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COLETÂNEA ELAS NAS LETRAS

A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição. O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015, a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz», beneficiária da venda da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016. As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC. Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.

A «ELAS nas Letras» nasce da iniciativa da Pastoral da Mulher Marginalizada de realizar uma incursão na Literatura, para além de sua militância em prol das mulheres em situação de violência, abandono e prostituição.
O modelo da coletânea segue o projeto «Antologias Solidárias», comandado pela escritora
Sada Ali, cujos primeiros parceiros foram, em 2015,
a Academia Barretense de Cultura (ABC) e a Casa Transitória «André Luiz»,
beneficiária da venda
da 1ª edição das Antologias Solidárias, em 2016.
As «Antologias» seguintes foram lançadas em Ribeirão Preto, junto à UGT (Memorial da Classe Operária) e em Barretos, junto ao Fundo Social de Solidariedade, além de mais uma obra em parceria com a ABC.
Agora é hora das mulheres assumirem, mais uma vez, o protagonismo e, através das letras, deixarem sua mensagem de empoderamento e luta.

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Jocilene e Rosiclei 17

Quando começou a amanhecer, ouviram o aboio do sertanejo a procura

de alimento para o gado. As três mulheres já estavam longe de

casa. Cansadas, pararam para comer um pouco de farofa de carne seca

e descansar. O sol avermelhado refletia sombras fantasmagóricas de

galhos retorcidos e cactos.

Era verão. O calor castigava todo Nordeste. Mercedes estava exausta.

Sentou-se naquela sombra rala e adormeceu.

O que se via à frente era só espinheira, solo rachado, gado morto e o

mormaço tomando conta de tudo.

Jocilene e Rosiclei perceberam que alguém as seguia. E estava perto.

As gêmeas ficaram de tocaia, pois ensinamentos para se protegerem

tiveram de sobra. Carregaram as espingardas e, deitadas sobre as malas

de roupas, fingiram dormir; com um leve tecido branco de algodão cobriram-se,

escondendo as armas. Com um olho aberto e outro fechado

olhavam, de vez em quando, para o horizonte amarelado pela densa

poeira. Eis que vultos de homens armados surgiram por detrás da moita

de mandacaru e avançaram para o lado das mulheres.

Nem deu tempo de aproximarem; foram alvejados por disparos

impiedosos das gêmeas. Três bandidos, assaltantes, tombaram no solo

arenoso do sertão. Mercedes despertou, aturdida e assustada, constatou

toda trama e a defesa que as filhas tiveram a coragem de fazer.

Sim. Fizeram porque o momento e o contexto exigiam a defesa pessoal

para a sobrevivência.

Ao verificarem as faces dos mortos, surpreenderam-se ao notar que

eram os homens que compraram as cabras e, com certeza, vieram matá-las

para roubar-lhes o dinheiro. Olharam-se, mãe e filhas e, claro, um

só pensamento: voltar e recuperar as cabras, depois seguirem viagem

e pararem à beira do veio de água, alimentar os animais, progredirem

mesmo que em terras emprestadas.

Porque quem é forte resiste à seca e as intempéries do sertão.

Como disse Euclides da Cunha

O sertanejo é, antes de tudo, um forte.

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