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Em seguida continuou:<br />
– Não tinha percebido que o senhor era belga. Muito interessante.<br />
Tenho sempre ouvido dizer que o rei Leopoldo é um excelente homem.<br />
Dou bastante importância à realeza e suas tradições. O treinamento a<br />
que são submetidos é muito bom. Veja a forma notável como se<br />
lembram de nomes e fisionomias. É tudo resultado de treinamento,<br />
embora, é claro, existam pessoas com habilidade natural para esse tipo<br />
de coisa. Eu mesmo, por exemplo, não tenho boa memória para nomes,<br />
mas é notável como nunca me esqueço de um rosto. Um dos meus<br />
pacientes de outro dia, por exemplo, tinha certeza de já tê-lo visto. O<br />
nome não significava nada para mim, mas imediatamente me perguntei:<br />
“Onde foi que vi essa pessoa?”. Ainda estou tentando lembrar, e<br />
qualquer hora vou conseguir, tenho certeza. Bocheche só mais uma vez,<br />
por favor.<br />
Depois de Poirot haver bochechado e cuspido, o sr. Morley<br />
examinou atentamente a boca do paciente.<br />
– Bem, acredito que esteja tudo certo. Agora feche a boca com<br />
cuidado... Está confortável? Não está sentindo a obturação? Abra de<br />
novo, por favor. Não, parece que está tudo certo.<br />
Hercule Poirot desceu da cadeira. Era um homem livre.<br />
– Bem, até logo, sr. Poirot. Espero que não tenha descoberto<br />
nenhum criminoso em minha casa.<br />
Poirot disse, sorrindo:<br />
– Antes de sentar aqui, todos me pareciam criminosos. Talvez<br />
agora seja diferente!<br />
– Ah, sim. O antes e o depois fazem uma grande diferença! De<br />
qualquer forma, nós dentistas não somos mais os bichos-papões que<br />
costumávamos ser! Quer que eu chame o elevador para o senhor?<br />
– Não, não, eu vou de escada.<br />
– Como o senhor preferir. O elevador é logo ao lado da escada.<br />
Poirot saiu do consultório. Ao fechar a porta, ouviu a água que<br />
começava a correr na pia do lado de dentro.<br />
Desceu os dois lances de escada. Ao chegar à última volta, viu o<br />
coronel anglo-indiano sendo acompanhado até a porta. Não era, de<br />
forma alguma, um sujeito mal-encarado, refletiu Poirot, com alívio.<br />
Provavelmente, um bom atirador que tivesse matado vários tigres. Um<br />
homem útil – um representante do Império Britânico.<br />
Ele foi apanhar o chapéu e a bengala que tinha deixado na sala de<br />
espera. O jovem irrequieto continuava lá, para a surpresa de Poirot.