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14 ed Revista Completa

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Eduardo Gomes Sanches<br />

Instituto de Pesca / APTA<br />

Ubatuba, SP<br />

esanches@pesca.sp.gov.br<br />

SET/OUT 2018<br />

A precisão na preservação<br />

do passado<br />

Oincêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro,<br />

em setembro, me fez pensar sobre<br />

como lidamos com nosso passado. “Um povo que não<br />

conhece a sua história está condenado a repeti-la”, disse<br />

há cerca de 50 anos Ernesto Ché Guevara (a frase<br />

original é de Edmund Burke). A par da tristeza em<br />

assistirmos o que vem acontecendo no Brasil, resolvi<br />

escrever esta coluna analisando como temos preservado<br />

a história da aquicultura em nosso país.<br />

Quando comecei minha vida profissional a aquicultura<br />

era muito jovem no Brasil. Tínhamos poucos<br />

pesquisadores (tive a honra de conhecer e conviver<br />

com alguns expoentes desta época) e poucas unidades<br />

de pesquisa (que na época se constituíam em<br />

pequenos laboratórios improvisados em galpões nas<br />

propri<strong>ed</strong>ades rurais estatais que detinham viveiros e<br />

tanques). O setor produtivo era desorganizado, formado<br />

por entusiastas apaixonados, mas sem muito<br />

conhecimento, o desenvolvimento ocorria de forma<br />

lenta. Cursos de extensão e de pós-graduação eram<br />

um luxo disponíveis a poucos profissionais.<br />

Muito tempo passou desde então (quase trinta<br />

anos). É claro que muita coisa mudou. Hoje temos<br />

muitos profissionais altamente capacitados na<br />

aquicultura. O setor produtivo é organizado e bem<br />

representado. Existe ampla disponibilidade de aperfeiçoamento<br />

em excelentes instituições de ensino e<br />

pesquisa e através da internet as informações chegam<br />

ao campo em tempo real.<br />

O Brasil definitivamente é um player mundial na<br />

aquicultura e ainda temos muito potencial para crescer.<br />

Mas a pergunta que faço é: temos cuidado de nosso<br />

passado? Há pouco tempo atrás visitei o Polo Regional<br />

do Vale do Paraíba, da Agência Paulista de Tecnologia<br />

do Agronegócio (APTA) da Secretaria da Agricultura e<br />

Abastecimento do Estado de São Paulo, que abriga a<br />

Estação de Piscicultura de Pindamonhangaba. Quem<br />

me proporcionou a visita foi o colega pesquisador<br />

Sergio Henrique Canello Schalch que atualmente desenvolve<br />

seus trabalhos em aquicultura neste local. A<br />

mais de vinte e cinco anos atrás acompanhei trabalhos<br />

de reprodução de peixes naquela unidade. E confesso<br />

que fiquei impressionado com a visita. Apesar das dificuldades<br />

devido a restrição de verbas nas entidades<br />

públicas de pesquisa, e da complexidade que é operar<br />

um empreendimento de aquicultura estatal hoje no<br />

Brasil, o esforço do Sergio e dos demais colegas em<br />

preservar a estação e dar suporte ao setor produtivo<br />

regional são dignos de registro. A estação de pesquisa<br />

está produzindo muito peixe (de diferentes espécies<br />

e vari<strong>ed</strong>ades), interagindo com o setor produtivo e<br />

ainda fazendo pesquisa de ponta, financiada pela exigente<br />

Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de<br />

São Paulo (FAPESP).<br />

Muitos bons profissionais passaram por esta unidade<br />

de pesquisa ao longo do tempo. Foi uma satisfação<br />

observar o antigo layout dos viveiros (que era a tecnologia<br />

disponível na época) e ver como a aquicultura<br />

mudou. Ver como avançamos em sistemas produtivos<br />

com menor impacto ambiental e mais eficientes<br />

em termos econômicos. Foi interessante aprender<br />

como o Sergio tem modernizado a estação sem perder<br />

a essência do projeto original, em um esforço de<br />

preservar a memória de nossa aquicultura. Comprovando<br />

que não precisamos destruir o passado para<br />

criar o futuro. Podemos encontrar a precisão até na<br />

preservação de nosso passado.<br />

Posso adiantar a vocês que não é só em Pindamonhangaba<br />

que isto acontece. Diversas outras estações<br />

de pesquisa da década de 70 e 80 estão sendo<br />

modernizadas, mas preservando as características originais<br />

do projeto inicial. Representam nossa história<br />

que pode ser conhecida pelos novos profissionais<br />

da aquicultura. E estes tem um grande desafio. Lidar<br />

com a escassez de recursos para inovação científica<br />

(anunciada correntemente pelos órgãos de fomento<br />

da ciência) e ao mesmo tempo não descuidar do<br />

nosso passado. Como fazer isto ? Certamente a par-<br />

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