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E a história de Carter estava muito mal contada – ter sido abordado<br />
por agentes do Serviço Secreto que lhe teriam oferecido um emprego<br />
com um salário irrecusável? Trabalhar como jardineiro e relatar as<br />
conversas e as ações dos outros empregados? Foi uma história que<br />
puderam desmentir muito rapidamente, pois não tinha nenhum<br />
fundamento.<br />
<strong>Uma</strong> mentira particularmente grosseira, o tipo de mentira que seria<br />
contada por alguém como Carter.<br />
E, a favor dele, nenhuma evidência pôde ser encontrada. A única<br />
explicação que ele foi capaz de forjar era a de que outra pessoa tinha<br />
disparado o revólver. Ele se agarrou à ideia de que estavam tentando<br />
incriminá-lo.<br />
Não, nada indicava que Carter pudesse ser inocente. Mas, por outro<br />
lado, era estranho que Howard Raikes estivesse presente no momento<br />
dos dois atentados, cujos tiros, aliás, tinham passado bem longe do<br />
alvo.<br />
Mas talvez não passasse mesmo de coincidência. Raikes<br />
certamente não tinha disparado o revólver na Downing Street. E a<br />
presença dele por aqui podia ser facilmente explicada. Ele viera para<br />
perto da namorada. A história dele era bastante convincente.<br />
Tudo saiu perfeito para Howard Raikes. Quando um homem o salva<br />
de um tiro, você não pode simplesmente mandá-lo embora da sua casa.<br />
O mínimo que se pode fazer é demonstrar amabilidade e hospitalidade.<br />
A senhora Olivera não gostou, é óbvio, mas sabia que não havia nada<br />
diferente a ser feito.<br />
Parece que o indesejável namorado de Jane tinha vindo para ficar!<br />
Poirot o examinou com atenção durante a noite.<br />
Ele desempenhava o seu papel com uma certa astúcia. Não<br />
expressou nenhuma opinião subversiva, não falou de política. Contou<br />
histórias divertidas das viagens que fizera pegando carona e dormindo<br />
ao livre.<br />
“Não é mais o lobo”, pensou Poirot. “Não, ele vestiu a pele de<br />
ovelha. Mas e debaixo da pele? É o que fico pensando...”<br />
Naquela noite, quando Poirot se preparava para dormir, alguém<br />
bateu na porta do quarto. Ele pediu que a pessoa entrasse, Howard<br />
Raikes entrou.<br />
Ele riu ao ver a expressão de Poirot.<br />
– Surpreso em me ver? Fiquei de olho no senhor a noite inteira.<br />
Não gostei da maneira como o senhor volta e meia me examinava, como