Untitled - Visão Judaica
Untitled - Visão Judaica
Untitled - Visão Judaica
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
de decidir jogar contra a Alemanha,<br />
marcaram-no com como opositor do<br />
regime e por isso foi perseguido<br />
pelo Führer.<br />
O maior jogador dos anos 30<br />
Em seu poema “Balada de morte<br />
de um jogador de futebol”, o escritor<br />
Friedrich Torberg escreveu: “Ele<br />
jogou como ninguém havia feito<br />
antes/ Cheio de inteligência e imaginação/<br />
Fazia-o com facilidade, um<br />
toque de luz e descontração/ Ele sempre<br />
jogou, nunca lutou”. A exemplo<br />
do que aconteceu com Mozart na<br />
música, a importância de Matthias<br />
Sindelar transcendeu os gramados.<br />
Sua fidelidade à pátria ante a obscura<br />
ascensão do nazi-fascismo na<br />
Europa, aliada a um extraordinário<br />
talento, fizeram dele um símbolo para<br />
o povo austríaco.<br />
Único filho homem de uma família<br />
proletária judia de imigrantes<br />
tchecos, Sindelar nasceu em 10 de<br />
fevereiro de 1903, na Vila de Kozlov,<br />
na Moravia, atual República Tcheca.<br />
A difícil situação econômica do pai,<br />
pedreiro, o obrigou a se mudar, ainda<br />
garoto, com a mãe e as três irmãs<br />
para Viena, capital do Império Austro-Húngaro.<br />
O franzino Motzl, como<br />
era conhecido, cresceu na cinzenta<br />
Favoriten, um subúrbio industrial<br />
repleto de fábricas de tijolo.<br />
Em terrenos baldios, com uma bola<br />
de trapos, o menino louro, de braços<br />
e pernas longilíneos, ensaiou os primeiros<br />
dribles que, mais tarde, resultariam<br />
num estilo apurado, cerebral,<br />
marcado por jogadas imprevisíveis e<br />
gols de rara beleza. A morte de seu<br />
pai no front de Isonzo, na Primeira<br />
Guerra Mundial, em 1917, deu-lhe<br />
responsabilidades. Aos 14 anos, Sindelar<br />
virou chefe de família. Paralelamente<br />
à atividade de mecânico, aprimorava<br />
seu futebol no time de meninos<br />
do Hertha de Viena.<br />
Lá, permaneceu por seis anos, até<br />
se transferir, em 1924, para o poderoso<br />
Áustria Viena, clube associado<br />
à classe média judaica. O início foi<br />
doloroso. Sua fragilidade física gerou<br />
desconfiança. Na primeira temporada,<br />
sofreu uma grave lesão de<br />
meniscos. Submetido a uma operação<br />
inédita na época, o atacante se<br />
recuperou em poucos meses.<br />
Na comemoração de seu centenário,<br />
em 2003, Paul Pongratz, um<br />
dos poucos ex-jogadores vivos que<br />
o enfrentaram, declarou ao site da<br />
Uefa: “Sindelar era o melhor de todos.<br />
Era como se dançasse entre os<br />
adversários. Via o jogo como um<br />
mestre do xadrez e criou a chamada<br />
Em 2004, a Associação Austríaca de Futebol comemorou cem anos de fundação e lançou selos dos maiores<br />
jogadores da história de seu país e entre eles Mattheus Sindelar<br />
Escola Vienense de Futebol”. Sob o<br />
comando do técnico Hugo Meisl, filho<br />
de uma bem-sucedida família judia<br />
de Viena, Sindelar, Schall, Vogl e<br />
seus companheiros apresentaram ao<br />
mundo um estilo inconfundível de<br />
jogar futebol, em que trocavam passes<br />
até o adversário abrir brecha para<br />
uma investida fulminante ao gol.<br />
Em 23 de janeiro de 1939, dias<br />
antes de completar 36 anos, Mathias<br />
Sindelar foi encontrado morto num<br />
quarto de hotel, com a mulher Camila.<br />
O laudo da morte diz que a causa<br />
foi envenenamento por monóxido de<br />
carbono. A versão divulgada foi suicídio,<br />
mas até hoje há quem fale em<br />
assassinato. Quarenta mil pessoas<br />
compareceram ao funeral sob os olhares<br />
de soldados nazistas; o Áustria<br />
Viena recebeu 15 mil telegramas de<br />
condolências. “Sindelar é, para os<br />
austríacos, o mesmo que Pelé para<br />
os brasileiros: algo mais do que um<br />
jogador”, definiu o historiador Wolfgang<br />
Maderthaner.<br />
E o que terá acontecido à Áustria<br />
de Matthias Sindelar? A não ser<br />
por 1945, o ano do armistício, transcorreu<br />
normalmente o campeonato<br />
nacional, só que com jogadores alemães<br />
atuando pelo Áustria, pelo Viena,<br />
pelo Sportkclub, e craques austríacos<br />
vestindo a camisa do Shalke<br />
4, do Hanover 87, do Dresden, quando<br />
não da própria seleção alemã. Um<br />
interação de tal ordem que, em<br />
1941, a tradicional equipe do Rapid<br />
de Viena disputou os dois campeonatos,<br />
ganhando ambos. Mas Sindelar<br />
não viveu para ver tudo aquilo.<br />
Para ele, naquele derradeiro janeiro,<br />
a guerra já estava perdida. A Áustria<br />
já não era dos austríacos e o célebre<br />
Wunderteam se fora para sempre.<br />
Há um final feliz para esta histó-<br />
ria? Em 1998, sessenta anos após a<br />
sua morte, Sindelar foi eleito o atleta<br />
austríaco do século. Tem hoje um<br />
monumento e é venerado como um<br />
símbolo da resistência austríaca.<br />
Material produzido a partir da sugestão<br />
do leitor Maurício Gleiser, com pesquisa<br />
do jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>. (Fontes: O<br />
Globo, matéria publicada pelos<br />
jornalistas Fábio Juppa e João Máximo,<br />
1º/5/2005, Enciclopédia do Esporte na<br />
internet e sites do Terra e do Grupo<br />
Parlamentar do Partido Socialista<br />
Português.<br />
VISÃO JUDAICA dezembro de 2005 Kislev/Tevet 5766<br />
Matthias Sindelar é o sexto a partir da direita, com outros jogadores da seleção austríaca dos anso 30: um atacante<br />
refinado, o maior craque da Europa enfrentou o nazismo antes da 2ª Guerra Mundial<br />
15<br />
Fotos clássicas do craque Sindelar com o<br />
uniforme da seleção austríaca. A segunda,<br />
serviu de base para o selo emitido<br />
O atacante em ação pela seleção austríaca: todos os clubes do continente o<br />
desejavam. Sindelar resistiu às mudanças por fidelidade à pátria