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COLETÂNEA ELAS NAS LETRAS

A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição. O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015, a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz», beneficiária da venda da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016. As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC. Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.

A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição.
O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora
Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015,
a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz»,
beneficiária da venda
da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016.
As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC.
Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.

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Um mergulho em mim

nho pipocaram por todo o país. 1 milhão de pessoas chegaram a ocupar

as ruas de São Paulo para protestar contra os atos de violência contra

civis e jornalistas, cometidos pela Polícia Militar. Não só o País estava

em chamas, mas meu coração também. Dramática? Um pouco.

No mesmo mês, eu havia finalizado um relacionamento abusivo que

durou cinco anos. Eu demorei alguns meses para formatar o que eu vivi

sob a égide dessa nomenclatura. Aprendi com uma das pessoas mais

admiráveis que eu conheço, que ao verbalizarmos sentimentos e processos

tão íntimos, acabamos por nomeá-los e, muitas vezes, torná-los

estáticos. Eu tive muito medo da transformação — todo esse furacão

em palavras me parecia uma forma de sacralizar a dor e a frustração.

Me sentia envergonhada por ter vivido aquilo, por me permitir passar

por isso.

O que as pessoas podiam dizer? Será que elas já sabiam? Por que eu não “me

dei ao respeito”? E se ele quiser se vingar de mim? Se ele quiser me processar

por dizer que foi abusivo? Foi um relacionamento abusivo mesmo sem ele ter

me batido? As questões rodopiavam em uma dança perversa na minha

mente. Foi absorta nesses pensamentos,que voltei a mi Buenos Aires querido,

buscando um novo fôlego.

Pois bem, era final de junho de 2013 e o inverno ainda não tinha se

instaurado em terras portenhas, de fato. As emoções começaram logo

no avião, quando durante os meus esforços para cochilar, retomei mentalmente

as tarefas que eu deveria realizar antes do embarque e me dei

conta da minha primeira turbulência da viagem: esqueci de sacar dinheiro.

Como alguém esquece de levar dinheiro vivo para uma viagem?

Não sei. Eu tenho tantas habilidades quem nessa altura do campeonato,

nem me surpreendo mais. Tranquilizei-me, pensando que, chegando lá

eu daria um jeito. O que importa é a fé, não é?

Consegui cair no sono e a voz da comissária de bordo no alto-falante

me acorda. Estou confusa. Será que estou entendendo direito? Aterrissamos

no aeroporto de Ezeiza e me deparei, pela primeira vez na vida,

com uma greve de carregadores de mala. Segunda turbulência de viagem.

Eu já conhecia bem a prática de defesa de direitos dos argentinos.

No mês em que morei na cidade, vi as ruas repletas de manifestações,

piquetes e cartazes. E lá estava eu, em meio a um paro argentino. Foi

dada a largada para a confusão. O meu celular, praticamente sem bate-

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