Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
A LENTA MAS INCESSANTE EVOLUÇÃO
DE SOCCER PARA FUTEBOL
78
Desde que me lembro, a (falta de)
cultura do futebol norte-amerciano tem
sido um assunto (im)permanente entre os
adeptos, com a recente transferência de
Lionel Messi para a MLS a ressuscitar as mais
diversas discussões. A Internet está repleta
de vídeos de adeptos norte-americanos
a tentarem imitar os ultras europeus ou
mesmo os barra bravas sul-americanos. As
secções de comentários são implacáveis. Os
adeptos americanos são alvo de chacota da
comunidade de adeptos do futebol. Mas, por
detrás de todos estes vídeos “engraçados”,
fora da vista do resto do mundo, a cultura
dos adeptos nos Estados Unidos está, na
verdade, a desenvolver-se. O primeiro lugar
desta evolução é tomado pela Costa Leste,
onde os adeptos da Bay Area e de Los
Angeles estão a exibir o enorme potencial
deste país gigantesco. Tive a oportunidade de
experimentar todo este desenvolvimento em
primeira mão quando me juntei aos San Jose
Ultras, para o California Clasico, no embate
contra o LA Galaxy, e aos District 9 Ultras,
adeptos fervorosos do Los Angels FC, para o
El Tráfico (assim é conhecido o derby de LA),
tendo como oponente, mais uma vez, o LA
Galaxy.
Uma das primeiras coisas que se
nota quando se vai a estes jogos é que não
é por acaso que esta zona da Costa Leste é
a “escolhida” como líder do novo mundo
dos adeptos por aqui. Trata-se simplesmente
de uma consequência lógica do elevado
número de imigrantes provenientes da
América Central e do Sul. Los Angeles é
especialmente conhecida como uma cidade
com um elevado afluxo de latinos. A atual
cultura de adeptos na América parece
depender quase exclusivamente deste
tipo de influências externas. Os dirigentes
dos District 9 que conheci eram todos
mexicanos que também apoiavam, na sua
maioria, o Chivas de Guadalajara. Já o líder
dos Ultras de San José emigrou a partir da
Roménia, tendo recebido a sua “formação”
nas bancadas do Steaua Bucuresti. Olhando
para as bancadas e, sobretudo, para os
grupos ultra, a percentagem de imigrantes
é extraordinariamente alta. Países como
o México, El Salvador e as Filipinas estão
bastante representados.
Estas influências latino-americanas
e sul-americanas são cruciais para moldar
a configuração da cultura do adepto nos
Estados Unidos da América. Tudo o que se
vê é uma reminiscência do futebol mexicano,
argentino ou colombiano. As canções são
muitas vezes cantadas inclusivamente
em castelhano. Muitos dos ritmos são
retirados das bancadas de La Bombonera
e El Monumental. O conjunto festivo nas
bancadas é ritmado por vários tambores e
outros instrumentos, tais como trompetes.
Especialmente no LAFC, este alinhamento
com a cultura futebolística latino-americana
é bastante visível. Se olharmos para os vídeos
desse jogo, podemos pensar que foram
gravados nas bancadas do Monterrey ou do
Club Atlas. O facto de os cânticos desse jogo
terem saído de milhares de gargantas, num
Rose Bowl muito bem composto, com cerca
de 80.000 pessoas, mostra todo o potencial