COLETÂNEA ELAS NAS LETRAS
A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição. O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015, a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz», beneficiária da venda da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016. As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC. Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.
A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição.
O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora
Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015,
a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz»,
beneficiária da venda
da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016.
As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC.
Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Jocilene e Rosiclei 17
Quando começou a amanhecer, ouviram o aboio do sertanejo a procura
de alimento para o gado. As três mulheres já estavam longe de
casa. Cansadas, pararam para comer um pouco de farofa de carne seca
e descansar. O sol avermelhado refletia sombras fantasmagóricas de
galhos retorcidos e cactos.
Era verão. O calor castigava todo Nordeste. Mercedes estava exausta.
Sentou-se naquela sombra rala e adormeceu.
O que se via à frente era só espinheira, solo rachado, gado morto e o
mormaço tomando conta de tudo.
Jocilene e Rosiclei perceberam que alguém as seguia. E estava perto.
As gêmeas ficaram de tocaia, pois ensinamentos para se protegerem
tiveram de sobra. Carregaram as espingardas e, deitadas sobre as malas
de roupas, fingiram dormir; com um leve tecido branco de algodão cobriram-se,
escondendo as armas. Com um olho aberto e outro fechado
olhavam, de vez em quando, para o horizonte amarelado pela densa
poeira. Eis que vultos de homens armados surgiram por detrás da moita
de mandacaru e avançaram para o lado das mulheres.
Nem deu tempo de aproximarem; foram alvejados por disparos
impiedosos das gêmeas. Três bandidos, assaltantes, tombaram no solo
arenoso do sertão. Mercedes despertou, aturdida e assustada, constatou
toda trama e a defesa que as filhas tiveram a coragem de fazer.
Sim. Fizeram porque o momento e o contexto exigiam a defesa pessoal
para a sobrevivência.
Ao verificarem as faces dos mortos, surpreenderam-se ao notar que
eram os homens que compraram as cabras e, com certeza, vieram matá-las
para roubar-lhes o dinheiro. Olharam-se, mãe e filhas e, claro, um
só pensamento: voltar e recuperar as cabras, depois seguirem viagem
e pararem à beira do veio de água, alimentar os animais, progredirem
mesmo que em terras emprestadas.
Porque quem é forte resiste à seca e as intempéries do sertão.
Como disse Euclides da Cunha
O sertanejo é, antes de tudo, um forte.