STORYTELLER Papéis velhos, Millôr e cachorros Henrique Folster Numa pasta esquecida, encontrei um email do escritor a respeito <strong>de</strong> um artigo sobre a morte do meu cachorro LuLa Vieira Estou arrumando meu escritório. Numa pasta esquecida, encontrei a cópia <strong>de</strong> um email do Millôr Fernan<strong>de</strong>s a respeito <strong>de</strong> um artigo que escrevi aqui no PROPMARK sobre a morte do meu cachorro. Evi<strong>de</strong>ntemente eu falava <strong>de</strong>ssa relação entre gente e cachorro que só quem vive com intensida<strong>de</strong> sabe como é. Neste email, Millôr quis, com imensa generosida<strong>de</strong>, me oferecer um consolo. Só para contextualizar um pouco, um ministro do governo Collor tinha acabado <strong>de</strong> afirmar, tentando justificar o uso <strong>de</strong> um carro oficial para levar sua cachorra ao médico, que “um cão é um ser humano como outro qualquer”. Millôr escreveu: “Magri andou perto, mas não tinha razão total quando afirmou que o cão é um ser humano como outro qualquer. Na afetivida<strong>de</strong> e na lealda<strong>de</strong>, o cão é muito mais do que qualquer ser humano. Igor, poodle <strong>de</strong> minha filha Paula, consequentemente meu, é uma paixão feita <strong>de</strong> ternura <strong>de</strong>nsa e permanente. Sem querer nada em troca, a não ser carinho, conversa e mais do que tudo, presença. Seus olhos dizem sempre: ‘Por favor, não me <strong>de</strong>ixa. Nem um minuto. Não sei viver sem você’. Logo <strong>de</strong>pois que ganhamos o poodle, olhando para ele um dia e, sabendo que cada ano da minha vida correspon<strong>de</strong> a aproximadamente sete da <strong>de</strong>le, veio-me incontida angústia: ‘Céus! Se eu tiver mais <strong>de</strong>z anos, esse cão, essa graça, será mais velho do que eu’. Ulrich Klever, zoólogo especializado e apaixonado por cães, e Monika Klever, extraordinária fotógrafa, fizeram um belo livro, ao mesmo tempo científico e amoroso, sobre 60 das espécies mais populares <strong>de</strong> cães: The Complete Book of Dog Care (Barron’s, 178 págs., U$ 12,95). Traduzo, concordando plenamente: ‘As <strong>de</strong>z coisas que um cão quer <strong>de</strong> sua gente’. Gente, vejam bem, não somos os donos. Somos <strong>de</strong>les, como eles são nossos: 1 - Minha vida <strong>de</strong>ve durar entre <strong>de</strong>z e 15 anos. Qualquer separação <strong>de</strong> vocês será muito dolorosa para mim. 2 - Dê-me algum tempo para enten<strong>de</strong>r o que você quer <strong>de</strong> mim. 3 - Tenha confiança em mim, é fundamental para o meu bem- -estar. 4 - Não fique zangado comigo por muito tempo. E não me prenda em nenhum lugar como punição. Você tem seu trabalho, seus amigos, suas diversões. Eu só tenho você. 5 - Fale comigo <strong>de</strong> vez em quando. Mesmo que eu não entenda as suas palavras, compreendo muito bem a sua voz e sinto o que você está me dizendo. 6 - Esteja certo <strong>de</strong> que, seja como for que você me trate, isso ficará gravado em mim pra sempre. 7 - Antes <strong>de</strong> me bater, lembre sempre que eu tenho <strong>de</strong>ntes que po<strong>de</strong>riam feri-lo seriamente, <strong>de</strong>ntes que eu nunca vou usar contra você. 8 - Antes <strong>de</strong> me censurar por estar sendo vadio, preguiçoso ou teimoso, pergunte se não há alguma coisa me incomodando. Talvez não esteja me alimentando bem. Po<strong>de</strong> ser que eu esteja resfriado. Ou é apenas o meu coração que está ficando velho e cansado. 9 - Cui<strong>de</strong> bem <strong>de</strong> mim quando eu ficar velho; você também vai ficar. 10 - Não se afaste <strong>de</strong> mim em meus momentos difíceis ou dolorosos. Nunca diga: ‘Prefiro não ver’ ou ‘Faz quando eu não estiver presente’. Tudo é mais fácil pra mim com você ao lado. Comentários sobre os itens um e cinco: 1 - Sempre atento a que cada hora tua correspon<strong>de</strong> a sete do poodle, não esqueça que, quando você sai <strong>de</strong> casa, vai a um cinema e <strong>de</strong>pois vai jantar levando sete horas nesse afastamento, para o teu solitário amigo se passaram dois dias. Bom, ainda bem que pro meu Igor existe a encantadora Natasha, que fica enchendo ele o tempo todo e, por isso, apeli<strong>de</strong>i <strong>de</strong> Nachata. 5 - Deve-se falar sempre com o cão, conversar com ele o tempo todo, zombar <strong>de</strong>le, enfim, fazer com ele tudo que uma pessoa <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> bom humor faz normalmente com as pessoas que ama. Ele enten<strong>de</strong> muito mais do que qualquer Ja<strong>de</strong>r Barbalho <strong>de</strong>sses que dirigem nosso <strong>de</strong>stino. O poodle praticamente não se interessa por outros cães. Gosta <strong>de</strong> gente e <strong>de</strong> ser o centro das atenções. O escritor austríaco Peter Scheitlen escreveu sobre ele, há um século: ‘É o cão mais perfeito. Tem personalida<strong>de</strong>, originalida<strong>de</strong>, jovialida<strong>de</strong>. E toda alma’.” Feliz Natal! Lula Vieira é publicitário, diretor da Mesa Consultoria <strong>de</strong> Comunicação, radialista, escritor, editor e professor lulavieira@grupomesa.com.br 52 <strong>14</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> <strong>2015</strong> - jornal propmark
Parabéns pela brilhante conquista do CamPeonato brasileiro <strong>2015</strong> a maior pontuação da era dos pontos corridos UMA HOMENAGEM DO 50 anos 91PM0712.indd 2 04/12/15 18:23