Cultura de Bancada, 20º Número
Cultura de Bancada, 20º número, lançado a 12 de dezembro de 2023
Cultura de Bancada, 20º número, lançado a 12 de dezembro de 2023
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Percebeu-se logo a apreensão de quase toda
a gente, ao contrário da Frente, que seguia no
apoio. A verdade é que o Atlético logo reduziu
o marcador e as bancadas voltavam a ficar um
pouco mais animadas.
Surgiu o intervalo e aí o momento
do jogo no que a fora das quatro linhas diz
respeito. Reparei que os sectores ocupados
pela Frente se foram rapidamente esvaziando
e dava para verificar que teria sido originado
por problemas com a polícia. Um ou outro
adepto mais perto de onde eu me encontrava
também ia saindo do recinto, mas o resto do
público ficou normalmente nos seus lugares à
espera que a segunda parte se iniciasse.
Na realidade, era previsível que o ambiente
tivesse morrido a partir daí, e o meu interesse
até estava mais nessa parte, a bem dizer.
Saí, por isso, nesse momento, e percebi que
a razão de tudo aquilo se deveu ao facto
de dois elementos terem sido detidos sem
motivo aparente. Muita gente estava cá fora
centrada em frente a um ecrã de um bar
do estádio e vibraram com uma reviravolta.
Houve mais dois golos – um no início da
segunda parte e outro a meio – que valeram
uma grande festa, o que ia contrastando com
um ambiente mais hostil entre muitos polícias
equipados e a preparem-se para outro
tipo de eventualidades com os apoiantes
do Atlético concentrados no exterior. No
entanto, não passou mesmo de uma postura
mais intimidatória – sendo, obviamente, o
oposto de tudo o que tinha verificado até
então nesse fim-de-semana.
Terminado o encontro, aproveitei
para apanhar o metro, que se ia colorindo
com muito vermelho e branco, e algumas
manchas de azul e amarelo, e fui aproveitar
a última noite. Para a aventura se alongar,
acabei por perder o voo de regresso que
iria ter às 6h da manhã, acabando depois
por ter apenas às 14h, o que serviu para ir
experimentar mais algumas coisas da capital
espanhola. Inclusive, cheguei a ser abordado
no metro por um jovem adepto do Atlético,
que me reconheceu da noite anterior e,
em conversa, disse-me que trabalhava… na
remodelação do Estádio Santiago Bernabéu.
Aproveitei para ir com ele a um bar antes de
ele iniciar o trabalho diário (já era 2ª feira)
e, curiosamente, à minha frente reparei
em várias inscrições dos Ultras Sur. Estava
na Rua Marceliano Santa María, local de
concentração do grupo do Real Madrid que
está, como é sabido, proibido de ir à bola.
O exterior daquele recinto não
estava propriamente atraente por causa das
obras e não me chamou grande atenção. A
bem dizer, o próprio clube em si nunca me
despertou qualquer tipo de simpatia, sendo
o reflexo de tudo o que não me revejo no
futebol moderno.
Foi depois tempo de almoçar e
regressar, finalmente, a Portugal. Serviu para
conhecer pessoalmente uma realidade que
está muito próxima de nós e, ao mesmo
tempo, tem tantas parecenças e diferenças,
o que torna o movimento e a parte social do
futebol espanhol tão curioso.
Por G. Mata
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