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última página<br />
leolintang/iStockphotos<br />
admirável<br />
mundo novo<br />
Claudia Penteado<br />
Uma amiga que está <strong>de</strong> férias outro dia<br />
brincou comigo ao sair <strong>de</strong> uma aula <strong>de</strong> ioga<br />
às 4 da tar<strong>de</strong>: “Fiz ioga <strong>de</strong> vagabundo, sala<br />
lotada. Tem muito vagabundo no mundo”.<br />
Por trás da brinca<strong>de</strong>ira há uma clássica executiva,<br />
publicitária, que viveu nos últimos<br />
30 anos muito stress e horários engessados,<br />
e para quem qualquer pessoa que não trabalhe<br />
(e muito) em horários tradicionais é, em<br />
princípio, vagabundo. Frequentando bancos<br />
<strong>de</strong> uma universida<strong>de</strong>, hoje ela planeja mudar<br />
<strong>de</strong> área e viver uma vida mais leve.<br />
mundo para oferecer algo que faça sentido<br />
(sempre ele) para os seus funcionários <strong>de</strong>sencantados.<br />
E como a sincronicida<strong>de</strong> existe, no fim<br />
daquela tar<strong>de</strong> chegou às minhas mãos a pesquisa<br />
Purpose at work, estudo global realizado<br />
pela primeira vez pelo LinkedIn, segundo<br />
o qual 37% das pessoas cadastradas na re<strong>de</strong><br />
social hoje guiam suas escolhas profissionais<br />
por propósito (sentido) e não mais dinheiro<br />
ou status. Parece um percentual baixo, mas<br />
revela movimento e mudança. Os focados em<br />
propósito são mais felizes no trabalho.<br />
O que ela quer, essencialmente, é <strong>de</strong>ixar<br />
para trás um estilo <strong>de</strong> vida no<br />
qual não encontra mais sentido.<br />
Bem no fundo, inveja os<br />
“vagabundos da ioga”, muitos<br />
certamente profissionais<br />
com carreiras perfeitamente<br />
normais, porém com um valor<br />
para ela raro e único: a liberda<strong>de</strong>.<br />
“A<br />
<strong>de</strong>sconstrução<br />
está por<br />
todA pArte,<br />
flertAndo com<br />
novos vAlores e<br />
possibilidA<strong>de</strong>s”<br />
No mesmo dia, um pouco<br />
mais cedo, havia trocado<br />
mensagens sobre esse tema com uma ex-<br />
-colega <strong>de</strong> trabalho que <strong>de</strong>cidiu abandonar as<br />
redações por um novo jeito <strong>de</strong> trabalhar. Fico<br />
fascinada com as pessoas que, como ela, vêm<br />
pedindo <strong>de</strong>missão e fazendo escolhas no lugar<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar que o mundo escolha por elas. A<br />
<strong>de</strong>sconstrução está por toda parte, flertando<br />
com novos valores e possibilida<strong>de</strong>s.<br />
“A resposta está na vida simples, livre e<br />
leve. Não quero ficar rica”, disse ela, que não<br />
tem nem 30 anos, é casada, paga as próprias<br />
contas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os 18 e chegou à conclusão <strong>de</strong><br />
que uma “carreira” não precisa mais ser linear,<br />
construída tijolinho a tijolinho. A linearida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> ser estagiária, <strong>de</strong>pois repórter, editora<br />
e, por fim, editora-chefe vem caindo por<br />
terra como um castelo <strong>de</strong> cartas ao sabor do<br />
vento. Diante <strong>de</strong>ste cenário, muitas empresas<br />
andam repensando os próprios propósitos no<br />
Nos países nórdicos, o percentual <strong>de</strong> pessoas<br />
com novos valores chega a<br />
53%, caso da Suécia. Aqui é <strong>de</strong><br />
29%. Não por acaso, os países lí<strong>de</strong>res<br />
nesses novos valores no estudo<br />
são os mesmos que li<strong>de</strong>ram<br />
nos chamados “valores pós-materiais”<br />
a matriz do “World Value<br />
Survey” realizado pelo sociólogo<br />
americano Ronald Inglehart.<br />
Segundo ele, o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
econômico leva a mudanças<br />
culturais que tornam autonomia individual,<br />
ênfase em bem-estar, <strong>de</strong>fesa da igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
gêneros e diversos outros valores - como os<br />
que abor<strong>de</strong>i aqui, ligados a ter um propósito<br />
no trabalho - não só mais possíveis como prováveis.<br />
Inglehart <strong>de</strong>senvolveu nos anos 1970<br />
a teoria do pós-materialismo segundo a qual a<br />
mo<strong>de</strong>rnização é um processo <strong>de</strong> evolução em<br />
direção a valores humanísticos.<br />
Depen<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, <strong>de</strong> educação,<br />
<strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> social. Portanto, po<strong>de</strong>remos<br />
chegar lá um dia, a partir <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong><br />
processo <strong>de</strong> “mo<strong>de</strong>rnização” em que valores<br />
mais humanísticos se fortalecerão e multiplicarão<br />
<strong>de</strong>pois que as nossas necessida<strong>de</strong>s mais<br />
básicas e primárias (<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m mais material)<br />
forem plenamente supridas. Embora eu <strong>de</strong>va<br />
reconhecer que não anda nada fácil sonhar<br />
com esse futuro.<br />
54 5 <strong>de</strong> <strong>setembro</strong> <strong>de</strong> <strong>2016</strong> - jornal propmark