Cultura de Bancada, 20º Número
Cultura de Bancada, 20º número, lançado a 12 de dezembro de 2023
Cultura de Bancada, 20º número, lançado a 12 de dezembro de 2023
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Pouco faltava para as 11h30 locais, o que
significava que restavam pelo menos 2h30
para o início do encontro. Na estação estava
o meu amigo à espera, dando-me boleia até
junto do Coliseum Alfonso Pérez, o estádio
do Getafe. Lá é possível encontrar uma praça
nos arredores do recinto, por onde passam
grande parte dos adeptos que se deslocam
até ao mesmo e, no fundo, o sítio onde se
concentra o grupo ultra local, os Comandos
Azules. Situados no meio da praça, alojados
numa “banca” improvisada, cerca de 20
membros já lá estavam a confraternizar,
enquanto montavam o seu stock de cervejas e
material, onde se incluía vestuário, adereços
e fanzines.
O meu colega apresentou-me aos
elementos presentes, que me fizeram uma
simpática recepção. Era claramente notória a
diferença entre eles e qualquer simpatizante
normal que lá passasse. À parte de um ou
outro terem indumentárias alusivas ao clube,
a maioria priorizava roupas com marcas
claramente mais casuais ou então da própria
claque. É importante referir que, o grupo,
apesar de não ser muito grande, apresentava
dois subgrupos: um designado “Vandals”
e outro correspondente às Getafe Girls.
Saltava também à vista as muitas tatuagens
visíveis que cada um deles tinha, muitas delas
políticas, mais concretamente nacionalistas
- seguindo a tendência do que é a posição
política do grupo.
Depois dos cumprimentos iniciais
a quem lá estava, foi tempo de ir almoçar
de forma rápida. Num bar próximo e que
está habituado a receber os ‘aficionados’ do
Getafe, comi uma daquelas típicas baguetes
de presunto espanholas, acompanhada
naturalmente por cerveja. Essa altura serviu
para ter os primeiros conhecimentos sobre a
realidade do clube e do grupo. Como já sabia
antes, o Leganés, clube de uma localidade
situada a escassos quatro quilómetros, é
o grande rival. Eles estão actualmente no
segundo escalão, mas defrontaram-se nesta
última pré-época, onde houve problemas,
com os Comandos a deslocarem-se sem
escolta e a entrarem em confronto com o
grupo rival, chamado Ghetto 28.
Regressámos à concentração do
grupo já com a praça bastante preenchida
de azul. Era altura de ouvir mais histórias
de vários elementos e de perceber que
a realidade é bastante diferente do que
acontece em Portugal, apesar da proximidade
geográfica. Os combates combinados, por
exemplo, já se começam lá a enraizar, ao invés
do que acontece por cá. Independentemente
do resultado, essas lutas são encaradas com
toda a normalidade e como processo de
crescimento.
Algo que me despertava curiosidade
era obviamente o comportamento da polícia,
pois a repressão por aquele território é mais
que conhecida. Ao contrário de Portugal, não
existe aquela vigilância apertada e os olhos
postos permanentemente sobre os adeptos
no exterior, principalmente sobre quem
aparenta ser de algum grupo organizado de
adeptos. O que acontecia é que a carrinha
do Corpo Nacional de Polícia passava por
lá ocasionalmente, aproximadamente
num intervalo de 30 em 30 minutos, e fui
alertado para virar a cara no momento
da sua passagem, pois havia uma grande
probabilidade de estarem a filmar atrás dos
vidros fumados do veículo.
A meia-hora do encontro iniciar o
meu amigo disse-me para irmos entrando.
Muita gente nos acessos ao interior do
estádio, mas a andar a um bom ritmo, até
porque a revista não parecia muito rigorosa.
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