14.04.2013 Views

Vamos ver o Irão olhos nos olhos - Fonoteca Municipal de Lisboa

Vamos ver o Irão olhos nos olhos - Fonoteca Municipal de Lisboa

Vamos ver o Irão olhos nos olhos - Fonoteca Municipal de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Se bem se recordam, <strong>de</strong> Abbas<br />

Kiarostami começou-se a falar,<br />

na Europa e Estados Unidos,<br />

por volta da viragem dos a<strong>nos</strong><br />

80 para os a<strong>nos</strong> 90. Kiarostami<br />

fi lmava há muito mais tempo<br />

— o seu primeiro fi lme data <strong>de</strong><br />

1970 —, mas foi esse o momento<br />

em que, muito por força da<br />

sua inclusão no circuito dos<br />

festivais, a sua reputação<br />

quebrou as fronteiras iranianas<br />

para se disseminar, lentamente,<br />

pelo resto do mundo. O trajecto<br />

habitual, <strong>de</strong> resto: no princípio<br />

dos a<strong>nos</strong> 90 ainda era habitual<br />

alguma <strong>de</strong>sconfi ança —<br />

“coisas <strong>de</strong> críticos” irem agora<br />

<strong>de</strong>scobrir cineastas no <strong>Irão</strong><br />

— mas 20 a<strong>nos</strong> <strong>de</strong>pois só se<br />

encontra re<strong>ver</strong>ência, Kiarostami<br />

tornou-se um cineasta <strong>de</strong><br />

panteão.<br />

Também se recordam,<br />

certamente, que o interesse<br />

por Kiarostami suscitou a<br />

curiosida<strong>de</strong> pela <strong>de</strong>scoberta<br />

do “contexto” <strong>de</strong> on<strong>de</strong> ele vinha<br />

e que, graças a isso, se foi<br />

<strong>de</strong>scobrindo o cinema iraniano<br />

como um surpreen<strong>de</strong>nte viveiro<br />

<strong>de</strong> obras e cineastas, com<br />

características “endémicas”<br />

tão fortes que, para lá da visão<br />

autorista sobre uni<strong>ver</strong>sos<br />

pessoais específi cos e das<br />

diferenças geracionais entre<br />

realizadores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>s muito<br />

distintas, fazia (e faz) com que<br />

a expressão “cinema iraniano”<br />

<strong>de</strong>signe um pouco mais do que<br />

apenas uma origem geográfi ca.<br />

Sobre este panorama — sobre<br />

Kiarostami e sobre o que o<br />

liga ao “cinema iraniano” —<br />

talvez persistam, no entanto,<br />

alguns equívocos, baseados em<br />

impressões parcelares pouco<br />

aprofundadas. Por exemplo, a<br />

i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que em Kiarostami e no<br />

cinema iraniano o essencial se<br />

joga numa questão <strong>de</strong> realismo<br />

— ou <strong>de</strong> “neo-realismo” —<br />

promovido como “resposta”<br />

ao artifício do cinema<br />

corrente e ao “entertainment”<br />

globalizado, e que tudo, no<br />

Um cineasta<br />

no labirinto<br />

É da “realida<strong>de</strong>” como artifício que os fi lmes <strong>de</strong> Kiarostami falam. Nada é transparente —<br />

bem pelo contrário — no seu cinema. Luís Miguel Oliveira<br />

O cinema <strong>de</strong><br />

Kiarostami expõe<br />

uma visão tortuosa<br />

da “realida<strong>de</strong>”<br />

fundo, se resumiria a uma<br />

vindicação do “cinema po<strong>ver</strong>o”<br />

sobre a opulência do cinema<br />

“comercial” e, particularmente,<br />

hollywoodiano.<br />

Em Kiarostami há certamente<br />

uma relação muito especial e<br />

muito directa (lembremo-<strong>nos</strong><br />

<strong>de</strong> “E a Vida Continua”, fi lmado<br />

no rescaldo <strong>de</strong> um tremor<br />

<strong>de</strong> terra) com a realida<strong>de</strong>, e<br />

não me<strong>nos</strong> certamente uma<br />

reformulação constante do<br />

Ten (2002)<br />

realismo como “gramática”. Mas,<br />

como em tudo, a “gramática” é<br />

importante me<strong>nos</strong> pelo que é<br />

do que pelo que com que se faz<br />

com ela. E se po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>fi nir<br />

uma característica essencial<br />

no cinema <strong>de</strong> Kiarostami<br />

encontramo-la justamente aí:<br />

a maneira como um realismo<br />

“processual”, aparentemente<br />

<strong>de</strong>scritivo, se põe ao serviço<br />

<strong>de</strong> uma visão tortuosa da<br />

“realida<strong>de</strong>” (seja ela qual<br />

for) para a <strong>de</strong>vol<strong>ver</strong> em puro<br />

artifício no mesmo passo em<br />

que a questiona na sua suposta<br />

evidência.<br />

Nada é transparente — bem<br />

pelo contrário — na “realida<strong>de</strong>”<br />

<strong>de</strong> Kiarostami, e sobretudo<br />

nada é transparente no ponto <strong>de</strong><br />

encontro entre essa “realida<strong>de</strong>”<br />

(concreta ou abstracta, como se<br />

preferir) e o aparato fílmico. Não<br />

é um acaso que tantos fi lmes<br />

<strong>de</strong> Kiarostami (do fabuloso<br />

jogo <strong>de</strong> espelhos <strong>de</strong> “Close Up”,<br />

passando por “Através das<br />

Oliveiras” até chegar agora a<br />

“Shirin”) reconstituam, como<br />

“registo” e como “ilusão”,<br />

di<strong>ver</strong>sos momentos do processo<br />

cinematográfi co, da rodagem<br />

à exibição do fi lme perante os<br />

espectadores (como acontece<br />

em “Shirin”), porque é da<br />

“realida<strong>de</strong>” como construção, da<br />

“realida<strong>de</strong>” como artifício, que<br />

os seus fi lmes falam.<br />

Vertigem absoluta, portanto:<br />

cada fi lme <strong>de</strong> Kiarostami é um<br />

labirinto, um labirinto criado<br />

sobre um labirinto. Don<strong>de</strong>, a<br />

angústia, don<strong>de</strong>, o medo — o<br />

terror absoluto estampado, por<br />

exemplo, <strong>nos</strong> rostos dos miúdos<br />

dos “Trabalhos <strong>de</strong> Casa”.<br />

“Close-Up” (1990)<br />

VIVA A SARDINHA!<br />

14 MAIO / 15 JULHO<br />

O TEATRO<br />

DAS COMPRAS<br />

17 JUNHO A 3 JULHO<br />

13 LOJAS DA BAIXA<br />

MARATONA<br />

18, 19 JUNHO E 2, 3 JULHO, ATÉ ÀS 23H<br />

13 LOJAS DA BAIXA<br />

ENTRADA LIVRE / PARA TODAS AS IDADES<br />

ANDAR EM FESTA<br />

AS FESTAS DE LISBOA NOS TRANSPORTES PÚBLICOS<br />

19 MAIO A 11 JULHO<br />

ART’A–BORDO<br />

A BODA<br />

23 A 27 JUNHO, 16H E 19H<br />

COMBOIOS DA LINHA DE CASCAIS<br />

ACESSO NORMAL PARA VIAGEM DE COMBOIO / PARA TODAS AS IDADES<br />

JAZZ ÀS ONZE<br />

30 JUNHO, 1 A 4, 7 A 11 JULHO, 11H E 23H<br />

ASCENSORES DE LISBOA<br />

ACESSO NORMAL PARA VIAGEM DE ASCENSOR / PARA TODAS AS IDADES<br />

CONCERTO DE<br />

ENCERRAMENTO<br />

15 JULHO, 22H<br />

A REPÚBLICA É UMA MULHER<br />

CARMINHO, LURA, MART’NÁLIA<br />

PARTICIPAÇÃO ESPECIAL CARLOS DO CARMO<br />

ALAMEDA D. AFONSO HENRIQUES<br />

ENTRADA LIVRE / M/3<br />

TODA A PROGRAMAÇÃO EM<br />

WWW.FESTASDELISBOA.COM<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Ípsilon • Sexta-feira 25 Junho 2010 • 11<br />

silva!<strong>de</strong>signers / tiago albuquerque

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!