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COLETÂNEA ELAS NAS LETRAS

A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição. O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015, a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz», beneficiária da venda da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016. As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC. Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.

A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição.
O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora
Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015,
a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz»,
beneficiária da venda
da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016.
As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC.
Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.

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Sada Ali 131

riente e reafirma a beleza avistada em seu olhar. Únicos! Seus olhos são

milhares de sensações — prosseguira no que julgara pura pieguice.

Mas nos intimidam.

No mesmo instante, deixa a cama e, caminhando com a lepidez

que a tortuosidade de sua deficiência a permitia, mira-se no espelho

ainda intacto para uma melhor observação. – Teria algum fundamento

ou era mais uma tentativa de sedução? As pestanas longas e escuras, se

debatendo em contraposição umas às outras, cobriam-lhe temporária

e superficialmente o fundo branco dos olhos coloridos por duas bolas

de um ofuscante cinza. Retorna descrente para junto do homem que

tentara lhe ressaltar, pela primeira vez, a singularidade dos olhos. Era,

seguramente, conversa para amolecer seu coração.

Sua gargalhada irônica estrondeara, ecoando pelos quatro cantos do

aposento antes de lhe afirmar: deixa de ironia!, e fixando novamente o

olhar, àquela altura já frígido como o sentimento que lhe dedicava, conclui:

agradeça por eu estar ainda um pouco mais sóbria de mim, por não ter me

embriagado no desejo maior que é estar em mim. Essa sensatez que sobrou ainda

me impede de ser irônica. Se embriagada estivesse na magnitude maior do

seu eu, aquele eu pleno, inteiro, seguramente seu eu lhe diria: desapareça

da minha frente! Não estou aqui para ouvir suas asneiras. Meu próximo cliente

me espera. Nova admiração e o homem a pede em casamento enquanto

continua a ressaltar a beleza dos seus olhos. A esse seguiram-se muitos

outros pedidos. Sempre negados. Um dia, amadurecida pelas empíricas

experiências e na mais completa solidão, reagindo a uma saudade

não identificada, que entrava sem convite para assumir o comando da

casa e a ocupar por inteiro, repensa:

Se tivesse tentado...

ooo

Comprar mistura sempre fora um tormento. Como comprar, se nunca

pagavam? Não iria. O sopapo ao pé do ouvido a destitui da decisão.

Não era para repetir aquelas palavras. Se seu pai chegasse e a encontrasse

falando daquela maneira, não iria gostar e terminaria espancando-a,

como sempre acontecia. Falar ou calar? Ambas terminariam em idêntica

implicação. Temente, escolhe o calar-se; mas o silêncio é como pensara:

recebido como um desafio. A mão aberta, os dedos em riste. O ar

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