17.09.2020 Views

COLETÂNEA ELAS NAS LETRAS

A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição. O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015, a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz», beneficiária da venda da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016. As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC. Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.

A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição.
O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora
Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015,
a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz»,
beneficiária da venda
da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016.
As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC.
Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

132

Lá vem a Teresa Torta...

sibila, cortante rente ao seu ouvido. Fecha os olhos e cobre as orelhas.

E a primeira bordoada deixa as marcas sobre a pele moreno-jambo das

faces. Dois vincos trincando a pele, fruta sendo partida pela lâmina da

faca. Dor! Novas bordoadas e um médio corte no supercílio. Nem o

ferimento tem o poder de sensibilizá-la, mas diante da premente necessidade

da mistura, a mãe sai para apanhar algo que estancasse aquele

sangue vertido. Nenhum pedido de perdão ecoa de seus lábios.

O sangue escorre rosto afora e o medo seu corpo adentra. Nada

de mencionar o ocorrido, tampouco as marcas podiam ser notadas.

Espera o trapo com a quietude dos que sabem o dano de qualquer movimento

proibido. Um resto do passado em forma de tecido é deposto

em sua mão. Tão massacrado quanto seu interior. Atira o velho trapo

sujo de sangue sobre a cadeira, único móvel daquele ambiente, e sai

caminhando com toda a dignidade que lhe restara. No rosto ainda vincado,

acrescia-se o rastro seco traçado pelo volume de sangue. Absorta

na própria dor, não se atém à beleza do dia, uma suave manhã de outono.

Uma vontade de morrer; de apagar para todo o sempre aquelas

cenas que vivera. Tal como as fadas que lhe tapavam olhos e ouvidos

nas madrugadas, livrando-a de presenciar ou ouvir os gemidos e outros

ruídos oriundos do quarto do pai, a morte também poderia resgatá-la,

livrá-la para todo o sempre daquela penitência.

Nesse pensamento, eleva novamente o olhar ao céu. Quanta beleza!

– exclama interiormente ao notar, pela primeira vez, o esplendor da manhã.

O céu, tomado de azul, era regido pela magnitude do Sol que, alongando

as copas das árvores, projetava sombras sobre o seu caminho.

Belo dia para morrer. Apesar da idade, que lhe fora amadurecida pelas

empíricas experiências, se apieda do próprio epitáfio: aqui jaz Teresa: menina

pura e virgem, precocemente chamada pelo Senhor. Ao menos na morte

poderia ser tratada com civilidade. Já não lhe fora dito que enterrar seus

mortos se constituía num primeiro ato de civilização que a humanidade

ensaiara? Pés descalços, acham uma pedra. Um corte e vermelho

filete de sangue. Abaixa-se para conferir o estrago e ouve o primeiro

assobio. O vestido curto, as coxas bronzeadas e roliças, os seios mal

nascidos, despontando em plena ignorância às leis da gravidade. Um

novo assovio e se vira, rosto inexpressivo, para deparar com Melcíades,

o filho mais velho de D. Jussara. Três anos mais velho, forte, de um

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!