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edição de 31 de agosto de 2020

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EspEcial TV 70 anos<br />

mundo. O meio vem se adaptando ao longo<br />

dos tempos, se reinventando para se adaptar<br />

às muitas mudanças que vêm ocorrendo<br />

na nossa indústria, principalmente, nos<br />

últimos anos com o crescimento expressivo<br />

da penetração do digital. O público<br />

reage <strong>de</strong> forma automática e notamos os<br />

resultados em números, matérias infinitas<br />

na imprensa e tuítes e impressões sobre os<br />

assuntos reverberam nos canais digitais. A<br />

exemplo da última edição do Big Brother<br />

Brasil, do Oscar, do Carnaval, <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados<br />

jogos <strong>de</strong> futebol e, claro, da excelente<br />

cobertura da pan<strong>de</strong>mia e seus impactos,<br />

tanto na vida das pessoas como em todas<br />

as ativida<strong>de</strong>s econômicas”, explicou a executiva<br />

Luciana Schwartz, vice-presi<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> mídia da agência VML e coor<strong>de</strong>nadora<br />

do Mídia Dados.<br />

Com 88% <strong>de</strong> penetração, as TVs têm no<br />

Fotos: Alê Oliveira e Divulgação<br />

Luciana Schwartz vê evolução e transformação no meio<br />

roberto duailibi<br />

Devo ser um dos poucos sobreviventes <strong>de</strong>ssa<br />

época. Era um garoto <strong>de</strong> 14 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />

e minha família havia acabado <strong>de</strong> retornar<br />

a São Paulo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> passar 18 anos em Mato<br />

Grosso, em busca <strong>de</strong> um sonho.<br />

Com a herança que minha mãe recebeu da<br />

venda da casa <strong>de</strong> seu pai no Líbano, compramos<br />

uma casinha na Rua Eça <strong>de</strong> Queiroz, na<br />

Vila Mariana, com 5 metros <strong>de</strong> frente e 50 metros<br />

<strong>de</strong> fundo. Era um bairro <strong>de</strong> classe média<br />

e, para mim, a gran<strong>de</strong> vantagem era que nossa<br />

casa ficava em frente ao Colégio Benjamin<br />

Constant (antigo Deutschschule) e do Colégio<br />

Ban<strong>de</strong>irantes. Além <strong>de</strong> boas escolas, eram uma<br />

espécie <strong>de</strong> clubes esportivos, pois tinham quadras<br />

<strong>de</strong> vôlei, basquete e han<strong>de</strong>bol — o Benjamin<br />

Constant foi o introdutor do esporte no<br />

Brasil —, além <strong>de</strong> excelentes bibliotecas.<br />

Na rua em que eu morava ninguém tinha<br />

carro.<br />

A primeira família a comprar um foi a Galimberti,<br />

que tinha uma joalheria no Largo São<br />

Francisco. Foram também os primeiros a comprar<br />

um aparelho <strong>de</strong> televisão no bairro, antes<br />

mesmo da inauguração da TV Tupi.<br />

Eram pessoas generosas: <strong>de</strong>ixaram o aparelho<br />

perto da janela da sala, que dava diretamente<br />

para a rua, a fim <strong>de</strong> que os vizinhos<br />

pu<strong>de</strong>ssem vê-lo.<br />

Foi assim, na tar<strong>de</strong> da primeira transmissão,<br />

às 17h30 <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1950. A televisão<br />

dos Galimberti na janela e todos os vizinhos da<br />

Rua Eça <strong>de</strong> Queiroz na calçada.<br />

Começa o programa da PRF-3, TV Tupi, com<br />

o indiozinho. Aparece Assis Chateaubriand e<br />

Dom Paulo Rolim Loureiro, que iria abençoar<br />

o equipamento RCA importado pelo jornalista.<br />

Surge Lucas Nogueira Garcez, governador que<br />

já havia rompido com seu padrinho que o havia<br />

eleito, Adhemar <strong>de</strong> Barros. Discursos, cantoria,<br />

discursos.<br />

Quando a transmissão terminou, um dos<br />

espectadores que estavam na rua comentou<br />

para os outros: “Mas que coisa chata! Não vai<br />

pegar.”<br />

O programa <strong>de</strong> inauguração estava sendo<br />

preparado há mais <strong>de</strong> um ano. Cada equipamento<br />

era testado, cada minuto cuidadoseu<br />

encalço os canais digitais. Mas, apesar<br />

da concorrência, todos estão atentos às<br />

mudanças. O SBT, por exemplo, tem cerca<br />

<strong>de</strong> 77 milhões <strong>de</strong> inscritos no YouTube e<br />

mais <strong>de</strong> 46 bilhões <strong>de</strong> views. Mas não po<strong>de</strong>m<br />

se <strong>de</strong>scuidar.<br />

“As TVs precisam se tornar cada vez mais<br />

programáticas e performáticas. Também precisam<br />

continuar a adotar novas tecnologias e<br />

formatos <strong>de</strong> comercialização, em alinhamento<br />

com a evolução dos canais digitais, a fim<br />

<strong>de</strong> serem competitivas comercialmente. E<br />

trazendo segurança <strong>de</strong> resultados, com métricas<br />

que possibilitem a aferição <strong>de</strong> CPA (custo<br />

por aquisição) e ainda o ROI da campanha,<br />

com monitoramentos diários comprovando<br />

os resultados aos anunciantes e profissionais<br />

<strong>de</strong> mídia. Assim é possível o aperfeiçoamento<br />

em tempo real na mídia e rentabilizar os resultados”,<br />

finalizou Luciana.<br />

Eu vi nascer a televisão no Brasil!<br />

samente ensaiado, à medida que o dia 18 se<br />

aproximava. Contam que, quando o evento<br />

terminou e ficou constatado que tudo <strong>de</strong>u certo,<br />

os câmeras, os artistas e os técnicos festejaram<br />

muito no estúdio. Aí um <strong>de</strong>les perguntou<br />

para os outros, “E amanhã? O que é que a gente<br />

faz?”<br />

Em poucos anos, todas as casas da Rua Eça<br />

<strong>de</strong> Queiroz tinham um aparelho <strong>de</strong> TV. No começo,<br />

a gente ia assistir na casa dos Galimberti,<br />

que recebiam os vizinhos e os amigos dos<br />

filhos com prazer. Pouco a pouco sua sala foi<br />

ficando vazia, pois cada família comprava seu<br />

aparelho em prestações.<br />

Em algumas cida<strong>de</strong>s do interior, as pessoas<br />

começaram a comprar aparelhos mesmo antes<br />

<strong>de</strong> a televisão chegar lá. O caso mais curioso<br />

era exatamente o <strong>de</strong> Campo Gran<strong>de</strong>, Mato<br />

Grosso, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> eu havia vindo. Vizinho da<br />

loja <strong>de</strong> meus pais, na Rua 14 <strong>de</strong> Julho, tinha a<br />

loja do seu Elias Zahran. Os quintais <strong>de</strong> nossas<br />

casas, separados por um corredor estreito, tinham<br />

mangueiras e abacateiros cujos frutos<br />

eram compartilhados pelas crianças.<br />

O filho mais velho do seu Elias, Ueze Zahran,<br />

havia feito um curso por correspondência <strong>de</strong><br />

conserto <strong>de</strong> rádio no Instituto Universal Brasileiro.<br />

Quando o pai julgou que o menino já estava<br />

apto a consertar os rádios dos fregueses,<br />

ce<strong>de</strong>u a ele um espaço na loja para o jovem começar<br />

sua profissão. Ueze, porém, tinha mais<br />

vocação para negociante do que para técnico.<br />

Sabendo do sucesso da televisão em São Paulo,<br />

pegou um trem da Noroeste e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

três dias <strong>de</strong> viagem <strong>de</strong>sembarcou na Estação<br />

da Luz, foi a uma loja da Florêncio <strong>de</strong> Abreu<br />

e comprou dois aparelhos RCA 630, enormes,<br />

mas que eram os menores da época, que dariam<br />

para encaixotar e levar para o trem.<br />

Em dois dias Ueze ven<strong>de</strong>u os aparelhos,<br />

com a promessa <strong>de</strong> que brevemente Campo<br />

Gran<strong>de</strong> receberia uma antena da TV. Voltou<br />

para São Paulo e, com o dinheiro arrecadado,<br />

comprou mais três aparelhos. E assim sucessivamente<br />

durante um ano.<br />

Ao fim <strong>de</strong>sse período, os compradores, que<br />

já eram centenas, começaram a reclamar que<br />

ligavam os aparelhos, mas não acontecia nada,<br />

só riscos. Desesperado com a expectativa <strong>de</strong><br />

ter <strong>de</strong> <strong>de</strong>volver o dinheiro para os fregueses,<br />

Ueze veio mais uma vez a São Paulo e não esperou<br />

para pedir uma reunião com Walter Clark,<br />

invadiu sua sala na Rua Nestor Pestana e<br />

explicou seu problema.<br />

Ueze sempre foi uma pessoa simpática e<br />

muito persuasiva. Walter Clark propôs-lhe então<br />

que, se ele montasse um equipamento <strong>de</strong><br />

transmissão em Campo Gran<strong>de</strong> e levantasse<br />

uma antena, Walter mandaria <strong>de</strong> trem as fitas<br />

das novelas e <strong>de</strong> alguns programas gravados a<br />

cada noite.<br />

Ueze correu <strong>de</strong> novo à Rua Florêncio <strong>de</strong><br />

Abreu — e aí o seu curso <strong>de</strong> rádio da Escola Universal<br />

foi <strong>de</strong> valia —, <strong>de</strong>scobriu quem vendia as<br />

peças daquele equipamento, arranjou um amigo<br />

para ajudar a montá-los, voltou a Campo<br />

Gran<strong>de</strong> e ergueu uma antena rudimentar.<br />

Em pouco tempo as fitas começaram a ser<br />

mandadas <strong>de</strong> avião. Dia a dia a audiência aumentava,<br />

Ueze vendia mais televisores e, com<br />

o auxílio dos irmãos, dos filhos e <strong>de</strong> amigos,<br />

começou a produzir os próprios programas.<br />

Hoje a TV Morena é uma potência no Centro<br />

Oeste, e Ueze acabou dono do mais importante<br />

<strong>de</strong> criação <strong>de</strong> cavalos árabes do continente, <strong>de</strong><br />

emissoras <strong>de</strong> rádio, da Copagás (que acabou se<br />

associando com a Petrobrás) e <strong>de</strong> vários outros<br />

negócios.<br />

Citei esse caso do Ueze Zahran porque essa<br />

é a história do Brasil nos últimos 70 anos.<br />

E a influência da televisão informando as<br />

pessoas, mostrando cenários bem feitos, educando,<br />

ensinando como se fala direito, como<br />

se escova os <strong>de</strong>ntes, como se alimenta bem,<br />

lutando por causas sociais e enriquecendo o<br />

país.<br />

Ela é o produto <strong>de</strong> gente que acredita no<br />

trabalho — Assis Chateaubriand, Blota Junior,<br />

Edmundo Gregorian (pioneiro dos talk shows),<br />

Roberto Marinho, Silvio Santos, Boni, Walter<br />

Clark, Otávio Florisbal, Gilberto Leifert, Maria<br />

A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> Amaral, Walcyr Carrasco, Jô Soares,<br />

e tantos. Tantos outros, inclusive, na área das<br />

agências, das produtoras, dos fornecedores em<br />

geral, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> carpinteiros, maquiadores, costureiras<br />

e cenaristas.<br />

Nesses 70 anos foram milhões <strong>de</strong> brasileiros<br />

trabalhando sério, para ganhar a vida, mas<br />

principalmente, para fazer do Brasil um país<br />

mais civilizado.<br />

28 <strong>31</strong> <strong>de</strong> <strong>agosto</strong> <strong>de</strong> <strong>2020</strong> - jornal propmark

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