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SCMedia News | Revista | Setembro 2020

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78<br />

O mundo é redondo, por Cláudia Brito<br />

“Uma economia saudavél devia ser desenhada<br />

para prosperar, não para crescer”<br />

Kate Raworth, 3.7 milhões de visualizações, 2018<br />

Kate Raworth desenvolveu o modelo económico a que chamou “doughnut economics” e que equilibra as<br />

necessidades humanas básicas com as fronteiras planetárias. O nome do modelo deriva da sua representação<br />

visual, em que o buraco no meio indica a proporção de pessoas que não têm acesso aos elementos essenciais à<br />

vida, enquanto a crosta representa os tectos ecológicos e sistémicos de que a vida depende e que não podem ser<br />

excedidos. O “doughnut”, colorido a verde, é o espaço justo e seguro, em que a humanidade pode prosperar.<br />

Somos viciados em crescimento, financeira,<br />

política e economicamente. Desde que o PIB<br />

foi inventado, no princípio do século passado,<br />

que a métrica do dinheiro domina tudo o que<br />

fazemos. A solução encontrada para alinhar<br />

todos os esforços da humanidade foi investir<br />

num consumo sempre a crescer, como um avião<br />

sempre a voar e que nunca poderá aterrar.<br />

Durante um tempo esta foi uma fonte de<br />

prosperidade para a maioria de nós, mas agora<br />

começamos a ver os limites do consumismo<br />

em massa, na economia degenerativa que se<br />

instalou, afectando o equilíbrio delicado deste<br />

planeta único e criando desigualdades sociais<br />

maiores do que nunca. O buraco no meio do<br />

“doughnut” aumenta, enquanto estamos à beira<br />

do colapso dos ecossistemas naturais. A solução<br />

que continua a ser proposta é o crescimento<br />

verde, equilibrado, inclusivo, resiliente, qualquer<br />

um serve, desde que seja crescimento. Contudo,<br />

o crescimento económico contínuo faz parte dum<br />

modelo ultrapassado, criado por economistas<br />

do século passado, cujo futuro nunca antecipou<br />

o presente em que agora vivemos. Faltou-lhes a<br />

clarividência para perceber que, neste mundo, o<br />

que cresce eventualmente estabiliza e adquire<br />

maturidade. Ou então funciona literalmente como<br />

um cancro, o qual ao crescer sem parar destrói a<br />

vida saudável que lhe deu origem.<br />

Kate Raworth propõe que está na altura de<br />

termos uma ambição maior, uma nova forma<br />

de progresso, em que tudo e todos possam<br />

prosperar. O nosso objectivo comum deve ser<br />

encontrar um ponto de equilíbrio dinâmico,<br />

como muitas culturas antigas reconheceram.<br />

E o modelo que temos de utilizar deve ser<br />

regenerativo e redistributivo, por “design”.<br />

Ao ambicionar a regeneração, através duma<br />

economia circular, repudiamos o paradigma do<br />

“fazer, usar e deitar fora” que nos trouxe a este<br />

ponto. A redistribuição, por sua vez, contraria a<br />

concentração de conhecimento, riqueza e poder.<br />

Tudo isto é facilitado pela tecnologia actual, com<br />

redes de energia renovável, plataformas digitais<br />

e impressão 3D. Mas a tecnologia não pode ser<br />

utilizada como uma ferramenta para aumentar<br />

ainda mais o crescimento, continuamente<br />

consumindo recursos, a não ser que acreditemos<br />

que um avião pode voar indefinidamente. As<br />

fronteiras que temos de estabelecer são de<br />

facto uma limitação, mas lembremo-nos que<br />

as limitações foram a fonte de criatividade das<br />

pessoas mais engenhosas e das evoluções mais<br />

belas.<br />

Kate Raworth é uma economista inglesa que trabalha<br />

para a Universidade de Oxford e a Universidade de<br />

Cambridge, depois de ter passado 20 anos nas Nações<br />

Unidas e Oxfam.

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