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edição de 5 de setembro de 2016

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última página<br />

leolintang/iStockphotos<br />

admirável<br />

mundo novo<br />

Claudia Penteado<br />

Uma amiga que está <strong>de</strong> férias outro dia<br />

brincou comigo ao sair <strong>de</strong> uma aula <strong>de</strong> ioga<br />

às 4 da tar<strong>de</strong>: “Fiz ioga <strong>de</strong> vagabundo, sala<br />

lotada. Tem muito vagabundo no mundo”.<br />

Por trás da brinca<strong>de</strong>ira há uma clássica executiva,<br />

publicitária, que viveu nos últimos<br />

30 anos muito stress e horários engessados,<br />

e para quem qualquer pessoa que não trabalhe<br />

(e muito) em horários tradicionais é, em<br />

princípio, vagabundo. Frequentando bancos<br />

<strong>de</strong> uma universida<strong>de</strong>, hoje ela planeja mudar<br />

<strong>de</strong> área e viver uma vida mais leve.<br />

mundo para oferecer algo que faça sentido<br />

(sempre ele) para os seus funcionários <strong>de</strong>sencantados.<br />

E como a sincronicida<strong>de</strong> existe, no fim<br />

daquela tar<strong>de</strong> chegou às minhas mãos a pesquisa<br />

Purpose at work, estudo global realizado<br />

pela primeira vez pelo LinkedIn, segundo<br />

o qual 37% das pessoas cadastradas na re<strong>de</strong><br />

social hoje guiam suas escolhas profissionais<br />

por propósito (sentido) e não mais dinheiro<br />

ou status. Parece um percentual baixo, mas<br />

revela movimento e mudança. Os focados em<br />

propósito são mais felizes no trabalho.<br />

O que ela quer, essencialmente, é <strong>de</strong>ixar<br />

para trás um estilo <strong>de</strong> vida no<br />

qual não encontra mais sentido.<br />

Bem no fundo, inveja os<br />

“vagabundos da ioga”, muitos<br />

certamente profissionais<br />

com carreiras perfeitamente<br />

normais, porém com um valor<br />

para ela raro e único: a liberda<strong>de</strong>.<br />

“A<br />

<strong>de</strong>sconstrução<br />

está por<br />

todA pArte,<br />

flertAndo com<br />

novos vAlores e<br />

possibilidA<strong>de</strong>s”<br />

No mesmo dia, um pouco<br />

mais cedo, havia trocado<br />

mensagens sobre esse tema com uma ex-<br />

-colega <strong>de</strong> trabalho que <strong>de</strong>cidiu abandonar as<br />

redações por um novo jeito <strong>de</strong> trabalhar. Fico<br />

fascinada com as pessoas que, como ela, vêm<br />

pedindo <strong>de</strong>missão e fazendo escolhas no lugar<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar que o mundo escolha por elas. A<br />

<strong>de</strong>sconstrução está por toda parte, flertando<br />

com novos valores e possibilida<strong>de</strong>s.<br />

“A resposta está na vida simples, livre e<br />

leve. Não quero ficar rica”, disse ela, que não<br />

tem nem 30 anos, é casada, paga as próprias<br />

contas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os 18 e chegou à conclusão <strong>de</strong><br />

que uma “carreira” não precisa mais ser linear,<br />

construída tijolinho a tijolinho. A linearida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ser estagiária, <strong>de</strong>pois repórter, editora<br />

e, por fim, editora-chefe vem caindo por<br />

terra como um castelo <strong>de</strong> cartas ao sabor do<br />

vento. Diante <strong>de</strong>ste cenário, muitas empresas<br />

andam repensando os próprios propósitos no<br />

Nos países nórdicos, o percentual <strong>de</strong> pessoas<br />

com novos valores chega a<br />

53%, caso da Suécia. Aqui é <strong>de</strong><br />

29%. Não por acaso, os países lí<strong>de</strong>res<br />

nesses novos valores no estudo<br />

são os mesmos que li<strong>de</strong>ram<br />

nos chamados “valores pós-materiais”<br />

a matriz do “World Value<br />

Survey” realizado pelo sociólogo<br />

americano Ronald Inglehart.<br />

Segundo ele, o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

econômico leva a mudanças<br />

culturais que tornam autonomia individual,<br />

ênfase em bem-estar, <strong>de</strong>fesa da igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

gêneros e diversos outros valores - como os<br />

que abor<strong>de</strong>i aqui, ligados a ter um propósito<br />

no trabalho - não só mais possíveis como prováveis.<br />

Inglehart <strong>de</strong>senvolveu nos anos 1970<br />

a teoria do pós-materialismo segundo a qual a<br />

mo<strong>de</strong>rnização é um processo <strong>de</strong> evolução em<br />

direção a valores humanísticos.<br />

Depen<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, <strong>de</strong> educação,<br />

<strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> social. Portanto, po<strong>de</strong>remos<br />

chegar lá um dia, a partir <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong><br />

processo <strong>de</strong> “mo<strong>de</strong>rnização” em que valores<br />

mais humanísticos se fortalecerão e multiplicarão<br />

<strong>de</strong>pois que as nossas necessida<strong>de</strong>s mais<br />

básicas e primárias (<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m mais material)<br />

forem plenamente supridas. Embora eu <strong>de</strong>va<br />

reconhecer que não anda nada fácil sonhar<br />

com esse futuro.<br />

54 5 <strong>de</strong> <strong>setembro</strong> <strong>de</strong> <strong>2016</strong> - jornal propmark

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