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e narrativas baseadas em jogadores para
conseguir desfrutar de um jogo. Os clubes
da Major League Soccer não se importam
de obedecer a esta lógica. Esse tipo de amor
pelo desporto pode funcionar na NBA e na
NFL, lugares onde os clubes americanos
são capazes de acumular todo o talento do
mundo, fazendo com que haja um equilíbrio
entre qualidade e reputação. No entanto,
no futebol, isso acaba por resultar na
compra de lendas que são depois levadas a
desfilar pelo país como se fossem animais
de circo. Isto atrai um certo tipo de adepto
- aquele que vem ver uma estrela em vez
de uma equipa. Este tipo de adepto está tão
afastado da mentalidade dos ultras como
Portugal está geograficamente da Coreia do
Sul. Por exemplo, quando Lionel Messi foi
substituído aos 75 minutos no seu segundo
jogo pelo Inter Miami, centenas de pessoas
abandonaram imediatamente o estádio. Para
elas, isso fazia sentido. O motivo que os levou
a visitar o estádio tinha desaparecido, não é
verdade?
Os adeptos norte-americanos são
também vítimas da dimensão gigantesca do
país onde residem. Nos EUA, as deslocações
não são se resumem a uma questão de
horas a “perder”, mas sim de dias. Em países
onde existe uma longa e intensa história
de apoio ao clube de futebol local, isto
pode não constituir necessariamente um
problema inultrapassável. Mas os Estados
Unidos simplesmente não estão, e talvez
nunca venham a estar, ao nível de um país
como a Indonésia, onde milhares de adeptos
se juntam alegremente em viagens de
autocarro de 30 horas ou mais para seguirem
cegamente o seu clube. Embora os ultras do
LAFC estejam a tentar resolver este problema,
ao organizarem viagens fora de casa com
a maior frequência possível, a perspetiva
de uma cultura adepta que viva fora da sua
habitual casa parece tão distante como a
chegada de vida extraterrestre à Terra.
Em suma, há certamente muitas
colinas a subir para as boas pessoas dos
EUA que tentam construir uma cultura
futebolística vibrante e real. Mas, sem
que muitos europeus o saibam, graças aos
esforços dessas mesmas pessoas, a cultura do
futebol por estes lados tem vindo a melhorar
a passos largos na última década. O facto de
estas pessoas estarem a fazer tudo o que
está ao seu alcance para mudar a cultura
prevalecente, para grande divertimento
dos guerreiros dos teclados espalhados por
todo o mundo, não merece senão o nosso
respeito. Ir contra a corrente puramente por
amor à cultura ultra é louvável. E está a dar
os seus frutos. Do meu ponto de vista, os
ultras do LAFC estão a liderar esta nova era
da cultura do futebol nos Estados Unidos,
quer as pessoas se apercebam disso ou não.
Podemos não saber qual é a meta de todo
este empreendimento, mas, por agora, uma
coisa é certa: o único caminho possível é
prosseguir a subida.
Por Lars Smit (colaborador do In de Hekken,
projeto digital de adeptos com projeção
nos Países Baixos e na Bélgica). Tradução de
Daniel Santos
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