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Agatha Christie - Uma Dose Mortal

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E a história de Carter estava muito mal contada – ter sido abordado<br />

por agentes do Serviço Secreto que lhe teriam oferecido um emprego<br />

com um salário irrecusável? Trabalhar como jardineiro e relatar as<br />

conversas e as ações dos outros empregados? Foi uma história que<br />

puderam desmentir muito rapidamente, pois não tinha nenhum<br />

fundamento.<br />

<strong>Uma</strong> mentira particularmente grosseira, o tipo de mentira que seria<br />

contada por alguém como Carter.<br />

E, a favor dele, nenhuma evidência pôde ser encontrada. A única<br />

explicação que ele foi capaz de forjar era a de que outra pessoa tinha<br />

disparado o revólver. Ele se agarrou à ideia de que estavam tentando<br />

incriminá-lo.<br />

Não, nada indicava que Carter pudesse ser inocente. Mas, por outro<br />

lado, era estranho que Howard Raikes estivesse presente no momento<br />

dos dois atentados, cujos tiros, aliás, tinham passado bem longe do<br />

alvo.<br />

Mas talvez não passasse mesmo de coincidência. Raikes<br />

certamente não tinha disparado o revólver na Downing Street. E a<br />

presença dele por aqui podia ser facilmente explicada. Ele viera para<br />

perto da namorada. A história dele era bastante convincente.<br />

Tudo saiu perfeito para Howard Raikes. Quando um homem o salva<br />

de um tiro, você não pode simplesmente mandá-lo embora da sua casa.<br />

O mínimo que se pode fazer é demonstrar amabilidade e hospitalidade.<br />

A senhora Olivera não gostou, é óbvio, mas sabia que não havia nada<br />

diferente a ser feito.<br />

Parece que o indesejável namorado de Jane tinha vindo para ficar!<br />

Poirot o examinou com atenção durante a noite.<br />

Ele desempenhava o seu papel com uma certa astúcia. Não<br />

expressou nenhuma opinião subversiva, não falou de política. Contou<br />

histórias divertidas das viagens que fizera pegando carona e dormindo<br />

ao livre.<br />

“Não é mais o lobo”, pensou Poirot. “Não, ele vestiu a pele de<br />

ovelha. Mas e debaixo da pele? É o que fico pensando...”<br />

Naquela noite, quando Poirot se preparava para dormir, alguém<br />

bateu na porta do quarto. Ele pediu que a pessoa entrasse, Howard<br />

Raikes entrou.<br />

Ele riu ao ver a expressão de Poirot.<br />

– Surpreso em me ver? Fiquei de olho no senhor a noite inteira.<br />

Não gostei da maneira como o senhor volta e meia me examinava, como

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