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Kim Becker/Unsplash<br />
A dança<br />
das ca<strong>de</strong>iras<br />
“O anel que tu me <strong>de</strong>stes era<br />
vidro e se quebrou, o amor que tu<br />
me tinhas era pouco e se acabou”<br />
Cantigas <strong>de</strong> Roda<br />
Francisco alberto Madia <strong>de</strong> souza<br />
mundo vive hoje uma espécie <strong>de</strong> dança<br />
O universal das ca<strong>de</strong>iras, lembram?<br />
Aquela brinca<strong>de</strong>ira que se fazia nas casas<br />
<strong>de</strong> família, e nos programas <strong>de</strong> televisão,<br />
on<strong>de</strong> sempre tinha uma ca<strong>de</strong>ira a menos do<br />
que o número <strong>de</strong> participantes. E quando<br />
a música parava <strong>de</strong> tocar todos tinham <strong>de</strong><br />
sentar. O que permanecesse em pé, pela<br />
falta da ca<strong>de</strong>ira, estava <strong>de</strong>sclassificado.<br />
De certa forma, hoje o mundo vive uma<br />
gran<strong>de</strong> dança das ca<strong>de</strong>iras. A música começou<br />
em ritmo <strong>de</strong> valsa lenta, foi acelerando,<br />
hoje já está entre samba canção e bossa<br />
nova, e muito proximamente vai virar frevo.<br />
E o número das ca<strong>de</strong>iras nos territórios<br />
convencionais cada vez mais diminuindo.<br />
Nos novos territórios infinitas ca<strong>de</strong>iras<br />
a serem <strong>de</strong>scobertas e conquistadas, mas,<br />
nos tradicionais, as ca<strong>de</strong>iras estão terminando.<br />
É o que acontece hoje no mundo.<br />
Um mundo velho encerrando suas ativida<strong>de</strong>s,<br />
o número <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>iras – mercado –<br />
diminuindo, e muitas empresas <strong>de</strong>scobrindo-se<br />
em pé e perdidas, e, retirando-se.<br />
Essa dança já começou em nosso país e<br />
vai se acelerando. Das gran<strong>de</strong>s e tradicionais<br />
empresas, três já não tinham mais ca<strong>de</strong>iras<br />
para sentarem-se, per<strong>de</strong>ram mercado, relevância,<br />
competitivida<strong>de</strong> e, como na canção<br />
<strong>de</strong> roda Ciranda, Cirandinha: “por isso, dona<br />
Chica, entre <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa roda, diga um verso<br />
bem bonito, diga a<strong>de</strong>us e vá embora”. E<br />
assim partem Ford, Merce<strong>de</strong>s e Sony.<br />
Hoje, no Brasil, milhões <strong>de</strong> compradores<br />
dos produtos Sony muito preocupados. Como<br />
proce<strong>de</strong>r em relação aos produtos que<br />
compraram nos últimos anos, meses, semanas,<br />
se <strong>de</strong>r problema...<br />
E aí, como era <strong>de</strong> se esperar, estabelece-<br />
-se o conflito e multiplicam-se as opiniões.<br />
Segundo alguns, lastreados no Código<br />
<strong>de</strong> Defesa do Consumidor, as empresas<br />
permanecerão responsáveis por seus produtos<br />
<strong>de</strong> acordo com a vida útil prevista<br />
para cada um <strong>de</strong>les. Pergunta: quem vai<br />
<strong>de</strong>terminar qual era a vida útil prevista?<br />
Já outros dizem que toda a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor<br />
é responsável. E não apenas os fabricantes.<br />
Assim, em caso <strong>de</strong> questionamentos<br />
na Justiça, respon<strong>de</strong>m não apenas os fabricantes<br />
como os reven<strong>de</strong>dores <strong>de</strong> automóveis,<br />
o varejo <strong>de</strong> produtos, e outros agentes<br />
econômicos da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> valor.<br />
Tentando prevenir todas as contendas<br />
que certamente acontecerão nos próximos<br />
meses e anos, o Procon <strong>de</strong> São Paulo<br />
vem procurando compor-se com as empresas<br />
retirantes estabelecendo uma espécie<br />
<strong>de</strong> pacto <strong>de</strong> relacionamento com os<br />
consumidores <strong>de</strong> boa-fé que compraram<br />
seus produtos.<br />
Com a Ford, por exemplo, o Procon-<br />
-SP celebrou um acordo em que a Ford<br />
compromete-se ao fornecimento <strong>de</strong> peças<br />
enquanto seus automóveis seguirem<br />
rodando... E agora tenta fazer o mesmo<br />
com a Sony.<br />
Ou seja, amigos, nas <strong>de</strong>spedidas, vão se<br />
os vínculos emocionais, e exacerbam-se as<br />
dúvidas, inseguranças e questionamentos.<br />
Quando uma empresa fecha, ou retira-<br />
-se, todos per<strong>de</strong>m. Uma empresa, mais que<br />
proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> dono, donos ou acionistas,<br />
é um bem da socieda<strong>de</strong>.<br />
“A Barata diz que tem sete saias <strong>de</strong> filó/É<br />
mentira da barata, ela tem é uma só/Ah ra<br />
ra, iá ro ró, ela tem é uma só!”<br />
Francisco Alberto Madia <strong>de</strong> Souza<br />
é consultor <strong>de</strong> marketing<br />
famadia@madiamm.com.br<br />
12 <strong>17</strong> <strong>de</strong> <strong>janeiro</strong> <strong>de</strong> <strong>2022</strong> - jornal propmark