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Cultura de Bancada, 18º Número

Cultura de Bancada, 18º número, lançado a 12 de agosto de 2023

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se ter disseminado o boato de que teria

sido acordado entre as formações que

este segundo jogo acabasse novamente

empatado, forçando assim a realização duma

terceira partida de forma a aumentar o

dinheiro arrecadado pelas duas direcções na

venda de ingressos.

Este é o primeiro registo que

encontrei de violência em grande escala nos

jogos realizados entre os dois vizinhos, mas

a partir daqui muitos outros episódios se

seguiram, e há inclusivamente relatos dum

aumento exponencial de entrada de utentes

nos hospitais de Glasgow nas horas seguintes

aos dérbis disputados durante a década de

1990.

A rivalidade dentro das quatros

linhas é igualmente titânica e, apesar de

periódicos domínios de uma ou outra

formação, o equilíbrio registado pelos

números é absolutamente revelador do

quanto nenhum dos lados quer perder para

o outro. O primeiro dérbi disputou-se a 25 de

Maio de 1888 e o Celtic acabaria por vencêlo

por 5-2. Realizaram-se no total 436 jogos

entre os rivais, com o Rangers a levar de

vencidos 169, o Celtic 165, e o registo de 102

empates. E se em matéria de campeonatos o

Rangers está igualmente na frente (55 contra

53), o Celtic destaca-se pelo maior número de

taças vencidas (41 contra 34). Os dois clubes

alcançaram também a glória europeia com

um título para cada lado. O Celtic venceu a

maior competição de clubes da uefa, a Taça

dos Clubes Campeões Europeus, em 1967, no

Estádio do Jamor, e o vizinho Rangers venceu

a Taça das Taças apenas cinco anos depois,

em 1972, num período que curiosamente até

foi negro em matéria de conquistas internas,

tendo o Celtic vencido nove campeonatos

consecutivos entre as épocas 65/66 e 73/74,

feito que o Rangers viria a igualar mais tarde,

entre 1989 e 1997.

Apesar de ter sido relativamente

amenizada pelo tempo, a rivalidade políticoreligiosa

está hoje bem viva, com especial

fervor no seio dos grupos ultra locais. Se

os Green Brigade do Celtic são conhecidos

pelas posições progressistas, de apoio à

causa palestiniana e por entoarem cânticos

associados ao IRA, os Union Bears alinham

numa tradição unionista de lealdade à

coroa britânica. Ainda recentemente, logo

após o falecimento da rainha Elizabeth II,

pudemos perceber o quão contrastantes são

as posições dos dois grupos e respectivas

massas adeptas. Os Union Bears prepararam

um bonito mosaico que preencheu toda a

bancada, com as cores da bandeira britânica

e a rainha ao centro. Por seu turno, a Green

Brigade arranjou uma forma criativa de

contornar o minuto de silêncio em memória

da monarca, substituído por um minuto de

aplausos precisamente por se esperar já

alguma acção de boicote. Ora os Ultras do

Celtic, que jogou na condição de visitante no

campo do St. Mirren, hastearam uma frase

em que se lia “If you hate the royal family clap

your hands” entoando um cântico com essa

mesma letra, episódio que se tornou viral na

internet.

Toda esta envolvência torna

este dérbi verdadeiramente especial, e

confere-lhe uma projecção mediática que

vai muito para além da parca dimensão do

futebol escocês. Fica mais uma vez latente

a correlação entre clubes, comunidade e

tradição local, mostrando que a importância

do futebol em muito transcende a do mero

jogo que decorre dentro das quatro linhas.

Por J. Sousa

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