Chicos 68 - 08.04.2022
Chicos é uma publicação literária que circula apenas pelos meios digitais. Envie-nos seu e-mail e teremos prazer de te enviar gratuitamente nossas edições. A linha editorial é fundamentalmente voltada para a literatura dos cataguasenses, mas aberta ao seu entorno e ao mundo. Procura manter, em cada um dos seus números, uma diversidade temática.
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O antilirismo lírico de Lopito Feijóo
Chicos
* Paulo Martins
Dos livros de poesia do poeta angolano
Lopito Feijóo que me chegaram às mãos, o
“Desejos & Doutrinárias Marintimidades” é o
que me tocou mais fundo. Descrevo aqui, de
forma sucinta, o sentido e a qualidade que encontrei
em seus poemas.
I
De um modo geral, a poesia de Lopito Feijóo
parece escrita a machado, riscado em tampos
de madeira de lei, com cortes ora profundos
ora superficiais, pelo que certamente também
são usadas outras ferramentas de diversos calibres,
todas simbolicamente fálicas. Já sabia, de
outros livros, que na visão deste veterano poeta
nossa sociedade de classes não pode ser encarada
com delicadeza e amabilidade: ela nos obriga
a ser duros, contundentes e um pouco ferozes,
por ordem de suas contradições, que nos agridem
e engendram nossa revolta. As relações humanas
e, no seu bojo, as relações amorosas, são
reféns dessa condição. Então, quando a poesia
amorosa ou erótica está talhada e pode ser declamada,
ela urra como leão, grita como ave de
rapina, ameaça como uma hiena; mas tem uma
particularidade, aparentemente paradoxal: os poemas
acabam num doce enlevo, com as carícias
e delicadezas das aves canoras quando em conluio
de acasalamento. A ferocidade então se
transforma em ternura e o realismo expressionista
se converte em lirismo exposto.
Lopito Feijóo se declara um poeta doutrinário.
Não é à-toa que seu primeiro livro de poemas
se chama Doutrina e vários outros são nomes
compostos, em que a palavra “doutrina” ou
“doutrinário” estão presentes, como a querer
destacar esta qualidade vital: tudo na vida decorre
de uma doutrina. Ou seja, a existência é doutrinária
por natureza. Na verdade, é isso mesmo,
pois doutrina é um conceito que implica sabedoria,
ciência e erudição; e doutrinar não é mais do
que a forma de adquirir tais atributos. Ele escolheu,
então, estender a sua criação poética no
desvelamento dos misteriosos e multifacéticos
meandros doutrinários da vida.
Assim também será visto o amor. É preciso
cantar a experiência do amor, a sua sabedoria, a
própria arte de amar, como a coisa mais sublime
da vida. Parece não lhe interessar as declarações
de amor pessoal, pelo que sua poesia jamais é
dedicada a esta ou aquela mulher particularmen-
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