COLETÂNEA ELAS NAS LETRAS
A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição. O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015, a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz», beneficiária da venda da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016. As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC. Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.
A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição.
O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora
Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015,
a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz»,
beneficiária da venda
da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016.
As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC.
Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.
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Lá vem a Teresa Torta...
sibila, cortante rente ao seu ouvido. Fecha os olhos e cobre as orelhas.
E a primeira bordoada deixa as marcas sobre a pele moreno-jambo das
faces. Dois vincos trincando a pele, fruta sendo partida pela lâmina da
faca. Dor! Novas bordoadas e um médio corte no supercílio. Nem o
ferimento tem o poder de sensibilizá-la, mas diante da premente necessidade
da mistura, a mãe sai para apanhar algo que estancasse aquele
sangue vertido. Nenhum pedido de perdão ecoa de seus lábios.
O sangue escorre rosto afora e o medo seu corpo adentra. Nada
de mencionar o ocorrido, tampouco as marcas podiam ser notadas.
Espera o trapo com a quietude dos que sabem o dano de qualquer movimento
proibido. Um resto do passado em forma de tecido é deposto
em sua mão. Tão massacrado quanto seu interior. Atira o velho trapo
sujo de sangue sobre a cadeira, único móvel daquele ambiente, e sai
caminhando com toda a dignidade que lhe restara. No rosto ainda vincado,
acrescia-se o rastro seco traçado pelo volume de sangue. Absorta
na própria dor, não se atém à beleza do dia, uma suave manhã de outono.
Uma vontade de morrer; de apagar para todo o sempre aquelas
cenas que vivera. Tal como as fadas que lhe tapavam olhos e ouvidos
nas madrugadas, livrando-a de presenciar ou ouvir os gemidos e outros
ruídos oriundos do quarto do pai, a morte também poderia resgatá-la,
livrá-la para todo o sempre daquela penitência.
Nesse pensamento, eleva novamente o olhar ao céu. Quanta beleza!
– exclama interiormente ao notar, pela primeira vez, o esplendor da manhã.
O céu, tomado de azul, era regido pela magnitude do Sol que, alongando
as copas das árvores, projetava sombras sobre o seu caminho.
Belo dia para morrer. Apesar da idade, que lhe fora amadurecida pelas
empíricas experiências, se apieda do próprio epitáfio: aqui jaz Teresa: menina
pura e virgem, precocemente chamada pelo Senhor. Ao menos na morte
poderia ser tratada com civilidade. Já não lhe fora dito que enterrar seus
mortos se constituía num primeiro ato de civilização que a humanidade
ensaiara? Pés descalços, acham uma pedra. Um corte e vermelho
filete de sangue. Abaixa-se para conferir o estrago e ouve o primeiro
assobio. O vestido curto, as coxas bronzeadas e roliças, os seios mal
nascidos, despontando em plena ignorância às leis da gravidade. Um
novo assovio e se vira, rosto inexpressivo, para deparar com Melcíades,
o filho mais velho de D. Jussara. Três anos mais velho, forte, de um