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Agatha Christie - Uma Dose Mortal

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Em seguida continuou:<br />

– Não tinha percebido que o senhor era belga. Muito interessante.<br />

Tenho sempre ouvido dizer que o rei Leopoldo é um excelente homem.<br />

Dou bastante importância à realeza e suas tradições. O treinamento a<br />

que são submetidos é muito bom. Veja a forma notável como se<br />

lembram de nomes e fisionomias. É tudo resultado de treinamento,<br />

embora, é claro, existam pessoas com habilidade natural para esse tipo<br />

de coisa. Eu mesmo, por exemplo, não tenho boa memória para nomes,<br />

mas é notável como nunca me esqueço de um rosto. Um dos meus<br />

pacientes de outro dia, por exemplo, tinha certeza de já tê-lo visto. O<br />

nome não significava nada para mim, mas imediatamente me perguntei:<br />

“Onde foi que vi essa pessoa?”. Ainda estou tentando lembrar, e<br />

qualquer hora vou conseguir, tenho certeza. Bocheche só mais uma vez,<br />

por favor.<br />

Depois de Poirot haver bochechado e cuspido, o sr. Morley<br />

examinou atentamente a boca do paciente.<br />

– Bem, acredito que esteja tudo certo. Agora feche a boca com<br />

cuidado... Está confortável? Não está sentindo a obturação? Abra de<br />

novo, por favor. Não, parece que está tudo certo.<br />

Hercule Poirot desceu da cadeira. Era um homem livre.<br />

– Bem, até logo, sr. Poirot. Espero que não tenha descoberto<br />

nenhum criminoso em minha casa.<br />

Poirot disse, sorrindo:<br />

– Antes de sentar aqui, todos me pareciam criminosos. Talvez<br />

agora seja diferente!<br />

– Ah, sim. O antes e o depois fazem uma grande diferença! De<br />

qualquer forma, nós dentistas não somos mais os bichos-papões que<br />

costumávamos ser! Quer que eu chame o elevador para o senhor?<br />

– Não, não, eu vou de escada.<br />

– Como o senhor preferir. O elevador é logo ao lado da escada.<br />

Poirot saiu do consultório. Ao fechar a porta, ouviu a água que<br />

começava a correr na pia do lado de dentro.<br />

Desceu os dois lances de escada. Ao chegar à última volta, viu o<br />

coronel anglo-indiano sendo acompanhado até a porta. Não era, de<br />

forma alguma, um sujeito mal-encarado, refletiu Poirot, com alívio.<br />

Provavelmente, um bom atirador que tivesse matado vários tigres. Um<br />

homem útil – um representante do Império Britânico.<br />

Ele foi apanhar o chapéu e a bengala que tinha deixado na sala de<br />

espera. O jovem irrequieto continuava lá, para a surpresa de Poirot.

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