbury<br />

Seale?” Comecei imediatamente a pensar na descrição que tinham nos<br />

dado da dona do apartamento. Perguntei-me: “Será que não é essa a<br />

mulher que está ali deitada?” Resolvi dar uma olhada no quarto da dona

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