COLETÂNEA ELAS NAS LETRAS
A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição. O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015, a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz», beneficiária da venda da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016. As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC. Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.
A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição.
O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora
Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015,
a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz»,
beneficiária da venda
da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016.
As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC.
Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.
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Sada Ali 135
e a névoa da noite encobriria seus atos. Retorna. Café no bule e coração
nas mãos. Serve no copo e aguarda, à retaguarda. Sentia-se mais protegida.
O copo retorna vazio. Parecia querer outro. Estende o bule, mas
o que a encontra são as mãos livres. É enlaçada com violência. Bule e
copo caem e se misturam formando estragos heterogêneos em sons,
texturas, aromas e finalidades. Eclodem, velados pela tempestade que
desgraçadamente colaborava para a desventura que se abatia sobre ela.
Compreendera, naquele instante, a escolha do dia chuvoso. Seu terror
seria abafado pela Natureza – e ela, infalivelmente, colaboraria para
seu pavor.
Suas vestes são rasgadas. Esperneia, urra. Animal silvestre enjaulado.
A boca é recoberta e, para conter a força que impusera aos membros
inferiores, sofre certeiros chutes pelo baixo ventre, bacia e nádegas. No
momento em que era submetida à pior parte da agressão, ousaria afirmar
terem sido utilizados vários pares de mãos na tentativa de dominá-
-la. Vencida pelo cansaço, cede. Seu corpo é deflorado sem piedade,
carinho, encanto; tampouco cuidado. Findo o ato, notas são atiradas
a esmo, misturando-se aos cacos e à borra de café. O homem, isto é,
Sr. Durval, sai e seu pai – era dele um dos pares de mãos a segurá-la —
imediatamente se apresenta. Ainda no chão, a mãe reinicia a tortura.
Durval, pai e mãe; tortura física e moral. A mãe, aos gritos, defende a
atitude, delimitando o território feminino. Ser mulher era aquilo. Ter
o corpo violentado, humilhado, usado. Apanha nas faces, membros
superiores e inferiores. Recolhem o dinheiro espalhado pela sala, arrumam
seus pertences em duas sacolas plásticas. Iam partir. Haviam
esperado tempo demais. Ela aprendera a ganhar a vida. Que fosse dona
do próprio sustento. Ainda a orientam a não pegar criança. O pai nunca
assumia. Filho de puta não tinha pai. E, a propósito: aquele não era o
seu pai. As últimas palavras proferidas e ouvidas. E saem.
Fica um tempo ainda inerte, sem ação. Café e guimbas de cigarro
como companheiros de infortúnio. Tenta se levantar, mas perde os sentidos.
Horas depois de intercalar desmaios e lucidez, arrasta-se até alcançar
a porta. Alonga o braço e, com um solavanco, a move. A chuva
caía. Um lamento derramado em cântaros. Ou prantos? Bênção para
uma benéfica morte ou, na falta de forças até para a morte, que essa a
lavasse e a purificasse da imundície da invasão, expurgasse o mal enrai-